Metodos de Avaliação de Imóveis.pdf

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

    Vanessa Bawden de Paula Macanhan

    A AVALIAO DE IMVEIS PELOS MTODOSECONMICO-FINANCEIROS

    Dissertao submetida ao Programa de

    Ps-Graduao em Engenharia de Produo

    como requisito parcial obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia de Produo.

    Orientador:Prof. Jos Arnaldo Barra Montevechi, Dr.

    Co-orientador:Prof. Edson de Oliveira Pamplona, Dr.

    Itajub, 13 de dezembro de 2002

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

    Vanessa Bawden de Paula Macanhan

    A AVALIAO DE IMVEIS PELOS MTODOSECONMICO-FINANCEIROS

    Dissertao aprovada por banca examinadora em 13 de dezembro de 2002,

    conferindo ao autor o ttulo deMestre em Engenharia de Produo.

    Banca Examinadora:

    Prof. Hector Gustavo Arango, Dr.

    Prof. Joo Roberto Ferreira, Dr.

    Prof. Edson de Oliveira Pamplona, Dr. (Co-orientador)

    Prof. Jos Arnaldo Barra Montevechi, Dr. (Orientador)

    Itajub, 13 de dezembro de 2002

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    Dedico ao maior, melhore mais adorvel companheiro que j tive.

    Mesmo no estando mais ao meu lado,estar para sempre no meu corao.

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    Agradeo Universidade Federal de Itajub UNIFEI, ao meu orientador Prof. Dr. JosArnaldo Barra Montevechi e ao meu co-orientador Prof. Dr. Edson de Oliveira Pamplona.

    Agradeo ao Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo e a todos osprofessores que dele participam, em especial ao Prof. Dr. Joo Batista Turrioni.

    Agradeo Coordenao de Aperfeioamento do Pessoal de Nvel Superior - CAPES peloapoio financeiro e ao Sindicato das imobilirias do Rio de Janeiro pelo auxlio prestado na

    coleta de dados.

    Agradeo aos meus pais, Suely e Guerino, que tanto amo e aos meus padrinhos, Vera eJoseli, pelo apoio e companherismo.

    Agradeo a Deus por todas as vitrias e conquistas.

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    SUMRIO

    DedicatriaAgradecimentos

    SumrioLista de siglasResumo

    Abstract

    1. Introduo 11.1. Consideraes iniciais 1

    1.1.1. Consideraes sobre investimentos em imveis 11.1.2. Consideraes sobre avaliaes de imveis 2

    1.2. Objetivo 31.3. Justificativa 31.4. Limitaes 4

    1.5. Estrutura do trabalho1.6. Artigos originados a partir deste trabalho

    56

    2. Reviso Bibliogrfica 72.1. Consideraes iniciais 72.2. Consideraes sobre avaliaes 72.3. Avaliaes no mercado imobilirio 82.4. A Norma Brasileira para Avaliao de Imveis Urbanos NBR5676

    (1989) 102.4.1. Preo versus valor 112.4.2. Mtodos de avaliao de imveis apresentados na NBR5676

    (1989) 142.4.2.1. Mtodo comparativo de dados de mercado 142.4.2.2. Mtodo comparativo do custo de reproduo 152.4.2.3. Mtodo da renda 162.4.2.4. Mtodo involutivo 172.4.2.5. Mtodo residual 19

    2.4.3. Mtodo de avaliao no apresentado na NBR5676(1989):Mtodo evolutivo 19

    2.4.4. Os nveis de rigor apresentados na NBR5676 (1989) 202.5. O projeto de reviso da Norma 212.6. A escolha do mtodo de avaliao 22

    2.7. Trabalhos relativos avaliao de imveis no Brasil2.8. Consideraes finais 24253. Conceitos e consideraes importantes para as avaliaes econmico-

    financeiras 273.1. Consideraes iniciais 273.2. A avaliao econmica de ativos 27

    3.2.1. Fluxos de caixa 273.2.2. Relaes de equivalncia 283.2.3. Taxas de desconto ou taxas mnimas de atratividade (TMA) 30

    3.2.3.1. A importncia das taxas de desconto 313.2.3.2. Taxas de desconto e inflao

    3.2.3.3. Taxa nominal e taxa efetiva

    31

    3.2.4. Custos irrecuperveis e custos de oportunidade 323.2.5. Consideraes sobre risco 33

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    3.2.5.1. Capital asset pricing model (CAPM) e coeficiente beta 353.3. Conceitos em estatstica e taxas de crescimento 36

    3.3.1. Anlise de regresso linear 373.3.1.1.Coeficiente de correlao (r) 383.3.1.2.Coeficiente de determinao (R2) 39

    3.3.2. Sries temporais 393.3.2.1.Anlise de tendncia3.4. Consideraes finais

    4041

    4. A avaliao de imveis pelos mtodos econmico-financeiros 424.1. Consideraes iniciais4.2. Ativos reais versus ativos financeiros

    4242

    4.3.Os fluxos de caixa dos imveis 434.3.1. Entradas de caixa 43

    4.3.2. Sadas de caixa 464.3.3. Taxas de crescimento 47

    4.4. Nmero de perodos de investimento 47

    4.5. Taxas de desconto em investimentos imobilirios 474.5.1. Determinao da taxa de desconto analisando o seu risco 48

    4.5.1.1.Determinao do prmio por risco 504.5.1.2.A escolha do ndice de mercado para a estimativa dos betas

    dos imveis 514.5.2. Determinao da taxa de desconto atravs de pesquisa com outros

    investidores 514.5.3. Algumas consideraes sobre taxas de desconto

    4.6. Consideraes finais5252

    5. Estimando a rentabilidade e o nvel de risco sistemtico 535.1. Consideraes iniciais 535.2. A coleta de dados 53

    5.2.1. Dados coletados para este trabalho 535.2.1.1.Limitaes dos dados 54

    5.2.2. A coleta de dados de mercado 555.2.3. A coleta de dados do IBOVESPA 55

    5.3. Procedimento para determinao da rentabilidade e do nvel de riscosistemtico aplicao na regio da Barra da Tijuca e Recreio dosBandeirantes 58

    5.3.1. Anlise dos dados apresentados 585.3.2. Correo dos valores devido inflao 60

    5.3.3. Clculo da rentabilidade e nvel de risco sistemtico considerandoapenas os valores de venda 1aabordagem 645.3.4. Clculo da rentabilidade e nvel de risco sistemtico considerando

    os recebimentos gerados pelos aluguis 2aabordagem 675.3.5. Anlise dos resultados obtidos nas duas abordagens 71

    5.3.5.1. Limitaes da 1aabordagem 725.3.5.2. Limitaes da 2aabordagem 735.3.5.3. Comparao entre as abordagens 73

    5.4. Estimando a rentabilidade e o nvel de risco sistemtico de todas asregies da cidade do Rio de Janeiro 74

    5.5. Anlise dos resultados 86

    6. Concluses 896.1. Consideraes iniciais 896.2. Contribuies deste trabalho 89

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    6.3. Recomendaes para trabalhos futuros 90APNDICE 1 Valores ofertados de vendaAPNDICE 2 Valores ofertados de aluguelAPNDICE 3 Valores ofertados de venda corrigidosAPNDICE 4 Valores ofertados de aluguel corrigidos

    APNDICE 5 Rentabilidades calculadas pela 1a

    abordagemAPNDICE 6 Rentabilidades calculadas pela 2aabordagemREFERNCIAS BIBLIOGRFICASBIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

    cd-romcd-romcd-romcd-rom

    cd-romcd-rom9296

    ANEXO A ndices BOVESPA do perodo em estudadoANEXO B NBR14653-1ANEXO C NBR14653-2: Texto aprovado at 29/08/2002

    cd-romcd-romcd-rom

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    LISTA DE SIGLAS

    A Fluxo de caixa de uma srie uniformea Ponto de interceptao da regresso ou interceptoABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    b Inclinao de regressoBOVESPA Bolsa de Valores do Estado de So PauloC Flutuaes cclicasCAPM Capital asset pricing modelCOBREAP Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliaes e PerciasENEGEP Encontro Nacional de Engenharia de ProduoF Fluxo de caixa futuroI Variaes irregulares ou aleatriasi Taxa de desconto

    ia Taxa de desconto capitalizada anualmenteiE Taxa de desconto efetivaiI Taxa da inflaoim Taxa de desconto capitalizada mensalmenteiN Taxa de desconto nominaliR Taxa de desconto realIGP-M ndice geral de preos de mercadoIPTU Imposto territorial e predial urbanoIR Imposto de rendan Nmero de perodos de um fluxo de caixa

    NBR5676 Norma Brasileira para Avaliao de Imveis Urbanos

    NBR8951 Norma Brasileira para Avaliao de Glebas UrbanizveisNBR14653 Norma Brasileira para Avaliao de BensP Valor presente de um fluxo de caixa futuror Coeficiente de correlaoR2 Coeficiente de determinao ou R-quadradoRf Taxa livre de riscoRi Rentabilidade esperadaRm Rentabilidade de mercadoRICS Royal Institution of Chatered SurveyorsS Variaes sazonais ou estacionaisSECOVI-RJ Sindicato das Imobilirias do Rio de Janeiro

    T Tendncia secularTMA Taxa mnima de atratividadeTR Taxa referencialUM Unidade monetriaVP Valor presente de uma srie de fluxos de caixa futurosX Varivel independenteY Varivel dependente Coeficiente betam

    2 Varincia dos retornos de mercado

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    RESUMO

    So diversas as situaes nas quais deve-se realizar a avaliao tcnica de um imvel.

    Para tanto, a Norma Brasileira de Avaliao de Imveis Urbanos, que atualmente vempassando por um processo de reviso, apresenta diferentes mtodos de avaliao. O mtodo

    de avaliao mais utilizado atualmente o mtodo comparativo de dados de mercado

    utilizando inferncia estatstica que, apesar do seu alto grau de preciso e fundamentao, no

    capaz de determinar a rentabilidade e os riscos do investimento no imvel avaliado. Para

    esse propsito, seria necessria a utilizao de um dos mtodos econmico-financeiros, como

    por exemplo, o mtodo da renda ou o mtodo involutivo, que utilizam o fluxo de caixa

    descontado.Este trabalho apresenta de forma clara e objetiva um material no qual os avaliadores

    possam se basear ao realizar uma avaliao econmico-financeira de um imvel. So aqui

    mostrados os dados necessrios para a avaliao, como as entradas e sadas de caixa, nmero

    de perodos de investimento, taxas de crescimento, entre outros. Tambm mostrado como

    calculada a taxa de desconto a ser utilizada na avaliao, atravs das rentabilidades do

    mercado no qual o imvel se encontra.

