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AGES FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS BACHARELADO EM DIREITO JANE ANGELICA OLIVEIRA SANTOS O DIREITO NA SOCIEDADE NANOTECNOLÓGICA

Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

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AGESFACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

BACHARELADO EM DIREITO

JANE ANGELICA OLIVEIRA SANTOS

O DIREITO NA SOCIEDADE NANOTECNOLÓGICA

Paripiranga

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2011JANE ANGELICA OLIVEIRA SANTOS

O DIREITO NA SOCIEDADE NANOTECNOLÓGICA

Monografia apresentada no curso de graduação em Direito da Faculdade AGES como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. M.Sc. Tanise Zago Thomasi.

Paripiranga

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2011JANE ANGELICA OLIVEIRA SANTOS

O DIREITO NA SOCIEDADE NANOTECNOLÓGICA

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, à Comissão Julgadora designada pelo Colegiado do Curso de Graduação da AGES – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.

Paripiranga, 03 de junho de 2011 .

BANCA EXAMINADORA

Profª. Tanise Zago Thomasi Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - AGES

Prof. Celso Eduardo MeloFaculdade de Ciências Humanas e Sociais - AGES

Prof. Rusel Marcos Batista Barroso

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Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - AGES

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Dedico esta monografia a Josefa Gois e Ednilson

Góis, que em nenhum momento mediram esforços

para realização dos meus sonhos, e me guiaram

pelos caminhos corretos, ensinaram-me a fazer as

melhores escolhas, mostraram-me que a honestidade

e o respeito são essenciais à vida. A eles, devo a

pessoa que me tornei.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar, a Deus, inteligência suprema que nos permite estar aqui

neste espaço e por me reservar saúde e proteção.

Aos meus pais, Josefa e Ednilson, que me criaram e proporcionaram minha educação,

tanto escolar quanto moral, e que me ensinaram que para viver é preciso ser perseverante.

A meus tios, tias e primos, obrigada pela força.

A meu noivo, Elthon Nunes, que, apesar da distância, está sempre me apoiando em

minhas decisões.

À orientadora e coordenadora, Professora Tanise Zago, pela paciência, pelo empréstimo

de livro, pelo brilhantismo ao ensinar e, acima de tudo, por acreditar em minha capacidade.

Aos professores, pela contribuição para o meu crescimento, obrigada pelo conhecimento

transmitido.

Aos meus amigos da faculdade, obrigada pela contribuição para que eu chegasse até

aqui, em especial Tânia Couto, Roberta Carvalho e Juliano Franklin.

Aos funcionários, pela atenção e disposição.

À Faculdade AGES, por proporcionar a mim e a todos os ageanos uma formação de

qualidade.

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Na atualidade, diante de todas as demais ciências

que surgem, é importante que se faça uma reflexão

idônea de seus verdadeiros benefícios e malefícios,

incluindo os prejuízos para o meio ambiente, já

que ,constatado que este é um fator determinante na

saúde da população em geral, seja o próprio homem

ou dos demais seres vivos, comprometendo a atual e

as gerações.

RAMOS & THOMASI

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RESUMO

O presente trabalho objetiva destacar a necessidade da criação de uma legislação específica aplicada à nanotecnologia, pautada no princípio da precaução, bem como contemplar a obrigação de uma apurada análise de riscos antes da colocação de nanomateriais no ambiente. Assim, com os capítulos expostos, é possível refletir criticamente a respeito da “sociedade de risco”, que a cada dia o sujeito vem fazendo uso da tecnologia de maneira desvelada, sem se preocupar com o futuro e com o ambiente, ou seja, com as consequências que podem vir da inserção dos processos de radicalização da modernização. Para tanto, o presente estudo visa oportunizar aos acadêmicos o acesso a informações sobre a aplicabilidade da nanotecnologia no âmbito de seus benefícios e malefícios. Os conceitos, legislações e princípios serão abordados de forma que destaquem a nanotecnologia pode apresentar riscos a partir da utilização de novas propriedades que os materiais “nano” podem adquirir, já que estes materiais são alterados tecnologicamente em sua estrutura. Assim, viver em estado de insegurança provoca discussões ligadas aos riscos da nanotecnologia é até então incipiente, do ponto de vista científico e jurídico, visto que não existe legislação específica que regulamente o uso da nanotecnologia. Nesse sentido, o presente tem como finalidade realizar uma breve análise relativa à necessidade de elaboração de elementos normativos que objetivam orientar o uso da nanotecnologia no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: direito ambiental; nanotecnologia; precaução.

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ABSTRACT

This work aims to highlight the necessity of creating a specific legislation applied to nanotechnology, based on the precautionary principle, as well as to contemplate the obligation of a detailed analysis of risk before putting nanomaterials on the environment. Thus, with the foregoing chapters, it is possible to reflect critically about the ‘risk society’ that the individual is making use of technology so unveiled every day, without worrying about the future and the environment, in other words, the consequences that can come from the insertion of radicalization processes of modernization. To this end, this study aims to create opportunities to the academic students’ access to information about the applicability of nanotechnology in the context of its benefits and harms. The concepts, principles and laws will be addressed in a way that highlight nanotechnology which may present risks from the use of new materials properties that ‘nanomaterials’ may get, as these materials are changed technologically in their structure. Therefore, living in a state of insecurity leads to discussions related to the risks of nanotechnology that is fledgling, from the point of the scientific and legal view, since there is no specific legislation governing the use of nanotechnology. In that sense, this is intended to perform a brief analysis about the necessity of elaborating the normative elements that aim to guide the use of nanotechnology in Brazil.

KEYWORDS: environmental law; nanotechnology; caution.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................10

2 MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO..............................................12

2.2 Princípios do Direito Ambiental......................................................................................18

3 NOVAS TECNOLOGIAS: biotecnologia e nanotecnologia.................................................21

3.1 Biotecnologia: avanços tecnológicos e inovações...........................................................21

3.1.1 Vantagens da biotecnologia para humanidade..........................................................24

3.1.2 Desvantagens da biotecnologia para humanidade....................................................26

3.2 Nanotecnologia: conceitos e aplicações..........................................................................27

3.2.1 Conceitos..................................................................................................................28

3.2.2 Benefícios e prejuízos...............................................................................................31

4 REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA DA NANOTECNOLOGIA........................................37

4.1 Considerações Gerais......................................................................................................38

4.2 Aplicabilidade da Nanotecnologia..................................................................................44

5 CONCLUSÃO.......................................................................................................................48

REFERÊNCIAS........................................................................................................................51

ANEXOS..................................................................................................................................55

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1 INTRODUÇÃO

Falar de Nanotecnologia é perceber que a sociedade está inserida em um mundo

tecnológico evoluído e em função disso, requer muita cautela, já que, segundo BECK (1999),

os sujeitos sociais estão em uma “Sociedade de Risco”. Então, se esta tecnologia for

efetivamente instituída, gerará, tanto no domínio técnico quanto no econômico e social, uma

revolução imensa nos dias atuais.

Se a Nanotecnologia for totalmente legalizada e sem que haja estabelecimento do

princípio de precaução, seguramente irá muito além da revolução causada pelas revoluções

industriais da mecânica e da informática. Nesse sentido, é ainda impossível contestar

exatamente a questão referente ao momento em que essa "revolução nanotecnológica"

surgiria.

Muitos dos cientistas que realizam pesquisas na área da nanotecnologia enfatizam

que tal revolução levará de 10 a 20 anos, tempo necessário para que aconteça uma primeira

inovação tecnológica terminante. Pode ocorrer, no entanto, que problemas apareçam no

decorrer das pesquisas, levando um tempo maior para que esta revolução se dê. Mas, pode-se

dizer que mesmo sendo considerado um tempo pequeno, ela parece inevitável.

É possível traçar exemplo de cunho tecnológico, o qual provocou e ainda provoca

muitas discussões, como: a fabricação da bomba atômica. Assim, ao voltar para o final dos

anos 1930, neste, embora parte da teoria apresentasse suficientemente desenvolvida e de

estarem certos de sua viabilidade, tinha, por outro lado, vários e complicados problemas

técnicos a serem resolvidos, cuja solução não era exatamente conhecida. Diversos caminhos

de pesquisa estão em curso atualmente. Nesse sentido, a duração e a quantidade de esforços a

serem gastos para se alcançar o sucesso são, ainda, apenas suposições.

Assim, o presente trabalho apresenta a importância e a atualidade do tema O

Direito na Sociedade Nanotecnologica dentro do campo jurídico, sendo que os estudos e

pesquisas referentes ao tema favorecerão aos estudiosos e profissionais da área de Direto.

Nesse sentido, o objetivo é destacar a necessidade da criação de uma legislação específica

aplicada à nanotecnologia, pautada no princípio da precaução, bem como contemplar a

obrigação de uma apurada análise de riscos antes da colocação de nanomateriais no ambiente.

Então, para realização dos estudos sobre o tema O Direito na Sociedade

Nanotecnologica se fizeram necessárias as pesquisas jurídicas relativas às novas tecnologias e

o meio ambiente, em que se aplicou a pesquisa jurídico-teórica, realizando estudos e análise

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do marco teórico como Milaré (2007), Beck (1999), Morin (2007), Antunes (2007),

Fernandes (1987), Capra (2005), Engelmann & Filho (Pessini (2007), Canotilho (1995),

Mateo (1991), Constituição Federal (1988) entre outros). A pesquisa abrangerá revistas

científicas, livros, revistas e artigos publicados em sites especializados.

Para apresentação do trabalho se fez necessária a divisão dos capítulos, os quais

estão divididos da seguinte forma: Introdução, Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado,

As Novas Tecnologias: Biotecnologia e Nanotecnologia, Regulamentação Jurídica da

Nanotecnologia e a conclusão. Todas as partes estão destinadas ao estudo da Nanotecnologia

e sua aplicabilidade.

No capítulo Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado está registrado o

contexto histórico referente ao processo de apropriação da natureza pelo homem, o qual vem

retirando as riquezas naturais, sem perceber que os recursos são esgotáveis. Além disso, neste

também serão destacados os princípios do direito ambiental, os quais possibilitam refletir

sobre o papel da lei dentro do âmbito do meio ambiente.

Em As Novas Tecnologias: Biotecnologia e Nanotecnologia serão apresentadas as

noções iniciais, enfatizando a natureza da biotecnologia e da nanotecnologia, enfatizando que

ambas fazem parte de um mundo inovador, mas que possuem dois lados: o benéfico e o

maléfico, sendo assim, faz-se necessário rever essa inclusão, já que na natureza tudo está

interligado e quando uma cadeia é destruída os outros setores naturais sofrem com a “queda”.

Com relação ao capítulo referente à Regulamentação Jurídica será possível

destacar a necessidade de uma regulamentação legal referente à inserção da nanotecnologia na

sociedade, pois é uma tecnologia que requer mais estudos. Assim, pode-se elucidar que o

princípio da precaução deve ser a base da nova legislação.

Pode-se dizer que a busca incansável do sujeito social com relação ao

desenvolvimento de tecnologias possibilita o aprofundamento das tecnologias existentes,

possibilitando a abertura de um debate jurídico/legal com a finalidade de cuidar das novas

tecnologias, bem como salvaguardar a sociedade. Portanto, é importante destacar que a

nanotecnologia não está regulada por nenhuma legislação específica brasileira, então, não

existindo responsabilização segundo os ditames do direito ambiental, significando uma

ameaça ao meio ambiente e ao homem.

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2 MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

Trabalhar com o tema meio ambiente é traçar por um caminho longo, pois de

acordo com a sua significação e/ou conceituação trata-se de um conjunto de forças e

condições que cercam e influenciam os seres vivos e as coisas em geral.

Ao trazer a discussão para o campo jurídico, com base na Lei 6.938/81, a qual

institui a Política Nacional do Meio Ambiente, percebe-se que no art. 3º I contêm o conceito

referente ao meio ambiente, o qual pode ser concebido como um conjunto de condições, leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite abrigar e reger a

vida em todas as suas formas.

Percebe-se que o conceito firmado pela Lei 6.938/81 dialoga com o do Professor

José Afonso da Silva, o qual conceitua meio ambiente como: “[...] a interação do conjunto de

elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da

vida em todas as suas formas” (MACHADO, 1994, p. 02).

No momento que se usa o termo ecologia remete ao pensamento relativo à defesa

dos animais, do verde e dos rios, mas, o significado da palavra ecologia vem do grego

“oikos” e quer dizer estudo da casa, tanto o estudo do lugar onde moramos como também da

“casa de todos”, ou seja, do planeta Terra. Nesse sentido, para que exista um meio ambiente

ecologicamente equilibrado é preciso levar em consideração os elementos naturais, artificiais

e culturais que são os aspectos fundamentais para o desenvolvimento da vida.

Porém, percebe-se que alguns seres humanos ainda não levam em consideração o

ambiente e se sentem na posição de superioridade, aproveitando ao máximo a posição

dominante que é estar diante da natureza, sem que existam limites na ação irresponsável do

sujeito, o qual faz uso do seu saber para a destruição da natureza.

É importante destacar que, quando há respeito à natureza em todos os sentidos, o

ser humano está cuidando de si próprio, já que suas ações exercem influência no local em que

vive e os efeitos dessas ações se voltam para ele. Nesse sentido, não existe espaço para vida

sem um ambiente adequado, assim como não há ambiente se não há vida.

Com passar dos tempos, nota-se que a humanidade vem buscando melhores

condições de vida, mas para que isso se concretize o meio ambiente é explorado e

consequentemente vai surgindo a sua destruição. Com resultado degradante, surgem

discussões sobre o desmatamento da Amazônia, as mudanças climáticas, a qualidade da água,

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a sobrevivência nas grandes cidades, entre outras questões relacionadas à preservação do meio

ambiente, sendo temas prioritários no âmbito das autoridades políticas e cientificas da área.

É importante destacar um acontecimento atual que deixou a população de todos os

países em estado de choque, pois o terremoto ocorrido no Japão com certeza foi uma tragédia

de proporções gigantescas e de grande sofrimento para toda a população desse país. Percebe-

se que os japoneses terão que enfrentar muitos desafios, já que depois deste terrível terremoto,

as usinas nucleares da cidade de Fukushima estão trabalhando para manter seus reatores

resfriados tentando assim evitar uma tragédia ainda maior, ao todo dois reatores já tiveram

problemas nesta cidade e situação está crítica, o nível de radiação segundo o governo japonês

baixou, mas ainda é perigoso para a saúde da população de Tókio e das cidades vizinhas, pois

a radiação ainda está em um nível muito acima do aceitável e inclusive já contaminou

diversos alimentos que são cultivados nesta cidade.

