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1 A “explosão da cidade” e a trajectória do capitalismo Bruno Lamas Nota prévia: o presente texto constitui a versão escrita de uma apresentação efectuada em Lisboa, a 3 de Outubro de 2013, na sessão “A ‘explosão da cidade’ e a trajectória do capitalismo” do seminário “Pensamento Crítico Contemporâneo e Cidade”, organizado pela Unipop e a revista Imprópria, no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2013 . “A produção capitalista procura constantemente superar essas barreiras que lhe são imanentes, mas só as supera por meios que lhe antepõem novamente essas barreiras e em escala mais poderosa. A verdadeira barreira da produção capitalista é o próprio capital (...)”. Karl Marx, Livro III de “O CapitalHá já alguns anos que se constata o facto histórico certamente assinalável de que o mundo é hoje um lugar predominantemente urbano, ou seja, que mais de metade da população mundial vive em cidades. Mas essa constatação recorrente parece vir sempre acompanhada por dois sentimentos contraditórios: por um lado, uma espécie de celebração do que parece considerar-se ser em si mesmo uma conquista civilizacional; mas, por outro lado, uma profunda sensação de assombro, porque na verdade não sabemos exactamente muito bem como chegámos aqui, porque não se prevê que a tendência geral refreie e porque os problemas usualmente associados à urbanização parecem não parar de aumentar. É extremamente difícil estimar com exactidão para as épocas pré-modernas a quota- parte urbana da população mundial. O que sabemos é que, após oito mil anos de urbanização, a quota-parte urbana da população mundial no ano de 1800 era de apenas 2% e que desde aí progrediu rapidamente, chegando aos 30% em 1950, aos 47% em 2000 e, de acordo com as Nações Unidas, ultrapassou os 50% em 2008. O que aqui desde logo parece relativamente claro é que a força do crescimento urbano moderno não possui equivalente nas sociedades pré-modernas. Mas também não é difícil verificar que nas épocas pré-modernas a urbanização de uma cidade era bastante independente da urbanização (ou do declínio) de outra, enquanto que a sociedade moderna constituiu um sistema urbano verdadeiramente mundial, onde a urbanização de certas regiões não é autónoma do que acontece noutros pontos do mundo. Este sistema urbano mundial é na verdade pouco mais do que a expressão territorial do

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A “explosão da cidade” e a trajectória do capitalismo Bruno Lamas

Nota prévia: o presente texto constitui a versão escrita de uma apresentação efectuada em Lisboa, a 3 de Outubro de 2013, na sessão “A ‘explosão da cidade’ e a trajectória do capitalismo” do seminário “Pensamento Crítico Contemporâneo e Cidade”, organizado pela Unipop e a revista Imprópria, no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2013

.

“A produção capitalista procura constantemente superar essas barreiras que lhe são imanentes, mas só as supera por meios que lhe antepõem novamente essas barreiras e em escala mais poderosa. A verdadeira barreira da produção capitalista é o próprio capital (...)”.

Karl Marx, Livro III de “O Capital”

Há já alguns anos que se constata o facto histórico certamente assinalável de que o

mundo é hoje um lugar predominantemente urbano, ou seja, que mais de metade da

população mundial vive em cidades. Mas essa constatação recorrente parece vir

sempre acompanhada por dois sentimentos contraditórios: por um lado, uma espécie

de celebração do que parece considerar-se ser em si mesmo uma conquista

civilizacional; mas, por outro lado, uma profunda sensação de assombro, porque na

verdade não sabemos exactamente muito bem como chegámos aqui, porque não se

prevê que a tendência geral refreie e porque os problemas usualmente associados à

urbanização parecem não parar de aumentar.

