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ESTADO DE GOIÁS MINISTÉRIO PÚBLICO Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor 14/05/2004 ACP DPVAT Ação Civil Pública - DPVAT - art. 3º da Lei 6.194/74 - diferença de valores - SENTENÇA ACP DPVAT Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da ___ Vara Cível da Comarca de Goiânia, Estado de Goiás. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS , ora representado pelos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor infra-assinados e que recebem intimações de estilo, pessoalmente, na Rua 23 esq. c/ Av. B, qd. 06, lts. 15/24, Jardim Goiás, Sala T-29, nesta, com fundamento no artigo 129, II, III e IX da Constituição Federal, artigos 1º, II 2º, 3º, 5º, caput, 11, 12, da Lei Federal 7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil Pública, e, ainda, nos artigos 6º, VI; 81, parágrafo único e incisos I, II e III; 82, I; 83, 84, caput e parágrafos 3º e 4º; 87 e 91 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.90) propõe a presente: 1

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, · ACP DPVAT Ação Civil Pública - DPVAT - art. 3º da Lei 6.194/74 - diferença de valores - SENTENÇA ... direito que passa a expor:

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

14/05/2004ACP DPVATAção Civil Pública - DPVAT - art. 3º da Lei 6.194/74 - diferença de valores - SENTENÇAACP DPVAT

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da ___ Vara Cível da Comarca de Goiânia, Estado de Goiás.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, ora representado pelos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor infra-assinados e que recebem intimações de estilo, pessoalmente, na Rua 23 esq. c/ Av. B, qd. 06, lts. 15/24, Jardim Goiás, Sala T-29, nesta, com fundamento no artigo 129, II, III e IX da Constituição Federal, artigos 1º, II 2º, 3º, 5º, caput, 11, 12, da Lei Federal 7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil Pública, e, ainda, nos artigos 6º, VI; 81, parágrafo único e incisos I, II e III; 82, I; 83, 84, caput e parágrafos 3º e 4º; 87 e 91 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.90) propõe a presente:

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR inaudita altera pars

Contra a seguradora SUL AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S/A (antiga SUL AMÉRICA AETNA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S/A), Rua Pedro Avancine, 73, 1º andar – Asa Oeste – São Paulo-SP, CEP: 05.679-160, pelas razões de fato e de direito que passa a expor:

RESUMOTem a presente ação os seguintes objetivos:I – Demonstrar que nos últimos anos a SEGURADORA RÉ vem pagando indenizações

inferiores às fixadas em lei;II – Que os atos contra legem da SEGURADORA RÉ causaram danos materiais e morais

aos consumidores e à sociedade.Os pedidos contidos nesta petição são:I - O pagamento das diferenças devidas, em salários mínimos referentes ao ano do sinistro,

aos beneficiários do SEGURO DPVAT;II - Indenização por dano moral aos beneficiários do SEGURO DPVAT, pela prática

abusiva efetuada pela RÉ;III - Indenização por dano moral coletivo à comunidade de consumidores exposta a esta

prática abusiva perpetrada pela SEGURADORA RÉ.IV – Cessação imediata das práticas abusivas perpetradas pela RÉ.

1 – DOS FATOS

O Ministério Público instaurou Inquérito Civil Público para apurar possíveis lesões a consumidores segurados do DPVAT. Segundo representação protocolada nesta Promotoria de Justiça a SEGURADORA RÉ tem lesado os consumidores – vítimas de acidentes de trânsito e seus dependentes – por não pagar o valor total da indenização do DPVAT.

Segundo o que foi apurado, no Inquérito Civil Público, a SEGURADORA RÉ pagava e paga valores inferiores ao previsto na Lei 6.194/74, nas indenizações requeridas pelas vítimas de acidentes de trânsito ou seus dependentes.

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Conforme narram os autos do Inquérito Civil a SEGURADORA RÉ pagava aos beneficiários do seguro DPVAT valores inferiores aos previstos em lei, quais sejam: 40 (quarenta) salários mínimos em casos de morte; até 40 (quarenta) salários mínimos em casos de invalidez permanente e até 8 (oito) salários mínimos em caso de assistência médica e complementar.

A Lei Federal n º 6.194, de 19 de dezembro de 1974, estabeleceu regras para o pagamento do Seguro Pessoal Obrigatório DPVAT, que será cabível quando ocorrerem danos pessoais causados por veículos automotores terrestres. Os danos cobertos compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares. Os valores a serem pagos estão previstos no artigo 3o da referida lei. (documento: 551). No caso de morte, por exemplo, deve ser paga indenização de 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no país.

Os documentos existentes no Inquérito Civil Público em anexo comprovam que todos os consumidores que receberam os benefícios nos últimos 20 (vinte) anos foram lesados pela empresa ré, vez que as mesmas pagavam aos consumidores (vítimas e herdeiros das vítimas) valores inferiores aos estipulados em Lei.

Provas do fato descrito no parágrafo anterior estão no inquérito civil, (documentos: 35,37,39,40,42,51,57,62,64,66,70,75,81,85,88,91,93,97,100,109). Tais documentos são decisões judiciais que reconhecem os direitos dos consumidores em receberem as diferenças entre o valor pago e aquele previsto em Lei.

O valor legal, correspondente ao dano sofrido, não é respeitado e a seguradora insiste em pagar quantia inferior, burlando a lei. Esta prática é considerada abusiva ao Código de Defesa do Consumidor, o que justifica a busca pela reparação dos danos. O Ministério Público, ente legítimo para a tutela de interesses coletivos “latu sensu”, vem através desta buscar a tutela jurisdicional em benefício de uma grande quantidade de lesados.

2 – DO DIREITO

2.1 - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

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Trata a questão de interesses individuais homogêneos, porquanto constituem-se direitos individuais tuteláveis de forma coletiva por serem decorrentes de uma origem comum. Seus titulares são sujeitos determinados ou determináveis e o objeto é divisível, conforme dispõe o artigo 81, inciso III do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I –interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”

A “origem comum” dos direitos individuais homogêneos refere-se a coisas, interesses, direitos, que advêm da mesma “fonte”, seja ela uma fonte “jurídica” (quando existe uma relação jurídica de qualquer espécie) ou fática, na forma do que acontece com os interesses difusos.

O professor Nelson Nery Jr. ministra que “os direitos individuais homogêneos são aqueles cujos titulares são perfeitamente individualizáveis, detentores de direito divisível. O que une esses titulares a ponto de propiciar a defesa coletiva desses direitos individuais, é a origem comum

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do pedido, que pretendem fazer em juízo. Em suma, a ação para a tutela desses interesses individuais homogêneos nada mais é do que ‘class action’ brasileira (art. 91 e ss. do CDC)”.1

Apresenta-se incontestável a legitimidade ativa do Ministério Público para a tutela dos interesses individuais homogêneos, tendo em vista expressa disposição do Código de Defesa do Consumidor. Após prescrever ser cabível a defesa coletiva na hipótese de interesses ou direitos coletivos ou individuais homogêneos (art. 81, parágrafo único, inc. II e III), o indica como um dos legitimados para a respectiva ação (art. 82, inc. I).

“Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I – o Ministério Público;...”

Ademais, existe o interesse coletivo stricto sensu, pois há uma relação jurídica de base, de natureza indivisível, de grupo ligado entre si com a parte contrária quanto ao pedido de suspensão imediata da prática abusiva. Artigo 81, parágrafo único, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor.2

Presente, também, o interesse difuso. Na medida em que o consumidor não está determinado, pois ele é o destinatário final da indenização, mas somente será determinado no momento do acidente, podendo ser a vítima do acidente ou seus dependentes (no caso de vítima fatal). Tal interesse está presente na indenização por dano moral coletivo à sociedade de consumidores. Artigo 81, parágrafo único, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor.3

1 NERY JR., Nelson. O processo civil no Código de Defesa do Consumidor. Revista de Processo, n. 61. São Paulo: RT, out/dez, 1993, p. 26.

2 “Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para o efeito deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que sejam titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica de base.”

3 “Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.”

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A legitimidade do Ministério Público, na tutela desses interesses, é ordinária. Não se pode admitir que seja a legitimidade considerada extraordinária, como ocorre no processo civil tradicional, quando alguém pleiteia, em nome próprio, direito de outrem. É preciso salientar que, no âmbito do direito coletivo, a legitimidade possui natureza totalmente diversa daquela do direito intersubjetivo. A própria lei prevê quem são os autorizados a agir na tutela dos interesses coletivos. Somente os elencados no artigo 5o da Lei 7.347/85 e no artigo 82 do CDC, podem propor ações de índole coletiva. Figura entre eles o Ministério Público, que tem legitimidade constitucional. Portanto, a legitimidade para agir é ordinária, pelo fato de ser decorrente de lei e, no caso do Ministério Público, da própria Constituição Federal de 1988.

Quanto às espécies de direitos tutelados, é pacífico o entendimento de que o Ministério Público tem legitimidade ativa para a defesa dos interesses que tenham relevância social, isto é, quando haja acentuada vulnerabilidade dos consumidores lesados e enorme dispersão dos lesados. Isto é, quando o assunto for relacionado à saúde, educação, segurança e quando convenha à coletividade o zelo pelo funcionamento de um sistema econômico, social ou jurídico. Neste último, inclui-se a defesa dos lesados pelo sistema de Seguro Obrigatório DPVAT.

É uníssono o entendimento do STF quanto a legitimidade ativa do Ministério Público na defesa dos interesses individuais homogêneos:

“Recurso Extraordinário. Constitucional. Legitimidade do Ministério Público para promover ação civil pública em defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos mediante ação civil pública. Mensalidades escolares: capacidade postulatória do Parquet para discuti-las em juízo. 1. (...); 2. (...); 3 (...); 4. Direitos ou interesses homogêneos são os que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei 8.078, de 11.09.1990), constituindo-se em subespécie de direitos coletivos. 4.1. Quer se afirme interesses coletivos ou particularmente interesses homogêneos, stricto sensu, ambos estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos, explicitamente dizendo, porque são relativos a grupos, categorias ou classes de pessoas, que conquanto digam respeito às pessoas isoladamente, não se classificam como direitos individuais para o fim de ser vedada a sua defesa em

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ação civil pública, porque sua concepção finalística destina-se à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas. 5. (...)” (STF, RE 163.321-3-SP, Trib. Pleno, rel. Min. Maurício Corrêa, j 22.03.1997, v.u., acórdão não publicado)”

ADEMAIS, ESTA AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMPRE SUA MISSÃO PROCESSUAL: EVITAR MILHARES DE AÇÕES INDIVIDUAIS. A AÇÃO CIVIL PÚBLICA FARÁ A VERDADEIRA DEFESA COLETIVA DOS CONSUMIDORES LESADOS E EVITARÁ LESÕES FUTURAS AOS CONSUMIDORES AINDA NÃO DETERMINADOS (difuso).

2.2 – DO FORO COMPETENTE.

