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Análise das Críticas de Dirck Anderson acerca da vida e obra de Ellen G. White.
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Seminário Adventista Latino Americano de Teologia
A PROFETISA DA PORTA FECHADA:
Uma análise das objeções de Dirk Anderson ao dom profético de Ellen White
Monografia
Apresentada em cumprimento parcial dos
Requisitos para Disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica
Por
Ângelo Gabriel da Silva
Julho de 2006
SUMÁRIOINTRODUÇÃO................................................................................................... 02
1. DIRK ANDERSON FECHA A PORTA À PROFETISA............................... 05
1.1 O Testemunho de Dirk Anderson..................................................................
1.2 As modalidades de fontes testemunhais de Anderson avaliadas
05
09
2. ANALISANDO AS AFIRMAÇÕES DE DIRK ANDERSON E SEUS AUXILIARES.
2.1 Verificação de nossas hipóteses..................................................................
2.2 Analisando as fontes de Anderson.............................................................
16
16
20
CONCLUSÃO............................................................................................... 29
BIBLIOGRAFIA........................................................................................... 31
1
2
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma época em que questionar tornou-se algo muito valorizado. Assim,
os que empreendem tal jornada o fazem sob os auspícios de renomados indivíduos que já
trilharam esse caminho. O livro Nuvem branca, de autoria de Dirk Anderson, propõe-se a
“eliminar o brilhante exterior pintado pelos historiadores adventistas e ter uma visão nítida
da verdadeira Ellen White - a Ellen White que seus amigos e associados conheceram”.
(ANDERSON, [2000?a], p. 4).
O referido livro, de natureza questionadora, se propõe, como se vê por sua
afirmação inicial, a analisar o dom profético de Ellen G. White, com o fim precípuo de
mostrar aos seus leitores uma Ellen G. White diferente da que seus historiadores
apresentam; e assim, segundo o autor, ter-se á uma Ellen G. White tal qual a conheceram
seus amigos e associados. No capítulo “A profetisa da Porta fechada” especialmente, mas
não exclusivamente, o autor busca realizar esse propósito afirmando que Ellen G. White
teria tido uma visão na qual Deus lhe teria mostrado que a porta da graça estaria fechada
para a humanidade: “já em 1845, Ellen estava recebendo visões que mostravam que a porta
da salvação estava fechada” (ANDERSON, [2000?a], p. 10 ).
Esta análise de Dirk Anderson prova, sem sombra de dúvidas, que Ellen G. White
teve uma visão da porta fechada?
3Em face do fato de que a Igreja Adventista do Sétimo Dia jamais aceitou que Ellen
G. White tenha tido uma visão da “porta fechada”, nos termos apresentados no referido
livro, faz-se necessário um exame dos testemunhos apresentados pelos contemporâneos da
mesma, conforme descritos por Dirk Anderson. Assim, ao analisarmos o referido assunto,
pelo menos três hipóteses se fazem possíveis:
1. Os que afirmaram ter tido Ellen G. White uma visão da porta fechada poderiam
estar certos, e Dirk Anderson entendeu corretamente as afirmações dessas pessoas; nesse
caso, os Adventistas do Sétimo Dia precisariam rever suas crenças e suas afirmações em
relação ao assunto;
2. Os contemporâneos de Ellen G. White poderiam ter afirmado algo diferente e
Dirk Anderson, devido à lacuna temporal, pode ter deixado de compreender o que eles
afirmaram;
3. Dirk Anderson pode ter entendido corretamente o que foi afirmado pelos
contemporâneos de Ellen G. White, mas estes podem não ter sido inteiramente sinceros em
suas afirmações e, nesse caso, as fontes de Anderson não são úteis para o que ele pretende.
Assim, objetivamos analisar as informações usadas por Dirk Anderson em sua
avaliação do ministério profético de Ellen G. White e apresentar um parecer em relação ao
assunto. De forma específica, desejamos; analisar o contexto e a credibilidade dos
testemunhos citados por Dirk Anderson bem como avaliar o uso que ele faz dos escritos de
Ellen White com o fim de confirmar sua teoria, além, de mostrarmos que a experiência
negativa de Anderson com alguns adventistas acabou por indispô-lo contra Ellen G. White,
e, assim, determinar se ele tem ou não razão em suas afirmações.
4Nosso trabalho se limitará, neste momento, à análise do capítulo “A profetisa da
porta fechada” do referido livro, com nossa visão voltada especialmente para as críticas
levantadas ali pelo autor, e para a verificação da fidedignidade dos testemunhos por ele ali
apresentados.
Para isso, pretende-se fazer um estudo do conteúdo do livro “Nuvem Branca”, com
dedicação especial ao capítulo “A profetisa da Porta fechada” com uma análise crítica das
fontes usadas nesse capítulo pelo autor, à luz das discussões empreendidas por outros sobre
esta questão.
1 DIRK ANDERSON FECHA A PORTA À PROFETISA
1.1 O Testemunho de Dirk Anderson
Dirk Anderson apresenta-se como ex. perfeccionista. Comenta seu nascimento em
um hospital de propriedade da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Doravante, IASD) na
Flórida, EUA, a coincidência de mais tarde vir a trabalhar no mesmo hospital, e logo após,
enfatiza as mudanças em termos de desenvolvimento na mesma instituição por ocasião do
nascimento do seu filho; “Ao tempo em que meu filho nasceu no mesmo hospital, as coisas
haviam mudando (sic) dramaticamente. E assim têm havido mudanças na IASD como um
todo. Gradualmente, a igreja foi se afastando dos ensinamentos de seus pioneiros.”
(ANDERSON, [ 2000?b], p. 1).
Após isto, Anderson comenta sua passagem como aluno pelas instituições
educacionais da igreja, por um período de 16 anos, seus particulares conceitos e
sentimentos em relação à pessoa de Ellen G. White como profetisa, bem como sua
“condição de constante temor misturado com expectativa” (ANDERSON, [2000?b], p. 1),
apesar de ansiar pelo retorno de Cristo, pelo fato de os adventistas com os quais se
relacionava terem o hábito de marcar datas para o retorno de Cristo. (ANDERSON, [2000?
b], p. 2).
Vem, então, o que ele intitula de “aprendendo a ser perfeito” seguido de uma série
de informações, com seu parecer, negativo sobre as particularidades comportamentais de
alguns adventistas que ele conhecia.
