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MODELAGEM DE ÁREAS SUSCETÍVEIS À INUNDAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CUBATÃO SUL Lucas Mauro Rosa da Luz Trabalho de Conclusão de Curso Universidade Federal de Santa Catarina Engenharia Sanitária e Ambiental

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MODELAGEM DE ÁREAS SUSCETÍVEIS À INUNDAÇÃO NA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CUBATÃO SUL

Lucas Mauro Rosa da Luz

Trabalho de Conclusão de Curso

Universidade Federal de Santa Catarina

Engenharia Sanitária e Ambiental

Lucas Mauro Rosa da Luz

MODELAGEM DE ÁREAS SUSCETÍVEIS À INUNDAÇÃO NA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CUBATÃO SUL

Trabalho apresentado à Universidade

Federal de Santa Catarina para a

conclusão do Curso de Graduação em

Engenharia Sanitária e Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz

Borges Chaffe

Coorientador: BEng. Gustavo Andrei

Speckhann

Florianópolis

2017

Lucas Mauro Rosa da Luz

MODELAGEM DE ÁREAS SUSCETÍVEIS À INUNDAÇÃO NA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CUBATÃO SUL

Trabalho submetido à Banca examinadora como parte dos requisitos

para a conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e

Ambiental

Florianópolis, 28 de Junho de 2017

Dedico este trabalho a minha mãe

(Diana). Uma guerreira! Sempre esteve

ao meu lado, fonte de inspiração e

exemplo a ser seguido.

AGRADECIMENTOS

Primeiro gostaria de dizer que estes agradecimentos não se referem

somente a execução deste trabalho, mas sim dos 7 anos que cursei esta

faculdade.

Começo os agradecimentos a aqueles que sempre estiveram ao

meu lado, minha família. Mãe, você é simplesmente a melhor de todas!

Este trabalho também é fruto de toda a sua batalha, dedico ele a você!

Obrigado por tudo que fez por mim, espero ter retribuído a altura.

Giulia, Gabriel e Jade, meus irmãos, irritantes como sempre, porém

essenciais na minha vida. Vocês são um dos motivos pelo qual eu tive

forças para finalizar esta faculdade, obrigado por tudo. Gostaria de

mencionar também a vinda do meu sobrinho Anthony, apesar de pouco

tempo conosco, já está fazendo a diferença na família, trazendo muita

alegria e renovando nossas energias.

Agradeço também a minha avó Sonia, infelizmente não está mais

entre nós, mas quando viva, me ensinou a ter disciplina, fator

importantíssimo em minha jornada. Outra pessoa muito importante para

mim, a qual também agradeço, é minha tia Laureci (Lau), parceira para

todas as horas, sempre me ajudou e torceu por mim. Por fim, agradeço a

todos das famílias Rosa e Luz, igualmente importantes nesta jornada.

Quero agradecer também a melhor turma da história do ENS,

turma “Dex Dox”. Vocês são os melhores, parceria desde que entramos,

essencial para que eu pudesse ultrapassar todas as barreiras que

apareceram nestes anos de faculdade. São tantos os momentos que

vivemos, que daria para escrever um livro! Momentos que vão desde de

maratonas de estudos para as provas de cálculo e física até o redemoinho

do amor nas festas da piscina. Esse livro seria um best seller, talvez uma

boa saída para enfrentar essa crise, já que ganhar o “piso” está difícil. Em

especial, quero agradecer ao Paulo e o Tijucas (Vitor), dois grandes

amigos que tive o prazer de conhecer, caras que eu me identifico muito e

que me ajudaram a crescer através de tantas conversas nos bares,

churrascos e viagens. Enfim, todas da turma 10.2 foram muito

importantes, fazem a e farão parte da minha vida.

Agradeço também ao professor Pedro Chaffe por ter aceitado ser

meu orientador. Sinceramente, o professor Pedro tem um estilo próprio

de lidar com os alunos, obrigando-os a correr atrás das coisas, não dando

nada de “bandeja”. Mas agradeço muito por ele ter este estilo, aprendi

muito nas matérias ministradas por ele, e neste trabalho de conclusão de

curso não foi diferente. Obrigado pelas dicas e sugestões dadas para este

trabalho. Também gostaria de agradecer ao meu coorientador Gustavo

pela ajuda nas medições de campo e também nas sugestões dadas ao meu

TCC. Agradeço também a todos do Laboratório de Hidrologia, pois

também fizeram parte deste trabalho.

Ao Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e todos

seus professores, também gostaria de deixar meus agradecimentos. Cada

professor do departamento tem uma parcela de contribuição na minha

formação.

Por fim, gostaria de deixar meus agradecimentos a sociedade

brasileira, afinal, sem ela não existira Universidade Federal pública e

gratuita. Sinceramente, não sei se seria possível obter um diploma se eu

tivesse que pagar por ele, certamente seria muito mais difícil e demorado.

Sei que a UFSC ainda tem muito que melhorar, mas a infraestrutura que

nos é fornecida é suficiente para que possamos nos capacitar com nível

de excelência. Portanto, agradeço a todo investimento que a sociedade fez

em mim, espero poder retribuir a altura.

“Nobody owns water. Drink some

and try to keep it”

(Autor desconhecido)

RESUMO

As inundações são caracterizadas pelo extravasamento da água do

leito de escoamento natural de um rio. É provável que este tipo de desastre

seja o mais frequente, abrangente e danoso para a sociedade humana. Os

danos associados às inundações podem ser separados em danos

ambientais, sociais e econômicos, tornando-se necessária a adoção de

medidas que diminuam, que evitem e que também preparem a sociedade

para lidar com estes eventos. Uma importante ferramenta de planejamento

é a obtenção das áreas suscetíveis às inundações em um determinado

local, pois assim é possível estimar, por exemplo, a população afetada,

perdas financeiras e áreas vulneráveis. O objetivo deste trabalho foi a

obtenção das áreas suscetíveis às inundações na Bacia do Rio Cubatão

Sul. A área de estudo encontra-se no município de Santo Amaro da

Imperatriz, localizado na Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Sul. A

modelagem foi aplicada às áreas mais urbanizadas onde os danos a

sociedade são potencialmente maiores. Para a obtenção das áreas

suscetíveis às inundações, optou-se pela utilização de um modelo

hidrodinâmico 1D, utilizando-se o software HEC-RAS, o qual computou

a passagem de uma onda de cheia através do leito do rio para diferentes

tempos de retorno. O modelo foi calibrado utilizando-se dados obtidos

em campo, porém esta etapa provou-se complicada. Após a calibração,

foram obtidas as manchas de inundação para os tempos de retorno de 100,

50 e 20 anos através da utilização de ferramentas de geoprocessamento.

Palavras-Chave – Modelagem de inundação. HEC-RAS. Bacia do Rio

Cubatão.

ABSTRACT

Floods are characterized by the overflow of the water of the natural flow

riverbed. Probably, it is the most frequent, widespread, and harmful

natural disaster to human societies. The damages related to flooding

divide themselves to environmental damages, social damages, and

economic damages, which makes necessary the adoption of

measurements that decrease, avoid, and prepare the society on how to deal

with those events. An important management tool is to obtain the flood

prone areas in a specific location because it allows estimating, for

example, the affected people, financial losses, and vulnerable areas. The

project goal was to obtain the prone flood areas in the Cubatão Sul River

Basin. The Santo Amaro da Imperatriz municipality is the study area,

which locates itself in the Cubatão Sul River Basin. The modeling was

performed in the most urbanized areas of the basin where the society

damages would be potentially greater. In order to obtain the flood prone

areas, it was chosen a 1D hydrodynamic model that was performed by the

HEC-RAS, whose computed a flood wave passing through the river for

different return times. The model calibration utilized data acquired on

field, but this project stage proved itself to be complicated. After

calibration, the flood prone areas were obtained for the 100, 50, and 20

return times.

