Migrações, Populações Indígenas e Etno-genese

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Flvio GomesMigraes, populaes indgenas e etno-genese na Amrica Portuguesa (Amaznia Colonial, s.XVIII)

[31/01/2011]

Resumen| Indice| Tabla de contenidos| Texto| Notas| Cita| AutorResmenes

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Todava sabemos poco acerca de las expectativas, las identidades, las percepciones y las polticas llevadas a cabo por los pueblos indgenas en los procesos coloniales. En diferentes partes de la vasta regin amaznica -especialmente donde haba reducciones y una organizacin del trabajo obligatorio, adems de vnculos econmicos- hay registros sobre el aumento de las fugas y el establecimiento de fugitivos en nuevas comunidades, en un proceso de etnognesis an poco conocido. En este artculo se analizan las interfaces entre las polticas indigenistas y las polticas indgenas en la Amazona colonial. Sabemos muy poco sobre cmo las numerosas sociedades y micro-sociedades indgenas-, as como los sectores coloniales, incluyendo a los africanos esclavizados recin llegados vieron las polticas de colonizacin a partir de sus propias lgicas y culturas, adaptando patrones de asentamiento, migracin, parentesco, cambios geogrficos, prcticas funerrias.

Entradas del ndice

Keywords:

migrations, Amazon, colonial settlement, maroon communities, ethno-genesis, indigenous peoples and ethno-genesis in Portuguese America, 18thcenturyPalabras claves:

etnognesis, Amazona, ocupacin colonial, comunidades de fugitivos, sigloXVIII, Migraciones, poblacionesTabla de contenidos

1. Introduccin2. Fronteiras de avanos e de recuos3. Etno-genese fugidias4. Espaos das misturas5. Consideraes finaisTexto integral

PDF sealar1. Introduccin1Neste artigo analisamos algumas interfaces e processos envolvendo polticas indigenistas e polticas indgenas na Amaznia colonial. Nas historiografias ainda marcadas com a perspectiva de histria nacional conhecemos pouco sobre espaos e tempos nas fronteiras da Amaznia, muitas das quais transnacionais. Para as reas coloniais e ps-coloniais entre os sculosXVI a XIX muitos estudos se limitaram as interpretaes sobre as lgicas dos imprios e as estratgias nem sempre convergentes de domnio e poder[1]. O que hoje denominamos Amaznia compreendia uma vasta regio com diferentes fronteiras, formataes scio-econmicas e ritmos demogrficos. Em 1621, o Estado do Maranho e Gro-Par institudo pela Coroa Portuguesa como unidade administrativa, separada do Estado do Brasil estava ligado diretamente a Lisboa. At meados do sculoXVIII, a chamada Amaznia da Amrica Portuguesa alcanava at as reas do Cear e Piau[2]. Sem necessariamente conexes e outras vezes funcionando num eixo centro-periferia colonial, no inicio foi tentado o sistema de plantation, principalmente com acar e tabaco[3]. Uma experincia que fracassou devido falta de investimentos articulados, captao e controle (incluindo preos) da mo-de-obra, epidemias e dificuldades geogrficas. Acar e tabaco acabaram destinados ao consumo interno e tentativas de montagem de plantation foram combinadas com a produo de aguardente e o extrativismo com a pesca e chamadas drogas do serto. Desde o sculoXVI com povoamento escasso e uma economia assentada no extrativismo predominava a mo-de-obra indgena, fossem com trabalhadores livres ou escravos. Segundo Ciro Cardoso esta imensa regio conheceria uma debilidade estrutural, se transformando numa rea colonial perifrica[4].

1 Reis, Arthur Cezar Ferreira, A expanso Portuguesa na Amaznia nos sculosXVII e XVIII, Rio de Jan (...) 2 Farage, Ndia, As Muralhas dos Sertes: os povos indgenas no Rio Branco e a colonizao, Rio de (...) 3 Ver Russel-Wood, Centro e Periferia no mundo luso-brasileiro, 1500-1808, Revista Brasileira de Hi (...) 4 Cardoso, Ciro Flamarion S., La Guyane Franaise (1715-1817): Aspects conomiques et sociaux. Contri (...) 5 Pensamos aqui nas perspectivas crticas de Alencastro, Luiz Felipe, "O aprendizado da Coloniza (...) 6 Fausto, Carlos, Se Deus fosse Jaguar: Canibalismo e Cristianismo entre os Guarani (sculosXVI a X (...) 7 Ver Hill, Jonathan (ed.), History, Power and Identity. Ethnogenesis in the Americas, 1492-1992, Uni (...)2O processo de etno-genese em variadas regies, as cosmologias indgenas, as expectativas dos contatos e as primeiras geraes de colonos e trabalhadores assim como as lnguas e cultura material so muitas vezes faces histricas, arqueolgicas e antropolgicas ocultas em anlises que acentuam as dinmicas coloniais de ocupao e economia cristalizadas[5]. Sabemos muito pouco sobre como inmeras micro-sociedades indgenas assim como setores coloniais, incluindo africanos escravizados recm-chegados perceberam as polticas de colonizao a partir das suas prprias lgicas e culturas, adaptando padres de assentamento, migrao, parentesco, deslocamentos geogrficos, prticas fnebres etc[6]. Em diferentes partes da extensa Amaznia especialmente onde havia aldeamentos e organizao do trabalho compulsrio, alm de vinculaes econmicas h registros sobre o aumento das fugas e o estabelecimento de fugitivos em novas comunidades num processo de etno-genese ainda pouco conhecido. Conectamos neste artigo perspectivas tericas para se pensar o fenmeno do ressurgimento de identidades tnicas indgenas com a possibilidade de testar metodologias da pesquisa emprica nos arquivos coloniais. Para a Amaznia colonial seria o caso de analisar a formao de comunidades de fugitivos indgenas, dos aldeamentos, fazendas, misses e migraes milenaristas, como parte de um processo encoberto e ainda pouco conhecido de formao tnica histrica de vrias populaes indgenas. Considerando a etnologia, relatos coevos de missionrios e viajantes e narrativas da documentao colonial seria possvel avanar na reflexo etno-histrica das mudanas e dos conflitos contextuais colapso demogrfico, escravizao, migrao, genocdio etc envolvendo povos e culturas indgenas diversas[7].

2. Fronteiras de avanos e de recuos3Na Amaznia dos sculosXVII e XVIII entre o improviso de vilas, fortalezas provisrias, entrepostos e aldeamentos, as denominadas unidades produtivas foram montadas nas margens dos grandes rios e afluentes em reas de vrzea. Esta reorganizao geoecolgica marcaria as relaes de contatos e trocas entre as primeiras geraes de colonos e as populaes indgenas envolventes. Eram guias, carregadores e fundamentalmente remadores e farinheiras. Porm, epidemias, migraes, deslocamentos para o interior, conflitos tnicos, ao missionria, guerras e expectativas milenaristas redefiniram as experincias coloniais de vastas reas[8]. Num tempo no-cronolgico como aqueles dos projetos coloniais houve transformaes simblicas, rituais e demogrficas nos padres de assentamentos de inmeras micro-sociedades. Levas migratrias se associaram a formao de aldeamentos que se deslocavam. Tais embates foram operados em diferentes ritmos demogrficos, culturais e religiosos. Vilas e aldeamentos ora populosos ora esvaziados se refaziam constantemente.

