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DA COERÇÃO À COESÃO ÁLCOOL E OUT R AS DROGAS Módulo Organização dos serviços para garantir acesso e promover vinculação do usuário de drogas

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promover vinculação do usuário de drogas
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Minisério da Saúde
Secrearia de Gesão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Direoria do Deparameno de Gesão a Educação na Saúde
Secrearia Execuiva da Universidade Abero do SUS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reiora Roselane Neckel  Vice-Reiora Lúcia Helena Pacheco Pró-Reior de Exensão Edison da Rosa
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDireor Sérgio Fernando Torres de Freias  Vice-Direora Isabela de Carlos Back Giuliano Chefe do Deparameno de Saúde Pública Alcides Milon da Silva Coordenadora do Curso Fáima Büchele
GRUPO GESTOR   Anonio Fernando Boing Elza Berger Salema Coelho Kenya Schmid Reibniz Sheila Rubia Lindner Rosangela Goular
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE  Alexandre Medeiros de Figueiredo  Ana Carolina da Conceição Daniel Márcio Pinheiro de Lima
Felipe Farias da Silva Graziella Barbosa Barreiros Jaqueline Tavares de Assis Mauro Pioli Rehbein Mônica Diniz Durães Parícia Sanana Sanos Pollyanna Fausa Pimenel de Medeiros Robero Tykanori Kinoshia
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EQUIPE TÉCNICA DA UFSC Douglas Kovaleski Faima Büchele
Mara VerdiRodrigo Oávio Moreti Pires  Waler Ferreira de Oliveira
ORGANIZAÇÃO DO MÓDULO Fáima Büchele Denis Peuco
AUTORIA
Lilia Araújo e Marco Manso Cerqueira Silva (unidade 1) Graziella Barbosa Barreiros (unidade 2)
REVISORA INTERNA Renaa de Cerqueira Campos
REVISORAS FINAIS Graziella Barbosa Barreiros Jaqueline Tavares de Assis
Marcia Aparecida Ferreira de Oliveira COORDENAÇÃO DE TUTORIA Larissa de Abreu Queiroz
GESTÃO DE MÍDIAS Marcelo Capillé
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL
Coordenação Geral da Equipe Marialice de MoraesCoordenação de Produção de Maerial Andreia Mara Fiala Design Insrucional Maser Jimena de Mello Heredia Design Insrucional Agnes Sanfelici Design Gráfico Fabrício Sawczen Design de Capa Rafaella Volkmann Paschoal Projeo Ediorial Fabrício Sawczen
REVISÃO Revisão Orográfica Flávia Goular Revisão ABNT Jéssica Naália de Souza dos Sanos
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UNIVE I A E FE E AL E ANTA ATA INA UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS – UNASUS
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Caalogação elaborada na fone
 A663o Universidade Federal de Sana Caarina. Cenro de Ciências da Saúde. Curso de Aualização em Álcool e Ouras Drogas, da Coerção à Coesão.
Organização dos serviços para garanir acesso e promover vinculação do usuário de drogas [Recurso elerônico]/ Universidade Federal de Sana Caarina; Fáima Büchele; Dênis Robero da Silva Peuco [orgs.]. - Florianópolis : Deparameno de Saúde Pública/UFSC, 2014.
75 p.: il.,grafs.
Modo de acesso: hps://unasus.ufsc.br/alcooleourasdrogas/
Coneúdo do módulo: Acesso ao cuidado e seus desafios. – Consruindo e consolidando o vínculo. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-8267-058-3
1. Saúde menal. 2. Políica de saúde. 3. Sisema Único de Saúde. 4. Educação a disância. I. UFSC. II. Büchele, Fáima. III. Peuco, Dênis Robero da Silva. IV. Araújo, Lilia. V. Silva, Marco Manso Cerqueira. VI. Barreiros, Graziella Barbosa. VII. Tíulo.
CDU 616.89
http://slidepdf.com/reader/full/modulo-4-revisadopdf 6/75
A M
Caro Aluno,
Seja bem-vindo! Você esá iniciando um esudo que raa da organiza- ção dos serviços para garanir acesso ao usuário de drogas por meio da consrução e da consolidação do vínculo.
Esse ipo de coneúdo vai lhe subsidiar a enconrar saídas imporan- es, enfaizando aspecos relacionais que envolvem respeio, acolhi- meno, vínculo e confiança enre usuário e equipe.
 Algumas informações são apresenadas para que você discua a im- porância que a auação inerdisciplinar em no acolhimeno e no vínculo enre o usuário e equipe como insrumenos de rabalho, que orienam a omada de decisão e faciliam o acesso, conribuindo para a garania do cuidado na sua inegralidade. É nesse conexo que se compreende, por exemplo, o rabalho de regisro das ações coidianas
e o uso do pronuário como insrumeno de cuidado. Não podemos es-quecer ambém que a idenificação de diferenes formas de auação no erriório, e o vínculo que se esabelece enre os usuários e sua equipe, são esraégias imporanes para o sucesso do aendimeno.
 As relações enre as equipes e os usuários dos serviços de saúde são exremamene ricas e complexas. A quesão do vínculo é objeo de re- flexão consane. No aendimeno de pessoas que usam álcool e ouras
drogas, essa complexidade adquire alguns conornos caracerísicos que podem e devem influenciar na própria organização dos serviços.
Dessa forma, nós lhe convidamos a paricipar dese módulo, lendo odo seu coneúdo e refleindo sobre esse ema de modo que essa esraégia de aprendizagem possa faciliar a implemenação de aividades na organiza- ção do acesso e no vínculo esabelecido enre o serviço e sua equipe.
Bons esudos!
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O M
Problemaizar a emáica do acesso no coidiano do rabalho, enfai-
zando alguns aspecos relacionais que envolvem respeio, acolhimeno, vínculo e confiança enre usuários e equipe.
 Apresenar a imporância da auação inerdisciplinar, inerdisciplinar e em rede para o acolhimeno, o vínculo, o regisro e a produção de in- formação em saúde como insrumenos de rabalho que orienam a o- mada de decisão, bem como faciliar o acesso e a garania de cuidado cenrado nos usuários, na perspeciva da inegralidade.
C H
15 horas.
.. Acolhimeno e escua qualificada .......................................................
.. O regisro como ferramena de acesso e vinculação .....................
.. Ouras esraégias de garania ao acesso ............................................ Resumo da unidade .................................................................................
.. Leiuras complemenares .....................................................................
... A pora pode ser abera em qualquer lugar ...............................................
... Conhecendo o usuário .....................................................................................
.. Consolidando o vínculo .........................................................................
... É preciso rabalhar em equipe para vincular a clienela ......................
... A comunicação como ferramena indispensável no processo de vinculação da clienela ......................................................................................
... A ambiência como faor fundamenal de vinculação ...........................
 .. Resumo da Unidade ...............................................................................
seus desafios
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 Ao final desa unidade, você será capaz de:
 • reconhecer os problemas relacionados à ampliação do acesso, rabalhando esraégias para faciliá-lo ou dirimir suas barreiras, conemplando, assim, a organização do rabalho em equipe inerdisciplinar, na perspeciva da rede inerseorial.
.. I Como já compreendemos as quesões fundamenais acerca dos valo- res, princípios, processos hisóricos, conceios e esruuras que com- põem o rabalho na Rede de Aenção Psicossocial, especialmene com relação ao cuidado oferado às pessoas com necessidades decorrenes do consumo de álcool e ouras drogas, convidamos você a mergulhar
no desafio de promover acesso à clienela. Como já abordado aneriormene, o modelo de aenção psicossocial pare do princípio que uma abordagem adequada do uso de drogas nas sociedades implica considerar as múliplas funções do seu uso, conexualizando-as frene aos faores subjeivos, culurais, políicos, econômicos e sociais em que se processam (BUCHER, 1996). De acor- do com essa concepção, o cuidado deve se cenrar no indivíduo, con-
emplando a singularidade e inegralidade dos sujeios, por meio de ações éicas e erapêuicas, desenvolvidas por equipe inerdisciplinar e numa perspeciva de rede inerseorial.
Esse novo paradigma busca superar o modelo hegemônico de assis- ência à saúde que, denre ouras caracerísicas, desconsidera os di- ferenes padrões de uso, cenrando na absinência o caminho, o meio
e a finalidade do raameno, por meio da exclusão dos usuários doconvívio social. 
