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MINISTRIO PBLICO FEDERALProcuradora da Repblica no Par
EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 9 VARA DA SEO JUDICIRIA DO ESTADO DO PAR VARA FEDERAL AMBIENTAL E AGRRIA
INQURITO CIVIL PBLICO N 1.23.000.000573/2008-49
O MINISTRIO PBLICO FEDERAL, oficiando neste feito os Procuradores da Repblica abaixo assinados, com fundamento no art. 225, 3 e
4, da Constituio da Repblica, arts. 1, I e IV, e 5, I, da Lei n 7.347/85, vm
propor a presente Ao Civil Pblica ambiental em face do:
BANCO DO BRASIL S.A. BB, instituio financeira pblica federal, constituda sob a forma de sociedade annima aberta, de economia mista, e prazo de durao indeterminado, inscrito no CNPJ/MF sob o nmero 00.000.000/0003-53 , com sede em Belm/PA, na Avenida Presidente Vargas, 248 Centro CEP 66010-900; e do
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAO E REFORMA AGRRIA INCRA, autarquia federal criada pelo Decreto-Lei n 1.110, de 09.07.1970, inscrito no CNPJ/MF n 00.375.972/0003-22, situado na Estrada do Ceasa, s/n, Km 01 Souza Belm/PA CEP 66610-903.
Pelos relevantes fatos e fundamentos adiante expendidos.
Rua Domingos Marreiros, 690 Umarizal Belm/PA - CEP 66.055-210 - Fone: (91) 3299-0100www.prpa.mpf.gov.br
1. DA CONTEXTUALIZAO DA ATUAO MINISTERIAL
A ao ministerial consubstanciada na presente ao civil pblica
tem como diretriz o ensinamento do Egrgio Supremo Tribunal Federal segundo o
qual, a incolumidade do meio ambiente no pode ser comprometida por interesses
empresariais nem ficar dependente de motivaes de ndole meramente econmica,
ainda mais se se tiver presente que a atividade econmica, considerada a disciplina
constitucional que a rege, est subordinada, dentre outros princpios gerais, quele
que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito
amplo e abrangente das noes de meio ambiente natural, de meio ambiente
cultural, de meio ambiente artificial (espao urbano) e de meio ambiente laboral(...)
O princpio do desenvolvimento sustentvel, alm de impregnado de carter
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos
internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obteno do
justo equilbrio entre as exigncias da economia e as da ecologia, subordinada, no
entanto, a invocao desse postulado, quando ocorrente situao de conflito entre
valores constitucionais relevantes, a uma condio inafastvel, cuja observncia no
comprometa nem esvazie o contedo essencial de um dos mais significativos
direitos fundamentais: o direito preservao do meio ambiente, que traduz bem de
uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das
presentes e futuras geraes" (ADI-MC n 3540/DF - Rel. Min. Celso de Mello - DJU
de 03/02/2006).
H que se ressaltar, por outro lado, que nos ltimos anos houve
um importante avano no combate a aes degradantes ao meio ambiente,
sobretudo no que se refere a implantao e incremento de instrumentos que
propiciam o maior controle do desmatamento na regio Amaznica. Exemplo disso
o representativo crescimento de registros de imveis rurais privados cadastrados
junto aos rgos de controle ambiental e fundirio.
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Entretanto, apesar do significativo aumento da procura de
produtores rurais pela regularizao de suas propriedades junto aos rgos de
controle ambiental e fundirio dos Estados que compem esta regio, um estudo do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE, veiculado inclusive em notcia do
portal eletrnico Globo Amaznia, de 26/12/2010, revela que, em setembro e
outubro de 2010, o desmatamento nesta rea do pas sofreu uma elevao
demasiada. De acordo com esse estudo, o Estado que apresentou maior rea de
desmatamento registrado nesse perodo foi justamente o Par, com 334,2 km.1
Essa dificuldade de se reduzir os indicativos de desmatamento na
regio amaznica vem constantemente motivando o poder pblico e a sociedade
civil organizada a identificar, por meio de estudos tcnicos e multidisciplinares, as
principais causas de degradao da Amaznia.
Dentre as teses desenvolvidas acerca dos principais vetores do desmatamento na Amaznia, uma das que mais se destaca refere-se ao grande volume de financiamentos pblicos a atividades econmicas que incentivam o desmatamento ilegal desta regio.
Nessa esteira, vale a pena a transcrio do seguinte trecho do relatrio de auditoria TC 026.021/2009-9 da 8 SECEX do Tribunal de Contas da Unio, o qual instrui o Acrdo n 2671/2010-TCU-Plenrio, e que, atendendo a solicitao do Congresso Nacional, resume bem a atual relevncia deste tema no cenrio das polticas pblicas de conteno do desflorestamento da Amaznia. Vejamos:
2.2.2 - A poltica de crdito rural e o desmatamento da AmazniaDiversos estudos relacionam o crdito rural subsidiado ao desmatamento da Amaznia. O relatrio A Pecuria e o Desmatamento na Amaznia na Era das Mudanas Climticas (Barreto et al., 2008) aponta que:
1 Notcia veiculada no Portal Globo Amaznia, em 26/12/2010. Ttulo: Inpe detecta 836,7 km de desmatamento em setembro e outubro na Amaznia. Disponvel em: Acesso em: 11.jan.2011.
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http://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1637378-16052,00-INPE+DETECTA+KM+DE+DESMATAMENTO+EM+SETEMBRO+E+OUTUBRO+NA+AMAZONIA.htmlhttp://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1637378-16052,00-INPE+DETECTA+KM+DE+DESMATAMENTO+EM+SETEMBRO+E+OUTUBRO+NA+AMAZONIA.htmlhttp://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1637378-16052,00-INPE+DETECTA+KM+DE+DESMATAMENTO+EM+SETEMBRO+E+OUTUBRO+NA+AMAZONIA.html
'Os subsdios financeiros pblicos para a pecuria continuam e h indcios de que eles estimulam o desmatamento. O emprstimo subsidiado fornecido pelo Fundo Constitucional do Norte FNO deveria ser usado apenas para melhorar a qualidade e produtividade da pecuria, pois o FNO probe investimentos em desmatamento. Entretanto, como o FNO constitui um subsdio, ele tende a aumentar o investimento nessa atividade mais do que seria o normal (usando taxas de juros de mercado) e pode at estimular indiretamente o desmatamento. Por exemplo, um fazendeiro pode desmatar novas reas sem emprstimo, pois sabe que obter bons rendimentos usando o emprstimo subsidiado para comprar o rebanho. Dois estudos indicam que o efeito perverso do crdito est ocorrendo. Na Transamaznica pequenos produtores em assentamentos rurais desmataram mais do que aqueles fora dos assentamentos e sem crdito (Wood et al., 2003). Outro estudo mais abrangente mostrou que a taxa de desmatamento em 343 assentamentos na Amaznia foi quatro vezes maior do que fora deles entre a data de criao e 2004 (Brando Jr. e Souza Jr., 2006).'
Entre os anos de 2000 e 2009, R$ 52,353 bilhes foram concedidos em crdito rural para estados da Amaznia Legal (fonte: Bacen, fl 152 Anexo 2). Desse total, R$ 13,222 bilhes foram custeados com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento das Regies Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro-Oeste (FCO), previstos no art. 159, I, c, da Constituio Federal.
Os fundos constitucionais destinam-se a aplicaes em programas de financiamento ao setor produtivo, por meio de instituies financeiras de carter regional, de acordo com os planos regionais de desenvolvimento. Os recursos do FNO so aplicados pelo Banco da Amaznia Basa, do FNE, pelo Banco do Nordeste do Brasil BNB, e do FCO pelo Banco do Brasil BB. Na Amaznia Legal, os recursos do FNE so aplicados no Estado do Maranho e do FCO, no Mato Grosso.
O nvel de subsdio em financiamentos com recursos desses fundos expressivo. Quando destinados agricultura familiar, os recursos so emprestados a taxas de juros que variam de 0,5% a 5% ao ano, conforme a escala do empreendimento e tipo de emprstimo (Fonte: Ministrio da Integrao Nacional, fl. 153 Anexo 2). Alm disso, sobre cada parcela do principal paga at o vencimento, concede-se um bnus de adimplncia que pode chegar a 45% do valor da dvida. Produtores rurais no familiares tambm tm direito a emprstimos com taxas de juros subsidiadas, que variam de 5% a 8,5% ao ano, e bnus de adimplncia de 15% sobre os encargos financeiros.
As taxas de juros dos fundos constitucionais estiveram muito abaixo das taxas de juros livres anuais que em 2009 variaram entre 26% e 31% para pessoas jurdicas e entre 43% e 55% para pessoas fsicas, respectivamente (Fonte: Bacen, fls. 158 e 159 Anexo 2). Deve-se destacar que, entre as fontes de recursos do crdito rural, h ainda aqueles que so subvencionados pela Unio sob a forma de equalizao de encargos, em que a diferena de encargos financeiros entre os custos de captao da instituio financeira e os praticados nas operaes de financiamento rural paga pelo Tesouro Nacional (fls.154-157 do Anexo 2).
Alguns estudos concluem sobre a correlao entre crdito subsidiado e desmatamento focando no nas causas diretas de desflorestamento, mas nos parmetros que afetam a deciso dos agentes a respeito do uso do solo. Jorge Hargrave Gonalves da Silva, em sua tese de mestrado apresentada na University of Freiburg em julho de 2009, analisou como mudanas na estrutura de incentivos econmicos afetam a expectativa de lucros de produtores rurais na Amaznia brasileira. Sua principal concluso foi a importncia
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das principais variveis econmicas (preos da carne e da soja) e variveis relacionadas a polticas pblicas (poltica de crdito rural e aplicao de multas ambientais) na flutuao das taxas de desmatamento no perodo analisado (1995 a 2007). De acordo com o modelo terico apresentado, as mudanas nessas variveis so responsveis por mudanas na expectativa de rentabilidade futura do uso da terra e, portanto, nos incentivos para o desmatamento. Seu trabalho demonstrou empiricamente que a flutuao dessas variveis conduz a altos e baixos das taxas de desmatamento. Mais especificamente, preos mais elevados da carne e da soja, bem como uma maior disponibilidade de crdito rural subsidiado, esto associados com maiores taxas de desmatamento.