É extremamente difícil estimar com exactidão para as épocas pré-modernas a quota-

parte urbana da população mundial. O que sabemos é que, após oito mil anos de

urbanização, a quota-parte urbana da população mundial no ano de 1800 era de apenas

2% e que desde aí progrediu rapidamente, chegando aos 30% em 1950, aos 47% em

2000 e, de acordo com as Nações Unidas, ultrapassou os 50% em 2008. O que aqui

desde logo parece relativamente claro é que a força do crescimento urbano moderno

não possui equivalente nas sociedades pré-modernas. Mas também não é difícil

verificar que nas épocas pré-modernas a urbanização de uma cidade era bastante

independente da urbanização (ou do declínio) de outra, enquanto que a sociedade

moderna constituiu um sistema urbano verdadeiramente mundial, onde a urbanização

de certas regiões não é autónoma do que acontece noutros pontos do mundo. Este

sistema urbano mundial é na verdade pouco mais do que a expressão territorial do

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sistema mundial de trabalho abstracto que é o fundamento do capitalismo, algo que

nenhuma estimativa estatística nos poderá revelar por si mesma. Por isso, a

problemática da urbanização moderna também não é apenas a de uma questão

quantitativa ou de mudança de ritmo do crescimento das cidades; é antes a da própria

relação entre cidades e capitalismo.

Claro que o problema pode ser ultrapassado se simplesmente declararmos, como faz

Fernand Braudel, que “no Ocidente, capitalismo e cidades, no fundo, foi a mesma

coisa” (Braudel 1992: 453) ou que se falarmos em “dinheiro, o mesmo é dizer as

cidades” (Braudel 1992: 450). Com isto, não só se afirma uma identidade entre cidade,

capitalismo e dinheiro, como se afirma uma identidade trans-histórica de cada um dos

fenómenos consigo mesmo. A cidade pré-moderna e moderna são a mesma coisa; o

capitalismo nasceu no neolítico e o dinheiro sempre foi capital. Ou seja, está-se no

bom caminho para não se perceber nada nem de cidade, nem de capitalismo, nem de

dinheiro. Pouca coisa é tão conceptualmente desastrosa e ideologicamente

consequente quanto a retroprojecção de categorias e fenómenos especificamente

modernos (como o trabalho, o dinheiro, o capital, o mercado, etc.) em todas as

sociedades do passado ou a sua hipostasiação como dados da “natureza humana”.

Ora, o facto de a cidade não ser um fenómeno especificamente moderno não significa

que possamos assumir para ela uma mesma identidade transhistórica em

desenvolvimento desde o neolítico. Este entendimento ideológico positivista, que se

limita a constatar a continuidade histórico-empírica do artefacto urbano e sua inércia

material, nunca consegue ver nas cidades nada para além de um amontoado de pedras,

tijolos e cimento. Contra este banal positivismo, não é por isso inteiramente inútil a

distinção clássica da cidade como associação humana — civitas — e a cidade como

lugar e artefacto físico — urbs. Impõe-se no entanto uma correcção fundamental à

interpretação moderna tendencialmente politicista do conceito de civitas e que nele

não vê outra coisa senão sucessivas formas políticas de associação humana,

conscientemente escolhidas e sem quaisquer pressupostos. É que desse modo

escamoteia-se o carácter inconsciente das próprias formas de integração e consciência

social até hoje existentes e as correspondentes “matrizes apriorísticas” (Robert Kurz)

autonomizadas de percepção e acção humana; aquilo que Marx tentou captar com o

seu conceito de “fetichismo”. Esse momento fetichista estava aliás flagrantemente

presente no significado original do conceito romano de civitas, que exaltava

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justamente o carácter transcendental e apriorístico de toda a estrutura social romana,

enquanto vínculo social metafísico acima dos cidadãos, e que entre outras coisas se

traduzia em celebrações religiosas específicas no acto sagrado de fundação das

cidades, a maior parte das quais ainda hoje existentes. O que importa talvez assumir da

distinção civitas/urbs é que se trata, no fundo, da diferença entre o processo (social) e

o resultado (material) intrínsecos à urbanização, mas em que o primeiro está longe de

ser verdadeiramente consciente para os próprios agentes e o segundo sobrevive

historicamente às formas de integração social que lhe deram origem.

