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ADHARA CAMPOS VIEIRA sistêmica a a sistêmica

MIOLO ConstelacaoSistemica 131117 Leticia...3.2.2 As três consciências para Bert Hellinger 88 3.2.3 As Ordens do Amor e as forças que atuam no sistema 93 3.2.4 O processo de solução

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De todo esse universo de estudo, a Constelação foi a que mais desenvolveu

em mim o lado humano e interpessoal. A escuta do outro, o novo olhar sobre

as relações, a possibilidade de resultados precisos,

construtivos e criativos e o pensamento sistêmico me conduziram de uma

participante a uma facilitadora do método.

Depois de mais de 10 (dez) anos acompanhando grupos de prática, resolvi enveredar pelo caminho da formação e da especialização nesta área. Após alguns eventos, cursos e muitos workshops de formação

em constelação sistêmica e fenomenológica, iniciei o

atendimento com o método e cada vez mais me encanto com

os resultados apresentados.

Este livro não deixa de ser uma aventura por domínios novos e controversos, fruto de estudos, leituras,

observações, participações em vários grupos de

diversos profissionais e práticas. É um convite

à arte das relações humanas. Não tenho a intenção de esgotar o tema, mas estudar de

forma profunda e séria o assunto das constelações, para estruturar e informar

um pouco mais sobre sua prática, relatando,

principalmente, o projeto que aplico e pesquiso no

Distrito Federal.

ISBN 978-85-8425-745-4

ADHARA CAMPOS VIEIRAAnalisa Judiciária, lotada na Vice Presidência do Tribunal Superior do Trabalho, assistente

do Ministro Emmanoel Pereira, gestor e membro da Comissão Nacional de Promoção à Conciliação. Voluntária e idealizadora do Projeto “Constelar e

Conciliar”, em vigor no Tribunal de Justiça do DF desde 2015 em virtude de pesquisa

acadêmica. Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília (UnB) e em

Direito pelo Centro Universitário IESB, pós-graduada em Controladoria Governamental

pela Faculdade OMNI, mestranda em Direitos Humanos pela Universidade de

Brasília, organizadora do Instituto Estelar e autora do artigo sobre o projeto do TJDFT: “A constelação como uma política pública

para resolução de conflitos”, publicada na revista jurídica Fórum Trabalhista. Tem experiência na área de Direito - processo

do trabalho e na área de conciliação e mediação. Autora e idealizadora da sugestão

legislativa 41/2015, ingressada perante a Comissão de Legislação Participativa

da Câmara dos Deputados, por meio da Associação Brasileira de Consteladores

Sistêmicos, que visa “a inclusão da Constelação Sistêmica como um instrumento

de mediação entre particulares, a fim de assistir à solução de controvérsias”.

ADHARA CAMPOS VIEIRA

sistêmica

a

editora

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Copyright © 2017, D’Plácido Editora.Copyright © 2017, Adhara Campos Vieira.

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa, projeto gráficoLetícia Robini(Sob imagem de Giovanni Segantini [Le cattive madri - Detalhe] licenciado por Wikiart)

DiagramaçãoLetícia Robini

RevisãoLiliane Vieira

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

VIEIRA, Adhara Campos.

A constelação sistêmica no Judiciário -- 1 reimp. -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018.

BibliografiaISBN: 978-85-8425-745-4

1. Direito. 2. Direito Processual Civil. 3. Mediação. 4. Novas práticas jurídicas. 5. Constelação Sistêmica. I. Título. II. Autor

CDU347 CDD341.46

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843, Savassi

Belo Horizonte – MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida,

por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

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Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos

os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Provérbios 3:5-6

A todos que estão no caminho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus ancestrais que, in memoriam, me trouxeram a fé e a determinação.

Aos meus pais, que, para mim, representam modelos de inova-ção e criatividade no serviço público, que mantiveram a busca pelo conhecimento e os olhos na realidade social.

Aos meus irmãos e primos, por partilharem comigo o desejo de ser cada vez mais humana, se colocando, inclusive, como campos de testes das constelações. Com eles pude aprender minhas primeiras lições de direito e resolução de conflitos.

Agradeço a minha pequena Sophia, que com seu sorriso e alegria fez com que eu mergulhasse por tantas vezes dentro de mim.

Agradeço ao meu orientador no trabalho de monografia, Mi-nistro Nefi Cordeiro, por seu amplo conhecimento e clareza con-ceitual e por ter permitido que eu navegasse livremente pelo tema, em ressonância com meu interno.

