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METODOLOGIAS ATIVAS EM CURSOS TÉCNICOS atividades para ampliar o protagonismo dos estudantes na construção do conhecimento SPANHOL, Emanoel 1 SPESSATTO, Marizete Bortolanza 2 RESUMO: Este trabalho tem como foco principal na investigação do papel das metodologias ativas para assegurar o protagonismo de alunos de cursos técnicos de nível médio. Essas novas metodologias abordadas divergem do formato tradicional de ensino e tendem a proporcionar atividades interativas, dinâmicas em sala de aula. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo como sujeitos os próprios estudantes de um curso técnico em Informática, ofertado pelo CEDUP Hermann Hering, de Blumenau-SC. Na análise dos dados coletados, resultantes da pesquisa realizada, procurou-se identificar tanto a presença das metodologias ativas em sala de aula da Educação Profissional e Tecnológica quanto a avaliação dos estudantes acerca dessas opções metodológicas. O ensino técnico tem como objetivo o estudo para o desenvolvimento de competências e habilidades em exercer uma determinada atividade, realizar esse estudo de forma prática e dinâmica é uma necessidade do perfil dos alunos atuais, sendo esta prática a base das metodologias propostas. PALAVRAS-CHAVE: Educação Profissional e Tecnológica. Metodologias de ensino. Metodologias Ativas. 1 INTRODUÇÃO Um cenário de mudanças de paradigmas constitui a sociedade atual: um mundo denominado de “sem fronteiras” (ARCHANJO, 2016), de modo a que pessoas e informações de diferentes espaços estejam constantemente relacionadas; sobretudo, em um processo acelerado pelo avanço das tecnologias. Profundamente marcado pelo que se dá nos contextos que o permeiam, o espaço escolar não está imune a essas transformações sociais. Se, por um lado, as novas tecnologias aproximam diferentes mundos e apresentam múltiplas possibilidades de acesso ao conhecimento, Pós-graduando em Docência para a EPT. Graduado no curso Técnologo em Redes de Computadores. E-mail: 1 [email protected]. Professora orientadora, vinculada ao curso de Pós-graduação em Docência na EPT-Cerfead-IFSC. Doutora em 2 Educação. E-mail: [email protected].

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METODOLOGIAS ATIVAS EM CURSOS TÉCNICOS

atividades para ampliar o protagonismo dos estudantes na construção do conhecimento

SPANHOL, Emanoel 1

SPESSATTO, Marizete Bortolanza 2

RESUMO: Este trabalho tem como foco principal na investigação do papel das metodologias

ativas para assegurar o protagonismo de alunos de cursos técnicos de nível médio. Essas novas

metodologias abordadas divergem do formato tradicional de ensino e tendem a proporcionar

atividades interativas, dinâmicas em sala de aula. Trata-se de uma pesquisa de abordagem

qualitativa, tendo como sujeitos os próprios estudantes de um curso técnico em Informática,

ofertado pelo CEDUP Hermann Hering, de Blumenau-SC. Na análise dos dados coletados,

resultantes da pesquisa realizada, procurou-se identificar tanto a presença das metodologias ativas

em sala de aula da Educação Profissional e Tecnológica quanto a avaliação dos estudantes acerca

dessas opções metodológicas. O ensino técnico tem como objetivo o estudo para o desenvolvimento

de competências e habilidades em exercer uma determinada atividade, realizar esse estudo de forma

prática e dinâmica é uma necessidade do perfil dos alunos atuais, sendo esta prática a base das

metodologias propostas.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Profissional e Tecnológica. Metodologias de ensino.

Metodologias Ativas.

1 INTRODUÇÃO

Um cenário de mudanças de paradigmas constitui a sociedade atual: um mundo denominado

de “sem fronteiras” (ARCHANJO, 2016), de modo a que pessoas e informações de diferentes

espaços estejam constantemente relacionadas; sobretudo, em um processo acelerado pelo avanço

das tecnologias. Profundamente marcado pelo que se dá nos contextos que o permeiam, o espaço

escolar não está imune a essas transformações sociais. Se, por um lado, as novas tecnologias

aproximam diferentes mundos e apresentam múltiplas possibilidades de acesso ao conhecimento,

Pós-graduando em Docência para a EPT. Graduado no curso Técnologo em Redes de Computadores. E-mail: 1

[email protected].

