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A MULHER ADULTA UNIVERSITARIA: perspectiva de uma nova
profissão
Mirian Paludetto1 - Uni-FACEF Patrícia S.M.F. Espírito Santo2 - Uni-FACEF
Introdução Atualmente, em relação a um passado não muito distante, vivemos um
considerável aumento de expectativa de vida do ser humano que, paralelamente às
melhores condições físicas e materiais oferecidas, põe em relevo a necessidade de
reflexões sobre o significado maior que este prolongamento de vida oferece para as
pessoas e como vivê-lo.
Neste contexto surge também um interesse referente à condição da mulher, que
vivencia transformações profundas nas características de funções e papéis socialmente
desempenhados: se joga como numa busca para viver um novo período de maneira mais
profunda, mais plena, no preenchimento desse tempo a mais.
Esse artigo, decorrente do trabalho de conclusão de curso intitulado - O aumento
da longevidade e o significado de uma nova formação universitária para mulheres adultas
- relata o trabalho feito sobre uma das alternativas da mulher adulta: ingressar na
universidade após vivencias das mais diferentes percorridas até então.
Revisão de literatura.
O estudo, sob a ótica da Fenomenologia, constituiu-se de referenciais teóricos e
pesquisas existentes a respeito de envelhecimento, longevidade, sentido de vida,
conhecimento. Com respeito ao envelhecimento, longevidade e o sentido da vida foram
levados em conta estudos e teorias sobre os ciclos da vida de Erickson, Levinson e Gold
(revistos por BEE; MITCHELL,1986) com os períodos significativos que o ser humano
passa ao longo de sua trajetória. Esses estudiosos, no entanto, embora pioneiros na
consideração dos ciclos do desenvolvimento da vida adulta, apresentam poucas
especificidades após os quarenta anos de vida das pessoas.
1 Mirian Paludetto Oliveira, psicóloga formada pelo Centro Universitário de Franca Uni-FACEF 2 Patrícia do Socorro Magalhães Franco do Espírito Santo, psicóloga clínica/docente do Uni-FACEF
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Sabemos que o tempo de vida do ser humano é indeterminado e a realidade de
hoje apresenta um homem com mais anos de vida, inserido das mais diferentes formas na
nossa sociedade. Maffioletti (2005) postula um “envelhecimento sem velhice”, e que o
saber envelhecer repousa em parâmetros diferentes: o social e o cultural. Novais (1995,
apud VITOLA, 2004) salienta que o entender o envelhecimento exige uma capacidade de
sentir e de se envolver no prazer com seus interesses pessoais e dos outros.
A sociedade foi se transformando, a tecnologia surgindo e se aperfeiçoando e,
paralelamente, as expectativas de vida acompanhando seus movimentos, oferecendo
mais possibilidades a esse “jovem velho”.
A mulher adulta ainda tem a seu favor uma longevidade maior do que a do homem.
E a sociedade, por outro lado, inicia um "abrir portas", mesmo com dificuldade e
diferenciação, para a entrada da mulher no domínio publico, sem deixar de querer a
atuação no domínio privado.
Canoas (1997) mostra muita força, rapidez e perspicácia da mulher como centro da
família e das exigências de hoje pela sociedade e por ela mesma. O mundo mudou, a
família contemporânea mudou. Cada elemento dessa constituição procura seus objetivos,
seus interesses, seus caminhos. É Novaes (1995, apud VITOLA, 2004, p.180) quem diz
“que é preciso viver o aqui e agora projetado num futuro, quando um presente é bem
vivido, há experiência de um futuro valioso”.
A mulher se insere nesse projeto... Projeto atual de vida contemporânea, vindo de
um caminho trilhado de avanços e conquistas gradativas.
O desenvolvimento tecnológico e cientifico vem trazendo cada vez mais
complexidade ao mundo do trabalho, da relação e da competitividade, onde há uma
exigência cada vez maior de conhecimento, encontrado no ensino sistematizado que é
ministrado nas universidades.
E a mulher adulta contemporânea, que para lá que se dirige, procura
conhecimentos... mas conhecimento como busca de sentido ligado a uma nova profissão.
No que diz respeito às concepções do sujeito sobre si mesmo, é preciso saber que
o conhecimento é construído a partir da relação do sujeito com os objetos, das relações
interindividuais e das relações mais amplas do sujeito com o mundo.Todo individuo tem
sua identidade própria, mas também é produto do desenvolvimento da vida na Terra. A
sociedade atual esta se constituindo em uma sociedade da informação, em uma
sociedade do conhecimento, uma sociedade da aprendizagem que requer uma nova
leitura do mundo.