O cenário depois do terremoto ocorrido no Japão no dia 11 de março de 2011 é um cenário de horror e tristeza. Segundo informações dos noticiários do jornal, TV e internet, este terremoto está sendo considerado um dos piores desastres naturais de todos os tempos. O tremor que conseguiu ser o pior acontecimento em território japonês já possui classificação de 7º pior terremoto da história. De acordo com as notícias do Japão 2011 mais recentes já foram encontrados dois mil corpos na cidade de Myagi, alguns já falam na probabilidade ter uns 10 mil corpos só nesta cidade (G1, 2010)

Com a citação pode-se destacar que a natureza está mudando a rotina dos sujeitos

sociais, bem como os levando para a morte. O quadro de destruição minutos depois do

terremoto é um cenário que poderia ser fruto de um filme, ficção científica, mas o

acontecimento é real, levando os indivíduos ao campo da reflexão sobre o que está

acontecendo com a natureza, bem como quais as ações que os homens devem realizar para

não perder seu habitat, pior, perder a oportunidade de viver.

A destruição no Nordeste do Japão foi imensa, causando muitos estragos e mortes.

Sabe-se que este país é banhado pelo Oceano pacífico, ficando entre três placas tectônicas -

Eurasiana, das Filipinas e do Pacífico fato que explica a frequência com que o país oriental

sofre abalos sísmicos e a magnitude com que isso acontece. Cada placa resulta de "colagens"

de placas anteriores, formadas há milhões de anos. Por isso, sua formação é cheia de falhas.

Basicamente, é a movimentação dessas falhas que provoca terremotos, podendo causar

também deslizamentos de terra, tsunamis e até mudanças na rotação do planeta.

Acontecimento este que deixou a população amedrontada não somente pela ação da natureza,

mas também pelo que pode acontecer com o depois, pois o Japão possui usina nuclear, a qual

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tem forte poder radioativo, provocando contaminação na água e no ar, tendo como

consequência surgimento de doenças e acidente natural.

O ocorrido no Japão não é um fato isolado, mas percebe-se que a vontade do ser

humano em possuir todos os bens naturais e modificá-los conduz a população para caminhos

tortuosos, pois os objetivos em construir usinas hidrelétricas ou até mesmo a nuclear

provocam modificação significativa no ambiente e no dia-a-dia dos sujeitos sociais, além de

mudar a rota da natureza. Assim, ao trazer a discussão para o estado de Sergipe percebe-se

que implantar uma usina nuclear é perigo, pois este estado está em uma situação geográfica

que necessita ser pensada. Com tal projeto muitas são as discussões1 sobre o assunto e ainda

não se tem um ponto definitivo para tal implantação, mas é importante que a sociedade fique

atenta para não ser prejudicada futuramente, onde se busca o progresso tecnológico e o

regresso natural.

2.1 Contextos históricos: humano X meio ambiente

Há muitos anos o ser humano possuía uma interação com o meio ambiente de

forma harmoniosa, respeitando-o e nutrindo admiração pela natureza, só retirava dela aquilo

que fosse necessário a sua sobrevivência. Porém, a partir do momento que o sujeito deixou de

ser nômade, fixando-se em determinado local, fundando colônias, cidades, aprendeu a cultivar

a terra e domesticar animais, dando surgimento ao que chamamos de civilizações, ele se

afastou do meio natural, com intuito de explorar sem que se pensasse no futuro.

A estruturação do capitalismo do século XX só foi possível com a Revolução

Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII, abrindo espaço para um novo mercado de

consumo, intensificando ainda mais o processo de separação do homem com a natureza. Nota-

se que, nessa época, já existia a preocupação no tocante à degradação do meio ambiente, pois

George Parkins Marsh2, em sua a obra O homem e a natureza destaca a questão do

1 Conforme explica à professora Ana Figueiredo Maia, do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e especialista em Engenharia Nuclear, a implantação da central nuclear no Nordeste é uma opção que deve ser considerada. “É uma fonte de energia que atende à necessidade de ampliação da matriz energética do país. Energia e desenvolvimento econômico estão interligados. Para o país crescer nos próximos anos, é preciso gerar mais energia”, afirma. Para Luiz Carlos, uma das preocupações é com a localização da central nuclear em Sergipe: nas proximidades do rio São Francisco, fonte de água que abastece vários Estados nordestinos. “Uma grande quantidade de água é necessária para movimentar as turbinas e resfriar a usina. Quando ela retorna, está aquecida e provoca impacto. Uma coisa é devolver essa água para o mar, e outra é quando se trata de um rio, cuja vazão de água é menor e o sistema mais frágil” (BRABEC, 2010).2 (1801 – 1882) linguista, diplomata e conservacionista.

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desequilíbrio ecológico como uma das causas da destruição de algumas civilizações antigas e

alerta a humanidade quanto ao perigo de o mesmo erro ser cometido.

Observe na figura a evolução humana na área da destruição da natureza.

FONTE: http://juliosimoes.blog.br/homem-x-meio-ambiente. Acesso em: 12 abril 2011.

As fotos parecem até uma piada, mas não é, pois o homem realmente vem

jogando lixo e todo material que não serve mais nos rios. Na primeira foto tem-se a evolução

do ser humano, de acordo com a história, a qual argumenta que a vida surgiu no fundo do

oceano e na segunda foto um quadro degradante da sociedade, uma pequena canoa sobre uma

aglomeração de lixo flutuando nas águas do rio.

O fato é que, como pode ser visto na primeira foto, o ser humano acreditou, por

muito tempo, que a natureza era capaz de regenerar-se, mesmo sofrendo agressões pela

intervenção do sujeito social. Além disso, acreditava-se também que o desenvolvimento da

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ciência pudesse solucionar os problemas ambientais provocados pelo progresso, mas o fato é

que a terra é um sistema todo organizado, em que cada parte depende da outra3.

O tempo passa e com ele a natureza, sem que as intervenções realizadas possam

preservar o meio ambiente. No contexto da década de 60 percebeu-se que os problemas

socioambientais aumentaram, a poluição do ar e a erosão dos solos começaram a deixar de ser

um problema localizado para se tornar outro, agora, em dimensões mundiais.

Nesse contexto, Milaré argumenta que:

A questão ambiental, que dia pós dia ganha espaço nas preocupações da sociedade [...]. Não é possível saber em que ponto nos encontramos da História do Homem e do planeta Terra. Aliás, não haveria uma resposta categórica para essa indagação: qual o destino próximo do ecossistema planetário e da espécie humana?. Ela caminha no mesmo passo da eterna perquirição da Filosofia: ‘De onde viemos e para onde voltaremos?’ (MILARÉ, 2007, p. 54).

Observa-se que a dúvida sobre a origem e o destino do ser humano não tem

possível resposta, pois ninguém sabe e não se tem nenhum registro sobre tal fato. Mas, é

oportuno ressaltar que mesmo sem saber a sua origem e destino o ser humano não cuida da

natureza, a qual é responsável pelo equilíbrio da Terra. Com isso, Milaré declara:

[...], a cada momento, por onde quer que observar, deparamos-nos com inúmeros e variados problemas ambientais à nossa volta. De fato, a problemática ambiental está na ordem do dia. Basta atentar para as fontes de informação para ver que as agressões ao ambiente desfilam diuturnamente nos noticiários, nem sempre sensibilizando a sociedade e os seus dirigentes (MILARÉ, 2007, p. 55).

A destruição da natureza é consequência da ação humana, pois o homem, para

satisfazer suas vontades e múltiplas necessidades, as quais são infinitas, está buscando os bens

naturais, sendo estes limitados, para satisfazer-se. A disputa não é benéfica, visto que o sujeito

social está o tempo todo em busca de uma satisfação que nunca chega ao fim e, do outro lado,

está à natureza, a qual possui recursos limitados. Tal fato é uma questão de vida ou morte.

Assim:

3 A hipótese Gaia é uma tese criada em 1969 pelo investigador britânico James E. Lovelock, para explicar o fato de todos os seres vivos estarem ligados entre si e com o ambiente físico, levantando a hipótese de que a Terra seria um organismo vivo. Para ter chegado a essas conclusões, Lovelock, juntamente com a bióloga Lynn Margulis, realizou pesquisas comparativas entre a atmosfera da Terra e a de outros planetas. Para ele, é a vida na Terra que cria as condições para a sua sobrevivência, e não o contrário, como as outras teorias sugerem. Segunda a hipótese, a Terra teria uma capacidade própria de controlar e manter as condições físicas e químicas propícias para ela através de mecanismos de retroalimentação. Assim, os fatores bióticos teriam o controle sobre os abióticos, proporcionando as condições ideais de sobrevivência para os seres vivos. Para Lovalock, “a Terra precisa ser entendida e estudada como um sistema fisiológico fechado, da mesma forma que o médico estuda a interdependência das funções orgânicas do corpo humano”. (BRASIL ESCOLA, 20__).

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Sem dúvida, estamos abusando dos recursos da Terra. ‘Estamos nos alimentando de porções que pertencem às gerações ainda não nascidas. Os filhos de nossos filhos correm risco de entrar neste mundo já carregando o peso da dívida criada por seus antepassados.[...] Algumas ameaças, algumas iminentes, nos deparamos com os riscos globais, entre eles o incremento exagerado da população mundial, há particularmente entre as nações mais carentes de tecnologia e vítimas de enfermidades econômicas endêmicas, que o diplomata peruano Oswaldo de Rivero, em detalhado estudo, chama de ‘países inviáveis do século XXI. ’ Na sequência dos riscos, encontramos o perigo nuclear, a perda da diversidade biológica e, de certo modo os ‘efeitos limiares’ ou imprevisíveis de novas tecnologias. Mas o risco global das mudanças climáticas é, talvez, o mais iminente e, por isso, o mais temido (MILARÉ, 2007, p. 58).

Nota-se que o problema não é individual, mas sim, coletivo, pois mesmo sendo

pobres ou ricos todos correm risco, já que estamos em um ecossistema, onde tudo está

interligado. Quando o autor cita a questão do perigo nuclear, pode-se dizer que a sociedade

está vivendo este momento, pois a usina nuclear localizada no Japão está causando um grande

estrago no planeta, provocando surgimento de doenças e destruição natural. As partes

prejudicam o todo. Nessa linha de pensamento, Morin destaca:

O global é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional. Dessa maneira, uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte. O planeta Terra é mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e desorganizador de fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas uma das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo (MORIN, 2007, p. 37).

Todos os seres humanos são responsáveis pelo equilíbrio natural, pois cada um

em sua casa, empresa, cidade, ou seja, cada um deve fazer sua parte, para que estas possam se

somar e atingir o todo. No contexto social e natural as ações humanas têm retornos, pois a

causa sempre dá origem a uma consequência e estas podem prejudicar os sujeitos sociais,

portanto, dependerá do que se faz. Assim, Dalton Wintera de Carvalho citando Beck (1992)

destaca o “efeito bumerangue”, pois todas as ações humanas têm consequência:

Este ‘efeito bumerangue’ caracteriza os riscos das atividades pós-industriais e, consequentemente, os de natureza ecológica, os quais têm a capacidade de atingir um número indeterminado de sujeitos, naquilo que a dogmática jurídica denomina interesses transindividuais (difusos – grupo indeterminado ou indeterminável – e coletivos – grupo determinado). Na era da globalização (pós-industrialismo), tanto as consequências positivas quanto as negativas desencadeiam efeitos de dimensões globais (CARVALHO, 2006).

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A Constituição Federal – CF em seu art. 225 deixa claro que o meio ambiente

deve ser preservado:

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; [...]V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade [...] (CF, 1988).

Nesse sentido, é necessário cumprir a legislação e atentar para os temas relativos

ao meio ambiente e ao cotidiano das pessoas, pois a natureza é limitada e por possuir esta

característica muitos desastres aconteceram. Assim, caso o ser humano continue com o

processo de destruição ambiental, sendo resultado de seu egoísmo, todos os seres vivos

sofrerão as consequências que poderão levar à morte.

2.2 Princípios do Direito Ambiental

Então se faz necessário por em prática os Princípios do Direito Ambiental, o qual

está diretamente ligado à proteção do meio ambiente, sendo este responsabilidade de todos,

pois é um direito humano fundamental, consagrado nos Princípios 1 e 2 da Declaração de

Estolcomo e reafirmado na Declaração do Rio, proferida na Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio 92, cujo princípio 1 expõe que “[...] os seres

humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento

sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente”

(ANTUNES, 2007, p. 27).

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Assim “[...] o que observa no Direito Ambiental é o crescimento de províncias

específicas que se multiplicam em uma verdadeira metástase legislativa” (ANTUNES, 2007,

p. 23). Nesse sentido a jurisprudência exerce a função de proteção do meio ambiente,

verificando caso a caso, já que se percebe variação dos acontecimentos que prejudicam a

natureza, fato esse que dificulta o exercício judicial. Assim, com base na imprecisão nascem

os Princípios do Direito Ambiental, pois é através dele que as matérias, as quais ainda não

foram objeto de legislação específica, podem ser tratadas pelo Poder Judiciário e pelos

diferentes operadores do Direito.

Nesse sentido, os Princípios do Direito Ambiental são: Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana, Princípio do Desenvolvimento, Princípio Democrático, Princípio da

Precaução (Prudência e Cautela), Princípio da Prevenção, Princípio do Equilíbrio, Princípio

do Limite, Princípio da Responsabilidade e Princípio do Poluidor Pagador.

O princípio da Dignidade da Pessoa Humana serve de alicerce para a composição

de um direito, porém ele próprio não se constitui um direito, ou seja, “é a base capaz de dar

sustentação ao caput do artigo 225 da Constituição Federal que, do primeiro, recebe toda a sua

inspiração” (ANTUNES, 2007, p. 25). Assim, é a partir desse princípio que surgem os outros:

sub-princípios constitucionais, ou princípios setoriais e do Direito Ambiental.

O Princípio Democrático garante ao cidadão o direito à informação e a

participação na elaboração das políticas públicas ambientais, de forma que a ele devem ser

assegurados os mecanismos judiciais, legislativos e administrativos que efetivam o princípio.

O Princípio da Precaução põe em evidência a vedação de intervenções no meio

ambiente, exceto se existir a certeza de que as mudanças não ocasionaram reações adversas, já

que nem sempre a ciência pode dar à sociedade respostas conclusivas e relativas à inocuidade

de determinados procedimentos.