A todos os meus professores, profissionais e amigos que, nesta trilha, foram ora mestres, ora companheiros de jornada.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO 13APRESENTAÇÃO 17

capítulo 1O PODER JUDICIÁRIO 23

1.1 Histórico e Crise no Sistema 23

1.2 Teoria do Conflito 28

1.3 Soluções Alternativas de conflitos 32

1.3.1 Autotutela 35

1.3.2 Autocomposição 36

1.3.3 Heterocomposição 38

1.4 Conselho Nacional de Justiça – CNJ 40

1.5 O Movimento pela Conciliação e Mediação e a Semana Nacional de Conciliação 43

capítulo 2A MEDIAÇÃO E A CONCILIAÇÃO 47

2.1 Natureza jurídica 47

2.2 Distinção entre a conciliação e a mediação 48

2.3 O marco legal da Mediação – A Lei no 13.140 de 2015 53

2.4 A Resolução no 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça 56

2.5 O Manual de Mediação do CNJ 58

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capítulo 3A CONSTELAÇÃO SISTÊMICA 61

3.1 O que poucos sabem sobre as Constelações Familiares 61

3.1.1 A fenomenologia como ponto de partida 74

3.1.2 O Método Hellinger: o uso da percepção e das imagens 78

3.2 Visão sistêmica: princípios fundamentais 82

3.2.1 Os campos morfogenéticos 85

3.2.2 As três consciências para Bert Hellinger 88

3.2.3 As Ordens do Amor e as forças que atuam no sistema 93

3.2.4 O processo de solução – o amor que cura e liberta 100

capítulo 4O PROJETO CONSTELAR E CONCILIAR 103

4.1 Primeiros passos 103

4.2 O método das Constelações Sistêmicas aplicado aos casos 104

4.3 Estudo dos casos 108

Atendimento voluntário 1: RB 108

Atendimento voluntário 2: RQ 126

Atendimento voluntário 3: VL 140

Atendimento voluntário 4: GB 155

Atendimento voluntário 5: ST 167

Atendimento voluntário 6: MC 177

Atendimento voluntário 7: LT 188

Atendimento voluntário 8: ME e AB 199

4.4 Projetos em desenvolvimento 213

4.4.1 A economia da Constelação 216

4.4.2 A Constelação como política pública 219

4.4.2.1 A constelação como instrumento do “adultecimento” nos abrigos do DF 223

4.4.2.2 A constelação como instrumento de justiça nas varas criminais do DF 224

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4.4.2.3 A constelação como instrumento de mediação nas varas de família do DF 224

4.4.2.4 A constelação como instrumento de resolução de conflitos no Programa dos Superendividados 226

4.5 Quando não constelar...! 228

capítulo 5A CONSTELAÇÃO NA PRÁTICA JUDICIÁRIA 231

5.1 As constelações Brasil afora 232

5.2 As constelações no mundo 239

EPÍLOGO 241

apêndice 1CONSTELAÇÃO SISTÊMICA COMO POLÍTICA PÚBLICA PARA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 247

apêndice 2ANTEPROJETO DE LEI PROPOSTO À COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 271

apêndice 3MAPAS MENTAIS 279

REFERÊNCIAS 295

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PREFÁCIO

As relações humanas são centradas na força, no conflito, na satis-fação pessoal. Surge o direito do homem e para o homem: o conflito visto como origem e como resposta dos relacionamentos. Busca-se no Judiciário o papel de terceiro sábio e poderoso, algo como o pai do certo e errado, para dizer ao outro que errou em sua conduta passada, referendar que se está certo e que devida é a reparação. O passado é relevante apenas para a definição dos erros, a convivência futura é valor, em princípio, ignorado.

Assim é que se multiplicam os conflitos judicializados. Se o con-flito é natural na relação social, pelas diferenças dos homens, o direito não reconhece o fenômeno natural, mas o qualifica como desvio e erro - aponta culpados e obriga medidas punitivas.

Amplia-se o volume de processos com a acomodação de todos na solução de seus conflitos e com a atribuição ao Judiciário do pa-pel de garante coletivo do justo, por um órgão facilmente acessável, de amplo poder e crescente atuação1. Visto tradicionalmente como guardião das promessas, relembrando a quem as prestou o dever de cumpri-las (pagando o que assumiu, vendendo com qualidade, prestando a educação prometida...), passa o Judiciário a ser executor das promessas, especialmente sociais – determinando reformas em

1 Não há comparativo no mundo de país com tão facilitado acesso à justiça, garantida a gratuidade pela simples alegação de pobreza, possuindo custas de baixo valor, órgãos jurisdicionais sempre ampliados (até juizados itinerantes em barcos na amazônia), juízes com enorme poder, que resolvem de imediato (cautelarmente) qualquer tema – sem necessário contraditório ou contracautela –, inclusive a inconstitucionalidade de leis e atos, além de ingressam cada vez mais em áreas de tradicional discricionariedade administrativa (opções de realização viáveis).

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cadeias, regulando casamentos homoafetivos, aborto de fetos sem estimativa de vida...

