MONOGRAFIA - SÉRGIO RODOLFO DE LIMA

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SOCIEDADE DE EDUCAO DO VALE DO IPOJUCA SESVALI FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA FAVIP

O JORNALISMO POPULAR DA FOLHA DE PERNAMBUCOUMA ANLISE DO CONTEDO PUBLICADO NO CADERNO DE POLCIA

Srgio Rodolfo de Lima

CARUARU, 2010

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Diretores Luiz de Frana Leite Vicente Jorge Espndola Rodrigues

Diretora Executiva Prof. Mauricia Bezerra Vidal

Diretor Acadmico Prof. Aline Brando

Coordenadora do Curso de Jornalismo Prof. Rosngela Arajo de Souza

Professor Orientador Tenaflae Lordlo

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SRGIO RODOLFO DE LIMA

O JORNALISMO POPULAR DA FOLHA DE PERNAMBUCOUMA ANLISE DO CONTEDO PUBLICADO NO CADERNO DE POLCIA

Monografia

apresentada

ao

Curso

de

Comunicao Social habilitao em Jornalismo da Faculdade do Vale do Ipojuca - Favip, como requisito obrigatrio para obteno jornalismo. do ttulo de bacharel em

Prof. Orientador Ms Tenaflae Lordlo

CARUARU, 2010

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Catalogao na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE M111j Lima,

Srgio Rodolfo de. O jornalismo popular da Folha de Pernambuco uma anlise do contedo publicado no caderno de polcia / Srgio Rodolfo de Lima. -- Caruaru : FAVIP, 2010. 62 f. : il. Orientador(a) : Tenaflae Lordlo. Trabalho de Concluso de Curso (Jornalismo) -- Faculdade do Vale do Ipojuca. Inclui apndice. 1. Jornalismo popular. 2. Sensacionalismo. 3. Folha de Pernambuco. 4 Caderno de Polcia. I. Ttulo.CDU 070[11.1]Ficha catalogrfica elaborada pelo bibliotecrio: Jadinilson Afonso CRB-4/1367

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SRGIO RODOLFO DE LIMA

O JORNALISMO POPULAR DA FOLHA DE PERNAMBUCOUMA ANLISE DO CONTEDO PUBLICADO NO CADERNO DE POLCIA

Monografia aprovada em: ____/____/_______

Banca Examinadora

____________________________________________ Professor Orientador Tenaflae Lordlo

____________________________________________ 1 Prof. Examinador

____________________________________________

2 Prof. Examindaor

CARUARU, 2010

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DEDICATRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, e a todos que acreditaram em mim e contriburam para que pudesse chegar at aqui.

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AGRADECIMENTOSAntes de tudo quero agradecer de forma escrita nesta pgina ao meu Deus, pelo dom da vida, que me permitiu chegar at aqui e continuar seguindo. Aos meus pais, Reginaldo e Maria do Carmo (Carminha) por tudo, tudo mesmo! Vocs so a minha base mais confivel e sustentvel. Aos meus irmos, Renato e Rodrigo. A todos os meus familiares. Aos meus amigos que sempre me deram fora para continuar, principalmente em uma fase no muito agradvel que passei durante o perodo que estava na faculdade. Em especial, quero agradecer aos meus amigos que pude conhecer na faculdade e criar um forte lao de amizade: Karolina Calado, Anderson Morais, Luzimery Marques, Digenes Barbosa, Pollyana Melo, Jucicleide Bizarria (Cleidinha), Morgana Tamyres e Edjane Arajo, pessoal obrigado por tudo!

Quero agradecer ao meu orientador, o Prof. Tenaflae Lordlo, pela pacincia, conselhos e contribuio fundamental para a realizao desse trabalho. professora Mariana Mesquita, que me apoiou e contribuiu na produo do anteprojeto e nas tcnicas de pesquisa. Aos professores, Heleniza Saldanha, Ira Mota, Jurani Clementino, Mrio Flvio, Rosildo Brito que estiveram sempre presentes em nossa formao e que contriburam bastante para que pudssemos concluir o curso da melhor maneira possvel. No posso deixar de agradecer tambm, coordenadora do curso de jornalismo, a professora Rosngela Arajo, pela fora, pelo tempo que dedicava a me escutar, pelos conselhos e pelas nossas conversas na coordenao.

E por fim, quero agradecer de forma geral a todos os que acreditaram e torceram por mim e que de qualquer forma, direta ou indiretamente, contriburam para a concluso desse trabalho.

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EPGRAFE

Posso, tudo posso naquele que me fortalece. Nada e ningum no mundo vai me fazer desistir Celina Borges.

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RESUMOO objetivo deste trabalho compreender a relao e a prtica do jornalismo popular e o sensacionalismo, em Pernambuco, utilizando o caderno de Polcia do Jornal Folha de Pernambuco como objeto de estudo. Foram analisadas algumas edies do jornal com o objetivo de identificar o uso de sensacionalismo. O estudo apresenta as diferenas e caractersticas do jornalismo popular e sensacionalismo, os limites do conceito de sensacionalismo, a linguagem utilizada por jornais populares, a produo da notcia e a relao entre o jornalismo popular e cidadania. Com a anlise de contedo aplicada no caderno de Polcia, foi possvel observar e compreender o contedo que noticiado no veculo e para qual publico o jornal direcionado. A mudana no foco do fotojornalismo e na linguagem do jornal, foram algumas das principais mudanas que ocorreram no caderno estudado. Baseado nas obras dos jornalistas Mrcia Franz Amaral (Jornalismo Popular) e Danilo Angrimani (Espreme que sai sangue), a pesquisa chega concluso de que o contedo analisado, apresenta poucas caractersticas em quantidade, no contedo publicado, que possa ser considerado sensacionalismo.

Palavras chaves: Jornalismo Popular, Sensacionalismo, Folha de Pernambuco, Caderno de Polcia.

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ABSTRACTThe aim of this study is to understand the relationship and the practice of popular journalism and sensationalism, in Pernambuco, using the specifications Police Official Film of Pernambuco as a study object. We analyzed some editions of the newspaper in order to identify the use of sensationalism. The study presents the differences and characteristics of popular journalism and sensationalism, the limits of the concept of sensationalism, the language used by popular newspapers, the news production and the relationship between popular journalism and citizenship. With the content analysis applied in the contract of Police, it was possible to observe and understand the content that is reported in the vehicle and which publishes the journal is directed. The shift in focus of photojournalism and language newspaper, were some of the major changes that occurred in the study notebook. Based on the works of Franz journalists Mrcia Amaral (Journalism People) and Danilo Angrimani (Squeeze blood coming out), the research concludes that the contents examined, presents few features in quantity, in the published content that can be considered sensational.

Keywords: Popular Journalism, Sensationalism, Folha de Pernambuco, Police Notebook.

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SUMRIO1. INTRODUO .........................................................................................................................11 2. FUNDAMENTAO TERICA ............................................................................................13 3. CAPTULO I - SENSACIONALISMO ...................................................................................15 3.1 HISTRIA DO SENSACIONALISMO NO JORNAL IMPRESSO ...............................15 3.2 CARACTERSTICAS DO SENSACIONALISMO .........................................................17 3.3 LINGUAGEM SENSACIONALISTA ..............................................................................18 3.4 LIMITES DO CONCEITO.................................................................................................20 3.5 FAIT DIVERS ....................................................................................................................22 4. CAPTULO II - JORNALISMO POPULAR ...........................................................................23 4.1 LINGUAGEM NOS JORNAIS POPULARES .................................................................25 4.2 A PRODUO DE NOTCIA NO JORNAL POPULAR ................................................27 4.3 JORNALISMO POPULAR E CIDADANIA ...................................................................31 4.4 A EXPANSO DOS JORNAIS POPULARES NA DCADA DE 90 .............................33 5. CAPTULO III - O JORNAL IMPRESSO ...............................................................................34 5.1 FOTOJORNALISMO .........................................................................................................36 6. OBJETIVOS ..............................................................................................................................37 6.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................................37 6.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .............................................................................................37 7. JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................38 8. METODOLOGIA ......................................................................................................................41 9. CAPTULO IV - DESENVOLVIMENTO ..............................................................................44 9.1FOLHA DE PERNAMBUCO .............................................................................................44 9.1 O CADERNO DE POLCIA .............................................................................................45 10. CAPTULO V - ANLISE DO CONTEDO PUBLICADO NOS CADERNOS DE POLCIA DO JORNAL FOLHA DE PERNAMBUCO ..............................................................46 11. CONCLUSO .........................................................................................................................56 12. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................58 APNDICE A.................................................................................................................................61

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LISTA DE FIGURAS E TABELASFigura 01 Reproduo pgina 04 do caderno de Polcia ............................................................48 Figura 02 Reproduo imagem do jornal Folha de Pernambuco ...............................................48 Figura 03 Reproduo pgina 04 do caderno de Polcia ............................................................49 Figura 04 Reproduo imagem do jornal Folha de Pernambuco ...............................................49 Figura 05 Reproduo pgina 04 do caderno de Polcia ............................................................50 Figura 06 Reproduo imagem do jornal Folha de Pernambuco ...............................................50 Figura 07 Reproduo Capa do caderno de Polcia ...................................................................51 Figura 08 Reproduo Capa do caderno de Polcia ...................................................................52 Figura 09 Reproduo Capa do caderno de Polcia ...................................................................52 Figura 10 Reproduo pgina 03 do caderno de Polcia ............................................................54 Figura 11 Reproduo imagem do jornal Folha de Pernambuco ...............................................54

Tabela 01 Quantidade de matrias publicadas nas edies analisadas e suas temticas ...........46 Tabela 02 Quantidade de fotos publicadas nas edies analisadas ...........................................47 Tabela 03 Anlise do chapu utilizado nas matrias das edies analisadas ............................53

