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VI ENCONTRO NACIONAL DA ABRI: PERSPECTIVAS SOBRE O PODER EM UM MUNDO EM REDEFINIÇÃO Trabalho para apresentação em Painel ÁREA 2: ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL MOEDA, PODER E ESTADISMO: UM ESTUDO SOBRE A DEPENDÊNCIA MO- NETÁRIA E A LIDERANÇA ALEMÃ NA ZONA DO EURO Daniela Sallet Lunkes Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Belo Horizonte, 25 a 28 de julho de 2017.

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VI ENCONTRO NACIONAL DA ABRI: PERSPECTIVAS SOBRE O PODER EM UM MUNDO

EM REDEFINIÇÃO

Trabalho para apresentação em Painel

ÁREA 2: ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL

MOEDA, PODER E ESTADISMO: UM ESTUDO SOBRE A DEPENDÊNCIA MO-

NETÁRIA E A LIDERANÇA ALEMÃ NA ZONA DO EURO

Daniela Sallet Lunkes

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Belo Horizonte, 25 a 28 de julho de 2017.

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Resumo: O poder monetário é definido como a capacidade de modificar o comportamento

de outro ator de forma não intencional, e de influenciar as Relações Internacionais na medi-

da que os estados o utilizam para angariar benefícios políticos frente a outros Estados. O

estadismo (statecraft) monetário, por sua vez, é o uso consciente desse poder. A partir das

obras de Jonathan Kirshner e de David Andrews, que descrevem esse tema com estudos de

caso sobre zonas monetárias, busca-se, nesse artigo, analisar o uso do estadismo e do po-

der monetário pela Alemanha dentro da zona monetária europeia. Tal influência será anali-

sada por meio da dependência monetária, definida como um dos instrumentos de poder e

estadismo monetário. O artigo utiliza o método hipotético-dedutivo e dados econômico-

financeiros da Alemanha e de seus vizinhos antes e após a criação do euro. Parte-se da

hipótese de que a constituição do euro foi parte de uma estratégia do Bundesbank para lo-

grar benefícios políticos e econômicos em função da vulnerabilidade monetária dos seus

vizinhos.

Palavras-chave: Dependência Monetária, Alemanha, Zona do Euro.

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1. INTRODUÇÃO

A União Monetária Europeia é um arranjo desafiador, à medida que dezenove paí-

ses aceitaram abrir mão da sua soberania monetária em favor de um arranjo supranacional.

Tal construção tem enfrentado dificuldades em função de um contexto de crise global que

enfraqueceu muitas das economias pertencentes ao arranjo e coloca em questão a manu-

tenção de tal sistema monetário. Há muitas críticas em relação a ele, como por exemplo,

que o atraso na recuperação dos países se dá em função de pertencerem à zona monetária

(ver KRUGMAN, 2015; FELDSTEIN, 2012), e ainda outras críticas dos países deficitários

em direção à Alemanha (VAROUFAKIS, 2011).

O presente trabalho busca analisar a influência que a Alemanha exerce dentro da

zona monetária europeia, focando na dependência monetária, elemento de poder monetário

segundo a teoria de Jonathan Kirshner. O artigo utilizará o método hipotético-dedutivo como

forma de organização do conteúdo. A hipótese aqui proposta é a de que a constituição do

euro foi parte de uma estratégia do Bundesbank (Banco Central alemão) para lograr benefí-

cios políticos e econômicos em função da vulnerabilidade monetária dos seus vizinhos.

A análise será teórico-conceitual, embora com exposição de dados econômicos e

financeiros da Alemanha e de seus vizinhos antes e após a criação do euro. O artigo organi-

zar-se-á da seguinte maneira: na primeira seção após essa introdução, serão expostas as

teorias de poder e estadismo monetário de Kirshner e Andrews, dando destaque à questão

da dependência monetária. Na segunda seção, proceder-se-á a uma revisão histórica do

processo de formação do euro e da zona monetária europeia. Na terceira seção, a influência

alemã em tal construção será isolada para se refletir sobre seu papel e sua liderança no

âmbito monetário da zona. A seção final conclui o trabalho.

2. PODER E ESTADISMO MONETÁRIO: A QUESTÃO DA DEPENDÊNCIA EM

ZONAS MONETÁRIAS

Kirshner (1995) tem como preocupação central mostrar como os Estados têm usa-

do e podem usar as Relações Monetárias Internacionais como um instrumento de poder

coercitivo, isto é, como eles podem manipular tais relações para influenciar as preferências

ou comportamentos de outros Estados. O autor define Relações Monetárias Internacionais

como os acordos e as ações que afetam o valor, o uso, a estabilidade, entre outros atributos

das moedas nacionais emitidas pelos Estados.

O autor procede então a uma teorização sobre o poder monetário, também concei-

tuado de diplomacia monetária. Kirshner restringe a análise ao uso do poder monetário para

objetivos que não envolvam metas econômicas. Este pode ser exercido de três maneiras:

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por meio da prática da manipulação monetária, do exercício da ruptura sistêmica e da explo-

ração da dependência monetária.

A manipulação monetária consiste em ações perpetradas por um país buscando

afetar o valor e a estabilidade da moeda de outro país. Ela pode ser usada para alterar as

preferências ou ações de um Estado específico ou para apoiar um aliado. Sob taxas de

câmbio fixas, uma manipulação monetária gera perda de reservas e, normalmente, uma

crise no Balanço de Pagamentos (BP). A manipulação monetária também pode gerar o me-

do de um colapso monetário e pressionar politicamente o governo do Estado alvo, dada a

perda de estabilidade da moeda. Tais consequências são oriundas da própria psicologia

social sobre a moeda, que considera que o valor da moeda depende da confiança que se

tem nela e que a estabilidade monetária está associada à legitimidade do governo.

A ruptura sistêmica, por sua vez, é definida por Kirshner (1995) como uma manipu-

lação contra o sistema, e não contra moedas específicas. Ela pode ser exercida para deses-

tabilizar o sistema, ou apenas para extrair outros benefícios do mesmo. Nesse tipo de poder

monetário, quem mais exerce ameaça são os países médios e, principalmente, superavitá-

rios. Os países pequenos poderão sofrer com uma ruptura sistêmica, pois beneficiam-se de

acordos específicos e precisam da estabilidade do sistema. Já os países dominantes são

ameaçados por exercerem a liderança do sistema. Países superavitários podem desfaze-

rem-se das reservas acumuladas na moeda do país dominante e, assim, desestabilizarem o

sistema. O Estado líder pode, com uma ruptura sistêmica, perder os benefícios políticos da

liderança e a economia internacional pode sofrer uma crise tão grande a ponto de ficar des-

monetizada, isto é, sem um sistema de pagamentos internacional. O montante com que ca-

da Estado será afetado por esta forma de poder monetário dependerá do grau de importân-

cia que o setor internacional tem para sua economia. O benefício de perpetrar uma ruptura

sistêmica, para os Estados médios, é a oportunidade de extrair concessões em uma varie-

dade de questões dos Estados maiores.

