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UFRRJ INSTITUTO DE AGRONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA DISSERTAÇÃO O IMPACTO DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DO GUARANÁ (Paullinia cupana variedade sorbilis) NO MUNICÍPIO DE MAUÉS/AM 2016

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UFRRJ

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

DISSERTAÇÃO

O IMPACTO DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DO

GUARANÁ (Paullinia cupana variedade sorbilis) NO MUNICÍPIO DE

MAUÉS/AM

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

O IMPACTO DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DO

GUARANÁ ( Paullinia cupana var sorbilis) NO MUNICÍPIO DE

MAUÉS

ELIAS DA SILVA SOUZA

Sob a Orientação do professor doutor

Antônio Carlos Abboud

Dissertação submetida como

requisito parcial para obtenção do

grau de Mestre em Ciências, no

Programa de Pós-graduação em

Educação Agrícola, área de

concentração em Educação Agrícola.

Seropédica, RJ

Dezembro de 2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

Souza, Elias da Silva, 1967 – O impacto das

inovações tecnológicas no cultivo do guaraná

(Paullinia cupana variedade sorbilis) no

município de Maués/AM / Elias da Silva Souza –

2016

Orientador: Antônio Carlos de Souza Abboud

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro. Curso de Pós-Graduação

em Educação Agrícola

Bibliografia

1. História – Estudo e ensino – Teses.

Projeto de Pesquisa

Abboud, Antônio Carlos de Souza, 1960 – II

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Curso de Pós-Graduação em Educação Agrícola.

III Título

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

ELIAS DA SILVA SOUZA

Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção de grau de Mestre em

Ciências, no Programa de Pós-graduação em Educação Agrícola, área de concentração em

Educação Agrícola.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APROVADA EM 20 DE DEZEMBRO DE 2016.

_______________________________________________________

Prof. Dr. Antônio Carlos de Souza Abboud, UFRRJ

(Orientador)

_______________________________________________________

Prof. Dr. Vanderlei Antônio Stefanuto - IFAM

_______________________________________________________

Prof. Dr. Nilton Paulo Ponciano - IFAM

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho

primeiramente a Deus, pois sem

Ele, nada seria possível.

À minha esposa, que esteve

comigo me apoiando em todos os

momentos na minha busca pelo

conhecimento.

Aos meus filhos, João Marcos e

Jussara pela paciência e pela ajuda

na hora em que precisei.

Aos meus irmãos e irmãs pelo

incentivo e companheirismo

Aos meus pais, Maria Madalena e

Miguel (in memoriam), por

acreditarem em mim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a Ti, meu Deus, fonte e princípio de toda sabedoria e

conhecimento.

Ao meu orientador, Prof. Doutor Antônio Carlos de Souza Abboud e ao meu co-

orientador, prof. Doutor Vanderlei Antônio Stefanuto pelo apoio em todos os momentos. A

vocês a minha sincera gratidão.

A todos os professores, colaboradores do PPGEA, e aos meus colegas de turma

com quem partilhei um momento muito especial da minha vida.

Aos docentes, discentes e técnicos do IFAM campus Maués, que contribuíram com

mais este passo na minha vida.

Aos meus pais Miguel e Madalena, aos meus irmãos e irmãs, meus sobrinhos e

sobrinhas, a minha esposa Graciete e aos meus filhos João Marcos e Jussara que me deram

força para prosseguir mesmo diante de todos os desafios que atravessaram meu caminho

antes de chegar até aqui.

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RESUMO

SOUZA, Elias da Silva. O impacto das inovações tecnológicas no cultivo do guaraná

(Paullinia cupana variedade sorbilis) no município de Maués/AM. Seropédica,

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ. 2016. 67Nenhuma entrada de índice

remissivo foi encontrada. p. (Dissertação, Mestrado em Educação Agrícola).

O guaranazeiro (Paullinia cupana variedade sorbilis) é uma espécie amazônica que

tem sido cultivada pelos índios antigos maués desde os tempos anteriores ao da conquista

espanhola e lusitana. Foram eles que domesticaram o guaraná e o transformaram em seu

produto de maior importância e símbolo de sua identidade cultural. A introdução das

inovações tecnológicas aplicadas à cultura do guaraná no município de Maués só ocorreu a

partir do ano de 1999, devido ao baixo desempenho produtivo dos plantios tradicionais e o

ataque de pragas e doenças que acometeram as plantas. As mudas até então colhidas nas

matas ou produzidas em viveiros artesanais, deixaram de ser recomendadas pelos órgãos

de pesquisa e de fomento e, os cultivares clonais, juntamente com as novas práticas de

cultivo passaram a ser os únicos métodos de manejo recomendados pelo órgão de pesquisa

para que os produtores adotassem em seus plantios. Na avaliação dos pesquisadores esse

novo manejo apresenta ampla vantagem comercial em relação ao modelo tradicional.

Diante dessa nova realidade, surgem diversos questionamentos: essas inovações técnicas

alteraram radicalmente as práticas tradicionais, suplantando os saberes transmitidos pelos

indígenas e pelos agricultores tradicionais não indígenas? Ou ainda, o conhecimento

científico soube dialogar com os saberes tradicionais, no sentido de que é possível uma

coexistência harmoniosa entre esses saberes? É oportuno salientar que na mentalidade

ocidental, marcada pela primazia da razão, o conhecimento milenar dos povos indígenas e

das populações tradicionais não passa de mero senso comum, desprovido de qualquer

validade científica. Esta pesquisa tem por objetivo principal identificar quais os aspectos

do tradicionalismo da produção do guaraná do município de Maués que ainda permanecem

inalterados após a introdução das inovações tecnológicas implementadas pela Embrapa e

quais as antigas práticas que já estão em desuso.

Palavras-chave: guaraná, manejo, saberes tradicionais, conhecimento científico,

Maués

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ABSTRACT

O guaranazeiro (Paullinia cupana variedade sorbilis) é uma espécie amazônica que

tem sido cultivada pelos índios antigos maués desde os tempos anteriores ao da conquista

espanhola e lusitana. Foram eles que domesticaram o guaraná e o transformaram em seu

produto de maior importância e símbolo de sua identidade cultural. A introdução das

inovações tecnológicas aplicadas à cultura do guaraná no município de Maués só ocorreu a

partir do ano de 1999, devido o baixo desempenho produtivo dos plantios tradicionais e o

ataque de pragas e doenças que acometeram esses plantios. As mudas até então colhidas

nas matas ou produzidas em viveiros artesanais, deixaram de ser recomendadas pelos

órgãos de pesquisa e de fomento e, os cultivares clonais, juntamente com as novas práticas

de cultivo passaram a ser os únicos métodos de manejo recomendados para que os

produtores adotassem em seus plantios. Na avaliação dos pesquisadores esse novo manejo

apresenta ampla vantagem comercial em relação ao modelo tradicional. Diante dessa nova

realidade, surgem diversos questionamentos: essas inovações alteraram radicalmente as

práticas tradicionais, suplantando os saberes transmitidos pelos indígenas e pelos

agricultores tradicionais não-indígenas? Ou ainda, o conhecimento científico soube

dialogar com os saberes tradicionais, no sentido de que é possível uma coexistência

harmoniosa entre esses saberes? É oportuno salientar que na mentalidade ocidental,

marcada pela primazia da razão, o conhecimento milenar dos povos indígenas e das

populações tradicionais não passa de mero senso comum, desprovido de qualquer validade

científica. Esta pesquisa tem por objetivo principal identificar quais os aspectos do

tradicionalismo da produção do guaraná do município de Maués que ainda permanecem

inalterados após a introdução das inovações tecnológicas implementadas pela Embrapa e

quais as antigas práticas que já estão em desuso.

Palavras-chave: guaraná, manejo, saberes tradicionais, conhecimento científico,

Maués

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ..................................................................................................................................x

Figura 2 ..................................................................................................................................x

Figura 3 ..................................................................................................................................x

Figura 4 ..................................................................................................................................x

Figura 5 ..................................................................................................................................x

Figura 6 ..................................................................................................................................x

Figura 7 ..................................................................................................................................x

Figura 8 ..................................................................................................................................x

Figura 9 ..................................................................................................................................x

Figura 10.................................................................................................................................x

Figura 11.................................................................................................................................x

Figura 12 ................................................................................................................................x

Figura 13 ................................................................................................................................x

Figura 14 ................................................................................................................................x

Figura 15 ................................................................................................................................x

Figura 16 ................................................................................................................................x

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 .................................................................................................................................x

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1.................................................................................................................................x

Gráfico 2.................................................................................................................................x

Gráfico 3.................................................................................................................................x

Gráfico 4.................................................................................................................................x

Gráfico 5.................................................................................................................................x

Gráfico 6.................................................................................................................................x

Gráfico 7.................................................................................................................................x

Gráfico 8.................................................................................................................................x

Gráfico 9.................................................................................................................................x

Gráfico 10 ..............................................................................................................................x

Gráfico 11...............................................................................................................................x

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................x

2. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................x

2.1. Os saberes tradicionais.............................................................................................x

2.2. O guaraná: caracterização e classificação botânica..................................................x

2.3. Aspectos históricos do guaraná................................................................................x

2.4. Tipos de cultivo do guaraná de Maués ....................................................................x

2.4.1. O cultivo do guaraná na visão do povo indígena Sateré-Mawé...........................x

2.4.1.1 A importância do guaraná no imaginário simbólico Sateré-Mawé ....................x

2.4.2 O cultivo do guaraná pelos agricultores não indígenas ..........................................x

2.4.2.1 Tratos culturais, colheita e beneficiamento do guaraná .....................................x

2.4.2.2 O processo de torrefação e armazenamento do guaraná .....................................x

2.4.2.3 Recomendações para o manejo tradicional do guaraná.......................................x

2.4.3 O cultivo tecnificado do guaraná ...........................................................................x

2.5. As aspectos econômicos: a produção, comercialização e perspectivas para o guaraná

de Maués ..........................................................................................................................x

2.5.1. Produção do guaraná em Maués nos últimos nove anos .......................................x

2.5.2. As principais formas de comercializar o guaraná ..................................................x

2.6. O Selo de Identificação Geográfica do Guaraná de Maués ....................................x

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................x

3.1. Tipologia da Pesquisa .............................................................................................x

3.2. Participantes da Pesquisa ........................................................................................x

4. RESULTADO E DISCUSSÃO .................................................................................x

4.1. Entrevistas ..............................................................................................................x

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4.2. Análise das informações contidas nas entrevistas ...................................................x

4.3. O perfil dos agricultores participantes da pesquisa ................................................x

4.4. Análise das informações contidas nos questionários ..............................................x

4.4. Práticas tradicionais que permanecem inalteradas no cultivo do guaraná ..............x

4.5. Práticas tradicionais que sofreram alterações...........................................................x

4.7. Proposta Pedagógica: a Aprendizagem Significativa ..............................................x

5. CONCLUSÃO ..............................................................................................................x

6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................x

7. ANEXOS ......................................................................................................................x

7.1. ANEXO I – MATRIZ CURRICULAR .....................................................................x

7.2. ANEXO II - TERMO DE CONSENTIMENTO .......................................................x

7.3. ANEXO III – QUESTIONÁRIO 1 .............................................................................x

7.4. ANEXO IV – QUESTIONÁRIO 2 ..........................................................................x

7.5 . ANEXO V – EMENTA DA 2ª SÉRIE DE AGROPECUÁRIA................................x

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1. INTRODUÇÃO

A introdução das inovações tecnológicas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) aplicadas à cultura do guaraná no município de

Maués alterou radicalmente as práticas tradicionais, suplantando os saberes transmitidos

pelos antigos agricultores como os indígenas e não-indígenas? Ou ainda, o conhecimento

científico soube dialogar com os saberes tradicionais, no sentido de que é possível uma

coexistência harmoniosa entre esses saberes? Para responder a problemática em questão,

esta pesquisa se propõe, enquanto objetivo geral, identificar quais os aspectos do

tradicionalismo da produção do guaraná do município de Maués que ainda permanecem

inalterados após a introdução das inovações tecnológicas implementadas pela Embrapa e

quais as antigas práticas que já estão em desuso.

Figura 1. Localização de Maués no Estado do Amazonas. Fonte: Internet

O local onde se desenvolveu este trabalho é o município de Maués, localizado no

Estado do Amazonas, mesorregião do Médio Amazonas, área leste do Estado, em uma

faixa de terra entre os rios Madeira e Tapajós, conhecida como Mundurucânia. O local é

conhecido como a Terra do Guaraná, pois o guaraná é endêmico desse lugar e ainda devido

ao cultivo e comercialização desse importante produto desde o período da conquista

colonial da Amazônia. É a terra dos antigos índios Maués, autodenominados atualmente

Sateré-Mawé. Foram eles que domesticaram esse fruto e detém os conhecimentos

milenares sobre o manejo dessa cultura.

É importante ressaltar que no município de Maués há um Campo Experimental da

EMBRAPA, responsável por inúmeras pesquisas em relação ao guaraná, dentre elas, o

melhoramento genético dessa planta, formas de combates às pragas e doenças e que, cuja

unidade experimental foi instalada no ano de 1974. Maués conta também com uma unidade

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fabril da Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV), instalada no início da década de

1960, onde inicia processo de fabricação de uma marca de refrigerantes, que também

dispõe de um núcleo de pesquisa voltado para busca de melhorias na cultura do guaraná.

Completa esse contexto, a instalação de um campus do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Amazonas, no ano de 2010, destinado a formação profissional de

jovens e adultos, oferecendo entre os diversos cursos, o Técnico de Nível Médio em

Agropecuária.

O desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, busca, em contato direto com os

produtores observar se as novas tecnologias estão colocando em desuso as práticas

tradicionais na forma de cultivar a forma o guaraná em suas respectivas propriedades ou

comunidades. Além disso, essa pesquisa visa localizar geograficamente, usando as

coordenadas geográficas, usando como ferramenta o GPS, as áreas em que estão

localizados os produtores. O propósito da marcação dos pontos é mostrar os locais onde

foram realizados o trabalho de coletas de informações e ser um fator de incentivo para

trabalhos futuros, como, por exemplo, a construção de um banco de dados, onde seja

possível identificar o produtor com a sua respectiva maneira de cultivo visando objetivos

de comercialização a origem de sua produção.

Existem atualmente algumas maneiras distintas de cultivar o guaraná no município

de Maués: o cultivo milenar praticado pelos indígenas da etnia sateré-mawé, uma forma

bastante peculiar e praticamente mantida em grande parte, como uma espécie de tabu. O

manejo adotado pelos agricultores não indígenas, onde mesclam os saberes indígenas com

conhecimentos empíricos moldados ao longo do tempo, chamado também no município de

Maués de cultivo nativo e a mais recente maneira; o cultivo tecnificado, resultado de

muitos anos de pesquisa, desenvolvido pela EMBRAPA e incentivado por órgãos como

IDAM, AMBEV e Secretaria Municipal de Produção. Com o advento das novas

tecnologias, algumas propriedades onde se cultivam o guaraná empregando o modo

tradicional, começam, de forma gradativa, incorporar as novas tecnologias disseminadas

pelos órgãos de pesquisa. Para essa modalidade eu denominei de cultivo misto no

questionário aplicado aos agricultores

Como justificativa deste trabalho, percebe-se que há uma carência de registros dos

saberes e práticas tradicionais adotadas pelos agricultores familiares e indígenas em

relação à cultura do guaraná. Esses conhecimentos herdados dos povos tradicionais corre o

risco de desaparecer, pois a literatura disponível praticamente ignora esse conhecimento,

taxando-o de conhecimento empírico, sem validade científica. Observa-se que há uma

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enorme valorização das novas tecnologias aplicadas ao manejo do guaraná e um crescente

esvaziamento das práticas desenvolvidas ao longo de séculos sobretudo pelos indígenas da

etnia sateré-mawé.

