Modelo Dinâmico de Fleuriet Como Ferramenta de Análise

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O trabalho em questão é um estudo de caso, que tem como objetivo avaliar a situação econômico-financeira das empresas Nova América S.A. – Agrícola e Agroterenas S/A Cana, pelos últimos três exercícios (2009, 2010 e 2011), através do modelo dinâmico de Michel Fleuriet, como ferramenta de apoio para auxiliar na tomada de decisões econômica e financeira das empresas. O modelo é caracterizado pelos seguintes índices: saldo de tesouraria(T), capital de giro (CDG) e necessidade de capital de giro (NCG). Classificando em estruturas patrimoniais dinâmicas a cada exercício das empresas. Verificou-se que em 2009 e 2010, a empresa Nova América S/A apresentou uma situação financeira melhor do que aempresa Agroterenas S/A Cana, sendo sua situação insatisfatória e muito ruim, respectivamente. Entretanto, em 2011 a empresa Agroterenas S/A Cana passou de uma situação financeira muito ruim para uma situação financeira sólida, enquanto a empresa Nova América S/A permaneceu com uma situação financeira insatisfatória. Levando a pensar que é uma característica do setor que utiliza recursos de curto prazo para financiar suas necessidades líquidas de capital de giro. Desta forma, é de se esperar que as empresas deste setor na melhor situação possível apresentem uma situação financeira insatisfatória de umamaneira em geral.

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MBA EM GESTO FINANCEIRA, CONTROLADORIA E AUDITORIAPROFESSORES: DENISE MARGARETH O. BASGAL OSVALDO CALLEGARI DISCIPLINA: 2 SEMINRIO DE AQUISIO E APLICAO DE CONTEDOS

MODELO DINMICO DE FLEURIET COMO FERRAMENTA DE ANLISE DINMICA PARA O SETOR AGRCOLA UM ESTUDO DE CASO

Alunos: 1) Carlos Eduardo Mitomu Tanno 2) Germano De M Matos Trevisan 3) Gilberto Cordovil De Almeida Filho 4) Marco Antonio De Oliveira 5) Osmar Martins Hiroki

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MODELO DINMICO DE FLEURIET COMO FERRAMENTA DE ANLISE DINMICA PARA O SETOR AGRCOLA UM ESTUDO DE CASO

Carlos Eduardo Mitomu Tanno (ISAE-FGV) [email protected] Germano De M Matos Trevisan (ISAE-FGV) [email protected] Gilberto Cordovil De Almeida Filho (ISAE-FGV) [email protected] Marco Antonio De Oliveira (ISAE-FGV) [email protected] Osmar Martins Hiroki (ISAE-FGV) [email protected]

RESUMOO trabalho em questo um estudo de caso, que tem como objetivo avaliar a situao econmico-financeira das empresas Nova Amrica S.A. Agrcola e Agroterenas S/A Cana, pelos ltimos trs exerccios (2009, 2010 e 2011), atravs do modelo dinmico de Michel Fleuriet, como ferramenta de apoio para auxiliar na tomada de decises econmica e financeira das empresas. O modelo caracterizado pelos seguintes ndices: saldo de tesouraria (T), capital de giro (CDG) e necessidade de capital de giro (NCG). Classificando em estruturas patrimoniais dinmicas a cada exerccio das empresas. Verificou-se que em 2009 e 2010, a empresa Nova Amrica S/A apresentou uma situao financeira melhor do que a empresa Agroterenas S/A Cana, sendo sua situao insatisfatria e muito ruim, respectivamente. Entretanto, em 2011 a empresa Agroterenas S/A Cana passou de uma situao financeira muito ruim para uma situao financeira slida, enquanto a empresa Nova Amrica S/A permaneceu com uma situao financeira insatisfatria. Levando a pensar que uma caracterstica do setor que utiliza recursos de curto prazo para financiar suas necessidades lquidas de capital de giro. Desta forma, de se esperar que as empresas deste setor na melhor situao possvel apresentem uma situao financeira insatisfatria de uma maneira em geral.