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 Reflexão
Com base nese cenário, esimado aluno, convida- mos-lhe a pensar rapidamene naqueles usuários de álcool e ouras drogas que você conhece. Todos eles apresenam o mesmo compromeimeno em relação à subsância? Você consegue imaginá-los submeidos igualmene a um mesmo ipo de raameno, em regi- me fechado? Difícil, não?! Pois, não podemos deixar de considerar que cada ser é único e esabelece rela- ção singular com a droga de escolha.
Do exposo, podemos concluir que a abordagem baseada exclusiva- mene na absinência, represena uma imporane barreira ao acesso das pessoas que fazem uso prejudicial ou apresenam dependência de drogas às insiuições de saúde (MARLATT, 1999). As limiações desse modelo, denre ouros agravanes, fomena o esigma e a marginaliza- ção dos usuários, ocasionando a ampliação das siuações de exclusão e exposição a diversos agravos sociais e à saúde. Expliciando, dessa
forma, a urgene necessidade de inervenções biopsicossociais efei-vas e inegradas.
Nesse senido, uma pluralidade de iniciaivas governamenais êm sido implemenadas com a finalidade de foralecer a inserção co- muniária do SUS - Serviço Único de Saúde - e promover acesso das
pessoas com necessidades decorrenes do consumo de álcool e ouras
Nesse novo olhar sobre o fenômeno do consumo de drogas, a equipe de saúde menal em como objeo de cuidado o sujei- o, com o qual deve esabelecer uma relação horizonalizada,
dialógica e acolhedora, buscando superar a cenralidade noao médico, por um formao de rabalho inerdisciplinar.
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drogas ao cuidado. Enreano, a baixa demanda de aenção e de aces- so aos serviços da rede de cuidado por pare das pessoas que fazem uso de subsâncias psicoaivas, nos leva a indagar nossas práicas, a
organização dos serviços e o processo de rabalho das equipes.
 Link
É imporane que você conheça bem as iniciaivas como a Rede de Aenção Psicossocial, que promovem o acesso aos usuários de subsâncias psicoaivas. Sai-  ba mais a respeio dessa rede consulando a Poraria
n. 3088/2011, republicada em maio de 2013. Disponí- vel em: <htp://bi.ly/MieKr9>.
.. O
 Reflexão
Em sua opinião, o que deermina a acessibilidade das pessoas  com necessidades decorrenes do consumo
de álcool e ouras drogas aos serviços de saúde?
 Você deve er concluído que o acesso do usuário ao serviço represena um grande desafio. Traa-se de uma quesão que envolve uma varie- dade de faores, desde as dificuldades oriundas do esigma que recai sobre as pessoas que fazem uso de drogas, à ofera e caracerísicas
dos serviços e das práicas de cuidados.
O imaginário social consruído em orno do uso e dos usuários de dro- gas consiui um dos principais obsáculos para o acesso aos serviços de saúde, uma vez que ainda prevalecem represenações esereoipa- das, areladas a julgamenos morais e fore vinculação com a violência e criminalidade. Em regra, essas represenações são evidenciadas e reproduzidas no coidiano, por formulações do ipo: “Toda droga leva
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à more”; “Crack: cadeia ou caixão”; “Toda pessoa que experimena uma droga fica viciado”; “Quem usa droga esá procurando a more”; “As drogas são a causa de oda violência urbana”, “Droga é um cami-
nho sem vola” denre ouras anas que demonizam a subsância e seus usuários.
O ermo “droga”, nesse cenário, alude uma represenação moral da subsância (ilegal), auomaicamene ransferida a seus usuários (CAR- NEIRO, 1994), ou seja, se a maconha é uma droga ilícia, seu uso é ile- gal, logo, o usuário dessa subsância é um criminoso, porano, passí-
vel de julgameno e punição. Essa racionalidade puniiva e repressivaconsiui significaiva barreira de acesso aos serviços de saúde, seja pela posição de invisibilidade dos usuários, ao enarem se proeger dos julgamenos e da punição (ACSELRAD, 2000); seja pelo raamen- o dispensado por parcela de profissionais da saúde, que, auando sob esse regisro, desqualifica e roula o usuário de drogas.
Essa concepção assume visibilidade, na práica profissional, por meio
de falas e aiudes corriqueiras que remeem a crenças do ipo:
• “Ele usa drogas porque quer”;
• “Os usuários de drogas não são pessoas confiáveis”,
• “Os usuários precisam de regras e limies”;
• “Eles não são capazes de manejar a auonomia”;
• “A solução é irar, afasar o usuário do conexo”; • “Tem que parar de usar”;
• “Os usuários são resisenes, êm pouca adesão”;
• “Eles não cuidam da saúde, querem morrer”.
Denre ouros agravanes, esses coneúdos legiimam o ideal de uma sociedade livre das drogas, reforçam a absinência como única possi-
 bilidade de raameno, repercuindo negaivamene na consolidação
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do acesso universal como direio consiucional, além de desqualificar o poencial da aenção psicossocial comuniária.
 A dificuldade de lidar, de forma mais realísica, com o fenômeno doconsumo de drogas além de inibir uma abordagem vincular, gera en- são e fracasso, na medida em que, pauados no modelo disciplinador, o profissional esabelece uma relação de poder, buscando exercer o conrole e adequação dos comporamenos, aiudes, valores e cosu- mes da clienela. 
O esigma, como obsáculo ao acesso, pode ser gradaivamene su-
perado a parir de processos conínuos de qualificação da equipe, da garania de espaço para discussão de casos, grupos de esudos e, so-
 breudo, de uma supervisão exerna e acolhedora.
 A localização geográfica consiui ouro aspeco relevane à garania da acessibilidade, devendo-se levar em consideração a disância que o usuário deve percorrer; o empo gaso nesse percurso e o cuso para acessar o serviço. Nesse senido, a implanação de ponos da rede de cuidado em área de circulação e permanência de pessoas com deman- das decorrenes do consumo de álcool e ouras drogas represena um faciliador para o acesso do público a quem se desina.
Nos úlimos anos, um novo ipo de barreira espacial, enre o usuário e serviço, em se evidenciado: a divisão erriorial definida por grupos rivais ligados à organização do ráfico, cujo resulado impede o livre
rânsio da população de um erriório em deerminadas áreas ou viasde acesso. Nessas circunsâncias, as ações exramuros represenam esraégias imporanes para a promoção de acesso e definição con- juna de possibilidades para enfrenameno do obsáculo.
 A exigência de encaminhameno, de documenação e, em alguns ser- viços, o comprovane de residência represenam grande barreira de acesso, principalmene para o segmeno em siuação de rua. Uma pos-
sibilidade de superar essa dificuldade seria pacuar, na equipe, meca-
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nismos inernos para desburocraizar o acesso, acolher o usuário, pro- mover a inclusão no sisema e faciliar, aravés de encaminhameno, a aquisição dos documenos.
 A ambiência, considerada em suas várias dimensões, reflee condi- ções de dignidade, respeio e humanização, presenes no espaço onde ocorre o aendimeno.
 Reflexão
Pensando a ambiência no seu conexo, como você avalia seu espaço de rabalho? A esruura física pro- picia a acessibilidade de pessoas com dificuldade de locomoção? Traa-se de um ambiene apropriado ao cuidado, onde os usuários se senem respeiados e acolhidos em seu sofrimeno e hisória de vida?
O respeio ao usuário revela-se ambém na higiene, organização, adequa- ção e eséica do espaço; nas condições de acomodação e salubridade.
Todavia, a disponibilidade do equipameno de saúde, num deermina- do erriório, não é suficiene para assegurar a aproximação e perma- nência do usuário no serviço, você concorda? A organização do servi- ço consiui um dos principais deerminanes de acesso, devendo ser analisado em função da correspondência enre a ofera e as demandas de saúde da população; do horário de funcionameno e acolhimeno;
do empo de espera para receber aendimeno; da flexibilidade; pon-ualidade e posura dos profissionais e, sobreudo, da qualidade do acolhimeno e da assisência.
E na práica, como pensar a organização do serviço com visas à pro- moção do acesso? Em linhas gerais, podemos inferir que um primeiro passo é buscar conhecer quem é a população referenciada e suas de- mandas de cuidado. A análise de siuação inclui o reconhecimeno da
eia de vulnerabilidades que esse segmeno esá inserido; os faores
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de proeção disponíveis nos diversos domínios da vida; a paricipação comuniária; o mapeameno das insiuições e equipamenos sociais exisenes no erriório, incluindo as redes informais.
Com base no diagnósico de siuação, deve-se pensar na elaboração do projeo erapêuico insiucional e nos serviços a serem oferecidos, em conformidade com as necessidades de seus usuários e reais pos- sibilidades da equipe. A ofera organizada de serviço deve refleir as demandas do público a quem se desina, incluindo ações de reabilia- ção, raameno, prevenção de agravos e promoção da saúde, desen- volvidas no caso a caso.
