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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
Lilian Oliveira de Amorim
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Salvador
2012
2
Lilian Oliveira de Amorim
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR PARA UMA
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Orientadora: Tânia Regina Dantas
Salvador
2012
Monografia apresentada à UNEB - Universidade do Estado da Bahia, para avaliação da disciplina Orientação para o TCC II e como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Pedagogia.
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FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB
Amorim, Lilian Oliveira de Variação linguística na educação de jovens e adultos : uma prática pedagógica do professor para uma aprendizagem significativa / Lilian de Oliveira Amorim . - Salvador, 2012. 66f. Orientadora: Profª. Tânia Regina Dantas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2012. Contém referências e apêndices. 1. Educação de adultos. 2. Linguagem - Variação. 3. Prática pedagógica. 4. Aprendizagem. I. Dantas, Tânia Regina. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 374.012
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LILIAN OLIVEIRA DE AMORIM
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR PARA UMA
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia – Anos Iniciais, Departamento de Educação, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), como pré-requisito parcial para aquisição do grau de Licenciado em Pedagogia.
Aprovada em 04 de abril de 2012
Banca Examinadora
Tânia Regina Dantas – Orientadora:_______________________________________ Doutora em Educação pela Universidade de Barcelona/Espanha. Professora da Universidade do Estado da Bahia. Telma Cruz Costa:____________________________________________________
Mestra em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia.
Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de
Educação e Cultura de Salvador.
Vivian Antonino:______________________________________________________
Doutoranda em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia.
5
AGRADECIMENTOS
Às pessoas e instituições que, direta ou indiretamente, colaboraram para a
realização deste trabalho, a saber:
Ao grande Arquiteto do Universo, a Ele toda Honra, Glória e Louvor.
À minha Orientadora Profª Tânia Regina Dantas, pelo apreço e dedicação em
ensinar.
Às professoras Telma Cruz e Vivian Antonino pela atenção a mim destinada.
A todos os funcionários, professores e educandos da Escola Estadual Heitor Villa
Lobos, pelo acolhimento.
A Universidade do Estado da Bahia por oportunizar a construção de uma graduação
contribuindo para minha formação profissional, e aos colegas e professores pela
vivência, troca de experiências e socialização do conhecimento.
À minha família, pelo apoio e compreensão enquanto estive ausente em busca deste
sonho.
A minha querida irmã Rita Duyprath pelo apoio incondicional durante a construção
deste trabalho.
A minha mãe, minha fonte inspiradora.
Durante essa trajetória tive o apoio dessas pessoas, sou grata a Deus por todos
vocês!
6
Se eu estou em família, falo à vontade, de um jeito
espontâneo, mas se eu estiver em um lugar mais sofisticado,
meu modo de falar será mais corrigido, escolhendo as palavras
que vou falar.
MARIA RAIMUNDA
Estudante da educação de jovens e adultos
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RESUMO
Sabe-se que a variação linguística está presente nos diversos grupos sociais, dentre eles, nos grupos dos estudantes da educação de jovens e adultos. Esses estudantes, excluídos por diversos fatores da educação básica, retornam à escola, depois de um tempo, com o propósito de continuar os estudos e se deparam com o ensino de gramática, distanciada do vocabulário que representa a língua falada por esses sujeitos, falantes de variedades linguísticas consideradas desprestigiadas pela sociedade. Durante a prática docente, é comum que os professores abordem o uso da variação linguística, presente nos falares dos alunos, de uma maneira insuficiente, apontando os “erros” da língua em favor do prestígio da norma padrão. Sendo a escola, um espaço preparado para permitir aos alunos o acesso ao saber, situando-os em sua realidade histórico-social, se faz necessário que os professores reflitam, sobre como será tratada a variação linguística dos seus alunos, conscientizando-os de que, as suas manifestações verbais estão sujeitas a um julgamento social. Este trabalho investiga a prática pedagógica do professor da educação de jovens e adultos da Escola Estadual Heitor Villa Lobos baseada na variação linguística dos alunos em prol de uma aprendizagem significativa. A pesquisa de campo permitiu conhecer, mesmo que limitadamente, a realidade da escola. As entrevistas respondidas pelos estudantes e pela professora contribuíram positivamente na qualidade da pesquisa. Optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa, com entrevistas e observações da ação pedagógica da professora da turma observada. Os resultados da pesquisa qualitativa apontaram para a existência de um reconhecimento, por parte dos alunos, das diferentes formas de falar e que por conta disso, eles são submetidos a julgamentos sociais. Quanto à professora, esta revela que respeita o modo de falar dos alunos, mas realiza as interferências necessárias, evidenciando, desse modo, o emprego das noções de certo e errado lingüístico. Embora os alunos tenham declarado nas entrevistas que existem momentos de discussão para o tratamento da variação linguística, percebe-se que eles pouco dialogam na presença da professora, e quando os diálogos acontecem, a ocorrência de regras não-padrão passam despercebidas pela educadora, deixando o tratamento da variação linguística em segundo plano. Conclui-se que a professora, na prática pedagógica, pouco tem tratado a variação linguística dos alunos, ou trata de uma maneira superficial, sendo importante questionar os entraves que fazem com que essa variação não seja trabalhada em sala de aula.
Palavras-chave: variação linguística - aprendizagem significativa - prática pedagógica.
8
ABSTRACT
It is known that linguistic variation is present in different social groups, among them groups of students in the education of youth and adults. These students, excluded by several factors of basic education, return to school after a time, in order to continue their studies and are faced with the teaching of grammar, vocabulary that is distanced from the language spoken by these subjects, speakers linguistic varieties considered discredited by society. During the teaching practice, it is common that teachers address the use of linguistic variation, present in the students speak in a manner insufficient, pointing out "mistakes" of the language in favor of the prestige of the standard pattern. As the school prepared a space to allow students access to knowledge, placing them in their historical and social reality, it is necessary that teachers reflect on how it will be treated linguistic variation of their students, making them aware that , its manifestations are subject to a verbal social judgment. This paper investigates the pedagogical practice of the teacher of youth and adults of Heitor Villa Lobos State School-based linguistic variation of the students towards a meaningful learning. The field research allowed to know, even if narrowly, the reality of school. The interviews answered by students and teacher contributed positively to the quality of research. We decided to conduct a qualitative research, interviews and observations of the pedagogical action of the classroom teacher observed. The results of qualitative research pointed to the existence of a recognition by the students of different ways of speaking and because of that, they are subjected to social judgments. As the teacher, this case reveals that the manner of speaking students, but performs the necessary interference, leaving, showing thus the use of the notions of right and wrong language. Although students have stated in interviews that there are times for discussion of the phenomenon of linguistic variation, it is clear that they have little dialogue in the presence of the teacher, and when the conversations take place, the occurrence of standard rules do not go unnoticed by the educator, leaving the treatment of linguistic variation in the background. It is concluded that the teacher, in teaching practice, little has dealt with students' linguistic variation, or is a superficial way, it is important to challenge the barriers that cause this variation is not worked in the classroom.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Vista frontal da Escola Estadual Heitor Villa Lobos ................................ 34 Figura 2 Refeitório ................................................................................................ 35 Figura 3 Sala de aula .......................................................................................... . 36 Figura 4 Coleção É Bom Aprender ...................................................................... 43
Figra 5 Página do livro Coleção é bom aprender ................................................. 44
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Modos diferentes de falar dos indivíduos .............................................. 41
Tabela 2 Variação linguística conforme a situação .............................................. 42
Tabela 3 Momentos de discussão nas aulas........................................................ 48
Tabela 4 Momentos na aula de língua portuguesa para discutir os diferentes modos de falar dos indivíduos em geral ............................................................... 49
Tabela 5 Correção do Professor quanto às gírias dos alunos .............................. 50
Tabela 6 Ocorrências de constrangimento na correção ....................................... 51
Tabela 7 Contribuição à aprendizagem, do respeito ao modo de falar dos
alunos .................................................................................................................. 53
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Momentos em que ocorre a variação linguística, segundo os alunos.. 42
Quadro 2 Modo como se discute os diferentes falares dos indivíduos em geral..49
Quadro 3 Forma de reação dos alunos quando são corrigidos ...........................52
Quadro 4 Modo como o professor contribui para a aprendizagem respeitando a
linguagem dos alunos ...............................................................................................53
12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10
2. ALGUMAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS ......................................................... 17
2.1 Variação Linguística: o que dizem alguns teóricos ...................................... 17
2.2 Algumas considerações sobre a Educação de Jovens e Adultos ............... 24
2.3 Reflexões sobre Aprendizagem Significativa .............................................. 28
2.4 Fatores que influenciam na Aprendizagem Significativa ............................. 32
2.5 Assimilação e organização do conhecimento ............................................. 33
2.6 Prática pedagógica: algumas reflexões ....................................................... 34
3 A CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA .................................................... 38
3.1 A Escola Estadual Heitor Villa Lobos .......................................................... 38
3.2 O caminho metodológico da pesquisa ........................................................ 43
4. A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS ......................................................................................................... 45
4.1 Modificações perceptíveis na aprendizagem dos alunos..............................45
4.2 A Variação Linguística dos alunos da Educação de Jovens e Adultos da
Escola Estadual Heitor Villa Lobos .................................................................... 50
4.3 A prática pedagógica do professor da Educação de Jovens e Adultos da
Escola Estadual Heitor Villa Lobos .................................................................... 52
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 59
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 61
APÊNDICE A – ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA APLICADA AOS ALUNOS
APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA APLICADA À PROFESSORA
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1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que a variação linguística está presente nos diversos grupos sociais,
dentre eles, nos grupos dos estudantes da educação de jovens e adultos. Esses
estudantes, excluídos por diversos fatores da educação básica, retornam à escola,
depois de um tempo, com o propósito de continuar os estudos e se deparam com o
ensino de gramática, distanciada do vocabulário que representa a língua falada por
esses sujeitos, falantes de variedades linguísticas consideradas desprestigiadas
pela sociedade.
Durante a prática docente, é comum que os professores abordem o uso da
variação linguística, presente nos falares dos alunos, de uma maneira insuficiente,
apontando os “erros” da língua, em favor do prestígio da norma padrão.
Sendo a escola um preparado para permitir aos alunos o acesso ao saber,
situando-os em sua realidade histórico-social, se faz necessário que os professores
reflitam sobre como será tratada a variação linguística dos seus alunos,
conscientizando-os de que as suas manifestações verbais estão sujeitas a um
julgamento social.
Este trabalho monográfico tem como tema “A variação linguística na
Educação de Jovens e Adultos: A prática pedagógica do professor para uma
aprendizagem significativa”. A preocupação com essa temática tem origem na minha
infância. Desde os meus doze anos, comecei observar a maneira diferente do falar
de minha mãe, oriunda de uma família humilde de lavradores, natural de Nagé,
município de Maragogipe, Bahia. Atualmente, quase 20 anos após, ela torna-se
estudante da EJA de uma escola municipal, tendo mudado pouco a sua linguagem.
Tenho observado que as palavras usadas por minha mãe durante as
expressões cotidianas apresentavam um vocabulário diversificado. Sempre
considerei suas expressões e traduções de uma riqueza tamanha, a exemplo das
frases: “A bainha das calças tão prontas pra entregar”, “Pegue os pegador pra
estender a roupa” e “Aqui tem dois pão”.
Essa maneira de falar diferente tem-me provocado alguns questionamentos
em torno dos fatores associados à variação linguística presentes na linguagem de
minha mãe: teria sido resultado da influência geográfica, visto que se trata de uma
pessoa que migrou de uma região rural para a urbana? Pode ser devido ao grau de
14
escolarização, por conta da falta de oportunidades, que impossibilitaram minha mãe
de ter acesso à educação formal? Muitas vezes pensei em corrigi-la, mas repensei
por conta do respeito que sempre tive e por achar engraçado ouvir palavras
“inventadas”.
No início do ano de 2008, quando começaram as aulas de Estudos
Lingüísticos I, do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia,
descobri, embora nada estivesse previsto, que as minhas inquietações residiam no
surgimento de um curioso interesse pelo estudo das variações linguísticas.
O objeto de estudo desta monografia é a variação linguística na Educação de
Jovens e Adultos e suas implicações na prática pedagógica.
A decisão de prosseguir com essa temática para o Trabalho de Conclusão de
Curso surgiu em decorrência das atividades propostas pela disciplina Estudos
Lingüísticos I, através das leituras dos textos, das trocas de idéias durante as
discussões em sala de aula e nas atividades lúdicas envolvendo o tema. Nesse
momento, aprendi que no meio social existem diversas maneiras de falar,
decorrentes da heterogeneidade da língua, essas maneiras de falar, como já nos
ensinava Bagno (2007), são empreendidas por todos os seus falantes, que
interagem por meio da fala ou da escrita.
Com os estudos teóricos, entendi que a sociedade convencionou a língua
como um conjunto particular de palavras com regras gramaticais cuidadosamente
selecionadas e classificou essa seleção em normas padrão e não padrão;
geralmente, essas normas são também consideradas como certa e errada,
contribuindo assim, para o crescimento do preconceito lingüístico existente na
sociedade e, em especial, na comunidade escolar, em detrimento das variedades
linguísticas.
Desse modo, tenho me perguntado: como fica a diversidade linguística no
processo educacional? Os professores da EJA estão trabalhando essa diversidade
de maneira suficiente, por conta do enfoque que tem a norma padrão nas atividades
de Língua Portuguesa? As questões que permeiam o tema da variação linguística
devem ser vistas como um problema e devem ser tratadas ou como formas
diferentes de expressão dos sujeitos?