Professora orientadora, vinculada ao curso de Pós-graduação em Docência na EPT-Cerfead-IFSC. Doutora em 2

Educação. E-mail: [email protected].

Page 2: METODOLOGIAS ATIVAS EM CURSOS TÉCNICOS atividades para

por outro, quando se trata de educação escolar, esse processo precisa ser mediado e o professor é a

figura central. Este trabalho parte deste princípio, de que a escola, imersa em um mundo de

aceleradas descobertas no campo da comunicação, precisa estar aberta a novas propostas

metodológicas, desde que a construção e a sistematização dos conhecimentos se deem em um

contexto mediado pelo professor, sem que este seja o único protagonista do processo.

Szklar e Garattoni (2018) apontam que a dependência das pessoas em relação aos suportes

de tecnologia e às redes a elas associadas estaria por trás da perda da capacidade de concentração,

sobretudo dos jovens, cada vez mais imersos nos conteúdos difundidos via smartphones e similares.

Os autores alertam que o uso intensivo das redes sociais, projetadas para o consumo rápido,

compromete a capacidade de concentração e de fixação da atenção em atividades que demandam

mais tempo, como o estudo de temas complexos ou a leitura de um livro.

Considerando esses dados contextuais, partimos do pressuposto de que, por um lado, a

escola não pode continuar tendo como foco metodologias tradicionais de ensino e aprendizagem,

diante de um perfil de sujeitos que chegam a ela com novos conhecimentos. Por outro lado, não

basta apenas mudar os métodos, mas é necessário que o professor esteja preparado para novas

abordagens metodológicas e tenha consciência dos resultados que espera com essa mudança, tendo

como foco, sempre, a ampliação do universo cultural dos sujeitos que passam pela escola.

Concordando com Diesel, Baldez e Martins (2017, p. 269) de que “as atuais demandas

sociais exigem do docente uma nova postura e o estabelecimento de uma nova relação entre este e o

conhecimento, uma vez que cabe a ele, primordialmente, a condução desse processo”, visamos

refletir sobre a entrada das chamadas metodologias ativas na sala de aula, tomando-as como ponto

de partida para a reflexão sobre as mudanças de paradigma nos processos de ensinar e de aprender

na escola atual, especialmente na Educação Profissional e Tecnológica. De acordo com Araujo

(2015, p. 06), essas metodologias estão centradas “[...] no aluno, posto que sua aprendizagem torna-

se protagonista, secundarizando-se o ensino, que fazia protagonizar o professor”.

Dessa forma, o trabalho desenvolvido teve como objetivo geral averiguar o papel das

metodologias ativas no protagonismo dos estudantes de cursos técnicos de nível médio. Teve-se

como objetivos específicos: implementar atividades envolvendo metodologias ativas em aulas desse

nível e modalidade de ensino; analisar se os estudantes identificam as diferenças entre as

metodologias tradicionais e as metodologias ativas; e investigar o papel atribuído pelos estudantes

às metodologias de ensino no processo de ensino aprendizagem.

A pesquisa seguiu a abordagem qualitativa, tendo como instrumentos de coleta de dados a

aplicação de um questionário a estudantes de duas turmas de 3º ano e em uma turma de 4º ano do

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curso técnico em Informática do Centro de Educação Profissional - Cedup Hermann Hering de