A dependência monetária, a qual é central para o artigo, ocorre porque as relações

entre os Estados são assimétricas. A dependência efetiva-se por meio do aproveitamento

dos benefícios de tal desigualdade. A dependência é considerada no sentido da vulnerabili-

dade econômica (que permite o exercício das relações de poder), distinta da teoria da de-

pendência, a qual se refere a uma exploração econômica no âmbito de relações comerciais

desiguais. Normalmente, a dependência monetária é exercida por meio da criação de áreas,

blocos ou zonas monetárias1. Uma área monetária gera isolamento monetário do mundo

1 Os três elementos são tomados aqui como sinônimos, mas cabe destacar a diferenciação que Kirs-

hner (1995) faz de cada um deles. Uma área monetária é um sistema monetário com uma moeda

central reconhecida e padrões e práticas estabelecidos que quase não apresentam barreiras ao co-

mércio de membros e não membros. Uma zona monetária é uma área restrita com regras que dão

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externo e potencial de mobilização e coordenação de recursos. As preferências do Estado

membro são modificadas pela influência que o arranjo exerce sobre sua economia domésti-

ca, que gera uma convergência de interesses em direção aos interesses do Estado líder ou

emissor da moeda. Para que a dependência monetária possa ser usada, o Estado alvo deve

ser vulnerável, isto é, deve temer uma ameaça de ser expulso do arranjo (KIRSHNER,

1995).

A dependência monetária, segundo Kirshner (1995), resulta de três fatores: distri-

buição assimétrica dos benefícios de pertencer a um Sistema Monetário Internacional, dos

custos de sair de tal sistema e das mudanças nas preferências do Estado alvo. A assimetria

de benefícios resulta da diferença no tamanho econômico dos membros. Membros peque-

nos ganham relativamente mais da sua associação com o Estado central do que este ganha

ao associar-se com aqueles. Os custos de saída envolvem a perda de vantagens, como

proteção, estabilidade, conhecimento e privilégios significativos com relação ao comércio e

às finanças.

Para que os Estados mais frágeis queiram ingressar em uma zona monetária, eles

devem ser beneficiados pela mesma. Entre as vantagens que eles podem obter estão a me-

lhoria da estabilidade cambial, o menor risco de crise no Balanço de Pagamentos, dado o

pool de reservas do arranjo e a necessidade da coordenação de políticas monetárias, o que

ajudará a reduzir a implementação de políticas econômicas contraditórias que poderiam, de

outro modo, impedir a resolução de problemas. Se o país alvo desejar sair da área monetá-

ria, ele enfrentará custos, sendo estes: a perda de reputação de sua moeda, os problemas

cambiais que podem advir de novas moedas independentes (como fuga de capitais e espe-

culação) e o custo de acumular reservas para sustentar sua taxa de câmbio pretendida. A

exploração da dependência monetária não é, contudo, irrestrita. Ela é limitada pelo desejo

do Estado líder em manter o bloco monetário. Assim, a exploração realizada por ele não

deve ser tão grande a ponto de membros do arranjo preferirem sair da zona monetária

(KIRSHNER, 1995).

Kirshner (1995) destaca as quatro principais formas pelas quais a dependência mo-

netária pode ser explorada, sendo elas: imposição, expulsão, extração e prisão em armadi-

lha. Imposição é a manipulação das regras do sistema para gerar sanções ou apoiar os Es-

tados membros do arranjo monetário. Ela se diferencia da manipulação monetária no senti-

do que esta promove coerção ao alterar a natureza da moeda do país alvo. Já a imposição

tenta promover a coerção ao alterar a natureza e disponibilidade da moeda do país central,

que é importante para o país alvo. A expulsão pode ser uma simples punição, como pode

preferências a membros sobre não membros. Um bloco monetário é uma zona onde a principal moe-

da não é livremente conversível em outras moedas centrais ou commodities.

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fornecer poder ao Estado dominante por meio da ameaça coercitiva. Ameaçar expulsar um

país do arranjo é mais útil do que, de fato, expulsá-lo, pois pode alterar o comportamento

dele a seu favor. Extração é o uso das regras e consequências do sistema para extrair ri-

queza dos Estados membros. Ela também pode manifestar-se por meio de um processo

pelo qual o líder explora sua posição de emissor da moeda chave para o sistema. A extra-

ção pode fazer com que o líder, além de exercer seu poder sobre os parceiros dependentes,

também ganhe poder a partir deles. A prisão em armadilha é um instrumento de coerção

que deriva seu poder da estrutura do sistema. Ela consiste na transformação de interesses

que resulta da participação em um sistema monetário.

A oportunidade de obter benefícios estruturais, extração de vantagens e prisão de

outros Estados em uma armadilha é o que, segundo Kirshner (1995) motiva os Estados a

criarem sistemas monetários. Kirshner (2006) observa que os países que aderem a arranjos

monetários o fazem por perceberem que podem se beneficiar do isolamento a choques glo-

bais e da autonomia que o grupo pode adquirir como um todo. Tendo essa perspectiva, os

países abrem mão de sua autoridade monetária e buscam estender sua influência situando-

se no centro de uma ordem monetária regional.

Os líderes dos sistemas usam menos a expulsão e a imposição porque, quanto

mais essas técnicas forem empregadas, maior será a chance de Estados se encorajarem a

sair do sistema. A dependência monetária poderá ser exercida dependendo das condições

econômicas globais prevalecentes e do grau de assimetria política e econômica entre o Es-

tado central e um dado membro ou potencial membro do seu sistema. Por exemplo, durante

depressões, é mais vantajoso estar numa área monetária que durante períodos de alta de-

manda pelos produtos do país. Economias baseadas na venda de uma commodity também

são mais vulneráveis que economias altamente diversificadas. Diferente da ideia de Kirshner

(1995), Cooper (2006) considera que os limites institucionais e de mercado que o líder en-

frenta geram mais interdependência que dependência monetária e que, sob algumas condi-

ções, áreas monetárias de grandes potências podem ser um fardo mais do que um ativo

para seus líderes.

As uniões monetárias ganharam ímpeto, consoante Kirshner (2006), devido a dois

processos: o primeiro deles é o fim de Guerra Fria, que recolocou em cena o medo de confli-

tos monetários. Durante essa Guerra, a maior preocupação era com a segurança, o que

freava os conflitos econômicos, para que estes não atrapalhassem possíveis alianças milita-

res. O segundo fator é a globalização que, segundo o autor, gerou incentivos para que os

Estados aderissem e criassem organizações monetárias regionais.

