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MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E TRANSFORMAÇÕES · em sala de aula que foi aplicado no segundo semestre de 2011. Todo o trabalho realizado no PDE ... O crédito subsidiado é provido

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MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E TRANSFORMAÇÕES

SOCIOESPACIAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO IVAÍ – PR

Autora: Marlene Moradore Guedes1

Orientadora: Margarida de Cássia Campos2

Resumo

O presente artigo debate o tema Modernização da agricultura e transformações socioespaciais do município de São João do Ivaí – PR. Sendo o mesmo resultado do trabalho realizado no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE do governo do Estado do Paraná, a turma escolhida para a aplicação do projeto foi o 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Arthur de Azevedo – Ensino Fundamental, Médio, Profissional e Normal, situado na cidade de São João do Ivaí - Pr. O projeto de intervenção priorizou aprofundar o conhecimento dos educandos sobre a modernização agrícola ocorrida em São João do Ivaí, tendo em vista que essa modernização mudou a paisagem do mesmo. Foi relevante despertar nos alunos interesse pela história do município, conhecendo as dificuldades vividas em cada época, compreendendo o passado e comparando com as inovações utilizadas no presente. Teve como objetivo ampliar o saber dos alunos, pois a maioria deles são oriundos da zona rural e o espaço agrícola faz parte do seu cotidiano. Este artigo pautou-se em autores que escreveram sobre o assunto como Graziano Silva (1982, 1998), Delgado (1985) e Martine (1991), e posterior discussão com a orientadora. Também se realizou pesquisas de campo que auxiliou na compreensão da teoria estudada em sala de aula. No primeiro semestre de 2011 produziu-se a Proposta Pedagógica que norteou todo o trabalho de implementação do tema em sala de aula que foi aplicado no segundo semestre de 2011. Todo o trabalho realizado no PDE teve grande importância, contribuindo muito para conhecimento dos alunos, além de propiciar momentos de profunda reflexão.

Palavras-chave: Modernização da agricultura; transformações socioespaciais, e ensino de geografia.

1 Introdução

O presente artigo debate o tema Modernização da agricultura e

transformações socioespaciais do município de São João do Ivaí – PR. Sendo

1 Professora PDE Geografia 2 Orientadora PDE – Universidade Estadual de Londrina

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o mesmo resultado do trabalho realizado no Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE do governo do Estado do Paraná.

A turma escolhida para a aplicação do projeto foi o 2º ano do Ensino

Médio do Colégio Estadual Arthur de Azevedo – Ensino Fundamental, Médio,

Profissional e Normal, situado na cidade de São João do Ivaí – Pr (ver mapa 1).

Mapa 1: Localização de São João do Ivaí no Estado do Paraná

Fonte: IPARDES (2011).

O tema escolhido faz parte dos conteúdos que estão expressos nas

Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental e Médio da disciplina de

Geografia do Estado do Paraná (2009).

Foi escolhido esse tema devido o município situar-se em uma região

predominante agrícola, o qual apresenta claramente as mudanças e as

consequências socioespaciais oriundas do processo de modernização da

agricultura.

O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE se constitui em

quatro períodos de seis meses cada um, distribuídos em dois anos, sendo que

no primeiro período a realização do Projeto de Intervenção Pedagógica, no

segundo período a Produção Didático-Pedagógica, no terceiro período a

aplicação da Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola

e o quarto período compreende o artigo que consiste na etapa conclusiva deste

programa de formação continuada ofertada pelo governo do estado do Paraná.

Todo trabalho foi embasado em estudos, pesquisas bibliográficas e

discussões que tiveram fundamental importância para a aplicação da Proposta

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Pedagógica, permitindo uma melhor assimilação do tema a ser transmitidos

aos alunos e do caminho mais acertado para transmitir e nortear a

implementação do projeto.

O estudo das transformações dos meios de produção na agricultura e

suas consequências para a sociedade é uma ferramenta importante para que o

aluno conheça as mudanças ocorridas, e não fique alheio ao mundo

globalizado, com isso, buscou-se fortalecer os conteúdos curriculares com

ações significativas e contextualizadas para um conhecimento amplo da

realidade em que está inserido. Por meio de material teórico e também através

de aulas práticas, levando o aluno a vivenciar de fato, todo o conteúdo

trabalhado.

Diante disso, foi importante para o aluno aprender sobre as mudanças

ocorridas, sendo conscientes dos pontos positivos e negativos que a

modernização agrícola trouxe para a sociedade.

A agricultura hoje é cercada de tecnologias disponíveis para serem

empregadas no trabalho do campo. Assim sendo, apenas ter terras para

produzir não é mais suficiente, é preciso estar amparado dessas tecnologias,

de modo a acompanhar o progresso para se fazer um bom cultivo da terra.

Neste contexto, o objetivo geral do projeto de intervenção pedagógica é

analisar como as transformações socioespaciais modificaram o espaço

geográfico do município de São João do Ivaí – Pr, bem como os objetivos

específicos foram de discutir o processo de modernização da agricultura no

Brasil e Paraná, entender os motivos que levaram o produtor rural e inserir-se

no processo de modernização da agricultura, compreender porque houve um

significativo êxodo rural após a modernização e finalmente estudar as

transformações socioespaciais que modificou o espaço geográfico no município

de São João do Ivaí – Pr.