Mas de que modo é que isto nos pode ajudar a compreender a relação entre as cidades

e o desenvolvimento histórico do capitalismo? Parece-me que devemos fazê-lo através

de um aprofundamento de quatro problemas: em primeiro lugar, realizar uma

diferenciação muito clara entre as cidades pré-capitalistas e capitalistas, tanto nas suas

diferentes formas sociais fetichistas quanto nas respectivas formas urbanas; em

segundo lugar, o processo histórico de constituição do capital, ou seja, o problema da

“transição do feudalismo para o capitalismo” e o papel das cidades nesse processo; em

terceiro lugar, a lógica e o funcionamento interno do capitalismo “que se move sobre

sua própria base” (Marx 2011: 195), ou seja, a territorialização progressiva do

capitalismo como “sociedade do trabalho” e “modo de produção baseado no valor”

(Marx), sobretudo desde a segunda metade do século XIX, que se traduziu na

“explosão urbana” do último século; e em quarto lugar, a expressão territorial da crise

global no sistema urbano mundial. Claro que não posso aprofundar aqui todas estas

questões; mas posso procurar balizar um pouco melhor as problemáticas e alongar-me

um pouco mais naquelas onde a retroprojecção das categorias modernas é mais

comum.

Um dos anacronismos recorrentes é o de procurar explicar a origem das cidades a

partir do “mercado”. Desse modo claramente ideológico, Jericó (8000 a.C.) e Çatal

Huyuk (7500 a.C.), ou pelo menos Ur (3800 a.C.) e Uruk (4000 a.C.), já se

destacavam como importantes mercados ou até mesmo como importantes locais de

“produção simples de mercadorias”. Com mais ou menos ênfase, esta ideia aparece em

autores tão diferentes como Braudel ou Jane Jacobs. Claro que desse modo também já

se fala aí da existência de trabalho, dinheiro, valor e capital. E por isso o marxismo

tradicional também participou nesse ontologização das categorias modernas,

procurando demonstrar empiricamente as teses de Engels sobre o “papel do trabalho

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na transformação do macaco em homem” e de que a “lei do valor” tem “validade

económica geral” pelo menos desde há “cinco ou sete milénios” (Engels 1986: 328).

Por tudo isso, foram sempre desvalorizadas e minoritárias as tentativas modernas de

explicar a génese das primeiras cidades sem recorrer às categorias modernas de

mercado, mercadoria, trabalho, etc., como aquelas de Rykwert (1988) ou Mumford

(1998), que realçavam antes o carácter originalmente religioso das primeiras

ocupações humanas, inclusivamente ao nível da própria forma urbana. No entanto,

mesmo em textos fundadores do entendimento moderno da origem das cidades não

deixam de aparecer pistas para compreensão do carácter fetichista específico das

sociedades pré-modernas e sua matriz religiosa: o arqueólogo marxista Gordon

Childe, por exemplo, no seu ensaio clássico “A Revolução Urbana”, constata que um

dos dez critérios distintivos das primeiras cidades é que “cada produtor primário

pagasse, a partir do pequeno excedente que ele conseguisse retirar do solo com o seu

ainda muito limitado equipamento técnico, uma dízima ou imposto a uma deidade

imaginária ou rei divino que assim concentrava o excedente. Sem esta concentração,

devida à baixa produtividade da economia rural, nenhum capital efectivo teria estado

disponível” (Childe 1950: 11-2). Apesar dos anacronismos evidentes de se falar em

“economia”, “dízima”, “imposto” e “capital” já para o período neolítico, Childe não

deixa de constatar que o destinatário dessa quota do excedente material é uma

entidade transcendente ou um ser humano divinizado, o qual se revela um verdadeiro

problema para o seu entendimento da história como “luta de classes”. Esta

personificação de um princípio transcendente que caracteriza a forma religiosa e que

atravessa toda a estrutura social das sociedades pré-modernas subsistiu, com mais ou

menos intensidade, até à constituição do mundo moderno capitalista. Mas neste, o

princípio social apriorístico não se encontra mais personificado em nenhum ser

humano mas é antes objectivado nas mercadorias e no dinheiro (sobre isto ver Kurz,

no prelo). E a história desta transformação não deixou de ficar também ela

territorializada.

