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Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural ANTEPROJECTO DE LEI DAS FLORESTAS, FAUNA SELVAGEM E ÁREAS DE CONSERVAÇÃO TERRESTRES ASSEMBLEIA NACIONAL Lei nº ..../06 De ...... A Lei Constitucional estabelece no número 2 do artigo 24º que cabe ao Estado adoptar «as medidas necessárias à protecção do meio ambiente e das espécies da flora e fauna nacionais» e «à manutenção do equilíbrio ecológico». Dispõe ainda, no número 2 do artigo 12º, que o Estado deve promover «a defesa e conservação dos recursos naturais, orientando a sua exploração e aproveitamento em benefício de toda a comunidade». Estes princípios da Lei Constitucional têm vindo a ser concretizados em legislação sobre ambiente e recursos naturais como a Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 5/98, de 19 de Junho), a Lei do Ordenamento do Território (Lei nº 3/ 04, de 24 de Junho), a Lei de Terras (Lei nº 9/04, de 9 de Novembro) e a Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos (Lei nº 6A/04, de 8 de Outubro). Para além disso, Angola aderiu a convenções internacionais de grande importância na definição dos regimes jurídicos dos recursos biológicos, das quais se destacam as Convenção sobre a Diversidade Biológica, a Convenção sobre o Combate à Desertificação e a Convenção sobre as Espécies Migratórias da Fauna Selvagem, das quais decorrem obrigações internacionais do Estado angolano no domínio da protecção da flora silvestre e da fauna selvagem. Ora a legislação sobre florestas e fauna selvagem em vigor em Angola, em especial os decretos nº 40040, de 9 de Fevereiro de 1955, e nº 44531, de 22 de Agosto de 1962 (Regulamento Florestal), bem como o Diploma Legislativo nº 2873, de 11 de Dezembro de 1957 (Regulamento de Caça), está manifestamente desactualizada face às exigências da conservação e gestão sustentável destes recursos, em especial as que decorrem da Lei Constitucional e dos tratados internacionais de que Angola é parte.

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Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural

ANTEPROJECTO DE LEI DAS FLORESTAS, FAUNA SELVAGEM E ÁREAS DE CONSERVAÇÃO TERRESTRES

ASSEMBLEIA NACIONAL

Lei nº ..../06 De ......

A Lei Constitucional estabelece no número 2 do artigo 24º que cabe ao Estado adoptar «as medidas necessárias à protecção do meio ambiente e das espécies da flora e fauna nacionais» e «à manutenção do equilíbrio ecológico».

Dispõe ainda, no número 2 do artigo 12º, que o Estado deve promover «a defesa e conservação dos recursos naturais, orientando a sua exploração e aproveitamento em benefício de toda a comunidade».

Estes princípios da Lei Constitucional têm vindo a ser concretizados em legislação sobre ambiente e recursos naturais como a Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 5/98, de 19 de Junho), a Lei do Ordenamento do Território (Lei nº 3/ 04, de 24 de Junho), a Lei de Terras (Lei nº 9/04, de 9 de Novembro) e a Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos (Lei nº 6­A/04, de 8 de Outubro). Para além disso, Angola aderiu a convenções internacionais de grande importância na definição dos regimes jurídicos dos recursos biológicos, das quais se destacam as Convenção sobre a Diversidade Biológica, a Convenção sobre o Combate à Desertificação e a Convenção sobre as Espécies Migratórias da Fauna Selvagem, das quais decorrem obrigações internacionais do Estado angolano no domínio da protecção da flora silvestre e da fauna selvagem.

Ora a legislação sobre florestas e fauna selvagem em vigor em Angola, em especial os decretos nº 40040, de 9 de Fevereiro de 1955, e nº 44531, de 22 de Agosto de 1962 (Regulamento Florestal), bem como o Diploma Legislativo nº 2873, de 11 de Dezembro de 1957 (Regulamento de Caça), está manifestamente desactualizada face às exigências da conservação e gestão sustentável destes recursos, em especial as que decorrem da Lei Constitucional e dos tratados internacionais de que Angola é parte.

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Assim, a presente lei visa assegurar que o uso das florestas e da fauna selvagem terrestre se paute pelos princípios constitucionais e do Direito Internacional relevantes, em especial os princípios do desenvolvimento sustentável e da protecção do ambiente. Estabelece os princípios e objectivos a que deve obedecer o uso e exploração dos recursos florestais e faunísticos, bem como da diversidade biológica terrestre, e os instrumentos para a sua gestão sustentável. Regula ainda as actividades relativas aos recursos florestais e faunísticos e estabelece os regimes de concessão de direitos a eles relativos, no quadro da salvaguarda da igualdade de oportunidades e da participação de todos os cidadãos no processo de desenvolvimento económico e social do País. Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88º da Lei Constitucional, a Assembleia Nacional aprova o seguinte:

LEI DAS FLORESTAS, FAUNA SELVAGEM E ÁREAS DE CONSERVAÇÃO TERRESTRES

Título I Disposições Gerais

Capítulo I Disposições comuns

Artigo 1º Objecto

Na presente lei são estabelecidas as normas que visam garantir a conservação e uso sustentável das florestas e fauna selvagem terrestres existentes no território nacional, bem como a criação e gestão de áreas de conservação e, ainda, as bases gerais do exercício de actividades com elas relacionadas.

Artigo 2º Âmbito de aplicação

A presente lei é aplicável às florestas e fauna selvagem terrestres, bem como à sua diversidade biológica, e às actividades com eles relacionadas.

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Artigo 3º Definições

As expressões, termos e conceitos utilizados na presente Lei, se não resultar o contrário do respectivo contexto, têm o significado constante das definições seguintes:

«Acompanhamento» ­ a recolha, compilação, análise e prestação de informação sobre os recursos florestais e faunísticos e actividades com eles relacionadas, incluindo sobre a sua transformação e comercialização.

«Arboreto» ­ a floresta de plantação para fins exclusivamente científicos, de educação e de lazer.

«Área de conservação» ­ uma área geograficamente delimitada que tenha sido classificada e regulamentada para atingir objectivos específicos de conservação, também designada terreno reservado.

«Caça» ­ a espera, perseguição, captura, apanha, mutilação, abate, destruição ou utilização de espécies de fauna selvagem, em qualquer fase do seu desenvolvimento, ou a condução de expedições para aqueles fins.

«Caçador especialista» ­ pessoa singular autorizada a exercer a caça como profissão e que se dedica à caça para fins de exploração de recursos faunísticos, incluindo a condução de excursões de caça ou o acompanhamento de turistas que estejam autorizados a caçar ou que desejem contemplar, fotografar ou filmar animais selvagens nos seus habitats naturais.

«Comunidades locais» ­ um grupo social coerente de pessoas residentes numa localidade com interesses ou direitos relativos aos recursos florestais ou faunísticos aí existentes, que essas pessoas possuem ou relativamente aos quais exercem direitos nos termos da lei, do costume ou de contrato.

«Comunidades rurais» ­ comunidades de famílias vizinhas ou compartes que, nos meios rurais, têm direitos colectivos de posse, gestão e de uso e fruição dos meios de produção comunitários, designadamente os terrenos rurais comunitários por elas ocupados e aproveitados de forma útil e efectiva, segundo os princípios de auto­administração e auto­gestão, quer para sua habitação, quer para o exercício da sua actividade, quer ainda para a consecução de outros fins reconhecidos pelo costume e pela legislação em vigor.

«Conhecimentos tradicionais» ­ os conhecimentos, inovações, práticas e tecnologias acumulados que são essenciais para a conservação e uso sustentável dos recursos florestais e faunísticos naturais ou que tenham valor sócio­económico e que foram desenvolvidos ao longo do tempo por comunidades ou por pessoas residentes numa dada localidade.

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«Conservação» ­ a protecção, manutenção, reabilitação, restauração e melhoramento das florestas e fauna selvagem, e seus recursos genéticos, bem como todas as medidas visando o seu uso sustentável.

«Conservação ex situ» ­ a conservação de componentes da diversidade biológica terrestre fora dos seus habitats naturais.

«Conservação in situ» ­ a conservação dos ecossistemas terrestres e dos habitats naturais dos recursos florestais e faunísticos e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies no seu meio natural.

«Corte» ­ o abate de recursos florestais para fins de exploração comercial. «Deflorestação» ­ a destruição ou corte indiscriminado de árvores sem a devida reposição.

«Degradação de terras» ­ a redução ou perda da produtividades biológica ou económica e da complexidade das terras agrícolas de sequeiro, das terras agrícolas irrigadas, das pastagens naturais, das pastagens semeadas, das florestas e das matas nativas devido aos sistemas de utilização da terra ou a um processo, ou combinação de processos, incluindo os que resultem das actividades humanas e das suas formas de ocupação do território;

«Derruba» ­ o arranque ou corte de árvores e arbustos para quaisquer fins, em especial agrícolas, mineiros ou de construção, nomeadamente de estradas e outras infra­estruturas.

«Desertificação» ­ o processo de degradação de terras, natural ou provocado pela remoção da cobertura vegetal ou pela utilização predatória que pode transformar essas terras em zonas áridas ou desertos.

Domínio público – bens propriedade do Estado que são inalienáveis, imprescritíveis e impenhoráveis, sem prejuízo da sua concessão temporária para a realização de fins de interesse público. Inclui os bens do domínio público das autarquias locais.

«Ecossistema» ­ qualquer processo complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microrganismos e o seu ambiente não vivo, que interage como uma unidade funcional;

«Ecossistema frágil» ­ aquele que, pelas suas características naturais e localização geográfica, é susceptível de rápida degradação dos seus atributos e de difícil recomposição.

«Empresa» ­ toda a organização ou empreendimento cujo objecto é a exploração de recursos florestais ou faunísticos.

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«Espécies ameaçadas de extinção» ­ as espécies, subespécies, variedades ou raças que não estão em extinção mas enfrentam um risco muito elevado de extinção no seu ambiente natural num futuro próximo; inclui as espécies cujos números se tenham reduzido drasticamente a um nível crítico ou cujos habitats tenham sido degradados de forma tal que ponha em perigo a sobrevivência da espécie.

«Espécies domesticadas ou cultivadas» ­ espécies cujo processo de evolução tenha sido influenciado pelos seres humanos para satisfazer as suas necessidades.

«Espécies em extinção» ­ as espécies, subespécies, variedades ou raças que enfrentam um risco extremamente elevado e eminente de extinção no seu ambiente natural.

«Espécies endémicas» ­ espécies que apenas ocorrem em território angolano.

«Espécies exóticas» ­ as espécies que não são indígenas em uma área específica;

«Espécies invasoras» ­ qualquer espécie que constitui ameaça para ecossistemas, habitats e outras espécies.

«Espécies migratórias» ­ as espécies que migram sazonalmente de uma zona ecológica para outra;

«Espécies vulneráveis» ­ as espécies, subespécies, variedades ou raças que, de acordo com a melhor prova disponível, são consideradas como em risco elevado de extinção no seu ambiente natural, em especial cujas populações, comparadas com níveis históricos, se tenham reduzido a níveis que ponham em causa a sua sustentabilidade.

«Exploração» ­ a colheita ou corte de recursos florestais ou a caça de recursos faunísticos para fins lucrativos, ainda que relativos a actividades de pequena escala.

«Fauna selvagem» ­ conjunto de animais terrestres selvagens, vertebrados e invertebrados, mamíferos, anfíbios, aves e répteis, de qualquer espécie, em qualquer fase do seu desenvolvimento, que vivem naturalmente, bem como as espécies selvagens capturadas para fins de pecuarização, excluindo os recursos aquáticos.

«Fiscalização» ­ a inspecção, supervisão e vigilância das actividades relativas a recursos florestais e faunísticos com vista a garantir o cumprimento da legislação aplicável, bem como as correspondentes medidas de gestão.

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«Floresta» ­ qualquer ecossistema terrestre contendo cobertura de árvores, ou de arbustos ou de outra vegetação espontânea; inclui os animais selvagens e microrganismos nela existentes.

«Floresta de plantação» ­ cobertura vegetal arbórea, contínua, obtida através do plantio de árvores de espécies indígenas ou exóticas.

«Habitat» ­ o local ou o tipo de sítio onde um organismo ou população ocorrem naturalmente.

«Inventário florestal» ­ a recolha, medição e registo de dados sobre a qualidade e o volume de recursos florestais, o estado de sua dinâmica, a sua regeneração e os produtos que se podem obter por unidade de superfície, de forma a fornecer informação para a gestão sustentável de uma dada região ou floresta, em particular.

«Inventário faunístico» ­ a recolha, medição e registo de dados sobre a composição por espécie ou número de animais, a densidade por unidade de superfície, a densidade por grupo etário e por sexo e o estado da densidade da população, de forma a fornecer informação para a gestão sustentável da fauna selvagem.

«Lei de Terras» ­ a Lei nº 9/04, de 9 de Novembro, ou lei que a venha a substituir.

«Mancha florestal» ­ cobertura de árvores e/ou arbustos num dado terreno rural.

«Ordenamento florestal» ­ o conjunto de medidas de natureza legal e administrativa específicas destinadas a assegurar a utilização racional, auto­ renovação e sustentabilidade dos recursos florestais.

«Período de defeso» ­ período do ano que coincide com a reprodução das espécies faunísticas, durante o qual as actividades de caça são proibidas ou limitadas em todo o país, ou em certas localidades ou de certas espécies.

«Período de repouso vegetativo» ­ período do ano que coincide com a reprodução florestal e crescimento de determinadas espécies florestais, durante o qual são proibidas ou limitadas as actividades de exploração florestal.

«Produto florestal» ­ qualquer recurso florestal que é colhido, ou de qualquer outro modo removido do seu estado natural, para uso humano; inclui os produtos manufacturados ou derivados de um recurso florestal.

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«Recurso florestal» ­ qualquer coisa ou benefício derivado das florestas, de valor actual ou potencial para a humanidade; inclui os recursos genéticos florestais e a energia derivada das florestas.

«Recurso faunístico» ­ qualquer coisa ou benefício derivado da fauna selvagem terrestre, de valor actual ou potencial para a humanidade; inclui os recursos genéticos da fauna selvagem.

«Recurso genético» ­ qualquer material de origem de vegetal, animal ou de microorganismos que contenha unidades funcionais de hereditariedade e que tenha valor actual ou potencial para a humanidade.

«Terrenos comunitários» ­ terrenos utilizados por uma comunidade rural segundo o costume relativo ao uso da terra, abrangendo, conforme o caso, as áreas complementares para a agricultura itinerante, os corredores de transumância para acesso do gado às fonte de água e as pastagens e os atravessadouros, sujeitos ou não ao regime da servidão, utilizados para aceder à água ou às estradas ou caminhos de acesso aos aglomerados urbanos.

«Terrenos florestais» ­ terrenos rurais aptos para o exercício das actividades silvícolas, designadamente para a exploração e utilização racional de florestas naturais ou plantadas, nos termos dos planos de ordenamento rural e da respectiva legislação especial.

«Troféu» ­ as partes duráveis dos animais selvagens, nomeadamente a cabeça, crânio, cornos, dentes, coiros, pêlos e cerdas, unhas, garras, cascos e ainda cascos de ovos, ninhos e penas desde que não tenham perdido o aspecto original por qualquer processo de manufactura.

«Uso sustentável» ­ a gestão e aproveitamento dos recursos recursos florestais e faunísticos de tal modo que sejam mantidas as funções ecológicas das florestas e da fauna selvagem e que não seja prejudicado o valor ecológico, económico, social e estético dos seus ecossistemas para as gerações actuais e futuras.

«Uso de subsistência» ­ a colheita ou corte de recursos florestais ou a caça de recursos faunísticos para fins de consumo próprio do autor dessas acções e de sua família, sendo os recursos excedentários apenas esporadicamente comercializados.

Artigo 4º Finalidades

As finalidades da presente lei são as seguintes:

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1. Promover a protecção do ambiente e da diversidade biológica, em especial das florestas e fauna selvagem e dos ecossistemas terrestres;

2. Assegurar a contribuição das florestas, da fauna selvagem e da diversidade biológica terrestres, bem como das actividades a elas relativas, para o desenvolvimento económico e social sustentável, para a segurança alimentar e para o bem­estar e qualidade de vida dos cidadãos, tendo em consideração os múltiplos usos destes recursos;

3. Estabelecer os princípios e regras gerais de conservação dos recursos florestais e faunísticos terrestres e seus ecossistemas, assegurando que sejam utilizados e explorados de forma sustentável e responsável;

4. Estabelecer os princípios e critérios gerais de acesso aos recursos florestais e faunísticos e da sua gestão sustentável, ordenamento e desenvolvimento, tendo em consideração os aspectos biológicos, tecnológicos, económicos, sociais, culturais e ambientais pertinentes;

5. Promover a investigação científica relativa aos recursos biológicos, diversidade biológica e ecossistemas terrestres.

Artigo 5º Princípios gerais

1. As florestas e fauna selvagem de Angola são um património nacional cuja protecção, preservação e conservação constituem obrigações do Estado, das pessoas singulares e colectivas que realizam actividades económicas e dos cidadãos.

2. Os recursos florestais e faunísticos terrestres de Angola, com excepção das espécies domesticadas e cultivadas e dos exemplares resultantes da pecuarização de animais selvagens, bem como de melhoramento de variedades de plantas e de raças de animais realizados por particulares, são propriedade do Estado e integram o domínio público.

3. Para além dos princípios referidos nos números anteriores, para os efeitos previstos nesta lei e seus regulamentos devem ainda ser observados os seguintes princípios:

o Do desenvolvimento sustentável; o Da realização dos direitos, liberdades e garantias fundamentais; o Do mínimo de existência, incluindo o direito à alimentação e o

correlativo acesso a recursos florestais e faunísticos para fins de subsistência;

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o Da não discriminação, da igualdade de oportunidades, da livre iniciativa económica e da defesa da concorrência;

o Do respeito pelos direitos de propriedade intelectual e pelos conhecimentos tradicionais relacionados com os recursos biológicos terrestres;

o Da participação de todos os interessados; o Da conservação da diversidade biológica nos seus diversos

níveis; o Do uso sustentável dos recursos florestais e faunísticos; o Da prevenção e da precaução; o Da gestão integrada dos recursos naturais; o Do ordenamento do território; o Da cooperação institucional; o Da valorização dos recursos florestais e faunísticos e da

diversidade biológica e do utilizador pagador; o Do aproveitamento útil e efectivo dos recursos sob concessão e

da capacidade adequada; o Do poluidor pagador; o Da responsabilização; o Da segurança jurídica.

4. Os princípios estabelecidos neste artigo são de cumprimento obrigatório para todos os intervenientes na gestão e uso de recursos florestais e faunísticos.

Artigo 6º Património florestal

1. Para os efeitos previstos nesta lei e seus regulamentos, as florestas são classificadas em florestas naturais e florestas plantadas.

2. O património florestal nacional, de acordo com o seu potencial, localização e forma de utilização, pode ser classificado como:

oFlorestas de conservação: as florestas constituídas por formações vegetais que realizam funções de conservação, manutenção e regeneração e que estão sujeitas a regimes de gestão especiais;

oFlorestas de produção: as florestas constituídas por formações vegetais de elevado potencial económico florestal, localizadas fora das áreas de conservação, e destinadas a exploração;

oFlorestas para fins especiais: as florestas constituídas por formações vegetais localizadas fora das áreas de conservação e utilizadas para fins especiais, como de defesa nacional, conservação ambiental, experimentação científica, de protecção de paisagens, de lazer, e culturais.

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3. Constituem ainda património florestal as árvores classificadas como de valor histórico ou outro de natureza cultural.

4. As espécies florestais são classificadas em função da sua raridade e valor ecológico, económico e sócio­cultural por listas de espécies a serem estabelecidas por diploma próprio.

Artigo 7º Património faunístico

O património faunístico é constituído pela fauna selvagem terrestre e é classificado em função da sua raridade e valor económico e sócio­cultural por listas de espécies a serem estabelecidas por diploma próprio.

Artigo 8º Obrigações do Estado

Cabe ao Estado assegurar a conservação das florestas, da fauna selvagem e da diversidade biológica e, em especial:

a) Assegurar a boa execução da presente lei e seus regulamentos;

b) Adoptar as medidas de ordenamento das florestas e da fauna selvagem visando a sua gestão e uso sustentável;

c) Conceder direitos sobre recursos florestais e faunísticos, nos termos desta lei e seus regulamentos, bem como da legislação em vigor, em especial sobre protecção do ambiente, ordenamento do território, terras e águas;

d) Assegurar a conciliação entre usos de florestas e da fauna selvagem e usos de outros recursos naturais, incluindo a gestão integrada dos recursos naturais e a coordenação institucional;

e) Assegurar que são devidamente avaliados os impactos de actividades económicas nas florestas, fauna selvagem e nos ecossistemas terrestres;

f) Assegurar a protecção e conservação in situ ou ex situ de espécies ou ecossistemas em extinção, ameaçados de extinção e vulneráveis ou de qualquer modo necessitando de medidas especiais de protecção;

g) Assegurar a criação e gestão sustentável de áreas sujeitas a regimes especiais para conservação in situ das florestas, fauna selvagem e seus ecossistemas;

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h) Tomar as medidas necessárias para assegurar a conservação ex situ dos recursos florestais e faunísticos, incluindo promovendo a criação e manutenção, por diversos tipos de interessados, em especial autarquias locais e instituições científicas, de jardins botânicos e zoológicos e de bancos de genes;

i) Assegurar a recuperação de habitats e ecossistemas degradados;

j) Promover a regeneração de espécies em extinção, ameaçadas de extinção ou vulneráveis e dos respectivos habitats;

k) Adoptar as medidas necessárias à preservação de solos e de recursos hídricos e à prevenção da degradação de terras;

l) Promover a identificação e classificação das espécies florestais e fauna selvagem terrestre, em especial das espécies que necessitam de especial protecção;

m) Criar e manter o cadastro florestal, bem como as bases de dados relativas ao estado dos recursos florestais e faunísticos necessárias à sua gestão sustentável;

n) Promover a investigação científica sobre as florestas e fauna selvagem, em especial o estudo da diversidade biológica angolana;

o) Promover a investigação tecnológica com vista à utilização óptima e sustentável dos recursos florestais e faunísticos e ao aumento da sua contribuição para o desenvolvimento económico e social;

p) Promover a introdução de novas tecnologias ambientalmente saudáveis;

q) Promover a educação e formação profissional nos diferentes domínios relacionados com as florestas, fauna selvagem, diversidade biológica terrestre e sua gestão sustentável;

r) Assegurar a implementação das medidas de fiscalização do cumprimento desta lei e seus regulamentos, bem como das pertinentes disposições do ordenamento.

Artigo 9º Direitos e obrigações das empresas

1. As pessoas singulares ou colectivas que pretendam exercer actividades económicas relativas a recursos florestais e faunísticos têm o direito de lhes serem concedidas as necessárias concessões ou autorizações, no caso de serem exigidas, e desde que tal seja permitido por esta lei e seus regulamentos, pelos planos de ordenamento ou por outros instrumentos visando a gestão sustentável dos recursos.

2. As pessoas referidas no número anterior têm ainda direito de acesso à informação sobre:

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o Os princípios e exigências da conservação e gestão sustentável dos recursos florestais e faunísticos;

o As medidas de ordenamento florestal ou faunístico adoptadas; o O estado dos recursos, em especial das espécies sujeitas a

regimes especiais de protecção; o Os perigos para a saúde humana do uso de certas espécies, os

perigos para os ecossistemas de certas acções e substâncias e a bio­segurança alimentar;

o As medidas higieno­sanitárias que devem ser tomadas para evitar doenças de pessoas, animais e plantas.

3. As pequenas e médias empresas locais, incluindo as empresas comunitárias, gozam de especial protecção, tendo, nomeadamente, direito aos incentivos previstos nesta lei e seus regulamentos, nos quais se incluem a prestação, pelo Estado, de assistência técnica à gestão sustentável dos recursos florestais e faunísticos e o acesso ao crédito para exploração desses recursos.

4. Todas as pessoas singulares ou colectivas que exerçam actividades relativas aos recursos florestais e faunísticos devem:

o Utilizar os recursos de forma sustentável, cumprindo as obrigações decorrentes desta lei e seus regulamentos, bem como da legislação de ordenamento do território;

o Cumprir as condições estabelecidas nos títulos de concessão ou nas licenças previstas nesta lei, se for caso disso;

o Respeitar os direitos validamente constituídos de utilizadores de outros recursos naturais, nomeadamente dos titulares do domínio útil consuetudinário;

o Realizar as suas actividades de modo a minimizar os impactos negativos das actividades realizadas nos ecossistemas;

o Abster­se de colher, cortar, caçar ou comercializar, ou de qualquer modo causar danos, as espécies em extinção, ameaçadas de extinção e vulneráveis ou aos seus habitats;

o Adoptar as medidas necessárias à preservação de solos e de recursos hídricos e à prevenção da degradação de terras;

o Colaborar com os órgãos centrais e locais do Estado na implementação de medidas de regeneração de espécies e de reabilitação de ecossistemas degradados;

o Prestar, nos termos da legislação aplicável, as informações necessárias ao acompanhamento e avaliação do estado dos recursos, à realização de actividades de investigação científica a eles relativas e à verificação do cumprimento desta lei;

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o Contribuir, directamente ou através de associações profissionais ou outras de defesa dos seus interesses, com as suas sugestões, propostas e informações para a elaboração e aplicação das medidas de ordenamento, em especial em consultas públicas;

o Participar em acções de formação relacionadas com o exercício das suas actividades e que sejam promovidas pelo Ministério que superintende o sector florestal ou pelo Ministério que superintende a política ambiental;

o Sujeitar­se à fiscalização do Estado nos termos previstos nesta lei e seus regulamentos.

5. Deve ser promovida a adopção, pelos interessados, de códigos de conduta específicos de certas categorias titulares de direitos sobre recursos florestais e faunísticos, em especial dos madeireiros, carvoeiros e caçadores.

6. Devem ser promovidas as actividades económicas que visem assegurar o uso sustentável dos recursos florestais e faunísticos e o combate à desertificação e à seca, bem como a transformação dos produtos florestais e faunísticos no País e, se possível, na localidade onde foram colhidos, cortados ou capturados.

Artigo 10º Direitos e obrigações dos cidadãos

1. Todos os cidadãos têm o direito aos benefícios resultantes do uso sustentável dos recursos florestais e faunísticos.

2. São, em especial, neste domínio, direitos dos cidadãos:

o O acesso livre e gratuito aos recursos florestais e faunísticos necessários à sua subsistência e das suas famílias;

o A utilização dos recursos florestais e faunísticos para fins medicinais, energéticos, de construção de habitações e mobiliário, de criação de artesanato e outros fins culturais;

o O uso das áreas de conservação para fins de turismo, educação e investigação nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos;

o A participação nas decisões sobre recursos florestais e faunísticos que possam afectar os seus interesses, incluindo culturais, relativos a estes recursos;

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o A informação sobre os princípios e exigências da conservação e gestão sustentável dos recursos florestais e faunísticos, as medidas de ordenamento adoptadas, o estado dos recursos, em especial das espécies sujeitas a regimes especiais de protecção, os perigos para a saúde humana do uso de certas espécies, os perigos para os ecossistemas de certas acções e substâncias, bio­segurança alimentar e sobre as medidas higieno­sanitárias que devem ser tomadas para evitar doenças de pessoas, animais e plantas;

o À educação e formação profissional sobre matérias relacionadas com os recursos florestais e faunísticos, em especial sobre os seus usos e gestão sustentável.

3. São obrigações dos cidadãos:

o Abster­se da prática de actos que previsivelmente possam ter impactos negativos nas florestas e fauna selvagem e nos seus ecossistemas;

o Cumprir a legislação sobre conservação e uso sustentável das florestas, da fauna selvagem e da diversidade biológica;

o Colaborar nas actividades de avaliação do estado dos recursos e de investigação científica sobre florestas e fauna selvagem, se tal lhes for solicitado nos termos da lei.

Artigo 11º Direitos e obrigações das comunidades rurais

1. Os titulares do domínio útil consuetudinário nos termos estabelecidos na Lei de Terras têm os direitos colectivos de uso e fruição, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos e no direito costumeiro das comunidades em causa, dos recursos florestais e faunísticos do domínio público que se encontrem nos terrenos comunitários.

2. Os titulares do domínio útil consuetudinário têm ainda os direitos de participar na preparação dos instrumentos de ordenamento dos recursos florestais e faunísticos, em especial os relativos ao combate à desertificação e seca, bem como nas acções de ordenamento do território relacionadas com estes recursos.

3. Os titulares dos direitos previstos neste artigo têm as obrigações estabelecidas no número 4 do artigo 9º.

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Artigo 12º Cooperação internacional

1. Cabe ao Estado promover a procura de soluções concertadas a nível bilateral e multilateral, internacional, regional e subregional visando a conservação e uso sustentável dos recursos florestais e faunísticos e da diversidade biológica, em especial dos recursos partilhados e das espécies migratórias.

2. O Estado deve assegurar que Angola beneficie da cooperação internacional a que tem direito como país em desenvolvimento, em especial nos domínios relativos à identificação, classificação e conservação das florestas e fauna selvagem, bem como da sua diversidade biológica, do uso de tecnologias apropriadas à sua conservação e uso sustentável, do combate à desertificação e à seca e da investigação científica, educação e formação profissional.

Capítulo II Das medidas gerais de conservação das florestas e fauna selvagem

terrestre

Secção I ­ Disposições gerais

Artigo 13º Finalidades

São objectivos das medidas de protecção das florestas, fauna selvagem e ecossistemas terrestres e da sua diversidade biológica previstas nesta lei e, em especial, neste título:

o Proteger a diversidade biológica e manter os processos ecológicos essenciais à vida e aos sistemas de apoio à vida;

o Assegurar a conservação e exploração sustentável e óptima das florestas, da fauna selvagem e da diversidade biológica terrestres a nível nacional;

o Contribuir para assegurar a conservação a longo prazo das florestas, da fauna selvagem e da sua diversidade biológica, em especial dos ecossistemas frágeis, a nível subregional, regional e mundial;

o Contribuir para assegurar a qualidade, diversidade e disponibilidade de recursos florestais e faunísticos;

o Contribuir para assegurar a segurança alimentar, a satisfação de necessidades básicas, a geração de rendimentos e emprego e a progressiva melhoria da qualidade de vida das gerações actuais e futuras;

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o Contribuir para a conservação e sustentabilidade dos recursos hídricos; o Contribuir para a conservação e aumento de produtividade dos solos; o Contribuir para assegurar a qualidade do ar e minimizar as alterações

climáticas, em especial as secas; o Contribuir para a utilização e transformação no País dos produtos

florestais e faunísticos, para a promoção das empresas angolanas e para a criação de emprego a nível local;

o Assegurar a protecção, utilização e disseminação de conhecimentos tradicionais sobre florestas, fauna selvagem, ecossistemas e diversidade biológica terrestres;

o Prevenir e/ou minimizar os impactos negativos, directos ou indirectos, das actividades económicas nas florestas e fauna selvagem, nos ecossistemas e na diversidade biológica terrestres;

o Promover a regeneração de espécies em extinção, ameaçadas de extinção e vulneráveis, bem como de ecossistemas degradados;

o Promover a resposta rápida a situações de emergência que ponham em perigo as florestas, a fauna selvagem, os ecossistemas e a diversidade biológica terrestres;

o Promover a investigação científica relativa a florestas, fauna selvagem, ecossistemas e diversidade biológica terrestres e a disseminação dos conhecimentos dela resultantes.

