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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" EM CLÍNICA MÉDICA EM PEQUENOS ANIMAIS METRITE PUERPERAL EM CADELAS Kátia Regina dos Santos Ribeirão Preto, nov. 2006

METRITE PUERPERAL EM CADELAS Kátia Regina … · Monografia; A todos os professores que ministraram aulas nos módulos, amigos e colegas do referido curso. v RESUMO SANTOS, Kátia

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" EM CLÍNICA MÉDICA EM PEQUENOS ANIMAIS

METRITE PUERPERAL EM CADELAS

Kátia Regina dos Santos

Ribeirão Preto, nov. 2006

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KÁTIA REGINA DOS SANTOS

Aluna do Curso de Especialização “Lato sensu” em Clínica Médica em Pequenos Animais

METRITE PUERPERAL EM CADELAS

Ribeirão Preto, nov. 2006

Trabalho monográfico do curso de Pós-graduação

"Lato Sensu" em Clínica Médica em

Pequenos Animais apresentado à UCB como

requisito parcial para a obtenção do

título de Especialista em Clínica Médica em

Pequenos animais, sob a orientação do

Prof. Dr. Carlos Artur Lopes Leite.

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METRITE PUERPERAL EM CADELAS

Elaborado por Kátia Regina dos Santos

Aluna do Curso de Especialização “Lato Sensu” em Clínica Médica em Pequenos Animais

Foi analisado e aprovado com grau: _______________________

Ribeirão Preto, ______ de ____________________ de ________.

____________________________________________ Membro

____________________________________________ Membro

_________________________________________________ Professor Orientador

Presidente

Ribeirão Preto, nov. 2006.

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Dedico esta monografia aos meus pais queridos

Osmar Leandro dos Santos e Aparecida Donizete da

Silva e Santos, que apoiaram mais este investimento.

Também dedico aos meus irmãos Danilo Leandro da

Silva Santos e Ricardo Leandro da Silva e Santos,

além de amigos e professores colaboradores.

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Agradecimentos

Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Artur Lopes Leite

– que disponibilizou de seu pouco tempo para a

supervisão e correção deste trabalho;

Ao Médico Veterinário Alvírio Cezar Teotônio de

Castro Castro, coordenador do Curso de Especialização

“Lato Sensu” em Clínica Médica em Pequenos

Animais – que apoiou e ofereceu toda sustentação

necessária para a realização dos módulos do referido

curso;

Ao Instituto Qualittas de Pós-Graduação – que ofereceu

a estrutura para a realização e apoio no decorrer do

curso;

À querida e eterna Profa. Dra. Fabiana Ferreira de

Souza – que colaborou com a pesquisa e seleção de

material bibliográfico para a realização desta

Monografia;

A todos os professores que ministraram aulas nos

módulos, amigos e colegas do referido curso.

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RESUMO SANTOS, Kátia Regina Metrite Puerperal em Cadelas. O presente estudo apresenta um levantamento bibliográfico sobre a metrite puerperal aguda (MPA), uma infecção uterina grave que acomete cadelas no período pós-parto. A MAP envolve infecções secundárias provocadas por distocias, manipulações obstétricas e retenção de fetos ou placenta, além de períodos pós-abortamento ou pós-inseminação (seja artificial ou acasalamento natural). O microrganismo mais comumente envolvido é a Escherichia coli. O quadro sintomático caracteriza-se por febre, desidratação e anorexia, com corrimento vaginal de coloração variada e odor fétido, aumento de volume uterino e letargia. Em casos mais graves, pode ocorrer toxemia e morte. O diagnóstico é feito pela avaliação de histórico, sinais clínicos, exames laboratoriais, radiográficos ou ultra-sonográficos. O tratamento de escolha é cirúrgico (ovariossalpingoisterectomia - OSH), porém o tratamento de suporte com antibióticos sistêmicos de amplo espectro e fluidoterapia também deve ser instituído.

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ABSTRACT

SANTOS, Kátia Regina Puerperal metritis in bitches. The present study presents a bibliographic review on acute puerperal metritis (APM), a severe uterine infection that can affect bitches on post-parturition period. APM involves infections secondary to disorders such dystocia, injury from obstetric instruments and retained fetus or placenta, besides post-abortion and after artificial insemination or natural breeding. The microorganism normally involved is Escherichia coli. The symptomatic profile includes fever, dehydration and anorexy, with off-color, foul-smelling vaginal discharge, uterine enlargement and lethargy; in more severe cases, toxemia and death can occur. The diagnosis is made by history, clinical signals, laboratory, radiographic and ultrassonographic exams. Under normal conditions, the treatment is surgical (ovariohysterectomy - OH); but the support treatment with antibiotics and hydration is recommended.

