Mistica Cidade de Deus Livro 5

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NO MISTRIO DA

TERCEIRO TOMO REDENj

IVRO ia, primeira discpula de Cristo

Determinou o Altssimo que a divina Senhora fosse a eira discpula de sua escola, a primognita da nova lei da i, o retrato fiel de sua idia, a matria dcil, a cera da onde se imprimisse a marca de sua doutrina e idade. Filho e Me seriam as duas tbuas (Ex 31,18) ladeiras da nova lei que vinha ensinar ao mundo.

JVRO |inas recomendaes de Jesus f . Meus amados filhos, Eu subo para o Pai de cujo seio g para salvar e redimir os homens. Por amparo, me, ^oladora e advogada, vos deixo em meu lugar a minha a quem deveis ouvir e obedecer em tudo. Assim como to dito que, quem v a Mim v a meu Pai (Jo 14,9), e qft me conhece, conhecer a Ele tambm; agora vos afguro que, quem conhecer minha Me, conhecer a Mim; 0jder-me- quem a Ela ofender, e me honrar, quem a Ela j^ar. Todos vs, e vossos sucessores, a tereis por me, slfrior e chefe. Ela esclarecer vossas dvidas e resolver vc&s dificuldades; n'Ela me encontrareis sempre que me pr,;urardes, porque n^Ela estarei at o fim do mundo.

Brasil

Quinto Livro - Capitulo QUINTO LIVRO

CONTM: A perfeio com que Maria Santssima copiava e imitava as operaes da alma de seu Filho amantssimo. Como Ele a informava sobre a lei da graa, artigos da f, sacramentos e dez mandamentos. A prontido e perfeio com que a Virgem tudo praticava. A morte de So Jos. A pregao de So Joo Batista. O jejum e batismo de nosso Redentor. A vocao dos primeiros discpulos e o batismo da Virgem Maria Senhora Nossa.

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Quinto Livro - Capitulo 1

CAPTULO 1 EM NAZAR, O SENHOR PREPARA MARIA SANTSSIMA COM SOFRIMENTO ESPIRIT1JAL. OBJETIVO DESSAS PROVAES. Convivncia entre Jesus e Maria. 712. Estabelecidos em Nazar, Jesus, Maria e Jos fizeram da humilde casa em que moravam um outro cu. Para descrever os mistrios que se passaram entre o Menino Deus e sua Me purssima, at Jesus completar doze anos, e depois ao comear sua pregao, seriam necessrios muitos livros e captulos. Ainda seria pouco, pela inefvel grandeza do assunto e pela minha pequenez de mulher ignorante.Com a luz que me deu esta grande Senhora, direi um pouco, e sempre ficar oculto o mais que se poderia dizer. Nesta vida, no possvel nem conveniente conhecer tudo, ficando reservado para a futura que esperamos. Maria, perfeita discpula de Cristo. 713. Aps alguns dias da volta do Egito a Nazar, determinou o Senhor exercitar sua Me Santssima, do modo que o fez em sua infncia * \ ainda que agora Ela estava mais forte no amor e na plenitude da sabedoria. Sendo infinito o poder 7 de Deus, imensa a matria de seu divino amor, e a capacidade da Rainha superior a todas as criaturas, ordenou o Senhor elev-la a mais alto estado de mritos e santidade. Verdadeiro mestre do espirito, quis 1 - est detento no 2 livro, capitulo 27 formar uma discpula to sbia e excelente, que depois fosse mestra consumada e vivo exemplar da doutrina de seu Mestre. Assim o foi Maria Santssima depois da Ascenso de seu Filho e Senhor nosso ao cu, conforme se tratar na terceira parte Era tambm conveniente e necessrio, para a honra de Cristo nosso Redentor, que a doutrina evanglica, com e na qual seria fundada anova lei da graa, to santa sem mcula e sem ruga (Ef 5, 27), ficasse autorizada em sua eficcia e virtude. Deveria existir alguma pura criatura, nela formada cabalmente, e em quem se encontrassem seus frutos de modo perfeito. Em seu gnero, seria o modelo para as demais criaturas seguir e imitar. Era razovel que esta criatura fosse a bem-aventurada Maria, por ser a

Quinto Livro - Capitulo 1

mais prxima do Mestre e Senhor da santidade, sua prpria Me. Maria, primeira discpula de Cristo 714. Determinou o Altssimo que a divina Senhora fosse a primeira discpula de sua

escola, a primognita da nova lei da graa, o retrato fiel de sua idia, a matria dcil, a cera branda onde se imprimisse a marca de sua doutrina e santidade. Filho e Me seriam as duas tbuas (Ex 31, 18) verdadeiras da nova lei que 2-n106, 183.209.

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VU..M >. i.iviu - lapiiuii, | vinha ensinar ao mundo. Para conseguir este altssimo fim, previsto pela divina sabedoria, manifestou-lhe todos os mistrios da lei evanglica e sua doutrina. Tudo tratou e conferiu com Ela, desde que voltaram do Egito at que o Redentor do mundo comeou sua pregao, como adiante veremos. Nestes ocultos sacramentos, empregaram o Verbo humanado e sua Me Santssima, os vinte trs anos que passaram em Nazar, antes da pregao. Como tudo isto referia-se divina Me, cuja vida os Evangelistas no escreveram, tambm o passaram em silncio. So Lucas narra apenas o que sucedeu quando Jesus, aos 12 anos, ficou em Jerusalm sem conhecimento dos pais (Lc 2, 42), e vou escrever adiante Durante todo este tempo, Maria Santssima foi a nica discpula de seu Filho Unignito. Alm dos inefveis dons de santidade e graa que at aquela hora lhe havia comunicado, infundiu-lhe nova luz e a fez participante de sua divina cincia. N'Ela depositou, gravando em seu corao, toda a lei da graa e doutrina que at o fim do mundo seria ensinada em sua Igreja. Tudo se realizou por modo to elevado, que no se pode explicar com raciocnios e palavras. Ficou a grande Senhora to douta e sbia, que seu magistrio bastaria para instruir muitos mundos, se os houvera. Deus oculta-se ao interior de Maria. 715. Para levantar no corao purssimo de sua Me Santssima este edifcio, cuja altura ultrapassava tudo o que no era Deus, o mesmo Senhor lanou-lhe os fundamentos, provando-a na fortaleza do amor e de todas as virtudes Para este fim, ausentou-se interiormente, retirando-lhe aquela viso de costume que lhe produzia contnuo jbilo e go/.o espiritual. Nilo dipae o Senhor a deixou, porm, est andosffiEla e n'Ela por inefvel modo grai cultou-se sua vista interior e suspeite os efeitos suavssimos que essa vis*:k produzia, ignorando a Senhora o moco a causa de tal mudana, pois Deus n lhe manifestou Alm disso, o MtfiwDeus, sem nada lhe explicar, mostra mais srio do que costumava, e fioavacfflos em sua companhia Retiravase mui".s vezes a ss e lhe dirigia poucas pvras, com grande sisudez e majestade 0 que mais a atligiufci ver eclip-sar-se aquele sol qng ^ refletia no cristalino espelho da humanidaiicsantssima e no qual via as operaes de sua alma. Agora, j nao as podia ver, para ir copiando aquela vivaimagetn.como fazia antesc

Receio ile Maria 716. Esta Kwidade, sem ser preparada por qualquer aviso, foi o cnsol cm que o ouro purisiimo do santo amor de nossa Rainha reno,ouseecresceu em quilates. Admirada do que, sem ser prevenida, lhe acontecu.bgo recorreu ao humilde conceito que tju de Si, julgando-se ind i gn a d a v i so qp Senhor lhe ha via concedido Tudo alnlum ingratido e pouca coiiespondncque tena dado ao Altssimo e Pai das mencrdias, em re-tnbuiao dos benefbs que recebera de sua generosidade No sentia a prikntissima Rainha que lhe faltassem os anrihos ordinrios do Senhor, mas o ra;K> de o ter desgostado, ou de have:cometido alguma falta em seu servio qtazer, traspassava-lhe o candidssimo orao com uma flecha dc dor. No sabe pensi de outro modo o verdadeiro e nobre anj Dedica-se todo0

Quinto Livro - Capitulo 10Quinto Livro Capitulo 10

ao gosto e bem do amado, e quando o imagina sem este gosto, ou receia que o descontentou, no sabe descansar fora do agrado e satisfao do amado. Estas amorosas angstias da divina Me eram de suma complacncia para seu Filho santssimo que se enamorava sempre mais de sua nica e dileta, cujos temos afetos lhe feriam o corao (Cant 4,9). No obstante com amoroso artifcio, quando a doce Me o procurava (Cant 3,1) e lhe queria falar, mostrava-se sempre severo e esquivo. Este misterioso retraimento fazia o incndio do castssimo corao da Me levantar a chama, como a labareda da fogueira reagindo ao frio do orvalho. Virtudes de Maria 714. A cndida pomba fazia hericos atos de todas as virtudes: humilhava-se mais que o p; venerava seu Filho Santssimo com profunda adorao, bendizia ao Pai e lhe dava graas por suas admirveis obras e benefcios, confor-mando-se com sua divina disposio e beneplcito; procurava conhecer sua vontade santa e perfeita para cumpri-la em tudo; abrasava-se no amor, f e esperana. Em todos estes atos, aquele nardo fragantssimo exalava suave perfume para o Rei dos reis (Cant 1,11) que descansava no corao de Maria santssima, como em seu tlamo florido e perfumado (Cant 1,16). Ela persistia em contnuas splicas, com gemidos e repetidos suspiros do ntimo do corao. Derramava sua orao na presena do Senhor, e expunha sua tribulao ante o divino acatamento (SI 1413)- Muitas vezes, vocalmente, lhe dizia palavras de incomparvel meiguice e amorosa dor* Desolao de Maria 715. Dizia: Criador de todo o universo,Deus eterno e poderoso, infinito em sabedoria e bondade, incompreensvel no ser e perfeio: sei que meu gemido no se esconde vossa sabedoria (SI 37,10) e conheces, bem meu, a ferida que tras-passa meu corao. Se, como intil serva faltei a vosso servio e gosto, porque, vida de minha alma, no me afligis e castigais com todas as dores e penas da vida mortal em que encontro, em vez de me mostrardes vossa face com a severidade merecida por quem vos ofendeu? Quaisquer outros sofrimentos seriam menos penosos para mim. Meu corao, porm, no pode suportar ver-vos contristado, porque s vs,

Senhor, sois minha vida, meu bem, minha glria e meu tesouro. De tudo o que criastes (SI 72,25), meu corao estima e minha alma guarda a lembrana, s para enaltecer vossa grandeza e vos reconhecer por Senhor, e Criador de tudo. Que farei ento, meu bem e meu Senhor, se me falta a luz de meus olhos (SI 37,11), o alvo de meus desejos, o norte de minha peregrinao, a vida que me d existncia, e o ser que me alimenta e sustenta? Quem abrir fontes em meus olhos(Jer9,l),parachoraremono me haver aproveitado de tantos bens recebidos, e de ter sido to ingrata na retribuio que devia? Senhor meu, minha luz, meu guia, meu caminho e meu mestre, que com vossas obras excelentes e perfeitssimas governais as minhas, frgeis e tbias: se me escondeis este modelo, como regularei minha vida a vosso gosto? Quem me conduzir com segurana neste obscuro desterro? Que farei? A quem irei se me recusais vosso amparo? Dilogo com os Anjos 719. Com este desabafo ainda no descansava a serva ferida, mas sedenta (SI 41, 2) das fontes purssimas da graa, dirigia-se tambm aos seus santos anjos, tendo com eles prolongados colquios.