O presente estudo depara-se com o seguinte problema: considerando que os
alunos da EJA variam a linguagem, o professor, na sua prática pedagógica, utiliza
essa variação para desenvolver uma aprendizagem significativa?
15
Essa inquietação justifica-se, diante da necessidade de entender como os
alunos da EJA podem reconhecer-se possuidores de capacidades expressivas
conscientes da língua, sendo resultado de processos históricos e culturais.
É sabido que a EJA defende a convicção que homens e mulheres aprendam
por toda a vida. Desse modo, é importante acreditar na importância do processo de
participação social dos estudantes da EJA com vistas à edificação de uma
sociedade mais justa.
Assim, corresponde ao objetivo geral deste estudo: analisar, se na prática
pedagógica, o professor utiliza a variação linguística presente nos falares dos
alunos, para contribuir com uma aprendizagem significativa.
Pensando assim, houve uma necessidade de construção dos seguintes
objetivos específicos que nortearam a pesquisa:
Compreender os conceitos de variação linguística e de aprendizagem
significativa, baseados nos estudos teóricos de vários autores, tais como: Cagliari
(2000), Bagno (2007), Bortoni Ricardo (2005), Ausubel et alli (1980) e Moreira
(1999), por meio da legislação pertinente e publicações; identificar, mediante a
observação da prática pedagógica, se o respeito do professor, em relação à
variação linguística dos alunos, proporciona uma aprendizagem significativa.
No que tange à metodologia adotada, no capítulo pertinente, apresentarei os
detalhes necessários à compreensão do caminho percorrido. O instrumento básico
do levantamento de dados foi a entrevista semi-estruturada. A população
pesquisada corresponde a 1 (uma) professora e 14 (quartoze) alunos da EJA, que
participaram das entrevistas.
Neste trabalho, apresentarei no primeiro capítulo conceitos de Variação
Linguística e suas implicações, a EJA e seus sujeitos e os marcos teóricos da
aprendizagem significativa e prática pedagógica. No segundo capítulo, descreverei a
contextualização do estudo, na qual é apresentado o caminho percorrido, as fontes
utilizadas, procedimentos e entraves e o observado na unidade de ensino
pesquisada. O terceiro capítulo será dedicado à análise dos dados, momento em
que serão apresentados os resultados e a síntese das entrevistas com os alunos e
com o professor (a) de da EJA. Finalmente, farei uma breve conclusão, utilizando os
elementos abordados do ponto de vista teórico e nos resultados da pesquisa.
Pretendo, com este estudo, contribuir em favor de uma reeducação
sociolinguística dos alunos da educação de jovens e adultos, na conscientização de
16
que a língua é uma realidade variável que está em estreito vínculo com os usos que
seus falantes fazem dela, valendo-se do espaço e do tempo escolar a fim de formar
cidadãos conscientes das múltiplas escalas de valores que empregamos, a todo
momento, em nossas relações com as outras pessoas por meio da linguagem.
17
2. ALGUMAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS
2.1 Variação Linguística: o que dizem alguns teóricos
Em vários momentos tem-se falado em variação linguística, presente na fala e
na escrita. Segundo Cagliari (2000, p. 76), ¨todo mundo sabe que há modos
diferentes de se falar uma língua.¨; a afirmativa revela que existem várias maneiras
de dizer a mesma coisa, por conta de uma variedade de palavras, significados e
formas de linguagens existentes.
É sabido que as sociedades são formadas por pessoas diferentes: ricos e
pobres, escolarizados e não escolarizados, homens, mulheres, crianças, idosos,
visitantes de outras regiões; são pessoas heterogêneas, diversificadas, sujeitos de
conflitos e submetidos a transformações. Cagliari (2000, p. 81) descreve que
“Através do modo de falar de cada um, revela-se o status social dos indivíduos e
grupos sociais, ficando definido o lugar de cada um na sociedade”, assim, a variação
linguística presente nos falares das pessoas pode representar mecanismos de
diferenciação dos indivíduos, que são regidos por valores sociais, econômicos,
ideológicos, políticos, religiosos, etc.
Bagno (2007, p. 36) completa o pensamento de Cagliari (2000) quando diz
que assim como a sociedade é diversificada, a língua também é diversificada, como
explica: “A língua, na concepção dos sociolinguistas, é heterogênea, múltipla,
variável, instável e está sempre em desconstrução e em reconstrução”, acrescenta
que ¨a língua é o conjunto de conseqüências sociais, culturais e ideológicas, um
trabalho coletivo¨; em outro texto completa: ¨a língua é uma atividade social¨. Desse
modo, sendo a língua uma construção social com características variáveis e
heterogêneas, a sociedade que fala essa língua também assume as características
dessa variação.
Podemos refletir sobre a afirmativa de Cagliari (2000, p. 81), que diz que
¨todos nós, na verdade, somos, de certa forma, falantes de mais de um dialeto, os
quais usamos de acordo com as circunstâncias¨. Pode-se perceber com esta
afirmativa que a variação linguística está presente nas mais diversas situações e
lugares, não só nos meios rurais ou nos meios menos escolarizados, está presente
também entre os falantes urbanos e entre os altamente escolarizados. Para ele, “os
modos diferentes de falar acontecem porque as línguas se transformam ao longo do
tempo, assumindo peculiaridades características de grupos sociais diferentes” (idem,
18
p. 81). Considera-se, portanto, que a variação linguística está presente no cotidiano
das pessoas, como revela Bagno: ¨com tudo isso, a gente está querendo dizer que,
na contramão das crenças mais difundidas, a variação e a mudança linguísticas é
que são o estado natural das línguas, o seu jeito próprio de ser¨ (BAGNO, 2007, p.
37). Assim, é fácil notar que é muito natural que os indivíduos façam uso da variação
linguística no cotidiano, já que esta se faz presente nas interações humanas de uma
maneira espontânea.
Acrescenta o mesmo autor que as pessoas variam o seu modo de falar
individualmente, de maneira mais consciente e menos consciente, de acordo com o
momento de interação em que se encontra. Isso quer dizer que uma mesma pessoa
pode falar de diferentes maneiras, a depender da situação mais ou menos formal em
que está inserida.
Em outro trecho, Cagliari revela que:
Essas considerações mostram que as línguas, quando se transformam com o passar do tempo, não se degeneram, não se tornam imperfeitas, estragadas, mas adquirem novos valores sociolingüísticos, ligados às novas perspectivas da sociedade, que também muda. (CAGLIARI, 2000, p. 81).
Desse modo, vê-se que a língua adquire as características das comunidades
que fazem uso dela, agregando valores históricos e culturais.
As diferenças linguísticas que caracterizam os falares das pessoas nem
sempre são aceitas como parte integrante dos processos culturais. Cagliari (2000, p.
82) afirma que as avaliações e julgamentos que fazem as pessoas revelam seus
preconceitos, pois colocam nas diferenças linguísticas, comportamentos com marca
de prestígio e estigmas. Complementa que a escola é norteada para ensinar a
língua da cultura dominante e incorpora esse comportamento preconceituoso da
sociedade em geral, rotulando seus alunos pelos modos diferentes de falar,
preferindo adotar só as noções de certo e errado, numa falsa visão de realidade.
(CAGLIARI, 2000, p. 82).
A variação linguística este presente na vida dos alunos e precisa ser discutida
em sala de aula, como é explicitado a seguir:
Para a escola aceitar a variação lingüística como um fato lingüístico, precisa mudar toda a sua visão de valores educacionais. Enquanto isso não acontece, os professores mais bem esclarecidos deveriam pelo menos discutir o problema da variação lingüística com seus alunos e mostrar-lhes como os diferentes dialetos são, porque são diferentes, o que isso representa em termos das estruturas lingüísticas das línguas e, sobretudo, como a sociedade encara a variação lingüística, seus preconceitos e a conseqüência disso na vida de cada um. (CAGLIARI, 2000, p. 82)
19
É interessante que a escola mostre aos alunos os valores sociais diferentes
que a sociedade atribui aos diversos modos de falar a língua e que esses valores,
embora se baseiem em preconceitos e falsas interpretações do certo e errado
lingüístico, têm conseqüências econômicas, políticas e sociais muito sérias para as
pessoas.
É importante compreender que a variação linguística está relacionada a
fatores sociais extralingüísticos como: origem geográfica, status socioeconômico,
grau de escolarização, idade, sexo, mercado de trabalho, redes sociais. Tais fatores
podem auxiliar na identificação dos tipos de variação, como exemplifica Bagno
(2007, p. 43):
Origem geográfica: a língua varia de um lugar para outro; assim, podemos investigar, por exemplo, a fala característica das diferentes regiões brasileiras, dos diferentes estados, de diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo estado etc.; outro fator importante também é a origem rural ou urbana da pessoa; Status socioeconômico: as pessoas que têm um nível de renda muito baixo não falam do mesmo modo das que têm um nível de renda médio ou muito alto, e virce-versa; Grau de escolarização: o acesso maior ou menor à educação formal e, com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita é um fator muito importante na configuração dos usos lingüísticos dos diferentes indivíduos; Idade: os adolescentes não falam do mesmo modo como seus pais, nem estes pais falam do mesmo modo como as pessoas das gerações anteriores. Sexo: homens e mulheres fazem usos diferenciados dos recursos que a língua oferece. Mercado de trabalho: o vínculo da pessoa com determinadas profissões e ofícios incide na sua atividade lingüística: uma advogada não usa os mesmos recursos lingüísticos de um encanador, nem este os mesmos de um cortador de cana. Redes sociais: cada pessoa adota comportamentos semelhantes aos das pessoas com quem convive em sua rede social; entre esses comportamentos está também o comportamento lingüístico.
Assim, os fatores sociais extralinguísticos têm exercido importantes
contribuições que acabam por desencadear os diferentes falares dos indivíduos,
resultando na aplicação da variação linguística. Esses fatores auxiliam na
identificação do fenômeno da variação linguística porque mostram que existe uma
relação muito estreita entre a língua e grupos sociais. O uso de uma variedade
línguística presente nos falares dos indivíduos pode significar o uso de um português
não padrão, pode significar a língua de uma classe social diferente, cujas regras de
gramática são desconhecidas. Bagno (2007) acrescenta que no comportamento
20
linguístico das pessoas, merecem destaque o grau de escolarização e o status
socioeconômico, como revela:
As pesquisas lingüísticas empreendidas no Brasil têm mostrado que o fator social de maior impacto sobre a variação lingüística é o grau de escolarização que, em nosso país, está muito ligado ao status socioeconômico: a escola de qualidade e a possibilidade de permanência mais prolongada no sistema educacional são bens sociais limitados às pessoas de renda econômica mais elevada. Estudos sociológicos apontam que existe uma relação muito estreita entre escolaridade e ascensão social: os melhores empregos e os postos de comando da sociedade estão reservados predominantemente aos cidadãos mais escolarizados. (BAGNO, 2007, p.44).
Entende-se que a escola se configura como um espaço dinâmico que reúne
pessoas de valores, saberes, regiões e culturas diversas. Todavia, através das
práticas pedagógicas, a escola tem priorizado a norma padrão em detrimento da
diversidade linguística, presente nos falares dos educandos, como afirma o mesmo
autor, ¨A norma padrão é um construto sociocultural, portador-perpetuador de uma
ideologia linguística, muito mais até do que um guia normativo para se falar e
escrever corretamente¨. (BAGNO, 2007, p. 19).
Destaca ainda que a norma padrão, prestigiada por tantos como se fosse a
única representante legítima e legal dos falantes dessa língua, no campo da prática,
não é falada na sua totalidade por ninguém, a ponto de afirmar que:
A idéia de que existe uma variedade padrão, uma língua padrão ou um dialeto padrão, quando o que de fato existe é uma norma padrão _ no sentido mais jurídico do termo norma _ que não é língua, nem dialeto, nem variedade, já que não é falada (nem mesmo escrita) por ninguém e não existe língua, dialeto nem variedade sem falantes reais. (BAGNO, 2007, p.19)
Segundo o mesmo autor, lingüistas e educadores sem formação sociológica
adequada acabam produzindo, ainda que com a melhor das intenções, análises
equivocadas da língua portuguesa que são incorporadas de forma distorcida. O
autor acrescenta que ¨por causa da formação histórica da sociedade brasileira, uma
formação marcada por toda sorte de violência e autoritarismo, existe na nossa
cultura o mito muito poderoso do monolinguismo¨ (BAGNO, 2007, p. 27). Esse mito
defende a idéia de que no Brasil só se fala o português. Para o autor, ¨a
perpetuação do mito do monolinguismo do Brasil¨ oculta o nosso multilinguísmo-
multidialetalismo, resultado de contextos sociais e culturais que o envolvem. A
seguir, Bagno revela como o Brasil congregou tantas linguagens:
Das quase 210 línguas que coexistem com o português brasileiro, cerca de 190 são línguas indígenas (um décimo do total de línguas que se falava no
21
território brasileiro no início da colonização), usadas por um total de mais ou menos trezentos mil descendentes dos primeiros habitantes do território – sobreviventes de uma longa história de extermínio sistemático praticado durante os quatro séculos de colonização e, em boa medida, perpetuada até hoje na forma de uma situação social de extrema indigência e de exclusão absoluta. Além das indígenas, convivem com o português brasileiro, quase vinte línguas de origem européia e asiática, trazidas pelos imigrantes que se estabeleceram no Brasil desde o início do século XIX, logo após a independência (1822). (BAGNO, 2007, p.126)
Ao citar os povos que contribuíram para esse multilinguísmo, não nos
esqueçamos dos descendentes de alemães, italianos, japoneses, coreanos,
chineses e outros que passaram a integrar a sociedade brasileira, sobretudo nas
grandes cidades, sem contar os povos das regiões brasileiras fronteiriças. Com isso,
podemos afirmar que o português brasileiro vive em contato com outras línguas,
esse cenário caracteriza o plurilinguismo do Brasil, silenciado por muitos anos e pela
escola que continua a preservar o mito do monolinguismo.