Neste sentido, o trabalho realizado com o aluno foi além de transmitir o

conhecimento teórico, mas instigou a reflexão sobre o assunto, levando o

mesmo a ter uma visão crítica da realidade que o cerca.

O presente artigo está dividido em três partes, sendo que a primeira

relata a modernização da agricultura brasileira nas três escalas geográficas:

Brasil, Paraná e do município de São João do Ivaí, em seguida discute-se a

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implementação do projeto e as diferentes linguagens no ensino da Geografia e

por fim os resultados encontrados após o término das atividades propostas.

2 Modernização da agricultura brasileira: transformações socioespaciais

O homem desde o começo de sua existência tem procurado meios de

facilitar o trabalho de cultivo do campo, tendo em vista que é da terra que sai o

seu sustento.

A agricultura passou por mudanças significativas, uma agricultura

arcaica conhecida como “complexo rural”, para o processo de modernização,

que aliados a profundas mudanças resultaram na constituição dos “complexos

agroindustriais”. (GRAZIANO DA SILVA, 1998, p. 5).

Sorj (1980, p. 29) compreende que complexo agroindustrial é

[...] o conjunto formado pelos setores produtores de insumos e maquinários agrícolas, de transformação industrial dos produtos agropecuários e de distribuição, e de comercialização e financiamento nas diversas fases do circuito agroindustrial.

A agricultura ganha um novo impulso a partir de 1850 com a crise do

complexo rural, que se deu pela proibição do tráfico negreiro e a implantação

da Lei de Terras no Brasil e posteriormente com a substituição de importações,

estes fatos acentuaram-se com a crise de 1929. Tal crise contribuiu para

mudanças na dinâmica da economia nacional, que passa a valorizar a

agricultura destinada ao mercado interno, criada pela urbanização.

(GRAZIANO DA SILVA, 1998, p.5 e 6).

A modernização da agricultura foi implantada de forma decisiva a partir

do pós-guerra, tanto nas relações capitalistas, como na base técnica de

produção, passando a utilizar insumos oriundos da indústria. Começa a fazer

uso de tratores e fertilizantes com o intuito de aumentar a produtividade, o

Brasil não possuía esses recursos, portanto os mesmos eram importados.

Os pequenos produtores que não conseguiram acompanhar a

modernização do campo que resume na utilização de insumos, máquinas e

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equipamentos, não aumentaram a produtividade, consequentemente o lucro

passa a ser menor ou quase nulo isso aumenta a chance de perderem suas

terras para os grandes e médios proprietários.

É relevante destacar que com a modernização da agricultura houve a

substituição do trabalhador permanente pelo temporário. O trabalhador

temporário passou a ser mais viável para o empregador rural, pois só utilizam

sua força de trabalho em períodos específicos, não precisando manter o ano

todo. Lembrando que os trabalhadores temporários não são apenas aqueles

menos favorecidos dos meios de produção, mas também inclui muitos

arrendatários, posseiros e pequenos proprietários que perderam suas terras.

Esses foram morar nas vilas e cidades, mas trabalham no campo, são

popularmente conhecidos como bóias-frias. A modernização aumenta as

exigências de uma mão de obra mais qualificada, portanto os trabalhadores

permanentes apresentam mais qualificação, como por exemplo, os tratoristas,

mecânicos e operador de máquinas (SORJ, 1980, p.125 a 127).

Com a modernização, a produção agrícola passa a ficar dependente do

capital, as novas técnicas empregadas exigem novos financiamentos, esse

desenvolvimento agrícola se deu com a institucionalização do Sistema

Nacional de Crédito Rural (SNCR), tal política de crédito rural se tornou o

principal vetor do projeto modernizador para agricultura.

Segundo Delgado (1985, p. 21),

Somente com a introdução da política de crédito rural, como carro-chefe da modernização do setor agropecuário, desloca-se o eixo da política por produtos para a política da mercadoria rural em geral. O crédito subsidiado é provido de maneira generosa e por intermédio do sistema bancário institucionalizado. A própria necessidade de financiamento se torna crescente uma vez que tanto a elevação da capacidade produtiva quanto as necessidades de financiamento de capital de trabalho na agricultura passam a depender cada vez mais de recursos adquiridos no mercado. As fontes usuárias tradicionais, ligadas ao capital comercial, cedem lugar à rede bancária. E esta, ao se imiscuir no negócio rural, traz implícito um projeto de modernização que visa crescentemente a mudar a própria base técnica da agricultura.

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O Estado tem um novo papel neste modelo agrícola, passa a financiar

e administrar a economia rural a fim de beneficiar os capitais integrados e

garantir sua autovalorização.

