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MODERNISMO – SEGUNDA FASE PROSA Prof. Jorge Jr. www.profjorge.com.br ___________________________________________________________________________ A literatura quase sempre privilegia o romance quando quer retratar a realidade, analisando ou denunciando-a. O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da análise crítica da realidade. O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 – o nazifascismo, a crise da Bolsa de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao socialismo – exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, nova posição ideológica. Na prosa, foi evidente o interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira, com um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo – Naturalismo do século XIX. O romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados. Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas, surgiu o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista. A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No aspecto formal, o verso livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo, se caracteriza como uma poesia de questionamento: da existência humana, do sentimento de “estar-no-mundo”, inquietação social, religiosa, filosófica e amorosa. Dentre os muitos poetas e escritores dessa fase destacamos: - Graciliano Ramos - Rachel de Queiros - Jorge Amado - José Lins do Rego - Érico Veríssimo

Modernismo Segunda Fase Prosa

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MODERNISMO – SEGUNDA FASE PROSA

Prof. Jorge Jr. www.profjorge.com.br

___________________________________________________________________________

A literatura quase sempre privilegia o romance quando quer retratar a realidade, analisando ou

denunciando-a. O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance

brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da análise crítica da realidade.

O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 – o nazifascismo, a crise da Bolsa de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao socialismo –

exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, nova posição ideológica.

Na prosa, foi evidente o interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira, com um

enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo – Naturalismo do século XIX.

O romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a

migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados.

Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas, surgiu o romance urbano e

psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista.

A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No aspecto formal, o

verso livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo, se caracteriza como

uma poesia de questionamento: da existência humana, do sentimento de “estar-no-mundo”,

inquietação social, religiosa, filosófica e amorosa. Dentre os muitos poetas e escritores dessa fase

destacamos:

- Graciliano Ramos - Rachel de Queiros - Jorge Amado - José Lins do Rego - Érico Veríssimo

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JORGE AMADO

Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento deu-se na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangi. Entretanto, é certo que Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna.

No ano seguinte ao de seu nascimento, uma praga de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus, onde viveu a maior parte da infância, que lhe serviu de inspiração para vários romances. Foi para o Rio de Janeiro, então capital da república, para estudar na Faculdade de Direito da então Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante a década de 1930, a faculdade era um polo de discussões políticas e de arte, tendo ali travado seus primeiros contatos com o movimento comunista organizado.

Principais obras:

• O País do Carnaval, romance (1930) • Cacau, romance (1933) • Suor, romance (1934) • Jubiabá, romance (1935) • Mar morto, romance (1936) • Capitães da areia, romance (1937) • ABC de Castro Alves, biografia (1941) • Terras do Sem-Fim, romance (1943) • São Jorge dos Ilhéus, romance (1944) • Bahia de Todos os Santos, guia

(1945),(Tradução francesa:"Bahia de tous les saints"),Gallimard,Paris,1979

• Gabriela, cravo e canela, romance (1958) • A morte e a morte de Quincas Berro d'Água,

romance (1961) • Dona Flor e seus Dois Maridos romance (1958)

Sua obra mais memorável é Gabriela, Cravo e Canela, cujo link segue abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=o5MkXHTRexw&feature

=related

A obra Mar Morto teve a releitura em uma novela da Rede Globo de Televisão. Abaixo segue um abertura da

novela:

http://www.youtube.com/watch?v=i662uQiXN4A

A novela Tieta do Agreste foi umas das mais famosas. Abaixo segue um link com um trecho:

http://www.youtube.com/watch?v=k33E1C5YqW8

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GRACILIANO RAMOS

Graciliano Ramos viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro. Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Voltou para o Nordeste em setembro de 1915, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano casou-se com Maria Augusta de Barros, que morreu em 1920, deixando-lhe quatro filhos.

Foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios em 1927, tomando posse no ano seguinte. Ficou no cargo por dois anos, renunciando a 10 de abril de 1930. Segundo uma das auto-descrições, "(...) Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas." Os relatórios da prefeitura que escreveu nesse período chamaram a atenção de Augusto Frederico Schmidt, editor carioca que o animou a publicar Caetés (1933).

Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Em 1945 ingressou no antigo Partido Comunista do Brasil - PCB (que nos anos sessenta dividiu-se em Partido Comunista Brasileiro - PCB - e Partido Comunista do Brasil - PCdoB), de orientação soviética e sob o comando de Luís Carlos Prestes;[1] nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus com a segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, retratadas no livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico.

