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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO Adiliana dos Santos Peres EMPREENDEDORISMO E ENVELHECIMENTO: PERSPECTIVAS DE UMA NOVA RELAÇÃO DE TRABALHO NA MATURIDADE São Paulo 2014

MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO - usjt.br · terceira idade e o trabalho. A terceira e última parte da introdução teórica fala sobre o empreendedorismo na terceira idade,

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO

Adiliana dos Santos Peres

EMPREENDEDORISMO E ENVELHECIMENTO:

PERSPECTIVAS DE UMA NOVA RELAÇÃO DE

TRABALHO NA MATURIDADE

São Paulo

2014

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO

Adiliana dos Santos Peres

EMPREENDEDORISMO E ENVELHECIMENTO:

PERSPECTIVAS DE UMA NOVA RELAÇÃO DE

TRABALHO NA MATURIDADE

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação

Stricto Senso em Ciências do Envelhecimento da Universidade

São Judas Tadeu, como parte dos requisitos para obtenção do

Título de Mestre em Ciências do Envelhecimento.

Área de concentração: Aspectos educacionais, psicológicos e

socioculturais do envelhecimento.

Orientadora: Profª Drª Claudia Aranha Gil

São Paulo

2014

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Peres, Adiliana dos Santos

P437e Empreendedorismo e envelhecimento : perspectivas de uma nova

relação de trabalho na maturidade / Adiliana dos Santos Peres. - São

Paulo, 2014.

106 f.; 30 cm.

Orientadora: Claudia Aranha Gil.

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,

2014.

1. Empreendedorismo - Velhice. 2. Envelhecimento. 3. Mercado de

trabalho. I. Gil, Claudia Aranha. II. Universidade São Judas Tadeu,

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Envelhecimento.

III. Título

CDD 22 – 305.26

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca

da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO

Adiliana dos Santos Peres

EMPREENDEDORISMO E ENVELHECIMENTO:

PERSPECTIVAS DE UMA NOVA RELAÇÃO DE

TRABALHO NA MATURIDADE

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação

Stricto Senso em Ciências do Envelhecimento da Universidade

São Judas Tadeu, como parte dos requisitos para obtenção do

Título de Mestre em Ciências do Envelhecimento.

Área de concentração: Aspectos educacionais, psicológicos e

socioculturais do envelhecimento.

Orientadora: Profª Drª Claudia Aranha Gil

Dissertação defendida em: ______/______/______

BANCA AVALIADORA

Avaliador(a) Instituição Avaliação

_________________________________ _______________ ______________________

_________________________________ _______________ ______________________

_________________________________ _______________ ______________________

São Paulo

2014

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Dedico este trabalho inicialmente a Deus, meu

criador, aos meus pais Ayrton (in memoriam) e

Malú, aos meus filhos Heitor e Othávio e ao meu

companheiro Nelson Fragoso.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial, minha orientadora Profª Drª Claudia Aranha Gil, por sua

paciência, empenho, carinho e sabedoria com que me conduziu nos momentos mais difíceis,

tornando possível a conclusão deste trabalho.

Aos membros da banca examinadora, Profª Drª Carla Witter e Profº Drº Alexandre

Nabil Ghobril, pela leitura, avaliação e discussão do assunto, com contribuições para meu

crescimento acadêmico.

À equipe da Universidade São Judas Tadeu, em especial aos professores que com

carinho e simplicidade contribuíram para que este trabalho se concretizasse. Aos funcionários

que com atenção e gentileza souberam esclarecer minhas dúvidas.

Aos colegas de estudo do Programa de Mestrado, que pude compartilhar momentos de

troca de conhecimentos, aprendizados, alegrias e angústias.

Ao amigo Rogério Tineu, pelo apoio na revisão do trabalho, formatação e aos amigos

que me auxiliaram na tradução do resumo para o inglês e na busca dos meus queridos

participantes da pesquisa.

Aos meus amigos e familiares que souberam entender minha ausência e me apoiar nos

momentos de medos e aflições, com palavras de incentivo.

Em especial, minha eterna gratidão ao meu companheiro Nelson Fragoso, por seu

incentivo, apoio e auxílio nos momentos em que parecia tão inatingível a conclusão deste

trabalho. As palavras de incentivo no tempo e na forma correta me fizeram perceber que eu

poderia.

À minha mãe, pelo apoio e auxílio, procurando ao máximo suprir minha ausência na

vida de meus filhos, dando-lhes muito carinho e atenção.

E, finalmente, aos meus eternos brilhantes Heitor e Othávio, razão de tudo, motivos do

meu viver. O sorriso no rosto de vocês foi a energia para construir este trabalho. Inocentes na

idade e tão sábios para entender a ausência da mamãe. Essa conquista é para vocês e por

vocês.

A todos, muito obrigada!

Page 7: MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO - usjt.br · terceira idade e o trabalho. A terceira e última parte da introdução teórica fala sobre o empreendedorismo na terceira idade,

"O propósito do tempo é envelhecer o mundo, mas a

resposta do mundo é renascer sempre com o

tempo."

Guimarães Rosa

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PERES, A.S. Empreendedorismo e Envelhecimento: perspectivas de uma nova

relação de trabalho na maturidade. São Paulo. 2014. 106 f. Dissertação (Mestrado) -

Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2014.

RESUMO

O envelhecimento populacional vem sendo estudado por diversas áreas da ciência,

envolvendo fatores biológicos, psicológicos e sociais. Na área profissional o indivíduo na

velhice tem sentido necessidade de continuar ativo e produtivo e nesse sentido tem se

observado perspectivas de uma nova relação de trabalho para o idoso. Neste contexto, surge o

empreendedorismo como uma maneira de aproveitar estas características favoráveis e

fundamentais para a atividade de empreender, bem como de manter o idoso ativo, com a

possibilidade de produzir de forma diferente e encontrar sua realização profissional, muitas

vezes, até então não experimentada. Este estudo tem como objetivo analisar estas

características empreendedoras, bem como procurar entender o universo do empreendedor

idoso, suas percepções e motivações. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada com oito

idosos que começaram a empreender após a meia idade. Como critério de inclusão no estudo,

foi aplicado o Questionário CEI (Carland Entrepreneurship Index) para avaliar o grau de

empreendedorismo do participante. Foram utilizados como instrumentos o questionário

sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada. Para análise dos dados, utilizou-se a

técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Quanto aos resultados verificou-se, entre outros

aspectos, que o processo de empreender está relacionado ao momento de vida de cada um,

sendo motivada principalmente pela percepção de características inatas. Os idosos citaram

características empreendedoras encontradas na literatura estudada, no que, a questão das

relações interpessoais se destaca, não somente como uma habilidade importante no

empreendedorismo, como também um motivador para se iniciar um negócio novo, estando

também relacionada ao processo de aprendizagem do empreendedor. Este profissional mais

velho, com a maturidade, pode fazer suas próprias escolhas, valorizar mais os ganhos

adquiridos ao longo da vida, como experiência e conhecimento, do que as possíveis perdas

relacionadas à velhice. Dessa forma, o empreendedorismo na maturidade mostrou ser uma

nova relação de trabalho possível na velhice, podendo ser um fator que contribui para uma

melhor qualidade de vida, favorecendo assim um envelhecimento saudável.

Palavras-chave: empreender, mercado de trabalho, velhice, terceira idade.

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PERES, A.S. Entrepreneurship an Aging: perspectives of a new work relationship om

maturity. São Paulo. 2014. 106 f. Dissertation (Master) - University São Judas Tadeu, São

Paulo, 2014.

ABSTRACT

The population aging has been studied in various areas of science, involving biological,

psychological and social factors. In the professional area, the elderly people have been felt

that they need to remain doing some activity and according to this information, it is possible

to notice that there is a perspective of new working models for these elderly people. In this

context, entrepreneurship emerges as a way to take advantage of these favorable and essential

characteristics to undertake as well as to keep the elderly people busy for doing some activity,

with the possibility of working differently and find their professional achievement, often not

tried. This study aims to analyze the elderly’s entrepreneurial characteristics and seek to

understand the context they are involved, their perceptions and motivations. In addition, this

study is a qualitative research conducted with eight elderly people who began to undertake

after aging, and to make it possible, it was applied the CIS Questionnaire (Carland

Entrepreneurship Index) as a criterion for inclusion in the study and evaluating how

entrepreneur the participant is. Supporting this research, two techniques were used, the social

demographic questionnaire and a semi-structured interview. For data analysis, it was used the

“Discurso do Sujeito Coletivo” (Discourse of the Collective Subject) technique. As for the

results, beside other aspects, it was found that the process of undertaking is related to the

moment of life that each one is living, and it has been primarily motivated through the

perception of innate characteristics. The elderly mentioned entrepreneurial characteristics in

the literature studied, in which the question of interpersonal relationships stands out not only

as an important skill in entrepreneurship, as also a motivator fact to start a new business, and

it is also related to the learning process of the entrepreneur. This old professional, mature, can

make their own choices, valuing the gains acquired throughout life with experience and

knowledge, instead of the possible losses related to old age. Thus, entrepreneurship at

maturity proved to be a possible new working model in old age and it may be a factor that can

contributes to a better life quality, promoting healthy aging.

Keywords: undertake, labor market, old age, mature.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Procedimento de Análise de Dados ........................................................................... 45

Figura 2 . Perfil Sociodemográfico........................................................................................... 49

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Temas Centrais da Entrevista Semiestruturada ....................................................... 41

Quadro 2. Discurso do Sujeito Coletivo ................................................................................... 51

Quadro 2.1 O processo de empreender.....................................................................................51

Quadro 2.2. Motivações para empreender ................................................................................ 56

Quadro 2.3 Características do empreendedor para atividade do empreendedorismo ............... 59

Quadro 2.4 Identificação das oportunidades de negócios ........................................................ 61

Quadro 2.5. Processo de aprendizagem para o empreendedor ................................................ 63

Quadro 2.6. Os riscos na atividade de empreender .................................................................. 64

Quadro 2.7. Relação da idade com a atividade de empreender ................................................ 68

Quadro 2.8. Perspectivas do futuro para o empreendedor ........................................................ 69

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Sumário

APRESENTAÇÃO _________________________________________________________ 11

CAPÍTULO I – FUNDAMENTOS TEÓRICOS __________________________________ 13

1. Velhice: Panorama Atual ______________________________________________ 13

2. Trabalho e Envelhecimento ____________________________________________ 17

3. Empreendedorismo na Velhice __________________________________________ 25

CAPÍTULO II – OBJETIVOS ________________________________________________ 38

1. Objetivo Geral ______________________________________________________ 38

2. Objetivos Específicos _________________________________________________ 38

CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS _______________________ 39

1. Participantes ________________________________________________________ 39

2. Instrumentos ________________________________________________________ 40

3. Procedimento _______________________________________________________ 42

4. Aspectos Éticos______________________________________________________ 46

CAPÍTULO IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO ________________________________ 47

CAPÍTULO V– CONSIDERAÇÕES FINAIS____________________________________ 71

REFERÊNCIAS ___________________________________________________________ 78

ANEXOS ________________________________________________________________ 83

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APRESENTAÇÃO

O presente estudo é fruto de uma trajetória de 20 anos trabalhando com profissionais

no mercado de trabalho, com vasta atuação na gestão dos recursos humanos das organizações.

Neste período, tive a oportunidade de acompanhar diversos profissionais em fase de pré e pós-

aposentadoria, e os sentimentos que este período da vida gera em um indivíduo até então ativo

e produtivo nas corporações. Comecei a perceber que muitos deles estavam no auge de suas

carreiras, exatamente num momento em que se sentiam confiantes em relação ao que tinham

aprendido em toda a sua vida.

Esta situação me gerava um incômodo e com meus conhecimentos no campo da

psicologia fui estudar técnicas de coaching de executivos e vida, que contribuíram para a

minha percepção de que não havia limites para estes profissionais, a não ser os estabelecidos

por eles próprios. Ao trabalhar com carreiras percebi que o momento da terceira idade é

quando o indivíduo chega à sua maturidade profissional, podendo contribuir com todo seu

conhecimento de maneira expressiva e de se sentirem felizes e realizados.

Ao mesmo tempo, a observação dos empreendedores idosos, donos de seu próprio

negócio, também me levava a questionar o que os motivava a se manterem ativos e atuantes

no mercado de trabalho. Além disso, passei a indagar o que faz com que este profissional que

se aposenta, sinta motivação para iniciar algo novo, ou o que o faz continuar empreendendo

mesmo idoso. A indagação que surgia era no sentido de saber quais as características de

personalidade existentes nestes idosos que os motivam a continuarem trabalhando com seus

negócios próprios, empreendendo e contribuindo para movimentar a economia do país.

Este estudo é composto de cinco capítulos. No capítulo I são apresentados os

principais fundamentos teóricos que norteiam a realização desta pesquisa. A primeira parte

trata do cenário atual do envelhecimento, mostrando o aumento da expectativa de vida, que

tem gerado novas demandas, no sentido de atender esta nova população. A segunda parte trata

sobre o conceito do trabalho e o envelhecimento, apresentando visões sobre o profissional da

terceira idade e o trabalho. A terceira e última parte da introdução teórica fala sobre o

empreendedorismo na terceira idade, abordando conceitos sobre o empreendedorismo na

velhice e como é esta nova relação de trabalho para o profissional.

O capítulo II traz os objetivos gerais e específicos propostos no presente trabalho. O

capítulo III fala sobre a metodologia utilizada para o alcance desses objetivos e suas etapas,

ou seja, participantes, instrumentos utilizados e como foi feita a análise dos dados coletados

durante a pesquisa. No capítulo IV é proposta uma discussão e análise dos resultados

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coletados, realizado para o alcance dos objetivos do estudo em questão. A partir da

contribuição do diálogo dos autores que fundamentaram a introdução teórica, procura-se

discutir os dados levantados, por meio da técnica de análise de dados do discurso do sujeito

coletivo, proposta por Lefèvre e Lefèvre (2005). Posteriormente, no capítulo V, intitulado

considerações finais, foram feitas algumas considerações e análises a respeito dos discursos

do sujeito coletivo produzidos pelos participantes, sendo realizadas algumas conclusões a

respeito do resultado da pesquisa.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTOS TEÓRICOS

1. Velhice: Panorama Atual

Envelhecer é inevitável e lidar com suas consequências tem se tornado um dos

maiores desafios do século 21. As análises demográficas demonstram que o envelhecimento

progressivo da população e o consequente aumento da expectativa de vida têm sido

considerados uma tendência mundial. Esse panorama tem gerado a busca pela compreensão

deste fenômeno e discussões sobre questões relativas à terceira idade.

O aumento global da população com mais de 60 anos tem despertado a atenção de

vários segmentos da sociedade, devido ao seu crescimento demográfico e ao poder aquisitivo

atribuído a este grupo. Essa mudança na sociedade tem acarretado novas necessidades,

demandas e questionamentos sobre as condições de sobrevivência digna em um país como o

Brasil, que apresenta diversos problemas ainda primários para a população adulta e jovem,

como educação, trabalho, saúde e outros.

O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013), entidade de

administração pública federal, com o maior provedor de dados e informações do Brasil,

divulgou uma série de projeções populacionais baseada no Censo de 2010. Dentre elas, os

dados revelaram que até 2060, a quantidade de brasileiros acima de 65 anos irá quadruplicar,

devendo passar de 14,9 milhões em 2013, para 58,4 milhões neste ano, ou seja, a população

idosa passará de 7,4% para 26,7% do total da população brasileira. Neste mesmo período, a

expectativa de vida passará de 75 anos para 81 anos de idade.

De acordo com o Banco Mundial (2012), até 2050 as pessoas com mais de 60 anos

representarão 49% da população economicamente ativa no Brasil. Segundo os estudos, nos

dias atuais esta representação é de 11%. Outro estudo realizado pelo Banco Mundial (2012)

mostrou que até 2020, o PIB per capita do país será aumentado pelos idosos em 2,4 pontos

percentuais. Essas informações demonstram que a força produtiva das pessoas da terceira

idade está diretamente relacionada com a velocidade com que as pessoas estão envelhecendo

no Brasil. Os dados demonstram que o crescimento anual do número de idosos é de 3,4% em

comparação com a média nacional que é de 2,2%. Dessa forma, até 2050, a população idosa

representará 30% da população total.

As projeções indicam ainda, que o Brasil passará por diversas mudanças

socioeconômicas devido à alteração da estrutura etária, ou seja, com a diminuição do número

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de jovens e com o aumento de idosos. Este fenômeno trará uma série de oportunidades para o

país, pois o número de pessoas economicamente ativas e produtivas (entre 15 e 64 anos)

torna-se maior do que a quantidade de pessoas dependentes (menores de idade e idosos

improdutivos) (IBGE, 2013).

A partir deste panorama, novas necessidades começam a aparecer nos países

desenvolvidos e também em desenvolvimento. Em 2005, a Organização Mundial da Saúde

propôs a criação de oportunidades de estimulo ao envelhecimento ativo, fornecendo ao idoso,

condições mais adequadas de produtividade e saúde, oferecendo assim um envelhecimento

com maior independência e autonomia. Para entender essas mudanças na sociedade e as novas

necessidades que vêm surgindo, é necessário compreender as características dessa fase da

vida humana. Inicialmente, quando o assunto é velhice, surge uma dificuldade em definir o

termo, pois se deve levar em consideração tanto a subjetividade quanto os aspectos

heterogêneos do envelhecimento.

Segundo Neri, A. (2005) no início da década de 70 ainda se pensava em

envelhecimento como uma época onde não havia desenvolvimento no ser humano, sendo uma

etapa de estagnação evolutiva e uma época marcada por perdas de diversas naturezas. Porém,

com o decorrer dos estudos, houve uma importante mudança paradigmática, a partir das

contribuições importantes de autores como: Jung, (1979), Erikson (1972) e Baltes (2000)

apud Neri, A. (2006). Estes estudiosos se interessaram em descrever os elementos que

contribuem para uma melhor compreensão do envelhecer e de suas características,

favorecendo a revisão de conceitos e crenças até então considerados de superação de

estereótipos, na maioria das vezes negativo, quando se trata a velhice. O próprio termo velho,

muitas vezes utilizado como obsoleto, descartável e gasto juntamente com os valores da

jovialidade como beleza física, agilidade e produtividade contribuíram para a ideia da velhice

como um período marcado predominantemente por perdas e limitações. (SCHWARZ, 2009).

Estes estudos levaram ao desenvolvimento da Psicologia do Envelhecimento, tendo

como princípio básico que na velhice os indivíduos continuam seu desenvolvimento,

mantendo seu potencial de funcionamento e aprendizagem. Nesse sentido, o conceito de

processo de individuação apresentado por Jung (1979), as diferentes fases de

desenvolvimento da personalidade segundo Erikson (1972) e a ideia do desenvolvimento que

ocorre por toda a vida (Baltes, 2000 apud Neri, A., 2006) contribuíram para que houvesse

essa mudança paradigmática.

A teoria desenvolvida por Baltes (2000 apud Neri, A. 2006) tem como pressuposto o

desenvolvimento do indivíduo ao longo de toda a sua vida, chamado de lifespan. O autor

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partiu da concepção inicial até então assumida de que a velhice era um momento da vida de

total declínio intelectual e cognitivo, ideia completamente contrária as fases de

desenvolvimento da vida do ser humano, até chegar à vida adulta. O paradigma lifespan ou o

desenvolvimento que ocorre por toda a vida é um processo de desenvolvimento de diversas

dimensões e direções, dinâmico e contínuo, que recebe influências de naturezas, genético-

biológicas e socioculturais. Nesse processo, o ser humano e a cultura em que está

contextualizado interagem. Dessa interação, resulta ao indivíduo ganhos, perdas e mudanças

previsíveis e não previsíveis oriundas dessas naturezas. (NERI, A., 2006)

Estudar o envelhecimento passou a ser cada vez mais necessário, no sentido de

compreender e explicar a heterogeneidade dos aspectos que envolvem esta fase da vida. Essa

demanda de compreender o “novo velho” leva ao estudo da identidade do indivíduo na

terceira idade, considerando-o em todos os aspectos que o envolvem, uma vez que este tem

assumido cada vez mais comportamentos diferenciados dos até então vistos pela sociedade. A

velhice pode ser compreendida então como um fenômeno multifacetado. Desse modo, devem

ser levados em consideração os aspectos biológicos, psicológicos e sociais, relacionados ao

processo de busca de informações e habilidades de resolução de problemas, relacionados às

diferenças das pessoas que apesar de terem idades semelhantes demonstram comportamentos

distintos e processos de envelhecimento diferentes. (MERCADANTE, 2003)

Com uma visão antropológica do idoso Minayo (2006) afirma que a importância e a

necessidade de se considerar as diferenças e não mais a identidade de maneira estática e

homogênea. A visão heterogênea do processo do envelhecimento favorece a necessidade de se

ressaltar aspectos como a singularidade e a subjetividade do idoso.

Para Minayo (2006, p.48):

De modo geral, é absolutamente diferente envelhecer no campo ou na cidade; numa

família rica ou numa família pobre; ser homem ou mulher; ter tido um emprego e se

aposentar, ou ter vivido apenas em atividades do lar ou informais e viver de forma

independente.

Compreender essa heterogeneidade, as características positivas desta fase da vida

humana, suas potencialidades e conquistas têm sido de fundamental importância. Ao longo do

tempo, percebe-se uma crescente preocupação em descobrir os benefícios e meios de se

prolongar a juventude e procurar melhorar a qualidade de vida na velhice, ou melhor,

propiciar um envelhecimento saudável, chamado nos dias atuais de velhice bem-sucedida

(TEIXEIRA; NERI, A., 2008)

De acordo com as autoras, a longevidade não é o único critério base para a definição

de envelhecimento bem-sucedido. Este conceito é subjetivo, por se tratar de um processo que

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compreende diversos fatores e critérios individuais e socioambientais. A maneira como o

indivíduo percebe e justifica seu bem-estar, sua forma de viver, bem como a avaliação que faz

de si mesmo, leva-o a perceber sua velhice como um fracasso ou um sucesso. Nesse processo

a definição pessoal sobre envelhecimento bem-sucedido vai além do fato concreto e real de se

ter ou não saúde física e inclui a percepção pessoal da forma deste indivíduo se adaptar e

conviver com a condição e mudanças advindas do avançar da idade. As autoras são favoráveis

ainda a programas sociais e profissionais que procurem melhorar a qualidade de vida

percebida pelos idosos, para que sejam promovidos a saúde e bem-estar, propiciando também

o alcance dos objetivos de muitos idosos nessa etapa da vida no que diz respeito ao

envelhecimento produtivo, saudável, ativo ou bem-sucedido.

O indivíduo precisa se preparar para a velhice, por meio de atitudes preventivas em

todos os aspectos. O autocuidado precisa ser constante, ao longo de toda a vida, não somente

na terceira idade ou quando se “percebe” velho. Trata-se de mudança de pensamento, de

cultura e de valores. De acordo com Candeias (1997), nesse sentido fazem-se necessárias

ações educacionais e ambientais, com o objetivo de produzir a saúde. Essas ações precisam

ter como foco provocar mudanças individuais, sobre a promoção da saúde, alterando o estilo

de vida dos idosos, modificando seus hábitos diários, ao longo da vida, ou seja, não somente

quando chegada a velhice.

Para Zanelli, Silva e Soares (2010), as alterações destes hábitos passam pelo

autoconhecimento, pelo qual o indivíduo se coloca na posição de protagonista de sua vida,

ganha força de decisão, pois por meio destas ações educativas e ambientais, ele pode e tem

condições (conhecimento) para tomar decisões sobre o curso de sua vida. Neste processo

denominado pelos autores de Empowerment ou empoderamento, o indivíduo passa a

participar do caminho de sua própria vida, por meio do desenvolvimento das competências

individuais, alterando e mudando estilos de vida, como o autocuidado, para alcançar e

promover a saúde, pois se torna mais crítico e autoconsciente de suas reais necessidades e

potencialidades.

Ainda segundo os mesmos autores, o amadurecimento das discussões sobre o

autocuidado e a promoção da saúde para os idosos têm mostrado que ao assumirem o

protagonismo desse processo os indivíduos têm melhorado muito sua qualidade de vida. A

decisão por meio do empoderamento, de se manter ativo e promover o autocuidado faz com

que o idoso promova sua saúde física, mental e psicológica. Assumir as escolhas que lhe são

possíveis faz com que o idoso possa se sentir melhor e mais autônomo. Desse modo, além das

mudanças relacionadas aos aspectos físicos e psicológicos devem ser destacadas as

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consequências no campo social. Assim poderão ocorrer mudanças em diversos segmentos, por

intermédio de políticas públicas governamentais e ações não governamentais, com o intuito de

atender as necessidades, reivindicações, posturas e novas abordagens de temas relativos à

velhice e suas implicações na sociedade.

Conhecer as condições de vida, de saúde, econômica e de suporte social dos idosos

para atender as demandas sociais, sanitárias, econômicas e afetivas desta população que mais

cresce em todo o mundo têm se tornado condição necessária e imprescindível para todos os

envolvidos neste fenômeno. Nesse contexto, Berzins (2003, p.21) afirma que:

O envelhecimento populacional é um fenômeno geral e afeta a todos - homens,

mulheres e crianças. A solidariedade e a intergeracionalidade devem ser à base das

ações da sociedade e dos estados. O envelhecimento é importante e tem

consequência em todos os setores da vida humana, tais como econômico, saúde,

previdência, lazer, cultura.

Esta visão é reafirmada por Ferrigno (2006) que afirma que cada vez mais os idosos

têm reagido aos velhos estereótipos e adotado comportamentos mais participativos e

integrados com a sociedade. Muitos fatores externos contribuem para o modo de envelhecer

do indivíduo, e seu envolvimento diante destas experiências e suas escolhas repercutirão de

maneira expressiva na qualidade do seu envelhecimento e na construção de uma velhice mais

saudável, tanto sob o ponto de vista físico quanto psicológico. Para Ferrigno (2006) esta nova

era pode ser chamada de pós-modernidade, onde os hábitos têm se modificado e as pessoas

não mais adotam o mesmo esquema de vida ou padrões antigos preestabelecidos. As

alterações nos comportamentos têm propiciado ao indivíduo maior liberdade de escolhas em

sua vida e nesse contexto muitos profissionais idosos têm encontrado no trabalho uma nova

maneira de viver e de se realizar.

2. Trabalho e Envelhecimento

O trabalho é uma construção sócio histórica e apresenta diversos significados ao longo

da formação do seu conceito, mostrando certa oscilação em seu conteúdo. Em alguns

momentos, trabalho refere-se à atividade de transformação e de realização do indivíduo na

sociedade em que vive, e em outras situações demonstra um significado emocional, quando

lembra dor, fadiga, suor, tortura. Neste contexto, o trabalho oscila entre ser algo positivo ou

negativo.

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Ao longo de toda a história da civilização do homem, o conceito de trabalho têm se

modificado. Inicialmente, o trabalho humano era desvalorizado e considerado uma atividade

obrigatória realizada por pessoas subalternas. Segundo Oliveira (2003) a palavra “trabalho”

tem origem latina e estava associada à ideia de tortura, de atividade que supõe um esforço

penoso. Do Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando os séculos cristãos da Idade

Média e do Renascimento, o trabalho estava associado à desonra, desprezo e inferioridade.

Esta concepção atingia o estatuto jurídico e político dos trabalhadores escravos e servos que

não usufruíam de quaisquer direitos cívicos ou políticos. Deste modo, trabalhadores não

participavam da vida da cidade ou do Estado.

Oliveira (2003) e França e Soares (2009) afirmam que a partir do século XVIII, com o

início da Revolução Industrial, houve um momento de transformação, onde o trabalho deixa

de ser visto como uma maldição e tortura e se torna uma atividade digna de reconhecimento

pessoal e social. Como consequência, em muitos momentos, o trabalho se torna uma fonte de

realização, adquirindo maior valor na vida das pessoas e gerando sentido de identidade e

reconhecimento do indivíduo. Para os autores, ao longo do tempo, o indivíduo que saiu do

campo e passou a se especializar no mundo industrial percebeu que é possível colocar suas

forças no trabalho e ser um agente transformador no mundo em que está inserido. O trabalho

passou a ter um significado, ou seja, poder permitir ao trabalhador desenvolver habilidades,

expandir sua capacidade e criatividade dentro deste contexto.

Segundo Morin (2001) a forma como o indivíduo trabalha e o que ele produz e

constrói em decorrência de seu trabalho, poderá ter interferência em seus pensamentos e no

modo como percebe sua independência e liberdade na sociedade em que está inserido.

Quando o ser humano desenvolve um trabalho e sente-se ativo pode vivenciar a satisfação da

realização por ser essa uma consequência de seu próprio esforço físico ou psíquico. Dessa

maneira, o tédio, a depressão e o cansaço perdem força, pois muitas vezes é por meio do

processo produtivo que o ser humano se transforma e é transformado.

Marx (1998/1867) teorizava que a essência humana reflete as relações que o homem

estabelece na sociedade, e não algo que é próprio deste. Portanto, fazem parte da natureza

humana as relações sociais que são formadas entre os indivíduos. É o trabalho que interage o

homem e a natureza, sendo que o ser humano impulsiona, regula e controla esta relação com

sua própria ação. Desse modo, a necessidade humana natural de manter a troca entre o homem

e a natureza e se manter vivo é por meio do trabalho.

