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CSRFT3 Fl. 1.011 1 1.010 CSRFT3 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 11050.721119/201373 Recurso nº Especial do Procurador Acórdão nº 9303006.206 – 3ª Turma Sessão de 14 de dezembro de 2017 Matéria IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO II Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado METALURGICA DO TONI LTDA ASSUNTO:IMPOSTO SOBRE A IMPORTAÇÃO II Exercício: 2009, 2010, 2011, 2012 SUBFATURAMENTO. MULTA POR CONVERSÃO DO PERDIMENTO. INAPLICABILIDADE. Com o advento da MP 2.15835/01 não há que se falar em perdimento da mercadoria ou multa por conversão aos casos caracterizados como subfaturamento, devendose impor a exigência da multa administrativa de 100% (cem por cento) sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado. O que, por conseguinte, é de se constatar que a declaração falsa na fatura e em outros documentos que instruem o despacho, situação de fato infracional de subfaturamento, constitui ato meio para obter o fim subfaturamento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Jorge Olmiro Lock Freire (suplente convocado) e Rodrigo da Costa Pôssas, que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal e Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado). ACÓRDÃO GERADO NO PGD-CARF PROCESSO 11050.721119/2013-73 Fl. 1011 DF CARF MF

MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE …€¦ · Tratase de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional contra o Acórdão nº 3401003.246, da 1ª Turma Ordinária

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    1.010 

    CSRFT3  MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS 

     

    Processo nº  11050.721119/201373 

    Recurso nº               Especial do Procurador 

    Acórdão nº  9303006.206  –  3ª Turma  Sessão de  14 de dezembro de 2017 

    Matéria  IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO  II  

    Recorrente  FAZENDA NACIONAL 

    Interessado  METALURGICA DO TONI LTDA 

     ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A IMPORTAÇÃO  II 

    Exercício: 2009, 2010, 2011, 2012 

    SUBFATURAMENTO. MULTA POR CONVERSÃO DO PERDIMENTO. 

    INAPLICABILIDADE. 

    Com  o  advento  da MP  2.15835/01  não  há  que  se  falar  em  perdimento  da 

    mercadoria  ou  multa  por  conversão  aos  casos  caracterizados  como 

    subfaturamento,  devendose  impor  a  exigência  da  multa  administrativa  de 

    100%  (cem por  cento)  sobre  a  diferença  entre o  preço  declarado  e  o  preço 

    efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado.  

    O que, por conseguinte, é de se constatar que a declaração falsa na fatura e 

    em outros documentos que instruem o despacho, situação de fato infracional 

    de subfaturamento, constitui ato meio para obter o fim  subfaturamento.  

      

    Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. 

     

    Acordam  os  membros  do  colegiado,  por  unanimidade  de  votos,  em 

    conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, 

    vencidos  os  conselheiros  Jorge  Olmiro  Lock  Freire  (suplente  convocado)  e  Rodrigo  da 

    Costa  Pôssas,  que  lhe  deram  provimento.  Votaram  pelas  conclusões  os  conselheiros 

    Andrada Márcio Canuto Natal e Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado). 

     

      

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    Fl. 1011DF CARF MF

    11050.721119/2013-73 9303-006.206 CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Especial do Procurador Acórdão 3ª Turma 14/12/2017 IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO - II FAZENDA NACIONAL METALURGICA DO TONI LTDA Recurso Especial do Procurador Negado Direito Creditório Reconhecido CARF Relator 2.0.1 93030062062017CARF9303ACC Assunto: Imposto sobre a Importação - II Exercício: 2009, 2010, 2011, 2012 SUBFATURAMENTO. MULTA POR CONVERSÃO DO PERDIMENTO. INAPLICABILIDADE. Com o advento da MP 2.158-35/01 não há que se falar em perdimento da mercadoria ou multa por conversão aos casos caracterizados como subfaturamento, devendo-se impor a exigência da multa administrativa de 100% (cem por cento) sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado. O que, por conseguinte, é de se constatar que a declaração falsa na fatura e em outros documentos que instruem o despacho, situação de fato infracional de subfaturamento, constitui ato meio para obter o fim - subfaturamento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Jorge Olmiro Lock Freire (suplente convocado) e Rodrigo da Costa Pôssas, que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal e Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado). (Assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama - Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Charles Mayer de Castro Souza, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Valcir Gassen e Vanessa Marini Cecconello. Trata-se de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional contra o Acórdão nº 3401-003.246, da 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 3ª Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, que, por maioria de votos, negou provimento ao recurso de ofício, consignando a seguinte ementa:ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A IMPORTAÇÃO - IIExercício: 2009, 2010, 2011, 2012SUBFATURAMENTO. MULTA POR CONVERSÃO DO PERDIMENTO.INAPLICABILIDADE.A partir da vigência da Medida provisória n° 2.158-35/01, não se aplica o perdimento da mercadoria ou a multa por conversão aos casos caracterizados como exclusivamente de subfaturamento, devendo ser exigido, além dos impostos e da multa de ofício, a multa administrativa de cem por cento sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado. A declaração falsa na fatura e em outros documentos que instruem o despacho, na situação de fato infracional exclusivamente de subfaturamento, constitui ato meio para obter o fim (subfaturamento).

