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16º Congresso Brasileiro de Mineração debate os principais temas relacionados à Indústria Mineral Exposição Internacional de Mineração reúne mais de 400 expositores em 15 mil m 2 WWW.FACEBOOK.COM/INSTITUTOBRASILEIRODEMINERACAO WWW.TWITTER.COM/IBRAM_MINERACAO IBRAM NAS REDES SOCIAIS: WWW.IBRAM.ORG.BR EXPOSIBRAM 2015: mais uma edição de pleno sucesso Fotos da edição: Evandro Fiuza e Débora Freitas Outubro de 2015 Ano X – nº 71 Mineração indústria da

Mineração indústria da - MORINGA · IBRAM NAS REDES SOCIAIS: ... sociais. O Congresso permite a reflexão so- ... uma prática perigosa: o extremismo nas

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16º Congresso Brasileiro de Mineração debate os principais temas relacionados à Indústria Mineral

Exposição Internacional de Mineração reúne mais de

400 expositores em 15 mil m2

WWW.FACEBOOK.COM/INSTITUTOBRASILEIRODEMINERACAOWWW.TWITTER.COM/IBRAM_MINERACAOIBRAM NAS REDES SOCIAIS: W W W. I B R A M . O R G . B R

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Outubro de 2015Ano X – nº 71

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EDITORIAL

EXPEDIENTE | Indústria da Mineração – Informativo do Instituto Brasileiro de Mineração • DIRETORIA EXECUTIVA – Diretor-Presidente: José Fernando Coura | Diretor de Assuntos Minerários: Marcelo Ribeiro Tunes | Diretor de Assuntos Ambientais: Rinaldo César Mancin | Diretor de Relações Institucionais: Walter B. Alvarenga | Diretor Financeiro e Administrativo: Ary Pedreira • CONSELHO DIRETOR – Presidente: Clovis Torres Junior | Vice-Presidente: Luiz Eulálio Moraes Terra • Produção: Profissionais do Texto – www.ptexto.com.br | Jorn. Resp.: Sérgio Cross (MTB - 3978) | Textos: Luisa Amorim, Raquel Cotta e ETC Comunicação • Sede: SHIS QL 12 – Conjunto 0 (zero) – Casa 04 – Lago Sul – Brasília/DF – CEP 71630-205 – Fone: (61) 3364.7272 – Fax: (61) 3364.7200 – E-mail: [email protected] – portal: www.ibram.org.br • IBRAM Amazônia: Travessa Rui Barbosa, 1536 – B. Nazaré – CEP: 66035-220 – Belém/PA – Fone: (91) 3230.4066/55 – Fax: (91) 3349-4106 – E-mail: [email protected] • IBRAM/MG: Rua Alagoas, 1270, 10º andar, sala 1001, ed. São Miguel, Belo Horizonte/MG – CEP 30.130-160 – Fone: (31) 3223-6751 – E-mail: [email protected] • Envie suas sugestões de matérias para o e-mail: [email protected]. Siga nas redes sociais – twitter:@ibram_mineracao • Facebook: www.facebook.com/InstitutoBrasileirodeMineracao.

EXPOSIBRAM: mais uma edição de sucessoOs novos negócios que a Indústria da Mineração

pretende desenvolver no Brasil e no exterior nas pró-ximas décadas foram expostos e debatidos em setem-bro de 2015, na EXPOSIBRAM 2015, na cidade de Belo Horizonte (MG). O tradicional evento promovi-do pelo Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM (www.ibram.org.br), que reúne a Exposição Interna-cional de Mineração e o 16º Congresso Brasileiro de Mineração, mais uma vez foi um sucesso.

Ao longo de quatro dias, mais de 40 mil pessoas, entre estudantes, autoridades públicas, representantes dos Go-vernos Federal, Estaduais e Municipais, dos Poderes Públi-cos e de governos estrangeiros, além de líderes do Setor Mi-neral e profissionais de áreas correlatas estiveram reunidos

JOSÉ FERNANDO COURA

Diretor-Presidente do IBRAM

no Expominas para debater os rumos do segmento e co-nhecer as principais tecnologias e inovações do setor.

Em 2015, a Exposição contou com 488 estandes com mais de 400 expositores de 25 países. No Con-gresso, cerca de mil pessoas participaram dos debates sobre temas atuais relacionados à mineração nacional e internacional.

Para tornar tudo isso possível, quatro mil pessoas participaram da montagem do evento e sete mil foram cadastradas para trabalhar nos estandes, entre exposi-tores e equipes.

Nesta edição do Jornal Indústria da Mineração mostra-mos os principais acontecimentos da EXPOSIBRAM 2015.

A todos, uma excelente leitura!

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 3

Cerimônia de abertura da EXPOSIBRAM 2015

Otimismo e inovação para melhorar o ambiente de negócios no Brasil

Empresários do Setor Mineral brasilei-ro, autoridades políticas federais, estaduais e municipais, especialistas e consultores nessa importante área de negócios interna-cionais marcaram presença na abertura do 16º Congresso Brasileiro de Mineração e da Exposição Internacional de Mineração – EXPOSIBRAM 2015 realizada em setembro, no Expominas, em Belo Horizonte (MG).

Em seu discurso, o Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM (www.ibram.org.br), José Fernando Coura, demonstrou o otimismo do setor em relação à retomada dos investimentos e ressaltou a importância da atividade para a economia e para a sociedade em geral.

“Apesar do momento de turbulência atual que marca o cenário econômico brasileiro e internacional, há boas notícias e negócios para o País. Este é o momento de otimis-mo para encarar esse desafio de supera-ção, com a mente aberta, para vislumbrar propostas e caminhos que nos levem nova-mente a um ciclo virtuoso”, enfatizou.

O tema central do Congresso, “Minera-ção em um mundo de inovação”, também foi lembrado pelo dirigente. “Nosso setor já tem dado exemplos bem-sucedidos em inovação tecnológica e práticas sustentáveis, mas sempre há algo mais a fazer para melho-rar o desempenho”, disse.

Licenciamento

As reivindicações do Setor Mineral brasi-leiro não mudaram nos últimos anos. Entre elas, Coura destacou que a burocracia dos processos de licenciamento ambiental tem sido um obstáculo a mais para as empresas que pretendem investir em projetos minerais no País. Segundo o dirigente, o cenário atual de retração nos preços das commodities pede uma providência urgente dos gover-nos para melhorar o ambiente de negócios e agilizar a implantação de novas plantas que venham a aumentar a competitividade das empresas em âmbito global.

O Deputado Federal e Presidente da Co-missão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, Rodrigo de Castro (PSDB-MG), reconheceu que as atuais regras para licen-ciamento ambiental de novos empreendi-mentos têm representado problemas para as empresas que querem investir no Brasil. “Temos conversado muito com o Minis-tro de Minas e Energia e já convocamos os representantes da Comissão de Meio Ambiente para rever a legislação atual de modo a garantir maior clareza para os em-preendedores”, adiantou.

O Novo Marco Regulatório da Minera-ção foi outro assunto lembrado por Coura durante a solenidade de abertura. “Acredita-mos que essa nova legislação deve, antes de tudo, incentivar o desenvolvimento do se-tor”, destacou. No entanto, a votação dessa matéria pelo Congresso Nacional não pode desconsiderar pontos-chaves como a segu-rança jurídica dos projetos em execução e, ainda, a necessidade de ampliar os recursos destinados à pesquisa mineral.

Sobre o Marco Regulatório, Castro ressal-tou que a matéria deve ser votada nos pró-ximos meses. “Queremos um código justo para o setor”, apontou.

Para o Senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que também participou da solenidade de Abertura oficial da EXPOSIBRAM 2015

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 4

José Fernando Coura entrega placa a Luis Ermírio de Moraes, filho do líder empresarial Antônio Ermírio de

Moraes, em homenagem à trajetória do empresário

Um dos palestrantes internacionais mais esperados pelos participantes do 16º Congresso Brasileiro de Mineração foi o especialista em inovação da empresa de consultoria de Nova York, Stratalis Con-sulting, George Hemingway. Considerado um ‘futurólogo’ da indústria, o consultor abordou questões cruciais para os gesto-res da atividade mineral brasileira sobre competitividade, inovação e crescimento sustentável proferiu na palestra ‘A empre-sa focada no futuro: como aproveitar o futuro e transformar a indústria’.

O palestrante iniciou sua fala afirman-do que a ‘lente do passado’ impede as empresas de vislumbrarem novas oportu-nidades de negócios. “Os gestores devem ter foco no futuro e se libertar do passado. É essa visão distorcida que faz com que muitas organizações ainda tentem resol-ver os problemas do presente usando es-tratégias do passado”, enfatizou.

Segundo Hemingway , depois de um ciclo de crescimento de dez anos, a mi-neração mundial tem experimentado o desafio de se adequar à menor demanda pelos produtos minerais e, com ela, a um índice menor de crescimento, se compa-rado com o período anterior. “Duran-te o ciclo de crescimento, as empresas ampliaram sua capacidade de produ-ção, mas agora devem equalizar isso. Só assim conseguirão quebrar os ciclos de grande crescimento seguidos por outros de retração”, afirmou.

O consultor explicou que a capacidade de se adaptar a mudanças é crucial para o desenvolvimento do setor. Ele também alertou que esses processos não podem levar décadas para se tornarem realidade. Ao contrário, a velocidade exigida pelo mercado é cada vez maior e as compa-nhias devem reagir da melhor forma para não perder em competitividade.

Novas soluções para novos problemas

Especialista em inovação da empresa de consultoria de Nova York, Stratalis Consulting, George Hemingway,

palestra no 16º Congresso Internacional de Mineração

abertura, “a mineração se destaca como uma das principais atividades econômicas e sociais. O Congresso permite a reflexão so-bre o nobre papel do setor para o País e, ao fazê-lo, analisar sua importância para o mundo”, disse.

Para ele, o segmento poderia estar em uma situação melhor no País. Depois de dez anos de grande crescimento, a China redu-ziu sua demanda por recursos minerais e o preço do minério registrou grande queda nos últimos anos. “O dever de casa tem sido feito pelo setor, mas este é um momento para reivindicar que o Ministério de Minas e Energia dê maior atenção para a atividade mineral, com agenda e pauta de trabalho es-pecíficas. Dessa forma, teremos um ambien-te atrativo para novos investimentos e para a retomada de outros, que foram interrom-pidos em função da queda dos preços das commodities”, afirmou o Senador.