É nesse contexto de mundo que a mulher adulta universitária se coloca e pode
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vivenciar o aprender como processo contínuo “onde o ser humano deve ser o sujeito ativo
na construção do conhecimento” (BELLUZZO, 2004, p.150).
Balbinotti (2003) afirma que o adulto maduro que se propõe a novas escolhas
profissionais e que necessita novamente exercitar o auto-conhecimento, a informação, o
aprimoramento das habilidades deixadas muitas vezes adormecidas. É a oportunidade de
novas escolhas... de novas possibilidades...
Canoas (1997) diz que fazer cursos, voltar às universidades, deixou de ser
extensão e vê um maior número de mulheres da meia idade nas universidades no futuro.
E continua, afirmando que ser estudante na vida adulta é renascer para a juventude
intelectual, para a independência, para a realização e confirma o estudo como qualidade
de vida.
Metodologia Durante a pesquisa, a questão principal do trabalho foi: qual é o significado pessoal
desse estudo universitário para as mulheres adultas nele inseridas? Esta questão
principal nos levou a uma “atitude processual de investigação diante do desconhecido e
dos limites que a natureza e a sociedade impõem.” (DEMO, 2001, p.160).
O trabalho caracterizou-se por uma pesquisa de natureza qualitativa,
proeminentemente exploratória, com alguns aspectos descritivos. O desenvolvimento do
método foi norteado pelas perspectivas da Fenomenologia, buscando compreender o
sentido das atividades de estudo universitário para mulheres adultas que a elas se
dedicam.
Conforme Martins e Bicudo (2005, p.94), na perspectiva fenomenológica, “todas as
formas de objetividade implicam um relacionamento entre pesquisador e sujeito, portanto
foi possível exercer exigências objetivas sobre os significados. O sujeito é tido como um
atribuidor de significados e não um repetidor de idéias mecanicamente adquiridas.” E
ainda assinalam que, quanto ao método, a “forma mais adequada para tratar-se com
significados é procurar descobrir a realidade investigada tal como experienciada pelo
sujeito, a qual é exposta nas suas descrições”.
Para este trabalho, as colaboradoras foram cinco mulheres adultas com idade a
partir de quarenta anos, universitárias do Centro Universitário de Franca, SP (Uni-
FACEF), alunas distribuídas entre o 1.° e 9.° semestres do curso de Graduação em
Psicologia. As entrevistas foram semi-estruturadas, com inspiração fenomenológica, onde
o alvo da investigação foi chegar aos significados atribuídos pelas colaboradoras à
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situação pesquisada. Foram questões abertas, com flexibilidade para a abrangência de
seu conteúdo, para a ordem de sua apresentação e para as respostas das entrevistadas.
As questões foram delineadas procurando obter informações sobre o contexto de
vida dessas mulheres (aspectos da história e do mundo familiar e profissional); sobre as
percepções que elas têm dos conhecimentos e vivências proporcionados pelo curso que
estão fazendo e sobre suas expectativas de atuação social a partir desses estudos. Foi
possível entrever, nas falas das entrevistadas, o contexto social em que vivem, as
reflexões que são elaboradas no dia a dia da universidade, o relacionamento com jovens,
a inserção no ensino atual e aspectos da condição feminina atual.
Resultados A análise das respostas obtidas nos levou a estabelecer os seguintes aspectos ou
categorias de interpretação:
O curso universitário tem efeitos transformadores nas pessoas.
As entrevistadas deixaram bem claro em suas falas que o conhecimento
estruturado e a participação concreta com jovens são fonte de reflexões interiores, de
compreensão mutua e de aberturas para interpretações novas e de ações presentes.
Também, que o conhecimento se processa de uma forma contínua e que a velhice não é
um empecilho para se adquirir conhecimentos; o conhecimento, na idade madura,
acontece!!! O envelhecimento é mais um ciclo e cada vez com maior duração, onde estão
os conflitos, os anseios, os sonhos, as possibilidades e a capacidade de aprender
também. O ritmo é outro apenas porque não há como desprezar tantos anos vividos
anteriores a esta atual vivência, que é freqüentar uma universidade.
Um momento de escolhas: a opção por si própria.
As entrevistadas fizeram escolhas, durante toda a vida, em favor da família ou
porque culturalmente não haviam aprendido a pensar em si, em seus anseios, seus
sonhos. Seguem determinadas no curso, permitindo-se uma escolha na hora certa, para
entrarem num mundo do trabalho com uma nova profissão.
O ensino universitário: um resgatar de sonhos.
