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Universidade de Brasília UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação Documentação FACE Departamento de Economia MESTRADO EM GESTÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE “PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICA PÚBLICA: REALIDADE OU MITO? A EXPERIÊNCIA DO „ZEE PARTICIPATIVO‟ DO ACRE.” RACHEL HELENA MESQUITA DE FARIAS BRASÍLIA DF 2010

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Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação Documentação – FACE Departamento de Economia

MESTRADO EM GESTÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE

“PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICA PÚBLICA: REALIDADE OU MITO? A EXPERIÊNCIA DO „ZEE PARTICIPATIVO‟ DO ACRE.”

RACHEL HELENA MESQUITA DE FARIAS

BRASÍLIA – DF 2010

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Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação Documentação – FACE Departamento de Economia

“PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICA PÚBLICA: REALIDADE OU MITO? A EXPERIÊNCIA DO „ZEE PARTICIPATIVO‟ DO ACRE.”

RACHEL HELENA MESQUITA DE FARIAS

Dissertação apresentada ao Departamento de Economia da Universidade de Brasília com requisito para obtenção do título de Mestre em Economia – Gestão Econômica do Meio Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira

BRASÍLIA – DF JANEIRO – 2010

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RACHEL HELENA MESQUITA DE FARIAS

“PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICA PÚBLICA: REALIDADE OU MITO? A EXPERIÊNCIA DO „ZEE

PARTICIPATIVO‟ DO ACRE.”

Dissertação aprovada como requisito para a obtenção do título de Mestre em Gestão Econômica do Meio Ambiente, do Programa de Pós-Graduação em Economia – Departamento de Economia da Universidade de Brasília, por intermédio do Centro de Estudos em Economia, Meio Ambiente e Agricultura (CEEMA). Comissão Examinadora formada pelos professores:

__________________________________________

Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira Departamento de Economia da UnB

__________________________________________

Prof. Dr. Pedro Henrique Zuchi da Conceição Departamento de Economia da UnB

__________________________________________

Prof. Dr. José Ribeiro Machado Neto Centro Integrado de Ordenamento Territorial –

CIORD/UnB

BRASÍLIA – DF JANEIRO – 2010

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A Deus que me mostrou o caminho das pedras e das rosas

e ao trilhá-los eu só cresci intelectual e espiritualmente.

Ao Mário, meu companheiro, que me apoiou e incentivou

durante todo o curso.

Aos meus filhos Rafhael, Lucas e Pedro por existirem.

A minha irmã Carla Any e aos meus sobrinhos Fernanda e

Gabriel (in memoriam) que se foram no início do mestrado.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira pela competente orientação e pelo tema da

dissertação, o qual me levou a um caminho que fez toda a diferença.

Ao Departamento de Economia da Universidade de Brasília, pela oportunidade de acesso

ao conhecimento, na pessoa de seus professores Jorge Madeira Nogueira, Pedro Zuchi,

Denise Imbroisi, Charles Mueller, Roberto Ellery, Bernardo Mueller e Jorge Madeira Júnior.

Ao Prof. Dr. Lucas Araújo Carvalho pelas sugestões como incentivo ao trilhar o caminho do

conhecimento.

À Prof. Drª. Verônica Passos pelo carinho e relevantes considerações sobre o trabalho.

Aos amigos de mestrado: Leulair Mendes, Omar Bravo, Roberto Freire, Fabrícia Jaber,

Lucicléia Ferreira e, particularmente, ao Antônio Eurípedes de Lima pelo continuado apoio

e ao nosso monitor de Métodos Quantitativos Muhamad Elkadi (Muka) pela dedicação.

À torcida das amigas que conquistei nessa trajetória: Regina Machado, Izabela Carvalho,

Rosângela Mathias.

À Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre por ter disponibilizado dados,

possibilitando o desenvolvimento do trabalho.

À Assembléia Legislativa do Estado do Estado do Acre pela minha liberação no período do

curso, propiciando sua realização.

À José Rui Lima e Idalina Onofre pelo apoio à realização da pesquisa de campo na

regional do Juruá e à Antônia Sales pelo incentivo.

A todos de minha família que compreenderam a minha ausência.

À minha mãe Zilma e ao meu pai Josias que começaram tudo isso.

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THE ROAD NOT TAKEN

“Two roads diverged in a yellow wood

And sorry I could not travel both

And be one traveler, long I stood

And looked down one as far as I could

To where it bent in the undergrowth

Then took the other, as just as fair

And having perhaps the better claim

Because it was grassy and wanted wear

Though as for that the passing there

Had worn them really about the same

And both that morning equally lay

In leaves no step had trodden black

Oh, I kept the first for another day!

Yet knowing how way leads on to way

I doubted if I should ever come back

I shall be telling this with a sigh

Somewhere ages and ages hence:

Two roads diverged in a wood, and

I took the one less traveled by

And that has made all the difference.

(ROBERT FROST)

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RESUMO

O objetivo deste estudo é a avaliação da participação comunitária no processo de elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre. O estudo foi desenvolvido por meio de análise, construída com base bibliográfica e complementada com pesquisa de campo, realizada em 4 (quatro) das 5 (cinco) regionais que dividem politicamente o Estado do Acre. Foram realizadas entrevistas em 8 (oito) dos 22 (vinte e dois) municípios que compõem o Estado, direcionadas aos agentes envolvidos no eixo cultural político, na segunda fase do ZEE-AC. Foram analisados ainda, o Documento Síntese do ZEE-AC, Fase II e Relatório das Oficinas Participativas (2006). Os resultados indicaram que o instrumento de política estudado é extremamente complexo e dinâmico, não permitindo, dessa forma, que a população tradicional intervenha na sua formulação sem que tenha apreendido seu real significado, para isso, seriam necessários tempo e ações políticas voltadas a esse fim. A pesquisa foi fundamentada na importância de capital social e empowerment (empoderamento), estabelecendo-os como eixo determinante para que a participação popular seja efetivada. Palavras-chave: Participação comunitária – população tradicional – ZEE – capital social – empoderamento.

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ABSTRACT

The aim of this study is to assess community participation in the drafting of the Ecological-Economic Zoning of the State of Acre. The study was developed through analysis, built on literature and supplemented with field research, in 4 (four) of 5 (five) the regional political in which the State of Acre was divided. Interviews were carried out in 8 (eight) of the 22 (twenty-two) municipalities that comprise the State, directed to the responsible for elaboration the EEZ, the second phase of the EEZ-AC. Was analyzed also the Document Summary of EEZ-AC, stage II, and Report of Participatory Workshops in 2006. The results indicated that the instrument of policy analysis is extremely complex and dynamic, not allowing, thus, that the traditional population involved in its formulation without having learned its real meaning, therefore, would necessary time and political action aimed at this purpose. The research was based on the importance of social capital and empowerment, establishing them as the axis for determining that popular participation is effective. Keywords: Community participation - traditional population - EEZ – social capital - empowerment.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Quadros comparativos da situação atual do ZEE no Brasil. ...................... 14

Figura 2. Mapa do Estado do Acre dividido em três departamentos ......................... 42

Figura 3. Mapa do Estado do Acre dividido por regionais ......................................... 46

Figura 4. Ocupação do território da zona 1, no Estado do Acre. ............................... 49

Figura 5. Ocupação do território da zona 2, no Estado do Acre. ............................... 50

Figura 6. Ocupação do território da zona 3, no Estado do Acre. ............................... 50

Figura 7. Ocupação do território da zona 4, no Estado do Acre. ............................... 51

Figura 8. Interligação entre capital social, empoderamento, participação. ................ 98

LISTA DE APÊNDICE

Apêndice 1 - Questionário aplicado aos técnicos e integrantes da CEZEE. ........... 110

Apêndice 2 – Questionário aplicado aos participantes das oficinas, com foco na

população tradicional. ............................................................................................. 113

LISTA DE QUADROS Quadro 1. Relação dos entrevistados ....................................................................... 57

Quadro 2 – Percepção dos entrevistados, dentre eles, membros da CEZEE, técnicos

executores do ZEE e „participantes‟ das oficinas. ..................................................... 83

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LISTA DE ABREVIATURAS

AIA – Avaliação de Impacto Ambiental

AMAJ – Amigos das Águas do Juruá

AMOPREX – Associação de Moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes

ASAREAJ – Associação dos Seringueiros e Agricultores da Reserva Extrativista do Juruá

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BR – Brasil

CAEX – Cooperativa Agroextrativista de Xapuri

CCZEE – Comissão Coordenadora de Zoneamento Ecológico-Econômico

CEZEE – Comissão Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAEAC – Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Acre

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

GTZ – Cooperação Técnica Alemã

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMAC – Instituto do Meio Ambiente do Acre

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MI – Ministério da Integração Nacional

MINTER – Ministério do Interior

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OPIRJ – Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá

PPG7 – Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil

PEZEE – Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico

PMACI – Programa de Meio ambiente e Comunidades Indígenas

PNOT – Plano Nacional de Ordenamento Territorial

PRODEAGRO – Programa de Desenvolvimento do Agronegócio

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PROCERA – Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária

PPA – Plano Plurianual

PPG7 – Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil

SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos (da Presidência da República)

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SDS – Secretaria de Desenvolvimento Sustentável

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMA – Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre

SEMAP – Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Pecuária

SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia

SNI – Serviço Nacional de Informação

STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais

UFAC – Universidade Federal do Acre

ZEE – Zoneamento Ecológico-Econômico

UNEP/PNUMA – United Nations Environment Programme/Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente.

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................. VI

ABSTRACT ............................................................................................................. VII

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... VIII

LISTA DE QUADROS ............................................................................................. VIII

LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................... IX

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................... 4

Zoneamento como instrumento de política ambiental ................................................. 4

1.1 A longa história do zoneamento como política de ordenamento territorial ............ 4

1.2 O zoneamento como instrumento de política de meio ambiente .......................... 7

1.2.1 Aspectos econômicos do ZEE ...................................................................... 10

1.3 O ZEE: novidades e antiguidades ..................................................................... 13

1.3.1 Situação atual do ZEE ................................................................................. 14

1.4 Limitações do ZEE como instrumento de política ambiental .............................. 15

CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 21

A Participação na formulação de política ambiental .................................................. 21

2.1 A evolução da necessidade de participação em política ................................... 21

2.2 Razões favoráveis e desfavoráveis a uma política pública mais participativa ..... 25

2.3 Experiências participativas em política ambiental ............................................. 28

2.4 O caminho da participação e sua horizontalidade: capital social, empoderamento

e participação. ........................................................................................................... 29

2.4.1 Capital Social ............................................................................................... 30

2.4.2 Empoderamento (Empowerment) ................................................................ 33

2.4.3 Participação popular e conscientização política .......................................... 35

CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 40

O ZEE no Estado do Acre: condicionantes históricos e construção de um modelo. . 40

3.1. A origem do ZEE no Estado do Acre .................................................................. 40

3.2. O ZEE do Estado do Acre: formulação. ............................................................ 46

3.3 O desenvolvimento do ZEE participativo no Acre (acho que aqui tem elementos

do resultado da pesquisa, principalmente – p. 54) .................................................... 52

CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 56

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Evidências de Participação no ZEE Participativo do Acre ......................................... 56

4.1 Aspectos metodológicos: ..................................................................................... 56

4.2 A percepção dos técnicos e integrantes da CEZEE ............................................ 60

4.3 A percepção dos participantes das oficinas, em especial a população tradicional.

.................................................................................................................................. 68

4.4 Comparando percepções .................................................................................... 83

4.5 Frutos da experiência participativa acreana com o ZEE ..................................... 96

CAPÍTULO 5 ........................................................................................................... 100

CONCLUSÕES ....................................................................................................... 100

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 105

APÊNDICES ........................................................................................................... 109

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INTRODUÇÃO

Este estudo tem por objetivo principal estudar a participação comunitária

no processo de elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do

Acre – ZEE-AC, enfatizando a relevância na interligação dos conceitos de

capital social e empoderamento em uma efetiva participação ao se implementar

um ZEE.

O cidadão precisa da oportunidade (fator externo) e da predisposição

(fator individual) para assimilar informação que lhe é transmitida e, dessa forma,

ser transformado em agente de mudanças de processos políticos e de

conquistas sociais. Nesse caso, a participação é definida como a capacidade de

interveniência, individual ou coletiva, em ações de política pública, possibilitada

pela apreensão da informação num processo de empoderamento.1

O zoneamento ecológico-econômico - ZEE é um instrumento da política

nacional do meio ambiente e de organização do território que tem por objetivo

geral organizar, de forma vinculada, as decisões dos agentes públicos e

privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou

indiretamente, utilizem recursos naturais. Na distribuição espacial das atividades

econômicas, o ZEE levará em conta a importância ecológica, as limitações e as

fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições e

alternativas de exploração do território. (Decreto Presidencial nº 4.297/2002).

Um instrumento de política capaz de alcançar tão relevantes objetivos

deve ter prioridade entre os propósitos do gestor público, qualquer que seja a

esfera de decisão que lhe compete (federal, estadual ou municipal). Não

surpreende, portanto, que o ZEE tem sido invocado como um instrumento

básico da política ambiental brasileira voltado para conservação de seus ricos e

diversificados biomas como Pantanal e Amazônia. No entanto, apesar da

difusão deste instrumento, o desmatamento na região não tem sido reduzido, a

depredação de recursos de sua biodiversidade não tem sido combatida em

definitivo e o uso perdulário dos recursos da natureza ainda é uma prática

corrente. Estes fatos e muitos outros têm estimulado críticas severas à eficácia

1 Empowerment (empoderamento, em uma tradução usual do inglês) dos cidadãos por meio do

fortalecimento do capital social, que se refere ao envolvimento dos indivíduos em atividades coletivas que geram benefícios em um espectro mais amplo (BAQUERO, 2003). Dessa forma, o indivíduo beneficia-se do capital social que lhe fornece forças para se empoderar efetivamente.

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do ZEE como instrumento de política de meio ambiente. Além, evidentemente,

dos elevados custos associados à sua execução que na grande maioria das

vezes são proibitivos para as frágeis economias locais.

Alguns acreditam que essa ineficácia não é característica do ZEE em si,

mas sim, da maneira como ele tem sido desenhado e implementado na

Amazônia brasileira. Em especial, argumenta-se que a participação popular na

elaboração do ZEE seria essencial para o seu sucesso. Entre todos os ZEEs da

Amazônia, o do Estado do Acre (AC) é divulgado como se caracterizando pela

ampla participação popular em sua elaboração. Outros Estados da Federação

declaram o reduzido envolvimento de representantes de suas sociedades na

elaboração dos seus ZEEs. Mato Grosso e Rondônia, por exemplo,

desenvolveram ZEEs técnicos e não ZEEs participativos. Surge, então, uma

pergunta para uma pesquisa científica: será que diferentes intensidades de

envolvimento de uma determinada sociedade/comunidade influenciam na

eficácia do ZEE?

O ZEE-AC foi dividido em duas etapas. A Fase I compreendeu a

elaboração de diagnóstico e prognóstico nos eixos recursos naturais e sócio-

econômico, abrangendo a extensão total do Estado do Acre, com a elaboração

de produtos cartográficos básicos na escala de 1:1.000.000. A maior parte dos

trabalhos foi baseada em dados secundários, aproveitando e sistematizando

diversos estudos já realizados no Estado, o que possibilitou a sistematização de

informações que se encontravam dispersas, algumas delas há mais de 10 anos,

resultando em diversos indicativos à gestão territorial do Estado. Já a Fase II foi

marcada pela elaboração de um Mapa de Gestão Territorial, na escala de

1:250.000, construído a partir do cruzamento dos eixos recursos naturais, sócio-

econômico e cultural-político, que também contaram com um conjunto de

estudos de diagnóstico e prognóstico.

A pesquisa visou avaliar a “participação comunitária” nas oficinas

participativas, no eixo cultural político, no processo de elaboração do

Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre e medir a relevância dos

termos capital social e empoderamento, participação e sua interligação.

Procurou-se, também, avaliar a influência da população na transformação do

conceito de “tomada de decisão” com a efetiva interveniência da comunidade

local, sabendo-se que essa interveniência social vem carregada de valores

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culturais, sociais, morais, éticos, entre outros, que resultam na chamada

“subjetividade local”, o que deveria ser levado em consideração pelos

policymakers quando da implantação de políticas dirigidas a comunidades

locais.

Para relatar e analisar esta experiência, esta dissertação foi estruturada

em 5 capítulos, além da introdução. No capítulo I é abordada a história do ZEE

como política de ordenamento territorial desde a demarcação territorial natural,

que se inicia paralelamente à formação das sociedades a uma época onde se

utiliza tecnologias avançadas e há concepção renovada sobre os recursos

naturais e as possibilidades do envolvimento da sociedade visando o

desenvolvimento sustentável.

O capítulo II trata da participação popular na formulação de política

ambiental como novo paradigma de gestão das políticas públicas, promovendo a

descentralização das decisões e ampliando o espaço da participação da

sociedade, buscando atestar um processo de desenvolvimento de consciência

crítica como conseqüência da conquista de poder advinda da informação

internalizada no período de elaboração do ZEE-AC. No capítulo III compreende

a construção de um modelo e descritas origens e evolução do ZEE-AC, onde

também ficou clara a necessidade do envolvimento da sociedade, desde a

primeira fase, no processo de elaboração do ZEE-AC. No capítulo IV aborda os

procedimentos metodológicos do estudo, analisa-se também o ZEE no Acre

como exemplo de participação popular, abordando a necessidade de elaboração

de um ZEE-AC como instrumento participativo de planejamento e gestão

territorial, com fim primordial de subsidiar a formulação de política pública.

Finalmente, o capítulo V apresenta as conclusões do trabalho.

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CAPÍTULO 1

Zoneamento como instrumento de política ambiental

1.1 A longa história do zoneamento como política de ordenamento territorial

O zoneamento é um instrumento de ação há muito utilizado pelo poder

público e pelos agentes privados para ordenar a ação do homem sobre a

natureza. “É um instrumento de dupla face: técnica, referente à informação

precisa sobre o território; e política, referente à negociação entre atores. É

crucial para otimizar o uso do território e a integração das políticas públicas no

espaço, constituindo-se como o fundamento do planejamento das diferenças”

(BECKER; EGLER, 1997, p. 7).

A partir do início da década de 1980 do século XX, o IBGE desenvolveu

trabalhos nas áreas de diagnósticos integrados e zoneamentos (IBGE, 2000).

Esses trabalhos foram conduzidos, inicialmente, pela equipe do

RADAMBRASIL, um megaprojeto iniciado nos anos setenta para mapear

sistematicamente o país, incluindo uma avaliação do potencial dos recursos

naturais na região Amazônica. Desse esforço, foi gerada uma coletânea de

mapas temáticos e relatórios, com base em imagens de radar, que pode ser

considerada ponto de partida para o ZEE da Amazônia Legal.

Em 1980/1986 outra tradição, ligada ao planejamento agrícola, que já

executava zoneamentos desde os anos quarenta, passou também a conceber

zoneamentos agroecológicos, incorporando mais sistematicamente a vertente

ambiental e ecossistêmica. Foram acrescidos aos tradicionais estudos sobre

aptidão dos solos e potencial de uso, os diagnósticos edáficos e climáticos, a fim

de identificar as áreas mais adequadas para determinadas culturas. Tratava-se

nesse caso de um instrumento técnico, de caráter indicativo, para subsidiar o

agricultor em suas decisões de investimento, ou o setor público no que concerne

à concessão de créditos para a agricultura.

Ainda no início dos anos 80 do século passado, a Política Nacional do

Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981) foi instituída, no Brasil, levando em

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consideração, inicialmente, apenas o aspecto preservacionista. O zoneamento

ambiental é elencado como um de seus instrumentos. O termo posteriormente

evolui para Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE, com a prerrogativa de

englobar as questões social e econômica à ambiental (MMA, 2007).

O governo lançou, em 1988, o ZEE, no âmbito do programa "Nossa

Natureza", com o objetivo de disciplinar a ocupação e a exploração racionais da

Amazônia Legal, fundamentados no ordenamento territorial. Uma década

depois, o ZEE é visto como instrumento capaz de romper as posições

polarizadas, oferecendo oportunidades de crescimento econômico e uso dos

recursos naturais através da qualidade ambiental (MMA, 1996). O discurso

oficial incorporou um forte componente ambiental sem, porém, definir, por

exemplo, o que significava qualidade ambiental na prática. Daí para frente, a

maioria dos trabalhos segue a metodologia proposta pela SAE e pelo

Laboratório de Gestão Territorial da UFRJ. (MMA, 1996).

O Grupo de Trabalho, coordenado pela Secretaria de Assuntos

Estratégicos, compunha-se de representantes da Secretaria da Ciência e

Tecnologia, da Secretaria Nacional do Meio Ambiente, da Secretaria do

Desenvolvimento Regional e do Estado-Maior das Forças Armadas. Dentre suas

conclusões, foram recomendados trabalhos como o diagnóstico ambiental da

Amazônia Legal, o ZEE de áreas prioritárias e os estudos de casos em áreas

críticas e de relevante significado ecológico, social e econômico. O Grupo de

Trabalho recomendou a criação de uma Comissão Coordenadora com o objetivo

de orientar a execução do ZEE no território nacional.

A Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do

Território Nacional – CCZEE – foi criada pelo Decreto Presidencial nº

99.540/1990, da qual a SAE/PR tornou-se braço executivo na coordenação. Em

1991, Governo Federal, por meio da CCZEE e da SAE/PR, criou um Programa

de Zoneamento para a Amazônia Legal – PZEEAL –, que inicialmente

compreendia apenas a Amazônia Legal, teve, em 1992, sua abrangência

ampliada para todo o território nacional. O programa constatou, então, uma

diversidade de métodos, técnicas, conceitos e articulações institucionais entre

as iniciativas dos Estados de Rondônia, Mato Grosso, Pará, Acre e Tocantins na

elaboração dos primeiros zoneamentos em escala genérica de 1:1.000.000 e

dos zoneamentos agroecológicos em escala de maior detalhe.

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Ainda em 1995, a SAE/PR atentou para a necessidade de definir mais

claramente os procedimentos para elaboração do ZEE. Essa necessidade foi

despertada pelos zoneamentos já em processo de execução na Amazônia Legal

e, principalmente, para orientar mais efetivamente as ações de zoneamento

inseridas no PPG7. Em parceria com a SCA, foram solicitadas, por meio de

convite, propostas de metodologia de zoneamento a diversos especialistas.

Foi eleita a proposta inicial do Laboratório de Gestão Territorial da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – LAGET/UFRJ –, cujo documento

preliminar foi posto em debate em setembro de 1995 pela SAE/PR, seguindo-se

de discussões com os representantes dos Estados da Amazônia Legal, em maio

de 1996. (MMA, Caderno de Referências, 2006.) A cronologia desse processo

deve ser ressaltada, uma vez que outros projetos de ZEE se encontravam em

adiantada execução, com a devida aprovação da SAE/PR. Essa nova orientação

metodológica, com a chancela da SAE/PR e da SCA/MMA, foi publicada

somente em 1997, no documento Detalhamento da Metodologia para Execução

do Zoneamento Ecológico-Econômico pelos Estados da Amazônia Legal (MMA,

1997).

O segundo Governo de Fernando Henrique Cardoso (1998 – 2002)

iniciou com uma reforma ministerial que provocou mudança de rumo na

realização do ZEE. Entretanto, a lentidão desse processo (cerca de 1 ano e

meio) mostrou o enraizamento de uma visão do ZEE historicamente vinculada à

doutrina de Segurança Nacional. A SAE/PR havia se transformado em uma

mega-organização que, sob o manto do planejamento estratégico e controle da

informação, abrigava desde os setores de inteligência - antigo Serviço Nacional

de Informações (SNI) – até projetos fronteiriços, o programa nuclear, projeção

de cenários. A Medida Provisória nº 1.795/1999 extinguiu a SAE/PR.

A Medida Provisória 1.911-8/1999 transferiu a responsabilidade pela

ordenação territorial para o Ministério da Integração Nacional e atribuiu ao

Ministério do Meio Ambiente a responsabilidade pelo ZEE. Essa atribuição foi

confirmada posteriormente, no governo Lula, pela Lei n° 10.683/2003. O ZEE

também passou a integrar o PPA 2000 – 2003, sob a denominação Programa

Zoneamento Ecológico-Econômico (MMA, 2006).

O mérito do MMA foi transformar o ZEE em um instrumento efetivo de

gestão do território, não obstante as contradições e incompreensões disto dentro

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do próprio poder público. Até então, o ZEE era visto apenas como um

instrumento de ordenação do território, com uma perspectiva extremamente

normativa e mandatária, voltado para regulação, comando e controle. Sem

deixar de lado essa função, a gestão territorial é muito mais ampla, pois envolve

uma concepção renovada sobre os recursos naturais e as possibilidades de

desenvolvimento de maneira pactuada entre os agentes envolvidos. Por esse

modo, os recursos naturais passam a ser concebidos como ativos ambientais,

cuja proteção não é mero preservacionismo ou reserva de riquezas, mas uma

estratégia conservacionista para minimizar custos sociais e ambientais. Nesse

sentido, o ZEE passa a ser um instrumento indicativo e propositivo, orientador

do planejamento - planos, programas e projetos - e da gerência - administração

do território. (MMA, 2006)

1.2 O zoneamento como instrumento de política de meio ambiente

O ZEE é um instrumento que atua como mecanismo de organização do

território, definindo usos do solo que devem ser seguidos na elaboração e

implementação de planos, obras e atividades públicas e privadas. Estabelece,

também, medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a

qualidade ambiental dos recursos hídricos e do solo e a conservação da

biodiversidade. Acredita-se que assim ele garanta o desenvolvimento

sustentável e a melhoria das condições de vida da população (Decreto Federal

nº 4.297/2002).