Artigo 14º Relatórios científicos

1. As medidas previstas neste capítulo devem ser fundamentadas em relatórios baseados na melhor informação científica disponível que identificarão as espécies e ecossistemas terrestres necessitando de especial protecção, bem como as causas que levam à diminuição do número de populações de recursos florestais e faunísticos e à degradação dos ecossistemas incluídos nas listas previstas no artigo 15º.

2. Periodicamente, pelo menos cada cinco anos, o Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental devem apresentar ao Governo relatório sobre o estado das florestas, da fauna selvagem e da diversidade biológica terrestres.

3. Dos relatórios referidos neste artigo devem constar, em especial:

o A avaliação das populações e comunidades; o As características biológicas das populações, em especial os

requisitos para a sua reprodução; o As características dos habitats; o Os níveis históricos das populações e comunidades, se possível;

17

o A identificação de riscos para espécies e ecossistemas que não integram as listas previstas nesta secção;

o A descrição dos factores que afectam a sustentabilidade dos recursos em causa.

Secção II Das espécies e ecossistemas terrestres

Artigo 15º Conservação de espécies e ecossistemas

1. Com base na melhor informação científica disponível, o Estado deve adoptar as medidas necessárias à conservação de espécies, subespécies e variedades das florestas, da fauna selvagem e dos ecossistemas terrestres no caso, em especial, de:

o Ecossistemas em extinção, ameaçados de extinção ou vulneráveis; o Espécies raras; o Espécies em extinção; o Espécies ameaçadas de extinção; o Espécies vulneráveis; o Espécies endémicas ou de grande valor económico, social ou cultural.

2. O Governo, ou o Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental, aprovarão, consoante os casos, as listas das espécies e ecossistemas referidos no número 1 deste artigo.

3. As listas referidas neste artigo devem ser aprovadas e revistas pelo menos de dez em dez anos.

4. Na elaboração das listas referidas no número anterior, o Governo deve ter em consideração as convenções internacionais, de que Angola é parte, relativas a espécies e ecossistemas internacionalmente protegidos.

5. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem assegurar, nos termos a definir em regulamento, a participação dos cidadãos e das associações de defesa do ambiente no procedimento de aprovação das listas previstas neste artigo e no artigo 21º.

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6. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem assegurar a ampla divulgação das listas referidas neste artigo bem como dos correspondentes regimes especiais.

Artigo 16º Ecossistemas protegidos

1. Sem prejuízo do disposto no Título IV desta lei, o Governo deve aprovar, por decreto, lista dos ecossistemas ameaçados ou sujeitos a um regime de protecção especial.

2. Podem ser incluídos nas categorias referidas no número anterior:

o Os ecossistemas em extinção em que tenha ocorrido degradação significativa da estrutura ecológica ou das suas funções ou composição em resultado de intervenção humana e que estão sujeitos a um risco extremamente elevado de transformação irreversível;

o Os ecossistemas ameaçados de extinção em que tenha ocorrido degradação da estrutura ecológica ou das suas funções ou composição em resultado de intervenção humana embora não estejam em extinção;

o Os ecossistemas vulneráveis que estejam em risco de vir a ter uma degradação significativa da sua estrutura ecológica ou das suas funções ou composição em resultado de intervenção humana embora não estejam em extinção ou ameaçados de extinção;

o Os ecossistemas protegidos nos termos do Título IV devido à sua importância nacional ou provincial, embora não constem das listas referidas no artigo 15º.

3. Das listas de ecossistemas protegidos nos termos deste artigo constará a localização dos ecossistemas protegidos, bem como as medidas de regeneração dos referidos ecossistemas.

Artigo 17º Espécies raras, em extinção ou ameaçadas de extinção

1. O Governo deve aprovar, por decreto e com a mesma periodicidade dos planos de ordenamento florestal referidos no artigo 68º desta lei, a lista das espécies florestais e da fauna selvagem terrestre raras, em extinção ou ameaçadas de extinção.

2. São proibidas, quanto às espécies constantes das listas referidas no número anterior:

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o A colheita, corte ou caça ou a tentativa de colheita, corte ou caça de qualquer exemplar dessas espécies;

o A posse, armazenamento e transporte de qualquer exemplar dessas espécies;

o A compra e venda, exposição para venda, a exportação, a importação ou a transformação industrial ou não, de qualquer exemplar dessas espécies ou parte dele.

3. O decreto que aprova a lista de espécies raras, em extinção ou ameaçadas de extinção pode incluir outras medidas de conservação para além das previstas neste artigo.

4. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem adoptar as medidas de regeneração in situ e ex situ das espécies previstas neste artigo, bem como a recuperação dos seus habitats.

5. Enquanto não forem publicadas as listas referidas neste artigo, os órgãos competentes para a concessão de direitos relativos a recursos florestais ou faunísticos não devem atribuir tais direitos relativamente a espécies que previsivelmente venham a ser incluídas nessas listas.

Artigo 18º Espécies vulneráveis

1. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem, quando da elaboração das medidas de ordenamento florestal, identificar as espécies vulneráveis devendo as medidas de protecção destas espécies constar dos planos de ordenamento florestal.

2. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental, aprovam, por decreto executivo conjunto, as listas das espécies vulneráveis, a nível nacional ou local, bem como o regime especial de protecção em que se enquadram.

3. O regime especial das espécies vulneráveis pode incluir:

o A suspensão da colheita, corte ou caça dessas espécies, ainda que previamente autorizada, por um período determinado, quer a nível nacional quer local;

o A redução das quantidades de colheita, corte ou caça constantes dos títulos de concessão, das licenças de caça ou dos planos de exploração previstos nesta lei;

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o A proibição temporária de actividades que comprovadamente tenham um impacto negativo na sobrevivência dessas espécies;

o A proibição da exportação e/ou da importação de exemplares dessas espécies;

o A imposição de obrigações de repovoamento adicionais a quaisquer titulares de direitos sobre recursos dessas espécies.

4. Do diploma referido no número 2 deste artigo constarão ainda as medidas de regeneração in situ e ex situ das espécies previstas neste artigo, bem como a recuperação dos seus habitats, se necessário para a regeneração das referidas espécies.

Artigo 19º Espécies endémicas

O Ministério que superintende o sector florestal deve identificar as espécies florestais e da fauna selvagem terrestre que apenas ocorrem no território nacional e elaborar lista dessas espécies para fins de avaliação do seu estado e sujeição a regimes de protecção especiais, em especial de restrição de quantidades a serem colhidas, cortadas ou caçadas, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento aprovado pelo Governo.

Artigo 20º Recursos genéticos

O Estado deve promover e assegurar a conservação in situ de germoplasma das espécies florestais e da fauna selvagem terrestre e criar e manter bancos de genes, nacionais e provinciais, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos.

O Estado deve promover e assegurar a manutenção do grau de variação e da integridade genética das colecções de germoplasma referidas no número anterior.

Artigo 21º Árvores protegidas

1. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental aprovam, por decreto executivo, listas de árvores cujo corte, nas diferentes localidades, é proibido devido ao seu valor ecológico, estético, histórico ou de outro modo cultural.

21

2. Salvo no caso de reconhecido interesse público, é proibido o corte de quaisquer árvores em terrenos urbanos públicos.

3. É proibido o corte de árvores em terrenos urbanos privados, salvo no caso de autorização do órgão competente da Administração local.

4. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem promover a plantação de árvores nas zonas urbanas e peri­urbanas, com vista em especial à constituição ou reforço de zonas verdes e/ou de cinturas verdes de zonas urbanas ou urbanizadas.

Artigo 22º Manchas florestais

1. Os titulares de direitos fundiários sobre terrenos rurais são obrigados a manter, nas percentagens a definir em regulamento, as manchas florestais existentes dentro dos terrenos concedidos.

2. O corte de exemplares das manchas florestais referidas no número 1 deste artigo obedece ao regime das derrubas previsto no artigo 36º.

Artigo 23º Períodos de repouso vegetativo e de defeso

1. O Ministro que superintende o sector florestal estabelece anualmente, por decreto executivo, os períodos de repouso vegetativo para as diferentes espécies florestais que se encontrem a ser exploradas.

2. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental estabelecem anualmente, por decreto executivo conjunto, o período de defeso em que é proibida a caça em todo o país e os períodos em que é proibida a caça apenas de certas espécies ou em certas localidades.

Artigo 24º Quantidades e dimensão dos recursos

1. O Ministro que superintende o sector florestal estabelece anualmente, por decreto executivo e tendo em consideração o disposto nos planos florestais, as quantidades máximas de produtos florestais que podem ser colhidos ou cortados para fins de exploração.

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2. O Ministro que superintende o sector florestal estabelece, por decreto executivo, as dimensões mínimas que devem ter certas espécies florestais sob exploração.

3. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental estabelecem, por decreto executivo conjunto, os tamanhos e pesos mínimos dos exemplares da fauna selvagem cuja caça seja permitida.

Artigo 25º Colheita, corte, caça, posse, armazenamento e comercialização de certas

espécies

Sem prejuízo das medidas relativas a espécies raras, em extinção ou ameaçadas de extinção, é proibida a colheita, corte, caça, posse, armazenamento, transporte e comercialização de recursos florestais ou faunísticos:

o Nos períodos de repouso vegetativo ou de defeso; o Para além das quantidades estabelecidas nos planos de exploração

dos diferentes titulares de direitos sobre recursos florestais do domínio público ou nas licenças de caça;

o Com dimensões e pesos mínimos inferiores aos estabelecidos nos termos do artigo 24º;

o Previstos no artigo 21º.

Artigo 26º Importação, exportação e reexportação

O Governo deve adoptar as medidas necessárias para o controlo da importação, exportação e reexportação de exemplares das espécies referidas nos artigos 17º e 18º, bem como das espécies sujeitas a restrições do seu comércio internacional por força de convenções internacionais de que Angola seja parte.

Artigo 27º Medidas relativas a doenças e pragas

1. O Ministério que superintende o sector florestal deve identificar, prevenir e controlar as pragas, doenças e seus vectores que afectem as florestas e a fauna selvagem terrestre.

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2. O Ministério que superintende o sector florestal deve estabelecer sistemas de alerta rápido das pragas e doenças referidas no número anterior, bem como planos de erradicação dessas pragas e doenças, que poderão incluir a quarentena de espécies e a delimitação das áreas afectadas pelas medidas de erradicação da praga ou doença.

3. O Ministério que superintende o sector florestal deve assegurar a rápida divulgação de ocorrências de pragas ou doenças e a comunicação aos países da sub­região e organizações internacionais interessados.

4. No caso de ocorrência de doença ou praga que obrigue à não utilização dos terrenos por titulares de direitos sobre recursos florestais ou faunísticos afectados pela doença ou praga, deve o órgão competente proceder, caso tal seja possível nos termos dos planos territoriais e dos planos de ordenamento florestal, à concessão de direitos relativos ao recursos florestais ou faunísticos em terrenos não afectados pela praga ou doença em causa.

5. Para os efeitos previstos nesta lei, considera­se praga qualquer animal ou planta que estando presente em número excessivo, apresenta uma probabilidade não negligenciável de provocar prejuízos e outros impactos negativos em outros organismos ou na saúde e actividade humanas.

Artigo 28º Situações de emergência

1. O Governo deve adoptar planos de resposta a situações de emergência para fazer face a situações que, de qualquer modo, causem danos a florestas e à fauna selvagem terrestre ou ponham em perigo a conservação de ecossistemas, espécies e da diversidade biológica terrestres, em especial planos de combate a incêndios florestais.

2. No caso de situações referidas no número anterior terem efeitos transfronteiriços, o Ministério que superintende o sector florestal deve comunicar, logo que tenha conhecimento da situação de emergência, tal ocorrência aos países limítrofes interessados, envidando esforços para que sejam adoptadas medidas conjuntas ou para, se necessário, receber assistência desses países na resposta à situação de emergência.

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Artigo 29º Avaliação de impacte ambiental

1. No caso de projectos que possam vir a ter impactos negativos significativos nas florestas, na fauna selvagem e nos ecossistemas terrestres, devem ser realizadas avaliações de impacto ambiental nos termos da legislação em vigor.

2. O Ministério que superintende o sector florestal, bem como o Ministério que superintende o sector dos recursos hídricos, devem dar parecer na fase de instrução dos procedimentos de avaliação de impacto ambiental previstos neste artigo.

3. A decisão do Ministro que superintende a política ambiental relativa às avaliações de impacto ambiental previstas neste artigo deve ser comunicada ao Ministério que superintende o sector florestal e ao Ministério que superintende o sector de recursos hídricos.

Artigo 30º Conservação in situ

A conservação in situ das florestas e da fauna selvagem em áreas de conservação rege­se pelo disposto no Título IV desta lei e seus regulamentos.

Artigo 31º Conservação ex situ

1. O Estado deve assegurar que, após a realização dos pertinentes estudos científicos, sejam criados jardins botânicos, jardins zoológicos, viveiros, estações experimentais, arboretos e bancos de genes para conservação ex situ de recursos florestais e faunísticos.

2. Os jardins botânicos, os jardins zoológicos, as estações experimentais e os arboretos integram o domínio público ou podem ser propriedade das pessoas colectivas, públicas, privadas, mistas ou comunitárias, em especial instituições de natureza científica como universidades, que os tenham criado e assegurem a sua manutenção.

3. Os jardins botânicos, os jardins zoológicos, as estações experimentais e os arboretos do domínio público podem ser geridos por organismos da Administração central ou da Administração local do Estado, nos termos constantes do seu diploma de criação.

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4. O Estado ou as autarquias locais podem celebrar com instituições universitárias, públicas ou privadas, ou com associações de defesa do ambiente, nacionais, estrangeiras ou internacionais, contratos de gestão de jardins botânicos, jardins zoológicos, estações experimentais ou arboretos do seu domínio público.

5. Os viveiros podem ser públicos, privados ou comunitários.

6. Os bancos de genes integram o domínio público.

7. Os bancos de genes podem ser geridos por organismos da Administração central ou da Administração local do Estado, e, ainda, por instituições científicas públicas, como universidades, nos termos constantes do seu diploma de criação.

Secção III Da protecção de habitats

Artigo 32º

Espécies exóticas

1. Cabe ao Estado controlar a introdução de espécies exóticas no ambiente terrestre, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

2. É proibida a introdução no ambiente terrestre de espécies invasoras.

3. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental devem aprovar, por decreto executivo conjunto, as listas de espécies invasoras, cuja introdução no ambiente terrestre é proibida nos termos do número 1 deste artigo.

4. A introdução de espécies exóticas para florestas de plantação e fazendas agrícolas e de pecuarização de fauna selvagem carece de autorização prévia conjunta do Ministério que superintende o sector florestal e do Ministério que superintende a política ambiental, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

5. Quaisquer autorizações concedidas nos termos deste artigo podem ser revogadas no caso de novos conhecimentos científicos assim o aconselharem.

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Artigo 33º Organismos geneticamente modificados

1. É proibida a introdução no ambiente terrestre de organismos geneticamente modificados, salvo no caso de autorização conjunta do Ministro que superintende o sector florestal e do Ministro que superintende a política ambiental e nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

2. São proibidos a importação, exportação e trânsito em território nacional de organismos geneticamente modificados, salvo no caso de autorização conjunta do Ministro que superintende o sector florestal e do Ministro que superintende a política ambiental, bem como do Ministro que superintende o sector da Saúde.

3. Os procedimentos de autorização referidos nos números 1 e 2 deste artigo obedecem ao princípio do consentimento prévio fundamentado, devendo o interessado prestar aos órgãos competentes, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, toda a informação necessária, incluindo a avaliação de risco, sobre os impactos positivos e negativos da acção que pretende realizar no ambiente, na saúde humana e na diversidade biológica.

4. Quaisquer autorizações concedidas nos termos deste artigo podem ser revogadas no caso de novos conhecimentos científicos assim o aconselharem.

5. O Governo deve elaborar, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, planos de resposta a situações de emergência resultantes da libertação acidental ou dolosa no ambiente terrestre de quaisquer organismos geneticamente modificados que possam ter impactos negativos no ambiente, na saúde humana e na diversidade biológica.

6. O disposto nos números anteriores não é aplicável aos organismos geneticamente modificados destinados a alimentação humana e a rações de animais, bem como ao processamento de materiais para fins industriais, que se regem por legislação especial.

7. Para os efeitos previstos na presente lei e seus regulamentos, considera­se organismo geneticamente modificado qualquer organismo vivo que possui uma combinação nova de material genético obtida através da biotecnologia moderna, tal como definida no Protocolo de Cartagena sobre Bio­Segurança.

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Artigo 34º Poluição de solos

1. É proibida a introdução nos solos de substâncias classificadas como perigosas.

2. O Governo deve aprovar, por decreto, a lista das substâncias classificadas como perigosas para os efeitos previstos no número 1 deste artigo.

3. A introdução nos solos de substâncias que, embora não estejam incluídas nas listas referidas no número anterior, possam, de qualquer modo, causar danos à produtividade dos solos, à diversidade biológica, à saúde humana e a águas, está sujeita a autorização prévia conjunta do Ministro que superintende o sector florestal, do Ministro que superintende a política ambiental e do Ministro que superintende o sector dos recursos hídricos, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. Nos casos em que é exigida licença ambiental, a autorização referida no número anterior deve constar da licença ambiental.

5. O Governo deve aprovar, por decreto, as normas sobre as quantidades limite das substâncias referidas no número 3 deste artigo.

6. Quaisquer autorizações concedidas nos termos deste artigo podem ser revogadas no caso de novos conhecimentos científicos assim o aconselharem.

Artigo 35º Protecção de águas

1. Na concessão de direitos ou em autorizações de exercício de actividade previstas na presente lei e seus regulamentos, o órgão competente deve verificar se o uso dos recursos florestais ou faunísticos ou o exercício da actividade vai ter como consequência:

o A contaminação ou perigo de contaminação de águas, em especial pelas substâncias referidas no artigo 34º;

o Danos à capacidade de auto­depuração dos corpos de água ou de qualquer modo degradem o domínio público hídrico.

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2. No caso de se constatar na instrução do pedido do requerente que o uso dos recursos florestais ou faunísticos ou o exercício de actividade com eles relacionada terá, ou poderá ter, as consequências referidas no número anterior, os direitos correspondentes apenas podem ser concedidos ou o exercício de actividade pode ser autorizado após parecer favorável do Ministério que superintende o sector dos recursos hídricos.

Artigo 36º Derrubas e desmatamento

1. É proibida a realização de derrubas e desmatamento em terrenos classificados como florestais nos termos desta lei e seus regulamentos e da legislação de ordenamento do território.

2. A realização de derrubas ou desmatamento para quaisquer fins, em especial agrícolas e mineiros, carece de autorização prévia do Ministério que superintende o sector florestal, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. As derrubas ou desmatamento para agricultura realizados por pequenas ou micro empresas, incluindo empresas comunitárias, estão sujeitos a um regime de autorização prévia simplificado, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. O disposto neste artigo não é aplicável às derrubas ou desmatamento realizados para fins agrícolas de subsistência.

Artigo 37º Utilização de fogo e incêndios florestais

1. Não é permitida a realização de queimadas, em especial para abertura de caminhos nas florestas, para caça, para a preparação de terrenos para agricultura e por razões de natureza cultural, salvo nos casos autorizados nos termos da presente lei e seus regulamentos.

2. Apenas será autorizado o uso de fogo e queimadas para gestão florestal, de fauna selvagem e de áreas de conservação, bem como para agricultura tradicional, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. O Governo deve promover e aprovar planos de prevenção e combate de incêndios florestais.

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4. Os planos referidos no número anterior serão elaborados nos termos a definir em regulamento, devendo prever a participação das comunidades locais na prevenção e combate de incêndios florestais.

5. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem promover a educação dos cidadãos em matéria de prevenção e combate de incêndios florestais.

Artigo 38º Recuperação de áreas degradadas

1. O Estado deve promover a recuperação de áreas degradadas, em especial em resultado de incêndios florestais, de poluição, de catástrofes naturais e da realização de actividades económicas.

2. No caso de degradação causada pela realização de actividades económicas, a recuperação das áreas degradadas é efectuada pelas empresas que exercem tais actividades, nos termos a definir em regulamento.

3. A recuperação de áreas degradadas deve ser incluída nas operações ordenamento do território.

4. Deve ser dada prioridade à recuperação de áreas degradadas que:

oSejam habitadas por comunidades locais ou rurais; o Incluam ecossistemas em extinção, ameaçados de extinção ou vulneráveis; oSejam adjacentes a águas em cuja qualidade e quantidade a degradação possa ter impactos negativos; oEstejam sujeitas a processos de erosão significativa; oEstejam classificadas como áreas de conservação.

5. O Ministério que superintende o sector florestal deve adoptar as medidas de prevenção fito­sanitária que se mostrem necessárias nas áreas degradadas, em especial promovendo a extracção imediata do arvoredo queimado por incêndio florestal e procedendo à imediata reflorestação da área queimada.

6. Deve ser promovida a participação dos cidadãos, comunidades locais e rurais, associações de defesa do ambiente na recuperação de áreas degradadas.

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Artigo 39º Repovoamento florestal

1. O Governo deve assegurar que seja feito o repovoamento florestal de áreas degradadas ou em que tenham, ou presumivelmente venham a ter, lugar derrubas ou desmatamento para a realização de actividades económicas, em especial de exploração madeireira e energética, agrícola, mineiras e petrolíferas.

2. O Estado deve promover a plantação de árvores e arbustos para fins de conservação, em especial para:

oA recuperação da cobertura florestal de dunas e de florestas de protecção de fontes de água; oO fortalecimento ou recuperação da cobertura florestal em sectores sensíveis das bacias hidrográficas; oA recuperação de áreas sujeitas a erosão; oA recuperação de zonas verdes e de cinturas florestais em áreas urbanas ou peri­urbanas.

3. No caso de exploração madeireira e de combustíveis lenhosos, a obrigação de repovoamento florestal deve constar, se for caso disso, do respectivo título de concessão, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. No caso de projectos sujeitos a avaliação de impacto ambiental a obrigação de repovoamento florestal deve constar do parecer que finaliza o procedimento de avaliação de impacto ambiental e das pertinentes licenças de exercício de actividade ou títulos de concessão.

5. A obrigação de repovoamento florestal deve ainda constar dos planos, se exigidos, de abandono de sítio quando terminam as actividades económicas que levaram à realização de derrubas ou desmatamento.

6. O Governo deve adoptar um regime de incentivos para a plantação de florestas, em especial das espécies florestais que venham a ser definidas em regulamento.

7. Deve ser promovida a participação dos cidadãos, comunidades locais e rurais e associações de defesa do ambiente no repovoamento florestal, em especial na criação e gestão de plantações florestais e de polígonos florestais.

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Artigo 40º Repovoamento faunístico

1. O Governo deve assegurar que seja feito o repovoamento faunístico de áreas de conservação degradadas ou de áreas em que, em resultado da realização de actividades económicas, as populações das diversas espécies da fauna selvagem terrestre se tenham reduzido, ou se possam vir a reduzir, significativamente.

2. O Governo deve adoptar um regime de incentivos para a pecuarização das espécies da fauna selvagem que venham a ser definidas em regulamento.

3. Deve ser promovida a participação dos cidadãos, comunidades locais e rurais e associações de defesa do ambiente no repovoamento faunístico, em especial na criação e gestão de fazendas de pecuarização.

Capítulo III Da investigação científica e tecnológica

Artigo 41º Objectivos da investigação científica e tecnológica

1. A utilização e gestão sustentável das florestas e fauna selvagem terrestre, bem como as pertinentes medidas de ordenamento, devem basear­se na melhor informação científica disponível.

2. São, em especial, objectivos da investigação científica e tecnológica sobre florestas, fauna selvagem e diversidade biológica terrestres:

o O estudo, identificação, classificação, conservação, acompanhamento e avaliação das espécies e ecossistemas terrestres;

o A identificação e classificação dos recursos genéticos das florestas e da fauna selvagem;

o O estudo das relações entre os recursos florestais e faunísticos e os recursos hídricos e solos;

o O estudo dos impactos ecológicos das actividades previstas na presente lei e seus regulamentos, bem como dos impactos de outras actividades económicas, nas florestas, fauna selvagem, ecossistemas e diversidade biológica terrestres;

o O estudo dos processos que conduzem à desertificação e à seca e dos métodos adequados para o seu combate;

o O desenvolvimento da investigação aplicada na silvicultura;

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o A descoberta e desenvolvimento de recursos florestais e faunísticos que sejam susceptíveis de aproveitamento económico;

o O desenvolvimento da investigação aplicada para utilização de bens alimentares, medicamentos e matérias­primas de origem florestal e faunística nacional;

o O desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento industrial de recursos florestais e faunísticos nacionais, tendo e consideração os impactos sociais, culturais, económicos e ambientais dessas tecnologias;

o A substituição de combustíveis lenhosos por outras fontes de energia;

o A fundamentação científica das medidas de ordenamento e de gestão sustentável e integrada dos recursos florestais e faunísticos;

o O desenvolvimento das capacidades nacionais de investigação.

Artigo 42º Princípios da investigação científica e tecnológica

A investigação científica prevista neste capítulo obedece aos seguintes princípios:

o Da liberdade de investigação; o Da precaução; o Do respeito pelos direitos de propriedade intelectual e pelos

conhecimentos tradicionais das comunidades rurais; o Da partilha dos benefícios resultantes da investigação científica e

tecnológica prevista nesta lei; o Da participação de instituições e/ou cidadãos nacionais nos projectos

de investigação realizados por instituições estrangeiras ou internacionais ou por cidadãos estrangeiros relativos aos recursos biológicos previstos nesta lei;

o Do acesso do Estado angolano à informação resultante da investigação científica sobre recursos florestais e faunísticos colhidos ou capturados em Angola, ou realizada em Angola, sem prejuízo do respeito dos direitos de propriedade intelectual que incidam sobre essa informação;

o Da cooperação internacional; o Do uso para fins pacíficos dos resultados da investigação; o Da difusão dos resultados da investigação científica referida neste

capítulo, salvo nos casos previsto na lei.

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Artigo 43º Da inventariação e classificação das espécies e seus habitats

1. O Estado deve promover, em colaboração com instituições científicas nacionais, internacional e estrangeiras, a elaboração dos inventários florestal e faunístico.

2. O Estado deve assegurar a realização de projectos de investigação visando a identificação e classificação das espécies da flora silvestre e da fauna selvagem, bem como dos seus ecossistemas.

Artigo 44º Da inventariação de recursos genéticos florestais e da fauna selvagem

1. O Estado deve promover, em colaboração com instituições científicas nacionais, internacional e estrangeiras, a identificação e classificação dos recursos genéticos da flora silvestre e da fauna selvagem, bem como das suas propriedades.

2. O Estado deve assegurar a realização de projectos de investigação sobre os recursos genéticos da flora silvestre e da fauna selvagem, bem como sobre os seus ecossistemas.

Artigo 45º Acompanhamento e avaliação do estado dos recursos

O Estado deve promover o acompanhamento e avaliação do estado de conservação das florestas e fauna selagem, incluindo do número de indivíduos que compõem as diversas populações e do estado fito e zoo sanitário das diferentes espécies, bem como do estado de conservação de recursos com elas relacionados, incluindo as águas e os solos.

Artigo 46º Levantamento e registo de conhecimentos tradicionais

1. O Estado deve, em colaboração com instituições científicas nacionais, internacionais ou estrangeiras, se necessário, promover a recolha dos conhecimentos tradicionais das comunidades rurais sobre recursos florestais e faunísticos.

2. O Estado deve promover o registo dos conhecimentos tradicionais, do qual constará a descrição do conhecimento e suas aplicações e a identificação da comunidade, ou comunidades, possuidora desses conhecimentos.

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3. O Governo deve empreender os estudos necessários à protecção dos conhecimentos tradicionais e à garantia da partilha justa e equitativa dos benefícios que advenham do seu uso comercial.

4. O Estado deve adoptar, se necessário em colaboração com as organizações internacionais competentes, medidas no sentido de que qualquer produto ou processo protegido por um direito de propriedade intelectual em que sejam utilizados conhecimentos tradicionais faça menção desse uso.

5. Sem prejuízo das competências de instituto público que venha a ser criado para o efeito, o Ministério que superintende o sector florestal deve:

o Promover a recolha de conhecimentos tradicionais sobre recursos florestais e faunísticos, em especial através dos sistemas de extensão rural e de fiscalização florestal;

o Promover a formação de todos os seus funcionários que venham a desempenhar as tarefas referidas no número anterior;

o Criar e gerir base de dados dos conhecimentos recolhidos.

Artigo 47º Levantamento de propriedades e aplicações industriais

O Estado deve promover a realização de projectos de investigação científica visando identificar as propriedades dos recursos florestais e faunísticos e aferir da sua susceptibilidade de aplicação industrial, dando prioridade aos projectos que possam vir a ter um impacto significativo a nível local.

Artigo 48º Fundamentação das medidas de gestão

1. Todas as medidas de ordenamento florestal e faunístico, em especial as medidas de classificação de espécies e ecossistemas como em extinção e ameaçadas de extinção e sujeição aos respectivos regimes, bem como a criação, delimitação e classificação de áreas de conservação, apenas podem ser adoptadas após apresentação de relatórios científicos que fundamentem a adopção dessas medidas.

2. Os relatórios científicos referidos neste artigo podem ser elaborados pelas instituições de investigação do Estado ou estas podem celebrar, com instituições científicas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, acordos para a realização desses estudos.

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3. Os relatórios científicos referidos neste artigo devem sempre ser avaliados por instituição científica de reconhecida competência na área a que se refere a investigação.

Artigo 49º Bases de dados

1. O Estado deve promover a criação da base de dados do inventário florestal e da base de dados do inventário faunístico.

2. Todos os interessados, em especial investigadores científicos, devem ter acesso às bases de dados referidas no número anterior, sem prejuízo do pagamento de taxa de acesso que venha a ser estabelecida nos regulamentos das bases de dados.

3. O Estado deve ainda promover a ligação de postos de recepção no país a redes de bases de dados similares, em especial as dos sistemas mundiais, regionais e sub­regionais de informação sobre florestas, fauna selvagem e seus recursos genéticos, bem como sobre a desertificação e a seca, a fim de facilitar o acesso de interessados, em especial investigadores, à informação contida nessas bases de dados.

Artigo 50º Informação do público

O Estado deve promover, sem prejuízo dos direitos dos autores e da classificação legal de informação como confidencial, a publicação dos estudos sobre os recursos florestas e fauna selvagem, bem como sobre a diversidade biológica, que tenham a qualidade científica considerada adequada.

Artigo 51º Educação e formação profissional

Para os fins previstos neste capítulo, o Estado deve promover a formação profissional adequada de todos os trabalhadores que realizam actividades de investigação científica ou que prestem serviços em instituições de investigação científica.

36

Artigo 52º Cooperação internacional

O Estado deve envidar todos os esforços para que as instituições e cidadãos angolanos beneficiem das medidas de assistência internacional à educação e formação científicas e para criação de capacidades científicas, em especial mediante:

o Facilitação do acesso à informação sobre os recursos florestais e faunísticos e diversidade biológica, incluindo a participação em conferências científicas de especialidade;

o Participação em projectos de investigação realizados por instituições científicas estrangeiras ou internacionais;

o Reforço dos equipamentos de investigação instalados; o Transferência de tecnologias relacionadas com a conservação e uso

sustentável de recursos florestais e faunísticos.

