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MIRIAM FONTES ARAUJO SILVEIRA
FILME ANTIMICROBIANO INCORPORADO COM ÁCIDO SÓRBICO NA
CONSERVAÇÃO DE MASSA DE PASTEL
VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL
2005
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, para obtenção do título de “Doctor Scientiae”
MIRIAM FONTES ARAUJO SILVEIRA
FILME ANTIMICROBIANO INCORPORADO COM ÁCIDO SÓRBICO NA
CONSERVAÇÃO DE MASSA DE PASTEL
APROVADA: 25 de janeiro de 2005.
Prof. Nélio José de Andrade Prof. Afonso Mota Ramos (Conselheiro) (Conselheiro) Prof. Renato Cruz Dr. Robson Maia Geraldine Profa. Nilda de Fátima Ferreira Soares (Orientadora)
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, para obtenção do título de “Doctor Scientiae”
Aos meus pais, Geraldo e Dalva.
Aos meus filhos, Rafael e Juliane.
Ao meu esposo, Julio.
Aos meus irmãos, Eduardo, Roberto e Cristina.
AGRADECIMENTO
A DEUS, pois sem ELE nada é possível.
À minha família, pelo amor, pela compreensão, pelo apoio e pelo incentivo em todos
os momentos.
À Universidade Federal de Goiás, em especial aos colegas da Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos, pelo apoio.
À Universidade Federal de Viçosa e ao Departamento de Tecnologia de Alimentos,
pela oportunidade de realizar o curso.
À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudo.
À Professora Nilda de Fátima Ferreira Soares, pela orientação, pela dedicação, pelo
apoio constante e pela grande amizade durante todo o curso.
Aos Professores Nélio José de Andrade e Afonso Mota Ramos, pelo aconselhamento e
pela atenção.
Ao Professor Renato Cruz, pelas sugestões e pela consideração.
Ao Dr. Robson Maia Geraldine, pela colaboração, pelo incentivo e pela amizade.
Aos meus amigos do laboratório de embalagem, pela amizade, pela união e pela
alegria, tornando o trabalho mais suave.
Aos colegas de pós-graduação, pela saudável convivência.
Aos professores e funcionários do Departamento de Tecnologia de Alimentos, pela
dedicação e pela amizade.
A todos que, de algum modo, contribuíram para o sucesso deste trabalho.
BIOGRAFIA
MIRIAM FONTES ARAUJO SILVEIRA, filha de Geraldo de Carvalho Araujo e
Dalva Fontes Araujo, nasceu em Viçosa, Minas Gerais, em 08 de setembro de 1958.
Graduou-se em Engenharia de Alimentos em agosto de 1980, pela Universidade
Federal de Viçosa.
Concluiu o curso de Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos na Universidade
Federal de Viçosa, em dezembro de 1984.
Desde abril de 1994 exerce o cargo de professora na Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás.
Em março de 2000, iniciou o curso de Doutorado em Ciência e Tecnologia de
Alimentos na Universidade Federal de Viçosa.
CONTEÚDO
Página
RESUMO........................................................................................................... vii
ABSTRACT....................................................................................................... ix
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1
1.1. Segurança alimentar.............................................................................. 1
1.2. Conservação.......................................................................................... 3
1.3. Embalagens ativas.................................................................................. 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 11
CAPÍTULO 1:
DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE FILME DE BASE
CELULÓSICA INCORPORADOS COM ÁCIDO SÓRBICO....................
16
RESUMO........................................................................................................... 16
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 17
2. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 18
2.1. Produção dos filmes antimicrobianos..................................................... 18
2.2. Análise das propriedades mecânicas dos filmes................................... 19
2.3. Experimentos de difusão........................................................................ 19
2.4. Análise estatística.................................................................................. 20
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 20
4. CONCLUSÕES............................................................................................. 27
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 27
Página
CAPÍTULO 2:
FILMES ANTIMICROBIANOS INCORPORADOS COM ÁCIDO SÓRBICO
NA CONSERVAÇÃO DE MASSA DE PASTEL..............................
31
RESUMO........................................................................................................... 31
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 32
2. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 34
2.1. Produção dos filmes antimicrobianos.................................................... 34
2.2. Preparação da massa de paste............................................................. 34
2.3. Montagem do experimento..................................................................... 35
2.4. Análises microbiológicas........................................................................ 35
2.5. Determinação da atividade de água e do teor de umidade da
massa....................................................................................................
36
2.6. Análise estatística.................................................................................. 36
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 36
4. CONCLUSÕES............................................................................................. 40
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 41
CAPÍTULO 3:
EFICIÊNCIA ANTIMICROBIANA E MIGRAÇÃO DO ÁCIDO SÓRBICO DO
FILME ATIVO PARA A MASSA DE PASTEL....................................................
44
RESUMO.......................................................................................................... 44
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 45
2. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 46
2.1. Produção dos filmes antimicrobianos..................................................... 46
2.2. Preparação da massa de pastel............................................................ 46
2.3. Montagem do experimento..................................................................... 47
2.4. Análises microbiológicas........................................................................ 47
2.5. Extração e quantificação do ácido sórbico da massa............................ 47
2.6. Experimentos de difusão........................................................................ 48
2.7. Análise estatística.................................................................................. 48
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 48
4. CONCLUSÕES.............................................................................................. 53
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 53
CONCLUSÃO GERAL...................................................................................... 56
RESUMO
SILVEIRA, Miriam Fontes Araujo, D.S., Universidade Federal de Viçosa, janeiro de 2005. Filme antimicrobiano incorporado com ácido sórbico na conservação de massa
de pastel. Orientadora: Nilda de Fátima Ferreira Soares. Conselheiros: Nélio José de Andrade e Afonso Mota Ramos.
A produção de filmes ativos antimicrobianos baseia-se na incorporação de
conservantes alimentares na estrutura do polímero. Esses filmes objetivam reduzir, inibir ou
retardar o crescimento da microbiota presente principalmente na superfície do alimento
embalado, onde a maior parte das reações de deterioração ocorre. Assim, este trabalho teve
como objetivos desenvolver filmes de base celulósica, por solubilização em solvente, com
efeito antimicrobiano, pela incorporação com ácido sórbico e avaliar suas propriedades
mecânicas e sua eficiência antimicrobiana, bem como avaliar a migração do antimicrobiano
da estrutura polimérica em sistema simulante do alimento e em massa de pastel. As
propriedades de resistência ao estouro e módulo de elasticidade dos filmes antimicrobianos
produzidos (25, 70 e 100µm com 3, 6 e 9% de ácido sórbico) aumentaram significativamente
(p<0,05) com o aumento da espessura do filme. A concentração de ácido sórbico apresentou
efeito significativo na propriedade de estouro, mas não afetou significativamente (p=0,05) o
comportamento da massa fracional do ácido liberada para o meio aquoso. Os expoentes
difusionais (n) alcançaram valores de 0,63 a 0,71, sugerindo um mecanismo de transporte
não-Fickiano. Os coeficientes de difusão do ácido sórbico, para todos os filmes, apresentaram
valores na ordem de 10-13m2.s-1. Independente da concentração de ácido sórbico, os filmes de
menor espessura apresentaram índices de migração maiores que os demais filmes.
Posteriormente, filmes de 25 e 70µm de espessura com 0, 1, 2, 3, 4, 5 e 6% de ácido sórbico
foram produzidos e intercalados em massa de pastel sem conservante para avaliar sua
eficiência antimicrobiana. Massas controle, contendo sorbato de potássio, foram intercaladas
com filmes de polietileno de baixa densidade (PEBD). Após 40 dias de estocagem a 8±1°C,
as massas com filmes de 70µm/3, 4, 5 e 6% de ácido sórbico apresentaram, estatisticamente,
crescimento microbiano menor ou igual ao da massa controle. Nas massas com filmes de
25µm/6% de ácido sórbico, a contagem de psicrotróficos foi inferior à da massa controle,
porém as contagens de mesófilos aeróbios e Staphyloccoccus spp. foram superiores em 1 ciclo
log. A atividade de água e o teor de umidade das massas não apresentaram diferenças entre
os tratamentos. Finalizando o trabalho, filmes de 25 e 70µm de espessura com 7 e 3% de
ácido sórbico, respectivamente, foram avaliados quanto à migração do antimicrobiano para a
massa de pastel e análises microbiológicas foram realizadas. Após 40 dias de estocagem, as
massas intercaladas com filmes de 25µm/7% de ácido sórbico apresentaram redução de 2
ciclos log na contagem de mesófilos aeróbios, porém, as contagens de psicrotróficos e
Staphylococcus spp. não apresentaram diferenças significativas (p=0,05), quando
comparadas com o tempo zero. Nas massas intercaladas com filmes de 70µm/3% de ácido
sórbico, observaram-se reduções nas contagens de mesófilos aeróbios e psicrotróficos em 2 e
1,5 ciclos log, respectivamente. Nas massas controle as contagens de mesófilos, psicrotróficos
e Staphylococcus spp. aumentaram em 1,5, 1 e 2 ciclos log, respectivamente. Os coeficientes
de difusão do ácido sórbico nos filmes a 8±1°C, quando intercalados em massa de pastel,
apresentaram valores na ordem de 10-18m2.s-1. Os índices de migração do ácido sórbico
nos filmes não diferiram entre si (p=0,05). A liberação máxima do conservante para a massa
de pastel do filme de 25µm/7% de ácido sórbico ocorreu no 20o dia de estocagem do produto,
atingindo apenas 0,07% e no filme de 70µm/3% de ácido sórbico no 9o dia de estocagem,
liberando 0,09%.
ABSTRACT
SILVEIRA, Miriam Fontes Araujo, D.S., Universidade Federal de Viçosa, January of 2005. Antimicrobial film of incorporated with sorbic acid on turnover dough conservation. Adviser: Nilda de Fátima Ferreira Soares. Committee members: Nélio José de Andrade and Afonso Mota Ramos.
Antimicrobial film production is based on incorporation of food additives in the
polymer. These films aim to reduce, inhibit or diminish the microorganism growth, mainly on
the packed food surface, where most of the deteriorative reactions occur. Therefore, the
objectives of this work were to develop cellulosic films using cast process, added with sorbic
acid that gives the antimicrobial characteristic and to measure its mechanical properties, as
well as to evaluate the sorbic acid migration from the polymer to the food simulant solution
and to the turnover dough. The bursting strength and Young modulus values of the film (25,
70 and 100µm added with 3, 6 and 9% of sorbic acid) increased significantly (p<0.05) as the
thickness increased. Sorbic acid concentration in the film showed significant effect on the
fractional mass of sorbic acid released to the aqueous solution. The diffusional exponent (n)
reached values from 0.63 to 0.71, suggesting a non Fickiano behaviour. The diffusion
coeficients of sorbic acid, for all films, presented values on the magnitude of 10-13m2.s-1.
Independent of sorbic acid concentration, the thinner films presented migration indexes
greater than the thicker films. In the second experiment, films with 25 and 70µm thick and
added with 0, 1, 2, 3, 4, 5 and 6% of sorbic acid were produced and intercalated between
turnover dough circles of 10 cm (without sorbic acid). The control used was turnover dough
circles with potassium sorbate in the dough and intercalated with low density polyethylene
film. These sandwiches were stored at 8±1oC and after 40 days the turnover dough in contact
with the films 70µm/3, 4, 5 and 6% of sorbic acid showed lower microorganism growth
compared to the control. In the turnover dough in contact with 25µm/6% of sorbic acid,
psychrotrophs countings were lower that the control turnover dough, however, mesophilic
aerobes and Staphylococcus spp. Countings were 1 log cycle higher. The water activity and
humidity amount showed no difference among the treatments. In the third experiment, films
25 and 70µm thick incorporated with 7 and 3% of sorbic acid, respectively, were evaluated
for migration of sorbic acid to the turnover dough and microbiological analyses were also
realized. After 40 days of storage the turnover dough intercalated with film 25µm/7% sorbic
acid presented 2 cycles log reduction for mesophilic aerobes, however, psychrotrophs and
Staphylococcus spp. showed no significant difference (p>0.05) when compared with the time
zero of storage. The turnover dough intercalated with the 70µm/3% of sorbic acid were
observed mesophilic aerobes and psychrotrophs countings reduction as 2 and 1.5 log cycles,
respectively. The sorbic acid diffusion coefficients, for both films, when used in contact with
turnover dough stored at 8±1oC, showed values in the magnitude of 10-18m2.s-1. The sorbic
acid migration indexes for the films did not showed statistical difference (p>0.05). The film
25µm/7% of sorbic acid reached maximum sorbic acid released from the film to the turnover
dough at 20º day in an amount representing 0,07% of the total incorporated, while in the film
70 µm/3% of sorbic acid the maximum was reached at 9º day of storage releasing 0.09%.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Segurança Alimentar
Os alimentos, quer sejam industrializados ou não, mantêm-se em constante atividade
biológica, manifestada por alterações de natureza química, física, microbiológica ou
enzimática, levando à perda de qualidade e redução da vida de prateleira. Destas alterações, a
mais preocupante em relação a segurança dos consumidores é a microbiológica.
