Modulo 1 Violência e Perspectiva Relacional de Gênero

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    ATENÇÃO A HOMENS E MULHERESEM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIAPOR PARCEIROS ÍNTIMOS

    KATHIE NJAINEANNE CAROLINE LUZ GRÜDTNER DA SILVAANA MARIA MÚJICA RODRIGUESROMEU GOMESCARMEM REGINA DELZIOVO

    VIOLÊNCIA E PERSPECTIVA

    RELACIONAL DE GÊNERO

    FLORIANÓPOLIS | SCUFSC2014

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    2FICHA TÉCNICA/CRÉDITOS

    GOVERNO FEDERALPresidente da RepúblicaMinistro da SaúdeSecretário de Gestão do Trabalho e da Educaçãona Saúde (SGTES)Diretora do Departamento de Gestão da Educa-ção na Saúde (DEGES)Coordenador Geral de Ações Estratégicas emEducação na SaúdeResponsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAReitora Roselane NeckelVice-Reitora Lúcia Helena PachecoPró-Reitora de Pós-graduação Joana Maria PedroPró-Reitor de Pesquisa Jamil Assereuy FilhoPró-Reitor de Extensão Edison da Rosa

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDiretor Sergio Fernando Torres de FreitasVice-Diretor Isabela de Carlos Back Giuliano

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    DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICAChefe do Departamento Antônio Fernando BoingSubchefe do Departamento Lúcio José BotelhoCoordenadora do Curso de Capacitação  ElzaBerger Salema Coelho

    EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

    ÁREA TÉCNICA SAÚDE DO HOMEMEduardo S. Chakora

    Daniel Cardoso da Costa e Lima

    ÁREA TÉCNICA SAÚDE DA MULHERClaudia Araújo de Lima

    GRUPO GESTORCoordenadora do Projeto Elza Berger Salema CoelhoCoordenadora Interinstitucional Sheila Rubia LindnerCoordenadora de Ensino Carolina Carvalho Bolsoni

    Coordenadora Executiva Rosangela Leonor GoulartCoordenadora de Tutoria Thays Berger Conceição

    AUTORIA DO MÓDULOKathie NjaineAnne Caroline Luz Grüdtner da SilvaAna Maria Mújica RodriguezRomeu Gomes

    REVISÃO DE CONTEÚDOAdriano BeirasMarta Inez Machado Verdi

    COORDENAÇÃO DE ENSINOCarolina Carvalho BolsoniThays Berger Conceição

    ASSESSORIA PEDAGÓGICAMárcia Regina Luz

    GESTÃO DE MÍDIASMarcelo Capillé

    DESIGN GRÁFICO, IDENTIDADE VISUAL E ILUSTRAÇÕESPedro Paulo Delpino

    DESIGN INSTRUCIONALAgnes Sanfelici

    REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESAAdriano SachwehFlávia Goulart

    FICHA TÉCNICA / CRÉDITOS

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    © 2014 todos os direitos de reprodução são re-servados à Universidade Federal de Santa Cata-rina. Somente será permitida a reprodução par-cial ou total desta publicação, desde que citadaa fonte. ISBN – 978-85-61682-39-2

    Edição, distribuição e informações:Universidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitário, 88040-900 TrindadeFlorianópolis – SC

    EQUIPE DE PRODUÇÃOCoordenação Geral de Equipe de ProduçãoEleonora Vieira FalcãoCoordenação de Produção Giovana SchuelterDiagramação Fabrício Sawczen e Thiago Vieira

    FICHA TÉCNICA/CRÉDITOS

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    ATENÇÃO A HOMENS E MULHERESEM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIAPOR PARCEIROS ÍNTIMOS

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

    FLORIANÓPOLIS | SCUFSC2014

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    Catalogação elaborada na Fonte

    U588vUniversidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciênciasda Saúde. Curso Atenção a Homens e Mulheres em Situaçãode Violência por Parceiros Íntimos - Modalidade a Distância.

    Violência e perspectiva relacional de gênero [recursoeletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina;organização, Kathie Njaine... [et al]. — Florianópolis :Universidade Federal de Santa Catarina, 2014.45 p.

    Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Unidade 1: Violência de Gênero.– Unidade 2: Gênero e Saúde no Contexto da Atençãoao Homem e Mulher. Unidade 3: Violência ContraLGBT.

    ISBN: 978-85-8267-037-8 1. Violência de gênero. 2. Atenção primária à saúde. 2.Educação em saúde. I. UFSC. II. Njaine, Kathie. III. Silva,Anne Caroline Luz Grüdtner da. IV. Rodrigues, Ana MariaMújica. V. Gomes, Romeu. VI. Delziovo, Carmem Regina.VII. Título.

    CDU: 362.88

    Ficha catalográca elaborada pela Bibliotecáriaresponsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB14/074

    FICHA CATALOGRÁFICA

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    7SUMÁRIO

    Palavra dos autores 8Objetivo do módulo  10Apresentação do módulo 11

    Unidade 1 - Violência e Gênero 121.1 Correntes teóricas 121.1.1 Construção social de sexo e gênero 141.2 Masculinidade e feminilidade e violência 15Resumo da unidade 18Referências 19

     Unidade 2 – Gênero e Saúde no Contexto daAtenção ao Homem e Mulher 212.1 Violência de gênero e a mulher 212.2 Violência de gênero e o homem 232.3 Gênero e saúde - papel do prossionalna Atenção Básica 26Resumo da unidade 28Referências 29

    Unidade 3 - Violência Contra LGBT 313.1 Introdução da unidade 313.2 O atendimento à população LGBT naAtenção Básica 35Resumo da Unidade 40Referências 41

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    8PALAVRA DOS AUTORES

    Caro aluno, seja bem-vindo ao nosso módulo!

    O tema que iremos abordar nas próximas 30 ho-ras de curso é de grande importância para todosos prossionais de saúde que lidam diariamentecom homens e mulheres, e que muitas vezes nãose atentam a questões relacionadas a gênero queenvolvem a assistência a esses grupos. Uma dasquestões que afeta a saúde de homens e mulheresde maneira geral é a violência baseada no gênero.