O foro competente para a propositura da ação civil pública é o da comarca de

Goiânia. Argumentemos:

In casu, a causa remota (fato gerador) deste direito engloba a defesa de interesses

difusos, coletivos em sentido estrito e interesses individuais homogêneos. O interesse difuso fica

configurado, pois o pedido mediato tem por fim a proteção de pessoas indeterminadas que são

potencialmente beneficiárias do seguro DPVAT e, preventivamente, as ampara no seu direito de

recebimento do quantum legal determinado pelo artigo 3 º da lei 6.194/74 em caso de ocorrência de

sinistro e o objeto de seu direito é indivisível e surge de uma situação de fato que ocorre em todo o

país. O interesse coletivo em sentido estrito resta configurado no pedido mediato, haja vista que as

pessoas são determinadas ou determináveis e surgem de uma relação jurídica básica e o objeto do

direito é indivisível. O interesse individual homogêneo resta configurado no pedido mediato, pois as

pessoas são determinadas ou determináveis e surgem de uma situação de fato, quais sejam, a lesão já

efetivada a diversos consumidores nos últimos 20 anos e o objeto de seu direito é divisível, haja vista

que é possível identificar o quantum em que cada consumidor foi lesado.

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Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorO pagamento incompleto do seguro DPVAT é uma prática lesiva ao consumidor

perpetrada em todo o país e em todas as cidades, todos os consumidores desta atividade securitária

estão sujeitos as práticas lesivas em potencial, logo, estamos diante de um dano de âmbito nacional e

a competência para judicar esta lide é da comarca de Goiânia, nos termos do artigo 93, inciso II do

Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é

competente para a causa a Justiça local:

I – o foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano,

quando de âmbito local;

II – no foro da Capital do Estado ou no Distrito Federal, para

os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de

Processo Civil aos casos de competência concorrente.”

Neste sentido é a lição de HUGO NIGRO MAZZILLI4:

“E quando o dano é de âmbito nacional?

Nesse caso, entendemos que a competência será concorrente ou da Capital do Estado ou do Distrito Federal, a critério do autor, para mais cômoda defesa dos interesses transindividuais lesados e mais eficaz acesso à justiça.

Consideremos, agora, alguns exemplos atinentes à aplicação da norma do art. 93 do CDC:

4 MAZZILLI; Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, Editora Saraiva, edição 2002, 15º edição, 221p.

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a) Num dano efetivo ou potencial a interesses transindividuais que atinja todo o país, a tutela coletiva será de competência de uma vara do Distrito Federal ou da Capital de um dos Estados, a critério do autor. Se a hipótese se situar dentro dos moldes do art. 109, I da CR, a competência será da Justiça federal; em caso contrário, da Justiça Estadual ou distrital. A ação civil pública ou coletiva poderá, pois, ser proposta, alternativamente, na Capital de um dos Estados atingidos ou na Capital do Distrito Federal;”

Diante do exposto, indubitável é a competência da comarca de Goiânia para julgar esta lide.

2.3 - DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Relação de consumo é aquela que tem numa ponta o fornecedor (art. 3º, caput), na outra ponta o consumidor (art. 2º) e tem por objeto o fornecimento de um produto ou serviço (art. 3º, §§ 1º e 2º). Caracterizada a relação de consumo deve-se aplicar o Código de Defesa do Consumidor, até porque as suas normas são de ordem pública e interesse social, ou seja, de observância necessária.5

ARTIGO 2°, caput, destinatário final do serviço. A condição de consumidor é gerada pela expressão destinatário final, no caso em testilha, destinatário final da indenização prevista no contrato de seguro DPVAT, podendo ser consumidor, tanto a vítima de acidente de trânsito (vítima não fatal) ou seus beneficiários (para as vítimas fatais).

O artigo 3º do CDC traz o conceito de fornecedor:

“Art. 3o - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, construção,

5 O juiz deve apreciar ex officio qualquer questão relativa às relações de consumo, já que não incide nesta matéria, o princípio dispositivo. Sobre elas não opera a preclusão e as questões que delas surgem podem ser decididas e revistas a qualquer tempo e grau de jurisdição. (NERY JR., Nelson. Código de Processo Civil Comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, 3ª ed. São Paulo: RT, 1997)

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transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (grifo nosso).”

O mesmo artigo 3º, em seu parágrafo 2º, define serviço:

“Art. 3o

(...);

§2o - “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”. (grifo nosso)”

Por este conceito, temos que a relação entre a SEGURADORA RÉ e os destinatários finais da indenização do SEGURO DPVAT caracteriza-se como uma relação jurídica de consumo, já que estão presentes todos os elementos subjetivos e objetivos da relação, descritos nos artigos 2º e 3º do CDC. Está a empresa ré, portanto, sujeita a obedecer às normas de defesa do consumidor.

Como já foi dito anteriormente, trata-se de prática abusiva efetivada pela SEGURADORA RÉ, prevista no Artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor. Tal artigo está contido no Capítulo V, da Lei 8.078/906. O Artigo 29 do CDC, primeiro Artigo do mesmo capítulo V, reza:

“Art. 29. Para o fim deste capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele prevista.”

6 Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

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Ademais, o parágrafo único, do Artigo 2°, do Código de Defesa do Consumidor estatui:

“Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo Único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.”

Assim, conforme acima exposto, estamos diante, no caso em testilha, de dois conceitos de consumidor por equiparação7, o que torna mais nítida a relação de consumo.

2.4 – DA LEI Nº 6.194, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1974.

A Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974, publicada no Diário Oficial da União de 20/12/1974, dispõe sobre o seguro pessoal de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, também conhecido como DPVAT. Os danos sofridos dão ensejo a indenizações, que são pagas às vítimas ou, no caso de sua morte, ao seu cônjuge ou herdeiros legais (art. 4o). O artigo 5o estatui que as indenizações são motivadas pela simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa.

Quanto ao valor das indenizações, segue-se a regra do artigo 3o, in verbis:

“Art . 3º- Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no artigo 2º compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa vitimada:

a) 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - no caso de morte;

7 Ou consumidor by standart, como prefere Nelson Nery Junior.

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b) Até 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - no caso de invalidez permanente;

c) Até 8 (oito) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - como reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas.”

A empresa ré não vem repassando os valores previstos neste dispositivo, principalmente nos casos de morte da vítima (letra “a”). O valor de quarenta salários-mínimos é fixo, taxativo e independe de qualquer condição. Portanto, o pagamento de quantia inferior, como vem sendo praticado pela ré, é ato explicitamente ilícito.

2.5 - DAS PRÁTICAS ABUSIVAS.

Como ensina Hermam Benjamim8, prática abusiva é gênero cujas espécies são:

cláusulas abusivas, publicidade abusiva e práticas abusivas stricto sensu.

Já as práticas abusivas stricto sensu vem enumeradas, exemplificativamente, no

artigo 39 do CDC.

No caso em testilha temos práticas abusivas stricto sensu, pois a SEGURADORA

RÉ quebra, deliberadamente o contrato de adesão. O inadimplemento, ainda que parcial de

contrato de adesão pelo fornecedor em desfavor do consumidor constitui-se prática abusiva,

por contrariar a sistemática do Código de Defesa do Consumidor.

8 Grinover, Ada Pellegrini e outros; Código de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do anteprojeto, Editora Forense Universitária – 6 edição- rio de Janeiro.

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Ademais, lembramos que o seguro DPVAT é de contratação obrigatória para

todos os proprietários de veículos auto-motor terrestres. Assim, não vigora o princípio da

autonomia da vontade do contratante (às vezes até consumidor) na sua forma mais elementar:

contratar ou não contratar.

O artigo 4o, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor, consagrou o princípio da coibição e repressão eficiente das práticas abusivas no mercado de consumo, para que seja alcançado o equilíbrio nas relações de consumo. Já o artigo 6o, inciso IV, elenca como direito básico do consumidor a proteção contra os métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas.

As práticas abusivas, que são atos ilícitos que lesam ou podem vir a lesar o consumidor, possuem um rol exemplificativo no artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor. Seu caput estabelece:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas 9 :” (grifamos)

Quando da promulgação do Código de Defesa do Consumidor, o artigo 39 era taxativo (numerus clausus) e não exemplificativo (numerus apertus). Todavia, com advento da Lei Antitruste – Lei n. 8.884/94 de 11.06.94 – as práticas abusivas perderam definitivamente a característica de lista taxativa e passaram a abranger toda e qualquer conduta, fora dos padrões mercadológicos, capaz de causar prejuízos ao consumidor na relação de consumo. O art. 87 da Lei 8.884/94, modificou o caput, do art. 39 do CDC, acrescentando-lhe “ dentre outras práticas abusivas”. Isto nos permite concluir que o legislador considera que qualquer prática comercial inserida no âmbito da relação de consumo que ferir os princípios da boa-fé e lealdade será abusiva.

Assim, na interpretação do caput do artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor com o inciso XV do Artigo 51 do CDC, que é cláusula geral de fechamento, na lição de Nelson Nery Junior, temos estampada a prática abusiva.

9 Alterado pela Lei 8.884/94 (Lei Anti Truste)

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Caracterizada a relação de consumo existente entre a empresa ré e as vítimas, aqui representadas pelo Ministério Público, conclui-se que qualquer prática abusiva cometida pelas primeiras contra as vítimas-consumidores, mesmo não descritas no rol do artigo 39, podem se inserir no contexto do Código de Defesa do Consumidor e provocar a atuação do Ministério Público.

Assim, a retenção ou não repasse de parte das indenizações do Seguro Obrigatório DPVAT às vítimas de acidentes de trânsito é evidentemente uma prática lesiva aos interesses de vários consumidores. Deve haver reparação dos danos sofridos, na medida de sua intensidade, nos termos do artigo 159 do Código Civil e o atual artigo 186 do novo Código Civil, norma basilar da reparação de danos no nosso ordenamento jurídico. Ambos os entes que aqui figuram como réus devem responder solidariamente por esses danos, nos termos do artigo 7o, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor.

ASSIM PAGAR INDENIZAÇÃO EM VALORES INFERIORES AOS LEGALMENTE FIXADOS É PRÁTICA ABUSIVA CONTRA O CONSUMIDOR.

2.6 - DA PRESCRIÇÃO.

A prescrição comum ou ordinária, prevista no artigo 177 do Código Civil é de 20 (anos), quando as ações tuteladas forem de caráter pessoal. Já o Código de Defesa do Consumidor estabelece o prazo de 5 (cinco) anos “para a reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço”. Resta a indagação: qual diploma legal deverá ser adotado, para se estabelecer o prazo prescricional desta ação?

Como já foi esclarecido, estamos lidando com uma relação jurídica de consumo, sujeita às regras do Código de Defesa do Consumidor. A presente Ação Civil Pública visa combater uma prática abusiva que viola a igualdade entre fornecedores e consumidores. Todavia, o caso em análise envolve também atos ilícitos. A conduta da parte ré vai de encontro à Lei nº 6.194/74, pelas razões já aduzidas acima. Por isso, a responsabilização pelos danos causados será regrada pelo artigo 159 do antigo Código Civil e o atual artigo 186 do novo Código Civil e não pelo artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor, que trata dos vícios do serviço. Portanto, o prazo prescricional a ser utilizado será o do Código Civil, que é de 20 (vinte) anos, posto que os direitos são pessoais.

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O Código de Defesa do Consumidor, apesar de ser um microssistema que regula todas as matérias ligadas ao consumo, admite a aplicação de outras leis, subsidiariamente. O artigo 7o do CDC reza: “Os direitos previstos neste Código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade”. Resta óbvia a possibilidade de utilização de outros ordenamentos jurídicos, como o Código Civil, para a proteção de direitos dos consumidores.