5
Logo após ele narra sua conversão aos 21 anos de idade, que segundo ele ocorre ao ler um
dos livros do pastor Morris Venden e falando de sua experiência até ali afirma:
Não posso explicar por que julgava que seria salvo pelas obras. Ninguém nunca me disse que eu me salvaria pelas obras. Foi simplesmente algo que apreendi de minha experiência e vida estudantil. Comecei a ver as coisas sob uma luz totalmente diferente. Submeti-me a Deus e dediquei-Lhe a vida .
(ANDERSON, [2000?b], p. 2).
A esta altura ele dedica-se a ler os escritos de Ellen G White, e embora afirme ter desejado
“tornar-se o melhor adventista que pudesse” (ANDERSON, [2000?b], p. 2), deixa a Igreja
Adventista oficial junta se a um ministério independente intitulado "Ministério
Terminação da obra" (ANDERSON, [2000?b], p. 3). Uma vez lá, ele tem experiência
negativa ao presenciar conflitos entre os membros da igreja, discordâncias sobre questões
diversas entre as quais estariam os escritos de Ellen G. White, quando então o diretor do
referido ministério o abandona e vai para outro movimento chamado Santo Nome”
(ANDERSON, [2000?b], p. 3), e o termino abrupto do referido ministério.
Após narrar que os escritos de Ellen G. White tiveram um dramático impacto sobre
ele, Anderson informa que sua compreensão sobre o que ela havia escrito levou–o a tomar
diversas decisões radicais sobre alguns aspectos dietéticos. decisões estas que “tiveram o
seu efeito sobre minha saúde de um modo como jamais conseguirei me recuperar.”
(ANDERSON, [2000?b], p. 3). Buscando pessoas que aceitassem uma prática dos escritos
de Ellen G. White semelhante a sua, Anderson vai novamente em busca de organizações
independentes tais como a Hope International porque, segundo ele, “cria que esses grupos
estavam pregando o que Ellen White descreveu como ‘Testemunho Direto’”
6
(ANDERSON, [ 2000?b], p. 4). Assim, considerando sua posição sui generis, como
praticante dos ensinos de White Anderson diz: “por anos havia estado dizendo aos ASD's
(sic) como deviam obedecer a Ellen White. Tornara-me adepto de identificar que regras de
Ellen White uma pessoa não estava seguindo, e logo as criticava por serem relapsas em não
seguir os seus padrões” (ANDERSON,[2000?b], p. 4). Com esta visão dos escritos de
Ellen G. White, após descobrir material na internet que a atacava, Anderson se candidata a
defendê-la na internet. Após ser desafiado por um internauta a ler o livro de Canright sobre
Ellen G. White, ele o lê e então dá-nos a seguinte explicação:
Decidi ler o livro com a intenção de refutá-lo. Li-o e o achei muito perturbador, mas estava determinado a provar que ele estava errado. Assim, dirigi-me à biblioteca da universidade ASD local e comecei a cavar fundo nos velhos documentos para ver o que poderia achar sobre Ellen White e os pioneiros. Gastei muitas horas investigando o material. Para minha surpresa, não pude encontrar nada para refutar Canright. De fato, tudo quanto descobria parecia apoiar o que Canright escrevera. Fiquei perplexo (ANDERSON, [2000?b], p. 4 e 5).
Mesmo que possa parecer estranho aos adventistas que Anderson nada tenha
encontrado em refutação a canright faz-se necessário crer que ele estivesse sendo sincero
ao afirmá-lo. Após esta sua decepção Anderson diz: “comecei a investigar o tema da ‘porta
fechada’ e descobri que Ellen White havia de fato visto que a porta da salvação se fechara
para os pecadores em 1844 em pelo menos uma de suas visões” (ANDERSON, [2000? b],
p. 5). Assim crendo, Anderson estuda a questão do dia da expiação em Levítico 16 e
Hebreus 9 e 10, e rejeita suas crenças ou as crenças da IASD sobre o assunto e entende que
sua pesquisa o conduzia para fora da IASD. Por fim, ele conclui:
Não incentivo as pessoas a saírem da IASD. Ela segue a Bíblia mais fielmente do que qualquer outra igreja. Incentivo as pessoas a seguirem a direção divina. Para mim, foi a decisão acertada. Pode não ser a decisão apropriada para
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você. Nunca me arrependi de ter saído da IASD. Minha única queixa é que os líderes adventistas não me contaram a verdade sobre Ellen White. (ANDERSON, [2000? b], p. 6).
1.2 As modalidades de fontes testemunhais de Anderson avaliadas
Anderson apresenta pelo menos três modalidades de fontes testemunhais para
configurar sua afirmação de que Ellen G. White teve visões de que a porta da graça se
fechara em 1844.
A primeira dessas modalidades de fontes é composta de pessoas, que a posteriori
não se relacionariam com o movimento adventista como, por exemplo, Guilherme Miller:
“ao advertir os pecadores e tentar despertar uma igreja formal, cumprimos nossa obra. Em
sua providência , Deus fechou a porta; só podemos instar-nos mutuamente a ser pacientes”
(ANDERSON, [2000?a], p. 9).
A segunda modalidade de fonte usada por Anderson, composta de pessoas que se
mantiveram em ligação com o movimento adventista pode ser representada por Bates:
A porta aberta de Paulo, então, era a pregação do evangelho aos gentios. Feche-se esta porta, e a pregação do evangelho não terá nenhum efeito. Isto é exatamente o que dissemos que ocorre. A mensagem do evangelho terminou no tempo assinalado com a terminação dos 2300 dias [em 1844]; e quase todos os crentes honestos que estão observando os sinais dos tempos o admitirão. (ANDERSON, [2000? a], p. 9 e 10).
Além de Bates, podemos também alistar aqui Otis Nichols:
Sua mensagem sempre era acompanhada pelo Espírito Santo, e onde quer que fosse recebida como de parte do Senhor, quebrantava e derretia seus corações como se fossem criancinhas, e alimentava, consolava, e fortalecia os débeis, e os animava a apegar-se à fé, e ao movimento do sétimo mês; e que nossa obra para a igreja nominal e o mundo estava terminada, e o que restava fazer era a favor da casa da fé (ANDERSON, [2000? a], p.11).
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Nesse grupo ele cita também a própria Ellen G. White.