Mais de 200 doenças são transmitidas através dos alimentos. Muitos dos patógenos,
que causam sérios problemas hoje, como por exemplo, Campylobacter jejuni, Escherichia coli
O157:H7 (PADHYE e DOYLE,1992), Listeria monocytogenes, Cyclospora cayetanensis, não
eram reconhecidos como causas de doenças veiculadas por alimentos, há 25 anos (MEAD et
al., 1999). Eles são conhecidos como microrganismos emergentes. Em 1996, 46% de casos
confirmados, reportados pelo Center for Disease Control (CDC) e Food and Drug
Administration (FDA), foram causados por espécies de Campylobacter, sendo seguidas, em
prevalência, por salmonelose (28%), shigelose (17%) e infecção por Escherichia coli O 157:H
7 (5%) (ALTEKRUSE et al., 1999). Os sintomas variam de uma moderada gastroenterite a
síndromes renais, hepáticas e neurológicas.
De 1995 a 1999, 22 países latino-americanos enviaram informações ao Sistema
Regional de Informação para a Vigilância Epidemiológica das Doenças Veiculadas por
Alimentos, indicando a ocorrência de 3.577 surtos, 113.349 casos e 210 mortes. Para os surtos
o alimento associado foi identificado em 2.540 ocorrências (74,5%). Os alimentos de origem
animal foram os que se apresentaram como maior fonte de contaminação (1.457 surtos), o que
representa 61,7% do total. Os agentes etiológicos foram identificados em 1.939 surtos, sendo
que Salmonella spp. e Staphylococcus aureus foram os que contribuíram em maiores
proporções (OPAS,2000).
Dados disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período de 1998 a 2001,
mostram que entre 4,5% e 4,8% das internações hospitalares foram com diagnóstico de
infecções intestinais como cólera, febre tifóide, shigelose, amebíase, diarréia e gastroenterite
de origem infecciosa e outras doenças infecciosas intestinais. Foi o grupo de causas com
maior número de internações, em relação a outras doenças infecciosas como tuberculose,
malária, dengue ou AIDS.
É grande a responsabilidade das indústrias produtoras de alimentos e dos órgãos de
fiscalização sobre a qualidade e segurança dos produtos consumidos pela população. O
conhecimento dos fatores responsáveis pela deterioração dos alimentos é de suma
importância, visto que cada alimento está propício a um tipo de contaminação, que depende
da sua composição, do tipo de processamento, da temperatura de estocagem, entre outros.
As massas alimentícias, incluindo a do pastel, são muito consumidas no Brasil e em
diversos países. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2000), massa
alimentícia é o produto não fermentado, recheado ou não, obtido pelo empasto, amassamento
mecânico de farinha de trigo nas suas diferentes formas, adicionado ou não de outros
ingredientes e acompanhado ou não de temperos. Quanto ao teor de umidade, massa
alimentícia úmida ou fresca é o produto que pode ou não ser submetido a um processo de
secagem parcial, de forma que o produto final apresente umidade máxima de 35% b.u.
A contaminação de massas frescas pode ser proveniente dos ingredientes utilizados na
formulação. Estes incluem: farinha de trigo, ovos, água, entre outros. Os equipamentos, o
ambiente de processamento e os manipuladores também têm importante papel na
contaminação do produto final (MAYOU e MOBERG, 1992). Segundo MARÍN et al. (2003),
produtos de panificação, assim como massas frescas, estão sujeitos à contaminação por
fungos filamentosos, principalmente das espécies Eurotium, Aspergillus e Penicillium.
Quanto aos critérios microbiológicos para massa fresca, está em vigor a Resolução da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2001), que prevê limites para
estafilococos coagulase positiva de 5,0x103 UFC.g-1, coliformes a 45°C de 1,0x102 NMP.g-
1, Bacillus cereus de 5,0x103 UFC.g-1 e ausência de Salmonella sp./25g. A Portaria no451
(BRASIL,1997), revogada pela resolução anterior, previa também a contagem de fungos
filamentosos e leveduras. Hoje, a verificação do crescimento desses microrganismos é feita
apenas visualmente.
Em geral, os conservantes químicos, principalmente ácidos orgânicos e seus sais
(sorbatos, benzoatos e propionatos), são utilizados para inibir o crescimento microbiano e
aumentar a vida de prateleira de massas alimentícias frescas, juntamente com o uso do frio,
visto que esses produtos são embalados sem tratamento térmico. A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária regulamenta o uso do ácido sórbico e seus sais na concentração máxima
de 0,1% como ácido sórbico (BRASIL, 1999), para utilização em massa fresca.
Conservantes de ácidos fracos não têm implicações tóxicas nas concentrações
recomendadas, porém, atualmente, há uma demanda da população no sentido de consumir
alimentos com menor concentração de aditivos (OLIVEIRA, 2004).
1.2. Conservação
Para redução da carga microbiana dos alimentos, a utilização de matérias-primas de
boa qualidade e a aplicação das boas práticas de fabricação devem ser observadas, juntamente
com a adequação do processo a ser utilizado (GIOVA, 1997). Em produtos industrializados,
os processos de conservação têm papel importante na redução e, ou inibição dos
microrganismos capazes de alterar o alimento, por meio da modificação de um ou mais
fatores intrínsecos e,ou extrínsecos que são essenciais para o crescimento dos
microrganismos, tornando o alimento menos propício ao desenvolvimento microbiano.
Alguns processos, como a esterilização e a pasteurização, agem diretamente,
destruindo total ou parcialmente a população microbiana; outros utilizam meios que
dificultam a proliferação, tais como o emprego do frio ou a redução do teor de umidade, que
pode ser obtido diretamente por meio de concentração, secagem e desidratação, ou
indiretamente com o emprego do sal e do açúcar. Outros processos, como a irradiação,
emprego de altas pressões, uso de substâncias antimicrobianas, entre outros, também são
empregados pelas indústrias de alimentos, como mecanismos de ação sobre a microbiota do
alimento (FENNEMA, 1996).
Há uma grande disponibilidade de substâncias aprovadas para serem utilizadas nos
alimentos e que atuam sobre os microrganismos. Porém, na escolha do antimicrobiano deve-
se considerar o tipo de alimento, método de processamento, armazenamento e microrganismo
envolvido, bem como outras propriedades, tais como, solubilidade, pKa (constante de
dissociação), níveis tóxicos e reatividade química do composto antimicrobiano (JAY, 1992).
Diferentes compostos de uma mesma classe podem diferir na atividade antimicrobiana, bem
como nas suas propriedades físicas e químicas. Freqüentemente, a forma salina dos ácidos
orgânicos é mais solúvel em água e é a forma preferida para situações em que a solubilidade
em água é importante (ARAÚJO, 1995).
Dentre os conservantes utilizados em alimentos, os ácidos orgânicos merecem
destaque, por possuírem maior solubilidade, baixa interferência no sabor e baixo nível de
toxicidade. Assim, os ácidos orgânicos de cadeia curta, tais como acético, benzóico, cítrico,
propiônico e sórbico, são muito utilizados como conservantes ou acidulantes (BAIRD-
PARKER, 1980), sendo aprovados como substâncias GRAS (Geralmente Reconhecidas como
Seguras) (DOORES, 1994; SOFOS e BUSTA, 1994; CHIPLEY, 1994).
A atividade antimicrobiana dos ácidos fracos é atribuída à sua forma não dissociada,
portanto o pKa é utilizado na predição de sua eficiência no alimento em determinado pH. Os
valores de pKa (pH no qual 50% da molécula se encontra na forma dissociada) da maioria dos
ácidos encontram-se na faixa de pH entre 3,0 e 5,0, portanto a concentração da forma não
dissociada aumenta com a elevação da acidez do alimento (ARAÚJO, 1995). A fração não
dissociada de certos ácidos orgânicos lipofílicos (sórbico, benzóico e propiônico) afeta o
microrganismo por ser prontamente solúvel na membrana celular, que é um fluido lipo-
protéico. Esses ácidos, difundindo através da membrana, ionizam no interior da célula,
acidificando o meio intra-celular.
Segundo BARBOSA-CÁNOVAS et al. (1999), quando uma molécula não dissociada
de ácido entra em uma célula viva, ela se dissociará devido ao pH interno ser normalmente
mais alto que o pKa do ácido. Para manter o pH da célula, se produz um transporte
compensatório de prótons para o exterior da célula. Alternativamente, a própria molécula de
ácido pode ser expulsa da célula por um transporte ativo. Uma saída constante de prótons da
célula pode causar uma diminuição da energia celular. A explicação para a ação
antibacteriana dos ácidos graxos de cadeia curta seria a interferência com o metabolismo
energético.
Outras propostas para explicar a ação inibitória destes ácidos têm sido sugeridas:
ruptura da membrana celular, inibição de reações metabólicas essenciais (KREBS et al., 1983)
e acúmulo de ânions tóxicos (EKLUND, 1985). Em leveduras, a ação destes conservantes
poderia ocorrer em função da indução de um estresse energético, reduzindo a quantidade de
energia disponível para o crescimento e outras funções da célula (Bracey et al., 1998, citados
por BRUL e COOTE, 1999).
O ácido sórbico (CH3CH=CHCH=CHCOOH; PM=112,13 e pKa=4,80) é o único
ácido orgânico não saturado normalmente permitido como conservante em alimento (BAIRD-
PARKER, 1980). É comumente usado sob a forma de sais de cálcio, sódio ou potássio cujas
solubilidades são muito maiores que a do ácido (ROBERTSON,1992). Sua metabolização no
organismo humano ocorre de forma idêntica à de outros ácidos graxos presentes em
alimentos, produzindo CO2 e H2O (BARUFFALDI e OLIVEIRA,1998).
Como os demais ácidos fracos, o ácido sórbico apresenta atividade antimicrobiana na
forma não dissociada, sendo geralmente ineficaz em alimentos com pH > 6,5. É mais eficiente
do que o ácido benzóico em pH entre 4,0 e 6,0. O pKa do ácido sórbico é 4,80, e em pH 4,0,
86% do composto está não dissociado, enquanto que em pH 6,0 somente 6% encontra-se
nessa forma (JAY, 1992).
Segundo BARBOSA-CÁNOVAS et al. (1999), os sorbatos são fundamentalmente
efetivos contra leveduras e fungos filamentosos. Entre as bactérias inibidas por sorbatos
incluem-se: Staphylococcus aureus, Salmonella spp., Vibrio parahaemolyticus, coliformes e
bactérias psicrotróficas deteriorantes, como Pseudomonas spp. O sorbato também pode agir
sinergisticamente com outros conservantes, como em combinação com o nitrito de sódio,
retardando a produção da toxina botulínica.
