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Monografia direito ambiental

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  • UNIVERSIDADE COMUNITRIA DA REGIO DE CHAPEC - UNOCHAPECO REA DE CINCIAS HUMANAS E JURDICAS

    CURSO DE GRADUAO EM DIREITO

    VANDERLEIA BET

    INDENIZAO DA RESERVA LEGAL

    CHAPEC (SC), 2010

  • VANDERLEIA BET

    INDENIZAO DA RESERVA LEGAL

    Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Comunitria da Regio de Chapec, UNOCHAPEC, como requisito parcial obteno do ttulo de bacharel em Direito, sob a orientao da Prof. Dra. Silvana Terezinha Winckler.

    Chapec (SC), junho 2010.

  • UNIVERSIDADE COMUNITRIA DA REGIO DE CHAPEC - UNOCHAPEC REA DE CINCIAS HUMANAS E JURDICAS

    CURSO DE GRADUAO EM DIREITO

    INDENIZAO DA RESERVA LEGAL

    Vanderleia Bet

    ________________________________________

    Prof. Dra. Silvana Terezinha Winckler Professora Orientadora

    ________________________________________

    Prof. Me. Glaucio Wandre Vicentin Coordenador do Curso de Direito

    ________________________________________

    Prof. Me. Silvia Ozelame Rigo Moschetta Coordenadora Adjunta do Curso de Direito

    Chapec (SC), junho 2010.

  • VANDERLEIA BET

    INDENIZAO DA RESERVA LEGAL

    Monografia aprovada como requisito parcial para obteno do grau de BACHAREL EM DIREITO no Curso de Graduao em Direito da Universidade Comunitria da Regio de Chapec - UNOCHAPEC, com a seguinte Banca Examinadora:

    ________________________________________

    Dra. Silvana Winckler. Presidente

    ________________________________________

    Esp. Ricardo Adolfo Felk Membro

    ________________________________________

    Reginaldo Pereira Membro

    Chapec (SC), junho 2010.

  • AGRADECIMENTOS

    Acredito que todas as coisas contribuem para o bem e por isso agradeo a Deus, pela vida maravilhosa que tem me proporcionado, pela coragem em iniciar mais uma graduao, por todas as conquistas que me permitiu alcanar, dentre elas, concluir a Graduao em Direito.

    minha famlia, especialmente ao meu pai Romeu Bet e minha me Nelci Camatti Bet, pelos valores, pelo apoio, carinho, dedicao e incentivo transmitido do decorrer da minha vida.

    minha orientadora, professora Silvana Terezinha Winckler, por todo o seu conhecimento repassado, com pacincia, generosidade, cordialidade e sua dedicao em me orientar e mostrar a melhor maneira de desenvolver os estudos e atingir os objetivos almejados.

    Aos professores Carmelice Faito Balbinot Pavi, Helenice Braun e Reginaldo Pereira, orientadores metodolgicos, pelo empenho e dedicao dispensados do decorrer deste ltimo semestre.

    Com carinho, lembro ainda do apoio recebido de meus irmos, amigos, colegas de faculdade, trabalho e professores, pelo incentivo, amizade, pacincia e compreenso.

  • RESUMO

    INDENIZAO DA RESERVA LEGAL. Valderleia Bet.

    Silvana Terezinha Winckler (ORIENTADORA). (Universidade Comunitria Regional de Chapec UNOCHAPEC).

    (INTRODUO) Em decorrncia da conscientizao ambiental, encontram-se na sistemtica legal ambiental brasileira dispositivos que limitam o direito de propriedade em prol do meio ambiente, dentre eles, o que impe, no caso do proprietrio rural, a conservao de um percentual do imvel como reserva legal florestal. O presente trabalho tem como tema a Indenizao da Reserva Legal, pois a legislao omissa sobre o nus da implantao e da conservao desta, ficando nica e exclusivamente sob a responsabilidade do proprietrio que no tem mais o direito de usar e gozar do imvel em sua plenitude. (OBJETIVOS) Tm-se como objetivos desta pesquisa: Verificar quais so os fundamentos legais para a indenizao da reserva legal; definir reserva legal florestal; verificar a importncia ecolgica da reserva legal; abordar a previso legal para compensao da reserva legal; analisar como foi tratado o tema da reserva legal no novo Cdigo Ambiental Catarinense e analisar os problemas suscitados pela exigncia de cumprimento da legislao ambiental quanto reserva legal no estado de Santa Catarina e, mais especificamente, na regio oeste. (EIXO TEMTICO) Esta pesquisa vincula-se ao eixo temtico do Curso de Direito da Universidade Comunitria da Regio de Chapec - Unochapec, denominado de Realidade Fundiria Brasileira e Garantias. (METODOLOGIA) A metodologia empregada baseou-se na pesquisa bibliogrfica, consistindo na anlise de legislao, doutrinas, artigos jurdicos, pesquisas em site da internet e jurisprudncias. (CONCLUSO) Este estudo propiciou aprimorar os conhecimentos principalmente na questo da legislao ambiental, respectivamente sobre a reserva legal florestal, tambm pudemos observar as grandes discusses que vm ocorrendo sobre a alterao do Cdigo Florestal Federal e a criao do Cdigo Estadual Ambiental de Santa Catarina. Verificam-se as dificuldades na aplicao da legislao federal quanto reserva legal, em funo dos proprietrios rurais da regio oeste de Santa Catarina possurem pequenas propriedades rurais e terem que utilizar esta rea de 20% (vinte por cento) da propriedade para garantir a subsistncia da famlia. Existem vrias divergncias doutrinrias quanto possibilidade de indenizao da reserva legal florestal, alguns autores so favorveis, enquanto outros so contrrios. O Cdigo Federal no prev em seus dispositivos legais a indenizao das reas de reserva legal. Para que seja amenizado o impacto da instituio da reserva legal nas propriedades rurais, necessrio que sejam adotadas medidas financeiras que visem a compensar o proprietrio atravs de pagamento ou compensao por servios ambientais. Como os efeitos desses servios so usufrudos por todos, justo que as pessoas por ele responsveis recebam incentivos. PALAVRAS-CHAVES: Reserva legal. Propriedade. Indenizao.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    APP - reas de Preservao Permanente

    ART - Artigo

    CNA - Confederao Nacional da Agricultura e Pecuria

    CC Cdigo Civil

    CRF - Cota de Reserva Florestal

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

    EC Emenda Constitucional

    FATMA Fundao do Meio Ambiente

    FNMC - Fundo Nacional sobre Mudana do Clima

    LAC Levantamento Agropecurio Catarinense

    PL Projeto de Lei

    RL Reserva Legal

    RPPN - Reserva Particular do Patrimnio Natural

    RSA Remunerao pelos Servios Ambientais

    TAC - Termo de Ajustamento de Conduta

    ZEE - Zoneamento Econmico Ecolgico

  • SUMRIO

    INTRODUO........................................................................................................................10 CAPTULO I ............................................................................................................................13 1 RESERVA LEGAL FLORESTAL .......................................................................................13

    1.1 Histrico da reserva legal ...................................................................................................15 1.2 Tratamento dado pelo Cdigo Florestal de 1965 com as modificaes introduzidas pela Lei 7.803/89 e pela Medida Provisria 1956-50 de 2000 e, em seguida, pela Medida Provisria n. 2.166/67 de 2001.................................................................................................18 1.3 Debates em torno do Projeto da Lei 5367/09, que prope a edio de um Cdigo Ambiental Brasileiro ................................................................................................................24 1.4 Debates sobre a reforma do Cdigo Florestal Brasileiro....................................................32 1.5 Importncia ecolgica da reserva legal para a manuteno dos ecossistemas ...................35 CAPTULO II...........................................................................................................................39 2 DIREITO DE PROPRIEDADE ............................................................................................39 2.1 Breve histrico da evoluo do direito de propriedade ......................................................39 2.2 Direito de propriedade, propriedade e seus fundamentos...................................................43 2.3 Princpio do direito de propriedade ....................................................................................45 2.4 Funo social da propriedade .............................................................................................47 2.5 Funo socioambiental da propriedade ..............................................................................51 2.6 Problemas suscitados pela exigncia do cumprimento da legislao ambiental quanto Reserva Legal no estado de Santa Catarina e, mais especificamente, na regio oeste.............52 CAPTULO III .........................................................................................................................56 3 INDENIZAO DA RESERVA LEGAL............................................................................56 3.1 Fundamentos da indenizao da Reserva Legal .................................................................58 3.2 Previso para compensao da Reserva Legal ...................................................................67

  • 3.2.1 Servido Florestal ............................................................................................................70 3.2.2 Cota de reserva florestal ..................................................................................................71 3.3 Tratamento dado ao Tema da Reserva Legal no Cdigo Estadual do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina ..........................................................................................................72 CONCLUSO..........................................................................................................................77 REFERNCIAS .......................................................................................................................84 APNDICES ............................................................................................................................90

  • INTRODUO

    Em vista do aumento da conscientizao ambiental, na sistemtica legal ambiental brasileira, encontram-se dispositivos que limitam o direito de propriedade em prol do meio ambiente, entre eles, o que impe, no caso do proprietrio rural, a conservao de um percentual do imvel como reserva legal florestal.

    A questo polmica e vem causando grandes divergncias entre ambientalistas e proprietrios de terras. De acordo com o texto legal, todo proprietrio de terras deve preservar 20% (vinte por cento) da rea de sua propriedade e registrar esta disposio margem da matrcula no Cartrio de Registro de Imveis da Comarca. Nem a terra averbada, que a partir de ento no pode mais ser utilizada para atividades produtivas, nem mesmo o custo da averbao sero indenizados.

    A Reserva Legal tem como funo prover o uso sustentvel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural, conservar e reabilitar os processos ecolgicos, a biodiversidade e servir de abrigo e proteo da fauna e flora nativas. Alm disso, visa a manter uma parcela de cada propriedade rural como reserva florestal, para propiciar uma reserva de diversidade florestal e possibilitar a regenerao de espcies, conservando, assim, parte dos recursos naturais existentes.

    Este trabalho tem como tema central a indenizao da reserva legal. Verifica-se a necessidade de aprofundar o debate sobre a indenizao da reserva legal, pois a legislao omissa acerca do nus da implantao e da conservao desta rea rural, restando ao proprietrio uma limitao no seu direito de usar e gozar do imvel em sua plenitude.

    Outro fator que gera ampla discusso so as reas que esto degradadas, pois caber

  • ao proprietrio rural o nus e o compromisso de sua recomposio.

    Prev ainda a Lei que, uma vez instituda a reserva legal e averbada no Cartrio de Registro de Imveis, no poder mais ser alterada sua destinao nos casos de transmisso, a qualquer ttulo, ou de desmembramento da rea.