O sistema nacional de crédito rural (SNCR) era destinado a manter e

viabilizar a modernização agrícola, com regras específicas de financiamentos

direcionados a custeio e investimentos em maquinários, esse crédito durou até

1979. A partir da década de 1980 muda a linha de crédito rural, que passa a

ser um sistema financeiro geral, apenas com taxas de juros e prazos de

carências diferenciados. O crédito rural subsidiado perde sua base de

sustentação política. A taxa inflacionária fez crescer as taxas prefixadas pelo

SNCR e houve uma redução do volume de depósitos canalizados para o

crédito rural, sendo uma imposição do Fundo Monetário Internacional como

pretexto de diminuir o déficit público, reduzindo assim a demanda de crédito

(GRAZIANO DA SILVA, 1998 p. 51).

Assim, no inicio da modernização agrícola os governos incentivaram a

partir de uma política de crédito rural subsidiado, mas num segundo momento,

a nova linha de crédito rural favoreceu a integração de capitais que beneficiou

a concentração da terra e a centralização de capitais, como consequência

desta ação governamental, houve um desequilíbrio do abastecimento alimentar

e o êxodo rural.

3 Modernização da agricultura no Norte do Paraná: transformações

socioespaciais.

Segundo Graziano da Silva (1982, p. 90) “o Norte do Paraná se

constitui com a expansão da cafeicultura paulista, que ai encontrou enormes

extensões de terras roxas, ideais para essa cultura”. As pessoas vieram

atraídas pela perspectiva de possuir um lote de terra, que era vendida pela

Companhia de Terras do Norte do Paraná de capital inglês, a qual baseava

suas vendas em pequenos lotes, facilitando assim a compra, pois muitos dos

que ali estabeleceram eram ex-colonos paulistas, que conseguiram alguma

economia com objetivo de investir em seu próprio pedaço de terra.

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A expansão da cafeicultura contribuiu com a colonização do Norte do

Paraná, sendo uma cultura que exige muita mão de obra, a zona rural do

estado se tornou uma área de atração populacional, recebendo um grande

contingente de pessoas que se estabeleceram na região.

A decadência da cafeicultura e inicio do processo da modernização

agrícola do Norte do Paraná torna o território uma área de repulsão

populacional. Isso devido à anexação das propriedades impulsionadas pela

expansão do capitalismo e as mudanças nas relações de trabalho que gerou a

expulsão de muitos trabalhadores rurais, sejam eles, arrendatários, parceiros,

posseiros ou até mesmo pequenos proprietários, esses trabalhadores foram

morar nas periferias das cidades engrossando a fila dos desempregados.

Alguns ficaram morando nas cidades mais próximas, outros foram para

as cidades maiores como São Paulo e Curitiba em busca de empregos nas

indústrias, que não se expandiu o suficiente para absorver toda a mão de obra

liberada do campo. Sendo que os mesmos não tinham instrução profissional e

em sua maioria eram analfabetos.

Segundo Carvalho (1991, p. 63) o fim do ciclo do café no Paraná

começou na década de 1960 com a política de erradicação cafeeira, devido à

ocorrência de geadas, secas e esgotamento do solo que causava a baixa

produtividade, como também as inúmeras lavouras de pés de café que a

produção era de baixa qualidade. A autora ainda aponta que foi promovido pelo

Estado Brasileiro o Plano de Erradicação de Cafeeiros Anti-econômicos, que

visava a redução da produção de cafeeiros, pois se plantava em grande

quantidades, o que acarretava altos custos de armazenagem ao mesmo tempo

em que os preços internacionais sofreram quedas.

Era plano de o governo erradicar as lavouras de café velhas de pouca

qualidade e baixa produtividade e modernizar os novos plantios.

Para isso segundo Carvalho (1991, p. 72) foi criado

o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura (GERCA), que desenvolveu dois programas, com objetivos de erradicação de cafezais antieconômicos, a modernização da cafeicultura brasileira e a substituição destes cafezais por lavouras em bases modernas.

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Esse programa pagava uma indenização por pé de café eliminado. O

produtor que utilizava o GERCA escolhia a cultura que substituísse o café.

Outro motivo que acentuou o fim do ciclo do café no Norte do Paraná foi uma

geada que ficou conhecida como “geada negra”.

De acordo com Schwartz (2011)

a geada negra aconteceu no dia 18 de julho de 1975 e mudou a geografia do Paraná, foram eliminados 200 milhões de pés de café e danificados os restantes 700 milhões, que correspondiam no total, 32% de participação na produção brasileira, zerando a safra estadual de 1976.

Diante do processo de modernização agrícola que assolava o Paraná,

a geada foi a “gota d’água” para a decisão de erradicação da cafeicultura no

norte paranaense, já havia incentivos do governo para o plantio de outros tipos

de culturas, essa mudança gerava insegurança para alguns agricultores, pois

envolvia técnicas modernas, emprego de maquinários e novos conhecimentos,

enfim, transformava totalmente a estrutura de trabalho, era algo diferente para

o produtor.

Mas, com o fomento da modernização agrícola e os subsídios

destinados pelo crédito rural os produtores optaram pelas culturas temporárias,

como milho, algodão e a soja que já despontava na pauta das exportações.

4 Modernização da agricultura e transformações socioespaciais no

município de São João do Ivaí – Pr.