    Irresignada, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial contra o acórdão, trazendo, entre outros, que:O acórdão recorrido expressou o entendimento de que, a partir da entrada em vigor da MP 2.158-32/01, no art. 88, passou-se a prever penalidade específica a ser aplicada na hipótese de subfaturamento; o que, por conseguinte, tal ilícito foi excluído do rol das fraudes enumeradas em qualquer dos incisos do art. 23 do Decreto-Lei 1.455/76 enquadramento trazido no auto de infração em comento;Não obstante, o colegiado entendeu que a utilização de fatura falsa foi apenas um meio para se chegar ao subfaturamento, devendo, assim, ser penalizado;A presente ação fiscal foi substanciada em farta documentação obtida no estabelecimento da contribuinte (Metalúrgica De Toni) e no da empresa PAESE (Paese Comércio de Ferragens) que indicam manipulação do valor de faturas, caracterizando a prática de subfaturamento;Revelado pela fiscalização o subfaturamento das faturas, a partir da prática fraudulenta desvendada, mister se faz a aplicação do inciso VI, do artigo 105, do Decreto-Lei 37/66;Constatação desse subfaturamento não advém de levantamento ou de pesquisas, mas da própria documentação apreendida junto à contribuinte, revelando assim que o despacho aduaneiro de importação foi instruído com documentação falsa (fatura comercial com o valor subfaturado), conduta essa punível com a pena de perdimento;A falsificação das faturas, pois, não se tratava de mero crime meio para se atingir o crime de subfaturamento, como colocado pelo acórdão ora recorrido, mas sim de prática dolosa e reiterada, punível com pena de perdimento, conforme dispositivo legal acima transcrito (art. 105 do Decreto-lei 37/66).

    Em Despacho às fls. 954 a 957, foi dado seguimento ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional.

    Contrarrazões ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional foram apresentadas pelo sujeito passivo, que alegou, entre outros, que:A inconformidade da Fazenda Nacional manifestada através desse Recurso Especial visa modificar o resultado do julgamento traduzido no acórdão recorrido e que chancelou o entendimento da DRJ, afastando a multa do art. 88 da referida MP, pela especialidade da lei especial preponderante sobre a lei geral;Há decisões judiciais, inclusive do STJ, no sentido de que o subfaturamento mediante falsidade ideológica enseja a aplicação da pena específica de multa, ao invés do perdimento;Os julgados paradigmas indicados pela recorrente não traduzem a similitude reclamada no RICARF, pois o caso concreto retrata, no máximo falsidade ideológica, pela subtração do adiantamento na fatura expedida pelo exportador, conforme descrição das condutas infracionais pela fiscalização aduaneira no Auto de Infração, e não falsidade material.

    É o relatório. Conselheira Tatiana Midori Migiyama - Relatora

    Depreendendo-se da análise do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, entendo que devo conhecê-lo, eis que preenchidos os requisitos do art. 67 do RICARF/2015 com alterações posteriores.

    Recorda-se que o cerne da lide trata da aplicação ou não da multa pela conversão da pena de perdimento às hipóteses de subfaturamento efetivamente comprovado.

    Nesse ínterim, vê-se que o acórdão recorrido afastou a incidência da multa pela conversão da pena de perdimento, por considerar que houve erro na capitulação legal, uma vez que a aplicação da penalidade prevista no art. 23 do Decreto-Lei 1.455/76 foi motivada pelo subfaturamento, entendendo que tal conduta estaria prevista em norma específica, qual seja, no art. 88 da MP 2.158/2001.

    Enquanto, os acórdãos indicados como paradigmas refletiram entendimento diverso, qual seja, de que a falsidade das faturas ou a utilização de artifício doloso subsumem à previsão do art. 105, VI, do DL nº 37/66.

    Sendo assim, resta conhecer o Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional.

    Ventiladas tais considerações, passo a analisar o cerne da lide. Para tanto, importante trazer breve histórico do ocorrido:Trata-se de Auto de Infração lavrado em face da empresa Metalúrgica de Tony Ltda., exigindo: Multa por conversão da pena de perdimento, equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, nos termos do inciso IV, art. 23, do Decreto-Lei 1.455/76 c/c inciso XI, do art. 105, Decreto-lei 37/66;Imposto de Importação II;Imposto sobre Produtos Industrializados IPI;Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins; Contribuição para o Programa de Integração Social PIS;Multa de ofício proporcional a 150%; eJuros de mora.A autoridade fiscal, a partir dos documentos obtidos no estabelecimento do sujeito passivo - Metalúrgica De Toni e no da empresa PAESE - Paese Comércio de Ferragens, encontrou provas de que houve prática de subfaturamento e indícios de outros ilícitos;Trouxe nos autos como responsáveis solidários, nos termos dos art. 124 e 135 do CTN, o Sr. Deonir de Tony, devido a sua condição de sócio administrador e pelas infrações praticadas na condução das operações de importação promovidas pela Metalúrgica De Toni Ltda, e o Sr. Evandro Paese, em função da sua participação como representante da autuada nas operações de importação realizados entre 05/2008 a 04/2013;A DRJ, ao apreciar a impugnação, acolheu parcialmente a impugnação para exonerar a parte do lançamento referente a multa por conversão do perdimento, no valor de R$ 2.564.110,95, por vício material; e, no mérito, por unanimidade, julgou improcedente a impugnação para manter integralmente o crédito tributário exigido, referentes aos tributos, no valor de R$ 298.952,52, a multa de ofício, no valor de R$ 448.428,78, e os respectivos juros de mora;Em acórdão de recurso de ofício, foi emitido acórdão 3401-003.246, que negou provimento ao recurso, afastando a pena de perdimento aplicada às mercadorias e apenando a prática de subfaturamento com a exigibilidade dos impostos e contribuições incidentes sobre a parcela subfaturada acrescida da multa de 100%, conforme art. 88 da MP 2.158-35/01, em respeito ao princípio da especialidade.