    A importncia do presente tema se justifica pelo fato de a economia da regio oeste de Santa Catarina estar baseada na criao de animais (suinocultura, avicultura e bovinocultura), plantio e colheita de gros em propriedades de dimenses que no superam, em mdia, 50 ha (hectares). Predominam, na realidade, unidades de produo com at 20 ha. A regio oeste tem topografia irregular, motivo pelo qual as reas agricultveis no so muitas.

    Como o xodo rural na regio oeste de Santa Catarina tem crescido de forma acentuada nos ltimos anos, a obrigatoriedade de averbar, em prazo definido por Decreto do Poder Executivo, a reserva legal poder ocasionar o aumento de evaso da propriedade rural, gerando srios problemas econmicos e sociais.

    O objetivo geral deste estudo verificar quais so os fundamentos legais para a indenizao da reserva legal, pois a obrigatoriedade da criao da reserva legal florestal produz efeitos econmicos, financeiros e patrimoniais, sendo de responsabilidade dos proprietrios de imveis rurais a obrigao de fazer e arcar com as despesas da constituio e do reflorestamento da reserva legal, e tambm com o custo da fiscalizao, sujeitando-se s penalidades por eventuais danos que a rea sofrer, inclusive por ao de terceiros, j que a responsabilidade ambiental, na maioria dos casos, objetiva, independente da participao culposa do proprietrio.

    Os objetivos especficos deste estudo visam a definir reserva legal florestal; verificar a importncia ecolgica da reserva legal; abordar a previso para compensao da reserva legal; abordar como foi tratado o tema da reserva legal no novo Cdigo Ambiental Catarinense e analisar os problemas suscitados pela exigncia de cumprimento da legislao ambiental quanto reserva legal no Estado de Santa Catarina e, mais especificamente, na regio oeste. Para atingir os objetivos propostos adotou-se a pesquisa bibliogrfica e o mtodo dedutivo.

    A pesquisa foi dividida em trs captulos. O primeiro captulo versa sobre a reserva legal, seu conceito, fundamentao e evoluo histrica. Elenca tambm como foi tratado o instituto da reserva legal florestal no Cdigo Florestal, Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965,

  • com as alteraes trazidas pela Medida Provisria n. 2.166 de 1967. Aborda o Projeto de Lei n. 5.367/09, que prope a edio de um Cdigo Ambiental brasileiro e revoga o Cdigo Florestal. , ainda, objeto de discusso a proposta de alterao do Cdigo Florestal Brasileiro, bem como a importncia ecolgica da reserva legal para conservar e reabilitar os processos ecolgicos, a biodiversidade e servir de abrigo e proteo da fauna e flora nativa e as exticas j adaptadas tambm.

    No segundo captulo, estuda-se o direito de propriedade, alguns aspectos da evoluo histrica da propriedade, seu conceito, fundamentao, neste versado tambm sobre o princpio da garantia do direito de propriedade. Trata-se, ainda, da funo social e a funo socioambiental da propriedade. E, por ltimo, faz-se uma abordagem dos possveis problemas suscitados pela exigncia do cumprimento da legislao ambiental quanto reserva legal no estado de Santa Catarina e, mais especificamente, na regio oeste.

    Finalmente, no terceiro captulo, verificam-se os fundamentos da indenizao da reserva legal florestal. Ser, ainda, objeto de anlise a previso para compensao da reserva legal. Por fim, analisado como foi tratado o tema da reserva legal no novo Cdigo Ambiental Catarinense.

    Esta pesquisa vincula-se ao eixo temtico do curso de Direito da Universidade Comunitria da Regio de Chapec Unochapec, denominado de: Realidade Fundiria Brasileira e Garantias.

  • CAPTULO I

    1 RESERVA LEGAL FLORESTAL

    Este primeiro captulo versa sobre a reserva legal, seu conceito, fundamentao, e a evoluo histrica. Elenca tambm como foi tratado o instituto da reserva legal florestal no Cdigo Florestal, Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, com as alteraes trazidas pela Medida Provisria n. 2.166 de 1967. Aborda o Projeto de Lei n. 5.367/09, que prope a edio de um Cdigo Ambiental brasileiro e revoga o Cdigo Florestal. , ainda, objeto de discusso a proposta de alterao do Cdigo Florestal Brasileiro, bem como a importncia ecolgica da reserva legal para conservar e reabilitar os processos ecolgicos, a biodiversidade e servir de abrigo e proteo da fauna e flora nativa e as exticas j adaptadas.

    O Brasil possui uma biodiversidade extraordinria, dimenses continentais e uma enorme responsabilidade com a gesto adequada e sustentvel dos seus recursos naturais.

    Schaffer e Medeiros (2009) elencam que, antes mesmo da Constituio de 1988, foram estabelecidas normas legais criando restries administrativas ao direito de propriedade, visando a resguardar o interesse maior da coletividade, o direito difuso da populao de conviver num ambiente ecologicamente equilibrado. O Cdigo Florestal, ao criar as figuras das reas de Preservao Permanente (APP) e reserva legal (RL), demonstra sua importncia para a garantia de um desenvolvimento equilibrado e sustentvel para a nao brasileira.

    Os autores destacam ainda que a rea de Preservao Permanente (APP) aquela rea protegida nos termos dos art. 2 e 3 da Lei Federal n. 4.771/1965, conhecida como Novo

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    Cdigo Florestal. O conceito legal de APP relaciona tais reas, independente da cobertura vegetal, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas. Como se v, as APPS no tm apenas a funo de preservar a vegetao ou a biodiversidade, mas uma funo ambiental muito mais abrangente, voltada, em ltima instncia, a proteger espaos de relevante importncia para a conservao da qualidade ambiental e, assim, tambm garantir o bem-estar das populaes humanas.

    A reserva legal florestal, segundo Santos (2005), consiste em um instrumento legal que tem por objetivos: o uso sustentvel dos recursos naturais; a conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, a conservao da biodiversidade e o abrigo e proteo da fauna e flora, e, para conseguir assegurar o cumprimento do objetivo aclarado, impe ao proprietrio rural a obrigao de manter em sua propriedade, ou fora dela, nos regimes de servido, compensao e cotas, uma rea destinada a esta finalidade.

    A Reserva Legal Florestal decorre de normas legais que limitam o direito de propriedade, da mesma forma que as florestas e demais formas de vegetao permanente, previstas tambm no Cdigo Florestal. Diferenciam-se no que concerne ao domnio, pois a Reserva Legal Florestal somente incide sobre o domnio privado, sendo que as reas de Preservao Permanente APPS incidem sobre o domnio privado e domnio pblico (MACHADO, 2007, p. 756).

    Para Machado (2007, p. 755) A Reserva Legal Florestal tem sua razo de ser na virtude da prudncia que deve conduzir o Brasil a ter um estoque vegetal para conservar a biodiversidade.

    Reserva Legal Florestal a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente, necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo da fauna e flora nativas (MACHADO, 2007, p. 755).

    Fica claro no conceito de reserva legal que o objetivo desta manter uma parcela de cada propriedade rural como reserva florestal para propiciar uma reserva de diversidade florestal e garantir o equilbrio ecolgico, possibilitar a regenerao de espcies, servindo de habitat de espcies da fauna e flora, conservando, assim, parte dos recursos naturais existentes.

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    1.1 Histrico da reserva legal

    Santos (2005) discorre que a tutela dos recursos naturais, sobretudo os florestais, mereceu destaque no ordenamento jurdico nacional desde o seu surgimento, quando ainda estvamos subordinados ao arcabouo jurdico de Portugal e suas Ordenaes Reais.

    Ainda na vigncia das Organizaes Manuelinas, do ento Senhor Rey Dom Manuel, j podiam ser observadas restries ao uso de determinados recursos madeireiros. Neste sentido, no ano de 1548 o uso do pau-brasil passou a ser de exclusividade da coroa, tendo sido criado, posteriormente, no ano de 1605, o Regimento do Pau-Brasil. Em 1757, foi determinado como sendo de propriedade real as reas localizadas numa rea dentro da faixa de 10 lguas na costa e rios.

    Estimulada pelo fator necessidade, a Coroa, no ano de 1795, expede Cartas Rgias declarando ser de sua propriedade toda madeira destinada construo de suas embarcaes. Esses recursos estavam se tornando escassos e a hegemonia da frota naval portuguesa estava em risco. Essas madeiras passaram a ser denominadas como madeira de lei. Entre as espcies selecionadas estavam o ararib, o vinhtico e a sucupira.

    Dutra (2009, p. 15) aborda o tema narrando que quando o Brasil passou ao domnio espanhol, a partir de 1850, sob o comando do Rei Filipe II, foram editadas as ordenaes Filipinas, obrigatrias no Reino e nas Colnias Portuguesas.

    Nas Ordenaes Filipinas encontrado o conceito de poluio, sendo vedado a qualquer pessoa jogar material que pudesse matar os peixes e sua criao ou sujar as guas dos rios e das lagoas. O corte de rvores de fruto continua proibido, sendo que a pena prevista o degredo definitivo para o Brasil.

    Nas Ordenaes Filipinas que foi dada especial proteo aos animais que fossem mortos por malcia, punindo essa prtica com a pena de degredo definitivo para o Brasil. A pesca, com determinados instrumentos e em certos locais e pocas estipuladas, era proibida pelo documento, o que tambm est previsto na Lei 9.605/98, vigente no Brasil atualmente.

    Com o advento do Cdigo Civil Brasileiro, promulgado em 1 de janeiro de 1916, em

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    vigor a partir de 1 de janeiro de 1917, comea a aflorar a preocupao com o meio ambiente.

    O Cdigo Civil Brasileiro [...] se constitui no primeiro diploma legal genuinamente tupiniquim com preocupaes ecolgicas mais acentuadas [...] O primeiro passo encetado pelo legislador brasileiro para a tutela jurdica do meio ambiente coincide, portanto, com a edio do Cdigo Civil de 1916, que elencou vrias normas de colorido ecolgico destinadas proteo de direitos privados na composio de conflitos de vizinhana. (MILAR, 2000, p. 80) .

    Dean (1996, p. 151) relata que a iniciativa de criao de um Cdigo Florestal s surgiu por volta de 1920, quando o presidente Epitcio Pessoa formou uma subcomisso para elaborar o anteprojeto do Cdigo Florestal. Em 1934, por fim, o projeto foi transformado no Decreto n. 23.793, que, com o passar do tempo, ficou conhecido como o Cdigo Florestal de 1934. Dentre as inmeras inovaes que este Cdigo trouxe, a mais ousada foi a que criou o limite do direito de uso da propriedade, a chamada quarta parte, ou seja, a reserva obrigatria de vinte e cinco por cento de vegetao nativa de cada propriedade rural. Desde o incio, essa medida foi considerada pelos fazendeiros e madeireiros como um sacrifcio ao direito de propriedade e uma restrio grave ao uso economicamente vivel do imvel rural.

