Moda Ecologicamente Correta

8/14/2019 Moda Ecologicamente Correta

1/12

205DRdDesenvolvimento Regional em debateAno 2, n. 2, nov. 2012.

MODA ECOLOGICAMENTE CORRETA E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO COMLOJISTAS DE DIFERENTES SEGMENTOS DE MERCADO

Andria Mesacasa1

Arlete Venturin2

Edival Sebastio Teixeira3

RESUMO

O artigo apresenta resultados de pesquisa que teve por objetivo identificar e analisar asrepresentaes sociais de moda ecologicamente correta em um grupo de lojistas no municpiode Pato Branco, Paran. Os dados foram coletados mediante o uso de um questionriocomposto por sete questes que versavam sobre a compreenso da expresso modaecologicamente correta, os principais meios de informao utilizados pelos lojistas no

processo de aquisio de mercadorias e a comercializao de produtos de modaecologicamente corretos em seus estabelecimentos. Para a anlise dos dados foi utilizada atcnica de anlise de contedo. Os resultados evidenciaram que os lojistas tm conscinciados malefcios ambientais provocados pela utilizao de substncias txicas nos processostxteis, bem como no cultivo de determinadas fibras.

Palavras-chave: Moda ecologicamente correta; Meio ambiente; Representaes sociais.

ECO-FRIENDLY FASHION AND ENVIRONMENT: A STUDY WITHSHOPKEEPERS OF DIFFERENT MARKET SEGMENTS

ABSTRACT

The paper presents results of a research that aimed to identify and to analyze the socialrepresentations of eco-friendly fashion of a group of shopkeepers in the town of Pato Branco,Paran. Data were collected by using a questionnaire consisting of seven questions thatfocused on understanding the term "eco-friendly fashion," the principal ways of informationused by tenants in the acquisition of goods and marketing of fashion products

environmentally friendly in their establishments. For data analysis we used the technique ofcontent analysis. The results showed that tenants are aware of the environmental harm caused

by the use of toxic substances in textile processes, as well as the cultivation of certain fibers.

Keywords: eco-friendly fashion, environment, social representations

1Mestre em Desenvolvimento RegionalUTFPR, Especialista em Moda, Criao e ProduoUDESC,Bacharel em ModaUDESC. E-mail:[email protected]

2Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Brasil (2012). E-mail:[email protected]

3Universidade Tecnolgica Federal do Paran - UTFPR - Cmpus Pato Branco. E-mail:[email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]


2/12

Moda Ecologicamente Correta e Meio Ambiente: um estudo com lojistas de diferentes segmentos de mercado


INTRODUO

O fenmeno da moda emergiu na sociedade europia do final da Idade Mdia.Atrelada a um conjunto de fatores tais como a individualizao do ser humano e o desejo pornovidades na esfera do vesturio, a moda passou a fazer parte do cotidiano das pessoas,constituindo-se ao longo do tempo num processo que congregou afirmao social emassificao das formas classificadas como modernas (LIPOVETSKY, 1989).

Ao lado do fenmeno da moda e suas mutabilidades mltiplas, reside o fatoreconmico viabilizado pelo mundo do capital que privilegia o novo em detrimento do antigo,e, dessa forma, insere a moda na problemtica ambiental, onde a massificao e obsolescnciados produtos que obedecem lgica do consumo transformam rapidamente mercadorias emresduos descartveis.

Conforme Cardoso (2000), apesar de as preocupaes com o impacto ecolgiconegativo de o industrialismo datar do sculo XIX, foi apenas no final da dcada de 1960 que omovimento ambientalista ganhou fora.

Historicamente, tem sido considerado implcita ou explicitamente que os produtosqumicos emitidos para o ambiente seriam assimilados pela natureza, seja pela transformaodos mesmos [...] em substncias de ocorrncia natural, no prejudiciais, ou os produtosqumicos seriam diludos em tal extenso que no poderiam ser atribudos aos mesmosquaisquer riscos para a vida (BAIRD, 2002, p. 29).