Como desdobrameno, deve-se aenar para o planejameno de fluxos (rajeórias dinâmicas e flexíveis cenradas na demanda dos usuários) que impliquem em ações resoluivas, guiadas pela escua e pelo aco- lhimeno, aendimeno e acompanhameno numa perspeciva de cui- dado progressivo à saúde.
Uma cadeia de cuidados progressivos à saúde supõe a rupura com o conceio de sisema vericalizado para rabalhar com a ideia de um conjuno ariculado de serviços básicos, ambulaórios de especialida- des e hospiais gerais e especializados em que odas as ações e serviços de saúde sejam presados reconhecendo-se conexos e hisórias de vida e assegurando adequado acolhimeno e responsabilização pelos problemas de saúde das pessoas e das populações. (BRASIL, 2003 p.12)
 A ariculação com demais ponos da rede de aenção psicossocial,inserida no erriório, é um pré-requisio para garanir acesso e re- soluividade do serviço, que deve auar na óica da aenção inegral, repercuindo no desenvolvimeno da corresponsabilidade, da auono- mia, da reinserção e da afirmação da vida. A organização de grupos de rabalhos inerinsiucionais, os fóruns permanenes de discussão e mobilização e a inerconsula consiuem imporanes recursos de
ariculação enre os serviços especializados em saúde menal e ourosponos da rede de cuidados, principalmene, a Aenção Básica. A in-
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Lilia Araújo, Marco Manso Cerqueira Silva18
 
Não deixe de ler o volume 34 dos Cadernos da Aen- ção Básica. Disponível em: htp://bvsms.saude.gov.  br/bvs/publicacoes/cadernos_aencao_basica_34_ saude_menal.pdf 
.. O -
De acordo com o Minisério da Saúde, “a aenção inegral compreende o desenvolvimeno conínuo de faores de proeção, individuais e co- leivos na rajeória de vida das pessoas, prevendo a maximização da saúde nos rês níveis de aenção” (BRASIL, 2003, p. 35). Sendo o con- sumo de drogas uma práica ão complexa (com implicações sociais,
psicológicas, econômicas e políicas), a aenção inegral às pessoas comnecessidades decorrenes do consumo de álcool e ouras drogas em represenado um grande desafio. Essa aenção exige o esabelecimen- o de relações dialógicas e complemenares dos diferenes campos do saber, no inuio de produzir resposas sociais mais adequadas e jusas que, se não resolvam, pelo menos minimizem os riscos e danos sociais e à saúde, advindos da práica de consumir álcool e ouras drogas.
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Exisem alguns serviços que, embora disponham de equipe com pro- fissionais de diferenes áreas, organizam a aenção de forma fragmen- ada e isolada, havendo jusaposição das ações. Esse modelo, carac- erizado pelo isolameno de saberes e cenrado na queixa-condua,
negligencia o olhar para o indivíduo em suas inseparáveis dimensões  biopsicossociais. Uma práica ainda “muio comum nos serviços de saúde é jusamene a redução dos sujeios a um recore diagnósico ou
 burocráico (o diabéico, o alcoolisa ou pior ainda, o leio nº...)” (BRA- SIL, 2006, p. 13). No campo da saúde menal, as práicas de aenção fragmenadas reduzem a pessoa humana à condição de “paciene”; e o projeo erapêuico a um somaório de disinos procedimenos, des-
providos de senido para o usuário. (DELL’ACQUA; MEZZINA, 1990;SARACENO, 1998).
Implica que o saber de cada disciplina seja orienado para busca de soluções de problemas concreos, exisenes no coidiano do rabalho. Esses problemas, em geral, ranscendem os limies e acepções formais de um campo do saber, o que vai exigir do profissional o conhecimen-
o de ouras áreas, além daqueles que já domina na sua própria.
Nesse conexo, a inerdisciplinaridade emerge como uma necessidade concrea, uma ferramena para a efeivação
da políica.
 A aenção inerdisciplinar é o que susena a possibilidade de uma abordagem inegral do ser humano compreendido na sua oalidade, ou seja, considerando os aspecos bio-
lógicos, psicológicos e socioculurais.
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 Reflexão
Como organizar o rabalho da equipe inerdisciplinar, com visas à garania do acesso?
 Aqui, uma condição a ser ressalada esá na compreensão coleiva do objeo e da finalidade do cuidado. É essencial que a equipe enha clareza que o cenro de sua auação é o sujeio e suas necessidades, compreendendo que “cada indivíduo consiui campo de inegração e iner-relação de vários fenômenos de manifesação biopsicossocial” (BRASIL, 2003, p.31); e que o cuidado “(...) implica invesir na capaci-
dade do sujeio para operar suas próprias escolhas, seu poencial de esabelecer suas próprias normaizações pauadas em sua hisória e de forma singularizada” (ALVES; GULJOR, 2004, p.227).
 A gesão comparilhada consiui direriz éica e políica, inimamen- e relacionada ao reconhecimeno da auonomia e foralecimeno de vínculos de confiança e solidariedade enre profissionais, usuários e insâncias de conrole social. Nese conexo, as assembleias sema- nais consiuem imporane ferramena de gesão e foralecimeno do proagonismo, cujas deliberações, devem esar fundamenadas nos princípios da universalidade, inegralidade e equidade. Ou seja: emos auonomia para algumas definições no âmbio da assembleia, mas não podemos omar decisões que sejam conrárias aos princípios do SUS e da Consiuição Federal.
Uma caracerísica essencial do rabalho em equipe iner- disciplinar é a democraização do processo de rabalho, por meio da paricipação de profissionais e usuários nas deliberações sobre a gesão do cuidado.
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Um requisio para concreizar a aenção inerdisciplinar é a análise sisemáica e coleiva da práica, por meio das reuniões de equipe, ob- jeivando a socialização da críica e a produção de esraégias con-
junas para enfrenameno dos problemas, inclusive, os próprios sen- imenos de impoência e receios da equipe, diane de deerminadas siuações. É imporane garanir espaço para a discussão de casos e avaliação dos projeos erapêuicos, a parir dos diferenes olhares e saberes da equipe.
 
 Boa Prática
Mesmo diane das dificuldades, é possível fazer refer- ência a experiências exiosas, a exemplo da viven-
ciada pela equipe do CAPSad Pernambués, siuado na capial da Bahia. Acompanhe!
“O rabalho no CAPSad Pernambués pode ser descrio como envol- vene, implicando e vinculando os profissionais ao serviço” (...) “O que pode ser descrio como envolvene? A organização dos processos de rabalho e configuração da rede inerna; a paricipação nos proces-
sos decisórios e a valorização das conribuições individuais ao projeoinsiucional, fazendo com que odos se idenifiquem com o projeo
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Lilia Araújo, Marco Manso Cerqueira Silva22
e percebam-se como seus co-auores.” (...) “No CAPSad Pernambués observou-se ser udo muio discuido, aé que o consenso fosse aingi- do enre os inegranes da equipe – seja em espaços informais ou em
espaços de reuniões de rabalho. Esa pode ser aponada como práica que favorece e ao mesmo empo foralece o rabalho inerdisciplinar.
 A consequência era a consrução de um discurso comparilhado enre os aores dese serviço com imporane repercussão sobre a organi- zação das práicas de cuidado. Observou-se um fluxo naural de dis- cussão na insiuição. Por exemplo, se os coordenadores de uma ofi- cina erapêuica planejassem uma inervenção específica – al como
produzir peças para exposição em uma inervenção comuniária –,esa proposa era levada para discussão na esfera da coordenação específica e, em seguida, para a esfera da reunião da equipe écnica. Com ese fluxo de discussão, oda a equipe de cera forma paricipava da discussão das aividades desenvolvidas no e pelo serviço e delas omavam conhecimeno. Esa circunsância, por sua vez, faciliava a idenificação das parcerias possíveis para a conformação da rede in- ernas do serviço endo em visa a concepção de novas proposas de inervenção. (...) “Oura expressão do rabalho inerdisciplinar era a complemenaridade de inervenções da equipe, propiciada, por sua vez, pela práica de discussão de casos com a paricipação de oda a equipe. Assim, por exemplo, o profissional da recepção podia observar o esado em que o usuário chegou ao serviço ou a sua paricipação nas aividades proposas e comparilhar desas suas impressões com os respecivos écnicos de referência. Esas impressões dos profissionais
de nível médio eram valorizadas e levadas em consideração pela equi- pe. A complemenaridade se manifesava, ainda, na possibilidade do desenvolvimeno de ações conjunas, muias vezes consiuídas por dupla de profissionais (ambém residenes e esagiários) de formação ocupacional disina.