    A obrigatoriedade de se reservar 1/4 [um quarto] da rea do imvel encontra-se no art. 23 do Cdigo Florestal de 1934, segundo o qual nenhum proprietrio de terras cobertas de matas poder abater mais de trs quartas partes da vegetao existente. Essa obrigao permaneceu em vigor at a edio do novo Cdigo Florestal, institudo pela Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965, que estabeleceu a obrigatoriedade de se preservar 20% da rea da propriedade com cobertura arbrea (art. 16). Foi criado um percentual diferente para a Regio Norte: 50% (art. 44).

    Como avano na proteo de nossas reservas florestais, foi editado o Cdigo Florestal de 1965, na redao original determinada pela Lei 4.771, de 15.09.1965, cuja justificativa para a sua edio afirmava: O anteprojeto de lei [...] constitui mais uma tentativa visando a encontrar uma soluo adequada para o problema florestal brasileiro, cujo progressivo agravamento est a exigir a adoo de medidas capazes de evitar a devastao das nossas reservas florestais, que ameaam transformar vastas reas do territrio em verdadeiros desertos. (MILAR, 2007, p. 700).

    Destarte, instituindo limitaes ou restries ao exerccio do direito de propriedade, o Cdigo de 1965 estabeleceu, pelo s efeito da lei, as reas de preservao permanente e determinou a instituio de uma reserva em parte do solo de imvel rural para fins de conservao de cobertura florestal.

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    Com a Carta de 1988, passa-se a dar maior relevncia ao meio ambiente: ele tratado da forma mais ampla possvel, sem perder de vista os elementos que o compem e a interao existente entre eles. o que ocorre com a floresta e a biodiversidade com ela relacionada, assim como a estreita relao entre a floresta e os recursos hdricos, todos esses bens tutelados, como elementos indissociveis, pelo art. 225, entre outros dispositivos constitucionais. (MILAR, 2007, p. 700).

    Conforme Santos (2005), a denominao de reserva legal veio a partir da Lei 7.803, de 18 de julho de 1989, que introduziu, tambm, a exigncia de averbao ou registro da reserva legal margem da inscrio da matrcula do imvel, sendo vedada a alterao de sua destinao, nos casos de transmisso, a qualquer ttulo, ou desmembramento da rea (Art. 16 2)1.

    Em 1991, a Lei 8.171 estabelece, em seu art. 99, a obrigao da recomposio da Reserva Legal, num percentual de 1/30 a cada ano.

    No ano de 1998, o citado artigo 99 revogado pela Medida Provisria de n. 1.736/98, sendo ento revogada a obrigao da recomposio. Ainda no ano de 1998, passa a ser autorizado o cmputo da APP como Reserva Legal (1.736-31) pela incluso do 4 no art. 16.

    A partir do ano de 2000, por meio de uma Medida Provisria de n 1.956-50, desaparece a revogao do art. 99, ficando, portanto, restabelecida a obrigatoriedade da recomposio. O cmputo de reas de preservao permanente para formao do percentual de Reserva Legal, com a nova redao do art. 16, fica restrito s reas em que a soma da APP e da Reserva Legal corresponderem a 50% do imvel. Surge, ainda, a reserva em condomnio, prevista no 11 do citado art. 16, instituto a ser regulamentado.

    Dutra (2009, p. 19) destaca que, com a edio do Decreto n 6.514, de 22 de julho de 2008, alterado pelo Decreto n. 6.686, de 11 de dezembro de 2008, o propsito do Governo Federal foi de apenas exigir o cumprimento da Lei 4.771, de 05 de setembro de 1965, que instituiu o Cdigo Florestal, o qual, a partir da alterao introduzida pela Medida Provisria n 2.166/67, passou a considerar Reserva Legal a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente, necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo da fauna e flora nativas.

    1 Art. 16, [...] 2 A reserva legal, assim entendida a rea de, no mnimo, 20% (vinte por cento) de cada propriedade, onde no permitido o corte raso, dever ser averbada margem da inscrio de matrcula do imvel, no registro de imveis competente, sendo vedada, a alterao de sua destinao, nos casos de transmisso, a qualquer ttulo, ou de desmembramento da rea.

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    Desde sua edio em 1965, o Cdigo Florestal vem sofrendo inmeras alteraes, por meio de leis e medidas provisrias, que demonstram a dificuldade do legislador de conciliar os interesses dos diversos atores envolvidos no assunto.

    1.2 Tratamento dado pelo Cdigo Florestal de 1965 com as modificaes introduzidas pela Lei 7.803/89 e pela Medida Provisria 1956-50 de 2000 e, em seguida, pela Medida Provisria n. 2.166/67 de 2001

    O conceito de reserva legal, hoje vigente no ordenamento jurdico brasileiro, matria disciplinada pelo Cdigo Florestal Lei 4.771/65, com as modificaes que lhe foram feitas, num primeiro momento pela Lei 7.803/89 e, depois pela Medida Provisria 1956-50, de 26 de maio de 2000 e, em seguida, pela Medida Provisria 2.166/67, de 24 de agosto de 2001, em vigor por fora da Emenda Constitucional 32/2001.

    do inciso III, 2, art. 1, Lei 4.771/65, que se extrai o conceito de Reserva Legal:

    [...] rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente, necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e flora nativas.

    A classificao da vegetao (floresta, cerrado, campos gerais e demais formas de vegetao) e, ainda, a sensibilidade ecolgica da regio (Amaznia Legal e demais regies do pas) onde se situa a propriedade so fatores considerados para a fixao do percentual do imvel rural a ser constitudo e mantido como Reserva Florestal Legal.

    Machado (2007, p. 755-756) observa que a legislao federal, nos termos do artigo 16, prev quatro tipos de Reserva Florestal Legal: o primeiro, na Amaznia Legal; o segundo, na rea de cerrados; o terceiro, na rea de campos gerais; e o quarto, nas outras reas do pas:

    I- 80 %, na propriedade rural situada em rea de floresta localizada na Amaznia Legal; II- 35%, na propriedade rural situada em rea de cerrado localizada na Amaznia Legal, sendo no mnimo 20% da propriedade e 15% na forma de compensao em outra rea, desde que esteja localizada na mesma micro bacia e seja averbada; III- 20%, na propriedade rural em rea de campos gerais localizada em qualquer regio do Pas; IV- 20%, na propriedade rural situada em rea de floresta ou outras formas de vegetao nativa localizada nas demais regies do Pas.

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    Ao contrrio da APP, que ocorre indistintamente em rea urbana ou rural, pois a sua referncia a localizao definida em lei, a Reserva Legal incide unicamente sobre as propriedades localizadas em rea rural.

    A norma menciona que a reserva legal localiza-se no interior de uma propriedade ou posse rural, sem expressar-se claramente quanto possibilidade de tal limitao incidir sobre reas de domnio pblico.

    A reserva legal constitui restrio parcial modificabilidade da propriedade e tambm restrio faculdade de sua fruio, j que o proprietrio no pode dar ao imvel o uso que bem entender.

    Em suma, a Reserva Florestal Legal uma limitao inerente ao atendimento da funo social no exerccio do direito da propriedade rural, independentemente da vegetao ali existente (natural, primitiva, regenerada ou plantada) ou do fato de essa vegetao ter sido substituda por outro uso do solo. Essa a inteno do Cdigo Florestal de 1965, que ainda persiste. (MILAR, 2007, p. 702).

    A lei visou dar um carter de relativa permanncia rea florestada do pas. A lei federal determina a imutabilidade da destinao da Reserva Florestal Legal de domnio privado, por vontade do proprietrio. Nos casos de transmisso por compra e venda como, tambm, por acesso, usucapio e pelo direito hereditrio, a rea da Reserva, a partir da promulgao da Lei 7.803/89, continua com os novos proprietrios, numa cadeia infinita. O proprietrio pode mudar, mas no muda a destinao da rea da Reserva Legal Florestal. Consoante o disposto no art. 16, 8 2, do Cdigo Florestal, a rea de reserva legal deve ser averbada margem da inscrio de matrcula do imvel no Cartrio de Registro de Imveis, sendo vedada a alterao de sua destinao a qualquer ttulo, ou de desmembramento da rea.

    Uma vez averbada a reserva legal margem da Matrcula do Registro Imobilirio, o proprietrio rural formaliza a criao da reserva legal, assumindo uma obrigao de fazer, ou seja, de constituir a reserva florestal, suportando o custo do reflorestamento, o custo da fiscalizao e da preservao da rea, ficando, inclusive, sujeito s severas sanes da legislao ambiental, sem nada receber em contrapartida.

    2 Art.16, 8o A rea de reserva legal deve ser averbada margem da inscrio de matrcula do imvel, no registro de imveis competente, sendo vedada a alterao de sua destinao, nos casos de transmisso, a qualquer ttulo, de desmembramento ou de retificao da rea, com as excees previstas neste Cdigo. (Includo pela Medida Provisria n. 2.166-67, de 2001)

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    Antunes (2001, p. 120) destaca que:

    [...] a reserva legal uma obrigao que recai diretamente sobre o proprietrio do imvel, independentemente de sua pessoa ou da forma pela qual tenha adquirido a propriedade; desta forma ela est umbilicalmente ligada prpria coisa, permanecendo aderida ao bem, equiparando a Reserva Legal a uma obrigao propter rem, nus real que recai sobre o imvel e que obriga, em qualquer circunstncia, ao seu proprietrio e a todos que o sucedem em tal condio. (Grifo do autor).

    A localizao e delimitao da rea destinada Reserva Legal proposta pelo proprietrio ou posseiro. Dispe o art. 16 43 que a localizao da reserva legal deve ser aprovada pelo rgo ambiental estadual competente, que considerar, em primeiro lugar, a funo social, que se cumpre quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critrios e graus de exigncia estabelecidos em lei, aos requisitos previstos no art. 186 da CF/88.

    Destaca Granziera (2009, p. 357) que a funo ambiental da Reserva Legal deve ser otimizada, devendo localizar-se nas proximidades ou em contiguidade com outros espaos protegidos, com vistas a garantir a transferncia de genes entre as populaes da mesma espcie.

    Em sntese, Santos (2005) observa que a reserva legal foi recebida pelos proprietrios rurais como um sacrifcio ao seu direito de propriedade e tem suscitado uma srie de debates influenciados pelo posicionamento inflexvel de proprietrios rurais e de ambientalistas.

    O art. 55 do Decreto n. 6.514/08, alterado pelo Decreto n. 6.686/08, consiste em uma inovao, na medida em que responsabiliza administrativamente o proprietrio de rea rural, que ainda no regularizou a situao relativa reserva legal, constituindo infrao administrativa deixar de averbar a reserva legal. A multa prevista para o ilcito de R$ 50,00 a R$ 500,00.