Segundo o detalhamento metodológico para execução do Zoneamento

Ecológico-Econômico pelos Estados da Amazônia Legal de Becker e Egler

(1996), o ZEE é um instrumento político e técnico do planejamento cuja

finalidade última é otimizar o uso do espaço e as políticas públicas. Esta

otimização é alcançada pelas vantagens que ele oferece, tais como:

1) é um instrumento técnico de informação sobre o território, necessário para

planejar a sua ocupação racional e o uso sustentável dos recursos naturais:

provê uma informação integrada em uma base geográfica; e

classifica o território segundo suas potencialidade e vulnerabilidade;

2) é um instrumento político de regulação do uso do território:

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permite integrar as políticas públicas em uma base geográfica,

descartando o convencional tratamento setorizado de modo a aumentar a

eficácia das decisões políticas;

permite acelerar o tempo de execução e ampliar a escala de abrangência

das ações, isto é, aumenta a eficácia da intervenção pública na gestão do

território;

é um instrumento de negociação entre as várias esferas de governo e

entre estas, o setor privado e a sociedade civil, isto é, um instrumento

para a construção de parcerias; e

3) é um instrumento do planejamento e da gestão territorial para o

desenvolvimento regional sustentável. Significa que não deve ser entendido

como um instrumento apenas corretivo, mas também ativo estimulador do

desenvolvimento.

Durante o ano de 2007, o Programa ZEE preparou as condicionantes,

critérios e articulações para dar um salto qualitativo na implantação do ZEE no

Brasil. Tais atividades foram adaptadas para atender à nova configuração do

MMA, que passou por uma reestruturação organizacional. Nesse sentido, o

Programa ZEE foi incorporado à Diretoria de Zoneamento Territorial, da

Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, ganhando,

assim, um novo status na estrutura administrativa (MMA, 2007).

Tais ações materializaram-se em quatro pontos principais: 1) estabelecer

as estratégias de implantação de curto e médio prazo; 2) preparar os produtos

dos projetos em andamento para o debate imediato com os parceiros e

usuários; 3) reestruturar as ações em função de uma perspectiva nacional que

articule as ações e produtos estaduais e regionais; 4) readequar a estrutura

técnico-operacional para o atendimento das demandas (MMA, 2007).

Um dos Projetos em execução pela Coordenação Nacional e Consórcio

ZEE Brasil, com ação em 2007 foi o Projeto Macrozoneamento da Amazônia

Legal que inclui:

1. elaboração da versão 2007 do Mapa Integrado dos ZEEs dos Estados da

Amazônia Legal, incluindo novos atributos e informações de referência

para a base do mapa, em apoio ao Plano de Combate ao Desmatamento

da Amazônia Legal.

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2. participação e apoio à realização dos Cenários Prospectivos para o ZEE

da Área de Influência da BR163 em atendimento ao Plano de

Desenvolvimento Sustentável da BR163.

3. tramitação e aprovação na CCZEE do Zoneamento do Estado do Acre.

4. capacitação em Gestão Territorial para cerca de 35 alunos da

Universidade da Amazônia, em parceria com o Projeto AMA - PPG7, GTZ

- Grupo de Cooperação Técnica Alemã e UFAC Universidade Federal do

Acre.

5. realização de curso de Cenários Prospectivos, em parceria com a CPRM

Serviço Geológico do Brasil e o Governo do Estado do Maranhão, para

capacitação de gestores públicos estaduais com vistas à elaboração de

projeto de ZEE para o Estado.

6. recuperação das bases de informação dos Projetos Binacionais

Fronteiriços Brasil Venezuela, Brasil Colômbia, Brasil Peru, Brasil Bolívia,

em parceria com a CPRM Serviço Geológico do Brasil.

7. apoio ao desenvolvimento de projetos de ZEE dos Estados do Pará e

Maranhão, bem como às consultas públicas para discussão do Distrito

Florestal Sustentável de Carajás, no Pará, Maranhão e Tocantins.

Além disso, a coordenação nacional ficou incumbida de desenvolver suas

atividades orientadas por quatro ações estruturantes que são: 1) a articulação

entre o ZEE e os demais instrumentos de políticas públicas; 2) a recuperação,

organização e disponibilização das bases de dados e documentos dos ZEEs

existentes; 3) a disseminação de informações e capacitação de gestores e

demais atores sociais em ZEE; e a 4) A ampliação das articulações com a

sociedade civil e criação de redes de instituições com foco no ZEE (MMA, 2007).

O Programa de ZEE tem por objetivo implantar o ZEE no território

nacional, executar o ZEE Brasil e gerenciar, em diversas escalas de tratamento,

as informações necessárias, integrando-o aos sistemas de planejamento em

todos os níveis da administração pública. É, ainda, um instrumento que deve

subsidiar a formulação de políticas territoriais da União, Estados e Municípios,

orientando os diversos níveis decisórios na adoção de políticas convergentes

com as diretrizes de planejamento estratégico do país, propondo soluções de

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proteção ambiental que considerem a melhoria das condições de vida da

população e a redução dos riscos de perda de capital natural.

A fim de estabelecer novas formas de planejamento para o Estado do

Acre, o ZEE procura articular as ações das organizações sociais, induzindo os

investimentos produtivos, integrando atividades públicas e combatendo o

desperdício de recursos financeiros.

Os recursos financeiros para execução de ZEE são provenientes de

fontes do orçamento da União e governos estaduais, bem como de empréstimos

e doações de organismos internacionais (MI, 2006).

Destaca-se na oferta de recursos financeiros para elaboração de ZEE na

Amazônia a cooperação internacional da Alemanha que, por meio do PPG7, tem

sido o mais importante doador, além de prover cooperação técnica com o

envolvimento direto dos técnicos do Grupo de Cooperação Técnica Alemã –

GTZ.

1.2.1 Aspectos econômicos do ZEE

Segundo Becker (2005 p.3) o povoamento e desenvolvimento da

Amazônia foram fundados de acordo com o paradigma de relação sociedade-

natureza, que Kenneth Boulding2 denomina de economia de fronteira,

significando com isso que o crescimento econômico, visto como linear e infinito,

é baseado na contínua incorporação de terra e de recursos naturais, que são

também percebidos como infinitos. Boulding (1966 apud MUELLER, 2007)

argumenta que a quantidade de recursos retirados do meio ambiente vem sendo

feito de forma perdulária, como se a disponibilidade de recursos naturais e a

capacidade de assimilação de rejeitos, de poluição fossem ilimitados.

Mueller (2007 p.2) faz analogia, ao que ele chama de biológica,

considerando a sociedade humana um organismo vivo, complexo e

multifacetado que, como todo ser vivo, retira energia e matéria de alta qualidade

de seu meio externo – o meio-ambiente –, as emprega para se manter, crescer,

evoluir, e as devolve a esse meio externo, degradados na forma de energia

dissipada, resíduos e dejetos – ou seja, de poluição. Mueller (2007 p.3) associa

2 Kenneth Boulding foi um dos primeiros a expressar preocupação com a reduzida consciência de que as

fronteiras livres estão gradualmente desaparecendo. Ou melhor, os recursos e a capacidade de resiliência da

natureza são limitados.

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a poluição à expansão do sistema econômico global que exige quantidades

crescentes de recursos naturais e gera volumes cada vez maiores de

emanações ao meio ambiente de rejeitos nocivos, ou melhor, do resultado dos

impactos ambientais causados pela sociedade humana. O que justifica a

demanda excessiva por madeira, o incremento do setor agropecuário, o

desmatamento acelerado, entre outras atividades inerentes a uma região rica

em recursos naturais como a floresta Amazônica.

Para que se possa mudar esse padrão de desenvolvimento, Becker (2005

p.3) diz que é necessário entender os diferentes projetos geopolíticos e seus

atores que estão na base dos conflitos, para tentar encontrar modos de

compatibilizar o crescimento econômico com a conservação dos recursos

naturais e a inclusão social. Segundo a autora, uma grande modificação

estrutural ocorreu no povoamento regional que se localizou ao longo das

rodovias e não mais ao longo da rede fluvial, como no passado, e no

crescimento demográfico, sobretudo urbano.

Foi num modelo desenvolvimentista que ocorreu a transição da economia

extrativa para a economia agropecuária na Amazônia. O ZEE, então, surge

como instrumento de comando e controle, com promessas consideradas por

alguns tomadores de decisão, como solução pra resolver os problemas

provenientes do resultado da inter-relação entre homem e natureza. É um

exercício de autoridade pública, que pode estabelecer regulamentações sobre o

uso do solo. Além disso, aumenta o bem-estar de uma comunidade se ele reduz

o nível de externalidades negativas3 nas quais consumidores e produtores estão

expostos por um montante superior aos custos associados com a sua

implementação e manutenção. Pode, ainda, reduzir, por exemplo, o bem-estar

de potenciais novos participantes do consumo de um determinado bem, cuja

oferta é regulada pelo zoneamento. Por outro lado, proprietários já estabelecidos

podem ser favorecidos em conseqüência do aumento do preço dos seus bens e

serviços.

O ZEE pode ser indicativo (apenas indicando opções de uso do espaço

consideradas desejáveis) ou normativo (impondo os usos da terra). Conforme

levantamentos de diversos modelos sobre os impactos de zoneamento sobre o

3 Externalidade negativa: efeito negativo que gera custos pela atividade de produção ou consumo por um

agente econômico. Por exemplo, uma fábrica que polui o ar, afetando a comunidade próxima.

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bem-estar social, Pogodzinski; Sass (1990) dividiram os efeitos do zoneamento

em:

1) efeitos sobre a oferta: englobando análises sobre como o zoneamento

afeta o mercado de terras, de terrenos, de residências, entre outros. A

oferta pode aumentar ou diminuir em decorrência do zoneamento, em

função das características da área zoneada e do mercado consumidor.

Como normalmente o zoneamento envolve a regulação do uso de

atributos do espaço, tem-se que tal regulação pode afetar o valor das

terras conforme os possíveis usos para a mesma e os potenciais

compradores e vendedores (HENNEBERRY; BARROWS, 1990 p. 41).

2) efeitos sobre a demanda: estudando como o zoneamento afeta as

escolhas dos consumidores em termos das características do bens

demandados;

Ao se regular o uso da terra, se influi sobre o seu preço, capitalizando-o

ou descapitalizando-o. Assim, o ZEE ao descapitalizar o valor de um tipo

de terra diminui seu preço, fazendo a princípio a demanda aumentar.

Inversamente, a capitalização das terras, e o aumento do seu preço

resultam numa redução da demanda. No entanto, estes mecanismos

devem considerar a elasticidade4 da demanda para consumidores de

diferentes estratos de renda.

3) efeitos Tiebout: pesquisando a mobilidade social do agente em resposta

ao zoneamento; esse tende a maximizar o valor da propriedade dos

melhores situados na escala social; a mobilidade dos agentes

econômicos pode se manifestar quando os regulamentos do zoneamento

tornam uma dada localidade pouco atrativa, ou pouco viável para o

exercício de alguma atividade, por exemplo habitação. Neste caso os

consumidores se deslocam para outra localidade onde seja viável e/ou

atrativo consumir habitação. Neste sentido, o zoneamento induz os

4 Mede a reação dos consumidores às mudanças no preço.

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consumidores a se deslocarem para áreas onde é mais fácil satisfazerem

suas utilidades5.

4) efeitos de externalidades: Apesar de ter como finalidade evitar

externalidades, o zoneamento pode também criá-las.

Deve-se frisar, no entanto, que o zoneamento pode criar tanto

externalidades positivas como negativas, sendo os ganhos por

aglomeração e a congestão de bens públicos, respectivamente exemplos

de ambas.

Desta forma ao se criar zonas onde se incentivam certas atividades, a

concentração de fornecedores meios de produção, prestadores de

serviços etc. pode fazer diminuir os custos de produção, e aumentar a

rentabilidade destas atividades.

5) comportamento de “rent seeking”: agentes gastam recursos

financeiros para manter decisões de zoneamento buscando garantir

ganhos pessoais.

No Brasil, os exercícios de zoneamento geralmente se encontram

associados ao ordenamento territorial, envolvendo normas de uso do espaço

nos meios urbano e rural.

1.3 ZEE: novidades e antiguidades

No caso brasileiro, o advento das tecnologias de sensoriamento remoto e

de teledetecção de eventos veio promover uma atualização ao debate

estratégico sobre o ordenamento da ocupação territorial em regiões com

fronteiras políticas, articulando propósitos de proteção do meio ambiente e de

combate de ilícitos. Por um lado, a produção de informações ambientais passou

a ser vista como um instrumento de defesa da soberania territorial e de

resistência contra as ameaças supostas de intervenção internacional na

Amazônia. Por outro, projetos como o ZEE e o SIVAM seriam pensados

articuladamente como modos de teledetecção simultânea de processos

ecológicos e práticas ilícitas.

5 Bem-estar

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1.3.1 Situação atual do ZEE

Segundo a Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural

Sustentável – SEDR (MMA (2007), a área com projetos de zoneamentos

concluídos ou em andamento, na escala 1:250.000 ou maiores, descontando as

áreas de sobreposições entre projetos de 1:250.000 e 1:100.000, representa

63,3% do território nacional.

Abaixo, extraídos de Prette (2006), os quadros que mostram a situação

do ZEE em todas as regiões do Brasil, apresentando como concluídos os ZEEs

do Acre, Rondônia, Mato Grosso, estando Roraima em fase de conclusão.

Figura 1. Quadros comparativos da situação atual do ZEE no Brasil. Fonte: Prette (2006)

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Até hoje, somente Rondônia, Acre e Mato Grosso tiveram seus ZEEs

concluídos. Segundo Gutberlet (2002) no caso de Rondônia, produziu-se em

quase dez anos uma sala cheia de relatórios e muitos megabytes de bancos de

dados. A autora destaca ainda que, de maneira geral, não houve participação da

população no levantamento de dados, razão pela qual a aceitação do ZEE pelo

público também foi baixa. Nos outros Estados, estão à disposição apenas dados

parciais do levantamento do ambiente físico, como a informação sobre a

qualidade dos solos, a aptidão agrícola ou o potencial madeireiro. Já o ZEE do

Estado Acre é divulgado como sendo de participação popular com envolvimento

do setor público, privado e sociedade civil organizada, em especial da população

tradicional.

1.4 Limitações do ZEE como instrumento de política ambiental

O impasse da sistemática atual tem conduzido os produtos gerados para

as gavetas e prateleiras dos órgãos públicos. A noção de vínculo está ainda

fortemente associada a ações de comando e controle, sem o enfoque de

proposição de alternativas produtivas e incentivos a atividades sustentáveis. O

avanço do debate encontrará eficácia na proposição de instrumentos de caráter

econômico, financeiro, administrativo e técnico que viabilizem tais alternativas. A

criação de vínculo e do sistema nacional poderá ampliar a integração entre

políticas setoriais, sobretudo aquelas que impactam diretamente o território,

como política agrícola, política de desenvolvimento regional, política de meio

ambiente, política de transporte, política energética e política fundiária

(ACSELRAD, 2000)

Sabe-se que a maioria dos Estados se desenvolve de forma dinâmica e

que nesses, processos de zoneamento podem tornar-se ultrapassados.

Normalmente, as transformações sócio-econômicas e ambientais acontecem em

tão curto espaço de tempo que, às vezes, os levantamentos já não condizem

com a realidade do local estudado. Segundo Acselrad (2000), a dinâmica do

desenvolvimento regional também é alimentada por processos migratórios,

impactos ambientais cumulativos e conflitos sócio-econômicos. No entanto, a

metodologia aplicada até o presente não conseguiu captar essa dinâmica,

conforme ainda Acselrad (2000), pelo contrário, o diagnóstico torna acessíveis

informações importantes sobre o potencial biofísico como aptidão agrícola,

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potencial produtivo (muitas vezes até promovendo simulações para certos

cultivos agrícolas), recursos minerais, potencial florístico, tipo de infra-estrutura

existente e/ou planejada etc., facilitando a sua exploração. Além disso, uma

leitura desagregada dos indicadores sócio-econômicos e culturais pode levar a

conclusões e propostas equivocadas para o desenvolvimento.

“O ZEE, portanto, não visa criar zonas homogêneas e estáticas

cristalizadas em mapas. Trata-se sim, de um instrumento técnico e político do

planejamento das diferenças, segundo critérios de sustentabilidade, de absorção

de conflitos, e de temporalidade, que lhe atribuem o caráter de processo

dinâmico, que deve ser periodicamente revisto e atualizado, capaz de agilizar a

passagem para o novo padrão de desenvolvimento. A economia de tempo na

execução reside justamente no fato de descartar o tratamento setorial das

políticas públicas, partindo de contextos geográficos concretos neles

implementando políticas já territorialmente integradas; de ampliar a escala de

abrangência das ações que passam a ser zonas, e não mais pólos pontuais; de

favorecer a competitividade sistêmica entre as zonas.”(BECKER apud EGLER ,

1997).

Segundo Chaves (2000), os exercícios de zoneamento podem produzir

resultados contrários ao esperado, isto é, podem promover a ineficiência técnica

e alocativa, como também gerar iniqüidades. Mesmo assim, o zoneamento

continua sendo proposto e utilizado como instrumento de gestão e de

planejamento, com diferentes abordagens e graus de sucesso em diferentes

partes do mundo, como nos Estados Unidos e na Holanda (MUYSELAAR apud

CHAVES, 2000).

Nem sempre a perspectiva federal de desenvolvimento regional e os

interesses dos Estados e dos municípios estão em consenso. O governo federal,

por exemplo, continua promovendo o desenvolvimento centralizado e de grande

escala, como é o caso das políticas para a promoção dos eixos de

desenvolvimento no âmbito do Programa Avança Brasil. O modelo de

desenvolvimento em questão não considera as necessidades e demandas das

comunidades locais nem contempla possíveis soluções e projetos alternativos

com menor impacto ambiental e maior benefício social. Até agora o ZEE é

entendido principalmente como um instrumento para o desenvolvimento de cima

para baixo, com baixa participação popular e pouco considerando as

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necessidades e realidades vividas no município e nas comunidades

(GUTBERLET, 2002).

Alguns problemas detectados no Programa de ZEE, citados abaixo,

representam a opinião da SDS/MMA:

critérios os mais variados, sem uniformização para escolha das áreas nos

ZEEs parciais;

descontinuidade e/ou sobreposição de áreas;

incompatibilidade entre os estudos realizados;

perda de dados por caducidade, extravio e falta de divulgação;

grande quantidade de dados não digitalizados;

isolamento e setorização, sem articulação com o sistema de

planejamento;

dificuldade de acesso aos dados existentes;

desarticulação entre os executores e fontes de financiamento; e

alta relação custo/benefício.

Na opinião de Rodrigues (2008) o ZEE, além de caro, é de difícil

aplicação técnica, social e política, apresenta uma dinâmica social intensa,

advinda de região em constante processo de transformação.

Conforme Acselrad (2000), um duplo mecanismo de poder liga-se, no

entanto, à produção do ZEE. Um poder que se exerce sobre as práticas do

zoneamento através das exigências externas das hierarquias políticas, e um

poder que se exerce pelo saber cartográfico e classificatório, pelo modo como

os zoneadores criam uma concepção do espaço, ou seja, um poder incorporado

à própria retórica do ZEE. O autor argumenta que em certos momentos,

entretanto, estes poderes podem se chocar, exprimindo a ocorrência de ruídos

nas correias de transmissão entre hierarquias políticas e instâncias técnicas.

Este foi, por exemplo, o caso do desencontro de expectativas entre a SAE e o

IBGE com relação ao Diagnóstico Ambiental da Amazônia encomendado a este

último. Enquanto a SAE pretendia obter uma caracterização das potencialidades

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econômicas contidas nos recursos naturais amazônicos, os técnicos do IBGE se

dispuseram a registrar os vetores políticos da ocupação da região, neles

pretendendo incluir os conflitos e as marcas dos grandes projetos

governamentais. (ACSELRAD, 2000)

Benatti (2003) cita quatro aspectos que, segundo ele, podem prejudicar a

implantação do ZEE:

1) o desconhecimento por parte das agências públicas e da sociedade das

atribuições do zoneamento. Desconhece-se a importância e as vantagens de se

realizar um ordenamento democrático, que garanta a participação de todos os

interessados na sua elaboração, implementação e monitoramento;

2) a ausência de um conhecimento sistematizado sobre a atuação concreta das

agências envolvidas e sobre as formas de descentralização adotadas nas áreas

de suas atuações;

3) a desarticulação e a incoerência na legislação que afeta direta ou

indiretamente o ordenamento territorial, além das dificuldades para aplicar a

legislação devido à diversidade de agências públicas com atribuições na

matéria; e

4) o baixo nível de participação das populações envolvidas no processo de

ordenamento territorial.

Já Gutberlet (2002) demonstra o que chama de “impasses e desafios do

zoneamento” em três pontos:

1) Escalas pequenas e generalizadas não permitem retratar a complexidade

e a dinâmica sócio-econômica e cultural do local. Elas ignoram e

mascaram dimensões sócio-culturais e escondem a presença de fatos

pontuais como impactos, riscos ou conflitos.

Escalas muito pequenas podem levar a equívocos no prognóstico. Uma

área parece desabitada mas na verdade faz parte da área de influência de

uma comunidade ou é utilizada para abastecer a população, como

geralmente é de praxe nas comunidades rurais tradicionais. A enorme

diversidade social e cultural da Amazônia foi ressaltada por Benchimol

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(1999). A riqueza e a complexidade sociocultural costumam ser omitidas

durante os processos e a formulação de políticas para o ordenamento.

A escala do macrozoneamento tampouco permite caracterizar a

cobertura de floresta entre natural, alterada e não-alterada. O grau de

alteração, por exemplo, por corte seletivo, não pode ser identificado nessa

escala. Portanto, o mapa de vegetação pode camuflar o verdadeiro grau de

degradação da cobertura vegetal natural.

Além do equívoco com a escala, também existem problemas

cartográficos. Identificaram-se dificuldades com a interpretação da

informação contida nos mapas, como os da Embrapa. As legendas

geralmente são técnicas e sua linguagem precisa ser traduzida para que o

leitor comum possa apropriar o conhecimento. Por outro lado, o mapa

precisa conter as informações necessárias para o reconhecimento local, por

exemplo, ter dados a respeito da ocupação humana, infra-estrutura, rios etc.,

para que o leitor consiga se inserir no espaço apresentado e, portanto, o

mapa tenha significado para ele;

2) A garantia de uma ampla participação.

Diga-se desde já que esta também é a questão mais polêmica e difícil de

pôr em prática, uma vez que significa discussões e resoluções de conflitos entre

agentes com interesses muitas vezes antagônicos (GTZ, 1992). O número

crescente de iniciativas visando à integração entre poder público, poder

econômico e sociedade civil na discussão sobre planejamento e

desenvolvimento prova que a participação é um pré-requisito fundamental neste

processo. As experiências com agências, fóruns, comitês, conselhos etc. estão

se multiplicando no país. É certo que nem todas essas experiências são bem-

sucedidas e não conseguem alcançar os objetivos aspirados.

Até o presente momento, houve pouca participação da sociedade civil na

elaboração dos diagnósticos para o zoneamento. A metodologia aplicada pelas

equipes executoras para os levantamentos temáticos não tem envolvido de

forma sistemática os representantes da população local. Tampouco houve, no

início dos trabalhos, uma ampla discussão nas comunidades sobre os objetivos

do ZEE e os fins e métodos dos levantamentos temáticos. Por causa dessa

omissão, é muito mais difícil agora fazer a população se apropriar do

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conhecimento gerado pelo diagnóstico. Conseqüentemente, será mais

demorado envolvê-la em discussões acerca de planejamento, manejo e gestão

dos recursos naturais nas suas comunidades ou municípios; e

3) Não-regularização fundiária nos Municípios e a pouca sistematização desses

dados.

A reforma agrária, como vem sendo conduzida, tem um impacto

desnecessariamente elevado sobre o meio ambiente, pelas seguintes razões:

Este fato está impossibilitando a realização de um planejamento da ocupação do

espaço. Até hoje a falta de informação detalhada continua e, apesar de o ZEE

ter estabelecido parcerias para a regularização fundiária nos vários Estados,

esses dados ainda não estão disponíveis. Em muitos Municípios, continuam a

invasão e a exploração irregular de recursos naturais em terras indígenas, áreas

de proteção e unidades de conservação. Além disso, ainda é necessária uma

revisão da legislação fundiária e agrária nos Estados. A tomada de qualquer

decisão a respeito de "ordenamento territorial" passa pelo reconhecimento da

situação fundiária. A falta desta base de dados compromete o diagnóstico e a

análise para o prognóstico, além de, muitas vezes, até inviabilizar a

implementação das ações propostas.

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CAPÍTULO 2

A Participação na formulação de política ambiental

2.1 A evolução da necessidade de participação em política6

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, vem sendo

estimulada, institucionalmente, a implementação de um novo paradigma de

gestão das políticas públicas no Brasil que promova a descentralização das

decisões e amplie o espaço de participação da sociedade. Aponta a criação nos

Municípios de todo o país de diversos mecanismos de inserção de segmentos

da população nos processos decisórios (CARVALHO et al. 2005). Nesse

sentido, Avritzer (2006 p. 15) destaca que no Brasil dos anos 90, os conselhos,

as diferentes formas de orçamento participativo, além de um conjunto de formas

consultivas e deliberativas de participação da população no processo de tomada

de decisão acerca da distribuição de bens públicos, das políticas e da

deliberação sobre prioridades orçamentárias, estabelecem-se como forma de

ampliação de participação política.