 A busca de apoio enre os profissionais da equipe para o planejamen- o e realização de aividades (oficinas e grupos, acolhimeno, aenção a usuários em crise, elaboração de relaórios ec) apresenava-se cera-
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mene como uma das expressões mais fores do rabalho inerdiscipli- nar no conexo do CAPSad Pernambués. Ese movimeno em muios momenos decorria da ineração enre profissionais na sala dos écnicos,
de forma muias vezes esponânea, mas que implicava em um reconhe- cimeno de parceria e cumplicidade enre os inegranes da equipe. (...) “A ariculação dos profissionais em uma rede inerna para o desenvolvi- meno do rabalho inerdisciplinar no conexo do CAPSad revelou-se de grande relevância frene aos desafios da clínica de aenção aos usuá- rios de álcool e ouras drogas e suas famílias. As associações e parcerias enre inegranes da equipe permiiam conornar senimenos de soli-
dão, frusração e angúsia que o rabalho poderia susciar. As relaçõesde cumplicidade e solidariedade, por sua vez, encorajavam a proposição de inervenções novas. Esa parece ser uma condição imporane para a produção de novas ecnologias de cuidado para a aenção a usuários de álcool e ouras drogas no conexo do serviço esudado” (... ) “As ari-
 buições de cada inegrane da equipe muliprofissional enconravam-se definidas por sua formação profissional (psicólogo, assisene social, e- rapeua ocupacional ec.). (...) “As especificidades de auação conviviam, por ouro lado, pela conribuição ao fazer do ouro, o que envolvia, por sua vez, o domínio do que seja ese fazer do ouro e do que pode ser as- similado, com respeio a cada campo disciplinar, ao fazer coleivo”. (...) “As reuniões de rabalho e as discussões de casos desponam como con- dição propiciadora da inerdisciplinaridade no conexo do CAPSad”. (...) “Ouro espaço oporunizado no serviço para a discussão de caso corres- pondia ao momeno reservado ao final das aividades grupais (oficinas,
grupos, assembleias) coordenadas por mais de um profissional ou em colaboração com residenes e esagiários com o propósio de sua avalia- ção. Discuia-se, nesa direção, se a condução da aividade havia ocor- rido em conformidade com o planejado, aendendo aos seus objeivos, os faores que podiam er oferecido dificuldade para o alcance deses objeivos, que aspecos poderiam ser aprofundados em enconro subse- quene e sobre a paricipação dos usuários (nível de paricipação; ade-
são à proposa da aividade naquele dia; coneúdos manifesos e relação
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Lilia Araújo, Marco Manso Cerqueira Silva24
deses com sua hisória de vida, necessidades e demandas; quesões observadas que precisavam ser sinalizadas aos respecivos écnicos de referência para aprofundameno em aendimeno individual, aponan-
do para ouro momeno de discussão do caso). O coneúdo relaivo às drogas e seus efeios pouco se fez presene nos momenos de discussão de casos observados pela pesquisa. O foco recaia sobre a hisória de vida dos usuários/familiares, suas necessidades e demandas de aenção e sobre as inervenções realizadas ou proposas a parir do serviço. Nesa direção, a discussão de caso figurava como condição que favorecia ano a inerdisciplinaridade quano a inegralidade das práicas de cuidado
no conexo do serviço (ALVES, 2009. p. 163-165).
.. A “O acolhimeno como ao ou efeio de acolher expressa, em suas vá- rias definições, uma ação de aproximação, um “esar com” e um “esar pero de”, ou seja, uma aiude de inclusão” (BRASIL, 2008, p.6) que pressupõe a escua e a produção de vínculos como ação erapêuica.
De acordo com o Minisério da Saúde, o acolhimeno deve ser com- preendido com “direriz éica/ eséica/ políica consiuiva dos mo- dos de produção de saúde e ferramena ecnológica de inervenção na qualificação de escua, consrução de vínculo, garania do acesso com responsabilização e resoluividade nos serviços de saúde” (BRASIL, 2006b, p18).
 Assim, a produção de saúde é mediada pelo enconro e pela produção de subjeividades: de um lado o sujeio-usuário que busca aenção e, do ouro, o sujeio-profissional, no seu ao de prover o cuidado. A forma como ese enconro se efeiva é deerminane na rajeória do usuário e reflee a organização do serviço e rabalho da equipe, explician-
do desa forma, a relevância do ema acolhimeno.
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Nese cenário, o acolhimeno exerce a função de fomenar reflexão e ransformações na organização de serviços e produção de saúde, de- vendo ser compreendido a parir de rês dimensões: como posura,
como écnica e como princípio de reorienação das práicas de saúde.
Como posura, pressupõe a mobilização de recursos relacionais, ra- duzindo a capacidade da equipe em esabelecer relações assinaladas pelo ineresse múuo, confiança e apoio recíproco enre si e com os usuários. (BRASIL, 2006b, p. 19). No coidiano dos serviços, esse é um aspeco de expressiva relevância, podendo faciliar ou inibir o acesso do usuário. Nese viés, é essencial que oda a equipe exercie de uma posura empáica, respeiosa e acolhedora: um simples cumprimeno de “bom dia”, “boa arde” ou “posso ajudar?” faz muia diferença! Para qualquer pessoa, independene de ser usuária de drogas, é imporane ser reconhecida pelo seu nome e respeiada em sua hisória, devendo o profissional eviar a expressão de seu juízo de valor (críicas, conse- lhos, julgamenos) e senimenos de desaprovação, raiva e indignação.
O acolhimeno, como écnica, insrumenaliza a organização dasações e procedimenos, colaborando para avaliação de vulnerabilida- de do usuário e na ofera de recursos ou alernaivas para a solução dos problemas. Sendo assim, o acolhimeno se diferencia da riagem, à medida que não se consiui como uma fase do processo, mas, um conínuo na rajeória de cuidado (BRASIL, 2006b, p.19). Na práica acolhedora, o profissional buscará conhecer quem é a pessoa (sua his- ória, início do consumo, droga de escolha, padrão, formas e riuais de uso; exposição a riscos e danos sociais e à saúde, possíveis faores de proeção nos diferenes domínios da vida); como apresena a queixa (sinoma) e a demanda de saúde; o pono de visa do usuário e da fa- mília; os caminhos possíveis de inervenção adequados à resolução do problema (MERHY, 1991).
 Você deve esar indagando como acessar essas dimensões da vida do ci-
dadão, não é mesmo? O diálogo, a escua cuidadosa esabelecida no ao
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do enconro sujeio-equipe consiui requisio para o profissional apreen- der as necessidades que norearão a concepção do projeo erapêuico. Não esqueça que as possibilidades de inervenção incluem o seu próprio
conhecimeno e dos demais membros da equipe, os recursos ecnológicos disponíveis e as normas insiucionais (GOLDBERG, 2001).
 Aqui, é necessário lembrar que os sujeios que buscam o serviço, razem consigo uma pré-concepção a respeio do que as equipes esperam escu- ar e, frequenemene, adéquam seus discursos a esse imaginário. Dessa forma, um indivíduo, ao verbalizar o desejo de inerromper o consumo de drogas, pode esar manifesando uma “vonade real”, ou uilizando- -se do discurso que, em seu julgameno, a equipe gosaria de ouvir.
 Apesar de a rede de aenção aos usuários de drogas esar oficialmene pauada na perspeciva psicossocial, ainda coexisem ouras inicia- ivas baseadas em princípios moralisas e religiosos, cujos discursos, méodos e finalidade do raameno, esão na conramão do mode- lo recomendado pelo Minisério da Saúde. Por esse moivo, é funda-
menal que os usuários saibam que, no CAPS, erão suas demandas esuas vozes acolhidas, mesmo quando digam algo que, evenualmene, a equipe não gosaria de ouvir. Por exemplo: er a liberdade de assumir que não deseja suspender o uso de sua droga de escolha e saber que sua auonomia será preservada.
O acolhimeno, como princípio de reorienação das práicas de saúde, alude um projeo insiucional que deve guiar a gesão e o cuidado em
saúde, funcionando como um disposiivo para efeivação do SUS, por meio de nova éica, de respeio e olerância aos diferenes, da inclusão social e da cidadania (BRASIL, 2006b, p. 19).