Enquanto em Exeter, Maine, ao estar reunida com Israel Dammon, Tiago, e vários outros, e muitos deles não criam numa porta fechada. Eu sofrimuito no início da reunião. A descrença parecia estar por todo lado [...] Sentia-me muito, muito triste. Minha alma parecia em agonia o tempo todo, e enquanto ela falava, caí de minha cadeira ao chão. Foi então que tive uma visão de Jesus erguendo-Se de Seu trono de Mediador e indo para o Lugar Santíssimo, como o Noivo indo receber o Seu reino. Todos estavam profundamente interessados na visão. Todos disseram que era algo inteiramente novo para eles. O Senhor operou com grande poder estabelecendo a verdade em seus corações. [...] Quando eu saí da visão, meus ouvidos foram saudados com o cântico e clamores da irmã Durben em alta voz. A maioria deles recebeu a visão, e ficaram estabelecidos quanto à porta fechada.(ANDERSON, [2000?a], p.12).
Para a terceira e última modalidade de fonte, composta de pessoas que romperam
totalmente com o movimento adventista, poderíamos citar pelo menos três indivíduos
representantes, alguns dos quais são citados de uma fonte terciária, ou estão citando uma
fonte terciária. Esse é o caso de Lucinda Burdick:
Ouvi falar pela primeira vez da Srta. Ellen G. Harmon (depois Sra. Ellen G. White) em princípios do inverno (janeiro ou fevereiro) de 1845, quando meu tio Josiah Little veio à casa de meu pai e informou que havia visto uma tal Ellen Harmon no ato de ter visões que ela assegurava receber de Deus. Meu tio disse que ela afirmava que Deus lhe havia revelado que a porta da misericórdia tinha-se fechado para sempre, e que de agora em diante não havia mais salvação para os pecadores. Isto me causou grande inquietude e angústia mental, porque eu não havia sido batizada e meu jovem coração se preocupou muito pelo que sucederia com a minha salvação se a porta da misericórdia estivesse realmente fechada. (ANDERSON, [2000? a], p. 10).
Bem como Isaac Wellcome, citado por Miles Grant:
Amiúde, estive em reuniões com Ellen G. Harmon e Tiago White em 1844 e 1845. Várias vezes a sustive enquanto caía ao solo, -- às vezes quando desmaiava durante uma visão. Ouvi-a relatar suas visões destas datas. Várias foram publicadas em panfletos, dizendo que todos os que não apoiavam o movimento de 1844 estavam perdidos, que Cristo havia abandonado o trono da misericórdia, que todos os que seriam selados o haviam sido, e que ninguém mais se arrependeria. Ellen e Tiago ensinaram isto por um ou dois anos. Recentemente, em suas visões publicadas, chamadas ‘Testemunhos,’ suas visões diferem
9
amplamente, e contradizem suas visões anteriores direta e patentemente. (ANDERSON, [2000? a], p. 10).
Alem destes, temos, H. C. Carver, que depois de abandonar a fé e se juntar aos
oponentes de Ellen G. White, os pastores B. F. Snook e William Brinkerhoof, escreveu que
Tiago lhe havia confessado que Ellen G. White teria dado um colorido a uma das suas
visões para harmonizá-la com sua crença anterior relativa a porta fechada. "Bro. Carver, I
will make an admission to you I would not make to a sharp opponent. Considering the
circumstances of the case it would not be strange if they should give a coloring to the
vision" (CARVER, [1887?], p.6).
Em 1877 Miles Grant que a semelhança de outros também dedicou tempo a criticar
Ellen G. White usando o tema da porta fechada como trampolim, reuniu os testemunhos
dos críticos citados até aqui em um pequeno tratado intitulado An examination of Mrs.
Ellen White's visions. Ali Grant basicamente se limita a apresentar testemunhos dessas
pessoas.
Tanto estes, quanto outros indivíduos que não são citados por Anderson, estiveram
envolvidos com o tema da porta fechada tanto acusando, quanto defendendo Ellen G.
White. Entre os que a acusavam podemos citar os pastores B. F. Snook e William
Brinkerhoff, que após deixarem a Igreja Adventista do Sétimo Dia (DOUGLASS, 2001 p.
561), em 1866 escreveram que, em uma visão publicada em 1847 Ellen G. White
anunciara que não mais haveria salvação para os pecadores: “in a vision published in 1847,
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she teaches that God had rejected all the wicked, and that it is now impossible for them to
be saved” (SNOOK & BRINKERHOOF, 1866, p.4).Grifos deles.
A C. Long, em 1883, levantou questionamentos em torno do assunto após concluir
que foram suprimidas algumas declarações de Ellen G. White (entre as quais se encontrava
algo sobre a porta fechada na edição dos livros Primeiros escritos e Christian experience
and views). Para ele, isso provava que Ellen G. White, mesmo após suas primeiras visões,
cria que a porta da graça se fechara em 1844 (DOUGLASS, 2001, p. 562).
Dudley Marvin Canright dedicou todo um capítulo de seu livro publicado em 1919
sob o título de Life of Mrs. E. G. White, Seventh-day Adventist prophet: her false
claims refuted, que foi traduzido para uso eletrônico por Roman Quirós sob o título de
Vida de la Sra. Ellen G. White: Sus afirmaciones refutadas. Antes porém, Canright já
havia reunido os testemunhos dos indivíduos citados acima, inclusive de Miles Grant em
seu livro Seventh-day Adventism renounced: after an experience of twenty-eight years
by a prominent minister and writer of that faith, com o fim de provar que Ellen G. White
tivera uma visão da porta fechada (DOUGLASS, 2001 p. 564).
Como defensores da profetisa poderíamos citar: G. I. Butler e J. H. Waggoner que
se dedicaram a responder a A. C. Long em um suplemento de 16 páginas escrito para a
Review and Herald em 14 de agosto de 1883. Além deles, Uriah Smith, em 1887,
respondeu as acusações de Canright feitas em Seventh-day Adventism renounced:
Listando-as na expectativa de desmenti-las (DOUGLASS, 2001, p. 564).
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Em 1905, J. N. Loughborough publicou a edição revisada de seu livro Rise and Progress of Seventh-day Adventists (1892) sob o título de TheGreat Second Advent Movement. Nesta edição revisada, Loughborough acrescentou um capítulo chamado “A Porta Fechada”. Nele reexaminou o que entendia serem os fatos da década de 1840, enfatizando que nenhum adventista, inclusive Ellen White, acreditava que “não havia mais misericórdia para os pecadores”. Apresentou também sua lista de vinte e uma testemunhas que confirmavam esse ponto de vista (DOUGLASS, 2001, p. 564).
