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Métodos de Análise do Comportamento Sísmico de Muros de Gravidade Tania B. Ubillús Departamento de Engenharia Civil – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Celso Romanel Departamento de Engenharia Civil – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] RESUMO: O projeto de estruturas de contenção de solos submetidos a carregamentos sísmicos é um importante tema da engenharia geotécnica, principalmente nos países andinos. A abordagem mais comum de solução consiste no emprego de métodos de equilíbrio limite (métodos pseudo- estáticos) ou métodos empíricos baseados em deslocamentos permanentes da estrutura. Um método pseudo-estático clássico é o formulado por Okabe (1926) e Mononobe (1929) enquanto que o método sugerido por Richards e Elms (1979) representa uma classe de métodos de projeto de muros de gravidade baseados em deslocamentos permanentes admissíveis. Neste trabalho, métodos para análise do comportamento sísmico de muros de gravidade são comparados, enfatizando-se suas vantagens e limitações, bem como são discutidos os vários aspectos de modelagem numérica que devem ser cuidadosamente considerados para assegurar uma simulação computacional representativa do problema. PALAVRAS-CHAVE: Comportamento Sísmico, Muro de Gravidade, Deslocamentos Permanentes, Elementos Finitos. 1 INTRODUÇÃO No Peru, como em vários países andinos, o comportamento de estruturas de contenção é considerado um problema geotécnico importante, devido à atividade sísmica intensa que ocorre em extensas regiões ao longo da costa do Pacífico. A ruptura de estruturas de contenção pode causar grandes danos em estradas, barragens, indústrias, etc., com riscos a vidas humanas bem como com graves consequências econômicas, sociais e ambientais. Este trabalho apresenta uma revisão de alguns métodos propostos na literatura para o projeto de muros de gravidade sob carregamento sísmico, procurando, através de um exemplo numérico, comparar os resultados obtidos com a aplicação de diferentes abordagens de cálculo. 2 COMPORTAMENTO ESTÁTICO Métodos de equilíbrio limite são bastante aplicados na análise do comportamento estático de estruturas de contenção, taludes de solo, capacidade de carga de fundações, etc., em parte devido à simplicidade matemática da formulação, em parte pela longa e contínua experiência de utilização no projeto de obras geotécnicas. 2.1 Método de Coulomb (1776) Considerando o muro de gravidade de altura H representado na figura 1, o equilíbrio das forças atuantes sobre uma cunha de solo granular, com peso específico e ângulo de atrito resulta na seguinte expressão para o empuxo ativo: 2 A A 1 P = K γ H 2 (1)

Métodos de Análise do Comportamento Sísmico de Muros de … · 2016-03-01 · onde é o ângulo de atrito da interface solo ... cunha de solo ativa for submetida a uma aceleração

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Métodos de Análise do Comportamento Sísmico de Muros deGravidade

Tania B. UbillúsDepartamento de Engenharia Civil – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio deJaneiro, Brasil, [email protected]

Celso RomanelDepartamento de Engenharia Civil – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio deJaneiro, Brasil, [email protected]

RESUMO: O projeto de estruturas de contenção de solos submetidos a carregamentos sísmicos éum importante tema da engenharia geotécnica, principalmente nos países andinos. A abordagemmais comum de solução consiste no emprego de métodos de equilíbrio limite (métodos pseudo-estáticos) ou métodos empíricos baseados em deslocamentos permanentes da estrutura. Um métodopseudo-estático clássico é o formulado por Okabe (1926) e Mononobe (1929) enquanto que ométodo sugerido por Richards e Elms (1979) representa uma classe de métodos de projeto de murosde gravidade baseados em deslocamentos permanentes admissíveis. Neste trabalho, métodos paraanálise do comportamento sísmico de muros de gravidade são comparados, enfatizando-se suasvantagens e limitações, bem como são discutidos os vários aspectos de modelagem numérica quedevem ser cuidadosamente considerados para assegurar uma simulação computacionalrepresentativa do problema.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento Sísmico, Muro de Gravidade, Deslocamentos Permanentes,Elementos Finitos.