    Ou seja, queremos reetir sobre a violência queocorre entre homens e mulheres, entre os ho-mens e entre as mulheres, e que é motivada porconcepções de gênero. As informações apresen-tadas neste módulo trazem aos prossionais daAtenção Básica subsídios para a compreensão dasrelações de gênero e a violência. Essa percepçãoserá importante para o acompanhamento dos ca-sos de violência doméstica, em especial os que

    ocorrem no âmbito conjugal, na Atenção Básica.Por meio da leitura deste módulo, das sugestõesde outras leituras, de vídeos e de estudos decaso, procuramos contribuir para que você, jun-tamente com sua equipe, possa reetir e atuar naidenticação das questões de gênero envolvidasnos casos de violência contra mulheres, homens

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    e a população lésbica, gay, bissexual, travesti,transexual e transgênero (LGBT).Além das leituras indicadas, e das atividades pro-postas, você pode recorrer a outras fontes dis-poníveis para construir seu conhecimento. Entre-tanto, lembre-se de discutir com seus colegas decurso por meio do ambiente virtual de aprendi-zagem – e com seus parceiros de trabalho, pois oprocesso de aprendizado recebe ênfase sempreque é compartilhado.

    Bons estudos!

    PALAVRA DOS AUTORES

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    Este módulo está desenhado com o objetivo depropiciar uma reexão consciente e um forta-lecimento dos conhecimentos e habilidades dosprossionais de saúde frente à violência de gêne-ro. Considera-se que os prossionais da atençãoà saúde ocupam uma posição única para a identi-cação do problema, a prevenção e a assistênciaàs pessoas em situação de violência nas relaçõesentre parceiros íntimos. De igual forma, busca-sereforçar a igualdade de gênero e a promoção dos

    direitos de homens e mulheres.

    Carga horária recomendada para este módulo:30 horas

    OBJETIVO DO MÓDULO

    CARGA HORÁRIA

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    Este módulo pretende, de maneira estratégica,ampliar a discussão da violência que atravessa asrelações de parceiros íntimos em particular, quepassa pela compreensão de tal temática comouma forma de violência de gênero. Esta diz res-peito às relações de poder e à distinção entre ascaracterísticas culturais atribuídas a cada um dossexos e suas peculiaridades biológicas.A abordagem desse tipo de violência nas relaçõesentre homens e mulheres, entre homens e entre

    mulheres, pode ajudar na compreensão dos dife-rentes aspectos que contribuem historicamente,socialmente e culturalmente para as desigualda-des de gênero.Busca-se dessa forma instrumentalizar ações quemodiquem essas relações desiguais, inclusive asque afetam a comunidade LGBT.

    APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

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    12UNIDADE 1VIOLÊNCIA E GÊNERO

    Ao nal desta unidade você deverá ser capaz deanalisar os diferentes conceitos sobre a violênciae a perspectiva relacional de gênero.

    1.1 CORRENTES TEÓRICAS

    A violência de gênero se caracteriza por qualquerato de agressão física, de relações sexuais for-çadas e outras formas de coerção sexual, maus-tratos psicológicos e controle de comportamen-

    to que resulte em danos físicos ou emocionais,perpetrado com abuso de poder de uma pessoacontra a outra, em uma relação marcada pela de-sigualdade e pela assimetria entre gêneros. Podeacontecer nas relações íntimas entre parceiros,entre colegas de trabalho e em outros espaçosda sociedade. Abrange a violência praticada porhomens contra mulheres, por mulheres contrahomens, entre homens e entre mulheres (BRASIL,

    2005; ZUMA et al, 2009).Portanto, a violência de gênero se refere às re-lações de poder e à diferença entre as caracte-rísticas culturais atribuídas a cada um dos sexose suas peculiaridades biológicas. No âmbito dasrelações de intimidade entre ambos os sexos, ouentre parceiros do mesmo sexo, as mulheres têm

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    13UNIDADE 1VIOLÊNCIA E GÊNERO

    sido as mais vitimizadas, particularmente nas so-

    ciedades em que as desigualdades entre homense mulheres são mais marcantes. Ou seja, a vio-lência contra as mulheres é grave, a ponto demuitas precisarem procurar os serviços de saú-de por conta das agressões, apesar de os homenstambém sofrerem violências de todos os tipos.Nem sempre a violência de gênero é visível noâmbito das pessoas que se encontram em riscode sofrê-la. Muitas vezes ocorre a dominação ou

    exclusão social por vias simbólicas nas relaçõeshomens-mulheres, entre homens e entre mulhe-res. Assim, as pessoas muitas vezes não reconhe-cem a violência em determinados atos, pelo fatode estes não serem compreendidos como violen-tos, mas que em níveis mais sutis estão acompa-nhados dela.

    Nas relações de gênero, além da violência física ocorre aviolência simbólica.

    Os estudos sobre violência de gênero tradicio-nalmente se voltam mais à violência contra amulher, pela magnitude desse evento em todo o

    mundo. O uso da categoria gênero vem oferecen-

    do a esses estudos uma importante base para sediscutir esse fenômeno social.Algumas correntes teóricas, embora partindo dediferentes enfoques, têm sido utilizadas paraabordar a questão de gênero. Dentre elas encon-tram-se as denominadas: dominação masculina;dominação patriarcal; relacional.De acordo Santos e Izumino (2005), a primeiracorrente, identicada como dominação mascu-

    lina, dene violência contra as mulheres comoexpressão de dominação da mulher pelo homem,levando à anulação da autonomia da mulher, con-cebida tanto como “vítima” quanto como “cúm-plice” dessa dominação. Tal cumplicidade não es-taria relacionada a uma escolha ou vontade, mas àprópria destituição da autonomia da mulher. Essateoria entende que as diferenças entre o femininoe o masculino são transformadas em desigualda-

    des hierárquicas por meio de discursos machistassobre a mulher, os quais são proferidos tanto porhomens quanto por mulheres. Tais discursos de-nem a feminilidade tomando por base a capa-cidade da mulher de reproduzir. Assim, elas sãodenidas como seres “para os outros”, em vez de“com os outros”; ou seja, são seres dependentes.

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    A segunda teoria refere-se à dominação patriar-

    cal e compreende a violência como expressãodo patriarcado, em que a mulher é vista comosujeito social autônomo, embora seja historica-mente vítima do controle social masculino. Nessaperspectiva as mulheres não são “cúmplices” daviolência, são apenas “vítimas”.A terceira corrente teórica identicada nos es-tudos sobre violência contra a mulher é a rela-cional, que relativiza as noções de dominação

    masculina e vitimização feminina, entendendoviolência como uma forma de comunicação e umjogo no qual a mulher protagoniza cenas de vio-lência conjugal e se representa como “vítima”e “não sujeito” quando denuncia, porque assimobtém proteção e prazer.

    1.1.1 CONSTRUÇÃO SOCIAL DE SEXO E GÊNERO

    O gênero se constrói culturalmente e inuencia na for -

    ma de ser homem ou de ser mulher em cada sociedade.