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Quinto Livro - Capitulo 1

sem nada lhe explicar, mostrou-se vinha ensinar ao mundo. Para conseguir este altssimo mais sno do que costumava, e fim, previsto pela divina sabedoria, ficava menos em sua companhia. manifestou-lhe todos os mistrios Retirava-se muitas vezes a ss e da lei evanglica e sua doutrina. lhe dirigia poucas palavras, com Tudo tratou e conferiu com Ela, grande sisudez c majestade. desde que voltaram do Egito at O que mais a afligiu foi ver que o Redentor do mundo comeou eclipsar-se aquele sol que se sua pregao, como adiante refletia no cristalino espelho da veremos. humanidade santssima e no qual Nestes ocultos sacramentos, via as operaes de sua alma empregaram o Verbo humanado e Agora, j no as podia ver, para ir sua Me Santssima, os vinte trs copiando aquela viva imagem, anos que passaram em Nazar, como fazia antes antes da pregao Como tudo isto referia-se divina Me, cuja vida os Evangelistas no escreveram, Receios de Maria tambm o passaram em silncio. So Lucas narra apenas o que 716. Esta novidade, sem ser sucedeu quando Jesus, aos 12 anos, preparada por qualquer aviso, foi o ficou em Jerusalm sem crisol em que o ouro purssimo do conhecimento dos pais (Lc 2,42), e santo amor de nossa Rainha vou escrever adiante * ^. renovou-se e cresceu em quilates. Durante todo este tempo, Admirada do que, sem ser Maria Santssima foi a nica prevenida, lhe acontecia, logo discpula de seu Filho Unignito. recorreu ao humilde conceito que Alm dos inefveis dons de tinha de Si, julgando-se indigna da santidade e graa que at aquela viso que o Senhor lhe havia hora lhe havia comunicado, concedido. Tudo atribuiu infundiu-lhe nova luz e a fez ingratido e pouca correspondncia participante de sua divina cincia. que teria dado ao Altssimo e Pai N'Ela depositou, gravando em seu das misericrdias, em retribuio corao, toda a lei da graa e dos benefcios que recebera de sua doutrina que at o fim do mundo generosidade. seria ensinada em sua Igreja. Tudo No sentia a prudentssima se realizou por modo to elevado, Rainha que lhe faltassem os que no se pode explicar com ra- carinhos ordinrios do Senhor, ciocnios e palavras. Ficou a grande mas o receio de o ter desgostado, Senhora to douta e sbia, que seu ou de haver cometido alguma magistrio bastaria para instruir falta em seu servio e prazer, traspassava-lhe o candidssimo muitos mundos, se os houvera. corao com uma flecha de dor. No sabe pensar de outro modo o verdadeiro e nobre amor. Deus oculta-se ao interior de Dedica-se todo Maria.3

715. Para levantar no corao purssimo de sua Me Santssima este edifcio, cuja altura ultrapassava tudo o que no era Deus, o mesmo Senhor lanou-lhe os fundamentos, provando-a na fortaleza do amor e de todas as virtudes. Para este fim, ausentou-se interiormente, retirando-lhe aquela viso de costume que lhe produzia contnuo jbilo 3-n741 e gozo espiritual. No digo que o Senhor a deixou, porm, estando com Ela e n'Ela por inefvel modo e graa, ocultou-se a sua vista interior e suspendeu os efeitos suavssimos que essa viso lhe produzia, ignorando a Senhora o modo e a causa de tal mudana, pois Deus nada lhe manifestou Alm disso, o Menino Deus, 11

Quinto Livro - Captulo 1 ao gosto e bem do amado, e quando o imagina sem este gosto, ou receia que o descontentou, no sabe descansar fora do agrado e satisfao do amado. Estas amorosas angstias da divina Me eram de suma complacncia para seu Filho santssimo que se enamorava sempre mais de sua nica e dileta, cujos temos afetos lhe feriam o corao (Cant 4,9). No obstante com amoroso artifcio, quando a doce Me o procurava (Cant 3,1) e lhe quena falar, mostrava-se sempre severo e esquivo. Este misterioso retraimento fazia o incndio do castssimo corao da Me levantar a chama, como a labareda da fogueira reagindo ao frio do orvalho. Virtudes de Maria 717. A cndida pomba fazia hericos atos de todas as virtudes: humilhava-se mais que o p; venerava seu Filho Santssimo com profunda adorao; bendizia ao Pai e lhe dava graas por suas admirveis obras e benefcios, confor-mando-se com sua divina disposio e beneplcito; procurava conhecer sua vontade santa e perfeita para cumpri-la em tudo; abrasava-se no amor, f e esperana. Em todos estes atos, aquele nardo fragantissimo exalava suave perfume para o Rei dos reis (Cant 1, II) que descansava no corao de Maria santssima, como em seu tlamo florido e perfumado (Cant 1,16). Ela persistia em contnuas splicas, com gemidos e repetidos suspiros do ntimo do corao. Derramava sua orao na presena do Senhor, e expunha sua tribulad ante o divino acatamento (SI 1413). Muitas vezes, vocalmente, lhe dizia palavras de in-comparvel meiguice e amorosa dor* Desolao de Maria 718. Dizia: Criador de todo o universo, Deus etemo e poderoso, infinito em sabedoria e bondade, incompreensvel no ser e perfeio: sei que meu gemido no se esconde vossa sabedoria (SI 37,10) e conheceis, bem meu, a ferida que tras-passa meu corao. Se, como intil serva faltei a vosso servio e gosto, porque, vida de minha alma, no me afligis e castigais com todas as dores e penas da vida mortal em que encontro, em vez de me mostrardes vossa face com a severidade merecida por quem vos ofendeu? Quaisquer outros sofrimentos seriam menos penosos para mim Meu corao, porm, no pode suportar ver-vos contristado, porque s vs, Senhor, sois minha vida, meu bem, minha glria e meu tesouro. De tudo o que criastes (SI 72,25), meu corao estima e minha alma guarda a lembrana, s para enaltecer vossa grandeza e vos reconhecer por Senhor, e Criador de tudo. Que farei ento, meu bem e meu Senhor, se me falta a luz de meus olhos (SI 37,11), o alvo de meus desejos, o norte de minha peregrinao, a vida que me d existncia, e o ser que me alimenta e sustenta? Quem abnr fontes em meus olhos(Jer9, l),parachorarem ono me haver aproveitado de tantos bens recebidos, e de ter sido to ingrata na retribuio que devia? Senhor meu, minha luz, meu guia, meu caminho e meu mestre, que com vossas obras excelentes e perfeitssimas governais as minhas, frgeis e tbias: se me escondeis este modelo, como regularei minha vida a vosso gosto? Quem me conduzir com segurana neste obscuro desterro? Que farei? A quem irei se me recusais vosso amparo? Dilogo com os Anjos

719. Com este desabafo se tambm aos seus santos anjos, ainda no descansava a serva tendo com eles prolongados ferida, mas sedenta (SI 41, 2) das colquios. fontes purssimas da graa, dirigia-

Quinto Livro - Capitulo IQuinto Livro Capitulo I

Quinto Livro - Capitulo I

Quinto Livro - Captulo 1Quinto Livro - Captulo 1

Dizia-lhes: Prncipes soberanos, ntimos cortesos do supremo Rei, amigos seus e custdios meus, peo-vos pela vossa segura felicidade de estar sempre contemplando seu divino rosto (Mt 18,10) na luz inacessvel (Job 10, 9): dizei-me a razo de seu desgosto, caso a tenha Clamai por mim em sua real presena, para que por vossos rogos me perdoe, se por ventura o ofendi. Lembrai-vos, amigos, que sou p (Job 10, 9), ainda que formada por suas mos e marcada por sua imagem: que Ele no se esquea para sempre desta pobre (SI 73,19), pois humildemente o confessa e enaltece. Pedi que d alento a meu temor, e vida a quem no a tem fora de seu amor. Dizeime de que modo, e com que lhe darei gosto e poderei merecer a alegria de sua face. Responderam-lhe os anjos: Rainha e Senhora nossa, grande vosso corao para no se deixar vencer pela tribu-lao (SI 4, 2), e ningum como vs tem certeza de quo perto se encontra o Senhor do aflito que o chama (SI 90, 15). Sem dvida, est atento a vosso afeto e no despreza vossos amorosos gemidos (SI 37, 10) Sempre o achareis como piedoso Pai, e a vosso Unignito, como afetuoso filho aceitando vossas lgrimas. Ser, porventura, atrevimento -replicava a amorosa Me - ir sua presena? Ser muita ousadia pedir-lhe, prostrada, que me perdoe, se o desgostei com alguma falta? Que farei? Que remdio acharei para meus receios? No desagrada a vosso Rei - respondiam os santos prncipes - o corao humilde (SI 50,19); nele descansa seu olhar de amor (SI 101,18) e nunca se desgosta com os clamores de quem tudo faz com amor. Deus sc compraz no amor de sua Me 720. Os santos anjos entrelinham e consolavam sua Rainha e Senhora com estas respostas de sentido vago,

expressando o singular amor e agrado do Altssimo por suas afetuosas tristezas. No lhe davam maiores explicaes, porque c mesmo Senhor queria nela ter suas delcias (Prov 8,31). Sendo verdadeiro homem, sei Filho santssimo, chegava a enternecer-se pela natural compaixo de a ver tc aflita e chorosa. Era o efeito do natural amor que lhe dedicava como a Me, unicamente, sem Pai. Apesar disso, escondia a compaixo sob a seriedade do semblante. s vezes, quando a amantissinn Senhora o chamava para a refeio, de morava-se, ou ia sem a olhar nem lhe dizer palavras. Nestas ocasies, a grande Senhor; derramava muitas lgrimas e representav a seu Filho santssimo as amorosas angstias de seu corao. Procedia, porm, con tanta medida e peso, com atos de tant prudncia e sabedona que, se Deus pu desse se admirar (como certo que nc pode), ficaria encantado por encontrai numa pura criatura tal plenitude de santi dade e perfeio. O infante Jesus, enquanto ho mem, recebia especial gozo e com placncia, ao ver to bem aproveitado: em sua Virgem Me, os efeitos de sei divino amore graa. Por sua vez, os san tos anjos o glorificavam com cntico: de louvor, por este admirvel e inaudite prodgio de virtude. Exerccios de Maria, pela manh e noite 721. Para o infante Jesus repousa e dormir, sua amorosa Me pedira ao pa triarca So Jos lhe fizesse uma tarima sobre a qual havia apenas uma coberti grossa Desde que o Menino Deus deixoi o bero, quando ainda se encontravam nc Egito, no quis outro leito, nem mai: agasalho. Naquele tarima no se deitava 4 - Tarima - estrado cm forma 1616

Quinto Livro - Captulo 1

de cama

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Quinto Livro - Capitulo 18Quinto Livro Capitulo 18

nem sempre a usava s vezes, sentava-se naquele spero leito e se recostava num travesseiro simples, de l, que a Senhora lhe havia feito. Quando Ela lhe quis preparar mais confortvel cama, disse-lhe o Filho santssimo que s na cruz se deitaria. Com seu exemplo, ensinaria ao mundo (1 Ped) que no se entrar no eterno descanso atravs dos deleites de Babilnia, e que na vida mortal, o padecer alvio. Desde esta ocasio, a divina Senhora, com nova ateno, imitou-o neste modo de descansar. Ao chegar a hora de se recolher, costumava a Mestra da humildade prostrar-se diante de seu Filho santssimo sentado em sua tarima. Todas as noites pedia-lhe perdo, por no o ter servido naquele dia com mais cuidado, nem de ser to agradecida a seus benefcios como devia. Agradecialhe novamente por tudo e, com muitas lgrimas, o confessava por verdadeiro Deus e Redentor do mundo. No se levantava do solo, at, que seu Filho a mandasse e lhe desse a bno. O mesmo exerccio fazia pela manh, para que o divino Mestre lhe ordenasse o que devia fazer naquele dia em seu servio. Com muito amor, Jesus a atendia. Sofrimento e receios de Maria 722. Nesta ocasio em que provava sua Me, mudou o estilo e o semblante. Quando a inocente Me chegava para ador-lo, conforme costumava, ainda que acrescentasse suas lgrimas e ntimos gemidos, Jesus no lhe respondia palavra e depois de ouvi-la, muito srio, mandava-a retirar-se. No h ponderao que chegue a manifestar o que sentia o purssimo corao da amorosa Me ao ver seu Filho, Deus e homem verdadeiro, to mudado no semblante, to grave e parco nas palavras, to diferente do que costumava se mostrar com Ela. Examinava a divina Senhora seu interior, esquadrinhava a ordem, condies e circunstncias de seus atos; dava muitas voltas com a ateno e memria pela celestial oficina de sua alma e potncias. No podia encontrar nenhuma treva porque tudo era luz, santidade, pureza e graa. No obstante, sabia que aos olhos de Deus nem os cus, nem as estrelas so puros como disse Job (Job 15, 25: 4, 15, 5 e 18) e encontram o que repreender ainda nos espritos anglicos.

