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Ministério da Saúde - MS

Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – CPqAM

Departamento de Saúde Coletiva - NESC

MARCÍLIO SANDRO DE MEDEIROS

POLUIÇÃO AMBIENTAL

POR EXPOSIÇÃO À POEIRA DE GESSO:

IMPACTOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO

Dissertação de mestrado para obtenção do grau de

mestre em Saúde Pública, realizado no

CPqAM/NESC sob a orientação da Profª. Drª. Lia

Giraldo da Silva Augusto

Recife, Março/2003.

3

Catalogação na Fonte: Biblioteca do Centro de Pesqu isas Aggeu Magalhães

504.05 M488p Medeiros, Marcílio Sandro de.

Poluição ambiental por exposição à poeira de

gesso: impactos na saúde da população/Marcílio

Sandro de Medeiros; orientadora: Lia Giraldo da

Silva Augusto. -- Recife, 2003.

200 f.: il.; tabs., graf., quadros, mapas, croquis, e foto.

Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)-Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.

1. Saúde Ambiental 2. Impactos ambientais 3. Poluição ambiental 4. Poeira 5. Sulfato de Cálcio 6. Impactos na saúde 7. Zona semi-árida 8. Mineração 9. Epidemiologia. I Augusto, Lia Giraldo da Silva, orientadora II. Título

4

Folha de Aprovação

5

DEDICATÓRIA

A Deus, por iluminar sempre o meu caminho.

A minha mãe (Amara), tia (Lucinda), irmãs (Zulma e Kátia), sobrinhos (João, Manoel

e Mariana) e cunhado (Fábio).

6

AGRADECIMENTOS

A Dra Lia Giraldo pela confiança depositada nesse projeto e no meu trabalho.

Ao Professor Henrique Câmara pelas orientações.

Aos Geógrafos Caio, Mauro, Mota e Santana pela iniciação científica.

Aos Professores Idê, Domício e Warney pelas informações. Aos companheiros do LASAT: Evânia, Regina e Fernando.

Aos meus colegas de turma: Andréa, Anchieta, Odair, Conceição, Luiza e Betise.

Aos meus amigos: Adiene e Ana pela ajuda e troca de idéias.

A Solange e Mircia pelos momentos de alegrias mesmo nos períodos de intenso trabalho.

A Secretaria Municipal de Saúde de Araripina em especial a Dra. Simone Granja.

Enfim, a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização desta pesquisa.

7

RESUMO

O pólo gesseiro de Pernambuco é responsável por 90% da produção de gipsita do

país. Estima-se que essa atividade gesseira, formada por empresas de mineração,

calcinação e fábricas de pré-moldados gere na região cerca de 12 mil empregos,

constituindo a principal atividade econômica do Sertão do Araripe. A pesquisa

objetivou conhecer as características sócio-ambientais da região e estimar as

prevalências das queixas de saúde da população. Trata-se de um estudo de

morbidade referida que analisou a população do principal distrito gesseiro do

município de Araripina-PE através de amostra representativa dos 2.486 habitantes

residentes no perímetro urbano do Distrito de Morais. Realizou-se observação direta

da paisagem geográfica através de técnicas de vivência na região, como também

pesquisas em dados secundários. Os impactos sócio-ambientais observados foram:

a intensificação da degradação da vegetação de Caatinga, utilizada como principal

fonte energética no processo de calcinação do gesso; o êxodo rural provocado pela

substituição de antigas áreas de produção agrícola por lavras de gipsita; a poluição

do ar, do solo e das águas oriundas do processo de calcinação e destinação dos

resíduos sólidos dos processos produtivos; e na saúde. Observou-se na saúde que

30% da população tem queixas respiratórias, sendo a tosse a principal manifestação

(28%). 43% referiram irritação na conjuntiva ocular e 37% sangramento nasal. As

principais referências de repercussões pulmonares da população exposta a poeira

de gesso foram: pneumonia (27%); bronquite (14%); e Asma (10%). Concluiu-se que

há evidências de que a poluição ambiental por poeira de gesso seja um fator

desencadeador de distúrbios no trato respiratório superior e inferior, na mucosa

ocular e nasal. Trata-se de um relevante problema de saúde pública para a região.

Há necessidade de instituir uma vigilância ambiental e epidemiológica, dirigida a esta

problemática regional, para melhor compreender os efeitos na saúde e propor

medidas de prevenção.

8

ABSTRACT

ENVIRONMENTAL POLLUTION FOR EXHIBITION TO PLASTER D UST:

IMPACTS IN THE POPULATION’S HEALTH

Pernambuco’s plaster industry is responsible for 90% of the country’s gypsum

production. It is estimated that this plaster activity, constituted by mining calcinations

companies and of prefabricated concrete blocks factories generate 12 thousand jobs

and is the main economical activity of the Interior of the Araripe. The research aimed

to know the socio-environmental characteristics of the area and to esteem the

prevalence of the population’s health complaints. It is a referred morbidity study that

analyzed the population of the main plaster district of the municipal district of

Araripina-PE through representative sample the population in 2.486 inhabitants. A

direct observation of the geographical landscape, through techniques existing in the

area, took place as well as a research in secondary data. These were the socio-

environmental impacts observed: intensification of Savanna vegetation degradation,

used as main energy source in the process plaster calcinations; rural exodus

provoked by the substitution of old areas of agricultural production for gypsum

plowings; air, soil and waters pollution caused by the calcinations process and

destination of the residues solids of the productive processes; and in health. It was

observed that 30% of the population has breathing complaints, cough being the main

manifestation (28%). 43% referred to ocular conjunctive irritation and 37% to nose

bleeding. These were the main references of lung repercussions of the population

exposed to plaster dust: pneumonia (27%); bronchitis (14%); and Asthma (10%). The

conclusion reached was that there are evidences that the environmental plaster dust

pollution is an unleashing factor of disturbances in the superior and inferior breathing

system and in the ocular and nasal mucous membrane. It is a important public health

problem in the area. For a better understanding of the health effects and to propose

prevention measures it is necessary to institute an environmental and epidemic

surveillance focused on this regional problem.

9

SUMÁRIO

ERRATA

FOLHA DE APROVAÇÃO

DEDICATÓRIA

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE ABREVIATURAS

1. APRESENTAÇÃO 15

2. INTRODUÇÃO 17

3 DESENVOLVIMENTO 18

3.1 Poluição Ambiental por poeira de gesso 18

3.2 A produção de gesso no sertão da Chapada do Araripe 20

3.3 Impactos do pólo gesseiro de Pernambuco 25

3.4 O ambiente Araripense 26

3.5 Impactos ambientais: conceitos e aplicação para prevenção em saúde 29

3.6 A Vigilância à saúde relacionada ao ambiente e as atividades

produtivas 30

3.7 Investigações científicas sobre a poluição do ar 32

3.8 Estudos de prevalência de sintomáticos respiratórios na população 34

3.9 Fatores sócio-ambientais potencializares dos efeitos da poluição na

saúde 35

4. MÉTODOS 37

4.1 Desenho do Estudo 37

4.2 Unidades de Análises 37

4.2.1 Unidades de análises de contexto 37

4.2.2 Unidades de análises de ancoragem 38

4.2.3 Unidades de análises de subtexto 38

4.3 População de Estudo 38

10

4.4 Plano de Análise 39

4.4.1 Análise Qualitativa 39

4.4.2 Análise Quantitativa 39

4.4.2.1 Plano tabular de análise das variáveis 41

4.4.3 Triangulação 42

4.4.4 Amostragem 43

4.4.4.1 Critérios de seleção dos indivíduos 43

4.4.4.2 Critérios de exclusão 43

4.5 Fonte de dados 44

4.5.1 Dados primários 44

4.5.2 Dados secundários 45

4.6 Problemas metodológicos, controle de viés e de fatores de confusão 45

4.7 Considerações éticas 46

5. RESULTADOS 47

5.1 Caracterização sócio-demográfica e ambiental da região 47

5.1.1 Um olhar de contexto 49

5.1.2 Caracterização sócio-demográfica da população do Distrito de

Morais 55

5.1.3 A calcinação do gesso 59

5.1.4 As manufaturas de gesso 63

5.1.5 A atividade mineralógica e seus contrastes com a economia

agrária 66

5.1.6 As perspectivas formais para o desenvolvimento da região

gesseira do Araripe e suas implicações sócio-ambientais.

A questão ambiental e as várias concepções de

desenvolvimento sustentável da região 70

5.2 Aspectos de interesse do perfil epidemiológico no município de

Araripina 72

5.2.1 Morbidade referida da população do Distrito de Morais 73

5.2.2 Características aos óbitos 75

5.2.3 Características dos serviços de saúde 76

11

6. DISCUSSÃO 78

7. CONCLUSÃO 83

8. RECOMENDAÇÕES 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 87

APÊNDICE 91

ANEXOS 103

12

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELAS

Tabela 01 - População urbana residente no Distrito de Morais – Ano 1996 39

Tabela 02 - Freqüência de queixas de poeira de gesso dentro de casa, tosse, aperto no peito, falta de ar e tabagismo. 43

Tabela 03 - População de Araripina segundo Distrito – Ano 2000 49

GRÁFICOS

Gráfico 01 - Produção mundial de gipsita em 1999 22

Gráfico 02 - Produção brasileira de gipsita em 1999 23

Gráfico 03 - Precipitação (em mm) e temperatura (ºC) de Araripina 27

Gráfico 04 - Pirâmide etária da população do município de Araripina em

2000 48

Gráfico 05 - Ano de estudo da população de Morais 57

Gráfico 06 - Principais ocupações da população de Morais 58

Gráfico 07 - Número de minas de gipsita em Pernambuco: comparativo

entre os anos de 1981 e 1995 67

Gráfico 08 - Casos das internações, segundo capítulos CID10 no município

de Araripina – Ano 2001 73

Gráfico 09 - Morbidade referida da população urbana do Distrito de Morais 74

Gráfico 10 - Doenças respiratórias referidas pela população do Distrito de

Morais 74

Gráfico 11 - Causa morte segundo capítulos CID10 no município de

Araripina – Ano 2001 76

QUADROS

Quadro 01 - Composição química média para os depósitos de gipsita de

Araripe 21

Quadro 02 - Distribuição espacial das unidades de produção do pólo

Gesseiro de Pernambuco, por Municípios - 1995 24

Quadro 03 - Freqüência de sintomas respiratórios baseados em estudos

realizados no Brasil 35

Quadro 04 - Sistemas de informação consultados 38

13

Quadro 05 - Banco de dados explorados 40

Quadro 06 - Variáveis, indicadores, base de cálculo e fontes utilizadas 42

MAPAS

Mapa 01 - Unidades geoecológica da chapada do Araripe 28

Mapa 02 - O município de Araripina e as principais atividades

econômicas e outros aspectos de interesse sócio-ambiental 51

Mapa 03 - Perímetro urbano do Distrito de Morais e aspectos das

unidades fabris de produção do gesso 56

CROQUIS

Croquis 01 - Aspetos de uma fábrica de placas de gesso no Distrito de

Morais 64

FOTOGRAFIAS

Foto 01 - A Barragem de Lagoa do Barro 50

Foto 02 - Aspectos ambientais de uma área sendo preparada para

plantio com técnicas agrícolas rudimentares (coivara) 52

Foto 03 - O entorno do manancial d’água do Distrito de Nascente e

aspectos da ocupação urbana desordenada 53

Foto 04 - Depósitos de resíduos do gesso em via pública 54

Foto 05 - Casa de farinha adaptada para calcinar gesso 60

Foto 06 - Aspecto de uma calcinadora equipada com forno rotativo para

queimar óleo BPF, mas que continuam queimando lenha 63

Foto 07 - Etapas de produção das placas de gesso 66

Foto 08 - Aspectos ambientais do processo de extração de gipsita em

Araripina 69

14

ABREVIATURAS

Nome completo Abreviaturas

Área de Proteção Ambiental APA Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT Banco Interamericano para Desenvolvimento BID Center for Diease Control CDC Companhia Pernambucana do Meio Ambiente CPRH Conselho de Desenvolvimento de Pernambuco CONDEPE Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DATASUS Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária IPA Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho FUNDACENTROInstituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA Ministério da Saúde MS Ministério de Minas e Energia MME Núcleo Tecnológico do Araripe CT-Araripina Oficina Internacional del Trabajo OIT Óleo Combustível derivado do petróleo BPF Organização Mundial da Saúde OMS Organization For Economic Cooperation Development OECD Partículas Menores PM População Economicamente Ativa PEA Programa Agente Comunitário da Saúde PACS Programa Saúde da Família PSF Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente SECTMA Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI Serviço Social da Industria SESI Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE Sistema de Informação de Atenção Básica SIAB Sistema de Informação de Mortalidade SIM Sistemas de Internação Hospitalar SIH Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUDENE Universidade Regional do Cariri URCA

15

1. APRESENTAÇÃO

A idéia da pesquisa intitulada “Poluição Ambiental por Exposição à Poeira de

Gesso: Impactos na Saúde da População” surgiu em 1998 após um importante

estágio de elaboração de vídeo documentário sobre os Sertões Pernambucano no

curso de graduação em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco. Entre

as diversas constatações sobressaia-se que o Sertão Nordestino vinha sendo

resumido às secas periódicas e aos grandes projetos de agricultura irrigada, onde a

natureza tornava-se catástrofe e o sertanejo miserável, no nosso imaginário

simbólico. Ao rever a obra de Euclides da Cunha (Os Sertões), conclui-se que tais

constatações, trata-se de recorrências euclidianas estereotipadas que difundem ser

este espaço hostil, rude e até mesmo inadequado à existência humana. Por trás

desses estereótipos, esconde-se o grande drama sócio-ambiental que o novo

modelo econômico, das duas últimas décadas, impôs ao ecossistema sertanejo.

Durante as excursões, na região que corresponde ao Sertão Pernambucano

da Chapada do Araripe, o que esperava-se encontrar nesta paisagem, baseava-se

nos estudos do professor Mario Lacerda de Melo, na década de 1980, que era uma

população que vivia ainda da roça no cultivo da mandioca para produção da farinha.

A surpresa e grandiosidade das atividades industriais de produção do gesso em

larga escala foram ofuscadas pelo cenário de degradação ambiental se comparadas

às outras realidades ambientais dos sertões da Bahia e de Pernambuco,

excursionadas durante o processo de elaboração do vídeo documentário. Os

inúmeros focos de fumaça, oriundos dos processos de coivara e calcinação do

gesso, bem como os diversos caminhões transportadores de lenha da caatinga,

resíduos de gesso depositados inadequadamente em beiras de estradas e enormes

campos secos desmatados, foram os motivos pelos quais aguçaram o nosso

interesse pela região e o assunto.

São poucos os estudos sobre o assunto, e os que existem, são

generalizações pontuadas, descomprometidas em aprofundar a discussão dos

impactos da produção de gesso na região. Portanto, a dificuldade inicial em

estabelecer o melhor desenho de estudo sobre o assunto justifica-se pelo

16

“ineditismo” que os efeitos da poluição ambiental por exposição à poeira de gesso

podem causar a saúde humana.

Das inquietações iniciais chega-se aos resultados desta Dissertação de

Mestrado em Saúde Pública realizada no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

em Recife-PE. Os impactos das atividades de produção do gesso na qualidade de

vida da população do município de Araripina são decorrentes das transformações na

economia rural oriundas das modificações na estrutura fundiária e agrária e da

degradação ambiental das terras provocada pelo extrativismo vegetal.

Especificamente na saúde da população, a poluição ambiental por exposição à

poeira de gesso contríbui para um quadro epidemiológico de alta prevalência de

sintomáticos respiratórios, irritação das conjuntivas oculares e irritação de pele.

Os propósitos e achados da pesquisa têm como principal objetivo rediscutir os

processo de produção do gesso do Araripe Pernambucano. Trata-se de uma das

principais economias do Sertão do Nordeste do Brasil. O redirecionamento dessa

atividade é urgente e necessário diante do quadro ambiental insustentável.

Repensá-la não quer dizer acabar, e sim estabelecer bases que garantam o futuro

da produção sem prejuízos à economia agrícola, ao meio ambiente e principalmente

à qualidade de vida dos sertanejos.