    No que tange aos fatos, recordo o trazido pela fiscalização:[...] o esquema fraudulento capitaneado pelo sócio administrador Deonir De Toni e pelo Sr. Evandro Paese consistiu, no mais das vezes, na omissão da parcela paga a título de adiantamento para o início da produção, também denominado de downpayment, prepayment ou advance. O pagamento final das mercadorias importadas, também referido como balance ou rest payment, restava como o único valor declarado à Fiscalização. Sendo que a parcela paga a título de antecipação era remetida ilegalmente ao exterior, à margem do Sistema Financeiro Nacional, por meio de uma prática conhecida como "doleiros" ou, como referido pelo próprio importador, "money changer", logo, não declarada ao fisco.

    Vê-se que a declaração falsa, com omissão da parcela paga a título de antecipação decorre efetivamente na infração de subfaturamento. Eis que o conceito de subfaturamento se resume na caracterização da diferença entre o preço cobrado na fatura e aquele que fora ajustado por pagamento à parte fora da escrita fiscal/contábil. O que, compartilho do entendimento exposto no acórdão recorrido que, por sua vez, utilizou os argumentos bem colocados em voto constante do acórdão da DRJ:[...]Os Julgadores a quo apresentaram seu entendimento de que há penalidade específica para o subfaturamento, no caso 100% da diferença entre o valor declarado e o valor real, e não, como propôs a autoridade de lançamento, a multa de conversão da pena de perdimento com 100% do valor aduaneiro do bem. Este erro constituiria vicio material a ensejar o cancelamento do auto nesta matéria. Vejamos os seus argumentos e justificativa para essa decisão de exonerar a multa constituída pela autoridade fiscal:Da inaplicabilidade da multa por conversão do perdimento aos casos de subfaturamentoExtrai-se do "Relatório de Auditoria" que a aplicação da multa igual ao valor aduaneiro da mercadoria, disposta no art. 23, do Decreto-Lei n° 1.455/76, com a redação dada pelo art. 41 da Lei n° 12.350/10, no presente caso, teve como motivação o suposto subfaturamento nas importações efetuadas pela Metalúrgica De Tony, conforme trecho da conclusão fiscal copiado abaixo (fl. 201):Assim, a questão a ser enfrentada nesse momento do julgamento versa sobre qual norma deve ser aplicada diante da situação em que uma mesma conduta se amolda, aparentemente, a dois ou mais dispositivos legais, ou seja, há uma unidade no fato e uma pluralidade de normas identificando este mesmo fato como uma infração, aplicando penalidade diversa, surgindo, assim, o que a doutrina convencionou chamar de "conflito ou concurso aparente de normas".Para a solução da controvérsia sobre qual das normas seria aplicável ao caso concreto, recorro-me ao Princípio da Sucessividade e ao Princípio da Especialidade; o primeiro, define que quando duas ou mais normas sucedem no tempo, referindo-se ao mesmo fato, a que for posterior sempre será preferida; o segundo, afirma que a norma será considerada especial quando trouxer elementos próprios e particulares à descrição da norma geral, e, por isso mesmo, deverá prevalecer.Conclui-se, então, que a lei de natureza geral, por abranger ou compreender um todo, somente seria aplicável quando não se verificar no ordenamento jurídico uma norma de caráter mais específico sobre determinada matéria.Assim, vejo que a partir de 24/08/01, quando entrou em vigor da MP 2158, que no art. 88 passou a prever penalidade específica a ser aplicada na hipótese de subfaturamento, tal ilícito foi excluído do rol das fraudes enumeradas em qualquer dos incisos do art. 23 do Decreto-Lei nº 1.455/76.Por isso mesmo, a Lei n° 10.637, que em 2002 estabeleceu que as infrações definidas como dano ao Erário seriam punidas com o perdimento ou a sua conversão, não alcançou (e ainda não alcança) o subfaturamento ou quaisquer outras infrações a ele vinculadas e não autônomas, pois essa infração (subfaturamento) não mais se encontrava no rol das condutas consideradas danosas ao Erário no momento de início de vigência da referida lei, uma vez que já havia passado a receber tratamento tributário distinto, sujeito a uma infração específica.Quanto ao uso de documento ideologicamente falso, é bem verdade que a fatura, ao não apresentar o valor real da operação, obviamente, é falsa, e, à primeira vista, tal fato se enquadraria ao previsto no art. 105 do Decreto-Lei n° 37/66. Todavia, no presente caso, deve ser aplicado o Princípio da Consunção, utilizado nos casos em que há uma sucessão de condutas com existência de um nexo de dependência entre elas, afastando-se o crime meio, preparatório e necessário, que passa a ser absorvido pelo crime fim. In casu, afasta-se o crime de utilização de fatura falsa, crime meio, através do qual se buscava alcançar o crime fim, o subfaturamento, que deve ser o penalizado. Posicionamento diverso, obrigatoriamente, levaria a aplicação de duas penalidades (perdimento e multa de 100%) para uma única infração (subfaturamento), ou tornaria inócua a multa de 100% prevista no art. 88 da MP 2158, que nunca seria aplicável, pois o subfaturamento sempre traz consigo uma fatura falsa.Em síntese, entendo que, a partir 24/08/2001, aos casos de subfaturamento, não se aplica o perdimento ou a multa por conversão, devendo ser exigido, além dos impostos e da multa de ofício, a multa administrativa de 100% sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado e o preço arbitrado, conforme prevê o art. 88 da MP 2158.Na hipótese dos autos, a aplicação da multa prevista no art. 23 do Decreto-Lei n° 1.455/76 teve como motivação justamente o subfaturamento, conduta para a qual já havia (e ainda há) previsão de penalidade específica.Desta forma, considerando que a aplicação da penalidade prevista no art. 23 da Decreto-Lei no 1.455/76 foi motivada pelo subfaturamento, conduta esta que já se encontra prevista em norma específica, qual seja, no art. 88 da MP 2158, julgo que, no presente caso, houve erro na capitulação legal, fato que enseja a nulidade do lançamento, na parte referente à multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, no montante de R$ 2.564.110,95.Diante das definições acima, vê-se, então, que a parte do lançamento referente a penalidade prevista no art. 23 do Decreto-Lei n° 1.455/76, no valor de R$ 2.564.110,95, foi contaminado por vício material, uma vez que os fatos narrados, referente a infração definida como subfaturamento, não se amolda ao enquadramento legal utilizado pela fiscalização.Ao reler o auto de infração, percebo que o fato central descrito como infração é o subfaturamento. E nesse caso, a declaração falsa é meio para essa prática.De fato, há infração específica para a prática de subfaturamento e ela deve prevalecer sobre a hipótese de penalidade menos específica.Por isso, considero que decidiram com correção os Julgadores de 1º piso, e proponho a este colegiado negar provimento ao recurso de ofício, nos termos da decisão recorrida nesta matéria.