O mecanismo de ação do ácido sórbico não está devidamente esclarecido, porém
várias propostas têm sido sugeridas. Segundo Ronning e Frank (1989) citados por SOFOS e
BUSTA (1994), em determinadas condições, sorbatos podem causar modificações na
morfologia de células microbianas. Em células de fungos filamentosos têm sido observados
formação de núcleo irregular, aumento do número e variação do tamanho de mitocôndria e
vacúolos. Outro mecanismo proposto inclui alterações nas funções da membrana celular e
inibição das funções de transporte e atividade metabólica. Também pode causar a redução da
assimilação de carbono de vários substratos, incluindo glicose, acetato, succinato, lactato,
entre outros (SOFOS e BUSTA, 1994).
O sorbato pode também inibir a atividade de vários sistemas enzimáticos, rompendo
processos vitais envolvidos nas funções de transporte, metabolismo celular, crescimento e
replicação. Enzimas como malato, isocitrato, α-cetoglutarato e succinato desidrogenase,
fumarase e aspartase são inibidas pelo sorbato (BARBOSA-CÁNOVAS et al., 1999).
Em fungos, estudos mostram que ocorre a inibição das desidrogenases, interferindo na
assimilação oxidativa (JAY, 1992). Vários estudos indicam que os sorbatos inibem a
germinação de esporos (SOFOS e BUSTA, 1994).
No Brasil, o ácido sórbico e seus sais podem ser adicionados a vários alimentos, como
coco ralado, bombons e similares, leite de coco, massas frescas, recheadas ou não, molhos,
néctares de frutas, entre outros; desde que o limite máximo esteja na faixa de 0,01 a 0,2%,
dependendo do alimento (BRASIL, 1988).
1.3. Embalagens ativas
A manutenção da qualidade dos produtos alimentícios está também relacionada com a
embalagem. A adequação da embalagem ao produto depende de fatores inerentes ao produto,
como teor de lipídeos, textura, pH, teor de umidade e da embalagem, tais como,
permeabilidade ao vapor d’água, transmitância a luz, selabilidade, entre outros.
Com a demanda crescente do mercado consumidor por produtos com processamento
mínimo, de conveniência e que mantenham as características sensoriais dos alimentos
próximos ao in natura, torna-se necessário o desenvolvimento de novas embalagens com
funções especiais. Assim, nos últimos anos, vem sendo realizado na área o desenvolvimento
das embalagens ativas com objetivo de estender a vida-de-prateleira e melhorar a segurança e
as propriedades sensoriais, enquanto mantém a qualidade do alimento, através de uma
interação desejável entre a embalagem e o alimento (ROONEY, 1995; VERMEIREN et al.,
1999; DEVLIEGHERE et al., 2004).
As mais importantes concepções de embalagens ativas são os polímeros
antimicrobianos (WENG e HOTCHKISS, 1993; HOTCHKISS,1995), os absorvedores de
oxigênio (BEREZON e SAGUY, 1998) e de etileno, os liberadores de CO2 e as enzimas
imobilizadas em suportes poliméricos, tais como lisozima (APPENDINI, 1996) e naringinase
(SOARES, 1998).
Embalagem antimicrobiana atua reduzindo, inibindo ou retardando o crescimento da
microbiota presente, principalmente na superfície do alimento embalado, onde a maior parte
das reações de deterioração ocorre. Essas embalagens podem apresentar-se de várias formas:
adição de sachês no interior de embalagens, contendo agentes antimicrobianos voláteis;
incorporação de agentes antimicrobianos voláteis e não voláteis diretamente no polímero;
adsorção de antimicrobianos na superfície do polímero; imobilização de antimicrobianos no
polímero por ligações iônica ou covalente e uso de polímeros com atividade antimicrobiana
(APPENDINI e HOTCHKISS, 2002).
O controle do crescimento microbiano pelos conservantes pode ser realizado por três
mecanismos: redução da taxa de crescimento dos microrganismos, aumento da fase lag ou
inativação por contato (QUINTAVALLA e VICINI, 2002).
O uso de filmes contendo agentes antimicrobianos apresenta vantagens sobre os
métodos tradicionais de adição direta dos conservantes nos alimentos, visto que podem ser
liberados de maneira controlada, estando, portanto, em menores quantidades no alimento e
atuando, principalmente, na superfície do produto. Também pode ocorrer inibição ou redução
da atividade do antimicrobiano, quando adicionado de forma tradicional, por diversas
substâncias do próprio alimento (QUINTAVALLA e VICINI, 2002). JUNG et al. (1992)
verificaram a interação de emulsificantes e ácidos graxos do leite com a nisina, reduzindo sua
atividade antimicrobiana sobre a Listeria monocytogenes. GUILBERT et al. (1997)
observaram que o ácido sórbico apresentou maior atividade antimicrobiana sobre o
crescimento de fungos, quando incorporado em filmes à base de
pectina/glúten/monoglicerídeos do que quando adicionado diretamente no alimento.
Pesquisas vêm sendo realizadas com o objetivo de incorporar diferentes substâncias
antimicrobianas a diferentes suportes poliméricos (WENG, 1992; HOTCHKISS,1995;
WENG e HOTCHKISS, 1993; BUONOCORE et al., 2003; CHOI et al., 2004; LEE et al.,
2004; GROWER et al., 2004), obtendo filmes ativos, para aumentar a segurança, manter a
qualidade e prolongar a vida de prateleira dos alimentos. Porém, cuidados devem ser
observados durante a produção desses filmes, como a temperatura de processamento, visto
que a substância antimicrobiana pode perder sua atividade após tratamento a altas temperatura
e pressão.
Filmes antimicrobianos podem ser obtidos mediante fusão ou solubilização em
solvente (processo cast) do composto antimicrobiano no suporte polimérico, sendo o método
por solubilização o mais indicado quando se trata de antimicrobianos sensíveis ao calor
(APPENDINI e HOTCHKISS, 2002). Estudos realizados com nisina mostram que sua
atividade antimicrobiana, em filmes à base de metilcelulose, hidroxipropilmetilcelulose,
carragenina e quitosana, obtidos pelo processo cast, é três vezes maior que em filmes
processados sob altas temperatura e pressão (CHA et al., 2001).
Do ponto de vista de segurança do alimento, as substâncias antimicrobianas utilizadas
no desenvolvimento de filmes ativos devem estar aprovadas para contato com alimento
(WENG et al., 1999). Assim, substâncias GRAS (geralmente reconhecidas como seguras) têm
sido incorporadas em polímeros para produção de embalagens antimicrobianas, como ácido
sórbico (CAGRI et al., 2001; LIMJAROEN, et al. 2003), ácido benzóico, ácido propiônico
(QUATTARA et al., 2000b; SOARES et al., 2002) e seus sais (OZDEMIR e FLOROS, 2001;
BUONOCORE et al., 2003; CHOI et al., 2004), nisina, (MELO, 2003; DAWSON et al.,
2003; LEE et al., 2004; GROWER et al., 2004), entre outras.
WENG e HOTCHKISS (1993) incorporaram 1% de anidro benzóico em filmes de
polietileno de baixa densidade, inibindo completamente o crescimento de Rhyzopus stolonifer,
Penicillium spp. e Aspergillus toxicarius em meio de cultura. Na concentração de 2,0% houve
uma inibição do crescimento dos fungos em queijo.
Dawson et al. (1997), citados por QUINTAVALLA e VICINI (2002), usaram nisina e
lisozima em filmes de proteína de soja e milho para inibir o crescimento de suspensões de
Lactobacillus plantarum e Escherichia coli. Os filmes contendo esses aditivos foram efetivos
na inibição de Lactobacillus plantarum. A adição de ácido etilendiaminotetracético (EDTA)
aumentou o efeito inibitório dos filmes sobre a E. coli, visto que o agente quelante altera a
membrana das bactérias gram-negativas, aumentando a permeabilidade celular (PADGETT et
al., 1998). No entanto, MELO (2003) não constatou diferença na ação antimicrobiana do
filme de base celulósica incorporado com nisina quando adicionou EDTA.
LIMJAROEN et al. (2003) observaram maior efeito antimicrobiano do ácido sórbico
sobre Listeria monocytogenes em filmes de copolímero de cloreto de polivinilideno, bem
como uma melhor distribuição desta substância na estrutura polimérica em relação ao sorbato
de potássio e nisina.
Outro fator importante é com relação à liberação das substâncias antimicrobianas para
o alimento, que não deve ultrapassar a concentração permitida pelas normas vigentes. A
difusão dos antimicrobianos na matriz polimérica pode ser reduzida pela adição de compostos
hidrofóbicos, como ácidos graxos. QUATTARA et al. (2000a) observaram que o ácido
acético incorporado em filmes de quitosana apresentou menor liberação quando foi
adicionado de ácido láurico.
As embalagens ativas vêm sendo utilizadas em uma variedade de produtos como pães,
bolos, biscoitos, pizza, massa fresca, queijo, carnes, frutas, entre outros. Cada um desses
produtos tem mecanismos diferentes de deterioração, que deverão ser entendidos para que se
possa definir uma embalagem ativa (VERMEIREN et al, 1999).
Substâncias antimicrobianas, ao serem incorporadas em materiais de embalagem,
podem afetar as propriedades físicas (HAN, 2000; QUINTAVALLA e VICINI; 2002) e
mecânicas (HAN, 2000) do filme obtido. Segundo APPENDINI e HOTCHKISS (2002), as
mudanças nestas propriedades são específicas para cada combinação antimicrobiano-
polímero. Quando filmes de copolímero de cloreto de polivinilideno foram incorporados com
1,5%, 2% e 3% de ácido sórbico, sorbato de potássio ou nisina, houve decréscimo nas
propriedades de força de tensão e barreira ao vapor d'água e ao oxigênio, porém não houve
mudança significativa na porcentagem de alongamento, em relação ao filme controle
(LIMJAROEN et al., 2003 ). HAN e FLOROS (1997) observaram um decréscimo na
transparência do filme de polietileno de baixa densidade com a adição de sorbato de potássio,
porém não houve mudança significativa nas propriedades de tensão. GROWER et al. (2004),
trabalhando com filme de polietileno de baixa densidade incorporado com nisina, observaram
aumento da força de tensão com o aumento da concentração de nisina no filme.
Polímeros sintéticos têm sido utilizados para produção de filmes antimicrobianos,
porém existe um interesse crescente pelos biodegradáveis, devido a fatores ambientais e
oportunidade de criar novos mercados. Para que um material seja chamado biodegradável, ele
deve ser degradado completamente por microrganismos em compostos naturais, como CO2,
água, metano, hidrogênio e biomassa (KROCHTA e DeMULDER-JOHNSTON, 1997).
As embalagens biodegradáveis têm recebido grande atenção nos últimos anos e
numerosas pesquisas estão sendo desenvolvidas nessa área, sobretudo tendo em vista que a
embalagem representa aproximadamente 30% do resíduo urbano municipal. Segundo a
Oficina de Avaliação Técnica do Congresso dos Estados Unidos, as embalagens geram
anualmente, em média, 60 milhões de toneladas de resíduos sólidos e, aproximadamente, 32
milhões correspondem a embalagem para alimentos (CHEN, 1995).
A produção de resíduo urbano no Brasil atinge 240.000 a 300.000 toneladas/dia, dos
quais o plástico representa 20% do total (SOTERO, 2000). Considerando que a maioria dos
plásticos não é biodegradável ou degrada lentamente, então isto torna o plástico um problema
ambiental, gerando volumes enormes de lixo e criando impactos ambientais negativos
(KLAHORST, 1999).
Os plásticos biodegradáveis podem ser obtidos diretamente de material natural, como
amido e celulose (polissacarídeos) e proteína do leite e germe de trigo (polipeptídeos).
SOARES e HOTCHKISS (1998) conseguiram reduzir o amargo do suco de grapefruit
com a imobilização da enzima naringinase em filmes base celulósica.
Lactato de sódio mostrou eficiência antimicrobiana em salsicha, quando incorporado
em filmes de base celulósica (MELO et al., 2002). Também SOARES et al. (2002),
trabalhando com propionato de sódio incorporado em filmes de base celulósica, observaram
uma inibição do crescimento microbiano em pães. MELO (2003) observou redução de 2
ciclos log na contagem de Staphylococcus sp. em queijo coalho coberto com filme
incorporado com nisina.