8 Ver por exemplo, Sommer, Barbara A, Cracking Down on the Cunhamenas: Renegade Amazonian Traders un (...) 9 Hemming, Jonh, Red Gold. The Conquest of the Brazilian Indians, Harvard University Press, 1978, pp. (...)4Em contextos e com motivaes variadas, as fugas (individuais ou coletivas) de grupos indgenas foram partes fundamentais dos cenrios que se formavam. Favorecendo fluxos de migraes, interiorizao e assentamentos entre as reas de terra firme e de vrzea, os fugitivos e as comunidades formadas por eles redesenharam espaos, redefinindo territrios. A agenda de missionrios e religiosos, as expectativas dos colonos e a flexibilidade dos significados de poder colonial deram novos sentidos s estratgias de ocupao na Amaznia no sculoXVIII, principalmente durante a administrao pombalina com a implantao e, depois, a desestruturao do Diretrio dos ndios. Populaes indgenas eram atradas, resgatadas ou atravs dos descimentos acabavam sendo recrutadas para o trabalho compulsrio. Havia, assim, uma constante migrao de populaes indgenas, transferidas compulsoriamente para localidades de fronteiras, junto s feitorias e fortificaes ou regies emergentes de produo extrativa e agricultura[9]. Embora ainda conheamos pouco sobre as expectativas, as identidades, as percepes e as polticas empreendidas pelos indgenas nestes processos j possvel avaliar o impacto das polticas indigenistas e com elas as fugas e comunidades de fugitivos formadas.

5Nas Amricas, comunidades de fugitivos receberam diferentes nomes, como Cumbes, na Venezuela e Palenques, na Colmbia. No Brasil, acabaram conhecidos como mocambos e depois quilombos. As palavras quilombo/mocambo para a maioria das lnguas bantu da frica Central significavam acampamentos. A palavra mukambu tanto em Kimbundu e Kicongo significava pau de fieira, tipo suportes verticais terminados em forquilhas utilizados para erguer choupanas nos seus quilombos, no caso os acampamentos. Mas por que as denominaes mocambos/quilombos se propagaram no Brasil diferente de outras reas coloniais que tambm receberam africanos centrais e tiveram vrias comunidades de fugitivos? Uma hiptese seria a propagao do termo na prpria documentao da administrao colonial portuguesa. Muitas autoridades no Brasil colonial tinham ocupado postos ou ocupariam os mesmos na frica. Podiam estar falando de coisas diferentes acampamentos de guerra na frica, prisioneiros africanos e comunidades de fugitivos no Brasil mas nomeando-as de forma semelhante.

10 Arquivo Publico do Par (doravante APEPA), Cdice 07 (1752-1769), Ofcios de 21/01/1764 e 19/05/176 (...)6O termo quilombo s aparece para os grandes mocambos de Palmares, na Capitania de Pernambuco, no final do sculoXVII. Em geral, a terminologia mais usada era mesmo mocambo, embora houvesse variaes locais. Ao longo do sculoXVIII na documentao colonial as comunidades de fugitivos foram mais chamadas de mocambos para a Amaznia e Bahia e mais de quilombos para Minas Gerais. O fato que as autoridades coloniais na Amaznia utilizariam mesma nomenclatura no caso a palavra africana mocambo para classificar as prticas de fugas coletivas das populaes indgenas dos aldeamentos e vilas e a formao de comunidades de fugitivos. Em Camet, em 1752 eram enviadas tropas contra um mocambo principal de ndios fugidos. Na ocasio, na confluncia de um dos afluentes do rio Tapajs, se reclamava que ndios que escaparam dos aldeamentos religiosos atacavam roas nas vilas prximas. Numa aldeia de fugitivos foram encontradas todas as casas desertas posto que seus habitantes acabassem avisados antes, procurando novos refgios. No raras vezes, fugas coletivas podiam se transformar em novas comunidades tnicas indgenas que se reorganizavam em aldeias e com roas de alimentos. Na Vila de So Miguel e Almas, nas margens do rio Moju, num ataque contra uma aldeia de fugitivos indgenas foi descoberta casas e muitas roarias de mandioca. Podia tanto haver pequenos grupos que rapidamente se dispersavam na floresta, migravam para outras reas bem distantes ou se juntavam com outros grupos atomizados, como ncleos que formavam aldeias mais estveis e desenvolviam uma base camponesa. Em 1761, na rea de Barcelos foi realizada diligncia contra dois mocambos sendo capturados mais de 30 ndios estabelecidos com lavouras e ferramentas. Um processo semelhante ocorreria entre a vila do Conde e Piri, onde os ndios tinham j bastante gente em mocambo. Do Gurupi, notcias sobre ndios que fugiam dos aldeamentos de missionrios revelavam que os mesmos desertam a fim de no trabalharem. As denncias vindas de Portel davam conta haver aldeamentos que se desmobilizavam diante do abandono do servio por parte dos ndios e que havia povoaes inteiras compostas de mucambos que s aparecem quando querem. Sobre as fugas coletivas em Soure se descobriu que os ndios fugidos todos seguem no caminho de Arauari, a donde se acham grandes mocambos. Da Vila de Monsars chegaria notcia de que nos matos de Ponte de Pedra se acham amocambados 40pessoas desta vila entre grandes e pequenos vivendo como no serto sem missa nem confisso. Mesmo a populao indgena que continuava nos aldeamentos coloniais era acusada de fornecer ajuda aos fugitivos. Essa era fama de Thomas Gonalves, morador da Vila de Boim, que acabou acusado de ocultar certos fugidos da mesma povoao fazendo-se cabea de mucambo em 1763. No faltavam denuncias e reclamaes sobre conexes entre os fugitivos dos mais diversos locais. Como o episdio ocorrido no engenho do Carmelo, onde se denunciou que havia comunicao continuada de alguns ndios destes moradores com os do mucambo, que facilmente os podero avisar. Em 1765, em Alter do Cho e na vizinha vila de Monte Alegre foram autorizadas diligncias contra fugitivos; enquanto que em Benfica, em 1780, tentava-se capturar ndios amocambados no Igarap Tamatatu e no rio Tanh; sendo que em Serzedelo em 1791 dizia-se que ndios fugidos vieram povoao, porm, ocultos, e com o sentido de levar consigo algumas mulheres e se amocambarem na boca deste rio. Nada diferente daquilo que acontecia nas vilas de Franca, Boim e Santarm onde os habitantes reclamavam haver gentio do mato em grupos cometendo saques e assassinatos. J no rio Arapi se denunciava gentio no mocambo que andava faminto[10].

11 APEPA, Cdice 356, Ofcio de 05/01/1781; Cdice 343, Ofcio de 26/02/1778 e Cdice 200 (1780), Ofc (...)7As rotas de fugas eram muitas e as comunidades formadas pelos fugidos extremamente mveis, sempre migrando para outras regies em diversas direes. Em 1778 na Vila de Borba, as autoridades estavam atentas para precaver a furtiva passagem dos ndios desta capitania para a do Mato Grosso. Muitos ndios eram destinados a trabalhar bem longe das regies de suas aldeias originais, uma estratgia das autoridades portuguesas que visava dispersar e desarticular os grupos indgenas. ndios capturados em determinadas regies eram enviados para outras reas bem distantes. Paradoxalmente se ampliava a circulao de indgenas para as mais diversas regies, conectando-se num movimento migratrio e transtnico forado cada vez mais. Em 1781, por exemplo, ordenaram-se copiosas remessas de ndios de Ourm, Portel, Monte Alegre, Alenquer e Outeiro para Macap, como castigo das deseres das viagens do rio Negro do servio dessas vilas[11].