PALAVRAS-CHAVEModelo dinmico, Michel Fleuriet, situao econmico-financeira, Nova Amrica, Agroterenas.

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INTRODUONos ltimos anos o agronegcio brasileiro vem desempenhando um importante papel no cenrio econmico nacional e internacional. A participao do agronegcio nas exportaes totais brasileiras foi de 37,9%, em 2010, o que representa exportaes recordes no setor agropecurio com US$ 76,4 bilhes, melhor ano para vendas externas do agronegcio. Neste mesmo perodo as importaes somaram US$ 13,4 bilhes em 2010, proporcionando um supervit da balana comercial do agronegcio de US$ 63 bilhes ou US$ 8,1 bilhes superior ao registrado em 2009. Esse saldo foi trs vezes maior que os US$ 20 bilhes observados no supervit do comrcio global do Brasil no mesmo perodo. A produo de acar ocupa um papel de destaque neste cenrio, o produto foi o grande destaque de 2010. A forte expanso das receitas de exportao do produto, de 52%, tornou o complexo sucroalcooleiro (com predominncia de acar e etanol) responsvel por 18% das exportaes do agronegcio. Com isso, o setor tornou-se o segundo no ranking exportador, ocupando o lugar das carnes, que atualmente respondem por 17,8% das vendas externas. O crescimento deste setor, e conseqentemente das empresas produtoras da matriaprima base para a fabricao de acar e etanol, ou seja, de cana-de-acar, destacado nesse cenrio com nmeros expressivos em relao ao volume de produo, investimentos e gerao de emprego e renda. Alm da produo com agregao de valor o crescimento trouxe tambm desafios gerencias para permanncia e crescimento contnuo no mercado. Este novo ambiente de negcio conduz os produtores agrcolas a refletir e buscar alternativas que os auxiliem para aproveitarem as oportunidades atuais, mas que antes de tudo os preparem para os desafios que devero enfrentar para sobreviverem num setor fortemente exposto ao ambiente interno e externo. Entre tantos desafios, merecem ateno os relacionados gesto (processo, recursos humanos, controles, entre outros), e o objetivo desse trabalho analisar a gesto financeira de duas empresas produtoras de cana-de-acar, com foco na anlise da estrutura financeira de capital de giro, j que decises na rea financeira ocasionam reflexos em todas as demais reas da organizao. Para este tipo de anlise, as demonstraes contbeis so os pilares do processo, mas vale ressaltar que estas informaes tem sido alvo de vrias crticas, quanto ao seu objetivo de

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gerao de informaes, este tipo de anlise financeira tradicional tem o pressuposto de liquidao da empresa no curto prazo, e est centrada numa viso esttica da empresa. Assim, a anlise financeira destas empresas ser baseada no modelo de Fleuriet, tambm denominado de anlise financeira dinmica, desenvolvido da dcada de 70 pelo francs Michael Fleuriet em conjunto com profissionais do Brasil.

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REFERENCIAL TERICO

1 O modelo dinmico de Fleuriet A literatura e a teoria contbil tradicional organizam as demonstraes financeiras dentro de uma determinada estrutura, regularmente estabelecida dentro de normas legais e gerais de contabilidade. Entretanto, do ponto de vista gerencial, esta estrutura pode sofrer alteraes visando uma adequao a critrios que atendam s necessidades dos gestores da companhia. Desta forma, considerando que as formas tradicionais de mensurao das capacidades de gerao de valor das empresas j no respondem adequadamente s necessidades informativas dos processos decisrios econmico-financeiros, surge o modelo dinmico desenvolvido por Michel Fleuriet, fundamentado na dinmica financeira das empresas. Assim, segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), para uma melhor compreenso do modelo Fleuriet, as contas do ativo e do passivo devem ser consideradas de acordo com seu ciclo, ou seja, o tempo necessrio para concretizar uma rotao, sendo que certas contas apresentam uma movimentao lenta podendo ser consideradas como permanentes ou no cclicas, outras esto relacionadas com o ciclo operacional da empresa e apresentam um movimento contnuo e cclico e, finalmente, existem contas que no esto diretamente relacionadas com a operao apresentando um movimento descontnuo e errtico, conforme exemplificado no quadro abaixo.ATIVO PASSIVO Passivo Circulante Duplicatas Descontadas; Emprstimos Bancrios, etc.