17

2. INTRODUÇÃO

A atividade gesseira do Sertão do Araripe Pernambucano é responsável por

mais de 90% da produção de gesso do país. O município de Araripina concentra

mais de 50% das atividades do “pólo gesseiro de Pernambuco”, que é constituído de

três segmentos econômicos: mineração, calcinação e manufatura. Estima-se que o

setor gesseiro empregue na região cerca de 12 mil pessoas, tratado-se de uma das

principais atividades econômicas do Sertão do Araripe Pernambucano.

Entre os estudos sobre a atividade gesseira, são poucos os que abordam os

impactos sócio-ambientais e, até o momento, nenhum estudo sistemático foi

realizado para avaliar os efeitos da poluição ambiental por poeira de gesso na saúde

da população.

A hipótese inicial é que os processos sócio-técnicos-ambientais envolvidos na

cadeia produtora gesseira, composta pelas atividades de mineração, calcinação e

manufatura, no contexto do Semi-Árido e, particularmente, no município

pernambucano de Araripina, impactam a saúde humana, contribuíndo para um

quadro epidemiológico desfavorável à qualidade de vida das populações expostas à

poeira do gesso, entre outros fatores ambientais.

O questionamento condutor do presente trabalho é como caracterizam-se as

queixas respiratórias de uma população exposta à poeira oriunda dos processos

sócio-técnicos-ambientais envolvidos na cadeia produtora de gesso, no contexto

sócio-ambiental do município de Araripina, no Sertão de Pernambuco.

Para isso, objetiva-se caracterizar o perfil sócio-ambiental e os impactos na

saúde humana oriundos das atividades produtoras de gesso no município

pernambucano de Araripina. A partir da descrição dos processos de produção da

atividade gesseira, das características sócio-ambientais da população exposta à

poeira de gesso e das queixas de saúde da população que habita o entorno das

unidades de produção do gesso, propõe-se apresentar subsídios para a vigilância

em saúde ambiental, em áreas sujeitas à poluição ambiental por poeira de gesso.

18

3. DESENVOLVIMENTO

3.1. Poluição Ambiental por poeira de gesso

A poeira é toda partícula sólida de qualquer tamanho, natureza ou origem,

formada por trituração ou outro tipo de ruptura mecânica de um material original

sólido, suspensa ou capaz de se manter suspensa no ar. O nome partícula refere-se

a uma unidade simples da matéria, tendo, geralmente, uma densidade próxima da

densidade intrínseca do material original. Essas partículas geralmente têm formas

irregulares e são maiores que 0,5 µm (SANTOS, 2001).

A poluição atmosférica caracteriza-se pela presença de materiais ou formas

de energia no ar que impliquem risco, dano ou moléstia grave às pessoas e bens de

qualquer natureza (ARÁNGUEZ et al., 2001).

Os processos de dispersão da poluição atmosférica por partículas de poeira

mineral, foram observados em uma calcinadora de produção da cal proveniente do

calcário e limitam-se, geralmente, às vizinhanças da fonte emissora. A observação

de uma indústria de calcário que emite diariamente precipitação de 3,17 g/m2 de pó

constata que nas vizinhanças distantes 1 km há precipitações de 1,74 g/m2 e a uma

distância de 2 km a precipitação é de 0,27 g/m2. O processo de dispersão das

partículas de poeira depende das correntes aéreas fortes. Há casos em que a poeira

atinge elevadas altitudes de 4 a 8 km, podendo formar nuvens de pó

(FELLENBERG, 1997).

Quanto aos impactos da poluição ambiental sobre o clima, segundo

Fellenberg (1997), não se tem certeza de quantos fatores climáticos são afetados

pelo aumento crescente da quantidade de poeira na atmosfera. Algumas

consequências são certas, tais como: a diminuição da intensidade de radiação do

sol, estimada em cerca de 0,4% por ano e perdas de energia que não se refletem

somente numa diminuição geral da temperatura, mas, eventualmente, também na

velocidade e direção dos ventos (FELLENBERG, 1997).

19

O mesmo autor descreve a ação da poeira sobre as plantas, na medida em

que o pó é depositado sobre as folhas. Segundo ele, a poeira contendo CaO,

proveniente das indústrias de calcários forma uma cobertura de ação fortemente

alcalina (foram medidos valores de pH de 8 a 12) sobre a vegetação. Isso faz com

que as plantas percam água, prejudicando o citoplasma das células do vegetal.

Observa-se ainda que a ação do pó das indústrias de cimento reage com a umidade

atmosférica (quando esta atinje valores elevados) formando uma camada contínua

de silicatos de cálcio sobre as folhas das plantas. Com isto, fecham-se os estômatos

necessários para as trocas gasosas, reduzindo a respiração e a fotossíntese da

planta. Considera-se também que as folhas empoeiradas tornam-se mais aquecidas

que as folhas limpas, podendo comprometer o metabolismo e o equilíbrio hídrico

dessas plantas. A recuperação da planta pode se dar com as chuvas removendo a

cobertura de poeira (FELLENBERG, 1997), mas nas regiões semi-áridas, onde os

índices pluviométricos são baixos, esse reparo celular fica bastante comprometido.

Outros estudos em plantas da espécie Tradescantia observaram mutações da

estrutura celular quando exposta às altas concentrações de poluentes (ANDRÉ et

al., 2000)

A exposição à poluição ambiental é considerada quando o fator de risco

encontra-se imediatamente próximo às vias de ingresso do organismo do indivíduo,

ou seja, da respiração, alimentação, pele, placenta, etc (BRASIL,2001).

No caso da exposição a um poluente interessa suas características:

toxicológicas (capacidade de transformação, persistência ambiental e vias de

penetração no organismo); características indivíduais dos expostos a esse poluente;

e aspectos sócio-ambientais do local da exposição (magnitude, duração e

frequência, etc.) (BRASIL, 2000).

20

3.2. A produção de gesso no sertão da Chapado do Ar aripe

Estudos recentes vêm alertando sobre os danos à saúde humana que são

causadas pelos impactos ambientais das atividades mineralógicas em pequena

escala nos países em desenvolvimento (JENNINGS, 1999).

Segundo estudos, nos últimos cinco anos, o crescimento médio desta

atividade em 35 países da África, Ásia e América Latina, foi de mais 20%

(JENNINGS, 1999).

Foi também constatado que mais de 80% de todo processo mineralógico não

é regulamentando, ou seja, desrespeita as legislações ambientais e trabalhistas.

Essa modalidade de atividade mineralógica emprega diretamente cerca de 13

milhões de trabalhadores que contribuem com 15 a 20% da produção mundial de

pedras preciosas, materiais de construção e minerais no mundo (JENNINGS, 1999).

Estima-se que, em todo o mundo a subsistência de 80 a 100 milhões de

pessoas depende das baixas remunerações geradas por esta atividade. Esses

números são aproximadamente iguais aos empregos gerados pela atividade

mineralógica regulamentada dos países desenvolvidos (JENNINGS, 1999).

No Brasil, nas duas últimas décadas, a atividade industrial de mineração de

gipsita desenvolvida no Sertão do Araripe Pernambuco é responsável por mais de

90% da produção de gesso, onde estima-se que seja a maior reserva em volume de

gipsita do país (CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO -

CONDEPE, 1966).

O gesso é um dos mais antigos materiais de construção fabricados pelo

homem. Sua obtenção é relativamente simples e consiste no aquecimento a uma

temperatura não muito elevada (cerca de 160o C) e, posterior redução a pó, de um

mineral relativamente abundante na natureza: a gipsita (PERES et al., 2001).

Os termos “gipsita”, “gipso” e “gesso” são usados freqüentemente como

sinônimos. A denominação “gipsita”, no entanto, é mais adequada ao mineral em

21

estado “in natural”, enquanto “gesso” indicaria os produtos calcinados (PEREIRA,

1973)

A gipsita é uma rocha sedimentar e origina-se da remoção e acumulação dos

produtos resultantes do intemperismo físico e/ou químico de qualquer tipo de rocha,

bem como da deposição de qualquer material proveniente da atividade animal e

vegetal (BIGARELLA et al., 1994).

Esse mineral não-metálico é encontrado na natureza em cinco variedades em

todo mundo: (1) “rocha de gesso”; (2) “gipsita” (uma forma terrosa e impura); (3)

“alabastro” (uma variedade translúcida de granulação fina e massiva — rocha pouco

dura e muito branca, translúcida, finamente granulada, constituída de gipsita); (4)

calcita fibrosa (uma forma sedosa fibrosa) e; (5) “selenita” (cristais transparentes).

Raramente é encontrado puro e do contrário, os depósitos de gipsita podem conter

quartzo, piritas, carbonatos, material argilosos e material betominoso (OFICINA

INTERNACIONAL DEL TRABAJO-OIT, 1989).

A composição química da gipsita em estado puro corresponde à fórmula de

SO4Ca.2H2O, distribuindo-se percentualmente nos compostos CaO (32,60%), SO3

(46,50%) e H2O (20,90%) (COSTE, 1966). Entre as propriedades físicas, é um

mineral higroscópico que tem grande afinidade pelo vapor de água, sendo capaz de

retirá-lo da atmosfera ou eliminá-lo de uma mistura gasosa.

Quadro 01 - Composição química média para os depósi tos de gipsita do Araripe.

Determinações Valores (%)Umidade (a 60ºC) 0,08Água combinada (a 200ºC) 19,58Perda ao Fogo (1.000ºC) 1,62Resíduos Insolúveis 0,28Sílica (em SiO2) 0,32Ferro e Alumínio (em R2O3) 0,20Cálcio (em CaO) 32,43Magnésio (em MgO) 0,31Sulfatos (em NaCl) 0,15Teor de Gipsita 93,65

Fonte: PERES et al, 2001, p. 20)

22

Os Estados Unidos da América são o maior produtor e consumidor de gipsita.

A produção em 1999 foi da ordem de 19,4 milhões de toneladas, conforme mostra o

gráfico abaixo (BRASIL. Ministério de Minas e Energia – BRASIL-MME, 2000).

Gráfico 01 - Produção mundial de gipsita em 1999

Em termos mundiais, a indústria cimenteira é a maior consumidora de gesso,

usado como retardador do “tempo de pega” do cimento. Nos países desenvolvidos a

indústria de gesso e derivados absorve a maior parte da gipsita produzida.

Entretanto, tem-se verificado o largo emprego desse mineral nas indústrias químicas

e de construção civil e na agricultura (PERES et al, 2001).

No Brasil encontram-se reservas de gipsita em quase todas as regiões.No

entanto, as jazidas do Araripe despontaram no cenário nacional, no início da década

de 1960, como uma das mais importantes (CONDEPE, 1966). Com efeito são as

maiores reservas do país e fazem parte da seqüência sedimentar Cretácea,

conhecida como Chapada do Araripe, que corresponde aos Estados de

Pernambuco, Ceará e Piauí (PERES et al., 2001).

27.444

9.000

9.000

8.200

7.400

7.100

5.300

1.456

19.400

4.500

9.200

0 5 .000 10.000 15 .000 20 .000 25.000 30.000

Outros país es

Es tados U nidos

C h ina

Irã

Ta ilând ia

C anadá

Es panha

México

Japão

França

Bras il

(e m tone las )

Fonte: BRASIL -MME, 2000.

23

Fonte: BRASIL-MME, 2000

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

MG

TO

BA

AM

MA

CE

PE

UF

Produção (%)

As reservas pernambucanas, por apresentarem melhores condições,

especialmente no que concerne ao teor e facilidade de exploração (a céu aberto),

logo ganharam destaque e, atualmente, são responsáveis por cerca de 90% da

produção de gipsita do País (Gráfico 02) (CONDEPE, 1966).

Gráfico 02 - Produção brasileira de gipsita em 1999

No chamado “pólo gesseiro de Pernambuco” a mineração é feita a céu aberto,

com frentes de lavra em forma de anfiteatro e bancadas variando em torno de 15 m

de espessura (PERES et al., 2001).

O gesso produzido da gipsita (Sulfato de Cálcio Bi-hidratado, ou seja,

CaSO42H2O) é obtido através dos processos de: (1) britagem: consiste na

fragmentação de blocos do minério (matacões) sendo, normalmente, utilizados

britadores de mandíbulas e rebritadores de martelo; (2) moagem: dependendo do

tipo de forno a ser utilizado, a gipsita britada pode ser moída em moinhos de martelo

antes de ser enviada para a etapa seguinte; (3) peneiramento: a depender da

existência de plantas de calcinação, como fornos de tipos diferentes, a gipsita moída

pode ser peneirada, em peneiras vibratórias, e separadas em frações para usos

específicos; (4) calcinação: operação na qual a gipsita se transforma em gesso

(sulfato de Cálcio semi-hidratado, isto é CaSO41/2H2O) pela ação do calor, podendo

ser realizada à pressão atmosférica ou equipamentos fechados e sob pressão; (5)

pulverização: o gesso, após a calcinação, é normalmente triturado em moinho de

24

martelo, moagem fina, para obtenção de granulometria final especificada pelas

normas brasileiras da ABNT; (6) estabilização: a depender das condições de

calcinação, o gesso pode passar por um período de ensilamento ou estabilização,

com a finalidade de obter-se maior homogeneidade na composição final; e (7)

embalagem: o gesso é normalmente embalado em sacos multifoliados de papel,

contendo 20 ou 40 kg. Opcionalmente, o gesso pode ser comercializado em "Big

Bags", sacos plásticos que contêm 1.000kg ou outras embalagens predefinidas

(PERES et al., 2001).

Resumidamente, costuma-se classificar a atividade em três segmentos

econômicos, que em 1996 estavam distribuídas espacialmente nos municípios

pernambucanos localizados na Microrregião de Araripina, conforme quadro abaixo

(Quadro 02) (SANTOS; SARDOU, 1996).

Quadro 02 - Distribuição espacial das unidades de p rodução do Pólo Gesseiro

de Pernambuco, por Município - 1995

Unidades de Produção de Gesso do Pólo Gesseiro

de Pernambuco Segmentos da

Cadeia Produtiva do Gesso Total Araripina Ipubi Trindade Ouricuri Bodocó

Minas em atividade 23 12 16 1 6 4

Calcinadoras 47 18 7 20 2 0

Fábricas de pré-moldados 125 74 26 13 7 5

Total 204 104 49 34 15 9

Fonte: SANTOS e SARDOU, 1996, p.8.

Destes municípios, Araripina, além de concentrar maior parte da atividade

gesseira, abriga o maior contingente de mão-de-obra da atividade, com 1.500

empregos, ou seja, 47% do total de empregos locais gerados em 1996 (SANTOS;

SARDOU, 1996).

25

3.3. Impactos ambientais e na saúde do pólo gesseir o de Pernambuco

Sobral (1997), em artigo apresentado no “Encontro Nacional da Gipsita no

ano de 1997”, adverte para as implicações da racionalização da atividade gesseira

na região do Araripe. Admite-se que a racionalização resultaria no afastamento de

um número significante de pessoas do processo produtivo, gerando um novo

desemprego na região. A autora descreve sucintamente que entre os recursos

naturais explorados para produção de gesso, a extração da madeira para ser

utilizada como lenha é a que se apresenta com situação mais crítica. A autora

adverte que a região já não é mais auto-suficiente para o consumo energético

gerado da lenha, onde já se observa a importação desta fonte energética vinda de

outros estados, como por exemplo do Piauí, acarretando importantes impactos sobre

a vegetação de caatinga. O estudo ainda critica a atuação dos órgãos públicos

federais (IBAMA) e estaduais (CPRH) na fiscalização e controle do desmatamento

(SOBRAL, 1997).

Sobre a degradação do solo, o Plano Estadual de Controle da Desertificação

de Pernambuco estabelece os níveis de ocorrência de degradação ambiental em

muito graves, graves e, áreas susceptíveis. Este documento, oficialmente, resume a

problemática ao classificar a região do Araripe como “área com problemas

ambientais” (PERNAMBUCO, 1995).

Até o momento, nenhum estudo sistemático foi realizado na região para

avaliar o impacto dessa atividade produtiva para a saúde humana na situação de

exposição à poeira do gesso (SOBRAL, 1997).