O Princípio da Prevenção é muito parecido com o Princípio da Precaução, porém

com este não se confunde. Sua execução ocorre nos fatos em que os impactos ambientais já

são conhecidos, ficando certo a obrigatoriedade do licenciamento ambiental e do estudo de

impacto ambiental (EIA), estes uns dos principais instrumentos de proteção ao meio

ambiente.

Pelo Princípio da Responsabilidade o poluidor, pessoa física ou jurídica, responde

por suas ações ou omissões em prejuízo do meio ambiente, ficando sujeito a sanções cíveis,

penais ou administrativas. Imediatamente, a responsabilidade por danos ambientais é objetiva,

conforme prevê o § 3º do Art. 225 CF/88.

Page 21: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

20

Os Princípios do Usuário Pagador e do Poluidor Pagador expressos no Art. 4º,

VIII da Lei 6.938/81 (31 de agosto de 1981, dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente, seus fins e mecanismo de formulação e aplicação) levam em consideração que os

recursos ambientais são finitas, assim sendo, sua produção e consumo provocam reflexos ora

resultando sua degradação, ora resultando sua escassez. Além disso, ao fazer uso, de forma

gratuita, do recurso ambiental está provocando um enriquecimento ilícito, visto que, como o

meio ambiente é um bem que pertence a todos, boa parte da comunidade nem utiliza um

determinado recurso ou, se utiliza, o faz em menor escala. Neste existem dois tipos de

princípios: O Princípio do Usuário Pagador, que estabelece que quem utiliza o recurso

ambiental deve suportar seus custos, ou seja, somente aqueles que dele se beneficiaram e o

Princípio do Poluidor Pagador obriga quem poluiu a pagar pela poluição causada ou que pode

ser causada.

O Princípio do Equilíbrio está voltado para a Administração Pública, a qual

precisa pensar em todas as implicações que podem ser desencadeadas por determinada

intervenção no meio ambiente, devendo adotar a solução que busque alcançar o

desenvolvimento sustentável.

O Princípio do Limite também está ligado à Administração Pública, sendo que seu

dever é estabelecer parâmetros mínimos a serem observados em casos como emissões de

partículas, ruídos, sons, destinação final de resíduos sólidos, hospitalares e líquidos, dentre

outros, visando sempre promover o desenvolvimento sustentável.

Page 22: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

21

3 NOVAS TECNOLOGIAS: biotecnologia e nanotecnologia

3.1 Biotecnologia: avanços tecnológicos e inovações

A natureza é composta por vários seres vivos os quais fazem parte de um

ecossistema. Todos vivem em equilíbrio, proporcionando a vida ou morte, depende da

situação. Nesse contexto está o homem com suas ações benéficas e/ou maléficas sobre o

mundo natural. Ele é responsável pelo que há de bom ou ruim, pois sobrevive retirando da

natureza seu sustento, bem como despeja nela o que não lhe serve mais.

Genericamente, a biotecnologia consiste no processamento industrial de materiais

pela ação de agentes biológicos (tecidos animais ou vegetais, células e microorganismos ou

enzimas). O termo biotecnologia tem como significado qualquer aplicação tecnológica que

utilize sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados para fabricar ou modificar

produtos ou processos para utilização específica no processo de produção industrial. Porém,

encontramos algumas dificuldades para estabelecer o aspecto legal, o que seja biotecnologia.

De acordo com a OMPI4 (Organização Mundial da Propriedade Intelectual)

colocou-se que, para efeitos da Propriedade Industrial, a biotecnologia compreende todos os

desenvolvimentos tecnológicos alusivos a organismos vivos (o que inclui animais, plantas e

microorganismos) e outros materiais biológicos. Contudo, a própria OMPI teria sugerido

anteriormente outra definição de biotecnologia: tecnologia que usa ou causa mutações

orgânicas em animais, plantas, microorganismos e todo material biológico que possa ser

assimilado a microorganismos.

Diante do quadro de apropriação natural, o sujeito social vem introduzindo a

tecnologia, a qual, também, pode ser benéfica ou maléfica para o meio ambiente. Nesse

contexto pode citar um avanço tecnológico: a biotecnologia, gerenciado pela ciência. A

palavra biotecnologia “é formada por três pequenas palavras de origem grega: bio – que

4 A OMPI foi criada em 1967, e é um dos 16 organismos especializados do sistema das Nações Unidas, de caráter intergovernamental, com sede em Genebra, Suíça. Sua função é: estimular a proteção da Propriedade Intelectual em todo o mundo mediante a cooperação entre os Estados; assegurar a cooperação administrativa entre as uniões de propriedade intelectual (União – Convenção – de Paris, o Acordo de Madri, a União – Convenção – de Madri, etc.; e estabelecer e estimular medidas apropriadas para promover a atividade intelectual criadora e facilitar a transmissão de tecnologia relativa à propriedade industrial para os países em desenvolvimento em vista de acelerar o desenvolvimento econômico, social e cultural. A OMPI também incentiva a negociação de novos tratados internacionais e a modernização das legislações nacionais (RIBEIRO, 2008).

Page 23: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

22

significa vida; tecnos - representa o uso prático da ciência; e logos – que significa

conhecimento. O termo biotecnologia passou a ser utilizada no século XX” (Disponível em:

http://www.bioinfo.ufpb.br. Acesso em: 26/05/2011).

Esta, em seu sentido mais amplo, compreende a manipulação de

microorganismos, plantas e animais, objetivando a obtenção de processos e produtos de

interesse. Desta maneira, toda atividade que envolva a aplicação dos conhecimentos de

fisiologia, bioquímica e genética, é considerada como técnica biotecnológica. Em seu senso

mais restrito as biotecnologias estão associadas ao emprego das técnicas modernas de biologia

molecular e celular. Outros conceitos de biotecnologias:

a) a utilização de sistemas celulares para a obtenção de produtos e desenvolvimento de processos (CNPq); b) a aplicação dos princípios científicos e de engenharia para o processamento de materiais por agentes biológicos proporcionando produtos ou serviços, c) o uso das técnicas de regeneração in vitro e do DNA recombinante (FERNANDES, 1987, p. 3).

A Biotecnologia tem como objetivo criar produtos que favoreçam a humanidade

por meio da utilização de processos biológicos. Ela não nasceu como fruto da tecnologia, esta

foi aprimorada com os avanços tecnológicos, pois existiam civilizações que já faziam uso da

biotecnologia.

Assim, a presença da biotecnologia estava quando Sumérios e Babilônios

iniciaram a produção de bebidas alcoólicas por meio da fermentação de grãos de cereais.

Naquele tempo o homem já utilizava essa tecnologia, lidando também na produção de vinhos,

queijos, pães, cervejas e derivados lácteos, mas o domínio deste conhecimento aconteceu de

forma gradativa a partir das leis da herança desenvolvidas pelo monge austríaco Johann

Gregor Mendel5. Ele deu início a um verdadeiro avanço científico na área da biotecnologia.

Então, com as ações de Mendel foi possível o desenvolvimento das técnicas da biologia

molecular, por vezes chamada engenharia genética, gerando inúmeras possibilidades.

A biotecnologia, alguns anos atrás, fazia cruzamentos controlados entre seres

vivos, objetivando alcançar benefícios nas colheitas. Para isso, se fazia a seleção do material

observando as características, as quais iam surgindo nas plantas, trazendo vantagens. Mas, a

ação do cruzamento era lenta, pois seguia o passo da tentativa/erro, levando os agricultores a

esperar a produção por várias gerações de culturas para que começassem a ter rendimento.

Assim:

5 Mendel conseguiu desvendar os segredos da hereditariedade, fazendo cruzamentos de ervilhas com diferentes cores de flores no jardim de um monastério (http://www.anbio.com.br/. Acesso em: 14 de abril 2011).

Page 24: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

23

À medida que a genética se foi desenvolvendo, também este processo se foi tornando cada vez mais rentável e assim, foi possível desenvolver variedades com resistências específicas a alguns vírus, bactérias, tolerância a determinadas condições como a seca ou o excesso de sal, resistência a insetos, entre outros (SARAIVA, 2003).

Sobre a biotecnologia em pleno século XXI é possível destacar diversos produtos

no mercado, os quais são provindos da ação da biotecnologia, como por exemplo: a cerveja, o

queijo, o pão, o vinho, o vinagre entre muitos outros. Porém, o procedimento de seleção

artificial e cruzamentos controlados, usados no passado e que ainda se utilizam no presente,

além de muito lentos, vão envolvendo uma série de cruzamentos entre indivíduos por

gerações sucessivas até alcançarem as características almejadas, dependem também de vários

fatores, como:

Só se podem obter características que já tenham surgido nalgum indivíduo, isto é, se nunca apareceu uma variedade com resistência a determinado factor, não é possível introduzir essa resistência o que torna a colheita mais vulnerável e com menor rendimento. É apenas possível cruzar espécies próximas e compatíveis.Muitas vezes, o gene que codifica a característica que se pretende obter está ligado a outro gene que não é desejado e são herdados simultaneamente, por exemplo, na alface a resistência a insetos pode ser adquirida conjuntamente com a tendência de apresentar um sabor amargo (SARAIVA, 2003).

Mas, com o desenvolvimento da Genética Molecular já é possível vencer estas

desvantagens, identificando o gene responsável por uma determinada especialidade, extraí-lo,

copiá-lo e botar a cópia noutro organismo. Assim, durante este processo este organismo passa

a obter à resistência almejada e ao mesmo tempo manter as suas outras características sem

herdar um gene que não é desejado. A tecnologia transgênica é muito mais flexível, rápida e

flexível.

Nesse sentido, o processo citado é por vezes chamado de "Biotecnologia

Moderna", sendo que atualmente está passando por grande expansão. É oportuno ressaltar que

existe quem encontre vantagens e quem lhes encontre desvantagens, mas o mais provável é

que se vá ligar à humanidade no futuro.

Mas, torna-se faz necessário enfatizar que o desenvolvimento da biotecnologia no

futuro dependerá da direção que o ser humano lhe ofertar. De posse da biotecnologia o

homem irá ampliar a produtividade, reduzir os custos da alimentação e proteger o ambiente de

alguns contaminantes químicos, porém, percebe-se que, como tudo na vida tem seu lado bom

e ruim, também é provável que provoque vários problemas para a humanidade.

Page 25: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

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Ao adquirir o poder de transformar o modo como a vida se expressa, a nova

biotecnologia testou os limites do sistema de patentes e dele recebeu uma resposta

inicialmente negativa. Contudo, nas duas últimas décadas vem existindo um maior grau de

admissibilidade em considerar a matéria viva e seus elementos constitutivos como objetos

patenteáveis.

3.1.1 Vantagens da biotecnologia para humanidade

Uma das principais características das biotecnologias é a sua amplitude e sua ação

multidisciplinar. Nesse sentido, pode-se dizer que as biotecnologias só podem ser

consideradas apropriadas a partir do momento que favorecem o desenvolvimento sustentável,

sendo tecnicamente fáceis no atual contexto de desenvolvimento técnico-científico do país;

proporcionarem benefícios mensuráveis aos destinatários; serem ambientalmente seguras,

socioeconomicamente e culturalmente aceitáveis no atual estágio de desenvolvimento do país.

Em meio a variadas aplicações da biotecnologia, sobressaem aquelas ligadas à

transferência de genes de organismos diferentes para a inclusão de características como a

resistência de pragas e patógenos e a estresses abióticos, no genoma de uma determinada

planta. Além disso, outras aplicações objetivam aumentar a eficiência fotossintética ou a

produção de metabólitos e constituintes importantes do ponto de vista nutricional e

farmacêutico. Estas técnicas, quando associadas com procedimentos de cultura de tecidos,

admitem a proliferação rápida e massas de genótipos superiores estáveis e isentos de doenças.

Neste sentido, e enquanto processos adaptáveis a diferentes objetivos, a

biotecnologia tradicional e a biotecnologia moderna oferecem à sociedade uma série de

importantes vantagens econômicas e ambientais:

- Contribuem para uma economia ecologicamente mais sustentável, através do uso de catalisadores biológicos, que funcionam a baixas temperaturas, e de matérias-primas renováveis;- Reduzem a dependência de combustíveis fósseis nos países de clima quente e/ ou tropical, através da produção e do aproveitamento da energia de biomassa;- Oferecem processos produtivos mais rentáveis que os processos tradicionais e, através do uso de soluções de base biológica, reduzem os custos ecológicos;

Page 26: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

25

- Beneficiam a produção de substâncias de valor acrescentado, com fins medicinais e terapêuticos. Deste modo, favorecem não só a criação de novos mercados, como promovem o aparecimento de produtos mais saudáveis e seguros (Alentejo litoral, 2007).

Novas táticas surgem com objetivo de proliferar a ação clonal, bem como para a

fixação de ganhos genéticos e novas abordagens para provocar mudança genética são

condições essenciais para o melhoramento das plantas. Desse modo, um dos maiores

benefícios das técnicas de cultura de tecidos vegetais para o melhoramento de plantas perenes

está ligado à possibilidade de prender e fixar os elementos aditivos e não aditivos da variância

genética por meio da difusão clonal.

A probabilidade de manipulação de sistemas in vitro para a clonagem de

genótipos superiores de espécies vegetais depende de uma série de fatores, como: a

compreensão e domínio de conceitos básicos em fisiologia do desenvolvimento.

Alguns acontecimentos deixaram marcas no processo de desenvolvimento da

Biotecnologia, como: 6.000 a.C. - Bebidas alcoólicas (cerveja e vinho) são produzidas por

sumérios e babilônios; 2.000 a.C. - Panificação e bebidas fermentadas são utilizadas por

egípcios e gregos, 1875 d. C. - Pasteur mostra que a fermentação é causada por

microrganismo, 1880-1910 - Surgimento da fermentação industrial (ácido láctico, etanol,

vinagre), 1922 - Sementes híbridas de milho começam a ser comercializadas, 1910-1940 -

Síntese de glicerol, acetona e ácido cítrico, 1940-1950 - Antibióticos são produzidos em larga

escala por processos fermentativos, 1953 - Wilson e Crick revelam a estrutura do DNA, 1073

- Cohen e Boyer transferem um gene de um organismo para outro, 1982 - A insulina humana

é produzida por engenharia genética, 1994 - O primeiro alimento geneticamente modificado,

o tomate Flavr Savr, chega aos supermercados dos EUA, 2000 - O arroz geneticamente

modificado é criado e 2003 - O Projeto Genoma, que identificou o mapa genético humano, é

concluído.

A biotecnologia é utilizada atualmente em vários lugares, seja nas industriais e/ou

nos campos científicos. No meio da evolução, percebe-se que a agricultura vem se destacando

com o melhoramento da qualidade vegetal, aumento da produtividade e diminuição de

poluição ambiental.