Porm, nos anos 1960 e 1970, estudos como os de Baird (2002) demonstraram quevrios produtos qumicos sintticos, como por exemplo, pesticidas, como DDT (para-diclorodifeniltricloroetano), gases de refrigerao denominados CFCs (clorofluorcarbonetos)e compostos mercuriais foram lanados na natureza de forma descontrolada.Esses compostosno so assimilados porque so persistentes, isto , no so alterados pela ao de luz, gua,ar ou microorganismos. Dessa forma, concentram-se em organismos vivos, podendo atingirseres humanos e outros animais, gerando, portanto, problemas ecolgicos.

A partir da dcada de 1970 intensificou-se a difuso da idia de sustentabilidade,contribuindo para a formao de uma nova conscincia em nvel mundial sobre o papel dodesign, da moda e da tecnologia, uma vez que se evidenciou a primeira crise energtica que

apontou para o limite dos recursos naturais, algo que j tinha sido salientado em dcadasanteriores (CARDOSO, 2000). De acordo com o autor, no mesmo perodo, surgiu umademanda por produtos que respeitam o meio ambiente. Porm, estes produtos, no reduziramo problema do consumo e a escassez de recursos naturais. Desta forma, o surgimento demarcas e ecodesigners que voltam seus produtos para o setor ecolgico iniciou-se justamenteem meados dos anos 1970 juntamente com outros movimentos voltados para a preservao domeio ambiente.

A utilizao de corantes que no agridem a natureza, por exemplo, requerconhecimento sobre prticas de estamparia artesanal, nas quais so utilizados pigmentosnaturais. Porm, essa classe de corantes no oferece tonalidades vibrantes, o que restringe sua

utilizao e adequao s tendncias em termos de cores. Conforme Lee (2009) ainda no


3/12

Andria Mesacasa; Arlete Venturin; Edival Sebastio Teixeira


existe estmulos para produzir corantes naturais em grande escala, embora algumas iniciativasestejam sendo implementadas, como, por exemplo, pela empresa sua Huntsman quedesenvolveu uma srie de corantes para serem usados em roupas orgnicas de fibras dealgodo, l e seda, dos quais foram eliminadas substncias nocivas, dentre elas, metais

pesados cancergenos.

O fator matria-prima muito relevante quando se trata de moda ecologicamentecorreta. As fibras txteis classificam-se em naturais, artificiais e sintticas. Contudo, apesar dea denominao natural remeter a algo saudvel, deve ser considerado que nos processos de

beneficiamento das fibras se agregam substncias nocivas ao meio ambiente, aostrabalhadores das indstrias e tambm aos consumidores.

O algodo, por exemplo, requer abundncia de gua em seu cultivo, alm de necessitarfertilizantes e pesticidas nocivos a sade humana e ao solo. Uma dessas substncias, o DDT,era bastante utilizado nas plantaes de algodo (BAIRD, 2002) at o incio dos anos de 1970.

Porm, ao longo dessa dcada, esse e outros pesticidas altamente txicos tiveram seu usorestrito ou proibido na Amrica do Norte e na maioria dos pases da Europa Ocidental. Noobstante, [...] alguns dos compostos ainda esto disponveis em outros lugares. Oendossulfano (no est na lista das Naes Unidas) encontra-se ainda em uso extensivo emtodo o mundo como inseticida (BAIRD, 2002, p. 334).

Vale ressaltar que [...] os pesticidas representam mais de 50% do custo total daproduo do algodo (LEE, 2009, p. 74). Dentro deste contexto encontram-se tambm osfertilizantes, responsveis por emisses de dixido de carbono e xido ntrico. Neste sentido,algumas alternativas para este processo poluente foram tomadas a nvel mundial como aConveno Sobre Poluentes Orgnicos Persistentes de Estocolmo realizada em 2002 que, em

suas deliberaes,

[...] bane ou restringe severamente a produo, uso, comrcio e distribuio de 12poluentes qumicos persistentes (produtos qumicos que afetam a sade humana eanimal, no se decompe facilmente no ambiente e no podem se multiplicarconforme sobem na cadeia alimentar), incluindo nove pesticidas (entre eles, o DDT).Foi ratificada por 117 naes e entrou em vigor em 2004 (LEE, 2009, p. 75-76).