Segundo Kirshner (1995), embora grandes Estados tenham menos vulnerabilida-

des, eles podem ter dependências específicas, como, por exemplo, a dependência do petró-

leo. O tamanho da economia do país não se traduz, em si, em capacidade de exercer poder

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monetário. Estados grandes acabam precisando de recursos externos em algumas circuns-

tâncias. Ainda assim, os agentes com poder monetário costumam ser as grandes potências,

isto porque o dinheiro internacional é hierárquico em sua natureza e isso faz com que o

emissor da moeda chave do sistema monetário internacional seja sempre o ator mais impor-

tante. No entanto, o autor ressalva que, “enquanto a hierarquia antecipa que há um líder

único no sistema, pode haver a coexistência de mais de uma área monetária; consequente-

mente, poderá haver um número de líderes de blocos, cada qual com substancial poder mo-

netário” (KIRSHNER, 1995, P. 23).

Por sua vez, Andrews (2006) analisa o poder monetário como uma propriedade re-

lacional2, isto é, que se manifesta quando o comportamento de um Estado muda em função

das suas relações monetárias com outro Estado de maneira direta e/ou indireta. O autor

observa que o exercício do poder monetário pode ser encontrado tanto a nível estatal – no

plano macro, quanto em nível de atores não estatais – no plano micro. No nível macro, a

questão do desequilíbrio do Balanço de Pagamentos é essencial, sendo o ajuste ou falta

dele uma característica central das relações monetárias centradas no poder. O poder mone-

tário nesse nível é a capacidade de atrasar o pagamento dos custos contínuos do ajuste ou

desviar seus custos transacionais para outros países3. Já no nível micro, a questão central é

quem se beneficia da organização dos assuntos monetários internacionais. Por exemplo,

produtores e consumidores desejam taxas de câmbio distintas.

A análise do poder monetário é multidimensional, pois ele assume diferentes forma-

tos, dependendo da natureza do relacionamento em questão. Por exemplo, no nível micro, o

poder de rearticular os interesses dos atores e de reconstruir suas identidades têm como

mecanismo primário a adoção de uma moeda extraterritorial, que poderá resultar em: (a)

redução dos custos mútuos de transação, diversificação comercial e formação de novas

coalizões do setor privado; (b) experiência coletiva do fenômeno monetário e papel simbóli-

co da moeda na formação da identidade. A principal fonte desse poder é a atratividade que

pode advir das funções da moeda extraterritorial. (ANDREWS, 2006). Tal dimensão parece

refletir o exemplo europeu e a sensação de pertencimento à região que o euro provocou nos

cidadãos que vivem nos países da zona monetária europeia.

2 É importante destacar que o termo relacional é oriundo da definição de Strange (1988) sobre o po-

der de um país de formar e determinar a estrutura da economia política global. A autora diferencia o poder estrutural e o poder relacional, sendo este a capacidade de conseguir que um país faça o que ele não faria não fosse tal influência, enquanto o poder estrutural é o poder de alterar a estrutura da economia global para passar a tomar as decisões relacionadas ao seu funcionamento. 3 Andrews utiliza a conceituação de Benjamin Cohen (1966), da obra Adjustment Costs and the Dis-

tribution of New Reserves, para analisar o nível macro. Ele cita o autor, que considera o poder de atrasar pagamentos dos custos de ajuste e o poder de desviar tais custos como duas diferentes for-mas de poder monetário.

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O significado de estadismo monetário (monetary statecraft) é mais restrito que o de

poder monetário: refere-se à manipulação consciente das relações monetárias de modo a

afetar as políticas de outros Estados. Assim, pode-se dizer que o poder monetário corres-

ponde à influência e o estadismo ao controle. Estadismo monetário é, assim, a tentativa de

influenciar os meios em direção a um fim, de provocar mudanças desejadas no comporta-

mento de outros Estados (ANDREWS, 2006).

O termo foi criado por Andrews como uma subdivisão do estadismo econômico

proposto por David Baldwin. Este autor afirma que os instrumentos de política disponíveis

aos Estados que desejam influenciar o setor externo são a propaganda, a diplomacia, o es-

tadismo econômico e o militar. O estadismo econômico, segundo Baldwin, seria a tentativa

de influenciar outros Estados baseada em recursos que tenham aparência de um preço de

mercado em termos de moeda. Seria, assim, para Andrews (2006, p. 17), “a tentativa de

influenciar baseada primariamente na manipulação das relações monetárias entre os Esta-

dos”.

O estadismo monetário, segundo Andrews (2006) busca isolar a política monetária

doméstica das pressões externas, isto é, preservar ao máximo sua autonomia monetária.

Uma maneira de alcançar tal objetivo é tornando-se um líder monetário regional ou global e

encorajando outros Estados a se adaptarem a suas preferências políticas. Como nem todos

Estados poderão ser líderes, o isolamento político da maioria dos Estados vai depender de

outras opções, como o controle de capitais. A manipulação do valor externo da moeda ou de

taxas de câmbio também é considerado um elemento do estadismo monetário. Tal manipu-

lação pode ser benigna, quando busca estabilizar o valor externo de alguma moeda, ou po-

de ser ameaçadora, quando tenta enfraquecer uma economia específica ou romper certo

regime internacional. Outro canal de estadismo monetário é a restrição ou promoção do uso

externo de uma moeda.

Cooper (2006) considera o estadismo monetário um processo recíproco: tanto se-

guidores quanto líderes podem ganhar oportunidades de influência devido à criação de uma

área monetária. Considera que as áreas monetárias são um problema porque a emissão de

moeda representa um ativo (asset) quando outros estão comprando, mas um passivo (liabi-

lity) quando eles começam a vender.

3. A INTEGRAÇÃO EUROPEIA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA: O AVANÇO EM

DIREÇÃO À MOEDA ÚNICA

A integração na Europa teve início em um contexto marcado pela ascensão hege-

mônica dos Estados Unidos, pela Guerra Fria e pela reorganização do mundo pós II Guerra

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Mundial. O Plano Schumann de 1950 trouxe para a Europa Ocidental novas iniciativas no

campo da política e da economia e tornou a ideia da integração uma realidade. Em 1951

surgiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, firmada pelo Tratado de Paris, tendo

como seus países impulsionadores Alemanha, França e Reino Unido. Foi em 1957, no en-

tanto, que a integração se fortaleceu, por meio do Tratado de Roma, que deu origem à Co-

munidade Econômica Europeia (CEE) e à Comunidade Europeia de Energia Atômica (EU-

RATOM). Eram membros do bloco que deu origem a tais iniciativas: Alemanha Ocidental,

França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos (PECEQUILO, 2014).