Além do objetivo geral o qual já devidamente delineado na página, relaciono

abaixo os objetivos específicos do presente trabalho de pesquisa:

1 - Caracterizar historicamente as transformações observadas na cultura/manejo do guaraná

no município de Maués.

2– Descrever as práticas do cultivo tradicional do guaraná no município de Maués na

3 – Sistematizar as práticas e costumes observados no cultivo do guaraná em Maués que

permanecem inalterados e aqueles que se encontram em desuso, após a introdução das

inovações tecnológicas desenvolvidas pela Embrapa

Há outro fator que me impulsionou a fazer este trabalho é de caráter pessoal, pois

venho de uma família de agricultores familiares e que tinham no guaraná o seu principal

produto agrícola. Aprendi desde a minha infância, a partir da observação e do fazer, as

práticas relacionadas a todo o processo produtivo do guaraná: como preparar a área,

plantar, os tratos culturais recomendados, os cuidados com a planta, o processo de colheita

e torrefação e outros conhecimentos passados ao longo de gerações. Além disso,

observava como o meu pai se relacionava com esta planta. Era uma relação de muito

simbolismo, que beirava a paixão e o lirismo. Não tive tempo nem desenvoltura para

aprender a fabricar o “pão” do guaraná, pois exigia uma série de técnicas que somente os

mais velhos dominavam e que nem sempre tinham a devida paciência para ensinar aos

mais novos.

Ao descrever os diversos tipos manejos do guaraná no município de Maués, surge o

famoso embate entre o saber tradicional e conhecimento científico. De imediato, alguns,

herdeiros da visão cartesiana, se colocam ao lado do conhecimento científico como sendo a

única fonte de verdade. Há uma abundante literatura que aborda a relação entre os saberes

tradicionais e o conhecimento. Alguns estudiosos dessa temática, entre eles Lévi-Strauss,

Cardoso, Morin, entre outros, criticam o uso predominante da presumida distinção entre o

chamado conhecimento ocidental, identificado como científico ou racional e conhecimento

indígena, sendo este desprovido de qualquer validade científica. Segundo esses autores,

não se pode fazer esta distinção direta, pois seria mais adequado falar em múltiplos

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domínios e diversos tipos de conhecimento e utilizar de mecanismo para proteger,

sistematizar e disseminar os conhecimentos dos diversos grupos sociais.

Na revisão de literatura foi feito um breve levantamento dos aspectos históricos da

cultura do guaraná, uma vez que esse produto está no mercado nacional e internacional

desde os primeiros momentos da conquista da Amazônia, fazendo parte das chamadas

“drogas do sertão” e uma descrição das diversas modalidades de cultivo, onde será

sistematizado uma série de saberes transmitidos pelos indígenas e agricultores tradicionais

não indígenas. A descrição do cultivo praticado pelos agricultores indígenas e não

indígenas, dada a carência de literatura ou mesmo a própria inexistência, será apresentado

a partir de relatos descritivos feito por alguns agricultores, inclusive o meu pai. Será

também apesentada uma estatística da produção do guaraná no município de Maués, além

das perspectivas comerciais e das novas projeções da cultura do guaraná com a obtenção

do Selo de Identificação Geográfica do Guaraná de Maués, o chamado IG do guaraná.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Os saberes tradicionais

A população indígena, os povos das florestas e pequenos agricultores do Estado do

Amazonas possuem valioso capital simbólico, além disso são possuidores de uma

sociodiversidade, caracterizada pela variedade de culturas. No Amazonas vivem pelo

menos 62 povos indígenas, falantes de 27 línguas e estão organizados em diversas

entidades e associações que lutam por seus direitos. Das 584 Terras Indígenas do Brasil,

30% estão localizadas nesse Estado. (ALMEIDA, 2008, pág.46)

Na I Carta de Manaus – Conferência de Pajés, onde pajés e lideranças de doze (12)

etnias reuniram-se para discutir a repartição justa dos benefícios derivados da exploração e

uso do conhecimento tradicional e articular com as diversas esferas do governo, visando

proteção dos direitos de propriedade intelectual dos povos indígenas, assim disseram: “O

conhecimento tradicional indígena tem valor estratégico não só quanto aos demais

conhecimentos que se encontram sob a proteção do Estado, mas também pelos projetos de

ponta desenvolvidos pela bioindústria nacional e estrangeira” (ALMEIDA, 2008, pág.46)

Atualmente há uma corrida aos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas,

parece que somente agora foi rompida aquela visão em que o conhecimento indígena não

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passava de superstições e feitiçarias. Outro fator que mobilizou essa atenção foi o fato de

que empresas estrangeiras estavam se apropriando desses conhecimentos e auferindo

vantagens, sem que houvesse um retorno para as comunidades indígenas. Destaca-se nessa

busca pelos conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia as indústrias de material

de cosméticos e farmacêuticos, muito interessados em diversos produtos como o cupuaçu,

copaíba e guaraná, como foi o caso da empresa Asahi Foods que produz o cupulate,

chocolate de cupuaçu, entre outros exemplos.

Lévi-Strauss (2014), grande estudioso dos saberes tradicionais, destaca a

importância da ciência tradicional indígena. Em sua avalição, o chamado saber dos povos

indígenas tem caráter científico, além de ter uma postura científica assim como se observa

na ciência convencional. Fica evidente que para este estudioso, rotular o saber tradicional

de desprovido de comprovação, é uma prova que os chamados cientistas ainda precisam

urgente repensar suas atitudes diante da realidade histórica, marcada pelas diferentes

formas de conhecimento. “Para transformar uma erva silvestre em planta cultivada [...],

para transformar grãos ou raízes tóxicas em alimentos [...] não duvidemos de que foi

necessária uma atitude de espírito verdadeiramente científico” (STRAUSS, 2014, p.31).

Segundo Diegues, a colonização do Brasil empreendida pelos portugueses a partir

do século XVI formou no meio da população rural não - indígena um modelo sociocultural

de adaptação ao meio que, apesar de suas diferenças regionais e as que se podem detectar

ao longo do tempo, apresenta características comuns que marcam ainda hoje as

comunidades humanas em regiões isoladas do país, sobretudo na Amazônia. (DIEGUES,

2000)

Esse modelo sociocultural de ocupação do espaço e de utilização dos recursos

naturais deve a maior parte de suas características às influências das populações indígenas.

Pode-se acrescentar que houve também a contribuição do negro na formação e

consolidação desses saberes. (DIEGUES e at. 2000, p. 26)

Para corroborar essa postura de valorização dos saberes dos povos indígenas e

populações tradicionais não-indígenas (caboclos) que vivem na Amazônia, é oportuno

mencionar o seguinte comentário:

“Além de desenvolver conhecimentos a cerca da biologia amazônica, os índios e

os caboclos criaram mecanismos de contenção para protege-la e preservá-la. Não

se trata de arcaísmo ou de sobrevivência obsoletas. O atrasado, o retrógrado é,

por exemplo, transformar em capim a floresta amazônica” (RIBEIRO, 1995, pág

238)

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2.2 O guaraná: caracterização e classificação botânica

Figura 2 O guaranazeiro (A) – O guaraná, fruto do guaranazeiro – Fonte: B-Emprapa

O guaraná é um arbusto originário da Amazônia, encontrado no Brasil, Peru,

Colômbia e Venezuela, figurando apenas o Brasil como único produtor, em termos

comerciais, de guaraná no mundo (Embrapa, 2005). A exceção deve ser feita a pequenas

áreas plantadas na Amazônia venezuelana, onde não existe o cultivo tecnificado da planta.

O guaraná é cultivado principalmente no município de Maués, Presidente Figueiredo,

Urucará, Boa Vista do Ramos e Parintins, municípios localizados no Estado do Amazonas

e no Estado da Bahia. Seu nome científico é Paullinia cupana e pertence à família das

sapindáceas. Existem duas variedades de guaraná. O guaraná que ocorre no rio Negro e

Orenoco é o Paullinia cupana Hub. Bon. Kunt, variedade cupana, já o encontrado em

Maués e terras limítrofes é o Paullinia cupana, variedade sorbilis.

De acordo com Pereira (1954, p. 170) antes dessa distinção científica, o naturalista

luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, em sua Viagem Filosófica pelas Capitanias

do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, ocorrida entre os anos de 1783 a 1992,

apontara outra distinção: o guaraná cultivado em Maués apresentava qualidade superior e

elevado valor comercial em relação ao guaraná do rio Negro e Orenoco. No entanto, os

índios Maués, com muita antecedência, já haviam fixado em suas narrativas, essa

diferença, visto que denominavam de uraná-cecê o guaraná verdadeiro ou Paullinia

cupana variedade sorbilis e uraná-hôp ou guaraná falso, conhecido também como

guaranarana ao Paullinia cupana, variedade cupana. (PEREIRA, 1954, 156).

O guaranazeiro é um arbusto trepador ou subereto, cujo fruto, o guaraná, possui

uma casca muito escura; folhas compostas, alternas, grandes, recortadas e com gravinhas;

flores brancas e pequenas, em forma de cacho como as da videira. Das sementes é feita a

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droga vegetal, a qual é descrita na quinta edição da Farmacopéia Brasileira, (2010) da

seguinte forma:

“A semente é globosa, quando única no fruto, ou subesférica a elipsóide e

levevemente comprimida lateralmente, quando 2 ou 3, desigualmente convexa

nos dois lados, geralmente apresentando uma curta projeção apcial. Em regra,

tem 0,6 a 0,8 cm de diâmentro, sendo coberta por um tegumento, denominado de

casquilho ou cascarilho, que deve ser descartado. A semente sem o tegumento é

exalbuminada e apresenta dois grandes cotilédones carnosos, espessoas e firmes,

desiguais, plano-convexos, de coloração castanhoescura. A cicatriz do arilo

mantém-se nos cotilédones, porém, enegrecida. O embrião é pouco desenvolvido

e possui um curto eixo radículo-caulinar inferior”. (FARMACOPEIA

BRASILEIRA, 2010, p. 1009)

Figura 3: Descrição do guaranazeiro e seu fruto. Fonte: Internet

2.3 Aspectos históricos do guaraná

O guaraná é um fruto conhecido e domesticado pelos povos nativos da Amazônia

desde a época pré-colombiana. É nativo da floresta da macrorregião hidrográfica

delimitada pelos rios Madeira, Tapajós e Amazonas e pelas cabeceiras dos rios Andirá e

Marau (LORENZ, 1991 p.50). A primeira descrição histórica do guaraná foi feita em 1669,

pelo Padre João Felipe Bettendorf, cronista e superior dos jesuítas do Estado do Maranhão,

que descreveu como encontrou na Amazônia o guaraná, sendo esse relato uma espécie de

certidão de nascimento do guaraná para o mundo ocidental:

“Tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual

secam e depois pisam, fazem dela umas bolas, que estimam como os brancos o

seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando em uma cuia

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cheia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça um dia até

outro não sentem fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e

câimbras. Do préstimo que se tem para provocar urina me consta; do mais não

sei de certo se não pelo que comumente ouço dizer”. (BETTENDORF, 2010,

p.40)

Em uma correspondência dos Governadores do Pará endereçada à Corte e Lisboa,

datada de 1801, há uma descrição sobre os produtos que o Estado do Grão-Pará exportava

para a Europa: arroz, algodão café, salsa, cravo, urucu, anil, puxuri, tapioca, goma,

guaraná (grifo nosso), madeira, óleo de copaíba, mel, aguardente e couros, entre outros

produtos. (TOCANTINS, 1982)

Flaviano Guimarães Costa, citando o depoimento do ouvidor Francisco Xavier

Ribeiro de Sampaio, em 1775, afirma: “Os maués são famosos pela fabricação da célebre

bebida guaraná, frigidíssima, que já se usa na Europa, e que se tem conhecido algumas

virtudes no seu uso”. (EMBRAPA, 1984).

Durante o governo de Lobo D’Almada (1788-1799) ocorreu um repentino

desenvolvimento da economia da Capitania do Rio Negro principalmente no setor agrícola.

Houve também fomento para as manufaturas, potencializando as experiências mais

promissoras como a preparação do guaraná em bastão pelos índios maués, entre outras

atividades. (SANTOS, 2010, p. 111)

Patrocinado pela esposa do príncipe D. Pedro I, Martius esteve no Brasil entre os

anos de 1817 à 1820, junto com Johann Baptiste von Spix, coletando produtos medicinais

para difundi-los na Europa, e por esse contato com esta planta, desenvolveu os primeiros

estudos científicos sobre o guaraná. Esse estudioso também observou que na época de sua

visita à região de Tupinambarana já existia intenso comércio de guaraná, enviado a locais

distantes como Mato Grosso e a Bolívia. (SPIX E MARTIUS, 1981, págs. 114,115)

Cinco décadas depois, o pesquisador paraense Ferreira Pena faria precioso registro

sobre a abrangência espacial e os níveis de consumo e comercialização do guaraná, quando

informa que:

(...) Os habitantes do Mato Grosso e da Bolívia, desde as margens do Alto

Paraguai e do Madeira, até as montanhas orientais dos Andes, fazem alto

consumo do guaraná, que tem, entre eles, o emprego que no Pará e em quase

todas as províncias se dá ao café e, no Rio Grande do Sul, ao mate. Tomam-no

frio todos os dias, principalmente de manhã, em um cálice ou cuia, conforme as

condições sociais e posses de cada um. Para se reduzir a pó a massa do guaraná,

emprega-se geralmente a língua óssea do pirarucu, a qual substitui otimamente

uma lima.

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(...) Cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bolívia e Mato-Grosso

dirigindo-se à Serpa e Vila Bela Imperatriz, para onde trazem seus gêneros de

exportação e donde recebem os de importação. Daí antes de regressarem vão a

Maués, donde levam mil arrobas de guaraná, regressando então em ubás,

carregadas daqueles e deste último gênero, que eles vão vender nos

departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bolívia e nas

povoações do Guaporé em seus afluentes. (FERREIRA PENA, 1869 p. 204, 205)

2.4 Tipos de cultivo do guaraná de Maués

A identidade do povo brasileiro é marcada pela contribuição social, cultural e

genética de pelos menos três grandes grupos: o indígena, o branco e o negro. A Amazônia

apresenta de forma bastante marcante a influência indígena. No tocante a contribuição

cultural e social vale destacar a contribuição do índio amazônico nos hábitos da culinária,

nos processos econômicos, ao ponto de Gilberto Freyre, no dizer de Leandro Tocantins,

notar que a Amazônia é a área de cultura no Brasil, mais impregnada da influência nativa.

O sociólogo cita: “O que aí se come tem ainda o gosto do mato”. Não é só a culinária

essencialmente indígena. Juntem-se as técnicas especiais para pescar, remar, para caçar,

para coletar os produtos tropicais, para fazer roçado, para utilizar recursos naturais, enfim,

um sem número de traços de cultura ainda vivos e predominantes na vida regional

(TOCANTINS, 1982, p.19)

Assim como acontece com outras culturas perenes ou não, o guaraná apresenta

variadas formas de manejo e cultivo. Há o manejo praticado pelos indígenas da etnia

sateré-mawé, os domesticadores da planta, assim como há a forma de cultivo dos

agricultores do município de Maués, os quais aprenderam com os indígenas as técnicas de

cultivo do guaraná e incluíram suas inovações, formando assim a base do chamado cultivo

tradicional do guaraná e, mais recentemente foi introduzido o chamado cultivo racional da

cultura do guaraná, ou tecnificado. Descreveremos a seguir as principais formas de cultivo

e ressaltamos que a descrição do cultivo do guaraná pelos agricultores não indígenas foi

baseada em relatos colhidos juntos a esses produtores.