    So apresentadas duas abordagens para a determinao e anlise da rentabilidade do

    investimento, de modo a possibilitar o investimento em imveis comparvel a outros

    investimentos. Tambm apresentado como so levantados e avaliados os riscos do

    investimento e discutido a respeito do coeficiente para imveis. So discutidas as diferentes

    formas de analisar o desempenho financeiro do investimento, que pode ser superior ou

    inferior ao esperado, possibilitando determinar se os valores praticados no mercado esto

    sobre ou subvalorizados e ainda auxiliando na explicao do comportamento do mercado.

    Enfim, so apresentadas as ferramentas necessrias ao avaliador no s na avaliao do

    imvel, mas tambm na anlise do bem como um investimento.

    Assim, este trabalho busca acrescentar uma bibliografia objetiva e especifica pouca

    literatura existente no Brasil na rea de avaliaes de imveis pelos mtodos econmico-

    financeiros, mtodos estes cuja importncia ser acrescida uma vez concludo o projeto de

    reviso das Normas Brasileiras de Avaliaes.

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    ABSTRACT

    There are different situations in which a technical Real Estate valuation is considered

    necessary. Therefore, the Brazilian Assets Appraisal Manual, which has been revised,

    presents several valuation methods. The method which has been most commonly used is a

    comparative method applying statistical inference and, despite its high level of precision and

    technical background, it is not able to determine the evaluated asset investment interest rate

    and risks. For that purpose, it is necessary to apply one of the financial-economical methods,

    using the discounted cash flow.

    This work presents a material on which the evaluators may base to evaluate an asset

    using the financial-economical methods. It is presented the data needed to realize the

    valuation, such as inputs, outputs, etc. It is also presented how to calculate the discount rate

    to apply to the valuation through the interest rate used in the market where the asset is.

    It is presented two approaches to determine and analyze the investment interest rates,

    turning the investment comparable to others. It is also shown how to determine and analyze

    the investment risks and the coefficient is discussed. It is discussed the various ways to

    analyze the investment financial performance, which may be superior or inferior to the

    expected performance. Therefore, it is possible to analyze if the market values are fare,

    helping the market understanding. Finally, it is presented useful tools to the evaluator to be

    used not only to the Real Estate valuation, but also to the investment behavior analysis.

    In summary, this work adds a specific bibliography to the little existent literature in

    the country in the Real Estate valuation using financial-economical methods, which

    importance will be boasted after the Assets Appraisal Manual revision conclusion.

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    1. Introduo

    1.1. Consideraes iniciais

    Neste captulo sero abordadas algumas consideraes sobre investimentos eavaliaes de imveis. Tambm sero apresentados o objetivo da dissertao e sua

    justificativa. Ento, sero relatadas as limitaes do trabalho. Finalmente, ser mostrada a

    estrutura do trabalho, abordando os principais tpicos apresentados em cada captulo.

    1.1.1. Consideraes sobre investimentos em imveis

    Em um investimento, um investidor decide se abster do consumo ou do prazer

    presente com o objetivo de desfrutar de mais consumo no futuro e, ao investir suaseconomias, h a confiana de que o valor investido ir aumentar ao longo do tempo.

    (Bernstein et al., 2000; Damodaran, 2002; Hess, 1971)

    Em se tratando de investimentos no mercado imobilirio, pode-se dizer que estes se

    dividem em dois tipos. O primeiro aquele no qual o investidor tem como principal objetivo

    usufruir do imvel para uso prprio, onde o aumento de capital pode at ser interessante no

    futuro, mas no seu objetivo principal. O segundo aquele no qual o investidor espera

    aumentar seu capital, atravs da renda gerada pelo imvel ou de sua revenda futura. Nestecaso, a natureza do investimento definida como o uso corrente de recursos para gerar lucros

    futuros (Harrison, 1976).

    Um tipo comum de investimento no mercado imobilirio o imvel residencial para

    uso prprio, no qual o investidor adquire uma casa ou apartamento onde residir com sua

    famlia. Nesse caso, obedecendo sua capacidade financeira, o investidor procura adquirir um

    imvel que possua as caractersticas que ele considere importantes para seu bem estar e de sua

    famlia como, por exemplo, tamanho do imvel, nmero de cmodos, conforto, localizao,

    beleza, entre outras. Muitas destas caractersticas so puramente qualitativas. Ao investir em

    um imvel para uso prprio, a vantagem financeira conseguida pelo investidor , geralmente,

    deixar de pagar aluguel, reduzindo assim uma considervel parte dos gastos despendidos no

    oramento domstico.

    Outro caso comum de investimento em imveis para uso prprio o caso de um ou

    mais investidores que possuem um negcio qualquer e adquirem um imvel comercial para

    estabelecer seu negcio. Assim como para o investidor que adquire um imvel residencial

    para uso prprio, aquele que adquire um imvel comercial para uso prprio tem como

    vantagem financeira conseguida uma parcela mensal de dinheiro que antes era a despesa de

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    Captulo 1 - Introduo 2

    aluguel. Essa parcela pode ser reinvestida no prprio negcio, na compra de ativos como

    equipamentos ou matria-prima por exemplo, ou repassada aos proprietrios como lucro.

    H tambm, o investimento em imveis no para uso prprio, mas sim para a obteno

    de renda ou lucro atravs de sua locao ou revenda, esperando-se assim o aumento de capital

    do investidor. Nesse caso, o investidor busca um imvel que lhe garanta a melhor

    rentabilidade e consequentemente o melhor retorno do dinheiro investido. Longe de se

    preocupar com conforto e beleza, mas nem sempre os descartando, o investidor passa a se

    preocupar basicamente com nmeros: o preo pago pelo imvel na sua aquisio, a renda

    obtida atravs deste, com os aluguis por exemplo, e consequentemente, o retorno ou a

    rentabilidade do investimento, que serve como ferramenta para definir sua viabilidade. Alm

    disso, h tambm o risco do investimento, ou seja, a probabilidade do investidor no

    conseguir o retorno ou a rentabilidade mnimos esperados. esse segundo tipo de investidor,

    aquele que investe no mercado imobilirio buscando garantir determinada rentabilidade, que

    esse trabalho busca auxiliar.

    1.1.2. Consideraes sobre avaliaes de imveis

    Para Damodaran (1999), todo ativo, seja ele real ou financeiro, tem valor e

    consequentemente pode ser avaliado. O papel que a avaliao desempenha varia conforme o

    objetivo da avaliao e o tipo de ativo a ser avaliado. No caso da avaliao de imveis, a

    NBR5676 (1989) - Norma Brasileira para Avaliao de Imveis Urbanos em vigor apresenta

    cinco mtodos de avaliao, que sero discutidos posteriormente. A escolha do mtodo a ser

    utilizado depende do objetivo da avaliao. O mtodo comparativo de dados de mercado, o

    mais utilizado atualmente, utiliza ferramentas estatsticas para determinar o valor do imvel

    comparando-o com outros imveis no mesmo mercado, os imveis de referncia. A principal

    ferramenta estatstica utilizada neste mtodo a inferncia estatstica. Os imveis de

    referncia so imveis cujos valores so conhecidos, so semelhantes ao imvel a ser avaliado

    e pertencem ao mercado deste. Quando, numa avaliao de imveis, o objetivo do investidor

    o uso prprio, recomenda-se a utilizao do mtodo comparativo de dados de mercado.

    Entretanto, quando o objetivo principal do investidor a gerao de renda e o aumento

    de seu capital, o mtodo comparativo de dados de mercado no capaz de oferecer dados que

    auxiliem a determinao da viabilidade do investimento, como a rentabilidade, por exemplo.

    Neste caso, os mtodos adequados para a avaliao so os mtodos econmico-financeiros,

    que so o mtodo da renda e o mtodo involutivo. Os mtodos econmico-financeiros

    utilizam para a avaliao os fluxos de caixa, ou seja, se baseiam nos recebimentos e

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    Captulo 1 - Introduo 3

    desembolsos gerados pelo imvel. Ao utilizar os mtodos econmico-financeiros determina-

    se o retorno esperado do investimento, avalia-se sua viabilidade e, ainda, determina-se o seu

    risco e possibilita a sua comparao com outros investimentos.

    Os mtodos econmico-financeiros so teis tambm quando no h amostra para a

    utilizao da inferncia estatstica, ou seja, quando no h imveis de referncia que possam

    ser comparados com o imvel a se avaliar como, por exemplo, um nico shopping centerou

    um nico edifcio comercial de uma determinada cidade. Mesmo que o conhecimento do

    mercado seja importante na avaliao, pelos mtodos econmico-financeiros, possvel

    avaliar um imvel quando no h imveis de referncia disponveis.

    1.2. Objetivo

    O objetivo primrio deste trabalho apresentar, de forma clara e objetiva, um material

    no qual os avaliadores possam se basear quando realizarem uma avaliao econmico-

    financeira de um imvel, apresentando os aspectos econmico-financeiros necessrios para a

    avaliao. A atual Norma Brasileira de Avaliao de Imveis Urbanos, NBR5676, cuja ltima

    verso data de 1989, faculta o uso da avaliao econmico-financeira de imveis, mas no

    apresenta detalhes sobre sua abordagem.

    Os objetivos secundrios so apresentar um mtodo para o clculo da rentabilidade deum mercado para que este seja utilizado como taxa de desconto na avaliao de imveis

    inseridos neste mercado e apresentar a determinao do coeficiente beta como medida de

    risco do investimento, uma vez que o beta o coeficiente utilizado no mercado de aes e

    tambm pode ser utilizado como base de comparao de investimentos, assim como a

    rentabilidade. Finalmente, busca-se apresentar ferramentas que possibilitem ao avaliador

    analisar o comportamento do mercado de imveis em que ele atua.

    1.3. Justificativa

    Apesar de existir no Brasil um considervel nmero de publicaes na rea de

    avaliao de imveis tratando sobre o mtodo comparativo de dados de mercado e a utilizao

    da inferncia estatstica nas avaliaes, h um nmero pequeno de publicaes que tratam

    especificamente dos mtodos econmico-financeiros. Pode-se encontrar um nmero

    considervel de publicaes tratando de aspectos econmico-financeiros de incorporaes

    imobilirias, como por exemplo, a viabilidade de investimentos em imveis a se construir.

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    Captulo 1 - Introduo 4

    Entretanto, so poucas as publicaes que tratam diretamente dos aspectos econmico-

    financeiros na avaliao dos imveis que j esto construdos.

    Alm disso, a Norma Brasileira de Avaliao de Imveis Urbanos, NBR5676 (1989),

    prioriza a utilizao do mtodo comparativo de dados de mercado, considerando os demais

    mtodos no rigorosos. Tal Norma vem passando por um novo e amplo processo de reviso e

    a nova reviso da Norma abrir espao para a utilizao dos mtodos econmico-financeiros

    nas avaliaes, o que justifica a relevncia deste trabalho.