Alem destes, Outros trabalhos em defesa do ministério profético de Ellen que de alguma
forma focalizou a questão da porta fechada foram desenvolvidos por: M. E. Olsen, no ano
de 1925 em: A history of the origin and progress of Seventh-day Adventists;
(DOUGLASS, 2001 p. 564).
Ainda que em poucas palavras, In defense of the faith: the truth about Sevent-day
Adventists: a reply to Canright faz também uma alusão defensiva a Ellen G. White na
questão da porta fechada. Ali se menciona carta escrita por Ellen a Loughborough, em
1874, na qual ela explica sua posição anterior e posteriormente a 1844. por fim, o autor faz
uma apresentação e um material que, segundo ele, era um exaustivo estudo de A. G.
Daniells a questão (BRANSON, 1933 p. 364, 365). Ainda podemos citar Origin and
history of Seventh–day Adventists. Na qual o autor aponta pessoas que tinham pontos de
vistas extremados na questão da porta fechada e noutros pontos, e afirma que as visões de
Ellen G. White corrigiram estes, no caso da porta fechada. Cita a carta de Ellen G. White
de 1874, com sua declaração de que anteriormente crera na doutrina da porta fechada.
Além disso, no parágrafo anterior ele menciona mileritas que juntamente com Ellen creram
a principio na porta fechada. (SPALDING, 1961 p.162)
F. D. Nichol foi talvez o mais vigoroso defensor da autenticidade de Ellen White, Especialmente em seu livro de 1951, Ellen G. White and Her Critics.
12
Dedicando noventa e uma páginas à questão da porta fechada, ele rebateu a maioria das acusações feitas desde meados da década de 1860. Reuniu evidências de que Ellen White não teve visão ensinando que o tempo de graça havia terminado em 1844 (DOUGLASS, 2001, p. 564).
Mais recentemente DAMSTEEGT, trabalha diversos aspectos relacionados com o
movimento milerita, enfatizando o fato de que após 1844 dois grupos mileritas
distinguiam-se: os mileritas da porta aberta, e os mileritas da porta fechada. Os primeiros
tornaram-se céticos quanto ao tempo, 22 de outubro de 1844, bem como, quanto aos
acontecimentos relacionados a ele. Por outro lado, os mileritas da porta fechada, por algum
tempo pelo menos, continuaram a crer que seus cálculos realizados em torno da profecia
das duas mil e trezentas tardes e manhãs tanto quanto o tempo de cumprimento desta em
sua relação com mensagem do retorno de Cristo estavam corretos. (DAMSTEEGT, 1977,
p. 104-115)
Por último não porém menos erudito, factual e científico, fazendo um varredura em
tudo quanto já se escreveu sobre o tema, está o quase exaustivo trabalho de Herbert
Douglass, que dedica, diversas páginas de seu livro Mensageira do Senhor: o ministério
profético de Ellen G. White à análise da questão da porta fechada. Além das diversas
outras contribuições dadas por Douglass ao tema, o fato de ele apresentar Ellen G. White
como alguém que enriqueceu a expressão “porta fechada” elevando os que criam nessa
doutrina de um patamar extremo para outro equilibrado e bíblico, foi sua principal
contribuição. Não se pode ignorar, porém, o fato de ele mostrar que Ellen G. White cria na
questão da porta fechada de forma diferente de outros, inclusive seu esposo e José Bates,
pelo menos antes de 1851(DOUGLASS, 2001 p. 502)
13
A despeito de tudo que se escreveu, porém, a respeito da porta fechada, foi deixado
de fora, inclusive por DOUGLASS, a resposta às perguntas: Quem eram os acusadores de
Ellen G. White listados como testemunhas por diversos escritores? Quais eram suas
ligações com a pessoa de Ellen G. White ou a sua fé? Com base nos testemunhos dessas
pessoas poderia se afirmar que Ellen G. White teria tido realmente uma visão da porta
fechada?
14
2. ANALISANDO AS AFIRMAÇÕES DE ANDERSON E SEUS AUXILIARES
2.1 Verificação de nossas hipóteses.
Ao analisarmos os diversos autores que se propuseram a avaliar o dom profético de Ellen
G. White à luz de nossas hipóteses propostas na introdução desse trabalho, verificamos
que, no primeiro caso, uma incompreensão seguida de uma confusão sobre o que é a porta
fechada e o que era a crença de Ellen G. White antes de sua primeira visão, levou pessoas a
afirmarem que ela teria tido uma visão sobre a porta fechada.
Primeiro precisamos esclarecer o que era a porta fechada na linguagem de White.
Ao que parece, nesse aspecto, Anderson pode ter cometido um anacronismo ao aplicar o
que para ele significa porta fechada a Ellen G. White, sem considerar o tempo, as
circunstâncias e o significado dessa expressão para ela. O que se pode perceber pela
investigação demorada de seus escritos é que a expressão “porta fechada” significou, para
ela, mais de uma coisa no período que vai de 1844 a 1852. isto parece ser exatamente o que
nos diz Herbert Douglas “O termo ‘porta fechada’ podia significar várias coisas para os
adventistas ex-mileritas. Para Ellen White, significava algo diferente. Tiago White e José
Bates redefiniram o uso do termo entre 1844 e 1852.” (DOUGLAS, 2001, p. 391) se
levarmos em conta que Ellen G. White também era uma milerita -e precisamos levar- até
1844, teremos que concluir que ela nesse período e logo após cria como eles. Entende-se
claramente que os mileritas criam a que porta da salvação havia se fechado para os que
rejeitaram sua mensagem, como bem se pode atestar pelas palavras de Ellen: “Por algum
15
tempo depois da decepção de 1844, mantive, juntamente com o corpo do advento, que a
porta da graça estava para sempre fechada para o mundo” (WHITE, 1958, p. 63). Vale
ressaltar aqui que os mileritas que continuaram crendo que Jesus iria voltar tinham em
mente que ele não deveria demorar, e é nesse contexto que eles acreditavam que sua obra
em favor do mundo estava terminada. Uma alternativa a este grupo era o que negava a
experiência de 1844, chamados de adventistas da porta aberta. White afirma que Deus,
então, dá a ela sua primeira visão e corrige a ambos: os da porta fechada estavam errados
(inclusive Ellen) por crer que a salvação se encerrara; e os outros, o grupo da porta aberta,
estavam errados por crerem que nada havia de importante em 1844. Assim ela relata sua
nova forma de ver.