    Com base na compreensão de que a violência sedá no âmbito das relações, o que é visto cultu-

    ralmente como masculino só faz sentido a partir

    do feminino e vice-versa. Os padrões de masculi-nidade e feminilidade fazem com que as identi-dades de homem e mulher se armem na medidaem que ocorrem aproximações e afastamentosem relação ao padrão que concentra maior po-der na cultura.Cada um dos dois gêneros é construído como cor-po socialmente diferenciado do sexo oposto, oque faz a divisão entre os sexos parecer natural e

    congurar os esquemas de percepção, de pensa-mento e de ação (BOURDIEU, 2010).Assim, para ampliar a compreensão desses pa-drões é importante pensar que não basta que asmulheres concordem de modo geral com os ho-mens, mas que considerem a representação deum conjunto de homens e de mulheres, ou seja,de esquemas de percepção e avaliação univer-salmente partilhados com o grupo em questão.

    Dessa forma, a lógica paradoxal da dominaçãomasculina e da submissão feminina só pode exis-tir pelos efeitos duradouros que a ordem socialexerce sobre as mulheres e os homens; a domina-ção masculina não depende das representaçõesindividuais, mas das representações sociais ente-didas por cada indivíduo.

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    Para reetir sobre a questão da violência no contexto de

    gênero, sugerimos “A dimensão simbólica da violência de

    gênero: uma discussão introdutória” de Romeu Gomes.

    Enquanto as mulheres estão aprisionadas às for-mas de submissão, é possível dizer que os ho-mens se encontram enclausurados nas formas dedominação. Dominação e submissão são noções

    notavelmente relacionais, de homens para comoutros homens, de mulheres para com outras mu-lheres, e de homens para com as mulheres.

    O machismo não pode ser atribuído exclusivamente aos

    homens, mas igualmente às mulheres, ou seja, homens

    e mulheres acabam sendo produtos de uma sociedade

    machista e até mesmo sexista (VINHAS, 2011).

    1.2 MASCULINIDADE E FEMINILIDADE

    E VIOLÊNCIA

    Nesta seção vamos reetir sobre algumas manei-ras de viver a masculinidade e suas relações coma cultura de violência. Entende-se que a mascu-linidade, situada no âmbito do gênero, represen-ta um conjunto de atributos, valores, funções econdutas que se espera de um homem em umadeterminada cultura.

    Em várias sociedades, no quesito socialização doshomens, a aquisição de atributos masculinos co-mumente se caracteriza por processos violentos.Os meninos costumam ser educados de modo querearmem sua masculinidade em espaços consi-derados masculinos, como pátios de escolas, clu-bes esportivos, bares, presídios, dentre outros.Isso nos leva a considerar que a violência assumeum papel fundante da própria masculinidade.

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    Assista ao vídeo “Minha vida de João”, produzido por

    Promundo, PAPAI, ECOS e Salud y Género. Trata-se de

    uma animação na qual é contada a história de João, um

    garoto que, como tantos outros, vive em uma sociedade

    machista, pautada por padrões rígidos de gênero. O ví-

    deo está dividido em três partes. Acesse os links abaixo

    na sequência para assisti-lo.

    Parte 1 - http://youtu.be/QIelPL7Yedw

    Parte 2 - http://youtu.be/UesRpJScHCsParte 3 - http://youtu.be/mv-2u93Duls

    Minayo (2005) comenta que a noção do mascu-lino como sujeito da sexualidade e o femininocomo seu objeto é um valor de longa duração dacultura ocidental. Quando olhamos as formas deexpressão da violência no Brasil, podemos pensar

    a relação próxima entre masculinidade e violên-cia como consequência de uma sociedade cujopatriarcalismo está profundamente enraizado ena qual a concepção de masculinidade equipa-ra-se ao lugar da ação, da decisão e da posiçãonaturalizada de agente do poder da violência, docomando das guerras e das conquistas.

    Neste sentido, constata-se que os homens represen-

    tam um papel relevante na violência brasileira, como

    pessoas em situação de risco de sofrer violência e

    como os principais autores de agressões. No entanto,

    a despeito dessa relevante associação entre mascu-

    linidade e violência, não se conclui que ser homem

    é ser violento, pois outros modelos de masculinida-

    de coexistem com os mais tradicionais. Além disso, é

    fundamental considerar as singularidades de cada um,

    bem como os contextos etários, socioeconômicos, deraça e etnia.

    Na construção dos padrões de masculinidade dasociedade brasileira, predominam nos discursosdos homens as referências tradicionais do que éser um homem - sinônimo de agressividade e dedescontrole sexual -, o que acaba por produzir

    esquemas de comportamentos.Ao vericar formas hegemônicas de masculinida-de, como a dominação, a força e a subordinação,que se estabelecem nas relações homens-ho-mens, mulheres-mulheres e homens-mulheres,deve-se considerar que há formas explícitas,como a violência física, e outras mais invisíveis,

    UNIDADE 1VIOLÊNCIA E GÊNERO

    http://youtu.be/QIelPL7Yedwhttp://youtu.be/UesRpJScHCshttp://youtu.be/mv-2u93Dulshttp://youtu.be/mv-2u93Dulshttp://youtu.be/UesRpJScHCshttp://youtu.be/QIelPL7Yedw

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    como a violência simbólica, entre outras vio-

    lações de direitos nas relações entre gêneros.Neste cenário também se considera a violênciacontra os homens, praticada por mulheres e poroutros homens, além daquela que aprisiona oshomens na própria concepção de masculinidadee virilidade. Como ensina Bourdieu (1999, p.67),“a virilidade, como se vê, é uma noção eminen-temente relacional, construída diante dos outroshomens, para os outros homens e contra a femi-

    nilidade, por uma espécie de medo do feminino,e construída, primeiramente, dentro si mesmo”.Gomes (2008) e Schraiber et al (2005) têm cha-mado a atenção para a necessidade de ampliar osconhecimentos e as práticas da saúde coletiva noque diz respeito às perspectivas de gênero, emque o homem deve ser incluído. Essa necessida-de também é apontada pela Política Nacional deAtenção Integral à Saúde do Homem, que consi-

    dera a violência como tema importante no aten-dimento integral ao homem. A violência, comouma forma social de poder, é uma estratégia deempoderamento masculino, mas com ônus paraos homens autores de violência, os quais adotampráticas que geram graves danos à saúde física,psíquica e social para eles e para os outros.

