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MIRELLA DE LEMOS GIGLIO DEPOIS QUE A CASA PEGOU FOGO: UMA BUSCA PELO SENTIDO DA DEPRESSÃO NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA Pontifícia Universidade Católica São Paulo 2007

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MIRELLA DE LEMOS GIGLIO

DEPOIS QUE A CASA PEGOU FOGO: UMA BUSCA PELO SENTIDO DA DEPRESSÃO NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA

ANALÍTICA

Pontifícia Universidade Católica São Paulo

2007

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MIRELLA DE LEMOS GIGLIO

DEPOIS QUE A CASA PEGOU FOGO: UMA BUSCA PELO SENTIDO DA DEPRESSÃO NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA

ANALÍTICA

Trabalho de conclusão de curso como exigência parcial para graduação no curso de Psicologia, sob orientação da Profa. Dra. Eloisa Marques Damasco Penna.

Palavras-chaves: depressão, psicologia analítica, psicopatologia.

Pontifícia Universidade Católica São Paulo

2007

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Dedicação

Dedico esse trabalho a todos que vivenciaram a depressão de alguma forma. Dedico aos pacientes depressivos, aos indivíduos que convivem com esses e

aos profissionais dessa área: que suas vidas tenham um pouco mais de sentido.

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Agradecimentos BOC por fazerem os momentos difíceis mais fáceis e dos momentos felizes inesquecíveis. Bia e Alê por me ouvirem, discutirem e participarem da minha busca pela finalidade. Meu terapeuta, Dr. Ricardo, por me ajudar a crescer, a apagar o fogo na hora do incêndio e a compreender o que tenho e como usá-lo. Marisa Penna, na ajuda com o meu contato com meu mundo interior e na abertura das portas para o mundo exterior. Eloísa Penna pela ligação com a psicologia analítica, pelas broncas não ditas, pelos risos nas horas aflitivas, e pelo elogio quando eu achava que tinha fracassado. Andreza, pelo contato com os pacientes, com a psicologia analítica e por ser um exemplo de profissional e de pessoa. Meus pais. Por tudo que me deram e pelo que não me deram, pois esse conjunto fez quem eu me tornei hoje. Meu pai pela genética e pela oportunidade de ter crescido mais forte a partir da fragilidade. Minha mãe pelo colo, pelo modelo, pelo sorriso, pela força quando eu precisava e por estar ao meu lado enquanto encontro meu próprio caminho, minha própria motivação. Meu irmão, minha aspiração, minha inspiração, o lado meu que eu não tenho e que espero não desenvolver para continuar te ouvindo.

Agradeço a Deus por colocar essas pessoas no meu caminho e a me dar todos os tipos de recursos para concluir essa pesquisa e evoluir.

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Mirella de Lemos Giglio: Depois que a casa pegou fogo: uma busca pela

finalidade da depressão, 2007.

Orientadora: Prof. Dra. Eloísa M. D. Penna

Palavras chave: depressão, psicologia analítica, psicopatologia.

Resumo

Este trabalho utiliza conceitos da Psicologia Analítica para compreender

como a depressão afeta a pessoa e tem como objetivo buscar um sentido da

depressão na vida do indivíduo. Define psicopatologia pela visão da psiquiatria

assim como depressão e seu tratamento, e relata também a perspectiva da

Psicologia Analítica sobre os mesmos temas. A partir do conceito da energia

psíquica de Jung, articula depressão com a teoria para alcançar o objetivo da

pesquisa. Com o auxílio do relato de caso de alguém que vivenciou a

depressão, a pesquisa busca as conseqüências que a depressão teve na vida

dessa pessoa para identificar se a vivência teve uma finalidade no processo de

individuação do ser. O trabalho amplifica a depressão no mito de

Cronos/Saturno e relaciona o indivíduo depressivo com o arquétipo de senex-

puer, aquele que se identifica com senex (sujeito do relato) não consegue se

renovar, está preso ao passado e ligado à regras e disciplina e teme o que é

novo.

A depressão é uma função estruturante normal, mas se fixada pode se

tornar patológica. Sua função normal é o contato com o mundo interno para

elaborar conteúdos que precisam ser renovados. Por si só pode ser

transformadora, mas se o Ego não tem estrutura forte ele pode não conseguir

elaborar os símbolos e permanecer com a energia regredida (estado de

depressão). Se a depressão for elaborada ela pode ser um instrumento

transformador para o Ser.

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Sumário

Dedicação.............................................................2

Agradecimentos.....................................................3

Resumo ...............................................................4

Introdução............................................................7

Capítulos Teóricos

A- Visão da Psiquiatria:.................................10

I: Psicopatologia.................................10

II: Depressão.....................................12

III:Tratamento para Depressão.............15

B- Visão da Psicologia Analítica:.....................17

I: Conceitos da Psicologia Analítica........17

II: Psicopatologia................................25

III: Depressão....................................27

IV: Tratamento...................................35

Objetivo...............................................................40

Método.................................................................40

Discussão.............................................................43

Conclusão.............................................................62

Referências bibliográgicas.......................................64

Anexos.................................................................66

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Introdução

Meu interesse pelo tema depressão se constituiu por ter convivido

com uma pessoa que vivenciou tal situação. Essa experiência me fez ver

como a depressão pode acabar com a vida do deprimido, mas também

que, a pessoa pode transformar sua vida significativamente. Vi mudanças

ligadas aos relacionamentos com a família, amigos, parceiros amorosos e

consigo mesmo. Quando vi a depressão ter vida foi como se ela tivesse

saído do papel, percebi claramente a diferença entre ouvir sobre o tema e

vivê-lo.

O sujeito mencionado nos estudos científicos tem sintomas, mas a

pessoa deprimida vive intensamente esses, que parecem fazer parte de

quem ela é e não de como ela está. Após tratamento, a pessoa com quem

convivi olhava para trás e não se reconhecia; ela relatava que foi como se

a depressão tivesse tomado conta dela. A depressão não está restrita a

sintomas, ela abrange toda uma vivência individual e coletiva.

Depois de ter passado pela depressão a vida pessoa parecia estar

melhor do que era antes, ela estava cuidando mais de sua saúde, com

uma auto-estima mais alta, e se relacionando melhor com os outros.

Percebi, depois de um tempo, que a depressão foi o necessário para a

mudança do indivíduo. A partir desse ponto, eu queria ouvir sobre a

vivência da depressão e saber o que mudou depois dela. Mas em minha

mente a depressão funcionava como um instrumento transformador para

todos que passavam por ela. Com o tempo percebi que não podia

determinar que a depressão tem uma finalidade para todos, logo resolvi

pesquisar a visão da Psicologia Analítica sobre o transtorno e buscar uma

finalidade para tal.

O assunto certamente não é novo, mas ao mesmo não está

esgotado, parece ser um termo comum, mas é um tema que não tem

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informações claras, não é definido pela ciência. Nem o que deveria ser

conhecimento básico – como por exemplo, de que forma a depressão é

desencadeada, como a vida da pessoa fica depois do tratamento - não

está respondido. Parece haver controvérsia sobre o que a depressão é,

como ela surge e mesmo na sua forma de ser tratada. É difícil encontrar

pesquisas sobre o tratamento e sua repercussão na pessoa. Escutamos

falar sobre deprimidos, mas parece que nunca os ouvimos. Os sintomas

são discutidos, as crises são analisadas, mas a vida de quem passou por

isso não é levada em conta. É claro que não é possível generalizar cada

caso, mas podemos ter a palavra de quem já viveu essa experiência para

saber se houve mudanças significantes no ser do indivíduo. Deste modo,

como uma pessoa que esteve próxima de uma vivência de depressão,

inicío minha investigação buscando a finalidade da depressão na vida de

quem já passou por isso.

O trabalho seria mais uma contribuição para desvendar a

depressão e seus mitos. Se o transtorno tem uma finalidade o seu

tratamento poderia tomar um rumo diferente, as pessoas poderiam

utilizá-la como recurso para entrarem em contato com seu interior e se

tornarem quem realmente são.

Há uma dificuldade das pessoas em lidar com a depressão e em

alguns casos resultam em suicídios. A incidência de depressão é alta no

mundo todo e parece aumentar cada vez mais. Por que será que aumenta

tanto? Todos os tipos de tratamentos são criados, mas será que a

depressão depende da tecnologia de estudos científicos para ser

compreendida, ou depende do próprio indivíduo?

Por considerar a depressão própria de cada indivíduo e não uma

vivência generalizada; queria escrever o relato de pessoas que a

vivenciaram. Pretendi entrevistar várias pessoas, mas resolvi utilizar mais

bibliografia da Psicologia junguiana para buscar a finalidade da depressão

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e ilustra-la com o relato de um caso. Para enriquecer a discussão segui

os passos de um autor e amplifiquei a depressão a partir de um mito, o

mito serviu como recurso metodológico nesse caso.

“Depois que a casa pegou fogo” representa o indivíduo depois da

depressão. O ser é simbolizado pela casa e o fogo expressa a depressão.

O fogo é transformador por si só, a casa pode ter servido até certo ponto,

mas alguma coisa aconteceu que a desequilibrou e pegou fogo. O que

pode ser feito depois do incêndio? O proprietário da casa tem algumas

opções: deixar queimada e morar com o pouco que sobrou, esperar

alguém arrumá-la, ser criativo e utilizar o que sobrou para construir uma

nova estrutura, sempre vigiando para que não seja necessário que outro

incêndio alerte algum desequilíbrio; entre outras soluções. Qual é a

função desse fogo e o que pode ser feito?

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A- Visão da Psiquiatria

I- Psicopatologia

“nunca é demais lembrarmo-nos de que ‘não existem doenças mas sim

doentes’ e se, por um lado, há características gerais que nos permitem

falar em depressão, de outro já o ser humano com suas peculiaridades,

as quais caracterizam aquele deprimido único e específico de quem

vamos realmente tratar. Ele se iguala a tantos outros em alguns

aspectos, mas no todo se diferencia.”(Vargas, 2005, P:103)

A depressão se tornou um assunto e uma doença da moda (Vargas,

2005), uma doença que está afetando 50 milhões de pessoas no mundo

(Dalgalarrondo, 2000).

A depressão é uma psicopatologia, portanto é importante definir o

conceito de psicopatologia em geral antes de discutir a depressão em si.

Psicopatologia é o “conjunto de conhecimento referentes ao adoecimento

mental do ser humano”. (Dalgalarrondo, 2000, p.23). Entende-se, então,

como o estudo de tudo que é relacionado à doença mental. Para seguir

adiante é necessário compreender o que Dalgalarrondo quer dizer com

doença mental. De acordo com o autor (Dalgalarrondo, 2000), as doenças

mentais são vivências, estados mentais e padrões de comportamentos

que fazem parte da psicologia do normal, mas expressam uma

especificidade psicológica.

É difícil definir o que é normal e o que é patológico, depende da

área da saúde mental pela qual se olha. Áreas distintas como a psiquiatria

forense/legal, como o planejamento em saúde mental e a área de

políticas públicas, entre outras, têm definições diferentes do normal e do

patológico (Dalgalarrondo, 2000).

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Existem vários critérios de normalidade em psicopatologia, os

critérios considerados os principais são: normalidade como ausência de

doenças, normalidade ideal, normalidade estatística; normalidade como

bem-estar; funcional; normalidade como processo; subjetiva; como

liberdade; e normalidade operacional (Dalgalarrondo, 2000). Cada um

tem sua especificidade todos os critérios de normalidade são válidos, isso

leva os profissionais da área de saúde a seguirem suas visões, a

refletirem, e se preferirem, combinarem vários critérios de normalidade,

dependendo do seu objetivo (Dalgalarrondo, 2000).

A semiologia psiquiátrica é uma forma de ler as psicopatologias. Ela

é uma ciência que analisa os sinais nos seres humanos, “trata

particularmente dos signos que indicam a existência de sofrimento

mental, transtornos e patologias” (Dalgalarrondo, 2000, p.20). O mesmo

autor utiliza dois termos para diferenciar os signos na psicopatologia, um

desses termos é “sinal”, que se define como tudo que é observável

diretamente no paciente, é mais objetivo; e o outro termo é “sintoma”,

está relacionado a tudo que o paciente relata que está vivenciando,

seriam as queixas, esse termo é subjetivo, pois é a partir das vivências

do indivíduo. Guariente (2000) define sintoma como o que o indivíduo

sente e sinal como o que pode ser visto. Então chama-se de signo pois o

fenômeno indica algo, ele tem um significado, por exemplo: a febre pode

ser sinal de infecção. Quando há mais de um sinal e sintoma denomina-se

o fenômeno de síndrome.