Keywords – Inundation modeling. HEC-RAS. Cubatão Sul river basin.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Ilustração dos casos de enchente e inundação. .................. 29 Figura 2 – Hidrograma típico resultante de um evento de precipitação.

........................................................................................................... 32 Figura 3 – Ilustração de planilha e gráfico do modelo dos blocos

alternados .......................................................................................... 35 Figura 4 - Área de modelagem e Sub bacias contribuintes ............... 38 Figura 5 - Fluxograma do projeto...................................................... 39 Figura 6 - Mapa de uso do solo da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Sul

........................................................................................................... 43 Figura 7 - Hidrograma Unitário Sintético pelo Método de Snyder. .. 45 Figura 8 - Equipamento (ADCP) sendo atravessado de uma margem a

outra na seção 01 (montante) ............................................................ 48 Figura 9 - Seções fornecidas pelo ADCP .......................................... 49 Figura 10 – A) Seção antes da inserção dos dados de campo. B) Seção

após a inserção dos dados de campo ................................................. 49 Figura 11 - Precipitação de projeto ................................................... 51 Figura 12 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio Cubatão Sul ..... 51 Figura 13 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio do Braço .......... 52 Figura 14 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio Matias .............. 52 Figura 15 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio Ribeirão Braço do

Sertão ................................................................................................ 53 Figura 16 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Cubatão Sul ... 54 Figura 17 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Braço ............. 54 Figura 18 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Matias ............ 55 Figura 19 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Ribeirão Braço do

Sertão ................................................................................................ 55 Figura 20 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio Cubatão ..... 56 Figura 21 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio do Braço .... 56 Figura 22 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio Matias ........ 57 Figura 23 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio Ribeirão Braço do

Sertão ................................................................................................ 57 Figura 24 - Mancha de inundação - TR 20 anos ............................... 60 Figura 25 - Mancha de inundação - TR 50 anos ............................... 61 Figura 26 - Mancha de inundação - TR 100 anos ............................. 62 Figura 27 - Manchas de inundação sobrepostas ................................ 63

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Condição de antecedência do solo .................................. 42 Quadro 2- Classe de uso do solo e valor do CN correspondente ...... 43 Quadro 3 - Coeficientes de rugosidade de Manning ......................... 47

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Recomendação de uso de equações para diferentes

características de bacias hidrográficas. ............................................. 31 Tabela 2 - Tempo de concentração das sub-bacias analisadas .......... 40 Tabela 3 - Intensidade, duração e frequência das chuvas para o município

de Santo Amaro da Imperatriz .......................................................... 41 Tabela 4 - Curve Number ponderado das sub-bacias analisadas ....... 44 Tabela 5- Vazões de pico dos hidrogramas unitários ........................ 53 Tabela 6- Vazões de pico dos hidrogramas de cheia ......................... 58 Tabela 7 – Total das áreas alagadas .................................................. 64

LISTA DE ABREVIATURAS

ANA Agência Nacional de Águas

CN Curve Number

EM-DAT Emergency Database

FATMA Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina

HU Hidrograma Unitário

MIC Ministério das Cidades

MDT Modelo Digital de Terreno

NRCS Natural Resource of Conservation Service

SCS Soil Conservation Service

SDS Secretaria de estado e Desenvolvimento Sustentável de

Santa Catarina

TC Tempo de Concentração

TR Tempo de Retorno

USACE United States Army Corps of Engineers

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................... 25 1.1 OBJETIVOS ......................................................................... 27

1.1.1 Objetivo Geral: ............................................................. 27

1.1.2 Objetivos específicos: ................................................... 27

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................... 29 2.1 ENCHENTES ........................................................................... 29

2.2 TEMPO DE CONCENTRAÇÃO ................................................... 30

2.3 HIDROGRAMA ........................................................................ 31

2.4 HIDROGRAMA UNITÁRIO ....................................................... 32

2.5 MÉTODO SCS ........................................................................ 33

2.6 MÉTODO DOS BLOCOS ALTERNADOS .................................... 34

2.7 MODELAGEM HIDRÁULICA .................................................... 35

3 METODOLOGIA ............................................................... 37 3.1 ÁREA DE ESTUDO .................................................................. 37

3.2 FLUXOGRAMA DO PROJETO ................................................... 38

3.3 TEMPO DE CONCENTRAÇÃO .................................................. 39

3.4 CHUVA DE PROJETO ............................................................... 40

3.5 MÉTODO SCS ........................................................................ 42

3.6 HIDROGRAMAS UNITÁRIOS ................................................... 44

3.7 COEFICIENTE DE RUGOSIDADE DE MANNING ........................ 46

3.8 SEÇÕES TRANSVERSAIS ......................................................... 47

3.9 PREMISSAS DO PROJETO......................................................... 49

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................ 51 4.1 BLOCOS ALTERNADOS .......................................................... 51

4.2 HIDROGRAMAS UNITÁRIOS SINTÉTICOS ................................ 53

4.3 HIDROGRAMAS DE CHEIA ...................................................... 55

4.4 CALIBRAÇÃO DO MODELO .................................................... 58

4.5 MANCHAS DE INUNDAÇÃO .................................................... 59

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................... 65

25

1 INTRODUÇÃO

As inundações são um fenômeno global que afetam a vida das

pessoas desde os tempos antigos. Dentre os desastres naturais, as

inundações, se destacando pela recorrência, abrangência e capacidade de

destruição dos eventos (TENG et. al., 2017). No Brasil. estima-se que as

inundações corresponderam a mais de 70% dos desastres naturais durante

o período entre 2006 a 2016 (EM-DAT, 2017). No mesmo período, o

número de fatalidades ocasionadas pelas inundações foi de 1929 mortes,

correspondendo a aproximadamente 90% do total das mortes por

desastres naturais no país.

As inundações podem ser consideradas um caso especifico das

enchentes que ocorrem nos leitos de escoamento dos rios. Segundo

Fernandes et. al. (2013) as enchentes são definidas como sendo a vazão

máxima observada em certa seção fluvial capaz de extravasar ou não os

limites do leito menor e que pode provocar ou não prejuízos materiais.

Dependendo da magnitude que determinada enchente atinge, o nível da

água pode elevar-se a ponto de ocasionar o transbordamento do rio e

assim ocasionar uma inundação. Os principais fatores hidrológico-

hidráulicos naturais que propiciam enchentes são o relevo, tipo e

intensidade da precipitação, cobertura vegetal, capacidade de drenagem,

geologia, morfologia fluvial, extensão do canal e da planície de

inundação, interação canal-planície de inundação e rugosidade (MONTE,

2015).

O processo de urbanização das bacias hidrográficas contribui para

o aumento da ocorrência das enchentes, segundo Tucci (2005) as

enchentes aumentam a sua frequência e magnitude por causa da

impermeabilização do solo e da construção da rede de condutos pluviais.

Minimizar, ou até mesmo evitar, a ocorrências de inundações em

determinado local requer a adoção de soluções preventivas, que são

classificadas em estruturais e não-estruturais. De acordo com Momo

(2015) medidas estruturais e não estruturais têm sido adotadas para

minimização dos danos gerados por inundação. As primeiras envolvem

ações que atuam no escoamento da onda de cheia enquanto as segundas

abrangem ações preventivas e de convivência com este tipo de evento

hidrológico extremo. Kobiyama et al. (2004b) diz que as medidas

estruturais são geralmente mais complexas e caras, enquanto que medidas

não-estruturais são mais simples de se implantar além de terem menores

custos associados.