    UNIDADE 1VIOLÊNCIA E GÊNERO

    A integralidade na atenção à saúde do homem

    implica uma visão sistêmica sobre o processo daviolência, indo além de seu papel de agressor,considerando os fatores que facilitam que o ho-mem cometa violência, a m de intervir preven-tivamente sobre as suas causas, e não apenas emsua reparação (BRASIL, 2008).

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    18RESUMO DA UNIDADE

    Nesta primeira unidade ampliamos nossos conhe-

    cimentos sobre as questões de gênero envolvidasna violência na vida adulta. Estudamos os con-ceitos de gênero e as principais correntes teóri-cas sobre o tema. Também lemos sobre a impor-tância de analisar as situações de violência sob aótica das questões de gênero, e nalizamos estaunidade observando alguns aspectos que indicama importância de pensarmos as questões de gêne-ro na Atenção Básica.

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    BOURDIEU, P. A Dominação Masculina. 7. ed. Rio

    de Janeiro: Bertrand, 2010.

    BRASIL. Ministério da Saúde. Impacto da violên-cia na saúde dos brasileiros. Brasília: Ministérioda Saúde, 2005.

    BRASIL. Ministério da Saúde. Mais saúde: direitode todos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2008.

    MINAYO, M. C. S. Laços perigosos entre machismoe violência. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janei-ro, v.10, n.1, p.18-26, jan./mar. 2005.

    NJAINE, K. (org) et al. Impactos da violência nasaúde. 2 ed. Rio de Janeiro: Fundação OswaldoCruz, 2009.

    SANTOS, C. M. D.; IZUMINO, W. P. Violência contra

    as Mulheres e Violência de Gênero: Notas sobreEstudos Feministas no Brasil. Estud. interdiscip.Am. Lat. Caribe, v.16, n.1, jan./jun. 2005.

    SCHRAIBER, L. B.; GOMES, R.; COUTO, M. T. Homense saúde na pauta da saúde coletiva. Ciênc. saúdecoletiva, RJ, v.10, n.1, p. 7-17, jan./mar. 2005.

    REFERÊNCIAS

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    VINHAS, W. Construção social da violência e di-

    reitos humanos. Irecê: Uiversidade do Estado daBahia, 04 dez. 2010. Palestra proferida durantea Campanha pelo Fim da Violência Contra Mulhe-res: “Direitos sexuais e Direitos Humanos”: cons-trução social da violência e direitos humanos.

    REFERÊNCIAS

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    21UNIDADE 2GÊNERO E SAÚDE NO CONTEXTO DAATENÇÃO AO HOMEM E MULHER

    O objetivo de aprendizagem desta unidade é dis-

    cutir as peculiaridades da violência contra as mu-lheres e os homens na vida adulta.

    2.1 VIOLÊNCIA DE GÊNERO E A MULHER

    Desde a primeira metade do século XX os direitoshumanos têm sido tema de debate em quase todoo mundo. Diversos países têm adotado políticas e

    diretrizes para garantir que toda pessoa seja pro-tegida de violações e violências que possam de-gradar física, emocional e espiritualmente a vidahumana. O Brasil tem participado desses avançose é um dos países signatários da Declaração Uni-versal dos Direitos Humanos de 1948.Um dos direitos humanos mais violados em váriaspartes do mundo é o da mulher, apesar das váriasdeclarações, políticas, diretrizes e dos compro-

    missos assumidos por muitos países em relação àgarantia dos seus direitos. Os marcos mais impor-tantes em relação a essa garantia incluem a Con-venção sobre a Eliminação de Todas as Formas deDiscriminação contra a Mulher da ONU (1984), a 4ªConferência Mundial sobre a Mulher (CONFERÊN-CIA, 1995) e a Conferência Interamericana para

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    22UNIDADE 2GÊNERO E SAÚDE NO CONTEXTO DAATENÇÃO AO HOMEM E MULHER

    Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mu-

    lher (CONVENÇÃO, 1995).

    O Brasil reconhece que a violência contra a mulher é uma

    violação grave, a qual compromete a saúde e a qualidade

    de vida de adolescentes e mulheres adultas, e assume o

    problema como uma questão de saúde pública.

    Compreender a perpetuação do complexo fenôme-no social que é a violência contra a mulher implicareconhecer que ele está profundamente arraigadoà cultura de determinadas sociedades, nas estru-turas institucionais sociais e políticas, nas quais asrelações de poder existentes entre os gêneros sãohistoricamente desiguais. Outro aspecto que po-deria explicar a perpetuação da violência contra amulher seria da ordem da estrutura sexo/gênero,

    do aprendizado dos papeis sexuais do homem e damulher, que são usados como justicativas paradeterminados comportamentos violentos contraas mulheres.Os principais agressores das mulheres têm sidomaridos, ex-maridos, namorados e ex-namorados.Nestes casos, as relações interpessoais são marca-

    das pela opressão e por pouca autonomia das mu-

    lheres. Mas os agressores também podem ser pais,irmãos e outras pessoas do gênero masculino, con-gurando uma forma mais comumente conhecidade violência de gênero, comumente denominadaviolência doméstica e (ou) violência intrafamiliar.Estima-se que 12 milhões de mulheres são vítimasde violação, violência física ou perseguição porseu parceiro íntimo a cada ano, e têm de duas atrês vezes mais probabilidade que os homens de

    experimentar lesões por essas violências sofridas.Igualmente, têm maior possibilidade de sentirmedo de sofrer novamente violência física e (ou)sexual, e o duplo risco de ser assassinadas por seuparceiro. No Brasil, uma dentre cada cinco mulhe-res declara já ter sofrido algum tipo de violênciade gênero perpetrada por algum homem em suavida (REICHENHEIM, 2006).O que se percebe, em geral, nos atendimentos a

    meninas e mulheres em situação de violência naárea da saúde, nas delegacias de polícia e na áreada assistência social, é que a agressão ocorre prin-cipalmente por fazerem parte do gênero feminino.Essa violência, que é comum em nossa sociedade,assim como em outras, aponta para o fato de queo sexo feminino ainda é visto como inferior, ou

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    O fato de estudos encontrarem uma forte associação en-tre masculinidade e violência não pode fazer com que

    xemos estereótipos de que ser homem é ser violento.

    Devemos considerar que junto ao modelo predominan-

    te de masculinidade, presente em cada sociedade, há

    modelos alternativos para considerar o que é ser ho-

    mem. Nessas alternativas de masculinidade, a violência

    pode não ser preponderante, mas é importante levar

    em conta que individualmente os homens podem atri-

    buir diferentes sentidos aos padrões de masculinidade.