No que tange a utilizao de corantes em tingimentos, inmeras so as substnciasprejudiciais ao meio utilizadas na indstria txtil. Os corantes podem ser classificados emdispersos, reativos e do grupo AZO pesticidas, como DDT e gases CFC, alm de compostosmercuriais. Devido a sua persistncia e contnua liberao, as concentraes ambientais de

tais substncias esto aumentando em nveis inquietantes. Os corantes reativos so usadosprincipalmente para o tingimento e estamparia de fibras naturais como o algodo, linho, l eseda e artificiais como a viscose, [...] so os mais populares corantes na manufatura txtil,devido principalmente s suas caractersticas favorveis a rapidez na reao de tingimento,facilidade de operao e baixo consumo de energia na aplicao (MARTINS, 1997, p. 11).

Em contrapartida, os corantes dispersos so pigmentos insolveis utilizados nostingimentos de polister, poliamida e acrlico. J os corantes do grupo AZO possuem aligao "azo" (- N = N -), usados especialmente em cores vibrantes como a vermelha, aamarela e a laranja. Os mesmos so empregados em fibras celulsicas e apresentam grau dedifcil remoo no tratamento de efluentes.


4/12



Em relao aos produtos utilizados nos processos de estamparia incluem-se as pastasde estampagem, formadas a partir de corantes e espessantes. Um produto bastante empregado o plastisol a base de PVC. Conforme Lee (2009) este produto no biodegradvel e liberadioxinas cancergenas durante a combusto. Alm disso, possui ftalato em sua composio,

sendo este responsvel por provocar alteraes hormonais em seres humanos.Nos processos de alvejamento, que visam conferir brancura aos tecidos, utilizam-seprodutos a base de cloro ou perxido de hidrognio, que em altas concentraes so txicos.

Os processos de acabamento realizados nos tecidos tambm utilizam substnciasnocivas ao meio ambiente e sade humana. Como exemplos, podem ser citados o cromo,usado no processamento da l e do couro, o cobre, o nquel e o cobalto. Cromo e nquel socancergenos, cobre e cobalto so txicos para os seres humanos. Existem vrios tipos decromo, sendo que os utilizados pela indstria txtil so o cromo III e cromo VI. ConformeRibeiro et al. (2009) o cromo VI possui um nvel de toxicidade elevado, podendo causarrinite, sinusite crnica alm de apresentar grande poder mutagnico devido ao seu acessodireto s clulas.

Outra substncia utilizada o formaldedo, usado em acabamentos que combatem oamarrotamento de algodo e poliamida. Para a propriedade de impermeabilidade gua,sujeira e leo, utiliza-se fluorcarbono, que oferece riscos sade humana e duradouro nomeio ambiente. Para a propriedade prova de traa, no caso da l em especial, usa-se a

permetrina, que consiste em um agente neurolgico e txico para espcies aquticas. Nostecidos com propriedade de proteo contra a combusto usam-se teres difenlicos

polibromados (PBDEs), que no so biodegradveis e oferecem riscos sade.Um dos maiores danos ambientais que ocorre durante os processos de tingimento,

estampagem e acabamento em txteis refere-se ao elevado consumo de gua e, posteriormenteseu despejo juntamente com substncias qumicas. Martins (1997) afirma que a utilizao dagua nos processos de beneficiamento, ocorre basicamente em todas as etapas, sejadiretamente para lavagem, tingimento, amaciamento e outros, seja indiretamente para fazerresfriamento, aquecimento ou produo de vapor em caldeiras.

De modo semelhante, nestes processos e em outros relacionados cadeia produtivatxtil, coexiste um elevado consumo de energia. Para Soares (2002), 87,87% da energiaeltrica consumida na indstria txtil utilizada em motores para bombeamento de gua, deefluentes, de condensados, de leo combustvel ou em poos artesianos; e como fora motrizem esteiras e sistemas de transporte de tecidos.

A produo sustentvel esbarra, ainda, no fator preo ao entrar no mercado ecompetir com produtos similares, porm sem o diferencial ecolgico. Conforme Lee (2009),os pases em desenvolvimento como China e ndia so responsveis por quase 75% das

exportaes mundiais de roupas. Nesse sentido, a sustentabilidade no se refere apenas aosdanos ambientais provocados pelas prticas poluentes da indstria txtil, se refere tambm reproduo da explorao do trabalho em determinados pases, inclusive a do trabalhoinfantil.