Em 1943, surgem os primeiros moradores, dando inicio a colonização.

(IBGE CIDADES@, 2012). Os primeiros colonizadores praticavam a agricultura

de subsistência para o sustento das famílias e a primeira cultura destinada à

comercialização foi a hortelã e logo após iniciou o plantio do café, o qual teve

um maior desempenho e contribuiu com o desmatamento rápido da Mata

Atlântica que cobria a região.

Segundo entrevista realizada com o pioneiro Pedro Moradore o

município desenvolveu-se com a cafeicultura e se tornou uma área de atração

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populacional, devido a grande oferta de empregos gerados pela cultura de

café. O trabalho nas pequenas e médias propriedades era realizado pelas

famílias, mas como não conseguiam dar conta, era necessário contratar outras

pessoas, geralmente num sistema de parcerias, isso fez com que o município

atraísse muita gente e alcançasse um número alto de população. Em 1970

segundo o (IBGE CIDADES@, 2012) o número de habitantes era de 47.762, e

no senso de 2010 o número de habitantes é de 11.523. Nota-se um decréscimo

da população, pois a mesma sofre brusca queda devido à evasão rural.

O município que na década de 1960 e 1970 se caracterizou pelo

contínuo crescimento da população, principalmente a rural, mas aos poucos foi

se tornando uma área de repulsão populacional. Os modernos implementos

agrícolas, que auxiliavam no processo de produção, ao mesmo tempo

causavam o desemprego. Conforme destaca Fresca (2000, p.223) em seus

estudos “tornaram o campo em apenas mais um ramo da produção industrial.

Esvaziado demograficamente na medida em que se introduziam vigorosas

formas técnicas de elevação da produção e produtividade”. Os que perderam

suas terras ou seus empregos foram morar na cidade, muitos mudaram para os

grandes centros em busca de melhores condições de vida, pois São João do

Ivaí era e continua sendo uma cidade pequena que não possuí indústrias, por

isso a oferta de empregos é baixa. Dessa forma não mantêm seus moradores

em bons trabalhos, principalmente os jovens, que precisam imigrar para outras

cidades em busca de melhores oportunidades.

O intenso êxodo rural no município teve como principal consequência a

erradicação da cafeicultura e a modernização da agricultura. Desde o inicio da

década de 1960 o estado do Paraná já incentivava a modernização agrícola,

que se concretizava na compra de maquinários modernos, de modo a diminuir

a necessidade do trabalho do homem. De acordo com Carvalho (1991) o

Estado estava preocupado em renovar a agricultura, comprometida com as

ocorrências de geadas e secas.

O algodão destacou-se no início da década de 1970 alcançando seu

auge até o final da década de 1980 e São João do Ivaí tornou-se centro do

algodão, atraindo para o município quatro algodoeiras, (Algodoeira Ivaí,

Assaimenka, Kariri, Copiva).

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Os fatores que levaram a decadência do cultivo do algodão no Paraná,

de acordo com Zimovski e Conceição (2004) foi a intensificação da abertura

comercial a partir do final da década de 1980 e a redução do crédito rural aos

agricultores. A abertura comercial implicou na redução das alíquotas de

importação e facilitou a entrada do algodão. Houve uma queda bastante

significativa nessas tarifas, passando de 55% em 1988 para 0% em 1990.

Com os preços baixos, as novas pragas que surgiam prejudicando a

lavoura e diminuindo a produtividade, aliados a falta de mão de obra que foi

ficando escassa, por causa do êxodo rural que se intensificava, muitos que

trabalhavam como bóias-frias na época da colheita mudaram para os grandes

centros em busca de maiores oportunidades de empregos, isso tudo

desestimulou os produtores de algodão do município de São João do Ivaí.

A produção da soja atualmente é a cultura que se destaca no

município. Esse crescimento acompanhou a “explosão” da soja no Brasil com

destaque para as regiões Sul e Centro-Oeste. Como aponta Campos (2010,

p.01) a soja “é o principal produto agrícola na pauta de exportações brasileiras

e o maior responsável pelo aumento da colheita nacional de grãos”. Além de

sua importância para a balança comercial brasileira, a produção de soja

também é importante para o abastecimento do comércio interno e atualmente

na fabricação do biodiesel, que vem como fonte de energia alternativa para

substituir o petróleo.

Foi na transição da cultura do café para a mecanização que muitos dos

pequenos e médios proprietários perderam suas terras, uma “modernização

dolorosa” conforme denomina Graziano da Silva (1982), pois para produzir

eram necessários os empregos das novas tecnologias, como maquinários,

implementos agrícolas, insumos, sementes selecionadas e tudo isso gerava um

custo muito alto, onde os produtores recorriam ao financiamento ofertado pelo

crédito rural. Devido aos problemas climáticos, aliados a pragas que surgiam, a

falta de assistência técnica e de conhecimento, muitos produtores não

conseguiam produzir o suficiente para pagar as dívidas, isso fez com que

muitos agricultores descapitalizados perdessem suas terras, havendo uma

concentração de terras.