É mais fácil ao cidadão deixar sua discussão com o vizinho sobre barulhos altos para que o juiz a resolva, é mais fácil ao Estado deixar para o juiz resolver duvidosa condição de capacidade para trabalhar, é mais fácil a todos não se desgastarem na pacificação de seus con-flitos. É o que se pode chamar de justiça de conflitos de primeira geração – onde indivíduos conscientes e com poderes delegam ao Estado-julgador a definição de como conviverão.

O resultado é termos aproximadamente um processo para cada dois habitantes2, com um empoderamento judicial sem precedentes e um enorme desempoderamento consequente nos indivíduos e nos demais ramos da atividade estatal.

Surge e mediação como forma de reverter essa tendência. Se o conflito é parte da vida, se todos com ele conviveremos, diariamente, que seja ele visto positivamente, como chance de crescimento, de um viver melhor para todos. Seja o conflito oportunidade de experiência e de maduro estabelecimento de normas de futuro dos envolvidos.

Com a transferência do poder de solucionar conflitos do Judici-ário para o cidadão, menor será o número de processos e a sensação de injusta decisão do terceiro; maior será a responsabilidade pessoeal na definição do porvir de cada um, maior será a sensação de que o justo foi obtido, porque por mim construído.

É uma mudança de visão – do passado de culpa para o futuro de convivência – e de poder decisório. É efetivamente forma de pacificação social, sempre buscada pelo direito tradicional. A essa solução de conflitos diretamente pelos interessados, considerados com poderes e conscientes, se poder chamar de justiça de conflitos de segunda geração: a mediação.

Na solução alternativa de conflitos, saindo da estabilizada solução terceirizada por um juiz, acaba porém o direito, que se diz então inovador, novamente recaindo em cegueira parcial: observam-se os indivíduos como sendo iguais, como sendo cons-cientes de todo o fenômeno do conflito, como sendo capazes de objetivamente visualizar a melhor convivência futura, como se não fossem humanos...

2 99,7 milhões de processos para 200 milhões de habitantes, conforme o Justiça em Números 2015, do CNJ.

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Saímos da mediação da decisão imposta por um terceiro (juiz), para a solução criada por seres em conflito, perfeitos e plenamente conscientes. É preciso agora extrapolar para novo patamar: o auxílio aos indivíduos no (re)conhecimento de seu drama.

É o surgimento de uma terceira geração na solução de con-flitos, onde se reconhecem as limitações como homens daqueles apresentados à mediação – ou mesmo à heterocomposição. É forma de auxiliar a descoberta de quadro maior do conflito, com melhor sensibilização e aceitação, com maiores chances de abertura para soluções de convivência.

Nesse caminho inovador é que vem se destacando a constelação, trazendo da ação dramática o reencontro pessoal e dos parceiros do con-fito, desvelando o não-dito, as inconscientes conexões, para reconstrução da rede sistêmica de relacionamento. É proposta de conhecimento que envolve a todos do conflito – judicializado ou não – e que pode muito estimular a visualização de um novo e melhor conviver.

Serve a constelação como terapia pessoal e pode no Judiciário ser utilizada como ferramenta de um justo efetivo, onde negociem pessoas que mais próximas se encontrem da real compreensão do conflito, onde se reconheçam as limitações de conhecer e de agir, porque seres humanos...

No estudo da constelação sistêmica, vejo a autora, Adhara, como corajosa desbravadora. O tema vem sendo discutido há quase um sé-culo, especialmente a partir do forte desenvolvimento de Hellinger e mesmo no Brasil por outros estudiosos da constelação, inclusive com sua aplicação na via judicial. Mas é tema ainda visto como desvincu-lado do direito, como fuga da ordem normativa posta, como indevida tentativa de regulação do processo pela Psicologia ou Sociologia, como questão de menor relevância...

É preciso coragem para seguir frente às resistências do sistema, especialmente frente ao conservador sistema judicial. Adhara tem essa coragem, e tem a tenacidade de não desanimar ante resistências.

A autora Adhara trabalha com o tema ao menos desde a gra-duação, concluindo o curso de direito justamente com monografia sobre a constelação sistêmica. Já então cuidava a autora de trabalhar teoricamente a constelação, mas aliando a técnica a seu desenvolvi-mento prático em processos judiciais – por óbvio, processos desta-cados justamente pela insuficiência da solução judicial e dificuldade da solução mediada.

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O método de unir teoria e aplicação concreta seguiu por anos e hoje resulta em experiência profissional única, agora transmitida nesta obra.

Adhara ensinou, testou e implantou a constelação no judici-ário brasileiro, no Distrito Federal e em vários outros estados da federação. Voluntariamente!

Poucos, pouquíssimos aceitariam dedicar grande energia sem foco no lucro, sem sequer vinculação aos órgãos onde prestado o atendimento, em condições não ideais, apenas para realizar o bem, para desenvolver a justiça que muitos dos que a recebiam não acredi-tavam. Adhara acreditou e fez com que agora muitos mais acreditem que pode o Judiciário oferecer um caminho justo, construído não apenas diretamente pelos interessados, mas por seres humanos mais conscientes do conflito por que passam, mais aptos a buscar um melhor conviver.