Segundo AHVENAINEN e HURME (1997), estudos são necessários sobre os efeitos
químicos, microbiológicos e fisiológicos dos vários modelos de embalagens ativas sobre os
alimentos, para resguardar sua qualidade e segurança.
Por ser um assunto promissor e inovador na área de embalagem de alimentos, com
excelentes perspectivas de interesse industrial, faz-se necessária a realização de pesquisas de
desenvolvimento de filmes e testes em sistemas alimentícios reais. Assim, este trabalho teve
como objetivos: desenvolver filmes antimicrobianos de base celulósica incorporados com
ácido sórbico em diferentes concentrações e espessuras; avaliar suas propriedades mecânicas
e eficiência antimicrobiana; avaliar a migração do antimicrobiano da estrutura polimérica em
sistema simulante do alimento e em massa de pastel.
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CAPÍTULO 1
DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES DE BASE
CELULÓSICA INCORPORADOS COM ÁCIDO SÓRBICO
RESUMO
Desenvolveram-se filmes antimicrobianos incorporados com ácido sórbico e
avaliaram-se suas propriedades mecânicas, bem como, a migração do antimicrobiano da
estrutura polimérica em água. Os filmes foram produzidos com 25, 70 e 100µm de espessura,
contendo 3, 6 e 9% de ácido sórbico, pelo método cast (utilização de solvente). As
propriedades de resistência ao estouro e módulo de elasticidade dos filmes antimicrobianos
aumentaram significativamente (p<0,05) com aumento da espessura do filme. Porém, a
concentração de ácido sórbico apresentou efeito significativo (p<0,05) na propriedade de
estouro, mas não afetou o comportamento da massa fracional do ácido liberada para o meio
aquoso. Essa liberação apresentou um comportamento exponencial. Filmes com espessura de
100µm apresentaram em água um comportamento mais característico de filme ativo, ou seja,
uma liberação gradual e lenta do aditivo. Os expoentes difusionais (n) alcançaram valores de
0,63 a 0,71, sugerindo que o mecanismo de transporte tem um caráter não-Fickiano. Os
coeficientes de difusão do ácido sórbico nos filmes a 25°C apresentaram valores na ordem de
10-13m2.s-1. Independente da concentração de ácido sórbico, os filmes de menor espessura
(25µm) apresentaram índices de migração maiores que os demais filmes.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, o mercado consumidor tem exigido produtos com processamento
mínimo, de conveniência e que mantenham as características sensoriais e nutricionais dos
alimentos in natura, tornando-se, assim, necessário o desenvolvimento de novas tecnologias
para a produção e conservação desses produtos. Dessa forma, nos últimos anos, o segmento
de embalagens para acondicionar alimentos vem investindo no desenvolvimento de inovações
para atender a essa crescente demanda. Dentre esses desenvolvimentos, pode-se destacar as
embalagens ativas que objetivam interagir com o produto alimentício, modificando de forma
desejável as propriedades sensoriais, nutricionais e de segurança microbiológica do alimento,
estendendo assim, sua vida-de-prateleira e mantendo a sua qualidade (ROONEY, 1995;
VERMEIREN et al., 1999; DEVLIEGHERE et al., 2004).
As mais importantes concepções de embalagens ativas são os polímeros
antimicrobianos (WENG e HOTCHKISS,1993; HOTCHKISS,1995), os absorvedores de
oxigênio (BERENZON e SAGUY, 1998), os liberadores de CO2 e de etileno e as enzimas,
como a lisozima (APPENDINI, 1996) e a naringinase (SOARES, 1998).
Polímeros sintéticos têm sido utilizados para produção de filmes antimicrobianos,
porém existe um interesse crescente pelos biodegradáveis, devido a fatores ambientais e a
oportunidade de criar novos mercados. O acetato de celulose tem sido indicado como
alternativa ao polipropileno orientado (OPP) para processos de laminação de impressão
(EMBALAGEM MARCA, 2002).
Os alimentos, quer sejam industrializados ou não, mantêm-se em constante atividade
biológica, manifestada por alterações de natureza química, física, microbiológica ou
enzimática, podendo levar à perda de qualidade e redução da vida de prateleira. Destas
alterações, a mais preocupante em relação a segurança dos consumidores é a microbiológica.
O uso de substâncias antimicrobianas como mecanismo de ação sobre a microbiota do
alimento é um dos processos de conservação empregados pelas indústrias de alimentos
(FENNEMA, 1996).
Do ponto de vista de segurança do alimento, as substâncias antimicrobianas utilizadas
no desenvolvimento de filmes ativos têm que constar na lista daquelas aprovadas pela
legislação (WENG et al., 1999). Assim, ácidos sórbico, benzóico, propiônico e seus sais têm
sido incorporados em polímeros para produção de embalagens antimicrobianas, por serem
considerados substâncias GRAS (Geralmente Reconhecidas como Seguras). Substâncias
antimicrobianas, ao serem incorporadas em materiais de embalagem, podem afetar as
propriedades físicas (HAN, 2000; QUINTAVALLA e VICINI; 2002) e mecânicas (HAN,
2000) do filme obtido. HAN e FLOROS (1997) observaram decréscimo na transparência do
filme de polietileno com a adição de sorbato de potássio, porém não houve mudança
significativa nas propriedades de tensão.
A difusão da substância antimicrobiana do material de embalagem para o alimento e a
partição na interface também são parâmetros que influenciam na potenc ialidade de aplicação
do sistema de embalagens ativas (Chung, 2000, citado por CHOI et al., 2001).
Por ser um assunto promissor e inovador na área de embalagem de alimentos, com
excelentes perspectivas de interesse industrial, faz-se necessária a realização de pesquisas de
desenvolvimento de embalagens antimicrobianas. Assim, o presente trabalho objetivou
desenvolver filmes antimicrobianos de base celulósica incorporados com ácido sórbico e
avaliar suas propriedades mecânicas, bem como a migração do composto antimicrobiano da
estrutura polimérica para água.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Embalagem do Departamento
de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
2.1. Produção dos filmes antimicrobianos
Para produção dos filmes foram utilizados resina celulósica, doado pela Empresa
Rhodia, ácido sórbico e solvente, adquiridos da Merck.
Os filmes foram produzidos pelo método cast (utilização de solvente), segundo
metodologia descrita por SOARES (1998), com algumas modificações. Flocos celulósicos
foram dissolvidos em solvente, já contendo o ácido sórbico diluído na concentração de 3, 6 e
9%. A mistura foi homogeneizada, deixada em repouso por 30 minutos e espalhada em placas
de vidro, de forma a obter filmes com espessuras médias de 25, 70 e 100µm. As placas foram
tampadas e mantidas sob refrigeração (5 ± 1°C) por 1 hora. Posteriormente, foram mantidas
por 20 minutos à temperatura ambiente (25 ± 2°C), antes de serem destampadas. Após
completa evaporação do solvente, os filmes foram removidos das placas, separados por folhas
de papel branco (50 µm, 75 g.m-2 ) e estocados em temperatura ambiente para análises
posteriores. A espessura de cada filme foi obtida pela média de medidas tomadas em três
pontos dos filmes, ao acaso, utilizando micrômetro Mitutoyo (0-25 mm).
2.2. Análise das propriedades mecânicas dos filmes
Os filmes foram condicionados em temperatura de 23 ± 1°C e umidade relativa de 50
± 2%, durante 24 horas, segundo norma ABNT 6740 (1981).
A propriedade de módulo de elasticidade específica foi determinada segundo a Norma
ASTM-D882-00 (2001), utilizando o Aparelho Universal de Teste Instron (modelo 4204) e o
teste de estouro foi realizado no aparelho Mullen (modelo MTA-2.000).
2.3. Experimentos de difusão
Amostras dos filmes, com área de 25 cm2 e pesos conhecidos, foram colocadas em
100mL de água pura (18,2 ohm) sob agitação, na temperatura ambiente (25 ± 2°C). Nos
tempos de 0,33; 0,66; 1; 2; 4; 10; 30; 60; 180; 360 e 720 minutos foram retiradas alíquotas de
20µL e a concentração do ácido sórbico foi medida por Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (CLAE), segundo metodologia descrita por CHOI et al. (2001). A quantificação foi
realizada em cromatógrafo SHIMADZU (modelo 10 AVP), coluna Shim-pack ODS (4,6µm,
4,6 x 150 mm) e sistema de detecção UV. Mistura de acetonitrila, água e ácido fosfórico
(0,1%), nas proporções de 60, 20 e 20%, respectivamente, foi utilizada como fase móvel e
fluxo de 1,0 mL.min-1, sendo a detecção realizada a 260 nm.
A massa fracional liberada foi determinada pela relação Mt/M∞ , sendo Mt a massa de
ácido liberada na solução em um tempo t e M∞ a massa de ácido liberada no tempo infinito
(valor de equilíbrio). Esses valores foram calculados e plotados em função do tempo.
Os coeficientes de difusão D (m2.s-1) do ácido sórbico dos diferentes filmes foram
calculados considerando o método de meia vida, dado pela seguinte equação (LIM e TUNG,
1997):
D=0,049h2/t0,5 (1)
onde h é a espessura do filme (m) e t0,5 o tempo (s) em que Mt = 0,5M∞.
Para investigar o mecanismo envolvido no processo de difusão de um sistema foi
ajustada a porção inicial da curva de liberação do ácido sórbico (Mt/M∞ < 0,60) ao seguinte
modelo de lei da força (RITGER e PEPPAS, 1987):
Mt /M∞=ktn (2)
onde Mt é a massa de ácido liberada no tempo t, M∞ a massa de ácido liberada no tempo
infinito, k a constante que caracteriza o sistema de rede macromolecular e n o expoente
difusional característico do mecanismo de liberação.
A massa de ácido sórbico migrada para o meio aquoso (Mm) e a retida no filme (Mr)
foram determinadas a partir dos valores da concentração do ácido quantificados pela
cromatografia líquida. O índice de migração (s ) do ácido sórbico foi calculado pela equação:
s= Mm/(Mm+Mr) (3)
2.4. Análise estatística
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com 3
repetições, sendo os resultados submetidos a análise de variância e teste de média (Tukey).
Quando pertinente, os dados foram analisados por regressão com auxílio do software Statistica
5.1.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A incorporação do ácido sórbico na matriz celulósica foi realizada até a concentração
de 9%, pois, a partir dessa concentração os filmes ficaram quebradiços e opacos. Os filmes
apresentaram formação de cristais na sua estrutura (Figura 1), devido à precipitação do ácido
sórbico. Assim, quanto maior a concentração do ácido no filme, maior a formação de cristais.
Figura 1 - Microfotografia do filme de base celulósica (70µm , 9% de ácido
sórbico), mostrando cristais do ácido formados no filme ativo durante o
processo de produção (aumento de 100 x).
As propriedades de resistência ao estouro e módulo de elasticidade dos filmes
antimicrobianos aumentaram significativamente (p<0,05) com a espessura do filme (Figuras
2A e 2B). Na espessura de 70µm, o filme com 6% de ácido sórbico apresentou valores de
480 KPa e 3,7 MN.m.Kg-1, para a resistência ao estouro e módulo de elasticidade,
respectivamente. A concentração de ácido sórbico apresentou efeito significativo (p<0,05)
somente na propriedade de estouro (Figura 2A). Provavelmente, a força aplicada ao filme
durante esse teste exerceu uma pressão sobre os cristais, forçando-os contra a matriz
polimérica. Isso causou a ruptura das cadeias poliméricas, reduzindo a resistência do filme ao
estouro à medida em que se aumentou a concentração de ácido. Durante o teste de módulo de
elasticidade, o estiramento das cadeias poliméricas possivelmente promoveu o acomodamento
dos cristais, sem que os mesmos afetassem a estrutura do filme.
HAN e FLOROS (1997) não observaram alterações significativas nas propriedades de
força de tensão em filmes de polietileno incorporados com sorbato de potássio. Quando
filmes de copolímero de cloreto de polivinilideno foram incorporados com ácido sórbico,
sorbato de potássio ou nisina, nas concentrações variando de 1,0 a 3,0%, LIMJAROEN et al.