De acordo com Dalgalarrondo (2000), os sintomas são lidos da

seguinte maneira: através de sua forma: como alucinação,delírio, etc; e

analisando o seu conteúdo, por exemplo: conteúdo de culpa,

perseguição,etc.

Mesmo com definições para patologias, para sinais e sintomas,

Dalgalarrondo (Dalgalarrondo, 2000) afirma que a existência do homem

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vai além de conceitos psicopatológicos, ou seja, “nunca se pode reduzir

inteiramente o ser humano” (Dalgalarrondo, 2000, p.23) a essas

definições.

II - Depressão

O termo depressão tem sido utilizado em várias situações, em

algumas circunstâncias com muitas razões, mas também em ocasiões que

aparentam não serem significantes (Vargas,2005). Isso acontece porque

ela pode ser vista com diferentes sentidos, pode ser utilizada para indicar

“uma alteração do humor (tristeza), como para síndrome [...] e também

para um distúrbio específico: o transtorno do humor.” (Vargas, 2005,

p.102)

Segundo a Classificação de Transtornos Mentais e de

Comportamento da Classificação Estatística Internacional de Doenças e

Problemas relacionados à Saúde (OMS, 1993), depressão é um transtorno

do humor (afetivo). A depressão não é o único transtorno do humor

(afetivo); os quais inclui também: episódio maníaco, transtorno afetivo

bipolar, transtorno persistente do humor (afetivos), outros transtornos do

humor (afetivo) e transtorno do humor (afetivo) não específico. A

depressão é a prevalência em um dos pólos do humor (tristeza, alegria)

(Vargas,2005). Já Guariente (2000) tenta definir a depressão como

distúrbio mental causado tanto por um conflito interno como por uma

alteração orgânica. Cada caso tem um pouco de cada, uns tem mais

influência orgânica que outros e isso pode definir o melhor tipo de

tratamento. De acordo com o CID-10, da Organização Mundial de Saúde

(OMS, 1993), assuntos relacionados aos transtornos do humor, etiologia,

sintomas, processos bioquímicos subjacentes, resposta ao tratamento e

evolução ainda não são universalmente entendidos, desta forma não é

possível ter uma classificação concreta do distúrbio.

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“Embora discuta-se o quanto ela é determinada por fatores

biológicos ou psicológicos, a depressão é um excelente exemplo do

quanto é importante considerarmos o ser humano como um todo”

(Vargas, 2005, 102)

Não existe algo que ative o transtorno, mas ele geralmente está

relacionado com eventos ou situações estressantes (OMS, 1993). Vargas

(2005) associa o aumento do número de pessoas com depressão com o

mundo em que vivemos atualmente. O ambiente ameaçador, competitivo,

cheio de exigências e expectativas pode ser mais que o necessário para

que o ser humano responda com doenças depressivas, pânico, angústias

e fobias (Vargas, 2005).

Dentro das síndromes depressivas foram classificados subtipos

(Dalgalarrondo, 2000): episódio ou fase depressiva e transtorno

depressivo recorrente, distimia, depressão tipo melancólica, depressão

psicótica, estupor depressivo, depressão agitada ou ansiosa, depressão

secundária. Dentro dos episódios de depressão existem três variedades

que os dividem: leve, moderado e grave (OMS, 1993). A diferença entre

essas subdivisões está no número, tipo e gravidade dos sintomas

presentes (OMS, 1993). Guariente (2000) concorda com a OMS, que a

depressão pode variar entre leve, moderada e grave. Ele (Guariente,

2000) define o tipo do episódio de depressão pela repercussão da

depressão na pessoa. A leve é quando a pessoa tem depressão, mas

consegue trabalhar e orientar-se. A moderada é quando a pessoa tem

mais dificuldades em suportar a pressão, o rendimento de sua produção é

comprometido e tem falta de clareza na sua percepção. A pessoa que

rompe com tudo e com todos, podendo chegar até a morte é a que tem

depressão grave.

Existem vários sintomas, mas não é necessário preencher todas as

categorias para diagnosticar um deprimido (Guariente, 2000).

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O indivíduo tem como comprometimento psíquico: humor

deprimido; perda de interesse e prazer; concentração e atenção

reduzidas; idéias de culpa e inutilidade; visões desoladas e pessimistas do

futuro; idéias ou atos autolesivos ou suicídio; desânimo, apatia,

insegurança, inércia, choro persistente, desesperança, irritabilidade. Os

resultados orgânicos são: energia reduzida; cansaço após pouco esforço;

sono perturbado (insônia ou hipersônia); apetite diminuído (de acordo

com OMS, 1993) alteração no apetite (Guariente, 2000); ganho ou perda

de peso; diminuição do desejo sexual (libido), lentidão ou agitação psico-

motora. Há também interferência na vida social da pessoa: retraimento

social, perda ou rebaixamento da produtividade, desinteresse por

atividade recreativa e de lazer.

Como são aspectos que todos têm pelo menos alguma vez na vida,

não é possível fazer o diagnóstico apenas com a lista de sintomas, é

necessário levar em consideração a duração desses. Uma duração de pelo

menos duas semanas é requerida para ter certeza, mas existem casos de

episódios mais curtos com os sintomas graves e de início rápido.

Autores como Cuche e Gerard (1988) optam por não definirem a

depressão, mas por detalharem os elementos que caracterizam o estado

depressivo. Para Cuche e Gerard (1988), a depressão lesa a parte afetiva,

intelectual e sintomática, sendo que os sintomas afetivos são os mais

comuns. Os mesmos autores (Cuche e Gerard, 1988), usando aspectos

semelhantes do CID-10 (OMS, 1993), destacam como a depressão se

expressa: pelo humor depressivo, pela angústia, pelas perturbações de

caráter, instabilidade emocional, pela anestesia de caráter, dor moral,

pela culpa e idéia de morte. O organismo do indivíduo, de acordo com

Guariente (Guariente, 2000), sofre alteração nos principais

neurotransmissores: a serotonina, a noradrenalina e a dopamina. Esses

neurotransmissores são responsáveis pelo humor e emoções. No caso da

depressão, há uma diminuição dessas substâncias nas transmissões

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sinápticas.

III - Tratamento médico de depressão

Mesmo com vários sinais e sintomas que permitem o seu

reconhecimento é difícil encontrar o estado de depressão. Esse seria o

primeiro passo para sair dela, mas é importante a pessoa não estar tão

deprimida ao ponto de não querer mudar. Há controvérsia se a depressão

tem cura ou não. Existem várias possibilidades de tratamento: a

psicoterapia, a farmacologia e a combinação dos dois; também já se ouve

falar em tratamentos alternativos como acupuntura, mas não entraremos

no assunto. É o tipo e intensidade de depressão que determina como essa

será tratada. Guariente (2000) atribui dois objetivos ao uso de

medicação: a redução e, se possível, remoção de todos os sintomas e

sinais; restauração do desempenho ocupacional e psicossocial. Se a

pessoa não tiver essa restauração, ela não conseguirá alcançar resultados

na psicoterapia, pois o paciente também tem que produzir, então é difícil

um deprimido conseguir raciocinar, pensar livremente, porque ele está

comprometido.

A psicoterapia pode estabelecer uma visão mais coerente do seu

mundo interno e da realidade externa. É possível tratar as angústias e os

conflitos psíquicos resultando daí a redução dos sintomas. Guariente

(2000) afirma que a pessoa consegue ter uma vida melhor do que antes

da depressão com o tratamento psicoterápico, pois nele ela vai

reestruturar as estruturas abaladas e promover um desenvolvimento

emocional, cognitivo e social. A vida tem possibilidade de se tornar

melhor do que antes porque mesmo as pessoas que não sofrem de

depressão têm conflitos internos a serem resolvidos, mas acabam não

trabalhando esse conteúdo. O deprimido em terapia, após o episódio

agudo, pode elaborar seus conteúdos psíquicos mesmo aqueles que não

estão diretamente relacionados à doença.

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Não entrarei na discussão se a depressão tem cura. O importante é

distinguir quando a pessoa está deprimida ou não. A maioria dos autores

foca na depressão em si, mas ninguém mostrou interesse em divulgar ou

pesquisar sua finalidade. Será que ela serve para alguma coisa? Que

mudanças acontecem com uma pessoa que passou por uma depressão?

Essas questões poderiam contribuir para a compreensão e a auto-reflexão

dos que já sofreram de depressão; contribui para aquele que trata os

quem tem depressão e também para aqueles que são curiosos.

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B - Referencial Teórico de Análise – Psicologia Analítica

I - Conceitos da Psicologia Analítica

A psicologia analítica tem termos e definições peculiares que são

utilizados para analisar fenômenos ou pessoas, é sua forma de olhar o

mundo externo e interno. Alguns desses conceitos serão mais

empregados do que outros para falar sobre o sentido da depressão. É

difícil explicar os conceitos da psicologia analítica e depois,

separadamente, escrever sobre psicopatologia e depressão, pois tanto as

enfermidades mentais quanto o transtorno depressivo fazem parte da

totalidade do Ser, ou seja, são símbolos, como outros, e não um aspecto

fora do normal apenas distinto do normal. A expressão “fora” do normal

é uma boa forma de se explicar o porque é complicado falar apenas da

psicopatologia e apenas da depressão, pois elas estão “dentro” do que o

ser humano sabe, do que ele vivenciou, então é partir do ponto de vista

de quem está “dentro” que é possível compreender os fenômenos.

No sistema do Ser, o Ego é o que sabemos de nós mesmos, “é um

dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso

corpo e existência” (Jung, 1985, p.7). A consciência existe a partir do

Ego, ela “emana das profundezas” (Jung, 2001). Já que não somos

apenas o que estamos conscientes que somos, o Ego é somente uma

parte do todo. O ego tem um caminho (processo de individuação) a

percorrer com a finalidade de ficar mais integrado e equilibrado com o

Self (arquétipo central). O Self é todo o sistema, é a totalidade do ser. Ele

é consciente e inconsciente. O ego é englobado pelo Self, ou seja, o ego

faz parte do Self. Há o eixo Ego-Self que se desequilibrar, símbolos, como

a depressão, indicam esse desequilíbrio (Saiz, 2006).

O inconsciente também é uma parte de nós, mas que nos é

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desconhecida, é uma possibilidade do ser. O inconsciente pessoal é

conteúdo interno, por exemplo, aquilo que foi esquecido ou aquilo que

reprimimos. A sombra faz parte do inconsciente, ela é a parte da Psique

que abriga símbolos incompatíveis com o que a consciência aceita, tudo

aquilo que o Ego não admite ser é a sombra. Quanto mais a

reconhecermos e tornarmos a sombra consciente, mais perto estaremos

de quem realmente o Self é (Jung, 2001, Samuels,1988).

O inconsciente coletivo também faz parte da psique humana, mas

não é único, é constituído pelos instintos e arquétipos (Jung, 2001). Os

arquétipos são uma classe de dados que estão no inconsciente, são

impressões que não tem determinada forma, por exemplo, o arquétipo da

Grande mãe, ele só obtém forma a partir da experiência do indivíduo e da

sociedade, a partir da nossa consciência. (Jung, 1985, 2001).

Qualquer expressão tem um sentido na totalidade do Self, pois

tudo na Psique é símbolo cujos significados unem a parte ao Todo.

Símbolos e funções estruturantes sempre estão presentes nessa

totalidade (Byington, 2006). Os símbolos englobam todas as polaridades

psíquicas. Funções estruturantes são todas funções vitais e são

coordenadas por arquétipos; são elas que conduzem a elaboração dos

símbolos. O arquétipo central coordena os símbolos e funções para

formar a Consciência Individual e Coletiva. Essas funções operam na

Psique e elaboram os símbolos que fazem parte da identidade Ego-Outro

na consciência (Byington, 2006).

A elaboração de símbolos faz parte do processo individuação, ou

seja, faz parte do processo de desenvolvimento psicológico, é o que torna

a pessoa única. O processo de individuação engloba a síntese de

elementos conscientes e inconscientes. A finalidade desse processo é a

união do ego e do inconsciente, fazer com que o ego se pareça mais com

o Self (Samuels, 1988, Stein, 1998).

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Uma figura arquetípica que auxilia a ligação do ego com o mundo

interior é a anima, ela é a ponte do ego para o inconsciente, assim como

a persona é a conexão para o mundo exterior. A partir da anima o

indivíduo entra em contato com as imagens do inconsciente coletivo.

Persona é a maneira do indivíduo se apresentar ao mundo, como a

máscara para o teatro, a persona tem a mesma função de representação.

