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Modelos para a avaliação de vulnerabilidade sísmica de
edifícios antigos de Alvenaria. Aplicação de um modelo a
um edifício de “placa”.
Pedro Gil Vasques Pombo
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Orientador
Professora Doutora Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento
Júri
Presidente: Professor Doutor José Manuel Matos Noronha da Câmara
Orientador: Professora Doutora Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento
Vogal: Professor Doutor Mário Manuel Paisana dos Santos Lopes
Novembro de 2014
i
Resumo
A presente dissertação é dividida essencialmente em duas partes principais. Numa primeira parte,
começa-se por apresentar alguns conceitos essenciais e diretamente relacionados com o tema da
dissertação, em particular o conceito de risco sísmico e das suas componentes, das quais se destaca
a vulnerabilidade sísmica. Posteriormente foram descritas abordagens propostas por diferentes
autores tendo sido possível agrupar, de uma forma racional, os diversos modelos/métodos existentes
para a avaliação da vulnerabilidade sísmica de estruturas, através de características comuns
evidenciadas por estes. Para o caso concreto dos edifícios de alvenaria antigos, foi efetuada uma
revisão bibliográfica tendo sido selecionada a abordagem que se julga ser mais apropriada e, para
cada grupo desta, foram apresentados os métodos mais importantes, tendo sido considerada a
evolução destes ao longo dos anos.
Numa segunda parte da dissertação, e tendo-se optado por uma abordagem analítica, foi avaliado o
desempenho sísmico um edifício de “Placa” do tipo “Rabo de Bacalhau”. O estudo foi desenvolvido
realizando-se análises estáticas não lineares e recorrendo-se ao programa 3Muri/TreMuri. Definiram-
se os valores das propriedades mecânicas dos materiais constituintes do edifício, valores esses que
foram utilizados no caso definido como caso de referência, tendo sido analisadas as características
dinâmicas do edifício e avaliado o seu comportamento sísmico (a nível da curva de capacidade
resistente e da distribuição de danos de duas paredes selecionadas). Foi efetuado um estudo de
sensibilidade da influência das propriedades mecânicas dos materiais no desempenho sísmico da
estrutura, ao considerar-se diferentes valores para as propriedades de três tipos de materiais de
alvenaria, constituintes do edifício. Foi avaliada a influência que tem o comportamento flexível dos
pisos de madeira, no desempenho sísmico da estrutura. Por fim, foi efetuada uma comparação entre
as curvas de capacidade obtidas analiticamente e as curvas de capacidade propostas por um dos
modelos estudados anteriormente.
Palavras-Chave: vulnerabilidade sísmica, curvas de fragilidade, curvas de capacidade, análise
estática não linear, edifícios de alvenaria
iii
Abstract
The current thesis has two main parts. The first one starts by presenting some essential concepts
which are directly related to the theme of this work, taking special attention to the seismic risk concept
and its components, of which seismic vulnerability stands out. Thereafter the approaches that had
been developed by different authors to join the methods into groups, which share some
characteristics, were described. From these approaches, the one which best fit to old masonry
buildings was chosen and a state of the art about the most important methologies of each group was
carried out, taking into account the evolution and the upgrades of those methologies through the
years.
On the second part, the seismic performance of a “Placa” building (“Rabo de Bacalhau” kind) was
assessed, performing nonlinear static analyses and using the software 3Muri/TreMuri. Some values
were set to materials’ mechanical properties and it was called as the standard case. For these values,
the dynamic characteristics of the building were analyzed and its seismic behavior (the capacity curve
and the damage distribution of two selected walls) were assessed. A sensibility study about the
influence of material’s mechanical properties in the seismic performance was carried out, taking into
account some changes for the properties of three types of masonry materials that belong to the
building. The influence of flexural behavior of the wooden floors in the structural seismic performance
was assessed. Finally, a comparison between capacity curves analytically derived and those
suggested by a method studied in the first part of this work, was carried out.
Keywords: seismic vulnerability, fragility curves, capacity curves, non-linear static analysis, masonry
buildings
v
Agradecimentos À orientadora deste trabalho, Professora Rita Bento, agradeço todo o conhecimento transmitido,
disponibilidade e valiosas sugestões.
À Jelena Milosevic agradeço pela ajuda e esclarecimentos na modelação do edifício.
Aos pais, irmãos e amigos agradeço o apoio.
vii
Índice
Glossário ..................................................................................................................................................................................... 1
1 Introdução ......................................................................................................................................................................... 3
1.1 Enquadramento ....................................................................................................................................................... 3
1.2 Objetivos ................................................................................................................................................................. 4
1.3 Estrutura da dissertação .......................................................................................................................................... 5
2 Risco Sísmico .................................................................................................................................................................... 7
2.1 Introdução................................................................................................................................................................ 7
2.2 Perigosidade Sísmica .............................................................................................................................................. 8
2.3 Vulnerabilidade ........................................................................................................................................................ 9
2.4 Exposição ................................................................................................................................................................ 9
2.5 Medidas de mitigação do risco sísmico .................................................................................................................... 9
3 Modelos de Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica .......................................................................................................... 11
3.1 Diferentes Abordagens .......................................................................................................................................... 11
3.2 Métodos Empíricos ................................................................................................................................................ 14
3.2.1 Matrizes de Probabilidade de Danos ................................................................................................................. 14
3.2.2 Método do Índice de Vulnerabilidade ................................................................................................................ 18
3.2.3 Outros métodos empíricos ................................................................................................................................ 24
3.3 Métodos Analíticos ................................................................................................................................................ 24
3.3.1 Curvas de Fragilidade ....................................................................................................................................... 26
3.4 Métodos Híbridos ................................................................................................................................................... 33
3.4.1 Métodos baseados em Mecanismos de Colapso .............................................................................................. 33
3.4.2 Métodos baseados no Espectro de Capacidade ............................................................................................... 42
3.4.3 Métodos baseados no Deslocamento Global .................................................................................................... 55
3.5 Reflexão sobre os métodos para avaliar a vulnerabilidade sísmica na cidade de Lisboa ....................................... 66
4 Avaliação sísmica de um edifício de “placa” isolado ........................................................................................................ 69
4.1 Introdução.............................................................................................................................................................. 69
4.2 Software - 3Muri/Tremuri ....................................................................................................................................... 69
4.3 Caracterização do edifício de “placa” ..................................................................................................................... 75
4.4 Modelação da estrutura ......................................................................................................................................... 77
4.5 Características dinâmicas da estrutura para o caso de referência ......................................................................... 79
4.6 Estudo Paramétrico ............................................................................................................................................... 80
4.7 Resultados das análises estáticas não lineares ..................................................................................................... 84
4.7.1 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural .............................................................................. 85
viii
4.7.2 Distribuição de danos ........................................................................................................................................ 94
4.7.3 Caso do Piso Rígido ....................................................................................................................................... 105
4.8 Comparação dos resultados com a metodologia Hazus ....................................................................................... 106
5 Considerações Finais .................................................................................................................................................... 111
Referências Bibliográficas ....................................................................................................................................................... 115
Anexos .................................................................................................................................................................................... 125
Anexo A – Plantas e tabelas resumo das propriedades geométricas e mecânicas do Edifício Nº 13 da Rua Actor Isidoro . 125
Anexo A.1 – Plantas ...................................................................................................................................................... 125
Anexo A.2 – Materiais (Propriedades mecânicas dos materiais) .................................................................................... 126
Anexo A.3 – Pisos (Dimensões, propriedades mecânicas, armadura adotada e cargas) ............................................... 127
Anexo A.4 – Vigas (dimensões e armaduras adotadas)................................................................................................. 128
Anexo A.5 – Pilares (dimensões e armaduras adotadas) ............................................................................................... 129
Anexo B – Mapa de danos para o deslocamento de cedência ............................................................................................ 130
Anexo B.1 – Deslocamento de cedência direção X carregamento uniforme .................................................................. 130
Anexo B.2 – Deslocamento de cedência direção Y carregamento uniforme .................................................................. 130
Anexo B.3 – Deslocamento de cedência direção X carregamento triangular ................................................................. 131
Anexo B.4 – Deslocamento de cedência direção Y carregamento triangular ................................................................. 132
ix
Índice de Figuras
Figura 2.1 – Componentes do risco sísmico e os aspetos a considerar na sua avaliação (adaptado de Vicente, 2008) .............. 7 Figura 3.1 – Primeira Abordagem referida (Vicente, 2008; Vicente et al., 2014) ........................................................................ 12 Figura 3.2 – Segunda Abordagem referida. Abordagem proposta por Corsanego e Petrini ....................................................... 12 Figura 3.3 – Terceira abordagem referida ................................................................................................................................. 13 Figura 3.4 – Diferenciação do tipo de edifícios em classes de vulnerabilidade, de acordo com a escala Macrossismica EMS-98
(retirado de Grüntal, 1998) ........................................................................................................................................................ 16 Figura 3.5 – Exemplo de uma Matriz de Probabilidade de Dano para classe de vulnerabilidade B definida através da escala
EMS-98 (retirado de Barbat et al., 2008) ................................................................................................................................... 17 Figura 3.6 – Gama de valores para cada um dos níveis de quantidade definido pela EMS-98 (retirado de Grüntal, 1998) ........ 17 Figura 3.7 – Funções de vulnerabilidade para relacionar a aceleração de pico do solo com o fator de dano (d) através da
utilização do índice de vulnerabilidade (adaptado de Calvi et al., 2006) .................................................................................... 19 Figura 3.8 – Parâmetros e índice de vulnerabilidade propostos (retirado de Vicente et al., 2008) ............................................. 20 Figura 3.9 – Fatores de modificação (retirado de Vicente et al., 2008) ...................................................................................... 21 Figura 3.10 – Curvas de vulnerabilidade definidas em função do nível médio de dano e da intensidade macrossísmica (retirado
de Vicente et al., 2014) ............................................................................................................................................................. 22 Figura 3.11 – Curva de fragilidade (retirado de Vicente et al., 2014) ......................................................................................... 23 Figura 3.12 – Fluxograma para descrever as componentes do cálculo das curvas de fragilidade e das matrizes de probabilidade
de danos recorrendo a um procedimento analítico (adaptado de Calvi et al., 2006) .................................................................. 25 Figura 3.13 – Curvas de fragilidade (adaptado de Vicente, Varum e Costa, 2009) .................................................................... 30 Figura 3.14 – Distribuição de cada probabilidade para um determinado deslocamento espectral X (adaptado de Vicente, Varum
e Costa, 2009) .......................................................................................................................................................................... 30 Figura 3.15 – Mecanismos de colapso do método FaMIVE (retirado de D'Ayala e Kishali, 2012) .............................................. 36 Figura 3.16 – Mecanismos e fatores de carga para os modos de rotura na fachada (retirado D'Ayala e Speranza, 2003) ........ 37 Figura 3.17 – Fluxograma do método FaMIVE para a derivação das curvas de fragilidade (retirado de D’Ayala, 2013) ............ 39 Figura 3.18 – Expressões para o cálculo dos pontos de controlo e a relação entre os parâmetros que os permitem relacionar
(adaptado de FEMA, 2010) ....................................................................................................................................................... 46 Figura 3.19 –Taxonomia estrutural apresentada no projeto Risk-UE (retirado de Mouroux et al., 2004) .................................... 51 Figura 3.20 – Definições do estado de dano do Risk-UE (retirado de Kaynia et al., 2013) ........................................................ 52 Figura 3.21 - Sub-classes consideradas para o sistema de classificação proposto (retirado de Giovinazzi, 2005) .................... 53 Figura 3.22 - Classes de alturas consideradas no sistema de classificação proposto (retirado de Giovinazzi, 2005)................. 53 Figura 3.23 - Classes tipológicas definidas por Giovinazzi (retirado de Giovinazzi, 2005) ......................................................... 53 Figura 3.24 – Exemplo da interceção das áreas de capacidade e o espectro de resposta (retirado de Calvi, 1999) .................. 56 Figura 3.25 – Modelo simplificado equivalente de um grau de liberdade (SDOF) (retirado de Restrepo-Vélez e Magenes, 2004)
................................................................................................................................................................................................. 58 Figura 3.26 – Deformadas correspondentes aos estados limite consideradas na metodologia, para os mecanismos de rotura no
plano (retirado de Restrepo-Vélez, 2003) .................................................................................................................................. 59 Figura 3.27 – Modelos simplificados e as respetivas deformadas considerando um comportamento de corpo rígido (adaptado
de Doherty, 2000) ..................................................................................................................................................................... 62 Figura 3.28 – Relação F-Δ Tri-linear, Bi-linear e Real................................................................................................................ 62 Figura 4.1 – Processo da definição do modelo numa estrutura equivalente, para um exemplo que apresenta aberturas
regulares (retirado de Lagomarsino et al., 2013) ....................................................................................................................... 70 Figura 4.2 – Exemplo da geração automática de Nembos, Lintéis e elementos rígidos ............................................................. 71 Figura 4.3 - Constituintes do macro elemento (adaptado de Lagomarsino et al., 2013) ............................................................. 74 Figura 4.4 – Planta dos pisos 1, 2 e 3 ....................................................................................................................................... 77 Figura 4.5 – Localização dos diferentes tipos de paredes no rés-do-chão (adaptado de Monteiro e Bento, 2012) .................... 77 Figura 4.6 – Perspetiva da estrutura modelada (vista fachada frente) ....................................................................................... 79 Figura 4.7 – Perspetiva da estrutura modelada (vista fachada tardoz) ...................................................................................... 79 Figura 4.8 – Deformada do 1º modo de vibração ...................................................................................................................... 80 Figura 4.9 – Deformada do 2º modo de vibração ...................................................................................................................... 80 Figura 4.10 – Deformada do 3º modo de vibração .................................................................................................................... 80 Figura 4.11 – Curvas de Capacidade para o Caso de Referência (Edifício-MDOF) ................................................................... 85 Figura 4.12 – Curvas de Capacidade bilineares para o Caso de Referência para um sistema equivalente a um grau liberdade 86 Figura 4.13 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento uniforme segundo a direção X ............................. 87 Figura 4.14 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento uniforme segundo a direção Y ............................. 89 Figura 4.15 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento triangular segundo a direção X ............................ 91 Figura 4.16 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento triangular segundo a direção Y ............................ 92 Figura 4.17 – Curvas de capacidade do edifício (MDOF), quando este é sujeita aos carregamentos uniforme e triangular para a
direção X ................................................................................................................................................................................. 106 Figura 4.18 – Curvas de capacidade bi-lineares para sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção X para o
carregamento uniforme e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus ................................................................. 107 Figura 4.19 – Curvas de capacidade bi-lineares para sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção Y para o
carregamento uniforme e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus ................................................................. 108
x
Figura 4.20 – Curvas de capacidade bi-lineares para um sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção X para
o carregamento triangular e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus ............................................................. 108 Figura 4.21 – Curvas de capacidade bi-lineares para sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção Y para o
carregamento triangular e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus ................................................................ 109 Figura A.1 – Planta do rés-do-chão ......................................................................................................................................... 125
Figura A.2 – Planta do piso ..................................................................................................................................................... 125
xi
Índice de Tabelas
Tabela 3.1 – Formato de uma Matriz de Probabilidade de Danos (adaptado de PAHO, 1998) .................................................. 15 Tabela 3.2 – Matriz de Probabilidade de Danos proposta por Whitman para uma das tipologias estruturais (retirado de Calvi et
al., 2006) ................................................................................................................................................................................... 15 Tabela 3.3 – Escala de Vulnerabilidade definida por Benedetti e Petrini (adaptado de Barbat et al., 1995) ............................... 19 Tabela 3.4 – Comparação entre escalas de danos (adaptado de Rossetto e Elnashai, 2003) ................................................... 28 Tabela 3.5 – Exemplo de critérios para a determinação dos estados limite de dano em função de curvas de capacidade
bilinearizadas (adaptado de Lang, 2012) ................................................................................................................................... 29 Tabela 3.6 – Pesos relacionados com os fatores de vulnerabilidade (adaptado de Bernadini et al., 1990) ................................ 34 Tabela 3.7 – Valores da pontuação correspondentes às classes de vulnerabilidade (adaptado de Bernardini et al., 1990 ........ 34 Tabela 3.8 – Relação linguística entre e (a) (adaptado de Bernardini et al., 1990) ................................................................ 35 Tabela 3.9 – Classes de vulnerabilidade consoante o valor da vulnerabilidade (V) ................................................................... 38 Tabela 3.10 – Valores para o cálculo dos pontos de controlo .................................................................................................... 47 Tabela 3.11 – Valores dos pontos de controlo para as tipologias de paredes estruturais em alvenaria não reforçada ............... 47 Tabela 3.12 – Parâmetros para o cálculo do deslocamento médio espectral para edifícios nos quais tenha sido considerado um
nível baixo de severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a) .............................................................. 49 Tabela 3.13 – Parâmetros da curva de fragilidade para edifícios nos quais tenha sido considerado um nível baixo de severidade
sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a) ....................................................................................................... 50 Tabela 3.14 – Parâmetros para o cálculo do deslocamento médio espectral para edifícios nos quais não tenha sido considerada
qualquer nível de severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a) ......................................................... 50 Tabela 3.15 – Parâmetros da curva de fragilidade para edifícios nos quais não tenha sido considerada qualquer nível de
severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a) ..................................................................................... 50 Tabela 3.16 – Valores resultantes de um estudo realizado para edifícios de alvenaria de tijolo (adaptado de Calvi, 1999) ....... 57 Tabela 3.17 – Estados limite para parede de adobe sujeitas a forças no plano (retirado de Tarque Ruiz, 2008) ....................... 58 Tabela 3.18 – Valores de k1 e k2 em função do número de pisos (retirado de Restrepo-Vélez, 2003) ....................................... 59 Tabela 3.19 – Rácios dos deslocamentos no modelo tri-linear (adaptado de Restrepo-Vélez e Magenes, 2004) ...................... 63 Tabela 3.20 – de acordo com as condições de fronteira (retirado de Restrepo-Vélez, 2003) .............................................. 65 Tabela 4.1 – Critério utilizados pelo software para determinar os esforços últimos (adaptado de Lagomarsino et al., 2013) ..... 73 Tabela 4.2 – Propriedades mecânicas e geométricas das alvenarias (adaptado de Milosevic et al., 2014) ............................... 78 Tabela 4.3 – Características dinâmicas do edifício para o caso de referência ........................................................................... 79 Tabela 4.4 – Valores das propriedades mecânicas consideradas no Caso de Referência......................................................... 81 Tabela 4.5 – Definição dos diversos casos considerados e os seus respetivos acrónimos ....................................................... 82 Tabela 4.6 – Valores das propriedades mecânicas que diferem do caso de referência para os dois casos limite da alvenaria de
blocos de pedra ........................................................................................................................................................................ 82 Tabela 4.7 – Valores das propriedades mecânicas que diferem do caso de referência para os dois casos limite da alvenaria de
blocos de betão ......................................................................................................................................................................... 82 Tabela 4.8 – Valores das propriedades mecânicas que diferem do caso de referência para os dois casos limite da alvenaria de
tijolo maciço .............................................................................................................................................................................. 83 Tabela 4.9 – Valores utilizados para definir o espectro de resposta elástico ............................................................................. 84 Tabela 4.10 – Tabela resumo dos valores relevantes para o Caso de Referência ..................................................................... 87 Tabela 4.11 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento uniforme segundo a direção X .......... 88 Tabela 4.12 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento uniforme segundo a direção Y .......... 89 Tabela 4.13 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento triangular segundo a direção X ......... 91 Tabela 4.14 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento triangular segundo a direção Y ......... 93 Tabela 4.15 – Tipos de danos possíveis nos elementos de alvenaria, considerados no software TreMuri, e correspondente
código de cores ......................................................................................................................................................................... 95 Tabela 4.16 – Força basal aplicada que origina a rotura por flexão do referido lintel ................................................................. 95 Tabela 4.17 – Distribuição de danos na fachada principal para carregamentos segundo a direção X para o caso de referência96 Tabela 4.18 – Distribuição de danos na parede de empena para carregamentos segundo a direção Y para o caso de referência
................................................................................................................................................................................................. 97 Tabela 4.19 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento uniforme orientado segundo a
direção X ................................................................................................................................................................................... 98 Tabela 4.20 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento uniforme orientado
segundo a direção Y ............................................................................................................................................................... 100 Tabela 4.21 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento triangular orientado segundo a
direção X ................................................................................................................................................................................. 102 Tabela 4.22 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento triangular
orientado segundo a direção Y ................................................................................................................................................ 103 Tabela A.1 – Características do betão C16/20 ........................................................................................................................ 126
Tabela A.2 – Características do aço A235 .............................................................................................................................. 126 Tabela A.3 – Propriedades mecânicas e geométricas das alvenarias (adaptado de Milosevic, Bento e Cattari, 2014) ............ 126 Tabela A.4 – Características para os pisos de madeira e escadas .......................................................................................... 127 Tabela A.5 – Características para as lajes de betão armado ................................................................................................... 127 Tabela A.6 – Dimensões e armaduras das lajes de betão armado .......................................................................................... 127
xii
Tabela A.7 – Valores das cargas uniformemente distribuídas nos pisos e carregamentos na cobertura (adaptado de Milosevic,
Bento e Cattari, 2014) ............................................................................................................................................................. 127 Tabela A.8 – Cargas a considerar em cada tipo de piso .......................................................................................................... 128 Tabela A.9 – Dimensões e armaduras adotadas (retirado da Memória Descritiva, 1939) ........................................................ 128 Tabela A.10 – Pilares de betão armado .................................................................................................................................. 129 Tabela B.1 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento uniforme orientado segundo a direção
X ............................................................................................................................................................................................. 130
Tabela B.2 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento uniforme orientado
segundo a direção Y ............................................................................................................................................................... 130 Tabela B.3 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento triangular orientado segundo a direção
X ............................................................................................................................................................................................. 131 Tabela B. 4 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento triangular orientado
segundo a direção Y ............................................................................................................................................................... 132
1
Glossário
Perigosidade Sísmica (Seismic Hazard) – quantifica, em termos estatísticos, a exposição de um
determinado local a fenómenos naturais relacionados com a ocorrência de um sismo, tais como
vibração do solo, falhas, liquefação do solo, deslizamentos, tsunami. É, portanto, a probabilidade de
um determinado nível de um parâmetro sísmico (intensidade, aceleração ou velocidade) ser excedido
de um determinado nível.
Risco Sísmico (Seismic Risk) – corresponde à probabilidade de se igualar ou exceder um
determinado valor de perdas em consequência da ocorrência de um sismo na região e num período
específico de tempo de exposição, sendo uma função da perigosidade, da vulnerabilidade e do valor
dos elementos em risco (exposição). (Sousa, 2006) O nível do risco varia dependendo de três
factores: perigo, exposição e vulnerabilidade e a redução de qualquer dos três factores a zero
eliminaria logicamente o risco.
De forma simplificada pode-se dizer que risco sísmico é a probabilidade de ocorrerem perdas nas
estruturas se estas estiverem expostas a ações sísmicas (Seismic Hazard). O Seismic Hazard difere
portanto do risco sísmico (Seismic Risk), já que este conceito incorpora informação sofre a
probabilidade de ocorrência de danos resultantes de ações sísmicas.
Exposição – é o valor (econ mico ou humano) dos elementos expostos ação sísmica. Estes
elementos podem ser pessoas, propriedade, sistemas ou outros elementos presentes em zonas de
risco, que são, assim, sujeita a perdas potenciais. A exposição é condição fundamental para o risco
existir e não está relacionada com a vulnerabilidade.
Funções de Fragilidade (Fragility function) – funções que descrevem a probabilidade de exceder um
conjunto de estados limites, dado um nível de medida de intensidade. Estas funções podem ser
discretas ou contínuas.
Vulnerabilidade Sísmica (Seismic Vulnerability) – característica (predisposição intrínseca, potencial,
propensão ou susceptibilidade) de uma estrutura poder sofrer dano quando atingida por um sismo.
Assim a vulnerabilidade sísmica pode ser caracterizada por uma variável contínua com valores entre
0, para danos nulos e 1, colapso total.
Perda (Loss) – A redução do valor de ativos, devido às consequências humanas ou financeiras ou
outras consequências que resultam da ocorrência de danos. Os exemplos incluem as consequências
associadas com ferimentos em pessoas, o custo associados a reabilitações, o custo de interrupção
de negócios. A taxa de perda (loss ratio) é a razão da perda para o valor dos bens expostos, por
exemplo, é a relação entre o custo de reparação e o custo de valor dos edifícios de substituição, ou a
proporção de número de casos fatais para o valor da população é exposta.
Intensidade Macrossísmica (Macroseismic Intensity) – é a classificação da severidade da vibração
do solo, provocado por um sismo, com base na observação dos seus efeitos em estruturas, pessoas
2
e objectos. As escalas mais utilizadas são a Escala de Mercalli Modificada (EMM) e a Escala
Macrossísmica Europeia (EMS-98), nas quais cada nível de intensidade corresponde a um dado
conjunto de efeitos e danos nas estruturas.
Teoria dos conjuntos difusos (fuzzy set theory) – é a lógica na qual se baseiam os raciocínios
aproximados quando não é possível ou não se pretende efetuar um raciocínio exato. Os raciocínios
exatos são considerados como casos limites do raciocínio aproximado. É com base nesta lógica que
são desenvolvidos modelos e algoritmos que permitem transformar informações descritas através de
uma linguagem dita normal (escrita) em linguagem numérica. Ao contrário da lógica binária, em que
uma preposição apenas pode ser considera como VERDADE (a que corresponde o valor 1) e FALSO
(a que corresponde o valor 0), a lógica difusa permite que se considere valores intermédios, podendo
deste modo considerar-se que as proposições possam ser, por exemplo, muito verdade, não verdade,
pouco verdade, falso, muito falso, …. Este tipo de lógica é bastante importante quando se pretende
avaliar conceitos não quantificáveis como por exemplo o sentimento de felicidade (radiante, feliz,
apático, triste….).
3
1 Introdução
1.1 Enquadramento
Apesar do grande avanço tecnológico que a sociedade atual presencia, o ser humano contínua a ser
impotente para evitar grande parte das catástrofes naturais que ocorrem e na maioria das vezes de
as conseguir prever antecipadamente, podendo agir de forma a evitar que ocorram perdas, ou pelo
menos, perdas significativas. Uma das catástrofes naturais com maior poder de destruição é o sismo.
Ao contrário de incêndios, erupções vulcânicas e inundações, onde é possível ser previsto com
alguma antecipação a eminência da ocorrência destes fenómenos naturais, podendo por exemplo
efetuar-se uma evacuação do local em risco, o sismo é uma ação repentina que em poucos minutos,
ou até segundos, pode devastar uma cidade inteira e provocar milhares de mortos.
Para além do inestimável valor da vida humana, estas catástrofes podem ainda ter consequências
profundas ao nível da economia nacional de um país, caso este tenha que suportar na totalidade os
prejuízos resultantes (Calvi et al., 2006).
Refira-se que os danos não estão diretamente relacionados com a magnitude mas também com as
características intrínsecas do local afetado e do parque imobiliário existente.
Para sismos com considerável magnitude, podem não ocorrer perdas ou estas acontecerem em
pequena escala, em locais onde exista a preocupação de: projetar os edifícios com capacidade para
resistir à ação sísmica (por exemplo, através da aplicação das metodologias preconizadas pelo
eurocódigo 8 (CEN, 2004)), reforçar os edifícios existentes que não apresentem capacidade de
resistência à ação sísmica, elaborar planos de emergência e realizar um bom planeamento da malha
urbana das cidades (tomando especial atenção para as zonas do centro histórico).
Contrariamente, em zonas onde as medidas supracitadas não tenham sido implantadas, para a
mesma magnitude, as consequências podem traduzir-se em enormes perdas, tanto a nível de danos
causados nas estruturas como em vidas humanas.
Pelas razões enunciadas anteriormente é de extrema importância ter disponível um modelo preciso e
fiável que permita determinar o risco sísmico, que possibilite: 1) efetuar uma avaliação cuidada do
impacto económico que determinado sismo terá e 2) determinar as zonas mais vulneráveis permitindo
elaborar planos de emergência e saber quais os locais em que deverão ser efetuadas intervenções,
com o intuito de diminuir o referido risco (Calvi et al., 2006). Este modelo deverá também poder ser
utilizado para calibrar os regulamentos sísmicos, permitindo assim que: 1) os edifícios novos sejam
projetados de forma a terem um desempenho adequado no caso de ocorrer o sismo de
dimensionamento previsto e 2) a avaliação da vulnerabilidade sísmica dos edifícios já existentes
identifique as zonas onde se deve efetuar um reforço sísmico e qual o tipo a implementar, que seja
economicamente viável e que melhore significativamente o desempenho sísmico da estrutura.
O risco sísmico está associado à perigosidade local, à vulnerabilidade do edificado e ao grau de
exposição. A principal componente do risco sísmico é a vulnerabilidade, não apenas devido às óbvias
4
consequências físicas sobre o edificado na ocorrência de um evento sísmico, mas porque intervindo
com adequadas soluções de reforço é possível melhorar as condições de segurança das pessoas e o
comportamento estrutural das construções existentes, reduzindo o nível de vulnerabilidade sísmica e,
consequentemente, o nível de eventual dano físico e perda.
Para se obter um modelo que permita efetuar uma correta avaliação do risco sísmico, e uma vez que
a vulnerabilidade sísmica é a sua principal componente, torna-se imperativo que existam métodos
suficientemente fiáveis no que diz respeito à avaliação dessa componente. São as referidas
metodologias de avaliação da vulnerabilidade sísmica, o objeto de estudo da presente dissertação.
Estas têm sido desenvolvidas ao longo dos últimos 40 a 50 anos, existindo diversas metodologias
desde as empíricas, mais falíveis e rápidas, às analíticas, mais fiáveis, onerosas e morosas. Apesar
de algumas metodologias desenvolvidas preverem a sua aplicação a qualquer estrutura,
independentemente do material que as constitui, outras foram desenvolvidas essencialmente para um
tipo de edifícios em particular. Será apenas sobre as metodologias aplicáveis a edifícios de alvenaria
que se cingirá a presente dissertação. Considera-se que estas metodologias são um tema atual e
com interesse, principalmente num país como Portugal, em que grande parte do parque edificado é
constituído por este tipo de estruturas. A este fator pode-se acrescentar ainda a recessão económica
acentuada que o país atravessa, que desencadeou, na última década, um abrandamento
pronunciado da construção de novos edifícios, em detrimento de uma maior aposta na reabilitação e
reforço de estruturas existentes. No caso particular da cidade de Lisboa, cujo parque edificado se
estimava ser constituído por cerca de 34% de edifícios de alvenaria estrutural (segundo valores
obtidos nos Censos de 2011 e que se julga atuais) torna-se evidente a importância de se desenvolver
métodos/modelos que permitam estimar com precisão e confiança a probabilidade de ocorrerem
determinados danos quando os edifícios são sujeitos a uma ação sísmica, a fim de ser possível uma
intervenção mais concreta e eficaz, visando a garantia da segurança dos edifícios mais vulneráveis.
1.2 Objetivos
Numa primeira fase, faz-se uma revisão bibliográfica sobre as principais metodologias de avaliação
da vulnerabilidade sísmica em edifícios de alvenaria, e organiza-se de uma forma coerente em função
de determinadas características que estas apresentam.
Numa segunda fase, avalia-se o desempenho sísmico de um edifício de alvenaria antigo da cidade de
Lisboa, representativo de um tipo de construção característica da cidade entre as décadas de 1930 e
1960, o edifício de “placa”. Esta avaliação é realizada recorrendo a uma das abordagens descritas na
primeira fase da tese, utilizando métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica aplicados a um
edifício isolado e utilizando dados obtidos a partir de pesquisas sobre as características desse
mesmo edifício para a sua completa modelação numérica. A modelação do edifício desenvolvida
permite efetuar análises pushover, e definir curvas de capacidade resistente e mapas de danos.
Efetua-se um estudo paramétrico com o intuito de aferir a influência dos valores das propriedades
mecânicas das alvenarias na capacidade resistente e no desempenho sísmico da estrutura. Outro
dos objetivos deste estudo consiste em avaliar a distribuição de danos em duas paredes distintas,
5
para diferentes níveis de desempenho, e averiguar a influência das alterações efetuadas nos valores
das propriedades mecânicas, nos diversos casos, na distribuição de danos. Avalia-se também a
influência que tem o comportamento flexível dos pisos de madeira, no desempenho sísmico da
estrutura. Para tal, o valor de uma das propriedades mecânicas é significativamente aumentado com
o intuito de simular o comportamento rígido no plano do piso de madeira, e assim comparar com os
resultados obtidos nas duas situações. Por fim, a comparação entre as curvas de capacidade obtidas
através do programa TreMuri e as curvas de capacidade propostas numa das metodologias
apresentadas na primeira fase da dissertação, a metodologia HAZUS, é efetuada e as principais
conclusões listadas.
1.3 Estrutura da dissertação
A presente dissertação é composta por 5 capítulos, sendo neste primeiro capítulo apresentado o
tema, os objetivos e a estruturação da mesma.
No Capítulo 2 é apresentado o conceito de risco sísmico e os seus constituintes, dos quais a
vulnerabilidade sísmica é o principal. Neste capítulo são ainda abordadas as medidas de mitigação
do risco sísmico.
No Capítulo 3 são identificadas diferentes abordagens que visam o agrupamento dos diversos
métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica consoante determinadas características comuns
entre estes. Para a abordagem selecionada, por se julgar a que melhor se aplica aos edifícios antigos
de alvenaria e à cidade de Lisboa, são apresentados os principais métodos de cada grupo,
abordando-se mais detalhadamente os métodos FaMIVE, Hazus, MeBaSe e o método porposto por
Vicente (2008), uma vez que este último foi aplicado a cidades portuguesas.