Dentre as técnicas não estruturais mais difundidas destaca-se o

mapeamento de áreas inundáveis, sendo uma alternativa viável

26

financeiramente e útil nos estudos de risco. Para a realização do

mapeamento de inundações comumente são utilizados modelos

matemáticos hidráulicos 1D e 2D (conceituais ou empíricos) para

representar fenômenos envolvidos de ordem hidráulica, os quais

determinam a cotas (1D e 2D) e as áreas inundadas (2D) (MONTE, 2015).

As versões 1D têm demonstrado que os resultados das previsões

são satisfatórios além de serem computacionalmente eficientes

(COUTINHO, 2015), no entanto, sofrem algumas desvantagens incluindo

a inabilidade de simular a difusão lateral do escoamento, a discretização

da topografia entre seções e a subjetividade do posicionamento das seções

(TENG et. al. 2017).

Versões 2D foram reportadas como capazes de simular duração e

tempo de inundações com grande precisão, porém requerem uma

demanda computacional elevada (TENG et. al, 2017). Além disso,

modelagens 2D necessitam de modelos digitais de terrenos (MDT) como

dados de entrada, no entanto, a maioria dos MDTs disponíveis não trazem

informações batimétricas do rio. Segundo Ribeiro Neto, Batista e

Coutinho (2016) a modelagem Hidráulica requer informações

batimétricas das seções transversais com referência altimétrica, isso

permite a definição da área e perímetro molhados, assim como o gradiente

longitudinal do leito do rio. Portanto, a falta de informações batimétricas

também é, neste caso, considerada uma limitação dos modelos 2D.

A modelagem hidrodinâmica como HEC-RAS (USACE-HEC,

2010) e LISFLOOD-FP (HORRITT; BATES, 2002), tem sido

amplamente utilizada na elaboração de mapas de perigo de inundação,

sendo comumente empregada também para a previsão de inundações

(SAVAGE et al., 2014). No entanto, o custo computacional elevado e o

nível de especificidade dos dados de entrada podem ser entraves na

realização da modelagem hidrodinâmica.

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma

modelagem hidráulica de modo a identificar as áreas suscetíveis à

inundação na Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Sul. Foi escolhida como

área de estudo a parte mais urbanizada da bacia devido a importância da

adoção de medidas em locais densamente povoados, visto que os danos

causados pelos impactos decorrentes das inundações seriam mais severos

nestes locais.

27

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral:

O objetivo geral deste trabalho foi a obtenção das áreas suscetíveis

às inundações na Bacia do Rio Cubatão Sul.

1.1.2 Objetivos específicos:

Obter os Hidrogramas de cheia das bacias contribuintes para

cada período de retorno para a área de estudo;

Obter as alturas máximas atingidas pelo nível da água em cada

um dos eventos de chuva;

Elaboração de Mapas da mancha de inundação para cada tempo

de retorno;

29

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ENCHENTES

As enchentes são processos naturais e de ocorrência frequente nas

calhas dos cursos d`água, decorrente diretamente das precipitações. As

enchentes são definidas como sendo a vazão máxima observada em certa

seção fluvial capaz de extravasar ou não os limites do leito menor e que

pode provocar ou não prejuízos materiais (FERNANDES et. al. 2013).

De acordo com Ministério da Cidades - MIC (2007) enchentes são

definidas pela elevação do nível d’água no canal de drenagem devido ao

aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, porém, sem

extravasar. No entanto, dependendo da magnitude de uma enchente, esta

pode tornar-se uma inundação. Segundo Kobiyama et al. (2006) a

inundação é caracterizada pelo aumento do nível dos rios além da sua

vazão normal, ocorrendo o transbordamento de suas águas sobre as áreas

próximas a ele. Estas áreas próximas, suscetíveis ás inundações, são

chamadas de planície de inundação ou área de várzea. A Figura 1 ilustra

o nível da água em uma seção de escoamento de um rio nos casos de

enchente ou inundação.

Figura 1- Ilustração dos casos de enchente e inundação.

Fonte: MIC (2007)

A magnitude e frequência das inundações ocorrem em função da

intensidade e distribuição da precipitação, da taxa de infiltração de água

no solo, do grau de saturação do solo e das características morfométricas

e morfológicas da bacia de drenagem. Em condições naturais, as planícies

30

e fundos de vales estreitos apresentam lento escoamento superficial das

águas das chuvas, e nas áreas urbanas estes fenômenos têm sido

intensificados por alterações antrópicas, como a impermeabilização do

solo, retificação e assoreamento de cursos d’água (SÃO PAULO, 2009).

Consequentemente, o processo de urbanização das bacias

hidrográficas contribui para o aumento da ocorrência tanto das enchentes

quanto de inundações. De acordo com Tucci (2005) as enchentes

aumentam a sua frequência e magnitude por causa da impermeabilização

do solo e da construção da rede de condutos pluviais. O desenvolvimento

urbano pode também produzir obstruções ao escoamento, como aterros,

pontes, drenagens inadequadas, obstruções ao escoamento junto a

condutos e assoreamento.

2.2 TEMPO DE CONCENTRAÇÃO

O entendimento teórico de tempo de concentração é, de certa

maneira, consenso entre os cientistas e comunidade técnica, porém a

maneira prática de determiná-lo utilizando dados de chuva e vazão não é

muito precisa (MOTA, 2012).

De acordo com Mays (2005) o tempo de concentração (TC) para

uma bacia hidrográfica é o tempo que uma partícula de água leva para

viajar do ponto hidrologicamente mais distante da bacia até o ponto de

interesse, por exemplo, o exutório da bacia. Dingman (2002) define o TC

como um conceito muito útil para visualizar a resposta hidrológica.

Considera-se que quando a chuva efetiva continua em taxa constante por

uma duração igual ou maior que TC, a vazão de resposta será constante e

na mesma taxa que a chuva efetiva, até que a chuva acabe.

Existem uma série de equações empíricas para obtenção do valor

do TC. Cada uma é indicada para diferentes características de bacias

hidrográficas. Conforme apresentado no trabalho Silveira (2005), onde 22

equações diferentes para obtenção do tempo de concentração foram

avaliadas. A Tabela 1 mostra a recomendação de uso para diferentes

equações estudadas por Silveira (2005).

31

Tabela 1- Recomendação de uso de equações para diferentes

características de bacias hidrográficas.

Fórmulas Ordem

Bacias Rurais Bacias urbanas

Áreas (km²)

EM%

EP% Áreas (ha)

EM %

EP%

Corps E. 1R <12000 9 21

V. Chow 2R <12000 -7 19

Onda Cin. 3R <12000 2 20

Kirpich 4R, 3U <12000 -9 19 <2700 1 39

Carter 1U <1100 1 40

Schaake 2U <62 -9 30

Desbordes 4U <5100 11 49

Fonte: SILVEIRA (2005), onde R = Rural, U = Urbana, EM é o erro

médio percentual, EP é o erro padrão e a Ordem diz respeito ao

desempenho da equação, sendo 1R a equação que obteve o melhor entre

as estudadas.

A metodologia escolhida por Silveira (2005) para avaliação e

comparação das fórmulas de tempo de concentração é simples e baseia-

se nos erros médios percentuais (EM) de cada fórmula na sua faixa de

áreas de melhor desempenho A seleção das faixas de áreas de melhor

desempenho de cada fórmula foi realizada identificando-se a seqüência

de bacias ordenadas por área onde se concentrava o maior número de

casos onde EM, em valores absolutos, fosse menor ou igual a 30%. Esta

seqüência deveria ter o maior número possível de bacias (desde que maior

que cinco) e ter mais da metade dos valores absolutos de EM menores ou

iguais a 30%. Com este critério avalia-se o erro médio percentual EM e

seu desvio-padrão, ou erro-padrão EP, de cada fórmula de tempo de

concentração selecionada (SILVEIRA, 2005).