Em 1969, os países resolveram criar, em estágios, uma União Econômica e Mone-

tária, permeada por um contexto de grandes avanços da Comunidade Europeia (CE). Na

década de 1960 os países membros completaram o período de transição para uma união

aduaneira plena, estabeleceram uma política agrícola comum e criaram um sistema de re-

cursos próprios. Ao mesmo tempo, o sistema de Bretton Woods mostrava sinais de declínio

(DELORS, 1989).

Em 1970 foi elaborado o Relatório Werner, um plano para buscar a união monetária

e econômica. No ano seguinte os Estados membros demonstraram o interesse de estabele-

cer tal união. Esse processo de convergência econômica teve origem com a criação da Ser-

pente Europeia, em 1972, que estabeleceu limites de flutuações cambiais de 2,25% entre as

moedas dos países membros da Comunidade Europeia. Em 1973, foi criado o Fundo de

Cooperação Monetário Europeu (DELORS, 1989).

Em 1974, o Conselho Europeu decidiu alcançar maior grau de convergência dentro

da Comunidade e, para isso, adotou uma Diretiva sobre estabilidade, crescimento e pleno

emprego. Após essa norma, o processo de integração perdeu força pelas divergências polí-

ticas ao lidar com os choques econômicos que ocorriam no período, como a crise do petró-

leo (DELORS, 1989). Já em 1979, os países retomaram o processo de integração monetária

com a criação do Sistema Monetário Europeu (SME), cujos principais objetivos eram reduzir

o impacto perturbador das desvalorizações cambiais e regular as mudanças nas paridades.

Tal iniciativa fora necessária porque, naquele ano, restavam poucas moedas na Serpente

Europeia (MONGELLI, 2008).

O SME foi fundado por todos os países que deram origem à CEE e à EURATOM,

somando-se a eles Dinamarca, Irlanda e Reino Unido. Tais países buscavam um novo tipo

de acordo cambial, flexível o suficiente para acomodar diferenças nas taxas de inflação en-

tre os países e com a simetria necessária para que todos os membros dividissem o fardo do

ajuste ao eliminarem desequilíbrios em seus Balanços de Pagamentos. Cada membro pode-

ria escolher a taxa de inflação que mais se adequasse ao seu país (VON HAGEN; FRATI-

ANNI, 1990).

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O SME propiciou maior convergência entre os Bancos Centrais dos países mem-

bros e constituiu-se em quatro fases: na primeira (1979-85) ainda havia controles de capital,

desalinhamentos cambiais que, com taxas de câmbio fixas, exigiam frequentes alterações

nas paridades, e grandes diferenças nos déficits fiscais e nas dívidas públicas entre os paí-

ses. A segunda fase (1986-92), segundo Mongelli (2008) foi considerada, por muitos auto-

res, uma área do marco alemão, pois, a maioria dos países tentou aproximar suas taxas de

inflação às taxas alemãs. Tal moeda tornou-se efetivamente a âncora do sistema, os contro-

les de capital foram desaparecendo e a política monetária dos Bancos Centrais ficava cada

vez menos independente. Em 1986 foi criado o Ato Único Europeu, que ampliou os objetivos

da Comunidade ao introduzir o Mercado Único como um deles (MONGELLI, 2008).

A visão que se tinha no início da década de 1990 era de que esse processo não se

consolidou. O SME era visto como um sistema assimétrico, dominado pelo Bundesbank

alemão. Von Hagen e Fratianni (1990) rejeitam tal hipótese. Segundo eles, o SME é uma

rede interativa de políticas monetárias onde o Bundesbank é um ator importante, mas não o

dominante. O SME definiu a Unidade Monetária Europeia com base em uma cesta de moe-

das e um mecanismo cambial de margens fixas, mas com taxas variáveis dentro dessas

margens. Embora nenhuma moeda tenha sido definida como âncora do sistema, o marco

alemão e o Bundesbank passaram a estar no centro do SME e a maioria das outras moedas

se baseava no marco (MONGELLI, 2008).

Para ingressar na União Monetária Europeia (UME), os países deviam cumprir os

seguintes requisitos: ter taxas de inflação no máximo 1,5 p.p. acima da taxa média dos três

Estados que tivessem o menor nível de inflação, taxa de juros dos títulos governamentais de

longo prazo de até 2 p.p. acima do valor médio dos três países com as taxas mais baixas,

um déficit orçamentário de no máximo 3% do PIB, dívida pública inferior a 60% do PIB, vari-

ação no valor da moeda nacional dentro da margem de 2,25% e que a mesma não tivesse

sido desvalorizado frente à moeda de outro Estado membro no mesmo período

(SANDHOLTZ, 1993).

Ao final da década de 1980, os países confirmaram o objetivo de criar uma União

monetária e Econômica (DELORS, 1989). Eles estudaram o processo para propor estágios

concretos que pudessem levar ao alcance da meta. O presidente da Comissão Europeia era

Jacques Delors e o relatório que estabeleceu os passos que deveriam ser tomados para se

aprofundar o nível da integração ficou conhecido pelo seu sobrenome. Sob a base do Rela-

tório Delors, o Conselho Europeu decidiu que o primeiro estágio da UME teria início em

1990 (SANDHOLTZ, 1993).

Na terceira fase (09/1992-03/1993) o SME entrou em crise, pois alguns países que

não conseguiram reduzir suas taxas de inflação passaram a sobrevalorizar suas moedas, os

desalinhamentos cresceram e houve ataques especulativos em função da proximidade de

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implementação do Tratado de Maastricht. Em 1993, foi estabelecido o Mercado Único Euro-

peu, o qual aboliu restrições sobre os movimentos de fatores e barreiras não tarifárias, por

exemplo, acesso a mercados, condições de competitividade e funcionamento do mercado.

Na última fase (1993-99), as taxas de câmbio foram fixadas e o sistema foi se preparando

para, em 1999, onze países fixarem suas moedas, preparando-se para o lançamento do

euro, o que constituiu a terceira fase no processo de criação da União Econômica e Monetá-

ria (MONGELLI, 2008), como apresentado a seguir.

O primeiro estágio na criação de uma União Econômica e Monetária (1990-93) de-

veria garantir a completa liberdade para transacionar capitais, maior cooperação entre os

Bancos Centrais, o livre uso da Unidade Monetária Europeia (precursora do euro) e a me-

lhoria da convergência econômica (DELORS, 1989). Neste estágio foi definido que os paí-

ses só poderiam participar da união se tivessem alto grau de convergência, que seria defini-

do pelos critérios de inflação, taxas de juro de longo prazo, déficit externo e dívida fiscal e

taxas de câmbio. O segundo estágio começou em 1994 e estabeleceu o Instituto Monetário

Europeu, cujo principal objetivo era o fortalecimento da cooperação dos Bancos Centrais,

coordenação das políticas monetárias e a preparação para o estabelecimento do Sistema

Europeu de Bancos Centrais (SEBC) (MONGELLI, 2008). Esperava-se, nesse estágio, que

os Bancos Centrais nacionais ficassem independentes e, assim, realizassem um trabalho

preparatório para o estágio três, que previa a adoção de uma moeda única (BCE, 2017).