Na saúde, a poeira de gesso tem uma ação irritante na membrana da mucosa

do trato respiratório e dos olhos, desencadeando afecções tais como: conjuntivite,

rinites crônicas, laringites, faringites, perda da sensação do olfato e do paladar,

hemorragias de nariz e reações das membranas da traquéia e brônquicas dos

trabalhadores expostos. Outros experimentos feitos com animais expostos à poeira

do gesso evidenciaram o desenvolvimento de pneumonia e pneumoconiose

intersticial, produzindo alterações na circulação sangüínea e linfática a nível

pulmonar (OIT, 1989).

26

As características físicas do mineral (fibras resistentes com diâmetros < 0,5

µm a >10 µm) determinam o local de deposição das partículas, mas é a composição

química da fibra que determina sua capacidade de produzir doenças (OIT, 1989).

Entre os poucos estudos publicados sobre o assunto, está um resumo de

trabalho referente a uma inspeção realizada pela Secretaria de Saúde de

Pernambuco, que constata várias irregularidades no que diz respeito à segurança no

ambiente de trabalho. Por exemplo: excesso de poeira, calor e ruído, principalmente

nas empresas pequenas. Em relação aos diagnósticos das patologias decorrentes

dessa exposição não há dados significativos, pois não há serviços de saúde

voltados para o atendimento do trabalhador na região e os registros disponíveis são

de péssima qualidade e de difícil acesso (COUTINHO et al., 1994).

Segundo o único diagnóstico da atividade gesseira em Pernambuco realizada

em 1995 as principais causas de falta ao trabalho são: bebidas alcoólicas (38%),

“doenças comuns” (35%) e atividades agrícolas (22%). Entre as denominadas

doenças comuns referidas, as que mais induzem à falta ao trabalho foram as do

aparelho respiratório 50% (entre os trabalhadores das fábricas de pré-moldados

representa 66% das faltas) e as de coluna 30% (entre os trabalhadores das

mineradoras representa 74% das falta) (SANTOS e SARDOU, 1996).

3.4. O ambiente Araripense

Do ponto de vista científico, as reservas de gipsita encontradas no Sertão do

Araripe permitem reconstituir eventos da história geológica da Terra como, por

exemplo, determinar quais foram as condições paleoambientais ou paleoclimáticas

em que se deu a deposição das diversas sequências de sedimentos. Daí a sua

importância paleontológica para o mundo (BIGARELLA et al, 1994).

As condições climáticas e geográficas que originaram os atuais depósitos de

gipsita do Araripe possivelmente não correspondem às atuais condições de clima do

semi-árido mesotérmico (Dd'B'4a' classificação climática de Thorntwaite (1948)),

(BARROS et al., 1994).

27

Dados climatológicos da estação agrometeorológica de Araripina (coordenada

geográfica da estação: 7º 29' S; 40º 36' W e 816 metros de altitude) revelam que a

precipitação pluviométrica média anual de Araripina é em torno de 752 mm. Setenta

por cento destas chuvas se concentram nos meses de janeiro a abril, com pequeno

ou nenhum excesso de água. As temperaturas médias mensais oscilam entre 21,2 e

25,0ºC, registrando durante os meses de outubro a dezembro as temperaturas mais

elevadas: 31,2 e 31,7ºC. A unidade relativa do ar varia entre 42 e 80%, sendo

registrada as menores baixas no decorrer da tarde. A velocidade do vento é mais

intensa durante os meses de julho e agosto, com valores próximos a sete metros por

segundo. A direção dos ventos é predominantemente de sudeste, no entanto,

observa-se na série histórica ventos de nordeste, sul, norte e noroeste durante os

meses do ano (BARROS et al, 1994).

Gráfico 03 – Precipitação (mm) e temperatura (ºC) d e Araripina

Observação: gráfico construído das médias de precipitação e temperatura referente dados

coletados estação agrometeorológica de Araripina observada durante 42 anos.

Estudos da SUDENE na década de 1980 sobre os municípios de Araripina e

Ipubi destacam que a morfologia agrária destes espaços sertanejos é tipicamente

agropastoril, diferenciando-se apenas na distribuição espacial das atividades — ora

é mais importante a agricultura, ora a pecuária (bovino, caprino e ovino) e às vezes

um misto — nos três subespaços (unidades geoecológicas) regionais identificados

(Figura 01): (1) unidade geoecológica da Chapada, localizada ao norte: Havia uma

importante área produtora de mandioca integrada ao sistema agrícola de feijão de

corda - caju - gado (área de pastejo durante parte do ano), onde encontrava-se um

19

20

21

22

23

24

25

26

J F M A M J J A S O N D

020

4060

80100

120140

160180

200

PRECITEMP

Fonte: BARROS et al., 1994

28

grupo de pequenos agricultores proprietários de terra e donos de casa de farinha em

melhores condições de existência; (2) unidade geoecológica sopé da Chapada (pé

de serra): Havia um ambiente de transição influenciado pela chapada, sendo as

melhores áreas da região e as mais produtivas, onde predominava o sistema gado-

pequena lavoura. É também neste subespaço que se encontram as imensas jazidas

de gipsita; (3) unidade geoecológica pediplanada, localizada ao sul da região:

(menos favorecida pelas chuvas) área na qual são desenvolvidas lavouras de curto

ciclo (temporárias), tais como feijão de arranque e milho (MELO,1988).

Mapa 01 – Unidades geoecológicas da Chapada do Arar ipe

Tal configuração revela uma estrutura da produção rural de Araripina, onde a

participação relativa da produção agrícola (subextensiva) é de 76,3%, seguida da

produção pecuária (semi-extensiva) de 23,1% — predominando a criação de bovinos

e conforme acentuação da semi-aridez, surgem os caprinos e/ou ovinos (MELO,

1988).

Outro aspecto destacado deste estudo refere-se à estrutura fundiária, a qual

não se apresenta entre as mais desequilibradas em comparação àquela encontrada

na zona sertaneja pernambucana. Os imóveis rurais muito pequenos representam

29

23,4% (menos de 10ha), ocupando 2,8% das terras cadastradas, enquanto os

pequenos constituem 53,4% (10 a menos de 50ha) e ocupam 31,2% das terras. Os

imóveis rurais médios representam 14,6% (50 a menos de 100ha) e ocupam 24,0%

das terras; os grandes representam 8,0% (100 a menos de 500ha) e ocupam 33,4%

das terras e os grandes representam 0,6% (500 e mais de 500ha) e ocupam 8,7%

das terras (MELO, 1988).

Esse estudo conclui que a soma dos subespaços resulta em arranjos sócio-

espaciais condicionados pelos elementos naturais e humanos provenientes das

combinações agropastoris, arranjos estes bastante adaptados (MELO, 1988).

3.5. Impactos ambientais: conceitos e aplicação par a prevenção em saúde.

Segundo alguns estudos, tem sido reclamado por pessoas esclarecidas do

mundo inteiro um esforço de aprofundamento dos estudos de impactos ambientais e

sociais decorrentes das atividades produtivas. Técnicos, cientistas e líderes

ambientais do mundo defendem a idéia de estender a exigência destes estudos em

projetos industriais, agrários e urbanísticos ditos desenvolvementistas, considerados

ecologicamente insustentáveis, independentemente de sua dimensão, desde que

haja um reconhecido potencial de periculosidade (MÜLLER-PLANTENBERG;

AB'SÁBER, 1998).

O termo impacto vem do latim impactu que significa choque ou colisão. Na

terminologia do direito ambiental a palavra aparece também com o sentido de

choque ou colisão de substâncias (sólidas, líquidas ou gasosas), de radiações ou de

formas diversas de energia, decorrentes de realização de obras ou atividades com

danosa alteração do ambiente natural, artificial, cultural ou social. Portanto, o termo

impacto é entendido como efeitos nocivos (MILARÉ, 1998).

Segundo este estudo, impacto ambiental é qualquer alteração das

propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer

forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, afetam: (1) a saúde, a segurança e o bem estar da população; (2) as

30

atividades sociais e econômicas; (3) a biota; (4) as condições estéticas e sanitárias

do meio ambiente; (5) a qualidade dos recursos ambientais (MILARÉ, 1998).

O impacto na saúde, na maioria das vezes, é muito difícil definir em um

doente, isto é, quem teve sua saúde afetada pelo fator ambiental a ser estudado.

Normalmente apresenta-se por meios de sinais e sintomas inespecíficos, podendo o

quadro clínico ficar completo muito tempo após a fase inicial da exposição. Isso se

explica porque nas primeiras fases de uma investigação epidemiológica é muito

comum a existência de casos suspeitos que podem posteriormente ser confirmados,

ou não. A Epidemiologia deve valorizar os sinais e sintomas precoces das doenças,

uma vez que as ações de vigilância nesta fase são mais efetivas e podem evitar o

desenvolvimento completo da doença (BRASIL. Ministério da Saúde. BRASIL-MS,

2001).

3.6. A Vigilância à saúde relacionada ao ambiente e às atividades produtivas

Na concepção moderna e abrangente de Vigilância à Saúde o objeto das

ações de saúde caminha no sentido dos riscos ambientais (e não dos efeitos à

saúde), sendo os contextos sociais e os modos de vida relevantes para o

julgamento. A forma de organização desse modelo privilegia tanto a construção de

políticas públicas, como a atuação intersetorial, e as intervenções particulares e

integradas de promoção, prevenção e recuperação, em torno de problemas e grupos

populacionais específicos, tendo por base as análises da situação de saúde nos

territórios para o planejamento de ações (BRASIL-MS, 2001).

Esta tendência recente da saúde pública desloca o enfoque da doença para o

enfoque da saúde. Isto implica em uma abordagem mais coletiva dos problemas

epidemiológicos observados na população (BRASIL-MS, 2001).

O conceito de Vigilância Ambiental em Saúde busca tratar os fatores

ambientais que afetam a saúde de maneira contextualizada nos espaços de

desenvolvimento humano. O ambiente é determinado pelas atividades antrópicas

31

decorrentes das tecnologias produtivas e, por esta razão, o ambiente se modifica

com a dinâmica social.

A Vigilância Ambiental configura-se como:

Um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de riscos e das doenças ou outros agravos à saúde relacionados ao ambiente e às atividades produtivas (BRASIL-MS, 2001, p. 44).

Na busca de um modelo baseado na idéia de promover a vigilância da saúde,

a concepção de sítios sentinelas é a que mais se aproxima da abordagem que se

quer para o estudo dos impactos produzidos pela cadeia produtora de gesso na

saúde das populações expostas.

O termo "sentinela" emprega-se com diversas acepções e é aplicado a

diversos substantivos como, por exemplo, sítios sentinelas, eventos sentinelas, e

populações sentinelas. Em comum, todos eles fazem alusão implícita a um

microcampo de informação de sensibilidade suficiente para monitorar um certo

universo de fenômenos (SAMAJA, 1996).

A concepção de sítio sentinela, segundo Samaja (1996), é aplicada

originalmente em sociedades com sistemas estatísticos deficitários. Constitui-se de

um complemento importante para o monitoramento das condições de vida da

sociedade. É orientado para diagnósticos de problemas de saúde e seu

monitoramento para programação e reprogramação continuada das ações

(SAMAJA, 1996).

Segundo o mesmo autor, o objetivo central desta proposta consiste em deixar

para trás as amostras e avançar no estudo da morfologia das populações integradas

por unidades sócio-espaciais que constituem a maneira mais legítima de analisar os

componentes de uma dada formação social complexa (SAMAJA, 1996).

32

3.7. Investigações científicas sobre a poluição do ar

As investigações cientificas e sistemáticas sobre os efeitos da poluição

atmosférica na saúde humana só começaram no século XX como resultado de uma

série de acidentes ambientais, provocando o aumento significante na taxa de

morbidez e mortalidade (ANDRÉ, 2000).

Dentre as técnicas de pesquisas aplicadas nestes estudos destacam-se os

estudos epidemiológicos que representaram um papel importante no entendimento

dos efeitos dos poluentes do ar em todos os tipos de ambientes fechados e abertos

(ANDRÉ, 2000).

Apesar dos avanços técnicos e metodológicos nas décadas recentes, há

limitações inerentes aos estudos epidemiológicos, como por exemplo: descontam

eventos passados, quando o dano já foi feito; limitações financeiras; requer amostras

significantes, nem sempre acessíveis em estudos com seres humanos; limitações

éticas podem impedir a aquisição de dados; e inferência causal, um ponto crucial

nos estudos epidemiológicos (ANDRÉ, 2000).

A inferência causal tem sido alvo de inúmeros esforços para reafirmar a

confiança em um modo de ligar a exposição aos efeitos à saúde. Este problema vem

aumentando desde que os primeiros estudos populacionais foram usados na saúde

ambiental e ocupacional. A necessidade de distinguir entre explanações causais e

não causais levou pesquisadores a definir um grupo de critérios causais os quais,

quando satisfeitos, poderiam certificar a validez dos resultados (ANDRÉ, 2000).

ANDRÉ et al. (2000) destacam que durante a década de 1960 o Sir Austin Hill

(1965) propôs o seguinte grupo de critérios:

• Força da associação: associações fortes, as quais permanecem

estatisticamente significantes mesmo após controle, são mais prováveis de

serem causais;

• Consistência: resultados similares feitos por observadores em populações

diferentes e sob circunstâncias diferentes;

33

• Especificidade: uma causa deve estar associada a uma única doença a um

único grupo de doenças. A poluição atmosférica está associada a doenças

respiratórias (os poluentes do ar também têm sido associados a doenças

cardiovasculares e oftalmológicas);

• Temporalidade: a exposição deve preceder a doença para reforçar a

inferência causal;

• Gradiente biológico: a presença de uma associação dependente da dose

entre exposição e efeito com maiores exposições levando a maiores efeitos;

• Plausibilidade biológica: baseada em conhecimento anterior sobre a

patofisiologia da doença e os mecanismos pelos quais os poluentes podem

levar a efeitos adversos à saúde.

• Coerência: significa que uma relação causal não pode ter conflito com a

história natural da doença, apesar de que informações aparentemente

conflitantes não invalidam uma inferência causal;

• Provas experimentais: uma vez demonstrada a associação, uma intervenção

que remova a causa deve atenuar ou eliminar o efeito observado. Por

exemplo, o episódio em Utah relatado por Pope III (1989): uma greve fechou

uma velha fábrica de aço, que era principal fonte de partículas poluentes.

Durante aquele período tanto os níveis de partícula da matéria, quanto às

admissões hospitalares pediátricas foram reduzidas pela metade;

• Julgamento da analogia: se poluentes ambientais em estudos experimentais

provam-se capazes de induzir alterações inflamatórias e imunológicas no trato

respiratório de animais, eles devem induzir alterações similares em seres

humanos.(ANDRÉ et al, 2000)

34

3.8. Estudos de prevalência de sintomáticos respira tórios na população

A prevalência de sintomáticos respiratórios em uma população de risco, ou

não, é indicadora indireta de doenças respiratórias agudas e crônicas, bastante

confiável sob o ponto de vista epidemiológico. Esta prevalência está associada a

uma gama de fatores, tais como: variável ambiental (aspectos geográficos,

condições de temperatura e umidade do ar, características sociais e culturais),

variáveis ligadas ao próprio indivíduo (sexo, idade, hábito tabágico, história

ocupacional e patológica pregressa), entre outras (PEVETTA; BOTELHO, 1997).

A utilização de inquéritos epidemiológicos é bastante generalizada em

estudos do tipo transversal ou de prevalência, possivelmente devido a sua

simplicidade e baixo custo (PEVETTA; BOTELHO, 1997).

Através deste método é possível obter informações a respeito da exposição

de pessoas a eventuais fatores de risco, a variáveis potenciais de confusão ou

modificadores de efeitos, ou mesmo para avaliar a ocorrência de síndromes ou

determinadas doenças de interesse. Com a utilização de questionários obtém-se o

conhecimento acerca da prevalência de sintomáticos respiratórios, servindo como

instrumento epidemiológico importante de diagnóstico e também da evolução das

afeccções pulmonares em diferentes grupos populacionais (PEVETTA; BOTELHO,

1997).