    Sendo assim, inegável a aplicação de dispositivo mais específico e que se subsume à essa hipótese qual seja, o art. 88, parágrafo único, da MP 2.158-35/01 (Grifos meus):Art. 88. No caso de fraude, sonegação ou conluio, em que não seja possível a apuração do preço efetivamente praticado na importação, a base de cálculo dos tributos e demais direitos incidentes será determinada mediante arbitramento do preço da mercadoria, em conformidade com um dos seguintes critérios, observada a ordem seqüencial: I - preço de exportação para o País, de mercadoria idêntica ou similar; II - preço no mercado internacional, apurado: a) em cotação de bolsa de mercadoria ou em publicação especializada; b) de acordo com o método previsto no Artigo 7 do Acordo para Implementação do Artigo VII do GATT/1994, aprovado pelo Decreto Legislativo no 30, de 15 de dezembro de 1994, e promulgado pelo Decreto no 1.355, de 30 de dezembro de 1994, observados os dados disponíveis e o princípio da razoabilidade; ou c) mediante laudo expedido por entidade ou técnico especializado. Parágrafo único. Aplica-se a multa administrativa de cem por cento sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado e o preço arbitrado, sem prejuízo da exigência dos impostos, da multa de ofício prevista no art. 44 da Lei no 9.430, de 1996, e dos acréscimos legais cabíveis.

    Ademais, é de se trazer ainda o art. 703 do Regulamento Aduaneiro, que diz que na hipótese em que o preço declarado for diferente do arbitrado na importação aplica-se a penalidade específica. O que mais uma vez resta aplicar a multa sobre a diferença, e não a aplicação da pena de perdimento.

    Frise-se tal entendimento vários julgados do TRF4: MAS nº 2004.70.00.023232-0/PR, 2ª Turma, Rel. Dirceu de Almeida Soares, DJU de 27/4/2005, p. 737; TRF 4, MAS nº 2005.70.00.003840-4/PR, 2ª Turma, Rel. Des. Antônio Albino Ramos de Oliveira, DE de 14/06/2007; TRF 4, MAS 2001.70.00.036547-1/PR, 1ª Turma, Rel. Des. Joel Ilan Paciornil. DE de 14/6/2007.

    E ainda julgados do STJ: REsp 12187798 PR 2010/0198397-1 e REsp 1240005 RS 2011/0042131-1.

    Não sendo demais lembrar que o CTN traz em seu art. 98 que os Acordos de Valoração Aduaneira prevalecem sobre as demais normas internas.

    Em vista de todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda Nacional.

    É como voto.

    (Assinado digitalmente)Tatiana Midori Migiyama

  •  

      2

      

    (Assinado digitalmente) 

    Rodrigo da Costa Pôssas – Presidente em exercício 

     

    (Assinado digitalmente) 

    Tatiana Midori Migiyama  Relatora 

     

    Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas 

    (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama  (Relatora), 

    Charles Mayer de Castro Souza, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Valcir Gassen e Vanessa 

    Marini Cecconello. 

     

    Relatório 

     

    Tratase  de  Recurso  Especial  interposto  pela  Fazenda  Nacional  contra  o 

    Acórdão nº 3401003.246, da 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 3ª Seção de Julgamento 

    do  Conselho  Administrativo  de  Recursos  Fiscais,  que,  por  maioria  de  votos,  negou 

    provimento ao recurso de ofício, consignando a seguinte ementa: 

    “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A IMPORTAÇÃO  II 

    Exercício: 2009, 2010, 2011, 2012 

    SUBFATURAMENTO. MULTA POR CONVERSÃO DO PERDIMENTO. 

    INAPLICABILIDADE. 