Podemos perceber que a variação linguística está presente na vida das
pessoas independentemente do nível socioeconômico, como explicam os fatores
extralinguísticos, mais é nas classes menos favorecidas, devido ao grau de
escolaridade, que ela se destaca. Nesse aspecto, Bortoni-Ricardo (2005, p. 14)
concorda com Cagliari (2000) e Bagno (2007) ao dizer que “o comportamento
lingüístico é um indicador claro da estratificação social”, assim a variação linguística
presente nos falares dos indivíduos faz com que eles sejam diferenciados pela
maneira que dispõem do uso da língua, essas diferenças se acentuadas tendem a
se perpetuar e são responsáveis pela segregação dos sujeitos.
Os sujeitos que sofrem os preconceitos da língua são os falantes do
português não-padrão, usado pelos indivíduos de classes sociais desfavorecidas,
esse português não-padrão, em suma, constitui-se a língua da grande maioria pobre
e, consequentemente, a língua dos alunos pobres que freqüentam as escolas
públicas e falam de uma maneira diversa daquela que é ensinada nas instituições
escolares.
Para Bagno (2007), a língua é vista a partir de dois lados contrapostos: o lado
do discurso científico, que admite as noções de variação e mudança e defende a
idéia que não existe erro na língua, e o lado do discurso do senso comum,
geralmente preconceituoso, que opera com a noção de erro, como podemos ver a
seguir:
A noção de erro, em língua, tem a mesma origem das outras concepções de certo e errado que circulam na nossa sociedade. Assim, é bom lembrar
22
logo de saída que todas as classificações sociais e culturais de certo e errado são resultantes de visões de mundo, de juízos de valor, de crenças culturais, de ideologias e, exatamente por isso, estão sujeitas a mudar com o tempo. (BAGNO, 2007, p. 60).
Essas mudanças nos permitem repensar conceitos, atitudes e
comportamentos considerados errados em épocas anteriores, mas que mudaram
com o passar dos anos. Assim como mudaram as concepções de costumes, valores,
concepções religiosas, a língua também passeou no campo das mudanças, as
construções sociais das invenções humanas fizeram surgir a noção de erro. Desse
modo, a escola e a sociedade têm usado conceitos como ¨certo¨ e ¨errado¨ para
marcar os indivíduos e classes sociais pelos modos de falar e para revelar em que
consideração os têm, se eles são pessoas que gozam de influência ou ocupam
posições de prestígio. Essa trajetória é descrita a seguir:
Porque a educação lingüística primária, primeira, primordial se dá no início da vida de qualquer pessoa, quando ela entra no mundo rodeado de outras pessoas que não param de falar ao seu redor. Quando (ou se) essa pessoa vai para a escola, tudo que ela aprendeu espontaneamente em seu convívio familiar, comunitário, social vai se transformar em saber formalizado, sistematizado, delimitado em áreas específicas de conhecimento, rotulado por meio de conceitos, explicado com a ajuda de teorias. (BAGNO, 2007, p.82).
Assim, nota-se que a partir do momento em que o educando entra em contato
com o saber sistemático, ele pode descobrir que o funcionamento dos usos da
língua é mais amplo do que ele supunha. A partir desse momento, o aluno pode
perceber que as suas manifestações verbais estão sujeitas a um julgamento social.
Bagno defende a idéia que lingüistas e educadores têm exercido importantes
contribuições para a elaboração de políticas linguísticas através do livro didático.
Nesse sentido, o autor revela que os livros didáticos deram um significativo salto de
qualidade, conforme preconiza o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), mas,
ainda prevalecem relações entre a forma de linguagem nos livros didáticos e o
controle social e intelectual que eles pressupõem, como podemos ver a seguir:
Apesar disso, o tratamento da variação lingüística nos livros didáticos continua sendo um tanto problemático. A gente percebe, em muitas obras, uma vontade sincera dos autores de combater o preconceito lingüístico e de valorizar a multiplicidade lingüística do português brasileiro, mas a falta de uma base teórica e consistente e, sobretudo, a confusão no emprego dos termos e dos conceitos prejudicam muito o trabalho que se faz nessas obras em torno dos fenômenos de variação e mudança. (BAGNO, 2007, p. 119).
Segundo o mesmo autor, o livro didático se refere ao tratamento da variação
linguística como sinônimo das variedades regionais, rurais ou de pessoas não
23
escolarizadas, como se os falantes urbanos e escolarizados não tivessem a variação
linguística presente nos seus falares. Mesmo os livros didáticos que conseguem
tratar da variação linguística de maneira relativamente satisfatória acabam deixando
de lado as variedades urbanas. Por conta do prestígio socialmente conferido aos
cidadãos mais letrados, fica a ilusão que eles estão falando de acordo com a
gramática normativa. Sobre a gramática normativa, Bagno faz uma ressalva:
Se for para ensinar gramática como mera repetição da doutrina tradicional, anacrônica e encharcada de preconceitos sociais, definitivamente não é para ensinar gramática. Se ensinar gramática for entendido como decoreba de nomenclatura sem nenhum objetivo claro e relevante, análise sintática de frases descontextualizadas e às vezes até ridículas, definitivamente não é para ensinar gramática. Se por gramática entendemos o estudo sem preconceitos do funcionamento da língua, do modo como todo ser humano é capaz de produzir linguagem e interagir socialmente através dela, por meio de textos falados e escritos, portadores de um discurso, então definitivamente é para ensinar gramática, sim. (BAGNO, 2007, p. 69).
Assim, mais do que ensinar, é tarefa dos educadores refletirem acerca da
língua que falam os seus alunos e a partir de então, construírem o conhecimento
gramatical deles, fazer com que eles descubram o quanto já sabem de gramática, da
língua e como é importante se conscientizar desse saber para a produção de textos
falados e escritos de forma coesa, coerente, criativa e significativa.
Desse modo, trabalhar a questão da reeducação sociolinguística com os
alunos significa possibilitar que eles se reconheçam como possuidores de
capacidades de expressão, tomando consciência de que a língua é usada como
elemento de promoção social, repressão e discriminação.
Acredita-se que para a construção de uma sociedade mais tolerante, as
diferenças linguísticas devam ser respeitadas e valorizadas e, para tanto, se faz
necessário que as pessoas não tenham medo de usar a língua a fim de que o
convívio lingüístico seja democratizado.
24
2.2 Algumas considerações sobre a Educação de Jovens e Adultos
Sabe-se que, a partir da década de 1940, foram realizadas no Brasil algumas
campanhas educacionais que trataram de questões sobre a EJA, com o propósito de
corrigir a mazela do analfabetismo herdada por décadas de exclusão a uma camada
da população, os jovens e adultos.
Entre essas Campanhas, destacam-se: o Serviço de Educação de Adultos em
1947, a Campanha de Educação Rural, em 1952, a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo, em 1958 e o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL), este último criado pela Lei nº 5379, de 15 de dezembro de 1967, cujo
objetivo principal era erradicar o analfabetismo em dez anos e promover a educação
básica para jovens e adultos.
É interessante salientar as referidas campanhas com iniciativas pedagógicas
que super valorizavam o aprendizado da leitura e da escrita e, dessa maneira, não
refletiam as reais necessidades dos sujeitos envolvidos nas propostas das
campanhas. Foi a partir das proposições do educador Paulo Freire, surgidas no
início dos anos 60, que segundo relatos de Moura:
Defendia e propunha uma educação de adultos que estimulasse a colaboração, decisão, participação e a responsabilidade social e política. Explicitava o respeito ao conhecimento popular, ao senso comum do trabalhador, quando defendia a categoria do saber apreendido existencialmente, pelo conhecimento vivo dos problemas do trabalhador e de sua comunidade, como um ponto de partida da prática pedagógica. (MOURA, 1999, p.28)
Nesse sentido, Freire, ao defender uma educação com responsabilidade
social e política, propunha que esta educação representasse o resgate da cultura e
valorização das origens desse aluno trabalhador. Esse fato se explica tendo em vista
que a situação do analfabetismo foi e ainda é uma conseqüência da condição
miserável em que está submetido o alfabetizando, e a trajetória pela qual passa o
aluno na escola é influenciada pelo seu contexto social.
No ano de 1964, Paulo Freire disseminou suas ideias através do trabalho
desenvolvido pelo Plano Nacional de Alfabetização, explanado pelos movimentos
populares. O desenvolvimento de sua proposta baseou-se na aprendizagem dos
sujeitos a partir da sua experiência existencial, com o propósito de transformação
dessa realidade. Moura (1999) relata a proposta de Freire (1981):
(...) como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo como um ato criador (...). Enquanto ato de conhecimento e ato criador, o
25
processo de alfabetização tem, no alfabetizando o seu sujeito (...) (MOURA, 1981, p. 29).
Para Freire, se o alfabetizando é o sujeito cerne do processo educativo, sua
proposta reside em favorecer a aprendizagem utilizando os elementos que
perpassam pela cultura desse sujeito como cenário favorável ao conhecimento.
Esse foi o ponto de partida para a realização do trabalho do autor, que propunha,
através de uma intervenção conscientizadora, a transformação da realidade desses
educandos.
O final dos anos 70 e começo dos anos 80 foi um período caracterizado pela
efervescência política; nesse período, significativas contribuições foram trazidas
para a EJA. As contribuições da Teoria da Psicogênese da Língua Escrita e as
idéias de Vygotsky fizeram parte dos novos referenciais anunciados, como explica
Moura:
Divulgadas no país, a partir de investigações e produções teóricas, essas idéias têm comprovado que, mesmo sendo teorias que nasceram das investigações empíricas com crianças, possuem princípios e características que podem perfeitamente ser utilizados como referenciais de análise explicativos dos processos de desenvolvimento psicológicos e lingüísticos de jovens e adultos (MOURA, 1999, p.38).
A teoria Psicogênese da Língua Escrita defende a idéia de que o aprendiz
precisa compreender as propriedades da escrita alfabética. Segundo o relato acima,
esta teoria pode ser, com a devida atenção, destinada para aprendizes diferentes,
como é o caso dos jovens e adultos, com a proposta de diagnosticar possíveis
dificuldades dos educandos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de nº 9.394 de
1996, preconiza que a EJA será destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
A Constituição de 1988 reconhece o direito dos jovens e adultos ao ensino
fundamental e estabelece que, adequado às condições do educando, seja ofertado o
ensino noturno regular. Consoante com essa proposta, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN) de nº 9.394/96, no artigo 4º, afirma que é dever do
Estado a garantia do ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive a sua oferta
para todos aqueles que não tiveram acesso à escolarização na idade própria e
ainda:
(... oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e
26
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola (LDBN 9.394/96) artigo 4º).
A V Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos (Confintea)
foi realizada em julho de 1997, em Hamburgo, na Alemanha. Durante o evento,
representantes de 170 países assumiram compromissos reconhecendo que os
cidadãos possuem o direito à aprendizagem ao longo da vida; essa aprendizagem
pode ser concebida durante a educação formal ou nas situações informais de
aprendizagem.
Em dezembro de 2009, aconteceu a VI Confintea, dessa vez o evento foi
realizado na Cidade de Belém do Pará e contou com a participação de 150 países
que compartilharam experiências e afirmaram compromissos em expandir
imensamente as oportunidades de aprendizagem para jovens e adultos. A
Conferência reafirmou a definição da EJA apresentada na Declaração de Hamburgo.
Nesse evento, ficou esclarecido que as recomendações sugeridas pelas Confinteas
devem ser implementadas nas políticas públicas da EJA, porém isso ainda é um
grande desafio.
Di Pierro (2008) revela que segundo a 3ª Declaração de Hamburgo sobre
Educação de Adultos, o seguinte conceito é trazido:
Por educação de adultos entende-se o conjunto de processos de aprendizagem, formal ou não, graças ao qual as pessoas consideradas adultas pela sociedade a que pertencem desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos e melhoram as suas qualificações técnicas e ou profissionais, ou as reorientam de modo a satisfazerem as suas próprias necessidades e as da sociedade. A educação de adultos compreende a educação formal e a educação permanente, a educação não-formal e toda gama de oportunidades de educação informal e ocasional existentes numa sociedade educativa e multicultural, em que são reconhecidas as abordagens teóricas e baseadas na prática. (DI PIERRO, 2008, p. 17).
A EJA representa uma modalidade de educação presente em países que
convivem com intensas desigualdades sociais, seus estudantes vivem em contextos
que traduzem cenários de exclusão. Essa afirmativa se explica com as
considerações de Arroyo (2005) ao descrever os sujeitos da EJA:
(... pobres, desempregados, na economia informal, negros, nos limites da sobrevivência. São jovens e adultos populares. Fazem parte dos mesmos coletivos sociais, raciais, étnicos, culturais. O nome genérico educação de jovens e adultos oculta essas identidades coletivas (ARROYO, 2005, p.45).