No Capítulo 4 é apresentado o edifício em estudo, os conceitos gerais nos quais o programa TreMuri
(Lagomarsino et al., 2012) se baseia e as técnicas de modelação utilizadas. São identificados os
valores e critérios de seleção dos diversos casos considerados no estudo paramétrico. São
analisados os resultados e são retiradas conclusões relativamente à influência que as alterações nos
valores das propriedades mecânicas apresentam, na capacidade resistente e no desempenho
sísmico do edifício. São analisados os mapas de danos fornecidos pelo programa TreMuri, para os
deslocamentos de interesse. Por fim, são comparadas as curvas de capacidade obtidas a partir das
análises não lineares com as sugeridas pela metodologia Hazus (FEMA, 2013a).
No Capítulo 5 tecem-se algumas conclusões gerais e comentários finais relativamente à dissertação
desenvolvida.
7
2 Risco Sísmico
2.1 Introdução
O risco sísmico representa uma medida de perdas esperadas resultantes da ocorrência de um sismo
que possa acontecer no futuro, num determinado período de tempo e numa determinada área. Este
permite avaliar/estimar as consequências económicas, sociais e ambientais de um determinado
evento sísmico (http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/risco_sismico.html).
O risco sísmico, ou risco absoluto resulta da complexa interação entre três componentes (figura 2.1):
a perigosidade local, a vulnerabilidade do edificado e o grau de exposição (Vicente et al., 2005);
podendo ser definido através da seguinte expressão matemática:
(2.1)
Sendo que R representa a probabilidade de excedência de um certo nível de perda de um elemento
exposto e, devido à ocorrência de um sismo de intensidade i, H corresponde à probabilidade de
excedência de um determinado nível de atividade sísmica de intensidade i, para um tempo de retorno
T. V representa a vulnerabilidade e E define a exposição dos elementos em risco, refletindo o valor
dos elementos expostos. A vulnerabilidade V pode ser definida como a predisposição intrínseca de
um determinado elemento sofrer dano devido a um sísmo de intensidade i (e.g. Lazzali e Farsi, 2012).
Note-se que, o risco sísmico não resulta do produto das três componentes definidas anteriormente
mas sim da convolução matemática destas ( , na equação 2.1, representa a operação de
convolução).
Figura 2.1 – Componentes do risco sísmico e os aspetos a considerar na sua avaliação (adaptado de Vicente, 2008)
Após apresentados os conceitos constituintes do risco sísmico julga-se ser interessante efetuar
algumas reflexões sobre a relação entre estes.
Tal como referido por Oliveira em Construção Magazine (2009), para que o risco sísmico seja
elevado, as três componentes que o definem têm de ser elevadas. Para que se entenda melhor este
fenómeno, imagine-se uma zona onde existam muito poucas habitações, consequentemente as
8
estruturas existentes serão poucas (elementos expostos) e os impactos facilmente minimizados.
Mesmo que esta zona seja sujeita a sismos de elevada intensidade, o risco sísmico será reduzido. O
exemplo de um caso extremo que permite esclarecer facilmente esta situação é a ocorrência de um
sismo no deserto.
O mesmo já não se sucede, se um sismo com a mesma severidade atingir um local onde existem
vários edifícios com elementos vulneráveis e principalmente se estes forem importantes, tanto a nível
cultural como da prestação de serviços. Para este caso imagine-se um local onde existe uma enorme
concentração de edifícios com elementos com pouca resistência sísmica (vulnerabilidade elevada) ou
locais onde existam, por exemplo, hospitais e quarteis dos bombeiros que, por ficarem danificados,
deixem de poder prestar os seus serviços (exposição elevada).
2.2 Perigosidade Sísmica
A perigosidade sísmica, tal como o termo sugere, refere-se a perigo ou ameaça e está diretamente
ligada ao evento sísmico. Preferencialmente esta deveria descrever a exposição de um determinado
local a todos os efeitos decorrentes de um evento sísmico tais como a liquefação, deslizamentos,
tsunamis, ocorrência de falhas e vibrações do solo. No entanto, nos modelos de perdas, apenas o
último fenómeno é considerado pois normalmente este é o fenómeno condicionante que caracteriza a
ação sísmica. A perigosidade sísmica é quantificada em termos probabilísticos e corresponde à
probabilidade de um determinado nível de um parâmetro sísmico (intensidade, aceleração ou
velocidade) ser excedido de um determinado nível para um determinado tempo de retorno, tal como
referido anteriormente (Calvi et al., 2006; Ferreira, 2012).
Refira-se que na literatura encontrada em Inglês, o termo que é utilizado para denominar o perigo ou
ameaça é “Hazard”. A tradução para a Língua Portuguesa não é consensual encontrando-se para
este termo duas traduções possíveis, variando consoante os autores. Alguns autores referem-se a
“Hazard” como “Casaulidade” e outros como “Perigosidade”. Neste texto, foi adotado o termo
“Perigosidade”.
A intensidade de um sismo num determinado lugar pode ser medida através de um número de
diferentes parâmetros sísmicos, como anteriormente referidos. Estes parâmetros podem ser divididos
em dois grandes tipos: 1) intensidade definida a partir de observações (também conhecidos como
intensidade Macro Sísmica) e 2) a intensidade medida a partir de instrumentos, tais como
acelerógrafos ou sismógrafos.
Os parâmetros que se baseiam essencialmente nas observações feitas num dado local, depois de
ocorrer um determinado sismo, não são realmente uma medida da dimensão do sismo (como é a
magnitude) mas sim do efeito, em determinado local, do movimento do solo.
Escalas de intensidade foram criadas pela primeira vez no início do século XIX. A evolução histórica
de escalas de intensidade é descrita por Coburn & Spence (2002). As escalas principais, ainda em
9
uso, são a escala de Mercalli Modificada (MM), usada no continente Americano, e o Medvedev -
Karnik - Sponheuer (MSK) escala usada na maior parte da Europa.
A escala MSK tem ultimamente sido substituída pela escala europeia Macrosísmica (Grünthal, 1998),
conhecida pela sigla EMS-98. As escalas MM, MSK e EMS-98, assim como outras escalas, definem
os diferentes níveis de intensidade a partir: i) da vibração sentida pelos seres humanos, ii) do
movimento de objetos, iii) dos danos verificados nos edifícios, e iv) das mudanças verificadas no solo.
2.3 Vulnerabilidade
A vulnerabilidade sísmica define-se como a predisposição intrínseca de uma estrutura poder sofrer
danos quando atingida por um sismo, ou seja, quantifica o grau de danos e a extensão de danos
provocados nos elementos. Esta depende de características da estrutura como a tipologia construtiva
(alvenaria, betão, etc.), a configuração dos sistemas estruturais (número de pisos, dimensões e forma
em planta, disposição em altura, distribuição da massa), as disposições de dimensionamento do
projeto, a qualidade de construção, os materiais e as técnicas construtivas aplicadas na época em
que a estrutura foi construída (http://www-
ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/vulnerabilidade.html).
Das três componentes que permitem definir o risco sísmico, a vulnerabilidade sísmica é a que
assume um papel mais importante pois é principalmente sobre esta que a engenharia pode ter uma
intervenção preponderante na mitigação do risco sísmico.
2.4 Exposição
A exposição representa o valor económico ou humano dos elementos expostos à ação sísmica.
Contabiliza os custos diretos dos elementos físicos (estruturais e não estruturais), os custos indiretos
originados por interrupção de serviços e comunicações, os custos sociais e os custos de tempo. Para
o parque edificado, a determinação desses custos depende de várias características, como por
exemplo, a localização dos elementos, acessibilidades, nível e tipo de ocupação, existência de bens
económicos e valor histórico/cultural (Vicente, 2008).
A título de exemplo, pode referir-se que, estará associado à Baixa da cidade de Lisboa um valor
elevado de exposição pois é uma zona de atividade comercial e de serviços elevada bem como de
elevado valor patrimonial e cultural.
2.5 Medidas de mitigação do risco sísmico
Foram já apresentadas anteriormente (no capítulo 1, secção 1.1), de uma forma geral, com o
objectivo de contextualizar o tema do risco sísmico e de demonstrar a importância da sua adequada
avaliação, algumas das soluções em que a engenharia pode atuar, visando a mitigação do risco
10
sísmico, que serão aqui referidas. Agora, e uma vez que já foram definidas sucintamente as três
componentes principais constituintes do risco sísmico (perigosidade, vulnerabilidade e exposição),
apresenta-se para cada uma delas as atuações possíveis e desejáveis. Assim:
- Ao nível da perigosidade, não é viável efetuar o melhoramento das condições do solo em
locais onde já existam construções mas sim atuar ao nível do planeamento evitando construir novos
edifícios em locais em que sejam susceptíveis a liquefação, deslizamento e assentamentos bem
como zonas onde exista uma grande probabilidade de ocorrerem sismos, como por exemplo junto a
locais onde existam falhas ativas.
- Ao nível da vulnerabilidade, para construções antigas, poderá e deverá ser efetuada uma
avaliação do dano esperado para uma determinada intensidade sísmica e determinar quais os
edifícios mais vulneráveis a fim de os reforçar. Para construções novas, deverão ser projectadas e
executadas respeitando os regulamentos sísmicos atuais.
- Ao nível da exposição, a única componente de perdas passível de mitigação de uma forma
eficaz são as perdas de vidas humanas, através da promoção de campanhas que visam sensibilizar e
instruir os cidadãos sobre quais os procedimentos e comportamentos a ter antes, durante e após um
sismo de elevada intensidade.
11
3 Modelos de Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
No presente capítulo serão apresentadas, numa primeira fase, as diferentes abordagens
desenvolvidas com o intuito de agrupar os modelos/métodos através de características comuns
partilhadas entre estes. Posteriormente, consoante a abordagem que se considere mais adequada
para o caso particular dos edificios de alvenaria antigos, serão descritos os passos essenciais das
principais metodologias de cada grupo. Quando possível tentar-se-á apresentar a evolução dos
métodos ao longo dos anos. Refira-se que os modelos de avaliação da vulnerabilidade sísmica
apresentados neste capítulo apenas contemplam os que foram desenvolvidos para a avaliação de
edifícios de alvenaria ou quando estes foram desenvolvidos para avaliar várias tipologias estruturais,
entre as quais se encontra a referida tipologia que é o objeto de estudo desta dissertação. Para além
dos modelos apresentados existem outros que, por não apresentarem as características
anteriormente referidas não serão abordados, como por exemplo, o caso do Método do Índice
Sísmico Japonês (JBDPA, 1990), do DBELA (Pinho et al., 2002) ou do método desenvolvido por
Cosenza et al. (2005), entre outros.
Os modelos de avaliação da vulnerabilidade sísmica são métodos que correlacionam a severidade do
sismo (perigosidade sísmica) com os seus efeitos, ou seja, constituindo correlações de causa-efeito
em que o sismo é a causa e os danos sofridos são o efeito.
3.1 Diferentes Abordagens
Diferentes autores têm apresentado abordagens distintas no que se refere à classificação dos
métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica. É importante que se efetue uma escolha adequada
relativamente à metodologia a utilizar para a avaliação da vulnerabilidade de uma determinada área,
devendo esta escolha ser feita em função da escala (por exemplo, um edifício, um quarteirão ou uma
cidade), da natureza e função dos edifícios (por exemplo, se se trata de um edifício de alvenaria e se
tem valor cultural elevado ou não) e em termos de tempo, consoante a disponibilidade económica e
de recursos humanos bem como o nível de rigor pretendido.
A primeira abordagem de classificação através do agrupamento de métodos de avaliação da
vulnerabilidade sísmica é baseada no nível de detalhe, escala de avaliação e utilização dos dados.
Esta forma de diferenciação de metodologias contempla três níveis (Figura 3.1) (Vicente, 2008;
Vicente et al., 2014).
12
Figura 3.1 – Primeira Abordagem referida (Vicente, 2008; Vicente et al., 2014)
O primeiro nível (Nível 1) refere-se a metodologias que permitem fazer a avaliação da vulnerabilidade
sísmica em grande escala, como por exemplo uma cidade, utilizando uma quantidade considerável
de informação.
O segundo nível de metodologias (Nível 2), que são aplicados a agregados de edifícios, como por
exemplo quarteirões, baseia-se em modelos mecânicos que são caracterizados por informações
sobre a geometria dos edifícios e as propriedades mecânicas, com bastante qualidade.
Por fim, o terceiro nível (Nível 3) reúne as metodologias aplicadas a edifícios isoladamente, que são
metodologias que utilizam dados obtidos a partir de pesquisas detalhadas sobre as características
desse mesmo edifício sendo depois aplicadas em técnicas de modelação numérica.
A segunda abordagem de classificação através do agrupamento de métodos de avaliação da
vulnerabilidade sísmica, proposta por Corsanego e Petrini (1990), baseia-se no facto de as
metodologias permitirem determinar directamente ou não a vulnerabilidade, ou seja, relacionam
directamente a ação sísmica aos danos sofridos pela estrutura (Figura 3.2). Distinguem-se quatro
categorias de métodos diferentes.
Figura 3.2 – Segunda Abordagem referida. Abordagem proposta por Corsanego e Petrini
A primeira categoria de métodos, conhecida como Técnicas Directas, reúne os métodos que estimam
diretamente o dano provocado nos edifícios, sendo subdivididas em duas categorias diferentes, os
13
Métodos Tipológicos e os Métodos Mecânicos. Os Métodos Tipológicos identificam os edifícios como
pertencentes a uma classe tipológica consoante as características que influenciam a resposta sísmica
por parte destas estruturas. Através dos danos observados e registados em levantamentos efetuados
após a ocorrência de um sismo, é avaliada a probabilidade de cada tipologia de edifício sofrer um
certo nível de dano. Os Métodos Mecânicos permitem prever o efeito do sismo nas estruturas através
da utilização de modelos mecânicos.
A segunda categoria de métodos, conhecida como Técnicas Indirectas, reúne os métodos que não
relacionam diretamente o parâmetro utilizado para caracterizar a vibração do solo (por exemplo,
Aceleração de Pico do Solo - PGA) com os danos provocados na estrutura. A relação entre eles é
efetuada através de um passo intermédio, o cálculo de um Índice de Vulnerabilidade.
A terceira categoria de métodos, conhecidos como Técnicas Convencionais, reúne os métodos que
se baseiam em opiniões de peritos, sendo a previsão do nível de dano previsto através de um Índice
de vulnerabilidade.
Por fim, a quarta categoria de métodos, conhecida por Técnicas Híbridas, tal como o nome sugere,
consiste na utilização conjunta de métodos pertencentes aos outros grupos.
A última abordagem de classificação de métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica (Figura 3.3)
apresentada neste texto é a mais indicada para distinguir as metodologias para edifícios localizados
em centros históricos (Vicente et al., 2014), ou seja, locais onde existe uma grande quantidade de
edifícios antigos de alvenaria, tal como é o caso da cidade de Lisboa. O critério utilizado nesta
abordagem baseia-se na forma como são obtidas as estimativas de danos, se através de danos
observados e opiniões de especialistas ou através de modelos estruturais.
Distinguem-se assim, três categorias diferentes: métodos empíricos, métodos analíticos e métodos
híbridos. Posteriormente neste texto, os métodos híbridos serão abordados de uma forma mais
pormenorizada. Para cada uma das categorias será efetuada uma breve apresentação dos métodos
mais importantes, por ordem cronológica, sendo escolhidos alguns destes para se efetuar uma
descrição mais aprofundada.
Figura 3.3 – Terceira abordagem referida
De uma forma geral, o parâmetro utilizado para caracterizer o movimento do solo (i.e. a ação sísmica)
é, no caso dos métodos empíricos (ou estatísticos que são baseados na observação de danos e em
14
juízos de peritos), a Intensidade Macrossísmica e a Aceleração de Pico do Solo (PGA), enquanto que
no caso dos métodos analíticos (ou teóricos baseados em cálculos estruturais), recorre-se ao
Espectro de Resposta (Calvi et al., 2006; Lang, 2012).
Para além das abordagens de classificação apresentadas, que permitem agrupar os diversos
métodos existentes para avaliar a vulnerabilidade sísmica, foram ainda propostas outras, como a
desenvolvida por Dolce et al. (1994) como referido em Vicente (2008).
3.2 Métodos Empíricos
Os métodos empíricos foram os primeiros métodos a serem utilizados na avaliação da vulnerabilidade
sísmica. Estes métodos baseiam-se nos dados recolhidos da observação dos danos nos edifícios
existentes provocados por sismos ocorridos no passado. Este tipo de métodos são especialmente
indicados para locais onde o registo dos sismos e dos danos provocados nos edifícios tenha sido
efetuado sistematicamente ao longo dos anos, ou seja, onde haja um conhecimento alargado nestas
questões, permitindo dar confiança aos valores esperados, calculados a partir destes métodos
(Vicente et al., 2014).
O parâmetro utilizado para caracterizar o movimento de vibração do solo, neste tipo de métodos, é,
na grande maioria dos casos, a Intensidade Macrossísmica. Mais recentemente, em algumas
situações, também começou a ser utilizada a Aceleração de Pico do Solo (PGA) (Lang, 2012).
Distinguem-se dois tipos principais de métodos empíricos, as matrizes de probabilidade de danos e
as funções de vulnerabilidade, que se descrevem de seguida.
3.2.1 Matrizes de Probabilidade de Danos
As Matrizes de probabilidade de danos são o tipo de métodos empíricos mais utilizados para avaliar a
vulnerabilidade sísmica dos edifícios quando a perigosidade sísmica é definida em função da
Intensidade. Estas matrizes (Tabela 3.1) servem para expressar de forma discreta a probabilidade
condicional de, para cada classe de vulnerabilidade, se obter um determinado nível de dano j, devido
a uma intensidade sísmica i, P[D=j|i] (Calvi et al., 2006; Lang, 2012). Os edifícios, consoante as suas
características relativamente à tipologia estrutural, são associados a uma classe de vulnerabilidade,
tal como se apresenta na figura 3.4.
Para uma melhor compreensão do processo de construção da matriz, veja-se o seguinte exemplo:
P32 representa a probabilidade de se atingir o nível de danos D3 na estrutura se um sismo I2 ocorrer.
Para qualquer sismo de intensidade i (cada coluna) verifica-se a equação 3.1 (PAHO, 1998).
(3.1)
15
Tabela 3.1 – Formato de uma Matriz de Probabilidade de Danos (adaptado de PAHO, 1998)
Nível de
dano
P [Dj | Ii]
I 1 I 2 I i… I n
D1 P11 P12 P1i P1n
D2 P21 P22 P2i P2n
D3 P31 P32 P3i P3n
D4 P41 P42 P4i P4n
Neste exemplo (Tabela 3.1) apenas se considerou quatro níveis de danos mas podem ser
considerados os níveis de danos que se pretender.
As escalas de intensidade mais utilizadas são a Escala de Mercalli Modificada (Wood e Neumann,
1931), a Escala de Medvedev-Sponheuer–Karnik, MSK (Medvedev e Sponheuer, 1969) e a Escala
Macrossísmica Europeia, EMS–98 (Grünthal, 1998).
Após definido o conceito de matriz de probabilidade de danos, apresentam-se as principais
utilizações desta metodologia ao longo do tempo.
Este tipo de matrizes foi utilizado pela primeira vez há cerca de 40 anos, nos Estados Unidos da
América, com o objetivo de se fazer a previsão da probabilidade de danos sofridos em edifícios,
devido à ação sísmica. Whitman et al. (1973) elaboraram matrizes para diferentes tipologias
estruturais, a partir dos dados relativos aos danos observados em edifícios, provocados pelo sismo
San Fernando em 1971 (Calvi et al., 2006).
Apresenta-se de seguida, a título exemplificativo, um tipo de matriz (tabela 3.2) proposta por Whitman
et al. (1973). Refira-se que o rácio de dano mencionado (Damage Ratio) se refere ao quociente entre
o custo de reparação e o custo de substituição.
Tabela 3.2 – Matriz de Probabilidade de Danos proposta por Whitman para uma das tipologias estruturais (retirado de Calvi et al., 2006)
Na Europa, Braga et al. (1982) foram dos primeiros a utilizar as referidas matrizes baseando-se nos
dados recolhidos referentes aos danos provocados nos edifícios, devido ao sismo Iripina, adotando
uma distribuição binomial para o cálculo das probabilidades, utilizando a escala de intensidade MSK e
16
adoptando apenas três classes de vulnerabilidade. A utilização desta distribuição apresenta a
vantagem de precisar de apenas um parâmetro, que varia entre 0 e 1, mas apresenta a desvantagem
de, tanto a média como o desvio padrão, dependerem ambos desse único parâmetro (Calvi et al.,
2006).
Em 2005, Di Pasquale et al. (2005) atualizaram as matrizes que estavam definidas em função da
escala MSK e passaram a ser definidas pela escala Mercalli-Cancani-Sieberg. Em 2003, Dolce et al.
(2003) atualizaram as matrizes originalmente propostas por Braga et al. (1982), recorrendo à escala
EMS-98 e acrescentando às classes de vulnerabilidade A,B,C, que haviam sido definidas na versão
original, uma nova classe D para contemplar os edifícios com reforço sísmico ou já projetados com
códigos sísmicos (Calvi et al., 2006).
Em 1985, o Applied Technology Council (ATC), patrocinado pela Federal Emergency Management
Agency (FEMA) apresentou matrizes de probabillidade de danos baseadas em opiniões e pareceres
fornecidos por peritos. Estes especialistas foram convidados a fornecer estimativas de qualidade
"inferior" (low), "média" (best) e "superior" (high) do fator de dano (quociente entre as perdas e o
custo de reparação, expresso em percentagem) para intensidades de Mercalli Modificada desde o
nível VI ao XII e para edifícios de 36 classes diferentes. Com estes valores e recorrendo a uma
distribuição log-normal foi possível definir as matrizes para cada nível de intensidade e para cada
classe de edifício (ATC,1985).
Giovanazzi e Lagomarsino (2001, 2004) propuseram um método macrossísmico que levou à
definição de funções de probabilidade de danos baseadas na escala EMS-98. Para cinco níveis de
dano e para intensidades entre os níveis V e XII são atribuídas descrições quantitativas “Poucos”
(Few), “Muitos”(Many) e “A maioria” (Most), para seis classes de vulnerabilidade diferentes (classe A
a mais vulnerável, classe F a menos vulnerável). (Calvi et al., 2006)
Refira-se que os vários tipos de edifícios de alvenaria, na escala EMS-98 pertencem às classes de
vulnerabilidade apresentadas na figura 3.4. Apresenta-se na figura 3.5 um exemplo de uma matriz de
probabilidade de danos para classe de vulnerabilidade B, definida através da escala EMS-98.
Figura 3.4 – Diferenciação do tipo de edifícios em classes de vulnerabilidade, de acordo com a escala Macrossismica EMS-98 (retirado de Grüntal, 1998)
17
A definição da quantidade de danos é dada pela escala quantitativa referida anteriormente e é
bastante subjetiva, não sendo caracterizada por um único valor para cada um dos três níveis, mas
sim por gamas de percentagens contínuas, tal como se apresentada na figura 3.6, sob a forma de
esquema (Lang, 2012).
Figura 3.5 – Exemplo de uma Matriz de Probabilidade de Dano para classe de vulnerabilidade B definida através da escala EMS-98 (retirado de Barbat et al., 2008)
A utilização desta metodologia apresenta, no entanto, problemas devido ao facto de ser vaga e
incompleta. Para solucionar o primeiro problema foi aplicada uma teoria matemática dos conjuntos
difusos (Fuzzy Set Theory), que se encontra definida no glossário da dissertação.
Figura 3.6 – Gama de valores para cada um dos níveis de quantidade definido pela EMS-98 (retirado de Grüntal, 1998)
Para resolver a falta de informação da totalidade dos níveis de danos para um determinado nível de
intensidade, foi assumida uma distribuição beta de dano, definida na equação 3.2 (Calvi et al., 2006;
Barbat et al., 2008).
(3.2)
(3.3)
Onde a, b, t e r representam os parâmetros da distribuição; é o valor médio da variável contínua x,
que varia entre a e b e Γ(r) é a função gama.
De seguida vai-se exemplificar para um edifício de pedra simples (simple stone), cuja classe de
vulnerabilidade deverá ser B (figura 3.4). Pela figura 3.5 observa-se que, para um sísmo de
Intensidade VI, “Muitos” edifícios irão sofrer danos do tipo Ligeiro (Slight), correspondente ao nível 1
da escala de danos e “Poucos” irão sofrer danos do tipo Moderado (Moderate), correspondente ao
nível 2. Isto significa que, a percentagem de ocorrer danos do nível 1 é de 20% a 50% e do nível 2 é
de menos de 10% (Giovanazzi e Lagomarsino, 2004).
18
De uma forma geral, a utilização de Matrizes de Probabilidade de Danos baseada na intensidade,
possibilitou a avaliação do risco sísmico de uma forma rentável e eficiente sendo que, devido à
utilização de dados recolhidos que caracterizam os danos sofridos, se torne possível utilizar as
matrizes criadas para prever, de uma forma bastante real, os danos provocados por futuros sismos
que afetem regiões com características semelhantes (Calvi et al., 2006).
3.2.2 Método do Índice de Vulnerabilidade
O método do índice de vulnerabilidade é um método que permite obter a vulnerabilidade sísmica
através da utilização de um passo intermédio, que consiste na definição de um índice que relaciona a
ação sísmica com os danos sofridos pela estrutura.
O método do índice de vulnerabilidade foi proposto inicialmente por Benedetti e Petrini em 1984
(Benedetti e Petrini, 1984), tendo sido adotado pelo GNDT (Gruppo Nazionale per la Difesa dai
Terremoti) em 1993 (GNDT Level II Approach). O Índice de Vulnerabilidade, IV, é calculado a partir
dos dados obtidos através de uma pesquisa de campo feita a cada edifício individualmente, de um
determinado número de parâmetros (em geral 11) que permitem efetuar uma rápida caracterização
dos edifícios relativamente às principais características que estão diretamente relacionadas com a
capacidade de resistência a um sismo. A cada um dos parâmetros será associada uma classe de
vulnerabilidade crescente: A (óptima), B, C, D (desfavorável). Os dados recolhidos sobre o edifício
são comparados com valores definidos empiricamente que permitem, para cada parâmetro,
determinar qual a classe a que o edifício pertence. A título de exemplo, apresentam-se os valores
definidos para o parâmetro relativo à distância máxima entre paredes (S). Caso o edifício apresente
, , ou (L representa a dimensão do edifício em planta
e S a distância máxima entre paredes, segundo a mesma direção de L) pertencerá à classe A, B, C
ou D, respetivamente.
A cada classe é associado um valor, . A cada parâmetro é associado um peso, , que apresenta
valores tanto maiores quanto mais importante for esse parâmetro para descrever a resistência
estrutural a uma ação sísmica (Calvi et al., 2006).
O Índice de Vulnerabilidade, utilizado como passo intermédio para determinar os danos causados a
uma estrutura quando sujeita a uma ação sísmica, é então calculado através da soma dos produtos
entre os pesos e os valores associados às classes de vulnerabilidade (Equação 3.4). Este índice é
frequentemente normalizado de modo a que Iv esteja compreendido entre 0 e 100, permitindo deste
modo uma maior facilidade na sua utilização.
(3.4)
Benedetti e Petrini definiram onze parâmetros, aos quais foram atribuídos valores para cada classe
de vulnerabilidade ( ) entre 0 e 45 e definidos pesos ( ) entre 0,25 e 1,5. Assim sendo, a gama de
valores possíveis para o Índice de Vulnerabilidade não normalizado, Iv, pode variar entre 0 a 382,5.
19
Recorrendo a dados de sismos anteriores, são calibradas funções de vulnerabilidade que relacionam
o índice de vulnerabilidade, Iv, com um fator de danos globais para edifícios da mesma tipologia, d,
para a mesma intensidade macrossísmica ou aceleração de pico do solo (PGA) – Figura 3.7. Este
fator de danos globais representa o quociente entre os custos de reparação e os custos de uma nova
construção e varia entre 0 (danos desprezáveis) até 1 (colapso do edifício).
Figura 3.7 – Funções de vulnerabilidade para relacionar a aceleração de pico do solo com o fator de dano (d) através da utilização do índice de vulnerabilidade (adaptado de Calvi et al., 2006)
Os onze parâmetros referidos anteriormente, definidos por Benedetti e Petrini, são: o tipo de sistema
estrutural; a qualidade do sistema estrutural; a resistência convencional; a localização e condições do
solo; os diafragmas horizontais; a configuração em planta; a configuração em altura; a distância
máxima entre paredes; o tipo de cobertura; os elementos não estruturais e o estado de conservação
(tabela 3.3).
Tabela 3.3 – Escala de Vulnerabilidade definida por Benedetti e Petrini (adaptado de Barbat et al., 1995)
Parâmetros Classe Peso
A B C D
1. Organização do sistema resistente 0 5 20 45 1.00
2. Qualidade do sistema resistente 0 5 25 45 0.25
3. Resistência convencional 0 5 25 45 1.50
4. Localização e condições do solo 0 5 25 45 0.75
5. Diafragmas horizontais 0 5 15 45 1.00
6. Configuração em planta 0 5 25 45 0.50
7. Configuração em altura 0 5 25 45 1.00
8. Distância máxima entre paredes 0 5 25 45 0.25
9. Tipo de cobertura 0 15 25 45 1.00
10. Elementos não estruturais 0 0 25 45 0.25
11. Estado de conservação 0 5 25 45 1.00
Analisando a tabela 3.3 pode observar-se que o parâmetro “3. Resistência convencional” é o
parâmetro mais importante para a controlo dos danos pois apresenta um peso mais elevado que
os restantes parâmetros. Os parâmetros 2, 8 e 10 serão os parâmetros menos influentes.
20
Posteriormente, algumas variantes foram desenvolvidas, tendo por base esta metodologia. É o caso
do método desenvolvido no âmbito do projeto Risk_UE que envolveu a aplicação do método em sete
cidades europeias e o caso do “Catania Project” referido em Faccioli et al. (1999) e em GNDT (GNDT,
2000).
Em Portugal, tem sido utilizada recentemente uma variante do método do Índice de Vulnerabilidade.
De fato, baseado neste método, foi proposta uma metodologia para a avaliação da vulnerabilidade
sísmica do centro histórico da cidade de Coimbra (Vicente, 2008; Vicente et al., 2014), tendo sido
posteriormente aplicado ao centro histórico da cidade do Seixal (Ferreira et al., 2013). O referido
método é baseado na formulação do índice de vulnerabilidade adotada em GNDT Abordagem de
Nível II (GNDT, 1994), tendo sido efetuados ligeiros melhoramentos, nomeadamente através de um
maior nível de detalhe na avaliação de alguns parâmetros, da redefinição e ajuste dos critérios de
classificação dos parâmetros originais e da introdução de três novos parâmetros considerados
fundamentais na vulnerabilidade das construções de alvenaria (Vicente, 2008).
Os três parâmetros referidos, que foram adicionados à metodologia original (constituída por onze
parâmetros), são: número de pisos (P5), interação entre edifícios contíguos (P7) e aberturas e
alinhamentos da fachada (P10). Tal como na versão original, a cada parâmetro é associada uma de
quatro classes de vulnerabilidade, , e pesos, , (correspondente a e , respetivamente) cujos
valores, diferentes dos adotados na versão da abordagem GNDT, se apresentam na figura 3.8.
Figura 3.8 – Parâmetros e índice de vulnerabilidade propostos (retirado de Vicente et al., 2008)
Refira-se que os pesos, , foram definidos em função de opiniões de especialistas (Vicente et al.,
2014).
Para a metodologia aplicada à escala urbana, devido ao elevado número de edifícios a inspecionar foi
definida uma estratégia para determinar o índice de vulnerabilidade em duas fases. Numa primeira
fase, são recolhidos os dados dos edifícios para os quais existe informação detalhada (informação
geométrica e morfológica, plantas dos edifícios, entre outras), sendo calculado para cada um o índice
de vulnerabilidade, . Numa segunda fase, para os restantes edifícios, é efetuada uma avaliação
mais expedita, em que se considera que as características dos edifícios de alvenaria são
homogéneas na região. Através deste pressuposto adota-se, como valor inicial, o valor médio do
21
índice de vulnerabilidade obtido da análise dos edifícios considerados na primeira fase (que se
considera representar a tipologia estrutural). Através da consideração de fatores de modificação, que
aumentam ou diminuem o valor do índice de vulnerabilidade para a tipologia estrutural, é calculado o
índice de vulnerabilidade de cada edifício de segunda fase. Os fatores de modificação para cada
parâmetro são determinados através da expressão 3.5.
(3.5)
Sendo o peso associado ao parâmetro , o valor associado à classe de vulnerabilidade da figura
3.8 e o valor associado à classe de vulnerabilidade média, resultante da análise de primeira fase.
Na figura 3.9 apresenta-se os fatores de modificação resultantes do estudo executado na cidade de
Coimbra em 2008, obtidos através da utilização da equação 3.5 (Vicente, 2008).
Figura 3.9 – Fatores de modificação (retirado de Vicente et al., 2008)
Para os edifícios avaliados em segunda fase, o índice de vulnerabilidade final é determinado através
da equação 3.6 (Ferreira et al., 2013).
(3.6)
Sendo o índice de vulnerabilidade final, o índice de vulnerabilidade média determinado através
dos dados recolhidos durante a avaliação detalha (primeira fase) e é a soma dos fatores
modificadores (Vicente, 2008).
Após calculados os índices de vulnerabilidade, , é efetuada uma correlação entre os referidos
índices que foram determinados através do processo semelhante ao proposto no GNDT abordagem
de nível II e o índice de vulnerabilidade, , da metodologia macrossísmica. A referida correlação foi
efetuada por intermédio da equação 3.7 para as cidades de Coimbra (2008) e para a cidade do Seixal
(2010) e da 3.8 para a cidade de Coimbra (2014).