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1. INTRODUOO jornal impresso um produto jornalstico de fcil acesso e que pode ser lido por toda a populao. No jornalismo, a informao transmitida em diferentes formas de acordo com o tipo de mdia (TV, rdio, internet, impresso). Os jornais e os demais produtos impressos tais como revistas, fanzines, entre outros, procuram usar uma linguagem mais prxima do leitor, usando termos coloquiais e explicando de maneira mais simples alguns termos tcnicos que so utilizados em algumas reportagens especficas. Um jornal que usa uma linguagem de fcil entendimento tem um nmero maior de leitores. Os jornais impressos utilizam todas as ferramentas que o veculo disponibiliza chamar ateno do leitor que passa pela banca de jornal e v as manchetes do dia nos demais jornais. O uso da imagem no jornal impresso um elemento muito importante, que ilustra a informao, mostrando explicitamente os acontecimentos relatados na reportagem. O fotojornalista possui uma sensibilidade maior sobre o acontecimento e por isso, ele pode fazer uma fotografia que ir complementar a informao contida no texto. Uma boa imagem fala por si mesma. Sabendo que o jornal procura sempre atrair o leitor utilizando, nas capas das edies, fotografias e manchetes que despertem o interesse da leitura, convencendo o leitor a comprar o jornal, alguns jornais usam palavras ou ttulos de reportagens e manchetes impactantes, com o objetivo de vender cada vez mais. Porm, alguns peridicos abusam desses artifcios e passam a utilizar em seu contedo termos e imagens sensacionalistas, despertando sensaes em quem l esse contedo. Alguns desses jornais usam o argumento de ser um jornal popular e trabalham dessa forma, porque eles publicam o que o pblico gosta de ver. O uso de termos/imagens sensacionalistas nos veculos de comunicao tem o objetivo de despertar emoes no pblico induzindo-o para que, a partir do momento em que tenha conhecimento do tema abordado, o leitor reflita mais sobre o caso porm de forma que siga a linha editorial do jornal sem perceber por se espelhar na histria contada. Esses termos so mais encontrados em cadernos policiais e cidades, por se tratarem de pginas que mostram em maior quantidade, os problemas e o cotidiano da populao. Segundo Mrcia Amaral (2006), o mercado dos jornais populares cresceu, mudou e quem s conhece o chavo sensacionalista para tratar do tema, precisa se atualizar. A imprensa que produz um contedo voltado para um pblico das classes B, C, D e E, considerada popular, pela

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proximidade com o pblico e o contedo que publicado, direcionado para essas classes sociais. A linguagem utilizada facilita o entendimento e sempre mostram os fatos que acontecem nas comunidades para qual o pblico maior. As pessoas tm interesse em saber o que est acontecendo na comunidade em que vivem. O jornal comunitrio, por exemplo, um tipo de jornalismo popular, pois produzido pelo povo e para o povo de determinada localidade. Desde que foi lanado, no ano de 1998, o jornal Folha de Pernambuco ganhou destaque em todo o Estado, sendo um dos jornais mais comentados entre a populao, tanto pelo preo inicial (que era de R$ 0,50 cinqenta centavos), quanto pelos psteres1 (na maioria das vezes com mulheres famosas em fotos sensuais) que eram publicados em edies semanais, e ainda pelas fotos de pessoas mortas que, independente da causa, seja de atropelamento a assassinato, eles mostravam o corpo e o local do acontecimento com todos os detalhes e com uma linguagem dita popular, por ser mais prxima ao leitor. Na mdia, essas imagens so consideradas apelativas, pois causam impacto em quem v, e so usadas de forma proposital com o intuito de vender e atrair a ateno do pblico. Usar imagens ou textos que desperte sensaes nas pessoas sensacionalismo2. No jornalismo existem diferenas entre jornalismo popular e sensacionalismo, h tambm outro tema que podemos classificar em algumas dessas situaes que o espetculo, mas esse ltimo no ser abordado nesse estudo.

Geralmente, impressos em papel branco especial, diferenciando-o das outras folhas do jornal, e no formato Standard (560x320 mm), o mesmo em que a Folha de Pernambuco diagramada. 2 Significado da palavra: Sensacionalismo: sm. Divulgao e explorao de matria capaz de emocionar, impressionar, indignar, ou escandalizar. (FERREIRA, 2008, p. 733).

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2. FUNDAMENTAO TERICADesde o surgimento dos jornais, e a incluso de imagens em seu contedo, h estudos para entender e explicar porque as noticias so como so, e tambm sobre o contedo publicado, desde a linguagem at as fotos e cores utilizadas. Danilo Angrimani publicou em seu livro Espreme que sai sangue, um estudo sobre o sensacionalismo na imprensa, no qual ele levanta dados sobre a histria do sensacionalismo, que est presente desde o sculo XV, e tambm uma anlise no jornal popular Notcias Populares, de So Paulo. Estudar sobre o jornalismo popular, se faz necessrio voltar ao tempo para saber diferenciar o popular do sensacionalista. Doutora em Comunicao e Informao, Mrcia Franz Amaral que pesquisa o segmento popular da grande imprensa publicou o livro Jornalismo Popular, em que ela realizou um estudo sobre os novos jornais populares que crescem a cada dia em todo o pas. Amaral explica que no preciso ser sensacionalista para ser popular. Estudos relacionados ao tema, de autores como O Papel do Jornal de Alberto Dines, A Reportagem e Estrutura da Notcia de Nilson Lage, Estudo de Recepo do Jornal Folha de Pernambuco de Maria Sallet Tauk, entre outras obras citadas e consultadas, foram fundamental e necessrio para desenvolvimento deste trabalho monogrfico. Fez-se necessrio o levantamento de dados bibliogrficos sobre as caractersticas do sensacionalismo e do jornalismo popular, para perceber as diferenas e semelhanas que existem entre os dois segmentos que chegam a confundir as pessoas que no tem o conhecimento sobre o tema. O estudo monogrfico est divido em cinco captulos. No tpico trs, o captulo I intitulado: Sensacionalismo apresenta uma breve histria do sensacionalismo no jornal impresso, com base em algumas obras como o livro Espreme que sai sangue do jornalista Danilo Angrimani, que estudou o sensacionalismo na imprensa. Em seguida, o captulo mostra as caractersticas do sensacionalismo, a linguagem sensacionalista, uma discurso sobre o conceito do sensacionalismo, baseado em estudos da jornalista Mrcia Franz Amaral, e tambm apresentamos o fait divers, um jargo do jornalismo que explica a prtica do sensacionalismo no jornalismo. No tpico quatro, o captulo II, que tem o ttulo: Jornalismo Popular apresenta o jornalismo popular, mostrando a linguagem utilizada nos jornais populares, o processo da

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produo de notcias, explicamos a relao que existe entre o jornalismo popular e cidadania, e tambm a expanso dos jornais populares na dcada de 90. No quinto tpico, o captulo III, apresentamos o Jornal impresso e um breve resumo do fotojornalismo utilizado nos jornais impressos. No nono tpico, o captulo IV, este estudo apresenta no desenvolvimento da pesquisa, o jornal Folha de Pernambuco e o caderno de Polcia, nosso objeto estudado. No dcimo tpico, o captulo V, apresentada a anlise que este estudo realizou no caderno de Polcia do jornal estudado. O contedo analisado e a concluso em seguida, encerram o estudo monogrfico que foi planejado.

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3. CAPTULO I - SENSACIONALISMO3.1 HISTRIA DO SENSACIONALISMO NO JORNAL IMPRESSO

A histria do jornalismo impresso sempre passou por inmeras transformaes. Mudou o formato como as histrias so contadas, criando uma linguagem prpria para a modalidade, e tendo assim, uma linguagem padro, facilitando a leitura, criando editorias especializadas, alterando o projeto grfico, atualizando o produto jornalstico em busca da modernidade de acordo com a evoluo da sociedade. E assim, junto com todas essas mudanas, foram criados os rtulos para classificar os jornais que circulavam entre a populao. Para vender o jornal, preciso ter boas reportagens, com contedos exclusivos, e antes de tudo, despertar no pblico o interesse da leitura, os jornais passaram a utilizar termos sensacionais, com manchetes e/ou imagens impactantes que chocassem o pblico, deixando o leitor curioso e com grande interesse de ter a informao. Devido competio existente no mercado, alguns jornais impressos, em busca de aumentar o nmero de leitores e com isso vender mais jornais, o uso desses termos nos textos e a imagens cada vez mais chocantes, resultou em um rtulo de jornais sensacionalistas. O sensacionalismo est presente nos impressos desde o sculo XV, na Frana e nos Estados Unidos, quando apareceram os primeiros jornais. Na Frana, os primeiros jornais lanados nessa poca, pareciam com os atuais, o contedo publicado trazia notcias sensacionais e tambm fait divers, que so os fatos diversos que ocorrem na sociedade, na maioria dos casos de formas trgicas e inesperadas. Sensacionalista tambm um adjetivo usado de forma abrangente, quando se quer acusar um jornal ou jornalista, por produzir matrias que no tenham o objetivo de passar a informao de forma que contribua com a sociedade na formao da opinio das pessoas, mas de despertar sensaes, emocionar, chocar o leitor usando tom espalhafatoso, ou distorcendo as informaes e at impreciso na apurao da reportagem. Rosa Nvea Pedroso define esse gnero do jornalismo como:

Modo de produo discursivo da informao de atualidade, processado por critrios de intensificao e exagero grfico, temtico, lingstico e semntico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtrados no contexto de representao ou reproduo de real social. (PEDROSO, 1983 apud ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 14)

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O jornalista Angrimani Sobrinho explica o sensacionalismo:Sensacionalismo tornar sensacional um fato jornalstico que, em outras circunstncias editoriais, no merecia esse tratamento. Como o adjetivo indica, trata-se de sensacionalizar aquilo que no necessariamente sensacional, utilizando-se para isso de um tom escandaloso, espalhafatoso. Sensacionalismo a produo de noticirio que extrapola o real, que superdimensiona o fato. (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 16)

Jornais sensacionalistas so produtos destinados s classes B, C e D, que recebem essa classificao porque, trazem manchetes impactantes, que causam sensaes nos leitores, do mais espao cobertura de fatos policiais em que predominam a violncia, trazendo imagens chocantes de pessoas mortas, esfaqueadas, baleadas, e etc. Marcondes Filho apud Angrimani Sobrinho (1995) caracteriza sensacionalismo como o grau mais radical da mercantilizao da informao: tudo o que se vende aparncia e, na verdade, vende-se aquilo que a informao interna no ir desenvolver melhor do que a manchete. (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 15). Marcondes Filho ainda faz uma crtica sobre a imprensa sensacionalista:(A imprensa sensacionalista) no se presta a informar, muito menos a formar. Presta-se bsica e fundamentalmente a satisfazer as necessidades instintivas do pblico, por meio de formas sdica, caluniadora e ridicularizadora das pessoas. Por isso, a imprensa sensacionalista, como a televiso, o papo no bar, o jogo de futebol, servem mais para desviar o pblico de sua realidade imediata do que para voltar-se a ela, mesmo que fosse para faz-lo adaptar-se a ela. (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 15)

Na histria da imprensa, o sensacionalismo est presente desde o sculo XV, mas no final do sculo XIX que o sensacionalismo se efetivou na imprensa (AMARAL, 2006, p. 17). A popularizao dos jornais, devido aos avanos tecnolgicos, e recursos que aperfeioavam as impresses, aumentou o nmero de publicaes de jornais populares, e o ensino pblico tambm foi um fator importante para a criao de um pblico leitor de jornais. Os jornais que antes eram limitados poltica, procuraram humanizar as edies, incluindo em seu contedo, histrias reais, sobre crimes, dramas, problemas do cotidiano da sociedade em geral, com temas de interesse dos leitores. Em 1833 foi fundado nos Estados Unidos, o New York Sun, um jornal popular que custava um centavo. O slogan do jornal dizia: Um jornal que brilha para todos, devido ao seu preo e direcionamento, pois, a maior parte dos leitores buscavam saber sobre temas de seu cotidiano, notcias de sua regio, e assim, tambm com temas de mortes, crimes, entre outros. As notcias que antes publicadas em jornais tradicionais e no tinham tanto interesse