    Gomes (2003) observa que em algumas socieda-des surgiram tensões entre homens ao buscaremmanter o poder do macho no âmbito das relaçõesíntimas, atendendo aos padrões tradicionais, e apossibilidade de se viver uma sexualidade asso-ciada à afetividade numa relação igualitária. Es-

    sas tensões foram descritas como a “crise mas-culina”. Segundo o autor, independentemente dofato de existir ou não uma crise da masculinidade,não se pode desconsiderar que, junto aos resquí-cios desses padrões, avista-se a possibilidade dese pensar a sexualidade masculina tomando porbase outros referenciais.

    Outro aspecto importante a ser levando em conta

    na discussão é que a masculinidade não é a únicareferência de identidade para os homens. Junto aela, existem outras, como classe social, raça/etniae grupo etário. Assim, o status de ser homem tam-bém é inuenciado pela classe social em que ele sesitua, pela etnia/raça a que se lia e pelo momen-to de vida por ele vivenciado. Mas, apesar de todasas mudanças, os homens mantêm um discurso dosenso comum que toma como referências de mas-

    culinidade padrões tradicionais para a construçãode suas identidades, que incluem: poder, agressivi-dade, iniciativa e sexualidade incontrolada.A dominação e a heterossexualidade costumamser os eixos em que se baseia a masculinidade he-gemônica. Nesse modelo, dentre as suas principaiscaracterísticas, destacam-se as seguintes: a força;o poder sobre os mais fracos (sobre as mulheresou sobre outros homens); a atividade (entendida

    como o contrário de passividade, inclusive sexu-al); a potência; a resistência; a invulnerabilidade.Welzer-Lang (2001) observa que na educação dosmeninos, ocorrida nos espaços masculinos – enten-didos como lugares de homossociabilidade, comopátios de colégios, clubes esportivos, bares e pri-sões –, costuma-se incutir nos pequenos homens

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    a ideia de que, para ser um (verdadeiro) homem,

    eles devem combater os aspectos que poderiamfazê-los ser associados às mulheres.

    Características da masculinidade hegemônica, como a

    força e o domínio, ajudam-nos a compreender a violên-

    cia tão presente nas relações homens-homens e homens

    -mulheres. É possível observar que a violência masculi-

    na não se reduz aos atos físicos; tampouco se revela de

    maneira explícita. Então, é importante considerar quehá níveis de violência psicológica nas relações entre os

    gêneros, bem como ocorrem atos nessas relações que –

    embora não sejam reconhecidos como violência – violam

    o ser humano.

    Embora esse aspecto seja menos estudado, os ho-mens também são vítimas nas relações heterosse-

    xuais, desmisticando a ideia de que somente asmulheres são agredidas. Além disso, a violência nãoocorre somente nas relações entre homens e mulhe-res, mas nas relações homoafetivas, entre travestis,transgêneros, transexuais, apesar de o conceito deviolência de gênero no sentido do sexo biológico nãoabarcar propriamente esses comportamentos.

    Uma das queixas mais frequentes dos homens so-

    bre suas parceiras íntimas diz respeito à violên-cia psicológica, principalmente quanto a ofensase humilhações que atingem a autoestima deles,desqualicando-os como homens e como seres hu-manos, causando mágoas e frustrações. A maioriadessas desqualicações cobra dos homens um de-sempenho de acordo com os rígidos esquemas degênero em que toda a sociedade está imersa – porexemplo, dizer que ele não está sendo homem o

    bastante quando não traz dinheiro para casa, queé um pai fracassado, que é pouco corajoso, com-parando-o a outros homens etc.Bourdieu (1999) chama atenção para o fato de que,no cenário da dominação masculina, as vítimas nãosão apenas as mulheres. Paradoxalmente, os ho-mens, mesmo sem perceberem, também são víti-mas da própria dominação masculina. Assim, porconstantemente terem de atestar sua virilidade,

    juntamente com a violência, os homens vivem atensão e a contensão. E, nesse processo de testa-gem, aquilo que é tido como “coragem” pode serenraizado numa covardia – ou seja, pode se basearno medo “viril” de ser excluído do mundo dos “ho-mens”. A virilidade, então, é uma noção eminen-temente relacional, construída diante dos outros

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    Para conhecer mais sobre a incorporação dos homens nosserviços de saúde, sugerimos a leitura do artigo “COUTO,

    M. T. et al. O homem na atenção primária à saúde: discutin-

    do (in)visibilidade a partir da perspectiva de gênero. Inter-

    face, Botucatu, v.14, n.33, p. 257 – 270, abr./jun. 2010.”

    Há uma preocupação e a busca de serviços de saú-de, de programas ou atividades que deem conta

    das inúmeras necessidades de saúde dos homens.Inicialmente a preocupação estava centrada nadiculdade encontrada por diversos prossio-nais da Atenção Básica em responder às diferen-tes demandas trazidas pelas mulheres, mas quetambém dependiam de ações direcionadas paraseus respectivos parceiros. Entre estas, podemoslistar o controle e a prevenção das doenças se-xualmente transmissíveis (DSTs), a discussão so-

    bre métodos contraceptivos e suas relações como planejamento familiar, as diferentes situaçõesde violência nas relações interpessoais, especial-mente a violência praticada pelo parceiro. To-davia, os homens sentem mais diculdades paraserem atendidos, seja pelo tempo perdido na es-

    pera da assistência, seja por considerarem as UBS

    como um espaço feminilizado, o que provocarianos homens a sensação de não pertencimentoàquele espaço (FIGUEIREDO, 2005).Dessa forma, é imprescindível reconhecer que gê-nero é, dentre outras categorias, ordenadora depráticas sociais e, assim, condiciona a percepçãodo mundo e o pensamento. Desse modo, atribu-tos relacionados ao masculino – como invulne-rabilidade, baixo autocuidado e baixa adesão às

    praticas de saúde (especialmente de prevenção),impaciência, entre outros – tornam as unidades deAtenção Básica espaços “genericados” e poten-cializam desigualdades sociais, invisibilizando ne-cessidades e demandas dos homens e reforçando oestereótipo de que os serviços de ABS são espaçosfeminilizados (COUTO et al, 2010).

    Assim, para uma atenção integral às pessoas em situa-ção de violência, sejam mulheres ou homens, vítimas ou

    agressores, o prossional de saúde precisa conhecer as

    questões relacionadas ao gênero e sua relação com os

    tipos mais comuns de violência.