(2003) observaram diminuição na força de tensão à medida em que se aumentou a
concentração dos aditivos incorporados, porém, não houve mudança significativa na
porcentagem de alongamento. Segundo APPENDINI e HOTCHKISS (2002), as mudanças
nessas propriedades são específicas para cada combinação antimicrobiano-polímero.
Figura 2 - Caracterização física dos filmes antimicrobianos, com diferentes espessuras e concentrações de ácido sórbico, quanto à Resistência ao Estouro (A) e Módulo de Elasticidade (B).
A concentração de ácido sórbico não afetou significativamente ( p=0,05) o
comportamento da massa fracional do ácido liberada para o meio aquoso. Essa liberação
apresentou um comportamento exponencial (Figura 3). Em geral isso é observado na difusão
de solutos em polímeros, com volume infinito de solvente (QUATARRA et al., 2000; CHOI
et al., 2001).
Figura 3 - Massa fracional de ácido sórbico liberada dos filmes antimicrobianos
com diferentes espessuras, em água pura (18,2 ohm) a 25oC.
A matriz polimérica celulósica tem grupos hidrofílicos em sua estrutura, podendo
facilmente interagir com a água e resultar em liberação controlada; portanto, a liberação do
ácido sórbico do filme de base celulósica imerso em água pode ser descrita pelo modelo de
expansão controlada (Malley et al., 1987, citados por QUATARRA et al., 2000). De acordo
com este modelo, a água penetra na matriz polimérica, dissolvendo parte do ácido sórbico,
que apresenta solubilidade em água à temperatura ambiente de 0,16g/100mL (ARAUJO,
1995), ocorrendo, em seguida, sua liberação do polímero. Isto explica a maior rapidez com
que o ácido sórbico foi liberado do filme de 25 µm, pois a água penetra com mais facilidade
nesse filme (Figura 3). Além disso, a molécula de água atua como um plastificante,
contribuindo para maior movimentação das cadeias poliméricas e, conseqüentemente, maior
liberação de moléculas de baixo peso molecular incorporadas na matriz polimérica
(ROBERTSON, 1992). O filme com espessura de 100µm apresentou, em água, um
comportamento mais característico de filme ativo, ou seja, uma liberação gradual e lenta do
aditivo, levando em torno 6 horas para liberação de 50% do ácido incorporado, quantidade
máxima liberada por esse filme. Essa velocidade de liberação do ácido para o meio aquoso
também está relacionada com a ação plastificante da água na matriz polimérica. É comum, em
vários sistemas hidrofílicos, este fenômeno de liberação controlada, tais como em filme à base
de álcool polivinil (KORSMEYER e PEPPAS, 1981), poliacrilamida (RAMARAJ e
RADHAKRISHNAN, 1994), éster de celulose (RANGA RAO e PADMALATHA DEVI,
1988), entre outros. Resultados obtidos nesse estudo confirmam os de QUATTARA et al.
(2000), onde a difusão do ácido aumentou com o aumento da penetração de água no filme,
alcançando um platô, quando a matriz polimérica ficou saturada com água. Vários autores
(LIM e TUNG, 1997; PEPPAS e BRANNON-PEPPAS, 1994; ARMAND et al., 1987)
reportam diferentes fatores que contribuem para a liberação de compostos incorporados em
matriz polimérica, tais como, interações entre o composto e a matriz, inchamento da matriz,
relaxamento dependente do tempo devido ao inchamento e difusão de líquidos no polímero.
Assim, supõe-se que a difusão do ácido para a superfície dos alimentos, onde o conteúdo de
água é limitado, seja menor.
Os expoentes difusionais da Eq. (2) foram calculados pela plotagem de ln (Mt/M∞)
versus ln (t) (Figura 4), havendo relação linear para Mt/M∞ menor que 0,6 e com coeficientes
de correlação (R2) de 0,99. Os expoentes difusionais (n) foram calculados pela inclinação das
retas e as constantes difusionais (k) foram obtidas pela função exponencial da interseção da
reta no eixo da ordenada. Os expoentes difusionais alcançaram valores de 0,63 a 0,71,
sugerindo que o mecanismo de transporte tem um caráter não-Fickiano. Este tipo de
comportamento também foi observado em vários estudos de liberação de compostos em
sistemas poliméricos (PEPPAS e FRANSON, 1983; BRASEL e PEPPAS, 1999; OZDEMIR e
FLOROS, 2001). Segundo Jacques et al. (1974), citados por OZDEMIR e FLOROS (2001),
o valor de n=0,5 mostra que a difusão Fickiana é observada e a taxa de liberação depende de
t0,5. Nesse caso, o coeficiente de difusão possui um valor finito e pode ocorrer a transferência
de componentes do filme para o meio. Entretanto, a camada- limite não muda com o tempo. O
valor de n sendo igual a 1 indica que a taxa de liberação está diretamente proporcional ao
tempo. Para os valores de 0,5 < n < 1,0, predomina um mecanismo de transporte não-
Fickiano, como obtido neste experimento. Valores de n >1 indicam liberação pronunciada nos
estágios finais do experimento, resultando em um transporte controlado mais rápido.
Os coeficientes de difusão do ácido sórbico nos filmes a 25°C apresentaram valores
na ordem de 10-13m2.s-1, conforme mostrados na Tabela 1. Os coeficientes de difusão
apresentaram uma tendência a aumentar com o aumento da concentração de ácido sórbico e
da espessura do filme. CHOI et al. (2004), trabalhando com sorbato de potássio incorporado
em filme ativo a base de carragena, encontraram valores de coeficiente de difusão na ordem
de 10-13m2.s-1, enquanto OZDEMIR e FLOROS (2001), em pesquisa realizada com filmes de
proteína de trigo incorporados com diferentes concentrações de sorbato de potássio (3,3%,
5%, 6,7% e 10%) e espessura de aproximadamente 198µm reportaram valores
aproximadamente de 10-11 m2.s-1 , ou seja, 100 vezes maiores que os obtidos nesse trabalho.
Em polímeros sintéticos, tal como polietileno de baixa densidade, os coeficientes de difusão
do sorbato de potássio, determinados por HAN e FLOROS (1998), foram na ordem de 10-12
m2.s-1 a 25°C.
Figura 4 - Valores de ln(Mt/M∞) versus ln(t) dos filmes com 25, 70 e 100 µm de
espessura, incorporados com diferentes concentrações de ácido sórbico (3, 6 e 9%) a 25oC.
Tabela 1 - Valores do coeficiente de difusão do ácido sórbico (D), da massa do ácido
sórbico retida no filme (Mr) e da migrada para a água (Mm) e do índice de migração do
conservante (s) relativos ao filme ativo em solução aquosa.
Tabela 1 - Valores do coeficiente de difusão do ácido sórbico (D), da massa do ácido sórbico
retida no filme (Mr) e da migrada para a água (Mm) e do índice de migração do conservante
relativos ao filme ativo em solução aquosa.
Ácido Sórbico Espessura D x 10-13 Mr Mm
(%) ( m) (m2.s-1) (mg) (mg)
3 25±2 1,67 a 0,56 1,60 0,74 cd
3 70±5 2,09 ab 1,59 2,72 0,63 bc
3 100±7 2,23 ab 2,99 3,50 0,54 ab
6 25±2 2,06 ab 1,30 5,26 0,80 d
6 70±5 2,45 ab 3,53 9,59 0,73 cd
6 100±7 2,74 ab 9,76 9,93 0,50 ab
9 25±2 2,01 ab 1,95 7,31 0,79 d
9 70±5 3,39 b 5,54 13,00 0,70 cd
9 100±7 3,47 b 15,38 12,42 0,44 a
Nas colunas, médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si,
pelo teste de Tukey (p 0,05). Ácido Sórbico (%), Espessura (µm), D x 10-13(m2.s-1), Mr (mg),
Mm (mg)
Independente da concentração de ácido sórbico, os filmes de menor espessura (25µm)
apresentaram índices de migração maiores que os demais filmes (Tabela 1), devido à maior
facilidade com que a água penetra nesses filmes, dissolvendo parte do ácido e liberando-o
para o solvente. Nos filmes de 100 µm, aproximadamente metade da massa do ácido sórbico
incorporada no polímero foi liberada para a água, o que representa, no filme contendo 3% de
ácido sórbico, uma massa de ácido migrada de 3,50 mg . Para o filme de 70 µm/ 3% ácido
sórbico, a migração foi de 2,72 mg de ácido, representando, aproximadamente, 60% da
quantidade incorporado na matriz. Os resultados mostraram que o índice de migração
aumentou quando a espessura do filme diminuiu. Tal fato, provavelmente, deveu-se à
solubilidade do ácido sórbico na acetona, sendo que, durante o processo de produção do filme,
parte dele pode ter sido carreada para a superfície do filme, no processo de evaporação da
acetona. Assim, essa massa de ácido foi mais facilmente removida pela água, visto que na
parte mais interna do filme a penetração da água foi mais dificultada.
4. CONCLUSÕES
A matriz celulósica suportou a incorporação de até 9% de ácido sórbico para produção
de filmes ativos com propriedades que permitam o uso dos mesmos para acondicionamento de
alimentos. O ácido sórbico teve liberação máxima do filme antimicrobiano em um tempo que
variou de 0,5 a 6 horas, após imersão em água a 25°C. Filmes com espessura de 25, 70 e 100
µm permitiram uma migração, em média, de 78, 68 e 50% do ácido incorporado para água,
respectivamente. Tendo em vista a maior quantidade de ácido sórbico retido no filme de 100
µm e sua menor flexibilidade, dificultando, assim, a sua aplicação em alimentos, sugere-se a
continuidade do trabalho com os filmes de 25µm e 70µm, com diferentes concentrações de
ácido sórbico, utilizando-os num produto alimentício.
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CAPÍTULO 2
FILMES ANTIMICROBIANOS INCORPORADOS COM ÁCIDO SÓRBICO NA
CONSERVAÇÃO DE MASSA DE PASTEL
RESUMO
Filmes de base celulósica com 25 e 70 µm de espessura incorporados com 0, 1, 2, 3, 4,
5 e 6% de ácido sórbico, foram produzidos e intercalados em massa de pastel sem conservante
para avaliar sua ação antimicrobiana. Massas controle, contendo sorbato de potássio, foram
intercaladas com filmes de polietileno de baixa densidade (PEBD). Os sanduíches
(filmes/massas) foram acondicionados em sacos de PEBD e estocados sob refrigeração
(8±1°C). Os resultados das análises microbiológicas, obtidas no tempo inicial para as massas
com ou sem conservante apresentaram-se dentro dos padrões da legislação vigente. Após 40
dias de estocagem, as massas com filmes de 70µm, contendo 3, 4, 5 e 6% de ácido sórbico,
apresentaram, estatisticamente, crescimento microbiano menor ou igual ao da massa controle.
Nas massas com filmes de 25µm, contendo 6% de ácido sórbico, a contagem de psicrotróficos
foi inferior à da massa controle, porém, as contagens de mesófilos aeróbios e Staphyloccoccus
spp. foram superiores em 1 ciclo log. A atividade de água e o teor de umidade das massas não
apresentaram diferenças entre os tratamentos, ao longo do tempo de estocagem.
1. INTRODUÇÃO
O conceito tradicional, de que a embalagem deve preservar a qualidade do produto
havendo interação mínima entre a embalagem e o produto, está superado frente às várias
tecnologias desenvolvidas nas últimas décadas, que têm por princípio justamente a interação
embalagem/produto (OLIVEIRA, 2004). Dentre essas tecnologias, pode-se destacar as
embalagens ativas que objetivam interagir com o produto alimentício, modificando de forma
desejável as propriedades sensoriais, nutricionais e de segurança microbiológica do alimento,
estendendo assim sua vida-de-prateleira e mantendo sua qualidade (ROONEY, 1995;
VERMEIREN et al., 1999; DEVLIEGHERE et al., 2004).