12 Maria Regina Celestino de Almeida, "Trabalho Compulsrio na Amaznia: sculosXVII-XVIII" (...) 13 Dauril Alden, "El indio Desechable en El Estado de Maranho durante los siglos XVII y XVIII&qu (...)8Por que tantas fugas? E a possibilidade de comunidades trans-tnicas indgenas a partir destes fugitivos? Quais eram as polticas indigenistas? E as expectativas das micro-sociedades indgenas? Na Amaznia, nos sculosXVII e XVIII o trabalho se baseou fortemente na mo-de-obra indgena dividida at a era pr-pombalina entre escravos e livres. A escravizao dava-se por guerra justa, resgate, descimentos alm da compra de prisioneiros de guerra. Havia muita escravizao ilegal empreendida por particulares, com cumplicidade de autoridades coloniais e religiosas. A populao livre estava dividida em aldeamentos indgenas organizados por missionrios, sendo os escravizados nas aldeias de servio das ordens religiosas, nas aldeias do servio Real e nas aldeias de repartio. As disputas e conflitos entre luso-brasileiros e religiosos (principalmente os jesutas) pelo controle da mo-de-obra indgena eram constantes. Ao longo da ltima dcada do sculoXVII e a primeira metade do sculoXVIII, conflitos e desacordos entre jesutas, moradores e colonos em torno do tratamento e controle sobre as populaes indgenas aldeadas foram permanentes. Representou o perodo das aldeias-misses com a crescente demanda de mo-de-obra, sendo realizadas vrias entradas e expedies de resgates para a captura de ndios. As estatsticas sobre o nmero de ndios convertidos pelos religiosos so incompletas. Em 1696 falava da existncia de 11.000somente nos aldeamentos de jesutas, um contingente que quase dobrou em 1730. Em meados do sculoXVIII se calculava que para todas as ordens religiosas juntas na Amaznia (jesutas, franciscanos, mercedrios e carmelitas) havia 63aldeias com cerca de 50.000ndios aldeados[12]. Nas incompletas estatsticas sobre a populao dos aldeamentos acabavam no sendo computadas as vtimas de varola e de outras epidemias assim como a enorme quantidade de ndios fugidos. Ao analisar o impacto das epidemias Alden destacou que somente em Belm e seus arredores teriam morrido 4.900pessoas em 1749, um percentual que dobraria no ano seguinte. Nas reas do interior e nas franjas das fronteiras, os ndices de mortalidade certamente ainda eram maiores, afetando no s os indgenas aldeados. Sabe-se que nas misses dos rios Negro e Solimes mais de 2.000ndios morreram. S num aldeamento jesuta na foz do rio Madeira houve 700mortes. Em 1750, havia a confirmao da morte de mais de 18.000pessoas com previses de que poderiam ultrapassar 40.000. Enfim, clculos e estimativas que no inclua o grande nmero de foragidos que formavam comunidades nas florestas, cuja presena preocupava sobremaneira as autoridades coloniais e metropolitanas[13].

14 Azevedo, Joo Lcio d', Os Jesutas no Gro-Par, suas misses e colonizao. Borguejo histrico co (...) 15 Salles, Vicente, O Negro no Par, Rio de Janeiro, FGV, 1971, p.32 e segs. e Farage, Ndia. As Mura (...) 16 Maclachlan, Colin M., "The Indian Labor Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800", i (...)9No foram apenas os cenrios demogrficos que conheceram mudanas em meados do sculoXVIII. Com o projeto ilustrado pombalino, no incio da segunda metade dos Setecentos, decretado o fim da escravido dos ndios e a retirada do poder temporal dos missionrios religiosos sobre os aldeamentos, desmanchando-se assim parte da estrutura de controle da mo-de-obra indgena na Amaznia[14]. Reapareceram mais fortes os conflitos entre o Estado Portugus, os colonos e os jesutas pelo controle sobre os indgenas. Um processo de secularizao das misses avanou sob a perspectiva de se criar as chamadas muralhas do serto: ndios transformados em colonos e/ou sditos. Em 1757 o sistema das misses jesuticas extinto, sendo criados os Diretrios Pombalinos, pelo ento Governador Mendona Furtado. Povoaes indgenas de antigos aldeamentos se transformam em vilas, surgindo normas para reger a vida nas vilas com o objetivo de controlar a populao indgena[15]. Assim, a administrao portuguesa ampliaria as formas de domnio e poder, sendo a criao dos Diretrios parte de uma poltica colonial de, ao mesmo tempo, controle da mo-de-obra e ocupao efetiva. Havia assim uma expectativa de integrao, domnio e ocupao colonial. Entre as imposies dos Diretrios estavam: linguagem, vesturio, educao, famlia e integrao scio-econmica. Na perspectiva desta poltica indigenista colonial, os ndios poderiam continuar sendo utilizados nas lavouras, porm, cabia aos moradores pedir licena atravs do Juzo de rfos. Sob a tica da moralidade e da civilizao articular-se-ia compulso ao trabalho e disciplinarizao da mo-de-obra. Somente em 1798 os Diretrios seriam extintos[16].

3. Etno-genese fugidias10A Amaznia e especialmente as reas de fronteiras das Guianas sculosXVII e XVIII com as ocupaes espanhola, inglesa, holandesa e francesa se constituram em espaos originais de polticas coloniais indigenistas e indgenas transnacionais. As formas e estratgias de ocupao, contato, comrcio e escravizao eram dialgicas. Numa rea de disputa colonial, por exemplo, a perspectiva indigenista holandesa de manter comrcio, mas no aldear ndios nem converter em termos religiosos era vista como expansionista pelos espanhis e portugueses. As populaes indgenas e os prprios setores coloniais a despeito das expectativas de domnio e poder europeus tinham as suas prprias lgicas. Neste sentido, avaliavam, adaptavam-se, protestavam e tiravam vantagens dos antagonismos e conflitos entre setores coloniais internacionais e as disputas nas fronteiras. Grupos indgenas que comerciavam com os holandeses segundo o missionrio espanhol Benito de La Garriga recusavam aldear-se e retiravam-se para a floresta. Entre as conexes envolvendo aldeamentos, comrcio intertribal, escravizao e trfico de ndios houve conflitos, gerando grandes levantes e fugas coletivas entre 1780 e 1781 na rea do Rio Branco[17]. Mais recentemente vrios estudos tm analisado as transformaes das polticas indigenistas na Amaznia, especialmente aquelas implementadas por Pombal com a liberdade indgena e a criao dos Diretrios em meados do sculoXVIII[18]. Mas ainda sabemos pouco o quanto tais transformaes foram operadas a partir das prprias lgicas das populaes indgenas envolventes. Fossem aquelas aldeadas nas misses que passaram a serem vilas com os diretrios, fossem aquelas que migraram na condio de associada ou fugindo das formas de escravizao. Pode ter sido um momento crucial para vrios povos indgenas, inclusive aqueles num processo de transformao tnica e mesmo em termos de etno-genese. Tema ainda pouco explorado o recrudescimento e novos significados das fugas e da formao de comunidades de fugitivos, tanto prximas as vilas e diretrios assim como a migrao pelas reas de fronteiras.

17 Farage, Ndia, p.89, 92 e 125.

18 Coelho, Mauro Cezar, A construo de uma lei: o Diretrio dos ndios, Revista do Instituto Histr (...) 19 Ver Farage, Ndia, As Muralhas do Serto..., p. 52 e Carta do Governador do Par, 14/06/1754 transc (...) 20 Maclachlan, Colin M., "The Indiam Directorate...", p.380-1.

11Embora anterior a este contexto, as fugas j eram vistas como um obstculo nas negociaes entre religiosos e colonos na repartio da mo-de-obra indgena. Em 1754 o Governador do Gro-Par j destacava: no h meio algum de faz-los parar [de fugir], porque nas aldeias no s no so castigados, mas, contrariamente, favorecidos e amparados, e sem estes ndios j Vossa Excelncia sabe que nada se pode fazer[19]. No perodo da desestruturao das misses e da criao dos diretrios e vilas, as fugas passaram a ser em massa, sendo que na documentao colonial cada vez vai parecer com freqncia a utilizao da expresso mocambos de ndios para denunciar comunidades de fugitivos que aumentavam e faziam migraes. Na Amaznia Colonial, duas questes poderiam ser sugeridas na utilizao/traduo desta nomenclatura pela administrao colonial. A primeira, a traduo do processo histrico de fugas escravas e no caso de ndios aldeados e a formao de comunidades. A outra: a prpria lgica das populaes indgenas em questo para enfrentar a nova formatao da poltica indigenista. Quais populaes indgenas estariam envolvidas nos aldeamentos e o que significaria em termos de etno-genese a fugas delas e a formao de novas comunidades de fugitivos? Desde o sculoXVII, populaes indgenas j vinham conhecendo as polticas coloniais de resgates, entradas, descimentos e aldeamentos, sendo at a primeira metade do sculoXVIII inmeros os conflitos entre colonos, autoridades e jesutas em torno das misses. A resistncia s misses j acontecia com fugas coletivas e tambm rebelies. Ao mesmo tempo, grupos indgenas que no tinham realizado descimentos e/ou foram efetivamente aldeados migravam. As experincias seculares de migraes de grupos indgenas aconteciam agora num novo quadro de ocupaes de fronteiras, disputas e implementaes de polticas do Imprio Portugus na Amaznia[20].