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    28RESUMO DA UNIDADE

    Nesta unidade discutimos a violência de gênero na

    vida adulta. Discorremos sobre as questões cultu-rais envolvidas na violência de gênero contra asmulheres e os homens, sobre a necessidade dedescontruir essa forte associação entre masculini-dade e violência, e de perceber que nas relaçõesconjugais tanto homens quanto mulheres podemser vítimas de violência.As ações na Atenção Básica ainda são tímidas, eressalta-se a rígida divisão dos gêneros, neste caso

    reproduzindo nos serviços de saúde maior atençãoà saúde da mulher e à mulher vítima de violência.Evidenciamos também a importância de o pros-sional de saúde entender as relações entre gêneroe violência, permitindo assim uma atenção inte-gral às pessoas em situação de violência.

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    COUTO, M. T. et al. O homem na atenção primá-

    ria à saúde: discutindo (in)visibilidade a partir daperspectiva de gênero. Interface, Botucatu, v.14,n.33, p. 257 – 270, abr./jun. 2010.

    FIGUEIREDO, W. Assistência à saúde dos homens:um desao para os serviços de atenção primária.Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n.1,p. 105 – 109, jan./mar. 2005.

    GOMES, R.. Sexualidade masculina e saúde do ho-mem: proposta para uma discussão. Ciênc. saúdecoletiva, Rio de Janeiro, v.8, n.3, p. 825-829, 2003.

    REICHENHEIM, Michael et al. The magnitude of in-timate partner violence: portraits 15 capital citiesand the Federal District. Cad. Saúde Pública, Riode Janeiro, v. 22, n. 2, p. 425-437, fev. 2006. 

    WELZER-LANG, D. A construção do masculino: do-minação das mulheres e homofobia. Rev. Estud.Fem., Florianópolis, v.9, n.2, p. 460-482, 2001.

    REFERÊNCIAS

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    Ao nal desta unidade você deverá conhecer os

    aspectos relacionados à violência contra a comu-nidade LGBT.

    3.1 INTRODUÇÃO DA UNIDADE

    A incorporação da população masculina no de-bate sobre gênero tem se ampliado, sobretudoarticulando as questões da saúde, da violênciae da sexualidade. Essa última questão se desta-

    ca pela complexidade quanto à sua multiplicida-de nas construções de identidades de gênero eorientações sexuais que compõem a diversidadehumana, para além da classicação dos sujeitosem homens e mulheres unicamente com base emseu sexo biológico.Dentro das diferentes formas de expressão daorientação e identidade sexual encontra-se acomunidade LGBT. Essa abreviação é usada para

    referir-se às comunidades de lésbicas (mulhe-res atraídas por outras mulheres), gays (homensatraídos por outros homens), bissexuais (pesso-as atraídas por outras sem importar o gênero) etransgêneros – denominação que se refere coleti-vamente às pessoas que desaam os papéis e asnormas rígidas de gênero estipuladas pela socie-

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    32UNIDADE 3VIOLÊNCIA CONTRA LGBT

    dade e adotam papéis de um “terceiro gênero”,

    e (ou) se submetem a um tratamento hormonal e(ou) a um tratamento cirúrgico para ajustar seucorpo à forma do sexo desejado, incluindo-se aíos transexuais e os travestis (UNDP & UNAIDS,2010).Dependendo da organização proponente, existemoutras denições, as quais marcam algumas dife-renças entre essas identidades, mas sua impor-tância está em questionar a existência de uma

    sexualidade única, inexível e normatizada, e asconsequências que esse paradigma traz às pesso-as que estão fora da norma.

    A sexualidade não heterossexual ainda sofre inúmeros

    preconceitos e discriminações, constituindo-se em vio-

    lência de gênero.

    Por exemplo, uma pesquisa que foi realizada com2.363 pessoas, em 102 municípios brasileiros,constatou que 89% dos entrevistados foram con-tra a homossexualidade masculina e 88% foramcontra a lesbiandade e a bissexualidade de mu-lheres (ALMEIDA, 2007). E assim por diante, exis-

    tem outros exemplos de como se costuma desti-

    nar o status de “menos humano” a pessoas quenão são consideradas exclusivamente heterosse-xuais ou não se comportam de acordo com o es-perado socialmente como “mulher ou homem”.O fato de o grupo LGBT não fazer parte da hete-ronormatividade padronizada em nossa socieda-de já lhe atribui um estigma de desvio à norma,além de um processo de rotulação bem descritopor Goffman (1963). Esse “desvio” traz consigo

    uma expressão particular da violência de “gêne-ro”, que se manifesta por meio das discrimina-ções e agressões nos diferentes âmbitos da vidacotidiana da comunidade LGBT. Ainda que essasdiscriminações e agressões na maioria das vezesnão sejam tipicadas, não é raro que a impren-sa divulgue notícias de violência contra pessoasem razão de sua orientação sexual ou identidadede gênero, nos diferentes contextos sociais, in-

    clusive na escola, instituição da qual se esperaa construção de uma educação para valores. Oscasos mais evidenciados são situações extremasque levam à violência física e à morte, muitasvezes expostas de modo sensacionalista pela mí-dia, a qual também deveria reforçar os valoresde respeito à dignidade humana.

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    Leia o documento, produzido pela Unicef, sobre como aviolência ganha visibilidade nos meios de comunicação

    brasileiro. Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/

    pt/Cap_04.pdf 

    Essas violências também podem ser camuadasno decorrer das investigações policiais sobre cri-mes de latrocínio (“matou para roubar” ou “ma-

    tou porque odeia e aproveitou para roubar”), cri-mes de ódio e (ou) crimes passionais, visto que adinâmica dos encontros homoeróticos é favoreci-da pela clandestinidade e se dá entre parceirossexuais muitas vezes desconhecidos, fator quepropicia atitudes e eventos dessa natureza. A ca-muagem constrói um imaginário desses crimese invisibiliza as violações dos direitos humanosdessas pessoas, categorizando-os como aconteci-

    mentos dados pelo acaso.Por outro lado, apesar de a violência física termaior visibilidade, o preconceito, a discrimina-ção, a lesbofobia, a homofobia e a transfobiaoperam por meio da violência simbólica e silen-ciosa, aceitas como “normais” pela sociedade.Essas formas invisíveis de violência reforçam no

    imaginário social ideias, sentimentos e crenças

    negativas sobre o grupo LGBT, que culminam empráticas violentas e violações dos direitos dessegrupo, muitas vezes alentadas pelos meios de co-municação. Esses fatos colaboram para a veicu-lação e perpetuação dos valores dominantes deintolerância e desrespeito, ampliando a vulnera-bilidade social da comunidade LGBT.Pesquisas como a da “Diversidade Sexual e Homo-fobia no Brasil”, realizada pela Fundação Perseu

    Abramo (2009), não deixam dúvida quanto à gra-vidade do preconceito, estimando que 11 de cada12 brasileiros concordam com a armação de que“Deus fez o homem e a mulher [com sexos dife-rentes] para que cumpram seu papel e tenhamlhos”. O índice de homofobia, construído combase nos dados da pesquisa, indica que um quar-to (25%) da população brasileira é homofóbico.Por sua vez, os dados obtidos na pesquisa realiza-

    da na 8ª Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janei-ro nos apresentam parte dos efeitos da violênciahomofóbica socialmente construída, revelandoque dos 403 participantes, 56,3% da amostra re-lataram ter sofrido agressões verbais e ameaçasrelativas à condição homossexual ou em relaçãoà identidade de gênero.