Apesar das inúmeras diferenças entre as cidades pré-modernas, há um elemento

comum que, embora não seja absoluto, as distingue em conjunto profundamente das

cidades modernas: as muralhas. Diversos historiadores chamaram já a atenção para

este aspecto mas parece-me que as respectivas ilações estão longe de estarem

suficientemente exploradas. A esmagadora maioria das cidades pré-modernas era

muralhada; as excepções são raras e estão identificadas e justificadas, tanto pelas

Figura 1. Ur (3800 a.C.)

Figura 2. Uruk (4000 a.C.)

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condições naturais da própria cidade ou da região onde se insere (ex.: Veneza, ou

Inglaterra e Japão), como pela existência de uma teocracia estável ou de um poder

militar de tal modo avassalador que tornavam as muralhas desnecessárias (ex. antigo

Egipto, Esparta). Nesse sentido, para as sociedades pré-modernas era absolutamente

impensável uma cidade não ser muralhada. Não é por isso mero acaso que as palavras

que em inglês, alemão, holandês, russo e chinês designam hoje “cidade” designavam

primitivamente “muralha” ou seus semelhantes (cerca, muro, baluarte, etc.). O

entendimento usual é que as estruturas das muralhas medievais subsistiram até ao

advento do mundo moderno e, a partir do século XIX, foram sendo sucessivamente

demolidas para dar lugar às expansões urbanas modernas. Esta história é entretanto

muito mais complicada e parece-me que nos pode ajudar a compreender um pouco

melhor a chamada “acumulação original do capital”.

A propósito da chamada “transição do feudalismo para o capitalismo”, historicamente

balizada pelos séculos XIV e XVI, duas polémicas são hoje consideradas clássicas

para o entendimento do papel da cidade na constituição capitalista: o “Debate Dobb-

Sweezey” (Dobb et al. 1978), desenvolvido na década de 1950 e que foi

exclusivamente intramarxista; e o chamado “Debate Brenner” (Aston and Philpin

1995), desenrolado na segunda metade da década de 1970 e com um carácter teórico e

disciplinar mais amplo. Ambos os debates, de modo mais ou menos explícito, tinham

a cidade como pano de fundo da discussão, sem no entanto prestarem muita atenção às

profundas transformações urbanas desse período. O que aí estava em causa, e mais

uma vez de forma anacrónica, era a cidade como mercado e nada mais. Entretanto,

uma questão diversas vezes colocada em ambos os debates mas nunca

verdadeiramente aprofundada foi a da crescente necessidade dos senhores de novas

fontes de receita para alimentar as guerras daquele período. E aqui se verá que a

cidade foi muito mais do que pano de fundo.

Ora, antes de mais é preciso ter em mente que aquilo que em termos categoriais está

em causa na transição do feudalismo para o capitalismo é o processo histórico de

“transformação do dinheiro em capital” (Marx). É sabido que o dinheiro existia antes

do capitalismo, mas de modo algum a sua função social pode ser considerada idêntica

à que desempenha no capitalismo. Nas sociedades pré-modernas o dinheiro possui

uma função religiosa ou de intermediação de relações de reciprocidade e obrigação

pessoal (dádivas, contra-dádivas, oferendas, sacrifícios, etc.), também elas

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vincadamente religiosas, que de modo nenhum pode ser equiparada à lógica

autonomizada de “riqueza abstracta” (Marx) e “encarnação de trabalho abstracto”

(Marx) que é específica do capitalismo. Diversos historiadores e antropólogos, como

Karl Polanyi (2001), Jacques Le Goff (2003) e Marcel Mauss (2001), forneceram

pistas no sentido dessa diferenciação, mas sem que estas tenham sido estudadas de

forma sistemática, como Robert Kurz (no prelo) procura fazer na sua obra recente

“Dinheiro sem valor”. Por isso, também de modo algum se pode dizer que as

sociedades pré-modernas possuíam uma “economia”; chamada de atenção que aliás há

muito foi feita por Moses Finley (1980), no que respeita a antiguidade greco-romana,

e por Polanyi de um modo mais abrangente com a sua tese da “desincrustação” da

economia capitalista. A economia, como esfera autonomizada e desvinculada das

relações sociais e caracterizada por um mercado impessoal e anónimo, é algo

específico da sociedade capitalista. E o que aí está em causa é o dinheiro como

pressuposto e finalidade da produção, como “deus das mercadorias” (Marx), valor que

se valoriza a si mesmo, ou seja, capital.