Segundo Martine (1991. p.19) “Neste novo cenário, não basta terra

para poder produzir: é preciso dispor de capital. Além disso, para viabilizar a

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adoção de novas técnicas, é preciso ser mais informado, ter atitudes

empresariais e capacidade de endividamento”.

De acordo com o depoimento de algumas pessoas que foram

entrevistadas os que mais tiveram dificuldade em se inserir na modernização

agrícola foram as pessoas mais velhas, que não conseguiram acompanhar as

novas técnicas de produção e tiveram medo do endividamento.

O município teve sua colonização baseada em pequenas e médias

propriedades e com a modernização agrícola a estrutura fundiária sofre

alterações. As profundas mudanças na estrutura produtiva causaram a

concentração da propriedade da terra e um forte êxodo rural, que começou

com a erradicação da cafeicultura e se acentuou com a decadência do

algodão.

Atualmente São João do Ivaí tem uma forte participação da cultura da

cana-de-açúcar incentivada pela Ivaicana Agropecuária Ltda. Instalada no

município vizinho São Pedro do Ivaí. Muitos dos que residem no município

trabalham na usina, alguns no escritório da empresa e outros no corte da cana,

sendo a maioria. Essa empresa é a maior geradora de emprego da região. A

maior parte do corte da cana-de-açúcar é realizada manualmente, mas existe

previsão para ser totalmente substituído por máquinas, para evitar as

queimadas que prejudicam o meio ambiente. Isso assusta os trabalhadores,

põem em risco seus sustentos, sendo que os mesmos não possuem estudos e

terão dificuldades em arrumar novos empregos, gerando um novo processo de

exclusão, pois, provavelmente terão que deslocar-se para os outros centros,

diminuindo ainda mais a população do município.

5 O uso de diferentes linguagens no ensino da Geografia

A Implementação da Proposta Pedagógica foi apresentada em sala de

aula durante o segundo semestre de 2011 aos alunos do 2º ano do Ensino

Médio do Colégio Estadual Arthur de Azevedo – EFMPN, na cidade de São

João do Ivaí – Pr.

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Valeu-se da Proposta Pedagógica como material didático norteando

todo o trabalho realizado em sala de aula. Dividiram-se as atividades em doze

unidades, cada qual com suas especificidades para melhor compreensão por

parte dos alunos.

A apresentação do projeto à turma chamou a atenção de todos,

despertando a curiosidade e o interesse. Para iniciar a reflexão sobre o assunto

apresentou-se o vídeo-clip da música “Meu Reino Encantado” (Daniel) que

contribuiu para o debate entre alunos e professor. A música associada com a

imagem foi usada com o objetivo de despertar o interesse dos alunos, pois os

mesmos são atraídos por esse tipo de aula.

A letra da música expressa algumas das consequências da

modernização da agricultura, a qual não beneficiou a todos da mesma maneira,

segundo Graziano Silva (1982) foi “dolorosa” para muitos que perderam suas

terras. Portanto, a música fala de um sentimento e isso ajudou a compreensão

por parte dos alunos.

De acordo com Santos (2009, p.03) “transformar as aulas de Geografia

em um instrumento capaz de despertar o senso crítico dos alunos, é algo

imprescindível à sua formação cidadã”. O uso do vídeo-clip colaborou para

aprimorar os conhecimentos dos educandos, sendo capazes de elaborarem

análises críticas, aumentando a confiança dos mesmos para questionarem e

argumentarem sobre o tema.

O uso de recursos audiovisuais oportuniza aos professores formas de

melhor contextualizar o conteúdo exposto, é um auxilio pedagógico que

desperta o interesse e estimula o aluno a pesquisar sobre o assunto.

Desta forma, as Diretrizes Curriculares (PARANÁ, 2009, p.31) propõe

Formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na sociedade.

Na sequência houve o estudo dos textos, todos embasados em livros e

trabalhos científicos que serviram de suporte teórico para os alunos, no meio

dos textos foram feitos vários questionamentos, a fim de provocar discussões

sobre o assunto, no final de cada unidade seguia as atividades para uma

melhor compreensão. Essas atividades utilizaram diversas linguagens, como

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charges, gráficos, tabelas, figuras, mapas, pesquisa na biblioteca, internet e

poemas para reflexão.

Todas as atividades propostas serviram para mediar à relação ensino-

aprendizagem sobre a modernização da agricultura com análise geográfica,

nas escalas nacional, regional e local. Foram elaboradas de um modo

instigante, questionador, criativo e crítico, tudo foi pensado para que o aluno

pudesse perceber a geografia no seu cotidiano e conseguisse fazer uma ponte

entre seu senso comum e o científico.

O uso de diferentes linguagens usadas na Proposta Pedagógica teve

como desafio despertar o interesse pelo conhecimento, pela pesquisa e pelo

debate. Segundo Nunes e Rivas (2012, p.02) “a escola deve mediar processos

criativos tanto em pesquisas de valor pedagógico quanto em pesquisa de

caráter epistemológico, para que o educando se instrua ao mesmo tempo em

que desconstrói e reconstrói o conhecimento”.