    A partir da vigência da Medida provisória n° 2.15835/01, não se aplica o 

    perdimento  da  mercadoria  ou  a  multa  por  conversão  aos  casos 

    caracterizados  como  exclusivamente  de  subfaturamento,  devendo  ser 

    exigido, além dos impostos e da multa de ofício, a multa administrativa de 

    cem  por  cento  sobre  a  diferença  entre  o  preço  declarado  e  o  preço 

    efetivamente  praticado  na  importação  ou  entre  o  preço  declarado.  A 

    declaração  falsa  na  fatura  e  em  outros  documentos  que  instruem  o 

    despacho,  na  situação  de  fato  infracional  exclusivamente  de 

    subfaturamento, constitui ato meio para obter o fim (subfaturamento). ” 

     

    Fl. 1012DF CARF MF

  • Processo nº 11050.721119/201373 Acórdão n.º 9303006.206 

    CSRFT3 Fl. 1.012 

      

      

    3

    Irresignada,  a  Fazenda  Nacional  interpôs  Recurso  Especial  contra  o 

    acórdão, trazendo, entre outros, que: 

    · O acórdão  recorrido expressou o entendimento de que, a partir da 

    entrada em vigor da MP 2.15832/01, no art. 88, passouse a prever 

    penalidade específica a ser aplicada na hipótese de subfaturamento; 

    o  que,  por  conseguinte,  tal  ilícito  foi  excluído  do  rol  das  fraudes 

    enumeradas  em  qualquer  dos  incisos  do  art.  23  do  DecretoLei 

    1.455/76 – enquadramento trazido no auto de infração em comento; 

    · Não obstante, o colegiado entendeu que a utilização de fatura falsa 

    foi  apenas  um meio  para  se  chegar  ao  subfaturamento,  devendo, 

    assim, ser penalizado; 

    · A  presente  ação  fiscal  foi  substanciada  em  farta  documentação 

    obtida no estabelecimento da contribuinte (Metalúrgica De Toni) e 

    no da empresa PAESE (Paese Comércio de Ferragens) que indicam 

    manipulação  do  valor  de  faturas,  caracterizando  a  prática  de 

    subfaturamento; 

    · Revelado pela fiscalização o subfaturamento das faturas, a partir da 

    prática fraudulenta desvendada, mister se faz a aplicação do inciso 

    VI, do artigo 105, do DecretoLei 37/66; 

    · Constatação desse  subfaturamento não advém de  levantamento ou 

    de  pesquisas,  mas  da  própria  documentação  apreendida  junto  à 

    contribuinte,  revelando  assim  que  o  despacho  aduaneiro  de 

    importação foi instruído com documentação falsa (fatura comercial 

    com  o  valor  subfaturado),  conduta  essa  punível  com  a  pena  de 

    perdimento; 

    · A  falsificação  das  faturas,  pois,  não  se  tratava  de  mero  “crime 

    meio” para se atingir o “crime de subfaturamento”, como colocado 

    pelo acórdão ora  recorrido, mas sim de prática dolosa e  reiterada, 

    punível com pena de perdimento, conforme dispositivo legal acima 

    transcrito (art. 105 do Decretolei 37/66). 

     

    Em Despacho às fls. 954 a 957, foi dado seguimento ao Recurso Especial 

    interposto pela Fazenda Nacional. 

    Fl. 1013DF CARF MF

  •  

      4

     

    Contrarrazões ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional foram 

    apresentadas pelo sujeito passivo, que alegou, entre outros, que: 

    · A inconformidade da Fazenda Nacional manifestada através desse 

    Recurso  Especial  visa  modificar  o  resultado  do  julgamento 

    traduzido no acórdão recorrido e que chancelou o entendimento da 

    DRJ,  afastando  a  multa  do  art.  88  da  referida  MP,  pela 

    especialidade da lei especial preponderante sobre a lei geral; 

    · Há  decisões  judiciais,  inclusive  do  STJ,  no  sentido  de  que  o 

    subfaturamento mediante falsidade ideológica enseja a aplicação da 

    pena específica de multa, ao invés do perdimento; 

    · Os  julgados paradigmas  indicados pela  recorrente não  traduzem a 

    similitude reclamada no RICARF, pois o caso concreto retrata, no 

    máximo  falsidade  ideológica,  pela  subtração  do  adiantamento  na 

    fatura expedida pelo exportador,  conforme descrição das condutas 

    infracionais pela fiscalização aduaneira no Auto de Infração, e não 

    falsidade material. 

     

    É o relatório. 

    Voto            

     

    Conselheira Tatiana Midori Migiyama  Relatora 

     

    Depreendendose  da  análise  do  Recurso  Especial  interposto  pela 

    Fazenda Nacional,  entendo que devo  conhecêlo,  eis que preenchidos os  requisitos 

    do art. 67 do RICARF/2015 com alterações posteriores. 

     

    Recordase que o cerne da lide trata da aplicação ou não da multa 

    pela conversão da pena de perdimento às hipóteses de subfaturamento efetivamente 

    comprovado. 

     

    Nesse  ínterim, vêse que o  acórdão  recorrido  afastou  a  incidência 

    da multa pela  conversão da pena de perdimento,  por  considerar que houve erro na 

    capitulação  legal,  uma  vez  que  a  aplicação  da  penalidade  prevista  no  art.  23  do 

    Fl. 1014DF CARF MF

  • Processo nº 11050.721119/201373 Acórdão n.º 9303006.206 

    CSRFT3 Fl. 1.013 

      

      

    5

    DecretoLei 1.455/76 foi motivada pelo subfaturamento, entendendo que tal conduta 

    estaria prevista em norma específica, qual seja, no art. 88 da MP 2.158/2001.  

