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Metrologia – Aula 1 O que é Metrologia Metrologia é uma palavra originada de dois radicais gregos: metron (medida) e logos (ciência). Segundo o Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia (VIM), Metrologia é a “ciência da medição que abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às medições, qualquer que seja a incerteza, em quaisquer campos da ciência ou tecnologia” (INMETRO, 2007, p. 21). Na sua essência, a Metrologia pode ser considerada como um conjunto de metodologias associadas às ciências e engenharias, que visam prover confiança às medições, bem como desenvolver medições mais exatas e de validade e aceitação mais amplas.”(JORNADA, 2005, p. 77). O objetivo fundamental da Metrologia é agregar confiança e qualidade às medições. Para tanto, é necessário que suas atividades estejam estruturadas em um complexo sistema que esteja em contínuo aperfeiçoamento, organizado em nível internacional, regional e nacional. Um breve histórico das medidas

Metrologia – Aula 1 - Viviane's Blog | Página da Viviane · Web viewAssim, a primeira definição foi substituída por uma segunda: Metro é à distância entre os dois extremos

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Metrologia – Aula 1

O que é MetrologiaMetrologia é uma palavra originada de dois radicais gregos: metron

(medida) e logos (ciência).

Segundo o Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de

Metrologia (VIM),

Metrologia é a “ciência da medição que abrange todos os aspectos teóricos e

práticos relativos às medições, qualquer que seja a incerteza, em quaisquer

campos da ciência ou tecnologia” (INMETRO, 2007, p. 21).

Na sua essência, a Metrologia pode ser considerada como um conjunto de

metodologias associadas às ciências e engenharias, que visam prover

confiança às medições, bem como desenvolver medições mais exatas e de

validade e aceitação mais amplas.”(JORNADA, 2005, p. 77).

O objetivo fundamental da Metrologia é agregar confiança e qualidade às

medições. Para tanto, é necessário que suas atividades estejam estruturadas

em um complexo sistema que esteja em contínuo aperfeiçoamento, organizado

em nível internacional, regional e nacional.

Um breve histórico das medidasComo fazia o homem, cerca de 4.000 anos atrás, para medir

comprimentos?

As unidades de medição primitivas estavam baseadas em partes do corpo

humano, que eram referências universais, pois ficava fácil chegar-se a uma

medida que podia ser verificada por qualquer pessoa. Foi assim que surgiram

medidas padrão como a polegada, o palmo, o pé, a jarda, a braça e o passo.

Algumas dessas medidas-padrão continuam sendo empregadas até hoje.

Veja os seus correspondentes em centímetros:

1 polegada = 2,54 cm

1 pé = 30,48 cm

1 jarda = 91,44 cm

O Antigo Testamento da Bíblia é um dos registros mais antigos da

história da humanidade. E lá, no Gênesis, lê-se que o Criador mandou Noé

construir uma arca com dimensões muito específicas, medidas em côvados.

O côvado era uma medida-padrão da região onde morava Noé, e é equivalente

a três palmos, aproximadamente, 66 cm.

Em geral, essas unidades eram baseadas nas medidas do corpo do rei,

sendo que tais padrões deveriam ser respeitados por todas as pessoas que,

naquele reino, fizessem as medições.

Há cerca de 4.000 anos, os egípcios usavam, como padrão de medida de

comprimento, o cúbito: distância do cotovelo à ponta do dedo médio. Cúbito é o

nome de um dos ossos do antebraço.

Como as pessoas têm tamanhos diferentes, o cúbito variava de uma

pessoa para outra, ocasionando as maiores confusões nos resultados nas

medidas. Para serem úteis, era necessário que os padrões fossem iguais para

todos. Diante desse problema, os egípcios resolveram criar um padrão único:

em lugar do próprio corpo, eles passaram a usar, em suas medições, barras de

pedra com o mesmo comprimento. Foi assim que surgiu o cúbito-padrão. Com

o tempo, as barras passaram a ser construídas de madeira, para facilitar o

transporte. Como a madeira logo se gastava, foram gravados comprimentos

equivalentes a um cúbito-padrão nas paredes dos principais templos. Desse

modo, cada um podia conferir periodicamente sua barra ou mesmo fazer

outras, quando necessário.

