Mil e Uma Luas - Centro de Educação e Desenvolvimento D. Maria Pia- Casa Pia de Lisboa

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    Mil e Uma Luas

    Sonho com memórias terríveis do submundo escuro com uma luz vermelha berrante a piscar, não me consigo esquecer de

    amontoamentos de gente a correr, multidões a chorar e a berrar, desesperadas a pedir ajuda, e ouço posteriormente um som

    disforme, silenciando-se, até que por fim ouço gritarem pelo meu nome de forma estridente, ao ponto de penetrar em todo o meu

    corpo num som agudo, sentindo a vibração do seu desespero, acordo em sobressalto. Respiro, e luto por respirar corretamente,

    ajoelho-me, abraço-me para juntar as peças soltas que tenho dentro de mim, não posso deixar que se soltem, tenho que me manter

    lúcida e não esquecer o meu objetivo, força Kate, aguenta-te.

    Levanto-me e vejo na enorme janela à frente da cama o horizonte, medito no meu trabalho neste lugar impensável de poder ser

    visto pela maioria, quanto mais dormir e viver nesta ilha medonha, neste mundo artificial, embora respirável; ainda me lembro de

    quando vim clandestinamente naquelas bolhas, acho que foi o momento mais ambíguo que tive na minha vida, tanta felicidade,tanta raiva, tanto fascínio.

    Levanto-me e vou para a casa de banho, tomo um banho de água em vez de vapor, apesar de ser muito caro, estou demasiado

    agitada, preciso de me limpar do que fui, preciso de esquecer-me de mim!

    Limpo-me e visto um vestido preto justo, tenho que cumprir o resto do meu papel com o Matheus, o betinho ricalhaço, está

    completamente apanhado por mim, nem se apercebe de que quem eu quero é mesmo o pai; não me posso esquecer de usar o colar

    que ele me ofereceu, o tal colar com metal brilhante e esbranquiçado multicolorido da galáxia Centauros… a imensidade de tempo

    que demorou a explicar como é que fazem e como é raro porque vem através de teletransporte, mas que, por ele ser conhecido, lhe permitiram levar . Realmente é mesmo mimado e com um ego incrível, nota-se que é mesmo filho do seu pai, o grande causador da

    queda do meu submundo, eu prometi e vou cumprir, ele vai pagar todo o mal que fez.

    Ligo-lhe a dizer que estou pronta, ele delicia-se e envia uma bolha em meu nome; em três minutos está no outro lado da ilha, e

    entro, ainda me lembro da sensação que tive a primeira vez que vi as bolhas, agora já estou absolutamente habituada, mas ainda

    fico fascinada com as possibilidades que a Nissan criou em termos de paisagens, que cobrem totalmente o interior destas bolhas

    magníficas, para além do facto de terem condutor automático bem como opções de aroma e som. Nesta ilha, são o único local em

    que me posso abstrair de toda a outra artificialidade.

    Chego ao local combinado, e como sempre ele chega atrasado, com uma enorme comitiva atrás com mais de cinco seguranças à sua

    volta, assim como uma bolha esplendorosa e um motorista absolutamente desnecessário; realmente não tem noção do ridículo, até

    parece que naquela ilha no meio do mar, onde só há gente como ele, alguém lhe vai fazer mal, se bem que até parece que em certa

    parte adivinha, mas não imagina o quão perto o perigo está dele.

    Matheus esteve o tempo todo a contar a sua ida a terra, numa reserva natural, das poucas que com tanta mudança climática ainda

    restam, um pouco do seu anterior vislumbre, e as suas compras, no meio da conversa limitei-me a abanar a cabeça, mas não me saía

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    do pensamento o Artur, o meu amor, a minha alma gémea e todos os incríveis momentos juntos que valeram cada segundo; até ele

    se juntar aos rebeldes e planear atacar as ilhas e o pai do Matheus, Thomas, esse homem presunçoso que após saber que rebeldes

    do submundo o queriam derrubar, atacou o submundo do qual vieram, o mundo subterrâneo que dava casa e meio de sobrevivência

    a milhares e milhares de pessoas que não têm lugar respirável para viver; como se não bastasse, raptou os rebeldes envolvidos,

    incluindo o Artur, sim, o meu amor; contaram-me depois que aquele estupor tinha raptado e torturado até à morte, uma morte

    injusta e terrível, o meu grande amor; mas nunca se recuperou o seu corpo, nem nunca pude despedir-me da minha alma gémea,

    não pude despedir-me.