    Nos termos do 1 do art. 55, alterado pelo art. 15, do Decreto 7.029/2009, o autuado ter cento e oitenta dias para apresentar o termo de compromisso de regularizao da reserva

    3 Art. 16, 4 A localizao da reserva legal deve ser aprovada pelo rgo ambiental estadual competente ou, mediante convnio, pelo rgo ambiental municipal ou outra instituio devidamente habilitada, devendo ser considerados, no processo de aprovao, a funo social da propriedade, e os seguintes critrios e instrumentos, quando houver: I-o plano de bacia hidrogrfica; II-o plano diretor municipal; III-o zoneamento ecolgico-econmico; IV-outras categorias de zoneamento ambiental; e V-a proximidade com outra Reserva Legal, rea de Preservao Permanente, unidade de conservao ou outra rea legalmente protegida. (Includo pela Medida Provisria n. 2.166-67, de 2001)

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    legal, ficando suspensa a multa nesse perodo, de acordo com o disposto no 2, do Decreto 6.686, de 2008. O descumprimento dessa norma acarretar ao infrator a cobrana de multa desde a data da lavratura do auto, o que determina o 3, do Decreto 6.686, de 2008. Alm disso, se o descumprimento for imputvel exclusivamente ao rgo ambiental, por no definir a averbao de reserva legal ou a recomposio, regenerao ou compensao da rea no prazo, no se aplicam as sanes previstas no dispositivo, conforme determina o 4 do referido Decreto 6.686, de 2008.

    Releva mencionar que a entrada em vigor desse dispositivo ficou, de antemo, estendido para 11 de dezembro de 2009.4

    O diploma legal, em seu artigo 16, 9, determina que a averbao da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar gratuita, devendo o Poder Pblico prestar apoio tcnico e jurdico, quando isso se fizer necessrio.

    Nas reas de posse, em que no h como averbar a Reserva Legal na matrcula do imvel, a MP n. 2.166-67/01 prev a celebrao de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), celebrado entre possuidor e o rgo ambiental estadual ou federal competente. Ao TAC, cujo contedo mnimo consiste na localizao da Reserva Legal, a descrio de suas caractersticas ecolgicas bsicas e a proibio de supresso de sua vegetao, deu-se fora de ttulo executivo.

    De acordo com o jurista e atual Ministro do Superior Tribunal de Justia, Antonio Hermann Benjamim (apud SCHAFFER; MEDEIROS, 2009) a Reserva Legal admite o uso econmico sustentvel, atravs do regime de manejo sustentvel, sem permitir a supresso total da vegetao. Para a Reserva Legal, esto previstas no Cdigo Florestal diferentes alternativas para recuperao ou compensao nos casos daqueles imveis que no possuem mais cobertura vegetal nos percentuais determinados. Tratam-se de dois instrumentos complementares (APP e RL), os quais so fundamentais, sendo, portanto, de interesse pblico e estratgico para as polticas nacionais de proteo dos recursos hdricos, da biodiversidade, da mitigao dos efeitos das mudanas climticas e para a garantia do bem-estar das populaes humanas.

    Prescreve a legislao florestal federal que, para cumprir ou manter o percentual

    4 Foi publicado no Dirio Oficial da Unio (DOU), do dia 11 de dezembro, o novo decreto n 7.029, de 10 de dezembro de 2009, que prorroga para 11 de junho de 2011, o prazo para averbao da reserva legal.

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    necessrio da Reserva Legal em pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de rvores frutferas, ornamentais ou industriais, compostos por espcies exticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consrcio com espcies nativas.

    A rea destinada Reserva Legal no fica alijada da propriedade, na medida em que possvel implantar usos compatveis com a proteo. Alm do manejo florestal sustentvel, a apicultura e o ecoturismo so atividades econmicas, entre outras, compatveis com a proteo. O que se probe a supresso da cobertura vegetal, sem o que no se cumpre a funo ambiental da Reserva Legal (GRANZIERA, 2009, p. 356).

    O mesmo cdigo em seu art. 16 115, tambm possibilitou a instituio de Reserva Legal em regime de condomnio entre mais de uma propriedade. O condomnio uma instituio do Direito Civil, regido pelo Cdigo Civil, e consiste na propriedade comum de um imvel, por mais de uma pessoa. Sendo proibido alterar a destinao da Reserva Legal, nos casos de transmisso, a qualquer ttulo, de desmembramento ou de retificao da rea, a rea de Reserva Legal do imvel original pode permanecer em sistema de condomnio.

    possvel compensar a Reserva Legal por outras reas localizadas alm dos limites da propriedade, desde que pertenam aos mesmos ecossistemas, estejam localizadas dentro do mesmo estado e sejam de importncia ecolgica igual ou superior da rea compensada, devendo tal compensao ser submetida aprovao pelo rgo ambiental estadual competente.

    O Cdigo Florestal em seu Art. 16 6 6 possibilitou a soma das reas relativas vegetao nativa existente em rea de preservao permanente no clculo do percentual de Reserva Legal.

    A legislao permitiu a soma da rea de preservao permanente, para compor a de Reserva Legal, desde que no implique em explorao de novas reas com culturas, ou fim diverso preservao.

    5 Art. 16, 11 [...] Poder ser instituda reserva legal em regime de condomnio entre mais de uma propriedade, respeitado o percentual legal em relao a cada imvel, mediante a aprovao do rgo ambiental estadual competente e as devidas averbaes referentes a todos os imveis envolvidos.

    6 Art. 16, 6 [...]Ser admitido, pelo rgo ambiental competente, o cmputo das reas relativas vegetao nativa existente em rea de preservao permanente no clculo do percentual de reserva legal, desde que no implique em converso de novas reas para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetao nativa em rea de preservao permanente e reserva legal exceder a: I-oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amaznia Legal; II-cinqenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regies do Pas; e III-vinte e cinco por cento da pequena propriedade, ou seja, cinqenta hectares no polgono das secas e trinta hectares em qualquer regio do Pas.

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    Existem propriedades rurais que possuem rea de floresta nativa inferior ao estabelecido pelo Cdigo Florestal, ou que no possuem, em funo do desmatamento, e tambm no possuem cultivo de frutferas ou at mesmo reflorestamento para compensar a rea equivalente Reserva Legal, necessria a cada propriedade rural.

    Para possibilitar a adequao dessas propriedades norma, previu a legislao federal em seu artigo 44 e incisos as alternativas para o proprietrio ou possuidor para recompor a floresta ou conduzir na melhoria da Reserva Legal. Tais alternativas podem ser adotadas isoladas ou conjuntamente:

    Art. 44. [...] I-recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada trs anos, de no mnimo 1/10 da rea total necessria sua complementao, com espcies nativas, de acordo com critrios estabelecidos pelo rgo ambiental estadual competente; IIconduzir a regenerao natural da reserva legal; III-compensar a reserva legal por outra rea equivalente em importncia ecolgica e extenso, desde que pertena ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critrios estabelecidos em regulamento.

    Na recomposio de que trata o inciso I, o rgo ambiental estadual competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse rural familiar, sendo que pode ser realizada mediante o plantio temporrio de espcies exticas como pioneiras, visando restaurao do ecossistema original.

    O proprietrio poder conduzir a regenerao natural da Reserva Legal, a qual dever ser autorizada mediante a comprovao da sua viabilidade, atravs de laudo tcnico, podendo ser exigido o isolamento da rea.

    Na impossibilidade de compensao da Reserva Legal dentro da mesma microbacia hidrogrfica, deve o rgo ambiental estadual competente aplicar o critrio de maior proximidade possvel entre a propriedade desprovida de Reserva Legal e a rea escolhida para compensao, desde que na mesma bacia hidrogrfica e no mesmo estado, atendido, quando houver, o respectivo Plano de Bacia Hidrogrfica, e respeitadas as demais condicionantes estabelecidas no inciso III.

    A compensao de que trata o inciso III deste artigo, dever ser submetida aprovao pelo rgo ambiental estadual competente, e pode ser implementada mediante o arrendamento de rea sob regime de servido florestal ou reserva legal, ou aquisio de cotas de que trata o

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    art. 44-B7.

    Previu ainda a legislao federal em seu art. 44, 6 que o proprietrio rural poder ser desonerado das obrigaes previstas neste artigo, mediante a doao ao rgo ambiental competente de rea localizada no interior de unidade de conservao de domnio pblico, pendente de regularizao fundiria, respeitados os critrios previstos no inciso III do caput deste artigo.

    Observa-se que a legislao federal em seu art. 44-A permitiu ao proprietrio rural instituir servido florestal, mediante a qual, voluntariamente, renuncia, em carter permanente ou temporrio, a direitos de supresso ou explorao da vegetao nativa, localizada fora da reserva legal e da rea com vegetao de preservao permanente.

    1.3 Debates em torno do Projeto da Lei 5367/09, que prope a edio de um Cdigo Ambiental Brasileiro

    Vrias discusses esto sendo feitas acerca da edio de um Cdigo Ambiental Brasileiro, a partir de projeto de lei apresentado na Cmara dos Deputados pelo Deputado catarinense Valdir Colatto, lder da Bancada Ruralista na Cmara dos Deputados, no dia 23 de junho de 2009. O Projeto de Lei 5.367/09 prope que o novo cdigo venha a substituir as atuais legislaes esparsas, inclusive a Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) e o atual Cdigo Florestal. Os apoiadores da proposta querem que a Unio seja responsvel apenas pelas diretrizes gerais da poltica nacional de meio ambiente, deixando aos estados a tarefa de legislar sobre as peculiaridades regionais. A proposta estabelece um pacto federativo ambiental, com autonomia aos estados para fazer o zoneamento econmico ecolgico, tal como prescreve o Cdigo Ambiental aprovado em Santa Catarina.

    7 Art. 44-B. Fica instituda a Cota de Reserva Florestal - CRF, ttulo representativo de vegetao nativa sob regime de servido florestal, de Reserva Particular do Patrimnio Natural ou reserva legal instituda voluntariamente sobre a vegetao que exceder os percentuais estabelecidos no art. 16 deste Cdigo. Pargrafo nico. A regulamentao deste Cdigo dispor sobre as caractersticas, natureza e prazo de validade do ttulo de que trata este artigo, assim como os mecanismos que assegurem ao seu adquirente a existncia e a conservao da vegetao objeto do ttulo.

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    Colatto (2009) argumenta que a legislao ambiental brasileira obsoleta e est em desacordo com a realidade. Afirma que o projeto visa a estabelecer uma poltica ambiental efetiva e verdadeira para o Brasil, identificando os bens que se pretende proteger e os instrumentos a serem utilizados para esta proteo. Nesse sentido, levanta os seguintes argumentos em favor da codificao:

    a) Na tentativa de reprimir os avanos os diplomas foram se multiplicando vertiginosa e desordenadamente com regras cada vez mais rgidas.

    O deputado no esclarece a que avanos est se referindo. Infere-se que se tratam dos avanos nas atividades econmicas potencialmente causadoras de impacto ambiental.