27
Nota-se, assim, que os estudantes da EJA estão entre as populações
desfavorecidas social e economicamente, submetidos a sérias dificuldades,
características da situação de pobreza em que vivem, como explica Urpia (2009):
Os jovens e adultos da EJA são aqueles que se igualam — apesar de serem diferentes no que diz respeito às questões de gênero, de etnia/raça, de geração — porque vivenciam experiências relativas à produção da existência ligadas à realização de atividades econômicas desvalorizadas socialmente (URPIA, 2009, p. 6).
Vê-se que os estudantes da EJA estão propensos a problemas sociais
diversos; sobre esse aspecto, Dantas (2008, p. 129) critica os professores que
percebem o aluno de EJA como um ser carente que, acima de tudo, precisa de
ajuda do professor.
Segundo Haddad (2007), cabe ao Estado implantar políticas de inclusão nos
grupos considerados vulneráveis, em situação de desigualdade. Em outro trecho,
complementa:
Sabe-se que a falta destas políticas afeta principalmente as pessoas que historicamente foram excluídas do sistema, como negros, idosos, mulheres e camponeses, gerando situações de iniquidades no que diz respeito ao acesso e à permanência no sistema educacional (HADDAD, 2007, p.7).
O aluno adulto excluído do processo econômico traz, na sua trajetória,
experiências resultantes das dificuldades enfrentadas por ele, ocasionadas por
fatores que contribuem para a construção das suas especificidades próprias. É
preciso que os professores compreendam a diversidade dos sujeitos da EJA,
adotando medidas para atender as suas especificidades, defendendo metodologias
de ensino adequadas sobre os contextos em que estão inseridos (DANTAS, 2008).
28
2.3 Reflexões sobre Aprendizagem Significativa
Moreira (1999), em seu livro Teoria da Aprendizagem, define a teoria da
aprendizagem significativa de Ausubel como uma teoria cognitivista, uma vez que a
mesma define a aprendizagem como resultado de armazenamento e organização de
informações na mente do indivíduo. Moreira (1999, p. 11) acredita na existência de
uma estrutura na qual organização e integração ocorrem em razão de um
conhecimento prévio como o fator de maior influência na aprendizagem. Destaca
ainda o professor como responsável pela identificação do nível de conhecimento em
que o aluno se encontra para, a partir disso, nortear o ensino. Segundo o autor, a
aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação passa a se relacionar
com os conhecimentos que o aluno já possui de maneira não aleatória, modificando
tanto o conteúdo aprendido quanto o que já possuía.
Moreira (1999) relata que as novas idéias precisam se relacionar ou se
“ancorar” em forma de conceitos relevantes, em estruturas que ele chama de
subsunçores. Segundo o mesmo autor, o subsunçor é uma estrutura à qual uma
nova informação pode se integrar, modificando a estrutura cognitiva do aprendiz;
essa estrutura é altamente organizada e detém conceitos que armazenam as
experiências prévias do estudante. Ao atingir a idade escolar, a criança já tem um
conjunto de conceitos que permitem a aprendizagem significativa por recepção, esse
conjunto de conceitos serve de subsunçores para que a criança consiga ancorar
novas idéias. Uma ancoragem é a associação automática entre um estímulo e uma
resposta emocional. Um aluno na idade pré-escolar, por exemplo, que vive em um
meio onde a leitura e a escrita fazem parte de sua realidade, terá mais facilidade de
aprender os códigos lingüísticos do que um aluno que vive em um meio onde ler e
escrever não são atos corriqueiros. O aluno acostumado a ouvir histórias e ver seus
pais lendo dará uma resposta mais significativa diante do ensino de leitura e escrita
do que um aluno não acostumado a perceber os códigos lingüísticos como agente
de comunicação.
Ainda para o autor, o uso de organizadores prévios, instrumentos que servem
como “pontes cognitivas”, podem ser utilizados como subsunçores. Para ele:
Organizadores prévios são materiais introdutórios apresentados antes do material de aprendizagem em si. Contrariamente a sumários que são, de um modo geral, apresentados ao mesmo nível de abstração, generalidade e abrangência simplesmente destacando certos aspectos do assunto,
29
organizadores são apresentados em um nível mais alto de abstração, generalidade e inclusividade. (MOREIRA, 1999, p.).
Dessa forma, a partir dos organizadores prévios, é possível que o indivíduo
aprenda um novo conhecimento de forma significativa, quando preexistir em sua
estrutura cognitiva idéias, conceitos ou proposições relevantes disponíveis como
ponto de ancoragem. Assim, fica notório que a interação dependeria não apenas de
conceitos, mas da modificação das idéias existentes e mais relevantes em um novo
material. Segundo Moreira (1999), esses organizadores podem ser apresentados
aos indivíduos através de quaisquer instrumentos, como uma discussão em sala,
livros, vídeos ou uma música que facilite a aprendizagem.
O autor aponta ainda três tipos de aprendizagem significativa, a saber:
aprendizagem representacional, aprendizagens de conceitos e a aprendizagem
proposicional.
Segundo o autor, a aprendizagem do tipo representacional é aquela que
atribui significado a determinados símbolos, o autor diferencia as palavras como
símbolo e os objetos aos quais elas se referem como referentes; dessa forma, a
aprendizagem representacional forma uma imagem acústica que relaciona símbolo e
referente. De acordo com Moreira (1999), a aprendizagem de conceitos é também
uma aprendizagem representacional, esta, porém, adquire um significado mais
completo e características particulares do referente.
Já a aprendizagem proposicional se refere às proposições em que símbolos
e conceitos são usados de forma interligada, tornando fácil a compreensão. Para se
compreender uma proposição verbal, é preciso conhecer os símbolos e conceitos
que a formam. Um indivíduo jamais poderá entender o sentido da proposição
“cachorro bonito” se não puder compreender o símbolo cachorro e não tiver o
conceito bonito em sua estrutura cognitiva. Essa pessoa poderá repetir a proposição
da mesma forma que um aluno será capaz de repetir fórmulas e respostas prontas
sem refletir a respeito delas e tornar significativa sua aprendizagem.
Esclarece o mesmo autor que as práticas de avaliação nas quais o estudante
repete de forma precisa as informações impedem que o mesmo tenha uma
aprendizagem significativa. Para que isso ocorra, Moreira (1999) evidencia a
Aprendizagem Significativa através do processo de assimilação, em que o
conhecimento prévio do indivíduo e o novo conhecimento se relacionam gerando um
terceiro, que tanto modifica o primeiro, retendo apenas sua parte significativa através
30
de um processo conhecido por obliteração, ou seja, esquecimento de suas partes
menos significativas, como transforma também o novo conhecimento, tornando-se
um produto interacional.
Os autores Ausubel, Novak e Hanesian (1980) apontam também a
aprendizagem subordinada, superordenada e combinatória; segundo eles, a
aprendizagem subordinada é definida como o tipo de aprendizagem que se
relaciona com ideias pré-existentes na estrutura cognitiva do indivíduo.
A aprendizagem superordenada, segundo Ausubel et alli (1980), ocorre
quando existir uma reflexão acerca do conteúdo trabalhado dando impulso para o
surgimento de novas ideias; por exemplo, uma criança, que adquire o conceito de
cão, gato, etc., pode aprender que todos são subordinados ao conceito de
mamíferos. Assim, ao aprender o conceito de mamífero, passa então a subordinar o
conhecimento anterior a esse novo conceito de forma a organizar em sua estrutura
cognitiva características próprias do referente.
Quando o conhecimento não se faz de forma subordinada ou superordernada,
diz-se que a aprendizagem é combinatória. Esse tipo de aprendizagem gera o
aparecimento de ideias não subordinadas a conhecimentos anteriores exclusivos,
mas a vários conhecimentos, gerando novas ideias. Uma vez que o conteúdo
aprendido não faz relação direta apenas com um conteúdo, e sim com vários
anteriores, para através de reflexão formar conceitos relevantes, esse tipo de
aprendizagem é, talvez, considerado o menos capaz de se ancorar ao conhecimento
pré-existente e mais difícil de aprender e reter que proposições subordinadas e
superordenadas.
É relevante destacar que, segundo os autores acima mencionados, tanto na
aprendizagem superordenada quanto na aprendizagem combinatória, há uma
recombinação dos elementos existentes na estrutura cognitiva do indivíduo; à
medida que novas informações são adquiridas, a estrutura pode se reorganizar e
ganhar novos significados, sendo essa etapa chamada de reconciliação integrativa
(Ausubel, et alli 1980).
Ausubel, Novak e Hanesian (1980) diferenciam ainda a aprendizagem em:
aprendizagem significativa mecânica, que ocorre quando há uma associação
arbitrária entre os conhecimentos anteriores e o novo conteúdo apresentado. A
repetição de fórmulas para a resolução de questões em uma prova de Matemática,
por exemplo, e aprendizagem receptiva, uma forma de aprendizagem em que o
31
conteúdo é transmitido de forma completa ao aluno sem que ele participe ativamente
da construção do saber. As formas de aprendizagens dos tipos representacionais,
de conceitos e proposicional, que seriam auxiliadoras no processo de aprendizagem,
são ignoradas para que o aluno apenas reproduza de forma mecânica os conteúdos
das disciplinas, impedindo assim uma aprendizagem significativa. Esse conteúdo é
internalizado pelo aluno que irá reproduzi-lo no momento em que lhe for solicitado.
Os autores chegam a afirmar que:
A aprendizagem receptiva significativa é importante para a educação porque é o mecanismo humano por excelência de aquisição e armazenamento de uma vasta quantidade de ideias e informações representadas por algum campo de conhecimento. [...] A tremenda eficiência inerente à aprendizagem significativa deve-se a suas duas principais características - a sua não arbitrariedade e a sua substantividade. (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p.33).
Os mesmos autores apontam que o real problema não é o fato de o aluno ter
se habituado a receber as informações de forma a reproduzi-las sem questionar,
mas o fato de os alunos se enganarem e os professores e pais acreditarem que a
memorização de respostas prontas é mais fácil e útil do que produzirem um esforço
para significar a aprendizagem.
Para Ausubel, Novak e Hanesian (1980), a maior parte do conteúdo
transmitido oralmente em sala de aula se reduz a uma aprendizagem mecânica de
memorização dos conteúdos. Os autores não colocam a culpa no método, mas no
uso abusivo do mesmo que pode acarretar uma aprendizagem não significativa.
Para os autores, o diálogo é um fator extremamente importante para uma
aprendizagem significativa, uma vez que é um facilitador no processo de
aprendizagem, auxiliando na transmissão de ideias e conteúdos adquiridos a ponto
de afirmarem que:
O aperfeiçoamento da manipulação de conceitos e proposições por meio das propriedades representacionais das palavras, e através do refinamento das compreensões subverbais emergentes na aprendizagem significativa, ativa ou receptiva, clarifica tais significados e os torna mais precisos e transferíveis. (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p.33-34).
Assim, com o domínio da linguagem e o diálogo entre o conhecimento pré-
existente e o novo conteúdo apresentado, o indivíduo é capaz de alcançar novos
níveis de conhecimento e aperfeiçoar o domínio de conteúdos, passando a transmitir
idéias e compartilhar com outros os conhecimentos adquiridos.
32
2.4 Fatores que Influenciam a Aprendizagem Significativa
A aprendizagem significativa requer do aluno que o mesmo relacione o novo
conteúdo aprendido de forma não arbitrária com o conhecimento anterior em sua
estrutura cognitiva. Dessa forma, caso o aluno insista em apenas memorizar os
conteúdos de maneira arbitrária, o conhecimento passa a ser mecânico e não
significativo. Em contrapartida, se a forma de ensino não for significativa, por mais
disposição que o aluno tenha em significar sua aprendizagem, esta não será
significativa.
Segundo Ausubel, Novak e Hanesian (1980), o fato de muitos professores
não aceitarem as respostas pessoais dos alunos influencia na decisão dos
estudantes de fazerem sua aprendizagem mecânica e não significativa. Esse tipo de
atitude resultará em uma reprodução do conteúdo literalmente ao invés de resultar
em novos conhecimentos.
Ausubel at alli (1980) apontam ainda a reprovação anterior em determinada
matéria como um fator que influenciaria o estudante, por medo de voltar a fracassar,
a preferir decorar o conteúdo a arriscar uma aprendizagem significativa. Os autores
chegam a afirmar que fatores como conhecimento prévio do aluno, seu
desenvolvimento cognitivo, aptidões, disponibilidade e até mesmo sua personalidade
influenciam sua aprendizagem. Os conhecimentos prévios dos alunos são de grande
importância para que os professores possam planejar suas aulas. É a partir dessa
realidade que eles irão desenvolver suas tarefas para tornar a aprendizagem
significativa. As aptidões dos alunos para se relacionarem com os assuntos
trabalhados em sala também influenciam sua aprendizagem. Um aluno que prefere
a matéria Ciências à Llíngua Portuguesa, irá ter um melhor desempenho nessa
matéria. Assim também alunos com mais tempo livre irão, provavelmente, se dedicar
mais ao estudo.