É o que se chamou de justiça de conflitos de terceira geração, onde é mediada a convivência entre homens plenos (em ideal), co-nhecedores do conflito e capazes de gerir o melhor porvir. A cons-telação sistêmica vem nessa via da autocomposição por indivíduos plenos, sem os disfarces estruturais da solução perfeita por um sábio juiz, sem a presunção cega de indivíduos plenos (em consciência e capacidade de gestão da vida). É a busca por efetiva justiça, cada vez mais, se concretizando.

Seja este trabalho via de entendimento da mediação e da cons-telação sistêmica, seja incentivo ao caminho da autocomposição, seja a constelação tendência à menor incompletude do homem.

Nefi CordeiroMinistro do Superior Tribunal de Justiça e

Doutor em Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)

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APRESENTAÇÃO

Ingressei no Poder Judiciário em 2003, após 5 (cinco) anos de iniciativa privada na área bancária e tecnológica. Primeiramente, no Tribunal Superior Eleitoral, na área contábil, pois minha primeira formação é em Ciências Contábeis na Universidade de Brasília e, logo após, no Tribunal Superior do Trabalho, como analista judici-ário, local em que pude aprender um pouco a respeito do sistema processual do Brasil.

Convivi, como muitos outros servidores e autoridades da Justiça, com um número infinito de demandas e conflitos aguardando um pronunciamento judicial. Pude sentir a lentidão do sistema e me senti, como muitos operadores do Direito, atada a técnicas e procedimentos que pareciam ir contra o próprio ideal de justiça e pacificação.

Tive a honra de compor a equipe do Ministro do TST, Carlos Alberto Reis de Paula, por mais de 11 (onze) anos, com quem aprendi a humanidade e a técnica no processo. Após sua aposentadoria, como Presidente da Casa, ingressei no Gabinete do Ministro do TST, Douglas Alencar Rodrigues, na ocasião, Conselheiro Consultivo da Presidência para Métodos de Soluções de Conflitos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com quem aprendi o rigor da técnica processual e quem muito me incentivou a trilhar o caminho da via autocompositiva.

Atualmente, auxilio o Ministro Emmanoel Pereira, Vice-Presi-dente do TST e gestor da política nacional de conciliação trabalhista, e o Dr. Rogério Neiva, juiz auxiliar da Vice-Presidência, nas questões da política de conciliação da Justiça do Trabalho.

Paralelo à carreira pública, por motivos de interesse pessoal, me envolvi com o mundo das terapias e do estudo da natureza e do

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comportamento humano, o que sempre me atraiu. Desde técnicas corporais e emocionais, como a cinesiologia, a leitura corporal, o corpo sutil e a psicossomática, à cognitiva-comportamentais, como a hipnoterapia cognitiva, passando por grupos de estudo da psique humana, sob a ótica de Carl Jung, até chegar à transpessoalidade e à transgeracionalidade da Constelação Sistêmica.

De todo esse universo de estudo, a Constelação foi a que mais desenvolveu em mim o lado humano e interpessoal. A escuta do outro, o novo olhar sobre as relações, a possibilidade de resultados precisos, construtivos e criativos e o pensamento sistêmico me conduziram de uma participante a uma facilitadora do método.

Depois de mais de 10 (dez) anos acompanhando grupos de prática, resolvi enveredar pelo caminho da formação e da especia-lização nesta área. Após alguns eventos, cursos e muitos workshops de formação em constelação sistêmica e fenomenológica, iniciei o atendimento com o método e cada vez mais me encanto com os resultados apresentados.

Ante a proximidade de concluir minha segunda graduação, em Direito, protelada por tantos anos, diante da decepção com o quadro jurídico engessado em que me deparava diariamente e pelos deveres do exercício sublime da maternidade, somado a um curso de Mediação de Conflitos3, que me despertou para um viés mais acessível às partes em conflito, me deparei com a possibilidade de escrever sobre a jun-ção desses temas que tanto me mobilizam, não de uma forma apenas acadêmica, mas, e, principalmente, como um projeto que integrava os dois trabalhos, os dois mundos - teórico e prático - em que transito.

Redescobri a motivação. E ao buscar informações para elaborar o trabalho de conclusão de curso4, constatei alguns trabalhos incipientes no Poder Judiciário. A técnica da constelação vinha sendo utilizada em poucos estados como ferramenta dentro das instituições judici-árias no país (BA, GO, RO, MS), conforme será visto em detalhes no capítulo 4.

No Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios - TJDFT, a prática foi iniciada a partir da minha pesquisa acadêmica, orientada pelo Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Nefi Cordeiro, e

3 Ministrado pela Dra. Eutália Coutinho e amplamente estimulado pela minha mãe, Verônica, que foi psicóloga do TJDFT e trabalhou por 22 anos na VIJ.