Numa amostra populacional não-selecionada é importante não esperar que

esta seja composta de indivíduos assintomáticos do ponto de vista respiratório. Ao

contrário, provavelmente entre um quarto e metade dos indivíduos apresentam um

ou mais dos principais sintomas respiratórios (tosse, expectoração, chiado,

dispnéia). Esse tema deve ser analisado distinguindo-se adultos de crianças (LIMA;

LEMLE, 1993).

No Brasil, estudos em ambientes urbanos (grandes cidades) demonstraram

que o problema de sintomáticos respiratórios é importante para diversas categorias

profissionais e para residentes de cidades (Quadro 03) (LIMA; LEMLE, 1993).

35

Quadro 03 - Freqüência de sintomas respiratórios ba seados em estudos

realizados no Brasil

Autor N Amostra F T E C D

ZOUVI, 1982 38 Burocratas 55,0 13,2 5,3 — 28,9

ARAÚJO, 1986 264 Funcionários Hospital 48,8 18,3 14,8 23,3 38,5

BOTELHO, 1989 345 Habitantes cidades 39,7 41,4 32,7 24,9 25,7

LIMA e LEMLE, 1993 100 Funcionários Universidade 38,0 18,0 21,0 25,0 5,0

Fonte: LIMA; LEMLE, 1993, p. 80

Legenda: F= fumante; T= tosse; E= expectoração; C= chiado; D= dispnéia

3.9. Fatores sócio-ambientias potencializadores dos efeitos da poluição na

saúde

Alguns estudos indicam que as doenças respiratórias são mais susceptíveis

nos grupos populacionais de crianças menores de cinco anos e velhos maiores de

65 anos procedentes de áreas urbanas e suburbanas. O inverno e o confinamento

em dormitório encontram-se entre os fatores predisponentes dos agravos

respiratórios, enquanto que o tabagismo dos pais e os combustíveis domésticos, a

lenha e o querosene, são fatores importantes no desencadeamento desses agravos

(BENGUIGUI, 1999)

O conhecimento dos poluentes e das fontes de emissão não é suficiente para

explicar o complexo processo da contaminação atmosférica. As características

estruturais e as dinâmicas da atmosfera e as características morfológicas do relevo

são também importantes elementos da dispersão dos poluentes no espaço e de sua

evolução (ARÁNGUEZ et al, 2001).

Por exemplo, as diferenças de temperatura e da umidade do ar podem

influenciar na composição da mistura dos poluentes e, conseqüentemente, nos

efeitos sobre a saúde humana (GOUVEIA; FLETCHER, 2000)

36

As pesquisas também indicam, que os efeitos na saúde humana também são

verificados quando em concentrações de poluentes estão abaixo dos limites legais

toleráveis (ANDRÉ et al, 2000).

37

4. MÉTODOS

4.1. Desenho do Estudo

O desenho de estudo é descritivo, de cunho exploratório que utiliza

instrumentos de coleta de dados qualitativos e quantitativos. As informações foram

obtidas através da triangulação metodológica dos dados para uma melhor

compreensão da realidade sócio-ambiental do objeto da pesquisa.

A descrição, registro, análise e interpretação dos fenômenos ou situação de

um determinado espaço-tempo são essenciais para esse desenho de estudo, pois

tem como finalidade desenvolver hipóteses e aumentar a familiaridade do

pesquisador com o ambiente, objetivando utilizar os resultados para propor solução

do problema. Nestes estudos utiliza-se uma variedade de procedimentos de coleta

de dados como, por exemplo, entrevistas, observação, análise de dados e

conteúdos disponíveis (MARCONI e LAKATOS, 1999).

4.2. Unidades de Análise

4.2.1. Unidade de análise de contexto

Para melhor caracterização dos processos de produção do gesso e

manufaturas que impactam o ambiente e a saúde, analisaram-se o contexto sócio-

ambiental do município pernambucano que concentra mais de 50% da atividade

gesseira. O município de Araripina, situado na Microrregião de Araripina e

Mesorregião do Sertão de Pernambuco, localiza-se a cerca de 692 km de Recife em

uma área de 1.914,4 km2 (corresponde 17,3 da Microrregião de Araripina e 1,9% do

Estado de Pernambuco) que faz fronteira ao norte com os municípios de Padre

Marcos (PI), Fronteira (PI), Campos Sales (CE) e Ipubi (PE); ao sul: com Trindade

(PE), Ouricuri (PE) e Simões (PI); a leste: com Ipubi (PE) e Trindade (PE); e a oeste:

como Simões (PI) (Ver Mapa em Apêndice A).

38

4.2.2. Unidade de análise de ancoragem.

A unidade de análise de ancoragem foi Distrito de Morais, localizado a 12 km

a sudeste da sede municipal. Foi selecionado após levantamento realizado em

conjunto com a Secretaria de Saúde de Araripina, da localidade que melhor

representasse a configuração sócio-técnico-ambiental de funcionamento da

atividade gesseira em Araripina. Nesse Distrito funcionam atualmente seis

calcinadoras de porte médio e 19 fábricas de placas de gesso em perímetro urbano

residencial. Este local funcionou como sítio sentinela para o estudo de morbidade

referida.

4.2.3. Unidade de análise de subtexto

A unidade de análise de subtexto foram os indivíduos domiciliados em área

de exposição à poeira de gesso do Distrito de Morais que participaram do inquérito

epidemiológico.

4.3. População de Estudo

A população de estudo sofreu variação conforme o sistema de informação

consultado, apresentado no quadro abaixo:

Quadro 04 – Sistemas de informação consultados

Sistema de Informação População Período

SIM Óbitos 2001

SINASC Nascimento 2001

SIH Internação 2001

SIAB Atenção básica à saúde 2002

Censo Demográfico Setor censitário 1996

Censo Demográfico população 2000 (preliminar)

39

A população de referência para cálculo da amostra para o inquérito

epidemiológico foi baseada no Censo Demográfico do IBGE de 1996, por ser este o

último recenseamento que disponibilizava dados da população por setor censitário.

Tabela 01 - População urbana residente no Distrito de Morais - Ano 1996.

Setores Censitários Urbanos Especificação

Setor Censitário 1 Setor Censitário 2 Total

Habitantes (Nº) 1.480 1.006 2.486

Homem (Nº) 729 512 1241

Mulher (Nº) 751 494 1245

Domicílios (Nº) 350 150 500Fonte: IBGE, 1996

4.4. Plano de Análise

4.4.1. Análise Qualitativa

A análise qualitativa foi realizada com base na observação direta da paisagem

geográfica, pela vivência do autor e entrevistas no local. Esta etapa é fundamental

para a compreensão do processo de desenvolvimento local e sua relação com a

cadeia produtora gesseira. Nesse sentido, foram considerados também os aspectos

culturais e de percepção social dos habitantes da área, relacionando-os com o

problema do estudo.

Também foram utilizadas pesquisas documentais. A ilustração mediante

fotografias, mapas e croquis são ferramentas de uso freqüente nas pesquisas

geográficas que permitem ao leitor aproximar-se melhor dos cenários pesquisados e

observados na pesquisa.

4.4.2. Análise Quantitativa

A análise quantitativa foi baseada nas informações obtidas pelo questionário e

pelo banco de dados do IBGE e Ministério da Saúde, nos quais foram coletados na

40

exploração dos arquivos abaixo descriminado, disponíveis em cd roow produzidos

pelo DATASUS/MS.

Quadro 05 – Banco de dados explorados

Sistema de Informação Arquivo

SIM DOPE2001.DBF

SINASC DNPE2001.DBF

SIH RDPE200101A12.DBC

SIAB SIAB2002.DBF

Censo Demográfico do IBGE SETOR1996.DBF

Os dados informatizados foram explorados com os recursos do Tabwin versão

3.2 do DATA-SUS/MS e do EPINFO versão 6.0 do Center for Diease Control -CDC.

Os resultados foram analisados através de medidas de tendência central,

apresentados em tabelas e gráficos de distribuição da freqüência absoluta e relativa.

41

4.4.2.1. Plano tabular de análise das variáveis

As variáveis e as bases de cálculos utilizadas para constituição dos

indicadores foram utilizadas conforme apresentado em quadro abaixo:

Quadros 06 - Variáveis, indicadores, base de calcul o e fonte utilizadas

VARIÁVEL

INDEPENDENTE INDICADOR CARACTERÍSTICAS

BASE DE

CALCULO FONTE

sexo masculino ou feminino proporções IBGE

idade 0 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a 24;

25 a 29; 30 a 34; 35 a 39; 40 a 44; 45 a

49; 50 a 54; 55 a 59; 60 a 64; 65 a 69;

70 a 74; 75 a 79; 80 a 84; 85 a 89; 90 a

94; 95 a 99; > 100

proporções IBGE

escolaridade já foi a escola; anos de estudo proporções INQUÉRITO

hábitos tabagismo e alcoolista proporções INQUÉRITO

ocupação doméstica; agricultura; comércio;

funcionário público; construção civil;

gesso; outros

proporções INQUÉRITO

características

individuais

condições de trabalho no

gesso

tempo que trabalha no gesso; atividade;

função; exame médico; epi; contrato;

salário; horas de trabalho; folga; turno;

salário.

proporções INQUÉRITO

situação de domicílio urbana ou rural proporções IBGE

tempo de moradia nº anos INQUÉRITO

distância da residência da

fábrica de gesso

< 100m; 100m a 500m; 500 a 1000m; >

1000m.

proporções INQUÉRITO

localização da residência

em relação à fábrica de

gesso

norte, sul, leste, oeste proporções INQUÉRITO

pessoas por residência nº de indivíduos freqüência INQUÉRITO

tipo da residência tijolo; adobe; taipa; taipa não revestida proporções SIAB

quantidade de dormitórios nº de quartos freqüência INQUÉRITO

número de pessoas que

dormem por quarto

1 a 2; 3; 4; > 5 proporções INQUÉRITO

tipo de fogão gás ou lenha proporções INQUÉRITO

tipo de piso cimentada; não cimentada proporções INQUÉRITO

uso de inseticida ou

veneno

sim ou não. proporções INQUÉRITO

poeira de gesso dentro de

casa

sim ou não; pouco ou muita proporções INQUÉRITO

características

sócio-ambientais

da residência

origem da água

consumida

encanada; poço; cacimba; açude proporções SIAB

42

destino dos dejetos fossa; via pública proporções SIAB

destino do lixo coletado; via pública; queimado proporções SIAB

VARIÁVEIS

DEPENDENTES INDICADOR CARACTERÍSTICAS CALCULO

tosse faixa etária; gênero; sim ou não; tempo

que tosse; tipo da tosse

proporções INQUÉRITO

escarra ao acordar faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO

escarra sangue faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO

sangramento nasal faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO

aperto no peito faixa etária; gênero; sim ou não proporções INQUÉRITO

falta de ar faixa etária; gênero; sim ou não; em que

condições

proporções INQUÉRITO

já foi ao médico ou hospital por doenças respiratórias

faixa etária; gênero; sim ou não; qual

doença; foi internado;

proporções INQUÉRITO

irritação nos olhos faixa etária; gênero; sim ou não, tipo da

irritação

proporções INQUÉRITO

sintomas de irritação de pele

faixa etária; gênero; sim ou não, tipo da

irritação; partes do corpo

proporções INQUÉRITO

internações por doença

respiratória

capítulos do cid10 proporções SIH

faixa etária das

internações por doença

respiratória

<1; 1 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a

39; 40 a 59; 60 a 69; 70 a 79; > 80

proporções SIH

óbitos por doença

respiratória

capítulos do cid10 proporções SIM

faixa etária dos óbitos por

doença respiratória

<1; 1 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; 20 a

39; 40 a 59; 60 a 69; 70 a 79; > 80

proporções SIM

morbidade e

mortalidade

natureza da unidade

hospitalar

público; privado proporções SIH

4.4.3. Triangulação

A triangulação dos dados quantitativos e qualitativos objetiva estabelecer

ligações entre descobertas obtidas por diferentes fontes, ilustrá-las e torná-las mais

compreensível. NEVES (1996), ao revisar o assunto utilizam a expressão

triangulação simultânea para as pesquisas que usam ao mesmo tempo instrumentos

quantitativos e qualitativos. Ressalta que, na fase de coleta de dados, a interação

entre os dois métodos é reduzida, mas, na fase de conclusão, eles se

complementam (1996).

43

4.4.4. Amostragem

O cálculo do tamanho da amostra levantou em consideração os setores

censitários do IBGE e a prevalência de 30% do sintomático tosse como indicador de

maior representatividade dos sintomáticos respiratórios, encontrada no inquérito

piloto realizado em julho de 2001 na área de estudo, garantindo um intervalo de

confiança de 95%.

Tabela 02 - Freqüências de queixas de saúde e polui ção referidas em inquérito

epidemiológico piloto.

Poeira % Tosse % Aperto no peito % Falta de ar %

13 15 62 74 36 43 25 30

Obs: resultado do inquérito piloto realizado em 26 de julho de 2001 no Distrito de Morais, onde se vis itou 68

residências e entrevistou-se 84 pessoas.

4.4.4.1. Critérios de seleção dos indivíduos

Em cada domicílio selecionado foram entrevistados diretamente todos os

moradores com idade superior a dez anos. Os menores de dez anos de idade foram

entrevistados indiretamente, ou seja, representados no inquérito por um adulto

responsável de preferência à mãe. A revisita ao domicílio selecionado durante os

finais de semana objetivou entrevistar os domiciliados ausentes da primeira visita por

motivos de trabalho.

4.4.4.2. Critérios de exclusão

Quando a residência selecionada estava fechada ou quando houver recusa

de participação, foi selecionada a residência subseqüente (vizinha imediata). Após a

coleta de dados foram excluídos os questionários de indivíduos que referiram

patologias pulmonares já diagnosticadas, tais como: tuberculoses, enfisema

pulmonar, câncer e outras patologias pulmonares crônicas de origem não ambiental.

44

4.5. Fontes de Dados

4.5.1. Dados Primários

Os dados primários coletados para pesquisa foram baseados na observação

direta da paisagem geográfica, entrevistas abertas utilizando-se de roteiro semi-

estruturado durante estágio de vivência no município do estudo e inquérito

epidemiológico de queixas de saúde através de questionário com roteiro semi-

estruturado (Ver em Apêndice B e C).

Para observação e descrição da paisagem geográfica foi realizado o

"diagnóstico ambiental rápido e participativo" baseado em Paulo Pertersen (1995).

Resumidamente, significa o diagnóstico ambiental da área em estudo através das

observações e interpretações da paisagem e principalmente do conhecimento da

população na caracterização e diferenciação dos geofatores sócio-ambientais

encontrados e desenvolvidas nas localidades visitadas. Aplicaram-se também as

"Técnicas de Convergência" do Professor Mauro Resende [199-], que trata-se de

procedimentos utilizados para levantamento de informações, através de entrevistas

de campo com os agricultores, moradores e trabalhadores do gesso.

O inquérito epidemiológico de queixas de saúde mediante questionário semi-

estruturado foi aplicado em cada domicílio selecionado por seis pessoas

devidamente treinados em duas etapas:

• 1ª Etapa: delimitação, planejamento, treinamento dos entrevistadores e aplicação

do questionário – período de 13 a 17 de março de 2002;

• 2ª Etapa: aplicação do questionário e avaliação final – período de 31 de maio a

02 de junho de 2002.

Foram visitados 148 domicílios e entrevistadas 462 pessoas nos setores

censitários urbanos 1 e 2 do Distrito de Morais (Ver Apêndice D).

45

4.5.2. Dados Secundários

Os dados secundários foram provenientes de pesquisa documental dos

registros, atas, anais, regulamentos, circulares, ofícios, fotos e mapas temáticos da

pesquisa, coletados em livros, revistas, jornais e vídeos, nas principais instituições e

bancos de dados do CPqAM, FUNDACENTRO, IBGE e Ministério da Saúde. Deve-

se ressaltar a opção pelo Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e Sistema

Informação de Mortalidade (SIM) do DATA-SUS para a caracterização de aspectos

de interesse do estudo do perfil epidemiológico da população de Araripina, que

devido a grande número de sub-registros e sub-notificações dos outros sistemas

(SINAN, SIA, SIAB) limitava a qualidade da análise.