A EXPOSIBRAM 2015 homenageou o empresário Antônio Ermírio de Morais (in memoriam). Durante a solenidade de abertura, José Fernando Coura entregou uma placa a Luis Ermírio de Moraes, filho do grande líder empresarial, um dos funda-dores do IBRAM e Presidente de Honra do Grupo Votorantim.

Logo após a solenidade, dirigentes do IBRAM, empresários e políticos fizeram a primeira visita à Feira. Neste ano, o evento, que transformou Belo Horizonte na capi-tal nacional da mineração, reuniu cerca de 400 estandes de empresas de 25 países para apresentar produtos e serviços para o setor. Mais de 40 mil pessoas passaram pelo Expo-minas durante os quatro dias de Feira.

Para o especialista, muitas empresas co-metem ‘suicídio’ ao resistirem à inovação e a se adaptar a novos cenários de negó-cios. Estar atento às novas tecnologias é se posicionar à frente dos concorrentes. No caso da mineração, ciclos de crescimento são pautados por novos projetos, investi-mentos e ampliações. Quando o cenário muda, restam cortes de despesas em diver-sas áreas do negócio. “Mas será que tem sempre que ser assim? É possível quebrar esse ciclo olhando para o futuro com flexi-bilidade e foco no presente”, argumentou.

Da mesma forma, incluir sustentabi-lidade e inovação nos negócios também é garantia de resultados positivos para os negócios. Segundo Hemingway, é pos-sível planejar incertezas com uma boa gestão de risco. “Dessa forma, a empresa consegue mudar de direção com a agili-dade necessária e avaliar diversos cená-rios de futuro”, destacou.

Com essa estratégia, é possível quebrar uma prática perigosa: o extremismo nas reações frente ao mercado para operar com maior consciência e equilíbrio. Ou-tro fator a ser considerado pelas empresas do Setor Mineral é que o ambiente de ne-gócios deve ser colaborativo.

Para o consultor, a união das compa-nhias para compartilhar experiências e boas práticas tem se configurado como tendência capaz de revolucionar o setor, tanto em relação aos resultados pretendi-dos quanto para a imagem do segmento.

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 5

Desafios e oportunidades

para a mineração

Depois de uma década de grande cres-cimento, com picos de demanda e preços, o Setor Mineral experimenta um cenário que pede providências rápidas. A sessão plenária ‘Investimentos em Mineração, pa-norama atual do mercado de commodities e os desafios para o desenvolvimento da Indústria de Mineração em uma nova era de preços de commodities’ abriu a progra-mação do segundo dia do 16º Congresso Brasileiro de Mineração.

Esta importante discussão reuniu o Ge-rente de Energia e Práticas Extrativas Globais do Banco Mundial, Paulo de Sá, o Sócio da empresa de consultoria Pricewaterhouse- Coopers (PwC), Ronaldo Mattos Valiño, o Professor da Universidade de São Paulo (USP), João Furtado e, ainda, o Líder em Mi-neração para o Brasil e América do Sul para a EY (Ernst&Young), Afonso Sartorio.

O moderador do debate foi o Diretor Editorial da Revista Brasil Mineral, Francis-co Evando Alves que destacou que a atual crise da mineração brasileira é diferente das anteriores. “Há componentes distintos e ainda não há clareza sobre os reflexos do fator China”, pontuou o Jornalista, que acompanha o setor há décadas.

Segundo Paulo de Sá, do Banco Mun-dial, há fatores que vão afetar os preços das

commodities minerais nos próximos anos. Por isso, as empresas do setor devem ficar atentas às mudanças necessárias para garan-tir crescimento, mesmo que em menores percentuais. “É preciso ter maior velocidade na adaptação da capacidade de superpro-dução que foi conquistada durante o ciclo de crescimento,” alertou.

Para garantir resultados positivos, uma saída pode ser as Parcerias Público-Privadas (PPP) para obras de infraestrutura relaciona-das a projetos de mineração e outras ativida-des nos locais em que esses empreendimen-tos estão instalados.

Já Ronaldo Valiño, da PwC, apresentou o relatório final de uma pesquisa global sobre as 40 maiores mineradoras do mundo. Nes-se seleto grupo, há apenas a Vale S.A. como representante nacional. O estudo, que teve sua primeira edição em 2004, aponta que as companhias listadas são empresas sólidas. “[Possuir] US$ 24 bilhões em caixa é uma base segura. As empresas também pagaram US$ 40 bilhões em dividendos, mas têm preservado seus caixas”, enfatiza.

Investimentos em mineração, panorama atual do mercado de commodities e os desafios do setor para o desenvolvimento da indústria de mineração em uma nova era de preços das commodities foram debatidos

em sessão do segundo dia da EXPOSIBRAM 2015

Da esquerda para a direita: João Furtado, Professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) palestrou na sessão sobre investimentos em mineração na EXPOSIBRAM 2015; Ronaldo Valiño, Sócio da Price

WaterhouseCoopers (PwC Brasil); Francisco Alves, Diretor Editorial da Revista Brasil Mineral; e Afonso Sartorio, Líder de Mineração Brasil e América do Sul da EY

Em 2016, o cenário será de cautela em relação aos custos. A cotação do dólar tem beneficiado as exportações e há países afri-canos que, devido ao risco, apresentaram perda de investimentos. Outras oportuni-dades são a China, que continuará com-prando, mas em volume menor, os Estados Unidos e a Índia.

O Professor João Furtado destacou a importância da mineração para o processo de desenvolvimento nacional. “O recurso natural não existe. Ele é criado pela ação do homem que transforma um aconteci-mento natural em recurso econômico dis-ponível a ser usado para gerar riqueza e prosperidade”, definiu.

Ele defendeu, ainda, que a Indústria Mi-neral brasileira vivencia o dilema de agregar valor à sua produção. No entanto, segundo o Professor, esta situação pode ser resultado da melhoria de processos cotidianos. Nesse sentido, a crise pode ser uma oportunida-de para repensar como o País conseguirá unir tecnologia e inovação para alcançar melhores resultados.

O Consultor Afonso Sartorio, da EY, fa-lou que as oportunidades de negócios, nes-te momento, apontam para as mineradoras de médio porte, que poderão escolher os melhores ativos disponíveis no mercado. Isso porque as empresas de grande porte paralisaram algumas operações e as junio-res interromperam aportes programados em função do momento econômico.

A regulamentação do setor também mere-ce atenção. “No mundo todo os governos es-tão tentando intervir na mineração. Só que o superciclo de crescimento acabou”, concluiu.

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 6

O talk show ‘Mineração hoje no Brasil e no mundo: tendências, desafios e oportu-nidades’ foi um dos momentos mais espe-rados pelos participantes do 16º Congresso Brasileiro de Mineração. Prova disso foi o auditório lotado para o encontro histórico entre o Governador do Estado de Minas Gerais, Fernando Pimentel, o Presidente do Sistema FIEMG, Olavo Machado Júnior, e o Presidente da Vale S.A., Murilo Ferreira. O moderador foi o jornalista Willliam Waack, da Rede Globo.

Ao abrir o debate, Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM (www.ibram.org.br), José Fernando Coura, comemorou o interesse do público no even-to. “Essa grande plateia demonstra a confian-ça no futuro da mineração. É uma reverência à mineração e temos três mineiros para falar sobre a Indústria Mineral”, saudou. Para ele, a oportunidade de debater sobre ambiente de negócios para a indústria de Minas Ge-rais, sustentabilidade e relacionamento com a sociedade fortalece o otimismo da ativida-de em relação aos rumos do País.

A discussão começou com um ponto central para a retomada do crescimento do setor: o ambiente de negócios. A situação do Estado de Minas Gerais é complicada, considerando-se que há 4,6 mil projetos de licenciamento paralisados (incluídos os re-lacionados a empreendimentos minerais). O Governador Fernando Pimentel disse que está trabalhando para agilizar esses

processos, a partir da mudança da Lei Esta-dual que rege a matéria. “Na nova proposta que será enviada para a Assembleia Legisla-tiva de Minas Gerais (ALMG) vamos incluir prazos para a conclusão dos processos e, ainda, descentralizar esses procedimen-tos para os municípios que têm Conselho Municipal de Meio Ambiente constituído. Atualmente, tudo fica centralizado em Belo Horizonte”, explicou.

O Presidente do Sistema FIEMG, Olavo Machado Júnior, ressaltou que essa é uma reivindicação antiga da entidade. “Reduzir a burocracia é essencial para o desenvolvi-mento da atividade industrial. Atualmente, não ‘rodamos’ o negócio por falta de maior agilidade”, alegou.

Já o Presidente da Vale S.A., Murilo Ferreira, lembrou que, em mineração, um projeto demanda de oito a dez anos para iniciar operação e durante esse período as regras sofrem mudanças. “Geralmente, ao final do processo, encontramos um cená-

Da esquerda para a direita: Presidente do Sistema FIEMG, Olavo Machado Junior; Governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel; e Presidente da Vale S.A., Murilo Ferreira

Governo e setor produtivo participam de debate sobre o cenário brasileiro

rio completamente diferente do inicial e é essencial termos mais segurança para man-termos nossa competitividade em âmbito global”, constatou.

Para enfrentar as incertezas, a Vale S.A. tem um planejamento estratégico anual para a empresa, dentro e fora do Brasil. “A saída para o mercado nacional é a edu-cação”, destacou Ferreira. Para o Executi-vo, é preciso fazer uma reforma cultural para que as empresas do Setor Mineral realmente assimilem a automação e a tec-nologia como parte do negócio. “O Prona-tec tem sido um grande parceiro das em-presas brasileiras em capacitação de mão de obra”, avaliou.

Para Olavo Machado, a expectativa do setor produtivo é otimista. “O Brasil tem tec-nologia e pessoas capacitadas. Se nos unir-mos, podemos dar passos à frente. A Chi-na está fazendo reformas necessárias e esse processo deveria servir de exemplo para o Brasil”, disse o dirigente da FIEMG.

O Jornalista William Waack; o Presidente do Sistema FIEMG, Olavo Machado Júnior; o Diretor-Presidente do IBRAM, José Fernando Coura; o Presidente da Vale S.A., Murilo

Ferreira e o Governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel

Talk Show ‘Mineração hoje no Brasil e no mundo: tendências,

desafios e oportunidades’

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 7

A mineração mundial atravessa um pe-ríodo de transição para o qual estão previs-tas várias mudanças estruturais. Uma delas está relacionada à imagem da atividade para os diversos públicos com os quais as mineradoras se relacionam. Em muitos países, empresas do setor têm enfrentado dificuldades para conseguir ou manter li-cenças para operar, em função dos impac-tos ambientais inerentes à extração mine-ral e do modelo de comunicação adotado para nortear o relacionamento com as comunidades locais.