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SUMÁRIO

Resumo ..............................................................................................................................v

Abstract.............................................................................................................................vi

1. Conhecendo o trato reprodutivo da cadela ..................................................................01

1.1. O útero ................................................................................................................01

1.2. Infecções uterinas ...............................................................................................03

1.3. Puerpério em cadelas ..........................................................................................05

1.4. Por que ocorre metrite puerperal em cadelas?....................................................05

2. Aspectos clínicos da metrite puerperal em cadelas ....................................................08

2.1. Etiologia .............................................................................................................08

2.2. Quadro sintomático ............................................................................................10

2.3. Diagnóstico.........................................................................................................11

2.4. Tratamento..........................................................................................................12

3. Conclusão ....................................................................................................................19

Referências ......................................................................................................................22

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LISTA DE FIGURAS

Figura Pág.

1 Esquema do trato reprodutivo da cadela ................................................ 2

2 Útero rompido após metrite puerperal aguda em cadela, com focos

fibrinosos em pontos de placentação. Fonte: Arquivo pessoal, Prof.

Dr. Carlos Artur Lopes Leite, DMV/UFLA (2006). ..............................

6

3 Ruptura uterina após metrite puerperal aguda em cadela, com

aderência e peritonite acentuadas. Fonte: Arquivo pessoal, Prof. Dr.

Carlos Artur Lopes Leite, DMV/UFLA(2006). .....................................

7

4 Maceração fetal em cadela 30 dias após distocia, com ruptura uterina

espontânea e choque septicêmico. Fonte: Arquivo pessoal, Prof. Dr.

Carlos Artur Lopes Leite, DMV/UFLA(2006). .....................................

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1. CONHECENDO O TRATO REPRODUTIVO DA CADELA

1.1. O ÚTERO

O útero é o órgão do sistema genital feminino que recebe

o embrião ou zigoto, faz sua implantação e ainda estabelece as relações vasculares do

embrião ou do feto durante todo o período de gestação. É um órgão cavitário que apresenta

parede relativamente espessa e grande capacidade de distender-se e, posteriormente, de

voltar ao tamanho normal. Morfologicamente, nas fêmeas domésticas, o útero é constituído

por dois cornos, um corpo e um colo ou cérvix. Histologicamente, o útero é formado por

três partes: endométrio, miométrio e perimétrio ou serosa (NASCIMENTO e SANTOS,

1997). A morfologia do útero muda em sincronia com o ciclo estral (BANKS, 1992).

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FIGURA 1: ESQUEMA DO TRATO REPRODUTIVO DA

CADELA.

Fonte: ROBERTS (1971).

O endométrio é o local de implantação do embrião e

participa na formação da porção uterina da placenta. É capaz de sofrer modificações

estruturais e funcionais de acordo com a atividade endócrina do ovário. Pela ação do

estrógeno, há proliferação de glândulas endometriais, maior vascularização e afluxo

sanguíneo, e maior atividade metabólica. Periodicamente, a mucosa uterina sofre

profundas modificações, tanto sob efeito estrogênico como progesterônico. O endométrio é

revestido por um epitélio que invagina para o estroma constituindo as glândulas

endometriais. O epitélio superficial é do tipo cilíndrico e apresenta-se formado por células

ciliadas e secretoras (NASCIMENTO e SANTOS, 1997).

O miométrio é a camada muscular formada por uma

subcamada circular interna espessa de músculo liso e uma subcamada longitudinal externa

delgada que se continua no mesométrio. Entre as duas camadas de músculo liso é

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encontrado o estrato vascular (BANKS, 1992). O estrato vascular é a camada mais espessa

com numerosos vasos sanguíneos, predominando feixes musculares ciliares e

longitudinais, sendo que o mais externo é o estrato subseroso. O miométrio sofre ação de

hormônios, dentre eles a progesterona, o estrógeno, a relaxina, a ocitocina e a

prostaglandina (NASCIMENTO e SANTOS, 1997).

O perimétrio ou camada serosa é típico, embora um

grande número de vasos linfáticos esteja presente. O cérvix uterino atua como uma válvula

para separar a luz uterina da vagina. Sua atividade secretora varia com os estágios do ciclo

estral e da prenhez. Um muco claro é secretado durante o estro e um selo cervical espesso é

produzido durante a gestação (tampão mucoso). O epitélio da mucosa do cérvix canino é

revestido pelo epitélio pavimentoso estratificado, sustentado pela lâmina própria-

submucosa aglandular (BANKS, 1992).