2.4.1 O cultivo tradicional do guaraná na visão do povo Sateré-Mawé

Segundo Pereira (1954), os membros dessa etnia, fazem roçados, neles plantando

mandioca para produção da farinha, item indispensável em sua dieta diária, além de servir

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para o preparo do tarubá, uma bebida forte feita a partir da fermentação da farinha. Além

disso, plantam também milho, arroz, cará, batata doce, feijão, favas, fumo, algodão e

laranja. No plantio ou na colheita, o regime é de puxirum, mas pode haver também

pagamento em gêneros, ou até mesmo em objetos de uso. No plantio de cará e de outros

vegetais, que se caracterizaram pela produção de tubérculos e rizomas comestíveis,

realizam uma prática de magia: enterrada parcialmente a batata, arrastam para dentro de

uma das covas um crânio bem limpo de cabeçudo (espécie de quelônio) e depois fecham a

cova. Acreditam que, por esse processo, as batatas terão um desenvolvimento superior em

relação a outros plantios, onde não foi feito esse ritual.

O plantio do guaraná obedece às mesmas exigências das demais culturas como a

escolha das sementes, o preparo do terreno, os cuidados com os rebentos, abrigando-as da

luz solar e defendendo de pragas. Distinguem-se dos civilizados, nesse plantio, porque

selecionam as sementes e as plantas poucos dias após a colheita, com o arilo ainda não

entrado em fermentação. Por ocasião do plantio de novas áreas de guaraná, mandam

chamar pajés, que fazem cerimônias para beneficiar as futuras colheitas. E comemoram o

fato com danças, ao som de violas, de gambás, de caixas, de reco-recos. No final da safra

anual do guaraná comemoram o sucesso na colheita, com o Ritual da Tucandeira, um

peculiar rito de passagem.

Porém, quando não conseguem produzir tais mudas, eles vão buscar nas matas “os

filhos do guaraná”, selecionando aqueles que possuem entre um ano e no máximo quatro

anos, os quais tornam-se produtivos após dois ou três anos, após o plantio na área

delimitada. Plantam as mudas em forma de X, pois segundo sua avaliação a planta produz

mais brotos e frutos e, durante o crescimento da planta, elas se sustentam reciprocamente.

Observa-se uma distância de três metros entre as mudas, pois é uma forma tradicional de se

obter mais produtividade, facilitar a colheita e o controle das ervas daninhas que costumam

invadir essas plantações. Costumam ainda manter cada árvore de guaraná com uma altura

média de três metros para facilitar a colheita. Os Sateré-mawé não misturam outros

cultivos ao do guaraná (LORENS, 1982).

O fábrico, nome como é conhecido na região de Maués o período da safra do

guaraná, começa em meados de outubro, cujo ciclo encerra no mês de março do ano

seguinte, quando se completa o tempo da defumação dos pães de guaraná. Atualmente, os

indígenas seguem a mesma padronização herdada dos seus antepassados, não só na forma

de cultivar o guaraná, como na maneira de beneficiar este produto. “Los Sateré-Maué

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consideran los panes de guaraná como “moneda” para intercâmbios y compras de otros

produtos con comerciantes, y antaño otras tribos” (UGGÊ,1991, p. 46)

O antropólogo Darcy Ribeiro (2009) fez o seguinte comentário a respeito dos

índios pertencentes a essa etnia: “Alguns se especializaram em certas atividades

econômicas, como os Mawé, que se tornaram conhecidos pela alta qualidade do guaraná

que cultivam” (RIBEIRO, 2009, p.57)

Segundo o Tuxaua (Tu’isá), o líder da aldeia, Ilha Michiles, Josibias Alencar dos

Santos, o Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGSTM), entidade que representa todas

as comunidades indígenas (aldeias) Sateré-mawé situadas no rio Andirá e Marau, diante do

surgimento das novas tecnologias de cultivo do guaraná, determinou que o guaraná

produzido pelos indígenas dessa etnia deve ser cultivado na forma tradicional, isto é, sem o

uso de mudas obtidas meio de estaquia (clones), sendo vedado a introdução de adubos

químicos nas plantações, além de propor meios para rejeitar todo e qualquer uso de

agrotóxico no combate de pragas e doenças e o uso de mudas transgênicas. O objetivo

dessas recomendações é assegurar a forma tradicional como era beneficiado este produto e,

como isso, ter e assegurar acesso ao comércio justo no mercado internacional. A entidade

que realiza a busca de mercados consumidores e a comercialização da produção do guaraná

é o Consórcio dos Produtores Sateré-mawé.

No ano de 2015, segundo o entrevistado, o valor do quilo em rama (sementes

torradas) foi comercializado em torno de R$ 35,00, enquanto o guaraná cultivado fora da

área indígena, ou seja, o produto do agricultor familiar tradicional não indígena e do

cultivo tecnificado oscilou entre R$ 15,00 a R$ 22,00 reais na praça comercial de

Maués/AM. O plantio segue os conhecimentos dos antigos e obedecem às fases da lua em

determinadas fases do manejo. Os filhos (mudas) são retirados no centro da mata, onde

existem as matrizes. Seguindo esses procedimentos, a planta começa a produzir somente a

partir dos quatro anos de idade e atinge a maturidade no ano seguinte, quando então

começa a fase produtiva.

2.4.1 Importância do guaraná no imaginário simbólico Sateré-Mawé

Segundo Uggê, tanto o guaraná como a Dança da Tucandeira (ritual de iniciação

masculina) é um presente da Mãe Terra ligado a existência física, continuação da vida e

energia intelectual do índio sateré-mawé. Não só o cultivo desta planta é marcado por uma

série de recomendações herdadas dos antepassados, como também o preparo do pão do

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guaraná. Uma vez colhido o fruto e passado pelo processo de torrefação, os grãos são

batidos para que soltem o casquilho. Após isso, as sementes são moídas em um pilão até se

converter em pó. Após isso, adiciona-se água para que a massa possa ser manipulável, até

parecer a forma de bastões, como se fossem pães. O indígena não usa o termo “bastão”,

pois o bastão serve apenas para dar apoio, geralmente do idoso e do doente, mas emprega o

termo pão, pois é fonte de alimento. Após o processo de fabricação dos pães de guaraná,

eles são lavados e são colocados em cima de uma esteira, sobre um fogareiro para ser

defumado, onde ficam por mais de um mês até que ganham uma cor escura e resistente.

Esse produto é transformado em uma bebida. É usado em reuniões ou quando se

recebe a visita de uma pessoa querida ou mesmo ou até mesmo de um viajante. A mulher

toma um pedaço do pão de guaraná e rala dentro de uma cuia contendo uma certa

quantidade de água. Os índios da etnia sateré-mawé usam uma pedra para produzir esta

bebida. Já os demais agricultores usam a língua do pirarucu. Obtêm-se uma bebida que se

parece com água turva e amarga. Esta bebida traz força, é fonte de iluminação para a

tomadas de decisões e emitir justos conselhos. Assim escreve Uggê:

El guaraná es una tuxaua, un jefe que dirige, piensa, protege, produce y procura

el bien dos demás, mantiene la vida y la hace fecunda. En los viajes y

enfermedades, o en momentos de debilidad, la bebida de guaraná, lhamada por

los Sateré Maué sakpó, es o mejor que puede tomar. En las reuniones o

decisiones comunitarias no se comienzan las discussiones sin pasar antes una

taza com sakpó para que la tomen todos los presentes. El chamán también toma

en los ritos. (UGGÊ, 1991, p.45)

É visível que o ato de beber o guaraná não é um ato qualquer que deve ser

banalizado, mas está repleto de memória e significação. E mais, para o indígena somente a

bebida prepara por eles é que pode ser chamada de çapó. Observa-se a descrição feita por

Uggê, missionário católico sobre o ato de beber o guaraná:

El valor religioso do guaraná em cuanto relación entre tierra madre e indivíduo,

conserva, mantiene eficazmente y defende a la persona contra los peligros que

pueden atacar al organismo o al alma. Como os índios se sientem seguros y

llenos de confianza incluso en los momentos más difíciles. Tomar el guaraná no

es simplesmente un acto común y profano, sino que adquire a menudo um

significado ritual. (UGGÊ, 1991, p. 46)

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Figura 4. (A) Mulher preparando o çapó (B) Ritual da Dança da Tucandeira

2.4.2 O cultivo tradicional do guaraná pelos agricultores não-indígenas.

No relato do Sr. Miguel de Oliveira Souza, proprietário do Sítio São Mateus,

localizado no Igarapé do Âmago, subafluente do rio Maués-Açu, informa que uma vez

preparada a área, isto é, feita a derrubada das árvores com a posterior queimada, o

agricultor precisa buscar os filhos (mudas) do guaraná em locais situados dentro da

floresta. E o agricultor deve conhecer previamente esses locais, pois não há mudas em

qualquer lugar da floresta. É um trabalho demorado. Como esses locais estavam distantes

de suas casas, geralmente o agricultor sai de sua casa assim que surge o dia e só retorna ao

entardecer. Nesse trabalho há o risco de contatos com cobras, escorpiões e outros animais

peçonhentos etc. Ao chegar nos lugares dentro das matas em que há mudas, estas são

cuidadosamente arrancadas e as folhas parcialmente retiradas.

A seleção é realizada de forma visual, sempre escolhendo aquelas mudas que

estão com folhas bem verdes e estão bonitas, com as raízes fortes, sendo descartadas as

mudas que apresentam sinais de doença. Entretanto, essa seleção nem sempre é eficaz.

Realizado esses primeiros procedimentos, as mudas eram levadas para o aceiro (laterais)

do roçado, onde eram parcialmente enterradas durante um período de aproximadamente

dez dias. Essa prática decorre de o fato da muda do guaraná precisar de adaptação para

nova área, agora exposta diretamente ao sol, além de iniciar o processo de enraizamento e

lançar novas folhas.

Decorrido esse tempo, onde já havia sido plantado a mandioca, chega o momento

do plantio que é feito de modo bastante simples. Utilizando uma enxada ou outra

ferramenta similar, abre-se uma cova com uma dimensão aproximada de 30 cmx30 cm,

sendo em seguida colocada a muda de guaraná, tendo cinco a seis metros o espaçamento

entre elas. O entrevistado conta que plantava dois filhos na mesma cova, pois isso garantia

a formação do guaranazal. Caso uma morresse, a outra resistiria. O plantio acontece entre

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os meses de janeiro e fevereiro, período de maior incidência de chuvas na região e sempre

levando em consideração a fase da lua nova ou quarto crescente, um costume herdado dos

índios Maués, porque acreditavam que é nessas duas fases lunares onde a planta apresenta

um desenvolvimento rápido. Toma-se o cuidado para proteger a planta dos raios solares,

ora construindo casinhas de madeira a qual lembrava o formato de uma fogueira ou

aproveitando o sombreamento das maniveiras, plantadas em consórcio.

Após o plantio, o principal trato cultural que recebe, é em média uma limpeza por

ano, que geralmente coincidia com a retirada da mandioca, macaxeira, cará plantados no

sistema de consórcio com o guaraná. Nessa forma de manejo, espera-se em média quatro

anos para que o guaranazeiro inicie a produção, daí a importância do consórcio com outras

culturas temporárias, o qual serve para amortizar os custos com a implantação do guaraná.

2.4.2.1 Tratos culturais, colheita e beneficiamento

Quando não é possível encontrar as mudas na floresta, a solução é prepará-las

utilizando as sementes das árvores mais produtivas. A técnica de produção dessas mudas é

bastante simples, sem o emprego de insumos. Uma vez realizado o plantio é necessário

tomar alguns cuidados, como manter o controle das ervas daninhas, por meio de campinas

e roçagens e o uso da cobertura de matéria morta como forma de adubação. A adubação é

feita somente com matéria orgânica, isto é, o próprio material de limpeza, folhas e capins,

sem uso da adubação sintética. O controle de pragas é feito por meio de fumaça, utilizando

ramos de algumas plantas e caroços de palmeiras, entre elas, sementes de inajá ou tucumã,

além de realizar a poda e posterior queimada dos ramos secos e doentes. As principais

doenças do guaranazeiro eram conhecidas como o nome de lagartão para o

superbrotamento e queima das folhas para a antracnose

Na visão dos técnicos, os agricultores tradicionais por não combaterem as pragas

com emprego de inseticidas industrializados, nos anos de 1980, a cultura do guaraná foi

assolada pela antracnose e superbrotamento, as duas principais doenças dessa planta,

ocasionando uma acentuada queda na produção do guaraná no município de Maués.

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Figura 5- (A) Colheita - (B) Processo de despolpamento do guaraná com os pés Fonte: (A) Embrapa

A prática da colheita é um trabalho executado por pessoas de diferentes faixas

etárias e não há separação por sexo, aliás essa divisão de trabalho também não ocorre entre

os membros da etnia sateré-mawé, o que é mais uma peculiaridade dessa cultura. Os frutos

objeto da colheita diária é depositada em um barracão apropriado, onde permanece de dois

a cinco dias, completando a maturação e iniciando o processo de fermentação. Para

despolpar o produto, pode-se usar vários recursos como o uso dos pés ou pode ser batido

com marretas confeccionadas com madeiras do tipo leve. Uma vez triturado o guaraná, o

guaraná era escolhido semente por semente, um trabalho demorado e que exigia um

número maior de mão de obra. Com o passar do tempo, as sementes passaram a ser lavadas

diretamente no rio em paneiros “com olhos fechados” e nessa fase ocorre a separação e

classificação inicial das sementes. Finalizada esta etapa, as sementes de guaraná são

encaminhadas para o processo de torrefação, chamada pelos antigos de torração.

2.4.2.2 O processo de torrefação

e armazenamento

Figura 6 - (A) O tradicional forno de barro (B) Processo de torrefação

A torrefação acontece em fornos de barro, uma prática aprendida como os

próprios indígenas. Esse processo demora em média quatro ou cinco horas para que o

guaraná esteja devidamente torrado. Uma forma que se tem para perceber que o guaraná

está torrado, é quando atinge o “ponto de estalo”. No passado os agricultores chegavam a

fazer a seleção do tipo de madeira que podia ser utilizada como lenha. Para uma torrefação

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selecionada, em alguns casos, utilizava-se uma peneira para selecionar os grãos. Onde os

menores eram retirados, logo após o escaldamento, que dura em média uma hora, para

retornarem uma hora antes do encerramento da fornada. Evita-se, dessa forma, a perda dos

pequenos grãos. Após a torrefação, o guaraná é recolhido em um paneiro (uma espécie de

cesto muito comum na região) e pode-se colocar a própria saca de sarrapilha (estopa) sobre

o recipiente para que seja concluído o processo de torrefação e resfriamento. Há o processo

de torrefação em fornos de ferro (metálico), sendo nesse caso a duração um pouco menor e

exige mais cuidado com o aquecimento do forno.