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para as classes mais baixas, e o Sun atendia as classes mais baixas, com notcias sensacionalistas que se estendia para dessa forma, criar uma credibilidade com o pblico que estava cada vez mais fiel. Ainda nos Estados Unidos, na dcada de 80, foram lanados dois novos jornais que marcaram o jornalismo sensacionalista americano. Os jornalistas Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst lanaram o New York World e o Morning Journal, jornais com preos populares e traziam em seu contedo dramas e ttulos chamativos. Pulitzer que editava o jornal New York World, inovou o jornalismo impresso, sendo o primeiro jornal que utilizou olho3

em suas

pginas; um peridico com impresso em cores e com ilustraes amplas, e tambm com manchetes de sensacionais. Mrcia Amaral descreve como funcionavam esses dois jornais que tiveram muito sucesso:Os jornais utilizavam manchetes escandalosas em corpo tipogrfico largo; publicavam notcias sem importncia, informaes distorcidas; provocavam fraudes de todos os tipos, como falas entrevistas e histrias e tambm quadrinhos coloridos e artigos superficiais. Promoviam premiaes e sorteios. Os reprteres estavam a servio do consumidor e faziam campanhas contra os abusos sofridos pelas pessoas comuns, numa mistura de assistncia social e produo de histrias interessantes. Hearst e Pulitzer lutaram com todos os meios para expandir suas circulaes e voltaram-se para truques sensacionalistas, protagonizando uma guerra comercial entre os jornais. (AMARAL, 2006, p. 18)

3.2 CARACTERSTICAS DO SENSACIONALISMO

Alm de termos e imagens sensacionalistas, esses veculos utilizam tambm de outros recursos para manter uma proximidade maior com o leitor, por exemplo, espaos reservados para ouvir o pblico reclamar sobre problemas nas comunidades, servios de utilidade pblica em geral. O entretenimento tambm um ponto forte nessa mdia. Notcias sobre famosos, apresentaes culturais, shows, filmes, novelas, e diversos temas que possam entreter os leitores. E foi com o entretenimento que surgiu a expresso imprensa amarela, o jornal New York World, publicava sempre aos domingos uma histria em quadrinhos, e o personagem era um menino, desdentado sorridente, orelhudo, vestido com uma camisola de dormir amarela. A fala do menino orelhudo vinha escrita em sua camisola e no bales, como seria feito hoje. (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 21) Por ter a roupa de cor amarela o menino personagem principal dos quadrinhos, ficou conhecido como Yellow Kid. O termo imprensa amarela pegou,Parte do texto em destaque. Geralmente possui uma fonte tipogrfica em tamanho maior e formatada em itlico. comum usar olho com algum depoimento do entrevistado na matria.3

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quando um jornalista escreveu um artigo se referindo imprensa amarela de Nova York, usando no texto um sentido pejorativo cor. No Brasil, diferente dos Estados Unidos, a cor de sentido pejorativo imprensa sensacionalista marrom. A expresso imprensa marrom tem o mesmo sentido que a crtica imprensa americana, sendo que a origem no veio de histrias em quadrinhos ou colorao de alguma ilustrao. A escolha da cor marrom pode ser uma influncia francesa, uma possvel apropriao do adjetivo cimarron. De acordo com a Enciclopdia Larousse, trata-se de um adjetivo aplicado a pessoas que exercem uma profisso em condio irregular (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 22). Apesar de estar presente na imprensa desde o sculo XV, o sensacionalismo na imprensa brasileira teve incio em 1840 nos folhetins. Em 1969 a Semana de Estudos da Escola de Comunicaes e Artes (ECA-USP), realizou palestras abordando o sensacionalismo na imprensa brasileira. H mais de quarenta anos que os estudiosos partiam do pressuposto que a imprensa sensacionalista, porque mexe com sensaes e emoes. Alberto Dines mostrou que no processo de sensacionalismo o prprio lead4 um recurso que a imprensa utiliza, para que o leitor tenha o interesse de continuar lendo o texto. Os jornais destinados a classes populares so produzidos pensando no gosto do pblico para qual direcionado. A imprensa popular utiliza o sensacionalismo como marketing, pois os jornais so produzidos com um sentido mercadolgico e tem o objetivo de vender cada vez mais exemplares. Assuntos como violncia que est presente em todas as classes sociais no jornal popular sensacionalista, recebe um tratamento diferenciado nesse tipo de jornal, familiarizando o leitor reportagem, ou seja, se um leitor foi vtima da violncia, ele ser notcia. Narrando a histria de forma que o leitor se espelhe na histria, ou por morar na regio onde aconteceu o fato, ou por j ter passado por tal situao.

3.3 LINGUAGEM SENSACIONALISTA

A linguagem utilizada nos jornais sensacionalistas coloquial, de forma exagerada, podendo usar grias e palavres. Os meios que utilizam essa linguagem usam como defesa, o argumento de que as pessoas gostam do que lem, e que o jornal voltado para aquele pblico. APrimeiro pargrafo no texto do jornal impresso. O lead, na sntese acadmica de Laswell, informa quem fez o que, a quem, quando, onde, como, por que e para qu. (LAGE, 2000, p. 27). Identificando e respondendo estas perguntas, h um destaque em alguma parte da histria que ir seduzir o leitor.4

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maior parte dos leitores dessas mdias de comunidades mais carentes. Os recursos grficos so um dos artifcios que o jornal utiliza. A manchete escrita em caixa alta e em cores fortes, tm destaque na capa do jornal, por receber um espao maior, e geralmente impactante, sendo uma frase que chame ateno do leitor. E por ser o primeiro contato com o leitor, ela produzida para que quando o leitor leia a manchete, sinta o desejo de ler a notcia. As imagens, legendas e os subttulos, seguem a mesma linha, so produzidas de acordo com o contedo do texto. O olho tambm um recurso grfico muito utilizado no jornalismo impresso para dar destaque algum fragmento do texto. Um estudo publicado no Intercom (2007) de recepo do Jornal Folha de Pernambuco, realizado em 2007, na cidade do Recife, que entrevistou feirantes dos bairros das comunidades do Coque, Casa Amarela e Santo Amaro, levantou dados em forma de grfico que apresenta a seguinte concluso: 45% do leitores entrevistados gostam de ver fotos de pessoas mortas no caderno policial; em relao s imagens de pessoas mortas que so publicadas, 48% dos entrevistados disseram que a Folha mostra o que deve mostrar; em relao aos textos, a maioria dos entrevistados (72%) aprovam e acreditam que entre os outros jornais do estado, somente a Folha de Pernambuco, no caderno de Polcia, mostra a notcia como realmente aconteceu. A pesquisa teve como hiptese que o jornal combina ao noticirio policial procedimentos que vo ao encontro da maneira de pensar e agir das culturas populares, o que fortalece o contrato de leitura com as pessoas de contextos populares que encontram na folha algo que atende s suas necessidades cotidianas para alm da violncia. Diferente dos jornais informativos considerados no-sensacionalistas, a linguagem no jornalismo sensacionalista sempre coloquial, aproximando-se sempre do leitor, criando uma fidelidade com esse leitor, que ir sempre ler as matrias publicadas nesse jornal. O que faz um jornal ser sensacionalista no apenas a cobertura em casos de violncia, o sensacionalismo acontece em vrias maneiras no jornalismo impresso. A parte grfica tambm pode apelar para o lado sensacional, o sensacionalismo mercadolgico tambm uma varivel que leva um veiculo ao sensacionalismo, a linguagem que provoca emoes, aproximando o leitor do personagem. Segundo Marcondes Filho (apud AMARAL, 2006, p. 20) a informao sensacionalizada para vender mais jornal, (...) O que diferencia um jornal dito sensacionalista de outro dito srio a intensidade. Ele ainda afirma que:A prtica sensacionalista tambm nutriente psquico, desviante ideolgico e descarga

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de pulses instintivas. As notcias da imprensa sensacionalista sentimentalizam as questes sociais, criam penalizao no lugar de descontentamento e constituem-se num mecanismo reducionista que particulariza os fenmenos sociais. (MARCONDES FILHO apud AMARAL, 2006, p. 21)

3.4 LIMITES DO CONCEITO

H mais de 40 anos que estudos conceituam a prtica do sensacionalismo como uma imprensa que distorce informaes, e procura sempre despertar sensaes, ridicularizar as pessoas expondo-as em matrias de violncia, escndalos, sempre utilizando ferramentas que possibilitem provocar ainda mais o leitor. Mas, h a dvida, se esse conceito criado h vrias dcadas ainda serve. O sensacionalismo usado de forma generalizada para rotular qualquer produto da mdia que provoque sensaes. Assim poderamos afirmar que programas e revistas que falam de novelas, da vida das celebridades, tambm esto classificadas nesse gnero do jornalismo. De acordo com a jornalista Mrcia Franz Amaral, o conceito de sensacionalismo, (...) j no tem servido pela sua amplitude, pelos equvocos tericos que normalmente o acompanham e pelas novas formas de popularizao (AMARAL, 2005, p. 02). No artigo, Amaral faz uma crtica sobre o conceito de sensacionalismo em vrios aspectos. Quanto imprensa sensacionalista produzir jornais para o mercado, ela rebate: evidente que as empresas jornalsticas produzem jornais para o mercado. Alis, qualquer jornal feito para um determinado mercado, seja ele popular ou de elite; alternativo, de oposio ou sindical; vise ao lucro ou no (AMARAL, 2005, p. 03). Outro equvoco sobre o conceito de sensacionalismo quando se referenciam a este gnero taxando o contedo dessas mdias de degradao cultural. Amaral afirma que necessria a crtica sobre o material produzido, mas tambm que preciso entender que eles no se conectam com o mundo do leitor de uma maneira superficial, mas utilizam-se de estratgias histricas de aproximao com o mundo da vida em contraposio aos jornais de referencia que do conta da vida do mundo. Em relao ao equvoco na conceituao de sensacionalismo, Amaral conclui:Assim, o sensacionalismo pode ser considerado um conceito errante, tanto por suas insuficincias, quanto por suas generalizaes. H interessantes conceituaes sobre ele, mas o equvoco est em pressupor que um nico conceito pode dar conta de todas as estratgias destinadas a gerar sensaes. (AMARAL, 2005, p. 05)