Perceber o problema e evitar antes que aconteça deve ser a ação dos sujeitos que

lidam com a biotecnologia. Além disso, são realizadas vacinas, reagentes e produtos

farmacêuticos (antibióticos e hormônios com maior grau de pureza e a um menor custo

podem ser produzidos com técnicas biotecnológicas). Sabe-se que, atualmente, vários testes

Page 27: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

26

para diagnósticos e novos tratamentos de doenças genéticas e adquiridas podem ser

realizados.

3.1.2 Desvantagens da biotecnologia para humanidade

Como na vida tudo tem uma causa e uma consequência, pode-se citar que a

técnica da biotecnologia não é totalmente benéfica para a humanidade, já que pode trazer

prejuízos ambientais, pois a introdução de variedades transgênicas na agricultura pode,

contudo, trazer problemas aos consumidores e desafiar o equilibro natural da natureza:

-Poluição biológica: a polinização contribui para contaminação das plantas convencionais pelas plantas transgênicas. Os resultados desta provável interacção ainda não são conhecidos, mas aventuram-se cenários como a extinção de certas espécies e a destruição de cultivos;-Alteração da cadeia alimentar;-Diminuição da biodiversidade: as plantas transgênicas sobrevivem mais facilmente em ambientes hostis, ao contrário das plantas convencionais; a sua uniformidade genética deixa também os cultivos mais expostos a pragas e outras calamidades. Há quem preveja, a partir destes dados, o desaparecimento de várias espécies convencionais;-Perigo de contaminação: a polinização cruzada de plantas usadas apenas para a alimentação e plantas modificadas para a criação de farmacêuticos e químicos pode constituir um perigo para a saúde pública;-Aumento da diversidade de reações alérgicas (Alentejo litoral, 2007).

Assim, com a aplicação de soluções e processos derivados da biotecnologia

ocasiona, pois, riscos para a saúde, natureza a agricultura. Nesse sentido, é importante

ressaltar que tal possibilidade deve ser, contudo, abordada à luz dos seguintes dados:

- O produto transgênico (são organismos a cujas células foram adicionadas células de outros seres vivos, para que sejam mais resistentes a pragas de insetos e para que se conservem mais facilmente) só chega ao mercado depois da avaliação, em pesquisas e estudos, do seu impacto no futuro;- Não são conhecidos quaisquer problemas específicos de saúde provocados pelo consumo de alimentos transgênicos. Na verdade, os problemas que lhes estão associados são muito semelhantes àqueles revelados pelos alimentos convencionais;- Todos os riscos são conhecidos e mantidos a um nível seguro pelos investigadores e cientistas (Alentejo litoral, 2007).

Page 28: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

27

Mesmo sabendo que as desvantagens estão sendo monitoradas, é percebível que a

humanidade corre risco, já que as experiências podem sair do controle dos cientistas e

provocar um desastre ecológico ou até mesmo mundial. Assim:

Consequência decorrente do exercício dessas novas atividades, a grande questão é que hoje o progresso técnico e econômico é considerado irreversível, uma vez que o desenvolvimento das técnicas e das ciências tende a ser uma realidade cada vez mais constante, inserta nas situações mais corriqueiras do cotidiano, funcionando como mola propulsora ou fator determinante da evolução humana, tendendo a estar cada vez mais fracionados em diversos estágios ou níveis de aperfeiçoamento e desenvolvimento pelo mundo todo, de acordo com a realidade social, política e econômica dos países e resultado, dessa forma, na emergência de uma realidade complexa totalmente nova para o direito, que terá a função de conformar e regular criteriosamente todas essas diferenças (DIAFÉRIA, 2007, p. 22-23).

Percebe-se que o desenvolvimento tecnológico e econômico tem dois lados: o

bom e o ruim. O primeiro se dá ao fato de que a humanidade tem acesso de forma rápida a

vários acontecimentos e conseguem resolver problemas rapidamente, ou seja, a tecnologia é

útil, pois “a tecnologia possibilitou uma grande integração das comunicações” (CAPRA,

2005, p. 163). É ruim porque o maior prejudicado é a natureza, pois a tecnologia consegue

mexer com o meio ambiente e com isso desequilibra o planeta.

3.2 Nanotecnologia: conceitos e aplicações

A nanotecnologia é uma tecnologia que já faz parte da vida das pessoas há muito

tempo. Ela está presente em muitos elementos eletrônicos, desde computadores até aparelhos

da medicina e outros tantos itens que possuem alta tecnologia.

De fato, um nanômetro é uma medida como qualquer outra. A matemática

trabalha com as medidas: centímetro, metro e quilômetro. Assim, além desses, pode-se

destacar o nanômetro, este é simples, basta dizer que ele equivale a um bilionésimo de metro,

mas isso não explica realmente o que é o nanômetro. A partir da imagem abaixo pode

perceber o quão pequeno é o nanômetro.

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http://www.tecmundo.com.br/2539-o-que-e-nanotecnologia-.htm#ixzz1K6kfqFdl

A tecnologia tem força para aumentar medidas numa mesma proporção. Ao

aumentar o nanômetro ele deveria ficar com o tamanho de uma bola de futebol. Em

compensação, uma moeda de 1 centavo (que mede aproximadamente 1,7cm) seria maior do

que a Lua. Ou seja, a relação entre um nanômetro e uma moeda de 1,2 cm, seria o mesmo que

comparar uma bola de futebol com a Lua (JORDÃO, 2009). Fantástico, não é mesmo?

Através desta comparação, fica bem claro o porquê da alta complexidade ao se

trabalhar na escala de nanômetros. Essa tecnologia só existe em laboratórios e indústrias com

equipamentos de alta precisão, afinal, são necessárias máquinas muito precisas para trabalhar

com componentes tão pequenos, os quais são invisíveis aos nossos olhos. Nesse sentido, a

expressão nanotecnologia “se refere a uma série de técnicas utilizadas para manipular a

matéria na escala de átomos e moléculas que para serem enxergadas requerem microscópios

especiais” (PALMA, 2009, p.16 - 17). Portanto, independentemente, a tendência da

nanotecnologia é controlar mais e mais a matéria manufaturada, o produto final, por exemplo,

os sensores de choque mecânico dos air-bags utilizados nos automóveis são gravados

diretamente nos chips.

3.2.1 Conceitos

As inovações de maior força, nas últimas décadas, foram provenientes,

indubitavelmente, da inclusão da microeletrônica e de suas diversas aplicações no campo civil

e militar. Não falta referência sobre os aspectos econômicos e técnicos de computadores e

microprocessadores e suas inúmeras aplicações em quase todos os setores das atividades

Page 30: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

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humanas. As sequelas sofridas pela sociedade, no entanto, não fazem jus à mesma atenção dos

pesquisadores e os recursos reservados para incentivar pesquisas e análises críticas sempre

foram, e continuam sendo, escassos.

Falar de nanotecnologia é destacar que a tecnologia está presente nas ações

humanas, sendo propícia ao desenvolvimento como também põe o meio ambiente em risco.

Assim, de acordo com Engelmann e Filho:

As nanotecnologias, técnicas de manipular a matéria na dimensão do átomo, deriva à amplitude de suas aplicações e ao pontencial de inovação, põem ser consideradas um dos pilares da nova revolução tecnológica do século XXI. Essa nova tecnologia, apontada como uma oportunidade ímpar para o desenvolvimento econômico, colocando a sociedade diante da incerteza quanto aos riscos para o meio ambiente e à saúde humana (ENGELMANN & FILHO, 2010, p. 51).

Dando continuidade, os autores Engelmann e Filho destacam a origem da

palavra nanotecnologia para que se possa perceber sua significação, a qual é utilizada em

diversos estudos, pois está associada a medir, ver, conjeturar, engendrar, causar e aplicar

materiais em escala nanométrica:

A palavra nanotecnologia deriva do prefixo grego nanos, que significa anão, techne que equivale a ofício, logos que expressa conhecimento. O ponto de partida para o termo nanotecnologia é a dimensão da intervenção humana sobre a matéria.Segundo a publicação The ethics and politics of nanotechnology da Unesco (2006, p.5) há uma forma simples e ampla de definir a nanotecnologia: ‘[...] é investigação conduzida à escala nanométrica (10-9 metros, ou um bilionésimo de um metro. Para referência, um cabelo humano é de aproximadamente 20.000 nm de diâmetro). [...] Moléculas, vírus e átomo são objetos que vão de menos de 1 nm átomos) para cerca de 100 nanômetros (grandes moléculas como o ADN). Eles são demasiado pequenos para ver a olho nu, ou mesmo com microscópios que usam luz visível. Por isso visualização da importância das novas tecnologias como o microscópio scanning tunneling e a força atômica microscópio, não só para ver, mas também manipular as coisas, nesta pequena escala (ENGELMANN & FILHO, 2010, p. 53).

Além disso, percebe-se que a nanotecnologia é resultado da intervenção humana

sobre a matéria. Baseado nesse argumento pode-se destacar outro conceito sobre a

nanotecnologia, objetivando esclarecer o tema, pois, Palma citando Shatkin destaca que “a

nanotecnologia é uma escala da tecnologia e não um tipo desta, e pode ser aplicada nos mais

diversos setores econômicos, como medicina, engenharia, eletrônica, comunicações,

cosméticos, aditivos, purificação da água e agricultura” (SHATKIN, apud. PALMA, ANO, p.

17). Outro conceito esclarece o termo nanotecnologia:

É a capacidade potencial de criar coisas a partir do mais pequeno, usando as técnicas e ferramentas que estam a ser desenvolvidas nos dias de hoje para colocar cada

Page 31: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

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átomo e cada molécula no lugar desejado. Se conseguirmos este sistema de engenharia molecular, o resultado será uma nova revolução industrial. Além disso, teria também importantes consequências econômicas, sociais, ambientais e militares. A nanotecnologia representa, portanto, incríveis vantagens para a humanidade, mas também graves riscos (Euroresidentes, 2000).

Assim, a nanotecnologia é a tecnologia utilizada para manusear mecanismos

muito pequenos, favorecendo a criação de estruturas funcionais que teriam sido inconcebíveis

utilizando tecnologia convencional. Ela é multidisciplinar, reunindo várias áreas de

conhecimento, tais como: química, física, biologia e engenharias. Mesmo estando relacionada

a estruturas muito pequenas, a nanotecnologia causa benefícios enormes, permitindo atingir o

que em alguns anos atrás era apenas ficção. Por esta razão, é agora um dos campos mais

importantes mundialmente. Nesse sentido, para Durán, Marcato e Teixeira:

O prefixo “nano” está relacionada a uma escala de medida em que um nanômetro é um bilionésimo do metro ou um milionésimo de milímetros. Para efeito de ilustração, um fio de cabelo tem cerca de 100.000 nanômetros de espessura sendo possível observar estruturas nesta escala apenas com auxílio de técnicas microscópicas modernas. O termo “tecnologia” refere-se ao desenvolvimento e produção de novos materiais O mundo nano está governado por várias regras que diferem daquelas que afetam nossas vidas ao nível macroscópico. Fatores que não têm importância ou que seriam inconcebíveis no mundo macro apresentam uma grande significância ao nível nanométrico. A nanotecnologia é tão revolucionaria porque controla tais fenômenos para ter novas propriedades e funções que atualmente já fazem parte do nosso cotidiano (DURÁN, MARCATO E TEIXEIRA, artigo, p. 01).

Percebe-se que quando se fala de escala nanométrica, fala-se realmente sobre

alguns poucos átomos e moléculas. Sabe-se que os tamanhos dos átomos possuem diferença

conforme os elementos químicos, enquanto que os tamanhos das moléculas estão sujeitas ao

número de átomos e da maneira que estes se ligam. Por exemplo, os vírus que causam a gripe

comum e outras doenças possuem um diâmetro de várias dezenas a centenas de nanômetros,

enquanto que as bactérias são ao redor de micrômetros (1micrômetro = 1.000 nm).

Os conceitos conduzem ao campo da reflexão, pois com a nanotecnologia tem seu

lado grandioso e “mágico”, pode causar danos à natureza e ao homem. Sabe-se que a

aplicação responsável das novas tecnologias pode ser útil para a humanidade e provocar um

bem maior, mas se o uso for visto como forma de dominação sem pensar nas consequências a

tecnologia não servirá para ajudar o mundo, mas sim, para destruí-lo.

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3.2.2 Benefícios e prejuízos

Percebe-se que a nanotecnologia é uma nova técnica de escala, a qual tem

condição de reduzir uma substância a uma bilionésima parte de um metro, isto é, 10-9 metros,

fazendo uso de equipamentos especiais como os microscópios STM e SPM. Assim, de acordo

com o artigo intitulado Desenvolvimento nanotecnológico: risco, concentração de poder e

democracia de Ramos e Thomasi:

[...], esta nova possibilidade idêntica à biotecnologia traz consigo novas polêmicas e a necessidade de novas regulamentações, além de toda a informação necessária para seu uso, já que em razão de seu minúsculo tamanho (nanômetro). [...]Quanto à invisibilidade, diferentemente das demais tecnologias, esta se torna agravada, pelo fato de não poder ser visualizada a olho nú, além do que exige equipamentos ultramodernos, o que dificulta a observância de seus efeitos, o mesmo ocorrendo com seu movimento, pois possui capacidade de ultrapassar barreiras até então intransponíveis, como muros e a própria pele humana e por último, ou seja, sua auto-replicação [...] (RAMOS & THOMASI, p. 09-10).

Com base na citação nota-se que o uso da nanotecnologia é um tema que vem

sendo amplamente discutido juntamente com a sociedade quanto a possíveis riscos como

contaminação do meio ambiente e mesmo de lançamento de produtos nano que apresentem

toxicidade elevada. Além disso, pode-se dizer que a nanotecnologia está presente em vários

aspectos da vida dos seres humanos, de modo que não tem como travar ou recusar essa nova

tecnologia. O que resta é exigir uma profunda investigação e conhecimento desses novos

produtos de maneira que venha trazer somente grandes benefícios para a sociedade.

Alguns estudos mostram algumas áreas promissoras da nanotecnologia, sendo: a

energia, agricultura e diagnóstico de doenças. Por este panorama pode-se notar a importância

dos estudos em nanotecnologia no mundo atual. Observe os “dez mais” usos da

nanotecnologia:

“Os dez mais” Usos da Nanotecnologia1 – Armazenamento, produção e conversão de energia.2 – Incrementos da produtividade da agricultura3 – Tratamentos de água e remediação ambiental4 - Diagnóstico e screening de doenças5 – Sistema de “entrega de drogas” (drug delivery)6 – Processamento e armazenamento de alimentos7 - Poluição do ar e remediação8 – Construção9 – Monitoramento da saúde10 – Vetores, detecção e controle de pragas. (ALVES, 2005).

