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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI-UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CAMPUS BIGUAÇU
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MODOS DE PERCEBER O PROCESSO DA MORTE E DO MORRER ENTRE OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
KELIN ELIAS
MAURICÉIA GRAZIELE MACHADO CORREA
Biguaçu (SC)
2007
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KELIN ELIAS
MAURICEIA GRAZIELE MACHADO CORREA
MODOS DE PERCEBER O PROCESSO DA MORTE E DO MORRER ENTRE OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de título de Enfermeiro, na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Centro de Ciências da Saúde – Biguaçu. Orientadora Profª Msc. Ledronete Silvestre
Biguaçu (SC)
2007
3
KELIN ELIAS
MAURICEIA GRAZIELE MACHADO CORREA
MODOS DE PERCEBER O PROCESSO DA MORTE E DO MORRER ENTRE OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Esta monografia foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora, atendendo às normas da legislação vigente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI
Área de Concentração: Enfermagem
Biguaçu, novembro de 2007
____________________________________ Profª Msc. Ledronete Silvestre
UNIVALI – CE Biguaçu Orientadora
______________________________________ Profª Drª Lygia Paim
UNIVALI – CE Biguaçu Membro
______________________________________ Prof ª Msc Maria Lígia dos Reis Bellaguarda
UNIVALI – CE Biguaçu Membro
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Meus pensamentos giram em torno de assuntos medonhos, Condenação eterna e os mortos:
Que horrores dominam a alma culpada, Em um leito de morte!
Andando devagar por essas praias mortais
Ela se demora muito,
Até que, como uma enchente, com rápida força,
A morte arrebata os maus.
Depois, rápida e tremenda, ela desce
Até a ardente costa,
Entre os abomináveis demônios,
Ela própria um fantasma atemorizado.
Lá multidões sem fim de pecadores jazem
E a escuridão forma seus grilhões;
Torturados com intenso desespero eles gritam,
Esperando, porém, sofrimentos ainda mais atrozes.
Nem toda sua angústia e seu sangue
Expia sua culpa passada,
Nem a compaixão de um deus
Dará ouvidos a seus gemidos.
(142) – Maravilhosa graça, que me prendeu o fôlego,
Não afastou minha alma,
Até eu ficar sabendo da morte de meu Salvador
E ter bem garantido seu amor.
Autor: William Sargant
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela sua presença constante em nossas vidas, por nos confortar nas horas difíceis, por iluminar nossos caminhos e por ter nos dados a oportunidade de estar aqui. Aos profissionais de enfermagem que trabalham na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Florianópolis por aceitarem participar desta pesquisa e pela paciência no estágio curricular 180hs. A nossa Orientadora e Professora Ledronete Silvestre, que tivemos a oportunidade de conhecer e o prazer de admirar. Admirar principalmente sua disponibilidade em compartilhar conhecimentos e experiências, cujo carinho, incentivo e dedicação transcenderam em muito as exigências do seu papel e da sua responsabilidade. Obrigada pelos importantes ensinamentos, pela amizade e apoio. A Banca Examinadora, Professora Dra Lygia Paim e Professora Msc Maria Ligia Bellaguarda pela colaboração neste trabalho.
Mauricéia G. M. Correa Aos meus pais, Ademir e Vera, por todo amor, carinho e apoio incondicionais, vocês são os melhores pais do mundo! Amo vocês incondicionadamente! Aos meus irmãos Alexsandra e Vinicius e ao meu sobrinho Alysson, pelo carinho, amor, amizade e compreensão. Vocês são essenciais na minha vida, obrigada por tudo. Amo vocês! Ao meu “médico” pela paciência nos meus “maus” momentos. Amo você demais! Graças a sua presença foi mais fácil transpor os dias de desânimo e cansaço! A todos os meus amigos e familiares pelo apoio e momentos de alegria! Especialmente, aos meus primos e primas que tanto amo, obrigado pelo apoio, companheirismo e sólida amizade que temos, a qual tenho certeza que será para sempre! Obrigada por vocês existirem perto mim! O meu muito obrigado a você Kelin, minha dupla de TCC, pelo carinho, compreensão, companheirismo, paciência e amizade. Aprendi muito com você e te serei grata pra sempre.
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AGRADECIMENTOS
Kelin Elias
A minha mãe Valda, uma grande mulher, uma guerreira, que apesar das dificuldades impostas pela vida, nunca se deixou abater, esteve sempre firme e forte. É uma pessoa que me espelho em cada momento da minha vida, nas horas de desânimo e cansaço me lembrava de você que me ensinou a nunca desistir de lutar. Amo você. Ao meu pai João (in memória), por ter feito parte da minha vida e dessa caminhada tão difícil, um homem que tinha um coração enorme, sempre disposto a ajudar as pessoas, foi meu grande orgulho. Ao meu irmão Éder, agradeço a Deus por você existir, pois é uma pessoa muito importante em minha vida. As minhas amigas Kenia, Loiza, Fabiana e Alana pela força, incentivo e amizade. Pessoas maravilhosas que tive o prazer de conhecer, pois fazem meus dias serem mais felizes. Obrigada por fazerem parte da minha vida. As minhas amigas e colegas de estudo Adriana, Grazi, Maristela e Edilene pelo companheirismo, pelas risadas juntas, pelos choros, pelos estresses, tudo valeu a pena. Obrigada. As colegas de trabalho da Ala São Roque, Áurea, Franciane, Flavia e Vanessa, pela compreensão e incentivo. As minhas primas Camila e Juliana, pelo carinho e incentivo. Amo vocês. A minha amiga e companheira de TCC Mauricéia Graziele Machado Corrêa pela amizade, carinho e cumplicidade.
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ELIAS, Kelin; CORREA, Mauricéia Graziele Machado. Modos de Perceber o Processo da Morte e do Morrer entre os Profissionais de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Enfermagem – Universidade do Vale do Itajaí, C E Biguaçu.
Resumo
O objetivo deste trabalho é compreender o modo como os profissionais de enfermagem da
Unidade de Terapia Intensiva – UTI percebem o processo da morte e do morrer; identificar as possíveis influências deste processo na sua capacidade de ação no cuidado em enfermagem; e verificar a significação deste processo para estes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritivo-exploratória, com enfoque na Metodologia de Lefévre & Lefévre (2005), o Discurso do Sujeito Coletivo, que tem como proposta a organização e tabulação de dados qualitativos, retirados de depoimentos realizados através de entrevista semi-estruturada, utilizada objetivando a obtenção de declarações mais espontâneas. Os sujeitos da pesquisa foram nove profissionais de enfermagem, quais sejam, enfermeiro (a), técnicos (as) e auxiliares de enfermagem, que trabalham na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de grande porte de Florianópolis, Santa Catarina. Neste trabalho, apresenta-se uma breve revisão de literatura subdividida em: a percepção do processo da morte e do morrer; e profissionais de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. Utiliza-se a teoria das relações interpessoais de Joyce Travelbee (1979), cuja aplicação auxiliou na realização da investigação. Através dos discursos-síntese, percebe-se como os profissionais de enfermagem lidam com o processo de morte e morrer, as suas representações em relação à morte e os abalos causados por esta. Assim, observa-se que os sentimentos são variados e as representações estão ligadas ao meio cultural em que cada um destes profissionais habita. Os possíveis abalos causados pelo processo de morte e morrer podem estar relacionados à sua inabilidade em lidar com as próprias emoções. Percebe-se, ainda, que há uma fragilidade no treinamento destes no que tange ao cuidado de enfermagem prestado àqueles que passam pelo processo da morte e do morrer. Palavras-chave: percepção; morte; profissionais de enfermagem.
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ELIAS, Kelin; CORREA, Mauricéia Graziele Machado. Modos de Perceber o Processo da Morte e do Morrer entre os Profissionais de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Enfermagem – Universidade do Vale do Itajaí, C E Biguaçu.
Abstract
The aim of this paper is to understand how nursing professionals who work at Intensive Care Unit – ICU face the process of death and dying; to identify the possible influences of this process in their capacity of action towards nursing care; and to verify what this process means to them. A descriptive exploratory study was conducted using the Collective Subject Speech proposed by Lefévre & Lefévre (2005), following qualitative analysis. This methodology has the proposal of organizing and tabulating qualitative data, extracted from statements collected through semi-structured interview, with the objective of obtaining spontaneous declarations. The research was done with nine nursing professionals, e.g., nurses, nursing technicians and auxiliaries, who work in the Intensive Care Unit of a large hospital in Florianópolis, Santa Catarina. This paper contains a brief literature revision, which is divided in: perception of the process of death and dying; and nursing professionals in Intensive Care Unit. The interpersonal relations theory, by Joyce Travelbee (1979), was used, and helped in carrying out the investigation. Through the speech-synthesis, it was verified how nursing professionals deal with the process of death and dying, what death represents to them, and the shock caused by it. Therefore, it was noticed that the feelings vary and that the representation of death is connected with the cultural environment where the ones involved in this research live. The shock caused by the process of death and dying can be related with their inability to deal with their own emotions. It was verified, still, that these professionals are not trained to assist those who are going through the process of death and dying. Key words: Perception; Death; Nursing professionals.
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SUMARIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 15
2.1 Objetivo Geral ................................................................................................................... 15
2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 15
3 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 16
3.2 A Percepção do Processo de Morte e do Morrer .............................................................. 16
3.3 Profissionais de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva................................ 17
4 REFERÊNCIAL TEÓRICO TEORIA DA RELAÇÃO INTERPESSOAL DE
JOYCE TRAVELBEE .........................................................................................................
19
4.1 Joyce Travelbee ................................................................................................................. 19
4.2 Pressupostos Básicos ......................................................................................................... 19
4.3 Processo de Enfermagem segundo Travelbee .................................................................. 21
4.4 Conceitos Inter-relacionados ............................................................................................. 22
5 VIVENCIANDO A PRÁTICA ASSISTENCIAL ........................................................... 29
5.1 Experienciando o Processo de Morte e Morrer na Unidade de Terapia Intensiva .......... 30
6 PROCESSO METODOLÓGICO .................................................................................... 32
6.1 Tipo de Estudo .................................................................................................................. 32
6.2 Local de Desenvolvimento da Pesquisa ........................................................................... 32
6.3 Integrantes da Pesquisa .................................................................................................... 33
6.4 Trajetória para a Coleta e a Organização dos Dados......................................................... 34
6.5 Análise das Informações.................................................................................................... 35
6.6 Aspectos Éticos.................................................................................................................. 36
10
7 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO-DSC ............................................................... 39
7.1 Sentimentos Diante do Processo de Morte e Morrer ................................................... 39
7.2 Significados do Processo de Morte e do Morrer .............................................................. 45
7.3 Os Abalos na Capacidade de Ação ................................................................................... 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 65
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 68
APENDICES 72
APÊNDICE – A – INSTRUMENTO DE ENTREVISTA..................................................... 73
APÊNDICE – B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............... 74
APÊNDICE – C – TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO............................... 75
APÊNDICE – D– CARTA DE INTENÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA..... 76
ANEXOS
11
1 INTRODUÇÃO
A escolha do tema a respeito do modo de perceber o processo da morte em profissionais
de enfermagem, lotados em unidades de terapia intensiva, surgiu do nosso próprio cotidiano
profissional como técnicas de enfermagem. No papel de acadêmicas do curso de enfermagem,
pesquisadoras deste estudo, no trabalho em instituição hospitalar, convivendo e testemunhando,
cotidianamente, a morte de pacientes, percebemos certa mistificação em relação à postura e ao
comportamento do profissional de enfermagem, o que pressupõe que estes profissionais detêm
uma impassibilidade e frieza diante do processo de morte, ou ainda, que os sentimentos
evidenciados não correspondem com os propósitos do cuidado de enfermagem, já que a
perplexidade não significa habilidade em lidar com situações conflitantes como é a morte.
Kovács (1992) argumenta que com relação a habilidade em lidar com o processo de morte
e morrer, a diferença básica entre os leigos e os profissionais da saúde, é que na vida destes a
morte faz parte do cotidiano e pode se tornar sua companheira de trabalho diário. Porém,
perceber a doença como uma ameaça de morte, pode se constituir em um acesso para o
conhecimento sobre a morte e o morrer. Mas, é natural que como mecanismo de defesa, os
profissionais de saúde tendam a se afastar de todo sofrimento, especialmente, se eles, também,
podem vir a sofrer o mesmo.
Os mecanismos de defesa apresentados pelos profissionais da saúde se caracterizam pelas
dificuldades de perceberem a morte como algo natural. Para algumas pessoas, a morte é algo
amedrontador, até porque significa o fim de todo o ser. O medo da interrupção dos planos e
fracasso em realizar os objetivos mais importantes da pessoa, uma separação irremediável da vida
e um mergulho radical no dito desconhecido ou mais precisamente, naquilo que a morte
representa para a pessoa. Pois, a morte será representada a partir dos padrões culturais nos quais a
pessoa está inserida (KOVÁCS, 1992).
O mesmo autor acrescenta que, agimos como se fôssemos imortais, como uma defesa
cotidiana contra a dita estranheza da morte. A repressão e a negação como mecanismos de defesa,
são as grandes dádivas que nos protegem contra esse medo. Porém, os artifícios de defesa são
impotentes quando a morte já se instalou como possibilidade imediata do ser humano, então,
torna-se impossível se esquivar de sua presença silenciosa e contundente Isto porque o tema da
12
morte geralmente é evitado pelas pessoas, justamente por tocar em nossos limites e também em
nossa maior possibilidade de abertura, pois impõe limites a nossa perspectiva de vida.
Há várias e fortes razões para que não queiramos encarar a morte de frente, uma das
principais é o fato que morrer especialmente na Cultura Ocidental Cristã, é um acontecimento por
demasiado triste, solitário e desumano (SILVA, 2001).
Isto porque, as dificuldades no atendimento a pacientes com risco de vida e da própria
morte vêm, principalmente, do fato que a compreensão humana do processo existencial, ainda,
está muito vinculada a valores e percepções sócio-culturais negativas e desvalorizadoras em
relação à função natural do processo de morte.
Então, para se cumprir com a missão de dar apoio ao ser humano que está em processo de
morte, é preciso desenvolver além de uma mera compreensão técnica, uma abordagem de caráter
intersubjetivo e interdisciplinar como propõe a teoria das relações interpessoais de Joyce
Travelbee (1979). Ao mesmo tempo em que pode haver uma aproximação com o universo sócio-
cultural do paciente que morre, é necessário, também, que haja um distanciamento crítico em
relação aos conteúdos das crenças e valores sócio-culturais, aos quais os profissionais de
enfermagem se acham vinculados sobre a função de representações do indivíduo (LEOPARDI,
1999).
Certas significações atribuídas à morte, como um castigo por faltas cometidas, podem
bloquear a compreensão mais autêntica e profunda da condição humana pelo indivíduo que
morre. É em nível de uma compreensão mais autêntica da existência e da finitude humana, onde
se tornam manifestos os grandiosos e indecifráveis mistérios da Vida e do Universo que o
indivíduo que morre pode se apaziguar com o Todo e com seus semelhantes. O processo de
morrer coloca o ser humano em uma situação excepcional, pois, enquanto ser que morre, mas,
ainda vive, é um ser que está na passagem entre a vida e a morte, capaz de conhecer a
transformação radical da plenitude do ser humano autônomo e livre para a matéria inanimada.
Contudo, nossa idéia central nesta pesquisa é dar enfoque aos profissionais de
enfermagem que trabalham em um ambiente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por ser um
local fechado onde lidam constantemente com pacientes entre a vida e a morte e também por
presenciarem mais este acontecimento.
13
Dentro deste contexto cultural, profissional e cotidiano, a presente pesquisa pretendeu
responder à seguinte questão:
Como os profissionais de enfermagem percebem o processo de morte e do morrer na
vivência do trabalho em UTI?
Este estudo está constituído de introdução onde abordamos que o modo de perceber dos
profissionais de enfermagem pode influenciar no cuidado prestado e o porquê da importância de
investigar o modo como percebem o processo da morte. O objetivo geral e específico refletiu a
partir de novas luzes sobre as necessidades de uma formação acadêmica mais integral. Já a
revisão de literatura está baseada em dados que vêm ampliar significativamente a qualidade das
buscas bibliográficas. Assim, como a Teoria da relação interpessoal de Joyce Travelbee(1979),
buscamos recursos teóricos suficientes para a compreensão dos sentimentos de defesa que os
profissionais de enfermagem possam apresentar em relação ao processo de morte dos clientes sob
seus cuidados e, a possibilidade de reflexão desta relação em direção a um cuidado ético, humano
e ativo desses clientes. Pois uma teoria de relação pessoa-pessoa (intersubjetividade) é
indispensável para o cuidado adequado. Assim, a pessoa que vivencia o processo de morte ou de
um familiar, assim como os profissionais de enfermagem poderão despertar para a minimização
de suas angústias e medos, possibilitando que ao dispor da experiência venham encontrar às
expressões de seu real significado dessa experiência (LEOPARDI, 1999).