O processo de armazenamento mais utilizado consiste em depositar as sementes

torradas, depois de resfriadas, em sacas de sarrapilha. Essas embalagens permitem que o

produto não perca suas propriedades e que mantenham um padrão que será valorizado no

momento de negociar o produto no mercado. Além disso, o produto deve ser colocado em

local seco, sobre um estrado para evitar contato com o chão e contrair umidade. As sacas

de ráfia (produzidas de polipropileno) não devem usadas quando se pretende armazenar o

produto.

A produção do pão (bastão) do guaraná no padrão tradicional obedece aos

seguintes procedimentos: depois de torrado, passa-se para o processo de retirada do

casquilho, isto é, a proteção que envolve as sementes, após serem batidas dentro de um

saco de fibras e feita a separação das amêndoas. O passo seguinte consiste em triturar e

pilar artesanalmente as amêndoas, utilizando um pilão, misturando-se com água, formando

uma pasta consistente que será moldada na forma de um bastão. Esse bastão passa por um

processo de desidratação, em um local conhecido fumeiro, que pode ser um simples jirau

edificado sobre o fogão de lenha ou um local construído separado da casa do agricultor.

Esse processo dura em média dois meses para que fique pronto para ser ralado na língua do

pirarucu, transformando-se em pó para consumo do agricultor. O guaraná transformado em

bastão tem uma durabilidade extensa e segundo os consumidores, o aroma e o sabor

permanecem inalterados. Além de facilitar o seu armazenamento e transporte.

A transmissão dos saberes adquiridos pelos mais velhos continua ocorrendo através

da observação e da repetição das tarefas. Os mais velhos fazem com que os mais novos

aprendam as técnicas tradicionais exercitando, onde é, em muitos casos, é possível corrigir.

A técnica da fabricação do bastão do guaraná (pão) é uma das técnicas que exige uma boa

dose de dedicação e o aprendizado só é consolidado após muito treino. Quando não é feito

de acordo com os padrões, esse bastão quando é levado para o processo de defumação

apresenta fissuras e não tem valor comercial. É o chamado guaraná poca. Essa técnica de

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fabricação é restrita e muitos produtores de guaraná preferem não comercializar nesse

formato. Outros fabricam apenas para o seu consumo de sua família.

Figura 7-(A) Guaraná dentro do paneiro após ser torrado (B) Pilão (C) Guaraná em rama sem o casquilho

2.4.2.3 Recomendações diversas para o manejo tradicional do guaraná

Há uma série de recomendações que devem ser rigorosamente observadas por todos

os membros de uma família sobre o cultivo e manejo do guaraná. Uma das mais

conhecidas acontece quando falece alguém da família, por exemplo. Nesse caso, espera-se

um período de sete a quinze dias para que as pessoas possam novamente andar no meio da

plantação. Essa diferença de tempo decorre do grau de parentesco que há entre o falecido e

os familiares: pai, irmão e filhos, tempo de prescrição: quinze dias, para os demais como

primos ou parentes mais distantes, procurava-se resguardar um total de sete dias. É claro

que existe a saída para essas situações: uma simpatia utilizada consistia em esfregar os pés

em uma pedra de amolar terçado (nome como é conhecido o facão na região) e podia

adentrar na plantação sem que isso acarretasse prejuízos como a morte da planta ou queima

das flores.

Há agricultores que não permitem fotografias no meio do plantio. É muito comum

que turistas e visitantes queiram ver de perto a floração ou o amadurecimento dos frutos do

guaraná dado a sua semelhança com olho humano. Muitas vezes essas pessoas adentram no

meio da plantação com intenção de capturar uma boa imagem. Para alguns agricultores o

momento da floração e do amadurecimento dos frutos assemelha-se ao momento da

gravidez de uma mulher. Tudo deve ser feito de forma a não prejudicar o ritmo da

natureza. Esses agricultores julgam que a luz (o flash) da máquina fotográfica atua como

agente inibidor da polinização das flores ou que possui algo que interfere na queima das

flores. Para evitar esses prejuízos não é permitido fotografar as plantas principalmente na

época da inflorescência ou do amadurecimento dos frutos. Há ainda o costume de não

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permitir que os próprios membros da família adentrem nas plantações na época da eclosão

das flores portando o terçado, enxada ou machado.

Os agricultores acreditam também na interferência dos fenômenos da natureza

como sinal de uma safra exitosa ou não. É claro que o forte calor verificado na época da

eclosão das flores compromete a safra. O guaraná floresce principalmente a partir de

junho, época que coincide com o chamado “verão amazônico”. Além da forte incidência

dos raios solares, alguns agricultores acreditam que os eclipses lunares prejudicam o

processo de polinização das flores. Em ano que ocorre esse fenômeno geralmente a safra

apresenta queda bastante expressiva. No período de julho a novembro de 2015, ocorreu um

longo período sem chuva, durante o chamado verão amazônico, provocado pelos efeitos do

El Niño. Segundo resultados preliminares, a safra de 2015 apresentou uma considerável

queda em relação aos anos anteriores. Houve também a ocorrência de um eclipse lunar no

mês de agosto de 2015.

O senhor Manoel Moreira dos Santos relatou que um grande produtor de guaraná

no município de Maués, Pedro Manuel Negreiros, um nordestino radicado em Maués,

entres os anos de 1960 a 1970, proprietário de uma fazenda de guaraná localizada no Rio

Apocuitaua Grande, repassava uma série de orientações para os seus trabalhadores sobre o

correto manejo da cultura do guaraná. Uma delas consistia em distribuir em cada hectare,

aproximadamente seis garrafas brancas vazias de vinho. Essas garrafas brancas tinham

como função refletir os relâmpagos e raios, sendo estes, no entender do agricultor, um dos

responsáveis pela queima das flores e comprometimento da safra. Essa propriedade nos

anos de 1960 e princípio dos anos de 1970 era o maior centro produtor de guaraná em

Maués. Ele mesmo fazia as transações comerciais diretamente nas praças comerciais de

Manaus e Cuiabá (MT), sendo este um grande centro consumidor do guaraná de Maués.

Menciona-se ainda algumas peculiaridades do guaraná envolvendo os agricultores

não indígenas. No município de Maués, sobretudo na área rural, é muito comum, a partir

das 2 horas ou 3 horas da manhã, os homens levantarem para tomar o guaraná. Ralam o

pão do guaraná usando a língua do pirarucu ou a pedra na cuia e ingerem um copo dessa

bebida e alguns deles voltavam a dormir. Outros já esperavam o raiar do dia para iniciar

suas atividades diárias seja na roça ou no guaranazal. É comum encontrar pessoas que

chegam a substituir o próprio café da manhã pelo guaraná. Ao invés de tomar café com o

pão ou outro alimento, usa-se o guaraná ralado na hora.

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Figura 8 - (A) Casa típica de produtor tradicional de guaraná (B) Ralando guaraná na língua de pirarucu.

Fonte: (B) Internet

Assar castanhas de caju para a produção da famosa paçoca é uma prática que os

agricultores tradicionais evitam fazer próximos das áreas de plantio do guaraná

principalmente no período da floração, pois segundo suas observações, a fumaça

proveniente desse processo é responsável pela queima das flores e derrubada dos frutos.

Em tempos passados, as cinzas da fogueira da noite de São João eram

cuidadosamente recolhidas e em seguida, fazia-se uma espécie de aspersão por todas as

plantas do guaranazal. Nos anos em que era realizado essa espécie de ritual, tinha como o

resultado final uma safra bastante exitosa. Percebe-se claramente uma forma de influência

do catolicismo sobre os costumes dos povos indígenas, quando estes recorriam ao pajé para

este invocasse os espíritos para que obtivessem uma boa colheita. Outros agricultores

tinham o hábito de jogar farinha de mandioca ou ova de aruanã (uma frutinha existente

comum nas margens dos paranás), durante a época da floração quando ocorria grandes

trovoadas e relâmpagos anunciando temporais muito comuns na região amazônica.

Usa-se também o guaraná para uma série de utilidades medicinais. Existe outras

que são experiências tiradas do dia-a-dia. Foi dito nesses relatos que o guaraná ralado

ingerido sem açúcar tem a propriedade de tirar a sede, uma vez que ainda é muito comum

que os agricultores usem o sal para conservarem os seus alimentos básicos. No período da

tarde, os agricultores sentem sede e o guaraná minimiza o consumo de água.

2.4.3 O cultivo tecnificado do guaraná

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Figura 9 – (A) Plantio tecnificado (B) Frutos de árvores do manejo tecnificado (C) Guaraná sendo lavado

após o processo de despolpamento Fonte: Ribamar Ribeiro

Segundo a pesquisadora da Embrapa Maria Pinheiro Fernandes Correa até meados

da década de 1960 do século XX, a cultura do guaraná era essencialmente nativa, tendo

iniciado nesse período os primeiros esforços de pesquisa com um trabalho de seleção de

plantas que caracterizou a preocupação em racionalizar a cultura. (1º Simpósio, p, 43). Até

os primeiros anos do decênio de 1970, o município de Maués se caracterizava por uma

exclusividade quase absoluta da produção do guaraná (1º Simpósio, pág 38).

No final dos anos 1970 e início da década de 1980, em razão de uma intensa

propaganda na mídia nacional, das qualidades farmacêuticas e afrodisíacas do guaraná fez

com a demanda se expandisse. Foram implantados programas especiais de créditos rurais e

os primeiros esforços para racionalizar o cultivo da cultura os quais combinados

proporcionaram a expansão das áreas de cultivo. Essa expansão rompeu as fronteiras da

região de Maués, atingindo outros estados brasileiros como Bahia, Acre, Mato Grosso,

Rondônia e Roraima.

O estudo de propagação vegetativa do guaranazeiro vem sendo realizado desde o

ano de 1977 pela Unidade de Pesquisas de Âmbito Estadual (UEPAE) de Manaus, origem

da atual Embrapa no Estado do Amazonas, e já apresentava, naquela época resultados

promissores. Esse método da propagação consiste no enraizamento de estacas, utilizando o

fitormônio (ácido indolbutírico). No entanto, as primeiras mudas de estaquia, os chamados

clones, foram recomendadas oficialmente apenas no ano de 1999, quando foram lançados

dois cultivares e no ano seguinte, foram recomendadas mais novas mudas melhoradas. Se

tivéssemos que fazer um cronograma histórico do cultivo tecnificado no município de

Maués, teríamos que assinalar o ano de 1999, como o início dessa nova modalidade de

cultivo.

Na avaliação dos pesquisadores, as mudas colhidas nas matas ou aquelas

produzidas em viveiros artesanais deixaram de ser recomendadas por não assegurarem um

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padrão de segurança e confiabilidade para o produtor. Seguindo as recomendações

técnicas, há a necessidade de alterar as diversas maneiras de cultivo, como as técnicas de

plantio e cultivo da planta. Esse novo cultivo exige a adoção de fertilizantes para melhorar

a produção e o uso de defensivos agrícolas no combate às doenças e pragas que atacam o

guaranazeiro e o fruto. O tripes (Liothrips adisi) é o inseto que causa os maiores danos ao

guaranazeiro no Amazonas, já a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum

guaranicola e o superbrotamento, causada pelo fungo Fusarium decemcellulare são as

principais doenças que atacam os guaranazeiros de Maués. (Embrapa, 2005)

No município de Maués, devido à grande variabilidade genética existente entre as

plantas de guaraná formadas a partir de sementes, onde não é possível identificar a

verdadeira origem daquela muda, sobretudo a partir do desenvolvimento de mudas

melhoradas, já não se recomenda a utilização deste método de propagação para formação

de mudas de guaraná no Estado do Amazonas. Com isso, a EMBRAPA suprimiu a

tradicional forma de adquirir a muda do guaraná

Introduziu-se assim o chamado cultivo tecnificado da cultura do guaraná no

município de Maués, com a introdução de novas formas de manejo e que tem por objetivo

produzir em uma escala maior e atender assim as demandas do mercado consumidor. Os

pesquisadores, ao defenderem essa nova de cultivo, são unânimes em afirmar que seguindo

os procedimentos à risca, o resultado será uma maior produtividade em uma área menor,

trazendo inúmeros benefícios, entre eles, o impacto ambiental que é a sensível diminuição

da derrubada de florestas para o plantio de novas áreas, e o aproveitamento das capoeiras

(florestas secundárias), uma prática incomum no cultivo tradicional.

Acrescento também que no município de Maués, está surgindo uma modalidade

híbrida de cultivar o guaraná. Isso acontece geralmente em razão do agricultor incorporar

algumas inovações tecnológicas, como o processo de aquisição de mudas, alterar as formas

de plantio e adotar as novas técnicas de manejo, sem esquecer os costumes e orientações

dos mais velhos. Esse tipo de manejo, foi identificado neste trabalho como sendo a forma

mista de cultivar o guaraná,

2.5 Aspectos econômicos: produção, comercialização e perspectivas o guaraná de

Maués

O guaraná é um produto de alto valor econômico pelos seus efeitos, por suas

propriedades, pelo seu uso difundido não só no Brasil, mas em várias partes do mundo. O

incentivo à produção deve ser dado não só pelo interesse do mercado externo, mas pelo uso

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no mercado nacional. A indústria de refrigerante é um dos grandes consumidores do

guaraná, o qual apresenta uma boa opção de mercado. O refrigerante de guaraná é obrigado

por lei a conter em sua composição no mínimo 300 mg de sementes de guaraná por cada

100 ml. Se todos os fabricantes seguissem essa lei, eles estariam consumindo quase três

vezes a produção anual de sementes (Meurer-Grimes et. Al).

O mercado de cosméticos, voltou-se para os produtos da Amazônia, em busca de

produtos naturais. Há inúmeros tipos de cosméticos disponíveis produzidos à base de

guaraná. Assim como a indústria farmacêutica também apresenta grande viabilidade para o

aproveitamento do guaraná. As perspectivas mercadológicas para o guaraná são bastantes

promissoras.

2.5.1 Produção do guaraná nos últimos nove anos em Maués

A tabela abaixo apresenta um demonstrativo da produção anual do guaraná no

município de Maués nos últimos anos. Na avaliação dos técnicos que tabularam essas

informações, elas podem não ser as mais confiáveis, pois ainda não se tem um mecanismo

que possa aferir com mais precisão o volume da produção anual. Cada órgão dispõe de

uma metodologia específica para quantificar o montante da safra anual. Assim a AMBEV,

o IDAM e a Secretaria Municipal de Produção apresentam uma produção. Também não se

pode medir a produção proveniente do cultivo tradicional e do cultivo tecnificado de forma

específica, uma vez que os grandes compradores não fazem essa distinção. Esses dados são

os que são repassados pelo IBGE, os quais posteriormente são disponibilizados para o

público em geral:

Tabela 1 – Safra e preço do guaraná no município de Maués-AM

Safra Produção (T) Preço Médio/ Kg (R$)

2014/2015 300 22,00

2013/2014 150 22,00

2012/2013 300 21,00

2011/2012 290 22,00

2010/2011 270 27,00

2009/2010 120 25,00

2008/2009 140 18,00

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2007/2008 150 15,00

2006/2007 130 9,00

Fonte: IDAM-Maués, 2015.

2.5.2 As principais formas de comercialização do guaraná de Maués

Figura 10- (A) comprador examinando o bastão antes da compra (B) Guaraná apresentado em diversas

formas de comercialização

As principais formas de comercializar o produto ocorrem através das sementes

torradas (em rama), em bastão e em pó. O processo de comercializar utilizando as

sementes torradas é o meio mais usual e é também o que apresenta menor valor comercial.