Atualmente as preocupaes ecolgicas em relao moda tornam-se evidentes nosinmeros exemplos de tentativas de insero dos princpios de ecodesign na confeco dovesturio, tais como o reaproveitamento txtil fundamentado na reciclagem, a utilizao dematrias-primas ecolgicas ligadas s novas tecnologias, bem como a valorizao doartesanato regional voltado incluso social de comunidades carentes. De tal modo, destaca-se a 29 edio Vero 2011 da So Paulo Fashion Week - SPFW, ocorrida entre 08 e 14 de

junho de 2010, na qual a temtica sustentvel foi trabalhada nas colees de alguns estilistas e

marcas.


5/12



Contudo, a insero destes produtos no mercado depende da aceitao dos mesmospelos mercados consumidores, processo este em que a atuao dos lojistas fundamental.Esses empresrios se vem, ento, na contingncia de disseminar o conceito de modaecologicamente correta entre seus consumidores. Assim, considerando que nos comportamos

de acordo com os modos pelos quais representamos o mundo, isto , de acordo como nossasrepresentaes sociais (MOSCOVICI, 2003), pertinente inquirir como os lojistasrepresentam moda ecologicamente correta tendo em vista que precisam disseminar esseconceito para seus potenciais consumidores.

Por essa razo, realizou o estudo ora relatado, o qual teve por objetivo identificar eanalisar as representaes sociais de moda ecologicamente correta em um grupo de loji stasno municpio de Pato Branco, Paran.

AS REPRESENTAES SOCIAIS

Conforme Duveen (2004), as representaes sociais emergem a partir de pontosduradouros de conflito, dentro das estruturas representacionais da prpria cultura. No mbitoda moda, os pontos de conflito podem ser caracterizados a partir da ascenso e queda denovas tendncias sazonais, caracterizadas pela massificao e temporalidade. Ou seja, paraque uma nova tendncia seja consagrada, a tendncia anterior precisa ser desqualificada,acelerando ainda mais o processo de consumo engendrado pelo capitalismo.

Nesse sentido, a cada nova estao onde so lanadas novidades, novos temasperifricos adjacentes s representaes sociais de moda surgem, auferindo juzos de valor acada nova forma, estilo ou combinao de cores. Vale ressaltar que um grupo onde aformao de opinies acerca do novo se constri constantemente o grupo dos lojistas pelofato de que a sua atuao direta no mercado de consumo requer atualizao constante.

Dentro desse contexto, o fenmeno das representaes sociais est ligado aosprocessos sociais implicados com diferenas na sociedade, caracterizando-se como uma formade criao coletiva. Minayo (2008, p. 90) afirma que [...] as representaes coletivastraduzem a maneira como o grupo se pensa nas suas relaes com os objetos que o afetam.Logo, o grupo dos lojistas relevante para a pesquisa de representaes sociais sobre moda

ecologicamente correta, pois constitudo por indivduos que, por um lado interagemdiariamente com as opinies de representantes da moda institucionalizada e por outro estoem constante contato com os consumidores, considerados a etapa final do processo produtivotxtil.

Conforme Minayo (2008), as representaes sociais so uma combinao especificade idias que povoam o universo de determinada poca e que contm elementos de tradio ede mudana. Nesse sentido, Duveen (2004), afirma que a psicologia social de Moscovici, umdos principais expoentes da teoria das representaes sociais, foi orientada para questes decomo as coisas mudam na sociedade, isto , para aqueles processos sociais, pelos quais anovidade e a mudana, como a conservao e a preservao, se tornam parte da vida social.

Logo, o fenmeno da moda, caracterizado pela mudana constante de formas e estilos, bem


6/12



como as tendncias condizentes com o esprito do tempo est inserido nessa dinmica,ampliando as possibilidades de interagir com a teoria em questo.

Duveen (2004) afirma que dentro de qualquer cultura h pontos de tenso, mesmo de

fratura, e ao redor desses pontos de clivagem no sistema representacional duma cultura quenovas representaes emergem. Sob este aspecto, encontra-se imersa na sociedade deconsumo, que valoriza o novo em detrimento do antigo, a tenso existente entre esta e a

problemtica ambiental.

Nesse contexto, as representaes sociais emergem, no apenas como um modo decompreender um objeto particular, mas tambm como uma forma em que o grupo adquireuma capacidade de definio, uma funo de identidade, que uma das maneiras como asrepresentaes expressam um valor simblico. Vale ressaltar que a mudana dos interesseshumanos pode gerar novas formas de comunicao, resultando na inovao e na emergnciade novas representaes. Assim, se processou a valorizao dos aspectos ambientais no setor

da moda, alicerados por uma dinmica de fatos sociais vinculados pela mdia especializada eatingindo diferentes extratos da sociedade.