Pesquisadores do Imazon tambm demonstraram que as taxas de desflorestamento da Amaznia so diretamente afetadas pelos preos da soja e da carne. Anlise de regresso revelou que 73,4% da variao da rea desmatada anualmente entre 1995 e 2007 decorreu da variao do ndice de preo do boi gordo (IGP em So Paulo) no ano anterior (Barreto et al., 2008). A Figura 2 demonstra que quando os preos de gado e soja caram juntos, a reduo no desmatamento no ano seguinte acentuou.
Figura 2: Variao dos preos do boi gordo e soja entre 1994 e 2006 e a taxa de desmatamento na Amaznia nos anos posteriores (de 1995 a 2007)
Fonte: Imazon (2008)
Tcnicos do MMA tambm estudaram os efeitos da oferta de crdito rural sobre a dinmica do desmatamento da Amaznia. A Nota Tcnica DPCD/MMA n1/2008 (fl. 160 a 163 Anexo 2) realiza o cruzamento de dados oficiais do Projeto Prodes do Inpe com
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os dados do Anurio Estatstico do Crdito Rural do Banco Central referentes aos Estados de Rondnia, Mato Grosso e Par, responsveis por 85% do desmatamento da Amaznia no binio 2006/2007. No mesmo perodo, 81% do crdito rural oficial foram dirigidos para esses estados. Os tcnicos do MMA observaram que o comportamento das curvas do crdito rural concedido para os estados mencionados se assemelha ao das curvas do desmatamento no perodo entre 1999 e 2007. O desflorestamento em Mato Grosso e Rondnia crescente desde 2000 chegando ao pico em 2004 e passa a ser descendente nos trs anos seguintes. O volume de crdito rural nesses estados crescente a partir de 1999 atingindo seu pico tambm em 2004 e passando a decrescer at 2006. O comportamento dessas curvas no estado do Par semelhante at 2005. A partir desse ano, observa-se um novo aumento na oferta de crdito, perodo em que o Par supera o Mato Grosso no ranking dos estados que mais desmatam a Amaznia (vide grfico fl. 122). Enquanto a taxa de desflorestamento reduzia nos demais estados, ela se manteve, no Par, em um patamar elevado de 5,5 mil km2 ao ano. Os tcnicos do MMA estudaram, ainda, a correlao do crdito com o desmatamento entre 2000 e 2006 em dezesseis municpios constantes da lista da Portaria MMA n28/2008, que estabelece os municpios prioritrios para aes de controle e preveno a desmatamentos. Nesses casos, verificaram evidncias ainda mais consistentes de que o volume de crdito rural est relacionado com o ritmo de perda da cobertura florestal (vide grficos s fls. 160-163 do Anexo 2).
importante destacar que a edio da Resoluo CMN n 3.545/2008, que estabelece a obrigatoriedade de avaliao dos requisitos de regularidade ambiental e fundiria na concesso de financiamento agropecurio no bioma Amaznia (vide item 2.1), corresponde a uma importante medida para evitar que a oferta de crdito estimule, ainda que indiretamente, o desmatamento da regio. Outras iniciativas, como o Protocolo Verde protocolo de intenes que celebraram entre si o MMA e diversos bancos pblicos, visando ao empreendimento de polticas e prticas bancrias precursoras em termos de responsabilidade socioambiental e a criao de linhas de crdito destinadas a reflorestamento ou ao desenvolvimento de atividades agrcolas sustentveis do ponto de vista ambiental sero analisadas no item 2.3 deste relatrio.
No obstante ao advento da Resoluo CMN n 3.545/2008 e da formalizao do Protocolo Verde, o avano na conscientizao ambiental das instituies financeiras que financiam a explorao de atividades de risco preservao ambiental ainda bastante tmido, como restar demonstrado mais frente.
No curso da instruo do Inqurito Civil Pblico 1.23.000.000573/2008-49, constatou-se que concomitantemente s flagrantes irregularidades na explorao da cadeia pecuria na Amaznia, outro fator determinante, largamente debatido, est na concesso de elevados crditos oficiais a infratores ambientais que exploram atividade agropecuria sem
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qualquer tipo de documento de regularidade ambiental, fundiria e agrria, ou mesmo queles que utilizam-se ou utilizaram-se de mo-de-obra escrava na explorao econmica de suas reas.
Apurou-se que o BANCO DO BRASIL no cumpre as exigncias ambientais mnimas disciplinadas no ordenamento jurdico brasileiro, assim como deixa de observar diversas regulamentaes do CONAMA e as prprias normatizaes do Conselho Monetrio Nacional e do Banco Central do Brasil atinentes a concesso de crditos rurais a inmeros empreendimentos (como a prpria Resoluo CMN/BACEN n 3.545/2008).
Assim, valendo-se de uma anlise amostral de registros de cdulas de crdito rural consignados em variados Cartrios de Registro de Imveis de municpios que geralmente encabeam a lista dos maiores desmatadores do Estado, em contraposio a informaes e procedimentos administrativos da lavra da Secretaria de Meio Ambiente do Estado, do IBAMA e do INCRA, desvendou-se, de forma factual, que as propagandas de servios e linhas de crdito que abusam dos termos responsabilidade socioambiental e sustentabilidade no retratam essa realidade nas operaes de concesso desses financiamentos a diversos empreendimentos situados na Amaznia, que em sua maioria so subsidiados com recursos dos Fundos Constitucionais de desenvolvimento e de outras fontes da UNIO (tais como o FNO, FCO, FAT, FINAME, TESOURO NACIONAL, BNDES).
2. DAS CONSTATAES DE QUE A CONCESSO DE CRDITOS OFICIAIS A PROPRIEDADES RURAIS SEM REGULARIDADE AMBIENTAL E FUNDIRIA CONTRIBUI PARA A DEGRADAO DA AMAZNIA
Muitos e abalizados so os estudos de que o aumento na
concesso de crdito por instituies oficiais repercute diretamente na degradao
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do Bioma Amaznico. Corroborando com o que consignou o TCU no trecho
transcrito acima do relatrio da auditoria TC 026.021/2009-9 da 8 SECEX, o MPF
identificou uma srie de documentos da lavra de institutos de pesquisa que revelam
uma estreita correlao entre o volume de crditos oficiais liberados por agentes
financeiros e as altas taxas de desflorestamento da regio amaznica brasileira.
Nesse sentido, os pesquisadores Paulo Barreto, Eugnio Arima e
Marky Brito, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia IMAZON, ao
discorrerem sobre os aspectos econmicos que repercutem diretamente na
degradao da Amaznia no bojo do artigo intitulado de Pecuria e Desafios para
a Conservao Ambiental na Amaznia2 j alertam, dentre as medidas de
sustentabilidade que devem ser adotadas pelo poder pblico, para a necessidade de
garantir que os crditos pblicos sejam destinados somente a proprietrios rurais
que cumprem a legislao ambiental e conforme o Zoneamento Econmico-
Ecolgico, de modo a viabilizar o desenvolvimento sustentvel de toda a regio.
Tal pesquisa utiliza-se de nmeros oficiais do INPE, IBGE, e de
informaes relativas as taxas de juros praticadas no mercado, para traar as
principais causas do crescimento da pecuria na Amaznia.
Dentre as concluses do trabalho, a concesso de crditos rurais
a juros bastante reduzidos destaca-se como um dos principais vetores do
desmatamento. Os autores explicam que os fundos constitucionais destinados
Amaznia Legal emprestam dinheiro a taxas de juros que variam de 6% a 10,75%
ao ano (bem abaixo da usualmente praticada no mercado), permitindo ainda
descontos de 15% a 25% para produtores adimplentes. Segundo o estudo, tais
incentivos financeiros, aliados ao acesso relativamente fcil a terras pblicas e a
baixa aplicao da lei florestal, acabam repercutindo diretamente nas taxas de
desmatamento desse Bioma.
Na mesma linha de pesquisa, s que dessa vez com enfoque
2 Disponvel em: ltimo acesso: em 25.jan.2011.
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http://www.imazon.org.br/novo2008/arquivosdb/ea_5p.pdf
maior na temtica da correlao entre crdito rural e a dinmica de desmatamento
na Amaznia, o Ministrio do Meio Ambiente, atravs de seu Departamento de
Polticas para o Combate aos Desmatamentos, elaborou, em 16.05.2008, uma Nota
Tcnica que concluiu no sentido de que h evidncias fortes de correlao direta
entre a oferta de crdito rural pblico e a dinmica de desmatamento de florestas na
Amaznia, no perodo compreendido entre os anos de 1999 e 2006.
Tal documento3 (fls. 1017/1024) que subscrito por Andr Lima
e Srgio Travassos, os quais, poca, exerciam as funes, respectivamente, de
diretor e gerente de projetos do DPDC/SECEX/MMA conclui ainda que a oferta
crescente de crdito rural sem a adoo de mecanismos de controle e
monitoramento preciso e gil pelos rgos ambientais acerca do cumprimento de
compromissos ambientais pelos produtores rurais, como o georreferenciamento dos
imveis e respectivas reas de conservao, pode induzir ao crescimento ou
manuteno de taxas elevadas de desmatamentos na Amaznia.
O escopo desse trabalho desenvolveu-se atravs do cruzamento
de dados oficiais do INPE, com informaes do anurio estatstico do crdito rural
publicado pelo Banco Central. A anlise desenvolvida pelo Ministrio do Meio
Ambiente concentrou-se nos Estados do Par, Mato Grosso e Rondnia, que em
2007, foram responsveis por 85% dos desmatamentos registrados pelo
PRODES/INPE.
Dentre as constataes feitas pelo MMA, interessam presente
ao as seguintes:
Anlise dos Estados de MT, PA e ROMato Grosso, Par e Rondnia foram responsveis por 85% dos desmatamentos nos binios 2005/06 e 2006/07 segundo o PRODES/Inpe e receberam 81% do crdito rural oficial dirigido ao Bioma Amaznico em 2006, de acordo com o anurio estatstico de crdito rural do Banco Central.
3 Disponvel para download em: ltimo acesso em: 25.jan.2011
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http://www.climaefloresta.org.br/biblioteca/livro/id/221
% Crdito Rural no Bioma Amaznia (2006) % desmatamento no Bioma Amaznia (2006/2007)
grfico
Analisaremos a seguir a relao crdito rural e desmatamento em MT, PA e RO entre 1999 e 2007 exatamente por serem os estados de que mais desmataram e que mais receberam crdito rural na Amaznia no perodo.
