92
Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo João Paulo Antunes Rolim Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores: Professor António Alexandre Trigo Teixeira Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo Júri Presidente: Professor Luís Manuel Coelho Guerreiro Orientador: Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo Vogal: Professor António Alberto Pires Silva Julho 2014

Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

  • Upload
    lydien

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do

mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

João Paulo Antunes Rolim

Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadores:

Professor António Alexandre Trigo Teixeira

Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo

Júri

Presidente: Professor Luís Manuel Coelho Guerreiro

Orientador: Doutora Maria Amélia Vieira da Costa Araújo

Vogal: Professor António Alberto Pires Silva

Julho 2014

Page 2: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

ii

Page 3: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

iii

Resumo

A modelação de marés em tempestade (combinação da maré astronómica com sobreelevação

meteorológica) é importante para descrever a influência nas zonas baixas dos estuários. Como

em outros países, uma importante cidade de Portugal, Lisboa, localiza-se perto de um estuário

(estuário do rio Tejo).

Este trabalho tem como objectivo simular, com recurso ao modelo matemático ADCIRC, uma

sobreelevação meteorológica no estuário do Tejo causada pela tempestade Xynthia. A

tempestade atravessou a Europa Ocidental entre 26 a 28 de Fevereiro de 2010, e países como

Portugal, França e Holanda tiveram algumas das suas regiões costeiras inundadas pela

combinação dos efeitos de depressão atmosférica, marés altas e ventos fortes, provocando

grandes danos particularmente em França.

Na abordagem à simulação da tempestade Xynthia, o domínio do modelo foi escolhido por

forma a capturar parte da trajectória da tempestade. Foi feito um trabalho cuidado na definição

da fronteira terrestre, por forma a garantir a ausência de restrições no processo de inundação.

O modelo ADCIRC foi utlizado como modelo hidrodinâmico, capaz de incluir diferentes

mecanismos forçadores. O modelo foi primeiro calibrado utilizando o forçamento astronómico

com base nas constituintes principais de maré da base de dados de LeProvost et al (1998),

comparando os resultados com os dados medidos em várias estações de monitorização

durante uma campanha no terreno. Após a calibração do modelo, diferentes simulações foram

executadas com forçamento meteorológico (pressão e vento).

Apesar de terem sido relatadas inundações em algumas zonas baixas do estuário, para a área

de estudo os resultados da simulação mostram que a elevação da água não foi suficiente para

causar directamente a inundação.

Keywords: Sobreelevação; ADCIRC; Inundação; Pressão barométrica invertida; Xynthia

Page 4: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

iv

Abstract

The ability to model storm tides (combination of the storm surge and the astronomical tide) is

important to describe how low-lying areas in estuaries are affected.

Such as in other countries, an important Portuguese city, Lisbon, is located near an estuary

(Tagus estuary). This work aims to model with detail a storm surge event that hit Lisbon in

February 2010 caused by the Xynthia storm. The storm crossed Western Europe on 26-28

February, and countries like Portugal, France and the Netherlands had storm surges in coastal

regions. The combined effects of a strong atmospheric depression, high tides and energetic

winds caused many casualties and extreme damages, particularly in France, due to flooding.

In the approach for simulating storm Xynthia special care was taken in defining the land

boundary, to ensure no restrictions in the flooding process. The ADCIRC model was used for

the hydrodynamic modeling, which included different forcing mechanisms. The model was first

calibrated using the astronomical forcing, retrieving the main tidal constituents from the

LeProvost et al. (1998) database, and the results compared with data measured during a field

campaign, for various monitoring stations.

After model calibration, different simulations were carried out with meteorological input

(pressure fields and wind).

Although flooding in some low-lying areas of the Tagus estuary has been reported by the press,

simulation results show that sea water elevation in the study area was not enough to cause a

flood.

Keywords: Storm-surge; ADCIRC; Flood; inverted barometer effect; Xynthia

Page 5: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

v

Agradecimentos Agradecimentos aos Professores Dr. António Trigo Teixeira e Dr. Maria Amélia Araújo pelo

conhecimento e dados partilhados que permitiram a execução da presente dissertação. Em

particular, ao Professor Dr. António Trigo Teixeira pelas linhas de orientação e à Professora Dr.

Maria Amélia Araújo sobretudo pelo apoio em questões mais técnicas.

Agradecimentos também ao Instituto Hidrográfico por fornecer a batimetria, ao departamento

de informação geográfica da Câmara Municipal de Lisboa pelos dados topográficos, à

Administração do Porto de Lisboa pelo fornecimento dos dados de campanha de medição e ao

ECMWF pelos dados de pressão atmosférica e de vento

Page 6: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

vi

Índice 1. Introdução ............................................................................................................................. 1

1.1 Enquadramento do problema ....................................................................................... 1

1.2 Objectivos e metodologia ............................................................................................. 2

2. Revisão Bibliográfica ............................................................................................................. 3

2.1 Marés astronómicas ...................................................................................................... 3

2.2 Níveis de referência ....................................................................................................... 6

2.3 Sobreelevação de origem meteorológica (storm surge) ............................................... 8

2.4 Análises harmónicas de séries de observações .......................................................... 11

2.5 Equipamentos de medição .......................................................................................... 12

2.6 Estudos anteriores de temas semelhantes ................................................................. 15

3. Caracterização do estuário em estudo ............................................................................... 21

3.1 Integração do estuário na cidade ................................................................................ 21

3.2 Leito do estuário e localização .................................................................................... 23

3.2.1 Afluências de água doce ao Estuário – fronteira de montante ........................... 23

3.2.2 Região das barras do tejo .................................................................................... 23

3.2.3 Corredor do Tejo ................................................................................................. 24

3.2.4 Mar da Palha ....................................................................................................... 24

4. Modelo ADCIRC ................................................................................................................... 25

4.1 Introdução ao modelo ................................................................................................. 25

4.2 Parâmetros do Modelo ............................................................................................... 28

4.2.1 Atrito de fundo .................................................................................................... 28

4.2.2 Condições de fronteira ........................................................................................ 29

4.2.3 Wetting/ drying algoritmo .................................................................................. 29

4.2.4 Passo de cálculo .................................................................................................. 30

5. Estabelecimento do Modelo ............................................................................................... 33

5.1 Domínio e datum geodésico ....................................................................................... 33

5.2 Reprodução do relevo ................................................................................................. 34

5.2.1 Batimetria ............................................................................................................ 34

5.2.2 Topografia ........................................................................................................... 37

5.3 Malha de elementos finitos ........................................................................................ 38

5.3.1 Malha do modelo ................................................................................................ 38

5.3.2 Métodos de pavimentação da malha .................................................................. 39

Page 7: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

vii

5.3.3 LTEA – Linear Truncation Error Analisys .............................................................. 39

5.3.4 Size function ........................................................................................................ 39

5.3.5 Selecção da malha e validação ............................................................................ 40

6. Calibração do modelo ......................................................................................................... 43

6.1 Campanha de medições de correntes e níveis ............................................................ 43

6.2 Definição das simulações ............................................................................................ 47

6.2.1 Condições de fronteira ........................................................................................ 47

6.2.2 Atrito de fundo .................................................................................................... 47

6.2.3 Condições iniciais ................................................................................................ 47

6.3 Parâmetros finais ........................................................................................................ 48

6.4 Comparação de resultados| forçamento astronómico............................................... 49

6.4.1 Comparação de níveis de maré ........................................................................... 49

6.4.2 Comparação de velocidades ............................................................................... 52

7. Consideração do forçamento meteorológico ..................................................................... 59

7.1 Medições e registos dos níveis de maré existentes .................................................... 59

7.1.1 Registos maregráficos, de vento e pressão ......................................................... 59

7.1.2 Pressão atmosférica ............................................................................................ 59

7.2 Caracterização da tempestade Xynthia ....................................................................... 60

7.3 Simulação do evento meteorológico seleccionado .................................................... 63

7.4 Resultados obtidos ...................................................................................................... 64

8. Considerações finais ............................................................................................................ 69

Referências bibliográficas ........................................................................................................... 71

Anexos ......................................................................................................................................... 75

Anexo I – Áreas a seco e molhadas em diferentes períodos .................................................. 75

Anexo II- Artigo de jornal ........................................................................................................ 76

Anexo III – Actividades no estuário do Tejo ............................................................................ 78

Page 8: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

viii

Índice de figuras Figura 1 - Representação simbólica dos bojos gerados em uma maré morta pela força

gravitacional e centrífuga. Adaptado de (iDicionário Aulete) ........................................................ 3

Figura 2 - Declinação da lua face à linha equatorial que provoca heterogeneidades nas marés

semi-diurnas. Adaptado de (Dias J. M., 2013) .............................................................................. 4

Figura 3 - Valores máximos anuais da maré astronómica previstos para Lisboa. Adaptado de

(Instituto Hidrográfico, 2012) ......................................................................................................... 5

Figura 4 - Níveis da maré e planos de referência. Adaptado de (Instituto Hidrográfico, 2012) .... 7

Figura 5 - Variação do nível médio do mar em Cascais ao longo dos anos. Adaptado de

(Antunes, 2012) ............................................................................................................................. 8

Figura 6 -Nível médio adoptado e nível médio físico no estuário do Tejo. Adaptado de (Antunes,

2012) ............................................................................................. Error! Bookmark not defined.

Figura 8 - Altura de marés e fases da Lua em Cascais. Adaptado de (Antunes, 2012)............ 12

Figura 9- Exemplo de marégrafos de linha de costa. (a) esquema de marégrafo flutuador.

Adaptado de (Carvalho, 2000); (b) marégrafo de radar instalado em Liverpool U.K. Adaptado de

(Woodworth, 2006) ...................................................................................................................... 13

Figura 10 - Marégrafos de águas profundas. (a) marégrafo de pressão do tipo MYRTLE, a ser

instalado no Atlântico Sul; (b) Esquema de operação de um satélite altimétrico. Adaptado de

(GLOSS-Sistema de Observação Global do Nível do Mar) ........................................................ 14

Figura 11 - Malha de elementos finitos na baía de Chesepeake. Adaptado de (Shen, et al.,

2005) ........................................................................................................................................... 15

Figura 12 - Domínio computacional e malha. Adaptado de (Araújo, et al., 2011a) .................... 16

Figura 13 - Representação da série temporal do marégrafo de Viana do Castelo de 14 a 16

Outubro de 1987 dos resultados obtidos por uma simulação com forçamento astronómico e os

resíduos. Adaptado de (Araújo, et al., 2011a) ............................................................................ 17

Figura 14 - Resíduos observados e computacionais da tempestade de 1987. Adaptado de

(Araújo, et al., 2011b) .................................................................................................................. 18

Figura 15 – Série com a simulação para o forçamento astronómico e meteorológico, aplicado

simultaneamente e em separado somados A posteriori. Comparação com as observações do

nível do mar do marégrafo de Viana do Castelo. Adaptado de (Araújo, et al., 2011b) .............. 19

Figura 16 – Batimetria considerada na calibração do modelo. Adaptado de (Marujo, 2011) ..... 19

Figura 17 - Estuário do Tejo. Adaptado de (Ministério da Agricultura, 2010) ............................. 21

Figura 18 - Tipificação da ocupação antrópica na orla estuarina. Adaptado de (Freire, et al.,

2012) ........................................................................................................................................... 22

Figura 19 - Região das barras do Tejo (ARH do Tejo, I.P., 2009) .............................................. 23

Figura 20 - Domínio da malha de elementos finitos.................................................................... 33

Figura 21 - Levantamentos hidrográficos do Estuário do Tejo pelo Instituto Hidrográfico

(Instituto Hidrográfico, 2013). ...................................................................................................... 35

Page 9: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

ix

Figura 23 - Cartas do Instituto Hidrográfico georreferenciadas (à esquerda) e análise da

batimetria do IH sobre as cartas do IH (à direita) ....................................................................... 36

Figura 24 - Pormenor da topografia na margem do Tejo e da nova linha de domínio ............... 37

Figura 25 – Batimetria do IH –scatter (A). Representação gráfica do relevo da malha de

elementos finitos -malha (B) ........................................................................................................ 41

Figura 26 - Localização dos marégrafos ..................................................................................... 43

Figura 27 - Localizações dos correntógrafos .............................................................................. 44

Figura 28 – Direcção e magnitude do vento em várias fases do período de campanha de

medições de 1987: a) 31 de Outubro, 00:00:01 am; b) 4 de Novembro, 00:00:01 am; c) 9 de

Novembro, 00:00:01 am; d)14 de Novembro, 00:00:01 am. ....................................................... 45

Figura 29 – Pressão atmosférica ao nível do mar em milibares em vários períodos da

campanha de medicos de 1987: a) 31 de Outubro, 00:00:01 am; b) 4 de Novembro, 00:00:01

am; c) 9 de Novembro, 00:00:01 am; d) 14 de Novembro, 00:00:01 am. .................................. 46

Figura 30 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Cascais ........................ 49

Figura 31 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Paço de Arcos ............. 50

Figura 32 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Trafaria ........................ 50

Figura 33 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Pedrouços .................... 50

Figura 34 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Alcântara ...................... 51

Figura 35 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Lisboa .......................... 51

Figura 36 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Lisboa .......................... 51

Figura 37 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C1 ................ 53

Figura 38 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C1 ......... 53

Figura 39 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C2 ................ 53

Figura 40 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C2 ......... 54

Figura 41 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C3 ................ 54

Figura 42 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C3 ......... 54

Figura 43 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C4 ............... 55

Figura 44 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C ........... 55

Figura 45 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C6 ............... 55

Figura 46 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C6 ......... 56

Figura 47 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C8 ................ 56

Figura 48 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C8 ......... 56

Figura 49 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C9 ................ 57

Figura 50 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C9 ........ 57

Figura 51 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C10 .............. 57

Figura 52 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C10 ....... 58

Figura 53 - Fotos documentando o impacto da tempestade Xynthia em: La Faute-sur-mer,

França (à esquerda); na Baía do Seixal a sul do estuário do Tejo, Portugal (à direita) ............. 60

Page 10: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

x

Figura 54 - Trajectória de superfície da tempestade Xynthia como representado na ERA-Interim

(a azul) e na simulação CCLM, Cosmo Climate Limited area model (a verde) .Adaptado de

(Liberato, Pinto, Trigo, & Ludwig, 2013) ...................................................................................... 62

Figura 55 - Análise de isóbaras às 06:00 GTM de 27 de fevereiro 2010 (Liberato, Pinto, Trigo,

& Ludwig, 2013)........................................................................................................................... 62

Figura 56 - Simulação com forçamentos em conjunto vs. somados A posteriori ....................... 64

Figura 57 – Marégrafo cascais, componente astronómica (T-Tide) e resíduos observados...... 65

Figura 58- Forçamento meteorológico e astronómico somados; forçamento astronómico

simulado (separadamente) e o resíduo simulado (separadamente) .......................................... 65

Figura 59 - Forçamento meteorológico e astronómico simulado (simultaneamente);forçamento

astronómico simulado (separadamente); Resíduo computacional. ............................................ 66

Figura 60 - Comparação de resíduos observados e simulados………………………..…………66

Figura 61 - Resíduos simulados e a pressão barométrica invertida……….……………………..66

Figura 62 - Tempestade Xynthia. Elevação da superfíce da água nas margens do concelho de

Lisboa.: a) 25-02-2010 12:12:00 p.m em PMAV b) 27-02-2010 14:12:00 p.m. no pico da

tempestade c) zoom em a); d) zoom em b)………………………………………………………….67

Page 11: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

xi

Índice de tabelas

Tabela 1 - Áreas ocupadas por classe de ocupação na orla estuarina. Adaptado de (Freire, et

al., 2012) ...................................................................................................................................... 22

Tabela 2 - Wetting/drying opções por defeito ............................................................................. 30

Tabela 3 - Tabelas de localização geográfica dos marégrafos e correntógrafos ....................... 44

Tabela 4 - Quadro síntese dos parâmetros finais utilizados na calibração ................................ 48

Tabela 5 - Parâmetros utilizados para simulação da tempestade…….…..………………………62

Page 12: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

xii

Lista de abreviaturas

ADCIRC – ADvanced CIRCulation model

APL - Administração do Porto de Lisboa

BMAM - Baixa-mar de águas mortas

BMAV - Baixa-mar de águas vivas

BMmin. - Baixa-mar mínima

CP - Carte Parallelogramatique

CCLM – Cosmo CLimate Model

ECMWF – European Centre for Medium-range Weather Forecast

FS - Feixe Simples

GMT - Greenwich Mean Time

GWCE – Equação Generalizada de Continuidade de Onda

GLOSS - Sistema de Observação Global do Nível do Mar

IBTYPE - Escalar que indica o tipo de fronteira

IGP – Instituto Geográfico Português

IH – Instituto Hidrográfico

IOE - Instituto Oceanográfico Espanhol

LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil

LTEA – Local Truncation Error Analysis

MEF - Método de Elementos Finitos

MDF - Método das diferenças finitas

MSLP - Mean sea level pressure

NE - Nordeste

NMM - Nível Médio do Mar

NMAdop - Nível Médio Adoptado

NMF – Nível médio Físico

NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration

PMmáx.- Preia-mar máxima

PMAV - Preia-mar de águas vivas

PMAM - Preia-mar de águas mortas

POE - Plano de Ordenamento do estuário do Tejo

SMS – Surface-water Modelling System

SMF - Sistema multifeixe

STWAVE - Steady-State Spectral Wave Model

UTM - Sistema Universal Transverso de Mercator

ZH - Zero Hidrográfico

2DDI – 2D Depth Integrated

Page 13: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

xiii

Lista de Símbolos

Latinos

Ai - Amplitude da constituinte harmónica i [L]

𝑐 – Celeridade [L/T]

𝐶𝑑 – Coeficiente de arrastamento relacionado com o vento (adimensional)

Cjn – Constante que caracteriza a amplitude do constituinte da maré n, da espécie j

𝐶𝑓 – Coeficiente de atrito de fundo [ T-1 para formulação linear; adimensional para formulação

quadrática e híbrida]

CN − Número de Courant

f – Parâmetro de Coriolis [T-1]

fjn – Factor nodal temporal

𝑔 − Aceleração da gravidade [L2/T]

h – Cota batimétrica [L]

H = ζ + h – Profundidade total da coluna de água [L]

Hbreak - Altura de rebentação da onda [L]

i – Inclinação da superfície livre

j - Espécie de maré

P - Pressão atmosférica [M/T2L]

PA – Pressão atmosférica à superfície do mar [M/T2L]

R – Raio da Terra [L]

t - Tempo [T]

𝑇- Período de onda, correspondente ao período de maré [T]

t0 – Tempo de referência [T]

Tjn – Período do constituinte da maré n da espécie j [T]

U – Velocidade a profundidade média segundo a direcção horizontal u [L/T]

𝑢λ − Velocidade a profundidade média na direcção horizontal u, em coordenadas esféricas [L/T];

V – Velocidade a profundidade média segundo a direcção horizontal v [L/T]

𝑣φ– Velocidade a profundidade média na direcção horizontal v, em coordenadas esféricas [L/T];

𝑣𝑗𝑛 – Argumento astronómico temporal

𝑊10- Velocidade do vento medida a 10 m acima do nível do mar [L/T]

x’, y’ – Coordenadas cartesianas

Page 14: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

xiv

Gregos

𝛾 – Densidade da água (Peso específico) [M/(L2T2)]

∆𝑡- Passo de cálculo [T]

∆𝑥- Espaçamento entre nós da malha de cálculo [L]

ζ - Deslocamento do nível de água em relação ao nível médio da superfície [L]

λ – Longitude (graus)

𝜆0 − Longitude do ponto central da projecção geográfica (graus)

𝜆 - Comprimento de onda [L] (capitulo 5)

η- Superfície livre da água [L]

𝜂 – Sobreelevação devida ao vento [L]

𝜂(𝜆, 𝜙, 𝑡) - Maré de equilíbrio potencial newtoniana

𝜌 – Massa volúmica do mar [M/L3]

ρ0 – Massa volúmica de referência [M/L3]

𝜌𝑎𝑖𝑟 - Massa volúmica do ar [M/L3]

𝜏𝑠 – Tensão tangencial exercida pelo vento sobre a superfície do mar [M/T2L]

𝜏𝜆– Tensão imposta à superfície segundo a direcção x [M/T2L]

𝜏𝜙 – Tensão imposta à superfície segundo a direcção y [M/T2L]

𝜏𝑏 – Tensão tangencial exercida pelo fundo [M/T2L]

𝜏𝑏𝑥 – Tensão tangencial exercida pelo fundo na direcção x [M/T2L]

𝜏𝑏𝑦 – Tensão tangencial exercida pelo fundo na direcção y [M/T2L]

τ∗ - Termo de atrito de fundo definido com base na formulação linear, quadrática ou híbrida

φ - Latitude (graus)

φi- Fase da constituinte harmónica (graus)

𝜙0- Latitute do ponto central da projecção da geográfica (graus);

ωi - Velocidade angular (graus)

Page 15: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

1

1. Introdução

1.1 Enquadramento do problema

As inundações em zonas costeiras e estuarinas devem-se muitas vezes a elevados níveis de

maré complementados com o fenómeno de sobreelevação de origem meteorológica no

decorrer de uma tempestade.