1.2. INFECÇÕES UTERINAS

A susceptibilidade do útero às infecções está muito

relacionada com a fase do ciclo estral. Sua resistência depende da atividade dos

neutrófilos, da motilidade e do tônus do útero, da eliminação de microrganismos e da

presença de imunoglobulinas. Tais fatores estão presentes com maior intensidade na fase

estrogênica, já que o estrógeno promove vasodilatação, maior afluxo sanguíneo e assim

maior presença de imunoglobulinas e maior contratilidade uterina. Já no útero em fase

progesterônica, como ocorre no diestro e na gestação, a resistência às infecções é muito

reduzida pela diminuição da contratilidade uterina e da atividade leucocitária, pelo menor

afluxo sanguíneo e pela imunossupressão durante a gestação. Em várias espécies, logo

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após o parto, é comum ocorrer certo grau de infecção uterina (NASCIMENTO e SANTOS,

1997).

Os termos endometrite, metrite, perimetrite e parametrite

ocasionalmente são utilizados como sinônimos em clínica médica, dada à dificuldade na

diferenciação imediata destas entidades. Entretanto, existem diferenças significativas

quanto à localização anatômica da afecção. Endometrite refere-se à inflamação do

endométrio; metrite é o acometimento de endométrio, miométrio e perimétrio; perimetrite

relaciona-se com enfermidade do perimétrio; e parametrite trata-se de afecção da

superfície serosa do útero e ligamentos de sustentação uterinos. Esses termos são úteis

porque denotam a extensão e distribuição anatômica do processo inflamatório. Em sua

maioria, as lesões inflamatórias do útero não-gestante têm origem infecciosa e resultam de

uma infecção ascendente por microrganismos que normalmente habitam o trato genital

inferior ou por agentes infecciosos introduzidos na cavidade uterina durante o

acasalamento, inseminação artificial ou no pós-parto (JONES et al, 2000).

Metrite é uma inflamação de todas as camadas da parede

uterina (ACLAND, 1998). O quadro se desenvolve a partir de uma infecção bacteriana

aguda do útero após o parto, podendo ocorrer abortamento, distocias e retenção de tecidos

placentários ou fetais como conseqüência de bactérias oriundas da vagina. Pode haver

necessidade de execução de manobras obstétricas ou mesmo gerar parto normal. Os

animais acometidos apresentam-se febris e com corrimento uterino séptico e fétido,

podendo ocorrer desidratação, septicemia, endotoxemia e/ou choque. A detecção de

neonatos chorando e abandonados, freqüentemente são os primeiros sinais de inúmeras

enfermidades maternas, dentre elas a metrite (NELSON e COUTO, 1994).

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1.3. PUERPÉRIO EM CADELAS

O puerpério é um processo fisiológico de modificações

que ocorrem no útero na fase imediatamente após o parto, quando este órgão recupera-se

das transformações que sofreu durante a gestação, preparando-se para uma nova gestação.

O puerpério começa a partir da expulsão dos anexos e termina com a completa involução

uterina (GRUNERT et al, 1977).

Na cadela, ocorre no pós-parto a eliminação de lóquio por

três a seis semanas, que se apresenta serossanguinolento. A involução uterina se completa

em 12 semanas após o parto (FRASER, 1991).

Os dois fatores mais importantes relacionados com a

involução uterina são: o tônus, para a eliminação do lóquio, e a reconstituição epitelial. A

diminuição do tônus uterino, como acontece em distocias maternas, é um fator

predisponente à infecção. A retenção de lóquio e de placenta são importantes fatores

predisponentes à infecção uterina (NASCIMENTO e SANTOS, 1997).

1.4. POR QUE OCORRE METRITE PUERPERAL EM CADELAS?

No período puerperal, o útero constitui um ambiente

extremamente favorável ao crescimento de microrganismos. A decomposição dos restos

das membranas fetais e a presença de fluidos protéicos fazem do útero um excelente meio

de cultura (NASCIMENTO e SANTOS, 1997).

A maioria dos processos inflamatórios do útero começa no

endométrio e associam-se ao pós-parto ou ao pós-acasalamento. As infecções uterinas são

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quase sempre pós-partos (Figura 2) ou pós-abortamentos, especialmente quando ocorrem

problemas como retenção de placenta e distocias. Os processos inflamatórios do útero

constituem um dos principais fatores limitantes da fertilidade nas fêmeas domésticas

(NASCIMENTO e SANTOS, 1997).

FIGURA 2: ÚTERO ROMPIDO APÓS METRITE

PUERPERAL AGUDA EM CADELA, COM FOCOS

FIBRINOSOS EM PONTOS DE PLACENTAÇÃO.

Fonte: Arquivo pessoal, Prof. Dr. Carlos Artur Lopes Leite, DMV/UFLA

(2006).