Título II Da Gestão Sustentável das Florestas

Capítulo I Disposições Gerais

Artigo 53º Finalidades

Para além das finalidades previstas nos artigos 4º e 13º, são objectivos das medidas de gestão:

o Assegurar a conservação das florestas e seus ecossistemas; o Assegurar a exploração sustentável e óptima dos recursos florestais,

em especial o equilíbrio no longo prazo entre os recursos disponíveis e a sua procura;

o Contribuir para o combate à desertificação e à seca, em especial pela recuperação de terras degradadas;

o Assegurar a contribuição dos recursos florestais nacionais para a satisfação contínua e suficiente das necessidades dos cidadãos, em especial em matéria de alimentação, saúde, energia, construção, mobiliário, artesanato, lazer, educação e formação e investigação científica;

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o Assegurar a contribuição dos recursos florestais para o abastecimento da indústria nacional em produtos florestais e a geração de emprego nestas indústrias e nas actividades de exploração florestal;

o Contribuir para o desenvolvimento rural mediante a integração nas actividades de exploração florestal das empresas comunitárias e familiares, bem como de outras pequenas e micro empresas;

o Promover a integração das comunidades rurais na economia formal, com vista a assegurar o seu próprio desenvolvimento e a aumentar a sua contribuição para o desenvolvimento económico e social do País;

o Assegurar a coordenação institucional em matéria de protecção do ambiente e de gestão de recursos naturais, em especial a compatibilização das medidas de ordenamento florestal com as medidas de ordenamento do território e de gestão de solos e de águas;

o Assegurar a exploração responsável dos recursos florestais; o Contribuir para o controlo das exportações de produtos florestais; o Assegurar a participação de todos os interessados, em especial as

comunidades locais, na gestão sustentável dos recursos florestais e na sustentável das florestas e dos recursos genéticos florestais;

o Partilha justa e equitativa dos benefícios que advêm da gestão sustentável e da exploração desses recursos.

Artigo 54º Princípios de gestão sustentável das florestas e dos recursos genéticos

florestais

Para além dos princípios gerais previstos no artigo 5º desta lei, são princípios específicos de gestão das florestas:

o As actividades relativas a recursos florestais realizam­se no âmbito do ordenamento florestal;

o O ordenamento e gestão dos recursos florestais devem assegurar simultaneamente a justiça social, o bem­estar e participação dos cidadãos, o desenvolvimento da economia nacional e a conservação dos recursos e ecossistemas florestais no longo prazo;

o As florestas devem ser mantidas em níveis ecologicamente viáveis que assegurem o equilíbrio de longo prazo entre a oferta e a procura de recursos florestais;

o A exploração florestal deve ser gerida de modo a limitar os seus impactos negativos nos ecossistemas no longo prazo, em especial sendo assegurada a preservação ou recuperação de habitats das espécies colhidas ou cortadas e de espécies associadas ou dependentes;

o As relações entre as espécies colhidas ou cortadas e as espécies associadas ou delas dependentes devem ser preservadas;

o As medidas de gestão dos recursos florestais devem fundamentar­se na informação científica disponível;

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o Sempre que o conhecimento científico sobre florestas e seus ecossistemas for incompleto, em especial sobre as consequências de uma determinada acção ou omissão relativa à gestão de recursos florestais, devem ser tomadas as medidas preventivas adequadas;

o As medidas de gestão de recursos florestais devem ter em consideração as medidas de protecção do ambiente e de gestão de outros recursos naturais, em especial a compatibilização entre o ordenamento florestal e o ordenamento do território;

o A gestão dos recursos florestais deve ser realizadas compatibilizando as actividades económicas a jusante e a montante, de modo a prevenir situações de criação de capacidades de transformação de produtos florestais incompatíveis com a manutenção no longo prazo das florestas;

o A gestão dos recursos florestais deve ser realizada mediante a criação ou responsável reforço da coordenação entre todas as instituições competentes em matéria de gestão ambiental e dos recursos naturais, em especial no que respeita ao planeamento e à atribuição ou reconhecimento de direitos sobre recursos florestais, direitos fundiários e direitos sobre recursos hídricos;

No caso de florestas partilhadas devem ser criados mecanismos que assegurem a coordenação das medidas de gestão com as dos países limítrofes interessados;

Devem ser estabelecidos mecanismos que asseguram a exploração dos recursos florestais, por:

o Promoção da adopção de códigos de conduta pelos exploradores florestais;

o Promoção e implementação de incentivos para a exploração florestal responsável;

o Implementação progressiva do regime de certificação de florestas; o Reforço da fiscalização e participação das comunidades na fiscalização;

A gestão sustentável das florestas deve ser realizada com a participação de todos os interessados.

Artigo 55º Tipos de florestas

1. Para efeitos de atribuição de competências de tutela, superintendência e de gestão de recursos florestais, as florestas podem ser:

o Nacionais; o Provinciais; o Municipais.

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2. As florestas podem ainda ser classificadas como transfronteiriças quando se estendam para países limítrofes e estejam sujeitas a um regime de gestão especial de recursos partilhados, a ser aprovado pelo Governo por decreto.

3. As florestas de plantação podem, segundo a sua forma de propriedade, ser:

o Públicas; o Privadas; o Cooperativas; o Comunitárias.

4. Para efeitos de aplicação dos regimes relativos à sua exploração, as florestas de produção são classificadas, segundo os tipos da sua exploração em:

o Florestas para exploração madeireira; o Florestas energéticas; o Florestas de produção não madeireira.

5. As florestas para fins especiais visam, nomeadamente:

o A conservação de espaços verdes em áreas urbanas ou urbanizadas;

o A conservação de paisagens de valor estético; o A protecção de valores culturais, incluindo históricos, nacionais e

locais; o A protecção de objectos e locais estratégicos de interesse

económico ou militar.

6. Cabe ao Governo a classificação das florestas, sob proposta do Ministro que superintende o sector florestal tendo em consideração o inventário florestal e os planos territoriais, e após parecer do Ministro que superintende a política ambiental.

Artigo 56º Florestas de conservação

1. O Estado deve assegurar, após a realização dos pertinentes estudos científicos, que sejam definidas áreas de florestas de conservação.

2. As florestas de conservação visam, em especial:

o A conservação da diversidade biológica e a protecção de fontes de armazenamento de água;

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o A protecção de bacias hidrográficas e de recursos hídricos, em especial a protecção de nascentes e margens de cursos de água e de lagos, lagoas, albufeiras e barragens;

o A protecção de solos, a protecção dos ventos e contra a movimentação de areias, em especial a protecção de terrenos agrícolas e de pastagem, e a protecção de vias de comunicação, em especial estradas.

3. As florestas de conservação podem ser naturais ou plantadas.

4. As florestas de conservação incluem, em especial:

o As florestas de ecossistemas frágeis; o As florestas dotadas de grande diversidade biológica; o As florestas de protecção de bacias hidrográficas; o As florestas de montanha; o Os ecossistemas de terras húmidas protegidas internacionalmente

e aquelas que vierem a ser definidas como áreas de conservação em legislação nacional;

o Os mangais; o As florestas das cinturas verdes de zonas urbanas ou peri­urbanas.

5. As florestas de conservação serão integradas nas áreas de conservação previstas no Título IV ou, no caso de se destinarem a exploração madeireira, no regime de florestas certificadas que se refere o artigo 61º.

6. São desde já classificadas como áreas de conservação, cabendo ao Governo determinar, por decreto, em que tipo de área de conservação se integram:

o As florestas de montanha; o Os mangais; o As florestas de cinturas verdes de zonas urbanas ou peri­urbanas.

7. As florestas de conservação integradas em áreas de conservação são reguladas pelo disposto no Título IV da presente lei e seus regulamentos.

8. As florestas de conservação em exploração para produção madeireira devem ser progressivamente integradas no regime de florestas certificadas.

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Artigo 57º Florestas de fins especiais

As florestas de fins especiais podem vir a ser integradas nas áreas de conservação previstas no Título IV da presente lei e nos seus regulamentos.

Artigo 58º Ordenamento florestal

O uso e gestão dos recursos florestais, incluindo a concessão ou reconhecimento de direitos sobre recursos do domínio público do Estado ou das autarquias locais, devem obedecer ao que vier estabelecido nas medidas de ordenamento florestal previstas na presente lei e seus regulamentos e na legislação sobre ordenamento do território e gestão de recursos hídricos.

Artigo 59º Regimes de autorização prévia

A realização de actividades económicas relacionadas com o uso de recursos florestais está sujeita a controlo pelos organismos competentes do Estado segundo regimes de contrato de concessão, declaração prévia e licença de exercício de actividades, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos.

Artigo 60º Avaliação de impacte ambiental

No caso de projectos de exploração florestal de grande dimensão que tenham implicações significativas na sustentabilidade dos recursos florestais, nos seus ecossistemas ou na sua diversidade biológica, bem como nos interesses das comunidades locais, não serão celebrados os contratos ou emitidos quaisquer títulos previstos nesta lei sem que seja previamente realizada, pelo organismo competente do Estado, avaliação de impacto ambiental nos termos da legislação em vigor e desta lei e seus regulamentos.

42

Artigo 61º Certificação de florestas em exploração

O Ministério que superintende o sector florestal deve promover a progressiva inserção das florestas naturais ou plantadas em exploração, ou destinadas a exploração, no regime de certificação de gestão sustentável de florestas, sendo prioritária a integração neste regime das florestas de conservação em, ou destinadas a, exploração.

O regime especial de florestas certificadas é estabelecido em regulamento.

Para efeitos de integração de florestas no regime de florestas certificadas, o Ministério que superintende o sector florestal deve promover a realização de auditorias de gestão sustentável de florestas naturais ou plantadas em exploração, nos termos a definir em regulamento.

Artigo 62º Sistemas de registo de direitos sobre recursos florestais

O Ministério que superintende o sector florestal deve organizar o cadastro florestal bem como, sem prejuízo de outros registos exigidos, o registo dos direitos relativos a recursos florestais, quer sob concessão quer sob certificado de floresta de plantação.

Artigo 63º Obrigações do Governo

São obrigações do Governo no domínio dos recursos florestais:

o Assegurar o uso sustentável e a gestão integrada dos recursos florestais;

o Assegurar a coordenação institucional, em especial no que respeita à compatibilidade das medidas de gestão de recursos florestais com as medidas de ordenamento do território e de gestão de recursos hídricos, bem como com o exercício de actividades económicas com impactos na sustentabilidade dos recursos;

o Assegurar a adopção de medidas de ordenamento florestal e de ordenamento do território com elas relacionadas e garantir a sua execução;

o Aprovar os planos florestais nacionais e os programas de acção nacional de combate à desertificação;

43

o Assegurar que seja realizada a inventariação e classificação do património florestal e genético e a avaliação periódica do estado destes recursos;

o Aprovar os relatórios de execução dos planos florestais nacionais e os relatórios sobre o estado das florestas e promover a divulgação destes;

o Assegurar a contingentação das espécies florestais que podem ser colhidas ou cortadas em cada período;

o Adoptar as medidas de incentivo à criação de florestas de plantação e à plantação de árvores com vista a aumentar as áreas de cobertura florestal;

o Promover a adopção de tecnologias que assegurem a melhor utilização possível dos recursos florestais;

o Assegurar o financiamento do sistema de conservação e gestão de florestas;

o Prevenir os riscos de a sustentabilidade dos recursos florestais e da diversidade biológica ser prejudicada por excesso de colheita ou corte ou por degradação de habitats;

o Assegurar a fiscalização das actividades económicas relativas a recursos florestais;

o Assegurar a participação dos cidadãos na preparação das decisões sobre florestas;

o Assegurar a cooperação com outros Estados na protecção dos recursos florestais, em especial no que respeita à gestão conjunta de recursos partilhados e à compatibilização das medidas de conservação e ordenamento a nível nacional com as medidas tomadas por outros Estados ou organizações sub­regionais, regionais e/ou mundiais;

o Assegurar a cooperação com outros estados na prevenção, fiscalização e repressão de actividades ilícitas, em especial o comércio ilegal de madeiras e de recursos fitogenéticos.

Capítulo II Do ordenamento florestal

Artigo 64º Finalidades do ordenamento

O ordenamento florestal visa a prossecução das finalidades e a realização dos princípios estabelecidos na presente lei e seus regulamentos, em especial a produção sustentável dos bens e serviços florestais que não ponha em risco o valor intrínseco das florestas, não comprometa a sua produtividade no longo prazo e não tenha impactos negativos significativos no ambiente físico e social.

44

Artigo 65º Princípios do ordenamento florestal

O ordenamento florestal rege­se pelos princípios estabelecidos nos artigos 5º e 54º da presente lei.

Artigo 66º Medidas de ordenamento florestal

São medidas de ordenamento florestal:

o A classificação das florestas e dos recursos florestais nos termos dos artigos 6º, 15º a 19º e 55º a 57º;

o A elaboração e execução de planos florestais nacionais e de planos de gestão por espécie e por ecossistema;

o A elaboração e execução de planos de repovoamento florestal e de desenvolvimento das florestas de plantação;

o A elaboração e execução de programas nacionais de combate à desertificação e seca;

o A elaboração das listas dos ecossistemas e espécies terrestres em extinção, ameaçados de extinção ou vulneráveis, bem como a execução das medidas necessárias à sua regeneração;

o A definição dos critérios e indicadores para integração de florestas no regime de florestas certificadas;

o A determinação dos períodos de repouso vegetativo; o A definição dos tamanhos das diferentes espécies que podem ser

colhidas ou cortadas; o A contingentação das espécies florestais que podem ser exploradas e a

sua desagregação por províncias; o A definição dos métodos e tecnologias a serem utilizados nas

actividades relativas a recursos florestais, em especial na exploração florestal;

o A definição dos padrões a que devem obedecer os produtos florestais lenhosos e não lenhosos;

o A concessão ou reconhecimento de direitos relativos a recursos florestais do domínio público;

o As medidas de incentivo às actividades de povoamento e repovoamento florestal, bem como de conservação ex situ de recursos florestais;

o As medidas de incentivo às empresas angolanas que se dediquem à exploração florestal sustentável e à prossecução de outros objectivos previstos na presente lei;

o Os planos de emergência para fazer face a situações imprevistas que ponham em perigo os recursos florestais, em especial de combate a fogos e incêndios florestais;

45

o A promoção da formação profissional dos diversos intervenientes nas actividades relativas a recursos florestais;

o A definição de regras de segurança e higiene no trabalho específicas do sector florestal;

o O acompanhamento e avaliação do estado dos recursos florestais; o As medidas de investigação científica de base e aplicada sobre os

recursos florestais e seus ecossistemas; o A divulgação de tecnologias apropriadas, bem como as medidas de

incentivo para a sua aplicação, com vista a assegurar o uso sustentável dos recursos florestais;

o A promoção de formas de concertação social, em especial com os exploradores de recursos florestais, os utilizadores de produtos florestais, as associações profissionais e de defesa do ambiente interessadas, bem como as organizações comunitárias, com vista a assegurar a realização dos objectivos do ordenamento.

Artigo 67º Planos florestais

1. Os planos florestais são de nível nacional e são desagregados em planos provinciais ou municipais.

2. Os planos florestais incluem os planos faunísticos referidos nos artigos 133º e 134º.

3. Os planos florestais nacionais são aprovados pelo Governo.

4. Os planos florestais têm a duração de cinco anos.

5. Os planos florestais podem ser desagregados em planos de gestão por espécie, em especial espécies ou ecossistemas em extinção, ameaçados de extinção ou vulneráveis, ou em planos de gestão de certas áreas degradadas ou de ecossistemas vulneráveis.

6. Os planos florestais são elaborados e executados pelo Ministério que superintende o sector florestal.

7. Os titulares de direitos de exploração florestal elaboram e executam planos de exploração florestal e os titulares de direitos de exploração de coutadas ou fazendas de pecuarização elaboram e executam planos de exploração faunística.

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8. O Estado deve prestar assistência técnica, às comunidades rurais e pequenas e micro empresas que exerçam direitos de exploração florestal ou que administrem coutadas ou fazendas de pecuarização, para a elaboração do plano de exploração florestal ou do plano de exploração faunística, conforme os casos, bem como para a sua execução e para apresentação do respectivo relatório anual.

9. No caso de planos de gestão das espécies e ecossistemas previstos no número 2 deste artigo, quaisquer pessoas singulares ou colectivas interessadas, em especial instituições científicas e associações de defesa do ambiente, podem apresentar ao Ministério que superintende o sector florestal um projecto de plano, para aprovação por este.

Artigo 68º Conteúdo dos planos florestais

Os planos florestais têm o conteúdo que vier a ser definido em regulamento, devendo incluir, em especial:

o A superfície, incluindo em percentagem, do território, coberta pelos diversos tipos de florestas;

o A superfície, incluindo em percentagem, do território que será afectada a florestas de produção naturais e de plantação, com a discriminação das áreas ocupadas por florestas certificadas;

o As áreas de florestas afectadas, ou que serão afectadas, a usos não florestais permanentes, por cada tipo de florestas;

o A superfície de florestas, incluindo em percentagem do território nacional, que estará sob o regime de áreas de conservação;

o A superfície de florestas destinadas essencialmente à protecção de solos e de águas;

o A superfície de florestas sob exploração para as quais está definido o valor e protecção das bacias (hidrográficas) de recepção;

o As áreas destruídas em resultado de actividades humanas que serão objecto de medidas de recuperação;

o As áreas do território sujeitas a processos de seca; o As áreas de florestas destruídas por causas naturais que serão objecto

de medidas de recuperação; o Os processos de prevenção e controlo de fogos e incêndios florestais,

de pastagem e de controlo da exploração ilegal de produtos florestais que serão adoptados;

o As medidas de quarentena e fito­sanitárias que serão adoptadas; o As medidas de prevenção de introdução de espécies exóticas e

espécies invasoras, bem como de organismos geneticamente modificados potencialmente nocivos;

o As medidas relativas à utilização de produtos químicos nas florestas;

47

o A superfície de florestas que irão ser inventariadas ou objecto de prospecção;

o As áreas de florestas abrangidas por planos florestais e planos de exploração florestal;

o A previsão das quantidades e valor de produção madeireira e não madeireira;

o A previsão das quantidades e valor das exportações de produtos florestais, madeireiros e não madeireiros;

o A previsão das quantidades e valor de produtos florestais para abastecimento das indústrias nacionais de transformação de produtos florestais madeireiros e não madeireiros;

o As espécies florestais em extinção, ameaçadas de extinção, ou vulneráveis, raras ou endémicas;

o As áreas da floresta original ocupadas pelas espécies referidas na alínea anterior;

o O número de empregos directos e indirectos no sector florestal.

Artigo 69º Elaboração dos planos florestais

1. Os planos florestais devem ser elaborados com base nos dados dos inventários florestal e faunístico e, ainda, na melhor informação científica disponível.

2. Na elaboração dos planos florestais devem ser tidas em consideração, em especial:

o As Principais Opções do Ordenamento do Território Nacional; o As estratégias e políticas aprovadas pelos órgãos competentes

do Estado, em especial as relativas à erradicação da pobreza, à conservação da diversidade biológica, das florestas e da fauna selvagem e às águas;

o O Programa Nacional de Combate à Desertificação e Seca;

o As recomendações do Conselho Técnico do Ministério que superintende o sector florestal;

o As recomendações do Conselho Nacional da Protecção das Florestas e da Fauna Selvagem;

o As recomendações constantes dos relatórios científicos referidos no artigo 14º;

o As informações resultantes de procedimentos de avaliação de impacto ambiental;

o As informações e pareceres emitidos, no âmbito da cooperação institucional, por organismos da Administração central e local do Estado, bem como por instituições científicas estaduais;

48

o As opiniões emitidas por associações de defesa do ambiente, associações de defesa de interesses profissionais, sindicatos do sector florestal ou das indústrias de transformação de produtos florestais e por comunidades locais e rurais;

o As recomendações e informações de natureza técnico­científica que sejam comunicadas no âmbito da cooperação internacional, em especial regional e sub­regional quanto a recursos partilhados;

o As recomendações de eventos de natureza científica promovidos pelo Ministério que superintende o sector florestal ou em que este participe.

3. Os planos florestais devem basear­se nos critérios e indicadores de ordenamento sustentável de florestas que vierem a ser estabelecidos em regulamento.

4. Os métodos de elaboração dos inventários florestal e faunístico são definidos em regulamento.

Artigo 70º Coordenação com outros planos

1. A elaboração dos planos florestais é um processo de gestão integrada, pelo que deve ser assegurada, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, a coordenação destes planos com, em especial:

o Os planos territoriais, em especial os planos de ordenamento rural; o Os planos gerais de desenvolvimento e utilização dos recursos

hídricos das bacias hidrográficas; o O Programa Nacional de Gestão Ambiental.

2. O Ministério que superintende o sector florestal deve ser ouvido quando da elaboração dos planos territoriais.

3. Os projectos de planos florestais devem ser submetidos, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, a parecer do Ministério que superintende o ordenamento do território, do Ministério que superintende a política ambiental, do Ministério que superintende a administração do território e do Ministério que superintende o sector das águas.

Artigo 71º Consultas obrigatórias

1. O projecto de plano florestal deve ser submetido à apreciação do Conselho Consultivo do Ministério que superintende o sector florestal.

49

2. Antes da sua apresentação ao Conselho de Ministros o projecto de plano florestal deve ser submetido à apreciação, para parecer, do Conselho Nacional de Protecção das Florestas e Fauna Selvagem.

Artigo 72º Publicidade dos planos florestais

1. Deve ser dada ampla publicidade aos planos florestais, em especial em publicações promovidas pelo Ministério que superintende o sector florestal.

2. Qualquer interessado tem direito à informação tanto de conteúdo como de alterações dos planos florestais, podendo consultar os planos, obter cópias e requerer a passagem de certidões de peças documentais dos planos.

Artigo 73º Alteração dos planos florestais

Os planos florestais podem ser alterados durante a sua vigência pelo Governo, e após terem sido ouvidas as entidades com direitos de consulta obrigatória sempre que novos dados científicos ou factores de natureza económica ou social assim o exijam.

Artigo 74º Relatório de execução dos planos florestais

O Ministério que superintende o sector florestal deve apresentar anualmente ao Governo o relatório de execução do plano florestal em vigor e de outras medidas de ordenamento florestal.

Artigo 75º Acesso à informação sobre planos florestais

1. Os particulares têm direito à informação sobre o conteúdo dos planos florestais e faunísticos e dos programas nacionais de combate à desertificação, tanto na fase da sua elaboração como da sua execução, bem como à informação sobre as alterações destes planos e programas.

2. Os particulares podem consultar os planos florestais e faunísticos e o programa nacional de combate à desertificação e obter a passagem de certidões de peças documentais destes planos e programas.

50

Capítulo III

Da promoção do combate à desertificação e à seca

Artigo 76º Objectivos e medidas de combate à desertificação e à seca

1. O Governo deve adoptar estratégias de longo prazo e programas nacionais de combate à desertificação e de mitigação dos efeitos de secas.

2. As estratégias de combate à desertificação visam:

o A prevenção e/ou redução da degradação de terras; o A recuperação de terras, águas e florestas degradadas; o A erradicação da pobreza e a garantia de segurança

alimentar.

3. O combate à desertificação e seca rege­se pelos princípios estabelecidos nos artigos 5º e 54º da presente lei e, em especial, pelos princípios:

o Da prevenção; o Da precaução; o Da gestão integrada; o Da cooperação institucional; o Da participação; o Da cooperação internacional.

4. As estratégias de combate à desertificação compreendem medidas integradas de:

o Aumento da produtividade dos solos; o Reabilitação, conservação e gestão integrada dos recursos

florestais e faunísticos terrestres, dos solos e dos recursos hídricos;

o Melhoria das condições de vida das comunidades locais e rurais, erradicação da pobreza e aumento da participação dos interessados na definição e execução das medidas de combate à desertificação e à seca;

o Reforço das capacidades institucionais.

5. Cabe ao Governo criar, por decreto, um órgão nacional de coordenação das medidas de combate à desertificação e à seca.

51

6. A composição e funcionamento do órgão referido no número anterior são estabelecidos por regulamento a aprovar pelo Governo.

7. O órgão referido no número anterior deve integrar representantes do Ministério que superintende o sector florestal, do Ministério que superintende a política ambiental, do Ministério que superintende o sector das águas e do Ministério que superintende a administração do território.

Artigo 77º Conteúdo dos programas nacionais

Os programas nacionais de combate à desertificação e seca terão o conteúdo que vier a ser definido em regulamento, devendo incluir, em especial:

o A definição das competências dos diversos órgãos da Administração central e local do Estado, em especial dos serviços de extensão rural, na prevenção e combate à desertificação e à seca;

o A especificação das responsabilidades de empresas, comunidades locais e utilizadores de terras na prevenção e combate à desertificação e à seca;

o As medidas destinadas à conservação dos recursos naturais; o As medidas de recuperação de terras degradadas, em especial através

de medidas de povoamento e repovoamento florestal; o As medidas de prevenção de degradação de terras, em especial quanto

a terras que se encontrem na fase inicial de um processo de degradação;

o As medidas de prevenção de secas, tendo em consideração as previsões climáticas sazonais e inter­anuais;

o As medidas de criação e reforço de sistemas de segurança alimentar incluindo instalações de armazenamento, em especial nas zonas rurais mais vulneráveis a secas;

o Os projectos para criação de fontes alternativas de rendimentos nas zonas mais vulneráveis a secas;

o Os programas de irrigação sustentáveis destinados ao apoio à agricultura, silvicultura e à pecuária;

o As medidas de promoção de práticas agrícolas sustentáveis; o Os projectos visando o desenvolvimento e uso eficiente de fontes de

energia diversificadas, em especial renováveis; o As medidas de implementação de sistemas de alerta rápido, a nível

local e nacional, de variações climáticas adversas e de situações de seca;

o As medidas de reforço da capacidade de avaliação e observação sistemática dos fenómenos da desertificação, seca e alterações por parte organismos da Administração central e local do Estado competentes;

52

o As medidas de recolha da informação necessária à avaliação da degradação de terras;

o As medidas de promoção da investigação científica e de melhoria das capacidades nacionais de investigação nos domínios da desertificação, seca e alterações climáticas;

o Os recursos humanos, materiais e financeiros afectados ao combate à desertificação e à seca, incluindo os provenientes da cooperação internacional;

o As medidas de formação profissional nas diferentes áreas relacionadas com o combate à desertificação e seca;

o As medidas de educação e sensibilização do público para as questões relacionadas com a prevenção e combate à desertificação e à seca.

Artigo 78º Elaboração dos programas nacionais

1. Os programas nacionais são elaborados pelo Ministério que superintende o sector florestal, pelo Ministério que superintende a política ambiental e pelo Ministério que superintende o sector das águas.

2. A elaboração dos programas nacionais deve basear­se em:

o As informações constantes dos relatórios científicos referidos no artigo 14º, em especial os estudos de identificação dos factores que contribuem para a desertificação e/ou seca e de avaliação dos efeitos da seca;

o A Estratégia Nacional de Combate à Pobreza; o A Estratégia Nacional de Conservação da Diversidade Biológica; o A Política Nacional de Florestas; o A Política Nacional de Águas; o As recomendações dos conselhos técnicos dos ministérios

referidos no número 1 deste artigo; o As informações e pareceres emitidos, no âmbito da cooperação

institucional, por organismos da Administração central e local do Estado, bem como por instituições científicas estaduais;

o As opiniões emitidas por instituições científicas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, associações de defesa do ambiente, associações de defesa de interesses profissionais ou locais, associações de utentes da terra e de águas e por comunidades locais ou rurais;

o As recomendações do Conselho Nacional de Protecção das Florestas e Fauna Selvagem;

o As recomendações e informações de natureza técnico­científica que sejam comunicadas no âmbito de cooperação internacional.

53

Artigo 79º Coordenação com planos relacionados

Deve ser assegurada, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, a compatibilização dos programas nacionais de combate à desertificação e seca com, em especial:

o Os planos territoriais, em especial os planos de ordenamento rural; o Os planos gerais de desenvolvimento e utilização dos recursos hídricos

das bacias hidrográficas; o Os planos florestais; o O Programa Nacional de Gestão Ambiental.

Artigo 80º Consultas obrigatórias

1. As medidas incluídas nos programas nacionais devem ser previamente objecto de consultas públicas a nível nacional e local, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

2. O projecto de programa nacional deve ser submetido à apreciação de:

oOs conselhos técnicos do Ministério que superintende o sector florestal, do Ministério que superintende a política ambiental, do Ministério que superintende o sector das águas e do Ministério que superintende a administração do território;

oOs governos provinciais; oO Conselho Nacional de Protecção das Florestas e Fauna Selvagem.

Artigo 81º Aprovação dos programas nacionais

1. Os programas nacionais têm a duração de cinco anos e são aprovados pelo Governo.

2. Deve ser dada ampla publicidade ao Programa Nacional.

Artigo 82º Avaliação e alteração do programa nacional

1. O órgão previsto no número 5 do artigo 76º deve realizar o acompanhamento e a avaliação da execução do programa nacional, de acordo com os critérios e indicadores que vierem a ser estabelecidos em regulamento.

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2. As comunidades locais e rurais devem participar no acompanhamento da execução do programa nacional.

3. O órgão referido no número 1 deste artigo deve apresentar anualmente ao Governo o relatório de execução do programa nacional de combate à desertificação e seca.

4. O programa nacional pode ser alterado durante a sua vigência pelo Governo, após terem sido ouvidas as entidades com direitos de consulta obrigatória, sempre que novos dados científicos ou factores de natureza económica ou social assim o exijam.

Capítulo IV Dos direitos sobre recursos florestais

Artigo 83º Finalidades do uso dos recursos florestais

O uso de recursos florestais tem os objectivos previstos no artigo 53º e, em especial:

o Contribuir para a segurança alimentar e para a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos;

o Contribuir para o desenvolvimento económico e social do país, em especial das zonas rurais, pela geração de emprego e de rendimentos;

o Contribuir para o desenvolvimento da indústria transformadora nacional; o Assegurar a utilização óptima e sustentável dos recursos florestais.

Artigo 84º Direitos sobre recursos florestais propriedade do Estado

1. Os direitos sobre os recursos florestais do domínio público são os seguintes:

o Direito de uso de subsistência; o Direito de uso e fruição comunitários; o Direito de uso para fins especiais; o Direito de exploração florestal.

2. Os titulares dos direitos previstos neste artigo são os proprietários dos produtos florestais obtidos no exercício destes direitos.

55

3. Os direitos sobre recursos genéticos florestais são regulados por lei especial.

Artigo 85º Direito de uso de subsistência

2. As pessoas singulares têm direito de uso de subsistência de recursos florestais destinados ao seu consumo e de suas famílias.

3. O direito de uso de subsistência integra os direitos de abate e colheita nos terrenos rurais para fins alimentares, medicinais, de habitação, energéticos e culturais.

4. Considera­se uso de subsistência o abate de árvores destinado à realização de trabalhos de artesanato por residentes na localidade onde se encontram os recursos florestais.

5. Sem prejuízo das disposições relativas ao ordenamento florestal e ao regime de áreas de conservação, o uso de subsistência não está sujeito a qualquer autorização prévia e é gratuito.

6. Os titulares do direito de uso de subsistência estão sujeitos às obrigações previstas no número 3 do artigo 10º, devendo, em especial, cumprir as normas sobre protecção de espécies, ecossistemas e diversidade biológica.