Uma fixação da persona indica um problema, o indivíduo se prende na a

forma que gostaria de ser e que o mundo gostaria de ver. (Jung, 2001,

Stein, 1998)

Arquétipos e o Ciclo da Vida

Os principais arquétipos regentes no processo de individuação são:

grande mãe, pai, alteridade e totalidade. Como há aspectos masculinos e

femininos na personalidade dos dois gêneros, não é possível nomear o

arquétipo pelo sexo do indivíduo, por isso o arquétipo matriarcal é

destinado ao arquétipo da sensualidade, e o arquétipo patriarcal é para

nomear o arquétipo da organização. Os dois arquétipos estão presentes

tanto no homem quanto na mulher de todas as culturas, mas a

combinação dos dois varia para cada pessoa. O arquétipo Patriarcal está

relacionado ao poder, abstração (Byington, 2006).

Há cinco posições arquetípicas da polaridade Ego-Outro na

consciência. Essas posições são: indiferenciada (arquétipo central),

insular (arquétipo matriarcal), polarizada (arquétipo patriarcal),

polaridade matriarcal-patriarcal e a dialética (arquétipo da alteridade).

(Byington, 2006).

Neste estudo será focalizada a posição polarizada, pois a ilustração

na discussão é da depressão no dinamismo patriarcal. Na posição

polarizada, o Ego se relaciona simultaneamente com os dois pólos das

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polaridades, por exemplo: o certo e o errado, o bonito e o feio. O

indivíduo tem consciência dos dois lados. A característica dessa posição é

a reflexão sobre os deveres, o poder, o perfeccionismo, culpa e o medo

de fracassar. (Byington, 2006).

O processo de individuação é subdividido em quatro fases: Ciclo

Maternal, Ciclo paternal, Alteridade e Cósmico. Cada momento e contexto

da vida é regido por um arquétipo, que proporciona experiências

importantes para o desenvolvimento do indivíduo; cada ciclo está

presente no processo de desenvolvimento, um se sucede a outro, mas

isso não quer dizer que os ciclos são estagnados ou determinados. As

experiências vivenciadas em cada ciclo ficam no indivíduo (é

incorporado), além disso, podemos voltar a ativar um arquétipo em um

outro ciclo, mas este será vivido de uma forma diferente (Neumann,

1980).

O ciclo materno é o mais básico da vida, nele é regido o princípio de

sobrevivência e propagação da espécie, é caracterizado pela

indiferenciação entre os opostos (eu-outro, mãe-filho, consciente-

inconsciente, indivíduo-sociedade) com predomínio do inconsciente; a

lógica que rege esta fase é a do prazer, proteção, fertilidade e

sexualidade (Neumann, 1980).

O ciclo paterno é caracterizado pela abstração (consciência focada

e objetiva, o que leva ao poder de decisão e escolha), pela imposição e

incorporação de leis, limites, dever e organização, vivência promotora de

consciência e discriminação entre as polaridades (Neumann, 1980).

A Alteridade é caracterizada pela transformação da consciência, em

busca do desenvolvimento simbólico pleno em direção ao apogeu da

criatividade, inter-relação das polaridades. Por último, a fase Cósmica é

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regida pelo Self, é ampliação maior da consciência devido uma maior

abertura para o inconsciente, é o fechamento da vida (Neumann, 1980).

Energia Psíquica

Energia Psíquica é o termo que Jung encontrou para melhor

descrever a força que dá vida à psique. Com ela é possível explicar o

movimento psicológico e da motivação, “é o que faz a diferença entre

estar ‘aceso’ e estar ‘apagado’, para usar uma metáfora elétrica.” (Stein,

1998, p.61)

Para a psicanálise, a sexualidade era o motivador primário da

dinâmica humana e também causadora de conflitos psicológicos. Já para

a psicologia analítica, a força que motiva os humanos é mais que sexual,

está ligada com qualquer tipo de desejo. Através dessas forças o homem

produz a arte, a música (Stein, 1998).

Essas ações são resultado de um desejo, por exemplo, a vontade

de comer pode ser seguida da ação de comer. “A energia psíquica é

transformada de uma expressão de simples instinto para expressões e

realizações culturais.” (Stein, 1998, p.65) Essa transformação ocorre

através da capacidade humana de criar analogias. No decorrer do tempo,

certas atividades que eram análogas tomaram vida própria e não estão

tão ligadas ao desejo gerador delas. O desejo sexual não era mais o

importante, ele ficou para trás dos desejos pelas ações que substituíam o

desejo sexual. (Stein, 1998)

O conceito de energia psíquica é importante para entender o

funcionamento dos complexos. Jung os define como “agrupamento de

conteúdos afetivamente acentuados” (Jung, 1983, p.20). Cada complexo

tem um elemento central e várias associações a ele. O núcleo central é

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constituído por um arquétipo em torno do qual há uma grande quantidade

de energia, associada a experiências do indivíduo relativa à temática do

arquétipo central.

Jung questionava o que dirige essa força. Para isso ele foi buscar a

física e a teoria de energia, percebendo que o estudo da energia não era

estudo sobre os objetos em movimento e sim sobre a relação dos

próprios objetos. Existem duas formas da física observar as coisas, uma é

causal e a outra é finalista. A teoria física mecanicista observa o objeto

que se move (teoria causal). A teoria de energia observa as relações dos

objetos que se movem (teoria finalista) (Jung, 1983; Stein, 1998).

A lei de conservação de energia também se aplica à energia

psíquica, que afirma que energia não é criada e nem destruída. Energia

psíquica não pode ser observada em si, nós podemos apenas observar os

seus efeitos. O movimento da energia psíquica é explicado de forma

finalista e não a partir de uma perspectiva causal-mecanicista. Isso

significa que não olhamos pensando que “a causa b, b causa c, e assim

por diante”, que na psicologia seria aplicado como o trauma causa o

complexo que causa sintomas. Já na visão finalista (Jung, 1983), os

objetos a, b, c são instrumentos das transformações energéticas.

“A energia é transferida de um estado menos provável para um mais

provável deslocando-se ao longo de um gradiente de intensidades até

terminar em equilíbrio.” (Stein, 1998, P:70)

O mais importante desse movimento seria o final, ou seja, o

alcance do equilíbrio, e não enfatizando o que causou esse movimento

(Jung, 1983). Essa dinâmica é a auto-regulação da energia.

“Aquilo que para o ponto de vista causal é ‘fato’, para o ponto de

vista finalista é ‘símbolo’, e vice-versa” (Jung, 1983, p.32).

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A causa não possibilita uma evolução, pois seria substância

imutável que continuaria a agir sem parar, aquele seria o fim, então não

tem aonde ir depois do fim (Jung, 1983). O movimento de energia pode

colaborar quando o sistema psíquico está em desequilíbrio, mas isso não

significa que os complexos são apenas reativos, pois eles também são

capazes de canalizarem essa energia que está neles para ser criativa. O

complexo então precisaria descarregar sua energia, pois está muito

carregado. O ambiente pode estimular a canalização da energia do

complexo, mas não é a causa. Isso significa que algum fator externo pode

sim colaborar para uma ação do indivíduo, mas sua energia vai de dentro

para fora (Stein, 1998).

Stein (1998) afirma que há duas formas da energia psíquica ser

acolhida por um complexo: através de novos traumas e pelo poder

magnético do núcleo arquetípico do complexo. Um complexo que toma

conta da consciência expressa que o ego não conseguiu agüentar o fluxo

de energia do complexo. O ego é o que pode direcionar essa energia para

a criação de estruturas e projetos, mas isso acontece se o ego for forte o

suficiente e determinado. Se isso não ocorrer, a pessoa pode ficar

disfuncional no plano emocional.

A energia pode ir de um lugar para o outro de acordo com o

interesse da pessoa, pode ser um interesse inconsciente. A energia tem o

movimento de regressão tanto como o de progressão. A progressão

ocorre para a pessoa se adaptar ao mundo, esse movimento é positivo,

pois o indivíduo utiliza essa energia para fazer atividades que ele decide

fazer (Stein, 1998).

Algumas vezes a energia desaparece da consciência e o indivíduo

fica deprimido, isso acontece pois a energia que estava na consciência foi

para o inconsciente. Dizemos que a energia retornou para o inconsciente,

esse processo é denominado de regressão de energia. Quando a energia

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está no inconsciente, ela ativa complexos que não estão relacionados com

o que o ego está valorizando no momento. Então há uma “batalha” de

valores, na qual um lado está no inconsciente e do outro lado está o ego.

Essa luta interior deixa o indivíduo paralisado externamente (Stein,

1998).

“Quando a energia não é consumida num processo de adaptação ao

mundo nem está se movimentando de forma progressiva, ela ativa os

complexos e eleva o potencial energético destes no mesmo grau em

que o ego perde energia ao seu dispor. A energia não desaparece do

sistema; antes ela desaparece da consciência.” (Stein, 1998, p.77).

O estado de depressão surge a partir desse movimento de energia,

assim como incertezas, dúvidas e perda de motivação.

Quando a energia está no processo de progressão, ela está sendo

utilizada para a adaptação do indivíduo no mundo, como já foi dito. Dessa

mesma maneira funciona o movimento de regressão, quando a energia

está no inconsciente ela ativa o mundo interior e a pessoa é obrigada a

lidar com seu conteúdo interno. O fato de a pessoa ter que entrar em

contato com os conteúdos internos que não estava entrando em contato,

faz da regressão de energia uma possibilidade para o desenvolvimento do

ser. É nesse momento que a pessoa tem a oportunidade de renovar sua

adaptação ao mundo interior. Quando o valor consciente de energia

diminui, ou desaparece, isto pode ser uma possibilidade de um novo valor

surgir em outro lugar. Esse novo valor pode ser consciente ou

inconsciente (Jung, 1983). Depois que o indivíduo consegue lidar com

esse processo de auto conhecimento, de entrar em contato com seu

conteúdo interno, ele está mais maduro para enfrentar o mundo externo.

Essa nova relação com o mundo externo seria a progressão da energia

(Stein, 1998).

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II - Psicopatologia na Psicologia Analítica

“É sempre mais elucidativo e rico para a compreensão do ser

abordarmos o homem na sua totalidade, como um sistema que tem

padrões gerais, porém com especificidades em cada indivíduo.”

(Vargas, p:105)

Algumas pessoas acreditam que o corpo físico é um sistema

independente do psicológico, ou seja, funcionam de maneira peculiar e

nenhum afeta o outro (Stein, 1998).

Já a Psicologia Analítica (Stein, 1998) não considera esses dois

sistemas independentes, eles têm uma ligação complexa de definir, se

relacionam de maneira distinta, mas é difícil saber o limite entre esses

sistemas. É complicado deliberar onde o sistema psicológico acaba e o

biológico começa, e vice-versa. (Stein, 1998)

A patologia é considerada por Jung (Jung, 1985) uma variação do

normal, por isso não se pode compreendê-la a partir de uma psicologia

independente que analisa apenas a doença em si. A psicopatologia (Jung

in Byington, 2006) não pode ser baseada somente no estudo das doenças

mentais, pois faz parte da psicologia normal e de toda extensão da

Psique. Quando as estratégias de sobrevivência da espécie não funcionam

em certas fases da vida, a psicopatologia toma lugar. (Saiz, 2006)

Para entendermos a psicopatologia na abordagem junguiana,

também devemos considerar o que é sombra circunstancial e sombra

cronificada. A sombra circunstancial aparece como uma reação de um

acontecimento específico, ela é passageira. A sombra cronificada também

é uma defesa, mas ela se torna permanente. A resistência defensiva da

sombra cronificada é mais intensa do que a da sombra circunstancial.

(Byington, 2006)

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É importante entender que as funções estruturantes estão

presentes em todos, não só nos indivíduos com psicopatologia, a

diferença é que na psicopatologia as funções estruturantes são defensivas

e não normais. Um erro que geralmente é cometido na hora de

diferenciar as estruturas normais das defensivas é o reducionismo, não

olhar o Self como um todo. O diagnóstico não pode ser visto de fora para

dentro, afinal o símbolo faz parte do processo de elaboração simbólica.