O principal mercado comprador dessa modalidade é o local, onde a Companhia de Bebidas

das Américas tem amplo domínio, uma vez que os atravessadores locais, estão a serviço

dessa companhia e em seguida vem a participação de proprietários de agroindústrias do

guaraná. A comercialização do guaraná em bastão (pão) remonta à época colonial e

permanece na atualidade como forma atrativa. A comercialização em pó, é bem mais

recente e tem a possibilidade de tornar-se uma boa opção. O valor do quilo em pode chegar

a custar quatro vezes em relação ao produto comercializado em rama. Transformar o

guaraná em xarope para comercializar ainda é uma prática inexistente entre os produtores

de Maués, independente da forma do cultivo praticado.

Existe uma forma peculiar de comercializar este produto e que é praticamente

exclusiva do município de Maués, que a produção de artesanatos à base do guaraná. Os

artesãos, conseguem moldar animais, peixes e pássaros como se fosse uma massa de

modelar. Produzem também materiais para escritórios como porta-canetas e outros

adornos. Essa forma de comercializar o produto apresenta alto valor agregado, uma vez

que poucas pessoas dominam esta técnica. Essa técnica estava à beira da extinção, uma vez

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que os antigos detentores dessa técnica estavam falecendo. Foi preciso a intervenção do

poder público no sentido de incentivar outras pessoas aprenderem a dominar esta arte.

No quesito comercialização, há uma ampla preferência em vender o guaraná em

rama (sementes torradas), onde 84,85% dos entrevistados na pesquisa disseram que

praticam essa forma de negociar. Chama a atenção também o fato do produtor tradicional

optar pelos três tipos de comercialização, ou seja, em rama, em bastão ou em pó. Os que

adotam o cultivo técnico, a venda do guaraná em pó aparece como a segunda forma

predominante. O guaraná em rama é o que apresenta menor valor comercial, uma vez que

ele está em estado bruto, sem que tenha passado por qualquer outro beneficiamento além

da torrefação.

No entanto, ao fazer contatos com os compradores de guaraná que atuam no

mercado local de compra de guaraná e com a própria AMBEV tivemos a informação que

não é feita qualquer tipo de seleção sobre a origem do produto que chega para ser

comercializado. Não há nenhuma classificação sobre o produto proveniente do cultivo

tradicional ou do tecnificado.

2.6 - O selo da Identificação

Geográfica do Guaraná de

Maués

O termo Indicação Geográfica (IG) se firmou quando produtores, comerciantes e

consumidores começaram a identificar que alguns produtos de determinados lugares

apresentavam qualidades particulares, atribuíveis a sua origem geográfica. A partir daí,

começaram a denomina-los como nome geográfico que indicava sua procedência. As IGs

divulgam os produtos e serviços e sua herança histórico-cultural, considerada

intransferível, o que permite que as regiões promovam seus produtos por meio da

Figura 11- Logomarca do IG do guaraná de Maués. Fonte:

Internet

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autenticidade de sua produção. Há dois tipos de IG: a Indicação de Procedência e

Denominação de Origem. (MAPA, 2010). Esse projeto teve início no ano de 2008.

O guaraná de Maués será o primeiro produto in natura a ter o selo de Identificação

Geográfica (IG), no Amazonas. Para garantir o valor agregado do produto no município, é

necessário a obtenção de um registro (selo) de Indicação Geográfica. O Instituto Nacional

de Proteção Industrial (INPI), através da Lei n° 9.279/96 define a certificação e delimita a

área de produção, restringe seu uso aos produtores da região e impede que outras pessoas

utilizem o nome da cidade e do guaraná em produtos ou serviços indevidos. Com a

obtenção do selo, é possível ganhar maior potencialidade de inserção no mercado

internacional, com melhores preços e condições de competitividade, além de impedir o uso

indevido do nome “guaraná de Maués”. (FUCAPI)

Participam da iniciativa três associações de produtores de guaraná de Maués,

entidades e segmentos organizados, como o IFAM, Embrapa, IDAM, Universidade do

Estado do Amazonas (UEA), que juntas formam a Associação dos Produtores de Guaraná

da Indicação Geográfica de Maués. Para a adequação dos sistemas de produção às Boas

Práticas Agrícolas e de Fabricação foram estabelecidos padrões. Participam desse projeto

150 produtores vinculados às três associações, que estão sendo treinados para se adaptarem

ao novo sistema.

O guaraná em rama (grãos torrados) e em pó, com direito à Indicação Geográfica

de Maués, na modalidade Indicação de Procedência, só recebe esta certificação se for

produzido dentro da área do município de Maués, exceto a produção oriunda da Reserva

Indígena Andirá-Marau, cujas lideranças optaram em não participar desta iniciativa, uma

vez que demonstraram interesse em outro selo, o da Denominação de Origem. O selo

também não contempla o bastão como produto a ser certificado. No entanto, este selo,

quando for liberado, ainda será de uso restrito aos agricultores membros das associações

que participam do projeto e só posteriormente será estendido aos demais produtores de

Maués.

Não resta dúvida que esta iniciativa trará benefícios para o município de Maués,

uma vez que será combatido de forma enérgica a pirataria e a adulteração desse produto.

Realiza-se desse modo um sonho de muitos agricultores do passado que tinham um zelo

por esse produto, mas que não puderam fazer nada quando viram milhares de mudas sendo

exportadas do porto de Maués e anos depois, o mercado nacional foi abastecido com essa

produção e, em muitos casos, utilizaram o nome de Maués, para garantir preço e mercado.

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Porém há um viés que deve ser evidenciado nesse projeto. O fato de não incorporar

os indígenas sateré-mawé já apresenta anormalidade. Analisando a legislação que

regulamenta esse projeto verifica-se que a mesma vai em direção da anulação das práticas

tradicionais, invalidando-as e impondo praticamente o manejo tecnificado da cultura, ao

deixar claro que se deve dar preferências para as mudas clonadas (estaquia) e uso da

adubação química, uso de defensivos sem mencionar que o agricultor pode utilizar de

tecnologias mais sustentáveis e assim fazer parte desse projeto. Ao anular as práticas

tradicionais, esse selo exerce forte pressão para a superação das antigas práticas.

Existe um projeto de Lei nº 182/2015 que está tramitando na Assembleia

Legislativa do Estado do Amazonas, que considera o guaraná produzido no município de

Maués, bem como suas lendas, mitos e costumes, como Patrimônio Cultural, Material e

Imaterial do Estado do Amazonas. Esta é mais uma demonstração da importância não só

no aspecto econômico, mas do sentimento de identidade cultural que o guaraná representa

para o Estado do Amazonas como um todo.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Tipologia da Pesquisa

Para a realização deste estudo utilizou-se diversos espaços no município de Maués.

O trabalho de coleta de informações foi desenvolvido no período de 2015 a 2016.

Inicialmente foram realizadas visitas às comunidades rurais, as estradas vicinais

localizadas nas áreas periféricas da cidade e as comunidades indígenas da etnia sateré-

mawé. A coleta de informações foi desenvolvida através de questionários contendo

questões abertas e fechadas e foram aplicadas junto aos agricultores indígenas e não-

indígenas, independentemente do tipo de manejo praticado em sua propriedade. No

questionário aplicado foi colocado apenas três campos sobre o tipo de cultivo observado

em cada propriedade. Optou-se em agrupar o cultivo tradicional dos agricultores familiares

juntamente com o dos indígenas, identificado apenas como cultivo tradicional e entre

parênteses, incluímos a palavra nativo, pois este é outro nome como é conhecido este tipo

de manejo.

Também foram aplicados questionários juntos aos alunos do IFAM campus Maués

no final do segundo semestre do ano letivo de 2015. Os alunos para os quais foram

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aplicados os questionários estudam o curso técnico de nível médio em Agropecuária das 1ª

e 3ª séries do IFAM campus Maués. Neste período aplicou-se ainda parte do questionário

juntos aos produtores de guaraná, outra parte desse questionário foi aplicado no ano de

2016. No contato com os produtores de guaraná, além das perguntas já elaboradas fizemos

algumas anotações paralelas. Houve caso em que já havíamos recebido o questionário e o

agricultor fazia questão de repassar alguma informação que havia esquecido de mencionar.

Utilizou-se a abordagem quantitativa, uma vez que as informações coletadas foram

transformadas em números com o intuito de classifica-los e interpretá-los. Os dados foram

coletados através de questionários contendo questões abertas e fechadas. Após a coleta,

estas informações foram digitadas em uma planilha do Excel, um software bastante

empregado nesse tipo de pesquisa, onde foram tabulados para serem expostos em formas

de gráficos e tabelas.

Além da aplicação de questionários, foram realizadas entrevistas com agricultores

tradicionais, agricultores indígenas e um técnico pertencente a AMBEV, IDAM,

EMBRAPA e SEPROR. As entrevistas com os agricultores familiares e indígenas são de

grande importância para este trabalho por entendermos que há uma série de conhecimentos

herdados de antigos produtores tradicionais que não estão sistematizados na literatura

existente sobre o cultivo do guaraná. Um desses relatos é o do meu pai e outro é de um ex-

funcionário de uma fazenda de guaraná, que prosperou entre as décadas de 1960 e 1980,

localizada no rio Apocuitaua, município de Maués e o terceiro relato vem de um

representante da etnia sateré-mawé. Esses relatos contêm registros de grande relevância,

pois apresentam uma série de saberes e conhecimentos empíricos sobre a cultura do

guaraná e foram a base da descrição do cultivo tradicionais dos agricultores tradicionais

não-indígenas. Essas entrevistas foram transcritas em linguagem padrão.

3.2 Participantes da Pesquisa

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Figura 12 – Aplicação dos questionários. Fonte: Google Maps (adaptado)

Participaram deste trabalho 33 produtores de guaraná residentes em diversas

comunidades rurais do município de Maués e nas estradas localizadas em torno da cidade

de Maués. Compõem esse grupo de produtores são formados por agricultores familiares,

indígenas pertencentes à etnia sateré-mawé e produtores que não se enquadram no perfil de

produtores familiares. As comunidades onde foram aplicados os questionários são as

seguintes: Santa Clara no rio Urupadi, São José no rio Paricá, Menino Deus, no rio Limão

Grande, afluente do Rio Maués e nas comunidades localizadas no entorno do município,

como Vera Cruz, no Rio Maués-açu, São Pedro e São José do Palhal, Menino Deus, Rio

Limão Grande, afluentes do Rio Maués-Açu. Outro espaço de aplicação de questionários

foi aos moradores das estradas vicinais localizadas no entorno da sede do município. As

estradas visitadas foram as seguintes: Estrada do Guaranatuba e Estrada dos Moraes.

As comunidades indígenas pesquisadas estão localizadas no Rio Marau,

pertencentes a área Indígena Andirá-Marau: Ilha Michiles, Nova Esperança e Novo

Horizonte. As comunidades indígenas estão distantes a aproximadamente 90 km da sede

do município, e um barco de porte médio utilizado no deslocamento das pessoas para a

cidade, leva em média seis horas para fazer o trecho comunidade-cidade ou vice-versa.

Além da aplicação do questionário, colhemos uma entrevista do Tuxaua da aldeia indígena

que dada o valor das informações, fizemos a transcrição para a linguagem padrão

incluímos no tópico que trata do cultivo do guaraná na visão do povo indígena sateré-

mawé.

Outro momento de aplicação do questionário ocorreu durante a reunião dos

produtores de guaraná na comunidade Menino Deus, rio Limão Grande, na ocasião em que

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era acontecia a discussão sobre o Selo de Identificação Geográfica do Guaraná de Maués.

Participaram em torno de cinquenta agricultores e agricultoras neste encontro. Estiveram

reunidos agricultores moradores das comunidades rurais do Menino Deus, Araçatuba do

Limão, Limãozinho e Apara. Estas comunidades rurais estão localizadas nas imediações do

município.

Fizemos também aplicação de questionário entre os produtores residentes nas

comunidades rurais do rio Apocuitaua-miri que se reuniram na Comunidade São Sebastião,

os quais foram previamente convidados para discutir a obtenção do selo de Identificação

Geográfica do Guaraná e para participar da minha pesquisa. Nessa reunião estiveram

reunidos aproximadamente quarenta produtores e de forma aleatória, aplicou-se o

questionário para apenas quinze produtores. Esta região está distante do município

aproximadamente 40 quilômetros de distância em linha reta.

Em cada propriedade ou comunidade visitada fizemos a marcação por meio de um

GPS para facilitar a localização dos locais onde se encontram os produtores. Como já foi

mencionado, a marcação de pontos é para ilustrar os locais onde foram aplicados os

questionários e que pode ser um indutor de futuros trabalhos acadêmicos, como a

construção de um banco de dados, onde será possível fazer um mapeamento das

propriedades com as respectivas formas de manejo e contribuir para que haja um

rastreamento do produto até o consumidor final.

Os agricultores tradicionais juntamente com os agricultores indígenas ainda vivem

em condições adversas, ocasionadas por uma série de fatores, como a baixa escolarização,

o que os torna vulneráveis na relação que mantém até mesmo com as agências bancárias,

onde muitas vezes aceitam participar de linhas de financiamento que não os ajudam a

melhorar o seu padrão de vida. Acrescenta-se a isso, a ausência da cultura do

cooperativismo e associativismo. Ainda são poucas as iniciativas envolvendo grupos de

trabalhos de agricultores, como as associações de agricultores familiares que fornecem

produtos utilizados na merenda escolar das escolas públicas e outras associações afins. O

guaraná não é um produto da agricultura familiar fornecido para as escolas na merenda

escolar.

4. RESULTADO E DISCUSSÃO

4.1 Entrevistas com os técnicos agrícolas

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Foram realizadas entrevistas conduzidas com quatro técnicos, cada um

representando os seguintes órgãos presentes no município: IDAM, EMBRAPA, AMBEV e

Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento (SEPROR). Esses órgãos foram

relacionados uma que estão diretamente ligados à cadeia produtiva do guaraná no

município de Maués e são eles que dispõem da tecnologia, no caso da Embrapa da

AMBEV e podem realizar atividades de assistência técnica junto aos produtores, no caso

do IDAM e da SEPROR. A seguir apresentaremos de forma sucinta o que foi relatado por

esses profissionais.

O técnico da SEPROR afirmou que, diante das novas demandas do mercado por

produtos que dispensa o uso de fertilizantes, acredita que há a possibilidade para que o

cultivo no formato tradicional possa ser mantido ainda que em pequena escala. Ele citou

como exemplo a associação dos produtores do Rio Urupadi, formado por produtores

tradicionais, que conseguiu mercado para comercializar a safra de guaraná do ano de 2016

ao preço de R$ 50,00 em rama e R$ 200,00, o guaraná em pó. Ele lembrou inclusive que

as técnicas tradicionais de combate às doenças podem ser mantidas, mesmo o proprietário

adotando o cultivo tecnificado. Porém, para que o agricultor tenha um retorno mais rápido

de sua produtividade é inegável que o cultivo tecnificado apresenta as melhores condições.

Já para o técnico do IDAM, não há mais espaço para o uso do manejo tradicional. O

agricultor precisa incorporar na cultura do guaraná o pacote de inovações tecnológicas

desenvolvidas pela EMBRAPA para que tenha uma produção satisfatória. Em sua

avaliação, o cultivo tradicional não tem condições de ser praticado, uma vez que este não

atende as demandas atuais do mercado. O mercado consumidor tem uma grande demanda

por guaraná e ocorre falta produção para atender a necessidade dos consumidores. Em sua

avaliação, atualmente o agricultor tradicional “está pagando para trabalhar”, em razão da

baixa produtividade desse modelo.