Temia, portanto, a grande Rainha se, por acaso, ignorava algum defeito que a Deus era conhecido. Com este receio sofria deliquios de amor, o qual sendo forte como a morte (Cant 8, 6), nesta nobilssima emulao causadoresdeinextinguivel pena Durou muitos dias para nossa Rainha, este exerccio, com que seu Filho santissimo.com incomparvel gozo, a provou e elevou ao estado de Mestra universal das criaturas. Remunerou a lealdade e fineza de seu amor com abundante e copiosa graa, alm da muita que j possua. Depois aconteceu o que direi no captulo seguinte. DOUTRINA DA RAINHA DO CU, MARIA SANTSSIMA. Cristo Mestre, sempre e para todos 723. Minha filha, vejo-te com desejo de ser discpula de meu Filho santssimo, assim como eu o fui, segundo entendeste e escreveste. Para teu consolo, digo-te que o Senhor no exercitou seu ofcio de Mestre s no tempo que, em forma humana, ensinou sua doutrina conservada nos Evangelhos (Mt 28,20) e em sua Igreja/Desempenha o mesmo ofcio com as almas sempre, at o fim do mundo, admoestando e inspirando o melhor e mais santo para o praticarem Isto faz com todas, absolutamente, ainda

Quinto Livro - Captulo 1

que conforme sua divina vontade e a ateno e disposio de cada uma, recebam maior ou menor ensinamento (Mt 11, 15). Se desta verdade sempre te tivesses aproveitado, sabes por longa experincia que o Altssimo Senhor no se dedigna ser mestre do pobre, e ensinar ao desprezado e pecador, se quiserem ouvir sua doutrina interior. Como agora desejas saber quais as disposies que Deus requer de tua parte, para fazer contigo o ofcio de Mestre, no grau que teu corao ambiciona, em nome do mesmo Senhor quero dize-lo e te garantir: se te encontrar disposta, comunicar tua alma, como verdadeiro e sbio artfice e mestre, sua sabedoria, luz e doutrina com grande plenitude. Disposies para ser discpulo de Cristo 724. Em primeiro lugar, deves ter a conscincia limpa e tranqila, com incessante cuidado para no cair em culpa ou imperfeio, por sucesso algum deste mundo. Junto com isto, deves abstrair-te de todas as coisas terrenas, de modo que (como em outras vezes tenho admoestado) no fique em ti imagem e memria de coisa alguma visvel, mas apenas o corao simples, sereno e claro. Quando tiveres o interior assim despojado e livre de espcies terrenas, e das trevas que produzem, ento ouvirs o Senhor. Quando inclinares o ouvido, (SI 44,11) como filha carssima que esquece seu povo da v Babilnia, e a casa de seu pai Ado, e de todos os vestgios de culpa, afirmo-te que ento Deus te falar palavras de vida eterna (Jo 6, 69). Importa que imediatamente o escutes com reverncia e humilde gratido, e ponhas sua palavra em prtica, com exatido e diligncia. A este grande Senhor e Mestre das almas, nada se pode esconder (Heb 4,13) e quando a criatura ingrata e negligente em obedecerlhe e ser reconhecida a to alto favor, retira-se com desgosto. No devem as almas pensar que, sempre que o Senhor delas se esquiva, lhes acontece o mesmo que aconteceu a mim. Comigo foi sem culpa de minha parte, e com excessivo amor, enquanto nas

demais criaturas com tanto pecados, grosserias, ingratides e negligncias, costuma ser pena e merecido castigo. Sinais da verdadeira doutrina 725. Atende, pois, minha filha, e adverte tuas omisses e faltas em fazer digna estimao da doutrina e luz que em particular, tens recebido do divino Mestre e de minhas admoestaes. Modera teus infundados temores, e no duvides mais se o Senhor quem te fala e instrui, pois a prpria doutrina d testemunho de sua verdade e te assegura quem seu autor. Ela santa, pura e perfeita; ensina o melhor e repreende qualquer defeito, por mnimo que seja. Alm de tudo isto, aprovada por teus mestres e pais espirituais. Quero tambm que tenhas o cuidado imitando-me no que escreveste, de vir a mim todas as noites e manhs, sem falta, j que sou tua mestra. Humildemente me dirs tuas culpas, reconhecendo-as, condita, para que Eu seja tua intercessora junto ao Senhor, e comoMe te alcance o seu perdo. Alm disso, logo que cometes alguma falta ou imperfeio, reconhece-a prontamente, chora-a e pede perdo ao Senhor, com desejo de te emen-dares. Se fores atenta e fiel nisto que te mando, sers discpula do Altssimo e minha, como desejas. A pureza da alma e a graa so a mais eminente e adequada disposio, para receber as influncias da luz divina e cincia infusa que o Redentor do mundo comunica aos que so seus verdadeiros discpulos.

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Quinto Livro - Captulo 1Quinto Livro Captulo 1

Vuimo Livro - v-apiiuiu .

CAPITULO 2 MARIA RECEBE NOVAMENTE A VISO DA ALMA DE SEU FILHO. ESTE COMEA INSTRU-LA NA LEI DA GRAA. O amor divino 726. Grandes e longas exposies tm sido feitas pela inteligncia humana, sobre a natureza, os predicados do amor, suas causas e efeitos. Para eu explicar o santo e divino amor de Maria Santssima Senhora nossa, seria necessrio acrescentar muito a tudo o que j foi dito e escrito em matria de amor. Depois do amor que a alma santssima de Cristo, nosso Senhor possui, nenhum houve to nobre e excelente, quer nas criaturas humanas, quer nas anglicas, como aquele que teve e tem a divina Senhora, merecendo o ttulo de Me do amor formoso (Ecli 24,24). Para todos, o nico objeto do amor santo Deus, em si mesmo e nas demais coisas por Ele criadas. Em cada pessoa, porm, as causas que geram este amor e os efeitos que produzem, so muito diferentes. Em nossa Rainha alcanou o supremo grau possvel em pura criatura. Nela foram sem medida a pureza de corao, a f, a esperana, o temor santo e filial, a cincia, a sabedoria, as graas, a memria e apreo delas, e todas as demais causas que pode ter o amor divino. Esta chama no se ateia ao modo do amor tolo e cego que entra pela estul-tice dos sentidos e depois no encontra sua razo e sentido. O amor santo e puro, entra pelo conhecimento nobilssimo, pela fora de sua bondade infinita e inexplicvel suavidade. Deus sabedoria e bondade e quer ser amado no s corr doura, mas tambm com sabedoria < cincia do que se ama. Causas e efeitos do amor 727. Estes amores tm alguma se melhana, mais nos efeitos do que na causas. Se alguma vez vencem o corac e dele se apoderam, saem com di ficuldade. Daqui nasce a dor que sente < corao humano quando encontra frieza indiferena e fuga em quem ama, pois, tai; atitudes obrigam-no a se despojar d( amor. Como este se apodera tanto do co rao, e no se conforma facilmente em ( deixar, mesmo que se lhe proponha a: razes, este duro conflito vem a lhe causa dores de morte. No amor cego e mundano, isto i insnia e loucura. No amor divino, porm grande sabedoria. Onde no se poden encontrar motivos para deixar de amar, i maior prudncia procur-los para mai intimamente amar e atrair o Amado Como nesta busca a vontade emprega tod sua liberdade, quanto mais livrementi ama ao sumo Bem, tanto menos livre fie para o deixar de amar. Nesta gloriosa por fia, sendo a vontade a senhora e rainha d alma, vem a se tomar feliz escrava de sei amor, sem querer, e sem quase poder fugi a esta livre sujeio. Nesta voluntria e forte doao d si, quando v o sumo Bem se esquivai

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sofre dores e delquios de morte, como a quem lhe falta a fonte da vida, pois s vive de amar e saber-se amada. O martrio de amor 716.Daqui se entender algo do muito que padeceu o ardente e purssimo corao de nossa Rainha com a ausncia do Senhor, velando-se o objeto de seu amor e deixando-a sofrer tantos dias com o receio de O haver desgostado. Sendo Ela um compndio quase imenso de humildade e amor divino, e no sabendo a causa daquela severidade e afastamento de seu Amado, veio a sofrer o martrio mais doce e mais doloroso, jamais compreendido por inteligncia humana ou anglica. S Maria santssima, a Me do santo amor (Ecli 24,24), chegou ao mximo que pode caber em pura criatura. S Ela pde sofrer este martrio que ultrapassou a todos os tormentos dos mrtires e penitncias dos confessores. Nesta ocasio, Maria esqueceu e considerou como nada todas as coisas criadas e visveis, at encontrar a graa e o amor de seu santssimo Filho e Deus, que temia ter perdido, embora sempre o possusse. No se pode explicar com palavras o cuidado, solicitude, desvelo e diligncias que empregou para comover seu querido Filho e o eterno Pai. Orao de Maria 717.Passaram-se trinta dias nesta prova, e pareciam muitos sculos, para quem no podia viver um s momento sem a satisfao de seu amor e do seu Amado. A nosso modo de entender, o corao do infante Jesus j no podia resistir fora do amor por sua querida Me, pois Ele tambm sofria suave violncia em mantla to aflita e suspensa. Certo dia, entrou a humilde e soberana Rainha presena do Menino Deus e lanando-se a seus ps, com ntimos suspiros e lgrimas, lhe disse: Dulcissimo amor e bem meu, que valor tem a insigni-ficncia deste p e cinza, comparada ao vosso imenso poder? Que representa toda a misria da criatura para a vossa bondade sem fim? Em tudo, ultrapassais nossa baixeza, e no imenso plago de vossa misericrdia afogam-se nossas imperfeies e defeitos Se no acertei a vos servir como reconheo que devo, castigai minhas negligncias e perdoai-as, porm, veja eu, Filho e Senhor meu, a alegria de vossa face que minha salvao e aquela suspirada luz que me dava vida.

Aqui est a pobre apegada ao p, e no me levantarei de vossos ps at que veja o claro espelho em que minha alma se contemplava. Fim da provao 730. Estas e outras razes cheias de sabedoria e de ardentssimo amor, exps nossa grande Rainha humilhada diante de seu Filho santssimo. Jesus que, mais do que a mesma Senhora, desejava restitu-la a suas delicias, com muito agrado, lhe disse: Minha Me, levantai-vos. Estas palavras, pronunciadas por quem a Palavra do Eterno Pai, teve tanta eficcia que, instantaneamente, transformou e elevou a divina Me em altssimo xtase no qual viu a divindade abstrativamente. Nesta viso, o Senhor a recebeu com dulcssimos abraos e palavras de Pai e Esposo, transportando-a das lgrimas ao jbilo, do sofrimento ao gozo e da amargura suavssima doura. Manifestou-lhe Deus grandes mistrios de seus altos desgnios sobre a nova lei evanglica. Para escreve-la toda em seu purssimo corao, destinou-a a santssima Trindade como primognita e primeira discpula do Verbo humanado. Ela tomar-se-ia o padro por onde seriam modelados todos os santos: Apstolos, Mrtires, Doutores, Confessores, Virgens e os demais justos da nova Igreja e lei da graa que o Verbo estabeleceria pela redeno humana. Maria descrita no livro Eclesistico 731. A este mistno corresponde tudo o que a divina Senhora disse de Si mesma, como a santa Igreja lhe aplica, no captulo 24 do Eclesistico, sob o tipo da sabedoria divina. No me detenho em explicar este captulo, pois conhecido o fato que vou descrevendo, pode-se compreender como se aplica nossa grande Rainha, tudo quanto o Esprito Santo diz ali em nome d'Ela. Basta referir um pouco do texto, para que todos entendam parte de to admirvel mistrio (Ecli 24 desde o v. 5). "Eu sa (diz esta Senhora), da boca do Altssimo, a primognita antes de todas as criaturas. Eu fiz com que nascesse nos cus uma luz inextinguvel, e como uma nvoa cobri toda a terra. Eu habitei nos lugares mais altos, e o meu trono sobre uma coluna de nuvem Eu sozinha fiz o giro do cu, e penetrei a profundidade do abismo, andei sobre as ondas do