A escola precisa partir de onde o aluno está, pensar em suas preocupações e
necessidades. Deve estar centrada nos alunos e não no currículo, precisa de
profissionais bem preparados e remunerados com conhecimentos teóricos e práticos
em novos meios de comunicação. Ela precisa reinventar-se para atrair o aluno para
a sala de aula e tornar a aprendizagem mais prazerosa e significativa. Ausubel,
Novak e Hanesian (1980) chegam a afirmar que:
33
O material de aprendizagem consiste de componentes significativos (por exemplo, pares de adjetivos), mas a tarefa de aprendizagem como um todo (aprender uma lista de palavras significativas associadas arbitrariamente) não é “logicamente” significativo. E mesmo o material logicamente significativo pode ser aprendido pelo método de decorar (aprendizagem automática), se a disposição do aluno para aprender não for significativa. (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p.32).
Observa-se, porém, que não é apenas o uso de um material didático
potencialmente significativo que fará uma aprendizagem ser significativa. É preciso,
também, uma disponibilidade e vontade do aluno de aprender de forma significativa,
pois o mesmo pode decidir memorizar os conteúdos a fim de realizar as avaliações.
Ausubel, Novak e Hanesian (1980) apontam que o próprio professor e a forma como
este trabalha em sala pode influenciar o aprendizado. Um professor despreparado,
que entra em sala apenas para cumprir uma carga horária e não se preocupa em
preparar o plano de ensino, buscando trabalhar temas e desenvolver as aptidões
dos alunos torna difícil a aprendizagem significativa. A forma como esse mesmo
professor se porta em sala, a preocupação que tem com os alunos, se ele observa
suas realidades e busca respeitá-los influenciarão a aprendizagem. Os alunos
observam o professor e suas atitudes e a coerência entre o que fala e faz é fator
importante para o sucesso pedagógico.
Ausubel, Novak e Hanesian (1980) apontam que: “ensino-aprendizagem não
é uma via de mão única independente dos fatores que o cercam. Se o aluno não
tiver um conhecimento prévio dos conteúdos e não puder fazer relação entre eles a
aprendizagem significativa não acontecerá”. Assim como a presença do aluno, a
falta de um material didático facilitador dificulta a aprendizagem; um professor que
se preocupa com o clima da sala e sua relação com os estudantes facilitará o
convívio e motivará o seu aluno a continuar aprendendo de forma significativa.
Os autores ainda afirmam que: “a aprendizagem escolar não se dá num
vácuo social, mas somente em relação a outros indivíduos que geram reações
emocionais pessoais, ou servem como representações impessoais da cultura”.
(AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p. 26).
2.5 Assimilação e Organização do Conhecimento
Segundo Ausubel, Novak e Hanesian (1980), a modificação e ampliação de
um conceito anterior é um processo de assimilação e organização do conhecimento.
34
Os autores afirmam que quando um novo conceito é assimilado, tanto o
conhecimento prévio quanto o aluno são modificados. Há uma ampliação do
conceito. Ausubel et alli (1980) citam o exemplo de que, quando a criança aprende
que jogar comida fora é pecado, amplia o conceito sobre pecado, assimilando uma
nova idéia ao conhecimento anterior.
Para reconhecer a aprendizagem significativa no aluno, o professor que
deseje identificá-la através de avaliações deve observar que o aluno pode repetir
fórmulas e respostas decoradas mecanicamente. Portanto, as perguntas devem ser
elaboradas num contexto um tanto diferente do nível em que o conteúdo foi
apresentado inicialmente.
O professor poderia, por exemplo, pedir que o aluno escrevesse uma redação
sobre determinado assunto através de raciocínio lógico, objetivando não apenas
encontrar a resposta da questão, mas encontrar uma solução aceitável para sua
resolução. Sobre isso Ausubel, Novak e Hanesian (1980) destacam a importância no
aluno do “poder de raciocínio, flexibilidade, improvisação, sensibilidade de problema
e astúcia tática”; poderia ainda pedir ao aluno que explicasse determinado conceito
apreendido, oralmente, com suas próprias palavras.
Os autores ainda afirmam que: “mesmo oralmente ou em textos escritos, os
alunos durante muitos anos internalizaram conceitos e diversos exemplos para
elucidar as mais diversas situações, dando uma falsa ilusão de aprendizagem
significativa”. Seria, então, para evitar essa reprodução, que o professor elabora
perguntas e situações-problemas com características diferentes e desconhecidas do
aluno, exigindo que ele modifique o conhecimento existente.
35
2.6 Prática pedagógica: algumas reflexões
Organizar a aula é uma importante atitude valorizada pelas instituições
educativas. No processo de ensino-aprendizagem, professores e alunos são
parceiros e constituem os sujeitos das relações pedagógicas. É na sala de aula,
espaço onde convivem os alunos e onde acontece o desenvolvimento destes, que
as aprendizagens se desenvolvem. Argumentando sobre essa questão, Veiga (2008,
p. 293) considera que “a relação pedagógica é um conjunto de relações humanas,
sociais, históricas e profissionais que se estabelecem entre o professor, o aluno e o
conhecimento (conteúdo cultural).”
Nesse sentido, essas relações se traduzem em um projeto colaborativo de
organização, o qual objetiva “orientar a reflexão com base na prática e para a
prática, sendo um instrumento norteador da vida pedagógica que é gestada ao longo
da aula”, como assinala Veiga (2008, p. 267).
Pode-se afirmar que as experiências vividas em sala de aula refletem a
atuação do professor e o relacionamento com os alunos, o desenvolvimento de
habilidades e conhecimentos e como se dá as reações desses alunos diante das
interações entre eles e a sua realidade externa.
Explicitando a reflexão e a prática, Cordeiro (2007, apud Veiga, 2008, p. 293)
revela que a relação pedagógica é apresenta a partir de três dimensões: linguística,
pessoal e cognitiva. Para a autora:
A primeira diz respeito ao discurso, ao diálogo e à linguagem da aula. Essa dimensão propicia a compreensão das maneiras como se desenvolve o discurso na sala de aula, situando melhor as interações que ocorrem entre professor e alunos e entre os próprios alunos. (...) A dimensão pessoal do vínculo entre professor e alunos é marcada por uma certa assimetria, considerando que existe a interferência da noção de autoridade e admissão de que se trata de relações que se estabelecem com finalidades relativamente determinadas, ligadas a objetivos externos próprios às relações, quais sejam, o conhecimento, o ensino e a aprendizagem de um determinado saber. (...) A dimensão cognitiva fortalece a idéia de que a relação pedagógica se configura como relação com o conhecimento (VEIGA, 2008, p. 293).
Nota-se que no projeto educacional, a sala de aula constitui-se em um espaço
aberto de convivência onde as dimensões pedagógicas são vivenciadas por
professores e alunos através dos diálogos estabelecidos entre as interações dos
sujeitos e através do relacionamento afetivo adquirido na busca de novas
informações.
36
Podemos refletir sobre a afirmativa de Libâneo que diz que “a medida que a escola
se organiza com atividades que facilitam o crescimento e o desenvolvimento nas
várias dimensões do ser humano, ela se tornará algo interessante, vivo, dinâmico.“
(LIBÂNEO, 1991, p.24).
Assim, fica claro que a organização da escola é algo que depende de atitudes mais
afirmativas. Emerge, portanto, a necessidade de reconhecer nos professores,
indivíduos suscetíveis a mudanças e transformações. Para tanto, desenvolver uma
prática pedagógica pautada num processo colaborativo de construção coletiva se
constitui uma importante competência que deve fazer parte das ações do professor
da EJA, como afirma Veiga:
(...) o processo de organização didática da aula voltada para a revisão da prática pedagógica caracteriza-se principalmente pela convivência colaborativa de professores e alunos que problematizam, discutem, analisam, decidem, executam e avaliam as atividades propostas coletivamente (VEIGA, 2008 p. 295).
Observa-se que a partir do momento em que as atividades didáticas passam
a ser construídas numa ação coletiva envolvendo professores e alunos, todos ficam
comprometidos com o ato educativo. Esse envolvimento pode ser estabelecido
através de um clima de convivência em sala de aula em que os alunos interfiram e
participem num processo de avaliação e auto-avaliação. É de fundamental
importância que, na EJA, professores e alunos possam ser alcançados por uma
convivência colaborativa de organização didática a fim de que as questões que
perpassam o cotidiano da aula sejam discutidas e refletidas por todos os envolvidos
nesse processo.
Indo mais além, Dantas (2008), baseando-se em Giroux (1997), coloca que
este
Elucida o papel dos educadores como intelectuais que podem e devem transformar e reorganizar o cotidiano da escola, delimitarem ou fortalecerem as suas práticas, trabalharem em conjunto na criação de ideologias e na produção do currículo e de novos conhecimentos, desempenhando, assim, uma função social e política muito importante na sociedade atual (DANTAS, 2008, p. 125).
Mais que necessário e consoante com os princípios que norteiam a práxis
pedagógica, os educadores envolvidos nas ações da escola precisam atuar como
profissionais mediadores, críticos, reflexivos, pautados na ética e com visões de
mundo multidimensionais (PIMENTA e LUCENA, 2004). É fundamental que os
37
professores reflexivos usem, durante suas produções cotidianas, os saberes da
experiência, buscando interpretar e redefinir o ensino, (DANTAS, 2008).
Essa atuação revestida de intenção social e política pode contribuir para o
fortalecimento das identidades culturais dos alunos, favorecendo que estes se
tornem reconhecidos como sujeitos autônomos, competentes e comprometidos com
a educação.
38
3 A CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA
3.1 A Escola Estadual Heitor Villa Lobos
Esta pesquisa foi realizada na Escola Estadual Heitor Villa Lobos, localizada
na Rua Theódulo de Albuquerque, s/n, Cabula VI, em Salvador/Bahia, pertencente à
Diretoria Regional de Educação (DIREC 1 A). A escola (figura 1, p. 38) contempla o
Ensino Fundamental, o Ensino Médio e EJA nas modalidades Fundamental e Médio.
Possui 56 professores e aproximadamente 1730 alunos, matriculados nos três
turnos de funcionamento. Ela atende à comunidade do Cabula VI e comunidades
dos bairros adjacentes como: Beiru/Tancredo Neves, Arenoso, Sussuarana,
Narandiba e Doron. No entorno existem igrejas, lan houses, lanchonetes,
supermercado, farmácias, padarias, lojas de roupa, armarinho, salão de beleza, etc.
Figura 1 – Vista frontal da Escola Estadual Heitor Villa Lobos
A escola dispõe de um laboratório de informática, uma sala de estudos e de
uma quadra esportiva para a prática de educação física. Possui 19 salas de aula
distribuídas no térreo e no primeiro andar, nem todas são amplas, mas todas
possuem carteiras, cadeiras, armário e quadro branco. Há um amplo refeitório (figura
2, p.39), cuja cantina atende regularmente os alunos no horário entre 18h30 e
19h30. A conservação da estrutura física (pintura das paredes, azulejos, piso,
iluminação, limpeza, etc.) é razoavelmente satisfatória. O acesso à escola é
facilitado e irrestrito, pois o uso de uniformes no turno noturno não é obrigatório, o
39
que inviabiliza qualquer tipo de controle, exceto o trabalho que é feito pelos
porteiros, seguranças e disciplinadores com base na familiaridade fisionômica.
Figura 2 - Refeitório
Cada sala de aula dispõe de uma televisão com entrada USB e similares para
exibição de vídeos, músicas, fotos, slides, entre outros. Na sala em que foi realizada
a observação (figura 3, p. 39), ficam, à disposição dos alunos, dicionários e alguns
materiais escolares, como tesoura, cola, lápis, etc. Ainda, a critério e necessidade do
professor, é possível solicitar o aparelho de data show e a tela de projeção, que
ficavam guardados na Secretaria, além de um mini system, também à disposição
dos professores, e para ambos exigia-se uma reserva prévia de uso, para evitar
transtornos.
Figura 3 – Sala de aula
40
A biblioteca da escola não funciona, constituindo-se como uma acintosa
contradição aos objetivos da educação escolar, e principalmente da EJA, por não
promover o acesso e incentivar o aluno à leitura; um espaço como esse deveria
estar habilitado a funcionar e atender ao público discente e docente, como um
espaço formativo, preparado para encontros entre alunos e professores em busca
de conhecimentos indispensáveis não só para a formação escolar, mas, sobretudo,
para a vida.
O contexto da escola é repleto de contrastes. São muitos os problemas que
afetam diretamente as atividades escolares, a exemplo do tráfico de drogas e
tiroteios nas regiões adjacentes. Quando eclodem os tiroteios, os alunos não
comparecem à escola e, quando aparecem, são liberados mais cedo, pois a maior
parte do público é composta por alunos que moram em locais de risco, inclusive,
esta foi umas das situações marcantes no período de observação, pois, por conta da
periculosidade e ações da polícia na região, a escola teve as suas atividades
paralisadas durante uma semana praticamente.
A prática pedagógica da Escola Heitor Villa Lobos tem acontecido em
situações adversas. Dentre essas situações, tem-se a ocorrência de barulho
excessivo nos corredores, o trânsito de pessoas estranhas no ambiente escolar,
inquietações e outros distúrbios ao andamento do trabalho em sala de aula.
Essas situações representam um entrave aos objetivos didático-pedagógicos,
que preza que a escola proporcione condições favoráveis ao desenvolvimento dos
alunos (MASETTO, 1997). Uma alternativa proposta por mim foi acolher a turma
através de um relacionamento afetivo, de forma que houvesse uma parceria entre
alunos e professores, tornando, na medida do possível, as aulas mais interessantes
e interativas.