Em abril de 2012, os membros funda-dores da Kellogg Innovation Network (KIN), da Kellogg School of Management, se reu-niram no Brasil para discutir os desafios da Indústria da Mineração e identificar oportu-nidades para mudanças. O encontro reuniu líderes empresariais do setor, empreiteiros, fornecedores, pesquisadores, acadêmicos, representantes de organizações sem fins lu-crativos e de comunidades indígenas e deu origem ao KIN Catalyst, uma estrutura que

pode ser usada pelas organizações em todas as fases do ‘ciclo de vida’ da atividade, des-de a implantação dos projetos até a desati-vação das minas.

Entre outros objetivos, os participantes deste grupo de trabalho, que têm como base a cooperação, está a criação de resultados sustentáveis de longo prazo, a partir do re-posicionamento mercadológico do Setor Mi-neral em âmbito global.

A indústria nacional tem reservado espa-ço para discutir o KIN Catalyst: a Mineração do Futuro. Por isso, esse foi o tema central da sessão plenária que abriu a programação do 16º Congresso Brasileiro de Mineração em 16 de setembro. A discussão reuniu exe-cutivos, investidores e também fornecedores e todos os participantes reconheceram que a mudança do setor é urgente.

A primeira mesa abordou o KIN Development Partner Framework (DPF), com a presença do Diretor Regional da América Latina e Caribe, do United Nations Human

Settlements Programme, UN Habitat México, Erik Vittrup Christensen, o Presidente do Conselho do Centro Inter-Religioso de Responsabilidade Corporativa, dos Estados Unidos, Frei Séamus Finn, o Presidente da área de Minas e Minerais da Schneider Eletric, Fábio Mielli, o representante do Group Head of Government & Social Affairs da Anglo American, Jon Samuel, e, ainda, o CEO da Alloucorp Toronto Canada, Gordon Bodgen.

O moderador foi o Sócio da Clareo e Colaborador Sênior da Kellogg Innovaton Network (EUA), Kulvir Singh Gill, que ressal-tou a importância da licença social para a operação da atividade mineral. “Os custos são altos, as empresas enfrentam a inter-venção política dos governos e não podem esquecer-se de se relacionar bem com as comunidades onde estão instalados os em-preendimentos. Essa é uma nova perspectiva para o setor porque a expectativa da socie-dade tem aumentado bastante”, ressaltou.

Tudo acontece a partir da mudança de conceito do setor. “Ao invés de extração de minerais, devemos falar em desenvolvi-mento que investe e ajuda as comunidades a crescer. Temos que mostrar que negócios são igual a prosperidade e que esse concei-to está plenamente integrado à rotina em-presarial”, adiantou.

Mineração do futuro: painel apresenta o KIN Catalyst

Painel de discussão “Imperativos para implementar o KIN Development Partner Framework na Mineração” abordou de forma inovadora a construção de valores ligados à sustentabilidade de longo prazo no 16º Congresso Brasileiro de Mineração

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 8

O Frei Séamus Finn, Líder mundial em desenvolvimento social, explicou que as co-munidades religiosas que atuam em diversos países do mundo são cobradas por serem investidoras desses ativos. No entanto, é no contato direto com as comunidades que esse relacionamento se intensifica. Afinal, nos municípios mineradores, a atividade é a que tem maior peso na economia local e, consequentemente, na melhoria da quali-dade de vida das pessoas, seja por meio de emprego e renda ou pela participação em projetos para o atendimento de necessida-des básicas da população.

Segundo Finn, os acionistas já assimila-ram a ideia de que a responsabilidade so-cial corporativa é algo importante porque tem impacto direto sobre o sucesso do em-preendimento e a garantia de dividendos em longo prazo. No entanto, esse é um conceito que deve estar permanentemen-te ligado à fé, na forma de cuidado com o planeta, no compartilhamento do uni-verso e da natureza criativa dos habitantes do mundo, como escreveu recentemente o Papa Francisco. “Temos participado de uma coalização de líderes religiosos, agen-tes financeiros e investidores que trabalham pela prosperidade”, afirmou.

Ele lembrou, ainda, que ao adotar uma prática amigável e engajada, as minerado-ras conseguem construir relações honestas e transparentes, que culminam em projetos que são realmente necessários para as co-munidades. “A empresa pergunta o que é

importante para aquele grupo de pessoas e isso é um grande passo para ter uma relação sustentável”, exemplificou o Frei.

Erik Vitrup Christensen lembrou que esse é um dos grandes desafios a serem enfrentados pelo setor, já que há minera-doras mundo afora que eventualmente não oferecem a cota de retorno dos empreen-dimentos. “Os governos esperam que as operações signifiquem prosperidade, mas isso não tem acontecido em todos os ca-sos”, alegou. Para reverter esse quadro que coloca em risco, inclusive, a operação, é preciso mudar a estratégia de comunicação com os diversos públicos com os quais as mineradoras se relacionam, para gerar par-cerias de confiança.

Já fala de Gordon Bodgen abordou a importância da confiança, um legado que deve ser renovado e atualizado continua-mente pelas empresas do Setor Mineral que pretendem manter suas operações ativas e, principalmente, lucrativas. Com 35 anos de experiência no setor bancário, ele tem ob-servado que, quando essa relação se desgas-ta, o resgate nunca é fácil para as minerado-ras, que acabam tendo prejuízos financeiros devido a essa falha. “As empresas têm que se pautar para ter uma avaliação positiva dos seus públicos não apenas em um dado momento ou quando iniciam a instalação do projeto, mas em todas as fases do empreen-dimento”, recomendou.

Para Jon Samuel, a comunicação do se-tor está em processo de evolução. Segundo

O painel de discussão “Imperativos para implementar o KIN Development Partner Framework na Mineração” foi moderado pelo colaborador da Kellogg Innovation Network, Kulvir Singh Gill. O debate contou com a presença

do Diretor da UM Habitat México, Erik Christensen, o Reverendo Seamus Finn, o Executivo da Anglo American, Jon Samuel, o representante da Schneider Eletric, Fabio Mielli e o CEO da Alloycorp Toronto Canadá, Gordon Bogden

ele, os projetos de mineração sustentável da década de 1990 iniciaram uma mudan-ça que não aconteceu em outro segmento industrial. Ferramentas, como guias de me-lhores práticas, gestão econômica e social já foram incorporadas pelos líderes dessas organizações em todo o mundo como uma parte do negócio que não pode ser esque-cida. “Entendemos que é fundamental en-tregar resultados para a comunidade, inde-pendente dos dividendos alcançados pelos empreendimentos. Atrasos e postergações geram custos extras e esse é um foco de conflitos”, apontou.

Segundo ele, a solução passa por engaja-mento e transparência, o que tem consonân-cia com o DPF. O representante da Anglo American lembrou também que outra práti-ca usada é o incentivo ao desenvolvimento econômico local, que tem transformado as empresas da região onde o empreendimen-to está instalado em fornecedores qualifica-dos para prestar serviços em diversas áreas. Iniciativas como essa, que já têm sido adota-das pela Anglo American, por meio de pro-gramas de capacitação específicos, sinalizam para uma relação de confiança com a comu-nidade. “O interessante é fazer certo desde o início”, apontou Samuel.

Para Fabio Mielli, as empresas de tecno-logia precisam se orientar pelos princípios da sustentabilidade e trabalhar em ambien-tes de colaboração. “As mineradoras preci-sam sair da zona de conforto e investir em melhorias dos processos internos”, alertou. Na maioria das empresas, o cenário ainda é o tradicional, com baixa tecnologia e inova-ção e a busca incessante por resultados de curto prazo, o que não comunica a impor-tância do setor para a vida das pessoas e o desenvolvimento das cidades.

Segundo Gordon Bogden, em muitos empreendimentos, as empresas juniores são as primeiras que chegam ao local, para a implantação da planta e início de relaciona-mentos. “Se não acertarem o passo no início, vai ser difícil para as grandes mineradoras en-trarem lá no momento seguinte”, comentou.

Ele falou sobre a experiência do Cana-dá, onde as companhias têm que se rela-cionar diretamente com as comunidades indígenas, sendo que não há qualquer dire-cionamento legal previamente traçado para a condução desse processo.

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 9

A Indústria da Mineração corresponde a 12% do Produto Interno Bruto Global (PIB) e está na vida de todas as pessoas desde os primórdios. Alimentos, moradias, produtos eletroeletrônicos, veículos e medicamentos utilizam esses insumos. Apenas no popular telefone celular há 47 tipos diferentes de metais. Embora próximo da sociedade, o setor não tem uma imagem capaz de tra-duzir a sua importância para o desenvolvi-mento da civilização e reconectar a mine-ração com as pessoas é o grande desafio neste momento.

O segundo debate da sessão ‘KIN Ca-talyst: Mineração do Futuro’ foi a mesa-redonda com executivos do setor, que analisaram o processo de implantação dos princípios do Development Partner Frame-work (DPF) na indústria do setor e apresen-taram projetos que foram baseados nesse novo plano. Além de melhorar a imagem da atividade, essa nova metodologia de

trabalho que tem sido apresentada em fó-runs de debates do segmento também tem reflexos sobre o desempenho financeiro dos negócios.

Para essa conversa, o 16º Congresso Brasileiro de Mineração reuniu o CEO da Samarco, Ricardo Vescovi, o CEO da An-gloGold Ashanti, Hélcio Guerra, o Líder de Operações da Anglo American Iron Ore Brazil, Rodrigo Vilela, e o CEO da Alloycorp Toronto Canada, Gordon Bodgen, que fez a sua segunda apresentação no evento. O mo-derador foi, mais uma vez, o colaborador da Kellong Inovation Newtork, Kulvir Singh Gill.

Quem abriu os trabalhos foi Ricardo Ves-covi, que reforçou a importância das mine-radoras na economia local dos municípios onde atuam.

Segundo ele, a Indústria da Mineração fomenta o desenvolvimento econômico, de forma a criar uma operação circular

Por isso, a mineradora também tem atuado fortemente para fomentar o desen-volvimento da economia local, de forma a criar uma operação circular, com outros negócios estruturados à sua volta. “Muitas vezes, o nosso subproduto é insumo para outra empresa”, exemplificou. No caso da Samarco, o plano estratégico da companhia para os próximos 15 a 20 anos foi confec-cionado com a participação direta de 200 representantes de todos os grupos com os quais a companhia se relaciona. Com esse planejamento, o empreendimento alcança melhores níveis de crescimento, o que fa-cilita o compartilhamento de valor com a comunidade do entorno.