Um fenômeno que, apesar de parecer recente, remonta ao início do

século XX é a criação de associações civis sem fins lucrativos originadas em

determinadas demandas da sociedade. Essas associações são os primeiros

exemplos de envolvimento institucional entre Estado e sociedade. Atualmente

ganharam denominações como ONG‟s, Organizações do Terceiro Setor,

Organizações da Sociedade Civil e, mais recentemente, Organizações da

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

Avritzer; Pereira (2005 apud AVRITZER, 2006) apontam formas de

participação como o resultado de longo processo de reorganização da

sociedade civil e das suas formas de relação com o Estado e de um longo

6 As discussões seguintes serão baseadas na inter-relação dos conceitos de capital social e empoderamento que

suscitarão na forma participativa como instrumento de transformação do papel da sociedade no processo de elaboração

de políticas públicas.

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processo de transformações institucionais, jurídicas e administrativas,

especialmente a nível local, ocorrido no Brasil desde o final dos anos setenta.

Dizem ainda que novos espaços de negociação e inter-relação são criados em

torno dos atores sociais e do Estado e, nesses espaços, os atores são

obrigados a debater e ajustar suas estratégias; ou seja, a ação a partir das

instituições é substituída pela ação coletiva e negociada. O local se torna o lugar

da elaboração de políticas públicas, de tomada de decisão discutida e

compartilhada.

Esse processo de descentralização no Brasil vem se expandindo

gradativamente e ganhando força. O município ganha mais autonomia, a

sociedade brasileira está cada vez mais se fortalecendo num envolvimento local,

o que, segundo Brose (2002 p.93), possibilita o aprofundamento da democracia,

a maior proximidade do cidadão das instâncias decisórias, com maior eficiência,

eficácia e equidade das políticas públicas.

O objetivo da participação é o de possibilitar o contato mais direto e

cotidiano entre os cidadãos e as instituições públicas, para possibilitar que estas

levem em consideração os interesses e concepções político-sociais daqueles no

processo decisório. Assim, a participação envolve uma conduta ativa dos

cidadãos nas decisões e ações públicas, na vida da comunidade e nos assuntos

de interesse das coletividades de que sejam integrantes (MEDEIROS;

BORGES, 2007 p.6).

Várias e distintas formas alternativas de participação política têm surgido.

Por exemplo, o movimento indígena no Equador, o Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra no Brasil, além de milhares de iniciativas

documentadas em relação a grupos da sociedade que se organizam

espontaneamente em prol de objetivos comuns (BAQUERO, 2003 p.10). A

ausência de marcos explicativos sobre esses movimentos possibilitou

discussões sobre o papel das associações voluntárias e/ou informais como

entidades geradoras de reflexões e práticas de inclusão cidadã. Assim, as

associações cívicas e voluntárias são crescentemente vistas como sendo

importantes no resgate do cidadão para a esfera pública e na promoção da

discussão política e das políticas do governo. De modo geral, essas

organizações, por meio da estruturação e dedicação à margem de um apoio

institucional, em muitos casos têm conseguido mobilizar os cidadãos

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marginalizados socialmente para pressionar o Estado a responder às suas

demandas (BAQUERO, 2003).

As transformações político-institucionais e a ampliação de canais de

representatividade dos setores organizados para atuarem junto aos órgãos

públicos, como conquista dos movimentos organizados da sociedade civil,

mostram a potencialidade de construção de sujeitos sociais identificados por

objetivos comuns na transformação da gestão da coisa pública, associada à

construção de uma nova institucionalidade (JACOBI, 2002).

Segundo Fernandes; Bonfin (2005), a participação e o modo de

relacionamento das administrações com a sociedade civil são tomados como

indicadores das possibilidades de mudança social efetiva na sociedade

brasileira contemporânea. Os modelos de gestão contemporâneos que refletem

uma maior interação entre governo e comunidades são ditos participativos nos

processos de formulação de política pública. Analisa-se essa prática com

envolvimento dos primeiro, segundo e terceiro setores sob a ótica de capital

social que empodera o indivíduo/comunidade, possibilitando sua interveniência

pelo canal do capital humano.

Acredita-se que essa relação cíclica conceitual de capital social,

empoderamento e participação resultará na apropriação e uso da informação

sobrepondo-a à subjetividade no interesse de cada indivíduo/comunidade. Isso

seria assim chamado de real interferência na transformação do modo de vida

das populações em meio a políticas que chegam a lhes afetar direta ou

indiretamente. Ainda nessa linha, sabe-se que cada indivíduo/comunidade pode

contribuir na definição de processos de tomada de decisão de governo local por

está mais próximo de sua realidade, dentro de sua visão de mundo.

Norris (apud BESSER-PEREIRA, 2005 p.10) reafirma a condição

defendida neste capítulo de que o cidadão precisa, nas inter-relações e trocas

de informação, se empoderar, fazer valer sua interveniência quando diz que a

infelicidade política é real e está crescendo, mas não porque haja um crescente

cinismo a respeito do governo democrático, como sugere a opinião comumente

aceita, e sim porque os cidadãos se tornaram mais críticos. Além disso,

Bordenave (1994 p.7) afirma que quando se promove a participação deve-se

aceitar o fato de que ela transformará as pessoas, antes passivas e

conformistas, em pessoas ativas e críticas. Dessa forma, antecipar que ela

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ocasionará uma descentralização e distribuição do poder, antes concentrado

numa autoridade ou num grupo pequeno.

Uma dimensão de valorização do cidadão tem emergido recentemente,

relacionando-se à possibilidade de empowerment dos cidadãos por meio do

capital social, que se refere ao envolvimento dos indivíduos em atividades

coletivas que geram benefícios em um espectro mais amplo (BAQUERO, 2003).

Sendo assim, o indivíduo beneficia-se do capital social que lhe dará subsídios

para se empoderar cognitivamente. O cidadão precisa da oportunidade, além da

pré-disposição, para apreender a informação que lhe é transmitida e, dessa

forma, ser um transformador em processos de micro ou macroparticipação.

Os anos noventa corresponderam à institucionalização da consulta da

população em geral, de associações, dos sindicatos, dos experts e de

segmentos empresariais no processo de formulação de projetos de

desenvolvimento e de políticas públicas. Draibe (apud MILANI, 2006) ao analisar

inovações nas políticas públicas no Brasil, destaca que as políticas assistenciais

e de combate à pobreza, por exemplo, conheceram do ponto de vista de sua

armação institucional dois eixos importantes de mudanças: a descentralização

do poder decisório e de recursos bem como a ampliação e a institucionalização

da participação.

Segundo Milani (2006), um modelo de reforma da administração pública

que está em curso no Brasil e na América Latina é aquele em que o Estado

perde o monopólio de produção e proteção do bem público, porquanto surge

com força a idéia do público não-estatal deslocando interesses e alguns papéis

para a sociedade civil. Esse modelo exige da política uma maior complexidade

em seu sistema decisório: a decisão pública não é mais exclusivamente

governamental, o governo é central, mas é menos abrangente que os chamados

processos de governança. Exige, outrossim, distribuição do poder de decisão

entre diversos atores, implicando intensa negociação na definição das regras

políticas e criando a necessidade de descentralizar as decisões e os recursos.

No caso do Brasil um país que deixou para trás um autoritarismo

fortemente centralista, a participação se insere no novo formato institucional

gerado pelo processo constituinte (AVRITZER; PEREIRA, 2005). A possibilidade

de criar as condições para a ruptura com a cultura política dominante e para

uma nova proposta de sociabilidade baseada na educação voltada à

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participação se concretizará principalmente pela presença crescente de uma

pluralidade de atores. Através da ativação do seu potencial de participação,

esses atores terão cada vez mais condições de intervir consistentemente nos

processos decisórios de interesse público, legitimando e consolidando propostas

de gestão baseadas na garantia do acesso à informação, e na consolidação de

canais abertos para a participação, que, por sua vez, são precondições básicas

para a institucionalização do controle social (JACOBI, 2002).

2.2 Razões favoráveis e desfavoráveis a uma política pública mais participativa

Conforme Bordenave (1994), a participação popular e a descentralização

das decisões mostram-se como caminhos mais adequados para enfrentar os

problemas graves e complexos dos países em desenvolvimento, pois,

estratégias políticas altamente centralizadas têm fracassado na mobilização de

recursos econômicos e no desenvolvimento da iniciativa própria para tomar

decisões em nível local. A bibliografia consultada por Flores; Misocky (2008)

apontou algumas principais vantagens encontradas em processos

participativos:

1. reduz os custos de obtenção de dados ambientais, sociais e culturais,

bem como sobre as necessidades dos atores;

2. fortalece as instituições locais em suas capacidades administrativas;

3. aumenta a credibilidade da avaliação (as pessoas confiam nas

informações providas por elas mesmas); e

4. concilia diferentes visões, pois possui defensores em diferentes correntes

ideológicas como liberais, marxistas e anarquistas (todos têm restrições

em relação ao Estado).

Santos (2006), analisando participação afirma que a inércia social “existe

e age como poderoso vetor de estabilidade na rotina das interações sociais” e

que não se pode negligenciar o fato de a população brasileira ser

“majoritariamente pobre, sem disponibilidade para cobrir os custos de organizar

ações coletivas e para absorver os custos de eventuais fracassos, pouco

informada e em larga medida inocente de qualquer noção de direitos”.

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Há de se observar também o desinteresse do indivíduo/comunidade em

assimilar novas informações por não querer aceitar mudanças em seu cotidiano.

Milani (2006) acrescenta que os limites socioeconômicos, simbólicos e políticos

funcionam como obstáculos relevantes à participação, podendo até mesmo

aprofundar a desigualdade política no âmbito dos próprios dispositivos

participativos. Diz ainda o autor que, mesmo com forte componente pedagógico

e cívico a médio e longo prazos, as experiências de participação podem incorrer

no risco de diluição das responsabilidades por ausência de instâncias formais e

institucionais que assegurem sustentabilidade à gestão participativa. O autor

exemplifica citando o Congresso Popular de Pintadas como uma experiência

única de gestão pública na Bahia, mas que não se renovou posteriormente, não

constituiu um ciclo político. Espaços não-institucionalizados de participação

(fóruns comunitários, mobilização social), embora tenham sua evidente

relevância enquanto ação coletiva no plano cultural e identitário da sociedade

civil podem esgotar-se no processo participativo e não gerar resultados que

contribuam para a continuidade efetiva das políticas públicas locais. Milani

(2006) enfatiza que a não-institucionalização pode ter impactos ainda mais

nefastos sobre a concepção de participação cidadã na gestão pública em um

ambiente de relações entre governo local e sociedade, marcado por

espontaneidade e voluntarismo e também por altos custos de transação

oriundos dos déficits de “confiança social”.

Ainda segundo Milani (2006) “outro limite interno às experiências merece

ser assinalado: muitas experiências de gestão pública participativa na Bahia

caem na armadilha do chamado „mito da comunidade‟ (GUIJT; SHAH, 1998), ou

seja, uma visão simplificada do que seria a comunidade (sempre homogênea,

estática e harmônica) e das pessoas que nela convivem (sempre

compartilhando valores, interesses e necessidades comuns). Nesta visão

paradisíaca da comunidade, não haveria diferenças de idade, classe, gênero,

cor da pele ou religião; não haveria tampouco o risco da construção do

consenso comunitário mascarar as diferenças ou dar legitimidade a algumas

identidades em detrimento de outras. Além disso, no bojo deste mito

socialmente reproduzido, a linguagem do chamado „empoderamento

comunitário‟ é freqüentemente utilizada em técnicas participativas que colocam

pessoas para trabalhar conjuntamente com a ajuda de um monitor ou um

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mediador, pressupondo ingenuamente que fazer parte de um „exercício

participativo‟ levaria necessariamente, no curto prazo, à transformação das

consciências e à criação de laços duradouros de sociabilidade. Inúmeros

treinamentos partem da premissa de que dezenas de pessoas, ao cabo de

alguns dias de intensa capacitação, podem ser sensibilizadas e conscientizadas

à problemática da democracia local, ilustrando perfeitamente quão ingênuas

podem ser as expectativas de muitos gestores locais no que diz respeito à

autenticidade das motivações e dos comportamentos dos indivíduos no âmbito

das chamadas „oficinas participativas‟.“ (MILANI, 2006 p. 21)

Em contraposição às últimas linhas acima descritas por Milani (2006),

esse texto aborda o ato da participação individual/comunitária como,

dependendo do interesse do indivíduo/comunidade, um processo de

empoderamento, seja ele de grandes proporções ou não. Havendo de fato a

informação e o interesse de ambos os interlocutores da apreensão do

conhecimento, em qualquer dimensão é valiosa na construção cognitiva destes

onde, segundo Putnam (2001), redes e normas associadas de reciprocidade têm

valor. Assim, a capacidade empírica do cidadão ou até mesmo o pequeno grau

de tecnicidade interferirá nesse processo. Desse meio sairá um produto

(indivíduo), no mínimo, empoderado capaz de intervir no processo de tomada de

decisão em que o retorno será a construção de melhorias e o aumento do bem-

estar da própria população. Arnstein (apud MEDEIROS; BORGES, 2007)

enfatiza que, na realidade, nem os cidadãos nem os detentores do poder

constituem blocos homogêneos. Deve-se notar que a tipologia não inclui uma

análise dos caminhos mais significativos para conseguir níveis genuínos da

participação.

Algumas desvantagens encontradas em processos participativos

segundo Flores (2008) são:

1. não substitui um projeto nos assuntos técnicos ou de financiamento;

2. aumenta os custos associados à identificação de pessoas interessadas;

3. perde legitimidade com a falta de reconhecimento e aceitação;

4. perde com o limite da disposição dos cidadãos (se muito exigida, poderá

pôr em risco a representatividade);

5. gera conflitos socioculturais; e

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6. pode causar alienação por parte do governo

Além disso, Almeida; Carneiro (2003) afirmam que o governo local

permanece claramente subordinado ao governo federal no combate aos

problemas mais sérios do município e que os resultados revelam resistências

potenciais à descentralização de atribuições e competências em várias áreas

importantes para as suas comunidades entre as lideranças locais.

Uma nova concepção de participação popular propõe conferir maior

reconhecimento ao ciclo interativo dos conceitos de capital social e

empoderamento a fim de que se efetive a participação. Essa idéia da inter-

relação entre sociedade/estado, indivíduo/comunidade permite a visualização de

novos espaços que emergem do capital social representando o grau de

interesse do indivíduo/comunidade em internalizar conhecimentos vinculando-os

à construção de outros novos conhecimentos considerando a subjetividade e a

singularidade que envolvem esses atores sociais, enfatizando a não-existência

de modelos perfeitos, numa configuração homogênea. O conhecimento empírico

é um importante elemento nesse processo de troca de informação entre a

ciência e a experiência.

2.3 Experiências participativas em política ambiental

Em um estudo da eficácia da Avaliação de Impacto Ambiental - AIA como

instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA no Brasil,

Nicolaídes (2006 p. 124) revela a experiência participativa quanto aos

requerimentos formais (ou regulamentação), um dos aspectos comprometedores

da eficácia da AIA, pois a participação pública é restrita em sua regulamentação

ao momento das audiências públicas. A autora sugere uma correção na

regulamentação antecipando a participação para as fases de seleção e escopo

e esclarecendo o seu papel, a fim de contribuir com a identificação preliminar da

significância dos impactos e com a elaboração do termo de referência e a

identificação de questões relevantes a serem aprofundadas nos estudos. Além

disso, sugere a previsão de participação pública no monitoramento, de modo a

tornar o envolvimento público contínuo, contribuindo com a fiscalização do

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cumprimento dos termos e condições de aprovação do projeto e fornecendo um

retorno sobre a eficácia das medidas de mitigação e compensação.

Na França, em resposta à privatização crescente e a alguns negócios

relacionados à água potável, a legislação impôs às cidades a criação das

comissões consultivas dos serviços públicos, onde os habitantes organizados

podem discutir a qualidade e o preço dos serviços. Outras cidades recrutam

conselheiros em meio ambiente urbano, incumbidos de visitar as diversas

categorias de agentes (empresas privadas, comerciantes, serviços públicos,

associações de habitantes) e de lhes ensinar práticas mais favoráveis ao meio

ambiente. Muitas vezes, o serviço local de meio ambiente é transformado, e, em

ligação com um ou mais representantes motivados, ele se torna um verdadeiro

centro de mediação dos conflitos urbanos (BARRAQUÉ, 2005).

Entretanto, na Europa, estas experiências de democracia participativa

ficam limitadas pela resistência dos representantes a cederem parte do seu

poder. Em alguns casos, eles chegam a conceder importantes subvenções às

associações para que estas ampliem a ação pública e valorizem-na, mas é raro

que estas associações sejam diretamente envolvidas às deliberações. A

participação ativa dos interesses organizados se encontra, então, em uma

escala territorial inferior, o bairro (BARRAQUÉ, 2005).

2.4 O caminho da participação e sua horizontalidade: capital social, empoderamento e participação.

As definições de capital social e empoderamento no decorrer do texto são

demonstrativas da base cognitiva que criam condições para que a

comunidade/indivíduo efetive sua participação na elaboração de políticas

públicas. É necessário, contudo, refletir sobre informação recebida e apreendida

relevando a subjetividade de cada indivíduo/comunidade. A informação,

paralelamente à força de vontade do indivíduo, é a pré-condição necessária

para que haja capital social. O capital social é a pré-condição necessária para a

participação (VILLASBOAS, 2003).

A informação continuada é uma forma de se consolidar conceitos e,

segundo Bordenave (1994), não é infrequente o caso dos grupos comunitários,

depois de certo período, não necessitarem mais de agentes educativos, já que,

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pela práxis e a reflexão, eles adquirirem maturidade e capacidade para a

autogestão de seu processo educativo transformador. Tudo isso aliado ao grau

de interesse tanto dos agentes educativos, como dos grupos comunitários. Caso

contrário, haverá capital social, porém não haverá empoderamento.

2.4.1 Capital Social

Capital social está longe de ser um conceito de entendimento universal,

pois é apresentado por uma ampla gama de definições e aplicabilidade. Porém,

a que mais se ajusta ao que está sendo proposto aqui é a de que a idéia central

de capital social defendida por Putnam (1994) é que em redes e normas,

associadas de reciprocidade pode haver ganho. Elas têm valor para as pessoas

que estão nelas, e elas têm, ao menos em algumas instâncias, demonstrado

externalidades para que haja faces públicas e privadas de capital social. Ele

foca em grande parte sobre os retornos externos, o retorno público ao capital

social, mas acha que há também retorno privado.

Aceitando que não há uma única forma de capital social, precisa-se

pensar sobre as suas múltiplas dimensões, o que, segundo Putnam (1994 p. 1),

está longe da homogeneidade.

“Alguns tipos de capital social são altamente formais, como associação de

pais e mestres ou uma organização nacional de qualquer espécie, ou uma união

de trabalhadores, formalmente organizada com um presidente, membros e

assim por diante. Outras formas de capital social, como um grupo de pessoas

que se reúne toda quinta-feira à tarde, são altamente informais. Existem também

formas de capital social com densas interligações, como um grupo de

metalúrgicos que trabalham juntos todos os dias numa fábrica, freqüentar a

igreja todo domingo e ir ao boliche aos sábados. Isto é uma forma muito densa,

relacionada e múltipla de capital social. Há ainda as finas, quase invisíveis,

formas de capital social, significando redes e normas associadas de

reciprocidade, como um acenar ou conversar com uma pessoa que você

ocasionalmente vê no supermercado enquanto espera na fila.” (PUTNAM, 1994

p. 3)

Um exemplo de capital social no Estado do Acre, seguindo essa linha de

Putnam, é o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Xapuri e o

Conselho Nacional de Seringueiros, esse último fundado por Chico Mendes,

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líder sindical xapuriense, que reuniu em sua luta o trabalho sindical, na defesa

do interesse de uma categoria bem específica de trabalhador rural na floresta

amazônica. Teve seu trabalho reconhecido internacionalmente, sendo várias

vezes premiado, inclusive pela ONU, por sua luta pela implantação das

Reservas Extrativistas. Chico Mendes combinava a defesa da floresta com a

reforma agrária reivindicada pelos seringueiros.

O exemplo dessa construção de capital social demonstrado pela rede de

seringueiros pode ser transferido para os ribeirinhos, os colonos que vivem nos

projetos de assentamento, nas reservas extrativistas e/ou em outras localidades.

Mesmo que haja certa distância entre uma “colocação”7 e outra, essa população

se relaciona, independente das diferenças espaciais que as separam. Essas

redes se diversificam dependendo da sociedade, da cultura nela existente, do

tipo de economia predominante entre outros e diversos fatores que podem

acarretar mudanças de local para local. “O modo como o indivíduo se comporta

é determinado por suas relações passadas ou atuais com as outras pessoas. E

a interdependência das funções humanas sujeita e molda, de forma profunda, o

indivíduo”. (MARTELETO; DE OLIVEIRA E SILVA, 2005).

As relações também passam pela questão da subjetividade, onde cada

trabalhador, morador da zona rural ou urbana, é singular no seu modo de pensar

e agir, pelas diferenças culturais, sociais e econômicas. Porém, numa relação de

interatividade, caso haja pré-disposição para as transformações, advindas da

apreensão da informação pelo receptor, resultará numa nova manifestação

cognitiva. A interação entre cidadãos será empoderativa, se este estiver pré-

disposto a apreender a informação que se sobreporá a outras informações que

ele já possua, sendo inevitável o suscitar de novo conhecimento.

Diante de definições tão fluidas e abrangentes o capital social torna-se

um conceito amplo e difuso, uma vez que redes de confiança e solidariedade

podem referir-se desde uma densa rede de organizações e associações civis

(tais como ONGs, associações profissionais, de classe, religiosas, de bairros,

entidades filantrópicas, cooperativas de produção, grupos em geral etc.) até as

conexões sociais mais informais como conversa entre amigos.

7 Unidade de produção dos seringueiros e local onde constroem suas casas, geralmente dentro do seringal que trabalham. As colocações são distantes em média duas horas de caminhada umas das outras.

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O questionamento sobre a compreensão de como a elite política local

dirige tais políticas de participação (orçamentos participativos e conselhos

municipais, por exemplo), procurando mostrar seu posicionamento (estímulo ou

desestímulo) frente à representação popular é algo que deve ser mais

aprofundado. A simples existência de conselhos ou de orçamentos participativos

não implica poder de decisão dessas instâncias. A influência no poder decisório

de uma política local por parte de conselhos municipais, por exemplo,

efetivamente será franqueada pelo executivo, ou seja, pela elite dirigente.

Assim, torna-se importante observar num trabalho com este viés qual o nível de

decisão sobre a política e qual relação entre a elite e os membros da instância

colegiada que o controla (FERNANDES; BONFIM, 2005).

Uma diferença importante entre capital social e outras formas de capital é

que o capital social existe em uma "relação social". Reside nas "relações" e não

no indivíduo sozinho, como é o caso de habilidades de capital humano. É

construído em coletividades institucionalizadas tais como: universidades,

corporações, governos, associações informais de pessoas em que o

conhecimento e as visões de mundo formam-se e são transferidas (BAQUERO,

2003 p. 17).

Está claro que, presentemente, as dimensões de capital social (tais como:

confiança das relações entre os indivíduos e instituições; redes e canais

informativos; normas e sanções efetivas) são de importância fundamental na

formação da vida econômica e social. O capital social é considerado produtivo,

pois torna possível alcançar determinados objetivos que na sua ausência não

seria possível (BAQUERO, 2003 p.18) “As comunidades com elevados estoques

de redes sociais e associações cívicas estão em uma posição mais sólida para

enfrentar vulnerabilidades, a pobreza, resolver disputas e/ou tirar partido de

novas oportunidades” (WOOLCOCK, 2001).

Segundo Baquero (2003) as teorias que associam capital social,

sociedade civil e estabilidade democrática são frágeis e que a questão não está

na ausência de solidez teórica, mas sim na forma, ainda não resolvida, de como

se mede a confiança e o capital social. Para o autor é mais provável que os

indicadores empíricos não estejam captando essa associação, pois seria

inconsistente defender que a integração social, a eficiência econômica e a

estabilidade democrática possam ser alcançadas, embora a história mostre que

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em alguns casos seja possível, mesmo sem confiança por parte dos cidadãos

nas instituições e nos governantes. A existência de confiança não só cria um

ambiente de credibilidade e, conseqüentemente, de legitimidade, como fortalece

o contrato social.

Embora o capital social seja fomentado por uma variedade ampla de

interações formais e informais entre os membros de uma comunidade, uma

análise plena dessas interações não é observável. O que se pode observar é a

prevalência de filiação em organizações voluntárias em um determinado

contexto. Como resultado, ser membro de associações tem-se tornado o

indicador mais adequado para examinar a formação ou destruição de capital

social.

Acredita-se que, ao fazer parte de associações, as pessoas desenvolvem

interações entre si, aumentando a possibilidade do desenvolvimento de

confiança recíproca entre elas.

Em um contexto em que o Estado é ineficiente e com pouca credibilidade,

as redes sociais podem aumentar o desenvolvimento do conflito tanto na

atividade econômica como nas instituições públicas em uma dimensão negativa,

levando à apropriação de recursos políticos e conseqüentemente à

institucionalização de relações pautadas por clientelismo e paternalismo.

(BAQUERO, 2003).

2.4.2 Empoderamento (Empowerment)

A realização do empoderamento fundamenta-se no capital social onde as

inter-relações, seja entre indivíduos ou comunidades, acontecem. A base do

empoderamento é a troca de informação, o apreender dessa informação e o

consequente poder advindo dessa “rede de reciprocidade onde pode haver

ganho” como diz Putnam (1994). O empoderamento acontece quando o

indivíduo/comunidade internaliza a informação, ou melhor, passa a conhecer

seu objeto de interesse (outro) e, assim, poder intervir em tomadas de decisão.

É necessário sublinhar aqui a necessária pré-disposição do

indivíduo/comunidade para que aconteça a assimilação dessa informação.