4.6. Problemas Metodológicos, Controle de Viés e de Fatores de Confusão

Houve dificuldade de integração da equipe de campo que aplicou o

questionário, ficando alguns questionários sem o preenchimento correto de todas as

variáveis.

Durante a aplicação do inquérito epidemiológico observou-se que a população

ficou apreensiva em participar, possivelmente desconfiada em considerar a pesquisa

uma ameaça ao emprego na atividade gesseira. O pequeno número de indivíduos

que referiram trabalhar no gesso (N=24) talvez seja maior, apesar dos

esclarecimentos sobre os objetivos da investigação.

Algumas variáveis sócio-ambientais intra-domiciliar e hábitos individuais são

consideradas fatores de confusão na interpretação dos dados. Por exemplo, uso de

praguicidas, lenha para cozinhar e o tabagismo promovem irritações no trato

respiratório e outras manifestações. No caso dos indivíduos que referiram hábito de

fumar foi minimizado com o controle da variável, após comparação de sub-grupos

(fumantes e não fumantes).

46

4.7. Considerações Éticas

Foram solicitados aos indivíduos participantes no inquérito epidemiológico o

consentimento informado e esclarecido para a permissão por escrito em três vias

com base na informação completa, fornecida aos mesmos do objetivo da pesquisa,

seus direitos e acesso aos resultados (Ver Apêndice C).

Foi garantido o princípio da privacidade das informações adquiridas no

estudo. Realizou-se seminário no local para esclarecimento dos objetivos da

pesquisa, com a presença de autoridades governamentais municipais e

representantes das instituições de ensino e pesquisa, do setor empresarial, dos

trabalhadores e da sociedade civil organizada.

Os resultados da pesquisa serão informados aos participantes através de um

texto didático, contendo as conclusões do estudo e suas recomendações.

Os indivíduos sintomáticos identificados serão encaminhados para os

serviços médicos de referência indicados pela secretaria municipal de saúde, para

que sejam garantidas à devida assistência.

Será firmado convênio com o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães e

Ministério da Saúde para capacitar a rede de saúde municipal para diagnosticar o

tratamento de sintomatologias respiratórias da população exposta.

Em anexo o parecer de aprovação da Comissão de Ética do Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães – CpqAM de registro de nº CEP/CEPqAM/FIOCRUZ

41/02 de 10 de setembro de 2002.

47

5. RESULTADOS

5.1. Caracterização sócio-demográfica e ambiental d a região

A Chapada do Araripe constitui um extenso planalto (meseta) arenítico de

cerca de 700 m de altitude acima do nível do mar, cujo subsolo é rico em fóssies,

reservas de água e jazidas de gipsita que hoje são responsáveis por mais de 90%

da produção de gesso do país.

A área de influência da Chapada abrange vários municípios dos estado de

Pernambuco, Ceará e Piauí onde vivem mais de 1.200.000 pessoas beneficiadas

pela grande diversidade do ponto de vista natural, social e econômico da região,

entre os quais destacam-se: (a) o setor agropecuário: produção da farinha e

pecuária semi-extensiva, onde atualmente a região do Cariri no Estado do Ceará

apresenta um maior dinamismo, haja vista as melhores condições ecológicas; (b) o

extrativismo vegetal: produção de lenha e carvão que é a principal matriz energética

do pólo gesseiro; (c) a indústria mineral: gipsita, cimento, argila e pedras

ornamentais, sendo o gesso a principal atividade econômica do Sertão do Araripe

Pernambucano; (d) o setor terciário: o desenvolvimento de atividades comerciais e

de serviços alavancadas pelo turismo cultural, arqueológico e religioso nos

municípios de Pernambuco (Exú) e Ceará (Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda).

No lado pernambucano, o município de Araripina destaca-se como o principal

produtor de gesso de toda a região. O município de Araripina, localizado a 692 km

da capital pernambucana, possui uma população total de 70.898 habitantes

distribuídas pelo território de 1.914,4 km2, onde 51% da população é do sexo

feminino e 51% residem na zona rural (Ver Apêndice E).

A pirâmide etária da população de Araripina no ano de 2000 possui uma

estrutura clássica, alargada na base, o que caracteriza uma população jovem, na

qual as faixas etárias de menores (0 a 19 anos) representam a maioria (48,2%). A

população adulta jovem (20 a 49 anos de idade) representa 37,5% e as faixas

maiores de 50 anos apenas 14,3%.

48

4000

3000

3500

2500

2000

1500

5000

4000

3000

3500

2500

2000

1500

1000

5000

5000

1000 50

0 0

0 a 4

>100

45 a 49

50 a 54

55 a 59

60 a 64

65 a 69

70 a 74

75 a 79

80 a 84

85 a 89

90 a 94

95 a 99

5 a 9

10 a 14

15 a 19

40 a 44

35 a 39

30 a 34

25 a 29

20 a 24

Faixa Etária(em anos)

População FemininaPopulação Masculina

Gráfico 04 - Pirâmide etária da população do municí pio de Araripina em 2000

A população economicamente ativa (PEA), composta pela população 10 a 49

anos, representa 61,4% do total, exercendo sobre o município e região uma forte

demanda por trabalho.

Há pouca variabilidade percentual entre os gêneros em todas as faixas etárias

analisadas. No entanto, observa-se uma diferença na distribuição de gênero quanto

à situação de domicílio. O sexo masculino está ligeiramente mais representado na

zona rural (50,5%) e o sexo feminino na zona urbana (53%). Segundo entrevista

com escritor local, na década de 1970, com a instalação das indústrias têxtil no

município, houve uma maior migração de mulheres da área rural para a urbana, o

que explicaria o maior contingente de mulheres residindo à sede do município.

A densidade demográfica no município é de 37,0 hab./km2, no entanto sua

distribuição não é homogênea. A maior concentração de habitantes é observada

49

na área urbana da sede do município que detém 65% da população. Nos demais

distritos, a população encontra-se residindo na zona rural, conforme é mostrado na

tabela abaixo.

Tabela 03 – População de Araripina segundo distrito s – Ano 2000

URBANA RURAL TOTAL UNIDADE GEOGRÁFICA Nº % Nº % Nº %

ARARIPINA 34.571 100 36.018 100 70.589 100Araripina 27.638 60 18.308 40 45.946 65Nascente 2.838 30 6.525 70 9.363 13Lagoa do Barro 1.420 23 4.853 77 6.273 9Morais 1.712 30 4.064 70 5.776 8Bom Jardim do Araripe 963 30 2.268 70 3.231 5Fonte: IBGE RECIFE/SINOPSE PRELIMINAR 2000

As sedes dos distritos não têm grande expressão demográfica. Embora a

população rural seja maioria, observa-se que a agricultura tem perdido espaço, e em

algumas localidades não é mais a principal atividade produtiva.

5.1.1. Um olhar de contexto

A atividade agropastoril desenvolvida nessa região, com suas características

peculiares de produção, gerou impacto negativo no meio ambiente.

A prática da extração da madeira para lenha e carvão, provocando o

desmatamento da região, que já é vulnerável pela semi-aridez, com vegetação de

espécies da Caatinga, foi certamente a maior responsável pela degradação do solo

em processo de desertificação. As regiões dos distritos de Lagoa do Barro e

Nascente são testemunhas deste cenário de degradação ambiental.

O distrito de Lagoa do Barro, localizado a 34 km da sede do município, é uma

região aplainada onde a agricultura extensiva do feijão, milho e mandioca são ainda

as principais fontes de renda. A atividade gesseira nesse local é pouco expressiva,

apenas cinco fábricas de placas de gesso funcionam, sem atividade de calcinação.

Nesse distrito encontra-se a principal barragem que abastece a sede municipal. O

50

desmatamento verificado comprometeu substancialmente este recurso hídrico dessa

área. Araripina sofre continuamente com a falta de água para abastecimento.

Foto 01 – A Barragem de Lagoa do Barro

Foto: Marcílio Medeiros,

51

Marcolândia-PI

Exú-PE

Trindade-PE

Ouricuri-PE

Feira Nova

CEARÁ

Lim

ites

daár

ead

mun

o

icípi

ope

rtenc

en

A

t

-

e

Aa AP

raripe

Área menos agricultáveldo Município.

Última reservar de madeira da regiãoque está sendo devastada

Área abandonadado Município

Área melhor beneficiadapelos recursos hídricos

Área de produçãoagrícola

Área de domínio de produçãofarinha de mandioca

PIAUI

PIAUI

Lagoa deDentro

SUPERGESSO

LAFARGE

Bom Jardimdo Araripe

Sítio Flamengo

Adutora do Oeste-COMPESA

Jardim

Sítio Pontada Serra

Morais

Lagoa doBarro

Gergelim

Nascente

Araripina

Fonte: Baseado no mapa do Censo Demográfico IBGE de 2000

57’00º

9136

48’00º

39’00º

30’00º

Serraria I

39’00º 21’00º

Distrito Industrialde Araripina

POLÍGONO DO GESSODE ARARIPINA

Estrada

doG

esso

20002000 60004000

0

BR-316

PE-585

21’00ºN

Mapa 02 – O Município de Araripina e as principais atividades econômicas e

outros aspectos de interesse sócio-ambiental.

52

Nos Sítios de Catolé e Lagoinha é possível também observar o dano

ambiental provocado pelo extrativismo vegetal. Na região as atividades agropastoris

não são mais suficientes em manter a população vivendo das rendas oriundas

destas economias. O esgotamento do solo é também causado por práticas agrícolas

rudimentares, como, por exemplo, a limpa e broca através da queimada (coivara). A

desertificação induzida pela atividade agrária é intensificada pela atividade do pólo

gesseiro, como se verá adiante.

Mapa 02 – O Município de Araripina e as principais atividades econômicas e

outros aspectos de interesse sócio-ambiental.

A área de Gergelim, próximo do distrito de Nascente, já constitui terras do

sertão seco propriamente dito. O solo litólico e fazendas cada vez maiores têm como

alternativa agrícola, em tempos de seca, a plantação de palma para alimentação

animal. Aqui destacam-se as estratégias dos sertanejos diante das carências

hídricas na maior parte do ano. O sistema de açudagem foi à política instituída pelos

governos para o enfretamento da seca, desde o inicio do século XX.

O distrito de Nascente, 42 km distante da sede municipal, apresenta um certo

dinamismo econômico que anima a sociedade local para um processo

emancipatório. A comercialização do feijão de corda é a principal cultura agrícola

deste distrito, e atualmente movimenta o seu perímetro urbano. Nessa área, o lençol

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de

53

freático oferece boas reservas de água, mesmo durante as secas, auxiliando o

abastecimento da população na região. No entanto, por falta de saneamento, essas

reservas de água transformam-se em fontes de contaminação e transmissão de

doenças veiculadas pelas águas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de

Araripina a diarréia é um dos principais agravos de saúde nessa área. Nesse distrito,

apesar das características rurais, já apresentam sinais de ocupação desordenada do

solo, principalmente no entorno das cacimbas e açudes comprometendo a qualidade

da água utilizada para consumo humano. Como observa-se na foto abaixo, os

reservatórios não possuem mata ciliar protetora e as habitações invadem suas

margens.

Foto 03 – O entorno do manancial d’água do Distrito de Nascente e aspectos

da ocupação urbana desordenada

Beirando o pé de serra da Chapada do Araripe, a sudoeste de Araripina, na

direção do antigo distrito de Rancharia, hoje chamado de Bom Jardim do Araripe,

está o Sítio Lagoa Redonda. Nesta área, esqueletos de antigas moradias

abandonadas testemunham o forte êxodo rural que ainda não tinha sido observado

em outras localidades do município, necessitando serem melhor investigadas as

verdadeiras causas.

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 2002

54

Nesse local, as mudanças na geofísica da paisagem são indicados pela

rochas “in natura”, que extraídas em blocos, são deixadas pelas estradas que dão

acesso ao distrito. Esta paisagem marca o início das minas de gipsita que compõem

a região gesseira de Araripina.

Em Bom Jardim do Araripe 29,8% da população reside no entorno de um

grande açude, o qual recebe os dejetos domiciliares e os resíduos das fábricas de

gesso, constituido-se uma grande cloaca urbana, oferecendo riscos para a saúde da

população. Aqui constata-se a substituição da economia agrícola pela atividade

gesseira, sendo esta a principal fonte de renda da população, com duas grandes

calcinadoras exportadoras de gesso e diversas fábricas manufatureiras.

Os problemas oriundos do processo de produção do gesso e manufatura são

referidos pela população, principalmente relacionados à poeira oriunda dos resíduos

despejados nas proximidades das residências. É prática freqüente a utilização

desses resíduos no recapeamento das vias de acesso, o que faz deles fontes de

emissão adicionais de poeira de gesso, como é ilustrado na foto.

Foto 04 – Depósitos de resíduos do gesso em via púb lica

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 2002

55

Assim, o pólo gesseiro de Araripina está distribuído principalmente pelas

localidades do Distrito de Morais, Sítio Flamengo, Sítio Ponta da Serra, Distrito de

Bom Jardim do Araripe; e Sítio Lagoa de Dentro. Nelas estão localizadas as

principais jazidas, lavras, calcinadoras e fábricas manufaturas de gesso,

configurando um polígono de produção industrial.

5.1.2. Caracterização sócio-demográfica da populaçã o Distrito de Morais

A história de constituição de Araripina está ligada a Vila de São Gonçalo,

criada em 1892. Essa vila pertencia ao município de Ouricuri até 1927, quando

houve a emancipação de Araripina que a incorporou. Foi a partir desse momento

que foram criados os diversos distritos como hoje conhecemos, entre eles Morais.

O distrito de Morais, situado às margens da BR-316 à 12 km a sudeste de

Araripina, é de localização próxima e de fácil acesso tanto para a sede, quanto para

os demais municípios da região.

As primeiras moradias localizavam-se numa baixa de várzea do leito de um

riacho a cerca de 1 km a nordeste da atual BR-316, onde hoje está construída a

Igreja de São Sebastião. Segundo relatos, em meados da década de 1960, após um

inverno que destruiu várias residências, sua reconstrução se deu nas áreas mais

altas e afastadas da várzea, onde hoje observa-se uma expansão das habitações e

unidades fabris de placas de gesso. Há nesta localidade uma infraestrutura de

serviços municipais de educação, saúde e comércio razoáveis. No entanto, as

condições de saneamento não diferem das já descritas para outras localidades de

Araripina, caracterizando-se pela precariedade.

Na sede desse distrito reside cerca de 30% da população, em mais de 500

domicílios, onde 10% das moradias são de taipa não revestida. Boa parte das

moradias têm piso em cimento (78,6%), 2 quartos de dormir (64,8%) ocupados por

até 3 pessoas por dormitório. 49,0% tem cozinha servida por gás e o restante (51%)

utilizam carvão ou madeira para cozimento dos alimentos. Esta prática constituí-se

em uma fonte adicional de poluição intra-domiciliar.

56

Mapa 03 – Perímetro urbano do Distrito de Morais e aspectos das unidades

fabris de produção do gesso

Muitas vezes, a lenha e/ou carvão são apenas utilizados no preparo dos alimentos

que exigem maior tempo de cozimento. No entanto, pelo baixo poder aquisitivo e o

elevado preço do gás de cozinha, esta população faz pressão sobre o ambiente. O

consumo de lenha extraída da região, que não tem origem de mata reflorestada para

esse fim, contribui também para o desmatamento da Caatinga. É curioso também

observar que uso de inseticida intra-domiciliar é praticado por cerca de 30% da

população. Esta observação leva a reflexão de que há, de certa forma, um adicional

fator de poluição química intra-domiciliar e a pergunta de cunho de economia

doméstica que se faz: Gasta-se com inseticida e não há recurso para a compra do

gás de cozinha. O que leva a população a fazer essa escolha?

57

56,8

5,9

25,1

11,0

1,10,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

1 A 2 3 A 5 6 A 9 10 A 12 > 13

ANO DE ESTUDO

(%)

N=354

Do total da população 49% não tem acesso à água encanada, 61,6%

destinam os dejetos a céu aberto e cerca de 25% não é servido por coleta de lixo

domiciliar, obrigando-os à prática de lançamento nos terrenos baldios e vias

públicas.