    1.4. Limitaes do trabalho

    As duas principais situaes para as quais se faz interessante a utilizao dos mtodos

    econmico-financeiros na avaliao de imveis so quando se deseja realizar uma anlise deviabilidade econmico-financeira do investimento e quando se deseja avaliar um imvel na

    falta de imveis de referncia para comparao. No primeiro caso, quando se deseja realizar

    uma anlise de viabilidade econmico-financeira do investimento, havendo imveis de

    referncia no mercado, as taxas de juros utilizadas na anlise de viabilidade podem ser a taxa

    mnima de atratividade, TMA, do investidor e/ou a rentabilidade do mercado em questo. A

    rentabilidade de um mercado pode ser calculada com base nos imveis de referncia deste

    mercado, como ser explanado no captulo 5.No segundo caso, quando h falta de imveis de referncia, a taxa de juros sugerida

    para os clculos a TMA do investidor, no havendo como se calcular a rentabilidade do

    mercado. Entretanto, a TMA de um investidor no reflete a rentabilidade do mercado, apesar

    de poderem vir a ser coincidentes. Assim, o valor calculado para o imvel ao se utilizar a

    TMA do investidor como taxa de juros no o valor de mercado do imvel e sim o preo

    mximo que aquele investidor pode pagar pelo imvel para que o investimento seja

    economicamente vivel. Logo, o resultado da avaliao ao se utilizar a TMA de um investidor

    particular do investidor e no reflete o mercado. Para se obter o valor de mercado de um

    imvel, deve-se utilizar a rentabilidade deste mercado e, neste caso, havendo falta de imveis

    de referncia, este trabalho no oferece uma soluo. Assim, a impossibilidade de se

    determinar uma rentabilidade de mercado para que se possa obter o valor de mercado de um

    imvel na falta de imveis de referncia uma limitao deste trabalho.

    A segunda limitao se d com relao aos dados. Os dados utilizados nos clculos

    das taxas e dos coeficientes beta so dados de oferta. Dados de oferta tendem a ser superiores

    a dados reais de negociao. Entretanto, como as taxas e coeficientes so calculados pela

    relao entre os dados ofertados, esse problema minimizado. A dificuldade, ou at mesmo

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    Captulo 1 - Introduo 5

    impossibilidade, em se obter dados reais negociados na quantidade em que foram obtidos os

    dados de oferta aqui utilizados minimiza esta limitao. Alm disso, os dados utilizados no

    so atuais. Entretanto, o objetivo da utilizao desses dados a demonstrao dos clculos e

    do modo como feita a anlise dos resultados, para que os avaliadores possam realiz-los

    utilizando seus prprios dados referentes aos mercados em que atuam. Desse modo, o fato de

    que o objetivo da utilizao desses dados a demonstrao dos clculos e no os resultados

    em si uma justificativa para a sua utilizao.

    1.5. Estrutura do trabalho

    Este trabalho dividido em seis captulos como pode-se observar no sumrio.

    Neste captulo introdutrio foram feitas consideraes a respeito de investimentos emimveis e avaliaes de imveis. Tambm foram apresentados os objetivos do trabalho, sua

    justificativa e suas limitaes.

    No segundo captulo, Reviso bibliogrfica, sero feitas consideraes sobre

    avaliaes de ativos e avaliaes no mercado imobilirio, especificamente. Em seguida, ser

    feita uma abordagem a respeito da Norma Brasileira para Avaliao de Imveis Urbanos

    enfocando os conceitos de preo e valor, os mtodos de avaliao e os nveis de rigor por ela

    apresentados. Tambm ser feita um explanao a respeito de um mtodo de avaliao noapresentado na Norma. Ento, ser abordado o projeto de reviso da Norma em vigor que visa

    transform-la, juntamente com outras Normas de avaliao, em uma nica Norma

    denominada Avaliao de Bens. Depois, sero feitas consideraes a respeito do mtodo a ser

    escolhido para a realizao de uma avaliao. Finalmente, ser apresentado um levantamento

    dos trabalhos relativos avaliao de imveis no Brasil, enfocando os trabalhos a respeito das

    avaliaes econmico-financeiras.

    No terceiro capitulo, denominado Conceitos e consideraes importantes para as

    avaliaes econmico-financeiras, sero abordados conceitos em engenharia econmica e

    finanas importantes no que diz respeito ao tema deste trabalho. Dentre os conceitos

    apresentados destacam-se fluxos de caixa, relaes de equivalncia, taxas de desconto, custos

    irrecuperveis e custos de oportunidade e ainda consideraes sobre risco, Capital Asset

    Pricing Model - CAPM e coeficiente beta. Ento, sero abordados os conceitos em estatstica

    a respeito de anlise de regresso linear, enfocando os conceitos de coeficiente de correlao e

    determinao, e sries temporais, enfocando a anlise de tendncia. Estes conceitos em

    estatstica tambm sero teis no que diz respeito ao tema do trabalho.

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    Captulo 1 - Introduo 6

    No quarto captulo, A avaliao de imveis pelos mtodos econmico-financeiros,

    primeiramente, ser feita uma comparao entre ativos reais e ativos financeiros. Ento, ser

    mostrado como se aplicar os conceitos vistos no terceiro captulo para o caso das avaliaes

    de imveis. Logo, sero mostrados como so os fluxos de caixa dos imveis, suas entradas,

    sadas, as taxas de crescimento destas e a influncia do nmero de perodos de investimento.

    Tambm sero abordadas as taxas de desconto a serem utilizadas e as formas de sua

    determinao, considerando o risco do investimento e a pesquisa com outros investidores.

    No quinto captulo, denominado Estimando a rentabilidade e o nvel de risco

    sistemtico, mostrado um exemplo prtico da determinao da rentabilidade de mercados

    especficos de imveis e do seu coeficiente beta. Para tanto, sero utilizados dados relativos a

    vinte e quatro regies da cidade do Rio de Janeiro em um determinado perodo de estudo.

    Primeiramente, ser mostrado passo a passo o procedimento de clculo para uma regio

    especfica. Ento, sero apresentados em forma de tabela os resultados das demais regies.

    Neste captulo, tambm sero avaliadas duas formas de determinao da rentabilidade e ser

    determinada qual a mais vivel.

    No sexto captulo, Concluses, sero apresentados as concluses e os comentrios e,

    ainda, as recomendaes para futuros trabalhos. Em seguida a estes seis captulos, sero

    apresentados seisApndicescom os dados coletados e seus respectivos grficos para todas as

    regies em estudo. Ento, sero mostradas as Referncias bibliogrficas e a Bibliografia

    complementar. Finalmente, sero apresentados os Anexos, onde constaro os ndices

    BOVESPA dirios do perodo em estudo e o projeto de reviso da Norma, partes I e II.

    1.6. Artigos originados a partir deste trabalho

    Com base nesta dissertao, foram elaborados pela autora, orientador e co-orientador,

    dois artigos. So eles Uso do mtodo da renda para avaliao de imveis por regies uma

    aplicao nas cidades do Rio de Janeiro e So Paulo e Anlise sobre a rentabilidade no

    mercado de imveis uma aplicao em uma regio da cidade do Rio de Janeiro . Ambos

    artigos foram apresentados e publicados nos anais do Encontro Nacional de Engenharia de

    Produo nos anos de 2000 e 2001, respectivamente.

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    2. Reviso bibliogrfica

    2.1. Consideraes iniciais

    Neste captulo sero abordadas algumas consideraes sobre as avaliaes de ativos e,

    tambm, sobre avaliaes no mercado imobilirio, especificamente. Sero abordados tambm

    alguns itens da Norma Brasileira de Avaliao de Imveis Urbanos NBR5676 (1989) em

    vigor considerados importantes, como os mtodos de avaliao e os nveis de rigor. Em

    seguida, discutir-se- a respeito do projeto de reviso da atual Norma, especificamente a

    respeito das modificaes ocorridas com relao aos mtodos de avaliao e aos nveis de

    rigor. Finalmente, ser apresentado um levantamento dos principais trabalhos relativos

    avaliao de imveis no Brasil.

    2.2. Consideraes sobre avaliaes

    Todo ativo, seja ele real como os imveis, seja financeiro como as aes, tem valor e

    portanto pode ser avaliado. Alguns ativos so mais facilmente avaliados que outros. Para

    Damodaran (1999), para se investir em ativos e gerenci-los com sucesso no basta conhecer

    o montante de seu valor, mas sim compreender as fontes deste valor. Alguns investidores

    acreditam que o valor de um ativo irrelevante desde que haja um idiota maior disposto a

    compr-lo. Outros argumentam que o valor est nos olhos de quem v e que qualquer preo

    pode ser justificado se h outros investidores dispostos a pag-lo. Todavia, as percepes de

    valor tm que ter o suporte da realidade e o preo pago por qualquer ativo deve refletir os

    fluxos de caixa que se espera que sejam por ele gerados. Um investimento seguro aquele no

    qual o investidor no pague mais por um ativo do que ele realmente vale. E a determinao

    correta do valor de um ativo depende da qualidade da avaliao realizada.

    Damodaran (1999) apresenta seis mitos comuns no campo das avaliaes:

    Mito 1 - Uma vez que os modelos so quantitativos a avaliao objetiva.

    No uma verdade, pois os modelos utilizados nas avaliaes podem ser

    quantitativos, mas os dados inseridos nos modelos deixam margem suficiente para

    julgamentos subjetivos. Desse modo, o valor final obtido sofre efeito das tendncias inseridas

    no processo. Um modo de tentar minimizar tais tendncias evitar preconcepes e opinies

    at que a avaliao esteja completa.

    Mito 2 - Uma avaliao bem pesquisada e bem feita eterna.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 8

    um mito pois uma avaliao baseada em informaes especficas respeito do

    mercado em que est inserido o ativo. Assim, o valor do ativo se modifica conforme novas

    informaes a respeito deste mercado vo surgindo.

    Mito 3 - Uma boa avaliao oferece uma estimativa precisa de valor.

    uma inverdade, pois mesmo numa avaliao minuciosa e detalhada, as incertezas

    dos dados inseridos no modelo de avaliao geram uma incerteza no valor final. Assim, deve-

    se considerar uma margem de erro razovel para o valor calculado.

    Mito 4 - Quanto mais quantitativo o modelo, melhor a avaliao.

    Isso no verdade, pois mesmo em modelos quantitativos dados de entrada errneos

    geram dados de sada tambm errneos. A qualidade de uma avaliao diretamente

    proporcional ao tempo gasto na coleta de dados e na compreenso do ativo a ser avaliado.

    Mito 5 - O mercado geralmente est errado.

    Essa uma afirmao falsa, pois o benchmarkpara fins comparativos, na maioria das

    avaliaes, o preo de mercado.

    Mito 6 - O valor o que importa e no o processo da avaliao.

    um mito, uma vez que o processo pode informar bastante a respeito das

    determinantes do valor e dos efeitos que estas tm sobre o valor, auxiliando na compreenso

    de sua formao.