     

    Enquanto,  os  acórdãos  indicados  como  paradigmas  refletiram 

    entendimento  diverso,  qual  seja,  de  que  a  falsidade  das  faturas  ou  a  utilização  de 

    artifício doloso subsumem à previsão do art. 105, VI, do DL nº 37/66.  

     

    Sendo  assim,  resta  conhecer  o  Recurso  Especial  interposto  pela 

    Fazenda Nacional. 

     

    Ventiladas tais considerações, passo a analisar o cerne da lide. Para 

    tanto, importante trazer breve histórico do ocorrido: 

    · Tratase  de Auto  de  Infração  lavrado  em  face  da  empresa 

    Metalúrgica de Tony Ltda., exigindo:  

    ü Multa por conversão da pena de perdimento, equivalente 

    ao valor aduaneiro da mercadoria, nos termos do inciso 

    IV,  art.  23,  do DecretoLei  1.455/76  c/c  inciso  XI,  do 

    art. 105, Decretolei 37/66; 

    ü Imposto de Importação – II; 

    ü Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI; 

    ü Contribuição  para  o  Financiamento  da  Seguridade 

    Social  Cofins;  

    ü Contribuição  para  o  Programa  de  Integração  Social  – 

    PIS; 

    ü Multa de ofício proporcional a 150%; e 

    ü Juros de mora. 

    · A  autoridade  fiscal,  a  partir  dos  documentos  obtidos  no 

    estabelecimento do sujeito passivo  Metalúrgica De Toni e 

    no  da  empresa  PAESE    Paese  Comércio  de  Ferragens, 

    encontrou provas de que houve prática de subfaturamento e 

    indícios de outros ilícitos; 

    · Trouxe nos autos como responsáveis solidários, nos termos 

    dos art. 124 e 135 do CTN, o Sr. Deonir de Tony, devido a 

    Fl. 1015DF CARF MF

  •  

      6

    sua  condição  de  sócio  administrador  e  pelas  infrações 

    praticadas  na  condução  das  operações  de  importação 

    promovidas pela Metalúrgica De Toni Ltda, e o Sr. Evandro 

    Paese, em função da sua participação como representante da 

    autuada  nas  operações  de  importação  realizados  entre 

    05/2008 a 04/2013; 

    · A  DRJ,  ao  apreciar  a  impugnação,  acolheu  parcialmente  a 

    impugnação para exonerar a parte do lançamento referente a multa 

    por  conversão  do  perdimento,  no  valor  de  R$  2.564.110,95,  por 

    vício material; e, no mérito, por unanimidade, julgou improcedente 

    a  impugnação  para  manter  integralmente  o  crédito  tributário 

    exigido, referentes aos tributos, no valor de R$ 298.952,52, a multa 

    de  ofício,  no  valor  de  R$  448.428,78,  e  os  respectivos  juros  de 

    mora; 

    · Em  acórdão  de  recurso  de  ofício,  foi  emitido  acórdão  3401

    003.246,  que  negou  provimento  ao  recurso,  afastando  a  pena  de 

    perdimento  aplicada  às  mercadorias  e  apenando  a  prática  de 

    subfaturamento  com  a  exigibilidade  dos  impostos  e  contribuições 

    incidentes sobre a parcela subfaturada acrescida da multa de 100%, 

    conforme  art.  88  da MP 2.15835/01,  em  respeito  ao  princípio  da 

    especialidade. 

     

    No que tange aos fatos, recordo o trazido pela fiscalização: 

    “[...]  o  esquema  fraudulento  capitaneado  pelo  sócio 

    administrador Deonir De Toni e pelo Sr. Evandro Paese consistiu, 

    no  mais  das  vezes,  na  omissão  da  parcela  paga  a  título  de 

    adiantamento para o  início da produção,  também denominado de 

    downpayment,  prepayment  ou  advance.  O  pagamento  final  das 

    mercadorias  importadas,  também  referido  como  balance  ou  rest 

    payment,  restava  como  o  único  valor  declarado  à  Fiscalização. 

    Sendo  que  a  parcela  paga  a  título  de  antecipação  era  remetida 

    ilegalmente  ao  exterior,  à  margem  do  Sistema  Financeiro 

    Nacional, por meio de uma prática conhecida como "doleiros" ou, 

    como  referido  pelo  próprio  importador,  "money  changer",  logo, 

    não declarada ao fisco.” 

    Fl. 1016DF CARF MF

  • Processo nº 11050.721119/201373 Acórdão n.º 9303006.206 

    CSRFT3 Fl. 1.014 

      

      

    7

     

    Vêse que a declaração falsa, com omissão da parcela paga a título 

    de  antecipação  decorre  efetivamente  na  infração  de  subfaturamento.  Eis  que  o 

    conceito de  subfaturamento  se  resume na caracterização da diferença  entre o preço 

    cobrado na fatura e aquele que fora ajustado – por pagamento à parte fora da escrita 

    fiscal/contábil.  O  que,  compartilho  do  entendimento  exposto  no  acórdão  recorrido 

    que,  por  sua  vez,  utilizou  os  argumentos  bem  colocados  em  voto  constante  do 

    acórdão da DRJ: 

    “[...] 

    Os Julgadores a quo apresentaram seu entendimento de que 

    há penalidade específica para o subfaturamento, no caso 100% da 

    diferença  entre  o  valor  declarado  e  o  valor  real,  e  não,  como 

    propôs a autoridade de lançamento, a multa de conversão da pena 

    de  perdimento  com  100%  do  valor  aduaneiro  do  bem.  Este  erro 

    constituiria vicio material a ensejar o cancelamento do auto nesta 

    matéria.  