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Analisando os “dez mais” usos, evidencia-se um alto recobrimento dos

interelencados, com diferentes pontos das chamadas políticas públicas.

Sabe-se que a nanotecnologia é a capacidade de criar e manipular materiais de

escala nanométrica. Nesse sentido, ela é considerada como um dos principais focos das ações

realizadas no tocante à pesquisa, desenvolvimento e inovação nos países industrializados. É

possível destacar que a sociedade atual vive em meio às estruturas nanotecnológicas tais

como: microeletrônicos, os microprocessadores dos computadores ou dos lasers

semicondutores de nossos CDs e DVDs, componentes de marca-passo cardíacos, entre outro.

O mundo está inserido numa nova tecnocientífica, em âmbito molecular. “Nesta medida, os

riscos da modernização preparam o caminho a uma nova repartição parcial do poder,

conservando em parte as competências”(BECK, 1999, tradução nossa).

Os avanços são importantes, mas se faz necessário respeitar limites e possuir

ética, pois, se assim não for, prejuízos futuros prejudicarão a humanidade. Destarte, sobre os

avanços pode-se dizer que:

Estamos começando a considerar seriamente possibilidades de transumano através de melhoramentos biotecnológicos das capacidades humanas biológicas, tais como tempo de vida, tipo de personalidade e inteligência. A genética, a nanotecnologia, a clonagem, a criogenia, a cibernética e as tecnologias de computador são, todos, parte de uma visão pós-humana, que inclui até a ideia de formar uma mente computadorizada, livre da carne mortal, portanto imortalizada. Os pós-humanistas não acreditam que a biologia seja um destino, mas, antes algo que deve ser superado, porque, segundo eles, não existe ‘lei natural’, mas somente maleabilidade humana e liberdade morfológica (PESSINI, 2007, p. 48).

Assim, sobre o avanço da robótica destaca-se que no mundo já existem fatos que

antes eram considerados como ficção, pois acreditava-se ser impossível, na vida real, criar um

robô com características humanas. Nesse sentido, dialogando com esse texto, pode-se citar a

novela "Morde & Assopra", da Rede Globo que passa a ocupar o horário das sete, escrita por

Walcyr Carrasco. Nesta tem uma “roboa” Naomi, interpretada por Flávia Alessandra, criada

pelo médico e amante da robótica Ícaro, interpretado por Mateus Solano, para ocupar o lugar

de sua esposa morta em um acidente de barco. Com as mesmas feições da amada, o cérebro

eletrônico do robô também tem os mesmos gostos e aptidões, como, por exemplo, tocar piano.

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Para que a atriz, Flávia, pudesse realizar o trabalho necessitou estudar sobre robótica e

argumenta:

Nunca me interessei por robótica. Agora, leio tudo o que posso a respeito. E fiquei surpreendida quando descobri que, nos Estados Unidos, um cientista teve a mesma atitude de Ícaro. Soa como inatingível para nós, mas esse tipo de robô já existe desde 2007. No Japão, tem uma que se chama Aiko. Ela faz faxina e café para seu criador. É o casamento perfeito, porque não reclama, não tem salário, não discute a relação... Para ajudar a compreender esse universo, estou lendo o livro "A Era das Máquinas Espirituais", de Ray Kurzweil. Ele fala sobre a possibilidade de dar toda a munição para uma máquina ser capaz de desenvolver nossas sinapses, de desenvolver consciência e sentimentos. (Palmeira, 2011.)

A fala da atriz proporciona a reflexão sobre os avanços tecnológicos, pois muitos

fatos acontecem com fruto do desejo humano, mas se faz necessário criar políticas públicas

que “controlem a criação humana”, pois a humanidade precisa conhecer os limites de cada

avanço, seja ele benéfico ou maléfico.

Mas, sabe-se que esta discussão é algo que vai perdurar por muito tempo, pois o

novo causa inquietação e também preocupações. Mesmo com os dados em evidência pode-se

destacar o uso da Nanotecnologia molecular (MNT) nos processos de produção e fabricação,

sendo que esta tem condição de resolver muitos dos problemas atuais:

A escassez de água é um problema sério e crescente. A maioria do consumo de água é usada nos sistemas de produção e na agricultura. A fabricação de produtos através da produção molecular poderia mudar este facto. As doenças infecciosas causam problemas em muitas partes do mundo. Produtos simples como tubos, filtros e mosquiteiros poderiam diminuir este problema. A informação e a comunicação são ferramentas úteis, porém, em muitos dos casos nem todos têm acesso a elas. Com a nanotecnologia, os computadores seriam extremamente baratos. Muitas localidades ainda carecem de energia elétrica. Contudo, a construção de forma eficaz e barata de estruturas ligeiras e resistentes, equipamentos elétricos e aparelhos para armazenar a energia solar permitiria o uso de energia solar como fonte primária e abundante de energia. A degradação ambiental é um problema grave em todo o mundo. Os novos produtos tecnológicos permitiriam que o impacto ambiental em actividades humanas fosse muito menor. Muitas zonas do mundo não poderiam desenvolver rapidamente uma infraestrutura de fabricação ao nível dos países mais desenvolvidos. A fabricação molecular pode ser auto-contida e limpa: uma única caixa ou uma simples mala poderia conter tudo o que é necessário implementar, de forma a levar a cabo a revolução industrial a nível de povoação. A nanotecnologia molecular poderia fabricar equipamentos baratos e avançados para a investigação médica e no campo da saúde. Uma das consequências positivas seria uma maior disponibilidade de fármacos mais avançados (Euroresidentes, 2000).

A nanotecnologia molecular tem a capacidade de contribuir para redução de uma

boa parte de todos os problemas sociais, como: a pobreza material, os problemas sanitários e a

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34

ignorância da humanidade. Ela pode reduzir o sofrimento humano inerente aos problemas

sociais, como, o que algumas “empresas farmacêuticas já utilizam da nanotecnologia para

aumentar a eficácia de medicamentos e reduzir efeitos colaterais” (ALMEIDA, 2009, p. 13).

É importante destacar que, mesmo não resolvendo todos os problemas sociais, percebem-se

alguns produtos e serviços no mercado com fonte nanotecnologia, tais como: tecidos

resistentes a manchas e que não amassam; Raquetes e bolas de tênis; Capeamento de vidros e

aplicações antierosão a metais; Filtros de proteção solar; Material para proteção (“screening”)

contra raios ultravioletas; Tratamento tópico de herpes e fungos; Pó antibactéria; Diversas

aplicações na medicina como cateteres, válvulas cardíacas, marca-passo, implantes

ortopédicos; Produtos para limpar materiais tóxicos; Produtos cosméticos; Sistemas de

filtração do ar e da água.

Percebe-se que a nanotecnologia molecular é um avanço tão importante que

inclusive até poderia ser comparada à Revolução Industrial, no entanto, com uma diferença

destacável, no caso da nanotecnologia o grande impacto será perceptível em apenas alguns

anos, atingindo a humanidade desprevenida com os riscos que tal impacto acarreta. Mas para

isso deve levar em consideração alguns pontos como: a nanotecnologia causará mudanças na

estrutura da sociedade e no sistema político e econômico, ela poderá vir a ser a causa de uma

nova corrida ao armamento entre dois países concorrentes, podendo ser fabricados produtos

menores, potentes e numerosos, além disso, poderá baratear os produtos, podendo provocar

danos ao meio ambiente, por ser barato surgirão medidas administrativas de controle

comercial que, por sua vez, poderá originar uma procura no mercado negro, visto que tornar-

se-ia fácil traficar produtos pequenos e bastante perigosos.

Para que se pudesse desfrutar dos extraordinários benefícios da nanotecnologia, é

indispensável perceber os riscos e evitá-los. Para tal, deve-se, antecipadamente, entendê-los e

em seguida, estabelecer planos de ação para preveni-los. Sabe-se que a nanotecnologia tem

como contribuição a fabricação de protótipos com uma grande variedade de produtos bastante

eficazes. A fabricação é rápida, visto que os últimos passos necessários para aumentar a

tecnologia serão mais simples que os primeiros, e muitos deles terão sido planificados durante

o próprio processo. A chegada repentina da fabricação poderá não dar tempo suficiente para

ajustarem-se as suas implicações. Por essa razão, é imprescindível uma preparação adequada

para prever seus riscos. Assim, Almeida argumenta:

A partir do momento em que são concebidas respostas institucionais para os perigos, isto é, quando estes se tornam calculáveis por respostas institucionais adequadas, é que surge o risco. Como exemplo, Ulrich Beck cita os primórdios da navegação

Page 36: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

35

comercial intercontinental. Àquele tempo, o risco era entendido como ousadia e estava umbilicalmente ligado à noção de segurança. Para os primeiros comerciantes e aventureiros que se lançavam à conquista do desconhecido, havia uma grande probabilidade de seus navios naufragarem, o que pode ser entendido como um perigo. Quando este destino individual passou a ser visto como a possível experiência comum de um determinado grupo, ou seja, como um problema que afetava e ameaçava a existência de empreendimento comercial intercontinental, criou-se uma caixa comum destinada a pagar uma indenização em caso de naufrágio. Nesse momento cai-se a resposta institucional para o perigo, este se transforma em risco, isto é, um problema coletivamente solúvel (BECK, apud. ALMEIDA, 2009, p. 6).

Assim, de acordo com Almeida (2009), os riscos devem ser vistos como

resultados de um possível dano, sendo este fruto de uma decisão. A partir do momento que os

danos fogem do controle humano passa a ser considerado como perigo, pois engloba as

decisões de outros grupos e organização. É importante destacar que o Centro de

Nanotecnologia Responsável já identificou determinados riscos mais preocupantes da

nanotecnologia. Alguns deles suportam riscos existenciais, isto é, poder-se-á ameaçar a

continuidade da humanidade.

Porém, outros poderiam provocar imensas mudanças sem a destruição da nossa

espécie. As combinações de diversos riscos deveriam aumentar a gravidade de cada um. Cada

solução necessita ter em conta o impacto que teria sobre outros riscos. Assim, Almeida

citando Breck destaca:

[...] o desenvolvimento das forças produtivas, isto é, a industrialização, pode ser entendida como o processo de surgimento dos riscos e das respostas institucionais a eles. Entre os séculos XVIII e XX, o processo de distribuição das competências dos riscos foi negociado e institucionalizado, de forma que desempenhou um papel fundamental para o otimismo desenvolvimentista. Assim, o progresso sempre esteve umbilicalmente ligado à possibilidade de compensação dos seus efeitos colaterais através de um programa institucionalizado (BECK, apud. ALMEIDA, 2009, p. 07).

A humanidade vive em uma “sociedade de risco” e, segundo Beck, necessitando

“repensar a relação entre a natureza e a sociedade” (BECK, 1999, p. 89). Pode-se ressaltar que

alguns dos riscos possuem sua origem na falta de pouca regulação, outros, porém, na sua

excessiva regulação. Diferentes tipos de regulação serão necessários em diferentes casos.

Uma resposta rigorosa ou demasiada em qualquer dos riscos supracitados daria à

origem a outros riscos de natureza diferenciada. Em virtude disso se faz necessário evitar a

imposição de soluções aparentemente óbvias e simples em problemas únicos.

É importante destacar que uma única abordagem (comercial, militar, informação

livre) não poderá evitar todos os riscos da nanotecnologia. Sabe-se que a própria descoberta

de alguns prováveis perigos da nanotecnogia pode ser tão grande que a sociedade não terá

Page 37: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

36

condição de assumir o risco de diferentes métodos para impedi-lo. Tecer um fio condutor

entre todos os riscos demanda um planejamento bastante cuidadoso.

É importante destacar que não se trata de impedir o progresso científico e

tecnológico, mas sim zelar pela vida humana, prevenindo os riscos à saúde da população e das

ameaças ao precário equilíbrio do meio ambiente. Então, o foco é deslocar a discussão sobre o

uso da nanotecnologia, a favor ou contra, para a análise dos atores sociais e econômicos,

envolvidos com a legislação que exige o licenciamento ambiental para todas as atividades

econômicas, sujeitas à análise e avaliação por parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente –

SISNAMA.

Assim, os avanços tecnológicos devem ser não somente tecnicamente possíveis,

mas também ambiental e biologicamente seguras, economicamente vantajosas, socialmente

benéficas e eticamente aceitáveis. Tudo isso legalmente regulamentado.

O assunto é complexo dados os vazios no conhecimento da nanotecnologia. Mas

se percebem muitas implicações ao meio ambiente com relação à toxidade e à

biodegrabilidade das nanoparticulas e os efeitos delas a saúde das diversidades de espécies -

incluindo a humana - tanto em curto prazo como em médio prazo são consideráveis, uma vez

que se estima que poderiam interferir nas funções vitais.

Page 38: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

37

4 REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA DA NANOTECNOLOGIA

Nos últimos tempos, diversos avanços tecnológicos foram inseridos no mercado,

como: microeletrônica, engenharia genética, raio laser, novos materiais, energia fotovoltaica,

fibras ópticas e outras, transformando produtos, processos e as atividades econômicas e

administrativas. Os efeitos de sua utilização em escala global vêm sendo tema de reuniões

científicas, debates parlamentares e de decisões políticas. Emprego – desemprego;

qualificação – desqualificação da mão de obra; racionalização total – alienação completa dos

processos de trabalho; eficiência máxima na administração privada e pública – invasão da

privacidade constituem alguns dos aspectos contraditórios e desafiantes das novas

tecnologias. Assim, como argumentam Ramos e Thomasi:

Vivemos em uma sociedade contraditória, onde opostos convivem naturalmente, ou seja, de um lado, observamos os detentores de riquezas e consequentemente da concentração de poder, com a capacidade de diminuir as mazelas e desgraças existentes alienados aos sofrimentos humanos e de outros, populações inteiras responsáveis pela produção dos ganhos destes, relegadas ao status de coisas, sem o mais básico direito fundamental – a dignidade de pessoa humana -, quando não são prejudicadas com riscos ambientais, como lixos tóxicos, ou trabalharem sob condições desumanas (RAMOS E THOMASI, p. 12).