Representaes, neste sentido, so estruturas que conseguiram uma estabilidade,atravs da transformao duma estrutura anterior, ou seja, a emergncia de um discurso scio-ambiental entre profissionais especializados do setor propiciou uma maior conscincia entre a

populao. Porm, Minayo (2008, p. 28) afirma que [...] sempre que um conhecimento expresso, por determinada razo; ele nunca desprovido de interesse. Logo, a associao

entre moda e ecologia nem sempre est ligada sustentabilidade de fato, pois mantm umvinculo entre a mesma e os interesses do capital, pois cada poca e cada grupo social tm seurepertrio de formas de discurso, determinadas pelas relaes de produo e pela estrutura

scio-poltica.

No processo de representaes sociais a comunicao fundamental. ConformeMinayo (2008, p. 108), [...] as representaes sociais se manifestam em palavras,sentimentos, condutas e se institucionalizam, logo, devem ser analisadas a partir dacompreenso das estruturas e dos comportamentos sociais. Ou seja, sua mediao principal

a linguagem, tomada como forma de conhecimento e de interao social.

Para Duveen (2004) as representaes so sustentadas pelas influncias sociais dacomunicao que constituem o cotidiano e servem como o principal meio para estabelecer asassociaes dos seres humanos uns com os outros. Nesse sentido, o conhecimento

produzido atravs da interao e comunicao e sua expresso est sempre ligada aosinteresses humanos que esto nele implicados.

METODOLOGIA

Foram selecionados 22 estabelecimentos comerciais para a realizao da pesquisa deacordo com a seguinte classificao: lojas de consumo de alto padro; lojas de consumo de

mdio padro; e lojas de consumo popular. Esses estabelecimentos foram escolhidos por se


7/12



localizarem no centro da cidade de Pato Branco tendo em vista a facilidade de acesso. Apsvisitas s empresas em que foram explicitados os objetivos da pesquisa, 19 concordaram em

participar sendo: 5 estabelecimentos de consumo de alto padro; de 7 estabelecimentos deconsumo de mdio padro; e de 7 estabelecimentos de consumo popular.

Tendo em vista que a mediao privilegiada das representaes sociais a linguagem,[...] tomada como forma de conhecimento e de interao social (MINAYO, 2008, p. 108), acoleta de dados privilegiou essa forma de manifestao. Foi utilizado como instrumento umquestionrio com 7 questes abertas que abordavam os seguintes temas: moda ecologicamentecorreta; produtos ecologicamente corretos disponveis para a venda (na opinio dos lojistas);meios de informao e pesquisa utilizados pelos lojistas no processo de aquisio dessasmercadorias; fatores que estimulam ou dificultam a comercializao destes produtos.

Para a anlise dos dados foi utilizada a tcnica de anlise de contedo, para a qual oponto de partida a mensagem que expressa um significado ou um sentido articulados s

condies contextuais de seus produtores, tais como as situaes econmicas e scio-culturaisnas quais os mesmos esto inseridos (FRANCO, 2008).

Os dados colhidos nos questionrios foram organizados e aps leitura e sistematizaoforam identificadas categorias de anlise, a saber: preservao do meio ambiente; fontes deinformao acessadas pelos sujeitos; fatores que estimulam a comercializao de produtosecologicamente corretos; fatores que limitam a comercializao de produtos ecologicamentecorretos. A partir destas categorias, as respostas obtidas junto aos lojistas foram agrupadas eorganizadas de acordo com suas afinidades. Obteve-se, dessa forma, um panorama geral arespeito dos principais aspectos abordados em cada categoria de anlise, essencial para odelineamento das discusses citadas a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSO

Os resultados demonstram que os sujeitos pesquisados, em geral, demonstrampreocupaes em relao s implicaes ambientais dos procedimentos e insumos utilizadosatualmente na produo de moda. Assim, no conjunto de dados que obtivemos, a categoriaque mais se destaca aparece relacionada com a questo da preservao do meio ambiente.