1 INTRODUÇÃO

No Peru, como em vários países andinos, ocomportamento de estruturas de contenção éconsiderado um problema geotécnicoimportante, devido à atividade sísmica intensaque ocorre em extensas regiões ao longo dacosta do Pacífico. A ruptura de estruturas decontenção pode causar grandes danos emestradas, barragens, indústrias, etc., com riscos avidas humanas bem como com gravesconsequências econômicas, sociais eambientais.

Este trabalho apresenta uma revisão dealguns métodos propostos na literatura para oprojeto de muros de gravidade sobcarregamento sísmico, procurando, através deum exemplo numérico, comparar os resultadosobtidos com a aplicação de diferentesabordagens de cálculo.

2 COMPORTAMENTO ESTÁTICO

Métodos de equilíbrio limite são bastanteaplicados na análise do comportamento estáticode estruturas de contenção, taludes de solo,capacidade de carga de fundações, etc., em partedevido à simplicidade matemática daformulação, em parte pela longa e contínuaexperiência de utilização no projeto de obrasgeotécnicas.

2.1 Método de Coulomb (1776)

Considerando o muro de gravidade de altura Hrepresentado na figura 1, o equilíbrio das forçasatuantes sobre uma cunha de solo granular, compeso específico e ângulo de atrito resulta naseguinte expressão para o empuxo ativo:

2A A

1P = K γ H

2(1)

com o coeficiente de empuxo ativo KA definidopor:

( )

( ) ( ) ( )( ) ( )

2

A 2

2

cos - θK =

senδ+ sen - βcosθ cos δ+θ 1+

cosδ+θ cos β - θ

f

f fé ùê úê úë û

(2)

onde é o ângulo de atrito da interface solo–muro e os ângulos e são indicados na figura.

F

W

dPA

A

W

PA

F

F

W

dPA

A

W

PA

F

Figura 1. Cunha de solo delimitada pela superfície doaterro, face do muro de gravidade e superfície de ruptura(esquerda); polígono das forças atuantes sobre a cunha desolo (direita) – Kramer (1996).

3 COMPORTAMENTO DINÁMICO

A resposta dinâmica de estruturas de contençãoé complexa. Valores dos deslocamentos e detensões dependem do comportamento do aterro,do solo de fundação, da inércia e rigidez daestrutura, das características do registro sísmico,etc. De modo geral sabe-se que: As estruturas podem se movimentar por

translação ou rotação. Dependendo dascaracterísticas do muro, ambos osmovimentos ocorrem ou um deles pode serpreponderante (Nadim e Whitman, 1984). Amagnitude e distribuição das tensões sãoinfluenciadas pelo tipo de movimento (Sherife Fang, 1984).

O empuxo máximo do solo geralmenteocorre quando o muro apresenta translaçãoou rotação contra o aterro (empuxo passivo),tornando-se mínimo no sentido oposto(empuxo ativo).

A posição do ponto de aplicação do empuxomovimenta-se ao longo da face do muro emcontato com o aterro, pois a distribuição dastensões nesta interface varia com o tempo.

Valores de tensões residuais podempermanecer atuantes sobre a estrutura,mesmo após o término do evento sísmico(Whitman, 1990).

3.1 Método de Mononobe-Okabe (1929)

Os métodos rígido-plásticos, ou pseudo-estáticos, são baseados no equilíbrio de forças.Determinam os valores das forças atuantessobre o muro de gravidade, bem como seusrespectivos pontos de aplicação, possibilitandoo cálculo de um fator de segurança contra aruptura da estrutura. Um método pseudo-estático clássico foi desenvolvido por Okabe(1926) e Mononobe (1929), atualmenteconhecido como o método de Mononobe-Okabe.

As forças atuantes sobre uma cunha de sologranular, seco, são mostradas na Figura 2.Adicionalmente às forças estáticas consideradasna figura 1 do método de Coulomb (1776), oequilíbrio de forças agora envolve as forçaspseudo-estáticas equivalentes às forças deinércia1, com componentes horizontal e verticalkhW e kvW, respectivamente, onde kh e kv são oschamados coeficientes sísmicos.