Uma interpretação depende da experiência do terapeuta em sua própria

relação com a sombra e a consciência; da empatia com o símbolo do

paciente e da percepção da resistência. A elaboração simbólica é a melhor

forma de interpretar o símbolo, pois tem o seu próprio sentido. (Byington,

2006)

“No contexto genoma-ambiente, vulnerabilidade-resiliência, o

paciente não encontra o caminho para elaborar os símbolos do Self,

que encurralados em estruturas defensivas da sombra, impedem a

estruturação adequada da relação eu - outro, base para

transformação do significado pessoal.“ (Saiz, 2006, p.132)

A gravidade das defesas na relação Sombra-Cosciência pode ser

classificada em quatro níveis: defesa neurótica, psicopática, borderline e

psicótica. (Byington, 2006) Na defesa neurótica (depressão), a sombra se

expressa inconscientemente na maior parte das vezes, mas os confrontos

tornam a sombra consciente. As defesas são reconhecidas pelas pessoas

que sofrem a ação e não pelas pessoas que as cometem. Sintomas e

sofrimentos podem ser expressões da defesa inconsciente. A energia do

indivíduo está fixada em complexos e símbolos, prejudicando a

criatividade do mesmo. (Byington, 2006)

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III - Depressão na Psicologia Analítica

Durante muitos anos, depressão era diagnosticada de acordo com o

“animo depressivo”, mas hoje em dia muitos transtornos depressivos

passam em vão por não apresentarem esse “animo” (Saiz, 2006).

A depressão aparece como um desequilíbrio do todo (biológico,

psicológico e existencial). Ela é caracterizada pela descentralização do

eixo Ego-Self geralmente resultado de situações de estresse crônico,

frustrações, sofrimentos e dependências (Saiz, 2006). A depressão é um

processo psicopatológico dentro o processo de individuação que tem como

função gerar uma transformação na existência do paciente (Saiz, 2006).

A depressão é uma forma de estar no mundo, que expressa os processos

sistêmicos e simbólicos, que estão relacionados à descentralização da

totalidade do ser. (Saiz, 2006)

Pela perspectiva da Psicologia Analítica, a depressão é

arquetipicamente um processo afetivo. Esse processo se desenvolve

dentro de outro processo: um processo psicológico no processo de

individuação que tem o sentido de trazer elaboração simbólica para gerar

uma transformação no sentido existencial da vida do paciente. (Saiz,

2006)

“A transformação confere ao indivíduo uma significação antes

ignorada.” (Jung, 2001, p.281)

Segundo Vargas (2005), algumas depressões não têm relação com

a vivência do deprimido, provavelmente elas tem um fator genético.

Outro tipo de indivíduos sofre depressão por estruturas egóicas frágeis e

com sérias feridas narcísicas. Uma vivência negativa do processo materno

pode deixar o ego fraco e isso pode gerar dificuldades sérias. Fatores

sociais também podem levar à depressão, como por exemplo, a falta de

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perspectivas socioculturais para o desenvolvimento e crescimento do

indivíduo (Vargas, 2005).

Graves alterações sociais podem ser difíceis de serem elaboradas.

Acontecimentos na natureza podem gerar sentimentos de vulnerabilidade

e perdas. Situações emocionais podem também ser motivo da depressão.

“Mas a estruturação egóica é um fator importante no desencadeamento

ou não da depressão.” (Vargas, 2005) É importante ter em mente que se

a depressão surgir, é resultado de uma série de variáveis ambientais,

biológicas, sócio-culturais, além da estruturação do ego. (Vargas, 2005)

As estruturas depressivas defensivas se formam através das vivências

simbólicas que não são elaboradas, essas estruturas são expressas como

sintomas, tais como: abatimento, desinteresse, desesperança,

isolamento, decepção e indignação, fúria, hostilidade e agressividade

contra si mesmo e com os outros, e como culpa e morte. (Saiz, 2006)

Essa não é a única manifestação de que o estado psíquico está abalado.

Fierz (1954) aponta que as idéias de pobreza e pecado também são sinais

disso.

De acordo com Fierz (1954), no estado depressivo: “o paciente não

está apenas triste, ele perdeu a esperança. O paciente se sente fraco.

Sente que não consegue se concentrar.” (p.370). O autor também afirma

que a fadiga do depressivo é resultado da retirada de energia da

“consciência ativa desviada para o inconsciente” (Fierz, 1954, p.370)

indicando um movimento regressivo da energia. A insônia, também

descrita em estudos da psiquiatria, acontece porque a passagem entre a

consciência e o inconsciente fica perturbada. Esse contato, que ocorreria

naturalmente, do estado consciente para o inconsciente não se dá tão

facilmente.

A descentralização do eixo Ego-Self é um movimento que gera

transformação a partir da própria doença para chegar na realidade. (Saiz,

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2006) Sentimentos de tristeza já fazem parte das funções adaptativas do

ser humano, por exemplo, receber atenção e cuidados dos outros. Essa

função se torna patológica por sua intensidade, freqüência e duração.

(Saiz, 2006)

Clinicamente, se faz uma distinção entre dois tipos de situação no

estado de depressão. Uma é a criativa e a outra defensiva. O criativo é

quando o processo de depressão traz transformação e crescimento para o

indivíduo. (Vargas, 2005) Quando é criativa, há ampliação da consciência

que estimula construção de uma nova atitude e estilo de vida. O paciente

elabora simbolicamente as dependências, perdas e sofrimentos. Assim o

desejo pela morte pode ser elaborado como um novo rumo e sentido de

individuação. (Saiz, 2006) Já no pólo defensivo há fixações, repetições e

prejuízos. (Vargas, 2005)

As Polaridades do Humor

Humor é um eixo com as polaridades alegria-tristeza. As duas

extremidades são mania de um lado e a depressão no outro. A polaridade

alegria-tristeza é arquetípica, é um padrão de funcionamento próprio da

espécie. (Vargas, 2005)

Quando um dos pólos do eixo do humor está presente e é

vivenciado na consciência, o outro, com menos espaço estará presente no

inconsciente. Vários motivos podem resultar na mobilização de um ou

outro pólo, às vezes os dois. O Ego deve ter capacidade e habilidade para

entrar em contato com um, sem se desligar do outro oposto, gerando um

equilíbrio no humor do indivíduo. (Vargas, 2005)

A ruptura do eixo do humor gera o estado patológico. Nessa

situação, o Ego terá acesso a uma das polaridades e deixa de ter acesso

ao oposto que não está predominando. (Vargas, 2005) No caso da

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depressão, o que predomina é a tristeza e o outro oposto que não está

ativado é a alegria.

Para a Psicologia Analítica (Fierz, 1954), a depressão também tem

a finalidade de auto-regulação. Geralmente ela acontece quando a pessoa

está vivendo o extremo de uma polaridade. A depressão é um sinal de

que algo não está correto. Após o tratamento da depressão a pessoa

pode: continuar naquele extremo, ou ir para o extremo da outra

polaridade, ou chegar perto do equilíbrio entre essas polaridades (Fierz,

1954).

A depressão arquetípica

O eixo entre as polaridades tristeza-alegria funciona nos quatro

dinamismos arquetípico entre consciência e inconsciente. (Vargas, 2005)

No dinamismo matriarcal, as polaridades estão muito próximas e

uma passa facilmente à outra. As mudanças de humor podem ser rápidas

e fáceis, como com um bebê, criança pequena ou um adulto com

dificuldades. (Vargas, 2005) Depressões matriarcais comprometem mais

os dinamismos da Grande Mãe, por exemplo, as defesas, como

condensação, inversão e confusão na relação Eu-outro são determinadas

pela proximidade Ego-inconsciente. O depressivo matriarcal se vê como

“uma coisa ruim”, que “não presta” e que “não vale nada”. O corpo é

expressivo. (Vargas, 2005)

No dinamismo patriarcal, tristeza e alegria estão bem distintas e

cada uma predomina em diferentes situações nas quais são adequadas.

Por exemplo, alegre numa festa e triste num velório. Na depressão

patriarcal, as defesas são obsessões, sentimento de culpa e auto

recriminações. Homens que sofreram perdas profissionais e/ou

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econômicas são exemplos de indivíduos que vivenciaram a depressão

patriarcal. Eles se identificam mais com o que possuem do que com o que

são pela sua estruturação patriarcal rígida e estabelecida. Se sentem

culpados e fracassados por não corresponderem mais às suas exigências

e expectativas, que em alguns casos não são individuais e sim projetadas

pela sociedade. Nesses casos de depressão patriarcal, existe um padrão

em relação ao indivíduo como incapacidade de compreensão, tolerância e

relativização, perda da capacidade de se relacionar com a alegria.

(Vargas, 2005) A estrutura neuro-psico-social se organiza em função dos

padrões de status e domínio. Uma organização defensiva do sistema

patriarcal se configura de forma patológica e se expressa simbolicamente

em termos de delimitação, planificação, hierarquia, poder e da capacidade

de desenvolver um pensamento lógico e abstrato. (Saiz, 2006)

Esse sistema patriarcal tem relação com as atividades do

hemisfério esquerdo do cérebro e com os sistemas “volitivo-sensorial-

motor” e “associativo cortical” (Saiz, 2006). As estruturas da medula, o

tronco encefálico, os núcleos da base e o bulbo olfatório são responsáveis

pelos comportamentos instintivos e automáticos, como a necessidade de

domínio, status e competência por intimidação e acoplamento. A partir

dessas funções, o perigo é avaliado instintivamente e inconscientemente

(Saiz, 2006). Quando a estratégia escolhida instintivamente antecipa um

fracasso, o humor fica depressivo.

De acordo com Saiz (2006), quanto mais sucessos alcançados

maior será a capacidade do animal manter poder, no caso do homem,

maior será sua auto-estima. Já o fracasso funciona de forma similar, mas

resulta em baixa auto-estima.

A competência instintiva por território deu lugar na cultura, para

competência de status, possibilitando o acesso aos recursos desejados

(Saiz, 2006). A ativação desse mecanismo adaptativo pode se expressar

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como um sintoma, pode operar em um nível inferior como estratégia

autônoma, por ser instintiva (inconsciente).

A depressão matriarcal e patriarcal são vivências alteradas da

capacidade universal humana de experimentar a tristeza e a depressão.

Ela (a depressão) surge como uma estratégia adaptativa com menor ou

maior grau de consciência por perda de apego (no matriarcal) ou de

status, no caso patriarcal. (Saiz, 2006)

No dinamismo de alteridade, o eixo é mais flexível e relativo. Na

alteridade (Vargas, 2005), a depressão toma lugar quando a pessoa

sente-se profundamente traída por si mesma. O indivíduo fica preso nas

conveniências e comodidades da vida que não tem coragem de alcançar o

que queria. Os distúrbios deste dinamismo estão ligados ao encontro com

o outro e com a criatividade. Para essa pessoa, que está com o

relacionamento sem vida, voltar a alegria pode significar em uma

alteração no relacionamento ou sacrifício dele. (Vargas, 2005)

No dinamismo cósmico, tristeza e alegria se tornam junção

consensual, elas estão sempre juntas. Os distúrbios da depressão nesse

dinamismo são de falta de sentido maior para a vida e perturbações na

totalidade do processo existencial, afirma o mesmo autor (Vargas, 2005).

O resgate da alegria implica na possibilidade de encontrar um sentido

maior para a existência e o profundo sentido que a morte tem para a

vida. (Vargas, 2005) Não existe uma depressão que seja “unicamente de

um tipo”, mas sim o predomínio de um ou outro dinamismo. (Vargas,

2005) O dinamismo da alteridade e o cósmico não são muito discutidos

pelos autores.

“Nada aumenta mais a tomada de consciência do que a

confrontação interior com os fatores opostos.” (Jung, 1961, p. 298)

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Os complexos não são apenas causadores de dor, mas são também

os olhos que enxergam as partes que não estamos entrando em contato,

formando novos caminhos da reintegração do Ego-Self. (Saiz, 2006)

A pessoa depressiva deve ter uma compreensão do sentido de sua

doença, mas durante a vivência depressiva, ela não consegue ter uma

perspectiva de que há possibilidade de vivenciar uma nova experiência

existencial no presente quando essa compreensão acontecer. Ela pensa

apenas no passado, no qual tinha mais saúde, menos dependência e mais

vitalidade. As frustrações, incertezas e auto destruição são parte de como

o depressivo vê seu futuro, um futuro irreal. (Saiz, 2006)

Depressão como morte física: suicídio

Os pacientes depressivos tendem a regressarem à situação

passada, no sentido egóico. A depressão é um distúrbio no qual a pessoa

está vinculada ao processo de introspecção e regressão energética. O

outro é visto negativamente, mas isso é resultado de como o EU se vê.