Principais obras • Caetés (1933) (ganhador do prêmio Brasil de

literatura); • São Bernardo (1934); • Angústia (1936); • Vidas Secas (1938); • A Terra dos Meninos Pelados (1939); • Infância (1945); • Histórias Incompletas (1946); • Insônia (1947); • Memórias do Cárcere, póstuma (1953);

A morte da cachorrinha Baleia: http://www.youtube.com/watch?v=WriQmEI_EGI

Filme completo: http://www.youtube.com/watch?v=ksUUAf6MZx8&feature=related Essa obra também teve uma releitura na Rede Globo com

a novela Senhora do Destino um trecho a abertura da novela seguem abaixo:

Abertura da novela:

http://www.youtube.com/watch?v=tcrW-GeiiEM

Trecho Primeiro capítulo

http://www.youtube.com/watch?v=1dF2Y-Ey5OE

Encontro entre Nazaré e Maria do Carmo http://www.youtube.com/watch?v=8VNPXFfTA2Q

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JOSÉ LINS DO REGO

José Lins do Rego Cavalcanti (Pilar, 3 de junho de 1901 — Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1957) foi um escritor brasileiro que, ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Segundo Otto Maria Carpeaux, José Lins era "o último dos contadores de histórias." Seu romance de estreia, Menino de Engenho (1932), foi publicado com dificuldade, todavia logo foi elogiado pela crítica. José Lins escreveu cinco livros a que nomeou "Ciclo da cana-de-açúcar", numa referência ao papel que nele ocupa a decadência do engenho açucareiro nordestino, visto de modo cada vez menos nostálgico e mais realista pelo autor: Menino de Engenho, Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), e Usina (1936). Sua obra regionalista, contudo, não encaixa-se somente na denúncia sócio-política, mas, como afirmou Manuel Cavalcanti Proença, igualmente em sua "sensibilidade à flor da pele, na sinceridade diante da vida, na autenticidade que o caracterizavam." OBRAS

• Menino de engenho (1932) • Doidinho (1933) • Bangüê (1934) • O Moleque Ricardo (1935) • Usina (1936) • Pureza (1937) • Pedra bonita (1938) • Riacho doce (1939) • Água-mãe (1941) • Fogo morto (1943) • Eurídice (1947) • Cangaceiros (1953) • Histórias da velha Totonha (1936) • Meus Verdes Anos (memórias) (1956)

ÉRICO VERÍSSIMO

De família abastada que se arruinou, Érico Veríssimo era filho do farmacêutico Sebastião Veríssimo da Fonseca (1880-1935) e da dona de casa Abegahy Lopes (dita "dona Bega"). Tinha um irmão mais novo, Ênio (1907), e uma irmã adotiva, Maria. Quando tinha quatro anos de idade, Érico Veríssimo ficou gravemente doente e, após ser levado a vários médicos, foi finalmente diagnosticado com meningite complicada com broncopneumonia pelo médico Olinto de Oliveira, cujo tratamento salvou sua vida. Aos treze anos, Érico já lia autores nacionais, como Aluísio Azevedo e Joaquim Manoel de Macedo, e estrangeiros, como Walter Scott, Émile Zola e Fiódor Dostoiévski. Em 1920, ele foi matriculado no extinto Colégio Cruzeiro do Sul (hoje Colégio IPA), um internato de orientação protestante de Porto Alegre, deixando sua namorada Vânia em Cruz Alta. No novo colégio, Veríssimo foi por muito tempo o primeiro de sua classe, embora tivesse aversão à matemática. OBRAS Contos

• Fantoches • As mãos de meu filho • O ataque • Os devaneios do general • Chico

Romances • Clarissa – 1933 • Caminhos cruzados – 1935 • Música ao longe – 1936 • Um lugar ao sol – 1936 • Saga – 1940 • O resto é silêncio – 1943 • O tempo e o vento (1ª, 2ª parte e 3ª partes) –

1949

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RACHEL DE QUEIROZ

Rachel era filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo lado materno da família de José de Alencar. Em 1917, após uma grande seca, muda-se com seus pais para o Rio de Janeiro e logo depois para Belém do Pará. Retornou para Fortaleza dois anos depois. Em 1925 concluiu o curso normal no Colégio da Imaculada Conceição. Estreou na imprensa no jornal O Ceará, escrevendo crônicas e poemas de caráter modernista sob o pseudônimo de Rita de Queluz. No mesmo ano lançou em forma de folhetim o primeiro romance, História de um Nome. Aos vinte anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar O Quinze (1930), romance que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, destaca-se no desenvolvimento do romance nordestino. Começa a se interessar em política social em 1928-1929 ao ingressar no que restava do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, formando o primeiro núcleo do Partido Comunista. Em 1933, começa a dissentir da direção e se aproxima de Lívio Xavier e de seu grupo em São Paulo, lá indo morar até 1934. Milita então com Aristides Lobo, Plínio Mello, Mário Pedrosa, Lívio Xavier, se filiando ao sindicato dos professores de ensino livre, controlado naquele tempo pelos trotskistas. Depois, viaja para o norte em 1934, lá permanecendo até 1939. Já escritora consagrada, muda-se para o Rio de