“Foi em minha primeira viagem ao Leste a fim de relatar minhas visões que me foi revelada preciosa luz quanto ao santuário celestial, e foram-me mostradas a porta aberta e a porta fechada. Críamos que o Senhor estava prestes a vir nas nuvens do céu. Foi-me mostrado que havia uma grande obra a ser feita no mundo pelos que não haviam tido e rejeitado a luz. Nossos irmãos não podiam compreender isto em face de nossa fé no imediato aparecimento de Cristo. Alguns me acusaram de dizer que meu Senhor tarde viria, especialmente os fanáticos. Vi que em 1844 Deus abrira uma porta, e homem algum a podia fechar; e fechara uma porta, e homem algum podia abri-la. Os que rejeitaram a luz que foi trazida ao mundo pela mensagem do segundo anjo entraram em trevas, e quão grandes eram aquelas trevas!” (WHITE, Carta 2, 1874).
White faz alusão a um grupo de fanáticos, pessoas que criam na porta fechada de
maneira radical, e que sentiam sua crença ser ameaçada por ela quando falava de uma
grande obra a ser feita antes da volta de Jesus, o que implicava em pessoas serem salvas.
Logo, ela não recebeu visão sobre a porta da graça fechada, pois a visão que ela afirma ter
recebido dizia exatamente o contrário. A própria Ellen White nega ter recebido uma visão
sobre a porta fechada:
16
As declarações referentes à minha conduta em quarenta e quatro são falsas. Juntamente com meus irmãos e irmãs, depois da passagem de quarenta e quatro, realmente acreditei que não se converteriam mais pecadores. Nunca tive, porém, uma visão de que pecadores não mais se converteriam. E sinto-me livre para declarar que ninguém nunca me ouviu dizer ou leu de minha pena declarações que os justifiquem nas acusações que têm feito contra mim nesse ponto (WHITE, 1958, p. 74).
Se enquanto milerita Ellen tinha uma idéia da porta fechada como sendo o fim da
oportunidade para os pecadores, após a visão ela mudou a forma de pensar e a expressão
adquiriu um novo significado para ela. Qual seria, então, esta sua outra compreensão? Mais
uma vez precisamos buscar entender estes detalhes como se vivêssemos naqueles dias para
que, assim, possamos nos inteirar do que eles queriam dizer com certos termos. Dessa
forma estaremos mais próximos de saber o que de fato pensavam.
O que se depreende de um estudo mais demorado dos fatos que envolvem este
assunto é que a expressão “porta fechada” passou a ser a identificação do grupo que
aceitava que o movimento de 1844 era verdadeiro, enquanto que os que criam ser este um
movimento falso eram chamados de adventistas da porta aberta. Para Ellen G. White este
era o significado que a expressão “porta fechada” passou a ter mesmo antes de 1850, ainda
que fosse um significado de transição:
Para Ellen White, em 1847, a expressão-chave “porta fechada” significava que a mensagem de 1844 era válida e que a parte mais significativa dessa mensagem abriu a porta para uma maneira nova e clara de entender a mudança de ministério de Cristo no santuário celestial. A dupla ênfase na validade e na mudança de ministério de Cristo (em termos de santuário) funcionava agora como os dois lados da mesma moeda. Esse era o contexto imediato, a maneira como se entendia na época o conceito da porta fechada que Ellen White tinha em mente quando escreveu essa carta de 13 de julho de 1847 a José Bates.” (DOUGLAS, 2001, p. 568).
Bem, de posse desses dados dá pra se perceber que nesse caso nossa primeira
hipótese (a de que Ellen G. White teria tido uma visão da porta fechada) pode ser
17
descartada. Mas que dizer da segunda? (incompreensão do que seria “porta fechada” para
Ellen G. White).
Bem, nesse caso parece que já pode ser dito que pelo menos parte dela é verdadeira.
Pois ao que vimos Anderson deixou de entender pelo menos em parte o que foi dito sobre a
porta fechada. A parte em que aparece o pronunciamento de Ellen G. White ele não
compreendeu embora pareça ter compreendido muito bem o que disseram os seus
opositores. Como vimos ele aplicou o significado primário e aberto do termo porta fechada
sem considerar o que ele significava para Ellen G. White antes e depois de sua visão,
ignorou o que ela disse sobre a questão; ou seja, a sua afirmação de que nunca havia tido
uma visão sobre a porta da graça fechada em 1844 (não pelo menos nos termos de fim do
tempo da graça para os pecadores).
Além disso, Anderson parece fazer confusão entre crença pessoal, anterior à visão,
e crença derivada das revelações que Ellen G. White diz ter recebido. E isto precisa ser
considerado, pois a bíblia também faz esta diferença sem, contudo, negar que o profeta
fosse verdadeiro. Vê-se isto, por exemplo, no caso de Natã.
Um dia Davi disse ao profeta Natã: Veja só! Aqui estou eu, morando numa casa revestida de madeira de cedro, enquanto a arca da aliança está guardada numa barraca! Natã respondeu: Faça tudo o que quiser porque o Senhor Deus está com você. Mas naquela noite o Senhor disse a Natã: Vá e diga ao meu servo Davi que eu mandei dizer o seguinte: “Não é você a pessoa que deve construir um templo para eu morar nele. E Natã contou a Davi tudo o que Deus lhe havia revelado (II Samuel 7:2-5,17).
A crença pessoal de Natã, gerada pelo contexto de vida que ele tinha, era de que Deus
aceitaria que Davi lhe edificasse uma casa. Mas isto não fazia parte dos planos de Deus.
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Assim, apesar de tudo que Natã tinha visto Deus fazer por meio de Davi, e da dedicação de
Davi aceita por Deus, aqui nesse caso ele teve que dar meia volta e ceder em suas crenças
Pessoais, lugar para a crença gerada pela revelação de Deus. Portanto, assim que Natã
recebe as visões de Deus contrariando suas crenças, ele vai e dá a mensagem correta a
Davi. Sua crença antes da Visão era uma, e depois da visão outra que contrariava
completamente aquela. Isso não significa que Natã não era um profeta verdadeiro.