Wkv

W

Wkh

FPAE

AE

(a) (b)

d

Wkv

Wkh

F

PAE

W

Wkv

W

Wkh

FPAE

AE

(a) (b)

d

Wkv

Wkh

F

PAE

W

Figura 2. Forças atuantes sobre a cunha de solo ativa nométodo de Mononobe-Okabe (esquerda); polígono deforças incluindo as forças pseudo-estáticas khW e kvW(direita) - Kramer (1996).

O empuxo ativo total PAE pode ser expresso

1 mas de sentidos contrários, de acordo com o princípio de d’Alembert.

de maneira similar à apresentada para acondição estática (equação 1), i.e.

( )2AE v

AE

K γ H 1 - kP =

2(3)

com o coeficiente de empuxo ativo KAE nacondição pseudo-estática definido por:

( ) ( ) ( )2 2AEK =cos - θ - ψ / cos(ψ)cos θ cos δ+θ+ψf

( ) ( )( ) ( )

2

senδ + sen - β - ψ1+

cosδ + θ + ψ cos β - θ

f fæ öç ÷ç ÷è ø

(4)

onde -β ψf ³ e 1tan1

h

v

k

ky - é ù= ê ú-ë û

O empuxo ativo total PAE (equação 3) podeser subdividido na componente estática PA

(equação 1) e na componente pseudo-estáticaPAE

AE A AEP P P= + D (5)

Admitindo que a componente estática atuana elevação H/3, a partir da base do muro, Seede Whitman (1970) recomendam que acomponente pseudo-estática seja localizada àdistância 0,6H da base. Assim, a elevação h doponto de aplicação da força resultante (empuxoativo total PAE) é calculada pela médiaponderada,

H + 0,6H

3h = A AE

AE

P P

P

D(6)

Seed e Whitman (1970) concluem tambémque as acelerações verticais (ou coeficientessísmicos kv) podem ser ignoradas quando dautilização do método de Mononobe-Okabe paracálculo do empuxo ativo no projeto de muros degravidade.

3.2 Método de Richards-Elms (1979)

Estruturas de contenção devem apresentar

estabilidade durante a ocorrência decarregamentos sísmicos e, adicionalmente, nãodevem sofrer deslocamentos permanentesexcessivos após o final da excitação que possamcomprometer sua utilidade.

Richards e Elms (1979) propuseram ummétodo para análise sísmica de muros degravidade baseado em deslocamentosadmissíveis da estrutura. O método estimadeslocamentos permanentes de maneira análogaao tradicional método de Newmark (1965)empregado na determinação de deslocamentospermanentes em taludes de solo sobcarregamento sísmico.

Na figura 3, entre os pontos o e a asacelerações do solo e da estrutura são iguais. Apartir do ponto a, quando o fator de segurançapseudo-estático contra o deslizamento da baseatinge o valor crítico 1, a estrutura passa a semovimentar com aceleração horizontal deescoamento ay constante e o solo comacelerações horizontais superiores entre ospontos a e b. Esta diferença entre valores deaceleração, integrada uma vez no tempo a ≤ t ≤b, produzirá velocidades relativas da estrutura e,através de uma integração adicional no mesmointervalo de tempo, deslocamentos relativospermanentes da estrutura, como ilustrado nosgráficos da figura.

Figura 3. Esquema para cálculo dos deslocamentospermanentes da estrutura de contenção (Richards e Elms,1979).

Do ponto b ao ponto c as velocidades do soloe do muro novamente coincidem, mas aestrutura volta a apresentar valores develocidade e deslocamentos permanentesrelativos entre os pontos c e d quando aaceleração horizontal do solo ultrapassa

novamente o valor da aceleração horizontal deescoamento da estrutura.