Janeiro. No mesmo ano foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As Três Marias. Escreveu ainda João Miguel (1932), Caminhos de Pedras (1937) e O Galo de Ouro (1950). Foi presa em 1937, em Fortaleza, acusada de ser comunista. Exemplares de seus romances foram queimados. Em 1964, apoiou a ditadura militar que se instalou no Brasil. Lançou Dôra, Doralina em 1975, e depois Memorial de Maria Moura (1992), saga de uma cangaceira nordestina adaptada para a televisão em 1994 numa minissérie apresentada pela Rede Globo. Exibida entre maio e junho de 1994 no Brasil, foi apresentada em Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sendo lançada em DVD em 2004. Publicou um volume de memórias em 1998. Transforma a sua "Fazenda Não Me Deixes", propriedade localizada em Quixadá, estado do Ceará, em reserva particular do patrimônio natural. Morreu em 4 de novembro de 2003, vítima de problemas cardíacos, no seu apartamento no Rio de Janeiro, dias antes de completar 93 anos. PRINCIPAIS OBRAS Principais

• O quinze, romance 1930, tradução francesa com o título "L'année de la grande sécheresse",Stock,Paris,1986,ISBN 2-234-01933-8

• João Miguel, romance (1932) • Caminho de pedras, romance (1937) • As Três Marias, romance (1939) • A donzela e a moura torta, crônicas (1948) • O galo de ouro, romance (folhetins na revista O

Cruzeiro, 1950) • Lampião - peça de teatro (1953) • A beata Maria do Egito- peça de teatro (1958) • Lampião; A Beata Maria do Egito (livro-2005) • Cem crônicas escolhidas (1958) • O brasileiro perplexo, crônicas (1964) • O caçador de tatu, crônicas (1967) • Um Alpendre, uma rede, um açude - 100

crônicas escolhidas • O homem e o tempo - 74 crônicas escolhidas • O menino mágico, infanto-juvenil (1969) • Dôra, Doralina, romance (1975) • As menininhas e outras crônicas (1976) • O jogador de sinuca e mais historinhas (1980) • Cafute e Pena-de-Prata, infanto-juvenil (1986) • Memorial de Maria Moura, romance (1992) • Teatro, teatro (1995) • Nosso Ceará, relato, (1997) (em parceria com a

irmã Maria Luiza de Queiroz Salek) • Tantos Anos, autobiografia (1998) (com a irmã

Maria Luiza de Queiroz Salek) • Não me deixes: suas histórias e sua cozinha,

memórias gastronômicas (2000) (com Maria Luiza de Queiroz Salek)

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QUESTÕES COMENTADAS TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 8 QUESTÕES: Memórias do cárcere 1Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos − e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, 16com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. 2Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, 9dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de 5utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? (...) O receio de cometer indiscrição exibindo em público pessoas que tiveram comigo convivência forçada já não me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaram-se. 10Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa ausência, alteram-se, completam-se, avivam recordações meio confusas − e não vejo inconveniência em mostrá-los. (...) E aqui chego à última objeção que me impus. 13Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. 6Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. 17Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? 15Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las. 7Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...)14Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. 3Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: 4conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa. 18Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas, 12às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, convencemo-nos de que a minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a causa dela, 8desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que variássemos também, apresentássemos falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo ter-me revelado com frequência egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível. GRACILIANO RAMOS Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002. 1. (Uerj 2012) Memórias do cárcere, do romancista Graciliano Ramos, contam as desventuras do autor enquanto foi preso político no Presídio da Ilha Grande, em 1936. Apesar de ser um livro autobiográfico, o autor expõe, logo na abertura, as dificuldades de reconstrução da memória. A consciência de Graciliano Ramos em relação ao caráter parcialmente ficcional das suas memórias está evidenciada no seguinte trecho: a) Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, (ref.1) b) Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, (ref.2) c) Outros devem possuir lembranças diversas. (ref.3) d) conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. (ref.4)