Segundo Morin (2001) o universo do trabalho tem passado por diversas

transformações e novas formas de organizações têm aparecido. Alguns empregos até então

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tradicionais têm desaparecido, dando lugar para modos diferentes e muitas vezes inovadores

de organização do trabalho. Para a autora, trabalho refere-se a atividades de produção, ou

seja, atividade útil, produtiva, que pode ou não gerar remuneração, assim como pode ser

agradável ou desagradável. O trabalho pode ou não ser realizado dentro de um emprego,

porém, este diz respeito a atividades remuneradas decorrentes do cumprimento do contrato

formal de trabalho, dentro de uma ordem economicamente planejada de ações. O emprego,

portanto, está relacionado à ideia de salário e do indivíduo aceitar regras e condições de

trabalho ditadas por outra pessoa.

Para Nascimento, Argimon e Lopes (2006) o trabalho é cada dia mais uma realidade

na vida do indivíduo que chega a terceira idade. A experiência adquirida pelo idoso ao longo

de sua vida, tanto no âmbito pessoal como profissional, juntamente com a preservação de sua

capacidade intelectual, têm sido de grande importância para a sociedade. Segundo as autoras,

atualmente, o trabalho tem sido considerado mais em seu aspecto intelectual do que pela força

física, favorecendo a importância em se valorizar a maturidade que a velhice agrega ao

indivíduo.

De acordo com Magalhaes et al. (2004), um dos principais pilares da autoestima e da

identidade individual é o papel profissional desenvolvido pelo ser humano, pois o status

social dependerá das atividades desenvolvidas e dos relacionamentos estabelecidos na

sociedade. Dessa maneira, a alteração ou interrupção das atividades desenvolvidas no mundo

do trabalho modifica a identidade do indivíduo, uma vez que altera consequentemente os

vínculos estabelecidos por decorrência dessas relações, interferindo de forma direta na

qualidade de vidas das pessoas.

Para Mercadante (2003) envelhecer muitas vezes significa ser excluído de vários

lugares sociais, inclusive de um lugar muito valorizado por esta sociedade e pelo próprio

indivíduo, no mundo produtivo do trabalho. Para o autor, é necessário pensar sobre o idoso e

todas as situações que o afetam neste momento de vida, que muitas vezes podem estar ligadas

ao fato da perda de contato com a força de trabalho. Ao se reorientarem, o trabalho assume

grande significado para esses indivíduos, pois é criado um novo padrão de referência para

suas vidas. A autoestima do idoso cresce com a melhora da qualidade da saúde, promovida

por meio de um conjunto de ações voltada para o autocuidado, assim como a melhora nas

relações interpessoais provenientes do trabalho, que também influenciam neste bem-estar. As

consequências psicológicas decorrentes do trabalho são inúmeras e fundamentais para a

manutenção do otimismo e do empoderamento desse indivíduo.

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Para Costa e Soares (2009), tendo o trabalho se tornado muitas vezes o centro da vida

do indivíduo, bem como parte integrante de sua identidade, o momento da aposentadoria,

ainda pode resultar em muitas perdas e rupturas. É um momento de muitas mudanças a se

iniciar pela perda do lugar produtivo na sociedade, sendo necessária a reorganização no tempo

e no espaço, bem como de reestruturação da identidade deste profissional.

A palavra aposentadoria, de acordo com a análise de sua etimologia, remete a duas

definições centrais, de acordo com Carlos et al. (1998). O primeiro significado diz respeito a

retirar-se aos aposentos, recolher-se ao espaço particular do indivíduo, do não trabalho,

referindo-se a ideia central de improdutividade. A segunda definição é a de conquista, uma

ideia de jubilamento, referindo-se a um prêmio ou recompensa. Porém, pelo motivo da perda

de referência que o trabalho acarreta esta segunda ideia, de aposentadoria como um júbilo é

menos compreendida. Segundo os autores, aposentar-se em uma sociedade capitalista está

relacionado a valores negativos, onde o aposentado é considerado o responsável por ser

incapaz de se manter ativo no mercado de trabalho. Nesse momento o indivíduo precisa lidar

com perdas e com todo o conflito gerado pelo sentimento de inatividade. Por outro lado, para

Costa e Soares (2009), a sociedade cobra de seu aposentado o papel de um indivíduo que não

precisa fazer nada.

Para Atchley (1999, apud Magalhaes et al., 2004), o processo de transição para se

chegar à aposentadoria percorre algumas etapas, sendo que a pré-aposentadoria, é composta

assim de duas fases. A primeira, chamada pela autora como remota, é quando o indivíduo

percebe a aposentadoria como algo positivo, que acontecerá um dia; e a segunda fase é

denominada aproximada, na qual o profissional já se aproxima de uma data já específica e

determinada.

No segundo momento o profissional percebe que está próximo do desligamento da

organização em que trabalha e de rupturas sociais que virão por consequência do

encerramento do papel social que até então vinha exercendo. Trata-se de um momento de

fantasias e expectativas de como será esta nova etapa de vida. Essas fantasias, segundo a

autora, podem vir a ser próximas da realidade, até mesmo como certa antecipação, como

também representar situações irreais, que poderão prejudicar ou atrapalhar o momento que

está por vir.

A segunda etapa, Atchley (1999, apud Magalhaes et al.,2004), denomina “lua-de-

mel”, pois trata-se do momento da aposentadoria efetivamente, marcada por momentos de

euforia, onde o aposentado pode dedicar-se em realizar atividades que possivelmente almejou

na fase da pré-aposentadoria. Porém, esta etapa tem um período de tempo que varia muito de

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acordo com as características do indivíduo em perceber de maneira positiva ou não o

momento em que está vivendo, ou mesmo por ter limitações financeiras. A autora cita que, de

maneira geral, é uma etapa que é vivenciada pelos aposentados, mas que de alguma maneira

eles buscam estabelecer também na aposentadoria uma vida rotineira.

Com a rotina estabelecida, aos poucos, os aposentados entram numa etapa chamada de

desencantamento, que vêm das atividades almejadas na fase da pré-aposentadoria e realizadas

na fase na “lua-de-mel”. Quando o aposentado cria fantasias ou desejos irreais para esse

momento de vida, ou seja, não foi preparado para esta nova etapa, suas frustrações podem se

tornar maiores e o desencanto se aloja, podendo se instaurar sentimentos de depressão na

medida em que o indivíduo percebe a morte das fantasias criadas, bem como se vê na

necessidade de recomeçar, porém, com fatos reais de sua nova vida. De acordo com a mesma

autora, após o processo de desencantamento, o indivíduo entra na fase da reorientação, com

percepções maiores da realidade e passa a ter a oportunidade de buscar melhores alternativas

com o que tem realmente disponível para recomeçar. O aposentado passa a perceber o mundo

e a se perceber nele por meio de novos projetos de vida, onde busca na realidade uma nova

estrutura e rotina para sua vida, na condição de aposentado. (ATCHLEY, 1999, apud

MAGALHAES et al, 2004)

Para muitos indivíduos, a aposentadoria é um processo de construção de um projeto de

vida, que muitas vezes é o seu primeiro projeto, no qual todas as variáveis são levadas em

consideração, como o respeito próprio aos seus valores, ao seu corpo, sua capacidade física,

psicológica e social. França e Soares (2009) observam que o processo de construção de

projetos é uma característica do homem, que inclui não somente a intenção de realizar algo

para o futuro, mas também a de viver a própria vida como escolher, de acordo com o que

acredita, buscando prezar pela unidade entre subjetividade (necessidade e expectativas) e

objetividade (contexto físico e psicossocial). Este cuidado auxiliará para que os desejos

existentes nesta fase da vida se tornem concretos e realizáveis.

De acordo com Zanelli, Silva e Soares (2010), para alguns profissionais, aposentar-se

significa a perda de metas, de objetivos, um momento de ruptura de sua rotina que há anos

estava acostumado a ter, levando muitas vezes a ter o sentimento de finitude. Enquanto o

trabalho realiza, dá energia e satisfação, assim como status na sociedade, a aposentadoria

pode levar ao sentimento de impossibilidade de poder ser produtivo, uma vez que não há mais

o trabalho na vida do indivíduo.

Segundo Costa e Soares (2009) o processo de aposentadoria e seu sentido precisam ser

revistos e reestruturados, sendo considerado para muitos profissionais como um momento de

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finalização de alguns projetos para se iniciar a uma nova dimensão da identidade do

indivíduo, o qual poderá neste momento perceber o que realmente lhe dá prazer em realizar,

quais os desejos existentes e que possivelmente foram deixados para um segundo plano ou

mesmo nunca foram resgatados.

Zanelli, Silva e Soares (2010) concordam com esta visão e complementam que

também é preciso reestruturar a sociedade para que encarem este momento de aposentadoria

de forma diferente do que vinham fazendo até então. Nesse sentido, é importante observar que

ainda nos dias de hoje a sociedade tem dificuldade em lidar com a questão, causando muitas

vezes sentimentos de impotência e de exclusão destes idosos no mundo produtivo.

Duarte e Silva (2009) citam que programas de preparação para aposentadoria tem sido

uma prática cada vez mais constante em muitas organizações, no sentido de criar um

momento de apoio ao indivíduo que está passando por este período. Ações governamentais

têm sido implementadas, decorrentes desta nova demanda, como a Política Nacional do Idoso

(Lei nº 8.842/1994) e o Estatuto do Idoso (Lei 10/741/2003), como um início da criação de

medidas protetivas. No entanto, estas medidas são poucas diante das necessidades existentes.

De acordo com o Artigo 28, capítulo VI, do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003):

Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:

I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e

habilidades para atividades regulares e remuneradas;

II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de

1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses,

e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;

III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

Segundo Soares et al. (2007) o papel da aposentadoria em sua maioria é transformador

da vida humana, pois muitas vezes altera várias esferas da vida do indivíduo: rotina, hábitos,

relações interpessoais e outras mudanças. Por este motivo, é importante que nesta fase da vida

o profissional tenha um preparo para facilitar o enfrentamento dessa condição. Esse preparo

se dá por meio de projetos de preparação para a aposentadoria, que se referem a ações de

profissionais capacitados, que favoreçam reflexões sobre o que realmente faz sentido na vida,

levando ao planejamento pessoal para o futuro.

Carmo et al. (2010) afirma que os idosos estão se organizando em movimentos, pelos

quais, aos poucos, estão se estruturando para alcançar um lugar no mercado produtivo,

modificando a forma de vivenciar a velhice, tirando o rótulo de que são improdutivos e

ociosos. Não querem mais ficar em casa e estão buscando se posicionar em uma nova

sociedade que também precisa aprender com estas competências, habilidades e

potencialidades que estes profissionais experientes têm e podem oferecer. Com essas

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mudanças, muitos idosos conseguem se revisitar e buscar novos caminhos e nesse sentido tem

se observado nestes profissionais competências empreendedoras para inovarem ou mesmo se

reinventar profissionalmente, conquistando novos mercados e em consequência apresentando

muitas vezes modificações da sua imagem, passando nesse sentido a ser um “novo velho”.

Segundo Zanelli, Silva e Soares (2010) muitos indivíduos que, a vida toda, foram

ativos no trabalho, quando se deparam com a aposentadoria passam por um período de

mudança de identidade. Precisam de orientação ou preparação, para também tomarem

consciência da necessidade de se buscar novas áreas de interesse para continuarem

trabalhando e produzindo. Fazer novas descobertas e atentar para novas oportunidades é tão

importante quanto o autocuidado, bem como aprender que as possibilidades de ação não se

esgotam com a aposentadoria e, nem mesmo a carreira se encerra.

Para os autores, o término desta carreira que vinha até então, pode significar, por meio

de uma visão otimista e positiva, oportunidades de potencialidades e qualidades que até então,

podem não terem sido descobertas, ou estado até mesmo adormecidas por diversas razões no

decorrer de sua trajetória profissional. Estas mudanças e novas perspectivas podem interferir

completamente na qualidade de vida deste indivíduo que passa a partir deste momento fazer

alterações e mudanças significativas que, até então não teve a oportunidade de realizar. Trata-

se de um momento para o profissional focar suas necessidades, fazer melhores escolhas e não

se permitir realizar coisas que até então foi “obrigado” a fazer por muitas circunstâncias.

Trata-se da construção de um novo projeto de vida, com base na maturidade conquistada pelo

ser humano, que neste momento da vida significa um benefício alcançado. (ZANELLI,

SILVA; SOARES, 2010)

Para Zhang (2008) existem fatores que estimulam e desestimulam os profissionais da

terceira idade a continuar trabalhando após a aposentadoria. Nesse sentido, pode ser

considerado um fator desmotivador, a forte preocupação do empregador, no que diz respeito

aos altos custos relacionados com o avanço da idade de seu empregado com a produtividade e

rendimento que este possa trazer para a empresa. No entanto, é importante destacar que vários

estudos têm mostrado que o fato do indivíduo ter idade avançada não tem relação com seu

desempenho e produtividade no trabalho. (HUMAN RESOURCES DEVELOPMENT

CANADA, 1999 apud ZHANG 2008)

Outros fatores que podem desestimular o profissional a continuar trabalhando estão

relacionados ao seu estado de saúde ou de seus familiares, a perda do trabalho, o

relacionamento difícil com seus chefes e a discriminação de seus colegas, uma vez que muitas

vezes as pessoas mais idosas são vistas como profissionais obsoletos. Para o autor, os idosos

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têm a capacidade de aprender novas tecnologias e desenvolver novas competências. Para que

isto ocorra, é necessário desenvolver um ambiente social de incentivo e de conforto, onde este

indivíduo perceba que pode aprender novas habilidades e conhecimentos importantes para a

execução de suas atividades. Desencorajar o aprendizado do profissional idoso pode trazer

consequências negativas para o cenário econômico, dependendo de seu negócio, uma vez que

este profissional ainda é competente. (ZHANG, 2008)

Como fator de estímulo ao profissional idoso a continuar no mercado de trabalho,

Zhang (2008) cita a melhoria da qualidade de vida e de saúde destes indivíduos em

consequência do avanço da medicina e de novos recursos tecnológicos, trazendo ao

profissional uma motivação em continuar ativo para se sentir produtivo. Outro fator que tem

contribuído são os incentivos do governo no sentido de melhorar as condições dos

trabalhadores com alguma restrição física para desempenharem suas atividades. Assim, as

empresas têm desenvolvido ações no sentido de receberem estes profissionais, dando-lhes

condições de trabalho mais adaptada às suas possíveis restrições física. Além disso, têm sido

considerados pelos idosos determinados aspectos que favorecem o equilíbrio entre o trabalho,

o cuidado com a saúde, família e lazer. Dentre eles, o autor cita formas de trabalho mais

atraentes como flexibilidade de horário, possibilidade de se trabalhar em casa por meio do tele

trabalho ou em tempo parcial.

De acordo com Lee (2012), de modo geral, os idosos de 70 anos vêm apresentando

plenas condições de continuidade no trabalho, pois são profissionais que têm se mostrado tão

ou mais saudáveis do que as pessoas de 60 anos de idade de três décadas atrás. Isso se deve ao

fato que o idoso passou a ter ganhos na qualidade de vida de maneira significativa, passando a

viver mais e melhor. O mesmo autor cita que em consequência das mudanças demográficas,

ou seja, como os índices de natalidade são cada vez menores e os aposentados vivem cada vez

mais, a conta previdenciária dos países em desenvolvimento não fecha. É importante ressaltar

que os sistemas previdenciários não acompanharam estas mudanças, demandando uma

reforma significativa por parte dos governos. Estes precisarão fazer uma reforma

previdenciária com programas para estimular o profissional a se manter ativo e produtivo no

mercado de trabalho. Outra mudança inadiável, diz respeito a aumentar a idade mínima para a

aposentadoria e, para isto, o governo precisaria se preparar para enfrentar a resistência de

pessoas que não querem perder seus benefícios e condições asseguradas pela legislação

governamental. Para o autor, embora essas mudanças possam incomodar muitas pessoas, bem

como alterar toda uma cultura já estabelecida, é premente que o governo se mobilize para

propor novas medidas ou caso contrário poderá haver sérios problemas econômicos.

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Nesse sentido, existem oportunidades no envelhecimento que podem ser aproveitadas

para diminuir ou neutralizar os efeitos das mudanças no sistema previdenciário que fatalmente

os governos precisarão fazer para conseguirem manter os custos deste novo contingente que

não produz nos países que a cada dia estão envelhecendo de maneira significativa. Entre elas

está o investimento na educação e desenvolvimento de talentos, no sentido de formar uma

força de trabalho mais educada e preparada para ser criativa e inovadora, levando os países a

aumentarem sua produtividade e eficiência, compensando a falta de mão de obra neste cenário

de profissionais envelhecidos. (LEE, 2012)

A atual economia mundial tem buscado menos trabalho que exige força física e mais

aptidões relacionadas ao cérebro, sendo este o momento no qual a maturidade do profissional

mais velho e experiente torna-se mais valorizada. Assim, o idoso por ter conquistado

sabedoria e experiência de vida deve ser considerado uma pessoa muito importante no mundo

produtivo, fazendo parte de decisões estratégicas na área da economia, pois trata-se de um

profissional que tem experiência, maturidade, capacidade cognitiva e um grande potencial de

decisão, características relevantes no cenário atual. Nesse contexto, deve-se considerar a

importância do empreendedorismo nessa fase da vida, onde cada vez mais profissionais

maduros e experientes desenvolvem novas relações de trabalho. (SCHMITZ, LAPOLLI e

BERNARDES, 2011; LEE, 2012)

3. Empreendedorismo na Velhice

O aumento da expectativa de vida do ser humano, ou seja, o envelhecimento, tem se

tornado um desafio para o terceiro milênio, destacando-se, entre outros aspectos, novas

maneiras de pensar o trabalhador num âmbito sócio político e econômico. Neste contexto,

destaca-se o empreendedorismo como uma forma de aproveitar o potencial do profissional

nessa fase da vida.

Ao tratarmos deste tema, é fundamental entender o significado da palavra

“empreendedor”, que vem do Francês – Entrepreneur - e quer dizer aquele que assume riscos

e começa algo novo. O empreendedorismo surgiu na época do mercantilismo, com Marco

Pólo, quando aventureiros assumiam o risco de realizar rotas comerciais em direção ao

Oriente, possibilitando à oportunidade de se fazer a distinção entre empreendedor e

capitalista. O empreendedor era aquele indivíduo que assumia todos os riscos de forma ativa,

como por exemplo, risco de morte e emocionais e, o capitalista assumia os riscos de forma

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passiva, apenas emprestando o dinheiro, por exemplo. Sendo assim, empreendedor é a pessoa

que por meio de ideias, é capaz de identificar oportunidades, criando algo novo, de valor e,

principalmente assumindo riscos neste novo negócio (DORNELAS, 2003).

Segundo Schumpeter (1949 apud Dornelas, 2001 p.37) “O empreendedor é aquele que

destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela

criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais.” O

autor associa o empreendedorismo à inovação de maneira clara, quando afirma que a essência

do empreendedorismo está no ato de aproveitar novas oportunidades por meio da percepção,

assim como na maneira de se criar uma nova forma de se usar os recursos, onde o indivíduo

desloca-se de seu emprego formal e se dispõe a desenvolver novas combinações de trabalho.

Segundo Drucker (1987) quando uma pessoa precisa tomar uma decisão ela pode

apresentar comportamentos empreendedores, bem como aprender a ser um empreendedor.

Nesse sentido, pode se considerar que empreender é a partir do zero ou de quase nada, criar

algo novo e de valor, por meio de identificação de uma oportunidade. (BARRETO, 1998;

TIMMONS, 1989)

Filion (1999) desenvolveu uma importante definição do indivíduo empreendedor,

resultante de um estudo das diversas contribuições apresentadas por estudiosos no assunto:

O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e

atingir objetivos e que mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive,

usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a

aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões

moderadamente arriscadas que objetiva a inovação, continuará a desempenhar um

papel empreendedor. (FILION,1999. p. 19)

O autor fala ainda da importância de se distinguir o empreendedor do sócio-

proprietário de pequenos negócios. Muitos profissionais exercem um papel empreendedor

sem nunca se tornarem donos de um negócio, atuando em grandes empresas como

funcionários ou como autônomos, sem chegarem a criar uma empresa. Por outro lado, o autor

cita que existem indivíduos que compram negócios já prontos e estabelecidos, sem propor

algo diferente e transformador no ambiente, sem demonstrar visão de oportunidade ou mesmo

de desenvolvimento do negócio. A atividade destes proprietários é de gerenciar a rotina diária,

sem planejamento para o alcance de um objetivo específico e maior.

Este profissional que somente faz a gestão do negócio, não pode ser considerado

empreendedor, pois não visualiza oportunidade, no sentido de propor ao ambiente em que

vive alguma mudança. Enquanto o empreendedor desenvolve, imagina e realiza sua visão nas

atividades de seu negócio, ele está exercendo o seu papel. Quando este passa somente a gerir

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e não propor inovações ou transformações, o indivíduo deixa de ser empreendedor. (FILION,

1999)

Dornelas (2001) afirma que a história do empreendedorismo no Brasil iniciou-se na

década de 1990, quando as políticas públicas passaram a apresentar certo nível de

estabilidade. Nessa época, diversas entidades de apoio ao empreendedorismo surgiram como

o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), entidade privada de

interesse público, que tem por objetivo desenvolver a renda e aumentar a oferta de empregos

no Brasil por meio do empreendedorismo. A Endeavor, Instituto norte americano sem fins

lucrativos, criado em 1997 e presente no Brasil desde 2000, tem o propósito de promover o

empreendedorismo em países em desenvolvimento. A Endeavor busca empreendedores de

alto impacto, ou seja, aqueles que são capazes de crescer de forma acelerada, com sólidos

princípios éticos e contribuam para o desenvolvimento do país.

Além destas entidades, existe o projeto denominado GEM (Global Entrepreneurship

Monitor), criado em 1999, realiza de maneira independente, pesquisas anuais, no sentido de

estudar a atividade do empreendedorismo nos países, seus estudos abrangem 54 países

consorciados (incluindo principais países do G20 e América Latina), o que representa 90% do

PIB e 2/3 da população mundial. A pesquisa é realizada com novos empreendedores (negócio

com até 42 meses de existência) e com empreendedores que tenham um negócio estabelecido,

na faixa etária entre 18 e 64 anos, uma vez que considera que os indivíduos abaixo de 18 e

acima de 64 anos dificilmente investem em um novo negócio. O projeto é coordenado pela

London Business School (Inglaterra) e Babson College (Estados Unidos).

A Endeavor Brasil (2013) realizou um estudo nacional sobre a Cultura

Empreendedora, entre o período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012, com

empreendedores e não empreendedores, totalizando 3.240 brasileiros entrevistados em todas

as regiões do país, de ambos os sexos, entre 16 a 64 anos de idade. A idade média do

empreendedor observada é de 38 anos. Dos entrevistados, 76% preferem ter um negócio

próprio a ser empregado, classificando o Brasil como a segunda maior taxa mundial, ficando

atrás somente da Turquia. O estudo revelou que apesar de 3 em 4 brasileiros terem intenção

de empreender, somente 19% acreditam que realmente iniciarão um negócio nos próximos

cinco anos. Dos entrevistados com intenção de empreender e que consideram pouco provável

conseguirem iniciar um negócio, 66% atribuem a falta de recursos financeiros como a

principal causa, sendo este índice um dos maiores a nível mundial. (EUROBAROMETER,

2012 apud ENDEAVOR BRASIL 2013)

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O relatório GEM (2012) mostra que no Brasil existe uma concentração sensivelmente

maior de novos empreendimentos ocorrendo na faixa etária entre 25 a 34 anos, de 19,2%.

Entre empreendedores estabelecidos a presença maior é entre 45 a 54 anos. A população entre

55 a 64 anos tem menor participação de novos empreendimentos, representando 8,3% da

população que inicia um novo negócio. A faixa de renda com maior presença entre os

empreendedores pesquisados no Brasil é de até seis salários mínimos. Quanto à escolaridade,

a presença maior é de segundo grau completo para empreendedores iniciais, sendo que para

empreendedores já estabelecidos o perfil sobe para nível superior e pós-graduado.

O estudo GEM (2012) fez ainda um levantamento das características empreendedoras

segundo sua motivação, gênero, idade, renda e escolaridade. No Brasil os empreendedores por

oportunidade 1ocupam a 12ª posição com taxa de 10,23%, superior acima da média de todos

os países participantes do estudo. Quanto aos empreendedores por necessidade2 o Brasil

ocupa a 10ª posição com taxa de 4,56%. Quanto ao gênero, o Brasil tem uma das maiores

taxas de empreendedorismo feminino entre os países pesquisados, mesmo estando abaixo do

número de empreendedores masculinos, o equilíbrio tende a ser uma realidade num futuro

próximo.

Hisrich e Grachev (1995) fizeram uma pesquisa com 32 empreendedores russos com o

objetivo de discutir em termos gerais as características dos empreendedores, a motivação para

iniciar um empreendimento, características de personalidade, auto avaliação de competências

de gestão e problemas que ocorreram no início e no decorrer dos negócios. Em termos de

características de personalidade que mais se destacaram, esses empreendedores demonstraram

ser profissionais enérgicos, independentes, competitivos e autoconfiantes. Características tais

como ansiedade, flexibilidade, ter foco nos objetivos, ser generalista e manter um bom

relacionamento social foram levantadas na pesquisa, porém de maneira menos intensa.

Em relação às motivações para iniciar um novo empreendimento, a pesquisa

demonstrou que em sua maioria estão relacionadas à frustração com o atual trabalho, interesse

na área do novo negócio, desejo de independência, necessidade econômica e oportunidade.

Realização e dinheiro foram citados, em menor quantidade. Para os autores, necessidade de

reconhecimento, status e prestígio praticamente não foram citadas pelos empreendedores

entrevistados na pesquisa. Ao se avaliarem as competências de gestão, os empreendedores

sentiram-se fracos em gestão das finanças e marketing. Consideram-se um pouco melhores na

1O empreendedor por oportunidade é aquele que identifica oportunidades de negócios no mercado, planeja e

constrói novas empresas. 2O empreendedor por necessidade é aquele que é motivado a empreender (investir ou participar de um projeto)

como única alternativa para obtenção de renda e de sustento.

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gestão operacional e estratégica, porém mais fortes em gestão de pessoas e geração de ideias.

(HISRICH; GRACHEV, 1995)

Dornelas (2007) procurou identificar as características mais importantes dos

empreendedores, citadas pelos pesquisadores no assunto. Foram estudados, no período de

1972 a 2005, 25 artigos publicados em periódicos internacionais e em livros de referência.

Neste estudo, foram identificadas cinquenta características mais citadas atribuídas pelos

pesquisadores aos empreendedores, sendo que o autor destaca entre elas, a capacidade de

correr riscos e inovar, independência, autonomia e necessidade de realização.

Desse modo, o empreendedorismo vai além do ensino formal de aprendizagem. Trata-

se de um somatório de habilidades, experiência e relacionamentos interpessoais. O

conhecimento técnico é importante, porém, as atitudes e comportamentos são de grande

relevância para o empreendedor, que está diretamente relacionada com a capacidade de inovar

e de conviver com a incerteza, ou seja, correr riscos. É importante saber tomar decisão

correta, no momento adequado, sem demonstrar insegurança. Os empreendedores são

visionários e em momentos adversos, tomam atitudes muitas vezes fora do senso comum, no

sentido de fazer a diferença no ambiente em que vivem, transformando ideias abstratas em

algo concreto e que apresente a solução para o problema. (DORNELAS, 2003; SEBRAE,

2013)

Os empreendedores sabem ainda agregar valor aos serviços prestados ou produtos

criados, pois exploram as oportunidades, mantendo-se atentos a tudo que os rodeiam. São

pessoas que em sua maioria tomam iniciativa, exigem qualidade e eficiência, procurando

fazer o melhor e da melhor forma. Comprometidos, assumem responsabilidades a ponto de

sacrificar seus desejos pessoais para alcançar suas metas, enfrentando obstáculos

constantemente, sem desistir. (DORNELAS, 2003; SEBRAE, 2013)

Essas são algumas das definições, características e discussões de estudiosos a respeito

do empreendedorismo e do indivíduo empreendedor. Da mesma forma, pode-se observar a

existência do profissional que começou a empreender na meia idade e que chega a etapa de

velhice ainda empreendendo. Apesar do GEM, SEBRAE e Endeavor considerarem em seus

estudos sobre empreendedorismo os indivíduos que estão em torno de 65 anos de idade e que

são empreendedores, percebe-se que esta situação, a exemplo de outras questões relacionadas

a velhice, como as novas relações de trabalho estão mudando e necessitando de mais

pesquisas e dados que falem desse assunto.

O Relatório GEM (2011) avalia que cerca de 1,4 milhão de empresas brasileiras já

estabelecidas são geridas por empreendedores entre a faixa etária de 55 a 64 anos. Muitos

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destes profissionais tornam-se consultores ou prestadores de serviço, sendo que os negócios

estavam mais concentrados na área de alimentação, com 36%, seguidos pelo comércio

varejista com 20% e atividades imobiliárias, representando 16% dos negócios iniciados por

estes profissionais.

Kautonen (2008) realizou um estudo com empreendedores de maior idade da

Finlândia e constatou que a maioria iniciou este tipo de atividade pela oportunidade e que

somente 10% dos empreendedores haviam iniciado seu empreendimento por necessidade.

Corroborando com os dados dessa pesquisa, estudos do SEBRAE (2013) mais atuais

destacam que em nosso país o indivíduo mais velho passa a empreender por oportunidade de

negócios e menos intensamente por necessidade. Ele pode planejar e pesquisar melhor as

informações com mais dedicação, tornando o projeto mais duradouro, uma vez que não

precisa de resultados em pouco espaço de tempo. O resultado conquistado por meio destes

empreendimentos por profissionais idosos vem por consequência de seu trabalho de maneira

mais equilibrada e branda.