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mar, e percorri toda a terra; e em todos os povos, e entre todas as naes tive a primazia. E sujeitei com o meu poder os coraes de todos os grandes e pequenos, e entre todos estes povos busquei um lugar de repouso, e uma habitao na herana do Senhor. Ento o Criador de tudo deu-me os seus preceitos, e falou-me; aquele que m criou descansou no meu tabemculo, e disse-me: habita em Jac, e possui a tua herana em Israel, e lana razes entre os meus escolhidos. Eu fui criada desde o princpio, e antes dos sculos, e no deixarei de existir em toda a sucesso das idades, e exerci diante dele o meu ministrio na morada santa. Eu fui assim firmada em Sio, e repousei na cidade santa, e em Jerusalm est o meu poder. Tomei razes no meio de um povo glorioso, e nesta poro do meu Deus, que a sua herana, e na assemblia dos santos, estabeleci a minha assistncia." Maria, reservatrio da sabedoria 732. Continua o Eclesistico outras excelncias de Maria santssima, e volta a dizer (Ecli 24, 22): "Estendi os meus ramos como o terebinto, e os meus ramos so ramos de honra e de graa. Como a vide lancei flores dum agradvel perfume e as minhas flores do frutos de honra e de honestidade. Eu sou a Me do amor formoso, e do temor, e da cincia, e da santa esperana. Em mim h toda a graa do caminho e da verdade, em mim toda a esperana da vida e da virtude. Vinde a mim todos os que me desejais, e

Aquele que me ouve no ser confundido, e os que se guiam por mim no pecaro. Aqueles que me tomam conhecida tero a vida eterna." At aqui, basta esta parte do captulo do Eclesistico. O corao piedoso sentir logo tanta abundncia de mistrios em Maria santssima, que a fora oculta deles atrair seu corao para esta senhora e Me da graa. Descobrir nessas palavras, a inexplicvel grandeza e excelncia a que a elevou a doutrina e magistrio de seu Filho santssimo, por decreto da beatssima Trindade. Esta Princesa foi a verdadeira arca do Novo Testamento (Apoc 11, 19). Da enchente de sua sabedoria e graa, como de um mar imenso, transbordou tudo quanto receberam e recebero os demais santos, at o fim do mundo. Frutos da provao 733. Voltando de seu xtase, a divina Me adorou novamente seu Filho santssimo e lhe pediu a perdoasse se, no seu servio, cometera alguma negligncia. Jesus f-la levantarse donde se encontrava prostrada, e lhe disse: Minha Me, estou muito satisfeito com vosso corao e quero que o dilateis e prepareis novamente para receber meus testemunhos. Em cumprimento da vontade de meu Pai, escreverei em vosso peito a doutrina evanglica que vim ensinar ao mundo. E vs, Me a poreis em prtica como eu desejo Respondeu a Rainha purssima: Filho e Senhor meu, ache eu graa a vossos olhos; dirigi minhas potncias pelos retos caminhos (SI 26,11) de vosso beneplcito. Falai, Senhor meu, que vossa serva ouve (1 Rs 3,10), e vos seguir at amorte. Nesta conferncia entre o Menino Deus e sua Me santssima, foi mani-

enchei-vos dos meus frutos; porque o mei esprito mais doce do que o mel, e i minha herana mais suave que o favo di mel. A minha memria durar por toda i srie dos sculos. Aqueles que me comem tero mais fome; e os que me bebem tero mais sede.

festado de novo grande Senhora, todo o interior da alma santssima de Cristo, com suas

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operaes Desde esta ocasio, este favor cresceu, quer da parte do sujeito que era a divina discpula, como da parte do objeto que lhe comunicou mais clara e elevada luz. Em seu Filho santssimo contemplou toda a nova lei evanglica, com seus mistrios, sacramentos e doutrina, conforme o divino arquiteto a tinha planejado na mente, e determinado em sua vontade de redentor e mestre dos homens. Alm deste magistrio especial para Ela, acrescentou-lhe outro: atravsda palavra, ensinava-lhe o oculto de sua sabedoria (SI 50,8) e tudo quanto no conseguiram compreender os anjos e os homens. Esta sabedoria que Mana purssima aprendeu sem fico (San 7, 13) comunicou sem cime, em toda a luz que espargiu antes da ascenso de C risto nosso Senhor e ainda mais depois. Conhecimento de Maria 734. Bem vejo que pertenceria a esta histria, manifestar aqui os ocultissi

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mos mistrios vividos entre Cristo Senhor nosso e sua Me, nestes anos de sua infncia e juventude at a pregao, pois todas estas coisas se realizaram para a instruo da divina Me. Confesso, porm, de novo, como nos nmerosacima (712,713) a incapacidade minha e de todas as criaturas para to elevado argumento. Alm disso, tal exposio exigiria explicao de todos os mistrios e segredos da Sagrada Escritura, de toda a doutrina crist, das virtudes, tradies da Santa Igreja, refutaodos erros e seitas falsas, e tudo o que sustenta a Igreja e a conservar at o fim do mundo. Dever-se-ia acrescentar ainda, grandes mistrios da vida e glria dos santos, porque tudo foi escrito no corao purssimo de nossa grande Rainha. As obras realizadas pelo Redentor e Mestre, a fim de que a redeno e a doutrina da Igreja fosse copiosa (SI 119, 7), quanto escreveram os Evangelistas e Apstolos, os Profetas e Antigos Padres, o que depois fizeram todos s santos; a luz que receberam os doutores; o sofrimento dos mrtires e das virgens; a graa que receberam. Tudo isso, e muito mais que no se pode explicar, Maria santssima conheceu individualmente, com grande penetrao e certeza. Quanto era possvel pura criatura, praticou concretamente, e agradeceu ao Eterno Pai, autor de tudo, e a seu Filho unignito, cabea da Igreja. A respeito de toda esta matria, falarei adiante o que me for possvel. Maria e as obrigaes do lar 735. Ocupada em atos to importantes, atendendo a seu Filho e mestre, nem por isso faltava ao servio de sua pessoa e ao de So Jos. A tudo acudia sem falta nem imperfeio, servindo-lhes as refeies. A seu Filho santssimo servia de joelhos, com incomparvel reverncia. Cuidava tambm que o infante Jesus fosse o consolo de seu pai putativo, como se o fora natural. 0 Menino Deus obedecialhe e passava muitos momentos com S Jos durante seu trabalho que era continuo, para poder sustentar, com o suor de seu rosto, ao Filho do Eterno Pai e sua Me. Quando o Menino Deus foi crescendo, ajudava S. Jos no que lhe permitia a idade. Outras vezes, fazia alguns milagres acima das leis naturais, para animar o santo

esposo e lhe facilitar o trabalho, pois estes prodgios eram apenas para os trs. DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CU. Amor palavra de Deus 736. Minha filha, chamo-te hoje novamente para minha discpula e companheira, na prtica da doutrina celesti que meu Filho santssimo ensinou SU Igreja, atravs dos santos Evangelhos Escrituras. Quero que prepares teu co rao com nova diligncia e ateno, e se jas terra escolhida para receber a sementi viva e santa da palavra do Senhor, produ zindo fruto cem porum.(Le 8,8). Mantn o corao atento a minhas palavras; a< mesmo tempo, l assiduamente os Evan gelhos emedita interiormente osmistrio que neles entenderes. Ouve a voz de te Esposo e Mestre que a todos convida chama, para ouvir suas palavras de vid etema (Jo 6,69). To grande a perigos iluso da vida mortal, que so poucas a almas que desejam ouvir e entender caminho da luz (Mt 7,14). Muitos seguem o deleitvel ofer< cido pelo prncipe das trevas, e quei nestas caminha no sabe onde acabar (J 12, 35). A ti, o Altssimo chama para caminho e as sendas da verdadeira luz; a gue-as, imitando-me, e realizars meu d< sejo. Renuncia a todo visvel e terrem no o conheas nem olhes; no o procun nem lhe prestes ateno; foge de ser d srie dos sculos. Aqueles que me comem tero mais fome; c os que me bebem tero mais sede. Aquele que me ouve no ser confundido; e os que se guiam por mim no pecaro. Aqueles que me tomam conhecida tero a vida eterna." At aqui, basta esta parte do captulo do Eclesistico. O corao piedoso sentir logo tanta abundncia de mistrios em Maria santssima, que a fora oculta deles atrair seu corao para esta senhora e Me da graa Descobrir nessas palavras, a inexplicvel grandeza e excelncia a que a elevou a doutrina e magistrio de seu Filho santssimo, por decreto da beatssima Trindade. Esta Princesa foi a verdadeira arca do Novo Testamento (Apoc 11, 19). Da enchente de sua sabedoria c graa, como de um mar imenso, 13

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transbordou tudo quanto receberam e recebero os demais santos, at o fim do mundo. Frutos da provao 733. Voltando de seu xtase, a divina Me adorou novamente seu Filho santssimo e lhe pediu a perdoasse se, no seu servio, cometera alguma negligncia. Jesus f-la levantar-se donde se encontrava prostrada, e lhe disse: Minha Me, estou muito satisfeito com vosso corao e quero que o dilateis e prepareis novamente para receber meus testemunhos. Em cumprimento da vontade de meu Pai, escreverei em vosso peito a doutrina evanglica que vim ensinar ao mundo. E vs, Me a poreis em prtica como eu desejo. Respondeu a Rainha purssima: Filho e Senhor meu, ache eu graa a vossos olhos; dirigi minhas potncias pelos retos caminhos (SI 26,11) de vosso beneplcito. Falai, Senhor meu, que vossa serva ouve (1 Rs 3,10), e vos seguir at amorte. Nesta conferncia entre o Menino Deus e sua Me santssima, foi mani-

seguiram compreender os anjos e os homens. Esta sabedoria que Mana purssima aprendeu sem fico (Sab 7, 13) comunicou sem cime, em toda a luz que espargiu antes da ascenso de Cristo nosso Senhor e ainda mais depois. Conhecimento de Maria 734. Bem vejo que pertenceria a esta histona, manifestar aqui os ocultssi-

festado de novo grande Senhora, I* intenorda alma santssima de Cristo,* suas operaes. Desde esta ocasio, este cresceu, quer da parte do sujeito quec' divina discpula, como da parte do ot que lhe comunicou mais clara e elevtf luz. Em seu Filho santssimo contempl* toda a nova lei evanglica, com ** mistnos, sacramentos e doutrina, c* forme o divino arquiteto a tinha planeja na mente, e determinado em sua vonu de redentor e mestre dos homens Alm deste magistrio espcie para Ela, acrescentou-lhe outro: atravs^ palavra, ensinavalhe o oculto de sua s* bedona (SI 50,8) e tudo quanto no con3