Ademais, o Superior Tribunal de Justiça já proferiu decisão neste sentido. Em situação semelhante, admitiu-se a prescrição vintenária do Código Civil, pois ainda que houvesse a relação de consumo, o ato ilícito foi configurado. Segue o acórdão da referida decisão:

“Responsabilidade civil. Empresa de transportes. Colisão de veículos. Ação de indenização por perdas e danos. Prescrição. Prazo. Código Civil, art. 177 e CDC, art. 27.

I – A prescrição qüinqüenal prevista no Código de Defesa do Consumidor atinge as ações que buscam indenização pelo modo defeituoso da prestação do serviço de transporte, não alcançando as ações que colimam indenização pleiteada por passageira, que sofre danos físicos em razão de imperícia ou imprudência de preposto da transportadora. Neste caso, o prazo prescricional é o vintenário contemplado no Código Civil, eis que não foi o exercício da atividade de transportadora que determinou o dano, mas o ato culposo de seu preposto.

II – Recurso especial conhecido e provido.”(STJ. TERCEIRA TURMA - Min. CARLOS ALBERTO

MENEZES DIREITO 19/03/2001 RESP 226286/RJ)

No que atine a prescrição sobre o recebimento do seguro DPVAT existem três hipóteses:

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A primeira hipótese, ocorre a prescrição anual, nos termos do artigo 206, inciso II, alínea “a” e “b”10 do Código Civil, mas isto na hipótese de ação que figure no polo ativo o segurado contra o segurador no polo passivo.

Na segunda hipótese, ocorre a prescrição vintenária no caso de pagamento de indenização incompleto, ou seja, em valor inferior ao previsto em lei que é de 40 (quarenta) salários mínimos, independentemente de quitação da indenização securitária.

COMARCA..............: GoiâniaORIGEM...................: Turma Julgadora Recursal Cível dos Juizados EspeciaisFONTE......................: DJ n 13292 de 08/05/00 p 10EMENTA: " SEGURO DPVAT. COBRANÇA DA DIFERENÇA ENTRE O VALOR PAGO E AQUELE PREVISTO EM LEI. QUITAÇÃO. VALOR RELATIVO. INCOMPETÊNCIA INOCORRENTE. PRESCRIÇÃO. FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. VIGÊNCIA DA LEI Nº 6.194/74, ARTIGO 3º. DIREITO À COMPLEMENTAÇÃO. PRECEDENTES DESTA TURMA JULGADORA. I. Inegável o reconhecimento do direito do beneficiário do seguro, de pleitear a diferença entre o valor pago pela seguradora e aquele previsto em lei. Mesmo que tenha assinado recibo dando plena e geral quitação da indenização securitária. II. Se o segurado propôs a ação no foro onde a seguradora mantém filial, atendido foi o previsto no artigo 4º, I, da lei 9.099/95, não havendo que se falar em incompetência territorial. Ademais, o bairro onde o segurado reside está relacionado no Decreto Judiciário nº 227/98 como sendo um dos setores pertencente à região de competência do Juizado por onde tramitou a reclamação. III. O valor do seguro obrigatório deve corresponder a 40 (quarenta) salários mínimos, estando em pleno vigor o artigo 3º da Lei 6.194/74, conforme tem decidido o Superior Tribunal de Justiça, não se falando em prescrição que, no caso, é vintenária. IV. Se a parte recorrida recebeu o valor inferior ao legalmente devido, a título de indenização do DPVAT, tem direito à complementação e merece ser mantida a condenação da recorrente ao pagamento do valor equivalente a 25,16 (vinte e cinco inteiros e dezesseis centésimos) salários mínimos para complementar o

10 Art. 206. Prescreve:

II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data em que este indeniza com a anuência do segurador;

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão.

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorquantum da indenização fixada legalmente em 40 (quarenta) salários mínimos. V. Precedentes desta Turma Recursal. VI. Recurso conhecido mas improvido, mantendo-se a sentença atacada ".

Segundo notícia do Superior Tribunal de Justiça11 veiculada no dia 03 de junho de 2003, este Tribunal decidiu que o prazo prescricional para a complementação do pagamento incompleto de seguro DPVAT é vintenária. Assim, noticia:

“Quando a ação se refere à complementação da importância paga pela empresa, o prazo é de 20 anos conforme o artigo 177 do Código Civil, “por se tratar de uma ação pessoal, de cunho ordinário””.

Na terceira hipótese, ocorre a prescrição vintenária nos casos em que há vítima fatal e os beneficiários do seguro DPVAT podem pedir a indenização no prazo de 20 anos. Neste sentido é o posicionamento unânime da jurisprudência. Neste sentido é a sumula 124 do TRF in verbis:

124. Prescreve em 20 (vinte) anos a ação do beneficiário, ou do terceiro sub-rogado nos direitos deste, fundada no seguro obrigatório de responsabilidade civil;

COMARCA..............: GoiâniaORIGEM...................: Turma Julgadora Recursal Cível dos Juizados EspeciaisFONTE......................: DJ n 13660 de 13/11/01 p 7EMENTA: "SEGURO DPVAT. COBRANÇA DE DIFERENÇA ENTRE O VALOR PAGO E O PREVISTO EM LEI. PRESCRIÇÃO INOCORRENTE. CARÊNCIA DE AÇÃO EM DECORRÊNCIA DE TRANSAÇÃO/QUITAÇÃO. FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. VIGÊNCIA DA LEI 6.194/74. I - O prazo da prescrição da ação proposta por beneficiário, fundada em seguro obrigatório, é de vinte anos (Súmula nº 124, do TFR, em vigor). II - O valor do seguro obrigatório deve corresponder a 40 (quarenta) salários mínimos, vigorando a Lei 6.194/74, artigo 3º, conforme vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça. III - O recibo e a declaração de quitação refere-se tão somente à quantia ali efetivamente paga, não significando renúncia a direito quanto a valor superior ao constante. IV - Recurso conhecido mas improvido".

11 Superior Tribunal de Justiça, seção notícias do dia 03/06/2003.

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COMARCA..............: GoiâniaORIGEM...................: Turma Julgadora Recursal Cível dos Juizados EspeciaisFONTE......................: DJ n 13660 de 13/11/01 p 7EMENTA: "DPVAT. ESGOTAMENTO DE VIAS ADMINISTRATIVAS. DESNECESSIDADE. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. IRRETROATIVIDADE DA LEI 8.441/92. DEVER DE INDENIZAR. I - Não há que se falar em necessidade da parte buscar as vias administrativas antes de ajuizar ação judicial buscando indenização DPVAT, mesmo porque a necessidade está demonstrada mesmo após a sentença existe resistência no pagamento pela seguradora. II - O prazo da prescrição da ação proposta por beneficiário, fundada em seguro obrigatório, é de vinte anos (Súmula nº 124, do TFR, em vigor). III - Não se discute irretroatividade ou não da Lei 8.441/92, porquanto esta não criou a indenização mas apenas adequou sob novo enfoque a obrigação de indenizar decorrente da Lei 6.194/74. Precedentes desta Turma. IV - Recurso conhecido e improvido".

Diante do exposto, concluímos que o prazo prescricional para o recebimento de complementação de indenização do seguro DPVAT e para o recebimento de indenização por parte dos beneficiários é de 20 (vinte) anos.

2.7 – DO DANO MORAL INDIVIDUAL E SUA INDENIZAÇÃO.

O pagamento incompleto da indenização aos consumidores beneficiários do seguro pessoal obrigatório – DPVAT – é uma prática lesiva e ensejadora de dano moral12 ao consumidor e deve ser indenizada. Vejamos:

In casu, pessoas vítimas de sinistros com conseqüências de morte, invalidez permanente e no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas têm direito a indenização do seguro DPVAT. Porém, a seguradora responsável pela indenização do seguro efetua o pagamento a menor e isto gera um dano moral ao consumidor.

12 Assim ensina Luiz Antônio Rizzatto (Comentário ao Código de Defesa do Consumidor. Editora Saraiva. p. 59):”Moral, pode-se dizer, é tudo aquilo que esta fora da esfera material, patrimonial, do indivíduo. Diz respeito à alma, aquela parte única que compõe sua intimidade. “É o patrimônio ideal da pessoa entendo-se por patrimônio ideal, em contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico. Jamais afeta o patrimônio material.”

Assim, o dano moral é aquele que afeta a paz interior de cada um. Atinge o sentimento da pessoa, o decoro, o ego, a honra, enfim, tudo aquilo que não tem valor econômico, mas que lhe causa dor e sofrimento. É, pois, a dor física e/ou psicológica sentida pelo indivíduo.”

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A ré aproveita-se de um momento doloroso na vida da vítima ou de seus herdeiros em face da perda de um ente querido, aproveita-se de um momento de desequilíbrio emocional para pagar uma indenização em valor inferior ao estipulado em lei. Os consumidores são lesados na sua honra subjetiva e objetiva, tem seu direito a intimidade violada pela prática abusiva da ré.

Estamos diante de uma vulnerabilidade jurídica do consumidor, pois um cidadão comum não tem conhecimento sobre o valor da indenização do seguro a ser recebida, ele não sabe que o artigo 3 º da Lei 6.194/74 determina que o valor da indenização é de 40 (quarenta) salários mínimos para indenização por morte e invalidez permanente e de 8 (oito) salário mínimos para indenização por despesas médicas, ele precisa confiar na ré e em sua boa-fé, ele precisa confiar que a seguradora age com transparência e obedece ao prescrito na lei.

Ao tomarem conhecimento que receberam a indenização abaixo do valor estipulado pela lei, os consumidores se sentem vitimados e feridos na sua honra subjetiva, sente-se feridos na sua reputação e injustiçados pela prática perpetrada pela ré e isto causa dor, gera uma situação vexatória, o consumidor toma conhecimento que foi enganado e ludibriado, por tal razão, sofre um dano moral e deve ser indenizado.

A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 5 º, inciso X13, reza que o consumidor dever ser indenizado pelo dano moral sofrido, pois a imposição do respeito a moral individual é uma das garantias do respeito à dignidade humana (CF: art. 1º, inciso III). Consoante à Constituição Federal, caminha o Código de Defesa do Consumidor no seu artigo 6 º , inciso VI, in verbis:

“Art. 6 º. São direitos básicos do consumidor:

13 Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

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VI – a efetiva reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.”

Inquestionavelmente, os consumidores vitimados pela prática perpetrada pela ré sofreram um dano moral e devem ser indenizados, pois foram feridos nos seus direitos básicos garantidos pelo Código de Defesa do Consumidor e princípios que norteiam a relação jurídica de consumo, a saber, princípio da transparência, princípio da boa-fé objetiva, princípio da confiança e princípio básico de equidade, logo, devem ser indenizados14.

2.8 - DO DANO MORAL COLETIVO

Código de Proteção e defesa do Consumidor prevê no Capítulo III: “Dos Direitos

Básicos do Consumidor”, artigo 6º, inc. VI, "a efetiva prevenção e reparação de danos

patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (grifo nosso).