Em um estudo recente de monitoramento das idades dos fundadores de empresas no

Estado de São Paulo, o SEBRAE (2013) afirma que de 13% dos novos negócios tem sócios

com idade acima de 50 anos. Atualmente estes profissionais mais velhos estão se

posicionando no mercado no mesmo padrão de faixa etária de empreendedorismo

predominante, que é entre 25 e 39 anos de idade, representando 50% das novas empresas. O

número de empresas abertas e fechadas pelos empreendedores mais velhos é proporcional ao

dos jovens.

O SEBRAE (2013) destaca ainda que se torna um diferencial competitivo abrir um

negócio no mesmo ramo de trabalho que o profissional desenvolveu sua carreira anterior, pois

auxilia no desenvolvimento do próprio negócio. Os profissionais idosos demonstram maior

tolerância à pressão, bem como habilidade em lidar com a ansiedade, reagindo de maneira

mais segura diante das circunstâncias, com menor probabilidade de correr riscos e maior

planejamento.

De acordo com Birley e Muzyka (2001) o cenário econômico tem passado por muitas

transformações, com o avanço da tecnologia, cada vez mais presente no dia a dia, tomando o

lugar da força bruta e prevalecendo o conhecimento que o profissional pode agregar para a

economia. Segundo os autores, o momento atual pode ser considerado como a era da gestão

do conhecimento, momento em que se faz necessário administrar todo o aprendizado e

experiência adquiridos pelo indivíduo durante sua trajetória profissional. Dentro deste novo

cenário, as características apresentadas pela maioria dos profissionais idosos têm se mostrado

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interessantes e valorizadas na atividade como empreendedores, pois possuem capacidade de

enfrentar e solucionar problemas e com potencial de perceber novas oportunidades.

Os empreendedores na velhice têm demonstrado no Brasil que a produtividade tem

proporcionado disposição e novo sentido a vida, conforme os 56,92 mil empreendedores

individuais com mais de 60 anos ativos no cenário econômico brasileiro. Segundo estudos da

Unidade de Educação e Empreendedorismo do SEBRAE, alguns motivos conduzem o

profissional idoso a empreender que são a possibilidade de realização de um sonho que por

muitas vezes foi ignorado pela segurança de um trabalho quando ainda jovem. (SEBRAE,

2013)

Outro motivo que leva o profissional de maior idade a empreender é a necessidade de

continuar sua atividade realizada no passado, formalizando assim um negócio próprio. A

experiência tem se mostrado um fator favorável para se iniciar um empreendimento, mesmo

não sendo específica, ou seja, o profissional na velhice tem se mostrado apto a desenvolver

novas atividades em sua vida, porém aproveitando sua maturidade no mundo dos negócios.

Como exemplo, o SEBRAE (2013) cita o fato de um profissional ter atuado como empregado

durante toda a sua vida profissional e na velhice passar a atuar na operação de um

empreendimento do segmento de prestação de serviço.

Segundo Schmitz, Lapolli e Bernardes (2011), na era do conhecimento, onde são

valorizadas as formas mais criativas em relação à força bruta do trabalho, é exigido do

profissional maior capacidade de decisão para atender a velocidade de mudanças que se fazem

necessárias para se manter no mercado produtivo. Atualmente, são necessários

redirecionamentos constantes e mudanças velozes, demandando uma gestão mais participativa

no mundo organizacional. Desse modo, os profissionais mais maduros têm se mostrado

estratégicos no mundo corporativo, pois apresentam uma grande bagagem cognitiva e um

potencial vivido importante para este momento, mesmo que apresentem alguma restrição

física. Para os autores, a estratégia da gestão do conhecimento consiste na passagem do

conhecimento tácito que esses profissionais seniores trazem para o conhecimento explícito de

toda sua vivência e experiência adquirida ao longo de sua trajetória profissional.

Nesse contexto, é importante considerar o profissional na velhice, pois como afirmam

ainda Schmitz, Lapolli e Bernardes (2011), no ambiente do conhecimento, esses profissionais

mais velhos apresentam muitas vezes, melhores condições de perceber a existência de

oportunidade, uma vez que para isto procuram fugir do convencional para sua realização.

Segundo Zhang (2008), nesse cenário, onde há menos exigência dos profissionais ativos dos

que demandam força física, torna-se mais viável e valoroso o trabalho dos idosos, uma vez

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que muitos profissionais da terceira idade têm conhecimento e habilidades importantes

relacionadas ao trabalho, permitindo que os mesmos possam se envolver em atividades

econômicas.

É importante ressaltar também que com o aumento da expectativa de vida, o idoso tem

demonstrado cada vez mais a necessidade de se manter ativo no mercado de trabalho, num

ambiente que o indivíduo vale pelo que produz, dando continuidade em seus projetos de vida

ou mesmo inovando em novos objetivos de produtividade. Desse modo, o empreendedorismo

tem se mostrado também como um estímulo para os profissionais da terceira idade, no sentido

de criar oportunidades de se conhecer e perceber habilidades que para alguns até o momento

foram ignoradas. O empreendedorismo favorece a criação de oportunidades propiciando

momentos onde o indivíduo idoso possa refletir, adquirir e ampliar seu conhecimento, bem

como de se capacitar no sentido de tomar atitudes e atuar como agente modificador do meio

externo. (SCHMITZ; LAPOLLI; BERNARDES, 2011)

A valorização da força de trabalho dos idosos e o aumento da conscientização do

empreendedorismo na terceira idade podem trazer vários benefícios em diversos segmentos,

como social, econômico e psicológico. Com o idoso ativo e produtivo, a economia é aquecida,

uma vez que se eleva a taxa de participação no mercado de trabalho, postergando e

melhorando as condições previdenciárias. No âmbito social, a opinião pública em relação ao

idoso pode ser modificada, quando se valoriza e conscientiza a importância do

empreendedorismo nesta etapa da vida, levando a redução da discriminação social entre os

indivíduos desta sociedade. (ZHANG, 2008)

Para Zhang (2008) e Duval (2003) o empreendedorismo pode elevar a satisfação, a

motivação e consequentemente melhorar a qualidade de vida destes profissionais, uma vez

que o idoso tem a oportunidade de melhorar sua condição econômica e diminuir os gastos

com despesas relacionadas com a idade. Em relação ao modo de ser visto pela sociedade,

ocorre uma valorização do seu potencial social, pois é percebido de maneira ativa e produtiva,

assim como durante toda sua trajetória profissional na vida adulta.

Schmitz, Lapolli e Bernardes (2011) afirmam que os profissionais da terceira idade

após a aposentadoria, percebem que ainda há um longo caminho pela frente, devido ao

aumento declarado da expectativa de vida e da necessidade de sustento a partir desta nova

etapa. Para o autor, neste momento profissional surge o empreendedorismo com o papel de

estimular e incentivar o indivíduo que agora detém o conhecimento a visualizar as

oportunidades que poderão surgir. Esta concepção de trabalho que possibilita o

desenvolvimento de características como gestão do risco, inovação e criatividade, tem

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representado para o profissional da terceira idade uma fonte de prazer, satisfação e realização.

Assim, segundo os autores, o idoso tem mostrado interesse em voltar ao trabalho, pois em

nossa sociedade o indivíduo qualificado é o trabalhador. Ele precisa se sentir valorizado e as

diversas oportunidades que podem surgir por meio do empreendedorismo, têm se mostrado

uma nova maneira de se resolver e atender esta demanda.

Patel e Gray (2006), Singh e DeNoble (2003) e Kautonen (2008) apresentam estudos a

respeito do empreendedorismo na velhice, onde descrevem os motivos que levam os

profissionais idosos a empreender, classificando-os como fatores de atração e fatores de

pressão. São considerados como fatores de atração, a própria trajetória curricular do

indivíduo, conquistada ao longo de sua vida no trabalho; o reconhecimento crescente de

negócios, bem como a oportunidade de negócios e a própria independência. Como fatores de

pressão, os autores apresentam a discriminação por idade; pressão sobre o trabalho do outro

no mercado de trabalho; falta de oportunidade em arrumar trabalho com a idade avançada;

diminuição de oportunidade de crescimento da carreira nas organizações e os baixos

rendimentos e benefícios advindos dos fundos de aposentadoria.

Os empreendedores na velhice podem ser ainda caracterizados como constrangidos,

racionais e relutantes. Os empreendedores constrangidos apresentam elevada tendência

empreendedora, porém a falta de liquidez e de apoio familiar os impede de iniciar suas

atividades empreendedoras na velhice. Para os autores, a motivação principal para este início

parece ser a realização pessoal. Os empreendedores racionais decidem continuar suas

atividades no trabalho, por meio de uma análise racional, comparando a posição atual com o

empreendedorismo. Provavelmente, a motivação central é a fonte de renda se mostrar

constante e confiável, de acordo com esta análise racional dos fatos. Os empreendedores

relutantes, segundos os autores, foram levados involuntariamente para o empreendedorismo

por falta de oportunidade de emprego no mercado de trabalho, sendo esta a motivação central,

ou seja, a necessidade. (PATEL; GRAY, 2006; SINGH; DENOBLE, 2003)

Kautonen, Down e South (2008) demonstram em seus estudos alguns motivos que

levam o profissional idoso a empreender, como as perspectivas de lucros crescentes

juntamente com a possibilidade de concretizar suas ideias, colocando-as em prática, por meio

de flexíveis formas de trabalho, com maior independência. Para os autores, este fato pode ser

justificado pelas várias mudanças ocorridas nas economias e sociedades, no qual os

indivíduos têm percebido a necessidade de continuar trabalhando por mais tempo. Um dos

motivos que os levam a isso é a própria necessidade de se manterem ativos, sendo este uma

energia propulsora para o empreendedorismo na velhice. Outro motivo apresentado pelos

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autores é que muitos profissionais maduros têm desejos de se tornarem empreendedores e,

quando se deparam com uma demissão involuntária da empresa ou mesmo voluntária, por

estarem insatisfeitos com seu atual trabalho, podem levá-los a se envolverem em atividades

empreendedoras.

Zhang (2008) afirma que as atividades no empreendedorismo oferecem maior

flexibilidade de tempo e representam uma maneira do idoso aplicar todo seu conhecimento

adquirido para gerenciar seu próprio negócio, eliminando os fatores que os desestimulam a

permanecer com vínculo empregatício, como por exemplo, a difícil relação com chefes e a

discriminação por parte de seus colegas. Além disso, os profissionais idosos podem procurar

melhorar os seus rendimentos e alcançar um equilíbrio entre trabalho e vida por meio do

empreendedorismo. Desse modo, é importante para o empreendedor, sentir-se realizado

profissionalmente, o que muitas vezes não ocorre com as pessoas por medo de arriscar e

assim se sujeitam a vida toda a trabalhar em algo que não se sentem bem apenas para

conseguir manter o sustento da família.

Para Singh (2009), no Canadá, um dos motivos que conduzem o profissional idoso a

iniciar um empreendimento é o próprio momento de vida. Nesta etapa mais madura, o

indivíduo já encerrou algumas obrigações como adquirir e quitar uma moradia, criar e educar

filhos que neste momento já se formaram e vivem de maneira independente financeiramente.

Muitos profissionais conseguem por meio de seu trabalho conquistar um adequado patrimônio

financeiro e, muitos continuam aumentando suas reservas por receberem a aposentadoria

referente aos anos de vida já trabalhados. Desta maneira, torna-se mais favorável iniciar um

empreendimento quando se tem um patrimônio líquido suficiente para o investimento inicial

deste.

Segundo o autor, não depender de empréstimos e financiamentos tem sido motivador

para os profissionais maduros iniciarem uma atividade empreendedora, pois se sentem mais

seguros. Além disso, é uma oportunidade para o idoso de se manter intelectualmente e

fisicamente ativo, prolongando a duração e qualidade de vida, bem como o realizado

profissionalmente. (SINGH, 2009)

Kautonen, Tornikski e Kibler (2011) realizaram um estudo na Finlândia sobre o

impacto das normas percebidas na formação da intenção empreendedora na velhice.

Constataram que se o indivíduo idoso percebe que a atividade empreendedora é aceitável

socialmente em qualquer faixa de idade, inclusive na terceira idade, este fato se torna uma

influência positiva e significativa sobre sua intenção de empreender. Desta maneira, os

autores sugerem que para incentivar o empreendedorismo na terceira idade devem ser

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realizadas ações no sentido de conscientizar de maneira geral toda uma comunidade sobre a

viabilidade do empreendedorismo na terceira idade, por ser uma interessante e atraente

alternativa para toda esta população madura profissionalmente, com energia para o trabalho e

dedicação.

Com o aumento desta consciência positiva do potencial empreendedor no

envelhecimento, o idoso tem a oportunidade de ampliar sua percepção e de tomar atitudes

nesta direção de forma acentuada, elevando assim sua participação na economia e na vida

social. Os resultados deste movimento positivo é uma melhora na qualidade de vida dos

idosos, bem como os efeitos também se tornam positivos para toda uma população, criando

uma aceitação social para o empreendedorismo na velhice entre os grupos familiares, amigos,

clientes e financiadores. (KAUTONEN; TORNIKOSKI; KIBLER, 2011)

No Brasil, Szajman (2009) demonstra que é considerável o número de negócios

criados por profissionais acima de 55 ou 60 anos de idade, ou seja, pessoas que chegaram na

velhice, que se aposentaram ou estão em processo de aposentadoria. Juntamente com esta

realidade, o autor afirma que a crescente preocupação das empresas no sentido de facilitar e

preparar seus funcionários que alcançaram esta etapa da vida. A cada dia mais as empresas

estão mais envolvidas com ações voltadas para a responsabilidade social e com isso é

crescente o número de ações para o desenvolvimento destes profissionais mais maduros.

Apesar de serem ações ainda não expressivas no cenário econômico brasileiro, o autor

cita que as empresas têm realizado projetos de treinamento e cursos no sentido de preparar e

instrumentalizar o profissional na velhice com uma variedade de novos conhecimentos, no

sentido de capacitá-los a iniciar seu próprio negócio. Outro foco de atuação é o

aprimoramento das competências já desenvolvidas na trajetória profissional, no sentido de

desenvolver a capacidade técnica para atuar como um consultor ou um técnico especializado,

na condição de prestador de serviços, autônomo ou terceiro.

Szajman (2009) afirma que se esse comportamento observado das ações de

desenvolvimento no sentido de capacitar e incentivar o empreendedorismo se concretizar e se

expandir, o Brasil poderá ter um desenvolvimento econômico expressivo. Com o

aproveitamento da mão de obra especializada, com o término da obsolescência precoce que

ocorre nos dias atuais de toda esta gama de conhecimento que os idosos conquistam em sua

trajetória profissional, juntamente com a vontade de empreender e da capacidade de criar e

executar, o país terá um novo significado econômico e social.

Os idosos para Szajman (2009) apresentam condições de oferecer ao mercado

econômico a serenidade e experiência de vida importante para a superação de desafios e

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enfrentamento de problemas do cotidiano. Uma visão mais sistêmica, atrelado a uma alta

confiança para o planejamento, faz do empreendedor idoso, um profissional importante na

recuperação econômica do país, no sentido de superação das adversidades, contribuindo com

soluções acima da média às necessidades do desenvolvimento do Brasil.

Segundo o autor algumas barreiras precisam ser rompidas para enfrentar o desafio de

absorver toda esta população envelhecida no cenário econômico, vindas dos diversos

segmentos culturais, sociais, políticos e mesmo econômico. Por isso, torna-se imprescindível

desenvolver políticas públicas e privadas num sentido único de romper estas dificuldades,

incentivar o empreendedorismo nestes profissionais na velhice, podendo contribuir no

processo de desenvolvimento e crescimento econômico do Brasil. (SZAJMAN, 2009)

Kautonen (2013) apresentou recentemente um relatório sobre o empreendedorismo

sênior, onde faz algumas recomendações em relação às políticas governamentais que podem

vir a serem propostas no sentido de entender e incentivar o empreendedorismo no

envelhecimento. Trata-se de um campo pouco explorado e com escassez de evidências

empíricas, no qual demanda certo cuidado na formulação de políticas nesta direção.

Este estudo mostra algumas áreas em que ações políticas do governo poderiam

construir resultados positivos, como criar a consciência positiva do empreendedorismo como

uma opção para o fim de carreira, tanto para o próprio indivíduo da terceira idade, como

também para a família, amigos, clientes e investidores. Desta maneira, o preconceito e a

imagem negativa deixariam de ser um obstáculo para a continuidade deste profissional no

mercado econômico. Outra ação política positiva apresentada no estudo é criar uma rede de

benefícios para os empreendedores mais velhos, no sentido de incentivá-los a empreender e

não puni-los, caso obtenham algum fracasso. (KAUTONEN, 2013)

Ainda no contexto de tais propostas, é considerado importante desenvolver uma

estrutura de informação e treinamento técnico para que estes profissionais mais velhos

possam se atualizar ou mesmo conhecer as novas formas e legislação vigente, oferecendo-lhes

respaldo legal e técnico, uma vez que muitos destes idosos estão iniciando como

empreendedor e necessitam se ambientar com toda a demanda legal necessária. Ações de

treinamento de profissionais de uma maneira geral, sejam de empresas de apoio, de

fornecedores, de clientes, no sentido de aprender a tratar os indivíduos mais velhos,

conhecendo suas características, potencialidades e dificuldades. Como última sugestão de

ação política, é recomendado também incentivar os profissionais mais maduros e experientes

a se desenvolverem e como consultores, prestadores de serviços nas empresas, exercendo

funções como um mentor, ou seja, de um profissional mais velho e com vivências, suficientes

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para apoiar os empreendedores de diversas idades, inclusive desta mesma faixa etária,

oferecendo-lhes sua experiência, conhecimento, bem como empatia, nos casos dos

empreendedores idosos e troca de informações. (KAUTONEN, 2013)

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CAPÍTULO II – OBJETIVOS

1. Objetivo Geral

O objetivo geral deste estudo é analisar as características dos empreendedores na

velhice.

2. Objetivos Específicos

Como objetivos específicos, esta pesquisa procura identificar as motivações

empreendedoras no idoso; verificar como o idoso vivencia aspectos relativos às

oportunidades, aprendizado e riscos na sua atividade empreendedora.

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CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada no presente estudo foi qualitativa, com enfoque no significado

do comportamento do indivíduo, ou seja, sua percepção em relação ao tema proposto.

Segundo Oliveira (1997) as pesquisas com abordagem qualitativa podem descrever,

compreender e interagir as diversas variáveis de um determinado tema que se quer estudar,

bem como apresentar contribuições e formar opiniões de um determinado grupo social. Além

disso, para o autor, pode-se em maior grau interpretar os comportamentos ou atitudes de

indivíduos a que se propõe estudar. Para o tratamento dos dados, foi utilizada a técnica do

Discurso do Sujeito Coletivo, tendo o aporte teórico oferecido por Lefèvre e Lefèvre (2005),

que apresentam esta técnica de organização dos dados qualitativos obtidos por meio de

entrevistas, no qual são apresentados sob a forma de um ou vários discursos-síntese.

São abordadas nesse capítulo questões relativas aos participantes do estudo,

procedimentos e os instrumentos que foram utilizados, finalizando com os aspectos éticos

relativos à pesquisa.

1. Participantes

O presente estudo foi realizado com oito idosos, de ambos os gêneros, acima de 60

anos de idade, alfabetizados, contatados por acessibilidade. Para participar desta pesquisa, os

profissionais precisam ser proprietários atuantes de negócio formal (sócio proprietário no

contrato social da empresa com CNPJ) ou informal (dono de negócio não legalizado de

acordo com legislação brasileira), tendo iniciado suas atividades como empreendedor após os

45 anos de idade. Além dos critérios expostos, os participantes após terem respondido o

Questionário CEI (Carland Entrepreneurship Index) precisam ter obtido classificação relativa

à categoria de empreendedor (de 16 a 25 pontos) ou macro empreendedores (de 26 a 35

pontos), de acordo com o instrumento utilizado na coleta de dados nessa etapa, descrito no

material.

Foram excluídos do estudo pessoas que se classificaram como microempreendedor (de

0 a 15 pontos) no questionário, por apresentarem, segundo o instrumento, baixo nível de

empreendedorismo. Da mesma maneira, excluídos os profissionais com vínculo empregatício

formal (com registro na Carteira de Trabalho Profissional), de acordo com a Legislação

Trabalhista vigente no Brasil e/ou que apresentassem alguma dificuldade cognitiva ou

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emocional que represente impedimentos para a participação, considerados os instrumentos

utilizados nas etapas da pesquisa (Questionário e Entrevista semiestruturada).

2. Instrumentos

Com relação aos instrumentos utilizados na pesquisa, foi utilizado o questionário

sociodemográfico (Anexo A) para a coleta de dados do perfil da população estudada, com

perguntas abertas e fechadas, respondidas pelo próprio participante. O questionário buscou

obter informações como idade, sexo, renda familiar, ano de fundação do empreendimento,

quantidade de funcionários e faturamento.

O Questionário CEI (Carland Entrepreneurship Index) (Anexo B), tem o objetivo de

identificar características que compõem traços do empreendedor com diferentes graus de

intensidade, pois mede a presença dos elementos básicos do empreendedor e sua intensidade,

ou seja, a maior e a menor presença destes elementos, classificando-os em três categorias.

Para Carland e Carland (1996), estes elementos são: traços de personalidade, necessidade de

realização e criatividade; propensão à inovação; propensão ao risco e postura estratégica.

Elaborado originalmente em inglês por Carland, Carland e Hoy (1992), segundo

Gimenez, Inácio Júnior e Susin (2001) a tradução para o português foi feita através do método

backtranslation. Este método traduz o que foi selecionado (no caso o método CEI) para o

idioma desejado e retraduz para o idioma original. No final são comparados os dois trabalhos

no idioma original e se houver diferença o processo é repetido até que os dois apresentem o

mesmo significado.

Segundo Inácio Junior e Gimenez (2004) o modelo consiste em um questionário de

auto resposta com trinta e três frases afirmativas em pares, no formato de escolha forçada, o

qual requer menos de 10 minutos para ser respondido, possui uma fácil tabulação e não exige

formação acadêmica específica para sua aplicação. Trata-se de uma escala preferencial,

indicando através da personalidade e preferências do indivíduo a classificação

(microempreendedor, empreendedor ou macro empreendedor). A maior ou menor presença

das características empreendedoras em um indivíduo coloca-o, segundo a escala do CEI, entre

os valores de 0 a 33 pontos, contidos em três faixas.

De acordo com os critérios de inclusão do presente estudo, os participantes

considerados referem-se aos respondentes com pontuação no questionário classificados como

empreendedores (de 16 a 25 pontos) ou macro empreendedores (de 26 a 35 pontos). O

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questionário CEI, seu gabarito de tabulação, em inglês, e o quadro de classificação com as

características gerais estão no Anexo B.

O roteiro de perguntas da entrevista semiestruturada foi elaborado pela pesquisadora e

é composto de nove questões referente ao assunto estudado nesta pesquisa, buscando atender

aos objetivos propostos no estudo. Segundo Boni e Quaresma (2005) as entrevistas

semiestruturadas combinam perguntas abertas e fechadas, possibilitando ao entrevistado a

oportunidade de falar sobre o tema a que se propõe, dentro de um contexto muito similar ao

de uma conversa informal. Exige dos entrevistadores atenção para dirigir a entrevista, no

sentido de conduzir a discussão e auxiliar o entrevistado a responder as questões de maneira

clara. Para os autores, este tipo de entrevista é adequado para se delimitar a quantidade das

informações, possibilitando maior direcionamento para o tema proposto, a fim de alcançar os

objetivos.

As perguntas construídas no roteiro da entrevista semiestruturada seguiram as

indicações sugeridas para a metodologia do discurso do sujeito coletivo de Lefèvre e Lefèvre

(2005), que foi utilizada neste estudo. Foram formuladas questões que procuram responder da

forma mais precisa possível o que se deseja investigar. Dessa maneira, as respostas precisam

ser espontâneas, menos dirigida possível e ao mesmo tempo devem referir-se ao assunto sobre

o qual se deseja que os entrevistados respondam. Os temas centrais da entrevista

semiestruturada constam no Quadro 1. e o roteiro da entrevista no Anexo C.

Quadro 1. Temas Centrais da Entrevista Semiestruturada

Nº Tema Central

1 O processo de empreender

2 Motivações para empreender

3 Características do empreendedor para a atividade empreendedora

4 Identificação das oportunidades de negócios

5 Processo de aprendizagem para o empreendedor

6 Os riscos na atividade de empreender

7 Relação da idade com a atividade de empreender

8 Perspectivas do futuro para o empreendedor

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3. Procedimento

O idoso foi contatado por acessibilidade, por meio de indicação de profissionais da

área empresarial ou administrativa do conhecimento da pesquisadora e não participantes do

seu convívio social. Foi agendado um encontro individual em local reservado e definido entre

o participante e o pesquisador.

Primeiramente, os participantes receberam os esclarecimentos sobre a pesquisa e

assinaram o termo de consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (Anexo D). O termo foi

assinado em duas vias, sendo que uma permaneceu com o participante e a outra ficou em

poder do pesquisador. Para a coleta de dados foi aplicado o questionário sociodemográfico

(Anexo A) e o Questionário CEI (Carland Entrepreneurship Index) (Anexo B), instrumento

validado no Brasil, de uso não exclusivo do psicólogo, que visa avaliar o grau de

empreendedorismo do participante. O questionário foi corrigido pelo pesquisador

imediatamente após ter sido respondido e, tendo este sido classificado como empreendedor ou

macro empreendedor, de acordo com o instrumento utilizado, o participante respondeu a um

roteiro de entrevista semiestruturado, contendo nove questões referentes ao tema, formulado

pela pesquisadora.

Aos demais participantes foi oferecida uma entrevista devolutiva sobre questões que

porventura tenham surgido ao realizar o questionário sobre empreendedorismo. As entrevistas

foram realizadas em local de preferência dos participantes, gravadas em áudio e

posteriormente transcritas pela própria pesquisadora. Após a transcrição, todas as entrevistas

foram gravadas em CD e apagadas do aparelho gravador de áudio. O CD com as gravações

ficarão em poder da pesquisadora responsável e guardada em local protegido por cinco anos.

Este procedimento foi realizado até o momento em que se percebeu que as respostas

das entrevistas estavam se repetindo, não sendo trazidos dados novos para os temas

abordados. Uma vez sendo considerado saturado os discursos, encerrou-se a coleta de dados,

tendo alcançado um total de oito participantes para a amostra.

No presente estudo foi utilizada como metodologia de análise dos dados, a técnica do

Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) proposta por Lefèvre e Lefèvre (2005) no final da década

de 1990 com o objetivo de ser aplicada na área da saúde. Sua proposta é expressar o

pensamento ou a opinião de uma coletividade, organizando os dados qualitativos de natureza

verbal, obtidos por meio de depoimentos, respeitando a condição qualitativa e quantitativa,

onde a qualitativa é o próprio discurso e a quantitativa é a frequência de compartilhamento

advindo dos discursos entre os participantes da pesquisa. Este estudo trabalhou somente com

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43

a análise qualitativa, pois aqui não se teve a pretensão de analisar a quantidade das

informações, mas sim a qualidade, como pensa o coletivo a respeito deste tema, ou seja, a

representação social a respeito do empreendedorismo no idoso.

Para Lefèvre e Lefèvre (2005) o discurso síntese é obtido a partir dos fragmentos de

discursos dos indivíduos, reunidos por sua similaridade de sentidos. Estes discursos são

expressos na primeira pessoa do singular, formatados pelo pesquisador. Segundo os autores, o

discurso na primeira pessoa do singular representa de uma maneira precisa um hipotético

sujeito coletivo único (individual), sendo respeitados os sentidos, ou seja, o discurso do

sujeito coletivo é a junção dos discursos individuais, viabilizando e representando um

pensamento social coletivo.

A base teórica utilizada para a elaboração desta metodologia de análise de dados é a

Teoria das Representações Sociais, sendo os DSC’s considerados partes destas

representações. Segundo Gondim e Fischer (2009), a Teoria das Representações Sociais não

tem até os dias atuais um consenso em sua definição, desde sua criação, em 1978 por

Moscovici. Para Moscovici, (1978) foi Durkheim quem iniciou com a expressão

“representação coletiva” para designar o que é específico do pensamento social em relação ao

pensamento individual. O autor amplia a definição advinda da psicologia social para a

vertente psicanalista, onde conceitua a representação social como “uma modalidade de

conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a

comunicação entre indivíduos.” (MOSCOVICI, 1978, p.26)

Porém, segundo os autores, as representações sociais estão diretamente relacionadas à

construção de teorias do senso comum, compartilhadas de maneira coletiva. O DSC –

Discurso do Sujeito Coletivo tem como proposta ser uma ponte entre o conhecimento

científico e o senso comum, com o objetivo de reconstituir o pensamento coletivo,

conciliando qualidade e quantidade ao reunir os fragmentos de discurso em um único

discurso. Para entender a construção do DSC – Discurso do Sujeito Coletivo é importante

compreender algumas figuras metodológicas que os autores desenvolveram em seus estudos,

que são definidas como Expressões-Chave, Ideias Centrais e Ancoragens. (LEFÈVRE;

LEFÈVRE, 2005)

De acordo com Lefèvre e Lefèvre (2005), as Expressões-Chave (ECH) são trechos,

transcrições ou pedaços literais do discurso, que são percebidas pelo pesquisador como a

essência, o conteúdo principal trazida pelo entrevistado e que deve ser destacada do corpus da

resposta. Os DSC serão construídos com a matéria-prima das Expressões-Chave. A Ideia

Central (IC) revela de maneira mais objetiva, sintética e precisa o sentido de cada um dos

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discursos analisados e de cada conjunto de ECH que por meio destes dará origem ao DSC.