O que investigações mais aprofundadas poderão mostrar como absolutamente decisivo

para a “transformação do dinheiro em capital” são as exigências impostas por aquilo a

que historiografia chama a “revolução militar”, quer dizer, os processos históricos

estruturais associados à invenção das armas de fogo no século XIV e à formação das

máquinas militares e estatais modernas que garantiram a supremacia da Europa do

homem branco nos séculos seguintes (seguimos aqui Kurz, no prelo). Foi, por um

lado, o canhão (inventado no século XV) e a formação e manutenção de exércitos de

mercenários (que são também os primeiros verdadeiros assalariados) e, por outro, as

brutais e correspondentes transformações arquitectónicas nas fortificações das cidades

que, em conjunto, se tornaram um verdadeiro monstro insaciável de recursos que

promoveu a brutal monetarização de toda a reprodução social e a constituição do

capital.

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Figura 3. Ilustração do livro de Leonhard Fronsperger (c.1520-1575) Kriegsbuch (1573).

Do lado da artilharia temos uma primeira corrida ao armamento, pautada pela procura

crescente de metais, o desenvolvimento das indústrias mineira e siderúrgica e o

aparecimento de uma proto-indústria das armas de fogo. Do lado das fortificações

urbanas temos transformações igualmente marcantes: as velhas muralhas medievais

deixaram de cumprir a sua função face ao canhão; foram erguidas novas muralhas

mais baixas mas substancialmente mais largas e aumentado o espaço de manobra

interno para permitir a deslocação dos canhões de defesa da cidade; no final, o espaço

exigido para a nova muralha era quase sempre superior à área da própria cidade

(Mumford 1998: 390; Kostof 1992: 31). Essas novas fortificações, com a conhecida

configuração em estrela (a chamada trace italienne) e cujo exemplo mais conhecido é

porventura a cidade italiana de Palmanova, eram extremamente difíceis de erguer e

ainda mais de alterar. Exigiam uma mobilização de recursos em tudo equivalente à da

proto-indústria do armamento, e em conjunto com ela provocaram por toda a Europa a

monetarização generalizada de todos os impostos e o correspondente “esmiframento”

da população com o fim de alimentar a ascendente máquina estatal militar

desvinculada da reprodução social. Não é à toa que Marx constata: “No tempo do

advento da monarquia absoluta, com a transformação de todos os impostos em

impostos em dinheiro, o dinheiro aparece de facto como o Moloch ao qual é

Figura 4. Ilustração do livro de Sébastien Le Prestre de Vauban (1633-1707) Maniere de Fortifier(1689)

Figura 5. A cidade de Palmanova, em Itália, é porventura o exemplo mais acabado da forma em estrela da trace italienne. A sua construção começou em 1593 e prolongou-se até cerca de 1810.

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sacrificada a riqueza real” (Marx 2011: 145-6). No caso das muralhas, o seu papel até

era duplo: por um lado, serviam de defesa da artilharia pesada; por outro, cumpriam

igualmente um papel enquanto barreira alfandegária sorvedoura de dinheiro. Foi assim

mesmo, de cima para baixo e de forma sangrenta, que o dinheiro tomou conta de toda

a produção e reprodução social e foi através desse processo violentíssimo que as

cidades-capitais e aquilo a que nós modernos chamamos “estado” e “economia”

vieram ao mundo. Com eles veio também “o trabalho livre e a troca desse trabalho

livre por dinheiro a fim de reproduzir e valorizar o dinheiro” (Marx 2011: 388).