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2. (Uerj 2012) As palavras classificadas como advérbios agregam noções diversas aos termos a que se ligam na frase, demarcando posições, relativizando ou reforçando sentidos, por exemplo. O advérbio destacado é empregado para relativizar o sentido da palavra a que se refere em: a) utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? (ref.5) b) Certamente me irão fazer falta, (ref.6) c) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? (ref.7) d) desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. (ref.8) 3. (Uerj 2012) Graciliano Ramos busca dar uma explicação mais objetiva ao leitor sobre os motivos que justificam seu relato. Entretanto, já nesta explicação, o autor lança mão de recursos da linguagem figurada, frequentes no discurso literário. O fragmento do texto que melhor exemplifica o uso de linguagem figurada é: a) dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; (ref.9) b) Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo (ref.10) c) quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, (ref.11) d) às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias, (ref.12) 4. (Uerj 2012) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. (ref.13) O fragmento acima poderia ser reescrito com a inserção de um conectivo no início do trecho sublinhado. Esse conectivo, que garantiria o mesmo sentido básico do fragmento, está indicado em: a) porque b) embora c) contudo d) portanto 5. (Uerj 2012) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. (ref.14) O uso do verbo “julgar”, no fragmento acima, promove uma correção do que estava dito imediatamente antes. Essa correção é importante para o sentido geral do texto porque: a) questiona a validade de romancear fatos b) minimiza o problema de narrar a memória c) valoriza a necessidade de resgatar a história d) enfatiza a dificuldade de reproduzir a realidade 6. (Uerj 2012) Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. (ref.15) Com a frase acima, o escritor lembra um princípio básico da literatura: a verossimilhança − isto é, a semelhança com a verdade − é mais importante do que a verdade mesma. A melhor explicação para este princípio é a de que a invenção narrativa se mostra mais convincente se: a) parece contar uma história real b) quer mostrar seu caráter ficcional c) busca apoiar-se em fatos conhecidos d) tenta desvelar as contradições sociais 7. (Uerj 2012) Normalmente, é possível omitir elementos de construção de frases sem dificultar a compreensão do leitor, uma vez que ficam subentendidos pelo conjunto da própria estrutura ou pela sequência em que se apresentam. O exemplo do texto em que há omissão de elementos de construção de frases, sem prejuízo da compreensão, é: a) com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. (ref.16) b) Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, (ref.17) c) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (ref.7) d) Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. (ref.18)

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8. (Uerj 2012) Em sua reflexão acerca das possibilidades de recompor a memória para escrever o livro, o narrador utiliza um procedimento de construção textual que contribui para a expressão de suas inquietudes. Tal procedimento pode ser identificado como: a) encadeamento de fatos passados b) extensão de parágrafos narrativos c) sequência de frases interrogativas d) construção de diálogos presumidos TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: TEXTO  VIII    Sinha  Vitória       Sinha   Vitória   tinha   amanhecido   nos   seus   azeites.   Fora   de   propósito,   dissera   ao  marido   umas   inconveniências   a  respeito   da   cama   de   varas.   1Fabiano,   que   não   esperava   semelhante   desatino,   apenas   grunhira:   -­‐   “Hum!   hum!”   E  amunhecara,   porque   realmente  mulher   é   bicho   difícil   de   entender,   4deitara-­‐se   na   rede   e   pegara   no   sono.   Sinha   Vitória  andara  para  cima  e  para  baixo,  procurando  em  que  desabafar.  Como  achasse  tudo  em  ordem,  queixara-­‐se  da  vida.  2E  agora  vingava-­‐se  em  Baleia,  dando-­‐lhe  um  pontapé.         Avizinhou-­‐se  da  janela  baixa  da  cozinha,  viu  os  meninos  entretidos  no  barreiro,  sujos  de  lama,  fabricando  bois  de  barro,  que  secavam  ao  sol,  sob  o  pé-­‐de-­‐turco,  e  5não  encontrou  motivo  para  repreendê-­‐los.  Pensou  de  novo  na  cama  de  varas  e  mentalmente  xingou  Fabiano.  Dormiam  naquilo,   tinha-­‐se  acostumado,  mas  sena  mais  agradável  dormirem  numa  cama  de  lastro  de  couro,  como  outras  pessoas.         7Fazia  mais  de  um  ano  que   falava  nisso  ao  marido.   3Fabiano  a  princípio  concordara  com  ela,  mastigara  cálculos,  tudo   errado.   Tanto   para   o   couro,   tanto   para   a   armação.   Bem.   Poderiam   adquirir   o  móvel   necessário   economizando   na  roupa  e  no  querosene.   6Sinha  Vitória   respondera  que   isso  era   impossível,  porque  eles  vestiam  mal,  as  crianças  andavam  nuas,   e   recolhiam-­‐se   todos   ao   anoitecer.   Para   bem   dizer,   não   se   acendiam   candeeiros   na   casa.      RAMOS,  Graciliano.  Vidas  secas.  Rio  de  Janeiro;  São  Paulo:  Record;  Martins,  1975.  p.  42-­‐43.     9.  (Uff  2012)    A  partir  do  texto  acima,  identifique  a  alternativa  que  contém  a  característica  correta  em  relação  à  análise  da  obra  de  Graciliano  Ramos  e  à  sua  inclusão  na  ficção  regionalista  dos  anos  30.    a) Valorização do espaço urbano e das relações de poder. b) Ênfase em aspectos pitorescos da paisagem nordestina. c) Utilização de linguagem predominantemente metafórica. d) Atitude crítica e comprometida frente à realidade social. e) Opção preferencial por personagens pertencentes à classe dominante. 10.  (Uff  2012)    Marque  a  alternativa  que  comenta  adequadamente  o  emprego  dos  pronomes  no  Texto  VIII.    a) “Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: - Hum! hum!” (ref. 1). O pronome relativo destacado evita a repetição da palavra desatino. b) “E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé” (ref. 2) / “Fabiano a princípio concordara com ela” (ref. 3). Os termos sublinhados são duas formas de expressão do pronome pessoal em função de objeto direto. c) “Fabiano (...) deitara-se na rede e pegara no sono” (ref. 4) / “(...) não encontrou motivo para repreendê-los” (ref. 5). Os dois pronomes pessoais grifados possuem o mesmo referente e servem para marcar uma ação reflexiva. d) “Sinha Vitória respondera que isso era impossível, porque eles vestiam mar” (ref. 6). Os pronomes destacados retomam o mesmo termo do período anterior. e) “Fazia mais de um ano que fava nisso ao marido” (ref. 7). A forma sublinhada, contração do demonstrativo isso com a preposição em, tem função coesiva, pois retoma e sintetiza segmento expresso anteriormente. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES: 7De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (...) 1Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de jantar (...). Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acordando lembranças. Outras vezes não me ajeito com esta ocupação nova. Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdidos. 3Tentei debalde canalizar para termo razoável esta prosa que se derrama como a chuva da serra, e o que me apareceu foi um grande desgosto. 8Desgosto e a vaga compreensão de muitas coisas que sinto. 9Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. (...) Não tenho doença nenhuma.