Mato GrossoDe acordo com o Censo do IBGE no estado de MT a rea de pasto cresceu pouco mais de 6% entre 1996 e 2006, passando de 21,4 para 22,8 milhes de hectares. Incorporou portanto, no mnimo, 1,4 milhes de hectares em 10 anos. Os 19 municpios prioritrios para aes de controle dos desmatamentos possuem 3,9 milhes de hectares de pastagem (17% do total do estado). De 2,9 milhes de hectares a rea de pastagem nos 19 municpios expandiu para 3,9 milhes entre 1996 e 2006. Isso significa que mais de 70% da expanso do pasto em MT deu-se nos 19 municpios listados pelo MMA na portaria 28/08.O efetivo bovino de MT foi calculado em 26 milhes de cabeas em 2006. Uma mdia de 1,14 cabeas por hectare. Os 19 municpios de Mato Grosso listados na Portaria MMA 28/08 possuem 6,2 milhes de cabeas (2006), 24% do total do estado. Em 1996 havia 3,6 milhes de cabeas de gado nesses municpios.A rea de soja em Mato Grosso dobrou entre 1999 e 2007 estimada em 8,5 milhes de hectares de acordo com a CONAB. Os 19 municpios somavam em 2006, 650 mil hectares (7,6%) do total da rea de soja do estado, de acordo com dados do IBGE. A expanso da soja nos 19 municpios foi de mais de 475 mil hectares em 6 anos.Em Mato Grosso foram investidos entre 1999 e 2006 R$ 15,96 bilhes em crdito rural oficial para agricultura e pecuria. R$ 12,3 bi para agricultura e R$ 3,66 para pecuria.
Tabela 1. Oferta de crdito rural oficial em Mato Grosso entre 1999 e 2006 (R$ milhes)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Agricultura 479,5 614,3 949,4 1.254,0 2.173,9 2.819,5 2.372,8 1.642,1
Pecuria 157,2 196,2 366,2 452,4 468,2 557,5 709,1 750,1
Total 636,7 810,5 1315,6 1706,4 2642,1 3377 3081,9 2392,2
Tabela 2. Dinmica de desmatamento em MT entre 1999 e 2007
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
10/187
81%
MT, PA e RODemais Esta-dos
85%
MT, PA e RODemais Esta-dos
rea em Km2 6.963 6.369 7.703 7.892 10.405 11.814 7.145 4.333 2.476
O comportamento da curva do crdito rural em Mato Grosso assemelha-se muito ao da curva do desmatamento no mesmo perodo. O desmatamento crescente desde 2000 chegando num pico em 2004, praticamente dobrando a taxa neste perodo. Foram adicionados mais de 44mil km2 de rea para agropecuria no Estado entre 2000 e 2004. A partir de 2004 a curva do desmatamento passa a ser descendente nos trs anos seguintes, mas ainda assim so adicionados mais 11 mil km2 de reas para agropecuria, somente entre 2005 e 2006.O volume de crdito rural no estado por sua vez crescente a partir de 1999 atingindo um pico em 2004 (aumento de + de 400% em cinco anos) passando a decrescer nos anos de 2005 e 2006.
Desmatamento floresta MT 99/06 Crdito rural Mato Grosso 1999/06
grficoDeve-se considerar, inclusive nas anlises para os demais estados, que o desmatamento cumulativo, a cada ano, ainda que a taxa de desmatamento seja decrescente, h aumento de rea disponvel para agricultura ou para pecuria. No caso de MT, ainda que haja reduo na oferta de crdito para agricultura, o aumento no crdito para pecuria pode estar, entre 2004 e 2006, financiando a converso de novas reas de florestas para pasto, ainda que em menor intensidade.Por isso se verifica a queda na oferta de crdito para agricultura, proporcional queda nas taxas de desmatamento, embora se verifique crescimento na oferta de crdito para pecuria no mesmo perodo.
ParDe acordo com o Censo do IBGE no estado do Par a rea de pasto cresceu 77% entre 1996 e 2006, passando de 7,4 para 13 milhes de hectares. Incorporou, portanto, no mnimo mais 5,6 milhes de hectares em 10 anos. Os 12 municpios prioritrios para aes de controle dos desmatamentos no Par possuem 3,5 milhes de hectares de pastagem (27% do total da rea de pasto do estado). A expanso da rea de pasto foi de 1,5 milhes de hectares em 10 anos, nesses 12 municpios. Mais de 25% da expanso do pasto no Par deu-se no municpios listados pelo MMA na portaria 28/08.O efetivo bovino paraense foi calculado em 17,5 milhes de cabeas em 2006. Uma mdia de 1,3 cabeas por hectare. Os 12 municpios paraenses listados na Portaria MMA 28/08 possuem quase seis milhes de cabeas (2006), 34% do total do estado.A rea de gros no Par muito pequena em comparao com Mato Grosso, com menos de 570 mil hectares em 2007, 30% inferior rea de gros em 1999.O desmatamento somente nos 12 municpios paraenses, entre 1996 e 2006, foi de 6,7
11/187
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
0100020003000400050006000700080009000
100001100012000
Anos
Des
m K
M2
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
0,0
500,0
1.000,0
1.500,0
2.000,0
2.500,0
3.000,0
3.500,0
PecuriaAgriculturaTotal
Anos
RS
milh
es
milhes dehectares, rea coincidentemente igual desmatada nos 19 municpios mato-grossenses constantes da lista do MMA no mesmo perodo.No Par foram investidos entre 1999 e 2006 R$ 3,16 bilhes em crdito rural oficial para agricultura e pecuria. R$ 2,15 bi para pecuria e R$ 1 bi para agricultura. Os 12 municpios listados na Portaria do MMA levaram 0,8 bi (25%)do total de crdito no perodo.
Tabela 3. Oferta de crdito rural no Par entre 1999 e 2006 (R$ milhes)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Pecuria 108,3 185,9 138,9 156,3 279,9 374,5 392,1 522,9
Agricultura 106 82,8 54,9 52,6 156,4 218,1 166,3 164,3
Total 214,3 268,7 193,8 208,9 436,3 592,6 558,4 687,2
Tabela 4. Dinmica de desmatamento no Par entre 1999 e 2007
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
rea em Km2 5.111 6.671 5.237 7.324 6.996 8.521 5.731 5.505 5.569
A curva dos desmatamentos no Par acompanha a oferta de crdito rural nos anos de 1999 a 2004, perodo em que a taxa de desmatamento no estado aumentou em cerca de 70%. Neste mesmo perodo, a oferta de crdito rural salta de um patamar de pouco mais de R$ 200 milhes para mais de R$ 690 milhes ao ano (1999 a 2004). Interessante notar que o crdito aumenta de 1999 para 2000 e torna a se reduzir em 2001, comportamento idntico ao do desmatamento no mesmo trinio, com a retomada do crescimento do crdito e do desmatamento a partir de 2001 at 2004.Entre 2005 e 2007 o desmatamento no Estado estabilizou-se num patamar muito elevado de 5,5 mil km2, em comparao com os demais estados Amaznicos, simultaneamente a um novo aumento na oferta de crdito, perodo em que o Par supera o Mato Grosso no ranking do desmatamento. O aumento na disponibilidade de crdito resulta neste caso na manuteno de um patamar elevado de desmatamento no mesmo perodo, pois so adicionados produo agropecuria mais 16 mil km2 de rea, em apenas trs anos.
Desmatamento floresta PA 99/06 Crdito rural Par 1999/06
grficogrfico(...)
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1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
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Anos
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PecuriaAgriculturaTotal
Anos
RS
milh
es
importante notar que esses dois trabalhos so apenas alguns
dos muitos estudos que vm sendo desenvolvidos a respeito dessa temtica. Tal
preocupao com impacto das aes de instituies financeiras no desflorestamento
da regio amaznica no uma inquietao exclusiva do Poder Pblico. A
concesso de crditos rurais a empreendimentos potencialmente danosos s
florestas uma problemtica enfrentada tambm pelos prprios bancos, que em
alguns momentos chegam a admitir a ausncia de controle ambiental no
desempenho de suas atividades.
As instituies financeiras, alis, devem desempenhar um papel
fundamental no cumprimento da poltica ambiental, uma vez que podem atuar de
forma preventiva desde a anlise inicial dos projetos a elas submetidos at a
efetiva implementao do empreendimento financiado.
Como ser melhor delineado em tpico especfico deste petitrio,
este dever decorre do princpio constitucional de que cabe ao poder pblico e
coletividade (solidariamente) defender e preservar o meio ambiente. Justamente
nessa perspectiva, a Lei 6.938/1981, que institui a Poltica Nacional do Meio
Ambiente, adverte, em seu art. 12, que as entidades e rgos de financiamento e
incentivos governamentais condicionaro a aprovao de projetos habilitados a
esses benefcios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das
normas, dos critrios e dos padres expedidos pelo CONAMA. E, para aqueles que
no cumprem as medidas necessrias preservao ou correo dos
inconvenientes e danos causados pela degradao da qualidade ambiental, o art.
14, III, da mesma lei, prev a perda ou suspenso de participao em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crdito.
Buscando ento a manuteno de sua atividade econmica e
admitindo a necessidade de intensificao do controle ambiental na concesso de
crditos, os bancos pblicos e privados vem, mais recentemente, tentando
incorporar a varivel ambiental no sistema financeiro brasileiro, de modo a evitar sua
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responsabilizao em decorrncia de danos causados com recursos por eles
geridos.
Diante desse quadro, surgem diversas frentes de trabalho
voltadas a implementao de medidas socioambientais preventivas na concesso de
crditos. Esse movimento encontra sua origem no exterior (EUA e alguns pases da
Europa) e intriga at mesmo organizaes internacionais de grande visibilidade,
como o Banco Mundial e as Naes Unidas.
Esses esforos acabaram culminando em uma srie de medidas
padres que deveriam ser seguidas pelos agentes quando da concesso de crditos
s atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente. Alm disso, algumas
diretrizes ambientais que devem nortear os agentes financeiros na gesto de
recursos esto superficialmente destacadas em dois tratados iniciais que contam
com a participao de vrios bancos. O primeiro denominado de Princpios do
Equador4 (em nvel internacional) e, o segundo, o Protocolo Verde (restrito ao
Brasil).
A ideia central de ambos tem por objeto conscientizar os seus
signatrios em desenvolver e implementar produtos que contemplem padres
mnimos de sustentabilidade a serem cumpridos pelos seus clientes quando do
acesso ao crdito, inserindo a varivel ambiental em suas atividades internas e
externas.