Blumenau , Santa Catarina, totalizando 49 sujeitos envolvidos. A coleta de dados foi realizada 3

durante o segundo e o terceiro bimestres de 2018, via “Google Forms”, sendo esta uma ferramenta

eficiente e centralizadora dos dados, permitindo a obtenção de relatórios com percentuais das

respostas. Ainda como instrumento de coleta de dados, foi realizada pesquisa participante que, de

acordo com Gil (2008, p. 31), se caracteriza “[…] pelo envolvimento dos pesquisadores e dos

pesquisados no processo de pesquisa”. Essa etapa da pesquisa foi possível devido ao fato deste

pesquisador atuar como docente nas turmas e na instituição de aplicação da pesquisa. Dessa forma,

durante o período letivo, foi planejado o conteúdo das aulas envolvendo atividades que

caracterizam metodologias ativas, sendo elas Troubleshooting, Cultura Maker, Gamificação e

Experimentação. Após a realização dessas atividades, os alunos foram convidados a responder a um

questionário, permitindo-nos compreender se eles perceberam as diferenças nas estratégias

metodológicas empregadas em sala de aula.

Na seção que segue, apresentamos alguns conceitos acerca da temática desta pesquisa para,

na sequência, fazermos a análise dos dados, visando ampliar a discussão sobre as novas

metodologias para o processo ensino aprendizagem, sobretudo quando se trata da formação em

cursos técnicos, foco deste trabalho.

2 NOVAS METODOLOGIAS EM SALA DE AULA: AS METODOLOGIAS ATIVAS

Camillo (2017) destaca que todos devem se atentar para a necessidade de se pensar em

novos delineamentos para e sobre educação. É necessário o comprometimento com a educação e,

por isso, somente transmitir conhecimentos não gera mais resultados. Escolher as teorias e

metodologias adequadas é papel fundamental do educador. Diante disso, ao atuarmos com a

docência em um grupo como o que é foco deste trabalho, envolvendo estudantes de cursos técnicos,

precisamos refletir sobre as formas de assegurar a participação dos estudantes no processo ensino

aprendizagem, tornando-o mais efetivo.

Dentre as propostas para que isso ocorra, Bleicher (2017, p. 3) afirma que conceitos de

ensino híbrido convergem em “[…] diferentes formas de ensinar e aprender e colocaram o estudante

como centro do processo do seu aprendizado, permitindo um respeito maior ao seu ritmo de

O Cedup Hermann Hering está vinculado à Secretaria de Estado da Educação. É uma instituição que oferece 3

Educação Profissional, com cursos Técnicos (Formação Técnica); Cursos de Qualificação Profissional (Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores) e Ensino Médio Integrado à Educação Profissional.

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aprendizagem[…]”. O ensino híbrido é um componente-chave das metodologias ativas. Possibilita a

utilização de ferramentas e aplicações distintas. Permite a movimentação e a adequação dos

ambientes. É dinâmico e mutável e está totalmente aberto para que o docente aplique e construa

novos métodos de ensino aprendizagem.

As metodologias ativas provocam a experiência sensorial de saber fazer, que passa pelo

estudo e pela experimentação de situações para comprovar seu saber fazer. Práticas que coloquem o

foco do processo de aprendizagem no aluno, fazendo com que ele se torna o protagonista da

construção de seus conhecimentos pelas práticas de pesquisa, investigação e análise podem ser

consideradas como metodologias ativas. Elas divergem da pedagogia de ensino tradicional em que

o professor é o transmissor do conhecimento e o aluno apenas o receptor (BACICH; MORAN,

2018).

Implicitamente, em algum momento o docente aplica alguma metodologia ativa. Porém,

com o conhecimento e a evolução da metodologia, algumas práticas se tornaram mais comuns,

como Troubleshooting (Metodologia baseada em resolução de problemas), Cultura Maker

(Metodologia baseada no Faça-Você-Mesmo), Gamificação (Metodologia baseada em aplicar

elementos de jogos nas atividades) e Experimentação (Metodologia baseada em simulação através

de hipóteses). Viana (2013 apud FADEL et al. 2014, p. 15) considera que “[…] a gamificação

abrange a utilização de mecanismos de jogos para a resolução de problemas e para a motivação e o

engajamento de um determinado público”. Sendo assim, desperta a curiosidade e proporciona a

autonomia para o aluno desenvolver suas habilidades. Ao identificar os elementos de jogos

presentes na metodologia da Gamificação, como desafios, bonificações e promoções, os conceitos

podem ser aplicados em qualquer tipo de atividade e, dessa forma, contribuir para o estímulo dos

alunos.