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E concluindo esse estudo de conceituao de sensacionalismo, a autora comenta que h necessidade de estudar novos conceitos para esse gnero do jornalismo, e que a prtica do sensacionalismo pode significar aes que no so aceitas tica jornalstica ou estratgia para se comunicar com o leitor de forma diferente da imprensa de referncia. Cada jornal tem uma viso prvia do publico e fala de um lugar especfico se relacionando s representaes de posies sociais e isso gera os modos de endereamentos. Se o rtulo sensacionalista s ilumina as possveis distores dos produtos, os Modos de Enderear partem do que os meios fazem com a imagem que tm do pblico (AMARAL, 2005, p. 06). Ao abordamos os Modos de Endereamento de um jornal, podemos questionar como ele constri um caminho at o seu leitor: A quem o jornal endereado? Quem o jornal pensa que o seu pblico ? E Quem esse jornal deseja que o leitor seja?(AMARAL Idem, ibidem). Os veculos de comunicao dedicaram-se a conhecer o perfil, os costumes, e os gostos do seu pblico. Depois de analisar as respostas das entrevistas aplicadas, as empresas fizeram diversas modificaes nos produtos, desde a parte grfica (utilizando mais cores e imagens em tamanhos diferentes na diagramao) s reportagens, com textos mais curtos e de fcil entendimento, e com informaes voltadas ao interesse desse mesmo pblico. Esse processo de conhecimento do pblico uma forma estratgica e mercadolgica, que as empresas utilizam para segmentar os produtos jornalsticos, voltados para uma parte da populao de determinada regio. E conhecendo de perto a realidade dessa parte da populao, o jornal ir compreender de que forma a notcia dever ser tratada e como ser transmitida para o pblico especfico. Como a concorrncia no mercado grande, os jornais populares utilizam de outros recursos para estar sempre presente nas mos dos leitores. Eles no utilizam mais as estratgias sanguinolentas de antigamente (que abusavam do sensacionalismo, divulgando fotos de acidentes, catstrofes, e pessoas mortas), eles atribuem ao jornal um espao reservado para prestao de servios e utilizam o entretenimento para atrair o leitor de forma geral. Notcias como casamento ou morte de celebridades, premiaes, fotos sensuais, so sempre pautas que estaro nas edies desses jornais. A prestao de servios nesses jornais de fundamental importncia, o jornalismo exerce a funo de mediador entre o poder pblico e a sociedade, os leitores enviam cartas, ligam para as redaes dos jornais, se comunicam da forma que podem para obter assistncia, fazer denncias de problemas que passam pela comunidade, e opinam sobre os trabalhos realizados pelo governo em sua regio. Outro recurso utilizado tambm so os famosos brindes, como por exemplo, no

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Jornal Folha de Pernambuco, (que produz o caderno de polcia nosso objeto de estudo) distribua psteres5 (sempre com fotos sensuais de famosos, ou de alguma banda ou grupo musical) junto com a edio, uma vez por semana, para criar uma forma de fidelizar o pblico do jornal. Essa tambm uma forma estratgica de vender mais exemplares, pois havia quem comprasse o jornal s para obter a fotografia (pster) da semana.

3.5 FAIT DIVERS

Termo francs que significa notcia do dia ou fato do dia, os Fait divers, so notcias variadas e fazem parte do contedo dos jornais sensacionalistas. Servem como insero de entretenimento no noticirio. Segundo o Manual de Redao da Folha de So Paulo apud DEJAVITE( 2001), os Fait divers, conceituado como expresso usada para designar notas e notcias com alto potencial de atrao para o leitor. Exemplos: crime envolvendo famlia de classe mdia ou alta; casamento de personalidade; morte de pessoa famosa. O terico francs, Roland Barthes, deu mais notoriedade ao termo, transformando-o em um conceito semiolgico. Segundo ele:O fait divers uma notcia de ordem no classificada, dentro de um catlogo mundialmente conhecido (polticas, economia, guerras, espetculos, cincias, etc); em outra palavra, seria uma informao monstruosa, anloga a todos os fatos excepcionais ou insignificantes, breve, aquele normalmente classificado, modestamente, abaixo da categoria de Variedades. ainda uma informao total, ou mais precisamente, imanente, que contm em si todo o seu saber: no preciso conhecer nada do mundo para consumir um fait divers; ele no remete a nada alm dele prprio; evidentemente, seu contedo no estranho ao mundo: desastres, assassinatos, raptos, agresses, acidentes, roubos, esquisitices, tudo que remete ao homem: sua histria, sua alienao, a seus fantasmas, aos seus sonhos, aos seus medos [...] no nvel da leitura, tudo dado num fait divers: suas circunstncias, suas causas, seu passado, seus desenlace; sem durao e sem contexto, ele constitui um ser imediato que no remete a nada de implcito. (BARTHES, Roland. Essais Critiques. Paris: ditions De Seuil, 1964, p. 188-9. apud DEJAVITE, 2001, p. 8):

Um exemplo clssico de Fait divers a velha histria que tambm usada para explicar o que notcia que diz: se um cachorro morder a perna de um homem, no notcia; mas se um homem morder a perna de um cachorro, notcia (DEJAVITE, 2001, p. 7). O jornal sensacionalista usa a extravagncia do fait divers como ingrediente influente naGeralmente, impressos em papel branco especial, diferenciando-o das outras folhas do jornal, e no formato Standard (560x320 mm), o mesmo em que a Folha de Pernambuco diagramada.5

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manchete de capa, para atrair o leitor. Rosa Nivea Pedroso explica:O fait divers, como informao auto-suficiente, traz em sua estrutura imanente uma carga suficiente de interesse humano, curiosidade, fantasia, impacto, raridade, humor, espetculo, para causar uma tnue sensao de algo vivido no crime, no sexo e na morte. Conseqentemente, provoca impresses, efeitos e imagens (que esto comprimidas nas formas de valorizao grfica, visual, espacial e discursiva do fato-sensao). A inteno de produzir o efeito de sensacionalismo no fait divers visa atrair o leitor pelo olhar na manchete que anuncia um acontecimento produzido, jornalstica ou discursivamente, para ser consumido ou reconhecido como espetacular, perigoso, extravagante, inslito, por isso, atraente. (PEDROSO apud ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 26)

De acordo com Danilo Angrimani, o termo Fait divers possui contedo heterogneo de um caldeiro de feiticeira, abriga o horror, a poesia, o humor [...] O Fait divers pode suscitar aos seus leitores toda a gama de emoo, funcionando no limite da ambigidade que garante sua significao duvidosa (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 28). Pode-se dizer, que o fait divers estimula o entretenimento, e est presente praticamente em todos os meios de comunicao de massa, levando o homem sensaes, como um filme, novela, radionovela ou uma srie de fico.

4. CAPTULO II - O JORNALISMO POPULARCom o passar dos anos, a imprensa passou por diversas mudanas, e nesse processo, os veculos perceberam a necessidade da segmentao da imprensa. Os noticirios, jornais impressos, revistas, programas de rdio e todos os demais produtos jornalsticos mudaram a formatao de sua linha editorial. E junto com essas mudanas, foram criadas as editorias6, que facilitam o leitor, pois os assuntos sero categorizados e localizados de acordo com a editoria a qual o tema abordado pertence. Depois da criao das editorias, as reportagens foram pautadas para os reprteres de acordo com a editoria, facilitando o trabalho do jornalista na produo do texto, pois o reprter conhece a editoria e a linguagem que o texto precisa para ficar mais atrativo. No processo de segmentao, as empresas observaram de que forma o jornal era visto pelo leitor, para entender o perfil do pblico em geral, e saber do que as pessoas gostam de ver eCadernos especializados na temtica, as reportagem so direcionadas para as editorias de acordo com o assunto especfico; normalmente, nos grandes jornais so impressos e organizados separadamente, destacando-os no contedo geral da publicao; nos jornais populares que possuem apenas um caderno, as editorias so separadas por pginas. As editorias mais conhecidas so: Cidades, Esportes, Polcia, Economia, Poltica, Cultura, Sade, Educao, Cultura e Entretenimento, Informtica e Especiais.6

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de que forma. E por conhecer o pblico do veculo, os veculos de comunicao produzem os jornais, de acordo com a necessidade de cada localidade/regio. Diferente do que pensavam os estudiosos falaram que no sculo 21 o jornal impresso seria substitudo pelo contedo digital os jornais impressos aumentaram o nmero de produo, e novos ttulos foram lanados, principalmente nessa poca em que as notcias so atualizadas a cada minuto e o acesso informao por meios digitais como a internet e a televiso, mais rpido que o jornal impresso, que apura os fatos de hoje para serem divulgados na edio do dia seguinte. O lanamento de Jornais populares uma tendncia mundial. Com o objetivo de levar informao aos considerados menos favorecidos, atingir o pblico popular, mais precisamente de comunidades carentes, onde vivem famlias de baixa renda e que no tinham o hbito de ler jornais, alm tambm de ser mais um produto jornalstico no mercado que ir concorrer com os grandes jornais de referncia.A crise no do jornalismo dirio impresso como um todo; alis, para o setor no existe crise, mas crescimento. A crise, do jornalismo impresso dirio tradicional, que v a cada dia sua circulao diminuir, enquanto novos ttulos, mais populares, vo conquistando mercado. Assim, o setor de jornalismo dirio impresso no est em crise, mas em mudana. (FLIZIKOWSKY, 2007 apud PREVEDELLO, 2008, P. 33).

Esses peridicos foram criados com uma editorao diferente do tradicional, e fugindo da frmula dos jornais sensacionalistas, que circularam no pas por mais de 30 anos, usando o sangue e o sexo como assuntos de prioridade em seu contedo. Os jornais populares se confundem com os sensacionalistas, por estarem sempre ligados diretamente com o pblico leitor, e por ter uma aproximao maior, em relao aos demais jornais. As pessoas que compram esses jornais procuram saber o que acontece em sua localidade e utiliza o veculo como prestao de servio e tambm como um meio de entretenimento, pois, o jornal trata de diversos assuntos de todas as editorias que existem no mercado. Enquanto os jornais considerados mais srios aprofundam suas reportagens para analisar a economia mundial e nacional, e tambm o cenrio poltico e assuntos relacionados aos dois temas citados, os jornais populares, adaptam o contedo dessas temticas para o pblico leitor, e procuram preencher suas pginas com notcias de forma mais precisa o cotidiano de seus leitores (ouvindo a vtima e conhecendo o histrico do personagem, lugar onde vive, em que trabalha), apostando em notcias factuais sobre os diversos problemas que a populao enfrenta. Assuntos que estejam

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relacionados violncia, drogas, sade pblica, buracos nas ruas, so pautados diariamente nas edies desses peridicos. Alm desses assuntos que esto presentes na vida dos cidados, o futebol (na categoria de esportes) e a vida das celebridades e resumo de novelas, so outras formas de atrair o pblico e complementar o contedo do jornal. Amaral explica como acontece a distribuio dos jornais desse segmento: Os jornais populares so vendidos em bancas em funo do baixo poder aquisitivo dos leitores e das dificuldades de distribuio em bairros e vilas distantes (AMARAL, 2006, p. 03). Os jornais considerados de referncia so aqueles direcionados as classes A e B, e so conhecidos como veculos de credibilidade entre os formadores de opinio no pas, e so conhecidos tambm como: quality papers (jornais de qualidade) pelos formadores de opinio. Amaral aponta a diferena entre os leitores do jornal popular Dirio Gacho e do jornal de referncia Folha de So Paulo:Dados sobre o jornal mostram que 47% dos seus leitores cursaram faculdade e 13% fizeram cursos de ps-graduao; 53% tm renda individual at 15 salrios mnimos e 35% tm renda acima de 30 salrios mnimos. (Fonte: Perfil do leitor 2000/Datafolha.) J jornais mais populares como o Dirio Gacho tm entre seus preceitos editoriais a facilidade de leitura, identificao, interatividade, emoo, servio e diverso e destinase abertamente a um pblico leitor de renda baixa e pouca escolaridade. (AMARAL, 2006, p. 30)

E com esse pensamento de proximidade que os jornais populares focam seu contedo. O leitor desses jornais, buscam informaes sobre a regio em que vivem, sobre o cotidiano deles, sobre os problemas que enfrentam nas comunidades como por exemplo, segurana pblica, saneamento, sade pblica, mercado de trabalho e ocorrncias policiais.