21 Serulnikov, Srgio, "Disputed Imagens of Colonialism: Spanish Rule and Indian Subversion in No (...)12Como grupos indgenas podem ter percebido com sentidos e significados prprios as mudanas coloniais ocorridas na segunda metade do sculoXVIII, principalmente com a lei da emancipao e a criao e regulamentao dos Diretrios? Indgenas podem ter provocado novos processos migratrios, inclusive transpondo fronteiras em disputas. Nas vilas formadas pelos Diretrios com inmeros indgenas aldeados sempre ocorreram fugas em massa. Cabe destacar que houve nos Diretrios tentativas de unificar e assentar diferentes grupos tnicos. Com os descimentos, populaes indgenas de algumas reas como j destacamos eram transferidas para outras mais distantes. Neste caso, grupos indgenas foram divididos e distribudos em vrios aldeamentos. Com as fugas coletivas e a formao de mocambos de ndios que tanto as autoridades coloniais reclamaram na Amaznia Colonial, vrios indgenas refugiados devem ter tentado tanto diante da impossibilidade de retornar as suas reas de origem e/ou com suas tribos ou como estratgia poltica baseada novas lgicas polticas se estabelecer em comunidades na floresta, reorganizando-se em emergentes grupos tnicos e scio-econmicos. fundamental analisar o quanto podia haver de significados de reinvenes culturais e readaptaes scio-ecolgicas, onde aldeamentos, a no-permanncia (fugas), podia representar, entre outras coisas, resistncia s prticas econmicas implementadas. Assim micro-sociedades indgenas muitas das quais surgidas de comunidades de fugitivos podiam estar readaptando cultura material e prticas scio-econmicas. Destacando a possibilidade dos significados polticos na formao dos mocambos de ndios e fugas coletivas no contexto de 1755 a 1780 quando as misses foram extintas e foram criados os Diretrios (conflitos tnicos com os principais das aldeias) e as vrias mudanas na legislao talvez seja possvel analisar as percepes das populaes indgenas a respeito da legitimidade do poder colonial[21].

22 Almeida, Maria Regina Celestino de, "Trabalho Compulsrio na Amaznia...", pp. 114 e segs (...)13Fugir e estabelecer comunidades de fugitivos podia significar resistir s imposies dos aldeamentos e realinhar as polticas indigenistas na Amaznia, especialmente nas reas de fronteiras. So nos anos de 1780 que as fugas indgenas aumentaram em diferentes regies como Nogueira, Colares, Soure, Barcelos, Melgao, Joanes, Ourm, Monte Alegre, Cintra, Alenquer e Rio Negro. Neste mesmo contexto havia aumentado a reteno dos ndios, permitindo-se o reassentamento privado, assim como os descimentos. Acontecia, tambm, a excessiva demanda de mo-de-obra por parte do Estado. Cada vez mais se precisava de mo-de-obra para a construo e guarnio de fortalezas, manuteno de estradas e pontes, canoas de vigilncia, etc. Igualmente cresciam os trabalhos nas expedies demarcatrias. Ainda que em 1755, a Coroa Portuguesa determinasse aos ndios das Capitanias do Gro-Par e Maranho a liberdade de suas pessoas, bens e comrcio sem outra inspeo temporal que no fosse a que devem ter como vassalos, a sua utilizao compulsria continuou. Vinte anos depois, em Baio, ndios eram denunciados por no quererem absolutamente trabalhar e com suas fugas, causaro inconsidervel prejuzo s canoas de negcio[22]. Havia ao mesmo tempo ausncia de controle e vistas grossas das autoridades luso-brasileiras. Os prprios colonos reclamavam da falta de mo-de-obra para as lavouras e a produo extrativa. Por sua vez mesmo as autoridades sabiam da vital necessidade de mo de obra nas fazendas reais, equipao das canoas, etc. Com a falta de gneros na regio tentava-se sem sucesso promover as lavouras particulares dos ndios persuadindo-os. Enquanto isso a populao indgena diminua. No bastassem as deseres, havia ainda o problema das epidemias. Com a continuidade das fugas, os ndios perceberam no s o impacto das doenas, mas tambm as mudanas na poltica colonial.

23 Farage, Ndia, Muralhas do Serto..., pp. 47; Queiroz, Fr. Joo de So Jos, Visitas Pastorais. Mem (...) 24 Ver Almeida, Maria Regina Celestino de, "Trabalho Compulsrio na Amaznia..." e Perrone-M (...)14Uma visita pastoral regio do rio Negro, em 1762, denunciou que os ndios Ariquena tinham fugido em massa, muitos das nossas terras para os castelhanos, no caso os espanhis. Ainda em 1780, noticiava-se que ndios escravizados por no quererem servir a seus senhores se amocambaram em as cabeceiras deste rio [em So Bento] e com a notcia que tiveram da lei das liberdades voluntariamente foram descidos, tendo a Coroa cedido terras para que produzissem[23]. Ao mesmo tempo em que continuavam os descimentos de grupos indgenas, se multiplicavam as comunidades de fugitivos. Da vila de Portel, em 1781, se enviavam tanto diligncias para acompanhar o descimento dos ndios do Pacajaz, como para destruir um mocambo no rio Arapari. Na rea do rio do Taqueri, ilha do Maraj, falava-se que junto fazenda de Anglica de Barros est um mocambo. Na rea de Tabatinga e em outros locais definidos pelos tratados como fronteiras com os domnios espanhis tambm se noticiava a existncia de inmeros mocambos. Em Santarm, s nos lagos do Capim Tuba e Paracari, em Alenquer foram presos 25ndios amocambados. Em 1789, do Bujaru, junto ao rio Jabutiapep, foi enviada uma diligncia para prender fugitivos ndios. Em no raras ocasies, havia o temor de ataques s vilas por ndios amocambados. Na dcada de 1780, a desero dos ndios seja pela freqncia e quantidade acabava desorganizando parte da economia extrativa no Gro-Par, tanto dos colonos como das fazendas e propriedades da Coroa[24].

25 Farage, Ndia, p.125.

26 Ver Dossi MUNDURUKU. Uma contribuio para a histria indgena da Amaznia Colonial. Boletim Infor (...) 27 Cf. Howard, CatherineV, Pawana: a farsa dos visitantes entre os WaiWai da Amaznia Setrentional (...) 28 Cf. Farage, Ndia, pp. 105.

15Para compreender as estratgias da populao indgena na Amaznia Colonial seria fundamental acompanhar os contextos especficos da etno-histria em diversas reas. J destacamos como os prprios aldeamentos se constituam em espaos multitnicos. Segundo os cronistas coloniais, os aldeamentos na rea do Rio Branco, por exemplo eram compostos por etnias Wapixana, Parauana, Otarau, Sapar, Wayumar, Paraviana, Erimissana, Amariba, Pauxiana, Caripuna, Macuxi, Securi, Carapi e outros[25]. Havia ainda as lgicas de colonizao envolvendo vrias tribos e diversas populaes indgenas. Na rea do Solimes desde o final do sculoXVIII, existia um comrcio intertribal intenso. Houve contatos com as misses espanholas e tambm com colonos ingleses e holandeses nas fronteiras com a Guiana Inglesa. Outro fator importante foi o deslocamento permanente, em parte uma tradio indgena de migrao e mobilidade. Por exemplo, na rea do Tapajs tal tradio ajuda a explicar os significados das fugas indgenas, especialmente a partir da reconstruo etno-histrica dos processos migratrios e de contatos intertnicos dos ndios Munduruku[26]. A entrada das comunidades de fugitivos e outros setores coloniais em determinados contextos acabava por provocar alteraes nos circuitos das redes e relaes intertribais. Como pode ter sido o caso dos ndios WaiWai que tinham desde o perodo colonial uma vasta rede de trocas nas Guianas e com expedies para contatar e assimilar tribos vizinhas. Enfim as comunidades de fugitivos podiam acabar se envolvendo com conexes de grupos indgenas no eixo comrcio, migrao e mesmo intercasamento[27]. O processo de etno-genese poderia aparecer mesmo nas designaes e classificaes de nomes para grupos indgenas. A designao Caribe/Caripuna por exemplo nas reas de fronteiras no se restringia a uma etnia especfica, comparando as fontes coloniais holandesas e espanholas[28].