Nos séculos XV e XVI, os padrões mais usados na Inglaterra para medir

comprimentos eram a polegada, o pé, a jarda e a milha. Na França, no século

XVII, ocorreu um avanço importante na questão de medidas. A Toesa, que era

então utilizada como unidade de medida linear, foi padronizada em uma barra

de ferro com dois pinos nas extremidades e, em seguida, chumbada na parede

externa do Grand Chatelet, nas proximidades de Paris. Dessa forma, assim

como o cúbito-padrão, cada interessado poderia conferir seus próprios

instrumentos. Uma toesa é equivalente a seis pés, aproximadamente, 182,9cm.

Entretanto, esse padrão também foi se desgastando com o tempo e teve que

ser refeito. Surgiu, então, um movimento no sentido de estabelecer uma

unidade natural, isto é, que pudesse ser encontrada na natureza e, assim, ser

facilmente copiada, constituindo um padrão de medida. Havia também outra

exigência para essa unidade: ela deveria ter seus submúltiplos estabelecidos

segundo o sistema decimal. O sistema decimal já havia sido inventado na

Índia, quatro séculos antes de Cristo. Finalmente, um sistema com essas

características foi apresentado por Talleyrand, na França, num projeto que se

transformou em lei naquele país, sendo aprovada em 8 de maio de 1790.

Estabelecia-se, então, que a nova unidade deveria ser igual à décima

milionésima parte de um quarto do meridiano terrestre.

Essa nova unidade passou a ser chamada metro (o termo grego metron significa medir).Os astrônomos franceses Delambre e Mechain foram incumbidos de medir o

meridiano. Utilizando a toesa como unidade, mediram a distância entre

Dunkerque (França) e Montjuich (Espanha). Feitos os cálculos, chegou-se a

uma distância que foi materializada numa barra de platina de secção retangular

de 4,05 x 25 mm. O comprimento dessa barra era equivalente ao comprimento

da unidade padrão metro, que assim foi definido:

Metro é a décima milionésima parte de um quarto do meridiano terrestre.

Foi esse metro transformado em barra de platina que passou a ser denominado

metro dos arquivos.

Com o desenvolvimento da ciência, verificou-se que uma medição mais

precisa do meridiano fatalmente daria um metro um pouco diferente. Assim, a

primeira definição foi substituída por uma segunda:

Metro é à distância entre os dois extremos da barra de platina depositada nos

Arquivos da França e apoiada nos pontos de mínima flexão na temperatura de

zero grau Celsius.

No século XIX, vários países já haviam adotado o sistema métrico. No

Brasil, o sistema métrico foi implantado pela Lei Imperial nº 1157, de 26 de

junho de 1862. Estabeleceu-se, então, um prazo de dez anos para que padrões

antigos fossem inteiramente substituídos.

Com exigências tecnológicas maiores, decorrentes do avanço científico, notou-

se que o metro dos arquivos apresentava certos inconvenientes. Por exemplo,

o paralelismo das faces não era assim tão perfeito. O material, relativamente

mole, poderia se desgastar, e a barra também não era suficientemente rígida.

Para aperfeiçoar o sistema, fez-se um outro padrão, que recebeu:

seção transversal em X, para ter maior estabilidade;

uma adição de 10% de irídio, para tornar seu material mais durável;

dois traços em seu plano neutro, de forma a tornar a medida mais

perfeita.

Assim, em 1889, surgiu a terceira definição:

Metro é à distância entre os eixos de dois traços principais marcados na

superfície neutra do padrão internacional depositado no B.I.P.M. (Bureau

Internacional de Pesos e Medidas), na temperatura de zero grau Celsius e sob

uma pressão atmosférica de 760 mmHg e apoiado sobre seus pontos de

mínima flexão.

Atualmente, a temperatura de referência para calibração é de 20ºC. É nessa

temperatura que o metro, utilizado em laboratório de metrologia, tem o mesmo

comprimento do padrão que se encontra na França, na temperatura de zero

grau Celsius.

Ocorreram, ainda, outras modificações. Hoje, o padrão do metro em vigor no

Brasil é recomendado pelo INMETRO, baseado na velocidade da luz, de

acordo com decisão da 17ª Conferência Geral dos Pesos e Medidas de 1983.

O INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial), em sua resolução 3/84, assim definiu o metro:

Metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo, durante o

intervalo de tempo 1 um segundo.

299.792.458

É importante observar que todas essas definições somente estabeleceram com

maior exatidão o valor da mesma unidade: o metro.

Medidas inglesasA Inglaterra e todos os territórios dominados há séculos por ela utilizavam um

sistema de medidas próprio, facilitando as transações comerciais ou outras

atividades de sua sociedade.