Assim, resta-nos analisar a última hipótese (a questão sinceridade nos
contemporâneos de Ellen). Seria o caso de os contemporâneos de Ellen G. White, não
terem sido inteiramente sinceros em suas afirmações? Bem, antes de responder a esta
pergunta precisaríamos verificar , conforme dissemos antes, que temos três tipos de fontes
testemunhais apresentadas por Anderson e fazermos diferenças entre elas.
2.2 Analisando as Fontes de Anderson
Nossa pesquisa revela que uma das modalidades de fontes testemunhais de
Anderson é composta de pessoas, que posteriormente não se relacionariam com o
movimento Adventista. Como exemplo, citamos Guilherme Miller: “ao advertir os
pecadores e tentar despertar uma igreja formal, cumprimos nossa obra. Em sua
providência, Deus fechou a porta; só podemos instar-nos mutuamente a ser pacientes”
(ANDERSON,[2000?a], p. 9).
Quem era Miller? Bem, ninguém mais, nem menos, que o fundador do movimento
milerita do qual Ellen fazia parte. Esta citação nos lembra que Miller cria que a porta da
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graça se fechara em 1844. Por isso, Anderson conclui que White também cria assim. E ele
está certo. Aliás, quem diz que ele está certo é a própria White. “juntamente com meus
irmãos e irmãs, depois da passagem de quarenta e quatro, realmente acreditei que não se
converteriam mais pecadores” (WHITE, 1958, p. 74). Mas, isto não significa que ela teria
tido uma visão na qual isso fosse confirmado; pelo contrário, ela afirma ter tido uma visão
na qual suas crenças em torno desse assunto foram corrigidas:
Por algum tempo depois da decepção de 1844, mantive, juntamente com o corpo do advento, que a porta da graça estava para sempre fechada para o mundo. Este ponto de vista foi adotado antes de minha primeira visão. Foi a luz a mim concedida por Deus que corrigiu nosso erro , e habilitou-nos a ver a verdadeira atitude. Creio ainda na teoria da porta fechada, mas não no sentido em que empregávamos a princípio a expressão ou em que ela é empregada por meus oponentes (WHITE, 1958, p.63).
E mais, ela diz claramente que nunca havia tido uma visão na qual Deus lhe mostrara que a porta da graça se fechara em 1844
“...com meus irmãos e irmãs, após da passagem do tempo em quarenta e quatro, acreditei que não mais se converteriam pecadores. Nunca, porém tive uma visão de que não se converteriam mais pecadores. E acho-me limpa e livre para declarar que ninguém me ouviu nunca dizer ou leu de minha pena declarações que os justifiquem nas acusações que me têm feito quanto a esse ponto” (WHITE, 1958, p.74).
Além disso, apesar de Miller ter suas palavras usadas por Anderson para gerar, com
elas, uma inferência de que Ellen G. White teria tido uma visão da porta fechada, ele
mesmo nunca declarou isto. Ou seja, Anderson faz aqui uma confusão: se Miller cria
assim, Ellen também cria e se cria, então ela teve uma visão e nesse caso, a visão dela era
falsa. A primeira parte de seu raciocínio está correta, mas a segunda parte dele vai além
dos fatos, contrariando as próprias palavras de Ellen G. White.
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A segunda modalidade de fonte usada por Anderson, composta de pessoas que se
mantiveram em ligação com o movimento adventista pode ser representada por Bates e
Otis Nichols. No caso de Joseph Bates, quem era ele? Um dos que passara pelo
desapontamento milerita, e que também tinha a crença da porta fechada. O que Anderson
cita dele nada diz que Ellen teria tido uma visão da porta fechada. Apenas diz que ele cria
assim. No caso dele, parece ter havido o mesmo que se deu em relação a Miller: uma
confusão baseada em uma inferência, nada mais. Logo após Bates, ele cita Otis Nichols
Quanto a este, suas palavras precisam ser analisadas pois parecem sugerir que Ellen teria
tido visão sobre o assunto.
Sua mensagem sempre era acompanhada pelo Espírito Santo, e onde quer que fosse recebida como de parte do Senhor, quebrantava e derretia seus corações como se fossem criancinhas, e alimentava, consolava, e fortalecia os débeis, e os animava a apegar-se à fé, e ao movimento do sétimo mês; e que nossa obra para a igreja nominal e o mundo estava terminada, e o que restava fazer era a favor da casa da fé. ANDERSON, [2000?a], p. 11).
No caso dessa carta de Otis Nichols para Miller, nada se fala de visão. Ele está
narrando a vida de Ellen G. White como portadora de uma mensagem de conforto no
sentido de animar na fé os que poderiam desanimar e vir a crer como os da porta aberta que
rejeitaram totalmente o movimento do sétimo mês como sendo sem importância. A própria
narrativa da visão mostra que esse era o objetivo de Deus com ela. Ele fala de visitas de
White com esse objetivo; que era confirmar a fé deles de que o movimento do sétimo mês
(que a esta altura já tinha sido apelidado de movimento da porta fechada; considerando que
já havia um outro grupo que se auto-intitulava porta aberta) era verdadeiro.
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A última parte da citação pode ter sido a conclusão de Otis em relação ao que Ellen
G. White disse e não exatamente o que ela disse. Ele relaciona sua carta com a primeira
visão de Ellen que nada fala de porta fechada. Mais uma vez parece ter havido uma
confusão da parte de Anderson entre o que White disse e o que disseram que ela disse.
Veja que Otis está narrando algo que ela teria feito e é muito comum nesse tipo de situação
as pessoas emitirem seu parecer embutido no que está narrando, mesmo sem perceber,
especialmente quando se tem pressuposições que podem ser misturadas.
Outro fato que precisa ser considerado é se Otis entendeu exatamente tudo que
White dizia. Mesmo hoje duas pessoas conversando fazem afirmações que são entendidas
de forma completamente diferente do que se intencionava, imagine então, analisar algo que
foi dito há mais de 150 anos sem que as pessoas estejam presentes para dizerem o que
realmente queriam expressar.
Nesse grupo precisamos analisar o que Anderson cita da própria Ellen G. White.