CONTAS ERRTICAS

Ativo Circulante Caixa e Bancos; Ttulos e Valores Mobilirios, etc.

CONTAS ERRTICAS

CONTAS CCLICAS

Clientes; Estoques; Despesas Antecipadas; Adiantamentos a Fornecedores, etc. Ativo No Circulante

Fornecedores; Salrios a Pagar; Impostos Operacionais a Recolher; Adiantamentos de Clientes, etc. Passivo No Circulante Emprstimos; Financiamentos, etc. Patrimnio Lquido Capital Social; Reservas.

CONTAS CCLICAS

CONTAS NO CCLICAS

Emprstimos; Ttulos a Receber, etc. Investimentos; Imobilizado, etc.

CONTAS NO CCLICAS

Quadro 1 Contas Errticas, Cclicas e No Cclicas no Balano Patrimonial.

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Ainda, segundo Costa, Limeira, Gonalves e Carvalho (2008), Fleuriet nos revela em seu modelo dinmico que a liquidez de uma empresa pode ser evidenciada, no nvel do balano patrimonial, pela estrutura resultante basicamente da combinao de trs variveis, identificadas como necessidade de capital de giro, capital de giro e saldo de tesouraria.

1.1 Necessidade de capital de giro De acordo com Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), devido aos descasamentos entre os pagamentos e recebimentos, isto , quando as sadas de caixa ocorrem antes das entradas de caixa, cria-se uma necessidade de investimento em capital de giro, que evidenciada no balano pela diferena entre o valor das contas cclicas do ativo e das contas cclicas do passivo, sendo denominado como necessidade de capital de giro (NCG). Para Costa, Limeira, Gonalves e Carvalho (2008) a NCG corresponde a necessidade de investimento permanente de fundos para garantir o giro operacional da empresa, sendo que a mesma pode ser mensurada pela equao abaixo: NCG = ATIVO CCLICO PASSIVO CCLICO Sendo que o ativo cclico representado, por exemplo, pelos valores a receber de clientes, os estoques, os ttulos a receber, as despesas antecipadas e os adiantamentos a fornecedores. J o passivo cclico representado, por exemplo, pelos valores devidos a fornecedores, os salrios a pagar, os impostos operacionais a recolher (ICMS e IPI, por exemplo), as contas a pagar e os adiantamentos de clientes, conforme exemplificado no quadro 1. No obstante, Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) enfatizam as seguintes observaes com relao ao conceito de NCG: a) A NCG diferente do Capital Circulante Lquido (CCL). Na viso clssica, o

CCL mensurado pela diferena entre o ativo circulante e o passivo circulante; b) c) A NCG uma definio econmico-financeira e no uma definio legal; A NCG muito sensvel s mudanas que ocorrem no ambiente econmico em

que a empresa atua, alteraes nos estoques, crdito dos fornecedores, inadimplncia, etc., impactam a NCG; d) A NCG pode ser negativa. Neste caso, as sadas de caixa ocorrem depois das

entradas de caixa;

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e)

Se a empresa suspender parte de suas operaes ou entrar em falncia, a NCG

passar a constituir uma fonte de fundos que poder, por exemplo, ser utilizada pela empresa para pagamento a credores e acionistas.