Esta última fase se iniciou em 1999 e fixou irrevogavelmente as taxas de conversão

das moedas dos países membros do SME, pondo fim a este sistema. Nesse estágio, a con-

dução da política monetária passou para o Banco Central Europeu (BCE), o euro iniciou

suas operações como unidade de conta (baseado em uma taxa de câmbio entre ele e cada

uma das moedas dos países-membros), iniciou-se a condução da política monetária única

pelo SEBC, entrou em vigor o mecanismo cambial intra-UE e o Pacto de Estabilidade e

Crescimento (BCE, 2017)

Em 2001, o euro passou a circular como meio de troca, substituindo as moedas dos

países que pertenciam à zona monetária europeia, sendo eles: Áustria, Bélgica, Luxembur-

go, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Países Baixos, Portugal e Espanha. Nesse

mesmo ano, a Grécia se juntou aos 11 países e passou a adotar o euro como sua moeda

oficial (MONGELLI, 2008). Em 2008, Chipre e Malta entraram na zona do euro, em 2009, a

Eslováquia. A Estônia adotou o euro em 2011, a Letônia em 2014 e a Lituânia em 2015.

No processo de criação do Banco Central Europeu já havia certo consenso em fa-

vor de um modelo baseado em regras e orientado para a estabilidade. Ainda assim, o resul-

tado final refletiu o poder de barganha assimétrico alemão. A Alemanha teve mais poder

dentro do acordo porque perdeu e arriscou mais ao entrar. Em primeiro lugar, ela abriu mão

do SME, no qual sua moeda era âncora para uma série de outras moedas e, assim como os

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outros países, perdia a soberania sobre sua própria moeda e corria o risco de enfrentar ta-

xas de inflação mais elevadas. Em segundo lugar, o Bundesbank tem poder de veto informal

porque sua reputação e popularidade o tornaram muito influente sobre a opinião pública

alemã em relação à UME. Em terceiro lugar, a Alemanha poderia ameaçar sair do processo

da UME e, de fato, utilizava essa ameaça, o que pode ser associado a ruptura sistêmica,

que Kirshner (1995) descreve. Caso ela saísse do arranjo, este poderia romper-se. Por fim,

ela poderia ameaçar não aceitar outros países médios na União. Tais países, como a Itália,

concordaram com o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) para que a Alemanha os

aceitasse no grupo. (HEIPERTZ; VERDUN, 2004).

O PEC foi criado para construir credibilidade, mas o poder e as ideias que o deline-

aram foram mudando de formato ao longo do tempo. A Alemanha foi perdendo um pouco do

seu poder de barganha e do recurso à ameaça de saída durante o estágio III da UME, em

1999, e não era um exemplo de disciplina orçamentária, a qual era requisito para os países

que quisessem ingressar na zona monetária (HEIPERTZ; VERDUN, 2004).

4. ZONA MONETÁRIA EUROPEIA E A LIDERANÇA ALEMÃ

A liderança monetária alemã dentro da Europa não é algo novo. A força de suas es-

tratégias pode ser observada desde sua própria unificação, em 1879. A constituição do zoll-

verein, pela Prússia, representou a criação de uma união aduaneira associada a uma união

política para expandir seu poder e conseguir a unificação germânica sob o seu domínio (VI-

NER, 2014). No período entre guerras, também pode-se observar a estratégia da Alemanha

para expandir o uso do marco, aproveitando-se de um contexto de depressão e escassez de

mercados consumidores pelo mundo. Na década de 1930, após recuperar-se da hiperinfla-

ção, a Alemanha aceitou ter déficits em seu Balanço de Pagamentos como uma estratégia

para que os seus países vizinhos mais fracos recebessem enormes montantes de marcos

(KIRSHNER, 1995).

Com a integração monetária europeia que surgiu após a II Guerra Mundial e conso-

lidou-se na década de 1990, deu-se processo similar. Sandholtz (1993) destaca que as pre-

ferências dos Estados são centrais para a integração monetária, as quais dependem de per-

cepções e objetivos dos atores e das políticas domésticas. Segundo ele, há três proposições

que indicam a influência que as instituições e as políticas da CEE tiveram sobre o interesse

nacional dos Estados. A primeira delas é a onda de entusiasmo provocada pelo mercado

único a favor da Comunidade; a segunda é a insatisfação da França e de outros países com

as assimetrias que percebiam no SME, mas a relutância em abandoná-lo devido a seu bom

funcionamento e, por isso, preferiram aprofundar a integração; por fim, a oportunidade que a

13

Comunidade dava aos países de usarem suas instituições e regras para obterem resultados

políticos que de outra forma não alcançariam.

A insatisfação francesa com o domínio alemão no SME foi considerada um dos

principais motivos por trás da sua proposta, em 1988, de ampliar a integração, indo além do

SME. A ideia de criar um Banco Central Europeu, que gerisse uma moeda comum entre os

países membros parece, assim, ter vindo do ministro das finanças francês do período,

Edouard Balladur. Outros países ainda não pensavam em uma União Monetária, mas após

a proposta francesa, passaram a apoiar tal ideia. Buscavam, com tal proposta, acabar com o

domínio alemão, enquanto mantinham a estabilidade cambial e de preços, gerada pela

aproximação cambial ao marco, e que cada país tivesse poder de decisão nesse novo ins-

trumento (SANDHOLTZ, 1993). Varoufakis (2011) destaca que os outros países queriam

uma moeda única porque as elites dos países deficitários já não aguentavam mais desvalo-

rizações e a classe trabalhadora não aguentava mais inflação.

Oficiais alemães eram capazes de oporem-se a essa ideia, que poderia reduzir seu

controle e que não dava garantias de que um novo Banco agiria tão bem quanto o seu no

controle da estabilidade de preços. No entanto, Helmut Kohl, o chanceler alemão, anunciou

que colocariam a união monetária na agenda. Segundo Sandholtz (1993), os alemães bus-

cavam demonstrar a seus parceiros da Comunidade que ela continuaria sendo leal ao gru-

po. Feldstein (2012) destaca, no entanto, que, mesmo abrindo mão do marco, a Alemanha

pôde influenciar algumas características do BCE, como a independência formal deste, sua

meta política única da estabilidade de preços, a proibição de comprar títulos de governos

membros, a negação ao resgate de países que se tornassem insolventes e a localização do

BCE, que ficou em Frankfurt. A aceleração do processo em direção à união monetária em

1989 e 1990 pode ser vista sob o âmbito do desejo dos líderes europeus de uma ordem

europeia (SANDHOLTZ, 1993).