Para o técnico da EMBRAPA a incorporação das novas tecnologias é algo

irreversível. Em sua análise, uma vez que o agricultor incorpora esse conjunto de

inovações tecnológicas terá um resultado altamente satisfatório e o grande mercado

consumidor não faz a distinção entre o produto proveniente de manejo tradicional ou

tecnificado. A diferença de nível de produção do cultivo tecnificado do tradicional é muito

grande. Doenças como a antracnose e o superbrotamento tem o poder de destruir

plantações inteiras, causando severos prejuízos financeiros ao produtor. Os clones, obtidos

por meio de propagação vegetativa pelo método de enraizamento de estacas, passaram a os

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únicos recomendados pelo órgão de pesquisa para que os produtores adotassem em seus

plantios. Esses novos plantios apresentam grandes vantagens comerciais como o aumento

expressivo da produção, tendo inclusive menos impacto ambiental, uma vez que pode ser

utilizado as capoeiras (matas secundárias) ou mesmo áreas degradas. As mudas retiradas

na mata ou as produzidas pelo próprio agricultor não devem ser utilizadas nos plantios,

pois elas não são resistentes às doenças. O tripes é uma praga que ataca as flores do

guaranazeiro, por isso deve ser combativo usando os remédios recomendados pela

EMBRAPA e as antigas práticas não são suficientes para combater essa praga. Para o

entrevistado, das práticas do cultivo tradicional quem devem ser mantidas é o processo de

torrefação em fornos de barro, pois através desse processo o guaraná mantém a sua

qualidade e pureza.

O técnico da AMBEV disse que os plantios da companhia estão sendo renovados

com o uso de mudas de estaquia e as novas práticas desenvolvidas pela empresa

juntamente com a EMBRAPA foram amplamente aplicadas. É o único local do município

Maués onde há produção em escala industrial. Juntamente com as inovações tecnológicas

aplicadas diretamente ao cultivo, também foram adaptadas a infraestrutura da produção do

café, com adoção de secadores de semente, ao invés do forno de barro. Os resultados estão

sendo promissores. A cada ano, há um aumento significativo da produção. Para atender o

seu nível de responsabilidade social, a empresa mantém um programa de apoio junto a

vinte e cinco pequenos produtores. Estes produtores inseridos no programa, recebem

mudas, assistência técnica e fertilizantes. Segundo o entrevistado, houve uma mudança

significativa entre o volume produzido atualmente e o verificado antes da incorporação das

inovações tecnológicas. Esses produtores por sua vez, deixaram as antigas práticas,

mantiveram apenas o uso do forno de barro para o processo de torrefação das sementes. O

entrevistado também não recomenda o uso de mudas retiradas das matas, nem as

produzidas em viveiro caseiro, devido a incidência de doenças.

4.2 Análise das informações contidas nas entrevistas

Os técnicos desses órgãos foram enfáticos em afirmar que diante da atual realidade

do cultivo do guaraná de Maués, onde as doenças como a antracnose e superbrotamento e

pragas como o tripes causam graves danos à planta e comprometem significativamente a

produção, é inviável permanecer cultivando o guaraná segundo o modelo tradicional. Os

técnicos também julgam que o processo de torrefação em fornos de barros é o meio ideal

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para a boa qualidade do produto. Dos entrevistados só tivemos o depoimento do técnico da

SEPROR, onde afirma que o manejo tradicional ainda tem possibilidade de ser praticado,

ainda que em pequena escala. Ele lembrou inclusive que as técnicas tradicionais podem

ser mantidas como o uso da fumaça para afastar pragas e doenças, o uso de matéria

orgânica, como capins, folhas, galhos a para a adubação de cobertura. Há mercado para o

guaraná cultivado nos moldes tradicionais com preços diferenciados, segundo o

entrevistado.

4.3 Perfil dos agricultores participantes da pesquisa

Em relação ao nível de escolaridade dos entrevistados, constatou-se que o tempo de

permanência na escola dos produtores de guaraná é baixa, pois dos 33 participantes da

pesquisa 63,63% possuem o ensino fundamental e, dentro deste universo, praticamente

40% cursaram apenas as séries iniciais. Somente 27,27% cursaram o ensino médio. Apenas

9,09% (03) tem ensino superior, onde cada um, curiosamente, adota uma modalidade de

cultivo do guaraná. Em relação ao tipo de cultivo que adotam, verificou-se que 17

agricultores entrevistados, entre os quais 5 são indígenas sateré-mawé, praticam o manejo

tradicional, 8 adotam as práticas do cultivo misto e 8 entrevistados adotaram o manejo

tecnificado.

Quanto à idade, os produtores que estão na faixa de 46 a 60 anos representam

48,48% dos entrevistados. Na faixa etária que vai de 31 a 45 anos, encontra-se 36,36% dos

pesquisados. Acima dos 61 anos, o percentual é de 15,15%, sendo identificados apenas 5

produtores. Se relacionarmos a faixa etária dos mais idosos (mais de 61 anos) com o tipo

de manejo, verifica-se que 4 entrevistados adotam o cultivo tradicional. Chama a atenção a

faixa etária abaixo dos 30 anos que não tem representante, o que pode ser explicado pelo

fato do chefe da família geralmente na figura do pai ou do avô ainda comandar a produção,

algo bastante comum nas áreas rurais. Quanto ao cultivo tecnificado, os mais idosos não

adotam. Em relação ao cultivo na forma mista, constatou-se que apenas na faixa etária de

31 a 60 anos há agricultores que adotaram essa forma de cultivo.

No quesito comercialização, há uma ampla preferência em vender o guaraná em

rama (sementes torradas), onde 84,85% disseram que praticam essa forma de negociar.

Chama a atenção também o fato do produtor tradicional optar pelos três tipos de

comercialização, ou seja, em rama, em bastão ou em pó. Os que adotam o cultivo técnico,

a venda do guaraná em pó aparece como a segunda forma predominante.

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4.4 Análise das informações dos agricultores

Gráfico 1 - Quais as práticas ligadas diretamente ao plantio de guaraná que são utilizadas em sua

propriedade?

Fonte: Questionário dos entrevistados – Autoria própria.

Ficou evidenciado que a maior parte dos agricultores tradicionais se baseia no ciclo

lunar para realizarem o plantio de novas áreas, assim como ocorre também na realização da

poda. Um número significativo de pequenos produtores ainda retira diretamente da floresta

os filhos de guaraná que serão utilizados em novas áreas. As demais práticas tradicionais

como manter o espaçamento e a escolha dos meses de janeiro e fevereiro para realizarem o

plantio ainda são observados. Há um número reduzido de entrevistado que afirmou que

ainda faz a derrubada e posterior queimada da área onde será feito o novo guaranazal. Esse

número apresenta uma certa anormalidade e o agricultor pode ter omitido essa informação,

uma vez que ainda é grande o número de agricultores que utiliza desse método.

Geralmente os plantios tradicionais são feitos em áreas de florestas primárias (matas

virgens), onde obtêm maior produção.

Gráfico 2 - Quais são os principais tratos culturais realizados no cultivo do guaraná?

12,00%

10,00%

40,00%

32,00%

2,00% 4,00% 2,00%

Consórcio com outras culturas Espaçamento Tradicional

Fases da Lua Mudas nativas

Não respondeu claramente Plantio entre os meses de jan. e fev.

Queimada/derrubada

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Fonte: Questionário dos entrevistados. Autoria própria.

Nesse gráfico constata-se que o principal trato cultural que o plantio tradicional

recebe ao longo do ano, sobressai a realização de uma limpeza anual. Isso pode estar

relacionado com o poder aquisitivo do agricultor. Há um número expressivo de

agricultores que, além da limpeza anual, realizam também a poda de galhos secos. E

aparece um número reduzido que consegue aproveitar a matéria orgânica existente, como

restos da campina/roçagem, galhos e folhas para produzir adubos que serão utilizados na

própria planta.

Gráfico 3 - Que medidas são utilizadas em sua propriedade no combate às doenças do guaranazeiro?

Fonte: Questionário dos entrevistados – Autoria própria

A principal atividade de combate às doenças que acometem o guaraná é a pratica da

poda dos galhos doentes, conforme se observa no gráfico acima. A queima dos galhos

nesse caso, refere-se aos galhos doentes que foram podados. Observa-se que um número

bastante reduzido de produtores tem o hábito de queimar esses galhos. Em relação ao

antigo meio que havia de combate às doenças e pragas utilizando a defumação (uso de

fumaça) apenas um número ínfimo (3,33%) que ainda mantém essa prática.

Gráfico 4 - Em relação a colheita/beneficiamento, cite as principais atividades que são realizadas em sua

propriedade?

76,67%

10,00%

3,33%

10,00%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00%

Poda de galhos doentes

Queima dos galhos

Defumação

Não se aplica

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%

Uma Limpeza anual

Limpeza periódica

Poda de galhos secos

adubo orgânico

Outros

Não se Aplica

Misto Tradicional

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Fonte: Questionário dos entrevistados. Autoria própria

De acordo com o que foi detectado, o processo de torrefação das sementes é

realizado em fornos de barro (espécie de tacho) na grande maioria das propriedades onde

adotam o cultivo tradicional ou misto. A colheita do guaraná é uma atividade que ainda

envolve toda a família dos produtores tradicionais, como se observa no gráfico acima. O

despolpamento das sementes usando os pés é realizado em apenas 15% das propriedades e

há uma acentuada queda nos locais onde se pratica o cultivo na forma mista. Apenas uma

pequena parcela dos entrevistados não deixa fermentar o guaraná, isto é, o guaraná é

torrado no mesmo dia ou no dia seguinte ao da colheita. O fato de deixar o guaraná

fermentar ou não, depende do volume da safra, pois quando há uma produção acima da

média o guaraná passa de mais de quatro dias fermentando.

Gráfico 5 - Quais as principais recomendações que são dadas referentes ao cultivo do guaraná em sua

propriedade?

Fonte: Questionário dos entrevistados – Autoria própria

O gráfico demonstra que a principal recomendação que os produtores tradicionais

observam refere-se ao luto, isto é, os familiares de um produtor não adentram por um

determinado período no guaranazal quando falece um ente querido para evitar a morte da

planta ou a queima das flores. Outro costume refere-se a proibição de entrar no meio da

plantação na época da floração, seguido por 13,51% dos entrevistados. Um pequeno

número de entrevistados não permite que se fotografe o guaranazal na época da floração e

um número reduzido ainda mantém um antigo costume de ingerir guaraná durante a

madrugada. Existe também a recomendação para não deixar o gado pastar no meio do

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

Forno de Barro Envolve a Família Despolpa com pés Não deixa fermentar Não se aplica

Tradicional Misto

43,24%

13,51%

2,70% 10,81%

5,41% 0 2,70%

Guarda o luto

Não deixa andar no guaranazal na época de floração Não permite fotografar o guaraná

Não tem crenças ou recomendações

Outros

Repasse dos conhecimentos aos mais jovens

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guaranazal, não deixar que o guaraná fermente por mais de dois dias para não perder a

qualidade e o uso do guaraná para fins medicinal. Apenas 10,81% dos entrevistados afirma

não prescrever nenhuma regra ou hábito em particular.

Gráfico 6 - Quais as técnicas e costumes tradicionais envolvendo a cultura do guaraná que não se usa mais

em sua propriedade?

Fonte: Questionários dos entrevistados. Autoria própria.

No gráfico acima verifica-se que as antigas práticas e costumes mesmo em

ambientes de cultivo tradicional ou misto que estão em desuso ou estão em declínio vem

em primeiro lugar o antigo hábito de selecionar o tipo de madeira para ser utilizada como

lenha no processo de torrefação. Em seguida aparece o hábito de ingerir guaraná de

madrugada. Apenas 13,85% dos entrevistados dizem que não usam fumaça para combater

as pragas e doenças do guaranazeiro, porém esse número pode ser maior, conforme ficou

demonstrado no gráfico anterior. O costume de despolpar as sementes usando os pés

começa a entrar em declínio em razão do surgimento da despolpadeira manual ou elétrica,

como também o uso da peneira para selecionar as sementes durante o processo de

torrefação. As demais práticas como guardar o luto, observar as fases da lua para o plantio

e poda, retirada de mudas diretamente na floresta, uso do forno de barro são práticas e

costumes que ocorrem com muita frequência nos ambientes de cultivo tradicional ou na

forma mista.

Gráfico 7 - Principal motivo principal para migrar para o tecnificado

Fonte: Questionário dos entrevistados. Autoria própria.

13,85%

7,69%

1,54%

4,62%

3,08%

7,69%

24,62%

21,54%

0 6,15%

4,62% 4,62% Defumação

Despolpar com os pés

Forno de barro

Guardar o luto

Mudas da floresta

Peneira

Seleção de lenhas

Tomar guaraná de madrugada

Não se aplica

Outros

Fases da lua

50,00%

21,43%

21,43%

7,14% Baixa produtividade do plantio tradicional

alta produtividade do cultivo tecnificado

as novas mudas são resistentes às doenças do guaranazeiro

o projeto aprovado junto aos bancos indicou este tipo de cultivo

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Essa pergunta foi direcionada exclusivamente para os que mantêm o cultivo

tecnificado. A metade dos entrevistados alegou baixa produtividade do plantio tradicional,

o que pode ser um indicativo de que estejam migrando do antigo manejo. Fatores como

alta produtividade e o desenvolvimento de mudas mais resistentes colaboraram para a

mudança na forma de cultivar o guaraná. Apenas um percentual pequeno, alega que foi

direcionado pelas agências bancárias para adotar esse novo manejo, no momento em que

estavam submetendo projetos agropecuárias para participarem de linhas de créditos, por

exemplo.

Foi ainda perguntado aos entrevistados sobre a possiblidade de conciliar o cultivo

tradicional com o tecnificado. Esse questionamento foi respondido de forma positiva por

36,36% dos entrevistados. Aproximadamente 40% dos entrevistados não vê com bons

olhos essa junção e o número aumenta se acrescentarmos o percentual daqueles que não

souberam informar, alcançando 63.64% dos entrevistados. Os que responderam de forma

positiva não resta dúvida que foram aqueles que mantêm a forma mista de cultivo.

4.2 Análise dos questionários aplicados aos alunos do curso Técnico em Agropecuária

do campus Maués

Gráfico 8 - Como você se vê inserido no contexto da cultura do guaraná no munícipio de Maués?

Fonte: Questionário dos entrevistados – Autoria própria

Foram entrevistados 58 alunos do IFAM campus Maués, sendo ... da 1ª e xxx

alunos da 3ª série do curso de Agropecuária. Verifica-se que somente ⅓ dos alunos do

curso de agropecuária provêm de famílias de produtores de guaraná, por outro lado, há um

número bastante expressivo, cerca de 68,75% dos alunos afirmam que possuem apenas

conhecimentos superficiais sobre essa cultura e somente um número bastante reduzido

alega desconhecer ou não manter nenhum contato com a cultura do guaraná. A partir dessa

informação, ficou claro que o IFAM campus Maués precisa desenvolver uma série de

ações visando o aprendizado sobre a cultura do guaraná.