Os ventos fortes, a descida da pressão atmosférica, o wave-setup e o efeito de Coriolis, podem

provocar danos materiais elevados ou, em casos de maior gravidade, a perda de vidas

humanas, pela submersão temporária das margens que se encontram a cotas relativamente

baixas. Para além da destruição que a sobreelevação pode causar, essencialmente condiciona

o uso do território costeiro e estuarino, como exemplo a actividade portuária que é geralmente

afectada quando os cais e terraplenos são invadidos pela água.

A sobreelevação de origem meteorológica, de ora em diante designada por storm surge, na

costa portuguesa não é tipicamente um fenómeno de grande intensidade ou de enormes

perdas associadas comparativamente a outros locais do mundo, no entanto tem vindo

gradualmente a tornar-se mais frequente. Reconhecendo a importância do fenómeno, a

Comissão Europeia elaborou a Directiva 2007/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho a

23 de Outubro de 2007 relativa à avaliação e gestão dos riscos de inundações, pedindo aos

Estados Membros que estudem o problema no sentido da prevenção e mitigação e que

procedam a zonamentos das áreas mais vulneráveis.

Um estudo detalhado como o presente nesta dissertação torna-se relevante na medida em que

existem poucos estudos na costa portuguesa no que se refere à modelação da sobreelevação

do nível do mar de origem meteorológica (Araújo et al, 2011a,b; Marujo et al, 2013) e porque as

margens do estuário do Tejo (Lisboa) estão densamente ocupadas pela malha urbana e por

instalações portuárias.

O recurso a modelação em simulação computacional apresenta-se como método essencial,

possibilitando a obtenção de resultados cuja qualidade e rigor seria impraticável por simulação

física, dada a sua elevada complexidade.

Page 16: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

2

1.2 Objectivos e metodologia

Uma abordagem para simulação de eventos de tempestade foi investigada e apresentada

neste trabalho. O objectivo principal da dissertação é de simular, com recurso ao modelo

matemático ADCIRC, o fenómeno de sobreelevação meteorológica para o estuário do Tejo no

decorrer de uma tempestade, em concreto, a tempestade Xynthia.

A simulação será feita utilizando o modelo computacional Advanced Circulation Model

(ADCIRC) que permite reproduzir a hidrodinâmica das marés no local, considerando os

principais mecanismos forçadores.

O domínio oceânico é escolhido de modo a captar o melhor possível a trajectória das

tempestades, em especial, as depressões com impacto no estuário do Tejo. O domínio de

cálculo inclui o estuário do Tejo e parte do oceano Atlântico entre o Cabo da Roca e o Cabo

Espichel.

Alguns dos dados utilizados no estuário são retirados de estudos semelhantes, em particular

alguns parâmetros do modelo computacional, e os registos de uma campanha de medições de

nível e velocidades em vários pontos dentro do estuário realizada em 1987 pelo Porto de

Lisboa.

O modelo digital de elevação é construído integrando quer informação batimétrica como

topográfica, cobrindo a totalidade do domínio. A fronteira terrestre foi seleccionada de forma a

não restringir possíveis inundações.

A calibração do modelo foi efectuada através da comparação dos resultados simulados pelo

modelo ADCIRC com os resultados obtidos nos vários pontos do estuário por uma campanha

de medições realizada em 1987 pelo Porto de Lisboa. O modelo utilizado foi calibrado usando

o forçamento astronómico e alterando os parâmetros de modelo mais importantes. Após

calibração, foi simulada a tempestade Xynthia, adicionando no modelo o forçamento

meteorológico. As simulações foram realizadas para avaliar o desempenho do modelo,

constatar as interacções não lineares entre forçamentos meteorológicos e astronómicos, e

simular a manifestação de níveis extremos de maré nas margens do estuário no decorrer de

uma storm surge tendo sido dado especial atenção para a margem que vai de Alcântara ao

Parque das Nações.

Page 17: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

3

2. Revisão Bibliográfica

2.1 Marés astronómicas

A maré astronómica resulta da combinação de efeitos gravitacionais de dois astros, o Sol e a

Lua. Matematicamente a maré astronómica é o somatório de constituintes harmónicas

sinusoidais.

A Lua tem maior preponderância que o Sol pois apesar de ter uma massa inferior encontra-se

mais perto da Terra. As preia-mares ocorrem nas passagens meridianas superior e inferior da

Lua, sucedem-se com um intervalo de meio-dia lunar (aproximadamente 12H25m). Assim o

intervalo de tempo médio entre preia-mar e baixa-mar é de 6h13m. De notar, que o mar não

reage instantaneamente à passagem da Lua, havendo um atraso maior ou menor para cada

local. Esse intervalo de tempo, conhecido por high water lunitidal interval, é de cerca de 2 horas

em Portugal continental.

Quando a Terra, Lua e Sol se encontram alinhados, em oposição (Lua cheia) ou conjunção

(Lua nova), ocorrem as maiores amplitudes de maré. A influência do Sol reforça a da Lua e

ocorrem as marés vivas, em ciclos de aproximadamente 15 dias. Quando o Sol e a Lua estão

em quadratura, a influência do Sol contraria a da Lua e ocorrem as marés mortas, marés com

menor amplitude. Existe para esta situação, também um atraso entre reacção dos oceanos aos

astros intitulada de idade da maré, correspondente aproximadamente a um dia.

Figura 1 - Representação simbólica dos bojos gerados em uma maré morta pela força gravitacional e centrífuga. Adaptado de http://www.portaldapalavra.com.br/ilustracoes/MARE.jpg

Nas faces de maré solar reflexa e maré lunar reflexa, a força centrífuga exercida sobre um

ponto à superfície é maior do que a força de atracção gravitacional dos astros. Tal deve-se ao

facto deste ponto estar mais distante dos astros do que do centro de massa do sistema. Assim,

Page 18: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

4

esta diferença de forças provoca um movimento das massas de água no sentido dos astros

(nas faces directamente viradas para estes) e, na face oposta (como o reflexo de uma força de

equilíbrio). Este movimento cria dois bojos na superfície oceânica da Terra, um no sentido da

Lua e outro a afastar-se desta (Figura 1).

O plano da órbita lunar não coincide com o plano equatorial terrestre, o ângulo formado pela

linha que une os centros da terra e da lua e o plano equatorial terrestre é variável, oscilando

até 28,5º para norte e para sul desse plano (Figura 2). Quanto maior for o ângulo de

declinação, maior será o ângulo formado pelo plano das marés lunares directa e reflexa e pelo

plano equatorial e consequentemente, maiores serão as diferenças, nas médias e

altas latitudes, sentidas no lado do hemisfério virado para a Lua e no oposto. Tal faz com que,

a estas latitudes, as marés semi-diurnas revelem heterogeneidades do tipo diurno.

Figura 2 - Declinação da lua face à linha equatorial que provoca heterogeneidades nas marés semi-diurnas. Adaptado de (Dias, 2013)

As amplitudes em Portugal Continental são da ordem de 3,0 m para marés vivas e cerca de

1,40 cm para marés mortas. (Instituto Hidrográfico, 2012)

A lua segue uma trajectória elíptica em torno da Terra. O período entre perigeus (e apogeus)

sucessivos é de 27,5 dias, quando a lua está mais próxima da Terra (no perigeu), a geração de

forças gravitacionais são superiores do que o normal, produzindo marés acima da média.

Quando a Lua está mais distante da Terra (no apogeu), a força de maré é menor, e as

amplitudes de maré são inferiores à média. Uma situação semelhante ocorre quando a Terra

está mais próxima do Sol (periélio), ou mais afastada do sol (afélio). (U.S. Nacional Oceanic

and Atmosferic Administration, 2008)

De acordo com a Figura 3 adaptado do Instituto Hidrográfico (2012), o máximo absoluto de

4,38 metros está previsto para dois anos, 2002 e 2019, espaçados de 17 anos.

Page 19: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

5

Figura 3 - Valores máximos anuais da maré astronómica previstos para Lisboa. Adaptado de (Instituto Hidrográfico, 2012)

De referir que as grandes massas continentais e morfologias do fundo dos oceanos por

impedirem o fluxo ininterrupto da água sobre a superfície do planeta têm influência nas

características das marés como a amplitude e a fase.

O conceito de maré do ponto de vista da análise matemática é explicado através das variações

da altura da maré que podem ser determinadas por um número finito de termos harmónicos

aos quais se dá o nome de constituintes harmónicas de maré. O período de cada constituinte é

estabelecido a partir de estudos realizados aos efeitos físicos astronómicos, como os

brevemente descritos no parágrafo anterior. Porém as constantes harmónicas, amplitude e fase

de resposta da maré, são para cada constituinte independentes do tempo e típicas de cada

porto, constituindo a base fundamental para a caracterização da maré num dado local. É então

determinada a amplitude A (em metros) e a fase φi (em graus) de cada constituinte, a partir da

série de alturas de água registadas.

Em suma, cada constituinte tem a forma da eq. 1

η = ∑ Ai ∗ cos(ωi ∗ t − φi) [1]

Em que:

η- Superfície livre da água;

Ai- Amplitude da constituinte harmónica i;

wi - velocidade angular, geralmente em graus, obtida pelo quociente do período de cada

constituinte por 2π;

φi- Fase da constituinte harmónica para t = 0, corresponde ao atraso em relação à maré de

equilíbrio.

Page 20: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

6

O ângulo (ωi ∗ t − φi) varia uniformemente com 𝑡 (Instituto Hidrográfico, 2012).

Entre a vasta gama de constituintes harmónicas existentes e as várias possíveis de serem

consideradas no ADCIRC, destacam-se, pela sua preponderância, as semidiurnas M2, N2 e S2

e as diurnas K1 e O1, que integram o fragmento de maior contributo das interações

astronómicas na maré (Militello, 1999; Australian Government Department of defense, 2012):

M2 – Constituinte Principal Lunar Semi-diurna, representa a rotação da terra em relação à Lua

T=12.4206012 h;

N2 – Constituinte Grande Lunar elíptico, juntamente com L2, altera a frequência do M2 de

modo a considerar os efeitos da variação da velocidade orbital da Lua devido à sua órbitra

elíptica. T=12,6583475 h;

S2 – Constituinte Principal Solar Semi-diurna, representa a rotação da terra em relação ao Sol,

T=12.000000h;

K1 – Constituinte Lunisolar Diurna: com O1 expressa o efeito da declinação da Lua,

considerando a irregularidade diária e, num grau extremo, as marés diárias; com P1 expressa

os efeitos da declinação do Sol , T= 23.9344721 h;

O1 – Constituinte Principal Lunar Diurna, representa o efeito da inclinação da Lua, T=25.8193

h.

Segundo o estudo realizado para a zona do estuário do Tejo (Vieira, 1991) é de esperar que as

componentes semidiurnas sejam dominantes, com grande importância para a componente M2

que é mais de três vezes superior à componente S2. À medida que se caminha para o interior

do estuário dá-se uma amplificação progressiva de todas as componentes, de forma

ligeiramente mais prenunciada para as componentes diurnas relativamente à semidiurnas.

(Dias e Valentim, 2011)

2.2 Níveis de referência

O Zero Hidrográfico (ZH) é a superfície em relação à qual são referidas as sondas e as linhas

batimétricas das cartas náuticas. Nas cartas portuguesas, o Z.H. situa-se abaixo do nível da

maré astronómica mais baixa, pelo que as previsões de altura de maré são sempre positivas.

O Nível Médio do Mar (NMM) é tradicionalmente criado com base nas leituras dos marégrafos,

eliminando dos dados recolhidos as flutuações devidas às ondas e a factores meteorológicos,

obtém-se uma leitura do nível médio do mar durante determinado período por referência

ao datum utilizado.

Outros níveis de referência a destacar (Porto de Lisboa, 2012) possíveis de serem visualizados

na figura 4:

Preia-mar máxima (PMmáx.) é a altura de água máxima que se prevê que possa

ocorrer devido à maré astronómica;

Preia-mar de águas vivas (PMAV) é o valor médio, tomado ao longo do ano, das

alturas de maré de duas preia-mares sucessivas, que ocorrem quinzenalmente quando

a amplitude de maré é maior (próximo das situações de Lua Nova ou Lua Cheia);

Page 21: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

7

Preia-mar de águas mortas (PMAM) é o valor médio tomado ao longo do ano, das

alturas de maré de duas preia-mares sucessivas, que ocorrem quinzenalmente quando

a amplitude de maré é menor. (próximo das situações de Quarto Crescente ou Quarto

Minguante);

Baixa-mar de águas mortas (BMAM) é o valor médio, tomado ao longo do ano, das

alturas de maré de duas baixa-mares sucessivas, que ocorrem quinzenalmente quando

a amplitude de maré é menor (próximo das situações de Quarto Crescente ou Quarto

Minguante);

Baixa-mar de águas vivas (BMAV) é o valor médio, tomado ao longo do ano, das

alturas de maré de duas baixa-mares sucessivas, que ocorrem quinzenalmente quando

a amplitude de maré é maior (próximo das situações de Lua Nova ou Lua Cheia);

Baixa-mar mínima (BMmin.) é o nível da maré astronómica mais baixa. É a altura de

água mínima que se prevê que possa ocorrer devida à maré astronómica.

Figura 4 - Níveis da maré e planos de referência. Adaptado de (Instituto Hidrográfico, 2012)

Para os portos no estuário do Tejo adoptou-se uma referência única para o Nível Médio do mar

(NMM) 2.08 m acima do Z.H. Este valor data de 1938 e é relativo ao Datum altimétrico de

Cascais. Actualmente, os registos do marégrafo de Cascais do Instituto Geográfico Português

indicam um nível médio na ordem dos 15 cm (Antunes, 2012) acima do nível médio adoptado

em 1938 ou segundo outra fonte de 10 cm (Instituto Hidrográfico, 2012) o que resulta em níveis

médios de 2.23 m ou 2.18 m, respectivamente, para o porto de Cascais.

Esta diferença deve-se ao facto do nível do mar ter vindo a aumentar, estima-se que 2mm/ano

em todo o mundo (Archfield, 2005). Resultado ou de mudanças climáticas, ou de outros

fenómenos de eustasia, ou até mesmo de grandes eventos tectónicos (isostasia). A

importância destas variações deve ser quantificada e avaliada, pois é notória a fase de subida

quando se procede à análise sistemática das longas séries de observações maregráficas

disponíveis para alguns locais do globo. O que pode contribuir para que inundações causadas

pelo fenómeno de sobreelevação meteorológica se tornem mais frequentes.

Page 22: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

8

Figura 5 - Variação do nível médio do mar em Cascais ao longo dos anos. Adaptado de (Antunes, 2012)

2.3 Sobreelevação de origem meteorológica (storm surge)

As tempestades são perturbações atmosféricas caracterizadas por baixas pressões e ventos

fortes. A sobreelevação meteorológica ou storm surge, representa a resposta da superfície da

água aos efeitos do vento e a campos de pressão.

A situação proeminente acontece para centros de baixa pressão, verificando-se um

empolamento da superfície da água que acompanha o movimento da depressão. Quando a

tempestade se aproxima da costa esse empolamento pode tomar maiores proporções se o

vento estiver a actuar em direcção e sentido à margem. O efeito de uma storm surge será mais

devastador se a tempestade coincidir com uma maré viva em preia-mar podendo ser altamente

destrutiva, sobretudo nas margens com cotas mais baixas.

O termo storm surge está normalmente reservado para os excessos nos níveis de maré

gerados por severas tempestades. Numa análise de registos maregráficos a storm surge é um

resíduo, que integra a diferença entre os níveis observados e os previstos (componente

astronómica). O termo “surge” sugere um súbito movimento da água rapidamente gerado mas

que num curto período de tempo terminará.

Não existem dois eventos de sobreelevação exactamente iguais porque pequenas variações

nos padrões da meteorologia produzem respostas substancialmente diferentes na água,

especialmente em locais com tendência para oscilações e ressonância (Miranda, et al., 2002).

Alterações na pressão atmosférica produzem mudanças nas forças a actuar verticalmente na

superfície do mar, e ventos fortes dão origem a forças paralelas à superfície do mar. O efeito

da combinação destes dois agentes está dependente da duração e intensidade dos mesmos e

da densidade da coluna de água local.

Geralmente numa tempestade, os efeitos do vento e da pressão não podem ser identificados

separadamente. Em termos de tempo e de escala espacial a sobreelevação tem normalmente

a mesma magnitude da tempestade que a gera, usualmente um ou dois dias e poucas

centenas de quilómetros. O storm surge tipicamente eleva a superfície do mar quase tão rápido

quanto a velocidade do vento perto da costa aumenta, mas com um pouco de atraso. A

Page 23: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

9

sobreelevação geralmente dura o mesmo tempo dos ventos fortes (University of Wisconsin

Sea Grant Institute, 2013). Uma tempestade maior produz um storm surge de maior dimensão,

porque os ventos abrangem uma área do oceano superior. (National Hurricane Center)

De seguida, é apresentada a reacção do nível do mar à pressão atmosférica formulada por

Pugh (1987), que demonstra como esta relação inversa entre o nível do mar e a pressão

atmosférica pode ser modelada teoricamente.

