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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE MORRINHOS O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO GOIÁS, por meio de seu representante legal, ao final assinado, vem a presença de Vossa Excelência, com arrimo nos artigos 37, § 4º, e 129, inciso III, da Constituição Federal; na Lei Federal n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa); e no art. 2º, inciso II, 3º, 5º caput, todos, da Lei Federal n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA com pedido de medida cautelar incidental em face de: OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, brasileiro, união estável, vereador do Município de Morrinhos, carteira de identidade nº 2187653 SSP/GO, CPF 361.107.281-87, residente e domiciliado na Av. D, nº 364, Vila Nunes, Morrinhos-GO; WELLINTON JOSÉ DE SOUZA, brasileiro, solteiro, vereador do Município de Morrinhos, carteira de identidade nº 371467 DGPC/GO, CPF 664.846.001-63,

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO GOIÁS · cÂndido, nubia aparecida ferreira, alex de souza soares, dorvilo GONÇALVES LEITE afirmam categoricamente que apesar de conhecerem algumas

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE

MORRINHOS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO GOIÁS, por meio de seu

representante legal, ao final assinado, vem a presença de Vossa Excelência, com

arrimo nos artigos 37, § 4º, e 129, inciso III, da Constituição Federal; na Lei Federal

n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa); e no art. 2º, inciso II, 3º, 5º caput,

todos, da Lei Federal n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

com pedido de medida cautelar incidental

em face de:

OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, brasileiro, união

estável, vereador do Município de Morrinhos, carteira de

identidade nº 2187653 SSP/GO, CPF 361.107.281-87,

residente e domiciliado na Av. D, nº 364, Vila Nunes,

Morrinhos-GO;

WELLINTON JOSÉ DE SOUZA, brasileiro, solteiro,

vereador do Município de Morrinhos, carteira de

identidade nº 371467 DGPC/GO, CPF 664.846.001-63,

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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residente e domiciliado na Av. Cel. Pedro Nunes n. 800,

Centro, Morrinhos-GO;

ADÃO ALVES DA SILVA, brasileiro, casado, motorista,

carteira de identidade nº 1717291 DGPC/GO, CPF

264.196.021-49, residente e domiciliado na Av. “B”, Qd.

“G”, lote 11, Vila Santos Dumont, 2ª etapa, Morrinhos-GO;

HIDILA RODRIGUES TELES, brasileira, solteira,

estudante, carteira de identidade nº 5788637 SSP/GO,

CPF 698.777.851-53, residente e domiciliada no Setor

Cristina Park, Morrinhos-GO;

SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS,

brasileira, casada, auxiliar administrativo, carteira de

identidade nº 5556854 SSP/GO, CPF 014.209.351-35,

residente e domiciliada na Rua VC 16, Quadra 22, lote

34, Setor Vera Cruz, Morrinhos-GO;

CARLA LAMOUNIER DO CARMO, brasileira, solteira,

auxiliar administrativo, carteira de identidade nº 4694617

DGPC/GO, CPF 009.930.981-50, residente e domiciliada

na Rua 24, n. 400, Setor São Francisco, Morrinhos-GO;

THALITA LASSARA QUEIROZ, brasileira, solteira,

estudante e vendedora, carteira de identidade nº 5993733

SSP/GO, CPF 040.771.151-16, residente e domiciliada na

Rua 09, Quadra “I”, lote 14, Vila Nova, Morrinhos-GO

pelos seguintes fundamentos fáticos e jurídicos:

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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I – DOS FATOS

A Promotoria de Justiça de Morrinhos recebeu exemplar do Jornal “É +

Notícias” relatando atos de improbidade administrativa consistentes na nomeação

de pessoal sem a respectiva contraprestação laboral na Câmara Municipal de

Morrinhos, ou seja, tais funcionários apenas constavam do quadro de servidores do

poder legislativo municipal, sem, contudo, prestarem serviço.

A bem da verdade, tratam-se de fatos graves, que contrariam o

ordenamento jurídico vigente, praticamente todos os princípios constitucionais

norteadores da conduta do Administrador Público e totalmente divorciado do

interesse público, com o fim único de satisfação de interesses pessoais. Uma

verdadeira farsa, dissimulação, para desviar dinheiro público.

Incontinenti, por meio da Portaria n. 001/2014, a 1ª Promotoria de Justiça

da Comarca de Morrinhos instaurou o competente Inquérito Civil Público, com vistas

à elucidação dos fatos tidos por ímprobos.

Consoante Ofício 017/2014, foi encaminhado à Câmara de Edis cópia do

jornal, bem como fora requisitado informações a respeito da denúncia de servidores

irregulares.

A Câmara de Vereadores, em resposta (fls. 31/33), refuta as acusações

do jornal, apontando que tais denúncias possuem caráter eleitoreiro e com o único

objetivo de denegrir a administração do Presidente (à época) do Poder Legislativo.

Ademais, pondera que as denúncias da existência de funcionários “fantasmas” não

são condizentes com a realidade dos fatos.

Por fim, detalha a situação dos servidores indigitados como “fantasmas”

conforme abaixo segue:

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Matrícula 396 – cargo: Assessor de Imprensa, nome ADÃO ALVES DA

SILVA, admitido em 06/03/2014 e exonerado em 01/09/2014 (doc. 01), funcionário

desviado de função, prestando os serviços de vigia diurno e eventualmente

motorista. Para comprovar a frequência do servidor a Câmara Municipal

encaminhou registro de frequência do servidor (fls.59/64)

Matrícula 396 – cargo: Assessor de Comunicação, nome: CARLA

LAMOUNIER DO CARMO, admitida em 02/03/2014 e exonerada em 01/09/2014,

funcionária dispensada da comprovação da frequência, prestando serviços atinentes

a área da comunicação diariamente através do envio de matérias, a serem postadas

no sítio da Câmara, envio de fotos e assuntos correlatos ao setor de comunicação,

estando em contato direto com o setor de TI da Câmara. Para comprovar a

existência de contraprestação laboral, a entidade enviou matérias feitas pela

servidora (fls. 43/44).

Matrícula 396 – cargo: Chefe do Gabinete do Vereador Wellinton José de

Souza; HIDILA RODRIGUES TELES, admitida em 02/04/2014 e exonerada em

01/10/2014. Para comprovar a jornada laboral, a Câmara Municipal enviou registro

de frequência acostada às fls. 54/58.

Matrícula 395 – Cargo: Assessor Técnico Parlamentar do Presidente;

nome: THALITA LASSARA QUEIROZ, admitida em 05/03/2014 e exonerada em

01/09/2014. Para comprovar a jornada laboral, a Câmara Municipal enviou registro

de frequência acostada às fls. 65/70.

Matrícula 416 - cargo: Assessora de Gabinete II; nome: SHIRLAYNE DE

FÁTIMA TOBIAS, admitida em 01/07/2014 e exonerada em 01/08/2014. Para

comprovar a jornada laboral, a Câmara Municipal enviou registro de frequência

acostada às fl.71.

No Inquérito Civil Público que embasa essa proemial, foi ouvido

primeiramente o Sr. JOSÉ ANTÔNIO MANGINI, proprietário do Jornal “É + Notícias”

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que, em síntese, afirmou: “que vem acompanhando o Portal da Transparência e

olhando a Folha de Pagamento percebeu que tinha várias pessoas que não

trabalhavam na Câmara, principalmente pessoas ligadas a área de comunicação,

que passava por lá umas duas vezes por mês e ia na área de comunicação para ver

se tinha matéria para publicação; que no setor de Comunicação, apenas encontrava

com ADDA; que perguntava para as secretárias da Presidência a respeito dos

servidores relacionados e sempre respondiam que não conheciam; Que perguntou

para ADDA se além dela existia outra pessoa que trabalhava na Comunicação,

tendo a resposta que não”.

Igualmente, também foi ouvida (fls.25/26) ADDA EMILY VIEIRA, ocupante do

cargo de Assessora de Comunicação e Diretora de Comunicação e Imprensa na

Câmara Municipal de Morrinhos, no período de 01/02/2013 até 31/07/2014 que, em

suma, aduz: “ que no período em que laborou no Poder Legislativo Municipal pode

afirmar que as pessoas apontadas como “servidores fantasmas” jamais trabalharam

na Casa Legislativa. “

A respeito dos fatos os vereadores, PAULO ROBERTO DE MORAIS

CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX DE SOUZA SOARES, DORVILO

GONÇALVES LEITE afirmam categoricamente que apesar de conhecerem algumas

das pessoas apontadas como “servidores fantasmas” nunca as viram prestando

serviços na Câmara Municipal no lapso temporal apontado. O vereador PAULO

ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO pontua inclusive que “(...) a Câmara não possui

muitos servidores e se “os fantasmas” estivessem dando expediente regular o

Declarante teria percebido(...)”.