Artigo 86º Direito de uso e fruição comunitário

1. O direito de uso e fruição comunitário, estabelecido no artigo 11º da presente lei, de comunidades rurais titulares do domínio útil consuetudinário nos termos da Lei de Terras, inclui os direitos de corte e colheita de recursos florestais para fins alimentares, medicinais, de habitação, energéticos e culturais, em especial de criação de artesanato, dos membros da comunidade, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos e nas normas consuetudinárias da comunidade em causa.

2. O direito de uso e fruição comunitário integra ainda o direito de exploração florestal nos termos estabelecidos nos artigos 101º e 111º.

3. Os titulares do direito de uso e fruição comunitário têm as obrigações previstas no número 4 do artigo 9º e, no caso de exploração florestal, no artigo 102º.

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4. O direito de uso e fruição comunitário compreende todos os recursos florestais existentes nos terrenos comunitários.

5. O exercício do direito de uso e fruição comunitário não está sujeito a qualquer autorização prévia, salvo no caso dos planos de exploração florestal previstos no artigo 103º.

6. O uso e fruição comunitários são gratuitos.

7. Sem prejuízo do regime de exploração florestal, o direito de uso e fruição comunitário tem a duração do domínio útil consuetudinário e é intransmissível, imprescritível e impenhorável.

8. No caso de desafectação do domínio útil consuetudinário ou de expropriação por utilidade pública de terrenos comunitários, o direito de uso e fruição comunitário extingue­se, tendo a comunidade em causa tem o direito à atribuição de indemnização, que incluirá a entrega de terrenos dotados de cobertura vegetal idêntica ou semelhante à dos terrenos desafectados ou expropriados.

9. Cabe ao Ministério que superintende o sector florestal proceder oficiosamente ao cadastro das áreas sob o regime de uso e fruição comunitários.

Artigo 87º Direito de exploração florestal

1. O direito de exploração florestal integra os direitos de uso e fruição para fins lucrativos de recursos florestais do domínio público, de recursos florestais sob uso e fruição comunitário ou resultantes do exercício da actividade de plantação de florestas.

2. A exploração florestal pode ser madeireira e não madeireira.

3. A exploração não madeireira inclui, em especial, a apicultura e a colheita ou corte para fins de:

o Produção de carvão ou de outros biocombustíveis; o Abastecimento de matérias­primas principais ou subsidiárias para as

indústrias transformadoras, em especial alimentar, farmacêutica e química.

4. A exploração florestal de recursos do domínio público obedece ao disposto nos artigos 89º e seguintes.

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5. A exploração florestal de recursos integrados no domínio útil consuetudinário rege­se pelo disposto nos artigos 101º e seguintes e 110º e seguintes.

6. A exploração privada ou cooperativa de florestas de plantação rege­se pelo disposto nos artigos 110º e seguintes.

7. Sem prejuízo dos regimes especiais referidos nos números 4, 5 e 6 deste artigo, os titulares de direitos de exploração florestal têm as obrigações previstas no número 4 do artigo 9º.

Artigo 88º Direito de uso para fins especiais

1. O direito de uso para fins especiais inclui os direitos de colheita ou abate de recursos florestais do domínio público para os seguintes fins especiais:

o Consumo próprio das pessoas singulares ou colectivas que sejam titulares de direitos fundiários sobre terrenos rurais;

o Próprios de autarquias locais; o Realização de projectos de interesse público por organismos da

Administração central ou local do Estado, ou suas contratadas, e de associações;

o Conservação; o Investigação científica.

2. O direito de uso para fins especiais constitui­se mediante licença emitida pelo Ministério que superintende o sector florestal, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. O direito de uso para fins especiais tem a duração máxima de cinco anos, renováveis nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. Os titulares do direito de uso para fins especiais têm as obrigações previstas no número 4 do artigo 9º, para além das obrigações específicas que vieram a ser estabelecidas em regulamento e na licença de uso de recursos florestais.

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Capítulo V Da exploração de recursos florestais do domínio público

Secção I Do direito de exploração florestal

Artigo 89º Titularidade do direito de exploração florestal

1. Podem ser titulares do direito de exploração florestal dos recursos do domínio público as pessoas singulares ou colectivas angolanas que demonstrem capacidade adequada para o tipo de exploração que se propõem realizar.

2. As pessoas singulares ou colectivas estrangeiras ou internacionais que pretendam exercer actividades de exploração florestal apenas o podem fazer em associação com pessoas singulares ou colectivas angolanas.

3. Têm direito de preferência na concessão do direito de exploração florestal:

o As pessoas singulares residentes e colectivas com sede na localidade onde se encontram os recursos;

o As pessoas singulares ou colectivas que comprovem possuir instalações de transformação ou comercialização no município ou província onde se situa o terreno florestal;

o As pessoas singulares ou colectivas que se proponham realizar a exploração florestal em zonas definidas como prioritárias para a exploração florestal ou para o desenvolvimento económico e social;

o As pessoas singulares ou colectivas que se proponham realizar investimentos de valor igual ou superior aos montantes que vierem a ser estabelecidos em regulamento;

o No caso de pedidos para quantidades superiores a 500 metro cúbicos, as pessoas que se proponham construir instalações de transformação junto de ou dentro da área da concessão;

o As pessoas que dêem garantias de abastecimento do mercado nacional ou que se proponham celebrar contratos com empresas de transformação nacionais.

4. No caso de concessões para áreas superiores a 1000 hectares ou para volumes superiores a 500 metros cúbicos, o direito de exploração florestal apenas será concedido às pessoas singulares ou colectivas que possuam instalações de transformação.

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Artigo 90º Área da concessão de exploração florestal

1. A determinação da área da concessão obedece ao estabelecido nos instrumentos de ordenamento do território e à capacidade demonstrada pelo candidato ao direito de exploração florestal para o tipo de exploração que se propõe realizar.

2. A determinação da área da concessão obedece ainda aos seguintes critérios, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento:

o O potencial qualitativo e quantitativo da floresta objecto de exploração; o O crescimento volumétrico anual dos recursos florestais a conceder e

consequente corte anual permitido; o A capacidade de exploração e processamento demonstrada pelo

requerente; o As exigências do uso sustentável dos recursos florestais a conceder.

3. As áreas de concessões florestais não podem ser superiores a 10000 hectares salvo no caso de ponderoso interesse nacional, em especial de projectos de investimento de valor superior aos montantes que vierem a ser definidos em regulamento.

4. Cabe ao Conselho de Ministros aprovar concessões para áreas superiores ao limite estabelecido no número anterior.

Artigo 91º Constituição do direito de exploração florestal

1. O direito de exploração florestal constitui­se por contrato de concessão de exploração florestal.

2. No caso de concessões para áreas superiores a 1000 hectares ou que visem a exploração de volumes superiores a 500 metros cúbicos, o contrato de concessão de exploração florestal é celebrado entre o Ministério que superintende o sector florestal e o concessionário, salvo nos casos previstos nos números 3 e 4 do artigo anterior e no número seguinte.

3. No caso de concessões para áreas inferiores a 1000 hectares ou para volumes inferiores a 500 metros cúbicos, o contrato de concessão é celebrado entre o órgão provincial ou autárquico competente e o concessionário, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

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4. O contrato de concessão de exploração florestal obedece ao modelo que vier a ser estabelecido em regulamento, devendo incluir, em especial:

o A identidade e domicílio do concessionário; o A descrição da área de exploração florestal; o O tipo de exploração a realizar; o As espécies e subespécies para as quais os direitos são concedidos; o As quantidades máximas anuais de colheita ou corte das espécies

previstas nos termos da alínea anterior; o Os direitos e obrigações do concessionário; o A duração do direito de exploração florestal; o A indicação das instalações de transformação a utilizar; o Cláusula de alteração unilateral de condições do contrato nos casos

previstos no artigo 97º; o Cláusula de rescisão unilateral do contrato nos termos do artigo 98º.

Artigo 92º Direitos do concessionário

São direitos do titular do direito de exploração florestal de recursos do domínio público:

o O direito ao exercício da actividade de exploração florestal, designadamente a colheita ou corte das espécies previstas no contrato de acordo com o plano de exploração aprovado pela entidade concedente;

o O direito de propriedade dos recursos florestais colhidos ou cortados no âmbito da concessão.

Artigo 93º Direitos acessórios

São direitos acessórios do titular do direito de exploração florestal:

o O direito de superfície dos terrenos necessários à exploração florestal, nos termos a definir em regulamento;

o A comercialização dos produtos florestais obtidos no âmbito da concessão, incluindo a exportação de percentagem dos produtos florestais nos termos que vierem a ser definidos em regulamento;

o A transformação e comercialização dos produtos florestais obtidos no âmbito da concessão;

o O direito de uso das águas necessárias à exploração florestal, nos termos definidos na legislação sobre recursos hídricos;

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o O direito de abertura de vias de acesso à área da concessão florestal; o O direito de edificação das instalações necessárias à exploração

florestal; o O direito de constituir as servidões de águas e de passagem

necessárias ao exercício do direito de exploração florestal; o O direito de acesso à informação sobre a área, sobre os recursos

florestais e faunísticos nela existentes e sobre as exigências da gestão sustentável desses recursos que se encontre na posse da Administração Pública.

Artigo 94º Obrigações do concessionário

1. Os titulares do direito de exploração florestal têm as obrigações genéricas de uso sustentável dos recursos florestais constantes do artigo 9º e, em especial, as seguintes obrigações:

o O cumprimento da legislação em vigor, em especial do disposto na presente lei e seus regulamentos, na legislação sobre águas e ordenamento do território, bem como das condições constantes do contrato de concessão;

o O respeito pelos direitos de terceiros, em especial das comunidades rurais e de titulares de outros direitos sobre recursos naturais, designadamente quanto a servidões de águas e de passagem e às servidões mineiras existentes;

o O cumprimento do plano de exploração florestal e do plano de repovoamento, se for caso disso;

o O aproveitamento integral dos produtos florestais, nos termos definidos no plano de exploração;

o A aplicação dos métodos e processos de colheita ou corte e de repovoamento constantes das normas técnicas que venham a ser adoptadas;

o O pagamento periódico das taxas de exploração florestal e de caução a favor do Estado, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento;

o O financiamento de projectos sociais na localidade onde se realiza a exploração florestal, nos termos estabelecidos no contrato de concessão;

o A garantia abastecimento mercado nacional, nos termos estabelecidos no contrato de concessão;

o A preferência, no recrutamento e formação, de angolanos, se possível de residentes na área da concessão;

o O cumprimento das normas de segurança e higiene no trabalho gerais e específicas da exploração florestal;

o A adopção e implementação de planos de prevenção e combate a incêndios florestais;

62

o A preferência de empresas angolanas no fornecimento de bens e serviços necessários à exploração florestal;

o A prestação de informações necessárias ao acompanhamento e avaliação do estado dos recursos florestais, bem como do cumprimento do plano de exploração, em especial a apresentação anula do relatório de execução do plano de exploração florestal;

o A sujeição a fiscalização do Estado.

2. As pequenas e micro empresas que se proponham realizar investimentos podem ser isentas do pagamento de taxas florestais por um período de cinco anos, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Artigo 95º Duração do direito de exploração florestal

1. O direito de exploração florestal tem a duração que vier estabelecida no contrato de concessão não podendo ser superior a vinte e cinco anos.

2. A determinação da duração do direito de exploração florestal deve obedecer aos seguintes critérios, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento:

o A dimensão da área; o O potencial florestal da área; o A capacidade do candidato para a exploração que se propõe realizar; o As exigências de uso sustentável dos recursos florestais concedidos.

Artigo 96º Transmissão do direito de exploração florestal

1. O direito de exploração florestal é transmissível por morte e por acto entre vivos.

2. A transmissão do direito de exploração por acto entre vivos carece de autorização prévia do órgão concedente, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, para verificação da idoneidade e capacidade adequada do adquirente do direito.

3. A transmissão do direito de exploração florestal implica a cessão da posição contratual no contrato de concessão.

63

4. Com a transmissão do direito de exploração florestal transmitem­se também, nos termos da legislação aplicável, os direitos sobre terrenos rurais e de uso privativo de águas do titular do direito de exploração florestal.

Artigo 97º Alteração das condições da concessão

1. O contrato de concessão pode ser alterado:

oPor mútuo acordo entre o concedente e o concessionário, a pedido de um deles, em especial invocando alteração de circunstâncias que afectem o equilíbrio económico­financeiro do contrato ou no caso de medidas de ordenamento florestal supervenientes que determinem a alteração de cláusulas contratuais;

oUnilateralmente pelo Estado quando novos conhecimentos científicos ou dados relativos ao ordenamento florestal assim o exigirem, tendo em consideração os princípios da prevenção e da precaução, em especial em situações de risco para a saúde humana ou para as espécies e ecossistemas florestais, incluindo no caso de pragas que tornem necessária medidas de contenção que limitem ou impeçam o exercício do direito de exploração florestal.

2. No caso de medidas de contenção de pragas que exijam a colheita ou abate de um número significativo de exemplares de espécies florestais incluídas no título de concessão, o Estado providenciará no sentido de serem atribuídas ao titular do direito de exploração novas áreas de igual valor, caso tal seja possível nos termos dos planos florestais.

Artigo 98º Extinção do direito de exploração florestal

1. O direito de exploração florestal extingue­se por:

o Caducidade; o Mútuo acordo; o Renúncia; o Rescisão unilateral do contrato de concessão; o Expropriação por utilidade pública.

2. O contrato de concessão do direito de exploração florestal pode ser rescindido unilateralmente pelo concedente ou pelo concessionário nos seguintes casos:

64

o Abuso de direito; o Não exercício do direito por período superior a um ano, salvo em

caso de força maior; o Incumprimento do contrato ou da legislação aplicável à

exploração florestal; o Alteração de circunstâncias que modifique de modo substancial o

equilíbrio económico­financeiro do contrato se o concedente e o concessionário não chegarem a acordo sobre a sua alteração;

o Comprovado risco de extinção ou não renovação sustentável das espécies a que se refere o direito;

o Comprovado perigo para a saúde humana ou para os ecossistemas florestais em resultado da exploração florestal.

3. Em caso de expropriação por utilidade pública, o titular do direito de exploração tem direito a indemnização justa.

4. No caso de rescisão do contrato de concessão com os fundamentos previstos nas alíneas e) e f) do número 2 deste artigo e se não for possível alterar as condições contratuais, é atribuída ao titular do direito de exploração extinto nova concessão noutra área, ou relativa a outras quantidades ou outras espécies, se tal for possível nos termos das medidas de ordenamento florestal e do território em vigor.

5. No caso de não ser possível dar cumprimento ao disposto no número anterior, o titular do direito de exploração tem preferência na atribuição do direito de exploração florestal quando as medidas de ordenamento assim o permitirem e/ou à concessão de incentivos para reconversão das suas actividades.

Artigo 99º Aquisição de novos direitos de exploração florestal

O direito de exploração florestal pode ser concedido para novas áreas por novo contrato de concessão desde que o titular do direito faça prova da exploração florestal efectiva no âmbito da concessão em vigor, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Artigo 100º Sobreposição de direitos

1. A titularidade do direito de exploração florestal não implica a aquisição de quaisquer direitos sobre outros recursos naturais, salvo no caso dos direitos acessórios referidos no artigo 93º.

65

2. A atribuição do direito de exploração florestal numa dada área não impede o exercício de direitos igualmente válidos, anteriores ou posteriores, de terceiros sobre recursos naturais da mesma área.

3. O direito de exploração florestal deve ser exercido com respeito dos direitos de terceiros relativos a recursos naturais existentes dentro da área de exploração, em especial de acesso de comunidades locais a recursos naturais que não estejam abrangidos pelo direito de exploração florestal.

4. No caso de incompatibilidade no exercício dos diferentes direitos sobre recursos naturais, cabe ao Governo decidir quais os direitos que devem prevalecer e em que condições, sem prejuízo das indemnizações que sejam devidas aos titulares do direitos preteridos.

Secção II Da exploração florestal em terrenos do domínio consuetudinário

Artigo 101º Direito de exploração florestal comunitária

1. As comunidades rurais podem ser titulares do direito colectivo de exploração florestal dos recursos florestais do domínio público sobre os quais têm direitos de uso e fruição nos termos dos artigos 11º e 86º da presente lei.

2. O direito de exploração florestal referido no número anterior integra os direitos previstos nos artigos 92º e 93º da presente lei e, ainda:

3. O direito a assistência técnica do Estado no que respeita à gestão sustentável do recurso, incluindo para elaboração do plano de exploração a que se refere o artigo 103º e na celebração de contratos com compradores dos produtos florestais;

4. O direito de acesso ao crédito em condições bonificadas a serem definidas em regulamento.

5. A atribuição, pela comunidade, de direitos de exploração de recursos florestais sob uso e fruição comunitários, às famílias ou a membros singulares da comunidade rural, faz­se nos termos do direito consuetudinário da comunidade em causa.

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Artigo 102º Obrigações das comunidades rurais

1. As comunidades rurais que se dediquem à exploração florestal têm as seguintes obrigações:

oO cumprimento da legislação em vigor, em especial do disposto na presente lei e seus regulamentos, na legislação sobre águas e ordenamento do território, bem como das condições constantes do plano de exploração;

oO respeito pelos direitos de terceiros, em especial de titulares de outros direitos sobre recursos naturais, designadamente quanto a servidões de águas e de passagem e às servidões mineiras existentes;

oO cumprimento do plano de exploração florestal, nos termos previstos no artigo 103º da presente lei e nos seus regulamentos;

oA realização do repovoamento florestal, se for caso disso; oO aproveitamento dos desperdícios na percentagem que vier a ser definida no plano de exploração;

oA aplicação dos métodos e processos de colheita ou corte e de repovoamento constantes das normas técnicas que venham a ser adoptadas;

oO cumprimento das normas de segurança e higiene gerais e específicas da exploração florestal;

oA prestação de informações, em especial aos extensionistas rurais e aos fiscais florestais, necessárias ao acompanhamento e avaliação do estado dos recursos, bem como de outras exigidas por lei;

oA sujeição à fiscalização do Estado.

2. A comunidade que realize exploração florestal, deve afectar pelo menos 25 por cento dos lucros resultantes dessa exploração à realização de fins de interesse colectivo da comunidade em causa, em especial os relacionados com a educação, formação profissional, saúde e saneamento.

Artigo 103º Plano de exploração

1. As comunidades rurais que realizem exploração florestal devem cumprir um plano de exploração, cujo modelo lhes será facultado pelos extensionistas rurais.

2. O plano de exploração referido no número anterior consta de modelo aprovado por decreto executivo do Ministro que superintende o sector florestal.

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3. O plano de exploração deve incluir o repovoamento florestal que, em cada caso, seja considerado necessário.

4. O plano de exploração deve ser aprovado pela comunidade de acordo com as normas costumeiras de formação de decisões comunitárias em vigor na comunidade interessada.

5. Para os efeitos previstos no número anterior, deve estar presente o representante do órgão central, local ou autárquico competente a fim de prestar informações sobre o modelo de plano de exploração.

6. O plano de exploração deve ser aprovado pelo órgão central, local ou autárquico competente, tendo em consideração os planos territoriais e florestais em vigor e a legislação aplicável em matéria de espécies objecto da exploração florestal.

Artigo 104º Título de exploração florestal comunitária

1. As comunidades rurais que pretendam dedicar­se à exploração florestal devem comunicar a sua pretensão ao órgão central, local ou autárquico competente.

2. Após a aprovação do plano de exploração referido no artigo anterior, o órgão competente emite o título que reconhece o direito de exploração florestal comunitária.

3. O título de exploração florestal comunitária tem o conteúdo que vier a ser definido em regulamento, devendo incluir em especial:

oA designação da comunidade rural e da comuna em que está sediada;

oA descrição da área de exploração florestal; oAs espécies e sub­espécies que podem ser exploradas; oAs quantidades máximas das diferentes espécies que podem ser exploradas anualmente;

oAs instalações de transformação, se existirem.

4. A emissão do título de exploração florestal é gratuita.

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Artigo 105º Recusa de emissão do título de exploração florestal comunitária

O órgão central ou local competente nos termos do número 6 do artigo 103º apenas pode recusar a emissão do título de exploração florestal comunitária com os seguintes fundamentos:

o Quando a comunidade rural não seja titular do direito de domínio útil consuetudinário sobre os terrenos em que se encontram os recursos florestais;

o Quando o terreno tenha outra classificação nos termos do ordenamento do território;

o Quando a exploração florestal pretendida se referir a espécies raras, em extinção ou ameaçadas de extinção;

o Quando resulte do ordenamento florestal não ser sustentável a colheita ou corte das espécies ou nas quantidades, ou a exploração com uso de métodos e técnicas ou na área pretendida, em especial tendo em consideração os limites de quantidades máximas que podem ser exploradas nos termos dos planos florestais;

o Quando da exploração florestal resultem comprovados riscos para a saúde humana ou para os ecossistemas da área pretendida.

Artigo 106º Registo do direito de exploração florestal comunitária

Sem prejuízo de outros registos exigidos por lei, o Ministério que superintende o sector florestal deve proceder ao registo oficioso dos terrenos comunitários sob exploração florestal.

Artigo 107º Incentivos do Estado à exploração florestal comunitária

O Estado deve promover a exploração florestal comunitária, adoptando em especial os seguintes incentivos para as comunidades rurais que se dediquem à exploração florestal sustentável:

o Assistência técnica, em especial nos domínios da elaboração de planos de exploração florestal e de repovoamento, da organização da contabilidade das unidades de exploração, do acesso ao crédito e da comercialização de produtos florestais;

o Prestação de formação profissional; o Prestação das informações necessárias, em especial sobre legislação

aplicável à exploração florestal, mercados e preços; o Apoio à comercialização de produtos florestais;

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o Concessão de subsídios ou crédito bonificado para aquisição de equipamentos e materiais necessários à exploração florestal.

Artigo 108º Parcerias de comunidades com outros particulares para exploração

florestal

2. As comunidades podem estabelecer parcerias com entidades públicas, privadas ou cooperativas para a exploração florestal comunitária.

3. As parcerias referidas no artigo anterior constarão de contrato celebrado entre a comunidade rural interessada e os seus parceiros, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. Os contratos referidos neste artigo devem ser aprovados pelas comunidades que os celebram de acordo com as regras costumeiras de formação de decisões comunitárias em vigor na comunidade interessada.

5. O representante do órgão central, local ou autárquico competente deve estar presente no acto de aprovação do contrato referido no número anterior, para prestação de informações sobre o contrato em causa.

6. O contrato referido no número anterior está sujeito a aprovação do órgão central, local ou autárquico competente.

Artigo 109º Resolução de litígios

1. Os conflitos entre comunidades rurais e o Ministério que superintende o sector florestal em matéria de conteúdo do plano de exploração florestal, de emissão do título de exploração florestal comunitária ou de aprovação dos contratos de parceria referidos no artigo anterior são resolvidos nos termos dos artigos 77º a 81º da Lei de Terras.

2. Os conflitos entre membros da comunidade rural relativos à exploração florestal são resolvidos nos termos do artigo 82º da Lei de Terras.

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Capítulo VI Das florestas de plantação

Artigo 110º Finalidades e princípios

1. Para além das finalidades previstas no artigo 53º, as florestas de plantação visam:

o A conservação de manchas florestais, a recuperação de áreas degradadas e o povoamento e repovoamento florestais para, em especial, o combate à desertificação e seca, e a realização de actividades turísticas, de investigação e de educação e formação;

o A exploração florestal para fins industriais e energéticos.

2. A realização de actividades relativas a florestas de plantação obedece aos princípios estabelecidos no artigo 54º.

3. A actividade de plantação de florestas beneficia de incentivos especiais, a serem definidos por diploma próprio, do qual constarão em especial:

o A preferência na concessão de direitos fundiários previstos na Lei de Terras, sem prejuízo do estabelecido nos planos territoriais;

o A preferência na concessão de direitos de uso privativo de águas, sem prejuízo dos usos comuns;

o A isenção de pagamento de taxas de exploração florestal; o Os incentivos fiscais e outros incentivos previstos na legislação

de investimento privado.

Artigo 111º Plantações florestais

Todas as pessoas singulares ou colectivas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, públicas, mistas, privadas ou cooperativas, em especial as comunidades locais ou rurais e associações, podem exercer as actividades de plantação florestal nos termos da presente lei e seus regulamentos desde que sejam titulares de direitos fundiários sobre os terrenos onde pretendem exercer actividades.

71

Artigo 112º Direitos e obrigações do titulares de florestas de plantação

Sem prejuízo do regime de titularidade de direitos sobre solos, em especial direitos fundiários, os titulares de florestas de plantação têm o direito de propriedade dos recursos florestais plantados e os direitos previstos no artigo 9º.

No caso de florestas de exploração, os seus titulares têm ainda os seguintes direitos acessórios:

o A comercialização, incluindo exportação, dos produtos florestais obtidos no âmbito das suas actividades;

o A transformação e comercialização dos produtos florestais obtidos no âmbito da exploração florestal;

o O uso dos terrenos necessários à exploração florestal e a instalações com ela relacionadas;

o O uso das águas necessárias à exploração florestal; o O direito de abertura de vias de acesso à área da exploração

florestal; o O direito de edificação das instalações necessárias à exploração

florestal; o O direito de constituir as servidões de águas e de passagem

necessárias ao exercício do direito de exploração florestal; o O direito de acesso à informação sobre a área, sobre os recursos

florestais e faunísticos nela existentes e sobre as exigências da gestão sustentável desses recursos que se encontre na posse da Administração Pública.

3. Os titulares de florestas de plantação têm as obrigações previstas no número 4 do artigo 9º e no artigo 94º.

Artigo 113º Plantações florestais de conservação

Para efeitos de verificação da compatibilidade da actividade com os planos de ordenamento florestal e do território, as pessoas interessadas em estabelecer plantações florestais de conservação devem requerer, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, ao Ministério que superintende o sector florestal, que lhes seja passado o certificado de floresta de plantação para fins de conservação.

Caso a realização da actividade seja compatível com os planos de ordenamento florestal e do território, o Ministério que superintende o sector florestal deve emitir o certificado referido no número anterior.

72

O conteúdo de certificado de floresta de plantação para fins de conservação é definido em regulamento.

Artigo 114º Plantações florestais de exploração

As pessoas singulares ou colectivas interessadas em estabelecer plantações florestais de exploração devem requerer ao órgão central, local ou autárquico competente que lhes seja emitido o certificado de floresta de plantação para fins de exploração.

O pedido referido no número anterior deve ser acompanhado pelos seguintes documentos:

o A descrição da área; o A discriminação das espécies e sub­espécies que pretendem

cultivar; o O estudo de viabilidade técnico­económica; o O plano de exploração; o O estudo de impacto ambiental no caso de projectos para áreas

superiores a 100 hectares; o Prova de titularidade de direitos fundiários, se for caso disso; o Plano de edificação de instalações de produção e de

transformação.

3. Nos termos a definir em regulamento, as pequenas e micro empresas, em especial comunitárias e familiares, estão isentas da apresentação do estudo de viabilidade no caso de plantações em áreas inferiores a 1000 hectares.

4. O órgão competente verifica a compatibilidade da exploração de floresta de plantação com os planos florestais e territoriais, bem como com a legislação sobre espécies florestais e, ainda, se as instalações previstas obedecem aos requisitos legais.

5. No caso de preenchimento dos requisitos referidos no número anterior, o órgão competente deve emitir o certificado de exploração de floresta de plantação.

73

Artigo 115º Vistoria de instalações

1. Terminadas as obras de construção de instalações destinadas à exploração de floresta de plantação, deve ser efectuada vistoria das instalações pelo Ministério que superintende o sector florestal e pelo Ministério que superintende o sector industrial, no prazo de trinta dias contados a partir da data do pedido de realização de vistoria.

2. A vistoria destina­se apenas a verificar se as instalações obedecem aos requisitos previstos na legislação aplicável.

3. Se resultar da vistoria a necessidade de efectuar qualquer alteração nas instalações, quando esta estiver executada deve ser efectuada nova vistoria.

4. Quando se concluir das vistorias referidas neste artigo que as instalações obedecem aos requisitos legais, estas podem começar a ser utilizadas.

Artigo 116º Registo das florestas de plantação de exploração

Sem prejuízo de outros registos que se mostrem devidos, as florestas de plantação de conservação e de exploração estão sujeitas a registo nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Artigo 117º Polígonos florestais

1. Para os efeitos previstos nesta lei, polígono florestal é uma floresta de plantação do domínio público, gerida pelo Ministério que superintende o sector florestal ou pelo órgão autárquico competente e que se destina, em especial, ao estabelecimento de cortinas de protecção e de zonas verdes, à fixação de dunas e ao abastecimento de indústrias e da população, designadamente em combustíveis lenhosos.

2. O Governo deve promover a criação e assegurar a manutenção de polígonos florestais para fins de produção de carvão, recuperação de solos, combate à desertificação e melhoria da qualidade de vida dos habitantes da zona em que se encontra o polígono.

3. Os polígonos florestais são criados por decreto executivo conjunto do Ministro que superintende o sector florestal e do Ministro que superintende o ordenamento do território.

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4. Os polígonos florestais podem estar sob gestão da Administração central ou local do Estado ou da administração autárquica, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

5. Os órgãos centrais ou locais da Administração do Estado ou os órgãos autárquicos interessados em criar polígonos florestais devem apresentar o respectivo projecto ao Ministério que superintende o sector florestal, para verificação do cumprimento das normas técnicas aplicáveis e realização de avaliação de impacto ambiental, se for caso disso.

Artigo 118º Cessão da exploração de polígonos

1. Os órgãos da Administração central ou local do Estado ou autárquicos que administram polígonos florestais podem ceder a exploração de polígonos a pessoas singulares ou colectivas, nacionais estrangeiras ou internacionais, mediante contrato de cessão de exploração nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

2. Na cessão de exploração de polígonos florestais é dada preferência às pessoas com residência ou sede no município em que se encontra o polígono.

Capítulo VII Do comércio de produtos florestais

Artigo 119º Certificado de origem

Todos os produtos florestais provenientes de concessões, de explorações comunitárias ou de plantações florestais são identificados por documento comprovativo, nos termos a definir em regulamento, de que provêm de exploração florestal legal.

O certificado de origem referido no número anterior é emitido pelo concessionário, ou pelo representante da comunidade interessada ou pelo titular da plantação florestal e visado pelo agente de fiscalização florestal da localidade mais próxima.

Nenhum produto florestal pode circular para fora da área da concessão de exploração florestal, ou do terreno comunitário sobre exploração ou da plantação de exploração florestal sem o respectivo certificado de origem.

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O certificado de origem tem o conteúdo que vier a ser definido em regulamento, devendo indicar em especial:

O nome ou firma do proprietário do produto florestal; As espécies a que se referem os produtos florestais; As quantidades dos produtos florestais indicados no certificado.

O certificado de origem dos produtos florestais destinados a exportação deve obedecer, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, às especificações constantes dos instrumentos internacionais aplicáveis.

A inclusão no certificado de origem de informações incorrectas constitui crime de falsas declarações punível nos termos da legislação em vigor.

Artigo 120º Obrigatoriedade de exibição de certificado

Os transportadores e vendedores de produtos florestais devem exibir o certificado de origem dos produtos florestais sempre que tal lhes seja solicitado pelas autoridades florestais, policiais ou aduaneiras ou pelos compradores.