Acontece que o sistema inglês difere totalmente do sistema métrico que passou

a ser o mais usado em todo o mundo. Em 1959, a jarda foi definida em função

do metro, valendo 0,91440 m. As divisões da jarda (3 pés; cada pé com 12

polegadas) passaram, então, a ter seus valores expressos no sistema métrico:

1 yd (uma jarda) = 0,91440 m

1 ft (um pé) = 304,8 mm

1 inch (uma polegada) = 25,4 mm

Padrões do metro no Brasil Em 1826, foram feitas 32 barras-padrão na França. Em 1889, determinou-se

que a barra nº 6 seria o metro dos Arquivos e a de nº 26 foi destinada ao Brasil.

Este metro-padrão encontra-se no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

A estrutura metrológica no Brasil

A estrutura atual da Metrologia no Brasil, representada na Figura 1, é

regida pela Lei nº 5.966/1973, que instituiu o Sistema Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO).

Esse sistema é composto por um órgão normativo, o Conselho de

Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO) que, por sua

vez, é assessorado por vários comitês, entre eles o Comitê Brasileiro de

Metrologia (CBM). O CBM, composto paritariamente por representantes

indicados por órgãos públicos e privados, conforme a Portaria nº 294, de 25 de

julho de 1995, do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT),

tem a sua secretaria executiva exercida pelo Instituto Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade IndustriaI (INMETRO), atualmente vinculado ao

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O INMETRO, entre outras atribuições, é o responsável pela realização,

manutenção e disseminação das unidades do Sistema Internacional de

Unidades (SI), pela guarda dos padrões metrológicos nacionais, rastreados a

padrões internacionais, e pela sua disseminação para os laboratórios de

calibração e ensaios.

Para o cumprimento dessas suas atribuições, o INMETRO, valendo-se da

competência disponível em outras instituições que respondem pela melhor

referência nacional, celebrou convênios com o Observatório Nacional (ON), no

campo do tempo e freqüência, e com o Instituto de Radioproteção e Dosimetria

(IRD), no campo das radiações ionizantes. Os laboratórios dessas entidades

conveniadas são denominados laboratórios designados, de acordo com a

terminologia consagrada no CIPM, e operam por delegação supervisionada.

O INMETRO, no que se refere à Metrologia, está estruturado em duas

unidades principais:

Metrologia Científica e Industrial;

Metrologia Legal.

Metrologia Científica e Industrial

Essa unidade do INMETRO responde pela gestão dos laboratórios de

Metrologia Científica e Industrial responsáveis pela:

a) Manutenção e disseminação das unidades de medida do SI e guarda dos

padrões nacionais de medida;

b) Condução de projetos de pesquisa no campo da Metrologia;

c) Prestação de serviços metrológicos.

O INMETRO possui seis laboratórios próprios, localizados em Xerém-RJ,

dedicados às áreas de Acústica e Vibrações, Mecânica, Química, Térmica,

Óptica e Elétrica. Conta ainda com laboratórios metrológicos que operam por

delegação supervisionada: o Observatório Nacional, no campo do tempo e

freqüência, e o Laboratório Nacional de Metrologia das Radiações Ionizantes

do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD).

São somente os laboratórios do INMETRO que prestam serviços metrológicos?A prestação de serviços metrológicos pode ser também realizada por

laboratórios acreditados pelo INMETRO, o organismo de acreditação oficial

brasileiro, no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade

(SBAC). A acreditação de laboratórios é concedida com base na ABNT NBR

ISO/IEC 17025, de acordo com diretrizes estabelecidas pela International

Laboratory Accreditation Cooperation (ILAC), e nos códigos de Boas Práticas

de Laboratórios (BPL) da Organization for Economic Cooperation and

Development (OECD).

A acreditação é aberta a qualquer laboratório, vinculado à indústria,

universidade, instituto tecnológico ou independente, que realize serviços de

calibração e de ensaios, em atendimento à própria demanda interna ou de

terceiros.

O INMETRO é reconhecido para ser acreditador?A confiabilidade de uma estrutura organizacional é proporcionada pela

acreditação (reconhecimento de competência) das instituições envolvidas,

concedida geralmente por uma autoridade amplamente aceita e reconhecida

internacionalmente. O INMETRO, que segue os requisitos da ABNT NBR

ISO/IEC 17011, tem sua competência como organismo acreditador

reconhecida internacionalmente, através do acordo de reconhecimento com o

International Laboratory Accreditation Cooperation (ILAC), foro internacional

que congrega os organismos nacionais de acreditação.