Por sua vez, as respostas dos pesquisados indicam que esses sujeitos concebem o meioambiente como sinnimo de natureza, como local a ser apreciado, respeitado e preservado.Desta forma, embora nosso estudo tenha focado moda ecologicamente correta, observamosque nossos resultados so compatveis com os apresentados em diversos estudos sobrerepresentaes sociais de meio ambiente em outros contextos, tais como algumasinvestigaes desenvolvidas sobre a temtica da educao ambiental. Exemplos dessesestudos podem ser os desenvolvidos por autores como Silva (2009) e, mais recentemente, porKus (2012). Em todos esses casos, inclusive em nossa pesquisa, a concepo que predomina aquela identificada por Reigota (2007) como naturalista, pela qual as pessoas percebem omeio ambiente apenas como natureza, enfatizando a necessidade da defesa e da proteo da

mesma como necessria para a prpria manuteno da vida.


8/12



No material coletado e analisado em nosso estudo podem ser observadas algumasrespostas que evidenciam a importncia que os sujeitos atribuem conservao do meioambiente, principalmente no que diz respeito utilizao de fibras e substncias

biodegradveis em corantes, racionalizao de gua e de energia, bem como preocupaes

em relao sade do consumidor.

Identificamos preocupaes diferentes conforme o estrato dos estabelecimentospesquisados. Nas lojas de consumo de alto padro, mencionam-se os processos poluentes dasindstrias txteis, j as de mdio padro denotaram preocupao relacionada conscientizao ambiental. Por fim, nas lojas de consumo popular encontramos preocupaesvoltadas utilizao de matrias-primas ecologicamente corretas ou naturais, percebidascomo mais saudveis e mais agradveis ao toque.

No que diz respeito s fontes de informao acessadas pelos sujeitos da pesquisa paraa concretizao das compras por atacado, os sujeitos destacaram as visitas a feiras do setor

txtil e de confeco e consulta a catlogos de fornecedores como as fontes mais utilizadas.Contudo, os lojistas mencionaram tambm consultas a revistas especializadas e a outrosmeios de comunicao, sobretudo, mediante programas de televiso, sendo nesse caso

principalmente as telenovelas.

Ainda que no tenhamos analisado as informaes contidas nos veculos informadospelos sujeitos da pesquisa, podemos supor que a indstria utiliza tais fontes para difundir seusprodutos no mercado. Ou seja, nossos dados denotam que as principais fontes decomunicao entre compradores por atacado e fornecedores viabilizam dados referentes aoque se chama de moda ecologicamente correta. E isso, por sua vez, sugere uma estratgia demodelar a aceitao do mercado consumidor a esse tipo de roupa.

Com efeito, as fontes de informaes relacionadas ao setor txtil e vesturiodemonstram um bom nvel de atualizao, embora a quantidade de materiais sobre o assuntoainda seja escassa. Nesse sentido, Berlim (2009) afirma que, na esfera das tendncias decriao e de comportamento do consumidor de moda relacionadas sustentabilidadeambiental, poucas pesquisas tm sido elaboradas, sendo que o foco atual e as pesquisas dasempresas do setor esto no produto. Desse modo, muitas empresas utilizam as tendncias demoda na disseminao de conceitos relativos preservao do meio ambiente, sendo estemuitas vezes aliado ao conceito de responsabilidade socioambiental, agregando, desta formamais valor aos produtos (BERLIM, 2009).

Evidencia-se tambm, pelos dados da pesquisa, que os lojistas concebem as feirascomo o principal meio de informao e que tais eventos so tradicionalmente vistos comovitrine de novidades, abrindo espao para a exposio das ltimas tendncias de produtosecologicamente corretos.

Quanto aos catlogos de moda, para os sujeitos da pesquisa essa forma de divulgaose constitui em veculos de comunicao entre os fornecedores de peas do vesturio e oslojistas, tornando visveis alternativas de produtos, matrias-primas e acabamentosecologicamente corretos. As revistas especializadas tambm foram destacadas ao longo da

pesquisa demonstrando sua importncia enquanto fonte de informao utilizada pelos lojistas.


9/12



Contudo h relativamente pouco tempo que tais veculos de divulgao tm sido maisdifundidos. A esse respeito, Lee (2009) afirma que entre os anos de 2004 e 2005 aindaexistiam muitas dificuldades para se realizar sesses de fotos de moda ecologicamentecorreta, pois a oferta de produtos deste tipo era reduzida. Todavia, em anos mais recentes a

ascenso do tema moda ecologicamente correta em revistas especializadas tem sido verificadao que, por sua vez, reflete o crescente lanamento de produtos e marcas supostamentepreocupadas com o meio ambiente.