A embalagem ativa antimicrobiana atua reduzindo, inibindo ou retardando o
crescimento da microbiota presente, principalmente na superfície do alimento embalado, onde
a maior parte das reações de deterioração ocorre (DEVLIEGHERE et al., 2004). Essas
embalagens podem apresentar-se pela incorporação de agentes antimicrobianos voláteis e não
voláteis diretamente no polímero, pela adsorção de antimicrobianos na superfície do
polímero, pela imobilização de antimicrobianos no polímero por ligações iônica ou covalente
e pelo uso de polímeros com atividade antimicrobiana (APPENDINI e HOTCHKISS, 2002).
Esse tipo de embalagem permite uma redução no teor de conservante no alimento, atendendo
uma tendência atual do consumidor que é a busca por alimentos com processamento e teores
mínimos de aditivos.
De modo geral, o filme antimicrobiano deve ser efetivo em um largo espectro de
microrganismos, apresentar eficiência em baixas concentrações dos compostos incorporados,
não causar alterações nas características sensoriais do produto, ter um custo compatível e
atender à legislação vigente (BRODY, 2001).
Essas embalagens vêm sendo utilizadas em uma variedade de produtos como pães,
bolos, biscoitos, pizza, massa fresca, queijo, carnes, frutas, entre outros. Cada um desses
produtos tem mecanismo diferente de deterioração, que deverá ser entendido para que se
possa adequar uma embalagem ativa para cada um deles (VERMEIREN et al, 1999).
Do ponto de vista de segurança do alimento, as substâncias antimicrobianas utilizadas
no desenvolvimento de filmes ativos, devido à sua migração, devem estar aprovadas para
contato com alimento (WENG et al., 1999). Assim, substâncias GRAS (Geralmente
Reconhecidas como Seguras) têm sido incorporadas em polímeros para produção de
embalagens antimicrobianas, como ácido sórbico (CAGRI et al., 2001; LIMJAROEN, et al.,
2003), ácido benzóico, ácido propiônico (QUATTARA et al., 2000b; SOARES et al., 2002) e
seus sais (OZDEMIR e FLOROS, 2001; BUONOCORE et al., 2003; CHOI et al., 2004)
nisina, (MELO, 2003; DAWSON et al., 2003; LEE et al., 2004; GROWER et al., 2004),
entre outras.
WENG e HOTCHKISS (1993) incorporaram 1% de anidro benzóico em filmes de
polietileno de baixa densidade, inibindo completamente o crescimento de Rhyzopus stolonifer,
Penicillium spp. e Aspergillus toxicarius em meio de cultura, sendo que a incorporação de
2,0% do antimicrobiano inibiu o crescimento de fungos em queijo. Lactato de sódio mostrou
eficiência antimicrobiana em salsicha, quando incorporado em filmes de base celulósica
(MELO et al., 2002). Também SOARES et al. (2002), trabalhando com propionato de sódio
incorporado em filmes de base celulósica, observaram uma inibição do crescimento
microbiano em pães. MELO (2003) observou uma redução de 2 ciclos log na contagem de
Staphylococcus sp. em queijo coalho coberto com filme incorporado com nisina.
As massas alimentícias, incluindo a do pastel, são muito consumidas no Brasil e em
diversos países. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2000), a
massa alimentícia úmida ou fresca é o produto que pode ou não ser submetido a um processo
de secagem parcial, de forma que o produto final apresente umidade máxima de 35% b.u.
A contaminação de massas frescas pode ser proveniente dos ingredientes utilizados na
formulação, que incluem farinha de trigo, ovos, água, bem como dos equipamentos, do
ambiente de processamento e dos manipuladores (MAYOU e MOBERG, 1992), caso não
sejam observadas as Boas Práticas de Fabricação.
Quanto aos critérios microbiológicos para este produto, está em vigor a Resolução da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2001), que prevê limites para
estafilococos coagulase positiva de 5,0x103 UFC/g, coliformes a 45°C de 1,0x102 NMP/g,
Bacillus cereus de 5,0x103 UFC/g e ausência de Salmonella sp./25g.
Em geral, os conservantes químicos, principalmente ácidos orgânicos e seus sais
(sorbatos, benzoatos e propionatos), são utilizados para inibir o crescimento microbiano e
aumentar a vida de prateleira de massas alimentícias frescas, juntamente com o uso do frio,
visto que esses produtos são embalados sem tratamento térmico.
O presente trabalho teve como objetivo desenvolver filmes antimicrobianos
incorporados com ácido sórbico e avaliar sua eficiência antimicrobiana em massas de pastel
sem conservante.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Embalagem do Departamento
de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
2.1. Produção dos filmes antimicrobianos
Para produção dos filmes foram utilizados resina celulósica, doado pela Empresa
Rhodia, ácido sórbico e solvente, adquiridos da Merck.
Os filmes foram produzidos pelo método cast (utilização de solvente), segundo
metodologia descrita por SOARES (1998), com algumas modificações. Flocos celulósicos
foram dissolvidos em solvente, já contendo o ácido sórbico diluído na concentração de 1, 2,
3, 4, 5 e 6%. A mistura foi homogeneizada, deixada em repouso por 30 minutos e espalhada
em placas de vidro, de forma a obter filmes com espessuras médias de 25 e 70µm. As placas
foram tampadas e mantidas sob refrigeração (5 ± 1°C) por 1 hora. Posteriormente, foram
mantidas por 20 minutos à temperatura ambiente (25 ± 2°C), antes de serem destampadas.
Após completa evaporação da acetona, os filmes foram removidos das placas, separados por
folhas de papel branco (50µm, 75 g.m-2) e estocados em temperatura ambiente para análises
posteriores. Também foram produzidos filmes sem ácido sórbico.
A espessura de cada filme foi obtida pela média de medidas tomadas em três pontos
dos filmes, ao acaso, utilizando micrômetro Mitutoyo (0-25mm). Todos os filmes foram
submetidos à luz ultra-violeta (Prodicil, 110V, 254nm), por 2 minutos em cada lado, para
posterior contato com as massas de pastel.
2.2. Preparação da massa de pastel
A massa de pastel foi produzida por uma empresa local de Viçosa-MG. `A farinha de
trigo, foram misturados gordura vegetal, cloreto de sódio, glutamato monossódico e água.
Como controle foi produzida uma massa contendo 0,18% de sorbato de potássio, conforme
utilizado pela empresa. As massas foram cortadas com 10 cm de diâmetro e conduzidas ao
Laboratório de Embalagem, sob resfriamento, em caixas de isopor.
2.3. Montagem do experimento
Filmes com 0, 1, 2, 3, 4, 5 e 6% de ácido sórbico, nas espessuras de 25 e 70µm,
foram intercalados em massas de pastel sem conservante. Como controle, massas adicionadas
de sorbato de potássio foram intercaladas com filmes de polietileno de baixa densidade
(PEBD). Para cada um dos 14 tratamentos, com filmes antimicrobianos, e o controle foram
montados sanduíches (filmes/massas), como apresentados na Figura 1. Esses sanduíches
foram acondicionados em sacos de PEBD e estocados sob refrigeração (8±1°C). As massas
submetidas aos referidos tratamentos foram analisadas nos tempos 0 e 40 dias de estocagem.
Figura 1 - Massa de pastel intercalada com filmes antimicrobianos.
2.4. Análises microbiológicas
As massas foram analisadas quanto à contagem de mesófilos aeróbios, psicrotróficos,
Staphylococcus spp, fungos filamentosos e leveduras, nos tempos 0 e 40 dias de estocagem.
Durante o período de estocagem, as massas foram analisadas visualmente quanto à presença
de fungos. Após os 40 dias, foram ainda efetuadas contagens de coliformes a 35°C, a 45°C e
E. coli. As análises foram realizadas conforme metodologias recomendadas pelo
Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods (VANDERZANT e
SPLITTSTOESSER, 1992).
2.5. Determinação da atividade de água e do teor de umidade da massa
A atividade de água (Aa) foi determinada no aparelho Aqualab-CX2T a 25 ±2°C e o
teor de umidade (base úmida), conforme procedimento descrito na AOAC (1995).
2.6. Análise estatística
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com 3
repetições, sendo os resultados submetidos a análise de variância. Quando pertinente, os dados
foram analisados por regressão com auxílio do software
Statistica 5.1.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das análises microbiológicas, obtidos no tempo inicial para as massas
com ou sem conservante, apresentaram-se dentro dos padrões da legislação vigente (ANVISA
no 12, 2001). A contagem de microrganismos mesófilos aeróbios foi de 2,6x103 UFC.g-1 e
1,1x103 UFC.g-1 para as massas com ou sem conservante, respectivamente. Quanto aos
microrganismos psicrotróficos, Staphylococcus spp., fungos filamentosos e leveduras, as
contagens foram < 1,0x102 UFC.g-1, para ambas as massas.
Após 13 e 15 dias de estocagem, observou-se o aparecimento de fungos nas massas
intercaladas com filmes antimicrobianos com 0% de ácido sórbico (25 e 70µm) e com 1% de
ácido sórbico (25µm) (Figura 2), respectivamente, sendo então descartadas. As demais massas
mantiveram sem crescimento aparente de fungos até o final do experimento (Figura 3), sendo,
portanto, analisadas microbiologicamente, conforme resultados apresentados nas Figuras 4, 5
e 6, para mesófilos aeróbios, psicrotróficos e Staphylococcus spp., respectivamente.
Figura 2 - Massa de pastel intercalada com filme antimicrobiano (1% de ácido
sórbico - 25µm), após 13 dias de estocagem sob refrigeração 8±1°C).
Figura 3 - Massa de pastel intercalada com filme antimicrobiano(2% de ácido sórbico -
25µm), após 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1°C). Os dados mostraram que as massas com filmes de 70µm de espessura e concentrações
de 3, 4, 5 e 6% de ácido sórbico apresentaram, estatisticamente, crescimento microbiano
menor ou igual ao da massa controle. As massas intercaladas com filmes de 25µm, contendo
6% de ácido sórbico, apresentaram contagem de psicrotróficos aproximadamente 1 ciclo log
abaixo da determinada para a massa controle. Ao contrário, as contagens de mesófilos
aeróbios e de Staphyloccoccus spp. foram aproximadamente 1 ciclo log acima das
encontradas na massa controle.
Figura 4 - Contagem de mesófilos aeróbios nas massas de pastel após 40 dias de estocagem
sob refrigeração (8±1oC). A linha tracejada representa a contagem na massa controle.
Figura 5 - Contagem de psicrotróficos nas massas de pastel após 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1oC). A linha tracejada representa a contagem na
massa controle.
Figura 6 - Contagem de Staphylococcus spp. nas massas de pastel após 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1oC). A linha tracejada representa a contagem na massa controle.
As massas, independente do tratamento, apresentaram contagens <1,0 x 102 UFC.g-1
para fungos filamentosos e leveduras e <3,0 x 100 NMP.g-1 para coliformes a 35°C,
coliformes a 45°C e E.coli, após 40 dias de estocagem. Segundo BARBOSA-CÁNOVAS et
al. (1999), o ácido sórbico e seus sais são fundamentalmente efetivos contra fungos,
Staphylococcus aureus, Salmonella spp., Vibrio parahaemolyticus, coliformes e bactérias
psicrotróficas deteriorantes, como Pseudomonas spp.
Os resultados mostraram que, após 40 dias de estocagem, a contagem de mesófilos
aeróbios nas massas intercaladas com filmes de 70µm de espessura e 3% de ácido sórbico
apresentou aumento de 0,5 ciclo log (Figura 4). Nesse mesmo período, as contagens de
psicrotróficos e Staphylococcus spp. apresentaram aumentos de 1,5 e 0,5 ciclos log,
respectivamente, em relação ao tempo inical. Contudo, esses valores foram próximos aos
encontrados para a massa controle, dentro dos padrões da legislação vigente (BRASIL, 2001).
Os resultados desse trabalho corroboram com os reportados por QUATTARA et al.