Supondo um volume de controlo de mar, com pequeno ∂x e ∂y, e que este se encontra numa

posição de equilíbrio em resposta à pressão atmosférica aplicada, tem-se (equações 2 e 3):

𝜕𝑃

𝜕𝑥= 0 [2]

𝜕𝑃

𝜕𝑦= 0 [3]

A pressão é dada pela soma do nível do mar e os termos de pressão atmosférica por, eq. 4:

𝑃 = 𝑃𝐴 − 𝜌 × 𝑔 × (𝑧 − 𝜁) [4]

Sendo:

𝑃𝐴- pressão atmosférica à superfície do mar;

𝜌 – densidade do mar;

𝑔 – aceleração da gravidade;

𝑧 – tem valor nulo na linha de nível médio, toma valores negativos ou positivos consoante se

encontra abaixo ou acima da mesma;

𝜁 - deslocamento do nível de água em relação ao nível médio da superfície.

Para valores de x e y, obtemos a eq. 5:

𝑃𝐴 + 𝜌𝑔𝜁 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 [5]

Para variações locais da pressão atmosférica média sobre os oceanos ∆𝑃𝐴 , o nível da

superfície do mar varia em relação ao seu nível médio de acordo com a eq. 6:

∆𝜁 = − ∆𝑃𝐴

𝜌 × 𝑔 [6]

Assumindo valores para a densidade da água de 𝜌 = 1026 kg/m3 e 𝑔 =9,8m/s2 ,eq. 7:

∆𝜁 = −0,993 × ∆𝑃𝐴 [7]

Com 𝜁 em centímetros e ∆𝑃𝐴 em milibares.

Um abaixamento na pressão atmosférica de 1 mb provoca uma subida de nível do mar na

ordem de 1 cm. Tipicamente, numa região do globo como a que se insere Portugal, as

Page 24: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

10

pressões atmosféricas variam num intervalo de valores entre 980 mb e 1030 mb.

Comparativamente à pressão atmosférica normal de 1013 mb o nível do mar é esperado variar

entre +33 cm e -17 cm do nível médio. (Pugh, 1987).

Constituída a análise do efeito da pressão atmosférica, analisa-se de seguida a modelação

teórica da resposta do nível do mar em relação à acção do vento. Na faixa costeira ou em

bacias periféricas (baias e estuários) as profundidades são por norma pequenas e a presença

da linha litoral limita a zona de actuação do vento e condiciona a circulação que este induz. O

risco de inundação da margem torna-se iminente quando o vento sopra perpendicularmente à

costa exercendo uma força de arrastamento sobre a superfície líquida (do mar) dando origem a

uma sobreelevação do nível de repouso.

Em problemas deste tipo o efeito da força de Coriolis, ainda que presente, pode ser

desprezado.

Na figura 7 e eq.8 temos 𝜏𝑠 como a tensão tangencial exercida sobre a superfície do mar pelo

vento:

𝜏𝑠 = 𝐶𝑑 × 𝜌𝑎𝑖𝑟 × 𝑊102 [8]

em que

𝜌𝑎𝑖𝑟 - representa a massa volúmica do ar;

𝑊10- a velocidade do vento medida a 10 m;

𝐶𝑑 - um parâmetro adimensional de arrastamento, que pode ser dado por

𝐶𝑑 = (0,63 + 0,066 𝑊10) × 103 para valores 2.5m.s-1 < 𝑊10 <21 m.s-1 (Pugh, 1987)

De notar que o valor deste parâmetro toma expressões e valores desiguais para diferentes

autores.

Figura 6- Sobreelevação devida ao vento. Estabelecimento das condições de equilíbrio. Adaptado de (Oliveira,

1981)

A tensão tangencial do vento varia com o quadrado da velocidade do vento. O mesmo se

verifica com o declive da superfície livre se estudarmos o conjunto de forças para uma coluna

de água de dimensão dx, admitindo que o vento soprou tempo suficiente para atingir uma

situação de equilíbrio, obtém-se a eq. 9:

Page 25: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

11

𝑑𝜂

𝑑𝑥=

𝜏𝑠 + 𝜏𝑏

𝛾(ℎ + 𝜂) [9]

Sendo:

ℎ - profundidade relativa ao nível de repouso;

𝜂 – sobreelevação devida ao vento;

𝛾 – densidade da água;

𝜏𝑏 – tensão tangencial exercida pelo fundo, proveniente de uma corrente secundária provocada

pelo vento.

Assim, constata-se também que o declive da superfície livre é directamente proporcional ao

quadrado da velocidade do vento e inversamente à profundidade. O que significa que uma

mesma velocidade de vento poderá conduzir a sobreelevações sem significado prático numa

zona de grandes ou médias profundidades, e a uma sobreelevação perigosa ou mesmo

catastrófica num estuário ou mar pouco profundo. (Oliveira, 1981).

Assumindo um cenário de integração na direcção x, quanto maior o valor do mesmo, maior

será a tensão tangencial gerada, levando a maiores sobreelevações. Sendo o declive da

superfície livre directamente proporcional ao quadrado da velocidade do vento e inversamente

à profundidade.

2.4 Análises harmónicas de séries de observações

A análise de séries temporais permite a visualização de alguns dos conceitos mencionados

anteriormente. Se analisarmos um registo com cerca de um mês, numa região semi-diurna

como a de Portugal podemos observar as variações entre preia-mar e baixa-mar. Quando

ocorrerem as maiores diferenças entre preia-mar e baixa-mar e as maiores amplitudes de

maré, estamos perante as marés vivas. As marés mortas são representadas pelas menores

amplitudes de preia-mar e baixa-mar. A relação das marés com as fases da lua já explicada

conceptualmente encontra-se exemplificada na figura 8:

Page 26: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

12

Figura 7 - Altura de marés e fases da Lua em Cascais. Adaptado de (Antunes, 2012)

O registo do nível da água é normalmente gravado com um intervalo de tempo de 60 minutos,

o que permite a captação de muitas oscilações correspondentes a ondas com baixos períodos,

por exemplo, ondas capilares, ondas de vento, vagas, swell e seichas. Contudo, os principais

objectivos dos registos maregráficos centram-se no registo de ondas de maior período (como

as ondas de maré), alterações no nível médio do mar e eventos extremos de storm surge ou

tsunamis.

O registo é feito através de aparelho de medição, tipicamente por marégrafos. O marégrafo é o

instrumento que regista automaticamente o nível em um determinado ponto da costa. O

registo produzido, sob a forma gráfica de série temporal, é habitualmente denominado por

maregrama.

As séries temporais submetidas a uma cuidadosa análise, podem ser consideradas no

processo de calibração.

Quando se modelam os eventos de tempestade, pode considerar-se o forçamento

astronómico e o forçamento meteorológico. A série temporal astronómica é baseada nas

diferentes componentes harmónicas do movimento periódico do sol e da lua. A parte

meteorológica do registo pode ser obtida a partir da diferença entre o registo da série temporal

original da maré e o registo da série temporal astronómica.

Relativamente aos resultados obtidos em alguns trabalhos anteriores, é de referir a não

linearidade entre os valores obtidos de uma simulação com forçamentos astronómico e

meteorológico em simultâneo e os valores obtidos da soma de duas simulações com

forçamento astronómico e meteorológico em separado (Araújo, et al., 2011b; Marujo, 2011).

2.5 Equipamentos de medição

A medição do nível do mar é maioritariamente feita na linha costa, especialmente em áreas

densamente povoadas. Tipicamente, ao longo da costa os marégrafos mais utilizados são os

marégrafos flutuadores (de bóia) e os marégrafos de pressão, e em mar aberto os marégrafos

de pressão ou medição por satélite.

(m)

Page 27: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

13

O marégrafo de flutuador, figura 9 (a), consiste em uma bóia que transmite as oscilações do

mar a um mecanismo que as regista em uma folha de papel (actualmente o processo já é feito

digitalmente), elaborando, assim, o registo do nível da maré. Este tipo de marégrafo é a fonte

dos maregramas com maior peso histórico.

Recentemente, são também utilizados os marégrafos de radar, figura 9 (b), que operam fora de

água e enviam pulsos electromagnéticos na vertical em direcção à superfície do mar, o

intervalo de tempo entre a emissão dos pulsos electromagnéticos e a recepção dos mesmos

indica a distância do emissor à superfície do mar da qual é extraída a informação sobre o nível

do mar.

O marégrafo de pressão (de fundo) mede a pressão num ponto em profundidade e converte

esse valor em altura do nível do mar, corrigindo as medidas de acordo com a pressão

atmosférica local.

(a) (b) Figura 8- Exemplo de marégrafos de linha de costa. (a) esquema de marégrafo flutuador. Adaptado

de (Carvalho, 2000); (b) marégrafo de radar instalado em Liverpool U.K. Adaptado de (Proudman Oceanographic Laboratory, 2006)

Page 28: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

14

Nas medições realizadas nas profundezas oceânicas, para além da utilização de marégrafos

de pressão podem ser também utilizados satélites altimétricos (figura 10). Os altímetros

colocados em satélites ou aviões enviam pulsos electromagnéticos e o intervalo de tempo para

a recepção do eco, a forma do mesmo indica o nível da superfície do mar, a intensidade do

vento e a altura (significativa) das ondas de superfície (GLOSS-Sistema de Observação Global

do Nível do Mar).

Para medição de correntes e velocidades de maré existem os correntógrafos. Embora dependa

do fabricante, estes equipamentos por norma vêm acoplados das demais funções tais como

medição da condutividade (através da salinidade), direcção da corrente e da temperatura.

(a) (b)

Figura 9 - Marégrafos de águas profundas. (a) marégrafo de pressão do tipo MYRTLE, a ser instalado no Atlântico Sul; (b) Esquema de operação de um satélite altimétrico. Adaptado de (GLOSS-Sistema de

Observação Global do Nível do Mar)

Page 29: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

15

2.6 Estudos anteriores de temas semelhantes

Das múltiplas investigações internacionais de modelação das tempestades e das diferentes

aplicações praticáveis com o software ADCIRC, vale a pena objectivar a revisão aos trabalhos

similares nos objectivos, domínio e características técnicas com a presente dissertação. A

apresentação destes mesmos trabalhos foca-se nos parâmetros e opções efectuadas

respeitantes ao enriquecimento da realização do presente estudo.

Como exemplo de estudo internacional, Shen et al. (2005) utilizou o modelo ADCIRC na

modelação da Chesapeake Bay, figura 11, (estados Maryland e Virginia, dos Estados Unidos

da América) com o intuito de simular a passagem do Furacão Isabel. Foram utilizadas malhas

muito refinadas no interior do estuário e malhas mais grosseiras no exterior em águas

profundas. Na zona central da baía a malha tem uma resolução de 200 m a 1000 m. Nos

cursos de água menores a resolução foi de cerca de 50 a 700 m. A malha final tem 239.541

elementos.

O modelo foi executado assumindo que a tempestade Isabel ocorreu há 100 anos atrás, ao

definirem que o nível médio do mar estava 40 cm abaixo do nível corrente. O erro médio

quadrático dos resultados de uma simulação de 4 dias (em que apenas foram considerados 3

dias) foi de 27 cm e nas conclusões o estudo do aumento do nível médio do mar é apontado

como um importante factor a considerar na simulação de uma inundação.

Figura 10 - Malha de elementos finitos na baía de Chesepeake. Adaptado de (Shen, et al., 2005)

Page 30: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

16

No estudo conduzido por (Araújo, et al., 2011a) foi apresentada a storm surge que afectou a

costa Portuguesa em Viana do Castelo, figura 12, na data de 14 a 16 de Outubro de 1987. O

modelo computacional ADCIRC foi escolhido para efectuar três tipos de simulações:

modelação com forçamento astronómico na fronteira oceânica; modelação com forçamento

meteorológico; e simulação com ambos os forçamentos.

O domínio computacional foi criado tendo em conta o percurso da tempestade, a fronteira

oceânica foi colocada em águas profundas, sem interferência da linha costeira e de outros

elementos topográficos. O domínio utilizado cinge-se dos 39,4ºN aos 43,1ºN e 8,67ºW aos

16.19ºW, formando quase um rectângulo de 400 km x 615 km.

A metodologia do trabalho desenvolvido consistiu em uma série de refinamentos sucessivos de

uma malha grossa inicial, aplicando-se o critério da razão h/A para um intervalo específico de

profundidades, onde h é a profundidade média de cada elemento e A a área do elemento.

Desta forma, a malha ficou mais refinada perto da costa e na presença de bancos de areia. A

resolução da malha está entre o intervalo de 14,5 km em águas profundas e 480 m perto da

costa com 30.360 nós e 59.527 elementos.

A figura 13 foi obtida através da diferença entre valores previstos e observados (tendo em

conta o nível médio da água registado em 1987). A análise harmónica de marés foi executada

com recurso ao software T-tide (Pawlowicz, et al., 2002) baseado em 37 constituintes. A figura

demonstra os valores previstos e observados, sendo visível no pico da tempestade um nível de

sobreelevação de 80 cm.

Figura 11 - Domínio computacional e malha. Adaptado de (Araújo, et al., 2011a)

Page 31: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

17

Figura 12 - Representação da série temporal do marégrafo de Viana do Castelo de 14 a 16 Outubro de 1987 dos resultados obtidos por uma simulação com forçamento astronómico e os resíduos. Adaptado de (Araújo, et al.,

2011a)

O modelo foi executado por 8 dias e as simulações foram realizadas com recurso a um período

de aquecimento de 2 dias. Um passo cálculo de 30 s de tempo constante foi usada para

assegurar que os números de Courant (baseado na celeridade de onda) são sempre abaixo de

1,0 proporcionando estabilidade e precisão ao modelo. O coeficiente de atrito de fundo foi

fixado em 0,002 s-1 (formulação linear) em todo o domínio, e o factor de ponderação nas

equações GWCE (τ0) foi de 0,002.

Os resultados do estudo sugerem a existência de interacções não lineares entre o forçamento

astronómico e forçamento meteorológico.

Concluiu-se que os resultados do forçamento meteorológico e astronómico não explicaram na

totalidade os valores observados no decorrer da tempestade. Dentro do conjunto de possíveis

razões apontadas no trabalho de Araújo et al. (2011a): uma extensão de domínio insuficiente;

uma condição de 12 m considerada na fronteira costeira que possa ter limitado a propagação

da onda em águas pouco profundas; uma possível inconsistência nos dados meteorológicos e

de maré; a não consideração do efeito wave-setup na simulação e a influência do fluxo e

descargas não consideradas do rio. Estes pontos de melhoria deixaram em aberto a hipótese

de trabalhos posteriores executarem novas simulações com vista a aperfeiçoar os resultados

na reprodução do evento meteorológico.

Assim um estudo posterior (Araújo, et al., 2011b) complementou o trabalho Araújo et al.

(2011a) e os trabalhos entretanto desenvolvidos por Mazzolari et al. (2013). Neste estudo

foram utilizados dois modelos, o modelo de circulação ADCIRC e o modelo de espectral de

ondas STWAVE para estudar os efeitos acoplados da sobreelevação e das ondas. O domínio

do modelo manteve-se do estudo anterior. O modelo foi forçado apenas com seis constituintes

harmónicas (K1, K2, M2, N2, O1 e S2) por apresentarem menores erros de fase que as

menores constituintes harmónicas.

Page 32: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

18

Dentro das modificações efectuadas, a linha costeira anteriormente registada aos 12 metros de

profundidade passou a ser definida aos 4 metros de profundidade, relativamente ao nível

médio do mar por forma a evitar uma sobrecarga computacional adicional do algoritmo wet and

dry (Araújo, et al., 2011b). A malha gerada resultou em cerca de 38.000 nós e 73.000

elementos, cujos tamanhos variam entre os 20.000 metros em águas profundas e 250 metros

perto da costa.

A calibração consistiu na análise da influência de quatro condições: o coeficiente utilizado na

formulação do atrito de fundo, a viscosidade lateral, a formulação do atrito de fundo, e o

coeficiente da equação de continuidade. Os resultados foram sobretudo sensíveis à primeira e

segunda condição, sendo a magnitude da velocidade muito sensível à viscosidade lateral. O

terceiro e quarto parâmetro revelaram uma influência menos preponderante em que a equação

quadrática apresentou melhores resultados em relação à formulação linear.

Os resultados obtidos na simulação da maré astronómica deram valores bastantes

concordantes com os registos extraídos pelo T-Tide.

A figura 14 compara os resíduos observados durante o pico da tempestade de Outubro de

1987 em Viana do Castelo, os resíduos obtidos por uma simulação que considera o vento e a

pressão e os resíduos obtidos por uma simulação que considera o wave set-up.

Figura 13 - Resíduos observados e computacionais da tempestade de 1987. Adaptado de (Araújo, et al., 2011b)

Os resultados dão nota da importância de considerar o wave set-up para reprodução dos

registos de storm surge (um aumento nos resíduos computacionais de 16 cm, no estudo em

causa, 38% da contribuição na reprodução do pico observado). Apesar da melhoria de

resultados, o pico observado de tempestade continua subestimado pelo que nas conclusões de

Araújo et al.2011b, é sugerida uma posterior consideração do fluxo do rio.

Os resultados finais demonstram a interacção não linear existente ao considerar o forçamento

astronómico junto e separado. A melhor reprodução dos níveis observados é alcançada

quando os dois forçamentos são corridos separadamente e adicionados a posteriori. A

simulação de ambos os forçamentos em conjunto indica a existência de uma complexa não

linearidade, que embora não tenha ficado completamente clara, revelou uma não linearidade

positiva para preia mar e uma não linearidade negativa para baixa mar, figura 15. (Araújo, et

al., 2011b).

Page 33: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

19

Figura 14 – Série com a simulação para o forçamento astronómico e meteorológico, aplicado simultaneamente e em separado somados A posteriori. Comparação com as observações do nível do mar do marégrafo de Viana do

Castelo. Adaptado de (Araújo, et al., 2011b)

No trabalho de Marujo (2011) sumariado nos parágrafos que se seguem, quando o modelo foi

corrido com ambos os forçamentos simulados em conjunto obtiveram-se melhores resultados

no período da tempestade (o que traduz uma melhor reprodução na presença de cotas

elevadas). Nos casos em que o modelo foi corrido com os forçamentos em separado somados

A posteriori, Marujo (2011) obteve melhores resultados na generalidade das simulações (fora

do período da tempestade).