    No mesmo sentido desse argumento, a Senadora Ktia Abreu (2009) afirmou que as diversas regulamentaes sobre meio ambiente no Brasil, de 1934 a 2009, tm condenado os pequenos agricultores ilegalidade. Segundo ela, cerca de cinco milhes de agricultores rurais esto criminalizados, assentados nas margens dos rios. Ainda segundo Ktia Abreu, ningum lembrou que margem do rio APP [rea de Proteo Permanente] e que 90% deles esto ilegais. A senadora lembrou que foram feitas inmeras alteraes ao longo do tempo na porcentagem da rea destinada reserva legal nas propriedades rurais, sem que fossem destinados recursos financeiros para que os agricultores recompusessem as reas desmatadas.8

    Neste aspecto, h que ponderar que so iniciativas completamente diferentes propor a regularizao das atividades exercidas em reas consolidadas pela agricultura familiar e estender essa anistia a todas as propriedades rurais, inclusive quelas desenvolvidas em latifndios pelo grande agronegcio. Essa mesma lgica vem sendo adotada pela Poltica Urbana, a partir da edio do Estatuto da Cidade, em face da funo socioambiental da propriedade: sempre que houver interesse social abre-se a possibilidade de tornar regular a ocupao.

    b) A necessidade de sistematizar um emaranhado de diplomas que, por vezes, se contradizem e que tm como premissas alguns mitos.

    8 A Senadora Ktia Abreu afirmou que as diversas regulamentaes na rea ambiental tem condenado os pequenos agricultores a ilegalidade. http://conexaoto.com.br/noticia/katia-abre-debate-sobre-mudancas-no-codigo-florestal/5341.

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    1) Destaca Colatto em algum momento que o agronegcio taxado como o vilo do meio ambiente, ou que todo produtor rural latifundirio, capitalista, etc. Argumenta que muitos destes produtores so oriundos de famlias de agricultores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de pequenas propriedades e que sobrevivem da agricultura familiar.

    2) Cabe destacar que, muitas famlias, com o esforo de seu trabalho, adquiriram novas reas de terras e aumentaram, assim, as suas propriedades. Porm, no deixaram de trabalhar na forma de agricultura familiar. Em Santa Catarina, a maioria das famlias rurais trabalha em regime de agricultura familiar, contando apenas com o auxlio espordico de empregados.

    3) Contemplando essa situao, o Ministrio do Meio Ambiente apresentou proposta de alterao do Cdigo Florestal Federal, em que aparece a figura da empresa rural familiar, que se caracteriza pela utilizao de mo-de-obra familiar.

    c) So dezenas de projetos de alterao do Cdigo Florestal Brasileiro que precisam ser analisados/estudados com embasamentos tcnicos e cientficos para que sejam editadas normas que pacifiquem de uma vez a questo ambiental no pas.

    Pondera-se que, embora as anlises tcnicas e cientficas sejam importantes para embasar as decises do Poder Legislativo, tais decises so eminentemente polticas e, como tal, demandam fundamentos ticos, culturais, sociais, econmicos, ecolgicos, etc. O debate pblico justifica-se principalmente diante dos princpios da informao e da participao, inerentes ao Direito Ambiental.

    d) As diretrizes modernas apontam para uma nica poltica ambiental eficiente - a da sustentabilidade, que contempla atividades ecologicamente corretas, socialmente justas e economicamente viveis.

    1. Nunca se falou tanto em sustentabilidade e em meio ambiente como nos dias de hoje. E mesmo importante que as pessoas compreendam a importncia de se conservar os recursos naturais e levar uma vida mais condizente com a capacidade de produo e renovao dos recursos planetrios. Esta a nica chance de continuarmos por um longo tempo habitando o planeta Terra. Contudo, a conservao do meio ambiente e os empreendimentos voltados para a sustentabilidade no devem ser obstculos para a manuteno e oferecimento das condies bsicas de vida para as populaes atingidas por

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    essas medidas, pois, onde h misria e carncias de toda espcie, pobreza extrema e falta das mais bsicas condies de vida, impensvel exigir-se que a questo ambiental se torne prioridade.

    4) Neste aspecto, deve-se argumentar que no existe um consenso em torno do conceito de sustentabilidade, tendo em conta as interfaces ambiental, social, econmica, cultural e outras. Mesmo a noo de justia fluida e marcada pelas diferentes posies dos sujeitos sociais implicados.

    e) Os avanos tcnicos e cientficos das ltimas dcadas permitem aprimorar a legislao para que ela tenha a verdadeira funo protetiva com vistas sustentabilidade.

    5) Os avanos tcnicos e cientficos so de suma importncia na pesquisa de dispositivos tecnolgicos capazes de inibir a degradao do meio ambiente e tambm na busca de tecnologias para produo de novas variedades de plantas e animais cada vez mais resistentes s enfermidades e s condies naturais desfavorveis. Porm, no se tem estudos dos impactos que estes avanos possam ocasionar ao meio ambiente e ao ser humano.

    6) Portanto, no se sabe se todos os avanos tecnolgicos das ltimas dcadas visam a verdadeira proteo e a sustentabilidade do planeta, sendo que sustentabilidade implica em que os usos atuais dos recursos no comprometam a disponibilidade dos mesmos recursos para as geraes futuras.

    f) Ao contrrio das Constituies anteriores em que cabia apenas Unio legislar sobre florestas, caa e pesca, nossa Constituio Cidad prestigiou e consolidou o sistema federativo e estabeleceu no art. 24 que competncia da Unio estabelecer normas gerais a respeito de meio ambiente e que aos estados caberia legislar sobre suas peculiaridades.

    A Constituio, alm de consagrar a preservao do meio ambiente, anteriormente protegido somente a nvel infraconstitucional, procurou definir as competncias dos entes da federao, inovando na tcnica legislativa, por incorporar ao seu texto diferentes artigos disciplinando a competncia para legislar e para administrar. Essa iniciativa teve como objetivo promover a descentralizao da proteo ambiental. Assim, Unio, estados, municpios e Distrito Federal possuem ampla competncia para legislar sobre matria ambiental.

    Segundo Colatto, o Brasil precisa de uma legislao abrangente, de linhas gerais, em

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    que os estados tenham autonomia para fazer leis ambientais complementares junto com a Unio, de acordo com as caractersticas ambientais de cada territrio.

    O deputado argumenta que a lei que instituiu o Cdigo Florestal Brasileiro de 1965 no pode ser aplicada da mesma forma em todas as macrorregies brasileiras porque cada regio possui um universo rural, peculiaridades das bacias hidrogrficas, topografia, solo, vegetao e clima, etc. Portanto, necessrio que os criadores das leis observem as diferenas entre as realidades de cada regio deste imenso pas.

    O Ministrio do Meio Ambiente apresentou um projeto de mudana para o Cdigo Florestal Brasileiro, atravs do qual pretende resolver pendncias legais de 95% dos agricultores do pas, entre pequenos e mdios produtores.

    A Constituio Federal de 1988 estabelece que cabe Unio criar normas gerais, o que muito importante, j que fixa um mnimo de proteo ao meio ambiente que deve ser assegurado, com fundamento no princpio da proibio do retrocesso em matria de direitos fundamentais o meio ambiente saudvel um direito fundamental.

    O meio ambiente, passou, portanto, a ser considerado essencial para que o ser humano possa gozar dos direitos fundamentais, dentre eles, o prprio direito vida.

    Todos os povos devem pensar que, junto com o desenvolvimento econmico do mundo, deve ser consagrado o direito fundamental da vida humana na Terra, visando com isto a melhoria do meio ambiente em benefcio do Homem e seus descendentes.

    A questo delicada porque, de um lado, existem as medidas de proteo natureza e, de outro, assegurado aos povos o desenvolvimento econmico como forma de combater a misria.

    Assim, o desafio que se impe que se deve encontrar meios de desenvolvimento econmico sem agresso ao meio ambiente visando, com isto, no violar o direito fundamental da vida.

    O art. 1. do projeto de lei da Frente Parlamentar Agropecuria dispe que Esta lei estabelece diretrizes gerais sobre a poltica nacional de meio ambiente que dever ter suas aes e conceitos baseados sempre em conhecimento tcnico e cientfico, cabendo aos Estados legislar sobre suas peculiaridades. Deixa claro, portanto, que a inteno substituir na ntegra a atual Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6938/81).

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    A proposta determina a compensao financeira de proprietrios de reas ambientalmente importantes ou, no caso de limitao de explorao econmica do local, esses proprietrios contaro com crditos especiais, recursos, dedues, isenes parciais de impostos, tarifas diferenciadas, prmios e financiamentos, entre outros benefcios. Os recursos para financiar essa remunerao por servios ambientais viro do Oramento e do Fundo Nacional do Meio Ambiente. Os municpios que promoverem aes de proteo ambiental tambm sero compensados financeiramente.

    Colatto (2009) critica o fato de, atualmente, no haver no Brasil uma poltica de valorizao por servios florestais prestados por produtores. O Cdigo Florestal vigente pune os produtores que no recuperarem reas utilizadas muito tempo antes de a legislao ambiental existir no Brasil. A nossa legislao criminaliza o produtor, avalia.9

    O deputado aduz, em favor dessa remunerao por servios ambientais, o exemplo dos Estados Unidos, onde os programas de apoio conservao ambiental representam parcela significativa da renda dos produtores. Alm da compensao pela perda de renda com a terra que no pode ser utilizada para a agricultura, os produtores so ressarcidos pelo custo da implantao de cobertura vegetal para proteger reas sensveis. Assim, de acordo com a redao do projeto de lei, responsabilidade de cada estado identificar as reas prioritrias para conservao e preservao com base em estudos tcnicos, visando sustentabilidade.

    As reas atualmente denominadas Reserva Legal podero ser descaracterizadas aps a definio do percentual mnimo de reservas ambientais nos estados pelo Zoneamento Econmico Ecolgico (ZEE). A Reserva Legal o percentual de vegetao a ser conservada em uma propriedade, e que varia de acordo com cada bioma, conforme dispe o Cdigo Florestal em vigor.

    Quanto finalidade do mencionado zoneamento, o art. 45 do PL 5.367/09 estabelece que:

    O Zoneamento Econmico Ecolgico (ZEE) tem por objetivo geral a ordenao do territrio a fim de harmonizar com bases tcnicas e cientficas as relaes econmicas, sociais e ambientais e nortear, de forma vinculada, as decises dos agentes pblicos e privados quanto aos planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais.

    9 No Brasil no h uma poltica de valorizao por servios florestais prestados por produtores. www.valdircolatto.com.br

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    Segundo o projeto de lei, a elaborao do ZEE dever ser participativa, podendo os atores socioeconmicos intervir nas diversas fases do trabalho a ser elaborado pelos governos estaduais.