Há culpa e auto crítica que muitas vezes geram autodestruição. (Saiz,

2006)

O suicídio é a expressão de forma mais extrema das estruturas

defensivas depressivas. A morte é vista como uma maneira de exterminar

o sofrimento e a dor para uma pessoa cuja personalidade está

predominante no dinamismo matriarcal. Já no dinamismo patriarcal, a

crítica é mais a si mesmo, a vida parece injusta, ele se sente castigado,

por isso a morte nesse caso, tem o sentido de uma resposta à culpa e a

necessidade de castigo. (Saiz, 2006)

As idéias suicidas e de autolesão indicam necessidade de mudança

fundamental na pessoa (Fierz, 1954). Ela sente que o estado atual precisa

“morrer”, mas isso está mais relacionado a seu estado psíquico do que

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físico. Essa vontade de terminar com a vida é a vontade de

transformação, pois algo está errado na psique da pessoa (Fierz, 1954).

O desejo da morte física pode ser compreendido simbolicamente

como uma necessidade de transformação, uma vivência de morte-

renascimento no processo de individuação, a partir do ponto que o

depressivo consiga elaborar seus sintomas como sofrimentos,

dependências, frustrações, perdas e morte. Isso seria chamado de

alternativa criativa. (Saiz, 2006)

Depressão como morte simbólica: egocidio

A morte do EU e a transformação é quando há um sucesso no

tratamento dos pacientes depressivos (Saiz, 2006).

Não há porque a pessoa morrer fisicamente, só é necessário que

uma parte da psique morra, esse é o aspecto negativo do EU do passado.

A transformação psíquica acontece quando o indivíduo elimina o EU

dominante e a identidade negativa (Saiz, 2006). Dessa forma, o novo EU

dá um novo sentido à sua existência. (Saiz, 2006)

Qualquer que seja o motivo pelo qual a pessoa queira morrer, há a

alternativa de refletir sobre um ato de transformação do EU, uma

transformação criativa. Pode ser um processo difícil, mas é curativo.

(Saiz, 2006)

Tanto no suicídio como no egocídio, o caminho é longo e atravessa

angústias e dores intensas. A chave para suportar esse desafio é

considerar as funções estruturantes do sofrimento humano como um

símbolo de transformação. (Saiz, 2006)

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“Nenhum homem poderia viver e superar seu próprio sofrimento se

de algum modo, não conseguisse dar um sentido ao que lhe aparece”.

(Saiz, 2006, p.156) A morte pode ser vista como um símbolo para

abandonarmos a vida atual, a vida que perdemos, gerando uma nova

forma de ser. Essa experiência morte-renascimento nos traz novos

sentidos tanto para morte como para a vida e que vai sendo elaborado e

desvendado a partir do sofrimento. (Saiz, 2006) Isso cria um sentido na

integração da doença e seu tratamento ao processo de individuação do

paciente, pois a depressão é apenas “um momento constitutivo na crise

de transformação da vida”. (Saiz, 2006, p.156)

IV - Tratamento da depressão na Psicologia Analítica

O terapeuta que se depara com um paciente no estado depressivo

criativo tentará fornecer estímulos para a vivência simbólica da

depressão, analisando e elaborando seus conteúdos. Quando a depressão

é defensiva, a personalidade não está sendo capaz de interagir com a

realidade (interna e externa) que é desqualificada, o terapeuta ajudará a

superar defesas e dificuldades. (Vargas, 2005)

Para a Psicologia Analítica, os símbolos expressam a psique, a

depressão pode ser um símbolo de algum conflito. O trabalho com os

símbolos nos dirige à transformação do ser. O transtorno depressivo se

caracteriza como uma descentralização do processo normal da elaboração

simbólica, cuja finalidade, além de transformar a identidade do eu e do

outro, é proporcionar ampliação da consciência e do sentido da vida da

dimensão da totalidade do ser humano. (Saiz, 2006)

“O desvio (depressão) do processo de individuação se dá pela

ativação das estruturas defensivas sobre as estruturas criativas, que

se organizam como sombra patológica ou crônica.”(Saiz, 2006, p.157)

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Não basta remover os sintomas da depressão, pois esses são

símbolos da sombra, é necessária uma transformação significante para

que o paciente se recupere. (Saiz, 2006)

Essas vivências simbólicas podem ser trabalhadas através de

diferentes técnicas expressivas: verbais, corporais, psicodramáticas,

imaginativas, psicoplásticas, caixa de areia e outras que geram a

ampliação necessária para todo o processo de elaboração simbólica.

(Saiz, 2006)

De acordo com Rosen in Saiz (Saiz, 2006), o indivíduo passa por

etapas da vivência da morte simbólica, o egocídio.

Na primeira etapa, quase sempre há resistência do paciente ao

tratamento e à transformação, ele apresenta negatividade. Essa fase

depende que o terapeuta aceite o paciente e crie um vinculo de confiança.

O terapeuta deve regredir ao ego, a um ego positivo, no qual o paciente

possa ver suas vantagens, capacidades e talentos. Depois de criar esse

lugar seguro, o paciente tem condições de elaborar medos, confrontar,

compreender temores e aspectos negativos do seu EU depressivo. Com o

vínculo formado, é importante que nessa fase as introspecções negativas

do ego sejam consideradas, pois são essas que o paciente deve

confrontar para o seu egocídio. Durante essa primeira fase, o paciente

tem uma vivência intensa e precisa deixar uma parte sua morrer se a

morte vier. Por isso o depressivo passa por outro processo que é de perda

de auto-imagem e identidade.

Na segunda etapa, o paciente se sente “morto” e extremamente

dependente, se sente ansioso, confundido, abatido e retraído. O paciente

tem alguém como a “grande mãe nutridora”, pode ser o terapeuta, um

familiar ou o tratamento. A partir do momento que há uma regressão a

serviço do Self, o ego começa a se reconstituir, reintegrar e se fortalecer.

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Nessa regressão entra em contato com um nível mais profundo do si-

mesmo. No final dessa segunda fase, o ego passa a sentir esperança na

vida, e em conseqüência, a depressão diminui. (Saiz, 2006)

Na terceira etapa do processo, começa a haver uma separação

simbólica do paciente com o terapeuta, ou membro da família, uma

separação da relação de dependência que o paciente precisou criar no

início do processo. O ego dependente morre simbolicamente. O

depressivo se ocupa com passado e com um mundo irreal, deixando

pouco espaço para uma vida nova com um sentido diferente. (Saiz, 2006)

Fierz (1954) afirma que, atualmente, nenhum psiquiatra negará

que a farmacoterapia moderna tornou o tratamento da depressão mais

fácil e mais rápido. Se a depressão for tratada apenas com medicação, o

paciente se sente desprezível e não resolve seus conflitos internos, por

isso a farmacoterapia não tornou a psicoterapia supérflua.

O diagnóstico não é o que vai guiar o psicoterapeuta (Fierz, 1954).

Para a psicoterapia, o diagnóstico dos complexos auxiliará o prognóstico.

É necessário saber o sentido daquilo que acontece com o paciente.

O primeiro passo para um tratamento na psicologia analítica, de

acordo com Fierz (1954) é acalmar o paciente, ou seja, mostrar

exatamente a situação que ele está passando. Depois é necessário

estabelecer um programa cotidiano durante o tratamento. Durante as

sessões se faz exames e explicações sobre os sintomas da depressão

daquele indivíduo. O que o paciente precisa daquele terapeuta é se sentir

compreendido, sentir calor e apoio. É importante que o paciente sinta

ajuda de alguém igual a ele e não de um curador arrogante (Fierz, 1954).

O rapport faz parte do processo psicoterapêutico, que significa a

relação de confiança entre o paciente e o terapeuta. Assim, essa relação

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ajudará o paciente a obter sua própria segurança (Fierz, 1954). O analista

cria um relacionamento com o paciente que vai além da relação médico-

paciente (Paleckis, 2002). O terapeuta também é um sofredor e isso o faz

se aproximar do paciente. O paciente passa por análises que lhe

permitem produzir “insights” e entender sua própria psique. É ele que

“desenvolve uma nova forma de encarar a vida” (Paleckis, 2002, p. 24).

Isso não significa que as teorias psicoterápicas não são úteis, pelo

contrário, elas servem como auxiliares para promover o conhecimento.

“O terapeuta pode criar as condições, apontar caminhos,

possibilidades, mas as escolhas cabem exclusivamente a cada um

daqueles que nos procura.” (Paleckis, 2002, p. 26)

A psicoterapia analítica tem formas de trabalho que não são

específicas para o tratamento de depressão, mas que servem para todas

as pessoas. Ela tem como pano de fundo duas noções básicas, de acordo

com Paleckis (2002); uma delas é usar aspectos do inconsciente que, se

forem compreendidos, podem colaborar na integridade da consciência. O

desenvolvimento gradual da personalidade é fruto deste processo de

iluminação do inconsciente. Nesse processo a pessoa amplia o sentido da

identidade, experimenta novos recursos e revê antigas ações do

funcionamento psíquico. Para a Psicologia Analítica (Paleckis, 2002), a

psicoterapia tem como finalidade chegar num crescimento e mudança do

estado psíquico que tenha fluidez.

Para alcançar tal finalidade a psicoterapia analítica utiliza vários

recursos, tais como técnicas expressivas das marionetes do Self, de

imaginação ativa, de role-playing, mas a mais usada é a interpretação

dos sonhos. Os sonhos têm várias funções; como afirma Paleckis (2002),

eles podem “expressar medo, desejos, a situação atual do sonhador”

(Paleckis, 2002, p.20).

“Para as personalidades afins com a psicologia junguiana, curar-se

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significa transformar-se.” (Paleckis, 2002, p.21).

Durante o processo terapêutico, também consideramos o processo

de individuação como parte do primeiro. O processo de individuação tem

como objetivo fazer o indivíduo tornar-se a pessoa que realmente é, é um

processo de singularidade. Para isso é importante a aceitação em si

mesmo tanto das virtudes como dos potenciais defeitos. É um processo

que torna o ser único por não depender mais dos laços maternos,

paternos e da sociedade; é quando o ser alcança a autonomia do seu

possível e não no completo porque não é possível tornar-se

completamente pleno (Paleckis, 2002).

A partir de Jung (Paleckis, 2002), esse conhecimento do EU é um

conhecimento arquetípico, no qual a pessoa entra em contato com as

representações psíquicas dos diferentes contextos (como cultural,

histórico). Um processo de individuação com sucesso faz com que o

homem diferencie-se do “coletivo exterior, o social, cultural, o familiar, e

também do coletivo interior, representado pelas fantasias do inconsciente

coletivo.” (Paleckis, 2002, p.11)

A terapia é um lugar onde as idéias recuperam a vida quando se

encontram bloqueadas, dando lugar para a auto-estima do indivíduo. O

analista auxilia o paciente a juntar as partes fragmentadas da

personalidade, quando ele começa a perceber como suas psiques operam

pela interpretação de símbolos, reforçando as forças criativas do

inconsciente (Paleckis, 2002).

A cura, então, é alcançada quando a capacidade de enfrentar o que

ocorre de forma saudável é desenvolvida (Paleckis, 2002).

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Objetivos da pesquisa

Geral:

Analisar o percurso de vida de um homem adulto.

Específico:

Utilizando conceitos da Psicologia Analítica, ter uma leitura da

depressão e a partir desses conceitos, buscar um sentida da depressão na

vida de um indivíduo. Pesquisar bibliografia sobre depressão na Psicologia

Analítica e seu tratamento; assim como a perspectiva da depressão na

psiquiatria e seu tratamento. A partir dessa revisão, procurar uma

finalidade para a depressão de acordo com as teorias, buscando um

sentido da mesma no percurso de vida do indivíduo. Relacionar teoria

com o relato de um caso de uma pessoa que passou por um episódio de

depressão.

Método

Para alcançar os objetivos que esse trabalha propõe foi feita uma

revisão bibliográfica dos seguintes temas: depressão pela visão da

psiquiatria, o tratamento da depressão pela mesma visão; a depressão na

Psicologia Analítica e seu tratamento. Com a finalidade de aprofundar e

amplificar a discussão sobre o sentido da depressão, foi utilizado a título

de ilustração o relato de uma pessoa que passou por um episódio de

depressão.

O relato da vivência de depressão foi articulado com o material

teórico pesquisado.

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Participantes

Foi entrevistada uma pessoa adulta do sexo masculino que passou

por depressão para ilustrar a discussão deste trabalho. A pessoa deve ter

sido diagnosticada por um médico psiquiatra, que trabalha com pacientes

com depressão.

O fato do participante ter tido a experiência da crise de depressão

durante a fase adulta afasta qualquer hipótese de influência de mudanças

hormonais e desenvolvimento da identidade. Não ter outro transtorno

mental concomitante: esquizofrenia, transtornos esquizotípico e

delirantes; transtorno, síndromes comportamentais associadas a

perturbações fisiológicas e fatores físicos; transtorno de personalidade e

de comportamentos; retardo mental; e transtorno invasivo do

desenvolvimento psicológico também contribui para uma melhor análise

do fenômeno da depressão.