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O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. 10Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada. Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! 2Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! 4E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! (...) 5Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, 6fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas em momentos de otimismo suponho que há nela pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes. Considerando, porém, que os enfeites do meu espírito se reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade que me envaidece é bem mesquinha. (...) Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso convir em que tudo está fora de mim. 11Julgo que me desnorteei numa errada. GRACILIANO RAMOS São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004. 11. (Uerj 2011) Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de jantar (ref. 1) Na sentença acima, o processo metafórico se concentra no verbo “descascar”. No contexto, a metáfora expressa em “descascar” tem o seguinte significado: a) reduzir b) denunciar c) argumentar d) compreender 12. (Uerj 2011) O personagem reclama de uma vida na qual se dedicou a ações que agora vê como negativas. Essas ações estão melhor descritas em: a) Tentei debalde canalizar para termo razoável esta prosa que se derrama como a chuva (ref. 3) b) E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. (ref. 4) c) Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. (ref. 5) d) fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. (ref. 6) 13. (Uerj 2011) As palavras do narrador expõem a extensão de seu sofrimento na tomada de consciência que impulsiona a escrita de seu livro. Na tentativa de descrever a si mesmo e confessar suas culpas, o personagem-narrador muitas vezes parece dirigir-se ao leitor. Dos fragmentos transcritos abaixo, aquele que exemplifica esse diálogo sugerido com o leitor é: a) De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (ref. 7) b) Desgosto e a vaga compreensão de muitas coisas que sinto. (ref. 8) c) Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. (ref. 9) d) Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. (ref. 10) 14. (Uerj 2011) Julgo que me desnorteei numa errada. (ref. 11) Na sentença acima ocorre a elipse de um determinado termo, o qual, no entanto, pode-se deduzir pelo contexto e pela construção gramatical. Esse termo está indicado em: a) trilha b) atalho c) desvio d) armadilha 15. (Uerj 2011) Comer e dormir como um porco! Como um porco! (ref. 2) A repetição das palavras, neste contexto, constitui recurso narrativo que revela um traço relativo ao personagem. Esse traço pode ser definido como: a) carência b) desespero c) inabilidade d) intolerância