4. Espaos das misturas16As fugas e a formao de comunidades de fugitivos indgenas na Amaznia colonial na segunda metade do sculoXVIII propiciaram de fato um espao ampliado de migraes e deslocamentos, atravessando fronteiras tnicas. Setores coloniais luso-brasileiros e luso-africanos entre os quais desertores militares entraram em contatos como micro-comunidades indgenas formadas destes processos de fugas. Desertores militares classificados como brancos e mestios, ndios aldeados e indgenas forros andavam misturados com negros ou cafuzes[29]. Em Soure, em 1762, um sargento-mor dava proteo e era mantenedor de mocambos, enviando pano e mais cousas que pode haver para os fugitivos. Em Camet, diligncia com ndios era enviada para prender soldados desertores e mulatos escravos. Na rea prxima de Baio, em 1774, denunciava-se que no rio Tocantins, pelas praias descaradamente andavam soldados fugidos com alguns negros roubando. Havia denncias de que os prprios moradores das localidades davam proteo a vadios, soldados desertores e escravos fugidos e nas suas casas os recolhem e amparam.

29 Cf. Queiroz, Fr. Joo de So Jos, Visitas Pastorais..., p.173.

30 APEPA, Cdice 27 (1762), Ofcio de 05/1762; Cdice 96 (1769), Ofcio de 06/02/1769; Cdice 146 (177 (...) 31 Cf. Queiroz, Fr. Joo de So Jos . Visitas Pastorais..., pp. 163 e APEPA, Cdice 334, Ofcio de 24 (...) 32 APEPA, Cdice 590 (1765-1771), Ofcio de 12/07/1769; Cdice 291, Ofcio de 21/11/1775 e Cdice 319, (...)17Desertores militares se aliavam as comunidades de fugitivos. Em Abaet, nas proximidades do rio Cupij havia um grande mocambo de desertores, pretos fugidos e criminosos. Em 1777 eram efetuadas diligncias para prender soldados desertores do Cia. Franca que andavam refugiados juntamente com ndios[30]. Origens e motivaes das freqentes deseres de soldados na Amaznia Colonial podiam ser complexas. Muitos destes militares eram ex-indgenas aldeados ou filhos destes e da segunda gerao vivendo nas vilas do Diretrio. Fugiam assim do recrutamento militar e dos trabalhos nas fortalezas e vilas, preferindo viver nas matas e junto s suas roas, como o desertor Manoel Covine que foi preso em Maraj, prximo a uma ilha onde tem seu algodoal. Distanciando-se o mximo possvel das localidades em que ficavam seus destacamentos, desertores militares escapavam para as regies de fronteiras. Visitando a regio de Ourm, em 1761, o Bispo Frei Joo de So Jos Queirz, anotou que havia na regio um stio chamado Casa Forte, posto que existisse nele uma casa que ocupam alguns poucos soldados com um comandante, para evitar os fugidios para o Maranho; caso que no factvel dar-se, pois antes de chegar cocheira deste lugar, entrando pelo mato e saindo logo adiante, evita-se a diligncia[31]. Sabe-se que o alistamento militar era uma forma de controlar a populao livre, via de regra de origem indgena. Em 1769 falava-se de companhias militares formadas por pretos, mestios, ingnuos e libertos. O sentido era menos militar e sim o controle sobre o trabalho e os trabalhadores. Para garantir a defesa da regio todos os homens livres disponveis, podiam ser utilizados na formao de tropas auxiliares. Com tantos mocambos e fugitivos, pensou-se at mesmo na possibilidade de se utilizar soldados desertores para persegu-los. Juntamente com os ndios, eram eles os que mais conheciam a floresta. Contra a comunidade de fugitivos encravada entre os rios Anajs e Macacus era inteno das autoridades contarem com a ajuda de Antnio Curto e Joo Moreira, soldados desertores: h pouco recolhidos a esta cidade, tendo andado ausentes por aqueles stios, e por isso os mais capazes para servirem a Vossa Merc de guias havendo sempre com eles toda a cautela necessria como sujeitos de pouca, ou nenhuma confiana, mas que podem ser teis a este fim debaixo de alguma promessa. Em 1791, soldados escolhidos e ndios prticos deveriam ser enviados para as ilhas Caviana e Mexiana para capturar fugitivos e destruir mocambos[32].

33 APEPA, Cdice 266 (1791), Ofcio de 18/08/1791; Cdice 10 (1754-1799), Ofcio de 27/10/1790; Cdice (...)18Este quadro preocupava muito as autoridades coloniais. Com os ndios considerados emancipados, a populao livre crescendo e um mar de floresta, era cada vez mais difcil identificar e capturar fugitivos e habitantes de mocambos. Com tantos fugidos, desertores e mocambos a suspeio generalizava-se. Em Ourm, em fins de 1790, mulatos foram presos como suspeitos de serem escravos. Em Melgao tambm homens desconhecidos eram detidos, no se sabendo se eram escravos fugidos ou desertores. Em Chaves, em 1800, um mulato chamado Manoel Jos Rolim, que vivia em fazenda trabalhando como vaqueiro, carpinteiro e marceneiro, tinha a vida vaga ou incerta. Ao mesmo tempo em que afirmava ser soldado, era voz pblica que ele era escravo. Pardos, cafuzos e mulatos eram acusados de serem escravos fugidos e ladres[33]. Em meio a tais questes outras preocupaes surgiriam. Capturar fugitivos, destruir mocambos, conter as deseres militares, impedir roubos e desordens significava igualmente controlar o comrcio clandestino. A Amaznia era abastecida ou mantinha relaes comerciais atravs da via fluvial. Era no vai-e-vem das canoas, subindo e descendo os principais rios que vrios produtos chegavam e saam do Gro-Par. Os circuitos das relaes mercantis se estabeleciam de forma clandestina num cenrio multifacetado. De Bujaru, em 1776, vinham notcias de que o mulato Lino no tinha domiclio certo e nem estava alistado, porm andava vendendo continuamente aguardente de stio em stio aos escravos alheios. Em Ega, o escravo Flix era acusado de furtos de quantia de prata e frascos de aguardente de cana da casa do soldado Francisco da Silva. Da Ilha de Joanes chegava notcia que cafuzos, mamelucos, ndios e pretos que lidavam com o gado, estavam burlando o fisco.