Instrumento

Os dados foram coletados através de entrevistas semi-dirigidas

recorrentes gravadas e as gravações foram autorizadas pelo participante,

através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo II). Essa

entrevista não tem roteiro pronto (Anexo I), mas foca no tema.

Foram necessários três encontros:

O primeiro encontro foi uma apresentação da pesquisa e do sujeito

introduzindo o Termo de consentimento Livre e Esclarecido (ver anexo II).

No segundo encontro fiz o contrato, o foco foi na vida do

participante, como ela está até agora.

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No terceiro e último encontro, o participante contou como ele vê os

projetos de vida dele, como ficará a vida dele daqui para frente.

A entrevista tomou lugar no consultório da psiquiatra do participante

cedido pela mesma (ver anexo IV). Esse local foi escolhido, pois é um

ambiente onde o participante se sente confortável para falar, pois refletiu

sobre sentimentos e situações que passou e podia se emocionar.

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Discussão

Antes de buscar se a depressão tem um sentido ou não pela visão

da Psicologia Analítica, é necessário compreender o que estamos

chamando de depressão. Percorri pela psiquiatria e pela psicologia

Analítica, conceitos sobre psicopatologias e tratamentos.

Para denominar uma patologia como psicológica seria

imprescindível definir o que faz parte apenas do psicológico, mas se

formos por esse caminho, iremos nos deparar com várias respostas,

conclusões que são relativas, afirmações que dependem do ponto de vista

do indivíduo e até mesmo de sua crença.

Definir normal e patológico depende da área de saúde mental e do

indivíduo que está observando o fenômeno. Cada especialidade tem

objetivos e pontos de partidas diferenciados na análise do aspecto

patológico. Como o limite entre o normal e o patológico não é claro, cada

profissional escolhe a melhor forma de avaliar o caso, isso fornece uma

oportunidade do profissional analisar cada caso como único, sem

definições pré-concebidas. Isso é concordante com o ponto de vista da

Psicologia Analítica de que não devemos olhar a doença em si, mas sim o

doente.

Como não há um limite entre o corpo físico e o psíquico, não se

pode analisar a doença em si, separadamente da totalidade do Ser. Para

classificar algo como patológico é necessário considerar as vivências,

estados mentais e padrões de comportamentos do indivíduo que fazem

parte do normal, mas que como conjunto específico é denominado de

patológico. Esse grupo distinto são os sinais, de acordo com a psiquiatria,

que apontam uma enfermidade mental.

Um aspecto significante da psicopatologia é o estado da sombra do

indivíduo, nesse caso a sombra é cronificada e deixa de ser uma defesa

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saudável. A sombra circunstancial, todos tem e é normal, ela tem uma

função defensiva a um acontecimento específico, mas ela é passageira. Já

a sombra cronificada, que é patológica, se fixa e é mais intensa.

As características do indivíduo neurótico não são incomuns no ser

humano, qualquer pessoa se perde e perde sua energia em alguns

momentos da vida, o traço patológico surge quando certas características

têm uma alta intensidade, freqüência e duração, ou seja, quando essa

perda de si se fixa. A sombra do neurótico é uma defesa que se expressa

inconscientemente. Geralmente a pessoa não está entrando em contato

com sua sombra e seu eixo Ego-Self vive desequilibrado, seus sintomas e

sofrimentos são símbolos de que há algo no Ser que necessita de

transformação para tornar o ego mais integrado e equilibrado com o Self.

A definição de depressão da OMS serve como parâmetro

internacional, através do CID-10 é possível identificar que sintomas

classificam o fenômeno como um transtorno depressivo. Se o indivíduo

apresentar: humor deprimido, perda de interesse e prazer, energia

reduzida, auto-estima e autoconfiança reduzidas, entre outros sintomas;

alguns psiquiatras que identificam pelo menos cinco dos sintomas listados

pela OMS na pessoa dão o diagnóstico de depressão.

Um fator que tem dificultado a identificação da depressão é a vida

contemporânea, as pessoas estão acostumadas ao alívio instantâneo do

que as incomoda. Se há dor de cabeça, toma-se um comprimido, se há

fome vai–se a um fast-food, se está triste toma-se um antidepressivo. O

que procede a essas ações é que geralmente o fast-food não tem os

nutrientes suficientes para uma refeição e a fome volta logo, a dor de

cabeça pode indicar febre, mas não será detectada e prejudicará a saúde.

No caso da tristeza, o sofrimento pode ser aliviado naquela hora, mas a

pessoa sempre dependerá de um apoio extra para lidar com situações

difíceis, não desenvolvendo o seu próprio potencial de enfrentar

frustrações.

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Todos eventos existenciais são símbolo estruturantes. As funções

estruturantes elaboram esses símbolos resultando em consciência, o

centro da atividade psíquica. Funções estruturantes são capacidade de

produzir significados para formar a identidade do ego e a identidade do

outro. A depressão “normal” (a tristeza) tem por finalidade fazer o

indivíduo confrontar a sua sombra (parte da psique que abriga símbolos

incompatíveis com o julgamento moral da consciência). A energia da

pessoa depressiva se encontra no inconsciente, ela se concentra no

complexo central e as vivências pessoais relacionadas a temática central.

Essa energia internalizada colabora para que o ser entre em contato com

o seu mundo interior e reconheça sua sombra.

A função estruturante depressiva é uma função vital como todas

outras, sua finalidade de fazer com que o indivíduo tome tempo para se

concentrar no apego à elaboração das feridas e no desapego ao que deve

ser ultrapassado. Isso em si, não é patológico. Quando essa função

estruturante se fixa, a depressão se torna patológica e o indivíduo não

elabora os conteúdos internos, ele paralisa. É importante termos em

mente que o extremo da polaridade do humor não é patológico em si, se

torna patológico quando o indivíduo fixa naquela extremidade.

A diferença entre tristeza e depressão está nesses fatores: na

intensidade, freqüência e duração da energia no inconsciente. Quando o

indivíduo fica triste e não dura mais que duas semanas, o ego tem

estrutura para se recuperar daquele momento, aquela tristeza já cumpriu

o seu papel, o ego conseguiu elaborar o simbolismo de tal situação. Agora

quando os sintomas da depressão aparecem e ficam, no estado

patológico, há um desequilíbrio psíquico. A depressão é como se o que

está desequilibrado toma-se lugar, mas que na verdade a pessoa não

está conseguindo elaborar seus símbolos internos e acaba não tendo

energia para se relacionar com o mundo externo, com o outro. A

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depressão tem a finalidade de auto-cura, é uma tentativa de auto-regular

o sistema psíquico.

Por que devemos levar em conta que a depressão faz parte do

percurso normal da vida? Para não tentar remover qualquer sofrimento

que a pessoa tem, há momentos que ela consegue elaborá-lo em tempo

“normal” (normal significando menos de duas semanas consecutivas). Se

não conseguir elaborar o símbolo, que a depressão representa, o

indivíduo viverá com um aspecto dele que não está sendo produtivo pois

sua energia está presa no inconsciente, precisa ser canalizada para fora e

transformar o necessário que continua fazendo parte do Todo.

Não existe um fator externo isolado que cause depressão, por

exemplo, não é todo mundo que perde alguém na vida que entra em

depressão, mas o indivíduo que está desequilibrado internamente pode

expressar depressão depois de ter perdido uma pessoa. Isso também

indica que não tem fase da vida certa para a pessoa ter depressão,

qualquer pessoa que não esteja bem estruturada pode vivenciar a

depressão. Depende de vários fatores tais como genética, e estrutura

egóica. Não tem idade certa para depressão, um bebê pode ficar

deprimido, assim como um homem adulto. Algumas fases da vida têm um

índice mais alto de pessoas diagnosticadas com depressão.

Como não tem fatores determinantes que causam a depressão, é

interessante aplicarmos a teoria da finalidade para uma compreensão

melhor do transtorno. Se tivermos a perspectiva finalista, a depressão

não é causada por nada, mas sim é um símbolo externo do mundo

interno da pessoa. Esse símbolo, por ser interno, depende de cada pessoa

e expressa uma necessidade individual que deve ser elaborada por cada

um, levando a transformação.

O olhar da psiquiatria é a partir de sinais e sintomas, ou seja, uma

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febre pode estar indicando uma infecção no indivíduo. Utilizando as

definições de sinais e sintomas do autor (Dalgalarrondo, 2000), pode-se

tentar aplicar esses conceitos em uma análise da depressão.

Dalgalarrondo (2000) afirma que sinal é o que se pode observar

diretamente no paciente, é verificável através de tal observação, já

sintomas dependem do que o paciente fala. Ampliando essa visão pode-se

chamar a depressão também de sintoma, a partir dessa perspectiva

podemos dizer que a depressão indica algo e não apenas é o fenômeno?

Ela não é em si o que deve ser analisado, mas ela aponta um caminho

que deve ser traçado, um aspecto que o indivíduo não está enxergando.

Se isso for correto, podemos afirmar que a depressão tem a função de

indicar algo que está desequilibrado, a depressão tem o sentido de

expressar a necessidade de transformação.

A partir da visão da teoria de energia causal, o indivíduo não pode

evoluir, pois o produto é aquele que já está lá, é causado por algo. Já a

visão finalista possibilita que o indivíduo perceba que a depressão tem

sentido e que a forma que ele estava vivendo não estava sendo completa

e de acordo com o seu Self. O movimento de energia psíquica está

relacionado com a depressão. A depressão é quando essa energia está

regredida, ou seja, quando ela está voltada para o interior individual.

Depende do próprio Ego, canalizar essa energia para formas criativas.

Quando isso acontece podemos denominar a depressão de criativa, pois o

ser conseguiu elaborar seus conteúdos e se relacionar com o mundo

externo a partir da sua centralização do eixo Ego-Self. Já quando o

indivíduo não consegue colocar a depressão para fora de forma criativa,

ele paralisa e expressa os sintomas do transtorno citados anteriormente

como mudança no sono, fadiga, idéias de culpa, entre outros; essa seria o

que chamamos de depressão defensiva.

Então na depressão, ou seja, a regressão de energia, há o

confronto do ego com o inconsciente e tem como finalidade o auto-

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conhecimento, o equilíbrio do ego com o self, assim como sua integração;

é uma oportunidade da pessoa se desenvolver. É imprescindível notar que

a depressão é um processo dentro do processo de individuação que

colabora para esse último. O fato de o indivíduo depressivo ter que entrar

em contato com partes do seu interior que não está enxergando faz com

que seu ego se aproxime mais do seu Self, se tornando único, se

integrando com si mesmo.

Muitas vezes a necessidade de transformação é confundida com a

vontade do deprimido se suicidar. A depressão avisa que há algo no ser

que precisa morrer, mas é apenas uma parte da psique. Depressivo se

sente desvalorizado, na verdade ele mesmo não se valoriza e o suicídio

pode acontecer e, na perspectiva do indivíduo, ninguém reparará sua

falta. Outras vezes, o suicida precisa se castigar e não “merece” viver. O

assunto é delicado e merece estudos a parte, sabe-se que suicídio e

depressão podem caminhar juntos e podemos sugerir a hipótese que o

fator seja uma necessidade de transformação, mas que poderia ser

interpretada como egocídio. A pessoa tem recursos próprios, como as

funções estruturantes, para lidar com o sofrimento que está tendo e é

esse passo que pode levá-lo a cura da depressão.

Geralmente, o tratamento de depressão é considerado bem

sucedido quando os sintomas são retirados, mas isso indica apenas uma

visão do símbolo (depressão) de fora para dentro sem considerar que a

depressão expressa como a psique está. Se o olhar for como um todo, o

indivíduo/terapeuta poderá buscar o sentido interno da vivência

depressiva e dessa forma identificar o desequilíbrio do seu todo.

Se a depressão é uma função, então ela tem um significado. A

finalidade não é alcançada se a pessoa não saiu daquele

estado/dinamismo. Mesmo tirando o sofrimento, a pessoa continua

vivendo da mesma forma, então continua estagnada. Isso acontece

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quando a perspectiva é de que a depressão é a causa de alguma coisa,

ela é o defeito em si. No entanto, quando a depressão aponta a existência

de algum “defeito”, de algo que deve morrer e renascer, é uma

oportunidade de desenvolvimento.