2.3 HIDROGRAMA

O hidrograma é uma expressão integral da fisiografia e características climáticas que governam a relação entre a precipitação e o

escoamento superficial de uma bacia hidrográfica em particular (CHOW,

1964). O hidrograma que relaciona a vazão com o tempo é o mais usado

por hidrólogos no estudo do comportamento do escoamento superficial

em uma bacia hidrográfica. Isso porque representa a variação do fluxo no

32

canal após a ocorrência de precipitações ou outros processos que afetem

a vazão no trecho avaliado.

Segundo CHOW (1964), o hidrograma típico proveniente de uma

chuva possuí 4 trechos distintos, são eles: i) recessão do escoamento de

base (trecho inicial), que ocorre antes do evento de precipitação; ii)

ascensão do escoamento devido ao início da chuva até a vazão de pico;

iii) recessão do escoamento até que não exista mais escoamento

superficial contribuindo; e iv) recessão do escoamento de base

novamente. A Figura 2 ilustra os quatro trechos do hidrograma

Figura 2 – Hidrograma típico resultante de um evento de precipitação.

Fonte: Adaptado de CHOW (1964).

2.4 HIDROGRAMA UNITÁRIO

Segundo Mays (2005), o hidrograma unitário é definido como o

hidrograma resultante de 1 centímetro de chuva excedente (chuva

unitária) uniformemente distribuída sobre a bacia e com intensidade

constante para uma duração efetiva. De acordo com Pinto (1976) a análise de diversos fluviogramas de cheias, em diferentes cursos d’água, permitiu

à Sherman (1932) a identificação de um padrão na sucessão das vazões

de enchentes e traduzir, através de leis gerias, os princípios básicos que

33

regem as variações do escoamento superficial resultante de determinada

precipitação pluvial.

Sherman (1932) tratou o processo de transformação da

precipitação efetiva em escoamento superficial como um processo linear.

Esse processo é governado por uma função de transferência, também

chamada HU, onde há uma resposta da bacia para um impulso de

precipitação efetiva. Logo, uma unidade de precipitação efetiva é igual a

uma unidade de escoamento superficial.

Os princípios apresentados por Sherman, considerando chuvas de

distribuição uniforme e constante sobre a bacia, são:

Constância do tempo de base: Em uma dada bacia hidrográfica,

o tempo de duração do escoamento superficial é constante para

chuvas de igual duração;

Proporcionalidade: Duas chuvas de igual duração, produzindo

volumes diferentes de escoamento superficial, dão lugar a

fluviogramas em que as ordenadas, em tempos correspondentes,

são proporcionais aos volumes totais escoados;

Aditividade: A distribuição, no tempo, do escoamento

superficial de determinada precipitação independe de

precipitações anteriores, logo, as respostas de cada impulso de

precipitação podem ser somadas;

A obtenção do hidrograma unitário requer que se tenham dados de

vazões e precipitações ao longo de um certo período de tempo. Na

ausência de dados, é necessário que se obtenha o hidrograma unitário

através de métodos empíricos. Estes métodos permitem que se computem

os hidrogramas unitários sintéticos.

Segundo Tucci e Silveira (2014) os hidrogramas sintéticos foram

estabelecidos com base em dados observados de algumas bacias e são

utilizados quando não existem dados que permitam estabelecer o

hidrograma unitário através de medições de vazões nos cursos d`água.

Diversas são as características físicas das bacias hidrográficas que podem

influenciar o hidrograma resultante de certa precipitação, tais como: área;

declividade; dimensões e rugosidade do canal; densidade da rede de

drenagem; forma; recobrimento vegetal e uso do solo (PINTO, 1976).

2.5 MÉTODO SCS

Departamento de Conservação do Solo Norte-Americano – antigo

Soil Conservation Service (SCS) e atual Natural Resource of

34

Conservation Service (NRCS) desenvolveu um método para calcular a

relação entre a precipitação total e a precipitação efetiva (UNITED

STATES, 1972).

Para o total de chuva sobre uma bacia, a altura correspondente a

precipitação efetiva ou escoamento superficial (Pe) é sempre menor ou

igual a altura total da precipitação (P). De maneira similar, após o início

do escoamento superficial, a quantidade adicional de água retida na bacia

(Fa) é menor ou igual a uma retenção potencial máxima S. Existe certa

quantidade da precipitação inicial Ia para a qual não ocorrerá escoamento,

logo, o escoamento potencial é P − Ia. O método SCS assume que a

proporção entre as duas atuais e as duas quantidades potenciais são iguais

(MAYS, 2005). A NRCS observou que para diversas bacias

experimentais, de menor dimensão, a relação empírica Ia = 0,2S. Com

base nisto, a equação pode ser escrita da seguinte maneira:

𝑃𝑒 = (𝑃−0.2𝑆)2

𝑃−0.8𝑆 (01)

𝑆 = 25400

𝐶𝑁− 254 (02)

onde Pe é a precipitação efetiva (mm/h), P é a chuva de projeto (mm/h) e

CN é o curve number do escoamento superficial que varia entre 0 ≤ CN ≤

100 em função do uso do solo.

2.6 MÉTODO DOS BLOCOS ALTERNADOS

A metodologia denominada de blocos alternados (CHOW et. al.,

1988) distribui a precipitação ao longo do tempo de forma a buscar um

cenário crítico de precipitação. Este cenário baseia-se em precipitação

pequena e média no início e final do tempo do evento, e precipitação alta

próximo ao meio do mesmo. Para esta metodologia, são realizados os

seguintes passos:

Definição do período de retorno;

Definição da duração da chuva de projeto;

Determinação do total de precipitação, utilizando a curva I.D.F

ou equação de chuvas apropriada;

Definição da duração de cada bloco de chuva;

O procedimento é então organizado em uma planilha contendo as

seguintes colunas: duração dos blocos de chuva; intensidade para cada

uma das durações dos blocos de chuva; total de precipitação para cada

35

duração; incremento dos totais de precipitação; intensidade

correspondente aos incrementos dos totais de precipitação; rearranjo das

intensidades - maior intensidade aproximadamente à metade do período

de duração da chuva, o segundo maior valor no bloco seguinte, o terceiro

maior valor no bloco anterior, e assim por diante; total de precipitação em

cada bloco.

Figura 3 – Ilustração de planilha e gráfico do modelo dos blocos

alternados

2.7 MODELAGEM HIDRÁULICA

Modelos Hidrodinâmicos são modelos matemáticos que tentam

replicar os movimentos de fluidos através de soluções computacionais.

Estes modelos simulam o movimento da água através da solução de

equações formuladas pelas leis da Física (TENG et. al. 2017). Os modelos

hidrodinâmicos podem ser divididos de acordo com o número de

coordenadas necessárias para representar a componente da velocidade em

um dado ponto na seção, sendo assim, os modelos são agrupados em

modelos1D, 2D e 3D.

De acordo com Teng et. al. (2017) a representação mais simples

de um escoamento superficial é trata-lo como sendo unidimensional (1D)

ao longo do eixo central do leito do rio. Geralmente, modelos 1D

resolvem as equações diferenciais assegurando a conservação da

quantidade de movimento e da massa entre duas seções transversais, estas

equações são conhecidas como as equações unidimensionais de Saint-

Venant, apresentadas a seguir.

Conservação da massa 𝜕𝑄

𝜕𝑥+

𝜕𝐴

𝜕𝑥= 0 (03)

Conservação da quantidade de movimento

36

1

𝐴

𝜕𝑄

𝜕𝑡+

1

𝐴

𝜕𝑄²

𝐴

𝜕𝑥+ 𝑔

𝜕ℎ

𝜕𝑥− 𝑔(𝑆0 − 𝑆𝑓) = 0 (04)

𝑄 = 𝑢𝐴 (05)

onde u é a velocidade média na seção (m/s), A é a área da seção (m²), t é

o tempo (s), h é a profundidade da água (m), g é a aceleração da gravidade

(m/s²), Sf é a declividade da linha de energia (m/m) e S0 é a declividade

do canal (m/m).