4 Foi este trabalho que deu origem ao projeto “Constelar e Conciliar” no TJDFT.

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autorizada pelo juiz titular de Direito da Vara da Infância e Juventude – VIJ, Dr. Renato Scussel, em uma unidade de acolhimento, o Lar São José, carinhosamente conhecido como “larzinho”.

Os registros das intervenções constam do relatório anual de 2015 da “Rede Solidária Anjos do Amanhã”, que auxilia a Vara da Infância e Juventude – VIJ em projetos de cunho social5. Separei um capítulo deste livro para relatar alguns casos atendidos na VIJ e o acompanha-mento posterior dos atendidos, cuja identidade está preservada, com a devida autorização do juiz titular da Vara da Infância e Juventude e da coordenadora do Lar de São José.

No Distrito Federal, continuei como consteladora voluntária, por convite da Rede Solidária e da Vara da Infância e Juventude, e o Projeto foi batizado, em fevereiro de 2016, de “Constelar e Conciliar”, por sugestão da Drª Luciana Yuki, coordenadora do NUPEMEC, na ocasião, e à frente do CEJUSC Brasília, que me convidou, juntamente com Thalita Selvati, servidora coordenadora do Núcleo, a atuar em outras unidades no Tribunal. No dia 7 de janeiro de 2016, ela coor-denou um encontro com outras magistradas de unidades diversas que aderiram ao projeto, a saber: Dra. Ana Cláudia Loiola, da Primeira Vara Criminal de Brasília, Dra. Magáli Dellape, da Vara Cível, Órfãos e Sucessões do Núcleo Bandeirante, Dra. Luciana Yuki, CEJUSC Brasília e Programa dos Superendividados, e Dra. Rachel Brandão, do CEJUSC Taguatinga.

Na época, a Assessoria de Comunicação do Tribunal fez uma matéria sobre o início “oficial” do projeto6, reforçando que a medida está em consonância com a Resolução no 125 do Conselho Nacional de Justiça, que trata da política de tratamento adequado de conflitos.

Após a conclusão do trabalho e a defesa da monografia, mais notícias de outras unidades federativas usando a técnica da constelação dentro do Poder Judiciário continuavam chegando.

5 VIEIRA, Adhara. A constelação sistêmica como política pública para resolução de conflitos. Revista Fórum Trabalhista: RFT, Brasília, ano 5, n. 22, jul./set. 2016. Belo Horizonte.

6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. “TJDFT começa a usar constelações familiares para a resolução de conflitos”, 2016. Disponível em  http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noti-cias/2016/fevereiro/tjdft-comeca-a-usar-constelacoes-familiares-na-resolucao--de-conflitos. Acesso em: 09 março de 2017.

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A partir de tantas práticas e experiências sendo realizadas Brasil afora, percebi o quanto o tema é relevante e necessita não só ser aprofundado do ponto de vista teórico e instrumental da técnica, mas principalmente ser objeto de pesquisa, de análise de resultados. A proposta é trazer à lume, de forma organizada, os dados desta pesquisa realizada desde 2015 junto ao Tribunal de Justiça do DF, tendo por objetivo avaliar o uso da constelação como mais um recurso para a resolução de conflitos no Poder Judiciário. Uma técnica que pode ser adicionada ao uso de outras já eleitas pelo Conselho Nacional de Justiça, como é o caso da conciliação e da mediação.

Outro motivador foram os inúmeros convites recebidos para ministrar cursos, workshops, seminários e palestras sobre o tema no Judiciário. Como ensinar algo novo que está sendo construído por muitas mãos? Como traduzir em palavras um sonho que eu acredito ser de muitos outros consteladores e operadores do Direito (o uso da técnica de forma disseminada pelas instituições judiciais)? Além do ensino, visualizo a necessidade de pesquisa acadêmica em relação à técnica das constelações.

Por esse motivo, tentei o mestrado na Universidade de Brasília – UnB e, durante a escrita deste livro, fui aprovada no programa de pós-graduação em direitos humanos e cidadania (PPGDH) na linha de pesquisa “Direitos Humanos, história memória, políticas públicas e cidadania”. A ideia, agora, é averiguar se a constelação pode ser um instrumento de política pública no Poder Judiciário. Pesquisarei os processos que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher. Acredito que o trabalho de pesquisa seja o meio mais efetivo de avaliar o uso do pensamento sistêmico na prática, com um olhar crítico quanto ao uso da técnica.

Este livro não deixa de ser uma aventura por domínios novos e controversos, fruto de estudos, leituras, observações, participações em vários grupos de diversos profissionais e práticas. É um convite à arte das relações humanas. Não tenho a intenção de esgotar o tema, mas estudar de forma profunda e séria o assunto das constelações, para estruturar e informar um pouco mais sobre sua prática, relatando, principalmente, o projeto que aplico e pesquiso no Distrito Federal.