Pode-se dizer que a IC é a descrição do sentido do depoimento ou de vários depoimentos com

o mesmo sentido, ou seja, não é uma interpretação do pesquisador.

A Ancoragem, de acordo com os mesmos autores, é uma manifestação explícita de

uma ideologia, ou crença ou mesmo de certa teoria, que o entrevistado expressa claramente

durante seu depoimento. Esta figura metodológica tem como inspiração a representação

social, ou seja, podendo-se afirmar que todo discurso tem uma ancoragem, pois praticamente

tem como alicerce pressupostos, hipóteses e teorias dos indivíduos que estão manifestando

suas opiniões. Porém, nesta metodologia é utilizada a ancoragem que é manifestada de forma

clara e explícita, evitando interpretações do pesquisador e, consequentemente viés no estudo a

que se propõe.

Diante dos conceitos das figuras metodológicas, pode iniciar a técnica que consiste

basicamente em selecionar de cada resposta individual a uma questão construída, as

Expressões-Chave, que são trechos que o pesquisador percebe como mais significativos da

resposta fornecida pelo entrevistado. Por meio da análise dessas Expressões-Chave, segundo

Lefèvre e Lefèvre (2005), é retirado a Ideia Central ou Ancoragem correspondente, ou seja, a

síntese do conteúdo produzido pelo discurso representado nas Expressões-Chave. A partir daí,

procura-se enquadrar os depoimentos ou discursos em categorias por similaridade de sentido,

somando-se as respostas iguais, tornando-os equivalentes, por expressarem a mesma ideia. A

partir deste momento, é feito a construção do discurso coletivo, produzido na primeira pessoa

do singular, por meio do material das Expressões-Chave das equivalentes Ideais Centrais ou

Ancoragem. Para maior esclarecimento do procedimento de análise dos dados, foi construído

um fluxograma, conforme Figura 1.

O pensamento da coletividade ou mesmo de um grupo aparece como se fosse um

discurso individual. O resultado é um painel de discursos de sujeitos coletivos, escritos na

primeira pessoa do singular, com o objetivo de sugerir uma pessoa coletiva falando como se

fosse um sujeito individual de discurso. Para os autores Lefèvre e Lefèvre (2005), é uma

maneira de se apresentar os resultados de uma pesquisa diferente do que se tem observado,

por ser clara, fácil de perceber a forma viva do pensamento do coletivo. De acordo com

estudos realizados, observam-se várias maneiras de se apresentar os discursos, sendo que os

autores afirmam que não existe uma forma correta e única de análise, mas sim a melhor que o

pesquisador considerar para entendimento de seus estudos.

Dessa maneira, após a realização das entrevistas e de posse das gravações, foi

transcrito a resposta de cada participante, por pergunta realizada durante as entrevistas. Na

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sequência, foram analisados os depoimentos, buscando extrair de cada um deles as ideias

centrais ou ancoragens, a partir de expressões-chave a que se referem, enumerando-as e

destacando-as no corpo das respostas (Anexo E). Em um segundo momento, iniciou-se a

construção dos discursos síntese, partindo das ideias centrais/ancoragens e expressões-chave

correspondentes chamado de discurso do sujeito coletivo (Anexo F ).

O Quadro 2., denominado Discurso do Sujeito Coletivo (subdividido em oito quadros,

de 2.1 a 2.8), foi construído a partir do Anexo F, onde continuou-se a analise, no sentido de

aprimorar a elaboração do discurso do sujeito coletivo, mantendo-se o objetivo de agrupar as

ideias centrais para obter um discurso único que represente o que uma coletividade pensa a

respeito de cada ideia central levantada nesta pesquisa a respeito do tema estudado, bem

como a quantidade de participantes por ideia central identificada.

Figura 1. Procedimento de Análise de Dados

Entrevistas gravadas em

áudio

Transcrição das entrevistas

Destaque das ideias centrais

(IC) ou ancoragens

Destaque das expressões

chave (ECH) com as

respectivas IC ou ancoragens

Enumeração das ECH por

assunto/similaridade

Agrupamento das ECH

enumeradas

Construção dos discursos síntese –

Discurso do Sujeito Coletivo

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4. Aspectos Éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade São Judas

Tadeu (CEP), de acordo com Parecer Consubstanciado do CEP, número 151.664, datado de

21 de novembro de 2012, sendo o número da CAAE: 10824312.4.0000.0089 (Anexo G).

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CAPÍTULO IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo, serão apresentados os dados coletados da pesquisa e a discussão dos

resultados. Primeiramente, são apresentados os dados pessoais dos entrevistados e na

sequência, em forma de quadro as ideias centrais e os seus respectivos discursos coletivos

produzidos, subdivididos pelos temas abordados na entrevista semiestruturada, com a análise

dos resultados. (Quadros 2.1. a 2.8.)

Nos quadros apresentados é destacado o número de participantes que contribuíram

com as ideias centrais que compõe cada discurso do sujeito coletivo. Os respondentes poderão

ter mais do que uma ideia central em relação ao mesmo tema. Desta forma poderão existir

mais do que oito trechos de respostas para o mesmo conjunto de ideias centrais.

Para garantir o sigilo, os participantes são chamados pelas letras do alfabeto de

maneira sequencial. De posse desses dados, pode-se observar que a idade média dos

participantes entrevistados é de 71 anos e que iniciaram suas atividades no empreendedorismo

na média de 60 anos, entre as entrevistas do gênero feminino a média foi de 61 anos já entre

os entrevistados do gênero masculino essa média cai para 57 anos de idade. Todos os

entrevistados, de ambos os gêneros, fizeram curso universitário conforme Figura 2 e atuaram

na área de formação. Esta informação mostra que são profissionais que após terem encerrado

as atividades que os desenvolveram como profissionais no mercado de trabalho ao longo de

toda a sua vida, tiveram a atitude de iniciar um empreendimento novo, onde alguns

continuaram em sua área de atuação e outros desenvolveram atividades que até então nunca

haviam atuado antigamente, conforme iremos constatar nas apresentações dos dados coletados

neste capítulo.

Ainda de acordo com o Questionário sócio demográfico foi observado que cinco

participantes são casados, dois são viúvos e um é separado. A renda também expressa uma

relação com o nível educacional, mencionado anteriormente e demonstrado na Figura 2, de

maneira que, como todos são formados e possui uma profissão, a renda familiar é acima de 10

salários mínimos para todos os entrevistados.

A participante A tem 75 anos de idade, é do sexo feminino, com graduação em

farmácia. Ela obteve 19 pontos no questionário CEI, (conforme Figura 2), sendo classificada

como empreendedora. Atuando há onze anos como prestadora de serviços de consultoria, no

ramo farmacêutico, iniciou como empreendedora após sua aposentadoria e afastamento do

trabalho formal que realizou durante toda sua trajetória profissional, como professora e

pesquisadora em uma Universidade da cidade de São Paulo. O participante B, com 67 anos de

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idade, sexo masculino, é formado em engenharia mecânica e classificado como empreendedor

por ter atingido 24 pontos no questionário CEI. Atua como empreendedor desde os 46 anos,

no segmento de prestação de serviços de mão-de-obra terceirizada, ramo no qual já trabalhava

anteriormente.

Com 70 anos de idade, do sexo feminino, a participante C é terapeuta ocupacional e

chefe de cozinha. No questionário CEI alcançou 21 pontos, tendo sido classificada como

empreendedora. Iniciou suas atividades empreendedoras aos 64 anos com uma escola de

culinária, quando após ter sido terapeuta ocupacional, atuou como apresentadora de

programas de culinária na televisão, sendo inclusive autora de livros sobre o tema. Aos 61

anos, o participante D, do sexo masculino e com formação em ciências contábeis, foi

classificado como macro empreendedor no questionário CEI, por ter atingido 26 pontos. Sua

atuação como empreendedor iniciou-se aos 55 anos de idade, após se aposentar como

bancário. Ele desenvolve seu negócio no ramo da indústria da construção civil,

especificamente com fabricação de lajes e pré-moldados de concreto.

A participante E, atualmente com 79 anos de idade, do sexo feminino, é formada em

pedagogia, tendo se aposentado como professora. No questionário CEI obteve 17 pontos, com

classificação como empreendedora e atua desde os 56 anos de idade no segmento hoteleiro,

ou seja, tem uma pousada em uma cidade turística. Com 69 anos de idade, a participante F, do

sexo feminino, com formação em psicologia e pedagogia, alcançou no questionário CEI 17

pontos, tendo sido classificada como empreendedora. Sua trajetória profissional ocorreu na

educação, como professora até se aposentar, sendo que aos 65 anos de idade, iniciou suas

atividades no segmento hoteleiro, é atualmente proprietária de uma pousada.

A participante G, do sexo feminino, com 61 anos de idade, é administradora de

empresas, tendo trabalhado como executiva da área de marketing de empresas do segmento de

embalagens. Desde os 56 anos de idade tem desenvolvido atividade empreendedora como

consultora no mesmo segmento de sua experiência anterior. No questionário CEI alcançou 24

pontos, tendo sido classificada como macroempreendedora. Aos 87 anos de idade, o

participante H é engenheiro civil, do sexo masculino. Aposentou-se como executivo de

empresa multinacional, onde atuou no segmento da construção civil. Sua classificação no

questionário CEI foi de 17 pontos, ou seja, empreendedor. Aos 71 anos passou para o

segmento hoteleiro como proprietário de seu negócio.

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Figura 2 . Perfil Sociodemográfico

A partir das respostas sobre o processo de empreender, conforme Quadro 2.1, podem

ser observadas cinco ideias centrais, sendo que a primeira produziu um discurso coletivo

trazendo uma quantidade expressiva dos participantes, ou seja, cinco deles trouxeram como

tema a questão de ter iniciado na atividade empreendedora a partir de um acontecimento que

marcou esta mudança. Foram apresentados fatores advindos de origem diferentes, ou seja,

após a aposentadoria e o afastamento do emprego que estava até então, uma doença, a morte

do cônjuge ou mesmo por uma necessidade de fazer alguma coisa. Isto foi demonstrado por

Singh (2009) em sua pesquisa no Canadá, quando ele relata que um dos motivos que

conduzem o profissional idoso a iniciar um empreendimento é o próprio momento de vida.

Para o autor, nesta etapa mais madura, o indivíduo já encerrou algumas obrigações como criar

filhos, educá-los, adquirir uma residência e muitos outros.

A ideia apresentada por esse autor, que mostra em sua pesquisa alguns elementos

motivadores para o empreendedorismo na velhice, pode ser complementada com a

contribuição de Erikson (1972), que nomeia esta etapa vivenciada pelo indivíduo, como o

estágio de desenvolvimento da vida humana onde ocorre a integração do ego. Neste estágio,

observam-se as diversas formas de se envelhecer, que variam tanto de pessoa para pessoa,

como também com relação à cultura em que ela vive. Nesta primeira ideia central, o discurso

traz, assim como em outros momentos, a questão da finitude, ou seja, a percepção de não se

ter muito tempo de vida. Para o autor, esta percepção não se traduz necessariamente pela

repulsa ou desespero pelo encerramento da vida ou morte, mas sim pelo sentimento de que há

pouco tempo para se viver e da possibilidade de tentar iniciar uma nova vida, experimentando

caminhos alternativos, uma vez que o tempo é curto.

Para Erikson (1972), o idoso que alcança sua integridade, se torna preparado para

defender seu modo de vida, da forma como aprecia, de maneira digna, afastando-se dentro do

possível das ameaças econômicas, físicas e biológicas. Desse modo por meio deste trecho do

discurso sobre o tempo ser curto, podemos considerar que estes indivíduos possivelmente

Pontuação Classificação

A Fem. 75 64 Farmacêutica consultora área farmacêutica 19 Empreendedor

B Masc. 67 46 Engenheiro Mecânico prestadora serviços terceirizados 24 Empreendedor

C Fem. 70 64 Terapeuta Ocupacional/Chefe Cozinha escola de culinária 21 Empreendedor

D Masc. 61 55 Ciências Contábeis indústria construção civil 26 Macro Empreendedor

E Fem. 79 56 Pedagoga prestador serviços hotelaria 17 Empreendedor

F Fem. 69 65 Pedagoga/Psicóloga prestador serviços hotelaria 18 Empreendedor

G Fem. 61 56 Administradora Empresas consultora área embalagens 30 Macro Empreendedor

H Masc. 87 71 Engenheiro Civil prestador serviços hotelaria 17 Empreendedor

Participante SexoIdade

(anos)

Empreende

desde

(anos)

Questionário CEI

Formação Acadêmica Empreendimento

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vivenciam sua integridade, utilizando-se desta situação de vida como um impulsionador que o

conduz para o empreendedorismo. Momento este em que pode defender sua ideia e estilo de

vida, evitando possíveis ameaças, seja física ou econômica, procurando fazer o que realmente

gosta.

A segunda ideia central produziu um discurso com o relato de três participantes, que

ressaltou a visão de oportunidade como um aspecto importante que fez parte do seu processo

de empreender. O discurso retrata a percepção de uma oportunidade de trabalho, e com ela, a

possibilidade de dar continuidade em sua atividade produtiva, corroborando com a pesquisa

de Kautonen (2008) que constatou que a maioria das pessoas mais velhas iniciou seu negócio

pela oportunidade e que somente 10% dos empreendedores haviam iniciado seu

empreendimento por necessidade.

As duas ideias centrais apresentadas reafirmam a ideia de Dornelas (2001), de que a

essência do empreendedorismo está no ato de aproveitar novas oportunidades por meio de

percepção, assim como na maneira de se criar uma nova forma de se usar recursos onde o

sujeito se propõe a desenvolver nova forma de trabalhar. Barreto (1998) e Timmons (1989),

também são autores que citam que o empreender acontece a partir de algo novo e de valor,

onde ocorre a identificação de uma oportunidade.

A terceira ideia central trouxe por meio de dois participantes a questão de empreender

pela oportunidade de aproveitar o momento de unir o conhecimento adquirido em toda sua

trajetória profissional e o estudo acadêmico e transformar em um negócio próprio, com

continuidade de desenvolvimento e atuação neste. Nesse sentido, podemos observar que o

discurso expressa a valorização do que foi vivenciado na trajetória dos participantes e que

pode ser utilizado como potencial de transformação tanto no presente quanto no futuro. Este

material vem de encontro com a pesquisa realizada por Dornelas (2007), que mostra que o

empreendedorismo vai além do ensino formal de aprendizagem, mostrando que o

conhecimento técnico é importante além das atitudes e comportamentos adquiridos. Também

é possível relacionar o discurso em questão aos resultados da pesquisa de Schmitz, Lapolli e

Bernardes (2011), que mostram que na era do conhecimento, há uma valorização da

criatividade em detrimento à força bruta no trabalho. Eles afirmam que os profissionais mais

maduros têm se mostrado estratégicos no mundo corporativo, pois apresentam uma grande

bagagem cognitiva e um potencial vivido importante para este momento, mesmo que

apresentem alguma restrição física.

Na sequência, a quarta ideia central do Quadro 2.1, oriunda de dois participantes, o

discurso coletivo produzido sugere que o processo de empreender ocorreu por meio do desejo

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em fazer algo diferente diante do que observa ao seu redor, buscando modificar o ambiente

em que vive. Dornelas (2003) e os pesquisadores do SEBRAE (2013), compartilham a ideia

da busca do novo, quando afirmam que o empreendedor toma atitudes fora do senso comum,

no sentido de fazer a diferença no ambiente em que vivem, procurando soluções para

problemas reais. Neste mesmo sentido, Filion (1999) ao definir as características do

empreendedor, ressalta o papel da criatividade expressa na capacidade de estabelecer e atingir

objetivos, além de apresentar um amplo conhecimento do ambiente em que vive, permitindo

assim que o profissional identifique oportunidades de negócios, ou como presente no

discurso, possa buscar cada vez mais a inovação.

Quadro 2. Discurso do Sujeito Coletivo

Quadro 2.1 O processo de empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Um acontecimento

marcante antecedeu a

atividade

empreendedora

N=5

62,5%

Bem, houve um marco na minha vida entendeu? Aconteceram coisas mudou a

minha vida, me levando a pensar que eu também não tinha todo o tempo

disponível. Então eu nunca vi assim barreira no que eu quero fazer, se eu quero

fazer e vou fazer. Até que eu pude, ou melhor, passei a me sentir livre e botei pra

fora tudo aquilo que estava preso e fui fazendo, me idealizando. Eu não visei esse

objetivo, me apareceu na necessidade de fazer alguma coisa e foi por

circunstâncias que precisei assumir e aí eu falei, estou gostando desse assunto.

Visão de Oportunidade

N=3

37,5%

Os clientes começaram a aumentar, havia poucos empreendimentos nesta área

naquela época, então nós começamos nesse negócio e fomos trabalhando nele. E

aí foi que, um belo dia apareceu a oportunidade. Eu recebi um convite para ser

sócio da empresa, comprei a empresa com dinheiro emprestado, dinheiro de

banco, e foi daí que começou a nossa empresa. Eu montei a empresa comecei do

inicio até o fim, eu que fiz praticamente 100% das coisas.

Juntar o conhecimento

adquirido e transformá-

lo em negócio próprio

N=2

25,0%

Depois de tantos anos de experiência, eu pensei que eu tinha que usar isso pra

algo que eu pudesse continuar desenvolvendo, mas agora de maneira diferente,

ou seja, pra mim, porque eu sempre ganhei muito dinheiro pras empresas que eu

trabalhei, muito. Daí eu pensei, que agora seria o meu momento, eu vou tentar

isso porque eu tenho os contatos, eu fiz um network fantástico eu tenho um nome

respeitado, por que eu sempre fui muito sério na minha postura. Então eu tinha

todo um nome e todo um contato. Eu tinha muito conhecimento, mas não sabia

transformá-lo em negócio, em produto, não fazia disso um negócio. Daí eu

comecei a questionar, ficou na minha cabeça, isso foi crescendo na minha

cabeça, foi amadurecendo, até que eu recebi um convite para trabalhar

exatamente naquilo que eu pensava e me incomodava e, aceitei tocar esse

negócio, e hoje estou aqui. Então, hoje eu tenho essa visão empresarial, mas eu

tenho a acadêmica, que é minha formação.

Desejo de fazer algo

novo

N=2

25,0%

Bem, para mim era muito nítido assim, que eu queria continuar, queria ser ativo,

mas eu não queria um emprego. Eu queria tocar uma coisa, queria fazer algo

diferente. Eu sempre buscava esses nichos para trabalhar e criar sempre tudo

novo, tá vendo? Sempre, eu nunca fiz nada que já existisse, enfim. E eu,

evidentemente fui selecionando e continuo prospectando, de antena ligada em

busca de projetos e parcerias que tenham potencial de crescer e que seja

desafiador para mim.

Planejamento prévio

N=1

12,5%

É, antes mesmo de deixar a empresa eu já tinha planejado com minha família de

fazer esse negócio.

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Como quinta e última ideia central, com um participante, o planejamento prévio do

indivíduo, juntamente com sua família se fez importante para seu processo de empreender

após a aposentadoria. Esta característica é reafirmada na pesquisa de Kautonen (2008) e por

pesquisas realizadas pelo SEBRAE (2013), quando é reforçada a ideia de que em virtude da

existência, na terceira idade, de um melhor planejamento e pesquisa, trabalhando melhor as

informações, o projeto consegue se tornar mais duradouro. Um fator importante a ser

destacado é o fato que o profissional idoso, em sua maioria, não precisa alcançar resultados

em curto espaço de tempo, uma vez que não depende financeiramente deste retorno para

sobreviver, tendo outras fontes de renda que possa dar suporte no início do negócio. (SINGH,

2009).

Em relação às motivações que levaram os entrevistados a empreenderem, foram

produzidos seis ideias centrais gerando respectivos discursos e abordadas situações diferentes

que motivaram os entrevistados a iniciarem atividades empreendedoras, conforme Quadro

2.2. O primeiro discurso surge da ideia central apresentada pela maioria dos participantes,

pois de oito entrevistados, cinco apresentaram o discurso de que o empreendedorismo se

mostra como inato, ou seja, algo que já nasce com a pessoa. Assim, mesmo tendo sido

empregado de uma empresa em sua vida profissional, esse sujeito apresentava

comportamentos empreendedores, como dedicação e sentimento de que o negócio era de sua

propriedade, levando-o a tomar decisões com muita responsabilidade. A motivação para

empreender estava sempre presente dentro do profissional, mostrando-se muitas vezes na

forma de uma inquietação, ou mesmo um incômodo, característica presente no empreendedor

inato.

Segundo Dornelas (2007), o empreendedorismo pode ser inato, quando geralmente o

empreendedor é oriundo de família de empreendedores e tem como referência as atitudes

destes familiares para se espelhar em seus negócios, porém parte do principio de que esta não

é necessariamente a origem do empreendedorismo no indivíduo. Inicialmente, autores como

Filion (1999) destacaram a importância de se entender o empreendedorismo como inato no

indivíduo, sendo um fator que não poderia ser desenvolvido. Posteriormente, esta concepção

foi modificada para o conceito atual de que o ato de empreender não é totalmente inato, mas

sim algo que também se desenvolve ao longo do tempo de acordo com o ambiente em que

vive. (DORNELAS, 2007)

Neste estudo, não há indícios se os participantes são oriundos de famílias de

empreendedores, pois não houve este foco na pesquisa. Desta maneira, o que se pode dizer da

origem do empreendedorismo nos profissionais idosos entrevistados, é baseado no discurso

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onde se pode perceber que o fato de empreender já era percebido desde o início em seu

trabalho profissional, seja por meio do incômodo interno relatado, ou mesmo da percepção de

um chamado interior, gerando comportamentos de propriedade em suas atitudes do dia a dia,

sendo considerado pelos participantes, nesse sentido, como uma atividade inata.

Man e Lau (2005) consideram que as competências empreendedoras são advindas, em

sua maioria de características inatas no indivíduo (traços, personalidade, atitudes, papel social

e autoimagem), como também de competências que podem ser construídas como educação e

formação ou mesmo aprendida no ambiente de trabalho. Para os autores, o tipo, a forma e a

intensidade com que os empreendedores se relacionam com as pessoas interferem diretamente

na construção, na formação e no desenvolvimento das competências empreendedoras, ou seja,

está ligado a fatores socioculturais.

O segundo discurso coletivo mostra a questão do surgimento de uma oportunidade de

fazer um negócio e o quanto o idoso se sente desafiado a desenvolver um novo trabalho. Essa

mesma temática já havia aparecido com relação ao processo de empreender, ressaltando o

quanto esse aspecto é marcante como motivação para o empreendedorismo. O profissional

mais maduro tem algumas características que o diferenciam do profissional mais jovem, que é

justamente a possibilidade de ter liberdade de realizar a atividade da maneira como deseja,

com menor carga horária e com maior flexibilidade de atuação, uma vez que por ter uma

experiência já vivida, apresenta mais segurança no que precisa e tem que fazer em seu

negócio próprio. Conforme já mencionado anteriormente na analise do Quadro 2.1, Kautonen

(2008) e pesquisas do SEBRAE (2013) mostram que a pessoa mais madura empreende por

motivações próprias, menos por necessidade e muito mais por identificação de oportunidade,

onde a chance efetiva de ter melhores resultados esta na possibilidade de uma dedicação

maior ao negocio sem a necessidade de resultados em curto prazo.

Assim também autores como Zhang (2008) e Duval (2003) demonstram que o

empreendedorismo pode elevar a satisfação, a motivação e consequentemente melhorar a

qualidade de vida destes profissionais, uma vez que o idoso tem a oportunidade de elevar sua

condição econômica e assim diminuir o impacto das despesas relacionadas com a idade.

Também ao que se refere a maneira da sociedade perceber este individuo, evita uma

diminuição na sua valorização como pessoa, pois ele continua sendo visto como produtivo.

Como motivação para empreender surgiu, com a participação de duas pessoas, de

acordo com o Quadro 2.2, não sendo um número expressivo, porém presente, a questão da

necessidade em se manter o padrão de vida até então fornecido aos familiares, no sentindo de

ajudar os filhos a estudarem ou mesmo a iniciá-los profissionalmente para poderem continuar

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no negócio criado. Corroborando esse dado, podemos verificar por meio da pesquisa GEM

(2012), que no Brasil os empreendedores por oportunidade ocupam a 12ª posição com taxa de

10,23% superior acima da média de todos os países participantes do estudo. Quanto aos

empreendedores por necessidade, o Brasil ocupa a 10ª posição com taxa de 4,56%, ou seja, no

Brasil se empreende por oportunidade mais do que o dobro do que por necessidade. No

contexto dos empreendedores idosos, estes dados da pesquisa se confirmam, pois os

participantes trazem que o início no empreendedorismo foi motivado pela percepção da

oportunidade da realização de negócios com seu conhecimento e experiência adquiridos ao

longo de suas vidas.

O quarto discurso trazido por um participante apresenta como motivador para o

empreendedorismo a oportunidade de se relacionar com as pessoas, na troca de conhecimento

e da descoberta que a relação interpessoal pode ser algo consideravelmente enriquecedor para

o empreendedor. A busca pela manutenção das relações é um aspecto que autores como

Magalhaes et al (2004) e Mercadante (2003) abordam quando falam a respeito do afastamento

do profissional do mercado produtivo. O trabalho é um mecanismo único nas relações

interpessoais, e muitas vezes, ao sair do mercado de trabalho, todos os vínculos são

desmontados levando a pessoa ao isolamento do mundo social, tornando-o um ser excluído da

sociedade em que vive. Assim, sua identidade individual, sua autoestima são impactadas pela

falta de relacionamentos interpessoais causando um impacto direto na sua qualidade de vida.

Para Monteiro (2001), as relações humanas são condições únicas e fundamentais para

o processo da vida, uma vez que a dinâmica do organismo depende da maneira como o

indivíduo se relaciona e se integra na sociedade, alterando de maneira direta a dinâmica

biológica deste quando alguma situação de conflito é vivenciada. Estas modificações

produzem alterações e compensações na estrutura do indivíduo, podendo ameaçar de forma

direta sua capacidade de se desenvolver de maneira plena como um ser social. Da mesma

maneira, por meio da interação social entre os idosos, muitas transformações ocorrem em

cada situação efetiva de inter-relacionamento, gerando a oportunidade de se construir novas

relações, bem como diferentes formas de se compartilhar o aprendizado com outras pessoas.

Na velhice ocorre esta busca pela ocupação e atividade, com o objetivo de se manter

as relações interpessoais, uma vez que o tempo livre aumenta na terceira idade de maneira

substancial. Doll (2007) afirma que esta situação não direciona necessariamente o idoso para

as atividades de lazer, mas sim para a continuidade do trabalho, uma vez que a satisfação

deste está no sentimento de pertencer a uma sociedade e no reconhecimento que surge nesta,

devido às atividades que realiza. Para o autor, o trabalho proporciona ao profissional idoso a

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55

sensação de fazer parte da sociedade em que está inserido, bem como o sentimento de

reconhecimento e de ser alguém útil desta. Por outro lado, as atividades de lazer, por si só,

não proporcionam a mesma sensação, por ser considerado muitas vezes apenas um simples

passatempo, podendo gerar no indivíduo que até então era produtivo no trabalho com

realizações de significado vital, um sentimento de vazio.

A quinta ideia central apresentada no Quadro 2.2., discute a motivação em si para um

novo negócio, trazido por um participante, onde o que é motivador para a atividade do

empreendedorismo é a possibilidade de aprender coisas novas, poder utilizar o conhecimento

adquirido e transformá-lo em negócio, encarando esta nova situação como um desafio,

levando-o a se renovar. Renovação no sentido de perceber o novo no negócio que assim irá

manter o núcleo da motivação estável, sempre com energia para alcançar os objetivos.

Considerando a importância do desafio como fator motivador para empreender, Schmitz,

Lapolli e Bernardes (2011) trazem a ideia que o empreendedorismo favorece a criação de

oportunidades propiciando momentos onde o individuo possa refletir, adquirir e ampliar seu

conhecimento e assim capacitando-o para estes novos desafios. Szajman (2009) afirma que o

profissional mais maduro apresenta condição de oferecer ao mercado a serenidade e

experiência de vida importante para a superação de desafios e enfrentamento de problemas do

cotidiano.

A sexta e última ideia central, com um participante mostra a motivação como para

empreender como um sentimento com um núcleo inicial igual, e que aos poucos foi

crescendo, se desenvolvendo e se sedimentando, mantendo-se as mesmas motivações do

início da atividade empreendedora aos dias atuais. Podemos nesse contexto considerar as

colocações de autores como Birley e Muzyka (2001), que citam que a economia atual

necessita da capacidade gerencial de profissionais mais experientes, com energia e motivação

para o trabalho, ao invés de apenas energia física.

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56

Quadro 2.2. Motivações para empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Considerar o

empreendedorismo

como inato

N=5

62,5%

Não eu sempre fui do jeito que eu sou, sempre trabalhei muito duro, me

dedicando, como se a empresa fosse minha. Então eu acho que esse espírito eu já

tinha mesmo trabalhando pra outros. Eu sentia que a empresa era minha e eu

tinha responsabilidade pelas pessoas que estavam lá. É uma coisa que já vem de

dentro é inato. A motivação eu já tinha quando eu comecei a perceber as coisas.