Na dissertação de Marujo (2011) o evento de sobreelevação do nível do mar de origem

meteorológica, que atingiu a costa Portuguesa no período de 14 a 16 de Outubro de 1987, é

simulado utilizando também o modelo ADCIRC para avaliar a resposta no estuário do rio Lima

em Viana do Castelo. A malha utilizada contém 29.290 elementos e 15.102 nós, o valor mínimo

batimétrico foi de -5,0 metros e o máximo de 56,7 metros. A malha foi gerada através de uma

função limitada ao valor mínimo de 30,0 metros e o valor máximo de 324,1 metros por forma a

poderem ser considerados os canais mais pequenos.

Neste estudo, Marujo (2011) executa a calibração em dois domínios diferentes: uma primeira

calibração para um domínio à escala oceânica que posteriormente serve de base à calibração

do domínio à escala do estuário, visível na figura 16. Os principais valores da primeira

calibração que serviram como ponto de partida à calibração do modelo do estuário do Rio Lima

foram: coeficiente de atrito de fundo 0,30 (constante quadrática); Continuidade de onda de

Figura 15 – Batimetria considerada na calibração do modelo. Adaptado de (Marujo, 2011)

Page 34: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

20

0,0010; Viscosidade lateral 20,0; Passo de cálculo 1,0 s; Período de aquecimento de 0,10 dias;

Período de simulação de 2,0 dias; Condição da fronteira continental: natural. O parâmetro de

Coriolis foi definido como constante (0,0001) pela reduzida extensão em latitude do domínio.

Os valores dos parâmetros mencionados na calibração de Marujo (2011) assim como os

valores utilizados no trabalho desenvolvido por Araújo et al. 2011b, cuja principal diferença se

centra na ordem de grandeza atribuída ao valor do coeficiente de atrito, foram empregues

como valores de base nas primeiras simulações com vista à calibração do modelo do presente

estudo no estuário do Tejo.

Page 35: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

21

3. Caracterização do estuário em estudo

3.1 Integração do estuário na cidade

O crescimento urbano da cidade de Lisboa não é caso único das demais aglomerações

urbanas que ao longo do tempo evidenciam uma tendência de crescimento orgânico junto a

territórios mais próximos da água.

Os estuários são, tradicionalmente, áreas onde se desenvolve actividade portuária associados

à instalação dos principais portos e navegação, são locais estratégicos a nível humano e

biológico.

O estuário do rio Tejo, é de grande diversidade e complexidade, sendo o maior estuário do país

e um dos mais importantes na Europa. As margens do estuário detêm um potencial

extraordinário pelas múltiplas funções: uso urbano; actividades industriais e económicas,

designadamente portuárias; suporte de actividades de recreio e lazer; e imenso valor

paisagístico.

Recentemente foi concluído o primeiro Plano de Ordenamento do Estuário do Tejo (POE) um

projecto pioneiro que integra as águas de transição, os seus leitos e margens, e a orla

estuarina à qual corresponde a zona terrestre de protecção com largura máxima de 500 m

contados a partir da margem (figura 17). Faz fronteira com os concelhos de Cascais, Oeiras,

Lisboa, Loures, Vila Franca de Xira, Alenquer, Azambuja, Benavente, Alcochete, Montijo,

Moita, Barreiro, Seixal e Almada.

Figura 16 - Estuário do Tejo. Adaptado de (Ministério da Agricultura, 2010)

Page 36: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

22

O estuário agrega assim o conjunto de municípios das margens norte e sul como uma área

nuclear na organização do sistema urbano, quer a nível funcional, paisagístico e de identidade

para as populações.

As classes de ocupação mais importantes da orla estuarina correspondem aos espaços

agrícolas e urbanos, visível na figura 18. Os espaços agrícolas constituem cerca de 35% da

orla, e são explicados pela grande extensão de lezírias na zona NE do estuário e pela margem

esquerda possuir ainda uma área vasta dedicada a esta actividade. As áreas urbanas

representam 34% da orla, reflexo da localização da área metropolitana de Lisboa. É igualmente

significativa a ocupação por espaços industriais, (Tabela 1), cerca de 15%. (Freire, et al., 2012)

Tabela 1 - Áreas ocupadas por classe de ocupação na orla estuarina. Adaptado de (Freire, et al., 2012)

Nome da classe Área (km2) %

Espaço Verde 8,1 6

Espaço Urbano 44,5 34

Espaço Portuário 3,4 3

Espaço Natural 1,7 1

Espaço Industrial 19,8 15

Espaço Agrícola 44,8 35

Espaço Aeroportuário 7,4 6

Total 129,6 100

O estuário do tejo tem um comprimento de 82 km uma área de 307 km2 e um volume 1,78x109

m3 (Silva, 2010).

N

Figura 17 - Tipificação da ocupação antrópica na orla estuarina. Adaptado de (Freire, et al., 2012))

Page 37: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

23

3.2 Leito do estuário e localização

3.2.1 Afluências de água doce ao Estuário – fronteira de montante

Em termos médios, o Tejo aflui com um módulo de cerca de 340 m3/s ao estuário na Ponte de

Muge. A jusante de Muge, as únicas afluências importantes ao estuário provêm do rio Sorraia,

onde o grau consumptivo de utilização de água nessa bacia corporizou uma redução sendo

hoje de cerca de 15 m3/s.

Em suma, a situação com que o planeamento do estuário do Tejo se tem de confrontar hoje é a

de afluências de cerca de 355 m3/s de módulo médio anual, com um regime artificializado tanto

em volumes de água como de sedimentos. (Rodrigues, 2009).

3.2.2 Região das barras do tejo

O transporte de areias e sedimentos não coesivos resulta num padrão morfodinâmico

determinado pela interação de vários tipos de corrente, entre os quais: as correntes de maré,

em que o vector da velocidade da corrente descreve aproximadamente uma elipse num

estuário de larga dimensão; correntes de longitudinais, são correntes paralelas à costa que se

manifestam apenas na faixa entre a linha de rebentação e a praia; correntes de densidade, têm

a sua origem nos gradientes de pressão que se estabelecem entre dois pontos ao mesmo

nível, como resultado da diferente densidade da coluna líquida suprajacente; e correntes

devidas ao vento, que podem dar origem a contra-correntes em camadas mais profundas de

compensação à tensão na camada superficial. (Oliveira, 1981)

A ondulação está associada à propagação proveniente sobretudo do quadrante de Noroeste

com origem nas depressões que atravessam o Atlântico Norte.

O Cachopo do Norte desenvolve-se no prolongamento do trecho de costa Paço de Arcos-

S.Julião com uma largura que varia entre 500 m e 1.000 m e profundidades mínimas na ordem

de 5 m. Exerce uma função de filtro de ondulação, pois a energia das ondas é controlada por

este banco.

Barra Norte

Barra Sul Bugio

Legenda:

Figura 18 - Região das barras do Tejo (ARH do Tejo, I.P., Novembro 2009)

Page 38: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

24

O Banco do Bugio, figura 19, é uma grande formação arenosa situada no prolongamento da

margem esquerda do rio, onde existem zonas extensas com valores de profundidades

reduzidos, alguns dos quais acima do ZH. O talude a norte é bastante declivoso,

principalmente na zona em frente a Paço de Arcos. Este banco de areia constitui o limite norte

das praias ao longo do trecho sul da baía (praia da costa da Caparica, praia Fonte da Telha,..)

reflectindo as alterações morfológicas com variações mais ou menos cíclicas a acção dos

principais agentes naturais, em particular da agitação marítima.

A Barra Norte, que se localiza desde a baia de Cascais a São Julião, é praticável a barcos com

calado de 7 metros e à semelhança da Barra Sul é igualmente estável (Vieira, 1991).

A Barra Sul ou Grande constitui a principal via de acesso ao Porto de Lisboa, desenvolve-se

paralelamente à margem direita do rio e as profundidades variam entre 20 a 35 m. Encontra-se

ladeada pelos dois extensos bancos arenosos referidos anteriormente.

3.2.3 Corredor do Tejo

O Corredor do Tejo encontra-se entre a este da Barra Norte e Barra Sul e a oeste do Mar da

Palha. É a porção do estuário que se encontra entre as secções transversais: Algés e Cova do

Vapor; Cais do Sodré e Cacilhas. O Corredor apresenta uma largura regular, de cerca de 1800

metros, e profundidades elevadas que quase atingem os 40 metros na margem sul.

Um aspecto hidrodinâmico interessante é o da corrente ser marcadamente de enchente ao

longo da margem sul e marcadamente de vazante ao longo da margem norte (Teles e Barata,

2009). Os dois ramos interagem separadamente sobre o eixo do Corredor cuja dinâmica pode

ser explicada teoricamente devido ao efeito de Coriolis – força de inércia provocada pela

rotação da terra. O conhecimento deste padrão é especialmente importante em procedimentos

de combate ou de prevenção da poluição.

3.2.4 Mar da Palha

A parte interna do Estuário designada também por Mar da Palha é representada por formas de

acumulação longitudinais, cortadas por canais de maré, e extensas zonas de espraiados,

sobretudo junto à margem esquerda, permitindo o crescimento de áreas de sapal (Freire, et al.,

2002).A jusante de Alcochete, a margem esquerda é caracterizada pela presença de pequenas

baías (Montijo, Barreiro e Seixal), a presença de praias e restingas de areia.A área do estuário

e a sua orientação geográfica, propiciam um fetch considerável a incidir na margem esquerda

entre Alcochete e Alfeite, devido aos ventos dominantes serem provenientes do quadrante

Norte. Segundo Teles e Barata (2009) verifica-se no Mar da Palha que as correntes e

transportes residuais têm o sentido da corrente de enchente ao longo dos canais com maior

profundidade, fazendo-se o retorno residual de vazante por cima dos espraiados. Note-se junto

à margem Norte entre Parque das Nações e Terreiro do Paço uma corrente residual com o

sentido da vazante e largura de aproximadamente 300 metros (Teles e Barata, 2009).

Page 39: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

25

4. Modelo ADCIRC

4.1 Introdução ao modelo

Na generalidade dos problemas de engenharia costeira, dada a complexidade inerente, torna-

se inviável recorrer a soluções analíticas para os sistemas de equações diferenciais que

constituem o modelo matemático dos fenómenos em estudo. É portanto, necessário recorrer a

técnicas numéricas de aproximação que permitam substituir as soluções exactas por soluções

aproximadas, de tal modo que a integração das equações diferenciais se torne possível e os

erros resultantes dessa aproximação sejam minimizados (Vieira, 1991). Torna-se assim

necessário recorrer a um modelo numérico computacional, entre os quais, o modelo escolhido

para a realização da dissertação, o modelo ADCIRC. Esta escolha baseou-se em toda a

experiência de estudos anteriores e nas capacidades do modelo.

ADCIRC – 2D, ADvanced CIRCulation two-dimensional hydrodynamic model (Luettich, et al.,

1992) é um modelo computacional que utiliza o método de elementos finitos (MEF) no espaço

possibilitando uma altamente flexível utilização de malhas. O modelo ADCIRC opera sobre uma

aplicação, a interface SMS, Surface Water Modeling System (Zundel, 2000), que funciona

como um pré e pós processador de modelações hidráulicas, como a modelação de uma onda

de longo período, em modelos uni, bi ou tridimensionais, tendo como base as equações de

movimento e continuidade integradas verticalmente sobre uma malha irregular de elementos

finitos.

As potencialidades e limitações do modelo devem ser conhecidas antes da sua utilização, a fim

de se saber o que se pode e não pode simular. As típicas aplicações do ADCIRC incluem:

Análises de sobreelevações meteorológicas e cheias;

Modelação de marés;

Estudos de dragagem e de deposição de sedimentos;

Operações Portuárias.

A forma bi-dimensional do modelo ADCIRC é baseada na integração vertical das equações de

momento e de continuidade. Um dos objectivos do modelo é permitir considerar problemas

com domínios bastante extensos. O reconhecimento que a força de maré é um fenómeno

global e a utilização de grandes domínios leva à necessidade de inclusão dos efeitos causados

pela curvatura da Terra. Assim, as equações utilizadas, eq. 10, 11, 12, pelo modelo em

coordenadas geográficas são definidas da seguinte forma (Blain e Rogers, 1998):

𝜕𝜁

𝜕𝑡+

1

𝑅 cos ∅

𝜕(𝑢λ𝐻)

𝜕λ+

1

𝑅 cos ∅

𝜕(𝑣𝜙𝐻 cos 𝜙)

𝜕𝜙= 0 [10]

𝜕𝑢λ

𝜕𝑡+

𝑢λ

𝑅 cos ∅

𝜕𝑢λ

𝜕𝑡+

𝑣𝜙

𝑅

𝜕𝑢λ

𝜕∅− 𝑣∅ [𝑓 +

𝑢λ

𝑅

tan ∅] = −

1

𝑅 cos ∅

𝜕

𝜕λ[

𝜌𝑠

𝜌0+ 𝑔(𝜁 − 𝜂)] +

𝜏λ

𝜌0𝐻− 𝜏∗𝑢λ [11]

𝜕𝑣𝜙

𝜕𝑡+

𝑢λ

𝑅 cos ∅

𝜕𝑣𝜙

𝜕λ+

𝑣𝜙

𝑅

𝜕𝑣𝜙

𝜕∅+ 𝑢λ [𝑓 +

𝑢λ

𝑅

tan ∅] = −

1

𝑅

𝜕

𝜕∅[

𝜌𝑠

𝜌0+ 𝑔(𝜁 − 𝜂)] +

𝜏∅

𝜌0𝐻− 𝜏∗𝑣𝜙 [12]

Page 40: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

26

Em que:

𝑡 – Tempo;

λ e φ - Longitude e latitude;

ζ - Elevação da superfície livre;

𝑢λ 𝑒 𝑣φ– Velocidades horizontais a profundidades médias em coordenadas esféricas;

H = ζ + h – Profundidade total da coluna de água;

h – Cota batimétrica;

f – Parâmetro de Coriolis;

R – Raio da Terra;

ρ0 – Massa volúmica de referência;

g – Aceleração da gravidade;

𝜏𝜆 𝑒 𝜏𝜙 – Tensões impostas à superfície segundo as direcções x e y, respectivamente;

η - Maré de equilíbrio potencial newtoniana (descrita com maior detalhe em baixo);

𝜌𝑠 −Pressão atmosférica á superfície

E onde eq.13,

𝜏∗ =𝐶𝑓(𝑈2 + 𝑉2)1/2

𝐻 [13]

com Cf igual ao coeficiente de atrito de fundo (Blain e Rogers, 1998).

A maré de equilíbrio newtoniana expressa-se pela eq.14:

𝜂(λ, 𝜙, 𝑡) = ∑ 𝐶𝑗𝑛𝑓𝑗𝑛(𝑡0)𝐿𝑗

𝑛,𝑗

(𝜙) cos[2𝜋(𝑡 − 𝑡0)

𝑇𝑗𝑛+ 𝑗λ + 𝑣𝑗𝑛(𝑡0)] [14]

Onde:

t – Tempo relativamente a t0;

t0 – Tempo de referência;

Cjn – Constante que caracteriza a amplitude do constituinte da maré n, da espécie j;

fjn – Factor nodal temporal;

𝑣𝑗𝑛 – Argumento astronómico temporal;

j = 0,1,2 – Espécie de maré (j =0: referente a uma declinação; j = 1: diurna e j = 2: semidiurna);

L0 = 3 cos2 Ф -1;

L1 = sen (2Ф);

L2 = cos(2Ф);

Tjn – Período do constituinte da maré n da espécie j.

Page 41: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

27

Os termos de self-attraction e loading das marés oceânicas não são incluídos no modelo

(Jarosz, et al., 2005). Estes termos forçadores requerem integrações globais das elevações

das marés, transformando as equações diferenciais dinâmicas em equações integro-

diferenciais.

É necessário ter em consideração a curvatura da terra quer nas equações quer na

discretização dos elementos finitos.

Para implementar convenientemente o método de elementos finitos, as equações em

coordenadas geográficas são projectadas numa superfície plana com o recurso a técnicas de

projecção cartográficas (Jarosz, et al., 2005). Um exemplo de técnica aplicável, determina-se

com recurso à seguinte projecção geográfica, eq. 15 e eq.16:

𝑥′ = 𝑅(𝜆 − 𝜆0) cos 𝜙0 [15]

𝑦′ = 𝑅𝜙 [16]

Onde:

𝜆0 𝑒 𝜙0 - são o ponto central da projecção;

R – Raio da Terra;

x’, y’ – coordenadas cartesianas.

A aplicação da projecção nas equações 17, 18 e 19 produz equações para águas pouco

profundas na forma primitiva não conservativa expressa no sistema de coordenadas CP (Blain

e Rogers, 1998):

𝜕𝜁

𝜕𝑡+

cos ∅0

cos ∅

𝜕(𝑈𝐻)

𝜕𝑥′ +1

cos ∅

𝜕(𝑉𝐻 cos ∅)

𝜕𝑦′ = 0 [17]

𝜕𝑈

𝜕𝑡+

cos ∅0

cos ∅𝑈

𝜕𝑈

𝜕𝑥′ + 𝑉𝜕𝑈

𝜕𝑦′ − [tan ∅ 𝑈

𝑅+ 𝑓] 𝑉 = −

cos ∅0

cos ∅

𝜕

𝜕𝑥′ [𝜌𝑠

𝜌0+ 𝑔(𝜁 − 𝜂)] +

𝜏𝜆

𝜌0𝐻− 𝜏∗𝑈 [18]

𝜕𝑉

𝜕𝑡+

cos ∅0

cos ∅ 𝑈

𝜕𝑉

𝜕𝑥′ + 𝑉𝜕𝑉

𝜕𝑦′ + [tan ∅ 𝑈

𝑅+ 𝑓] 𝑈 = −

𝜕

𝜕𝑦′ [𝜌𝑠

𝜌0+ 𝑔(𝜁 − 𝜂)] +

𝜏𝜙

𝜌0𝐻− 𝜏∗𝑉 [19]

Sendo U e V as velocidades horizontais a profundidades médias.

A derivação da GWCE é apresentada de forma concisa, eq. 20, usando a notação invocada por

Kinnmark e Gray (1984) e Blain e Rogers (1998):

𝐺𝑊𝐶𝐸 =𝑑𝐶

𝑑𝑡+ 𝜏0𝐶 − ∇. 𝑀𝑐 [20]

Onde GWCE é a Equação Generalizada de Continuidade de Onda e 𝜏0 uma constante teórica

no tempo e no espaço que controla o balanço entre a equação primitiva e a equação de onda

(Blain e Rogers, 1998).

Substituindo a equação de continuidade (17) e as equações (18) e (19) em (20), obtém-se a

equação GWCE no sistema de coordenadas CP. Equação que, juntamente com as equações

Page 42: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

28

primitivas de momento na forma não conservativa (18) e (19) permitem a execução do modelo

hidrodinâmico. (Blain e Rogers, 1998)

4.2 Parâmetros do Modelo

4.2.1 Atrito de fundo

Na versão 2DDI do ADCIRC o atrito de fundo é geralmente expresso por (eq. 21 e eq. 22):

𝜏𝑏𝑥 ≡ 𝑈 × τ∗ [21]

e

𝜏𝑏𝑦 ≡ 𝑉 × τ∗ [22]

Consoante a expressão utilizada para o termo de atrito τ∗, o resultado pode tomar uma função

linear (eq. 23), quadrática (eq. 24), ou híbrida (eq. 25).