O Software HEC-RAS é capaz de computar a altura da lâmina

d’água a partir de uma seção a montante até outra a jusante resolvendo da

equação de energia (equação 03) através de um procedimento interativo

chamado Standard Step Method (USACE, 2016). A equação da energia é

obtida a partir do desenvolvimento e substituição de parâmetros das

equações 01, 02 e 03, sendo a equação final apresentada a seguir.

𝑍2 + 𝑌2 + 𝛼2𝑢2

2

2𝑔= 𝑍1 + 𝑌1 + 𝛼1

𝑢21

2𝑔+ ℎ𝑒 (06)

onde Z é a elevação do leito do rio (m), Y é a altura da lâmina d’água na

seção (m), u é a velocidade média da seção (m/s), g é a aceleração da

gravidade (m/s²), he é a perda de energia (m) e α é o fator de correção de

energia.

37

3 METODOLOGIA

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A bacia de estudo do encontra-se localizada no estado de Santa

Catarina, região Sul do Brasil, tendo como principais municípios

inseridos nela são os de Águas Mornas, Santo Amaro da Imperatriz e

parcialmente os municípios de Palhoça e São Pedro de Alcântara.

O rio Cubatão do Sul, principal curso d’água da bacia, origina-se

da junção dos rios Novo e do Salto, em altitudes superiores a 1200 m.

Além de ser utilizado para o turismo, o rio também é de suma importância

para o sistema de abastecimento de água de uma parcela significativa da

população da Grande Florianópolis. O Rio Cubatão é responsável pelo

abastecimento de cerca de 700 mil habitantes dos municípios de Santo

Amaro da Imperatriz, Palhoça, Biguaçu, São José e Florianópolis

(MENDES, 2013).

Para realização da modelagem hidráulica não foi considerada toda

a área da bacia, visto que a maior parte coberta por florestas. Assim, foi

definida como área de modelagem a parte mais urbanizada da bacia. Uma

vez que é onde a maior parte da população residente está concentrada. As

áreas mais urbanizadas são os locais onde as perdas sociais e econômicas

ocorrem com maior intensidade, por isso a importância de se analisar tais

locais.

Após a definição da área do modelo, foram identificadas as sub-

bacias contribuintes, são elas:

Sub bacia do Rio Cubatão Sul;

Sub bacia do Rio Ribeirão Braço do Sertão;

Sub bacia do Rio Matias;

Sub bacia do Rio do Braço;

Tais sub-bacias posteriormente resultaram nos hidrogramas de

cheia que foram inseridos no software para a realização da modelagem.

A Figura 4 apresenta a localização da bacia hidrográfica do Rio Cubatão

Sul, a área mais urbanizada da bacia (área do modelo) e também as quatro

sub-bacias contribuintes.

38

Figura 4 - Área de modelagem e Sub bacias contribuintes

3.2 FLUXOGRAMA DO PROJETO

A metodologia proposta neste projeto utilizou métodos e técnicas

bastantes difundidas. O método SCS (UNITED STATES, 1972),

hidrograma unitário sintético de Snyder (1938), a fórmula de Kirpich

(1940) para o tempo de concentração e a utilização do HEC-RAS para a

modelagem (USACE, 2010) são todas metodologias já consagradas e

conhecidas por hidrólogos e engenheiros de recursos hídricos. A Figura 5

apresenta o Fluxograma do projeto com todas as etapas seguidas para

obtenção das áreas suscetíveis as inundações.

39

Figura 5 - Fluxograma do projeto

Legenda Dado

primário

Dado

secundário

Resultado da

aplicação da

metodologia

Modelagem Resultado

3.3 TEMPO DE CONCENTRAÇÃO

Foi escolhida para o cálculo de tempo de concentração (TC) a

equação proposta por Kirpich (1940). De acordo com Silveira (2005) a

fórmula de Kirpich pode ser usada com bons resultados em bacias rurais

de médio e grande porte, a despeito de sua calibração com dados de bacias

pequeníssimas do Tennessee (EUA). Além de apresentar um erro médio

bastante razoável para bacias entre 150 e 12.000 km², cerca de -9%,

revelou ter também um erro padrão reduzido, 19%, o menor de todas as

40

fórmulas avaliadas no estudo. A equação 01 apresenta a o cálculo

proposto por Kirpich (SILVEIRA, 2005).

𝑇𝑐 = 0,0663𝐿0,77𝑆0,385 (07)

onde L é a extensão do curso d’água (km) e S é a declividade (m/m).

O tempo de concentração foi calculado para as quatro sub-bacias

contribuinte, a Tabela 2 apresenta os resultados obtidos. Foi utilizada a

declividade equivalente no cálculo de TC, uma vez que a declividade ao

longo do curso d`água não é constante, sendo geralmente mais acentuada

nas nascentes dos cursos d`água, assim justifica-se o uso da declividade

equivalente. A equação 08 apresenta o cálculo.

𝐼𝑒𝑞 = 𝐿

∑𝐿𝑖

√𝐼𝑖

𝑛𝑖=1

(08)

onde L é o comprimento do rio principal (km) dividido em n trechos e Li

e Ii são a extensão (km) e declividade (m/m) do trecho respectivamente.

Tabela 2 - Tempo de concentração das sub-bacias analisadas

Sub bacia Área

Comprimento

do rio

principal

Declividade

equivalente

Tempo de

concentração

km² km m/m Horas

Sub Bacia do Rio

do Braço 186,50 32,45 0,0016 11,52

Sub Bacia do Rio

Cubatão Sul 415,50 44,84 0,0061 8,19

Sub bacia do Rio

Matias 81,40 19,50 0,0026 6,32

Sub bacia do Rio

Ribeirão Braço do

Sertão

19,55 10,15 0,0032 3,61

3.4 CHUVA DE PROJETO

Para definição da intensidade da chuva de projeto foi necessária a

utilização da equação I.D.F (intensidade, duração e frequência). Mendes

(2013) utilizou os dados obtidos por Nerilo et. al. (2002), conforme

41

Tabela 3, para obter a equação I.D.F (equação 03) do município de Santo

Amaro da Imperatriz. Segundo Mendes (2013) os valores obtidos pela

equação 09, quando comparados com os valores medidos por NERILO et al (2002), apresentaram variações menores que 4%, valor considerado

aceitável para utilização da equação. Portanto, neste projeto será utilizada

a equação obtida por Mendes (2013) para a obtenção dos valores de

intensidade de chuva.

𝑖 = 1157,8𝑇0,1904

(𝑡+12)0,759617 (09)

onde T é o período de retorno (anos) e t é a duração da chuva (hr).

Tabela 3 - Intensidade, duração e frequência das chuvas para o município

de Santo Amaro da Imperatriz

Duração

(min)

Frequência

5 anos

(mm)

10 anos

(mm)

20 anos

(mm)

50 anos

(mm)

100 anos

(mm)

5 183.1 216 247.5 293.5 324.7

10 145.4 171.5 196.6 233.1 257.8

15 125.6 148.2 169.9 201.4 222.8

20 109 128.6 147.4 174.8 193.4

25 98 115.6 132.5 157.1 173.8

30 89.7 105.9 121.3 143.9 159.2

60 60.6 71.5 82 97.2 107.5

360 17.3 20.4 23.4 27.8 30.7

480 14.1 16.6 19 22.6 25

600 11.8 14 16 19 21

720 10.2 12.1 13.8 16.4 18.1

1440 6 7.1 8.1 9.6 10.7

Fonte: Nerilo et. al. (2002).