Os Princpios do Equador foram criados pela IFC (International
Finance Corporation) juntamente com um banco privado de atuao internacional, o
ABN Amro, tendo como pblico-alvo as instituies privadas. Esse tratado foi
assinado pelos maiores bancos mundias, no entanto, restringe-se a financiamentos
de projetos com custo de capital mnimo de US$10 milhes e configura uma
iniciativa voluntria de cada banco aderir as suas diretrizes. Por isso, muitas so as
4 Os Princpios do Equador: uma abordagem do setor financeiro para identificao, avaliao e gesto de risco socioambiental no financiamento de projetos. 2006. Disponvel em: Acesso em: 26.jan.2011.
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http://www.equator-principles.com/documents/ep_translations/EP_Portuguese.pdf
crticas sobre a sua efetividade no Brasil.
Marco Antnio Dias5, analisando a aplicao desse acordo em
bancos brasileiros conclui que esses esto mais ligados cultura e conscientizao
do tema ambiental, do que enquadramento tcnico de operaes. Segundo o autor,
parte insignificante dos financiamentos (Project Finance) dos bancos brasileiros est
enquadrada nos Princpios do Equador, em comparao aos signatrios europeus e
americanos.
De todo modo, a simples enumerao de critrios ambientais
primrios que devem nortear a concesso de crditos, j soa, no mnimo, como um
reconhecimento das prprias instituies financeiras da necessidade de impedir
o financiamento de atividades potencialmente lesivas e que no atendam a
legislao ambiental.
Por sua vez, o Protocolo Verde foi criado por um Grupo de
Trabalho interministerial, institudo em 29.05.1995, formado por representantes do
Ministrio do Meio Ambiente, Recursos Hdricos e da Amaznia Legal (MMA);
Ministrio da Fazenda; Ministrio da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma
Agrria; Ministrio do Planejamento e Oramento; IBAMA; Banco Central do Brasil
(BACEN); Banco do Brasil S.A. (BB); Banco da Amaznia S.A. (BASA); Banco do
Nordeste do Brasil S.A. (BNB); Caixa Econmica Federal; e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES).
A inteno era de criar polticas pblicas preventivas e aprimorar o
controle de danos ambientais advindos de projetos financiados com recursos
oficiais, por meio de avaliaes conjuntas dos rgos de governo e dos bancos
federais, impedindo que o crdito oficial e os incentivos fiscais fossem utilizados de
maneira prejudicial ao meio ambiente. O Protocolo Verde surgiu, ento, como uma
tentativa de se adequar a realidade do mercado financeiro aos ditames da Lei
5 In Princpios do Equador: sustentabilidade e impactos na conduta ambiental dos bancos signatrios brasileiros. Dissertao de mestrado, Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo IPT; So Paulo, 2008.
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6.938/1981.
No delineamento das polticas para o setor florestal, por exemplo,
mister que se contemple preocupaes em relao converso de florestas, reas
protegidas, biodiversidade, mudanas climticas, conflito pelo uso da terra,
populaes tradicionais e indgenas, etc.. Alm da deliberao de todas essas aes
pertinentes sustentabilidade, importante que os bancos estabeleam
compromissos com a transparncia e com a garantia do cumprimento desses
compromissos por parte de seus clientes.
De outra banda, no que concerne a avaliao da regularidade
ambiental dos projetos a serem financiados imprescindvel (at pelo que
estabelece o art. 12, da Lei 6.938/1981) que a atividade econmica esteja licenciada
pelo rgo de controle ambiental competente.
Contudo, em relatrio (fls. 375/387), o Grupo de Trabalho para a
incorporao da varivel ambiental na gesto e concesso de crdito oficial e
benefcios fiscais (composto pelos integrantes do Protocolo Verde) revelou que
apesar de as instituies financeiras representadas no grupo j exigirem
licenciamento para a concesso de crditos com recursos oficiais, "o grau de
participao no acompanhamento e nas recomendaes decorrentes dos estudos
de impacto ambiental diferenciado. Pode-se notar ainda que, em geral, a
observncia da legislao ambiental mais efetiva quando se trata de
empreendimentos industriais, especialmente aqueles localizados em reas urbanas
ou que requeiram maior aporte de capital" (fl. 377).
Tal relatrio que culminou, inclusive, com a formalizao do
Protocolo de Intenes pela responsabilidade socioambiental entre o Ministrio do
Meio Ambiente, o BNDES, a Caixa Econmica Federal, o Banco do Brasil, o BASA e
o BNB, que data do dia 1.08.2008 (fls. 388/392) cuidou ainda de individualizar as
principais impresses do GT sobre os procedimentos adotados por cada um desses
bancos nas operaes de concesso de crdito oficial.
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Com relao ao BNDES, o relatrio mencionou que:
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES vem incorporando a varivel ambiental em seu processo de anlise e alocao de crditos desde 1976. Na dcada de 80, a partir de um intercmbio com o Banco Mundial, intensificou-se o envolvimento com a questo ambiental, por meio da criao de linhas de crdito especficas para o meio ambiente, tais como o apoio ao controle ambiental das empresas produtivas e, tambm, as que objetivam o apoio coleta, tratamento e disposio do lixo urbano e hospitalar.
O Departamento de Meio Ambiente e Estudos Macrossetoriais rgo interno que estabelece a estratgia de atuao do Banco na rea ambiental. Na anlise dos projetos apresentados ao BNDES, esse Departamento se utiliza de um sistema de classificao prvia dos projetos segundo o grau de risco ambiental. Em financiamentos a projetos de Controle do meio ambiente, o BNDES, desde 1986, j alocou mais de um bilho de reais e se constituiu na principal instituio nacional a apoiar tais projetos com crditos de longo prazo.
Nas operaes indiretas, ou seja, no repasse de recursos da Agncia de Financiamento de Mquinas e Equipamentos FINAME, do BNDES-Automtico e de outras linhas de crdito, os agentes financeiros devem requerer a documentao referente s exigncias ambientais legais, avaliando, entre outros aspectos, se a utilizao dos insumos realizada de forma no predatria.
No que concerne ao Banco do Brasil, o GT aduziu que:
No Banco do Brasil, caracterizado como um banco de mltiplas funes, agindo como banco comercial (crdito geral), banco setorial (crdito rural) e banco de desenvolvimento (gestor do Fundo Constitucional para a Regio Centro-Oeste), a varivel ambiental tratada em diversas normas e recomendaes.
Em financiamentos industriais, o licenciamento ambiental exigido e, para o financiamento da comercializao da pesca, madeira, borracha e outros produtos extrativos, as normas internas se tornam ainda mais rigorosas. Por exemplo, o Banco no financia serrarias que utilizem madeiras oriundas de floresta nativa. Com relao ao crdito rural, o Banco do Brasil possui convnios com empresas de assistncia tcnica que se comprometem a recomendar tecnologias de produo exequveis, dotadas de prticas conservacionistas adequadas defesa do solo e do meio ambiente, consoante a legislao ambiental em vigor.
Com relao aos recursos do Fundo Constitucional do Centro Oeste (FCO), principal fonte de recursos internos para operaes incentivadas de longo prazo geridas pelo Banco do Brasil, exigido, na apresentao dos projetos, o cumprimento da legislao ambiental, especialmente naqueles relativos ao controle e preservao do meio ambiente e equilbrio ecolgico. Em projetos de reforma agrria, includa a clusula contratual de comprometimento do devedor em conservar o meio ambiente, obedecendo a critrios tcnicos e legais de preservao das matas ciliares, encostas e topos de morro, de conservao do solo e gua, da utilizao do manejo integrado de pragas, de proteo dos mananciais, de proteo da fauna e da flora e outras consideraes de conservao ambiental indicadas na Constituio Federal e nas Constituies Estaduais. Isto tambm vlido para o Programa Especial de Crdito para
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Reforma Agrria PROCERA.
J quanto ao BASA, o relatrio consignou que:
O Banco da Amaznia S.A. - BASA, gestor dos recursos do Fundo Constitucional do Norte FNO, orienta sua ao de fomento segundo o Plano de Desenvolvimento da Amaznia PDA, que contm polticas e programas cujas diretrizes so norteadas para a preservao do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais. Dessa forma, e cumprindo a legislao ambiental, o BASA, nos financiamentos do setor rural, exige a observncia da conservao de 50% da reas das propriedades rurais, representada pela reserva legal na regio amaznica, com as respectivas averbaes em cartrio, certificados de regularidade e certido negativa junto ao IBAMA, alm de outras licenas previstas em lei.
O BASA dispe ainda, ao abrigo do FNO, do Programa de Apoio Sustentao e Preservao do Meio Ambiente PROSUMAN e do Programa de Desenvolvimento do Turismo Ecolgico PRODETUR, que so os principais instrumentos voltados para as questes ambientais. Alm disso, no mbito do FNO, existem linhas de crdito industrial para processamento e reciclagem de resduos slidos. Na rea de indstria madeireira s financia serrarias que desenvolvam projetos de manejo florestal, de reflorestamento ou cuja linha de produo seja verticalizada.
Por fim, o relatrio ainda apresenta um tpico intitulado de
Algumas dificuldades apontadas, no qual o GT argumenta sobre possveis
incongruncias da legislao e tenta eximir as instituies financeiras de seu dever
legal de exigir e fiscalizar a autenticidade de documentos comprobatrios de
regularizao ambiental nos procedimentos creditcios, justificando essa sua
ineficincia na limitada capacidade operacional dos rgos de controle ambiental e
na falta de uma maior conscientizao ambiental de empresrios e produtores
rurais. Veja-se:
A incorporao da varivel ambiental nos procedimentos creditcios enfrenta vrias dificuldades. A principal delas refere-se a limitada capacidade operacional dos rgos de controle ambiental, nas suas diferentes esferas governamentais, no tocante aplicao e interpretao da legislao, emisso das licenas cabveis e ao exerccio do trabalho de fiscalizao.Existem conflitos evidentes de instrumentos legais com a legislao ambiental. Por exemplo, no programa nacional de reforma agrria, o grau de utilizao da terra deve ser igual ou superior a 80%, para que se possa considerar a propriedade como produtiva. Outro exemplo o Imposto Territorial Rural, que aumenta o valor do imposto quanto menor for a explorao da propriedade. Em ambos os casos h um estmulo indireto ao desmatamento.Todos os problemas citados afetam o trabalho dos bancos. No BASA, o PROSUMAN encontra ainda dificuldades devido ausncia de normas relativas ao zoneamento ecolgico-econmico da regio Norte, principalmente no tocante ao manejo de reas
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florestais alteradas ou degradadas.Um setor especialmente problemtico o setor agropecurio. Os bancos identificaram a necessidade de uma maior conscientizao por parte de empresrios e produtores rurais para a realizao de um controle ambiental em suas atividades. Alm disso, a fiscalizao torna-se mais difcil na rea rural, onde o uso incorreto de agrotxicos pode comprometer no s o prprio produto como a qualidade ambiental da regio.