A metrite puerperal aguda é o mais grave dos processos

inflamatórios do útero. Segundo Nascimento e Santos (1997), o quadro infeccioso se

instala geralmente logo após o parto, podendo evoluir para peritonite ou para um quadro

septicêmico e toxêmico (Figura 3).

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FIGURA 3: RUPTURA UTERINA APÓS METRITE

PUERPERAL AGUDA EM CADELA, COM ADERÊNCIA

E PERITONITE ACENTUADAS.

Fonte: Arquivo pessoal, Prof. Dr. Carlos Artur Lopes Leite, DMV/UFLA

(2006).

Trata-se de uma infecção uterina bacteriana grave que se

desenvolve no período pós-natal, em geral no dia do parto ou por volta de uma semana do

mesmo, com lembram Johnston et al (2001). Ocasionalmente é originado após um

abortamento e raramente ocorre após o acasalamento. É uma infecção que trás risco de

vida em potencial, pois afeta diretamente o útero e também há envolvimento sistêmico,

podendo levar ao choque séptico e desenvolvimento de septicemia (TILLEY e SMITH,

2003).

O agente infeccioso ascende pela abertura do cérvix até o

útero, encontrando ambiente adequado para o seu crescimento, já que o útero encontra-se

flácido e aumentado (TILLEY e SMITH, 2003).

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2. ASPECTOS CLÍNICOS DA METRITE PUERPERAL EM CADELAS

2.1. ETIOLOGIA

As principais causas e fatores de risco da metrite puerperal

em cadelas são: distocias, manipulação obstétrica, retenção de feto (nesse caso pode estar

acompanhado de um quadro de maceração fetal - Figura 4) ou de placenta, e períodos após

abortamentos, inseminação artificial ou monta natural (TILLEY e SMITH, 2003).

GRUNERT et al (1967) complementam os fatores que

podem levar a uma infecção uterina, tendo-se:

� manobras obstétricas, mesmo quando realizadas na vagina, pela

introdução de dedos ou instrumentos infectados;

� retenção de placenta: constituem elementos favoráveis ao crescimento

bacteriano;

� retenção de um ou vários fetos: pela decomposição, irritando a mucosa

uterina e favorecendo o desenvolvimento da infecção. Este fator é

comumente observado em cadelas gestantes que foram sujeitas a

traumatismos ou atropelamentos com fratura da articulação

coxofemoral.

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Embora as bactérias normalmente não estejam presentes

no útero de cadelas maduras, elas têm pronto acesso ao útero no momento do parto quando

o cérvix está dilatado. Bactérias podem proliferar em tecidos retidos ou desvitalizados,

resultando em inflamações do endométrio e miométrio. Se essa condição não for tratada,

pode evoluir para septicemia e toxemia. As bactérias estão freqüentemente presentes na

descarga vaginal de cadelas com metrite, em forma livre ou dentro de leucócitos

(JOHNSTON et al, 2001).

FIGURA 4: MACERAÇÃO FETAL EM CADELA 30 DIAS

APÓS DISTOCIA, COM RUPTURA UTERINA

ESPONTÂNEA E CHOQUE SEPTICÊMICO.

Fonte: Arquivo pessoal, Prof. Dr. Carlos Artur Lopes Leite, DMV/UFLA

(2006).

Na metrite puerperal em cadelas, as bactérias mais

comumente isoladas são Gram-negativas como, por exemplo, Escherichia coli (SHAW e

IHLE, 1999; TILLEY e SMITH, 2003).

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2.2. QUADRO SINTOMÁTICO

O quadro sintomático pode incluir febre, desidratação,

anorexia, corrimento vaginal acastanhado de odor fétido, letargia e maus cuidados

maternais e de amamentação durante o período pós-parto inicial. Pode-se encontrar

aumento uterino. Caso se a doença não for prontamente diagnosticada e tratada, o choque

também pode ocorrer (SHAW e IHLE, 1999).

A maioria dos agentes patogênicos libera toxinas que são

absorvidas na circulação, provocando quadros gerais graves como septicemia e toxemia

(ROBERTS, 1971).

Segundo ALLEN (1995) e TILLEY & SMITH (2003), de

modo geral, os achados mais comuns são:

� corrimento vulvar verde-escuro, fétido, purulento ou

piossanguinolento;

� depressão e apatia;

� anorexia;

� hipertermia;

� falta de atenção com os filhotes;

� filhotes choram devido à fome e frio:

� produção de leite diminuída.

No exame físico é mais comum ser observado corrimento

vaginal, hipertermia, útero aumentado à palpação abdominal, desidratação, mucosas

congestas e taquicardia (com septicemia) (FRASER, 1991, TILLEY e SMITH, 2003).