Após a definição da equação I.D.F. foram definidos os tempos de

retorno e também a duração da chuva.

42

A duração da chuva foi escolhida como o maior TC entre as 4

bacias contribuintes a área de modelagem, assim garantiu-se que toda a

bacia estava contribuindo com vazão a área de interesse. O maior tempo

de concentração calculado foi o da Sub-bacia do Rio do Braço, assim, o

tempo de duração da chuva inserido na equação foi de 11,52 horas.

Por fim, foram definidos os tempos de retorno para a definição da

chuva de projeto. O Manual de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais da

Secretaria de Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo (SÃO

PAULO, 2012) aconselha para obras de microdrenagem tempos de

retorno variando entre 2 a 10 anos e tempos de retorno acima de 20 anos

para obras de macrodrenagem e grandes corredores de tráfego e áreas

vitais a cidade. Assim, optou-se por avaliar os períodos de retorno de 20,

50 e 100 anos neste projeto.

3.5 MÉTODO SCS

Para a definição do curve number é necessário levar em

consideração o tipo de solo além do uso e ocupação do mesmo. Foi

considerado o Solo do Tipo B (MENDES, 2013) e também utilizado o

shapefile (Figura 6) disponibilizado pela FATMA para o cálculo do CN

de cada uma das sub-bacias. Além disso foi considerada a condição de

antecedência II de saturação do solo para o cálculo do CN, conforme

Quadro 1. Foi atribuído a cada um dos usos do solo um valor de Curve

Number (CN) correspondente (considerando solo tipo B), o Quadro 2

mostra os valores de CN utilizados neste projeto para os diferentes tipos

de ocupação do solo.

Quadro 1- Condição de antecedência do solo

Condição antecedente Total de precipitação nos 5 dias anteriores

Período seco Período úmido

I Menos de 12.7 Menos de 35.5

II Entre 12.7 e 27.9 Entre 35.5 e 53.3

III Mais de 27.9 Mais 53.3

Fonte: Adaptado de Chow (1988)

43

Figura 6 - Mapa de uso do solo da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Sul

Quadro 2- Classe de uso do solo e valor do CN correspondente

Classe CN Classe correspondente,

segundo Mays (2005)

Agricultura 81 Row crops (poor)

Área de Mineração 79 Open space, grass cover

less than 50%

Área Urbanizada e/ou

Construída 92

Comercial and business

areas

Floresta em estágio inicial

de regeneração 65 Forested (fair)

Florestas em estágio médio

ou avançado de regeneração 58 Forested (good)

Pastagens e campos naturais 58 Meadow

Reflorestamento 73 Forested (poor)

Solo exposto 79 Open space, grass cover

less than 50%

Fonte: Adaptado de Mays (2005)

44

Para computar o CN de cada sub-bacia foi realizado o cálculo do

CN ponderado de acordo com a área de ocupação de cada um dos usos do

solo, conforme equação 10. A Tabela 4 apresenta o CN ponderado de cada

uma das sub-bacias.

𝐶𝑁𝑝𝑜𝑛𝑑 = 𝐴1∗𝐶1+𝐴2∗𝐶2…𝐴𝑛∗𝐶𝑛

∑ 𝐴𝑖𝑛𝑖=1

(10)

onde An é a área total de determinado uso do solo e Cn é o valor

correspondente do Curve Number.

Tabela 4 - Curve Number ponderado das sub-bacias analisadas

Sub bacia CN

Sub Bacia do Rio do Braço 58,37

Sub Bacia do Rio Cubatão Sul 58,82

Sub bacia do Rio Matias 63,41

Sub bacia do Rio Ribeirão Braço do Sertão 61,70

Após o cálculo do valor de CN para cada uma das sub-bacias, foi

possível calcular a precipitação efetiva seguindo-se a metodologia

proposto pela SCS, conforme equações 01 e 02 (item 2.5).

3.6 HIDROGRAMAS UNITÁRIOS

Uma das metodologias existentes para o cálculo do hidrograma

unitário sintético foi proposta por Snyder (1938), o qual estudou diversas

bacias hidrográficas na região montanhosa dos Apalaches, nos E.U.A. e

propôs uma relação do time lag (tempo decorrido entre o centro de massa

da precipitação), o comprimento do canal principal e o coeficiente de

armazenamento da bacia. As equações fornecem o time lag, a vazão de

pico e a duração total do escoamento, ou seja, a base do hidrograma.

De acordo com Mays (2005) o método desenvolvido por Snyder é

um dos mais utilizados para obtenção do hidrograma unitário sintético. A

Figura 7 ilustra o hidrograma unitário proposto por Snyder.

45

Figura 7 - Hidrograma Unitário Sintético pelo Método de Snyder.

Fonte: Adaptado de CHOW (1964).

A seguir são apresentadas as equações e o procedimento

desenvolvido por Snyder para obtenção do hidrograma:

𝑡𝑝 = 𝐶1. 𝐶𝑡(𝐿. 𝐿𝑐)0,3 (11)

onde C1 = 0,75 e Ct = 1,5, L é o comprimento do rio em

quilômetros e Lc é o comprimento do centro de massa da bacia ao longo

do curso d`água até a seção de interesse em quilômetros e tp é dado em

horas.

𝑡𝑟 = 𝑡𝑝/5,5 (12)

onde tr é dado em horas.

𝑡𝑝𝑅 = 𝑡𝑝 + 0,25(tR – tr) (13)

onde tR é a duração da chuva desejada em horas.

𝑄𝑝𝑅 =𝐶2.𝐶𝑝.𝐴

𝑡𝑝𝑅 (14)

onde C2 = 2,75, Cp = 0,6 e A é a área da bacia em quilômetros quadrados

e Qpr é a vazão de pico em m³/s.

46

𝑊50 =𝐶50

(𝑄𝑝𝑅

𝐴)1.08

(15)

onde C50 = 2,14 e W50 igual a 50% da vazão de pico (Qpr).

𝑊75 =𝐶75

(𝑄𝑝𝑅

𝐴)1.08

(16)

onde C75 = 1.22 e W75 igual a 75% da vazão de pico (Qpr).

O próximo passo é a determinação o tempo de base do hidrograma

referente a uma chuva unitária (1 cm).

𝑇𝑏 = 11,1𝐴

𝑄𝑝𝑅− 1.5𝑊50 − 𝑊75 (17)

onde TB é dado em horas.

Por fim é calculado o tempo de pico.

𝑇𝑃 = 𝑡𝑝𝑅 +𝑡𝑅

2 (18)

onde TP é dado em horas.

3.7 COEFICIENTE DE RUGOSIDADE DE MANNING

O coeficiente de rugosidade de Manning deve ser inserido no

software para que o modelo seja executado. Para tanto, foi feita a pesquisa

bibliográfica sobre os possíveis valores do coeficiente de rugosidade,

conforme apresentado pelo Quadro 3. No entanto, esses valores foram

usados somente como ponto de partida, uma vez que os mesmos foram

ajustados de acordo com a calibração que foi realizada no modelo.

Adotou-se inicialmente o valor de 0,035 para o leito do canal e 0,050 para

as áreas adjacentes ao mesmo.

47

Quadro 3 - Coeficientes de rugosidade de Manning

Ocupação do

Solo

Coeficiente de

rugosidade de

Manning (n)

Tipo de Leito de Escoamento

Leito do canal 0,035 Cursos D'água Naturais, com pedras

e vegetação leve.

Campo/

Culturas 0,050 Arbustos e vegetação pesada.

Urbanizado 0,050

Utilizado o mesmo coeficiente usado

para "Campo", sem considerar a

intervenção de edificações

Mata Leve 0,060 Árvores espaçadas, com formações

vegetais rasteiras.