Na verdade, o tempo todo estava ali, caramba, uma pergunta que começa a

amadurecer, quase que um incômodo, é uma inquietação. Eu falei não agora eu

vou trabalhar por minha conta, eu vou abrir o meu negócio por que eu já sei o

que eu tenho que fazer. Acho que eu já era alguma coisa de empreendedor

trabalhando pros outros, foi só uma mudança de posição, porque quando eu saí

de lá, eu resolvi. Esse sentimento foi muito interessante, começou na verdade de

pouquinho em pouquinho, um a um, um crescimento sem tristeza, sem depressão,

sem nada. Era um chamado que eu estava ouvindo, era como um chamado, e eu

queria exercitar alguma coisa.

Oportunidade de

fazer negócio

N=4

50%

Eu sempre tive na minha cabeça uma vontade de ter uma coisa minha, de

administrar um negócio meu. Não tinha ideia do que fazer, pensei em várias

coisas, mas não achava qual era a coisa mais importante pra mim, até que surgiu

uma oportunidade e eu encarei. A motivação foi que eu tinha um imóvel que é

adequado pra isso, fui convidado para me associar, e meu sócio era um grande

amigo, então a motivação foi grande. Não foi uma coisa que eu coloquei na

minha cabeça que eu iria fazer isso, entendeu? Surgiu essa oportunidade de

montar a empresa e eu encarei isso como um desafio e fui à luta, me apeguei

mesmo, me apliquei muito e dediquei todo meu tempo, minha vida nisso. E aí foi

assim que a gente fez porque realmente eu estava no lugar certo com a ideia

certa.

Beneficiar a família

N=2

25%

Eu acho que existe acima da motivação, uma necessidade. Como eu tenho minha

família que tem um padrão de vida e me aposentei, com a aposentadoria não

daria pra eu manter o padrão de vida que eu tinha. Então essa necessidade me

motivou muito também. Foi aí que aí falei que a gente poderia fazer um negócio,

pois percebi a oportunidade de receber um pouquinho mais, ganhar um

dinheirinho, para poder ajudar nos estudos dos filhos. Então eu fiz para os meus

filhos, eu não fiz o negócio para mim. Eu já consegui educar meus filhos e hoje

eles me ajudam.

Poder relacionar-se

com pessoas

N=1

12,5%

É, então o que me motiva realmente é que na verdade me retroalimenta, é essa

troca, essa presença do outro, do conhecimento, da descoberta, do

enriquecimento, de como as pessoas são maravilhosas, quanta gente criativa.

Então a nossa magia que por um lado é muito enaltecedora, assim, a gente fica

muito orgulhoso é que nós temos uma dança com os nossos clientes, uma dança

de descoberta um do outro.

Encarar novos

desafios

N=1

12,5%

Eu sou privilegiado, porque depois que eu me aposentei passei a aprender uma

coisa nova, ou seja, trabalhar com algo que possa usar meu conhecimento e fazer

dele um produto, um negócio. O casamento dessas duas coisas não é fácil, e isso

foi a mudança na minha motivação. Você tem que estar na frente das coisas. Esse

desafio é que é legal isso é o que motiva a gente nos renova.

O núcleo da

motivação é a mesma

do início do projeto

N=1

12,5%

Bem, em relação a minha motivação, ela foi aumentando, aumentando mais o

núcleo é o mesmo. Hoje minha motivação é a mesma do início do projeto, hoje eu

continuo com o mesmo propósito, a mesma motivação. Continuo com a mesma

disposição, não percebo nenhuma, nenhuma mudança de lá pra cá, apesar de

sentir um acréscimo na minha motivação, um acréscimo da ideia primeira, houve

um sedimentar, o núcleo é o mesmo.

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O Quadro 2.3. diz respeito às características importantes para a atividade de

empreender e é resultado da junção de duas perguntas realizadas na entrevista

semiestruturada, onde se questionou quais as características de personalidade são importantes

para quem quer empreender (questão 3) e quais as habilidades que o profissional acredita

possuir que lhe são uteis em sua atividade de empreender (questão 4). Foi observado que as

respostas fornecidas pelos participantes se inter-relacionaram, pois esses ao fornecer as

respostas falaram de modo geral sobre suas próprias habilidades e características. Assim,

decidiu-se juntar as questões, por apresentarem ideias centrais a respeito de um tema único,

ou seja, características do empreendedor importante para a atividade do empreendedorismo.

Dessa forma, surgiram quatro discursos coletivos, onde o primeiro, com a participação

de 87,5% dos entrevistados, têm como ideia central as características pessoais consideradas

necessárias para o empreendedor manter suas atividades. Foram citadas diversas, tais como

bom relacionamento interpessoal, educação e cortesia, saber olhar no olho do cliente e

demonstrar com atitudes que gosta de pessoas e as trata com carinho, habilidade de se

comunicar com clareza, otimismo e energia positiva, entre outras. Ter visão e “entrar no jogo

do cliente”, dedicação e perspicácia também foi considerado importante.

A segunda ideia central produziu um discurso coletivo com a participação de cinco

respondentes, conforme Quadro 2.3., no qual trouxe a questão da necessidade de se ter

conhecimento técnico, principalmente na área administrativa e financeira, ou seja, no controle

do negócio. O conhecimento na área técnica e a busca de se trabalhar no segmento que o

profissional tem maior facilidade e conhecimento ou experiência anterior, também surgiu no

discurso coletivo.

As características pessoais mereceram um maior destaque que o conhecimento

técnico, embora esse aspecto também tenha se mostrado relevante. Nesse contexto, Dornelas

(2007), afirma como resultado de suas pesquisas, que o empreendedorismo é uma somatório

de habilidades, experiência e relacionamentos interpessoais. O conhecimento técnico é

importante, porém, as atitudes e comportamentos são de grande relevância para o

empreendedor, que está diretamente relacionada com a capacidade de inovar e de conviver

com a incerteza, correr riscos. Da mesma forma que para o autor, no discurso dos

participantes relativo à ideia central relacionada às características pessoais, são estas que

mantém as relações com o cliente, parceiro e fornecedores.

Szajman (2009) reforça a importância dos conhecimentos técnicos e as características

pessoais como chave para a gestão de um negócio, ter domínio sobre o que faz e dar garantia

ao cliente de que sua necessidade a ser resolvida está em mãos de bons profissionais. Para o

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58

autor, esse aspecto está ligado ao fato de que o indivíduo prefere ser atendido por pessoas que

lhes deem atenção de forma personalizada, oferecendo a este uma garantia de problema

resolvido, pois mesmo que apareçam dificuldades quem estará lidando com a situação é um

profissional compromissado. Desta forma, os dois discursos trazem características que os

autores também consideram fundamentais para a atividade empreendedora, sejam elas

características pessoais como energia dedicação, entrega, otimismo, boa imagem, bons

relacionamentos, como também a importância do conhecimento técnico para poder

administrar, planejar e controlar seu negócio. Em relação à importância do relacionamento

interpessoal, neste discurso, percebe-se que se trata de uma característica pessoal, uma

habilidade que o profissional mais maduro valoriza e se preocupa em manter de forma

adequada e sadia entre seus contatos, sejam eles com clientes, fornecedores, funcionários e até

mesmo concorrentes.

Na sequência, a ideia central diz respeito à necessidade de ser o próprio gestor de seu

negócio desde o início do projeto e administrá-lo pessoalmente, até o momento em que não

mais seja possível fazer, gerando a necessidade de delegar as atividades até então realizadas.

Nesse sentido, Filion (1999) trata da importância de se entender que um empreendedor estará

sempre a frente de seu negócio, caso contrário ele pode ser considerado um sócio investidor,

um empresário do negócio, sendo que o empreendedor faz questão de participar ativamente,

discutindo as dificuldades e buscando soluções criativas para as necessidades.

A última ideia central apresentada no Quadro 2.3., trata da necessidade do

empreendedor trabalhar no que realmente gosta e sente prazer de realizar, para que veja o seu

feito como algo maior, sem vaidades ou mesmo necessidade de reconhecimento. Para o

empreendedor, neste discurso, representado por um participante, o reconhecimento está em

ver seu empreendimento em funcionamento. Segundo Schmitz e Lapolli e Bernardes (2011),

afirmam que os profissionais da terceira idade após a aposentadoria, percebem que ainda há

um longo caminho pela frente. Para os autores, o empreendedorismo vem para estimular e

incentivar o indivíduo que detém o conhecimento a visualizar oportunidades. Esta concepção

de trabalho que possibilita o desenvolvimento de características como gestão do risco,

inovação e criatividade, tem representado para o sujeito da terceira idade uma fonte de prazer,

satisfação e realização, no qual ele precisa se sentir valorizado.

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Quadro 2.3. Características do empreendedor para atividade do empreendedorismo

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Características pessoais

N=7

87,5%

Acho que primeiro é saber quem você é! Primeiro é isso, e também fazer alguma

coisa que é importante pra você, que faça parte de você, que tenha essa ligação.

Eu consigo manter a qualidade e a efervescência da coisa porque eu tenho muita

energia, tenacidade, dedicação. O empreendedor precisa ser muito observador

pra detectar o que é melhor. Eu acho que ele precisa manter uma boa imagem,

porque eu trabalho com publico, não posso chegar lá com uma cara

desarrumada, desanimada. Eu preciso transmitir isso, então tudo é troca de

energia. Ser competente, ter visão, ser otimista pras coisas poderem fluir porque

eu sou muito otimista. O otimismo faz parte da minha vida desde o primeiro dia

que eu nasci. A pessoa tem que ter uma habilidade importante que é entrar no

time, querer participar do time e entrar no jogo, se entregar mesmo ao que faz.

Acho que é essa a nossa missão e é isso que eu faço com a turma no meu

trabalho. Eu quero que eles sejam melhores do que eu, mas eu não vou esperar

por eles. Porque a hora em que eles tiverem fazendo melhor do que eu naquilo,

eu já estou em outra. Perspicácia, dedicação, espontaneidade e honestidade faz

parte do negócio. Olhar nos olhos pra ter a certeza do que está fazendo, é muito

importante, mas principalmente, não enganar o cliente e estar junto dele para se

algo estiver errado, podemos ir lá e resolver. O empreendedor tem que ser uma

pessoa amável, não tem que estar de cara fechada tem que tratar muito bem os

outros. Saber conversar até numa hora meio difícil, saber orientar, pedir com

educação. Com certeza, ter habilidade no trato com o cliente, habilidade para

cativar a pessoa pra vir pro seu negócio, uma interação muito boa com seu

cliente. É preciso estar preparado pra falar com meu cliente. Eu levo as

empresas atrás de mim, então pra que essas empresas queiram que eu trabalhe

pra elas primeiro eu preciso convencê-las de que eu vou ser o porta-voz

adequado. A educação é muito importante, a cortesia e o relacionamento.

Precisa gostar das pessoas, eu gosto de trocar. E eu me relaciono muito bem com

meus clientes, me comunico bem, porque eu acho que a melhor comunicação que

existe não é a fala. É no gesto, é no olhar que você transmite muita coisa. Eu me

relaciono assim, com uma energia muito positiva, que eu acho importante você

receber um cliente e ele sentir em você o carinho que você esta transmitindo pra

ele, isso é importante.

Conhecimento técnico

N=5

62,5%

O empreendedor precisa de um conhecimento principalmente na área

administrativa e financeira. Foi isso que me ajudou muito no dia a dia. Ter

controle, muito controle de tudo que você faz, como controle de despesas,

controle de ganhos. Você precisa ter a capacidade de planejar, organizar e

controlar. O meu conhecimento acho que me ajudou muito nisso tanto o

conhecimento por ter trabalhado em uma grande empresa onde eu aprendi muito,

quanto na administração. Então você tem que saber fazer o que vai querer fazer e

escolher a área em que tem mais capacidade para ter seu negócio. Você precisa

ter um nível mais ou menos de cultura, ter educação e você tem que continuar se

instruindo. Não adianta você achar que trabalhou que você sabe tudo, porque

existem modificações, novas tecnologias.

Ser o gestor principal

do seu negócio

N=2

25,0%

Olha primeiro é que você fica em uma situação em que você tem o poder de

administrar um bem seu, tem que tomar conta do seu negócio, a não ser que ele

cresça e o empreendedor monte uma estrutura onde possa ficar só no comando,

porque enquanto você é pequeno você tem que fazer tudo lá dentro, não tem jeito.

Sentir prazer na

atividade que exerce

N=1

12,5%

O empreendedor não pode ter vaidade e eu vou te dizer por quê. Eu quero fazer

uma coisa. Eu quero. Não precisa ter meu nome. Eu quero sentir o prazer de

fazer alguma coisa, de construir algo. Se alguém quiser dar o nome dele ou de

fulano ou beltrano, não importa. Eu quero que aquilo seja feito. E se você tiver

uma atividade dessas de empreendedorismo, se você começar ofuscar alguma

pessoa, estas podem puxar seu tapete e você perde a oportunidade. Eu não sei

lidar com puxada de tapete. Então, eu não me importo, não precisam reconhecer

que foi eu, porque eu sei que foi eu. Pra mim é o que basta. É o processo de se

fazer aquilo. Não ter vaidade, porque às vezes se você começa no eu, eu, você

incomoda as pessoas.

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60

Reafirmando os conteúdos dos discursos apresentados, Patel e Gray (2006) Singh e

DeNoble (2003) e Kautonen (2008) no qual as características pessoais, o conhecimento

técnico, o fato de trabalhar no segmento conhecido pelo empreendedor, a necessidade de ser

responsável pela gestão e o fazer o que gosta, são fatores relevantes para o empreendedor

alcançar seus objetivos. Estes autores afirmam, por exemplo, que um dos fatores que os

empreendedores na velhice são atraídos para empreender é sua trajetória curricular,

conquistada ao longo de sua vida profissional, mostrando aqui quanto a experiência é um fator

determinante. Ideia reforçada por Szajman (2009) que traz a importância das organizações

prepararem seus profissionais para se manterem ativos após seu tempo de permanência na

empresa. Outro autor, Singh (2009), fala da possibilidade deste indivíduo empreender por não

ter mais obrigações financeiras com a família e com recursos suficientes para empreender, e

assim podem se realizar profissionalmente fazendo aquilo que gostam, não fazendo algo

apenas pelo retorno financeiro proporcionado.

Em relação ao processo de identificação das oportunidades de negócio, foram

produzidos dois discursos coletivos, conforme Quadro 2.4. A primeira ideia central cita que a

identificação de oportunidades surge quando o empreendedor empenha seus esforços em

prestar atenção às necessidades de mercado e de seus clientes. Os quatro respondentes que

formaram este discurso citam que o profissional precisa estar atento aos movimentos de

mercado ou mesmo a alguma carência observada por meio de conversas com as pessoas,

participação de reuniões ou mesmo associações. Neste discurso, se faz necessário observar as

tendências e procurar propor melhorias ao que se percebe, bem como soluções até então não

propostas, gerando assim a oportunidade de negócio.

Identificar oportunidades por meio de aspectos internos do empreendedor foi também

uma ideia central relevante produzindo um discurso coletivo com a participação também de

quatro participantes. Foi considerada neste caso, a inquietação interna, uma vontade de fazer

algo e a certeza do que quer realmente fazer. Com esta vontade de fazer alguma coisa, o

empreendedor vai à busca de oportunidades e situações para poder realizar algo, procurando

perceber o que pode ser modificado e solucionado.

Fazendo uma aproximação do material resultado da pesquisa com a teoria podemos

citar autores como Schmitz, Lapolli e Bernardes (2011) que afirmam que o

empreendedorismo na velhice favorece a criação de oportunidades, fazendo com que o idoso

reflita, adquira e amplie seus conhecimentos. Essa reflexão, que passa pelo autoconhecimento,

ocorre nesta etapa, que segundo Zanelli, Silva e Soares (2010), o idoso passa a ser o

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61

protagonista de sua própria vida, percebendo necessidades de mudanças de hábitos e

desenvolvimento de novas habilidades e competências individuais. É um processo

denominado pelos autores de “Empowerment”, no qual o indivíduo adquire força de decisão,

pois se torna mais crítico e autoconsciente das suas reais necessidades e potencialidades,

levando-o a perceber novas oportunidades.

Com relação ainda a identificação de oportunidade de negócios, Dornelas (2003) e

pesquisadores do SEBRAE (2013) reafirmam que os empreendedores sabem agregar valor ao

que oferecem, explorando oportunidades e mantendo-se atentos a tudo o que os rodeiam.

Estas pessoas tomam atitudes e exigem qualidade e eficiência, procurando fazer o melhor em

todos os sentidos. Como discutido anteriormente o incomodo interno, característica do

empreendedor inato, é muitas vezes expresso no inconformismo com a rotina, que acaba por

gerar uma busca constante em direção à inovação.

Quadro 2.4. Identificação das oportunidades de negócios

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Atenção às

necessidades do

mercado e clientes

N=4

50%

Olha pra mim oportunidade sempre decorre de necessidade. Então eu preciso

sempre ler, pesquisar e fazer contatos. A oportunidade surge, só precisa ficar

atento, prestando atenção no que os outros falam, porque, às vezes você fala,

fala, o outro fala e você não presta atenção. Então, acho que a oportunidade

surge de acordo com a necessidade do mercado, você precisa ter conhecimento

do mercado, observar uma necessidade, algo que está carente no mercado, e

então é aí que surge a ideia da gente fazer algo. É preciso participar de jantares,

de associações. Estou sempre em contato, porque se você vai, a coisa não vai

bater na sua porta. Se você não fizer constantes contatos e manter o

relacionamento esqueça. E você sempre quer ter a oportunidade de melhorar

alguma coisa, dar uma aparência melhor para atender melhor o cliente.

Criação de

oportunidades a partir

de aspectos internos

N=4

50%

Você tem que ter uma atividade, acho que a oportunidade vem da sua condição

própria, da sua vontade de fazer as coisas. Eu começo a ficar insatisfeita, tenho

que mudar e fazer algo diferente. Vou percebendo que não tá me agradando

mais, que não aguento mais isso, que estamos na “mesmísse”, ou numa situação

que preciso mudar, apesar dos projetos serem sempre diferentes, eu faço sempre

a mesma coisa, eu penso que eu tenho que desafiar meus parceiros de outra

forma. Essa minha inquietação mental é muito interessante, e é aí que entra a

intuição. Eu enxergo assim é uma coisa que se tem que fazer, eu não vou ficar só

pensando que não vai dar certo ou que não vai acontecer. Eu enxergo que vai dar

certo que é uma coisa boa, que vai ajudar não só a mim, mas muita gente e que

eu não vou ficar podado, vou poder trabalhar minha cabeça, conversar e

interagir com os outros. É aí que você tem uma oportunidade, eu vou até o fim,

eu procuro ajudar meu cliente, eu vou atrás de quem pode atendê-lo, porque ele

pode vir a ser meu cliente mais pra frente. Acho que o grande segredo é você não

deixar as oportunidades que aparecem ficarem no esquecimento. Você precisa

saber o que quer para poder identificar as oportunidades.

Ao se tratar o processo de aprendizagem para o empreendedor, foram produzidos três

discursos coletivos, sendo que na maioria dos respondentes, ou seja, seis deles trouxeram que

a aprendizagem se dá no relacionamento e troca de informações entre as pessoas, conforme

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Quadro 2.5.. Ao se relacionar, ao escutar o que o outro diz, ao trocar experiências, o

empreendedor aprende coisas novas, sendo um processo contínuo. Esse processo ocorre

quando o indivíduo idoso seleciona, segundo Monteiro (2001) os conteúdos trazidos pelas

pessoas nesta interação e constrói para si uma nova história, com aprendizados que de alguma

maneira considera que poderá aumentar seus conhecimentos. Através do diferente, que o

outro traz, é que se conquistam novos conteúdos, gerando o aprendizado. Para o autor, é como

um acordo mútuo que, enquanto se perceber coerência entre as histórias se mantém as

relações de troca, pois o indivíduo está sempre em busca do conhecimento renovável. Essa

dinâmica entre as pessoas, chamada de conexão pelo autor, faz com que o indivíduo maduro

converta sua experiência anterior em uma nova descoberta que até o momento era considerada

irrealizável, em um processo de aprendizagem contínua.

A segunda ideia central produzida por dois participantes fala que o aprendizado ocorre

pela busca ativa e incessante do conhecimento e atualizações, sendo necessário estudar, ler,

participar de feiras de inovações sobre seu ramo de trabalho, assim como também por meio da

troca de informações com fornecedores. Conforme Szajman (2009) afirma, as empresas

preocupadas com seus profissionais que irão se aposentar e que terão muitos anos pela frente,

precisam aprender a empreender, e para isso têm tomado a atitude de prepará-los por meio de

capacitação de competências e principalmente aprimorando e atualizando seus conhecimentos

adquiridos ao longo de sua vida profissional. Nesse sentido também Schmitz, Lapolli e

Bernardes (2011) afirmam que o empreendedorismo favorece a criação de oportunidades,

fazendo com que o idoso reflita, adquira e amplie seus conhecimentos.

Em continuidade ao tema aprendizagem, na última ideia central, diferente das duas

primeiras, o discurso produzido por dois participantes mostra que pelo motivo de se conhecer

de maneira vasta o segmento em que o empreendedor idoso atua, dificilmente ocorrem novos

aprendizados. O fato de se prever o que pode vir a acontecer com os rumos de seu negócio,

devido à experiência anterior, faz com que o empreendedor não aprenda fatos novos. Porém,

no próprio discurso os participantes citam que ao perceber algo ameaçador no negócio, estes

empreendedores interferem no ambiente, procurando evitar danos, exercendo assim seu papel

de adulto maduro e pleno. No ambiente profissional, a experiência conquistada pelo

profissional de mais idade é uma qualidade, uma virtude que, para Neri e Freire (2000) se

torna um fator motivador para este indivíduo. Trata-se de um profissional com uma

especialização ampla, que não se encontra na literatura ou manuais, por se tratar de um

conhecimento tácito, único e espera-se que o idoso transmita-o para os mais jovens. Nesta

situação, o profissional maduro é aceito como um conselheiro, um mentor que pode se

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antecipar às consequências não desejadas no ambiente de trabalho. Sua experiência é

valorizada, levando o idoso a desempenhar um papel social que o motiva e o reconhece.

O compartilhamento do conhecimento vivido pelo empreendedor idoso vai ao

encontro com o que Birley e Muzyka (2001) trazem, uma vez que afirmam que o momento

atual pode ser considerado da gestão do conhecimento, mostrando a importância de se

administrar todo o aprendizado e experiência adquiridos pelo empreendedor durante sua

trajetória profissional. Essa ideia é reforçada por Schmitz, Lapolli e Bernardes (2011) ao

afirmarem que os profissionais mais maduros têm se mostrado estratégicos no mundo

corporativo, pois apresentam uma grande bagagem cognitiva e um potencial vivido

importante. Os autores também salientam que o empreendedorismo também cria um ambiente

onde o empreendedor idoso pode refletir, adquirir e ampliar seu conhecimento, bem como se

capacitar nas competências necessárias relacionadas ao negocio.

Quadro 2.5. Processo de aprendizagem para o empreendedor

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

O aprendizado se dá

na troca com pessoas

N=6

75%

Olha, a gente sempre aprende algo novo, eu aprendo todos os dias. Acho que o

dialogo é a principal posição do ser humano por que não adianta você só querer

brigar, chutar, jogar, não adianta. Você tem que conversar, escutar o outro a

falar, porque tem gente que não escuta. Você precisa ficar de antena ligada, na

troca de informações, você pode ver o que pode te interessar e poder mergulhar

naquilo e fazer. Conhecer aquilo e discutir. Não basta ouvir, é preciso discutir e

se possível participar. O aprendizado também ocorre com o conhecimento com as

outras pessoas técnicas do mercado, com os próprios funcionários, porque

sempre está surgindo coisas novas. Em cada contato eu aprendo coisas novas,

estou sempre receptivo e muito observador e as coisas acabam vindo até mim,

porque as pessoas sabem do meu network e me procuram também. Torna-se um

circulo vicioso. Eu percebo, por exemplo, primeiro como vou lidar com as

pessoas. Segundo, penso um pouco como que a pessoa está me recebendo pra eu

poder saber como entrar, como falar e me relacionar melhor. Então ao ter esse

contato com o outro eu também me conheço porque de acordo com a percepção

do outro eu me enxergando melhor.

É necessário buscar

conhecimento

N=2

25,0%

Aqui dentro do meu ramo a gente pesquisa, eu estou sempre fazendo pesquisas

na internet. A gente participa de feiras onde vemos muita coisa nova, que é

lógico que não dá pra colocar em prática de imediato, mas é coisa que fica

gravada na cabeça e com o tempo procuramos desenvolver, porque o que

aparece, eu assemelho e aprendo. Então, a gente busca informação e

conhecimento de várias formas, como através de cursos, jornais, revistas e

contatos com fornecedores.

Previsão dos

acontecimentos e

pouco aprendizado

novo

N=2

25,0%

Não há muita coisa nova assim pra aprender hoje pra minha vida. Eu brigo

comigo mesmo por que a maior parte das coisas você já viu, e isso é complicado

porque você tem que deixar o pessoal propor as coisas. Como eu tenho muito

tempo no mercado desse negócio, eu já sei o que vai acontecer, mas não posso

deixar de falar, porque se eu fizer isso, vai que acontece algo pior, mas por mais

que você fale, também não muda as coisas.

Quando tratado sobre os riscos na atividade de empreender, foram produzidas duas

ideias centrais, conforme Quadro 2.6.. A primeira ideia versa sobre a questão de o risco ser

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inerente ao negócio. É demonstrado por cinco participantes, que o risco existe nas diversas

fases do negócio, seja ao vender, ao entregar, ao receber e demais momentos. É preciso se

arriscar, procurar antever o risco, se cercando com atitudes preventivas e propor saídas para a

diminuição deste.

O segundo e último discurso demonstra que o risco não é percebido como uma ameaça

no sentido do negócio próprio ser somente complemento financeiro, demonstrando que a vida

financeira destes empreendedores já esta de certa maneira estabilizada. Deste modo, não

enxergam risco de falência ou algo parecido, pois caso percebam qualquer necessidade outra,

podem imediatamente parar de desenvolver esta atividade. Neste momento do discurso,

trazido por três participantes, a liberdade em encerrar as atividades por não necessitar

financeiramente do empreendimento se faz presente. Cabe aqui a observação de que o risco é

considerado por todos os entrevistados, porém a forma de ver o risco é diferente. Assim, para

maioria, o risco faz parte do negócio, sendo que alguns expressam a ideia que o risco não

representa uma ameaça.

Quadro 2.6. Os riscos na atividade de empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

O risco é inerente ao

negócio

N=5

62,5%

O risco é inerente a qualquer negócio. Olha, o risco é muito grande por que o

negócio envolve riscos, envolve pessoas, uma série de coisas. A gente tem que

trabalhar dentro de uma segurança, o mais próximo possível das regras para

justamente evitar o risco. Tem o risco de você vender, entregar o produto, o

cliente não te pagar e você ter que tratar com uma postura inadequada deste,

por exemplo. Então, se você tá no mercado não tem saída, só que a gente

analisa, procura informações, procura cercar, mas não consegue evitar 100%,

até mesmo porque algumas vezes precisamos fazer alguns negócios sem um

respaldo legal. Apesar de que tenho a preocupação de me preparar pra enfrentar

uma eventualidade, porém não tem jeito, tem que ficar esperando acontecer. Um

funcionário pode errar ou se machucar na empresa e você ter sérios problemas

com isso, pode perder material, perder dinheiro. O risco sempre existe e, quando

não compensar correr o risco, vou ter que parar, porque ele é inerente ao

trabalho. Se você quer crescer você tem que arriscar, você tem que arriscar e

propor novas saídas.

O risco não é uma

ameaça

N=3

37,5%

Eu nunca vi o risco, se tiver eu não consegui enxergar ainda. Nós não temos

riscos nenhum. Não, não vou falir porque o negócio é meu, é uma coisa própria,

falir não, nós não vivemos disso, isso é o complemento. Eu queria ser livre, para

mim é importante ser livre. O dia em que eu perceber que eu não mais estou

sendo útil, eu quero ter essa percepção e poder chegar nos meus parceiros e

dizer que eu não tou mais acrescentando nada para eles. Se não der certo, eu

volto para casa, vou me aposentar, não é uma ameaça para mim. Embora possa

existir algum risco, para mim ele não existe, não faz parte.

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Nestes discursos pode-se notar a importância da experiência e da garantia das reservas

financeiras demonstradas por Singh (2009), pelo qual o empreendedor, nesta fase e na maioria

das vezes, não precisa mais se preocupar em se sustentar e assim percebe o risco de uma

maneira diferente do empreendedor mais jovem. Primeiramente pela segurança que possuem

pelo conhecimento da área de atuação e posteriormente pela não dependência total dos

rendimentos do negócio.

Ao se questionar sobre a relação entre a idade e a atividade de empreender foi obtido

cinco discursos coletivos, de acordo com o Quadro 2.7. O primeiro discurso, produzido com a

participação de seis respondentes, fala que o fator idade traz conhecimento e aprendizado.

Pelo fato de ter tido diversas experiências e vivências, o empreendedor idoso se torna mais

flexível e passa a pensar de maneira mais racional diante das situações, com uma postura mais

adequada. O discurso mostra que o aprendizado contínuo permite realizar coisas que quando

mais jovem acreditava não ser possível, por não ter desenvolvido a habilidade de se relacionar

e entender as pessoas.