4.1 LINGUAGEM NOS JORNAIS POPULARES

Alguns jornais referncias (referindo-se aos grandes jornais de So Paulo) procuram manter em sua linha editorial uma linguagem formal, e para facilitar a vida dos reprteres, esses jornais editam seu prprio manual de redao, como por exemplo o Manual de Redao da Folha de So Paulo, que apresenta o projeto editorial do jornal, explica como o jornalista deve seguir no cotidiano, apresenta recomendaes do veculo ao jornalista que ir produzir o texto e conta a histria do grupo e toda sua estrutura, alm de 12 anexos que facilita o trabalho do jornalista para aquele veculo. Nos jornais populares, o texto escrito de forma diferente. A linguagem utilizada

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coloquial, devido proximidade com o leitor; os textos so mais curtos e simples, termos tcnicos so evitados, e quando utilizados so explicados para o leitor de uma forma que seja entendida facilmente. Este segmento da imprensa procura se identificar com o pblico usando a linguagem falada por eles, criando uma relao de fidelidade com o leitor. Trabalhando dessa forma, o leitor ter mais facilidade para compreender a notcia. Essa uma forma estratgica que os jornais utilizam para despertar o interesse da leitura em toda reportagem. As imagens seguem a mesma linha da reportagem, o foco no fotojornalismo diferenciado em relao aos jornais sensacionalistas que no caderno de Polcia mostra os corpos esquartejados, baleados ou esfaqueados e muito sangue, causando um impacto emocional maior no leitor produzindo imagens que falem por si mesma e tambm complementem o texto, valorizando o contedo publicado. No necessrio mostrar o corpo ensangentado no local, para explicar como aconteceu o crime. Ana Rosa Ferreira Dias em seu livro O Discurso da Violncia (1996), realiza um estudo no jornal Notcias Populares (So Paulo) sobre as marcas da oralidade no jornalismo popular e afirma que o jornal apresenta uma linguagem que se aproxima mais do que os outros jornais da lngua falada popular, talvez com o objetivo de tornar sua leitura, de certa forma, uma continuao da prpria conversao do dia-a-dia (DIAS, 1996, p. 61). Dias reconhece que o jornal passa por um processo de elaborao dos textos, que seguem os princpios formais da lngua escrita, principalmente na organizao sinttica e em relao ao jornal Notcias Populares a autora destaca:

O texto do NP no uma transcrio da lngua falada, alis, est muito longe disso. O que ocorre, porm, a presena constante de marcas da oralidade, quase sempre de natureza lexical, que existem em nmero menor em outros peridicos. (DIAS, 1996, p. 61).

No projeto grfico, os jornais populares utilizam mais cores e diversas fontes tipogrficas; o diagramador tem mais liberdade para mudar o formato da pgina e dependendo do contedo, as imagens associadas ao texto so em maior quantidade, e outros elementos visuais como grficos, tabelas, olho e boxes7 informativos, so utilizados com mais freqncia nas pginas dos jornais. A utilizao de recursos grficos em jornais impressos uma forma de manter organizao eQuadro com informaes complementares da reportagem; geralmente, os textos so produzidos em tpicos, e podem vir acompanhados de ilustraes; normalmente utilizado para ensinar como usar algum produto ou realizar alguma atividade, ou tambm para destacar fragmentos do texto. A finalidade dos boxes de facilitar o entendimento do assunto que se refere a reportagem.7

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deixar as pginas mais bonitas e atraentes. No livro O papel do jornal, Alberto Dines (1986) fala sobre o corpo grfico dos jornais, que antigamente eram dividos em texto e ttulo e um pequeno espao era dedicado a ilustraes:[...] Um jornal de composio apertada uma mancha escura. J uma pgina com letras maiores produz uma impresso mais clara e mais limpa. [...] as nicas pginas de jornal com lay-out eram as externas da edio (primeira e ltima). Amilcar de Castro, escultor e artista grfico, trouxe para a imprensa brasileira o jogo de espaos e volumes, confronto do horizontal com o vertical, da simetria com a assimetria, na fase Odylo Costa, filho, do Jornal do Brasil (1957). [...] O leitor habituou-se ao jornal bonito, logicamente apresentado e racionalmente disposto. [...] Os antigos ornamentos foram substitudos por novos elementos gerados na edio do material. So subttulos, entrettulos, boxes, textos complementares, que, alm de movimentar e embelezar uma pgina, tornam mais atraente sua leitura. (DINES, 1986, p.102).

4.2 A PRODUO DE NOTCIA NO JORNAL POPULAR

O que notcia no jornal popular? Todo acontecimento pode se transformar notcia. Os veculos de comunicao recebem informaes na redao de diversos acontecimentos em determinados lugares, porm, o que vai definir se o fato rende uma matria a escolha do editor e a linha editorial. Uma teoria que pode explicar o processo da construo da notcia, desde a elaborao da pauta at o fechamento da edio, a Teoria da Ao Pessoal ou Teoria do Gatekeeper. Na literatura acadmica sobre jornalismo, a primeira teoria que surgiu foi a teoria do gatekeeper avanado nos anos 1950 por David Mannin White (TRAQUINA, 2005 p.149). Nos veculos de comunicao, a seleo das notcias a serem veiculadas so pr-selecionadas na prpria redao, no momento em que acontece a reunio de pauta, quando os editores escolhem e apontam o que deve ser veiculado, dando valor a um determinado fato - valor esse que pode vir da opinio pessoal ou da prpria linha editorial da empresa. Nesse processo de seleo do que ser publicado, muitas histrias, fatos e acontecimentos deixam de ser divulgados por causa de uma escolha. Para o editor de um jornal, s interessante publicar o que notcia, ou seja, que de alguma forma o assunto seja de interesse do pblico. No estudo de David Mannin White, baseado em uma pesquisa de um jornalista norte-americano que anotou os motivos que rejeitavam as notcias que ele no usou em uma semana, White conclui que as decises do jornalista eram altamente subjetivas e dependentes de juzos de valor baseados no conjunto de experincias, atitudes e expectativas do gatekeeper. (TRAQUINA, 2005 p.150).

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Nos jornais populares, tambm o editor quem vai decidir se determinado fato ser divulgado. Mas, como os jornais populares procuram estar sempre presente nos locais onde acontecem esses fatos, ou seja, nas comunidades para qual o jornal se destina, se o fato est diretamente envolvido no cotidiano dos moradores da regio, ele com certeza ser divulgado. E da mesma forma que acontece em todos os veculos de comunicao, nos jornais populares, a notcia receber um tratamento especial, principalmente na linguagem, para manter a proximidade com o leitor. Mrcia Amaral afirma que o que diferencia os valores noticia dos fatos entre o jornal de referncia e o jornal popular est relacionado a questes econmicas, sociais e culturais:O leitor das classes C e D vive com menor renda, tem baixa escolaridade, tem mais dificuldade de ingressar no mercado de trabalho, depende do sistema pblico de educao e atendimento sade e no tem acesso maioria das programaes culturais. Assim, o engarrafamento coberto do ponto de vista do passageiro do nibus, a greve do INSS noticiada pelos prejuzos que traz populao e o aumento da gasolina interessa pelo possvel aumento das passagens. (AMARAL, 2006, p. 03).

De acordo com Amaral, na imprensa de referncia, um acontecimento ter mais chance de ser notcia se: os indivduos forem importantes; tiver impacto sobre a nao; envolver muitas pessoas; gerar importantes desdobramentos; for relacionado a polticas pblicas; puder ser divulgado com exclusividade (AMARAL, 2006, p. 63) enquanto na imprensa popular, o fato poder ser notcia, se: possuir capacidade de entretenimento; for prximo geogrfica ou culturalmente do leitor; puder ser simplificado; puder ser narrado dramaticamente; tiver identificao dos personagens com os leitores (personalizao) (AMARAL, 2006, p. 63) No livro Jornalismo popular, a autora explica como o entretenimento, a proximidade e a utilidade so essenciais na construo da notcia em jornais populares. Quanto ao entretenimento a autora afirma que Tudo o que prende e atrai o olhar, seja numa cena escandalosa, ridcula ou inslita tem potencial para ser notcia (AMARAL, 2006 p. 63). Ela ainda fala que alguns programas e jornais populares acreditam que o pblico pretende desfrutar ou tirar proveito ou vantagem de algum assunto publicado, ou tambm satisfazer-se com notcias de entretenimento. Hoje, existem vrias publicaes entre jornais e revistas que seguem essa linha do jornalismo popular, que noticia algum fato da vida de famosos ou o que acontece no mundo da TV, o que vai acontecer nas novelas, sempre usando o entretenimento como estratgia de marketing para vender mais e atrair um pblico cada vez maior.

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Outro tpico que autora levanta a proximidade com o leitor. Os fatos na imprensa popular so narrados de maneira mais prxima do leitor, utilizando uma linguagem coloquial, deixando o texto jornalstico como se estivesse sendo falado. Segundo Amaral, a retrica da autenticidade, muito prpria dos produtos populares. Essa proximidade pode se dar pelo contedo do fato, pelas personagens que envolve e pela linguagem utilizada (AMARAL, 2006, p. 64). Pelo contedo do fato, relevante para o pblico, temas que esto ligados diretamente em suas vidas, como problemas na comunidade, aumento de preo de passagens de nibus, dicas de como economizar o dinheiro, notcias de futebol, casos de segurana pblica e ocorrncias policiais, (os cadernos de polcia recebem um grande destaque no contedo de jornais populares) e reportagens que contam o drama das pessoas que vivem em comunidades carentes. Amaral faz uma comparao entre as manchetes de dois jornais (sendo um considerado jornal referncia e o outro jornal popular) e mostra a diferena da linguagem e de como so publicados nos dois jornais o mesmo tema, que se refere telefonia: (AMARAL, 2006, p. 65)A manchete de um jornal referncia, relativa ao setor da telefonia, pode at ser Novo diretor quer dar outro perfil Anatel, como foi a da Gazeta Mercantil em 12/04/2005. Mas a telefonia s tema na imprensa popular se tiver repercusso imediata na vida das camadas populares como o caso da manchete: Vem a o telefone popular com assinatura de 19,90 por ms (Dirio de S. Paulo, 28/09/2005).