(3.7)
(3.8)
O índice de vulnerabilidade, , é então utilizado para a determinação do valor do grau de dano médio,
, que pode variar entre 0 e 5. Este é calculado através da expressão 3.9, proposta por Bernardini et
22
al. (2007) que depende da perigosidade (descrita em termos de intensidade macrossísmica, ), para
além do índice V (Ferreira et al., 2013).
(3.9)
O parâmetro é um fator de ductilidade que pode variar entre 1 e 4 (Ferreira et al., 2013).
A referida expressão foi utilizada na avaliação da vulnerabilidade sísmica do centro histórico da
cidade de Coimbra em 2008 (Vicente, 2008) e no centro histórico da cidade do Seixal em 2010
(Ferreira et al., 2013). No entanto, recentemente, no documento de Vicente et al., (2014) é sugerida a
equação 3.10, que apresenta ligeiras alterações relativamente à equação anterior.
(3.10)
(3.11)
Assim, após calculado o índice de vulnerabilidade , são determinados valores do nível médio de
dano, , para as diferentes intensidades macrossísmicas ( ), definindo deste modo cada uma das
curvas de vulnerabilidade, como se observa na figura 3.10. Nesta figura está representada a curva de
vulnerabilidade para um valor médio do índice de vulnerabilidade, , e para valores superiors e
inferiores ( . Refira-se que o parâmetro Q
define a inclinação da função de vulnerabilidade, enquanto que o índice de vulnerabilidade, ,
determina a posição da curva (Ferreira et al., 2013).
Figura 3.10 – Curvas de vulnerabilidade definidas em função do nível médio de dano e da intensidade macrossísmica (retirado de Vicente et al., 2014)
23
A partir dos valores médios de é possível representar os danos a partir de diferentes histogramas
com a distribuição de danos para diferentes intensidades da ação sísmica e recorrendo a uma
abordagem estatística. Um dos métodos mais utilizados envolve a definição de curvas de fragilidade1.
Neste método, a probabilidade de se exceder um determinado nível de dano, , (com ∈ [0,5] a
representar um dos cinco níveis de danos) é determinada diretamente a partir da distribuição de
danos do edifício, definida a partir da função de probabilidade beta para uma determinada tipologia
(Vicente, 2008).
Nas equações 3.12, 3.13 e 3.14 apresentam-se as funções utilizadas para determinar a probabilidade
associada a cada um dos diferentes níveis de dano, , e as equações 3.15 e 3.16 definem os
parâmetros t e r.
(3.12)
(3.13)
(3.14)
(3.15)
(3.16)
A título de exemplo, apresentam-se as curvas de fragilidade (figura 3.11) obtidas através da
metodologia referida, para o valor médio do índice de vulnerabilidade, (Vicente, 2008).
Figura 3.11 – Curva de fragilidade (retirado de Vicente et al., 2014)
1 As diferentes abordagens existentes para definir curvas de fragilidade são apresentadas mais à frente, na seção 3.3.1
24
3.2.3 Outros métodos empíricos
Para além dos dois tipos de métodos empíricos já apresentados (Matrizes de probabilidade de danos
e Método do índice de vulnerabilidade) foram igualmente desenvolvidos outros que tiveram menor
relevância para a avaliação da vulnerabilidade sísmica dos edifícios de alvenaria, como são o caso
das curvas de vulnerabilidade contínuas e os métodos de rastreio. As curvas de vulnerabilidade
surgiram posteriormente às matrizes de probabilidade de danos e são funções empíricas
(determinadas através da observação de danos evidenciados em edifícios, após a ocorrência de um
sismo) contínuas que expressam a probabilidade de exceder um determinado estado de dano para
um dado valor da ação sísmica (Colombi et al., 2008). Diferentes curvas foram definidas, recorrendo
a dados recolhidos em países distintos e utilizando diferentes parâmetros para considerar a ação
sísmica, salientando-se de seguida alguns dos estudos em que foram derivadas curvas para edifícios
de alvenaria: Spence et al. (1992); Sabetta et al. (1998); Orsini (1999); Rota et al. (2006), Colombi et
al. (2008), Karababa e Pomonis (2011), Jaiswal et al. (2011), entre outros (Hancilar et al., 2012).
Os métodos de rastreio são métodos desenvolvidos essencialmente para verificar, de uma forma
simplificada, quais os edifícios prioritários a reforçar (Calvi et al., 2006). Estes baseiam-se no
preenchimento de formulários com dados obtidos através de inspeções visuais efetuadas aos
edifícios em estudo. Estes métodos apresentam a grande vantagem de permitirem avaliar a
vulnerabilidade sísmica dos edifícios de um forma rápida, o que possibilita ao utilizador avaliar uma
grande quantidade de edifícios em relativamente pouco tempo (Achs e Adam, 2012).
Na literatura consultada, observou-se que para este método, os principais desenvolvimentos foram
efetuados para a avaliação da vulnerabilidade sísmica em edifícios de betão, dos quais se salientam:
JBPDA (1990), Hassan e Sozen (1997), Yakut (2004) e Ozdemir et al. (2005). No entanto, também
foram desenvolvidos métodos de rastreio em que foram considerados edifícios de alvenaria como é o
caso do método “Rapid Visual Screening of Buildings for Potential Seismic Hazards” (ATC, 1988;
ATC, 2002) e Achs e Adam (2012).
3.3 Métodos Analíticos
Os métodos analíticos de avaliação da vulnerabilidade sísmica são métodos teóricos que envolvem o
cálculo mecânico da resposta estrutural do sistema. Este tipo de métodos são mais rigorosos na
representação da resposta das estruturas e por isso, para a sua aplicação, requerem informação
bastante pormenorizada das estruturas, a nível geométrico, dos materiais que a constituem e das
técnicas construtivas. Para a obtenção de todos estes dados é necessário efetuar uma recolha de
documentação, análise e dimensionamento considerável o que por vezes pode conduzir a que este
tipo de metodologias sejam economicamente inviáveis (Ferreira, 2012).
25
Segundo Calvi et al. (2006), este tipo de métodos permitem efetuar estudos de sensibilidade e de
calibração de muitos dos métodos empíricos e híbridos já desenvolvidos para a avaliação da
vulnerabilidade sísmica risco sísmico de edifícios.
Pode considerar-se, tal como refere Sandi (1982), que ao contrário dos métodos empíricos que
permitem determinar a vulnerabilidade observada, os métodos analíticos permitem determinar a
vulnerabilidade calculada ou prevista (Coburn e Spence, 2002).
Ao contrário dos métodos empíricos, em que a ação sísmica é geralmente representada pela
intensidade macrossísmica ou pela aceleração de pico do solo, os métodos analíticos utilizam
preferencialmente parâmetros físicos como a aceleração espectral, Sa, ou os deslocamentos
espectrais, Sd (Lang, 2012).
O processo de determinação das curvas de fragilidade e das matrizes de probabilidade de danos,
através dos métodos analíticos pode ser resumido pelos passos que se apresentam na figura 3.12.
Figura 3.12 – Fluxograma para descrever as componentes do cálculo das curvas de fragilidade e das matrizes de probabilidade de danos recorrendo a um procedimento analítico (adaptado de Calvi et al., 2006)
Exemplo de um método analítico é o método implementado em TREM RI (Lagomarsino et al. 2012),
que será utilizado no capítulo . Este método exige um conhecimento pormenorizado das estruturas,
com a consideração de um número elevado de dados e um processamento muito meticulosos das
estruturas. Não é certamente o método adequado para a avaliação da vulnerabilidade sísmica ao
nível da escala de uma cidade.
No sub-capítulo que se apresenta de seguida são referidas as diferentes abordagens existentes para
definir curvas de fragilidade.
26
3.3.1 Curvas de Fragilidade
As curvas de fragilidade são um elemento essencial para a avaliação do risco sísmico uma vez que
estas relacionam a probabilidade de uma estrutura atingir ou exceder um determinado estado de
dano para uma dada intensidade sísmica (Kaynia et al., 2013).
Existem diversas abordagens que permitem obter as curvas de fragilidade, podendo estas ser
agrupadas em: curvas empíricas, curvas baseadas em julgamento de peritos, curvas analíticas e
curvas híbridas. (Kaynia et al., 2013) Tal como o nome sugere, as 1) curvas empíricas são
determinadas com base em avaliações de sismos ocorridos no passado, 2) as curvas baseadas em
julgamento de peritos são determinadas através da experiência acumulada e da opinião de
especialistas, 3) as curvas analíticas definidas por cálculo analítico e recorrendo a análises estáticas
ou dinâmicas não lineares e 4) as curvas híbridas são determinadas através da conjugação dos
outros três grupos de abordagem. Nesta dissertação, e nesta seção em particular, será dada atenção
especial às curvas de fragilidade obtidas analiticamente.
Como referido, as curvas de fragilidade obtidas analiticamente são determinadas através de análises
estáticas ou dinâmicas não lineares de modelos estruturais, sendo que a ação sísmica é
representada por um espectro de resposta no primeiro caso e acelerogramas no segundo (Kaynia et
al., 2013).
No desenvolvimento das curvas de fragilidade poderão distinguir-se alguns passos principais a
considerar como: a tipologia estrutural a considerar (definição de uma taxonomia), a definição dos
estados de dano bem como os parâmetros que permitem determinar os estados limite de dano, o
parâmetro de medida da intensidade sísmica e a contabilização de incertezas.
Numa dada região existem muitos fatores que afetam a definição das curvas de fragilidade como:
edifícios com diferentes características, não só a nível geométrico como a nível estrutural, material,
severidade sísmica considerada no dimensionamento da estrutura, entre outros. O processo de
avaliação da vulnerabilidade sísmica inerente às estruturas pertencentes a essa mesma região, se
efetuado individualmente a cada estrutura, seria extremamente moroso e dispendioso. Para
simplificar o processo, surge a necessidade de se definir tipologias estruturais. A tipologia estrutural
(ou taxonomia estrutural) pretende agrupar edifícios que possuam características estruturais
semelhantes e que se encontrem em locais com condições geotécnicas similares através de classes
estruturais, pois espera-se que estruturas que apresentem as semelhanças referidas apresentem um
desempenho/comportamento similar quando sujeitas a uma ação sísmica (Kaynia et al., 2013a).
Diversas taxonomias têm sido desenvolvidas, tais como a apresentada no método Hazus (FEMA,
2013a) (que será apresentada posteriormente nesta dissertação), a taxonomia definida no projeto
europeu RISK-UE (Mouroux et al., 2004) (que considera 23 classes principais em função do material
utilizado e da função que esse material desempenha no edifício, sendo as classes divididas em sub-
classes em função de três níveis de altura) ou a taxonomia recentemente desenvolvida pelo projeto
Syner-G, que considera 10 categorias principais (Kaynia et al., 2013).
27
A determinação das curvas de fragilidade por intermédio de métodos analíticos e recorrendo a
análises estáticas não lineares é precedida pela definição do espectro de resposta, pela
determinação da curva de capacidade e do ponto de desempenho da estrutura. De seguida
apresenta-se resumidamente o processo geral de obtenção do ponto de desempenho da estrutura
que permite a sua avaliação sísmica para determinado nível de intensidade da ação sísmica.
As curvas de capacidade, tal como o nome sugere, são representações gráficas da capacidade
resistente da estrutura. Existem vários tipos de análise através das quais é possível determinar a
capacidade resistente da estrutura, sendo geralmente utilizada, a análise estática não linear (análise
pushover) devido à capacidade de contabilização direta de alguns efeitos da resposta não linear da
estrutura e devido ao facto de ser uma análise pouco complexa, quando comparadas com as análises
dinâmicas não lineares (Lang, 2002; Varum, 2003). A análise pushover baseia-se na aplicação de
uma distribuição de força lateral ou deslocamento, incremental, resultando para o caso de edifícios,
numa curva que traduz a variação do esforço transverso na base e o deslocamento do topo da
estrutura (Bento, 2011).
A ação sísmica é definida através do espectro de resposta inelástico, no formato aceleração
espectral, Sa – deslocamento espectral Sd.
O ponto de desempenho da estrutura, para determinado estado limite, é um valor obtido através da
interceção da curva de capacidade com o espectro de resposta correspondente. Este ponto
representa o deslocamento espectral máximo esperado, de uma estrutura, para uma determinada
intensidade de ação sísmica. Refira-se que, para se obter o ponto de desempenho através da
interceção da curva de capacidade com o espectro de resposta, é necessário que ambas as curvas
estejam definidas segundo os mesmos parâmetros, neste caso a aceleração espectral e o
deslocamento espectral, em ordenadas e abcissas, respetivamente. Também é necessário que
estejam definidas para um sistema de um grau de liberdade e que tenham em consideração o
comportamento não linear da estrutura.
Chama-se a atenção que há dois métodos de referência que permitem a determinação do ponto de
desempenho sísmico da estrutura, e consequentemente a sua avaliação sísmica, recorrendo a
análises estáticas não lineares: o Método N2 (Fajfar e Fischinger, 1998), proposto no Eurocódigo 8, e
o Método do Espectro de Capacidade, introduzido por Freeman (Freeman et al., 1975; Freeman,
1998) e preconizado no ATC40 (1996).
As curvas de fragilidade representam a probabilidade de excedência de um estado limite de dano em
função de um parâmetro representativo da ação sísmica, uma medida de intensidade (IM – Intensity
Measure), podendo esta ser a aceleração de pico do solo (PGA), a velocidade de pico do solo (PGV),
o deslocamento de pico do solo (PGD), a aceleração espectral (Sa), a velocidade espectral (Sv) ou o
deslocamento espectral (Sd) (Kaynia et al., 2013).
A probabilidade de um estado de dano ser excedido é geralmente obtida através da utilização de uma
distribuição cumulativa lognormal, sendo analiticamente calculada através da equação 3.17.
28
(3.17)
Sendo:
dsk – estado de dano de referência;
- função de distribuição log-normal cumulativa;
dsk- desvio padrão do logaritmo neperiano da Medida de Intensidade sísmica para o estado de dano
dsk;
IM – Medida da Intensidade sísmica;
- valor médio da Medida de Intensidade sísmica para o qual cada estrutura atinge o limiar do
estado de dano, dsk.
Associada à determinação das curvas de fragilidade está a definição dos estados de danos a
considerar e consequentemente os estados limite de dano. Os estados de dano permitem fazer
corresponder um determinado valor do parâmetro de Medida de Intensidade sísmica aos danos
sofridos na estrutura. São geralmente considerados cinco estados de dano: Sem danos,
ligeiros/menores, moderados, extensos e colapso. No entanto, diferentes autores/metodologias têm
definido um número diferente de estados de dano. Algumas das escalas de danos mais frequentes
são as seguintes: HCR (Rossetto and Elnashai, 2003), HAZUS-MH 2.1 (FEMA, 2013a), Vision2000
(SEAOC, 1995), EMS98 (Grunthal, 1998) e ATC-13 (ATC, 1985) (Kaynia et al., 2013).
Na tabela 3.4 apresenta-se a comparação entre os estados de danos de cada uma das escalas
referidas anteriormente.
Tabela 3.4 – Comparação entre escalas de danos (adaptado de Rossetto e Elnashai, 2003)
HRC HAZUS-MH 2.1 VISION 2000 EMS-98 ATC-13
Nenhum (None) Sem dano (No damage)
Leve (Slight)
Dano Ligeiro (Sight Damage)
Totalmente Operacional (Fully
Operational)
Grau 1 (Grade 1)
Leve (Slight)
Ligeiro (Light) Ligeiro (Light)
Operacional (Operational)
Grau 2 (Grade 2)
Moderado (Moderate)
Moderado (Moderate)
Dano Moderado (Moderate damage)
Grau 3 (Grade 3) Salvaguarda da Vida
Humana (Life Safe) Severo
(Heavy) Extenso
(Extensive) Dano Extenso (Extensive Damage)
Perto do Colapso (Near Collapse)
Grau 4 (Grade 4) Muito Severo
(Major) Colapso Parcial (Partial Collapse)
Colapso (Collapse)
Colapso (Collapse)
Colapso (Collapse)
29
A fronteira entre dois estados de dano consecutivos é definida por intermédio de um estado limite de
dano. Numa metodologia em que se considere estados de dano, serão considerados
estados limite de dano. Os valores e/ou critérios que permitem definir quais os valores da Medida da
Intensidade sísmica para cada um dos estados limite de dano considerados também difere consoante
as metodologias existentes.
A título de exemplo apresentam-se os critérios apresentados por Giovinazzi (2005). Este considera
como parâmetro de Medida de Intensidade sísmica o deslocamento espectral e considera cinco
estados de dano (sendo que um corresponde ao estado de não existir nenhum dano) o que implica a
existência de quatro estados limite de dano. Os valores do deslocamento espectral (calculados
através das equações 3.18, 3.19, 3.20 e 3.21) que caracterizam os estados limite de dano Sd,k, sendo
k crescente consoante a gravidade dos danos, são função dos deslocamentos de cedência (dy) e do
deslocamento último (du) que definem a curva de capacidade bi-linear (Giovinazzi, 2005).
(3.18)
(3.19)
(3.20)
(3.21)
Na tabela 3.5 apresentam-se exemplos de critérios definidos em diferentes metodologias, para a
determinação dos valores do deslocamento médio espectral que caracterizam cada um dos estados
limite de dano.
Tabela 3.5 – Exemplo de critérios para a determinação dos estados limite de dano em função de curvas de capacidade bilinearizadas (adaptado de Lang, 2012)
Estado de dano
k
Valor Médio do Deslocamento Espectral Limite
k Estado de
dano Giovinazzi (2005)
Barbat et al. (2006)
Lagomarsino e Cattari (2013)
Kappos et al. (2006)
Ligeiro 1 0,7xSdy 0,7xSdy 0,7xSdy 0,7xSdy 1 Ligeiro
Moderado 2 1,5xSdy 1,0xSdy c2xSdy 1,0xSdy 2 Moderado
Extenso 3 0,5x(Sdy+Sdu) Sdy+0,25x(Sdu-Sdy) c3xSdy+(1-c3)xSdu 2,0xSdy 3 Substancial
a Severo
Completo 4 Sdu Sdu Sdu 0,7xSdu 4
Severo a Muito
Severo
Sdu 5 Colapso
Nota: Sdy e Sdu são os deslocamentos de cedência e último, respetivamente.
Para os valores propostos por Lagomarsino e Cattari (2013), o parâmetro c2 varia entre os valores 1,2
e 2. Este parâmetro varia consoante o grau de complexidade e de irregularidade apresentados pelo
edifício, correspondendo a valores tanto mais elevados quanto mais se verificarem estas duas
características. O parâmetro c3 varia entre os valores 0,3 e 0,5 (Lagomarsino e Cattari, 2013).
Após definida a curva de fragilidade é possível determinar a probabilidade da estrutura sofrer cada
um dos estados de dano definidos a partir da utilização do valor do parâmetro da Medida de
30
Intensidade sísmica (que poderá ser por exemplo o deslocamento espectral) correspondente ao
ponto de desempenho determinado a partir da interceção entre o espectro de resposta e a curva de
capacidade. A determinação da probabilidade discreta de um determinado estado de dano ocorrer,
, (uma vez que a curva de fragilidade é definida em função da probabilidade cumulativa) é
obtida recorrendo à equação 3.22, que representa a diferença entre as probabilidades cumulativas
(Vicente, 2008).
(3.22)
Refira-se que corresponde a cada estado de dano, com valor crescente consoante maior for a
severidade do estado, por exemplo, um estado de dano ligeiro terá um valor e um estado de
dano de colapso um valor de superior.
A título de exemplo, com o intuito de se tornar mais clara a interpretação de uma curva de fragilidade,
considere-se que o parâmetro Medida da Intensidade sísmica é o deslocamento espectral. Suponha-
se que determinada estrutura é caracterizada pelas curvas de fragilidade apresentadas na figura
3.13. Admita-se que a estrutura apresenta determinado valor X de deslocamento espectral referente
ao ponto de desempenho para a intensidade de ação sísmica considerada.
A probabilidade de se obter cada um dos estados de dano para o deslocamento espectral de valor X,
é a apresentada na figura 3.14.
Figura 3.13 – Curvas de fragilidade (adaptado de Vicente, Varum e Costa, 2009)
Figura 3.14 – Distribuição de cada probabilidade para um determinado deslocamento espectral X (adaptado de Vicente, Varum e Costa, 2009)
Inerente ao processo da determinação dos valores dos parâmetros necessários para a definição das
curvas de fragilidade está presente a incerteza, que não pode ser desprezada. Atendendo a este
facto, no cálculo da probabilidade de se atingir ou exceder um determinado estado de dano, estes
fatores são contabilizados através do coeficiente βds.
31
A incerteza é geralmente categorizada em aleatória e epistémica, sendo o primeiro caso a incerteza
associado à aleatoriedade intrínseca de um determinado fenómeno e o segundo caso de incerteza
associado à falta de conhecimento ou de dados (Kaynia et al., 2013).
Na literatura consultada, é possível observar-se que a definição dos fatores responsáveis pela
contabilização da incerteza associada às curvas de fragilidade não é consensual, embora as
diferenças existentes não sejam muito acentuadas. Em todos os casos, considera-se que o
coeficiente βds é um desvio padrão lognormal.
Assim sendo, nas curvas de fragilidade, o parâmetro βds (ou seja, o valor do desvio padrão lognormal)
é o responsável por controlar a inclinação da curva. Valores elevados de beta correspondem a maior
variabilidade do estado de dano e isso refletir-se-á na curva conferindo-lhe uma forma mais aplanada,
ou seja, o declive variará de uma forma mais progressiva. No caso de valores mais baixos, que
correspondem a menor variabilidade do estado de dano, terá como resultado uma variação da
inclinação mais abrupta, ou seja, o declive será mais acentuado (FEMA, 2013c).
Kaynia et al. (2013) e FEMA (2013a), definem que a incerteza é contabilizada através do desvio
padrão βds que é geralmente resultante da combinação de três tipos de incertezas: a incerteza na
definição do estado de dano, a incerteza na resposta da estrutura (curva de capacidade) e a incerteza
na definição da ação sísmica (espectro de resposta) (Kaynia et al., 2013).
No entanto, Lagomarsino e Cattari (2013a), definem que a incerteza e variabilidade nas curvas de
fragilidade são determinadas através da contabilização de quatro fatores. Tal como na definição
apresentada anteriormente, também se considera o fator relativo à variabilidade da curva de
capacidade, βc (isto é, relacionado com os parâmetros geométricos e mecânicos que afetam a
resposta global da estrutura), o fator relativo à variabilidade do espectro de resposta, βD e o fator
relativo à variabilidade dos estados limite de danos, βls. No entanto, a diferença surge na
consideração de um quarto fator relacionado com erros no modelo, βε. É referido que βds pode ser
calculado através da equação 3.23 (Lagomarsino e Cattari, 2013a).
(3.23)
Em Lagomarsino e Cattari (2013b), referente à definição de curvas de fragilidade de edifícios de
alvenaria, afirma-se que o parâmetro βds é determinado através da consideração de quatro fatores
independentes. Destes quatro fatores, dois deles correspondem aos já referidos βC, que está
relacionado com a variabilidade da curva de capacidade, e βT, que está relacionado com a incerteza
na definição dos estados limite de dano. A diferença reside na contabilização da incerteza da ação
sísmica, que ao invés do que sucede no caso anteriormente apresentado, onde apenas é
considerado um único fator para esta fonte de incerteza, os autores sugerem que se considere dois
fatores, βH e βD. βH é o fator relacionado com a incerteza epistémica da curva de perigosidade
sísmica e o fator βD está relacionado com a incerteza na forma do espetro de resposta (Lagomarsino
e Cattari, 2013b).
32
É então definido que o parâmetro βds pode ser calculado através da equação 3.24.
(3.24)
Ainda neste documento, que recorde-se é referente ao desenvolvimento de curvas de fragilidade de
edifícios de alvenaria, são sugeridas expressões para cada um dos fatores descritos anteriormente.
Nas equações seguintes, os índices 16 e 84 correspondem aos níveis de confiança de 16% e 84%,
IM ao parâmetro Medida de Intensidade sísmica e λ está relacionado com a curva de perigosidade
sísmica.
(3.25)
(3.26)
O fator βC está relacionado, não só com variáveis como as que caracterizam as propriedades dos
materiais (rigidez e resistência), a geometria, a capacidade de deformação dos painéis de alvenaria
medida a partir do seu deslocamento entre pisos, ou a rigidez dos pisos no plano, mas também com
incertezas epistémicas relativas ao modelo. Refira-se que ao contrário do apresentado na equação
3.23, onde a incerteza no modelo figurava como uma variável independente, aqui é considerada
como constituinte da incerteza associada à determinação da curva de capacidade. No caso de se
estar a considerar um edifício de alvenaria em particular, as variáveis consideradas originam uma
incerteza tanto menor quanto maior for a quantidade de informação disponível, relativamente a essas
variáveis, para o edifício em análise. Para o caso de se fazer uma análise à escala territorial, em que
uma curva de capacidade equivalente representa a capacidade resistente de um conjunto de
edifícios, essas mesmas variáveis terão um valor que varia não consoante as características de
apenas um edifício mas sim do conjunto de edifícios que a curva de capacidade equivalente pretende
considerar. O fator βC é determinado através das equações 3.27 e 3.28:
(3.27)
(3.28)
sendo Z a matriz que reúne valores normalizados relacionados com os níveis de confiança de 16% e
84% de cada variável (-1 para o nível de confiança de 16% e +1 para o nível de confiança de 84%) e
Y o vetor que reúne os valores de log (IMLS,i) em que i=1,…M, com M dependente do número de
variáveis consideradas ( ) (Lagomarsino e Cattari, 2013b).
O fator , que está relacionado com a incerteza na definição dos estados limite de dano, é
determinado a partir da equação 3.29.
(3.29)
33
3.4 Métodos Híbridos
Os métodos híbridos são métodos que conjugam componentes tanto empíricas como analíticas.
Distinguem-se três principais grupos de métodos híbridos, os que são baseados em Mecanismos de
Colapso (seção 3.4.1), os baseados no Espectro de Capacidade (seção 3.4.2) e os baseados no
Deslocamento Global (seção 3.4.3). Em cada grupo será efetuada uma descrição mais exaustiva dos
métodos mais importante de cada tipo. Estes são o FaMIVE e o VULNUS (primeiro grupo), HAZUS
(segundo grupo) e o MeBaSe (terceiro grupo).
3.4.1 Métodos baseados em Mecanismos de Colapso
Os métodos baseados em mecanismos de colapso são métodos que, tal como o nome sugere, se
baseiam no estudo de modelos que através de solicitações se tornem mecanismos (i.e., atingem o
colapso) e a partir dos quais se determinam os multiplicadores de colapso. Estes métodos são
principalmente utilizados na avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios de alvenaria (Calvi et
al., 2006).
Os dois principais métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica baseados em mecanismos de
colapso são os métodos VULNUS e FaMIVE, que se apresentam de seguida, sucintamente.
3.4.1.1 VULNUS
O método VULNUS é um método utilizado para a avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios de
alvenaria estrutural não reforçada e foi desenvolvido em Itália, no final dos anos 80 (Bernardini et al.,
1990; Restrepo-Veléz, 2003; Calvi et al., 2006).
Apesar de poder ser aplicado tanto em edifícios isolados como em agrupamentos complexos de
edifícios, este método apresenta algumas limitações quanto à sua utilização pois apenas deve ser
aplicado a edifícios suficientemente regulares, tanto em planta como em altura, e que apresentem
altura limitada (Bernardini et al., 1990).
O VULNUS é um método que se baseia essencialmente na teoria dos conjuntos difusos e na
definição de multiplicadores de colapso. Estes últimos, na metodologia VULNUS, são definidos para
mecanismos que podem ocorrer no plano das paredes resistentes ou fora deste.
O multiplicador de colapso I1, avalia o comportamento do mecanismo de colapso no plano,
considerando um colapso por esforço transverso no piso térreo. O valor do coeficiente de colapso I1 é
obtido através da equação 3.30, na qual é determinado o quociente entre o esforço transverso no
plano e o peso total do edifício, W. Vx e Vy representam o esforço transverso a meia altura do piso
34
térreo segundo as direções x e y, respetivamente e são determinados através da equação 3.31
(Munari et al., 2010; Calvi et al., 2006).
(3.30)
(3.31)
Onde são as áreas totais das paredes segundo as direções X e Y, respetivamente, é a
resistência à tração da alvenaria e é o fator de regularidade no plano (Florio, 2010).
O multiplicador de colapso I2, avalia o comportamentopara fora do plano das paredes do edifício,
sendo o valor deste parâmetro calculado através da equação 3.32, onde e são as resistências
vertical e horizontal dos painéis de alvenaria, respetivamente. Uma descrição mais detalhada do
cálculo deste multiplicador de colapso pode ser encontrada em Bernardini et al. (1990).
(3.32)
Após calculados os dois parâmetros anteriores é determinado, através da expressão 3.33, o índice,
. Este resulta da soma ponderada de pontuações de sete (índice ) fatores de vulnerabilidade
parciais, que se encontram reunidos na tabela 3.6. Cada um dos fatores tem uma determinada
importância, que é considerada através do peso , apresentando-se a relação entre ambos na
referida tabela. A cada fator está também associada a qualidade que este evidencia, sendo
considerado através do parâmetro , onde a maior qualidade é pontuada com um valor superior, tal
como se observa na tabela 3.7.
(3.33)
Tabela 3.6 – Pesos relacionados com os fatores de vulnerabilidade (adaptado de Bernadini et al., 1990)
Fator de Vulnerabilidade Peso,
1. Qualidade do sistema de paredes 0.15
2. Interação entre o solo e as fundações 0.75
3. Interação entre pisos 0.50
4. Regularidade em altura 0.50
5. Interação da cobertura 0.50
6. Interação entre elementos não estruturais 0.25
7. Condições de manutenção gerais 0.50
Tabela 3.7 – Valores da pontuação correspondentes às classes de vulnerabilidade (adaptado de Bernardini et al., 1990
Classe Pontuação,
1. Bom ou correspondente ao código 0
2. Quase bom 15
3. Quase mau 30
4. Mal ou inseguro 45
35
São calculados a aceleração média absoluta do edifício, A, (i. e. esforço transverso máximo a dividir
pela massa total) e o fator de incerteza a, que é obtido através da teoria dos conjuntos difusos
(relação linguística que se encontra definida no glossário) que utiliza o índice, , apresentado na
tabela 3.8.
Tabela 3.8 – Relação linguística entre e (a) (adaptado de Bernardini et al., 1990)
j = 1 Se é muito grande então (a) é muito grande
j = 2 Se é grande então (a) é grande
j = 3 Se é médio então (a) é médio
j = 4 Se é pequeno então (a) é pequeno
j = 5 Se é muito pequeno então (a) é muito pequeno
A vulnerabilidade é função dos parâmetros anteriormente referidos, tal como se pode observar na
equação 3.34, sendo esta a probabilidade de excedência do estado limite D4 (baseado na escala de
danos EMS-98) (Calvi et al., 2006). Informações sobre este processo podem ser encontradas em
Bernardini et al. (1990).
(3.34)
3.4.1.2 FaMIVE
O método FaMIVE, que é o acrónimo de Failure Mechanisms Identification and Vulnerability
Evaluation, surgiu em 2002 (D’Ayala e Speranza 2002; D’Ayala 2005 e D’Ayala e Paganoni 2011) e é
utilizado para avaliar a vulnerabilidade de edifícios históricos de alvenaria e edifícios de centros
históricos de cidades.
Este encontra-se informatizado e baseia-se na identificação prévia dos mecanismos de colapso, no
plano e fora do plano, avaliando a sua maior ou menor propensão de ocorrência através do cálculo de
um fator de carga (também referido na literatura como multiplicador de colapso) (Vicente, 2008).
O primeiro passo do método, passa pela recolha de dados. Esta recolha é feita através de uma
inspeção, realizada in situ, que se foca nos parâmetros que podem qualificar diretamente o
desempenho sísmico do edifício (D’Ayala e Speranza, 2002). São recolhidos dois conjuntos distintos
de dados. Um primeiro conjunto visa reunir informação relativa à tipologia arquitetónica e estrutural
existente na zona a ser estudada, o tipo de alvenaria e as caraterísticas do material. Numa segunda
fase é recolhido um conjunto de dados relacionados com características essencialmente geométricas
do edifício como a altura, o comprimento e a espessura de cada parede, o número de pisos e
eventuais sistemas de reforço (D’Ayala e Speranza, 2002).
36
As informações recolhidas são introduzidas num formulário eletrónico e armazenadas numa base de
dados servindo posteriormente como dados input para a determinação do carregamento e das
condições de restrição a aplicar a cada parede. Com estes dados identificam-se todos os
mecanismos cinematicamente admissíveis e determinam-se para cada um o factor de carga de
colapso (D’Ayala e Speranza, 2002).
De facto, o método FaMIVE recorre a uma análise estática limite, calculando a capacidade de corte
equivalente (ESC - Equivalent Shear Capacity), definida em termos de aceleração crítica normalizada
(a/g), que provoca um determinado mecanismo de colapso. Para cada mecanismo de colapso
possível, é determinado o fator de carga. Estes encontram-se identificados e podem ocorrer no plano
ou fora deste e ainda ser uma combinação de ambos. Originalmente foi definido um catálogo de
mecanismos de colapso em 2003, tendo sido atualizado em 2005 e 2011, sendo a versão mais
recente a apresentada na figura 3.15 (D’Ayala e Novelli, 2012).
Figura 3.15 – Mecanismos de colapso do método FaMIVE (retirado de D'Ayala e Kishali, 2012)
Este catálogo foi elaborado com o recurso a dados recolhidos em inspeções efetuadas após a
ocorrência de sismos, tendo sido identificados 12 mecanismos de colapso possíveis, que podem
ocorrer no plano, fora do plano ou ser a combinação dos anteriores (D’Ayala, 2013).