Trata-se do princípio da reparação integral do dano, o qual inclui a reparação pela

violação da integridade físico-psíquica do consumidor. Neste sentido é a doutrina do professor Luiz

Rizzatto Nunes: "Assim, o dano moral é aquele que afeta a paz interior de cada um. Atinge o

sentimento da pessoa, o decoro, o ego, a honra, enfim, tudo aquilo que não tem valor econômico,

mas que lhe causa dor e sofrimento. É, pois, a dor física e/ou psicológica sentida pelo indivíduo".15

Nos ensina Carlos Alberto Bittar que “a reparação de danos morais exerce função

diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam para a recomposição do patrimônio

ofendido, através da fórmula danos emergentes e lucros cessantes (C.Civ., art. 1.059), aqueles

procuram oferecer compensação ao lesado, para atenuação do sofrimento havido. De outra parte,

14 Assim ensina Carlos Alberto Bittar (Direito do Consumidor. Vol: 20. p. 16): “Observe-se, efetivamente, que o Código de Defesa do Consumidor, nas sua relações de consumo submetidas à sua égide, instituiu regime protetivo tal que, de sua simples enunciação, se pode notar que inúmeras novas situações de violação a direitos personalíssimos podem ocorrer, gerando-se, em conseqüência, a necessidade de reparação de ordem moral.”

15 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: Direito Material (arts. 1º a 54). São Paulo: Saraiva, 2000, p.

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorquanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe a sanção, a fim de que não volte a praticar atos

lesivos à personalidade de outrem”. 16

Neste sentido afirma Aguiar Dias que “em matéria de dano moral, o arbitrário é até

da essência das coisas. O ideal é a volta ao ‘statu quo ante’, ou seja, a volta ao estado anterior do

dano. Indenização e tornar indene, voltar ao estado anterior. Mas isso é impossível quando se trata

de dano moral”.

As lesões aos interesses difusos, coletivos (stricto sensu) e individuais

homogêneos não somente geram danos materiais, mas também pode gerar danos morais. Verifica-se

assim que a proteção dos valores morais não está adstrita aos valores morais individuais, mas

também no sentido transindividual, seja difuso coletivo ou individual homogêneo.

A SEGURADORA ao pagar indenizações inferiores às previstas em lei, a um

número imenso de consumidores, que passavam por grandes dificuldades em suas vidas – seja pela

perda de um ente querido; seja pelas lesões de natureza gravíssimas, graves ou leves que elas

próprias sofreram – gerou dano moral individual e dano moral coletivo. A sociedade ao descubrir,

tardiamente, a prática abusiva perpetrada pela SEGURADORA RÉ, se sentirá muito mais vulnerável

nas relações de consumo, enfraquecendo o princípio da transparência esculpido no Art. 4° do Código

de Defesa do Consumidor.

Ademais, como já foi dito antes, a indenização pelo dano moral coletivo deve ter

caráter inibitório de tais práticas abusivas que expõem a sociedade consumo vulnerável. Assim, a

melhor forma de indenizar o dano moral coletivo é condenando a SEGURADORA RÉ a pagar uma

quantia em dinheiro que seja sigficativa, ao ponto de evitar novas práticas abusivas por parte da

mesma e que iniba práticas abusivas por outros fornecedores.

16 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. 2ª ed. São Paulo: RT, 1994

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Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorO FUNDO ESTADUAL DO CONSUMIDOR é gerido por órgãos de defesa do

consumidor do Estado de Goiás e tem por finalidade gerar PROGAMAS DE EDUCAÇÃO PARA O

CONSUMO EM TODO O ESTADO DE GOIÁS e aparelhar órgãos (Procons Municipais,

Delegacias de Defesa do Consumidor, Procon Estadual, entre outros) de defesa do consumidor. As

indenizações por dano moral coletivo deverão ser carreadas para o FUNDO ESTADUAL DE

DEFESA DO CONSUMIDOR, pois somente as a aplicação destes recursos na defesa da própria

sociedade de consumo será capaz de minimizar os danos morais sofridos pela comunidade de

consumidores goianos.

2.9 - DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA NA TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Em caso de procedência do pedido do autor, a sentença fará coisa julgada erga omnes, para beneficiar todas as pessoas lesadas pela prática abusiva. O artigo 103, inciso III, do CDC determina que “a sentença fará coisa julgada erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81” (grifamos). Esta hipótese mencionada (art. 81, § único, III) refere-se à defesa dos interesses individuais homogêneos, que são os que decorrem de origem comum. É esta a espécie de interesse coletivo tutelado nesta ação civil pública.

Esta sentença deverá passar por uma liquidação. Nesta fase, serão quantificadas as vítimas e determinados os valores devidos pela parte ré a cada uma delas. Só então a sentença se tornará líquida, apta a ser executada.

Determina o artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:

“Art. 95 - Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados” (grifamos)

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Para tornar líquido o objeto da sentença, o juiz irá determinar que as vítimas do evento danoso se habilitem ao processo de liquidação. A habilitação poderá ser promovida, de acordo com o artigo 97 do Código de Defesa do Consumidor, pela própria vítima, por seus sucessores e ainda pelos entes e pessoas enumerados no artigo 82 da mesma lei. A vítima e seus sucessores são legitimados ordinários na habilitação, podendo agir em nome próprio. Porém, se permanecerem inertes, os mesmos poderão ser representados por qualquer dos elencados no artigo 82.

Os Tribunais de Justiça vêm acolhendo esta norma, exigindo que haja habilitação de todas os interessados durante a liquidação da sentença, in verbis:

“Ação civil pública e coletiva. proibição de estabelecimento no estado do rio grande do sul e indenização pelos prejuízos causados. publicação da sentença e extensão aos consumidores não identificados na ação.”

“A divulgação da sentença de procedência da ação civil pública e coletiva, por meio de edital, se faz imprescindível para conhecimento das vítimas em geral, a fim de que, em liquidação, provada a lesão, possam habilitar-se no processo a fim de receber o valor da indenização devida. apelo provido. (tjrs, apc nº 599262870, 14a câmara cível, relator: des. henrique osvaldo poeta roenick, julgado em 05/08/1999)” (grifamos)

Para se habilitar, o interessado deve provar que esteve exposto à prática abusiva que o levou ao dano moral. Deve-se provar, neste caso, que o valor recebido como Seguro Obrigatório DPVAT é inferior ao valor estipulado na lei. Esta prova será fundamental para que as vítimas ou seus herdeiros possam receber as indenizações não pagas pela seguradora. Somente após esta habilitação dos interessados à sentença, os réus terão ciência da quantidade de pessoas lesadas por seus atos e do total a ser pago a título de indenização.

2.10 - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

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O Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, inc. VIII, prevê para qualquer ação fundada nas relações de consumo, bastando para tanto que haja hipossuficiência do consumidor ou seja verossímil a alegação do dano.

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

(...);

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência;

(...)” (grifo nosso).

Trata-se de aplicação do princípio constitucional da isonomia (tratar desigualmente os desiguais), pois o consumidor, como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de consumo, tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo. Neste sentido é a doutrina do Professor Nelson Nery Jr. in Código de Processo Civil Comentado, 4ª ed, Saraiva, 1999, p. 1806, verbis:

“A inversão pode ocorrer em duas situações distintas: a) quando o consumidor for hipossuficiente; b) quando for verossímil sua alegação. As hipóteses são alternativas, como claramente indica a conjunção ou expressa na norma ora comentada. A hipossuficiência respeita tanto à dificuldade econômica quanto à técnica do consumidor em poder desincumbir-se do ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito”.

Na relação contratual entre a fornecedora – SEGURADORA RÉ - e as vítimas de acidentes de trânsito (aqui consumidores do serviço), estas se encontram em estado de hipossuficiência jurídica, visto que estão em situação de extrema desvantagem.

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Sobre o momento da inversão do ônus da prova é por oportuno colacionar a doutrina do Professor Nelson Nery Jr.:

“O juiz, ao receber os autos para proferir sentença, verificando que seria o caso de inverter o ônus da prova em favor do consumidor, não poderá baixar os autos em diligência e determinar que o fornecedor faça a prova, pois o momento processual para a produção desta prova já terá sido ultrapassado. Caberá ao fornecedor agir, durante a fase instrutória, no sentido de procurar demonstrar a inexistência de alegado direito do consumidor, bem como a existência de circunstâncias extintivas, impeditivas ou modificativas do direito do consumidor, caso pretenda vencer a demanda. Nada impede que o juiz, na oportunidade de preparação para a fase instrutória (saneamento do processo), verificando a possibilidade de inversão do ônus da prova em favor do consumidor, alvitre a possibilidade de assim agir, de sorte a alertar o fornecedor de que deve desincumbir-se do referido ônus, sob pena de ficar em situação de desvantagem processual quando do julgamento da causa”

Posto isto, o Ministério Público requer a inversão do ônus da prova, cabendo à parte ré desconstituir as alegações fáticas e jurídicas consignadas nesta inicial.

3 – DA NECESSIDADE DA MEDIDA LIMINAR.

Diante dos fatos explanados na inicial, far-se-á necessário a concessão de medida

liminar para salvaguardar os consumidores beneficiários de indenizações do seguro DPVAT, haja

vista, que estão presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, nos termos do

artigo 12 da Lei 7.347/85:

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou

sem justificação prévia em decisão sujeita a agravo.

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Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorO periculum in mora está configurado, pois in casu, está robustamente

comprovado que as empresas conveniadas com o seguro DPVAT estão lesando o consumidor,

pagando indenização em valor inferior ao estabelecido no artigo 3 º da Lei 6.194/74 que estabelece a

quantia de 40 ( quarenta ) salários mínimos para cobertura por morte e invalidez permanente e

equivale a quantia de R$ 9.600,00 (Nove mil e seiscentos reais) e no caso de cobertura com despesas

de assistência médica e suplementares devidamente comprovada, o equivalente a 8 (oito) salários

mínimos que corresponde ao valor de R$1.920,00 (Um mil novecentos e vinte reais). Porém, o valor

pago nas indenizações é o estabelecido na resolução n º 35, de 2000, do Conselho Nacional de

Seguros Privados que, hodiernamente, é de R$6.754,01 (Seis Mil, setecentos e cinqüenta e quatro

reais e um centavo) no caso de cobertura por morte ou invalidez permanente e de R$ 1.524,54 ( Um

mil, quinhentos e vinte e quatro reais e cinqüenta e quatro centavos) por despesas de assistência

médica e suplementares, logo, aferimos de forma indubitável que o consumidor esta sendo lesado e a

não concessão da medida liminar permitira a lesão em potencial a consumidores que no futuro

vierem a ser beneficiários do seguro DPVAT..

O fumus boni iuris está presente em razão do artigo 3 º da lei 6.194/74, restando

configurado a plausibilidade do direito ao direito , in verbis:

“Art . 3º- Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no artigo 2º compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa vitimada:

a) 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - no caso de morte;

b) Até 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - no caso de invalidez permanente;

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c) Até 8 (oito) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - como reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas.”

Para que as decisões judiciais (liminares ou de mérito) sejam cumpridas,

notadamente, tratando-se de obrigação de fazer e não fazer, faz-se necessário a aplicação de multa

liminar ou astreinte. Trata-se de uma coação de caráter econômico, com objetivo de dissuadir o

devedor inadimplente a fim de que este cumpra a obrigação. A imposição de obrigação de fazer (ou

não fazer) só tem efetividade prática com a imposição de multa diária.