Neste ponto, pode-se perceber uma relação com a teoria de Erikson (1998, apud Neri,

A., 2011), quando o autor afirma, ao falar do estágio de vida da maturidade e das formas de

manifestação desta, que a força básica do envelhecimento é a sabedoria. Assim, o indivíduo

passa toda sua jornada de vida aprendendo e se transformando quando ultrapassa desafios e

conflitos evolutivos, proporcionando ao seu ego novas qualidades. Para o autor, a sabedoria

conquistada na velhice refere-se a uma forma de inteligência e de um tipo de preocupação

desapegada com a morte, de maneira que o indivíduo na terceira idade, não deixa de se

preocupar, mas mostra um interesse ativo, porém com uma integridade madura, apesar das

perdas e diminuições de suas capacidades e habilidades físicas e mentais. Esta maturidade,

compreendida em uma visão heterogênea do processo de envelhecimento é representada nas

diversas maneiras de se envelhecer, variando de pessoa para pessoa, de cultura para cultura,

caracterizando assim a singularidade e subjetividade do idoso (Minayo, 2006).

Para Neri e Freire (2000) esta maturidade pode ser vista como a conquista de um grau

de desenvolvimento, na qual o idoso passa a exercer papéis sociais e de comportamentos

esperados pela sociedade. Neste sentido, as autoras mostram que as diversas sociedades

concordam com a percepção de que a velhice torna a pessoa mais experiente, prudente e

tolerante, bem como um bom ouvinte. Deste modo, podemos dizer que muitas vezes o velho

gosta de ensinar o que aprendeu em sua trajetória de vida e procura ter comportamentos no

sentido de compartilhar suas vivências, propiciando o bem-estar às pessoas que o rodeiam.

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A segunda ideia central, conforme Quadro 2.7, com a participação de três

respondentes mostra em seu discurso a disposição para fazer e realizar coisas, bem como

energia para trabalhar e empreender. É citado também que a idade não interfere nas atividades

como empreendedor. Essa visão é corroborada por Lee (2012), que afirma que os idosos de

70 anos vêm apresentando plenas condições de continuidade no trabalho, pois são

profissionais que têm se mostrado tão ou mais saudáveis do que as pessoas de 60 anos de

idade de três décadas atrás. O autor afirma que este fenômeno ocorre pela melhoria na

qualidade de vida onde este idoso passou a viver mais e melhor.

Pode-se observar que o idoso em sua maioria sente necessidade e condições de

continuar ativo. Neri, M. (2007) observa nos resultados obtidos da pesquisa Idosos no Brasil

do SESC/FPA, realizada em 2007, que de maneira geral, o profissional que se aposenta

considera importante continuar exercendo atividade para se adaptar à sua nova condição de

vida e rotina, sendo que as principais razões estão relacionadas a considerar o trabalho como

opção e não como algo obrigatório e a necessidade de fazer qualquer atividade para que sua

mente se mantenha ocupados, assim como seu tempo.

Por outro lado, na terceira ideia central, com três participantes, a idade é vista como

um complicador, pois a idade é considerada mais produtiva aos trinta anos. Neste discurso, o

cansaço físico e a necessidade de adaptar seu negócio às suas condições atuais são uma

realidade, fato observado na pesquisa anteriormente citada, no qual o idoso procura menor

carga horária, um trabalho mais leve, procurando se adaptar à sua nova condição de vida.

Nesse sentido, Neri, A. (2011) afirma que o idoso fica mais vulnerável aos efeitos ocorridos

nesta fase da vida, como medo da morte, depressão, preocupação com sua saúde, perdas

físicas, preocupação com seus entes queridos e outros fatores diversos. Porém, a maneira do

idoso lidar com as perdas dependerá de mecanismos adaptativos próprios, da maneira como

percebe seu bem estar, sendo este subjetivo, sofrendo interferências de aspectos

socioeconômicos, biológicos e psicológicos. Para a autora, mesmo com a ocorrência de alguns

adventos adversos, os idosos podem reagir com intensidades e formas diferentes,

positivamente, de forma a contribuir na solução de problemas pessoais e familiares, bem

como se envolver na sociedade e ser produtivo. Esta subjetividade tem relação direta com a

manutenção da resiliência psicológica destes indivíduos, mesmo quando a biológica está de

certa maneira comprometida.

Importante neste sentido, considerar a contribuição de Minayo (2006) que afirma a

necessidade de se compreender a heterogeneidade do envelhecimento, no qual cada indivíduo

envelhece de maneira diferente, devido às condições socioeconômicas, culturais e do

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ambiente em que viveram. Assim, segundo a autora, entender e respeitar estas

particularidades de um fenômeno complexo como a velhice é de fundamental importância.

Na sequência, com dois participantes conforme apresentado o discurso no Quadro 2.7,

mostra que por ter mais idade, o empreendedor idoso se torna referência para os jovens,

trazendo assim uma responsabilidade maior para este, no sentido de não fracassar, para desta

forma poder dar bons exemplos. Kautonen (2008) e Birley e Muzyka (2001) afirmam que o

profissional idoso tem características positivas presentes pela sua experiência e assim

conseguem controlar melhor os riscos, tomam decisões com melhor analise e planejamento, e

que isto permite uma influencia positiva sobre os empreendedores mais jovens que costumam

ser mais afoitos nas suas tomadas de decisão.

Essa aproximação entre as gerações é trazida por Ferrigno (2006) como um conjunto

de iniciativas no sentido da troca de experiências e vivências entre os idosos e os jovens,

levando a uma troca que o autor considera rica, no sentido de se modificar o preconceito

existente em relação às identidades etárias, possibilitando uma modificação de valores,

atitudes e comportamentos. A alteração desta imagem e a aproximação entre as gerações,

segundo o autor, favorece o desenvolvimento do respeito e da solidariedade, base para uma

cultura solidária, com melhores resultados em todos os sentidos sociais, psicológicos e

econômicos.

Como quinta e última ideia central, é trazido como relação entre a idade e a atividade

de empreender, o fato de ser independente financeiramente após toda sua trajetória

profissional, permitindo que caso necessite parar de empreender, não haverá prejuízo

financeiro. Esta situação é corroborada com os dados obtidos na pesquisa Idosos no Brasil

SESC/FPA, citada por Neri, M. (2007), na qual em relação à adaptação à rotina de

aposentado, somente 5% dos homens e 2% das mulheres relataram dificuldades financeiras. A

autora considera que este dado refere-se possivelmente à reserva acumulada durante o período

de trabalho do idoso, com o objetivo específico de amenizar e diminuir o risco do impacto da

diminuição da renda quando chegada a aposentadoria e a velhice. Nesse contexto, o índice

maior na queixa dos homens pode ter relação com o fato de que em sua maioria, a

responsabilidade pelo provento da família refere-se a ele.

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Quadro 2.7. Relação da idade com a atividade de empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

A idade traz

experiência e

aprendizado

N=6

75%

Acho que o mais importante da idade é a experiência vivida, por tudo o que a

gente já passou na vida. Essa vivência, que é produtiva e me ajuda, porque não

foi só em um lugar, foram em diferentes companhias, diferentes coisas e

diferentes processos. No meu ponto de vista, na verdade, a vida vai trazendo pra

você varias experiências, aprendizados e tudo realmente reforça mais. Você se

torna mais flexível nas coisas, pensa mais racionalmente, porque às vezes você

age mais por impulso. Eu penso assim, acho que a gente está sempre

aprendendo, eu não sei tudo. A idade nos traz postura, porque eu não

conseguiria ter feito isso aos trinta. Traz o entendimento de pessoas, o

relacionamento com outras pessoas, conhecendo novas culturas. É uma energia,

uma coisa que não é toda pessoa de mais de cinquenta, sessenta tem para fazer

tanta coisa ao mesmo tempo. Então, talvez a idade ajude nesse sentido, agora,

ela não me atrapalha em nada assim.

Há disposição e energia

de realização

N=3

37,5%

Acho que a idade ajuda também muito nos traz um beneficio, eu acredito. É por

que a gente é assim, vontade não falta, pelo menos enquanto eu estou lá. Saio

sete horas da manhã, chego oito, nove horas da noite, saio pra todo lugar que

precisar. Faço o que tenho que fazer. Por enquanto, não é a idade que me impede

de eu fazer nada. Pelo que eu vejo, eu não me sinto uma pessoa velha. Eu acho

que a idade não me ajuda hoje nos meus negócios, porque eu não me considero

velho, a gente tem sempre que pensar que a gente é novo e é sempre capaz de

fazer. Eu tenho assim, uma disponibilidade uma disposição muito grande pra

fazer as coisas. Você nunca vai chegar aqui e vai me ver caído, a não ser que eu

esteja com um problema sério. Eu me sinto muito bem trabalhando, me sinto

muito bem de saúde.

A idade é um

complicador

N=3

37,5%

Eu acho que a idade, no sentido físico é um complicador. Eu não aguento mais

pegar avião e ir para um lugar, para outro, não dá mais. Quisera eu ter menos

idade, porque o que prejudica é o cansaço, eu já estou um pouco mais cansado e

dadas estas circunstancias, meu negócio é relativamente modesto em função da

minha capacidade. Eu acho que a idade, a maturidade não traz benefício não, já

trouxe. A melhor época de um homem é em torno dos trinta e cinco a quarenta e

cinco anos, eu acho que é a época que ele mais produz, ele atira mais.

Ser referência para os

jovens

N=2

25,0%

No nosso caso? Muito, muitos benefícios. Primeiro, o fato de estar com varias

pessoas e muitos jovens né? E que eles nos veem como o ideal, ou seja, eles se

espelham e tem uma confiança incrível em mim, e eu tenho aquela

responsabilidade porque eles aprendem muita coisa comigo. Dessa forma, o

fracasso pra mim é complicado perante eles também.

Independência

financeira

N=1

12,5%

Tem uma situação especial pelo fato da idade avançada, é que eu não dependo

financeiramente desse dinheiro. Se eu parar de trabalhar, eu não vou passar

fome.

No tema perspectivas do futuro para o empreendedor foram produzidos quatro

discursos coletivos, conforme Quadro 2.8. No primeiro discurso, com quase totalidade dos

participantes, sete respondentes, teve como ideia central a questão de que para o futuro o

empreendedor pretende trabalhar até quando puder, não havendo nenhum desejo neste

momento deles em parar. Eles ainda citam que os motivos para parar seriam apenas por

doença, por atrapalhar o processo do trabalho em si ou morte. Também foi trazida no discurso

a necessidade da diminuição de carga horária, porém, sem parar de trabalhar.

Com a contribuição de quatro participantes, a segunda ideia central traz o desejo de

solidificar e aprimorar seu empreendimento, para que a empresa tenha sustentabilidade e

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respeito no mercado, podendo modificar o ambiente em que atua. Como quarto discurso,

temos o desejo de construir um patrimônio para a família, sendo esta o maior motivo de seu

empenho nos negócios. Dar conforto e manter o padrão de vida até então fornecido aos seus

familiares. Como quinta ideia central, o conflito com relação a aposentadoria, onde somente

um participante cita que até pensa em se aposentar e parar de trabalhar, mas que no mesmo

momento percebe que não consegue ficar em casa sem ser produtivo.

Quadro 2.8. Perspectivas do futuro para o empreendedor

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Continuar

empreendendo até

quando puder

N=7

87,5%

Eu acredito que se eu puder trabalhar até o fim dos meus dias, eu vou, porque

quero continuar até quando Deus quiser, se eu não tiver mais saúde ou quando

perceber que não tá dando mais para realizar minhas atividades, que estou

atrapalhando. Não penso em parar, é como bicicleta, se eu parar, eu caio. Na

verdade, a minha perspectiva, assim é trabalhar duro do jeito que eu estou

trabalhando aí mais uns três anos, depois eu não vou parar de trabalhar, mas eu

quero dar uma diminuída na quantidade de horas trabalhadas. É, estou

montando uma estrutura pra que eu possa, sei lá, da minha casa em qualquer

lugar, comandar a empresa e poder ter certa tranquilidade pra mim mesmo,

aproveitar um pouco, porque nos últimos anos eu tenho trabalhado muito,

curtido pouco a vida. Quero aproveitar um pouco mais a vida, e ai dar uma

diminuída no ritmo. Mas por enquanto, ainda tem muita coisa pela frente. Quero

trabalhar por que eu gosto do que eu faço, acho que esse seria talvez um grande

diferencial de sucesso, se você não gosta do que você faz nesse momento da sua

vida em que você não trabalha pra ninguém, esquece. Acho que você tem que

gostar do que faz, é paixão, gosto do contato com as pessoas. Olha é tão

divertido, mas claro que uma hora vai ter que parar.

Solidificar e aprimorar

o empreendimento

N=4

50%

O que eu espero? Que meu negócio me dê bastante lucro, porque dando lucro a

gente tem a oportunidade de melhorar ainda mais. O meu objetivo principal é

firmar o nome da empresa no mercado, na sustentabilidade amanhã ou depois,

para se minha família quiser. Eu estou tentando montar uma estrutura pra deixar

uma empresa exemplar no mercado pra eles. Eu gostaria talvez de usar essa

ideia, mas num âmbito maior, mas eu não tenho ainda algo específico. Quero

uma empresa, empresa mesmo sabe uma empresa com respeito, com nome no

mercado. Estou trabalhando pra isso, trabalhando muito duro pra isso. Quero

deixar este planeta com tudo isso andando. Quero ver andando, é isso o que eu

quero. Hoje eu teria energia para fazer algo maior de ideia, não de ação.

Construir um

patrimônio para a

família

N=2

25,0%

Não posso parar. Porque o que me move é a minha família. Tudo no negócio hoje

também gira muito em função da minha família do meu padrão de vida, dos meus

filhos que estão se formando na faculdade, então tenho à necessidade de fazer

alguma coisa não é, é uma meta minha pra formar todos os meus filhos.

Conflito com relação a

aposentadoria

N=1

12,5%

Olha, eu fico pensando que gostaria de um dia me aposentar, mas ai na mesma

da hora que você pensa, você também pensa que não vou conseguir ficar em casa

Com relação a esses discursos alguns autores mostram como estas reações estão de

acordo com descobertas em outros estudos. Para Zanelli, Silva e Soares (2010), a decisão por

meio do empoderamento, de se manter ativo e promover o autocuidado faz com que o idoso

promova sua saúde. Assumir as escolhas, que lhe são possíveis, favorece que o idoso possa se

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sentir melhor e mais autônomo. Desse modo, além das mudanças relacionadas aos aspectos

físicos e psicológicos, devem ser destacadas as consequências no campo social. Ferrigno

(2006) afirma que cada vez mais os idosos têm enfrentado aos velhos estereótipos e adotado

comportamentos mais participativos e integrados com a sociedade. O autor chama esta nova

era de pós-modernidade. As alterações nos comportamentos têm propiciado ao indivíduo

maior liberdade de escolha em sua vida e com isso muitos idosos têm encontrado no trabalho

uma nova maneira de viver e de se realizar.

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CAPÍTULO V– CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar a pesquisa considera-se que os objetivos propostos foram alcançados,

sendo que a metodologia empregada mostrou-se adequada, permitindo a partir dos discursos

coletivos e da analise realizada caracterizar o indivíduo que começou a empreender já maduro

e, que chega à velhice exercendo essa atividade.

É importante ressaltar que como limitação da pesquisa deve-se considerar o fato do

estudo ter sido realizado em um único país, no Brasil em um única região do Estado de São

Paulo. Uma maior abrangência territorial poderia ter revelado outros resultados diferentes dos

que foram atingidos. Outro aspecto importante a ser considerado é a questão do grau de

escolaridade dos participantes. Neste estudo, com relação a esse aspecto, o único critério era

que o participante fosse alfabetizado. Todos os participantes indicados por acessibilidade são

de formação acadêmica superior. Dessa forma considera-se a hipótese que com grau de

escolaridade diferente do apresentado, podem-se obter dados também diferenciados aos

conquistados neste. Em relação à metodologia de análise dos dados escolhida, a Análise do

Discurso do Sujeito Coletivo mostrou em sua aplicação alguns limites, principalmente no que

diz respeito à percepção de que em alguns momentos ocorre à falta de identificação do

indivíduo como um ser singular e único e consequentemente não é possível apreender como

cada indivíduo pensa a respeito de determinado assunto.

Devemos considerar que esse estudo permitiu perceber que o idoso está mudando e

que com o aumento da expectativa de vida e com a melhora na qualidade de vida, esses

indivíduos muitas vezes chegam aos 60 anos em situação de plena capacidade produtiva.

Neste momento, a pessoa percebe que detém o poder de construir uma imagem que pode sim

ser positiva de seu envelhecimento, por não mais se tratar apenas de situações de perdas ou

declínios, mas sim de oportunidades de mudanças positivas, bem como produtivas. Mudar

essa imagem de finitude e de espera do encerramento da vida tem sido uma realidade na vida

destes indivíduos que chegam à velhice.

O profissional na maturidade que reconhece seu conhecimento e experiência

adquiridos ao longo de sua vida por meio do mundo laborativo percebe no empreendedorismo

uma nova relação de trabalho que tem se tornado interessante para estes profissionais que se

sentem em condições de continuar ativos e produtivos. A mudança é um momento de vida

diferente de seu início de carreira no mercado de trabalho, propiciando ao indivíduo a

oportunidade de fazer algumas escolhas, respeitando seus ganhos e perdas, adquiridos ao

longo da vida. Os ganhos, entre outros aspectos, estão relacionados a oportunidade do

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profissional trabalhar com o que gosta, com o que mais se identificou durante sua vida

produtiva, com sua experiência e conhecimento, ou até mesmo, em desenvolver uma atividade

com algo que gostaria de trabalhar, porém, devido à sua carreira profissional já estabelecida,

não pôde fazê-lo, e que neste momento reaparece como uma oportunidade de realização de

alguns de seus sonhos.

Mesmo ocorrendo perdas ao longo da vida e estejam relacionadas ao processo de

envelhecimento, há no empreendedorismo uma oportunidade de adequação destas limitações,

sejam elas físicas, biológicas ou de qualquer outra natureza. Podemos considerar que o

indivíduo que envelheceu e continua empreendendo tem seu foco mais nos ganhos do que nas

perdas, de maneira que os aspectos do envelhecer são vividos de maneira mais positiva e

construtiva, gerando a possibilidade de melhor aproveitamento das oportunidades percebidas

e pretendidas.

Os participantes desta pesquisa são profissionais que tiveram uma relação de trabalho

formal ao longo de sua trajetória profissional e que após a meia idade, ao se aposentarem,

passaram a empreender. Trata-se de uma mudança de relação com o mundo do trabalho, uma

vez que até então eram empregados e agora como empregadores, demandam formas

diferentes de pensar, agir e se relacionar. Neste momento, o indivíduo passa a buscar em si

algumas respostas, pois se sente livre para se reinventar, com energia para o trabalho, bem

como mais segurança naquilo que sabe e experimentou. Buscar fazer algo que realmente gosta

e que tem vontade e poder aproveitar sua maturidade profissional, o conhecimento e

experiência adquiridos por toda sua trajetória no trabalho, bem como respeitar sua condição

física atual, se tornam fundamentais para esta escolha nesta etapa de vida do idoso.

O processo de empreender, muito mais que por uma necessidade, para estes

profissionais na maturidade, tem relação direta com o momento de vida de cada um, com o

que percebem que é importante nesta etapa da vida, sem necessariamente ser fruto de um

planejamento prévio. Muitas vezes surge de maneira associada a um fato ocorrido em sua vida

que o marcou, podendo ser devido a uma aposentadoria, a morte de alguém próximo, ou seja,

algo que o faz perceber que não tem mais todo o tempo do mundo, mas que se torna

importante valorizar o que se conquistou e transformar em algo que ainda possa ser usufruído

neste tempo restante, no presente. Esse reinventar-se abre caminhos de oportunidades e

perspectivas de futuro para o indivíduo, uma forma diferenciada de se lidar com a finitude,

uma vez que ao envelhecer, esta perspectiva fica na maioria das vezes mais forte.

Diante disto, a percepção de oportunidade para se manter trabalhando e ativo no

mercado de trabalho está relacionada a autoanálise dos aspectos internos do indivíduo, do

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autoconhecimento e dos aspectos externos, observados no ambiente em que vive. É uma

reflexão subjetiva que leva em consideração diversos aspectos biopsicossociais, porém é

importante ressaltar que se envelhece como se viveu. No empreendedor mais maduro a

motivação para empreender está relacionada a suas características de personalidade, com um

desejo interno, uma inquietação de fazer algo diferente, algo que sempre existiu, sendo um

sentimento inato. Atitudes que já demonstravam ser de um profissional mais autônomo,

independente e inovador, que buscava modificar o ambiente em que vivia, propondo novas

formas de se trabalhar, muitas vezes com persistência, mesmo diante das dificuldades

enfrentadas. Nesse sentido, são profissionais que, com essas características puderam vivenciar

situações em suas vidas como oportunidades de iniciar suas atividades empreendedoras.

A maturidade conquistada ao longo do tempo conduz o profissional idoso ao

empreendedorismo, não por uma necessidade, mas sim como uma oportunidade de dar vasão

ao que se viveu e se conquistou de conhecimento ao longo de toda trajetória de vida. Atuando

como empreendedor, o idoso encontra espaço para colocar em prática o que adquiriu de

conhecimento em sua vida e assim ter a oportunidade de crescer conforme o empreendimento

for alcançando melhor participação de mercado. Um fator importante a se ressaltar é que a

motivação para o empreendedorismo surge também pelo sentimento deste profissional

maduro de que seu negócio tem a possibilidade de se desenvolver e de ter continuidade, sem

mesmo a necessidade de sua presença, demonstrando neste momento a satisfação e o prazer

em realizar algo constantemente.

Nesta pesquisa foi observado que o empreendedor maduro apresenta algumas

características que corroboram com os estudos que tem sido apresentado a respeito do

indivíduo empreendedor, bem como outras características ou mesmo maneiras de lidar com os

assuntos questionados que se apresentam de maneira peculiar, ou seja, própria do idoso

empreendedor. De modo geral, é importante ressaltar que visão de oportunidade, com

atenção ao mercado e necessidades, demonstração de energia de realização; necessidade de

construir e modificar o ambiente, sentimento de inquietação interna; percepção do risco como

inerente ao negócio e valorização do contínuo aprendizado e aprimoramento em relação aos

temas trabalhados são características apresentada pelo idoso empreendedor participantes desse

estudo que são semelhantes ao encontrado na literatura ao se tratar das características do

profissional empreendedor de outras faixas etárias.

Quanto a empreender na maturidade, os aspectos peculiares percebidas no profissional

idoso empreendedor que se apresentaram mais marcantes estão relacionados a capacidade

deste indivíduo ter maior segurança e cautela na tomada de decisão com propostas de

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soluções mais promissoras e serenas; menos ansiedade ao gerir seu negócio; tranquilidade ao

lidar com o risco do negócio; disponibilidade para ouvir e sentimento de satisfação em

compartilhar seus conhecimentos e experiências com os mais jovens. Além disso, por se

mostrarem financeiramente mais estabilizados não se cobram no sentido que precisam fazer

seu negócio ter sucesso, uma vez que já produziram diversos feitos ao longo de sua vida ou

mesmo pelo motivo que apresentaram uma certa estabilidade financeira e menos

compromissos pendentes a serem cumpridos com seus familiares ,como criar filhos ou mesmo

adquirir uma residência própria.

Assim podemos falar que o empreendedor na velhice tem atributos como visão de

oportunidade, necessidade de fazer algo diferente e modificar o ambiente em que vive, no

sentido de solucionar problemas, com soluções, o entendimento que o risco é inerente ao

negócio, energia e motivação para iniciar algo novo, entre outros. Porém, percebe-se que

neste momento de vida, o conhecimento conquistado traz segurança e maturidade que

proporcionam mais cautela em suas atitudes e melhores soluções em relação aos conflitos

existentes.

O movimento no mundo do trabalho tem caminhado para uma maior valorização do

conhecimento do que da força bruta. O elemento chave nos dias atuais no ambiente

profissional é o conhecimento, ou seja, como este trabalhador lida com tudo o que conquistou

de experiência e de estudo ao longo de sua vida, para solucionar de forma cada vez mais

rápida possíveis problemas. Neste sentido, está se vivendo a era do conhecimento, onde o

profissional idoso tem a possibilidade de perceber e usufruir das oportunidades que surgem

neste momento. Com a tecnologia cada vez mais desenvolvida, não há mais campo para

somente a força bruta, onde o jovem teria melhores oportunidades de se desenvolver, devido

às suas condições físicas e biológicas. O profissional maduro tem espaço nesta nova economia

que valoriza o conhecimento e, mais do que isso, como este conhecimento é aplicado e

disseminado pelos jovens.

No discurso do empreendedor na velhice, o conhecimento técnico é valorizado por

estes profissionais, porém, as características de relacionamento interpessoal são consideradas

mais relevantes nesta etapa da vida. Assim, é por meio das relações sociais que o idoso tem a

possibilidade de trocar, desconstruir velhos conceitos e reconstruir novos significados, sendo

o empreendedorismo um motivador, uma maneira encontrada para alimentar estas relações. A

troca advinda das relações interpessoais favorece não somente a formação de vínculos

afetivos, como também a troca de afetos entre as pessoas e melhora o sentimento de pertencer

a determinada sociedade. Esta aceitação do outro na convivência faz com que o idoso melhore

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sua qualidade de vida, propiciando-lhe uma velhice mais saudável, uma vez que estes

aspectos estão diretamente ligados ao bem estar físico e psicológico.

No ambiente de trabalho, a questão do contínuo aprendizado e aprimoramento,

mantendo-se atento ao movimento do ambiente em que vive, apresenta-se como um elemento

base para o empreendedorismo. E é mais por meio das relações humanas, por meio da troca

entre clientes, fornecedores e concorrentes, que o idoso pode se manter atualizado com as

mudanças que estão ocorrendo no ambiente, permitindo que a qualquer momento tome

medidas em relação aos seus negócios de forma assertiva e necessária para a saúde de seu

empreendimento.

Neste contexto, ao se falar sobre os riscos na atividade de empreender, o profissional

mais velho reconhece o risco como inerente para a atividade desenvolvida, em decorrência da

necessidade constante de tomar decisões estratégicas em seu negócio. Por outro lado, de

maneira peculiar, este não é percebido como uma ameaça, mas é tratado com maior

tranquilidade, por diversos aspectos. Se beneficiando de sua experiência de vida, administra

seu negócio de maneira mais promissora e serena, com maior disponibilidade para ouvir. Em

sua maioria, este empreendedor procura se ajustar às necessidades que se apresentam,

mostrando-se sob esse ponto de vida, menos ansioso. Assim, o empreendedor idoso não

precisa “dar certo”, a curto espaço de tempo. Ele possui, na maioria das vezes, uma

aposentadoria que lhe dá segurança para trabalhar com qualidade e serenidade, como também

na maioria das vezes já não têm filhos que dependam dele, sendo a receita não uma

necessidade de sobrevivência, mas sim uma melhora no orçamento doméstico e a

possibilidade de manutenção do padrão de vida até então vivido. Desta forma é possível

afirmar que o empreendedor idoso não busca no empreendedorismo a solução para uma

necessidade, ele investe percebendo uma oportunidade.

Para identificar oportunidades de negócios o empreendedor mais maduro considera

tanto aspectos internos quanto externos. Desse modo, prestar atenção às necessidades do

mercado e com isso procurar agir de forma a resolver este problema identificado, mostra além

da identificação da oportunidade uma característica de estar atento a uma possibilidade que

não lhe passou despercebida, motivada pelo desejo de fazer algo para se manter ativo. Esta

inquietação que aparece constantemente nos empreendedores mais jovens, se mantem

presente nos empreendedores idosos, ficando claro que o fato de envelhecer não elimina estas

características empreendedoras.

Os participantes, ao falarem sobre a relação entre a idade e a atividade de empreender,

ressaltam que toda sua experiência adquirida e vivencia profissional passam a serem fatores

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76

que ajudam a manter e desenvolver o negócio com maior segurança, propiciando o sentimento

de autonomia e realização. Características como disposição e energia para continuar

empreendendo estão presentes, do mesmo modo que há também o reconhecimento das

limitações físicas que muitas vezes geram dificuldades em manter negócio, porém com alguns

critérios de adaptação, é possível administrar estes aspectos. Porém, o mais importante é

poder fazer o que gosta ou o que sente vontade de realizar de maneira adequada às suas

necessidades, ou seja, conviver com suas perdas e ganhos para manter o seu bem estar, é algo

que dá sentido à vida e o mantém em desenvolvimento por toda sua vida.

Estes profissionais na terceira idade demonstraram planos de vida, sem a imagem de

que a velhice não é por si só um fator limitante para continuar se desenvolvendo, se

relacionando e realizando coisas. Demonstraram uma necessidade de perpetuação de seus

negócios, como uma contribuição para posteridade, porém sem um pensamento de parar de

trabalhar quando chegada à aposentadoria. Muito pelo contrário, estes profissionais mais

velhos estudados nesta pesquisa mostraram desejo de continuidade e de construção de futuro

no mundo do trabalho e da realização profissional, bem como de reconhecimento da

sociedade.

Empreender na maturidade tem se mostrado uma opção de manutenção da vida, no

sentido de proporcionar ao indivíduo a possibilidade de fazer suas próprias escolhas, de sentir

que continua modificando o ambiente em que vive, podendo manter o que mais importa nesta

etapa da vida que são as relações humanas, as trocas e o aprendizado contínuo. Por meio da

atividade empreendedora, o profissional idoso pode respeitar todos seus ganhos conquistados

durante sua jornada laborativa, suas experiências de vida e, principalmente, se adaptar às suas

perdas que o envelhecer traz juntamente com a maturidade.