Dessa forma, haverá empoderamento (pode ser um processo a longo ou curto

prazo, dependendo das necessidades de cada comunidade ou indivíduo, da

cultura e/ou economia predominante local) à medida que vá se alimentando das

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informações apreendidas do meio externo até que fique apto a participar, ou

melhor, fazer ingerências, quando lhe for oportunizado, nos processos de

elaboração de política pública.

Dos diversos conceitos existentes sobre empoderamento, vê-se que sua

essência está numa simples e mais direta definição: empoderamento requer

recebimento e apreensão de informação, seja espontaneamente ou motivado

por algum tipo de interesse.

Segundo Romano; Antunes (2002), a noção de empoderamento precisa

também considerar as relações de poder existentes nas próprias comunidades e

organizações e nos movimentos da sociedade civil que, voluntária ou

involuntariamente, excluem alguns de seus membros da tomada de decisões, do

acesso aos recursos e do exercício de suas capacidades, as relações de poder

dentro da esfera do mercado, que subordinam ou excluem totalmente os

agricultores familiares do acesso ao mesmo em condições de maior equidade,

quer para comprar, quer para vender.

É um processo que tem origem dentro das pessoas, no seio das

comunidades e das organizações locais, que não pode ser pensado de cima

para baixo (medidas assistencialistas e políticas clientelistas não se enquadram

neste processo), nem de fora para dentro, segundo Sen (apud ROMANO;

ANTUNES, 2002). Os agentes de mudança externos podem ser necessários

como catalisadores iniciais, mas o impulso do processo se explica pela extensão

e a rapidez com que as pessoas e suas organizações se mudam a si mesmas.

O que as políticas e as ações governamentais podem fazer é criar um ambiente

favorável ou, opostamente, colocar barreiras ao processo de empoderamento.

Por outro lado, Blackburn (1993) em seu estudo sobre educação popular

na América Latina, vê educação como um processo de empoderamento pelo

qual os oprimidos tornam-se conscientes das injustiças sistemáticas que os

mantêm pobres e decidem agir para aliviar essas injustiças. Por seu lado,

Friedmann (1996), em sua abordagem de empoderamento, coloca a ênfase na

autonomia das tomadas de decisão de comunidades territorialmente

organizadas, na auto-dependência local, na democracia direta (participativa) e

na aprendizagem social pela experiência. Considera empoderamento todo o

crescimento de poder que, induzido ou conquistado, permite aos indivíduos ou

unidades familiares aumentarem a eficácia do seu exercício de cidadania.

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Sen (apud ROMANO; ANTUNES, 2002), relaciona empoderamento,

primeiro e antes de tudo, com o poder e suas mudanças em favor daqueles que

anteriormente tinham pouca autoridade sobre suas próprias vidas. Para a

autora, empoderamento é o processo de ganhar poder, tanto para controlar

recursos externos como para o aumento da auto-estima e da capacidade

interna. Ela considera que o verdadeiro empoderamento inclui tipicamente dois

elementos e raramente é sustentável sem algum deles. Uma mudança no

acesso a recursos externos sem uma mudança na consciência pode deixar as

pessoas sem flexibilidade, motivação e atenção para fazer frente a e/ou obter

esse poder, deixando um espaço aberto para que os outros o obtenham. Para

ser sustentável, o processo de empoderamento deve modificar tanto a auto-

percepção das pessoas como o controle sobre suas vidas e sobre seus

ambientes materiais.

Já segundo Baiocchi (apud HENMAN, 2005), as pessoas estão

empoderadas, não como especialistas, mas como membros interessados da

sociedade civil, que formam sua própria administração local e, por isso,

conseguem um papel de participantes na sociedade. Uma das maiores

vantagens deste modelo, de acordo com Baiocchi (apud HENMAN, 2005), são

as idéias similares às apresentadas em favor da descentralização – que é o

ponto de vista trazido pelos processos de tomada de decisões mais próximos

aos moradores locais o que levaria a uma mais justa repartição dos recursos e

mais eficaz atuação dos governos. O autor acredita que os residentes locais

estão mais conscientes das necessidades da sua área e, assim, haveria uma

maior eficiência, pois, são capazes de obter decisões mais rapidamente e exigir

menos técnicos externos (peritos adicionais).

2.4.3 Participação popular e conscientização política

Conceitos contemporâneos sobre envolvimento de comunidades em

esferas públicas estão sendo utilizados para justificar a „participação‟ no

processo de elaboração de políticas na relação sociedade/estado. Segundo

Jacobi (2002), a gestão democrática e participação popular requerem uma forma

combinada de fortalecimento das formas de organização da sociedade civil, uma

mudança na correlação de forças, uma transformação qualitativa dos padrões

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de gestão, enfim um processo real de democratização do Estado e da sua

gestão.

“As origens do discurso e da prática da participação são múltiplas:

encontramos referências (e elogios) à necessidade do uso de ferramentas

participativas nos manuais das agências internacionais de cooperação para o

desenvolvimento, no âmbito dos processos de reforma do Estado e das políticas

de descentralização, mas também na política de alguns governos locais que

afirmam promover, graças à participação dos cidadãos, estratégias de inovação

e, em alguns casos, de radicalização da democracia local. A participação é

amiúde reivindicação política de alguns movimentos sociais, por exemplo, os

movimentos relacionados à pauta dos trabalhadores rurais sem terra, à gestão

de políticas urbanas ou à educação popular. Além disso, a participação

encontra-se bastante presente no discurso acadêmico e intelectual

contemporâneo.” (MILANI, 2005 p. 3).

Alguns autores definem participação ao dividi-la em diferentes níveis,

segundo os graus de envolvimento dos membros participantes, porém, para

qualquer tipo de manifestação participativa o agente já deve estar empoderado

pelo instrumento “informação” que lhe foi fundamental na construção da sua

cognição resultando, assim, num instrumento de consciência crítica, podendo

colaborar e/ou modificar as políticas públicas locais.

A informação é item importante na forma de participação aqui defendida.

O indivíduo para ser empoderado, deve conter determinado nível de informação

que lhe servirá como munição para intervir na formulação da política do seu

interesse. O processo de empoderamento desse cidadão ou comunidade

perpassará pelo crivo da cognição, da sobreposição do dado novo às

informações de que dispunha anteriormente. O que vale é que este cidadão se

empodere absorvendo as informações, não se deixando manipular pelos

detentores do poder. As diversas formas de poder só podem ser concretizadas

mediante valor obtido através dessa concepção de capital social, levando o

indivíduo/comunidade ao interesse de intervir na elaboração de políticas.

Segundo Bordenave (1994), os líderes comunitários e agentes educativos

sabem que o povo participa mais e melhor quando o problema responde a seus

interesses e não apenas aos da liderança ou das instituições externas.

Entretanto, o processo participativo depende de múltiplos fatores, inclusive da

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cultura, que é vista como dinâmica e não estática e que evolui constantemente

sob a influência de fatores externos e internos. Sua base, no entanto, constitui-

se de fatores duradouros que a tornam diferente de outras culturas. “Tal síntese

materializa-se em crenças, predisposições, motivações e normas de fazer as

coisas de um povo. No entanto, junto com valores positivos são construídos

valores que influenciam a forma como as pessoas fazem e vêem as coisas em

um determinado contexto” (BAQUERO, 2003).

Para Bordenave (1994 p. 68), a informação é um canal institucional onde

ele afirma que “não há participação popular sem informação qualitativamente

pertinente e quantitativamente abundante sobre os problemas, os planos e os

recursos públicos”.

“A participação em si já é formativa”. O fato de um cidadão ir a uma

assembléia, discutir sua região com a sub-municipalidade, com o representante

do governo, apresentar propostas... Isto já tem uma dimensão formativa

(CUNHA, apud HENMAN, 2005).

Gohn (2004) faz algumas considerações sobre a participação

propriamente dita como sendo uma categoria mais abrangente. Os pressupostos

gerais que sustentam essas afirmações sobre a participação são:

1. Uma sociedade democrática só é possível via o caminho da participação

dos indivíduos e grupos sociais organizados.

2. Não se muda a sociedade apenas com a participação no plano local,

micro, mas é a partir do plano micro que se dá o processo de mudança e

transformação na sociedade.

3. É no plano local, especialmente num dado território, que se concentram

as energias e forças sociais da comunidade, constituindo o poder local

daquela região; no local onde ocorrem as experiências, ela é a fonte do

verdadeiro capital social, aquele que nasce e se alimenta da

solidariedade como valor humano. O local gera capital social quando gera

autoconfiança nos indivíduos de uma localidade, para que superem suas

dificuldades. Gera, junto com a solidariedade, coesão social, forças

emancipatórias, fontes para mudanças e transformação social; e

4. É no território local que se estabelecem instituições importantes no

cotidiano de vida da população, como escolas, postos de saúde etc. Mas

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o poder local de uma comunidade não existe a priori, tem que ser

organizado, adensado em função de objetivos que respeitem as culturas

e diversidades locais, que criem laços de pertencimento e identidade

sócio-cultural e política.

Existem também algumas premissas básicas relativas à participação da

sociedade civil das quais se destaca na esfera pública – via conselhos e outras

formas institucionalizadas – não é para substituir o Estado, mas para lutar para

que este cumpra seu dever, propiciar educação, saúde e demais serviços

sociais com qualidade, e para todos. Essa participação deve ser ativa e

considerar a experiência de cada cidadão que nela se insere e não tratá-los

como corpos amorfos a serem enquadrados em estruturas prévias, num modelo

pragmatista (GOHN, 2004).

Dewey já dizia: “só é experiência o que refletimos, o que aprendemos. O

que se sedimenta na memória. É aquilo que vem alimentar o sonho, a utopia, a

esperança, a ilusão”. Rudá Ricci (em exposição em Belo Horizonte, 2003)

afirmou: “o mundo da experiência é o da memória coletiva, da solidariedade.

Aquela solidariedade que gera identidade”. Neste mundo há ética, moral,

valores. O pragmatismo não gera experiência porque se refere a ações tópicas,

imediatistas, sem profundidade, sem reflexão (GOHN, 2004).

Baquero (2003) questiona os desafios imediatos relacionados a essa

problemática que dizem respeito a como estimular e motivar os cidadãos a

participarem politicamente em um contexto de fragmentação e crescente

desigualdade social. Como criar e/ou reconstituir um ambiente estimulante para

a participação política? Tais desafios são gigantescos, pois o Estado, ao longo

de sua história, tem perdido a credibilidade em convocar seus cidadãos para

enfrentar essa tarefa. Tornou-se imperativo, portanto, refletir sobre mecanismos

que proporcionem o retorno do cidadão à esfera política.

Putnam e Gross (2002), baseados em teorias desenvolvidas há mais de

um século, têm proposto que os graves problemas econômicos, políticos e

sociais de um sistema político não podem ser resolvidos pela mera existência de

instituições, mas é necessário fortalecer as redes de solidariedade entre os

cidadãos. A consolidação de propostas participativas representa a

potencialização e a ampliação de práticas comunitárias, através do

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estabelecimento e ativação de um conjunto de mecanismos institucionais que

reconheçam direitos efetivamente exercitáveis e estimulem estratégias de

envolvimento e co-responsabilização (JACOBI, 2002).

O número crescente de iniciativas visando à integração entre poder público,

poder econômico e sociedade civil na discussão sobre planejamento e

desenvolvimento prova que participação é um pré-requisito fundamental neste

processo. As experiências com agências, fóruns, comitês, conselhos etc. estão

se multiplicando no país (GUTBERLET, 2002). A questão fundamental no

momento é saber se a participação popular na elaboração de política pública é,

de fato, uma forma de inserção efetiva de comunidades locais no processo de

tomada de decisão. Responder a este questionamento é o objetivo dos próximos

capítulos.

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CAPÍTULO 3

O ZEE no Estado do Acre: condicionantes históricos e construção de um modelo.

3.1. A origem do ZEE no Estado do Acre8

O Estado do Acre está situado no extremo sudoeste da Amazônia

brasileira, com população de 655.385 habitantes (IBGE, 2007) dividida em 22

municípios que perfazem uma área territorial de 152.581,388 km2 (IBGE, 2007).

Atualmente, 66% estão concentrados nas áreas urbanas, notadamente na

região do Baixo Acre, em função da capital Rio Branco. Com vistas a uma

melhor gestão, o Estado do Acre é dividido, politicamente, em cinco regionais de

desenvolvimento: Baixo Acre, Alto Acre, Purus, Tarauacá/Envira e Juruá. (Figura

3), que correspondem às microrregiões estabelecidas pelo IBGE e seguem a

distribuição das bacias hidrográficas dos principais rios acreanos (ZEE-AC,

2006). O Estado faz fronteira internacional com o Peru e a Bolívia e nacional

com os Estados do Amazonas e de Rondônia.

O Estado do Acre, mesmo antes de sua anexação ao território brasileiro

em 1903, pelo Tratado de Petrópolis, teve sua economia assentada na atividade

extrativa da borracha, atividade que se desenvolvia pela exploração da floresta

em pé. A partir da segunda metade do século passado, especialmente nos anos

70, o Acre sofreu uma série de transformações sócio-econômicas, concretizadas

na decadência da atividade extrativista e na expansão da agropecuária, marco

histórico de um intenso processo de desmatamento na região, cujas

conseqüências negativas ensejaram a necessidade de intervenção pública via

política de reordenamento territorial (CEDEPLAR, 1979).

O Estado do Acre desempenhou um papel relevante na história da região

Amazônica durante a expansão da economia da borracha pelo potencial de

riqueza natural dos rios acreanos e pela qualidade e produtividade dos seringais

existentes em seu território. A ocupação do território já habitado por indígenas e

8 Os itens 3.1 a 3.3 estão baseados no livro „Documento Síntese da Fase II do Zoneamento Ecológico-Econômico do

Acre‟, páginas de 28 a 34 e no Relatório Final das Oficinas, ZEE-AC, fase II -.Eixo Temático Cultural-Político, 2006.

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que hoje forma o Estado do Acre teve início com o primeiro ciclo econômico da

borracha, por volta da segunda metade da década de 1800.

Esse ciclo, que marcou os Estados da Amazônia, em geral, está associado

com a demanda industrial internacional da Europa e dos EUA. Com o processo

de vulcanização, John Boyd Dunlop inventou os pneumáticos em 1888 e, a partir

de então, estes passaram a substituir as rodas de aro de ferro das carruagens.

Logo após, seguiram-se outras invenções como a bicicleta e o automóvel, que

também precisavam da borracha. Nesse período, a Amazônia e, em especial, o

território acreano, passou a ser a única fonte mundial da goma elástica.

Para suprir a procura pela borracha, foi organizado um sistema de

circulação de produtos e mercadorias conectando seringueiros e seringalistas,

que comandavam a produção na Amazônia a comerciantes do Amazonas e

Pará e grupos financeiros da Europa, lançando os fundamentos da empresa

extrativa da borracha. A ocupação do Estado do Acre, diferentemente de outros

Estados da Amazônia, apresenta algumas particularidades que merecem

destaque, por suas conseqüências sociais, culturais e políticas. Grande parte

dessas particularidades está associada a questões fundiárias históricas e às

lutas que essas desencadearam desde 1872, quando o governo do Império do

Brasil assina o Tratado de Ayacucho, reconhecendo ser da Bolívia o antigo

espaço que hoje pertence ao Estado do Acre.

A partir de 1878, a empresa seringalista alcançou a boca do rio Acre

(Puerto Alonso) controlando a exploração em todo o médio Purus e, em 1880,

ultrapassou a Linha Cunha Gomes, limite final das fronteiras legais brasileiras,

expandindo-se para território boliviano. Intensa seca ocorrida na região

nordestina, em 1877, disponibilizou a mão-de-obra necessária para o

empreendimento extrativista, população que não estava conseguindo a

sobrevivência em fazendas e pequenas propriedades agrícolas do Nordeste. Na

seqüência, em 1882, os migrantes que vieram do Nordeste brasileiro, fugindo

das secas, fundaram o seringal Empresa, que mais tarde veio a ser a capital do

Acre, Rio Branco. Após a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de

novembro de 1903, o território foi anexado ao Brasil. Em 07 de abril de 1904,

através do Decreto 5.188, o Acre foi dividido em três Departamentos: Alto Acre,

Alto Purus e Alto Juruá.

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Figura 2. Mapa do Estado do Acre dividido em três departamentos

Fonte: Base de dados geográficos do ZEE – AC, Fase II, 2006.

Historicamente, a migração dos nordestinos ampliou as fronteiras do país

na Região Norte e contribuiu para a geração de riquezas oriundas do crescente

volume e valor das exportações brasileiras de borracha no período. A crise de

preços desse produto, nos primeiros anos do século XX, acabou dando origem a

um modelo de ocupação baseado em atividades de subsistência e comerciais

em escala reduzida, dependente diretamente dos recursos naturais disponíveis

no local. Contudo, a partir de 1912, o Brasil perdeu a supremacia da borracha.

Esse fato foi ocasionado pelos altos custos da extração do produto, que

impossibilitavam a competição com as plantações no sudeste asiático; pela

inexistência de pesquisas agronômicas em larga escala devidamente

amparadas pelo setor público; pela falta de visão empresarial dos brasileiros

ligados ao comércio da goma elástica; pela carência de uma mão-de-obra

barata da região, elemento essencial ao sistema produtivo; pela insuficiência de

capital financeiro aliada à distância e às condições naturais adversas da região.

Os seringueiros que trabalhavam na extração do látex se mantiveram em alguns

seringais, sobrevivendo por meio da exploração da madeira, pecuária, comércio

de peles e atividades ligadas à coleta ou à produção de alimentos.

Já na década de 1940, teve início um aumento na demanda externa por

látex, o que levou o governo brasileiro a promulgar o Decreto-Lei nº 5.813, de

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14/09/45, criando no país a oportunidade de trabalho na extração do látex, em

lugar de prestação do serviço militar obrigatório. Isso resultou, novamente, na

vinda de contingentes de nordestinos para o Acre, mas esse novo ciclo durou

pouco e esteve ligado ao esforço de guerra, quando a produção asiática caiu

sob domínio do eixo.

Como parte do mesmo processo desencadeado pela demanda da

borracha, caucheiros peruanos vindos do sudoeste cortavam a região das

cabeceiras do Juruá e do Purus, enquanto os primeiros seringalistas bolivianos

começavam a se expandir e ocupar as terras acreanas pelo sul. Frente a essas

investidas, os povos nativos da região viram-se cercados por brasileiros,

peruanos e bolivianos sem ter para onde fugir ou como resistir à enorme

pressão que vinha do capital internacional, que dependia da borracha

amazônica.

No passado, os regatões - mascates das águas da Amazônia - aportavam

às margens dos seringais abastecendo seus moradores de produtos diversos,

destacando-se, entre esses personagens, os sírios e libaneses, que realizaram

uma trajetória histórica significativa para a formação do Acre. Essa migração de

origem sírio/libanesa foi realizada por conta dos próprios imigrantes, de maneira

não-oficial ou subsidiada.

Os anos 1970 e 1980 do século XX desenharam outro contexto para o

Acre com a vinda dos chamados “paulistas”. Essa identidade foi atribuída de

forma genérica a grandes empresários sulistas e migrantes rurais que vieram

para o Acre com objetivo de especular com a compra de grandes seringais. É

importante salientar que, apesar de número razoável de pessoas oriundas das

regiões Sul e Sudeste para os Projetos de Colonização, houve um grande

número de pessoas residentes em áreas de florestas ou rurais dirigidas para os

Projetos de Assentamento. Nesse sentido, os assentamentos serviam para

atenuar pressões populacionais do Sul e Sudeste, mas principalmente das

existentes no Acre, pelas quais muitas pessoas foram mortas e expulsas de

suas terras.

A partir de 1975, as chamadas populações tradicionais da floresta

começaram a se organizar e a desenvolver diferentes estratégias de resistência.

Foram fundados os primeiros sindicatos de trabalhadores rurais em Brasiléia,

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Xapuri, Rio Branco e Sena Madureira. Iniciou-se, ainda, um processo de

demarcação e regularização das terras indígenas acreanas.

No período de 1976 a 1985, o governo federal, por meio do INCRA, deu

início a um processo massivo de discriminação das terras no Estado do Acre,

cujo objetivo era identificar as terras públicas das particulares, freando a ação

nociva dos especuladores e grileiros. No fim da década de 70, utilizando o

estatuto da desapropriação para fins de reforma agrária, foram criados os

primeiros Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD): Peixoto e Boa Esperança,

da colonização oficial da Amazônia ao longo da BR-364.

Em meados dos anos 1970 do século XX, as tensões entre pecuaristas e

latifundiários de um lado e seringueiros do outro fomentaram a expropriação

destes dos seringais, dando origem a um contingente de desempregados nos

bairros e no entorno das cidades acreanas o que estimulou os diversos grupos

sociais a elaborarem novas propostas que foram sendo implementadas em

pequena escala, em todo o Estado. Sublinha-se aqui a regularização de

territórios e acesso a recursos naturais na forma de Terras Indígenas, Projetos

de Assentamento Extrativistas e Reservas Extrativistas e iniciativas voltadas

para adquirir novas tecnologias e conhecimentos para utilizar esses recursos.

A partir de meados dos anos 1990, com a implantação do Plano Real e a

relativa estabilidade monetária, os investimentos de longo prazo ficaram mais

atraentes, provocando queda no preço da terra. Essa queda, por sua vez, tornou

mais acessível a aquisição de lotes que, associada aos programas de acesso ao

crédito para a produção em pequenas e médias áreas igualmente estimulou

novas levas de ocupação da Amazônia.

Ao longo de sua história, a ocupação do território e a organização de

atividades econômicas no Acre, respaldadas por políticas e projetos

governamentais, tipicamente beneficiaram determinados grupos da população

no curto prazo, sem viabilizar um modelo de desenvolvimento duradouro, com

benefícios para todos a médio e longo prazos. A partir dos anos 1970, a

expansão da fronteira agropecuária e madeireira no Acre (ainda de forma menos

intensa do que em outros estados, como Pará, Mato Grosso e Rondônia) foi

acompanhada por uma série de problemas graves: conflitos sociais quanto ao

acesso à terra e a outros recursos naturais, exploração insustentável de

recursos naturais, altas taxas de desistência nos projetos de assentamento,

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crescimento desordenado de cidades como Rio Branco, entre outros. Em grande

medida, esses problemas resultaram da falta de incorporação, dentro das

políticas e projetos governamentais, dos princípios básicos do Desenvolvimento

Sustentável (ZEE–AC, 2006). A necessidade real de um programa de

ordenamento territorial no Estado do Acre vem desde sua criação, ilustrada por

todos esses motivos acima citados, pela ocupação desordenada de seu território

que perdura de forma diferenciada e menos intensa até os dias de hoje.

Nessa permanente relação entre história, ambiente, economia e

sociedade, em diferentes momentos no tempo, a sociedade acreana constituiu

diferentes identidades sociais: de índios, seringueiros, regatões, ribeirinhos e

paulistas, resultado da inserção de cada segmento em um momento diferente da

história. O resultado é uma sociedade multifacetada, não raro em conflito, que

se desenvolveu em um contexto de disputa por territórios e recursos. O Acre foi

cenário regional do surgimento de organizações sociais e políticas nas últimas

décadas do século XX baseadas na defesa do valor econômico dos recursos

naturais, que resultaram no ZEE.

A perspectiva histórica está inserida todos os temas abordados no

Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Acre: da

situação atual dos recursos naturais, passando pela evolução econômica e

populacional e chegando aos aspectos sociais, culturais e políticos. Com o

reconhecimento das territorialidades e construção das identidades acreanas

num contexto de diferenças histórico-culturais constituíram-se elementos

significativos na concepção do ZEE-AC como instrumento de um modelo de

desenvolvimento, centrado na perspectiva da sustentabilidade e gestado a partir

de sua própria história e configuração social.

A necessidade de se fazer um ZEE no Estado do Acre é justamente a de

se buscar um ordenamento territorial com base nos dados sócio-econômicos,

culturais, políticos, ambientais etc. para que haja mitigação dos impactos

negativos desse desordenamento fundiário que a história acreana construiu, e

disponibilizar um instrumento para o planejamento regional.

Abaixo, apresentação do mapa atual do Acre e divisão política que o

separa pelas regionais do Tarauacá/Envira, Purus, Juruá, Baixo Acre e Alto

Acre.

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Figura 3. Mapa do Estado do Acre dividido por regionais Fonte: Base de dados geográficos do ZEE – AC, Fase II, 2006.

3.2. O ZEE do Estado do Acre: formulação.

O Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre é um instrumento de

planejamento e gestão territorial com fim primordial de subsidiar formulação de

políticas, norteando setores governamentais, privados e da sociedade civil

organizada sob as práticas de desenvolvimento sustentável na tomada de

decisão. O Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico - PEZEE

foi instituído pelo Decreto estadual n. 503/1999, diretamente vinculado ao

gabinete do governador, sob a coordenação da Secretaria de Estado de

Planejamento e Desenvolvimento Sustentável – SEPLANDS e como secretaria

executiva, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais –

SEMA, responsável pela coordenação técnica dos trabalhos.

A Comissão Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico – CEZEE foi

constituída também pelo Decreto n. 503/1999 com representação de 34

instituições envolvendo esferas de três grandes áreas que o ZEE atingiu: o setor

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público, o setor privado e a sociedade civil. Sob essas três áreas foram

montadas oito câmaras técnicas: câmara pública estadual, câmara pública

federal, câmara de trabalhadores, câmara empresarial, câmara indígena,

câmara da sociedade civil, câmara de pesquisa e câmara de representantes de

outras esferas governamentais (Assembléia Legislativa do Estado do Acre -

ALEAC e regionais). Dessa forma os setores, em tese, no sentido de

representatividade, puderam acompanhar todo o processo de elaboração como

também o de diagnóstico e prognóstico do ZEE e avaliar os trabalhos

apresentados.