Gráfico 9- Como você acha que a cultura do guaraná de Maués deve ser trabalhada pelo IFAM campus

Maués:

29,17%

60,42%

8,33% 2,08% a) provém da família de

produtores de guaraná

b) possui conhecimentos básicos sobre a cultura/manejo desta cultura c) conhece apenas através de eventos como "Dia de Campo" ou seminários d) não têm conhecimentos ou contato com a cultura do guaraná

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Fonte: Questionário dos entrevistados – Autoria própria

Constatou-se que os alunos consideram que a temática do guaraná deve ser

encabeçada pelo curso técnico em Agropecuária. Não houve uma proposta que

sobressaísse frente às demais. No entanto, os alunos consideram que o tema é relevante e a

maioria dos entrevistados visualizam a possibilidade de se criar uma disciplina específica

que trate da cultura do guaraná ou inserindo um tópico específico na disciplina Produção

Vegetal. ⅓ dos entrevistados recomenda que o tema seja tratado a partir de diversos

enfoques nos cursos oferecidos pelo campus Maués, inclusive de forma interdisciplinar.

Observou-se que o tema guaraná deve ser potencializado pela escola através das mais

diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão ou mesmo através de apresentações

artísticas, como já vem ocorrendo no IFAM campus Maués.

Gráfico 10- Como você avalia os conhecimentos tradicionais da etnia sateré-mawé e dos agricultores

tradicionais aplicados à cultura do guaraná?

Fonte: Questionário dos entrevistados – Autoria própria

O gráfico apresenta o momento de maior convergência dos posicionamentos entre

os alunos. 85,42% considera que os saberes do povo sateré-mawé e dos agricultores

familiares tradicionais devem ser valorizados, uma vez que estão dentro dos conceitos da

Agroecologia. Salienta-se que os alunos do curso técnico em Agropecuária estudam a

disciplina Agroecologia e há um movimento até mesmo na grande mídia de valorização

dos saberes tradicionais dos povos da Amazônia. Um percentual de 14,59% considera

esses conhecimentos ultrapassados e que não atendem as atuais exigências do mercado

consumidor.

Contrariando o grupo minoritário, é necessário levar em conta que o município de

Maués há muito tempo deixou de ser o maior produtor de guaraná do Brasil e para que

37,50%

16,67%

14,58%

31,25%

a) apesar de ser relevante, basta criar uma disciplina específica somente para o curso em Agropecuária b) inserido o tema para ser abordado sob diversos enfoques nos cursos oferecidos pelo campus maués c) apresentando de forma interdisciplinar nos diversos cursos

d) incluindo apenas como um tópico na disciplina Produção Vegetal no curso de Agropecuária

85,42%

10,42%

4,17% a) são conhecimentos que precisam ser

valorizados, pois estão dentro dos conceitos

agroecológicos b) estes conhecimentos não correspondem às

exigências da produção atual do guaraná

c) eles impedem a propagação do cultivo

tecnificados

d) são meros conhecimentos empíricos sem

validade científica

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consiga reaver esse título, muitas ações articuladas deverão ser tomadas por todos os

envolvidos diretamente na cadeia produtiva do guaraná. No entanto, o nicho que o

município pode explorar comercialmente e ter ótimo retorno financeiro é o guaraná

produzido a partir das práticas tradicionais e isso poderá se transformar em um grande

valor agregado ao guaraná de Maués.

Gráfico 11- Que outra maneira pode ser utilizada pelo IFAM campus Maués na difusão da cultura do

guaraná?

Fonte: Questionário dos entrevistados. Autoria própria

Segundo o que ficou evidenciado nos gráficos a maioria dos entrevistados

recomenda como uma alternativa de divulgação da cultura do guaraná no município de

Maués, a realização de Dia de Campo, realizado em parcerias com outras instituições de

pesquisa e fomento. Além dessa sinalização, os alunos consideram que extensão pode ser

usado como um forte meio de propagação dessa cultura. Um pouco mais de 10% dos

entrevistados sugestiona o uso das redes sociais como canal para disseminar mais

informações sobre o guaraná. Um número menor considera que a realização de seminários,

simpósios e similares também podem ser usados. O Dia de Campo é uma iniciativa

proposta tanto pela Embrapa como pela Ambev, com o apoio da SEPROR e IDAM com a

participação dos produtores de guaraná e nesse evento geralmente são apresentadas as

novas tecnologias ou novos cultivares, sempre priorizando o cultivo tecnificado. As

atividades de extensão são momentos adequados para a difusão da cultura do guaraná no

município de Maués.

4.5 Práticas que permanecem inalteradas na cultura do guaraná de Maués

O processo de torrefação usando os fornos de barro é uma das práticas do manejo

tradicional da cultura do guaraná que permanece inalterada. Dos pequenos produtores

tradicionais até os cultivos observados em larga escala, utilizam esse mecanismo de

secagem das amêndoas. O processo é o mesmo com uma duração que oscila entre 4h a 5h.

0 0 0 0

47,92%

6,25%

35,42%

10,42% a) promoção de "Dia de Campo" em

parceria com outras instituições

b) promoção de seminários, simpósios e

similares

c) intensificar as atividades de

Extensãoo na zona rural

d) divulgar através dos meios digitais

como blogs, redes sociais, entre outros

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Foi observado apenas uma espécie de secador industrial, adaptado do café para o processo

de torrefação do guaraná de propriedade da Fazenda Santa Helena, pertencente à AMBEV.

Nos demais casos, a prática permanece inalterada: forno de barro, fogo brando e a mesma

duração do tempo de torrefação. O uso do forno de barro, segundo o saber tradicional é um

dos fatores que contribuem para que o guaraná de Maués tenha a sua qualidade

reconhecida.

Figura 13- (A) Forno de barro (B) Fumeiro, local destinado para desidratação do bastão do guaraná.

Os fornos de ferro (metálico) também são utilizados no processo de torrefação de

sementes, ainda que em pequena escala no município de Maués, uma vez que o maior

comprador da região também não faz esse tipo de seleção utilizando como critério o meio

utilizado no processo de torrefação. Para os que conhecem os dois equipamentos de

torrefação, isto é, o forno de barro e o forno de ferro, fica visível a diferença. Como o

município está em processo de obtenção do Selo de Identificação Geográfica, todos os

produtores participantes do projeto devem manter de forma exclusiva, a torrefação usando

somente os fornos de barro.

O processo de fabricação dos pães de guaraná (bastão) é outra prática que nos

ambientes familiares rurais permanece quase que intacta. As amêndoas ainda são

esmagadas usando os antigos pilões e geralmente é homem, no caso de ambiente

tradicionais não-indígenas, que é o responsável pela confecção do pão do guaraná. O local

destinado ao processo de desidratação, chamado fumeiro, basicamente não sofreu

alterações significativas ao longo do tempo. Porém como já detectado, o número de

agricultores que comercializam o guaraná em bastão é pequeno, um sinal de que poucos

agricultores têm interesse em continuar mantendo essa técnica.

Foi observado ainda que os produtores que utilizam o chamado cultivo misto e o

tradicional ainda observam os ciclos lunares para fazer a intervenção na cultura do

guaraná. A prática do plantio e as podas, na avaliação desses produtores, devem ser feitos

em momentos específicos, para que não haja prejuízos. Esperam a fase da lua nova ou

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quarto crescente para o plantio ou a poda de limpeza. É um costume herdado dos antigos

índios maués e que ainda continuam valendo nos dias atuais.

Continua persistindo em ambientes de agricultores familiares, a prática de envolver

toda a família na cadeia produtiva do guaraná. Do transporte das mudas ou retirada de

dentro da mata, plantio, cuidados que a planta recebe em sua jovem e adulta, processo de

colheita, torrefação e demais manejo são atividades que todos os membros da família têm

envolvimento direto. Entre os agricultores familiares não existe nenhuma restrição sobre a

questão sexual ou faixa etária na divisão de tarefas. Todos participam dessa atividade. No

entanto, os agricultores participantes do Programa do IG do Guaraná de Maués de utilizar

“a mão de obra infantil em qualquer fase do processo produtivo” (artigo 10º, alínea a do

Regulamento do IG).

O luto por causa do falecimento de parentes. É uma prática que ainda persiste em

ambientes rurais e na área indígena. Esse costume possivelmente herdado dos antepassados

permanece muito atual. Não deixa de ser uma maneira de expressar respeito pelo ente

querido. Eu mesmo observei esse preceito quando meus avós, tios e o meu pai faleceram.

Procurei perguntar o que aconteceria se fosse quebrado esse ritual. Tive como resposta: se

es as plantas estiverem com cachos de flores, estes não irão vingar, as plantas irão murchar

e morrerão também.

O uso da língua do pirarucu para ralar o guaraná é um costume que os agricultores

não indígenas receberam dos indígenas. Atualmente, os indígenas e os próprios

agricultores tradicionais ainda mantêm o costume de ralar o guaraná usando uma pedra.

Tudo indica que essa prática foi reforçada em razão da escassez desse peixe, anteriormente

muito comum na região e que sua sobrevivência passou por momentos críticos. É comum

encontrar à venda as famosas línguas de pirarucu nas casas comerciais do município de

Maués ou até mesmo entre os pescadores artesanais que comercializam esse produto.

Figura 14 – (A) Pirarucu (B) Língua do pirarucu usado para ralar o guaraná.

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Com a propagação da comercialização em larga escala do guaraná em pó. A

transformação do guaraná em pó foi feita de forma mecanizada, usando moinhos

industriais, possibilitando um aumento significativo na comercialização nessa modalidade

e levando a uma diminuição na busca pelas línguas do pirarucu. Não deixa de ser uma

medida com efeitos ambientais. Tomar guaraná em pó ralado na língua do pirarucu é uma

prática que permanece em maior escala apenas nos ambientes familiares rurais de Maués.

4.6 Práticas que sofreram alterações ao longo do tempo

Algumas das práticas que sofreram alterações ao longo do tempo, não estão

necessariamente ligadas diretamente a introdução das inovações tecnológicas, algumas

dessas prescrições deixaram de ser observadas mesmo em ambientes onde mantém o

cultivo tradicional é amplamente utilizado. É evidente também que o uso de fertilizantes,

defensivos e mudas melhoradas são opções adotadas nos manejos tecnificados ou mistos.

Uma das primeiras alterações observadas na cultura do guaraná ocorreu quando a

antiga prática de recolher diretamente na floresta os filhos de guaraná (mudas) ou

produzida em viveiros caseiros foi superada. Essas mudas melhoradas e mais resistentes

passaram a ser amplamente distribuídas entre os agricultores por meio de programas

coordenados por diversos órgãos, entre eles, IDAM, SEPROR e AMBEV.

Os antigos produtores rurais não usavam adubação química em seus plantios, tal

fato era justificado por uma série de fatores, entre eles, a condição econômica, a falta de

orientação técnica e outros julgavam simplesmente que não havia a necessidade desses

insumos, uma vez que a planta, por ser originária do local, dispensava o uso de

fertilizantes. E havia uma espécie de crença que afirmava que o guaraná por ser uma planta

nativa da região, não precisava receber adubação sintética. Com a introdução das novas

tecnologias foi disseminado e propagado o uso de fertilizantes desde o processo de

preparação das covas para plantio e no cultivo dessa.

Praticamente o uso de agrotóxicos era desconhecido por grande parcela de

produtores e para combater a ocorrência de doenças, utilizava-se diversas meios para evitar

danos maiores na plantação. Havia o costume também de fazer fumaça no guaranazal

usando sementes de palmeiras, como o tucumã e inajá. Essa defumação teria a propriedade

de afugentar os insetos propagadores de doenças. Essa prática sofreu grande

transformação, uma vez que os plantios de guaraná de Maués foram duramente atacados

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por diversas doenças, como a antracnose, e paralelo à introdução de mudas melhoradas,

houve também a necessidade de utilizar os agrotóxicos no combate dessas pragas.

Há o costume de despolpar as sementes do guaraná usando os pés. Essa prática

começou a sofrer alterações ao longo do tempo em algumas propriedades e ultimamente

com a recente discussão sobre a obtenção do selo de identificação geográfica do guaraná

de Maués, esse processo foi considerado inapropriado e passou a ser executado por meio

de despolpadoras manuais ou elétricas. Em parte, essa modalidade tradicional de despolpar

usando os pés ainda persiste em muitos ambientes.

Figura 15 - (A) Despolpando o guaraná com os pés (B) Máquina manual para despolpar o guaraná.

Hábito de tomar guaraná de madrugada. Esse é uma das práticas que somente os

mais idosos ainda preservam. Pessoas com idade abaixo de 50 anos perderam esse

costume. Esse costume ainda é observado somente em áreas rurais do município de Maués.

Figura 16 – (A) Tesoura para colheita (B) Tesoura de poda

Uso de roçadeiras motorizadas, tesoura para colheita e a tesouras para a colheita.

Durante muito tempo as limpezas nas áreas de plantio do guaraná eram realizadas

utilizando a enxada e o terçado, uma espécie de facão, como é conhecido na região. A

colheita dos cachos de guaraná era feita usando as próprias mãos. Recentemente essa

prática começou a sofrer modificações e passou-se a utilizar tesouras semelhantes aquelas

usadas na colheita de uvas e passou-se a utilizar também, ainda que em pequena escala,

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luvas. Espera-se que a médio prazo, os chamados Equipamentos de Proteção Individual

(EPIs) estejam fazendo parte da rotina de todos os produtores de guaraná, e não seja

restrito aos grandes produtores como acontece atualmente.

4.7 Proposta Pedagógica - a Aprendizagem Significativa

A sociedade brasileira passou por significativas mudanças nos últimos anos. A

chamada sociedade industrial, ou como preferem diversos autores, a chamada sociedade

pós-industrial ou globalizada mudou o seu foco, não mais voltada para o mundo do

trabalho propriamente dito, mas é suprimida por um novo viés, agora denominada a

sociedade da informação, cujo objeto preponderante é a aprendizagem e esta deve ter uma

importância para o sujeito, isto, é a aprendizagem significativa.

Segundo Santos (2007) a aprendizagem significativa acontece quando há uma

articulação entre os seguintes fatores: o sentir, o perceber, o compreender, o definir, o

argumentar, o discutir e o transformar. Os estudos de David Ausubel reforçam a tese que

só há aprendizagem quando o objeto estudado tem relevância para o sujeito. Do contrário,

essas informações passarão apenas pela mente o estudante de forma temporária, na

conhecida fórmula da decoreba.

Com intuito de oferecer um produto para o ensino de História no IFAM campus

Maués, o presente trabalho será convertido em um tópico a ser acrescentado na ementa do

Plano de Curso da 2ª série do curso técnico em agropecuária, no capítulo que trata da

Exploração Econômica da Amazônia colonial. Nesse capítulo será acrescentado duas aulas,

de duração de 50 minutos cada tempo, onde será reservado para tratar o tema do guaraná

de Maués. Será elaborado uma síntese contendo as principais informações, especialmente

tópicos que tratam das técnicas e saberes tradicionais referente ao cultivo do guaraná. Esse

conteúdo poderá ter outros desdobramentos no sentido de utilizar esse material apresentado

em sala de aula para trabalhar de forma interdisciplinar com as disciplinas de Língua

Portuguesa e Artes, especialmente quando se tratar dos mitos e lendas que envolvem esta

cultura, os quais não foram abordados neste trabalho, como a produção textual, poesias,

danças, pinturas e demais manifestações artísticas.

Outro momento de contextualização do presente trabalho com a ementa de História

pode-se lançar mão da interdisciplinaridade, onde seja possível trabalhar uma oficina

envolvendo as diversas disciplinas, como Língua Portuguesa, Artes, Sociologia, Geografia,

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Química e apresentar o guaraná como um tema que pode ser abordado sobre os diferentes

aspectos da cultura do guaraná no município de Maués.