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Quinto Livro - Capitulo 2 mos mistrios vividos entre Cristo Senhor consolo de seu pai putativo, como se o fora nosso e sua Me, nestes anos de sua infn- natural. O Menino Deus obedecia-lhe e cia e juventude at a pregao, pois todas passava muitos momentos com S. Jos estas coisas se realizaram para a instruo durante seu trabalho que era contnuo, para da divina Me. Confesso, porm, de novo, poder sustentar, com o suor de seu rosto, como nos nmerosacima (712,713) a in- ao Filho do Eterno Pai e sua Me. Quando o Menino Deus foi crescapacidade minha e de todas as criaturas para to elevado argumento. Alm disso, cendo, ajudava S. Jos no que lhe permitia tal exposio exigiria explicao de todos a idade Outras vezes, fazia alguns milagres os mistrios e segredos da Sagrada Escri- acima das leis naturais, para animar o santo tura, de toda a doutrina crist, das virtudes, esposo e lhe facilitar o trabalho, pois estes tradies da Santa Igreja, refutao dos er- prodgios eram apenas para os trs. ros e seitas falsas, e tudo o que sustenta a Igreja e a conservar at o fim do mundo DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA Dever-se-ia acrescentar ainda, grandes DO CU. mistrios da vida e glria dos santos, porque tudo foi escrito no corao purssimo de nossa grande Rainha. Amor palavra de Deus As obras realizadas pelo Redentor e Mestre, a fim de que a redeno e a dou736. Minha filha, chamo-te hoje trina da Igreja fosse copiosa (SI 119, 7), novamente para minha discpula e comquanto escreveram os Evangelistas e panheira, na prtica da doutrina celestial Apstolos, os Profetas e Antigos Padres, o que meu Filho santssimo ensinou su que depois fizeram todos ssantos; a luz Igreja, atravs dos santos Evangelhos e que receberam os doutores; o sofrimento Escrituras. Quero que prepares teu corao dos mrtires e das virgens; a graa que re- com nova diligncia e ateno, e se jas ceberam. Tudo isso, e muito mais que no terra escolhida para receber a sement< viva se pode explicar, Maria santssima conhe- e santa da palavra do Senhor, produ zindo ceu individualmente, com grande pene- fruto cem por um,(Le 8,8). Mantn o trao e certeza. Quanto era possvel pura corao atento a minhas palavras; a< criatura, praticou concretamente, e mesmo tempo, l assiduamente os Evan agradeceu ao Eterno Pai, autor de tudo, e a gelhos e medita interiormente os mistrio seu Filho unignito, cabea da Igreja. A que neles entenderes. Ouve a voz de te respeito de toda esta matria, falarei adiante Esposo e Mestre que a todos convida o que me for possvel. chama, para ouvir suas palavras de vid eterna (Jo 6,69). To grande a pengos iluso da vida mortal, que so poucas a almas que desejam ouvir e entender Maria c as obrigaes do lar caminho da luz (Mt 7,14). Muitos seguem o deleitvel 735. Ocupada em atos to importantes, atendendo a seu Filho e mestre, nem ofer( cido pelo prncipe das trevas, e quei por isso faltava ao servio de sua pessoa e nestas caminha no sabe onde acabar (J ao de So Jos. A tudo acudia sem falta 12, 35). A ti, o Altssimo chama para nem imperfeio, servindo-lhes as caminho e as sendas da verdadeira luz; s refeies. A seu Filho santssimo servia de gue-as, imitando-me, e realizars meu d joelhos, com incomparvel reverncia. sejo Renuncia a todo visvel e terren no o Cuidava tambm que o infante Jesus fosse o conheas nem olhes; no o procur nem lhe prestes ateno; foge de ser c

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srie dos sculos. Aqueles que me comem tero mais fome; e os que me bebem tero mais sede. Aquele que me ouve no ser confundido; e os que se guiam por mim no pecaro. Aqueles que me tornam conhecida tero a vida eterna." At aqui, basta esta parte do captulo do Eclesistico. O corao piedoso sentir logo tanta abundncia de mistrios em Maria santssima, que a fora oculta deles atrair seu corao para esta senhora e Me da graa Descobrir nessas palavras, a inexplicvel grandeza e excelncia a que a elevou a doutrina e magistrio de seu Filho santssimo, por decreto da beatssima Trindade. Esta Princesa foi a verdadeira arca do Novo Testamento (Apoc 11, 19). Da enchente de sua sabedoria e graa, como de um mar imenso, transbordou tudo quanto receberam e recebero os demais santos, at o fim do mundo. Frutos da provao 733. Voltando de seu xtase, a divina Me adorou novamente seu Filho santssimo e lhe pediu a perdoasse se, no seu servio, cometera alguma negligncia. Jesus f-la levantar-se donde se encontrava prostrada, e lhe disse: Minha Me, estou muito satisfeito com vosso corao e quero que o dilateis e prepareis novamente para receber meus testemunhos. Em cumprimento da vontade de meu Pai, escreverei em vosso peito a doutrina evanglica que vim ensinar ao mundo. E vs, Me a porei s em prtica como eu desejo. Respondeu a Rainha purssima: Filho e Senhor meu, ache eu graa a vossos olhos; dirigi minhas potncias pelos retos caminhos (SI 26,11) de vosso beneplcito. Falai, Senhor meu, que vossa serva ouve (1 Rs 3,10), e vos seguir at a morte. Nesta conferncia entre o Menino Deus e sua Me santssima, foi mani-

festado de novo grande Senhora, todo o interior da alma santssima de Cristo, com suas operaes Desde esta ocasio, esle favor cresceu, quer da parte do sujeito que era a divina discpula, como da parte Jo objeto que lhe comunicou mais clara e elevada luz. Em seu Filho santssimo contemplou toda a nova lei evanglica, com seus mistnos, sacramentos e doutnna, conforme o divino arquiteto a tinha planejado na mente, e determinado em sua vontade de redentor e mestre dos homens Alm deste magistrio especial para Ela, acrescentou-lhe outro: atravs da palavra, ensinava-lhe o oculto de sua sabedona (SI 50,8) e tudo quanto no conseguiram compreender os anjos e os homens. Esta sabedoria que Mana purssima aprendeu sem fico (Sal) 7, 13) comunicou sem cime, em toda a luz que espargiu antes da ascenso de Cristo nosso Senhor e ainda mais depois Conhecimento de Maria 734. Bem vejo que pertenceria a esta histria, manifestar aqui os ocultissimos mistrios vividos entre Cristo Senhor nosso e sua Me, nestes anos de sua infncia e juventude at a pregao, pois todas estas coisas se realizaram para a instruo da divina Me. Confesso, porm, de novo, como nos nmerosacima (712,713) a incapacidade minha e de todas as criaturas para to elevado argumento. Alm disso, tal exposio exigiria explicao de todos os mistrios e segredos da Sagrada Escritura, de toda a doutrina crist, das virtudes, 13

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tradies da Santa Igrej a, refutao dos erros e seitas falsas, e tudo o que sustenta a Igreja e a conservar at o fim do mundo. Dever-se-ia acrescentar ainda, grandes mistrios da vida e glria dos santos, porque tudo foi escrito no corao purssimo de nossa grande Rainha. As obras realizadas pelo Redentor e Mestre, a fim de que a redeno e a doutrina da Igreja fosse copiosa (SI 119, 7); quanto escreveram os Evangelistas e Apstolos, os Profetas e Antigos Padres; o que depois fizeram todos os santos; a luz que receberam os doutores, o sofrimento dos mrtires e das virgens; a graa que receberam. Tudo isso, e muito mais que no se pode explicar, Maria santssima conheceu individualmente, com grande penetrao e certeza. Quanto era possvel pura criatura, praticou concretamente, e agradeceu ao Eterno Pai, autor de tudo, e a seu Filho unignito, cabea da Igreja. A respeito de toda esta matria, falarei adiante o que me for possvel. Maria e as obrigaes do lar 735. Ocupada em atos to importantes, atendendo a seu Filho e mestre, nem por isso faltava ao servio de sua pessoa e ao de So Jos. A tudo acudia sem falta nem imperfeio, servindo-lhes as refeies. A seu Filho santssimo servia de joelhos, com incomparvel reverncia. Cuidava tambm que o infante Jesus fosse o consolo de seu pai putativo, como se o fora natural 0 Menino Deusobedecia-lh e passava muitos momentos com S. Jos durante seu trabalho que era continue para poder sustentar, com o suor de sei rosto, ao Filho do Eterno Pai e sua Me Quando o Menino Deus foi cres cendo, ajudava S. Jos no que lhe permiti a idade. Outras vezes, fazia alguns mila gres acima das leis naturais, para anima o santo esposo e lhe facilitar o trabalho pois estes prodgios eram apenas para o trs. DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CU. Amor palavra de Deus hoji 736. Minha filha, chamo-te novamente para minha

discpula e com panheira, na prtica da doutrina celestia que meu Filho santssimo ensinou su; Igreja, atravs dos santos Evangelhos i Escrituras. Quero que prepares teu co rao com nova diligncia e ateno, e se jas terra escolhida para receber a sementi viva e santa da palavra do Senhor, produ zindo fruto cem por um (Le 8,8). Mantn o corao atento a minhas palavras; ai mesmo tempo, l assiduamente os Evan gelhos e medita interiormente os mistrio que neles entenderes. Ouve a voz de tet Esposo e Mestre que a todos convida i chama, para ouvir suas palavras de vid eterna (Jo 6,69). To grande a perigosi iluso da vida mortal, que so poucas a almas que desejam ouvir e entender < caminho da luz (Mt 7,14). Muitos seguem o deleitvel ofere cido pelo prncipe das trevas, e quen nestas caminha no sabe onde acabar (J< 12, 35). A ti, o Altssimo chama para ( caminho e as sendas da verdadeira luz; se gueas, imitando-me, e realizars meu de sejo. Renuncia a todo visvel e terreno no o conheas nem olhes; no o procure: nem lhe prestes ateno; foge de ser co srie dos sculos. Aqueles que me comem tero mais fome, e os que me bebem tero mais sede Aquele que me ouve no ser confundido; e os que se guiam por mim no pecaro. Aqueles que me tomam conhecida tero a vida eterna." At aqui, basta esta parte do captulo do Eclesistico. 0 corao piedoso sentir logo tanta abundncia de mistrios em Maria santssima, que a fora oculta deles atrair seu corao para esta senhora e Me da graa. Descobrir nessas palavras, a inexplicvel grandeza e excelncia a que a elevou a doutrina e magistrio de seu Filho santssimo, por decreto da beatssima Trindade. Esta Pnncesa foi a verdadeira arca do Novo Testamento (Apoc 11, 19). Da enchente de sua sabedoria e graa, como de um mar imenso, transbordou tudo quanto receberam e recebero os demais santos, at o fim do mundo. Frutos da provao 733. Voltando de seu

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xtase, a divina Me adorou novamente seu Filho santssimo e lhe pediu a perdoasse se, no seu servio, cometera alguma negligncia. Jesus f-la levantarse donde se encontrava prostrada, e lhe disse: Minha Me, estou muito satisfeito com vosso corao e quero que o dilateis e prepareis novamente para receber meus testemunhos. Em cumprimento da vontade de meu Pai, escreverei em vosso peito a doutrina evanglica que vim ensinar ao mundo. E vs, Me a poreis em prtica como eu desejo. Respondeu a Rainha purssima: Filho e Senhor meu, ache eu graa a vossos olhos; dirigi minhas potncias pelos retos caminhos (SI 26,11) de vosso beneplcito. Falai, Senhor meu, que vossa serva ouve (1 Rs 3,10), e vos seguir at a morte. Nesta conferncia entre o Menino Deus e sua Me santssima, foi mani-

sem cime, em toda a luz que espargiu antes da ascenso de Cristo, nosso Senhor e ainda mais depois. Conhecimento de Maria 734. Bem vejo que pertenceria a esta histna, manifestar aqui os ocultssi-

festado de novo grande Senhora, todo o interior da alma santssima de Cristo, com suas operaes. Desde esta ocasio, este favor cresceu, quer da parte do sujeito que era a divina discpula, como da parte do objeto que lhe comunicou mais clara e elevada luz. Em seu Filho santssimo contemplou toda a nova lei evanglica, com seus mistrios, sacramentos e doutrina, conforme o divino arquiteto a tinha planejado na mente, e determinado em sua vontade de redentor e mestre dos homens Alm deste magistrio especial para Ela, acrescentoulheoutro: atravs da palavra, ensinava-lhe o oculto de sua sabedoria (SI 50,8) e tudo quanto no conseguiram compreender os anjos e os homens. Esta sabedoria que Mana purssima aprendeu sem fico (Sab 7, 13) comunicou 13

nhecida; no tenham as criaturas parte alguma contigo; protege teu segredo (Is 24, 16) e teu tesouro (Mt 13,44) da fascinao humana e diablica. Tudo isto conseguirs se, como discpula do meu Filho santssimo e minha, praticares com a perfeio que deves, a doutrina do Evangelho que te ensinamos. Noviciados de perfeio 736.a. Para te incitares a to alto desgnio, lembra o favor que te fez a disposio divina, chamando-te para novia e professa da imitao de minha vida, doutrina e virtudes, no seguimento de meus passos. Deste estado pssaras ao mais elevado do noviciado e profisso perfeita da religio catlica. Ajustar-te-s doutrina evanglica do Redentor do mundo, correndo aps seus perfumes, pelas sendas retas de sua vontade. O primeiro estado de discpula minha ser disposio para o ser de meu Filho santssimo, e ambos para alcanar o ltimo da unio com o ser imutvel de Deus. Os trs so favores de incomparvel valor, que te pem na obrigao de ser mais perfeita que os elevados serafins. Finalidade das graas especiais, recebidas pela escritora 736.b. A destra divina te concedeu estas graas para te preparar e tornar idnea e capaz de receber o ensino, inteligncia e luz de minha vida, obras, virtudes, mistrios, e escrev-los. Dignou-se o Senhor altssimo te conceder esta liberal misericrdia que no mereces, por meus rogos e intercesso. Assim o fiz em recompensa de teres submetido teu juzo tmido e covarde vontade do Altssimo, e obedincia de teus prelados que muitas vezes te ordenaram escrever minha Histria. O prmio mais favorvel e til para tua alma, foram estes estados ou caminhos msticos, altssimos e misteriosos, ocultos prudncia carnal (Mt 11, 25), mas agradveis aceitao divina. Eles contm copiosas doutrinas, como as que tens recebido e experimentado e te levam a alcanar sua finalidade. Escreve-as separado, num tratado, pois assim o quer meu Filho santssimo. Seu ttulo ser como prometeste na introduo desta Histria: "Leis da Esposa, pice de seu casto amor, fruto colhido da rvore da vida desta Obra."