A proximidade com o personagem que envolve uma caracterstica do jornalismo popular que tem interesse pela vida das pessoas mais populares, que moram nas comunidades mais pobres, pessoas de baixa renda salarial, so noticiados nos jornais populares. Nesses casos a humanizao da reportagem arbitrria e a imprensa popular utiliza os problemas do povo, personalizando o contedo, fazendo do leitor o personagem principal da matria. Dessa forma, os vizinhos desse personagem ou outras pessoas que passaram ou passam pelo mesmo problema, se espelham na reportagem e muitas vezes procuram no texto a soluo para o problema. Nem sempre a personalizao da matria ser sucesso. Amaral aponta um problema que pode ocorrer nesse tipo de reportagem: (AMARAL, 2006, p. 65)

A personalizao de uma notcia pode lev-la tambm a uma extrema singularizao, e a a histria perde em contextualizao. H um apagamento do carter scio-histrico dos fatos sociais, ou seja, eles so apresentados como problemas individuais e perdem a cadeia lgica que os relacionam.

A autora critica no contedo dessas reportagens, a falta de discusses sobre polticas

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pblicas:Reportagens que envolvem a responsabilidade sobre construes, esgotos que inundam casas e invaso de ratos so de fato importantes para a comunidade, mas deveriam trazer informaes ampliadas, de interesse pblico sobre, por exemplo, como funciona a autorizao de uma obra, quais as origens dos problemas de saneamento e como prevenir infestao de ratos. (AMARAL, 2006, p. 66)

Uma estratgia que os jornais populares utilizam para ouvir a populao e divulgar os problemas que existem nas comunidades, a criao de editorias ou colunas intituladas como Fala Povo. Essa forma muito utilizada em programas de TV e nos jornais impressos. As pessoas fazem reclamaes ou perguntas sobre alguma obra no concluda, a falta de abastecimento de gua ou energia em determinada regio, buracos no meio da rua, esgotos a cu aberto, so inmeras reclamaes. Os veculos colocam as mesmas pessoas que esto reclamando como fonte/personagem da matria para dramatizar a histria que est sendo contada, e para dar continuidade, os jornais convocam fontes oficiais8 para explicar e responder as reivindicaes do povo. E dessa forma, ouvindo o problema da populao (quem est cobrando), e ouvindo o outro lado as fontes oficiais (que so cobradas) a reportagem produzida. A utilizao de pessoas mais populares nas reportagens e a apresentao dos problemas mais relevantes uma das formas de deixar o jornal mais prximo do pblico. A utilizao de fontes populares em alguns jornais prioridade para dar autenticidade ao acontecimento ou gerar sensao, e no para explicar o que ocorre na localidade. Da mesma forma, em alguns jornais h desprezo com as fontes pblicas e a valorizao maior para as fontes populares. Outros veculos utilizam as fontes oficiais apenas para dar credibilidade reportagem, visvel em alguns programas ou jornais impressos, que para determinado tema, a fonte oficial, muitas vezes, a mesma pessoa. A linguagem utilizada tambm uma forma de aproximar o jornal ao leitor. Ao abrir espao para o leitor falar, transformando-o em fonte de notcia ou personagem, o jornal se isenta de qualquer responsabilidade, pois os jornais afirmam escrever o texto conforme o personagem falou. Os jornais podem apresentar a voz do personagem dessa forma para marcar a oralidade, mostrando mais uma vez a proximidade entre o veculo e o leitor. No jornalismo popular, a presena de pessoas populares nas reportagens sobre problemas ligados comunidade, pode ser considerada como o exerccio de cidadania, o que iremos mostrarFontes oficiais so mantidas pelo Estado; por instituies que preservam algum poder de Estado, como as juntas comerciais e os cartrios de ofcio; e por empresas e organizaes, como sindicatos, associaes, fundaes etc. (LAGE, 2008, p. 49).8

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mais adiante. Para ser notcia no jornalismo, o fato tem que ter utilidade. Os jornais populares buscam incluir em seu contedo, matrias que tenham utilidade na vida do leitor, por exemplo, matrias de comportamento, que apresenta dicas de como viver bem, ter uma alimentao saudvel, como se qualificar para ser um bom profissional, se relacionar bem com a famlia ou como viver semelhana de celebridades. A prestao de servios outro artifcio que a imprensa popular utiliza para estar sempre prximo do leitor. Mrcia Amaral afirma que as notcias so produzidas sempre visando o pblico, e que para a informao ter sentido preciso que o fato j tenha ocorrido antes de outros sentidos na memria do leitor:As notcias so como narrativas ou histrias marcadas pela cultura da sociedade em que esto inseridas. Os acontecimentos, para se transformarem em notcias e fazerem sentido para algum, devem estar enquadrados no universo do pblico. [...] A forma como a notcia relata o fato muda conforme o pblico para quem o veculo dirigido. (AMARAL, 2006, p. 70)

4.3 JORNALISMO POPULAR E CIDADANIA

A comunicao o meio fundamental na vida de qualquer indivduo para se relacionar entre os demais, em qualquer grupo social/localidade onde ele esteja inserido, independente da forma que seja praticada. A comunicao social constituda por um conjunto de vnculos que a sociedade estabelece em suas relaes pessoais e entre os demais mbitos que regem a vida pblica, como poltico, econmico e cultural (CORRA, 2008, p. 08). O jornalismo, como formador de opinio pblica, e por ser considerado mediador da sociedade com o poder publico, o meio mais acessvel conscientizao. As reportagens que mostram os problemas e cobram a resposta dos responsveis, tambm motiva as pessoas a desenvolverem o senso crtico. O termo cidadania utilizado para definir que todas as pessoas de determinada nao tem direito e deveres a serem cumpridos. A democracia, com o direito do voto; o direito educao; ao abastecimento de gua tratada e energia eltrica; saneamento bsico, entre outros so direitos do cidado. Mas, nem todas as classes recebem assistncia e podem usufruir de todos os direitos do cidado, devido diferena entre as classes sociais. O exerccio da cidadania mudou a viso jornalstica em alguns veculos de comunicao. Os jornais populares, por exemplo, pautam assuntos da comunidade, para transform-los em notcia, porque alm de informar, estar exercendo a sua funo de responsabilidade social e de compromisso com a sociedade. E o

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pblico desses jornais deposita a confiana na mdia e assim, cria vnculos com os meios de comunicao, por saber a quem procurar quando precisar reclamar sobre os problemas da comunidade. notvel que as pessoas, acreditam que mais fcil reclamar de algum problema da comunidade imprensa do que aos principais responsveis. Isso acontece, porque os jornais populares abraam essa temtica que de relevncia para a sociedade que est inserida no contexto, mesmo que o problema seja de uma determinada comunidade, aqueles que passam pelo mesmo problema, tm interesse de saber o que devem fazer para melhorar a situao. E por meio da prestao de servios comunidade, o jornalismo popular ganha mais destaque entre a populao menos favorecida, pois, nesse espao que o jornal informa para seus leitores quais os direitos e deveres que o cidado tem, e assim, conhecendo um pouco sobre o assunto, as pessoas podem exercer a cidadania. Dessa forma o jornalismo popular considerado como um mediador da cidadania. Assim, as pessoas que no tem acesso leitura, ficam sabendo de alguma forma, o que direito do cidado. A notcia no jornal popular usa uma linguagem de fcil entendimento, com o intuito de ser comentada entre os leitores e moradores das regies mais populares, e conseqentemente essas notcias baseadas em assuntos de cidadania, estimulam o interesse da leitura do texto no pblico. Atravs da informao, os cidados ampliam o conhecimento sobre o exerccio de direitos e deveres do cidado. Depois do surgimento do jornalismo popular, os grandes jornais tambm passaram a realizar reportagens de utilidade pblica e prestao de servios, abrindo espao no jornal para os leitores, porm o jornalismo popular, que tem a caracterstica de ser mais prximo do leitor, mais requisitado para intermediar entre a populao e o poder pblico. Nem todos os cidados conhecem o Cdigo de Defesa do Consumidor, que hoje, obrigatrio9 em todos os estabelecimentos comerciais, que o consumidor tenha acesso direto se necessrio. comum, nos jornais populares notcias sobre direitos do consumidor. Essa temtica tambm faz parte da cidadania que o indivduo est inserido e tem direito. Nessa imprensa o espao maior para atrair mais leitores/audincia. Alzira Abreu explica:A preocupao com os direitos do consumidor que constituem uma parte do conjunto de direitos e deveres que formam o cidado significa, para os proprietrios dos rgos de comunicao, um meio de ganhar leitores e ampliar a audincia do rdio e televiso. Essa atitude de dar maior espao para a cobertura dos direitos do consumidor um De acordo com a Lei n 12.291 de 20 de julho de 2010, que torna obrigatria a manuteno de exemplar do cdigo de defesa do consumidor nos estabelecimentos comerciais e de prestao de servios, deixando-o em local visvel e de fcil acesso ao pblico.9

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indcio claro de que o jornalismo tem uma face voltada para o cidado. (ABREU, 2003 apud CORRA, 2008, p. 14).

O jornalismo popular torna-se mediador da cidadania nesse contexto, de estar sempre buscando apresentar para o pblico os direitos que os cidados tm enquanto consumidor ou trabalhador, abrindo espao para a prestao de servios em seu contedo.