    Vejamos os seus argumentos e justificativa para essa decisão 

    de exonerar a multa constituída pela autoridade fiscal: 

    Da  inaplicabilidade da multa por conversão do perdimento 

    aos casos de subfaturamento 

    Extraise  do  "Relatório  de  Auditoria"  que  a  aplicação  da 

    multa igual ao valor aduaneiro da mercadoria, disposta no art. 23, 

    do DecretoLei  n°  1.455/76,  com a  redação dada pelo  art.  41  da 

    Lei n° 12.350/10, no presente caso, teve como motivação o suposto 

    subfaturamento  nas  importações  efetuadas  pela  Metalúrgica  De 

    Tony,  conforme  trecho  da  conclusão  fiscal  copiado  abaixo  (fl. 

    201): 

    Assim,  a  questão  a  ser  enfrentada  nesse  momento  do 

    julgamento  versa  sobre  qual  norma  deve  ser  aplicada  diante  da 

    situação em que uma mesma conduta se amolda, aparentemente, a 

    dois ou mais dispositivos legais, ou seja, há uma unidade no fato e 

    uma  pluralidade  de  normas  identificando  este  mesmo  fato  como 

    uma infração, aplicando penalidade diversa, surgindo, assim, o que 

    Fl. 1017DF CARF MF

  •  

      8

    a doutrina convencionou chamar de "conflito ou concurso aparente 

    de normas". 

    Para a solução da controvérsia sobre qual das normas seria 

    aplicável  ao  caso  concreto,  recorrome  ao  Princípio  da 

    Sucessividade e ao Princípio da Especialidade; o primeiro, define 

    que quando duas ou mais normas sucedem no tempo, referindose 

    ao  mesmo  fato,  a  que  for  posterior  sempre  será  preferida;  o 

    segundo,  afirma  que  a  norma  será  considerada  especial  quando 

    trouxer  elementos  próprios  e  particulares  à  descrição  da  norma 

    geral, e, por isso mesmo, deverá prevalecer. 

    Concluise, então, que a lei de natureza geral, por abranger 

    ou  compreender  um  todo,  somente  seria  aplicável  quando  não  se 

    verificar  no  ordenamento  jurídico  uma  norma  de  caráter  mais 

    específico sobre determinada matéria. 

    Assim, vejo que a partir de 24/08/01, quando entrou em vigor 

    da MP 2158, que no art. 88 passou a prever penalidade específica 

    a  ser  aplicada  na  hipótese  de  subfaturamento,  tal  ilícito  foi 

    excluído do rol das fraudes enumeradas em qualquer dos incisos do 

    art. 23 do DecretoLei nº 1.455/76. 

    Por  isso mesmo,  a  Lei  n°  10.637,  que  em  2002  estabeleceu 

    que  as  infrações  definidas  como  dano  ao  Erário  seriam  punidas 

    com o perdimento ou a sua conversão, não alcançou (e ainda não 

    alcança)  o  subfaturamento  ou  quaisquer  outras  infrações  a  ele 

    vinculadas  e não  autônomas,  pois  essa  infração  (subfaturamento) 

    não mais se encontrava no rol das condutas consideradas danosas 

    ao Erário  no momento  de  início  de  vigência  da  referida  lei,  uma 

    vez que  já havia passado a  receber  tratamento  tributário distinto, 

    sujeito a uma infração específica. 

    Quanto  ao  uso  de  documento  ideologicamente  falso,  é  bem 

    verdade que a fatura, ao não apresentar o valor real da operação, 

    obviamente, é falsa, e, à primeira vista, tal fato se enquadraria ao 

    previsto no art. 105 do DecretoLei n° 37/66. Todavia, no presente 

    caso,  deve  ser  aplicado  o  Princípio  da  Consunção,  utilizado  nos 

    casos em que há uma sucessão de condutas com existência de um 

    nexo  de  dependência  entre  elas,  afastandose  o  crime  meio, 

    Fl. 1018DF CARF MF

  • Processo nº 11050.721119/201373 Acórdão n.º 9303006.206 

    CSRFT3 Fl. 1.015 

      

      

    9

    preparatório  e  necessário,  que  passa  a  ser  absorvido  pelo  crime 

    fim. In casu, afastase o crime de utilização de fatura falsa, crime 

    meio,  através  do  qual  se  buscava  alcançar  o  crime  fim,  o 

    subfaturamento, que deve ser o penalizado.  

    Posicionamento  diverso,  obrigatoriamente,  levaria  a 

    aplicação de duas penalidades (perdimento e multa de 100%) para 

    uma única  infração  (subfaturamento),  ou  tornaria  inócua a multa 

    de  100%  prevista  no  art.  88  da  MP  2158,  que  nunca  seria 

    aplicável,  pois  o  subfaturamento  sempre  traz  consigo  uma  fatura 

    falsa. 

    Em  síntese,  entendo  que,  a  partir  24/08/2001,  aos  casos  de 

    subfaturamento,  não  se  aplica  o  perdimento  ou  a  multa  por 

    conversão, devendo ser  exigido, além dos  impostos e da multa de 

    ofício,  a multa  administrativa  de  100% sobre  a  diferença  entre  o 

    preço  declarado  e  o  preço  efetivamente  praticado  na  importação 

    ou entre o preço declarado e o preço arbitrado, conforme prevê o 

    art. 88 da MP 2158. 

    Na hipótese dos autos, a aplicação da multa prevista no art. 

    23 do DecretoLei n° 1.455/76  teve  como motivação  justamente o 

    subfaturamento, conduta para a qual já havia (e ainda há) previsão 

    de penalidade específica. 