1.2 Capital de Giro Segundo Wernke (2008), para que uma empresa consiga operar, a mesma necessita dispor de um determinado montante de recursos a ttulo de capital de giro (CDG). Para Costa, Limeira, Gonalves e Carvalho (2008) o CDG corresponde disponibilidade de fundos de longo prazo e permanente para financiar o giro das operaes da empresa, sendo que esta disponibilidade de capital pode ser mensurada pela diferena entre os saldos de seus passivos e ativos no cclicos (no circulantes), conforme a equao abaixo: CDG = PASSIVO NO CIRCULANTE ATIVO NO CIRCULANTE Adicionalmente, Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) enfatizam as seguintes observaes com relao ao conceito de CDG: a) O CDG possui o mesmo valor que o CCL, de acordo com a viso clssica da

diferena entre o ativo e o passivo circulantes; b) O CDG, assim como a NCG, uma definio econmico-financeira e no uma

definio legal; c) d) O CDG apresenta-se razoavelmente estvel ao longo do tempo; O CDG pode ser negativo. Neste caso, a empresa financia parte do seu ativo

no circulante com fundo de curto prazo.

1.3. Saldo de tesouraria Como saldo de tesouraria (T), devemos entender o endividamento lquido de curto prazo da empresa. Portanto, no adianta ter dinheiro em caixa se temos dvidas financeiras de curto prazo junto a banco ou terceiros. Desta forma, para efeito patrimonial, nos interessa o saldo financeiro lquido da empresa, podendo ser mensurado pela diferena entre o ativo e o passivo errticos (financeiros), conforme a equao abaixo: T = ATIVO ERRTICO PASSIVO ERRTICO Segundo Costa, Limeira, Gonalves e Carvalho (2008) o ativo errtico representado, por exemplo, pelos saldos em caixa e em contas correntes bancrias e pelos investimentos em ttulos e valores mobilirios. J o passivo errtico representado, por exemplo, pelas dvidas decorrentes de emprstimos e financiamentos bancrios, pelas

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duplicatas descontadas e pelas parcelas de imposto de renda recolher e os dividendos a pagar, conforme exemplificado no quadro 1. Em adio, para Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) o saldo de tesouraria tambm representa um valor residual correspondente diferena entre o CDG e a NCG, conforme a equao abaixo: T = CDG NCG Desta forma, se o CDG for insuficiente para financiar a NCG, o saldo de tesouraria ser negativo, levando a empresa financiar parte da NCG com fundos de curto prazo, aumentando consequentemente seu risco de insolvncia. Sendo que o contrrio, caso o saldo de tesouraria seja positivo, a empresa dispor de fundo de curto prazo que, por exemplo, podero ser aplicados em ttulos de liquidez imediata (open market), aumentando sua margem de segurana financeira. Portanto, em suma, o saldo de tesouraria mensura o risco a curto prazo da empresa e consequncia das decises estratgicas tomadas nos componentes do CDG.

1.4 Tipos de estruturas patrimoniais 1.4.1 Padro 1 Excelente situao financeira. Empresa com este padro de estrutura patrimonial revela excelente situao financeira, com sua liquidez (T> 0) garantida pela existncia de financiamento estratgico lquido (CDG>0) e de sobra de financiamento com passivos operacionais (NCG0

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1.4.2 Padro 2 Slida situao financeira. Empresa com este padro de estrutura patrimonial revela slida situao financeira, com sua liquidez (T>0) garantida pela existncia de financiamento estratgico lquido (CDG>0) superior sua necessidade de investimento operacional em giro (NCG>0).

T>0 CDG>0 NCG>0

1.4.3 Padro 3 Situao financeira insatisfatria. Empresa com este padro de estrutura patrimonial revela insatisfatria situao financeira, pois precisa estar utilizando dvida lquida onerosa (T0), na cobertura de sua necessidade de investimento operacional em giro (NCG>0).

T0 CDG>0

1.4.4 Padro 4 Situao financeira de alto risco. Empresa com este padro de estrutura patrimonial revela situao financeira de alto risco, uma vez que financia seu investimento lquido em ativos estratgicos (CDG0) usando, exclusivamente, sobra de financiamento com passivos operacionais (NCG0 NCG