Tal como referido anteriormente, a cada um dos mecanismos de colapso está associado um fator de
carga (=ESC), apresentando-se na figura 3.16 as expressões utilizadas no cálculo de alguns dos
referidos fatores.
37
Figura 3.16 – Mecanismos e fatores de carga para os modos de rotura na fachada (retirado D'Ayala e Speranza, 2003)
38
Figura 3.16 (continuação) – Mecanismos e fatores de carga para os modos de rotura na fachada (retirado D'Ayala e
Speranza, 2003)
Para cada mecanismo possível de ocorrer numa parede é calculado um valor, cuja expressão se
encontra definida na equação 3.35 entre parêntesis, sendo o índice que representa cada um dos
mecanismos. A vulnerabilidade (V) corresponde ao valor máximo destes, tal como se pode observar
na referida equação (NIKER, 2010).
(3.35)
Entre os vários mecanismos possíveis definidos para cada parede, o que apresenta pior combinação
entre o valor mínimo do parâmetro de carga de colapso (ESC) e extensão máxima da parede
envolvida no colapso, é escolhido como o mecanismo de colapso mais provável. Na equação 3.35 o
coeficiente representa a maior extensão das estruturas da parede e do piso e o coeficiente está
relacionado com o carácter catastrófico do colapso (NIKER, 2010).
São definidas quatro classes de vulnerabilidade (baixa, média, elevada e extrema) que se relacionam
com o valor da vulnerabilidade (V), para o edifício, através das relações apresentadas na tabela 3.9.
Na bibliografia consultada não é explícito como é considerada a ação sísmica. No entanto, é referido
que as classes de vulnerabilidade apresentam uma boa correlação com os níveis de danos da escala
de Mercalli (Formisano et al., 2010).
Tabela 3.9 – Classes de vulnerabilidade consoante o valor da vulnerabilidade (V)
Classes de Vulnerabilidade
Baixa Média Elevada Extrema
V < 3,5 3,5 < V < 7 7 < V < 15 V > 15
39
Em 2005, D’Ayala adaptou a metodologia FaMIVE apresentando uma versão do método, que utiliza a
abordagem do mecanismo de colapso para derivar as curvas de capacidade (D’Ayala, 2013).
O fluxograma apresentado na figura 3.17 representa, de uma forma esquemática, os vários passos
necessários para determinar a vulnerabilidade sísmica do edifício, através das curvas de fragilidade.
Figura 3.17 – Fluxograma do método FaMIVE para a derivação das curvas de fragilidade (retirado de D’Ayala, 2013)
Tal como na versão anterior, é efetuada uma recolha de dados relativamente às características do
edifício sendo posteriormente determinado, numa primeira fase, o fator de carga de colapso para
cada mecanismo de rotura possível em cada parede do edifício, através de uma análise estática
limite (D’Ayala, 2013). Numa segunda fase, é determinado o fator de carga de colapso do edifício
mais provável de ocorrer, globalmente, resultando da combinação da maior porção mobilizada com o
fator de carga de colapso mais baixo (i.e., identificando a Vulnerabilidade V segundo a equação 3.35)
(Vicente et al., 2014).
40
Através do conhecimento da parede que apresenta menor fator de carga de colapso, é então definida
a curva de capacidade condicionante, que vai permitir definir níveis de danos, relacionados com esta
curva, e o ponto de desempenho para determinado espectro de resposta. Refira-se que a curva de
capacidade resultante é composta por troços lineares de um sistema de um grau de liberdade
equivalente. O ponto de desempenho é determinado pela interceção do espectro de resposta e da
curva de capacidade, estando envolvido neste processo uma versão modificada do método N2. No
final são determinadas curvas de fragilidade.
Assim, na nova versão do FaMIVE, o edifício/fachada é simplificado a um sistema de um grau de
liberdade, caracterizado por uma rigidez efetiva ( ) e pela massa efetiva ( ), calculadas através
das equações 3.36 e 3.37, respetivamente. Refira-se que a rigidez de uma parede, calculada através
da metodologia FaMIVE, é função do tipo de mecanismo alcançado, da geometria da parede e da
configuração das aberturas, das ligações a outras paredes e pisos, e à porção de outras paredes
envolvidas no mecanismo (D’Ayala et al., 2012).
(3.36)
(3.37)
Na equação 3.36, e assumem valores diferentes consoante as restrições das ligações e a
contribuição da rigidez de corte ou de flexão para a formação do mecanismo; é o módulo de
elasticidade da alvenaria; e são, respetivamente, o momento de inércia e a área transversal,
calculados tendo em conta a extensão e posição das aberturas na parede e a sua variação da
espessura em altura; é a altura da porção da parede envolvida no mecanismo de colapso; é
o volume sólido da parede envolvido no mecanismo; é a densidade da alvenaria; e são as
massas das estruturas horizontais envolvidas no mecanismo (Vicente et al., 2014).
A massa efetiva é aplicada à altura do centro de gravidade da parte da parede que entra em
colapso e é aplicada uma distribuição linear de aceleração ao longo da altura da parede.
O período de um sistema equivalente a um grau de liberdade é então calculado a partir da equação
3.38.
(3.38)
É definida a curva de capacidade do edifício/parede em função de quatro pontos, dos quais apenas
três estão relacionados com a ocorrência de danos, sendo o último deste correspondente ao colapso.
Os referidos pontos podem ser associados a estados limite de dano. A curva é composta por quatro
troços retos em que o primeiro representa a fase elástica da estrutura até atingir o primeiro ponto de
controlo, que representa o valor limite da capacidade resistente elástica, definido pelas coordenadas
(Dy, Ay). Este ponto pode ser associado ao estado limite de Limitação de Danos (Damage Limitation
– DL).
41
A aceleração correspondente ao ponto de cedência e o respetivo deslocamento são calculados
através das equações 3.39 e 3.40, respetivamente. Ay representa o valor da aceleração linear que,
combinada com o carregamento gravitacional, origina uma distribuição de tensões de compressão
linear na base da parte do mecanismo que vai ser derrubado (D’Ayala et al., 2014).
(3.39)
(3.40)
Na equação 3.39, representa a espessura efetiva na base da parede que vai sofrer derrubamento,
é a altura medida entre o centro de massa desta porção e a base da parede e é a aceleração da
gravidade. Refira-se que, no caso de o mecanismo ocorrer no plano da parede, o parâmetro
geométrico utilizado para o cálculo da aceleração do limite elástico ( ) deverá ser a largura do
nembo onde o valor limite da extensão é primeiro atingido, em vez da espessura efetiva da parede.
O segundo ponto é um ponto intermédio entre a cedência e o valor último, sendo este o valor para o
qual se considera ter atingido a capacidade máxima ( ). Este valor é função do fator de carga de
colapso do mecanismo ( ), calculado pelo FaMIVE, e da proporção da massa total que participa no
mecanismo ( ). Esse valor de aceleração última é determinado a partir da equação 3.41 (D’Ayala,
2013).
(3.41)
O referido ponto pode ser associado ao estado limite de Danos Significativos (Significant Damage -
SD). O deslocamento que corresponde a este ponto ( ) pode tomar valores entre o intervalo
definido na equação 3.42, sendo o valor inferior utilizado preferencialmente para descrever o
comportamento de blocos de adobe de terra, de pedra e de tijolo com argamassa e o valor superior
utilizado preferencialmente para descrever o comportamento de alvenaria de pedra maciça e de tijolo
assente em argamassa de cal ou em argamassa de cimento e de alvenaria de blocos de betão
(Vicente et al., 2014).
(3.42)
O terceiro ponto, que pode ser associado ao estado limite de Colapso Eminente (Near Collapse - NC)
tem como coordenadas ( , ), sendo o deslocamento calculado através da equação 3.43. Refira-se
que este ponto, no caso de mecanismos fora do plano está relacionado com a perda de equilíbrio
vertical e deve ser utilizada a primeira inequação. No caso de mecanismos no plano, deverá utilizar-
se a segunda inequação, estando o ponto NC relacionado com a perda de sobreposição entre duas
unidades de tijolo em filas sucessivas (D’Ayala et al., 2014).
(3.43)
42
Na equação 3.43, é a espessura efetiva da parede na base da parede sujeita a derrubamento e o
comprimento dos nembos que formam a parede.
A determinação das coordenadas do ponto de desempenho é efetuada através da interceção entre o
espectro de resposta inelástico (definido em coordenadas espetrais) e a curva de capacidade
resistente do edifício. O método FaMIVE recorre a uma variante do método N2, que se encontra
definido no EC8 (CEN, 2004), para reduzir o espectro de resposta elástico e determinar o referido
ponto de desempenho (Vicente et al., 2014).
3.4.2 Métodos baseados no Espectro de Capacidade
Neste subcapítulo apresentam-se os principais métodos desenvolvidos para efetuar a avaliação da
vulnerabilidade sísmica que recorrem ao Método do Espectro de Capacidade no processo de
obtenção do ponto de desempenho da estrutura. Destes métodos apresentar-se-á a metodologia
HAZUS em maior pormenor devido à sua relevância. Os restantes métodos serão brevemente
apresentados ou apenas referidos.
3.4.2.1 HAZUS
HAZUS, cuja sigla resulta da aglutinação de Hazard US, corresponde a uma metodologia que
começou a ser desenvolvida em 1992 nos Estados Unidos da América através da cooperação entre
as entidades FEMA (Federal Emergency Management Agency) e NIBS (National Institute of Building
Sciences) tendo a sua primeira versão sido disponibilizada em 1997. Esta primeira versão apenas
permitia avaliar as perdas devido à ocorrência de um sismo (Seligson, 2008).
A metodologia HAZUS está implementada num software amplamente utilizado na estimativa de
perdas resultantes de catástrofes naturais como sismos, inundações e furacões. Este recorre a um
Sistema de Informação Geográfica (SIG) no processo da determinação dos impactos físicos, sociais e
económicos devidos à ocorrência de desastres (Neighbors et al., 2013).
Ao longo dos anos, foram efetuadas diversas atualizações, das quais apenas se referem as mais
importantes. Em 1999, foi disponibilizada a versão HAZUS99, a qual apresenta alterações
consideráveis em relação à versão original. Em Fevereiro de 2004, foi disponibilizada a versão
HAZUS-MH na qual foi introduzida a capacidade de estimar as perdas devido a inundações e a
furacões, transformando-se assim numa ferramenta que permite a estimativa de perdas devido a
múltiplos desastres naturais, motivo pelo qual a sigla desta versão apresenta as consoante MH (Multi-
Hazards) (Berman, 2011).
Em Janeiro de 2005, foi disponibilizada a primeira versão do HAZUS-MH MR (Maintenance Release).
43
A versão mais recente deste software é o HAZUS-MH 2.1 e foi disponibilizada em Fevereiro de 2012.
Para o desenvolvimento desta dissertação, apenas interessa analisar o modelo referente às ações
sísmicas (Earthquake Model). Este modelo é composto por seis módulos principais interdependentes
sendo que os dados output de alguns são os dados input dos outros. Os módulos são: Perigosidade
Sísmica (PESH - Potential Earth Science Hazard), Inventário, Dano físico direto, Dano físico induzido,
Perdas económicas/sociais diretas e Perdas económicas indiretas (FEMA, 2013a).
O módulo Perigosidade Sísmica estima dois parâmetros. O primeiro, movimento do solo (ground
motion), é o responsável pela ocorrência da maioria dos danos e perdas, sendo definido em termos
de aceleração espetral (Sa) e aceleração de pico do solo (PGA). O segundo, relacionado com a
rotura do solo, é o parâmetro que considera os deslocamentos permanentes no solo: os
deslizamentos de terras, a liquefação do solo e a rotura da superfície (associada à ocorrência de
falhas) (FEMA, 2013b; FEMA, 2008).
O módulo relativo ao inventário é o responsável por coligir os danos necessários para a aplicação da
metodologia. No inventário são distinguidos quatro grupos: Parque edificado, Equipamentos
essenciais e de perdas de elevado potencial, Sistemas de transporte e Infraestruturas básicas
(FEMA, 2008). No caso do grupo do parque edificado, os edifícios são adicionalmente classificados
consoante o tipo de uso (classe de ocupação) e consoante o sistema estrutural (tipologia estrutural).
São definidos 7 grupos de ocupação principais que permitem distinguir entre edifícios residenciais,
comerciais, industriais, religiosos/não lucrativos, governamentais, educacionais e infraestruturas
básicas. Em cada grupo é efetuada nova distinção tendo como consequência a definição de 33
classes de ocupação (FEMA, 2013a). Relativamente ao sistema estrutural, são definidas 36 tipologias
diferentes que permitem agrupar os edifícios que apresentam características de dano/perdas
semelhantes. O dano é previsto em função do sistema estrutural e a ocupação é importante na
determinação de perdas económicas, uma vez que o valor do edifício é principalmente função do tipo
de utilização (FEMA, 2010).
O módulo relativo aos Danos físicos diretos estima os danos provocados efetivamente pela ação
sísmica, para os quatro grupos do inventário. O módulo relativo ao dano físico induzido estima os
danos que poderão ocorrer, não devido diretamente ao sismo, mas como consequência da sua
ocorrência. Isto é, avalia potenciais danos provocados por possíveis inundações ou incêndios após
ocorrer o sismo, entre outros (FEMA, 2008).
O módulo relativo às perdas económicas/sociais, a nível económico, estima as perdas resultantes de
danos estruturais e não estruturais nos edifícios, as perdas relativas ao capital como perdas de
investimentos e de alugueres, entre outras. A nível social estima perdas quantificadas em termos de
vítimas, de famílias deslocadas e necessidades de abrigo a curto prazo (FEMA, 2008). O módulo
relativo às perdas económicas indiretas estima as perdas a longo prazo, devido ao tempo de
inatividade (Calvi et al., 2006).
44
Dos seis módulos apresentados anteriormente, é no módulo referente aos danos físicos diretos que
reside o interesse da metodologia HAZUS para a presente dissertação, uma vez que é neste que é
determinada a vulnerabilidade sísmica.
A determinação da vulnerabilidade sísmica depende da obtenção da curva de capacidade, em
primeiro lugar e posteriormente das curvas de fragilidade. A metodologia HAZUS é considerada como
um Método baseado no Espectro de Capacidade uma vez que é através dos seus pressupostos que
é determinado o ponto de desempenho da estrutura (Calvi et al., 2006).
De seguida apresentar-se-á uma breve descrição dos procedimentos para a determinação da
vulnerabilidade sísmica através da metodologia HAZUS e no final tecem-se considerações ao facto
de se considerar a metodologia HAZUS uma metodologia híbrida.
Dados INPUT
Os dados de entrada (INPUT) necessários para a determinação dos danos através das curvas de
capacidade e de fragilidade são os que dizem respeito à tipologia do edifício e ao nível da intensidade
sísmica de projeto bem como ao espectro de resposta, sendo este último um dado de saída (output)
do módulo Perigosidade Sísmica (PESH) (FEMA, 2013a).
Classificação dos edifícios
Tal como referido anteriormente, na metodologia HAZUS, um dos fatores dos quais depende a
determinação dos danos é a tipologia estrutural, que permite agrupar estruturas que apresentem
características semelhantes. As 36 tipologias definidas na metodologia são distinguidas não só
através do tipo de material utilizado, como a partir da função que esse material desempenha no
edifício, e ainda do número de pisos. Das 36 tipologias, apenas se lista as que correspondem a
edifícios de alvenaria que são objeto de estudo nesta dissertação:
- Paredes estruturais em alvenaria não reforçada de altura baixa (URML -
Unreinforced Masonry Bearing Walls Low-Rise)
- Paredes estruturais em alvenaria não reforçada de altura média (URMM -
Unreinforced Masonry Bearing Walls Mid-Rise)
Ambas as tipologias caracterizam as estruturas constituídas por paredes de alvenaria não reforçadas
diferindo apenas na altura dos edifícios.
Estados de Dano
Na metodologia HAZUS, a severidade/gravidade e extensão dos danos provocados por um sismo
numa estrutura é descrita em cinco estados de danos: Nenhum (None), Ligeiro (Slight), Moderado
(Moderate), Extensivo (Extensive) e Completo (Complete). Para edifícios correntes, é também
distinguido o nível de severidade sísmica considerada no dimensionamento do edifício, imposto pelas
45
normas/códigos sísmicos, considerando quatro níveis de dimensionamento sísmico diferente:
Elevado (High-Code), Moderado (Moderate-Code), Baixo (Low-Code) e Pré-Códigos (Pre-Code).
Refira-se que o nível de Pré-Códigos é relativo a edifícios que não foram dimensionados tendo em
conta a ação sísmica e que os edifícios especiais (como o caso de hospitais, quarteis de bombeiros e
polícia entre outros) são considerados num nível de dimensionamento sísmico Especial (Special
High-Code) (FEMA, 2013a).
A descrição física dos danos ocorridos para cada estado de dano difere consoante cada uma das 36
tipologias.
Determinação da curva de capacidade
O formato da curva de capacidade resistente proposta na metodologia HAZUS para cada tipologia
estrutural é caracterizado essencialmente em função de dois pontos de controlo: ponto de capacidade
de cedência (yield capacity) e ponto de capacidade última (ultimate capacity), representados na figura
3.18 (FEMA, 2013a).
O ponto de capacidade de cedência, caracterizado pelas coordenadas (Ay, Dy) e o ponto de
capacidade última, caracterizado pelas coordenadas (Au, Du) representam, tal como a designação
sugere, o par aceleração-deslocamento espectrais para o qual a estrutura entra em cedência e em
colapso, respetivamente.
Estes pontos de controlo servem como “fronteira” entre os diferentes comportamentos da estrutura.
Assim sendo, até ao ponto de cedência a curva da capacidade resistente do edifício apresenta um
comportamento linear, que caracteriza o comportamento elástico da estrutura, em que a rigidez é
baseada numa estimativa do período do edifício (FEMA, 2013a). A partir deste ponto até ao ponto de
capacidade última, a inclinação da reta vai diminuindo gradualmente até à horizontal, ou seja,
passando de um comportamento essencialmente elástico para um comportamento não linear (FEMA,
2013a).
Refira-se que as coordenadas do ponto de capacidade de cedência são determinados em função de
dois fatores relacionados com a capacidade resistente da estrutura, Cs e γ.
A determinação das coordenadas dos pontos de controlo, cujas ordenadas são valores de aceleração
e as abcissas são valores de deslocamento, são obtidas através da utilização de expressões que
dependem dos seguintes parâmetros:
Cs – coeficiente correspondente à capacidade resistente de dimensionamento (fração do peso do
edifício);
Te – período elástico do modo de vibração fundamental (em segundos);
a1 – relação entre a força de corte basal e o peso de um sistema equivalente de um grau de
liberdade;
46
a2 – relação entre a altura do edifício e a altura de um sistema equivalente de um grau de liberdade;
γ – fator de sobre-resistência que relaciona a força de cedência com a força de dimensionamento;
λ – fator de sobre-resistência que relaciona a força última com a força de cedência;
μ – fator “ductilidade” que multiplicado por λ permite relacionar o deslocamento último com o
deslocamento de cedência.
Na figura 3.18 apresentam-se as equações utilizadas para o cálculo das coordenadas dos pontos de
controlo de cedência e de capacidade última bem como os parâmetros que os permitem
correlacionar.
Figura 3.18 – Expressões para o cálculo dos pontos de controlo e a relação entre os parâmetros que os permitem relacionar (adaptado de FEMA, 2010)
Os parâmetros utilizados para determinar os pontos de controlo encontram-se tabelados para cada
tipologia estrutural. De uma forma geral, os que estão relacionados com a resistência de
dimensionamento e a ductilidade, Cs e μ respetivamente, são os únicos que para além de variarem
consoante a tipologia estrutural, também variam consoante o nível de severidade sísmica
considerada no dimensionamento. No caso particular das tipologias de interesse para esta
dissertação, paredes estruturais de alvenaria não reforçada, a última característica mencionada não
se verifica. De facto, tanto para o parâmetro Cs como para o parâmetro μ, não são definidos
quaisquer valores para os níveis de severidade sísmica de dimensionamento superiores (High-Code
e Moderate-Code) sendo apenas apresentados valores para os níveis mais baixos (Low-Code e Pre-
Code). Refira-se também que para estes dois últimos níveis, os valores tabelados não diferem entre
si. Na tabela 3.10 apresentam-se os valores propostos para estas tipologias.
47
Tabela 3.10 – Valores para o cálculo dos pontos de controlo
Tipologia Estrutural
Coeficiente Cs
Altura para o topo (Feet)
Período, Te (Segundos)
Peso, α1
Altura, α2
Cedência, γ
Último, λ Ductilidade,
μ
URML 0,067 15,0 0,35 0,50 0,75 1,50 2,00 5,0
URMM 0,067 35,0 0,50 0,75 0,75 1,25 2,00 3,3
Na tabela 3.11 encontram-se reunidos os valores que caracterizam os pontos de controlo de cedência
e último, resultantes da utilização das expressões apresentadas anteriormente, na figura 3.18.
Tabela 3.11 – Valores dos pontos de controlo para as tipologias de paredes estruturais em alvenaria não reforçada
Tipologia Estrutural
Ponto de Capacidade de Cedência Ponto de Capacidade Última
Dy (in.) Ay (g) Du (in.) Au (g)
URML 0,24 0,200 2,40 0,400
URMM 0,27 0,111 1,81 0,222
A curva resultante representa então a curva de capacidade resistente média para uma determinada
tipologia estrutural para um determinado nível de severidade sísmica considerado no
dimensionamento do edifício. Após determinada a curva de capacidade resistente do edifício, esta é
representada no mesmo gráfico que define o espectro de resposta permitindo obter, da interceção
entre ambas, o ponto de desempenho. Este processo é efetuado recorrendo ao Método do Espectro
de Capacidade (Capacity Spectrum Method) apresentado no documento ATC-40 (ATC, 1996).
Determinação da curva de fragilidade
A partir dos valores do ponto de desempenho obtidos através das curvas de capacidade, são
construídas as curvas de fragilidade. Estas apresentam, tal como já referido nesta dissertação
(capítulo 3.3.1), a probabilidade de uma estrutura atingir ou exceder um determinado estado limite de
dano em função do deslocamento espectral. A probabilidade de um estado de dano ser excedido é
obtido através da utilização de uma distribuição cumulativa lognormal, sendo analiticamente calculada
através da equação 3.44 (FEMA, 2013a).
Na metodologia HAZUS, o parâmetro de Medida de Intensidade sísmica (IM) é o deslocamento
espectral (Sd).
(3.44)
Onde:
dsk – estado de dano de referência;
– função de distribuição log-normal cumulativa;
48
ds – desvio padrão do logaritmo neperiano do deslocamento espectral para o estado de dano dsk;
– valor médio do deslocamento espectral para o qual a estrutura atinge o limiar do estado de
dano, dsk.
Tal como se observa na equação 3.44, esta depende essencialmente da determinação dos valores
de dois parâmetros: o deslocamento médio espectral para cada estado limite de dano ( ) e o
desvio padrão lognormal de cada estado de dano (ds) (FEMA, 2010).
A determinação do valor médio do deslocamento espectral para cada estado limite de dano, , é
obtido em função dos deslocamentos relativos entre pisos através da equação 3.45 (FEMA, 2013a).
(3.45)
Onde:
– é o rácio do deslocamento entre pisos (drift) para cada estado limite de dano ds;
– relação entre a altura do edifício e a altura de um sistema equivalente de um grau de liberdade;
h – é a altura do edifício (até ao topo).
Os valores do rácio do deslocamento entre pisos de cada estado de dano, , encontram-se
tabelados e são função da tipologia estrutural (incluindo a altura) e do nível de severidade sísmica
considerada no dimensionamento da estrutura (FEMA, 2013a). Estes são apresentados nas tabelas
3.12 e 3.14.
A contabilização da variabilidade das curvas de fragilidade na metodologia HAZUS, dada pelo desvio
padrão lognormal βds, é determinada a partir da equação 3.46, na qual o parâmetro βC contabiliza a
variabilidade associada determinação da curva de capacidade, βD está associado à variabilidade na
determinação do espectro de resposta e contabiliza a incerteza na determinação do valor
médio do estado limite de dano (FEMA, 2013a).
Os valores de βds são determinados para cada estado de dano (Slight, Moderate, Extensive e
Complete).
(3.46)
Na equação 3.46:
βC – parâmetro que representa o desvio padrão log-normal da variabilidade de capacidade;
βD – parâmetro que representa o desvio padrão log-normal da variabilidade do espectro de resposta;
βM(Sds) – parâmetro que representa o desvio padrão log-normal da variabilidade associada com a
definição dos limites dos estados de dano.
49
O termo “CONV” representa um processo de convolução complexo ao qual são sujeitas as
componentes βC e βD uma vez que estas são interdependentes, uma vez que a determinação do
ponto de desempenho é efetuado através de um processo iterativo que envolve tanto a curva de
capacidade como o espectro de resposta (Calvi et al., 2006). Relativamente ao parâmetro, βM(Sds),
assume-se ser independente da capacidade resistente da estrutura e da solicitação sendo apenas
adicionado aos parâmetros anteriores após o processo de convolução e através do método SRSS
(Square-Root-of the-Sum-of-the Squares) (FEMA, 2013a).
No manual técnico do HAZUS-MH 2.1 (FEMA, 2013a) são recomendados valores para os parâmetros
que quantificam as incertezas. É sugerido que se adote o valor 0,4 para o parâmetro que contabiliza a
incerteza do estado limite de dano estrutural, , independentemente da tipologia estrutural e do
estado de dano considerado. Relativamente ao parâmetro que contabiliza a variabilidade na
determinação da capacidade resistente do edifício são sugeridos dois valores consoante tenha sido
considerado algum nível de severidade sísmica no dimensionamento da estrutura ou não. Caso tenha
sido considerado, o valor sugerido é ; caso contrário o valor sugerido é .
Para a variabilidade da ação sísmica, não é sugerido nenhum valor sendo apenas referido que esta
deve ser considerada (FEMA, 2013a).
Para cada tipologia estrutural, foram determinados valores do parâmetro para cada estado de
dano ( ). Estes valores encontram-se reunidos para as tipologias URML e URMM nas tabelas 3.13
e 3.15, consoante tenha sido considerado um nível baixo de severidade sísmica no dimensionamento
ou não tenha sido considerado qualquer nível de severidade sísmica no dimensionamento,
respetivamente. Refira-se que, tal como para os valores dos parâmetros que permitem obter as
coordenadas dos pontos de controlo das curvas de capacidade, também para o deslocamento entre
pisos (e consequentemente o valor médio do deslocamento espectral, ) e para não são
apresentados valores para os níveis de severidade sísmica no dimensionamento mais elevados
(High-Code e Moderate-Code). Isto deve-se ao facto de, para edifícios de parede estruturais de
alvenaria não reforçada, os regulamentos sísmicos não o permitem.
Tabela 3.12 – Parâmetros para o cálculo do deslocamento médio espectral para edifícios nos quais tenha sido considerado um nível baixo de severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a)
Tipologia Estrutural
Altura (m) Deslocamento médio entre pisos para os estados
limite de dano ( )
Do topo (h) Do modelo (h) Ligeiro Moderado Extensivo Completo
URML 4,57 3,43 0,0030 0,0060 0,0150 0,0350
URMM 10,67 8,00 0,0020 0,0040 0,0100 0,0233
50
Tabela 3.13 – Parâmetros da curva de fragilidade para edifícios nos quais tenha sido considerado um nível baixo de severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a)
Tipologia Estrutural
Deslocamento Espectral (inches)
Ligeiro Moderado Extensivo Completo
Média Beta Média Beta Média Beta Média Beta
URML 0,41 0,99 0,81 1,05 2,03 1,10 4,73 1,08
URMM 0,63 0,91 1,26 0,92 3,15 0,87 7,35 0,91
Tabela 3.14 – Parâmetros para o cálculo do deslocamento médio espectral para edifícios nos quais não tenha sido considerada qualquer nível de severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a)
Tipologia Estrutural
Altura (m) Deslocamento médio entre pisos para os estados
limite de dano ( )
Do topo (h) Do modelo (h) Ligeiro Moderado Extensivo Completo
URML 4,57 3,43 0,0024 0,0048 0,0120 0,0280
URMM 10,67 8,00 0,0016 0,0032 0,0080 0,0187
Tabela 3.15 – Parâmetros da curva de fragilidade para edifícios nos quais não tenha sido considerada qualquer nível de severidade sísmica no dimensionamento (adaptado de FEMA, 2013a)
Tipologia Estrutural
Deslocamento Espectral (inches)
Ligeiro Moderado Extensivo Completo
Média Beta Média Beta Média Beta Média Beta
URML 0,32 1,15 0,65 1,19 1,62 1,20 3,78 1,18
URMM 0,50 0,99 1,01 0,97 2,52 0,90 5,88 0,88
Metodologia Hazus, uma metodologia híbrida
Considera-se que a metodologia é híbrida pois as curvas de capacidade são definidas em função de
parâmetros de dimensionamento e por parâmetros propostos a partir de pareceres de peritos (FEMA,
2013a).
Também ao nível da determinação do deslocamento espectral médio e da variabilidade/incerteza
para cada tipologia e para cada estado de dano, os valores determinados através da metodologia
HAZUS são obtidos através da combinação de dados de desempenho (através de testes efetuados
aos elementos dos edifícios), de dados registados a partir da observação de danos nas estruturas
após a ocorrência de sismos e de dados sugeridos por peritos (FEMA, 2013a).
3.4.2.2 Outras metodologias baseadas no Método do Espectro de Capacidade
Embora a metodologia HAZUS tenha sido desenvolvida com o intuito de mitigar o risco sísmico
especificamente nos Estados Unidos da América, esta tem sido adotada em diversos países sendo
no entanto sujeita a algumas correções por forma a calibrar as curvas de capacidade e de fragilidade
51
ao parque edificado em consideração (ERSTA, 2011; Calvi et al., 2006). Exemplo dessas
“adaptações” são os casos da estimativa de perdas em Taiwan por Yeh et al. em 2000, a avaliação
de perdas na Turquia efetuado por Bommer et al. em 2002, a avaliação do risco sísmico em Oslo por
Molina e Lindholm em 2005 e o projeto Risk-UE abordagem Nível II (Calvi et al., 2006). Algumas
destas metodologias são referidas de seguida.
A) Projeto Risk-UE
O projeto Risk-UE abordagem Nível II, que teve início em Janeiro de 2001 e término em 2004, teve
como principal objetivo efetuar uma avaliação das perdas diretas e indiretas devidas à ocorrência de
um sismo em 7 cidades Europeias: Barcelona, Bitola, Bucareste, Catania, Nice, Sofia e Salónica.
(Mouroux et al., 2004) Apesar de se basear nos mesmos passos principais que a metodologia
HAZUS, ou seja, efetuar uma classificação tipológica das estruturas, desenvolver curvas de
capacidade, determinar os pontos de desempenho e avaliar as probabilidades de atingir ou exceder
os diversos estados de dano, o projeto Risk-UE apresenta ligeiras alterações (Kaynia et al., 2013).
Uma vez que a taxonomia estrutural apresentada no método HAZUS foi desenvolvida com base nos
edifícios existentes nos Estados Unidos da América, a metodologia apresentada pelo projeto Risk-UE
propõem uma taxonomia estrutural, apresentada na figura 3.19, que se adapta aos edifícios
existentes na Europa. Para além das classes apresentadas na referida figura, cada classe é ainda
distinguida consoante a sua altura, onde se consideram a média de pisos do edifício (Kaynia et al.,
2011).
Figura 3.19 –Taxonomia estrutural apresentada no projeto Risk-UE (retirado de Mouroux et al., 2004)
52
Também a nível da definição das curvas de capacidade surgem diferenças, tendo sido considerados:
1. As curvas de capacidade dos edifícios de alvenaria europeus, não dimensionados para a
acção sísmica, foram definidas tendo em conta os tipos de colapso, a geometria, e as
caraterísticas mecânicas e dinâmicas (Cattari et al. 2004);
2. Curvas de capacidade para os edifícios dimensionados segundo o Eurocódigo 8 ou segundo
regulamentos sísmicos europeus antigos.
3. A representação de incertezas cognitivas. (Kaynia et al., 2013)
Relativamente à definição dos valores que determinam os estados de dano limite surgem também
diferenças. Os valores propostos em Risk-UE estão definidos na figura 3.20.
Figura 3.20 – Definições do estado de dano do Risk-UE (retirado de Kaynia et al., 2013)
B) LNECloss
Em Portugal, mais concretamente no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) foi
desenvolvido um simulador de cenários sísmicos que modela não só a ação sísmica como os danos
nos edifícios e as consequentes perdas económicas e humanas. Este simulador é um programa de
cálculo automático e encontra-se implementado num Sistema de Informação Geográfico (SIG) .
Tal como na metodologia HAZUS, o simulador LNECloss também é dividido em módulos sendo que o
módulo no qual é determinada a vulnerabilidade sísmica, também recorre ao Método do Espectro de
Capacidade. No entanto, o ponto de desempenho pode ser determinado através de um procedimento
alternativo implementado no LNECloss (Campos Costa et al., 2006). A diferença está relacionada,
fundamentalmente, com a definição do espectro de resposta, no processo iterativo de determinação
do ponto de desempenho, que no LNECloss se baseia num procedimento estocástico.
No LNECloss, na determinação das curvas de fragilidade, são definidos os mesmos cinco estados de
dano que na metodologia HAZUS. Os limites para esses estados de dano são definidos em função do
deslocamento entre pisos global para cada tipologia estrutural (Campos Costa et al., 2006).
53
C) Giovinazzi
Em 2005, Giovinazzi apresentou um método para a avaliação do risco sísmico de estruturas de
alvenaria e de betão armado que, tal como as metodologias anteriormente apresentadas, recorre ao
Método do Espectro de Capacidade.
Tal como no procedimento HAZUS, o método proposto por Giovinazzi (2005) é caracterizado pelas
seguintes componentes: definição da taxonomia estrutural, determinação da curva de capacidade,
determinação de pontos de desempenho e avaliação da probabilidade de atingir ou exceder diversos
estados de danos.