    Desta  forma,  considerando  que  a  aplicação  da  penalidade 

    prevista no art.  23 da DecretoLei no 1.455/76  foi motivada pelo 

    subfaturamento,  conduta  esta  que  já  se  encontra  prevista  em 

    norma específica, qual seja, no art. 88 da MP 2158, julgo que, no 

    presente caso, houve erro na capitulação legal, fato que enseja a 

    nulidade  do  lançamento,  na  parte  referente  à multa  equivalente 

    ao  valor  aduaneiro  da  mercadoria,  no  montante  de  R$ 

    2.564.110,95. 

    Diante  das  definições  acima,  vêse,  então,  que  a  parte  do 

    lançamento referente a penalidade prevista no art. 23 do Decreto

    Lei n° 1.455/76, no valor de R$ 2.564.110,95, foi contaminado por 

    vício material, uma vez que os fatos narrados, referente a infração 

    Fl. 1019DF CARF MF

  •  

      10

    definida  como  subfaturamento,  não  se  amolda  ao  enquadramento 

    legal utilizado pela fiscalização. 

    Ao  reler  o  auto  de  infração,  percebo  que  o  fato  central 

    descrito  como  infração  é  o  subfaturamento.  E  nesse  caso,  a 

    declaração falsa é meio para essa prática. 

    De  fato,  há  infração  específica  para  a  prática  de 

    subfaturamento  e  ela  deve  prevalecer  sobre  a  hipótese  de 

    penalidade menos específica. 

    Por  isso,  considero  que  decidiram  com  correção  os 

    Julgadores  de  1º  piso,  e  proponho  a  este  colegiado  negar 

    provimento ao recurso de ofício, nos  termos da decisão recorrida 

    nesta matéria.” 

     

    Sendo assim, inegável a aplicação de dispositivo mais específico e 

    que se subsume à essa hipótese – qual seja, o art. 88, parágrafo único, da MP 2.158

    35/01 (Grifos meus): 

    “Art. 88.  No  caso  de  fraude,  sonegação  ou  conluio,  em  que  não 

    seja  possível  a  apuração  do  preço  efetivamente  praticado  na 

    importação,  a  base  de  cálculo  dos  tributos  e  demais  direitos 

    incidentes  será  determinada  mediante  arbitramento  do  preço  da 

    mercadoria,  em  conformidade  com  um  dos  seguintes  critérios, 

    observada a ordem seqüencial: 

     I  preço  de  exportação  para  o  País,  de  mercadoria  idêntica  ou 

    similar; 

     II  preço no mercado internacional, apurado: 

     a) em  cotação  de  bolsa  de  mercadoria  ou  em  publicação 

    especializada; 

     b) de acordo com o método previsto no Artigo 7 do Acordo para 

    Implementação  do  Artigo  VII  do  GATT/1994,  aprovado  pelo 

    Decreto  Legislativo  no  30,  de  15  de  dezembro  de  1994,  e 

    promulgado  pelo Decreto  no  1.355,  de  30  de  dezembro  de  1994, 

    observados os dados disponíveis e o princípio da razoabilidade; ou 

     c) mediante laudo expedido por entidade ou técnico especializado. 

     Parágrafo  único.  Aplicase  a  multa  administrativa  de  cem  por 

    cento  sobre  a  diferença  entre  o  preço  declarado  e  o  preço 

    Fl. 1020DF CARF MF

  • Processo nº 11050.721119/201373 Acórdão n.º 9303006.206 

    CSRFT3 Fl. 1.016 

      

      

    11

    efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado 

    e  o  preço  arbitrado,  sem prejuízo  da  exigência  dos  impostos,  da 

    multa de ofício prevista no art. 44 da Lei no 9.430, de 1996, e dos 

    acréscimos legais cabíveis.”  

     

    Ademais,  é  de  se  trazer  ainda  o  art.  703  do  Regulamento 

    Aduaneiro,  que  diz  que  na  hipótese  em  que  o  preço  declarado  for  diferente  do 

    arbitrado na importação aplicase a penalidade específica. O que mais uma vez resta 

    aplicar a multa sobre a diferença, e não a aplicação da pena de perdimento. 

     

    Frisese  tal  entendimento  vários  julgados  do  TRF4:  MAS  nº 

    2004.70.00.0232320/PR,  2ª  Turma,  Rel.  Dirceu  de  Almeida  Soares,  DJU  de 

    27/4/2005,  p.  737;  TRF  4, MAS  nº  2005.70.00.0038404/PR,  2ª  Turma,  Rel.  Des. 

    Antônio  Albino  Ramos  de  Oliveira,  DE  de  14/06/2007;  TRF  4,  MAS 

    2001.70.00.0365471/PR, 1ª Turma, Rel. Des. Joel Ilan Paciornil. DE de 14/6/2007. 

     

    E  ainda  julgados  do  STJ:  REsp  12187798  PR  2010/01983971  e 

    REsp 1240005 RS 2011/00421311. 

     

    Não sendo demais  lembrar que o CTN  traz em seu art. 98 que os 

    Acordos de Valoração Aduaneira prevalecem sobre as demais normas internas. 

     

    Em vista de todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso 

    especial interposto pela Fazenda Nacional. 

     

    É como voto. 

     

    (Assinado digitalmente) 

    Tatiana Midori Migiyama  

               

     

    Fl. 1021DF CARF MF

  •  

      12

               

     

    Fl. 1022DF CARF MF