Os sistemas de Metrologia em praticamente todo o mundo têm na sua base

operacional um conjunto de laboratórios de calibração e de ensaios acreditados

pelo organismo de acreditação nacionalmente reconhecido, cujo objetivo, em

última análise, é prover confiabilidade metrológica ao usuário final. Forma-se,

assim, uma longa cadeia de laboratórios que têm, como ponto de partida, o

correspondente INM, instituição que estabelece as inter-relações com os

sistemas e instituições regionais e internacionais de Metrologia primária.

Metrologia LegalTodos aqueles que comercializam produtos ou serviços mediante algum tipo de

medição, ou que fabricam instrumentos de medição voltados para esse fim,

devem obedecer, compulsoriamente (cumprimento obrigatório), a um conjunto

de regulamentos técnicos sobre medições que envolvem transações

comerciais, saúde e segurança dos cidadãos, sob pena de sofrer algum tipo de

sanção administrativa.

O campo da Metrologia que trata das exigências legais, técnicas e

administrativas, relativas às unidades de medida, aos métodos de medição,

aos instrumentos de medição e às medidas materializadas, e que tem por

objetivo assegurar a garantia pública do ponto de vista da segurança e da

exatidão das medições, chama-se Metrologia Legal.

A Metrologia Legal foca sua atenção em quatro direções básicas:

a) A qualidade dos instrumentos de medição utilizados nas transações

comerciais, visando assegurar a confiabilidade das medidas e evitar a fraude;

b) As atividades essenciais do Estado, oferecendo os meios de medição e

controle que garantam segurança, eqüidade e eficácia à ação do Estado;

c) As atividades produtivas, tendo em vista disponibilizar às empresas

instrumentos de medição mais adequados e compatíveis com suas

necessidades;

d) A indústria nacional de aparelhos de medição e de produtos pré-medidos

(aqueles que são medidos sem a presença do consumidor), visando à melhoria

da qualidade de seus produtos e ao aumento de sua competitividade.

Como o INMETRO exerce a Metrologia Legal?Uma das principais unidades do INMETRO responde, no Brasil, por esse

campo da metrologia, por delegação do Estado, realizando o controle

metrológico, que compreende:

a) O controle dos instrumentos de medição ou medidas materializadas;

b) A supervisão metrológica;

c) A perícia metrológica.

O controle dos instrumentos de medição ou medidas materializadas envolve: a

apreciação técnica do modelo (novos instrumentos de medição devem ter seu

modelo aprovado pelo INMETRO, que examina, ensaia e verifica se este

modelo está adequado para a sua finalidade), verificação (após a fabricação,

cada instrumento deve ser submetido à verificação inicial para assegurar sua

exatidão antes de seu uso) e inspeção (verificação do correto funcionamento e

adequado uso dos instrumentos e medidas).

A supervisão metrológica é constituída pelos procedimentos realizados na

fabricação, utilização, manutenção e no conserto de instrumentos de medida

ou medida materializada, que asseguram que as exigências regulamentares

estão sendo atendidas. Esses procedimentos se estendem, também, ao

controle da exatidão das indicações colocadas nas mercadorias pré-medidas.

A perícia metrológica é constituída por um conjunto de operações que tem por

fim examinar e certificar as condições em que se encontram um instrumento de

medição ou medida materializada e determinar suas qualidades metrológicas

de acordo com as exigências regulamentares específicas (por exemplo, a

emissão de um laudo para fins judiciais).

Em decorrência da grande extensão territorial do Brasil, o INMETRO optou por

um modelo descentralizado, delegando a execução do controle metrológico a

órgãos metrológicos estaduais, os Institutos de Pesos e Medidas (IPEM),

constituindo a Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade (RBMLQ).

Quem participa da elaboração de regulamentos técnicos metrológicos?Os regulamentos técnicos que norteiam o exercício da Metrologia Legal são

elaborados, geralmente, com base em recomendações da Organização

Internacional de Metrologia Legal (OIML), à qual o Brasil está filiado como país-

membro, contando com a colaboração de entidades representativas dos

consumidores e dos fabricantes dos instrumentos de medição, de órgãos

governamentais, dos órgãos metrológicos estaduais e do próprio INMETRO.

São constituídos, então, Grupos de Trabalho de Regulamentação Metrológica,

que devem tornar o processo de elaboração de regulamentos técnicos

metrológicos mais participativo, representativo e transparente. Os referidos

grupos atuam, ainda, na avaliação de projetos recomendados pela OIML e de

Resolução MERCOSUL.