Giovinazzi (2005) propôs uma nova taxonomia estrutural (figuras 3.21, 3.22 e 3.23), que surge do
melhoramento da classificação tipológica estrutural definida em EMS-98, taxonomia esta que agrupa
de uma melhor forma o parque edificado europeu. Na taxonomia estrutural apresentada por
Giovinazzi (2005), todas as classes tipológicas referentes a estruturas de alvenaria, tanto não
reforçadas como reforçadas, mantêm-se inalteradas relativamente à definição original apresentada no
EMS-98. No entanto, todas estas classes relativas a estruturas de alvenaria são, na classificação
proposta por Giovinazzi (2005), divididas em sub-classes onde é distinguido o sistema estrutural
(figura 3.22). Para as estruturas de alvenaria também são consideradas diferentes classes referentes
a três níveis de altura do edifício (figura 3.23). Para as tipologias M6 e M7 é considerado também o
nível sísmico de dimensionamento (Giovinazzi, 2005).
Figura 3.21 - Sub-classes consideradas para o sistema de classificação proposto (retirado de Giovinazzi, 2005)
Figura 3.22 - Classes de alturas consideradas no sistema de classificação proposto (retirado de Giovinazzi, 2005)
Figura 3.23 - Classes tipológicas definidas por Giovinazzi (retirado de Giovinazzi, 2005)
54
Para além de um sistema de classificação estrutural, também foi determinado um sistema de
classificação ocupacional, tendo Giovinazzi adotado o sistema apresentado no projeto Risk-EU
módulo WP1 (Giovinazzi, 2005).
No método proposto por Giovinazzi (2005), a curva de capacidade é simplificada através de uma
bilinearização resultando numa curva com comportamento elástico perfeitamente plástico, e sendo
definida por dois pontos de controlo: ponto de cedência e ponto de capacidade última. Tanto os
deslocamentos espectrais de cedência como o último são função da aceleração , do período e da
ductilidade (Lagomarsino e Giovinazzi, 2006).
Na metodologia proposta por Giovinazzi, foram definidos quatro estados de dano limite. Os estados
de dano limite são caracterizados por um valor de deslocamento espectral médio sugeridos com base
na opinião de peritos, tendo sido verificados com base em resultados de análises pushover realizadas
em protótipos de edifícios. Tal como já referido aquando da apresentação genérica sobre a
determinação das curvas de fragilidade, na metodologia proposta por Giovinazzi (2005), os valores do
deslocamento espectral que caracterizam os estados de dano limite Sd,k, com k crescente consoante
a gravidade dos danos, são função dos deslocamentos de cedência (dy) e do deslocamento último
(du) – equações 3.47, 3.48, 3.49 e 3.50 (Giovinazzi, 2005).
(3.47)
(3.48)
(3.49)
(3.50)
O cálculo da probabilidade de se atingir ou exceder determinado estado de dano é efetuado
recorrendo à mesma equação apresentada na metodologia HAZUS, que é função de dois
parâmetros, o deslocamento espectral e as incertezas.
Ao contrário da metodologia HAZUS, em que se definem as incertezas referentes à determinação do
espectro de capacidade, do espectro de resposta e da definição dos estados de dano, que após
combinados permitem estimar a totalidade das incertezas na estimativa dos danos sofridos no edifício
βds, Giovinazzi (2005) apresenta uma proposta para estimar a incerteza total diretamente através da
equação 3.51. Esta equação é função da ductilidade que caracteriza a curva de capacidade (Calvi
et al., 2006; Lagomarsino e Giovinazzi, 2006).
(3.51)
55
3.4.3 Métodos baseados no Deslocamento Global
Outro tipo de metodologias que permite determinar a vulnerabilidade sísmica de edifícios de alvenaria
são os métodos baseados no Deslocamento Global (Fully Displacement). Estas têm como principal
característica a definição da ação sísmica, através do espectro de resposta de deslocamento, e a
capacidade resistente, também definida em função do mesmo parâmetro e obtida através de
abordagens mecânicas. O recurso a espectros de deslocamento deve-se à tendência de adoção da
filosofia de dimensionamento sísmico baseado nos deslocamentos, uma vez que existe uma elevada
correlação entre deslocamentos e danos estruturais (Sousa, 2006).
3.4.3.1 Método proposto por Calvi
O primeiro método baseado em deslocamentos foi o método proposto por Calvi (1999) e é aplicável
tanto a edifícios de betão armado como de alvenaria estrutural não reforçada. Segundo o autor, os
resultados obtidos a partir desta metodologia apenas têm significado a uma escala global e não para
edifícios isolados. Esta baseia-se essencialmente em oito passos:
1. Definir a ação sísmica através de um espectro de resposta elástico de deslocamento;
2. Definir um conjunto de estados limite, que discretizam a resposta do edifício;
3. Definir modelos estruturais simplificados para diferentes tipologias estruturais, em função dos
dados disponíveis;
4. Para cada modelo e para cada estado limite:
a. Calcular os valores máximos e mínimos do valor resistente do deslocamento esperado;
b. Calcular os valores máximos e mínimos do período de vibração esperado (correspondente
à rigidez secante definida a partir do valor resistente do deslocamento);
c. Calcular o fator de redução de deslocamento, como uma função do nível esperado de
dissipação de energia;
5. Traçar, no “gráfico” do espectro de resposta de deslocamento, os rectângulos que representam a
capacidade resistente do edifício (figura 3.24) em função do deslocamento e do período;
6. Definir uma função de densidade de probabilidade sobre os retângulos para ter em consideração a
probabilidade mais baixa que o valor do período e do deslocamento resistente ficarem perto dos
valores limites;
7. Comparar os valores dos deslocamentos resistentes e os devidos à ação sísmica considerada, ou
seja, sempre que uma linha espectral interseta um retângulo, calculando a probabilidade de
ocorrer um determinado estado limite através da integração da função de densidade de
probabilidade definida no interior do retângulo na área inferior à linha espectral.
56
8. A probabilidade calculada pode ser interpretada como a probabilidade do edifício, definido pelo
retângulo, atingir o estado limite correspondente, para a ação sísmica definida pela linha espectral.
Alternativamente, pode ser interpretado como a percentagem da totalidade dos edificios
semelhantes representados pelo retângulo atingir o estado limite correspondente (Calvi, 1999;
Calvi et al., 2006).
Figura 3.24 – Exemplo da interceção das áreas de capacidade e o espectro de resposta (retirado de Calvi, 1999)
A partir do método desenvolvido por Calvi (1999), duas novas metodologias foram desenvolvidas: a
MeBaSe (Mechanical Based Procedure for the Seismic Risk Evaluation of Unreinforced Masonry
Buildings) e a DBELA (Displacement-Based Earthquake Loss Assessment), para edifícios de
alvenaria e para edifícios de betão armado, respetivamente (Calvi et al., 2006).
3.4.3.2 Procedimento MeBaSe
A MeBaSe foi proposta por Restrepo-Vélez em 2003. Tal como referido anteriormente, esta é uma
variação da metodologia proposta por Calvi (1999) para o caso particular de edifícios de alvenaria
não reforçada, que pretende corrigir e melhorar alguns aspetos menos bem conseguidos na
metodologia original. Esta melhoria incide essencialmente em dois aspetos principais. O primeiro,
baseia-se na consideração de mecanismos de rotura para fora do plano, mecanismos estes que não
foram previstos na versão original, onde apenas se considerou o comportamento global do edifício e,
consequentemente, os mecanismos que ocorrem no plano das paredes. O segundo baseia-se na
definição do ponto de função densidade de probabilidade (JPDF) do deslocamento Δ e período T,
onde se deverá considerar que o deslocamento e o período não são variáveis independentes
(Restrepo-Veléz, 2003).
O presente sub-capítulo será dividido em duas partes principais: A) uma primeira parte onde se
apresentará o procedimento utilizado nesta metodologia para a definição da ação sísmica, a definição
57
dos estados limite e o procedimento mecânico que permite determinar a capacidade de resposta do
edifício; B) uma segunda parte onde se apresentará o processo que permite determinar a
probabilidade de excedência de um determinado estado limite, bem como a definição do JPDF.
Refira-se que, a primeira parte será apresentada separadamente consoante se esteja a referir a
mecanismos no plano (A.1) ou fora do plano (A.2), já que o processo varia substancialmente entre
estes dois tipos de mecanismos. Na segunda parte, e uma vez que o processo é idêntico para ambos
os tipos de mecanismo, não será necessário fazer esta distinção.
A.1) Procedimento para o mecanismo de rotura no plano
Ação Sísmica
Tal como na metodologia proposta por Calvi (1999), a ação sísmica é representada por um espectro
de resposta de deslocamento elástico (Displacement Response Spectrum – DRS) afetado por um
coeficiente de amortecimento equivalente (ξ) que varia consoante o estado limite considerado,
podendo este ser obtido através de códigos/regulamentos sísmicos ou através estudos regionais
sobre perigosidade sísmica. O deslocamento é definido em função do período (Restrepo-Veléz, 2003;
Restrepo-Vélez e Magenes, 2004).
Estados Limite
São considerados quatro estados limite: LS1 referente à não ocorrência de danos, LS2 referente a
ocorrência de danos estruturais menores, LS3 referente à ocorrência de danos estruturais
significativos e LS4 referente ao colapso. Tal como definido no método desenvolvido por Calvi, os
estados limite LS1 e LS2 são condensados num só (Calvi, 1999).
Assume-se que cada estado limite ocorre quando se atinge um determinado deslocamento entre
pisos ( . Estes são determinados em função de valores máximos do deslocamento entre pisos. Os
referidos valores diferem consoante o material constituinte da alvenaria (pedra, tijolo, …) considerada,
que poderão ser obtidos através de testes ou de valores existentes na literatura. Na tabela 3.16
encontram-se reunidos os valores sugeridos por Calvi (1999), com base nos resultados obtidos num
estudo efetuado por Magenes e Calvi (1997), para edificios de alvenaria de tijolo. Segundo Restrepo-
Vélez (2003), caso não existam valores disponíveis para o material em questão, poderão ser
utilizados os que se apresentadam na referida tabela, como alternativa.
Tabela 3.16 – Valores resultantes de um estudo realizado para edifícios de alvenaria de tijolo (adaptado de Calvi, 1999)
Estados Limite Deslocamento médio
entre pisos (%)
Coeficiente de variação do
deslocamento entre pisos (%) ξ (%)
LS1-LS2 0,1 --- 2 1
LS3 0,3 --- 10 1+3/n
LS4 0,5 10,9 15 1+6/n
58
Refira-se que, posteriormente ao desenvolvimento desta metodologia proposta por Restrepo-Veléz
que utilizou os valores propostos por Calvi, num estudo desenvolvido por Tarque Ruiz (2008) foram
sugeridos os valores apresentados na tabela 3.17, que foram obtidos através de testes experimentais
para parades de adobe (adobe walls).
Tabela 3.17 – Estados limite para parede de adobe sujeitas a forças no plano (retirado de Tarque Ruiz, 2008)
Estado
Limite Descrição
Deslocamento entre
pisos (drift) (%) ξ (%) Ductilidade
LS-1 Operacional 0,052 10 1
LS-2 Funcional 0,1 10 2
LS-3
Salvaguarda de
vidas humanas
(Life-Safety)
0,26 12 5
LS-4 Colapso 0,5 16 10
Modelo Estrutural Simplificado
Para os modos de rotura no plano, o modelo estrutural que representa o edifício é um modelo de
múltiplos graus de liberdade, tal como o que se apresenta na figura 3.25. Por forma a simplificar o
modelo, este é convertido num modelo de apenas um grau de liberdade, através do método proposto
por Shibata e Sozen (1976). Este modelo é assim caracterizado por uma massa efetiva , situada
a um altura efetiva e uma rigidez equivalente , sendo esta última propriedade resultante do
quociente entre a força de cedência e o deslocamento para um determinado estado limite
(Restrepo-Vélez, 2003).
Figura 3.25 – Modelo simplificado equivalente de um grau de liberdade (SDOF) (retirado de Restrepo-Vélez e Magenes, 2004)
São considerados quatros perfis de deslocamento associados a diferentes estados limite, sendo
estes apresentados na figura 3.26. O perfil de deslocamento a) corresponde aos estados de dano
LS1 e LS2 onde nenhum elemento estrutural atinge o deslocamento de cedência. Os perfis b) e c)
correspondem a mecanismos originados por um piso com menor capacidade resistente relativamente
aos restantes (soft storey). O perfil d) corresponde a um perfil de deslocamento que depende da
relação entre a resistência entre as vigas e os pilares. Os perfis de deslocamento b), c) e d)
correspondem a estados limite LS3 e LS4.
59
Figura 3.26 – Deformadas correspondentes aos estados limite consideradas na metodologia, para os mecanismos de rotura no plano (retirado de Restrepo-Vélez, 2003)
O deslocamento de estado limite, , ou seja, o deslocamento máximo que representa a capacidade
da estrutura até atingir determinado tipo de danos definidos pelos diversos estados limite, é calculado
através da equação 3.52. Esta resulta da soma de duas parcelas, sendo a primeira referente ao
deslocamento de cedência e a segunda o deslocamento plástico . As expressões que permitem
calcular estes dois tipos de deslocamentos foram determinadas através de leis da mecânica.
(3.52)
Sendo a altura total do edifício, e os deslocamentos entre pisos considerados na cedência
(corresponde ao LS1-LS2) e para o estado limite último pretendido, respetivamente. O parâmetro
é a altura efetiva dos elementos verticais (piers) que já se encontram em regime não linear, no caso
de existirem aberturas, ou a altura do piso, para paredes sem aberturas.
Os parâmetros e são dois fatores que têm em conta a distribuição de massa. Para os casos em
que os edifícios apresentam uma distribuição regular da massa e a altura dos pisos é uniforme,
toma o valor de 0.67 e o valor 1. No entanto, na maioria dos edifícios de alvenaria não reforçada, a
distribuição da massa não é regular sendo consideradas massas concentradas ao nível dos pisos,
e massas distribuídas por unidade de comprimento relativamente às paredes de alvenaria,
(Restrepo-Vélez e Magenes, 2004).
Na tabela 3.18 apresentam-se os valores determinados por Restrepo-Vélez para os parâmetros e
consoante o número de pisos do edifício, considerando um rácio
e que o piso menos
resistente se forma nos dois terços inferiores da altura do edifício (Restrepo-Vélez, 2003).
Tabela 3.18 – Valores de k1 e k2 em função do número de pisos (retirado de Restrepo-Vélez, 2003)
Número de
Pisos, n
1 0.790 0.967
2 0.718 0.950
3 0.698 0.918
4 0.689 0.916
5 0.684 0.900
6 0.681 0.881
60
Uma vez que a ação sísmica é definida em função do deslocamento e do período, a capacidade do
edifício deve ser definida em função das referidas variáveis. No método MeBaSe, é recomendada a
equação 3.53, para determinar o período em função da força de cedência, e do deslocamento .
(3.53)
A força de cedência é obtida através do produto entre o coeficiente sísmico e o peso , tal como
se sugere na equação 3.55. O coeficiente sísmico é calculado através da equação 3.54 que é uma
modificação da expressão originalmente proposta por Benedetti e Petrini (1984). Esta modificação,
através da introdução do coeficiente de correção , pretende colmatar a lacuna existente na
formulação inicial que não considerava a possibilidade de efeitos tri-dimensionais como por exemplo
a torção e a distribuição de forças no plano. Refira-se que para cada piso é calculado um coeficiente
sísmico (Restrepo-Vélez, 2003).
(3.54)
(3.55)
Em Restrepo-Vélez e Magenes (2004) é proposta uma equação 3.56 para a determinação do
coeficiente de correção. Esta equação surge na sequência de análises efetuadas a diversos edifícios
de dois a cinco pisos e com diferentes configurações, estando dependente do comprimento dos
nembos (elementos verticais) , do comprimento total das paredes do perímetro e da resistência
ao corte da alvenaria, .
(3.56)
Por fim, o período efetivo correspondente a um determinado estado limite, , pode ser calculado
através da equação 3.57, resultando da substituição das equações 3.55 e 3.52 na equação 3.53.
(3.57)
(3.58)
(3.59)
Sendo a área resistente das paredes na direção de menor resistência e o rácio entre as áreas
das paredes nas duas direções.
61
Através da conjugação das equações 3.53 e 3.57, obtém-se a equação 3.60, a qual permite calcular o
deslocamento resistente para um determinado estado limite em função do período, tal como
pretendido.
(3.60)
A.2) Procedimento para o mecanismo de rotura fora do plano
Ao contrário do sucedido no método desenvolvido por Calvi (1999), que apenas considera os
mecanismos de rotura que ocorrem no plano, o método MeBaSe considera, para além destes, os
mecanismos que ocorrem fora do plano.
Para este tipo de mecanismos, a ação sísmica é considerada através do recurso à equação 3.61.
Esta resulta da conversão para valores de deslocamento de uma equação proposta no EC8 (CEN,
2004), utilizada para estimar a aceleração provocada pela ação sísmica nos elementos (Restrepo-
Vélez e Magenes, 2004).
(3.61)
Sendo α igual aceleração de pico do solo para dado movimento do solo (PGA). Os parâmetros
e são as alturas à qual o elemento está localizado e a altura total do edifício, respetivamente. Os
parâmetros e são os períodos de vibração do elemento e do primeiro modo de vibração do
edifício, respetivamente. Desta forma, a ação sísmica fica definida em função dos parâmetros
deslocamento e período.
O método MeBaSe, apenas considera um estado limite para os mecanismos de rotura fora do plano,
estado esse que permite identificar apenas se a parede está estável ou se colapsada (Restrepo-
Vélez, 2003).
O deslocamento último, também referido como deslocamento do ponto de instabilidade, , tal como
se observa na equação 3.62, é função da espessura da parede, , das condições de fronteira ( ) e
do quociente entre a força axial aplicada no topo da parede e o peso próprio da metade superior da
mesma, .
(3.62)
Para as condições de fronteira da parede são considerados os quatro casos, que se apresentam na
figura 3.27.
62
Figura 3.27 – Modelos simplificados e as respetivas deformadas considerando um comportamento de corpo rígido (adaptado de Doherty, 2000)
O comportamento das paredes de alvenaria é um comportamento semi-rígido não linear à flexão e é
simulado através de um modelo tri-linear simplicado (figura 3.28) desenvolvido por Doherty et al.
(2002) e Griffith et al. (2003). Este modelo é uma aproximação do comportamento real das paredes
estruturais de alvenaria não reforçadas e é definido em função de três deslocamentos: , e
(Griffith et al., 2003; Restrepo-Vélez e Magenes, 2004).
Figura 3.28 – Relação F-Δ Tri-linear, Bi-linear e Real
Os valores dos deslocamentos referidos anteriormente foram estimados como uma proporção do
deslocamento último, a partir de propriedades materais e do estado de degradação da argamassa
nas juntas, em Doherty et al. (2002) encontrando-se reunidos na tabela 3.19.
O parâmetro é a força necessária para iniciar o movimento de corpo rígido (admite-se que até
atingir este valor a “estrutura” apresenta rigidez infinita, i.e., não se deforma) tendo sido determinado
através de leis mecânicas e o seu valor varia consoante as condições de fronteira da parede.
63
Tabela 3.19 – Rácios dos deslocamentos no modelo tri-linear (adaptado de Restrepo-Vélez e Magenes, 2004)
Estado de degradação da argamassa
Novo 0.06 0.28
Moderado 0.13 0.40
Severo 0.20 0.50
Conservativamente considera-se que o colapso ocorre para um valor de deslocamento, , entre
80% a 100% de . O período correspondente ao deslocamento de estado limite, , é dado pela
equação 3.63, onde é o rácio ; é a aceleração da gravidade e é o fator de redução do
deslocamento último (varia entre 0,8 e 1).
(3.63)
Invertendo a equação anterior, obtém-se a equação 3.64.
(3.64)
A capacidade resistente da parede, para o estado limite, é então caracterizado pelo par de
parâmetros ( , ) e é comparado com o espectro de resposta de deslocamento em coordenadas
( , ), determinado através da equação 3.61. Para o mesmo período, caso seja maior ou menor
que o , a parede colapsa ou não, respetivamente.
B) Determinação do JPDF e cálculo da probabilidade de colapso
A última fase da metodologia, que tem como principal objetivo o cálculo da probabilidade de colapso
é comum para ambos os tipos de mecanismos que podem ocorrer. A obtenção da referida
probabilidade envolve um processo probabilístico algo complexo, apenas se referindo na presente
dissertação os seus principais passos, podendo encontrar-se uma explicação mais detalhada sobre
este assunto no documento escrito por Restrepo-Vélez (2003). Refira-se que neste processo são
considerados três tipos de incertezas, relacionadas com a determinação da ação sísmica, dos
estados limite de danos e com a definição da capacidade resistente (Restrepo-Vélez, 2003).
Para o cálculo da referida probabilidade é necessário definir o ponto da função densidade de
probabilidade (Joint Probability Density Function – JPDF), que está relacionado com a capacidade
estrutural. O processo parte de uma formulação de confiança clássica (classical reliability formulation)
que define que a probabilidade de atingir o colapso, , através da expressão 3.65.
(3.65)
Nesta equação, a parcela e são referentes à ação sísmica e à capacidade
estrutural, respetivamente. representa a função de distribuição cumulativa (Cumulative
Distribution Function – CDF) da ação sísmica ser menor ou igual a determinado valor α. O parâmetro
64
representa a função distribuição de probabilidade (Probability Distribution Function) da
capacidade estrutural SC.
No caso particular de se pretender calcular a probabilidade ( ) para um estado limite LS em função
dos parâmetros e o correspondente , recorre-se à equação 3.66 (Restrepo-Vélez, 2003).
(3.66)
O ponto da função densidade de probabilidade (Joint Probability Density Function – JPDF), que é o
caso particular do ponto da probabilidade de distribuição para variáveis aleatórias contínuas, é dado
pela equação 3.67. Este é resultado da função densidade de probabilidade condicional de X
para determinado Y=y e da função densidade de probabilidade marginal para Y.
(3.67)
No caso particular da metodologia que se apresenta, o JPDF, é definido em função de duas variáveis
e , que resulta na equação 3.68. Assim sendo, a parcela é a função
densidade da probabilidade condicional de . A parcela é a função densidade de
probabilidade de .
(3.68)
As PDF (Probability Density Function), tanto no caso condicional como marginal, são determinadas
através da derivação das funções densidade cumulativas (Cumulative Density Function - CDF),
através das equações 3.69 e 3.70, respetivamente.
(3.69)
(3.70)
As referidas CDF são calculadas através do recurso ao Método de Confiança de Primeira Ordem
(First Order Reliability Method – FORM) sendo este processo explicado mais detalhadamente no
documento elaborado por Restrepo-Vélez (2003). Neste processo são determinadas funções de
estado limite G, na qual figura α, vetor unitário cujas componentes são denominadas de fatores de
sensibilidade. As funções G variam consoante se esteja a calcular a probabilidade de colapso para
mecanismos que ocorram no plano ou fora do plano e consoante se esteja a calcular a CDF
condicional ( ) ou marginal ( ) (Restrepo-Vélez, 2003).
No primeiro caso, para mecanismos que ocorrem no plano, as funções de estado limite G para e
(que permitem posteriormente determinar e ,respetivamente) são determinadas
através das equações 3.71 e 3.72, respetivamente.
65
(3.71)
(3.72)
(3.73)
(3.74)
No segundo caso, para mecanismos que ocorrem fora do plano, as funções de estado limite para
e (que permitem posteriormente determinar e ,respetivamente) são determinadas
através das equações 3.75 e 3.76, respetivamente. Refira-se que ambas as funções são
dependentes das condições de fronteira apresentadas na tabela 3.20 (Restrepo-Vélez, 2003).
(3. 75)
(3. 76)
Tabela 3.20 – de acordo com as condições de fronteira (retirado de Restrepo-Vélez, 2003)
Condições de Fronteira
Parede simples de suporte de carga com carregamento vertical aplicado no topo, centrado
Parede simples de suporte de carga com carregamento vertical aplicado no topo, num dos cantos
Parede em balanço sem carregamento vertical aplicado
Por fim, substituindo a equação 3.69 na equação 3.66 é possível determinar a expressão que permite
calcular a probabilidade de rotura/falha através, equação 3.77.
(3.77)
66
3.5 Reflexão sobre os métodos para avaliar a vulnerabilidade sísmica na
cidade de Lisboa
No presente subcapítulo, após definidos os principais métodos de avaliação da vulnerabilidade
sísmica, é feita uma pequena reflexão sobre qual ou quais dos procedimentos anteriormente
descritos poderiam ser utilizados para o caso de se pretender efetuar uma avaliação da
vulnerabilidade sísmica dos edifícios antigos de alvenaria da cidade de Lisboa. É importante referir
que não existe um método ideal a utilizar, sendo a escolha condicionada por fatores como: os dados
disponíveis, a escala (edifício isolado, quarteirão ou cidade), o custo, o tempo demorado ou o nível de
confiança.
Para estudar os edifícios isoladamente, os melhores métodos a aplicar são os métodos analíticos que
recorrem a análises não lineares. Estes métodos obrigam a que se conheça o edifício com um nível
de detalhe significativo (propriedades mecânicas dos materiais, características geométricas de todos
os elementos estruturais) e que se o modele de uma forma adequada para se poder recorrer a
análises não lineares. Apesar de mais morosos e consequentemente mais onerosos, estes métodos
permitem definir a vulnerabilidade sísmica de uma forma mais fiável, sendo por isso sugerido que,
para o caso de um edifício analisado isoladamente seja utilizada a metodologia implementada no
programa de cálculo TreMuri (Lagomarsino et al., 2012). É importante referir que a avaliação sísmica
adequada de um edifício tem sempre que ter em conta o efeito dos edifícios adjacentes. Assim
propõe-se que os estudos analíticos a desenvolver para diferentes tipologias de edifícios de alvenaria
tenham em conta este efeito, assim como os efeitos resultantes das diferentes alterações estruturais
que estes edifícios têm vindo a sofrer ao longo dos anos.
Para o caso de se pretender estudar a cidade no seu todo, ou a zona histórica da cidade, sugere-se a
utilização de métodos híbridos do género do HAZUS, com modificações necessárias para se adaptar
ao parque edificado da cidade de Lisboa. Uma vez que se pretende determinar a vulnerabilidade
sísmica dos edifícios de alvenaria antigos da referida cidade, cujos diferentes tipos existentes estão
bem identificados, dever-se-ia desenvolver uma nova “escala” de classes tipol gicas. Para a classe
dos edifícios de alvenaria não reforçada de baixa e média altura (Low-rise URM e Medium-rise URM),
deveriam ser desenvolvidas novas subclasses de tipologias estruturais, que permitissem fazer a
distinção entre os seguintes tipos de edifícios: Pré-Pombalinos, Pombalinos, Gaioleiros e de Placa.
Dentro destas 4 grandes tipologias deveriam ser consideradas mais subclasses que tivessem em
consideração, por exemplo: a) os diferentes tipos de edifícios existentes (por exemplo nos edifícios de
Placa é habitual diferenciar em dois grandes tipos: de planta rectangular ou com uma configuração
em “Rabo de Bacalhau”); b) a configuração original dos edifícios; c) as alterações estruturais mais
comuns; d) o efeito dos edifícios adjacentes, no caso de existir. Seriam modelados os edifícios mais
representativos das diferentes classes e subclasses dos edifícios, que representassem as
características geométricas e mecânicas mais habituais de cada uma destas tipologias. Através de
análises pushover seriam determinadas as capacidades resistentes destes edifícios. Posteriormente,
seriam efetuados estudos de sensibilidade da influência de algumas características mais comuns que
67
variam entre edifícios da mesma tipologia, como por exemplo o tipo de material de alvenaria (tijolo,
pedra, blocos de betão) ou a localização e geometria de algumas aberturas. Os resultados dos
estudos analíticos desenvolvidos, juntamente com a opinião de especialistas, permitiriam propor os
valores necessários para a definição das curvas de capacidade resistente bilinear para cada tipologia
estrutural. Através de ensaios experimentais ou de análise de danos pós-sismo seriam definidos
valores de deslocamento máximo entre pisos, que definiriam os diferentes estados de dano.
No entanto, a resposta mais imediata para a avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios à
escala de uma cidade, seria obtida com o recurso a métodos empíricos. Mais rápidos e económicos
permitem determinar a vulnerabilidade sísmica de um modo aproximado. No entanto, estes métodos
sofrem de “regionalismo”, ou seja, uma vez que são obtidos a partir da observação de danos
ocorridos em locais específicos, estes valores não podem ser extrapolados para outros locais, sem
antes ter sido efetuada uma calibração para o edificado de alvenaria da cidade de Lisboa. Caso se
pretendesse enveredar por um método como estes, seria recomendável a utilização do método
proposto por Vicente (2008) uma vez que este procedimento já foi aplicado a edifícios de alvenaria
existentes em cidades portuguesas: Coimbra e Seixal.
69
4 Avaliação sísmica de um edifício de “placa” isolado
4.1 Introdução
No presente capítulo faz-se a avaliação sísmica de um edifício que pretende ser representativo de
uma das soluções estruturais amplamente presentes no parque edificado da cidade de Lisboa,
representando atualmente cerca de 22% do mesmo, os edificios de “placa” (segundo dados
fornecidos nos Censos de 2011). Estes edifícios são uma solução estrutural vastamente utilizada
entre as décadas de 1930 e 1960, caracterizados pela coexistência de elementos estruturais de
alvenaria resistente e de betão armado no mesmo edifício, sendo por isso uma solução de transição
entre os edifícios de alvenaria resistente e os edifícios de betão armado.
A avaliação do desempenho sísmico do edifício em estudo é efetuada através da aplicação do
método N2, como preconizado no Eurocódigo 8. As curvas de capacidade resistente obtidas foram
comparadas com as propostas na metodologia Hazus. Os métodos de avaliação da vulnerabilidade
sísmica usados neste capítulo são aplicados a um edifício isolado e utilizam dados obtidos a partir de
pesquisas sobre as características desse mesmo edifício sendo depois aplicadas em técnicas de
modelação numérica. Estes métodos de avaliação correspondem, portanto, ao nível 3 da 1ª
abordagem como referido no subcapítulo “3.1 – Diferentes abordagens”.
Uma vez que se pretende avaliar o comportamento não linear da estrutura quando sujeita a uma ação
sísmica, foi necessário recorrer-se a um programa (tanto à versão comercial como à versão científica)
que permite efetuar análises estáticas não lineares (pushover). As versões, comercial 3Muri (S.T.A.
DATA, 2012) e científica TreMuri (Lagomarsino et al., 2012), são apresentadas no subcapítulo 4.2.
Informações relevantes sobre o edifício em estudo são fornecidas no subcapítulo 4.3, nomeadamente
sobre as características geométricas do mesmo. No subcapítulo 4.4 são fornecidas as propriedades
mecânicas dos materiais constituintes da estrutura, para o caso de referência, e são abordadas
algumas das técnicas de simplificação utilizadas na modelação. Serão determinadas e analisadas as
características dinâmicas do edifício no subcapítulo 4.5. Na presente dissertação é efetuado um
estudo paramétrico com o intuito de se aferir a relevância da variação das propriedades mecânicas
dos materiais (que neste caso serão os módulos de elasticidade e de distorção e os valores
resistentes das tensões de compressão e de corte) na capacidade resistente da estrutura e na
distribuição de danos. Este estudo é abordado no subcapítulo 4.6. Os resultados do estudo efetuado
são apresentados e analisados no subcapítulo 4.7. No subcapítulo 4.8 é efetuada uma comparação
entre os resultados obtidos para o edifício em estudo e os valores propostos pela metodologia Hazus.
4.2 Software - 3Muri/Tremuri
O 3Muri (S.T.A. DATA, 2012) é um software desenvolvido em parceria entre a S.T.A. Data e a
Universidade de Génova, de Itália. O 3Muri é a versão comercial de um programa cuja versão
científica, TreMuri (Lagomarsino et al., 2012), começou a ser desenvolvida em 2001 por um grupo de
70
investigadores, liderado pelo S. Lagomarsino, composto por especialistas como A. Penna e A.
Galasco, tendo também contado com a participação de S. Cattari. Este é um programa que permite
efetuar a análise estrutural e a verificação da segurança sísmica de edifícios de alvenaria simples,
armada ou mista com alvenaria/betão armado/aço/madeira e reforçados com FRP’s. Na versão
comercial, 3Muri, a caracterização dinâmica da estrutura é feita a partir de uma análise modal e a
verificação da segurança sísmica é normalmente efetuada recorrendo a análises estáticas não
lineares (pushover). Na versão científica, para além das análises referidas para a versão comercial,
também é permitido efectuar análises dinâmicas não lineares, com integração no tempo
(Lagomarsino et al., 2013; Lagomarsino et al., 2009). O software tem como base regulamentar o
Eurocódigo 8 (CEN, 2004) e a Norma Italiana (NTC, 2008).
Este programa permite efetuar a modelação do edifício recorrendo a um método que transforma as
paredes em pórticos equivalentes (Equivalent Frame Modelling Method), sendo os elementos desta
estrutura definidos como macro-elementos e como nós rígidos. As paredes de alvenaria resistente
são assim modeladas considerando as zonas verticais entre aberturas como sendo macro-elementos
do tipo Nembos (Piers), as zonas horizontais superiores e inferiores a aberturas como sendo macro-
elementos do tipo Lintel (Spandrel), sendo a zona de ligação entre este dois tipos de macro-
elementos considerada como nós rígidos. Esta definição pode ser observada esquematicamente na
figura 4.1. Os macro-elementos do tipo Nembo e do tipo Lintel são elementos deformáveis por corte e
por flexão nos quais se considera que os danos se concentram, ao contrário dos elementos rígidos,
onde não é expectável que ocorram danos. Os Nembos (Piers) são os principais elementos verticais
resistentes, tanto para cargas verticais (peso da estrutura) como cargas laterais (ação sísmica)
enquanto que os Lintéis (Spandrels) são elementos horizontais definidos entre Nembos, tendo um
papel secundário na resistência às cargas verticais e permitindo acoplar a resposta de nembos
adjacentes quando sujeitos a acções horizontais (Lagomarsino et al., 2013; S.T.A. Data, s.d. b).