No estágio agudo da metrite, macroscopicamente, verifica-

se que o útero não involuiu e toda sua parede está afetada. O perimétrio apresenta-se

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escuro com deposição de fibrina, a parede flácida e friável, há abundante exsudato de

coloração achocolatada e de odor fétido na cavidade uterina; e o endométrio apresenta-se

espesso, vermelho-escuro, e se desprende com facilidade (NASCIMENTO e SANTOS,

1997). Microscopicamente, o tecido subseroso e a capa muscular estão edematosos e com

infiltrados de células inflamatórias (ACLAND, 1998).

2.3. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico baseia-se fundamentalmente nos achados

históricos e físicos (NELSON e COUTO, 1994). Porém, outros métodos auxiliares podem

ser utilizados para prognóstico, pois seus dados muitas vezes não são específicos para a

metrite puerperal, como hemograma, bioquímica sérica, urinálise, exame radiográfico,

exame ultra-sonográfico, citologia vaginal e/ou cultura vaginal (TILLEY e SMITH, 2003).

Para TILLEY e SMITH (2003), no hemograma,

bioquímica sérica e urinálise, são observados:

� neutrofilia com desvio para esquerda;

� leucopenia – ocasionalmente com choque endotóxico;

� micro-hematócrito, proteína total, creatinina, compostos nitrogenados

e densidade específica urinária com níveis elevados – secundários à

desidratação;

� enzimas hepáticas aumentadas – com endotoxemia;

� densidade específica urinária baixa – pode ser vista com endotoxemia.

A urina pode estar isostenúrica, evidenciando uma infecção do trato

urinário.

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O exame radiográfico revela um útero aumentado, apesar

de esse fato ser de pequena ajuda, pois todas as cadelas apresentam útero aumentado nos

primeiros dias após o parto, mas a avaliação radiográfica é muito útil se puder observar

retenção de placenta, fetos ou líquidos; no exame ultra-sonográfico observa-se aumento

uterino, acúmulo de líquido intra-uterino ou acúmulo de pus, retenção de placenta e/ou de

fetos, de acordo com o caso. Pode ser observada uma efusão abdominal secundária à

ruptura uterina (FELDMAN e NELSON, 1996; TILLEY e SMITH, 2003).

Na avaliação citológica da descarga vaginal de cadelas

com metrite são encontrados freqüentemente neutrófilos (em número elevado), piócitos,

eritrócitos, células endometriais, debris celulares, muco, bactérias (livres ou fagocitadas) e,

ocasionalmente, fibras musculares de fetos em decomposição, quando ocorrer maceração

fetal. Embora neutrófilos, eritrócitos e bactérias possam ser observados na descarga uterina

que passa pela vulva no pós-parto normal de cadelas, há um menor número de

microrganismos e leucócitos, e os neutrófilos não aparecem degenerados (FELDMAN e

NELSON, 1996; JOHNSTON et al, 2001).

É com a citologia vaginal que se diferencia exsudato

uterino purulento ou séptico de lóquio normal (JOHNSON, 1992). Na cultura vaginal é

possível identificar organismos aeróbios e anaeróbios (TILLEY e SMITH, 2003).

2.4. TRATAMENTO

A metrite puerperal aguda é tratada de forma semelhante à

piometra, com antibioticoterapia de amplo espectro e hidratação apropriadas,

acompanhadas de ovariossalpingoisterectomia - OSH (BROWN, 1996). O tratamento deve

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ser imediato e agressivo, pois a rápida deterioração é comum, com septicemia e a toxemia

(JOHNSON, 1992).

A OSH é o tratamento de escolha quando ocorre retenção

do feto ou placenta, ruptura uterina ou infecção grave, e quando a reprodução não é mais

desejada. É importante manter o animal internado até a resolução dos sinais sistêmicos;

associar antibioticoterapia; corrigir a desidratação com solução intravenosa de eletrólitos

balanceados, o desequilíbrio eletrolítico e a hipoglicemia, e tratar o choque, quando

necessário (TILLEY e SMITH, 2003).

A fluidoterapia intravenosa é indicada para todos os

animais acometidos por infecções uterinas, pois favorece o sistema cardiovascular e

combate o desequilíbrio ácido-base. Em geral, se aconselha uma solução equilibrada de

eletrólitos, por exemplo, a Solução de Hartman. A velocidade de administração do fluido

se determina em função de cada indivíduo, mas se o animal chegar até a clínica com

colapso cardiovascular e choque hipovolêmico, recomenda-se uma velocidade inicial de

infusão de 90 mL/kg/hora para restabelecer o volume circulatório (WHITE, 2000).