“Eles enxergam a Samarco no futuro dos seus municípios e isso tem que ser conside-rado”, enfatizou.

Para o Executivo, processos de redução de custo que estão em curso pela maioria das empresas não podem significar retrocessos

Responsabilidade Corporativa: Líderes da Mineração analisam a implantação do DPF

Mesa-redonda com executivos da mineração debate implantação do DPF

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 10

ambientais. “Na Samarco, precisamos re-duzir custos, mas não queremos fazer isso liberando mais CO2, depois de termos dimi-nuído as emissões em 10% pela substituição de combustível por meio de tecnologia de-senvolvida internamente”, afirmou Vescovi.

Hélcio Guerra afirmou que o processo decisório das empresas tem mudado com o tempo, juntamente com o nível de exigên-cia da sociedade em relação às plantas de mineração. “Hoje as empresas são penaliza-das por suas práticas”, reconheceu. Com um modelo de gestão integrado e sustentável, a AngloGold Ashanti tem mantido a licença social para continuar operando.

Segundo o Executivo, a empresa com-preende a necessidade de implementar projetos que beneficiem a comunidade do entorno dos empreendimentos. Outros de-safios são trabalhar para estender os bene-fícios no longo prazo e planejar o futuro da atividade, com níveis cada vez mais eleva-dos de sustentabilidade. Em suma, o proces-so não pode parar ou retroceder.

O CEO da AngloGold Ashanti lembrou também que há um outro canal de relaciona-mento que precisa melhorar muito: a buro-cracia excessiva e a morosidade na condução de processos de licenciamento ambiental são problemas tradicionais para o setor. Com esse modelo de condução, os custos da implanta-ção são elevados e o compartilhamento de resultados com a comunidade acaba ficando em segundo plano. “Em muitos casos esta-mos perdendo o ciclo econômico favorável por causa da burocracia”, pontuou.

Rodrigo Vilela iniciou sua fala alertando que “o setor está com um atraso médio de 20 a 25 anos no seu modelo de gestão. A inovação também continua limitada a algu-mas ‘ilhas de excelência’. Por outro lado, a comunicação é uma batalha difícil de ven-cer, pela grande expectativa que um projeto do gênero representa”.

“Os clamores e esperanças são os mes-mos, independentemente do país e do grau de maturidade do projeto em questão. A sociedade vê a empresa como única opor-tunidade de melhoria de governança para o local da operação”, observou. No entanto, há empresas que não conseguem conciliar tantos “sonhos” a realizar. O fruto desse des-compasso costuma ser a famosa “longa lista de promessas não cumpridas”, que pode, em algum momento, gerar problemas para a condução dos negócios.

Nesse sentido, o DPF pode auxiliar as mineradoras a trabalhar por resultados de longo prazo e a definir quais os legados que as empresas querem deixar. “Temos que ser consistentes no tempo e nas ações porque essa esperança que a sociedade deposita em nós é a prova de que as pessoas confiam em nossas propostas”, afirmou.

Em sua segunda participação, Gordon Bogden ressaltou que o mercado responde positivamente às empresas nas quais a res-ponsabilidade corporativa inclui o engaja-mento com a comunidade e com o corpo de funcionários. Em outras palavras, crises e disputas podem ser evitadas se a com-panhia começa agindo da forma correta. “Qual é o custo e a qualidade do investi-mento que a gente faz na responsabilidade corporativa?”, questiona.

Para o CEO da Alloycorp Toronto Ca-nada, as mineradoras não podem negli-genciar os valores sociais, mesmo que os acionistas queiram retornos trimestrais dos seus investimentos, o que é bastante de-safiador para as empresas que pretendem trabalhar em longo prazo. “Mas elas não podem negligenciar esses valores”, enfati-zou. Com a experiência de 200 projetos do setor, ele sabe da importância da atividade tanto para o PIB global quanto para a vida cotidiana das pessoas e que não há nada mais justo que reaproximar a atividade dos seus bilhões de consumidores.

Envolvimento com o setor mineral

O envolvimento pessoal e profissional com o Setor Mineral foi um tema comum para todos os executivos que participaram da mesa-redonda.

A mineração é parte da vida de Hélcio Guerra, mineiro de Itabira. “Cresci vendo a Vale operar e observando os benefícios da-quela operação. Eu queria fazer parte disso tudo e hoje tenho a oportunidade de dar a minha contribuição para o desenvolvimento da mineração”, destacou.

Rodrigo Vilela acredita que o melhor modelo de liderança é aquele que se ba-seia em bons exemplos. E, por isso, essa é a forma com que ele tem atuado em suas diversas experiências em projetos de mine-ração. Atualmente, o executivo está à frente do projeto da Anglo American em Concei-ção do Mato Dentro (MG) e pretende mos-trar como a mineração pode ser usada como modelo de desenvolvimento.

Físico de formação, Gordon Bogden ressaltou os benefícios da mineração de uma forma ampla e que isso não pode passar despercebido devido a falhas de co-municação e imagem. “A segunda profis-são mais antiga do mundo é a nossa e não podemos esquecer que isso nos dá uma enorme responsabilidade de fazer sempre melhor”, considerou.

O CEO da AngloGold Ashanti, Hélcio Guerra

A Organização das Nações Unidas (ONU) irá reunir seus conselheiros para definir 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para os próximos 15 anos. A inovação dessa nova lista que representa um passo à frente dos Objetivos do Milênio é que o modelo de desenvolvimento econômico adotado pelos países e empresas também será parte das metas a serem alcançadas.

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 11

A terceira parte da sessão plenária ‘KIN Catalyst: Mineração do Futuro’ foi a mesa-redonda que reuniu executivos da cadeia da mineração para debater a imple-mentação dos princípios do DPF em forne-cedores de produtos e serviços e parceiros de negócios que atuam juntamente com as empresas do setor.

Nesse ponto, as mineradoras têm fun-cionado como multiplicadoras das boas práticas que resultam da aplicação do DPF para ampliar os ganhos e promover o de-senvolvimento econômico e social em ba-ses sustentáveis, nos municípios onde as operações estão instaladas.

Os participantes da mesa-redonda foram o Gestor Global da Área de Mineração da Komatsu Equipment, Jim Nishiura, o Gestor da Michelin, Gilson Santiago, o CEO da Weir Brasil, Paulo Matos, o Gestor da Cadeia de Suprimentos da Anglo American Iron Ore Brazil, Luís Calfa e o Gestor Global de Mar-keting para a Área de Mineração da Sch-neider Eletric, Fabio Mielli. Mais uma vez, o moderador foi o colaborador da Kellog Inovation Network, Kulvir Sngh Gill.

O CEO da Anglo American apresentou os projetos da mineradora direcionados aos diferentes grupos de fornecedores da mineradora. Para os micro e pequenos, a empresa criou o ‘Programa Crescer’, que visa promover o desenvolvimento social, a geração de empregos e de negociações sustentáveis. Além do aumento de qualifi-cação dos gestores, o projeto promoveu a abertura de 800 vagas de empregos.

Para os fornecedores locais de médio, a mineradora desenvolveu o “Programa Promove” para integrá-los à cadeia pro-dutiva. Em oito meses de atividades, fo-ram assinadas 160 ordens de compras que totalizaram R$ 60 milhões em recursos envolvidos. “Os fornecedores locais são estratégicos para o negócio”, enfatizou Luís Calfa. Já os parceiros de negócios de grande porte têm sido incentivados a adotar os princípios da responsabilidade

ambiental e corporativa na gestão de custos e de operações.

Jim Nishiura acredita que o desenvolvi-mento de negócios nas cidades mineradoras depende da adequação dos fornecedores locais. A Komatsu se envolveu nesse projeto de gestão planejada que segue os princípios do DPF para gerar parcerias de longo pra-zo com as empresas do setor, por meio da melhoria da prestação do serviço de manu-tenção mecânica altamente qualificada. No Chile, a companhia já emprega dois mil pro-fissionais que foram previamente capacita-dos para receber veículos da marca.

Da mesma forma, a Michelin também tem apostado no DPF para melhorar a mobilidade de bens e pessoas. “A minera-ção é um ambiente desafiador, mas traba-lhamos com a matéria-prima para reduzir os impactos ambientais da atividade e da cadeia produtiva, por meio do transporte, tratamento e geração de novos insumos e vagas de emprego. O resultado é positivo”, enfatizou Gilson Santiago.

Além da produção dos pneus que são usados em diversos veículos da mineração, a companhia também responde pela ma-nutenção e destinação final do bem, para

reduzir ao máximo o impacto ambiental envolvido nesse processo.

A experiência da Schneider Eletric é o desenvolvimento de soluções inovadoras em parceria com os clientes, de acordo com a metodologia DPF. Entre esses projetos, Fá-bio Mielli destacou o acesso à energia pelas comunidades em parceria com as minera-doras para agilizar o processo de desenvol-vimento socioeconômico dos municípios. Com o kit solar, as residências de 200 cida-des têm água quente e instalação elétrica. “Sustentabilidade não é consequência, mas parte do projeto”, definiu.

Segundo Paulo Matos, a qualidade dos projetos desenvolvidos é um diferencial da empresa que tem trabalhado para elevar ao máximo o custo-benefício dos seus pro-dutos para os clientes, a partir da melhoria de indicadores como vida útil, capacidade, eficiência de operação e manutenção em todas as etapas do processo produtivo.

A Weir Brasil também implantou a me-todologia DPF nos seus processos internos. Ela é especializada na entrega e suporte de soluções de equipamentos para a Indústria da Mineração, geração de energia, entre outros serviços.

KIN Catalyst: Mineração do futuro também alcança parceiros de negócios

Sessão plenária KIN Catalyst: Mineração do Futuro

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 12

Diretor-Presidente da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), Tadeu Carneiro, discursa durante o painel 'Terras Raras e Minerais Estratégicos: da potencialidade para a efetividade'

O Brasil tem grandes potenciais para reservas de minerais estratégicos que po-deriam atender à crescente demanda mun-dial de indústrias de tecnologia de ponta. Contudo, ainda carece de uma política in-dustrial que contemple a implantação de cadeias produtivas sólidas e bem estrutura-das. Mesmo assim, cresce o interesse por parte de mineradoras pela busca de novos depósitos de Terras Raras e minerais estraté-gicos. Neste contexto, o painel ‘Terras Raras e Minerais Estratégicos: da potencialidade para a efetividade’ foi um dos destaques da programação do 16º Congresso Brasileiro de Mineração, ao debater os desafios para a exploração das enormes reservas já identifi-cadas no território nacional.