As empresas que, directa ou indirectamente, utilizem produtos florestais, em especial as empresas de venda ou transformação de produtos florestais, devem conservar em arquivo cópia dos certificados de origem dos produtos florestais que adquirem.

As empresas referidas no número anterior devem apresentar as cópias dos certificados de origem às autoridades competentes sempre que tal lhes seja solicitado nos termos da legislação em vigor.

Só é permitida a exportação de produtos florestais mediante a apresentação do certificado de origem do produto florestal.

Artigo 121º Comércio ilegal de produtos florestais

1. É proibida a venda, ou exibição para venda, armazenamento e transporte de produtos florestais que não sejam provenientes de concessões, de terrenos sob exploração comunitária ou de plantações florestais constituídas nos termos desta lei e seus regulamentos.

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2. O Ministério que superintende o sector florestal pode autorizar a venda, armazenamento e transporte das quantidades de produtos florestais para fins energéticos ou de construção que venham a ser definidas em regulamento em localidades em que não existam órgãos da Administração local do Estado ou comércio organizado.

Título III Da Gestão e Uso Sustentável da Fauna Selvagem

Capítulo I Disposições gerais

Secção I Disposições gerais

Artigo 122º Finalidades e princípios

1. São objectivos da gestão sustentável da fauna selvagem os previstos nos artigos 13º e 53º da presente lei.

2. A gestão dos recursos faunísticos obedece aos princípios previstos nos artigos 5º e 54º, com as necessárias adaptações.

Artigo 123º Obrigações do Estado

São obrigações do Governo no domínio dos recursos faunísticos:

o Assegurar o uso sustentável e a gestão integrada dos recursos faunísticos;

o Adoptar e assegurar a aplicação de legislação sobre caça e sobre o comércio de produtos da caça;

o Assegurar a adopção de medidas de ordenamento faunístico e das medidas de ordenamento florestal e do território com elas relacionadas e garantir a sua execução;

o Aprovar os planos faunísticos nacionais; o Assegurar que seja realizada a inventariação e classificação do

património faunístico e genético e a avaliação periódica do estado destes recursos;

o Assegurar a definição das espécies da fauna selvagem que podem ser caçadas em cada período;

o Prevenir os riscos de a sustentabilidade dos recursos faunísticos e da sua diversidade biológica ser prejudicada por excesso de caça ou por degradação de habitats;

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o Adoptar as medidas de incentivo à criação de fazendas de pecuarização com vista a contribuir para o repovoamento faunístico e a gestão sustentável dos recursos faunísticos;

o Assegurar a coordenação institucional, em especial no que respeita à compatibilidade das medidas de gestão de recursos faunísticos com as medidas de ordenamento do território e florestal e de gestão de recursos hídricos, bem como com o exercício de actividades económicas com impactos na sustentabilidade dos recursos;

o Assegurar o financiamento do sistema de conservação e gestão de fauna selvagem;

o Assegurar a participação dos cidadãos na preparação das decisões sobre fauna selvagem;

o Assegurar a fiscalização das actividades económicas relativas a recursos faunísticos;

o Assegurar a cooperação com outros Estados na protecção dos recursos faunísticos, em especial no que respeita à gestão conjunta de recursos partilhados, à conservação de espécies migratórias e à compatibilização das medidas de conservação e ordenamento a nível nacional com as medidas tomadas por outros Estados ou organizações sub­regionais, regionais e/ou mundiais;

o Assegurar a cooperação com outros Estados na prevenção, fiscalização e repressão do actividades ilícitas relativas aos recursos faunísticos, em especial o tráfico ilegal de espécies protegidas.

Artigo 124º Dos recursos faunísticos partilhados

O Governo deve assegurar a cooperação com os países limítrofes na gestão de recursos faunísticos e seus habitats partilhados e na prevenção, fiscalização e repressão de actividades ilícitas, em especial de caça e de comércio ilegal, nos termos da legislação dos países interessados.

Artigo 125º Das espécies migratórias

O Estado deve assegurar a conservação das espécies migratórias da fauna selvagem terrestre e de habitats adequados nas suas rotas de migração, nos termos estabelecidos nos planos de ordenamento faunístico.

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Artigo 126º Ordenamento faunístico

O uso e gestão dos recursos faunísticos, incluindo a concessão ou reconhecimento de direitos sobre recursos do domínio público, devem obedecer ao que vier estabelecido nas medidas de ordenamento faunístico previstas na presente lei e seus regulamentos e na legislação sobre ordenamento do território.

Artigo 127º Regimes de autorização prévia

A realização de actividades económicas relativas a recursos faunísticos, em especial a caça, está sujeita a controlo pelos organismos competentes do Estado segundo regimes de contrato de concessão, declaração prévia e licença de exercício de actividades, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos.

Artigo 128º Avaliação de impacte ambiental

No caso de projectos que tenham implicações significativas na sustentabilidade dos recursos faunísticos, nos seus habitats ou na sua diversidade biológica, bem como nos interesses das comunidades locais, não serão celebrados os contratos ou emitidas as autorizações previstos nesta lei sem que seja previamente realizada, pelo organismo competente do Estado, avaliação de impacto ambiental nos termos da legislação em vigor e desta lei e seus regulamentos.

O disposto no número anterior é ainda aplicável a projectos de grande dimensão relativos a coutadas e fazendas de pecuarização, nos termos a definir em regulamento.

Artigo 129º Sistemas de registo de direitos sobre recursos faunísticos

O Ministério que superintende o sector florestal deve organizar o registo dos direitos sobre recursos faunísticos, quer o registo dos direitos de caça quer dos direitos exploração de coutadas ou de fazendas de pecuarização.

79

Secção II Do ordenamento faunístico

Artigo 130º Finalidades do ordenamento

O ordenamento faunístico visa a prossecução das finalidades e a realização dos princípios estabelecidos na presente lei e seus regulamentos, em especial a conservação e uso sustentável dos recursos faunísticos.

Artigo 131º Princípios do ordenamento faunístico

O ordenamento faunístico rege­se pelos princípios estabelecidos nos artigos 5º e 54º da presente lei.

Artigo 132º Medidas de ordenamento faunístico

São medidas de ordenamento faunístico:

o A classificação das espécies nos termos dos artigos 7º, 15º a 19º e no número 3 do artigo 137º;

o A elaboração e execução de planos faunísticos nacionais e de planos de gestão por espécies da fauna selvagem, incluindo espécies migratórias, e por ecossistemas terrestres;

o A elaboração e execução de planos de repovoamento faunístico e de desenvolvimento de coutadas e fazendas de pecuarização;

o A elaboração das listas dos ecossistemas e espécies terrestres em extinção, ameaçados de extinção ou vulneráveis e elaboração e execução das medidas necessárias à sua regeneração;

o A determinação dos períodos de defeso; o A determinação das quantidades anuais das diferentes espécies e

subespécies de recursos faunísticos que podem ser objecto de caça e a sua desagregação por províncias, tipos de caça e quotas de titulares de direitos de caça;

o A definição dos tamanhos, sexo e idade das diferentes espécies que podem ser caçadas;

o A definição dos métodos e tecnologias a serem utilizados nas actividades relativas a recursos faunísticos, em especial na caça;

o A definição de zonas de caça; o O licenciamento das actividades e a concessão ou reconhecimento de

direitos relacionados com usos de recursos faunísticos;

80

o As medidas de incentivo às actividades de povoamento e repovoamento faunísticos, bem como de conservação ex situ de recursos faunísticos;

o As medidas de incentivo às empresas angolanas que se dediquem à exploração faunística sustentável e à prossecução de outros objectivos previstos na presente lei;

o Os planos de emergência para fazer face a situações imprevistas que ponham em perigo a fauna selvagem, em especial de combate a incêndios florestais;

o A promoção da formação profissional dos diversos intervenientes nas actividades relativas a recursos faunísticos;

o A definição de regras de segurança e higiene no trabalho específicas do sector faunístico;

o O acompanhamento e avaliação do estado dos recursos faunísticos; o As medidas de investigação científica de base e aplicada sobre a fauna

selvagem e seus ecossistemas; o A promoção de formas de concertação social, em especial com os

caçadores e empresas que se dediquem a actividades de aproveitamento de recursos faunísticos, com as associações profissionais e de defesa do ambiente interessadas, bem como as organizações comunitárias, com vista a assegurar a realização dos objectivos do ordenamento.

Artigo 133º Planos faunísticos

Os planos faunísticos são parte integrante dos planos florestais e obedecem ao disposto nos artigos 67º e seguintes, com as necessárias adaptações.

Artigo 134º Conteúdo dos planos faunísticos

Os planos faunísticos têm o conteúdo que vier a ser definido em regulamento.

O conteúdo e execução do plano de exploração faunística a que se refere o número 7 do artigo 67º, bem como o conteúdo do respectivo relatório de execução anual, obedecem às normas que vierem a ser definidas em regulamento.

81

Secção III Dos direitos de uso dos recursos faunísticos

Artigo 135º Finalidades do uso de recursos faunísticos

O uso dos recursos faunísticos tem, para além dos objectivos definidos nos artigo 13º e 53º, os seguintes objectivos específicos:

o Contribuir para a segurança alimentar a para a satisfação de necessidades básicas dos cidadãos;

o Contribuir para o desenvolvimento económico e social do País, em especial das zonas rurais, pela geração de emprego e de rendimentos;

o Assegurar a utilização óptima e sustentável dos recursos faunísticos.

Os recursos faunísticos do domínio público podem ser utilizados para os seguintes fins:

o Subsistência; o Investigação científica; o Exploração faunística; o Turismo e recreação; o Prevenção e controlo de doenças por razões de saúde pública

humana ou animal.

3. A exploração dos recursos faunísticos refere­se, em especial, a:

o Turismo ecológico; o Turismo cinegético, o Pecuarização de animais selvagens para fins de venda de carne,

de troféus e turísticos.

Artigo 136º Tipos de turismo ecológico e cinegético

1. Considera­se turismo ecológico o que visa a observação, fotografia ou filmagem de animais selvagens nos seus habitats naturais ou os safaris de caminhadas.

2. Considera­se turismo cinegético o que visa a caça de animais selvagens com fins recreativos, desportivos e de exploração faunística.

3. O turismo ecológico e cinegético tem lugar em:

o Coutadas;

82

o Fazendas de pecuarização; o Áreas de conservação; o Em zonas de caça não previstas nas alíneas anteriores.

Artigo 137º

1. Para efeitos de aproveitamento de recursos faunísticos, a caça pode ser:

o De subsistência; o Desportiva e recreativa; o De investigação; o Especializada.

2. Relativamente ao tipo de animais objecto da caça, esta pode ser:

o Caça grossa; o Caça miúda.

3. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental aprovam, por decreto executivo conjunto, as listas das espécies que integram os dois tipos de caça referidos no número anterior.

4. Quanto ao local onde é realizada, a caça pode ter lugar apenas em terrenos rurais e, nestes:

o Terrenos rurais do domínio público; o Terrenos comunitários; o Terrenos rurais sob concessão de direitos fundiários para diversos

fins; o Terrenos privados; o Coutadas; o Fazendas de pecuarização.

5. A caça em áreas de conservação é regulada no Título IV desta lei.

6. Cabe ao Ministro que superintende o sector florestal e ao Ministro que superintende a política ambiental definirem, por decreto executivo, as zonas de caça, se tal for considerado necessário em termos de ordenamento faunístico.

Artigo 138º Direitos de uso de recursos faunísticos

Os direitos de uso de recursos faunísticos são os seguintes:

83

o Direito de caça de subsistência; o Direito de caça desportiva e recreativa; o Direito de caça de investigação; o Direito de caça especializada; o Direito de exploração de coutadas; o Direito de exploração de fazendas de pecuarização; o Direito de exercício de actividades de turismo ecológico ou cinegético.

Artigo 139º Direitos de caça

1. Os direitos de caça incluem os direitos de perseguição de animais feridos, a captura e abate de recursos faunísticos, bem como a propriedade dos recursos, ou suas partes, capturados ou abatidos nos termos previstos nesta lei e seus regulamentos.

2. Para além das obrigações previstas no Título I desta lei, o titular de direitos de caça tem as seguintes obrigações específicas:

oApenas caçar os animais constantes da licença de caça, se for caso disso, e fora das zonas referidas no artigo 167º;

oTentar, por todos os meios, abater os animais que tenha ferido, em especial os que pertençam a espécies potencialmente perigosas para vida e saúde humanas;

oAbster­se de causar danos a espécies não incluídas na licença de caça ou aos seus habitats;

oRealizar o aproveitamento óptimo dos produtos da caça obtidos, devendo distribuir pelos habitantes da localidade em que se realiza a caça a carne que não seja consumida por si, pelos seus auxiliares ou acompanhantes, ou que não se destine a venda;

oNão comercializar carne fresca ou seca salvo, nos casos e nas condições previstas nesta lei e seus regulamentos e na legislação sanitária em vigor;

oRegistar diariamente os animais abatidos, salvo no caso de caça de subsistência;

oEstar munido da respectiva licença no acto de caça e exibi­la às autoridades competentes quando tal lhe seja solicitado;

oPagar as taxas de caça relativas às diferentes espécies e quantidades concedidas, se for caso disso;

oAbater, ou colaborar no abate de, animais selvagens em defesa de quaisquer pessoas singulares contra ataques actuais ou eminentes;

oColaborar nas actividades de acompanhamento e avaliação do estado de recursos, em especial fornecendo ao Ministério que superintende o sector florestal os relatórios de execução do plano de exploração faunístico, se for caso disso;

84

o Colaborar na fiscalização da caça, participando às autoridades competentes as infracções, em especial de caça, de que tenha conhecimento.

3. Os titulares de direitos sobre terrenos onde se refugie animal ferido são obrigados a facilitar a entrada do caçador no terreno para os fins previstos na alínea b) do número anterior e, no caso de o animal se encontrar morto, a fazer a sua entrega ao caçador.

4. O disposto no número 1 deste artigo não é aplicável aos recursos genéticos da fauna selvagem terrestre que se regem por lei especial.

Artigo 140º Direito de caça de subsistência

1. As pessoas singulares têm, na localidade da sua residência, o direito de caça de subsistência dos recursos faunísticos.

2. O direito de caça de subsistência integra o uso de recursos faunísticos nos terrenos rurais para fins alimentares, de vestuário, medicinais, e culturais.

3. O direito de caça de subsistência tem por objecto apenas a caça miúda.

4. Quando o ordenamento faunístico o permita, pode ser autorizada a caça de subsistência de espécies de caça grossa apenas no caso de comunidades rurais cujos meios de subsistência se baseiem na caça e recolecção.

5. O direito de caça de subsistência constitui­se mediante a realização da caça referida nos números anteriores.

6. Sem prejuízo das disposições relativas ao ordenamento florestal e faunístico e ao regime de áreas de conservação, o exercício de direitos de caça de subsistência não está sujeito a qualquer autorização prévia e é gratuito.

7. Os titulares do direito de caça de subsistência estão sujeitos às obrigações previstas no número 3 do artigo 10º, no número 2 do artigo 139º e no artigo 167º, devendo em especial cumprir as normas sobre protecção de espécies, ecossistemas e diversidade biológica.

85

Artigo 141º Direito de caça e de exploração em terrenos comunitários

1. O direito de uso e fruição comunitário, estabelecido no número 1 do artigo 11º, das comunidades rurais titulares do domínio útil consuetudinário nos termos da Lei de Terras, inclui:

o O direito de caça de subsistência dos membros da comunidade em causa, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos e nas normas consuetudinárias da comunidade em causa;

o O direito colectivo de exploração de coutadas e de fazendas de pecuarização nos termos estabelecidos nesta lei e seus regulamentos.

2. O exercício do direito de exploração de coutadas ou de fazendas de pecuarização pelas comunidades referidas neste artigo obedece ao disposto no número 3 do artigo 148º e nos artigos 151º e seguintes, 157º e seguintes e 179º e seguintes.

3. Os membros das comunidades previstas neste artigo têm:

o No caso de caça de subsistência, as obrigações previstas no número 7 do artigo 140º;

o No caso de exploração de coutadas ou de fazendas de pecuarização, as obrigações previstas no número 4 do artigo 9º, no número 2 do artigo 139º, no artigo 167º e no artigo 179 e seguintes;

o No caso de caça especializada, as obrigações previstas no número 5 do artigo 143º.

4. Salvo nos casos de caça grossa das espécies previstas em regulamento, não é devido o pagamento de qualquer taxa pelo exercício dos direitos de das comunidades rurais previstos neste artigo.

5. Sem prejuízo do disposto no número 1 do artigo 163º, a caça nos terrenos comunitários que não se destine à subsistência dos membros da comunidade está sujeita a licença emitida pelo órgão competente.

6. A exploração de coutadas ou de fazendas de pecuarização dentro de terrenos comunitários depende da aprovação de plano de exploração faunística pelo órgão competente nos termos do número 6 do artigo 103º.

86

Artigo 142º Direitos de caça desportiva, recreativa e de investigação

Os direitos de caça desportiva, recreativa e de investigação constituem­ se mediante licença de caça emitida nos termos dos artigos 179º e seguintes.

Artigo 143º Direito de caça especializada

O direito de caça especializada compreende o uso de recursos faunísticos nos terrenos rurais para exercício da actividade caçador especialista, incluindo para fins de prestação de serviços turísticos ecológico e cinegético e/ou de venda de troféus e de animais capturados.

Os direitos de caça especializada têm o conteúdo e constituem­se nos termos dos artigos 179º e seguintes.

A caça especializada pode referir­se a recursos faunísticos do domínio público, do domínio comunitário ou resultantes exploração de fazendas de pecuarização.

Os titulares de direitos de caça especializada têm as obrigações previstas no número 4 do artigo 9º, no número 2 do artigo 139º e no artigo 167º.

Artigo 144º Direito de exploração de coutadas

O direito de exploração de coutadas compreende os direitos de uso e fruição para fins comerciais, em especial de turismo cinegético e ecológico, de recursos faunísticos do domínio público bem como dos recursos faunísticos que se encontrem nos terrenos comunitários.

Artigo 145º Direito de exploração de fazendas de pecuarização;

O direito de exploração de fazendas de pecuarização compreende o direito ao exercício de actividades de pecuarização de animais da fauna selvagem bem como de actividades de turismo ecológico e cinegético.

87

Capítulo II Da exploração de recursos faunísticos

Secção I Disposições gerais

Artigo 146º Finalidades

Para além das finalidades previstas nos artigos 122º e 135º, a exploração de recursos faunísticos visa:

oA conservação e exploração sustentável de recursos faunísticos; oA segurança alimentar; oO repovoamento faunístico; oO desenvolvimento local, em especial pelo desenvolvimento do turismo ecológico.

2. A realização de actividades de exploração de recursos faunísticos em coutadas e fazendas de pecuarização obedece aos princípios estabelecidos nos artigos 54º e ao previsto nos artigos 147º e seguintes.

3. A realização de actividades de exploração de recursos faunísticos em coutadas e fazendas de pecuarização beneficia de incentivos especiais, a serem definidos por diploma próprio, do qual constarão em especial:

oA preferência na concessão de direitos fundiários previstos na Lei de Terras, sem prejuízo do previsto nos planos territoriais e florestais;

oA preferência na concessão de direitos de uso privativo de águas, sem prejuízo dos usos comuns;

oOs incentivos fiscais e outros incentivos previstos na legislação sobre investimento privado.

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Secção I – Das coutadas

Artigo 147º Tipos de coutadas

1. As coutadas são terrenos rurais do domínio público ou terrenos comunitários onde se realizam actividades de exploração de recursos faunísticos para turismo cinegético e ecológico, em especial mediante caça limitada às pessoas singulares que obtenham autorização do titular do direito de exploração de coutada para caça nos termos da respectiva licença de caça e do plano de exploração faunística da coutada.

2. As coutadas em terrenos do domínio público podem ser: Públicas, se forem administradas por pessoas colectivas públicas; Privadas, se estiverem sob concessão a pessoas singulares ou a pessoas colectivas privadas ou cooperativas; Comunitárias, se forem administradas por comunidades rurais titulares do domínio útil consuetudinário.

3. As coutadas públicas são criadas mediante decreto executivo conjunto do Ministro que superintende o sector florestal e do Ministro que superintende a política ambiental, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. As coutadas privadas são concedidas nos termos do artigo 150º e seguintes.

5. As coutadas comunitárias são autorizadas nos termos do artigo 151º.

Artigo 148º Gestão de coutadas

1. A criação de coutadas obedece aos planos territoriais, florestais e faunísticos.

2. O direito de exploração de coutadas privadas apenas pode ser concedido após aprovação, pelo órgão competente, do plano de exploração faunística apresentado pelos interessados.

3. As coutadas comunitárias apenas podem ser criadas pelos interessados após aprovação, pelo órgão competente, do plano de exploração faunística apresentado pelos interessados.

89

Artigo 149º Coutadas públicas

1. As coutadas públicas visam o desenvolvimento local, em especial do turismo, bem como o repovoamento faunístico.

2. As coutadas públicas podem ser administradas por: Por órgãos da Administração central ou local do Estado, ou da Administração autárquica, nos termos definidos no seu diploma de criação e no plano de exploração faunística;

Por instituto público especializado na gestão de recursos florestais e faunísticos, do qual constituirão um centro de custos e receitas, nos termos definidos no seu diploma de criação e no plano de exploração faunística.

3. Os órgãos da Administração central ou local, bem como os órgãos autárquicos, podem propor ao Ministério que superintende o sector florestal a criação de coutadas públicas municipais ou provinciais, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

4. Os órgãos do Estado que tutelam ou administram coutadas públicas podem ceder a exploração de uma coutada a pessoas singulares ou colectivas angolanas, estrangeiras ou internacionais, dotadas de capacidade adequada para a gestão da coutada, mediante contrato de cessão de exploração nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

5. A cessão da exploração de coutada deve ser objecto de concurso público.

6. Na cessão de exploração referida no número anterior têm preferência as pessoas singulares com residência ou colectiva com sede no município em que se encontra a coutada.

Artigo 150º Coutadas privadas

1. Podem ser titulares do direito de exploração de coutada as pessoas singulares ou colectivas angolanas que demonstrem capacidade adequada para o tipo de exploração que se propõem realizar.

2. As pessoas singulares ou colectivas estrangeiras ou internacionais que pretendam exercer actividades de exploração de coutada apenas o podem fazer em associação com pessoas angolanas.

3. Têm direito de preferência na concessão do direito de exploração de coutada:

90

o As pessoas singulares residente e colectivas com sede na localidade onde se situa a coutada;

o As pessoas que comprovem possuir instalações turísticas no município ou província onde se situa a coutada;

o As pessoas que se proponham realizar a exploração de coutada em zonas definidas como prioritárias para o repovoamento faunístico ou para o turismo ecológico ou cinegético ou, ainda, para o desenvolvimento económico e social;

o As pessoas que se proponham construir instalações turísticas dentro da área da coutada.

4. No caso de concessão do direito de exploração de coutada para áreas superiores a 1000 hectares, o direito de exploração apenas será concedido às pessoas singulares ou colectivas que possuam ou se proponham construir as instalações adequadas.

5. A concessão do direito de exploração de coutada, incluindo as matérias relativa ao contrato de concessão, à sua duração, à alteração de condições da concessão e à extinção do direito, obedece ao disposto nesta secção e, com as necessárias adaptações, nos artigos 91º a 100º, 139º e 167º, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Artigo 151º Coutadas comunitárias

O exercício de actividades de exploração de coutadas comunitárias obedece, com as necessárias adaptações, ao disposto nos artigos 101º a 109º, 139º, 141º e 167º e nesta secção, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Artigo 152º Direito de exploração de coutadas

Os titulares de direitos de exploração de coutadas privadas e comunitárias têm os seguintes direitos:

o O direito ao exercício da actividade de turismo ecológico e cinegético mediante exploração de coutada, de acordo com o plano de exploração faunística aprovado pelo órgão concedente;

o O direito de propriedade dos recursos faunísticos abatidos ou capturados, sem prejuízo dos direitos de caçadores recreativos ou desportivos que sejam autorizados a caçar na coutada em causa.

91

Artigo 153º Direitos acessórios

São direitos acessórios do titular do direito de exploração de coutadas:

o O direito fundiário de superfície do terreno em que se realiza a exploração faunística, se for caso disso;

o De comercialização, incluindo exportação, dos produtos da caça obtidos no âmbito da exploração da coutada;

o O direito de uso das águas necessárias à exploração da coutada, nos termos da legislação sobre recursos hídricos em vigor;

o O direito de abertura de vias de acesso à área da coutada; o O direito de edificação das instalações necessárias à exploração

da coutada; o O direito de constituir as servidões de águas e de passagem

necessárias ao exercício do direito de exploração da coutada; o De recrutamento de caçadores especialistas para realização da

caça dentro da área da coutada; o O direito de acesso à informação sobre a área, sobre os recursos

florestais e faunísticos nela existentes e sobre as exigências da gestão sustentável desses recursos que se encontre na posse da Administração Pública.

Artigo 154º Obrigações do concessionário

Os titulares do direito de exploração de coutadas têm as obrigações genéricas previstas no númeto 4 do artigo 9º em especial de uso sustentável dos recursos faunísticos e florestais existentes na área da coutada e, em especial, as seguintes obrigações:

o O cumprimento da legislação em vigor, em especial do disposto na presente lei e seus regulamentos, na legislação sobre terras, águas e ordenamento do território, bem como das condições constantes do contrato de concessão;

o O respeito pelos direitos de terceiros, em especial das comunidades rurais e de titulares de outros direitos sobre recursos naturais, designadamente quanto a servidões de águas e de passagem e às servidões mineiras existentes;

o O cumprimento do plano de exploração faunística e do plano de repovoamento faunístico, se for caso disso;

o O aproveitamento integral dos produtos da caça, nos termos definidos no plano de exploração faunística;

o A aplicação dos métodos de caça e de repovoamento constantes das normas técnicas que venham a ser adoptadas;

o O pagamento das taxas de exploração faunística;

92

o A preferência, no recrutamento e formação, de trabalhadores angolanos, se possível de residentes na área da concessão;

o O cumprimento das normas de segurança e higiene no trabalho gerais e específicas da exploração faunística e da caça;

o A adopção e implementação de planos de prevenção e combate a incêndios florestais;

o A preferência de empresas angolanas no fornecimento de bens e serviços necessários à exploração da coutada;

o A prestação de informações necessárias ao acompanhamento e avaliação do estado dos recursos faunísticos, bem como do cumprimento do plano de exploração, em especial a apresentação anual do relatório de execução do plano de exploração faunística;

o A sujeição a fiscalização do Estado.

2. As pequenas e micro empresas que se proponham realizar investimentos podem ser isentas do pagamento das taxas de exploração faunística por um período de cinco anos, nos termos a definir em regulamento.

Artigo 155º Área de coutada

1. A determinação da área da coutada obedece ao estabelecido nos instrumentos de ordenamento do território e à capacidade demonstrada pelo candidato ao direito de exploração de coutada para a exploração que se propõe realizar.

2. A determinação da área da coutada obedece aos seguintes critérios, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento:

o O potencial qualitativo e quantitativo da fauna selvagem existente na área pretendida;

o A capacidade de exploração faunística demonstrada pelo requerente;

o As exigências do uso sustentável dos recursos concedidos.

3. As áreas das coutadas não podem ser superiores a 10000 hectares salvo no caso de ponderoso interesse nacional, em especial de projectos de investimento de valor superior aos montantes que vierem a ser definidos em regulamento.

4. Cabe ao Conselho de Ministros aprovar as concessões para áreas superiores ao limite estabelecido no número anterior.

93

Artigo 156º Aquisição de novos direitos de exploração de coutada

Não pode ser concedido o direito de exploração para novas áreas desde que o total de áreas utilizadas por um só titular de direitos de exploração seja superior a 10000 hectares.

Secção II ­ Das fazendas de pecuarização

Artigo 157º Fazendas de pecuarização

1. Todas as pessoas singulares ou colectivas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, públicas, mistas, privadas ou cooperativas, em especial as comunidades locais ou rurais e associações, podem exercer as actividades de pecuarização de animais da fauna selvagem nos termos da presente lei e seus regulamentos desde que sejam titulares de direitos fundiários sobre os terrenos onde pretendem exercer actividades.

2. Os titulares do direito de exploração de fazendas de pecuarização realizam a actividade de criação de animais da fauna selvagem para fins de turismo ecológico e cinegético, repovoamento faunístico e venda de produtos da caça.

3. Todas as pessoas singulares ou colectivas que se proponham explorar fazendas de pecuarização têm preferência na concessão de direitos fundiários, nos termos dos planos territoriais e florestais aplicáveis.

Artigo 158º Direitos e obrigações do titulares de direitos de exploração de fazendas

de pecuarização

1. Sem prejuízo do regime de titularidade de direitos sobre terrenos, em especial direitos fundiários, os titulares do direito de exploração de fazendas de pecuarização têm os seguintes direitos:

o O direito de exercício de actividades de pecuarização e de turismo ecológico e cinegético;

o O direito de propriedade dos recursos faunísticos criados no âmbito da pecuarização;

o O direito de caça dos recurso faunísticos pecuarizados, desde que a caça seja realizada por titulares de direitos de caça nos termos do artigos 179º e seguintes.

o Os titulares de direitos de exploração de fazendas de pecuarização, têm ainda os seguintes direitos acessórios:

94

o A comercialização, incluindo exportação, dos produtos faunísticos obtidos no âmbito da exploração da fazenda de pecuarização;

o A transformação e comercialização dos produtos faunísticos obtidos no âmbito da exploração da fazenda de pecuarização;

o O uso dos terrenos necessários à pecuarização e a instalações com ela relacionadas;

o O direito de uso das águas necessárias à exploração dos recursos faunísticos, nos termos da legislação sobre recursos hídricos em vigor;

o O direito de abertura de vias de acesso à área da fazenda de pecuarização;

o O direito de edificação das instalações necessárias ao exercício da actividade de exploração de fazenda de pecuarização;

o O direito de constituir as servidões de águas e de passagem necessárias ao exercício das actividades de exploração de fazenda de pecuarização;

o O direito de acesso à informação sobre a área, sobre os recursos florestais e faunísticos nela existentes e sobre as exigências da gestão sustentável desses recursos que se encontre na posse da Administração Pública.

3. Os titulares do direito de exploração de fazendas de pecuarização têm as obrigações previstas nos artigos 9º, 139º, 167º e 154º, este com as necessárias adaptações.

Artigo 159º Autorização de fazendas de pecuarização

1. As pessoas singulares ou colectivas interessadas em estabelecer fazendas de pecuarização devem requerer ao Ministério que superintende o sector florestal que lhes seja emitido o certificado de fazenda de pecuarização.

2. O pedido referido no número anterior deve ser acompanhado pelos seguintes documentos:

o Descrição da área; o A discriminação das espécies e sub­espécies que pretendem criar; o O estudo de viabilidade técnico­económica; o O plano de exploração faunística; o O estudo de impacto ambiental no caso de projectos para áreas

superiores a 100 hectares; o Prova de titularidade de direitos fundiários, se for caso disso; o Licenças de caça especializada, se for caso disso; o Plano de edificação de instalações.

3. Nos termos a definir em regulamento, as pequenas e micro empresas, em especial comunitárias e familiares, estão isentas da apresentação do estudo de viabilidade no caso de fazendas de pecuarização em áreas inferiores a 100 hectares.