Figura 4.1 – Processo da definição do modelo numa estrutura equivalente, para um exemplo que apresenta aberturas regulares (retirado de Lagomarsino et al., 2013)
O modelo idealizado como pórtico equivalente permite também considerar edifícios mistos nos quais,
para além das paredes de alvenaria resistente, podem ser introduzidos elementos estruturais, tais
como pilares e vigas de betão armado, metálicos, de madeira ou reforçados com FRP’s (Lagomarsino
et al., 2013; S.T.A. Data, s.d. b).
71
A malha na qual a estrutura é dividida em Piers, Spandrel Beams e elementos rígidos é efetuada
automaticamente pelo software. A título de exemplo, apresenta-se na figura 4.2 a malha gerada para
o edifício em estudo, edifício esse que será apresentado no subcapítulo seguinte.
Figura 4.2 – Exemplo da geração automática de Nembos, Lintéis e elementos rígidos
Tal como referido anteriormente, as paredes de alvenaria resistente são consideradas como
elementos deformáveis por corte e flexão. São considerados quatro modos de rotura, quando as
paredes de alvenaria são sujeitas a carregamentos no plano. Destes quatro modos de rotura
identificados, dois estão relacionados com o comportamento à flexão (Flexural behavior) e os
restantes com o comportamento ao corte (Shear behavior). No que diz respeito ao comportamento à
flexão, os painéis de alvenaria podem estar associados aos seguintes modos de rotura:
Derrubamento (Rocking), no qual o painel de alvenaria começa a comportar-se como corpo
rígido rodando na base;
Esmagamento (Crushing), no qual o painel de alvenaria é progressivamente caracterizado
por um alastramento da distribuição dos danos na parede, com algumas fendas orientadas
segundo os cantos das paredes comprimidas.
Relativamente ao comportamento ao corte, os painéis de alvenaria podem estar associados a outros
dois modos de rotura:
Fendilhação diagonal (Diagonal cracking), no qual o painel de alvenaria costuma começar por
desenvolver fissuras no centro do painel que se vão propagando para os cantos;
Deslizamento de corte (Shear sliding), no qual o colapso da parede ocorre com o
deslizamento numa superfície horizontal bem definida.
72
Apesar destes modos de rotura serem aqui definidos de forma distinta, é comum ocorrerem
combinações entre estes (Lagomarsino et al., 2013).
No caso dos Nembos, os modos de rotura dependem de parâmetros como a geometria, as condições
de fronteira, o carregamento axial, as propriedades mecânicas dos constituintes da alvenaria e as
características da alvenaria. No caso dos Lintéis, há outros factores que desempenham uma
importância relevante na definição dos modos de rotura, como, por exemplo o tipo de lintel existente
(em arco, com elementos em madeira ou metálicos, etc.) ou os fenómenos de interligação que podem
ocorrer nas extremidades dos lintéis com os elementos verticais contínuos de alvenaria.
Definidos os diferentes modos de rotura que podem ocorrer no plano são determinados os valores
dos esforços últimos (ou esforços resistentes) dos painéis de alvenaria. As equações que se
apresentam de seguida encontram-se reunidas na tabela 4.1. Refira-se que as expressões
apresentadas nesta tabela apenas se aplicam a edifícios de alvenaria não reforçada (Lagomarsino et
al., 2013).
Para o comportamento à flexão, as equações que permitem determinar o momento último, para o
modo de rotura ao derrubamento são as equações 4.1 e 4.2 para os Nembos e para os Lintéis,
respetivamente.
(4.1)
Sendo a largura do painel de alvenaria, t a espessura, N o esforço axial e a tensão resistente à
compressão da alvenaria.
(4.2)
Sendo a altura da seção do Lintel e o máximo valor entre o esforço axial (N) atuante no macro-
elemento Lintel e . é o menor valor entre a tensão resistente à tração dos elementos acoplados
ao Lintel (como por exemplo vigas de betão armado ou tirantes) e , sendo a tensão de
compressão resistente da alvenaria na direção horizontal (Lagomarsino et al., 2013).
Para o comportamento ao corte, no caso do modo de rotura por deslizamento (Shear Sliding) e
recorrendo ao critério de Mohr-Coulomb, são definidas as expressões do esforço transverso último
para os Nembos e Lintéis, equações 4.3 e 4.4 respetivamente.
(4.3)
(4.4)
Sendo o comprimento da secção comprimida, a espessura, a tensão resistente ao corte da
alvenaria (coesão), o coeficiente de atrito, um valor limite imposto para ter em consideração
o modo de rotura dos blocos e a altura da secção transversal do Lintel.
73
Para o comportamento ao corte, no caso do modo de rotura por fendilhação diagonal (Diagonal Shear
Cracking) a equação 4.5, que tanto é aplicada aos Nembos como aos Lintéis, é obtida através do
recurso ao critério estabelecido por Turnšek e Cačovic (1971).
(4.5)
Na equação 4.5, é a tensão de corte da alvenaria e é o coeficiente de esbelteza, sendo este
último o quociente entre a altura e o comprimento da parede ( podendo este valor variar entre
).
Refira-se que na versão científica, TreMuri, tal como sugere a tabela 4.1, são apresentadas duas
fórmulas diferentes que permitem calcular o momento último num Lintel, referente a um
comportamento à flexão, sendo a primeira expressão sugerida pela Norma Italiana e a segunda
definida por Cattari e Lagomarsino (2008) (Lagomarsino et al., 2013). Esta nova expressão permite
ter em conta a resistência à tracção da alvenaria (ftu) para a definição do momento último resistente.
Tabela 4.1 – Critério utilizados pelo software para determinar os esforços últimos (adaptado de Lagomarsino et al., 2013)
Modos de rotura e tipo de elemento
Esforço dominante
Modos de rotura e
tipo de elemento Esforço dominante
Derr
ubam
ento
/Esm
agam
ento
Nem
bos
Cort
e
Desliz
am
ento
Nem
bos
Lin
téis
Lin
téis
Fe
ndilh
ação
dia
gonal
Nem
bos/L
inté
is
Para além da determinação dos esforços últimos também é definido o valor dos deslocamentos
últimos entre pisos ( ). Os valores utilizados pelo software encontram-se preconizados em
regulamentos sísmicos, como é o caso da Norma Italiana ou do Eurocódigo 8, nos quais são
definidos valores de deslocamento entre pisos máximos aceitáveis para uma parede em que, uma
vez excedidos esses valores, se considera que o elemento deixa de conseguir suportar as ações
horizontais. Estes valores no caso de paredes de alvenaria não reforçada para macro-elementos do
tipo Nembos variam entre 0,4% a 0,8%. No caso dos Lintéis, estudos experimentais recentes
demonstraram que estes elementos conseguem suportar deslocamentos superiores (Lagomarsino et
al., 2013). No entanto, no software, não é feita a distinção dos valores máximos de deslocamento
relativos entre as extremidades dos elementos Nembos e Lintéis, sendo considerado para ambos
74
valores de 0,4% no caso do comportamento ao corte e de 0,8% no caso do comportamento por
flexão. Note-se que, desta forma, se está a utilizar valores conservativos no que diz respeito aos
Linteis.
A verificação supracitada é efetuada através da equação 4.6.
(4.6)
onde uj e ui e j e i representam os deslocamentos e rotações nas extremidades i e j do elemento.
Os macro-elementos de alvenaria (não lineares) são divididos em três sub-estruturas: duas camadas
nos extremos (identificadas na figura A como e ) nas quais os efeitos do esforço axial do
momento fletor estão concentrados, e uma parte central (identificada na figura 4.3 como ) onde é
considerada a deformação por corte do macro-elemento (Lagomarsino et al., 2013).
Figura 4.3 - Constituintes do macro elemento (adaptado de Lagomarsino et al., 2013)
Nos nós de extremidade de cada macro-elemento (identificados na figura 4.3 como i e j) são
compostos por três graus de liberdade: o deslocamento axial , o deslocamento horizontal e a
rotação . No centro da parte central são considerados dois graus de liberdade: o deslocamento
axial, e a rotação, . As relações constitutivas entre o deslocamento axial e a rotação apresentam-
se nas equações 4.7 e 4.8.
(4.7)
(4.8)
corresponde à área transversal do painel de alvenaria; e
são as contribuições inelásticas
para o esforço axial e momento fletor, respetivamente, definidas em Lagomarsino et al. (2013); é a
largura do macro elemento.
Para a deformação por corte, que ocorre na parte central do macro-elemento ( ), a equação
constitutiva apresenta-se na equação 4.9.
V1
V2
Vj
V2
V1
Vi
75
(4.9)
é a tensão de corte; é o módulo de distorção e é a contribuição inelástica para o esforço de
corte. (Lagomarsino et al., 2013).
Relativamente aos elementos de betão armado, estes são modelados como elementos de
plasticidade concentrada em que a não linearidade concentra-se nas extremidades do elemento e é
modelada a partir da definição de rótulas plásticas com comportamento elasto-plástico perfeito.
Após apresentado genericamente o programa 3Muri e a forma como define as paredes estruturais,
através da consideração do pórtico equivalente, falta agora referir como são, neste programa,
modelados os pisos. Os pisos em madeira são modelados como elementos finitos de laje
anisotrópicos com 3 a 4 nós, em estado plano de tensão. Os pisos são caracterizados por parâmetros
como os módulos de elasticidade longitudinais e , o coeficiente de Poisson e módulo de
distorção , sendo este último o parâmetro mais importante, uma vez que influência a rigidez
tangencial (ao corte) do piso e, consequentemente, a repartição das ações horizontais entre as
paredes, tanto nas fases linear como não-linear (Lagomarsino et al., 2013; Marques, 2012). No caso
de lajes de betão armado, é necessário indicar ao programa se o seu funcionamento é unidirecional
ou bidirecional, sendo que no segundo caso é necessário indicar qual a percentagem da carga a
afetar cada direção (Marques, 2012).
O modelo 3D da estrutura que se pretende estudar resulta, portanto, da montagem/assemblagem das
várias paredes e pisos. Refira-se que apenas o comportamento global do edifício é considerado
(comportamento das paredes no seu plano), não tendo sido considerado a resposta para fora do
plano das paredes, tendo-se admitido que este comportamento foi evitado a partir de determinadas
intervenções de reforço sísmico (por exemplo reforçando as ligações entre paredes e as ligações
entre os pisos e as paredes de alvenaria). No entanto, caso se pretenda verificar a eventualidade do
colapso para fora do plano, esta terá de ser efetuada localmente recorrendo a métodos de análise
adequada, como por exemplo, através do recurso a uma análise plástica limite (Lagomarsino et al.,
2013).
4.3 Caracterização do edifício de “placa”
O edifício estudado é um edifício de “placa” do tipo “Rabo de Bacalhau”, construído em 19 0 e
localizado na Rua Actor Isidoro, na cidade de Lisboa. Os edifícios de “placa” são edifícios com
estrutura mista de betão e alvenaria e foram a solução estrutural utilizada em Lisboa entre as
décadas de 1930 e 1960. Foram introduzidos, neste período e de uma forma gradual, os elementos
estruturais de betão armado em detrimento de paredes estruturais de alvenaria e dos pisos de
madeira. Os edifícios de “placa” são portanto os precedentes dos edifícios de betão armado (Monteiro
e Bento, 2012). A sua principal característica é o facto de este tipo de construções possuir lajes de
betão armado que descarregam diretamente em paredes. Estas, geralmente, apresentam espessuras
76
na ordem dos 10 cm e possuem uma armadura em rede a meio da espessura da laje. Os elementos
de betão armado são geralmente compostos por betão das classes B20 ou B25, as atuais classes
C16/20 e C20/25 respetivamente, e uma armadura constituída por varões lisos de classe A235.
Relativamente às paredes, que podem ser ou não resistentes, são geralmente constituídas por dois
ou três dos seguintes tipos de materiais: alvenaria ordinária de pedra argamassada, tijolo cerâmico
maciço, blocos de betão e tijolo cerâmico perfurado (Lamego e Lourenço, 2012). O tipo “Rabo de
Bacalhau” é a tipologia mais representativa dos edifícios de “placa”, cuja designação deve-se à sua
configuração em planta (Monteiro e Bento, 2012).
O edifício estudado encontra-se implantado numa zona da cidade cujo solo apresenta características
de um solo do tipo C, de acordo com os critérios definidos no Eurocódigo 8 (CEN, 2004).
Resumidamente, apresentam-se de seguida as principais características geométricas e materiais do
edifício podendo consultar-se as plantas e tabelas que reúnem os valores das dimensões dos
elementos estruturais e das propriedades mecânicas no Anexo A. Refira-se que os dados
apresentados nesse anexo são dados retirados da Memória Descritiva (1939) do projeto e dos
documentos Monteiro e Bento (2012) e Milosevic et al. (2014).
O edifício estudado apresenta as dimensões máximas em planta de 14,5 m por 20,5 m (figura 4.4).
Em altura, é constituído por quatro pisos que perfazem 12,3 m: o rés-do-chão apresenta 3,25 metros
e os restantes pisos uma altura constante de 3 metros. Refira-se que na fachada posterior, no último
piso, existe uma ligeira redução de altura apenas na saliência referente a localização das escadas de
serviço.
Relativamente à disposição das paredes no interior do edifício, estas apresentam continuidade ao
longo dos pisos com exceção do rés-do-chão, onde existe uma ligeira alteração na zona junto à porta
de entrada principal. O edifício apresenta duas zonas com características diferentes: a zona da frente
do edifício (da fachada principal até à zona onde existe o primeiro recuo em planta) cujos pisos são
de madeira (comportamento flexível no plano) e uma zona posterior cujas lajes são de betão armado
(comportamento rígido no plano) (Monteiro e Bento, 2012). Nessa zona da frente, a fachada principal
é constituída por alvenaria de blocos de pedra (Rubble Masonry), as empenas constituídas por blocos
de betão (Concrete blocks) e as restantes paredes do perímetro deste primeiro bloco são constituídas
por alvenaria de tijolo maciço (Solid brickwork). A zona posterior é constituída por pilares e vigas de
betão armado e alvenaria de tijolo maciço. As paredes existentes no interior do edifício, para ambas
as zonas, são de alvenaria de tijolo maciço e de alvenaria de tijolo furado (hollow brickwork). As
paredes divisórias, 10 cm de espessura, (alvenaria de tijolo furado) não contribuem significativamente
para a capacidade resistente sísmica do edifício (Monteiro e Bento, 2012). Na figura 4.5, a título de
exemplo, apresenta-se esquematicamente a localização dos diferentes tipos de paredes para o caso
do rés-do-chão.
77
Figura 4.4 – Planta dos pisos 1, 2 e 3
Blocos de Pedra (Espessura de 0,7 m)
Blocos de Betão (Espessura de 0,2 m)
Tijolo Maciço (Espessura de 0,2 m)
Tijolo Furado (Espessura de 0,1 m)
Refira-se que a fachada principal apresenta um espessura constante de 0,7 m ao longo dos pisos
existindo, no entanto, uma zona entre as janelas, em cada piso, que apresenta uma espessura de
0,35 m. Na fachada principal, para cada janela, existe um lintel em betão armado (RC lintel beam). As
dimensões de cada lintel (indicadas na tabela das vigas no Anexo A) são constantes para cada piso,
variando apenas em altura (Milosevic et al. 2014).
4.4 Modelação da estrutura
Recorrendo ao software 3Muri (S.T.A. DATA, 2012), foi efetuada a modelação do edifício. Esta foi
realizada em conformidade com as plantas e valores apresentados no Anexo A. Neste subcapítulo
apenas se apresentam as principais considerações relativamente ao processo de modelação
realizado bem como uma breve descrição das técnicas não correntes utilizadas para simular
determinadas ações/efeitos de alguns elementos estruturais, como por exemplo, algumas
simplificações efetuadas.
Os valores das propriedades mecânicas dos quatro tipos de alvenaria existentes no edifício em
estudo, utilizados na modelação do edifício de referência, foram os valores determinados por
Figura 4.5 – Localização dos diferentes tipos de paredes no rés-do-chão (adaptado de Monteiro e Bento, 2012)
78
Milosevic et al. (2014), que se basearam em testes experimentais e em valores propostos pela Norma
Italiana (NTC, 2008). Estes valores encontram-se reunidos na tabela 4.2. Relativamente aos valores
das propriedades mecânicas do betão (C16/20) e do aço (A235) considerados na modelação foram
utilizados os valores preconizados no EC2 e REBAP. Estes valores encontram-se reunidos nas
tabelas A.1 e A.2.
Tabela 4.2 – Propriedades mecânicas e geométricas das alvenarias (adaptado de Milosevic et al., 2014)
Propriedades
mecânicas e
geométricas
Espessura
(m)
Módulo de
Elasticidade,
E (GPa)
Módulo de
Distorção,
(GPa)
Tensão
Resistente de
Compressão
(MPa)
Tensão
Resistente
de Corte,
(MPa)
Peso
específico,
(kN/m3)
Alvenaria de
blocos de
pedra
0,70 2,00
0,58
(0,44)
3,2 0,065 21,0
Blocos de
betão 0,20 2,00
0,74
(0,56)
3,7 0,210 14,0
Alvenaria de
tijolo maciço 0,20
1,5
(1,13)
0,50
(0,38)
3,2 0,076 18,0
Alvenaria de
tijolo furado 0,10
1,20
(0,90)
0,40
(0,30)
2,4 0,060 12,0
Nota: os valores apresentados entre parêntesis são valores reduzidos através da aplicação de um fator redução de 0,75
relativamente aos valores elásticos.
Tanto a cobertura como as escadas não foram modeladas diretamente tendo sido efetuada uma
simplificação através da consideração do seu efeito na estrutura. Para simular a ação da cobertura
nos elementos estruturais, que é constituída por duas paredes triangulares no alinhamento das
paredes de empena e por uma estrutura de madeira que suporta o telhado, foram utilizados dois tipos
de carregamento: uma carga linear constante e uma uniformemente distribuída. Ao longo das
paredes da empena, paredes constituídas por blocos de betão, foi aplicada uma carga linear
constante no último piso com o valor de 4,8 kN/m. A carga uniformemente distribuída, que simula a
estrutura de madeira e cujo valor da carga permanente considerado é de 1,9 kN/m2, foi adicionada
tanto aos pisos de madeira como às lajes de betão armado, no último piso. Não foi considerada
qualquer valor de sobrecarga pois o EC1.1 (secção 6.3.4.2) permite, para coberturas de categoria H
(não acessível), que se considere valores para a sobrecarga uniformemente distribuída entre 0 e 1
kN/m2. Já no caso das escadas, estas foram simplificadamente consideradas através de elementos
estruturais horizontais iguais aos utilizados para modelar os pisos de madeira e as lajes de betão
armado e com o mesmo valor para as cargas permanentes, que no caso dos pisos de madeira é 1,3
kN/m2 e no caso das lajes de betão é 3 kN/m
2. A única diferença cinge-se ao agravamento das
sobrecargas, que em ambos os tipos de piso apresenta 2 kN/m2, enquanto que para a simulação das
escadas de madeira são considerados 4 kN/m2 e das escadas de serviço 4,5 kN/m
2.
Nas lajes de betão armado cuja geometria se assemelha a um quadrado, cujos lados apresentam
aproximadamente o mesmo comprimento, foi considerado que esta apresenta flexão segundo as
79
duas direções principais. Nas restantes lajes de betão armado, cuja geometria se aproxima a um
retângulo com o comprimento de um dos lados superior ao outro duas vezes ou mais, estas foram
modeladas considerando que apresentam flexão cilíndrica, ou seja, flexão unidirecional.
Nas figuras 4.6 e 4.7 apresentam-se duas perspetiva da estrutura modelada.
Figura 4.6 – Perspetiva da estrutura modelada (vista fachada frente)
Figura 4.7 – Perspetiva da estrutura modelada (vista fachada tardoz)
4.5 Características dinâmicas da estrutura para o caso de referência
Na tabela 4.3 apresentam-se reunidas as características dinâmicas da estrutura para os três
primeiros modos de vibração. Apenas são apresentados estes três modos, uma vez que estes são
responsáveis por uma mobilização de massa bastante elevada (com uma percentagem acumulada de
aproximadamente 85%), tanto para a direção X como Y.
Tabela 4.3 – Características dinâmicas do edifício para o caso de referência
Modo 1º 2º 3º
T (s) 0,34 0,246 0,243
f (Hz) 2,94 4,064 4,114
Massa X (%) 71,80 13,20 3,97E-05
Massa Y (%) 1,74E-05 7,64E-04 85,28
No que diz respeito às frequências, verifica-se um valor crescente deste parâmetro ao longo dos
modos considerados, sendo o primeiro o modo fundamental de translação na direção X. O modo
fundamental de translação segundo Y corresponde ao terceiro modo. Nas figuras 4.8, 4.9 e 4.10
apresentam-se as deformadas associadas aos três primeiros modos de vibração, respetivamente. De
facto, é possível observar-se que a estrutura, no primeiro modo, apresenta uma translação segundo a
direção X, sendo o deslocamento condicionado essencialmente pelo fator de participação da massa,
de aproximadamente 71,8%, segundo essa mesma direção. No que concerne ao terceiro modo,
verifica-se que o fator de participação da massa é de aproximadamente 85,3% segundo a direção Y,
quase sem participação de massa segundo X o que se traduz numa translação praticamente pura,
segundo Y. O segundo modo é um modo de torção do edifício, tendo-se registado fatores de
participação da massa reduzidos em ambas as direções.
80
Refira-se também que é possível verificar-se que no primeiro modo existe essencialmente
deslocamento na zona do piso de betão enquanto que para o segundo modo o deslocamento é mais
acentuado na zona que corresponde ao piso de madeira.
Figura 4.8 – Deformada do 1º modo de vibração
Figura 4.9 – Deformada do 2º modo de vibração
Figura 4.10 – Deformada do 3º modo de vibração
4.6 Estudo Paramétrico
Com o objetivo de avaliar o desempenho sísmico do edifício em estudo, começa-se por obter curvas
de capacidade resistente do edifício a partir da realização de análises estáticas não lineares
(pushover). Recorde-se que as curvas de capacidade resistente relacionam a Força de corte basal
( ) vs. Deslocamento do ponto de controlo localizado no topo do edifício ( ), sendo posteriormente
transformadas em coordenadas espectrais para a determinação do desempenho sísmico da
estrutura.
Na presente dissertação foram considerados sete casos de estudo diferentes com o intuito de aferir a
influência das propriedades mecânicas dos materiais no desempenho sísmico estrutural.
No primeiro caso, considerado como caso de referência, o edifício é modelado considerando os
valores das propriedades mecânicas dos materiais definidas no estudo efetuado por Milosevic et al.
(2014) e apresentados a negrito na Tabela 4.4. São consideradas quatro propriedades mecânicas: o
módulo de elasticidade, o módulo de distorção, a tensão de compressão e a tensão de corte. De
seguida apresentam-se descritos os critérios de escolha dos valores para cada uma das propriedades
mecânicas.
Por uma questão de simplificação de raciocínio, para o caso de referência, esses critérios são
descritos numa primeira fase para os materiais alvenaria de blocos de pedra, alvenaria de blocos de
betão e alvenaria de tijolo e numa segunda fase para o material alvenaria de tijolo furado. No que diz
respeito ao módulo de elasticidade, tanto para a alvenaria de blocos de pedra como para a alvenaria
de blocos de betão, foram escolhidos os valores sugeridos em trabalhos experimentais levados a
cabo por Proença e Gago (2011). Por esta razão, os valores não foram reduzidos para ter em
81
consideração a fendilhação. Para a alvenaria de tijolo maciço foi utilizado o valor médio entre os
valores (máximo e mínimo) propostos na Norma Italiana para este tipo de material, tendo este sido
reduzido em 25% para ter em conta a fendilhação. Relativamente ao módulo de distorção, os valores
utilizados correspondem ao valor intermédio dos valores (máximo e mínimo) preconizados na Norma
Italiana. Também estes valores são reduzidos em 25% pelas razões supracitadas. Para a tensão de
compressão e a tensão de corte, os valores utilizados foram escolhidos seguindo o mesmo critério
utilizado para os valores do módulo de distorção com a diferença de que, neste caso, não se efetuou
qualquer redução.
Para a alvenaria de tijolo furado, uma vez que na Norma Italiana não são sugeridos valores para este
material, é admitido para cada uma das quatro propriedades mecânicas o valor mínimo proposto na
Norma para o material tijolo maciço. Refira-se que apenas para os módulos de elasticidade e de
distorção, se efetua a redução de 25% para ter em conta a fendilhação.
Tabela 4.4 – Valores das propriedades mecânicas consideradas no Caso de Referência
1º Caso - Caso de Referência
Material Módulo de
Elasticidade, E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de
corte, τ0
(N/cm2)
Alvenaria de Blocos de Pedra
2000
580
320 6,5 (435)
Blocos de Betão
2000 740
370 21,0 (555)
Alvenaria de tijolo maciço
1500 500 320 7,6
(1125) (375)
Alvenaria de tijolo furado
1200 400 240 6,0
(900) (300)
Após definidos os valores utilizados para as propriedades mecânicas de cada material no caso de
referência, apresentam-se os critérios utilizados na escolha dos valores desses mesmos parâmetros
para os restantes seis casos de estudo.
Em cada caso, mantêm-se todos os valores definidos para o caso de referência sendo apenas
alterados em cada caso os valores das quatro propriedades mecânicas de um só material. Essa
alteração, para cada material, será efetuada primeiro considerando os valores máximos propostos na
Norma Italiana que originará um caso limite superior. Para o mesmo material será também efetuada
uma alteração aos valores definidos para o caso de referência através da utilização dos valores
mínimos propostos na Norma Italiana. Resumindo, para cada material será considerado um caso
limite superior e um caso limite inferior. Este processo será aplicado a todos os materiais com
exceção da alvenaria de tijolo furado, o que implica que existam seis casos para além do caso de
referência.
82
De forma a simplificar a designação de cada um dos seis casos referidos, foram definidos acrónimos,
que se encontram reunidos na tabela 4.5. Os acrónimos são compostos por dois conjuntos de letras
distintos, em que o primeiro conjunto se refere ao material para o qual é feita a alteração dos valores
das propriedades mecânicas (alteração relativa aos valores apresentados no caso de referência) e o
segundo conjunto que identifica quais os valores limite que se considera (valores superiores LS ou
inferiores LI propostos na Norma Italiana).
Tabela 4.5 – Definição dos diversos casos considerados e os seus respetivos acrónimos
Caso Acrónimo
Limite Superior da alvenaria de Blocos de Pedra BP_LS
Limite Inferior da alvenaria de Blocos de Pedra BP_LI
Limite Superior da alvenaria de Blocos de Betão BB_LS
Limite Inferior da alvenaria de Blocos de Betão BB_LI
Limite Superior da alvenaria de Tijolo Maciço TM_LS
Limite Inferior da alvenaria de Tijolo Maciço TM_LI
A título de exemplo, considere-se o caso limite superior de alvenaria de blocos de pedra (BP_LS).
Para este caso utilizam-se exatamente os mesmos valores que se utilizaram para o caso de
referência para todos os materiais, com exceção dos valores das quatro propriedades mecânicas
para o material alvenaria de blocos de pedra que tomam os valores máximos propostos pela Norma
Italiana, para o referido material.
Nas tabelas 4.6, 4.7 e 4.8 apresentam-se reunidos apenas os valores dos quatro parâmetros que são
alterados, em relação ao caso de referência.
Tabela 4.6 – Valores das propriedades mecânicas que diferem do caso de referência para os dois casos limite da alvenaria de blocos de pedra
Caso BP_LS Caso BP_LI
Material Módulo de
Elasticidade, E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de corte,
τ0 (N/cm2)
Módulo de Elasticidade,
E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de corte,
τ0 (N/cm2)
Alvenaria de Blocos de Pedra
1980 660 380 7,4 1500 500 260 5,6
Tabela 4.7 – Valores das propriedades mecânicas que diferem do caso de referência para os dois casos limite da alvenaria de blocos de betão
Caso BB_LS Caso BB_LI
Material Módulo de
Elasticidade, E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de corte,
τ0 (N/cm2)
Módulo de Elasticidade,
E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de corte,
τ0 (N/cm2)
Alvenaria de Blocos de Betão
3520 880 440 24,0 2400 600 300 18,0
83
Tabela 4.8 – Valores das propriedades mecânicas que diferem do caso de referência para os dois casos limite da alvenaria de tijolo maciço
Caso TM_LS Caso TM_LI
Material Módulo de
Elasticidade, E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de corte, τ0 (N/cm
2)
Módulo de Elasticidade,
E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Tensão de compressão,
fm (N/cm2)
Tensão de corte, τ0 (N/cm
2)
Alvenaria de Tijolos Maciços
1800 600 400 9,2 1200 400 240 6,0
Tal como referido anteriormente, para o caso de referência, foram considerados os valores do módulo
de elasticidade sugeridos em trabalhos experimentais levados a cabo por Proença e Gago (2011),
para as alvenarias de blocos de pedra e blocos de betão. Uma vez que se considerou os valores
máximos e mínimos sugeridos na Norma Italiana (para cada material) para os casos limite superior e
inferior, respetivamente, verifica-se que o módulo de elasticidade para os casos BP_LS e BB_LI
apresentam um valor inferior ( e superior ( ao valor considerado no
caso de referência, respetivamente. No caso TM_LI observa-se que o valor do módulo de
elasticidade ) é superior ao considerado no caso de referência, uma vez que neste
último caso foi considerada a redução do referido parâmetro em 25%.
Recorrendo ao 3Muri foram efetuadas, para cada um dos casos, análises estáticas não lineares
considerando dois tipos de carregamento lateral diferente: um carregamento lateral cuja distribuição
de forças é uniforme (nas quais as forças laterais são proporcionais à massa de cada piso) e um
carregamento lateral cuja distribuição de forças é triangular invertida (que depende da altura e da
massa de cada nó). Para cada tipo de carregamento lateral são efetuadas análises estáticas não
lineares segundo as duas direções principais, X e Y, o que resulta em quatro análises por caso de
estudo, como preconizado no EC8.
Após a obtenção das curvas de capacidade resistente do edifício e da transformação para um
sistema de um grau de liberdade equivalente, é efetuada uma simplificação através da bi-linearização
das mesmas cujos critérios utilizados nesse processo se encontram definidos na Norma Italiana. Esta
curva bi-linear tem como principal objetivo efetuar a simplificação da curva de capacidade resistente
real do edifício através de consideração de um comportamento elasto-perfeitamente plástico,
apresentando a curva resultante a mesma energia de deformação que a curva original. A rigidez da
fase elástica é calculada a partir de 70% da força resistente (ou força basal) máxima e o respetivo
deslocamento, lidos na curva de capacidade real. Considera-se que se atinge o deslocamento
máximo/último quando se atinge uma queda de 20% da capacidade resistente máxima, ou seja,
quando se atinge 80% da força basal máxima. A força de cedência, que se considera constante até
ser atingido o deslocamento último, é determinada em função da igualdade de áreas entre a curva de
capacidade real (curva resultante da análise estático não linear) e a curva de capacidade bilinear.
A ação sísmica é definida inicialmente através do espectro de resposta elástico, determinado através
das expressões e valores indicados no anexo nacional do EC8 (NP EN 1998-1, 2010). Relembre-se
84
que, tal como referido anteriormente, o edifício em estudo encontra-se localizado numa zona onde se
considera que o solo é do tipo C. Os valores utilizados apresentam-se reunidos na tabela 4.9.
Tabela 4.9 – Valores utilizados para definir o espectro de resposta elástico
Sismo Tipo 1,3 2,3
agR (m/s2) 1,5 1,7
ɣII 1 1
ag (m/s2) 1,5 1,7
Smáx 1,6 1,6
TB (s) 0,1 0,1
TC (s) 0,6 0,25
TD (s) 2 2
S 1,5 1,46
ɳ 1
Sendo ag e agR as acelerações à superfície de um terreno do tipo A, máxima e de referência,
respetivamente; ɣII é a classe de importância II; TB, TC são os valores do período correspondentes aos
limites inferior e superior do ramo de aceleração espetral constante, respetivamente; TD é o valor do
período correspondente ao início do ramo de deslocamento constante do espectro; Smáx e S são os
valores máximo e efetivo do coeficiente do solo, respetivamente e ɳ é o coeficiente de correção do
amortecimento viscoso. (CEN, 2004)
Com o intuito de se determinar o ponto de desempenho (performance point), que resulta da
interseção da curva de capacidade definida para um sistema de um grau de liberdade com o espectro
de resposta inelástico, recorreu-se ao método N2 (como proposto no EC8). Este define o espectro de
resposta não linear através da redução do espectro de resposta elástico por intermédio de um fator
de redução, .
4.7 Resultados das análises estáticas não lineares
No presente subcapítulo serão efetuadas análises comparativas entre as curvas de capacidade
bilineares obtidas para os casos limite considerados e a curva de capacidade do caso de referência,
curvas essas obtidas a partir dos valores resultantes das análises pushover efetuadas com o recurso
ao software TreMuri. Serão também apresentados os valores dos deslocamentos alvo (pontos de
desempenho) determinados para as duas direções principais do edifício (X e Y), para o sismo tipo 1 e
2 regulamentar, e para as duas distribuições de carga consideradas. Numa segunda fase será
efetuada a comparação relativamente à distribuição de danos que ocorre consoante os diversos
casos considerados, para os deslocamentos alvo (objetivo) e último. No anexo B apresenta-se
também a distribuição de danos no caso dos deslocamentos de cedência. Serão analisados um lintel
(que será o primeiro elemento a atingir a rotura), a parede da fachada principal e uma parede de
85
empena. Por fim, será considerado um caso em que se altera o valor do módulo de distorção para
simular o comportamento de corpo rígido no plano, nos pisos de madeira.