Mas não só isso. A proposta é, ainda, avaliar se a técnica da cons-telação é uma ferramenta útil e em que natureza processual (infância e juventude, violência doméstica e contra a mulher, justiça criminal, vara de família?). Se sim, como institucionalizar de forma segura e

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adequada? Sessões individuais ou em grupo? Como avaliar os resul-tados? Quantitativamente e qualitativamente? Tudo isso são questões que me inquietam e que busco responder a cada dia.

E tudo isso, com um propósito! Propor a inclusão da prática das constelações em âmbito nacional, se comprovada a eficácia da técnica como um recurso de política pública, estendendo a todos os juízos e Tribunais de Justiça das capitais, não só no âmbito da Justiça comum, mas, também, e inclusive, na trabalhista.

Uma semente já foi plantada. A fim de iniciar o debate no âmbito legislativo e concretizar o emprego da técnica, propus, pe-rante a Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em nome da Associação Brasileira de Consteladores Sistêmicos, um anteprojeto de lei que viabilize o uso da técnica nos conflitos de interesses tutelados pelo Poder Judiciário.7 (Sugestão Legislativa 41/2015). A Câmara já autorizou audiência pública para debater o tema.

O uso da constelação no Judiciário prestigia as abordagens pluralistas à atuação do Judiciário, utilizando aqui o conceito de Antonio Carlos Wolkmer, que propõe novas formas emancipatórias e contra-hegemônicas de legitimação do Direito, por meio de um pluralismo jurídico democrático e participativo.

Com esta singela obra, espero colaborar com a Ciência Jurídica, com o sistema de resolução de controvérsias no Poder Judiciário e com as novas formas de se pensar a justiça e, ao mesmo tempo, com-partilhar os benefícios desse método a todos que estão em conflito.

A autora.

7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CONSTELADORES SISTÊMICOS. SUG 41/2015, interposta na CLP da Câmara Federal. Aguardando parecer da relatora Érika Kokay na Comissão de Legislação Participativa. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2074876. Acesso em: 31 maio 2017.

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1A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 2o, que são

poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legisla-tivo, o Executivo e o Judiciário. Essa tripartição das funções estatais foi inspirada pelo filósofo francês Montesquieu, em sua teoria da separação dos poderes.8

1.1 HISTÓRICO E CRISE NO SISTEMANo art. 1o, a Carta Política preconiza, ainda, que “a República

Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá-tico de Direito [...]”. 9

Assim, no Brasil, vivemos sob um Estado de Direito, isto é, um Estado ligado ao respeito à hierarquia das normas e aos direitos fun-damentais, que atende ao princípio da separação dos poderes, sendo o Judiciário, um desses poderes.

O Estado passou por diversas transformações. De absolutista, após a queda do feudalismo, para o Moderno, no século XVI. Depois evoluiu para o Estado Liberal, idealizado por Montesquieu, Locke e Kant, fundamentado no princípio da separação dos Poderes, em que já predominava a imparcialidade do juiz, a fim de se garantir o primado da lei. Nesse Estado, que vigorou nos séculos XVIII e XIX, sob a influência do individualismo filosófico - presente no Iluminismo

8 MONTESQUIEU, Charles de Secondat Baron de. O Espírito das Leis. São Paulo: Marins Fontes, 2000, p. 181

9 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Edições Técnicas do Senado Federal, 2015.

O PODER judiciário

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- e do liberalismo econômico de Adam Smith, havia apenas uma garantia formal do direito de acesso à Justiça10.

No Estado do Bem Estar Social, surgido no século XX, esse direito de acesso passou a ser concebido como um direito material, um direito social, insculpido no art. 5o, inciso XXXV, da Constituição Federal. Ricardo Goretti, lançando o olhar sobre este direito, esclarece que:

Um sentido diverso da vertente formal do direito de acesso pode ser extraído quando consideramos a justiça como de-signação de um valor, virtude, fundamento ético de equidade e igualdade a ser perseguido judicial ou extrajudicialmente, pouco importando a via utilizada para efeito de realização de direitos e interesses violados ou ameaçados de lesão. Sob essa perspectiva, o direito em questão é compreendido como a expressão do acesso à justiça substancial ou material que “[...] se constitui no verdadeiro fim almejado pelo Direito, ou seja, consubstancia-se no alcance por parte de alguém à verdadeira solução de um conflito social intersubjetivo, com equilíbrio, com igualdade (Justiça-valor).11

Apesar de o direito de acesso à Justiça ser um direito garantido constitucionalmente, o processo jurídico tradicional tem se mostrado inca-paz de resolver os conflitos existentes nas sociedades. O volume de processos nas instâncias judiciais impossibilitam o acesso à Justiça de forma efetiva12.

Atualmente, as sociedades adeptas do Estado do Bem Estar So-cial vivenciam a crise desse paradigma. Não tem mais condições de arcar com as despesas excessivas decorrentes da intervenção estatal nas áreas social e econômica, e ainda conviver com a morosidade na prestação jurisdicional.