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O acolhimeno não se encerra num ao, mas numa sequência de aos e enconros, por isso, é imporane observar odo o percurso do usuá- rio, desde sua chegada à pora de enrada. Habiualmene, o primeiro
profissional a er conao com o usuário é o poreiro, quem faciliará ou inibirá a possibilidade do usuário cruzar o porão do serviço. Em seguida, receberá o aendimeno do profissional da recepção, cujo des- dobrameno será a orienação para reornar ouro dia ou horário; ou o encaminhameno ao profissional escalado para o planão de acolhi- meno diário. A depender da qualidade da escua, o usuário será ou não incluído no sisema de saúde.
No enano, ainda noamos alguns profissionais presos a normas e procedimenos, com práicas e roinas crisalizadas, expliciando a re- produção acríica das inervenções. Como consequência, regisra-se fragilidade na compeência para a escua e compreensão das deman-
das dos usuários, produzindo ações auomaizadas e pouco significa-ivas para a clienela.
Esse modo de auação de alguns profissionais da saúde precisa ser compreendido como resulane de múliplos faores: os processos de rabalho; a caracerísica da equipe; e a consiuição do sujeio, sobre- udo no que diz respeio ao nível de compreensão de seu papel políico e da represenação de si como sujeio de ação. Ressalamos a necessi-
dade de foralecer os processos paricipaivos e assiméricos, em que
 Ainda que o acolhimeno consiua um processo que per- passa oda a rajeória do usuário no serviço, é indiscu- ível a imporância do primeiro aendimeno; o respeio, a relação de confiança esabelecida, o sigilo profissional firmado, a criação de condições favoráveis ao acesso ao
raameno e adesão do usuário.
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odos os componenes da equipe possam ser moivados a compar- ilhar (de forma acolhedora, respeiosa e inclusiva) suas percepções, sugesões, angúsias e demais pauas relaivas ao serviço, visando o
desenvolvimeno da perença e novas formas de ineração.
Os desafios são grandes, mas, conforme Saraceno (2001) é preciso com- preender as condições adversas de rabalho não somene como limi- anes, mas como possibilidades e mais um insrumeno de rabalho. Não se pode perder de visa, enreano, que dadas às caracerísicas relacionais, alguns insrumenos de rabalho na saúde menal, embora consiuam ferramenas imporanes, são difíceis de serem padroniza- das. A escua, a roca de afeividade, a solidariedade e a flexibilidade, por exemplo, não funcionam como “receias” (SARACENO, 2001).
Por esse moivo, qualquer orienação para implanar ou implemenar o acolhimeno ou oura ferramena de rabalho só em viabilidade a par- ir da concreude de cada conexo. Incluem-se nesse caso as quesões de gesão, de processo e organização do rabalho e das caracerísicas
da equipe, implicando na mobilização dos profissionais não como re-cursos humanos adminisrados, mas como agenes de mudança no rabalho vivo, em ao (CECCIM; MERHY, 2009).
.. O
Os diversos insrumenos de regisro (pronuários, planilha de alimen-ação do sisema de informação, aas de reuniões de equipe, aas das assembleias, relaos de campo, mapa de aendimeno, regisros das oficinas, relaórios de gesão, denre ouros) compõe um conjuno de ferramenas essenciais à produção de informações e indicadores de saúde e hisoricidade dos serviços. Todavia, os profissionais de saúde, geralmene vinculam a uilização de informações produzidas no ser- viço aos processos burocráicos de presação de conas e elaboração
de relaórios, dos quais, enviados para os níveis cenrais da gesão, na maioria das vezes, não recebem o reorno, não é mesmo?
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Enreano, se considerarmos que as informações sobre o rabalho consiuem insrumeno de apropriação do fazer, que auxiliarão na análise da própria práica, daremos um novo significado aos regisros
e informações produzidas. A informação em saúde, anes de servir a ouros seores ou níveis da gesão, deve ser viso como insrumeno de análise da própria práica, propiciando a organização do rabalho e insrumenalizando a equipe no processo decisório, garanindo o acompanhameno dos resulados e a coninuidade e coerência do cui- dado. O regisro, além de poene ferramena de produção de conhe- cimeno, consiui elemeno fundamenal em casos de audioria ou de
conflios legais e éicos. O pronuário, como arquivo permanene, represena a linha emporal da evolução de cada usuário, devendo consar a ficha de acolhimen- o, formulário de projeo erapêuico, possíveis encaminhamenos e o regisro dos aendimenos dos profissionais de acordo com as es- pecificidades de cada abordagem. É fundamenal regisrar ambém a percepção do usuário sobre o projeo erapêuico e suas repercussões.
O regisro qualificado e compleo de deerminado profissional apoia na omada de decisão de ouro membro da equipe e deermina a con- inuidade do cuidado. Por esse moivo, a uilidade do pronuário vai além de regisros sobre a evolução do usuário e do raameno: cons- iui, ambém, poene insrumeno de comunicação enre os diversos membros da equipe envolvida com a assisência.
Por fim, o usuário, sendo o proprieário do pronuário, precisa er cla- reza que oda equipe erá acesso aos regisros, devendo decidir sobre a inclusão de informações consideradas sigilosas.
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.. O
 A inegração da equipe funciona como eixo.
Enreano, ouras esraégias podem ser eficazes para reduzir as bar- reiras enre a população e os serviços, a exemplo da abordagem face a face nos locais de concenração dos usuários:
 • Consulório na Rua;
• rodas de conversa;
• oficinas exramuros;
• aividades de espore, lazer; e • ouros espaços de socialização.
Em orno desse eixo se organiza a dinâmica coidiana de rabalho; e o acolhimeno, sendo pré-requisio para con- cepção de projeo erapêuico cenrado no usuário, cons- iui imporane ferramena de inclusão.
Qualquer que seja a iniciaiva, denro ou fora do servi- ço, ela só adquire senido na promoção do acesso, quando a práica reflee compromisso com a vida, expresso pelo
respeio às diferenças e aos direios humanos.
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Nesse senido, alguns cuidados merecem aenção especial:
 • O acesso do usuário é faciliado pela flexibilidade e horizonalidade
da abordagem: Quando uma equipe acredia que um jeio de viver é o cero, ende a orienar o usuário a er um ipo de comporameno ou hábio. O usuário pode enconrar dificuldade em seguir “as ordens”, er ouras priorida- des ou mesmo discordar das orienações da equipe. Se esa não iver flexibilidade, quando percebe que o usuário não obedeceu às suas reco- mendações, é bem possível que se irrie com ele, fazendo cobranças que só fazem com que o usuário ambém se irrie com a equipe, num círculo
vicioso que não é bom pra ninguém (BRASIL, 2009 sec1 p.27).
• Fique aeno para eviar que seu conhecimeno seja usado como mecanismo de poder, no enconro e na sua relação com o ouro. O uso de linguagem clara e acessível, compaível com o nível educacional do usuário é condição para o diálogo e escua aiva;
 A auação no erriório implica na aproximação com a violência e o ráfico, exigindo da equipe clareza dos seus limies, ransparência em suas práicas, sigilo, confidencialidade, coerência enre as ações proposas e os objeivos do cuidado;
 • É fundamenal diferenciar o aconselhameno em saúde (escua aiva) da práica de dar conselhos. A ação educaiva pressupõe o acesso a informações sobre cuidados com a saúde e uso menos arriscado de drogas com finalidade de auonomia e auo-cuidado;
 • Buscar eviar a expressão de juízo de valor, censuras e divergências, assumindo posura isena e éica, faz grande diferença. Lembre-se que o cero ou errado é uma quesão de pono de visa e que o julgameno é responsabilidade do poder judiciário – não faz pare das aribuições dos profissionais de saúde;
 •  As pergunas dirigidas aos usuários, não devem exrapolar o objeivo da aenção à saúde. Tenha cuidado com a sua curiosidade,
eviando especulações desnecessárias, especialmene, no que se
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refere ao comércio e comercianes de drogas e sobre possíveis vinculações com aividades do ráfico ou ouras implicações do usuário com a lei;
 • Cuide para não esabelecer uma relação assisencialisa com a comunidade, pois não favorece a auonomia e pode provocar disorções em relação ao papel da equipe e ao objeivo do serviço;
 
 Link
Para aprofundar os coneúdos abordados nesa uni- dade, você poderá acessar a biblioeca virual do CE- TAD e do OBID por meio dos seguines endereços: htp://bi.ly/Lqwv7q e htp://www.obid.senad.gov.  br/. No sie do OBID, há uma relação de links para ouros sies que irão ampliar o seu conhecimeno.