Apesar dessas concluses do Grupo de Trabalho aparentemente
se mostrarem satisfatrias, sob o ponto de vista das medidas que devem ser
implantadas ao cumprimento das exigncias legais para a concesso de crdito
oficial, o MPF identificou, factualmente (vide irregularidades relatadas no item 4,
desta ao), que o BANCO DO BRASIL no promove efetivamente essas boas prticas ambientais na gesto de recursos do Fundo Constitucional do Norte e do Tesouro Nacional, pois est desrespeitando a lei e ignorando requisitos mnimos para a concesso de crdito rural a atividades agropecurias que integram o bioma Amaznia.
3. DOS REQUISITOS LEGAIS MNIMOS PARA A CONCESSO DE CRDITO RURAL A ATIVIDADES AGROPECURIAS NOS MUNICPIOS QUE INTEGRAM O BIOMA AMAZNIA
A Constituio Federal vigente j elenca, em seu art. 170, VI, a
defesa do meio ambiente como preceito basilar da ordem econmica e financeira,
enunciando o seguinte:
Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios:[...]VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e servios e de seus processos de elaborao e prestao; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 42, de 19.12.2003)
De outra banda, no que se referem s regras para explorao de
atividades econmicas potencialmente lesivas ao meio ambiente, importante partir-
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc42.htm#art170vihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc42.htm#art170vi
se da lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei n 6.938/81), pois o
instrumento normativo que prev os mecanismos e os meios de atuao para
preservao do meio ambiente e preveno de danos ambientais.
Neste prisma, veja-se o art. 12 da referida lei:
Art. 12 - As entidades e rgos de financiamento e incentivos governamentais condicionaro a aprovao de projetos habilitados a esses benefcios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critrios e dos padres expedidos pelo CONAMA.Pargrafo nico - As entidades e rgos referidos no "caput" deste artigo devero fazer constar dos projetos a realizao de obras e aquisio de equipamentos destinados ao controle de degradao ambiental e melhoria da qualidade do meio ambiente.
Assim, v-se na Lei n 6.938/81 uma primeira aluso s
obrigaes das entidades e rgos que financiam atividades potencialmente
poluidoras, sobretudo com relao a necessidade de cobrana das licenas
ambientais dos projetos a serem financiados por essas instituies.
A previso geral de necessidade de licenciamento ainda vem
prevista no art. 10 da mesma lei:
Art. 10 - A construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradao ambiental, dependero de prvio licenciamento de rgo estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis - IBAMA, em carter supletivo, sem prejuzo de outras licenas exigveis. (Redao dada pela Lei n 7.804, de 1989)
J as normas, critrios e padres ambientais, bem como as
atividades que so passveis de licenciamento ambiental, devem estar previstas em
Resolues do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA.
Com relao as atividades econmicas de natureza primria, a
Resoluo n 237/97, do CONAMA, ao regulamentar o licenciamento ambiental,
elenca as atividades agropecurias em seu anexo I, enquadrando-as nas
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7804.htm#art1viihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7804.htm#art1vii
Atividades ou Empreendimentos Sujeitos ao Licenciamento Ambiental.
Atividades agropecuriasProjeto agrcolaCriao de animaisProjetos de assentamentos e de colonizao
Verifica-se, ento, que desde a Lei 6.938/81, j havia uma previso, mesmo que genrica, da necessidade de exigncia de LICENCIAMENTO AMBIENTAL das atividades que aspirassem ser objeto de financiamento bancrio, pelo menos por meio das instituies oficiais de crdito.
O Estudo de Impacto Ambiental EIA e o Relatrio de Impacto
Ambiental RIMA so tambm dois instrumentos exigidos para a expedio de
determinadas licenas ambientais. A Resoluo n 001/86, posteriormente alterada
pela Resoluo n 011/86, ambas do CONAMA, regulam as atividades cujo
licenciamento condicionado execuo do EIA-RIMA:
Artigo 2 - Depender de elaborao de estudo de impacto ambiental e respectivo relatrio de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos aprovao do rgo estadual competente, e do IBAMA em carter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:[...]XVII - Projetos Agropecurios que contemplem reas acima de 1.000 ha. ou menores, neste caso, quando se tratar de reas significativas em termos percentuais ou de importncia do ponto de vista ambiental, inclusive nas reas de proteo ambiental.
Portanto, se o EIA e o RIMA so exigidos como requisitos para o licenciamento de atividades agropecurias que sejam executadas em reas acima de 1.000 ha., ou menores, desde que de significativa importncia do ponto de vista ambiental, nestas hipteses eles tambm deveriam ser exigidos como requisitos para a concesso de financiamento bancrio a tais atividades pelas instituies oficiais.
Alm das regras descritas acima, a lei n 9.605/98 ao dispor sobre
as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao
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meio ambiente, elenca em seu art. 72, entre as sanes administrativas cabveis, a
perda ou suspenso da participao em linhas de financiamento toda ao ou
omisso que viole as regras jurdicas de uso, gozo, promoo, proteo e
recuperao do meio ambiente (art. 70, caput). In verbis:
Art. 70. Considera-se infrao administrativa ambiental toda ao ou omisso que viole as regras jurdicas de uso, gozo, promoo, proteo e recuperao do meio ambiente.
[...]
Art. 72. As infraes administrativas so punidas com as seguintes sanes, observado o disposto no art. 6:[...]XI - restritiva de direitos.[...] 8 As sanes restritivas de direito so:[...]IV - perda ou suspenso da participao em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crdito;
Pois bem. No tocante as regras que disciplinam a concesso de
crdito propriamente dito, temos a lei n 4.829/65, que d ao Conselho Monetrio
Nacional CMN a competncia de regulamentar o crdito rural:
Art. 4 - O Conselho Monetrio Nacional, de acordo com as atribuies estabelecidas na Lei n 4.595, de 31 de dezembro de 1964 , disciplinar o crdito rural do Pas e estabelecer, com exclusividade, normas operativas traduzidas nos seguintes tpicos:I - avaliao, origem e dotao dos recursos a serem aplicados no crdito rural;II - diretrizes e instrues relacionadas com a aplicao e controle do crdito rural;III - critrios seletivos e de prioridade para a distribuio do crdito rural;IV - fixao e ampliao dos programas de crdito rural, abrangendo todas as formas de suplementao de recursos, inclusive refinanciamento.[...]Art. 14 - Os termos, prazos, juros e demais condies das operaes de crdito rural, sob quaisquer de suas modalidades, sero estabelecidos pelo Conselho Monetrio Nacional, observadas as disposies legais especficas, no expressamente revogadas pela presente Lei, inclusive o favorecimento previsto no art. 4, inciso IX, da Lei n 4.595, de 31 de dezembro de 1964, ficando revogado o art. 4 do Decreto-Lei n 2.611, de 20 de setembro de 1940.
A despeito da importante competncia que possui, o Conselho Monetrio Nacional CMN tem uma atuao bastante tmida no tocante a vedar a concesso de crdito a atividades poluidoras ou
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4595.htm
degradantes do meio ambiente. A insero de critrios que exijam a regularidade ambiental e fundiria da propriedade financiada, por exemplo, s foram inseridos de forma mais concreta por meio da resoluo CMN n 3.545, de 03.03.2008, conforme ser mais frente visto.
Ademais, em relao mais especfica ao crdito rural, temos a lei
n 8.171/91, que dispe sobre a Poltica Agrcola. Este diploma legal estipula, em
seu art. 50, que:
Art. 50. A concesso de crdito rural observar os seguintes preceitos bsicos:I - idoneidade do tomador;II - fiscalizao pelo financiador;III - liberao do crdito diretamente aos agricultores ou por intermdio de suas associaes formais ou informais, ou organizaes cooperativas;IV - liberao do crdito em funo do ciclo da produo e da capacidade de ampliao do financiamento;V - prazos e pocas de reembolso ajustados natureza e especificidade das operaes rurais, bem como capacidade de pagamento e s pocas normais de comercializao dos bens produzidos pelas atividades financeiras.[...] 3 A aprovao do crdito rural levar sempre em conta o zoneamento agroecolgico.
Importante notar, que a mesma lei 8.171/91 dispe tambm
acerca do Programa de Garantia da Atividade Agropecuria PROAGRO, em seu
art. 59, com redao dada pela Lei n 12.058, de 2009.
No tocante ao Manual do Crdito Rural - MCR, instrumento
utilizado pelo CMN para regulamentar a atividade de financiamento das atividades
rurais, v-se, primeiramente, algumas prescries que se ligam ao Cdigo Florestal.
O MCR 2-1 dispe sobre as condies gerais para a concesso de crdito rural.
Nestas referidas condies gerais, vemos a obrigatoriedade da
instituio financeira verificar eventuais multas que o proprietrio do projeto a ser
financiado possua, por infrao ao Cdigo Florestal:
7 - As dvidas fiscais ou previdencirias e as multas por infrao do Cdigo
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Florestal impedem o deferimento de crdito rural, se a repartio interessada comunicar instituio financeira o ajuizamento da cobrana. (Cta-Circ 2.584)
Porm, logo em seguida, se preocupando apenas com o aspecto
financeiro e vulnerando a proteo aos aspectos florestais e ambientais, o mesmo
dispositivo normativo prev a possibilidade de concesso de crdito aos produtores
que derem garantia de pagar o emprstimo e a multa que pesa contra sua
propriedade:
8 - A instituio financeira avisada do ajuizamento da cobrana, na hiptese do item anterior, pode conceder crdito rural ao executado, mediante constituio de garantias bastantes cobertura conjunta do dbito em litgio e da dvida a contrair. (Cta-Circ 2.584)
9 - O financiamento s pode ser concedido se o executado depositar em juzo a quantia sob litgio, quando a cobrana judicial se referir a dvidas oriundas de contribuies ao Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra). (Cta-Circ 2.584)
Ou seja, levando-se em conta o citado dispositivo, de pouco vale
proibir a concesso de crdito se logo em seguida se possibilita a mesma, caso o
produtor tenha meios suficientes para saudar as suas dvidas. Entretanto, pelo que
prev o MCR, a avaliao da existncia ou no da infrao ambiental um dever do
banco.