CAPTULO 3 PEREGRINAO ANUAL DA SARADA FAMLIA A JERUSALM EM OBEDINCIA A LEI DE MOISS. 1 -n456, 589.619. Peregrinaes anuais a Jerusalm 737. Alguns dias aps a chegada de Jesus, Maria e Jos em Nazar, chegou a poca em que os israelitas deviam se apresentar ao Senhor, em Jerusalm, conforme o preceito da lei de Moiss. Esta obrigao era trs vezes ao ano, segundo se l no xodo (34,14) e no Deuteronmio (16, 1). O preceito obrigava apenas aos homens e no s mulheres, mas tampouco proibia a estas. Deste modo, elas ficavam livres de ir por devoo, ou no ir. A divina Senhora e seu Esposo pensaram como fazer nessas ocasies. O Santo inclinava-se a levar consigo sua Esposa e o Filho santssimo para oferec-lo no templo ao eterno Pai, como sempre fazia. A Me purssima era tambm atrada pela piedade e culto d Senhor, mas como em coisas semelhantes no agia sem conselho de seu mestre, o Verbo humanado, consultou-o sobre o caso. Resolveram que So Jos fosse nas duas primeiras vezes sozinho, e na terceira iriam os trs juntos. Estas peregrinaes a Jerusalm eram feitas nas solenidades dos Tabemculos (t 16, 13); na das semanas (Dt 16,9) que pelo Pentecostes; e na dos zimos (Dt 16, 8) que era a Pscoa de Parasceve. Nesta ltima, subiam Jesus, Maria e Jos juntos. Durava sete dias, e nela aconteceu o que direi no captulo seguinte. Nas outras duas festas, subia apenas So Jos sem o Menino e a Me. So Jos ia s vezes sozinho 738. Nas duas vezes em que o santo esposo Jos subia a Jerusalm sozinho, fazia a peregrinao por si e por sua Esposa, em nome do Verbo humanado Com sua doutrina e favores, ia o Santo cheio de graa, devoo e dons celestiais, oferecer ao eterno Pai a oferta que deixava reservada para o tempo oportuno. Neste nterim, como representante do Filho e Me que ficavam orando por ele, fazia no templo de Jerusalm misteriosas oraes, oferecendo o sacrifcio de seu louvor. Apresentando como oferenda a Jesus e Maria, sua oblao era mais aceitvel ao etemo Pai, do que todas quantas oferecia o resto do povo israelita. Quando, porm, pela festa da Pscoa ia o Verbo humanado e a Virgem Me com So Jos, a viagem era mais admirvel para ele e para os cortesos do cu. Sempre se formava aquela procisso solenssima de que j falei em outras ocasies semelhantes^: os trs caminhantes, Jesus, Maria e Jos e os dez mil anjos que os acompanhavam em forma visvel. Refulgentes de beleza, iam com a profunda reverncia que costumavam, servindo a seu Criador e sua Rainha, como de outras viagens tenhoescrito Esta era de quase trinta lguas, distncia entre Nazar e Jerusalm. Tanto na ida como na volta, os santos anjos observavam a mesma ordem em acompanhar e obsequiar o Verbo humanado, segundo sua vontade e preciso.

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Quinto Livro - Capitulo 3

O Menino Jesus viaja p 739. Relativamente s outras viagens, estas demoravam mais, porque desde que voltaram do Egito Nazar, o menino Jesus quis faze-las a p. Deste modo, caminhavam os trs mais devagar, porque o infante Jesus, comeando a se cansar por amor de seu etemo Pai e de nossa salvao, no queria usar de seu poder para evitar o cansao do caminho. Procedendo como homem passvel, permitia s causas naturais produzirem seus efeitos prprios, como era a fadiga do caminhar. No primeiro ano em que fizeram esta viagem, a divina Me e seu Esposo procuraram aliviar o Menino Deus carregando-o nos braos. Este repouso, porm, era breve, e da em diante foi sempre andando. A carinhosa Me no lhe impedia este sacrifcio, porque conhecia seu desejo de sofrer. Levava-o pela mo, e outras vezes era o Santo patriarca Jos quem o fazia. Ao ver o Menino cansado pelo andar e afogueado pelo calor, a amorosa Me enterneciase de natural compaixo e chorava. Perguntava-lhe se estava cansado, e de joelhos, com incomparvel reverncia, enxugava-lhe o divino rosto mais belo que os cus e seus astros. O divino Menino lhe respondia, com afabilidade, e lhe manifestava o prazer que sentia por aqueles sacrifcios pela glria de seu eterno Pai e bem dos homens. Nestas conversas e cnticos de louvor divino, preenchiam grande parte do tempo, como das outras viagens fica dito. Maria contempla 2-if 627, 637. Jesus 740. A grande Rainha e Senhora ia contemplando tanto as aes interiores de seu Filho santssimo, como a perfeio da humanidade deificada, sua beleza e operaes pelas quais ia manifestando sua divina graa Observava que, no ser e no agir, ia crescendo como verdadeiro homem Tudo meditando em seu corao (Lc 2,19), fazia hericos atos de todas as virtudes e se inflamava no divino amor Olhava tambm o Menino como a Filho do etemo Pai, verdadeiro Deus, e sem faltar ao amor de me natural e verdadeira, no esquecia da reverncia que lhe devia como a

seu Deus e Criador. Tudo isto cabia juntamente naquele cndido corao. Enquanto o Menino caminhava, o vento esvoaavalhe os cabelos. Estes iam-lhe crescendo normalmente e no perdeu um s fio, at quando os verdugos lhos arrancaram. Ao v-lo, a afetuosa Me era possuda por afetos e efeitos de suavidade e sabedoria. E, em tudo que fazia, interior e extenormente, era admirao para os anjos, e agradvel a seu Filho e Criador. Benefcios espirituais ao prximo 741. Todas as vezes que assim viajavam para o templo, Filho e Me operavam grandes prodgios em benefcio das almas: convertiam muitas ao conhecimento do Senhor, tiravam-nas do pecado e as justificavam, introduzindo-as no caminho da vida eterna. Tudo era realizado invisivelmente, pois no era chegado o tempo do Mestre da verdade (Jo 12,49) se manifestar. Como a divina Me conhecia que essas obras faziam parte da misso que o etemo Pai encomendara a seu Filho santssimo, mas por enquanto seriam feitas em segredo, tambm colaborava nelas como instrumento do Reparador do mundo, mas de igual modo, ocultamente. Para em tudo se orientar com plenitude de sabedoria, a prudente Mestra sempre consultava o Menino Deus sobre tudo o que deveriam fazer naquelas peregrinaes, e em que lugares e pousadas iriam. Conhecia a celestial Princesa que nessas circunstncias, seu Filho santssimo dispunha os meios oportunos para as admirveis obras que sua sabedoria tinha previstas e determinadas Maria reza com Jesus no Templo 742. Daqui procedia que passavam algumas noites nos pousos, outras permaneciam no campo. O Menino Deus e sua Me purssima nunca se separavam. A grande Senhora sempre gozava de sua presena, atendendo a seus atos para em tudo imit-los e segui-los.

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Quinto Livro - Capitulo 3Quinto Livro Capitulo 3

O mesmo fazia no templo. Via e entendia as oraes e pedidos que o Verbo humanado fazia ao etemo Pai e como, vendo-se inferior pela sua natureza humana, humilhava-se e reconhecia, com profunda reverncia, os dons que recebia da divindade. As vezes, a Me santssima ouvia a voz do Pai dizendo: Este meu diletssimo Filho em quem me deleito e ponho minha complacncia (Mt 17,5). Outras vezes, a grande Senhora via que seu Filho rezava por El a ao etemo Pai e a oferecia como verdadeira Me. Isto lhe causava incompar%'el jbilo Quando conhecia que Jesus rezava pela espcie humana, e por essa inteno oferecia seus trabalhos, ela o acompanhava nessas splicas. Atos de Jesus e Maria na peregrinao 743. Acontecia que, tanto durante o trajeto, como quando entravam no templo, os santos anjos entoavam cnticos com msica suavssima ao Verbo humanado. A feliz Me via-os, ouvia-os e entendia todos aqueles mistrios, enchendo-se de nova luz e sabedoria. Seu purssimo corao abrasava-se no divino amor, e o Altssimo lhe comunicava novos dons e favores, impossveis de serem explicados com minhas inadequadas palavras. Estes dons tinham o fim de preveni-la e prepar-la para os sofrimentos que havia de passar. Muitas vezes, depois de to admirveis graas, se lhe representavam como num mapa, todas as afrontas, ignomnias e dores que naquela cidade, Jerusalm, seu Filho santssimo padeceria. E, para que, com maior dor, tudo visse n'Ele prprio, costumava Jesus vir orar na presena de sua doce Me. Con-templando-o na luz da divina sabedoria, amando-o juntamente como a seu Deus e seu Filho verdadeiro, sentia-se traspas-sada pelo penetrante gldio de que falara Simeo (Lc 2,35) Derramava muitas lgrimas, prevendo as injrias que seu dulcssimo Filho receberia (Is 53,3 em diante), as penas e a morte ignominiosa que lhe dariam (Sab 2, 20), que aquela formosura maior que a de todos os filhos dos homens (SI

44, 3) seria desfeita e reduzida a aparncia de um leproso (Is 53, 4). e que tudo veria com seus olhos Para mitigar um pouco sua dor, costumava o Menino Deus voltar-se para Ela, dizendo-lhe que dilatasse o corao com a caridade que tinha pelo gnero humano, e oferecesse ao etemo Pai aquelas penas de ambos pela salvao dos homens. Filho e Me faziam juntos este oferecimento de grande agrado Santssima Trindade. Aplicavam-no especialmente aos fiis, e mais particularmente pelos predestinados que haveriam de aproveitar os merecimentos e Redeno do Verbo encarnado. Estas eram as principais ocupaes que preenchiam os dias que Jesus e Maria gastavam na peregrinao ao templo de Jerusalm DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA SANTSSIMA. A lei de Deus fardo leve 744. Minha filha, se com atenta e profunda considerao ponderas ruas obrigaes, muito leve te parecer o trabalho de que sempre te encarrego (Mt 11, 30): o cumprimento dos mandamentos do Senhor e de sua santa lei. Este h de ser o primeiro passo de tua peregrinao, princpio e fundamento de toda perfeio crist. Os preceitos do Senhor devem ser cumpridos, como muitas vezes te ensinei; no com tibieza e frouxido, mas com todo fervor e devoo. Esta devoo te constranger a no te conten-tares apenas com a virtude comum, mas a progredires acrescentando, livremente, muitas obras, fazendo por amor o que Deus no te impe por obrigao. E isto artifcio de sua sabedoria, para mais se dar a seus verdadeiros servos e amigos, como Ele te quer. Perigo da vida mortal 744.a. Considera, carssima, que o caminho da vida mortal eterna longo (3 Rs 19, 7), penoso e perigoso (Mt 7, 14). Longo pela distncia, penoso por causa da fragilidade humana e astcia de seus inimigos. Alm de tudo isto, o tempo breve (1 Cor 7,29), o fim incerto (Ecle 11,3). Depois do pecado de Ado, a vida 3434