A viabilidade desta nova relação de trabalho é um caminho, que por meio da

autonomia conquistada leva a uma atividade prazerosa, na qual o idoso pode criar, viver e se

sentir bem. Não se trata de idealizar a velhice, ou de considerar o “velho jovem”, negando-se

assim as características do processo de envelhecimento, mas de um indivíduo que consegue

aproveitar as oportunidades para viver esta etapa de vida de maneira mais saudável, com

melhor qualidade de vida em todos os seus aspectos biopsicossociais.

Com o crescente envelhecimento populacional, surge cada vez mais a necessidade de

estudos em relação a esta nova identidade que vem sendo construída, no sentido de se

compreender melhor quem é este indivíduo, bem como suas necessidades e potencialidades.

Somente desta maneira, pode se consolidar uma percepção mais próxima da realidade vivida

por estes indivíduos atualmente e gerar ações no sentido de aproveitar o potencial que estes

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profissionais na maturidade têm e que podem contribuir na sociedade em que vivem, sendo

um grande aliado para o aquecimento da atividade econômica.

Desta maneira, surge a necessidade de ações no sentido de desenvolver programas de

incentivo e desenvolvimento destes profissionais a se prepararem para uma nova relação de

trabalho. Por meio dos resultados desse estudo pode-se considerar que o empreendedorismo é

um caminho viável para estes idosos. São profissionais maduros no conhecimento, na

experiência e vitalidade para se reinventar e iniciar uma nova atividade empreendedora,

criando para a economia a possibilidade de crescimento no país, bem como de alternativas de

soluções possíveis com relação aos problemas previdenciários vividos atualmente. Nesse

contexto, é possível ampliar a imagem e percepção deste indivíduo que envelhece buscando

novas alternativas podendo-se assim repensar novas formas de perceber o idoso no mundo

contemporâneo.

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ANEXO A

Questionário Sociodemográfico

A. Dados sobre o Entrevistado

1. Sexo : ( ) masculino ( ) feminino

2. Idade: __________ anos

3. Escolaridade:

a. ( ) alfabetizado

b. ( ) 1° grau ( ) completo

c. ( ) 2° grau ( ) incompleto

d. ( ) 3° grau

4. Estado civil

( ) solteiro

( ) casado

( ) separado

( ) viúvo

5. Renda familiar :

( ) entre 1 e 2 salários mínimos

( ) entre 2 e 4 salários mínimos

( ) entre 4 e 6 salários mínimos

( ) entre 6 e 8 salários mínimos

( ) entre 8 e 10 salários mínimos

( ) acima de 10 salários mínimos

B. Dados sobre o negócio

1. Ano de fundação:__________________

2. Setor: ___________________________

3. Atividade: _______________________

4. Número de empregados ( se tiver ): ____

5. Faturamento médio mensal: __________ ( ) recusou-se

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ANEXO B

Carland Entrepreneurship Index

Assinale com um (x) qual alternativa melhor descreve seu comportamento ou maneira de ser

para cada um dos 33 pares de afirmações apresentadas a seguir.

1 Objetivos por escrito para este negócio são cruciais.

É suficiente saber a direção geral em que você esta indo.

2 Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa habilidosa.

Eu gosto de pensar em mim mesmo como uma pessoa criativa.

3 Eu não teria iniciado este negócio se eu não tivesse certeza de que seria bem sucedido.

Eu nunca terei certeza se este negócio dará certo ou não.

4 Eu quero que este negócio cresça e torne-se poderoso.

O real propósito deste negócio é dar suporte a minha família.

5 A coisa mais importante que eu faço para este negócio é planejar.

Sou mais importante no gerenciamento do dia-a-dia deste negócio.

6 Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva otimista.

Eu gosto de abordar situações de uma perspectiva analítica.

7 Meu objetivo primário neste negócio é sobreviver.

Eu não descansarei até que nós sejamos os melhores.

8 Um plano deveria ser escrito para ser efetivo.

Um plano não escrito para desenvolvimento é suficiente.

9 Eu provavelmente gasto muito tempo com este negócio.

Eu divido meu tempo entre este negócio, família e amigos.

10 Eu tendo a deixar meu coração governar minha cabeça.

Eu tendo a deixar minha cabeça governar meu coração.

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11 Minhas prioridades incluem um monte de coisas fora este negócio.

Uma das coisas mais importantes da minha vida é este negócio.

12 Eu sou aquele que tem de pensar e planejar.

Eu sou aquele que tem que fazer as coisas.

13 As pessoas que trabalham para mim trabalham duro.

As pessoas que trabalham para mim gostam de mim.

14 Eu anseio pelo dia em que gerenciar este negócio seja simples.

Se gerenciar ficar muito simples, eu iniciarei outro negócio.

15 Eu penso que eu sou uma pessoa prática.

Eu penso que eu sou uma pessoa imaginativa.

16 O desafio de ser bem sucedido é tão importante quanto o dinheiro.

O dinheiro que vem com o sucesso é a coisa mais importante.

17 Eu sempre procuro por novas maneiras de se fazer as coisas.

Eu procuro estabelecer procedimentos padrões para que as coisas sejam feitas certas.

18 Eu penso que é importante ser otimista.

Eu penso que é importante ser lógico.

19 Eu penso que procedimentos padrões são cruciais.

Eu aprecio o desafio de inventar mais do que qualquer coisa.

20 Eu gasto tanto tempo planejando quanto gerenciando este negócio.

Eu gasto a maior parte do meu tempo gerenciando este negócio.

21 Eu tenho percebido que gerenciar este negócio cai na rotina.

Nada sobre gerenciar este negócio é sempre rotina.

22 Eu prefiro as pessoas que são realistas.

Eu prefiro as pessoas que são imaginativas.

23 A diferença entre os concorrentes é a atitude do proprietário.

Nós temos alguma coisa que fazemos melhor do que os concorrentes.

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24 Meus objetivos pessoais giram em torno deste negócio.

Minha vida real é fora deste negócio, com minha família e amigos.

25 Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes.

Se você mudar muito, você pode confundir os clientes.

26 A melhor abordagem é evitar o risco tanto quanto possível.

Se você quer exceder a concorrência, você tem que assumir alguns riscos.

27 Eu odeio a idéia de pegar dinheiro emprestado.

Empréstimo é somente outra decisão de negócios.

28 Qualidade e serviços não são suficientes. Você tem que ter uma boa imagem.

Um preço justo e boa qualidade é tudo o que qualquer cliente realmente deseja.

29 As pessoas pensam em mim como um trabalhador esforçado.

As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar.

30 Os únicos empreendimentos que este negócio faz são aqueles relativamente seguros.

Se você quer que este negócio cresça, você tem que assumir alguns riscos.

31 A coisa que eu mais sinto falta em trabalhar para alguém é a segurança.

Eu realmente não sinto falta de trabalhar para alguém.

32 Eu me preocupo com os direitos das pessoas que trabalham para mim.

Eu me preocupo com os sentimentos das pessoas que trabalham para mim.

33 É mais importante ver possibilidades nas situações.

É mais importante ver as coisas das maneiras que elas são.

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Instruções para tabulação do CEI

ScoringInstructions Put a check in the appropriate box for the first or second choice for each of the questions.Count the

number of checks appearing in boxes, which have the word "count" appearing inthem. The total of

number of checks in "count" boxes will be the respondent's Entrepreneurship Index and will range

from 0 to 33.

Questions 1st 2st

1 Count

2 Count

3 Count

4 Count

5 Count

6 Count

7 Count

8 Count

9 Count

10 Count

11 Count

12 Count

13 Count

14 Count

15 Count

16 Count

17 Count

18 Count

19 Count

20 Count

21 Count

22 Count

23 Count

24 Count

25 Count

26 Count

27 Count

28 Count

29 Count

30 Count

31 Count

32 Count

33 Count

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Classificação do CEI

Microempreendedor, Empreendedor e Macro empreendedor

Categoria Pontuação Características Gerais

Microempreendedor De 0 a 15 pontos Um microempreendedor possui um negócio que não visa o crescimento direto, mas que pode se tornar uma referência em sua cidade ou comunidade. Esse tipo de empreendedor vê seu negócio como a fonte primária para a renda familiar ou para estabelecer emprego familiar. Considera sua empresa como aspecto importante da sua vida, mas não será “consumido” por ela e irá buscar a sua satisfação pessoal através de alguma atividade externa ao seu negócio. O sucesso, para o microempreendedor, pode ser pedido pelo seu grau de liberdade e pela estabilidade de seu negócio, o que proporcionará condições de aproveitar a vida.

Empreendedor De 16 a 25 pontos O Empreendedor, nessa escala, concentra seus esforços para o lucro e crescimento do seu negócio. Seus objetivos são mais ousados que os do microempreendedor, mas ao atingir o seu padrão desejado de sucesso, possivelmente o seu foco também mudará para outros interesses externos ao seu negócio. Esse tipo busca a inovação, normalmente procurando melhorias para os produtos, serviços e procedimentos já estabelecidos, ao invés de engendrarem algo totalmente novo, pois essas melhorias possuem menos probabilidades de desestabilizar o caminho para o sucesso que é tão importante para o empreendedor. O sucesso para as pessoas que se enquadram nessa categoria pode ser simbolizado pelo reconhecimento, admiração e riqueza.

Macro empreendedor De 26 a 33 pontos O macro empreendedor acredita que o seu próprio envolvimento com seu negócio é o caminho para a auto realização. Costuma associar o seu sucesso ao crescimento e lucro do seu negócio, mas o seu interesse não é monetário, mas sim, como um placar, para medir o seu sucesso pessoal, pois o que realmente e seja é dominar o seu mercado. Esse tipo é considerado inovador e criativo e está constantemente em busca de novos caminhos para transformar seus sonhos em novos produtos, mercados, indústrias e desafios. Um macro empreendedor verá seu negócio como um meio de mudar a indústria e tornar-se uma força dominante. Seus esforços giram em torno do seu empreendimento com força e determinação.

Fonte: Carland, Carland e Hoy (1992)

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ANEXO C

Roteiro de entrevista semiestruturado

1. Como foi seu processo de empreender?

2. Explique como nasceu sua motivação para tornar-se empreendedor. Durante seu trajeto no

empreendedorismo, você acha que suas motivações ao longo do tempo são as mesmas?

Houve alguma mudança? Se sim, em que momento elas ocorreram? Explique como foi.

3. Em sua opinião, quais características de personalidade são importantes para quem quer

empreender?

4. Quais habilidades você acredita possuir que lhe são úteis em sua atividade de empreender?

5. Como você identifica uma oportunidade? Qual é esse caminho para você?

6. Como é seu processo de aprender algo novo?

7. O que é risco na sua profissão? Você corre riscos? Explique como tem sido esse processo

para você.

8. Você acredita que o fator idade, em relação ao seu trabalho atualmente como

empreendedor traz benefícios ou não?

9. Quais são as perspectivas para o futuro? O que você espera de sua atividade como

empreendedor?

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ANEXO D

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ___________________________________________________________________,

portadora do RG no. __________________________________, residente em

_____________________________________________________________________, bairro

______________________________________, CEP ________________, telefone (___)

___________-___________, e-mail _____________________________, abaixo assinado,

dou meu consentimento livre e esclarecido para participar da pesquisa “Empreendedores na

Terceira Idade”, sob a responsabilidade da mestranda Adiliana dos Santos Peres e da

Orientadora Professora Doutora Claudia Aranha Gil do Programa de Mestrado em Ciências

do Envelhecimento da Universidade São Judas Tadeu.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

1. O objetivo da pesquisa é analisar as características dos empreendedores na terceira

idade;

2. Esta pesquisa é um trabalho de mestrado da Universidade São Judas Tadeu, conduzido

de acordo com as normas do Comitê de Ética da Universidade São Judas Tadeu, campus

Mooca, localizada na Rua Taquari, 546 do estado de São Paulo;

3. Sei que durante a pesquisa eu responderei dois questionários: um sobre meus dados e

outro sobre empreendedorismo. Em seguida, serei contato pela pesquisadora, podendo ser

agendado uma devolutiva ou um segundo encontro, onde participarei de uma entrevista

comperguntas previamente elaboradas. As entrevistas serão gravadas em áudio e as gravações

ficarão mantidasem local seguro, de modo a assegurar o sigilo das informações;

4. Estou ciente que os resultados obtidos por meio dessa pesquisa serão utilizados apenas

para alcançar os objetivos do trabalho, incluindo a publicação em literatura especializada;

5. Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo absoluto e os resultados desta pesquisa

servirão como base para os resultados finais deste trabalho;

6. Poderei abandonar a pesquisa a qualquer momento, deixando de participar do estudo,

sem qualquer prejuízo;

7. Como benefício imediato, essa pesquisa poderá possibilitaraos participantes, a

consolidação de maior conhecimento sobre o tema em questão, bem como ter a oportunidade

de rever suas práticas e perceber situações de seu trabalho e/ou de sua historia profissional até

o momento não percebido.

8. Como possível risco envolvido em minha participação na pesquisa, serei submetido a

um roteiro de perguntas que, eventualmente, poderá causar ansiedade e possível desconforto

ao relatar as vivências profissionais durante minha trajetória de vida. Caso isso ocorra,

poderei interromper ou não a pesquisa. Identificadas situações de alteração emocional

relevante decorrente da pesquisa, será oferecido atendimento psicológico no Centro de

Psicologia Aplicada da USJT (CENPA), caso tenha interesse.

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9. Não terei retorno econômico, pois se trata de um trabalho realizado em prol da ciência

e minha participação é voluntaria;

10. Terei acesso aos resultados quando solicitar, respeitando a identificação das

participantes;

11. Sei que poderei entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade São Judas Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à

pesquisa, através do telefone (11) 2799-1944.

12. Poderei entrar em contato com o responsável pela pesquisa, Professora Doutora

Claudia Aranha Gil, sempre que julgar necessário pelo telefone (11) 5093-7641 ou por e-mail:

[email protected]

13. Obtive todas as informações necessárias para decidir conscientemente sobre a minha

participação na referida atividade;

14. Este termo de consentimento possui duas vias, sendo que uma permanecerá em meu

poder e a outra com a pesquisadora responsável.

São Paulo, _____ de ____________________ de 2013.

___________________________

Assinatura da Participante

__________________________

Profa. Dra. Claudia Aranha Gil

CRP -0632849

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ANEXO E

1. Como foi seu processo de empreender?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- (1ª e 2ª) Já era um sonho meu quando eu

comecei a trabalhar de empregado... e logo

eu já era dono

B-(3ª)Eu via erros, mas erros que eu

classificava como barbaridade. Aí então eu

procurei sair fora daquela forma, estudei

demais, trabalhei demais para conseguir

chegar onde eu cheguei

C- (4ª)Daí eu comecei a questionar, ficou

na minha cabeça, isso foi crescendo na

minha cabeça, foi amadurecendo.

(5ª)Para mim era muito nítido assim, que eu

queria continuar, queria ser ativa, mas eu

não queria um emprego. Eu queria...

(6ª)tocar uma coisa, eu queria fazer uma

coisa diferente. Eu queria fazer diferente. E

eu, evidentemente fui selecionando e o

desafio maior era justamente essa última,

que aceita projetos bastante desafiadores.

Continuo prospectando, de antena ligada

em busca de projetos que tem potencial

1ª Empreender já era um sonho

2ª Comecei a trabalhar como

empregado e bem rápido já era

dono

3ª Eu identificava erro no

exemplo que eu tinha e estudei

muito e trabalhei para fazer da

maneira que achava correto

4ª- Comecei a questionar o que

eu percebia e vai amadurecendo

5ª Não queria parar de trabalhar,

mas não queria um emprego

6ª- Queria algo diferente, algo

desafiador, novo

2. Explique como nasceu sua motivação para tornar-se empreendedor. Durante seu trajeto no

empreendedorismo, você acha que suas motivações ao longo do tempo são as mesmas? Houve alguma

mudança? Se sim, em que momento elas ocorreram? Explique como foi.

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- Ai, (1ª)é aquela vontade de vc estar

sempre dentro dos melhores, entendeu?

Você conquistar as suas coisas, de você

querer ter as suas coisas, seu carro, sua

casa...e crescer na vida, eu sempre tive

sucesso em meus negócios, ...

(2ª) tive uma dificuldade financeira muito

grande e eu não soube lidar com ela, e eu

achava que nunca ia acontecer nada para

mim, aí comecei a pensar como eu ia

começar de novo, sem dinheiro. No começo

muita dificuldade, porque para quem teve

que fechar um negócio e tá começando de

novo, tem dificuldade pra comprar, tem

dificuldade com o banco, eu tive que

trabalhar sem banco até eu crescer. Daí

comecei a colocar meu objetivo, de crescer

1ª sempre quis ser o melhor,

conquistar minhas coisas,

sempre tive sucesso nesse

processo.

2ª No começo, sempre com

dificuldade financeira, precisei

começar de novo, com

esperança e objetivo de crescer.

3ª Quero crescer com segurança

4ª Me sentia motivado quando

tudo tava fechado e eu tentava

5ª Mesmo sem minha presença,

meu trabalho terá continuidade,

Quando o

empreendedor

entra em

falência tem

dificuldade de

recomeçar e de

crescer

novamente.

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... daí eu fiquei sem rumo, mas sempre com

uma esperança de uma hora voltar. Eu tava

de ladinho assim, com muitas dificuldades,

mas enfim, pensando alto já. (3ª) Eu já

poderia ter crescido o dobro ou três vezes

mais, mas eu quero crescer com os pés no

chão.

(4ª) ...cada vez eu sentia que tudo tava

fechado pra mim, mas eu tentava.

(5ª) Hoje não, eu quero ganhar muito

mesmo e se eu morrer, o projeto continua.

Tudo corre naturalmente porque eu sei que

isso não é meu, Eu não tou agarrado, vai

continuar, o projeto continua. Hoje eu tou

livre, hoje eu tou crescendo, tou ganhando

dinheiro, isso não me afeta porque sei que

um dia alguém vai continuar o projeto, sei

mesmo.

B- (6ª) Eu fui me ajustado à situação. Cada

vez eu tinha mais cliente, cada vez mais

pessoas me procuravam, cada vez eu me

tornei mais famoso e a coisa veio vindo e

eu tinha que aumentar.

(7º) depois desse meu único aniversário, eu

achei que tinha que parar um pouco... eu me

sinto mal

C- (8ª) porque a motivação eu já tinha

quando eu comecei a perceber... o tempo

todo tava ali, caramba, uma pergunta que

começa a amadurecer, quase que um

incômodo, é uma inquietação ...

(9ª) eu sou privilegiada, porque depois que

eu me aposentei e comecei a aprender uma

coisa nova que é a empresa ...essa foi a

mudança na minha motivação

não estou agarrado

6ª Fui ajustando à situação, tive

que aumentar conforme a

demanda

7ª Houve mudança na minha

motivação para empreender

recentemente quando pensei que

deveria parar, mas me sinto mal

com a ideia.

8ª Minha motivação nasceu de

uma pergunta, um incômodo

9ª A mudança na minha

motivação foi o desafio de

aprender coisas novas

3. Em sua opinião, quais características de personalidade são importantes para quem quer empreender?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- (1ª) Ele tem que ser determinado, tem

que ser otimista, tem que pensar alto,

imaginar sempre uma coisa maior, imaginar

e isso cristalizar, as coisas têm que

acontecer. Se vc não tiver esse pensamento,

vc vai ficar com medo, será que vai dar

certo, será que não vai dar certo? Pensar lá

na frente, para não perder o foco no cliente,

tem que pensar lá na frente,

(2ª) a minha imagem. É muito importante, a

imagem.

B- (3ª) eu tinha um dom de analisar a

pessoa à primeira vista. Depois eu

conversando ficava fácil demais. Seria o

poder de análise, de perceber e de mais ou

menos de saber onde a pessoa poderia

1ª O empreendedor tem que ser

determinado, otimista e pensar

alto

2ª A pessoa tem que se

preocupar com sua própria

imagem no negócio

3ª Uma característica é perceber

o que o cliente necessita e

satisfazê-lo

4ª É preciso não ter vaidade, não

é necessário reconhecimento,

você pode ofuscar alguém e seu

negócio pode ser prejudicado

Se não pensar

com otimismo,

você vai ter

medo

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chegar, o que ela queria e quais são suas

expectativas dela e eu sempre conseguia dar

esta expectativa. É perceber o que as

pessoas querem e fazer como elas querem.

É atender.

C- (4ª) Não ter vaidade e eu vou te dizer

por quê. Eu quero fazer uma coisa. Eu

quero. Não precisa ter meu nome. Eu quero

sentir o prazer de fazer alguma coisa, de

construir alguma coisa. Se alguém quiser

dar o nome dele ou de fulano ou beltrano,

não importa. Eu quero que aquilo seja feito.

E se você tiver uma atividade dessas de

empreendedorismo, se você começar

ofuscar alguma pessoa, as pessoas puxam

seu tapete e você perde a oportunidade. Eu

não sei lidar com puxada de tapete. Então

eu não me importo, não precisa ter meu

nome. Não precisam reconhecer que foi eu,

eu sei que foi eu. Pra mim é. É o processo

de se fazer aquilo. Não ter vaidade, porque

às vezes se você começa no eu, eu, você

incomoda as pessoas.

4. Quais habilidades você acredita possuir que lhe são úteis em sua atividade de empreender?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- (1ª) você tem que dar atenção para seus

clientes, ficar no lugar dele.

B- (2ª)Na parte profissional, a habilidade

manual, estudar muito e a outra parte é o

que eu falei,

(3ª) o poder de análise e de conversa para

saber o que a pessoa quer, analisar.

C- (4ª) Entrar no jogo eu acho que é essa a

nossa missão e é isso que eu faço com a

turma no trabalho, eu quero que eles sejam

melhores do que eu, mas eu não vou esperar

por eles. Porque a hora em que eles tiverem

fazendo melhor do que eu naquilo, eu já

estou em outra.

1ª Você precisa dar atenção e se

colocar no lugar do outro

2ª Para empreender, você

precisa ter conhecimento

técnico do seu negócio

3ª Analisar e considerar o que a

pessoa quer

4ª Para empreender, você

precisa contribuir para que seus

discípulos sejam melhores do

que você

5. Como você identifica uma oportunidade? Qual é esse caminho para você?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A-(1ª) eu tou sempre acompanhando,

(2ª) acho que a construção é algo muito

sólido. Tou atrás destas coisas seguras. Eu

tou sempre atrás de novidades. Se alguém

comenta eu já vou atrás. Eu primeiro faço a

pesquisa... mas pelo menos eu tentei, já

visitei outros para ver como eles trabalham.

Eu também vou aos concorrentes, porque

eu sou igual eles. O que eles sabem eu

também sei.

B- (3ª) Acho que tem uma hora que dá uma

1ª É importante acompanhar, as

novidades, pois pesquisando

você pode tentar e decidir de

maneira mais segura

2ª A construção é algo sólido e

quero algo seguro

3ª Tem momentos que a sorte

ajuda nos negócios

T

1ª Tem um

momento que

precisa arriscar

2ª O

empreendedor

precisa estar na

frente das coisas

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sorte de um ou de outro. Tem um

determinado momento que vc tem dois

caminhos que vc escolhe um e é o certo.

(4ª) Acho que vc se arrisca, não pode dizer

que vc não se arrisca. Chega uma hora que

vc precisa se arriscar.

C- (5ª) É aí que entra a intuição.

(6ª) Chega uma hora que eu vou ficando

insatisfeita, insatisfeita, insatisfeita. Já há

um ano que tou dizendo que não aguento

mais fazer sempre a mesma coisa, apesar

dos projetos serem sempre diferentes, mas

eu faço sempre a mesma coisa, eu penso

que eu tenho que desafiar esse conselho de

outra forma. Eu começo a ficar insatisfeita,

insatisfeita, insatisfeita. tenho que mudar,

fazer algo diferente. tou percebendo que

não tá me agradando mais. eu não aguento

mais isso, que estamos na “mesmísse”, que

estamos numa situação que preciso mudar,

ninguém me trouxe ideias. com novos

desafios. Essa minha inquietação mental é

muito interessante. Eu venho com isso, eu

venho com isso.

(7ª) vc tem que estar na frente das coisas.

Esse desafio é que é legal, isso é o que

motiva a gente, renova a gente.

4ª Você arrisca ao escolher por

um caminho

5ª A intuição ajuda a perceber as

oportunidades

6ª A insatisfação e a inquietação

colabora para a mudança, para

eu fazer algo diferente

7ª Você tem que estar a frente

das coisas. Esse é o desafio que

motiva e renova a gente

6. Como é seu processo de aprender algo novo?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- Vc tem que fazer esses cursos de

autoajuda, para vc se determinar, para vc

não ter desânimo no meio do caminho, Se

vc não buscar a motivação, vc vai ficar

paradão. A minha vida é motivada,

entendeu? Embora a gente conviva com

pessoas que não tenha motivação cada um

na sua...

B- (2ª) Hoje é muito fácil. Hoje, tem muita

coisa que, de um modo ou do outro,

passa..., conjumina, então é muito rápida é

como uma dinâmica

C- (3ª) Eu aprendo todos os dias.

(4ª) vc ficar de antena ligada, ver o que

pode te interessar e vc mergulhar naquilo.

Conhecer aquilo, discutir, não basta ouvir,

discutir e se possível participar. Aí sim, vc

aprende.

1ª Cursos para manter a

automotivação

2ª Hoje é rápido, fácil, dinâmico

3ª Eu aprendo todos os dias

4ª Você ficar de antena ligada e

ver o que pode te interessar

Buscar a

motivação para

não ficar

paradão

7. O que é risco na sua profissão? Você corre riscos? Explique como tem sido esse processo para você.

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- (1ª) Sim, a gente corre risco direto.O

risco nos negócios também existe

B- (2ª) Eu queria ser livre, para mim é

1ª Risco existe e é contínuo

2ª Eu queria ser livre, é

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importante ser livre.

(3ª) O dia em que eu perceber que eu não

mais estou sendo útil, eu quero ter essa

percepção e poder chegar na empresa e

dizer que eu não tou mais acrescentando

nada para eles, se não der certo, eu nem

penso em risco, mas se não der certo, eu

volto para casa, vou me aposentar. Não é

uma ameaça esse risco para mim, embora

possa existir algum risco, mas para mim ele

não existe, não faz parte.

importante ser livre

3ª Quando eu perceber que não

sou mais útil, me aposento. Não

existe esse risco nesse sentido

para mim

8. Você acredita que o fator idade, em relação ao seu trabalho atualmente como empreendedor traz

benefícios ou não?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- (1ª) Ai, eu não sei, mas ser mais velho

não muda pra mim. A minha idade não

influi em nada

(2ª) hoje eu sei quais são as dificuldades.

Eu faço um cálculo e já sei

B- (3ª) Como empreendedor pode ser que

eu já fiz o que eu tinha que fazer, como

empreendedor.

(4ª) Não que eu queira diminuir o ritmo, é o

ritmo que diminui

C- (5ª) Complicador. Eu não aguento mais

pegar avião e ir para um lugar, para outro,

não dá mais. Isso no sentido físico.

(2ª) Na parte intelectual, eu particularmente

não sinto, não acho que seja um

complicador, muito pelo contrário, mas

novamente, minha situação é uma situação

especial, porque eu não tenho um

concorrente.

(6ª) E tem outra situação especial, eu não

dependo financeiramente desse dinheiro.

Se eu parar de trabalhar, eu não vou passar

fome.

1ª Ser velho para mim não muda

em nada

2ª Na parte intelectual, a idade é

um facilitador

3ª Já fiz o que tinha que fazer

4ª Eu não queria diminuir, mas é

o ritmo que diminuiu

5ª No sentido físico, a idade é

um complicador

6ª Eu não dependo

financeiramente desse dinheiro,

não passo fome

9. Quais são as perspectivas para o futuro? O que você espera de sua atividade como empreendedor?

Expressões Chave Ideias Centrais Ancoragem

A- (1ª) Eu quero ficar rico até os 75 anos e

depois dar palestras (...risos) é verdade, eu

já programei

B- (2ª) Ele tem experiência, que é uma

idade ótima para produzir. O médico mais

ou menos, o economista só trabalha até a

hora que quer, o jornalista trabalha até a

hora que quer. Só tem benefícios

C- Eu quero trabalhar enquanto eu tiver

condições de trabalhar, essa é minha meta.

E deixar este planeta com tudo isso

andando. Quero ver andando

1ª Minha programação para o

futuro é ficar rico e dar palestras

2ª Profissional da terceira idade

só ganha, pois adquiri

experiência e pode produzir com

autonomia

3ª Eu espero ver meu negócio

andando, em movimento

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ANEXO F

Discurso do Sujeito Coletivo

1. Processo de empreender

Ideias Centrais Expressões-Chave

Um acontecimento marcante antecedeu a

atividade empreendedora

n.5

H. me apareceu de acordo as circunstâncias não foi, eu não visei

esse objetivo me apareceu na necessidade de fazer alguma coisa e

foi por circunstâncias que precisei assumir

D. Bom o meu processo foi, começa pela minha aposentadoria né,

me aposentei com uma idade, muito novo com cinquenta e três

anos né, e depois eu fui ajudar um familiar em uma empresa e

nessa de ficar lá é...

F. Então eu nunca vi assim barreira no que eu quero fazer, eu

quero fazer e vou fazer eu só tinha era esse freio de mão, meu

marido que me puxada entendeu...e quando ele se foi eu me senti

livre...livre. quando ele se foi eu botei pra fora tudo aquilo que

estava preso e fui fazendo me idealizando.

G. Eu acredito que ele foi muito mais motivado pela minha

saída da empresa né... e com isso eu tive uma doença tive

câncer e eu também não tinha todo o tempo disponível.