O ZEE-AC foi dividido em duas fases: I e II. A fase I foi realizada no

período de abril de 1999 a maio de 2000, e compreendeu a elaboração do

diagnostico abrangendo a extensão total do Estado do Acre, com a elaboração

de produtos cartográficos básicos na escala de 1:1.000.000. Grande parte dos

trabalhos foi baseada em dados secundários, aproveitando e sistematizando

diversos estudos já realizados no Estado, o que possibilitou a sistematização de

informações que se encontravam dispersas, algumas delas há mais de dez

anos.

Os produtos do diagnóstico e prognóstico da primeira fase foram

apresentados à CEZEE para análise e deliberação em novembro de 1999. Antes

da reunião plenária, foi realizada uma série de seminários técnicos sobre temas

específicos e oficinas com as câmaras setoriais da CEZEE, no intuito de colher

subsídios para a versão final dos produtos.

Os principais produtos da Fase I foram prognósticos (indicativos) de uso

da terra no Estado de acordo com o listado a seguir :

1. indicativos para a atividade madeireira;

2. indicativos para a criação e consolidação de RESEX‟s e PAE‟s;

3. indicativos para a criação e consolidação de unidades de conservação de

uso direto e indireto;

4. indicativos para a pequena agricultura e empreendimentos agropecuários

de médio e grande porte;

5. indicativos para a criação e consolidação das Terras Indígenas; e

6. subsídios para o desenvolvimento do turismo

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Na segunda fase do ZEE-AC pensou-se em fazer um eixo exclusivo para

percepção social, segundo os técnicos do ZEE, que foi o cultural-político. Um

eixo que pudesse discutir a história do Estado, nesse processo de construção

onde fluíssem fóruns de participação e discussão (ZEE-AC). Essa segunda fase

surgiu para identificar as necessidades de aprofundamento de informações

disponibilizadas na primeira fase, bem como a viabilização de levantamentos

adicionais a nível estadual e/ou em áreas geográficas específicas, implementar

experiências participativas de ZEE em áreas piloto e escalas apropriadas em

nível regional, municipal e comunitário, contemplando inclusive a sua integração

com Planos Municipais e Regionais de Desenvolvimento Sustentável.

O resultado de maior destaque dessa segunda fase é o Mapa de Gestão

Territorial do Estado do Acre (MGT), elaborado numa escala 1:250.000, tendo

como base cartográfica a escala 1:100.000. O MGT envolveu uma

“estratificação” do território acreano em quatro grandes zonas, que apresentam

as seguintes características gerais:

Zona 1 - consolidação de sistemas de produção sustentáveis:

São áreas de influência direta das rodovias BR-364 e BR-317, de

ocupação mais antiga do Estado com atividades agropecuárias e madeireiras.

Também estão associadas às novas frentes de expansão e conversão das

áreas florestais para o desenvolvimento de atividades agropecuárias. São,

ainda, áreas ocupadas pela agricultura familiar em projetos de assentamento,

pequenos produtores em posses, médios e grandes pecuaristas e áreas

florestais de grandes seringais. Parte das áreas desta zona está sem situação

fundiária definida ou não está inserida no Cadastro georreferenciado do INCRA.

As unidades territoriais desta zona incluem áreas de Reserva Legal e Áreas de

Preservação Permanente (APPs). Nessa zona se concentra a maior proporção

de propriedades com passivo florestal.

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Figura 4. Ocupação do Território da Zona 1, no Estado do Acre. Fonte: Base de dados geográficos do ZEE-AC, Fase II, 2006.

Zona 2 - Uso sustentável dos recursos naturais e proteção ambiental:

São áreas protegidas na forma de unidades de conservação de proteção

integral (Parque Nacional, Parque Estadual, Reserva Biológica, estação

ecológica, monumento natural, refúgio de vida silvestre, etc), de uso sustentável

(Floresta Nacional, Floresta Estadual, Reserva Extrativista, área de proteção

ambiental, área de relevante interesse ecológico, reserva de fauna, reserva de

desenvolvimento sustentável, reserva particular do patrimônio natural, etc.) e

Terras Indígenas. Os projetos de assentamento diferenciados estão

contemplados nesta zona, uma vez que sua população é extrativista e

predomina o uso sustentável dos recursos naturais.

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Figura 5. Ocupação do Território da Zona 2, no Estado do Acre. Fonte: Base de dados geográficos do ZEE-AC, Fase II, 2006.

Zona 3 - Áreas prioritárias para o ordenamento territorial:

São áreas demandadas por populações tradicionais e/ou recomendadas

pelos estudos técnicos do ZEE-AC para criação de novas unidades de

conservação, terras indígenas e projetos de assentamento diferenciados. Inclui

ainda as áreas já estabelecidas de produção ribeirinha ao longo dos rios do

território acreano.

Figura 6. Ocupação do Território da Zona 3, no Estado do Acre. Fonte: Base de dados geográficos do ZEE/AC, Fase II, 2006.

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Zona 4 - Cidades florestais:

São áreas municipais caracterizadas por espaços urbanos circundados

por diferentes paisagens rurais com predominância de florestas. A estratificação

das vinte e duas cidades acreanas em subzonas tem como critério sua inserção

nas sub-bacias hidrográficas.

Figura 7. Ocupação do Território da Zona 4, no Estado do Acre. Fonte: Base de dados geográficos do ZEE/AC, Fase II, 2006

Conforme o Documento Síntese do ZEE-AC, a segunda fase avançou em

cinco aspectos fundamentais: (i) no aprimoramento dos instrumentos de

participação da sociedade e formulação de políticas públicas, (ii) na

incorporação da dimensão política e cultural no âmbito dos estudos

desenvolvidos, (iii) na integração dos diversos temas com a utilização do SIG na

escala 1:250.000 e tendo como base cartográfica a escala 1:100.000, (iv) na

incorporação da Nova Linha Cunha Gomes9 e novos limites municipais, ambos

validados pelo IBGE e (v) na definição de diretrizes e estratégias para o

planejamento territorial em diferentes escalas, as quais estão cada vez mais

compatíveis com as demandas do planejamento territorial, com forte ênfase para

a gestão ambiental e o desenvolvimento local.

Nos aspectos legais, após sua conclusão em 2006, o ZEE passou por

trâmites para sua regulamentação. Primeiro, foi transformado em 05 de junho de

2007 na Lei Estadual nº 1904/2007. Posteriormente, no mês de outubro de

9 È o limite legal que separa os Estados do Acre e Amazonas. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, foram

incorporados 1.228.936,05 ha do Estado do Amazonas ao território acreano (ZEE/AC. 2000 p. 99).

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2007, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA e

pelo Ministério da Agricultura. Em 30 de maio de 2008 foi aprovado pelo

Presidente Luís Inácio Lula da Silva, por meio do Decreto Presidencial n. 6469.

3.3 O desenvolvimento do ZEE participativo no Acre

No processo de elaboração do ZEE-AC, ainda na primeira fase, sentiu-se

a necessidade de inserir a participação da sociedade no Programa de ZEE. O

GTS (Grupo Técnico de Sistematização) reunia-se com o pessoal da CEZEE,

inclusive no início dos trabalhos, para definir em conjunto, quais os produtos

esperados na Fase I, ou seja, os indicativos resultantes dessa primeira fase.

Além disso, houve várias reuniões nos Municípios para mostrar o que já havia

sido produzido, intuindo ouvir a opinião dos atores sociais locais (essas reuniões

eram, muitas vezes, denominadas de oficinas). Os resultados dessas reuniões

estão espalhados, muitas pessoas envolvidas, na época, estão fora do

processo. Isso dificultou o agrupamento desses dados. Além disso, mudanças

aconteceram na equipe de técnicos executores da primeira para a segunda fase.

Segundo a equipe executora entrevistada, o componente de participação

na fase I aconteceu, mas de forma mais restrita, razão pela qual se buscou

maior envolvimento das comunidades (incluindo as tradicionais) através da

criação do eixo cultural político, também chamado de “visão de presente e

futuro”, na fase II. Nesse eixo a visão de presente significa como o

indivíduo/comunidade se vê hoje, ou seja, o diagnóstico de sua situação atual e

a visão de futuro reflete como as “coisas deveriam” ser, mas numa relação direta

com a gestão do território.

Montenegro (2001) conclui em seu trabalho, baseado apenas na primeira

fase de elaboração do ZEE-AC, que ainda existem algumas lacunas a serem

preenchidas, principalmente no tocante à participação dos grupos de interesse:

„„muitos atores envolvidos não sabem a essência do projeto e eles participam

dos encontros com o GTS (Grupo Técnico de Sistematização) procurando uma

solução para seus problemas, como se o zoneamento fosse resolvê-los‟‟.

Ainda segundo Montenegro (2001), não foi observada uma maior

integração entre os diferentes atores. “Não existiam, por exemplo, reuniões

entre grupos de interesse para debater e fortalecer suas opiniões acerca do

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ZEE-AC, antes do fórum geral. As discussões só aconteciam em reuniões gerais

com todos os membros da Comissão Estadual Coordenadora do ZEE-AC”.

Na segunda fase do ZEE, de acordo com os técnicos executores,

pensou-se em inserir um eixo exclusivo para captar a percepção social, que foi o

cultural-político onde se pudesse discutir a história do Estado nesse processo de

construção e de onde fluíssem fóruns de participação e discussão. Isso foi

concretizado pela realização de oficinas participativas nos Municípios, com a

presença de lideranças das comunidades, onde lhes eram repassadas as

informações sobre o instrumento ZEE, utilizando uma combinação de três

métodos denominados de Grupo Focal, ZOPP e ISSI, descritas a seguir:

1. Grupo Focal: um método de caráter participativo que tem como

proposta extrair posições dos sujeitos acerca de determinadas

questões ou interesse, onde são feitas entrevistas do tipo semi-

estruturadas com um grupo designado de focal. No caso das

oficinas realizadas no Acre, cada município teve dois grupos

focais: o de representantes – gestores e o de representados

(comunidade em geral).

2. Método ZOPP: método do planejamento de projetos orientados

por objetivos, também foi utilizado. Este método é composto por

três elementos: i) processo de planejamento baseado em

diagnóstico - ii) elaboração de marco lógico e iii) técnicas

participativas de trabalho em grupo que possibilitem o método

de planejamento dos atores envolvidos no processo de

planejamento; e

3. Método ISSI: indicadores de sustentabilidade e sistemas de

interesses, que é um método que tem como propósito levantar

os interesses acerca de temas ou questões comuns.

O método ZOPP complementou o grupo focal no seguinte aspecto: poder

de síntese, uma vez que as oficinas foram realizadas numa média de 6 horas

cada, dividida em dois períodos: manhã e tarde.

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Cada indivíduo recebeu um jogo de etiquetas adesivas com as cores

vermelha e amarela. A cor da etiqueta indica o grau de importância que os

participantes atribuíram aos problemas ou às soluções apontadas. A cor

vermelha indica que o problema/solução tem prioridade máxima, a cor amarela

significa que o problema/solução tem um nível de prioridade inferior à cor

vermelha e quando não for colocada nenhuma etiqueta será nível baixo. As

etiquetas foram marcadas com um número que serviu para identificar o ator no

momento das discussões e problemas/soluções.

Durante a realização das oficinas não houve divisão da sociedade

presente por grupos de interesse. Os temas e as perguntas foram tratados de

forma generalizada entre os presentes, aparentemente subdivididos apenas dois

subgrupos – gestores e pessoas comuns.

As perguntas poderiam ter sido separadas por seus grupos de interesse,

por exemplo: a produtividade do solo é de interesse do produtor, já os conflitos

fundiários são uma preocupação que atinge às comunidades indígenas, de

maneira geral. Já o tema relativo ao zoneamento, deduz-se que pra que essa

pergunta seja respondida, os participantes precisariam, primeiramente, entender

sobre o ZEE. Aí entra outra questão que é a da apreensão do objeto ZEE. Aí

fica um questionamento: será que a comunidade apreendeu o significado de

ZEE, numa explanação de meia hora sobre o instrumento, durante as oficinas?

No Documento Síntese do ZEE-AC (2006, p. 273) reconhece-se que “em

termos de participantes nessas reuniões (oficinas) é notável que os grupos do

setor público, municipal e estadual, foram os participantes mais numerosos tanto

em representantes quanto em representados.” Das 10 oficinas analisadas,

constantes no Relatório Final das Oficinas Participativas (SEMA-AC, 2006),

estando algumas incompletas em relação ao número de

representantes/representados (Grupo Focal), dos convidados presentes, 71,2%

eram funcionários públicos. Fica então a preocupação mais direcionada ao ZEE

como instrumento de gestão do território. Será que os funcionários públicos

teriam mais a contribuir nesse processo de elaboração do ZEE-AC do que o

produtor rural, o extrativista, o seringueiro ou o indígena? Esses representam

9,6%, ainda nessas 10 oficinas analisadas, incluindo nesse percentual, os

representantes do STR como representantes também do pequeno produtor

não assentado em projetos de assentamento.

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É indiscutível aqui a importância do ZEE para o Estado do Acre, como

também o empenho de seus executores em agrupar, em um único lugar, os

dados relativos ao planejamento e à gestão territorial, os quais, dessa forma,

subsidiarão os tomadores de decisão na formulação de políticas públicas com

maior eficiência e eficácia. Mas, não se pode deixar de questionar se “os mapas

de zoneamento estão baseados diretamente na visão de problemas e soluções

prioritárias, que foram propostas nas oficinas”, como explicitado no Documento

Síntese ZEE-AC (2006, p. 273). Por não estarem claros os registros das

expectativas e aspirações, tanto quanto dos valores culturais das populações

locais, assim como a real incorporação destas no produto final do ZEE, a saber,

o Mapa de Gestão Territorial.

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CAPÍTULO 4

Evidências de Participação no ZEE Participativo do Acre

4.1 – Aspectos metodológicos:

Em relação aos aspectos metodológicos, foi consultada literatura sobre

ZEE, capital social, empoderamento e participação popular. Além disso, foi

analisado o Documento Síntese do ZEE do Acre, o Relatório Final (2006) das

Oficinas Participativas que aconteceram no eixo cultural-político, na segunda

fase do ZEE-AC onde estão descritas 07 (sete) oficinas das quais apenas duas

estão completas em número de representantes e representados (grupo focal):

que são as de Xapuri e Plácido de Castro. Além dessas, mais 03 (três)

relatórios de oficinas foram recebidos por e-mail. Do total de 10 oficinas

analisadas 71,2% dos presentes são funcionários públicos, 9,6% população

tradicional (índios, extrativistas, ribeirinhos, produtores rurais (STR), 19,2%

outros (estudante, religioso, associação morador, associação rural, empresário,

Organização Não-Governamental etc.). Consultou-se ainda a Ata da primeira

plenária da CEZEE realizada em agosto de 1999 e o Mapa de Gestão

Territorial (produto final ZEE-AC).

Além da literatura analisada, realizou-se uma pesquisa de campo

baseada em 37 (trinta e sete) entrevistas. Um critério utilizado na escolha dos

entrevistados foi o de que estivessem presentes na oficina participativa que

aconteceu no seu município. Foram entrevistados: funcionários públicos

(32,4%), população tradicional (35,1%), membros da CEZEE-AC (10,8%),

técnicos executores do PEZEE-AC (8,1%) e outros (13,6%) (estudante,

pecuarista, membros de associação de bairro etc.). Com o intuito de tornar a

apresentação do trabalho mais objetiva, os entrevistados foram divididos em

três grupos: o de técnicos executores do Programa de ZEE-AC, o de membros

da CEZEE e o de representantes da população tradicional (representa grupos

de interesses distintos).

A pesquisa foi realizada em 4 (quatro) das 5 (cinco) regionais que

dividem o Estado politicamente onde, segundo dados do IBGE de 2007,

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somam 471.843 habitantes, distribuídos em 8 municípios, do total de 655.385

habitantes dos 22 (vinte e dois) municípios que integram o Estado do Acre. As

entrevistas aconteceram em Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves

(regional do Juruá); Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri (Regional do Alto Acre),

Sena Madureira (Regional do Purus) e Rio Branco (Regional do Baixo

Acre). As entrevistas foram direcionadas aos agentes participantes do processo

de elaboração do ZEE-AC, principalmente àqueles que durante as oficinas

participativas representaram as populações tradicionais. As entrevistas foram

distribuídas espacialmente, não por serem melhor analisadas à luz da

distribuição espacial ou pela densidade demográfica dos Municípios, mas com

o objetivo de alcançar um maior número de grupos de interesse, principalmente

da população tradicional, por dependerem primordialmente do uso da terra e

por terem sido muito citados nesse processo dito participativo do ZEE-AC.

Quadro 1. Relação dos entrevistados

ENTREVISTADOS ENTIDADES/ÓRGÃOS

PÚBLICOS

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO (Dados IBGE

2007)

REGIONAL

Entrevistado número 1

Órgão Ambiental Cruzeiro do Sul

73.948 habitantes Juruá

Entrevistado número 2

Organização Não-Governamental – ONG

(extinta)

Cruzeiro do Sul

Juruá

Entrevistado número 3

Associação dos Seringueiros e

Agricultores da Reserva Extrativista do Juruá - ASAREAJ/Amigos das

Águas do Juruá – AMAJ

Cruzeiro do Sul

Juruá

Entrevistado número 4

Sindicato dos Trabalhadores Rurais –

STR

Cruzeiro do Sul

Juruá

Entrevistado número 5

Organização das Populações Indígenas do

Vale do Juruá –

OPIRJ

Cruzeiro do Sul

Juruá

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ENTREVISTADOS ENTIDADES/ÓRGÃOS

PÚBLICOS

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO

(Dados IBGE 2007)

REGIONAL

Entrevistado número 6

Sindicato dos Trabalhadores Rurais –

STR

Rodrigues Alves 12.428 habitantes Juruá

Entrevistado número 7

Sindicato dos Trabalhadores em

Educação no Acre –

SINTEAC

Rodrigues Alves Juruá

Entrevistado número 8

Pastoral da Criança e do Idoso

Rodrigues Alves Juruá

Entrevistado número 9

Secretaria de Assistência Técnica e Extensão

Agroflorestal –

SEATER

Rodrigues Alves Juruá

Entrevistado número 10

Escola Estadual/estudante

Rodrigues Alves Juruá

Entrevistado número 11

Secretaria Estadual de Educação/professor

Mâncio Lima 13.785 habitantes Juruá

Entrevistado número 12

Secretaria Estadual de Educação –

SEE/professor

Mâncio Lima Juruá

Entrevistado número 13

STM

Mâncio Lima Juruá

Entrevistado número 14

Sindicato dos Trabalhadores Rurais

Brasiléia 19.065 habitantes Alto Acre

Entrevistado número 15

Associação dos Moradores da Reserva

Extrativista Chico Mendes

Brasiléia Alto Acre

Entrevistado número 16

Associação do Bairro Liberdade

Epitaciolândia 13.434 habitantes Alto Acre

Entrevistado número 17

Secretaria de Saúde Epitaciolândia Alto Acre

Entrevistado número 18

Sindicato dos Trabalhadores Rurais

Epitaciolândia Alto Acre

Entrevistado número 19

Associação dos Moradores e Pequenos Produtores da Reserva

Extrativista Chico Mendes – AMOPREX

Xapuri 14.314 habitantes Alto Acre

Entrevistado número 20

Associação dos Moradores e Pequenos Produtores da Reserva

Extrativista Chico Mendes – AMOPREX

Xapuri Alto Acre

Entrevistado número 21

Comunidade Dois Irmãos Xapuri Alto Acre

Entrevistado número 22

Secretaria Estadual de Educação – SEE

Xapuri Alto Acre

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ENTREVISTADOS ENTIDADES/ÓRGÃOS

PÚBLICOS

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO

(Dados IBGE 2007)

REGIONAL

Entrevistado número 23

Cooperativa Agroextrativista/Sindicato dos Trabalhadores Rurais

– STR

Xapuri Alto Acre

Entrevistado número 24

SEMAP Xapuri Alto Acre

Entrevistado número 25

Fundação Nacional do Índio – FUNAI/Índio Etnia

JAMINAWA

Sena Madureira

34.230 habitantes Purus

Entrevistado número 26

Colônia de Pescadores Sena Madureira

Purus

Entrevistado número 27

Sindicato Rural (Pecuarista)

Sena Madureira

Purus

Entrevistado número 28

Órgão Ambiental Sena Madureira

Purus

Entrevistado número 29

Funcionalismo Público Municipal

Sena Madureira

Purus

Entrevistado número 30

Órgão Ambiental Sena Madureira

Purus

Entrevistado número 31

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do

Acre – SEBRAE/AC

Rio Branco 290.639 habitantes Baixo Acre

Entrevistado número 32

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

EMBRAPA

Rio Branco Baixo Acre

Entrevistado número 33

Federação da Agricultura do Estado

do Acre – FAEAC/Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural –

SENAR

Rio Branco Baixo Acre

Entrevistado número 34

Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – INCRA

Rio Branco Baixo Acre

Entrevistado número 35

Órgão Ambiental Rio Branco Baixo Acre

Entrevistado número 36

Universidade Federal do Acre – UFAC

Rio Branco Baixo Acre

Entrevistado número 37

Órgão Ambiental Rio Branco Baixo Acre

Além dessas, algumas não aconteceram pela indisponibilidade dos

indivíduos/representantes de comunidades em falar, seja pelo fato de terem

esquecido o assunto ou por insegurança ou por acharem que seria mais um

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programa de governo onde não veriam resultado e não quiseram fazer

exposição. As entrevistas foram direcionadas aos agentes participantes do

processo de elaboração do ZEE-AC, principalmente àqueles que, durante as

oficinas participativas, representaram as populações tradicionais, objetivando

avaliar seu nível de envolvimento no processo de elaboração no ZEE-AC.

4.2 – A percepção dos técnicos e integrantes da CEZEE10

Nos ZEEs de outros Estados do Brasil trabalhou-se principalmente com

dois eixos: o eixo ambiental, que considerou os recursos naturais; e o eixo

sócio-econômico, com predominância de dados secundários fornecidos pelo

IBGE. No caso do Estado do Acre, foi criado um eixo que incorporasse a

história das pessoas, considerando sua tradição, cultura, suas aspirações bem

como o uso atual, as fragilidades e os usos potenciais naquelas áreas. Essa foi

a base de construção do eixo temático „visão de presente e futuro‟ também

denominado de eixo cultural político. Assim, as entrevistas aconteceram no

eixo cultural político, na segunda fase do ZEE-AC, considerado no documento

síntese como uma inovação por “incorporar identidades, modos de vida e

aspirações das populações locais”.

O eixo cultural-político foi considerado pelos técnicos executores como

uma evolução pela inovação em relação à elaboração de ZEEs. Ressaltaram

que essa evolução em relação à participação popular só aconteceu, na

segunda fase do ZEE-AC, quando da criação do eixo inovador, conforme

observado pelo entrevistado número 35:

Esse foi o grande diferencial do nosso zoneamento, já na segunda fase

e também foi um processo de evolução dessa questão de participação.

Além do trabalho da comissão coordenadora, tinha o trabalho desse

eixo cultural político onde você foi avançando o processo de

participação popular e o contexto de zoneamento. (ENTREVISTADO

NÚMERO 35)

Um exemplo que eu uso pra falar da primeira e segunda fase é o dos

óculos: se eu tirar os óculos eu não vejo ninguém aqui nessa sala, se

eu colocar os óculos eu vejo todo mundo. Isso é o zoneamento fase I

10

A opinião dos técnicos e integrantes da CEZEE está contemplada em todo o item 4.2.

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e fase II. Na primeira fase nós tínhamos a visão míope, na segunda

fase, nós tínhamos a visão mais detalhada. (ENTREVISTADO

NÚMERO 35)

Cabe ressaltar que, segundo os técnicos executores, na primeira fase

foram 11 Municípios e na segunda, aos 22 Municípios que integram o Estado,

para debater com lideranças locais em oficinas participativas objetivando,

segundo os técnicos, informar e discutir sobre ZEE com as comunidades. Para

isso, utilizaram uma metodologia chamada de grupo focal onde debatiam os

principais problemas que as comunidades viam em seu território e ouviam

quais soluções elas apontavam para resolver esses problemas. Disseram ainda

terem optado pela realização de oficinas para que trabalhassem conjuntamente

atores da sociedade civil e o Estado numa base dialógica.

A criação de grupos de instituições públicas, de organizações não-

governamentais, dos representantes dos trabalhadores, do patronato, da

Federação da Indústria, do Comércio, da Agricultura etc., em discurso retórico

de executores, garantiu a representação das pessoas escolhidas pelas

instituições que tinham um perfil mais adequado para participar, nesse caso, as

instituições estrategicamente escolhidas eram as que lidavam com as questões

ambientais, de produção e de pesquisa existentes no Estado.

Na comissão que foi criada estava uma pluralidade de representação,

mas em termo de interferência no resultado foi pequeno pelo nível de

trabalho que há num ZEE. (ENTREVISTADO NÚMERO 33)

Segundo membros da CEZEE, a falta de percepção de algumas

instituições do potencial de impacto do seu próprio setor para a sociedade

causou falha nesse processo. No caso da instituição pública, que em alguns

casos, apontou seu representante na CEZEE, com perfil inadequado para tal

função. Com o tempo esta situação foi mudando, as instituições passaram a

indicar pessoas que realmente representassem seus setores. Houve casos em

que estavam presentes o representante com direito a voto, acompanhado de

outros colegas para orientar seus posicionamentos, até porque houve

dificuldade de se reunir num único indivíduo toda a competência para

representar um setor.

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Ainda segundo os executores, buscou-se consenso com as

comunidades, considerando os problemas e perspectivas apontados durante

as oficinas e, nas divergências, emergiam soluções pactuadas resultando em

diversas estratégias e tomadas de decisões.