O tempo pedagógico foi um fator emblemático durante as observações: as
aulas iniciavam com atrasos e terminavam muito antes do horário oficial; o problema
com a violência e o tráfico de drogas ocasionava o cancelamento das atividades.
Diante desses elementos, percebi que a professora regente se esforçava em
estruturar a aula de maneira eficaz nos seus objetivos didático-pedagógicos.
Os funcionários da escola, em termos gerais, foram sempre muito atenciosos,
proporcionando uma recepção amistosa. O convívio dos alunos com os funcionários
era pacífico e pautado no diálogo.
41
A Escola Estadual Heitor Villa Lobos trabalha com a metodologia de
Pedagogia de Projetos e realizou, num período compreendido entre março a junho
de 2011, um projeto com a temática Meio Ambiente, surgido diante da necessidade
da escola em compatibilizar o atendimento às necessidades da qualidade de vida do
ser humano com a necessidade de preservação do meio ambiente. Considerando
que a crise ambiental tem apresentado várias causas que comprometem a qualidade
de vida do ser humano, os organizadores do projeto tomaram como ponto base para
a realização do trabalho o estudo dos impactos causados pela excessiva produção
do lixo, pela escassez da água potável e pela poluição do ar. A escola viabilizou que
fossem desenvolvidas atividades nas diferentes áreas do conhecimento de uma
maneira interdisciplinar, inserindo assuntos a partir do tema gerador nas atividades
em sala de aula e fora dela, a fim de que esse trabalho possibilitasse à comunidade
escolar o despertar de consciências e a mudança de comportamentos em relação à
exploração inadequada do meio em que se vive.
É sabido que o projeto político pedagógico é uma construção coletiva que visa
colocar em prática a intencionalidade da escola, onde reside a sua função social.
Esse projeto deve ser constantemente pensado, construído e refletido por todos os
agentes envolvidos na comunidade escolar; significa dizer que estão inseridos na
construção do projeto o poder público com as políticas, diretores, coordenadores,
professores, funcionários, alunos, pais de alunos, etc. É importante sinalizar que é a
partir do projeto político pedagógico que é construído o currículo das atividades que
integrarão as disciplinas dos alunos, conforme revela Gadotti:
(...) não se constrói um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político. O projeto político pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre um processo incluso, uma etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola (GADOTTI, 2000, p).
Contraditoriamente às palavras do autor, as ações da Escola Estadual Heitor
têm sido elaboradas sem esse importante pilar de sustentação das atividades
pedagógicas, já que o documento orientador dessas ações ainda não foi criado.
Segundo relatos da Diretora, ainda está sendo feito um levantamento das
informações necessárias à construção do Projeto Político Pedagógico. Foram feitas
reuniões com os professores, funcionários, alunos e integrantes da comunidade.
Estão sendo consultados os documentos norteadores da construção do projeto, tais
42
como: Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases e o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Os objetivos que nortearam a realização do projeto estão propostos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997), a saber: conhecer e tratar das
questões relativas ao meio ambiente em que vivem as pessoas, considerando seus
elementos físicos e biológicos e os modos de interação do homem e da natureza,
por meio do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia. A culminância do projeto
contou com exposição de painéis que tratavam do tema, materiais reutilizados
produzidos pelos alunos, exposição de revistas em quadrinhos e poemas,
apresentações musicais e apresentação de um seminário pelos professores.
A observação realizada na Escola Estadual Heitor Villa Lobos ocorreu à
época em que a pesquisadora realizava o estágio supervisionado da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB), que conforme revela Pimenta e Lucena (2004), o
estágio possibilita que futuros professores compreendam a complexidade das
práticas institucionais e as ações praticadas por seus profissionais como alternativas
no preparo para sua inserção profissional.
Apesar de tratar-se de uma experiência de âmbito curricular, a experiência do
estágio se deu com o intuito de promover a emancipação dos sujeitos (FREIRE,
2001), utilizando-se se recursos e meios pedagógicos próprios para tanto.
Considerando-se as possibilidades e limitações, foram feitas opções metodológicas
mais adequadas às diversas situações com o intuito que se cumprissem, ao menos
minimamente, os objetivos esperados nesta pesquisa.
43
3.2 O Caminho metodológico da pesquisa
A fim de atingir o objetivo geral previsto no presente estudo, que é o de
analisar se, na prática pedagógica, o professor utiliza a variação linguística presente
nos falares dos alunos para uma aprendizagem significativa, foi feita uma pesquisa
aplicada de caráter exploratório com abordagem qualitativa.
No processo de construção da pesquisa, dois tipos de fontes foram
necessárias aos propósitos expostos para a consecução dos objetivos propostos.
A saber: fontes impressas e orais. Seguem pois:
a) Impressas: Os registros impressos constituem o elemento central nas
pesquisas acadêmicas, sobretudo pela “cultura do papel” presente na
sociedade ocidental. Diante disso, alguns registros de fundamental
importância para a pesquisa foram tomados: aplicação de entrevistas
individuais semi-estruturadas aos alunos à professora, posteriormente
transcritas e comparadas em informações tabuladas. Foi necessário,
anteriormente, conversar com os alunos sobre o objetivo do trabalho.
Posteriormente, as entrevistas foram sendo realizadas aos poucos, à medida
que as visitas à escola iam ocorrendo. No momento da entrevista, foi
escolhido um local tranqüilo e as perguntas foram feitas no desenvolvimento
da conversa.
b) Orais: Foram utilizados como instrumentos para levantamento de dados e
informações as entrevistas e gravações.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Heitor Villa Lobos, ligada à
Secretaria Municipal de Educação, numa turma do Tempo Formativo I.
A escolha do campo de pesquisa se deu por se tratar de uma escola de EJA com
uma localização de fácil acesso, onde pude participar como estudante da disciplina
Estágio Supervisionado pela Universidade do Estado da Bahia. A realidade
encontrada na escola me deu subsídios para refletir sobre a variação linguística
presente na educação de jovens e adultos e desenvolver este Trabalho de
Conclusão de Curso.
A metodologia adotada nesta pesquisa é o estudo de caso, que segundo
LudKe e André (1986), se trata de uma pesquisa qualitativa com forte cunho
descritivo, com interesse próprio. O estudo de caso é sempre bem delimitado,
devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo.
44
A abordagem metodológica adotada nessa pesquisa é a concepção da
pesquisa qualitativa, que tem o ambiente natural como uma fonte direta de dados e
o pesquisador como seu principal instrumento. Segundo essas autoras, a pesquisa
supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação
investigada através do trabalho intensivo de campo, coletando os dados de forma
descritiva, enfatizando-se mais o processo do que o produto, retratando a
perspectiva dos participantes (LUDKE e ANDRÉ, 1986).
Foram feitas 8 (oito) observações de 2 (duas) horas cada e foram realizados
um total de 14 (quatorze) entrevistas com os alunos. A entrevista foi realizada em
sala de aula em função do objetivo geral com a intenção de complementar os dados
obtidos com as observações das aulas e por entender que este seria um dos
instrumentos mais eficazes para a construção dos objetivos, sendo transcorridos 28
(vinte e oito) dias do início da coleta de dados até a tabulação.
O registro das observações foi feito no período de novembro a dezembro de
2011, com a colaboração direta dos sujeitos envolvidos. As respostas dos alunos
foram organizadas em 7 tabelas e 4 quadros e estão sendo apresentadas no
capítulo 3, mediante subcategorias de análise que correspondem ao que foi
perguntado nas entrevistas.
45
4. A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
4.1 Modificações perceptíveis na aprendizagem dos alunos
Em período anterior às observações e intervenções realizadas na escola, foi
necessário elaborar um planejamento, a partir do estudo da disciplina Prática
Pedagógica e Estágio II, iniciada no mês de abril de 2011, momento em que refleti
sobre as algumas questões, como: O que devo ensinar aos alunos durante o
período do estágio? Como ensinar os conteúdos de forma crítica? Que opções
metodológicas são mais adequadas de acordo com as condições de trabalho e o
tema?
Considerando que o planejamento se constitui em momentos para organizar a
prática educativa, busquei, nas leituras que deram suporte a este trabalho, pensar
sobre o estágio nas palavras de Sacristán e Gómez:
É mais frutífero entender o planejamento dos professores/as como um processo de resolução de problemas que enfrentam desde suas possibilidades reais, numa situação em que há certas demandas e certas condições, em que se deparam dilemas frente aos quais é preciso optar com justificativas éticas e científicas, se existem. (...) Os esquemas, ideias ou modelos de planejar uma atividade contextualizada como o ensino podem e deveriam servir para ordenar e diferenciar o espaço problemático concreto que constitui cada situação. (SACRISTÁN E GÓMEZ, 1998, p. 276).
O trecho baliza as reflexões sobre as questões: quem ensinar; o que ensinar,
como ensinar, o que utilizar para ensinar etc., já mencionadas. Nessa proposta,
quando o planejamento é entendido como um processo de resolução de problemas,
a prática de ensino é pensada como algo que tem relevância social, rompendo com
atividades mera e tipicamente escolares e diferente da realidade do sujeito. É
indispensável que o planejamento se desenvolva de uma forma democrática, tendo
os interesses dos alunos como centro. Nessa proposta, as aulas foram pensadas
para atender as necessidades do público atendido.
Iniciar um estágio, ainda que não seja pela primeira vez, é estar diante de
contextos onde tudo é novo. O momento do estágio é muito enriquecedor, pois é
quando professores, estagiários e alunos estão se encontrando pela primeira vez,
46
então é natural que haja um clima novo, de descoberta ou mesmo de incertezas e
dúvidas.
Neste período, tive a oportunidade de analisar o material didático utilizado na
escola, trata-se da obra Coleção É Bom Aprender (figura 4, p. 46), destinada ao
primeiro segmento do ensino fundamental. A coleção é dividida em três volumes:
Volume Único – Alfabetização (Letramento e Alfabetização Linguística e
Alfabetização Matemática). O volume 1 é destinado ao 2º e 3º ano, o volume 2 é
destinado ao 4º e 5º ano. A coleção adota uma proposta que busca a
interdisciplinaridade e a transversalidade e cada volume é composto por seis
componentes curriculares: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História,
Geografia e Artes.
Figura 4 - Coleção É Bom Aprender
A coleção conta ainda com o Manual do Educador. Esse manual é composto
pelo mesmo material do Livro do Aluno acrescido das respostas e orientações.
Apesar de ser um material destinado para as classes de EJA, têm na sua estrutura
iconográfica e nos textos apresentados personagens com aspectos infantilizados,
contrapondo-se a um tratamento apropriado aos sujeitos adultos, como demonstra a
figura 5:
47
Figura 5 – Página do livro Coleção é bom aprender
As etapas que seguiram o estágio supervisionado foram importantes e muito
enriquecedoras. Momentos vividos em sala de aula mostraram como é
imprescindível ao professor elaborar estratégias de aprendizagem no intuito de
envolver os alunos, e é de fundamental importância que eles estejam envolvidos em
um ambiente propício ao aprendizado.
Durante o trabalho, a troca de conhecimento tornou-se prazerosa e o retorno
satisfatório. Além disso, a participação dos alunos sinalizou uma aceitação favorável
pelas atividades aplicadas em sala de aula.
No início, os alunos ficaram surpresos com a minha presença na sala de aula,
pois eles estavam acostumados com a didática da professora e a dinâmica das
aulas ministradas. Com o passar dos dias, sendo menos percebida como estranha,
foi possível com tranqüilidade desenvolver a metodologia planejada e o trabalho fluir
normalmente.
Ficou evidenciado o interesse cada vez maior dos alunos pelas aulas. Era
comum, ao início da aula, questionamento acerca de qual era a atividade do dia.
Durante as atividades, se ofereciam para escrever as palavras no quadro e falavam
muito no decorrer dos debates.
O trabalho foi pautado sobre os quatro eixos do ensino da língua portuguesa:
oralidade, prática de leitura, produção de texto e análise linguística. Tendo,
sobretudo a clareza de que, na verdade, esses eixos perpassam no ensino de todas
as disciplinas, pois em cada uma destas, quer seja em História ou até mesmo em
Matemática, a linguagem é o fundamento inquestionável. O foco de minha
48
observação se manteve na oralidade dos alunos, tendo em vista ser a variedade
linguística o assunto do meu interesse.
Inicialmente, ao receber os alunos na sala de aula, a professora anuncia
que durante algum tempo a turma contará com a participação de estagiários da
Universidade do Estado da Bahia duas vezes por semana. Os alunos já estão
acostumados com a presença eventual de estagiários, pois existe uma
parceria muito forte entre a UNEB e a escola visitada. Ficou proposto logo de
início que não iríamos fazer nenhuma interferência na aula, apenas faríamos
observações acerca da práxis pedagógica. Durante a realização das observações,
procurei registrar os diálogos que aconteciam entre a professora e os alunos em
relação à variedade linguística, a fim de subsidiar a minha pesquisa, conforme
relatos a seguir:
Evento 1, início da aula:
1. P (professora): - Boa noite turma, hoje só tem mulheres. A. (aluno/a): - Xii...Ela não viu que tem homem na sala... P: - Oxente, cadê?
Nesse evento de oralidade, ao perceber a presença de um aluno do sexo
masculino, a professora se surpreende e usa uma variante linguística de origem
geográfica, típica de regiões do nordeste brasileiro. Nesse evento fica claro que,
como descreve Bortoni Ricardo (2004), a professora faz uso da variação no seu
repertório e não a percebe.