C. ai isso foi um marco na minha vida entendeu?... e aí mudou a

minha vida. Aí eu falei, tou gostando desse assunto

Visão de Oportunidade

n.3

B.Eu era funcionário e recebi um convite para comprar uma das

empresas do grupo... é tinha uma empresa do grupo que fui

convidado a assumir, e eu comprei a empresa com dinheiro

emprestado né, dinheiro de banco né e o banco pois o juros lá em

cima, é eu entrei como sócio, na verdade eu tinha setenta por

cento

E. os clientes começaram a aumentar e haviam poucos

empreendimentos nesta área naquela época, então nós começamos

nesse negócio e fomos trabalhando nele.

D. Ele pediu para gente montar uma empresa, e ai surgiu a ideia

da gente comprar montar uma sociedade e foi dai que começou a

nossa empresa entendeu, ai eu montei a empresa comecei do

inicio até o fim tudo eu que fiz praticamente 100% das coisas né, e

ele entrou com a parte financeira e eu entrei com a outra parte

financeira e ai surgiu a empresa em dois mil e sete

Juntar o conhecimento adquirido e

transformá-lo em negócio próprio

n.2

A. Eu tinha muito conhecimento, mas não sabia transformá-lo em

negócio, em produto. Nós tínhamos o conhecimento e não

fazemos disso um negócio. Daí eu comecei a questionar, ficou na

minha cabeça, isso foi crescendo na minha cabeça, foi

amadurecendo, até que eu recebi um convite para trabalhar

exatamente naquilo que eu pensava e me incomodava ... e aceitei

tocar esse negócio, e hoje tou aqui. Então, hoje eu tenho essa

visão empresarial, mas eu tenho a acadêmica, que é minha

formação.

G. Depois de tantos anos de experiência, e ai eu pensei eu tenho

que usar essa minha experiência pra algo que eu possa continuar

desenvolvendo e diferentemente pra mim né, porque eu sempre

ganhei muito dinheiro pras empresas que eu trabalhei, muito. daí

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eu pensei, não agora é o meu momento eu vou tentar isso porque

eu tenho os contatos, eu fiz um network fantástico eu tinha um

nome respeitado por que eu sempre fui muito séria na minha

posturas né,... então eu tinha todo um nome e todo um contato.

Desejo de fazer algo novo

n.2

A. Para mim era muito nítido assim, que eu queria continuar,

queria ser ativa, mas eu não queria um emprego. Eu queria... tocar

uma coisa, eu queria fazer uma coisa diferente. Eu queria fazer

diferente. E eu, evidentemente fui selecionando e continuo

prospectando, de antena ligada em busca de projetos e parcerias

que tenham potencial de crescer e que seja desafiador para mim.

C. Enfim, eu sempre buscava esses nichos para buscar para

trabalhar e criar sempre tudo novo, tá vendo? Sempre, ... nunca fiz

nada que já existisse, enfim.

Planejamento prévio

n.1

H. É antes de deixar a empresa eu já tinha planejado com minha

mulher e minha filha de fazer esse negócio

2. Motivação para empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Considerar o empreendedorismo como inato

n.5

A. Na verdade, a motivação eu já tinha quando eu comecei a

perceber as coisas. O tempo todo tava ali, caramba, uma pergunta

que começa a amadurecer, quase que um incômodo, é uma

inquietação.

C. Esse sentimento foi que é muito interessante é... começou na

verdade, foi assim pouquinho a pouquinho uma um crescimento

sem tristeza sem depressão sem nada era um chamado que eu tava

ouvindo, era um chamado sabe eu queria exercitar alguma coisa.

G. Não eu sempre fui do jeito que eu sou, sempre trabalhei muito

duro, me dedicando, como se a empresa fosse minha. Então eu

acho que esse espírito eu já tinha mesmo trabalhando pra outros.

Eu sentia que a empresa era minha e eu tinha responsabilidade

pelas pessoas que estavam lá. Acho que eu já era uma

empreendedora trabalhando pros outros, foi só uma mudança de

posição, porque quando eu sai eu resolvi. Eu falei não agora eu

vou trabalhar por minha conta, eu vou abrir o meu negócio por que

eu já sei o que eu tenho que fazer.

B. Eu acredito ... que a gente já é alguma coisa de empreendedor

F. É uma coisa que já vem de dentro é inato

Oportunidade de fazer negócio

n.4

C. Foi assim que a gente fez, foi olha sem nenhuma modéstia

porque é realmente eu estava no lugar certo com a ideia certa, né?

temos uma liberdade enorme porque a gente só atende com

agendamento prévio, nós não atendemos mais que três vezes por

semana com algumas exceções em certo período do ano, onde tem

maior demanda, e nem três dias seguidos pra sempre manter o

frescor, entendeu?

D. surgiu essa oportunidade não é uma coisa que eu coloquei na

minha cabeça eu vou fazer isso entendeu surgiu essa oportunidade

de montar a empresa com eles e eu encarei isso como um desafio e

fui a luta me apeguei mesmo me apliquei muito e me dediquei

todo meu tempo, minha vida nisso daí entendeu. Então sempre na

minha cabeça tive vontade de ter uma coisa minha de administrar

um negócio meu né, não tinha ideia do que fazer, pensei em várias

coisas, mas não achava qual era a coisa mais importante pra mim,

até que surgiu uma oportunidade e eu encarei.

H. a motivação foi que eu tinha um imóvel que é adequado pra

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isso

B. eu fui convidado para me associar, e meu sócio era um grande

amigo, então a motivação foi grande

Beneficiar a família

n.2

E. Percebi a oportunidade de receber um pouquinho mais, ganhar

um dinheirinho a mais para poder também ajudar nos estudos dos

filhos. Eu já consegui educar meus filhos e hoje eles me ajudam.

D. eu acho que existe né, acima da motivação tudo isso é uma

necessidade como eu tenho minha família que tem um padrão de

vida me aposentei, e com a aposentadoria não daria pra eu manter

o padrão de vida que eu tinha né, então essa necessidade me

motivou muito também

Poder relacionar-se com pessoas

n.1

C. É, então o que me motiva realmente é que na verdade me

retroalimenta é essa troca essa presença do outro, do

conhecimento, da descoberta, do enriquecimento, como as pessoas

são maravilhosas, quanta gente criativa porque vem aqui na nossa

empresa. Então a nossa magia que por um lado é muito

enaltecedor, assim a gente fica muito orgulhoso é que nos temos

uma dança com os nossos convidados né? É uma dança de

descoberta um do outro

Encarar novos desafios

n.1

A. Eu sou privilegiada, porque depois que eu me aposentei e

comecei a aprender uma coisa nova, ou seja, trabalhar com algo

que possa usar meu conhecimento e fazer dele um produto, um

negócio. O casamento dessas duas coisas não é fácil, e isso foi a

mudança na minha motivação. Você tem que estar na frente das

coisas. Esse desafio é que é legal, isso é o que motiva a gente,

renova a gente.

O núcleo da motivação é mesma do início do

projeto

n.1

C. Sinto uma acréscimo na minha motivação, um acréscimo da

ideia primeira, houve um sedimentar, o núcleo é o mesmo . Bem,

bem, em relação a minha motivação, ela foi aumentando,

aumentando mais o núcleo é o mesmo. Hoje minha motivação é a

mesma do início do projeto. Hoje eu continuo com o mesmo

propósito, a mesma motivação. Continuo com a mesma

disposição, não percebo nenhuma, nenhuma mudança de lá pra cá,

apesar de sentir um acréscimo na minha motivação, um acréscimo

da ideia primeira, houve um sedimentar, o núcleo é o mesmo.

3. Características do empreendedor para a atividade do empreendedorismo

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Características pessoais

n.7

H. Competência, visão

E. E eu me relaciono muito bem com meus clientes. Me

comunicar porque eu acho que a melhor comunicação que existe

não é a fala. É o gesto, é só no olhar você já esta transmitindo

alguma coisa, o gesto mais ainda. Ah, são importantes, educação

né cortesia relacionamento é muito importante quem não tem um

bom relacionamento. O meu relacionamento. Ah, sou muito boa,

né eu me relaciono assim é com uma energia muito positiva que

eu acho importante, você receber um cliente e ele sentir em você

o carinho que você esta transmitindo pra ele, isso é importante.

F. ser otimista pras coisas poderem fluir por que eu sou muito

otimista. Espontaneidade né, é o otimismo, e você tem que se

entregar mesmo ao que você faz que não adiante nada. Primeiro

ele tem que ser uma pessoa super amável não tem que estar de

cara fechada tem que tratar muito bem os outros né. Procurar

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cativar não é? é você saber conversar até numa hora meio difícil

né, você saber orientar, pedir com educação. Com certeza é o que

eu te falei, ter habilidade né no trato com o cliente, habilidade

para cativar a pessoa pra vir pro seu negócio, uma interação

muito boa com seu cliente.

C. Acho que primeiro é saber quem você é né, primeiro é esse

ah... o segundo é partir de alguma coisa que é importante pra

você, que faça parte de você, que tem essa ligação, e não pegar

um estudo e ver ah eles estão é... hoje o mercado quer isso, então

eu vou por aqui, entendeu? ... tem uma maneira bem abrangente

de ver ah... o produto sabe? E graças a isso então a gente

consegue é... não só eu consigo manter a qualidade e a

efervescência da coisa que eu tenho muita energia, ele ta sempre

vendo a parte global do negócio. Eu acho primeiro eu tenho um

otimismo que faz parte da minha vida desde o primeiro dia que

eu nasci . eu acho que é igual meu caso é gostar das pessoas, eu

gosto de pessoas, eu gosto de trocar.

A. A pessoa tem que entrar no time, querer participar do time.

Entrar no jogo. A. Uma habilidade importante no ato de

empreender é saber entrar no jogo eu acho que é essa a nossa

missão e é isso que eu faço com a turma no meu trabalho. Eu

quero que eles sejam melhores do que eu, mas eu não vou esperar

por eles. Porque a hora em que eles tiverem fazendo melhor do

que eu naquilo, eu já estou em outra.

G. Eu acho que é tenacidade, dedicação, observação você tem

que ser muito observador pra detectar o que é melhor, eu acho

que manter uma boa imagem por que eu trabalho com publico eu

preciso não posso chegar lá com uma cara desarrumada,

desanimada eu preciso transmitir isso, então tudo é troca de

energia. Eu acho que é perspicácia, tenacidade, dedicação, e

follow up, acho que uma pessoa sem follow up... não dá, porque

eu acho que você, às vezes você tem uma oportunidade e eu vou

até o fim, às vezes não vai dar certo, não vai ser o meu negócio.

então eu preciso estar preparada pra falar com esse meu cliente e

eu levo as empresas atrás de mim, então pra que essas empresas

queiram que eu trabalhe pra elas primeiro eu preciso convencê-

las de que eu vou ser o porta voz adequado.

B. a honestidade faz parte do negócio e muitos olharem nos olhos

pra ter a certeza do que você está fazendo, é muito importante, se

isso são qualidade ou deveres eu num... mais deveres do que

outras coisas mas... É, mais... mais principalmente isso não

enganar oi cliente e estar junto dele lá se algo estiver errado, ok,

vamos lá, vamos resolver

Conhecimento técnico

n.5

G. instrução você tem que continuar se instruindo não adianta

você achar que trabalhou que você sabe tudo existem

modificações tecnologias novas né.

H. Capacidade de planejar, de organizar e controlar e escolher a

área em que tem mais capacidade para ter seu negócio

F. Então você tem que saber fazer o que vai querer fazer.

E. Educação, um nível mais ou menos de cultura

D. um conhecimento principalmente na área administrativa e

financeira entendeu que isso me ajudou muito no dia a dia sabe

controle, muito controle de tudo que você faz entendeu, controle

de despesa, controle de ganhos né, então o meu conhecimento

acho que me ajudou muito nisso tanto o conhecimento por ter

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101

trabalhado em uma grande empresa onde eu aprendi muito e a

administração foi uma coisa que me ajudou bastante entendeu

Ser o gestor principal do seu negócio

n.2

B. Olha primeiro é que você... Você esta em uma situação em que

você tem o poder ai eu falo: poder do que mesmo? Tem o poder

de administrar um bem seu

D. ele tem que tomar conta do negocio dele mesmo e a não ser

que ele cresça e monte uma estrutura que ele possa ficar só no

comando entendeu por que enquanto você é pequeno você tem

que fazer tudo lá dentro não tem jeito hoje ainda executo muito

dentro da empresa. então é a característica é assim que eu podia

te falar é o dia a dia mesmo é você ta envolvido com aquilo ali no

dia a dia

Sentir prazer na atividade que exerce

n.1

A. O empreendedor não pode ter vaidade e eu vou te dizer por

quê. Eu quero fazer uma coisa. Eu quero. Não precisa ter meu

nome. Eu quero sentir o prazer de fazer alguma coisa, de

construir alguma coisa. Se alguém quiser dar o nome dele ou de

fulano ou beltrano, não importa. Eu quero que aquilo seja feito. E

se você tiver uma atividade dessas de empreendedorismo, se você

começar ofuscar alguma pessoa, as pessoas puxam seu tapete e

você perde a oportunidade. Eu não sei lidar com puxada de

tapete. Então eu não me importo, não precisa ter meu nome. Não

precisam reconhecer que foi eu, eu sei que foi eu. Pra mim é o

que basta. É o processo de se fazer aquilo. Não ter vaidade,

porque às vezes se você começa no eu, eu, você incomoda as

pessoas.

4. Identificação das oportunidades de negócios

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Atenção às necessidades do mercado e

clientes

n.4

H. Oportunidade surge, só precisa ficar atento

G. Olha pra mim oportunidade sempre decorre de necessidade

entendeu, isso é uma oportunidade, então eu preciso, eu estou

sempre lendo, pesquisando e fazendo contatos, então isso, e

prestando atenção no que os outros falam que às vezes você fala,

fala, fala e o outro fala e você não presta atenção, então nessa...

nessa ih...e participar as vezes de jantares de associação, estou

sempre em contato, então o follow up sempre você tem um, é

porque se você como que você vai a coisa não vai bater na sua

porta eu tenho essa oportunidade se você não fizer constantes

contatos e manter o relacionamento esqueça entendeu.

E. e você sempre quer ter a oportunidade de melhorar alguma

coisa, dar uma aparência melhor para atender melhor nosso

cliente.

D. Então acho que de acordo com a necessidade do mercado né,...

então eu acho que é isso conhecimento do mercado e a

necessidade também do mercado a procura do produto né... uma

necessidade que a gente vê no mercado, está carente no mercado

então é ai que surgiu a ideia da gente fazer entendeu

Criação de oportunidades a partir de aspectos

internos

n.4

A. É aí que entra a intuição. Chega uma hora que eu vou ficando

insatisfeita, insatisfeita, insatisfeita. Já há um ano que tou dizendo

que não aguento mais fazer sempre a mesma coisa, apesar dos

projetos serem sempre diferentes, mas eu faço sempre a mesma

coisa, eu penso que eu tenho que desafiar meus parceiros de outra

forma. Eu começo a ficar insatisfeita, insatisfeita, insatisfeita.

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tenho que mudar, fazer algo diferente. Tou percebendo que não tá

me agradando mais. Eu não aguento mais isso, que estamos na

“mesmísse”, que estamos numa situação que preciso mudar,

ninguém me trouxe ideias com novos desafios. Essa minha

inquietação mental é muito interessante. Eu venho com isso, eu

venho com isso. B. Você precisa saber o que quer para poder

identificar as oportunidades.

F. Olha eu acho que a oportunidade vem da sua condição da

vontade de fazer as coisas entendeu por que tem gente que fica

ah! Eu queria tanto fazer isso assim ah... você tem que ter uma

atividade eu vou fazer e você fazer é o que eu fiz eu enxergo

assim é uma coisa bem tem que ser uma coisa eu vou fazer vou

fazer e não vou ficar só não não vai dar certo por que se não vai

acontecer isso há como eu vou fazer aquilo não eu não penso

nisso eu vou fazer e e vai dar certo, eu enxergo que vai dar certo

que é uma coisa boa uma coisa que vai ajudar não só a mim, mas

a muita gente e que eu não vou ficar podada entendeu, eu vou

poder trabalhar minha cabeça e conversar interagir com os outros

tudo

G. às vezes você tem uma oportunidade eu vou até o fim as vezes

não vai dar certo, não vai é o meu negócio por exemplo, mas eu

procuro ajudar meu cliente, eu vou atrás de quem pode atendê-lo,

porque ele pode vir a ser meu cliente mais pra frente... acho que o

grande segredo é você não deixar as oportunidades que aparecem

ficarem no esquecimento

5. Processo de aprendizagem para o empreendedor

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

O aprendizado se dá na troca com pessoas

n.6

F. Você sabe que sou muito objetiva né, eu sou uma pessoa

muito receptiva e sou uma pessoa assim muito observadora

... e converso muito eu acho que o dialogo é principal posição do

ser humano por que não adianta você só querer brigar chutar,

jogar não adianta você tem que conversar você conversa você

tem o seu dialogo você tem, você escuta o outro a falar por que

tem gente que não escuta né, fala, fala,

A. Eu aprendo todos os dias. Você precisa ficar de antena ligada,

ver o que pode te interessar e você poder mergulhar naquilo.

Conhecer aquilo, discutir, não basta ouvir, discutir e se possível

participar. Aí sim, você aprende.

C. Total. A maneira de... como que eu vou por exemplo, primeiro

como vou lidar com as pessoas segundo pensar um pouco como

que a pessoa está me recebendo pra eu poder entrar com alguma

característica minha que cada um, nós temos varias né! Qual que

é a característica que deve prevalecer, então ao ter esse outro eu

também me conheço porque de acordo com a percepção do outro

eu fico me enxergando entendeu?

D. o conhecimento com as outras pessoas técnicas do mercado, a

gente tem muito contato com eles, entendeu, então está sempre

surgindo uma coisa nova os próprios funcionários, vendedores

G. cada contato eu aprendo coisas novas entendeu...então eu

estou sempre antenada pra ver se alguém tem uma coisa nova e as

coisas acabam vindo por que as pessoas me procuram por que

sabem do meu network então é um circulo vicioso

E. Olha algo novo a gente sempre aprende né filha, Sempre

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aprende. Conversando, um bate papo do dia a dia, ela fala que na

pousada dela aconteceu isso, mas há a minha também, isso aí eu

também tenho a oportunidade de fazer. A troca de informações

né.

É necessário buscar conhecimento

n.2

H. eu estou sempre fazendo pesquisas na internet. o que aparece

eu assemelho

D. Aqui dentro do meu ramo a gente pesquisa por exemplo agora

recentemente a gente teve uma feira, a gente viu muita coisa

nova ali, a gente abriu muita coisa pra gente entendeu? que você

é lógico que não da pra colocar em pratica de imediato mas é

coisa que ficou gravada na cabeça da gente com o tempo a gente

vai por exemplo procurando desenvolver esse produtos. Tem

muita informação também, tem fornecedores, eles dão muito

curso pra gente, a gente faz curso. Então, a gente busca

informação tudo o que a gente pode pegar de informação a gente

busca sempre. Além disso, tem outras coisas que vem com o

jornal, televisão. então a gente vai ligando né, em várias formas a

gente vai buscando conhecimento né,

Previsão dos acontecimentos e pouco

aprendizado novo

n.2

H. não há muita coisa nova assim pra aprender hoje pra minha

vida

B. Eu brigo comigo mesmo por que a maior parte das coisas você

fala já vi e isso é complicado porque você tem que deixar o

pessoal propor as coisas né então é... como eu tenho muito tempo

no mercado desse negócio, você fala assim isso daqui eu já sei, já

sei o que vai acontecer, mas não posso fazer isso por que se não

disser, vai que... por mais que você fale, não, você também não

sabe, não muda, as coisas...

6. Os riscos na atividade de empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

O risco é inerente ao negócio

n.5

H. O risco é inerente a qualquer negócio, procuro me preparar

pra enfrentar uma eventualidade, há sempre essa preocupação

minha. Não tem jeito tem que ficar esperando acontecer

B. o risco quando que vamos correr e se compensa ou não se não

compensar vou ter que parar é inerente ao... ao trabalho, você

quer crescer você tem que arriscar, você tem que arriscar

e...propor novas saídas eh é...

F. Você tem risco no seu negócio quando precisa tratar com um

cliente que teve uma atitude inadequada, por exemplo.

D. Olha o risco é muito grande a gente tem muito... muito o risco

muito grande, por que a gente envolve riscos, envolve pessoas,

morte, uma série de coisa nosso produto envolve tudo isso, então

a gente tem que trabalhar dentro de uma segurança. A gente

procura trabalhar mais próximo possível das normas para

justamente evitar o risco. Tem risco de você entregar o produto e

o cliente não te pagar é um risco do negócio você não receber,

você produz, vende e não recebe. Então existe esse risco muito

grande olha é você ta no mercado não tem saída só que a gente

analisa, a gente procura informações a gente procura cercar, mas

não consegue evitar 100% sempre tem um risco, tem esse risco

de um funcionário vir se machucar na firma e você ter sérios

problemas com isso entendeu. Risco de perda de material, de

erro de funcionário, perda de dinheiro

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104

G. que o grande risco é assim em alguns, eu tenho na maioria dos

meus negócios... para quais eu trabalho eu não tenho contrato,

talvez um erro da minha parte, e eu vou muito assim nessa que

eu posso perder posso, eles podem não me pagar

O risco não é uma ameaça

n.3

A. Eu queria ser livre, para mim é importante ser livre. O dia em

que eu perceber que eu não mais estou sendo útil, eu quero ter

essa percepção e poder chegar nos meus parceiros e dizer que eu

não tou mais acrescentando nada para eles, se não der certo, eu

nem penso em risco, mas se não der certo, eu volto para casa, vou

me aposentar. Não é uma ameaça esse risco para mim, embora

possa existir algum risco, mas para mim ele não existe, não faz

parte.

E. Não, nós não temos riscos nenhum. Não, Não vou falir porque

o negócio é meu, e eu não tenho empregado, é uma coisa própria,

meus filhos é quem trabalham, falir não, nós não vivemos disso,

isso é o complemento.

C. O risco eu nunca vi nenhum porque se tivesse ou se tiver eu

não consegui enxergar ainda ah...

7. Relação da idade com a atividade de empreender

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

A idade traz experiência e aprendizado

n.6

H. Traz beneficio, a experiência ... muito

D. a idade ela te da mais experiência, ela ti da mais assim é você

ser mais flexível nas coisas, você é... pensar mais racionalmente

entendeu, por que às vezes você vai mais por impulso, mas

ah...então a idade ela só me ajuda talvez no conhecimento, na

experiência por tudo que a gente já passou na vida entendeu,

então talvez a idade ajude nesse sentido, agora ela não me

atrapalha em nada assim né. Eu penso assim acho que a gente

está sempre aprendendo né, eu não sei tudo

G. Muito, experiência é a experiência é eu acho que o

entendimento de pessoas quer dizer que nem todo mundo né por

que tem gente ai mais velha que num sabe nem o que está

acontecendo, ma eu acho que a energia é uma coisa que não é

toda pessoa de mais de cinquenta, sessenta tem de fazer tanta

coisa ao mesmo tempo né, mas eu acho que... acho que o mais

importante é a experiência, a experiência vivida,.. então acho que

essa foi a vivencia que eu acho que é produtiva e me ajuda por

que não foi só em um lugar, foram em diferentes companhias,

diferentes coisas e diferentes processos né

F. o meu ponto de vista na verdade a vida vai trazendo pra você

varias experiências né, aprendizados e tudo realmente reforça

mais

C. uma postura né? Eu acho que aí é a idade é que traz, porque

eu não conseguiria ter feito isso aos trinta

E. Como eu sempre falei, relacionamento com outras pessoas,

conhecendo novas culturas é muito importante

Há disposição e energia de realização

n.3

D. ajuda também muito no negócio sabe, isso traz um beneficio

acredito eu é por que a gente é assim vontade não falta pelo

menos enquanto eu estou lá saio sete horas da manhã chego oito

nove horas da noite, saio pra todo lugar que precisar, faço que

tenho que fazer não é a idade que me impede de eu fazer nada por

enquanto não está me impedindo ainda entendeu, eu me sinto

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muito bem trabalhando, me sinto muito bem de saúde .

F. pelo que eu vejo a minha idade eu não me sinto uma pessoa

velha uma pessoa... eu tenho assim uma disponibilidade uma

disposição pra fazer as coisas muito grande entendeu, então você

nunca vai chegar aqui e vai me ver caída a não ser que eu eu

esteja com um problema sério

E. Eu acho que a idade não me ajuda hoje nos meus negócios,

porque eu não me considero velha, a gente tem sempre que

pensar que a gente é nova, que a gente é sempre capaz de fazer.

A idade é um complicador

n.3

A. Eu acho que a idade, no sentido físico é um complicador. Eu

não aguento mais pegar avião e ir para um lugar, para outro, não

dá mais.

B. Não, não pelo contrário, quisera eu ter uma menor idade,

porque o que prejudica é o cansaço... eu já estou um pouco mais

cansado Eu acho que a melhor época de um homem é em torno

dos trinta e cinco a quarenta e cinco anos, eu acho que é a época

que ele mais produz, que ele ta mais... mais ele atira mais ele tem

mais senso disso ai eu acho que ta nessa idade daí trinta e cinco a

quarenta e cinco anos

H. dadas as circunstancias quer dizer é um negocio relativamente

modesto em função da minha capacidade

Ser referência para os jovens

n.2

C. No nosso caso? Muito, muito benefícios... Muito, primeiro o

fato de estar com varias pessoas e muitos jovens né, e que eles

nos veem como o ideal, ou seja, não parar que é exatamente

D. Meus sobrinhos, eles tem uma confiança muito eles se

espelham muito em mim sabe, então eu tenho aquela

responsabilidade de... a falha pra mim, o fracasso pra mim é

complicado perante eles também sabe, por que eles não tiveram

estrutura né, então eles aprenderam muita coisa comigo e eles

tem uma confiança assim incrível em mim. Independência financeira

n.1

A. E tem outra situação especial pelo fato da idade avançada é

que eu não dependo financeiramente desse dinheiro. Se eu parar

de trabalhar, eu não vou passar fome.

8. Perspectivas do futuro para o empreendedor

Ideias Centrais Discurso do Sujeito Coletivo

Continuar trabalhando até quando puder

n.7

H. Continuar até quando Deus quiser. Não penso em parar... é

como bicicleta... se eu parar, eu caio.

G. Olha eu acredito que se eu puder trabalhar até o fim dos meus

dias eu vou trabalhar por que eu gosto do que eu faço, acho que

esse seria talvez um grande diferencial de sucesso, se você não

gosta do que você faz nesse momento da sua vida em que você

não trabalha pra ninguém... esquece, eu acho que você tem que

gostar do que você faz, então é paixão eu gosto, eu gosto do

contato com as pessoas,.

F. Bom como empreendedora acho que isso aqui vai só até

quando eu puder e depois vai acabar isso com certeza.

E. Não quero parar, só o dia que eu não puder mais, né, o dia que

eu não puder mais realizar minhas atividades

A. Eu quero trabalhar enquanto eu tiver condições de trabalhar,

essa é minha meta.

C. Olha é tão divertido que a gente não consegue ver assim

numa... o que que poderia vir depois, mas claro que uma hora

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vai...

D. Parar de trabalhar só quando Deus quiser ou se não tiver mais

saúde que ver que na ta dando mais né que eu estou

atrapalhando, mas por enquanto ainda tem muita coisa pela frente

ainda entendeu, assim não tenho.. . , a minha perspectiva assim

trabalhar duro do jeito que eu estou trabalhando aí mais uns três

anos depois eu não vou para de trabalhar, mas eu quero dar uma

diminuída na quantidade de horas trabalhada é eu estou montando

uma estrutura pra que eu possa sei lá da minha casa em qualquer

comandar a empresa né, então eu pretendo daqui uns três anos da

uma certa tranquilidade pra mim mesmo, aproveitar um pouco,

nos últimos dez anos aí eu tenho trabalhado muito né, tenho

curtido pouco a vida né, então aproveitar um pouco mais a vida, e

ai dar uma diminuída no ritmo né

Construir um patrimônio para a família

n.2

H. Não posso parar. Porque o que me move é meus filhos, a

minha mulher apenas para mantê-la né, mas os filhos eu penso

muito no futuro deles tem que deixar pra eles um caminho.

D. como eu te falei né, tudo no negócio hoje também gira muito

em função da minha família do meu padrão de vida, dos meus

filhos que estão se formando na faculdade, então tenho à

necessidade de fazer alguma coisa não é, é uma meta minha pra

formar todos os meus filhos .

Solidificar e aprimorar o empreendimento

n.4

D. O meu objetivo principal é... afirmar o nome da empresa no

mercado, na sustentabilidade amanhã ou depois se meus filhos

quiserem eu estou tentando montar uma estrutura pra deixar uma

empresa exemplar no mercado pra ele uma empresa, empresa

mesmo sabe uma empresa com respeito, com nome no mercado

estou trabalhando pra isso, trabalhando muito duro pra isso

A. E deixar este planeta com tudo isso andando. Quero ver

andando, é isso o que eu quero.

E. O que eu espero? Que meu negócio me dê bastante lucro,

porque dando lucro a gente tem a oportunidade de melhorar ainda

C. eu gostaria talvez de usar essa ideia, mas num âmbito maior,

mas eu não tenho ainda algo específico entendeu. Hoje eu teria

energia para fazer algo maior de ideia, não de ação.

Conflito com relação a aposentadoria

n.1

B. Olha eu fico pensando que gostaria de um dia me aposentar,

mas ai na mesma da hora que você pensa, você fala assim p eu

não vou conseguir ficar em casa

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ANEXO G

Parecer Consubstanciado do CEP

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