O PEZEE foi disponibilizado para consulta pública seis meses antes de

seu lançamento para que a população pudesse apresentar suas propostas.

Apesar desta afirmação, este fato foi observado em apenas dois casos:

sugestões de uma ONG local e, como mostra o exemplo abaixo, da Federação

de Agricultura do Estado.

No dia do pré-lançamento, a Federação da Agricultura disse: olha, nós

queremos ter uma sub-zona específica pra produção familiar, que não

estamos vendo nesse mapa que vocês construíram. Agora, você olha

o mapa e tem uma zona específica pra produção familiar.

(ENTREVISTADO NÚMERO 35)

O fato do ZEE ter sido disponibilizado para consulta não

necessariamente implica que as comunidades estavam aptas a opinar e

interferir neste momento, como exemplifica o entrevistado número 32:

Em muitas situações, esse aspecto deixou a desejar por causa do tipo

de tratamento dos dados, principalmente com relação aos estudos

mais técnicos do eixo de recursos naturais e sócio-econômico. No caso

do eixo cultural político, como havia uma metodologia diferente, acho

que a compreensão da sociedade foi maior [...]. (ENTREVISTADO

NÚMERO 32)

As visões de técnicos executores, acima expostas, com relação às bases

técnicas e metodológicas de elaboração do ZEE são em geral positivas. Ao

contrário, a posição de alguns membros da CEZEE é crítica quando afirmam

que no aspecto “compreensão do significado de ZEE”, no âmbito das comissões

técnicas, muitas dificuldades se manifestaram como obstáculos ao bom

andamento do processo. Segundo os membros da CEZEE entrevistados, muitas

vezes, áreas abstratas para sociólogos, cientistas políticos e outros cientistas

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das áreas de ciências sociais, ciências humanas e de outros matizes, que

tiveram dificuldades em entender o universo das questões enfrentadas.

Um exemplo pode ser dado em relação às dificuldades de análise e

interpretação dos dados como os do município de Sena Madureira, que tem

população de 34.230 habitantes (IBGE, 2007) distribuída em 25.278 km2 (IBGE,

2007), dividida em terras onde vivem tribos indígenas, algumas com índios

arredios, pequenos agricultores, extrativistas, ribeirinhos, com diversidade

cultural significativa de uma ponta a outra do território, num mesmo limite de

área municipal. Esse é um fator que justifica a dificuldade do cálculo da média

de qualquer atributo desse município pelos dados do IBGE, o resultado não

reflete a realidade local.

Segundo os técnicos executores, ao se fazer apresentação dos estudos,

os temas de maior domínio dos técnicos e de menor compreensão da população

eram aqueles dos eixos de recursos naturais e sócio-econômico. Ainda segundo

os técnicos, quando se trabalhava o eixo cultural político havia um nível de

compreensão maior da população. Ao se captar melhor a percepção e a

vivência da sociedade e poder cruzar os dados desse eixo com os dos outros

dois eixos tentou-se evitar que o ZEE se tornasse um instrumento

essencialmente técnico e não captasse inteiramente a visão e as aspirações da

sociedade.

Os técnicos executores do ZEE-AC disseram ser o ZEE parte integrante

das ações do Estado. A difusão acontece em vários níveis, desde a questão

formal que está no documento síntese publicado, a programas de rádio, DVD

interativo, disponibilização de material sobre ZEE na internet, elaboração de

cartilhas visando o pequeno produtor e o professor. Há ainda a formulação de

16 livros técnicos (em andamento) apresentando o ZEE desde sua concepção,

da metodologia de trabalhos sobre biodiversidade, gestão territorial etc. Há

também a transferência de conhecimento no „aprender brincando‟ que são 13

jogos ambientais educativos para crianças sobre o ZEE e ainda buscam-se

formas de popularizar os mapas, torná-los mais acessíveis e de fácil

interpretação.

Ao serem interpelados pela não continuidade das atividades de difusão

do PEZEE, coordenadores justificam que o ZEE não terminou assim como as

comunidades alegam, e sim, o que terminou foi a sua „elaboração‟, o PEZEE na

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verdade, continua na forma de sub-programas como por exemplo: o programa

de valorização do ativo florestal, de recuperação de áreas degradadas, de

reflorestamento e de certificação da propriedade. Quer dizer, o ZEE se

desdobrou em quatro programas que se materializaram nas zonas especiais de

desenvolvimento que são aquelas regiões onde há melhor infra-estrutura, maior

densidade populacional e também nas Zonas de Atendimento Prioritário – ZAP,

que já é uma fase de implantação.

Quando você fala hoje em zoneamento, as pessoas acham que

acabou, na realidade, ele se transformou em outros programas de

política de governo. (ENTREVISTADO NÚMERO 32)

É importante frisar que a difusão do ZEE-AC, segundo os técnicos

executores, não foi interrompida na fase de elaboração, mas continuou sendo

disseminada também na fase de implementação. Segundo análise de membros

da CEZEE, algumas pessoas tiveram um nível maior de informação do que

outras. Não obstante, o ZEE ainda não foi massificado, conforme declarações

abaixo:

O que nós queremos é sair daqui, chegar lá no seu João, lá na beira

do Rio Yaco, lá nas cabeceiras, e falar sobre zoneamento e ele dizer:

„Isso aqui é um negócio interessante‟. Isso a gente não conseguiu fazer

ainda. (ENTREVISTADO NÚMERO 35)

Tem um balde de informação, só que a gente só conseguiu jogar

algumas gotas, a gente quer jogar um balde na cabeça de todo mundo,

o conhecimento. (ENTREVISTADO NÚMERO 35)

Mesmo dentre os participantes da CEZEE, onde existia outro nível

cognitivo, a compreensão não foi massificada, pelo contrário, houve queixas de

não entendimento.

Acho que nos encontros era uma visão muito superficial, não acho que

ali há uma assimilação de conhecimento, é muita informação, você

precisa consultar periodicamente esse trabalho pra conhecer e se

quiser conhecer tem de se dedicar. Senão você fica sabendo só que tá

na zona 1, 2, 3 ou 4 e mais nada. (ENTREVISTADO NÚMERO 33)

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Mesmo assim, segundo os técnicos, houve o interesse, a comunicação.

Houve tentativa de sensibilização gradual e, na medida em que foram

acontecendo os eventos, alguns com mais, outros com menos pessoas, essa

informação foi circulando, o que, para membros da CEZEE, pouco influencia no

produto final do ZEE:

Está se criando no Brasil uma tradição de se fazer esse tipo de

participação popular, esse tipo de assembleísmo que é típico do

momento que nós vivemos e do governo que nós temos, mas pra

determinados assuntos como o zoneamento eu acho que ela tem uma

importância que influencia muito pouco no produto final.

(ENTREVISTADO NÚMERO 33)

Os técnicos executores acentuam que têm feito até hoje um esforço, para

explicar o ZEE de forma cada vez mais simples. A partir daí começa-se a trocar

experiência, trabalhando essa abordagem de ter referências para que os grupos

nas discussões pudessem entender e discutir o ZEE com os indígenas, com os

produtores rurais, com grandes produtores, facilitando ainda mais o

entendimento.

Segundo os técnicos executores, na primeira fase de elaboração houve

uma comunicação mais restrita com a sociedade. No entanto, depoimentos de

técnicos que participaram da fase I contestam esta idéia, argumentando que

houve sim, bastante mobilização nos Municípios quando estudos técnicos foram

elaborados e apresentados os indicativos para as comunidades, para que os

munícipes pudessem fazer uma tomada de decisão em relação ao uso atual e

potencial para cada comunidade poder expressar seus problemas em relação ao

uso dos recursos naturais e falar sobre sua visão de futuro:

Tudo era anotado nas reuniões. Dezenas de fitas foram gravadas nas

reuniões com depoimentos e nada disso foi incorporado no documento

síntese, a não ser os relatórios feitos pelos consultores.

(ENTREVISTADO NÚMERO 36)

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Não obstante, pela complexidade e grande variedade de informações, o

ZEE não permitiu que as pessoas de baixo conhecimento técnico pudessem

participar de uma discussão mais profunda, muito menos contestar o material

elaborado com embasamento técnico, até pelo currículo das pessoas que o

fizeram, o trabalho merecia credibilidade, pelo menos do ponto de vista técnico.

Não é fácil nem pro povo que tá lá, eu quero dizer pro sociólogo, pro

pedólogo, entendeu? Tú imaginas pra população tradicional. É lógico

que de certa forma, se disser: ah! Isso é bom pra isso ou pra aquilo,

assimilam. Mas entender, de fato, não entende, porque até nós não

entendíamos. (ENTREVISTADO NÚMERO 36)

Eu acredito que o governo deve ter conseguido comunicar com

somente 15 ou 20% da população, mas houve o processo de

multiplicação. (ENTREVISTADO NÚMERO 32)

Quando vou a qualquer reunião nos municípios vejo que continua a

ignorância. As pessoas querem saber detalhes de como usar sua

propriedade, quer dizer, isso independe de escala, seja 1:1.000.000 ou

1:250.000. Não se pode por no mapa o que elas poderão fazer com

suas terras. Na realidade, são diretrizes gerais para tipo de ambiente,

de território.(ENTREVISTADO NÚMERO 36)

Houve pouca abertura pra discutir o direcionamento político que se deu ao

processo de elaboração do ZEE, pois, ao se fechar determinados índices,

determinados dados pra que se estabelecessem as regras de uso de

certa região etc. houve, sim, algum tipo de discussão, algumas

modificações, mas de coisas que já estavam, de certa forma, delineadas.

(ENTREVISTADO NÚMERO 33)

Eu participei ativamente desse processo e acredito que na primeira

fase foi até mais difícil fazer essa ponte. Não quer dizer que tenha sido

efetiva porque uma coisa é você tentar comunicar, outra coisa é quem

já foi comunicado entender a mensagem e de fato se apropriar daquilo

de forma a mudar. Que houve tentativas de se levar o zoneamento

para os municípios e pras entidades de classe, isso houve. Houve

dezenas de reuniões. (ENTREVISTADO NÚMERO 36)

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Durante os encontros os participantes que se destacam são aqueles

que já têm história nas lutas de classe etc. mas o cidadão comum não

se manifesta, ou o faz com muita timidez. (ENTREVISTADO NÚMERO

36)

A maioria dos membros da CEZEE não teve participação direta nesses

trabalhos, era apenas quase que um referendo daquilo que os técnicos

elaboravam. Na verdade, o ZEE foi feito intra-muros pelo próprio

governo e algumas pessoas que o governo buscou especialmente na

EMBRAPA e outras instituições e consultores que eventualmente

participaram de algumas das suas fases ou de alguns trabalhos

específicos. (ENTREVISTADO NÚMERO 33)

Naturalmente, a divulgação aconteceu no início da articulação e se

concentrou no processo de difusão do produto do ZEE que não deve ser

encarado como produto final e sim contínuo. Segundo os técnicos executores,

existem duas formas de continuidade: uma é quando os dados são alimentados

e devolvidos, isso é o mínimo que se deve fazer para as pessoas que

contribuíram com o ZEE e a outra é incentivar mecanismos de ampliação de

escalas de repetição do instrumento tais como criar zoneamentos municipais,

por exemplo.

Em 2008, segundo técnicos, fechou-se um mapeamento no Estado de

1.900 núcleos populacionais11, 70% na área urbana e 30% na área rural. São

duzentas mil pessoas residentes na área rural do Estado. Agora, O ZEE não

conseguiu chegar aos 1.900 núcleos populacionais, segundo os técnicos.

A construção do mapa de gestão foi considerada pelos técnicos uma

tarefa árdua que envolveu interesses e relações de poder estabelecidos na

tentativa de legitimar esses interesses. Como havia comitê técnico com pessoas

com diferentes formações e vivências, avaliava-se a qualidade dos dados, dos

temas, dos relatórios que estavam sendo gerados, na busca de sentido desses

dados e, muitas vezes, se detectava não conformidades entre eles.

No geral, segundo os técnicos, a intervenção da população tem

limitações, embora com aspectos positivos. Então, quando um estudo técnico

indica que uma área tem fragilidade, não tem potencial para determinadas

atividades, a comunidade pode mostrar o contrário e, muitas vezes, de forma

11

Comunidades.

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sustentável. Neste caso, a “ciência normal” deve abrir mão de sua postura de

apego aos seus postulados e incorporar o saber empírico da comunidade.

Conforme membros da CEZEE, o governo local procura dar esse caráter

de participação popular, de discussão ampla da sociedade, de chamar todos os

setores, movimentos sociais, a sociedade civil organizada, para que essas

ações de política pública sejam implementadas como forma de democratizar as

decisões. Mas, ainda segundo os membros da CEZEE, no fundo, as decisões

já estavam tomadas, ou eram tomadas de acordo com o que pensava quem

estava planejando, quem estava implementando essas ações políticas.

4.3 A percepção dos participantes das oficinas, em especial a população tradicional.12

Dos entrevistados participantes 90% disseram ter sido as oficinas

bastante divulgadas. O restante achou a divulgação insuficiente. A maioria das

oficinas aconteceu nas sedes dos Municípios.

Teve a visão dos técnicos, mas teve também a visão dos

representantes de comunidades tradicionais que questionavam. Os

temas colocados foram bem explicados. (ENTREVISTADO NÚMERO

4)

Eles levam muito a sério com a gente, pra gente aprender e tudo, mas

nós esquece um bocado de coisa”. (ENTREVISTADO NÚMERO 26)

Recebi livros do ZEE na Associação mas lá poucas pessoas ou

ninguém repara nos livros, faz que nem ver. (ENTREVISTADO

NÚMERO 3).

Durante os eventos, técnicos fizeram explanação do Programa, ouviram

os representantes das comunidades anotando suas demandas e dúvidas. A

questão da complexidade coloca em pauta a capacidade de compreensão dos

participantes nos debates e sua participação efetiva, ensejando respostas que

vão da incapacidade de compreensão de um discurso alheio à sua vivência

12

Este item foi baseado no resultado das entrevistas com os participantes das oficinas, em especial da

população tradicional.

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quotidiana, embora haja percepções diferentes do nível de complexidade ou de

qualidade do material utilizado nas oficinas:

A linguagem que eles usavam deu pra todo mundo entender, mesmo

que seja um agricultor lá do interior e tudo. Eles nunca falaram acima

da capacidade dos que tavam presentes. (ENTREVISTADO NÚMERO

8)

A metodologia era até fácil, ruim era a gente entender a linguagem

técnica, pra gente que não tem conhecimento de linguagem técnica

fica ruim da compreensão. (ENTREVISTADO NÚMERO 6);

A gente participava. Ele fez que nem uma árvore. Agora eu não lembro

mais quais eram as palavras que tinha lá, só sei que era uns papelzim

verde, uns amarelim. Sei que era no cartaz grande, formou equipes pra

ver quem ganhasse e quem perdesse. Mas não lembro o que era.

(ENTREVISTADO NÚMERO 9);

Já tinha um plano. Se uma coisa fosse bem ao contrário, não era

permitido que mudasse tanto, agora, aproximado, era possível mudar.

(ENTREVISTADO NÚMERO 22)

Quando eu participei, da minha parte deu pra entender, deu pra

perceber também que os demais companheiros que se faziam

presente tavam entendendo. Quando eram solicitados pra se

manifestar alguma posição, se colocavam dentro do assunto.

(ENTREVISTADO NÚMERO 5)

Naquela hora que eles tão explicando, a gente tá entrando no assunto

mas depois passa e pronto. (ENTREVISTADO NÚMERO 5)

Cartilhas com os fundamentos básicos sobre ZEE foram distribuídas no

período de realização das oficinas participativas. Esse procedimento indica o

reconhecimento da necessidade de democratizar a informação para

proporcionar uma participação popular efetiva. Mas o conhecimento é um

processo cumulativo e lento, que não se obtém com iniciativas imediatas, de

curta duração.

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Sempre eles davam aquelas cartilhas pra gente ficar vendo como

funcionava, mas eu deixei tudo na colônia e não sei o que eles fizeram.

(ENTREVISTADO NÚMERO 26)

Acho que, como foi elaborado as cartilhas e foi entregue pra muita

gente, deveria ter acontecido umas oficinas nas comunidades pra que

todo mundo entendesse o que tava escrito naquela cartilha com a

participação das principais lideranças dos locais. (ENTREVISTADO

NÚMERO 23)

A cartilha faz tempo que eu li e não tô lembrado mais o que tem tanto

nela. (ENTREVISTADO NÚMERO 23)

Havia perspectiva, de técnicos executores, de que o conteúdo transmitido

durante as oficinas aos representantes e representados presentes se

multiplicasse a partir dali, visando à disseminação do ZEE. Alguns

representantes se esforçaram em fazer esse repasse, mas demonstram

algumas de suas dificuldades nas afirmações abaixo:

O zoneamento é uma coisa muito boa, mas a maior parte não

entendia. Eles marcavam reunião na cidade porque na área de

pescadores, que é lá no rio Purus é difícil de ir. Eu sempre reclamava

nas reuniões que eles tinham que fazer essas reuniões lá dentro das

comunidades e explicar bem pra todos porque só pra mim...

(ENTREVISTADO NÚMERO 26)

Nós reunimos por comunidade. Como a gente tem mais acesso às

comunidades terrestres, então a gente trabalhou terrestre, que no caso

são os agricultores, os produtores rurais. Conhecendo a área deles, a

necessidade deles e vendo a situação que ele se encontra com aquela

área. Então, por não ter conhecimento técnico, você trava.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4)

As nossas ações estão planejadas pra serem executadas em prol das

comunidades que ainda não estão bem informadas, a gente já

identificou essa deficiência de informação e tá incluindo ações que

venham a esclarecer essas informações pra elas. (ENTREVISTADO

NÚMERO 5)

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Representantes da população tradicional entre outros participantes das

oficinas observaram que o ganho de sua população em relação à compreensão

do ZEE poderia ter sido significativo se mais encontros e/ou oficinas tivessem

acontecido nas comunidades locais.

A gente consegue avançar se abrir a mente de quem não tá

conseguindo entender, e aí com isso a gente ganha muito mais.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4)

Então a gente vê que pra se trabalhar o ZEE, se não tem técnico então

tem que, pelo menos, capacitar quem quer. Esse é um espaço que é

dado pras sociedades civis organizadas e não é só dar o espaço mas

garantir com que eles trabalhem, os recursos, os mecanismos.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4).

Durante as oficinas recebiam as informações, porém quando os

representantes passavam os informes para seus representados deixavam

muito a desejar. Ficou clara a dificuldade de falarem sobre ZEE aos seus

representados, numa demonstração de falta de domínio do instrumento e frágil

processo de empoderamento:

Acredito que as comunidades recebiam muito pouca informação

sobre os assuntos tratados nos encontros. Eles não ficavam bem

informados, não. Acredito que poderiam ficar mais. (ENTREVISTADO

NÚMERO 13)

Temos que ser ouvidos. Esticar esses encontros até as comunidades

tradicionais, ribeirinhos, proprietários, produtores rurais... quando eu

falo em proprietário também tô falando do empresário, fazendeiro que

tá lá no meio, pra que todos que estão nas comunidades possam

entender. Isso é um clamor! (ENTREVISTADO NÚMERO 4)

Agora foi só uma oficina de capacitação, se tivesse tido mais... a gente

teria toda propriedade de falar nas comunidades, porque uma coisa

distorcida dentro de uma comunidade, não se dá como informação, se

dá como ego de destruição. A gente tem todo esse cuidado. É o

conjunto. (ENTREVISTADO NÚMERO 4)

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Recebia (a informação), mas quando chegava lá já era uma coisa mais

fraquinha e na fraqueza deles (dos representantes), o povo

enfraquecia mais ainda. E depois que eles saiam, aí parece que eles

levavam na mochila. (ENTREVISTADO NÚMERO 20)

As comunidades recebiam muito pouca informação sobre os assuntos

tratados nas oficinas porque do zoneamento a gente entende pouco,

né? Assim... é algo muito técnico. Então a gente sabe passar muito

pouco pra eles, na verdade. (ENTREVISTADO NÚMERO 6)

Acho que só a gente mesmo que é as principais lideranças, é que sabe

mais ou menos o que é zoneamento e, aliás, nem todos, mas, mais ou

menos a gente tem em mente o que significa zoneamento e pra que

serve. (ENTREVISTADO NÚMERO 23)

As principais lideranças participaram das oficinas, os representantes

de sindicatos, de associações, várias pessoas participaram, só que a

maior parte não repassa. Quem passa sobre o zoneamento ecológico-

econômico são os trabalhadores rurais. O pessoal que trabalha nos

bairros não passa nada disso porque até se reunir, reúne pouco.

(ENTREVISTADO NÚMERO 23).

Representantes de órgãos governamentais ambientais orientaram os

líderes comunitários para que, como multiplicadores do PEZEE, levassem às

suas comunidades os conteúdos discutidos nas oficinas participativas. A

dificuldade desses em repassar as informações era clara. Portanto, não se pode

desconsiderar, nesse processo de transmissão da informação, a subjetividade

inerente aos transmissores da informação tanto quanto aos receptores.

Havia certa dificuldade, sem dúvida, mas a equipe tentava repassar

os conhecimentos, tentava colocar num nível bem acessível pras

pessoas que estavam sendo entrevistadas, tentava trabalhar os

conceitos, mas tinha um pouco de dificuldade. (ENTREVISTADO

NÚMERO 1)

Na Colônia, eu passava pros pescadores: „a gente precisa gravar na

cabeça‟, mas pouca gente participava. (ENTREVISTADO NÚMERO

26)

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Além disso, a transmissão da informação feita pelos representantes das

comunidades se não feita de forma convincente, segura, o receptor não dará

importância e tratará do assunto com desconfiança. Sendo a informação

negativa pode fazer com que a comunidade não queira se envolver por não

conseguir entender sobre o ZEE.

Há que se observar a falha de governo advinda da dissociação de

atividades governamentais do PEZEE. Um expressivo número de

representantes da população tradicional queixa-se da falta de continuidade do

Programa, de que mais oficinas poderiam acontecer. Além disso, desconhecem

se os dados fornecidos pelas comunidades, de seu conhecimento empírico,

foram utilizados no documento síntese do ZEE.

Nós não tivemos recebimento de nada. Até disseram que iam fazer o

mapeamento pra nós. Até hoje estamos esperando esse mapeamento.

Acabou-se, foram embora, sumiram. (ENTREVISTADO NÚMERO 25)

Eu acho que precisava mais vezes, ir levando pra aquelas

comunidades mais informação. Foi pouca informação.

(ENTREVISTADO NÚMERO 2)

A gente precisa pegar o resultado daquele trabalho e isso eu não

peguei. Acho que, pelo menos os participantes, precisam daquele

material pra saber o que é feito com a participação deles.

(ENTREVISTADO NÚMERO 14)

Um ponto negativo é que parou, não foi criado grupo que pudesse

reivindicar junto ao governo, junto às instituições pra que dessem um

suporte nisso aí. (ENTREVISTADO NÚMERO 21)

O entendimento não é uma questão de tema, vai muito pela

continuidade do assunto. Não foi dado muita continuidade.

(ENTREVISTADO NÚMERO 21)

Teve questionamentos, eles ouviram as comunidades. Teve tudo isso.

Mas eu volto a repetir: se tivesse tido a continuação pra fazer com que

esses participantes que tiverem aqui fossem transformador de opiniões

nas comunidades. A gente tem espaço dentro da comunidade pra

sentar e discutir. (ENTREVISTADO NÚMERO 4)

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Pra nós, depois de 2006 não acompanhou mais nenhuma discussão

específica do Zoneamento. Nós tivemos convites do estado pra outras

discussões como o Projeto de Desenvolvimento Sustentável financiado

pelo BID e dentro desse Projeto tinha uma câmara que a gente discutia

as nossas demandas, mas não era claramente ligada ao ZEE, da

minha parte não sei se era ligado ao zoneamento. (ENTREVISTADO

NÚMERO 5)

Líderes de comunidades dizem ter havido um grande esforço do pessoal

encarregado de conscientizar a população, mas reclamam da não-continuidade

do Programa, da falta de acompanhamento nas comunidades:

Houve um esforço do pessoal encarregado de fazer esse trabalho, de

conscientizar a população... mas às vezes as pessoas não continuam

(técnicos), vem uma ou duas vezes e não vem mais. Aí o pessoal

„pensam‟ que não é pra continuar... (ENTREVISTADO NÚMERO 3)

Agoras, ajudei a dizer que era bom, era fundamental, teve muito

incentivo, mas não foi colocado em prática, não teve uma continuidade.