A necessidade de motivar as pessoas e de gerar envolvimento nas tarefas e ações em

empresas, escolas ou ainda em cursos e treinamentos leva muitas instituições a adotarem estratégias

lúdicas e elementos considerados motivacionais no planejamento de seus cursos e ações. Por meio

de dinâmicas chamadas jogos de empresas, serious games ou de aplicativos e sites em ambientes

educacionais virtuais, a ideia de aprendizagem guiada por interações e jogos está sendo inserida em

diferentes contextos. Essas atividades e conceitos funcionam como estratégia de aprendizagem e de

interação social. (FADEL et al, 2014, p. 123).

Especificamente em relação ao espaço escolar, é preciso considerar que tanto os

conhecimentos científicos quanto as metodologias de ensino selecionadas pelos professores para a

mediação desses conhecimentos junto aos alunos devem levar em conta o contexto histórico e

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social no qual a escola está imersa. As seleções metodológicas devem levar em conta a necessidade

de garantir a presença ativa do aluno na construção do conhecimento.

A integração do professor na sociedade, tendo clareza de por que e para que ensinar, o resgate dos conhecimentos prévios e a promoção de um ambiente educativo que favoreça a aquisição de novas idéias, o trabalho coletivo, as discussões epistemológicas e metodológicas nas diferentes áreas, tudo isso deve ser perseguido. Por isso, os objetivos deverão estar conectados com os conhecimentos dos alunos, da sociedade, das interfaces dos conteúdos e da concepção filosófica que delimita as condições naturais e sociais. (AZEVEDO; ANDRADE, 2007, p. 262).

Por mais que essas questões tenham encontrado espaço de discussão de forma intensa nas

últimas décadas, ainda é comum a presença de resquícios da chamada metodologia tradicional em

sala de aula. De acordo com Vasconcellos (1992, p. 01), nessa abordagem “[…] o grande trabalho

do professor se concentra na exposição, o mais clara e precisa possível, a respeito do objeto de

estudo, onde procura trazer para os alunos os elementos mais importantes para a compreensão do

mesmo, recuperando o conhecimento acumulado pela humanidade”. As metodologias de ensino que

seguem essa perspectiva estão centradas no docente e na transmissão de conteúdos. Os estudantes

mantêm uma postura passiva, apenas recebendo e memorizando as informações numa atitude de

reprodução (DIESEL; BALDEZ; MARTINS; 2018, p. 270).

Por muito acreditou-se que assegurar mudanças na educação, garantindo maior

envolvimento do aluno no processo, estaria relacionado somente à aplicação das tecnologias em

sala de aula. Porém, isso não modificou o formato do ensino. O professor continuou sendo o

detentor do conhecimento e os alunos espectadores das aulas. Na condução da aula, independente

da tecnologia aplicada, há a necessidade de garantir protagonismo ao aluno, tendo o professor como

mediador.

Desde o final do século XIX, postulava-se uma posição que contrariasse uma longa tradição pedagógica: tratava-se de ressaltar e privilegiar a atividade do aluno, compreendida como mola propulsora da aprendizagem. O protagonismo do professor seria destronado, pois tratava-se de conferir protagonismo ao aluno; em outros termos, o aprendente seria o carro-chefe em detrimento do ensinante ou, ainda, o puerocentrismo substituiria ao magistrocentrismo. (ARAUJO, 2015, p. 2).

Com a dinamicidade da sociedade atual, os processos de ensino devem estar alinhados a

essa dinamicidade. Entre os fatores que levam à dificuldade em manter o foco do aluno está o seu

perfil ativo, analista, investigador, e os processos da pedagogia tradicional pouco focam nestes

quesitos.