    De repente sou despertada por um empurrão, Matheus grita apercebendo-se de que não estava a dar-lhe a atenção devida, eu

    acalmo-o e digo que gosto dele e que estava apenas preocupada, e ele, preocupado em satisfazer-me, pergunta o que se passa, e eu

    explico-lhe que não estou satisfeita e necessitava de mudar de casa, mas não tenho para onde me mudar, ele pergunta

    imediatamente se eu quero ajuda, cada vez mais me aproximo do meu objetivo.

    Chego a casa, esgotada por fazer algo que vai contra o meu ser, fingir que sinto que correspondo algo que não é real, nada é realnesta ilha nada nem o meu nome.

    Deito-me, tenho que trabalhar amanhã, tenho que lutar, não sou o mais importante, nem sequer o meu amor, mas sim todas as

    pessoas a quem estes hipócritas fizeram mal. Tem de ser feita justiça.

    Deito-me, sonho com as memórias soltas do meu amor, eu com ele em terra, nas zonas envolventes do submundo, as planícies secas

    e com uma réstia seca da flora anteriormente existente, com o cheiro a queimado envolvente do último fogo existente; mas o amor

    que sentia por aquele homem, nos meus olhos, no meu íntimo com ele nos meus braços, tornava esse o local mais lindo neste

    mundo, onde o cheiro a queimado se tornava o mais raro e exótico perfume, o local do nosso amor, do nosso afeto, testemunho das

    nossas histórias e dos nossos momentos como amantes.

    Acordo, respiro fundo em busca do cheiro a queimado, o cheiro do corpo do Artur, choro, não o sinto nem cheiro, mas choro de

    alegria por sonhar e relembrar o quanto fui feliz, por estar a fazer o mais certo, mais ninguém deve viver algo assim. Visto-me de

    branco com a cor de limpeza que me sinto, antes tomo um banho de vapor e aqueço no hidratador uma sandes de algas, tenho de

    cuidar mais de mim.

    Chamo uma bolha que imediatamente me vem buscar, insiro as coordenadas e uma paisagem desértica do anterior Sahara e aroma

    a floresta, sinto-me renascida, com mais força do que antes.

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    Chego rapidamente ao trabalho, dou de caras com os enormes arranha-céus cheios de ecrãs a passar publicidade com gente linda

    mas artificial devido ao excesso de plásticas e à nova novidade em andróides, observo os edifícios, fico esmagada com a magnitude

    do incrível tamanho, acho que é uma sensação que nunca vai desaparecer, é incrível como algo tão alto e pesado consegue estarnuma ilha e em tamanha quantidade.

    Entro com o meu chip de braço clandestino no indentificador, verdadeiro, conseguido através da corrupção da ilha.

    Sendo responsável administrativa do bar mil e uma luas não lido diretamente com clientes, mas tenho descontos no bar, foi assim

    que conheci o Matheus, o mil e uma luas é um bar muito aclamado pela nata da elite.

    À noite aproveito para ir descontrair, a música sempre foi algo que apreciei, mas foi na ilha que senti o seu verdadeiro poder, dançar

    faz-me sair de mim, deixo de ser a Kate, deixo de ser Sophie, como todos aqui me conhecem, sou ninguém, um mero corpo a dançar

    ao som da música, ao som da batida, suando, sentindo, movendo-me. Um dia estava a dançar como era hábito quando senti umasmãos por de trás a agarrarem-me pela cintura, deixei-me levar, naquele momento não era eu, era um corpo, um animal, dancei

     juntamente com esse corpo ao som da música, abraçou-me e beijou o meu corpo exposto pelo vestido curto dourado, tive um mero

    vislumbre sensorial de um fantasma do Artur, do toque dele, dos beijos dele e comecei a imaginar que essas mãos que me

    percorriam freneticamente eram as mãos dele, quando me virei, vislumbrei um homem moreno, alto, com músculos artificiais,

    sendo certamente resultado de implantes, ele beijou-me o pescoço e disse-me o seu nome, foi assim que conheci o Matheus, parece

    obra do destino, fui trabalhar para aquele bar, por ele, e ele é que veio ter comigo, o filho do homem que tanto odeio; beijei-o por

    ódio, ele associou-o a um desejo frenético por si, mais tarde depois de uma noite juntos, nunca mais nos largámos, claramente por

    objetivos muito diferentes.

    Depois de sair do trabalho reparei que o meu portátil tinha chamadas não atendidas do Matheus, liguei-lhe imediatamente, ele

    informou-me que queria levar-me a jantar a casa dos pais que iriam dar uma festa, eu fiquei desnorteada, nunca pensei que o meu

    objetivo se cumprisse tão rapidamente; Matheus pediu-me para ir bem vestida e acrescentou que iria levar-me a comprar roupa.