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    Esse estudo revelou ainda que travestis e tran-

    sexuais são alvos preferenciais das práticas dis-criminatórias e das violências verbais, somando65,4% de ocorrências em relação a 41,5% dasmesmas sobre gays, lésbicas e bissexuais. Quan-do se trata de agressões físicas, a proporção deagressões contra travestis e transexuais aumentapara 42,3%, ao passo que para lésbicas diminuipara 9,8%, 16,6% para gays e 7,3% para bissexuais(CARRARA; RAMOS; CAETANO, 2003). A pesquisa

    realizada na 9ª Parada do Rio reitera a alta in-cidência de discriminação, representando 64,8%de uma amostra de 629 participantes (CARRARA& RAMOS, 2005).Para alguns estudiosos, a discriminação e o pre-conceito são sempre atitudes negativas e con-textualizadas, locais e situadas, porém gozamde certa cumplicidade social e de certo eco emdeterminados grupos sociais (GÓMEZ, 2008).

    No entanto, a violência homofóbica pode ser“cordial” e estar velada nos diferentes meioslaborais, familiares ou sociais. No caso daorientação sexual, pode variar da invisibilida-de à visibilidade quando homossexuais se veemforçados a permanecer ocultos para não seremdemitidos ou estigmatizados.

    E importante ressaltar que as pessoas que se

    identicam dentro dessas diversidades não ape-nas sofrem discriminação e (ou) violência poresses aspectos, mas pelas outras categorias querepresentam. Assim, as lésbicas, por exemplo,estão mais sujeitas à violência simbólica do queos gays, uma vez que na constituição de seu sta-tus contabilizam-se a superposição de diferentesdominações simbólicas – num caso de maior su-perposição de dominações simbólicas estariam

    as lésbicas negras e pobres ou as trans-mulheresnegras e pobres.Existem outros fatores culturais e históricos quepermeiam essas populações, como a epidemiada Aids, que ainda afeta gravemente as comu-nidades compostas por travestis, transexuais egays, perpetuando o estereótipo/preconceito,bem como as desigualdades e a exclusão so-cial dessas pessoas. É como no caso da violên-

    cia de gênero em que os homens homossexuaise bissexuais sofrem mais violência em espaçospúblicos, ao passo que as mulheres homosse-xuais e bissexuais vivem com maior frequênciasituações de violência em ambientes privados,sobretudo no ambiente familiar e de vizinhan-ça (CARRARA, et al. 2006), em função de rom-

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    às necessidades de bem-estar da população, vi-

    sando a ações de promoção, proteção e recupe-ração da saúde em nível individual e coletivo.

    A saúde, vista como um direito, tem como função pri-

    mordial abarcar a garantia dos direitos humanos da po-

    pulação LGBT, os quais já fazem parte do marco legal

    internacional.

    O SUS (Sistema Único de Saúde) estabelece asaúde como um direito universal, sendo dever doEstado prover o acesso à saúde a todos os cida-dãos e cidadãs, reconhecendo as desigualdadesexistentes no interior da sociedade e criando res-postas para minimizá-las. Está entre as pautasreivindicatórias do movimento LGBT a criação deatendimento especializado às vítimas de discri-

    minação por identidade de gênero e orientaçãosexual. Inserida no contexto da vigência do Pro-grama Brasil sem Homofobia, lançado em 2004pela Secretaria Especial de Direitos Humanos daPresidência da República, a Política Nacional deSaúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Tra-vestis e Transexuais foi lançada pelo Ministério da

    Saúde em 2008 (BRASIL, 2004). Também foi cria-

    do o Protocolo Clínico de Saúde Integral para Tra-vestis (PCSIT), instituído no Estado de São Paulo(SÃO PAULO, 2010), e a Portaria GM n. 1.707 de18 de agosto de 2008 para implementar o proces-so transexualizador no SUS (BRASIL, 2008). Trata-se de um marco importante no reconhecimentodas necessidades de saúde desses segmentos paraalém das questões referentes à epidemia de Aids,reconhecendo-se a complexidade e a diversidade

    dos problemas de saúde que os afetam.Mesmo assim, persistem certos fatores que di-cultam a atenção adequada à população LGBTe, mais especicamente, à comunidade transe-xual. Tendo em vista que estes ainda são consi-derados pelo DSM-IV (Diagnostic and StatisticalManual of Mental Disorders) como portadoresde um transtorno da identidade de gênero, hávárias diculdades para os que querem realizar

    uma cirurgia de mudança sexual. Quando umapessoa opta por realizar esse tipo de cirurgia,tem de passar por uma série de testes psicológi-cos e psiquiátricos para fazer a conrmação dodiagnóstico. A nalidade desses testes é apro-var a cobertura dessas petições pelas diferen-tes entidades prestadoras de serviços de saúde.

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    Esse processo “psiquiatrizante” faz uso de um

    diagnóstico que tem contribuído para reforçar oestigma de pessoas “transtornadas” frente à suaopção, sem questionar os aspectos históricos,políticos e subjetivos dessa escolha.

    Assista à palestra da professora Dra. Berenice Bento so-

    bre a patologização da Justiça em relação a transexuais

    e travestis. Acesse: http://youtu.be/Z6oM-BoUGWo

    É necessário reconhecer que transexuais e traves-tis vivenciam situações de extrema vulnerabilida-de social, e que os agravos decorrentes em rela-ção a seus corpos biológicos ou de nascimento sedevem fundamentalmente à omissão ou restriçãoda ajuda médica atualmente possível em termosbiotecnocientícos. Isso não somente impede o

    acesso a um procedimento cirúrgico ou de redu-ção de danos pelo uso de hormônios, como negao acesso às condições necessárias para a livre ex-pressão da personalidade (VENTURA, 2007).O desao da construção de uma política de aten-ção integral à saúde dessa população, tal comoprevê o programa Brasil sem Homofobia, do Go-

    verno Federal, implica a complexicação e o

    alargamento do que se compreende por direitossexuais e reprodutivos para a efetiva promoçãoda equidade e universalidade do acesso aos bense serviços (ARÁN; MURTA; LIONÇO, 2009).