Boaventura Santos já havia falado nesta “crise na administração da justiça”, que está diretamente relacionada com a explosão de li-tigiosidade social13.

10 AMARAL, Márcia Terezinha Gomes Amaral. O Direito de Acesso à Justiça e a Mediação. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 38-48.

11 GORETTI, Ricardo. Mediação e acesso à justiça. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 67

12 AMARAL, Márcia Terezinha Gomes Amaral. O Direito de Acesso à Justiça e a Mediação. Rio de Janeiro: Lumen Juris: 2009, p. 38-48.

13 SANTOS, Boaventura de Souza. Para uma revolução democrática da justiça. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 135

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Essa explosão é comprovada pelo agravamento da crise na organização do Judiciário. Um intricado problema que abrange “o aumento do número e da complexidade dos conflitos, a morosidade da prestação jurisdicional, as custas judiciais excessivas”, a sobre-carga de processos nos tribunais e, principalmente, as dificuldades de acesso à Justiça14.

Várias propostas e soluções vem sendo apresentadas para minimi-zar esta crise. De maneira peculiar, Mauro Cappellett e Bryant Garth, denominam esse conjunto de soluções de “ondas do movimento universal de acesso à justiça”:

[...] podemos afirmar que a primeira solução para o acesso – a primeira ‘onda’ desse movimento novo – foi a assistência judiciária; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar representação jurídica para os interesses ‘difusos’, especialmente nas áreas de proteção ambiental e consumi-dor; e o terceiro – e mais recente – é que podemos chamar simplesmente de ‘enfoque de acesso à justiça’, porque inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito além deles, representando, dessa forma, uma tentativa de atacar as bar-reiras do acesso de modo mais articulado e compreensivo.15

A reforma no Judiciário iniciou-se, no País, com a Emenda Cons-titucional no 45 de 2004. Com ela, vieram a implantação de alguns instrumentos e esforços, empreendidos na busca da pacificação social, tais como a súmula vinculante, a repercussão geral, a ampliação dos poderes do relator, a regra que disciplina os recursos repetitivos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a reforma nos códigos processuais, entre outras medidas. A primeira geração de reformas resultou:

[...] na instituição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e na criação de novos mecanismos processuais, como o mandado de injunção, a cláusula impeditiva de recur-sos e o princípio da repercussão geral, introduzida em 2004 pela Emenda Constitucional no. 45 e implementada por um pacto entre os Três Poderes. O Marco Legal da

14 AMARAL, Márcia Terezinha Gomes Amaral. O Direito de Acesso à Justiça e a Mediação. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, 39-40.

15 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998, p. 168.

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Mediação e o novo Código de Processo Civil, sancionado em março de 2015, fazem parte da segunda geração de reformas para desafogar os Tribunais e agilizar a tramitação dos processos.16

Vale salientar o pensamento do professor Carlos Eduardo Vas-concelos, que dispõe que a mediação não está no texto legal, mas:

[...] o que passou a constar no texto do novo CPC foi o marco regulatório da mediação em âmbito judicial. Portanto, um programa normativo que estimula a prioriza-ção das soluções consensuais. Pois a mediação é uma prática e seu método, com o apoio de um terceiro, o mediador/conciliador, é retórica material, é vivência transdisciplinar, é arte, algo construído nos campos da experiência e da compreensão dialogal.17

O Novo Código “confere um tratamento destacado e paradig-mático às formas autocompositivas, pois exige de todos os sujeitos processuais uma participação cooperativa nos trâmites dos processos judiciais”18. Prestigia a cooperação, a boa-fé, o consenso, o diálogo no processo, a não surpresa, a duração razoável do processo, o retorno à instrumentalidade do processo em oposição ao rigor formal, em harmonia com as determinações constitucionais.

Mesmo com as várias reformas realizadas, o sistema processual, que exerce influência na organização e no funcionamento do Judi-ciário, ainda é inadequado.

Isso porque, em geral, o processo judicial aborda o conflito como um simples fenômeno jurídico, ao tratar exclusivamente dos interesses juridicamente tutelados, excluindo aspectos do conflito que são tão ou até mais relevantes do que os bens jurídicos tutelados.

Zamora Y Castillo, um dos primeiros processualistas a se voltar aos fins e às limitações do processo, sustenta, na sua obra “Proceso, Autocomposición y Autodefensa”, três missões transcendentais

16 MARCO Legal da Mediação. O Estado de São Paulo, São Paulo, 8 jun. 2015. 17 VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas

restaurativas. 4 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2015, p. 8418 NUNES, Antonio Carlos Ozório. Manual da Mediação: guia prático da

autocomposição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 38.