    Quando chegou na sua bolha deslumbrante com a imagem do universo e aroma a maresia, o maior dos luxos, beijou-me com desejo

    ao qual eu não correspondi; explicou-me na viagem como seria a festa e que apesar de eu ser linda e ter um excelente corpo a roupa

    era muitíssimo importante.

    Chegámos rapidamente a uma área residencial de luxo, nunca tinha ido àquele lado da ilha; parámos junto de um edifício emformato espiral, com vidros fumados, com uns reflexos cromados, e entrámos no edifício, onde imediatamente fomos atendidos e

    levados para a sala Vip, rapidamente entendi que esta não era a primeira vez que Matheus vinha aqui. Ao entrarmos na sala, para

    além do repleto luxo, viu-se uma extrema extravagância, com imensos candelabros de um material que eu nunca tinha visto; os

    reflexos alternavam, ora feitos de um material dourado, ora emanando outra luz que lembrava o mais puro dos cristais; numa sala

    repleta de vidros, estavam animais exóticos, certamente clonados, porque muitos deles estavam extintos há imensos anos, como o

    urso polar.

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    Entrámos na sala Vip, rodeados daquele luxo, tentei não me mostrar surpreendida ou esmagada com tanta magnitude, Matheus

    sentou-se como se aquele lugar lhe pertencesse, imediatamente ele explicou ao estilista que tipo de roupa queria que eu usasse,

    parecia o meu dono, ele estava a usufruir de cada minuto de comando, de mim e de cada elemento que ali estava.

    Fui levada aos provadores, deram-me um vestido dourado feito de um material similar ao dos candelabros, e que em zonasestratégicas mostrava o meu corpo nu, nunca tinha vestido algo tão luxuoso, aquela sensação, o toque daquele tecido único, gostava

    imenso que o Artur me visse assim; comecei a imaginar-me naquela planície desértica com aquele vestido; saí do provador, Matheus

    confirmou que era este mesmo, sentindo-se totalmente satisfeito.

    Nessa noite, após arranjar-me e apanhar o meu cabelo num apanhado simples mas elegante, entrámos na bolha e dirigimo-nos para

    a festa, Matheus estava nervoso, nunca o tinha visto assim, tentei acalmá-lo e pela primeira vez senti empatia com ele e acariciei-o;

    chegámos à festa numa casa de um luxo incalculável, todas as anteriores ideias do que era riqueza desvaneceram-se da minha

    mente, nunca tinha visto ou imaginado tamanho luxo, aí, sim, eu também fiquei nervosa, e entendi perfeitamente o nervosismo do

    Matheus.

    Entrámos na festa, Matheus começou a apresentar-me a diversos convidados, muitos deles com aspeto ostensivamente belo,

    parecia que ninguém envelhecia; começou a ouvir-se música clássica, proveniente de uma orquestra com violinos raríssimos.

    Matheus convidou-me a dançar e começámos a dançar em harmonia, como se nós fossemos um só corpo ao som da melodia; de

    repente, sinto uma mão a segurar-me a cintura que não a de Matheus, pedindo para dançar, educadamente e cabisbaixo Matheus

    disse que sim, nunca o tinha visto a receber ordens e a acatá-las com tanta prontidão.

    Esse homem que pediu a minha mão para dançar era mais velho e baixo que o Matheus, usava o mais elegante fato que alguma vez

    vi, com botões de punho similares ao metal exótico da galáxia Centauros; começou a sorrir-me e começámos a dançar, parecia que

    ambos flutuávamos na pista de dança, todas as pessoas à nossa volta olhavam intrigadas, certamente aquele seria um homem muito

    importante; a aura em nosso redor era única, como se estivéssemos noutra dimensão, de repente ele sorriu, vendo a minha

    expressão de fruição.

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    -Então, a menina é que é a Sophie, a namorada do meu filho. Muito bela, realmente.

    Fiquei atónita, sem saber o que dizer ou fazer, o homem de quem sempre tinha desejado vingar-me tinha acabado de dançar comigo

    desta maneira tão especial. Senti tanto ódio, tanta raiva. Ao ver a minha expressão, Thomas fez uma expressão surpreendida.

    Recompus-me, não posso estragar tanto trabalho.

    - Desculpe a minha reação, não estava à espera de o conhecer nestas circunstâncias.