Quanto comercializao, a maioria dos estabelecimentos pesquisados disponibilizaeste tipo de produto, embora isso ocorra em pequena escala. Apenas alguns estabelecimentosvoltados ao comrcio popular afirmaram no vender roupas ecologicamente corretas. Vriasmarcas, dentre as quais algumas etiquetas bem conhecidas pelo pblico em geral foramcitadas.

A disponibilidade de produtos varia de acordo com o segmento da loja. Assim, os

estabelecimentos de alto padro comercializam produtos ecologicamente corretos queconsistem em vesturio exterior (camisetas, calas) salientando fatores como a esttica/designaliados responsabilidade social e conscientizao ambiental dos consumidores. Emcontrapartida, nos estabelecimentos de comrcio popular os produtos restringem-se aosegmento de moda ntima (lingerie) evidenciando preocupaes voltadas sade e bem-estardos consumidores, devido utilizao de matrias-primas que permitem a transpirao docorpo e aumentam a sensao de conforto.

Assim, nossos dados sugerem a afirmao de que as representaes sociais de modaecologicamente correta esto relacionadas s percepes que os sujeitos da pesquisa tm emrelao aos atributos valorizados pelos consumidores. Os de alto padro privilegiam a esttica

e a conservao ambiental, ao passo os consumidores de menor renda valorizam o confortodas roupas. Em outras palavras, uns priorizam o ambiente externo talvez porque o confortolhes parea assegurado, ao passo que outros priorizam justamente aquilo que talvez notenham completamente obtido.

Foram identificados fatores que estimulam a comercializao de produtosecologicamente corretos nos estabelecimentos pesquisados. De tal modo, observou-se que umdos aspetos mais citados foi o aumento da conscincia do consumidor final em relao

preservao do meio ambiente. A esse respeito, os sujeitos destacaram a utilizao dematrias-primas diferenciadas como o algodo orgnico, visto como alternativa para substituiro algodo convencional, bem como a influncia exercida pela mdia no comportamento de

consumo.

De fato, a mdia exerce ampla influncia sobre os indivduos na medida em quepossibilita a incorporao de novos valores, cdigos, hbitos e estilos de vida, tornando-seeficaz na afirmao de novos produtos de moda, pois explora o que est em voga tornando-omais atrativo (LIPOVETSKY, 1997).

Em momento posterior, foram identificados tambm fatores que desestimulam acomercializao de produtos ecologicamente corretos. A esse respeito, alguns sujeitos citaramaspectos como a esttica, a textura, a colorao e o custo como fatores que dificultam a venda.Alm disso, os entrevistados afirmaram que falta informao a respeito destes produtos por

parte dos consumidores finais. Contudo, mencionaram que esse problema pode ser


10/12



solucionado pela venda ativa, treinamento de vendedores e disponibilidade de materiaisinformativos a fim de realar os diferenciais de um produto ecologicamente correto nomomento da compra. Somado a isso, ainda, ressalta-se a pouca variedade de produtosfabricados pelas marcas comercializadas nos estabelecimentos, uma vez que as mesmas

desenvolvem apenas parte de suas colees seguindo critrios ecologicamente corretos.

CONSIDERAES FINAIS

Atravs do presente estudo, evidenciou-se que o pblico pesquisado tem conscinciados malefcios provocados pela utilizao de substncias nocivas ao meio ambiente nos

processos qumicos txteis, bem como no cultivo de determinadas fibras. Desse modo, os

dados nos autorizam dizer que no concernente moda ecologicamente correta, os sujeitos dapesquisa a concebem como aquela que produzida com fibras naturais cultivadas sem autilizao de agroqumicos contaminantes do ambiente, coloridas com substncias

biodegradveis, processada de forma que utiliza racionalmente gua e energia e que no sejapotencialmente perigosa sade do consumidor. Contudo, o consumo de produtosecologicamente corretos ainda pequeno se comparado a produtos de moda convencionais, oque de certa forma, restringe a incorporao destes por parte dos lojistas.