34 APEPA, Cdice 121 (1771-1776), Ofcio de 07/02/1776; Cdice 228 (1785), Ofcio de 21/06/1785 e Cdi (...) 35 Cf. Cardoso, Ciro Flamarion S., O Trabalho Indgena na Amaznia Portuguesa", Histria em Cader (...)19O problema dos roubos se articulava assim com o comrcio clandestino. Atravs dessas redes de trocas, fugitivos, amocambados e desertores vendiam os produtos de suas roas, obtendo em troca, sobretudo, plvora, armas de fogo e aguardente. Alm da situao crnica de falta de vigilncia sobre os taberneiros, havia na vasta regio amaznica o problema dos regates. Com suas canoas levavam e traziam produtos alcanando reas e populaes coloniais mais afastadas. Tentou-se mesmo proibir o comrcio entre os ndios das povoaes como aconteceu entre as vilas de Boim e Pinhel, em 1777 algo de difcil controle e que rapidamente se articulava com as economias dos mocambos nas diversas regies.[34] Baseando-se em relatos coevos de viajantes e cronistas, Ciro Cardoso destaca as formas da atividade camponesa na Amaznia. O padre jesuta Joo Daniel anotou que aps 1757 muitos colonos, no podendo mais contar com os ndios como cativos e sem recursos para comprar escravos africanos, constituram trabalhando com seus familiares suas prprias lavouras. Visando a alimentao abriam clareiras nas florestas e plantavam mandioca. Com uma pobreza crnica na regio, alguns lavradores conseguiram mesmo com o trabalho familiar (que em algumas ocasies contava como mo-de-obra poucos escravos e ndios livres) uma produo de alimentos excedente para o abastecimento local. No perodo em que no havia proibio para a escravido indgena, os senhores, alm de fornecerem alguns alimentos, permitiam que seus escravos ndios tivessem pequenas roas e criaes de porcos e galinhas, que acabava gerando excedentes que eram comercializados na circunvizinhana. Havia tambm casos de roubos e desvio da produo de mandioca das fazendas feitas pelos prprios escravos ou cativos fugidos como anotaria o Padre Joo Daniel[35].

36 APEPA, Cdice 13 (1759-1760), Ofcio de 08/08/1759 e Cdice 23 (1761-1776), Ofcio de 12/09/1766; C (...) 37 APEPA, Cdice 83 (1767-1777), Ofcio de 15/03/1767 e Cdice 241 (1787), Ofcio de 18/01/1787.

20Com o problema crnico de escassez de alimentos os setores econmicos de subsistncia tinham considervel importncia na Amaznia Colonial. Destruir mocambos para alm de se capturar ndios e soldados desertores significava tambm a possibilidade de confiscar farinha. Em Barcelos, em 1759, o Capito Joaquim de Mello informou: descobri aqui um mocambo com que achei uma roa que mandei desfazer que me deu trezentos e seis alqueires de farinha que vieram na melhor ocasio. De Ourm, anos depois, eram remetidos trinta e cinco paneiros de farinha que mandou fazer o Tenente Diogo Lus das roas dos amocambados. Em Cintra, ndios amocambados h vrios anos se entregaram ao padre, trazendo os produtos de suas roas. Amocambados no Outeiro tinham roado e um tijupar feito. Em virtude de poderem se abastecer com a farinha e outros produtos dos mocambos, vrios setores coloniais mantinham contatos com os fugidos e mesmo davam-lhes proteo. Em Benfica, ao serem convocados para participarem de uma diligncia para prender ndios amocambados no igarap Tamatatuia, moradores demonstraram desinteresse e disseram que no queriam sem que lhes mostrassem ordem por escrito. Encravados nas brenhas das florestas, os amocambados tentavam desenvolver uma economia camponesa. Em Nogueira, em 1783, ndios fugitivos presos num igarap revelaram que no tiveram tempo de se prontificarem de farinha e que estavam esperando o socorro dos parentes. ndios amocambados preparavam na medida do possvel suas roas, roubavam ferramentas e as autoridades sabiam disso. Para evitar deseres em massa de ndios, tentou-se mesmo oferecer roas para eles em algumas povoaes[36]. Um extenso relatrio enviado por Raimundo Jos ao governador do Par, em 1767, j bem demonstra como estava regio. Inicialmente relatava que foram encontrados alguns mocambos nos rios Mapu e Anajs. Porm, seus habitantes tinham fugido para as vilas de Melgao e Portel. Mocambos descobertos e algumas prises tinham sido realizadas tambm na Vila de Chaves e em Ponta de Pedra. Alguns confessaram que os companheiros se tinham recolhido s ditas vilas por aviso que tiveram e assim foram avisados os dois mais mocambos. Nas vilas de Veiros, Pombal e Souzel foram atacados os mocambos do Igarap Acorahy junto ao rio Iaraucu. Mais apreenses com moradores acusados de acoit-los, sendo que alguns confessaram o mocambo novo que tinham feito para se mudarem e ningum saberem deles a onde j tinham feito roas e casas. Um ataque a outro mocambo prximo foi frustrado porque os fugitivos tinham sido avisados pelo ajudante da vila de Veiros. Em frente vila de Monte Alegre, havia informaes de existir alguns mocambos tanto no lago do Curu como no Igarap Gonsari. Informou ainda o referido relator que pelos mocambos destes rios se achavam algumas roas em um se acharam roas que do para cima de 300 alqueires de farinha. Nestas diligncias vrios soldados desertores seriam presos. Em 1787, o governador Joo Pereira Caldas era alertado sobre as comunicaes entre mulatos portugueses e o gentio prximo s fronteiras com os domnios espanhis. Estavam tais mulatos falando as diferentes lnguas dos ditos gentios e com eles comerciando livremente[37].

5. Consideraes finais21Na Amaznia Colonial, as populaes indgenas de forma sistemtica gestaram uma tradio de migraes e formao de grupos de fugitivos. Mesmo considerando a imensido desta rea, o pouco povoamento e a disperso de vilas e povoados, os ndios em tais mocambos no ficaram totalmente isolados. Estes processos colnias devem ser pensados tambm a partir das lgicas das prprias populaes indgenas e seus movimentos e constituio demogrficas, culturais, simblicas e polticas.[38] Podia estar encoberto nestes contextos em termos de histria e etnologia processos de etno-genese[39]. O prprio encontro nos mundos do trabalho e da cultura de populaes indgenas e aquelas africanas (escravos recm chegados no trfico atlntico), nas suas vrias geraes ainda precisa ser mais bem conhecido. Grupos e lgicas indgenas das mais diversas migravam, se movimentavam e eram deslocados. Na regio do Oiapoque segundo relatos indgenas mticos aparecem indicaes dos Tukuju para explicar a origem dos subgrupos Waipi. Segundo o mito Tukuju seriam os fugidos do sculoXVIII, os primeiros Waipi[40]. O universo destas comunidades era refeito permanentemente, alm do cotidiano nos aldeamentos religiosos e vilas de leigos ao longo do sculoXVIII. Simbologias, mitologias e cultura material de encontros, desencontros, mudanas e transformaes ainda permanecem ocultos em trabalhos de etnologia e etno-histria, para alm e importantes estudos e com indicaes fundamentais para novas pesquisas[41]. No Brasil indgena do passado e do presente, para alm de uma suposta polarizao entre etnologa, etno-histria, nordeste e Amaznia ser possvel avanar na compreenso das cosmovises, representaes genricas, etnicidade, memria e as identidades reconstrudas, inclusive numa temporalidade mitolgica. Seria possvel para os mundos coloniais repensar a idia de mistura, territrios e identidades indgenas. A etno-histria no caso os registros histricos da documentao do sculoXVIII recuperada no deve procurar evocar sentidos supostamente naturais e cronolgicos do passado no presente indgena, posto que o passado no pode ser enfocado de forma esquemtica e simplificadora. Ao contrrio no exclusivamente e sim mais uma ferramenta a etno-histria pode ajudar a desvendar a complexidade das escalas e o dinamismo dos distintos contextos histricos e atravs deles processos migratrios historicamente identificveis envolvendo setores coloniais e micro-sociedades indgenas[42].

38 Monteiro, John M., Escravido Indgena e Despovoamento na Amrica Portuguesa: So Paulo e Maranho (...) 39 Ver Oliveira, Joo Pacheco de, A Viagem da Volta Etnicidade, poltica e reelaborao cultural no (...) 40 Gallois, Dominique Tilkin, Mairi revisitada: A Reintegrao da Fortaleza de Macap na tradio oral (...) 41 Dreyfus, Simone, "Os empreendimentos Coloniais e os Espaos Polticos indgenas no Interior da (...) 42 Cf. Oliveira, Joo Pacheco de (org.), A Viagem da Volta. Etnicidade, poltica e reelaborao cultur (...)