Os riscos intrínsecos na inclusão de novas tecnologias no âmbito social exigem

um diálogo constante. Nesse contexto é primordial que existam acordos sobre princípios

éticos sobre a dignidade humana, autonomia, a obrigação de não ferir e fazer o bem, em

especial, nas áreas de saúde6 e segurança no trabalho, privacidade e preservação do meio

ambiente. Nesse sentido, Ramos e Thomasi enfatizam que:

Os riscos ‘decorrentes do desenvolvimento econômico e tecnológico é também o problema de uma forma de pensar e fazer ciência na modernidade’ [...], tanto que Beck, diz que se passou ‘de la solidaridad de la miseria a la solidaridad del miedo’ [...] e que todos um dia, serão atingidos de uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde, pelo chamado efeito bumerangue (RAMOS E THOMASI, p. 04).

Avaliar os riscos deve ser uma prioridade nos dias atuais, pois a administração

destes e suas consequências sociais, econômicas e políticas, precisam estar estreitamente

pautadas com políticas de saúde pública, existindo a necessidade de regulamentação de

6 6 Art. 196 da Constituição Federal - CF/88 – A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Page 39: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

38

padrões de exposição, prevenção e intervenção, exigindo medições biomédicas e de

engenharia sanitária. Essas seriam as funções de um observatório de nanotecnologia, para

orientar as intervenções reguladoras, já que a nanotecnologia nasce como um avanço

tecnológico “de maneira que são utilizadas técnicas para manipular a matéria na escala de

átomos e moléculas, sejam como promessa de medicamentos mais eficazes, cosméticos

milagrosos ou até mesmo na confecção de tecidos e tintas mais potentes” (RAMOS &

THOMASI, p. 04). Assim, esta técnica deve estar pautada no princípio da precaução em face

de evidências incompletas e de incerteza quanto aos riscos de conhecimentos científicos

incompletos impõe-se para a segurança da população até que se crie um processo

compreensivo de regulação, evitando os riscos.

4.1 Considerações Gerais

O caput do art. 225 da Constituição Federal “Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para

as presentes e futuras gerações.” Percebe-se a imposição, evidentemente, de uma regra de

antecipação aos danos ambientais, gerando um dever de preventividade objetiva. Nesse

sentido, a noção do risco incide em uma importante forma de comunicação para evitar os

danos ambientais, dando margem à formação de vínculos com o futuro:

Esta ênfase preventiva, peculiar ao Direito Ambiental, atua como condição de possibilidade operacional do Direito para a formação de uma comunicação jurídica acerca do risco. A comunicação sobre o risco no Direito Ambiental é instrumentalizada pela distinção entre prevenção e precaução. Enquanto os riscos concretos são geridos pela máxima da prevenção, os abstratos o são pela precaução (MATEO, 1991, p. 93).

Embora a prevenção e a precaução terem sido abordadas como princípios

jurídicos sinônimos durante o surgimento do Direito Ambiental, no decorrer das últimas

décadas tem-se intensificado a necessidade de uma ruptura entre estes. A distinção entre estes

dois princípios “capacita o Direito a gerir, de forma autônoma e específica, os riscos

concretos e os riscos abstratos” (CANOTILHO, 1995, p. 40).

Page 40: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

39

Nota-se que o Princípio da Prevenção “aplica-se a impactos ambientais já

conhecidos e dos quais se possa, com segurança, estabelecer um conjunto de nexos de

causalidade que seja suficiente para a identificação dos impactos futuros mais prováveis”

(ANTUNES, 2005, p. 35). Assim sendo, a programação normativa desencadeada pela

prevenção recai sobre aqueles riscos ambientais cujo conhecimento científico vigente é capaz

de determinar relações concretas de causa e consequência. Como argumenta Beck: o “efeito

bumerangue”. Já o sentido normativo do Princípio da Precaução foi trazido pelo Princípio 15

da Declaração do Rio em 1992, nos seguintes termos:

Para que o ambiente seja protegido, serão aplicadas pelos Estados, de acordo com as suas capacidades, medidas preventivas. Onde existam ameaças de riscos sérios ou irreversíveis não será utilizada a falta de certeza científica total como razão para o adiamento de medidas eficazes em termos de custo para evitar a degradação ambiental (ACPO, 20__).

Pode-se observar que o sentido de prevenção apresentado pelo texto detém uma

acepção lato sensu, devendo ser corretamente interpretado como precaução. Dessa forma, o

Princípio da Precaução tem sua aplicação condicionada aos contextos de incerteza científica,

em que não haja segurança acerca das prováveis consequências de uma atividade ou produto.

Nesse sentido, a sociedade atual vive momentos de riscos, os quais são

consequências de um mundo capitalista, o qual busca ganhar sempre e em meio do querer e

poder está à tecnologia com seus avanços, beneficiando e/ou prejudicando os seres humanos.

Então, é importante destacar que a sociedade perceba a importância de conhecer os riscos e

preveni-los para que os impactos ambientais não sejam fatais. Nesse contexto, Ramos e

Thomasi enfatizam:

O risco aumentou consideravelmente e a ciência deve acompanhar esta evolução na tentativa de manter o controle social e oferecer proteção aos bens jurídicos constitucionais – saúde, meio ambiente equilibrado – basicamente, já que todos os demais envolvidos, bem como seus aspectos econômicos, sociais, culturais e éticos, que condizem com sua vida pessoal e a concentração de poder que estão submetidos (RAMOS & THOMASI, p. 06).

É necessário preservar o meio ambiente e consequentemente a vida, bem como é

oportuno versar sobre o direito da sociedade civil de desempenhar o controle no campo da

mudança e das inovações tecnológicas. Atualmente, mesmo com estes avanços e, é por causa

deles que há a necessidade de institucionalizar o aprendizado social e avaliar os riscos e as

oportunidades no que concerne a operação das condições de incerteza. É essencial avaliar

Page 41: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

40

diariamente o papel da nova tecnologia na melhora ou piora da situação social, diminuindo ou

aumentando as desigualdades, a exclusão e a degradação do meio ambiente.

Dessa avaliação a nanotecnologia não é livre, pois, mesmo sendo uma ciência

nova, a qual ainda está na fase histórica “quando as políticas adotadas determinam seu

controle a partir dos instrumentos disponíveis” (RAMOS & THOMASI, p. 06), pois nem

mesmo os cientistas que dela utiliza “não conhecem seus reais e efeitos proveitos ou

malefícios. Investigam sua aplicação e indícios fortes acusam sua utilidade na área

farmacologia, cosmético mais recentemente vestuários e utilidades domésticas” (RAMOS &

THOMASI, p. 06).

Por ainda estar na fase histórica se faz necessário e urgentemente levantar

questões que provoquem discussões sobre a nanotecnologia no âmbito social, pois as

consequências de sua ação sobre o ambiente pode ser fatal, pois:

A reatividade dos nanomateriais, a depender do seu revestimento, pode causar danos químicos ao tecido que estiver em contato. Tal reatividade é divida à presença de radicais livres, que são átomos que possuem um número reduzido de elétrons. Estes átomos ‘furtam’ elétrons de células vizinhas para aperfeiçoar sua própria estrutura, criando, assim, outro radical livre. Este novo radical livre também irá ‘furtar’ elétrons das outras células, e assim por diante, gerando uma reação em cadeia. A formação de radicais livres é comum em um organismo saudável, onde existem, inclusive, enzimas responsáveis pela sua eliminação. Porém, tais processos ocorrem localmente e em um ambiente quimicamente eliminação. Os radicais danosos, cujos efeitos são intensificados por fatores exógenos (nanopartículas reativas, radiação, raios solares, e.g.), prejudicam tal equilíbrio químico do organismo e podem contribuir para formação de tumores (SWISS REINSURANCE, apud. ALMEIDA, 2009, p. 17-18).

Com base na citação nota-se que o perigo de uma reação contra o corpo do ser

humano é grande, daí a nonotecnologia, ou seja, a sua nanopartícula ser um tema que emana

muitas discussões entre os especialistas. Sabe-se que a humanidade vive em busca de prazeres

e da estética perfeita, para isso é capaz de fazer qualquer coisa para atingir seu objeto. A

nanotecnologia vem saciar esse desejo. Porém é mister que, com a inclusão de cosméticos,

protetores solares e bronzeadores fazem uso da nanomateriais, sejam observados e analisados

os prol e contra, pois o ser humano fica vulnerável a um acidente e podendo chegar à morte

ou a contrair uma doença que o faça padecer por muito tempo sofrendo.

Há uma ênfase exagerada, devido a interesses e objetivos comerciais, nos

impactos supostamente revolucionários das novas tecnologias, enquanto, na realidade,

ocorrem avanços apenas incrementais, baseados em áreas solidamente estabelecidas como:

semicondutores, ciência coloidal, novos materiais, etc. O que torna necessário estabelecer

uma distinção entre ficção científica e extrapolação da evolução provável e possível. Neste

Page 42: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

41

contexto, importa frisar que possíveis avanços viriam juntos com progressos da

nanotecnologia, de forma sinérgica e não isoladamente, pois é necessário levar em

consideração a ética, ou seja, o respeito o outro. Assim:

É urgente cultivar, junto com a ousadia científica, a prudência ética. Que seriam chamadas ‘qualidades humanas fundamentais’ que não devemos manipular? Além disso, com a questão ambiental tivemos como legado o aprendizado da humanidade e respeito diante da natureza, [...] (PESSINI, 2007, p. 49).

É importante que se pense no outro, tenha compaixão, perceba que visando

somente o lucro e o avanço tecnológico sem verificar as causas e consequências podem

provocar muitas mortes e até mesmo dar fruto a uma humanidade rica em tecnologia e pobre

em saúde. É caso de se pensar! Refletir sobre o que se quer com os avanços tecnológicos, se é

para ajudar a população ou para acabar com a raça humana?

Sabe-se que o avanço tecnológico, no caso, a nanotecnologia, pode ter solução

para problemas mais urgentes como: redução da pobreza, fome e mortalidade infantil,

degradação ambienta e até mesmo a cura de muitas doenças como malária e AIDS. O objetivo

é ser utilizada como um instrumento de melhoria para a vida humana. Mas, é importante que

não visualize somente seus benefícios sem olhar os males que pode causar, pois:

As oportunidades de desenvolvimento deste setor se tornam todos os dias mais vastas e representam um grande potencial de inovação tecnológica. Não está claro, no entanto, quais riscos advindos dos produtos articulados em escala nano ao meio ambiente e aos seres vivos. Não é ainda compreensível se tais partículas, por serem extremamente pequenas, podem adentrar na cadeia alimentar, ou como podem afetar as florestas e a qualidade do ar, [...]. Quando o tamanho é em nano, a presença de moléculas individuais se torna relevante, uma vez que podem existir efeitos químicos e/ou físicos os quais não estão presentes em escalas maiores. Há muito que se sabe que o resultado de toxicidade é progressivamente maior conforme a dimensão das partículas diminui. Por estas razões, os riscos da nanotecnologia não podem ser estudados com base na toxicidade presente nos mesmos materiais em macro escala, ou seja, não se pode tratar os nanomateriais como equivalentes aos materiais de tamanho macro (PALMA, 2009, p. 17-18).

Nota-se que a exposição às partículas da nanotecnologia pode provocar danos à

saúde humana, pois afeta as cavidades nasais, cérebros e pulmões. De acordo com a Lei de

Crimes Ambientais – 9605/98 causar danos a saúde humana ou de animais é crime, pois:

Art. 54 - “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora - Pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa.” § 3º. Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em

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42

caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível (LEI DE CRIMES AMBIENTAIS – 9605/98).

A insegurança provinda das mudanças sociais discutidas ao longo deste trabalho e

da utilização de novas tecnologias até então com efeitos desconhecidos, como a ação da

nanotecnologia ensejam, do ponto de vista jurídico, na necessidade de adoção de práticas mais

eficazes e seguras.

É necessário respeitar a vida. A ciência e tecnologia constituem apenas meios e

instrumentos e não podem ser vistas como algo que dita as regras. Sua aplicação e destino,

portanto, devem ser objeto de diálogo, comunicação e de interação social permanente.

Incontestavelmente, um dos papeis da ciência é racionalizar o desconhecido. No

entanto, se neste procedimento ela for empregada para impedir a liberdade dos outros, os

cientistas renunciarão a sua própria criatividade, perdendo a visão de conjunto do processo

social. Com isso, a autonomia da pesquisa e o potencial libertador intrínseco aos

conhecimentos científicos e tecnológicos também se perdem. Apenas ao passo que forem

acompanhadas por mudanças nas relações sociais e culturais poderá a sociedade, como um

todo, beneficiar-se das inovações. Nesse contexto, faz-se necessário que leis sejam criadas

com objetivo de atender essa nova demanda de ações científicas, ou seja, a complexidade da

nanotecnologia, pois o que se percebe é que o Brasil:

Não possui normas que atendam o nível de complexidade da nanociência e nem marco regulatório para nanotecnologia, [...] os procedimentos de segurança atualmente existentes no campo da nanociência no Brasil são de caráter voluntário e dependem da consciência de cada pesquisador, o que coloca em risco a sociedade (PALMA, 2009, p. 19).

Assim, depender da consciência do pesquisador não é bom, pois ele visa a seu

próprio interesse, o outro é apenas um alvo. Situação que não pode perdurar por muito tempo,

já que se tem justiça, esta deve buscar estabelecer regras que possam limitar e proteger a vida,

pois os cientistas precisam ter normas que disciplinem suas ações no tocante ao uso da

nanotecnologia, seja no âmbito nacional como no internacional, pois a legislação necessita

abranger todos os países, sendo uma lei internacional, comum a todos.

Sabe-se que existe o princípio universal da precaução, o qual se institucionalizou

no Direito Ambiental, presente em diversos instrumentos de direito ambiental internacional,

referindo-se ao gerenciamento adequado dos riscos desconhecidos da ação sobre a qual ainda

não se têm certezas científicas a respeito de seus efeitos no meio ambiente.

Page 44: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

43

Nesse sentido, a adoção do “Princípio de Precaução” face às incertezas e riscos

provindos da aplicação de conhecimentos incompletos seria ditada por um acordo básico

sobre os princípios éticos, tais como a preservação da dignidade humana, a autonomia e a

obrigação de não ferir e fazer o bem, em especial, nas áreas de saúde e segurança de trabalho

e na preservação do meio ambiente. O cuidar é a palavra chave.