O painel reuniu alguns dos maiores es-pecialistas no assunto, como o Engenheiro Orestes Estevam Alarcon, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); o Diretor--Presidente da Companhia Brasileira de Me-talurgia e Mineração (CBMM), Tadeu Car-neiro; e o Gerente de Projetos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), João Batista Ferreira Neto. A conversa foi mediada pelo Coordenador Geral de Tecnologias Setoriais do Ministério de Ciência, Tecnologia e Ino-vação (MCTI), Eduardo Soriano Lousada.

Terras Raras, como são conhecidos os 17 elementos fundamentais para a indústria de alta tecnologia, incluem minerais como o lan-tânio, cério, neodímio, európio, térbio, túlio, lutécio, samário. Entre suas principais aplica-ções estão imãs permanentes para motores miniaturizados e turbinas para energia eólica, composição e polimentos de vidros e lentes especiais, catalisadores de automóveis, refino de petróleo, luminóforos para tubos catódi-cos de televisores em cores e telas planas de televisores e monitores de computadores, ressonância magnética nuclear, cristais gera-dores de laser, supercondutores e absorvedo-res de hidrogênio, armas de precisão.

De acordo com o Departamento Nacio-nal de Produção Mineral (DNPM ), a China possui cerca de 40% das reservas mundiais de terras raras (TR), seguida pelo Brasil (16%) e EUA (10%). A China também é a líder da produção mundial, com 89,1% dos óxidos de Terras Raras produzidos em 2013 (90,4% em 2012). A China consome cerca de 64% da produção mundial, seguida pelo Japão (15%), EUA (10%), União Europeia (7%). Os dados relacionados ao Brasil consideram apenas os números de Araxá, em Minas Ge-rais, mas existem reservas com grande po-tencial também conhecidas em Pitinga e Seis Lagos, na Amazônia.

“O principal motor do crescimento fu-turo das Terras Raras no Brasil deve estar no desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis, tais como turbinas eólicas e veículos elétricos e híbridos”, analisou o Gerente de Projetos do Instituto de Pesqui-sas Tecnológicas (IPT), João Batista Ferreira Neto. Para ele, é clara a necessidade de criar políticas de formação de pessoal e capaci-tação. “Existem grupos que têm trabalhos importantes na cadeia de produção como Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), Ins-tituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Uni-versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclea-res (IPEN) etc. Precisamos ampliar para ser-mos competitivos. Com conhecimento, cria-remos condições de enfrentar a volatilidade do mercado”, explicou.

Os desafios para o estabelecimento de uma cadeia produtiva de Ímãs de Terras Ra-ras no Brasil, segundo o Engenheiro Orestes Estevam Alarcon, incluem a diminuição dos impactos ambientais e a redução do volume de insumos, a separação das Terras Raras pe-sadas, a necessidade de iniciativa de fabrica-ção dos ímãs como mecanismo de controle da qualidade do neodímio metálico e das ligas fabricadas. “Também é fundamental o fomento à indústria de carros elétricos e hí-bridos, criando as condições e incentivos fis-cais para desenvolver no Brasil este mercado com enorme potencial”, explicou.

A falta de políticas para o setor foi critica-da pelo Diretor-Presidente da CBMM: “Te-mos as reservas e a tecnologia da produção dos óxidos. Agora é preciso vontade e inte-resse político no desenvolvimento de uma cadeia de alta tecnologia no Brasil”, disse Tadeu Carneiro. Ao longo dos últimos anos, a empresa investiu cerca de R$ 70 milhões no desenvolvimento de tecnologias para a separação e transformação das Terras Raras sendo capaz de produzir materiais com até 99,9% de pureza. “De raro em Terras Raras no Brasil só a tecnologia, a educação para formar profissionais capacitados e uma polí-tica industrial para o setor”, afirmou.

Painel debate potencial do Brasil para a produção de terras raras

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 13

A dependência do mercado externo, os custos de logística para transporte dos pro-dutos dentro do País de dimensão conti-nental e a necessidade de investir no setor de fertilizantes foram alguns dos temas do painel ‘Fertilizantes: novos projetos bus-cam superar a dependência do Brasil’, que integrou a programação do 16º Congresso Brasileiro de Mineração.

O encontro teve como moderador o Se-cretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e Deputado Federal li-cenciado, Arnaldo Jardim. Ele afirmou que a produção de fertilizantes é um dos principais gargalos do agronegócio, mas há oportunida-de para mudar o cenário: “Com a valorização do dólar este é um momento para recolocar os projetos na lista de prioridades”.

Segundo ele, com o crescimento popula-cional nas próximas décadas, a demanda por alimentos ficará cada vez maior. Para conti-nuar quebrando recordes de safra, o agrone-gócio ampliará a compra desse insumo que corrige as falhas da terra para o plantio.

Enquanto grandes players do mercado estão em compasso de espera, há novos projetos em curso no País. Um deles é o Jauru, que explora depósitos de fosfato na região de Mirassol D’oeste, no Mato Grosso. O estado é o principal consumidor de fertili-zantes fosfatados. Atualmente, 50% do total consumido na região são importados.

A iniciativa foi apresentada pelo CEO da Brasil Exploração Mineral S.A. (Bemisa), Au-gusto Cesar Calazans Lopes. A planta de Jau-ru demandou mais de R$ 539 milhões em investimentos para uma área de 100 mil me-tros quadrados de reservas do mineral que é insumo básico para a produção de fertilizan-tes. “Nossa principal vantagem competitiva em relação ao produto importado é o custo da logística”, ressaltou.

O tempo de vida útil da exploração é de 80 anos. Os testes de concentração realiza-dos pela Universidade de São Paulo (USP), Fundação Gorceix e Universidade Federal de Minas Gerais demonstraram a viabilida-de técnico-econômica para a exploração do mineral e a produção dos insumos.

Outro projeto apresentado durante o pai-nel foi o potássio na Bacia Amazônica, da Potássio do Brasil. O CEO da empresa, Matt Simpson, adiantou a construção de um com-plexo industrial no município de Autazes, a 113 km de Manaus. A empresa já tem licen-ça ambiental prévia para iniciar as operações a partir de 2016. Foram investidos US$ 2,5 bilhões na planta que atenderá até 25% do mercado de consumo nacional de fertilizan-tes com uma produção anual de 2,16 milhões de toneladas de cloreto de potássio.

O Brasil é o segundo maior consumidor de potássio para a agricultura no mundo e o maior importador desse insumo, com média de 9,3 milhões de toneladas do mi-neral por ano. Atualmente os fornecedores

são Canadá, Rússia, Alemanha e Israel. No caso do produto nacional, a produção será escoada pelo Rio Madeira, o que também reduzirá o preço final.

A empresa também identificou potencial de produção em Itacoatiara (AM). Além do potássio, está prevista a produção de 1,1 mi-lhão de toneladas de sal de cozinha.

Investimentos para a área de fertilizan-tes são uma dúvida do mercado nacional, principalmente no atual cenário de crise econômica. Mas, segundo o Gerente do De-partamento de Indústria Química do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vinicius Samu de Figueiredo, há interesse da instituição em apoiar iniciati-vas que reduzam a dependência do Brasil de fertilizantes importados.

Atualmente, o gap em relação aos pro-dutos à base de nitrogênio é de 84%. Quan-to aos fertilizantes fosfatados, o percentual é de 63% e os insumos à base de potássio estão na pior situação, com 95% de de-pendência de importações. Para a balança comercial brasileira, essa situação significa US$ 8,4 bilhões/ano.

“É importante lembrar que investimentos na área de exploração mineral para produ-ção de fertilizantes garantem a segurança ali-mentar do País”, ressaltou. Para Figueiredo, o que falta é maior coragem para priorizar projetos do gênero que têm mercado de con-sumo garantido dentro do Brasil.

Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, defende a exploração

mineral para a produção de fertilizantes

Painel 'Fertilizantes: novos projetos buscam superar a dependência do Brasil'

Novos players investem em projetos de exploração mineral para a produção de fertilizantes

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 14

Participantes do painel 'Mineração e os desafios ambientais de acesso ao território debatem sobre cenário do imobilismo territorial'

O terceiro dia do Congresso Brasileiro de Mineração foi marcado pela realização do painel ‘Mineração e os desafios ambientais de acesso ao território’. Os participantes debateram sobre o cenário do imobilismo territorial que tem sido imposto pela política ambiental, especialmente os impactos asso-ciados à aplicação do “princípio da vedação ao retrocesso ambiental” e seus efeitos na gestão dos territórios. Também discutiram possíveis caminhos de política mineral que permitam a conciliação de interesses e o de-senvolvimento sustentável dos territórios.

Para isso, estiveram presentes o Advoga-do e Consultor, Sócio do Pinheiro Pedro Ad-vogados, Antonio Fernando Pinheiro Pedro; o Diretor Técnico da Elabore e Ex-Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Eduardo de Souza Martins; e o Advogado Es-pecialista em Direito Ambiental e Ex-Consul-tor Jurídico da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Ricardo Carneiro. A mediação ficou por conta da Assessora Técnica do Gabinete Adjunto da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), Zuleika Stela Chiacchio Torquetti.

Acesso ao território: um dos principais desafios para o setor

Ao abrir os debates, o Advogado Pi-nheiro Pedro apresentou sua tese “A tese do princípio da vedação ao retrocesso am-biental: origens e estado da arte no Brasil e no Mundo”. Segundo ele, de acordo com a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, princípio 4, Declaração do Rio, em 1992, “para alcan-çar o desenvolvimento sustentável, a pro-teção ambiental constituirá parte integran-te do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste”.

O Advogado também citou um texto publicado pela Comissão de Meio Am-biente do Senado Federal. Segundo ele , o documento reforça que “o objetivo princi-pal do Direito Ambiental é contribuir para a diminuição da poluição e à preservação da diversidade biológica. Contudo, no mo-mento em que o Direito Ambiental é con-sagrado por um grande número de consti-tuições como um novo direito humano, ele é paradoxalmente ameaçado em sua essên-cia. Em vista disso, não deveria o Direito Ambiental entrar na categoria das regras jurídicas eternas, irreversíveis e, assim, não revogáveis, em nome do interesse comum da Humanidade?”.

Na conclusão do Palestrante, o princípio da não regressão deve ser entendido de for-ma restrita. Na França, as proposições do Par-tido Verde sobre a redução de exigências e imposição de um prazo de dois meses para o licenciamento ambiental de empreendimen-tos de energia limpa (eólica) foram rejeitados por incompatibilidade com as normas em vi-gor para o licenciamento ambiental e por não guardar proporção com os prazos de avalia-ção de impactos. Já no contexto da Conferên-cia de Estocolmo de 1972 e da Cimeira do Rio de 1992, vários princípios do direito am-biental têm sido desenvolvidos. No entanto, eles não são exaustivos, e podem ser comple-mentados e reforçados por outros princípios.