Às fls. 115/116 foi procedida a oitiva da funcionária MARCELINA MENEZES

DOS SANTOS BORGES, que é responsável por elaborar a folha de pagamento dos

servidores da Câmara de Vereadores, sobre os fatos, ponderou, em síntese, que

elabora os decretos de nomeação e exoneração por ordem da Presidência e da

Mesa Diretora. Ressalta, também, que nunca viu nenhum desses funcionários

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efetivamente trabalhando na Câmara Municipal, sendo que eventualmente só eram

vistos no dia do pagamento.

Determinada a notificação do Presidente da Câmara (à época), o Sr.

OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, este informou, em apertada síntese, que as

pessoas apontadas como “fantasmas” estavam efetivamente prestando serviços à

Câmara, sendo que CARLA trabalhava na área de comunicação; Adão laborava

como vigia dos carros; THALITA era assessora do Declarante (OBERDAM);

SHIRLAYNE foi nomeada por um mês para auxiliar na Câmara como Assessora de

Gabinete e, por fim, sobre HIDILA apontou que ela estava à disposição do Vereador

TOM.

Às fls. 129/130 foi procedida a oitiva do Vereador Wellinton José de Sousa

(TOM) que aduziu, em suma, que já viu essas pessoas na Câmara, mas não soube

informar em qual departamento ou seção elas laboravam. Ademais, sobre HIDILA,

informou que ficava sobre sua supervisão direta, tendo sido por ele indicada,

apontou que ela foi sua assessora por 05 (meses) e que seu expediente era das

08:00 às 11:00; afirmou que ela assinava frequência por semana. Ademais, pondera

que namora com a mãe de HIDILA há aproximadamente 07 meses.

Dessa forma, ao teor de tudo que foi narrado e acostado aos autos do

Inquérito Civil Público. A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Morrinhos verifica

o envolvimento das pessoas OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, WELLINTON

JOSÉ DE SOUSA (TOM), ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA LAMOUNIER DO

CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA QUEIROZ e

SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS em atos de Improbidade

Administrativa tipificados na Lei nº 8.429/92, conforme individualização das condutas

que se verá adiante.

2. DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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A Ação Civil Pública, ex vi do disposto no artigo 1º da Lei n.º 7.347/85,

como fator de mobilização social, é a via processual adequada para impedir a

ocorrência ou reprimir danos ao patrimônio público, meio ambiente, ao consumidor,

a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico,

protegendo, assim, os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos da

sociedade, sendo que, diante de sua importância, mereceu assento constitucional,

como se extrai do art. 129, inciso III da Constituição da República Federativa do

Brasil.

A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial como,

também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas restabelecer a

legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade administrativa a par de ver

observados os princípios gerais da administração.

Não restam dúvidas de que o patrimônio público é um interesse de

dimensão difusa, o que autoriza sua tutela processual por meio da ação civil pública.

Nesse diapasão, caracteriza-se a tutela do patrimônio público, inclusive na dimensão

da moralidade administrativa, como um interesse meta individual de natureza difusa,

sendo o Ministério Público parte legítima para aforar ação de improbidade com a

finalidade de punir os agentes ímprobos que violam os princípios da Administração

Pública.

Neste sentido, tem-se que a Carta Magna confere esta atribuição ao

Parquet:

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente

e de outros interesses difusos e coletivos”.

Em consonância com essa orientação, a Lei Orgânica do Ministério

Público – Lei federal n.º 8.625/93 – assim estatui:

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“Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições

Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis,

incumbe, ainda, ao Ministério Público:

IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na

forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos

causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e

individuais indisponíveis e homogêneos;

b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos

lesivos ao patrimônio público ou à moralidade

administrativa do Estado ou de Município, de suas

administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades

privadas de que participem.

A Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis nos casos de

prática de atos de improbidade administrativa estabelece a legitimidade ativa do

Ministério Público:

“Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será

proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica

interessada, dentro de 30 (trinta) dias da efetivação da

medida cautelar”.

A remansosa jurisprudência da Corte Superior Federal culminou na

edição da Súmula 329, assim redigida:

“O Ministério Público tem legitimidade para propor ação

civil pública em defesa do patrimônio público”.

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Patente, portanto, que o Ministério Público é parte legítima para aforar

ação civil pública em defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa.

3. DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Prefacialmente, oportuno trazer à colação a lição de José Afonso da Silva,

para quem “a improbidade administrativa é uma imoralidade qualificada pelo dano

ao erário e correspondente vantagem ao ímprobo ou a outrem (...)”

Nessa mesma senda, Flávia Cristina Moura de Andrade, detalhe a

improbidade administrativa como sendo “ato de imoralidade qualificada pela lei que

importa em enriquecimento ilícito do agente, prejuízo ao erário e/ou violação dos

princípios da administração pública, e que enseja, em processo judicial promovido

pela pessoa jurídica lesada ou pelo Ministério Público a aplicação das seguintes

sanções: suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade

dos bens, ressarcimento ao erário, perda de bens e valores acrescidos ilicitamente,

multa civil e proibição de contratar com a administração pública ou dela receber

benefícios”.

Do princípio da legalidade e da moralidade decorre, também, o princípio

da probidade administrativa, que tem o seguinte sentido, conforme lição de Wallace

Paiva Martins Júnior:

A adoção do princípio da probidade administrativa no

ordenamento jurídico valoriza a implementação prática do

princípio da moralidade administrativa, conferindo à

Nação, ao Estado, ao povo, enfim, um direito público

subjetivo a uma Administração Pública proba e honesta (e

a ter agentes públicos com essas mesmas qualidades),

através de meios e instrumentos preventivos e

repressivos (ou sancionadores) da improbidade

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administrativa. O princípio da probidade administrativa

colabora para o direito administrativo na diminuição da

insindicabilidade do ato administrativo discricionário, para

o estabelecimento de uma Administração Pública mais

eficiente, na medida em que se dirige à consecução da

noção de bem e melhor administrar (da escolha dos

meios mais adequados, coerentes e proporcionais para a

satisfação de seus fins e alcance do interesse público).”

(Probidade Administrativa. 2ª ed., págs. 100/101).

A Lei de Improbidade Administrativa prevê hipóteses de comportamentos,

definindo-os como atos de improbidade administrativa, cuja incidência determina

sanções civis e/ou políticas aos agentes públicos faltosos e aos terceiros

beneficiários do ato ímprobo, independente da responsabilidade penal e

administrativa do sujeito ativo.

Conforme a adequação legal, em síntese, os atos que caracterizam

improbidade administrativa, segundo os efeitos resultantes, podem ser classificados

em três categorias diversas: a) atos de improbidade administrativa que importam

enriquecimento ilícito (art. 9º); b) atos de improbidade administrativa que causam

prejuízo ao erário (art. 10); e c) atos de improbidade administrativa que atentam

contra os princípios da administração pública (art. 11).

No caso concreto restou patente a violação do bem jurídico patrimônio

público por parte dos requeridos, sendo que OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e

WELLINTON JOSÉ DE SOUSA (TOM) amoldaram suas atitudes aos preceitos

previstos nos artigos 10 e 11 da Lei n. 8429/92, ao passo que ADÃO ALVES DA

SILVA, CARLA LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA

LASSARA QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS

amoldaram suas condutas ao art. 9º da Lei n. 8429/92, conforme os fortes

elementos indiciários até aqui produzidos e que serão a partir de agora descritos e

individualizados de acordo com a participação de cada uma das pessoas apontadas.

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DAS MODALIDADES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PRATICADAS

DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE IMPORTAM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

(art. 9º, da Lei n. 8.429/92).

A Constituição Federal impõe a todas as pessoas que compõem a

administração pública a submissão aos “princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” (CF, art. 37, caput).

Na espécie, os requeridos ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA

LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA

QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS, praticaram ato de

improbidade administrativa que importa em enriquecimento ilícito (art. 9º, caput, da

Lei de Improbidade Administrativa):

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de

vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de

cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas

entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e

notadamente:

Em tese, a remuneração representa vantagem patrimonial devida ao

servidor público, sendo lícito seu recebimento em razão da efetiva contraprestação

laboral de acordo com as atribuições inerentes ao cargo exercido e desde que

devidamente amparada pela legislação respectiva.

De modo diverso, a remuneração passa a ser indevida toda vez que não

amparada em lei, como no caso em análise, onde ocorreu uma verdadeira farsa,

dissimulação na ocupação de cargo público, tendo em vista que os servidores

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nominados não obstante tenham sido nomeados para desempenharem suas

atribuições na Câmara Municipal de Morrinhos, nunca efetivamente

desempenharam nenhum serviço.