Outro fato importante sobre o objetivo de impor regras ao uso da nanotecnologia é

a resolução aprovada na Europa, a qual solicita à Comissão Europeia (disponível em:

http://ec.europa.eu/research. Acesso em: 15/05/2011), responsável pela elaboração das

questões legislativas, revisar a legislação, levando em consideração os riscos possíveis que os

nanomateriais manufaturados e as nanotecnologias podem representar. Assim:

Algumas observações e sugestões foram pontuadas, como, por exemplo, ‘a solicitação de aplicação do princípio: sem segurança não há mercado’, ‘o qual pede para que a Comissão reveja, no prazo de dois anos, toda legislação relevante para garantir a segurança para todas as aplicações de nanomateriais em produtos com potenciais impactos à saúde, ao meio ambiente e à segurança em todo seu ciclo de vida e garantir que os instrumentos legislativos de implementação reflitam as características particulares dos nanomateriais, para os quais os trabalhadores, os consumidores e o meio ambiente possam estar expostos’. Os grupos ambientalistas e de consumo aprovaram o voto, mas a indústria aconselhou que o uso impróprio de regulamentos poderia prejudicar o crescimento econômico europeu (RINALDI, 20__).

Nota-se que de um lado está o ambientalista a favor da resolução, pois o foco é a

vida, mas do outro estão os industriais que visam o lucro, não concordam com o voto,

alegando prejuízo. A favor e contra são opiniões que vão sempre existir, mas é importante que

se priorize a vida, ou seja, o equilíbrio.

Nesse contexto, entra a função do princípio da precaução no Direito Ambiental

internacional, a qual não é drenar inovações tecnológicas, mas sim possibilitar que esses

riscos possam ocorrer numa escala de tempo-espaço suficiente para que os mesmos sejam

gerenciados. Nota-se, então, que o princípio da precaução não é um mero redutor dos

preservacionistas com objetivo de impedir o surgimento de novas técnicas. No entanto, o

princípio é um controlador do desenvolvimento sustentável para que se opere a

sustentabilidade tão almejada pela humanidade.

Para isso, são necessários estudos de impacto ambiental, realizados em todos os

países, como também a avaliação pelos órgãos ambientais dos riscos potenciais da atividade e

o desenvolvimento de trabalho conjunto capaz de possibilitar a instalação de atividades de

avançada tecnologia nestes países.

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44

Assim, será necessário se submeter a processos de autorização ambiental em cada

um desses países, quando serão identificados todos os aspectos e possíveis impactos ao meio

ambiente (tendo em vista a atividade específica a ser realizada com a nanotecnologia). Nesse

parâmetro enfatizam:

Em conformidade com o princípio de precaução, deve ser instituído internacionalmente, regulamentação e fiscalização para as novas tecnologias, um protocolo mínimo – principalmente se tratando da nanotecnologia, que constitui-se na ‘febre do momento’. Somente regras internacionais serão eficientes, neste primeiro momento, para limitar sua expansão, de forma segura (RAMOS & THOMASI, p. 16).

Com base na citação é oportuno destacar que a sociedade não pode ficar à

disposição de um pequeno grupo, em que as leis devem proteger a todos e não visar os

interesses de poucos. Então, com a inclusão da nanotecnologia na sociedade é preciso rever

todo o processo e estabelecer limites para que os riscos sejam previstos e assim evitar

prejuízos.

4.2 Aplicabilidade da Nanotecnologia

Inicialmente, é oportuno destacar a importância do caráter preventivo da

legislação ambiental no mundo contemporâneo. A razão de ser nada mais é do que a

irreparabilidade da grande maioria dos danos causados ao meio ambiente. Preventivo

(educativo ou informativo) do que no repressivo (ou punitivo), já que, como se afirmou,

acidentalmente prejuízo que possa vir a acontecer será, em muitos casos, irreparável. De tal

modo, se faz mister que a legislação se organize cada vez mais no tocante as disposições que

visem evitar a ocorrência do dano ambiental, sendo interessante trabalhar a hipótese de uma

convenção internacional sobre a nanotecnologia, no intuito de manter a uniformidade, para

evitar que algum país permita algo e outros não. A semelhança do que acontece com inúmeros

tratados.

O tratado entre os países necessita ter uma norma obrigatória comum a todos,

através de uma Convenção Internacional com objetivo de avaliar as Novas Tecnologias e após

esta é mister a elaboração de um tratado, ou tratados internacionais, recomendações de

organizações internacionais, protocolos facultativos não obrigatórios, não cogentes com

Page 46: Monografia Nanotecnologia Jane Angelica

45

Códigos de Conduta, Diretrizes de Boas Práticas para que ocorra um avanço gradual na

regulamentação internacional de novas tecnologias, em que não exista o risco de em um país

ser permitindo algo e em outro não.

Como já foi citado, sabe-se que o princípio da precaução assumiu uma

abrangência global na Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, pois em seu Princípio 15 o objetivo é proteger o meio ambiente, sendo uma

ação de prever situações de destruição da natureza. Então, em virtude de ter esse caráter de

prevenção, vem sendo aplicado em diversos tratados internacionais multilaterais.

Assim, pode-se dizer que no ano de 2000 no mês de Janeiro aconteceu uma

Conferência das Partes à Convenção relativa à Diversidade Biológica. Nesta foi possível

adotar Protocolo sobre Biossegurança relacionada à transferência, manipulação e utilização

seguras de organismos modificados vivos resultantes da biotecnologia moderna. O objetivo

trazido pelo texto do protocolo é o da precaução:

Artigo 1º: De acordo com a abordagem de precaução contida no Princípio 15 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o objetivo do presente Protocolo é de contribuir para assegurar um nível adequado de proteção no campo da transferência, da manipulação e do uso seguros dos organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia moderna que possam ter efeitos adversos na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica, levando em conta os riscos para a saúde humana, e enfocando especificamente os movimentos transfronteiriços (BERGER FILHO, 20__).

Com base na citação é possível notar o cerne do princípio da precaução destacado

por Antunes, em que “a dúvida sobre a natureza nociva de uma substância não deve ser

interpretada como se não houvesse risco” (2006, p.32). Assim, quando se encontra em dívida,

conforme Aragão, devem existir três circunstâncias que justificam a aplicação do princípio da

precaução:

a) quando ainda não se verificaram quaisquer danos decorrentes de uma determinada atividade, mas se receia apesar da falta de provas científicas, que possam vir a ocorrer;b) quando havendo já danos provocados ao ambiente, não há provas científicas sobre qual a causa que está na origem dos danos;c) ou ainda quando apesar de existirem danos provocados ao meio ambiente, não há provas científicas sobre o nexo de causalidade ente uma causa possível e os danos verificados (2002, p.19).

Nesse sentido, destaca-se que o princípio da precaução é o princípio jurídico

ambiental pronto para lidar com circunstâncias nas quais o meio ambiente seja alvo e venha

sofrer graves impactos provocados pela inserção de novos produtos e tecnologias que “ainda

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não possuam uma acumulação histórica de informações que assegurem, claramente, em

relação ao conhecimento de um determinado tempo, quais as consequências que poderão

advir de sua liberação no ambiente” (ANTUNES, 2006, p.33.).

Várias são as configurações que proporcionam a definição sobre o princípio da

precaução, contudo, podem-se enfatizar algumas características comuns na bibliografia

especializada, como:

A ação deve ser antecipada diante da incerteza científica e da suspeita de danos sérios e irreversíveis. O debate sobre uma possível equação do princípio da precaução: “Incerteza Científica + suspeita de dano = ação de precaução (preventiva e antecipatória). A incerteza é gerada pelo desconhecimento, pela indeterminação (inexistência de informação e de parâmetros para definir o potencial de dano). O risco de dano, por sua vez deve ser potencialmente sério (em alcance geográfico e/ou períodos de tempo), irreversível e/ou acumulativo. (ARTIGOS, 2006, p.14).

Nesse sentido, o princípio da precaução se justifica pela necessidade de tomada de

decisão antecipada, em que se prevêem situações que podem destruir o meio ambiente e

consequentemente prejudicar o ser humano. Assim, com a legislação firme e sustentada nesse

princípio, mesmo se opondo à forte pressão por crescimento econômico e pelo

desenvolvimento da ciência e tecnologia com vistas ao mercado, não será possível inserir uma

nova tecnologia sem antes ver quais impactos podem causar.

Sabe-se que, com objetivo de legalizar a situação dos avanços tecnológicos, a

sociedade não será prejudicada no tocante ao impedimento do desenvolvimento, mas, pelo

contrário, a humanidade será protegida por uma lei que permitirá prever os impactos

negativos. Conforme Machado (2003, p.56), “não se trata da precaução que tudo impede ou

que em tudo vê catástrofe ou males. O princípio da precaução visa à durabilidade da sadia

qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no planeta”.

Então, pode-se dizer que o princípio da precaução é basicamente focado para o futuro, seja ele

remoto ou próximo, e amplia a aplicação de dois conceitos conhecidos pelo sistema jurídico: a

prudência e a responsabilidade.

A prudência diante da incerteza pode ser invocada como argumento para evitar possíveis danos irreversíveis projetados abstratamente, mesmo sem uma possível comparação com eventos já ocorridos, ou mesmo diante da ausência de parâmetros para demonstrar cientificamente a amplitude dos danos possíveis e as relações de causa e efeito. Isso para o direito representa uma mudança de paradigma, pois o principio da precaução pode ser aplicado quando não existe prova do dano possível, mas ao mesmo não exista prova contrária.  Nesses casos, para Aragão (2002, p.19) podemos falar de uma espécie de “in dúbio pro ambiente”, ou como observa Machado “em dúbio pró sanitas et natura”.

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A responsabilidade que fundamenta a aplicação do principio da precaução está voltada para uma amplitude temporal até então desconsiderada pelo direito, os direitos das gerações futuras vinculadas aos deveres da geração presente. Essa nova arquitetura dos valores do Direito pode ser observada no Princípio da equidade intergeracional defendido por Edith Brow Weiss (Machado, 1994, p.37).

Nesse contexto, é importante ressaltar que o direito de viver num meio ambiente

ecologicamente equilibrado vem da compreensão de que este está essencialmente ligado ao

direito à vida, o direito à sadia qualidade de vida, indispensáveis à existência digna do ser

vivo. Assim, de acordo com Derani (1997. p. 255), a “existência digna, em termos de meio

ambiente, é aquela obtida quando os fatores ambientais contribuem para o bem-estar físico e

psíquico do ser humano”.

A orientação que passou a ser seguida é a de que, mesmo com a presença de

contestações no plano científico sobre os efeitos nocivos de determinada atividade ou

substância sobre o meio ambiente, presente o perigo de dano grave ou irreversível, a atividade

ou substância em questão necessitará ser impedida ou rigorosamente controlada.

Só o fato de não correr riscos é inteiramente justificada, pois se no dia em que

possa ter certeza científica absoluta das consequências prejudiciais de determinadas atividades

potencialmente degradadoras, os danos por ela provocados serão já nessa ocasião

irreversíveis. Daí, a precaução protege-se contra os riscos. Exemplo exato do que foi

argumentado é a nanotecnologia, pois não há, no entanto, precisão científica acerca dos

efeitos ligados ao meio ambiente e ao ser humano, havendo somente suspeitas e preocupações

(sérias, sem dúvida), daí surge a necessidade de aliar o direito ambiental ao direito

internacional, como a necessidade de uma única norma para todo o mundo, para evitar o

turismo nanotecnologico, já que este é uma ação global.

Por fim, é urgente a necessidade de elaboração de regras internacionais, sejam

elas um tratado ou convenção, que objetivem regulamentar o tema em questão e, consecutivo,

favoreçam a aplicação do princípio da precaução, tão em evidência quando se trata de direito

ambiental. Como também, é mister destacar que a existência de um elemento normativo desta

natureza contribuirá para a adoção de práticas mais eficazes, que oferecessem proteção da

dignidade da pessoa humana e do próprio desenvolvimento social almejado. É direito de todos

os cidadãos dar seu parecer no tocante à matéria desta natureza, bem como, ter acesso às

informações, para que possa realizar suas escolhas de maneira consciente e segura. Porém,

esta realidade só será possível ao passo em que tais práticas sejam regulamentadas.

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5 CONCLUSÃO

O Direito Ambiental é para todos, porém tem como desafio maior nortear a ação

do sujeito, uma vez que o ser humano, com a finalidade de gerar o desenvolvimento social e

econômico, acaba tomando atitudes de degradação do meio ambiente. Neste termo, torna-se

irrefutável a necessidade de adoção de regras que regulamente a ação humana, visando à

implantação de políticas voltadas ao desenvolvimento sustentável, garantindo um meio

ambiente sadio e equilibrado a esta e às futuras gerações.

Posto isso, percebe-se, no decorrer deste trabalho, as lacunas existentes no

ordenamento jurídico brasileiro quando se discute a temática da nanotecnologia. Neste

contexto, destaca-se o princípio de precaução como uma tentativa de regulamentação dos

riscos. No entanto, o não cumprimento de tal princípio mantém a sociedade refém de práticas

duvidosas em prol do “desenvolvimento”.

Não coube a este trabalho destacar que a evolução tecnológica é um todo mal, mas

defende-se um progresso responsável, ligado à consolidação de políticas que objetivem o

desenvolvimento sustentável. De fato, não se tem conhecimento se a nanotecnologia

efetivamente trará riscos à saúde das pessoas e ao próprio meio ambiente. Porém, acredita-se

que, diante da insegurança, ou seja, a ausência de estudos capazes de garantir a sua segurança

ou malevolência há necessidade de cautela, especialmente a cautela jurídica.

Sabe-se que a sociedade vive em meio a momentos de riscos, os quais podem

levar o humano à morte. Mas é imprescindível que todos fiquem atentos para os riscos que

podem ser evitados, pois, se aceitar de forma banal todas as ameaças do mundo, é melhor

morrer, pois se viver é estar de bem com a natureza e consigo mesmo, para que aceitar tudo

que se impõe sem questionar e estabelecer limites?

O futuro da atual sociedade é promissor, mas requer cautela, pois avançar sem

prevenir riscos e cuidar da vida não faz sentido. Assim, sobre os avanços tecnológicos, no

caso, a nanotecnologia, destaca-se a urgência na elaboração de normas e diretrizes

regulamentadoras que norteiem o trabalho com nanotecnologia e que efetivamente

possibilitem a aplicação do princípio da precaução como fundamento legal e como elemento

de análise obrigatória quando da tomada de decisões. Assim, busca-se a aplicação de

princípios constitucionais e a construção de um ambiente ecologicamente equilibrado que

possibilite a todos maior qualidade de vida.