95

4. O Ministério que superintende o sector florestal verifica a compatibilidade da exploração da fazenda de pecuarização com os planos florestais, faunísticos e territoriais, bem como com a legislação sobre espécies faunísticas e sobre caça e, ainda, se as instalações previstas obedecem aos requisitos legais.

5. No caso de preenchimento dos requisitos referidos no número anterior, o Ministério que superintende o sector florestal deve emitir o certificado de exploração de fazenda de pecuarização.

Artigo 160º Vistoria de instalações

1. Terminadas as obras de construção de instalações destinadas à exploração de recursos faunísticos em fazendas de pecuarização, deve ser efectuada vistoria das instalações pelo Ministério que superintende o sector florestal no prazo de trinta dias contados a partir da data do pedido de realização de vistoria.

2. A vistoria destina­se apenas a verificar se as instalações obedecem aos requisitos previstos na legislação aplicável.

3. Se resultar da vistoria a necessidade de efectuar qualquer alteração na instalação, quando esta estiver executada deve ser efectuada nova vistoria.

4. Quando se concluir das vistorias referidas neste artigo que as instalações obedecem aos requisitos legais, podem começar a ser utilizadas.

Artigo 161º Registo das fazendas de pecuarização

Sem prejuízo de outros registos que se mostrem devidos, as fazendas de pecuarização estão sujeitas a registo nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Capítulo III Do regime de caça

Secção I – Disposições gerais

Artigo 162º Caça de recursos faunísticos do Estado

1. Sem prejuízo do direito de caça de subsistência, os direitos de caça constituem­se mediante licença de caça.

96

2. Podem ser titulares de direitos de caça de recursos faunísticos do domínio público as pessoas singulares, nacionais ou estrangeiras, que preencham os requisitos exigidos para a realização do tipo de caça que se propõem realizar.

3. Têm preferência na concessão de direitos de caça as pessoas singulares angolanas e, dentre estas, as pessoas residentes ou com sede na localidade onde se encontram os recursos faunísticos que se propõem caçar.

4. Têm preferência na concessão de direitos de caça especializada as pessoas singulares que se proponham explorar coutadas ou fazendas de pecuarização ou exercer actividades de turismo ecológico ou cinegético em outras zonas de caça.

Artigo 163º Caça em terrenos comunitários

1. A realização de actividades de caça desportiva, recreativa, de investigação ou especializada em terrenos comunitários depende de autorização da comunidade titular do domínio útil consuetudinário, a ser concedida de acordo com o disposto na presente lei e seus regulamentos, em especial de acordo com o plano de exploração faunística referido no número 7 do artigo 67º.

2. A autorização da comunidade a que se refere o número anterior apenas é exigível se a delimitação do terreno comunitário estiver devidamente assinalada.

Artigo 164º Caça em terrenos sob concessão de direitos fundiários ou privados

1. A realização de actividades de caça desportiva, recreativa, de investigação ou especializada em terrenos sob concessão de direitos fundiários ou propriedade de particulares depende de autorização do titular do direito, a ser concedida de acordo com o disposto na presente lei e seu regulamentos, em especial de acordo com o plano de exploração faunística referido no número 7 do artigo 67º.

2. A autorização do titular de direitos referida no número anterior não prejudica a obrigatoriedade de obtenção de licença de caça nos termos desta lei e seus regulamentos.

3. A autorização do titular de direitos sobre os terrenos a que se refere o número 1 deste artigo apenas é exigível se a delimitação do terreno estiver devidamente assinalada.

97

Artigo 165º Caça de recursos faunísticos em fazendas de pecuarização

A realização de actividades de caça desportiva, recreativa, de investigação ou especializada em fazendas de pecuarização depende de autorização do proprietário dos recursos, a ser concedida de acordo com o disposto na presente lei e seu regulamentos, em especial de acordo com o plano de exploração faunística referido no número 7 do artigo 67º.

Artigo 166º Incentivos à captura de animais vivos

1. O Estado deve adoptar incentivos para a captura de animais selvagens vivos quando estes prejudiquem actividades agrícolas ou pecuárias realizadas nos terrenos rurais.

2. Dos incentivos referidos no número anterior destacam­se a compra, por pessoas singulares ou colectivas, dos exemplares capturados para repovoamento de áreas degradadas, para conservação ex situ ou para fazendas de pecuarização, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Artigo 167º Proibições relativas à caça

1. Para além das proibições de caça de espécies raras, em extinção, ameaçadas de extinção ou vulneráveis a que se referem os artigos 17º e 18º, bem como de proibições relativas a espécies endémicas que venham a ser estabelecidas no regulamento a que se refere o artigo 19º, é ainda proibida a caça nos seguintes locais:

o Nas áreas de conservação salvo o disposto no Título IV; o Nos ecossistemas protegidos nos termos do artigo 16º; o Nas florestas a que se referem as alíneas a), c), e), f) e g) do número 4

do artigo 56º; o Nos habitats protegidos das espécies migratórias a que se refere o

artigo 125º; o Numa área de 500 metros circundante ao perímetro de queimadas; o Nos terrenos que, por efeito de inundações, encontrem completamente

cercados de água; o Nas dormidas preferidas de aves.

2. É ainda proibida:

98

o A caça de fêmeas acompanhadas de crias; o A caça de animais de tamanho e peso inferior aos que vierem a ser

estabelecidos nos termos do artigo 24º.

Artigo 168º Qualificações para certos tipos de caça

1. Só é permitida a caça das espécies perigosas que venham a constar de listas aprovadas por decreto executivo do Ministro que superintende o sector florestal e do Ministro que superintende a política ambiental às pessoas singulares que estejam munidas da carteira de caçador.

2. A obtenção da carteira de caçador obedece às normas que vierem a ser estabelecidas em regulamento, devendo sempre ser precedida de um período de formação específica.

3. A carteira de caçador apenas é concedida após o candidato ficar aprovado em exame comprovativo da sua formação específica.

4. São competentes para emitir a carteira de caçador as comissões venatórias referidas no número 4 do artigo 179º.

Secção II – Das armas e métodos de caça

Artigo 169º Obrigações do Estado

1. O Estado deve adoptar as medidas necessárias para que as actividades de caça não causem danos aos recursos faunísticos e seus habitats.

2. O Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental devem, em especial, promover o estudo dos impactos ambientais, em especial nos recursos faunísticos e seus habitats, da caça e dos métodos e armas de caça utilizados.

3. Cabe ao Governo determinar, por decreto, quais os métodos e armas de caça proibidos ou limitados a certas espécies.

Artigo 170º Período da caça

1. É proibida a caça durante os períodos de defeso a que se refere o artigo 23º.

99

2. Apenas é permitida a caça diurna, entendendo­se esta como a caça no período que medeia entre o amanhecer e o sol posto, salvo no caso de excepções relativas a certas espécies a serem definidas em regulamento.

Artigo 171º Armas de caça

1. O licenciamento de armas de fogo é regulado por legislação especial.

2. É proibido o uso de explosivos na caça.

Artigo 172º Armadilhas

1. É proibida a caça com armadilhas, redes, ratoeiras e laços, salvo nos seguintes casos:

o Para captura de animais vivos para repovamento faunístico nos termos a definir em regulamento;

o Para defesa de pessoas e bens, nos termos a definir em regulamento.

2. Cabe ao Ministro que superintende o sector florestal e ao Ministro que superintende a política ambiental determinar, por decreto executivo conjunto, quais os tipos de armadilhas, redes, ratoeiras e laços que podem ser utilizados na caça das diferentes espécies da fauna selvagem.

3. O diploma referido no número anterior deve ter em consideração os pertinentes relatórios científicos, em especial sobre as práticas tradicionais de caça.

Artigo 173º Caça com fontes luminosas

1. É proibido o uso na caça de fontes luminosas artificiais ou dispositivos para iluminar os alvos.

2. É proibido o uso na caça de dispositivos de visão para tiro nocturno que incluam um conversor de imagem ou um amplificador de imagem electrónico.

3. É também proibido na caça o uso de espelhos e outros instrumentos destinados a perturbar os alvos.

100

Artigo 174º Caça com substâncias venenosas

1. É proibida a caça com iscas e substâncias venenosas ou com armas que utilizem substâncias venenosas.

2. É proibida a caça com iscas e substâncias anestesiantes ou com armas tradicionais que utilizem substâncias anestesiantes, salvo para fins de captura de animais vivos devidamente autorizada nos termos da licença de caça.

3. Cabe ao Ministro que superintende o sector florestal, ao Ministro que superintende a política ambiental e ao Ministro da Saúde aprovar, por decreto executivo conjunto, a lista das substâncias venenosas e anestesiantes para efeitos do disposto neste artigo.

Artigo 175º Caça com animais vivos

É proibida a caça com uso de animais vivos como isco.

Artigo 176º Caça com aparelhos eléctricos

É proibido o uso na caça de aparelhos eléctricos que possam matar ou perturbar o alvo.

Artigo 177º Caça com fogo, gases ou fumos

É proibido o uso de fogo, gases ou fumos na caça.

Artigo 178º Métodos de caça

No exercício da caça é proibido:

o Atear qualquer incêndio; o Perseguir os animais selvagens a cavalo, em veículos automóveis,

aviões ou outros veículos aéreos, salvo no caso de perseguição para captura de animais vivos devidamente autorizada nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

101

Secção III ­ Das licenças de caça

Artigo 179º Das licenças de caça

1. O exercício de caça apenas é permitido a titulares de direitos de caça que estejam munidos da respectiva licença de caça, salvo nos casos de caça de subsistência referidos no número 6 do artigo 140º.

2. A licença de caça apenas é concedida a pessoas singulares, nacionais ou estrangeiras, maiores de idade, dotadas de idoneidade e de capacidade adequada para o tipo de caça que se propõem realizar.

3. As licenças de caça podem ser:

o Licença de caça recreativa e desportiva; o Licença de caça de investigação; o Licença de caça especializada.

4. As licenças de caça são concedidas por comissão venatória provincial, cuja organização e funcionamento são definidos em regulamento.

5. O procedimento de concessão de licença de caça é estabelecido em regulamento aprovado por decreto.

6. Apenas pode ser titular de licença de caça quem previamente tenha obtido a licença de uso e porte de arma, se for caso disso.

Artigo 180º Licença de caça especializada

1. A licença de caça especializada é concedida para os fins previstos nas alíneas b), c) e d) do número 2 do artigo 135º.

2. Podem ser titulares de direitos de caça especializada os angolanos ou estrangeiros residentes que tenham obtido a carteira de caçador.

3. Os requisitos para a aquisição do estatuto de caçador especialista, bem como o respectivo regime de realização de actividades, são definidos em regulamento.

4. Os residentes na província ou município em que se realiza a caça têm direito de preferência na concessão de licença de caça especializada.

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Artigo 181º Conteúdo da licença de caça

1. As licenças de caça têm o conteúdo e obedecem aos modelos que vierem a ser definidos em regulamento, devendo incluir, em especial:

o A identificação do titular dos direitos de caça; o A duração dos direitos de caça; o O tipo de caça; o As espécies, subespécies ou grupos de espécies a que se referem os

direitos de caça, bem como as quantidades de cada espécie, subespécie ou grupos de espécies que podem ser caçadas;

o As zonas onde a caça pode ser exercida; o Os períodos do ano em que pode ser exercida a caça relativamente a

cada espécie, subespécie ou grupos de espécies; o As armas que podem ser utilizadas; o Cláusula de alteração unilateral das condições da licença nos casos

previstos no artigo 184º; o A assinatura do titular do órgão concedente dos direitos de caça.

2. As quantidades de espécies, subespécies e grupos de espécies constantes das licenças de caça são estabelecidas em função das medidas de ordenamento faunístico adoptadas, em especial as medidas previstas nas alienas f), g) e j) do artigo 132º.

3. As infracções de caça praticadas pelo titular da licença serão averbadas na licença de caça.

Artigo 182º Duração das licenças de caça

1. As licenças de caçador especialista e de caça recreativa, desportiva e de investigação têm a duração que vier a ser definida em regulamento.

2. As licenças de caça são renováveis, salvo nos casos previstos nas alíneas e) e f) do número 2 do artigo 185º e no caso de condenação pelas infracções previstas nos artigos ....

Artigo 183º Recusa de concessão de licença de caça

A licença de caça pode ser recusada com os seguintes fundamentos:

103

o Quando o requerente não preencher os requisitos para o tipo de caça que se propõe realizar;

o Quando o pedido se refira a espécies cuja caça é proibida ou limitada nos termos dos artigos 17º e 18º;

o Quando o requerente pretenda exercer as actividades de caça em zonas de ecossistemas previstos no artigo 16º e nas zonas previstas no número 1 do artigo 167º;

o Quando resulte do ordenamento faunístico a impossibilidade de concessão de direitos de caça para as espécies pretendidas por já se ter atingido os limites, em especial de quantidades, a que se refere o artigo 132º;

o Quando o requerente tenha sido condenado pelas infracções previstas nos artigos ... .

Artigo 184º Alteração das condições de licença de caçador especialista

As licenças de caçador especialista apenas podem ser alteradas nos seguintes casos:

o Por acordo entre o concedente e o caçador, a pedido de um deles, em especial invocando alteração de circunstâncias que afectem o equilíbrio económico­financeiro das actividades desenvolvidas no âmbito da licença;

o Por acordo entre o concedente e o caçador no caso de adopção de medidas de ordenamento faunístico, em especial as previstas na alínea d) do artigo 132º, que determinem alteração nas espécies, subespécies ou grupos de espécies constantes da licença ou nas quantidades que o titular está autorizado a caçar;

o Unilateralmente pelo Ministério que superintende o sector florestal se novos conhecimentos científicos ou dados relativos ao estado dos recursos faunísticos assim o exigirem, tendo em consideração os princípios da prevenção, da precaução e da proporcionalidade.

Artigo 185º Extinção de direitos de caça

1. São causas de extinção dos direitos de caça:

o A caducidade; o A renúncia; o A revogação da licença.

2. A licença de caça pode ser revogada nos seguintes casos:

104

o Abuso de direito; o Incumprimento desta lei e seu regulamentos ou das condições da

licença; o Alteração de circunstâncias que afectem o equilíbrio económico­

financeiro das actividades desenvolvidas no âmbito da licença no caso de não se chegar a acordo nos termos da alínea a) do artigo anterior;

o Não exercício dos direitos por período superior a dois anos, salvo em caso de força maior;

o Comprovado risco de extinção ou não renovação sustentável das espécies ou subespécies a que se referem os direitos de caça que determine a adopção de medidas de ordenamento faunístico, em especial as previstas na alínea d) do artigo 132º, a proibição ou suspensão de caça de espécies, subespécies ou grupos de espécies constantes da licença;

o Comprovado risco para a saúde humana ou animal, para a ordem e segurança de pessoas e bens, ou para os ecossistemas, em resultado da realização de actividades de caça.

3. No caso de revogação da licença com os fundamentos previstos nas alíneas e) e f) do número anterior, pode ser atribuída nova licença para outra zona de caça ou para espécies ou subespécies diversas, se tal for possível nos termos das medidas de ordenamento faunístico, florestal ou do território.

Secção IV – Do comércio de produtos da caça

Artigo 186º Controlo do comércio de produtos da caça

1. Apenas podem ser comercializados produtos de caça capturados ou abatidos nos termos desta lei e seus regulamentos.

2. É proibida a comercialização de produtos de caça de subsistência, desportiva, recreativa e de investigação.

3. Todos os produtos de caça são identificados por certificado de origem comprovativo de que provêm de actividades de caça legais.

4. No caso de caça em terrenos do domínio público, em terrenos comunitários ou em terrenos de particulares, o certificado de origem referido no número anterior é emitido pela autoridade competente, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento após verificação do averbamento na licença de caça a que se refere o artigo .... (Título VI).

105

5. No caso de caça em coutadas ou em fazendas de pecuarização, o certificado de origem referido neste artigo é emitido pelo titular do direitos de exploração da coutada ou da fazenda de pecuarização e visado pelo fiscal florestal da localidade mais próxima.

6. O certificado de origem previsto neste artigo obedece ao modelo que vier a ser estabelecido em regulamento e não substitui qualquer certificado de sanidade exigido pela legislação em vigor.

7. A inclusão no certificado de origem informações incorrectas constitui crime de falsas declarações punível nos termos da legislação em vigor.

Artigo 187º Obrigatoriedade de apresentação do certificado

1. Os caçadores, os transportadores e os vendedores de produtos de caça devem exibir o certificado de origem previsto no artigo anterior sempre que tal lhes seja solicitado pelas autoridades florestais, policiais, aduaneiras ou pelos compradores.

2. As empresas que, directa ou indirectamente, comercializem ou utilizem produtos da caça devem conservar em arquivo cópia dos certificados previstos nesta secção.

3. Apenas é permitida a exportação de produtos de caça após a apresentação do certificado referido nesta secção às autoridades competentes.

Secção V – Da prestação de serviços de turismo cinegético ou ecológico fora de coutadas ou de fazendas

Artigo 188º Actividades de turismo cinegético e ecológico relativas à fauna selvagem

terrestre

1. Sem prejuízo da realização de actividades em coutadas e fazendas de pecuarização, a exploração de recursos faunísticos pode ser realizada em terrenos, classificados como zonas de caça, do domínio público ou do domínio útil consuetudinário, para fins de turismo ecológico e/ou cinegético, em especial a organização de safaris, caça desportiva e recreativa, excursões para fotografia, filmagem ou observação de fauna selvagem terrestre.

106

2. As pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, que pretendam dedicar­se ao exercício de actividades de turismo ecológico e/ou cinegético nos termos do número anterior devem obter uma licença de exercício de actividades nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. As pessoas singulares ou colectivas angolanas residentes ou com sede na província onde se irão realizar as actividades têm preferência na atribuição das licenças de exercício de actividades de turismo ecológico ou cinegético.

4. A concessão da licença de exercício de actividades referida no número anterior a pessoa colectiva não prejudica a exigência de licença de caça seus aos empregados ou clientes que se dediquem à caça desportiva, recreativa, de investigação ou especializada.

Artigo 189º Caça especializada fora de coutadas e de fazendas de pecuarização

1. Para além da caça em coutadas e fazendas de pecuarização, a exploração de recursos faunísticos pode ser realizada por caçadores especialistas nos termos dos artigos 135º e 143º, incluindo para fins de turismo cinegético, sem necessidade de obtenção da licença de exercício de actividades referida no artigo anterior.

2. As pessoas singulares que pretendam dedicar­se à exploração de recursos faunísticos referida no número anterior, devem obter a licença de caça especializada prevista no artigo 179º e nos termos dos artigos 180º e seguintes.

Título IV Das Áreas de Conservação Terrestres

Capítulo I Disposições gerais

Secção I – Disposições gerais

Artigo 190º Finalidades e princípios

1. As áreas de conservação terrestres visam assegurar a conservação da diversidade biológica e, em especial:

107

o A conservação de ecossistemas, em especial em extinção, ameaçados de extinção ou vulneráveis, bem como dotados de maior diversidade biológica ou que existam apenas no território nacional;

o A conservação de espécies, em especial as espécies raras, em extinção, ameaçadas de extinção ou vulneráveis, de grande valor científico ou estético, ou endémicas, bem como dos habitats essenciais à sobrevivência dessas espécies;

o A conservação in situ de recurso genéticos da flora silvestre e da fauna selvagem;

o A preservação de valores culturais, em especial estéticos; o A conservação de paisagens de valor estético ou de outro modo cultural; o A investigação científica; o A recreação e o turismo; o A gestão sustentável de certas espécies ou ecossistemas; o A recuperação de áreas degradadas; o Contribuir para o desenvolvimento económico e social, em especial

local, pela promoção do turismo e da participação das comunidades locais nos benefícios resultantes das actividades relacionadas com a gestão de áreas de conservação.

2. A constituição e gestão de áreas de conservação terrestres obedecem aos seguintes princípios:

o Do desenvolvimento sustentável; o Da prevenção; o Da precaução; o Da gestão integrada; o Da cooperação institucional; o Do ordenamento do território e do ordenamento florestal e faunístico; o Da propriedade estadual dos terrenos reservados para áreas de

conservação; o Da participação; o Da cooperação internacional.

Artigo 191º Obrigações do Estado

1. O Estado deve criar, manter ou reabilitar uma rede de áreas de conservação visando a preservação da paisagens e da diversidade biológica para as gerações actuais e futuras e para aplicação de medidas especiais de gestão de ecossistemas, espécies e paisagens.

2. Cabe ao Governo assegurar, em especial:

108

o A identificação das áreas de importância para a realização dos objectivos previstos no número 1 do artigo 190º;

o A compatibilização entre o ordenamento do território e o ordenamento florestal e faunístico e a criação de áreas de conservação;

o A classificação e reclassificação de áreas de conservação; o A adopção de programas de reabilitação de áreas de conservação

degradadas e de criação de novas áreas de conservação; o A gestão sustentável de áreas de conservação; o A adopção de planos de gestão das diferentes áreas de conservação; o A formação dos trabalhadores que prestam serviço nas áreas de

conservação; o A informação e a participação dos cidadãos, em especial das

comunidades rurais, na constituição e gestão de áreas de conservação; o A cooperação internacional, em especial na identificação, classificação e

reclassificação de áreas de conservação, na formação de gestores de áreas de conservação e na gestão de áreas de conservação transfronteiriças;

o A fiscalização das áreas de conservação.

Artigo 192º Direitos e obrigações dos cidadãos

1. Os cidadãos têm o direito de acesso a áreas de conservação para fins de educação, formação, investigação e recreação nos termos definidos em regulamento.

2. Para além das obrigações previstas no artigo 10º, os cidadãos devem, nas áreas de conservação, abster­se da prática de actos proibidos pelos regimes dos diferentes tipos de áreas de conservação.

Secção II – Tipos de áreas de conservação

Artigo 193º Tipos de áreas de conservação terrestres

1. Segundo o seu regime de conservação de recursos florestais ou faunísticos, as áreas de conservação terrestres podem ser reservas totais ou parciais.

2. Segundo o seu regime jurídico, as áreas de conservação são as seguintes:

o Reservas naturais; o Parques; o Monumentos naturais, o Paisagens ou sítios protegidos.

109

3. Segundo o seu regime jurídico as reservas naturais podem ser:

o Reservas naturais integrais; o Reservas naturais parciais; o Reservas naturais especiais.

4. Segundo o âmbito da sua gestão, as áreas de conservação podem ser: Nacionais;

o Provinciais; o Municipais; o Transfronteiriças.

5. Para a realização das finalidades previstas na presente lei, o Governo pode estabelecer, por decreto­lei, outros tipos de áreas de conservação para além das referidas neste artigo.

6. As florestas de conservação a que se referem os números 5 e 6 do artigo 56º e o artigo 57º são integradas, após classificação, nas categorias referidas nos números anteriores.

Artigo 194º Âmbito de áreas de conservação terrestres

1. São de âmbito nacional as áreas de conservação que, pelo seu especial valor, ou por se estenderem por várias províncias limítrofes, são tuteladas por órgãos da Administração central do Estado.

2. São de âmbito provincial as áreas de conservação de interesse especial de uma dada província e que são tuteladas por órgãos provinciais.

3. São de âmbito municipal as áreas de conservação de interesse especial para um dado município e que são tuteladas por órgãos da Administração municipal.

4. São de âmbito transfronteiriço as áreas de conservação que se estendem pelo território nacional e o território de um ou mais estados.

Artigo 195º Áreas de conservação terrestres e aquáticas

1. As águas continentais que se encontram dentro de áreas de conservação terrestres têm o estatuto dessa área de conservação, salvo se diploma especial sobre áreas de conservação aquáticas lhes atribuir um estatuto diverso, com maior grau de protecção.

110

2. As águas continentais que constituem limites geográficos de áreas de conservação terrestres estão sujeitas ao regime da área de conservação em causa.

3. Os terrenos que circundam áreas de conservação aquáticas têm o estatuto da área em causa, num limite definido no diploma de criação da área de conservação aquática.

Artigo 196º Áreas contíguas

1. Todas as áreas de conservação são rodeadas por áreas contíguas, terrenos com regime especial visando a protecção de áreas de conservação.

2. As áreas contíguas têm o estatuto de reserva natural parcial nos termos definidos no diploma de criação ou de reclassificação da área de conservação que circundam.

3. O diploma referido no número anterior deve definir quais as actividades proibidas na área contígua a cada área de conservação.

4. Os cidadãos residentes nas áreas contíguas devem respeitar o seu regime jurídico e colaborar nas actividades visando a realização dos objectivos da área de conservação em causa.

5. O Estado deve promover a participação dos cidadãos residentes nas áreas contíguas, bem como das comunidades rurais e empresas que aí realizem actividades económicas, nas medidas de protecção da área em causa, em especial adoptando incentivos para que se abstenham de exercício de actividades nocivas à realização dos objectivos da área de conservação em causa.

Artigo 197º Terras húmidas

1. Os ecossistemas de terras húmidas protegidas internacionalmente a que se refere a alínea e) do número 4 do artigo 56º serão integrados nas diferentes categorias de áreas de conservação mediante decreto.

2. O disposto no número anterior é aplicável aos habitats de espécies migratórias.

111

Artigo 198º Classificação e reclassificação

1. O Governo aprova, por decreto e sob proposta do Ministério que superintende o sector florestal e do Ministério que superintende a política ambiental, a classificação e reclassificação de áreas com especial aptidão para a realização dos objectivos previstos no artigo 190º.

2. A proposta referida no número anterior deve basear­se nos planos territoriais, florestais e faunísticos.

3. Cabe ao Ministério que superintende a política ambiental, em colaboração com o Ministério que superintende o sector florestal, com o Ministério que superintende a administração do território e com o Ministério que superintende o ordenamento do território, elaborar a proposta de classificação e reclassificação a que se refere o número anterior.

4. As propostas de classificação e reclassificação apenas podem ser apresentadas ao Governo após parecer do Conselho Nacional de Protecção das Florestas e Fauna Selvagem.

5. Deve ser dada prioridade à realização dos estudos necessários para a reclassificação das áreas de conservação existentes, bem como da classificação das florestas de conservação referidas no artigo 56º.

6. O Estado deve incentivar a realização, por instituições nacionais, estrangeiras ou internacionais, em especial instituições científicas e associações de defesa do ambiente, dos estudos necessários à classificação e reclassificação de áreas de conservação.

7. Os órgãos da administração local do Estado, bem como as associações de defesa do ambiente ou de interesses locais, podem apresentar propostas de classificação e reclassificação de áreas de conservação.

8. Após classificação ou reclassificação, as áreas de conservação devem constar de planos territoriais especiais, nos termos definidos na legislação em vigor.

Artigo 199º Relatório científico

Todas as medidas de classificação e reclassificação de áreas de conservação são fundamentadas nos relatórios científicos previstos no Título I, em especial no artigo 14º.

112

Secção III – Das reservas naturais integrais

Artigo 200º Definição e objectivos

1. As reservas naturais integrais são áreas de conservação em virtude de possuírem espécies e/ou ecossistemas raros ou endémicos ou características geológicas ou fisiológicas de especial importância.

2. As reservas naturais integrais visam a realização dos seguintes fins:

o A conservação de habitats, ecossistemas e espécies num estado que tenha a mínima intervenção humana possível durante um período de tempo longo;

o A manutenção dos recursos genéticos num estado dinâmico e evolutivo; o A manutenção de determinados processos ecológicos; o A preservação de características estruturais da paisagem e de

formações rochosas; o A conservação do ambiente natural para fins de investigação científica,

de acompanhamento e avaliação contínua do estado do ambiente, de educação e formação.

Artigo 201º Regime

1. As reservas naturais integrais são constituídas em terrenos do domínio público ou em terrenos expropriados para os fins de utilidade pública da reserva.

2. Nas reservas naturais integrais é proibido:

o Colher, cortar, caçar, captar ou extrair qualquer recurso natural; o Praticar qualquer acção ou omissão que possa perturbar o ambiente

natural; o Introduzir quaisquer espécies; o Entrar ou transitar, em especial em veículos motorizados, sem

autorização do organismo que administra a reserva, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. A realização de actividades de investigação científica e de avaliação do estado dos recursos nas reservas naturais integrais obedece a um plano de gestão aprovado anualmente pelo Ministério que superintende a política ambiental.

113

4. Podem ser estabelecidas restrições de acesso às reservas naturais integrais que devem constar do seu diploma de constituição, com a indicação das categorias de pessoas cuja entrada e permanência na reserva é permitida.

5. O regime das reservas naturais integrais é estabelecido em regulamento aprovado pelo Governo.

Secção IV – Dos parques

Artigo 202º Definição e objectivos

1. Os parques são áreas que são conservadas para proteger a integridade ecológica de um ou vários ecossistemas para as gerações actuais e futuras e para fins recreativos.

2. Os parques visam a realização dos seguintes fins: Proteger áreas naturais ou paisagísticas de significado nacional ou internacional para fins de recreação, educativos, científicos, espirituais e de turismo;

o Garantir às actuais e gerações futuras a possibilidade de conhecerem e usufruírem, no estado o mais natural possível, de exemplos representativos de regiões fisiográficas, comunidades bióticas, espécies e recursos genéticos cuja estabilidade ecológica e diversidade biológica seja preservada;

o Conservar no longo prazo as qualidades e elementos naturais essenciais do ambiente, incluindo as características ecológicas, geomorfológicas, estéticas ou sagradas;

o Proporcionar a realização de actividades de turismo ecológico, recreação, educação e investigação científica;

o Permitir às comunidades residentes no parque a utilização dos recursos para fins de subsistência na medida em que esta não tenha impactos negativos nos objectivos do parque natural.

Artigo 203º Regime

1. Os parques são constituídos em terrenos do domínio público ou em terrenos expropriados para os fins de utilidade pública do parque.

2. Nos parques é proibido:

114

o Colher, cortar, caçar, captar ou extrair qualquer recurso natural, salvo para fins de subsistência de comunidades e de trabalhadores do parque nele residentes ou de controlo de populações da flora e da fauna;

o Exercer actividades económicas para além das necessárias para a realização dos objectivos do parque;

o Introduzir quaisquer espécies; o Entrar ou transitar, em especial em veículos motorizados, sem

autorização do organismo que administra o parque nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. A realização, nos parques, de actividades de turismo ecológico, de investigação científica e de avaliação do estado dos recursos, bem como de controlo de populações, obedece a um plano de gestão aprovado anualmente pelo Ministério que superintende a política ambiental.

4. A colheita, corte ou caça de recursos florestais ou faunísticos dentro dos parques para fins de subsistência é regulada pelo disposto nos artigos 85º e 140º.

5. Todos os cidadãos têm o direito de acesso aos parques nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

6. O regime dos parques é estabelecido em regulamento aprovado pelo Governo.

Secção V – Das reservas naturais especiais

Artigo 204º Definição e objectivos

1. As reservas naturais especiais são áreas de conservação, intactas ou pouco alteradas, que conservaram o seu carácter e influência naturais, desprovidas de construções permanentes ou significativas, que são conservadas para preservar o seu estado natural.

2. As reservas naturais especiais visam a realização dos seguintes fins: Garantir às gerações actuais e futuras a possibilidade de conhecerem e usufruírem de áreas preservadas, durante um período longo, de actividades humanas que as alterem;

o Conservar no longo prazo as qualidades e elementos naturais essenciais do ambiente;

o Proporcionar aos cidadãos espaço para recreação em harmonia com a Natureza;

115

o Permitir às comunidades locais a vida em áreas de fraca densidade populacional e em harmonia com recursos disponíveis mantendo as suas tradições de vida.