Nas sempre precisas lições de George Sarmento:

“(...) o significado de enriquecimento ilícito, à luz da Lei n.º

8.429/92, não está ligado única e exclusivamente à

constituição de fortuna pessoal mediante abuso de cargo

público, mas à percepção de toda e qualquer vantagem

financeira indevida decorrente da manipulação dolosa da

autoridade que a função confere ao agente do Estado.

Por mais aviltantes que sejam os vencimentos, o

funcionário não pode afastar-se dos princípios da

legalidade e da moralidade para obter ganhos pessoais,

sob pena de incorrer em improbidade administrativa. Além

disso, é a porta aberta para atos de corrupção mais

graves.” (Improbidade Administrativa, Ed. Síntese, 2002)

(grifos nossos)

Na literatura de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves tem-se que:

Como derivação lógica e consequência inevitável dos

atos de corrupção, tem-se o enriquecimento ilícito, sendo

aquela o principal meio de implementação deste. Em

geral, o enriquecimento ilícito é o resultado de uma ação

ou omissão que possibilite o agente público auferir uma

vantagem não prevista em lei.” (in “Improbidade

Administrativa”, Emerson Garcia e Rogério Pacheco

Alves, Editora Lumen Juris – 2002, fl. 190).

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Discorrendo sobre o dever de probidade, Diógenes Gasparini pondera

que:

“Esse dever impõe ao agente público o desempenho de

suas atribuições sob pautas que indicam atitudes retas,

leais, justas, honestas, notas marcantes da integridade do

caráter do homem. É nesse sentido, do reto, do leal, do

justo e do honesto que deve orientar o desempenho do

cargo, função ou emprego junto ao Estado ou entidade

por ele criada, sob pena de ilegitimidade de suas ações.”

(Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995,

p. 51)

Sobre a improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito e

seus elementos caracterizadores, assim ensinam Emerson Garcia e Rogério

Pacheco Alves, verbis:

“Na dicção do art. 9º, caput, da Lei n. 8.429/92, importa

em enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de

vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de

cargo, de mandato, função, emprego ou atividade nas

entidades mencionadas no art. 1º. A análise desse

preceito legal permite concluir que, afora o elemento

volitivo do agente, o qual deve ser necessariamente se

consubstanciar no dolo, são quatros os elementos

formadores do enriquecimento ilícito sob a ótica da

improbidade administrativa: a) o enriquecimento do

agente; b) que se trate de agente que ocupe cargo,

mandato, função, emprego ou atividade nas entidades

elencadas no art. 1º, ou mesmo o extraneus que concorra

para a prática do ato ou dele se beneficie (arts. 3º e 6º); c)

ausência de justa causa, devendo se tratar de vantagem

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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indevida, sem qualquer correspondência com os

subsídios ou vencimentos recebidos pelo agente público;

d) relação de causalidade entre a vantagem indevida e o

exercício do cargo, pois a lei não deixa margem a dúvidas

ao falar em ‘vantagem patrimonial indevida em razão de

cargo...” (Improbidade Administrativa, 2ª ed., pág. 270).

Na confluência das acertadas lições dos eméritos doutrinadores, estão

preenchidos, no presente caso, todos os requisitos caracterizadores do ato de

improbidade que importe enriquecimento ilícito, a) dolo; b) enriquecimento dos

agentes; c) agentes que ocupem cargo; e d) ausência de justa causa; e)

relação de causalidade entre a vantagem indevida e o exercício do cargo.

DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONTUDAS DOS REQUERIDOS

DA CONDUTA DO REQUERIDO ADÃO ALVES DA SILVA

Conforme se depreende dos autos, ADÃO ALVES DA SILVA foi nomeado

para exercer o cargo de ASSESSOR DE IMPRENSA, nível 2, Grau CA4, do Quadro

de Funcionários da Câmara Municipal de Morrinhos.

Não obstante a referida nomeação, o certo é que ADÃO nunca prestou

serviços à Câmara Municipal. Notificado a prestar depoimento perante a 1ª

Promotoria de Morrinhos, ADÃO informou (fls.83/84), em resumo, que teve a

indicação dos Vereadores OBERDAM e WELINGTON DIAS para exercer o cargo,

cujo nome não sabe, mas que sua função era “olhar os carros”. Discorreu, também,

que não assinava ponto, mas que fazia em média 08 horas de serviço.

Sobre os fatos, o vereador WELINGTON DIAS pontuou (fls. 127/128) que

nunca viu o Sr. ADÃO prestando serviços no Poder Legislativo Municipal,

informando que ADÃO era subordinado ao vereador OBERDAM, sendo que apenas

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viu algumas vezes ADÃO na Presidência à disposição de OBERDAM, mas não

efetivamente prestando um serviço à Câmara.

O Senhor ex-presidente da Câmara de Vereadores, OBERDAM

MENDONÇA CARVALHO, aduz (fls.131/132) que conhece ADÃO há muitos anos e

que a atribuição de ADÃO seria de vigiar os carros nas proximidades da Câmara de

Vereadores.

Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,

responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,

perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, acentua que só tinha contato com

o Sr. ADÃO na época do pagamento. Sobre as atribuições de ADÃO, diz que nunca

o viu trabalhando na assessoria de comunicação e que não sabia que fora nomeado

para “olhar” os veículos que estacionassem nas intermediações da Câmara. Por fim,

diz que a Câmara possui 04 (quatro) servidores efetivos ocupantes do Cargo de

Vigilante.

Com efeito, os vereadores PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO,

NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX DE SOUZA SOARES, DORVILO

GONÇALVES LEITE informam, em som uníssono, que o indigitado “servidor

fantasma” nunca fora visto prestando qualquer tipo de serviço para Câmara

Municipal, tendo sido observado apenas nas proximidades físicas da sede do Poder

Legislativo Local.

Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil

Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que ADÃO ALVES DA SILVA

nunca trabalhou efetivamente para Câmara Municipal de Morrinhos, não obstante

tenha recebido do erário a importância de R$ 21.239,66 (vinte e um mil reais,

duzentos e trinta e nove reais e sessenta e seis centavos), referente ao período de

Março de 2014 à Setembro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fls.

213 do presente ICP.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

16

A propósito, preceitua a Lei Municipal n. 1042/91,que institui o Regime

Jurídico Único e o Estatuto dos Servidores Públicos de Morrinhos:

Art. 19. Exercício é o efetivo desempenho das funções do

cargo

§1º É de 30 (trinta) dias o prazo para o servidor entrar em

exercício, contados da data da posse.

§2º Será exonerado o servidor que não entrar em

exercício no prazo previsto no parágrafo anterior.

Acerca dos deveres e proibições do servidor público municipal de Morrinhos,

a referida Lei ainda estatui que:

Art. 166. São deveres do servidor:

I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;

IX - manter conduta compatível com a moralidade

administrativa;

X - ser assíduo e pontual ao serviço;

Art. 167. Ao servidor é proibido:

I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem

prévia autorização do chefe imediato;

XVII - exercer quaisquer atividades que sejam

incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com

o horário de trabalho.

A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência do servidor ADÃO

ALVES DA SILVA (fls.59/64), ocorre que, de uma análise perfunctória, é possível

observar que tais registros não merecem nenhuma credibilidade, podendo-se notar,

de plano, que o servidor não cumpriu com os deveres e proibições inerentes a

qualquer servidor público do Município de Morrinhos.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

17

Primeiramente, por registrarem horários uniformes que são impossíveis de

ocorrerem na prática, entendimento inclusive remansoso no Tribunal Superior do

Trabalho e plasmado na Súmula 338 da Jurisprudência do e. Tribunal Laboral, que

considera inválido como meio de prova cartões de ponto que demonstrem horários

de entrada e saída uniformes. A par desse diálogo de fontes, ressalta-se que o

próprio ADÃO , às fls.83/84, informou que não registrava ponto.

É importante frisar que a Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa

Municipal, RITA DE CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que

acha que as folhas de frequência foram “fabricadas”, até porque alguns “fantasmas”

assinariam livro de frequência e não folhas. Que a Declarante não chegou a

questionar a respeito do encaminhamento das folhas originais para o Ministério

Público porque já sabia que os fatos ali não eram verdadeiros, inclusive nesta

oportunidade verificou que tem folha de frequência passado corretivo nos dias de

sábados e domingos e tudo com a mesma canete (sic)”.