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Conforme Pourtpois e Desmet (1999, p. 6 apud CAMILLO, 2018, p. 7), essa abordagem é

denominada de pedagogia da impregnação, “enquando docentes, muitas vezes tendemos a

reproduzir com nossos alunos as mesmas posturas pedagógicas a que fomos submetidas". As

metodologias ativas, por outro lado, possibilitam um conjunto de novas técnicas que permitem

mudanças na postura pedagógica do docente.

3 AS METODOLOGIAS ATIVAS EM SALA DE AULA DE CURSOS TÉCNICOS

O foco na aplicação das metodologias ativas na pesquisa de campo desenvolvida ocorreu

durante aproximadamente quatro meses, no segundo e no terceiro bimestres do ano letivo de 2018,

envolvendo duas turmas de 3º ano e em uma turma de 4º ano do curso Técnico em Informática do

Cedup Hermann Hering de Blumenau. O processo de coleta de dados envolveu a análise das

respostas a questionários aplicados com 49 alunos distribuídos nas três turmas. Por ter acesso direto

aos alunos como professor das turmas, durante o período letivo, foi planejado o conteúdo das aulas

envolvendo atividades que caracterizam metodologias ativas, Troubleshooting, Cultura Maker,

Gamificação e Experimentação, fazendo parte da pesquisa participante desenvolvida para este

trabalho nas turmas envolvidas.

Na turma do 4º ano, após a aplicação dos conceitos teóricos, as aulas foram realizadas em

laboratórios de informática. Com o conhecimento na disciplina de Banco de dados e de utilização

do software gerenciador, os alunos desenvolveram atividades em que tinham como meta encontrar

problemas em um projeto de banco de dados. A metodologia encaminhada pelo docente para

encontrar problemas está relacionada com o conceito Troubleshooting, que desenvolve a análise e a

investigação do aluno, mas também pode ser estendida ao conceito de Experimentação,

desenvolvendo habilidades para lidar com teorias e hipóteses e até a de Cultura Maker, na qual o

aluno é estimulado a criar seus próprios resultados.

Nas turmas de 3º ano, após a discussão em sala de aula dos conceitos teóricos que

caracterizam a disciplina, as aulas foram realizadas em laboratório de informática e foi aplicada

uma ferramenta de Quiz com perguntas e respostas sobre os conceitos estudados. A atividade do

Quiz, além de possuir animação, aplica pontuações e bonificações extras para quantidades de

acertos, implanta elementos de jogos que estão relacionados com a técnica de Gamificação.

Após aplicação das metodologias ativas, as turmas responderam a um questionário aplicado

no formato do “Google Forms”, ferramenta que proporcionou a organização dos dados para sua

análise. O questionário foi composto por questões fechadas de múltipla escolha e questões abertas

Page 7: METODOLOGIAS ATIVAS EM CURSOS TÉCNICOS atividades para

para respostas livres. Dividido em dois grupos, o objetivo do primeiro grupo de questões avaliou o

ambiente escolar atual, antes da aplicação das metodologias ativas e o objetivo do segundo grupo de

questões é avaliar a relevância e aplicabilidade das metodologias ativas. Realizando a análise dos

dados coletados, é possível avaliar o cenário atual e comparar com o cenário após aplicação das

metodologias ativas. Os dados apontados pelo questionário servem como base para as discussões e

conclusões das técnicas aplicadas, apresentadas na próxima seção.

3.1 O que pensam os alunos sobre os modelos de ensino

Muitos autores têm refletido sobre o papel das metodologias de ensino adotadas pelo

professor nos resultados efetivos da aprendizagem dos alunos. Anastasiou (1997) afirma, em

primeiro lugar, que a visão do que sejam o ensino e a aprendizagem é que vai determinar a opção

metodológica feita pelo professor. Isso porque, afirma a autora, ensinar “[...] vai além de uma

simples transmissão e do simples ato de dizer o conteúdo” (ANASTASIOU, 1997, p. 94). O

primeiro aspecto diante do qual nos deparamos com a análise dos dados do primeiro grupo de

questões feito aos alunos está exatamente nessa direção. As respostas dadas às questões 01 e 02

destacam que a maioria no grupo de alunos considera a metodologia do professor como fator

determinante para o seu envolvimento nas atividades propostas em sala de aula.