No quinto capítulo apresentamos a vivência da prática assistencial e a experiência de
presenciar o processo de morte e morrer dentro da Unidade de Terapia Intensiva proporcionado
pelo estágio curricular de 180hs.
O tipo de estudo foi de natureza qualitativa do tipo exploratório descritivo.. O local de
desenvolvimento e os interagentes da pesquisa foram os profissionais de enfermagem que
trabalham em UTI. A trajetória para a coleta, a organização dos dados e a estruturação da análise
seguiu as orientações de Lefévre & Lefévre (2005), para sustentação dos aspectos metodológicos
como a análise das informações. Após, o Discurso do Sujeito Coletivo onde construímos a partir
dos discursos individuais, tentando assim chegar ao nosso objetivo.
Por último, as considerações finais, onde discutimos sobre as percepções dos profissionais
de enfermagem, assim como a limitação das academias em desenvolver a habilidade emocional
de trabalhar essas questões de morte e do morrer. Observou-se enquanto acadêmicas de
enfermagem, que há fragilidade na formação no que se refere à assistência àqueles que passam
14
pelo processo de morte e do morrer. Nosso primeiro encontro como acadêmico de enfermagem
com a morte pode ser na aula de anatomia, em que os corpos se transformam em órgãos, ossos e
tecidos. Este pode ser muito angustiante para o acadêmico que muitas vezes, relaciona a
experiência com o ser humano tratado então como objeto. Os sentimentos que surgem diante
deste encontro são muito complexos, no início sentimos medo, pois vemos ali um ser humano em
estudo, depois com o passar do tempo, após muitos dias estudando e identificando ossos,
músculos, órgãos, aquele corpo vai se tornando um boneco, aonde vamos desmembramos o corpo
humano.
15
2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral
Compreender o modo como os profissionais de Enfermagem da UTI percebem e agem
diante do processo da morte e do morrer, configurando o cuidado em enfermagem.
2.2 Objetivos Específicos
• Conhecer o modo como os profissionais de enfermagem que trabalham em UTI
percebem o processo da morte e do morrer;
• Identificar a significação e à compreensão do processo da morte e do morrer dos
profissionais de enfermagem que trabalham em UTI;
• Verificar possíveis influências do processo de morte na capacidade de ação para o
cuidar em enfermagem.
16
3 REVISÃO DE LITERATURA
Intencionalmente, foi feita uma busca no termo percepção e a significação do termo
vinculado ao processo de morte e morrer.
3.1 A Percepção do Processo de Morte e do Morrer
Segundo Silva (2001), a Civilização Ocidental Cristã separou a vida da morte, colocando
esta última como um castigo dado a primeira devido às faltas cometidas pelo vivente. A tradição
judaico-cristã, fonte da Civilização Ocidental Moderna e Contemporânea, ao considerar a vida
material presente com desprezo, esperando alcançar felicidade em uma outra vida, faz com que se
separe a vida da morte e a compreensão das causas e processos naturais envolvidos no morrer.
As inseguranças e medos associados ao estreito e insuficiente referencial existencial ocidental acerca da velha concepção dualista da morte, permeiam o viver humano, face ao seu processo de ser/viver ou de não ser/morrer. Tal situação tende a levá-lo a criar e manter dispositivos de segurança, limitando a sua liberdade e comprometendo seu bem viver. Estas forças que permeiam as estruturas sociais convertem-se em mecanismos rígidos de asfixia da liberdade (SILVA, 2001, P.12)
Para Souza et al (2001), contribuiu com este pensamento afirmando que quando a morte é
compreendida em sua complementaridade com a vida e que não se trata de um castigo para o ser
humano, mas, de um processo natural e transcendente, ela pode se tornar em uma mola sem par
em direção a um grande salto no desenvolvimento do comportamento humano. Quando o
paciente e os profissionais de enfermagem percebem esta concepção ativa e positiva da morte,
desvanece suas crenças dolorosas da morte como castigo e seus medos dos castigos eternos.
Fernandes et al (2001), aborda a percepção do processo do morrer, através da perspectiva
do profissional de enfermagem, daquele que está na vida e gostaria de esquecer que a morte
existe, porém, convive com ela cotidianamente e tem que responder aos apelos e temores de seus
pacientes. Há uma tendência natural dos profissionais de enfermagem em geral, a se fecharem em
uma frieza aparente em relação ao que se passa com seus pacientes, buscando encerrar suas
portas para a morte. Há muitas situações que levam a isso, insatisfações com o trabalho e a vida,
17
egoísmos pessoais, orgulho, timidez, etc..., mas, talvez, o principal fator seja o medo diante de
um processo que um dia ocorrerá com ele também.
Silva (2001) argumenta que para uma compreensão mais ampla e natural da vida e morte,
sem que esteja associada a felicidades ou castigos eternos, é preciso romper com as concepções
mistificadoras de um processo que pode ser interpretado de modos bem diferentes com outras
categorias éticas e existenciais. No que tange ao processo de morte e do morrer é necessário uma
atualização epistemológica para que possa emergir novos paradigmas, mais amplos e felizes,
sobre a vida e a morte humanas que estão estritamente ligadas. Há alguns novos referenciais que
já vem se constituindo nessa atualização epistemológica necessária, tais como a Teoria do
Cuidado Transdimensional, tendo como foco principal o processo de morte-renascimento.
Portanto, em primeiro lugar, é preciso buscar a percepção da morte no próprio
profissional de enfermagem, em geral, é necessário uma revolução paradigmática que ultrapasse
o paradigma judeu-cristão da morte como castigo para uma vida pecadora e, se coloque em seu
lugar uma verdade mais natural da morte como renovação da vida e transcendência do ser
humano.
Estas mudanças só podem advir com uma reflexão das relações profissional/paciente em
que ambos crescem quando atribuem à morte um caráter cada vez mais positivo e que serve à
vida e não à morte, serve à alegria e não à tristeza.
Assim, é preciso compreender a luz de uma teoria forte, as relações intersubjetivas que
devem ser estabelecidas entre enfermeiros, pacientes e seus familiares.
3.3 Profissionais de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva
O surgimento das Unidades de Terapia Intensiva (UsTI) no Brasil teve início no ano de
1970, o que representou um grande progresso obtido pelos hospitais, sendo que antes dessa
implantação, os pacientes graves eram tratados nas próprias unidades, apresentando assim
recursos de materiais e humanos deficiente e área física inadequada. Atualmente com a evolução
da tecnologia as chances de recuperação dos pacientes são maiores, o que vem aumentando as
expectativas de vida (NISHIDE, MALTA, AQUINO, 2000 apud CACHOEIRA, SCHNORR,
2005).
18
Para Marcon (1996) apud Cachoeira e Schnorr (2005) a UTI é uma unidade eficaz para
atender vários casos diferentes, agudos e graves, porém com chances de recuperação, com
assistência médica e de enfermagem qualificada e sob cuidados ininterruptos, visando dar maior
vigilância e observação clínica das funções do paciente, até que se alcance a estabilidade de seus
sistemas vitais, necessitando ou não de aparelhos especiais.
Segundo o Ministério da Saúde (1998), a Unidade de Terapia Intensiva é um local onde
destina-se ao atendimento de pacientes grave ou de risco de vida que exijam assistência médica e
de enfermagem constante que constam com um conjunto de elementos funcionalmente
agrupados, além de equipamentos e recursos humanos especializados.
Nesta perspectiva percebemos que a Unidade de Terapia Intensiva é um local onde os
profissionais de enfermagem muitas vezes apresentam um distanciamento com o paciente.
Conforme Bastos (2002) apud Cachoeira e Schnorr (2005) seus estudos evidencia a dificuldade
dos profissionais em ter uma proximidade com os pacientes em UTI, pois mostra a tecnologia
como facilitadora do fazer do enfermeiro, mas que isso reflete um distanciamento profissional-
paciente e em contrapartida é considerado como fator de prestígio do profissional que a utiliza.
Moritz (2002) apud Cachoeira e Schnorr (2005) discute em sua tese de doutoramento
sobre o comportamento dos profissionais diante da morte. Cita Koch (1996) que a partir do
momento que a saúde evolui tecnologicamente os óbitos passaram a acontecer nas unidades de
terapia intensiva e que a comunicação entre os profissionais, paciente e familiar, sobre o seu
tratamento, é cada vez mais primordial.
Na perspectiva comunicacional aparece o estudo de Souza e Padilha (2002) que aborda o trabalho e a relação com a comunicação como forma de liberdade e emancipação do ser-humano. Refletem acerca do cuidado de enfermagem numa visão de troca, no tocante ao que é criado a partir da comunicação e a enfermagem. Neste sentido, pode-se considerar que o processo relacional em Enfermagem acontece em meio à comunicação, e para isto há a necessidade das pessoas estarem disponíveis, atentas, como uma presença (CACHOEIRA, SCHNORR, p. 25, 2005).
Segundo Bellaguarda (2004), refere que antes de se adentrar as questões do enfrentamento
destes profissionais de saúde diante da morte é necessário se fazer uma análise do
comportamento desses enquanto seres humanos e que como profissionais devamos ser
aprendentes não só do processo vivencial, mas também como do processo da finitude existencial.
19
4 REFERÊNCIAL TEÓRICO: TEORIA DA RELAÇÃO INTERPESSOAL DE JOYCE TRAVELBEE
Nesta pesquisa optamos por utilizar a Teoria de Joyce Travelbee por considerar sua
perspectiva sobre o sofrimento e a enfermagem e, também, por estar amparada em pressupostos
interacionistas. Acreditamos que esta teoria se relaciona com esta pesquisa servindo de orientação
para a elaboração da entrevista semi-estruturada destinada aos profissionais de enfermagem que
trabalham em unidade de terapia intensiva, bem como, direcionou a análise e a interpretação dos
dados, podendo, então, haver um confronto necessário entre os dados teóricos e outros autores
utilizados em conceitos não percebidos em Travelbee e o estudo.
4.1 Joyce Travelbee
Joyce Travelbee (1979), criou a Teoria da Relação Interpessoal em um contexto no qual
se constituem dois pólos diferenciados, em que um dos seres humanos necessita de ajuda e o
outro a propõe, pressupondo-se que tenha os recursos técnicos e humanos adequados para isso
(LEOPARDI, 1999).
A autora foi Enfermeira Psiquiátrica, além de docente e escritora, obteve seu diploma de
enfermeira em 1946, pela Escola Do Hospital de Caridade de Nova Orleans. Bacharelada em
Enfermagem completou seu Mestrado em 1959, pela Universidade de Louisiana. Foi diretora de
projetos da Escola de Enfermagem do Hotel Dieu, em Nova Orleans. Publicou artigos em 1963 e
seu primeiro livro foi lançado em 1966 com o título “Interpersonal Aspects of Nursing”, essa
autora veio a falecer em 1973 (LEOPARDI, 1999).
4.2 Pressupostos Básicos
Na relação enfermeiro/paciente a enfermagem se define como sendo o conforto e o
cuidado do paciente o objeto da Enfermagem. Considerando que os seres humanos possuem
características racionais, sociais e singulares, isto é, eles são semelhantes entre si, mas,
principalmente, são diferentes uns em relação aos outros (LEOPARDI, 1999).
20
Os pressupostos básicos desta teoria são relativos às capacidades dos indivíduos em
enfrentar estresse por um período prolongado, propondo a idéia de que o sofrimento é uma
experiência que se encontra em algum momento da vida, particularmente, relativas à doença, cujo
significado a enfermagem pode ajudar a esclarecer (LEOPARDI, 1999).
Neste sentido, na presente pesquisa, este estresse é bem mais pronunciado, já que no
profissional de enfermagem, que trabalha em UTI há, muitas vezes, um aumento de ansiedade
devido ao conflito vida/morte porque cuidam de pessoas geralmente em estado grave.
Assim, os profissionais de enfermagem podem se constituir em um processo interpessoal
que define um contexto de interações subjetivas e sociais, objetivando a modificação positiva de
comportamentos e posturas humanas, tanto do paciente, quanto do enfermeiro, diante de
acontecimentos marcados pela estranheza e a impassibilidade de acontecimentos que despojam o
sujeito humano de toda sua autonomia e de seu poder de intervir sobre as situações.
Isto é possível, porque a enfermagem é um saber e uma práxis comprometidos com a
evolução do comportamento humano, através de uma relação baseada no conhecimento científico
e filosófico e em uma relação de comunhão e partilha nas relações humanas entre enfermeiros e
pacientes (LEOPARDI, 1999).
De acordo com Barroso et al (1999), o estabelecimento de uma relação intersubjetiva por
intermédio das fases denominadas de empatia, na teoria intersubjetiva de Travelbee, implica no
aprendizado e desenvolvimento de uma arte de comunicar, um processo em que se aprende a
ouvir, entender e valorizar o outro, favorecendo o crescimento pessoal de ambos os pólos da
relação enfermagem/paciente. Esta arte da comunicação com o paciente, é que pode criar as
condições concretas em que, serão atendidas as necessidades expressas pela pessoa que solicita
ajuda, em momentos de extremo sofrimento.
A relação interpessoal é uma interação de dois ou mais seres humanos, de modo que
ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e significados mediante o estabelecimento
da comunicação. A comunicação constitui o fundamento cultural da pessoa humana e, mais que
isso, da própria vida, sendo uma necessidade básica, sem a qual a existência da humanidade seria
impossível. A comunicação está presente em todas as etapas da vida, constituindo-se elemento
essencial para a interação dos seres humanos e pode ter objetivos específicos; pode se prestar a
relações interpessoais, ligações de grupo e à transmissão de idéias, ensinamentos,
convencimentos, cultura, e lazer, dentre outros (STEFANELLI, 1993).
21
Nessa interação interpessoal enfermagem/paciente, que é conscientemente planejada pelo
enfermeiro, espera-se que ambos modifiquem positivamente seus comportamentos, aprendendo
com o resultado, pois todos os seres humanos passam pela experiência extrema das doenças
graves e do processo de morte e aquele que hoje goza de saúde e autonomia, um dia experenciará
o sofrimento daquele que agora necessita de sua ajuda. Esta interação enfermagem/paciente faz
com que os pólos humanos envolvidos busquem as significações e valores superiores da
humanidade que envolve e pode superar a violência e a estranheza desumana da doença e da
morte (LEOPARDI, 1999).
Partimos do pressuposto que determinadas concepções culturais da morte que colocam
esta como uma punição para a vida que já seria pecadora em si, são fontes de sofrimentos
adicionais aos pacientes e impedem que os mesmo tenham uma visão mais justa e natural da
morte que, então, apareceria como renovação da vida.
Também, que somente uma relação interpessoal positiva de harmonia e amizade entre os
profissionais de enfermagem e paciente/família pode levar ambos à superação de seus temores e
paradigmas errôneos traçados com relação à morte. Nesse sentido, é necessário que se passe a
considerar os novos paradigmas e percepções sobre o morrer na formação do enfermeiro para que
este possa de antemão desarmar suas defesas e travar relações mais estreitas com o paciente.
4.3 Processo de Enfermagem segundo Travelbee
Conforme Travelbee o processo de enfermagem é um conjunto de ações para detectar as
necessidades com o objetivo de resolver problemas de enfermagem utilizando-se dos seus
conhecimentos. Consideram-se cinco fases para seguir uma metodologia para a assistência:
1- Acesso aos dados: observar a origem das necessidades;
2- Diagnóstico: relacionado às necessidades;
3- Plano: identificar estratégias para satisfazer necessidades;
4- Implementação: necessidades satisfeitas através de processo inter-pessoal;
5- Avaliação: identificação de mudanças no comportamento do indivíduo.
22
4.4 Conceitos Inter-relacionados
Enfermagem- A Teoria da Relação Interpessoal, de Joyce Travelbee, descreve a
enfermagem como um processo interpessoal, em que o cuidar do paciente encerra um aspecto
profissional, a relação enfermeira-paciente. A versatilidade desta teoria faz com ela possa ser
empregada desde os tratamentos e procedimentos de rotinas em pacientes fora do risco de morte,
até aqueles pacientes que estão nas unidades de terapias intensivas com grandes riscos de morrer
(LEOPARDI, 1999).