Por fim, com vistas a retirar qualquer legitimidade, verifica-se o registro de

frequência do servidor em dias não úteis, ou seja, em dias de feriados. Vejamos

A Lei Municipal de Morrinhos n. 2.914/09 cria os feriados municipais e

menciona as datas comemorativas, na forma específica:

O PREFEITO MUNICIPAL DE MORRINHOS

Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu

sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Fica criado o seguinte feriado civil e religioso no

Município de Morrinhos:

I – 16 de julho, dia de Nossa Senhora do Carmo e

Fundação da cidade de Morrinhos.

Art. 2º Fica criado o seguinte feriado civil no Município de

Morrinhos:

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

18

I – 29 de agosto, dia da Emancipação Política do

Município de Morrinhos.

Ocorre que, compulsando o caderno processual, notadamente, à folha 63, é

possível constatar a assinalação de frequência no dia 16 de julho, feriado local, dia

de Nossa Senhora do Carmo. Além do mais, é possível observar a presença de tais

incongruências na data de 19/06/2014, feriado de Corpus-Christi, em que não

obstante o feriado nacional e ausência de expediente houve o apontamento de

registro de frequência.

Assim agindo, ADÃO ALVES DA SILVA incorreu nas sanções previstas no

inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de improbidade que

causou enriquecimento ilícito ao agente.

DA CONDUTA DA REQUERIDA HIDILA RODRIGUES TELES

Conforme se depreende dos autos, HIDILA RODRIGUES TELES foi nomeada

para exercer o cargo de provimento em comissão de CHEFE DE GABINETE do

Vereador WELLINTON JOSÉ DE SOUZA, nível 2, Grau CA, constante da Lei n.

2.996, de 20 de setembro de 2013.

Não obstante a referida nomeação, o certo é que HIDILA nunca prestou

serviços à Câmara Municipal. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª

Promotoria de Morrinhos, HIDILA informou (fls.90/91), em síntese, que reside em

Morrinhos a quase 02 (dois) meses, que antes residia em Hidrolândia-GO, afirma

que foi indicada pelo Vereador TOM, uma vez que sua mãe mantém um

relacionamento amoroso com ele. Sobre a jornada de trabalho HIDILA aduz que

iniciava sua jornada por volta das 07:30, 08:30 e saia por volta de 11:00, 11:30, que

assinava folha de ponto de acordo com as determinações do vereador TOM e que

não assinava nada para Câmara que apenas pegava o cheque com seu salário.

Sobre os fatos, o vereador WELLINGTON JOSÉ DE SOUZA (TOM) pontuou

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

19

(fls. 129/130), em apertada sinopse, que HIDILA foi sua assessora durante 05

(cinco) meses, sendo que seu expediente era das 08:00 às 11:00 e que,

eventualmente, ia no período vespertino, sobre a frequência informou que era

assinada semanalmente pela servidora e que nos meses em que HIDILA laborou na

Câmara pegou uma vez o cheque para ela assinar.

Sobre HIDILA, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr.

OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que não sabe dizer se

HIDILA estava trabalhando uma vez que ela estava à disposição do Vereador TOM

e que soube que ela residia em Hidrolândia-GO apenas após a divulgação da

matéria no jornal “É + Notícias”

Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,

responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,

perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, acentua que nunca viu HIDILA

trabalhando na Câmara, apenas notava sua presença nos dias de efetuar o

pagamento dos servidores. Por fim, afirma que já ocorreu de o Vereador TOM levar

cheques para o Gabinete, onde HIDILA iria assinar a folha de pagamento e

competente recebimento do cheque, quitando a folha.

Sobre a efetiva prestação de serviços por parte de HIDILA os vereadores

PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX

DE SOUZA SOARES, DORVILO GONÇALVES LEITE informam, em único tom, que

a indigitada “servidora fantasma” nunca fora vista prestando qualquer tipo de serviço

para Câmara Legislativa Local, tendo apenas conhecimento da existência dela na

condição de enteada do vereador WELLINTON JOSÉ DE SOUZA.

Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil

Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que HIDILA RODRIGUES

TELES nunca trabalhou efetivamente para Câmara Municipal de Morrinhos, não

obstante tenha recebido do erário a importância de R$ 20.488,29 (vinte mil,

quatrocentos e oitenta e oito reais e vinte e nove reais), referente ao período de

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

20

Março de 2014 à Outubro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fl. 213

do presente ICP.

Acerca dos deveres e proibições do servidor público municipal de Morrinhos,

a referida Lei ainda estatui que

Art. 166. São deveres do servidor:

I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;

IX - manter conduta compatível com a moralidade

administrativa;

X - ser assíduo e pontual ao serviço;

Art. 167. Ao servidor é proibido:

I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem

prévia autorização do chefe imediato;

XVII - exercer quaisquer atividades que sejam

incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com

o horário de trabalho.

A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência da servidora

HIDILA RODRIGUES TELES (fls.54/58), ocorre que, de uma análise perfunctória, é

possível observar que tais registros não merecem credibilidade, podendo-se notar,

de plano, que a servidora não cumpriu com os deveres e proibições inerentes a

qualquer servidor público do Município de Morrinhos. Vejamos:

Primeiramente, por registrarem horários uniformes que são impossíveis de

ocorrem na prática, entendimento inclusive remansoso no Tribunal Superior do

Trabalho e plasmado na Súmula 338 do e. Tribunal Laboral que considera como

inválido como meio de prova cartões de ponto que demonstrem horários de entrada

e saída uniformes. A par desse diálogo de fontes, ressalta-se que a própria HIDILA

e o vereador TOM informaram que o horário de serviço da servidora seria das 8:00

às 11:00, todavia os registros de ponto, mostram que ela teria prestado serviço,

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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infalivelmente, com horário de entrada às 07:00 e saída às 17:00, o que contradiz a

versão apresentada pelos declarantes.

Ainda, a Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA DE

CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que acha que as folhas

de frequência foram “fabricadas”, até porque alguns “fantasmas” assinariam livro de

frequência e não folhas. Que a Declarante não chegou a questionar a respeito do

encaminhamento das folhas originais para o Ministério Público porque já sabia que

os fatos ali não eram verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem

folha de frequência passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a

mesma canete (sic)”.

Por fim, com vistas a retirar qualquer legitimidade das folhas acostadas aos

autos, verifica-se o registro de frequência da servidora em dias não úteis, ou seja,

em dias de feriados. Vejamos

A Lei Municipal de Morrinhos n. 2.914/09 cria os feriados municipais e

menciona as datas comemorativas. Ocorre que, compulsando o caderno processual,

notadamente, na folha 57 é possível constatar a assinalação de frequência no dia 16

de julho, feriado local, dia de Dia da Emancipação Política do Município de

Morrinhos. Além do mais é possível constatar a presença de tais incongruências nas

datas de 18/04/2014 e 21/04/2014, feriados, respectivamente, Paixão de Cristo e

Tiradentes, em que não obstante os feriados nacionais e ausência de expediente

houve o apontamento de registro de frequência. Ademais, não foi acostada a

frequência referente ao mês de julho de 2014.

Assim agindo, HIDILA RODRIGUES TELES incorreu nas sanções previstas

no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de improbidade que

causou enriquecimento ilícito ao agente.

DA CONDUTA DA REQUERIDA THALITA LASSARA QUEIROZ

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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Conforme se depreende dos autos, THALITA LASSARA QUEIROZ foi

nomeada para exercer o cargo de provimento em comissão de ASSESSOR

TÉCNICO PARLAMENTAR do Vereador OBERDAM MENDONÇA CARVALHO,

nível 2, Grau CG3, constante da Lei n. 2996, de 20 de setembro de 2013.

Não obstante a referida nomeação, o certo é que THALITA nunca prestou

serviços à Câmara Municipal. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª

Promotoria de Morrinhos, THALITA informou (fls.96/97), em resumo, que foi indicada

e nomeada pelo Vereador para exercer o cargo que não se recorda o nome, mas

que fazia de tudo um pouco. Em seu depoimento, THALITA ressalta que só aceitou

o cargo tendo em vista que não precisava ir à Câmara, sendo que ia apenas aos

fianais de semana para assinar a folha de ponto. Afirma que teve um relacionamento

amoroso com o vereador OBERDAM há aproximadamente 08 anos e que depois da

notícia da existência de “servidores fantasmas” na Câmara Municipal foi exonerada,

mas que não sabe por qual motivo.

Sobre THALITA, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr. OBERDAM

MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que ela era sua assessora e que

tinha dia que ela trabalhava e dia que ela não trabalhava, sendo que nos dias em

que ela trabalhava, dava expediente em seu gabinete, no mais, afirmou que o

trabalho da servidora realizava-se mais de forma externa à Câmara Municipal.

A servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES, responsável

pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116, perante a 1º

Promotoria de Justiça de Morrinhos, aponta que nunca viu THALITA trabalhando na

Câmara, afirma que viu a servidora apenas uma ou duas vezes no gabinete no

Vereador OBERDAM e nos dias de pagamento.

Sobre a efetiva prestação de serviços por parte de THALITA os vereadores

PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX

DE SOUZA SOARES, DORVILO GONÇALVES LEITE informam, homogeneamente,

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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que a indigitada “servidora fantasma” nunca fora visto prestando qualquer tipo de

serviço para Câmara Municipal de Morrinhos.

Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil

Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que THALITA LASSARA

QUEIROZ nunca trabalhou efetivamente para Câmara Municipal de Morrinhos, não

obstante tenha recebido do erário a importância de R$ 11.912,48 (Onze mil,

novecentos e doze reais e quarenta e oito centavos), referente ao período de Março

de 2014 à Setembro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fl. 213 do

presente ICP.

Acerca dos deveres e proibições do servidor público municipal de Morrinhos,

a referida Lei ainda estatui que

Art. 166. São deveres do servidor:

I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;

IX - manter conduta compatível com a moralidade

administrativa;

X - ser assíduo e pontual ao serviço;

Art. 167. Ao servidor é proibido:

I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem

prévia autorização do chefe imediato;

XVII - exercer quaisquer atividades que sejam

incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com

o horário de trabalho.

A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência da servidora

THALITA LASSARA QUEIROZ (fls.65/70), ocorre que, de uma análise superficial, é

possível observar que tais registros não merecem credibilidade, podendo-se notar,

de plano, que a servidora não cumpriu com os deveres e proibições inerentes a

qualquer servidor público do Município de Morrinhos. Vejamos:

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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Primeiramente, por registrarem horários uniformes que são impossíveis de

ocorrem na prática, entendimento inclusive remansoso no Tribunal Superior do

Trabalho e plasmado na Súmula 338 que considera como inválido como meio de

prova cartões de ponto que demonstrem horários de entrada e saída uniformes. A

par desse diálogo de fontes, ressalta-se que a própria THALITA informou em seu

depoimento perante a 1ª Promotoria de Justiça que só aceitou o cargo de

provimento em comissão, posto que não precisava comparecer à Câmara, indo

apenas aos finais de Semana. Ademais, o seu superior hierárquico, o vereador

OBERDAM, informou que tinha dias em que ela não trabalhava. Sendo assim, a

presença de folhas de ponto que demonstram que ela teria prestado serviço,

infalivelmente, com horário de entrada às 07:30 e saída às 17:00, contradiz,

sobremaneira, as provas e depoimentos carreados aos autos.

A Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA DE CÁSSIA

BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que acha que as folhas de

frequência foram “fabricadas”, até porque alguns “fantasmas” assinariam livro de

frequência e não folhas. Que a Declarante não chegou a questionar a respeito do

encaminhamento das folhas originais para o Ministério Público porque já sabia que

os fatos ali não eram verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem

folha de frequência passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a

mesma canete (sic)”.

Por fim, com vistas a retirar qualquer legitimidade das folhas acostadas aos

autos, verifica-se o registro de frequência da servidora em dias não úteis, ou seja,

em dias de feriados. Vejamos

A Lei Municipal de Morrinhos n. 2.914/09 cria os feriados municipais e

menciona as datas comemorativas. Ocorre que, compulsando o caderno processual,

notadamente, à folha 57 é possível constatar a assinalação de frequência no dia 16

de julho, feriado local, dia de Dia da Emancipação Política do Município de

Morrinhos.

Page 25: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO GOIÁS · cÂndido, nubia aparecida ferreira, alex de souza soares, dorvilo GONÇALVES LEITE afirmam categoricamente que apesar de conhecerem algumas

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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Assim agindo, THALITA LASSARA QUEIROZ incorreu nas sanções

previstas no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de

improbidade que causou enriquecimento ilícito a agente.

DA CONDUTA DA REQUERIDA SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS

Conforme se depreende dos autos, SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS

DOS SANTOS foi nomeada para exercer o cargo de provimento em comissão de

ASSESSOR DE GABINETE II do Vereador OBERDAM MENDONÇA CARVALHO,

nível 1, Grau CG1, constante da Lei n.3.034, de 21 de Março de 2014.

Não obstante a referida nomeação, o certo é que SHIRLAYNE não

prestou serviços à Câmara Municipal entre o período de 1º de Julho de 2014 a 1º de

Agosto de 2014. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª Promotoria de

Morrinhos, SHIRLAYNE informou (fls.92/93), em síntese, que a declarante

trabalhava na Câmara, mas após descobrir que estava grávida pediu exoneração,

informa que seu filho nasceu em 20/06/2014 e que depois desta data não trabalhou

mais na Câmara Municipal. Interessante ressaltar, que a “servidora fantasma” não

se lembra de ter assinado nenhuma folha de frequência referente ao mês de julho

de 2014 e que não haveria como exercer qualquer cargo na data em que fora

nomeada tendo em vista que teria apenas 10 (dias) que havia dado à luz a seu filho.

Por fim, explica que quando era servidora não havia a frequência em folhas avulsas,

mas sim, em livro destinado para tal fim, apesar disso reconhece com sua as

assinaturas apostas na folha de frequência de fl. 71.

Sobre SHIRLAYNE, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr.

OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que ela sempre foi sua

companheira política e que ela pediu para sair da Câmara em razão de sua gravidez

e que depois disso, na época do seu parto, solicitou para ser nomeada para ajudar

na Câmara.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,

responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,

perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, acentua que conhece a pessoa de

SHIRLAYNE, uma vez que ela exerceu a função de Chefe de Gabinete da

Presidência no ano de 2013 e efetivamente trabalhou na Câmara, com relação à

nomeação de SHIRLAYNE somente no mês de julho de 2014, a declarante pondera

que a servidora ligou para ela diversas vezes do hospital cobrando o pagamento

para que pudesse acertar os valores de seu parto. Por fim, afirma que o vereador

OBERDAM é muito amigo de SHIRLAYNE e da mãe dela que inclusive trabalhou na

Câmara Municipal de Morrinhos.

Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil

Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que SHIRLAYNE DE FÁTIMA

TOBIAS DOS SANTOS não prestou serviço no mês de julho como ela própria

afirmou em seu depoimento, não obstante tenha recebido do erário a importância de

R$ 1.129,66 (um mil, cento e vinte e nove reais, sessenta e seis centavos), referente

ao período de Julho de 2014 a Agosto de 2014, consoante memória de cálculo

acostada à fl. 213 do presente ICP.

Além do mais, o fato de ter dado a luz pouco menos de 10 (dias) da data de

sua nomeação gera uma presunção, praticamente, iure et iure, de impossibilidade

física para a prestação de atividades laborais, além, evidentemente, de se tratar de

mês que ocorre o recesso no Legislativo.

A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência da servidora

SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS (fls.54/58), ocorre que, a própria

servidora afirmou, categoricamente, que não prestou serviços durante o mês de

julho de 2014.

Na confluência das afirmações de SHIRLAYNE, a Procuradora Jurídica da

Câmara Legislativa Municipal, RITA DE CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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às fls. 205/206: “Que acha que as folhas de frequência foram “fabricadas”, até

porque alguns “fantasmas” assinariam livro de frequência e não folhas. Que a

Declarante não chegou a questionar a respeito do encaminhamento das folhas

originais para o Ministério Público porque já sabia que os fatos ali não eram

verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem folha de frequência

passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a mesma canete

(sic)”.

Assim agindo, SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS incorreu

nas sanções previstas no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato

de improbidade que causou enriquecimento ilícito ao agente.

DA CONDUTA DA REQUERIDA CARLA LAMOUNIER DO CARMO

Conforme se depreende dos autos, CARLA LAMOUNIER DO CARMO foi

nomeada para exercer o cargo de provimento em comissão de ASSESSOR DE

COMUNICAÇÃO TÉCNICO PARLAMENTAR do Vereador OBERDAM MENDONÇA

CARVALHOA, nível N2, Grau CA4, do Quadro de Funcionários da Câmara

Municipal de Morrinhos.