De acordo com WALLACE (1994), se houver septicemia,

o tratamento pode ser iniciado com administração intravenosa de solução de Ringer com

lactato e glicose 2,5 a 5%, junto à antibioticoterapia de amplo espectro.

A acidose metabólica é o desequilíbrio ácido-base que

mais se encontra associado às infecções uterinas e pode desencadear uma alcalose

respiratória compensatória. Geralmente, a Solução de Hartman é suficiente para manter o

pH sanguíneo dentro dos limites aceitáveis. Se o pH sanguíneo cair abaixo de 7,2, é

indicada a terapia com bicarbonato. Se o animal estiver hipocalêmico, deve-se administrar

potássio em seus fluidos infundidos, de acordo com a concentração de potássio sérica; se

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houver hipoglicemia, deve ser administrada glicose intravenosa (solução a 2,5-5%), junto

aos fluidos que já estão sendo administrados (WHITE, 2000).

É importante determinar, por meio de urinálise e

concentrações de uréia e creatinina, a situação da função renal do animal antes da cirurgia,

protegendo os rins mediante fluidoterapia intravenosa. A restauração do equilíbrio hídrico

e a proteção da função renal permitem que os rins possam corrigir os desequilíbrios ácido-

básicos. O monitoramento da função renal deve continuar no período pós-cirúrgico até que

os parâmetros alcancem valores de referência para a espécie (WHITE, 2000).

Embora um cateter possa ser passado pelo cérvix no pós-

parto, os méritos da infusão uterina com antibióticos ou escoamento do conteúdo uterino

não são usados em cadelas. O útero pode estar friável e a sua manipulação pode resultar

em bacteremia ou ruptura (JOHNSTON et al, 2001).

Embora infusões de antibióticos tenham sido usadas no

tratamento de metrite em outras espécies por várias décadas, vários estudos têm sugerido

que tal tratamento pode ser contra-indicado. Agentes antimicrobianos infundidos

diretamente dentro do lúmen uterino podem impedir a função fagocitária dos neutrófilos

uterinos. Até mesmo soluções antissépticas infundidas dentro do lúmen uterino (como o

iodo e seus derivados), podem prejudicar a ação dos neutrófilos uterinos. Adicionalmente,

muitos agentes antimicrobianos ou antissépticos são irritantes para o endométrio,

resultando em futura infertilidade (JOHNSTON et al, 2001).

A presença de material purulento e debris teciduais

reduzem a eficácia de muitos agentes antimicrobianos que têm sido historicamente

utilizados nas infusões, como sulfonamidas, aminoglicosídeos e nitrofurasona. Embora

informações similares estejam faltando para cadelas, parece prudente considerar estudos

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em bovinos antes de tomar uma decisão de se fazer infusões uterinas no pós-parto de

cadelas (JOHNSTON et al,2001).

Caso o proprietário seja contra a OSH e as condições

clínicas da cadela permitam, o tratamento conservador pode ser tentado, associando

fluidoterapia (por exemplo, a solução de Hartman), antibioticoterapia e ocitocina (ALLEN,

1995).

A função de vários agentes hormonais no tratamento de

metrite canina tem rumos incertos. Embora hormônios possam ser usados na tentativa de

aumentar a contratilidade uterina para expulsar o seu conteúdo, eles devem ser empregados

com cautela, pois se houver uma desvitalização uterina, este útero estará propenso a se

romper devido às contrações. A ocitocina tem uma meia-vida pequena, sendo um agente

hormonal bastante seguro. A ocitocina e a prostaglandina F2α causam aumento na pressão

intra-uterina no momento do parto. O uso de ergovina no tratamento de metrite em cadelas

não é recomendado, pois provoca contrações uterinas muito intensas e de forma

descoordenada, sendo o medicamento que mais oferece riscos de provocar ruptura uterina

(JOHNSTON et al, 2001).

A eficácia e segurança do uso de prostaglandina F2α· no

tratamento de metrite canina não foram estudadas criticamente. As prostaglandinas foram

defendidas como úteis no tratamento de metrite bovina e, possivelmente, são superiores

aos fármacos antibacterianos em muitos casos. A razão para o uso de prostaglandinas F2α

inclui a estimulação de contrações uterinas para expelir o material purulento e debris, além

da possível estimulação da fagocitose por leucócitos. Porém, já que os níveis teciduais de

prostaglandinas já possam estar aumentados em doenças uterinas em cadelas, o real

aumento da fagocitose leucocitária em doses farmacológicas de prostaglandina residual

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deve ser determinado. De fato, a capacidade de fagocitose de neutrófilos apresentou-se

diminuída em cadelas com piometra, embora o metabolismo de prostaglandina estivesse

aumentado no exsudato uterino, sangue e soro. A eficácia e os riscos do uso de

prostaglandinas no tratamento de metrite canina podem variar, dependendo da integridade

do miométrio e da parede uterina, além do tipo de prostaglandina utilizada, visto que as

prostaglandinas sintéticas têm ação muito mais potencializada (maior risco de ruptura

uterina) que as prostaglandinas naturais (JOHNSTON et al,2001).