O fundamento legal da imposição pecuniária encontra-se no artigo 84, parágrafo 4º

do CDC, verbis:

“Art. 84 Na ação que tenha por objeto o cumprimento de

obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da

obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático

equivalente ao do adimplemento.

(...)

§ 3º. Sendo relevante o fundamento da damanda e havendo

justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a

tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

§ 4º. O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor

multa diária ao réu, independente de pedido do autor, se for suficiente ou

compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do

preceito.”

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorAssim, para que o Estado-Juiz não fique desmoralizado em razão de eventual não

cumprimento da liminar, faz-se necessária a fixação de multa pecuniária para o efetivo

cumprimento das decisões judiciais e realizando o poder-dever do Estado no exercício preponderante

da jurisdição.

4 – DO PEDIDO.

4.1 – DOS REQUERIMENTOS EM SEDE DE LIMINAR.

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

4.1.1 – que seja concedida a liminar e impelida a ré a efetuar o pagamento das indenizações do seguro DPVAT segundo o valor estabelecido pelo artigo 3 º da lei 6.194/74 referente a quantia de 40 ( quarenta ) salários mínimos para cobertura por morte e invalidez permanente (hoje correspondendo a importância de R$ 9.600,00 (Nove mil e seiscentos reais)) e no caso de cobertura com despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovada, o equivalente a 8 (oito) salários mínimos (hoje correspondente a importância de R$1.920,00 (Um mil novecentos e vinte reais);

4.1.2 – que seja cominada multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por cada consumidor lesado no caso do descumprimento do item 4.1.1 deste requerimento a serem destinados ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, criado pela lei 12.207 de 20 de dezembro de 1.993;

4.2 - DOS REQUERIMENTOS EM SEDE DE MÉRITO.

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

4.2.1 – O recebimento da presente ação;

4.2.2 – A isenção de custas e emolumentos e outros encargos, nos termos do artigo 87 do Código de Defesa do consumidor e artigo 18 da Lei de ação civil pública;

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

4.2.3 – A citação da requerida para se ver processar;

4.2.4 – A confirmação dos pedidos feitos na liminar, quais sejam:

4.1.1 – que seja concedida a liminar e impelida a ré a efetuar o pagamento das indenizações do seguro DPVAT segundo o valor estabelecido pelo artigo 3 º da lei 6.194/74 referente a quantia de 40 ( quarenta ) salários mínimos para cobertura por morte e invalidez permanente (hoje correspondendo a importância de R$ 9.600,00 (Nove mil e seiscentos reais)) e no caso de cobertura com despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovada, o equivalente a 8 (oito) salários mínimos (hoje correspondente a importância de R$1.920,00 (Um mil novecentos e vinte reais);

4.1.2 – que seja cominada multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por cada consumidor lesado no caso do descumprimento do item 4.1.1 deste requerimento a serem destinados ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, criado pela lei 12.207 de 20 de dezembro de 1.993;

4.2.5 – que seja determinado o pagamento pela Seguradora Ré, da diferença existente os quarenta salários mínimos vigente na data do sinistro e o valor pago aos beneficiários, devidamente corrigidos monetariamente mais juros legais;

4.2.6 – que seja determinado o pagamento de indenização por dano moral individual aos beneficiários do seguro DPVAT, pela prática abusiva efetuada pela ré, no valor de 10 (dez) salários mínimos (hoje correspondente à importância de R$2.400,00 ( dois mil e quatrocentos reais) conforme fundamentado no item 2.7;

4.2.7 – que seja determinado o pagamento de indenização por dano moral coletivo pela prática abusiva efetuada pela ré, no valor de R$1.000,000,00 (Um milhão de reais) a serem

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

destinados ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, criado pela lei 12.207 de 20 de dezembro de 1.993, conforme fundamentado no item 2.8;

4.2.8 – que seja determinado a publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, nos termos do artigo 94 do Código de Defesa do Consumidor;

4.2.9 – A inversão do ônus da prova a favor do consumidor nos termos do artigo 6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor;

4.2.10 – A intimação pessoal do autor – mediante entrega dos autos – nas Promotorias de Justiça do Consumidor (12 º e 70 º) situadas no edifício sede do Ministério Público salas t-29 e t-31, localizado na rua 23, lote 15/24, esquina com a avenida B, Jardim Goiás, Goiânia-GO, de conformidade com o que prescreve o artigo 41, inciso IV, da lei 8.625/93;

4.2.11 – Protesta por provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente, depoimento pessoal dos dirigentes da requerida, oitiva de testemunhas, juntada de documentos, perícias, sem prejuízo dos meios que eventualmente se fizer necessário à completa elucidação dos fatos articulados nessa petição;

Dá-se a causa, para todos os fins, o valor de R$ 1.000,000,00 (Um milhão de reais).

Nestes Termos,Pede deferimento.

Goiânia, 01 de julho de 2003.

MURILO DE MORAIS E MIRANDA GOIAMILTON ANTÔNIO MACHADO

Promotor de Justiça Promotor de Justiça

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

SENTENÇA

Autos n. 1152/03Protocolo n. 200301212630

VISTOS ETC...

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, através dos Promotores de

Justiça de Defesa do Consumidor, ajuizou a presente ação civil pública contra SEGURADORA SUL

AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA (ANTIGA SUL AMÉRICA AETNA

SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA), igualmente qualificada.

Noticia o autor ter instaurado inquérito civil público objetivando a apuração de

possíveis lesões a consumidores segurados do DPVAT, quando teria sido apurado que a ré pagava e

paga valores inferiores ao previsto na Lei 6.194/74, nas indenizações requeridas pelas vítimas de

acidentes de trânsito ou seus dependentes.

Depois de discorrer sobre a Lei Federal n. 6.194/74, que estabeleceu regras para o

pagamento do seguro pessoal obrigatório - DPVAT, e os danos cobertos por aquele seguro, alega

que a ré lesou todos os consumidores que receberam os benefícios nos últimos 20 anos, em razão do

pagamento de valores inferiores aos estipulados em lei.

Após descrever sobre a legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento da

presente ação e a competência do foro desta comarca para processar e julgar esta ação, defende o

autor a aplicação das disposições do Código de Defesa do Consumidor, sob o entendimento que

existe relação de consumo no caso em debate.

Em seqüência, o requerente tece considerações sobre os valores das indenizações, de

acordo com o previsto no art. 3º da Lei 6.194/74, e aponta práticas abusivas da seguradora ré, ao

fazer o pagamento de indenizações em valores inferiores aos legalmente fixados, além de demonstrar

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorentendimento sobre o prazo prescricional de 20 anos, como previsto no art. 177 do Código Civil de

1916.

Sustenta o autor que o pagamento incompleto da indenização aos consumidores

beneficiários do DPVAT é uma prática lesiva e ensejadora de dano moral ao consumidor e deve ser

reparada, apresentando fundamentação para reforçar a tese do dano moral coletivo, postulando que o

valor da referida indenização seja revertido ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor.

Argumenta o postulante que, em caso de procedência do pedido, a sentença fará coisa

julgada erga omnes, para beneficiar todas as pessoas lesadas pela prática abusiva e, em fase de

liquidação, serão quantificadas as vítimas e determinado os valores devidos pela ré a cada uma delas,

após a prova que esteve exposto à prática abusiva que levou ao dano moral.

Por fim, após embasar alegação de inversão do ônus da prova e fundamentar pedido

de liminar, formulou o requerimento de concessão de liminar para obrigar a ré a efetuar o pagamento

das indenizações do seguro DPVAT segundo os valores estabelecidos no art. 3º da Lei 6.194/74, ou

seja, de 40 (quarenta) salários mínimos para a cobertura por morte e invalidez permanente, e 08

salários mínimos para a cobertura com despesas de assistência médica e suplementares devidamente

comprovadas, com o arbitramento de multa por cada consumidor lesado, no caso de descumprimento

da liminar. No mérito, requereu a confirmação da liminar e a condenação da ré ao pagamento da

diferença existente entre os quarenta salários mínimos vigente na data do sinistro e o valor pago aos

beneficiários, devidamente corrigidos. Postulou também a condenação da ré ao pagamento e

indenização por dano moral individual aos beneficiários do seguro DPVAT, no valor de 10 (dez)

salários mínimos, e ao pagamento de indenização por dano moral coletivo, no valor de R$

1.000.000.00 (um milhão) de reais, que deverá ser revertido ao Fundo Estadual de Defesa do

Consumidor, fazendo os pedidos de estilo, fls. 02/31.

A inicial foi acompanhada pelos documentos de fls. 32/625.

Pela decisão de fls. 627/621, foi indeferido o pedido de concessão de liminar e

ordenada a citação da ré, bem como a publicação do edital previsto no art. 94 do Código de Defesa

do Consumidor, para conhecimento de interessados, oportunizando-lhes a intervenção no feito.

A requerida comparece aos autos e oferece contestação às fls. 641/687, anexando os

documentos de fls. 288/807.

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorDepois de tecer críticas à peça de começo e rebater a alegação de o valor que deve ser

pago pelo DPVAT, no caso de morte, é de 40 salários mínimos, a contestante descreve sobre o

contrato de seguro.

Em seqüência, apresenta denunciação da lide à União, sob a alegação de que as

cláusulas e condições do DPVAT são fixadas e impostas em Resoluções do Conselho Nacional de

Seguros Privados -CNSP, o que são cumpridas pela ré, o que entende deslocar a competência para

processar e julgar a ação à Justiça Federal.

Em preliminar, argüiu a ilegitimidade e falta de interesse do Ministério Público para a

propositura da presente ação, sob o argumento de que a parte autora busca tutelar interesses

individuais, divisíveis e disponíveis e não interesses coletivos ou difusos, transindividuais e

indivisíveis, apresentando ampla fundamentação.

Empós, sustenta a contestante que a pretensão apresentada não tem fundamento na

legislação consumerista e sim nas regras de direito comum, o que entende retirar a legitimidade do

Ministério Público para o ajuizamento da ação, razão pela qual requereu a extinção do processo sem

julgamento do mérito.

A requerida salienta não ser vintenária a prescrição para as ações que visam o

pagamento de indenização securitária, mas de 01 ano, como previsto no art. 178, §6º, do antigo

Código Civil, atual art. 206, §1º, II, do Código Civil vigente.

No mérito, a contestante rebate os argumentos da parte autora, defendendo a

legalidade dos pagamentos efetuados a título de DPVAT aos segurados ou beneficiários, o que é

imposto pela União e órgãos especializados da administração federal, fazendo com que inexista a

concorrência da vontade dos contratantes, o que afasta a alegação de abusividade de cláusulas ou

conduta de uma das partes.

Depois de fundamentar entendimento sobre a revogação do art. 3º da Lei 6.194/74,

que instituiu valores indenizatórios para o caso de seguro DPVAT, pelas Leis nºs 6.205/75 e

6.423/77, bem como pelo art. 7º, IV, da Carta Magna, citando julgados em reforço de seus

argumentos.

Prosseguindo em sua defesa, descreve a evolução dos valores da indenização do

DPVAT, alegando não existir qualquer abusividade em sua conduta, não podendo ser

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorresponsabilizada por atos da administração pública, que estabelecem os valores das indenizações e a

fixação dos prêmios com critérios diversos do salário mínimo, logo depois da edição da Lei nº

6.205/75, asseverando também sobre o indexador monetário utilizado para corrigir os prêmios do

DPVAT.