Artigo 205º Regime

1. As reservas naturais especiais são constituídas em terrenos do domínio público ou em terrenos expropriados para os fins de utilidade pública da reserva.

2. O regime das reservas naturais especiais é estabelecido por regulamento aprovado pelo Governo, tendo em consideração o regime dos parques previsto no artigo 203º.

Secção VI – Das reservas naturais parciais

Artigo 206º Definição e objectivos

1. As reservas naturais parciais são áreas que são conservadas essencialmente para manutenção de certas características geomorfológicas, hidrológicas, de habitats e/ou de espécies particulares, bem como para recuperação de espécies em extinção, ameaçadas de extinção ou vulneráveis.

2. As reservas naturais parciais visam a realização dos seguintes fins:

o Assegurar e manter as condições de habitats necessárias para proteger certas espécies, grupos de espécies, comunidades bióticas ou características físicas do ambiente quando tal exija a intervenção humana;

o Proteger fontes de recursos hídricos; o Promover a investigação científica e o acompanhamento e avaliação do

estado dos recursos florestais e faunísticos com a simultânea gestão sustentável dos recursos naturais;

o Promover a educação ambiental, em especial quanto aos habitats protegidos e às medidas tomadas para proteger as espécies visadas ou as fontes de água protegidas;

o Permitir às comunidades residentes na reserva parcial a utilização dos recursos para fins de subsistência na medida em que esta não tenha impactos negativos nos objectivos da reserva;

o Prevenir qualquer tipo de ocupação ou exploração incompatível com os fins da reserva parcial.

116

3.Podem ser integrados no regime de reservas naturais parciais os habitats e corredores de passagem de espécies migratórias, bem como os santuários para conservação e/ou recuperação de espécies em extinção, ameaçadas de extinção ou em perigo.

Artigo 207º Regime

1. As reservas naturais parciais são constituídas em terrenos do domínio público ou em terrenos expropriados para os fins de utilidade pública da reserva parcial.

2. Nas reservas naturais parciais pode ser proibido o corte, colheita, caça e/ou captação dos recursos protegidos nos termos dos diplomas de constituição da reserva.

3. Nas reservas naturais parciais é proibido ocupar terrenos ou exercer actividades económicas para além das necessárias para a realização dos objectivos da reserva, bem como introduzir quaisquer espécies.

4. A realização, nas reservas naturais parciais, de actividades de turismo ecológico, investigação científica e de avaliação do estado dos recursos obedece a um plano de gestão aprovado anualmente pelo Ministério que superintende a política ambiental.

5. A colheita, corte ou caça de recursos florestais ou faunísticos dentro das reservas naturais parciais para fins de subsistência são reguladas pelo disposto nos artigos 85º e 140º.

6. Todos os cidadãos têm o direito de acesso às reservas naturais parciais nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

7. O regime das reservas naturais parciais é estabelecido em regulamento aprovado pelo Governo.

Secção VII – Dos monumentos naturais e paisagens protegidas

Artigo 208º Definição e objectivos dos monumentos naturais

1. Os monumentos naturais são áreas de conservação que contêm um ou vários elementos naturais particulares, de importância excepcional ou única, preservados devido à sua raridade, às suas qualidade estéticas ou à sua importância cultural intrínseca.

117

2. Os monumentos naturais visam a realização dos seguintes fins:

o Proteger ou preservar, perpetuamente, elementos naturais específicos, excepcionais devido à sua importância natural e/ou carácter único e representativo, e/ou conotação espiritual;

o Proporcionar a realização de actividades de turismo ecológico, recreação, educação e investigação científica, desde que compatíveis com o objectivo para o qual foi constituído o monumento natural;

o Prevenir ou eliminar qualquer forma de ocupação ou exploração incompatível com o objectivo do monumento natural;

o Contribuir para o desenvolvimento económico e social local, pela promoção do turismo e da participação das comunidades locais nos benefícios resultantes dessas actividades.

3. São também consideradas monumentos naturais as árvores de valor ecológico, estético, histórico ou de outro modo cultural referidas no número 1 do artigo 21º.

Artigo 209º Definição e objectivos das paisagens protegidas

1. As paisagens protegidas são áreas terrestres, abrangendo por vezes o litoral e águas adjacentes, onde a interacção entre a acção humana e a natureza modelaram a paisagem com qualidades estéticas, ecológicas ou culturais específicas e excepcionais e que, por vezes, têm grande diversidade biológica.

2. As paisagens protegidas visam a realização dos seguintes fins:

o Manter uma interacção harmoniosa da natureza e da cultura, protegendo a paisagem e garantindo formas tradicionais de ocupação do solo e de construção, bem como de expressão de valores sócio­culturais;

o Encorajar modos de vida e actividades económicas em harmonia com a natureza, bem como a preservação de valores culturais das comunidades locais e/ou rurais interessadas;

o Manter a diversidade da paisagem e do habitat, bem como as espécies e ecossistemas associados;

o Prevenir e eliminar qualquer forma de ocupação do solo e actividades incompatíveis, devido à sua dimensão ou natureza, com os objectivos da constituição da paisagem protegida;

o Proporcionar aos cidadãos espaços de lazer ao ar livre respeitando simultaneamente as qualidades essenciais da área de conservação;

o Contribuir para o desenvolvimento económico e social local, pela promoção do turismo e da participação das comunidades locais nos benefícios resultantes dessas actividades, em especial através da criação de emprego e acesso a serviços criados para realização de formas de turismo duradouro, como o acesso água potável e saneamento básico.

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Artigo 210º Regime

1. Os monumentos naturais e as paisagens protegidas integram o domínio público e são constituídos em terrenos do domínio público ou em terrenos expropriados para os fins de utilidade pública que estas áreas de conservação visam realizar.

2. O regime dos monumentos naturais e das paisagens protegidas é estabelecido em regulamento aprovado por decreto do Governo.

3. A realização, nas áreas de monumentos naturais e paisagens protegidas, de actividades de turismo, educação e investigação científica e de avaliação do estado dos recursos obedece a um plano de gestão aprovado anualmente pelo Ministério que superintende a política ambiental.

4. Todos os cidadãos têm o direito de acesso aos monumentos naturais e às paisagens protegidas nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

Secção VIII –Das áreas de conservação transfronteiriças

Artigo 211º Definição e objectivos

1. As áreas de conservação transfronteiriças são qualquer tipo de áreas de conservação que, por razões de equilíbrio ecológico ou de interesse de turismo ecológico, devam abranger terrenos situados noutros estados.

2. Os objectivos das áreas de conservação transfronteiriças são a cooperação internacional na gestão de recursos partilhados e os objectivos de cada tipo de área de conservação referidos nos artigos anteriores.

Artigo 212º Regime

1. As áreas de conservação transfronteiriças são constituídas por acordos internacionais celebrados e aprovados pelos órgãos competentes do Estado.

2. O regime das áreas de conservação transfronteiriças deve constar do instrumento internacional referido no número anterior.

119

Capítulo II Da gestão das áreas de protegidas terrestres

Artigo 213º Estatuto das áreas de conservação

1. As áreas de conservação integram o domínio público.

2. Dadas as suas finalidades de conservação de longo prazo, as áreas de conservação não podem ser desafectados do domínio público nem objecto de reclassificação, salvo no caso de autorização expressa da Assembleia Nacional, qualquer que seja o órgão competente para a sua constituição.

3. As áreas de conservação podem estar sob administração directa ou indirecta de órgãos da Administração central ou local do Estado, ou da Administração autárquica, nos termos definidos no seu diploma de criação.

4. A prestação de serviços nas áreas de conservação está sujeita, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, ao pagamento de taxas, salvo no caso de prestação de serviços para fins de educação e formação.

5. A administração de áreas de conservação obedece a um plano de gestão.

Artigo 214º Cessão de exploração para fins turísticos

1. O Governo pode autorizar a cessão da exploração para fins turísticos de zonas delimitadas de áreas de conservação a pessoas singulares ou colectivas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, dotadas de capacidade adequada para a realização das actividades turísticas que se propõem realizar.

2. A exploração é transmitida mediante contrato de cessão de exploração nos termos que vierem a ser definidos em regulamento.

3. A cessão da exploração de área de conservação deve ser objecto de concurso público.

4. Na cessão de exploração referida neste artigo têm preferência as pessoas singulares ou colectivas angolanas e, dentre estas, as pessoas singulares com residência ou as pessoas colectivas com sede no município em que se encontra a área de conservação.

120

Artigo 215º Constituição de áreas de conservação

1. As áreas de conservação de âmbito nacional, salvo as reservas naturais parciais, são criadas por resolução da Assembleia Nacional.

2. As áreas de conservação de âmbito provincial e as reservas naturais parciais de âmbito nacional são criadas por decreto do Governo.

3. As áreas de conservação de âmbito municipal e as reservas naturais parciais de âmbito provincial são criadas por resolução do Governo Provincial.

4. A resolução ou decreto que aprova a constituição de uma área de conservação deve indicar a sua delimitação geográfica bem como as finalidades da sua criação.

5. A proposta de criação de áreas de conservação de âmbito provincial e municipal cabe ao órgão provincial que superintende a política ambiental, sem prejuízo da iniciativa de órgãos centrais ou locais e de particulares interessados nos termos da legislação em vigor.

6. A proposta de constituição de área de conservação de âmbito nacional ou provincial deve ser acompanhada de relatório científico.

7. O Conselho Nacional da Protecção das Florestas e Fauna Selvagem deve emitir parecer prévio sobre a constituição de área de conservação de âmbito nacional ou provincial.

8. Deve ser dada publicidade à constituição de área de conservação em jornais de grande tiragem e nos meios de comunicação social da província em que se situa a área de conservação.

Artigo 216º Plano de gestão de área de conservação

1. O plano de gestão de cada área de conservação referido no número 5 do artigo 213º divide­se em planos de gestão por zonas situadas dentro da área, consoante as actividades de conservação, turismo e outras que sejam aí realizadas, bem como nas áreas contíguas.

2. O zoneamento de cada área de conservação é aprovado pelo Ministro que superintende a política ambiental com base no relatório científico referido no artigo 199º.

3. O plano de gestão da área de conservação é acompanhado do respectivo orçamento.

121

Artigo 217º Participação comunitária na gestão de área de conservação

1. O Governo deve incentivar a participação das comunidades residentes na de gestão da área de conservação em que residem, em especial mediante:

o Garantia, salvo no caso de reservas naturais integrais, do acesso dos membros das comunidades rurais aos recursos naturais existentes na área de conservação, desde que tal não ponha em causa os objectivos da constituição da área de conservação;

o Preferência no recrutamento para postos de trabalho necessários à gestão da área de conservação;

o Afectação de uma percentagem das receitas da área de conservação à promoção do bem estar da comunidade rural interessada.

2. Em casos devidamente justificados o Estado pode ceder, nos termos do artigo 214º, à comunidade ou comunidades rural interessada, a exploração de uma área de conservação.

Título V Dos órgãos e serviços de administração da flora e fauna selvagem

Capítulo I Disposições gerais

Artigo 218º Princípios da gestão integrada e da coordenação institucional

As actividades da Administração Pública relativamente à conservação e gestão sustentável das florestas e da fauna selvagem obedecem aos princípios previstos nesta lei e na legislação sobre a Administração Pública e, em especial, ao:

o Princípio da legalidade; o Princípio da segurança jurídica; o Princípio da proporcionalidade; o Princípio da confiança; o Princípio da imparcialidade; o Princípio da coordenação institucional; o Da participação dos cidadãos e da colaboração da Administração com

os cidadãos.

122

Artigo 219º Órgãos e serviços do sistema de protecção de florestas e fauna selvagem

O Estado assegura a conservação e gestão das florestas e da fauna selvagem através de órgãos de direcção política, órgãos consultivos e órgãos e serviços da Administração Pública, directa e indirecta, central e local.

Artigo 220º Órgãos de direcção política

São órgãos de direcção política, em matéria conservação e gestão das florestas e da fauna selvagem, o Governo, o Ministério que superintende o sector florestal e o Ministério que superintende a política ambiental.

Artigo 221º Governo

1. O Governo define a política geral de conservação e utilização das florestas e fauna selvagem tendo em consideração, em especial, os dados científicos disponíveis sobre o seu estado e sobre as exigências da sua gestão sustentável.

2. Cabe ao Governo, para os fins referidos no número anterior, em especial: o Adoptar os regulamentos necessários à boa execução da presente lei,

bem como as medidas adequadas para que nas actividades administrativas previstas na presente lei sejam observados os princípios da legalidade, da prossecução do interesse público, da proporcionalidade, da imparcialidade, da colaboração da administração com os particulares, da participação, da decisão e do acesso à justiça;

o Aprovar as medidas de ordenamento florestal e faunístico da sua competência, em especial os planos florestais nacionais e assegurar a sua execução;

o Aprovar os programas nacionais de combate à desertificação e seca; o Aprovar a classificação de florestas; o Aprovar a classificação ou reclassificação de áreas de conservação; o Constituir áreas de conservação cuja criação seja da sua competência; o Aprovar as listas de ecossistemas e espécies florestais e da fauna

selvagem a que se referem o número 1 do artigo 16º e o número 1 do artigo 17º;

o Aprovar a lista de substâncias perigosas a que se refere o número 2 do artigo 34º, bem como as normas sobre as quantidades limite de substâncias previstas no número 3 do mesmo artigo;

o Aprovar os planos de emergência a que se refere o artigo 28º, bem como os planos de prevenção e combate a incêndios florestais;

123

o Assegurar o efectivo funcionamento dos sistemas de concessão, de reconhecimento de direitos, de declaração prévia e de licenciamento de actividades previstos nesta lei;

o Conceder direitos de exploração florestal e de coutadas para áreas previstas no número 4 do artigo 90º;

o Adoptar sistemas de incentivos ao repovoamento florestal e faunístico, em especial à promoção de florestas de plantação, coutadas e fazendas de pecuarização, bem como ao aumento da participação das comunidades locais e rurais nas actividades de exploração de recursos florestais e faunísticos;

o Promover as actividades de investigação científica e tecnológica necessárias necessários à realização das finalidades da presente lei;

o Promover a recolha dos conhecimentos tradicionais sobre recursos biológicos terrestres;

o Assegurar os recursos humanos, materiais e financeiros necessários à execução da presente lei;

o Promover a formação e adequada qualificação de todos os trabalhadores envolvidos em actividades relativas a recursos florestais e faunísticos e a áreas de conservação;

o Assegurar a informação dos cidadãos sobre as diversas matérias de interesse público relacionadas com as florestas, fauna selvagem, áreas de conservação e medidas com elas relacionadas;

o Garantir o cumprimento da presente lei e seus regulamento, em especial assegurando o funcionamento adequado dos serviços de fiscalização das actividades relacionadas com recursos florestais e faunísticos, bem como das áreas de conservação;

o Assegurar a cooperação internacional na gestão de recursos partilhados;

o Assegurar que Angola beneficia efectivamente da assistência internacional para a conservação e gestão sustentável das florestas e da fauna selvagem a que tem direito como país em desenvolvimento dotado de grande diversidade biológica, em especial assistência técnica e científica.

Artigo 222º Ministro que superintende o sector florestal

1. Cabe ao Ministro que superintende o sector florestal a supervisão e coordenação da execução da política de florestas e fauna selvagem, bem como das medidas de ordenamento florestal e faunístico.

2. Os Governadores Provinciais são responsáveis a nível local pela coordenação e execução da política de florestas e fauna selvagem, bem como das medidas de ordenamento florestal e faunístico a nível local.

124

Artigo 223º Ministro que superintende a política ambiental

Cabe ao Ministro que superintende a política ambiental a supervisão e coordenação das medidas de política de florestas e fauna selvagem relativas à protecção do ambiente, à conservação de ecossistemas e espécies, bem como a execução da política relativa às áreas de conservação.

Artigo 224º Conselho Nacional de Protecção das Florestas e da Fauna Selvagem

1. O Conselho Nacional de Protecção das Florestas e da Fauna Selvagem Terrestre é o órgão consultivo do Governo em matéria de coordenação das medidas de protecção e conservação de florestas e fauna selvagem.

2. O Conselho Nacional visa ainda assegurar a participação dos diversos interessados e contribuir para a coordenação institucional na preparação de decisões, em especial de ordenamento florestal e faunístico, relativas à protecção e conservação de florestas e fauna selvagem.

3. A composição, organização e regras de funcionamento do Conselho Nacional são estabelecidas por decreto­lei, a aprovar no prazo de seis meses após a entrada em vigor desta lei.

4. Nas províncias e municípios devem ser progressivamente criadas delegações do Conselho Nacional de Protecção das Florestas e Fauna Selvagem Terrestre que exercem funções consultivas junto dos competentes órgãos locais.

Artigo 225º Órgãos e serviços executivos

1. O Ministro que superintende o sector florestal e o Ministro que superintende a política ambiental coordenam e tutelam, no âmbito das respectivas atribuições, os órgãos autónomos e os serviços públicos aos quais cabe a elaboração, execução, supervisão e controlo da execução das medidas de protecção e conservação de florestas e fauna selvagem.

2. Os serviços referidos no número anterior compreendem, em especial:

o O instituto especializado sob tutela do Ministério que superintende o sector florestal e que executa as medidas de gestão sustentável das florestas e da fauna selvagem;

125

o O instituto especializado sob tutela do Ministério que superintende a política ambiental e que executa as medidas de conservação de recursos naturais;

o Os organismos da administração indirecta do Ministério que superintende a política ambiental que venham a ter atribuições de administração de áreas de conservação;

o Os serviços de fiscalização do Ministério que superintende o sector florestal e do Ministério que superintende a política ambiental;

o Os institutos que realizam, ou venham a realizar, actividades de investigação científica.

Artigo 226º Fiscalização

1. Cabe ao Ministro que superintende o sector florestal, sem prejuízo das competências do Ministro que superintende a política ambiental em matéria de fiscalização ambiental e de áreas de conservação, coordenar a execução das acções de avaliação e acompanhamento do estado dos recursos florestais e faunísticos, bem como de fiscalização das actividades com eles relacionadas.

2. Os poderes referidos no número anterior podem ser delegados em órgãos autónomos sob tutela do Ministério que superintende o sector florestal.

Artigo 227º Órgãos de investigação

1. O Governo deve criar os necessários órgãos autónomos de investigação sob tutela do Ministério que superintende o sector florestal e/ou do Ministério que superintende a política ambiental aos quais caberá assegurar a realização das actividades de investigação científica e tecnológica previstas nesta lei.

2. Os órgãos referidos no número anterior podem realizar as suas actividades em colaboração com outras instituições científicas, nacionais, estrangeiras ou internacionais.

Artigo 228º Serviço de registo de conhecimentos tradicionais

O Governo deve criar um órgão autónomo que assegurará a recolha e registo dos conhecimentos tradicionais sobre recursos florestais e faunísticos.

126

Artigo 229º Das instituições de emissão de certificados de florestas sustentáveis

O Governo deve promover a constituição de, ou adesão a, instituição independente que promova a emissão de certificados de florestas sustentáveis tendo em consideração os instrumentos internacionais aplicáveis.

Capítulo II Do financiamento do sistema de protecção das florestas e fauna

selvagem

Artigo 230º Fontes de financiamento

O sistema de protecção das florestas e fauna selvagem é financiado por:

o Dotações do Orçamento Geral do Estado; o As receitas da exploração de recursos florestais, em especial

provenientes de taxas florestais e de multas por infracções previstas na presente lei;

o As receitas do uso dos recursos faunísticos, em especial provenientes de taxas de caça e de multas por infracções previstas na presente lei;

o As receitas de polígonos florestais e coutadas; o As receitas de áreas de conservação; o As doações; o As receitas provenientes de assistência internacional à conservação da

diversidade biológica, das florestas e da fauna selvagem.

Artigo 231º Taxas florestais

1. As taxas florestais são estabelecidas por decreto.

2. A fixação de taxas florestais obedece aos seguintes critérios:

o O valor de mercado das espécies e subespécies objecto dos direitos de exploração florestal;

o As quantidades de recursos florestais a colher ou cortar ou dos recursos faunísticos a caçar ;

o O tipo de floresta em que se realiza a exploração; o A rentabilidade da exploração florestal, aferida em função das espécies

constantes dos títulos de concessão.

127

3. O valor das taxas florestais constitui receita do instituto a que se refere a alínea a) do número 2 do artigo 225º.

4. O Governo pode, nos termos que vierem a ser definidos em regulamento, estabelecer que uma dada percentagem das receitas das taxas florestais devem ser aplicadas em benefício das comunidades das localidades em que se realiza a exploração florestal.

5. Não é devido pagamento de taxas florestais por produtos provenientes de florestas de plantação.

Artigo 232º Taxas de caça

1. As taxas de caça são estabelecidas por decreto.

2. A fixação de taxas de caça obedece aos seguintes critérios:

o O valor de mercado das espécies e subespécies objecto dos direitos de caça ou do direito de exploração de coutada;

o A quantidade de exemplares a caçar; o O tipo de caça a que se refere a licença ou o direito de exploração de

coutada; o A rentabilidade da caça profissional, se for caso disso, aferida em função

das espécies e quantidades a caçar.

3. Não é devido pagamento de taxas de caça no caso de produtos provenientes de fazendas de pecuarização.

4. O valor das taxas de caça, bem como as receitas da concessão do direito de exploração de coutadas, constituem receitas do instituto a que se refere a alínea a) do número 2 do artigo 225º.

Artigo 233º Consignação especial de receitas

1. Os saldos positivos da exploração de áreas de conservação constituem receita do instituto a que se refere a alínea b) do número 2 do artigo 225º.

2. Os saldos positivos da exploração de polígonos florestais, viveiros e de coutadas públicas constituem receita do instituto a que se refere a alínea a) do número 2 do artigo 225º.

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Artigo 234º Do Fundo de Fomento Florestal e Faunístico

1. Sem prejuízo da legislação financeira e orçamental aplicável, o Governo deve instituir um fundo autónomo sob tutela do Ministro que superintende o sector florestal, do Ministro que superintende a política ambiental e do Ministro que superintende as finanças públicas, para financiamento dos planos, programas e projectos que visem a realização dos objectivos previstos na presente lei.

2. Constituem, em especial, receitas do Fundo de Fomento Florestal e Faunístico:

o As receitas das multas cobradas por infracções à presente lei e à legislação ambiental, nas percentagens que vierem a ser definidas em diploma próprio;

o As doações e legados para os fins a que se destina o fundo; o As receitas provenientes de assistência internacional à conservação e

uso sustentável da diversidade biológica, das florestas e da fauna selvagem.

3. As receitas do fundo referido neste artigo destinam­se, entre outros, aos seguintes fins:

o Financiamento de actividades e projectos que visem a conservação in situ e ex situ e uso sustentável da diversidade biológica, das florestas e da fauna selvagem, incluindo a recuperação de áreas degradadas e o repovoamento florestal e faunístico;

o Financiamento de projectos de investigação científica e programas de formação previstos nesta lei;

o Financiamento do reforço de meios disponíveis para acompanhamento do estado dos recursos e fiscalização.

129

Título VI Da responsabilização

Capítulo I Da fiscalização

Secção I Disposições Gerais

Artigo 235º Finalidades da fiscalização florestal e ambiental

A fiscalização florestal e ambiental visa:

o Contribuir para assegurar o cumprimento da legislação sobre florestas, fauna selvagem e ambiente;

o Contribuir para a conservação de ecossistemas e espécies da flora silvestre e da fauna selvagem;

o Contribuir para a protecção e conservação da diversidade biológica; o Contribuir para a gestão sustentável dos recursos florestais e

faunísticos; o Contribuir para a protecção da saúde e qualidade de vida dos cidadãos; o Contribuir para a educação e informação dos cidadãos sobre as normas

previstas na presente lei e seus regulamentos, bem como sobre as actividades de fiscalização;

o Assegurar a informação das comunidades locais e rurais sobre os seus direitos e obrigações previstos na presente lei e seus regulamentos, bem como na legislação ambiental aplicável;

o Contribuir para assegurar a informação das comunidades locais e rurais sobre a importância da preservação e protecção dos seus conhecimentos tradicionais;

o Contribuir para a promoção da participação dos cidadãos e das comunidades locais e rurais prevista nesta lei e seus regulamentos, bem como, em geral, na defesa do ambiente.

Artigo 236º Execução da fiscalização

1. As actividades de fiscalização previstas na presente lei são executadas por:

o Os serviços de fiscalização florestal; o Os serviços de fiscalização ambiental.

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2. São auxiliares das actividades de fiscalização previstas na presente lei: Os observadores comunitários; Os fiscais honorários.

Artigo 237º Dever de colaboração

1. Os titulares de direitos relativos a recursos florestais e faunísticos devem prestar aos agentes de fiscalização a colaboração necessária ao eficaz cumprimento das suas funções.

2. Todas as autoridades devem prestar aos agentes de fiscalização o auxílio necessário ao eficaz desempenho das suas funções.

3. Têm o dever especial de colaboração obrigatória com os agentes de fiscalização as seguintes autoridades:

o As autoridades locais e tradicionais; o A Polícia Nacional; o As forças de defesa, segurança e ordem interna; o As alfândegas; o As capitanias.

4. Em caso de urgência, os agentes de fiscalização podem requisitar o auxílio da autoridade policial mais próxima da localidade em que se encontram.

5. Todo o agente da Polícia Nacional que, quando solicitado o seu auxílio por agente de fiscalização, injustificadamente não o prestar está sujeito às sanções previstas na legislação aplicável.

6. Todo o cidadão que constate infracções à presente lei, seus regulamentos e demais legislação sobre ambiente e recursos naturais, ou ainda que presuma que tais infracções estejam na eminência de ocorrer, tem a obrigação de informar as autoridades competentes, em especial os agentes de fiscalização.

Artigo 238º Fiscalização florestal

1. Cabe ao Ministério que superintende o sector florestal a fiscalização do cumprimento das normas que regulam a gestão sustentável das florestas e fauna selvagem, nos termos a definir em regulamento.

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2. A fiscalização do uso e gestão de recursos florestais e faunísticos dentro de terrenos reservados para fins de defesa e segurança cabe aos órgãos de defesa e segurança, em colaboração com o Ministério que superintende o sector florestal.

Artigo 239º Fiscalização ambiental

1. A fiscalização do cumprimento das normas ambientais e, em especial, sobre conservação da diversidade biológica terrestre cabe ao Ministério que superintende a política ambiental, nos termos a definir em regulamento.

2. A vigilância e guarda das áreas de conservação previstas na presente lei cabe ao corpo de guarda das áreas de conservação.

Artigo 240º Auditorias ambientais

Se em resultado das actividades de fiscalização florestal ou ambiental se concluir que uma dada instalação ou actividade causa, ou pode causar, danos ao ambiente, o Ministério que superintende a política ambiental deve ordenar a realização de auditoria ambiental.

Secção II Dos agentes de fiscalização

Artigo 241º Agentes de fiscalização

1. São agentes de fiscalização:

o Os fiscais florestais e da fauna selvagem; o Os fiscais do ambiente; o Os guardas das áreas de conservação.

2. A organização e funcionamento do corpo de guarda referido na alínea c) do número anterior obedecem às normas que vierem a ser estabelecidas por decreto.

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3. Podem ainda exercer actividades de fiscalização previstas nesta lei, para além dos agentes referidos no número anterior, os agentes da Polícia Nacional e membros de outros órgãos de defesa e segurança, das capitanias, das alfândegas e dos serviços sanitários, bem como os agentes de fiscalização de outros órgãos do Estado, quando devidamente identificados e quando for necessário, em especial por ausência num dado local dos fiscais florestais ou ambientais competentes.

4. No caso referido no número anterior os agentes que tenham realizado uma acção de fiscalização do cumprimento desta lei e seus regulamentos devem, no mais curto prazo possível, comunicar ao órgão de fiscalização florestal ou ambiental competente os resultados da sua acção de fiscalização.

Artigo 242º Funções dos agentes de fiscalização

Cabe, em especial aos agentes de fiscalização referidos no número 1 do artigo anterior:

o Garantir o cumprimento das normas legais estabelecidas na presente lei e seus regulamentos e demais legislação aplicável;

o Verificar se as pessoas que realizam as actividades previstas nesta lei estão devidamente autorizadas a fazê­lo;

o Participar na preparação das medidas de ordenamento florestal e faunístico previstas na presente lei;

o Colaborar nas actividades de avaliação e acompanhamento do estado dos recursos, bem como na elaboração dos respectivos relatórios, e na investigação científica sobre florestas e fauna selvagem;

o Participar no controlo de ecossistemas e espécies em extinção, ameaçados de extinção, vulneráveis, raros e endémicos ou de grande valor económico, social e cultural;

o Informar os órgãos competentes sempre que tenha conhecimento da existência de pragas, doenças e seus vectores que afectam as florestas e a fauna selvagem;

o Propor, sempre que necessário, as medidas de formação especializada que considere necessárias para o eficaz desempenho das suas funções;

o Participar na difusão de informações relativas ao uso sustentável de florestas e fauna selvagem e correlativas obrigações de cidadãos e empresas;

o Inspeccionar as explorações florestais, coutadas e fazendas de pecuarização;

o Visar os certificados de origem de produtos florestais e faunísticos a que se referem os artigos 119º e 186º;

o Solicitar a apresentação, pelos seus titulares, de licenças de caça, dos certificados de origem de produtos florestais e dos certificados de caça legal.

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Artigo 243º Competências e poderes dos agentes de fiscalização

1. Compete, em geral aos agentes de fiscalização florestal e do ambiente o seguinte:

o Solicitar e examinar todos os documentos pertinentes ao controlo das acções de fiscalização, podendo extrair deles cópias ou amostras necessárias;

o Solicitar e receber auxílio de qualquer autoridade, ou agente de autoridade, para o desempenho das missões que lhe forem incumbidas;

o Ordenar a identificação e interrogar qualquer pessoa suspeita da prática de qualquer infracção prevista na presente lei;

o Ordenar a paragem e inspeccionar qualquer veículo, embarcação ou aeronave que suspeitem ser utilizado na caça realizada com violação do disposto na presente lei ou no transporte de quaisquer produtos florestais que não provenham de explorações legais;

o Proceder à apreensão, requisição ou reprodução de documentos na posse de titulares de licenças, de concessões e autorizações ou outros documentos, sempre que houver suspeitas de falsificação dos mesmos ou se houver suspeitas de exploração dos recursos com violação da presente lei e seus regulamentos;

o Havendo fortes indícios de prática de infracção florestal ou de caça, proceder à apreensão dos produtos florestais ou faunísticos obtidos com presumível violação da presente lei;

o Recolher todas as provas necessárias à instrução de infracções, incluindo depoimentos de testemunhas;

o Proceder ao registo de cada inspecção realizada, incluindo o registo fotográfico,

o Levantar auto de notícia das infracções por si presenciadas e auto de ocorrência das infracções que chegarem ao seu conhecimento através de informações prestadas pelos observados comunitários, cidadãos ou as pessoas referidas no número 3 do artigo 241º;

o Inspeccionar todos os equipamentos, instrumentos, produtos, armas e outros meios de caça, bem como as instalações de exploração florestal, as coutadas e as fazendas de pecuarização;

o Adoptar as medidas cautelares e de polícia necessárias e urgentes para recolher meios de prova ou evitar o seu extravio.

2. No exercício das suas funções, os agentes de fiscalização têm acesso e livre trânsito em todos os locais onde sejam exercidas as actividades previstas na presente lei e seus regulamentos.