    Com relao s reservas ambientais, o art. 82 do PL 5.367/09 estabelece que o estado identificar por meio de estudos realizados para a elaborao do ZEE, as reas prioritrias para conservao e preservao fundamentada em estudos tcnicos e bases cientficas sempre com vistas sustentabilidade.

    As reservas ambientais visam a complementar a quantidade recomendada de vegetao ou regies protegidas que dever ter o estado para a proteo eficiente de seus recursos naturais.

    As reservas ambientais, sempre que possvel, devero formar corredores ecolgicos, que estimulem o fluxo gnico, a proteo da biodiversidade e a conservao dos recursos naturais.

    Destaca o art. 85 do Projeto de Lei que

    O Poder Pblico poder manter reservas ambientais em propriedades particulares, sem a perda de sua titularidade e uso, desde que o proprietrio concorde em limitar seu uso para que a rea possa manter seus atributos ambientais mnimos indicados pelo ZEE. 1 Tal limitao poder se dar atravs da servido temporria ou permanente, por estmulos fiscais, aluguel, remunerao por servios ambientais ou contrato de compensao com empreendedores de atividades com Licenciamento Ambiental obrigatrio. 2 As reas denominadas Reserva Legal, criadas por fora da Lei 4.771/65, j consolidadas na data desta Lei com cobertura florestal nativa existente, podero ser descaracterizadas como tal aps a definio do percentual mnimo de reservas ambientais no Estado pelo ZEE, sendo sua converso de uso limitada pelas normas gerais do uso do solo local, ou utilizadas nos processos previstos neste artigo.

    O projeto de lei anteriormente exposto, que tramita no Congresso Nacional, tem como proposta a remunerao pelos servios ambientais (RSA) e como objetivo compensar os proprietrios das reas que possuem caractersticas ambientais relevantes, compensar os proprietrios pela limitao de uso econmico da rea e tornar vivel a proteo dos recursos naturais frente vantagem econmica oriunda de sua utilizao. O poder pblico dever adotar instrumentos econmicos visando a incentivar o atendimento dos objetivos, princpios e diretrizes definidos nesta lei em at dois anos de sua entrada em vigor. Os instrumentos econmicos sero concedidos sob a forma de crditos especiais, recursos, dedues, isenes parciais de impostos, tarifas diferenciadas, prmios, financiamentos e demais modalidades

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    especificamente estabelecidas.

    O projeto de lei estabelece, em seu artigo 94, que os recursos para os projetos de remunerao pelos servios ambientais ( RSA) sero oriundos de recursos do oramento e do Fundo Nacional do Meio Ambiente.

    Nos termos da proposta, as atividades rurais de produo alimentcia, vegetal e animal so consideradas de interesse social. As atividades realizadas em reas consideradas frgeis dependero de prvio licenciamento ambiental.

    Porm, se um estado indicar a recuperao de reas degradadas para constituio de reservas, dever ele prprio fornecer os meios de recomposio da rea.

    A proposta de Cdigo Ambiental Brasileiro ser analisada pelas comisses tcnicas da Cmara. O projeto foi elaborado com o apoio de 46 deputados, que constam como coautores.

    Defensor das alteraes na lei, o Ministro da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, Reinhold Stephanes, diz que a aplicao do atual Cdigo Florestal, na ntegra, tornaria invivel a sustentao de importantes polos de produo do pas. O Ministro cauteloso ao comentar o assunto: Tenho procurado tratar do tema com simplicidade, racionalidade e em cima de bases cientficas.10

    No entanto, Stephanes (2009) admite que um dos temas que gera calafrios nos ambientalistas o que diminui as reas de proteo e preservao e ainda anistia produtores rurais que tenham degradado a natureza. Modernizar o Cdigo Florestal significa diminuir todas as protees ao meio ambiente do pas. As matas ciliares (sistemas que funcionam como reguladores do fluxo de gua) sero atingidas drasticamente, o que pode representar um grande risco ao ecossistema, alerta Raul Du Valle, coordenador-adjunto do Programa de Poltica e Direito do Instituto Socioambiental. 11

    Com a justificativa de que a lei no contempornea, a senadora Ktia Abreu (DEM-TO) tambm defende a discusso com embasamento cientfico: Falta sensibilidade cientfica e poltica. Os governos fizeram graa com a legislao ambiental, e no falo somente do

    10 A aplicao do atual Cdigo Florestal, na ntegra, tornaria invivel a sustentao de importantes plos de produo do pas. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/07/17/brasil,i=127316/ MUDANCAS+NA+LEGISLACAO+AMBIENTAL+DIVIDEM+OPINIOES.shtml

    11 Algumas mudanas na legislao ambiental propostas pelo prprio Ministrio da agricultura so polemicas. (Idem).

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    governo do Presidente Lula. Isso vem se arrastando h anos no Brasil, critica a parlamentar que preside a Confederao Nacional da Agricultura e Pecuria (CNA). Para ela, os estados deveriam legislar sobre questes ambientais - hoje prerrogativa da Unio.12

    Produzir um Cdigo Ambiental aceito por ambientalistas e agricultores ser o grande desafio da Comisso de Meio Ambiente da Cmara Federal no prximo semestre, segundo o Presidente da Comisso, Deputado Roberto Rocha. Na avaliao do parlamentar, possvel conciliar os interesses em defesa do meio ambiente: Ns vamos tentar modificar o Cdigo Florestal, feito h 43 anos, quando no existia georreferenciamento nem monitoramento por satlite e nem sequer existia a Embrapa, afirmou.13

    O deputado Paulo Piau (PMDB/MG), membro titular da Comisso de Meio Ambiente, tambm a favor de um novo Cdigo Ambiental. Ele acredita que os estados devem ter mais poder de legislar sobre o meio ambiente, mas defende, por exemplo, que tanto os grandes produtores quanto os agricultores familiares tenham a mesma responsabilidade na preservao ambiental: O que no queremos um remendo, tratar diferentemente a agricultura familiar da agricultura empresarial, como se meio ambiente tivesse categoria, disse.

    1.4 Debates sobre a reforma do Cdigo Florestal Brasileiro

    Uma queda de brao entre agricultores e ambientalistas no Congresso Nacional coloca no centro o debate a reforma do Cdigo Florestal Brasileiro. Os agricultores apontam a necessidade de modernizar a legislao ambiental e fazem propostas que, segundo eles, vo dinamizar a atividade agrcola. Do outro lado, os ambientalistas argumentam a necessidade de preservar os biomas brasileiros e a manuteno do Cdigo para a sustentabilidade das futuras geraes.

    Em linhas gerais, os agricultores querem reduzir os percentuais de conservao obrigatria (reserva legal), permitir a recomposio florestal com espcies exticas comerciais, alm de obter financiamento para as reas degradadas. Os ambientalistas no

    12 Ktia Abreu defende discusso com embasamento cientfico. (Idem). 13 Deputado Roberto Rocha e Paulo Piau so favorveis a criao do novo Cdigo Ambiental Brasileiro.

    (www.valdircolatto.com.br).

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    concordam com estas mudanas.

    O Ministro da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, Reinhold Stephanes, afirma que a mudana na legislao Ambiental fundamental para o progresso econmico do pas.

    Reinhold Stephanes (2009) props seis alteraes no Cdigo Florestal atual at o final do ano, para acabar com a insegurana de cerca de trs milhes de produtores rurais que se encontram em situao de irregularidade de acordo com a legislao atual. Segundo ele, se nada for feito, cerca de l milho de agricultores tero sua atividade inviabilizada no fim no ano, quando entra em vigor o decreto que regulamenta a lei de crimes ambientais. As mudanas sugeridas por Stephanes so a retirada da proibio do plantio de reas consolidadas em morros, topos e encostas; a soma das reservas legais com reas de Preservao Permanente (APPs); liberao da reserva legal, com tamanho da propriedade sugerida pelo ministro em at 150 hectares Com isso atingiremos 95%, 98% das propriedades, estimou. Alm disso, Stephanes prope a compensao em outras reas, obedincia legislao da poca e, por fim, que penalizaes feitas fora do perodo devem ser automaticamente eliminadas.

    A inteno do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc reformular o Cdigo, o que denota o reconhecimento do ministro de que, no atual formato, sua aplicabilidade est dificultada. Minc apresentou uma srie de proposies que nortearo o governo federal na edio de nova Medida Provisria.

    Bertran Rosado (2009), deputado estadual do Rio Grande do Sul, enfatizou que ao Poder Pblico cabe harmonizar a proteo ambiental com o desenvolvimento. Para ele, esta construo deve ser fruto de muito debate. O Cdigo Florestal Brasileiro precisa ser ajustado ao que a sociedade reivindica. O Cdigo deve ser cumprido plenamente, mas, para que isso ocorra, a sociedade precisa legitim-lo.

    As sugestes do Governo do Estado do Rio Grande do Sul baseiam-se em cinco eixos: computar as reas de preservao permanente (APPs) na rea de reserva legal; possibilitar o manejo dentro das reas de reserva legal; permitir a continuidade das atividades agropecurias j consolidadas em APPs, exceto nas matas ciliares que devem ser recompostas; compensar a rea de Reserva Legal fora da Bacia Hidrogrfica na qual ela est inserida e, por ltimo, a anulao ou prorrogao do decreto federal que estabelece o ms de dezembro para que os produtores procedam averbao da rea de Reserva Legal, reivindicando que os estados

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    faam a regulamentao e estabeleam os critrios para o procedimento.

    Um dos temas mais discutidos nos ltimos meses o da Reserva Legal e a necessidade da alterao do Cdigo Florestal Brasileiro. A Reserva Legal existe no Cdigo desde 1965. Contudo, a polmica instalou-se aps a edio, em 2008, pelo governo federal, dos decretos 6.514 e 6.686, que estabelecem penalizaes para os produtores que no averbarem suas reas de Reserva Legal a partir de 11 de dezembro 2009.

    A Secretria Executiva do Ministrio do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, garantiu ao deputado Berfran Rosado, ao secretrio interino da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), Giancarlo Tusi Pinto e presidente da Fepam, Ana Pellini, que o governo federal ir editar novo decreto, concedendo mais prazo para entrar em vigor os decretos federais 6.514 e 6.686 de 2008.14

    Foi criada uma comisso especial para analisar a proposta de um novo Cdigo Ambiental. Esta comisso ir analisar o Projeto de Lei 1.876/99 e outras oito propostas apensadas (PLS 4.524/04; 4.091/2008; 4.395/08; 4.619/2009; 5.226/09; 5.367/09; 5.898/09 e 6.238/2009). O projeto original do ex-deputado Srgio Carvalho, prope um novo Cdigo Florestal em substituio ao atual (Lei 4.771/65).

    Embora a proposta (PL 1.876/99) seja antiga e tenha sido rejeitada em duas comisses, a comisso especial foi criada porque a ela est agregado o PL 5.367/09, do deputado Valdir Colatto, que institui o Cdigo Ambiental Brasileiro e revoga o Cdigo Florestal.