Dito isso. imperioso ressaltar que a maior mudana em termos de normatizao do CMN quanto a concesso de financiamento, mesmo que restrito ao bioma Amaznia, veio com a Resoluo n 3.545/2008 do CMN, que alterou o MCR 2-1, incluindo requisitos legais mnimos para a concesso de crdito rural na citada regio.
Primeiramente, essa Resoluo incluiu a alnea g ao item 1,
passando a exigir s instituies financeiras que operam com essa modalidade de
crdito a observncia das recomendaes e restries do zoneamento
agroecolgico e do Zoneamento Ecolgico-Econmico (ZEE). Tal mecanismo pouco
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inova, visto que j era em parte previsto no art. 50, 3 da lei n 8.171/91, conforme
exposto acima. Ou seja, tal medida j era exigvel desde o ano de 1991.
No tocante especificamente ao Estado do Par, tem-se na Lei estadual n 6.745/05 a estipulao de um macro-zoneamento Ecolgico-Econmico, que apesar de no ser ainda em uma escala de detalhamento desejvel, j deveria ser observado pelas instituies na concesso de financiamento em cada regio.
Alm da exigncia de observncia do ZEE, as alteraes mais significativas implementadas pela Resoluo n 3.545/2008 CMN no Manual de crdito Rural esto na incluso do item 12 e seguintes do MCR 2-1.
Vejamos, ento, a ntegra da Resoluo 3.545/2008-CMN, que pea-chave ao deslinde das constataes descritas no item 4 desta ACP:
Resoluo CMN/BACEN n 3.545, de 03/03/2008:O BANCO CENTRAL DO BRASIL, na forma do art. 9 da Lei n 4.595, de 31 de dezembro de 1964, torna pblico que o CONSELHO MONETRIO NACIONAL, em sesso realizada em 28 de fevereiro de 2008, tendo em vista as disposies dos arts. 4, inciso VI, da referida Lei, 4 e 14 da Lei n 4.829, de 5 de novembro de 1965, resolveu:
Art. 1 O MCR 2-1 passa a vigorar com as seguintes alteraes e novos dispositivos:
I - no item 1, adequao da alnea "g", nos termos abaixo:
"g) observncia das recomendaes e restries do zoneamento agroecolgico e do Zoneamento Ecolgico-Econmico - ZEE."
II - incluso de novos itens, com os seguintes dizeres:
"12 - Obrigatoriamente a partir de 1 de julho de 2008, e facultativamente a partir de 1 de maio de 2008, a concesso de crdito rural ao amparo de recursos de qualquer fonte para atividades agropecurias nos municpios que integram o Bioma Amaznia, ressalvado o contido nos itens 14 a 16 do MCR 2-1, ficar
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condicionada :
a) apresentao, pelos interessados, de:
I - Certificado de Cadastro de Imvel Rural - CCIR vigente; e
II - declarao de que inexistem embargos vigentes de uso econmico de reas desmatadas ilegalmente no imvel; e
III - licena, certificado, certido ou documento similar comprobatrio de regularidade ambiental, vigente, do imvel onde ser implantado o projeto a ser financiado, expedido pelo rgo estadual responsvel; ou
IV - na inexistncia dos documentos citados no inciso anterior, atestado de recebimento da documentao exigvel para fins de regularizao ambiental do imvel, emitido pelo rgo estadual responsvel, ressalvado que, nos Estados onde no for disponibilizado em meio eletrnico, o atestado dever ter validade de 12 (doze) meses;
b) verificao, pelo agente financeiro, da veracidade e da vigncia dos documentos referidos na alnea anterior, mediante conferncia por meio eletrnico junto ao rgo emissor, dispensando-se a verificao pelo agente financeiro quando se tratar de atestado no disponibilizado em meio eletrnico; e
c) incluso, nos instrumentos de crdito das novas operaes de investimento, de clusula prevendo que, em caso de embargo do uso econmico de reas desmatadas ilegalmente no imvel, posteriormente contratao da operao, nos termos do 11 do art. 2 do Decreto n 3.179, de 21 de setembro de 1999, ser suspensa a liberao de parcelas at a regularizao ambiental do imvel e, caso no seja efetivada a regularizao no prazo de 12 (doze) meses a contar da data da autuao, o contrato ser considerado vencido antecipadamente pelo agente financeiro.
13 - Aplica-se o disposto no item anterior tambm para financiamento a parceiros, meeiros e arrendatrios.
14 - Quando se tratar de beneficirios enquadrados no Pronaf ou de produtores rurais que disponham, a qualquer ttulo, de rea no superior a 4 (quatro) mdulos fiscais, a documentao referida no MCR 2-1-12-"a"-II e III/IV poder ser substituda por declarao individual do interessado, atestando a existncia fsica de reserva legal e rea de preservao permanente, conforme previsto no Cdigo Florestal, e a inexistncia de embargos vigentes de uso econmico de reas desmatadas ilegalmente
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no imvel.
15 - Para os beneficirios do Programa Nacional de Reforma Agrria - PNRA enquadrados nos Grupos "A" e "A/C" do Pronaf, a documentao referida no MCR 2-1-12-"a" e MCR 2-1-14 poder ser substituda por declarao, fornecida pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - Incra, atestando que o Projeto de Assentamento PA encontra-se em conformidade com a legislao ambiental e/ou que foi firmado Termo de Ajustamento de Conduta com essa finalidade, tendo como anexo da declarao a respectiva relao de beneficirios do PA.
16 - Os agricultores familiares enquadrados no Grupo "B" do Pronaf ficam dispensados das exigncias previstas no MCR 2-1-12-"a" e "b" e MCR 2-1-14.
Art. 2 O MCR 2-2-11 passa a vigorar com a seguinte adequao de redao em sua alnea "c":"c) o empreendimento ser conduzido com observncia das normas referentes ao zoneamento agroecolgico e ao Zoneamento Ecolgico-Econmico - ZEE".
Art. 3 Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao.
Tais dispositivos merecem alguns comentrios.
3.1. Quanto ao Certificado de Cadastro de Imvel Rural CCIR (inciso I, a, do item 12):
Com relao a obrigatoriedade descrita no inciso I, da alnea a
do item 12, cumpre esclarecer que o Certificado de Cadastro de Imvel Rural
CCIR, emitido pelo INCRA, foi institudo pela Lei Federal 5.868, de 12 de dezembro
de 1972, e regulamentado pelo decreto 72.106 de 18/04/1973, legislao esta que j
obrigava todos os proprietrios rurais, de domnio til ou possuidores a qualquer
ttulo, bem como arrendatrios e comodatrios de imveis rurais que porventura
possam ser destinados a explorao da atividade agropecuria, a se cadastrarem no
INCRA.
Assim estabelecem o art. 2, da Lei 5.868/1972, e art. 4 do
Decreto 72.106/1973, respectivamente, que:
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L. 5.868/1972:Art. 2 - Ficam obrigados a prestar declarao de cadastro, nos prazos e para os fins a que se refere o artigo anterior, todos os proprietrios, titulares de domnio til ou possuidores a qualquer ttulo de imveis rurais que sejam ou possam ser destinados explorao agrcola, pecuria, extrativa vegetal ou agroindustrial, como definido no item I do Art. 4 do Estatuto da Terra.
Decreto 72.106/1973:Art. 4 As pessoa obrigadas declarao de cadastro na forma do disposto no artigo 2 da Lei n 5.868, de 12 de dezembro de 1972, devero fornecer os dados exigidos pelos formulrios e questionrios, nos prazos fixados e de acordo com as normas previstas em Instruo Especial do INCRA, aprovada por portaria do Ministro da Agricultura na forma do artigo 43 deste Decreto.
Note-se, por oportuno, que, dentre outras funcionalidades, o CCIR
um documento fundamental para fins de manuteno e aprimoramento da base de
informaes do Cadastro Nacional de Imveis Rurais CNIR, gerenciado
conjuntamente pelo INCRA e pela Secretaria da Receita Federal, e compartilhado
por diversas instituies pblicas federais e estaduais produtoras e usurias de
informaes sobre o meio rural brasileiro, na forma do 2, do art. 2, da Lei
5.868/1972, includo pela Lei 10.267, de 28.08.2001.
Alm disso, o CCIR ainda figura como um documento essencial
para conferncia do recolhimento do Imposto Territorial Rural ITR e para fins de
acompanhamento e fiscalizao da regularidade das informaes prestadas aos
servios notariais, consoante se vislumbra nos 3, 6, 7 e 8, do art. 22, da Lei
4.947/1966, todos includos tambm pela Lei 10.267/2001. In verbis:
Lei 4.947/1966:Art. 22 [][...] 3o A apresentao do Certificado de Cadastro de Imvel Rural CCIR, exigida no caput deste artigo e nos 1o e 2o, far-se-, sempre, acompanhada da prova de quitao do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ITR, correspondente aos ltimos cinco exerccios, ressalvados os casos de inexigibilidade e dispensa previstos no art. 20 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996.[...] 6o Alm dos requisitos previstos no art. 134 do Cdigo Civil e na Lei no 7.433, de 18 de dezembro de 1985, os servios notariais so obrigados a mencionar nas escrituras os seguintes dados do CCIR:I cdigo do imvel;II nome do detentor;III nacionalidade do detentor;IV denominao do imvel;
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V localizao do imvel. 7o Os servios de registro de imveis ficam obrigados a encaminhar ao INCRA, mensalmente, as modificaes ocorridas nas matrculas imobilirias decorrentes de mudanas de titularidade, parcelamento, desmembramento, loteamento, remembramento, retificao de rea, reserva legal e particular do patrimnio natural e outras limitaes e restries de carter ambiental, envolvendo os imveis rurais, inclusive os destacados do patrimnio pblico. 8o O INCRA encaminhar, mensalmente, aos servios de registro de imveis, os cdigos dos imveis rurais de que trata o 7o, para serem averbados de ofcio, nas respectivas matrculas.