O significado de estar na universidade para as entrevistadas é, sobretudo, fruto de
sonhos. Sonhos realizados num resgatar de ilusões, num despertar de coisas
adormecidas, que ficaram a espera. Vivê-las num contexto novo, escolhido por desejo,
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com segurança e serenidade, é de uma satisfação imensurável. Seus valores pessoais,
sua teoria de vida, da vida que levou até agora traz na bagagem, suas vivências, suas
oportunidades, suas amizades, seus amores bem ou mal resolvidos, enfim o sentido que
as fazem viver expressos até nos silêncios da entrevistas.
O exercício profissional: uma realidade possível
Todas as entrevistadas pretendem continuar especializando-se para o mercado de
trabalho, frente a esta nova profissão, mesmo cientes da idade cronológica que têm, pois
sabem das possibilidades de hoje, de se viver mais, com qualidade de vida e com novos
planos.
A busca incessante de significados de todo ser humano, a realização de sonhos, o
sentido novo que se dá a vida é muito difícil de avaliar e, nas respostas das entrevistadas,
cada uma têm seus sonhos próprios, seus valores e suas necessidades a preencher
neste ciclo de vida vigente. As metas, no caso, a nova profissão, é um caminho viável e
real, visto no entusiasmo de cada fala.
Conclusão
O aumento de expectativa de vida do ser humano traz a necessidade de reflexão
sobre o tempo e o seu uso e seus significados.
Surge também um interesse referente à condição da mulher, sobretudo em razão
de sua trajetória histórica de transformações profundas nas características de suas
funções e papéis sociais.
O estudo na universidade surge como uma das alternativas para qualificar esse
tempo com o qual se depara a mulher madura, com a percepção que ela tem de uma
nova formação profissional, buscando detectar significados dessa vivência universitária.
O trabalho dedicou-se a essa questão e seus dados mostraram:
-o conhecimento implica movimentos internos que favorecem as atividades
individuais, a realização de sonhos, a possibilidade de independência econômica e o
prazer de aprender.
-o estudo universitário oferece condição de se estar atualizado quanto ao mercado
de trabalho, a realidade social e a imediata informação que possibilita atividades úteis à
comunidade.
-o ensino universitário na idade adulta, torna o conhecimento adquirido uma
oportunidade para se re-conhecer, se re-avaliar, considerando a idade madura um ciclo
ativo e de significados, pois, estar frequentando uma universidade pode permitir:
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- re-colocar-se na família como um elemento, ao mesmo tempo, individual e
coletivo, estabelecendo as prioridades do momento, equilibrando as outras funções que a
mulher exerce na rotina familiar e procurando a compreensão e colaboração dos demais.
- compreender e vivenciar uma rotina universitária, convivendo com jovens,
aceitando as diferenças individuais como um estágio para atuação profissional.
- sentir-se como modelo para outras pessoas que têm vontade de voltar à
universidade
- ajudar a esclarecer a respeito da vida da mulher adulta atual, no equilíbrio das
jornadas que se propõe a fazer.
- esclarecer-se sobre a continuidade de sonhos, desejos, objetivos e metas que na
idade adulta se fazem presentes.
- e, por fim, procurar lugar em ambiente mais jovem, para conceituar a velhice de
maneira produtiva, capaz, ativa e sonhadora.
O estudo teórico e os dados obtidos permitiram identificar motivos, apreender o
significado do ensino universitário para mulheres adultas e compreender a percepção das
transformações na vida delas.
Cabe salientar que a generalização desses dados só será cabível se somados a
muitos outros estudos, porém os resultados atingiram os objetivos propostos quanto ao
âmbito das entrevistadas, ao local e à situação investigada.
Referências
BALBINOTTI, Helena B. F. Adulto maduro: o pulsar da vida. Porto Alegre: W.S. Editor, 2003. BEE, Helen L.; MICHELL, Sandra K.A. A pessoa em desenvolvimento. São Paulo: Harbra, 1986. BELLUZO, Regina C.B. A aprendizagem ao longo da vida: um desafio para a educação na sociedade do conhecimento. In RIVERO, Cléia.M.L.; GALLO, Silvio. (orgs) A formação de professores na sociedade do conhecimento. Bauru, SP: Edusc, 2004. CANOAS, Cilene S. O olhar feminino sobre 2010. São Paulo: Texto Novo, 1997. DEMO, Pedro. Pesquisa: principio cientifico e educativo. 2 ed. São Paulo: Cortez,1991. MAFFIOLETTI, Virginia L R. Velhice e família: reflexões clinicas. Revista Psicologia e Profissão, n.3, v.25, 2005. MARTINS, Joel; BICUDO, Maria A V. A pesquisa qualitativa em psicologia. 5 ed. São Paulo: Centauro, 2005. VITOLA, Janice O. C. Sentido da vida e realização pessoal de pessoas de terceira idade. in SAMIERA, Jorge C. (org). Psicologia comunitária: estudos atuais. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2004.