Quinto Livro - Capitulo 3

animal e terrena dos mortais escraviza quem a segue (J 7, 20); as cadeias das paixes so fortes, a guerra continua (J 5,1). O deleitvel aos sentidos fascina facilmente (Sab 4, 12). A virtude mais oculta em seus efeitos e conhecimento. Tudo isto toma a viagem incerta e cheia de perigos e dificuldades. Armas espirituais 745. Entre estes perigos, o da carne no o menor, por causa da fragilidade humana. Por esta razo, e por ser o mais freqente e domstico, leva muitos a carem e perderem a graa. O modo mais direto e seguro de vencc-la, para ti e para todos, envolver a vida em sacrifcio e mortifcao. No procurar descanso, nem deleite dos sentidos. Fazer com eles inviolvel pacto, para no se desordenarem nem exigirem mais do que a regra da razo permite. A este cuidado, acrescenta o de aspirar sempre ao maior agrado do Senhor e ao ltimo fim onde queres chegar. Para tudo isto, tem sempre ein vista imitar-me como te convido com o desejo de que alcances a plenitude da virtude e santidade. Lembra da pontualidade e fervor com que Eu fazia tantas coisas, no por que o Senhor as ordenava, mas porque eu conhecia serem de seu maior agrado. Multiplica tu os atos fervorosos, as devoes, os exerccios espirituais, e neles as splicas e ofertas ao Etemo Pai pela salvao dos mortais. Ajuda-os tambm, com o exemplo e admoestaes que puderes. Consola aos tristes, anima os fracos, auxilia os cados, e por todos oferece, se for necessrio, tua prpria vida e sangue. Agradece a meu Filho santssimo a benignidade com que suporta a grosseira i ngratido dos h omen s. sem lhes recusai' benefcios e a conservao,da vida. Observa o invicto amor que lhes teve e tem, e como eu o acompanhei e ainda o acompanho nesta caridade. Quero que tambm tu sigas a teu doce Esposo, e a mim. tua mestra, em to excelente virtude.

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Quinto Livro - Capitulo 4Quinto Livro Captulo 4

CAPTULO 4 VIAGEM DE JESUS, AOS DOZE ANOS, COM SEUS PAIS A JERUSALM. FICA NO TEMPLO, SEM ELES SABEREM. Jesus aos doze anos 746. Continuavam, como fica dito, Jesus, Maria e Jos a fazer todos os anos a peregrinao ao templo, pela festa da Pscoa dos zimos (Lc 23,6). Chegando o Menino Deus aos doze anos de idade, quando convinha comear a raiar os esplendores de sua inacessvel luz divina, subiram a Jerusalm, segundo costumavam (Lc 2, 42). A solenidade dos zimos durava sete dias (Dt 16, 8), conforme determinava a lei, sendo o primeiro e o ltimo os mais festivos. Por este motivo, nossos divinos peregrinos permaneciam aquele septenno em Jerusalm, celebrando a festa com o culto do Senhor e oraes como costumavam os demais israelitas, se bem que, no mistrio que os envolvia, fossem to singulares e diferentes dos demais. Nestes dias, a feliz Me e seu santo Esposo, respectivamente, recebiam do Senhor dons e favores que ultrapassam todo pensamento humano valeu-se o Senhor do costume e da aglomerao dos peregrinos nessas soleni-dades. Sendo muita gente, agrupavam-se separadamente os homens e as mulheres, para maior recato. Os meninos acompanhavam a me ou o pai, indiferentemente, pois nisso no havia inconvenincia. Isto levou So Jos a pensar que o Menino Jesus ia na companhia de sua Me santssima (Lc 2, 44), com quem ordinariamente sempre ficava. No pde imaginar que Ela estaria sem Ele, pois a divina Rainha amava e conhecia seu Filho, mais do que toda criatura humana e anglica. A grande Senhora no teve tantas razes para julgar que Jesus ia com o patriarca So Jos, porm, foi o prprio Senhor que a distraiu com outros divinos e santos pensamentos. Isto impediu-a que, a pnncpio, percebesse sua ausncia, e depois quando a notou, pensou que se encontrasse com o glorioso So Jos, a quem o Senhor das alturas queria consolar com sua presena. A perda do Menino Jesus 748. Nesta suposio, caminharam Maria e Jos um dia inteiro, como refere So Lucas (44). Como, ao sair da cidade, os forasteiros partiam de pontos diversos, depois iam se reunindo as famlias, Maria santssima e seu Esposo encontraram-se

Jesus separa-se de seus pais 747. Passado o stimo dia da solenidade, voltaram para Nazar (Lc 2,43). Ao sair da cidade de Jerusalm, o Menino Deus separou-se de seus pais, sem que eles o advertissem. Escondeu-se, enquanto eles prosseguiram a viagem, ignorando o que estava a acontecer. Para agir assim,

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no lugar onde passariam a primeira noite, depois que partiram de Jerusalm. Vendo a grande Senhora que o Menino Deus no vinha com So Jos, como pensava, e este que tampouco estava com a Me, ficaram mudos de susto e admirao sem poder falar por alguns momentos. Seguindo ojuzo de suaprofunds-sima humildade, cada qual atribua ao prprio descuido haver perdido de vista ao Filho santssimo. Ignoravam o mistrio e o modo como o Senhor procedera. Cobrando algum alento, os divinos Esposos, namaior aflio, indagaram-se o que fazer (Lc 2,45) Disse a amorosa Me a So Jos: Esposo e Senhor meu, meu corao no sossegar se no voltarmos com toda a diligncia procura de meu Filho santssimo. Assim o fizeram, comeando a pesquisa entre parentes e conhecidos. Ningum lhes pde dar qualquer notcia d'Ele, nem aliviar-lhes a dor. Pelo contrrio, aumentaram-na dizendo que no o tinham visto desde a sada de Jerusalm. Maria pe-se a procur-lo 749. Dirigiu-se a aflita Me a seus santos anjos. Os que levavam os dsticos do santssimo nome de Jesus (referidos ao se falar da Circunciso, n" 523) haviam ficado com o Menino, e os outros acompanhavam sua Me purssima, como costumava acontecer quando se separavam. A estes, que eram dez mil, disse a Rainha: Amigos e companheiros meus, bem conheceis ajusta causa de minha dor Peo-vos que em to amarga aflio sejais meu consolo, dando-me notcia de meu Amado para que eu O procure e encontre (Cant 3, 2 e 3). Dai algum alento a meu angustiado corao que longe de seu bem e sua vida, arranca-se donde est para procur-lo. Os santos anjos sabiam ser vontade do Senhor dar sua Me santssima aquela ocasio to meritna, e que no era tempo de lhe manifestar o mistrio. Ainda que no perdiam a viso de seu Criador e nosso Redentor, responderam-lhe conso-lando-a com outras razes, mas no lhe disseram onde se encontrava seu Hlho santssimo e o que fazia. Esta resposta que criou novas dvidas prudentssima Senhora, aumentou sua dor e

cuidado, lgnm as e suspiros para procurar deligentemente, no a draema perdida como a mulher do Evangelho (Lc 15,8), mas a todo o tesouro do cu e da terra. Angstias de Maria 750. Cogitava a Me da sabedona consigo mesma, e no corao lhe nasciam diversas suposies. O primeiro pensamento que lhe ocorria era que Arquelau, imitando a crueldade de seu pai I lerdes, teria tido noticiado infante Jesus e o prendera. Sabia pela sagrada escritura*' pelas revelaes e pelo ensinamento de seu Filho e mestre divino, que no era chegado o tempo da paixo e morte do Redentor. Temeu, contudo, que o tivessem aprisionado e o maltratassem. Com profundssima humildade, suspeitava tambm que talvez Ela o tivesse desgostado no seu servio e assistncia, e Ele se retirara ao deserto com seu futuro precursor Joo Outras vezes, falando com seu Bem ausente, dizia-lhe. Doce amor e glria de minha alma, com 0 desejo que tendes de padecer pelos homens (Heb 10, 5), nenhum trabalho e penalidade evitareis na vossa imensa caridade. Antes, receio, Senhor meu que as buscareis de propsito (Is 53, 7). Onde irei? Onde vos acharei, luz de meus olhos? (Tob 10,4). Quereis que perca minha vida pela espada que a separou de vossa presena? porm, no me admiro, bem meu, que castigueis com vossa ausncia a quem no soube aproveitar o benefcio de vossa 1 - Sab 2,13,1, 53.2, Jer 11,18, Dan 9,26; Jo 7,30" companhia. Por que, Senhor meu, me en-riquecestes com os doces carinhos de vossa amvel presena e doutrina? Ai de mim! Se no pude merecer ter-vos por Filho e gozar de vs este tempo, confesso que devo agradecer ao que vossa dignao me quis aceitar por escrava (Lc 1, 48). Se apesar de indigna Me vossa, posso valerme desse titulo para vos procurar como meu Deus e meu bem, daime, Senhor, licena para isso e concedei-me o que me falta para ser digna de vos encontrar. Convosco viverei no deserto, no sofrimento, nos trabalhos, nas tribulaes, e em qualquer parte. Senhor meu, minha alma deseja

que, com dores e tormentos me faais merecer: ou morrer se no vos encontro, ou viver em vosso servio e companhia Quando vosso ser divino se escondeu ao meu interior, ficoume a presena de vossa amvel humanidade. Ainda que se mostrasse severa e menos carinhosa do que costumava, eu encontrava vossos ps, ante os quais podia-me prostrar. Agora, entretanto, falta me essa felicidade, e completamente se escondeu o sol que me iluminava, s me restando angstias e gemidos. Oh! Vida de minha alma, que suspiros do fundo do corao vos posso dirigir! Mas, no so dignos de vossa grande clemncia, pois no me chega notcia donde vos encontraro meus olhos. Assistncia dos anjos 751. Persistiu a cndida pomba nas lgrimas e gemidos, sem descansar, sem sossegar, sem dormir nem comer, trs dias contnuos. Os dez mil anjos a acompanhavam corporalmente, em forma humana. Apesar de a verem to aflita e dolorosa, no lhe manifestavam onde acharia o Menino perdido. No terceiro dia, a grande Rainha resolveu ir procur-lo no deserto onde So Joo estava. Inclinava-se a pensar que seu Filho santssimo estana com ele, j que no havia indcios de que Arquelau o tivesse aprisionado. Quando j queria pr-se a caminho, os santos anjos a detiveram, dizendo-lhe que no fosse ao deserto porque o divino Verbo humanado no estava l. Decidiu ir tambm a Belm, e ver se por acaso no estana na gruta do nascimento, mas tambm desta resoluo a fizeram desistir os anjos, dizendo que o Senhor no estava to longe A divina Me ouvia essas advertncias e sabia que os espritos anglicos no ignoravam onde se encontrava o infante Jesus. No obstante, foi to advertida, humilde e reservada por sua rara prudncia, que no lhes replicou nem lhes perguntou onde o acharia. Compreendeu que lho ocultavam por vontade do Senhor. Com tanta magnificncia e venerao tratava a Rainha dos anjos os mistrios do Altssimo e a seus ministros e embaixadores (2 Mc 2,9). Esta circunstncia foi uma das ocasies em que teve oportunidade de revelar a

grandeza de seu real e magnnimo corao. Perfeio de Maria no sofrimento 752. A dor que Maria santssima sofreu nesta ocasio ultrapassou a que todos os mrtires padeceram. Sua pacincia e conformidade no teve nem podem ter igual, porque a perda de seu Filho santssimo era maior do que a perda de toda a enao. Oconhecimento,oamoreestima que tinha por Ele, supera qualquer imaginao A incerteza e a possibilidade de encontrar a razo foram muito grandes, como se disse. Alm disto, naqueles trs dias deixou-a o Senhor no estado comum em que costumava ficar, quando lhe faltavam os favores especiais, quase no estado ordinrio da graa. Fora da viso e comunicao com os santos anjos, suspendeu outras graas que freqentemente comunicava sua alma santssima. Daqui se colige um pouco, qual seria a dor da divina e amorosa Me. Mas, oh! prodgio de santidade, prudncia, fortaleza e perfeio! Com to inaudita tribulao e excessiva pena, no se pertubou, no perdeu a paz interior e exterior, no teve pensamento de ira ou despeito, nenhum movimento ou palavra descomposta, nem desordenada tristeza e irritao, como ordinariamente acontece s demais filhas de Ado. Nestas, as grandes provaes e mesmo sem elas, facilmente se desordenam as paixes e potncias. A Senhora das virtudes, entretanto, praticou-as todas com celestial consonncia. Ainda que tinha o corao ferido por uma dor sem medida, no alterou a harmonia de todas suas aes. No faltou reverncia pelo Senhor, no cessou seus louvores, no interrompeu sua orao e splicas pelo gnero humano e para ale anar a graa de encontrar seu santssimo Filho.:

Maria, a Esposa dos Cnticos 753. Com esta divina sabedoria e suma diligncia, procurou-o trs dias contnuos, indagando a diferentes pessoas, informando e dando os sinais de seu Amado s filhas de Jerusalm, percorrendo as ruas e praas da

cidade. Cumpriu-se nesta ocasio, o que desta grande Senhora escreveu Salomo nos Cnticos (Cant 3, 2; 5,10 e 11). Perguntaram-lhe algumas mulheres quais eram os caractersticos de seu nico e desaparecido Menino. Ela respondeu como dissera a esposa em nome d'Ela: Meu querido alvo e rosado, e se distingue entre milhares. Ouviu-a certa mulher e lhe disse: Esse Menino que descreveis, passou ontem por minha casa e pediu-me esmola. Dei-lha, e sua beleza e simpatia me ca-

__,^r*n\r.-r~ -ws-ux"- ' ' . tivou o corao (Mc 5,9). Quando lhe entreguei a oferta, senti cm meu ntimo doce compaixo de ver uma criana, to graciosa (Mc 5,10), assim pobre e 'em pio desamparada. Estas foram as primeiras notcias de seu Unignito que a dolorosa Me recebeu em Jerusalm. Respirando um pouco, continuou nas pesquisas e algumas outras pessoas lhe disseram quase o mesmo. Com estes indcios, dingiu-se ao hospital da cidade, julgando encontrar o Esposo e Artfice da pobreza (Mt 25,40), entre os pobres, seus legtimos irmos e amigos. Perguntando por Ele, responderam-lhe que o Menino que Ela descrevia, tinha-os visitado naqueles trs dias, levando-lhes algumas esmolas e deixando-os muito confortados em seus sofrimentos.T

Maria e Jos vo ao 754 Estes indcios produziram na divina Senhora ternissimos afetos que, do

Quinto Livro - capitulo 4Quinto Livro capitulo 4

fundo do corao, enviava a seu Filho ausente. Logo sups que, j que no estava com os pobres, estaria sem dvida no templo como na casa de Deus e da orao. A este pensamento, disseram-lhe os santos anjos: Rainha e Senhora nossa, vosso consolo se aproxima e logo vereis a luz de vossos olhos Apressai o passo ide ao templo. O glorioso So Jos encontrou-se neste momento com sua Esposa Para duplicar as diligncias, tomara outra direo procura do Menino Deus, e fora tambm avisado por outro anjo, que se dirigisse ao templo. Padeceu nesses trs dias incomparvel e excessiva aflio, indo de um lado para outro, s vezes com sua divina Esposa, outras sem Ela, mas com profunda pena. Teria chegado a perder a vida, se o poder do Senhor no o confortasse, e se a prudentssima Senhora no o consolasse. Cuidava que tomasse algum alimento, e descansasse por momentos de sua grande fadiga. Seu verdadeiro e dedicado amor pelo Menino Deus, levava-o a procur-lo com veemente ansiedade, sem se lembrar de alimentar a vida, nem sustentar a natureza. Com o aviso dos santos anjos, foram Maria purssima e So Jos ao templo, onde aconteceu o que direi no captulo seguinte. DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CU, MARIA SANTSSIMA. O temor santo 755. Minha filha, sabem os mortais, por freqentes experincias, que no se perde sem dor, aquilo que se ama com deleite. Esta verdade to conhecida e provada, devia ensinar e argir os mundanos, do desamor que mostram por seu Deus e Criador. Sendo tantos os que o perdem, poucos so os que se afligem com esta perda, porque nunca mereceram am-lo e possu-lo pela graa. Como no lhes di perder o bem que no amam e nem possuram, depois de perdido no cuidam em recuper-lo H, porm, grandes diferenas nestas perdas ou ausncias do verdadeiro Bem. No a mesma coisa Deus esconder-se da alma para provar seu amor e lhe aumentar as virtudes, ou afastar-se dela por castigo de suas culpas. O primeiro caso artifcio do amor divino, e meio para mais se dar criatura que o deseja e merece. 0 segundo, justo castigo da indignao divina Na primeira ausncia a alma se humilha pelo temor santo e filial e por no saber a causa Ainda que a cons-

cincia no o acuse, o corao sensvel e amoroso conhece o perigo, sente a perda e assim como diz o Sbio (Prov 28,14), ser bem-aventurado. Vive sempre com temor dessa perda, porque o homem no sabe se digno do amor ou do dio de Deus (Ecli 9,1), e tudo reservado para o fim (Ecli 9,2). E, no decorrer desta vida mortal, comumente sucedem as coisas ao justo e ao pecador, sem diferena. Perigosa indiferena 756. Diz o Sbio, que este perigo o maior e pssimo entre todas as coisas que acontecem debaixo do sol (Ecli 9,3), porque leva os mpios e rprobos a se encherem de malcia e dureza de corao. Vivem em falsa e perigosa segurana, vendo que, sem diferena, sucedem as coisas a eles como aos demais (Ecli 9,12) e que no se pode saber, com certeza, quem escolhido ou reprovado, amigo ou inimigo de Deus, justo ou pecador, quem merece o dio e quem o amor. Se os homens, porm, recorressem, sem paixo e falsidade, conscincia, ela responderia a cada um o que lhe convm saber (Lc 12, 58). Quando ela acusa pecados cometidos, estultssima ignorncia no atribuir-se os

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Quinto Livro - Captulo 4

males que padece, e no se reconhecer despojada da presena da graa, e privada do sumo Bem. Se a razo estivesse livre, a maior prova seria sentir, com ntima dor, a perda do gozo espiritual e efeitos da graa. A falta desta sensibilidade numa alma criada para a eterna felicidade, forte indcio de que no a deseja nem ama. Da no busc-la com solicitude (Lc 15,8) c no chegar a ter alguma certeza e segurana prudente, possveis nesta vida mortal, de no ter perdido por sua culpa, o sumo Bem. S o pecado faz perder a Deus 757. Eu perdi meu Filho Santssimo apenas quanto presena corporal e com esperana de O encontrar Todavia, o amor e a incerteza da causa de sua ausncia no me deram repouso at tomar a ach-lo. Quero que me imites nisso.cars-sima, seja que o percas por tua culpa ou por disposio dele. Para que no venha a acontecer isso por castigo, deves procur-lo com tanta energia que nem a tnbulao, nem a angstia, nem a necessidade, nem o perigo, nem a perseguio, nem a espada, nem o alto, nem o profundo, possam criar separao entre ti e teu Senhor(Rom 8,35). Se tu fores fiel como deves, e no O quiseres perder, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem outra qualquer criatura, sero capazes para fazerte perd-lo (Rom 8,38) To fortes so o vnculo e as cadeias de seu amor, que ningum as pode quebrar, a no ser a prpria vontade da criatura.

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Quinto Livro - Capitulo 5Quinto Livro - Capitulo 5

CAPTULO 5 DEPOIS DE TRES DIAS O MENINO JESUS E ENCONTRADO NO TEMPLO, DISCUTINDO COM OS DOUTORES. Razes da perda do Menino Deus 758. No captulo passado, fica em parte resolvida a dvida que alguns poderiam ter, ao pensar como nossa divina Senhora, sendo to cuidadosa e atenta no acompanhar e servir seu Filho santssimo, poderia t-lo perdido de vista, ficando Ele em Jerusalm. Bastaria saber que assim o pode dispor o mesmo Senhor. Contudo, explicarei aqui melhor como aconteceu, sem descuido ou voluntria inadvertncia da amorosa Me. Alm de valer-se da aglomerao de gente, o Menino Deus usou outro meio sobrenatural, quase necessrio para distrair a ateno da sua cuidadosa Me e companheira. Sem isto, no deixaria Ela de notar que se escondia o Sol que a guiava em todos os caminhos. Aconteceu que ao se separarem os homens das mulheres, como ficou dito, o poderoso Senhor infundiu em sua divina Me uma viso intelectual da divindade. A fora deste altssimo objeto atraiu-a toda ao interior. Ficou to abstrada, abrasada e alheia aos sentidos, que, por grande espao, s pode usar deles para prosseguir o caminho. Nomais, ficou toda inebriada na suavidade e divina consolao da vista do Senhor (Cant 5,1). 1 - acima, if 747 So Jos teve o motivo que j disse *, ainda que tambm foi arrebatado interiormente em altssima contemplao, o que lhe tomou mais crvel o misterioso equvoco de que o Menino ia com a sua Me. Deste modo ausentou-se deles, ficando em Jerusalm. Quando, depois de certo prazo, a Rainha se viu sozinha, sups que Ele estivesse com o Pai adotivo (Lc 2, 44). O Menino em Jerusalm 718. Isto aconteceu prximo s portas da cidade, donde o Menino Jesus voltou, pondo-se a andar pelas ruas. Vendo em sua cincia divina o que nelas lhe haveria de suceder, tudo ofereceu a seu etemo Pai pela salvao das almas. Naqueles trs dias pediu esmolas para, dai em diante, enobrecer a humilde mendicncia como primognita da santa pobreza. Visitou os hospitais dos pobres, e consolando a todos, repartiu com eles as esmolas que recebeu. Ocultamente deu sade a alguns enfermos no corpo, e a muitos na alma, pondo-os no caminho da vida eterna. A alguns dos benfeitores que lhe deram esmola, concedeu graas em maior abundncia, cumprindo a promessa que depois faria sua Igreja: quem recebe o justo ou o profeta, receber recompensa de justo ou de profeta (cf.Mt 10,41). Jesus vai ao templo 719. Tendo-se ocupado nesta e noutras obras da vontade do etemo Pai, foi ao Templo. No dia, do qual fala o evan-

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gelista So Lucas (2,46), reuniram-se os rabinos que eram os doutores e mestres da lei, num lugar onde discutiam algumas dvidas e passagens das Escrituras. Naquela ocasio, disputavam sobre a vinda do Messias. Pelas novidades e prodgios que se tinham visto naqueles anos, desde o nascimento do Batista e a vinda dos Reis orientais, crescera o rumor entre os judeus, de que chegara o tempo do Messias e que j se encontrava no mundo, embora ainda no fosse conhecido. Estavam todos assentados em seus lugares, com a autoridade que costumam assumir os mestres e os que se tm por doutos. Aproximou-se o infante Jesus da reunio daqueles magnatas. Rei dos Reis e Senhor dos senhores (Tina 6,15; Apoc 19,16), Sabedoria infinita (1 Cor 1, 24), aquele que emenda os sbios (Sab 7, 15), apresentou-se ante os mestres da terra como discpulo humilde. Declarou que se aproximava para ouvir o que discutiam e se inteirar da matria que tratavam: se o Messias prometido j viera, e se chegara o tempo de sua vinda ao mundo. Erro dos rabinos 761. As opinies dos letrados variavam muito sobre este ponto, afirmado por uns e negado por outros. Os do lado negativo alegavam algumas passagens e profecias das Escrituras, interpretadas errada e materialmente, como disse o Apstolo: Entendida sem esprito, a letra mata (2 Cor 3,6). Estes sbios en-fatuados afirmavam que o Messias viria com majestadee grandeza de rei. Com seu grande poder libertaria seu povo da servido temporal que os mantinha sujeitos aos gentios. Ora, deste poder e libertao no havia indcios na atual condio dos he-breus, i