No obstante, a obrigatoriedade de cadastramento de imveis
rurais para fins de realizao de negcios jurdicos (como arrendamento, hipoteca e
venda) traz tona o 1, do art. 22, da Lei 4.947, de 06.04.1966, quando a
certificao dos cadastros de imveis rurais ainda era atribuio do extinto Instituto
Brasileiro de Reforma Agrria IBRA. Seno vejamos:
Art. 22 - A partir de 1 de janeiro de 1967, somente mediante apresentao do Certificado de Cadastro, expedido pelo IBRA e previsto na Lei n 4.504, de 30 de novembro de 1964, poder o proprietrio de qualquer imvel rural pleitear as facilidades proporcionadas pelos rgos federais de administrao centralizada ou descentralizada, ou por empresas de economia mista de que a Unio possua a maioria das aes, e, bem assim, obter inscrio, aprovao e registro de projetos de colonizao particular, no IBRA ou no INDA, ou aprovao de projetos de loteamento. 1 - Sem apresentao do Certificado de Cadastro, no podero os proprietrios, a partir da data a que se refere este artigo, sob pena de nulidade, desmembrar, arrendar, hipotecar, vender ou prometer em venda imveis rurais.
Ou seja, a Resoluo CMN n 3.545/2008, na realidade em nada
inovou com relao a exigncia do CCIR na concesso de crditos rurais para
projetos de explorao agropecuria no bioma amaznico, mas somente seguiu as
exigncias legais preexistentes.
3.2. No tocante a exigncia de Declarao de que inexistem embargos vigentes de uso econmico de reas desmatadas ilegalmente no imvel (inciso II, a, do item 12):
No que se refere ao inciso II, a, do item 12, vale lembrar que a
Resoluo CMN n 3.545/2008 veio apenas regulamentar, no mbito de sua
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4504.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4504.htm
competncia, o que j estava previsto no art. 72, inciso VII, 8, inciso IV, da Lei
9.605/1998. Isto porque, estes dispositivos j elencavam o embargo de obra ou
atividade como sano administrativa e a perda ou suspenso de participao em
linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crdito como sano
restritiva de direitos para fins de punio de infratores ambientais.
Note-se, outrossim, que o Decreto n 6.321/07, em seu art. 11,
tambm dispunha sobre a vedao da concesso de crdito rural, por instituies
oficiais, no caso de existncia de embargo de uso econmico, por ocasio de
desmatamento ilegal:
Art. 11. As agncias oficiais federais de crdito no aprovaro crdito de qualquer espcie para:I - atividade agropecuria ou florestal realizada em imvel rural que descumpra embargo de atividade nos termos dos 11 e 12 do art. 2 o do Decreto n o 3.179, de 21 de setembro de 1999; eII - servio ou atividade comercial ou industrial de empreendimento que incorra na
infrao prevista no art. 39-A do Decreto n o 3.179, de 1999.
Importante notar que o Decreto n 3.179/99 (mencionado no
dispositivo acima) regulamentava a lei 9.605/98 no tocante s sanes
administrativas, e foi revogado pelo Decreto n 6.514/08, o qual passou tambm a
regulamentar a referida Lei.
O Decreto anterior (Decreto n 3.179/99) foi revogado pela nova
norma de forma completa. Porm, o Decreto n 6.321/07 no teve seu art. 11
revogado, continuando, portanto, em vigor.
Diga-se ainda, que o Decreto 6.514/2008 cuidou de trazer
dispositivo equivalente aos 11 e 12, do art. 2 do Decreto n 3.179/99 (revogado),
que assim dispunham:
Decreto 3.179/99:Art. 2o As infraes administrativas so punidas com as seguintes sanes: 11. No caso de desmatamento ou queimada florestal irregulares de vegetao natural, o agente autuante embargar a prtica de atividades econmicas sobre a rea
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art39ahttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art39ahttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art39ahttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A712http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A712http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A712http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A712http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A712http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A712http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm#art2%C2%A711.
danificada, excetuadas as de subsistncia, e executar o georreferenciamento da rea embargada para fins de monitoramento, cujos dados devero constar do respectivo auto de infrao. (Redao dada pelo Decreto n 6.321, de 2007). 12. O embargo do Plano de Manejo Florestal Sustentvel - PMFS no exonera seu detentor da execuo de atividades de manuteno ou recuperao da floresta, permanecendo o Termo de Responsabilidade de Manuteno da Floresta vlido at o prazo final da vigncia estabelecida no PMFS. (Includo pelo Decreto n 5.975, de 2006)
Como dito, parece haver dispositivo equivalente no Decreto n
6.514/08, porm ainda mais completo:
Art. 16. No caso de reas irregularmente desmatadas ou queimadas, o agente autuante embargar quaisquer obras ou atividades nelas localizadas ou desenvolvidas, excetuando as atividades de subsistncia. (Redao dada pelo Decreto n 6.686, de 2008).
1o O agente autuante dever colher todas as provas possveis de autoria e materialidade, bem como da extenso do dano, apoiando-se em documentos, fotos e dados de localizao, incluindo as coordenadas geogrficas da rea embargada, que devero constar do respectivo auto de infrao para posterior georreferenciamento. (Includo pelo Decreto n 6.686, de 2008).
2o No se aplicar a penalidade de embargo de obra ou atividade, ou de rea, nos casos em que a infrao de que trata o caput se der fora da rea de preservao permanente ou reserva legal, salvo quando se tratar de desmatamento no autorizado de mata nativa. (Includo pelo Decreto n 6.686, de 2008).Art. 17. O embargo de rea irregularmente explorada e objeto do Plano de Manejo Florestal Sustentvel - PMFS no exonera seu detentor da execuo de atividades de manuteno ou recuperao da floresta, na forma e prazos fixados no PMFS e no termo de responsabilidade de manuteno da floresta. (Redao dada pelo Decreto n 6.686, de 2008).
J o art. 39-A do Decreto n 3.172/99 (citado no inciso II, do art.
11, do Decreto 3.179/99) dispunha:
Art. 39-A. Incorre nas mesmas penas aplicveis aos infratores do disposto nos arts. 25, 28 e 39 deste Decreto a pessoa fsica ou jurdica que adquirir, intermediar, transportar ou comercializar produto ou subproduto de origem animal ou vegetal produzido sobre rea objeto do embargo lavrado nos termos do 11 do art. 2o deste Decreto. (Includo pelo Decreto n 6.321, de 2007).
O que equivale ao art. 54, no Decreto n 6.514/08:
Art. 54. Adquirir, intermediar, transportar ou comercializar produto ou subproduto de origem animal ou vegetal produzido sobre rea objeto de embargo:
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6321.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6321.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5975.htm#art27http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6321.htm#art12
Multa de R$ R$ 500,00 (quinhentos reais) por quilograma ou unidade. Pargrafo nico. A aplicao do disposto neste artigo depender de prvia divulgao dos dados do imvel rural, da rea ou local embargado e do respectivo titular de que trata o 1o do art. 18 e estar limitada rea onde efetivamente ocorreu o ilcito. ( Redao dada pelo Decreto n 6.686, de 2008).
Importante observar tambm o art. 18 do mesmo Decreto n
6.514/2008, que versa sobre o descumprimento total ou parcial de embargo:
Art. 18. O descumprimento total ou parcial de embargo, sem prejuzo do disposto no art. 79, ensejar a aplicao cumulativa das seguintes sanes:I - suspenso da atividade que originou a infrao e da venda de produtos ou subprodutos criados ou produzidos na rea ou local objeto do embargo infringido; eII - cancelamento de registros, licenas ou autorizaes de funcionamento da atividade econmica junto aos rgos ambientais e de fiscalizao. (Redao dada pelo Decreto n 6.686, de 2008).
1o O rgo ou entidade ambiental promover a divulgao dos dados do imvel rural, da rea ou local embargado e do respectivo titular em lista oficial, resguardados os dados protegidos por legislao especfica para efeitos do disposto no inciso III do art.
4o da Lei no 10.650, de 16 de abril de 2003, especificando o exato local da rea embargada e informando que o auto de infrao encontra-se julgado ou pendente de julgamento. (Includo pelo Decreto n 6.686, de 2008). 2o A pedido do interessado, o rgo ambiental autuante emitir certido em que conste a atividade, a obra e a parte da rea do imvel que so objetos do embargo, conforme o caso. (Includo pelo Decreto n 6.686, de 2008).
Portanto, o disposto no inciso II, a, do item 12, do MCR 2-1 no
tocante a exigncia de documento comprobatrio de inexistncia de embargos do
rgo ambiental na rea a ser financiada possui base na legislao acima exposta,
cuja vigncia anterior a Resoluo CMN n 3.545/2008.
3.3. Finalmente, no que diz respeito a exigncia da Licena, Certificado, Certido ou documento similar comprobatrio de REGULARIDADE AMBIENTAL vigente do imvel onde ser implantado o projeto a ser financiado, expedido pelo rgo estadual responsvel OU atestado de recebimento da documentao exigvel para fins de REGULARIZAO AMBIENTAL do imvel, emitido pelo rgo estadual responsvel, vale tecer as seguintes consideraes:
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6686.htm#art1
O inciso III, a, do item 12, que se refere a LICENA
AMBIENTAL, certificado, certido ou documento que comprove a regularidade
ambiental do imvel rural a ser financiado encontra esteio em vasta legislao.
Conforme visto no incio deste tpico, a prpria lei da Poltica Nacional do Meio
Ambiente (Lei n 6.938/81) j disps sobre isso, no tocante as entidades e rgos de
financiamento pblico, em seu art. 12.
Tal licenciamento, como tambm j foi explorado neste petitrio,
foi regulamentado pela Resoluo n 237/97 do CONAMA. Ou seja, a modificao
no MCR veio apenas aprimorar a lei, fortalecendo a necessidade de sua utilizao
pelas instituies financeiras, e no fazendo mais diferena entre entidades e
rgos de financiamento e as instituies privadas.
De toda sorte, importante deixar claro qual o documento expedido pelo rgo estadual de controle ambiental suficiente para atestar a Regularidade Ambiental do imvel rural onde o projeto deve ser implantado.
Nesse sentido, imperioso observar que pelo que dispe o art. 10,
da Lei 6.938/81, compete privativamente ao rgo estadual (in casu, a Secretaria
Estadual de Meio Ambiente SEMA/PA) expedir a Licena Ambiental necessria para a construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimentos de
atividades utilizadoras de recursos naturais. Ademais, de acordo com o 4, do
mesmo dispositivo legal, essa funo de expedir licenciamento ambiental
incumbida de forma supletiva ao IBAMA, que somente tem competncia de expedir
tal documento no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de
mbito nacional ou regional.