A relação entre a estrutura metrológica nacional e a internacional

A credibilidade das medições está fortemente associada à

rastreabilidade que é definida como “propriedade do resultado de uma medição

ou do valor de um padrão estar relacionado a referências estabelecidas,

geralmente padrões nacionais ou internacionais, através de uma cadeia

contínua de comparações, todas tendo incertezas estabelecidas.” (INMETRO,

2007, p. 57).

O usuário de Metrologia no Brasil, à semelhança do que ocorre nos países

desenvolvidos, dispõe de várias rotas para obter rastreabilidade para as suas

medições, conforme é ilustrado na Figura 2.

A forma mais confiável é realizar calibração ou ensaios em laboratórios

acreditados pelo INMETRO, pois eles darão ao usuário a necessária

rastreabilidade, com alta confiabilidade, garantida por um sistema de

acreditação reconhecido internacionalmente.

O laboratório acreditado pelo INMETRO, em primeiro lugar, tem a

rastreabilidade de seus instrumentos e sistemas de medição estabelecida aos

padrões nacionais de referência metrológica existentes no próprio INMETRO.

Esses padrões do INMETRO podem passar por comparações em nível

regional, no âmbito do Sistema Interamericano de Metrologia (SIM), por

intermédio do qual chega ao BIPM.

Intercomparações. O que significam?O INMETRO pode participar também de uma atividade semelhante à

rastreabilidade, denominada intercomparação e, desse modo, atingir

diretamente o topo da hierarquia metrológica mundial.

A intercomparação é realizada rotineiramente entre os diversos INM, muitas

vezes, coordenados pelo próprio BIPM, sendo um instrumento fundamental

para a harmonização dos padrões metrológicos dos diversos países signatários

da Convenção do Metro. A demonstração objetiva da equivalência de padrões

entre os vários INM é uma das mais importantes atividades atuais do BIPM,

que mantém um banco de dados sobre o assunto, aberto à consulta de todos.

Como ocorre a rastreabilidade com um padrão não disponível no INMETRO?Se o INMETRO não dispuser de um determinado padrão nacional, o laboratório

por ele acreditado pode obter rastreabilidade junto a um Instituto Nacional de

Metrologia (INM) de outro país, ou mesmo a um laboratório acreditado desse

outro país, cujo INM disponha de padrão nacional que lhe dê a requerida

rastreabilidade. Dependendo da disponibilidade de laboratórios acreditados e

de suas necessidades de demonstrar formalmente a rastreabilidade, ou

comparabilidade, o usuário pode utilizar um laboratório que, embora não

acreditado pelo INMETRO, foi avaliado e teve sua competência reconhecida

por uma terceira instituição de ampla aceitação. Excepcionalmente, utilizam-se

laboratórios que, embora não tenham sido avaliados, possam demonstrar ao

usuário a prestação de serviços com um grau aceitável de credibilidade.

Os acordos de reconhecimento mútuo

A globalização dos mercados tornou imprescindível que a estrutura de

acreditação de um país alcance reconhecimento junto a foros internacionais

competentes. Sem essa ferramenta, as empresas que desejam se voltar para o

mercado externo vão encontrar dificuldades, pois se defrontarão com diferentes

exigências em diferentes mercados. Essas exigências, que se constituem em

uma forma de barreira técnica, incidem em elevados custos extras, decorrentes

de múltiplos ensaios e múltiplas certificações, e reduzem as margens de

competitividade.

Os Acordos de Reconhecimento Mútuo (Mutual Recognition Agreement –

MRA) dos procedimentos de avaliação de conformidade existem com o objetivo

de evitar esses custos adicionais, fazendo valer a máxima: ensaiado uma vez,

aceito em qualquer lugar.

Com o objetivo de facilitar as exportações brasileiras, o INMETRO tem

perseguido continuamente o reconhecimento das suas acreditações em vários

foros internacionais. Atualmente, alguns reconhecimentos muito importantes já

foram obtidos junto aos seguintes foros:

a) International Accreditation Forum (IAF) – foro de reconhecimento

multilateral de organismos acreditadores em vários escopos, congregando, na

atualidade, os 28 países mais industrializados do mundo (nas Américas,

somente os EUA, o Canadá e o Brasil atingiram tal reconhecimento); desde

agosto de 1999, quando o INMETRO conseguiu firmar este MRA, os

certificados conferidos aos sistemas de gestão da qualidade das empresas

brasileiras, à luz das normas da série ABNT NBR ISO 9000, por organismos

certificadores acreditados pelo INMETRO, passaram a ser aceitos

internacionalmente pelas empresas sediadas nos países signatários do referido

acordo;