Mata Fechada 0,080 Abundante, escoamento passando pela

copa das árvores.

Fonte: Adaptado de CHOW (1959)

3.8 SEÇÕES TRANSVERSAIS

Além de dados hidrológicos (hidrogramas de cheia), o HEC-RAS

necessita de dados geométricos das seções de escoamento para que o

modelo seja executado. A geometria das seções foi obtida através da

junção de duas fontes de dados distintas.

Primeiro utilizou-se o software HEC-GeoRas, o qual é uma

extensão do software ArcGis. Foram inseridas neste software os Modelos

Digitais de Terreno (MDT) com resolução de 1x1 metros disponibilizados

pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS) afim de se obter

um Triangular Irregular Network (TIN). Após a obtenção do mesmo, é

necessário que de defina o canal principal do rio, a seção secundária de

escoamento (banklines), o sentido do escoamento e por fim as seções

transversais. O número de seções transversais e o local das mesmas é

subjetivo e considerado uma desvantagem de modelos 1D (TENG et. al.

2017). Assim, procurou-se avaliar a topografia da área de modelagem

para a alocação das seções transversais. Partindo-se da seção mais a

jusante, procurou-se colocar uma seção sempre que a topografia sofria

uma mudança considerável nas elevações. Após a definição das seções, os dados foram extraídos do ArcGis para o HEC-RAS.

No entanto, o MDT utilizado não traz informações topo

batimétricas do rio, essenciais para uma boa representação da seção de

escoamento. Assim, a segunda etapa de obtenção de dados foi a realização

48

de medições em campo utilizando o Acoustic Doppler Current Profiler

(ADCP), disponibilizado pelo Laboratório de Hidrologia da UFSC. O

equipamento é similar a um sonar que utiliza o efeito Doppler de ondas

sonoras para medir a velocidade e vazão da água, além da seção topo

batimétrica do local. Foi realizada uma ida a campo onde foram medidas

duas seções, uma mais a montante (seção 01) e outra mais a jusante (seção

02). A Figura 8 mostra o momento da realização de uma das medições, e

a Figura 9 mostra o perfil topo batimétrico fornecido pelo ADCP.

Figura 8 - Equipamento (ADCP) sendo atravessado de uma margem a

outra na seção 01 (montante)

49

Figura 9 - Seções fornecidas pelo ADCP

Após a obtenção dos dados em campo foi necessário a junção

destes com as seções já fornecidas pelo HEC-GeoRas. A Figura 10 mostra

a seção 02 (jusante) antes de ser ajustada através da inserção dos dados

de campo e após o ajuste ser realizado.

Figura 10 – A) Seção antes da inserção dos dados de campo. B) Seção

após a inserção dos dados de campo

Para as outras seções do modelo, das quais não foi possível obter a

topo batimetria, procurou-se repetir as geometrias que foram obtidas nas

duas medições. Assim, todas a seções mais de jusante do modelo foram

ajustadas de acordo com a geometria obtida para a seção 02, e as seções

a montante foram ajustadas de acordo com a geometria obtida para seção

01.

3.9 PREMISSAS DO PROJETO

50

Para realização deste projeto, foram adotadas as seguintes

informações:

A chuva foi considerada ocorrendo uniformemente em toda a

área da bacia e com a mesma intensidade, dentro de um intervalo

de tempo;

Considerou-se o tempo total da chuva como o maior tempo de

concentração entre as 4 sub-bacias estudadas;

Foi adotada a condição II de antecedência do solo para o cálculo

do CN;

As seções das quais não se obteve as informações topo

batimétricas de campo, foram arbitradas como sendo iguais as

seções que foram medidas em campo;

Não foram consideradas edificações ou outras estruturas urbanas

ao longo da superfície de escoamento;

Não foram consideradas as pontes existente ao longo do curso

d’água;

Não foram considerados os efeitos da maré a jusante;

Considerou-se inicialmente o coeficiente de rugosidade de

Manning como 0,035 para o leito do rio. Para a seção secundária

de escoamento foi considerado o valor 0,050;

Não foram consideradas as contribuições laterais de vazão na

área de modelagem;

Foi considerada como condição de contorno a montante do

modelo, a vazão média de longo termo da bacia, obtida pelos

dados disponibilizados pela ANA;

Foi considerado como condição de contorno de jusante do

modelo a declividade da linha de energia (friction slope) da qual

foi considerada como sendo igual a declividade do canal;

51

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 BLOCOS ALTERNADOS

Uma vez que a chuva foi considera a mesma em toda a área da

bacia, a precipitação de projeto foi a mesma para todas as sub-bacias

estudadas, conforme mostra a Figura 11. Porém, cada sub-bacia possuí

um valor diferente de CN (Tabela 4) o que resultou em blocos de chuva

efetiva diferentes para cada sub-bacia, as figuras 10 a 13 mostram a chuva

efetiva para cada sub-bacia.

Figura 11 - Precipitação de projeto

Figura 12 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio Cubatão Sul

52

Figura 13 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio do Braço

Figura 14 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio Matias

53

Figura 15 - Precipitação efetiva - Sub-bacia do Rio Ribeirão Braço do

Sertão

4.2 HIDROGRAMAS UNITÁRIOS SINTÉTICOS

Os hidrogramas unitários para cada sub-bacia foram calculados

conforme o procedimento apresentado no item 3.6, a Tabela 5 apresentam

as vazões de pico de cada hidrograma, e as figuras 15 a 18 mostram os

hidrogramas calculados correspondentes a 1cm de chuva.

Tabela 5- Vazões de pico dos hidrogramas unitários

Sub-bacia Vazão de pico (m³/s)

Rio Cubatão Sul 86,68

Rio do Braço 41,74

Rio Matias 34,09

Rio Ribeirão Braço do Sertão 8,44

54

Figura 16 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Cubatão Sul

Figura 17 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Braço

55

Figura 18 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Matias

Figura 19 - Hidrograma Unitário - Sub-bacia do Rio Ribeirão Braço do

Sertão

4.3 HIDROGRAMAS DE CHEIA

Os hidrogramas de cheia foram obtidos para cada uma das sub-

bacias contribuintes ao modelo através da multiplicação dos hidrogramas

unitários pelos blocos de chuva efetiva. Estes hidrogramas foram

inseridos no modelo nos pontos identificados anteriormente na Figura 4.

56

Como esperado, o hidrograma de cheia das sub-bacias do Cubatão Sul e

do Braço apresentaram as maiores vazões, uma vez que são as sub-bacias

com maiores áreas superficiais. As figuras 19 a 22 apresentam os

hidrogramas de cheia para os três períodos de retorno, e a Tabela 6

apresenta as vazões de pico dos hidrogramas.

Figura 20 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio Cubatão

Figura 21 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio do Braço

57

Figura 22 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio Matias

Figura 23 - Hidrogramas de cheia da Sub-bacia do Rio Ribeirão Braço do

Sertão

58

Tabela 6- Vazões de pico dos hidrogramas de cheia

Sub-bacia Vazão de pico (m³/s)

100 anos 50 anos 20 anos

Rio Cubatão Sul 736,92 578,68 414,90

Rio do Braço 388,18 305,52 220,33

Rio Matias 289,18 230,78 168,00

Rio Ribeirão Braço do Sertão 68,18 53,71 38,38

4.4 CALIBRAÇÃO DO MODELO

A calibração do modelo foi feita por meio da simulação de um

escoamento permanente utilizando-se os dados de vazões e das seções

transversais obtidos em campo pelo ADCP. O dispositivo é equipado com

GPS e assim também foi obtida a altura de lâmina d’água no local das

medições. Após a inserção dos dados no HEC-RAS procurou-se calibrar

o modelo através da comparação da altura de lâmina d’água medida em

campo com a altura de lâmina d’água aferida pela modelagem.