Segundo Varoukafis (2011), a preponderância alemã na Europa e a força do marco,

sua antiga moeda, foram parte de uma estratégia dos Estados Unidos de realizar investi-

mentos na Alemanha e foi central para o desenvolvimento industrial da Europa. Como a

Alemanha foi se constituindo em um país cada vez mais superavitário, enquanto os EUA

tornavam-se mais deficitários com o passar do tempo, ela temia desvalorizações monetárias

competitivas por parte de seus vizinhos. Por isso, quis criar um mecanismo monetário que

mantivesse as flutuações monetárias na região dentro de certos limites, o que foi efetuado

pelo SME. Segundo Sandholtz (1993), o marco possuía papel central em qualquer política

monetária em nível europeu porque era a moeda mais utilizada da Comunidade, represen-

tando aproximadamente 30% da cesta da Unidade Monetária Europeia, e porque o seu

Banco Central possuía um histórico anti-inflação admirável. Kaltenthaler (2005) aponta que

o BCE seguiu as diretrizes do Banco Central Alemão, mas que isso não foi feito por imposi-

14

ção alemã, e sim porque os responsáveis pelos Bancos Centrais de um grupo de países

viam que o modelo de política monetária alemão seria bom para o Banco conjunto que eles

almejavam.

Um governo que pode emitir sua própria moeda tem maiores meios de conseguir

cumprir seus compromissos. Ele tem a sua disposição a coleta da taxa de senhoriagem que

pode ser interpretada como um instrumento fiscal. A moeda supranacional tira a flexibilidade

de utilizar a emissão monetária como forma de responder a choques idiossincráticos (CO-

HEN, 1989). Como Helleiner (2003) destaca, a emissão da moeda nacional também pode

ser utilizada como uma forma de promover o nacionalismo. Seguindo essa linha, Feldstein

(2012) destaca que a criação da UME foi gerada por objetivos políticos, e não econômicos,

pois os países acreditavam que o uso de uma moeda comum entre eles promoveria, no pú-

blico, uma sensação maior de pertencimento à Comunidade.

Além disso, a implantação de uma moeda comum pode gerar benefícios como a

redução dos custos de informação e de transações, a diminuição do distanciamento entre

taxas de retorno sociais e privadas, a uma alocação de recursos mais eficiente e à queda no

impacto de choques desestabilizadores. No entanto, cabe destacar que tais benefícios só

poderão ser sentidos se a área monetária garantir condições de estabilidade interna em

termos de juros e inflação (COHEN, 1989).

Von Hagen e Fratianni (1990) buscam compreender se a Alemanha aceitava o pa-

pel de líder, caso, de fato, cumpria esse papel na década de 1990. Entre as razões aponta-

das pelos autores, para a Alemanha assumir os custos de liderar a zona monetária, estaria a

busca de maior integração financeira entre os membros. O marco alemão estava mais ex-

posto a ataques especulativos que se originavam no mercado de dólar do que outras moe-

das europeias. Sob taxas de câmbio fixas e mercados financeiros integrados, os fluxos de

capitais especulativos seriam melhor distribuídos na região. Para isso, os países de moeda

mais fraca precisariam colocar controles sobre capitais e trocas, o que seria de interesse

alemão na integração financeira europeia.

Ao avaliar a teoria de Cohen (2011) sobre o uso de moedas internacionais, pode-se

inferir que o euro, se tivesse sido criado sem a Alemanha, teria dificuldades em ganhar es-

paço na União Europeia, pela questão da inércia, que é a preexistência de uma rede de

transações já bem estabelecida, que conferia uma vantagem natural ao marco, por ter sur-

gido antes. Porém, com a substituição da moeda mais amplamente usada na Europa pelo

euro, ele já surgiu com muitos dos atributos necessários para o sucesso competitivo. Juntos,

os 11 países que constituíam a UME tinham um mercado conjuntamente quase tão grande

quanto o dos EUA e um considerável potencial para externalidades em rede. A UME tam-

bém já surgiu com estabilidade política inquestionável e baixa taxa de inflação, garantida

15

pelo BCE – autoridade monetária conjunta, que é plenamente comprometido a preservar a

confiança no valor futuro do euro (COHEN, 2011).

Como o BCE faz política baseando-se nas condições gerais de todos os países na

união monetária, as taxas de juros tornam-se muito baixas nos países que possuem salários

em rápido crescimento e muito altas nos países que enfrentam desemprego. Em função do

tamanho da economia alemã ser muito maior que o das outras, com exceção da França,

que fica em segundo lugar, o Banco dá maior peso às condições que ocorrem na Alemanha

(FELDSTEIN, 2012). Pode-se observar, por meio da tabela a seguir, a alta diferença nos

PIB’s dos países que compõem a zona monetária europeia.

Tabela 1 - PIB total dos países da zona do euro a preços correntes (em bilhões de dólares).

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da UNCTAD (2017).

*Dados em vermelho representam o ano de ingresso de cada país que não foi membro fundador na zona monetária europeia.

Pode-se visualizar pela tabela como o PIB de Alemanha, França, Itália, Espanha e

Holanda aumentou após a introdução do euro em 2001. No entanto, a parcela de vantagem

alemã relativa aos outros países continuou elevada, principalmente após a crise de 2008.

Em 2015, o PIB alemão era de US$ 3.296 bilhões, enquanto o da França, segundo maior

PIB da zona do euro, era de US$ 2.400 bilhões, seguida por Itália, que apresentava PIB no

valor de US$ 1.804 bilhões. O menor PIB da zona do euro é o de Malta, que, em 2015, re-

presentou apenas US$ 9,51 bilhões.