b) International Laboratory Accreditation Cooperation (ILAC) – foro

internacional que engloba os organismos acreditadores de laboratórios de

calibração e ensaios; o Brasil é o único país da América Latina que possui esse

reconhecimento, obtido em novembro 2000, o que propiciou aceitação por

todos os países que compõem este foro dos certificados de calibração e dos

relatórios de ensaios realizados em laboratórios acreditados pelo INMETRO,

eliminando-se, assim, a repetição de calibrações e ensaios nos países

compradores;

c) Bureau Internationale des Poids et Mésures (BIPM) – foro que congrega

os organismos nacionais de Metrologia Científica e Industrial; o INMETRO

obteve o reconhecimento dos seus padrões nacionais de medição pelo Comité

International des Poids et Mesures (CIPM) em outubro de 1999, ato que

alcançou igualmente os certificados de medição e de calibração emitidos por

todo o conjunto de laboratórios de calibração acreditados; o Brasil passou,

assim, a integrar, junto com outros 38 membros da Convenção do Metro, o

seleto grupo de países a merecer tal reconhecimento internacional;

d) European Accreditation (EA) – foro que reconheceu o INMETRO, a partir

de janeiro de 2001, como instituição que acredita laboratórios dentro dos

padrões internacionais; tal feito, atingido ainda por poucos países

industrializados, conferiu um “salvo-conduto” para as exportações brasileiras

para os países-membros da União Européia; o reconhecimento mútuo da EA

atribui valor diferenciado aos certificados de calibração e aos relatórios de

ensaios emitidos por todos os laboratórios de calibração acreditados pelo

INMETRO, implicando uma reciprocidade de aceitações, uma vez que os

produtos testados em um país deverão beneficiar-se do fácil acesso ao

mercado externo dos países participantes deste acordo.

Os padrões metrológicos e a cadeia de rastreabilidades

Os padrões metrológicosSegundo o VIM, padrão é a “medida materializada, instrumento de

medição, material de referência ou sistema de medição que serve para definir,

realizar, conservar ou reproduzir uma unidade ou um ou mais valores de uma

grandeza para servir como referência” (INMETRO, 2007, p. 54).

O padrão que é “designado ou amplamente reconhecido como tendo as mais

altas qualidades metrológicas e cujo valor é aceito sem referência a outros

padrões de mesma grandeza”, é chamado de padrão primário (INMETRO,

2007, p. 55). O conceito de padrão primário é igualmente válido para as

grandezas de base e para as grandezas derivadas.

O BIPM, entre outras atribuições, é o encarregado de estabelecer as unidades

e os padrões internacionais das principais grandezas e de conservar os

protótipos internacionais, bem como de efetuar a comparação dos padrões

nacionais e internacionais, mediante uma cadeia de rastreabilidade.

A cadeia de rastreabilidadeTodo resultado de medição, para ser confiável, deve ser passível de

rastreabilidade, ou seja, estar relacionado a referências estabelecidas,

geralmente a padrões nacionais ou internacionais, através de uma cadeia

contínua de comparações. Deve-se, assim, a partir de um padrão de trabalho(padrão utilizado rotineiramente para calibrar ou controlar medidas

materializadas, instrumentos de medição ou materiais de referência), percorrer

toda a cadeia de rastreabilidade desse padrão, chegando ao padrão primário.

A rastreabilidade está ligada, então, à calibração e calibração é o conjunto de

operações que estabelece, sob condições especificadas, a relação entre os

valores indicados por um instrumento de medição ou sistema de medição ou

valores representados por uma medida materializada ou um material de

referência e os valores correspondentes das grandezas estabelecidos por

padrões (INMETRO, 2007, p. 57).

Em intervalos regulares, verificações periódicas devem ser realizadas para que

instrumentos e padrões sejam recalibrados. Essa necessidade é decorrente

dos desgastes e degeneração que naturalmente ocorrem em componentes em

uso, fazendo com que o comportamento e o desempenho dos instrumentos

apresentem problemas.

Referências:Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento NacionalPrograma de capacitação de recursos humanos em normalização: unidade1.3: noções básicas de metrologia / SENAI. Departamento Nacional, Associação Brasileira de Normas Técnicas. – Brasília: SENAI/DN; Rio de Janeiro: ABNT, 2008. 1. Normalização 2. Capacitação em normalização I.

Telecurso 2000 - Metrologia