Não obstante a referida nomeação, o certo é que CARLA nunca prestou

serviços à Câmara Municipal. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª

Promotoria de Morrinhos, CARLA informou (fls.94/95), em resumo, que foi indicada

e nomeada pelo Vereador OBERDAM para exercer o cargo de Assessor de

Imprensa, mas não chegou a dar expediente na Câmara, que seu trabalho era sair

pelas ruas procurando melhorias para a Cidade de Morrinhos. Afirma que não

estava vinculada a nenhum departamento dentro da Câmara e que seu vínculo era

diretamente ao Vereador OBERDAM; Ademais, informa que nunca fez qualquer

trabalho de publicação no sítio da Câmara, que parte da internet era incumbência da

servidora ADDA. Por derradeiro, aduz que trabalha no supermecado CELEIRO

sendo que o serviço que presta ao Vereador ocorre apenas nos horários de folga do

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS

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supermecado.

Sobre CARLA, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr.

OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que ficou combinado de

a servidora trabalhar após as 17:00 horas, só que depois ele descobriu que ela não

estava trabalhando a noite, sendo que ela foi liberada da frequência e que o

acompanha no final de semana, nas obras e serviços. Pondera que ela não teve

nenhuma lotação e esteve a disposição do Declarante.

Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,

responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,

perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, aponta que nunca viu CARLA

trabalhando na Câmara, afirma que viu a servidora apenas uma vez no gabinete do

Vereador OBERDAM e nos dias de pagamento.

Sobre a efetiva prestação de serviços por parte de CARLA os vereadores

PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX

DE SOUZA SOARES, DORVILO GONÇALVES LEITE informam, em único tom, que

a indigitada “servidora fantasma” nunca fora vista prestando qualquer tipo de serviço

para Câmara Municipal de Morrinhos.

Às fls. 42/44 a Câmara Municipal de Morrinhos enviou matérias

constantes de seu sítio que teriam sido elaboradas por CARLA LAMOUNIER, sendo

tal autoria apontada por carimbo e assinatura da servidora nas cópias reprográficas.

Ocorre que, a própria CARLA, em seu depoimento, informou que nunca fez nenhum

trabalho de publicação no sítio da Câmara Municipal e que tal incumbência cabia a

servidora Adda.

Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil

Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que CARLA LAMOUNIER DO

CARMO nunca trabalhou, efetivamente, para Câmara Municipal de Morrinhos, não

obstante tenha recebido do erário a importância de R$ 11.560,26 (Onze mil,

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quinhentos e sessenta reais e vinte e seis centavos, referente ao período de Junho

de 2014 à Setembro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fl. 213 do

presente ICP.

Em ofício encaminhado pelo SUPERMECADO CELEIRO (fl.28), verifica-se

que CARLA labora no referido empreendimento desde 22 de julho de 2014, com

jornada de trabalho de segunda a sábado no horário das 13:40 às 22:00.

Nota-se, portanto, que é inaceitável a alegação de que Carla prestava

serviços aos finais de semana, sendo que aos sábados labora no SUPERMECADO

CELEIRO das 13:40 às 22:00.

Assim agindo, CARLA LAMOUNIER DO CARMO incorreu nas sanções

previstas no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de

improbidade que causou enriquecimento ilícito ao agente.

3 DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE CAUSAM LESÃO AO ERÁRIO (art. 10, da

Lei n. 8.429/92)

O caput do artigo 10 da Lei de improbidade Administrativa prescreve que

constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação

ou omissão, dolosa ou culposa que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,

malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no

artigo inaugural da Lei n° 8.429/92.

O inciso XII do mencionado artigo tipifica como ato de improbidade

administrativa que causa prejuízo ao erário “permitir, facilitar ou concorrer para que

terceiro se enriqueça ilicitamente”.

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Destarte, para que haja a subsunção na hipótese em tela, a conduta do

agente público, ainda que seja omissa, dolosa ou culposa, deverá acarretar

prejuízo para o erário, causando-lhe lesão.

Conduta dolosa ou culposa do agente, capaz de tipificar ato de

improbidade, narrado no artigo 10, é aquela que não se contenta apenas com a

vontade livre e consciente em realizar quaisquer condutas descritas,

responsabilizando-se, também, aquele que viola o dever prudência, tornando-se

imprudente e negligente com a coisa pública, lesando, via de consequência, o

erário público.

Na sempre pertinente lição de Wallace Paiva Martins Junior:

Para a lei, lesão ao erário é qualquer das condutas

explicitadas no art. 10, caput: perda, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação, por ação

ou omissão, dolosa ou culposa. A tônica central do art.

10 é fornecida pela compreensão da noção de perda

patrimonial, que é o efeito do ato comissivo ou omissivo

do agente, e expressa-se na redução ilícita de valores

patrimoniais. A ilicitude (aqui compreendida a

imoralidade) é traço essencial à lesividade. Esta é

corolário daquela por força de presunção legal absoluta,

que nada interfere na mensuração do dano. A análise da

lei mostra, sem sombra de dúvida, que o art. 10,

caput, conceitua o prejuízo patrimonial, enquanto seus

incisos indicam situações ilícitas em que a lesão é

elementar e decorrente indissociavelmente. Nesse artigo

cuida-se de hipóteses de atos lesivos ao patrimônio

público que, por obra do comportamento doloso ou

culposo do agente público, causaram bônus indevido ao

particular e impuseram ônus injusto ao erário,

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independentemente de o agente público obter

vantagem indevida.” (Probidade Administrativa, 2ª ed.,

pág. 238).

Os Requeridos OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON

JOSÉ DE SOUSA (TOM) incidiram, além do caput, na conduta descrita no inciso XII

do artigo 10 da Lei de Improbidade:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que

causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa

ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou

haveres das entidades referidas no artigo 1º desta Lei, e

notadamente:

[...]

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se

enriqueça ilicitamente;”

DA CONDUTA DE OBERDAM MENDONÇA CARVALHO

Conforme ficou assente no Inquérito Civil Público acostado aos autos,

OBERDAM MENDONÇA CARVALHO era presidente da Câmara Municipal de

Morrinhos, tendo exercido a presidência do Poder Legislativo Local durante o biênio

de 2013/2014.

Dessa forma, no exercício de suas atribuições, juntamente com os demais

membros da Mesa Diretora, nomeou as pessoas ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA

LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA

QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS para exercerem

cargo de provimento em comissão no Legislativo Municipal consoante decretos de

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nomeação acostados às fls. 216, 218, 220, 222, 224.

Ocorre que, conforme restou devidamente evidenciado as pessoas

indigitadas estavam sob a sua subordinação hierárquica e vinculadas aos seus

poderes de mando, sendo que nenhuma delas nunca prestou nenhum serviço no

Poder Legislativo de Morrinhos, verificando-se uma verdadeira fraude, desvio de

dinheiro público para atender interesses políticos e pessoais, por meio de

dissimulação em ocupação de cargo de provimento em comissão.

Nesse sentido, a Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA

DE CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “que alertou o

Presidente Oberdam quando assumiu para regularizar a frequência dos servidores,

que os comissionados de gabinete ficariam com os respectivos; e os que não

estivessem em gabinetes de vereadores assinariam em livros, além disso possui o

ponto digital para servidores efetivos”.

Em que pese a orientação jurídica da procuradora, ressai dos autos que o ex-

presidente OBERDAM não acatou a indicação feita, pelo contrário, permitiu que

CARLA LAMOUNIER fosse dispensada de assinar frequência, anuiu para que

THALITA LASSARA não desse expediente na Câmara Municipal.

Além das impropriedades quanto à frequência dos servidores, OBERDAM

ainda nomeou SHIRLAYNE por um mês, mais precisamente no mês de julho de

2014, para ocupar o cargo de ASSESSOR DE GABINETE II, atendendo a uma

solicitação dela para a nomeação no período próximo a seu parto para ajudar na

Câmara.

De forma dolosa, o Sr. OBERDAM nomeou SHIRLAYNE em 1º Julho de

2014, apenas 10 (dias) após ela ter dado a luz em uma maternidade. Ocorre que, o

exíguo tempo entre um procedimento cirúrgico tão complexo e a nomeação mostra

que a intenção do Sr. OBERDAM foi atender interesses diametralmente opostos ao

interesse público, posto que o fato de ter dado a luz pouco menos de 10 (dias) da

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data de sua nomeação gera uma presunção, praticamente, iure et iure, de

impossibilidade física para a prestação de atividades laborais.

Sobre CARLA LAMOUNIER, o ex-presidente OBERDAM ainda tinha ciência

de que ela laborava no Supermercado Celeiro, fato que, por si só, já a deixaria

incompatibilizada para exercer o seu cargo público tendo em vista a

incompatibilidade de horários entre um e outro, consoante ofício enviado pelo

Supermercado que informa a jornada de trabalho de CARLA, totalmente destoante

com as declarações de OBERDAM.

Por fim, o ex-presidente OBERDAM ainda permitia a permanência no

quadro de funcionários da Câmara Municipal de Morrinhos do Sr. ADÃO que

conforme demonstrado acima, nunca prestou efetivamente nenhum serviço à

Câmara de Vereadores.