Segundo CHRISTIANSEN (1988), ETTINGER (1992),

BROWN (1996), TILLEY e SMITH (2003), as doses para os agentes hormonais, usados

isoladamente, são:

� prostaglandina natural: PGF2α = 0,10 a 0,25mg/kg/SC, a cada 12

horas, durante três a oito dias;

� ocitocina = 0,25 a 1,0UI/kg/IM, em dose única ou repetir 1-2 horas

após a primeira dose, até 48 horas após o parto;

� ergonovina = 0,2mg/kg/IM, em dose única.

Porém, vale lembrar dos cuidados com a aplicação de

prostaglandina e ergonovina, pois essas bases farmacológicas podem provocar contrações

uterinas intensas, ocasionando ruptura de útero, caso o tecido esteja desvitalizado.

Durante o tratamento conservador, deve-se monitorar o

paciente por exame citológico vaginal, hemograma, função renal e avaliação periódica da

temperatura e dos sinais clínicos, além do monitoramento da evacuação do líquido intra-

uterino (TILLEY e SMITH, 2003).

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O dietilestilbestrol (DES) tem sido indicado no tratamento

conservador para promover maior dilatação cervical (CHRISTIANSEN, 1988). Porém,

hormônios estrogênicos são contra-indicados para cães, pois podem levar a aplasia

irreversível de medula óssea, com pancitopenia grave (NELSON e COUTO, 1994).

Além do tratamento cirúrgico ou conservador, é

importante lembrar do uso de antibióticos. Se houve a intenção de realizar antibiograma

(ATB), alguns cuidados básicos devem ser tomados. Antes do resultado final do ATB ser

conhecido, pode ser usado um antibiótico de amplo espectro por via oral (se o paciente

estiver estável) ou intravenosa (se o paciente estiver em choque). Após o conhecimento do

resultado do antibiograma, deve-se seguir com o antibiótico específico por no mínimo 14

dias. Pode ser necessária antibioticoterapia mais agressiva (como uma associação de

cefalosporinas e amicacina) se o animal estiver séptico (SHAW e IHLE, 1999). Os

antibióticos mais indicados são: amoxicilina com ácido clavulânico (12,5mg/kg/VO, a cada

12 horas), oxacilina (22-40mg/kg/VO, a cada oito horas), enrofloxacina (2,5mg/kg/VO, a

cada 12 horas) ampicilina (10-20mg/kg/IV, a cada seis ou oito horas) e sulfonamidas

potencializadas (ALLEN, 1995; TILLEY e SMITH, 2003).

Na escolha do antibiótico devem-se considerar os efeitos

prejudiciais sobre os neonatos, já que o fármaco pode passar para o filhote via leite. Os

antibióticos comprovadamente seguros para os neonatos são: amoxicilina-clavulanato,

amoxipenicilinas, cefalosporinas, eritromicina, penicilinas e tilosina. Alguns

medicamentos comprovadamente prejudiciais aos neonatos são: ácido nalidíxico,

aminoglicosídeos, ciprofloxacina, cloranfenicol, enrofloxacina, nitrofurantoína,

norfloxacina, polimixina, sulfonamidas, tetraciclinas e trimetoprima (NELSON e COUTO,

1994).

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A despeito da escolha do tipo de tratamento, a OSH deve

ser sempre realizada se houver qualquer evidência de ruptura uterina – sinais radiográficos

ou ultra-sonográficos de fluidos livres no abdômen, peritonite ou extremo desconforto

abdominal são sugestivos de ruptura uterina ou mesmo de retenção de tecido placentário

ou fetal (NELSON e COUTO, 1994).

As possíveis complicações da metrite puerperal aguda são:

ruptura uterina, peritonite, septicemia e morte (TILLEY e SMITH, 2003).

Para o tratamento cirúrgico com base na OSH, o

prognóstico é bom. No tratamento clínico, o prognóstico se torna reservado para a

recuperação funcional da capacidade reprodutiva, podendo trazer efeitos adversos para a

futura procriação (TILLEY e SMITH, 2003).

Os filhotes de cadelas com metrite puerperal aguda devem

ser alimentados artificialmente até que a condição da mãe melhore, pois alguns

microrganismos podem passar pelo leite; outros podem liberar toxinas no leite, provocando

a morte dos filhotes (SHAW e IHLE, 1999).