Neste contexto, é que a Geografia torna-se uma prática de grandes

transformações para o ensino aprendizagem, pois, o uso das linguagens

diversificadas, possibilitou um raciocínio reflexivo sobre o tema e a partir disso

construíram conhecimentos para serem cidadãos autônomos.

O aluno que pesquisa aprende a observar, analisar, relacionar

informações e sintetizá-las, construindo e reconstruindo seu saber, refletindo

sobre o lugar em que vive reconhecendo o espaço produzido e se

reconhecendo como parte deste espaço. (NUNES e RIVAS, 2012, p. 4).

Além dessas ações, realizamos a exposição de um filme “Gaijin Ama-

me como sou”, o filme conta a história de imigrantes japoneses que vieram

para o Brasil e aborda o início da colonização de Londrina e as dificuldades

encontradas. São João do Ivaí, sendo um município situado no Norte do

Paraná enfrentou os mesmos problemas, tendo uma colonização semelhante,

com a derrubada da Mata Atlântica e o plantio do café.

O uso do filme no ensino da Geografia é um instrumento que motiva e

desperta o interesse do aluno, pois torna “real” o que é abstrato nos livros

didáticos, sendo um canal que leva à reflexão da representação que se deseja

debater.

Sobre o assunto Souza (2006, p.09, apud. DINIZ, 2009, p.12) destaca

que

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Na sala de aula, como em qualquer espaço educativo, o cinema é um rico material didático. Agente socializante e socializador, ele desperta interesses teóricos, questionamentos sociopolíticos, enriquecimento cultural. E cada vez mais, tem-se intensificado o número de programas educativos e formativos em que o cinema é utilizado como um dos aparatos tecnológicos da educação.

O filme em sala de aula possibilitou uma melhor compreensão do

conteúdo estudado, pois demonstrou as angústias, os medos, os desejos e os

desafios de uma determinada sociedade. Porém, cabe ao professor

desenvolver no aluno o senso crítico em relação ao que o mesmo assiste.

Neste contexto, o filme “Gaijin – Ama-me como sou”, teve como

objetivo principal levar os alunos a conhecerem um pouco do passado, da

história e da geografia, das dificuldades vividas na época da colonização. Após

o término do filme foi aberta uma discussão, onde alguns alunos relataram as

histórias contadas por seus familiares, as quais contribuíram muito para o

ensino/aprendizagem e o enriquecimento da Proposta Pedagógica.

Depois de terem assistido o filme, foi organizado um roteiro de

pesquisa, no qual os alunos fizeram a pesquisa com pessoas mais velhas

(memória viva) que residem há tempo no município, essa pesquisa tinha como

objetivo principal levar os alunos a conhecerem um pouco sobre a história da

colonização do município e serem capazes de refletir sobre as mudanças

ocorridas.

A técnica de pesquisa de memória viva é um instrumento de grande

valia no ensino da Geografia, pois permite desenvolver um estudo sobre o

lugar em que vive levando o aluno a relacionar o conteúdo estudado em sala

de aula com o meio pesquisado. Essa técnica permite ao educando “voltar a

sentir sensações de alegria e tristeza de fatos vividos. É conhecer, recriar,

reconstruir e retratar os fatos ocorridos no passado” (CETESB, 1986, p. 47,

apud. CALVENTE; MOURA; ANTONELLO, 2003, p. 03) e assim ter uma visão

crítica das mudanças ocorridas na sociedade.

Para conhecer melhor a história da modernização da agricultura e as

transformações ocorridas na sociedade no município de São João do Ivaí, foi

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indispensável a pesquisa com pessoas mais velhas. Isso proporcionou aos

alunos a possibilidade de ouvir a história do passado, refletir, analisar,

interpretar e compreender as mudanças ocorridas no decorrer do tempo. Esse

modo de ensino desenvolve a prática da reflexão e aproxima a teoria da

realidade.

A união da teoria e prática ficaram evidentes ao analisar os resultados

da pesquisa, um dos entrevistados respondeu da seguinte forma: “Quando

cheguei aqui havia muito mato, que foi derrubado a machado com muito

trabalho e esforço. Para se locomover de um lado para o outro era a cavalo ou

a pé, carro praticamente não existia nesse lugar”. Através deste relato,

evidenciou-se o trajeto percorrido para se chegar a modernidade atual. O

tempo vivido pelo entrevistado e o tempo em que vivem os alunos são

separados por um hiato, e isso foi de fundamental importância para esclarecer

a visão dos alunos diante das técnicas que eram utilizadas na zona rural e as

que são utilizadas hoje.

O resultado da entrevista foi debatido em sala de aula, o qual

enriqueceu muito o tema estudado, aprimorou o conhecimento e ficou evidente

para os alunos que a modernização da agricultura está diretamente vinculada

ao avanço da tecnologia.

O comando dado aos alunos, para o momento da entrevista, foi o de

solicitarem aos entrevistados fotos antigas, visto que as fotos desempenham

um papel importantíssimo no ensino da Geografia, guarda um passado

imortalizado, congela um momento da história, podendo ser comparada com

episódios da vida presente.