    Em resumo, a utilizao de mtodos quantitativos no garante a qualidade da avaliao

    uma vez que os dados inseridos deixam margens para julgamentos subjetivos e dados de

    entrada errneos geram dados de sada errneos. No apenas o valor calculado importante,

    mas tambm o processo de avaliao e o mercado podem informar a respeito da determinao

    do valor. Finalmente, uma avaliao nunca eterna e sempre h incerteza no valor

    determinado.

    2.3. Avaliaes no mercado imobilirio

    Os investimentos no mercado imobilirio vem se mostrando atrativos em diversas

    partes do mundo. Na Inglaterra, o investimento em imveis residenciais para aluguel vem

    crescendo cada vez mais, principalmente entre corporaes que formam carteiras de imveis

    que podem ser altamente especializadas ou diversificadas (Mansfield, 2000). Nos Estados

    Unidos, existem empresas especializadas em investimentos em trustsdo mercado imobilirio,

    com base em taxas mnimas de atratividade para cada segmento, tais como apartamentos,

    escritrios urbanos, escritrios suburbanos, shoppings, entre outros (Damodaran, 1999). Na

    Sua, comum a formao de carteiras de investimento mistas que incluam aes, fundos de

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 9

    renda fixa e imveis buscando-se uma melhor rentabilidade (Hoesli e Hamelink, 1996). A

    formao de carteiras de imveis, especializadas ou no, tambm pode ser observada em

    outros pases, como o Brasil (Zelmanovitz, 2000; Annimo,2000; Belleza, 2002). Nestes

    casos, ao se avaliar um imvel, deve-se determinar a viabilidade do investimento neste

    imvel, direcionando a avaliao no apenas a investidores locais, como tambm a

    investidores estrangeiros. Mackmin (1999) alerta para a necessidade do estabelecimento de

    padres internacionais de avaliao de imveis, que tambm considerem cdigos de conduta e

    tica, uma vez que as diferenas na prtica de mercado so resultado das diferenas entre as

    leis, cultura e costumes de cada pas. Para que uma avaliao seja direcionada a investidores

    nacionais e estrangeiros, preciso que esta tenha sido desenvolvida atravs de mtodos que

    possam ser compreendidos e gerem resultados que possam ser analisados e comparados por

    todos. Uma das formas mais comumente utilizadas para se avaliar ativos de qualquer espcie

    atravs da rentabilidade que o investimento nestes ativos oferece, possibilitando assim a

    determinao da viabilidade deste.

    Muito vem sendo discutido sobre viabilidade, rentabilidade e riscos de incorporaes

    imobilirias no Brasil, ou seja, a viabilidade de se construir imveis para gerar renda ou lucro

    na venda das unidades recm construdas (Balarine, 1997; Bert, 1993; Ilha, 1995; Freitas,

    Alberton e Luz, 1995). Mas pouco se discute sobre viabilidade, rentabilidade e riscos de se

    adquirir imveis j construdos h algum tempo para a gerao de renda. Scribner (1997)

    alerta para a importncia do estudo aprofundado dos investimentos em imveis, alegando que

    acadmicos e profissionais da rea de imveis esto entre os poucos que compreendem que

    imveis so os bens cujo estudo o mais complexo e sofisticado dentre todos. Para ele, sendo

    uma forma de investimento financeiro, os imveis competem com as aes, mas devido sua

    natureza fsica, os imveis sofrem influncia de tendncias scio-regionais e formas de

    obsolescncia diferentes dos outros investimentos financeiros, e desse modo, a anlise dos

    investimentos em imveis complexa e requer conhecimento especializado.So diversas as situaes nas quais deve-se fazer uma avaliao tcnica de um imvel.

    Entende-se por avaliao tcnica de um imvel quela onde o Engenheiro de Avaliaes ou

    Arquiteto habilitado deve utilizar um mtodo dentre aqueles citados na Norma Brasileira de

    Avaliao de Imveis Urbanos - NBR5676 (1989), Norma esta que regulariza a avaliao de

    imveis urbanos no pas1.Mendona et al.(1998) citam as situaes mais frequentes em que a

    1A avaliao tcnica s considerada legal quando expedida por um Engenheiro de Avaliaes ou Arquiteto

    legalmente habilitado. A Lei Federal No5194 de 24/12/66 relativa ao exerccio das profisses de Engenheiro,Arquiteto e Engenheiro Agrnomo, garante a esses profissionais a exclusividade de avaliar um imvel. PelaResoluo do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) No 345, de 27/07/90, Art.2o: Compreende-se como atribuio privativa dos Engenheiros nas suas diversas especialidades, dos Arquitetos

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 10

    avaliao tcnica de imveis se faz necessria, dividindo-as em trs mbitos. No mbito

    particular, ele cita o uso da avaliao de imveis nacompra e venda de imveis em que os

    interessados desejem ter idia precisa do bem em questo, na reavaliao de ativos de

    empresas para efeito de aumento de capital, pelas empresas para atendimento ao contido na

    Lei das Sociedades Annimas, em divises, heranas e meaes, e nas discusses acerca de

    lanamentos de impostos. No mbito pblico, citado o uso da avaliao de imveis para fins

    de compra e privatizao e no clculo de valores para lanamentos de impostos. Finalmente,

    no mbito judicial utilizada nas discusses entre pessoas fsicas ou jurdicas que envolvam

    valores de imveis, frequentes em aes demarcatrias, possessrias, indenizatrias, etc., e

    nas discusses acerca de indenizaes por desapropriaes ou servides de passagem.

    Alm das situaes citadas acima, pode-se destacar tambm os financiamentos.

    Geralmente, as instituies que financiam a compra de um imvel costumam avali-lo como

    garantia de que o montante financiado ser realmente empregado na compra do imvel em

    questo.

    No Brasil, seja qual for o objetivo e o mtodo utilizado na avaliao, para se realizar

    um trabalho de qualidade, o avaliador profissional deve seguir corretamente as diretrizes

    estipuladas pela Norma.

    2.4. A Norma Brasileira para Avaliao de Imveis Urbanos -NBR5676 (1989)

    A primeira norma brasileira de avaliao de imveis surgiu em 1952 e foi elaborada

    pelo departamento de engenharia da Caixa Econmica Federal (Dantas, 1998). A primeira

    Norma Brasileira para Avaliao de Imveis Urbanos da Associao Brasileira de Normas

    Tcnicas (ABNT) surgiu em 1977 sob a sigla NB502. Em 1980 esta Norma sofreu sua

    primeira reviso e foi registrada no INMETRO como NBR5676. Atualmente, vem-se

    utilizando a reviso de 1989, mas um novo projeto de reviso da NBR5676 vem sendo

    elaborado por uma comisso de avaliadores. Com este projeto de reviso a NBR5676 (1989)

    ser transformada na NBR14653-2, a parte II de um conjunto de Normas de avaliao de

    bens.

    e dos Engenheiros Agrnomos, dos Geogrficos e dos Meteorologistas, as vistorias, percias, avaliaes earbitramentos relativos a bens mveis e imveis, ... Segundo a Lei Federal No 6530 de 12/05/78, queregulamenta a profisso de Corretor de Imveis, Art. 2o: Compete ao Corretor de Imveis exercer a

    intermediao na compra, venda, permuta e locao de imveis e opinar quanto comercializao imobiliria.Logo, o valor de imvel opinado por um corretor de imveis, apesar de muitas vezes vulgarmente chamado deavaliao, no deve ser considerada uma.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 11

    A reviso de 1989 da NBR5676 apresenta como metodologia bsica aplicvel para

    avaliao cinco mtodos de avaliao de imveis urbanos, sendo eles divididos em mtodos

    diretos e indiretos. Os mtodos diretos so subdivididos em mtodo comparativo de dados de

    mercado e mtodo comparativo de custo de reproduo de benfeitorias. J os mtodos

    indiretos so subdivididos em mtodo da renda, mtodo involutivo e mtodo residual. Os

    mtodos da renda e involutivo tambm podem ser denominados de mtodos econmico-

    financeiros2. O mesmo documento divide as avaliaes em trs nveis de rigor: expedito,

    normal e rigoroso.

    2.4.1. Preo versus valor

    Antes de se iniciar uma discusso sobre avaliaes, sejam elas de imveis ou dequaisquer outros bens, importante esclarecer alguns conceitos. O primeiro deles diz respeito

    definio de avaliao. Em seu dicionrio de lngua portuguesa, Ferreira (1977), mais

    conhecido como Aurlio Buarque de Holanda, define avaliao como sendo 1. Ato ou efeito

    de avaliar. 2. Valor determinado pelos avaliadores. J o verbo avaliar definido como 1.

    Determinar a valia ou o valor de, 2. Calcular, computar. A NBR5676 (1989) define

    avaliao de um imvel comosendo a determinao tcnica de valor de um imvel ou de um

    direito sobre um imvel. J o projeto de reviso desta Norma apresenta uma definio mais

    detalhada, porm generalizada, para avaliao de bens como sendo a anlise tcnica,

    realizada por um Engenheiro de Avaliaes, para identificar o valor de um bem, de seus

    custos, frutos e direitos, e/ou determinar indicadores da viabilidade de sua utilizao

    econmica, para uma determinada finalidade, situao e data. Em todas as trs definies

    para avaliao, est includa a expresso determinar/identificar o valoro que torna necessrio

    o entendimento da definio de valor.

    Ferreira (1977), ou Aurlio, define valor da seguinte forma: 1. Coragem, valentia. 2.

    Qualidade que faz estimvel algum ou algo; valia. 3. Importncia de determinada coisa,

    preo. 4. Papel representativo do dinheiro. 5. Legitimidade, validade. 6. Significado rigoroso

    de um termo.Porm, tratando-se de avaliao de bens, diferentemente do que definido por

    este autor, valor e preo no so sinnimos e nem sempre so iguais. Segundo Gonzlez

    (1997), o valor de um bem s pode ser igual ao preo em um mercado de concorrncia

    perfeita, o que geralmente no acontece no mercado imobilirio. O mercado imobilirio de

    concorrncia imperfeita, o que por ele demonstrado, citando diversos fatores responsveis

    por essa imperfeio, dentre eles, a falta de informao com respeito aos bens ofertados, a

    2A denominao mtodos econmico-financeiros no citada na Norma em questo.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 12

    heterogeneidade dos imveis e de suas localizaes dificultando a comparao, alm de

    fatores psicolgicos e culturais (no monetrios) que afetam a avaliao subjetiva da

    qualidade de um bem. Logo, o preo no coincide necessariamente com o valor, de modo que

    existe uma faixa de preos razoveis dentro da qual est o valor mais provvel para o bem.

    Mas mesmo que valor e preo aconteam de ser iguais, suas definies so diferentes. A

    NBR5676 (1989) define valor como a expresso monetria de um bem, data referncia da

    avaliao, numa situao em que as partes, conhecedoras das possibilidades de seu uso e

    envolvidas em sua transao, no estejam compelidas negociao. Enquanto preo

    definido como quantidade de dinheiro pelo qual se efetua uma operao imobiliria. O

    projeto de reviso da Norma no apresenta uma definio para valor, mas sim para valor de

    mercado. ela: Quantia mais provvel pela qual se negociaria voluntariamente e

    conscientemente um bem, numa data de referncia, dentro das condies de mercado vigente.