Mas como Marx (2011: 432) também afirmou: “É da natureza do capital mover-se

para além de todas as barreiras espaciais”. Nesse sentido, as novas muralhas não

tardaram por isso a revelar-se elas próprias um obstáculo à plena constituição do

capitalismo. Por um lado, a formação do estado moderno havia tornado supérflua a

sua função defensiva; por outro lado, a dissolução dos vínculos pessoais associados à

propriedade fundiária feudal pela transformação do solo em mercadoria tinha

promovido um significado completamente monetarizado de todo aquele amplo espaço

ocupado pelas muralhas em centenas de cidades europeias. O sinal destas mudanças

foi dado em Paris. A tomada da Bastilha, que marca “oficialmente” o princípio da

Revolução Francesa, foi precedida em dois dias por um acontecimento porventura

mais significativo: uma revolta popular generalizada contra a muralha exclusivamente

alfandegária erguida por Luis XVI, (chamada de Ferme Générale) desenhada pelo

arquitecto Claude-Nicholas Ledoux, e que culminou no saque e incêndio de vários dos

seus postos alfandegários.

Figura 6. A cidade de Dunkerque (França) em 1575 (em cima) e cerca de 1700-1710 (em baixo). A partir do final do século XVII, a cidade passou a ter uma das doze principais grandes fortificações que Vauban nessa época projectou para a constituição do sistema de defesa das fronteiras francesas. A escala e rapidez das intervenções que a cidade sofreu fazem dela um caso paradigmatico das profundas transformações associadas à "economia política das armas de fogo" (Robert Kurz) entre os séculos XVI e XVIII.

Figura 7. Planta de Paris de meados do século XIX. A azul a Ferme Générale.

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Até agora limitámo-nos geograficamente ao que se passa fora e no limite das cidades.

Mas o processo de constituição do capital foi promovido paralelamente também pelo

que se dava dentro das cidades. Considerando que o valor é uma forma de “riqueza

abstracta” baseada no “dispêndio de força de trabalho humana sem atender à forma do

seu dispêndio” (Marx), cuja magnitude é medida em tempo, é evidente que a

temporalidade é uma componente fundamental da constituição do capitalismo. A

partir de pistas dadas por historiadores medievalistas, o historiador americano Moishe

Postone abriu caminho para uma promissora interpretação crítica da temporalidade

moderna. Depois do seu crescimento demográfico nos séculos XII e XIII, as cidades

medievais começaram a desenvolver uma maior necessidade de regulação do tempo

social. Alguns autores defendem que foram as necessidades materiais da densidade e

complexidade da vida urbana que levaram ao desenvolvimento das horas constantes;

Postone defende, no entanto, e a nosso ver acertadamente, que o surgimento da forma

temporal abstracta característica da sociedade moderna não pode ser compreendida

adequadamente apenas em termos da natureza da vida urbana per se. Afinal de contas

já existiam grandes cidades noutras partes do mundo muito antes do desenvolvimento

das horas constantes nas cidades medievais do ocidente; e para além disso, até ao

século XIV, o dia de trabalho na Europa medieval continuava a ser medido de forma

natural pelo tradicional sol-a-sol, instituído pelo ‘tempo da igreja’ (horae canonicae).

Neste sentido, a razão para o surgimento das horas constantes deve ser baseada numa

forma sócio-cultural particular e não num factor material geral como a concentração

urbana ou o avanço tecnológico.

Para Postone, os sinos de trabalho eram uma expressão de uma nova forma social que

tinha começado a aparecer no fim da Idade Média, particularmente nas cidades que se

tinham especializado na produção de tecido, como as da Flandres. Numa primeira

fase, o trabalho era pago ao dia pelos próprios mercadores de tecido; isto significou

que durante a crise económica dos fins do século XIII que afectou profundamente a

tecelagem, os trabalhadores deste ramo ficaram profundamente vulneráveis a situações

de pobreza, passando eles próprios a exigir o prolongamento do dia de trabalho, para

além do dia tradicional de sol-a-sol, de forma a aumentar os seus salários — não

podemos esquecer que a riqueza ainda era medida pela produção absoluta de tecido.