A requerida rechaça o pedido de indenização por dano moral individual e coletivo,

defende a incidência do prazo prescricional de um ano e informa que não efetuou o pagamento de

nenhuma indenização de seguro DPVAT neste Estado, o que entende configurar inexistência de

interesse processual e levar à extinção do processo, sem julgamento de mérito, ao menos no que diz

respeito aos pedidos de pagamento de diferenças da indenização do seguro DPVAT e de danos

morais, individual e coletivos.

Finalizando, requereu o acolhimento das preliminares ou, no mérito, a improcedência

dos pedidos, fazendo os pedidos de estilo.

A parte autora rebate os termos da defesa e ratifica o teor da inicial, fls. 8089/839.

Com a petição de fls. 841/844, a requerida faz a juntada de cópia de sentença

declarando o Ministério Público carecedor do direito de ação, proferida em autos de ação

semelhante, por ilegitimidade ativa e falta de interesse de agir, fls. 845/852.

RELATEI. DECIDO.

Entendo que o processo merece receber julgamento antecipado, sendo dispensável a

dilação probatória.

Inicialmente, verifica-se que a escrivania deste juízo levou quase 06 longos meses

apenas para certificar a publicação de um edital e se houve manifestação de terceiro interessado, o

que foi determinado no despacho de fls. 840, datado de 187.09.2003, somente cumprido às fls. 852,

em 11.03.2004.

Assim, por culpa exclusiva da escrivania deste juízo, o julgamento do feito atrasou

praticamente 06 meses, o que é lamentável, cabendo ao Sr. Escrivão diligenciar para que fatos desta

natureza não mais aconteçam.

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorMerece ser rechaçado o pedido de denunciação da lide à União Federal e declinação

da competência em favor da Justiça Federal, consignado na peça de defesa.

Observa-se que trata-se de ação civil pública embasada no Código de Defesa do

Consumidor, o qual, em seu art. 88, veda a denunciação da lide, vez que eventual ação de regresso

poderá ser objeto de ação autônoma, o que também tem sido o entendimento do E. Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás.

De outro lado, mesmo que se entenda que o mandamento constante do Código de

Defesa do Consumidor não pode Ter aplicação absoluta, o certo é que na presente ação não está

sendo debatida a relação entre a ré e o Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP, sendo a

questão restrita à relação existente a seguradora e os beneficiários do seguro DPVAT.

O simples fato de ser do Governo Federal o órgão regulamentador dos seguros no país

não tem o condão de levar a competência para processar e julgar a ação em favor da Justiça Federal.

Aliás, o CNSP não pode, por meio de simples portaria, fixar valor de indenização do

DPVAT, com alteração de lei vigente.

Não pode ser olvidado que tramitaram e tramitar na Justiça Estadual de Goiás

centenas de ações envolvendo o pagamento do DPVAT, inclusive com apreciação de Recurso

Especial pelo Superior Tribunal de Justiça, o que confirma a competência da Justiça Estadual para

processar e julgar ações desta natureza.

No presente caso, ainda deve ser observado o previsto no art. 93 do Código de Defesa

do Consumidor, do qual também resulta a competência da Justiça Comum Estadual para o

julgamento desta ação.

Desta forma, sem nenhum sentido a denunciação da lide à União e a argüição de

incompetência absoluta da Justiça Estadual para processar e julgar esta ação, o que também resulta

do julgado abaixo, do E.Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, que rejeitou a alegação de que o

CNSP poderia estabelecer o valor da indenização do DPVAT, vejamos:

“AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT.

MORTE. FIXAÇÃO DO QUANTUM A SER INDENIZADO. 1 -

Merece ser mantida a sentença que fixou o valor da indenização

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorrelativo ao seguro obrigatório acidentário (DPVAT) no montante de

quarenta (40) salários mínimos, posto que a espécie não foi utilizada

como fator de correção monetária, e sim como parâmetro para fixar o

montante a ser ressarcido, e foi editada na forma descrita na Lei.

6.194/74, artigo 3º, alínea ‘a’ e seguintes, não servindo de óbice, ao

direito de percepção, simples portaria lançada pelo CNSP. 2 - O CNSP

somente está autorizado a estabelecer regras para atender ao

pagamento de indenizações, a forma de sua distribuição entre as

seguradoras, bem como eventuais tarifas a serem instituídas por

resolução, mas não discutir e fixar o quantum a ser indenizado.

(grifei). 3 - apelo conhecido e improvido” (TJGO. 3ª Cam. Cível. DJ

14.148, de 12.11.2003. Rela. Dês. Nelma Branco Ferreira Perilo).

Assim, ficam rejeitados o pedido de denunciação a lide à União e a arguição de

incompetência da Justiça Estadual para processar e julgar a ação em debate.

A mesma sorte merecem as preliminares de ilegitimidade “ad causam” e falta de

interesse de agir do Ministério Público para o ajuizamento da presente ação.

Como consignado na inicial, o Ministério Público/autor embasa a sua pretensão na

Constituição Federal, na Lei da Ação Civil Pública e no Código de Defesa do Consumidor.

Não pode ser olvidado o elevado número de beneficiários/consumidores que

requereram e sempre requerem a indenização do seguro DPVAT, o que é influenciado pelo fato de

deter o nosso país, infelizmente, o título de um dos campeões mundiais em número de acidentes de

trânsito, o que, por consequência, leva a um crescente quantitativo de vítimas, fatais ou não, o que

reflete no número de requerimentos de pagamento do DPVAT, o que, por si só, legitima o Ministério

Público para a propositura desta ação, face ao interesse público e social da questão.

Ademais, é induvidoso que a questão diz respeito a interesses individuais

homogêneos, por ser referentes a direitos individuais que podem ser tutelados de forma coletiva e de

origem comum, o que está em consonância com a previsão do art. 81, parágrafo único, III, do

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorCódigo de Defesa do Consumidor, sendo expressa a legitimidade do órgão ministerial para o

ajuizamento de ação desta natureza, como prevê o art. 82, I, do mesmo diploma legal.

No caso em debate, o Ministério Público do Estado de Goiás está defendendo o

interesse de milhares de benefeciários do seguro DPVAT.

Registre-se que o Ministério Público do Estado de Goiás ajuizou ação semelhante

contra cada um das seguradoras que estão autorizadas a efetuar o pagamento do seguro DPVAT, o

que está noticiado nos autos.

O E. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás tem reiteradamente decidido neste

sentido, senão vejamos:

“Ação Civil Pública. Direitos individuais homogêneos. Legitimidade do Ministério

Público. À luz do art. 82 do Código de Defesa do Consumidor, tem o Ministério

Público legitimidade para intentar ação civil pública, em defesa de interesses ou

direitos individuais homogêneos. Apelação conhecida e provida” (TJGO. Apelação

Cível n 34465-2/188. Rel.: Des Castro Filho. DJ n 11984 de 16/01/1995 p 7).

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. Legitimidade. Nos termos do

art. 129, III, da Constituição Federal, e disposições combinadas dos artigos 81, parág.

Único, III, 82, 91 e 92, do Código do Consumidor (Lei nr. 8.078/90), o Ministério

Público está legitimado, como substituto processual, a promover a ação civil pública

em defesa dos direitos individuais, em forma coletiva e impessoal. Recurso apelatório

provido, cassada a sentença, para que, no juízo de origem, seja apreciado, em sua

totalidade, o mérito da causa” (TJGO. Apelação Cível n 388889-7/188. Rel.: Des

Antônio Nery da Silva. DJ n 12321 de 03/06/1996 p 6).

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATOS PADRONIZADOS COM CLÁUSULA

DE COBRANÇA ANTECIPADA DA MENSALIDADE ESCOLAR. VÁRIAS

UNIDADES DE ENSINO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Nos termos do art. 81, parágrafo

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorúnico, III e 82, da Lei 8.078/90, o Ministério Público tem legitimidade para a

propositura da ação civil pública, cujo objeto seja questionar a cobrança antecipada de

mensalidades, quando evidente que as nulidades de ensino, orientadas pelo sindicato

da categoria, impuseram aos pais contratos por adesão, vez que, aí, está defendendo

interesses individuais homogêneos. IMPROVIDO POR UNANIMIDADE” (TJGO.

Agravo de Instumento em Procedimento Sumário n 10551-4/184. Rel.: Des Jamil

Pereira de Macedo. DJ n12459 de 20/12/1996 p 4).

Ao tecer considerações sobre os interesses individuais homogêneos, o que tem

aplicação no caso em debate, reforçando a legitimidade e interesse do Ministério Público para o

ajuizamento da ação em julgamento, José Marcelo Vigliar, em sua obra Interesses Individuais

Homogêneos e seus Aspectos Polêmicos, pág. 32, leciona:

“A indivisibilidade, característica do direito material, que permitia a união

absolutamente indissolúvel dos interesses que encontram em conflito, no caso de se

considerar os interesses difusos e coletivos, aqui não deve ser levada em conta. A

fruição coletiva do interesse e sua defesa em juízo dá-se pela especial característica do

direito material, característica esta bastante e suficiente para caracterizar os interesses

difusos e coletivos como essencialmente coletivos.

Ao contrário, no caso dos interesses individuais homogêneos, exige-se que vários

tenham sido os eventos que representarão os fundamentos fáticos e jurídicos de

inúmeras demandas possíveis (tantas, em tese, quantos os prejudicados pelo mesmo

evento). Contudo, porque homogêneos (rectius: de origem comum, como quer o art.

81, parágrafo único, inciso III, da Lei 8.078/90), há que se transpor duas exigências:

a)que sejam idênticos e; b) que sejam múltiplos (não importando para sua

caracterização o número exato, pois a homogeneidade consistirá apenas e tão-

somente fator de possibilidade de se utilizar - também não exclusivamente - das

demandas coletivas”.

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

Ficam, pois, rejeitadas as preliminares de ilegitimidade ativa e falta de interesse do

Ministério Público para o ajuizamento da presente ação.

A parte requerida argüiu que o prazo prescricional para as ações visando o

recebimento de indenização securitária seria de um ano, contrariamente à vintenária, defendida pelo

réu,

É tranquilo o entendimento de que a ação do beneficiário do seguro contra a

seguradora, buscando a complementação da indenização do seguro DPVAT, é a máxima que existe,

não tendo sentido a alegação da requerida no sentido de ser de um ano o referido prazo.

De outra parte, in casu, não é o caso de pura e simples pretensão do segurado contra a

seguradora objetivando o recebimento do seguro DPVAT, tratando-se de ação de indenização, onde

se visa a reparação de milhares de pessoas que teriam sido lesadas com o recebimento a menor

daquele seguro, com a indenização por danos morais.

Ao julgar o Recurso Especial n. 296.675/SP, o Superior Tribunal de Justiça, através

do voto do Relator Min. Aldir Passarinho, decidiu que o prazo prescricional para o recebimento da

diferença do seguro obrigatório é de 20 anos.