Segundo Feldstein (2012), o avanço da zona do euro em direção a uma área mone-

tária ótima, com a implementação da união orçamentária, só exacerbaria as tensões e os

conflitos que estão presentes dentro da Europa, em função da crise do euro. O autor consi-

1993 1999 2001 2002 2005 2007 2008 2009 2011 2014 2015

Alemanha 2068,48 2199,89 1950,63 2079,23 2861,34 3439,78 3752,50 3417,80 3757,70 3868,29 3296,01

França 1332,70 1503,09 1384,84 1503,27 2207,83 2668,84 2930,05 2699,12 2868,76 2836,25 2400,50

Itália 1061,79 1249,02 1162,77 1267,10 1853,47 2203,97 2391,96 2186,11 2278,23 2141,16 1804,18

Espanha 523,68 633,18 625,97 705,18 1157,25 1479,27 1635,05 1498,98 1488,02 1381,34 1185,82

Holanda 349,03 441,96 426,57 465,39 678,52 839,38 936,26 857,88 893,76 879,32 754,18

Bélgica 225,92 260,19 237,84 258,87 387,36 471,80 518,65 484,52 527,01 531,55 452,96

Áustria 189,91 216,72 196,95 212,98 314,64 386,44 427,63 397,57 429,04 436,89 371,76

Finlândia 89,25 135,22 129,25 139,56 204,43 255,37 283,75 251,48 273,67 272,22 228,33

Irlanda 52,47 98,69 109,08 127,94 211,38 269,70 274,72 235,37 241,80 250,81 225,37

Portugal 95,02 127,46 121,54 134,23 197,30 240,16 262,02 243,73 244,90 230,12 196,12

Grécia 108,81 149,15 136,19 153,84 247,78 318,48 354,47 329,98 287,80 235,57 193,06

Eslováquia 13,75 20,79 21,38 24,78 48,81 76,72 96,36 88,66 97,93 100,25 86,54

Luxemburgo 16,65 22,34 21,05 23,31 36,98 50,32 55,15 50,38 58,70 64,87 57,13

Eslovênia 13,21 22,69 20,88 23,56 36,34 48,11 55,59 50,24 51,29 49,49 42,34

Lituânia 6,90 10,97 12,25 14,28 26,14 39,73 47,90 37,44 43,51 48,39 40,70

Letônia 5,20 7,53 8,35 9,54 16,90 30,85 35,54 26,15 28,39 31,29 26,92

Estônia 4,16 5,73 6,25 7,32 14,00 22,23 24,17 19,66 23,17 26,49 22,27

Chipre 7,30 10,56 10,50 11,51 18,85 23,97 27,57 25,68 27,17 23,08 19,19

Malta 2,80 4,09 4,07 4,47 6,39 7,93 8,98 8,53 9,58 10,54 9,51

16

dera que a crise surgiu muito em função das discrepâncias de poder e assimetrias entre os

países.

A contribuição dos países da União Europeia ao orçamento do Banco Central Euro-

peu é dada em função de um cálculo que avalia a porcentagem da população e PIB de cada

país em relação à União Europeia. Tal parcela é ajustada a cada cinco anos ou quando al-

gum país ingressa na União Europeia. Mesmo os países não pertencentes à zona monetária

europeia ajudam a contribuir com tal orçamento. O Deustsche Bundesbank alemão é o ban-

co central que mais investe, sendo responsável por 17,9973% do orçamento do BCE, segui-

do pelo Banque de France francês (14,1792%), Bank of England inglês(13,6743%) e Banca

d’Italia italiano (12,3108%), os demais bancos centrais representam, cada um, menos de 9%

da porcentagem total do orçamento, tendo a maioria deles menos de 2% de participação

(BCE, 2015).

Para Varoufakis (2011), a formação do euro aprofundou a estagnação nos países já

deficitários e na França, e aumentou o superávit da Alemanha e outros países superavitários

da zona do euro. Segundo ele, isto permitiu que as corporações alemãs se internacionali-

zassem e que a Alemanha e os outros superavitários se tornassem, dentro da Europa, o

simulacro do que os Estados Unidos faziam mundialmente - posição que ele chama de mi-

notauro global. A tabela 2 e o gráfico 1 ilustram a afirmação de Varoufakis.

Tabela 2 - Saldo da conta corrente a preços correntes (em bilhões de dólares).

Fonte: Elaboração própria com base em dados da UNCTAD (2017). *Dados em vermelho representam o ano de ingresso de cada país que não foi membro fundador na zona monetária europeia.

Saldo da conta corrente a preços correntes (em bilhões de dólares)

1997 1999 2001 2002 2004 2006 2008 2009 2011 2014 2015

Alemanha -11,52 -31,31 -7,02 39,76 126,07 171,29 210,89 198,87 227,97 281,30 285,37

Grécia -4,86 -7,29 -9,40 -9,58 -13,48 -29,57 -51,31 -35,91 -28,58 -4,87 -0,12

Irlanda 1,87 0,24 -0,69 -1,10 -1,08 -7,86 -15,30 -5,00 2,83 15,24 10,56

Itália 32,28 8,11 -0,65 -9,37 -16,45 -47,83 -67,99 -41,40 -70,10 38,51 39,48

Letônia -0,35 -0,65 -0,50 -0,52 -1,68 -4,52 -4,48 2,15 -0,80 -0,63 -0,33

Lituânia -0,98 -1,19 -0,57 -0,72 -1,71 -3,19 -6,57 0,85 -1,68 1,68 -0,72

Luxemburgo 1,83 1,65 1,67 2,31 4,09 4,21 4,18 3,66 3,38 3,32 3,19

Malta -0,23 -0,13 -0,15 0,11 -0,23 -0,53 -0,08 -0,56 -0,23 0,37 0,96

Holanda 25,08 15,68 9,81 11,02 44,27 57,17 38,96 50,02 81,32 83,53 68,78

Portugal -6,63 -11,28 -12,67 -11,35 -15,81 -22,22 -31,95 -25,45 -14,78 0,21 0,90

Eslováquia -1,96 -1,16 -1,74 -1,95 -4,36 -5,45 -6,27 -3,02 -4,91 0,18 -1,12

Eslovênia 0,05 -0,70 0,03 0,24 -0,89 -0,70 -2,95 -0,28 0,10 3,45 3,13

Espanha -0,83 -20,87 -27,55 -26,26 -59,78 -113,75 -152,55 -63,72 -47,06 12,81 16,66

Áustria -5,10 -3,49 -1,51 5,46 6,07 11,06 19,33 10,32 6,79 3,23 9,62

Bélgica 13,84 20,07 7,90 11,61 11,43 7,55 -4,29 -5,24 -5,49 -1,19 -0,25

Chipre -0,42 -0,17 -0,32 -0,38 -0,83 -1,28 -4,22 -1,99 -1,05 -1,05 -0,71

Estônia -0,56 -0,29 -0,32 -0,78 -1,37 -2,59 -2,22 0,53 0,31 0,26 0,48

Finlândia 6,63 8,04 12,08 12,08 12,54 8,21 6,15 5,12 -4,90 -2,69 0,32

França 37,80 50,69 20,96 17,64 9,17 0,52 -28,18 -22,06 -29,49 -27,49 -4,80

17

Gráfico 1 - Saldo da conta corrente a preços correntes (em bilhões de dólares).

Fonte: Elaboração própria com base em dados da UNCTAD (2017).