4.4 A EXPANSO DOS JORNAIS POPULARES NA DCADA DE 90

A dcada de 90 marcou a histria do jornalismo no Brasil. As empresas de comunicao perceberam que a mdia impressa precisavam se renovar. E nesse perodo surgiram os novos jornais populares. Como j vimos, esses jornais tiveram destaque porque foram produzidos especialmente para atingir o publico das classes B, C, D e E. A maioria das pessoas que compem esse pblico, antes do lanamento dos jornais populares, no tinha costume de ler jornais no seu cotidiano. O que despertou o interesse da leitura, foi a forma que o jornal era produzido. Notcias sobre o que acontece em outras regies, ou fora do pas, no era relevante s pessoas das comunidades mias carentes. Ento, pensando nessas pessoas, esse novo formato de jornal, atingiu o pblico mais pobre, falando o que eles realmente queriam ver, e mostrando os fatos que acontecem em sua localidade. No Brasil, o lanamento desses produtos do jornalismo popular foi lanado nas capitais de vrios estados. Em Pernambuco, na capital Recife, a Folha de Pernambuco foi o primeiro jornal impresso lanado no estado considerado popular, e foi lanado nessa poca. Alguns desses jornais populares so produzidos por empresas que mantm outro jornal, em formato diferenciado, e que est inserido entre os jornais de referncia. Podemos citar o Extra e Expresso da Informao, que pertencem a Infoglobo, proprietria do Jornal O Globo, e tambm o Dirio Gaucho e A Hora de Santa Catarina, pertencentes ao Grupo RBS, que tm tambm os jornais Zero Hora e Dirio Catarinense, conforme registra Predevello (2008) em sua dissertao de mestrado. Ou seja, essas empresas que j possuem outro veculo no jornalismo, lanam esses jornais como estratgia de marketing, pois, querem atingir todos os pblicos, produzindo os jornais de referncia para a classe A e os jornais populares para as classes B, C, D e E. Uma diferena que existe entre os dois tipos de jornais produzidos pela mesma empresa, que os jornais de referncia so vendidos nos pontos estabelecidos e bancas, e tambm por assinatura

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(garantindo comodidade ao leitor), enquanto os jornais populares so vendidos nas bancas de jornal e no trabalham com assinaturas.As empresas apostam no somente em novas estratgias de marketing ou gesto de negcios, mas tambm numa frmula renovada de produtos jornalsticos. (...) Um gnero renovado estrategicamente para alcanar um pblico massivo e atrair investimentos publicitrios tambm massivos. Um gnero que no puramente comercial, ou massivo, ou sensacionalista, ou popular, mas uma conjugao de diferentes frmulas com o intuito de ser bem recebido por classes tradicionalmente excludas do hbito de compra e leitura de jornais. (BERNARDES, 2004 apud PREVEDELLO, 2008, p. 32).

5. CAPTULO III - O JORNALISMO IMPRESSOEm todas as mdias, o jornalismo se conecta e desenvolve o seu papel de comunicar e levar a informao sociedade em geral. So vrios os formatos possveis que o jornalismo pode utilizar para passar informaes. A evoluo da sociedade e os avanos tecnolgicos contriburam para a criao dos novos meios de comunicao. O jornalismo foi se adaptando a cada meio que foi inventado. Entre os meios de comunicao podemos destacar o jornalismo hoje na TV, Rdio, Internet entre outros. Nos produtos impressos, o jornalismo apresentado em diversos formatos. A revista, que ganhou espao na mdia, com a segmentao dessa imprensa, surgiram inmeras revistas especializadas para cada tipo de pblico. As reportagens so maiores e mais analticas, por terem mais tempo para aprofundar o assunto que est na pauta. Os jornais impressos so produzidos com o objetivo de atingir todos os pblicos, de todas as idades. Diferente das revistas segmentadas, os jornais impressos so organizados por cadernos, e cada um desses cadernos publica em seu contedo, notcias relacionadas editoria. Nos jornais impressos, todas as notcias trazem em seu primeiro pargrafo o lead, que sintetiza as informaes do fato que est sendo narrado, apontando a parte principal da matria. O lead formado com as respostas das perguntas conhecidas como os Qs do jornalismo (no ingls, as Wh questions), que so: O que? Quem? Quando? Onde? Como? E por qu? Os jornais impressos apostam em cadernos especiais, como uma estratgia para vender mais, e criar uma fidelidade com o pblico. comum, ver nos jornais, alguns cadernos semanais ou especiais que so includos nas edies de fim de semana, como por exemplo, A Folha dos Concursos do Jornal Folha de Pernambuco, que parte integrante da edio de domingo.

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Existem diversos formatos grficos desses jornais impressos. Os dois mais utilizados e mais comuns em todo o mundo so os modelos standard e o tablide. Ambos recebem o mesmo tratamento na diagramao e na impresso, a diferena est no tamanho da folha. A maioria dos jornais populares tem o formato tablide porque alm de ser menor, no tamanho, facilita a leitura, e fcil de ser transportado. Com o processo de segmentao da imprensa, as empresas jornalsticas passaram a oferecer diversos produtos, incluindo a prestao de servios de assessoria de imprensa. A assessoria, por sua vez, criou os jornais/informativos institucionais, que servem para divulgar produtos e servios que a empresa assessorada desenvolve e aes sociais ao qual a empresa tambm est inserida. Os jornais impressos podem ser informativos, produzidos para a populao em geral, noticiando o que acontece no pas, no mundo e no cotidiano da sociedade; e tambm, jornais institucionais, produzidos para o pblico-alvo da empresa a qual o jornal pertence, e fatos do diaa-dia que esto sendo divulgados e comentados pela imprensa, no so o principal contedo desses jornais. Dentro do jornal impresso h um gnero do jornalismo que tm um espao maior para opinar sobre o que o jornalista quiser, o jornalismo opinativo. Nesse gnero o narrador tem a liberdade de opinar diretamente sobre o tema abordado, sem prejudicar diretamente o veculo em que o texto for publicado. O editorial do jornal a opinio do veiculo sobre algum fato que aconteceu ou est acontecendo com a sociedade, e normalmente est ligado ao contedo da edio. o posicionamento do jornal sobre determinado acontecimento. As crnicas 10, charges11, tirinhas12 e artigos13, pertencem a esse gnero e tambm esto inseridos no contedo dos jornais impressos. Outro elemento importante no jornalismo impresso so os anncios, a publicidade. De

Texto desenvolvido de forma livre e pessoal, a partir de acontecimentos de atualidade ou situaes de permanente interesse humano. esse gnero literrio que busca ultrapassar, pelo tratamento artstico, o que racionalmente deduzido dos fatos. (LAGE, 2000, p. 56). 11 Ilustrao cmica que critica os principais acontecimentos sociais e polticos. Geralmente produzida mo Embora seja importante numa charge o seu contedo humorstico, ela feita ainda mo para preservar seu valor artstico, podendo ser montada ou retocada por computador. 12 Ilutraes crticas, geralmente desenhadas a mo e organizadas em quadros. Tratam de assuntos relacionados a poltica ou questes sociais, podendo ser tambm apenas uma crnica humorstica. 13 Texto que desenvolve uma idia ou comenta um assunto. Geralmente assinado, o artigo no necessariamente jornalstico, ou escrito por jornalista. Pode ser colaborao de um tcnico, literato ou especialista. (LAGE, 2000, p. 55).

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acordo com o perfil do pblico do veculo, a publicidade preenche boa parte das pginas do jornal, quando no compra a pgina inteira. Se um jornal voltado para um publico mais popular, sem dvida um novo condomnio residencial ou imvel que est sendo construdo no estar nas paginas desse jornal. Mas, o preo do gs que baixou, o melhor po do bairro, o remdio mais barato, o salo de beleza mais prximo, sim, esses entre outros, estaro inseridos na parte publicitria dos jornais populares. Ou seja, os anunciantes procuram conhecer o veculo que estar divulgando seu produto, porque saber qual pblico ir atingir, em determinado veculo de comunicao.

5.1 FOTOJORNALIMO

No jornalismo impresso h um recurso grfico muito importante no processo de transmisso da mensagem. No incio do jornal impresso, as ilustraes eram desenhadas mo, tanto para informar, quanto para vender (no caso da publicidade). Alm de serem desenhadas, as imagens eram em preto e branco. Mesmo sendo em menor quantidade, as imagens que eram publicadas, facilitavam o entendimento da notcia para o leitor. No rdio, o ouvinte no consegue ver o que est sendo narrado, ento preciso que ele imagine a cena onde aconteceu determinado fato. Na televiso, a imagem o elemento fundamental no telejornalismo. No jornalismo impresso, as imagens servem para alm de ilustrar a reportagem, informar tambm. O fotojornalista precisa conhecer o equipamento que ir usar para fazer uma boa imagem, alm dos recursos tcnicos, necessrio obter um olhar diferenciado, que d sentido imagem e que essa mesma, complemente o contedo que est sendo publicado. Pois uma imagem com um ngulo diferente do que o texto diz, pode derrubar a reportagem e vice-versa. H imagens que falam por si mesmas, sem precisar de legendas.

Jorge Pedro Sousa apresenta o fotojornalismo como:O fotojornalismo uma actividade singular que usa a fotografia como um veculo de observao, de informao, de anlise e de opinio sobre a vida humana e as consequncias que ela traz ao Planeta. A fotografia jornalstica mostra, revela, expe, denuncia, opina. D informao e ajuda a credibilizar a informao textual. Pode ser usada em vrios suportes, desde os jornais e revistas, s exposies e aos boletins de empresa. (SOUSA, 2002, p. 05).

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6. OBJETIVOS

6.1 OBJETIVO GERALCompreender a relao e a prtica do jornalismo popular e o sensacionalismo, em Pernambuco, utilizando o caderno de Polcia do Jornal Folha de Pernambuco como objeto de estudo.

6.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

Apresentar o sensacionalismo e jornalismo popular, e mostrar suas caractersticas; Analisar em que aspectos o peridico estudado considerado um jornal popular e verificar para qual pblico o jornal direcionado; Averiguar, a partir do jornal impresso pesquisado, as mudanas que ocorreram no projeto grfico do caderno polcia; Identificar o uso de sensacionalismo nas edies coletadas, no caderno de polcia do Jornal Folha de Pernambuco; Contribuir diretamente com a sociedade, na construo do senso crtico de anlise nos contedos que so publicados de forma geral; Incluir no acervo da biblioteca da Favip, uma pesquisa que servir de base para outros pesquisadores, podendo dar continuidade nos estudos de jornalismo popular e sensacionalismo na imprensa, independente do meio de comunicao;

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7. JUSTIFICATIVAO jornal Folha de Pernambuco um impresso dirio que circula em todo o estado de Pernambuco, e em estados vizinhos. Por ter um grande nmero de tiragem, sendo veiculado do litoral ao serto pernambucano, o veculo considerado popular. Com diversos cadernos dirios e especiais que so publicados semanalmente, possui uma linguagem prxima do leitor, direcionando suas reportagens ao pblico das classes B, C e D, utilizando um recurso importante que a imagem e possui uma diagramao leve e estratgica, atraindo o leitor e incentivando-o a ler as reportagens. O jornal ficou marcado, por um longo tempo, como um veculo do tipo espreme que sai sangue, mas, atualmente, a imagem do peridico no a mesma. O caderno de Polcia, que trazia fotos impactantes, mudou o foco do fotojornalismo, usando a subjetividade na composio das fotografias, deixando o mesmo caderno mais leve e tambm alterou o formato grfico, sendo um tablide14, e assim destacando-o de todo o jornal, dando mais liberdade ao leitor na opo de escolher se quer ou no ler as notcias policiais. O leitor que no tem interesse nesse tipo de notcia pode descartar ou guardar o caderno e continuar com um peridico informativo em suas mos. As capas do jornal variam de acordo com os acontecimentos, e so produzidas de forma que valorize a manchete principal, usando artifcios que a ferramenta de diagramao permite, e elaborando capas diversificadas, no seguindo um padro dirio, podendo valorizar mais a imagem ou a prpria manchete principal da edio. Em algumas edies, eles incluem como brinde para o pblico leitor um pster, com uma imagem que eles consideram de interesse pblico. Um exemplo foi em maio de 2010, quando o Sport Clube do Recife conquistou mais um ttulo no campeonato pernambucano de futebol; foi includa na edio do dia seguinte uma foto da equipe no tamanho da pgina inteira, para que o leitor guardasse essa lembrana. Essa uma das estratgias que o jornal utiliza para se aproximar mais do leitor. No livro Jornalismo Popular Mrcia Franz Amaral faz um comentrio sobre a qualidade da imprensa popular. Acredito que uma imprensa popular de qualidade s vivel se conseguir desenvolver um tipo de jornalismo tico que aperfeioe suas tcnicas de comunicao com o

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O tablide um formato de jornal que possui o tamanho (297 mm x 420 mm), muito utilizado em alguns jornais nacionais e internacionais.