No mesmo sentido é o posicionamento da E. Corte e Justiça do Estado de Goiás,

como no julgado abaixo transcrito:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. PRESCRIÇÃO

VINTENÁRIA. INVALIDEZ PERMANENTE. FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. 1 -

O PRAZO PRESCRICIONAL PARA COBRANÇA DO SEGURO OBRIGATÓRIO

É DE 20 (VINTE) ANOS, PORQUE SUBMETIDO A REGRA DO ART. 177 DO

CÓDIGO CIVIL E NÃO AO DO ART. 178 PARÁGRAFO SEXTO, DO MESMO

DIPLOMA LEGAL. 2 -RESTANDO PROVADO QUE A INVALIDEZ É

PERMANENTE E DEFINITIVA, MESMO SENDO DE FORMA PARCIAL, A

INDENIZAÇÃO DEVE SER PAGA INTEGRALMENTE, NOS TERMOS DO ART.

TERCEIRO, ALÍNEA ‘B’, DA LEI 7.194/74. APELO CONHECIDO E

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorIMPROVIDO.”(TJGO. Ap. Civ. N. 64855-5/188.Rel. Des. João Waldeck Felix de

Sousa. DJ N. 13878, DE 04.10.2002).

Ultrapassadas as preliminares e prejudicial arguidas, passo ao exame do mérito da

questão posta em debate.

Através da presente ação, a parte autora pretende obter a condenação da requerida ao

pagamento de indenização do seguro DPVAT no valor de 40(quarenta) salários mínimos, para

cobertura por morte ou invalidez permanente, e de 08(oito) salários mínimos para a hipótese de

cobertura com despesas de assistência médica e suplementares, de acordo com a previsão do art. 3º

da Lei 6.194/74, postulando, ainda, a condenação da requerida ao pagamento da diferença existente

entre os quarenta salários mínimos vigente na data do sinistro e o valor pago aos beneficiários,

devidamente corrigido, além de indenização por dano moral individual e coletivo.

O seguro obrigatório DPVAT constitui uma proteção imposta pela legislação vigente,

não ficando ao arbítrio do proprietário do veículo, sendo direito daqueles vitimados em acidentes de

trânsito, ou seja, independentemente da comprovação do recolhimento o seguro obrigatório, a vítima

de acidente de trânsito tem o direito ao recebimento do mesmo.

A Lei 6.194/74, que disciplina a matéria, dispõe:

“O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do

dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer

franquia de responsabilidade do segurado.”

Então, compete ao Estado a fiscalização do recolhimento do prêmio de seguro

obrigatório de veículos, através dos órgãos pertencentes ao Sistema Nacional de Seguros Privados,

repassando a verba necessária às sociedades seguradoras consorciadas ao seguro obrigatório-

DPVAT.

Resulta, pois, que qualquer seguradora integrante do DPVAT, uma vez acionada, está

obrigada ao pagamento da verba indenizatória, independente da existência ou não do contrato,

devendo o pagamento ocorrer mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, mesmo sem

prova do recolhimento do seguro obrigatório-DPVAT.

Resulta, pois, que qualquer seguradora integrante do DPVAT, uma vez acionada, está

obrigada ao pagamento da verba indenizatória, independente da existência ou não do contrato,

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidordevendo o pagamento ocorrer mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, mesmo sem

prova do recolhimento do seguro obrigatório.

Neste sentido é o posicionamento tranquilo do Superior Tribunal de Justiça e do

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

Exemplificando, vejamos um julgado do Superior Tribunal de Justiça:

“Recurso Especial. Seguro Obrigatório. 1- Qualquer seguradora responde pelo

pagamento da indenização em virtude de seguro obrigatório, pouco importando que o

veículo esteja a descoberto, eis que a responsabilidade em tal caso decorre do próprio

sistema legal de proteção, ainda que esteja o veículo identificado, tanto que a lei

comanda que a seguradora que comprovar o pagamento da indenização pode haver do

responsável o que efetivamente pagou. 2 - Recurso especial conhecido e

provido” (STJ. 3ª Turma, Resp. n. 68.146-SP. Rel. Min. Carlos Alberto Menezes

Direito. DJU de 17.08.98).

Desse modo, não resta nenhuma dúvida que a seguradora requerida deve pagar o

seguro DPVAT às vítimas de acidente de trânsito, uma vez acionada pelo beneficiário, vítima em

acidente de trânsito.

Em relação ao valor que vem sendo pago a título de indenização do seguro DPVAT, o

que tem ocasionado inúmeras ações no foro local, é certo que as seguradoras não estão pagando os

40 (quarenta) salários mínimos previstos na Lei 6.194/74, com base em Resolução do CNPS,

recebendo o beneficiário valor a menor, fazendo com que, posteriormente, venha a juízo postular a

complementação.

Invariavelmente, o Poder Judiciário, mormente o do Estado de Goiás, tem condenado

as seguradoras a fazer a complementação do valor da indenização do DPVAT, o que está em

sintonia com o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça.

De igual forma, tem sido rechaçada a tentativa das seguradoras de impedir a

utilização do salário mínimo como parâmetro para a fixação do valor da indenização do DPVAT, até

porque o art. 3º da Lei 6.194/74 não foi revogado pelas Leis ns. 6.205/75 e 6.423/77.

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

A utilização do salário mínimo como parâmetro para a fixação do valor da

indenização do seguro DPVAT não viola o dispositivo constitucional que impede a utilização do

salário mínimo como fator de correção monetária e sua vinculação para qualquer fim.

Ora, a utilização do salário mínimo como parâmetro na fixação da indenização do

DPVAT não significa que o mesmo esteja sendo utilizado como fator de correção monetária, até

porque o valor é o do dia de ocorrência do evento, quando o quantum sofrerá a incidência da

correção monetária por um dos indexadores vigentes.

Neste sentido, é remansosa a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do E.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, vejamos:

“SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS. INDENIZAÇÃO POR

MORTE. FIXAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. LEI 6.194, ART. 3º. RECIBO DE

QUITAÇÃO. RECEBIMENTO DE VALOR INFERIOR AO LEGALMENTE

ESTIPULADO. DIREITO A COMPLEMENTAÇÃO. 1- Pacífica a jurisprudência

desta Corte no sentido de que o art. 3º, da Lei 6.194/74, não fora revogado pelas Leis

6.205/75 e 6.423/77, porquanto, ao adotar o salário mínimo como padrão para fixar a

indenização devida, não o tem como fator de correção monetária, que estas leis

buscam afastar. 2- Igualmente consolidado o entendimento de que o recibo de

quitação passado de forma geral, mas relativo a obtenção de parte do direito,

legalmente assegurado, não traduz renúncia a este direito e, muito menos, extinção da

obrigação.Procedência do STJ. 3- Recurso Especial conhecido pela divergência e

provido”(STJ. 3ª Turma. Resp n. 129.182/SP. Rel. Min. Waldemar Zveiter. DJU de

30.03.1998).

“Seguro obrigatório de danos pessoais. Indenização. Salário Mínimo. O seguro

obrigatório de danos pessoais por morte do segurado deve corresponder ao valor de

40 salários mínimos, nos termos do art. 3º da Lei 6.194/74, que não foi revogado pelo

disposto nas Leis 6.205/75 e 6.423/77. Precedentes da 2ª Seção. Recurso conhecido e

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorprovido” (STJ. Resp n. 82.018-MG. 4ª Turma. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar. DJU

de 29.04.1996.).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA SECURITÁRIA.

DPVAT...SALÁRIO MÍNIMO. 1e 2 - omissis. 3 - Nada impede que seja adotado o

salário mínimo como padrão para a fixação do quantum indenizatório, posto que

determina o art. 3º, da Lei 6.194/74, plenamente em vigor. APELO CONHECIDO,

MAS IMPROVIDO”. (TJGO . Ap. Civ. Nº 52476-1/188. Rel. Des. Arivaldo da Silva

Chaves. Ac de 25.04.2000).

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA.

SEGURO DPVAT. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. FIXAÇÃO DA

INDENIZAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. 1- omissis.

2- O valor da cobertura do seguro obrigatório de responsabilidade civil de veículo

automotor (DPVAT) deve corresponder a 40 (quarenta) salários mínimos, conforme

determina a Lei n. 6.194/74, art. 3º , ‘a’, sendo que dita norma não foi revogada pelo

art. 7º, inciso IV da Constituição Federal, nem pelas Leis n. 6.423/74 e 6.025/75. 3-

omissis. Apelo conhecido e improvido”.(TJGO. Rel. Des. Floriano Gomes, DJ n.

14155, de 21.11.2003).

Está claro, pois, que não tem razão alguma a requerida ao resistir ao pagamento da

indenização do seguro DPVAT no valor de 40(quarenta) salários mínimos.

Deve ser consignado que não há se falar em desequilíbrio nos contratos de seguros

DPVAT ou qualquer prejuízo à parte ré, com a obrigatoriedade de pagamento da indenização

securitária em 40 (quarenta) salários mínimos.

Além de resultar de previsão legal o referido quantum, o certo é que o valor que cada

seguradora paga a título de seguro DPVAT é retirado de um fundo único destinado ao pagamento do

referido seguro.

De outro lado, falar que as poderosas seguradores poderão sofrer as conseqüências do

desequilíbrio contratual chega a causar espécie, pois é a parte mais forte na relação jurídica e

comercial, ramo da atividade econômica que sempre cresce neste país. Além do mais, não pode ser

desculpa para descumprir a lei a alegação de desequilíbrio contratual ou suposto prejuízo.

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Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorAssim, merece acolhimento a pretensão da parte autora no sentido de se obrigar a

requerida ao pagamento da indenização do seguro DPVAT no valor realmente devido, ou seja, 40

(quarenta) salários mínimos, para a cobertura por morte e invalidez permanente e 08 (oito) salários

mínimos para a cobertura com despesas de assistência médica e suplementares, devidamente

comprovada.

Observe-se, inclusive, que o deferimento do pedido, nos termos consignado no

parágrafo anterior, o que é tranquilo em nossos Tribunais, evitará que cada um dos consumidores e

beneficiários do seguro DPVAT tenha que ajuizar ação visando a complementação do valor da

indenização, o que, além de agilizar o recebimento em favor da parte mais fraca na relação jurídica,

fará com que o Poder Judiciário não tenha que ficar sempre decidindo a mesma questão.

Embora não conte com a simpatia e adesão deste julgador o projeto de instituição da

Súmula Vinculante no Brasil, se a mesma já existisse, possivelmente, a questão envolvendo o

pagamento de 40 (quarenta) salários mínimos de indenização pelo seguro DPVAT seria objeto de

uma Súmula daquela natureza, de onde as seguradoras não escapariam, de forma alguma, da

obrigação de pagar o mencionado valor a título de indenização de DPVAT.

No entanto, entendo que deve ser imposta à requerida a obrigação de pagamento da

indenização do seguro DPVAT, no valor integral de 40 (quarenta) e 08 (oito) salários mínimos, para

cobertura de morte e invalidez permanente e para cobertura de assistência médica, respectivamente,

a partir da do trânsito em julgado da presente sentença e não dos últimos 20 anos, como deseja a

parte autora, não merecendo o acolhimento o pedido de complementação da diferença da

indenização do seguro DPVAT, para completar o valor de 40 (quarenta) salários mínimos a todos os

beneficiários que receberam da requerida naquele período.

Nota-se que a Constituição Federal, que, em seu art. 129, III, conferiu ao Ministério

Público a defesa de interesses difuso e coletivo, é de 1988; já o Código de Defesa do Consumidor,

que também embasa a atuação do Ministério Público nesta ação, entrou em vigência no ano de 1990.