4.7.1 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural
No presente subcapítulo é apresentada, numa primeira fase, uma análise às curvas de capacidade
resistente e aos valores do deslocamento do ponto de desempenho obtidos a partir das análises
estáticas não lineares para o edifício considerando o caso de referência. Numa segunda fase será
efetuada uma comparação entre as curvas obtidas para os diversos casos de estudo (caso de
referência e as seis variações definidas), começando por apresentar-se os resultados obtidos para a
distribuição uniforme de carregamento, a atuar segundo a direção X e Y, e posteriormente os
resultados alcançados para a distribuição triangular, para as duas direções principais.
4.7.1.1 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural para o Caso
de Referência
Para o caso de referência obtiveram-se as curvas de capacidade resistente do edifício, que se
apresentam na figura 4.11 (representadas até ao valor do deslocamento último). Estas, após terem
sido reduzidas para um sistema equivalente a um grau de liberdade e terem sido bi-linearizadas,
através do processo já referido no subcapítulo anterior, originam as curvas que se apresentam na
figura 4.12.
Figura 4.11 – Curvas de Capacidade para o Caso de Referência (Edifício-MDOF)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
0 0,01 0,02 0,03 0,04
Fo
rça (
kN
)
Deslocamento (m)
Curvas de Capacidade MDOF - Caso de Referência
Ux Uniforme
Uy Uniforme
Ux Triangular
Uy Triangular
86
Figura 4.12 – Curvas de Capacidade bilineares para o Caso de Referência para um sistema equivalente a um grau
liberdade
Através da análise das curvas obtidas observa-se que, independentemente da configuração do
carregamento lateral aplicado à estrutura, estas apresentam uma rigidez e uma capacidade resistente
superior segundo a direção Y, correspondendo a um valor de força de cedência máxima superior
nesta direção, bem como um deslocamento de cedência menor. A maior rigidez observada na direção
Y justifica que, o sistema equivalente a um grau de liberdade, seja caracterizado por período inferior
segundo a direção mencionada, tal como se observa na tabela 4.10. O maior período segundo a
direção X, que se deve ao facto de a estrutura ser mais deformável, é devido à existência de maior
quantidade de aberturas das paredes resistentes segundo a referida direção.
Observa-se também que, para cada direção, o valor do deslocamento último é superior quando
considerado o carregamento lateral triangular.
Na tabela 4.10 apresentam-se resumidamente os valores relevantes obtidos para o caso de
referência, na qual se destacam os valores dos deslocamentos alvo (deslocamento do ponto de
desempenho) para o edifício (um sistema com múltiplos graus de liberdade – MDOF). Observa-se
que os valores do deslocamento alvo, independentemente da direção ou do tipo de carregamento,
são maiores quando se considera o sismo tipo 1, ou seja, um sismo afastado (interplacas). Por esta
razão doravante apenas será considerado o sismo tipo 1, uma vez que este é o condicionante,
conduzindo a maiores danos na estrutura. Relativamente à ductilidade, esta é superior quando
considerado o carregamento triangular.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 0,01 0,02 0,03
Fo
rça*
(kN
)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares SDOF - Caso de Referência
Ux Uniforme Bilinear
Uy Uniforme Bilinear
Ux triangular Bilinear
Uy Triangular Bilinear
87
Tabela 4.10 – Tabela resumo dos valores relevantes para o Caso de Referência
Carregamento Uniforme Triangular
Direção X Y X Y
SDOF
T* (s) 0,40 0,26 0,47 0,30
µ* 2,15 2,05 2,23 2,37
Fy* (kN) 1369,31 2778,37 1277,79 2611,92
De* (m) 0,0091 0,0075 0,0118 0,0095
Du* (m) 0,0196 0,0153 0,0264 0,0224
Deslocamento alvo (m)
Sismo Tipo 1 0,0297 0,0127 0,0372 0,0162
Sismo Tipo 2 0,0157 0,0103 0,0186 0,0119
MDOF
Deslocamento Alvo (m)
Sismo Tipo 1 0,0382 0,0161 0,0479 0,0205
Sismo Tipo 2 0,0202 0,0130 0,0239 0,0150
4.7.1.2 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural para os
diversos casos de estudo – direção X e carregamento uniforme
No presente subcapítulo compara-se os resultados obtidos em termos de curvas de capacidade
bilineares, considerando um carregamento uniforme aplicado segundo a direção X, (figura 4.13).
Figura 4.13 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento uniforme segundo a direção X
Na tabela 4.11 encontram-se reunidos os valores com maior relevância para o carregamento
uniforme aplicado segundo a direção X, estando a negrito e para cada parâmetro, os casos que
apresentam a maior variação relativamente ao caso de referência.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025
Fo
rça*
(kN
)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Ux uniforme (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BB_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
88
Tabela 4.11 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento uniforme segundo a direção X
Deslocamento Alvo (m)
Caso T* (s) µ* Fy* (kN) De* (m) Du* (m) Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Referência 0,40 2,15 1369,31 0,0091 0,0196 0,0297 0,0157 0,0382 0,0202
BP_LS 0,39 2,09 1423,98 0,0092 0,0192 0,0288 0,0154 0,0368 0,0198
BP_LI 0,40 2,20 1317,67 0,0085 0,0188 0,0295 0,0156 0,0379 0,0200
BB_LS 0,41 2,00 1344,57 0,0093 0,0186 0,0307 0,0161 0,0394 0,0207
BB_LI 0,40 2,13 1361,59 0,0091 0,0195 0,0300 0,0158 0,0385 0,0204
TM_LS 0,36 2,57 1414,83 0,0076 0,0194 0,0257 0,0141 0,0332 0,0182
TM_LI 0,40 2,20 1343,07 0,0087 0,0190 0,0293 0,0155 0,0377 0,0200
SDOF MDOF
De um modo geral, os diversos casos considerados não apresentam variações relevantes, exceção
feita apenas para o caso TM_LS, em que se verifica (em comparação com os valores obtidos para o
caso de referência) um acréscimo de rigidez elástica de aproximadamente 24,5% (conduzindo a uma
diminuição do período em 10,2%), uma redução do deslocamento de cedência em 17% e ainda um
aumento da força de cedência máxima, em 4%. Também para o caso TM_LS verificam-se as
variações máximas, entre todos os casos considerados, para a ductilidade em 19,6% e para o
deslocamento alvo em 13,1% e 9,9% para os sismos tipo 1 e 2, respetivamente. Nos outros casos de
estudo as variações máximas são pouco significativas, inferiores a 5%. Na realidade verificaram-se
variações de 4%, para a força de cedência máxima no caso BP_LS (constituinte da fachada principal)
e 4,8% para o deslocamento último, verificado no caso BB_LS. Verifica-se pois, para o edifício em
estudo e para o carregamento uniforme aplicado segundo a direção X, que as alterações nas
propriedades dos materiais não alteram significativamente a capacidade e o desempenho estrutural.
Tal como expectável, as alterações efetuadas no material blocos de betão não se traduziram em
alterações minimamente significativas, uma vez que este material apenas está associado a duas
paredes paralelas orientadas segundo Y, o que implica que estas tenham uma influência
insignificante quando solicitadas por uma ação sísmica orientada segundo o eixo X.
Refira-se também que nenhuma das variações máximas, observadas para os diversos parâmetros
analisados, foram originadas pelos casos limite inferiores considerados.
4.7.1.3 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural para os
diversos casos de estudo – direção Y e carregamento uniforme
No presente subcapítulo apresenta-se a análise comparativa entre o caso de referência e as seis
variações de curvas de capacidade bilineares, considerando um carregamento uniforme aplicado
segundo a direção Y, que se apresentam na figura 4.14.
89
Figura 4.14 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento uniforme segundo a direção Y
Na tabela 4.12 encontram-se reunidos os valores com maior relevância para o carregamento
uniforme aplicado segundo a direção Y, estando a negrito e para cada parâmetro, os casos que
apresentam a maior variação relativamente ao caso de referência.
Entre as análises efetuadas para os dois tipos de carregamento e segundo as duas direções
principais, foi para o caso do carregamento uniforme aplicado segundo Y que se verificou variações
mais elevadas para os diversos parâmetros, comparativamente com os valores obtidos para o caso
de referência.
Tabela 4.12 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento uniforme segundo a direção Y
Deslocamento Alvo (m)
Caso T* (s) µ* Fy* (kN) De* (m) Du* (m) Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Referência 0,26 2,05 2778,37 0,0075 0,0153 0,0127 0,0103 0,0161 0,0130
BP_LS 0,26 2,05 2783,12 0,0075 0,0154 0,0127 0,0103 0,0160 0,0130
BP_LI 0,26 2,06 2781,67 0,0073 0,0151 0,0125 0,0102 0,0157 0,0128
BB_LS 0,24 2,87 2776,42 0,0063 0,0182 0,0111 0,0092 0,0138 0,0114
BB_LI 0,26 2,12 2769,36 0,0072 0,0152 0,0124 0,0101 0,0156 0,0127
TM_LS 0,23 2,47 2843,46 0,0058 0,0143 0,0100 0,0084 0,0126 0,0106
TM_LI 0,26 2,05 2651,60 0,0071 0,0146 0,0132 0,0103 0,0166 0,0130
SDOF MDOF
Para o caso BB_LS, a principal diferença residiu num decréscimo de deslocamento de cedência e
num aumento do deslocamento último, o primeiro em 15,6% e o segundo em 18,5%, o que levou a
que tivesse sido observado para este material a variação máxima da ductilidade, na ordem dos 40%.
Este acréscimo no valor de ductilidade, que conduzirá certamente a um melhor desempenho sísmico
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 0,005 0,01 0,015 0,02
Fo
rça*
(kN
)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Uy uniforme (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BB_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
90
do edifício nesta direção, dever-se-á ao aumento dos valores das propriedades mecânicas nas duas
paredes constituídas por alvenaria de blocos de betão, paredes essas que têm grande relevância a
nível sismo-resistente, uma vez que ambas estão orientadas segundo Y e não apresentam qualquer
abertura.
Analisando a variação da rigidez elástica nos dois casos limite considerados para a alvenaria de
blocos de betão (BB_LS e BB_LI), observa-se que esta aumenta no caso do limite superior e que se
mantém praticamente inalterada no caso do limite inferior, relativamente ao caso de referência. Isto
deve-se ao facto de a rigidez elástica ser proporcional ao módulo de elasticidade e ao facto de se ter
considerado um valor relativamente elevado para esta propriedade mecânica no caso do limite
superior, quando comparado com o valor utilizado para o caso de referência, ao contrário do caso
limite inferior, para o qual foi escolhido um valor aproximado ao valor de referência.
Tal como esperado, a alteração dos valores das propriedades mecânicas considerada nos casos
BP_LS e BP_LI apresenta uma influência insignificante na capacidade resistente da estrutura, uma
vez que este material apenas existe na fachada principal, parede esta que está orientada segundo a
direção X, tendo por isso uma relevância secundária no que diz respeito ao desempenho sísmico
quando considerada a ação sísmica segundo a direção Y.
Relativamente ao caso TM_LS, este é o responsável pela ocorrência das variações máximas do
período (13,2%), do deslocamento de cedência (22,6%) e dos deslocamentos alvos para os sismos
tipo 1 (21,5%) e tipo 2 (18,4%).
Ao contrário do que acontecia quando o carregamento era aplicado segundo X, onde a máxima
variação da força de cedência resultava de um acréscimo devido à consideração do caso TM_LS,
para o carregamento aplicado segundo Y a variação máxima é obtida através de uma redução deste
parâmetro, motivada pelos valores considerados para as propriedades mecânicas deste tipo de
material, no caso limite inferior (TM_LI). Esta variação é de 4,6%.
4.7.1.4 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural para os
diversos casos de estudo – direção X e carregamento triangular
No presente subcapítulo apresenta-se a análise comparativa entre o caso de referência e as seis
variações de curvas de capacidade bilineares, considerando um carregamento triangular aplicado
segundo a direção X, que se apresentam na figura 4.15.
91
Figura 4.15 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento triangular segundo a direção X
Na tabela 4.13 encontram-se reunidos os valores com maior relevância para o carregamento
triangular aplicado segundo a direção X, estando a negrito e para cada parâmetro, os casos que
apresentam a maior variação relativamente ao caso de referência.
Tabela 4.13 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento triangular segundo a direção X
Deslocamento Alvo (m)
Caso T* (s) µ* Fy* (kN) De* (m) Du* (m) Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Referência 0,47 2,23 1277,79 0,0118 0,0264 0,0372 0,0186 0,0479 0,0239
BP_LS 0,47 2,23 1321,18 0,0120 0,0267 0,0363 0,0183 0,0465 0,0234
BP_LI 0,47 2,57 1240,00 0,0113 0,0291 0,0371 0,0185 0,0477 0,0238
BB_LS 0,48 2,13 1254,10 0,0121 0,0258 0,0385 0,0190 0,0495 0,0245
BB_LI 0,48 2,23 1266,14 0,0120 0,0268 0,0378 0,0188 0,0486 0,0242
TM_LS 0,44 2,44 1394,11 0,0110 0,0267 0,0333 0,0172 0,0429 0,0222
TM_LI 0,48 2,01 1315,09 0,0127 0,0255 0,0382 0,0190 0,0491 0,0244
SDOF MDOF
Tal como analisado anteriormente para o carregamento uniforme aplicado segundo a direção X, os
casos considerados para a alvenaria de blocos de betão, tanto no caso limite superior (BB_LS) como
no inferior (BB_LI), apresentam uma variação praticamente nula relativamente ao caso de referência.
Isto deve-se, tal como referido previamente, ao facto de as únicas paredes associadas a este tipo de
material estarem orientadas segundo a direção Y, ou seja, apresentarem o eixo de inércia principal
segundo a direção X.
A maior variação da força máxima de cedência (acréscimo) e do deslocamento de cedência
(redução), foram obtidas para o caso TM_LS, 9,1% e 7,1%, respetivamente. Como consequência
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025 0,03 0,035
Fo
rça*
(kN
)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Ux triangular (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BB_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
92
destas variações, o valor da rigidez elástica é máximo, entre todos os casos considerados neste
capítulo. Uma vez que a rigidez elástica é inversamente proporcional ao período, este caso limite
superior é também responsável pela obtenção da variação máxima do período, que neste caso
resulta numa redução do valor obtido para o caso de referência. Os valores considerados para o caso
TM_LS (valores máximos das propriedades mecânicas propostos na Norma Italiana para este
material) são assim os responsáveis por obter-se uma estrutura mais rígida 7,5% que no caso de
referência. Por fim, este caso é também o responsável pelas variações máximas do deslocamento
alvo para os sismos do tipo 1 e 2 em 10,3% e 7,2%, respetivamente.
A variação máxima do deslocamento último, 10,3%, e da ductilidade, 15,1%, ocorreu devido ao caso
BP_LI. A variação máxima do deslocamento de cedência é da ordem dos 7,3%, no caso TM_LI.
4.7.1.5 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural para os
diversos casos de estudo – direção Y e carregamento triangular
No presente subcapítulo apresenta-se a análise comparativa entre o caso de referência e as seis
variações de curvas de capacidade bilineares, considerando um carregamento triangular aplicado
segundo a direção Y, que se apresentam na figura 4.16.
Figura 4.16 – Curvas de capacidade bilineares (SDOF) para carregamento triangular segundo a direção Y
Na tabela 4.14 encontram-se reunidos os valores com maior relevância para o carregamento
triangular aplicado segundo a direção Y, estando a negrito e para cada parâmetro, os casos que
apresentam a maior variação relativamente ao caso de referência.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025 0,03
Fo
rça*
(kN
)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Uy triangular (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BP_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
93
Tabela 4.14 – Valores relevantes para os casos quando considerado um carregamento triangular segundo a direção Y
Deslocamento Alvo (m)
Caso T* (s) µ* Fy* (kN) De* (m) Du* (m) Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Sismo Tipo 1
Sismo Tipo 2
Referência 0,30 2,37 2611,92 0,0095 0,0224 0,0162 0,0119 0,0205 0,0150
BP_LS 0,30 2,58 2598,45 0,0094 0,0243 0,0162 0,0119 0,0204 0,0150
BP_LI 0,30 2,39 2595,89 0,0092 0,0221 0,0160 0,0118 0,0202 0,0149
BB_LS 0,28 2,80 2691,01 0,0084 0,0236 0,0141 0,0111 0,0176 0,0138
BB_LI 0,30 2,44 2597,19 0,0092 0,0223 0,0159 0,0118 0,0200 0,0148
TM_LS 0,27 3,29 2643,37 0,0076 0,0249 0,0133 0,0106 0,0169 0,0134
TM_LI 0,30 2,47 2501,71 0,0090 0,0221 0,0165 0,0119 0,0208 0,0150
SDOF MDOF
Através da observação dos resultados obtidos para o carregamento triangular aplicado segundo a
direção Y, é notória a preponderância do caso TM_LS para a definição da curva de capacidade
resistente da estrutura, sendo este material o responsável pela totalidade das variações máximas
com exceção da variação referente à força de cedência máxima, que é obtida também para a
alvenaria de tijolo maciço mas, no entanto, para o caso limite inferior (TM_LI), com variação igual a
4,2%. O caso TM_LS é responsável por um aumento do deslocamento de cedência de 20,2%, e pela
redução do período em 11,3%. A variação máxima do deslocamento último apresenta um acréscimo
de 10,8% relativamente ao caso de referência e consequentemente um aumento da ductilidade em
aproximadamente 38,8%. O caso TM_LS considerado é também responsável por uma variação
máxima nos valores do deslocamento alvo para os sismos tipo 1 e 2 em 17,5% e 10,9%,
respetivamente.
Para o caso BB_LS para o carregamento triangular na direção Y, contrariamente ao sucedido para o
carregamento uniforme aplicado na mesma direção, este não é o responsável por nenhum valor da
variação máxima. No entanto, apresenta variações consideráveis, nomeadamente no deslocamento
de cedência (11,2%), na ductilidade (18,2%) e no deslocamento alvo para o sismo do tipo 1 (17,5%) e
para o sismo do tipo 2 (10,9%).
Tal como referido aquando da análise dos resultados obtidos para o carregamento uniforme aplicado
segundo a direção Y, a preponderância dos casos BP_LS e BP_LI para o carregamento triangular
invertido segundo a mesma direção é desprezável, uma vez que a variação dos valores obtidos
nestes casos e os valores obtidos no caso de referência é praticamente nula.
4.7.1.6 Curvas de capacidade resistente e desempenho estrutural para os
diversos casos de estudo – considerações finais
Verifica-se que, em geral, o edificío estudado não é muito sensível às alterações dos valores das
propriedades mecânicas dos materiais das paredes resistentes uma vez que na grande maioria dos
94
casos os resultados obtidos para os diferentes casos são semelhantes aos resultados obtidos para o
caso de referência. Verificou-se também que as maiores variações dos parâmetros analisados
ocorreram quando o edifício foi sujeito ao carregamento uniforme aplicado segundo a direção Y, eixo
este que corresponde à direção segundo a qual o edifício apresenta maior capacidade resistente. A
única exceção ocorreu para o parâmetro força máxima (Fy) que apresentou maior variação quando o
edifício foi sujeito ao carregamento triangular aplicado segundo a direção X.
Ao longo das análises efetuadas (carregamentos uniforme e triangular e direções X e Y) observou-se
que o material que mais influência os resultados obtidos foi a alvenaria de tijolo maciço,
nomeadamente quando considerado o caso limite superior. No entanto, tal como esperado, o material
alvenaria de blocos de pedra tem alguma influência quando considerada a direção X, uma vez que
este material apenas é constituinte da fachada principal que está orientada segundo o referido eixo.
Também o material blocos de betão apresenta alguma influência quando considerada a direção Y
(principalmente para o carregamento uniforme), uma vez que é o consitutinte das paredes de empena
que se encontram orientadas segundo o referido eixo, sendo o caso limite superior o que apresenta
resultados com maior expressão.
4.7.2 Distribuição de danos
No presente subcapítulo é apresentado, numa primeira fase, uma análise da distribuição de danos no
edifício, obtidos quando considerado o caso de referência. Numa segunda fase será efetuada uma
comparação entre a distribuição de danos para os diversos casos de estudo (caso de referência e os
seis restantes), começando por apresentar-se os resultados obtidos para a distribuição uniforme de
carregamento, a atuar segundo a direção X e Y, e posteriormente os resultados alcançados para a
distribuição triangular, para as duas direções principais.
Antes de apresentar a distribuição de danos obtida para o caso de referência nos elementos
selecionados, interessa referir sucintamente o código de cores utilizado pelo software TreMuri. Este
apresenta, para os diversos incrementos de carga lateral, um mapa de danos para cada parede
constituinte da estrutura em estudo, permitindo avaliar-se a evolução da distribuição e qual o tipo de
dano a que cada elemento está sujeito. Este mapa de danos, no que diz respeito à alvenaria,
identifica os elementos que permanecem íntegros e os que entram em regime não linear (plastificam)
ou atingem a rotura por corte ou por flexão e ainda rotura por tração, de acordo com o código de
cores apresentado na tabela 4.15. Como se admitiu que a alvenaria não resiste à tração, os
elementos que ficam submetidos a tensões de tração são designados por “Elementos não reativos”,
pois deixam de contribuir para a resposta estrutural.
95
Tabela 4.15 – Tipos de danos possíveis nos elementos de alvenaria, considerados no software TreMuri, e correspondente código de cores
Sem Danos
Plastificação por corte
Plastificação por flexão
Rotura por corte
Rotura por flexão
Elemento não reativo
(Rotura por tração)
Importa referir que o programa fornece os mapas de distribuição de danos apenas para determinados
valores de deslocamento que não coincidem exatamente com os valores dos deslocamentos de
cedência, alvo e último obtidos através da bilinearização das curvas de capacidade do edifício e, os
dois últimos, foram os escolhidos neste trabalho para analisar a distribuição de danos (a distribuição
de danos correspondente ao deslocamento de cedência é apenas apresentada no Anexo B). Por uma
questão conservativa, os mapas de danos apresentados nesta dissertação são relativos ao valor do
deslocamento fornecido pelo programa, exatamente posterior ao valor do deslocamento que se
pretende (cedência, último ou alvo). Este critério foi o escolhido por ser conservativo, uma vez que
um valor maior de deslocamento implica danos mais gravosos.
Tal como referido anteriormente, será avaliada a distribuição de danos num lintel e em duas paredes,
a fachada principal e a empena lateral esquerda, para os deslocamentos alvo e último.
4.7.2.1 Distribuição de danos para o Caso de Referência
O primeiro elemento de alvenaria a atingir a rotura (sem ser à tração), que neste caso particular é
rotura por flexão, encontra-se localizado na parede paralela e mais próxima à fachada principal,
orientada segundo a direção X. O elemento em questão, é um elemento de alvenaria localizado por
cima de uma abertura (lintel), no qual descarrega uma viga de betão armado. Independentemente do
tipo e da direção do carregamento considerado, este é o primeiro elemento a entrar em rotura, para
valores de força de corte basal muito baixos (tabela 4.16), variando os valores da força consoante o
tipo de carregamento e direção considerados.
Tabela 4.16 – Força basal aplicada que origina a rotura por flexão do referido lintel
Carregamento Uniforme Triangular
Direção X Y X Y
Força (kN) 30,1 62,8 24,6 51,6
Para além do lintel anteriormente referido serão analisadas também duas paredes: a fachada
principal e a parede de empena lateral esquerda.
96
É possível observar através da tabela 4.10 que, na direção X, e tanto para a distribuição de forças
uniforme como triangular, o deslocamento alvo é superior ao deslocamento último. Isto significa que a
estrutura não apresenta capacidade resistente suficiente para evitar a ocorrência do colapso quando
sujeita ao sismo de dimensionamento preconizado no EC8 aplicado segundo a direção X. Assim, a
distribuição de danos para o deslocamento alvo apenas será apresentada quando se considera que a
ação sísmica ocorre segundo a direção perpendicular à fachada (i.e. o carregamento aplicado na
direção Y). No entanto, é importante concluir que o edifício globalmente não verifica a segurança para
o estado último.
De seguida serão analisados os mapas de danos para a fachada principal quando o deslocamento do
topo da estrutura atinge o deslocamento último (Du) e apenas para os carregamentos uniforme e
triangular segundo X uma vez que é segundo esta direção que a parede referida apresenta danos
consideráveis. Pelo contrário, para os carregamentos aplicados segundo Y, a fachada apenas
apresenta plastificação por flexão de alguns nembos, plastificação por corte de alguns lintéis e rotura
por tração de alguns nembos e lintéis. Assim, na tabela 4.17 apresenta-se a distribuição de danos na
fachada principal ocorridos para o caso de referência, quando considerado o deslocamento último
provocado pelos dois tipos de carregamento aplicado segundo a direção X, e na tabela 4.18 os
valores correspondentes para a direção Y mas para o deslocamento alvo e o deslocamento último,
considerando a parede de empena.
Tabela 4.17 – Distribuição de danos na fachada principal para carregamentos segundo a direção X para o caso de referência
Carregamento segundo X
Uniforme Triangular
Du
Para a direção X, observa-se (tabela 4.17) que os lintéis plastificam por corte e os nembos por flexão.
Não há uma diferença significativa entre a distribuição de danos para o carregamento com uma
distribuição uniforme e triangular, mas constata-se a rotura por flexão dos nembos, do segundo piso e
de apenas um do primeiro piso, e a rotura por tração de um nembo do piso térreo para a distribuição
triangular. Em ambos os casos observa-se uma rotura do tipo “soft storey” ao nível do piso térreo.
Para além da fachada principal, é também analisada a distribuição de danos numa parede de
empena. No que diz respeito à parede referida, serão apresentados os mapas de danos para os dois
tipos de carregamentos aplicados segundo a direção Y uma vez que, segundo a direção X,
independentemente do tipo de carregamento considerado, do caso analisado e do deslocamento em
questão, a parede de empena mantêm a integridade estrutural de todos os elementos que a
constituem. Assim, e como referido, na tabela 4.18 apresenta-se a distribuição de danos ocorridos na
97
referida parede para o caso de referência, tanto para o deslocamento alvo (D) como para o
deslocamento último, quando a estrutura é sujeita aos carregamentos aplicados segundo a direção Y.
Tabela 4.18 – Distribuição de danos na parede de empena para carregamentos segundo a direção Y para o caso de referência
Carregamento segundo Y
Uniforme Triangular
D
Du
Verifica-se que a parede mantém-se fundamentalmente íntegra, quando sujeita a um carregamento
tal que provoca o deslocamento alvo do edifício, apresentando apenas danos devidos à plastificação
por flexão dos elementos ao nível piso térreo e do nembo lateral direito do último piso.
No que concerne ao deslocamento último, verifica-se que o esforço de corte passa a ser
condicionante para o maior elemento localizado no piso térreo, quando o edifício é sujeito ao
carregamento uniforme, ao contrário do que acontece para o carregamento triangular em que o mapa
de danos para a parede de empena permanece igual ao obtido para o deslocamento alvo.
Tal como na fachada principal, o piso que apresenta maiores danos é o piso térreo. No entanto,
enquanto os elementos localizados no referido piso da fachada atingem a rotura para o deslocamento
último, os elementos da parede de empena localizados no mesmo nível apenas sofrem plastificação.
Isto significa que a parede de empena apresenta uma capacidade resistente elevada, dando-se o
colapso/rotura da estrutura (globalmente) devido às paredes que apresentam muitas aberturas.
Vale a pena referir duas situações, que se identifica como erros de conceção, verificadas através da
análise da distribuição de danos, que ocorrem transversalmente aos tipos de carregamento e
direções consideradas. Um desses erros é o lintel referido anteriormente, tal como se observa, é o
primeiro elemento a atingir a rotura (sem contar com a tração), independentemente do tipo de
carregamento e direção considerados. Outro dos problemas de conceção verifica-se na fachada
principal, em que os quatro lintéis localizados ao nível do piso térreo se tornam elementos não
reativos (i.e. que apresentam rotura por tração), quando o edifício está apenas sujeito às cargas
gravíticas (i.e. quando a força aplicada para simular a ação sísimica é igual a zero) e
98
independentemente do caso considerado. Estas duas situações verificam-se também para todos os
casos de estudo, como é evidenciado nos subcapítulos seguintes.
4.7.2.2 Distribuição de danos para os diversos casos de estudo – direção X e
carregamento uniforme
Tal como observado no subcapítulo 4.7.2.1, o primeiro elemento de alvenaria a atingir a rotura (sem
contar com a tração) é um lintel que se encontra localizado na parede paralela e mais próxima à
fachada principal. Dos sete casos considerados, para o carregamento uniforme aplicado segundo a
direção X, o que provoca a rotura do referido elemento para um valor inferior de força aplicada, é o
caso de referência. Refira-se que os restantes casos são responsáveis por um ligeiro acréscimo de
capacidade resistente (entre 0,3% a 5,7%) com exceção do caso TM_LS, que confere ao lintel uma
resistência substancialmente superior (aproximadamente dez vezes).
Na tabela 4.19 apresenta-se a distribuição de danos na fachada principal para o deslocamento último
e para os sete casos considerados nesta dissertação quando sujeitos ao carregamento uniforme
aplicado segundo a direção X (direção que coincide com a orientação da fachada em análise).
Tabela 4.19 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento uniforme orientado segundo
a direção X
Caso de Referência BP_LS BP_LI
Du
Através da observação dos resultados obtidos é possível verificar que o padrão de danos obtidos
para os diferentes casos de estudo é muito semelhante, existindo apenas variações pontuais
consoante o caso considerado.
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
Du
99
Para o deslocamento último, o padrão de danos evidenciado pelos diversos casos é caracterizado,
fundamentalmente pela plastificação por flexão da quase totalidade dos elementos verticais, e pela
plastificação por corte da totalidade dos lintéis, com a exceção do lintel lateral esquerdo do último
piso e dos lintéis localizados na zona inferior da fachada que apresentam rotura por tração. Ao nível
do piso térreo, a fachada principal apresenta uma rotura tipo “soft storey” onde, dos seis elementos
verticais que constituem o referido piso, quatro apresentam rotura por flexão e os restantes rotura por
corte.
Tal como referido, consoante o caso analisado, é possível observar-se alterações pontuais no mapa
de danos, quando comparado com o caso de referência.
Na realidade, comparando com o caso de referência, os diversos casos apresentam um ténue
agravamento na distribuição de danos, ao ocorrer a platificação por flexão de um nembo localizado
no segundo piso, situação que não se verifica apenas no caso TM_LI. Em particular, no caso BB_LS
observa-se também que ocorre a plastificação por flexão dos nembos localizados nas extremidades
da fachada principal ao nível do piso térreo, ao contrário do sucedido nos restantes casos em que os
referidos elementos apresentavam rotura por flexão.
4.7.2.3 Distribuição de danos para os diversos casos de estudo – direção Y e
carregamento uniforme
Tal como observado no subcapítulo 4.7.2.1, o primeiro elemento de alvenaria a atingir a rotura é um
lintel que se encontra localizado na parede paralela e mais próxima à fachada principal. Dos sete
casos considerados, para o carregamento uniforme aplicado segundo a direção Y, o que provoca a
rotura do referido elemento para um valor de força aplicada inferior, é o caso de referência. Refira-se
que os restantes casos são responsáveis por um ligeiro acréscimo de capacidade resistente (entre
0,01% a 9,7%) com exceção do caso TM_LS, caso este que confere ao lintel uma resistência
substancialmente superior (aproximadamente 3,2 vezes).
Na tabela 4.20 apresenta-se a distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda para os
sete casos considerados nesta dissertação quando sujeitos ao carregamento uniforme aplicado
segundo a direção Y, direção que coincide com a orientação da parede em análise, para os
deslocamentos alvo e último.
100
Tabela 4.20 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento uniforme orientado segundo a direção Y
Caso de Referência BP_LS BP_LI
D
Du
Através da observação dos resultados obtidos é possível verificar que o padrão de danos obtidos
para os diversos casos de estudo é muito semelhante, para cada um dos dois tipos de deslocamento
analisados, existindo apenas variações pontuais consoante o caso considerado.
No que concerne ao deslocamento alvo, observa-se, fundamentalmente a manutenção da integridade
estrutural dos diversos elementos, com exceção do nembo superior lateral direito e dos nembos ao
nível do piso térreo, que apresentam plastificação por flexão. No que diz respeito ao deslocamento
último, o padrão de danos evidenciado pelos diversos casos é caracterizado, fundamentalmente pela
manutenção do regime linear da maioria dos elementos estruturais, com exceção de dois nembos
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
D
Du
101
onde ocorre plastificação por flexão e um nembo referente ao piso térreo onde ocorre plastificação
por corte.
Tal como referido, consoante o caso analisado, é possível observar-se alterações pontuais no mapa
de danos, quando comparado com o caso de referência. Para o deslocamento alvo, estas alterações
pontuais verificam-se apenas para o caso BB_LI e para o caso TM_LS. No primeiro caso, ao invés da
plastificação por flexão do maior nembo referente ao piso térreo, observa-se que este elemento
apresenta já plastificação por corte, situação que se manterá também para o deslocamento último. No
segundo caso verifica-se que o elemento lateral direito referente ao piso térreo mantém a integridade
estrutural (ou seja, continua numa fase elástica) e que o nembo lateral direito ao nível do segundo
piso apresenta plastificação por flexão. Para o deslocamento último, apenas dois dos casos
estudados apresentam diferenças no mapa de danos quando comparados com o caso de referência.
No caso BP_LI, ao invés da plastificação por corte do nembo referente ao piso térreo, este apresenta
plastificação por flexão. No caso TM_LS ocorre também, para além dos danos evidenciados pela
generalidade dos casos, a plastificação por flexão de um nembo lateral localizado no segundo piso.