(2000a), de que o emprego de filmes antimicrobianos pode ser mais eficiente do que o uso
direto de antimicrobianos no alimento, pois o antimicrobiano migra lenta e gradualmente da
embalagem para a superfície do alimento, onde mantem-se em concentração necessária para
inibir o desenvolvimento de microrganismos. Na maioria dos alimentos frescos ou
processados, a contaminação microbiana ocorre, em maior intensidade, na superfície dos
mesmos, requerendo assim um controle efetivo do crescimento microbiano neste local
(PADGETT et al., 1998).
Os efeitos dos tratamentos, dos tempos de estocagem e da interação entre eles não
foram significativos (p=0,05) para a atividade de água e o teor de umidade das massas. Os
resultados médios de todos os tratamentos, nos tempos 0 e 40 dias de estocagem, estão
apresentados na Figura 7. Observou-se que a atividade de água foi, aproximadamente, 0,88 e
o teor de umidade 28%. Durante o período de estocagem, o filme protegeu o produto contra
perda ou ganho de umidade. A atividade de água da massa, juntamente com outros fatores,
contribui para a inibição do crescimento de microrganismos patogênicos, tais como, Bacillus
cereus, Salmonella spp. e Escherichia coli, que exigem uma Aa acima de 0,94,
aproximadamente (JAY, 1992). O pH das massas foi de 5,9, no tempo zero, com uma
variação, após 40 dias de estocagem, de 4,5 a 5,0, dependendo do teor de ácido sórbico
incorporado no filme em contato com o produto.
Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si, pelo teste F (p=0,05). Figura 7 - Atividade de água (Aa) e teor de umidade das massas de pastel, no tempo 0 e após 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1°C).
4. CONCLUSÕES
As massas de pastel intercaladas com filmes de 70µm, nas concentrações de 3, 4, 5 e
6% de ácido sórbico, apresentaram, estatisticamente, crescimento microbiano menor ou igual
ao da massa controle. As massas intercaladas com filmes de 25µm, contendo 6% de ácido
sórbico, apresentaram menor contagem apenas para psicrotróficos em relação à massa
controle. A atividade de água e o teor de umidade das massas, em todos os tratamentos, não
apresentaram variações durante o período de estocagem.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 3
EFICIÊNCIA ANTIMICROBIANA E MIGRAÇÃO DO ÁCIDO SÓRBICO DO
FILME ATIVO PARA A MASSA DE PASTEL
RESUMO
Filmes ativos de 25 e 70 µm de espessura incorporados com 7 e 3 % de ácido sórbico,
respectivamente, foram intercalados em massa de pastel sem conservante e avaliados quanto à
migração do ácido sórbico e eficiência antimicrobiana nesse produto. Como controle foram
utilizadas massas contendo sorbato de potássio intercaladas com filmes de polietileno de
baixa densidade (PEBD). Os sanduíches (filmes/massas) foram acondicionados em sacos de
PEBD e estocados sob refrigeração (8±1°C). Após 40 dias de estocagem, as massas
intercaladas com filmes de 25µm/7% de ácido sórbico apresentaram redução de 2 ciclos log
na contagem de mesófilos aeróbios, porém, as contagens de psicrotróficos e Staphylococcus
spp. não apresentaram diferenças significativas (p=0,05). Nas massas intercaladas com
filmes de 70µm/3% de ácido sórbico, observaram-se reduções nas contagens de mesófilos e
psicrotróficos em 2 e 1,5 ciclos log, respectivamente. Nas massas controle as contagens de
mesófilos aeróbios, psicrotróficos e Staphylococcus spp. aumentaram em 1,5, 1 e 2 ciclos log,
respectivamente. Independente do filme, as contagens de fungos filamentosos e leveduras e de
estafilococos coagulase positiva foram < 1,0 X102 UFC.g-1 , enquanto as de coliformes a
35°C, coliformes a 45°C e E.coli foram < 3,0 x 100 NMP.g-1. Os coeficientes de difusão do
ácido sórbico nos filmes a 8±1°C, quando intercalados em massa de pastel, apresentaram
valores na ordem de 10-18m2/s. Os índices de migração do ácido sórbico nos filmes não
diferiram entre si (p = 0,05). A liberação máxima do conservante para a massa de pastel do
filme de 25µm/7% de ácido sórbico ocorreu no 20o dia de estocagem do produto, atingindo
0,07% e no filme de 70µm/3% de ácido sórbico no 9o dia de estocagem, atingindo 0,09%.
Ambos os valores encontram-se abaixo do limite máximo permitido pela legislação vigente.
1. INTRODUÇÃO
O crescimento microbiano na superfície de alimentos é uma das maiores causas de
deterioração e perdas de produtos processados e “in natura”. Agentes antimicrobianos são
adicionados diretamente nos alimentos para controlar o crescimento da microbiota presente,
prolongando, assim, a vida de prateleira dos produtos. Os alimentos também podem ser
tratados com aditivos em sua superfície, por imersão, spray ou espalhamento (CHUNG et al.,
2001). Essas técnicas de utilização de aditivos aumentam o número de etapas requeridas no
processamento.
O uso de filmes ativos contendo agentes antimicrobianos apresenta vantagens sobre os
métodos tradicionais de adição direta dos conservantes nos alimentos, visto que podem ser
liberados de maneira controlada, estando portanto em menores quantidades no alimento e
atuando, principalmente, na superfície do produto (WENG e HOTCHKISS, 1993;
APPENDINI e HOTCHKISS, 2002). Filmes antimicrobianos podem também simplificar o
processamento de alimentos por combinar embalagem e aplicação de aditivo em uma única
etapa.
A principal ação do filme ativo está baseada na liberação do antimicrobiano para a
superfície do alimento, mantendo sua concentração acima do nível crítico para controle do
crescimento de microrganismos indesejáveis no alimento (HAN, 2000; QUINTAVALLA e
VICINI, 2002), contudo, sem ultrapassar a concentração máxima permitida pelas normas
vigentes. A liberação de aditivos incorporados em diferentes polímeros vem sendo estudada
por diversos autores (REDL et al., 1996; UCHYTIL et al., 1996; HAN e FLOROS, 2000;
CHOI et al., 2001; CHUNG et al., 2001; BUONOCORE et al., 2003; CHOI et al., 2004).
Em massas alimentícias, incluindo a de pastel, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária regulamenta o uso do ácido sórbico e seus sais na concentração máxima de 0,1%
como ácido sórbico (BRASIL, 1999). Conservantes de ácidos fracos não têm implicações
tóxicas nas concentrações aplicadas, porém, atualmente, há uma demanda dos consumidores
no sentido de diminuir as concentrações de aditivos nos alimentos (OLIVEIRA, 2004).
O objetivo desse trabalho foi avaliar a migração de ácido sórbico incorporado em
filme antimicrobiano e seu efeito na conservação de massa de pastel sem conservante.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Embalagem do Departamento
de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
2.1. Produção dos filmes antimicrobianos
Para produção dos filmes foram utilizados resina celulósica, doado pela Empresa
Rhodia, ácido sórbico e solvente, adquiridos da Merck.
Os filmes foram produzidos pelo método cast (utilização de solvente), segundo
metodologia descrita por SOARES (1998), com algumas modificações. Flocos celulósicos
foram dissolvidos em solvente, já contendo ácido sórbico (3 e 7%) diluído. A mistura foi
homogeneizada, deixada em repouso por 30 minutos e espalhada em placas de vidro. As
placas foram tampadas e mantidas sob refrigeração (5 ± 1°C) por 1 hora. Posteriormente,
foram mantidas por 20 minutos à temperatura ambiente (25 ± 2°C), antes de serem
destampadas. Após completa evaporação do solvente, os filmes foram removidos das placas,
separados por folhas de papel branco (50 µm, 75 g.m-2) e estocados em temperatura ambiente
para análises posteriores.
Foram produzidos filmes contendo 7 e 3% de ácido sórbico, com espessuras médias de
25 e 70µm, respectivamente. A espessura de cada filme foi obtida pela média de medidas
tomadas em três pontos dos filmes, ao acaso, utilizando micrômetro Mitutoyo (0-25mm).
Todos os filmes foram submetidos à luz ultra-violeta (Prodicil, 110V, 254nm), por 2 minutos
em cada lado, para posterior contato com as massas de pastel.
2.2. Preparação da massa de pastel
A massa de pastel foi produzida por uma empresa local de Viçosa-MG. `A farinha de
trigo, foram misturados gordura vegetal, cloreto de sódio, glutamato monossódico e água.
Como controle foi produzida uma massa contendo 0,18 % de sorbato de potássio, conforme
utilizado pela empresa. As massas foram cortadas com 10 cm de diâmetro e conduzidas ao
Laboratório de Embalagem, sob resfriamento, em caixas de isopor, para posterior uso nos
experimentos.
2.3. Montagem do experimento
Filmes com 7 e 3% de acido sórbico, nas espessuras de 25 e 70µm, respectivamente,
foram intercalados em massas de pastel sem conservante. Como controle, massas adicionadas
de sorbato de potássio foram intercaladas com filmes de polietileno de baixa densidade
(PEBD). Para cada um dos 4 tratamentos com filmes antimicrobianos e o controle foram
montados sanduíches (filmes/massas), como apresentados na Figura 1. Esses sanduíches
foram acondicionados em sacos de PEBD e estocados sob refrigeração (8±1°C).
2.4. Análises microbiológicas
As massas foram analisadas quanto à contagem de mesófilos aeróbios, psicrotróficos,
coliformes a 35°C, coliformes a 45°C, E. coli, Staphylococcus spp., fungos filamentosos e
leveduras, conforme metodologias recomendadas pelo Compendium of Methods for the
Microbiological Examination of Foods (VANDERZANT e SPLITTSTOESSER, 1992). Essas
análises foram realizadas no tempo 0 e após 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1oC).
2.5. Extração e quantificação do ácido sórbico da massa
As massas foram analisadas com 1, 2, 3, 4, 6, 8, 12, 20, 30 e 40 dias de estocagem sob
refrigeração (8±1oC). A extração do ácido sórbico da massa de pastel foi realizada de acordo
com a metodologia descrita por TFOUNI e TOLEDO (2002), com algumas modificações.
Dois gramas de amostra foram adicionados em 40 mL de etanol e após 3 horas de agitação
(agitador Fisatom, modelo 752) o volume foi completado para 100mL com água pura (18,2
ohm). Após 15 minutos de agitação, o sobrenadante foi filtrado em membrana de 0,22 µm.
Alíquotas de 20µL foram utilizadas para quantificação do ácido sórbico em
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), segundo metodologia de TFOUNI e
TOLEDO (2002). A análise foi conduzida em cromatógrafo SHIMADZU (modelo 10 AVP),
coluna Shim-pack ODS (4,6µm, 4,6 x 150 mm) e sistema de detecção UV. A fase móvel
consistiu de 81% de água, 17% de acetonitrila e 0,2% de tampão fosfato de amônio 0,005M
(pH 4,2 ajustado com ácido acético glacial), com fluxo de 1 mL.min-1, sendo a detecção
realizada em 260 nm.
Amostras de massa de pastel coletadas no comércio local também foram analisadas,
para efeito de comparação.
2.6. Experimentos de difusão
A massa fracional liberada foi determinada pela relação Mt/M∞ , sendo Mt a massa do
ácido liberada na massa de pastel em um tempo t e M∞ a massa de ácido liberada no tempo
infinito (valor de equilíbrio). Esses valores foram calculados e plotados em função do tempo.
Os coeficientes de difusão D (m2.s-1) do ácido sórbico nos diferentes filmes foram
calculados considerando o método de meia vida, dado pela seguinte equação (LIM e TUNG,
1997):
D=0,049h2/t0,5 (1)
onde h é a espessura do filme (m) e t0,5 o tempo (s) em que Mt = 0,5M∞.