A aplicação do método de Richards-Elmsnecessita da estimativa da aceleração deescoamento ay da estrutura. Para o muro degravidade com peso Ww da figura 4, quando acunha de solo ativa for submetida a umaaceleração suficiente para causar o deslizamentodo muro sobre a sua base, as equações deequilíbrio dinâmico permitem escrever, naiminência do movimento:

cosPWg

aT AEW

y (7)

senPWN AEW (8)

Considerando btanNN , onde b é oângulo de atrito do solo de fundação, é possíveldeterminar a aceleração de escoamento ay por:

( ) ( )AE AEy b

w

P cosδ+θ - P sen δ+θa = tan - g

Wf

é ùê úë û

(9)

PAE.Cos

PAE.Sen

PAE

W

Way

T

N

g

w

Figura 4. Muro de gravidade sob ação de forças pseudo-estáticas.

Richards e Elms (1979) recomendam que PAE

seja avaliado pelo método de Mononobe-Okabe(1929) o qual, por sua vez, também necessita doconhecimento prévio do valor de ay para seraplicado. A solução da equação 9 deve ser feita,

portanto, de forma iterativa.Utilizando o método de dupla integração no

tempo, acima mencionado, Richards e Elms(1979) propuseram a seguinte correlação paradeterminação dos deslocamentos permanentesde muros de gravidade.

2 3max max

perm 4y

v ad = 0.087

a para 3.0

a

a

max

y (10)

onde vmax é a velocidade máxima e amax aaceleração horizontal máxima, ambas nasuperfície do solo.

Whitman e Liao (1985) identificaram algunserros no desenvolvimento do método deRichards-Elms (1979), decorrentes de hipótesessimplificadoras adotadas. Dentre estas, a maisimportante é a desconsideração da respostadinâmica do aterro e dos mecanismosmecânicos que combinam movimentos derotação e de translação. Whitman e Liao (1985),utilizando os resultados de análises dedeslocamentos permanentes em 14 casoshistóricos publicados por Wong (1982),propuseram então a seguinte correlação paraestimativa do deslocamento permanente domuro de gravidade:

2ymax

perm

max max

-9.4a37 vd = exp

a a

æ öç ÷ç ÷è ø

(11)

4 MODELAGEM NUMÉRICA

Neste trabalho o programa computacionalPlaxis 2D (Finite Element Code for Soil andRock Analyses) foi empregado para investigar ocomportamento sísmico de um muro degravidade, com o objetivo de comparar osresultados de uma análise mais abrangente comos resultados previstos pelos métodosaproximados descritos na seção anterior.

4.1 Descrição do problema

O muro é constituído por um materialhomogêneo, isotrópico e linearmente elástico

(módulo de elasticidade E, coeficiente dePoisson ) e o solo representadomecanicamente através do modeloelastoplástico de Mohr-Coulomb (E, , coesãoc, ângulo de atrito ângulo de dilatância´).Valores das propriedades dos materiais estãolistados na tabela 1.

O critério de resistência de Mohr – Coulombé utilizado para a descrição do comportamentomecânico na interface solo-estrutura, utilizandoum fator multiplicativo Rinter para indicar umaredução da resistência ao longo da interfacesolo/muro (elementos de interface). Valorestípicos de Rinter estão listados na tabela 2.

inter inter solo soloc =R c c£

(12)

inter inter solo solotan =R tan tanf f f£ (13)

interR 1< considerar int 0erY = °

caso contrario, inter soloY = Y (14)

Tabela 1. Propriedades dos materiais.Material E

(kPa) ´

(o)

c(kPa)

(kN/m3)

Solo 1.25x105 0.25 0 35 0 21Muro 250x105 0.15 - - - 25

Tabela 2. Valores típicos de fatores de redução deresistência Rinter (Pérez More, 2003)

Tipo de Interfase Rinter

Areia/aço 0.667

Argila/aço 0.5

Areia/concreto 0.8-1

Solo/geogrelha 0.8-1

Solo/geotextil 1

4.2 Análise pseudo-estática

A simulação numérica por elementos finitos deuma análise pseudo-estática foi feita aplicando-se uma força de corpo em todos os elementos damalha com valor equivalente a uma aceleraçãohorizontal de valor constante. Os resultadosassim obtidos foram então comparados com osprevistos pela solução de Mononobe-Okabe,

considerando-se kv = 0, 0b = ° , 0q = ° ,δ = 29.6° (correspondente a Rinter = 0,8),

= 35°f e diversos valores do coeficientesísmico horizontal kh.