Travelbee (1979) afirma que o enfermeiro deve ser capaz de fornecer a assistência de que
o paciente está necessitando, pois este profissional tem um corpo de conhecimento especializado
e capacidade de utilizá-lo, com o objetivo de proporcionar o máximo grau de saúde possível e
conforto físico e espiritual ao paciente. Para isto acontecer, precisa ter uma percepção
desenvolvida a partir de suas experiências como ser humano que enfrenta a dor, o sofrimento e a
morte, em um processo marcado pelas crises de desespero e temores dos pacientes. Porém, por
mais difícil que se torne à relação interpessoal enfermagem/paciente, nos casos dos doentes
graves, ou em alto risco de morte, é necessário que se estabeleça um processo de comunicação
(LEOPARDI, 1999).
Esta teoria possibilita a observação da prática de enfermagem diferenciada que aproxima
o contexto sócio-cultural do paciente ao mundo do profissional da saúde, incentivando o
conhecimento na enfermagem. A teoria de Joyce Travelbee prioriza a inter-relação pessoal na
essência da enfermagem - o cuidar - e, desta forma, possibilita cuidar com maior eficácia o ser
humano. Diante dessas considerações, pode-se verificar que a relação interpessoal necessita de
uma comunicação eficiente, ou seja, de um grau de confiança para que a pessoa sinta a vontade
de externar de modo sincero seus pensamentos e sentimentos.
Assim, é necessário que, na enfermagem se forneça à comunicação um significado mais
amplo referido a interação intersubjetiva, possibilitando o envolvimento, o conhecimento do
outro e, ao mesmo tempo, oferecendo-lhe apoio e confiança. Assim, se obterá êxito nas ações de
enfermagem que dependem de uma interação eficaz (RIBEIRO, 2003).
23
Comunicação- é fundamental na arte de cuidar. É importante que a enfermagem
desenvolva uma interação efetiva com o paciente hospitalizado e seus familiares, constituindo a
participação de todos na manutenção e recuperação da saúde (LEOPARDI, 1999).
O Ser Humano - são seres únicos, insubstituíveis, dotados de razão, cada qual com suas
diferentes formas de pensar, raciocinar, refletir e agir. Os seres humanos são organismos
biológicos e podem ser influenciados por meio ambiente, cultura e experiências de vida. São
capazes de amar, de fazer escolhas e de se fazerem entender, são seres sociais com capacidade de
evoluir e mudar a todo instante inclusive em suas situações vida-morte (LEOPARDI, 1999).
Profissional de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva - os profissionais que
trabalham na UTI convivem todos os dias com pacientes entre a vida e a morte, e além disso
estão sempre precisando implementando suas habilidades técnico-científicas, muitas vezes em
detrimento de seus próprios cuidados emocionais, o que freqüentemente pode colocá-los em
situações limitantes por serem seres humanos (SILVESTRE 2006).
Processo de Morte e do Morrer - falados como se fosse um único processo, entretanto, a
morte se caracteriza como a finitude humana, um fenômeno único e de cada um, onde se encerra
a vida biológica (FERREIRA, 1998 apud ARAUJO; VIEIRA, 2001). O morrer é o momento que
antecede a morte como o final da vida (OLIVEIRA; OGASAWARA, 1992 apud ARAUJO;
VIEIRA< 2001).
Silva (2001) apud Silvestre (2006) estabelece uma relação no processo de morte-renascimento que leva a renovação e diversificação da vida com vistas a ordens crescentes de complexidade criativa. Um processo difícil, principalmente quando se é condicionado a posturas de controle e de certezas e também, quando se está identificado com os padrões de comportamento instituídos culturalmente. Um processo que não poderia ser entendido como um movimento linear, pois poderá estar acompanhado de um modo de expressão da consciência, de aprendizado e também, da compreensão das próprias limitações. Um processo não racionável e de inter-relação como um todo, no que tange a presença de sentimentos como medo, apego e sofrimento, que se percebidos e compreendidos, poderão impulsionar na busca de novos significados para a vida.
De acordo com Smeltezer & Bare, apud Ross (1969, p. 133), as respostas emocionais de
uma pessoa para enfrentar a morte podem ser através de cinco estágios, são estes os estágios do
processo de morte e do morrer: 1 negação, 2 isolamento, 3 raiva, 4 barganha, 5 depressão e
24
aceitação. Esses cinco estágios nem sempre ocorrem em seqüência, pois podem se sobrepor um
ao outro.
• Negação e isolamento: ocorrem geralmente como uma primeira reação face a
possibilidade da morte eminente. A pessoa não consegue aceitar o fato de que a morte esta
próxima. A negação permite a existência da esperança (SMELTEZER & BARE, 1969, p. 133).
De acordo com Silveira & Silveira (1989, p. 142), no estagio de negação, é necessário
respeitar o cliente e entender o extravasamento de sua angustia, sua ansiedade e seu mede de
morrer, seja racional ou não.
• Raiva: frequentemente encontra-se na mente dos clientes a pergunta “Por que eu?”.
Embora seja possível responder a essa pergunta, deve-se deixar a pessoa expressar os sentimentos
e ouvir as suas preocupações (SMELTEZER & BARE, 1969, p. 133).
• Barganha: é o estagio do enfrentamento durante o qual o cliente, a beira da morte, tenta
fazer negócio. Geralmente isso envolve um negócio com Deus ou com a fatalidade: “Se eu viver
o suficiente para estar presente no casamento de meu filho então estarei pronto para morrer”.
• Depressão: fica evidente, quando o cliente percebe o total impacto do inevitável. Os
mecanismos de defesa não mais são eficazes, a tristeza e a angustia são sentidas e externadas. A
resolução dessa fase leva silenciosamente para o estagio final.
• Aceitação: é um momento de relativa paz. O cliente parece desejar fazer uma revisão do
passado e contemplar o futuro desconhecido. Muitas vezes, o cliente não fala, mas deseja a
presença de pessoas ao seu redor. Se a dor estiver aliviada, o cliente que aceitou a morte, muitas
vezes, deseja ser confortado por pessoas que lhe são queridos (família).
Para que possamos entender e ajudar os clientes nesta fase, que tanto sofrem, é necessário
“uma grande soma de conhecimentos técnicos – científicos e, sobretudo, um grande exercício de
desprendimento e de amor ao próximo” (SILVEIRA & SILVEIRA, 1989, p. 145).
Percepção - através de suas experiências o ser humano desenvolve a sua própria
compreensão e consciência do mundo e de tudo que o cerca (LEOPARDI,1999).
A percepção é o “ato ou efeito de perceber pelos órgãos dos sentidos, é a compreensão de
algo. Processo cognitivo no qual um estímulo ou objeto é representado por um sujeito por meio
de sua atividade psicológica” (LAUROUSSE, 1993, p 332).
25
Porém, uma concepção simplista de percepção, não abarca a possibilidade de influência
dos padrões de comportamento natural e adquirido na própria percepção. Assim, consideramos o
que Ornstein (1991) apud Silvestre (2006) argumenta sobre o assunto considerando que, na
percepção, os órgãos do sentido captam as informações do mundo exterior. Cada estímulo
detectado é organizado e estruturado de acordo com os padrões naturais e construídos
historicamente. Os padrões naturais estão relacionados com a estrutura cerebral e os padrões
construídos com a história individual e com as influências culturais e relações sociais.
Silvestre (2006) embasada nos estudos de Ornstein (1991) argumenta que nossa
inconsciência é responsável por ações rápidas. Isto porque entendemos a percepção apenas como
a captação de estímulos pelos órgãos do sentido e que ela é detectada pela mente consciente meio
segundo depois do estímulo. Contudo, a mente consciente vê, ouve ou sente o evento como
iniciado no instante do potencial evocado, ou seja, milissegundos depois da ocorrência. Por este
motivo, não podemos usar os nossos desejos conscientes para reagir ao estímulo. Nestas
situações, nosso inconsciente é responsável por todas as reações rápidas.
Neste sentido, ainda para Silvestre (2006), perceber envolve muito mais do que a simples
captação do estímulo pelos órgãos do sentido, ou o que ele representa para cada um de nós. A
percepção pode ser interativa e construída, permitindo que os padrões mudem à medida que
aprendemos. Isso é possível, se houver uma revisão desses padrões, adaptando-os à verdade,
mudando a percepção e compreendendo a organização da experiência. Aqui é importante
considerar que os esquemas fixos e a atenção interagem. Assim, estes esquemas são ativados pela
atenção e determinam, ao mesmo tempo, o foco da atenção.
Na questão representação, os estudos de Goleman (1997) comprovam que a mente
constrói o mundo dentro de nós e a nossa volta. Ou seja, uma experiência única é impossível de
ser repetida, organizada e com significado a partir dos blocos de construção fixos da cognição -
os esquemas – padrões de comportamento - que permitem vir à mente o significado apropriado
do que os órgãos do sentido captaram.
Este fenômeno está, também, influenciado pelas emoções, e no que se refere à dimensão
emocional envolvida na percepção, os estudos de LeDeoux (1998) apud Silvestre (2006) apontam
que as emoções podem ser conceituadas como funções biológicas do sistema nervoso. Assim
sendo, a cognição cria a emoção e por isso, caímos, a todo o tempo, nas variações emocionais,
pela construção mental que fazemos. E quando isso se torna uma construção fixa, como os
26
paradigmas culturais, há uma excitação dos neurônios, tornando-se um padrão de pensamento
que se forma como um espiral, em que se estabelecem vínculos, o que se traduz nos níveis:
emocional, mental, físico e se reflete na ação.
Assim, para alívio das emoções ou sentimentos como ansiedade e angústias disparadas
por estímulos gerados no enfrentamento diário e contínuo com o sofrimento, dor e morte,
buscamos alguns mecanismos como forma de proteção (SILVA, 1997). É o que ocorre com
profissionais de enfermagem que trabalham em unidade de terapia intensiva, onde:
As práticas do cuidado desenvolvido de forma ativa dão lugar aos procedimentos cada vez mais invasivos, sob o uso de complexas tecnologias. As relações entre o ser cuidador e o ser que é cuidado se dá quase que predominantemente de forma vertical e impessoal, em que o poder do cuidador destitui o ser que é cuidado de seu poder à voz e às decisões (SILVA 1997, p. 70).
Relação pessoa- pessoa- interação entre indivíduos onde se estabelece um processo de
comunicação, de modo que ambos irão compartilhar seus sentimentos e valores
(LEOPARDI,1999).
Esta interação, de acordo com a teoria de Travelbee (1979), evolui conforme uma série de
fases distintas. Na primeira destas fases, Fase do encontro original trata-se do primeiro
encontro, de modo eventual ou premeditados, voluntários ou determinados por situações que
impedem a expressão da vontade (LEOPARDI, 1999).
A segunda fase é chamada fase das identidades emergentes e que ocorre quando os
sujeitos em interação começam por manifestar, uns aos outros, suas respectivas identidades
pessoais, seus valores e significações, fazendo com que haja relações interpessoais. Nesta fase,
percebe-se que o paciente, - no caso do paciente de UTI quando, ainda, consegue fazê-lo
demonstrar interesse em conversar e falar sobre seus sentimentos a respeito do que lhe está
acontecendo, principalmente, relacionados à violência do processo do qual ele é paciente
inelutável (LEOPARDI, 1999).
Os profissionais de enfermagem devem procurar dialogar com o paciente sobre o modo
com que ele encara o processo de doença pelo qual passa, suas angústias, ansiedades, temores,
dores e necessidades. E necessário que os profissionais de enfermagem se coloquem à disposição
para a ajuda que deve ser pautada por uma relação fundamentada no diálogo de informações, de
27
formas autênticas, desprovidas de autoridade. Para isso, é necessário aprender a praticar o ouvir,
entender e valorizar o outro, favorecendo o crescimento pessoal, usando os princípios da
comunicação efetiva. Assim, considera-se a comunicação como uma opção terapêutica
(PAGLIUCA, 1996; LEOPARDI, 1999; ROLIM, 2003).
O terceiro momento da interação enfermeiro/paciente constitui a fase da empatia que
acontece quando o profissional e seu paciente expressam o desejo de estabelecerem um processo
de comunicação mútua, por encontrarem receptividade um no outro. Com atitude empática a
equipe de enfermagem pode esclarecer dúvidas e aumentar a freqüência de visitas informais ao
paciente e seus familiares. Neste sentido, os profissionais de enfermagem podem colaborar para
uma assistência mais qualificada, criando formas de relacionamento humano. Ser solidário com o
outro, valorizar o aspecto humano, prestar assistência, dentro de uma visão integral e estabelecer
uma relação de ajuda, fazem do cuidado a base da profissão de enfermagem. Não se concebe
prestar uma assistência de enfermagem mecânica, principalmente em unidades intensivas, pois
desta forma, os profissionais de saúde poderiam ser substituídos por máquinas. Ao contrário
destas, as relações humanas são insubstituíveis (BUB, et al, 1994).
Na quarta fase da simpatia ou solidariedade, acontece o estabelecimento da confiança no
profissional de enfermagem para ajudar o paciente a alcançar seus objetivos, bem como progredir
no tratamento prescrito pela equipe de saúde, ou poder, se adaptar a uma situação de morte
irreversível. Neste momento, a equipe de enfermagem pode prestar ajuda à pessoa que está
enfrentando quer o sintoma da doença, quer outros problemas indiretamente colocados pela
situação (LEOPARDI, 1999).
Segundo Ribeiro (2003), conceitua-se simpatia como uma atração que uma idéia exerce
sobre alguém, enquanto solidariedade é o apoio a uma causa, a alguém. É o vínculo recíproco de
pessoas. Nesse tipo de relação, há identificação recíproca em uma interação de confiança,
contribuindo para a melhoria da qualidade da assistência prestada, podendo-se obter níveis cada
vez mais alto de satisfação das necessidades dos pacientes em tratamento intensivo. A relação
enfermagem/paciente pode se iniciar de maneira espontânea, mas não se estabelece somente pela
linguagem e sim, por um conjunto de atitudes afetivas e técnicas que dão o suporte às diferentes
ações da enfermagem.
28
Leopardi (1999), diz que a última fase da terapia das relações interpessoais de Travelbee,
é a do rapport 1 acontece quando ambos enfermagem/paciente avaliam o relacionamento
interpessoal e os resultados da terapia proposta. Todo relacionamento interpessoal consiste no ato
de assistir o ser humano, no seu processo vital, ajudando-o a aproximar-se de sua unicidade e
singularidade (LEOPARDI, 1999).
No próximo capítulo trataremos sobre o estágio curricular 180hs que teve como propósito
um aproveitamento tanto para fins de pesquisa tanto a prática assistencial.
1 Rapport significa relação – em francês e inglês.
29
5 VIVENCIANDO A PRÁTICA ASSISTENCIAL COMO PRÉVIA A PESQUISA
O estágio curricular de 180hs de pratica assistencial foi realizado no período de 31 de
julho a 30 de agosto de 2007 na UTI do hospital em estudo. Ao longo desse tempo, percebemos
que os profissionais de enfermagem mostram-se competentes e apresentam um suficiente
conhecimento técnico-científico.Tivemos a oportunidade de realizar assistência direta ao paciente
juntamente com a enfermeira da unidade que demonstrou atenção e procurou sempre esclarecer
minhas dúvidas nessas praticas assistenciais. Percebemos também que a enfermeira é uma líder
de qualidade, tendo como parceiro seus colaboradores diante das responsabilidades, incentivando
o trabalho em equipe, valorizando as habilidades de cada um e administrando com inteligência
cognitiva e emocional.
Devido à coleta de dados do trabalho de conclusão de curso já ter sido realizada antes do
início deste estágio, aproveitamos esta oportunidade para observar a necessidade de discutir sobre
a comunicação e a relação interpessoal da equipe de enfermagem entre eles. Neste sentido, vale
ressaltar, a importância da comunicação não-verbal para o ser humano e principalmente na
Unidade de Terapia Intensiva, pois é um local onde geralmente os pacientes estão entubados, por
isso percebe-se a necessidade de que esses profissionais desenvolvam desde cedo o interesse, a
percepção e a capacidade de interpretar esses tipos de sinais comunicativos para poder melhorar a
assistência de enfermagem ao doente.