    O Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, apresentou ao Presidente Luiz Incio Lula da Silva proposta conciliatria para o Cdigo Florestal. Minc aceita manter as plantaes de ma, caf, uva e erva-mate em encostas e topos de morros e permite a soma das reas de proteo permanente (APPs) reserva legal para os agricultores familiares ou com propriedades de at 150 hectares.

    O Ministro do Meio Ambiente prope a simplificao da averbao da Reserva Legal das propriedades que passar a ser fiscalizada a partir de 11 de dezembro com reduo da burocracia. Para os agricultores familiares, o georreferenciamento ser gratuito.

    A consolidao de plantios de macieiras, videiras e cafezais em encostas e topos de

    14 http://www.berfran.com.br/ ?on=noticias&noticia_id=300. Acesso em: 13 de outubro de 2009.

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    morros e de arroz em regies de vrzea estar garantida, de acordo com a proposta da rea ambiental. A concesso valer para os pequenos e grandes produtores. No entanto, no sero permitidos novos desmatamentos para ampliar as lavouras nessas reas.

    A utilizao de APPs como Reserva Legal s valer para a agricultura familiar ou propriedades com at 150 hectares. J a permisso de manejo florestal na rea da Reserva Legal tambm poder ser feito pelos grandes proprietrios, inclusive com explorao madeireira.

    Outra proposta que, na avaliao de Minc, vai beneficiar a agricultura empresarial, a criao de um sistema de cotas de reserva florestal. Quem no preservou a Reserva Legal dentro da propriedade pode comprar reas preservadas por outros produtores, desde que no mesmo bioma e na mesma bacia hidrogrfica. A compensao em outras reas prevista pelo Cdigo Florestal, mas at hoje no foi regulamentada. Cada cota corresponder a um hectare de rea preservada. O preo das cotas ser definido entre compradores e vendedores, sem interferncia do governo.

    Minc tambm quer a criao do programa Mais Ambiente, com garantia de mais tempo para regularizao, assistncia tcnica e acesso a mudas e sementes para quem aderir iniciativa. De acordo com o Ministro, o conjunto de propostas deve resolver pendncias legais de 95% dos agricultores do pas, entre pequenos e mdios produtores.

    Parte das propostas fica garantida com a edio de instrues normativas e resolues do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). As mudanas mais polmicas dependem de decretos presidenciais ou medidas provisrias.

    Cabe salientar que muitas discusses ainda ocorrero em torno dos projetos de alterao do Cdigo Florestal Brasileiro ou da criao do Cdigo Ambiental Brasileiro. O que se quis foi demonstrar um pouco destas questes polmicas sobre o assunto, deixando claro que nada ficou definido at o momento.

    1.5 Importncia ecolgica da reserva legal para a manuteno dos ecossistemas

    Todo lugar da Terra, seja campo, lago, praia ou floresta, ocupado por muitos seres

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    vivos. As plantas, os animais e os micro-organismos que vivem nestes ambientes esto conectados entre si por cadeias alimentares e outras interaes, formando um todo chamado de comunidade biolgica.

    A ao do Homem tem levado muitas espcies extino. Primack (2001, p. 72) esclarece que desde o ano de 1.600, cerca de 2,1% de todos os mamferos do mundo e 1,3% das espcies de pssaros j havia sido extinta. A taxa de extino est se acelerando, e muitas espcies esto beira da extino. Mais de 99% das extines da era moderna so atribudas ao humana.

    O crescimento populacional humano parcialmente responsvel pela perda da diversidade biolgica, pois, grande quantidade do habitat natural utilizada para fins agrcolas e residenciais.

    A desacelerao do crescimento da populao humana, para Primack (2001), parte da soluo para a crise da diversidade biolgica. Esforos para reduzir o alto consumo de recursos naturais nos pases ricos e industrializados e para eliminar a pobreza em pases em desenvolvimento, so tambm parte importante da proteo da diversidade biolgica.

    A maior ameaa diversidade biolgica, segundo Primack (2001, p. 133), a perda de habitat. Particularmente, os habitats que se encontram ameaados de destruio so as florestas tropicais, as reas alagadias, os manguezais e os recifes de corais.

    Outro fator que pode levar a perda das espcies a fragmentao de habitat que o processo pelo qual uma grande rea contnua reduzida e dividida em dois ou mais fragmentos. Tal fragmentao pode levar rpida perda das espcies que ainda restam, uma vez que cria barreiras para o processo normal de disperso, colonizao e alimentao. As condies ambientais nos fragmentos podem se alterar, e pestes podem se tornar mais comuns. (PRIMACK, 2001, p. 133).

    Primack (2001, p. 69) destaca que um meio ambiente bem conservado possui grande valor econmico, esttico e social. Mant-lo significa preservar todos os seus componentes em boas condies: ecossistemas, comunidades e espcies. O aspecto mais srio do perigo ambiental a extino das espcies. As taxas de extino poderiam ser menores, se as reas ricas em espcies fossem alvo de esforos concentrados de conservao.

    Diante disso, faz-se necessria a preservao da rea de Reserva Legal, pois esta tem como funo principal a conservao e o uso sustentvel da biodiversidade.

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    Schaffer e Medeiros (2009) esclarecem que a Reserva Legal no tem apenas a funo de prover o uso sustentvel dos recursos naturais na propriedade ou posse rural. Possui, tambm, a funo de conservar e reabilitar os processos ecolgicos, conservar a biodiversidade e servir de abrigo e proteo da fauna e flora nativas. Desta forma, a norma geral de carter nacional concilia o necessrio uso sustentvel de recursos naturais para a propriedade, ou posse rural, com as funes ambientais e o provimento de servios ambientais de reteno de gua, conservao do solo, manuteno de grupos de polinizadores e fixao de biomassa, entre outros, os quais so importantes e necessrios ao cumprimento da funo socioambiental dos imveis ou propriedades rurais.

    Aponta Nusdeo (2007, p. 33) que a Reserva Legal corresponde a uma porcentagem da rea de um imvel rural, diversa das reas de preservao permanentes eventualmente existentes no imvel, cuja preservao relaciona-se a diversos objetivos relacionados proteo ambiental, tais como conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, a conservao da biodiversidade e o abrigo e proteo da fauna e da flora nativas.

    Santos (2005) observa que nas reas remanescentes de matas nativas, em biomas de suma importncia como a Mata Atlntica, o Cerrado e a Amaznia, a instituio de um percentual de reserva possibilita a reduo da presso predatria sobre as florestas nativas, assegurando a sua integridade e a conservao da biodiversidade inserida nestas reas.

    Destaca Santos (2005) que o reflorestamento e a preservao da cobertura arbrea nativa ajuda a inibir graves problemas de degradao ambiental, que esto associados ao mau uso das reas. Dentre eles, temos a eroso, acidificao, a salinizao, a compactao, a sedimentao dos rios, dentre outros processos associados as atividades antrpicas.

    A finalidade da instituio da Reserva Legal para Magalhes (2007, p. 33) consiste na tentativa de preservao de amostras significativas das formaes vegetais nativas nas propriedades rurais, tendo-se em vista o processo de desmatamento gerado pelo avano das fronteiras agrcolas do pas nos diferentes momentos de sua histria.

    Um dos maiores questionamentos feitos acerca da relevncia ambiental das reas da Reserva Legal se d em torno de sua formao, feita em forma de mosaicos, que nem sempre permitem a interligao com outras reas verdes. Sendo assim, tem-se afirmado que estas reas no permitem a migrao natural das espcies, limitando, inclusive, o fluxo gnico dentro destas reas.

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    A alternativa defendida por ambientalistas a da criao dos chamados corredores ecolgicos, que interligariam as reas preservadas, como Reservas Legais e reas de Proteo Permanente.

    A reserva legal constitui uma limitao administrativa ao direito de propriedade de proprietrios, ou detentores de posses, de imveis rurais, consistente na obrigao de no fazer - no destruir a vegetao nativa - em parcela proporcional rea do imvel definida diferentemente em lei para as regies do pas. Representa medida legal de importante repercusso ambiental por garantir o equilbrio ecolgico e preservao da biodiversidade. (NUSDEO, 2007, p. 31).

    Disciplinada pelo Cdigo Florestal em vigor, a existncia da Reserva Legal relaciona-se preservao de amostras de formaes vegetais nativas nas reas nas quais os ecossistemas originais foram descaracterizados para dar lugar explorao agrcola ou pecuria.

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    CAPTULO II

    2 DIREITO DE PROPRIEDADE

    Este captulo aborda o direito de propriedade, alguns aspectos da evoluo histrica da propriedade, seu conceito, fundamentao, versa tambm sobre o princpio do direito de propriedade. Trata, ainda, da funo social e a funo socioambiental da propriedade. E, por ltimo, enfoca os possveis problemas suscitados pela exigncia do cumprimento da legislao ambiental quanto Reserva Legal no estado de Santa Catarina e, mais especificamente, na regio oeste.

    2.1 Breve histrico da evoluo do direito de propriedade

    Observa Rizzardo (2007, p. 172) que, primitivamente, quando o Homem vivia ainda em hordas, abrigando-se em grutas e cavernas, o agrupamento era apenas fsico, sem qualquer liderana de um determinado indivduo sobre os demais componentes. Os seres humanos agiam mais espontaneamente, condicionando o comportamento aos impulsos do instinto. Prevalecia a luta pela subsistncia.

    Ressalta Rizzardo (2007, p. 173) que a luta pela subsistncia foi que determinou a formao de um sentimento bem primrio sobre a propriedade. Defendiam os primitivos humanos as cavernas, as grutas e outras formas de se abrigarem, expulsando quem buscasse refgio nelas. Posteriormente, o sentimento de domnio se estendeu a reas especificas da

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    vegetao, onde eram encontrados os alimentos. Mas o poder material se ampliou ao grupo, j ligado por laos de parentesco e de convivncia duradoura.

    Reconhece Arnoldo Wald (apud FACHIN, 1988, p. 14) que o direito romano elaborou a teoria da propriedade que se mantm, mutatis mutandis15, na poca contempornea entre ns.

    O direito romano, traou o contedo da propriedade em: dominium est ius utendi et abutendi, quatemus iuris ratio patitur16. Observa-se que a propriedade quiritria, foi primitivamente, no direito romano o modo fundamental de propriedade reconhecido. Tinha como pressupostos a qualidade de cidado romano, a res mancipi17 e o modo de aquisio. Posteriormente, surgiu a propriedade bonitria18 ou do jus gentium19. (FACHIN, 1988, p. 15)

    Ainda afirma Fachin (1988, p. 15) que, antigamente, somente ao cidado romano era dado o privilgio de adquirir a propriedade, pela mancipatio20. No decorrer dos anos, estendeu-se o ius commercii21 aos estrangeiros, ampliando-se a aquisio do solo itlico, e, depois, alm deste surgiram novos usos e os jurisconsultos elaboraram novas modalidades.