    A definio de preo apresentada pelo projeto de reviso da Norma quantia pela qual se

    efetua, ou se prope efetuar, uma transao envolvendo um bem, um fruto ou um direito

    sobre ele. Logo, conclu-se que preo a quantia de dinheiro pela qual se transaciona, ou

    prope transacionar, um imvel, e igual ao valor do imvel num mercado de concorrncia

    perfeita. Preo e valor no so sinnimos, embora possam ser coincidentes em um dado

    momento. Tanto a Norma em vigor como seu projeto de reviso deixam claro que o conceito

    de preo diferente dos conceitos de valor e valor de mercado.

    Surge ento uma dvida com respeito s definies de valor e valor de mercado. Como

    a Norma em vigor apresenta a definio de valor e nada cita sobre valor de mercado e seu

    projeto de reviso define valor de mercado mas nada cita sobre o termo valor, pode-se

    subentender que a Norma e o projeto consideram os termos valor e valor de mercado

    sinnimos, uma vez que suas definies so parecidas. Gonzlez (1997) tambm considera

    valor e valor de mercado sinnimos. Para ele, como o conceito de valor s pode ser entendido

    em termos monetrios, e dentro de um mercado, valor e valor de mercado so sinnimos, nascondies de definies citadas, consistindo em valores mdios resultantes dos equilbrios

    gerais do mercado imobilirio.

    Outros autores concordam no que diz respeito definio de valor de mercado.

    Ventolo e Willians apud Gonzlez (1997) definem el valor de mercado de un bien inmueble

    es el precio ms probableque un comprador est dispuesto a pagar a un vendedor por una

    propriedad en una operacin normal de mercado.

    Igualmente, French (1997) define market value is the estimated amount for which anasset should exchange on the date of valuation between a willing buyer and a willing seller in

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 13

    an arms lengh transaction after proper marketing wherein the parties had each acted

    knowledgeably, prudently and without compulsion.

    A ttulo de curiosidade vale citar como so definidos os conceitos relativos ao assunto

    na Inglaterra. O Appraisal and Valuation Manual elaborado pelo Royal Institution of

    Chatered Surveyors (RICS, 1996 apud French, 1997) define:

    Price is the actual observable exchange price in the open market. Value is an estimation of the price of exchange in the market place (prior to or

    as a proxy for sale). Worth is an specific investors assessment of the monetary net benefits of

    ownership of an asset based on the investors own perception of the stream ofbenefits which they expect to be produced by the asset.

    O que, em portugus, significa price(preo) o preo real de negociao observado

    em um mercado aberto. O que uma definio deveras estranha. Value a estimativa do

    preo de negociao em um mercado (antes ou prximo data da venda). Worth uma

    avaliao especfica do investidor dos benefcios monetrios de se possuir um bem, baseado

    na percepo particular do investidor dos benefcios que se espera que sejam obtidos pelo

    bem.

    Apesar de as palavras valuee worthserem traduzidas como valor (Oxford, 1999), e

    tambm serem consideradas sinnimas (Crawford, 1983), nas definies do RICS elas so

    diferentes. Considera-se wortho valor considerado por um investidor em particular, segundo

    as expectativas de benefcios que tal investidor tem para o bem em questo. Considera-se

    value a estimativa do preo ou quantia que se espera negociar o bem. E, finalmente,

    considera-sepriceo preo, ou seja, a quantia real pela qual o bem negociado.

    Deve-se tomar cuidado com essa idia de worth, o valor baseado na percepo

    particular do investidor. Ela pode at ser aplicada em se tratando de uma obra de arte, uma

    antigidade, ou qualquer outro bem que venha a ser adquirido por motivos estticos ou

    emocionais. Ativos financeiros so adquiridos com base nos recebimentos e na rentabilidadeque podem gerar, e nunca com base em percepes emocionais. Para Damodaran (1999),

    percepes de valor tm que ter o suporte da realidade, o que implica que o preo pago por

    um ativo deve refletir seus recebimentos e desembolsos esperados.

    No Brasil, no existe conceito que se assemelhe definio de worth. Mesmo presente

    na Norma, ainda h discusses entre os avaliadores profissionais sobre as definies de valor

    e valor de mercado.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 14

    2.4.2. Mtodos de avaliao de imveis apresentados na NBR5676 (1989)

    A seguir sero abordados os mtodos para avaliao de imveis apresentados na atual

    Norma Brasileira de Imveis Urbanos - NBR5676 (1989). Os dois primeiros mtodos, mtodo

    comparativo de dados de mercado e mtodo comparativo de custo de produo so chamadosde mtodos diretos. Os outros trs, mtodo da renda, mtodo involutivo e mtodo residual,

    so chamados de mtodos indiretos.

    2.4.2.1. Mtodo comparativo de dados de mercado

    O mtodo comparativo de dados de mercado aquele que define o valor do imvel

    atravs da comparao deste com outros imveis assemelhados quanto s caractersticas

    intrnsecas e extrnsecasNBR5676 (1989). Para tanto, fundamental a existncia de imveis

    para comparao, ou seja, uma amostra de dados do mercado imobilirio formada pelos

    chamados imveis de referncia. Ao utilizar este mtodo, deve-se fazer o tratamento

    estatstico dos dados pesquisados. So duas as modalidades de tratamento estatstico das

    amostras pesquisadas: a Metodologia Cientfica, que emprega a Estatstica Inferencial e vem

    sendo mais utilizada por sua maior confiabilidade, e a Homogeneizao de Valores, que

    emprega a Estatstica Descritiva.

    A amostragem formada pelos imveis de referncia, que so imveis semelhantes ao

    imvel avaliado para os quais se conhece o valor, e na maioria das vezes, tomada nas

    regies circunvizinhas ao imvel avaliado. Isso ocorre pela necessidade de se incluir no

    processo de avaliao a localizao do imvel, uma caracterstica fundamental para o clculo

    de seu valor. Logo, para a utilizao do mtodo comparativo dos dados de mercado, o

    avaliador deve ter conhecimento dos dados de mercado da regio que o imvel avaliado se

    encontra, o que pode vir a ser um problema para investidores e avaliadores provenientes de

    outras regies.De todos os mtodos existentes, o mtodo comparativo de dados de mercado o mais

    utilizado para a avaliao de imveis no Brasil, sejam eles residenciais ou comerciais. Apesar

    disso, h casos para os quais no existem imveis de referncia que possibilitem o emprego

    deste mtodo como, por exemplo, o nicoshopping centerem uma cidade de mdio porte ou

    um nico galpo de uma cidade de pequeno porte. Nestes casos, deve-se optar por outros

    mtodos de avaliao, como os mtodos econmico-financeiros.

    Apesar de ser muito eficiente ao determinar o valor de venda ou aluguel de um imvelconforme os preos praticados pelo mercado, o mtodo comparativo de dados de mercado no

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 15

    capaz de avaliar a viabilidade do investimento. No h como determinar se a rentabilidade

    do investimento superior taxa mnima de atratividade do investidor, pois este mtodo no

    leva em considerao a renda gerada pelo imvel. Por ser muito confivel ao determinar o

    valor de um imvel conforme o mercado, o mtodo mais utilizado pelos avaliadores em

    geral, mas no a ferramenta correta para se avaliar se o investimento rentvel ou no.

    2.4.2.2. Mtodo comparativo do custo de reproduo

    Neste mtodo, o valor de benfeitorias apropriado atravs da reproduo dos custos

    de seus componentes, com base em um oramento detalhado, devendo-se justificar e

    quantificar os efeitos do desgaste fsico e do obsoletismo funcional das benfeitorias NBR5676

    (1989). Deve-se incluir ainda o valor do terreno e, quando for o caso, o fator decomercializao.

    Segundo a NBR5676 (1989), entende-se por fator de comercializao, ou coeficiente

    de valor adicionado, a razo entre o valor de mercado e o custo de reedio de um imvel

    assemelhado. Esse fator considera a vantagem financeira que uma benfeitoria j pronta tem

    sobre uma a ser construda. Porm, dependendo da conjuntura do mercado na poca da

    avaliao, este pode ser maior ou menor que a unidade.

    Como se v, o valor das benfeitorias no obtido atravs da comparao com outras

    assemelhadas como no mtodo comparativo dos dados de mercado e, portanto, no se faz

    necessria a existncia de uma amostra de dados de mercado formada por imveis de

    referncia. J o valor do terreno, segundo a Norma, deve ser obtido pelo mtodo comparativo

    de dados de mercado ou, na impossibilidade deste, pelo mtodo involutivo. Portanto, se o

    valor do terreno for obtido pelo mtodo involutivo, tambm no se faz necessria a existncia

    de terrenos de referncia, como ser visto mais adiante. Dessa forma, na falta de imveis de

    referncia para a avaliao de um determinado imvel, pode-se optar pelo mtodo

    comparativo do custo de reproduo para se avaliar as benfeitorias e pelo mtodo involutivo

    para se avaliar o terreno, contornando o problema da falta de amostras. J para a aplicao do

    fator de comercializao, deve-se pesquisar qual a tendncia de mercado naquela regio.

    O mtodo comparativo do custo de reproduo por si s, nada tem a ver com a

    rentabilidade e a viabilidade do investimento. Mas, ao se determinar o fator de

    comercializao, j se est, de certo modo, avaliando grosseiramente os riscos do

    investimento, ou pelo menos se os ativos daquela regio tendem a valorizar, quando o fator de

    comercializao for maior que um, ou a desvalorizar, quando o fator de comercializao for

    menor que um.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 16

    A principal desvantagem deste mtodo o fato de que neste determina-se o custo de

    reproduo das benfeitorias e no seu valor de mercado. O fator de comercializao busca

    minimizar este problema aproximando o custo de reproduo das benfeitorias do valor de

    mercado, mas no simples de ser obtido.

    2.4.2.3. Mtodo da renda

    Segundo a NBR5676 (1989), o mtodo da renda aquele que apropria o valor do

    imvel e de suas partes constitutivas, com base na capitalizao presente da sua renda

    lquida, seja ela real ou prevista. Para a sua utilizao, precisam ser determinados o perodo

    de capitalizao e a taxa de desconto a ser aplicada nos fluxos de caixa, que devem ser

    devidamente fundamentados e expressamente justificados pelo avaliador, como exige aNorma. Este mtodo fundamentado no princpio de que o valor de uma determinada

    propriedade uma funo de sua capacidade de gerar renda, o que geralmente o aluguel. A

    propriedade constitui o denominado capital imvel, que deve ser rentabilizado a uma taxa

    de desconto varivel em funo da localizao, do tipo de imvel e da conjuntura econmica

    do momento da avaliao. Logo, os dados necessrios para a utilizao deste mtodo so os

    recebimentos esperados, os desembolsos, a taxa de desconto e o nmero de perodos do

    investimento. A taxa de desconto pode ser obtida atravs de vrios processos, dos quais o

    mais utilizado , sempre que possvel, a comparao direta com as taxas aplicadas a imveis

    similares, analisando os riscos do investimento, como ser visto em tpico posterior deste

    trabalho.