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do sistema processual: a jurídica, segundo a qual o sistema processual serve como instrumento para a realização do direito objetivo em caso de litígio; a política, voltada à realização de garantias de justiça e li-berdade decorrentes das estruturas institucionais do Estado; e a social, voltada à contribuição para a convivência pacífica dos jurisdicionados19.

Inocêncio Mártires Coelho destaca a importância da função jurisdicional exercida pelo Judiciário, ao declarar ser:

[...] evidente que incumbe essencialmente aos intérpretes--aplicadores – e não aos legisladores – encontrar as primei-ras respostas para os novos problemas sociais, uma tarefa da qual só poderão desincumbir-se a tempo e modo se forem capazes de olhar para o futuro e trilhar [cami-nhos] ainda não demarcados; se tiverem a coragem de enfrentar a opinião dominante, ao invés de se resignarem a seguir a jurisprudência estabelecida; se, finalmente, se dis-puseram a assumir o ônus redobrado de combater as ideais cristalizadas, até porque, via de regra, longe de traduzirem consensos verdadeiros, essas falsas unanimidades não pas-sam de preconceitos coletivos, frutos dos argumentos de autoridade, que sabidamente esterilizam o pensamento e impedem os vôos mais arrojados” 20.

Outro fator que impede o acesso pleno à Justiça e que deve ser observado é a mentalidade de alguns magistrados. Segundo Dallari, há maior preocupação com a legalidade do que com a justiça das decisões judiciais21. Esse apego à formalidade legal é herança do positivismo jurídico desenvolvido no século XIX, sob a influência de Hans Kelsen e sua “teoria pura do Direito.”22

19 ZAMORA Y CASTILLO, ob. cit., p. 198, In AZEVEDO, André Gomma. (Org.) Perspectivas metodológicas do processo de mediação: apontamentos sobre a autocomposição no direito processual. Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. v. 2. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2003, p. 151.

20 COELHO, Inocêncio Mártires. Arbitragem, Mediação e Negociação: a consti-tucionalidade da Lei de Arbitragem. Revista Notícia do Direito Brasileiro [Nova série] Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, n. 7 – 1o/2000, p. 18-19. G.N.

21 DALLARI. Dalmo. O Poder dos juízes. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 82. 22 AMARAL, Márcia Terezinha Gomes Amaral: O Direito de Acesso à Justiça

e a Mediação. Editora Lumen Juris: Rio de Janeiro 2009, p. 42 e KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 3. edição revista da tradução de J. Cretella Jr. e Agnes Cretella. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 62-63.

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De todo esse universo de estudo, a Constelação foi a que mais desenvolveu

em mim o lado humano e interpessoal. A escuta do outro, o novo olhar sobre

as relações, a possibilidade de resultados precisos,

construtivos e criativos e o pensamento sistêmico me conduziram de uma

participante a uma facilitadora do método.

Depois de mais de 10 (dez) anos acompanhando grupos de prática, resolvi enveredar pelo caminho da formação e da especialização nesta área. Após alguns eventos, cursos e muitos workshops de formação

em constelação sistêmica e fenomenológica, iniciei o

atendimento com o método e cada vez mais me encanto com

os resultados apresentados.

Este livro não deixa de ser uma aventura por domínios novos e controversos, fruto de estudos, leituras,

observações, participações em vários grupos de

diversos profissionais e práticas. É um convite

à arte das relações humanas. Não tenho a intenção de esgotar o tema, mas estudar de

forma profunda e séria o assunto das constelações, para estruturar e informar

um pouco mais sobre sua prática, relatando,

principalmente, o projeto que aplico e pesquiso no

Distrito Federal.

ISBN 978-85-8425-745-4

ADHARA CAMPOS VIEIRAAnalisa Judiciária, lotada na Vice Presidência do Tribunal Superior do Trabalho, assistente

do Ministro Emmanoel Pereira, gestor e membro da Comissão Nacional de Promoção à Conciliação. Voluntária e idealizadora do Projeto “Constelar e

Conciliar”, em vigor no Tribunal de Justiça do DF desde 2015 em virtude de pesquisa

acadêmica. Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília (UnB) e em

Direito pelo Centro Universitário IESB, pós-graduada em Controladoria Governamental

pela Faculdade OMNI, mestranda em Direitos Humanos pela Universidade de

Brasília, organizadora do Instituto Estelar e autora do artigo sobre o projeto do TJDFT: “A constelação como uma política pública

para resolução de conflitos”, publicada na revista jurídica Fórum Trabalhista. Tem experiência na área de Direito - processo

do trabalho e na área de conciliação e mediação. Autora e idealizadora da sugestão

legislativa 41/2015, ingressada perante a Comissão de Legislação Participativa

da Câmara dos Deputados, por meio da Associação Brasileira de Consteladores

Sistêmicos, que visa “a inclusão da Constelação Sistêmica como um instrumento

de mediação entre particulares, a fim de assistir à solução de controvérsias”.

ADHARA CAMPOS VIEIRA

sistêmica

a

editora

asistêmica

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