É possível fazer também uma mesa-redonda ou debate usando a

transdisciplinaridade, onde seja feito o resgate histórico do cultivo tradicional e que esse

conteúdo seja discutido com os alunos para que este possa se situar no tempo e ajudá-los a

melhorar sua percepção de mundo, compreendendo que os saberes das populações

tradicionais devem ser compreendidos e disseminados. Nesse fórum deve ser abordado o

motivo das grandes corporações fomentarem pesquisas para a clonagem, melhoramento

genético, plantas geneticamente modificadas, mas não incentivam de nenhuma forma a

preservação dos conhecimentos tradicionais. Precisamos discutir de forma veemente com

os nossos futuros técnicos os motivos pelos quais o agronegócio cria barreiras e obstáculos

para que alternativas viáveis que destoam dos seus padrões não sejam implementadas por

governos e sequer a sociedade toma conhecimento.

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CONCLUSÃO

Há um grande desafio no mundo amazônico, que é o de conciliar a produção

agrícola com o respeito ao meio ambiente, isto é, produzir de forma sustentável. O cultivo

tecnificado do guaraná fomenta o uso da adubação química para aumentar a produção e

preceitua o uso de defensivos agrícolas utilizados no combate de pragas e doenças que

atacam o guaranazeiro. Por outro lado, o compromisso com a sustentabilidade ambiental,

muito comum aos povos indígenas e populações tradicionais da Amazônia a pensar de

outra forma e no respeito que se deve ter com as diversas formas de vida que estão ao seu

redor.

O tempo do homem amazônico é diferente do homem moderno. Não há tanta pressa

em mudar. Há um certo conformismo como tudo o que acontece em seu redor. São

receosos em mudar radicalmente sua forma de lidar com a agricultura. Ainda preferem um

pouco mais de tempo para assimilar estas novas tecnologias; alguns preferem continuar

seguindo o padrão tradicional, do conhecimento empírico, pois sentem-se mais seguros.

Porém não deixa de ser sintomático o fato de que entre os trinta e três (33)

agricultores pesquisados, (08) oito agricultores estão em fase de transição, entre o chamado

cultivo tradicional e o tecnificado, adotando o chamado cultivo misto. Há uma

probabilidade, pelo que foi evidenciado no trabalho de campo, que as inovações

tecnológicas exercerão forte pressão para se consolidar como a melhora alternativa de

produção. Os agricultores tradicionais, por sua vez, precisam encontrar meios e condições

para que consigam preservar suas práticas

Tudo indica que esse contato entre os saberes tradicionais e conhecimento técnico

aplicados à cultura do guaraná, não passará sem deixar marcas em ambas as vertentes do

conhecimento. Um será afetado pelo outro, pois é impossível que nesse contato, um não se

deixa de influenciar pela força do outro. Há uma pressa no conhecimento técnico em

querer suplantar os saberes dos povos indígenas e das populações tradicionais não-

indígenas que foram sedimentados ao logo de gerações. O certo é que as duas formas

devem ser repensadas para que possam interagir de forma positiva. A cultura do guaraná

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de Maués deve trilhar pelo caminho da agroecologia, mantendo assim os valores da

tradição em um contato contínuo com os novos saberes, no entanto, sem perder as suas

raízes e simbolismo, pois é isso que o torna o melhor do Brasil.

É consenso que as áreas agriculturáveis caminham para a exaustão em curto espaço

de tempo, devido ao uso exagerado de sua força produtiva, caso seja mantido esse atual

modelo de agricultura. Como usar o solo para que este continue produtivo por mais tempo,

sem que isso comprometa o alimento da população? Que medidas devem ser tomadas para

que esse futuro incerto e sombrio possa ser evitado? Não será este o momento de voltar

nossa atenção para os saberes que os povos indígenas possuem a respeito da forma como

se relacionam com a natureza? Isso pode até soar como mero romantismo ou uma simples

utopia. Todavia, não somente o solo caminha para o esgotamento, mas todo o planeta

caminha para uma fase crítica de sobrevivência. Eu vejo que o estudo da história dos povos

indígenas das populações tradicionais pode ser feito com outro olhar, especialmente a

partir das contribuições provenientes da agroecologia.

Os indígenas sateré-mawé já definiram o que pensam a respeito das inovações

tecnológicas. Elaboraram um conjunto de procedimentos que visam impedir a entrada do

chamado cultivo tecnificado em sua região. Essas medidas de proteção do cultivo do

guaraná, foram elaboradas durante o II Seminário Hate Ywakup, onde foram discutidos os

assuntos da Tutela, Saúde e o Patrimônio do povo sateré-mawé. Os participantes desse

seminário recomendaram a criação de uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio

(FUNAI) e o Conselho Geral das Tribos Sateré-Mawé (CGTSM) e a posterior implantação

de um sistema de vigilância para impedir a entrada desses produtos. A Funai emitiu um

documento proibindo a entrada de adubos sintéticos ou mudas melhoradas em laboratório.

Dessa forma, as inovações técnicas não têm interferência direta no processo produtivo do

guaraná entre os indígenas.

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9. REFERÊNCIAS

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guaranazeiro com adubação de plantas matrizes. Manaus: Embrapa Amazônia

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Universidade do Amazonas – UEA / Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura

da Amazônia / Fundação Ford / Fundação Universidade do Amazonas. Manaus, 2008.

ARAÚJO, Wagner Paiva. Práticas pedagógicas no meio rural. Manaus: EDUA, 2004.

ARRUDA, M.R. de; PEREIRA, J.C.R.; MOREIRA, A.; TEIXEIRA, W. Enraizamento

de estacas herbáceas de guaranazeiro em diferentes substratos. Ciência e

Agrotecnologia, Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2007.

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BETTENDORF, João Filipe. Crônica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no

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DIEGUES, Antônio Carlos. Biodiversidade e Comunidades Tradicionais no Brasil. São

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Documentário: Os filhos do Guaraná

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ANEXOS

ANEXO I

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

QUESTIONÁRIO

1 – Idade

1.1 ( ) 18 – 30 anos

1.2 ( ) 31 – 45 anos

1.3 ( ) 46 – 60 anos

1.4 ( ) mais de 61 anos

2 – Qual seu nível de escolaridade?

2.1 ( ) séries iniciais do ensino fundamental

2.2 ( ) ensino fundamental (5º ao 9º ano)

2.3 ( ) ensino médio

2.4 ( ) ensino superior

3 – Local da produção:

______________________________________________________________________

3.1 – Rio/Estrada:

______________________________________________________________________

3.2 – Coordenadas:

______________________________________________________________________

4 – Qual é o tipo de manejo adotado em sua propriedade?

4.1 ( ) tradicional (nativo)

4.2 ( ) tecnificado (EMBRAPA). (Se marcar esse item, pular para a questão 7)

4.3 ( ) misto

5– Caso tenha marcado o item 4.1 ou 4.3, fale um pouco como se dá as práticas de manejo

tradicional em sua propriedade: (Caso tenha assinalado o item 4.2, pular para a questão 7)

5.1 Plantio:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

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5.2 Tratos culturais:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

5.3 Controle de doenças:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

5.4 Colheita/beneficiamento:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

5.5 Recomendações diversas:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

6 - Quais as técnicas e costumes tradicionais envolvendo a cultura do guaraná que não se

usa mais em sua propriedade? (Caso tenha assinalado o item 4.1, pular para a questão 9)

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

7 – Na sua avaliação, qual o principal motivo que levou o(a) senhor(a) a adotar o manejo

tecnificado em sua propriedade

7.1 ( ) baixa produtividade do plantio tradicional

7.2 ( ) alta produtividade do cultivo tecnificado

7.3 ( ) as novas mudas são resistentes às doenças do guaranazeiro

7.4 ( ) o projeto aprovado junto aos bancos indicou este tipo de cultivo.

8 – Tendo em vista a introdução de novas práticas no cultivo do guaraná em sua

propriedade, quais as técnicas herdadas do cultivo tradicional que permaneceram

inalteradas?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_____________________________________________________________

9 – Indique as principais alterações provocadas na cultura do guaraná com a chegada das

novas práticas recomendadas pela Embrapa

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

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10 – O(a) senhor(a) considera que na cultura do guaraná é possível conciliar as práticas

tradicionais provenientes dos indígenas/caboclos com o chamado cultivo tecnificado?

10.1 ( ) é possível que as duas formas de cultivo possam ser praticadas na mesma área

cultivada

10.2 ( ) não é possível, pois são duas formas distintas de cultivo

10.3 ( ) não é vantajoso comercialmente

10.4 ( ) não sabe informar

11 – Qual é a principal forma que o(a) senhor(a) utiliza para comercializar a sua produção

de guaraná?

11.1 ( ) em sementes torradas (rama)

11.2 ( ) em pó

10.3 ( ) em bastão

10.4 ( ) outros

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ANEXO II

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS DO IFAM CAMPUS MAUÉS

1 – Você é:

1.1 ( ) Estudante (1ª série / 3ª série)

1.2 ( ) Técnico Agrícola

1.3 ( ) Professor

1.4 ( ) Gestor/coordenador

2 – Como você se vê inserido no contexto da cultura do guaraná no município de Maués?

2.1 ( ) provém de família de produtores de guaraná

2.2 ( ) possui conhecimentos básicos sobre a cultura/manejo desta cultura

2.3 ( ) conhece apenas através de eventos como “Dia de Campo” ou seminários

2.4 ( ) não têm conhecimentos ou contato com a cultura do guaraná.

3 – Tendo em vista que o cultivo do guaraná no município de Maués vem passando por

transformações onde os processos tecnificados de produção vem crescendo, você considera

que:

3.1 ( ) as antigas práticas de cultivo devem ser superadas

3.2 ( ) é possível reunir a forma tradicional e tecnificada no manejo do guaraná

3.3 ( ) os agricultores tradicionais não se adaptarão ao cultivo racional

3.4 ( ) não há condições de conciliar as duas formas de cultivo

4 – Como você acha que a cultura do guaraná de Maués deve ser trabalhada pelo IFAM

campus Maués

4.1 ( ) apesar de ser relevante, basta criar uma disciplina específica somente para o curso

em Agropecuária

4.2 ( ) inserindo o tema para ser abordado sob diversos enfoques nos cursos oferecidos pelo

campus Maués

4.3 ( ) apresentando de forma interdisciplinar nos diversos cursos

4.4 ( ) incluindo apenas como um tópico na disciplina Produção Vegetal no curso

Agropecuária

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5 – Como você avalia os conhecimentos tradicionais da etnia sateré-maué e dos pequenos

produtores aplicados à cultura do guaraná?

5.1 ( ) são conhecimentos que precisam ser valorizados, pois estão dentro dos conceitos

agroecológicos

5.2 ( ) estes conhecimentos não correspondem às exigências da produção atual do guaraná

5.3 ( ) eles impedem a propagação do cultivo tecnificado

5.4 ( ) são meros conhecimentos empíricos sem validade científica

6 – Que outras maneiras podem ser utilizadas pelo IFAM campus Maués na difusão da

cultura do guaraná?

6.1 ( ) promoção de Dia de Campo em parceria com outras instituições

6.2 ( ) promoção de seminários, simpósios e similares

6.3 ( ) intensificar as atividades de Extensão na zona rural

6.4 ( ) divulgar através dos meios digitais como blogs, redes sociais, entre outros

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ANEXO III

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ___________________________________________________________________,

permito que meu filho, aluno(a) regularmente no Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia – IFAM campus Maués participe da pesquisa intitulada: “O impacto das inovações

tecnológicas no cultivo do guaraná (Paullinia cupana var sorbilis) no município de

Maués/AM”, coordenada pelo professor Elias da Silva Souza, mestrando em Educação Agrícola

- Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola – PPGEA/ Universidade Federal Rural do

Rio de Janeiro – UFRRJ.

Esta pesquisa tem por objetivo por geral:

Identificar quais os aspectos do tradicionalismo da produção do guaraná do município de

Maués que ainda permanecem inalterados após a introdução das inovações tecnológicas

implementadas pela Embrapa e quais as antigas práticas que já estão em desuso.

Fui informado (a) que a pesquisa será realizada através de formulário, apresentação do

projeto de pesquisa e análise quanti-qualitativa dos resultados.

Sei que tenho direito de não responder a qualquer pergunta que for feita, caso não queira ou

não me sinta a vontade. Além disso, fui informado que todas as informações que forneci, bem

como meu nome permanecerão em sigilo caso não autorize sua divulgação.

Estou ciente também que em qualquer momento, posso me comunicar diretamente com o

responsável pela pesquisa para esclarecimentos, através do telefone: (92) 99200-8338

Tenho ciência de que esta pesquisa pertence à área da docência, não apresentando qualquer

risco a minha vida, saúde ou a saúde de outros participantes.

Informo ainda também que fui devidamente orientado, e, estando esclarecido (a) sobre os

objetivos desta pesquisa, concordo em participar, sabendo que tenho reservado o direito de retirar

meu consentimento a qualquer momento sem sofrer qualquer penalidade ou constrangimento.

Maués/AM,_____ de ____________________de 2016.

___________________________________________________

Assinatura do Responsável – Carteira de Identidade nº

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____________________________________________________

Assinatura do Pesquisador

ANEXO IV

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO AMAZONAS – IFAM CAMPUS MAUÉS CURSO: TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA / MODALIDADE: INTEGRADO

COMPONENTE CURRICULAR/DISCIPLINA: HISTÓRIA CARGA HORÁRIA: 80h

OBJETIVOS/COMPETÊNCIAS:

DEMOSTRAR A IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE DO ESTUDO DA CIÊNCIA HISTÓRIA, NA ATUALIDADE E

SUA CONTRIBUIÇÃO PARA AS GERAÇÕES FUTURA

EMENTÁRIO:

IENTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA. CIVILIZAÇÃO ORIENTAL. CIVILIZAÇÃO CLÁSSICA. TEMPOS

MODERNOS. FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO BRASIL COLONIAL. BRASIL IMPERIAL.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

I UNIDADE:

1- INDRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA: a) Conceito, periodização 2- CIVILIZAÇÃO ORIENTAL: a) Povos mesopotâmicos, egípcios e hebreus 3- CIVILIZAÇÃO CLÁSSICA: b) Civilização Grega b) Civilização Romana 4- EUROPA MEDIAVAL: a) A sociedade feudal b) A crise do feudalismo.

II UNIDADE 1- TEMPOS MODERNOS: a) Expansão marítima e comercial ; b) Período colonizador (1500 – 1530) c) Amazônia pré-colonial e colonial

III UNIDADE 1- FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO BRASIL COLONIA: a) Bases econômicas da colonização; b) Emancipação política do Brasil

IV UNIDADE: 1- BRASIL: DE IMPÉRIO A REPÚBLICA a) Brasil Império b) Brasil: Proclamação da República c) Brasil: Período Republicano

BIBLIOGRAFIA (Titulo, autor, edição, local, editora):

Nova História crítica – Mário Schimidt – Ed. Nova Geração – São Paulo – Volume Único

Uma Síntese da História do Amazonas – Uma Visão Didática – Lenilson Melo Coelho Ed. Cecil Concorde Com. Ind. Exp.

LTDA –Manaus-AM

História Moderna e Contemporânea - Alceu Luiz Pazzinato - Maria Helena Valente Senise – Ed. Ática – São Paulo

História do Brasil – Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira – Ed. Atual – São Paulo

História do Brasil – Colônia, Império e República - Francisco de Assis Silva – Ed. Moderna – São Paulo.

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