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Astroteologia Aparentemente, foi o filósofo grego Epicuro que sugeriu, já em torno de 270 a.C., que existem inúmeros mundos espalhados pelo cosmo, alguns como o nosso e outros completamente diferentes, muitos deles com criaturas e plantas. 3Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado uma fração significativa do debate entre ciência e religião. Em um exemplo dramático, o monge Giordano Bruno foi queimado vivo pela Inquisição Romana em 1600 por pregar, dentre outras coisas, que cada estrela é um Sol e que cada Sol tem seus planetas. Religiões mais conservadoras negam a possibilidade de vida extraterrestre, especialmente se for inteligente. No caso do cristianismo, Deus é o criador e a criação é descrita na Bíblia, e não vemos qualquer menção de outros mundos e gentes. Pelo contrário, os homens são as criaturas escolhidas e, portanto, privilegiadas. Todos os animais e plantas terrestres estão aqui para nos servir. 8Ser inteligente é uma dádiva que nos põe no topo da pirâmide da vida. O que ocorreria se travássemos contato com outra civilização inteligente? Deixando de lado as inúmeras dificuldades de um contato dessa natureza – da raridade da vida aos desafios tecnológicos de viagens interestelares – tudo depende do nível de inteligência dos membros dessa civilização. 1Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida de que são muito mais desenvolvidos do que nós. Não necessariamente mais inteligentes, mas com mais tempo para desenvolver suas tecnologias. Afinal, estamos ainda na infância da era tecnológica: 7a primeira locomotiva a vapor foi inventada há menos de 200 anos (em 1814). Tal qual a reação dos nativos das Américas quando viram as armas de fogo dos europeus, o que são capazes de fazer nos pareceria mágica. 2Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, a probabilidade de que sejam mais inteligentes do que nós é alta. De qualquer forma, mais inteligentes ou mais avançados tecnologicamente, nossa reação ao travar contato com tais seres seria um misto de adoração e terror. Se fossem muito mais avançados do que nós, a ponto de haverem desenvolvido tecnologias que os liberassem de seus corpos, esses seres teriam uma existência apenas espiritual. A essa altura, seria difícil distingui-los de deuses. 4Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus com seus radiotelescópios tentando ouvir sinais de civilizações inteligentes. (...) 5Infelizmente, até agora nada foi encontrado. Muitos cientistas acham essa busca uma imensa perda de tempo e de dinheiro. As chances de que algo significativo venha a ser encontrado são extremamente remotas. Em quais frequências os ETs estariam enviando os seus sinais? E como decifrá-los? Por outro lado, os que defendem a busca afirmam que um resultado positivo mudaria profundamente a nossa civilização. A confirmação da existência de outra forma de vida inteligente no universo provocaria uma revolução. Alguns até afirmam que seria a maior notícia já anunciada de todos os tempos. Eu concordo. 9Não estaríamos mais sós. Se os ETs fossem mais avançados e pacíficos, poderiam nos ajudar a lidar com nossos problemas sociais, como a fome, o racismo e os confrontos religiosos. Talvez nos ajudassem a resolver desafios científicos. 6Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses que tantos acreditam existir? Não é à toa que inúmeras seitas modernas dirigem suas preces às estrelas e não aos altares. Marcelo Gleiser. Folha de São Paulo, 01/03/2009 16. (Uerj 2010) Science Fiction O marciano encontrou-me na rua e teve medo de minha impossibilidade humana. Como pode existir, pensou consigo, um ser que no existir põe tamanha anulação de existência? Afastou-se o marciano, e persegui-o. Precisava dele como de um testemunho. Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se no ar constelado de problemas. E fiquei só em mim, de mim ausente. Carlos Drummond de Andrade. Nova reunião. São Paulo: José Olympio, 1983.

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O autor de Astroteologia caracteriza como um misto de adoração e terror a reação dos homens caso encontrem alienígenas. Em Science Fiction, o contato do homem com o alienígena é caracterizado de modo diferente. O verso que melhor expressa tal diferença é: a) O marciano encontrou-me na rua (v. 1) b) e teve medo de minha impossibilidade humana. (v. 2) c) Precisava dele como de um testemunho. (v. 6) d) Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se (v. 7) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 6 QUESTÕES: O texto a seguir foi retirado da obra de Graciliano Ramos, Vidas Secas. Esse romance completou, em agosto de 2008, 70 anos de sua primeira publicação. É narrado em 3a pessoa (ao contrário das obras anteriores de Graciliano) e pertence a um gênero intermediário entre romance e livro de contos. Fabiano, uma coisa da fazenda, 1um triste, seria despedido quando menos esperasse. Ao ser contratado, recebera o cavalo de fábrica, peneiras, gibão, guarda-peito e sapatões 3de couro, mas ao sair largaria tudo ao vaqueiro 7que o substituísse. Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teria meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa amarrada, dormiriam bem debaixo de um pau. Olhou a caatinga 4amarela, 5que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta 2verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, 8sucedera o mesmo - anos bons, misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando 6seixos 9com as alpercatas - ela se avizinhando 10a galope, com vontade de matá-lo. (Vidas Secas - Graciliano Ramos) 17. (Ibmecrj 2009) Pode-se dizer que no primeiro parágrafo do texto o autor procurar expressar: a) A fazenda como lugar de produção agrícola. b) A boa relação entre patrão e empregado nos grandes latifúndios. c) A tristeza e melancolia da vida rural. d) A condição de insegurança do trabalhador rural, sem qualquer estabilidade. e) A necessidade de apetrechos especiais para o trabalho rural. 18. (Ibmecrj 2009) Muitas vezes, uma palavra tem sua classe gramatical usual deslocada para se atribuir mais expressividade ao ato de comunicação. É o que acontece no seguinte fragmento retirado do texto de Graciliano Ramos: a) "Fabiano, uma coisa da fazenda, um triste, seria despedido quando menos esperasse." (par. 1) b) "Não dizia nada para não contrariá-la..." (par. 3) c) "... que o poente avermelhava." (par. 5) d) "... não ficaria planta verde." (par. 5) e) "A desgraça estava em caminho..." (par. 6) 19. (Ibmecrj 2009) Graciliano Ramos é um dos integrantes da segunda geração do Modernismo, ou Modernismo de 1930. Nas opções a seguir, assinale a que apresenta o principal caminho desse estilo de época: a) A poesia destruidora da tradição. b) A prosa introspectiva. c) A linguagem revolucionária. d) O regionalismo nordestino. e) A prosa de tendências fantásticas. 20. (Ibmecrj 2009) Nos pares de sentenças a seguir há palavras grifadas que desempenham a mesma função sintática. Em qual das opções isso NÃO ocorre? a) “Fabiano, uma coisa da fazenda, um triste, seria despedido” (ref. 1) | "... não ficaria planta verde." (ref. 2) b) "... e sapatões de couro..." (ref. 3) | "Olhou a caatinga amarela..." (ref. 4) c) "... que o poente avermelhava." (ref. 5) | "... espalhando seixos com as alpercatas..." (ref. 6)