Atrito linear:

τ∗ = 𝐶𝑓 [23]

Sendo, para esta formulação, 𝐶𝑓 constante no tempo em unidades s-1.

Atrito quadrático:

τ∗ =𝐶𝑓√𝑈2 + 𝑉2

𝐻 [24]

Sendo, para a formulação quadrática e híbrida, 𝐶𝑓 constante no tempo e adimensional.

Atrito Híbrido:

τ∗ =𝐶𝑓√𝑈2 + 𝑉2

𝐻 [25]

Em que eq. 26:

𝐶𝑓 = 𝐶𝑓𝑚𝑖𝑛 [1 + (𝐻𝑏𝑟𝑒𝑎𝑘

𝐻)

𝜃]

𝛾

𝜃

[26]

Onde:

H - profundidade da água;

Hbreak- altura de rebentação de onda (unidades de comprimento);

Sendo 𝐶𝑓𝑚𝑖𝑛 , 𝐻𝑏𝑟𝑒𝑎𝑘 , 𝜃 , 𝛾 constantes no tempo.

Na fórmula hibrida 𝐶𝑓 aproxima-se de 𝐶𝑓𝑚𝑖𝑛 em águas profundas (𝐻 > 𝐻𝑏𝑟𝑒𝑎𝑘)

e aproxima-se de 𝐶𝑓𝑚𝑖𝑛 (𝐻𝑏𝑟𝑒𝑎𝑘

𝐻)

𝛾em águas pouco profundas (𝐻 < 𝐻𝑏𝑟𝑒𝑎𝑘). O expoente θ

Page 43: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

29

determina a rapidez com que 𝐶𝑓 se aproxima de cada limite assintótico e γ determina a rapidez

com que o coeficiente de atrito aumenta à medida que a profundidade diminui. (Rebordão,

2008; The University of North Carolina at Chapel Hill)

Se a profundidade da água é menor que Hbreak o factor de atrito aumenta à medida que a

profundidade diminui. O valor recomendado pelo ADCIRC para Hbreak é de 1 m.

Para a maioria das aplicações costeiras, a função quadrática é a mais utilizada sendo o valor

tipicamente de 𝐶𝑓~0, 0025 (Celebioglu e Piasecki, 2006; Arbic e Scott, 2008).

4.2.2 Condições de fronteira

Tendo o domínio definido, as condições de fronteira podem ser seleccionadas. Por defeito o

ADCIRC colocas as condições de fronteira sem qualquer atribuição, mas existem diferentes

tipologias disponíveis pelo modelo, entre os quais, os mais importantes: Continental – fronteira

da linha terrestre; Ilhas – para um arco fechado; Oceânica – fronteira oceânica.

Condições para fronteira Continental e fronteira de Ilhas:

Para as fronteiras do tipo terrestre de linha de costa e ilha, podem ser impostas uma de três

condições disponibilizadas: essential with tangential slip; essential without tangencial slip e

Natural with tangential slip. As três condições de fronteira são muitas vezes designadas como

IBTYPE(k) (The University of North Carolina at Chapel Hill), podendo ler-se com mais detalhe

sobre estas condições em (Westerink, 1996).

É possível verificar que nenhuma das condições de fronteira para o tipo Continental considera

a existência de escoamento normal à fronteira.

Condições para fronteira Oceânica:

O modelo ADCIRC permite definir condições de fronteira oceânica através de três ferramentas

diferentes: Constituintes de maré, Especificação de uma Curva Singular e Extracção de uma

Base de Dados. A primeira, sobejamente mais utilizada, aplica as constituintes harmónicas de

maré como forçamento nas condições de fronteira. Constituintes harmónicas que somadas

recriam, como já referido, a maré astronómica.

No caso de o teste ser puramente meteorológico é possível através do ADCIRC proceder a

uma Extracção de uma Base de Dados. Que se traduz em aplicar na condição de fronteira um

forçamento com elevações em cada ponto da fronteira provocadas pelas correspondentes

pressões.

4.2.3 Wetting/ drying algoritmo

O modelo ADCIRC assumia fronteiras terrestres fixas até o algoritmo wetting/ drying ser

implementado por (Luettich, et al., 1995b) o que impedia a inclusão de zonas de pouca

profundidade (como sapais e marismas) que tanto podem estar molhados como secos

consoante o período do ciclo de maré ou a consideração de zonas costeiras inundáveis em

resposta a uma tempestade. Por forma a adequar as simulações numéricas a estas restrições:

a batimetria das águas perto da costa era artificialmente delimitada a uma profundidade que

Page 44: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

30

não permitisse a secagem de nenhum elemento da malha na ocorrência de marés baixas; as

linhas de fronteira eram assumidas como altas paredes verticais nas quais os níveis de água

se sobrepunham com a ascensão das marés. Se estes princípios eram razoáveis para modelar

modelos de larga escala, representavam de forma pouco apropriada a dissipação em águas

pouco profundas e impossibilitavam a propagação de inundações associadas a storm surge

(Luettich e Westerink, 1995a).

O algoritmo wetting/drying vem permitir resolver as equações hidrodinâmicas nas áreas pouco

profundas sem criar grandes instabilidades no modelo, ao permitir que alguns elementos

estejam molhados ou secos sendo a fronteira da malha ajustada de acordo.

O processo de transição de um elemento de seco para molhado tem de ser definido para um

certo número de passos de cálculo. Este tempo de transição é importante pela semelhança no

processo real, em que é necessário um certo período de tempo para um elemento que tem

uma determinada dimensão inundar por completo ou uma área passar de húmida a molhada e

vice-versa.

De seguida apresentam-se, tabela 2, os valores padrão por defeito no programa do

wetting/drying que traduzem a altura mínima para a coluna de água de 0,05 m; um valor

mínimo de doze passos de cálculo, em condições secas; um valor, também, de doze passos de

cálculo após voltar a condições molhadas e uma velocidade mínima de 0,05 m/s na transição

para condições molhadas.

Tabela 2 - Wetting/drying opções por defeito

Opção Valor

Profundidade mínima de água (m) 0,05

Número mínimo de passos de cálculo a seco 12

Número de passos de cálculo para nova molhagem 12

Velocidade mínima de molhagem (m/s) 0,05

É no entanto recorrente, em estudos de extensos domínios à escala oceânica cuja observação

de zonas a seco não é imposta, observar-se preferência pela imposição de uma profundidade

fictícia que não obrigue à utilização computacional do algoritmo wetting/ drying.

4.2.4 Passo de cálculo

Entre algumas das limitações do modelo ADCIRC salienta-se o parâmetro do passo de cálculo

(timestep). Dado o tipo de resolução das equações constituintes do ADCIRC, o modelo cria

instabilidades para passos de cálculo de valores elevados.

Page 45: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

31

Para optimização do tempo total de cálculo do modelo e para que este não instabilize, a

escolha do passo de cálculo tem um papel relevante. O número de Courant é um número

adimensional, em que quando o seu valor é inferior a uma unidade permite que o modelo seja

estável, eq. 27.

𝐶𝑁 =∆𝑡√𝑔ℎ

∆𝑥 < 1 [27]

CN − Número de Courant;

∆t − Passo de Cálculo;

∆x −Espaçamento entre nós;

h −Profundidade em cada nó;

g − Aceleração gravítica.

De forma a evitar erros de propagação e instabilidades numéricas, na presente versão do

ADCIRC é até aconselhado baixar o valor máximo do Número de Courant para <0,5. (Chen, et

al., 2012) .

Para uma malha de tamanho mais pequeno o número de Courant vai ser superior. Quanto

maior for a resolução da malha, menor o espaçamento entre nós, logo menor terá de ser o

passo de cálculo.

Page 46: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

32

Page 47: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

33

5. Estabelecimento do Modelo

5.1 Domínio e datum geodésico

A extensão do domínio em estudo é escolhida por forma a capturar o caminho traçado pela

tempestade com impacto na zona do estuário do Tejo. O domínio da zona a modelar na fase

inicial de estudo foi traçado com recurso a uma linha poligonal inicialmente ao longo da

fronteira terreste do estuário e ilhas no seu interior. A fronteira oceânica é uma semi-circular

que liga o Cabo da Roca ao Cabo Espichel, figura 20, com um raio de aproximadamente 22

km, idêntico ao previamente utilizado no estudo de Mendonça (2006).

Destaca-se um vale submarino na plataforma continental (o canhão de Lisboa-Setúbal)

orientado segundo nor-nordeste com o talvegue distanciado aproximadamente 10 km da Costa.

De referir que este talvegue sobe de batimetrias na ordem de 1000 m para de 100 m em

apenas 10 km.

A projecção da batimetria, o traçado no qual se baseou o domínio, e todos os demais

elementos inseridos no modelo foram convertidos para o datum WGS84 na Zona 29, primeiro

em coordenadas cartesianas UTM (Sistema Universal Transverso de Mercator) e

posteriormente em coordenadas geográficas para correr o modelo.

Foi realizada a comparação entre pontos de coordenadas conhecidas nomeadamente a

utilização de mapas georreferenciados para o mesmo datum e verificou-se a ausência de

desvios nos dados batimétricos. Foram também georreferenciadas diversas cartas do Instituto

hidrográfico sobre o estuário do Tejo e a metrópole de Lisboa (tema abordado no capítulo

seguinte).

Numa 2ª fase o domínio da zona a modelar sofreu a sua última alteração com a inserção da

topografia. A georreferenciação das cartas do Instituto hidrográfico no datum WGS84 em

coordenadas cartesianas (UTM) e posterior georreferenciação de dados topográficos da zona

do cais e docas de Lisboa, fez expandir o domínio da área de estudo. Com o intuito de

incorporar a área da margem estuarina sujeita a inundação com interesse para o estudo

ajustou-se a linha do domínio à cota de -10 relativamente ao ZH.

Cabo da Roca

Cabo Espichel

N ↑

30 Km

Cabo Raso

Figura 19 - Domínio da malha de elementos finitos

Page 48: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

34

5.2 Reprodução do relevo

5.2.1 Batimetria

Na formulação do modelo ADCIRC, existe um conjunto de dados iniciais necessários ao

estudo da hidrodinâmica do estuário, entre eles, a batimetria. Constituída por um conjunto de

dados que permitem reproduzir a configuração do fundo.

Na dissertação de Mendonça (2006) os valores batimétricos foram levantados com base em

seis cartas hidrográficas do Instituto Hidrográfico: Carta Nº26303 (Março de 2003); Carta

Nº26304 (Maio 1999); Carta Nº26305 (Maio de 2000); Carta Nº26306 (Julho de 2002; Carta

Nº26307 (Julho de 2000) e Carta Nº24204 (Maio de 1999). O trabalho iniciou-se pelo

tratamento destas cartas hidrográficas, a digitalização e georreferenciação das mesmas, de

forma a gerar um conjunto de pontos com as respectivas cotas (xyz) na zona a modelar. As

profundidades estão referenciadas ao zero hidrográfico, indicadas na convenção usual onde os

valores positivos são referentes a medidas abaixo do ZH e os valores negativos são referentes

às medidas acima destes.

A correspondência no domínio de estudo permite que os dados batimétricos tenham sido

experimentados neste trabalho.

Na execução desta batimetria foram considerados pontos para lá da linha de costa, ou seja, em

terra, aos quais se atribuiu a cota referente ao ZH de -4,0 m. Nas fronteiras terrestres com

parede vertical, foram gerados pontos com cotas das profundidades próximas à parede. Nas

fronteiras terrestres em talude foram gerados pontos com cota negativa -4.0 m para lá da linha

de costa (terra).

O resultado final utilizado foi um ScatterSet com cerca de 44469 pontos, definindo uma área de

aproximadamente 17.000 km2. (Mendonça, 2006).

Outra batimetria foi utilizada acabando por ser eleita para as modelações posteriores face à

melhoria dos resultados obtidos. Esta batimetria é disponibilizada pelo Instituto Hidrográfico no

formato Esri shapefile (.shp). Trata-se de uma malha interpolada com 100 metros, construída

com base em informação de sondagem proveniente dos levantamentos hidrográficos

realizados no rio Tejo. A cobertura total da zona foi levantada com recurso ao sistema

multifeixe (SMF) e de feixe simples (FS), os levantamentos foram realizados entre os anos de

1964 e de 2009 (ver fig 21).

As profundidades estão referenciadas ao Zero Hidrográfico (ZH), indicadas na convenção usual

onde os valores positivos são referentes a medidas abaixo do ZH e os valores negativos são

referentes às medidas acima destes.

Page 49: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

35

Figura 20 - Levantamentos hidrográficos do Estuário do Tejo pelo Instituto Hidrográfico (Instituto Hidrográfico, 2013).

Na figura 21 as zonas de maior importância para o estudo da presente dissertação encontram-

se a côr laranja, côr castanha e côr roxa cujas datas dos levantamentos correspondem às

datas de 2000, 2004, e 2009.

Devido à extensa área em estudo, foi efectuado um merge e posterior eliminação de pontos

sobrepostos de vários levantamentos realizados com datas e escalas, tendo em comum o

mesmo sistema de referência horizontal e vertical. Para a batimetria correspondente à parte

exterior do estuário, figura 22, a oeste da embocadura e do cabo Raso, foi também

seleccionado um ficheiro disponibilizado pelo Instituto hidrográfico no formato ESRI shapefile

(POR). Por forma a não sobrecarregar o modelo com informação desprezável, empregaram-se

apenas os pontos batimétricos necessários para o total preenchimento do domínio

seleccionado. A data de levantamento deste registo não se encontra publicada.

Figura 21 - Batimetria exterior ao estuário do rio Tejo mas com alguns pontos pertencentes ao domínio em estudo (Instituto Hidrográfico, 2013)

Foram experimentadas simulações de modelos diferentes mas com características físicas e

numéricas iguais à excepção da batimetria. Depreendeu-se que a batimetria referente ao ZH

Page 50: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

36

ou transformada no eixo de Z +2,08 m (NMM – nível médio do mar) não tem influência nos

níveis simulados da maré com uso do forçamento astronómico de LeProvost et al. (1998). Os

marégrafos em ambas as simulações apresentam os mesmos valores, se obviamente

estiverem na mesma exacta localização

Por forma a facilitar a visualização e percepção da zona de estudo, assim como analisar

comparativamente as profundidades do leito, as cartas do Instituto Hidrográfico já

anteriormente mencionadas foram georreferenciadas e introduzidas no ADCIRC, figura 23:

Carta Nº26303, Baía de Cascais e Barras do rio Tejo (Porto de Lisboa), Escala

1:15000, 6º edição, Março de 2003;

Carta Nº26304, Porto de Lisboa (de Paços de Arcos ao Terreiro do Trigo), Escala

1:15000, 4º edição, Maio 1999;

Carta Nº26305, Porto de Lisboa (de Alcântara ao Canal Montijo), Escala 1:15000, 3ª

edição, Maio de 2000;

Carta Nº26306, Porto de Lisboa (do Cais do Sodré a Sacavém), Escala 1:15000,

4ªedição, Julho de 2002;

Carta Nº26307, rio Tejo ( de Sacavém a Vila Franca de Xira), Escala 1:15000,

3ªedição, Julho de 2000.

Figura 22 - Cartas do Instituto Hidrográfico georreferenciadas (à esquerda) e análise da batimetria do IH sobre as cartas do IH (à direita)

Sobrepondo a batimetria disponibilizada pelo Instituto Hidrográfico (IH) sobre as Cartas do IH,

realizadas em diferentes alturas, é visível a semelhança do gradiente de cores das

profundidades do estuário.

Page 51: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

37

5.2.2 Topografia

A representação, mensurável e em escala, dos acidentes naturais e artificiais da superfície

terrestre é determinada por curvas de nível normalmente referenciadas em relação ao nível

médio do mar.

Para possibilitar a análise à zona da margem com particular interesse para o estudo, passível

de ser sujeita a inundação, foi necessária a introdução de cotas de mapas topográficos de

Lisboa 1:1000 m na batimetria já trabalhada. Estes mapas foram fornecidos pela Câmara

Municipal de Lisboa.

A nova fronteira terrestre é traçada pela cota -10 m referente ao ZH correspondente a

praticamente 8 metros acima do nível médio do mar, por forma a garantir que em nenhum caso

o limite do domínio da malha impedirá a observação da zona inundável, figura 24.

No tratamento das cartas topográficas, que antecedeu a utilização das mesmas como scatter a

adicionar no modelo: recorreu-se ao Autocad para a passagem das curvas de nível a pontos;

procedeu-se à alteração das altimetrias do NMM para o ZH como referência e à alteração dos

pontos altimétricos positivos para negativos e vice-versa (em coerência com o eixo z de

referência da batimetria); definiram-se no Arcgis a atribuição de coordenadas xyz a cada um

dos pontos assim como transformações do sistema de posicionamento.

Figura 23 - Pormenor da topografia na margem do Tejo e da nova linha de domínio

Page 52: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

38

5.3 Malha de elementos finitos

5.3.1 Malha do modelo

Para a resolução numérica do sistema de equações diferenciais utilizadas pelo ADCIRC para

descrever processos físicos, é necessária a geração de uma malha que, com base no método

dos elementos finitos (MEF), controle a resolução dos cálculos representando com precisão a

batimetria local. A malha é uma das componentes mais importantes na formulação do modelo

em estudo, pois se tiver uma resolução insuficiente impede a representação do escoamento e

consequentemente altera os resultados.

O MEF permite resolver equações hidrodinâmicas, de natureza não linear e hiperbólica, em

domínios muito irregulares através da subdivisão do domínio em estudo num conjunto discreto

de elementos finitos.

O MEF apresenta vantagens de utilização na sua enorme flexibilidade para discretização do

domínio, sendo possível adequar a graduação do tamanho dos elementos consoante a

proximidade em relação à costa ou profundidade dos mesmos. (Vieira, 1991)

Permite também proceder facilmente a refinamentos locais das malhas. No entanto o

crescimento do tempo de cálculo é proporcional ao cubo do número de nós considerados, o

que limita na prática o número de nós que é possível de utilizar. Sendo por isso necessário

recorrer à experiencia e criatividade para com precisão refinar localmente qualquer zona do

domínio de forma a representar correctamente fenómenos locais mantendo um baixo custo

computacional (Vieira, 1991). Idealmente, a densidade dos nós da malha deverá variar entre 3

a 4 ordens de magnitude (Westerink, et al., 1992; Blain, et al., 1994). Por norma, regiões de

águas pouco profundas requerem uma resolução maior, mais precisamente onde gradientes

elevados de batimetria são observados, para uma melhor representação do fluxo (Luettich e

Westerink, 1995a).

De forma a se minimizar instabilidades e erros provenientes da malha, a sua geração teve

como directrizes: uma boa representação da configuração e batimetria do estuário; procurar um

número razoável e limitado de nós; baixa distorção dos elementos triangulares; uma variação

suave/gradual do tamanho de cada elemento para os seus adjacentes; refinamento das zonas

de maior complexidade morfológica.