Gráfico 1: As metodologias de ensino e o envolvimento dos estudantes.

Fonte: O Autor.

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Quando perguntado aos alunos quais os fatores que mais asseguram o envolvimento no

processo de ensino e aprendizagem, como se pode observar no Gráfico 1, 77.6% dos alunos

indicaram ser a metodologia adotada pelo professor o principal fator nesse processo. É importante

ressaltarmos que todos os demais fatores, apesar de possuírem percentuais menores, 10.2% para

quantidade de alunos na turma, 8.2 % para a infraestrutura, 4.0% para a ementa, possuem suas

contribuições neste processo e precisam ser analisados . A infraestrutura da escola, por exemplo, 4

tem papel delimitador na escolha das técnicas que envolvem o uso metodologias ativas.

Gráfico 2: As escolhas metodológicas dos alunos

Fonte: O Autor.

Ao analisarmos os percentuais do Gráfico 2, percebemos nos estudantes o desejo de assumir

o protagonismo no processo ensino aprendizagem. Isso fica claro quando observamos que 79.6%

indicaram que “fazendo, criando ou praticando” se sentem mais envolvidos com a apreensão do

conhecimento em sala de aula.

Apesar da destacada ânsia por uso de atividades que caracterizem metodologias ativas,

quando perguntado na questão 03 sobre a metodologia de ensino mais usual nas aulas que eles

participam, dos 49 alunos ouvidos, 40.8% afirmam que a metodologia mais aplicada ainda é a aula

expositiva, com o professor como centro do processo. Apenas 16.3% alunos afirmam que a

metodologia mais aplicada são aulas com caráter prático ligado às metodologias ativas. Anastasiou

Não nos voltamos a essa questão por não ser o foco deste trabalho. 4

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(1997) chama a atenção para as implicações de uma organização metodológica focada em um

modelo tradicional, centrado apenas na exposição de conteúdos pelo professor:

Caracterizando-os brevemente, podemos dizer que o paradigma tradicional é marcado pelo dizer o conteúdo por parte do professor que, desta forma, acaba por agir tal qual um palestrista, e pelo ouvir/memorizar o conteúdo por parte do aluno, que se torna, assim, um repetidor do que ouviu em sala de aula. Nesse modelo, alunos e professores estabelecem uma relação de sujeitos não-integrados, em relação a um conteúdo a ser medido e pontuado via avaliação, geralmente usada como instrumento de medida do saber memorizado e repetindo ipisis litteris […](ANASTASIOU, 1997, p. 97).

A análise dos dados coletados busca entender se as metodologias ativas podem interferir no

processo de ensino aprendizagem. Para ter uma maior acurácia dos dados, foi buscado confirmar a

compressão dos grupos de alunos sobre metodologias ativas e sua utilização. O Gráfico 3 aponta a

quantidade de alunos que associam os conceitos a cada metodologia.

Gráfico 3 - O entendimento do aluno sobre as metodologias aplicadas

Fonte: O Autor.

Em sua maioria, acima de 90% dos alunos conseguiram relacionar características das

metodologias tradicionais e as características das metodologias ativas, sendo este um indicio que o

grupo de alunos compreende os diferentes processos de ensino e aprendizagem trazendo mais

confiabilidade para as respostas obtidas nas demais questões desta pesquisa.

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Ao evidenciar as diferenças entre as metodologias, foi procurado identificar o uso das

metodologias ativas. A questão 05 “Atribua uma nota [zero a dez] sobre a quantidade de docentes

em seu percurso que lhe aplicaram metodologias ativas?”. O maior índice obtido foi de 34% (16

alunos do total), para as notas entre 4 e 5, poucos professores conhecem sobre os conceitos e

utilizam elementos das metodologias implicitamente. Enquanto o menor índice obtido foi de 10.6%

para a nota, de 8 a 10 a maioria dos professores possuem em seu planejamento de aula o uso de

metodologias ativas. O que mais uma vez demonstra que o processo de ensino e aprendizagem ativa

mesmo tratando de cursos técnicos possui um percentual baixo de aplicação.