Durante a aula que se segue, a professora explica que trabalhará com
gêneros textuais, alguns alunos fazem barulho e, por conta disso, surge a
necessidade de a professora chamar a atenção da turma para a atividade que
já havia começado:
2. P: - Vamo lá, minha gente, a leitura já começou. Vamos ver aqui, minha
gente.
Percebe-se, nesse evento de oralidade, que a professora varia sua maneira
de falar durante a realização das atividades em sala de aula, já que não pronuncia o
“s” final, conforme o item 3 acima. Como afirma a mesma autora, “para muitos
professores, principalmente aqueles que têm antecedentes rurais, regras do
português próprio de uma cultura predominantemente oral são invisíveis”.
(BORTONI RICARDO, 2004, p.42).
49
Os alunos começam a ler um texto que trata da preservação do meio
ambiente, a professora, após elogiar a leitura dos alunos, faz o seguinte comentário:
3. P: - As pessoas destroem o planeta e o planeta quando se vê
machucado, reage.
A: - Viu pró, na televisão passô que um jornalista comparô a diferença
de um rio poluído com o outro.
Nesse evento ocorre a omissão do “u” final das formas verbais “passou e
comparou”, como se trata de uma prática muito comum nas falas das pessoas em
geral, o uso da regra não-padrão não é percebida.
Em outro momento, a professora chama a atenção dos alunos:
4. P: - Vamo lá, vamos trabalhar meu povo. Olhe só minha gente, a atividade é de matemática.
Nesse momento, a professora escreve uma atividade no quadro, os alunos copiam com atenção em silêncio. De repente, ouvem-se duas alunas conversando:
5. A: - Chega, pró, vai cansá sua mão. A: - Eu senti um calô hoje, eu sabia que ia tê esse pé d’água
Após ouvir a fala dos alunos, a professora continua com as atividades, a
identificação das diferenças linguísticas ficou prejudicada por conta de a professora
não perceber o uso de regras não-padrão. Como anuncia Bortoni Ricardo (2004,
p.38), “isto se dá por duas razões, ou o professor não está atento ou o professor não
identifica naquela regra uma transgressão porque ele próprio a tem no seu
repertório”.
Pode-se dizer que o contexto da escola, dentro das suas possibilidades e
limitações, é um reflexo da estrutura de uma sociedade, que se serve do aparelho
escolar para produção, re-produção e manutenção do que está posto pelas classes
dominantes. A relação do espaço-tempo nas dimensões micro e macro não pode
deixar de ser observada. A conexão entre elas é dinâmica e constante. Desse
modo, os sujeitos e as práticas não podem ser criticados sem que se tenha em
mente, de forma clara e precisa, o problema estrutural da sociedade organizada em
classes, permeada de desigualdades e contradições. A partir de uma reflexão
50
filosófica e crítica fundamentada sobre uma metodologia de análise, podem-se
entender os fenômenos humanos e sociais em sua abrangência (MAZZEU, 2008).
Os dados coletados foram cruciais e significativos para identificação do lócus
desta pesquisa ao passo que nortearam o processo de elaboração e construção da
mesma.
4.2 A Variação Linguística dos alunos da Educação de Jovens e Adultos da
Escola Estadual Heitor Villa Lobos
Inicialmente, farei uma análise dos resultados obtidos através das entrevistas.
Instrumento esse que é de extrema importância para as conclusões deste trabalho.
A primeira questão proposta aos alunos a ser analisada é a seguinte: Você
reconhece que os modos diferentes de falar dos indivíduos estão presentes:
a) Nos falares dos alunos
b) Nos falares dos amigos
c) Nos falares da família
d) Nenhuma destas
Todos os alunos reconhecem que os modos diferentes de falar dos indivíduos
estão presentes nos variados grupos sociais, sejam eles nos falares dos colegas,
dos amigos e da família, conforme demonstra a tabela 1:
Tabela 1 - Modos diferentes de falar dos indivíduos
RESPOSTAS ALUNOS
Nos falares dos colegas 13
Nos falares dos amigos 14
Nos falares da família 13
Nenhuma destas 0
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos /2011
51
As respostas acima indicam que os alunos têm conhecimento que as pessoas
possuem modos diferentes de falar. Sobre esse aspecto, Cagliari (2000, p. 76)
sinaliza: ¨todo mundo sabe que há modos diferentes de se falar uma língua.¨, o
pensamento do autor confirma as respostas dos alunos, quando afirma que existem
várias maneiras de dizer a mesma coisa, por conta da ocorrência de uma variedade
de palavras, significados e formas de linguagens existentes.
A segunda questão proposta a ser analisada é a seguinte: Você varia seu
modo de falar conforme a situação em que se encontra?
Tabela 2 – Variação linguística conforme a situação
Respostas
Afirmativas Respostas Negativas Total
14 0 14
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos/2011
Todos os alunos entrevistados admitem que o modo como eles falam varia
conforme a situação em que se encontram, fato confirmado por Cagliari (2000, p.
81), em trabalhos anteriores, quando diz que ¨todos nós, na verdade, somos, de
certa forma, falantes de mais de um dialeto, os quais usamos de acordo com as
circunstâncias¨. Percebe-se, com esta declaração, que a variação linguística reside
nas mais diversas situações e lugares, sendo a ela atribuída uma característica
espontânea presente no cotidiano das pessoas.
A terceira questão proposta aos alunos é a seguinte: Como ocorre a variação
no modo de falar?
No quadro 1, apresento as respostas dos alunos:
Quadro 1 – Momentos em que ocorre a variação linguística,
segundo os alunos
A variação para mim ocorre de um modo geral, no dia a dia.
Quando estou falando com pessoas de regiões diferentes.
Em situações que exigem uma linguagem mais formal, busco utilizar poucas gírias e me adequar à esta linguagem.
Quando eu estou com meus amigos, eu falo no modo geral, uso gírias, mas quando eu estou com minha supervisora ou pessoas diferentes, eu procuro me expressar da melhor maneira possível.
52
Eu me corrijo para não passar vergonha nos lugares.
Nos ambientes de descontração fala-se gírias. Nos ambientes mais sérios fala-se o formal, inclusive na sala de aula.
Quando eu estou falando com uma criança ou estou lendo para uma pessoa que não é alfabetizada, às vezes eu mudo a maneira de falar, usando palavras fáceis para ser entendida.
Acho que a variação ocorre dependendo dos momentos, das pessoas e dos lugares.
De acordo com a convivência do dia a dia, vai acontecendo involuntariamente.
Se estiver em família, eu falo à vontade, de um jeito espontâneo, se eu estiver em um lugar mais sofisticado, meu modo de falar será mais corrigido, escolhendo as palavras que vou falar.
O quadro 1 demonstra, através das declarações, que os alunos possuem
consciência da existência da variação linguística, desprendendo-se da preocupação
do uso da linguagem formal nos ambientes de descontração, onde se podem utilizar
gírias.
Esse aspecto é confirmado por Bagno (2007), quando revela que as pessoas
variam o seu modo de falar individualmente, de maneira mais consciente e menos
consciente, de acordo com o momento de interação em que se encontra. Isso quer
dizer que uma mesma pessoa pode falar de diferentes maneiras, a depender da
situação formal ou informal em que está inserida.
4.3 A prática pedagógica do professor da Educação de Jovens e Adultos da
Escola Estadual Heitor Villa Lobos
Ao questionar à professora se ela reconhece que a variação linguística está
presente nos falares dos alunos e dos professores, ela respondeu afirmativamente.
Além disso, segundo a professora, durante as aulas de Língua Portuguesa, existem
momentos de discussão sobre o modo como os alunos falam, aspecto confirmado
por eles, como demonstra a Tabela 3.
Tabela 3 – Momentos de discussão nas aulas
Respostas
Afirmativas Respostas Negativas Total
13 1 14
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos /2011
A professora explicou que as discussões são realizadas nas disciplinas que,
segundo ela, mais percebem essa necessidade, como Língua Portuguesa e
53
Geografia, ou, em outras, de acordo com o assunto que surge do cotidiano do aluno
ou dos acontecimentos da nossa cidade.
Esta declaração se põe de acordo com a proposta de Cagliari (2000), quando
revela que a variação linguística está presente na vida dos alunos e, para tanto,
precisa ser discutida com eles em sala de aula:
(...) os professores mais bem esclarecidos deveriam pelo menos discutir o problema da variação lingüística com seus alunos e mostrar-lhes como os diferentes dialetos são, porque são diferentes, o que isso representa em termos das estruturas lingüísticas das línguas e, sobretudo, como a sociedade encara a variação lingüística, seus preconceitos e a conseqüência disso na vida de cada um. (CAGLIARI, 2000, p. 82)
Quando os alunos foram questionados se existem momentos durante as
aulas de Língua Portuguesa para discutir os diferentes modos de falar dos
indivíduos em geral, dos 14 alunos entrevistados, 11 responderam afirmativamente,
como demonstra a tabela 4:
Tabela 4 – Momentos na aula de Língua Portuguesa para discutir os diferentes modos de falar dos indivíduos em geral
Respostas
Afirmativas Respostas Negativas Total
11 3 14
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos /2011
A maioria dos alunos respondeu que a professora discute com eles os
diferentes falares dos indivíduos, entretanto um aluno respondeu negativamente;
esse aluno argumentou que os alunos não falam enquanto a professora está dando
aula. Segundo relatos dos alunos que responderam positivamente, em sala discute-
se modo de falar dos indivíduos, como ficou explicitado no quadro 2.
Quadro 2 – Modo como se discute os diferentes falares dos indivíduos em geral
Nã
o
Em sala de aula, nós, alunos não falamos quando o professor está dando aula.
Sim
Os alunos de outra classe social tem um vocabulário melhor que os alunos da escola pública.
Os alunos expõem suas opiniões a respeito da variação linguística. Este debate acaba entrando na questão do modo de falar dos alunos.
A professora fala que as pessoas de diferentes localidades, culturas e crenças falam diferente.
Explicando e corrigindo o modo de falar das pessoas e explicando a atuação correta de cada palavra e seu momento de utilização.
54
As pessoas tem modos diferentes de falar, quando me refiro em discutir o modo de falar, eu me refiro em discutir o modo de falar errado, e que é preciso aprender a falar correto, principalmente as pessoas que não tem uma educação e que um dia morou na roça, e hoje já mora em cidade, é necessário aprender a falar correto.
A professora corrige os alunos que trazem os costumes de ambientes de descontração para a sala de aula.
O professor explica, dependendo dos lugares e regiões, as pessoas têm maneiras diferentes de falar as palavras corretas, e sempre enriquece nosso vocabulário, é que as gírias não nos edifica.
Os alunos de classe social mais alta tem um vocabulário melhor do que os alunos de escola pública, ou seja, quem mais estuda tem condições de falar melhor.
A partir dos diferentes modos de falar dos alunos, a professora, sem constranger os alunos, mostra que existem diferenças de linguagem entre os alunos não alfabetizados e os que já freqüentaram a escola.
É interessante o posicionamento dos alunos em associar a “melhor forma de
falar” da pessoa com a classe social a qual pertence e em relacionar a linguagem
dos indivíduos com tempo de estudo dessas pessoas, segundo eles, quem mais
estuda, fala melhor. O grau de escolarização compreende a um fator social
extralingüístico que, segundo Bagno (2007), se destaca nas classes menos
favorecidas.
Ao ser questionada sobre a correção de gírias dos alunos ou outro modo de
falar que não contempla as regras de gramática, a professora respondeu que realiza
correções. A maioria dos alunos confirmou que realmente essa prática ocorre,
enquanto que uma minoria discordou. Entendo, através das declarações dos alunos,
que nas situações que requerem o uso da linguagem oral, existem formas de falar
despercebidas pela professora, como demonstra a Tabela 5:
Tabela 5 – Correção do Professor
quanto às gírias dos alunos.
Respostas
Afirmativas Respostas Negativas Total
11 3 14
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos /2011
Em relação às possíveis ocorrências de constrangimentos durante a correção
da linguagem, os alunos, em geral, afirmam que não se sentem constrangidos pela
professora quando corrigidos, como demonstra a tabela 6 a seguir:
55
Tabela 6 – Ocorrências de constrangimento na correção
Respostas
Afirmativas Respostas Negativas Total
1 13 14
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos /2011
A professora afirma que, na prática, há um cuidado com a forma com que ela
corrige os alunos e explica que procede da seguinte maneira:
“De forma a conscientizá-los do vazio dessa forma de expressar-se, mostrando a riqueza do vocabulário e a força da palavra de quem fala corretamente” (professora).
A professora deixa claro nas suas declarações que considera expressões
como gírias ou outro modo de falar diferente do que trata a língua padrão, como
“expressões vazias”, além disso, segundo ela, quem tem um rico vocabulário “fala
corretamente”. Essas declarações revelam que a educadora, mesmo preocupada
com a correção dos alunos, estabelece julgamentos acerca das expressões usadas
por eles, desprestigiando suas linguagens. Como descreveu Bagno (2007), a norma
padrão tem sido priorizada em desvantagem da diversidade linguística presente nos
falares dos alunos e, neste caso, os educadores, mesmo com boas intenções, têm
feito análises equivocadas da Língua Portuguesa.