    Leia o artigo “LIONÇO, T. Que direito à saúde para a po-

    pulação GLBT? Considerando Direitos Humanos, Sexuais

    e Reprodutivos em Busca da Integralidade e da Eqüidade.

    Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.2, p.11-21, 2008.” em que

    se problematiza a pertinência de uma política de saúde

    para gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais –

    GLBT. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/

    v17n2/03.pdf.

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    Além da negociação dessas alterações das polí-

    ticas de saúde baseadas na ação do feminismo,dos movimentos gays e lésbicos, há os movi-mentos de defesa de crianças e adolescentes,que também requerem uma intervenção nabusca de maior liberdade para a expressão e oexercício da sexualidade, ou numa direção in-teiramente distinta das manifestações das no-vas ansiedades relacionadas ao que se conguracomo limites aceitáveis.

    No âmbito da Atenção Básica o desao está em mudar o

    paradigma de heteronormatividade vigente não só nesse

    nível de atenção dos serviços de saúde, mas nos demais,

    na forma como os serviços se organizam e no modo como

    seus prossionais atuam.

    Compreender o quão é rígido o olhar sobre asquestões de gênero pode contribuir para não per-petuar a violência e a discriminação contra essapopulação, garantindo os cuidados de saúde aorespeitar, proteger e garantir seus direitos, inde-pendentemente da visão de gênero.

    Os princípios do SUS têm de ser postos em prática

    para detectar e responder às suas necessidadesde maneira holística e abrangente. Isso implica-ria fortes relações de rede entre as diferentesprossões, instituições, sistemas de saúde e ou-tras agências responsáveis por responder às ne-cessidades das pessoas em situação de violênciade gênero.

    Para ampliar seus conhecimentos sobre a questão dasaúde da população LGBT, leia o artigo de CARDOSO, M.

    R.; FERRO, L. F. “Saúde e população LGBT: demandas e

    especicidades em questão”. Psicol. cienc. prof., Brasí-

    lia, v. 32, n. 3, p. 552-563, 2011.

    Veja a seguir a Tabela 1, que apresenta as reco-mendações gerais para a realização de um aten-

    dimento inclusivo.

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    40RESUMO DA UNIDADE

    Nesta unidade abordamos algumas formas de di-

    versidade sexual dentro do marco de violênciade gênero e população LGBT, primeiro denindoesta, depois passando a discutir e a dar um con-texto geral do meio e das circunstâncias em queocorrem as diferentes formas de violência e dis-criminação que essa comunidade sofre. Aborda-mos os avanços das políticas em saúde nessa áreae zemos uma reexão sobre o que falta parahaver uma atenção integral ao grupo LGBT.

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    41REFERÊNCIAS

    FUNDAÇÃO Perseu Abramo. Diversidade Sexual

    e Homofobia no Brasil, Intolerância e respei-to às diferenças sexuais, 2009. Disponível em:. Acessoem: 25 out. 2013

    ALMEIDA, A. C. A cabeça do brasileiro.  Rio deJaneiro: Record, 2007.

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    2007. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)

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    KATHIE NJAINE

    Concluiu mestrado em Ciência da Informação pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro em 1994,e doutorado em Ciências da Saúde pela EscolaNacional de Saúde Pública da Fundação Oswal-do Cruz em 2004. Atualmente é pesquisadora doCentro Latino-Americano de Estudos sobre Violên-cia e Saúde Jorge Careli, da Escola Nacional deSaúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, e profes-

    sora colaboradora do Programa de Pós-Graduaçãoem Saúde Coletiva do Departamento de SaúdePública da Universidade Federal de Santa Catari-na. Atua em ensino e pesquisa na área de saúdecoletiva. Tem experiência em Avaliação de Pro-gramas e Serviços, em pesquisas sobre Violênciae seu Impacto na Saúde e em Políticas de Saúde.http://lattes.cnpq.br/1631861999423345

    ANNE CAROLINE LUZ GRÜDTNER DA SILVA

    Concluiu especialização em Saúde Pública em2010 e mestrado em Saúde Coletiva, em 2012,pela Universidade Federal de Santa Catarina.Atualmente cursa doutorado em Saúde Coletiva

    MINICURRÍCULODOS AUTORES

    Í

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    45MINICURRÍCULODOS AUTORES

    (UFSC) e participa de projetos de capacitação

    para prossionais da área da saúde. Tem experi-ência em pesquisas sobre violência conjugal.http://lattes.cnpq.br/1935004599922389

    ANA MARIA MÚJICA RODRIGUEZ

    Graduou-se em Medicina pela Universidad Autó-noma de Bucaramanga, Colômbia – UNAB (2009)

    e fez especialização em Docência Universitária(2012). Tem experiência na área de Medicina,com ênfase em pesquisa, nas áreas de Chagas esexualidade. Atuou em ensino e pesquisa na áreada saúde na UNAB. Atualmente faz mestrado emsaúde coletiva na UFSC.http://lattes.cnpq.br/1426096936286534

    ROMEU GOMES

    Graduou-se em Pedagogia pela Universidade Fe-deral Fluminense (1970), sendo licenciado comoprofessor de Sociologia e Psicologia pelo Ministé-rio da Educação. Tem mestrado em Educação pelaUniversidade Federal Fluminense (1975), livre do-

    cência em Psicologia pela Universidade do Estado

    do Rio de Janeiro (1989) e doutorado em SaúdePública pela Fundação Oswaldo Cruz (1994). Atu-almente é editor cientíco da revista Ciência &Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de SaúdeColetiva, professor titular do Instituto FernandesFigueira, da Fundação Oswaldo Cruz, e docentepesquisador do Instituto Sírio-Libanês de Ensinoe Pesquisa, do Hospital Sírio-Libanês, sendo res-ponsável pelas disciplinas de Antropologia e Saú-

    de, Metodologia Cientíca e Pesquisa Qualitativaem Saúde. É pesquisador com experiência na áreade Saúde Coletiva, atuando principalmente nosseguintes temas: sexualidade, gênero e saúde;saúde do homem; dimensão socioantropológicado processo saúde-doença; avaliação em gestãode tecnologia e inovação em saúde.http://lattes.cnpq.br/6215183415501835