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d) " ... que o substituísse." (ref. 7) | "... sucedera o mesmo." (ref. 8) e) "... espalhando seixos com as alpercatas" (ref. 9) | "ela se avizinhando a galope..." (ref. 10) 21. (Ibmecrj 2009) No quinto parágrafo, a palavra SE, que aparece em "Arrepiou-se", apresenta valor idêntico ao destacado em: a) Não SE alterou o projeto. b) O garoto cortou-SE com uma faca. c) Não sabemos SE ela vem. d) Os alunos SE entreolharam. e) E SE precisou de esforços. 22. (Ibmecrj 2009) No texto, o autor usa recursos coesivos para retomar termos citados anteriormente, dando, com isso, coesão ao mesmo. Assinale a alternativa onde o antecedente listado na coluna à esquerda não corresponde ao termo destacado. a) "... que O substituísse." (par. 1) - Fabiano b) "... para não contrariá-LA" (par. 3) - Sinhá Vitória c) "... e ELES ganhariam o mundo..." (par. 4) - Fabiano e Sinhá Vitória d) " ... sucedera O MESMO..." (par. 6) - anos bons misturados com anos ruins e) " ... ELA se avizinhando a galope..." (par. 6) - Sinhá Vitória TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha 1 Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços furados e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha; outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber, metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, a modos de azulada; e outros quartejados de escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. 2 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até a outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. 3 Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. 4 Águas são muitas: infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. (Carta de Pero Vaz de Caminha In: PEREIRA, Paulo Roberto (org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, p. 39-40.) Vocabulário: 1 - "espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha": associação de imagem, com a tampa de um vasilhame de couro, para transportar água ou vinho, que recebia o nome de "espelho" por ser feita de madeira polida. 2 - "tintura preta, a modos de azulada": é uma tintura feita com o sumo do fruto jenipapo. 3 - "escaques": quadrados de cores alternadas como os do tabuleiro de xadrez. 4 - "parma": lisa como a palma da mão. 5 - "chã": terreno plano, planície. 23. (Uff 2000) Assinale o fragmento que representa uma retomada modernista da carta de Pero Vaz de Caminha. a) "O Novo Mundo nos músculos / Sente a seiva do porvir." (Castro Alves) b) "Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá" (Gonçalves Dias) c) "A terra é mui graciosa / Tão fértil eu nunca vi." (Murilo Mendes) d) "Irás a divertir-te na floresta, / sustentada, Marília, no meu braço" (Tomás Antônio Gonzaga) e) "Todos cantam sua terra / Também vou cantar a minha" (Casimiro de Abreu)

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GABARITO Resposta da questão 1: [D] Em Memórias do Cárcere, a narrativa exemplifica a típica junção autor-narrador-personagem, característica do relato autobiográfico. Para descrever a prepotência que marcou a ditadura Vargas, o narrador relata não só as experiências realmente vividas, como também as situações vivenciadas por outras pessoas que estiveram presas durante o Estado Novo (“conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade”), como uma espécie de testemunho das arbitrariedades de um regime opressivo e ditatorial. Resposta da questão 2: [A] Em [A], o advérbio “presumivelmente” nega caráter absoluto ao adjetivo “verdadeira”, relativizando o conceito de fidelidade aos fatos que a história apresentaria. O mesmo não acontece nas opções [B], [C] e [D] em que os advérbios expressam afirmação, intensidade e modo, respectivamente. Resposta da questão 3: [C] Para conferir novidade e força expressiva à mensagem, o autor usa a linguagem figurada, termos ou expressões desviadas do seu sentido normal, como acontece em [C]. Nas demais opções, transcrevem-se frases em que se utiliza linguagem denotativa. Resposta da questão 4: [A] O conectivo “porque” estabelece a noção de causa que o trecho sublinhado expressa no fragmento citado, como se transcreve em [A]. As conjunções “embora”, “contudo” e “portanto” expressam concessão, adversidade e conclusão, respectivamente, alterando o sentido básico do excerto. Resposta da questão 5: [D] No contexto, o verbo “julgar” adquire o valor semântico de supor, considerar, imaginar, enfatizando a dificuldade de reproduzir a realidade, como se afirma em [D]. Resposta da questão 6: [A] Se, na literatura, a “verossimilhança” (harmonia entre os elementos fantasiosos ou imaginários) é mais importante do que a verdade mesma, então a invenção narrativa mostra-se mais convincente se parecer contar uma história real, como se afirma em [A]. Resposta da questão 7: [C] O termo “leviandade” constitui a resposta curta, transcrita em frase nominal, à pergunta anteriormente formulada (“Afirmarei que sejam absolutamente exatas?”). Fica subentendido pelo conjunto da própria estrutura que o narrador considera insensato atribuir qualidade de absoluta exatidão às lembranças do passado. Resposta da questão 8: [C] O narrador, perante as dúvidas quanto à composição da narrativa através do fluxo da memória (“Dúvidas terríveis nos assaltam”), formula uma série de interrogações na tentativa de encontrar uma resposta que acalme as suas inquietudes (“De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas estaremos seguros de não nos havermos enganado?”), como se transcreve em [C]. Resposta da questão 9: [D] A partir do Congresso Regionalista do Recife organizado por Gilberto Freyre, José Lins do Rego e José Américo d’Almeida em 1926, a literatura brasileira assume uma atitude crítica e comprometida frente à realidade social. A geração regionalista dos anos 30 manteve-se presa aos moldes do romance realista e naturalista do século XIX,