Completa Cagliari (2000) ao afirmar que a escola tem ignorado que a língua
falada pelos alunos é parte integrante de processos culturais, e por conta disso, é
orientada para ensinar a língua da cultura dominante, refletindo, nesse ensino,
comportamentos sociais preconceituosos.
Indo mais além, Bortoni Ricardo (2004) defende a perspectiva de uma
pedagogia culturalmente sensível aos saberes dos alunos, quer dizer que ao ouvir a
fala não-padrão do aluno, a professora deve identificar a diferença e logo após
conscientizá-lo para que ele possa monitorar o seu estilo de linguagem, sem
prejuízo do processo de ensino.
Observou-se que, dos 13 alunos que responderam não sentirem-se
constrangidos com as correções da professora, cinco elencaram as justificativas
dispostas no quadro 3:
56
Quadro 3 – Forma de reação dos alunos quando são corrigidos
Não me sinto constrangido porque sei que é para o meu aprendizado. Eu me sinto bem quando sou corrigido porque eu aprendo a falar direito e não passo vergonha.
Eu aprendo a ser humilde, porque é melhor para mim ser corrigida para me expressar melhor e não passar vergonha.
Quando estou na sala de aula e uso uma linguagem não apropriada, se a professora me corrigiu, é uma forma que tenho de aprender com falar.
Não me sinto constrangido porque sei que estamos sempre aprendendo e os vícios de linguagem dependem da região que cada pessoa vive ou com quem conviveu.
Fonte: Entrevista com Alunos /2011
Percebe-se que os alunos consideram importante a correção da linguagem
por parte da professora, a fim de que possam “aprender a falar direito”. Quase todos
afirmaram não se sentirem constrangidos com as correções e justificaram que a
correção é importante para o aprendizado deles.
Os alunos têm consciência da diversidade linguística que possuem e querem
aprender a se expressar para não se sentirem envergonhados quando for
necessário falar em público, mas é desejo deles que o professor tenha cuidado
durante o momento da correção, para que eles não sejam constrangidos em sala de
aula.
Segundo Bagno (2007), são os alunos pobres, que freqüentam a escola
pública, os sujeitos que mais sofrem os preconceitos pelo uso da variação
linguística. Esse preconceito se deve ao fato de esses alunos falarem de uma
maneira diferente da língua padrão ensinada pela escola.
Em relação à utilização, pelo professor, da variação linguística dos alunos
durante a sua prática pedagógica e suas contribuições para a aprendizagem, a
professora afirmou que respeita o modo de falar dos alunos, pois acredita que assim
está contribuindo para a aprendizagem deles, mas não deixa de fazer as
interferências necessárias para a correção.
Entretanto, embora a professora tenha falado que respeita a linguagem dos
alunos, quando estes foram questionados sobre se eles acreditam que o respeito do
professor pela linguagem dos alunos pode contribuir para a aprendizagem, dos 14
alunos questionados, 12 responderam negativamente, conforme mostra a tabela 7.
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Tabela 7 – Contribuição à aprendizagem, do respeito ao modo
de falar dos alunos
Respostas
Afirmativas Respostas Negativas Total
2 12 14
Fonte: Pesquisa Qualitativa/Entrevista com Alunos /2011
Os alunos podem não ter entendido bem a pergunta, pois as respostas foram
contraditórias. Os resultados mostraram que os alunos não acreditam que o respeito
da professora pela linguagem deles contribui para a aprendizagem; percebe-se,
segundo as respostas dos alunos, através das declarações do quadro 4, que se o
professor respeitar a linguagem deles, deixará de ensinar a “linguagem adequada”.
A seguir, o quadro 4 revela o que pensam os alunos sobre as intervenções do
professor:
Quadro 4 - Modo como o professor contribui para a aprendizagem respeitando a linguagem dos alunos.
Sim
O professor quer o melhor prá nós alunos, para corrigir a gente eles querem que a gente fale certo.
É fundamental que o professor respeite o modo de falar dos alunos, para que aconteça uma melhor relação entre eles.
Nã
o
A professora tem que ensinar as pessoas a falar direito.
A professora corrige os alunos de maneira discreta para não retraí-lo e para o bem do aluno. Eu quero que me corrija para eu falar melhor.
Eu acredito que se o professor respeitar o modo de falar dos alunos, o aluno não vai aprender.
O professor tem buscado novos livros, lendo vários livros, enriquecendo e buscando novos conhecimentos dia a dia. Ensinando a maneira adequada de se expressar.
Embora a professora tenha declarado que respeita a linguagem dos alunos,
os alunos não associaram respeito pela linguagem e ensino da linguagem.
Consideraram que as duas vertentes devem ocupar espaços distintos, fato
confirmado pelas declarações. Segundo eles, se o professor respeitar a linguagem
deles, pode deixar de ensinar a linguagem adequada.
Esse fato nos leva a refletir como está sendo tratada a variedade linguística
no espaço escolar, que ensina a língua padrão trabalhando a diferença a partir de
58
conceitos como certo e errado, prova que a variação linguística traz, para o aluno,
conseqüências sociais.
59
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As variedades dialetais identificam, sem dúvida, a forma como falam os
indivíduos. Como já foi mencionado, muitos preconceitos são atribuídos aos
diferentes modos de falar dos educandos, que apresentam uma linguagem
considerada, pela sociedade, de menor prestígio. Como parte do objetivo que tem a
educação em respeitar as diferenças, é de suma importância que a escola enfrente
os preconceitos que são propagados na sociedade em relação às variedades
linguísticas.
Durante a análise dos dados deste trabalho, resultante de observações e
entrevistas realizadas numa turma de EJA, aprofundei os aspectos principais do
estudo para subsidiar as respostas às indagações iniciais.
Ao tentar responder a pergunta desta pesquisa - considerando que os alunos
da EJA variam a linguagem, o professor, na sua prática pedagógica, utiliza essa
variação para desenvolver uma aprendizagem significativa – me deparei com alguns
desdobramentos:
Ficou evidenciado que os alunos da turma observada reconhecem que cada
pessoa tem o seu jeito próprio de falar, resultante dos fatores sociais
extralingüísticos já mencionados anteriormente; possuem consciência do
distanciamento que esta variação provoca entre as pessoas e percebem que as
suas manifestações verbais estão submetidas a julgamentos sociais.
A professora entrevistada me relatou que tem consciência de que a variação
linguística se faz na sua linguagem, na linguagem dos alunos e dos indivíduos em
geral. Quanto à utilização dessa variação durante a sua prática pedagógica, revela
que respeita o modo de falar dos alunos, mas não deixa de fazer as interferências
necessárias. Essas percepções foram constatadas durante as minhas observações.
Percebe-se, através de relatos da professora nas entrevistas, que em alguns
momentos a educadora tem empregado noções de certo e errado lingüístico, tão
comum nas práticas escolares, manifestando, com isso, o que Bagno, (2007)
descreve como emprego de um discurso baseado no senso comum, em detrimento
do emprego do discurso científico, que trabalha com noções de variação e mudança.
É relevante evidenciar que ficou percebido, durante as observações
realizadas em sala de aula, que os alunos pouco dialogam na presença da
professora, embora os alunos tenham declarado nas entrevistas que existem
60
momentos de discussão para o tratamento da variação linguística. Essas
observações mostraram que, quando acontecem os diálogos, a ocorrência de regras
não-padrão passam despercebidas pela educadora, deixando o tratamento da
variação linguística em segundo plano.
É interessante ressaltar que, na prática observada, faz sentido a reflexão
trazida por Bortoni Ricardo (2004), de que a necessidade da escola estabelecer uma
pedagogia que esteja culturalmente sensível aos saberes dos alunos,
conscientizando-os sobre noções de variação e mudança; isto significa que os
educadores precisam estar atentos às diferenças existentes entre a cultura que os
alunos trazem para a escola e a cultura que é perpetuada na escola, orientada para
ensinar a linguagem dominante, ignorando que a língua falada pelos alunos é parte
integrante de processos culturais.
Concluindo, ressalto que, dada a importância do assunto em questão, não
deve haver a pretensão de esgotar este debate aqui, mas os resultados encontrados
podem contribuir tanto para subsidiar melhorias no trabalho do professor, como
servir de incentivo para o aprofundamento do tema por outros pesquisadores.
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6. REFERÊNCIAS
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GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. HADDAD, Sergio. Educação e exclusão no Brasil. Em Questão 3. Observatório da Educação. Ação Educativa. São Paulo, 2007. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo, Cortês, 1991. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. SP: EPU, 1986. MAZZEU, Lidiane Teixeira Brasil. Pedagogia Histórico-Crítica e Formação de Professores: Proposições e categorias. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED. 31.,2008. Caxambu. Pôsteres...Caxambu: ANPED, 2008. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/2poster/GT08-4826--Int.pdf> Acesso em: 26 set, 2011. MASETTO, Marcos Tarciso. Didática: a aula como centro. São Paulo: FDT, 1997. MOREIRA, Marco Antônio. Teoria de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999. ______. Aprendizagem Significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982. ______. A teoria da Aprendizagem Significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2006. MOURA, Tania. Maria de Melo. A prática pedagógica dos alfabetizadores de Jovens e Adultos: Contribuições de Freire, Ferreiro e Vygotsky. Maceió: EDUFAL, 1999. PIMENTA, Selma Garrido. e LUCENA, Maria do Socorro Lima. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004. SACRISTÁN, Gimeno J; GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. URPIA, Maria de Fátima Mota. Fórum EJA Bahia: implicação na definição da política pública da Educação de Jovens e Adultos. 2009. 124 f. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania). Universidade Católica do Salvador, Salvador, 2009.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Aula: Gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas, SP: Papirus, 2008.
63
Entrevista Semi-Estruturada Esta entrevista é um instrumento de pesquisa que objetiva coletar dados e informações para a elaboração de monografia exigida como requisito necessário para a conclusão do Curso de Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais, oferecido pela Universidade do Estado da Bahia. Tem como pesquisadora a aluna: Lilian Oliveira de Amorim, orientada pela Professora Tânia Dantas, cujo tema de pesquisa é A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA. Os dados e informações registrados neste questionário serão utilizados apenas na confecção da monografia, sendo preservado o conteúdo e a fonte. Aluno (a)
QUESTÃO Nº 01: Durante as aulas de Língua Portuguesa, há momentos de discussão sobre o modo de falar dos alunos?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
Questão Nº 02: Durante o dia-a-dia na sala de aula, ao usar expressão como gíria ou outro modo de falar que não se enquadra nas regras gramaticais, você é corrigido pelo professor?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
QUESTÃO Nº 03: Você se sente constrangido quando é corrigido? a) ( ) Sim b) ( ) Não QUESTÃO Nº 04: Se sim, como você reage? QUESTÃO Nº 05: Você reconhece que os modos diferentes de falar dos indivíduos estão presentes: a) ( ) Nos falares dos colegas b) ( ) Nos falares dos amigos c) ( ) Nos falares da família d) ( ) Todas as alternativas
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e) ( ) Nenhuma destas QUESTÃO Nº 06: Você varia seu modo de falar conforme a situação em que se encontra? a) ( ) Sim b) ( ) Não QUESTÃO Nº 07: Se sim, como ocorre essa variação? QUESTÃO Nº 08: Você acha que o professor, ao respeitar o modo de falar dos alunos, está contribuindo para a aprendizagem? a) ( ) Sim b) ( ) Não
QUESTÃO Nº 09: Se sim, de que forma? QUESTÃO Nº 10: Há espaços durante as aulas de língua portuguesa para discutir os diferentes modos de falar dos alunos?
a) ( ) Sim b) ( ) Não
QUESTÃO Nº 11: Se sim, de que forma?
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Entrevista Semi-Estruturada Esta entrevista é um instrumento de pesquisa que objetiva coletar dados e informações para a elaboração de monografia exigida como requisito necessário para a conclusão do Curso de Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais, oferecido pela Universidade do Estado da Bahia. Tem como pesquisadora a aluna: Lilian Oliveira de Amorim, orientada pela Professora Tânia Dantas, cujo tema de pesquisa é A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA. Os dados e informações registrados neste questionário serão utilizados apenas na confecção da monografia, sendo preservado o conteúdo e a fonte. Professor (a) QUESTÃO Nº 01: Você reconhece que a variação linguística está presente nos falares dos alunos? c) ( ) Sim d) ( ) Não e) QUESTÃO Nº 02: Você reconhece que a variação linguística está presente nos falares dos professores? f) ( ) Sim g) ( ) Não
QUESTÃO Nº 03: Durante as aulas de Língua Portuguesa, há momentos de discussão sobre variação linguística?
c) ( ) Sim
d) ( ) Não
QUESTÃO Nº 04: Se sim, de que forma? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Questão Nº 05: Durante o dia-a-dia na sala de aula, ao ouvir dos alunos expressões como gírias ou outro modo de falar que não se enquadra nas regras gramaticais,
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você corrige esses alunos?
c) ( ) Sim
d) ( ) Não
QUESTÃO Nº 06: Se sim, descreva como acontece essa correção: QUESTÃO Nº 07: Você varia seu modo de falar conforme a situação em que se encontra? h) ( ) Sim i) ( ) Não QUESTÃO Nº 08: Se sim, como ocorre essa variação? QUESTÃO Nº 09: Você acha que o professor, ao respeitar a variação linguística dos alunos, pode contribuir para aprendizagem? a) ( ) Sim b) ( ) Não
QUESTÃO Nº 10: Se sim, de que forma?