De acordo com Le Goff, foi justamente nesta fase, e como forma de controlo pelos

mercadores da ‘real’ dimensão do dia de trabalho, que se multiplicaram os sinos

municipais de trabalho pelas diversas cidades medievais europeias, pondo fim ao

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domínio histórico do tempo da igreja. Não foi preciso muito tempo para que os sinos

dessem lugar aos relógios mecânicos, ainda de horas variáveis. Durante a segunda

metade do século XIV espalharam-se por todo o mundo urbano europeu diversas

torres municipais com relógios de um só ponteiro, que passaram lentamente a reger

toda a vida quotidiana urbana. No final desse século a temporalidade abstracta e

homogénea das vinte e quatro horas já servia como ordenador temporal de diversos

trabalhos concretos nos principais centros urbanos europeus, e com isso a própria

cidade do fim da Idade Média ganhava um novo significado. Como constatou o

medievalista Aron Guretvich: “Dissemos que a cidade se tinha apropriado do seu

próprio tempo e isto é verdadeiro, no sentido em que o tempo escapou ao comando da

Igreja. Mas, em contrapartida, foi também precisamente na cidade que o homem

deixou de ser dono do tempo. Tendo, com efeito, recebido a possibilidade de se escoar

sem ter em conta os indivíduos e os acontecimentos, o tempo impôs a sua própria

tirania, à qual os homens tiveram de submeter-se. O tempo subjugou-os ao seu ritmo,

forçou-os a agir mais depressa, a despachar-se, a não deixar escapar um instante”

(Gurevitch 1990: 174-8). Esta “tirania do tempo” é no fundo a tirania da “valorização

do valor” (Marx) como forma social fetichista emergente, intermediada pela paralela

coerção estatal e a máquina militar desvinculada. Esta interpretação também poderá

dar um novo significado à constatação de Le Goff de que “o século do relógio é

também o do canhão” (Le Goff 1980: 70-1).

Figura 8. Gravura da Praça de São Marcos, em Veneza, datada de 1500. Ao centro, atrás, a torre do relógio de São Marcos, inaugurado no ano anterior.

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Mas antes de se generalizar por toda a vida social, como nos diz Kurz, “o tempo

começou por se tornar abstracto, independente e absoluto apenas num espaço social

determinado, que é precisamente o espaço funcional da economia empresarial

desvinculado” (Kurz 2004). No âmbito do processo histórico de valorização do valor

emerge assim uma dissociação social, temporal e espacial das actividades produtivas

em relação a todas as outras actividades e momentos da reprodução social quotidiana,

que passam daí em diante a ser encaradas como um entrave à ‘produtividade’, uma

noção que começava então a surgir. Não se trata por isso da definição de um mero

espaço de produção de bens materiais; trata-se antes de um espaço de valorização do

trabalho abstracto e de “riqueza abstracta”. A relevância histórico-social desta

desvinculação é mais evidente na separação trabalho-residência, mas na verdade não

se trata propriamente de uma separação; é que não estamos perante o simples separar

de duas coisas que estavam juntas mas antes da constituição de ambas em separado.

A vida quotidiana pré-moderna é um todo social integrado, no qual não existe nem

trabalho nem propriamente residência; apenas o capitalismo constituiu tais esferas

desvinculadas que se pressupõem reciprocamente, ao mesmo tempo que a cada uma

foi atribuída uma conotação sexual específica: os homens para os espaços de trabalho

e de valorização da “riqueza abstracta” e as mulheres para os espaços domésticos e do

consumo material-sensível das mercadorias.

Aquilo que progressivamente se generalizou e consolidou, sobretudo a partir do meio

do século XIX, foi uma definição de cidade como espaço de concentração e

valorização do trabalho abstracto. Desse modo assiste-se a uma generalização da

separação social e espacial das práticas humanas, que se expande das fábricas para o

espaço urbano, e cujo primeiro exemplo é porventura as obras de Hausmann em Paris.

Aqui começamos já a falar do capitalismo como totalidade social constituída, como

“sociedade do trabalho”, ou como Marx falava, do funcionamento do capitalismo

“sobre a sua própria base”.