    Lemos (2008, p. 23) afirma que, na Idade Mdia, a propriedade no tem mais um carter unitrio e exclusivista. A terra sinnimo de poder. O direito cannico traz a concepo de que o Homem deve adquirir bens, pois a propriedade privada garante a liberdade individual. Mas deve fazer justo uso da terra, segundo as ideias de Santo Agostinho e So Toms de Aquino.

    15 Mutatis mutandis: uma expresso latina que significa mudando o que tem de ser mudado. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mutatis mutandis). Acesso em 07 de maro de 2010.

    16 Dominium est ius utendi et abutendi, quatemus iuris ratio patitur: Domnio o direito de usar, gozar e dispor de propriedade sua, at onde a razo de direito o permite. (http://www.hkocher.info/minha_ pagina/dicionario/d08.htm). Acesso em 07 de maro de 2010.

    17 Res mancipi: era a coisa que se transferia pelo processo da mancipao modo solene de transmitir a propriedade - v.g. pores de terras itlicas, servides, casas, escravos, animais de carga e trao. (http://www.google.com.br/search?hl=ptBR&q=res+mancipi&btnG=Pesquisar&meta=lr%3Dlang_pt&aq=f&oq=). Acesso em 07 de maro de 2010.

    18 Bonitaria: eram as propriedades existentes em Roma que eram distribudas para o povo atravs dos pretores. (http://www.tudodireito.com.br/aula.php?disc=11&cod=19). Acesso em 07 de maro de 2010.

    19 Jus gentium: utilizado pelos romanos e peregrinos para aquisio da propriedade peregrina, provincial e pretoriana; e quiritria da res nec mancipi modos no-formalistas. (http://www.google.com.br/search?hl= ptBR&q=res+mancipi&btnG=Pesquisar&meta=lr%3Dlang_pt&aq=f&oq=). Acesso em 07 de maro de 2010.

    20 Mancipatio: era o modo solene de transferncia da propriedade que, na poca clssica, consistia em uma venda simblica por meio do bronze e da balana na presena de testemunhas; tinha por efeito principal a transferncia da propriedade quiritria do alienante ao adquirente. (http://www.google.com.br/ search?hl=ptBR&q=res+mancipi&btnG =Pesquisar&meta=lr%3Dlang_pt&aq=f&oq=). Acesso em 07 de maro de 2010.

    21 Ius commercii: O direito do comrcio. (http://www.hkocher.info/minha_pagina/dicionario/i13.htm) Acesso em 07 de maro de 2010.

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    Silva (2008, p. 530) discorre que, na Idade Mdia, o conceito de propriedade se altera e uma mesma propriedade pode pertencer a diferentes pessoas. Surgiu o feudo, onde o Senhor feudal exercia os poderes de soberania, garantindo a segurana, exercendo a jurisdio e cobrando tributos. Nesse regime, os servos e camponeses produziam para os nobres, que possuam as terras, em troca de um pagamento pelo uso das mesmas e da segurana que recebiam do senhor feudal. Na verdade, os que trabalhavam na terra exerciam um verdadeiro domnio sobre esta e pagavam aos nobres, que ganhavam sem trabalhar, apenas pelo ttulo de nobreza e de domnio sobre determinada rea territorial.

    Sobre o tema, Silva (2008, p. 531) enfatiza que no final da Idade Mdia, com o enfraquecimento do Estado, h o surgimento de grandes corporaes, que agrupavam comerciantes, artesos, mestres e aprendizes, os quais passaram a questionar a realidade social, poltica e econmica da poca.

    Rizzardo (2007, p. 175) afirma que na Frana, proclamou-se o direito dos reis sobre todas as terras, as quais se consideravam como concedidas aos sditos.

    Atitudes como esta, para Rizzardo (2007, p. 175), determinaram reaes, culminando com a declarao, na Revoluo Francesa, dos direitos do Homem, dentre os quais despontava o princpio que estabeleceu a propriedade como sagrada e inviolvel, o que, no muito tempo depois, ficou incorporado no Cdigo de Napoleo.

    Caio Mrio da Silva Pereira discorre que:

    A Revoluo Francesa pretendeu democratizar a propriedade, aboliu privilgios, cancelou direitos perptuos. Desprezando a coisa mvel, concentrou sua ateno na propriedade imobiliria e o Cdigo por ela gerado Code Napoleon que serviria de modelo a todo um movimento codificador do Sculo XIX, tamanho prestgio deu ao instituto, que com razo recebeu o apelido de Cdigo da Propriedade, fazendo ressaltar, acima de tudo, o prestgio do imvel, fonte de riqueza e smbolo de estabilidade. Da ter-se originado em substituio aristocracia de linhagem uma concepo nova de aristocracia econmica, que penetrou no sculo XX. (PEREIRA, 2006, p. 83).

    A Revoluo Francesa, de acordo com Lemos (2008, p. 23), vem para abolir os privilgios e direitos feudais, restabelecendo a exclusividade da propriedade nos termos do direito romano. a ideia de individualismo trazendo a regra de usar, gozar e dispor do bem, assim como entender. O resultado foi a implantao jurdica da concepo burguesa. Por isso, no Cdigo Civil Francs (1804), a categoria jurdica propriedade aparece como um de seus alicerces.

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    Lemos (2008, p. 23) observa que a propriedade absoluta francesa se transfere para o Cdigo Civil brasileiro de 191622, sob influncia das Ordenaes Portuguesas, especialmente nos seguintes dispositivos: Art. 527. O domnio presume-se exclusivo e ilimitado, at prova em contrrio; e Art. 524. A lei assegura ao proprietrio o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reav-los do poder de quem quer que injustamente o possua.

    Com a Revoluo Industrial, a urbanizao, a formao de imensos aglomerados humanos e o fenmeno das sociedades de massa e de risco, o direito passou a ser desafiado a tutelar a coletividade. Desenvolvida a partir das idias de Lon Duguit (1859-1928), a funo social da propriedade passou a ser um dos diversos instrumentos jurdicos que buscaram regular esta nova ordem social, poltica e econmica. Surgem os direitos da terceira gerao, chamados coletivos e difusos, e consequentemente, ocorre a mudana do foco, passando o direito de propriedade de um direito subjetivo individual para uma concepo mais ampla, coletiva e social. (SILVA, 2004, p. 528)

    A funo social, para Fachin (1988, p. 17), relaciona-se com o uso da propriedade, alterando, por conseguinte, alguns aspectos pertinentes a essa relao externa que seu exerccio. E por uso da propriedade possvel apreender o modo com que so exercitadas as faculdades ou os poderes inerentes ao direito da propriedade.

    Fachin (1988, p. 18) enfatiza que tal princpio no chega a afirmar que o trabalho se constitui no nico modo para ter a propriedade: afirma que somente o trabalho do homem sobre a terra que legitima a sua propriedade.

    Duarte (2007, p. 23) faz breve histrico sobre propriedade nas Constituies brasileiras,

    [...] no Brasil, a Constituio de 1824, no seu art. 179, garantiu o direito de propriedade em toda a sua plenitude. Por sua vez, a Constituio republicana de 1891, garantia o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriao por utilidade ou necessidade pblica, mediante indenizao prvia. Todavia, a definio de direito de propriedade s foi fixada no art. 524 do Cdigo Civil de 1916, o qual assegura ao proprietrio o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reav-los do poder de quem quer que injustamente os possua. A Constituio de 1934, por sua vez, continuou garantindo o direito de propriedade, mas reconheceu a sua funo social (art. 113). De igual modo, a Constituio de 1937 no deixou de garantir o direito de propriedade, relegando, no entanto, lei, a tarefa de definir seus limites e o seu contedo (art. 122). A Constituio de 1946 assegurou o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante prvia e justa indenizao. A Constituio de 1967 reproduziu a norma da lei fundamental anterior. A Carta de 1969, por seu turno, no seu art. 153, 22, assegurou a existncia do direito de propriedade, mas reconheceu a sua funo social (art. 160).

    22 Lei 3.071 de 1 de janeiro de 19l6.

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    Por fim, a atual Constituio de 1988, garante o direito de propriedade (art. 5, inc. XXII), ressalvando a possibilidade de desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou ainda, por interesse social (art. 5 , inc. XXIV), condicionando, outrossim, o seu uso ao bem-estar social (art. 5, inc. XXIII), e proibindo a extino do direito de propriedade sem o devido processo legal (art. 5, inc. LIV).

    Em resumo, a noo de propriedade, que era considerada no direito romano como direito absoluto no sentido que tinha o proprietrio a plenitude de disposio sobre a coisa, evolui at o momento em que ela passou a ter tambm uma destinao ou funo social.

    No demorou muito para que esta nova concepo chegasse ao nvel constitucional e, a partir de ento, houvesse uma comparao dos diversos direitos fundamentais, com especial relao entre o direito de propriedade e a preservao ambiental.

    2.2 Direito de propriedade, propriedade e seus fundamentos

    Figueiredo (2008, p. 52) afirma que: Direito de propriedade o direito de dispor de algo de modo pleno, independentemente de ter a sua posse de fato.

    A definio de propriedade pode ser encontrada no Cdigo Civil Brasileiro (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002), no art. 1.228, que define a propriedade como: a faculdade que o proprietrio tem de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reav-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

    Os conceitos de usar, de gozar, dispor e de reivindicar a coisa, so definidos por Diniz:

    Se reduzirmos a propriedade aos seus elementos essenciais positivos, teremos: direito de usar, gozar, dispor e reivindicar. O direito de usar da coisa tirar dela todos os servios que pode prestar, dentro das restries legais, sem que haja modificao em sua substncia. O direito de gozar da coisa exterioriza-se na percepo dos seus frutos e na utilizao de seus produtos, consiste no direito de explor-la economicamente. direito que o proprietrio tem de dispor da coisa o poder de alien-la a ttulo oneroso ou gratuito, abrange o poder de consumi-la e o de grav-la de nus reais ou de submet-la ao servio de outrem. (DINIZ, 2003, p. 784)

    Lemos (2008, p. 40) ressalta que os direitos de usar, gozar e dispor so, respectivamente, o direito de retirar da coisa suas utilidades, sem alterar-lhe a substncia; o

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    direito de obter seus frutos, auferindo-lhe os produtos; o direito de alienar o bem e grav-lo de nus real. O direito de reaver o bem consiste em buscar o bem de quem quer que injustamente o possua ou o detenha. Esse ltimo elemento constitutivo da propriedade, na verdade, se apresenta como a sua forma de proteo.

    No se nega proteo propriedade, mas, ao mesmo tempo, necessrio tornar o bem produtivo e til. A falta de cumprimento da funo social diz respeito aos bens no utilizados ou mal utilizados. Vem da a idia de desapropriao para fins sociais. Nesse sentido, estabelece o ar