    Segundo Mendona et al.(1998), devido sua flexibilidade que permite a grande

    generalizao do seu uso, nos casos de percias judiciais, este mtodo tem sido recomendado

    pela prpria jurisprudncia dos tribunais do poder judicirio, que consagra como justa a taxa

    de desconto de 12% ao ano para imveis comerciais. Porm, os trabalhos que vem sendo

    realizados comprovam que no existe um taxa de desconto pr-definida que indique com

    segurana a renda mensal esperada para um determinado imvel, em virtude da constante

    instabilidade econmica do pas. No h, no Brasil, taxas de desconto fixadas para imveis

    residenciais, comprovando-se que, geralmente, quanto maior e mais luxuoso o imvel

    residencial, menor ser a taxa interna de retorno.

    De qualquer forma, ao se utilizar o mtodo da renda, a rentabilidade do imvel

    explcita, o que o torna comparvel a investimentos em outros tipos imveis e tambm em

    outros ativos, como aes, caderneta de poupana, etc. Este mtodo uma ferramenta

    adequada para se analisar a viabilidade do investimento.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 17

    2.4.2.4. Mtodo involutivo

    Segundo a NBR5676 (1989), o mtodo involutivo baseado em modelo de estudo de

    viabilidade tcnico-econmica para apropriao do valor do terreno, alicerado no seu

    aproveitamento eficiente, mediante hipottico empreendimento imobilirio compatvel com as

    caractersticas do imvel e com as caractersticas de mercado. Esta Norma fala sobre a

    utilizao deste mtodo apenas para a avaliao de terrenos, mas nada impede, alm das

    limitaes da Norma, que este seja aplicado a outros bens. No projeto de reviso da Norma, o

    conceito de mtodo involutivo ser alterado, no mais restringindo-o apenas a terrenos, mas

    validando-o a qualquer bem.

    Um aspecto que deve ser muito bem explorado ao se tratar do mtodo involutivo, o

    conceito de aproveitamento eficiente. Segundo a Norma, aproveitamento eficiente aquele

    recomendvel para o local, em uma certa poca, observada a tendncia de uso circunvizinho,

    entre os permitidos pela legislao pertinente. Isso significa que o valor do imvel

    determinado pelos recebimentos mximos que pode-se obter naquele imvel. Por exemplo,

    deseja-se avaliar um determinado imvel residencial, uma casa. Pelo mtodo comparativo dos

    dados de mercado pode-se avalia-la comparando-a com outras casas que vem sendo

    negociadas na regio. Pelo mtodo da renda, pode-se avalia-la com base no valor do aluguel

    que pode ser nela obtido. Pelo mtodo involutivo, pode-se avali-la com base nos possveisrecebimentos que esta casa possa gerar caso esta seja transformada em um imvel comercial e

    alugada a um preo melhor, ou transformada em uma escola, em um mercado, ou qualquer

    outro comrcio. O aproveitamento eficiente preponderante em zonas de alta densidade

    urbana, e segundo a Norma, cabe ao avaliador analisar a adequao das benfeitorias

    ressaltando o subaproveitamento ou superaproveitamento do terreno em que estas se

    encontram.

    A anlise do aproveitamento eficiente do imvel em estudo fundamental quando aavaliao feita pelo mtodo involutivo. Para Scribner (1997), o valor real de um imvel no

    perfeitamente determinvel e derivado de seu uso, o que requer uma anlise minuciosa. A

    anlise do aproveitamento eficiente deve compreender as anlises econmica e estatstica, e

    os usos especficos do bem, alm das necessidades do investidor e o desenvolvimento

    potencial do imvel avaliado. O grau de sofisticao da anlise do aproveitamento eficiente

    funo da complexidade do imvel e do mercado em que ele se encontra.

    Segundo Scribner (1997), o aproveitamento eficiente do imvel pode ser definidocomo o seu uso de modo que este seja legal e politicamente permitido, fisicamente possvel e

    ambientalmente aceitvel, apropriadamente suportvel pela infra-estrutura presente,

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 18

    negocivel ou vendvel, financeiramente vivel e, finalmente, maximamente produtivo. Para

    o cumprimento destes seis fatores, ele prope o exame dos seis itens seguintes:

    1. As permisses legais para o uso do imvel;

    2. A capacidade interna do bem;

    3. A infra-estrutura comunitria do local do imvel;

    4. A demanda de mercado na regio;

    5. A capacidade do imvel de suportar as necessidades de investimento; e

    6. O uso do imvel que resulta no seu aproveitamento eficiente.

    Para a aplicao do mtodo involutivo deve-se considerar a receita provvel da

    comercializao das unidades hipotticas com base em preos obtidos em pesquisas, todas as

    despesas inerentes transformao do terreno/bem, a margem de lucro do empreendedor, as

    despesas de comercializao, os prazos viveis ao projeto, execuo e comercializao,

    mediante taxas financeiras operacionais reais (NBR5676, 1989). importante observar que a

    receita provvel da comercializao das unidades hipotticas, quando houver, deve ser

    calculada com base em preos obtidos em pesquisas, o que significa que estes preos podem

    ser obtidos pelo mtodo comparativo de dados de mercado.

    Assim como no mtodo da renda, a melhor maneira de se determinar a taxa de

    desconto apropriada fazendo um estudo sobre os riscos do investimento, e comparando sua

    rentabilidade com a de imveis similares, sempre que possvel. muito importante que o

    avaliador conhea o mercado ao qual pertence o imvel que est sendo avaliado.

    Atualmente, o mtodo involutivo amplamente utilizado na avaliao de glebas

    urbanizveis na falta de imveis de referncia. Glebas urbanizveis so grandes extenses de

    terreno passveis de receber obras de infra-estrutura urbana(NBR5676, 1989), podendo ser

    urbanas ou no urbanas, residenciais, comerciais e/ou industriais ou mistas. Quando no

    existem outras glebas cujas caractersticas se assemelhem ao imvel avaliado, servindo debase de comparao, a utilizao do mtodo comparativo de dados de mercado torna-se

    invivel. Pelo mtodo involutivo, o valor da gleba definido atravs do estudo do seu melhor

    aproveitamento, considerando as caractersticas scio-econmicas da regio.

    A Norma Brasileira para Avaliao de Glebas Urbanizveis - NBR8951 (1985)

    tambm apresenta o mtodo involutivo derivado, como uma variante do mtodo involutivo,

    aplicado a terrenos com finalidades especiais. o caso de shopping centers e complexos

    fabris, por exemplo, onde no h o emprego de mtodos comparativos para o clculo dareceita provvel.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 19

    Para se obter o valor do imvel pelo mtodo involutivo, utiliza-se o fluxo de caixa

    descontado no qual as entradas de caixa so os recebimentos esperados para o

    empreendimento, considerando-se o melhor aproveitamento do bem, ou seja, o

    aproveitamento eficiente. As sadas de caixa so todos os desembolsos de execuo,

    transformao e comercializao, incluindo impostos. Para se determinar a taxa de desconto

    deve-se considerar no s a inflao como tambm a margem de lucro esperado pelo

    investidor e os riscos do investimento. Este mtodo baseia-se principalmente nos

    recebimentos que podem vir a ser obtidos pelo imvel.

    2.4.2.5. Mtodo residual

    O mtodo residual aquele que define o valor do terreno por diferena entre o valordo imvel e suas benfeitorias, ou o valor destas subtraindo o valor do terreno do valor do

    imvel. Deve-se tambm, quando for o caso, considerar o fator de comercializao

    (NBR5676, 1989).

    2.4.3. Mtodo de avaliao no apresentado na NBR5676 (1989) omtodo evolutivo

    O mtodo evolutivo tambm pode ser utilizado para a avaliao de imveis,entretanto, no apresentado pela atual Norma. O mtodo evolutivo aquele onde, segundo

    Fiker (1997), o valor do imvel obtido de forma analtica a partir do valor do terreno,

    considerando-se todos os elementos que influenciam o custo de sua construo e o seu preo

    de venda. Isso significa que o valor de um determinado imvel obtido somando-se ao valor

    do terreno os custos de produo do imvel, tais como, custo dos materiais e mo-de-obra

    para a construo, alm de outros elementos que tambm influem no valor final do imvel, tal

    como, lucro do incorporador. De modo bastante simplista, porm esclarecedor, pode-se dizerque enquanto no mtodo involutivo calcula-se o valor do imvel a partir dos recebimentos

    que espera-se obter com o tal, no mtodo evolutivo calcula-se o valor do imvel a partir dos

    custos para sua obteno.

    A diferena entre o mtodo evolutivo e o mtodo comparativo dos custos de

    reproduo que no mtodo comparativo dos custos de reproduo considera-se alm do

    valor do terreno e dos custos com a construo das benfeitorias, apenas o fator de

    comercializao que pretende corrigir o valor calculado, de modo que o valor final do imvel

    seja condizente com o mercado. J no mtodo evolutivo, alm do valor do terreno e do custo

    da construo das benfeitorias, considera-se outros elementos que tambm interferem no valor

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 20

    final do imvel, tais como, o lucro do incorporador como j citado, os juros pela remunerao

    do capital investido, uma vez que este no empregado instantaneamente e sim dentro de um

    prazo que geralmente superior a um ano, a taxa de administrao da construtora, os juros

    sobre todo o capital investido durante o perodo de comercializao, ou seja, a remunerao

    do capital desde o trmino da construo, quando ento este foi investido integralmente, at a

    venda do imvel, quando o capital foi finalmente recuperado a uma determinada rentabilidade

    obtendo-se ento o lucro do incorporador, entre outros elementos.

    2.4.4. Os nveis de rigor apresentados na NBR5676 (1989)

    A NBR5676 (1989) divide as avaliaes em trs nveis de rigor, buscando-se medir a

    preciso do trabalho. O rigor de uma avaliao depende da abrangncia da pesquisa, daconfiabilidade e adequao dos dados coletados, da qualidade do tratamento dado a estes

    dados e da menor subjetividade inserida no trabalho. Os trs nveis de rigor especificados so:

    expedito, normal e rigoroso.