    -Uma mulher como a Sophie não parece deixar-se deslumbrar tão facilmente.

    -E não deixo. Simplesmente, como deve imaginar, apanhou-me desprevenida.

    -Muito bem. Realmente o meu filho sai ao pai, sabe como escolher. Quer vir falar comigo mais em privado?

    -Sim, claro.

    Saímos da pista de dança, calmamente; não esperava uma interação tão repentina. Olhei, à procura de Matheus, encontrei-o a falar

    com um casal, olhando para mim cabisbaixo, como uma criança a quem lhe tiraram os doces.

    Fomos para uma sala luxuosa, clássica de mais para a moda da época, provavelmente um escritório, Thomas era certamente um

    homem conservador; o som de fundo era um holograma de uma lareira; mandou-me sentar numa poltrona, ao sentar-me, Thomas

    colocou-se à minha frente encostando-se na secretária, era certamente um homem muito sedutor, muito charmoso, não posso

    esquecer de quem é, do que fez, de quem matou!

    Ele, com os seus olhos azuis, começou a observar-me, todo o meu corpo, nunca me senti tão observada e consumida ao mesmo

    tempo; fiz uma expressão incomodada e ele riu-se, com um riso perturbante; arrepiei-me, fiquei assustada, comecei a duvidar das

    minhas capacidades.

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    Thomas aproximou-se de mim, agarrou-me pelo queixo com delicadeza e depois com uma ligeira brutalidade, até encontrar a

    posição certa; começou a delinear os meus lábios com o polegar.

    -Realmente, Sophie, deixa-me dizer-te que tens os lábios fantásticos, estou desejoso de te beijar.

    E de repente beijou-me, sem consentimento, porque não consegui retribuir o beijo; por isso deu um murro na mesa, e eu estremeci

    com o som.

    -Sophie, Sophie não te imaginava assim tão puritana.

    -Eu… namoro com o seu filho o Matheus… 

    Começou a rir-se com uma enorme exaltação, por fim limpou as lágrimas e recompôs-se e colocando-se por trás da poltrona,

    começou a tocar nos meus ombros, nunca me senti tão usada, tão invadida.

    -Levanta-te, Sophie!

    E eu levantei-me, por fim compreendi o que Matheus sofre com o seu pai, a sensação de não ter vida, o ponto mais elevado do ódio,

    da repulsa. Fiquei de frente para a lareira, Thomas começou a beijar o meu pescoço até aos ombros e tocando-me de forma invasiva,

    percorreu todo o meu corpo até regressar novamente para o pescoço e ao queixo, reposicionando o meu corpo da forma mais

    correta para ele e abraçou-me com força.

    -Kate, querida, não precisas de fingir mais.

    Caiu-me tudo, toda a revolta que senti desde a morte do Artur veio ao de cima, rebelei-me, gritei, para delícia de Thomas, que à

    semelhança de um pai, segurava firmemente nos braços uma criança birrenta; lutei, bati-lhe mas não saí da mesma posição; comecei

    a chorar de raiva, de ódio por este homem que matou quem mais eu amava.

    Thomas virou-me para ele, apertando-me o pescoço com a maior das fúrias, tentei libertar-me, mas cada movimento meu parecia

    não provocar nenhuma reação nele. Respirava com dificuldade, comecei a sentir o cheiro a queimado, visões turvas dos meus

    momentos com Artur, de cada beijo, nunca pensei que morreria em paz, por momentos desejei mesmo morrer, e continuar a reviver

    uma ilusão, de um delírio dado pela morte.

    -Nunca tiveste hipóteses… 

    Comecei a perder totalmente as forças, não conseguia respirar, estava a deixar de lutar, de lutar por mim e pelo Artur, comecei a

    escorregar, a cair no chão de mármore frio e senti que me libertava, quando ouvi um estrondo repentino, um som forte.

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    A morte não é tão complicada como pensei, nunca fui muito de pensar na morte, mas nunca a tinha imaginado assim, tão confusa,

    como um reviver da nossa vida, como um sonho.

    De repente sinto alguém a beijar-me ao de leve, não consigo mover-me, fico confusa; o som aumenta devagar e apercebo-me de que

    alguém me agarra e chama pelo meu nome verdadeiro, não entendo o que se passa. Abro os olhos ligeiramente, com uma enormedor de cabeça, demoro a recompor-me e então apercebo-me de que estou numa sala fria sem janelas deitada numa cama; olho com

    atenção e vejo que alguém está junto a mim a dormir, toco-lhe e não quero acreditar, é o meu amor, a minha alma gémea, é Artur!