O fato do indivíduo desenvolver um transtorno depressivo não

significa que ele só vai sofrer, é também uma forma de entrar em contato

com aspectos que ele não está levando em consideração. Só poder

enxergar esse mundo que não estava sendo visto, mostra que a

depressão tem também a finalidade de fazer a pessoa a lidar com o seu

EU. Na verdade, é uma oportunidade para ver, mas nem sempre isso é

feito, muitos tratamentos visam apenas a remoção dos sintomas como se

eles fossem o problema em si e não os indicadores de algo errado. Um

tratamento eficaz cuidaria não apenas dos sintomas como também

almejaria o equilíbrio do ser.

Cada ser tem sempre algo que deve ser renovado. A depressão tem

um sentido, ela expressa a necessidade de transformação, e cabe a cada

um que passa pela vivência depressiva refletir e enxergar o que precisa

de mudança. Nem todo mundo tem que passar por tal vivência para

enxergar a necessidade de transformação, mas para os que passam, a

depressão pode ser um instrumento colaborador na busca da integridade

do ser.

Hoje em dia a combinação de antidepressivos e psicoterapia está

sendo o caminho mais indicado no tratamento da depressão. Isso significa

que o resultado desejado não é apenas a remoção dos sintomas, pois isso

o remédio pode fazer sem ajuda da terapia, e sim uma leitura e

elaboração da vivência do indivíduo. A remoção do sofrimento pode deixa

o indivíduo alienado do seu mundo interior. O tratamento visa o resgate e

a elaboração dos conteúdos internos que não estão sendo olhados. Nesse

momento uma parte do ego velho morre para dar lugar ao novo, ao ego

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transformado.

O uso de remédios colabora no tratamento, ajuda o indivíduo a sair

daquele estado depressivo, mas isso não significa que ele pôde ler um

sentido para aquele seu estado e elaborar seu conteúdo interno. Sair do

sofrimento faz com que a pessoa esteja em um estado que consiga

elaborar os conteúdos internos. Quando o indivíduo está no estado

depressivo, é difícil trabalhar com ele de forma terapêutica, pois ele não

tem condições emocionais de entrar em contato com seu mundo interno,

de confrontar suas sombras.

A depressão pode ter um sentido, mas se o indivíduo vai descobrir

qual é o papel dessa depressão em sua vida é outra questão.

Amplificação mitológica da depressão

Saiz (Saiz, 2006) faz uma proposta de amplificar a depressão a

partir da mitologia greco-romana.

Tanto na dinâmica psicopatológica como na dinâmica mitológica, o

transtorno depressivo tem um campo arquetípico-mitológico específico

que se expressa de acordo com o arquétipo dominante naquele momento.

Cada mito tem um arquétipo prevalente (Saiz, 2006).

A depressão pode ser interpretada através dos seguintes mitos:

Deméter-Perséfone, Cronos-Saturno e o mito Cristão, representam

respectivamente: o dinamismo matriarcal, patriarcal e alteridade (Saiz,

2006).

A importância da compreensão simbólica dos mitos é que através

dela podemos caminhar em direção à transformação, a uma experiência

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nova simbolizando morte-renascimento trazendo outro sentido para a

existência do depressivo (Saiz, 2006). Abordarei apenas a interpretação

do mito Cronos-Saturno, pois é referente à depressão patriarcal que é o

dinamismo do caso ilustrado na discussão.

Na dinâmica patriarcal, o mito Cronos/Saturno:

O Mito de Cronos/Saturno

O Céu (urano) detestava os filhos, e escondia-os na Terra (Gaia, a

mãe); até que Gaia, atulhada, criou uma foice e deu-a a seus

filhos, para que castrassem o pai. Todos ficaram com medo, mas

Cronos aceitou a missão, e, ao entardecer, quando o Céu se deitava

junto com a Terra, a cumpriu. A partir daí Cronos começa a reinar,

sabia que teria um destino semelhante ao do seu pai, ser

destronado por um de seus filhos; então os engolia à medida que

iam nascendo do ventre de Réia. Foi assim com Hera, Deméter,

Héstia, Hades e Posêidon; quando Zeus nasceu, Réia deu uma

pedra para Cronos engolir e escondeu o filho, que cresceu e

cumpriu o destino de destronar o pai. Foi assim que começou o

domínio de Zeus.

Há uma velha tradição na qual o nome de Saturno é associado à

depressão e a melancolia. O arquétipo da consciência devoradora por

parte do pai está relacionado às figuras mitológicas de Urano, Cronos e

Zeus. Os três não são apenas pais, mas sim pais devoradores, assim

como deuses dominantes e governantes indiscutíveis. Cada um desses

deuses representa um aspecto do arquétipo do pai devorador (Saiz,

2006).

Urano é o Deus mais maligno e o mais arcaico dos três deuses

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citados. Ele não devora os filhos diretamente, mas empurra para a mãe

Gaia (figura da terra) que os aprisiona no inconsciente materno.

Enquanto os filhos estão presos no inconsciente (na mãe), a

consciência é dominada por Urano, isso significa que a pessoa é

inconsciente de suas atitudes, tem pouca percepção interior e pouca auto-

consciência. O corpo físico do indivíduo é prejudicado dando sinais como

tumores, distúrbios gástricos, sintomas histéricos. Esses sinais são a

materialização do filho sufocado.

Saiz (2006) comentou o mito de Cronos em quatro fases:

Primeira fase: nascimento de Cronos e morte do pai Urano.

Cronos mata seu pai para os irmãos poderem nascer. Enquanto

repressão e aprisionamento ameaçam Cronos, o perigo para Urano é a

castração. Nesse mito, a castração é uma forma de criação da psique

para os filhos de Urano. O significado da palavra ‘cronos’ é tempo e com

ele podemos ter percepção do passado-presente-futuro, uma noção

temporal do nosso ego. Urano por outro lado, representa ‘céu’, ou seja, é

infinito e eterno. A morte de Urano é o fim de sua reprodução cega

através da eternidade, da fecundidade instintiva e ciclos que se sucedem

inconscientemente.

Segunda Fase: Reinado de Cronos e Morte de seus filhos.

Cronos se torna um rei independente, contraditório e perigoso.

Como teme ser destruído por seus filhos, Cronos devora todos eles. O pai

devorador vai contra a idéia de revolução eterna: filho substitui pai, puer

derrotando o senex, o novo destruindo o velho.

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As duas primeiras fases estão marcadas pela violência, pelo desafio

e pela competição mútua entre pai-filho. Uma consciência predominante

de tipo Cronos dá valor aos reinantes e às atitudes do coletivo externo. O

arquétipo do pai devorador dirige consciência ao convencional. A

consciência é devoradora e perde contato com a vida instintiva.

Na primeira fase, o pai é egoísta e na segunda, Cronos se torna pai

e é ameaçado pelas potencialidades de seus filhos.

Terceira fase:

Os filhos de Cronos são libertados do estomago do pai. Zeus

destrona Cronos, liberta seus irmãos. Cronos é enviado ao fim do mundo.

Zeus também tem traços de pai devorador. Seus avós avisaram que um

de seus filhos poderia destroná-lo. O deus Zeus engole Metis grávida.

Quarta fase: morte e transformação de Cronos

A paz entre homem e animal é o símbolo de um estado de

harmonia interior, assim como as forças arquetípicas do inconsciente

coletivo. Não há mais conflito entre pai-mãe. Os homens também estão

em paz consigo mesmo. A resposta criativa expressa mais unificação dos

pólos opostos.

A relação arquetípica representada no mito Cronos/Saturno:

pai-mãe e senex-puer

O mito Cronos/Saturno demonstra além do arquétipo do pai, o

arquétipo da mãe, assim como o arquétipo do velho (senex) e do novo

(puer). Há momentos em que o pai se une e se opõe à mãe, e também

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situações em que senex se une e se opõe a puer.

O arquétipo da mãe tem relação mútua com o do pai, mas a mãe

também ajuda o filho a lutar contra o pai. A mãe está ligada ao puer e o

valor negativo ou positivo é definido pela forma como o pai foi constelado.

O pai negativo e opressivo é uma ameaça, um juiz que provoca a

fuga do filho para sua mãe acolhedora. Junto à mãe, o indivíduo não

cresce, mas está perto da morte, pois ele estará estático. No dinamismo

matriarcal essa morte pode ser desejada, é uma dissolução do ser, uma

forma de liberdade.

No senex o desenvolvimento é interrompido pelo medo de

enfrentar o novo, ele sente uma ameaça ao seu poder e a maneira de

impedir que ele saia do trono é impedindo que o novo venha, impedindo o

nascimento dos filhos. O homem velho fica estagnado e bloqueia, ele

paralisa todo o processo à sua volta.

Para Cronos, sua sede de poder o deixou congelado e com medo de

enfrentar novamente. O arquétipo do senex é representado por controle,

ordem, racionalidade e responsabilidade.

Diferente do senex, o puer seria como o famoso Peter Pan, nunca

envelhece, em muitos casos está ligado a mãe. A vida do puer é

“instintiva, espontânea, livre, imaginativa, que não aceita limites nem

restrições, sem organização” (Saiz, 2006, p.143). No sentido psicológico,

o puer precisa se tornar um novo homem, mas que só será transformado

no momento que enfrentar senex.

O puer tem medo do senex assim como o senex tem medo do puer,

pois um representa no outro exatamente o lhe falta. O novo acredita que

essa personalidade do senex seja gerada pela falta de instinto e de

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emoção criadora na vida do velho, assim como nenhum contato com Eros.

Já o medo que senex tem de puer é de uma forma nova com

múltiplas possibilidades que ele não consegue imaginar, uma forma

diferente, não existe alguém construído e individualizado. Para puer, esse

ser definido a que tanto o senex se apega significa a própria morte. Tanto

o senex quanto o puer, projetam suas sombras um no outro, sem

reconhecê-las e elaborá-las.

“De acordo com a tradição alquimista, é necessário que,

psicologicamente, o elemento petrificado seja dissolvido,

desmembrado e sepultado na matéria primitiva, a fim de ser

capaz de reaparecer como um novo homem.”(Saiz, 2006, p.144)

Para resolver o conflito puer-senex é necessário a participação da

anima como mediadora. A relação com o feminino é fundamental para

transformação, onde todo poder deve ser desconsiderado e tudo que

nasce precisa morrer.

O senex pode significar que a pessoa não tem coragem de sacrificar

o que foi conquistado e teme o mistério dentro do poder regenerador, do

inconsciente, cujo mensageiro é a anima representada no mito como a

foice criada pela figura da mãe. É a anima que mostra a possibilidade de

encontrar a riqueza interior, e a capacidade de unir e harmonizar as

forças opostas.

A depressão como expressão da unilateralidade: senex ou

puer.

Nesse caso a depressão pode ou ficar na polaridade do senex ou na

polaridade do arquétipo do puer. É mais freqüente na polaridade senex.

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Quando há identificação com senex o indivíduo se baseia na lei, na

ordem e na rigidez, projetando a imagem do puer nos outros. Os outros

que “são” revolucionários, jovens que prezam destruição na visão do

senex.

Existe uma ligação peculiar entre senex e anima. A anima do

indivíduo que tem a personalidade regida pelo arquétipo do senex está no

inconsciente. Quando esse indivíduo se expressa de forma astuta,

exaltada e maliciosa, isso pode representar uma invasão da anima.

Já quando há identificação com o puer, o senex é projetado no

mundo exterior como o egoísmo, a repressão e a falta da imaginação, que

são características de um indivíduo mais velho.

Não é possível acontecer nenhuma dessas identificações com os

arquétipos sem que ocorram alterações no mundo interno do indivíduo,

no seu inconsciente.

No caso do indivíduo se identificar com o puer e projetar o senex

no mundo externo, o complexo materno é ativado no inconsciente. O puer

seria o ego e o materno e os aspectos do senex estariam no seu

inconsciente. O mundo externo do puer seria visto como senex e o mundo

interno do novo seria caracterizado pelo materno. A ponte do inconsciente

para o ego é a anima.

O puer representa nascimento (da mãe ou do inconsciente) de algo

necessário para o desenvolvimento, a transformação, mas será impedido

pela figura oposta que significa rigor, dureza e necessidade de ter uma

forma definitiva. Assim, o puer retorna a sua mãe e aos seus aspectos

regressivos como: involução, indiferenciação e morte. Nessa fase a

sombra do puer é formada pela mãe negativa que foi ativada no

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inconsciente do indivíduo como uma melancolia.

A transformação pela anima: a morte do senex e o sacrifício

do puer.

A morte de senex e o sacrifício de puer podem colaborar no

confronto entre os dois, no qual cada um projeta no outro a polaridade

oposta à sua. No mito de Cronos-Saturno, a figura da anima é a que

torna a morte possível, realizando uma transformação dos dois (Cronos-

Saturno).