A massa de ácido sórbico migrada do filme (95cm2) para a massa de pastel (Mm) e a
retida no filme (Mr) foram determinadas a partir dos valores da concentração do ácido
quantificados pela cromatografia líquida. O índice de migração (s ) do ácido sórbico foi
calculado pela equação:
s = Mm/(Mm+Mr) (2)
2.7. Análise estatística
O experimento fo i conduzido em delineamento inteiramente casualizado com 3
repetições, sendo os resultados submetidos a análise de variância. As médias dos tratamentos
foram comparadas pelo teste F e, ou Tukey. Quando pertinente, os dados foram analisados por
regressão com auxílio do software Statistica 5.1.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das contagens de mesófilos aeróbios, psicrotróficos e Staphylococcus
spp. estão apresentados na Figura 1. Observou-se, no tempo 0, que a contagem de mesófilos
aeróbios da massa controle foi aproximadamente 1,5 ciclo log inferior à da massa sem
conservante, indicando uma ação antimicrobiana imediata do ácido sórbico sobre esses
microrganismos. Porém, as contagens de psicrotróficos e Staphylococcus spp. não
apresentaram diferenças significativas (p=0,05) entre os tratamentos.
Aos 40 dias de estocagem, observou-se maior eficiência dos filmes ativos
antimicrobianos em relação ao método de adição direta do conservante na massa (controle),
para todos os microrganismos
As massas com filmes ativos de 25µm/7% de ácido sórbico e de 70µm/3% de ácido
sórbico apresentaram uma redução na contagem de mesófilos aeróbios de aproximadamente 2
ciclos log, enquanto que, nas massas controle, essa contagem aumentou em 1,5 ciclo log, após
40 dias de estocagem.
Médias seguidas das mesmas letras maiúsculas (tratamentos dentro de cada tempo) ou minúsculas (tempos dentro de cada tratamento) não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p=0,05). Figura 1- Contagem de mesófilos aeróbios, psicrotróficos e Staphylococcus spp.
das massas intercaladas com filmes de PEBD (controle) e ativos (25µm/7% de ácido sórbico e 70µm/3% de ácido sórbico) no tempo 0 e após 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1oC).
A contagem de psicrotróficos aumentou cerca de 1 ciclo log na massa controle, após a
estocagem. Observou-se uma redução de 1,5 ciclo log na contagem desses microrganismos
nas massas intercaladas com filmes de 70µm/3% de ácido sórbico, porém, nas massas
intercaladas com filmes de 25µm/7% de ácido sórbico não houve diferença significativa
(p=0,05). Analisando a contagem de Staphylococcus spp., verificou-se que, após a estocagem,
houve aumento de 2 ciclos log na massa controle; entretanto, nas massas intercaladas com os
filmes antimicrobianos não houve diferença. GUILBERT et al. (1997) também observaram
maior atividade antimicrobiana do ácido sórbico sobre o crescimento de microrganismos,
quando incorporado em filmes à base de pectina/glúten/monoglicerídeos do que quando
adicionado diretamente no alimento. VOJDANI e TORRES (1989) reportaram que o sorbato
de potássio, quando adicionado diretamente no produto, interage com compostos presentes no
alimento, perdendo seu efeito protetor. Quando incorporado na matriz de filme à base de
metilcelulose e hidroxipropilmetilcelulose, o filme permitiu uma lenta difusão do sorbato para
a superfície do alimento, o que melhorou a proteção do mesmo. Segundo QUINTAVALLA e
VICINI (2002), pode ocorrer inibição ou redução da atividade do antimicrobiano, quando
adicionado diretamente no produto, por reação com diversas substâncias presentes no
alimento.
As contagens de estafilococos coagulase positiva, Escherichia coli e fungos
filamentosos e leveduras, após 40 dias de estocagem, permaneceram praticamente a mesma
do tempo 0, para todos os tratamentos, mostrando eficiência do ácido sórbico na inibição do
crescimento desses microrganismos (Tabela 1). Segundo BARBOSA-CÁNOVAS et al.
(1999), o ácido sórbico e seus sais são fundamentalmente efetivos contra fungos,
Staphylococcus aureus e coliformes.
Tabela 1- Análise microbiológica de massas de pastel intercaladas com filmes de PEBD (controle) e filmes ativos (25µm/7% de ácido sórbico e 70µm/3% de ácido
sórbico) no tempo 0 e com 40 dias de estocagem sob refrigeração (8±1°C).
Tempo 0 40 Dias Microrganismos
Controle 25µm/7% 70µm/3% Controle 25µm/7% 70µm/3%
Estafilococos coagulase positiva (UFC.g -
1)
< 1,0 x 102 < 1,0 x 102 < 1,0 x 102
< 1,0 x 102 < 1,0 x 102 < 1,0 x 102
Coliformes a 35°C
(NMP.g -1) 7,2 x 101 1,6 x 102 1,6 x 102
< 3,0 x 100 < 3,0 x 100
< 3,0 x 100
Coliformes a 45°C
(NMP.g -1) 9,0 x 100 3,7 x 101 3,7 x 101
< 3,0 x 100 < 3,0 x 100
< 3,0 x 100
Escherichia coli
(NMP.g -1) < 3,0 x 100 < 3,0 x 100
< 3,0 x 100
< 3,0 x 100 < 3,0 x 100
< 3,0 x 100
Fungos filamentosos e leveduras
(UFC.g -1)
< 1,0 x 102 < 1,0 x 1 02 < 1,0 x 102 3,0 x 102 7,0 x 102 6,0 x 102
A liberação do ácido sórbico dos filmes ativos com ácido sórbico para a massa de
pastel seguiu um modelo exponencial (Figura 2). Tal comportamento foi também observado
em várias pesquisas de difusão de solutos em polímeros (QUATARRA et al., 2000; CHOI et
al., 2001; CHOI et al.; 2004).
O filme ativo de 25µm/7% de ácido sórbico apresentou um comportamento mais
característico de filme ativo, com uma liberação lenta e gradual do aditivo para a massa de
pastel até atingir o equilíbrio, ou seja, o máximo de liberação, ocorreu aproximadamente, no
20o dia de estocagem do produto. Porém, o filme de 70µm/3% de ácido sórbico liberou o
conservante mais rapidamente, atingindo o máximo no 9o dia de estocagem,
aproximadamente. O consumidor, ao ingerir uma massa de pastel em contato com esses
filmes, terá consumido menor teor de conservante quanto menor for o tempo de estocagem do
produto, diferentemente da massa que tem o conservante adicionado diretamente no produto.
Figura 2 - Massa fracional de ácido sórbico liberada dos filmes ativos para a massa de pastel.
? Filme 25µm de espessura / 7% de ácido sórbico e ¦ Filme 70µm de espessura / 3% de ácido sórbico.
Os coeficientes de difusão do ácido sórbico nos filmes a 8±1°C, quando intercalados
em massa de pastel, apresentaram valores na ordem de 10-18m2.s-1, conforme mostrado na
Tabela 2. Esses valores foram aproximadamente 100 vezes menores que os registrados por
REDL et al. (1996), quando trabalharam com filmes de cera de abelha incorporados com
ácido sórbico. Vários autores, estudando a difusão em alimentos de umidade intermediária
(queijos, cremes e geléias), reportaram que o coeficiente de difusão do ácido sórbico a 25°C
alcançou valores na ordem de 10-10m2.s-1 (TORRES et al., 1985; GIANNAKOPOULOS e
GUILBERT, 1986). HAN e FLOROS (1998) estudaram a difusão de sorbato de potássio em
cubos de queijo mussarela e encontraram o valor de 6,74x10-11m2.s-1.
Observou-se que o coeficiente de difusão no filme 25µm/7% foi, aproximadamente, 10
vezes menor que no filme 70µm/3%. Provavelmente, a maior concentração do ácido na
matriz polimérica do filme de menor espessura promoveu a formação de pequenos cristais,
dificultando o processo de difusão. Contudo, o índice de migração do ácido sórbico nos
filmes não diferiu significativamente entre si (p = 0,05).
Tabela 2 - Caracterização dos filmes ativos quanto ao coeficiente de difusão do ácido sórbico (D), à massa de ácido sórbico retida no filme (Mr) e migrada para o alimento (Mm) e ao índice de migração do conservante (s). Filme
Ativo
D x 10-18
(m2.s-1)
Mr
(mg)
Mm
(mg) s
25µm/7% 9,11 a 6,69 9,53 0,59 a
70µm/3% 82,70 b 7,56 12,21 0,62 a
Nas colunas, médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si, pelo teste F (p=0,05).
As massas de pastel intercaladas com filmes ativos apresentaram concentração de
ácido sórbico abaixo do limite de 0,1% permitido pela legislação vigente (BRASIL, 1999).
Após 40 dias de estocagem sob refrigeração (Tabela 3), o filme 25µm/7% de ácido sórbico
liberou menor concentração do conservante (0,07%) para a massa de pastel em relação ao
filme 70µm/3% de ácido sórbico (0,09%).
No caso das massas analisadas, disponíveis no mercado, observou-se alta variação na
concentração de ácido sórbico. As massas comerciais A e C apresentaram-se fora dos padrões
da legislação vigente. Percebeu-se também que, apesar do rótulo da massa comercial E
declarar presença de sorbato de potássio, o mesmo não foi detectado pela análise
cromatográfica. Provavelmente, outro conservante foi adicionado nessa massa, visto que sua
vida de prateleira é rotulada como 60 dias.
Tabela 3 - Concentração de ácido sórbico presente nas massas de pastel intercaladas com filme ativo e em massas de pastel comerciais, provenientes de diferentes empresas de Minas Gerais.
Produto Analisado Concentração de Ácido
Sórbico na Massa (%) Validade
Massa-25µm/7% ác.sórbico 0,07 40 dias
Massa-70µm/3% ác.sórbico 0,09 40 dias
Massa Comercial A* 0,12 40 dias
Massa Comercial B* 0,05 60 dias
Massa Comercial C* 0,20 60 dias
Massa Comercial D* 0,09 60 dias
Massa Comercial E* 0 60 dias
* Rótulo declara presença de sorbato de potássio.
Obs: concentração máxima permitida pela legislação vigente - 0,1% como ácido sórbico.
4. CONCLUSÕES
A utilização de filme antimicrobiano incorporado com ácido sórbico, apresentou-se
como uma tecnologia alternativa que garante a segurança microbiológica das massas de pastel
e evita o consumo do aditivo acima do permitido pela legislação. O prolongado período de
migração do ácido para a massa no filme de 25µm, em relação ao de 70µm, caracteriza-o
como efetivamente ativo. Além disso, com esse filme a concentração de ácido sórbico na
massa, após o período de estocagem, foi 30% menor que o permitido pela legislação,
atendendo aos anseios dos consumidores de ingerir menos conservante.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONCLUSÃO GERAL
A maior eficiência dos filmes ativos antimicrobianos, obtida nesse trabalho, em
relação ao método de adição direta do conservante na massa, faz desses filmes uma tecnologia
alternativa que garante a segurança microbiológica das massas de pastel e evita o consumo do
aditivo acima do permitido pela legislação.
Nos estudos de difusão em sistema aquoso, o ácido sórbico teve a liberação máxima
do filme em um tempo que variou de 0,5 a 6 horas, a 25°C. Filmes com espessura de 25, 70 e
100 µm permitiram uma migração, em média, de 78, 68 e 50% do ácido incorporado para
água, respectivamente.
As massas de pastel intercaladas com filmes de 70µm, nas concentrações de 3, 4, 5 e
6% de ácido sórbico, apresentaram, estatisticamente, crescimento microbiano menor ou igual
ao da massa controle. Nas massas com filmes de 25µm contendo 6% de ácido sórbico, a
contagem de psicrotróficos foi inferior à da massa controle, porém as contagens de mesófilos
aeróbios e Staphyloccoccus spp. foram superiores em 1 ciclo log.
A atividade de água e o teor de umidade das massas não apresentaram diferenças
entre os tratamentos, ao longo do tempo de estocagem.
O prolongado período de migração do ácido para a massa no filme de 25µm, em
relação ao de 70µm, caracteriza-o como efetivamente ativo. Além disso, com esse filme a
concentração de ácido sórbico na massa, após o período de estocagem, foi 30% menor que o
permitido pela legislação, atendendo aos anseios dos consumidores de ingerir menos
conservante.