    Pela Norma, a avaliao expedita aquela na qual prepondera a subjetividade ou que

    no utiliza qualquer instrumento matemtico de suporte. tolerada em determinadas

    circunstncias onde h necessidade de procedimento rpido e admitida a apresentao

    sucinta da opinio de valor. A avaliao normal exige uma coleta de dados atuais e cuja

    idoneidade deve ser assegurada. Se os dados no forem atuais, devem ser atualizados por

    ndices oficiais. A avaliao normal deve atender uma srie de itens, inclusive o item 7.5.3 da

    NBR5676 (1989) que exige que o tratamento dispensado aos elementos para serem levados

    formao de valor deve ser feito atravs de estatstica descritiva. Finalmente, a avaliao

    rigorosa aquela que apresenta grande iseno da subjetividade, todas as fontes de

    informao devem ser idneas e identificadas, e deve atender uma srie de requisitos, dentre

    os quais o item 7.6.3 da NBR5676 (1989) o qual exige que o tratamento para alcanar a

    convico do valor deve ser baseado em processos de inferncia estatstica.

    Assim, segundo a NBR5676 (1989), sabe-se que as avaliaes que utilizam do mtodo

    comparativo dos dados de mercado fazendo uso da Inferncia Estatstica e da Estatstica

    Descritiva podem ser consideradas de nvel normal ou rigoroso. Esta Norma no clara

    quanto ao nvel de rigor das avaliaes econmico-financeiras que utilizem os mtodos da

    renda e involutivo. Pela Norma, pode-se entender que as avaliaes pelos mtodos da renda e

    involutivo devem ser consideradas expeditas, nas quais, nos dizeres da Norma, prepondera a

    subjetividade.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 21

    2.5. O projeto de reviso da Norma

    A reviso da Norma Brasileira de Imveis Urbanos NBR5676 (1989) que vem sendo

    estudada a Parte 2 de um projeto que normaliza a Avaliao de Bens, dividido em sete

    partes que compreende:

    Parte 1 Procedimentos gerais;

    Parte 2 Imveis Urbanos

    Parte 3 Imveis rurais;

    Parte 4 Empreendimentos;

    Parte 5 Mquinas, equipamentos, instalaes e bens industriais em geral;

    Parte 6 Recursos naturais e ambientais; e

    Parte 7 Patrimnios histricos.

    A Parte 1 deste projeto, procedimentos gerais, teve seu texto aprovado pela comisso

    de estudo em outubro de 2000 e se tornou vlida a partir de 30 de maio de 2001, sendo

    publicada pela ABNT como NBR14653-1 Avaliao de Bens Parte 1: Procedimentos

    Gerais. As demais partes do projeto esto sendo elaboradas pelas devidas comisses de

    estudo.

    Quanto aos mtodos de avaliao apresentados na parte 1 da Norma de avaliao debens procedimentos gerais, estes esto divididos em trs categorias, que so mtodos para

    identificar o valor de um bem, de seus frutos e direitos, mtodos para identificar o custo de

    um bem e mtodos para identificar indicadores de viabilidade da utilizao econmica de um

    empreendimento.

    Os mtodos para identificar o valor de um bem, de seus frutos e direitos listados so o

    mtodo comparativo direto de dados de mercado, o mtodo involutivo, o mtodo evolutivo,

    que passa a estar presente na nova Norma, e o mtodo da capitalizao da renda, que o

    mtodo da renda. Os mtodos para identificar o custo de um bem so o mtodo comparativo

    direto de custo, que identifica o custo do bem por meio de tratamento tcnico dos atributos

    dos elementos comparveis, constituintes da amostra, e o mtodo da quantificao do custo,

    que identifica o custo do bem ou de suas partes por meio de oramentos sintticos ou

    analticos a partir das quantidades de servios e respectivos custos diretos e indiretos.J os

    mtodos para identificar indicadores de viabilidade da utilizao econmica de um

    empreendimento tratam dos procedimentos avaliatrios usuais com a finalidade de

    determinar indicadores de viabilidade da utilizao econmica de um empreendimento

    baseados em seu fluxo de caixa projetado, a partir doa qual so determinados indicadores de

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 22

    deciso baseados no valor presente lquido, taxas internas de retorno, tempos de retorno,

    dentre outros. O mtodo residual no apresentado na parte 1 da Norma de avaliao de

    bens.

    Os mtodos a serem apresentados especificamente na parte 2 da Norma de avaliao

    de bens imveis urbanos, esto sendo discutidos e votados pela comisso de estudos. Sero

    apresentados o mtodo comparativo direto de dados de mercado, o mtodo involutivo, o

    mtodo evolutivo, o mtodo de capitalizao da renda, o mtodo da quantificao do custo e o

    mtodo comparativo direto de custo.

    O projeto de reviso da Norma sugere o fim dos nveis de rigor e insere os graus de

    fundamentao e preciso. O grau de fundamentao ser funo do aprofundamento do

    trabalho avaliatrio, com o envolvimento da seleo da metodologia em razo da

    confiabilidade, qualidade e quantidade dos dados amostrais disponveis. O grau de preciso

    ser estabelecido quando for possvel medir o grau de certeza e o nvel de erro tolervel numa

    avaliao. Depender da natureza do bem, do objetivo da avaliao, da conjuntura de

    mercado, da abrangncia alcanada na coleta de dados, da metodologia e dos instrumentos

    utilizados. O nmero de graus de fundamentao e preciso possveis ainda se encontra em

    estudo. Dessa forma, com a introduo dos graus de fundamentao e preciso, os nveis de

    rigor das avaliaes sero eliminados.

    2.6. A escolha do mtodo de avaliao

    Para a escolha do mtodo utilizado na avaliao de um imvel deve-se, antes de mais

    nada, conhecer o objetivo da avaliao para que esta possa ser feita baseada nos parmetros

    apropriados. Segundo Sayce & Connellan (1998), ao se avaliar por um mtodo econmico-

    financeiro uma propriedade cujo objetivo no a maximizao dos lucros, pode-se obter

    valores muito baixos ou at mesmo negativos. O mtodo que parece ser o mais adequado para

    a avaliao de imveis adquiridos para uso prprio , na maioria dos casos, o mtodo

    comparativo dos dados de mercado.

    Segundo Peto (1997), existe um razovel nmero de mtodos e abordagens para a

    avaliao de bens dentre os quais os trs mais comuns a nvel mundial so o mtodo

    comparativo dos dados de mercado, o mtodo comparativo do custo de reproduo e o

    mtodo da renda. Segundo ele, a preponderncia do uso de um mtodo com relao a outro

    varia tanto de um pas para outro, como de uma regio de um pas para outra, o que depende

    de dois fatores. Esses fatores so o objetivo da avaliao e a disponibilidade de dados que

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 23

    possam ser tomados como base para a avaliao. No Brasil, o mtodo de avaliao de imveis

    geralmente utilizado o mtodo comparativo dos dados de mercado.

    J na Inglaterra, segundo French (1997), o mtodo mais utilizado o mtodo da renda,

    que utiliza o fluxo de caixa descontado. Mas segundo ele, para a maioria dos imveis, na

    maioria dos mercados, o tradicional mtodo comparativo de dados de mercado o mtodo

    mais apropriado de avaliao. Porm, ele escreve, a anlise da atratividade de um bem

    normalmente feita atravs de um mtodo de avaliao que utilize o fluxo de caixa descontado.

    No mercado imobilirio h investidores que, assim como no mercado de aes,

    procuram rentabilidade. Para tais investidores, as avaliaes devem ser feitas atravs de um

    mtodo que seja capaz de analisar a rentabilidade do bem avaliado e explicitar o futuro.

    Nesses casos, deve-se ento utilizar os mtodos econmico-financeiros.

    Para a avaliao econmico-financeira de imveis, os mtodos indicados so o da

    renda e o involutivo. Em ambos, o valor do imvel baseado nos recebimentos gerados por

    ele. Para se determinar a viabilidade do investimento, deve-se determinar sua taxa de desconto

    que deve ser proporcional aos riscos deste investimento. No mtodo involutivo, deve-se

    considerar ainda o aproveitamento eficiente do bem, levando em conta os recebimentos

    mximos que este capaz gerar, observando-se a tendncia de uso circunvizinho.

    A utilizao dos mtodos da renda e involutivo esbarram no problema dos nveis de

    rigor da atual Norma que, de certa forma, favorecem a utilizao do mtodo comparativo dos

    dados de mercado. Esse problema dever ser eliminado ou, pelo menos, minimizado com a

    reviso da Norma que elimina os nveis de rigor e introduz os graus de preciso e

    fundamentao que se aplicaro a qualquer mtodo de avaliao. Apesar de no serem

    considerados rigorosos, mesmo que fundamentados, os mtodos econmico-financeiros da

    renda e involutivo so aqueles que, dentre os citados pela Norma, permitem a comparao dos

    investimentos no mercado imobilirio com os investimentos em outros mercados. Tal

    comparao fundamental para as tomadas de deciso por parte dos investidores. Para French(1997), clientes3esperam cada vez mais que os avaliadores forneam vises estruturadas a

    respeito dos valores esperados para os bens e opinies baseadas em tais valores esperados.

    Para ele, essas vises estruturadas so baseadas no entendimento geral dos fatores que

    influenciam o mercado e do entendimento do posicionamento do mercado imobilirio com

    relao a outros mercados.Para Damodaran (1999), para se investir em ativos e gerenci-los

    com sucesso no basta conhecer o montante de seu valor, mas sim compreender as fontes

    deste valor.

    3Clientes dos avaliadores: no caso, os investidores.

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 24

    Finalmente, seja qual for o mtodo de avaliao escolhido, segundo Damodaran

    (1999), o modelo para a avaliao pode ser quantitativo, mas os dados de entrada deixam

    margem para julgamentos subjetivos e a qualidade de uma avaliao ser diretamente

    proporcional ao tempo gasto em reunir dados e na compreenso do ativo a ser avaliado.

    Assim, o avaliador deve buscar eliminar ao mximo a influncia de preconceitos quanto aos

    dados de entrada, evitando a obteno de valores tendenciosos. Alm disso, sejam as

    avaliaes baseadas em dados comparativos ou em previses financeiras, os dados de entrada

    mudam com o tempo, o que faz com que o valor do ativo tambm mude com o tempo e que

    uma avaliao nunca seja eterna.

    2.7. Trabalhos relativos avaliao de imveis no Brasil

    Uma das principais fontes de trabalhos e artigos relativos avaliao de imveis no

    Brasil so os anais dos Congressos Brasileiros de Engenharia de Avaliaes e Percias -

    COBREAP. Tais congressos acontecem a cada binio, anos mpares, e o ocorrido em 2001 foi

    o dcimo-primeiro. Alm do COBREAP, existe o Simpsio Brasileiro de Engenharia de

    Avaliaes - Avaliar, tambm bienal que ocorre nos anos pares, intercalando com o

    COBREAP. O Avaliar 2000 foi o segundo. O COBREAP e o Avaliar acontecem a nvel

    nacional, mas tambm existem os encontros estaduais, como o Encontro Estadual deEngenharia Legal no Rio Grande do Sul. Alm dos congressos, simpsios e encontros

    especializados na rea, encontram-se tambm alguns artigos no Encontro Nacional de

    Engenharia de Produo - ENEGEP.