Pois bem. No mbito da legislao do Estado do Par, o art. 93, da Lei 5.887, de 09.05.1995, a qual dispe sobre a Poltica Estadual de Meio Ambiente, adverte para a necessidade do LICENCIAMENTO AMBIENTAL dos empreendimentos e atividades utilizadoras e exploradoras de recursos naturais (inclua-se a as agrossivilpastoris), dispondo que:
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Art. 93 - A construo, instalao, ampliao, reforma e funcionamento de empreendimentos e atividades utilizadoras e exploradoras de recursos naturais, considerados efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como, os capazes de causar significativa degradao ambiental, sob qualquer forma, dependero de prvio licenciamento do rgo ambiental.
Pargrafo nico - O licenciamento de que trata o caput desse artigo ser precedido de estudos que comprovem, dentre outros requisitos, os seguintes:
I - os reflexos scio-econmicos s comunidades locais, considerados os efetivos e comprovados riscos de poluio do meio ambiente e de significativa degradao ambiental, comparados com os benefcios resultantes para a vida e o desenvolvimento material e intelectual da sociedade;
II - as conseqncias diretas ou indiretas sobre outras atividades praticadas na regio, inclusive de subsistncia.
Por sua vez, regulamentando o referido dispositivo da Lei da
Poltica Estadual de Meio Ambiente, s que especificamente com relao as atividades agrossivilpastoris e aos projetos de assentamentos de reforma agrria, o Decreto Estadual n 857, de 30.01.2004, assim dispe:
Art. 1 O licenciamento ambiental, de competncia da Secretaria Executiva de Estado de Cincia, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTAM, das atividades agrosilvipastoris e dos projetos de assentamento de reforma agrria obedecer ao disposto neste Decreto.
Art. 2 O licenciamento ambiental de atividades agrosilvipastoris localizadas em zona rural ser realizado por intermdio da Licena de Atividade Rural LAR.
Pargrafo nico. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por:
I - atividades agrosilvipastoris, as relativas agricultura, pecuria e silvicultura;
II - zona rural do Municpio, aquela assim declarada pelo gestor municipal;
III - Licena de Atividade Rural, instrumento de controle prvio da realizao da atividade agrosilvipastoril, em suas fases de planejamento, implantao e operao.
Portanto, o documento mencionado no inciso III, a, do item 12, da Resoluo CMN 3.545/2008, que deve ser expedido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente SEMA (antiga SECTAM), para qualquer atividade agropecuria (que se inserem no gnero agrossivilpastoril) localizada na zona rural de Municpios situados no Estado do Par, por fora do que disciplina o art. 2 retro, a LICENA DE ATIVIDADE RURAL LAR.
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Cumpre informar que aps a edio do Decreto Estadual n
857/2008, foram publicados outros dois Decretos Estaduais a respeito do
licenciamento ambiental (so eles: o Decreto Estadual n 1.120, de 08.07.2008 e o
de n 1.881, de 14.09.2009), no entanto, ambas as normas referem-se
exclusivamente aos prazos de validade das Licenas Prvias, Licenas de Operao
e das Licenas de Instalao, no trazendo nenhuma outra alterao significativa
sobre o licenciamento ambiental.
Logo, para fins de atendimento dos incisos III e IV, da alnea a, do item 12, da Resoluo CMN n 3.545/2008, faz-se necessrio que o pretenso emitente de uma cdula de crdito rural 6 tenha obtido a referida LICENA DE ATIVIDADE RURAL LAR do imvel financiado (inciso III, a, do item 12, da Resoluo CMN 3.545/2008). Ou, na ausncia deste documento, tenha, no mnimo, o protocolo de pedido de obteno desta LAR (j que este o nico documento que atesta a REGULARIDADE AMBIENTAL do imvel rural), na data da emisso do crdito (inciso IV, a, do item 12, da Resoluo CMN n 3.545/2008).
Alm disso, importante salientar que o CADASTRO AMBIENTAL RURAL CAR-PA, criado por meio do Decreto Estadual n 1.148, de 17.07.2008, que constitui-se como mais um dos instrumentos da Poltica Estadual de Florestas e Meio Ambiente, no figura-se como um documento suficiente para comprovar a regularidade ambiental, uma vez que o prprio art. 4, do Decreto que o instituiu adverte sobre a sua precariedade com relao LAR. Veja-se:
6 Cdula de Crdito Rural o nome do instrumento (ttulo de crdito) pelo qual o emitente (devedor) obtm da instituio financeira (credor) o respectivo crdito para implementao do projeto financiado, podendo ter outras denominaes de acordo com a modalidade da transao efetuada, na forma do art. 9, do Decreto-Lei n 167, de 14.02.1967. In verbis:
Art 9 A cdula de crdito rural promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real cedularmente constituda, sob as seguintes denominaes e modalidades:
I - Cdula Rural Pignoratcia. II - Cdula Rural Hipotecria. III - Cdula Rural Pignoratcia e Hipotecria. IV - Nota de Crdito Rural.
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Art. 4 O CAR-PA no autoriza qualquer atividade econmica no imvel rural, explorao florestal, supresso de vegetao, nem se constitui em prova da posse ou propriedade para fins de regularizao fundiria.
Assim, a existncia do CAR no pressupe a emisso futura de uma LAR, visto que so documentos/instrumentos distintos, que devem ser solicitados por meio de processos autnomos e no tem a mesma finalidade, sendo que a LAR o nico que garante a regularidade ambiental do imvel rural. Logo, repita-se: para fins de atendimento do inciso IV, a, do item 12, da Resoluo CMN n 3.545/2008, faz-se necessrio que o interessado tenha dado entrada no processo de obteno d a LAR, pouco importando (para o cumprimento da exigncia do CMN e da legislao ambiental em vigor) a existncia ou no de um Cadastro Ambiental Rural.
Vale lembrar ainda que o CADASTRADO AMBIENTAL RURAL
PROVISRIO CAR-PROVISRIO, criado pela SEMA/PA por meio da Instruo
Normativa n 39, de 04.02.2010, tambm no o documento adequado para o
cumprimento do inciso IV, a, do item 12, da Resoluo do CMN. propsito, veja-
se o que estabelecem os arts. 4 e 5 da referida IN:
Art. 4 - A emisso do CAR-PA provisrio ser efetuada no Sistema de Licenciamento e Monitoramento Ambiental SIMLAM, localizado no site da SEMA-PA, na rede mundial de computadores (internet). Ao final do cadastramento ser impresso o certificado contendo seqncia autenticadora do tipo cdigo de barras e inscrio nica com nmero em ordem seqencial, que ser vinculada ao imvel rural, independente de transferncia de propriedade, posse, domnio ou ocupao.
1 A inscrio no CAR-PA possui carter declaratrio e provisrio, devendo inicialmente o declarante apresentar a delimitao da rea da Propriedade Rural Total APRT. Os imveis que j tiverem as informaes descritas no pargrafo seguinte, podero apresent-las no momento inicial da inscrio do CAR-PA no site oficial da SEMA.
2 A proposta de rea de Reserva Legal ARL, a rea de Preservao Permanente APP, rea para Uso Alternativo do Solo AUAS, rea Desmatada AD e outras reas, devero ser apresentadas antes do pedido de licenciamento ambiental.
3 - No caso dos municpios embargados pelo desmatamento de acordo com Decreto Federal n 6.321, de 21 de dezembro de 2007, devero apresentar os demais dados descritos no pargrafo anterior, no prazo de 6 meses, a contar da data de inscrio do no CAR-Provisrio.
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Art. 5 O CAR-PA s se tornar definitivo a partir da anlise e ratificao, pela SEMA, das propostas apresentadas pelo declarante para a rea da Propriedade Rural Total - APRT, rea de Preservao Permanente - APP, Reserva Legal ARL, rea para Uso Alternativo do Solo AUAS e rea Desmata AD e outras reas.Pargrafo nico - A supracitada anlise e ratificao ser efetuada por ocasio da solicitao de quaisquer autorizaes e/ou licenciamento ambiental de atividades dentro dos limites do imvel cadastrado no CAR-PA.
Ademais, todo CADASTRO AMBIENTAL RURAL expedido pela
SEMA/PA, seja em qual modalidade for (definitivo ou provisrio), traz as seguintes
ressalvas:
IMPORTANTE - A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA no se responsabiliza por eventual uso indevido do presente CAR/PA, advindo de dolo ou m f;- Todas as informaes tcnicas prestadas, especialmente as pessoais e dominiais, bem como as informaes prestadas pelo(a) proprietrio(a) do imvel so de sua inteira responsabilidade, respondendo legalmente pelas mesmas de acordo com art.299 do cdigo penal (Decreto Lei 2848 de 07 de dezembro de 1940);- Da mesma forma, todas as informaes tcnicas prestadas pelo(a) engenheiro(a) responsvel, no Projeto Digital, so de sua inteira responsabilidade, respondendo legalmente pelas mesmas de acordo com art. 299 do cdigo penal (Decreto Lei 2848 de 07 de dezembro de 1940);- Este CAR/PA poder ter a sua validade e direito de execuo, suspensas ou canceladas, a qualquer tempo, por motivo de irregularidades constatadas, ou em virtude da Lei;- Este CAR/PA, no contm emendas ou rasuras;- Cpia autenticada deste CAR/PA deve ser mantida na propriedade para efeito de fiscalizao.- Este documento pode ser consultado no site do SIMLAM Pblico/PA no endereo www.sema.pa.gov.br.- Independente da anlise tcnica da SEMA o proprietrio obrigado a apresentar o projeto de recomposio da reserva legal e/ou rea de Preservao Permanente, no prazo de 90 (noventa) dias, a partir da publicao dos critrios de recomposio pela SEMA, de acordo com o Art. 9 e 10 da Instruo Normativa n29 de 12 de Agosto de 2009.ATENO- Art. 4 O CAR-PA no autoriza qualquer atividade econmica no imvel rural, explorao florestal, supresso de vegetao, nem se constitui em prova da posse ou propriedade para fins de regularizao fundiria. (destaque original)
Por fim, h de se registrar que o MPF invocou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente SEMA/PA a se manifestar, por meio do Ofcio PRPA/GAB 10/N 2934/2009, objetivando confirmar qual o documento expedido por aquele rgo estadual de controle ambiental para fins de comprovao da regulari