Sendo que o domínio em estudo é relativamente grande, e que serão feitos longos períodos de

observação e experimentados diferentes cenários, pretende-se gerar uma malha que pela sua

simplicidade aliada à qualidade permita reduzir a duração e o peso dos cálculos

computacionais.

Page 53: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

39

5.3.2 Métodos de pavimentação da malha

O método de pavimentação determina a forma como o SMS deve gerar e conectar os nós

dentro do polígono. Os seguintes métodos são suportados pelo SMS: Patch; Paving e Scalar

Paving Density.

O Scalar Paving Density foi o método utilizado uma vez que é o que permite a geração

automática de uma malha com qualidade. Permite uma maior flexibilidade na criação dos

elementos da malha através do uso de uma função escalar de densidade, a size function. O

Scalar Paving Density permite assim interpolar uma função à escolha do utilizador de forma

linear ou inversa, sendo por isso preferível comparativamente aos dois métodos descritos

anteriormente (Aquaveo, 2012).

5.3.3 LTEA – Linear Truncation Error Analisys

A caixa de atributos do ADCIRC possui uma ferramenta orientadora do tamanho dos

elementos, que permite impor o nível de erro do truncamento a ser constante em todo o

domínio através do reposicionamento dos nós gerados. Esta ferramenta de nome Linear

Truncation Error Analisys (LTEA), é o primeiro passo de automatização do processo de

geração da malha, pois permite a escolha de um intervalo apropriado para a resolução da

malha ao longo das linhas de fronteira. Em suma, o LTEA traduz-se na escolha de um valor

mínimo e máximo para o tamanho dos elementos.

Para não sobrecarregar o modelo considerou-se no domínio em análise apropriado um limite

mínimo de 200 m.

5.3.4 Size function

A denominada size function é uma função que define um tamanho alvo para todos os locais do

domínio. Estas funções devem variar entre elementos de forma lenta e continua. A cada ponto

é atribuído um valor para o tamanho, que é aproximadamente o valor do tamanho dos

elementos a serem criados nesse ponto. Diferentes critérios podem ser ponderados na escolha

de função, o mais frequente é a relação entre o comprimento de onda e o tamanho do

elemento.

Na criação da size function o primeiro passo é ordenar o programa ao cálculo do comprimento

de onda, dado pela eq.28 e eq.29:

𝜆 = 𝑐𝑇 [28]

𝜆 - Comprimento de onda;

𝑐 - Celeridade;

𝑇- Período de onda, correspondente ao período de maré equivalente a 12 horas e 24 minutos;

Sendo a celeridade dada por:

𝑐 = √𝑔 h [29]

Page 54: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

40

𝑔 - gravidade;

h - elevação do nó.

Seguidamente cria-se a função ao dividir o comprimento de onda por um valor que consoante

seja de menor ou maior ordem de grandeza vai criar respectivamente uma malha menos

refinada ou mais refinada. Dada a escala do domínio em estudo e face às experiencias

realizadas optou-se por dividir o comprimento de onda por um valor próximo de 50.

5.3.5 Selecção da malha e validação

É necessária a criação de uma malha do domínio a ser modelado que represente com precisão

a batimetria correspondente. A malha seleccionada, visível na figura 20 é constituída por

22.370 elementos e 11.919 nós. O tamanho varia aproximadamente entre os 200 m em zonas

pouco profundas e os 1.300 m no oceano.

A sua qualidade foi verificada. Uma primeira abordagem à análise qualitativa da malha, antes

da observação das curvas de nível, pode ser feita através de uma ferramenta do ADCIRC que

assinala irregularidades encontradas. Por norma, estão reunidas as condições necessárias

para uma malha ser considerada de boa qualidade, quando a malha não altera as curvas de

nível e registos da batimetria. Outros factores representativos da qualidade da malha, como

alterações exageradas de dimensão entre polígonos próximos, ou triângulos pouco equiláteros,

podem provocar instabilidades no modelo.

Para validação da malha criada, foram comparadas as curvas de nível obtidas pela batimetria

do I.H. com as curvas de nível obtidas através da malha de cálculo.

As curvas de nível registadas através da batimetria do I.H. são comparativamente mais

angulosas que as curvas de nível registadas através da malha (estas ultimas mais curvas). Na

figura 25, a área preenchida a azul-escuro observam-se grandes profundidades e maior

concentração de curvas de nível devidas à falha na plataforma continental, o canhão de

Setúbal.

Page 55: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

41

Figura 24 – Batimetria do IH –scatter (A). Representação gráfica do relevo da malha de elementos finitos - malha (B)

Com os dados da batimetria completos e com a malha reproduzida confirmou-se visualmente

que estes descreviam, através das curvas de nível, uma morfologia do fundo oceânico

concordante.

(A)

(B)

Page 56: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

42

Page 57: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

43

6. Calibração do modelo

6.1 Campanha de medições de correntes e níveis

Para comparação dos resultados obtidos pela simulação do modelo utilizaram-se como dados

base níveis de maré e velocidades extraídos de uma campanha de medições realizada em

1987 pela Administração do Porto de Lisboa (APL).

Foram utilizadas, figura 26, como base de comparação para a calibração do modelo as

medições de níveis registadas por marégrafos de flutuador localizados em Paço de Arcos,

Pedrouços, Trafaria, Alcântara, Praça do Comércio, Cabo Ruivo e Vila Franca de Xira, e os

marégrafos M7, M8 e M9.

Os registos foram efectuados em papel e digitalizados no LNEC com um intervalo de 10 min.

Campanha efectuada pela Administração do Porto de Lisboa – APL, onde foram ainda

utilizados os dados do marégrafo de Cascais cedidos Instituto Geográfico Português (IGP)..

A recuperação do marégrafo de pressão M8 no terreno não foi possível (Vieira, 1991) pelo que

não foi considerado na análise comparativa. Os valores do marégrafo M9 não foram utilizados

por este se localizar a sul do Cabo Espichel. O marégrafo M7 também não foi considerado na

análise comparativa, mas pelo facto dos registos do marégrafos da campanha apresentarem

um número significativo de irregularidades. Foram ainda excluídos da análise comparativa os

dados registados pelo marégrafo flutuador de Vila Franca de Xira, por motivos de destorção de

resultados simulados pelo ADCIRC face à localização deste marégrafo.

A campanha efectuada pelo I.H. inclui também medições de correntes, figura 27, com

correntógrafos autoregistadores ANDERAA RCM4 em 10 posições ao longo da embocadura.

Os aparelhos foram instalados a uma imersão média de 0.70 m e os registos efectuados com

um tempo de intervalo de 10 minutos. (Vieira, 1991).

À excepção de dois correntógrafos (posições 5 e 7) cuja recuperação no terreno não foi

possível (Vieira, 1991), apresentam-se os restantes correntógrafos numerados de 1 a 10.

N Figura 25 - Localização dos marégrafos

Page 58: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

44

Na tabela 3, as localizações precisas dos marégrafos e correntógrafos em coordenadas

geográficas em relação ao datum WGS1984.

Tabela 3 - Tabelas de localização geográfica dos marégrafos e correntógrafos

Para comparação de valores pelo ADCIRC em alguns marégrafos que se localizavam em cima

da fronteira terrestre, foi necessário proceder a pequenas translações da localização, que por

serem de poucos metros não é expectável qualquer alteração no rigor dos resultados.

Aparelho de medição Longitude (º) Latitude (º)

Marégrafo Cabo Ruivo -9,08333 38,75000

Marégrafo Lisboa -9,13139 38,70194

Marégrafo Alcântara -9,16549 38,69790

Marégrafo Pedrouços -9,22318 38,69450

Marégrafo Trafaria -9,22985 38,67617

Marégrafo Paço Arcos -9,29104 38,69278

Marégrafo Cascais -9,41652 38,69450

Correntógrafo C1 -9,17693 38,69433

Correntógrafo C2 -9,17492 38,68647

Correntógrafo C3 -9,25503 39,67931

Correntógrafo C4 -9,29888 38,67124

Correntógrafo C6 -9,35226 38,65066

Correntógrafo C8 -9,26939 38,63863

Correntógrafo C9 -9,36898 38,67381

Correntógrafo C10 -9,34078 38,61717

N

Figura 26 - Localizações dos correntógrafos

Page 59: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

45

a) b)

c) d)

A calibração do modelo para forçamento astronómico e comparação de valores com a

campanha de 1987 tem por base o pressuposto de que para o período em causa o nível de

pressões e intensidades dos ventos são desprezáveis, assim como os restantes resíduos que

que podem provocar alterações dos níveis da maré. Este prossuposto é consubstanciado pelos

valores dentro da normalidade que se podem observar nas figuras 28 e 29 para o vento e a

pressão atmosférica, respectivamente..

A magnitude dos ventos predominantes ronda os 15 m/s (Fig 28). Os ventos no período da

simulação são maioritariamente provenientes de norte o que atenua os seus efeitos nos níveis

de maré do estuário.

A figura 29 permite observar que os valores de pressão atmosférica estão próximos do valor

normal de 1013 mb sobre a zona do estuário do Tejo durante o período seleccionado para

calibração do modelo.

Figura 27 – Direcção e magnitude do vento em várias fases do período de campanha de medições de 1987: a) 31 de Outubro, 00:00:01 am; b) 4 de Novembro, 00:00:01 am; c) 9 de Novembro, 00:00:01 am; d)14 de Novembro,

00:00:01 am.

Page 60: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

46

a)

b)

c)

d)

Figura 28 – Pressão atmosférica ao nível do mar em milibares em vários períodos da campanha de medicos de 1987: a) 31 de Outubro, 00:00:01 am; b) 4 de Novembro,

00:00:01 am; c) 9 de Novembro, 00:00:01 am; d) 14 de Novembro, 00:00:01 am.

Page 61: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

47

6.2 Definição das simulações

6.2.1 Condições de fronteira

Dado o baixo valor de afluências de água doce ao estuário do rio tejo comparativamente ao

volume do mesmo, consideraram-se as zonas de afluência a jusante da Ponte de Muge e do

rio Sorraia como parte da fronteira terreste.

Na fronteira oceânica, de forma a expressar a influência de áreas externas ao estuário do Tejo

e com vista a não influenciar as condições de escoamento do mesmo, optou-se nas simulações

por uma fronteira oceânica semi-circular com um raio de cerca de 22 km.

A partir da base de dados de LeProvost et al. (1998) interpolaram-se as constituintes de maré

para forçamento astronómico na fronteira oceânica: 2N2; K1; K2; L2; M2; MU2; N2; NU2; O1;

P1; Q1; S2 e T2.

Na calibração verificou-se que o uso das treze constituintes harmónicas de LeProvost et al.

(1998) disponíveis para utilização no ADCIRC produzem melhores resultados que a simples

utilização de apenas 3 ou 4 constituintes principais.

Na fronteira terrestre, considerou-se em toda a sua plenitude impermeável o que corresponde a

impor velocidades normais nulas.

6.2.2 Atrito de fundo

Foram feitas simulações no sentido de encontrar o atrito de fundo que melhor se ajustasse ao

modelo.

Para Cf = 0,02 foram testadas várias simulações, no entanto este parâmetro mantinha-se

elevado em relação ao intervalo teoricamente sugerido, de forma que se correram vários testes

na tentativa de o baixar e consequentemente optimizar os resultados obtidos.

Com alteração para os dados batimétricos fornecidos pelo Instituto Hidrográfico tornou-se

possível baixar o valor do atrito de fundo, conseguindo-se atingir bons resultados de calibração

com a equação quadrática Cf = 0,0025.

6.2.3 Condições iniciais

Considera-se que o cálculo se inicia a partir das condições de repouso, cold start ou de regime

permanente, de tal modo que as sucessivas acções externas durante o período de rampa do

cálculo introduzam apenas pequenas perturbações nas condições iniciais. O sistema atinge o

equilíbrio dinâmico a partir do momento em que os resultados já não dependem das condições

iniciais.

Page 62: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

48

6.3 Parâmetros finais

A influência de quatro condições foi testada na análise de calibração: a formulação e

coeficiente do atrito de fundo, a viscosidade lateral e a equação de onda. Os resultados do

modelo foram especialmente sensíveis em relação ao coeficiente de atrito de fundo, assim

como a viscosidade lateral assinalou ser determinante nos módulos de velocidade. Após a

análise de simulações teste produzidas com forçamento astronómico, concluiu-se que os

melhores resultados para calibração, com os registos observados na campanha de medições

de correntes e níveis descrita no capítulo seguinte, foram produzidos com recurso aos

parâmetros sintetizados na tabela 4:

Tabela 4 - Quadro síntese dos parâmetros finais utilizados na calibração

Parâmetros utilizados na calibração do modelo

Projecção Global Geográfica (Latitude/Longitude), WGS84

Geral Continuidade de onda 0,04

Viscosidade lateral 30 m2/s

Formulação do atrito de fundo Constante quadrática

Coeficiente de atrito de fundo 0,0025

Tempo Período de aquecimento 3 dias

Factores de ponderação de

tempo da equação de onda

0,350; 0,30; 0,350

Data de arranque a frio 27-10-1987

Passo de cálculo 4 s

Período de simulação 20 dias

Ficheiros Unidade número 63 (início; fim;

frequência)

(0; 20; 30)

Unidade número 64 (início; fim;

frequência)

(0; 20; 30)

Maré Constituintes de maré 2N2; K1; K2; L2; M2; MU2; N2; NU2; O1;

P1; Q1; S2; T2

Vento Tipo de ficheiro de vento NWS=0

Page 63: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

49

6.4 Comparação de resultados| forçamento astronómico

6.4.1 Comparação de níveis de maré

Os resultados obtidos para os níveis de maré, foram comparados com os valores da campanha

de medições, para um período de análise compreendido entre 30 de Outubro 1987 e 17 de

Novembro 1987. Este período foi escolhido pela boa representatividade que fornece das marés

vivas e marés mortas ao ser superior a 15 dias, e porque da campanha de medições que

permitiu o registo das cotas de superfície nas várias localizações já mencionadas, este é o

período de tempo com menos falhas nos registos dos sucessivos marégrafos.

Nas figuras 30 a 36 as linhas de côr azul representam os valores registados pelos marégrafos

e as linhas de côr preta tracejada representam os valores obtidos das simulações ADCIRC.

No período de marés-mortas, a simulação das cotas da superfície livre pelo ADCIRC é mais

difícil de se reproduzir com exactidão, o que resultou em simulações com amplitude menor à

registada pelo marégrafo. Como esperado, quanto mais para montante do estuário se situa o

local de comparação, maior a dificuldade em simular as amplitudes do modelo por forma a não

diferirem das amplitudes observadas, por isso a exclusão do maregrama de Vila Franca de

Xira. Para este local em particular, essa discrepância de resultados é notória para as marés-

mortas (gráfico não apresentado).

Figura 29 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Cascais

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h(cm)

dias

Marégrafo Cascais Simulado ADCIRC

Page 64: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

50

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h (cm)

dias

Marégrafo Paço de Arcos Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h (cm)

dias

Marégrafo Pedrouços Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h (cm)

dias

Marégrafo Trafaria Simulado ADCIRC

Figura 31 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Trafaria

Figura 32 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Pedrouços

Figura 30 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Paço de Arcos

Page 65: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

51

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h (cm)

dias

Marégrafo Alcântara Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h (cm)

dias

Marégrafo Lisboa Simulado ADCIRC

Figura 33 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Alcântara

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40 42 44 46

h (cm)

dias

Marégrafo Cabo Ruivo Simulado ADCIRC

Figura 34 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Lisboa

Figura 35 - Comparação de níveis no local do marégrafo flutuante de Cabo Ruivo

Page 66: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

52

Comparando as cotas fornecidas pelos marégrafos flutuantes com as cotas simuladas no

ADCIRC conclui-se que o traçado de ambas é muito semelhante.

O marégrafo de Cascais regista grandes perdas de informação das cotas de superfície livre

(linha azul) tornando difícil a sua correcta comparação com os valores das simulações

ADCIRC. As curvas simuladas apresentam uma boa conformidade em relação às curvas

provenientes do ADCIRC. Todas as curvas estão em fase e representam uma maior

conformidade para os períodos de marés vivas.

Os resultados de Alcântara apresentam o maior erro subestimando em preia-mar das marés

vivas do dia 31 de Outubro (registo do marégrafo em 40 cm).

Os resultados do marégrafo do Cabo Ruivo apresentam o maior erro em baixa-mar das marés

mortas do dia 15 de Novembro em 60 cm. Dada a localização deste marégrafo no interior do

estuário o erro verificado poderá dever-se a efeitos de ressonância (Dias e Valentim, 2011),

causando a amplificação da maré.

6.4.2 Comparação de velocidades

O módulo de velocidade das correntes e as direcções instantâneas foram também alvo de

comparação com os valores da campanha registados pelos correntógrafos. Os gráficos

comparativos que se seguem (Figs 37 a 52) são neste caso para um intervalo de tempo de 10

dias compreendido entre as datas de 30 de Outubro de 1987 e 9 de Novembro de 1987. O

intervalo de tempo escolhido foi reduzido em 5 dias por forma a facilitar a análise e

visualização.

De referir que em geral, a comparação de valores de medição de velocidades é menos precisa

em relação às comparações de níveis.

As magnitudes de velocidade nos diferentes locais obtidas são, em geral, inferiores aos valores

registados pelos correntógrafos. Em locais com baixas velocidades, existe uma maior

irregularidade nos registos em períodos de marés mortas, possivelmente ocorridos pelo mau

funcionamento dos correntógrafos, causados por perturbações como ondulação. (Vieira, 1991).

Essas perturbações são visíveis nos correntógrafos C8 e C9.Nas figuras 37 a 52 as linhas de

côr azul representam os valores registados pelos correntógrafos e as linhas de côr preta

representam os valores obtidos das simulações ADCIRC.

As comparações da direcção do vector velocidade registam uma boa concordância de fases,

com os resultados a demonstrarem o comportamento esperado, maioritariamente com

variações angulares de 180 graus correspondentes à inversão total do sentido da maré.

Observa-se para a magnitude da velocidade nos pontos simulados valores pouco concordantes

com os registados na maioria dos correntógrafos analisados.