    Nesses congressos, simpsios e encontros so apresentados trabalhos relacionados no

    s avaliao de imveis urbanos, mas tambm avaliao de imveis rurais, parques

    aquticos,shopping centers, etc; proposio de novas metodologias de avaliao e discusso

    de tpicos relacionados s metodologias existentes; alm de assuntos ligados formao

    tcnica dos avaliadores e tpicos de fundo legal, entre outros. Ao se tratar de avaliao de

    imveis, o mtodo mais discutido o comparativo de dados de mercado, uma vez que este o

    mais utilizado.

    Quanto aos mtodos econmico-financeiros, so aqui listados alguns dos trabalhos

    recentemente publicados.

    Macanhan, Montevechi e Pamplona (2001) analisam a melhor forma de se determinar

    a rentabilidade do mercado de imveis em uma regio da cidade do Rio de Janeiro. Ainda,

    Macanhan et al. (2000) avaliam as melhores regies, dentre algumas escolhidas para estudo,

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    Captulo 2 Reviso bibliogrfica 25

    para o investimento em imveis para obteno de renda nas cidades do Rio de Janeiro e So

    Paulo, utilizando o mtodo da renda.

    Lima (2001) demonstra uma maneira de se determinar a taxa de desconto a ser

    aplicada a um fluxo de caixa gerado para a avaliao de um lote urbano pelo mtodo

    involutivo, com base no percentual de permuta4por rea construda praticado pelo mercado.

    Zeni (2000) apresenta um estudo de caso avaliando um parque aqutico pelo mtodo

    involutivo e Melo (2000) expe um resumo sobre a relao entre taxas de desconto e risco, e

    fala sobre o ndice beta.

    Poletto (1999) compara dois mtodos na avaliao de terrenos em regies de alta

    densidade de edificaes coletivas e conclui que deve ser evitado o uso do mtodo involutivo

    na avaliao destes terrenos, tendo em vista a baixa confiabilidade nos seus resultados e,

    portanto, o mtodo comparativo o mtodo mais adequado.

    Martins e Martins (1997) apresentam um estudo de caso no qual um terreno de grande

    porte foi avaliado pelo mtodo involutivo. Haddad e Monguzzi (1997) aconselham que,

    quando um imvel for integrante de uma operao comercial, este deve ser desvinculado da

    operao e mostram um estudo de caso em postos de gasolina. Fiker (1997) mostra uma

    aplicao do mtodo evolutivo em um empreendimento imobilirio. Lima (1995) discorre

    sobre as influncias da desindexao da economia na avaliao pelo mtodo da renda,

    mostrando uma aplicao para o caso deshopping centers.

    Alm dos trabalhos encontrados no Brasil, pode-se citar revistas inglesas

    especializadas em avaliao de imveis nas quais pode-se encontrar um grande nmero de

    artigos na rea. Dentre elas destacam-se Journal of Property Valuation & Investment,

    Property Management eJournal of Property Finance.

    2.8. Consideraes finais

    Neste captulo, dentre outros tpicos, foram abordados os principais mtodos

    utilizados nas avaliaes de imveis e que esto presentes na Norma Brasileira para Avaliao

    de Imveis Urbanos. A escolha do mtodo a ser utilizado em uma avaliao depende do

    objetivo desta. Dentre os mtodos abordados, o mtodo da renda e o mtodo involutivo

    podem ser considerados mtodos econmico-financeiros, uma vez que o valor determinado

    atravs destes baseado nos fluxos de caixa gerados pelos investimentos. Os mtodos

    econmico-financeiros podem ser utilizados na avaliao de imveis quando se deseja realizar

    4O percentual de permuta dado pelo percentual da rea construda oferecido pelo empreendedor em troca doterreno.

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    3. Conceitos e consideraes importantes para asavaliaes econmico-financeiras

    3.1. Consideraes iniciais

    Para a avaliao econmico-financeira de ativos necessrio o entendimento de

    conceitos em engenharia econmica e finanas e de alguns tpicos em estatstica. Neste

    captulo ser feita uma explanao resumida dos conceitos e consideraes importantes, tanto

    em engenharia econmica e finanas como em estatstica, considerados importantes para a

    avaliao econmico-financeira de ativos. Sero abordados os fluxos de caixa, as relaes de

    equivalncia, taxas de desconto, custos irrecuperveis e de oportunidade, e ainda

    consideraes sobre risco, CAPM e o coeficiente beta. Em estatstica sero abordados os

    conceitos de anlise de regresso linear e sries temporais.

    3.2. A avaliao econmico-financeira de ativos

    Todo ativo, seja ele financeiro ou real, tem valor e a chave para investir nesses ativos e

    gerenci-los com sucesso no se baseia no montante do valor em si, mas sim nas fontes desse

    valor (Damodaran, 1999). Essas fontes do valor so os recebimentos gerados pelo ativo,

    descontados os seus desembolsos. A esses recebimentos e desembolsos d-se o nome defluxos de caixa.

    3.2.1. Fluxos de caixa

    A avaliao econmico-financeira de ativos feita atravs dos fluxos de caixa. Nos

    fluxos de caixa so representadas, no tempo, as entradas de caixa, que so os recebimentos, e

    as sadas de caixa, que so os desembolsos do investimento analisado. Os fluxos de caixa

    variam para cada ativo e geralmente so representados graficamente como pode ser visto na

    Figura 3.1.

    6

    0 1 2 3 4 5 7 8 ... tempo

    Recebimentos

    Desembolsos

    Figura 3.1 Representao grfica dos fluxos de caixa

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    Captulo 3 Conceitos e consideraes importantes para as avaliaes econmico-financeiras 28

    fundamental expressar as entradas e sadas de caixa no tempo. No se soma ou

    subtrai quantias em dinheiro que no estejam na mesma data (Pamplona e Montevechi,

    2001). Para tanto, deve-se dividir a linha que representa o tempo em perodos. Os perodos

    podem ser representados em qualquer unidade de tempo, dias, meses, anos, binios, conforme

    for conveniente anlise. Deve-se padronizar a mesma unidade de tempo para todas entradas

    e sadas caixa.

    Para dispor fluxos de caixa de datas ou perodos diferentes em uma mesma data ou

    perodo, deve-se descont-los a uma dada taxa de desconto, que deve ser coerente com a

    unidade de tempo adotada. No se deve utilizar uma taxa de desconto de 10% ao ano (a.a.) se

    a capitalizao mensal, por exemplo.

    Quando a taxa de desconto no coerente com a unidade de tempo dos fluxos de

    caixa, a taxa de desconto deve ser transformada. Para se transformar uma taxa capitalizada

    anualmente em uma taxa capitalizada mensalmente e vice-versa, usa-se aEquao 3.1,

    ( ) ( )112 11 am ii +=+ (3.1)

    onde im a taxa capitalizada mensalmente e ia a taxa capitalizada anualmente.

    O valor de um ativo o valor presente (VP) dos fluxos de caixa futuros esperados e

    depende de como os fluxos de caixa se distribuem no tempo (Ross, Westerfield, Jaffe, 1995,

    Damodaran, 1999). A taxa de desconto varia conforme o risco dos fluxos de caixa estimados,

    sendo maior para ativos mais arriscados e menores para ativos mais seguros.

    3.2.2. Relaes de equivalncia

    Valor presente o valor, no perodo 0, de um fluxo de caixa ou uma srie de fluxos de

    caixa futuros, descontada taxa de juros apropriada. Em relaes de equivalncia previstas

    pela matemtica financeira, o valor presente dado como P. Para se calcular o valor presentede um fluxo de caixa futuro aplica-se aEquao 3.2,

    ( )niF

    P+

    =1

    (3.2)

    ondeP o valor presente do fluxo de caixa futuro, Fo valor do fluxo de caixa futuro, i a

    taxa de desconto e no nmero de perodos a ser descontado.

    No caso de uma srie de fluxos de caixa futuros (Figura 3.2), faz-se a somatria do

    valor presente de cada fluxo de caixa descontado individualmente, como mostra a Equao

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    Captulo 3 Conceitos e consideraes importantes para as avaliaes econmico-financeiras 29

    3.3, de modo que entradas de caixa so valores positivos e sadas de caixa so valores

    negativos.

    ( )= +

    =n

    jj

    j

    i

    FVP

    1 1 (3.3)

    F4

    F1 F3 Fj-1 Fj+1

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 n

    F2 FjF5

    Figura 3.2 - Representao grfica de uma srie de fluxos de caixa futuros

    Uma srie uniforme aquela na qual os fluxos de caixa futuros tem os mesmos valores

    para todos os perodos, iniciando no perodo 1 e terminando no perodo n, como mostrado na

    Figura 3.3 Os fluxos de caixa de uma srie uniforme so dados por A. Neste caso, o clculo

    do valor presente dado pelaEquao 3.4.

    ( )

    ( ) ii

    iAP

    n

    n

    .1

    11.

    +

    += (3.4)

    0 1 2 3 4 ... n

    Figura 3.3 - Representao grfica de uma srie uniforme com n perodos

    Quando o nmero de fluxos de caixa de uma srie uniforme infinito, trata-se de uma

    srie perptua (Figura 3.4). O clculo do valor presente de uma srie perptua pode ser

    deduzido a partir daEquao 3.5, quando o nmero de perodos (n) tende a infinito,

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    Captulo 3 Conceitos e consideraes importantes para as avaliaes econmico-financeiras 30

    ( )

    +=

    nn iiiAVP

    1

    11.lim (3.5)

    resultando naEquao 3.6.

    =i

    AVP1

    . (3.6)

    ...

    0 1 2 3 4 ... n =

    Figura 3.4- Representao grfica de uma srie perptua

    3.2.3. Taxas de desconto ou taxas mnimas de atratividade (TMA)

    A taxa de juros normalmente utilizada para calcular o valor presente dos fluxos de

    caixa futuros a taxa de desconto. Tem esse nome pois utilizada para descontar um fluxo

    de caixa futuro para o presente. Nas avaliaes, a taxa de desconto utilizada para calcular o

    valor do ativo baseando-se nos recebimentos e desembolsos futuros deste.

    As taxas de desconto tambm podem ser chamadas de taxas mnima de atratividade

    (TMA). A TMA a taxa a partir da qual o investidor considera que est obtendo ganhos

    financeiros(Casarotto e Kopittke, 1996).A TMA pode ser dada pela taxa de juros equivalente

    maior rentabilidade das aplicaes correntes e de pouco risco, ou pelo custo do capital

    investido, ou ainda pelo custo do capital da empresa mais o risco envolvido em cada

    alternativa de investimento, dependendo do ponto de vista do investidor (Pamplona e

    Montevechi, 2001).

    Numa avaliao, a utilizao da TMA particular de um investidor faz com que o valor

    calculado no seja o valor de mercado do bem, mas sim o valor mximo que este investidor

    poderia pagar pelo bem para que o investimento seja economicamente vivel. Para se obter o

    valor de mercado de um bem utilizando-se o mtodo dos flux