A primeira execução da calibração serviu como controle, a

diferença das alturas foi de aproximadamente 2 metros. Assim,

inicialmente procurou-se variar o valor do coeficiente de rugosidade de

Manning dentro do canal principal a fim de calibrar o modelo, sendo o

valor inicial de 0,035. Na segunda execução de calibração, quando o valor

de n foi de 0,04, foi possível coincidir as alturas de lâmina d’água para a

seção 01 (montante), fato que não se repetiu para a seção 02 (jusante). O

valor do coeficiente de rugosidade continuou a ser variado, no entanto,

quando o valor de n ultrapassou 0,050, do qual é esperado para áreas

urbanizadas (CHOW, 1959), a abordagem de calibração foi mudada.

Assim, optou-se por fixar o valor de n em 0,040, pois para a seção

a montante ficaria calibrada, e então variar a cota de fundo das seções a

jusante e montante da seção 02 (montante), consequentemente a

declividade entre as duas seções estava sendo alterada. Esta abordagem

também provou-se ineficaz, uma vez que variação da declividade

provocava uma variação da ordem de centímetros na altura de lâmina

d’água.

Por fim, optou-se por diminuir a área de escoamento das duas

seções seguintes a seção 02 (jusante), esta abordagem resultou finalmente

na coincidência das alturas das lâminas d’água. Salienta-se que a forma

das seções que não foram medidas em campo foi estimada como sendo

igual as obtidas pelo ADCP, porém, mesmo que sejam seções próximas,

59

nada garante essa similaridade. Portanto, a mudança na área de

escoamento das seções pode na verdade representar uma aproximação da

realidade, fato que só poderia ser confirmado com mais medições de

campo. Assim, a falta de seções medidas em campo pode ser considerada

é uma limitação deste trabalho.

Além disso, estruturas presentes ao longo do curso do rio, como

por exemplo pontes, também podem influenciar o escoamento da água

(construção de pontes geralmente causa um estrangulamento da seção do

rio), tais estruturas não foram consideradas neste trabalho.

4.5 MANCHAS DE INUNDAÇÃO

Após a calibração do modelo foi possível realizar a modelagem

hidráulica pelo HEC-RAS. Os hidrogramas de cheia foram inseridos no

programa, além das condições iniciais da modelagem. Foi considerada a

vazão média de longo termo como condição de contorno de montante, e

o para condição de jusante foi inserido o valor da declividade da linha de

energia (friction slope). As figuras 23 a 25 mostram as manchas de

inundação para os três períodos de retorno analisados, e as Figura 27 e

Tabela 7 mostram a comparação das três manchas de inundação.

60

Figura 24 - Mancha de inundação - TR 20 anos

61

Figura 25 - Mancha de inundação - TR 50 anos

62

Figura 26 - Mancha de inundação - TR 100 anos

63

Figura 27 - Manchas de inundação sobrepostas1

1 Uma vez que as manchas estão sobrepostas, a parte em azul é menor entre as três, seguindo-se pela vermelha e finalmente pela

amarela (maior das três).

64

Tabela 7 – Total das áreas alagadas

Tempo de Retorno (anos) Área inundada (km²) Altura máxima da

água no canal (m)

100 10,61 11,86

50 8,58 11,35

20 6,07 10,56

65

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho teve como objetivo a obtenção das áreas suscetíveis

à inundação na bacia hidrográfica do Rio Cubatão Sul, para tanto, optou-

se por realizar a modelagem 1D, da qual foi realizada pelo software HEC-

RAS. A metodologia provou ser suficiente para o alcance dos objetivos,

uma vez que as manchas de inundação foram obtidas para a área de

modelagem.

Os hidrogramas de cheia foram obtidos através de metodologias

muito conhecidas e utilizadas por hidrólogos. Utilizou-se o hidrograma

unitário sintético de Snyder (1938) e a metodologia proposto pela SCS

(1972) para o cálculo das abstrações, e consequentemente, obtenção da

chuva efetiva. Uma das etapas de obtenção da chuva efetiva foi o cálculo

do tempo de concentração das sub-bacias, do qual foi calculado pela

fórmula de Kirpich (1940). Porém, existem inúmeras equações para o

cálculo de TC, e estudos sobre o desempenho de tais equações (exemplo,

SIVEIRA et. al. 2005, MOTA, 2012) mostram que cada equação fornece

um valor diferente para uma mesma bacia.

As cotas máximas atingidas pela altura da lâmina d’água foram

obtidas através da execução da modelagem hidráulica. A preparação do

modelo consistiu basicamente de duas etapas. A primeira foi a criação da

área de modelagem e suas seções de escoamento. Para tanto, utilizou-se

os modelos digitais de terreno com resolução 1x1 metros e também

medições feitas em campo. No entanto, foram medidos apenas dois

pontos ao longo da área de modelagem, e que resultou na estimação da

maioria das seções transversais do projeto.

A segunda etapa foi a calibração do modelo, a qual consistiu em

igualar os valores da altura de lâmina d’água obtidos em campo aos

obtidos na simulação do programa. Além da seção topo batimétrica e

altura da lâmina d’água do local, o ADCP também forneceu a vazão no

momento da medição, tal vazão foi inserida do programa para que a

calibração fosse feita. Esta etapa provou-se complicada, pois a calibração

do modelo foi realizada somente com a mudança na área de escoamento

das seções a jusante da seção 02 (jusante) medida em campo. Mesmo que

inicialmente estas seções tenham sidos estimadas, a mudança realizada

provavelmente não representa a realidade.

Por fim, foi realizada a modelagem 1D para a obtenção das áreas

suscetíveis as inundações. A modelagem 1D possuí vantagens, (baixo

custo computacional por exemplo), no entanto, a subjetividade quanto a

localização e quantidade de seções e o fato de este tipo de modelo

considerar que a água escoa somente em uma direção, podem ser

66

consideradas limitações da mesma. Além disso, não foram consideradas

as pontes existentes além de outras estruturas ao longo do curso d’água,

fatores que provavelmente influenciariam nos resultados obtidos.

Para próximos trabalhos, recomenda-se que se faça uma boa

avaliação na hora de decidir qual equação utilizar para o cálculo do tempo

de concentração. Além disso, o cálculo do Curve Number (CN) da bacia

baseia-se no uso do solo do local, porém, o uso do solo varia segundo a

ação humana, assim, uma boa representação do uso do solo da bacia

hidrográfica de estudo também é importante para que a estimação das

perdas por infiltração seja feita corretamente.

Também recomenda-se a medição de mais seções em campo a fim

de aproximar o modelo da realidade, além disso, a inserção as pontes e

outras estruturas existentes ao longo do curso d’água também é

recomendável, visto que, de maneira geral, tais estruturas alteram a seção

de escoamento de um rio, de maneira a diminuir a área de escoamento no

local de sua construção. A medição de mais seções topo batimétricas e a

inserção de estruturas no modelo podem facilitar a calibração e torna-la

mais precisa, uma vez que o modelo ficaria mais próximo da realidade.

Ademais, medições de campo utilizando-se outros métodos (por exemplo,

régua linimétrica) também são recomendadas a fim de conferir se os

dados obtidos por um método se igualam com o outro.

Por fim, para próximos trabalhos também recomenda-se avaliar

qual tipo de modelo computacional utilizar, modelos 2D ou 1D/2D

(junção de ambos) podem ser mais recomendáveis para uma melhor

representação do escoamento. Teng et. al. (2017) apresentou uma revisão

dos métodos atuais para determinação de áreas inundáveis,

recomendando o uso de cada tipo de método segundo vantagens,

desvantagens e qual ao tipo de análise se quer fazer.

67

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