Page 67: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

53

Figura 38 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C2

Correntógrafo C2 Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C1

Correntógrafo C1 Simulado ADCIRC

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

30 32 34 36 38 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C1

Correntógrafo C1 Simulado ADCIRC

Figura 36 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C1

Figura 37 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C1

Page 68: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

54

Figura 39 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C2

Figura 40 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C3

Figura 41 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C3

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C2

Correntógrafo C2 Simulado ADCIRC

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

30 32 34 36 38 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade no C3

Correntógrafo C3 Simulado ADCIRC

0

100

200

300

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C3

Correntógrafo C3 Simulado ADCIRC

Page 69: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

55

Figura 42 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C4

Figura 43 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C4

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C4

Correntógrafo C4 Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C4

Correntógrafo C4 Simulado ADCIRC

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C6

Correntógrafo C6 Simulado ADCIRC

Figura 46 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C6 Figura 44 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C6

Page 70: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

56

Figura 45 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C6

Figura 46 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C8

Figura 47 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C8

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 32 34 36 38 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C6

Correntógrafo C6 Simulado ADCIRC

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C8

Correntógrafo C8 Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C8

Correntógrafo C8 Simulado ADCIRC

Page 71: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

57

Figura 48 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C9

Figura 49 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C9

Figura 50 - Comparação da magnitude de velocidade no local do correntógrafo C10

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C9

Correntógrafo C9 Simulado ADCIRC

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C9

Correntógrafo C9 Simulado ADCIRC

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

v (m/s)

dias

Módulo da velocidade C10

Correntógrafo C10 Simulado ADCIRC

Page 72: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

58

Figura 51 - Comparação da direcção do vector velocidade no local do correntógrafo C10

O correntógrafo C4 regista direcções do vector velocidade condizentes com as direcções de

enchente e de vazantes espectáveis do ponto em que se encontra ao localizar-se na Barra Sul

do Tejo. Numa situação muito semelhante ao do correntógrafo C4, o correntógrafo C10 regista

uma direcção de corrente a variar aproximadamente entre os 50 e 230 graus, a variação é

instantânea e o intervalo temporal do vector direcção em cada uma das variações opostas é de

6 horas.

A par de algumas irregularidades nos registos os correntógrafos C1 e C2 apresentam

direcções do vector velocidade dentro do esperado para aparelhos localizados perto das

margens do corredor do Tejo.

O correntógrafo C8 que apresenta direcções distintas dos restantes, muito provavelmente

devido à sua localização a sul do Banco do Bugio e a correntes longitudinais, apresenta uma

variação entre aproximadamente os 100 e os 280 graus.

A nível de magnitudes, o ponto onde a representação mais se aproximou aos registos dos

correntógrafos foi o correntógrafo C10. Os restantes pontos na simulação, apresentam valores

de magnitude inferiores o que deverá estar sob influência do parâmetro da viscosidade lateral e

do coeficiente de atrito de fundo. Pelas simulações realizadas, conclui-se que quanto menor o

valor atribuído a estes parâmetros, melhor a concordância de resultados da magnitude de

velocidade. As comparações apresentadas resultam da simulação que empregou o menor

valor destes parâmetros, sem que isso provocasse instabilidades no modelo.

Para as zonas de espraiados e sapais, onde não se dispõe de informação de níveis de maré ou

de velocidade, não foi possível proceder à comparação dos resultados das simulações, tendo

estes sido apenas analisados de forma qualitativa relativamente à representação da circulação

hidrodinâmica.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

Direcção(º)

dias

Direcção do vector velocidade C10

Correntógrafo C10 Simulado ADCIRC

Page 73: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

59

7. Consideração do forçamento meteorológico

7.1 Medições e registos dos níveis de maré existentes

7.1.1 Registos maregráficos, de vento e pressão

Para a tempestade de Xynthia ocorrida em 2010 foram considerados os dados do marégrafo

de Cascais disponibilizados pelo Instituto Geográfico Português (IGP). Para comparação com

os valores das simulações que se seguem foi considerado exclusivamente o registo do

marégrafo de Cascais, pela insuficiência de dados disponíveis a público de outros marégrafos.

Os dados de vento e pressão utilizados para forçar o modelo são provenientes do European

Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF) Reanalysis (ERA-Interim). A

informação é recolhida quatro vezes ao dia com uma resolução espacial de 0,75º.

A escolha da fonte de dados recaiu no ERA-Interim pela maior resolução espacial que

disponibiliza em relação a outras fontes, como a National Oceanic and Atmospheric

Administration (NOAA) com 2,5º.

7.1.2 Pressão atmosférica

A análise de pressão não apresenta variações de maior entre diferentes pontos do estuário.

Como exemplo da brusca variação da pressão atmosférica causada pela tempestade Xynthia,

a figura 56, permite visualizar a súbita queda de pressão no dia 27 de Fevereiro num ponto

perto do marégrafo de Cascais.

Figura 56 - Variação da pressão atmosférica num ponto próximo ao marégrafo de Cascais

Os valores de pressão atingem o pico mínimo de pressão de 984,7 mb a meio do dia 27 de

Fevereiro.

980

985

990

995

1000

1005

1010

1015

1020

21-fev 23-fev 25-fev 27-fev 1-mar 3-mar 5-mar 7-mar

Pressão (mb) Pressão num ponto próximo ao marégrafo de Cascais

Page 74: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

60

Nota ainda para algumas variações no comportamento do campo de pressões em torno do

valor normal de pressão 1013 mb para o período que sucede nos dias seguintes ao pico da

tempestade.

7.2 Caracterização da tempestade Xynthia

A origem da tempestade Xynthia foi identificada numa região caracterizada por calor e ventos

predominantes do oeste, sob a influência de fortes ondas de vento das camadas mais altas, de

menor pressão.

A tempestade Xynthia seguiu um caminho SW-NE invulgar na direcção da península ibérica,

França e Europa Central.

O arquipélago da Madeira foi atingido a 20 de Fevereiro de 2010, por severas trombas de

água, que provocaram cheias repentinas e centenas de deslizamentos, com um número de

vítimas mortais estimado em 40 pessoas. Apesar do elevado estado de alerta promovido por

todos os serviços meteorológicos europeus (principalmente dos países mais propensos a

serem afectados, Portugal, Espanha e França) a tempestade Xynthia provocou dezenas de

vítimas mortais, na totalidade superior a outras tempestades conhecidas no norte atlântico

como a tempestade Lothar e Martin em 1999, a tempestade Kyrill em 2007 e Klaus em 2009.

Em termos de perdas económicas, a estimativa dos prejuízos causados pela tempestade

Xynthia aponta para 3,6 milhões de euros de perdas, tendo sido o 2ª evento a provocar maior

prejuízo no ano de 2010, seguidamente do terramoto no Chile. A dimensão destes números

evidenciam a importância para a sociedade do potencial destrutivo dos eventos meteorológicos

sobre a região euro-atlântica. (Liberato, et al., 2013).

Na figura 53,é visível a forte contribuição da storm surge na Baía do seixal.

A tempestade atingiu Portugal e Espanha a 27 de Fevereiro e atingiu a costa atlântica francesa

a 28 de Fevereiro, continuando a sua trajectória no sentido NE atravessando a Bélgica,

Holanda e Alemanha. Fortes rajadas de vento a mais de 40 m.s-1 foram medidas nas estações

de baixo nível dos arquipélagos da Madeira e das Canárias, mas sobretudo na península

ibérica e França. (Liberato, et al., 2013)

Figura 52 - Fotos documentando o impacto da tempestade Xynthia em: La Faute-sur-mer, França (à esquerda); na Baía do Seixal a sul do estuário do Tejo, Portugal (à direita)

Page 75: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

61

Os ventos fortes induziram ondulação de até 8 metros ao longo das áreas costeiras em

Portugal, Espanha e França. De acordo com os dados disponíveis do Instituto Oceanográfico

Espanhol (IOE), uma bóia ancorada 22 milhas a norte de Santander registou um pico de altura

de onda significativa de mais de 14,88 m entre as 18h00 GMT e 19h00 GMT, na tarde de 28 de

Fevereiro quando o cabo que segurava a bóia se partiu e esta foi levada pelas correntes.

Na costa atlântica Francesa, o storm surge em conjunto com preia-mar e forte ondulação

provocou o falhanço de defesas contra inundações ao longo da costa da foz do rio Gironde,

perto de Bordeaux, até ao estuário de Loire. Mais de 50.000 ha de terra foram inundados e

consequentemente a França registou 47 vítimas mortais (tendo sido a região mais afectada e

com maior número de mortes provocados pela tempestade Xynthia). Em algumas casas, em La

Faute-sur-Mer, o nível da água aumentou a uma altura de 2,5 m no espaço de tempo de meia

após o fracasso de diques e posterior inundação. Relatórios sugerem que cerca de 10.000

pessoas foram forçadas a evacuar as suas casas na costa atlântica francesa (Lumbroso e

Vinet, 2011).

A figura 54 (a) permite visualizar as rajadas de vento correspondentes aos valores máximos de

vento locais (ms-1) dentro do período de simulação. A posição da tempestade em intervalos de

seis horas é marcada com círculos, a côr azul os dados ERA-Interim (European Centre for

Medium-Range Weather Forecasts)e a côr verde dados CCLM (Climate Limited area Model).

A figura 55 (b) indica os dados principais correspondentes a MSLP (Mean Sea Level Pressure)

mostrados para o período de 25 de Fevereiro de 2010 00:00 GMT 00:00 GMT de 02 de Março

de 2010. (Liberato, et al., 2013)

A tempestade Xynthia desenvolveu-se a latitudes relativamente baixas, invulgares para este

tipo de fenómeno. A pressão caiu rapidamente em poucas horas, o que sustenta a

classificação de explosiva ciclogénese. Após este estádio de rápido desenvolvimento, o sector

quente já tinha coberto metade da península ibérica enquanto a frente fria se aproximava dos

arquipélagos da Madeira e das ilhas Canárias.

A fronte fria passou sobre a península Ibérica na madrugada de 27 de Fevereiro provocando

rajadas de vento forte e mar agitado, as isóbaras do acontecimento encontram-se na figura 55.

Page 76: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

62

Figura 53 - Trajectória de superfície da tempestade Xynthia como representado na ERA-Interim (a azul) e na simulação CCLM, Cosmo Climate Limited area model (a verde) .Adaptado de (Liberato, et al., 2013)

Figura 54 - Análise de isóbaras às 06:00 GTM de 27 de Fevereiro 2010.Adaptado de (Liberato, et al., 2013)

Page 77: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

63

7.3 Simulação do evento meteorológico seleccionado

Tendo em consideração os parâmetros utilizados na calibração, efectuou-se a simulação da

storm surge para a tempestade Xynthia que ocorreu em Fevereiro de 2010.

O forçamento puramente meteorológico inclui os campos de vento e de pressão, sem

astronomia. Sendo que neste tipo de simulação a condição de fronteira oceânica é obtida

através da transformação da pressão atmosférica em elevação da água.

Considerando-se o forçamento astronómico e meteorológico, os valores utilizados para a

simulação da tempestade Xynthia mantiveram-se de acordo com a calibração, tendo sido

apenas adicionados e alterados alguns parâmetros para permitirem que o modelo utilize os

dados de vento e de pressão da data do evento meteorológico, tabela 5.

Tabela 5 - Parâmetros utilizados para simulação da tempestade

Projecto forçamento astronómico e meteorológico

Projecção Global Geográfica (Latitude/Longitude), WGS84

Geral Continuidade de onda 0,04

Viscosidade lateral 30

Formulação do atrito de fundo Constante quadrática

Coeficiente de atrito de fundo 0,0025

Tempo Período de aquecimento 3 dias

Factores de ponderação de

tempo da equação de onda

0,350; 0,30;0,350

Data de arranque a frio 17-02-2010

Passo de cálculo 4 s

Período de simulação 20 dias

Ficheiros Unidade número 63 (início; fim;

frequência)

(48; 68; 60)

Unidade número 64 (início; fim;

frequência)

(48; 68; 60)

Maré Constituintes de maré 2N2; K1; K2; L2; M2; MU2; N2; NU2; O1;

P1; Q1; S2; T2

Vento Tipo de ficheiro de vento NWS=5

Page 78: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

64

7.4 Resultados obtidos

Na figura 56 observam-se os níveis de maré obtidos na proximidade do marégrafo de Cascais

com a aplicação dos dois forçamentos (astronómico e meteorológico) em simultâneo, numa só

simulação, e simulados separadamente sendo somados a posteriori.

Os resultados obtidos estão subestimados em relação aos valores do marégrafo para o período

próximo da tempestade, o que se poderá dever à soma de dois factores: a fronteira oceânica

que deveria estar mais afastada cobrindo uma área de domínio mais abrangente; a elevada

agitação marítima não considerada no modelo; as alterações morfológicas dos sedimentos do

leito do estuário desde a data em que se realizou a campanha de medições do APL que serviu

de base à calibração do modelo.

Figura 55 - Simulação com forçamentos em conjunto vs. somados A posteriori

A figura 57 compara os registos do marégrafo de Cascais com a componente astronómica

extraída através de T-Tide (Pawlowicz, et al., 2002). Os resíduos que se observam

demonstram um pico face aos valores de maré astronómica ocorridos no dia 27 de Fevereiro.

-100

0

100

200

300

400

500

21-fev 23-fev 25-fev 27-fev 1-mar 3-mar 5-mar 7-mar

h(cm) Local próximo ao marégrafo de Cascais

Marégrafo Cascais

Forçamento astronómico e meteorológico simulados em conjunto

Forçamentos meteorológico e atmosférico somados

Page 79: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

65

Figura 56 – Marégrafo cascais, componente astronómica (T-Tide) e resíduos observados

Os níveis de maré simulados são analisados para um local próximo ao marégrafo de Cascais

obtidos pela simulação com forçamento astronómico e com forçamento astronómico e

meteorológico. As figuras 58 e 59 expõem os resultados obtidos através de duas formas

distintas. A figura 58 permite visualizar os resultados da simulação apenas com forçamento

meteorológico (resíduos simulados), assim como os resultados da simulação apenas com o

forçamento astronómico, apresentando-se a soma destes dois registos (forçamentos

meteorológico e astronómico somados).

-100

0

100

200

300

400

500

21-fev 23-fev 25-fev 27-fev 1-mar 3-mar 5-mar 7-mar

h(cm)Local próximo ao marégrafo de Cascais

Marégrafo Cascais Componente Astronómica Resíduos Observados

0

50

100

150

200

250

300

350

400

21-fev 23-fev 25-fev 27-fev 1-mar 3-mar 5-mar 7-mar

h(cm) Local próximo ao marégrafo de Cascais

Forçamento astronómico e meteorológico somados

Forçamento astronómico simulado

Resíduos simulados

Figura 57- Forçamento meteorológico e astronómico somados; forçamento astronómico simulado (separadamente) e o resíduo simulado (separadamente)

Page 80: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

66

A figura 59 permite visualizar os resultados da simulação com forçamento meteorológico e

astronómico simulados em simultâneo, assim como (à semelhança da figura 58) os resultados

da simulação apenas com o forçamento astronómico. Apresentado por fim os resíduos

computacionais (diferença entre os dois registos anteriores).

-50

0

50

100

150

200

250

300

350

400

21-fev 23-fev 25-fev 27-fev 1-mar 3-mar 5-mar 7-mar

h (cm)Local próximo ao marégrafo de Cascais

Forçamento meteorológico e astronómico simulado

Forçamento astronómico simulado

Resíduo computacional

Figura 58 - Forçamento meteorológico e astronómico simulado (simultaneamente);forçamento astronómico simulado (separadamente); Resíduo computacional.

Page 81: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

67

Na figura 60 os resíduos observados, que são a diferença entre valores obtidos por marégrafo

e valores extraídos com recurso ao T-Tide (Pawlowicz, et al., 2002), são comparados com os

resíduos simulados (relativos à figura 58, por se considerar ser esta a simulação que melhor

recria a storm surge no estuário do Tejo para a tempestade Xynthia). Os resultados são

apresentados para Cascais, como exemplo, sendo similares para outras localizações dentro do

estuário.

Figura 60 - Comparação de resíduos observados e simulados

Os resíduos observados comparativamente aos resíduos simulados apresentam uma diferença

de altura superior a 20 cm, Esta diferença deve-se a factores não considerados pelo modelo

como a elevação proveniente do wave-setup. As ondas na zona de rebentação induzem

alguma elevação na superfície da água como demonstrado em estudos anteriores (Araújo, et

al., 2011b).

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

26-fev 27-fev 28-fev

h (cm) Local próximo ao marégrafo de Cascais

Resíduos Observados Resíduos simulados

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

26-fev 27-fev 28-fev

h (cm) Local próximo ao marégrafo de Cascais

Resíduos simulados Pressão barométrica invertida

Figura 61 - Resíduos simulados e a pressão barométrica invertida

Page 82: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

68

A figura 61 demonstra a pronunciada queda de pressão a dia 27 de Fevereiro.

Algumas observações podem ser deduzidas face aos resultados:

Para este evento meteorológico, o efeito do vento em Cascais foi praticamente

desprezável em relação ao efeito da pressão atmosférica;

O nível máximo modelado dos efeitos causados pelo vento e pela pressão é

ligeiramente superior e ocorre sensivelmente ao mesmo tempo que o máximo da

pressão barométrica invertida;

O máximo dos resíduos observados ocorre mais tarde e é em cerca de 20 cm superior

ao máximo dos resíduos modelados, devido sobretudo aos efeitos causados por ondas

de baixo período e wave-setup.

A figura 62 expõe fotogramas da circulação no estuário antes e durante o evento de storm

surge. É notório a significante área que fica submersa no decorrer do pico da tempestade, que

coincide com marés vivas. Contudo nas zonas baixas da cidade de Lisboa, como a zona de

Alcântara, Cais do Sodré e Terreiro do Paço, não são visíveis inundações.

a) b)

c) d)

Alcântara

Cais do Sodré

Terreiro do Paço

Figura 62 - Tempestade Xynthia. Elevação da superfície da água nas margens do concelho de lisboa.: a) 25-02-2010 12:12:00 p.m em PMAV b) 27-02-2010 14:12:00 p.m. no pico da tempestade c) zoom em

a); d) zoom em b).

Page 83: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

69

8. Considerações finais

A storm surge causada pela tempestade Xynthia, atingiu Lisboa a Fevereiro de 2010, foi

simulada com recurso ao modelo hidrodinâmico ADCIRC. De acordo com os resultados do

modelo, a elevação do nível do mar no pico da tempestade não foi suficiente para inundar as

áreas urbanas à cota mais baixa das margens do estuário, em particular a zona das docas de

Alcântara. Em relação a alguns apontamentos de ocorrência de inundações em virtude da

tempestade, pode agora dizer-se, com maior fiabilidade que se devem provavelmente à

combinação de um conjunto de factores como elevada precipitação, extensas áreas pouco

permeáveis em resultado da urbanização, e fraca capacidade da rede de drenagem de águas

pluviais.

Uma batimetria precisa é essencial para o sucesso e qualidade do trabalho, uma vez que é a

base de todo o estudo a desenvolver, com impacto nos resultados finais. Alterações

sedimentares devidas às correntes de maré e modificações na linha costeira por via de

construções ou dragagens podem alterar os dados batimétricos. Deve-se considerar dados de

levantamento o mais recentes possível.

É importante criar funções de espaçamento nodal que gerem malhas computacionais capazes

de contabilizar alterações na batimetria substanciais. De outra forma, a qualidade da malha, os

custos computacionais e os resultados finais serão comprometidos. Num estuário de grande

dimensão como o estuário do Tejo, estudar a ocorrência de cheias numa área particular requer

malhas muito refinadas localmente, por forma a optimizar os resultados.

Em relação à storm surge, o efeito do vento revelou-se menos preponderante do que o efeito

da pressão atmosférica.