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.. R Nesa Unidade, percebemos que ainda exisem muias barreiras no
ingresso dos usuários de álcool e ouras drogas ao sisema de saúde, oque nos levou a problemaizar a emáica do acesso no coidiano dos serviços, salienando alguns aspecos organizacionais, adminisrai- vos, profissionais e, especialmene, relacionais envolvendo respeio, vínculo e confiança enre usuários e equipe.
Desacamos ainda a imporância do acolhimeno, da auação inerdis- ciplinar, do regisro sisemáico e da produção de informação em saúde
como insrumenos de exrema relevância na omada de decisão, na pro- moção de acesso e garania da assisência inegral, cenrada nos usuários.
 Vimos ambém que conrair a responsabilidade pelo cuidado ine- gral, numa perspeciva de clínica ampliada, exige novas habilidades e compeências profissionais no campo das ecnologias assisenciais, mas especialmene nas inerações enre seus membros e deses com os usuários. Façamos com muia seriedade e desvelo.
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.. L  ARATANGY, L. R. Doces Venenos – Conversas e Desconversas so-
 bre Drogas. São Paulo: Olho D’Água, 1991. JACOBINA, R. R.; NERY FILHO, A. Conversando sobre drogas. Sal- vador: UFBA, 1999. 127 p.
GEY, E. Os empos e os espaços das drogas. In: Toxicomania: inci- dência clínicas e socioanropolicas. EDUFBA, 2009.
 MERHY, E E. Saúde: a carografia do rabalho vivo. São Paulo (SP): Huciec; 2002.
 Assisa ao filme Bicho de See Cabeças, 2000. Direção: Laís Bodanzky. O filme cona a hisória de um jovem que é inernado em um hospial  psiquiárico  após seu pai descobrir um cigarro  de maconha  em seu
casaco. Além de abordar a emáica das drogas, inclui a quesão dosabusos praicados por insiuições psiquiáricas, como ambém a rela- ção inrafamiliar.
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 Ao final desa unidade, você será capaz de:
 • consaar os deerminanes, ecnologias e esraégias para a vinculação dos usuários nas relações enre equipe-serviço- erriório-usuário, em seu conexo sociorelacional.
.. I Aé aqui, você eve a oporunidade de refleir e problemaizar ques- ões muio imporanes para a produção do cuidado oferado às pes- soas com demandas/necessidades relacionadas ao consumo de álcool e ouras drogas: os valores e concepções que deerminam nosso agir coidiano; nossos fundamenos, princípios e direrizes, que dão base ao rabalho; conceio de Rede e Terriório, abordando o papel de cada
pono de aenção de nossa rede na linha de cuidado ao usuário; e nos-so arcabouço legal.
 Agora que já refleimos sobre a Rede, seus ponos de aenção consiu- ivos, discuiremos adiane duas emáicas especialmene imporan- es: como garanir acesso e vincular clienela.
Traaremos aqui do grande desafio de promover o vínculo.
 Vincular a clienela ao serviço é de fundamenal imporância para garanirmos coninuidade e inegralidade do cuidado.
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 Vamos nos debruçar sobre esa quesão, buscando esar cada vez mais preparados para assumir esa responsabilidade. Para ano, verificare- mos quais esraégias e ferramenas podem nos ajudar a superar ese
desafio. O que ajuda? O que arapalha?
Colocaremos à sua disposição a nossa experiência de rabalho e co- nhecimeno acumulado, mas lembramos a você que esa é uma roca: você ambém raz coneúdo para o nosso enconro... Assim, é de vial imporância que procure relacionar as quesões aqui desenvolvidas ao coidiano do rabalho, de modo a gerar reflexão e impaco no cuidado por você oferado.
Mãos à obra!
.. C  Vincular1 a clienela. Esse é um dos maiores desafios para os rabalhadores de saúde.
Esabelecer com os usuários dos serviços uma relação de confiança e respeio que os moive a volar a procurar a equipe, aderir e paricipar da proposa erapêuica, confiar nos profissionais para cuidarmos de sua saúde.
“Vínculo é um vocábulo de origem laina, é algo que aa ou liga pes-
soas, indica inerdependência, relações com linhas de duplo seni-do, compromissos dos profissionais com os pacienes e vice-versa.” (CAMPOS, 2002, p.1).
De modo geral, essa não é uma arefa fácil para nenhum dos lados e esse desafio parece ficar ainda mais difícil em se raando de cuidar de pes- soas com problemas relacionados ao consumo de álcool e ouras drogas.
1 Lembremo-nos da acep-
tudo que ata, liga ou aperta.
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De saída, é imporane lembrar que, para quase a oalidade dos casos, os usuários, quando acessam os serviços, chegam por demandas de
ouros: os pais obrigam; a esposa vai deixá-lo se não for para raamen-
o; o juiz deerminou; vão irar-lhe a guarda dos filhos; o parão vai de- miir; e muios ouros moivos. Ou chegam porque passaram por algu- ma siuação exrema e ficaram mais assusados que deerminados.
Quase nunca o sujeio chega para se cuidar porque concluiu que “é hora de rever suas escolhas, seus caminhos...” No discurso, falam sobre mudanças, mas, na maioria das vezes, esse desejo ainda não esá ins- alado de verdade, ainda não faz senido para eles. E mesmo quando chegam porque “é seu empo de chegar”, não raro, o discurso é o mes- mo, como que oferando o que pensam que os profissionais querem ouvir deles.
Será que não esão mesmo respondendo às expecaivas dos cuidadores?
Não é simples. O usuário é convidado a uma dança que, na verdade, ele não consegue ou não deseja dançar. Os cuidadores precisam se mosrar ineressados e ineressanes. É fundamenal esar aberos aos
mais diferenes “rimos e esilos”, deixar claro ao usuário que se esá ambém aberos ao seu “modo de dançar”. Que ele não precisar “ser ouro” para ser cuidado.
“Se o diálogo é o enconro dos homens para “Ser Mais”, não pode fa- zer-se na desesperança. Se os sujeios do diálogo nada esperam do seu quefazer já, não pode haver diálogo. O seu enconro é vazio e eséril. É
 burocráico e fasidioso.” (FREIRE, 1987, p. 47).
Consruir senido para o usuário volar, permanecer e perse- verar nesse projeo novo que propomos a ele é fundamenal.
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2.2.1. A porta pode ser aberta em qualquer lugar O seting  do cuidado, o lugar onde ele se esabelece, não é necessaria-
mene um lugar (física e objeivamene falando). O cuidado se dá noenconro enre cuidador e pessoa a ser cuidado. A pora que se abre para propiciar esse enconro esá em diferenes lugares e condições, e muios podem ser responsáveis por abrir esa pora: qualquer raba- lhador do serviço, ouro usuário, um parceiro...
É imporane ressalar que essa pora da qual falamos aqui não é so- mene objeiva, concrea. Escuar, por exemplo, é uma forma de abrir
a pora (ou não, se não soubermos escuar). Se o usuário percebe quenão esá sendo escuado de forma qualificada, não vê senido em per- manecer no serviço. No máximo, fica o suficiene para conseguir algo de seu ineresse imediao e depois se vai. Não raro, quando isso acon- ece, a equipe deposia exclusivamene no usuário a responsabilidade pelo “fracasso” do enconro.
“Se é dizendo a palavra com que, ‘pronunciando’ o mundo, os homens
o ransformam, o diálogo se impõe como o caminho pelo qual os ho- mens ganham significação enquano homens”. (FREIRE, 1987, p. 45)
Há uma disponibilidade para acolher e para cuidar que precisa ser aivada.
Basaglia (2005), assim como ouros auores do movimeno conhecido como Psiquiaria Democráica Ialiana, falava de um manicômio in- erno a odos nós, que prejudicaria a priori nossa capacidade de cons-
iuir, pelo cuidado e dialeicamene, sujeios livres e auônomos. Por-
Lembre-se: várias são as espacialidades do cuidado. Podeser nos ponos de aenção da rede, em domicílio, na rua, via fone e em ouras formas e lugares.
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que nosso “jeio de ver” o ouro - o louco, o usuário de drogas - esaria “conaminado” pelo modelo manicomial e udo que ele represena nas relações inerpessoais e insiucionais: exclusão, isolameno, uela,
massificação, poder sobre o ouro.
Segundo essa ideia, esaríamos, no nosso modo de senir o ouro, dis- anes do modelo de aenção psicossocial, de seus valores e princípios fundanes: liberdade, inegralidade, singularidade, auonomia.