"Enquanto em Exeter, Maine, ao estar reunida com Israel Dammon, Tiago, e vários outros, e muitos deles não criam numa porta fechada. Eu sofri muito no início da reunião. A descrença parecia estar por todo lado. ...] Sentia-me muito, muito triste. Minha alma parecia em agonia o tempo todo, e enquanto ela falava, caí de minha cadeira ao chão. Foi então que tive uma visão de Jesus erguendo-Se de Seu trono de Mediador e indo para o Lugar Santíssimo, como o Noivo indo receber o Seu reino. Todos estavam profundamente interessados na visão. Todos disseram que era algo inteiramente novo para eles. O Senhor operou com grande poder estabelecendo a verdade em seus corações. [...] Quando eu saí da visão, meus ouvidos foram saudados com o cântico e clamores da irmã Durben em alta voz. A maioria deles recebeu a visão, e ficaram estabelecidos quanto à porta fechada. (ANDERSON, [2000?a], P. 11).
O problema de Anderson aqui deriva do fato já citado de que ele ignora o significado de
porta fechada para Ellen G. White. Como já mencionamos, a expressão teve um
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significado dinâmico para ela. Porta fechada aqui significava: continuação da crença na
veracidade do movimento do sétimo mês, aceitação de que Cristo saíra do santo para o
santíssimo no santuário celestial. Inclusive na própria narrativa citada que, diga-se de
passagem, fora feita entre adeptos da porta fechada, e ali se diz que esta forma de ver a
porta fechada (para eles que haviam espiritualizado o acontecimento de 1844 crendo que
Jesus havia vindo aos seus corações naquela ocasião. A estes foi mostrada a idéia de um
céu real e um cristo que ainda voltaria) era algo completamente novo (DOUGLASS, 2001
p.473). “Em Exeter, sem dúvida, ela estivera relatando sua primeira visão a um grupo de
adventistas da porta fechada, e reprovando seus líderes fanáticos e seus ensinos incorretos
a respeito de seu ponto de vista extremos obre a porta fechada” (DOUGLASS, 2001
p.503). O objetivo dela era conduzi-los de suas crenças extremadas na porta fechada a um
patamar elevado, verdadeiro e bíblico. Isto parece ser exatamente o que Douglass conclui.
Esses grupos a acolheram devido à mútua confiança na validade da mensagem e experiência do Clamor da Meia-Noite. O que eles logo perceberam foi que Ellen White estava tentando afastá-los da interpretação “deles” da porta fechada para uma compreensão “mais ampla” da porta fechada; ou seja, embora conservassem a validade do Clamor da Meia-Noite, deviam agora voltar-se para o futuro que se abria diante deles e aceitar a verdade divina que se desdobrava a respeito de toda a verdade sobre a mensagem e experiência do Clamor da Meia-Noite. Essa compreensão do mundo milerita de 1845 explica por que o registro do período (escasso, na melhor das hipóteses) parece indicar que Ellen White dedicou seu tempo a levar as boas novas apenas aos defensores da porta fechada e aos filhos destes. Quem mais lhe teria dado ouvidos? (DOUGLASS, 2001 p.503).
Isto parece bastante esclarecedor quando compreendido. Sentimos que Anderson tenha perdido a oportunidade de desenvolver esta partindo para uma visão radical de oposição a profetisa.
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A última modalidade de fontes usadas por Anderson é composta de pessoas que
romperam completamente com o movimento Adventista ou o com o que resultou do
milerismo ou mesmo de pessoas que nunca passaram por estes movimentos. Para estas
pessoas, o milerismo foi um erro, 1844 foi um erro, e o que daí derivasse deveria ser um
erro.
A primeira dessas pessoas chamava-se Lucinda S. Burdick. Quem era esta senhora?
Bem ela fora esposa de um pastor chamado John Howell, e diz ter sido alcançada pelo
milerismo (que erradamente ela identifica como movimento adventista), mas que só se
identificou com ele em 1845 e como ela diz, era batista de ascendência e convertida ainda
na infância.
“I am of Free Will Baptist parentage and was converted to the religion of
Jesus Christ when but a mere child. The influence of the Adventist movement of
1843 and 1844 reached me, but I did not understand their arguments nor was I in
any way identified with them until the year 1845. (BURDICK, 1908 p 1)
As informações da senhora Burdick são questionáveis por diversos motivos. Primeiro ela
era esposa de um ministro evangélico não adventista, que razões ela teria para ser honesta
com Ellen G. White? Ainda hoje os Adventistas do Sétimo Dia são chamados de seita, tem
suas crenças torcidas, por indivíduos que se consideram cristãos, e são rejeitados por
alguns em seus templos. Porque seria diferente naqueles dias? Outra coisa, esta senhora
acusa Ellen de participar de coisas que ela terminantemente falou contra como os
movimentos fanáticos surgidos após 1844.
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I became acquainted with James White and Ellen Harmon (now Mrs. White) early in 1845. At the time of my first acquaintance with them they were in a wild fanaticism, -- used to sit on the floor instead of chairs, and creep around the
floor like little children. Such freaks were considered a mark of humility. (GRANT, 1877 p. 6)
Condenando este tipo de comportamento Ellen White diz:
“...pensavam que era errado trabalhar. Outros criam que os justos mortos haviam sido ressuscitados para a vida eterna. Alguns procuravam cultivar um espírito de humildade rastejando no chão como criancinhas. Outros dançavam e cantavam: ‘Glória, glória, glória, glória, glória, glória’, repetidas vezes. De vez em quando uma pessoa pulava para cima e para baixo sobre o soalho, com as mãos erguidas, louvando a Deus; e isso durava cerca de meia hora de uma vez. (WHITE, 1987 p.370, 371) Disse-lhes explicitamente que isto não era preciso; que a humildade que Deus queria... era... uma vida semelhante à de Cristo, e não... rastejar pelo chão. ... Deus ordenou que os seres por Ele criados deviam trabalhar. Disto depende a felicidade deles.(WHITE, 1915 p.86.) “muitas ocasiões em que esses fanáticos me pressionaram e instaram comigo, chorando e orando sobre mim, para que eu aceitasse essas cruzes, provas forjadas. Recusei-me totalmente a submeter meu julgamento, meu senso de deveres cristãos e a dignidade que devemos manter como seguidores de Jesus Cristo, a quem aguardamos para ser trasladados para o Céu ao receber o toque final da imortalidade.” (WHITE 1990 p. 229,230)
Assim parece ficar claro que não havia sinceridade da parte dessa senhora ao tratar com
Ellen G. White.