Notas

[1] Reis, Arthur Cezar Ferreira, A expanso Portuguesa na Amaznia nos sculosXVII e XVIII, Rio de Janeiro, SPVEA, 1959; Aspectos da Experincia Portuguesa na Amaznia, Manaus, Governo do Estado, 1966 e Limites e Demarcaes na Amaznia Brasileira. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1947, 2volumes.

[2] Farage, Ndia, As Muralhas dos Sertes: os povos indgenas no Rio Branco e a colonizao, Rio de Janeiro, Paz e Terra, ANPOCS, 1991, p.23-53.

[3] Ver Russel-Wood, Centro e Periferia no mundo luso-brasileiro, 1500-1808, Revista Brasileira de Histria, vol. 18, nmero 36, So Paulo, p.187-250

[4] Cardoso, Ciro Flamarion S., La Guyane Franaise (1715-1817): Aspects conomiques et sociaux. Contribution ltude des socites esclavagistes dAmrique, Ibis Rouge Editions, Gadaloupe, 1999 e Economia e Sociedade em reas Coloniais Perifricas: Guiana Francesa e Par, 1750-1817, Rio de Janeiro, Graal, 1981.

[5] Pensamos aqui nas perspectivas crticas de Alencastro, Luiz Felipe, "O aprendizado da Colonizao", Revista do Instituto de Economia da Unicamp, nmero 1, agosto 1992, p.135-162

[6] Fausto, Carlos, Se Deus fosse Jaguar: Canibalismo e Cristianismo entre os Guarani (sculosXVI a XX), Mana, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 385-418, 2005 e Monteiro, John M. Armas e Armadilhas: histria e resistncia dos ndios, Novaes, Adauto (Org.). A Outra Margem do Ocidente, So Paulo, Companhia das Letras, 1999, pp. 237-249.

[7] Ver Hill, Jonathan (ed.), History, Power and Identity. Ethnogenesis in the Americas, 1492-1992, University of Iowa Press, 1996, p.149-151.

[8] Ver por exemplo, Sommer, Barbara A, Cracking Down on the Cunhamenas: Renegade Amazonian Traders under Pombaline Reform, Journal of Latin American Studies, volue 38, part 4, november 2006, p.767-791.

[9] Hemming, Jonh, Red Gold. The Conquest of the Brazilian Indians, Harvard University Press, 1978, pp. 409- 443; Amazon Frontier. The Defeat of the Brazilian Indians, MacMillan London, 1987, pp. 40-80 e Sweet, David Graham, A Rich Realm of Nature Destroyed: The Middle Amazon Valley, 1640-1750, Tesis Ph.D, The University of Wisconsin, 1974, especialmente, captulos 1 e 2.

[10] Arquivo Publico do Par (doravante APEPA), Cdice 07 (1752-1769), Ofcios de 21/01/1764 e 19/05/1761; Cdice 08 (1752-1773), Ofcio de 11/07/1752; Cdice 09 (1752-1777); Ofcios de 24/08/1773 e 16/11/1753; Cdice 12 (1759), Ofcio de 01/07/1759; Cdice 14 (1759-1762), Ofcio de 19/10/1761; Cdice 24 (1762), Ofcios de 07/01/1762 e 04/02/1762; Cdice 26 (1762), Ofcio de 24/11/1762; Cdice 59 (1765), Ofcio de 01/01/1765 e 12/01/1765; Cdice 96 (1769), Ofcio de 17/06/1769; Cdice 97, Ofcio de 18/10/1769; Cdice 144 (1774), Ofcios de 16 e 17/04/1774 e Cdice 150 (1774-1780), Ofcio de 22/03/1774; Cdice 151 (1775), Ofcio de 24/10/1775 e Cdice 151 (1775), Ofcios de 8 e 9/11/1775.

[11] APEPA, Cdice 356, Ofcio de 05/01/1781; Cdice 343, Ofcio de 26/02/1778 e Cdice 200 (1780), Ofcio de 16/09/1780.

[12] Maria Regina Celestino de Almeida, "Trabalho Compulsrio na Amaznia: sculosXVII-XVIII", Revista Arrabaldes, Ano I, nmero 2, set/dez, 1988, pp. 112; segs. e Ndia Farage, Muralhas do Serto..., pp. 31 e segs. e Helosa Liberalli Belloto, "Poltica Indigenista no Brasil Colonial (1570-1757)", Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, So Paulo, nmero29, p.55-6.

[13] Dauril Alden, "El indio Desechable en El Estado de Maranho durante los siglos XVII y XVIII", Amrica Indigena, volume XLV, nmero 2, Abril-junho, 1985, pp. 437 e Sweet, David G, "Black Robes and `Black Destiny': Jesuit Views of African Slavery in 17 th Century Latin America", Revista de Histria de Amrica, Mxico, nmero 86, junho-dezembro/1978, p.102-3

[14] Azevedo, Joo Lcio d', Os Jesutas no Gro-Par, suas misses e colonizao. Borguejo histrico com vrios documentos inditos, Lisboa, Liv. Edit. Tavares Cardoso & Irmos, 1901; Farage, Ndia & Amoroso, Marta Rosa (orgs.), Relatos da Fronteira Amaznica no SculoXVIII. Documentos de Henrique Joo Wilckens e Alexandre Rodrigues Ferreira, So Paulo, NHII/USP, FAPESP, 1994; Sampaio, Patrcia M. M., Amaznia: fronteiras, identidades e histria, Cincia e Cultura (SBPC), v. 61, p. 26-29, 2009 e Sampaio, Patrcia M. M. Remedios contra la pobreza. Trabajo indigena y produccion de riqueza en la amazonia portuguesa, sigloXVIII, Fronteras de la Historia, Bogot, v. 9, p17-58, 2004.

[15] Salles, Vicente, O Negro no Par, Rio de Janeiro, FGV, 1971, p.32 e segs. e Farage, Ndia. As Muralhas do Serto..., p.48 e segs.

[16] Maclachlan, Colin M., "The Indian Labor Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800", in Alden, Dauril, Colonial Roots of Modern Brazil, Papers of the Newberry Library Conference, University of Califrnia Press, 1973, pp. 228; Belloto, Helosa Liberalli, "Poltica Indigenista no Brasil Colonial.....", p.59.

[17] Farage, Ndia, p.89, 92 e 125.

[18] Coelho, Mauro Cezar, A construo de uma lei: o Diretrio dos ndios, Revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, v. 168, p. 29-48, 2007; ndios, negcios e comrcio no contexto do Diretrio dos ndios - Vale Amaznico (1755-1798), in Figueiredo, Aldrin Moura, Alves, Moema Bacelar. (org.), Tesouros da memria: histria e patrimnio no Gro-Par, Braslia, Ministrio da Fazenda, 2009, pp. 45-58; O Diretrio dos ndios: possibilidades de investigao, in Coelho, Mauro Cezar; Gomes, Flvio dos Santos; Queiroz, Jonas Maral; Marin, Rosa Elizabeth Acevedo; Prado, Geraldo. (orgs.). Meandros da Histria: trabalho e poder no Par e Maranho, sculosXVIII e XIX, 1 ed., Belm, Associao das Universidades Amaznicas, 2005, pp. 48-67; Do Serto para o Mar - um estudo sobre a experincia portuguesa na Amrica, a partir da Colnia: o caso do Diretrio dos ndios (1758-1798), Tese de Doutorado em Histria, Universidade de So Paulo, 2006; Sampaio, Patrcia M. M. Entre a tutela e a liberdade dos ndios: relendo a Carta Rgia de 1798, in Coelho, Mauro Cezar; Gomes, Flvio dos Santos; Queiroz, Jonas Maral; Marin, Rosa E. Acevedo; Prado, Geraldo. (orgs.), Meandros da histria: trabalho e poder no Par e Maranho, sculosXVIII e XIX, Belm, UNAMAZ, 2005, pp. 68-84; Espelhos Partidos: etnia, legislao e desigualdade na Amaznia Colonial, Manaus: EDUA, 2010 e Vossa merc mandar o que for servido...: polticas indgenas e indigenistas na Amaznia Portuguesa, sculoXVIIII, Tempo. Revista do Departamento de Histria da UFF, v. 12, 2007, p.39-55.