Também foi organizado um roteiro de entrevista com o dono de uma

pequena propriedade rural tendo como objetivo conhecer as técnicas

empregadas e o modo de produzir dessa propriedade.

Foi realizada uma aula de campo, que foi muito importante, tornando o

tema mais interessante, visto que os alunos puderam visualizar e contextualizar

o que havia sido estudado em sala de aula, fez despertar ainda mais o

interesse dos alunos, contribuindo para uma melhor compreensão do tema.

Pode-se contar com a participação de dois acadêmicos do terceiro ano de

agronomia, os quais falaram sobre as novas tecnologias empregadas no

campo e o desemprego que as mesmas causam. Durante a aula de campo,

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aconteceu um fato interessante, tinha um aluno que não conhecia o plantio de

soja e nem de milho que é muito comum na região, o referido aluno chegou a

pouco tempo de São Paulo (capital) e tudo era novidade.

Para finalizar o assunto, foi construído um painel com fotos antigas e

atuais que mostrava a evolução da modernização da agricultura e também

fotos do início da construção de São João do Ivaí.

Foto 1: Painel de fotos antigas e atuais.

Fonte: Arquivo próprio

O painel chamou a atenção de todos os membros da escola, os alunos

gostaram porque conheceram um pouco sobre a história e os professores e

funcionários reviveram com muita emoção um tempo do qual eles fizeram

parte.

De modo geral, os alunos apreciaram muito o tema, pois para a maioria

deles o rural faz parte de seu cotidiano ou fez no passado de seus familiares.

As atividades desenvolvidas ao longo da Implementação da Proposta

Pedagógica possibilitou aos alunos a apropriação dos conteúdos e um

posicionamento crítico frente ao tema trabalhado. Foi possível perceber que

houve mudança de pensamento e atitude através da participação e

questionamento dos mesmos.

Durante a implementação, valorizou-se todo o conhecimento que os

alunos já possuíam sobre o assunto, para que no final do trabalho os mesmos

pudessem avaliar a realidade e as transformações socioespaciais do lugar em

que vivem para atuarem de forma consciente e participativa.

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A avaliação é parte do processo pedagógico, além de acompanhar o

processo da aprendizagem, norteia o trabalho do professor, permite melhoria

no processo pedagógico. (PARANÁ, 2009, p.86). Nesta perspectiva a avaliação

acompanhou a aprendizagem dos alunos, mas também serviu como reflexão

das metodologias aplicadas, buscando novos métodos quando foi necessário.

6 O Trabalho de Campo: a indissociabilidade entre a teoria e a prática

Foi através do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE que

foi possível trabalhar o tema modernização da agricultura e transformações

socioespaciais no município de São João do Ivaí – PR. Esse tema deu a

oportunidade de realizar uma aula de campo que foi de suma importância para

a aplicação do projeto, pois propiciou aos alunos observarem na prática tudo

que foi estudado em sala de aula, permitindo contato direto entre a teoria e a

prática.

Sendo a Geografia uma ciência que se preocupa com o estudo do

espaço organizado pela sociedade, e não mais uma disciplina baseada na

“decoreba”, vem buscando meios mais atrativos e concretos para melhor

aprendizagem. Neste contexto, é importante que o aluno tenha envolvimento

com a realidade que o cerca, acarretando assim uma visão crítica, conhecendo

bem seu lugar para depois compreender o desconhecido.

Conforme afirma Tomita (1999, p.01)

[...] é no trato direto do trabalho de campo que o aluno fará o aprendizado e passará a entender as contradições e o processo de apropriação da natureza, entendendo o porquê da dinâmica que ocorre no espaço.

Durante o trabalho de campo foi perceptível a motivação e interesse

dos alunos, pois foram capazes de discutir e fazer perguntas, possibilitando a

construção do conhecimento e aguçando a prática do olhar geográfico, dando

um novo sentido a teoria estudada em sala de aula, pois o aluno não é apenas

um ouvinte, mas um investigador.

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A aula de campo se mostrou uma ferramenta importantíssima para o

estudo da Geografia, porém, não se pode ignorar os problemas que a

envolvem, sendo que o “trabalho de campo é fundamental, mas, se rea lizado

desarticulado do método e da teoria, torna-se banal”. (ALENTEJANO &

ROCHA-LEÃO, 2006, p. 53).

O trabalho de campo não pode se resumir apenas na observação da

paisagem, mas a partir desta, compreender a dinâmica que envolve o espaço

geográfico e articular a teoria e prática.

Lacoste (1985, p.20, apud ALENTEJANDO & ROCHA-LEÃO, 2006. p. 57-

58) explica que

O trabalho de campo para não ser somente um empirismo, deve articular-se à formação teórica, que é, ela também, indispensável. Saber pensar no espaço não é colocar somente os problemas no quadro local; é também articulá-los eficazmente aos fenômenos que se desenvolvem sobre extensão muito mais amplos.

Para o autor o trabalho de campo só é válido se articulado com a teoria

e a realidade, pois um trabalho solto, sem um planejamento não vai surtir

efeitos na aprendizagem.