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leitor popular sem ficar refm dos requisitos do mercado (AMARAL, 2006 p. 12). Por saber que existem diversos tipos de mdias populares e todos tm como objetivo sempre atingir o pblico especfico, pois todo o material produzido em qualquer rea sempre voltado ao pblico-alvo, Amaral faz uma reflexo no mesmo livro e explica de forma resumida e objetiva como o jornal popular funciona:Um tipo de jornal sobrevive prioritariamente de um discurso sobre questes de interesse pblico e outro pautado em primeiro lugar pelo interesse do pblico. A imprensa considerada mais sria, destinada s classes A e B, precisa legitimar-se entre os formadores de opinio e, por isso, aborda temas classificados como mais relevantes. A imprensa que pretende conquistar o leitor das classes C, D, e E d mais ateno s temticas de interesse desse pblico. (AMARAL, 2006 p. 13).

Seguindo esse raciocnio, podemos perceber que os veculos publicam um contedo que o pblico gosta de ver. Mas sempre h o interesse do veculo. Um fato s publicado com autorizao do editor, que conhece a linha editorial e sabe qual o perfil do leitor. O uso de termos (no texto) ou imagens sensacionalistas no correto, quando utilizado apenas por interesse de vender mais. Algumas reportagens, como por exemplo, sobre o envolvimento de crianas e jovens no trfico de drogas, poderiam servir de forma educativa para abrir os olhos da populao, e assim despertar no leitor o senso crtico, e orientar a populao de forma geral a cobrar mais dos responsveis e denunciar casos iguais ou similares, no recebem o devido tratamento: a informao passada de forma objetiva e sucinta, apenas relatando o fato, sendo apenas mais um caso de crianas e jovens no mundo das drogas. Os estudos sobre o jornalismo popular esto cada vez mais presentes nas universidades e nos congressos e encontros de jornalismo. So vrios os artigos e livros publicados, as dissertaes e teses, sobre o jornalismo popular. Escolhemos o jornal Folha de Pernambuco, por que o jornal considerado popular mais conhecido do estado de Pernambuco. No perodo entre os meses de fevereiro e abril de 2010, coletamos alguns exemplares dos finais de semana, para analisar o contedo do caderno policial. Escolhemos esse perodo porque, nessa poca do ano, so realizadas duas grandes festas populares em nosso Estado, que so o Carnaval e a Semana Santa. Sabemos que nessa poca de eventos o estado recebe muitos visitantes de vrios lugares do pas e do mundo. Dessa forma, podemos analisar tambm como so noticiados os crimes cometidos nesse perodo. E por ter a maior tiragem nos finais de semana, escolhemos o sbado e o domingo para analisar o caderno

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estudado. Pode-se perceber que o jornal passou por mudanas no editorial, e a pesquisa pretende identificar e apresentar algumas mudanas que ocorreram no caderno policial de forma geral. Com o resultado dessa anlise, observou-se quais foram as principais mudanas que ocorreram e como a Folha transmite esse contedo para os leitores, por ser um jornal que veiculado em todo o Estado e de fcil acesso, podendo ser lido por qualquer pessoa, mesmo sendo desenvolvido para as classes B, C e D. Alm de incluir no acervo da biblioteca da Favip a primeira pesquisa em jornalismo relacionada aos estudos de sensacionalismo e jornalismo popular, pretende-se neste estudo monogrfico, verificar as seguintes hipteses: se e quanto as fotos publicadas no caderno de polcia so apelativas; se o tema da reportagem explorado com exagero; se o jornal est sendo imparcial; se a linguagem usada no corpo do texto e dos ttulos das matrias considerada agressiva ou banal; e verificar, tambm, se as fotos publicadas esto reforando o texto.

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8. METODOLOGIAEste trabalho monogrfico foi desenvolvido com base terica nos estudos sobre o sensacionalismo na imprensa e jornalismo popular. Foram tomados como base obras de Danilo Angrimani Sobrinho, autor do livro Espreme que sai sangue, que faz um estudo sobre o sensacionalismo na imprensa, e da jornalista Mrcia Franz Amaral autora do Livro Jornalismo Popular. Outras pesquisas relacionadas a essas duas temticas tambm foram consultadas tendo estas um espao menor, porm significativo no desenvolvimento do trabalho. A pesquisa de carter emprico, partindo do levantamento bibliogrfico, da apurao de materiais j publicados, leituras de livros tratando do tema, artigos cientficos, publicaes online, dissertaes e teses sobre o assunto estudado. Aps este momento, foram coletadas algumas edies para serem analisadas utilizando tcnicas quantitativas e qualitativas. O desenvolvimento destas anlises foi realizado em trs fases: 1 coleta das edies; 2 explorao do material coletado; e 3 anlise do contedo e apresentao dos resultados. Na primeira fase de coleta de edies, foi necessria a realizao da compra das edies que a pesquisa pretendia estudar. Entre os meses de fevereiro e abril de 2010, essa coleta de edies foi realizada. Foram coletadas e analisadas as edies dos primeiros sbados e segundasfeiras de cada ms, para analisar de forma igual os meses escolhidos. Na fase de explorao do material coletado, a anlise foi realizada nos jornais dos finais de semana, considerando o sbado e a segunda feira seguinte do sbado analisado. A princpio foram escolhidas as edies de sbado e domingo, porque nos finais de semana o jornal possui uma tiragem maior e dessa forma, mais pessoas tm acesso ao contedo publicado. Porm, o jornal pesquisado no publica o caderno de Polcia aos domingos. Fez-se necessrio analisar o contedo da segunda feira seguinte, para observar como os fatos so publicados, j que o contedo da edio da segunda feira, segundo a editora do caderno, um balano do que acontece no final de semana. Foram analisadas seis edies nos dias 06 e 08 de fevereiro, 06 e 08 de maro e 03 e 05 de abril de 2010. A escolha deste perodo foi de forma arbitrria, pois, sabe-se que entre os meses de fevereiro e abril, o nmero de visitantes aumenta em todo estado devido s festividades do Carnaval e Semana Santa. Analisamos o contedo grfico e lingstico do caderno de Polcia, observando na parte

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grfica, as fotografias e cores, e na linguagem, o texto propriamente dito. Toda anlise foi realizada com o objetivo de identificar termos, imagens ou qualquer contedo considerado sensacionalista. Na ltima fase, aps a anlise do material impresso, os resultados foram apresentados de duas formas: no texto propriamente dito e por meio de tabelas e figuras. As tabelas foram utilizadas no intuito de informar se houve sensacionalismo, onde, quando e quanto. As imagens utilizadas serviram para ilustrar e apresentar o que o estudo explicou. A anlise de contedo um mtodo de grande utilidade na pesquisa jornalstica. Com esse mtodo, possvel descrever e classificar os produtos, gneros e formatos jornalsticos. Serve tambm para avaliar caractersticas da produo de indivduos, grupos e organizaes, para identificar elementos tpicos, exemplos representativos e discrepncias e para comparar o contedo jornalstico de diferentes mdias em diferentes culturas (LAGO, 2008 p. 123). Com este mtodo, foi possvel analisar os textos, smbolos e imagens do objeto estudado. A anlise de contedo funciona de forma integrada com tcnicas quantitativas e qualitativas que se complementam, podendo, assim, contar e avaliar o contedo que foi analisado. Na anlise qualitativa, podemos deduzir o que o jornal quer passar, a forma que so noticiadas as matrias, de que formas so apresentados os personagens. No momento da anlise quantitativa, podemos observar a quantidade do que publicado nas pginas do caderno, observando a quantidade de fotos para cada edio, como so distribudas nas matrias, a quantidade de matrias e suas temticas. Alm da anlise do contedo publicado nas edies, foi realizada uma entrevista com a editoria do caderno de Polcia do jornal Folha de Pernambuco, Karina Maux, para compreender o perfil do jornal e a forma que so selecionadas as pautas e o direcionamento das reportagens. A entrevista foi realizada por e-mail nos dias 08 e 11 de novembro de 2010 (ver apndice A). Com base na entrevista e no histrico do jornal, observamos e apresentamos as mudanas que ocorreram no projeto grfico do caderno de Polcia, e mostramos o formato que esse caderno do jornal impresso. Observamos e compreendemos como essa teoria funciona na prtica, aps a entrevista realizada com a editora do caderno estudado. A entrevista uma tcnica qualitativa, que nos permite um maior aprofundamento na conversa. No jornalismo, com o uso da entrevista possvel coletar informaes e interpretaes e reconstituir fatos. Realizamos uma entrevista

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semi-estruturada15, elaborando um roteiro com os tpicos que orientassem a conversa com o entrevistado, podendo evitar a distoro do tema e ao mesmo tempo surgindo novas perguntas, de acordo com as respostas. Durante o processo de entrevistas, tentamos falar com reprteres e reprteres fotogrficos do caderno de Polcia, porm no conseguimos, por telefone porque os mesmos estavam sempre na rua registrando e apurando os fatos que aconteciam. Apenas a editora, pode nos atender e responder as questes.

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A entrevista semi-estruturada est focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questes inerentes s circunstncias momentneas entrevista (MANZINI 1990/1991, p. 154).

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9. CAPTULO IV - DESENVOLVIMENTO 9.1 A FOLHA DE PERNAMBUCOFundado em 1998 o Jornal Folha de Pernambuco o jornal impresso popular do estado de Pernambuco que mais teve destaque entre a populao do estado. Tanto pelo preo inicial que era mais barato que os outros peridicos dirios que circulam no estado, quanto pela inovao em seu contedo, publicando no caderno policial, fotos impactantes, de pessoas mortas, acidentes, crimes que esto presentes na sociedade em geral. o jornal, tem um pblico mais popular, de baixa escolaridade e renda, e produz o contedo voltado para esse pblico, porm, as notcias podem ser lidas por pessoas que estejam inseridas em qualquer classe social. O jornal tem em seu contedo os principais cadernos que esto nos demais jornais de todo o pas. Os principais cadernos que so publicados diariamente no jornal so: Poltica, Economia, Esportes, Grande Recife, Brasil, Regional e Polcia. Este ltimo, no publicado aos domingos.