É possível identificar também que, entre o grupo em questão, grande parte desaprova o

planejamento de aulas somente com uso de metodologias tradicionais. Porém, ainda houve um

percentual que se sente seguro com o uso dessas práticas.

Na questão 06, apresentada no Gráfico 4, ainda sobre metodologias de ensino tradicionais,

foi solicitado aos alunos para que atribuíssem uma nota de 1 até 10 para a aprovação do formato de

ensino somente com metodologias tradicionais, sendo 1 desaprovando totalmente o ensino

tradicional e 10 aprovando totalmente essa opção metodológica.

Gráfico 4 - A aceitação do formato de ensino atual

Fonte: O Autor.

As notas abaixo de 5 indicam a insatisfação com o processo pedagógico, seus percentuais

somados chegam a 77.6%, um percentual alto quando comparado com as notas acima de 5, que

indicam a satisfação com o processo atual chegando ao percentual de 22.4%. Apesar de uma parte

Page 11: METODOLOGIAS ATIVAS EM CURSOS TÉCNICOS atividades para

do grupo se sentir confortável com os processos tradicionais, a maioria do grupo acredita na

necessidade de mudanças.

3.2 Qual a expectativa dos alunos sobre as metodologias de ensino

Posteriormente, o grupo de alunos foi submetido a questões específicas sobre as

metodologias ativas. Os resultados medem a satisfação e envolvimento com as disciplinas, quando

trabalhadas com essa perspectiva metodológica. Atingindo níveis satisfatórios para a comprovação

da pesquisa, os dados demonstram que a maioria dos alunos aprova o uso das metodologias ativas

em sala de aula e concorda que elas podem aumentar seu rendimento nas disciplinas.

Ademais, acredita-se que toda e qualquer ação proposta com a intenção de ensinar deve ser pensada na perspectiva daqueles que dela participarão, que via de regra, deverão apreciá-la. Desse modo, o planejamento e a organização de situações de aprendizagem deverão ser focados nas atividades dos estudantes, posto que é a aprendizagem destes, o objetivo principal da ação educativa. (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2018, p. 270).

Entre os benefícios em utilizar metodologias ativas, os principais são atração para o foco

nas disciplinas, e o aumento no fator motivacional. A transformação na forma de conceber o

aprendizado, ao proporcionar que o aluno pense de maneira diferente, e a responsabilidade ao

assumir o protagonismo de suas ações, desenvolve um maior comprometimento destes alunos.

Gráfico 5 - O gosto dos alunos por metodologias ativas

Fonte: O Autor.

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A satisfação ligada diretamente à motivação do aluno se torna o fator diferencial das

metodologias ativas e com elas é possível resgatar o foco, o interesse para a aprendizagem. Nas

questões 02 (Gráfico 6), 03 (Gráfico 7) de metodologias ativas, os alunos confirmam que as novas

técnicas geram mais atração e podem estar ligadas ao seu desempenho como estudante.

Gráfico 6 - O fator motivacional

Fonte: O Autor.

A motivação dos alunos pode ser comprovadas com a análise da questão 02 (Gráfico 6),

mostrando que 70.8%, notas acima de 8, dos alunos aprovam o uso de metodologias ativas e se

sentem motivados em apreender com elas. Por outro lado, nenhum aluno desaprova o uso de

metodologias ativas em sala de aula, notas abaixo de 4.

Essa motivação pode estar relacionada com os resultados obtidos na questão 03 (Gráfico 7),

a seguir, que busca mensurar se o resgate do aluno nas disciplinas pode estar relacionado com a

aplicação de metodologias ativas. O aumento da atração dos alunos ao foco na disciplina é o ponto

central desta pesquisa, o seu índice de aprovação atinge 63.3% do grupo de alunos. Apenas 2% dos

alunos desse grupo não aprovam o uso de metodologias ativas com o intuito de resgatar o foco, o

interesse para as atividades propostas.