[19] Ver Farage, Ndia, As Muralhas do Serto..., p. 52 e Carta do Governador do Par, 14/06/1754 transcrita em Mendona, Marcos Carneiro de, A Amaznia na Era Pombalina. Rio de Janeiro, IHGB, 1967, Correspondncia indita do Governador e Capito-General do Estado do Gro-Par e Maranho Francisco Xavier de Mendona Furtado (1751-1759), p.554-555, tomo2.

[20] Maclachlan, Colin M., "The Indiam Directorate...", p.380-1.

[21] Serulnikov, Srgio, "Disputed Imagens of Colonialism: Spanish Rule and Indian Subversion in Northern Potos, 1777-1780", Hispanic America Historical Review, volume 76, nmero 2, maio de 1996, p.211-212.

[22] Almeida, Maria Regina Celestino de, "Trabalho Compulsrio na Amaznia...", pp. 114 e segs. e Farage, Ndia, As Muralhas do Serto..., pp. 53 e APEPA, Cdice 151 (1775), Ofcio de 24/09/1775.

[23] Farage, Ndia, Muralhas do Serto..., pp. 47; Queiroz, Fr. Joo de So Jos, Visitas Pastorais. Memrias (1761-1762), Rio de Janeiro, Ed. Melso, 1961, pp. 252 e APEPA, Cdice 456, Ofcio de 18/01/1790; Cdice 551, Ofcio de 08/08/1798 e Cdice 200 (1780), Ofcio de 10/02/1780.

[24] Ver Almeida, Maria Regina Celestino de, "Trabalho Compulsrio na Amaznia..." e Perrone-Moiss, Beatriz, "ndios livres e ndios escravos...", pp.18. Ver APEPA, Cdice 356, Ofcio de 22/06/1781; Cdice 190 (1782), Ofcio de 19/06/1782; Cdice 244 (1787), Ofcio de 28/11/1787 e Cdice 246 (1787-1793), Ofcio de 01/09/1789.

[25] Farage, Ndia, p.125.

[26] Ver Dossi MUNDURUKU. Uma contribuio para a histria indgena da Amaznia Colonial. Boletim Informativo do Museu Amaznico, Manaus,volume5, nmero8, 1995.

[27] Cf. Howard, CatherineV, Pawana: a farsa dos visitantes entre os WaiWai da Amaznia Setrentional, in Castro, Eduardo Viveiros de e Cunha, Manuela Carneiro da (orgs.), Amaznia: Etnologia e Histria Indgena, So Paulo, NHII/USP,FAPESP, 1993, p.229-264.

[28] Cf. Farage, Ndia, pp. 105.

[29] Cf. Queiroz, Fr. Joo de So Jos, Visitas Pastorais..., p.173.

[30] APEPA, Cdice 27 (1762), Ofcio de 05/1762; Cdice 96 (1769), Ofcio de 06/02/1769; Cdice 146 (1774), Ofcio de 11/02/1774; Cdice 150 (1774-1780), Ofcio de 02/04/1776 e Cdice 151 (1775), Ofcio de 14/10/1775. APEPA, Cdice 306, Ofcio de 08/01/1777; Cdice 333, Ofcio de 16/07/1803; Cdice 285 (1794-1796), Ofcio de 04/12/1794.

[31] Cf. Queiroz, Fr. Joo de So Jos . Visitas Pastorais..., pp. 163 e APEPA, Cdice 334, Ofcio de 24/08/1804.

[32] APEPA, Cdice 590 (1765-1771), Ofcio de 12/07/1769; Cdice 291, Ofcio de 21/11/1775 e Cdice 319, Ofcio de 28/07/1778; Cdice 610 (1788-1790), Portaria expedida em 01/12/1788; Cdice 266 (1791), Ofcio de 21/03/1791; Cdice 124, Ofcio de 02/03/1791; Cdice 08 (1752-1773), Ofcio de 04/02/1768 e Cdice 339, Ofcio de 04/07/1804.

[33] APEPA, Cdice 266 (1791), Ofcio de 18/08/1791; Cdice 10 (1754-1799), Ofcio de 27/10/1790; Cdice 275 (1796-1797), Ofcio de 17/01/1797 e Cdice 314, Ofcio de 08/11/1800.

[34] APEPA, Cdice 121 (1771-1776), Ofcio de 07/02/1776; Cdice 228 (1785), Ofcio de 21/06/1785 e Cdice 1197 (1791-1792), Ofcio de 30/03/1792.

[35] Cf. Cardoso, Ciro Flamarion S., O Trabalho Indgena na Amaznia Portuguesa", Histria em Cadernos, Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, volume 3, nmero 2, set/dez. 1985, pp. 18-19 e Daniel, Joo, Padre, "Tesouro Descoberto no Rio Amazonas", Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, volume 95, tomo 1 e 2, 1975, pp. 149.

[36] APEPA, Cdice 13 (1759-1760), Ofcio de 08/08/1759 e Cdice 23 (1761-1776), Ofcio de 12/09/1766; Cdice 107 (1769-1770), Ofcio de 22/12/1769; Cdice 306, Ofcio de 11/07/1777; Cdice 200 (1780), Ofcio de 19/11/1780 e Cdice 219 (1783), Ofcios de 25 e 30/04 e 03/05/1783.

[37] APEPA, Cdice 83 (1767-1777), Ofcio de 15/03/1767 e Cdice 241 (1787), Ofcio de 18/01/1787.

[38] Monteiro, John M., Escravido Indgena e Despovoamento na Amrica Portuguesa: So Paulo e Maranho, in Dias, Jill (org.), Brasil nas Vsperas do Mundo Moderno, Lisboa, Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, 1992, pp. 137-168 e Mamalucos, Bastardos, Carijs: Mestizaje e Identidad Cultural En So Paulo, SiglosXVI-XVII, in Vangelista, Chiara (org.), Fronteras, Culturas, Etnas: Amrica Latina, SiglosXVI-XX, Quito: Abya-Yala, 1996, p.111-128.

[39] Ver Oliveira, Joo Pacheco de, A Viagem da Volta Etnicidade, poltica e reelaborao cultural no nordeste indgena, Rio de Janeiro, Contra Capa, 1999.

[40] Gallois, Dominique Tilkin, Mairi revisitada: A Reintegrao da Fortaleza de Macap na tradio oral do Waipi, So Paulo, Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo, USP, FAPESP, 1994, p.70-82.

[41] Dreyfus, Simone, "Os empreendimentos Coloniais e os Espaos Polticos indgenas no Interior da Guiana Ocidental (entre o Arenoco e o Corentino) de 1613 a 1796", in Castro, Eduardo Viveiros de & Cunha, Manuela Carneiro da, Amaznia: Etnologia e histria indgena, So Paulo, NHII/USP, FAPESP, 1993, pp. 19-41; Gallois, Dominique Tilkin, Mairi revisitada; Price, Richard, Alabi's world, Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1990; First-Time: The Historical Vision of Afro-American People. Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1983 e Whitehead, Neil L., Lords of the Tiger Spirit. A History of the Caribs in Venezuela and Guyana, 1498-1820, Foris Publications, 1988.

[42] Cf. Oliveira, Joo Pacheco de (org.), A Viagem da Volta. Etnicidade, poltica e reelaborao cultural no nordeste indgena, Rio de Janeiro, Contra Capa Livraria, 1999, p.8, 18-19 e segs.

Para citar este artculo

Referencia electrnica

Flvio Gomes, Migraes, populaes indgenas e etno-genese na Amrica Portuguesa (Amaznia Colonial, s.XVIII), Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Debates, 2011, [En lnea], Puesto en lnea el 31 janvier 2011. URL: http://nuevomundo.revues.org/60721. Consultado el 30 juillet 2011.

Autor

Flvio GomesUniversidade Federal de Rio de Janeiro, [email protected]

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