Ora, a forma temporal da medida da “riqueza abstracta” implica uma relação

contraditória e dinâmica entre valor e trabalho abstracto, entre riqueza abstracta e

produtividade material. Mediada pela concorrência, esta contradição inerente à

“valorização do valor” implica uma trajectória histórica e geográfica muito particular:

uma produtividade material crescente em unidades temporais cada vez mais pequenas

e uma correspondente necessidade de expansão do mercado. Ou seja: a “valorização

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do valor” é um processo social dinâmico e objectivo de crescente intensidade temporal

(produtividade) e progressiva expansividade geográfica (mercado mundial). Este

processo imprime na modernidade uma dinâmica interna, objectiva e inconsciente,

completamente desconhecida nas sociedades pré-modernas. Enquanto nestas o

princípio social metafísico mantinha-se transcendente e funcionava como matriz

religiosa personificada de referência e estabilização social, a metafísica social da

“valorização do valor” é um processo sistemático de objectivação em mercadorias,

tornando-se assim imanente ao mundo e imprimindo-lhe uma dinâmica histórica

de brutal transformação social cega, na qual se inclui evidentemente a urbanização

moderna e o actual sistema urbano mundial.

Evidentemente que na base de tudo isto está a contradição basilar insanável da relação

de capital: por um lado, ele precisa de absorver trabalho abstracto na maior quantidade

possível; por outro lado, a concorrência cria um aumento de produtividade através da

qual a força de trabalho se torna supérflua e é substituída por capital objectivado na

forma de maquinaria. Esta contradição tem um conhecido mecanismo de compensação

que, dito de forma simplificada, se expressa na capacidade do sistema, em cada

aumento de produtividade, absorver maiores quantidades absolutas de força de

trabalho do que aquelas que foram eliminadas através da racionalização ou introdução

de maquinaria. O exemplo disso foi o fordismo: ao mesmo tempo que a linha de

montagem reduzia o tempo de trabalho para cada mercadoria, permitia também a

absorção de maiores quantidades absolutas de força de trabalho. O resultado foi uma

“sociedade do trabalho” a todo o vapor, o arranque da urbanização mundial

generalizada e o progressivo embaratecimento generalizado de mercadorias

inicialmente vendidas como bens de luxo (automóvel, frigoríficos, máquinas de lavar,

etc.). Datam deste período as teses do urbanismo funcionalista dos CIAM, onde é

evidente a metafísica do trabalho e a temporalidade abstracta da valorização do valor,

sobretudo em Le Corbusier, para quem “a cidade é um instrumento de trabalho”

(Corbusier 1992: vii) e que o planeamento urbano deve “ajudar no nascimento da

alegria do trabalho” (Corbusier 1995: 68); que defende que “a lei das vinte e quatro

horas será a medida de qualquer empreendimento urbanístico” (1995: 10) e que “a

cidade que dispõe de velocidade dispõe do sucesso” (1992: 180).

Obviamente que o mecanismo de compensação interno da trajectória do capitalismo

só pode ser eficaz enquanto a velocidade de inovação dos produtos é superior à

Figura 9. Projecto de Le Corbusier «Cidade Contemporânea" para 3 milhões de habitantes (1922-24).

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velocidade de inovação no processo produtivo. Mas no contexto da 3ª Revolução

Industrial da informática, a relação inverte-se e pela primeira vez a racionalização e

cientifização das forças produtivas torna supérflua mais força de trabalho do que

aquela que consegue absorver. E aqui não se trata apenas de indivíduos mas de

regiões, países e continentes inteiros. O trabalho abstracto, que até aqui tinha

funcionado como forma fetichista de integração social, revela aquilo que nunca deixou

de ser: uma violentíssima forma de exclusão social. Há muito que isto é evidente na

urbanização do continente africano, que, incapaz de concorrer no mercado global,

apresenta fenómenos de uma miserável hiper-urbanização sem a correspondente

criação de emprego, ao contrário do que se verificou na história da urbanização

europeia. Mas também há muito que os fenómenos de desemprego estrutural

massificado atingem as megalópoles dos países do centro do sistema mundial de

trabalho abstracto. E se a isto juntarmos a urbanização financiada a capital fictício e o

custo crescente de manutenção de uma infraestrutura social urbana improdutiva do

ponto de vista do capital, ela própria garantida através de dívida pública, parece de

facto haver motivos para assombro no sistema urbano capitalista mundial. Depois da

“explosão urbana” dos últimos dois séculos, existem agora sérios riscos de muitas

cidades se tornarem verdadeiros “barris de pólvora”.

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