Essa uma lacuna importante a ser vencida se o desejo for de que muitas pessoaspassem a valorizar produtos ecologicamente corretos, e, por conseqncia, o meio ambiente,das quais as mesmas fazem parte.

A valorizao desta categoria de produtos perpassa a subjetividade do consumidorque, ao adquirir estes produtos incorpora novos valores como as questes sustentveis. Deacordo com Lipovetsky (2007), alguns comportamentos de compra passam a ocorrer luz deconhecimentos cientficos veiculados pela mdia. Assim, atravs de rejeies e escolhas maisconscientes, o consumidor busca afirmar sua posio perante a sociedade.

Por fim, os autores do estudo gostariam de dizer que, assim como o propsito de todasas representaes sociais tornar algo no familiar ou a prpria no familiaridade, emfamiliar, a sociedade em geral requer uma maior familiarizao com o tema modaecologicamente correta. Por isso, esperamos que esta pesquisa suscite novas interrogaes

sobre essa temtica atual e importante.


11/12



REFERNCIAS

BAIRD, Colin. Qumica Ambiental. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.BERLIM, Lylian Guimares. Moda, a possibilidade da leveza sustentvel: tendncias,surgimentos de mercados justos e criadores responsveis.Niteri: Universidade FederalFluminense, 2009.

CARDOSO, Rafael. Uma introduo histria do design. So Paulo: Edgard Blucher,2000.

DUVEEN, Gerard. Introduo: o poder das idias. In: MOSCOVICI, S. O fenmeno dasrepresentaes sociais. In: MOSCOVICI, S. Representaes sociais: pesquisas em psicologiasocial. 4. ed. Petrpolis: Vozes, 2004, p. 7-28.

FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Anlise do contedo. Braslia: Lber Livro, 2008.

KUS, Helder Jaime. Concepes de meio ambiente de professores de educao bsica eprticas pedaggicas em educao ambiental. Dissertao (Mestrado em DesenvolvimentoRegional) - Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional. UniversidadeTecnolgica Federal do Paran. Pato Branco, 2012.

LEE, Matilda. Eco chic: o guia de moda tica para a consumidora consciente. So Paulo:Larousse do Brasil, 2009.

LIPOVETSKY, Gilles. O imprio do efmero: a moda e seu destino nas sociedadesmodernas.So Paulo: Companhia das Letras, 1997.

______. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. So Paulo:Companhia das letras, 2007.

MARTINS, Geruza Beatriz Henriques. Prticas limpas aplicadas s indstrias txteis deSanta Catarina.UFSC: 1997. Disponvel em: . Acesso em 04 nov. 2010.

MINAYO, Maria Ceclia de Souza. O conceito de representaes sociais dentro da sociologia

clssica. In: GUARESCHI, P.; JOVCHELOVITCH, S. (Org). Textos em representaessociais. 10. ed. Petrpolis: Vozes, 2008, p. 89-111.

REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representao social. 7. ed. So Paulo: Cortez, 2007.

RIBEIRO, I. C. M. et al. O cromo e o meio ambiente. Curitiba: Centro UniversitrioFranciscanoUNIFAE, 2009. Disponvel em: . Acesso em 04 nov. 2010.

SILVA, Silvana do Nascimento. Concepes e Representaes Sociais de Meio Ambiente:uma Reviso Crtica da Literatura. Anais.VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educao

em Cincias. Florianpolis, 2009.
http://www.ebah.com.br/o-cromo-e-o-meio-ambiente-doc-a-29325.htmlhttp://www.ebah.com.br/o-cromo-e-o-meio-ambiente-doc-a-29325.htmlhttp://www.ebah.com.br/o-cromo-e-o-meio-ambiente-doc-a-29325.htmlhttp://www.ebah.com.br/o-cromo-e-o-meio-ambiente-doc-a-29325.html


12/12



SOARES, G. A.; BARROS M. M.; SHINDO, R. Sistemas Motrizes Industriais Eficientes: AViso do Plano Energia BrasilEficincia Energtica. Anais. IX Congresso Brasileiro deEnergia. Rio de Janeiro, 2002.

VAN DER MOLEN, Yara Fleury. Ecologia.So Paulo: EPU, 1981.

Artigo recebido em: 02/04/2012

Artigo aprovado em: 04/10/2012

Documents

Moda Ecologicamente Correta