4.7.2.4 Distribuição de danos para os diversos casos de estudo – direção X e
carregamento triangular
Tal como observado no subcapítulo 4.7.2.1, o primeiro elemento de alvenaria a atingir a rotura é um
lintel que se encontra localizado na parede paralela e mais próxima à fachada principal. Dos sete
casos considerados, para o carregamento triangular aplicado segundo a direção X, o que provoca a
rotura do referido elemento para um valor de força aplicada inferior, é o caso de referência. Refira-se
que os restantes casos são responsáveis por um ligeiro acréscimo de capacidade resistente (entre
0,36% a 5,8%) com exceção do caso TM_LS, caso este que confere ao lintel uma resistência
substancialmente superior (aproximadamente 12,8 vezes).
Na tabela 4.21 apresenta-se a distribuição de danos na fachada principal para os sete casos
considerados nesta dissertação quando sujeitos ao carregamento triangular aplicado segundo a
direção X, direção que coincide com a orientação da fachada em análise, para o deslocamento
último.
102
Tabela 4.21 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento triangular orientado segundo a direção X
Caso de Referência BP_LS BP_LI
Du
Tal como sucedido quando considerado o carregamento uniforme segundo a direção X, também para
o carregamento triangular segundo a referida direção é possível observar-se, através dos resultados
obtidos, que o padrão de danos evidenciado é muito semelhante para os diversos casos
considerados, existindo apenas variações pontuais consoante o caso de estudo. Refira-se que o
edifício para o carregamento triangular, apresenta maior número de nembos plastificados por flexão
nos primeiro e segundo pisos, do que quando considerado o carregamento uniforme. Isto poderá ser
explicado pela configuração do carregamento, sendo os elementos inferiores mais solicitados à flexão
quando considerado o carregamento triangular invertido.
De uma forma geral, para o deslocamento último, o padrão de danos evidenciado pelos diversos
casos é caracterizado pela plastificação por flexão da quase totalidade dos elementos verticais e pela
plastificação por corte da totalidade dos lintéis, com a exceção do lintel lateral esquerdo do último
piso e dos lintéis localizados na zona inferior da fachada que apresentam rotura por tração. Ao nível
do piso térreo, para o deslocamento último, a fachada principal apresenta uma rotura tipo “soft
storey”, tal como observado para os cenários obtidos aquando da consideração do carregamento
uniforme segundo a direção X, com a pequena diferença de que um dos nembos que apresentava
plastificação por flexão, apresenta rotura por tração para o carregamento triangular.
Tal como referido, consoante o caso analisado, é possível observar-se alterações pontuais no mapa
de danos, quando comparado com o caso de referência.
No que concerne ao deslocamento último, é possível verificar-se que os mapas de danos obtidos
para os casos BP_LS e TM_LI não apresentam qualquer diferença comparativamente com o mapa de
danos obtido para o caso de referência. Em ambos os casos limite referentes ao material blocos de
0
0
0
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
Du
103
betão (BB_LS e BB_LI) e no caso TM_LS observa-se apenas uma alteração ao nível do nembo do
primeiro piso, confinante com a parede de empena direita, o qual apresenta plastificação por flexão.
O caso BP_LI é um caso particular pois o mapa de danos resultante para este destoa
consideravelmente dos restantes. Este apresenta um comportamento de plastificação por corte dos
lintéis localizados na zona inferior do segundo piso, rotura do nembo localizado no primeiro piso
(confinante com a parede de empena direita) e plastificação por flexão dos nembos laterais ao nível
do piso térreo.
4.7.2.5 Distribuição de danos para os diversos casos de estudo – direção Y e
carregamento triangular
Tal como observado no subcapítulo 4.7.1.2, o primeiro elemento de alvenaria a atingir a rotura é um
lintel que se encontra localizado na parede paralela e mais próxima à fachada principal. Dos sete
casos considerados, para o carregamento triangular aplicado segundo a direção Y, o que provoca a
rotura do referido elemento para um valor de força aplicada inferior, é o caso de referência. Refira-se
que os restantes casos são responsáveis por um ligeiro acréscimo de capacidade resistente (entre
0,05% a 9,1%) com exceção do caso TM_LS, caso este que confere ao lintel uma resistência
substancialmente superior (aproximadamente 3,24 vezes).
Após analisados os diversos casos para cada tipo de carregamento e direção, é possível constatar-se
que as alterações promovidas ao nível das propriedades mecânicas dos materiais constituintes das
alvenarias, apenas resultam numa manifesta melhoria da capacidade resistente do lintel, no caso
limite superior da alvenaria de tijolo maciço, sendo esta característica mais evidente quando
considerado o carregamento aplicado segundo a direção X.
Na tabela 4.22 apresenta-se a distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda para os
sete casos considerados nesta dissertação quando sujeitos ao carregamento triangular aplicado
segundo a direção Y, direção que coincide com a orientação da parede em análise, para os
deslocamentos alvo e último.
Tabela 4.22 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento triangular orientado segundo a direção Y
Caso de Referência BP_LS BP_LI
D
104
Du
Tal como sucedido quando considerado o carregamento uniforme segundo a direção Y, também para
o carregamento triangular segundo a referida direção é possível observar-se, através dos resultados
obtidos, que o padrão de danos evidenciado é semelhante para cada deslocamento, existindo apenas
variações pontuais consoante o caso considerado.
No que diz respeito ao deslocamento alvo, o padrão de danos, na generalidade dos casos estudados,
é caracterizado pela manutenção da integridade estrutural da totalidade dos elementos com exceção
do nembo localizado na zona lateral direita do último piso e dos nembos referentes ao piso térreo. O
caso TM_LS é o único que evidencia uma ligeira diferença quando comparado com os restantes
casos, ao apresentar a plastificação por flexão do nembo lateral direito referente ao segundo piso e a
não plastificação do nembo lateral difereito ao nível do piso térreo. No que concerne ao deslocamento
último, observa-se que o mapa de danos é constante para a maioria dos casos, com exceção dos
casos BB_LI e TM_LS. No primeiro, observa-se a plastificação por flexão dos nembos localizados no
alinhamento lateral direito da parede, com exceção do nembo localizado ao nível do primeiro piso, e a
rotura por corte do nembo referente ao piso térreo. No segundo, para além dos danos evidenciados
no mapa de danos do caso de referência, observa-se também a plastificação por corte dos restantes
elementos verticais localizados no alinhamento lateral direito da parede e também a plastificação por
corte do nembo referente ao primeiro piso.
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
D
Du
105
Comparando os resultados obtidos para os carregamentos uniforme e triangular aplicados segundo a
direção X, quando submetidos ao deslocamento alvo, verifica-se que as distribuições de danos na
parede de empena são iguais em praticamente todos os casos, sendo a flexão o esforço
condicionante. Quanto ao deslocamento último, contrariamente ao sucedido para o carregamento
uniforme, é possível notar que a parede de empena evidencia uma maior sensibilidade ao momento
fletor do que ao esforço de corte (salvo raras exceções) quando o edifício é sujeito ao carregamento
triangular. Isto sugere, para a tipologia em estudo neste trabalho, que a utilização de determinado
carregamento (uniforme ou triangular) apenas afeta a distribuição de danos consideravelmente para
deslocamentos elevados, com valores próximos do deslocamento último, não sendo determinante
quando se analisa a distribuição de danos para o deslocamento alvo (ou seja, para a segurança ao
sismo regulamentar).
Após efetuadas as análises dos resultados obtidos para os carregamentos uniforme e triangular, tanto
na direção X como Y, pode concluir-se que o comportamento sísmico do edifício estudado não é
muito sensível às alterações das propriedades mecânicas dos materiais.
4.7.3 Caso do Piso Rígido
Tal como observado no subcapítulo 4.7.1.1, o edifíco para o caso de referência não apresenta
capacidade resistente suficiente para verificar a segurança estrutural para o sismo regulamentar
condicionante (sismo tipo 1), para a ação sísmica segundo a direção X. Este resultado motivou a
consideração de um novo caso de estudo no qual se pretende averiguar se, os pisos de madeira
tivessem comportamento de piso rígido no seu plano, seria condição suficiente para conferir à
estrutura capacidade de verificar o estado limite último segundo X. A consideração de piso rígido
corresponderia a uma ação de reforço estrutural em que seriam colocados elementos que permitiriam
que os pisos de madeira se comportassem de tal forma. Esta alteração foi simulada no modelo
considerando um módulo de distorção associado aos pisos de madeira cem vezes superior ao
utilizado para o caso de referência. Os resultados demonstraram que a estrutura, a nível global, não é
muito sensível a esta alteração, tendo existido uma ligeira alteração da capacidade resistente e um
ligeira redução dos valores de deslocamento último e deslocamento alvo, mantendo-se a não
verificação da segurança estrutural para o sismo regulamentar condicionante segundo a direção X.
Na figura 4.17 apresentam-se as curvas de capacidade edifício (MDOF) quando considerados os
carregamentos segundo a direção X, para os casos de referência e de piso rígido.
106
Figura 4.17 – Curvas de capacidade do edifício (MDOF), quando este é sujeita aos carregamentos uniforme e triangular para a direção X
4.8 Comparação dos resultados com a metodologia Hazus
No presente subcapítulo é efetuada a comparação entre as curvas de capacidade resistente obtidas
para cada um dos sete casos de estudo considerados e apresentados anteriormente, e as curvas de
capacidade definidas na metodologia HAZUS para edifícios de alvenaria estrutural não reforçada de
média e baixa altura, URMM e URML, respetivamente. Refira-se que as curvas fornecidas pela
metodologia Hazus apresentam, entre o deslocamento de cedência e último, uma transição
curvilínea. No entanto, uma vez que as curvas de capacidade resistente obtidas a partir das análises
pushover foram bilinearizadas, optou-se bilinearizar-se também as curvas sugeridas pela metodologia
Hazus, facilitando deste modo a comparação entre metodologias. Esclareça-se que o processo de
bilinearização das curvas não é comum nos dois casos. Enquanto que, para as curvas obtidas a partir
das análises pushover, este processo foi efetuado através do método referido no subcapítulo 4.6,
para curvas propostas pela metodologia Hazus a bilinearização foi efetuada considerando rigidez
elástica até se atingir a força última (valor sugerido na metodologia) e um patamar horizontal plástico
até se atingir o valor do deslocamento último (valor sugerido na metodologia). A comparação será
efetuada em termos de curvas de capacidade, correspondentes a um sistema de um grau de
liberdade equivalente.
Recorde-se que as curvas definidas na metodologia HAZUS, pretendem representar uma tipologia
estrutural, o que implica que estas sejam uma aproximação das curvas de capacidade estrutural de
um número elevado de edifícios que, apesar de ter em comum o material principal constituinte e a
altura do edifício, poderão apresentar características geométricas consideravelmente diferentes (por
exemplo, aberturas em locais e com dimensões diferentes), o que por sua vez poderá resultar na
0
500
1000
1500
2000
2500
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06
Fo
rça (
kN
)
Deslocamento (m)
Comparação das curvas de capacidade segundo X
Ux Uniforme - Caso Piso Rígido
Ux Triangular - Caso Piso Rígido
Ux Uniforme - Caso de Referência
Ux Triangular - Caso de Referência
107
obtenção de curvas de capacidade resistente relativamente diferentes. Por este motivo, é expectável
que as curvas sugeridas na metodologia HAZUS e as curvas obtidas para o caso particular do edifício
em estudo apresentem diferenças.
Tal como referido anteriormente, as curvas de capacidade resistente sugeridas pela metodologia
Hazus, que serão consideradas na comparação, são as referentes a edifícios de alvenaria não
reforçada de baixa altura (URML) e a edifícios de alvenaria não reforçada de média altura (URMM).
No entanto, devido à altura do edifício em estudo (12,3 m) será expectável que as curvas obtidas
para este se assemelhem mais à curva definida para a tipologia estrutural URMM (aproximadamente
10,7 m) do que às referentes à tipologia estrutural URML (aproximadamente 4,6 m).
Nas figuras 4.18, 4.19, 4.20 e 4.21 são apresentadas as curvas de capacidade obtidas para um
sistema de um grau de liberdade equivalente ao edifício em estudo, quando sujeito aos
carregamentos uniforme segundo X, uniforme segundo Y, e triangular segundo X e Y,
respetivamente. Em cada uma das figuras são apresentadas igualmente as curvas de capacidade
fornecidas pela metodologia Hazus. Refira-se que as curvas propostas no Hazus, são independentes
do tipo de carregamento e da direção em estudo.
Figura 4.18 – Curvas de capacidade bi-lineares para sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção X para o carregamento uniforme e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07
Acele
ração
* (m
/s²)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Ux uniforme (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BB_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
Hazus - Curva de capacidade URML
Hazus - Curva de capacidade URMM
108
Figura 4.19 – Curvas de capacidade bi-lineares para sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção Y para o carregamento uniforme e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus
Figura 4.20 – Curvas de capacidade bi-lineares para um sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção X para o carregamento triangular e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07
Acele
ração
* (m
/s²)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Uy uniforme (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BP_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
Hazus - Curva de capacidade URML
Hazus - Curva de capacidade URMM
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07
Acele
ração
* (m
/s²)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Ux triangular (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BB_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
Hazus - Curva de capacidade URML
Hazus - Curva de capacidade URMM
109
Figura 4.21 – Curvas de capacidade bi-lineares para sistema equivalente a um grau de liberdade segundo a direção Y para o carregamento triangular e curvas de capacidade sugeridas na metodologia Hazus
Observa-se que, independentemente do carregamento considerado quando aplicado segundo a
direção X, a curva de capacidade sugerida na metodologia Hazus que mais se aproxima das curvas
obtidas para os diversos casos considerados, relativamente ao parâmetro aceleração máxima, é a
referente aos edifícios URMM. Para o carregamento uniforme esta aproxima-se mais do caso BB_LI e
para o carregamento triangular do caso BP_LS.
Na direção Y e tanto para o carregamento uniforme como para o carregamento triangular, a curva de
capacidade sugerida na metodologia Hazus que mais se aproxima das curvas obtidas para os
diversos casos considerados, relativamente ao parâmetro aceleração máxima, é a referente aos
edifícios URML. Para ambos os tipos de carregamento esta aproxima-se mais do caso TM_LI.
No que diz respeito ao parâmetro que permite definir o declive do troço elástico (“rigidez” de um
SDOF de massa unitária), a curva sugerida na metodologia HAZUS para os edifícios URML é a que
apresenta um valor mais semelhante ao das curvas obtidas para os diversos casos,
independentemente do tipo de carregamento e da direção segundo a qual este é aplicado. A única
exceção verifica-se para o carregamento triangular aplicado segundo X, onde o valor deste
parâmetro, inerente às curvas resultantes dos diversos casos considerados, apresenta um valor mais
semelhante ao sugerido para edifícios URMM.
A curva referente aos edifícios URML é a que mais se aproxima dos valores obtidos, no que concerne
ao deslocamento de cedência, para os diversos casos considerados. Os casos que mais se
aproximam da curva referente aos edifícios URML são: o BB_LS para o carregamento uniforme
segundo X; o BP_LS para o carregamento uniforme segundo Y; o de referência para o carregamento
triangular segundo Y e o BB_LS para o carregamento triangular segundo X. Refira-se que, o último
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07
Acele
ração
* (m
/s²)
Deslocamento* (m)
Curvas de Capacidade Bilineares Uy triangular (SDOF)
Caso de Referência
Caso BP_LS
Caso BP_LI
Caso BB_LS
Caso BB_LI
Caso TM_LS
Caso TM_LI
Hazus - Curva de capacidade URML
Hazus - Curva de capacidade URMM
110
caso mencionado é o que de todos se aproxima mais do valor sugerido para a curva referente aos
edifícios URML, apresentando uma diferença insignificante (de aproximadamente 0,005 cm).
Independentemente do carregamento e da direção considerados, ambas as curvas representativas
da capacidade resistente dos edifícios de alvenaria não reforçada, sugeridas pela metodologia Hazus,
apresentam uma enorme discrepância entre os valores que as caracterizam, no que diz respeito ao
parâmetro deslocamento último, e os valores obtidos para os sete casos considerados para o edifício
em estudo. No entanto, esta discrepância é menos evidente quando considerado o carregamento
triangular (em ambas as direções). Devido à grande discrepância evidenciada para os deslocamentos
últimos e ao facto de esta característica não se verificar para os deslocamentos de cedência, poder-
se-á admitir que o método Hazus considera que os edifícios de alvenaria não reforçada são bastante
mais dúcteis.
Assim, de uma forma geral, e com base nos resultados obtidos e nas comparações feitas pode-se
dizer que, a metodologia Hazus:
Considera que este tipo de edifícios tem mais ductilidade do que a verificada com o estudo
analítico desenvolvido e que recorreu a análises estáticas não lineares;
Propõe uma curva de capacidade para a tipologia URMM que se aproxima da curva de
capacidade obtida para a direção X, que inclui a fachada constituída para alvenaria de pedra
e um número de aberturas significativo, e paredes de tijolo maciço e furado;
Propõe uma curva de capacidade para a tipologia URML que se aproxima da curva de
capacidade obtida para a direção Y, que inclui as paredes sem aberturas, perpendiculares à
fachada e constituídas por blocos de betão.
111
5 Considerações Finais
Na presente dissertação foi realizado um estudo sobre as principais metodologias de avaliação da
vulnerabilidade sísmica de edifícios antigos de alvenaria.
Numa primeira fase procedeu-se à definição do conceito risco sísmico e das suas componentes, em
que a vulnerabilidade sísmica assume o papel mais importante, visto que é sobre esta que é possível
atuar de uma forma mais eficaz em prol da mitigação do risco. Conclui-se por isso que a existência de
metodologias que permitam avaliar a vulnerabilidade sísmica, de uma forma fiável, é de extrema
importância. Na realidade, as metodologias referidas são relevantes principalmente para as
construções antigas, na medida em que a avaliação do dano esperado para uma determinada
intensidade sísmica permita identificar quais os edifícios a reforçar e, no caso de se utilizarem
métodos mais precisos, que recorrem a análises não lineares, identificar a distribuição de danos e
quais os elementos estruturais mais vulneráveis.
Com base na pesquisa bibliográfica desenvolvida conclui-se que existem diversas abordagens que
permitem agrupar as metodologias de avaliação da vulnerabilidade sísmica, não existindo porém uma
que seja considerada, de uma forma consensual, como a abordagem a utilizar em qualquer situação.
Consoante o caso considerado, existem abordagens que se revelam mais apropriadas que outras. No
caso concreto dos edificios localizados em centros históricos, ou seja, locais onde exista uma grande
quantidade de edifícios antigos de alvenaria (tal como sucede na cidade de Lisboa), a abordagem
que melhor se adequa é a que recorre, como critério de seleção, à forma como são obtidas as
estimativas de danos, ou seja, se através de dados observados e opiniões de especialistas ou
através de modelos estruturais. Esta abordagem dá origem a três grupos de métodos: os empíricos,
os analíticos e os híbridos. Refira-se que, através da bibliografia consultada, foi possível constatar-se
que a distininção entre metodologias de avaliação da vulnerabilidade sísmica feita entre métodos
empíricos e analíticos, através do critério já referido, é consensual. No entanto, a consideração de um
grupo híbrido suscita alguma divergência, existindo alguns autores que não os consideram, limitando-
se apenas à consideração dos dois grupos referidos anteriormente.
Das metodologias estudadas destacam-se, atendendo às suas especificidades, o VULNUS, FaMIVE,
HAZUS, MeBaSe e a metodologia proposta por Vicente (2008).
No caso de se pretender implementar uma das metodologias anteriormente referidas, para a
avaliação da vulnerabidade sísmica da cidade de Lisboa, sugere-se a utilização de um método similar
ao HAZUS (em que seja desenvolvida uma classificação tipológica e curvas de capacidade em
conformidade com os tipos de edifícios existentes na cidade) ou a utilização do método proposto por
Vicente (2008).
Numa segunda fase da dissertação avaliou-se o desempenho sísmico de um edifício antigo de
alvenaria da cidade de Lisboa, um edifício de “placa”. Esta avaliação foi realizada recorrendo a uma
das abordagens descritas na primeira fase da tese, utilizando métodos de avaliação da
vulnerabilidade sísmica aplicados a um edifício isolado. Recorreu-se ao programa 3Muri/TreMuri, e
112
foram descritos os conceitos fundamentais do programa que permitem modelar o desempenho
sísmico de um edifício misto alvenaria-betão armado. É importante referir que o programa apenas
analisa os mecanismos que podem ocorrer no plano, não tendo sido considerada a resposta do
edifício para fora do plano das paredes, pelo que os resultados obtidos poderão indicar que a
estrutura tem uma capacidade resistente superior à que na realidade possui. Na modelação do
edifício em estudo foram considerados determinados valores para as propriedades mecânicas dos
materiais que o constituem, que pretendem representar, de uma forma o mais real possível, as
características mecânicas do edifício existente. Os referidos valores formam o caso “de referência
deste estudo.
Para o caso de referência foram analisadas as propriedades dinâmicas do edifício tendo-se concluído
que o primeiro modo de vibração é o modo fundamental segundo a direção X (a direção da fachada e
com uma frequência de 2,94 Hz) e o terceiro modo de vibração é o modo fundamental segundo a
direção Y (a direção das empenas e com uma frequência de 4,11 Hz). No que diz respeito ao
segundo modo de vibração, concluiu-se que este é essencialmente um modo de rotação.
Com o intuito de averiguar a influência das propriedades mecânicas dos materiais constituintes das
paredes de alvenaria, que compõem o edifício em estudo, na capacidade resistente e no
desempenho sísmico do edifício foi efetuado um estudo paramétrico. Neste estudo, para além do
caso de referência, foram considerados seis casos, compostos por dois casos limite (superior e
inferior) para cada um dos seguintes materiais: blocos de pedra, blocos de betão e tijolo maciço.
Numa primeira fase foram analisados os resultados ao nível das curvas de capacidade obtidas e os
valores de deslocamento alvo, considerando os sismos regulamentares preconizados no EC8 para a
cidade de Lisboa. Esta análise permitiu concluir que o sismo regulamentar condicionante é o sismo
tipo 1 (sismo interplacas, ou seja, afastado) uma vez que apresenta valores de deslocamento alvo
superiores aos obtidos para o sismo tipo 2. O edifício apenas verifica a segurança quando a ação
sísmica atua segundo a direção Y. Na realidade, não se verifica a segurança do edifício segundo X
(direção da fachada, parede resistente com uma grande quantidade de aberturas), podendo portanto
concluir-se que, analisando o comportamento global do edifício a segurança sísmica não é
assegurada. Constatou-se ainda que a alteração das propriedades mecânicas dos materiais não é
suficiente para conferir ao edifício capacidade resistente para evitar o colapso para o sismo
regulamentar condicionante uma vez que, a segurança do edifício segundo a direção X nunca é
verificada.
No geral, concluiu-se que o edifício não é muito sensível às alterações dos valores das propriedades
mecânicas, quer ao nível das curvas de capacidade resistente quer ao nível dos deslocamentos de
desempenho estrutural (deslocamento alvo) obtidos para o sismo condicionante quer mesmo para a
distribuição de danos, correspondente ao deslocamento alvo e ao deslocamento último.
Conclui-se ainda que uma situação de reforço que inclua modificar o comportamento dos pisos de
madeira para pisos rígidos no plano, no caso concreto do edifício em estudo, não apresenta grandes
melhorias no seu desempenho sísmico; de facto as curvas de capacidade resistente e os valores dos
113
deslocamentos (alvo e último) resultantes são semelhantes aos valores obtidos para o caso de
referência.
Foi ainda efetuada a comparação entre as curvas de capacidade obtidas através do estudo analítico
do edifício, que recorreu a análises estáticas não lineares, e as curvas de capacidade propostas pela
metodologia Hazus. Desta última metodologia, foram apenas consideradas as curvas desenvolvidas
para edifícios das tipologias de alvenaria estrutural não reforçada de média e baixa altura, URMM e
URML, respetivamente. Esta comparação permitiu concluir que as curvas apresentadas na
metodologia Hazus consideram que os edifícios de alvenaria estrutural têm uma ductilidade superior
à verificada através do estudo analítico efetuado. Verificou-se ainda que estas se aproximam da
curva proposta para edifícios de URMM, quando considerada a ação sísmica segundo a direção X
(eixo segundo o qual a estrutura é menos resistente) e da curva proposta para os edifícios de URML,
quando considerada segundo o eixo Y (eixo segundo o qual a estrutura apresenta maior capacidade
resistente).
É importante referir que as conclusões aqui mencionadas foram alcançadas através da observação e
reflexão sobre os resultados obtidos para um edifício estudado isoladamente, sem considerar a sua
interação com os edifícios adjacentes. Para além disso e apesar da análise paramétrica levada a
cabo na presente dissertação, na qual as alterações dos valores das propriedades mecânicas dos
materiais revelaram ter pouca influência nos resultados finais em termos de curvas de capacidade
resistente e distribuição de danos, não se poderá extrapolar os resultados para todos os edifícios de
“placa” com esta configuração em planta, ou pelo menos, terá de ser efetuado com alguma reserva. É
importante referir que os edifícios sofrem alterações estruturais ao longo dos anos que afeta o seu
desempenho estrutural e que não foram analisadas o efeito destas alterações nesta dissertação.
Em trabalhos futuros sugere-se que, para avaliar a vulnerabilidade sísmica dos edifícios de alvenaria
antigos na cidade de Lisboa, se aplique metodologias ao nível do quarteirão ou zona da cidade, como
é o caso do método proposto por Vicente (2008).
Sugere-se ainda, como trabalho futuro, avaliar o desempenho do edifício placa analisado tendo em
conta o efeito quarteirão e a influência de alterações estruturais representativas das modificações que
este tipo de edifícios têm sofrido ao longo dos anos.
115
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125
Anexos
Anexo A – Plantas e tabelas resumo das propriedades geométricas e
mecânicas do Edifício Nº 13 da Rua Actor Isidoro
Anexo A.1 – Plantas
Figura A.1 – Planta do rés-do-chão
Figura A.2 – Planta do piso
126
Anexo A.2 – Materiais (Propriedades mecânicas dos materiais)
Tabela A.1 – Características do betão C16/20
Classe do Betão Módulo de
elasticidade, E (MPa)
Módulo de Distorção, G (MPa)
Peso específico,
( )
(MPa) (MPa)
Fator de segurança
do betão,
B20 correspondente a
C16/20 29000 12083 24 24 16 1.5 1
Nota: Os valores de E, , , G, e são os preconizados no EC2.
Tabela A.2 – Características do aço A235
Classe do aço
Módulo de elasticidade,
E (MPa)
Módulo de Distorção, G
(MPa)
Peso específico, ( )
(MPa)
(MPa)
Fator de segurança
do aço,
A235 200000 80000 79 360 235 1,15
Nota: Os valores E, , são os preconizados no EC; G é calculado; e foram adotados do REBAP 1983.
Tabela A.3 – Propriedades mecânicas e geométricas das alvenarias (adaptado de Milosevic, Bento e Cattari, 2014)
Propriedades
mecânicas e
geométricas
Espessura
(m)
Módulo
de Young
(GPa)
Módulo de
Distorção,
(GPa)
Tensão de
Compressão,
(MPa)
Tensão
de Corte,
(MPa)
Peso
específico,
(kN/m3)
Alvenaria blocos
de pedra 0,70 2,00
0,58
(0,44)
3,2 0,065 21,0
Alvenaria de
Blocos de betão 0,20 2,00
0,74
(0,56)
3,7 0,210 14,0
Alvenaria de
tijolo maciço 0,20
1,5
(1,13)
0,50
(0,38)
3,2 0,076 18,0
Alvenaria de
tijolo furado 0,10
1,20
(0,90)
0,40
(0,30)
2,4 0,060 12,0
Nota: entre parêntesis apresentam-se os valores com reduzidos através da aplicação de um fator redução de 0,75
relativamente aos valores elásticos.
cmf ckfc cc
cmf c cc
s
s ymf ykf
127
Anexo A.3 – Pisos (Dimensões, propriedades mecânicas, armadura adotada e cargas)
Tabela A.4 – Características para os pisos de madeira e escadas
Piso de Madeira
b
[cm]
h
[cm]
i
[cm]
E dos barrotes
de madeira
[MPa]
T
[cm]
G das tábuas
de madeira
[MPa]
E das tábuas
de madeira
[MPa]
8 18 40 8000 2 4000 8000
Tabela A.5 – Características para as lajes de betão armado
Lajes de
betão
t
[cm]
G
[MPa]
Ex=Ey
[MPa]
10 12083 29000
Tabela A.6 – Dimensões e armaduras das lajes de betão armado
Laje Dimensões (axb) (m)
Espessura (cm)
Altura útil [cm]
Armadura no vão menor Armadura no vão maior
A meio vão
Nos apoios
A meio vão
Nos apoios
LB1 2,40x3,0 10 8,5 9ϕ6,35mm 9ϕ6,35mm 9ϕ6,35mm 9ϕ6,35mm
LB2 1,70x2,80 10 8,5 9ϕ6,35mm 9ϕ6,35mm 8ϕ6,35mm 8ϕ6,35mm
LB3 2,0x2,80 10 8,5 9ϕ6,35mm 9ϕ6,35mm 8ϕ6,35mm 8ϕ6,35mm
LB4 1,10x5,0 10 8,5 8ϕ6,35mm 8ϕ6,35mm 7ϕ6,35mm 7ϕ6,35mm
LB5 1,10x3,10 10 8,5 8ϕ6,35mm 8ϕ6,35mm 7ϕ6,35mm 7ϕ6,35mm
Tabela A.7 – Valores das cargas uniformemente distribuídas nos pisos e carregamentos na cobertura (adaptado de Milosevic, Bento e Cattari, 2014)
Material
Pisos Escadas (simplificação
como piso) Cobertura Varandas
Cargas
gravíticas,
G (kN/m2)
Cargas
variáveis,
Q (kN/m2)
Cargas
gravíticas,
G (kN/m2)
Cargas
variáveis,
Q (kN/m2)
Estrutura de
madeira
Paredes de
empena Cargas
gravíticas,
G (kN/m2)
Cargas
variáveis,
Q (kN/m2)
Cargas
gravíticas, G
(kN/m2)
Cargas
gravíticas,
G (kN/m)
Madeira 1,3 2,0 1,3 4,0
1,9 4,76 3,0 2,0
Betão
armado 3,0 2,0 3,0 4,5
128
Tabela A.8 – Cargas a considerar em cada tipo de piso
Anexo A.4 – Vigas (dimensões e armaduras adotadas)
Tabela A.9 – Dimensões e armaduras adotadas (retirado da Memória Descritiva, 1939)
Viga b
[m]
h
[m] Local
Armadura
longitudinal
As
[cm2]
Estribos ASW/s
[cm2/m]
V1 0,23 0,30 M- 3Φ5 8'' 5,97
2 Φ 5 16''
(8mm)
afastados de
15 cm
6,60
0,23 0,30 M+ 5Φ5 8'' 9,95
V2
0,23 0,30 M- (lateral) 2Φ5 8'' 3,98
0,23 0,30 M+ Φ5 8'' 7,96
0,23 0,30 M- (center) Φ5 8'' 7,96
V3
0,23 0,35 M- (lateral) 2Φ3 8''+ 2Φ3 '' 7,16
0,23 0,35 M+ Φ3 '' 11,48
0,23 0,35 M- (center) Φ3 ''+ 2Φ5 8' 15,46
V5 e V6 0,13 0,30 M+ 3Φ7 16'' 2,91
V7 0,23 0,28 M+ 5Φ7 16'' 4,85
V8
R/C 0,66 0,30 M+
M-
8Φ1 2''
2Φ3 8''
10,16
1,42
1º 0,56 0,28 M+
M-
2Φ3 8''
7Φ1 2''
1,42
8,89
2º 0,46 0,30 M+
M-
2Φ3 8''
6Φ1 2''
1,42
7,62
3º 0,36 0,35 M+
M-
2Φ3 8''
6Φ1 2''
1,42
7,62
V9 0,23 0,30 M+
M-
5Φ7 16''
5Φ7 16''
4,85
4.85
Zona Peso Próprio
[kN/m2]
Restantes Cargas
Permanentes
[kN/m2]
Sobrecarga
[kN/m2]
Piso de
madeira 0,7 0,6 2,0
Laje de betão 2,4 0,6 2,0
Cobertura de
madeira 1,3 0,6 0,4
129
Anexo A.5 – Pilares (dimensões e armaduras adotadas)
Tabela A.10 – Pilares de betão armado
Pilar b
[m]
h
[m]
Armadura
longitudinal
As
[cm2]
Cintas ASW/s
[cm2/m]
P1 0,25 0,25 Φ1 2'' 5,08
2 Φ 5 16'' afastados
de
15 cm
6,60
P2 0,30 0,25 Φ5 8’’ 7,96
P3 0,30 0,35 Φ3 '' 11,48
P4 0,30 0,30 6Φ5 8'' 11,94
P5 0,35 0,30 8Φ5 8'' 15,92
130
Anexo B – Mapa de danos para o deslocamento de cedência
Anexo B.1 – Deslocamento de cedência direção X carregamento uniforme
Tabela B.1 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento uniforme orientado segundo a direção X
Caso de Referência BP_LS BP_LI
De
Anexo B.2 – Deslocamento de cedência direção Y carregamento uniforme
Tabela B.2 – Distribuição de danos na parede de empena lateral esquerda considerando um carregamento uniforme orientado segundo a direção Y
Caso de Referência BP_LS BP_LI
De
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
De
131
Anexo B.3 – Deslocamento de cedência direção X carregamento triangular
Tabela B.3 – Distribuição de danos na fachada principal considerando um carregamento triangular orientado segundo a direção X
Caso de Referência BP_LS BP_LI
De
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
De
BB_LS BB_LI TM_LS TM_LI
De