A relação interpessoal entre os profissionais de enfermagem que ali se encontravam se
dáva de forma harmoniosa, onde o respeito entre os mesmos estava sempre presente.
Testemunhamos que comunicação e uma boa relação entre os membros da equipe de enfermagem
foram imprescindíveis para um cuidado de enfermagem efetivo. Assim, foi possível interagir de
forma recíproca, estabelecendo e reconhecendo as reais necessidades dos clientes e suas famílias.
Neste aspecto, basicamente temos duas formas de comunicação, a verbal e a não-verbal,
podendo afirmar que a não-verbal é predominante, pois envolve atos, expressões, enfim todo o
nosso corpo (TEIXEIRA & FERNANDES, 2004).
Comunicar-se para Travelbee (1979), significa enviar e receber mensagens por símbolos,
palavras, signos, gestos ou outros meios não-verbais, alertando que o processo só é válido se o
conteúdo for igual para ambos os participantes.
30
5.1 EXPERIENCIANDO O PROCESSO DE MORTE E MORRER NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA A experiência foi importante no sentido de reavaliarmos nossos conceitos e foi possível
ao presenciamos uma morte, durante o período de estágio curricular nesta pratica assistencial. No
dia 23/08 acompanhamos a paciente T.I. A 71 anos, sexo feminino, com diagnóstico médico de
hipertensão, diabetes mellitus, hipotiroidismo e doença pulmonar obstrutiva crônica. Apresentou
pneumonia com infiltrado intersticial desde 15/08, evoluiu com insuficiência respiratória sendo
entubada em ventilação mecânica. Em 22/08 apresentou pneumotórax hipertensivo, realizado
drenagem de tórax, seguiu com enfisema subcutâneo que foi evoluindo. Na manhã do dia 23/08
apresentou edema generalizado, mobilizando dreno de tórax, iniciou com hipotensão seguido de
choque, foram realizados manobras de reanimação cardíaca e administradas drogas vaso ativas
conforme solicitado pela médica intensivista até o momento em que a paciente não mais reagiu e
faleceu. Durante todo tempo a equipe de enfermagem apresentou-se tranqüila. Foram realizados
os procedimentos com habilidade e segurança, aparentemente todos agiram de forma natural
como se nada estivesse acontecendo.
Concordamos com SILVESTRE (2006, pg 59), quando afirma que “Não basta apenas
instrumentalizar-se técnica e cognitivamente. Os profissionais precisam perceber suas emoções e
seus sentimentos para determinar suas escolhas de ação, acolhendo a si e ao outro com tolerância,
paciência e amor”.
No momento de ligar para a família para dar a noticia sobre a morte da paciente houve
uma certa fragilidade da equipe de enfermagem em relação ao sofrimento do outro, pois todos
fugiram nesta hora, recusando-se a realizar este procedimento.
Os profissionais que trabalham em Unidade de Terapia Intensiva lidam, constantemente,
com pacientes com risco de vida e com a morte o que poderia servir para uma forma de reflexão
sobre a vida e sua finitude, porém é freqüentemente negado pelos mesmos, na possibilidade de
afastar o que gera ainda mais impotência (SILVESTRE 2006).
Após o tamponamento e demais cuidados, o corpo da paciente foi levado para o
necrotério, no caminho percebe-se que as pessoas se mobilizam emocionalmente ao ver que
31
aquela pessoa foi a óbito. Um senhor ao nos ver passar com a maca conduzindo o corpo de T.I.A
perguntou: Era jovem?
Neste sentido, articulando a pergunta acima aos dados descritos da paciente que fôra a
óbito, constatamos que, aparentemente, os abalos ou não na capacidade de ação dos profissionais
de enfermagem podem estar ligados à concepção de morte ou ainda, relacionados a idade,
cronicidade da patologia de base e aspectos culturais.
32
6 PROPOSTA METODOLÓGICA
A abordagem metodológica desta pesquisa de campo é de caráter descritivo qualitativo.
Para a análise das informações elegemos a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo de Lefevre &
Lefevre com base em entrevistas semi- estruturadas.
6.1 Tipo De Estudo
A pesquisa do tipo descritivo qualitativo de natureza exploratória, se propõe a abordar,
junto aos profissionais de enfermagem de UTI, determinadas questões inter-relacionadas que
compõem a indagação fundamental do estudo, isto é, a percepção da morte (profissionais de
enfermagem que trabalham com pacientes em unidades de terapia intensiva).
A abordagem pretendida sobre o tema da percepção do processo de morte pelos
profissionais de enfermagem em UTI foi trabalhar, como diz Minayo, (1992) apud Silvestre
(2006) com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis, como é o caso da percepção dos
profissionais sobre processo de morte e morrer dos pacientes em UTI em que trabalham.
6.2 Local de Desenvolvimento da Pesquisa
A instituição que serve de espaço do estudo caracteriza-se como um hospital geral,
público de Florianópolis, Santa Catarina. Tem como finalidade: administrar o conjunto de
elementos do Hospital, destinados a receber clientes que necessitam de assistência contínua, em
regime de internação, emergência e ambulatorial e a promover o aperfeiçoamento de pessoal
técnico, multiprofissional e investigação científica (SILVESTRE et al, 1998).
A capacidade normal do Hospital é de 96 leitos, sendo que a Unidade de Terapia Intensiva
corresponde a cinco por cento dos leitos do hospital.
O hospital atende a clientela Sistema Único de Saúde (SUS). Tem como objetivo2:
2 Disponível em: www.saude.sc.gov.br/hospital Acesso em 12 jun. 2007.
33
a) planejar, organizar e dirigir todas as atividades desenvolvidas nas Unidades de
internação;
b) proporcionar assistência médica e de Enfermagem e de outros profissionais de saúde,
de forma contínua aos clientes internados nas especialidades determinadas;
c) assegurar os recursos humanos através da distribuição qualitativa e quantitativa de
pessoal de acordo com as áreas de atividades, observando folgas, férias e licenças;
A Unidade de Terapia Intensiva está localizada no terceiro andar ao lado do Centro
Cirúrgico e da Central de Material e Esterilização. O ambiente constitui: de uma sala com cinco
leitos que não obedecem aos critérios exigidos pela RDC-50 de 10 m2 em cada Box, um expurgo,
uma sala que serve como rouparia, guarda de materiais e equipamentos e também utilizada para o
preparo de alguns materiais específicos.
6.3 Integrantes da Pesquisa
A população alvo da pesquisa proposta foi os profissionais de enfermagem que trabalham
na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Geral de Florianópolis. Fizeram parte da
pesquisa, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem e sete técnicos de enfermagem, sendo que
um deles era do sexo masculino e o restante feminino. Atingimos um total de 56% dos
profissionais da UTI em estudo, sendo que o total de profissionais de enfermagem da unidade é
de 17 pessoas.
Após o projeto de esta pesquisa ter submetido à aprovação da Comissão de Ética em
Pesquisa da UNIVALI, os profissionais foram solicitados através de um convite pessoal em
encontro particular para a entrevista. A equipe de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva é
composta por 2 enfermeiras sendo que hoje é composta por 5 enfermeiras, também trabalham em
regime de hora plantão para uma assistência integral nas 24 horas, 14 técnicos de enfermagem, 03
auxiliares de enfermagem e uma escrituraria ( no período matutino).
A carga horária semanal de trabalho é de 30 horas, dependendo das possibilidades do
setor em termos de dimensionamento de pessoal a escala de serviço. A deficiência na cobertura
de plantões é amenizada com hora plantão. Um contingente que representa, atualmente, 45% da
força de trabalho da UTI.
34
6.4 Trajetória para Coleta e Organização dos Dados
A coleta das informações se deu através de entrevistas que foram realizadas numa sala
preparada, localizada próximo do ambiente da UTI. Na qual a privacidade, tanto do pesquisador
quanto da pessoa entrevistada, fossem mantidas. É um local com poucos ruídos, sendo assim
evitou o desvio de atenção, como também, evitou comprometer a qualidade da gravação.
No primeiro dia realizamos duas entrevistas sendo que uma profissional de enfermagem
apresentou uma certa resistência, alegando já ter participado anteriormente de uma pesquisa e que
não se sentia a vontade neste tipo de entrevista, então respeitamos sua decisão. As entrevistas
decorrentes foram tranqüilas, os participantes demonstraram estar a vontade o que favoreceu um
clima agradável.
A entrevista semi-estruturada favoreceu que os interagentes respondessem as perguntas
com a mais espontaneidade possível.
Assim, as entrevistas (APÊNDICE – A) foram gravadas em um microgravador para
posterior transcrição. Esta foi realizada nos dias 27 de junho, 09 e 10 de julho de 2007, de acordo
com a disponibilidade de cada um.
A fim de assegurar que a decisão fosse livre para a participação das entrevistas, os sujeitos
da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no momento que
antecedeu a entrevista (APÊNDICE – B). É necessário acrescentar aqui que com este tipo de
metodologia o discurso individual passa a ser um discurso coletivo, não foi necessário a
utilização pseudônimos.
Em função da organização da análise, foi utilizado o Método do Discurso do Sujeito
Coletivo de Lefévre & Lefévre (2005), como principal referencial de estruturação de dados de
análise. O DSC constitui-se de uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos,
obtidos de depoimentos. A proposta consiste em analisar os materiais verbais coletados,
extraindo-se de cada depoimento as idéias centrais e as suas correspondentes expressões-chave.
Estas foram à base das idéias centrais ou ancoragens por meio das quais se compõe um ou vários
discursos-síntese escritos na primeira pessoa do singular (LEFEVRE; LEFEVRE, 2005).
35
O pressuposto que sustenta este referencial analítico é que o pensamento coletivo pode ser
visto como um conjunto de discursos sobre um dado tema, o Discurso do Sujeito Coletivo o qual
ilumina um conjunto de individualidades semânticas componentes do imaginário social. Para esse
tipo de estudo, foi necessária a construção de perguntas abertas. Este tipo de instrumento
favoreceu o desenvolvimento da pesquisa direcionando para um conjunto de pessoas e permitiu
que essas pessoas se expressassem o mais livremente possível, ou seja, que elas produziram o seu
discurso. A entrevista semi-estruturada foi utilizada no sentido de que as respostas fossem as
mais espontâneas ou menos dirigidas possíveis (LEFÉVRE; LEFÉVRE; 2005).
6.5 Análise das Informações
O conjunto do referencial de análise está presente na revisão da literatura desta pesquisa,
ou seja, os novos paradigmas sobre a percepção da morte na área da saúde e a teoria das relações
interpessoais de Travelbee. Todas as entrevistas gravadas e transcritas, foram analisadas, tendo
como referência a literatura especializada onde foram analisadas, segundo o Método do Discurso
do Sujeito Coletivo de Lefévre (2005). Os discursos foram agrupados de acordo com as
expressões chaves e as idéias centrais.
Partindo-se do suposto que o pensamento coletivo pode ser visto como um conjunto de
discursos sobre um dado tema, o discurso do sujeito coletivo visou dar luz ao conjunto de
individualidades semânticas componentes do imaginário social, através de:
Expressões-chave – ECH – mostraram a natureza dos depoimentos que correspondem à
questão de pesquisa. Em que se dividiram as transcrições literais do discurso destacando-as para
constituírem os Discursos do Sujeito Coletivo, como uma prova discursivo-empírica da verdade
das idéias centrais e das ancoragens. Também, através dele foi possível saber da pertinência ou
não da seleção e da tradução dos depoimentos;
Idéias centrais - IC – descreveram e revelaram o sentido de cada um dos discursos
analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH, culminando no Discurso do Sujeito Coletivo.
Não como interpretação, mas como descrição do sentido de um ou mais depoimentos. As idéias
centrais foram resgatadas através de descrição direta do sentido do depoimento que revela o seu
tema. Neste sentido, foram feitos os levantamentos do tema e a identificação das idéias centrais
correspondentes a cada tema.
36
Ancoragem - AC - as expressões-chave remeteram, além de uma idéia central, a uma
ancoragem que foi alicerçada na revisão de literatura e referencial teórico.
Discurso do sujeito coletivo - DSC – foi o discurso-síntese, redigido na primeira pessoa
do singular e composto pelas ECH que tem a mesma IC ou AC. Foram questões abertas propostas
com o intuito de buscar o resgate do discurso como sinal de conhecimento dos próprios discursos.
O que se buscou fazer foi reconstruir com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-
cabeça, tantos discurso do sujeito coletivo quantos julguem necessários para expressar.
Neste sentido, articulando-se os diferentes conjuntos de expressões-chave relativos a uma
idéia central, chegam a identificação de diferentes discursos-síntese. O conjunto desses discursos
constituem a revelação da base coletiva da fala de cada uma dos integrantes da pesquisa, isto é, o
DSC e traduziu o essencial do conteúdo discursivo. “É como se o discurso de todos fosse o
discurso de um” (LEFÉVRE; LEFÉVRE, 2003, p. 83).
6.6 Aspectos Éticos
Um das principais determinações éticas prescritas aos profissionais da saúde é a de levar
conforto e manter uma postura de atenção e respeito permanente com os seus pacientes, sendo
ética a função mesma dos cuidados. Não somente se costuma dispensar cuidado a uma pessoa
como é lei em várias sociedades o prestar socorro àqueles que padecem de algum sofrimento
atroz (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996)
Assim, a abordagem da percepção dos profissionais de enfermagem, só pode ser feita
dentro deste horizonte ético de um extremo respeito pelos integrantes que merecem que se
estabeleça com o paciente e a equipe de profissionais de saúde. Estabelecendo relações
interpessoais abrangentes que o levam a refletir sobre o processo de morte e que poderá ser visto
como uma complementação da vida e cuja transcendência é real. Ainda, que não se trate de um
castigo, mas, de um processo através do qual a vida humana se afirma e se renova no universo.
A abordagem das relações interpessoais de Travelbee (1979) e os novos paradigmas sobre
a percepção do processo de morte são originados em horizontes éticos de profundo respeito
humano e vontade de compreender positivamente os processos que induzem em sofrimento e
desespero para os seres humanos, como é o caso da doença e da morte.
37
Neste sentido esta a contribuição da bioética como estudo sistemático sobre o
comportamento e a conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde. Está
presente como um todo e envolvidas com o existir humano (SOUZA et al 1998).
Ao desenvolvimento de uma pesquisa faz-se necessário seguir os preceitos éticos
estabelecidos pelo Conselho Nacional de Saúde, no Decreto nº 93.933, de 14 janeiro de 1998 o
qual garante, ao participante da pesquisa, autonomia, beneficência, não-maleficência, justiça e
eqüidade. A beneficência pondera entre o risco e o benefício dessa participação, e a garantia de
que não trará danos de qualquer espécie a vida dos sujeitos participantes da pesquisa (Normas
para pesquisa envolvendo seres humanos – Resolução CNS 196/96).
Para Segre (2002), é sempre oportuno lembrar que a postura ética emerge da percepção de
um fenômeno que ocorre dentro de cada um de nós. Essa situação ocorre com relação a três dos
princípios:
1 Justiça: existem diversas teorias tratando da justiça. É importante indicar que o princípio de
justiça obriga a garantia da distribuição justa, eqüitativa e universal dos serviços de saúde
(SOUZA et al,1998).
2 Beneficência: Quer dizer fazer o bem. A ação de cuidar, como modelo terapêutico, deve ser
restaurada nos profissionais de enfermagem ora tão desgastada pelo que se nos apresenta como
forma de pensar a saúde (SOUZA et al, 1998 ).
3 Autonomia: O profissional da saúde deveria ser o primeiro a defender a autonomia do doente,
pois ele sabe, no exercício profissional, o significado da liberdade de escolha,consiste em tomar
sua própria decisão com base na sua razão(SOUZA et al,1998). Este princípio esteve sempre
presente em nossa pesquisa, pois respeitamos a liberdade de expressão e decisão do interagente
de querer ou não participar do estudo.
4 Não-Maleficência: é o mais controverso de todos. Muitos autores o incluem no Princípio da
Beneficência, pois significa não fazer o mal. Justificam esta posição por acharem que ao evitar o
dano intencional o indivíduo já está, na realidade, visando o bem do outro(SOUZA, et al, 1998).
Este princípio foi respeitado a todo instante durante a pesquisa.
A fim de assegurar os princípios éticos da pesquisa, foi feita a avaliação e aceite do
projeto pela orientadora (APÊNDICE – C) e encaminhamento ao Comitê de ética da UNIVALI,
onde foi analisado e aprovado, nº do parecer 53/07 de 23 de março de 2007. Além do Termo de
38
Consentimento Livre e Esclarecido fornecido para os interagentes, o diretor do hospital forneceu
uma Declaração de Ciência e Aceite para a pesquisa (APÊNDICE – D).