Por isso, foi de fundamental importância o papel do professor para

induzir o aluno a perguntar o porquê das coisas, não se conformar com a

situação dos fatos, e sim ser capaz de ter um olhar crítico sobre a realidade.

Tomita (1999, p. 14), aponta que

Durante o trabalho de campo, o professor deve manter-se como elo de motivação e despertando o interesse dos alunos, discutindo e fazendo perguntas que agucem a curiosidade, de tal forma que eles sintam a importância e a necessidade dessa atividade como complementação da aula teórica.

No trabalho de campo realizado com os alunos do Ensino Médio,

discutiu-se as novas tecnologias empregadas, pois um dos maquinários

observados foi um pulverizador com piloto automático que chamou muita a

atenção dos alunos, o mesmo movimenta-se sozinho depois de marcado o

caminho com o GPS.

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Isso levou os alunos a indagarem sobre o emprego na agricultura e

compreender melhor o êxodo rural.

Foto 2: Trabalho de campo.

Fonte: Arquivo próprio

A prática de campo é de fundamental importância na produção do

conhecimento geográfico. Auxilia a compreender melhor o lugar em que vive e

questionar sobre suas metamorfoses. Quando se estuda o lugar com uma

postura crítica é possível enxergar de forma mais clara o mundo.

No trabalho de campo cabe ao professor desenvolver no aluno

capacidade de compreender e desvendar o espaço geográfico que está em

constante transformação. “Ele propicia um processo de descoberta diante de

um meio qualquer, seja urbano ou rural, aguçando a reflexão do aluno para

produzir conhecimentos que não estão nos livros didáticos”. (SILVA; SOARES;

ARMOND. 2011, p.4). Também aumenta a reflexão do professor que é um

mediador na construção de conhecimento.

É importante ressaltar o trabalho de campo como uma prática valiosa

para o ensino da Geografia, possibilitando ao educando analisar e conceituar o

espaço. “É necessário recortar adequadamente os espaços de conceituação

para que sejam revelados e tornados visíveis os fenômenos que se deseja

pesquisar e analisar na realidade”. (SERPA. 2006, p.09). De modo que através

do recorte daquilo que se deseja estudar, se obtenha êxito no trabalho de

campo em Geografia, pois a compreensão será mais ampla e menos confusa.

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Também Kaiser, afirma em seus estudos a necessidade de definir o

que se pretende estudar, estabelecendo uma tipologia esquemática das

pesquisas de campo. Ele ainda pontua que o espaço não pode ser estudado

pelos geográficos como uma categoria independente, pois ele é elemento do

sistema social, é preciso conhecer e compreender as relações sociais, sendo

capaz de identificar os problemas existentes naquele lugar, fazer uma análise

histórica é indispensável a quem realiza a pesquisa, pode ser feito pesquisa

bibliográfica ou de arquivo, a base teórica é indispensável antes de realizar o

trabalho de campo. (KAISER, 2006, p. 97).

Assim, o trabalho de campo foi planejado, recortando os pontos

essenciais a serem analisados, com objetivos claros a serem alcançados. Após

a realização do trabalho de campo foi organizado um debate em sala de aula,

discutindo todo o processo envolvido.

A participação do professor no ensino-aprendizagem foi de suma

importância, conforme aponta Tomita (1999, p.13), “É importante reconhecer

que a aprendizagem do aluno ocorre sob orientação do professor, trabalhando,

operando, executando, analisando, comparando, explicando, opinando e

debatendo sobre o assunto”. Dessa forma, ficou perceptível que houve

aprendizagem significativa por parte dos alunos.

7 Considerações Finais

No decorrer do trabalho foi possível perceber que os alunos foram

capazes de compreender que a agricultura vem passando por inúmeras

transformações no que se refere a maneira de produzir, mediante o avanço da

tecnologia, nesse novo processo de produção exige-se mais conhecimento e

informação.

Diante de todas essas mudanças apresentadas aos alunos, eles

observaram que não tem mais espaço para o trabalhador que não se prepara

para enfrentar tais mudanças, é preciso ter qualificação para atender as

exigências de uma agricultura moderna, ter conhecimentos das novas

tecnologias, pois não basta saber operar uma máquina, é preciso ter noção de

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computação, as máquinas modernas são computadorizadas e fazem uso do

GPS.

Os alunos também perceberam que um dos pontos negativos causado

pela modernização da agricultura foi o êxodo rural, uma modernização

excludente, onde o capital se tornou o “carro chefe” desse novo processo. E

muitos dos pequenos proprietários que não conseguiram acompanhar este

novo modelo de produção perderam suas terras. As máquinas foram

substituindo a mão de obra humana e os trabalhadores que perderam seus

empregos, foram morar nas cidades, aumentando os problemas de moradia, de

desemprego, consequentemente da miséria e violência nas cidades.

Todo esse processo de construção do conhecimento levou os alunos a

refletir, pois os mesmos não imaginavam que as mudanças ocorridas na

agricultura pudessem influenciar tanto o meio social e o seu cotidiano.

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