Assim agindo, OBERDAM MENDONÇA CARVALHO incorreu nas sanções

previstas no inciso no artigo 12, II da Lei 8429/92, ante a prática de ato de

improbidade que causou um prejuízo ao erário de R$ 45.842,09 (quarenta e cinco

mil, oitocentos e quarenta e dois reais e nove centavos), consoante memória de

cálculo acostada à fl. 213, em razão da nomeação dos servidores ADÃO, THALITA,

SHIRLAYNE e CARLA.

DA CONDUTA DE WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM)

Conforme extraído do caderno processual, WELLINTON JOSÉ DE

SOUZA (TOM) é vereador da Câmara Municipal de Morrinhos e indicou para

nomeação HIDILA, a filha de sua namorada, para ser sua assessora e ficar sob sua

supervisão direta e hierárquica.

A par da discussão se tal caso caracterizaria ou não nepotismo, ressai

dos autos que HIDILA nunca prestou efetivamente nenhum serviço à Câmara

Municipal, tratando-se de uma verdadeira fraude, em desviar dinheiro público para

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atender interesse pessoal, por meio de dissimulação em ocupação de cargo de

provimento em comissão..

Ademais, em depoimento prestado em 28 de janeiro de 2015, no gabinete

da 1ª Promotoria de Justiça de Morrinhos, HIDILA afirmou que residia em Morrinhos

há quase 02 meses, e que antes morava com uma tia em HIDROLÂNDIA. Dessa

forma, verifica-se que durante o período em que era tida como funcionária da

Câmara Municipal de Morrinhos, HIDILA sequer residia em Morrinhos, o que

contradiz os depoimentos acostados aos autos.

Nesse sentido, o vereador TOM consentiu e permitiu que uma servidora

que não exercia qualquer serviço a Câmara integrasse os quadros de funcionários e

recebesse vantagem indevida, ante a ausência de contraprestação laboral.

Além do mais, não se mostra aceitável a ausência de tamanha

flexibilização de afazeres e de horários apontadas pelo Vereador ante o caráter

contraproducente de tais atos, notadamente, pelo fato de que no exercício da

Vereança o edil deve-se pautar pela consecução do interesse público, na medida

em que se deve respeito os princípios estatuídos pela Constituição da República,

em especial, o princípio da eficiência o qual se afigura inatingível com a situação

tolerada pelo digníssimo Vereador TOM.

Assim agindo, WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM) incorreu nas sanções

previstas no inciso no artigo 12, II da Lei 8429/92, ante a prática de ato de

improbidade que causou um prejuízo ao erário de R$ 20.488,29 (vinte mil,

quatrocentos e oitenta e oito reais e vinte e nove centavos), consoante memória de

cálculo acostada à fl. 213, em razão de permitir que a servidora HIDILA

RODRIGUES TELES recebesse vantagem indevida, ante a ausência de

contraprestação laboral por parte dessa.

DAS MEDIDAS CAUTELARES

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DO BLOQUEIO DE BENS DOS REQUERIDOS:

Para concretização de parte da providência jurisdicional pedida, calcada no

art. 5º da Lei 8.429/921, afigura-se imperiosa a concessão de cautelar nos autos

principais desta ação, medida consistente na indisponibildiade de bens dos

requeridos, com arrimo nos artigos 37, § 4º, da Constituição Federal e art. 7º da Lei

8.429/92 c/c art. 273, § 7º, do CPC:

“Art. 37. …

(...)

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento

ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem

prejuízo da ação penal cabível.”

“Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao

patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,

caberá a autoridade administrativa responsável pelo

inquérito representar ao Ministério Público, para a

indisponibilidade do bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o

caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o

integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo

patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”

“Art. 273. (...)§ 7º Se o autor, a título de antecipação de

tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá

o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos,

deferir a medida cautelar em caráter incidental do

processo ajuizado.”

É preciso ter presente que a decretação de indisponibilidade de bens inaudita

altera pars em Ações de Improbidade Administrativa não viola o art. 17, § 7º, da Lei

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8.429/92, podendo ser deferida antes mesmo da notificação prévia. Eis o

entendimento, pacífico, do Superior Tribunal de Justiça:

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

INDISPONIBILIDADE DE BENS. DEFERIMENTO SEM

AUDIÊNCIA DA PARTE ADVERSA. POSSIBILIDADE.

MEDIDA ACAUTELATÓRIA.

1. É pacífico nesta Corte Superior o entendimento

segundo o qual, ante sua natureza acautelatória, a

medida de indisponibilidade de bens em ação de

improbidade administrativa pode ser deferida sem

audiência da parte adversa e, portanto, antes da

notificação a que se refere o art. 17, § 7º, da Lei n.

8.429/92.Precedentes.

2. Recurso especial provido.

(REsp 862.679/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL

MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/09/2010,

DJe 04/10/2010)

Por outro lado, é cediço que as medidas cautelares, em regra, como tutelas

emergenciais, exigem, para a sua concessão, o cumprimento de dois requisitos: o

fumus boni iuris (plausibilidade do direito alegado) e o periculum in mora (fundado

receio de que a outra parte, antes do julgamento da lide, cause ao seu direito lesão

grave ou de difícil reparação).

No caso da medida cautelar de indisponibilidade, prevista no art. 7º da Lei

8.429/92, não se vislumbra uma típica tutela de urgência, mas sim uma tutela de

evidência, uma vez que o periculum in mora não é oriundo da intenção do agente

dilapidar seu patrimônio e, sim, da gravidade dos fatos e do montante do prejuízo

causado ao erário, o que atinge toda a coletividade. O próprio legislador dispensa a

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demonstração do perigo de dano, em vista da redação imperativa da Constituição

Federal (art. 37, § 4º) e da própria Lei de Improbidade Administrativa (art. 7º).

Releva observar que para o deferimento da indisponibilidade de bens em

Ações de Improbidade Administrativa não é preciso demonstrar que os réus estejam

dilapidando seus patrimônios ou na iminência de fazê-lo, uma vez que o periculum

in mora encontra-se implícito no art. 37, § 4º, da Constituição Federal e no art. 7º da

Lei 8.429/92.

Assim, diante da tutela de evidência que marca a decretação de

indisponibilidade de bens em ações de improbidade administrativa, basta ao

Ministério Público demonstrar a verossimilhança das alegações.

Outrossim, o fumus boni iuris se encontra presente, notadamente nos fatos e

fundamentos jurídicos esgrimidos nesta petição inicial, embasados em inquérito civil

conduzido pelo Ministério Público, no qual foram realizadas as oitivas de todas as

pessoas envolvidas e, a maoria confessou não ter laborado na Câmara Municipal.

Dessa forma, verifica-se um desvio de finalidade na admissão de pessoal e que

causou um dano ao erário municipal de R$ 66.330,35 (sessenta e seis mil, trezentos

e trinta reais e trinta e cinco centavos).

Todavia, é cediço que a indisponibilidade de bens deve recair sobre o

patrimônio de quem deu azo à lesão e/ou se enriqueceu ilicitamente, de modo

suficiente não só a garantir o integral ressarcimento do prejuízo ao erário, mas

também, considerando o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Bem

por isso, devem ser bloqueados tantos bens quantos forem bastantes para dar cabo

da execução em caso de procedência da ação.

Considerando que a conduta de OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e

WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM) se enquadra no art. 12, caput, II da Lei

8429/92, estão sujeitos, dentre as demais sanções estabelecidas por lei, ao

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pagamento de multa civil de até 02 (duas) vezes o valor do dano ao patrimônio

público.

Dessa forma, quanto ao OBERDAM, a indisponibilidade de bens deve

alcançar o montante de R$ 45.842,09 (quarenta e cinco mil, oitocentos e quarenta e

dois reais e nove centavos), referente ao prejuízo causado ao erário, mais R$

91.684,16 (noventa e um mil reais, seiscentos e oitenta e quatro reais e dezesseis

centavos), referente à multa civil, o que totaliza o montante de R$ 137.526,27

(cento e trinta e sete mil, quinhentos e vinte e seis reais e vinte e sete

centavos).

Nessa mesa linha de raciocínio, quanto à indisponibilidade de bens de

WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM), deve-se alcançar o montante R$ 20.488,29

(vinte mil, quatrocentos e oitenta e oito reais e vinte e nove centavos), referente ao

prejuízo causado ao erário, mais R$ 40.976,58 (quarenta mil, novecentos e setenta

e seis reais e cinquenta e oito centavos), referente à multa civil, o que totaliza o

montante de R$ 61.464,87 (sessenta e um mil, quatrocentos e sessenta e

quatro reais e oitenta e sete centavos).