Ao se reconhecer a necessidade de superação do paradigma manico- mial pela perspeciva psicossocial, é preciso reconhecer que a força
dese paradigma não se aloja somene no manicômio – lugar concreo onde ocorrem práicas desumanas e desumanizadoras – ela se aloja, sobreudo, no manicômio inerno – lugar subjeivo onde sobrevivem as represenações dos sujeios a cerca da loucura e de onde emergem posuras individuais ou coleivas que se aproximam do modo manico- mial [...] A desconsrução do manicômio inerno, nese senido, deve ser omada como pono de parida para superação de al paradigma e para inclusão social da pessoal poradora de doença menal. (MACHADO, 2006, p. 38-39)
Desconsruir nosso manicômio inerno é imprescindível, vial. É fun- damenal arefa à qual devemos nos dedicar. Um processo que iria mudando a cada um e a sociedade pois, como sabemos, o cuidado é uma relação dialéica. Ou seja, o sujeio em cuidado recebe a ação do sujeio cuidador e esa o modifica de algum modo. Mas, ao mesmo empo, o conrário ambém ocorre: o sujeio que cuida ambém se mo-
difica pelo enconro. Por consequência, cada modo de cuidar produzsujeios que refleem esse modo na vida concrea e vice-versa.
 Vincular-se em relação direa com confiança, segurança. O modo como vemos e senimos os usuários é vial nesse processo de vincula- ção. Pois os usuários êm capacidade de perceber aqueles com quem se relacionam. Assim “percebem” a disponibilidade para o enconro com eles. Como odos, percebem quando são “desejados” ou não.
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“Criar vínculos implica er relações ão próximas e ão claras, que nos sensibilizamos com odo o sofrimeno daquele ouro, senindo-se res- ponsável pela vida e more do paciene, possibiliando uma inerven-
ção nem burocráica e nem impessoal.” (MERHY, 1994, p.138)
Nos dias de hoje, é difícil enconrar uma pessoa que defenda a in- ernação de longa permanência, em hospial psiquiárico, o modelo asilar, como a forma mais adequada que cuidar dos doenes menais. O mesmo não se pode afirmar quando o assuno é o uso de drogas. Ra- pidamene, são proposas inervenções que em a ver com inernação, conrole, isolameno e uela.
Quando profissionais e usuários se encon- ram, odas essas quesões esão presenes: diferenças enre os dois grupos; as habilida- des dos rabalhadores, como prescriores; seu furor curandis2; a endência a propor ações e
esraégias que vão, inclusive, na conramão da reforma.
Sem dúvida, para o enconro que o rabalho impõe, os profissionais razem oda sua “bagagem” de vida. Como os usuários, razem para esse enconro seus valores, crenças, saberes, conceios, pré-conceios, ineresses, emores... udo. Se isso for ignorado, ceramene fracassa- rão em promover um enconro que produza a aproximação necessária para se garanir vínculo e consequene cuidado efeivo.
2 Termo usado por Freud
que trata da excessiva ne-
cessidade do analista curar
seu paciente sem dar ouvi-
dos ao que ele quer.
É necessário esar aeno às semelhanças e diferenças en- re usuários e rabalhadores para que fique mais fácil esa-
 belecer limies, papéis, arefas, fragilidades e poências e, dese modo, consruir senido para o cuidado.
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 Reflexão Poucas coisas são mais irrianes para nós que alguém nos dizendo que esamos errados, que não fizemos a escolha cera, em ouras palavras, que não sabemos vi- ver. Como é do conhecimeno de odos, não é qualquer um que esá “auorizado” por nós a fazê-lo. Somene aqueles de quem gosamos, que senimos que gosam de nós, que êm inimidade conosco ou ocupam papéis sociais específicos recebem ese consenimeno.
Os rabalhadores da saúde, são pare do grupo que recebe, por seu papel social, auorização para assumir essa arefa. Foram formados para dizer aos ouros o que devem fazer com suas vidas. E são exímios prescriores.
- “Coma isso”!
- “Não fume”!
É imporane omar muio cuidado com esse mandao social que lhes é conferido. Nem sempre sua aiude é senida como cuidado ou proeção. Muias vezes, a mensagem que passa aos usuários é que os querem ou- ros, que eles não sabem viver, não sabem escolher, não são adequados.
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 Reflexão
Será que isso é por cona da pouca habilidade em se fazer enender? Ou será que os querem ouros mes- mo? Será que ficaram arroganes e acham que êm a receia do bem viver? Esperemos que não.
 As equipes de saúde lidam com pessoas que usam drogas, muias ve- zes ilegais. Pessoas que, não raro, esão desempregadas, com laços afe- ivos e sociais rompidos ou muio abalados, clinicamene doenes, mal cuidadas, com problemas com a lei... enfim....pessoas que dificilmene
adenrariam à caegoria dos “cidadãos bem sucedidos”. Quano aos rabalhadores da saúde, aparenemene (é bom que se diga!), esão no exremo oposo. Têm rabalho, família, amigos, são adequados, esão bem...
Os rabalhadores e usuários esão, aparenemene, em siuação ão dis- ina uns dos ouros, o que orna a aproximação e a vinculação difíceis.
 Reflexão
Será que esses dois grupos são assim ão diferenes? Que pessoa (figure ela em qualquer dos grupos em quesão) não faz (ou fez) escolhas das quais não se orgulha ou (mesmo querendo) não consegue abando- nar? Quanos já fizeram “loucuras” em função de seus
desejos ou impulsos?
Ceramene, buscar o que aproxima ajuda a superar o que disancia.
“Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens” (FREIRE, 1987, p. 45).
“Não há, por ouro lado, diálogo, se não há humildade”, (FREIRE, 1987,
p. 46).
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2.2.2. Conhecendo o usuário Pois bem, após aenarmos para quesões que são fundamenais na relação com a clienela, vamos abordar mais algumas quesões signifi- caivas para o processo de vinculação da mesma.
 A pora foi abera, o cliene enrou em qualquer pono do Sisema.
Depois que o acesso foi garanido, o desafio é “maner o cliene”, vin- culá-lo ao serviço. Veja que falamos em vincular “ao serviço” e não a você. É necessário lembrar que o cuidado deve ser garanido com ou
sem sua presença. Se você se vincula bem ao usuário, “emprese” seuvínculo a ouro colega da equipe. Quano mais poras aberas, melhor. Quano mais profissionais vinculados ao cliene, melhor.
Nesse raciocínio, podemos ambém concluir que uma perguna muio imporane para se aproximar e conhecer melhor o cliene é:
“Quem já conhece?”
 Alguém dessa equipe, ou de oura, já o conhece? Ele já é usuário de algum Pono de Aenção da Rede de Saúde ou oura rede parceira?
Ou seja, você ambém pode receber de alguém a “auorização” para se consiuir cuidador daquele sujeio. Alguém pode “empresar” vínculo a você. Além, é lógico, de muias informações preciosas que você pode colear deses parceiros.
É preciso ranspor o abismo, minimizar a disância. O desafio é promover o cuidado possível para pessoa em
cuidado.
 Vamos em frene!
Se a arefa é consruir proposas com os usuários, proposas que em a ver com inervenções direas em suas vidas pessoais e que, porano,
precisam fazer senido a pono de levá-los a invesir nisso, é preciso conhecê-los bem. É preciso acolhê-los bem. E acolhimeno em a ver com aquela disponibilidade para cuidar da qual já falamos, não é ape- nas um momeno insiucional, não é apenas aquele primeiro encon- ro, como você já viu na unidade anerior.
 Acolhimeno diz respeio a esar prono para receber o usuário e suas demandas, esar disposo e moivado para cuidar. Esar disposo ao enconro com o usuário como ele é e com o que ele raz. Não com o que se espera ou se deseja que ele seja ou raga. O enconro não pre- cisa ser sempre agradável. Mas, para que seja rico, liberário, é funda- menal que seja verdadeiro.
É como homens que os oprimidos êm que luar e não como “coisas”. É precisamene porque reduzidos a quase “coisas”, na relação de opressão
em que esão, que se enconram desruídos. Para reconsruir-se é im-porane que ulrapassem o esado de quase “coisas”. Não podem com- parecer à lua como quase “coisas” para depois ser homens. É radical esa exigência. A ulrapassagem dese esado, em que se desroem, para o de homens, em que se reconsroem, não é “a poseriori”. A lua por esa reconsrução começa no auo-reconhecimeno de homens desruí- dos (FREIRE, 1987, p. 31).
No rabalho em saúde, a rede é sempre indispensável. É imporane lembrar que udo que sabemos do usuário é
o que ele ou quem o conhece nos cona. Assim, é funda- menal qualificarmos nossa escua.
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Saber como ele chegou aé ao serviço.  • Conhecer seu erriório exisencial.