Desafios

São muitos os obstáculos à Atividade Mine-rária, do ponto de vista ambiental. Alguns deles passam pela exigência de reserva legal ainda na fase de pesquisa, compensação espeleológica, tombamento paisagístico e definição do entor-no, além de compensação florestal minerária e certidões municipais de conformidade.

As políticas compensatórias, na visão do Advogado Ricardo Carneiro, podem ainda trazer prejuízos para o setor, entre elas o blo-queio de áreas para usos econômicos, o esgo-tamento de áreas disponíveis para compen-sação, inviabilizando a expansão dos projetos existentes, o aumento da especulação imobi-liária e o arrefecimento das políticas públicas de criação de unidades de preservação.

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 15

O Coordenador da Rede de Recursos Hídricos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Percy Baptista Soares Neto, discutiu a relevância do Setor Mineral na gestão da água no Painel “Mineração e gestão

integrada de ativos territoriais – água como fator de integração entre o econômico e o ambiental”

A água é fator fundamental tanto à vida como ao desenvolvimento econômico, sen-do também o elemento natural de integra-ção, entre o econômico e o ambiental. De acordo com a Organização das Nações Uni-das – ONU / World Water Assesment Pro-gram, a indústria em geral responde por 21% do consumo de água em todo o mundo.

Para debater a Política Nacional de Re-cursos Hídricos em um cenário de com-prometimento de disponibilidade hídrica estiveram presentes, durante o Congresso, o Coordenador da Rede de Recursos Hídri-cos da Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Percy Baptista Soares Neto; o Advogado Especialista em Recur-sos Hídricos, Tácito Ribeiro de Matos; e o Diretor-Presidente do Instituto BioAtlântica, Eduardo Figueiredo. O encontro foi media-do pela Superintendente-Executiva da Asso-ciação Mineira de Defesa do Meio Ambien-te (AMDA), Maria Dalce Ricas.

Complementando estes dados, o Pla-no Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais, elaborado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) em 2011, informa que a vazão total captada de água para a mineração no Estado é da ordem de 29.170 litros/segundo, sendo 98% deste total pro-venientes de captação em cursos de água

superficiais. Tal volume representa apenas 11% da demanda total estimada em Minas Gerais, maior estado minerador do Brasil.

Isso mostra, portanto, a necessidade de desmistificar as operações do segmento, va-lorizando sua importância para o bem-estar de toda a sociedade e, ao mesmo tempo, promover o conceito de gestão integrada de recursos naturais, no entendimento de que o meio ambiente não pode ser consi-derado um setor específico e estanque, mas a base que permeia todos os demais seto-res, em todos os níveis, ou os transpõe de forma transversal.

De acordo com Soares Neto, entre os desafios da indústria, no que compete ao tema, estão qualificação da participação da mineração, ao fazer a informação circular, criar quadros de referência comuns em um setor heterogêneo e promover a mudança de sua imagem, despertando a proativida-de frente à questão ambiental. Segundo ele, entre as premissas para a atuação estão se-riedade, confiabilidade e credibilidade e a capacidade de avaliar os impactos de uma política pública na atividade mineral. “A crí-tica por si só não resolve. O diálogo entre divergentes só é produtivo em combinação com a apresentação de soluções alternati-vas”, argumentou Soares Neto.

Já o Advogado Tácito Ribeiro de Matos le-vantou a questão dos encargos, como a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscaliza-ção das Atividades de Exploração e Aprovei-tamento de Recursos Hídricos (TFRH) foram explorados pelo Advogado Tácito Ribeiro de Matos. A cobrança foi regulamentada no Estado do Pará em fevereiro de 2015 e, de acordo com o Decreto nº 1.227/15, publi-cado no Diário Oficial, todos aqueles que utilizarem os recursos hídricos como insumo no processo produtivo ou com a finalidade de exploração ou aproveitamento econômi-co deverão recolher aos cofres estaduais o correspondente a 0,2 da Unidade Padrão Fiscal do Estado do Pará (UPF-PA) por metro cúbico do recurso hídrico utilizado.

O Palestrante também apontou as ques-tões relacionadas à ação direta de inconsti-tucionalidade da cobrança. Entre elas, está o fato de que o Pará não seria competente para o exercício de poder de polícia sobre boa par-te dos recursos hídricos que o banham, como o Rio Amazonas, Tapajós, Tocantins, Xingu e Jari, uma vez que transcendem os territórios de mais de um Estado. Além disso, o ato de outorga representa reconhecimento dos re-quisitos para que o particular explore os re-cursos hídricos sem prejuízo ao meio ambien-te, não podendo dois entes outorgar, havendo o risco de conflito de decisões, entre outras.

Outro destaque foi a apresentação do Programa de Disponibilidade de Água da Ba-cia do Rio Doce foi apresentado pelo Diretor--Presidente do Instituto BioAtlântica, Eduar-do Figueiredo. A iniciativa, que tem como objetivo aumentar a disponibilidade hídrica da bacia, deve articular programas públicos e privados para o planejamento integrado das ações de adequação. Para isso, está sendo ar-ticulado protocolo de intenções entre Minas Gerais e Espírito Santo, termo de compromis-so entre a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), deliberações de apoio dos CBHs do Rio Doce e Termos de Cooperação Técnica com órgãos gestores, empresas e or-ganizações não governamentais.

Aproveitamento dos recursos hídricos: um cenário de transformação para o setor

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 16

Merval Pereira mostra preocupação com o cenário político do País

A palestra especial ‘Panorama Político no Brasil’, proferida pelo Jornalista da Rede Globo e Membro da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, abriu a programação do quarto e último dia do 16º Congresso Brasileiro de Mineração, que aconteceu no Expominas, em Belo Horizonte (MG).

O Jornalista comentou sobre a agenda po-licial que, atualmente, substituiu os noticiá-rios político e econômico do País. “Nenhum país vive esse processo dessa forma. Essa é uma investigação que está em curso e vai le-var alguns anos até ser concluída”, disse. No entanto, cada nova prisão ou divulgação de trecho de delação premiada tem impacto di-reto sobre a situação política nacional.

A situação de instabilidade é inquestio-nável, segundo Merval Pereira. “O PMDB está teoricamente aliado ao PT que, por sua vez, não sabe o que acontecerá no futuro próximo com as alianças feitas com lide-ranças como Eduardo Cunha ou Renan Ca-lheiros – que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato. Com isso, não há possi-bilidade de construir uma saída política para a crise”, afirmou.

A possibilidade de afastamento da Pre-sidente Dilma Rousseff, para o Jornalista,

dependeria da existência de um governo de coalizão. No entanto, o PSDB tem resistên-cia em falar em acordo, devido à situação do PMDB em relação à Lava Jato.

Na parte econômica, a situação não está melhor. O pacote de ajuste fiscal e o envio, para o Congresso Nacional, do orçamen-to com déficit assustaram os investidores. Por outro lado, a tentativa de emplacar a Compensação Provisoria sobre Movimen-tação Financeira (CPMF) também não está fácil, graças à resistência do Legislativo Fede-ral. Isso demonstra que o governo não tem sustentação da sua base parlamentar.

“Se o regime político do Brasil fosse par-lamentarista, a situação seria facilmente re-solvida, com a queda do Primeiro Ministro”, enfatizou. Mas as coisas não são tão simples assim. Em relação ao processo de impeach-ment, há um trâmite a ser seguido até a con-clusão final. Pereira explicou que não é pos-sível destituir a presidente Dilma Rousseff com base na má gestão ou em suposições e denúncias de corrupção.

Tanto os orçamentos como as contas de campanha estão sendo analisados pelos órgãos competentes que são o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Tribunal Superior

Eleitoral (TSE), que já abriram prazos para apresentação de defesa, conforme previsto. Até lá, o correto a fazer, segundo o Jornalis-ta, o correto a se fazer é preservar a imagem do País. No entanto, quando o Congresso rejeita as reformas, demonstra-se claramen-te um cenário de falta de governabilidade, o que não é bom para a economia.

Pereira adiantou que o ex-Presiden-te Luiz Inácio Lula da Silva tem trabalhado nos bastidores para convencer a Presidente Dilma Rousseff a desistir do pacote fiscal e apostar em uma política de incentivos que seguiria o modelo desenvolvimentista-po-pulista. “Essa seria uma solução interessante para o problema da popularidade da Presi-dente, mas terá reflexos como o aumento da inflação”, ressaltou.

A receita para mudar o Brasil é conheci-da. Nos seus oito anos de governo, o Ex-Pre-sidente Fernando Henrique Cardoso propôs diversas reformas. Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, em 2002, devido à sua disposição em transformar esses projetos em realidade. A Presidente Dilma Rousseff também não emplacou nenhuma iniciativa do gênero no seu primeiro mandato e reelegeu-se em um clima de extrema tensão política.

“A hegemonia política do PT deveria ter chegado ao fim em 2014, já que, desde 2006, o partido perde espaço eleitoral no Brasil”, observou o Jornalista. No entanto, o que tem acontecido é uma sucessão de con-chavos para conquistar o apoio do Congres-so Nacional e, consequentemente, assegurar a permanência da Presidente no governo.

Mas, segundo Merval, o principal ganho do País não deve se efetivar nos próximos três anos. Ele acredita que depois de quatro anos com crescimento pífio, o Brasil ingres-sou definitivamente em uma temporada de paralisia econômica e com gastos públi-cos maiores do que a arrecadação. A luz no final do túnel, disse, pode aparecer em 2018. A possibilidade do surgimento de ou-tro candidato de oposição é uma hipótese a ser considerada.

Palestra Especial sobre o Panorama Político no Brasil com o Jornalista Merval Pereira foi o destaque na manhã do último dia do Congresso

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 17

O Coordenador de Geologia e Mineração do IBRAM, Edmilson Rodrigues da Costa, a Assessora da Superintendência de Clientes Institucionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), Maria Alice de Gusmão Veloso, o Assessor de Relações Externas da Samarco e Conselheiro Suplente do IBRAM, Fernando Schneider Künsch e o Especialista em Comunicação da Vale S.A., Cristiano Cunha , fizeram parte da mesa que discutiu o panorama da mineração em Minas Gerais e estratégias de comunicação do Setor Mineral junto aos stakeholders

A real importância da atividade mineral para a economia do Estado de Minas Ge-rais é retratada no estudo ‘O Panorama da Mineração em Minas Gerais’, realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Funda-ção Getúlio Vargas (FGV/IBRE) em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM (www.ibram.org.br) e o Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (SINFERBASE).