Cronos toma uma nova forma. Sua nova criatividade torna a

relação com o concreto e com a objetividade uma relação positiva. O que

aconteceu foi que dois opostos, senex e puer, se juntaram e essa síntese

transcendeu para “uma nova forma que vem de uma imagem arquetípica:

a anima.” (Saiz, 2006, p. 146)

A ponte do ego para o mundo da mãe é feita pela anima que é

vista como a morte tanto pelo senex como pelo puer, mas para o herói

que já passou pela própria morte e fez sacrifícios, essa ligação significa

uma união fértil das polaridades pessoais.

A depressão como uma experiência de transformação

A anima não é uma morte, a anima nascida do inconsciente pode

ser uma possibilidade ao ego. Essa mudança acontece através do conflito

criado pela constelação do puer ou do senex. Um exemplo de

transformação é quando o indivíduo que se identifica com puer passa por

situações nas quais é necessária uma forma definida, nesse caso há uma

briga com senex (o pai negativo). Na depressão são comuns expressões

arquetípicas diferentes do padrão do dinamismo prevalente.

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O puer pode se transformar em herói através da morte e do

sacrifício. Existe um desejo do puer de morrer como saída e alívio, de um

lado há o medo do velho e do outro o reino da sua própria mãe. Entre o

velho e mãe está a mediadora, a anima, ela apresenta as necessidades do

velho e traz os valores da mãe.

Amplificando o significado da depressão com uma vida real e

com o arquétipo do senex

O interessante das entrevistas com R. é que apesar do tema de

pesquisa ser depressão, eu não utilizei a palavra se quer uma única vez

com o entrevistado. R. falou sobre suas crises, o conteúdo das crises não

foi diferente da história que ele contou quando não vivenciava a crise.

No caso de R, o arquétipo do pai foi o regente da depressão como

símbolo. Podemos afirmar isso pela valorização, em seu relato, do certo,

da lei, da ordem, de querer controlar, de achar o pai irresponsável

(projeção da sombra de R) “eu tinha uma relação conflituosa com o meu

pai, ele era meio torto na vida”. Uma característica importante da crise foi

o sentimento de culpa, o medo de fracassar, então ele deixava de tentar,

achava que não era bom o suficiente “eu era meio saco sem fundo, eu

achava que eu precisava saber tudo” (R).

Aos 13 anos, R relata que começou a trabalhar e manteve os

estudos “o caminho era estudar”. Decidiu tomar uma posição patriarcal

representada pelo ambiente escolar, com muitas regras, disciplina e

pode-se dizer que tinha que compensar pela irresponsabilidade que via

em seu pai “ele era muito torto na vida, então eu desde muito cedo

trabalhei”. A vida de R parece ter estado identificada com o arquétipo do

senex e o arquétipo do puer aparece projetado em seu pai. O pai que

representa a vida instintiva, espontânea, livre e que não aceita restrições,

assim como o arquétipo do puer.

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R procurou especificamente a área da educação para se

profissionalizar, área esta que requer ordem e disciplina, racionalidade, a

matéria dada geralmente é a mesma, então não tem muitas mudanças no

cronograma, o senex se sente ameaçado por tudo que é novo. Começou a

se sentir insatisfeito, pois acreditava que precisava saber tudo, tinha que

ser “um saco sem fundo”. Isso significa que não deixava o aspecto de não

conhecer fazer parte de quem ele é, sendo remetido à sua sombra.

“Quanto mais o homem acentua uma falsa posse, menos pode

sentir o essencial e tanto mais insatisfatória lhe aparecerá a vida.” (Jung,

2001, p. 281)

R relata que durante a crise, ele teve um desequilíbrio, pois não

conseguia ir para a sala de aula, seu lugar de trabalho. O que ele chamou

de desequilíbrio pode ser visto como a atuação de sua sombra. Chegou

um ponto que ele tinha medo de não saber, de não dar certo e isso o

paralisou, não conseguiu fazer mestrado nem doutorado. Não foi de uma

hora para outra. A sua exigência de tudo ser perfeito e não conseguir

alcançar essas expectativas ideais o deixou petrificado “se é pra fazer

porcaria é melhor não fazer”.

Tentou procurar satisfação trabalhando com jovens e adultos, pois

diz que ser “um público que realmente precisa”. O que significa esses

jovens adultos estudando? Pode-se dizer que são pessoas desenvolvidas,

mas que não sabem tudo, ainda estão aprendendo, isso expressa uma

identificação de R com esse público, ele é o professor, o adulto que

precisa de mais conhecimento, o que sabe não é suficiente, “isso aqui eu

não sei, eu não consigo”, de acordo com ele .

R diz ter sempre em mente que era um sobrevivente, um indivíduo

que passou por dificuldades, mas conseguiu sobreviver, seria um herói. O

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termo sobrevivente estava sendo utilizado como se ele já estivesse no

final de sua jornada e não como um ponto de partida. R sobreviveu e

pronto, é isso, enquanto poderia ser: sobrevivi e agora o novo eu vai

daqui adiante. Esse ponto final também é uma característica do senex, do

velho, pois ele já viveu demais, tem muitas experiências e não vai mais

tentar novidades (puer). O senex olha muito para trás, vive no passado,

enquanto que o puer olha apenas para frente, no que pode vir.

É interessante que depois da crise, R diz ter analisado essa

identidade de sobrevivente e concluiu que era uma posição que “deixa de

olhar para frente”. R afirma que agora ele sabe que nem tudo sai bem,

algumas aulas são boas enquanto outras não, as expectativas não são

mais de perfeição, e sim de algo alcançável “foi duro compreender assim,

que você sabe algumas coisas e não sabe outras, e todo mundo é assim”.

É interessante que depois de elaborar sua crise, ele admite que não

queria parecer com o pai, fugia muito disso, mas que com o tempo ele foi

ser ele mesmo independente do que ele imaginava que o pai era. “Todo

mundo é luz e sombra” diz R no final da entrevista.

R é uma das pessoas que conseguiu elaborar a depressão como

símbolo, alcançou uma transformação na sua vida. R começou a não se

preocupar tanto com o trabalho do dia seguinte, passou a aproveitar mais

tempo com os filhos, sem se cobrar que não estava preparando aulas

“naquele momento queria estar realmente com eles [filhos] e coma minha

esposa e na pensando o que vai ser amanha no trabalho”. Deixou de ficar

no lugar de sobrevivente e começou a planejar o futuro, como sua

aposentadoria, parar de fumar, parece que pode dar mais espaço para o

seu puer.

Para R a depressão teve a finalidade de rever seus conceitos, de

aceitar ter características que não gostaria de ter, se desprender um

pouco do passado e deixar novos aspectos aparecerem. Ele reconhece

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que se não tivesse passado pela experiência depressiva, ele não teria se

transformado, estaria na mesma vida, atuando da mesma maneira e não

questionando como pode melhorar a situação, o que pode mudar.

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Conclusão

A depressão é uma função estruturante normal, ela é o tempo que

o indivíduo precisa para se concentrar em seus conteúdos internos e

elaborar as feridas e se desapegar do que deve ser ultrapassado. A

depressão se torna patológica quando há a fixação nessa fase, quando o

humor do indivíduo se fixa na polaridade da tristeza. Nesse período a

sombra se cronifica e se expressa inconscientemente.

Para a psiquiatria certos sintomas indicam a depressão, mas a

depressão pode ser o sintoma e expressa que algo necessita mudança.

Uma característica da depressão é a descentralização do eixo Ego-Self, o

desequilíbrio da totalidade do Ser.

A energia psíquica está no inconsciente nesse momento, por isso o

indivíduo tem fadiga, problemas no sono, entre outros. Esse acúmulo de

energia no inconsciente tem como finalidade o contato do Ego com seu

mundo interior, geralmente quando o ego não está considerando seu Self.

Essa ligação colabora no processo de individuação daquele que vivencia

depressão, pois indica uma necessidade de transformação para integrar

mais o Ego com o Self e os manter equilibrados.

Se a depressão for elaborada ela pode ser uma forma de

transformação do Ser, uma renovação, uma tentativa de se equilibrar.

Sendo assim, a depressão tem um sentido, ela indica a necessidade de

transformação, ela faz o indivíduo enxergar aspectos da sua totalidade

que ele não está olhando. A depressão oferece a oportunidade para a

pessoa se desenvolver, de se tornar si - mesma.

A maneira de tratar essa depressão depende da perspectiva do

indivíduo e do profissional que o auxiliará. Se o profissional indicar apenas

remédio, é provável que o indivíduo regrida sua energia em outro período

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de sua vida. Isso acontece, pois ele não elaborou o símbolo que precisava

ser enxergado, então o que precisa ser mudado ainda faz parte de sua

psique e pode se manifestar mais tarde.

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Anexos:

Anexo I

Roteiro para a entrevista semi-dirigida:

Segundo Encontro :

“Me conta a sua história.”,

“Quero saber o percurso da sua vida.”

Falar no final: “Para o próximo encontro, quero que você pense

como será a vida daqui pra frente”.

Terceiro Encontro:

“Com tudo isso que você viveu o que você projeta para sua vida?”,

“Qual é o sentido que sua vida tem daqui pra frente?

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ANEXO II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,_____________________________________________________R.G.:___________________ declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado na pesquisa de campo referente ao projeto intitulado “Depois que a casa pegou fogo”, desenvolvido pela Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Fui informado, ainda, de que a pesquisa orientada pela Profa. Eloísa Penna.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui informado dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é analisar o percurso de vida de um adulto homem.

Fui também esclarecido de que os usos das informações por mim oferecidas estão submetidos às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde.

Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevistas semi-estruturadas recorrentes, a serem gravadas a partir da assinatura desta autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo pesquisador e seu orientador.

Estou ciente de que, caso eu tenha dúvida ou me sinta prejudicado, poderei contatar o pesquisador responsável ou sua orientadora, ou ainda o Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CEP – PUC/SP).

A pesquisadora principal da pesquisa me ofertou uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Fui informado de que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos.

São Paulo, ____ de _____________ de ______.

Assinatura do Participante:________________________

Assinatura da orientadora: ________________________

Assinatura da pesquisadora: _______________________

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ANEXO III

TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR

Título da pesquisa: Depois que a casa pegou fogo: uma busca pela finalidade da

depressão.

A pesquisadora, abaixo assinados, se compromete a:

• Atender os deveres institucionais básicos da honestidade; sinceridade; competência e

descrição.

• Pesquisar de forma adequada e independente, além de buscar aprimorar e promover o

respeito à profissão.

• Não fazer pesquisas que possam causar riscos às pessoas envolvidas.

• Não violar as normas do consentimento informado.

• Não converter recursos públicos em benefícios pessoais.

• Não prejudicar seriamente o meio ambiente ou conter erros previsíveis ou evitáveis.

• Comunicar a cada possível sujeito todas as informações necessárias para um adequado

consentimento informado.

• Propiciar a cada possível sujeito oportunidade e encorajamento para fazer perguntas.

• Excluir a possibilidade de engano, influência indevida e intimidação.

• Solicitar o consentimento apenas quando o possível sujeito tenha conhecimento adequado dos

fatos relevantes e das conseqüências da participação e tenha tido a oportunidade suficiente

para considerar se quer participar.

• Obter de cada possível sujeito um documento assinado como evidência do consentimento

informado.

• Renovar o consentimento se existirem alterações nas condições ou procedimentos da

pesquisa.

São Paulo, ____ de _____________ de 2007.

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ANEXO IV

Aos Responsáveis pela Instituição Prezada Doutora, Venho solicitar autorização para realização de pesquisa sobre a finalidade da depressão (“Depois que a casa pegou fogo: uma busca pela finalidade da depressão”) para realizar entrevistas recorrentes com dois pacientes adultos do sexo masculino que passaram pela experiência de depressão, eles devem ser adultos por já terem passado por mudanças hormonais e desenvolvimento de identidade, e atendidos e que estejam em tratamento ou acompanhamento psiquiátrico. Será oferecido o termo de consentimento livre e esclarecido a todos os pacientes conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde que versa sobre a “Pesquisa envolvendo Seres Humanos” e não ultrapassa nenhum dos quatro referenciais básicos da bioética - autonomia, não maleficência, beneficência e equidade. A pesquisadora se compromete com a manutenção da privacidade e com a confidencialidade dos dados utilizados, preservando integralmente o anonimato dos pacientes. Os dados obtidos serão utilizados para o projeto ao qual se vinculam. ____________________________ psiquiatra ____________________________ Pesquisador responsável ____________________________ Orientadora