39
7 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO-DSC
Após a transcrição das entrevistas realizamos o agrupamento dos discursos individuais
para coletivo estabelecendo a identificação dos diferentes discursos e destacando as ancoragens
de acordo com o método DSC. Buscamos construir com pedaços de discursos individuais, como
se fosse um quebra-cabeças, identificando em tantos discursos coletivo quantos necessários para
que respondessem aos objetivos da pesquisa.
7.1 SENTIMENTOS AFLORADOS DISPARADOS DIANTE DO PROCESSO DE MORTE E MORRER
“O ser humano é um ser em processo de desenvolvimento biológico, mental, emocional e
de suas potencialidades latentes como a intuição e a criatividade, com a possibilidade de
relacionamento mais harmonioso consigo, com o outro, com a natureza e o universo”
(SILVESTRE, 2006, p.21)
Assim, Silvestre (2006) apoiada em Kandel; Schwartz; Jessel (1997), retrata que a forma
de expressão do ser humano é a emoção, pois as emoções, colaboram para a riqueza da vivencia
das pessoas e conferem paixão e caráter às atitudes tomadas. Na linguagem coloquial, usa-se o
termo emoção pra se referir aos sentimentos e humores e a maneira pelas quais estes são
expressos tanto no comportamento quanto nas respostas do corpo.
Neste sentido, a atenção dispensada no cuidado prestado pelos profissionais de
enfermagem, poderá depender das emoções afloradas disparadas pelo processo da morte e do
morrer. Ou seja, os hábitos, os costumes, as crenças e a cultura desenvolvida ao longo do viver
resultaram nas ações prestadas.
Pois, mesmo como um fenômeno da vida, a morte, na maioria das vezes, desperta temor e,
este sentimento se expressa na dificuldade que temos em lidar com a finitude. Um
comportamento evidenciado por crenças, valores e visão de mundo de cada um. Assim, os
discursos responderam a questão: quando no cotidiano de trabalho você necessita lidar com a
morte do paciente sob cuidado profissional, como você se sente?
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DSC – SOFRIMENTO
ANCORAGEM - O SOFRIMENTO É IGUAL EM TODAS AS PESSOAS
[...] eu acho que um profissional de UTI, sinceramente, ele...não é que tenha uma visão diferente
da morte, não que ele não sofra igual às outras pessoas sofrem, só que é uma morte diferente de
como se fosse de um ente querido[...] porque se for falar de alguém conhecido, ou de um
familiar, apesar de saber que precisa acontecer, você acaba ficando mais chateado e mais triste.
Neste discurso, observamos o que os profissionais de enfermagem falaram, pois os
mesmos são pessoas comuns de carne e osso e com sentimentos como qualquer outra, apenas
trabalham em locais onde se deparam com a morte a todo instante e, com isso, procuram
maneiras menos sofríveis de se adaptar ou de encarar o processo de morte das pessoas. Isto não
quer dizer que estamos preparados para morrer ou para enfrentar a morte de um ente querido.
Assim, os sentimentos referentes a morte podem estar relacionado ao tipo de vinculo que se tem
com cada pessoa.
Os profissionais de saúde como qualquer um, sofrem pela falta de interesse da sociedade
em relação às questões referentes à morte. “Como acontecem com todos nós, eles sentem a
ausência de sentido que é o resultado do afastamento das grandes tradições que nos preparam
para a morte e nos ajudam a decifrar o sentido de nossa existência” (HENNEZEL & LELOUP,
2001, p. 15).
Stedeford (1986) contribui com esta afirmação, alertando que cada profissional reage de
uma forma diante da morte. De certo modo eles ficam acostumados à morte, isso não quer dizer
que se tornam insensíveis, mas capazes de expor-se mais demoradamente à sua presença. Eles
também possuem limites e é fundamental que se reconheça isso.
DSC – PRESERVAÇÃO
ANCORAGEM - MECANISMO DE DEFESA
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Nós estamos ali, focalizando naquele paciente: nesse sentido seria automático. [..] Também eu
acho que é muito mais por uma preservação nossa do que... não pelo fato de que sejamos frios
nesse sentido, mas por estarmos nos preservando mesmo. Lidamos praticamente todos os dias
com isso; com paciente grave, paciente com sofrimento e, conseqüentemente, com a morte. Então
é mais como preservação nossa a distância disso. Mas acho que é uma forma de mascarar, de
não sentir tanto a morte dele. [...] você já criou esse mecanismo de defesa. [...] É claro que a
gente cria uma barreira para poder suportar isso, então me saio bem. [...] Mas eu acho que de
uma forma sim, principalmente quando se dá a notícia pra família. .
Assim, neste discurso observamos que o mecanismo escolhido foi o de preservação, no
intuito de se afastar do sofrido ou de situação limitante. Porém Silvestre (2006) argumenta que a
fuga pode ser devido às alterações repentinas das condições de saúde que os pacientes podem vir
a sofrer o que influenciará nas emoções e sentimentos dos profissionais e, a tendência é o
afastamento desse sofrimento ou mesmo a morte.
Neste sentido, criamos mecanismos de defesa como proteção criada contra o desgaste pelo
sofrimento. Assim, passamos a ver o processo de morrer e morte como banal sendo o
distanciamento e endurecimento das relações frente à morte algo tornado natural e considerado
comum e rotineiro (LUNARDI, 2001).
Porém, os mecanismos de defesa ao mesmo tempo em que nos resguarda do temor da
morte, podem também nos limitar. Em alguns momentos, as pessoas ficam tão embaraçadas que
parecem não viver (KOVÀCS, 1992).
O temor e a limitação podem produzir estados de tensão e, o grau de elevação deste estado
nos profissionais, vai variar da forma com que eles encaram e tratam suas próprias emoções e
sentimentos e, também, como mantêm o desejo de bem no processo de cuidar do outro, apesar de
todos os desafios da profissão (SILVESTRE 2006).
No mesmo aspecto, Bellaguarda (2002) argumenta que o ser humano vem criando
necessidades para se ajustar às adversidades da luta da vida no seu cotidiano. Inventa-se de tudo
um pouco. E diferente do que a maioria das pessoas pensa da morte, estão a construí-la e elaborá-
la a cada dia. São construções desenvolvidas sem que sejam percebidas.
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DSC – MAIS FÁCIL DE SUPORTAR
ANCORAGEM - JOVEM versus IDOSO
[...] sinto muito mais quando um paciente é jovem e morre, do que quando um paciente idoso.
Não que eu faça diferença de um para outro, mas a sensação é diferente (é uma opinião minha).
Um paciente jovem, politraumatizado, vítima de um TCE ou algo semelhante, você sente um
pouquinho mais. Um paciente idoso, que é um paciente mais característico dessa UTI, e você
acaba “não sentindo tanto”. E você aprende a lidar com isso[...]pacientes mais jovens, que nos
deixam frustrados, porque poderíamos ter feito alguma coisa, pra que impedisse a morte dele,
mas, enfim... eu consigo me adaptar muito bem com a morte das pessoas. [...] Mas quando o
paciente é mais jovem, nos frustramos mais (percebo também nos meus colegas). Quando o
paciente é idoso, a gente diz: “Não; é idoso... já está próximo do fim...”. Acho que para qualquer
pessoa é assim.[...], é claro que quando é um paciente jovem a gente sente mais né porque
quando é idoso ele já viveu tudo que tinha para viver e quando é jovem... a gente se sente um
pouco decepcionado, mas isso também não interfere no meu trabalho.[...]É... em caso de
pacientes jovens, ou com politrauma, por erro deles mesmo, por uso de drogas, por exemplo,
choca[...]E quando o paciente é jovem, acho que é pior[...]principalmente se tratando de um
paciente jovem[...]
Neste discurso percebemos que quase todos os interagentes desta pesquisa sentem mais a
morte de seus pacientes quando estes são pessoas jovens. Percebemos aqui, assim como na
pesquisa de Silvestre (2006), que nos nossos padrões culturais, a morte constitui-se em uma
situação difícil de enfrentarmos. Assim, utilizamos justificativas para amenizar esse estado
emocional do tipo: “era muito jovem para morrer”. Acreditando-se, às vezes, possuidor de poder
para determinar quem merece ou não morrer na pretensão de se fazer justiça.
Etkinson, Murray (1989), argumenta que a morte dos pacientes idosos é bem mais aceita
tanto pelos profissionais de enfermagem quanto pelos membros das suas famílias, como uma
etapa do ciclo da vida. Etkinson; Murray (1989) acrescenta que o desconhecimento dos aspectos
relacionados a esta fase terminal pode fazer com que a assistência a esses pacientes se torne uma
experiência aterrorizadora.
43
Porém, sabemos assim como Torres et al (1983), que a velhice é o estágio final do
organismo humano e que a morte é o ponto final da vida. Mas a morte não é um privilégio da
velhice, ela pertence a cada um de nós e pode estar presente em qualquer idade. A morte
interrompe a velhice, como interrompe a infância e a adolescência. Devemos encarar a velhice
como qualquer outra faixa etária da vida que terá que vivê-la começando a reagir aos
preconceitos que a norteiam. O que queremos dizer é que o velho é uma pessoa; uma pessoa que
precisa se encarar corajosamente, não só para enfrentar as limitações impostas pelo processo
biológico-evolutivo da vida, como também para não se permitir determinar pela pressão da
opinião alheia, a qual emite uma série de rejeições.
Por essas opiniões e rejeições é que o ser humano está sempre tentando adiar a velhice,
como que se pudesse vencê-la o que significaria afastar-se da morte.
Um outro aspecto relativo à idade refere-se à dificuldade que as pessoas têm de encarar o
seu próprio processo de morte e morrer. Isto poderá ser ainda mais difícil quando há uma
proximidade das idades de quem cuida e é cuidado. Por isso, revela-se mais fácil para uma pessoa
jovem trabalhar com pessoas idosas e que depois vão a óbito do que com pacientes jovens. Isso
não significa que uma pessoa tenha mais valor que a outra. Apenas a proximidade das idades
torna a identificação mais imediata, e o profissional de enfermagem mais vulnerável ao
sofrimento e a perda (ETKINSON; MURRAY, 1989).
DSC- NATURALIDADE
ANCORAGEM – A MORTE FAZ PARTE DA VIDA
[...]Em todos esses anos em que eu trabalho na enfermagem... a morte se tornou algo natural, eu
não me sinto mal porque acho que faz parte da vida, eu já me acostumei com a morte. Ela faz
parte do nosso trabalho do nosso dia a dia.[...] Faço o que tenho que fazer, tento aliviar o
máximo o sofrimento do paciente... A morte faz parte do nosso trabalho né? e essa convivência
faz com que a gente encare a morte com uma certa naturalidade[...] A gente acaba agindo com
uma certa naturalidade.
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Torres e Guedes (1983) questionam: se a morte é algo natural, então “por que o conflito?
Por que a resistência?” Na verdade a morte é natural não porque faz parte da natureza, mas sim
porque é universal e não tem como evitar.
Conforme Boff (1999) a morte, na verdade, é o nascimento do ser humano, o que o
cristianismo chama de ressurreição que quer dizer voltar à vida anterior, concretizando as
virtudes do ser humano. Os apóstolos foram testemunhas que tal acontecimento se realizou em
Jesus de Nazaré no instante de sua morte na cruz. Por isso é representado como “Adão” (1 Cor
15,45), a criatura que tocou o final dos tempos. Este é o símbolo de que o ser humano pode
nascer.
Nesta perspectiva não vivemos para morrer, morremos para ressuscitar, para viver mais e melhor. A morte representa transformação para essa nova forma de ser em plenitude. Ao morrer deixa-se para trás um corpo. [...] É como um casulo que continha a crisálida. Cai o casulo e irrompe radiante a borboleta, a vida em sua inteira identidade. É a ressurreição já na morte (BOFF, 1999, p. 153).
DSC- IMORTALIDADE
ANCORAGEM – VIDA X MORTE
E outra é a visão de vida, a gente vê por tanta coisa e você não lembra que amanhã pode estar
na mesma situação, que possa morrer. E, mesmo olhando, mesmo vendo essa morte diária (tem
época que morre mais), mesmo assim, ainda você esquece um pouco que pode morrer a qualquer
momento.
A morte está latente em cada um de nós através de nossas fantasias agressivas, de nossa
incapacidade de amar, das lutas e perdas emocionais não-elaboradas satisfatoriamente, e do
próprio desejo que o homem tem de imortalidade (TORRES et al, 1983).
Porém, com maior reflexão, poderemos compreender que:
Encarar o sofrimento conscientemente transforma o que nos parece impossível ultrapassar, em momento de crescimento e evolução. A invasão reflexiva diante do processo da morte e do morrer é aquela que deveríamos manter em todo o percurso da vida. Perceber que a vida se faz morrida, num continuum pensar e repensar o propósito dos acontecimentos, das organizações e desorganizações em nossa existência. [...] O processo de morte é uma circunstância de busca e de encontro. Busca do que deixamos ou ainda podemos fazer e encontro dos verdadeiros desígnios do ser humano, com suas responsabilidades. A morte é uma circunstância vivida em todo o curso da existência e
45
nesses momentos de resignização e revalorização é quando a vida passa a ser da conta de alguns (BELLAGUARDA, 2002, p111).
Assim, as relações tornar-se-iam mais afetivas, já que elas têm sido amplamente
comprovadas como um valor relevante para o bem estar de qualquer ser humano. Porém, é
importante considerar que o trabalho em saúde é vivido com prazer e angústia. Prazer, referente à
valorização social que esse cuidado tem em nossa cultura ocidental e, por conseqüência, o
profissional, também, é igualmente valorizado. Este valor é atribuído ao fato de serem pessoas
destinadas a cuidar de quem está sofrendo. Angústia, por trazer ao profissional o inevitável
contato com sua impotência frente à morte, o que pode ser fonte de estresse e sofrimento psíquico
para esses trabalhadores.
7.2 SIGNIFICADOS DO PROCESSO DE MORTE E DO MORRER
O significado de algo corresponde ao conceito ou preconceito que temos das coisas. Estes
muitas vezes, não estão claras ou aparentes, para que se tornem transparentes, é necessário
buscarmos em nossa consciência a representação deste estímulo ou das mensagens embutidas no
não-dito. Isto porque, ao receber uma informação nossa tendência é acomodá-la ao que
conhecemos, ou seja, de acordo com nossa experiência de vida, que, por sua vez, foi registrada de
acordo com nosso sistema de crenças e valores. “Assim, é preciso discernir, ou seja, está-se
olhando o outro a partir da sua própria concepção de vida e o julgando ou se está olhando para ele
e procurando vê-lo segundo o seu Modelo de Mundo, sem julgá-lo, mas também sem perder o
seu Norte?” (SILVESTRE, 2006, p.18)
Segundo a Teoria de Travelbee (1979) as experiências vividas pelos seres humanos fazem
com que eles procurem significados para essas experiências durante a vida. Tais experiências
podem ser consideradas como plenitude coerente e podem ser compreendidas (LEOPARDI,
1999).
Neste sentido, Silvestre (2006) enfatiza um aspecto importante da percepção que é
caracterizado pela representação. Ou seja, o significado/representação do estímulo como um fator
que constitui uma trava na capacidade de ampliação da percepção de uma pessoa.
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Com base em Foucault (2004), Silvestre (2006) vem contribuir com a possibilidade de
ampliarmos a percepção, partindo-se da necessidade de vermos a totalidade do que é apresentado
à nossa consciência e não somente as partes, estas estão, geralmente, relacionadas aos nossos
padrões aprendidos.
Assim, a percepção é interativa, construída e, se ampliada, permite que os esquemas
representativos ou modelos mudem à medida que aprendemos. Desta forma, ela acontece a partir
da revisão do esquema, até que se chegue à verdade, mudando, assim, a própria percepção e
compreendendo a organização da experiência. Para isso, há necessidade de atenção, já que os
modelos ou esquemas interagem com a atenção. Eles são ativados pela atenção e determinam, ao
mesmo tempo, o foco da atenção. Dispensamos a um objeto, ou a um fato ou a uma imagem uma
atenção parcial, já que o cérebro seleciona aquilo que podemos perceber do que não, protegendo-
nos de situações desestabilizantes, traumatizantes (SILVESTRE 2006).