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incorporando dos modernistas a linguagem seca e direta, a postura crítica e o coloquial através da transcrição do falar regional. Resposta da questão 10: [E] O pronome relativo “que” substitui a palavra “Fabiano” e não “desatino”, o que invalida a opção [A]. Também [B] e [C] são incorretas, pois os pronomes “lhe” e “ela” exercem função de objeto indireto e “se” e “los” remetem a referentes distintos: Fabiano e meninos, respectivamente. É incorreta a opção [D], na associação que se atribui a um mesmo termo do período anterior com os pronomes “isso” e “eles”, pois o demonstrativo refere-se ao anseio de Sinha Vitória em ter uma cama de couro, e o pessoal a Fabiano e Sinha Vitória e, por extensão, a toda a família. Assim, é correta a opção [E], já que o termo “nisso” retoma e sintetiza o segmento expresso anteriormente: “Dormiam naquilo, tinha-se acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas”. Resposta da questão 11: [D] O narrador em 1ª pessoa, Paulo Honório, expressa a sua intenção de escrever um livro para entender a razão da sua solidão, compreender os fatos que motivaram o suicídio da mulher e o afastamento das pessoas que com ele conviviam. Atormentado pelas lembranças do passado, reconhece em si a “casca espessa” com que se revestiu ao longo dos seus cinquenta anos e tenta, através da “vaga compreensão” das muitas coisas que sente, entender o que se passou. Resposta da questão 12: [B] A preocupação com filhos e netos ou futuras gerações revelou-se totalmente inútil, porque Paulo Honório não deixou descendência. Resposta da questão 13: [C] A frase interrogativa pressupõe um interlocutor, neste caso o próprio leitor do livro a quem se dirige o narrador, Paulo Honório. E, por extensão, o próprio leitor de “São Bernardo” de Graciliano Ramos. Resposta da questão 14: [A] O fato de o adjetivo “errada” se encontrar no gênero feminino pressupõe a elipse da palavra “trilha” ou “armadilha”, ambas femininas. No entanto, o próprio narrador reconhece a responsabilidade das suas ações ao optar por caminhos errados, não por interferência de terceiros que justificasse a opção por “armadilha”. Resposta da questão 15: [B] A repetição dos termos enfatiza o estado de desespero do narrador que senta a inutilidade de muitos gestos e ações do passado e a impossibilidade de refazer a sua vida. Na obsessão de enriquecer e ter prestígio, incapaz de verbalizar os seus sentimentos por Madalena e sem capacidade de entender as diferenças ideológicas que os separavam e se refletiam nas desavenças e constantes crises de ciúmes, Paulo Honório se desespera e considera-se “um homem arrasado”. A autocrítica vai ao ponto de aproximar o seu comportamento ao de um “porco”, num processo de zoomorfismo, recurso recorrente no estilo neorrealista em que se enquadra Graciliano Ramos. Resposta da questão 16: [B] A diferença está no fato de que, no texto Astroteologia, o autor caracteriza a reação dos homens em relação aos alienígenas, ou seja, um misto de adoração e terror. Já no poema, o autor caracteriza a reação do alienígena em relação ao homem, ou seja, o alienígena teria medo da impossibilidade humana. Resposta da questão 17: [D] Resposta da questão 18: [A] Resposta da questão 19: [D]

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Resposta da questão 20: [A] A resposta é a letra (a), pois um triste funciona sintaticamente como aposto de Fabiano; e verde, como adjunto adnominal do núcleo planta. Resposta da questão 21: [B] Tanto em “Arrepiou-se”, como em “...cortou-se...” (letra b), a palavra “se” age como pronome reflexivo. Resposta da questão 22: [E] Na  letra  E,  o  termo  “ela”  corresponde  à  “desgraça”.   Resposta da questão 23: [C]

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