A figura 5 mostra graficamente a variação docoeficiente de empuxo ativo KAE com valores deaceleração horizontal normalizada kh = ah/g,obtida pelos métodos de Mononobe-Okabe(1929) e elementos finitos. Observa-se que, demaneira geral, há boa concordância entre estesresultados. A figura 6 indica a variação doponto de aplicação do empuxo ativo.

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.80

0.90

1.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50

KAE

kh

Mononobe-Okabe

Análisis Pseudo-estático

Figura 5. Variação do coeficiente de empuxo ativo KAE

com a aceleração horizontal normalizada kh determinadapelo método de Mononobe-Okabe (1929) e por elementosfinitos.

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50

h/H

kh

Mononobe-Okabe

Análisis Pseudo-estático

Figura 6. Variação do ponto de aplicação h do empuxoativo, determinado pelos métodos de Mononobe-Okabe(1929) e por elementos finitos.

4.3 Análise sísmica

O acelerograma mostrado na figura 7 se refereao terremoto de Lima (Peru) ocorrido emoutubro de 1974, com uma duração superior a90 segundos. Este registro foi normalizado para

um valor máximo de aceleração de 0,5g.

-500

-400

-300

-200

-100

0

100

200

300

400

500

0 20 40 60 80 100

Aceleración (cm/s2)

Tiempo (s)

0.5g

Figura 7. Acelerograma do terremoto de Lima (1974)normalizado para uma aceleração máxima de 0,5g.

Para evitar problemas de reflexão de ondasespúrias nos contornos da malha de elementosfinitos, foram utilizados contornos silenciosos(Lysmer e Kuhlemeyer, 1969), constituídos poramortecedores viscosos dispostos ao longo doscontornos laterais do modelo discreto.

As componentes de tensão normal σn e detensão cisalhante τ nos amortecedores viscososdevem ser iguais a

n 1 p xσ = c ρ C u̇ (15)

2 s yτ = -c ρ C u̇ (16)

onde r é a massa específica do solo, pC e sC asvelocidades de propagação das ondas P e S,respectivamente, 1c e 2c são coeficientes de

amortecimento, xu̇ e yu̇ as velocidades dapartícula nas direções x e y.

De acordo com White et al (1977), oscoeficientes 1c e 2c dependem do valor docoeficiente de Poisson n do solo, como indicadona Tabela 3. Nesta pesquisa foram utilizados 1c

= 0.986 e 2c = 0.744 correspondentes ao valor0.25u = .

A figura 8 mostra a malha de elementosfinitos utilizada nas análises sísmicas,aplicando-se na base do modelo, correspondenteà profundidade do substrato rochoso, oacelerograma da figura 7.

Tabela 3. Valores de c1 e c2 em função do coeficiente dePoisson u do solo (White et al, 1977).Coef. dePoisson

c1 c2

Coef. dePoisson

c1 c2

0.00 0.959 0.769 0.25 0.986 0.7440.05 0.967 0.761 0.30 0.986 0.7420.10 0.975 0.756 0.35 0.992 0.7400.15 0.982 0.751 0.40 1.007 0.7460.20 0.986 0.747 0.45 1.011 0.773

Figura 8. Malha de elementos finitos utilizada na análise sísmica.

O espectro de frequências da excitaçãosísmica e as velocidades de propagação dasondas no maciço de solo podem afetar aprecisão dos resultados numéricos. Kuhlemeyere Lysmer (1973) recomendam que para umarepresentação eficiente da transmissão dasondas através da malha, o tamanho do elementol deve ser menor do que 1/10 a 1/8 docomprimento de onda associada à maiorfrequência do acelerograma de entrada.