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ANEXOS

Anexo A: Declaração de Estocolmo

DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO SOBRE O AMBIENTE HUMANO

(Estocolmo/junho/72)

 

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,

 

Tendo-se reunido em Estocolmo, de 5 a 16 de junho de 1972, e

 

Considerando a necessidade de um ponto de vista e de princípios comuns para inspirar e guiar os povos do mundo na preservação e na melhoria do meio ambiente,

 

PROCLAMA QUE:

 

1 - O homem é ao mesmo tempo criatura e criador do meio ambiente, que lhe dá sustento físico e lhe oferece a oportunidade de desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. A longa e difícil evolução da raça humana no planeta levou-a a um estágio em que, com o rápido progresso da Ciência e da Tecnologia, conquistou o poder de transformar de inúmeras maneiras e em escala sem precedentes o meio ambiente. Natural ou criado pelo homem, é o meio ambiente essencial para o bem-estar e para gozo dos direitos humanos fundamentais, até mesmo o direito à própria vida.

2 - A proteção e a melhoria do meio ambiente humano constituem desejo premente dos povos do globo e dever de todos os Governos, por constituírem o aspecto mais relevante que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento do mundo inteiro.

3 - O homem carece constantemente de somar experiências para prosseguir descobrindo, inventando, criando, progredindo. Em nossos dias sua capacidade de transformar o mundo que o cerca, se usada de modo adequado, pode dar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e o ensejo de aprimorar a qualidade da vida. Aplicada errada ou inconsideradamente, tal faculdade pode causar danos incalculáveis aos seres humanos e ao seu meio ambiente. Aí estão, à nossa volta, os males crescentes produzidos pelo homem em diferentes regiões da Terra: perigosos índices de poluição na água, no ar, na terra e nos seres vivos; distúrbios grandes e indesejáveis no equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e exaustão de recursos insubstituíveis; e enormes deficiências, prejudiciais à saúde física,

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mental e social do homem, no meio ambiente criado pelo homem, especialmente no seu ambiente de vida e de trabalho.

4 - Nos países em desenvolvimento, os problemas ambientais são causados, na maioria, pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas continuam vivendo muito abaixo dos níveis mínimos necessários a uma existência humana decente, sem alimentação e vestuário adequados, abrigo e educação, saúde e saneamento. Por conseguinte, tais países devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, cônscios de suas prioridades e tendo em mente a premência de proteger e melhorar o meio ambiente. Com idêntico objetivo, os países industrializados, onde os problemas ambientais estão geralmente ligados à industrialização e ao desenvolvimento tecnológico, devem esforçar-se para reduzir a distância que os separa dos países em desenvolvimento.

5 - O crescimento natural da população suscita a toda hora problemas na preservação do meio ambiente, mas políticas e medidas adequadas podem resolver tais problemas. De tudo o que há no mundo, a associação humana é o que existe de mais preciosa. É ela que impulsiona o progresso social e cria a riqueza, desenvolve a Ciência e a Tecnologia e, através de seu trabalho árduo, continuamente transforma o meio ambiente. Com o progresso social e os avanços da produção, da Ciência e da Tecnologia, a capacidade do homem para melhorar o meio ambiente aumenta dia a dia.

6 - Atingiu-se um ponto da História em que devemos moldar nossas ações no mundo inteiro com a maior prudência, em atenção às suas conseqüências ambientais. Pela ignorância ou indiferença podemos causar danos maciços e irreversíveis ao ambiente terrestre de que dependem nossa vida e nosso bem-estar. Com mais conhecimento e ponderação nas ações, poderemos conseguir para nós e para a posteridade uma vida melhor em ambiente mais adequado às necessidades e esperanças do homem. São amplas as perspectivas para a melhoria da qualidade ambiental e das condições de vida. O que precisamos é de entusiasmo, acompanhado de calma mental, e de trabalho intenso mas ordenado. Para chegar à liberdade no mundo da Natureza, o homem deve usar seu conhecimento para, com ela colaborando, criar um mundo melhor. Tornou-se imperativo para a humanidade defender e melhorar o meio ambiente, tanto para as gerações atuais como para as futuras, objetivo que se deve procurar atingir em harmonia com os fins estabelecidos e fundamentais da paz e do desenvolvimento econômico e social em todo o mundo.

7 - A consecução deste objetivo ambiental requererá a aceitação de responsabilidade por parte de cidadãos e comunidades, de empresas e instituições, em eqüitativa partilha de esforços comuns. Indivíduos e organizações, somando seus valores e seus atos, darão forma ao ambiente do mundo futuro. Aos governos locais e nacionais caberá o ônus maior pelas políticas e ações ambientais da mais ampla envergadura dentro de suas respectivas jurisdições. Também a cooperação internacional se torna necessária para obter os recursos que ajudarão os países em desenvolvimento no desempenho de suas atribuições. Um número crescente de problemas, devido a sua amplitude regional ou global ou ainda por afetarem campos internacionais comuns, exigirá ampla cooperação de nações e organizações internacionais visando ao interesse comum. A Conferência concita Governos e povos a se empenharem num esforço comum para preservar e melhorar o meio ambiente, em beneficio de todos os povos e das gerações futuras.

 

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EXPRESSA A COMUM CONVICÇÃO QUE:

 

PRINCÍPIOS

 

A Assembléia Geral das Nações Unidas reunida em Estocolmo, de 5 a 16 de junho de 1972, atendendo à necessidade de estabelecer uma visão global e princípios comuns, que sirvam de inspiração e orientação à humanidade, para a preservação e melhoria do ambiente humano através dos vinte e três princípios enunciados a seguir, expressa a convicção comum de que:

1 - O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o “apartheid”, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira permanecem condenadas e devem ser eliminadas.

2 - Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ou administração adequada.

3 - Deve ser mantida e, sempre que possível, restaurada ou melhorada a capacidade da Terra de produzir recursos renováveis vitais.

4 - O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio representado pela flora e fauna silvestres, bem assim o seu “habitat”, que se encontram atualmente em grave perigo por uma combinação de fatores adversos. Em conseqüência, ao planificar o desenvolvimento econômico, deve ser atribuída importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres.

5 - Os recursos não renováveis da Terra devem ser utilizados de forma a evitar o perigo do seu esgotamento futuro e a assegurar que toda a humanidade participe dos benefícios de tal uso.

6 - Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outras matérias e à liberação de calor, em quantidade ou concentrações tais que não possam ser neutralizadas pelo meio ambiente de modo a evitarem-se danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve ser apoiada a justa luta de todos os povos contra a poluição.

7 - Os países deverão adotar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, prejudicar os recursos vivos e a vida marinha, causar danos às possibilidades recreativas ou interferir com outros usos legítimos do mar.

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8 - O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente de vida e trabalho favorável e criar, na Terra, as condições necessárias à melhoria da qualidade de vida.

9 - As deficiências do meio ambiente decorrentes das condições de subdesenvolvimento e de desastres naturais ocasionam graves problemas; a melhor maneira de atenuar suas conseqüências é promover o desenvolvimento acelerado, mediante a transferência maciça de recursos consideráveis de assistência financeira e tecno1ógica que complementem os esforços dos países em desenvolvimento e a ajuda oportuna, quando necessária.

10 - Para os países em desenvolvimento, a estabilidade de preços e pagamento adequado para comodidades primárias e matérias-primas são essenciais à administração do meio ambiente, de vez que se deve levar em conta tanto os fatores econômicos como os processos ecológicos.

11 - As políticas ambientais de todos os países deveriam melhorar e não afetar adversamente o potencial desenvolvimentista atual e futuro dos países em desenvolvimento, nem obstar o atendimento de melhores condições de vida para todos; os Estados e as organizações internacionais deveriam adotar providências apropriadas, visando chegar a um acordo, para fazer frente às possíveis conseqüências econômicas nacionais e internacionais resultantes da aplicação de medidas ambientais.

12 - Deveriam ser destinados recursos à preservação e melhoramento do meio ambiente, tendo em conta as circunstâncias e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento e quaisquer custos que possam emanar, para esses países, a inclusão de medidas de conservação do meio ambiente, em seus planos de desenvolvimento, assim como a necessidade de lhes ser prestada, quando solicitada, maior assistência técnica e financeira internacional para esse fim.

13 - A fim de lograr um ordenamento mais racional dos recursos e, assim, melhorar as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um enfoque integrado e coordenado da planificação de seu desenvolvimento, de modo a que fique assegurada a compatibilidade do desenvolvimento, com a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano, em benefício de sua população.

14 - A planificação racional constitui um instrumento indispensável, para conciliar as diferenças que possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente.

15 - Deve-se aplicar a planificação aos agrupamentos humanos e à urbanização, tendo em mira evitar repercussões prejudiciais ao meio ambiente e a obtenção do máximo de benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos. A esse respeito, devem ser abandonados os projetos destinados à dominação colonialista e racista.

16 - As regiões em que exista o risco de que a taxa de crescimento demográfico ou as concentrações excessivas de população, prejudiquem o meio ambiente ou o desenvolvimento, ou em que a baixa densidade de população possa impedir o melhoramento do meio ambiente humano e obstar o desenvolvimento, deveriam ser aplicadas políticas demográficas que representassem os direitos humanos fundamentais e contassem com a aprovação dos governos interessados.

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17 - Deve ser confiada, às instituições nacionais competentes, a tarefa de planificar, administrar e controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fim de melhorar a qualidade do meio ambiente.

18 - Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser utilizadas a ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade.

19 - É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana.

20 - Deve ser fomentada, em todos os países, especialmente naqueles em desenvolvimento, a investigação científica e medidas desenvolvimentistas, no sentido dos problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais. A esse respeito, o livre intercâmbio de informação e de experiências científicas atualizadas deve constituir objeto de apoio e assistência, a fim de facilitar a solução dos problemas ambientais; as tecnologias ambientais devem ser postas à disposição dos países em desenvolvimento, em condições que favoreçam sua ampla difusão, sem que constituam carga econômica excessiva para esses países.

21 - De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito internacional, os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos, de acordo com a sua política ambiental, desde que as atividades levadas a efeito, dentro da jurisdição ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros Estados ou de zonas situadas fora de toda a jurisdição nacional

22 - Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional, no que se refere à responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais, que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob controle de tais Estados, causem às zonas situadas fora de sua jurisdição.

23 - Sem prejuízo dos princípios gerais que possam ser estabelecidos pela comunidade internacional e dos critérios e níveis mínimos que deverão ser definidos em nível nacional, em todos os casos será indispensável considerar os sistemas de valores predominantes em cada país, e o limite de aplicabilidade de padrões que são válidos para os países mais avançados, mas que possam ser inadequados e de alto custo social para os países em desenvolvimento.

Anexo B: Declaração do Rio de Janeiro.

Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tendo se reunido no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafirmando a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972, e buscando avançar a partir dela, com o objetivo de estabelecer uma nova e justa

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parceria global mediante a criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chaves da sociedade e os indivíduos, trabalhando com vista à conclusão de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global de meio ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, nosso lar, proclama que:Princípio 1Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.Princípio 2Os Estados, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e de desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou seu controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.Princípio 3O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras.Princípio 4Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste.Princípio 5Todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.Princípio 6Será dada prioridade especial à situação e às necessidades especiais dos países em desenvolvimento, especialmente dos países menos desenvolvidos e daqueles ecologicamente mais vulneráveis. As ações internacionais na área do meio ambiente e do desenvolvimento devem também atender aos interesses e às necessidades de todos os países.Princípio 7Os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre. Considerando as diversas contribuições para a degradação do meio ambiente global, os Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na buscainternacional do desenvolvimento sustentável, tendo em vista as pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente global e as tecnologias e os recursos financeiros que controlam.Princípio 8Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas.Princípio 9Os Estados devem cooperar no fortalecimento da capacitação endógena para o desenvolvimento sustentável, mediante o aprimoramento da compreensão científica por meio do intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos, e mediante a intensificação do desenvolvimento, da adaptação, da difusão e da transferência de tecnologias, incluindo as tecnologias novas e inovadoras.

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Princípio 10A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere a compensação e reparação de danos.Princípio 11Os Estados adotarão legislação ambiental eficaz. As normas ambientais, e os objetivos e as prioridades de gerenciamento, deverão refletir o contexto ambiental e de meio ambiente a que se aplicam. As normas aplicadas por alguns países poderão ser inadequadas para outros, em particular para os países em desenvolvimento, acarretando custos econômicos e sociais injustificados.Princípio 12Os Estados devem cooperar na promoção de um sistema econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de forma a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental. As medidas de política comercial para fins ambientais não devem constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustificável, ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento dos desafios internacionais fora da jurisdição do país importador. As medidas internacionais relativas a problemas ambientais transfronteiriços ou globais devem, na medida do possível, basear-se no consenso internacional.Princípio 13Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do Direito Internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.Princípio 14Os Estados devem cooperar de forma efetiva para desestimular ou prevenir a realocação e a transferência, para outros Estados, de atividades e substâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde humana.Princípio 15Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.Princípio 16As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.Princípio 17A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as atividades planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional competente.Princípio 18

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Os Estados notificarão imediatamente outros Estados acerca de desastres naturais ou outras situações de emergência que possam vir a provocar súbitos efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforços serão envidados pela comunidade internacional para ajudar os Estados afetados.Princípio 19Os Estados fornecerão, oportunamente, aos Estados potencialmente afetados, notificação prévia e informações relevantes acerca de atividades que possam vir a ter considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o meio ambiente, e se consultarão com estes tão logo seja possível e à boa-fé.Princípio 20As mulheres têm um papel vital no gerenciamento do meio ambiente e no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial para se alcançar o desenvolvimento sustentável.Princípio 21A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo devem ser mobilizados para criar uma parceria global com vista a alcançar o desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos.Princípio 22Os povos indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm um papel vital no gerenciamento ambiental e no desenvolvimento, em virtude de seus conhecimentos e de suas práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar adequadamente sua identidade, sua cultura e seus interesses, e oferecer condições para sua efetiva participação no alcançamento do desenvolvimento sustentável.Princípio 23O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos a opressão, dominação e ocupação serão protegidos.Princípio 24A guerra é, por definição, prejudicial ao desenvolvimento sustentável. Os Estados irão, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à proteção do meio ambiente em tempos de conflitos armados e irão cooperar para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário.Princípio 25A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisíveis.Princípio 26Os Estados solucionarão todas as suas controvérsias ambientais de forma pacífica, utilizando-se dos meios apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas.Princípio 27Os Estados e os povos irão cooperar à boa-fé e imbuídos de um espírito de parceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta declaração e para o desenvolvimento progressivo do Direito Internacional no campo do desenvolvimento sustentável.

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