Com uma linguagem clara e objetiva, a publicação mostra o papel fundamental da mineração no desenvolvimento de Minas Gerais desde o ciclo do ouro, no período colonial, aos dias de hoje. Nas páginas inter-meadas de textos e gráficos, é possível vis-lumbrar a evolução da mineração em várias partes do Estado, inclusive, em municípios de grande relevância histórica.

O livro, que está em fase de formata-ção, foi um dos destaques do Congresso no painel ‘O Panorama da Mineração em Mi-nas Gerais: estudos recentes da Fundação Getúlio Vargas e as oportunidades para o fortalecimento das estratégias de comunica-ção no Setor Mineral’.

O debate foi moderado por Fernando Schneider Künsch , Assessor de Relações Externas da Samarco Mineração, Conselhei-ro Suplente do IBRAM e Coordenador dos

Comitês de Comunicação do IBRAM e do Sindiextra, entidades que supervisionaram a elaboração do livro.

Segundo Künsch, por sua riqueza de in-formações sobre o Setor Mineral em Minas Gerais e também no País, o Panorama é um importante instrumento para que empresá-rios e profissionais da Mineração, autorida-des e toda a sociedade conheçam a traje-tória da atividade e sua importância para o crescimento socioeconômico.

Para o Especialista em Comunicação da Vale S.A., Cristiano Cunha, um dos profis-sionais que integra do Grupo de Trabalho de Comunicação do IBRAM e do Sindiextra, o Panorama é uma ferramenta de comunica-ção da Indústria da Mineração com a socie-dade. “O setor tem o desafio de comunicar com a comunidade e de avaliar a qualidade dos relacionamentos que constitui com seus diversos interlocutores”, enfatizou.

Outro participante do GT de Comunica-ção do IBRAM, o Geólogo, PhD e Coorde-nador de Geologia e Mineração do IBRAM, Edmilson Rodrigues da Costa, o livro é um roteiro para futuras pesquisas que deverão ser realizadas pelas empresas do setor. Isso porque o estudo traz uma seleção comple-ta de gráficos e ilustrações que mostram a localização das substâncias minerais por

Estudo da FGV conta a história da mineraçãomesorregiões e, também, o histórico de in-vestimentos realizados no Estado a partir de 2006, além de projeções até 2018. Com uma linguagem fácil, o estudo contempla a descrição econômica da realidade dos mu-nicípios mineradores de Minas Gerais.

Para a Assessora da Superintendência de Clientes Institucionais do Instituto Bra-sileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV), Maria Alice de Gusmão Veloso, o estudo visa fornecer informações à elaboração de um plano de ação voltado a melhorar a imagem do setor junto aos seus vários steakholders. “Nosso objetivo é revelar a importância do Setor Mineral para o País, a partir de dados oficiais e públicos”, ressaltou.

Maria Alice também destacou a impor-tância do relato dos projetos de conservação de bens culturais e de preservação ambien-tal desenvolvidos pelas mineradoras em co-munidades onde há minas instaladas.

Outro conteúdo interessante, na opinião da Assessora da FGV, são as ilustrações sobre a aplicação dos principais minerais produzi-dos no Estado. “Geralmente, as pessoas sa-bem o que é uma mineradora, mas não têm ideia do que ela faz realmente”, explicou.

As fontes usadas pelo grupo de pesqui-sadores incluem dados relativos ao período 2006 a 2014 do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC),da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), da Fundação João Pinheiro em Minas Gerais, além de ar-quivos do IBRAM e da FGV. O trabalho teve duração de oito meses.

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Praticamente em todos os municípios brasileiros há atividade empresarial de mine-ração, principalmente, de pequeno e médio porte. Estas empresas são indutoras de desen-volvimento local e regional, gerando emprego e renda, além de oportunidades diversas para a sociedade. De acordo com levantamen-tos realizados em 2013 pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Brasil possui 8.870 empresas mineradoras. Deste total, apenas 236 estão classificadas como grandes empresas. Isso quer dizer que todo o restante está dividido em médias (1.233), pequenas (2.815) e micro (4.116) mineradoras – o que demonstra a importância destas organizações para a economia local.

Dados do Ministério do Trabalho e Em-prego (MTE) também revelam a força do Se-tor Extrativo Mineral: são 214.070 empregos diretos e quase 2,7 milhões de trabalhadores envolvidos de alguma forma com a ativida-

de de mineração. Outra estimativa, desta vez realizada pelo Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM (www.ibram.org.br), projeta uma produção equivalente a US$ 38 bilhões em 2015.

Diante desse cenário, não há como ig-norar as questões de natureza política, fi-nanceira, tecnológica, gerencial e socioam-biental que, comumente, trazem impactos à competitividade e à produtividade destas companhias. Este foi o tema do painel ‘O papel da pequena e média mineração no desenvolvimento regional’, mediado pelo Diretor-Geral do DNPM, Celso Luiz Garcia.

O Presidente-Executivo da Associa-ção Nacional das Entidades de Produto-res de Agregados para a Construção Civil (ANEPAC), Fernando Mendes, expôs as di-ficuldades das pequenas e médias empre-sas de agregados: “Em muitos países existe

legislação específica para atender às reivin-dicações dos mineradores versus deman-da crescente decorrente da urbanização. No Brasil, a mineração de agregados é reco-nhecida como atividade importante para a melhoria do padrão de vida da população, porém, prevalece a noção distorcida de que os recursos são abundantes. Além disso, não há programas continuados para levantamen-to de recursos e a discussão de soluções para a remoção dos entraves legais e burocráti-cos; a atividade não é priorizada”.

De acordo com Valverde, nos Estados Unidos, agregados aplicados em obras de infraestrutura são classificados como mi-nerais estratégicos e críticos e têm o licen-ciamento da atividade mineral facilitado, diferentemente do que acontece no Brasil, onde o consumo de agregados per capita ainda está abaixo da média mundial e muito aquém dos países desenvolvidos e dos que passaram por processo de desenvolvimento. “O ordenamento territorial é o instrumento de política pública fundamental para a sus-tentabilidade e a competitividade da mine-ração de agregados”, disse.

A solução, segundo o palestrante, se apoia em eixos principais: alteração de visão dos setores de planejamento (com destina-ção de áreas para garantia de suprimento futuro, preservação das jazidas existentes e disciplinamento da ocupação do entorno), modificação do entendimento da socieda-de e mudança de comportamento do setor empresarial, com uma atitude proativa com os legisladores, boas práticas em governança corporativa e envolvimento com as comuni-dades locais, entre outras ações.

Painel ‘O papel da pequena e média mineração no desenvolvimento regional’

Pequenas e médias empresas: o motor da economia regional

Rochas ornamentais e o carvão

O panorama das pequenas e médias empresas de mineração no Espírito Santo foi apresentado pelo Diretor-Executivo do Sindicato da Indústria de Rochas Orna-mentais, Cal e Calcários do Estado (Sindi-rochas), Romildo Ribeiro Tavares. Segundo o Sindirochas, em 2014 o Estado produziu quatro milhões de toneladas de rochas or-namentais. No entanto, apesar das várias características positivas relacionadas a esta cadeia, como flexibilidade e desenvolvi-mento de atividades com baixa intensida-

de de capital, entre outras, as pequenas empresas enfrentam problemas primários, como a dificuldade para obtenção de cré-dito, deficiências tecnológicas e, acima de tudo, carga tributária elevada.

No setor de carvão, para melhorar a competitividade, o Presidente da Associa-ção Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Luiz Zancan, afirmou que as em-presas desenvolveram algumas estratégias, como o Programa de Modernização de Usinas Térmicas e a estruturação de uma política industrial para a cadeia do carvão.

“A ABCM está comprometida em bus-car a segurança de suprimento de combus-tível para o Brasil de uma forma sustentá-vel. Entretanto, o Presidente da Associação acredita que para mudar o cenário é fun-damental a implantação de uma política industrial integrada para o Carvão Mi-neral nacional. “A evolução da indústria de carvão foi condicionada pela política energética do país. A ênfase dessa políti-ca na energia hidrelétrica e, mais recente-mente, nas fontes alternativas de energia, limitou o aproveitamento das reservas de carvão”, esclareceu.

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 19

Augusto Santos Lobo, que, juntamente com a Geóloga, PhD em Ciências e Consultora, Ana Cláudia Neri, apresentou o Guia de Boa Práticas Ambientais em Áreas Cársticas. A apresentação Gestão do Patrimônio Espe-leológico em Formações Ferríferas: Lições Aprendidas e Boas Práticas Desenvolvidas pela Vale S.A. ficou por conta do Gerente de Licenciamento Ambiental e Espeleologia da empresa, Rodrigo Dutra Amaral.

O encontro contou, ainda, com um de-bate, do qual participaram o Presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfe-ra da Mata Atlântica (CN-RBMA), Clayton Ferreira Lino; o Presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), Marcelo Augusto Rasteiro; a Gerente Global de Meio Ambiente da Votorantim Cimentos, Patrícia Monteiro Montenegro; e o Gerente Execu-tivo de Planejamento Estratégico e Desen-volvimento de Novos Negócios Ferrosos da Vale, Lúcio Cavalli.

As atividades minerárias e a preservação do patrimônio espeleológico constituem uma das maiores preocupações da atual gestão do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM (www.ibram.org.br). Esta é uma das razões pelas quais a entidade promoveu, durante o 16º Congresso Brasileiro de Mineração, o painel ‘Mineração e Patrimônio Espeleoló-gico: boas práticas apontam como compa-tibilizar a preservação e o uso sustentável’. O objetivo foi discutir a compatibilização de políticas públicas que resultem na preserva-ção do patrimônio espeleológico brasileiro e a atividade econômica, de forma a atender às demandas da sociedade moderna. Este tem se mostrado um grande desafio para o País e avanços na discussão entre o setor produtivo e a sociedade civil e comunidade ambiental e espeleológica têm apontado que soluções racionais são possíveis.

O tema foi abordado pelo Professor da Universidade Federal de São Carlos, Heros

Contexto

A preservação espeleológica é um dos principais desafios para a mineração em todo o País, sendo o assunto centro de di-versos debates com efetiva participação do IBRAM e grande empenho por parte de seu Diretor-Presidente, o Engenheiro José Fer-nando Coura. A relevância deste debate está fortemente associada à inexistência de uma legislação ambiental satisfatória, que dê aos processos minerários, principalmente em casos de empreendimentos de utilidade pú-blica e interesse social, a celeridade neces-sária ao mesmo tempo em que haja o reco-nhecimento do que deve, efetivamente, ser classificado como patrimônio natural.