(ENTREVISTADO NÚMERO 20)

É por isso que eu acho que essa oficina aqui tem que ter continuidade.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4)

No primeiro momento entenderam, acho que deveriam voltar na

comunidade pra falar do resultado. Não houve retorno, acabou, o livro

aconteceu, ficou na prateleira guardado. (ENTREVISTADO NÚMERO

28)

Olha, quando teve o encontro, foi considerado, mas se você levar pro

lado da prática tem uma deficiência muito grande, não tem o

acompanhamento junto às comunidades, porque o que o produtor, as

famílias tradicionais, os ribeirinhos, os indígenas, posso falar pelos

indígenas... O que todos eles querem é ter o acompanhamento dentro

da área deles, dentro da comunidade, que saia aquela coisa de sala

grande, com aquela coisa de muita gente, vamos pra prática, vamos ao

menos ser realistas uma vez na comunidade, que faz parceria com o

Sindicato, que assim só teria a ganhar, que o zoneamento não seria

um tema abordado só por técnicos e sim por uma participação mais

relevante dos trabalhadores. (ENTREVISTADA NÚMERO 4)

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Aconteceu um encontro na reserva extrativista que era o meu lugar de

referência, de lá a gente levava pras comunidades, depois as

lideranças saiam espalhando o que ouviram. Aconteceu com a

presença dos técnicos de Rio Branco. (ENTREVISTADO NÚMERO 3)

Então houve discussão dentro dos temas que foram abordados e eu

lembro de um trabalhador que colocava as questão dele, falava de

uma forma como se tivesse tratando do problema dele. E a gente como

comunidade quer trabalhar os problemas da comunidade e não só de

um trabalhador. Diferente de eu ou de outras pessoas que estavam lá,

que entende, acompanha e que tira as dúvidas.O trabalhador, ele tem

dúvida, e muitas vezes não sabe como se dirigir pra fazer a pergunta.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4)

As nossas comunidades não sabem planejar a longo prazo, então finda

dificultando. (ENTREVISTADO NÚMERO 4)

As oficinas não foi uma coisa que pudesse atender a todas as

comunidades, teve exceções mais voltadas pras áreas de conflito,

ribeirinhos, extrativistas e a gente sente a necessidade de estar voltado

pra todos os pontos, por isso eu acho que não deveria ter ficado só

nessa, teria que ter tido mais. (ENTREVISTADO NÚMERO 4)

A questão da representatividade tá pequena no encontro. Devemos

esticar nossos encontros até as comunidades tradicionais, ribeirinhos,

proprietários, produtores rurais, quando falo em proprietário eu tö

falando de fazendeiros, tem que ser esticado pra todos.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4)

A opinião de participantes de oficinas, incluindo pecuarista da regional do

Purus, contrapõe a de técnicos e até de membros da população tradicional local,

descontentes com a forma como foram conduzidas as oficinas participativas e

por achar que foram dirigidas e que, na maioria das vezes, aprovava-se o que

estava pré-estabelecido, onde os coordenadores davam as posições que

deveriam ser tomadas e a opinião da comunidade não prevalecia. Segundo eles,

as informações recebidas pela comunidade apresentavam-se num

linguajar complicado, muito técnico e distanciavam os participantes do

assunto.

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Eu me revoltei e comecei a participar. Não fui convidado, mas moro a

uma quadra do lugar onde aconteceu a oficina. Vi o movimento, entrei

e participei. Fui pra observar o que era aquilo que só dava funcionário

público. É verdade que tinha alguns presidentes de bairros, de

associações. Agora, o cara todo fedido, cansado, suado, que andou

dois, três dias pra chegar aqui, os pobres miseráveis só estavam ali

aprovando as coisas que já vêm prontas. Na verdade, das idéias deles

nenhuma era observada. (ENTREVISTADO NÚMERO 27)

Os técnicos ensinavam pra nós e a gente passava o que entendia pra

eles, assim, eles concordavam, às vezes não, às vezes eles queriam

colocar do jeito deles, né? Aquelas coisas mais difíceis, mas às vezes,

a gente entendia. Eu, né? Não sei os outros. Eles diziam que não

entendiam também. (ENTREVISTADO NÚMERO 9)

Foi repassada a informação, mas pra poder interferir, na hora que você

recebe, não tem muito argumento porque é uma coisa nova pra eles e

pra gente. (ENTREVISTADO NÚMERO 22)

Sublinha-se aqui o nível de apreensão das informações recebidas pelos

representantes e de qual forma foram transmitidas às comunidades e como os

indivíduos/comunidades as receberam. Apesar de perceberem esforço dos

coordenadores das oficinas em transmitir o significado de ZEE os participantes

acreditam que, por falta do conhecimento técnico, o instrumento tornava-se de

difícil compreensão. As exceções seriam Xapuri e Cruzeiro do Sul onde, de

acordo com os depoimentos, percebeu-se a existência de pessoas mais

politizadas por participarem de movimentos sociais há muitos anos e que

apresentaram um nível de apreensão maior. Todos os outros entrevistados

reclamaram ter sido pouco o entendimento do que era apresentado nas oficinas

do ZEE, como exemplificado abaixo:

O ZEE é uma coisa muito boa, mas a maior parte não entendia.

(ENTREVISTADO NÚMERO 4)

Nós trouxemos o produtores e quando os Coordenadores colocavam

sobre ZEE, os trabalhadores ficaram perdidos porque não conhecem,

não sabem o que é ZEE. (ENTREVISTADO NÚMERO 4)

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Posso dizer que era entendido pelo menos daqueles que tavam

presente ali. Nós temos uma certa formação que já ajudava mas se

fosse pro entendimento, do povão, eu diria que não. (ENTREVISTADO

NÚMERO 11)

Temos problemas na modificação do plano, onde uma ou duas

pessoas tá entendendo, aí o técnico influencia em algumas coisas, às

vezes uma vírgula, uma palavra que tá ao contrário do que os técnicos

falam, aí o produtor, a gente acaba sofrendo alguma consequência

com isso. (ENTREVISTADO NÚMERO 21)

Os problemas e desejos das comunidades não foram totalmente

considerados, algumas coisas já vinham prontas... (ENTREVISTADO

NÚMERO 21)

Apesar disso, houve contribuição de comunidades prestando informações

de seu conhecimento empírico sobre utilização dos recursos naturais do

ambiente em que vivem. Numa entrevista com um índio da etnia Jaminawa,

perguntado sobre o método e a linguagem utilizados no PEZEE ele respondeu

que foi bom pelo fato da maioria dos administradores de sua região ser índio e

por ele entender das questões do mundo civilizado. Fez parte do GT entre

antropólogos e sertanistas e pessoas da própria comunidade envolvidas no

Programa. Segundo ele, a comunidade contribuiu com o conhecimento empírico

fornecendo o nome dos igarapés, do tipo de vegetação existente na região etc.

Os temas mais discutidos eram a madeira e sua exploração e, sendo explorada,

especificar se por indígenas ou não-indígenas e dizer qual o objetivo da

exploração; também a caça, esclarecer o motivo de seu distanciamento das

localidades, se por ter sido muito explorada ou por não existir mais o seu tipo de

alimento nas proximidades.

Nós fomos convidados porque a BR atinge nós. (ENTREVISTADO

NÚMERO 25)

A gente questionou bastante mas os técnicos foram bastante bons no

convencimento. Deu pra nós entender que era importante pra nós ter o

conhecimento sobre a questão da própria terra, onde é que solta fruto

ou falta aquilo outro, da onde vem a água que tu bebe...Todo esse

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conhecimento pra nós foi importante. A troca do nosso conhecimento

com o dos técnicos foi importante. (ENTREVISTADO NÚMERO 25)

Perguntados sobre se as principais perspectivas e problemas dos atores

participantes foram considerados no relatório final, as respostas denotam uma

reclamação quase que unânime de que não houve retorno às comunidades.

Cadê o relatório final? Nós não tivemos recebimento de nada. Até

disseram que iam trazer o mapeamento pra nós. Acabou-se, foram

embora, sumiram. Do nosso ponto de vista, da comunidade, acharam

interessante porque nós nunca tinha visto isso. Ter esse diagnóstico é

muito importante: de onde vem a água que tu bebe etc. Nós fizemos,

todo mundo participou, agora o que tá deixando muito a desejar é esse

material que foi feito ou se alguém não fez, porque eles até disseram

pra nós: isso vai ser uma bíblia pra vocês. Assim que terminar vocês

bota de baixo do braço e vai trabalhar com ele. E aí nós tamos

esperando e até agora, nada. Acho que meu santo é muito fraco.

(ENTREVISTADO NÚMERO 25)

Eu fiz parte do GT, um grupo de trabalho que chegou aqui nessas

comunidades, pra dizer pros parentes que era importante isso. Quem

vai casar nunca diz que vai ser ruim no futuro, sempre é bom.

(ENTREVISTADO NÚMERO 25)

Aconteceu reunião aqui na minha comunidade, no Vale do Juruá, mas

quantas comunidades não ficaram soltas? (ENTREVISTADO

NÚMERO 3)

A gente falou muito sobre o assunto, expôs situações verbalmente,

escrevíamos em tarjetas, colocávamos no mural, de tarde foi recolhido

tudo aquilo, feito relatório manuscrito... eles faziam o relatório, mas do

que a gente tinha colocado. Só que não voltou nada! A gente perdeu

tempo, à beça. A gente foi ouvido, agora, se as minhas idéias

realmente foi levada em conta, aí eu fico em dúvida. (ENTREVISTADO

NÚMERO 11)

Um entrevistado ligado à atividade pecuarista da regional do Purus disse

ser o método e a linguagem utilizados na oficina em que participou no período

de elaboração do ZEE, de difícil compreensão da população tradicional ali

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presente. Segundo ele, há uma sistemática dentro de uma sala, depois vai para

apreciação geral, mas quando vem do conjunto geral, sua consideração já não

estava mais. Era indeferida antes.

Os presidentes de associação davam opinião, a pessoa que controlava

lá na frente não anotava, aí eu falei: mas que barbaridade! Agora

quando era pra pedir emprego, pra aumentar o número de funcionário,

aí eles anotavam. Mas quando o interesse é pra agricultor ou pra

população, aí não aparece nada. Mas toda vez que a opinião da

população era diferente da opinião que veio aí a coisa não ia, não

andava. Eles ouviam a opinião, muitas vezes anotavam, mas, no fritar

dos ovos, não eram consideradas. (ENTREVISTADO NÚMERO 27)

Ao entrevistado acima foi perguntado de qual forma a comunidade

procurava contribuir durante as oficinas participativas, ele respondeu que achou

interessante que, mesmo na sua simplicidade, muita gente deu opinião.

Mas a gente é muito levada no cabresto. Porque do jeito que são feitas

as perguntas, do jeito que é conduzido...você é conduzido dentro de

um cercado, dentro de um rumo, não é uma coisa muito ampla, não. E,

muitas vezes, quando ela fica muito ampla elas trazem pra dentro

daquilo que é do interesse deles. Eles conseguem trazer pro rumo

deles. A população fala tanta bobagem que você fica até bobo de ver

quanta bobagem a população coloca. (ENTREVISTADO NÚMERO 27)

Eles falam melhor do que a gente, têm mais experiência pelo fato

desses funcionários públicos participarem demais das reuniões...Hoje

eu tenho um pouquinho mais de capacidade verbal, mas eu não tinha

nenhuma. Você fica nervoso, começa a suar, você não consegue nem

se expressar, dizer o que você quer, então fica difícil.

(ENTREVISTADO NÚMERO 27)

A compreensão da comunidade sobre o instrumento ZEE foi discutida

pelos entrevistados como frágil no período da elaboração do Programa:

Muitas vezes a gente fica em dúvida, aí muitos dizem que entenderam,

mas muitas vezes falam, mas não entendem. (ENTREVISTADO

NÚMERO 2)

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Não digo integralmente que todas parcialmente tiveram esse

entendimento porque nem todas as pessoas são esclarecidas. Embora

falassem a nossa língua, pelo menos na reserva foi assim, as pessoas,

passado aquele momento ou esquecem ou não levam a sério. Acho

que deve haver mais oficinas, porque desse jeito, dar o ensinamento e

ir embora, tchau, não funciona. (ENTREVISTADO NÚMERO 3)

O pessoal explicava como é que era, não teve assim, do meu ponto de

vista, a participação da comunidade. O pessoal mais ouviram, né?

(ENTREVISTADO NÚMERO 15)

Foi repassada a informação, mas na hora que você recebe não tem

muito argumento pra poder interferir porque é uma coisa nova pra eles

e pra gente. (ENTREVISTADO NÚMERO 22)

A gente tá falando pra aquela pessoa mas ela tem dificuldade pra

entender. Aí eu trago o exemplo de casa: a minha esposa gosta de ler,

tem uma letra invejável e essas coisas não entre na cabeça dela. Por

que isso? Não sei. (ENTREVISTADO NÚMERO 20)

O depoimento abaixo ilustra a falta de interesse, resultante do fato da não

compreensão dos representantes durante as oficinas:

Eu acho que eles não entenderam é porque às vezes eles saem

muito, tem gente que chega nas oficinas, num encontro fica entrando e

saindo, quando ele volta, às vezes, já começou o assunto, ele dá uma

saída, no que ele volta, aquele assunto já foi e tá começando outro.

(ENTREVISTADO NÚMERO 23)

Os representantes de comunidades durante as entrevistas expuseram as

dificuldades do envolvimento da população local no Programa, por principais

motivos:

a) política (não acreditam mais nas ações de governo)

b) dificuldades logísticas (relacionadas ao transporte)

Por exemplo, quando o rio está cheio o acesso fica bom para as

populações ribeirinhas, quando o rio está seco fica difícil a participação deles.

Para os produtores rurais é difícil a trafegabilidade no período chuvoso. Para

que acontecessem esses encontros seria preciso de toda uma estrutura do

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Estado, viabilizando espaço para mais comunidades participarem. Seria, muito

mais proveitoso, segundo eles, se os encontros acontecessem nas

comunidades. Haveria maior resultado no sentido de envolvimento dos

moradores da comunidade e de comunidades vizinhas.

Não houve uma participação maciça pela dificuldade de deslocamento,

pelas despesas com isso e com aquilo. (ENTREVISTADO NÚMERO

3)

O zoneamento é uma coisa muito boa, mas a maior parte não

entendia. Eles marcavam reunião na cidade porque na área de

pescadores, que é lá no Purus (rio) é difícil de ir. Eu sempre reclamava

nas reuniões que eles tinham que fazer essas reuniões lá dentro das

comunidades e explicar bem pra todos porque só pra mim...

(ENTREVISTADO NÚMERO 26)

A comunidade é grande mas na hora de participar não vem nem a

maioria. Lá é trezentas e poucas famílias. Nós temos até hoje lá, trinta

e poucas participando da oficina. Mais entre os vizinhos, por isso não

tem como ter muita divergência porque os problemas são tudo

parecidos. (ENTREVISTADO NÚMERO 14)

Segundo uma organização indígena, ao longo desse processo de

participação, percebeu-se que o ZEE é do Estado e dentro dele tem situações

diferentes, então os indígenas começaram a ver de que forma seriam

contemplados e como o ZEE atenderia suas demandas. A partir daí começou-se

a discutir a idéia de um zoneamento específico para as terras indígenas, de

acordo com sua cultura e suas especificidades e esse processo começou pelas

terras que estavam sendo impactadas. Requerem ainda o mapeamento de suas

terras para que possam fazer gestão territorial de acordo com suas

necessidades e acham que assim estarão inseridos no PEZEE.

O etnozoneamento13 das terras indígenas deu-se paralelamente ao

PEZEE e teve início pelas terras indígenas que estavam sendo impactadas, as

que fazem parte do plano de mitigação da pavimentação da BR-364:

13

No Acre, o etnozoneamento surgiu como resposta do Governo do Estado aos impactos negativos a serem

provocados pelas Rodovias BR 364 e BR 317.

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No geral, tivemos esses avanços de ter um zoneamento específico das

terras indígenas e esse processo começou pelas terras indígenas que

estava sendo impactadas pelas ações do estado, por exemplo, a BR-

364. Hoje se discute a possibilidade de fazer o zoneamento em outras

terras indígenas que não tão diretamente ligadas aos impactos das

ações do estado, mas considerando que estão dentro do estado.

(ENTREVISTADO NÚMERO 5)

Em relação à contribuição dos representantes de comunidades indígenas

no etnozoneamento, esta aparece de forma mais significativa do que outras

comunidades, talvez pelo fato de serem de mais difícil acesso, algumas vivendo

em quase total isolamento, mantendo seus costumes e tradições por gerações.

A forma que a comunidade contribuiu foi dando o conhecimento da

localidade pra poder botar no mapeamento, dizendo o nome dos

igarapés, a forma da vegetação, se era capoeira, se era mata.

Contribuiu na forma do conhecimento deles, dentro da onde eles

sobrevivia, do conhecimento da prática. (ENTREVISTADO NÚMERO

25)

O que as pessoas mais valorizavam era madeira: aquela localidade se

já tinha sido explorada e, se foi explorada, foi pelos indígenas ou pelos

não-indígenas e o objetivo dela. E outra coisa, também que eles

abordaram bastante foi a razão do muito afastamento da caça de perto

da localidade, se era porque era muito caçado ou porque foi muito

explorada a comida que os animal comia. (ENTREVISTADO NÚMERO

25)

Entrevistados mostraram-se decepcionados por ter sido o ZEE noticiado

como algo grandioso, o qual resolveria todos os problemas dos moradores da

floresta.

Isso é como dizer que o cara é bonito, bonito... mas quando o cara

aparece... é feio. (ENTREVISTADO NÚMERO 20)

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4.4 Comparando percepções

Quadro 2 – Percepção dos entrevistados, dentre eles, membros da CEZEE, técnicos executores do ZEE e „participantes‟ das oficinas.

ZEE Participativo no Acre? Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE - CEZEE

População Tradicional Outros

1. Divulgação (convite) das oficinas

Houve boa divulgação da realização das oficinas, convidando a sociedade civil organizada para participar. A divulgação foi feita pela mídia, em especial por rádios por ser um meio de grande alcance muito utilizado em comunidades afastadas, por carros-volante e envio de ofícios para que os órgãos públicos enviassem seus representantes.

2. Disseminação:

Alcance (geográfico)

Foi realizada uma oficina em cada um dos 22 municípios do Estado. Foram mapeados 1.900 núcleos populacionais

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ZEE Participativo no Acre?

Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE – CEZEE

População Tradicional Outros

(comunidades). Mesmo assim, segundo os Técnicos Executores, o ZEE não conseguiu chegar a todas essas comunidades.

Continuidade

Houve continuidade. O ZEE apenas mudou de nome, foi transformado em outros programas (subprogramas) que estão sendo desenvolvidos no Estado. Os Técnicos Executores (ao contrário do que pensa a população tradicional), disseram ser o ZEE parte integrante das ações do Estado e que a disseminação aparece em de diversas formas: em DVDs, internet,

Consideraram „boa‟ a disseminação. Segundo eles, o ZEE foi motivo de muita notícia (durante as entrevistas, percebeu-se que falavam do marketing utilizado para propagar o ZEE participativo no Acre.)

Não houve continuidade do ZEE. Falaram da necessidade da realização de mais oficinas (segundo eles, seria uma forma de assimilar melhor as informações recebidas nas oficinas sobre ZEE). Consideraram o número de oficinas insuficiente. Disseram ainda que, depois da realização

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ZEE Participativo no Acre? Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE - CEZEE

População Tradicional Outros

jogos educativos, além da publicação do documento síntese do ZEE e a busca de meios para popularizar os mapas.

das oficinas nos municípios, não ouviram falar mais de ZEE. Além disso, houve uma „quebra‟, não houve retorno do resultado final dos trabalhos realizados nas oficinas.

Linguagem

A maioria dos membros da CEZEE não internalizou, de fato, o ZEE por ser um instrumento muito técnico e, além disso, não é algo estático, a ele vai se juntando cada vez mais novas informações.

A maioria da População Tradicional entrevistada disse não ter entendido os conceitos de ZEE passados nas oficinas. Durante as entrevistas percebeu-se que apenas gostaram da forma como foram abordados, acharam os

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ZEE Participativo no Acre? Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE - CEZEE

População Tradicional Outros

executores simpáticos... mas quando perguntados sobre ZEE não souberam responder, apenas lembravam-se de detalhes relacionados à dinâmica usada nas oficinas (cartazes, lanche no intervalo, de que eram separados em grupos (gestores x pessoas comuns) enfim, a maioria recordou apenas do evento em si. Agora, aqueles que disseram ter entendido, foi um número muito pequeno de pessoas que já estiveram também em encontros nacionais e internacionais representando suas comunidades.

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ZEE Participativo no Acre?

Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE – CEZEE

População Tradicional Outros

3. Houve contribuição (sociedade)?

Sim. Confirmada pela criação de um eixo (cultural-político) na segunda fase de formulação do ZEE exclusivamente para inserir a „participação popular‟ no processo de elaboração do ZEE. Nesse eixo, buscou-se consenso com as comunidades, considerando seus problemas e perspectivas apontados durante as oficinas.

As pessoas serviam mais para referendar o que já estava pronto. Pela complexidade e grande variedade de informações que carrega, o ZEE não permitiu que pessoas com baixo conhecimento técnico pudessem participar de discussões mais profundas, muito menos contestar o material elaborado com embasamento técnico, até pelo currículo das pessoas que o fizeram.

Quando disseram que houve contribuição, observou-se que para eles, „contribuir‟ ou „participar‟ é falar o que pensam. Na verdade, viram as oficinas (já que o ZEE foi divulgado como uma penacéia para resolver as demandas sociais de ordem territorial) como um meio de apresentar seus clamores pessoais ou de suas comunidades (abertura ou recuperação de ramais, meios de transporte para escoar sua produção eram as demandas mais constantes).

PECUARISTA: Não houve nenhuma contribuição. Disse que as oficinas foram dirigidas e que, na maioria das vezes, se aprovava o que já vinha pronto; o que estava pré-estabelecido; os executores davam as posições que deveriam ser tomadas e a opinião da comunidade não prevalecia.

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ZEE Participativo no Acre? Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE – CEZEE

População Tradicional Outros

4. Houve incorporação?

Não, porque o objetivo, de fato, era referendar as ações do governo.

Não. Já vinha tudo previamente estabelecido. Não houve retorno do governo pra mostrar o resultado das oficinas. Reclamaram por nunca terem visto o Relatório Final mostrando a incorporação de suas sugestões ao ZEE nas oficinas.

5. Houve apreensão (ZEE)?

Responderam sim, mas não estão se referindo à apreensão em si, e sim, à presença deles no evento.

A maioria dos membros da CEZEE não assimilou, de fato, o ZEE.

Levavam informações recebidas durante as oficinas as suas comunidades, mas não obtiveram sucesso durante os repasses e citaram vários motivos que os levaram à falta de interesse de alguns

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ZEE Participativo no Acre?

Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE - CEZEE

População Tradicional Outros

representantes: decepção de ações anteriores

de governo e neles não acreditam mais.

não entendimento e quem não entende também não se interessa e nem presta atenção (entra e sai da sala o tempo todo) e dessa forma não terá o que repassar.

Não disponibilidade de material didático. Assim, segundo eles, facilitaria a compreensão de quem está nas comunidades.

número insuficiente de oficinas. Aconteceu apenas uma em cada um dos vinte e dois municípios, com duração de 6 a 8 horas cada.

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ZEE Participativo no Acre? Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE - CEZEE

População Tradicional Outros

dificuldade individual (aspecto cognitivo) do representante de fazer o repasse aos seus representados)

dificuldade de locomoção às suas comunidades, muitas vezes, dependendo da estação do ano se torna mais fácil ou mais difícil a trefegabilidade às comunidades locais.

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ZEE Participativo no Acre? Técnicos Executores

Comissão Estadual de ZEE – CEZEE

População Tradicional Outros

6 Houve representatividade?

A CEZEE é altamente representativa da sociedade por ser composta por 34 instituições organizadas em câmaras que representam o setor público, o setor privado e a sociedade civil.

A interferência no resultado foi pequena (falam da CEZEE) dada a extrema complexidade do ZEE. Segundo os membros da CEZEE, pessoas indicadas para representar suas instituições na Comissão, na maioria das vezes, não eram as mais adequadas. Demorou para que os responsáveis pelas e, muitas vezes.

A mesma percepção foi observada pela população tradicional pela população entrevistada em relação à indicação de seus representantes. Estes não se achavam aptos a repassar as informações recebidas pelo fato de não terem apreendido as informações já que a linguagem era considerada muito técnica ou até mesmo pela falta de material adequado para fazer o repasse às suas comunidades.

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Segundo os técnicos executores a realização das oficinas participativas

avançou no processo de participação popular garantindo o envolvimento do

poder público, do setor privado e da sociedade civil organizada. Assim, o eixo

cultural político contemplou principalmente as comunidades tradicionais, abrindo

espaço para debates, confrontos de idéias e posições na segunda fase do ZEE.

Ainda segundo os técnicos, as oficinas foram bem divulgadas e embora tenham

sido realizadas em todos os municípios do Estado, a cobertura espacial não foi

a ideal. E, apesar de terem sido mapeados 1.900 núcleos populacionais no

Estado, o ZEE não alcançou as populações mais longínquas, não conseguiu

chegar a todas essas comunidades.

Contrariamente aos técnicos, os representantes das populações

tradicionais e sociedade civil organizada consideraram o número de oficinas

participativas insuficientes, além disso, houve uma quebra, não houve retorno,

desconhecem o resultado dos trabalhos nas oficinas. Ainda, reclamam da não-

continuidade das ações que envolviam a sociedade no PEZEE. Isso seria a

resposta para a não internalização na esfera social do significado de ZEE, o que

é rebatido por representantes de órgãos ambientais do Estado. Já em relação à

continuidade do PEZEE, técnicos executores acham que há continuidade, não

houve interrupção do Programa, apenas está com outra roupagem, foi

transformado em diversos outros programas que estão sendo desenvolvidos,

embora passem imperceptíveis à população tradicional. Vê-se aqui a

necessidade do governo do Estado através de sua representação explicar isso

nas comunidades, há a necessidade de dar esse retorno às populações

tradicionais.

Em relação à linguagem falada pelos executores do ZEE, foi constatado

que a linguagem foi considerada inadequada, de uma maneira geral, por todos

os entrevistados, tanto por membros da própria CEZEE até o cidadão comum

participante das oficinas.

O resultado da linguagem hermética é que foi baixo o entendimento do

conteúdo. Constatou-se que a maioria dos membros da CEZEE pouco entendeu

sobre ZEE, alegando ser o instrumento muito técnico e complexo. A mesma

percepção foi observada entre a maioria da população tradicional entrevistada,

que disse não ter entendido os conceitos de ZEE passados nas oficinas.