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3. CONCLUSÃO

A metrite puerperal em cadelas é uma alteração infecciosa

que ocorre no início do período puerperal, geralmente no final da primeira semana pós-

parto. Os fatores predisponentes são distocias, manipulações obstétricas e retenção de

placenta ou fetos, podendo também ocorrer após partos descomplicados como aqueles

conduzidos em locais muito contaminados, pois o agente ascende pelo cérvix até o útero,

que se encontra flácido e aumentado.

O quadro sintomático se caracteriza por febre,

desidratação, anorexia, apatia, letargia e principalmente presença de corrimento vaginal

acastanhado, verde-escuro, purulento ou sanguinopurulento, e com odor fétido, podendo

haver comprometimento do estado geral do animal, levando à toxemia e morte.

É importante fazer o diagnóstico diferencial entre metrite

puerperal e piometra, pois a piometra geralmente ocorre no diestro, após um cio recente. Já

a metrite puerperal ocorre geralmente no pós-parto. Vários métodos diagnósticos podem

ser usados, como a observação dos sinais clínicos, exame clínico e histórico do animal,

associado ao exame ultra-sonográfico e/ou radiográfico. O mais importante meio

diagnóstico para a metrite em cadelas é a observação da descarga vaginal anormal

associada a sinais sistêmicos no pós-parto.

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A OSH é o tratamento mais efetivo para a metrite

puerperal, associada à antibioticoterapia, fluidoterapia e tratamento de suporte. Porém, se a

vida reprodutiva desse animal for muito importante para o proprietário, dependendo das

condições clínicas do animal, pode ser tentado o tratamento clínico com antibióticos,

fluidoterapia e agentes que promovam o aumento da contratilidade uterina e, assim,

expilam o conteúdo uterino infeccioso, sendo a ocitocina o fármaco mais seguro neste

intuito. Outros agentes hormonais também podem ser utilizados (como as prostaglandinas),

mas esse tratamento deve ser utilizado com cautela devido aos riscos de uma ruptura

uterina. O uso da ergovina não é indicado pela maioria dos autores, pois provoca

contrações uterinas intensas e descoordenadas, sendo o medicamento que mais oferece

riscos de promover uma ruptura de útero.

Qualquer que seja o tratamento adotado, deve-se

administrar fluido intravenoso apropriado para corrigir os déficits existentes, manter a

perfusão tissular e satisfazer as demandas adicionais de lactação, juntamente com um

antibiótico bactericida de amplo espectro (NELSON e COUTO, 1994).

O procedimento ideal é que a escolha do antibiótico possa

ser baseada nos resultados do antibiograma do exsudato uterino, obtido da vagina anterior.

Na escolha do antibiótico, o clínico deve considerar também os seus efeitos nocivos sobre

os neonatos, uma vez que se supõe que o antibiótico irá atingir os filhotes por meio do

leite. As penicilinas, amoxipenicilinas e cefalosporinas são seguras para os neonatos, já o

cloranfenicol e as tetraciclinas não devem ser utilizados (NELSON e COUTO, 1994). Uma

alternativa é separar os filhotes da mãe e submetê-los a alimentação artificial até o

completo restabelecimento da saúde da progenitora.

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Para evitar a metrite aguda, recomenda-se a higiene

completa antes, durante e depois do parto, tanto do ambiente como da parturiente

(CHRISTIANSEN, 1988). Cuidados com a fêmea gestante ajudam a protegê-la de

infecções pós-parto, como manter o seu ambiente limpo e seco, fazer tosa higiênica na

região perineal antes do parto (para evitar o acúmulo de fezes e urina principalmente em

fêmeas de pêlo longo) e evitar manipulações obstétricas desnecessárias. Ao se notar

qualquer anormalidade no momento peri e transnatal, procurar assistência veterinária

urgentemente, evitando deixar a cadela em sofrimento por muito tempo.

O manejo reprodutivo correto das cadelas é fator

importante para impedir injúrias no sistema genital dessas fêmeas. Evitar o uso de

contraceptivos é também fundamental para manter a saúde do animal, preferindo-se optar

pela castração definitiva (OSH) daqueles animais em que não há o interesse reprodutivo.

Para o clínico veterinário, alguns cuidados são

importantes, como a utilização de técnicas adequadas de antissepsia dos procedimentos

obstétricos realizados. Tudo isso deve estar associado à boa alimentação, vacinação e

vermifugação adequadas, pois um animal saudável e bem cuidado é mais resistente às

infecções e respondem melhor a um tratamento, quando necessário.

Em suma, uma boa fertilidade depende de bons cuidados

com o animal.

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