O indicador utilizado para contextualizar a poluição intra-domiciliar, oriunda do

processo de produção gesseiro no distrito de Morais, foi a observação de poeira de

gesso dentro de casa, onde 39% da população (N=461) referiu esse problema e

37% desta referiram haver poeira em grande quantidade.

Observa-se também uma deficiência no nível de instrução escolar da

população diante da taxa de 22,6% da população que nunca freqüentou à escola.

Entre os que referiram algum grau de instrução (77,4%), mais da metade dos

habitantes (56,8%) freqüentaram menos de 2 anos de escola fundamental, podendo

ser considerados semi-analfabetos. Portanto, verifica-se que nesse pólo produtor há

um grande déficit de escolaridade, correspondendo a um total de 80% de

analfabetos ou analfabetos funcionais (aqueles com menos de 4 anos de

escolaridade)

Gráfico 05 – Anos de Estudo da População de Morais

Como mais de 70% da população ainda habita a zona rural, observa-se que a

agricultura é a principal atividade de subsistência. Mas no perímetro urbano a

atividade gesseira é a que mais emprega a população masculina. São 19 fábricas de

pré-moldado e 01 calcinadora, todas localizadas dentro do perímetro urbano de

Morais. Dos habitantes que exercem algum trabalho remunerado, apenas 14%,

58

referiu trabalhar nas unidades produtivas de gesso (mineração, calcinação e

produção de placas de gesso), embora residam ao lado das fábricas.

Gráfico 06 – Principais ocupações da população de M orais

Entres aqueles que trabalham na atividade gesseira (N=24), observa-se que,

na sua quase totalidade, é constituída de homens (95,8%), desenvolvendo as

funções de ajudantes (39,1%) e de plaqueiros (26,1%). A maioria destes (70,8%)

não possuem carteira assinada e trabalham de 8 a 10 horas por dia no período

diurno, sem pausa regulamentar para refeição. 78,3% recebem de 1 a 2 salários

mínimos, e 17,4% ganham menos de um salário mínimo (valor do salário mínimo R$

182,00 e piso salarial do gesso R$ 220,00).

Quanto à prevenção de acidentes ou doenças ocupacionais, apenas 37,5%

dos trabalhadores do gesso referiram uso de algum tipo de Equipamento de

Proteção Individual (capacete, abafador de ruído, luvas, bota, óculos e máscara) e

apenas um trabalhador (4,2%) referiu já ter feito exame médico. Este quadro revela

a precariedade das relações de trabalho na atividade gesseira. Apesar da população

ter ocupação agrícola, suas residências estão inseridas no entorno das unidades

produtivas do gesso, o que implica exposição ambiental a poeira de gesso.

N=172

59

149 8 6 4 1

0

10

20

30

40

50

60

70

AGRICULTURA GESSO DOMESTICA OUTROS FUNCIONÁRIOPÚBLICO

CoMÉRCIO CONSTRUÇAOCIVILONDE TRABALHA

(%)

59

5.1.3. A calcinação do gesso.

No Distrito de Morais existem 6 calcinadoras de porte médio. Apenas uma

localiza-se no perímetro urbano e que já foi alvo de denúncias aos órgãos

ambientais e de saúde de Araripina. Funciona ao lado de um cemitério, entre as ruas

Princesa Isabel, Bom Jesus, 7 de Setembro e Manoel Nero Oeste, à oeste e

sudeste, nas quais os moradores reclamam da poluição oriunda da poeira de gesso

e da fumaça da queima da lenha que funcionam os fornos de calcinação da gipsita

“in natura”.

Há uma tendência de instalar essas calcinadoras afastadas das residências

pelo problema de poluição que causam. Neste caso, esta é uma das remanescente

calcinadoras que permanecem em local não apropriado, pela proximidade das

moradias. Segundo entrevista com escritor local, esse processo de relocalização das

calcinadoras é uma antiga reivindicação da população de Araripina, que sofreu os

efeitos da poluição ambiental, oriunda da produção gesseira. Também ouvimos um

ex-prefeito médico e proprietário de um hospital da cidade, que referiu que a

alternativa encontrada para o problema, foi a criação de um distrito industrial para

Araripina afastado das áreas de residências, sendo a instalação inicialmente

pensada para o Distrito de Morais, mas que acabou localizado nas proximidades do

Sítio Lagoa de Dentro, a menos de 8 km da sede municipal.

No entanto, como observou o ex-prefeito, a relocalização das calcinadoras induziu o

surgimento de novos aglomerados urbanos no entorno do distrito industrial, o que

não estava projetado. Percebe-se que na concepção do distrito industrial não foi

feito nenhum zoneamento capaz de impedir a ocupação inapropriada desse espaço

pela população para fins de habitação. Pode-se observar também que o número de

fábricas de gesso instaladas no distrito industrial representa apenas uma pequena

parte do total das unidades produtivas. Isto é um indicador da ausência de um

verdadeiro plano diretor de desenvolvimento para Araripina que discipline a

instalação e funcionamento das industrias do município.

A poluição ambiental oriunda das calcinadoras, segundo informou um médico

do trabalho da região, já foi muito pior. Ele lembra que a região por muito tempo só

60

foi exportadora da gipsita “in natura” e que com o crescimento dessa atividade,

houve interesse dos empresários em agregar valor a essa produção.

A alternativa encontrada pelos empresários, foi inicialmente usar as casas de

farinha para calcinação da gipsita, utilizando os mesmos processos e equipamentos

de produção de farinha de mandioca, que representa até hoje uma importante

atividade agrícola. Araripina é também conhecida pela grande produção de farinha

de mandioca, que no dito popular, o araripense é filho de “pai e mãe brancos”,

fazendo referências aos ciclos econômicos do gesso e da farinha. A calcinação

nessas condições lembra a descrição que é feita pelos historiadores das fábricas

inglesas no tempo da Revolução Industrial, conforme ilustrado na foto.

Foto 05 – Casa de farinha adaptada para calcinar ge sso.

Os ambientes extremamente insalubres não são alvo de fiscalização rigorosa

do Ministério do Trabalho. Assim também desconhece o real impacto destes na

saúde dos trabalhadores. Atualmente existem poucas fábricas que ainda utilizam

essas tecnologias. Houve progressivamente substituição destas por fornos rotativos,

que embora tenham melhorado alguns aspectos ergonômicos, não solucionaram os

problemas da poluição por poeira e ruídos. A maior otimização da produção, em

função das exigências do mercado, que progressivamente vêm ampliando o uso do

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 1998

61

gesso na construção civil do país, não foi acompanhada por investimentos nas

melhorias das condições do ambiente de trabalho. Permanece o desinteresse dos

empresários em respeitar as legislações trabalhistas e ambientais.

Em entrevista com empresários do setor nota-se que os riscos oriundos da

produção são minimizados no discurso do patronato. Referem não haver estudos

que comprovem que a poeira de gesso possa causar problemas respiratórios nos

trabalhadores ou nas populações que residem no entorno das fábricas. Tal crença é

também compartilhada por alguns médicos da cidade que negam conhecer efeitos

nocivos na saúde dos trabalhadores, em particular não reconhecem os problemas

respiratórios oriundos da exposição à poeira de gesso e a fumaça dos fornos.

Consideram que a partícula de gesso é um “material inerte de fácil eliminação pelo

organismo”. Um médico foi ainda mais específico ao defender que as propriedades

higroscópicas da partícula do gesso facilitam sua captação pelos cílios das narinas e

que as partículas menores, que chegam ao sistema respiratório inferior, “são

expelidas com a tosse”. A irritação nas conjuntivas oculares dos trabalhadores,

“facilmente é resolvida, após o banho nas residências depois de um dia de trabalho”,

afirmou o profissional de saúde.

No entanto, um especialista da medicina do trabalho conhecido por sua

atuação no serviço público de saúde não compartilha as mesmas opiniões. Para ele,

que investigou diversos quadros clínicos em trabalhadores do gesso, há sim uma

relação de nexo causal entre estas queixas e a exposição aos poluentes dos

ambientes de trabalho de gesso. Os problemas respiratórios são dependentes do

tempo de exposição e da concentração de partículas em suspensão que conforme

sua observação, são mais graves nas calcinadoras durante as etapas de

desidratação da gipsita. Segundo esse especialista, é possível haver outras

liberações de substâncias nocivas à saúde humana como, por exemplo, o gás

sulfúrico. A fumaça proveniente da queima da madeira contém alcatrão, entre outras

substâncias químicas. O alcatrão é uma substância química comprovadamente

cancerígena.

62

Sua preocupação aumenta com a nova matriz energética das calcinadoras,

que vêm substituindo a velha queima de madeira. O uso de coque de petróleo é uma

tecnologia recém introduzida para aquecer os fornos das calcinadoras. Sabe-se que

o coque tem uma gama de hidrocarbonetos aromáticos conhecidos por sua

toxidade. Portanto, a nova matriz energética resolve o problema de queima de

madeira oriunda da caatinga, mas provoca outros impactos negativos que não estão

sendo avaliados.

Ainda segundo este especialista, várias funções desenvolvidas nas

calcinadoras oferecem riscos aos trabalhadores. Por exemplo, nas funções de

“britador”, “ajudante”, “foguista” e “balanceiro” os indivíduos estão expostos à

concentrações elevadas de ruídos, esforço físico e temperatura, acima do permitido

pela lei. Há relatos de casos já diagnosticados durante avaliações audiométrica dos

serviços médicos de rotina nas empresas, de “britadores” que perderam a audição.

Segundo informações, tem-se observado, principalmente nos trabalhadores de idade

de 30 a 50 anos que exercem a função a mais de 10 anos, comprometimento do

aparelho auditivo. O problema poderia ser evitado com o uso correto do EPI

(abafador e ruído), que muitas vezes não são usados pelo desconforto que causa,

haja vista as precárias condições sanitárias do ambiente de trabalho.

63

Foto 06 – Aspectos de uma calcinadora equipada com forno rotativo para

queimar óleo BPF, mas que continuam queimado lenha

Os acidentes provocados por queimaduras são mais freqüentes entre os

trabalhadores nas funções de “foguista” e “balanceiro”. Fato agravante é da

existência de relatos de sérios acidentes por queimaduras provocada na população

que reside o entorno das calcinadoras. É prática comum após o processo de

calcinação o deposito de resíduos dos fornos ainda em combustão nos terrenos

baldios próximos as industrias, sem nenhum critério ambiental e de segurança. O

acidente de uma criança que transitava em um desses terrenos resultou de um

processo judicial contra uma grande calcinadora local.

5.1.4. As manufaturas de gesso

A expansão vertiginosa de unidades fabris para manufatura de placas de

gesso em Araripina e respectivos distritos deve-se às facilidades com que esse

negócio conta. Para tal, são necessários poucos recursos financeiros, tecnológicos

(equipamentos) ou humanos. Na sua maioria funcionam no mercado informal, quase

todos desregulamentados. Como resultado, é difícil saber o número exato delas e o

número de empregos gerados. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Gesso,

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 2002

64

Depósito d’água

Mexedorelétrico

14 metros

Mes

as o

nde

são

conf

ecci

onad

as a

s pl

acas

Áre

a pr

ojet

ada

para

expa

nsão

da

fábr

ica

7m

etro

s

Dep

ósito

de

gess

o

estima-se que 60% são consideradas de pequeno porte e geralmente de “fundo de

quintal”, nas quais trabalham de 2 a 3 pessoas.

A visita a uma dessas unidades para compreender o funcionamento dessa

produção local e sua repercussão na saúde dos trabalhadores foi ilustrativa.

Constatou-se que o seu proprietário além de possuir uma pequena fábrica de placas

de gesso tem também uma mercearia, Dessas duas atividades sustenta 7 pessoas

da família e emprega 3 pessoas do local, sendo um, seu próprio filho que trabalha

na função de ajudante. Este carrega e descarrega os caminhões com a matéria

prima e as placas produzidas. Empilha para secagem as placas e abastece com

gesso e água a linha de montagem dos plaqueiros (em número de dois). Cada placa

de gesso possui dimensão de 1 m2 que é comercializado em torno de R$ 1,50.

Trata-se de uma atividade lucrativa em relação as demais, e isto induz o

aparecimento constante de novos empreendedores de manufatura de gesso.

Croquis 01 – Aspectos de uma fábrica de placas de g esso no Distrito de Morais

A jornada de trabalho na maioria dessas unidades fabris varia conforme o

ritmo da produção que é estabelecido pelo alcance de metas (400 placas/dia). Cada

plaqueiro deve confeccionar (bater) cerca de 200 a 250 placas/dia durante seu

horário de trabalho que varia entre 5 horas e 14 horas, sem pausa para refeições.

O ritmo da produção é extremamente cansativo e os próprios trabalhadores

admitem que muitos colegas não agüentam mais de 6 meses na função. Essas

unidades produtivas são construídas em uma espécie de galpão com cerca de 98

m2, onde, em geral, existem duas linhas de montagem constituídas por mesas onde

65

estão as formas utilizadas pelos plaqueiros. Algumas unidades já possuem um

dispositivo elétrico (mexedor) que torna mais fácil essa atividade e de melhor

qualidade. Nas unidades onde o trabalho é ainda manual, o plaqueiro realiza a

dosagem do gesso e da água para cada placa, processa a homogeneização

manualmente e prepara as formas das placas. Faz-se presente no trabalho o uso de

uma substância química, derivada do petróleo (querosene com estearina), para

evitar que o gesso grude nas formas, o que produz um forte odor e constitui-se um

fator de risco adicional à saúde dos trabalhadores que estão expostos.

Observa-se que os trabalhadores são jovens e iniciam a atividade profissional

ainda na adolescência. Esta situação obriga esses jovens a interromperem os

estudos, alegando principalmente o cansaço produzido pelo trabalho no gesso. A

escolaridade desses jovens é baixa, pois nenhum deles conseguem conciliar o

ensino fundamental. O salário recebido é cerca de R$ 240,00, superior ao auferido

pelos que trabalham na agricultura, que é em torno de R$ 130,00 mês, sendo este

um ganho condicionado às frentes de trabalho nos períodos de inverno (chuvas).

A queixa comum de saúde dos trabalhadores do gesso é de dores

musculares, principalmente, nas costa oriunda do esforço físico diário da função.

Referem inicialmente que o pó do gesso fazia-os espirrar e sentiam irritação na

garganta. A estearina adicionada ao querosene, usada para impedir a adesão do

gesso a forma de vidro, provoca dor de cabeça e náuseas, sugerindo um efeito

neurotóxico. Há entre os plaqueiros queixa de sinusite que se manifesta no inverno,

problemas que antecede à sua entrada na atividade gesseira, sendo também

observada no ambiente doméstico.

66

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 2002

Foto 07 – Etapas de produção das placas de gesso

Os resíduos do processo produtor em geral são jogados em terrenos baldios

ou circunvizinhança das fábricas. Há experiências de reaproveitamento com

reciclagem desses resíduos para confecção de blocos de gesso utilizados na

construção das casas. No entanto, a reciclagem do gesso não efetivou-se, o que

torna pouco lucrativo, preferindo os proprietários descartar esses resíduos como

acima exposto.

5.1.5. A atividade mineralógica e seus contrastes c om a economia agrária

O avanço da atividade gesseira nessas duas últimas décadas vem ocorrendo

com processos produtivos danosos ao ambiente. Por exemplo, o aumento de

número de minas de gipsita nos municípios que configuram o chamado pólo

gesseiro de Pernambuco está ocorrendo sem critérios ambientais e econômicos que

objetivem a otimização das já existentes, conforme gráfico abaixo apresenta.

67

02468

10121416182022242628303234363840424446

1 2 3 4 5 6

Munic ípios

Nº de minas

1981

1995

Ipubi Ouricuri Ara ripina Bodocó Exú Trindade

Fonte: *ARAÚJO e PERES, 19?. p.8 **SEBRAE, 1996.