Neste momento, os discursos estarão embasados no significado ou representação do
processo de morte e morrer. Discursos esses, que surgiram a partir do questionamento:
Quais os significados do processo de morte e do morrer que você atribuí à sua experiência no
cotidiano da prática de enfermagem?
DSC – O FINAL DO VIVER
ANCORAGEM: INÍCIO e FIM
Eu realmente acho que a morte é um processo da vida: todo mundo nasce, e morre um dia;[...] É
o final do viver: nasce, reproduz, cresce... toda aquela fase.
O discurso dos interagentes da pesquisa denota uma visão característica da visão ocidental
que acredita que o processo da vida não deve ser interrompido, e que o ciclo vital deve ser
completado.
Nestes termos, Silvestre (2006) diz que para cuidar é preciso fazer uma reflexão em
relação ao processo que envolve o crescimento do ser humano nos aspectos que diz respeito às
influências culturais que demarcam padrões de comportamento, tanto social como individual.
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Neste discurso, a concepção do processo de morte e morrer passam a ser natural, podemos
compreender então o que Silva (1997, p.127) apud Bellaguarda (2002) deseja afirmar quando
afirma que a “a morte pode ser visualizada enquanto um processo vital na vida em si e no
contexto de uma dada situação, procurando tornar-se através da interiorização e permanência”
revela a possibilidade do renascimento, da mudança e da expansão na expressividade da
interiorização.
Bellaguarda (2002, p. 108) complementa esta afirmação argumentando que “Todo o
processo vivencial é desenhado pelas diferenças individuais, de emoções, de afetividade, de
aceitação, de sofrimento, de resignação, de crenças, de valores e principalmente, de compreensão
do viver”.
Nestes termos, para cuidar é necessária uma nova reflexão a respeito do processo que
envolve o desenvolvimento do ser humano nos aspectos relacionados às influências culturais que
determinam padrões de comportamento, tanto do ponto de vista social quanto individual, e
estruturas cerebrais que condicionam a dimensão do cuidado (SILVESTRE, 2006).
Porém, não podemos desconsiderar que partimos de informações que interferem na
percepção, principalmente quando somos educados com a personificação da morte representada
por um esqueleto coberto com uma capa preta e carregando uma foice afiada na mão, pronta para
degolar quem quer que se aproxime. Assim, dificilmente entenderemos que a morte possa apenas
representar uma vida que chegou naturalmente ao fim, uma existência que simplesmente expirou
(BALLONE, 2005).
DSC – FINITUDE
ANCORAGEM – O QUE DEIXOU
O fim... pra mim significa o fim, acabou. É o final da passagem, só ficou o que a pessoa
conseguiu deixar. Às vezes, o paciente chega aqui contactuante e depois agrava; pra mim é o
fim! O que aquele paciente deixou naqueles momentos quando lúcido e orientado... passou. Fala
um pouco da vida, conta alguma coisa, deixa uma mensagem legal pra refletirmos..[...] É a
última etapa do processo de viver, de toda pessoa[...].Você lidar com o fim, tem muita gente que
sai dali de dentro, que se recupera bem, lidar com esse sofrimento o tempo todo é difícil.[...] A
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morte significa o fim da vida[...] Eu considero a morte como algo essencial na vida das pessoas,
porque tem que ter um fim. [...]A morte significa o fim de tudo né... dos nossos sonhos, dos
nossos planos...
Este discurso vem a completar a ancoragem anterior, porém nos resta uma indagação, o
fim não é completo? E ainda: a morte esta nos nossos planos?
Conforme Kovács (1992) em relação à morte e a vida, o ser humano permanece em
constante desenvolvimento e a maneira que ele encara a morte influenciará no seu modo de viver.
A morte sempre foi e continua sendo um mistério nas nossas vidas, sabemos que um dia
ela chegará, mas evitamos pensar neste assunto. Encaramos como um limite de nossas
possibilidades (GONÇALVES, 2001).
O paradoxo entre a finitude e a imortalidade nos acompanha durante nossa vida. Seja qual
for o nosso desejo, pela eternidade ou pela esperança inconsciente de perpetuação de nossa
existência, nos faz aumentar os sentimentos de sofrimento, angústia e temor da morte.Tais
comportamentos se refletem de certa maneira no processo de morrer do outro, dificultando a
acolhida do outro em seu momento de despedida. Por isso, acolher tal paradoxo em nós mesmos
como humanos, costuma ser um esforço incomensurável para o autoconhecimento,
autodesenvolvimento e assim melhor cumprir a missão de atendimento dos seres morrentes e de
seus entes queridos, como profissionais, sem deixarmos de ser seres comuns (GONÇALVES,
2001).
Rezende; Ramos; Patrício (1995) apud Lunardi Filho et al (2001, p.69) discutem sobre “a
racionalidade com que se lida com a morte do outro, no cotidiano das instituições de saúde,
desritualiza a finitude do ser humano. Muitas vezes, a morte e o morrer são tratados por meio de
atitudes impessoais, pois é preciso que sejam explicados cientificamente”.
DSC – TRISTEZA
ACORAGEM – A SEPARAÇÃO
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[...] Mas, ao mesmo tempo, se for pensar em questão de pai e mãe de família, é o fim que você
não quer, uma separação que você não quer... é triste, é dolorido, é pensar que... (suspiro) dá
vontade de ir primeiro do que as pessoas que você gosta, não sentindo tanta dor, tanta falta.
Observamos no discurso anterior, que a idéia da morte reporta-se aos sentimentos de perda,
de separação da pessoa amada, o que desperta sentimentos dolorosos. Neste sentido, Ballone
(2005) afirma que “trata-se de uma espécie de dor psíquica, a qual muitas vezes, acaba também
gerando dores físicas, ou criando uma dinâmica incompreensível para quem à vida continua
sorrindo”.
DSC- O JULGAMENTO
ANCORAGEM – ESTUPIDEZ X ALÍVIO
Eu acho que depende... Tem momentos que eu acho o significado dela a morte muito “estúpido”,
um paciente que vem com uma vida extremamente saudável e, de repente, de uma hora para
outra, vem a morrer. Um paciente que foi podado da vida e também da família. Em outros casos,
gera um alívio, quando rompe esse sofrimento. [...] Às vezes, tem paciente que percebemos que
vem há um longo tempo sofrendo tanto e, quando vem a ocorrer o óbito, parece que dá um certo
alívio. essa dor. [...]São esses os dois pontos
“É importante frisar que o que se poderá considerar como prioridade do cuidado é
baseado às vezes na distorção da percepção, ou a partir de julgamentos quanto a quem é
merecedor ou não” (SILVESTRE, 2006, p 103).
Contudo, baseada em Ornstein (1991), Silvestre (2006) argumenta que o julgamento
pessoal não é correto, pois às vezes, não se é coerente, nem estável, isso é ilusão. Assim, para a
sobrevivência biológica do organismo, o sistema operacional mental de comando e controle
(chamado de eu) está muito mais intimamente ligado às emoções e aos padrões de
comportamento, do que ao pensamento e raciocínio constantes.
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DSC – RELIGIOSIDADE
ANCORAGEM – INCERTEZA X CRENÇA
Na minha convicção religiosa, que eu não sei se vem ao caso, é o inicio de uma vida eterna. Sou
católica, então possuo esta convicção, tenho essa fé.[...] Religiosamente falando; até porque, se
você morre, não sabe para onde vai. E se você pensa que pode ir para o inferno, como todo
mundo fala, você vai ficar preocupado. Se você acha que isto não tem nada a ver, e que tanto faz,
aí você não se preocupa tanto. Mas o estado de espírito da pessoa faz com que veja a morte de
uma forma ou de outra.
Neste discurso observamos que a religião, a cultura e a vivência de cada pessoa
influenciam o seu modo de encarar a morte. Nestes termos, Lunardi (2001) acrescenta que as
ações das pessoas, diante da morte podem estar ligadas à forma com que estas pessoas foram
criadas, seus padrões de comportamento, experiências e, também, ao ambiente - contexto sócio-
cultural - onde cresceram e se desenvolveram (LUNARDI, 2001).
Sendo assim, segundo Boff (1999) as pessoas cultivam o espaço do Divino, expondo-se a
uma conversa com Deus, confiando a ele o rumo de suas vidas e encontrando nele o sentido da
morte. Daí surge a espiritualidade que dá origem as religiões, pois se cuidarem do espírito estarão
cuidando dos princípios que direcionam a vida e as representações que geram esperança para
além da morte.
Neste sentido, Silva (2001) acrescenta que na tradição judaico-cristã dominante em nossa
civilização, a morte emerge enquanto paradoxo existencial, a partir do dualismo morte e vida. Ao
separar a morte da vida, o ocidente favoreceu o desenvolvimento de uma ética religiosa baseada
na recompensa e no castigo.
Na Idade Média acreditava-se que o homem era um ser imortal e que a morte era um
castigo dos deuses, por isso, o medo transparece na relação com a morte, acredita-se que a morte
seja algo sobrenatural (ADRIANO & FARIAS, 2007).
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Adriano & Farias (2007) argumentam ainda, que as diferentes teorias relacionadaos ao
processo de morte e do morrer são defendidas conforme à época histórica, onde são
desenvolvidas de acordo com as necessidades das pessoas.
DSC – A ESCOLHA PROFISSIONAL
ANCORAGEM – CAPACIDADE DE VIVENCIAR
[...]Nós que escolhemos trabalhar com a saúde, devemos saber que iremos trabalhar com a morte. [...] Tem que existir... é claro que estou falando no meu modo profissional[...]É claro que eu não acumulo todos os óbitos que já vi durante todos estes anos de UTI, pra minha vida pessoal. Se assim eu fizesse, possivelmente seria um setor que eu já teria saído. Da mesma forma que a UTI é vista como um setor em que não existe só a morte, existe a cura também (muito mais do que a morte), mas por ser um setor onde o paciente está mais entre a vida e a morte, você acaba presenciando mais óbito do que em outros setores. Não que isso seja uma rotina diária, mas você tem uma quantidade maior de óbito. [...]Durante a sua vida profissional, você cria alguns mecanismos de defesa, em relação a esses óbitos.
Neste discurso podemos refletir em relação à escolha, será que quem decide trabalhar na
área da saúde, lembra que irá trabalhar também com a morte?
Quando saímos das academias acreditamos que um preparo técnico-científico é o
suficiente para dar assistência as pessoas, mas esquecemos que apesar de todos os cuidados
prestados, eles podem morrer e quando isso acontece, nos frustramos.
Então, como propõe a teoria das relações interpessoais de Joyce Travelbee (1979) para
conseguir dar apoio ao ser humano, é necessário desenvolver uma abordagem de caráter
intersubjetivo e interdisciplinar (LEOPARDI, 1999).
DSC- MEDO DA MORTE
ANCORAGEM – DESCONHECIDO X CONHECIDO
É o ponto final da nossa história, acho que é por isso que todo mundo tem medo da morte.
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Tomar consciência da morte, da finitude do ser humano constitui-se uma ferida
aterrorizante. Se com a psicanálise, consegue-se compreender algo acerca da dinâmica do
inconsciente, em relação à morte nada sabemos. E o não-saber é uma das coisas mais apavorantes
para as pessoas. Perde-se a capacidade de controle, fica-se submisso a algo desconhecido, e isso é
desesperante. Daí vem à necessidade de criar “verdades”, para que esse terror desapareça. Essas
verdades podem fazer parte do poder da fé (KOVASC, 1992).
O temor da morte tem um lado fundamental e por isso precisa estar presente em certa
medida. Ele representa autoconservação, uma maneira de proteção à vida e um meio de superar
os instintos de destruição. A própria palavra autoconservação implica um esforço contra as forças
de desintegração, um incentivo para o funcionamento biológico normal (KOVACS, 1992).
Lowen (1980) apud Kovács (1992) estabelece uma ligação entre o medo de viver e o
medo de morrer. Viver totalmente com as emoções é correr riscos. Para não sofrer, o ser humano
pode se “amortecer”, deixar de sentir, mas também, não conseguirá viver. Toda tensão
prolongada no corpo resulta de um temor da vida, um medo de se libertar, um medo de ser.
Quanto ao desconhecido Silvestre (2006) faz uma reflexão com relação à representação de
morte e o desconhecido. Neste sentido a autora questiona: é medo do desconhecido ou do que se
imagina (representações/significados) que conhece a respeito. Na verdade o medo é decorrente
das versões elaboradas pela nossa cultura, a respeito da morte.
Preenchemos o desconhecido com nossas imaginações e estas, decorrem ou são
influenciada pela cultura e nossa própria historia.
DSC- QUANDO CHEGA A HORA
ANCORAGEM-QUALIDADE DE MORTE
[...] acho que quando chega a hora não tem como evitar.
Nesta fala podemos fazer uma reflexão, pois se a crença é de que existe uma hora de
morrer, quer dizer que isso independe do que se faça?
Concordamos com Boff (1999, p. 153) quando afirma que o sentido que as pessoas dão à
vida depende do sentido que elas dão à morte. “Se a morte é fim-derradeiro, então de pouco
53
valem tantas lutas, empenho e sacrifício. Mas se a morte é fim-meta-alcançada, então significa
um peregrinar para a fonte”. Ela faz parte da vida e significa a forma mais sábia que a vida se
deparou para chegar a uma totalidade negada neste mundo tão pequeno para seu impulso e tão
estreito para a ânsia de finitude.
Podemos discutir aqui, sobre um tema que hoje nos faz pensar como poderíamos
minimizar o sofrimento do paciente na hora da morte. Ballone (2005)3 diz em seu estudo que “O
amor pela vida, quando a toma como um fim em si mesma, se transforma em um culto pela vida.
A medicina que se preocupa insensivelmente com as condições vitais, deixando de lado as
qualidades vitais, promove implicitamente esse culto idólatra à vida”.
7.3 OS ABALOS NA CAPACIDADE DE AÇÃO
Segundo Silvestre (2006) as emoções/sentimentos são muito importantes porque as ações
do ser humano estão relacionadas à capacidade de lidar com ela. Razão sem emoção não
representa nada, assim como emoção sem razão também não tem nenhum significado. A emoção
é o que mobiliza para a ação e ela está presente em primeiro lugar e, muitas vezes, não se
percebe, mas ela esta ali fazendo parte de todo o processo.
Nestes termos, perceber a emoção disparada pelo evento da morte, pode significar
eficiência no desempenho das ações de enfermagem.
DSC – ADAPTAÇÃO
ANCORAGEM - ADAPTAÇÃO x DEIXAR DE SENTIR
E, na minha opinião, as pessoas que não conseguem se adaptar a tal fato, não conseguem
continuar trabalhando na Unidade de Terapia Intensiva. Existem aqueles profissionais que,
felizmente ou infelizmente, até porque eu acho a sua pesquisa interessante por causa disso, que
você vai nos responder se é normal sentir ou deixar de sentir quando o paciente vai a óbito. [...]
Mas, as pessoas que não conseguem lidar com a morte, não conseguem ficar nesse setor, criando
uma barreira. [...] a gente acaba criando uma forma de adaptar-se com a morte. [...] Às vezes a
gente pensa, as pessoas olham assim, ou até mesmo pensamos que nos tornamos um pouco frio,
3 < disponível em www.psiqweb.med.br>.
54
com a morte de um paciente.[...] Eu fico emocionada! Qualquer paciente que eu convivi dois ou
três dias, uma semana, que vem a óbito, me dá vontade de chorar, mas eu seguro, porque o
pessoal “pega no pé”, sabe como é... mas comigo mexe bastante. Eu acho que, com o tempo, vou
adquirir aquela “frieza” que o pessoal fala que a enfermagem adquire com o tempo.
Neste discurso poderíamos indagar: adaptar-se a determinada situação é deixar de ser
sensível ou até mesmo, deixar de sentir?
Com crença da incapacidade de compreender o processo de morte, a pessoa nega a si
mesmo a possível existência da morte, pelo sentimento de medo que a mesma dispara, assim a
tendência é afastar-se do estímulo, do disparador do sentimento, e isto, pode ser associado ou
confundido com frieza (SILVESTRE 2006).
Neste momento, pode estar havendo a repressão de uma emoção o que leva ao
amortecimento da dor. Então se passa a sofrer em silêncio e continuamente até que o mal
físico/ou psíquico manifeste esse sofrimento (SILVESTRE 2006).