Page 13: METODOLOGIAS ATIVAS EM CURSOS TÉCNICOS atividades para

Gráfico 7 - O resgate ao foco para a aprendizagem

Fonte: O Autor.

Conforme Dias e Volpato (2017, p. 14), essa autonomia dada ao aluno reflete-se no ganho de

responsabilidade. O aluno aprende a lidar com os prazos de outra maneira. Porém, é preciso

compreender as diferentes formas de estudo de cada aluno, sendo esse um fator que consolida as

metodologias ativas.

Acompanhando os resultados da questão 04, que indagava sobre o aumento da fixação de

conhecimentos com o uso de metodologias ativas, os alunos em 69.4% concordam que a

metodologia ativa auxilia na fixação dos conhecimentos e as demais respostas deste questionário,

em opções que convergem para este fim somam 98% dos alunos, quando considerarmos que

apenas 2% dos alunos não aprovam o uso de metodologias ativas neste contexto, podemos

considerar que as metodologias ativas também podem trazer esses benefícios.

O protagonismo do aluno na construção de seus conhecimentos é o ponto central das

metodologias ativas. É possível observar nos percentuais das respostas da questão 05, sobre a

melhoria no processo de ensino e aprendizagem, os dados formatados para a análise da pesquisa

estimaram 69.4% sentem as vantagens dos estímulos das metodologias ativas na construção de seus

saberes, enquanto menos de 2% dos alunos desaprova a eficácia dessa técnicas como construção de

conhecimento.

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Podemos analisar com os dados que, para o grupo em questão, as metodologias ativas se

tornaram um diferencial para a motivação no desenvolvimento das atividades, o foco nos

conteúdos, fixação de conhecimentos e autonomia para construção de seus saberes. As questões de

06 até 09, nas quais os alunos votam sobre a técnica de metodologia ativa que mais lhes satisfez,

são relevantes para o professor escolher a metodologia mais aceita. Porém, todos as técnicas

avaliadas CulturaMaker, Experimentação, Gameficação e Troubleshoting tiveram médias superiores

a 7, demonstrando-se atrativas para os alunos. O professor é o gestor do conhecimento em uma sala

de aula e deve realizar as medições da aplicação de diferentes técnicas de ensino, afim de identificar

quais as metodologias mais adequadas para as suas demandas, entrando em um processo contínuo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao aplicar diferentes metodologias de ensino, o processo ensino aprendizagem se torna mais

atraente. A pesquisa realizada demonstra que formas de ensino utilizando metodologias ativas são

mais aceitas pelos alunos, sendo um diferencial no seu percurso escolar. Quando se tratado da

Educação Profissional e Tecnológica, historicamente associada a atividades que levam à preparação

para o mundo do trabalho, os resultados aqui alcançados demonstram que essas novas formas de

ensinar e de aprender trazem resultados significativos.

Certo que, ao tratar sobre o tema, é preciso levar em conta que o formato da escola atual

nem sempre possibilita ao professor inovar nas formas de condução do processo ensino

aprendizagem. Um modelo tradicional que historicamente se impõe como forma clássica de ensinar

e de aprender, dificuldades de infraestrutura, falta de tempo de planejamento pedagógico são alguns

dos fatores que podem ser listados como empecilhos. Ainda, não assumimos aqui a postura ingênua

de acreditar que apenas o uso de novas ferramentas em sala de aula, sobretudo aquelas

possibilitadas pelas tecnologias, asseguram a efetiva qualidade no processo ensino aprendizagem.

Os resultados alcançados com este trabalho sinalizam para novas formas de ensinar e de

aprender que coloquem o aluno como protagonista, em ações mediadas pelo professor. Nisso, as

metodologias ativas são recursos importantes a serem considerados. Com certeza, muito ainda

precisa ser estudado sobre o tema. Os dados aqui apresentados, que colocam em cena as opiniões

dos estudantes da Educação Profissional e Tecnológica, são exemplos do quanto precisamos

avançar nessa direção, nas escolas brasileiras, independente do nível ou da modalidade de ensino.

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REFERÊNCIAS

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