Gráfico 07 - Número de minas de gipsita em Pernambu co: comparativo entre

os anos de 1981 e 1995

Apesar de alguns agricultores não associarem o declínio da agricultura

provocada pelo avanço do gesso na região, observa-se que a atividade mineralógica

tem exercido uma pressão nas condições de vida e na economia rural da população

do município de Araripina. Para ilustrar, tem-se o caso de uma mineradora na região

do Sítio Flamengo que exporta a gipsita in natura para ser beneficiada em fábricas

no Estado do Rio de Janeiro. A lavra iniciada em 1990 foi adquirida por essa

empresa a cerca de 5 anos de onde se extrai mais de 10 mil toneladas/ano de

gipsita. Atualmente abrange uma área de 203 hectares onde antes constituía seis

propriedades agrícolas produtora de feijão, de cerca de 30 a 70 hectares cada.

O processo de substituição da atividade agrícola pela mineração tem se

intensificado na medida em que a produtividade das terras vem decaindo, causada

pelo esgotamento do solo decorrente das queimadas e pelo êxodo rural. A venda

das propriedades agrícolas para as mineradoras tem sido um negócio considerado

de interesse para os pequenos proprietários de terra que já não encontram

condições de se manterem na agricultura.

O Código de Mineração do país define que os recursos minerais, inclusive os

do subsolo, pertencem a União e compete a ela a administração da indústria de

produção mineral, a distribuição, o comércio e o consumo de produtos minerais do

país. A má interpretação dessa lei e sua divulgação sem esclarecimentos, fazem

68

com que os proprietários das terras sintam-se ameaçados e desejam assim salvá-los

da “ação do estado” (servidão), e vêem a sua venda para as mineradoras, como um

negócio mais seguro.

A exploração da jazida exige uma autorização para se pesquisar a viabilidade

técnica e econômica do mineral, o que é feito pelo Departamento Nacional de

Produção Mineral. Posteriormente à aprovação da pesquisa mineral, a empresa

titular terá um prazo de 1 a 3 anos para requerer a concessão de lavra que, será

solicitada e outorgada pelo Ministério de Estado de Minas e Energia. Nesta etapa a

área da jazida é submetida ao que o Capítulo III do Código Mineral Brasileiro define

como “Servidões”. Neste, ficam sujeitos a servidões de solo e subsolo para os fins

de pesquisa ou lavra, não só a propriedade onde se localiza a jazida, como as que

estiverem nos seus limítrofes. O plano de pesquisa mineral servirá de base para a

avaliação judicial da renda pela ocupação do solo e da indenização devida ao

proprietário ou posseiro, devendo ser acordada entres ambas as parte (empresa de

mineração e proprietário de terra) antes mesmo de iniciado os trabalhos de pesquisa

ou lavra.

Em Araripina, o processo de venda das terras agrícolas para exploração

mineral vem sendo intensificada principalmente nas terras dos proprietários ou

posseiros que só podem vender as propriedades ou minérios encontrados no

subsolo a uma das empresas que realizou a pesquisa. Esta situação diminui a

capacidade de barganha dos agricultores, fazendo cair os preços de venda de suas

terras. É bem provável, conforme informaram os técnicos da EBAPE-Araripina, que

boa parte do subsolo da região, que engloba os municípios do chamado pólo

gesseiro, já tenha sido sondada para estudo de viabilidade econômica na exploração

da gipsita. O problema é que durante este período, para solicitar a concessão de

lavra, o titular da pesquisa poderá negociar o direito de concessão de lavra a

terceiros e quase sempre não se inicia o processo industrial de extração da gipsita

dentro do prazo estabelecido por lei, o que confunde muito a vida das famílias rurais

que ficam no aguardo de terem que sair de sua terra a qualquer momento.

69

Foto: Marcílio Medeiros, novembro de 1998

Esse contexto foi provavelmente um elemento fortemente pressionador sobre

as famílias de agricultores rurais para que vendessem suas terras, mesmo antes do

inicio do processo de servidão, após concessão da lavra, o que intensificou o êxodo

rural. Portanto, embora seja direito dos agricultores proprietários ou posseiros de

terra receberem parte da renda pela ocupação do solo ou indenização pelos danos

causados pela pesquisa mineral ou lavra, estes têm se antecipado, vendendo suas

propriedades a preço inferior a do mercado sem agregar o valor do minério

possivelmente existente no subsolo.

Foto 08 – Aspectos ambientais do processo de extraç ão de gipsita em

Araripina

70

5.1.6. As perspectivas formais para o desenvolvimen to da região gesseira do

Araripe e suas implicações sócio-ambientais. A Ques tão ambiental e as várias

concepções de desenvolvimento sustentável da região

Nas duas últimas décadas, as várias funções e interesses dos atores sociais

e econômicos que comandam este espaço geográfico têm produzido possíveis

cenários de insustentabilidade do ponto de vista ecológico, com sérias repercussões

sobre a sociedade.

Um ponto chave para a manutenção da viabilidade econômica da atividade é

também as novas alternativas energéticas para a produção de gesso na região. A

base da matriz energética sempre foi a queima da lenha de espécies da caatinga da

região. No entanto, o uso de óleo combustível BPF que recebeu incentivos para

substituir a madeira, tem sido economicamente insustentável pela variação dos

preços dos derivados de petróleo. Observa-se que no ano de 2002, o uso da lenha

voltou a representar importante fonte energética para as calcinadoras que funcionam

24 horas. No entanto, diante do esgotamento dos recursos vegetais da região e a

intensificação da fiscalização, com apreensão de lenha e madeira ilegal pelos

órgãos de defesa do meio ambiente do pais (IBAMA), as grandes empresas estão

introduzindo o coque de petróleo no processo de calcinação do gesso. Este,

portanto, torna-se mais um fator de risco que se agrega ao processo de produção do

gesso.

Desde os anos de 1990, os impactos ambientais, oriundos da atividade

gesseira, da agricultura extensiva e do extrativismo vegetal têm sido pautados por

ambientalistas, pesquisadores, governos e políticos dos Estados do Pernambuco,

Ceará e Piauí. No entanto, o que se observa é a ausência de uma política integrada

para o desenvolvimento sustentável da região.

De certa forma a temática de conservação ambiental da Chapada do Araripe

teve inicio com a criação da Floresta Nacional do Araripe-Apodi em 1946, com

38.000 hectares que está situada no Estado do Ceará. Para a região que

envolve a Chapada do Araripe já existem, além da unidade de Conservação (UC’s)

da Floresta Nacional do Araripe-Apodi, outras iniciativas para desenvolvimento

71

sustentável da região. Em 1997 é criada a Área de Proteção Ambiental do Araripe

(APA) que foi articulada pela Fundação Araripe, com forte articulação com a

Universidade Regional do Cariri (URCA-CE). Mas, recentemente tem sido discutido

o funcionamento da Reserva Bioecológica do Araripe, constituída por 38 municípios

dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí, que trata-se, de uma segunda etapa de

implantação da APA-Araripe. Ainda na década de 1990 o Governo Federal intitulou

essa região de “Mesoregião de Desenvolvimento do Araripe”, que encontra-se em

fase de projeto.

Do lado pernambucano, além da existência da unidade de pesquisa da

Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA, localizada na Chapada do

Araripe, o Governo Estadual vem implementando projeto de desenvolvimento

econômico para os municípios que compõem o pólo gesseiro, baseado em cadeias

produtivas (clusters). Nesta proposta, busca-se integrar empresas que estão direta

ou indiretamente envolvidas com as atividades de mineração, calcinação e produção

de artefatos e componentes do gesso, inclusive as que dão suporte. Foi idealizado a

construção de um Núcleo Tecnológico para Araripina, mas este plano não foi de fato

executado. Segundo informações do SINDUGESSO-PE, o atraso desse processo

deve-se por problemas de licitação na obra a serem contratadas. Observa-se

também que o órgão estadual de controle da poluição ambiental de Pernambuco

pouco tem interferido nos problemas ambientais da região. Segundo relatório do

CPRH da situação legal de funcionamento das indústrias do gesso em Araripina, das

52 indústrias do gesso cadastradas, 27 estão em situação legal para o órgão, 11

estão com o processo em tramitação, 8 estão em pendência com a licença ou

registro ou renovação e 6 funcionam sem licença. Recentemente foi aprovado um

projeto no Banco Interamericano para Desenvolvimento (BID) para monitoramento

ambiental da região que se encontra em fase de implantação pelo CPRH.

Do ponto de vista empresarial, na região atuam instituições privadas de

caráter público de fomento da indústria, comércio e serviços, formadas pelas

organizações não governamentais dos sistemas “S” (SEBRAE SESI E SENAI).

Desde 1991 funciona em Araripina o Centro de Atividades de Saúde,

Educação e Lazer do SESI. Em entrevista com Diretor do SESI-Araripina, observou-

72

se que atualmente apenas 30% do total de empresas do setor gesseiro possuem

convênios com o SESI. A maioria desses convênios são para a realização de

exames médicos admissionais dos trabalhadores. Poucas empresas realizam

exames médicos periódicos ou os demissionais.

Já o SENAI dispõe para as empresas conveniadas o laboratório de análise e

avaliação da qualidade do gesso produzido na região. A ausência de padrão de

qualidade físico-química dos produtos é apontada pelos empresários, como um

ponto negativo para aceitação do mercado externo do gesso produzido na região.

A trajetória do SEBRAE no município é melhor avaliada entre os empresários

do setor gesseiro. Instalada em 1992, e desde 1996 tornou-se unidade de negócio,

atua em 7 ciclos econômicos em mais de 10 cidades da região. A profissionalização

da atividade se deu após a instalação do balcão de orientação empresarial desta

instituição. Atualmente 25 empresas participam de um projeto setorial integrado para

qualificação do setor de gipsita e gesso do Araripe, objetivando o mercado

internacional.

5.2. Aspectos de interesse do perfil epidemiológica do município de Araripina

A primeira causa das internações em Araripina observada no ano de 2001 é

devido à gravidez, parto e puerpério, que correspondem a 34,8% do total. As

doenças respiratórias correspondem à segunda maior causa de internações desse

município com 14,2% do total, entre as quais pneumonias por microorganismo não

especificado representam mais da metade dos diagnósticos de doenças do aparelho

respiratório (55,7%), seguidas pela asma (26,1%) e as bronquites agudas (5%) (Ver

Apêndice F)

Quanto à distribuição etária das doenças respiratórias, observa-se que os

menores de 9 anos detêm 47% das ocorrências registradas de internações

hospitalares, seguidos dos adultos com mais de 60 anos de idade (14,5%) dos

adultos jovens na faixa etária de 20 a 39 anos (11,4%) e os indivíduos de 40 a 59

anos (9,3%).

73

No ano de 2001 foi registrado um caso de pneumoconiose que necessitou de

internação, vindo a falecer o individuo no mesmo ano. No entanto, não consta no

sistema de informação de mortalidade como veremos adiante.

As doenças infecto-parasitárias constituem a terceira causa de internações

hospitalares com 12,8% do total de ocorrências. Na seqüência tem-se: as doenças

do aparelho geniturinário (8,9%), as doenças do aparelho digestivo (8,1%) e do

aparelho circulatório (8,0%). As causas externas representam 2,9% das internações.

Gráfico 08 – Causa das internações segundo capítulo s do CID 10 em Araripina

- Ano 2001

5.2.1. Morbidade referida da população do Distrito de Morais

Entre as queixas de saúde pôde-se observar que os processos irritativos da

conjuntiva ocular foi o de maior prevalência (49%), seguidos de sangramento nasal

(37%), tosse (28,3%), alergia (18,5%) e falta de ar (16,3%), conforme gráfico abaixo

mostra.

Fonte: SIH/MS

34,8

14,2 12,8

8,9 8,1 8,0

2,9 2,0 1,8 1,4 1,0 1,0 0,9 0,9 0,6 0,3 0,2 0,1 0,00,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

XV X I XIV XI IX XIX XVIII XIII IV II XII V XVI XV VI XVII XXI VII

Capítulos do CID10

%

74

42,9

37,4

28,3

18,516,3

0,05,0

10,015,020,025,030,035,040,045,050,0

Irritação nos olhos(N=459)

Sangra pelo nariz(N=460)

Tosse (N=460) "Irritação" de pele(N=460)

Falta de ar(N=455)

%

N=70

27,1

18,6

14,3 14,3

11,410,0

1,4 1,4

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

Pneumonia Gripe Bronquite Várias doenças Outros Asma Sinusite Rinite

DOENÇA RESPIRATÓRIA REFERIDAS

(%)

Gráfico 09 – Morbidade referida da população urbana do Distrito de Morais

A tosse é referida por 28,3% da população que caracteriza como seca e

persistente por mais de 30 dias. A tosse foi referida com maior freqüência na

população de faixa etária de 6 a 10 anos de idade (21%). Se considerarmos a faixa

etária de 0 a 10 anos, observou-se registro de queixas de tosse em 39%, seguida

das faixas etárias de 11 a 20 anos (20%), de 21 a 40 anos (18%) e de mais de 50

anos (17%).

Gráfico 10 – Doença respiratória referidas pela pop ulação do Distrito de Morais

Não foi observada diferença de gênero entre os sintomáticos respiratórios. No

entanto, as mulheres foram as que mais referiram queixas oculares (65,4%) e

irritação de pele (68,2%).

75

Quanto à idade, as queixas referidas variaram conforme pode-se observar na

tabela em Apêndice G.

Quanto ao sangramento nasal a queixa é mais freqüente na faixa etária de 21

a 40 anos (30%), seguidas das faixas etárias de 11 a 20 anos (29%), de 0 a 10 anos

(19%), de 31 a 50 (6%) e de maiores de 50 anos (15%). Os adolescentes e adultos

jovens são os mais afetados.

As referências de problemas na conjuntiva ocular acometem principalmente

as faixas etárias de 21 a 40 anos (32%), seguidas pela os maiores de 50 anos

(24%), e pelos indivíduos de 11 a 20 anos (23%).

As queixas de irritação de pele (sintomas de alergia conforme apresentado no

gráfico) variaram segundo a idade com um padrão distinto. Os adultos de 21 a 40

anos foram os que mais referiram esse problema (33%), seguido dos mais idosos (>

50 anos) com 27%, de 0 a 10 anos (18%) e 11 a 20 anos (18%).

A falta de ar é uma queixa que distribui-se muito homogeneamente até os 50

anos de idade (0 a 10 anos, 27%; de 11 a 20 anos, 24%; de 21 a 40 anos, 23%);

Para os maiores de 50 anos ela representou 16%.

5.2.2. Características dos óbitos

As causas mal definidas representam 57,7% do total dos óbitos no ano de

2001, o que indica um problema de assistência médico–hospitalar no município ou

na região. Excetuando-se estas, as doenças de aparelho circulatório são aquelas

que registram o maior número (17,1%), seguidas das causas externas (12,1%),

doenças endócrinas nutricionais e metabólica (2,5%), doença respiratórios (2,5%) e

neoplasia (1,8%). Enquanto no SIM as doenças respiratórias ocupam a quinta

posição entre as causas de morte, no SIH são a segunda causa de internações

hospitalares. Mais da metade dos óbitos registrado nesse período foi nas faixas

etárias de maiores de 60 anos (62,9%), seguidas de 20 a 49 anos (19,2%) (Ver

Apêndice H).

76

58

1712

2 2 2 1 1 1 1 10

10

20

30

40

50

60

70

XVIII IX XX II IV X I V XI XV XVI

CAPÍTULOS DO CID 10

(%)

Das principais causas de mortes em Ararpina no ano de 2001, as causas mal

definidas representam 61,5% do total dos óbitos, o que indica um problema de

assistência –hospitalar no município ou na região.

Gráfico 11 – Causa morte segundo capítulos do CID10 no município de

Araripina – Ano 2001

Fonte: Vigilância Epidemiológica de Araripina, nove mbro de 2002

Obs: dados sujeitos de alteração

Analisando o grupo de mortes por doença respiratória que no ano de 2001 foi

de sete óbitos, a causa mortis foi por pneumonia por microorganismo não

especificado, edema pulmonar não especificado, outras doenças pulmonares

obstrutivas crônicas, pneumoconiose não especificada, outros transtornos

respiratórios (Ver Apêndice I).

Mais da metade dos óbitos registrado nesse período foram nas faixas etárias

de maiores de 60 anos (62,9%), seguidos de 20 a 49 anos (19,2%).