O gráfico ilustra a comparação do saldo da conta corrente alemã com a média dos

países superavitários e deficitários de cada ano. Pode-se perceber que, até 2001, a Alema-

nha apresentava um déficit maior que a média dos países deficitários e, após a introdução

do euro, passa para a posição superavitária, cujo montante foi tornando-se a cada ano mai-

or.

A diferença do superávit corrente alemão e do holandês, que possui o segundo maior

superávit corrente da zona do euro, é expressiva, com a primeira apresentando, em 2015,

um superávit de US$ 285,3 bilhões e a segunda, de US$ 68,8 bilhões. A Espanha, mesmo

já conseguindo recuperar-se e apresentando, em 2015, um superávit de US$ 16,7 bilhões,

desde que adotou o euro, até a crise que irrompeu em 2008, apresentou um declínio acen-

tuado em sua Balança Comercial, chegando ao déficit de US$ 152,5 bilhões em 2008.

Para Feldstein (2012), a taxa de câmbio dos países deficitários se ajustaria com o

tempo se não fossem membros da zona monetária europeia. Ele considera que, mesmo se

a Alemanha formalizasse uma assistência financeira de longo prazo aos países deficitários,

os controles que ela possui de salários e rendas criariam sérias tensões entre eles.

Como destaca Beck (2015), a União Europeia surgiu como resultado da guerra co-

mo uma resposta, entre outras, ao Holocausto, e hoje é a ameaça da crise do euro que traz

aos indivíduos a consciência de que eles não vivem na França, Alemanha ou na Grécia,

mas sim, vivem na União Europeia. No entanto, os programas de austeridade e de recupe-

ração dos bancos trazem aos jovens uma nova perspectiva em relação a essa integração.

Cidadãos de um país pensam que é o outro país que os está prejudicando.

Beck (2015) define a política alemã para a zona do euro como Merkiavelismo. Ele

associa o comportamento da chanceler Ângela Merkel com a teoria de poder de Maquiavel e

-50

0

50

100

150

200

250

300

350

Alemanha Média dos superavitários Média dos deficitários

18

os componentes que resultam do Merkiavelismo tornam-se o cerne do poder da Alemanha

na Europa, sendo eles: a hesitação, não dizer sim nem não, a utilização disso como tática

para dominar, a busca do amor interno e temor externo e a imposição aos outros de suas

regras, definidas pela estabilidade. Segundo ele, tal estratégia não tem alcançado resulta-

dos satisfatórios. Segundo Feldstein (2012), mesmo com os benefícios que Grécia e outros

obtenham por serem membros da zona monetária, como o recebimento de transferências, o

preço que estão pagando em termos de desemprego e insatisfação social é muito alto.

A Alemanha já conseguiu obter poder, refletido por meio do aumento do seu supe-

rávit corrente, que lhe dá mais reservas e, assim, permite que tenha mais poder monetário e

representatividade internacional, que ganha ao mostrar-se à frente das decisões tomadas na

zona do euro. Isto é, beneficiou-se da extração de vantagem pela dependência monetária.

Agora, com a crise que atinge muitos países da União Europeia, sendo a Grécia o exemplo

mais alarmante, ela vem praticando imposição e a ameaça da expulsão. A chanceler alemã,

criticada por Varoufakis e Beck, deve atentar-se para que sua política de negar a ajuda e

impor condicionalidades muito rígidas para a concessão de empréstimos não se torne um

fardo maior do que a saída do bloco para os países em recessão. Como já assinalado, a

imposição e a expulsão são as práticas menos utilizadas de dependência monetária por

gerarem esse risco.

5. CONCLUSÃO

Pelo exposto, pode-se observar que o poder monetário é uma característica das

Relações Monetárias Internacionais e, como afirma Kirshner (1995), tornar-se-á cada vez

mais frequente em função da globalização e da ausência atual de grandes guerras mundi-

ais. O poder e o estadismo monetário são processos interligados, sendo o segundo apenas

a realização do primeiro de forma intencional. Enquanto o poder monetário pode ocorrer de

maneira automática, o estadismo é realizado por meio da estratégia explícita de algum país.

Essa síntese traz dúvida quanto ao comportamento alemão. Ainda há incertezas na

literatura sobre se a liderança alemã foi algo que surgiu naturalmente (poder monetário) ou

se foi parte de uma estratégia nacional alemã ou de seu Banco Central (estadismo). O que

se pode afirmar e destacar, é que ela parece utilizar-se da dependência monetária dos de-

mais países para obter poder, especialmente de três dos seus elementos: extração, imposi-

ção e expulsão. Resta a dúvida sobre se essa utilização é intencional ou espontânea

Considerando o argumento de Andrews (2006) de que o estadismo é utilizado para

isolar a política monetária doméstica das pressões externas e que uma maneira de alcançar

tal objetivo é tornando-se líder monetário regional e, assim, encorajar outros Estados a se

adaptarem a suas preferências políticas, pode-se inferir que a Alemanha pratica estadismo

19

monetário. É ousado, porém, assumir aqui o grau de intencionalidade com que ela buscou a

posição de liderança.

É possível rejeitar preliminarmente, entretanto, a hipótese apresentada, de que a

constituição do euro foi estratégia do Banco Central alemão para lograr benefícios políticos

e econômicos em função da vulnerabilidade monetária dos seus vizinhos. A hipótese não

pôde ser confirmada, pois, como apresentado, não foi a Alemanha que iniciou tal processo.

Cabe destacar, por outro lado, dada a literatura e os dados analisados, que ela é o país que

assumiu a liderança da zona monetária e, assim, o que mais obtém benefícios da mesma,

embora também tenha mais custos para mantê-la.

Apesar das críticas atuais em torno do euro, a adesão dos países a ele foi voluntá-

ria, assim como a sua possível desistência também será. Por enquanto, os países têm con-

siderado mais vantajoso aproveitarem-se da estabilidade das regras monetárias alemãs que

eles obtêm sendo membros do arranjo. Se a Alemanha, por sua vez, vier e explorar em de-

masia a imposição e a expulsão, tal cálculo de custos e benefícios pode alterar-se.

Com relação à substituição do Sistema Monetário Europeu pela União Monetária

Europeia, pode-se considerar que, mesmo não sendo da Alemanha a proposta de criar a

UME, ela beneficiou-se de tal arranjo por continuar impondo seus preceitos de política mo-

netária sem, explicitamente, amedrontar seus vizinhos, ao gerar neles uma sensação de

pertencimento e comando conjunto. Além disso, a Alemanha beneficiou-se da moeda única

no setor externo, pois, dado o expressivo volume de suas exportações, sua moeda tenderia

a apreciar-se, o que poderia diminuir o superávit do seu Balanço de Pagamentos. Possuindo

a mesma moeda que países deficitários, essa pressão ficou neutralizada.

REFERÊNCIAS

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