Assim, o Ministério Público está tentando retroagir os efeitos da condenação

postulada à requerida em data muito anterior à vigência dos diplomas legais que conferiram

autorização para aquele órgão defender os interesses postulados na presente ação, o que não pode,

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorsomente por isto, ser acolhido qualquer pedido de condenação de pagamento de diferença do seguro

DPVAT paga em data anterior à vigência do Código de Defesa do Consumidor.

De outro lado, seria extremamente difícil o cumprimento de decisão ordenando o

pagamento da diferença pretendida pelo autor, vez que não se sabe quem recebeu o seguro DPVAT

da requerida, em valor inferior a 40 (quarenta) salários mínimos, seria, praticamente, uma

condenação inexeqüível.

Deve ser levado em consideração também o fato de estar registrado no documento

anexado às fls. 807, emitido pela Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de

Capitalização - FENASEG, responsável pelo convênio DPVAT com as seguradoras do país, que a

requerida não pagou nenhuma indenização do seguro DPVAT no Estado de Goiás.

Muito embora o documento de fls. 105/107 noticiar o contrário do documento de fls.

808, vez que traz cópia de sentença prolatada em ação em que a seguradora requerida foi acionada

por beneficiário do seguro DPVAT para pagar a complementação do valor da indenização, entendo

que as indenizações de DPVAT pagas pela requerida, antes da data do ajuizamento desta ação, não

pode ser objeto de complementação através desta sentença.

Ora, todos aqueles que receberam indenização do seguro DPVAT, firmaram quitação

do valor recebido, e poderão, dentro do prazo prescricional postular, em juízo, a complementação,

como tem sido feito em vários casos, isto para o período anterior ao trânsito em julgado da presente

sentença.

Ademais, sem a comprovação de todos os pagamentos de indenizações em valores

parciais, não há se falar em condenação do pagamento de diferença ou complementação.

E nem se diga que em sede de liquidação de sentença seria possível tal procedimento

comprobatório para ser efetivado o pretendido pagamento, até porque seria muito difícil a

localização, inclusive, dos beneficiários do DPVAT que receberam a indenização para vir a juízo e

comprovar a condição e o saldo credor.

Rejeito, pois, o pedido de condenação da requerida ao pagamento da diferença de

indenização do seguro DPVAT do período anterior ao ajuizamento da ação.

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Promotorias de Justiça de Defesa do ConsumidorO mesmo desfecho merece o pedido de condenação da requerida ao pagamento de

reparação por dano moral individual e coletivo, em razão do pagamento a menor da indenização do

seguro DPVAT.

Ora, totalmente equivocado o autor ao pleitear indenização por dano moral individual

e coletivo, sob o argumento de que o pagamento a menor do seguro DPVAT fere o consumidor em

sua honra subjetiva e reputação, colocando-o em situação vexatória.

Se todos aqueles que recebessem a menor um crédito ou valor, mesmo que estipulado

por lei, se sentissem violados em sua honra, o Brasil seria o país com maior número de ações

indenizatórias de dano moral do mundo, que o digam os sofridos funcionários públicos, aposentados

e empregados celetistas, que sempre têm a receber, respectivamente, diferenças salariais, de

benefícios ou de direitos trabalhistas, como FGTS para aqueles últimos.

Embora após o advento da Constituição Cidadã de 1988 tenha aumentado em muito

ações desta natureza, os aborrecimentos ou contrariedades do dia-a-dia, como o recebimento de um

crédito a menor, não servem de embasamento para se falar em dano moral.

É válido registrar que nas inúmeras ações envolvendo a cobrança de diferença de

DPVAT que este julgador decidiu, nesta Vara ou como participante da Turma Julgadora dos

Juizados Especiais desta Comarca, em nenhuma delas os beneficiários requerentes pleitearam

indenização por dano moral, aqui defendidas pelo Ministério Público, não se sentiram lesadas em

sua honra subjetiva e reputação e, por conseqüência, não buscaram a reparação em juízo.

De outro lado, é muito questionável o fato de o Ministério Público supor e concluir

que os beneficiários que receberam o seguro DPVAT a menor sofreram dano moral, em decorrência

de tal fato.

Ora, somente a pessoa vítima de determinada conduta de terceiro pode avaliar se

suportou ou não dano moral, sendo questionável a capacidade do órgão ministerial, que não conhece

e não sabe a reação de cada um dos beneficiários que receberam o seguro DPVAT, de fazer pedido

de reparação por danos morais em favor de terceiro.

No sentido de não caracterizar dano moral aborrecimentos do dia-a-dia, sem maiores

consequências para a honra subjetiva ou reputação da suposta vítima, como no caso em debate, o E.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás tem decidido:

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

“DUPLO APELO. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO. ILETIMIDADE ATIVA

DO AUTOR. INDENIZAÇÃO. PERDA TOTAL DO BEM. PAGAMENTO DE

HONORÁRIOS AO LITISCONSORTE EXCLUIDO DA LIDE. CORREÇÃO

MONETÁRIA E JUROS. INCIDÊNCIA. DANO MORAL MULTA DIÁRIA. I- A

PESSOA A QUEM DEVE SER PAGO O PRÊMIO DO SEGURO E AQUELA QUE

FIGURA NA APÓLICE COMO SEGURADO, INDEPENDENTE DO BEM SER

DE PROPRIEDADE DE TERCEIRO, CONSOANTE TERMOS DO ART. 1098 CC.

II - OCORRENDO PERDA TOTAL DO VEÍCULO, E DEVIDA A QUANTIA

ESTIPULADA NA APÓLICE (ART. 1462 DO CC) INDEPENDENTE DE SEU

VALOR MÉDIO VIGENTE NO MERCADO. III- O LITISDENUNCIANTE

MESMO VENCEDOR NA AÇÃO PRINCIPAL, É O RESPONSÁVEL PELO

PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS AO PATRONO DO LITIS

DENUNCIADO, EXCLUIDO DO PROCESSO POR ILEGITIMIDADE PASSIVA.

IV -PARA O ACOLHIMENTO DO DANO MORAL PRETENDIDO E

IPRESCINDÍVEL A DEMONSTRAÇÃO DE QUAIS SERIAM ESSES

PREJUÍZOS. MEROS ABORRECIMENTOS COM A DEMORA NO

PAGAMENTO DO PRÊMIO NÃO SÃO SUFICIENTES PARA CARACTERIZAR

O DANO MORAL. V- EM GRAU RECURSAL NÃO É POSSIÍVEL A

IMPOSIÇÃO DE MULTA DIÁRIA, POSTO QUE ESTA NÃO FOI POSTULADA

NA INICIAL E O JUIZ A QUO NÃO A CONCEDEU DE OFÍCIO, FICANDO

TACITAMENTE ENTENDIDO A SUA DESNECESSIDADE; IMPLICANDO O

SEU DEFERIMENTO EM GRAU RECURSAL EM SUPRESSÃO DE

INSTÂNCIA. APELOS CONHECIDOS E IMPROVIDOS”. (TJGO Ap. Civ. N.

55100-2/188. Rel. Des. Arivaldo da Silva Chaves. DJ nº 13430 de 30/11/2000).

Ao discorrer sobre a questão envolvendo a configuração do dano moral, o que não

acontece que fatos de pouca importância e que não provoca dano extrapatrimonial, como no cado em

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Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

debate, Arnaldo Marmitt, em sua obra Dano Moral, Aide Editora, p. 20-21, leciona, inclusive

citando ensinamentos dos mestres Pontes de Miranda e Antônio Chaves:

“O dano moral que induz obrigação de indenizar deve ser de certa monta, de certa

gravidade, com capacidade de efetivamente significar um prejuízo moral. O requisito

da gravidade da lesão precisa estar presente, para que haja direito de ação. Ao

ofendido cabe demonstrar razões convicentes no sentido de que, no seu íntimo, sofreu

prejuízo moral em decorrência de determinado ilícito. Alterações de pouca

importância não tem força suficiente para provocar dano extrapatrimonial reparável

mediante processo judicial. A utilização da Justiça deve ser deixada para casos mais

graves, de maior relevância jurídica.

A propósito, ANTÔNIO CHAVES acentua que “propugnar pela mais ampla

ressarcibilidade do dano moral não implica no reconhecimento de todo e qualquer

melindre, toda susceptibilidade exarcebada, toda exaltação do amor-próprio,

pretensamente ferido, a mais suave sombra, o mais ligeiro roçar de asas de uma

borboleta, mimos, escrúpulos, delicadezas excessivas, ilusões insignificantes desfeitas

possibilitem sejam extraídas da caixa de Pandorra do Direito, centenas de milhares de

cruzeiros”. (Tratado de Direito Civil, 1985, 3/637”.

No dizer de PONTES DE MIRANDA, “se não teve gravidade o dano, não há se

pensar em indenização. De minimis non curta praetor” (Tratado de Direito Privado, 3ª

ed., 26/35”.

Está claro, pois, que o fato de Ter acontecido pagamento a menor a título de seguro

DPVAT, não configura dano moral que mereça ser indenizado.

Não pode deixar de ser mencionado e criticado também o fato de o autor Ter

postulado, a título de indenização por dano moral coletivo, a condenação da requerida ao pagamento

da vultuosa quantia de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), sem qualquer base, até porque o órgão

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidorministerial sequer sabe o número de pessoas que deixaram de receber a indenização integral do

seguro DPVAT da requerida, ou seja, o número de vítimas do suposto dano moral imputado à

requerida, o que, inclusive, foi tomado como parâmetro para o valor dado à causa.

Resulta, então, que somente merece acolhimento a pretensão do autor no sentido de

ser a requerida condenada ao pagamento das indenizações do seguro DPVAT no valor equivalente a

40 (quarenta) salários mínimos, para a cobertura com despesas de assistência médica e

suplementares, a partir do trânsito em julgado desta ação, cominando uma multa, em caso de

descumprimento, de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por cada consumidor/beneficiário lesado, sendo

totalmente improcedentes os demais pedidos.

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido apenas para condenar a ré ao

pagamento das indenizações do seguro DPVAT no valor equivalente a 40 (quarenta) salários

mínimos, para a cobertura por morte e invalidez permanente, 08 (oito) salários mínimos, para a

cobertura com despesas de assistência médica e suplementares, como previsto no art. 3ª da Lei nº

6.194/74, a partir do trânsito em julgado desta ação, cominando-lhe uma multa, em caso de

descumprimento, de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por cada consumidor/beneficiário lesado, que será

revertido em favor do Fundo Estadual de Defesa do Consumidor.

Deixo de condenar a ré ao pagamento de honorários advocatícios, por ser incabível

em ações desta natureza. Considerando que o Ministério Público autor obteve êxito em apensa um

dos vários pedidos formulados, o qual, porém, representa parte importante do pedido, e levando em

conta que o valor dado à causa foi irreal, sem qualquer embasamento legal e tomando como base

infudado pedido de indenização de danos morais, aplicando-se a eqüidade e buscando fazer justiça,

nos termos do art. 21, do Código de Processo Civil, condeno a requerida ao pagamento das custas

processuais, estas calculadas sob o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), deixando de

condenar o Ministério Público ao pagamento de sucumbência, por ser incabível à espécie.

Publique-se. Registre-se. Intime-se

Goiânia, 24 de março de 2004.

Carlos Alberto França

Juiz de Direito

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