A fim de buscar as soluções mais ade-quadas para a matéria, recentemente foi firmado entre o IBRAM e a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), um docu-mento de fundamental importância para o

Preservação espeleológica: a oportunidade e o gargalo do Setor Mineral

Painel ‘Mineração e Patrimônio Espeleológico, boas práticas apontam como compatibilizar a preservação e o uso sustentável’

Ano X – nº 71, Outubro de 2015Indústria da Mineração 20

desenvolvimento do Setor Minerário: o Termo de Cooperação Técnica. Este tem como objetivo estabelecer ações práticas que permitam o “avanço das políticas públi-cas e o incremento da participação da co-munidade espeleológica em sua discussão, passando pela proposição de uma Política Nacional de Proteção e de Uso Responsá-vel do Patrimônio Espeleológico Brasileiro”. Para o Presidente do CN-RBMA, as portas para as discussões relacionadas ao assunto estão sendo abertas por estas iniciativas.

O momento também foi valorizado pelo Gerente Executivo de Planejamento Estraté-gico e Desenvolvimento de Novos Negócios Ferrosos da Vale, Lucio Cavalli, para quem a aliança entre as entidades marca um cami-nho promissor para equacionar a questão da compatibilização da preservação do patri-mônio espeleológico e da atividade mineral.

Legislação

A legislação brasileira de conservação do patrimônio espeleológico apresenta algumas diferenças fundamentais em relação a outros países mineradores. A principal delas está relacionada às normas específicas quanto à classificação da relevância das cavernas, di-ficultando a análise dos órgãos ambientais. “A legislação ambiental brasileira é específica e profundamente detalhada quanto à classifi-cação da relevância de cavernas, dificultando a aplicação e a análise do órgão ambiental. Além disso, o processo está fora do escopo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)”, explicou o Gerente de Licenciamento Ambiental e Es-peleologia da Vale, Rodrigo Dutra Amaral.

Em sua apresentação, Dutra mostrou como diferentes países tratam a preservação do patrimônio. Segundo ele, na Austrália não há uma norma específica, mas o valor ambien-tal da caverna é dado pelo contexto em que

se insere ou pelo significado de seu conteúdo biológico ou cultural. Outro fator de separação é o fato de que a legislação, neste País, concilia o desenvolvimento econômico e a geração de conhecimento sobre espeleologia.

Em países como o Canadá, Chile e França a necessidade de proteção às cavernas tam-bém considera o elemento relevância e valor ambiental, enquanto que na África do Sul a questão está associada à preservação de áreas cársticas. Já os Estados Unidos possuem uma legislação diferenciada, pois a classificação em significativa e não significativa suporta a intervenção em cavernas; os critérios para isso são claros e assertivos o suficiente para a real triagem das ocorrências significativas e há foco no gerenciamento do patrimônio.

Na avaliação do representante da Vale, a solução para estas questões no País, no en-tanto, ainda parece estar um pouco distan-te, uma vez que a análise de relevância das cavidades, segundo a Instrução Normativa MMA nº 2/2009, apresenta diversos proble-mas em sua aplicação, sendo um dos prin-cipais entraves dos licenciamentos ambien-tais no Brasil. Além disso, de acordo com Amaral, os elevados custos para os estudos de análise de relevância e a dependência de especialistas que, muitas vezes, estão fora do País, são outros gargalos enfrentados.

Apesar de tudo isso, ganhos para o setor foram registrados nos últimos anos. “Mesmo com os problemas com a legislação vigente, é imperativo destacar que a evolução do co-nhecimento (publicações científicas, novas tecnologias e capacitação técnica de profis-sionais) foi bastante significativa em função dos licenciamentos ambientais. A discussão e a implementação de um novo marco legal, baseado na conservação do patrimônio es-peleológico, e não na preservação de única cavidade, é uma necessidade premente da sociedade brasileira”, explicou.

PARCERIA

O Guia de Boas Práticas de Mine-ração de Calcário em Áreas Cársti-cas, uma cooperação técnica entre a Votorantim Cimentos, Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Socie-dade Brasileira de Espeleologia, nor-teou a apresentação do Professor da Universidade Federal de São Carlos, Heros Augusto Santos Lobo, e da Geóloga, PhD em Ciências e Con-sultora, Ana Cláudia Neri. O estudo foi criado para desenvolver, imple-mentar e difundir boas práticas de mineração em áreas cársticas e no entorno das Unidades de Conser-vação e em áreas de Mata Atlântica que contribuam para a conservação da biodiversidade e a proteção do patrimônio espeleológico.

O documento está dividido em três capítulos, além da introdução. Ele contribui para a conscientização sobre importância e significado dos ambientes cársticos e seus recursos, reduzindo os riscos de a empresa operar em situação de não confor-midade legal, estimulando o com-promisso ético com o uso de bases científicas robustas em todas as de-cisões e estratégias, além de estabe-lecer benchmark e possibilitar novos avanços (melhoria contínua), a par-tir do alinhamento com as recomen-dações internacionais da Cement Sustainability Initiative (CSI).

São destacadas também recomen-dações de boas práticas para pre-venir e mitigar impactos ambientais e sociais adversos decorrentes da mineração de calcário sobre os am-bientes cársticos. Entre estas, des-tacam-se a necessidade de registro e documentação de programas de revegetação, monitoramento da ve-getação nas áreas em vias de recu-peração, por meio de indicadores apropriados e a realização de levan-tamento do potencial arqueológico da área da mina e entornos.

“A DISCUSSÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DE UM NOVO MARCO LEGAL, BASEADO NA CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

ESPELEOLÓGICO, E NÃO NA PRESERVAÇÃO DE ÚNICA CAVIDADE, É UMA NECESSIDADE PREMENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA”.

Rodrigo Dutra Amaral

Indústria da Mineração Ano X – nº 71, Outubro de 2015 21

Indústria da mineração amplia práticas envolvendo produtos e serviços sustentáveisEXPOSIBRAM, maior feira de mineração da América Latina, apresentou inovações

em práticas sustentáveis para extração e reaproveitamento de materiais

A sustentabilidade dos processos e a preocupação com o uso racio-nal de recursos naturais foram temas de grande relevância entre os ex-positores da EXPOSIBRAM 2015. Ao longo dos quatro dias de realiza-ção do evento, cerca de 60 mil pessoas visitaram os 400 estandes, que apresentaram ao público as últimas inovações da Indústria Mineral.

O reaproveitamento hídrico foi um dos exemplos. A canadense Solex Thermal Science, que participou pela primeira vez, apresentou uma solução para aquecimento e resfriamento de minérios utilizan-do a água como condutor térmico. O diferencial da tecnologia fica por conta da possibilidade de recuperação de energia térmica, pois a água quente pode ser reaproveitada em outros processos, como aquecimento de material mineral no forno siderúrgico.

Pioneira no Brasil na execução de serviços de hidrogeologia apli-cados à mineração, a MDGEO apresentou seu catálogo de serviços e aproveitou a oportunidade para esclarecer dúvidas dos visitantes a respeito dos impactos que a extração de minério pode causar aos recursos hídricos e de que maneira as mineradoras podem exercer seu trabalho preservando o meio ambiente, uma preocupação cada vez mais constante e crescente.

A empresa alemã Flottweg demonstrou como é possível fazer a separação mecânica de resíduos sólidos e líquidos de forma eficiente, por meio do uso da tecnologia e de equipamentos de última geração. Entre os benefícios desse processo estão diminuição do volume dos rejeitos e, consequentemente, a redução dos impactos ambientais.

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Inovação

No estande da Vale S.A., os destaques foram os processos, inovações e responsa-bilidade ambiental, tudo isso demonstrado por meio da tecnologia de realidade virtual em 3D. A apresentação de um dos princi-pais projetos da mineradora, o S11D, tam-bém chamou a atenção do público. Com sua execução estima-se que sejam extraídas cerca de 90 milhões de toneladas de miné-rio de ferro por ano, o que complementará a produção da empresa no Complexo de Carajás, no Pará.

No estande da Anglo American, o ‘Mine-rotúnel’, uma mini sala de cinema e um game interativo foram as atrações. Além disso, hou-ve muita transmissão e aquisição de conheci-mento, experiências e exposição de melhores práticas, que fortalecem o segmento.

“Recebemos mais de 1800 pessoas em nosso estande, que tiveram oportunidade, por exemplo, de visitar o Minerotúnel, uma mini sala de cinema, com vídeos sobre nos-sas operações, o espaço Great Place to Work

(GPTW) para cadastro de currículos e de jo-gar um game interativo sobre os produtos da empresa no Brasil (minério de ferro, níquel, fosfato e nióbio)”, pontuou Arthur Liacre, Diretor de Assuntos Corporativos da Unida-de de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American.

Outro exemplo prático da aplicação mineral foi apresentado pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que contou com um estande ao ar livre na feira. Lá, foram expostas caçam-bas utilizadas em tratores e escavadeiras, pintadas com cores distintas a fim de de-monstrar a diferença de densidade e resis-tência das ligas de ferro e nióbio emprega-das em sua fabricação.

Quem quis saber como funciona a opera-ção do maquinário utilizado na extração do minério foi conferir o estande do Serviço Na-cional de Aprendizagem Industrial (SENAI). A entidade levou para a EXPOSIBRAM uma escola móvel. Para a experiência, foram ins-talados dois simuladores – um deles imitava a cabine de controle de uma escavadeira

hidráulica e outro reproduzia um caminhão fora de estrada, de grande porte, especiali-zado em serviços pesados na mineração.

A Feira também contou com o ‘Espaço Sustentabilidade’, formado pelas empresas SSMA Consultoria Ambiental; Promine Mineração, Engenharia e Construções; Trienge Projetos e Serviços; Trust Gestão e Sustentabilidade; e Campo. No local, os visitantes puderam tirar dúvidas e buscar informações sobre assuntos como licencia-mento e monitoramento ambiental, drena-gem ácida de mina, higiene ocupacional e avaliação de áreas contaminadas, além de conhecer um pouco mais sobre os serviços prestados pelas empresas.

Já o Gerente Comercial da Geosol, Thia-go Silman, a EXPOSIBRAM funciona como um termômetro do mercado. “O evento serve para mostrar a solidez do setor”, ava-liou. A opinião é compartilhada pelo Ge-rente de Vendas e Treinamento Externo da PUR, Romildo Assis. “A feira contribui para o incremento dos negócios com os clientes da empresa”, afirmou.

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