O wave-setup criado pela ondulação desempenha um papel considerável na elevação do nível

de maré tornando-se menos significativo nas zonas mais protegidas.

Na zona interior do estuário o caudal do rio Tejo poderá revelar alguma importância. O efeito

de ressonância no estuário do Tejo e elevação do nível médio físico do mar à medida que se

entra no estuário deve ser objecto de estudo mais aprofundado.

A metodologia aplicada pode ser usada em outros estuários e ser um instrumento para a

previsão da vulnerabilidade de inundações.

Em termos de precisão, os resultados do evento simulado têm ainda margem para

aperfeiçoamento. Alguns factores podem ser sugeridos como pontos de melhoria para futuras

simulações de modelos semelhantes: a aplicação da componente de wave-setup na simulação;

uma malha mais densa na área em estudo; aumentar o tamanho do domínio a jusante do

estuário e a consideração das descargas fluviais.

Page 84: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

70

Page 85: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

71

Referências bibliográficas

Araújo, M., Mazzolari, A., and Trigo-Teixeira, A. (2011b). ‘Wave set-up in the modelling of

storm surge at Viana do Castelo (Portugal)’. Journal of Coastal Research, SI 64, pp. 971-

975.

Araújo, M., Trigo-Teixeira, A., and Mazzolari, A. (2011a). ‘Simulation of storm surge events at

the portuguese coast (Viana do Castelo)’. Proceedings of International Conference

Litoral 2010: Adapting to Climate Change at the Coast, London (UK).

DOI:10.1051/litt/201112004, pp. 12004 1-9.

Arbic, B. K., Scott, R.B. (2008). ‘On Quadratic Bottom Drag, Geostrophic Turbulence, and

Oceanic Mesoscale Eddies’. Journal of Physical Oceanography, 38, pp. 84 –103.

ARH do Tejo, I.P. (2009). ‘O Plano de Ordenamento do Estuário do Tejo, Saberes e Reflexões’.

ARH do Tejo, I.P. 1ª ed. Lisboa.

Blain, C. A., and Rogers, W. (1998). ‘Coastal Tide Prediction Using the ADCIRC 2DDI

Hydrodynamic Finite Element Model: Model Validation and Sensitivity Analysis in

Southern North Sea/English Channel’. Naval Research Laboratory.

Blain, C.A., Westerink, J. J. and Luettich R. A. Jr, (1994). ‘The influence of domain size on the

response characteristics of a hurricane storm surge model’, J. Geophys. Res., 99(C9),

pp. 18467-18479.

Celebioglu, K. and Piasecki, M., (2006),’ Comparison of Turbulence Models with use of UnTRIM

in the Delaware Bay’, Procedings of the Ninth International Conference: Estuarine and

coastal model, American Society of Civil Engineers, Virginia. DOI:10.1061/40876(209)7,

pp. 105-122.

Chen, W. B., Liu, W., and Hsu, M. (2012). ‘Predicting typhoon-induced storm surge tide with a

two-dimensional’. Nat. Hazards Earth Syst. Sci. DOI:10.5194/nhess-12-3799-2012, pp.

3799–3809.

Dias, J., and Valentim, J. (2011). ‘Numerical modeling of Tagus estuary tidal dynamics’. Journal

of Coastal. Research, SI 64, pp. 1495–1499.

Freire, P., Rilo, A., Ceia, R., Mendes, R. N., Catalão, J., Taborda, R., et al. (2012). ‘Tipificação das

zonas marginais estuarinas. O caso do estuário do Tejo.’ 2ª Jornadas de Engenharia

Hidrográfica, pp. 319-322.

Freire, P., Taborda, R., and Andrade, C. (2002). ‘Caracterização das praias estuarinas do Tejo.’

8º Congresso da Água, Figueira da Foz, 13 a 17 de Março de 2006, APRH (em CD-ROM).

Jarosz, E., Blain, C., Murray, S., and Inoue, M. (2005). ‘Barotropic tides in the Bab el Mandab

Strait - numerical simulations’. Continental Shelf Research, pp. 1225-1247.

Kinnmark, I. P., and Gray, W. G. (1984). ‘A Two-Dimensional Analysis of the Wave Equation

Model’. Int. J. Num. Methods, Vol. 20, pp. 369-383.

Page 86: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

72

LeProvost, C., Lyard, F., Molines, J., Genco, M., and Rabilloud, F. (1998). ‘A hydrodynamic

ocean tide model improved by assimilating a satellite altimeter derived data set’.

Journal of Geophysical Research. Vol. 103, pp. 5513-5529.

Liberato, M.L.R., Pinto, J. G., Trigo, R.M., Ludwig, P., Ordónez, P., Yuen, D. and Trigo, I.F.,

(2013). ‘Explosive development of winter storm Xynthia over the subtropical’. Natural

Hazards and Earth System Sciences. Sci., 13, pp. 2239-2251.

Luettich, R.A. and Westerink, J.J., (1995a). ‘Continental shelf scale convergence studies with a

barotropic tidal model’, In: Lynch, D. and Davies, A. (eds.)', Quantitative skill

assessment for coastal ocean models, Coastal and estuarine studies series, 48,

American Geophysical Union press, Washington, DC, pp. 349-371.

Luettich, R. J. and Westerink J.J. (1995b). ‘An Assessment of Flooding and Drying Techniques

for Use in the ADCIRC Hydrodynamic Model: Implementation and Performance in One-

Dimensional Flows’. Institute of Marine Sciences, Arendell St. Morehead City.

Luettich, R.A., Westerink, J.J. and Scheffner, N.W. (1992). ‘ADCIRC: an advanced three-

dimensional circulation model for shelves, coasts and estuaries’, Report 1: Theory and

methodology of ADCIRC-2DDI and ADCIRC-3DL. Technical Report DRP-92-6, US Army

Corps of Engineers, Vicksburg, MS.

Lumbroso, D. M., and Vinet, F. (2011). ‘A comparison of the causes, effects and aftermaths of

the coastal flooding of England in 1953 and France in 2010’. Nat. Hazards Earth Syst.

Sci., 11, 2321-2333, 2001.

Marujo, N.R.C.S., Araújo, M.A.V.C., Trigo-Teixeira, A., Falcão, A.P., and Mazzolari, A., 2013.

‘Storm-surge hindcast at Viana do Castelo: an oceanic and estuarine domain

approach’, Journal of Coastal Research (in press). DOI: 10.2112/JCOASTRES-D-12-

00200.1.

Marujo, N.R.C.S., (2011). ‘Storm surge hydrodynamic modelling’. Msc Thesis, Instituto Superior

Técnico, Universidade de Lisboa, Lisbon.

Mazzolari, A., Trigo-Teixeira, A. and Araújo, M.A.V.C. (2013). ‘A multi-criteria meshing method

applied to a shallow water model’. Journal of Coastal Research, SI No. 65, pp.1170-

1775.

Mendonça, A.C., 2006. ‘Avaliação do potencial energético dos fluxos de maré no estuário do

Tejo’, Msc Thesis, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa.

Militello, A.; Zundel, A. (1999). ‘Surface-Water Modeling System Tidal’. Coastal Engineering

Technical Note, IV-21, US Army Corps of Engineers.

Miranda, L. B., Castro, B. M. and Kjerfve, B. (2002). ‘Principios de Oceanografia Física de

Estuários’, editora, Universidade de São Paulo, Brasil.

Oliveira, I. M. (1981). ‘Hidráulica Marítima’, editora: Instituto Superior Técnico, Lisboa.

Page 87: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

73

Pawlowicz, R., Beardsley, B. and Lentz, S., 2002. ‘Classic tidal harmonic analysis including error

estimates in Matlab using T_Tide’, Computers&Geosciences, 28, pp. 929-937.

Porto de Lisboa. (2012). ‘Tabela de marés Lisboa 2012’. Lisboa: APL – Administração do Porto

de Lisboa, S.A.

Pugh, D. (1987). ‘Tides, Surges and Mean Sea-Level’. U.K.: John Wiley and Sons Ltd, pp.184-

199.

Rebordão, I.S.C. (2008). Análise do potencial energético dos fluxos de maré no estuário do rio

Lima, Msc Thesis, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa.

Rodrigues, R. (2009). ‘Afluências de Água Doce ao Estuário do Tejo - Condições de Fronteira de

Montante’. In ARH do Tejo, and GOT, O Plano de Ordemanento do Estuário do Tejo (1ª

ed.). Lisboa: ARH do Tejo, I.P., pp.118-126.

Shen, J., Gong, W., and Wang, H. (2005). ‘Simulation of Hurricane Isabel Using Advanced

Circulation Model (ADCIRC)’. Department of Physical Sciences, Virginia Institute of

Marine Science College of William and Mary, Gloucester Point, VA 23062.

Silva, M. C. (2010). ‘O rio Tejo – Olhar o passado com olhos de futuro’, Laboratório Nacional de

Engenharia Civil, pp.10.

Teles, M., and Barata, A. (2009). ‘Aspectos Notáveis da Hidrodinâmica do estuário do Tejo. In

ARH do Tejo’, and GOT., O Plano de Ordenamento do Estuário do Tejo. Lisboa: ARH do

Tejo, I.P., pp. 83-87.

Vieira, J. R., 1991. ‘Contribuição para o estudo de processos de circulação em regiões

costeiras’, PhD Thesis, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa.

Westerink, J. J. (1996).’Methodologies and Input/output Requirements for Enhanced

provisions for flow entering and exiting the computational domain’. University of Notre

Dame, version 30.2 ed.

Westerink, J.J., Muccino, J.C. and Luettich, R.A., 1992. ‘Resolution requirements for a tidal

model of the Western North Atlantic and Gulf of Mexico’, In: Russell, T.F. et al. (ed.),

Computational Methods in Water Resources IX, Volume 2: Mathematical Modeling in

Water Resources. Computational Mechanics Publications, Southampton, UK, pp. 669-

674.

Zundel, A.K., 2000. ‘Surface-water modeling system reference manual’, Brigham Young

University, Environmental Modeling Research Laboratory, Provo, UT.

Sites - Internet

Antunes, C. (2012). Previsão de Marés dos Portos Principais de Portugal. Acedido a 15 de Julho

de 2012, de http://webpages.fc.ul.pt/~cmantunes/hidrografia/hidro_mares.html

Aquaveo, SMS ADCIRC. (2012). Aquaveo water modelling solutions. Acedido a 21 de Agosto de

2012, de http://www.xmswiki.com/xms/SMS:Mesh_Generation

Page 88: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

74

Archfield, S. (2005). Hazards of Sea Level Rise: An Introduction. Acedido a 19 de Dezembro de

2013, de http://www.cfa.harvard.edu/space_geodesy/SEALEVEL/

Australian Government Department of defense. (2012). Australian hydrographic service.

Acedido a 03 de Novembro de 2012, de

http://www.hydro.gov.au/prodserv/tides/tidal-glossary.htm#m

Dias, J. M. (2013). Glossário das Zonas Costeiras. (Journal of integrated coastal zone

management) Acedido a 01 Fevereiro 2013, de

http://www.aprh.pt/rgci/glossario/mare.html

GLOSS-Sistema de Observação Global do Nível do Mar. (s.d.). Porquê medir o Nível do Mar.

(Comissão Oceanográfica Intergovernamental). Acedido a 15 Setembro 2012, de

www.psmsl.org/train_and_info/training/brochures /Portuguese_v2.pdf

iDicionário Aulete, (s.d.). Maré. Acedido a 02 Maio de 2014, de

http://www.portaldapalavra.com.br/ilustracoes/MARE.jpg

Instituto Hidrográfico. (2012). I & D Glossário Científico. (Marinha Portugal) Acedido a 20 de

Dezembro de 2012, de http://www.hidrografico.pt/investigacao-desenvolvimento.php

Instituto Hidrográfico. (2013). Dowload Gratuito. (Instituto Hidrográfico) Acedido a 03 de

Janeiro de 2013, de http://www.hidrografico.pt/download-gratuito.php

Ministério da Agricultura, M. A. (2010). Administração da Região Hidrografica do Tejo I.P.

Acedido a 12 de Março de 2012, de http://www.arhtejo.pt/web/guest/plano-de-

ordenamento-do-estuario-do-tejo

National Hurricane Center. (s.d.). Introduction to a storm surge. Acedido a 05 de Janeiro de

2014, de http://www.nhc.noaa.gov/surge/surge_intro.pdf

U.S. National Oceanic and Atmosferic Administration. (2008). Noaa Ocean Service Education.

Acedido a 25 Julho de 2012, de

http://oceanservice.noaa.gov/education/kits/tides/tides02_cause.html

Proudman Oceanographic Laboratory (2006). Tide Gauges. Permanent Service for Mean Sea

Level. United Kingdom. Acedido a 29 Julho 2012, de http://www.psmsl.org/

The University of North Carolina at Chapel Hill. (s.d.). Acedido a 12 de Agosto de 2012, de

http://www.unc.edu/ims/adcirc/documentv47/parameter_defs.html

University of Wisconsin Sea Grant Institute. (2013). Storm Surges, Seiches and Edge Waves.

Acedido a 05 de Janeiro de 2014, de

http://www.seagrant.wisc.edu/Home/Topics/CoastalEngineering/Details.aspx?PostID=

694

Carvalho (2000). Acedido a 20 Maio de 2014, de

http://www.geocities.ws/mpcarvalho_2000/image9MH.JPG

Page 89: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

75

Anexos

Anexo I – Áreas a seco e molhadas em diferentes períodos

Figura I.1 – Visualização do nível da superfície maré simulada em relação ao zero hidrográfico na margem estuarina de Lisboa a 25-02-2010 12:12:00 em PMAV.

Figura I.2 - Visualização da nível da superfície da maré simulada em relação ao zero hidrográfico na margem estuarina de Lisboa a 27-02-2010 14:12:00 no pico da tempestade.

Figura I.3- Visualização da nível da superfície da maré simulada em relação ao zero hidrográfico na margem estuarina de Lisboa a 01-03-2010 09:12:00 em BMAV.

Page 90: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

76

Anexo II- Artigo de jornal

Título: Mau tempo - Avarias deixaram sem luz um milhão de clientes da EDP

Tejo inunda V. F. Xira e Margem Sul

Fonte: Correio da Manhã Data: 28 Fevereiro 2010 - 00h30 a.m

Um milhão de clientes da EDP ficou ontem sem electricidade devido a avarias provocadas

pelo temporal, num dia em que a subida das águas do Tejo provocou inundações em Vila

Franca de Xira, Alhandra, Seixal e Alcochete. Em todo o País, registaram-se mais de 4600

ocorrências devido ao mau tempo. No Seixal, a água galgou a marginal e inundou cerca de 30

habitações, provocando estragos materiais. Segundo o comandante dos Bombeiros do Seixal,

António Matos, 'há 15 ou 20 anos que a água não subia tanto'. 'Isto foi provocado por uma

conjugação de factores: maré cheia, vento forte e deve ter havido descarga de barragens',

disse ao CM. As casas do Beco dos Calafates foram as mais afectadas. 'Dentro de casa a

água chegava-me aos joelhos. Não tenho seguro e muita coisa estragou-se', contou ao CM

João Sado, de 57 anos.

No Concelho de Vila Franca de Xira, o Tejo galgou as margens em várias localidades.

Segundo a autarca Maria da Luz Rosinha, ocorreram inundações em Castanheira do Ribatejo,

onde houve necessidade de retirar de casa duas idosas. Em Vila Franca de Xira, um lençol de

água com 20 centímetros de altura cobriu grande parte do centro, a exemplo de Alhandra e

Póvoa de Santa Iria. A autarca entende que 'aquando das descargas das barragens no Tejo

deveria haver cuidado em contabilizar as horas de preia--mar, o que evitava a inundação' de

habitações. O presidente do Instituto da Água, Orlando Borges, rejeita as críticas. 'As pessoas

não deviam falar do que desconhecem. As descargas estão a ser feitas de forma coordenada

com Espanha e, graças a essa articulação, as coisas têm corrido muito bem', disse ao CM,

frisando que estas cheias 'são mais um problema de drenagem urbana'.

O Tejo galgou também as margens no Cais do Sodré e Terreiro do Paço. Devido à forte

ondulação, os catamarãs que ligam o Terreiro do Paço ao Barreiro navegaram entre Cais do

Sodré e Cacilhas, Almada.

A circulação na A16, junto a Agualva-Cacém, foi interrompida durante algumas horas devido à

queda de cabos de alta-tensão, divulgou o governador civil de Lisboa, António Galamba. Em

Torres Vedras, a queda de uma estrutura provocou ferimentos ligeiros num bombeiro,

acrescentou. O temporal provocou também a queda de um telhado num colégio de Loures e

de mais de 200 árvores, sobretudo nos concelhos de Torres Vedras e Lourinhã. Na Venda do

Pinheiro (Mafra) registou-se uma derrocada de terras.

(…)

No Algarve, o forte vento fez com que alguns barcos se soltassem de onde estavam

ancorados. Na Ria de Alvor, três embarcações chegaram bater nas pedras junto à costa do

Page 91: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

77

porto, entre os quais um barco propriedade de Aprígio Santos, presidente da Naval 1º de Maio.

Houve ainda algumas quedas de árvores e estruturas.

(…)

Título: Tempestade Xynthia faz 47 mortos em França

Fonte: Jornal Expresso Data: 01 Março 2010, 08h26 a.m.

Formada no Atlântico, a tempestade Xynthia afetou vários países, incluindo Portugal, onde

provocou uma vítima mortal.

Entretanto, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, já prometeu apoio aos países

mais afetados pela tempestade Xynthia que atravessou a Europa, a partir de sábado, e fez

pelo menos 55 mortos. "A Comissão está pronta a prestar apoio aos países mais afetados",

segundo um comunicado hoje divulgado. O apoio será prestado, em primeiro lugar, à França,

país particularmente atingido pela tempestade, com um balanço ainda provisório de vítimas

que hoje aumentou para 47 mortos, devido a marés altas e ventos muito fortes, adianta o

texto.

Durão Barroso "está a acompanhar de perto o impacto da tempestade" segundo o

comunicado, no qual o presidente da Comissão Europeia expressa a solidariedade para com

as pessoas afetadas.

A tempestade, que atravessou a França este fim de semana, provocou a inundação de

localidades costeiras no oeste, causando ainda elevados danos materiais.

O primeiro-ministro francês, François Fillon, declarou que se trata "de uma catástrofe

nacional".

A tempestade, formada no Atlântico, afeta a Europa desde sábado. Após ter atravessado

Portugal e a Espanha, atingiu a França e prepara-se agora para atingir Bélgica e Alemanha. “

Page 92: Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar ... · Modelação hidrodinâmica da sobreelevação do nível do mar de origem meteorológica no estuário do Tejo

78

Anexo III – Actividades no estuário do Tejo

N

Legenda:

Figura III.1 -Actividades do estuário do Tejo [adaptado de Tagides http://www.apambiente.pt/_zdata/Divulgacao/Publicacoes/Tagides/tagidespoe.pdf]