DSC – ABALO EMOCIONAL
ANCORAGEM – CANSAÇO – ANGÚSTIA
[...]Então, a morte pra mim aqui na UTI, agora que estou aprendendo a conviver. Ainda mexe
muito com o meu emocional.[...] Como lhe falei na primeira pergunta, eu geralmente sou muito
molenga....[...] Quando acontecem muitas mortes, por exemplo: eu trabalho todas as semanas;
em todos os meus plantões tem uma morte ou acontece um problema de um paciente muito grave.
Eu começo a me sentir mais cansada, eu percebo assim.
O discurso denota certa dificuldade de perceber reações comportamentais ocasionadas
pelos abalos emocionais. Neste sentido poderíamos refletir sobre a incapacidade que temos de
olhar para nós mesmos. Silvestre (2006) argumenta que a incompetência emocional é responsável
pelas reações (inconsciente) que é diferente das ações (consciente), pois as emoções
incompreendidas não possibilitam respostas hábeis, essas situações interferem na capacidade de
olhar para dentro de si.
55
Assim, Silvestre (2006) relata, em seus estudos, que esta dificuldade pode estar
relacionada com a interferência no querer/desejo da criança que parece ser o ponto de partida
para as dificuldades que hoje se enfrenta com inabilidade em lidar com as emoções.
Esta inabilidade interfere na relação interpessoal e, conseqüentemente, a relação de
cuidado se dará quase que predominantemente de forma e impessoal, “nas quais o poder do
cuidador destitui o ser que é cuidado de seu poder à voz e às decisões” (SILVA, 1997, p. 70). E o
distanciamento pode ser evidenciado pela inabilidade do cuidador em perceber e trabalhar as suas
emoções/sentimentos para então, poder desenvolver atitude empática e amorosa (SILVESTRE
2006).
DSC – O PROCESSO DE MORTE X RECURSOS DISPONÍVEIS
ANCORAGEM – QUANDO CHEGOU A HORA X FAZER O QUE FOR POSSÍVEL
O que me abala...o que me incomoda é, se tem um paciente em quem você pode investir um
pouco mais, você pode dar condições de saúde melhor para ele, pode ter quantidade de
profissionais suficiente para atender o paciente, se você pode ter todas as condições que precisa,
para realmente concluir que você fez tudo o que podia e...não conseguiu; você se sente mais
tranqüilo. [...] Alguns são morte iminente, que depende do que pode, ou poderia ter feito... que
tipo de procedimento cirúrgico, a morte iminente. Sabemos que é questão de horas, dias...
Neste discurso observamos uma dúvida comum entre os profissionais, ou seja, mesmo
com todos os recursos possíveis, achamos que não foi o suficiente.
Alguns profissionais de enfermagem que lidam com a morte no cotidiano de trabalho,
parecem que sentem o peso da morte de um paciente, mesmo tendo esgotado e investido todos os
recursos disponíveis e tendo realizado tudo o que estava ao seu alcance para que prestasse a
assistência possível, para oportunizar-lhe uma morte digna. Durante essa situação, parece que
sofre muito, tanto por não aceitá-la como por sentir, muitas vezes, não suficientemente
instrumentalizado emocional e psicologicamente, então o profissional se sente impotente diante
da morte (LUNARDI, 2001).
Fernandes et al (2001, p 40) salienta que vários estudos evidenciaram a natureza
psicossocial das ações do cuidar de pacientes em risco de morte iminente. Dentre eles destacamos
56
os estudos de Boemer (1986, 1989); Pereira e Bueno (1997); Ferreira-Santos (1983), Saloum e
Boemer (1999), que mostram as ações dos profissionais na luta pela vida. Estas ações figuram
como estressantes associadas ao cansaço, ao sofrimento e as habilidades especiais. Um conjunto
de atividades onde o fator tempo, a presteza e a iniciativa são decisivos para a vida do paciente.
Em que a habilidade de observação é tida como instrumento fundamental para atentar as
alterações no estado geral do paciente e para o desenvolvimento de atividades imprescindíveis à
manutenção da vida e ao combate a morte. Esses estudos destacam, ainda, a necessidade do
profissional possuir conhecimento científico das patologias envolvidas, dos recursos disponíveis,
percepção aguçada, capacidade de análise e síntese, além da capacidade de adequação, manuseio
e funcionamento de equipamentos.
A morte, muitas vezes pode ser entendida como um fracasso, pois o que sempre se busca
é a melhora do paciente em direção à saúde e nunca em direção contrária. Contudo, aprender a
proporcionar o conforto e a dignidade na intimidade com a morte é essencial. Se o profissional
não consegue alcançar seu objetivo ou, mais especificamente, se o paciente morre, a atuação pode
ser vista por ele e pelos outros como fracassada. Essa forma de proceder evidencia o
entendimento de que a morte não é mais considerada como o limite natural da vida humana, ou
algo inerente à própria existência. Nessa concepção, o paradigma de curar, vencer a morte,
facilmente, torna o profissional prisioneiro do domínio tecnológico e científico.
Assim, diante de tantas exigências, o resultado pode não ser o que imaginamos, pois este
também é baseado em representações, em que algo aconteceu diferente do esperado. O resultado
de tudo isso é a impotência (SILVESTRE 2006).
DSC- REPRESSÃO
ANCORAGEM – ONIPOTÊNCIA X IMPOTÊNCIA
Não me abala não, quando termina meu plantão saio por essa porta e esqueço tudo, penso que
fiz tudo que podia ter feito. [...] Já é bastante o tempo que tenho de caminhada, de emergência,
de UTI. De abalar e não saber o que fazer, eu acho que não[...] Pra mim, ainda não sei lidar,
não tenho uma postura para tentar confortar a família. Chorar perto da família não é legal.
Então eu fico muito abalada, bem mole mesmo...
57
Concordamos com Ribeiro; Sewo (2001) apud Silvestre (2006) quando afirma que os
profissionais de enfermagem deveriam deixar de sentir a morte como um fracasso, o que levaria a
frustração, mas sim torna-la como um momento de reflexão em relação a vida, as atitudes, ao
comportamento, a finitude e aos próprios limites. Assim entender que cuidar nem sempre quer
dizer curar.
Segundo Boemer (1986) os profissionais que se formam na área da saúde aprendem que
todas as ações visam à preservação da vida e quando bem sucedidas, representam o sucesso do
profissional, mas quando vão a óbito, significa fracasso.
Ante a percepção de nossa impotência, por vezes “percepção” inconsciente, nos
defendemos através da onipotência. A certeza de uma vida pós-morte pode ser resultado desse
segundo mecanismo. Embora possamos saber se ela existe ou não, o que se observa é que essa
certeza decorre da necessidade de enfrentar a impotência do não-saber (KOVACS,1992).
O problema da onipotência x impotência ocorre constantemente em nossas vidas, em
todas as áreas. E está ligado a sabedoria de viver consiste em sabermos usar nosso vigor, nossa
potência, conscientes de nossas potencialidades e limitações. Diz-se comumente que existem os
sofrimentos necessários, aqueles que fazem parte da nossa vida, e os desnecessários, aqueles que
nós criamos constantemente (KOVACS, 1992).
DSC – CRONICIDADE
ANCORAGEM – DEIXAR DE SOFRER
Na minha opinião, depende do quadro do paciente. Para a família, talvez, não tenha diferença.
Mas, para nós, profissionais de saúde, acho que tem diferença sim. Um paciente que ontem
estava lá fora, trabalhando, de repente começou a apresentar problemas (IAM por exemplo), foi
internado, tentamos fazer o que podia, não conseguiu e foi a óbito. [..] Essa sensação é diferente
de um paciente que possui uma doença crônica. [...]Acho que depende muito.... Parar o
sofrimento. Tem pessoas que fica na cama por vários meses, anos e acho que ninguém deseja pra
si, ficar no fundo de uma cama, uma pessoa que caminha e, de repente, se vê no fundo da cama,
paralisado.
58
Um aspecto importante da percepção é a representação, as vezes o cuidado é baseado na
distorção da percepção, ou a partir de julgamentos errôneos, quanto quem é merecedor ou não. A
compreensão dos padrões de comportamento humanos naturais ou adquiridos envolve
essencialmente atenção à percepção. O cuidado às vezes, está condicionado a uma situação
pessoal mal resolvida inconsciente ou reprimida, o que impossibilita a pessoa em atender a
necessidade que se apresenta. Então, a não superação de questões pessoais se reflete na maneira
de prestação de cuidado (SILVESTRE 2006).
Sabemos que a morte é um fato inevitável, contudo, é difícil aceitar que aconteça
precocemente, ou seja, nos primeiros anos de vida de uma pessoa. Então, lidar com a morte é
uma questão difícil. Porém, o que evidenciam muitos discurso, é que a morte parece ser
considerada um evento natural apenas em pessoas com idade avançada e/ou portadores de
doenças crônicas. Dessa forma, a morte de um jovem é uma situação que não pode sequer ser
pensada pela família, pois na perspectiva do ciclo vital, o natural seria que os pais morressem
antes das crianças.
A morte é uma questão que nos leva a pensar nas prioridades de nossa vida. Ela lembra-
nos, de forma mais poderosa do que qualquer outro fato, de quanto às relações familiares nos são
importantes. É uma experiência que atinge todo o sistema familiar. Assim, durante o processo de
morte, torna-se essencial contemplar a família nesse contexto, pois essa experiência é vivenciada
intensamente por todos os seus membros, os quais necessitam de atenção.
DSC – EXPERIÊNCIA DE VIDA
[...]Eu estou trabalhando nesta UTI há dez meses. Agora que estou convivendo com a morte. Na
minha família, eu convivi somente com a morte da minha avó e depois, a do meu pai, há três
anos. Os outros óbitos que ocorreram na família foram mais distantes, como o esposo da minha
prima, com quem não tenho muito contato. Tanto que nem fui no funeral. Os dois únicos funerais
que estive presente foram do meu pai e da minha avó.[...] Geralmente, quando já somos um
profissional, trabalhamos... vai fazer nove anos que estou aqui, então acaba acostumando com a
morte. Uma rotina de um profissional e comum entre todos.
Mas eu fico bem... na hora dá vontade de chorar junto com a família. Quando acontece um óbito
que pedem pra eu levar lá embaixo o corpo, que a família está lá, eu passo em frente, quando
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saio do elevador, a família começa a ficar desesperada e eu entrego os pertences e acabo
chorando junto com a família[...]não é porque você ficou atendendo por tanto tempo, que não
vai ter nenhum tipo de reação diante da morte, mesmo sabendo que faz parte do viver[...]
Neste discurso, percebemos que com o passar do tempo e com as experiências vividas os
profissionais lidam melhor com a morte. Acaba tornando-se uma rotina, principalmente, para os
profissionais de UTI. Com certeza sentem-se abalados com o óbito, porém já passaram por tantas
outras experiências com relação a morte, que talvez já saibam como lidar com seus sentimentos.
Segundo Chiavenato (1998), o que conhecemos sobre a morte foi o que aprendemos
durante a vida, quer dizer é preciso viver para entender a morte. Quanto mais valiosas as
experiências de vida, mais saberemos e quanto mais conhecimento sobre a morte, melhor
entenderemos a vida.
O sentimento em relação à morte reflete no tratamento que damos a ela, o modo como
reagimos à morte de alguém está relacionada à forma como a sentimos. Os variados tipos de
sentimentos expressão o valor que damos ao morto. Mas, esse valor nem sempre, corresponde ao
significado que damos a morte (CHIAVENATO, 1998).
DSC – AFASTAMENTO
Hoje, por exemplo, ali no leito quatro, que ela já estava muito comprometida, lembro a situação
da mulher, o filho ali, deixando as lágrimas caírem... eu tive que ir para a sala de material
porque meus olhos enchiam. Respirei, voltei... daqui a pouco entrou o marido, que colocava a
mão sobre a cabeça. Eu vendo essa situação vim tomar água e fiquei...(respirou fundo)
Percebemos aqui, neste discurso, o despreparo do profissional em lidar com suas
emoções, não colocando a culpa nele, mas no contexto social que se preocupa apenas em formar
acadêmicos com conhecimentos técnicos científicos.
Portanto Silvestre (2006) confirma que as situações que ocorrem no dia a dia dos
profissionais de enfermagem mostram que a academia esquece de desenvolver a capacidade
emocional e como podemos transformá-las em aliadas ao nosso trabalho. Neste sentido, este
60
afastamento pode ser caracterizado pela inabilidade do profissional em perceber e desenvolver as
suas emoções/sentimentos para, então, poder trabalhar atitude empática e amorosa.
Bennet (1986) apud Silvestre (2006) ressalta que a grande parte do nosso sistema
educacional não se interessa com nosso emocional, e que por isto nossa natureza emocional é
uma função precoce.
DSC – ENVOLVIMENTO
ANCORAGEM – APEGO X SOFRIMENTO
Quando é um paciente que já está entubado, você não tem um contato verbal tão grande,
você não sabe muito sobre a vida dele. E quando não, é difícil... Em termos, ainda é difícil.
[...] Claro que a gente pensa no paciente em si, não estendendo para o lado familiar, senão,
seria mais sofrido[...]Assim ó hoje em dia tranqüilamente entendeu... A gente sempre tenta
não...Acho que em geral né...eu pelo menos tento não me envolver com aquilo ali.[...] Como eu
disse anteriormente eu tento não me envolver com o paciente e com isso geralmente não me
afeta[...]
Nestas falas observamos que os profissionais procuram não se envolver com os pacientes
e suas famílias, pois isso causaria sofrimento a eles. Com relação a isso, concordamos com
Silvestre (2006, p. 88) quando descreve algo sobre o vínculo com o cliente e a relação com o
sofrimento.
Surge a indagação: Por que não se envolver com o cliente? Por que se recebe e se passa a diante essa informação sem ao menos um COMO fazer? Por que confundir não se envolver com frieza? Como cuidar através da empatia sem envolvimento? As pessoas associam se envolver com apego e, também, ao medo da perda, o que geraria sofrimento. Isso é atitude amorosa? Por que acreditamos e estabelecemos a condição de ter que estar sempre com a pessoa para poder amá-la? O que é envolver-se com o cliente? Ser empático prescinde da capacidade do envolvimento, ou será somente da capacidade de compreensão?
Travelbee (1979) colabora com esta afirmação alertando que os profissionais de
enfermagem acreditam que quanto maior o envolvimento menos profissional será a relação, o que
levaria à identificação excessiva com o paciente, o que não seria terapêutico para ele, portanto
prejudicial aos profissionais (LUNARDI FILHO, 2001).
61
Neste sentido, a mesma teórica de enfermagem, orienta que o profissional não só precisa
como deve envolver-se emocionalmente com a outra pessoa, porém este envolvimento não
poderá provocar inabilidade nas ações de enfermagem. Ainda, que uma relação autêntica com o
paciente ou com qualquer outro ser humano, passa a ser vital na relação terapêutica, pois
promove empatia, permitindo ao profissional perceber o outro, tornando-o sensível a situação que
está vivenciando, o que o mobiliza a oferecer a ajuda necessária para o paciente(LUNARDI
FILHO,2001).
DSC – TERNURA
Tenho um hábito: quando vejo um paciente parando, ou só olho para o monitor e, “já foi”, eu
costumo chegar perto, coloco a minha mão por baixo da colcha, em cima da mão do paciente e,
em pensamento, tento falar para “aquele corpo”, se podemos dizer assim: “Segura na mão de
Deus e vai!” ( olhos cheio de lágrimas).
Neste sentido, ressaltamos a metodologia baseada em Travelbee (1982) que dá enfoque a
uma assistência humanizada e individualizada, e a importância da relação interpessoal no dia a
dia da prática de enfermagem diante de situações difíceis como a morte (BECK, 2001).
O cuidado inclui responsabilidades entre o profissional e o paciente. Favorece a reflexão,
o empenho do ser com o meio e com o outro, numa relação verdadeira de ternura. “É um
exercício de amor, fé, compaixão, compreensão, habilidade, paciência e respeito. Assim, o
cuidado se perpetua através do autoconhecimento e autotransformação dos seres envolvidos nas
formas mais sutis de entendimento da sua condição de ser amor” (BELLAGUARDA, 2002, p.
41).
Cuidar do outro, quer dizer cuidar na sua integralidade, na tentativa de uma sincronia
relacional. Quando cuidamos do outro na sua integralidade, não podemos negar a sua própria.
Isso exige do cuidador uma sintonia consigo mesmo, buscando identificar as emoções vividas, os
sentimentos que as envolve e o afeto que elas promovem (SILVESTRE,2006).