• Saber onde, como e com quem ele vive. Quem compõe sua rede afeiva.
 • Como consegue dinheiro.
• Onde, como e com quem usa drogas.
 • Onde e em que condições fica mais proegido ou mais vulnerável.
 • Pergunar o que ele espera da equipe. O que ele quer da equipe.
 • Ficar aeno para os faores que denunciem gravidade (clínica e psicossocial). Avaliar e auar sobre esa gravidade num empo adequado.
 • Esabelecer enconros sisemáicos para oferar escua qualificada.
• Idenificar quem pode ajudar a cuidar (familiar, amigo, ouro profissional ec.)
 
 Reflexão
Como esar realmene disponível para conhecer o usuário, se já se pensa saber udo sobre ele?
É comum no rabalho com pessoas com necessidades/demandas decorrenes do consumo de drogas roular os usuários, assim como esandardizar/padronizar o cuidado oferado. Como se a condua já ivesse sido omada anes mesmo de conhecê-los.
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Nesse campo, é muio comum ouvir, inclusive por pare de profissio- nais, afirmações ais como: “Usuário de drogas é assim...” / “Usuário de drogas age assim...” / “Usuário de drogas não consegue isso ou aquilo...”
/ “Usuário de drogas é manipulador, não banca conrao...” / “Usuário de drogas precisa de limies...”.
Falamos sobre gravidade3. Quais seriam os indicadores de gravidade na clínica da rea-
 biliação psicossocial? Onde se siua prioria- riamene a ofera às pessoas com demandas/ necessidades relacionadas ao consumo de ál-
cool e ouras drogas?
Faores que devem ser considerados para de- finir gravidade:
 • Ocorrência de severos agravos clínicos gerais e psiquiáricos.

Prejuízos biopsíquicos decorrenes douso de drogas.
 • Prejuízos imporanes no paamar de auonomia que, inclusive, compromea sua capacidade de pacuar vida coidiana.
 • Prejuízos decorrenes de inernações psiquiáricas numerosas e prolongadas.
 • Esreiameno imporane de Rede Social e Afeiva.
Cuidado, evie esa que chamamos de Clínica do “eu já e conheço”!
 AQUI, SINGULARIDADE É A ALMA DO NEGÓCIO!
3 Esse tema merece uma
ressalva. Muitas vezes, os
trabalhadores de saúde se
deparam com um clássico
dilema: há mais demanda
instala um importante de-
rizar. No que diz respeito à
Saúde Mental Pública, es-
pecialmente com relação ao
ção: o mais grave primeiro.
Foi para atender a clientela mais grave que o CAPS foi
criado (BRASIL, 2004c).
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 • Prejuízos na esruura de supore exisencial (moradia, emprego ec.).
 • Dependência severa.
  •
 Ala vulnerabilidade e risco relacionados à vivência em aividadesilegais.
 • Problemas com a Lei.
 
Saiba Mais
Não deixe de fazer a leiura de Treane: UNODC. Inernaional Nework of Drug Dependen- ce - Treamen and Rehabiliaion Resource Cenres - Good pracice documen. Communiy Based Trea- men - Good Pracice – Viena – 2008. Unied Naions Office on Drugs and Crime – UNODC. Capíulos IV – p. 65. Disponível em: < htp://bi.ly/1d90pDr >.
O usuário, como o profissional que deve cuidar dele, é um sujeio so- cial, não se consiui ou vive compleamene isolado. É o resulado da misura de seus aribuos biológicos e psíquicos, de sua hisória de vida e da culura onde se desenvolveu.
Ele vive num deerminado momeno hisórico, em deerminado con- exo exisencial, se relaciona com ouras pessoas e raz consigo dese- jos, medos, insinos, ineresses...
 Vincular o usuário é processo que em relação direa coma capacidade que se em de compreendê-lo.
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Graziella Barbosa Barreiros50
E não somos odos assim? Todos não queremos coisas, não emos nos- sos ineresses diversos?
Nesse processo de aproximação e conhecimeno do usuário, vai se iden- ificando seus ineresses, o que o mobiliza a agir ou não, o que é impor- ane para ele. Quano mais a equipe o conhece, mais esá apa a cons-
ruir com esse sujeio seu Projeo Terapêuico Singular (PTS). Para ano, é fundamenal esabelecer e susenar espaços para conversar, rocar.
É necessário er paciência, ouvir aenamene o que ele cona, obser- var, ser respeioso, ser flexível e esar aeno para as mudanças ine- ressanes e necessárias ao processo.
Lembre-se: somos seres sociais. Deerminados hisórica,  biológica, subjeiva e culuralmene. Vivendo em deer- minado momeno hisórico, em deerminado conexo, em relação a ouras pessoas, porando ineresses, desejos, medos, insinos... Somos seres desejanes!!! É considerando odos eses faores deerminanes que os
rabalhadores da saúde, precisam aprender a ser negocia-dores mais efeivos, mais compeenes.
Sem o enconro, não há roca. É no enconro que emos a oporunidade de conhecer o ouro.
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 Boa Prática
As proposas que são feias aos usuários pre- cisam ser modesas. Melhor ir devagar, se aproximar e o conhecer primeiro. Quano mais conhecermos os limies e poências dos usuá- rios mais eremos chances de propor ações que façam senido e sejam viáveis, facíveis.
2.2.3. Flexibilidade no cuidado, fer- ramenta fundamental
Ceramene, uma das quesões que mais ara- palham a vinculação é a rigidez insiucional.
É preciso garanir a flexibilidade ou plas-
icidade na ofera do cuidado. E como isso se raduz na vida coidiana? Vejamos alguns exemplos:
• Flexibilidade com horários. O serviço precisa se adapar mais às possibilidades dos usuários que o conrário.
•  As aividades precisam ser organizadas de acordo com o perfil da clienela que esá frequenando o serviço no período. Não deve haver esandardização/padronização do cuidado.
 •  A flexibilidade não pode se aer somene aos horários ou modalidades de ofera de cuidado.
4   ALTERIDADE:  A pala-
vra alteridade, que possui
diz sobre a capacidade
de se colocar no lugar do outro na relação interpes-
soal, com consideração,
valorização e identificação
prática da alteridade con-
nas relações interpessoais
vestidos de cidadania. Pela
e estabelecer uma relação
pacífica e construtiva com
os diferentes, na medida
com o contrário.
linguagem grega, empa-
tiria caso se estivesse na
situação e circunstâncias
Graziella Barbosa Barreiros52
 • Todo o processo de rabalho precisa ser passível de aleração em função da singularidade de cada cliene.
 • É imporane escolher bem o paamar de exigência das esraégias e ecnologias de cuidado uilizadas. Uso de esraégias de ala exigência - como exigência de absinência para frequenar o serviço, rigor com relação a horário de chegada e saída, resrições quano à linguagem, exigência de paricipação da família, imposição de absinência ao abaco nos momenos em que esá no serviço, enre ouras. Essas exigências não consisem somene em uma barreira de acesso - elas ceramene dificulam a vinculação da clienela.
Uma usuária chega ao serviço com o seguine discurso:
- “Esou usando muia droga. Crack e álcool”.
- “Esou me prosiuindo para comprar minha droga! Passo a noie oda fazendo programa e usando crack. Esou cansada desa vida! Não suporo mais os clienes e me sino doene. Acho que é muio difícil,
mas, quero parar! Me ajuda!” Enão, a profissional que a esá aendendo propõe:
- “Óimo que você quer parar! Isso que você esá fazendo é muio ruim para você. Vole amanhã, às 9 horas da manhã para a oficina de ori- gami e, depois, às 10 horas, você enra para o grupo erapêuico de mulheres!”.
 A usuária diz: - “Só em de manhã cedo?”.
 A rabalhadora responde: - “Sim. Só em de manhã. Pensei er ouvido que você queria se raar...queria parar...”
Diane do caso acima descrio, pense:
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 Reflexão
 Você acha que a usuária se seniu acolhida? Pressio- nada? O julgameno moral “aravessou” a relação de cuidado? Você acha que a usuária vai reornar no dia seguine? O que você mudaria na condução dese caso?
Oura quesão recorrene é o manejo do consumo do abaco, para
usuários dos serviços.
 Aene para o fao de que é imporane problemaizar o consumo de abaco juno ao usuário, moivá-lo a deixar de fumar e oferar informa- ção e supore. Todavia, isso deve ser feio sem imposição, no “empo do usuário”. A rigidez com relação ao consumo do abaco se raduz na proi-
 bição de seu consumo durane o empo qu