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Artigo 244º Uso de força adequada

Sempre que qualquer presumível infractor não acatar uma ordem dada pelos agentes de fiscalização no exercício das suas funções, podem os agentes de fiscalização referidos no número 1 do artigo 241º utilizar a força adequada para deter a fuga ou alcançar objectivos da acção de fiscalização.

Artigo 245º Direitos dos agentes de fiscalização

1. Para além do previsto no regime da função pública, os agentes de fiscalização têm os seguintes direitos:

o Ao uso de cartão de identificação próprio dos serviços a que pertencem, cujo modelo constará de regulamento a aprovar pelo Governo;

o Ao uso e porte de arma de defesa pessoal no exercício das suas funções e, excepcionalmente, quando autorizado pelas autoridades competentes por situação de ameaça à sua integridade física;

o A comunicar, quando em serviço fora da área da sua jurisdição, com todas as autoridades e pessoas, singulares ou colectivas, sobre matérias da sua competência;

o A remuneração adicional por risco e comparticipação em multas cobradas por infracções que detectem, nos montantes definidos na legislação aplicável.

2. Dado o risco e especificidade das funções dos agentes de fiscalização florestal e ambiental estes são titulares, para além de direitos previstos nesta lei e na legislação sobre a função pública, de direitos especiais relacionados com o desempenho das suas funções que serão estabelecidos em diploma próprio, que incluirá, em especial:

o O direito a habitação de função do Estado no caso de desempenharem funções em zonas não urbanizadas;

o O direito a veículo motorizado para as suas deslocações em serviço; o O direito ao uso de equipamento de comunicação rápida; o O direito a formação profissional contínua.

Artigo 246º Obrigações dos agentes de fiscalização

Para além do previsto no regime da função pública, são obrigações dos agentes de fiscalização:

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o Identificar­se como agente de fiscalização sempre que interpelar qualquer pessoa ou que tal lhe seja solicitado;

o Usar farda própria cujo modelo constará de regulamento a aprovar pelo Governo;

o Manter o sigilo das informações classificadas a que tenha acesso no exercício das suas funções, sem prejuízo da sua transmissão aos seus superiores hierárquicos;

o Participar na prevenção e detecção de incêndios florestais e colaborar no seu combate;

o Investigar as causas de fogos florestais; o Submeter, no final de cada missão, ao seu superior hierárquico, um

relatório escrito resumindo toda a informação recolhida considerada relevante.

Artigo 247º Carreira dos agentes de fiscalização

1. Podem ser agentes de fiscalização os cidadãos angolanos maiores de idade que possuam as qualificações exigidas nos termos do diploma que aprova a respectiva carreira.

2. Os agentes de fiscalização florestal e ambiental têm uma carreira de regime jurídico especial a ser aprovada pelo Governo.

3. Os guardas das áreas de conservação são integrados na carreira dos agentes de fiscalização.

Secção III Dos observadores comunitários

Artigo 248º Observadores comunitários

1. Os observadores comunitários são pessoas singulares, membros de uma comunidade rural ou local, que colaboram nas actividades de fiscalização previstas nesta lei, seus regulamentos e demais legislação sobre ambiente e recursos naturais na área da comuna ou do bairro da sua residência.

2. Podem ser observadores comunitários os cidadãos angolanos que:

o Sejam maiores de idade; o Residam na comuna ou bairro em que exercem funções; o Tenham idoneidade;

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o Tenham as qualificações necessárias, em especial saibam ler e escrever e conheçam adequadamente a geografia da área da comuna em que exercem funções de observador.

o Os observadores comunitários são designados pelo órgão da Administração local competente, sob proposta da comunidade a que pertencem.

Artigo 249º Funções dos observadores comunitários

São funções dos observadores comunitários:

o Colaborar na fiscalização desta lei e seus regulamentos, bem como da legislação ambiental;

o Exercer funções de vigilância nas comunas ou bairros em que residem; o Participar na prevenção, detecção e combate a incêndios florestais; o Recolher provas da prática de infracções à presente lei e seus

regulamentos na localidade da sua residência; o Comunicar aos agentes de fiscalização competentes qualquer infracção

ao disposto nesta lei e seus regulamentos de que tomem conhecimento, bem como a informação relevante para a conservação e uso sustentável de florestas e fauna selvagem;

o Participar nos foros locais, provinciais e nacionais sobre matérias ambientais sempre que convidados.

Artigo 250º Direitos dos observadores comunitários

1. Os observadores comunitários têm direito a:

o Cartão de identificação emitido pelos órgãos locais competentes; o Informação e formação necessárias ao desempenho das suas funções; o Comparticipação nas multas cobradas pelas infracções que detectem

nos termos da legislação em vigor; o Ao uso dos meios materiais necessários para o eficaz desempenho das

suas funções.

2. O Ministério que superintende o sector florestal e/ou o Ministério que superintende a política ambiental, conforme os casos, deve fornecer aos observadores comunitários os meios técnicos necessários ao desempenho das suas funções.

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3. O cartão de identificação referido na alínea a) do número 1 deste artigo consta de modelo aprovado por decreto executivo conjunto do Ministro que superintende o sector florestal e do Ministro que superintende a política ambiental.

Artigo 251º Fiscais honorários

1.Os fiscais honorários são pessoas que se tenham evidenciado pelo auxílio prestado à fiscalização florestal, da fauna selvagem e ambiental e às quais seja atribuído esse título pelo Ministro que superintende o sector florestal ou pelo Ministro que superintende a política ambiental, conforme os casos.

2.Os fiscais honorários exercem, dentro das suas comunidades, as funções de observadores comunitários tendo os direitos destes.

3.Os fiscais honorários dependem dos serviços de fiscalização florestal.

Capítulo – II Das Infracções

Secção I Das Infracções Administrativas

Artigo 252º Natureza Das Infracções

1. Constituem infracções de natureza administrativa os actos e omissões praticados em violação as disposições da presente lei e dos seus regulamentos.

2. O Governo pode, tipificar como infracção administrativa outras condutas não previstas na presente lei, que violem as suas disposições e regulamentos aplicáveis.

3. As infracções previstas na presente lei são puníveis com multa e medidas acessórias de punição, salvo se nos termos da legislação penal fôr tipificado como crime.

4. As multas não podem ser convertidas em prisão.

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Artigo 253º Infractores

Respondem pelas infracções administrativas as pessoas singulares e colectivas que as praticarem.

Artigo 254º Infracções

Constituem infracções à presente lei:

a) A introdução de espécies exóticas para as plantações florestais e fazendas de pecuarização sem a necessária autorização; b) A introdução nos solos e águas sem a necessária autorização das substâncias a que se refere o número 3 do artº.34º. c) A colheita ou abate de recursos florestais do domínio público sem a necessária licença de uso para fins especiais; d) O corte de árvores em terrenos urbanos privados, salvo no caso de autorização; e) A comercialização e transportação de produtos florestais e de caça sem emissão do necessário certificado de origem; f) A caça de subsistência de espécies de caça grossa; g) A cessão de direitos concedidos ou reconhecidos ao abrigo desta lei sem a necessária autorização; h) Os que sem autorização entrarem e circularem nas áreas de conservação, salvo nos casos previstos na Lei; i) A comercialização de produtos florestais ou de caça, obtidos no exercício de direito de uso de subsistência.

Artigo 255º Infracções graves

1. Constituem infracções graves à presente lei:

a) A colheita, o corte, a caça ou a tentativa de colheita, corte ou caça de qualquer exemplar de espécies raras, em extinção ou ameaçadas de extinção; b) A posse, armazenamento, transporte e comercialização de qualquer exemplar de espécies raras, em extinção ou ameaçadas de extinção; c) A compra e venda, exposição para a venda, a exportação, a importação, a transformação industrial ou artesanal, de qualquer exemplar de espécies raras em extinção ou ameaçadas de extinção ou parte delas;

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d) A prática de quaisquer acções ou omissões relativas as espécies vulneráveis ou endémicas que venham a ser proibidas nos termos dos artºs. 18º. e 19º. e) O corte de árvores de valor ecológico, estético, histórico ou cultural constantes das listas a que se refere o artigo 21º., número 1. f) O corte de quaisquer árvores em terrenos urbanos privados, salvo nos casos de prévia declaração de interesse público; g) A introdução no ambiente terrestre de espécies invasoras; h) A introdução no ambiente terrestre de organismos geneticamente modificados, salvo no caso de autorização prevista na lei; i) A importação, exportação e trânsito em território nacional de organismos geneticamente modificados sem a necessária autorização; j) A introdução nos solos e águas de substâncias classificadas como perigosas; k) A realização de derrubas e desmatamento em terrenos classificados como florestais, salvo nos casos de subsistência ou autorização nos termos do artº.36º.; l) A realização de queimadas para quaisquer fins, salvo nos casos de autorização nos termos do artº.37º.; m) A exportação de produtos florestais ou de caça sem a apresentação do certificado de origem; n) A exportação de madeira em toro, salvo nos casos de autorização; o) A colheita, corte, abate ou caça de recursos florestais ou faunísticos sem que estejam concedidos ou reconhecidos os direitos a eles relativos ou sem que tenha havido autorização prévia das actividades quando exigida; p) A venda, ou exibição para a venda, armazenamento e transporte de produtos florestais ou de caça que não sejam provenientes de concessões, de terrenos comunitários ou de plantações florestais ou fazendas de pecuarização, constituídas nos termos da presente lei e seus regulamentos. q) A colheita, corte ou caça por titulares de direitos concedidos não reconhecidos no âmbito desta lei de espécies não previstas nos respectivos títulos de concessão; r) A colheita, corte ou caça por titulares de direitos concedidos no âmbito desta lei de quantidades de recursos florestais ou faunísticos superiores as previstas nos respectivos títulos de concessão ou nos pertinentes planos de exploração florestal ou faunístico; s) A construção ou transformação de instalações em plantações florestais e fazendas de pecuarização sem a necessária autorização; t) A colheita ou corte de espécies vegetais durante o período de repouso vegetativo.

2. Constitui ainda infracção grave nos termos da presente lei:

a) A realização de caça sem a necessária licença de caça, salvo nos casos previstos no artº.140º., número 6;

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b) A caça fora dos locais previstos no artº.137º., número 4; c) A caça de fêmeas em idade reprodutiva, prenhas ou acompanhadas de crias; d) A caça de animais de tamanho e peso inferior a que se refere o artº.24º.; e) A caça durante os períodos de defeso das espécies; f)O uso de explosivos na caça; g) A caça com armadilhas, redes, ratoeiras e laços; h) O uso na caça de fontes luminosas artificiais ou dispositivos para iluminar os alvos; i) O uso na caça de dispositivos de visão para tiro nocturno que incluam um conversor de imagem ou um amplificador de imagem electrónico; j) O uso na caça de espelho e outros instrumentos destinados a perturbar os alvos;

k) A caça com iscas e substâncias venenosas ou com outras tradicionais que utilizam substâncias venenosas; l) A caça com iscas e substâncias anestesiantes ou com outras tradicionais que utilizem substâncias anestesiantes; m) A caça com uso de animais vivos como isco; n) Caçar a espera ou emboscada, especialmente em sítios de abebeiramento; o) Perseguir os animais selvagens usando os meios previstos no artº.178º.; p) Uso de armas automáticas de calibre superior ao estabelecido por Decreto;

Artigo 256º Punição Das Infracções

1. As infracções a que se refere as alíneas a), b), c), d), f), e), i) e g), do artº.254º., são puníveis com um mínimo de 100 UCF e um máximo de 1000 UCF.

2. As infracções previstas no nº.1 do artº.255º., são puníveis com multa graduável entre um mínimo igual ao valor da taxa florestal ou de caça anual que seria devida e o máximo equivalente a 100 vezes aquele mínimo e as medidas acessórias previstas no artº.257º.

3. As infracções previstas no nº.2 do artº.255º., são puníveis com multa graduável entre um mínimo de 1000 UCF e um máximo de 200 vezes deste valor e as medidas acessórias previstas no artigo 257º.

4. As multas aplicáveis às infracções cometidas no exercício de direitos de uso de subsistência de recursos florestais ou faunísticos são fixados por Decreto.

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Artigo 257º. Medidas de punição acessória

1. Podem, em função do dano ou perigo de dano para o ecossistema e das circunstâncias da infracção cometida, ser aplicadas, como medidas acessórias da multa:

a) A perda a favor do Estado de todos os meios, incluindo os de transporte e equipamentos na posse dos infractores que tenham servido de instrumento da prática da infracção; b) A perda a favor do Estado dos recursos florestais e faunísticos apreendidos; c) A perda a favor do Estado de todos os meios encontrados em posse dos infractores, que possam servir de instrumentos para a prática da infracção.

2. As medidas acessória previstas no número anterior são aplicáveis:

a) A prevista na alínea a), do número anterior, a todas infracções graves; b) A prevista na alínea b), ao exercício de exploração florestal e de caça sem a concessão dos respectivos direitos ou apôs estes caducar; a cessão de direitos concedidos ou reconhecidos sem a necessária autorização; a exploração florestal ou caça nas áreas de conservação em que tal seja proibido; o corte de árvores em terrenos urbanos e privados sem autorização; as infracções previstas no número 2 do artº.255º.

3. As infracções previstas no artigo 254 podem ser aplicadas as medidas acessórias previstas neste artigo, mas só em caso de reincidência.

Artigo 258º Efeitos legais da aplicação da multa

A aplicação das multas pela prática de uma infracção grave determina:

a) A revogação dos direitos de concessão de licenças de exercício de actividades, incluindo licenças de caça e da carteira de caçador; b) A obrigação de indemnizar os lesados pelos prejuízos causados com a prática da infracção; c) A obrigação de pagar as custas do processo, nos termos dos regulamentos aplicáveis e as despesas decorrentes da prática da infracção.

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Artigo 259º Reincidência

1. Há reincidência quando, nos 12 meses posteriores à aplicação de uma sanção, pela prática de uma infracção, o infractor comete outra igual e com gravidade. 2. Em caso de reincidência os limites mínimo e máximo das multas e das medidas acessórias aplicáveis são aumentados para o dobro ou o triplo, conforme se trate de simples infracção ou infracção grave..

Artigo 260º. Graduação Das Medidas Aplicáveis

1. Na determinação das sanções a aplicar deve levar­se em consideração o dano ou perigo de dano causados pela infracção, o grau de intenção ou de negligência com que foi cometida, as características técnicas e económicas da infracção, o beneficio estimado que o autor da infracção retirou ou poderia ter retirado da sua prática e todas as circunstâncias relevantes.

2. São circunstâncias agravantes, entre outras, a reincidência e a acumulação de infracções.

3. Em caso de concurso de infracções só é aplicável a multa correspondente à infracção mais grave.

4. O disposto do número anterior não prejudica a aplicação de medidas acessórias adequadas nos termos do disposto no artigo 257º.

Artigo 261º Competências para aplicação de multas e medidas acessórias

1. Cabe ao Ministro que superintende o sector florestal ou por delegação de poderes, aplicar as multas e medidas acessórias às infracções previstas nas alíneas a), c), d), f) e i), do artº.254º. e as previstas nas alíneas a), b), c), d), e), f), k), l), m), n), o), p), q), r), s) e t) do número 1 do artº.255º. e as previstas no número 2 do mesmo artigo.

2. Cabe ao Ministro que superintende a política ambiental ou por delegação de poderes aplicar as multas e medidas acessórias às infracções previstas nas alíneas b) e n) do artº.254º. e as previstas nas alíneas g), h), i) e j) do número 1 do artigo 255º.

3. Os Ministros podem, para efeitos do disposto no presente artigo, avocar qualquer processo administrativa.

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Artigo 262º Pagamento da multa

1. A multa é paga em moeda nacional, salvo nos casos em que tenha sido estabelecida a obrigação especial de proceder ao pagamento em moeda convertível.

2. As multas por infracção à presente lei e regulamentos aplicáveis devem ser pagas num prazo máximo de 30 dias, a contar da notificação da decisão que as aplicou.

3. O prazo estabelecido no número anterior pode ser prorrogado pela entidade que aplicou a multa, mas não mais de uma vez, por igual período.

4. A certidão da decisão definitiva que aplicou a multa é título executivo bastante.

5. Havendo outros bens apreendidos, o mesmo mantêm­se até ao pagamento da multa e das despesas suportadas pelo Estado sem prejuízo do disposto do artigo 281º.

6. A título de comparticipação uma parte do valor das multas é atribuída aos autuantes, guias e outros intervenientes no processo de transgressão nos termos a regulamentar por decreto executivo dos titulares dos órgãos competentes.

Artigo 263º Prescrição

O procedimento administrativo para aplicação das multas e medidas acessórias prescreve nos prazos de 1 ano e de 2 anos, contados da prática da infracção consoante se trate de outras infracções ou infracções graves, respectivamente.

Secção II Do Procedimento

Artigo 264º Autos de notícia e ocorrência

1. Os fiscais investidos de poderes de fiscalização e autuação que presenciarem qualquer infracção descrita na secção anterior devem levantar auto de noticia de todos os factos que a constituem, o dia, a hora, o local e as circunstancias em que foi cometida, identificar o infractor, e fazer menção de tudo o que for relevante para caracterizar a infracção.

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2. O auto de noticia é assinado pelo fiscal que o levantou, por duas testemunhas, havendo­as e pelo infractor, querendo fazê­lo.

3. Quando a prática de uma infracção chegar ao conhecimento dos agentes de fiscalização ou do organismo do Ministério competente a quem incumbe a fiscalização das actividades florestais e faunísticas, por qualquer outra via, nomeadamente através de participações dos observadores comunitários, deve ser levantado um auto de ocorrência que é elaborado nos termos do número 1, com as necessárias adaptações.

Artigo 265º Valor do auto de notícia

1. O auto de notícia elaborado de acordo com o número 1 do artigo anterior tem o valor de instrução, dispensa esta fase do procedimento e deve ser apresentado à entidade competente para aplicar a multa, com o parecer a que se refere o número 1 do artigo 294, no prazo de 24 horas.

2. O disposto do número anterior não obsta a que a entidade competente para aplicar a multa e as medidas de punição acessórias ordene a instrução complementar necessária para apurar a verdade e decidir com justiça.

Artigo 266º Instrução

1. A instrução inicia­se com o auto de ocorrência ou com o auto de notícia, sempre que seja ordenada a sua instrução complementar e pode fazer­se com qualquer meio de prova não proibido por lei.

2. Podem ser admitidas como provas, além das testemunhas, declarações, peritagens, fotografia com indicação da hora e da posição geográfica, acompanhadas sempre que seja possível de certificação emitida em anexo à fotografia, da identificação do agente que a tirou, do nome, da marca e modelo de máquina, relógio ou outro instrumento capaz de fornecer a data e a hora, com a menção de que estavam a trabalhar correctamente de qual o grau da sua precisão e da distancia máxima entre o objectivo fotografado e a máquina e respectiva direcção e outras previstas na lei.

3. As testemunhas não são obrigadas a prestar juramento.

4­ A não comparência do presumido infractor não impede a instrução do processo e a aplicação das sanções estabelecidas na presente lei, mas tanto ele como os responsáveis solidários pelo pagamento da multa podem fazer­se representar por advogado.

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Artigo 267º Prazo de instrução

O prazo máximo para instrução dos processos relativos a infracções é de 15 dias, contado da recepção do auto de ocorrência pela entidade instrutora.

Artigo 268º Competência para a instrução de processo

1. Sem prejuízo do que vier a ser disposto nos regulamentos e outras normas aplicáveis, cabe aos Serviços de Fiscalização do Ministério competente, através do respectivo departamento especializado, proceder a instrução dos processos de transgressão administrativa.

2. A competência a que se refere o número anterior pode ser delegada nas respectivas direcções provinciais.

Artigo 269º Medidas de coação

1. A prisão preventiva é proibida, salvo em flagrante delito por crime que a admita, cometido em concurso com uma infracção administrativa.

2. Não havendo meios para conservar o produto apreendido, deve ser vendido pelo preço de mercado e o produto da venda depositado a ordem do Ministério competente até o processo findar, ou doado a uma instituição de assistência social.

3. Não sendo possível aplicar o disposto no número anterior pode o infractor ser constituído fiel depositário.

4. Se no processo vier a concluir­se que o apreendido não foi obtido em infracção às disposições da presente lei e dos seus regulamentos, são ele ou o produto da sua venda e todos os bens apreendidos restituídos ao seu proprietário.

5. Não havendo condições para aplicar o previsto no número 2 o Estado Angolano não é responsável nem pelos prejuízos derivados da deterioração do produto, nem pelos preços de venda obtidos, nem por quaisquer outros danos causados ao proprietário ou ao titular dos direitos de exploração florestal e faunístico.

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Artigo 270º Outras medidas de coação

1. Havendo fundado receio de que os infractores cometam novas infracções, podem o autuante, em caso de flagrante delito, o instrutor ou a entidade competente para aplicar a multa ordenar uma ou mais das seguintes medidas de carácter preventivo:

a) A suspensão do exercício da actividade;

b) A suspensão do título ou licença.

2. A medida de coação aplicada ao abrigo do disposto no número anterior mantém­se até o processo findar, sem prejuízo de poder ser, nomeadamente em instância de recurso, dispensada ou reforçada, consoante venha a revelar­ se desnecessária ou insuficiente.

Artigo 271º Caução

1. A entidade competente para conhecer da infracção e aplicar a multa e medidas de punição acessórias pode autorizar, a requerimento do interessado, a entrega dos bens apreendidos, antes de findar o processo, mediante a prestação de caução suficiente.

2. A caução pode ser prestada por depósito bancário à ordem do Ministério competente ou por garantia bancária.

3. O pedido deve ser decidido, no prazo máximo de 48 horas após a sua apresentação.

4. O valor da caução é restituído a quem a prestou, cessando a garantia bancária com o arquivamento do processo ou quando, sendo aplicada a multa, se mostrarem pagas ela e todas as despesas devidas ao Estado.

5. O montante depositado deve ser restituído no prazo máximo de oito dias e no mesmo prazo, comunicada ao Banco que a concedeu a desnecessidade e cessação da garantia bancária e da sua consequente desoneração.

6. O pagamento da caução não prejudica a medida de suspensão da actividade de que corresponda ao caso.

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Artigo 272º Contraditória

1. Elaborado o auto de noticia ou concluída a instrução, quando haja lugar a ela, o processo é apresentado à entidade competente para aplicar a multa, com o parecer do autuante ou do instrutor responsável pelo processo, conforme for o caso, sobre a existência e enquadramento legal da infracção, das circunstâncias em que foi cometida, da multa aplicável e da que achar que deve ser aplicada.

2. O parecer é notificado ao presumido infractor e aos responsáveis pelo pagamento da multa, se tiverem domicilio conhecido na localidade onde o processo foi autuado e corre seus termos ou nas mesmas condições, aos respectivos representantes, nomeadamente forenses, havendo­se, para no prazo de cinco dias, alegarem o que entenderem, com a informação do local exacto onde o processo pode ser consultado.

Artigo 273º. Decisão

1. Não se ordenando instrução complementar, a decisão é tomada nos oito dias seguintes ao termo do prazo estabelecido número 2 do artigo anterior.

2. Realizando­se instrução complementar, o prazo para decidir conta­se do dia seguinte àquele em que a última diligência foi realizada.

3. A decisão que aplicou a multa e qualquer das medidas acessórias previstas no artigo 257º. é notificada ao transgressor, aos responsáveis solidários pelo pagamento da multa, aos destinatários das medidas acessórias e aos respectivos advogados, havendo­os, no prazo de 48 horas.

4. Não podendo a notificação ser feita por serem desconhecidos os domicílios das pessoas mencionadas no número anterior, devem elas ser notificadas por edital afixado à porta do edifício onde funciona a entidade que tomou a decisão.

5. Se na decisão se entender que não há infracção ou que ela não está suficientemente provada, deve ordenar­se a libertação dos bens apreendidos, notificando­se igualmente os interessados no prazo estabelecido no número anterior.

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Artigo 274º Decisões recorríveis

1. São impugnáveis mediante recurso contencioso as decisões finais que apliquem multas e medidas acessórias de punição.

2. É obrigatório nos recursos a constituição de advogados.

Artigo 275º. Recurso das decisões do ministro

1. Das decisões finais do Ministro competente ou das entidades em quem ele delegou que apliquem multas e medidas acessórias de punição cabe recurso contencioso para a Câmara do Cível e Administrativo do Tribunal Supremo, sem necessidade de reclamação.

2. O prazo de recurso é de 30 dias, a contar da data da notificação ou da afixação edital a que se referem os números 3 e 4 do artigo 273º.

3. O recurso é interposto, processado e julgado nos termos da legislação em vigor aplicável em Angola ao recurso contencioso administrativo.

4. O recurso tem efeito suspensivo, mas mantêm­se as medidas de coação previstas no artigo 270º., sem prejuízo do disposto no seu número 2.

Artigo 276º Recurso das decisões finais do titular dos Serviços de fiscalização

1. Das decisões finais do titular dos Serviços de Fiscalização do Ministério competente ou das entidades em quem tenha delegado cabe recurso contencioso para a Sala do Cível e Administrativo do Tribunal Provincial territorialmente competente, sem necessidade de recurso hierárquico.

2. É territorialmente competente para conhecer do recurso o Tribunal Provincial do lugar em que a multa foi aplicada. 3. Aplicam­se ao recurso previsto neste artigo as disposições dos números 3 e 4 do artigo anterior.

Artigo 277º Execução das multas e despesas em dívida

1. Transitada em julgado a decisão que aplicou a multa e findo o prazo do seu pagamento sem que o infractor ou os responsáveis solidários a tenham pago, a entidade que a aplicou deve promover a respectiva execução.

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2. A execução segue a forma da execução por custas, nos termos do Regulamento do Processo Contencioso Administrativo, e tem por base um certidão passada pelo Ministério competente comprovativa dos montantes da multa e das despesas em que incorreu o infractor e os responsáveis solidários ainda não liquidadas.

3. À certidão referida no número anterior deve o Ministério competente juntar o processo administrativo e uma relação dos bens apreendidos não perdidos a favor do Estado e de outros bens conhecidos pertencentes aos executados suficientes para pagamento da dívida exequenda, por forma a poderem ser nomeados à penhora pelo agente do Ministério Público junto do Tribunal competente.

4. Tendo sido prestada caução, por depósito ou garantia bancária, por ela deve começar a nomeação.

5. O tribunal competente para a execução é tanto o Tribunal Provincial com jurisdição sobre a localidade em que a multa foi aplicada ou respectiva Sala do Cível e Administrativo, se a houver, como o Tribunal Provincial da área do domicílio de qualquer dos executados.

Artigo 278º Crime de desobediência

Praticam o crime de desobediência, punível com pena de prisão até um ano, aqueles que procederem em contravenção das medidas acessórias da suspensão previstas nas alíneas d) e e) do artigo 257º., número 1 que lhes tenham sido aplicadas.

Capítulo III Da Responsabilidade civil

Artigo 279º. Responsabilidade por dano

1. Todos aqueles que, independentemente de culpa, tenham causado danos a fauna e a flora, nos termos da presente lei e seus regulamentos são obrigados a reparar os prejuízos ou indemnizar o Estado ou terceiros.

2. As reparações ou indemnizações por danos não abrangidos no número anterior, causados pelas actividades reguladas pela presente lei e seus regulamentos, aplicam­se os preceitos da lei geral.

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Artigo 280º Responsabilidade civil conexa com a criminal

1. Os danos provocados aos recursos faunísticos e a flora previstos no artigo do Código Penal obrigam solidariamente os seus autores, o titular da licença, havendo­a, repará­los ou indemnizar os lesados nos termos da legislação em vigor.

2. O pedido cível de indemnização a que se refere o artigo 29º. do Código do Processo Penal pode ser deduzido não só contra os agentes do crime como contra as restantes entidades mencionadas no número anterior.

Artigo 281º Indemnização por danos causados pela prática de infracções

1. As acções de indemnização por danos causados ao ambiente pela prática de uma infracção administrativa prevista na presente lei e seus regulamentos são intentados no foro do lugar onde foi instruído o processo de transgressão e aplicada a respectiva multa.

2. Nas acções intentadas pelo Estado deve o Ministério competente dar a conhecer ao agente no Ministério Público junto do Tribunal competente a existência dos danos ambientais e fornecer­lhes todos os elementos necessários à propositura da acção, que tenha reunido durante a instrução do processo administrativo de transgressão.

Título VII Disposições Finais e Transitórias

Artigo 282º Interpretação e aplicação

A presente lei é aplicada e interpretada em conjugação com a legislação nacional aplicável, em especial a Lei de Base do Ambiente, Lei nº 5/98, de 19 de Junho, a Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo, Lei nº 3/ 04, de 25 de Junho, a Lei de Águas, Lei nº 6/02, de 21 de Junho, a Lei de Terras, Lei nº 9/04, de 9 de Novembro, a Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos, Lei nº 6­ A/04, de 8 de Outubro, bem como as convenções internacionais de que Angola é parte, designadamente a Convenção sobre a Diversidade Biológica e seu Protocolo, a Convenção de Combate à Desertificação, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna (CITES) e o Protocolo sobre Energia da SADC.

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Artigo 283º Dúvidas e omissões

As dúvidas e omissões suscitadas pela interpretação e aplicação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.

Artigo 284º Execução da lei pelo Governo

Com vista à conveniente execução da presente lei o Governo deve:

o Aprovar e publicar, no prazo de seis meses contados a partir da data da entrada em vigor da presente lei, os regulamentos florestal, de caça, de áreas de conservação e de fiscalização;

o Aprovar e publicar, no prazo de seis meses contados a partir da data da entrada em vigor da presente lei, o diploma de criação do Conselho Nacional de Protecção das Florestas e Fauna Selvagem Terrestre;

o Aprovar, no prazo de seis meses contados a partir da data da entrada em vigor da presente lei, o regulamento do(s) fundo(s) previsto(s) no artigo 255º e dotá­lo(s) dos meios financeiros necessários;

o Aprovar e publicar, no prazo de seis meses contados a partir da data da entrada em vigor da presente lei, o decreto sobre taxas florestais e taxas de caça;

o Aprovar e publicar, no prazo de seis meses contados a partir da data da entrada em vigor da presente lei, o decreto sobre multas por infracções a esta lei;

o Apresentar à Assembleia Nacional, no prazo de doze meses contados a partir da data da entrada em vigor da presente lei, os projectos de leis de acesso aos recursos genéticos e de protecção dos conhecimentos tradicionais associados;

o Aprovar e publicar outros diplomas necessários à boa execução da lei; o Adoptar os mecanismos de fiscalização adequados e dotar os serviços

de fiscalização dos meios necessários ao cumprimento da presente lei.

Artigo 285º Garantia de direitos adquiridos

Os direitos sobre recursos florestais concedidos no âmbito do Dec. nº 44531, bem como as licenças de caça concedidas ao abrigo do Diploma Legislativo nº 2973, mantêm­se em vigor, devendo no prazo de um ano contado a partir da data da publicação dos pertinentes regulamentos a esta lei, os titulares desses direitos requerer a concessão dos direitos nos termos da presente lei e seus regulamentos.

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Artigo 286º Revogação de legislação

É revogada toda a legislação que contrarie o disposto na presente lei, nomeadamente os decretos nº 40040, de 9 de Fevereiro de 1955, e nº 44531, de 22 de Agosto de 1962 (Regulamento Florestal) e o Diploma Legislativo nº 2873, de 11 de Dezembro de 1957 (Regulamento de Caça).