Em relação aos servidores ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA LAMOUNIER

DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA QUEIROZ e

SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS, considerando que a conduta

deles se enquadra no art. 12, caput, I da Lei 8429/92, estão os sujeitos, dentre as

demais sanções estabelecidas por lei, ao pagamento de multa civil de até 03 (três)

vezes o valor do acréscimo patrimonial.

Sendo assim, quanto a eles a indisponibilidades de bens deve operar nos

seguintes patamares:

SERVIDOR ACRÉSCIMO

PATRIMONIAL

MULTA CIVIL VALOR A SER

BLOQUEADO

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Adão Alves da Silva

R$ 21.239,66 R$ 63.718,98 R$ 84.958,64

Hidila Rodrigues

Teles

R$ 20.488,29 R$ 61.464,87 R$ 81953,16

Thalita Lassara

Queiroz

R$ 11.912,48 R$ 35.737,44 R$ 47.649,92

Shirlayne de Fátima

T. Dos Santos

R$ 1.129,66 R$ 3.388,98 R$ 4.518,64

Carla Lamounier do

Carmo

R$ 11.560,26 R$ 34680,78 R$ 46.241,04

Assim, com apoio na melhor doutrina e na jurisprudência, e presente a

verossimilhança das alegações do Ministério Público, a determinação de bloqueio

de bens se faz mister, ante o atendimento dos requisitos legais ensejadores à tal

desiderato.

Frise-se que o art. 655, I, do CPC dispõe que a penhora recairá

preferencialmente sobre o dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em

instituição financeira, sendo desnecessário buscar outros bens antes de se efetuar o

bloqueio via Bacen-Jud, conforme restou definido pela Corte Especial do Superior

Tribunal de Justiça ao julgar o REsp 1112943/MA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,

julgado em 15/09/2010, DJe 23/11/2010 (Informativo STJ n.º 447, de 13 a 17 de

setembro de 2010).

É necessário frisar que o bloqueio de bens aqui pleiteado não se afigura

como antecipação de aplicação de sanções aos réus, mas tão somente meio de

assegurar o resultado útil do processo, instaurado em defesa do patrimônio público

e dos princípios da Administração Pública.

DO AFASTAMENTO DOS VEREADORES

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Para o regular prosseguimento dos trabalhos na Câmara Municipal e para

impedir que os atuais vereados possam influir na produção de provas no decorrer da

instrução probatória da presente demanda, afigura-se imperiosa a concessão de

liminar/cautelar nos autos principais desta ação, medida consistente no afastamento

dos requeridos OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON JOSÉ DE

SOUZA do exercício da Vereança na Comarca de Morrinhos, no prazo de 120 dias,

com supedâneo no poder geral de cautela, disposto nos arts. 798 e 799 do Código

de Processo Civil.

De início, ressalte-se a plena possibilidade de adoção de medidas cautelares

nos próprios autos da ação principal, eis que “uma vez definida a incidência da

técnica de tutela prevista na Lei da Ação Civil Pública também ao campo da

improbidade, tem-se como certa a possibilidade de deferimento de todas as

medidas cautelares previstas na Lei nº 8.429/92 nos autos do processo dito

principal, prescindindo-se de pedido e decisãoapartados.”(Emerson Alves e Garcia.

Improbidade administrativa. 3ª ed, p. 742.)”

Por se tratar de medida de natureza cautelar, afigura-se imprescindível a

presença dos requisitos autorizadores, quais sejam, periculum in mora e fumus boni

iuris.

In casu, estão presentes os pressupostos autorizadores. Senão vejamos.

O fumus boni iuris está demonstrado em toda a fundamentação jurídica

desenvolvida na proemial, bem como nos documentos que constam do incluso

Inquérito Civil Público e pelos próprios documentos fornecidos pela Câmara

Municipal de Morrinhos, notadamente pela contradição de informações fornecidas

pelos Vereadores como autênticas, mas que conforme restou demonstrado não

corresponde a verdade dos fatos e que pode ser sintetizado nos dizeres da

Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA DE CÁSSIA BORGES

MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que acha que as folhas de frequência foram

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“fabricadas”, até porque alguns “fantasmas” assinariam livro de frequência e não

folhas. Que a Declarante não chegou a questionar a respeito do encaminhamento

das folhas originais para o Ministério Público porque já sabia que os fato ali não

eram verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem folha de

frequência passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a mesma

canete (sic)”.

Quanto ao periculum in mora, resta evidenciado que a continuidade dos

vereadores na Câmara Municipal está sendo prejudicial ao regular prosseguimento

das apurações quanto aos atos de improbidade administrativa, especialmente pela

posição de superioridade hierarquica que faz com que os servidores subalternos

mascarem evidências e criem provas que não correspondem com as reais

circunstâncias fáticas do caso concreto, conforme depoimento da procuradora RITA

DE CÁSSIA BORGES MACHADO que afirma “Que foi a Declarante que redigiu a

resposta na Câmara (ofício de fls. 104/2014), que os documentos apresentados com

o expediente já estavam prontos e a linha de defesa fixada pelo Presidente que o

mesmo queria que dissesse que todos os servidores estavam trabalhando(...); Que

em relação as folhas de frequências as mesmas estavam prontas e a declarante

não chegou a olhar apenas juntou os documentos com ofício, sendo que

especificadamente a de HIDILA TELES, o vereador TOM levou pessoalmente num

envelope, no dia da resposta(...)”

Ressalta-se que o afastamento provisório aqui solicitado não se afigura como

adiantamento de aplicação das sanções previstas aos requerimentos, mas, tão

somente, em medida acauteltória visando a regular tramitação do feito.

DOS PEDIDOS

Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás,

requesta:

a) a autuação da presente petição inicial e dos autos de inquérito civil público

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instaurado sob o nº 201400420803;

b) seja determinado o imediato afastamento cautelar, in inititio litis, dos

vereados OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON JOSÉ DE SOUSA,

pelo prazo de 120 dias, com suporte nos motivos fáticos e jurídicos expostos;

c) a indisponibilidade dos bens dos agentes, nos valores acima expostos,

para garantir o ressarcimento do erário e da eventual multa civil cominada a eles;

d) a notificação dos réus para apresentarem suas manifestações

preliminares, nos termo do artigo 17, § 7º, da LIA;

e) seja recebida a inicial, procedendo-se a citação dos réus para comporem o

polo passivo da relação jurídico-processual, dando-lhes oportunidade para, se

quiserem, apresentar resposta, no prazo legal, sob pena de revelia;

f) a notificação da Câmara de Vereadores de Morrinhos para tomar

conhecimento do aforamento desta ação e especialmente para os fins do disposto

no artigo 17, §º 3º da LIA;

g) a produção de todas as provas necessárias à demonstração do alegado,

dentre elas o depoimento pessoal dos réus, oitiva de testemunhas cujo rol será

oportunamente apresentado, além de juntada de novos documentos que se fizerem

necessários;

h) seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública, impondo-se aos

requeridos OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON JOSÉ DE SOUSA

(TOM) as sanções previstas no art. 12, inciso II da Lei n. 8429/92. Sendo que,

apenas em respeito ao princípio da eventualidade, deve-se, como pedido sucessivo,

caso este Douto Juízo não entenda configurados atos administrativos que importam

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em prejuízo ao erário – o que parece bastante improvável diante das provas desde

já carreadas com a peça vestibular – aplicar-se as sanções cominadas para quem

pratica ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da

administração pública, previsto no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade

Administrativa, uma vez que as condutas dos réus afrontam os deveres de atuação

com honestidade, moralidade e legalidade;

i) seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública, impondo-se aos

requeridos ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA

RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA

TOBIAS DOS SANTOS as sanções previstas no art. 12, inciso I da Lei n. 8429/92.

Sendo que, apenas em respeito ao princípio da eventualidade, deve-se, como

pedido sucessivo, caso este Douto Juízo não entenda configurados atos

administrativos que importam enriquecimento ilícito e dano ao erário – o que parece

bastante improvável diante das provas desde já carreadas com a peça vestibular –

aplicar-se as sanções cominadas para quem pratica ato de improbidade

administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, previsto no

art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade Administrativa, uma vez que as condutas

dos réus afrontam os deveres de atuação com honestidade, moralidade e

legalidade;

j) a condenação dos réus ao pagamento das custas processuais;

Dá-se à causa o valor de R$ 66.330,35 (sessenta e seis mil, trezentos e trinta

reais e trinta e cinco centavos), para os fins legais.

Morrinhos, 30 de março de 2015.

RUBENS ROSA JUNIOR