5 RESULTADOS

5.1 Método de Richards-Elms (1979)

Os valores da aceleração de fluência ay

determinados com base nas equações 3, 4 e 9,num processo de cálculo iterativo, resultaramem ay = 0.32g para interface rugosa (Rinter = 0.8)entre a base do muro e o solo de fundação e ay =0.17g para uma interface lisa (Rinter = 0.48).

Para determinar os deslocamentospermanentes pelo método de Richards-Elms(1979) é necessário também conhecer aaceleração e velocidade máxima na superfíciedo terreno, amax e vmax, respectivamente,apresentadas nos gráficos das figuras 9 e 10.

5.2 Método de Whitman-Liao (1985)

Com base nas figuras 9 e 10, a aplicação da

equação 11 é imediata, resultando nos valoresindicados na tabela 4.

5.3 Método dos Elementos Finitos

Os resultados das análises numéricas pelométodo dos elementos finitos, realizadas com oprograma computacional Plaxis 2D, estãoapresentados na figura 11, com a história dosdeslocamentos do muro de gravidade.

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Aceleración (m

/s2)

Tiempo (s)

Rinter = 0.81

Rinter = 0.48

ay = 0.32g

ay = 0.17g

Figura 9. Acelerações na superfície do terreno para osismo de Lima (1974) normalizado para uma aceleraçãomáxima de 0.5g, ay = 0.32g e ay = 0.17g.

-0.40

-0.30

-0.20

-0.10

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Velocidad (m

/s)

Tiempo (s)

Rinter = 0.81Rinter = 0.48

Figura 10. Velocidades na superfície do terreno para osismo de Lima (1974) normalizado para uma aceleraçãomáxima de 0.5g.

Da análise dos gráficos da figura 11 épossível então estimar-se os valores dosdeslocamentos permanentes do muro,observando-se a formação de um patamar ondeos valores ficam praticamente constantes aolongo do tempo, indicando ocorrência dedeformações plásticas irrecuperáveis (tabela 4).

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Desplazam

iento (m

)

Tiempo (s)

Rinter = 0.81 - Cima del muro

Rinter 0.81 - Pie del muro

Rinter = 0.48 - Cima del muro

Rinter = 0.48 - Pie del muro

Figura 11. História dos deslocamentos do muro degravidade para o sismo de Lima (1974) normalizado parauma aceleração horizontal máxima de 0.5g.

Tabela 4. Deslocamentos permanentes do muro degravidade considerando o sismo normalizado de Lima(1974).

Método Deslocamento (m)

Rinter = 0.8

Deslocamento (m)

Rinter = 0.48

Richards-Elms

(1979)

0.30 1.18

Whitman-Liao

(1985)

0.05 0.11

Elementos

finitos

1.25 2.40

6 CONCLUSÕES

Muros de gravidade são normalmenteprojetados utilizando o tradicional métodopseudo-estático de Mononobe-Okabe, oualternativamente através do método deRichards-Elms (1979), baseado na analogiado bloco rígido de Newmark (1965). Umadas principais deficiências do método deRichards-Elms é que este não considera osefeitos de rotação da estrutura, mas apenasconsidera a hipótese de ruptura devido aodeslizamento do muro sobre sua base.

O método pseudo-estático de Mononobe-Obake (1929) apresenta uma variação quaselinear dos coeficientes de empuxo com aaceleração horizontal, mostrando boaaproximação com as correspondentesquantidades calculadas neste caso com ométodo dos elementos finitos.

Nesta pesquisa foram determinados valoresprevistos de deslocamento do muro degravidade bastante discrepantes entre si,

quando calculados pelos métodos deRichards-Elms (1979), Whitman-Liao (1985)e pelo método dos elementos finitos.Observações semelhantes sobre estadisparidade de resultados também foramregistradas na literatura.

Na figura 11 observa-se que a parte superiordo muro sofre um deslocamento maiorcomparado com o seu pé, indicandomovimentos de translação e de rotação, tantomais importantes quanto menor for o fator deinteração solo / muro Rinter.

REFERÊNCIAS

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