5.2.3. Características dos serviços de saúde

O município de Araripina desde 1997 possui gestão plena em Atenção Básica

à Saúde. Em 2000 contava com um total de 54 unidades de saúde instaladas no

município. Os programas de Saúde da Família e de Agentes Comunitários são

respectivamente formados por 07 equipes e 130 agentes. Conforme avaliação da

Secretaria de Saúde do município, a falta de capacitação e rotatividade dos agentes

77

de saúde, dos médicos e dos enfermeiros fazem com que as ações desses

programas sejam pouco efetivas.

Outro problema identificado é que o Programa Saúde da Família gerou uma

demanda por serviços médicos especializados que não estão disponíveis no

município. O que se observa é uma transformação dos antigos postos de saúde em

equipes do PSF. Não houve na verdade uma expansão da rede assistencial pública.

Isto acarreta a procura dos hospitais para um atendimento de maior complexidade.

Em 2000, 61% dos serviços médicos prestados foram pela rede hospitalar

conveniada.

A política pública de saúde no município de Araripina é de caráter mais

privado, pois depende praticamente da rede conveniada. O município praticamente

cuida da Atenção Básica à Saúde, embora seja uma cidade de médio porte (70.898

habitantes), contrastando com outros municípios menores que tem melhor estrutura

pública disponível.

78

6. DISCUSSÃO

O Semi-Árido Nordestino vem sofrendo intensos processos de transformação

sócio-ambiental, decorrentes do êxodo rural, crescimento da área urbana e do

desenvolvimento de outras atividades produtivas de características industrial.

A Chapada do Araripe é uma importante área de proteção ambiental, onde

localiza-se um rico sítio paleontológico e cultural do Sertão Nordestino. Do ponto de

vista ecológico, trata-se de um “amenizador” da aridez do Sertão do Araripe

Pernambucano.

Para um Geógrafo recém formado, melhor conhecer e vivenciar esse

ambiente durante elaboração da dissertação de mestrado foi uma importante

oportunidade de desenvolver um olhar integrado das potencialidade e problemáticas

sócio-ambientais da região.

Ao escolher o município de Araripina para estudar as relações entre ambiente

e saúde foi possível verificar toda a dinâmica sócio-demográfica-ambiental da região,

em função da exploração de gipsita e produção de gesso. Em menos de 30 anos

houve profundas modificações sociais e econômicas, impactando o ambiente e a

saúde da população. Foi acertada a definição do Distrito de Morais em Araripina

para sediar a unidade de ancoragem do estudo. Nele configura-se um quadro social,

demográfico e ambiental representativo das demais áreas que compõem o contexto

municipal do estudo.

A triangulação metodológica dos dados secundários e primários, de caráter

quantitativos com os dados qualitativos, oriundos da observação, entrevistas e

vivência do autor na região, possibilitou melhor compreender e explicar os

fenômenos decorrentes das atividades produtivas em um ambiente vulnerável do

semi-árido nordestino.

Ao analisar os dados secundários do Sistema de Informação Hospitalar

observou-se o sub-registro dos problemas de saúde relacionados com a poeira de

gesso. Por exemplo, dos 19 óbitos registrados por doença respiratória dos

79

internados em 2001, apenas 7 foram atestados como causas básica da morte pelo

Sistema de Informação de Mortalidade. As mortes por causa mal definidas

representam 61% do total dos óbitos em 2001, demonstrando a fragilidade da

assistência à saúde na região. Por essa razão, é possível que patologias como

pneumoconioses não sejam notificadas em área de exposição à poeira. Da série

histórica analisada (1995 a 2001) apenas existe um caso registrado no ano de 2001.

Esta situação revela como ainda a Vigilância Epidemiológica no país está longe

captar a realidade de saúde frente aos problemas relacionados ao meio ambiente.

Do Sistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde, criado pelo Centro Nacional

de Epidemiologia – CENEPI espera-se que venha suprir essa lacuna histórica da

saúde pública brasileira e colaborar com o aprimoramento de todas os sistemas de

informação em saúde do país.

O modelo de atenção à saúde em Araripina está calcado fundamentalmente

pelos Programas de Atenção Básica à Saúde (Programa Saúde da Família e

Agentes Comunitários da Saúde) que têm baixo poder resolutivo diante das doenças

manifestadas pela população. Estes programas poderiam atuar mais efetivamente

nos aspectos de promoção da saúde e prevenção de riscos ambientais. A

assistência à saúde de maior complexidade é realizada por serviços privados e

conveniados pelo Sistema Único de Saúde -SUS. No entanto, não há neles serviços

especializados em pneumologia, embora haja um quadro epidemiológico que exija

atenção aos problemas respiratórios da população.

A morbidade referida é um instrumento útil para caracterizar as queixas de

saúde de uma população em áreas vulneráveis como, por exemplo, em sítio

sentinelas. Os dados primários coletados a partir das queixas de saúde permitem

traçar um perfil epidemiológico mais abrangente e mais específico, principalmente,

quando se agrega resultados da base de dados secundários.

Tanto para a população que reside no entorno das unidades fabris do gesso,

como para aqueles que trabalham nas atividades da cadeia produtiva do gesso não

existem registros que possibilitem conhecer os riscos e os efeitos da exposição a

eles relacionados. Por essa razão, é importante que a Vigilância Ambiental em

Saúde utilize dados primários, gerados tanto pelos serviços de saúde de atenção

80

básica, como pela morbidade referida e de monitoramento de poluentes

atmosféricos.

A distribuição geográfica dos processos nocivos à saúde também são úteis

para definir as áreas sentinelas sobre as quais devem priorizar as ações da

Vigilância Ambiental em Saúde. Neste sentido, a Vigilância Epidemiológica deve

incluir os efeitos e riscos não biológicos oriundos das atividades antrópicas,

articulando as ações da Vigilância Ambiental no controle dos riscos ambientais para

a saúde.

Ao fazer foco nos problemas respiratórios relacionados com a atividade

gesseira no município de Araripina, pode-se desvendar, como um indicador, a atual

situação da saúde pública local. Além dos problemas respiratórios que estão

presentes em proporções elevadas, problemas oculares crônicos puderam ser

detectados, estes também decorrentes da exposição à poeira de gesso. Neste

sentido, não havia nos serviços médicos e base de dados consultados, registros

deste problema de saúde, devendo ser melhor investigado e assistido por

especialistas em oftalmologia.

Ao observar que os problemas respiratórios são mais freqüentes em crianças

e adolescentes, pode-se dimensionar a gravidade da prevalência das doenças

respiratórias no município, haja vista ser a população constituída

predominantemente de jovens.

Evidências nessa direção foram observadas neste estudo. A baixa

escolaridade dessa população (80% de analfabetos funcionais). É causada pelos

problemas sócio-econômicos conjunturais e pelas más condições ambientais e de

saúde.

A tosse, caracterizado como seca, foi o sintoma mais referido entre os

sintomáticos respiratórios, sendo um indicador de problemas irritativos das vias altas

do aparelho respiratório, e não pulmonar.

81

No entanto, ao afetar predominantemente crianças e jovens, é possível

prever em longo prazo acarretarem quadros nosológicos mais graves e

incapacitantes dessa população acometida.

Outra constatação observada, refere-se as pneumonias, asmas, e bronquites,

que mais causaram internações entre as doenças respiratórias em 2001 notificadas.

O estudo ainda revelou que os problemas relacionados com a matriz

energética da atividade de produção de gesso são outras fatores de poluição

ambiental que precisam ser melhor investigados.

A queima da madeira oriunda da caatinga e a combustão de derivados de

petróleo (óleo BPF e coque) são fontes de poluição por hidrocarbonetos aromáticos,

nocivos a saúde humana. Nota-se uma tendência de substituição da lenha pelo

coque derivado de petróleo, sendo sondada pelos setor gesseiro como uma

alternativa ao desflorestamento. No entanto, não se avalia a comprovada nocividade

deste combustível, que já foi descrita ao longo do tempo pela literatura especializada

no assunto.

Outras alternativas energéticas como, por exemplo, o óleo combustível

derivado da mamona, que já representou importante atividade agroindustrial da

região na década de 1970 e 1980, e a produção de madeira derivada de manejo e

reflorestamento, poderiam ser soluções para as necessidades da cadeia de

produção do gesso.

O extrativismo vegetal de espécies da caatinga constitui o maior crime

ambiental dessa região, intensificando os processo erosivos e de desertificação

alertados por ambientalistas que atuam na região.

A legislação mineralógica vigente no país para exploração das jazidas de

gipsitas do subsolo, pouco têm exigido das empresas mineradoras a reparação do

dano como, por exemplo, projetos de regeneração ambiental das crateras abertas

para extração da gipsita.

82

Os recursos hídricos, bem como os vegetais em uma região semi-árida,

deveriam ser o maior patrimônio dessa região. No entanto, constata-se que a

ocupação urbana desordenada no entorno dos mananciais impossibilita a

manutenção de abastecimento humano de qualidade. Estes agravantes somados

com a ausência de serviços de saneamento são as origens das diarréias.

Assim, a paisagem bucólica e romântica do sertão, como foi vista por Euclides

da Cunha no século XVIII, foi substituída pela devastação do ecossistema do sertão

da Chapada do Araripe, onde hoje vivem cerca de 1.200.000 habitantes.

A seca é e continuará sendo um flagelo periódico previsível. Agravado pelo

desmatamento, degradação do solo, poluição do ar e contaminação da água, a seca

anuncia flagelos cotidianos irreparáveis que deveriam ser protegidos se quisermos

pensar no Brasil do futuro possuidor de um modelo de desenvolvimento sustentável.

83

7. CONCLUSÕES

Araripina é o principal município do pólo gesseiro de Pernambuco, com mais

de 50% da produção de gesso. É uma cidade com população jovem: 48,2% da

população tem menos de 19 anos de idade e 85,7% menos de 50 anos de idade. O

gênero feminino é o mais representativo da zona urbana e o masculino da rural, em

função da industria têxtil instalada na década de 1970 que proporcionou um êxodo

rural seletivo. O analfabetismo e a baixa escolaridade são elevados: 56,8% da

população tem apenas 2 anos de escola fundamental e 22,6% nunca freqüentou a

escola.

A atividade agrícola ainda está presente nas áreas de produção de gesso,

porém observa-se uma substituição de propriedade agrícolas por empresas de

mineração, impactado na estrutura fundiária rural do município. O ambiente sofre

processo de desertificação tanto pela atividade agrícola, quanto pelo processo de

mineração e calcinação do gesso.

A poluição ambiental oriunda da produção do gesso e, principalmente

decorrente da calcinação e da destinação final inadequada dos resíduos de gesso. A

poluição atmosférica é composta por partículas de gesso, da queima da madeira e

de combustíveis derivados de petróleo, entre eles óleo BPF e, mais recentemente, o

coque.

Embora haja um Distrito Industrial no município de Araripina, observa-se uma

desordenada ocupação das calcinadoras e das fábricas de placas de gesso. As

residências e as fábricas são contíguas e há exposição tanto ocupacional como

ambiental aos poluentes da produção de gesso.

O sistema de saúde local não dispõe de serviços que avaliem as condições

de vida e monitorem adequadamente a população que sofre os impactos da

produção de gesso. A atenção básica de saúde realizada pela PSF é a única

estrutura pública de saúde. Os dois hospitais localizados no município de Araripina

são da rede privada credenciada.

84

As doenças respiratórias são a segunda causa das internações hospitalares.

A asma e a bronquite representam praticamente 30% dos casos de internação por

problemas respiratórios.

As internações por problemas respiratórios são, principalmente de crianças

menores de 9 anos de idade (47%).

A principal queixa da população que residem o entorno das unidades de

produção de gesso são as irritações das mucosas conjuntiva ocular e nasais,

respectivamente com 43% e 37%, acometendo principalmente adultos jovens e

adolescentes.

Entre os sintomas respiratórios a tosse foi a mais freqüente, representando

28,3% das referências dos problemas de saúde. A tosse, caracterizada como seca,

se manifesta, principalmente em crianças menores de 10 anos de idade (39%). Nas

crianças menores de 5 anos de idade, a freqüência foi de 18% das queixas de tosse.

Em todas as faixas etárias até 20 anos de idade observou-se uma freqüência

acumulada de 60% de todas as manifestações respiratórias. Não há diferença de

gênero entre os sintomáticos respiratórios.

As “irritações” de pele manifestaram-se principalmente nos adultos jovens e

idosos.

A mortalidade por causa mal definida é alta no município de Araripina

(57,7%), indicando graves problemas de assistência médica local.

As doenças respiratórias são a sexta causa de morte, revelando que os

problemas respiratórios em Araripina são de baixa letalidade, porém

comprometedores para a qualidade de vida de boa parte da população. Dentre as

causas definidas, as causa externas foi a terceira que mostrou maior número

proporcional.

As atividades produtivas relacionadas com o gesso promovem impactos

sócio-ambientais na zona urbana e rural com danos à saúde caracterizados pela alta

85

prevalência de morbidades referidas e das internações hospitalares por problemas

respiratórios.

Os problemas respiratórios acometem principalmente crianças e

adolescentes. Outros problemas de saúde importantes, tais como irritação na

conjuntiva ocular, mucosas nasais e sintomas de alergias de pele acometem

principalmente jovens adultos.

86

8. RECOMENDAÇÕES

A organização do sistema de saúde local e a implantação de um sistema de

vigilância ambiental precisam ser voltadas tanto para os trabalhadores do gesso,

quanto para a população exposta à poeira de gesso

A revisão da matriz energética que possa causar menos impactos ao

ambiente e a saúde da população é ponto chave para a reestruturação de produção.

87

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UFF, 1995

91

APÊNDICE

56

APÊNDICE B

Roteiro de entrevista

1. Identificação

Nome

Idade

Tempo de residência

Profissão

Função

Tempo que exerce a função/profissão na região

Atividade econômica da família?

2. Perguntas

Há quanto tempo é residente no município?

Que atividade econômica desempenha?

Qual a importância da Atividade Gesseira?

Que problemas e benefícios essa atividade trouxe para a população e região de

Araripina do ponto de vista da saúde, do ambiente e da economia?

Antes da atividade gesseira como era a vida em Araripina?

Como era a paisagem, e os elementos que compõem, como por exemplo: a água,

o ar, a vegetação, a terra?

TITULO: REPERCUSSÕES RESPIRA TÓRIAS EM SITUAÇÕES DE EXPOSIÇÃO

AMBIENTAL À POEIRA DE GESSO.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,________________________________________________________declaro que aceito

participar do estudo científico sobre a problemática ambiental provocada pela poeira do gesso.

Foi-me explicado que faz parte de minha participação no estudo responder a um questionário

padronizado, cujo objetivo é levantar as variáveis e indicadores necessários ao estudo. Sei que

minha participação no estudo poderá beneficiar a vigilância à saúde e melhorar a compreensão

dos efeitos na saúde humana decorrentes das exposições a poeira de gesso. Minha participação é

voluntária e eu poderei deixar de participar a qualquer momento, sem que isto acarrete qualquer

prejuízo a minha pessoa. Quando os resultados deste estudo forem apresentados meu nome não

será identificado. Também estou ciente que receberei, através dos veículos de comunicação e/ou

por reuniões, os resultados alcançados por este estudo. Qualquer esclarecimento que eu

necessite, eu devo entrar em contato com Marcílio Sandro de Medeiros a qualquer momento

pessoalmente no endereço: Av. Moraes Rego, s/n -Campus da Universidade Federal de

Pernambuco - Caixa Postal nº 7472 - CEP: 50670-420 Fone: (81) 3301-6503 - FAX: (81) 3302-

6514 - Recife - Pernambuco - Brasil.

Araripina,_________de__________________________de 2002

_______________________________________________________________

Assinatura do entrevistado

Obs: em caso de diagnóstico de problemas respiratórios, será encaminhado para os serviços de saúde municipal de referência para diagnostico clínico e tratamento.

_______________________________________________________________ Marcílio Sandro de Medeiros

_______________________________________________________________Lia Giraldo da Silva Augusto

Assinatura dos pesquisadores responsáveis3ª Via - Arquivo do Projeto NESC/CPqAM