DSC – FAZER O BEM PARA SE SENTIR BEM
ANCORAGEM- EMPATIA
62
[...]a gente tenta amenizar o sofrimento do paciente que está sedado, mas o grau da ausência
dele, ninguém sabe, é uma coisa que não dá pra palpar. Então, nós tentamos amenizar da melhor
forma possível. Assim ameniza o nosso também. [...]
Neste momento podemos resgatar a fase da empatia conforme fala a teoria de Travelbee
(1979), quando o profissional estabelece um processo de ajuda mútua, um sentimento de troca.
No entanto, essa troca nem sempre se resolve através da verborréia, “muitas vezes o
toque, a escuta sensível, o silêncio caracterizam-se como forma de empatia”. A única diferença
entre as pessoas está no modo como lidam com suas emoções, ou seja, nas suas ações.
(SILVESTRE, 2006, p 90).
DSC – SEGURANÇA
Sempre tive segurança no que tinha que fazer; quem tem perfil para UTI, emergência, para ficar
abalado ou desnorteado, não saber o que fazer, eu nunca presenciei.[...]
Às vezes alimentamos a ilusão de um preparo técnico e cientifico como se isso fosse
suficiente para se dar assistência às pessoas que vivenciam a morte. Contudo, diante do trespasse
de outras pessoas às quais se deve assistência, não é fácil se manter firme na solidariedade
humana e, a defesa é ver a morte como algo rotineiro e externo, bastando alguns procedimentos
padrões para tudo ficar em ordem.
DSC – CRESCIMENTO PESSOAL
Abalar... eu acho que não. Acho que só fez crescer, amadurecer. Olhar muitas vezes de uma
forma diferente. Às vezes, se cobrar muito, em questão de ajudar o paciente de alguma forma,
nem que seja tirando a sua dor, alguma forma que seja de vida.
Muitas pessoas vêem na morte do outro o momento culminante da vida, e usam-no para
continuar seu crescimento e amadurecimento, aproveitam para fazer uma reflexão da sua vida
(ETKINSON, 1989).
63
O aprendizado para a morte é um processo que se consubstancia em apoiar as pessoas que
desejam aprender, não só a realidade da vida como também do existir e do transcender. É,
portanto, a preparação do ser humano para a compreensão de suas limitações (BELLAGUARDA,
2002).
DSC- ESTRUTURA x AGUENTAR
É complicado, porque... a gente se depara todo dia com isso. E dizer que não afeta o
psicológico, é mentira, assim, até outro dia estávamos comentando aqui na UTI, os anos de
trabalho que a gente vai adquirindo,[...] eu estou há dez anos aqui dentro, e dizer para mim que
isso não me abalou, e que eu tenho estrutura para agüentar mais dez anos dentro da UTI... eu
não tenho. Porque você agüenta até certo ponto.
Segundo Stedeford (1986) quando há várias mortes nas unidades num espaço muito curto
de tempo a mesma torna-se sobrecarregada devido a quantidade de tristeza com que tem que
confrontar, esta é a maior dificuldade enfrentada pela equipe de enfermagem.
No aspecto da estrutura emocional de enfrentamento, Lunardi et al (2001) afirma que
situações como: semelhança da situação de óbito com o próprio profissional de enfermagem ou
seus familiares, necessidade de ser bem sucedido e ausência de tempo para suas próprias
elaborações do luto são questões limitantes para o profissional. Estas questões são acentuadas
pela ausência de reflexões sobre o processo de morrer e morte, pois não permite espaço e tempo
mínimos aos profissionais para que ocorra uma adequada reestruturação de suas emoções. Alem
disso, parece que a maioria das instituições, não vêm se preocupando em oferecer o suficiente
apoio psicológico a seus trabalhadores (LUNARDI FILHO et al, 2001).
DSC- NO AUTOMÁTICO
Não tem como não abalar. É como já disse: “A gente se torna automático, mas porque
temos que estar nos preservando”. Dizer que a gente vem todo o dia pra cá, e acha normal ver
um ser humano em cima da cama, sofrendo, por meses... não. Se dissermos que não sentimos
nada.... é impossível! [...] Depende bastante de paciente para paciente. Se eu disser que não é
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automático aqui pra nós, eu estou mentindo. Na maioria das vezes, [...] tem pacientes que não se
tornam automáticos.
No ambiente de UTI, o afastamento do profissional dos clientes e a falta de relação afetiva
no cuidado de enfermagem são mais freqüentes. Além disto, a voz dos clientes é cada vez mais
calada por meio de sedativos e métodos invasivos. Garantir a sobrevivência do corpo físico é a
maior justificativa para a atitude tecnicista dos profissionais da saúde (SILVESTRE, 2006).
DSC- AMBIENTE PESADO
ANCORAGEM – EXPERIÊNCIA X CANSAÇO
[...]E chega uma hora que isso começa a me afetar em casa, onde eu fico mal-humorada,
cansada, com uma angústia... já senti muito[...]Uma coisa que até já comentei com os meus
colegas: “Tenho que trocar alguns plantões pra eu poder ficar em casa e dispersar um pouco”.
Porque a gente fica assim... como se fosse um peso... e pensa: “ Ah não! A UTI está muito
‘pesada’, tem muita gente grave, muita morte, eu tô me sentindo cansada e eu preciso!”[...]
Talvez essa seja a forma de eu sentir a morte criamos um comportamento diante da morte e não
percebemos que isso nos abala. E assim eu me sinto. Então, troco alguns plantões, fico uma
semana fora e... volto “rejuvenescida”! É assim....
Segundo Stedeford (1986, p.157), a aproximação do profissional com a morte despertará
sempre uma resposta específica. “Tanto faz aceitá-la ou tentar reprimi-la, ela leva à tensão,
provocando fadiga, atividade exagerada, irritabilidade e outros problemas”.Podendo às vezes até
interferir na eficiência no trabalho e na vida pessoal e familiar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo partiu do nosso próprio interesse, por convivermos e testemunhamos
cotidianamente, a morte de pacientes em instituições hospitalares. A partir desta pesquisa
pudemos fazer uma reflexão sobre a finitude humana, além de conhecer como os profissionais de
enfermagem de uma Unidade Terapia Intensiva percebem o processo de morte e morrer de seus
pacientes. Entendemos que a UTI é um local onde se lida constantemente com pacientes com alto
risco de morte. Então, a relevância desta pesquisa está no sentido de compreender como os
profissionais de enfermagem se sentem, os significados/representações que eles atribuem as
situações conflitantes como a morte e os abalos na capacidade de ação desses profissionais.
Para isso, fez-se necessário uma teoria que nos oferecesse suporte adequado para a
realização desta pesquisa. Com a Teoria da relação interpessoal de Joyce Travelbee e da Fase das
identidades emergentes foi possível o primeiro encontro, em que conhecemos o contexto sócio-
cultural, os valores, significações e as singularidades dos profissionais de enfermagem em relação
a morte dos pacientes em tratamento intensivo. Esta Teoria esta fundamentada na relação pessoa-
pessoa, com o objetivo de ajudar o indivíduo a enfrentar e compreender a experiência da dor e do
sofrimento, por isso esta nos auxiliou no momento da análise de dados.
A abordagem da morte, muitas vezes, está ligado ao sofrimento e a solidão, talvez por isso
o ser humano reprima e tente se esconder através de mecanismos de defesa, pois a morte nos faz
lembrar nossos limites. Os sentimentos de perda e separação também estão associados à morte, a
incapacidade dos profissionais em lidar com esses sentimentos é que podem levar a frustração e a
impotência. Vivemos em um mundo muito materialista, onde a tecnologia busca a juventude
eterna, e assim, as pessoas fazem de tudo para esconder a velhice e conseqüentemente a morte.
Na análise das informações percebemos que a maioria dos interagentes da pesquisa denota
uma certa negatividade em relação à velhice, talvez isto se deva a perdas corporais. No entanto,
nossa sociedade também atribui conceitos negativos em relação a velhice.
Associado a isso, percebemos que o universo que nos cerca não nos ensina a morrer. Tudo
é feito para ocultar a morte, para estimular-nos a viver sem pensar nela, como se estivéssemos
voltados para metas a serem alcançadas e escorados em valores de efetividade. Muito menos nos
ensinam a viver (HENNEZEL & LELOUP, 2001).
66
Quando a morte impõe sua presença, o ser humano se desestabiliza se sente impotente,
então é nesse momento que ele pára, para refletir sobre sua existência, sobre seus objetivos e
sobre suas atitudes, por isso não é à toa que Kovács (1992, p. 3) argumenta que “a morte faz parte
do desenvolvimento humano desde a mais tenra idade”.
Para essa compreensão, observamos ser necessária uma avaliação das nossas
representações em relação à morte, pois elas estão ligadas diretamente aos nossos padrões
culturais. Além disso, o modo como vemos ou encaramos a morte influenciará no nosso modo de
ser, de viver e de cuidar. Pois, segundo Silva (2001 p.12). “Viver plenamente a vida implica
também em aceitar a morte, conviver com ela a cada instante, fazer dela uma fiel companheira.
Implica na consciência de que se morre a cada instante, e renasço a cada instante”.
Consideramos também, através deste estudo, que a inabilidade dos profissionais de
enfermagem em lidar com seus sentimentos é correspondente ao despreparo acadêmico em lidar
com os abalos provocados pela morte. Neste sentido Silvestre (2006) em seus estudos argumenta
que para o desenvolvimento de habilidades é necessário o desenvolvimento de competência
emocional, pois a emoção gera ação ou reação e ela, geralmente, não é percebida.
A inabilidade citada anteriormente pode também ser esquecida pela academia.
Percebemos que os estudantes de enfermagem são preparados apenas para promover, recuperar e
prevenir a saúde da população, mas esquecem de capacitá-los para lidar com a morte de
pacientes. Com esta dificuldade de enfrentamento, muitas vezes, os profissionais são tachados de
pessoas frias e insensíveis. A falta de preparo pode levar o profissional a ter que encontrar
sozinho maneiras de encarar a morte tornando-se, às vezes, desumanos, ou profissionais que
olham apenas para as máquinas e esquecem do ser humano como pessoa.
Assim, as reflexões sobre a morte e os sentimentos relacionados a este fato deveriam fazer
parte da grade curricular, para que assim possa haver um processo de desenvolvimento afetivo e
emocional. Desta forma, os acadêmicos estariam, provavelmente, preparados não só técnico e
cientificamente, mas com um maior suporte emocional haveriam de enfrentar melhor as variadas
situações conflitantes do cotidiano.
Porém, consideramos a oportunidade que tivemos no curso de enfermagem de
experienciar uma nova estratégia da graduação a de direcionar o estágio curricular
supervisionado de 180hs do 8º período para este trabalho de conclusão de curso preocupando
com a morte e o morrer. Este estágio foi muito proveitoso, pois nos deu a oportunidade de estar
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junto aos profissionais de enfermagem, vivenciando e percebendo os modos que cada profissional
age diante dos problemas e intercorrências que surgem na unidade e o enfrentamento deles diante
da morte do paciente. Neste sentido, pudemos relacionar a teoria com a prática. Essa experiência
contribuiu com dados para melhorar e enriquecer o trabalho de conclusão de curso, bem como a
todos que se envolvem com esta aprendizagem.
Como enfermeiros da atualidade, adquirimos com esta pesquisa o esforço da vontade
política de cuidar dos que cuidam da morte e do morrer, aspirando dos serviços a atenção da
Educação Permanente dos trabalhadores em enfermagem, num processo terapêutico, coletivo,
interdisciplinar que aponte as referencias de um exercício profissional saudável nas UTI’s e em
todos os ambientes fronteiriços de vida-morte.
Os resultados deste estudo indicam que os modos de perceber o processo da morte e do
morrer pelos profissionais de enfermagem em UTI, são também determinantes dos modos de
cuidar e ate por isto, requerem a atenção dos Serviços de Saúde na inclusão de processos
terapêuticos no planejamento do cuidado aos trabalhadores de enfermagem em atitude ética de
promoção da saúde a esta equipe de cuidados cotidianos intensivos com a situação desta natureza.
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REFERÊNCIAS
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APÊNDICES
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APÊNDICE – A
ENTREVISTA
ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
NOME: FAIXA- ETÁRIA:
FORMAÇÃO: TEMPO DE FORMADO(a): Experiência em UTI:
INSTRUMENTO DE ENTREVISTA
1. Mesmo como um fenômeno da vida, a morte, na maioria das vezes, desperta temor e, este
sentimento se expressa na dificuldade que temos em lidar com a finitude. Um comportamento
evidenciado por crenças, valores e visão de mundo de cada um. Assim, quando no cotidiano de
trabalho você necessita lidar com a morte, como você se sente?
2. Quais os significados do processo de morte e do morrer que você atribuí à sua experiência no
cotidiano da prática de enfermagem?
3. Como você percebe a convivência com os sentimentos que acompanham o processo de morte e
do morrer com relação à prática do cuidado, ou seja, os abalos na capacidade de ação.
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APÊNDICE – B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome Sr (a)_______________________________________Idade: ______Sexo: ______
Naruralidade:_____________________________domiciliado em _________________Profissão:
______________________ e RG: _______________________________________, foi
informado detalhadamente sobre a pesquisa intitulada “A percepção do processo da morte e do
morrer nas práticas assistenciais para os profissionais de enfermagem em Unidade de Terapia
Intensiva”. Você foi plenamente esclarecido de que ao responder as questões que compõem esta
pesquisa estará participando de um estudo de cunho acadêmico, que tem como objetivo de
descrever como os profissionais de enfermagem percebem o processo de morte e do morrer na
vivencia do cuidado em Unidade de Terapia Intensiva. Ao aceitar a participação nesta pesquisa,
esta garantido que você poderá desistir a qualquer momento, inclusive sem nenhum motivo,
bastando para isso, informar sua decisão de desistência, através do telefone (48) 3257 0855. Foi
esclarecido ainda que, por ser uma participação voluntária e sem interesse financeiro, você não
terá direito a nenhuma remuneração. A participação na pesquisa não incorrerá em riscos ou
prejuízos de qualquer natureza. Os dados referentes a você serão sigilosos e privados, sendo que
você poderá solicitar informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a publicação
da mesma. A coleta de dados para a pesquisa será desenvolvida através de depoimentos
individuais dos funcionários da enfermagem, garantindo-se privacidade e a confidência das
informações e será realizada pelas acadêmicas Kelin Elias e Mauricéia Grasiele Machado Corrêa
sob supervisão da orientadora Professora Ledronete Silvestre.
Biguaçu, SC _____ de _________________de 2006.
Assinatura :________________________________ (interagente do estudo)
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APÊNDICE C
TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO
Eu, ______________________________________________, professora da disciplina de
___________________________________________do Curso de Graduação Enfermagem da
Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação – Campus Biguaçu, concordo orientar a
monografia de conclusão de curso das alunas Kelin Elias e Mauricéia Graziele Machado Corrêa
tendo como tema ‘A percepção do processo da morte e do morrer nas práticas assistenciais
para os profissionais de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva’.
A orientadora esta ciente das Normas para Elaboração do trabalho monográfico de
Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, bem como, do calendário de atividades
proposto.
Biguaçu, 03 de novembro de 2006.
_______________________________
Ledronete Silvestre
Professora Orientadora
____________________________
Kelin Elias
Acadêmica de Enfermagem
__________________________
Mauricéia G. M. Corrêa
Acadêmica de Enfermagem
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APÊNDICE - D
CARTA DE INTENÇÃO PARA REALIZAÇAO DA PESQUISA
Biguaçu – SC, fevereiro de 2007.
Ilmo. Sr.
Diretor do Hospital Florianópolis
Cumprimentando-a cordialmente, vimos pelo presente, solicitar a V. Sª. a autorização
para desenvolvermos nas dependências desta unidade o projeto de monografia ‘A percepção do
processo da morte e do morrer nas práticas assistenciais para os profissionais de
enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva’.
Este estudo tem por objetivo descrever como os profissionais de enfermagem percebem o
processo de morte e do morrer na vivência do cuidado em Unidade de Terapia Intensiva.
Salientamos que os dados serão coletados pelos pesquisadores acadêmicas do Curso de
Enfermagem da UNIVALI – CES – Biguaçu, com cobertura de supervisão da orientadora do
projeto, Professora Ledronete Silvestre.
Esperamos que este estudo reverta favoravelmente para esta instituição, especificamente
ao curso de Graduação em Enfermagem para facilitar e transformar a prática pedagógica
referente à temática em estudo.
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ANEXOS
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PARECER COMITÊ DE ÉTICA