Embora também houvesse aqueles que disseram ter entendido, por acharem as

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oficinas interessantes e os executores simpáticos, mas quando perguntados

sobre ZEE não sabiam responder, ou apenas lembravam-se de detalhes

relacionados à dinâmica usada nas oficinas, por exemplo, dos cartazes, do

lanche no intervalo, de que se separavam em grupo, enfim, a maioria recordou

do evento em si, com exceção daqueles que estão mais vezes em encontros

representando sua comunidade, em mobilizações sociais. Estes têm melhor

compreensão, não o suficiente para fazer um repasse às comunidades

representadas sobre ZEE, mas pelo menos transmitir a informação da mesma

forma que a assimilou.

O baixo nível do entendimento dos conceitos relativos ao ZEE tem

implicações sérias no que se refere à capacidade de internalização e repasse

das informações (capital social e empowerment), embora, segundo os técnicos

executores, a contribuição tenha sido significativa, através do eixo cultural-

politico na segunda fase do ZEE exclusivamente para inserir a „participação

popular‟ no processo de elaboração do ZEE. Ainda segundo os executores,

“buscou-se consenso com as comunidades, considerando os problemas e

perspectivas apontados pela sociedade durante as oficinas e, nas divergências,

emergiam soluções pactuadas, resultando em diversas estratégias e tomadas

de decisão.”

Um segundo ponto avaliado pelos executores como evidência da

contribuição foi a disponibilização do documento de ZEE para consulta pública

seis meses antes do lançamento, num pré-lançamento, propiciando a

participação da sociedade. Já segundo membros da CEZEE, houve mais ou

menos, as pessoas serviam mais para referendar o que já estava pronto. Ainda

segundo os membros da CEZEE, pela complexidade e grande variedade de

informações que carrega, o ZEE não permitiu que as pessoas de baixo

conhecimento técnico pudessem participar de uma discussão mais profunda,

pelo menos no que se refere aos eixos de Recursos Naturais e Sócio-Economia,

muito menos contestar o material elaborado com embasamento técnico, até pelo

currículo das pessoas que o fizeram. Concordam que o trabalho merecia

credibilidade, pelo menos do ponto de vista técnico.

Ainda segundo os membros da CEZEE e técnicos executores, apesar de

não haver grandes contribuições nos eixos de Recursos Naturais e Sócio-

Econômico como citado anteriormente, pelo caráter técnico dos conteúdos, o

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mesmo não se deu no eixo cultural político. Neste, houve abertura para que a

sociedade se manifestasse. Por outro lado, representantes da população

tradicional, muitas vezes, quando dizem que houve contribuição, nota-se que

pra eles contribuir e/ou participar é falar o que pensam. Na verdade, viram as

oficinas como um meio, pela proximidade de representantes de órgãos do

governo, de apresentar seus problemas mais imediatos colocando seus anseios,

seus clamores ou de sua comunidade. Ainda na opinião de participantes de

oficinas, incluindo a de um pecuarista, com visível descontentamento pela forma

como foram conduzidas as oficinas participativas, disseram que estas foram

dirigidas onde, na maioria das vezes aprovava-se o que estava pré-

estabelecido, os executores davam as posições que deveriam ser tomadas e a

opinião da comunidade não prevalecia.

Perguntados se os „participantes‟ das oficinas apreenderam o significado

de ZEE, os técnicos executores disseram que sim, por não estarem se referindo

a apreensão em si, e sim, à participação (à presença deles no evento). Mas

para a CEZEE a maioria não assimilou o ZEE.

Às comunidades eram levadas as informações por seus representantes

que disseram não ter conseguido repassar os conceitos recebidos nas oficinas

por vários motivos: pela falta de interesse de alguns representantes, seja pela

decepção com as ações de governos e neles não acreditam mais; seja pelo não

entendimento, e quem não entende também não se interessa e nem presta

atenção (entra e sai o tempo todo da sala) e dessa forma não terá o que

repassar; seja ainda pela falta de material didático pra facilitar também o

entendimento dos comunitários; pela falta de tempo, devendo-se dar

continuidade aos encontros nas comunidades locais e esperar que, pela

repetição do assunto haja assimilação; ou até pelo número insuficiente de

oficinas, aconteceu apenas uma em cada município, dificultando a assimilação

do ZEE; ou seja, até mesmo pela dificuldade individual do próprio representante

de fazer o repasse aos representados.

Segundo membros da CEZEE houve, de certa forma incorporação, mas

as pessoas serviam mais para referendar o que já estava pronto. Pela

complexidade e grande variedade de informações que carrega, o ZEE não

permitiu que as pessoas de baixo conhecimento técnico pudessem participar de

uma discussão mais profunda, muito menos contestar o material elaborado com

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embasamento técnico, até pelo currículo das pessoas que o fizeram. O trabalho

merecia credibilidade, pelo menos do ponto de vista técnico. Já, a população

tradicional e representante pecuarista disseram não ter havido retorno do

governo pra mostrar os resultados das oficinas, por isso não acreditam que

houve incorporação de suas „contribuições‟ no ZEE, até porque acreditam que

„as coisas já vinham previamente estabelecidas‟, o que coincide com a visão de

técnicos da CEZEE.

Em relação à representatividade, segundo os técnicos executores, a

CEZEE é altamente representativa da sociedade por ser composta por 34

instituições organizadas em câmaras que representavam o setor público, o setor

privado e a sociedade civil e acompanhou todo o processo da fase de

diagnóstico até a de prognóstico. A mesma opinião não é compartilhada pela

CEZEE que diz que a interferência do resultado foi pequena dada a extrema

complexidade do ZEE, enfatizando que até mesmo a pessoa indicada para

representar a sua instituição, na maioria das vezes, não foi o mais adequado. A

mesma percepção foi observada no universo da população entrevistada em

relação à indicação de seus representantes. Esses não se achavam aptos a

repassar as informações recebidas pelo fato de não terem apreendido-as já que

a linguagem era considerada muito técnica ou até mesmo pela falta de material

adequado pra fazer o repasse às suas comunidades.

Analisou-se ainda o Documento Síntese, da segunda fase do ZEE-AC e

observou-se que no item em que fala sobre as oficinas participativas, lê-se: “os

mapas de zoneamento são baseados diretamente na visão de problemas e

soluções prioritárias que foram propostas nas oficinas”, mas não foram

encontradas, nesse mesmo documento, a listagem dessa visão e problemas. Já

que o eixo cultural político, representado pelas oficinas, foi divulgado como o

cerne da participação popular, talvez merecesse mais atenção do que as

páginas existentes, pois não foram observadas no Documento, um lugar

específico para as demandas da população, já que foram divulgadas como

grande resultado do eixo cultural-político. Questiona-se, por exemplo, onde

estão descritos os problemas e aspirações levantados pela sociedade? E onde

estão descritas as prioridades apontadas pelos „participantes‟ durante as

oficinas?

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No item 4.2 do Documento Síntese onde fala que “nas reuniões

participativas, as associações de moradores ou produtores também tiveram uma

forte atuação, o que demonstra que eles valorizaram o processo e que tiveram a

possibilidade de reivindicar suas demandas”. Porém, na análise das 10 (dez)

oficinas participativas, 71,2% dos presentes eram funcionários públicos. Essa

afirmação é justificada no mesmo texto quando fala que “em termos de

participantes nessas reuniões (oficinas) é notável que os grupos de setor

público, municipal e estadual foram os participantes mais numerosos tanto em

representantes quanto em representados”.

4.5 – Frutos da experiência participativa acreana com o ZEE

Apesar dos esforços do governo estadual em difundir o Programa de ZEE

para os 22 municípios do Estado do Acre no eixo cultural político, na segunda

fase, o ZEE-AC não é um instrumento de alcance massificado. De fato, no

processo de sua elaboração, na fase inicial, o envolvimento popular foi mais

restrito. De modo geral, houve pouca participação da sociedade civil na

elaboração de diagnósticos para zoneamentos. Gutberlet (2002), em estudos

sobre os ZEEs nos Estados do Acre, Amazonas e Pará, no fim do ano de 2000,

ressalta essa afirmação quando diz que “a metodologia aplicada pelas equipes

executoras para os levantamentos temáticos não têm envolvido de forma

sistemática os representantes da população local. Diz ainda que não houve, no

início dos trabalhos (ZEE), uma ampla discussão nas comunidades sobre os

objetivos do ZEE e os fins e métodos dos levantamentos temáticos. Por causa

dessa omissão, é muito mais difícil agora fazer a população se apropriar do

conhecimento gerado pelo diagnóstico” .

No caso do ZEE-AC, houve abertura de espaço para que as

comunidades se manifestassem apresentando seus problemas e suas

sugestões materializadas pela realização das oficinas. No entanto, estas não

foram suficientes, segundo representantes das comunidades entrevistados, para

que compreendessem a função de um ZEE, por ter acontecido apenas uma

oficina em cada município do Estado, sendo insuficiente para a otimização da

difusão do ZEE-AC. Para tanto, devem-se garantir aos representantes os

instrumentos e os recursos para tal difusão. É necessário o apoio ao acesso às

comunidades e à capacitação de representantes, priorizando o capital humano,

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a divulgação da informação desse conhecimento, imiscuindo-o no dia-a-dia da

população.

Percebe-se que a informação, o interesse e a motivação são pontos

importantes quando há intenção de envolver indivíduos/comunidades em

processos de elaboração de políticas públicas. Seria uma forma de tentar

minimizar o que Santos (apud MILANI, 2006) chama de “inércia social” que,

segundo ele, age como poderoso vetor de estabilidade na rotina das interações

sociais o que vem a salientar a construção de capacidades que envolvem

informação, interesse e motivação traduzida no processo de empoderamento

(capital social como importante instrumento possibilitador da participação

popular. O indivíduo/comunidade recebe a informação e com a devida

motivação suscita o interesse em aprender, então, a apreende, ou melhor,

sobrepõe novos conhecimentos aos já adquiridos anteriormente, dando

relevância à subjetividade pessoal ou coletiva (comunidades tradicionais) e,

assim, vai se empoderando, rompendo paulatinamente com sua exclusão nas

tomadas de decisão que lhes afetam direta ou indiretamente.

Flores; Misoczky (2008) vêem como vantagem o envolvimento popular

por aumentar a credibilidade da avaliação. Argumentam que as pessoas

confiam nas informações providas por elas mesmas, ao mesmo tempo em que

acontece a conciliação de diferentes visões. Caso contrário, segundo eles,

perde-se legitimidade com a falta de reconhecimento e aceitação.

O diagrama abaixo retrata a integração entre as definições de capital

social – redes associativas com valor, empoderamento – apreender as

informações advindas das relações formadas por capital social que levam o

indivíduo/comunidade à capacidade de intervir em ações de políticas públicas,

nesse caso mais específico.

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Figura 8. Interligação entre capital social, empoderamento, participação. Fonte: construção da autora

A base interpretativa desta dissertação foi focada no capital social, no

empoderamento e sua importância na participação popular, com destaque para

a população tradicional envolvida no processo de elaboração do Zoneamento

Ecológico-Econômico do Estado do Acre. Assim, a participação se efetivaria

numa interação entre os detentores da informação e seus receptores, caso

aqueles transmitissem a informação (ZEE) capacitando os ouvintes

(representantes) a também transmitir a informação aos representados e assim

formando uma rede de cognição sobre o objeto estudado, o ZEE-AC. Essa rede

aconteceria entre a comissão organizadora do ZEE, as entidades e instituições

participantes, órgãos governamentais, consultores, a população civil organizada,

dentre os técnicos que participaram do processo de elaboração. Inicialmente

essa interação seria construtiva, onde o indivíduo/comunidade, ao receber as

informações, fosse de forma clara e concisa e, ao internalizá-las, estaria

“empoderado”, capacitado para intervir nesse processo de construção, de

importante instrumento de política pública e, só assim, formaria pactos com os

tomadores de decisão.

Desta forma, as pessoas não se tornaram mais críticas e, muito menos se

empoderaram em relação ao ZEE, nos termos do conceito de participação

popular definido no capítulo 5 desta dissertação. Muito pelo contrário,

acreditaram que o ZEE fosse resolver as questões mais imediatas demandadas

por sua comunidade ou bairro etc. e viram as oficinas participativas como um

meio facilitador, já que técnicos representantes do Estado ouviam e anotavam

suas reivindicações.

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Pode-se afirmar aqui que fragmentações de capital social apareceram

nesse processo de empoderamento das comunidades, mas não o suficiente

para a ocorrência de uma efetiva participação.

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CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES

O Zoneamento Ecológico-Econômico tem sido invocado como

instrumento básico da política ambiental brasileira voltado para a conservação e

a preservação de seus diversos biomas, em especial, voltado para correções de

ações políticas de desenvolvimento na Amazônia. Este trabalho possibilita uma

reflexão sobre as diferentes intensidades de envolvimento dos segmentos da

sociedade/comunidade acreana no processo de elaboração do Zoneamento

Ecológico-Econômico do Estado do Acre, avaliando ainda a importância dos

conceitos de capital social e empoderamento (empowerment) na efetiva

participação da sociedade.

Em todo o Brasil, não só no Estado do Acre, o ZEE estabeleceu-se como

um marco, uma panacéia para todos os problemas de ordem territorial. O ZEE-

AC é, sem dúvida, um importante instrumento de planejamento e de gestão

territorial, mas deve-se considerar o nível elevado dessas discussões acerca do

ZEE para que haja participação popular efetiva. Até hoje, vê-se que a

participação popular influencia muito pouco no produto final do ZEE-AC. As

comunidades acreanas não tiveram retorno que comprovasse sua

colocaboração no processo de formulação do ZEE, não podendo confirmar se

seu incipiente envolvimento nas oficinas foi inserido no produto final do ZEE-

AC.

Observou-se, conforme depoimentos constantes no capítulo 4, que na

primeira fase do ZEE-AC, o Grupo Técnico de Sistematização – GTS sentiu a

necessidade da interferência da participação da sociedade no Programa ZEE.

Para isso, realizaram reuniões em vários municípios para mostrar o que já havia

sido produzido, com intuito de ouvir a opinião dos atores sociais locais (essas

reuniões eram, muitas vezes, também denominadas de oficinas). Os resultados

dessas reuniões estão espalhados, muitas pessoas envolvidas, na época, estão

fora do processo, o que dificulta o agrupamento desses dados. Além disso,

mudanças aconteceram na equipe de técnicos executores da primeira para a

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segunda fase. Mesmo assim, o envolvimento da sociedade na primeira fase foi

considerado “restrito” no sentido de que o resultado da participação precisava

de modelos mais formais para inseri-la nos indicativos de uso da terra. Isso

estimulou os técnicos a sugerirem que, na segunda fase, fosse criado um eixo

exclusivamente para inserir a participação dos segmentos sociais.

Assim, surgiu a idéia do eixo cultural-político onde as oficinas

participativas foram realizadas. Aconteceu uma em cada um dos 22 municípios

do Estado do Acre visando levar às comunidades a compreensão do significado

e importância do ZEE proporcionando-lhes a interveniência no processo de

elaboração. Os métodos utilizados durante as oficinas, em tese, asseguravam

aos representantes de comunidades presentes serem ouvidos pelos técnicos

executores, fazerem suas colocações, momento oportuno para exporem suas

mais imediatas necessidades.

Em relação ao trabalho de campo, durante as entrevistas, foram ouvidos

técnicos executores do PEZEE, membros da CEZEE, representantes de

população tradicional local entre outros. Observou-se se houve

representatividade das comunidades locais, em especial da população

tradicional, conforme divulgado pelos órgãos ambientais responsáveis durante a

realização das oficinas, mas sempre sob a ótica dos conceitos de capital social

e empoderamento.

Inicialmente, foi feita uma análise do Relatório das Oficinas Participativas

(2006), que resultou nas considerações abaixo:

O planejamento das oficinas foi inadequado, algumas aconteceram

paralelamente a eventos que envolviam os interesses da

sociedade presente nas oficinas.

A qualidade e a quantidade da maioria dos participantes não

condiziam com a realidade das comunidades locais em relação à

composição dos grupos focais e ao número de participantes e sua

caracterização.

Não houve diagnósticos sociais, pois as perguntas estão

descontextualizadas. Por exemplo, perguntas direcionadas aos

índios (que visualizam mais as questões fundiárias) foram as

mesmas feitas aos agricultores (que estão mais interessados na

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produção e escoamento de seus produtos). Não se observou as

diferenças culturais (temas iguais para todos os públicos).

Observou-se, também, nas oficinas, que os grupos de interesse

tanto de „gestores‟ como os de „pessoas comuns‟ não ficaram

claramente identificados; Não foi encontrado no Documento

Síntese de ZEE-AC nem no material disponibilizado a

especificação dos interesses levantados e a separação desses,

por grupo.

Algumas perguntas estavam mais para técnicos do que para o

agricultor, por exemplo. E as respostas, na maioria delas,

retratavam mais as preocupações de representantes de órgãos

públicos do que da população tradicional.

Segundo informações de coordenadores do PEZEE no Estado,

todas as oficinas tiveram representantes (gestores) e

representados (pessoas comuns), porém, do material

disponibilizado para esta pesquisa, essa relação de oficinas não

estava completa, prejudicando assim, uma análise mais criteriosa

desse „processo participativo‟.

O método ZOPP (um dos três utilizados nas oficinas participativas),

é descrito como sendo composto por elementos baseados em

diagnóstico e elaboração de marco lógico. Apesar de estar descrito

dessa forma, não foi encontrada documentação referente aos

elementos: planejamento baseado num diagnóstico e marco lógico,

nem no Relatório Final das Oficinas nem no Documento Síntese.

Resta saber onde exatamente ele está documentado.

Aparentemente a descrição do método (ZOPP) utilizado sugeriu

que os problemas e soluções fossem identificados pelas

comunidades. No entanto, a existência do questionário com

perguntas previamente elaboradas coloca este fato em dúvida.

No método ISSI, existe o propósito de levantar os interesses

acerca de temas ou questões. Houve sistematização em painéis

por tema para posterior hierarquização, segundo relatório das

oficinas. No entanto, o resultado desta hierarquização que

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apresenta as demandas da população não ficou explicitado nos

documentos disponibilizados para consulta pelo órgão executor do

ZEE, foi apenas brevemente descrito no Documento Síntese.

Em análise ao Documento Síntese do ZEE-AC, observou-se que pouca

atenção foi dada ao eixo cultural-político, já que é considerado pelos técnicos

executores, como uma evolução, uma inovação dentre os ZEEs, como também

um importante meio de envolvimento da sociedade na formulação do ZEE-AC,

em sua segunda fase.

O resultado da pesquisa de campo apresenta com clareza no Quadro n.

3, no ítem 4.4, p. 58 que, apesar da divulgação ter sido considerada pelos

entrevistados como satisfatória, o ZEE não chegou a todas as comunidades do

Estado. Além disso, não houve assimilação do ZEE (aquela que dá poder de

intervenção do indivíduo/comunidade) pela maioria dos participantes das

oficinas, no eixo cultural-político. Além disso, as políticas de continuidade do

PEZEE adotadas, não refletiram nas comunidades locais.

Outra forte reclamação foi a de que não houve retorno às comunidades

e/ou aos participantes das oficinas sobre sua contribuição no Documento

Síntese do ZEE. Disseram não saber se contribuíram, e se houve contribuição

onde foi inserida.

Em relação à contribuição dos presentes nas oficinas pode-se afirmar com

base nas entrevistas que não houve interveniência no processo de elaboração

do ZEE-AC de representantes/representados pela complexidade e grande

variedade de informações que contém o ZEE. Houve dificuldade dos presentes

em assimilar as definições do instrumento, justificado pelo curto espaço de

tempo, pelo número insuficiente de oficinas, como também, pelo próprio

interesse que envolve cada indivíduo/comunidade independente de qual

motivação os levou aos eventos participativos e, ainda, segundo entrevistados,

os executores davam as posições que deveriam ser tomadas e a opinião da

comunidade não prevalecia.

Considerando a literatura consultada sobre capital social e

empoderamento durante a elaboração desta dissertação, chegou-se à definição

de participação popular como a capacidade de interveniência, individual ou

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coletiva em ações de política pública possibilitada pela apreensão da

informação num processo de empoderamento de indivíduos/comunidades.

Mesmo considerando as ações do governo do Estado voltadas em

envolver a população nas duas fases do ZEE, pode-se afirmar aqui que

fragmentações de capital social apareceram, mas nesse processo de tentativa

de empoderamento das comunidades não houve assimilação do ZEE o

suficiente para a ocorrência de uma efetiva participação.

E, por ser o ZEE um instrumento de grande complexidade, não existiu

uma percepção homogênea sobre ele nem no âmbito da CEZEE, nem dentre a

sociedade presente nas oficinas, o que corrobora o fato da não interveniência da

população nesse processo de elaboração do ZEE-AC.

Fica aqui um questionamento para futuras pesquisas: será que se, ao

invés de envolver as comunidades locais no processo de elaboração do ZEE, o

foco participativo do ZEE fosse a CEZEE, sendo ela composta por instituições

representativas, divididas em câmaras técnicas, com representação do setor

público, setor privado e sociedade civil organizada, haveria uma efetiva

participação social?

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1 - Questionário aplicado aos técnicos e integrantes da CEZEE.

01 – Houve divulgação do programa de ZEE-AC para os

indivíduos/comunidades locais?

02 – Quais recursos foram utilizados para essa divulgação?

03 – Qual o nível de conhecimento dos consultores (ZEE-ÁC) sobre a realidade

da Amazônia acreana?

04 – Quais métodos os consultores utilizaram para repassar aos participantes

esclarecimentos sobre o ZEE-AC?

05 – A comunidade tinha facilidade em compreender o significado do processo

de elaboração do ZEE-AC?

06 – Houve interesse em conscientizar a comunidade tradicional da importância

de sua participação no processo de elaboração do ZEE-AC?

07 – Quando as opiniões dos indivíduos/comunidade eram contrárias às dos

técnicos/consultores eram consideradas e, de alguma forma, inseridas no

processo?

08 – Você teve conhecimento de divergência entre:

Técnicos e consultores,

técnicos e comunidade,

comunidade e consultores,

comunidade e comunidade?

09 – Como o problema foi solucionado?

10 – Quando da realização dos encontros os indivíduos/comunidade

assimilavam, de fato, as orientações/definições que lhes eram passadas pelos

técnicos/consultores?

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11 – Os temas tratados nos encontros eram de domínio dos participantes de

modo geral ou apenas retratavam as opiniões dos técnicos?

12 – De que forma a comunidade contribuiu durante os encontros realizados

para discutir a elaboração do ZEE-AC?

13 – Os principais problemas e perspectivas dos atores envolvidos foram

considerados durante a realização dos encontros?

14 – Obedecendo a um dos princípios básicos do ZEE-AC, participação popular,

com vistas à construção dos interesses próprios e coletivos dos atores sociais

envolvidos houve, de fato, intervenção das comunidades durante os encontros?

15 – Sabendo da diversidade social local, durante as reuniões, houve consenso

de interesses entre indivíduos de uma mesma regional?

16 – Como foram resolvidos os problemas de divergências entre comunidades

representantes de uma mesma regional?

17 – Qual o critério para priorizar os temas a serem discutidos?

18 – Houve conflito de interesses? Como foram resolvidos?

19 – Foi dado valor à opinião da comunidade sobre seu espaço territorial?

20 – Houve participação da comunidade nas duas fases do ZEE-AC?

21 – Onde e quando as oficinas eram realizadas e por quem eram conduzidas?

Como foram conduzidas?

22 – Como e por quem foram feitas as sistematizações do material produzido

durante as oficinas?

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23 – Qual o critério utilizado na escolha das instituições que „participaram‟ do

ZEE-AC?

24 – Qual o critério utilizado na escolha de quais indivíduos/comunidades

participaram do processo de elaboração do ZEE-AC?

25 – O envolvimento das instituições foi satisfatório?

26 – Houve participação de ONGs? Quais?

27 – Qual foi a metodologia definida (por quem) para a realização das oficinas

participativas que auxiliaram na elaboração do ZEE-AC nas fases I e II?

28 – As oficinas contribuíram para o esclarecimento da comunidade e da

melhoria de sua participação na elaboração do ZEE-AC?

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APÊNDICE 2 – Questionário aplicado aos participantes das oficinas, com foco na população tradicional.

01 – Houve divulgação do programa de ZEE-AC para as comunidades locais?

02 – Quais recursos foram utilizados para essa divulgação?

03 – Por que você foi escolhido? Qual o critério utilizado? (tirar essa pergunta?)

04 – Algum encontro foi realizado em sua comunidade? De que forma?

05 – As comunidade recebiam informações sobre os assuntos tratados nos

encontros? De que forma?

06 – As metodologia e linguagem utilizadas para traduzir o ZEE-AC eram

acessíveis a todos os presentes durante os encontros?

07 – Quando as opiniões dos indivíduos/comunidades eram contrárias às dos

técnicos/consultores eram consideradas e, de alguma forma, inseridas no

processo?

08 – Os temas tratados nos encontros eram de domínio dos participantes de

modo geral ou apenas retratavam as opiniões dos técnicos?

09 – De que forma a comunidade contribuiu durante os encontros realizados

para discutir a elaboração do ZEE-AC?

10 – Os principais problemas e desejos das comunidades envolvidas foram

considerados durante a realização dos encontros?

11 – Você acredita que a sua participação ou de outros membros da

comunidade foi levada em conta no processo de elaboração do ZEE-AC?

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12 – Qual o critério para priorizar os temas discutidos?

13 – Houve conflitos de interesses? Como foram resolvidos?

14 – Foi dado valor à opinião da comunidade sobre seu espaço territorial?

15 – Onde e quando as oficinas eram realizadas e por quem eram conduzidas?

Como foram conduzidas?

16 – Toda a comunidade entendeu o significado de Zoneamento Ecológico-

Econômico?

17 – Houve divergência entre a opinião do representante da comunidade nos

encontros com algum outro representante da mesma comunidade?

18 – Você recebeu algum documento que indicasse a inserção da sua

contribuição no documento do ZEE-AC?