Ainda outro ponto a ser considerando é que a citação feita por Anderson advinda da
senhora Burdick é algo questionável. Se verificarmos os caminhos tomados pela senhora
Burdick dificilmente a reputaremos por digna de crédito; pois ela diz que ouviu através do
tio. Ela não verificou in locum. Analisemos: ela ouviu através do tio, relatou a Miles Grant
que escreveu, que foi citado por Anderson. Isto tem aparência de disse-me, disse-me.
Entendemos portanto, que nesse caso seu testemunho se invalida.
Outro testemunho citado é o de Isaac Wellcome, citado por Miles Grant:
"Amiúde, estive em reuniões com Ellen G. Harmon e Tiago White em 1844 e 1845. Várias vezes a sustive enquanto caía ao solo, -- às vezes quando
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desmaiava durante uma visão. Ouvi-a relatar suas visões destas datas. Várias foram publicadas em panfletos, dizendo que todos os que não apoiavam o
movimento de 1844 estavam perdidos, que Cristo havia abandonado o trono da misericórdia, que todos os que seriam selados o haviam sido, e que ninguém mais se arrependeria. Ellen e Tiago ensinaram isto por um ou dois anos. Recentemente, em suas visões publicadas, chamadas ‘Testemunhos,’ suas visões diferem amplamente, e contradizem suas visões anteriores direta e patentemente." (ANDERSON, [2000?a] P. 10).
Quem eram estes senhores? Isaac foi apresentado por Anderson como pastor
Adventista o que poderia levar alguém a pensar que ele era pastor dessa igreja, e isto daria
maior peso aos seus argumentos. Mas a verdade é que ele também era pastor da
denominação Advento Cristão, uma ramificação de 1844 que fazia oposição sistemática
aos Adventistas do Sétimo Dia. Este pastor nutria suspeitas contra Ellen G. White.
Interessante é que ele é citado por Miles Grant que tinha também a mesma posição e se
encontrava na mesma situação.
“I. C. Wellcome, um adventista da porta aberta e um dos primeiros historiadores da denominação Advento Cristão, escreveu em 1874 que Ellen White refletia a princípio os ensinos da porta fechada que predominavam ao tempo de suas primeiras visões. Escreveu, contudo, que ela mudou de opinião com o passar do tempo, suprimindo as declarações anteriores em que já não cria. Miles Grant, também cristão do advento, orador e editor da revista World’s Crisis, publicou em 1874 alguns editoriais que foram ampliados em seu livro The True Sabbath: Which Day Shall We Keep? Grant, apoiando-se fortemente na obra de Carver, adicionou alguns “testemunhos” que sustentavam a acusação de que Ellen White ensinara que não haveria mais conversões genuínas após 1844. (DOUGLASS, 2001 p.562)
Confirmando o que dissemos sobre a animosidade de Grant contra Ellen temos a seguinte
informação de Douglass:
Em dezembro de 1886, a Sra. White estava em Torre Pellice, Itália, realizando reuniões evangelísticas. Miles Grant, influente pastor cristão do advento, seguiu-a desde a América do Norte determinado a “desmascarar- lhe” as “pretensões”. No dia 4 de dezembro, sexta-feira à noite, Grant realizou sua reunião um andar acima de onde a Sra. White dirigia a sua – uma propaganda não muito boa para o público em geral a respeito dos adventistas norte-americanos! Grant havia feito o que pudera para reunir toda calúnia e animosidade daqueles que haviam sido
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reprovados pela Sra. White. Também havia recolhido uma lista de declarações deturpadas, que representavam enganosamente os adventistas do sétimo dia.
Consciente de que no período de apenas algumas horas em Torre Pellice ela não seria capaz de “desenganar” o povo, a Sra. White resolveu ignorar Grant. Decidiu “prosseguir buscando falar a verdade. ... Anelo que as pessoas vejam a verdade como é em Jesus.” . (DOUGLASS, 2001 p.524)
Vê-se então que nossa afirmação sobre os referidos senhores tem fundamento.
Eram pessoas que por discordarem de Ellen G. White faziam questão de apresentar
publicamente sua aversão a ela.
Sobre esta questão e as afirmações de Burdick e Miles Grant contra Ellen G. White
ela escreve:
“Testifico por meio desta, no temor de Deus, que as acusações de Miles Grant, da Sra. Burdick e outras publicadas em Crisis não são verdadeiras. As declarações referentes à minha conduta em quarenta e quatro são falsas. Juntamente com meus irmãos e irmãs, depois da passagem de quarenta e quatro, realmente acreditei que não se converteriam mais pecadores. Nunca tive, porém, uma visão de que pecadores não mais se converteriam. E sinto-me livre para declarar que ninguém nunca me ouviu dizer ou leu de minha pena declarações que os justifiquem nas acusações que têm feito contra mim nesse ponto. (WHITE 1985 p.74)
A terceira linha e fontes testemunhais apresentada de Anderson segue esta direção o
que nos impede de dar a elas o crédito que Anderson deu. Assim, podemos afirmar que
estas fontes não são sinceras em suas afirmações.
Alguém poderia perguntar: mas por que essas pessoas fariam isto, simplesmente por
ela não crer como elas? Lembremos que as maiores guerras que têm sido travadas, o são
por discordância de ordem religiosa. Se pararmos para pensar no tratamento que Jezabel
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deu aos profetas de Deus (I Reis 18:4) por não ser de sua fé, talvez entendamos esta
questão. Além desse exemplo, poderíamos citar o fato de Jesus ter sido alvo de contradição
(Lucas 2:34), chamado de glutão e beberrão (Mateus 11:19) Paulo foi tido por
profanador de templos e Jeremias por traidor.
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CONCLUSÃO
Depois de percorrer estas páginas até aqui rememorando o que apresentamos ao
início desse trabalho pudemos perceber que o testemunho pessoal de Anderson apresenta
muitas coisas que nos indicam que ele decepcionou-se com Ellen G. White por falta de
conhecimentos reais de seus escritos, que suas informações ali apresentadas nos deixam
ver que ele de fato teve um relacionamento conturbado com a fé adventista e que suas
conclusões equivocadas sobre o que Ellen G. White realmente ensinava precipitaram um
rompimento com este povo e sua profetisa.
Em nosso exame do capítulo “A Profetisa da Porta Fechada” de seu livro A Nuvem
branca descobrimos que Anderson teve grande dificuldade em diferenciar as crenças
pessoais de Ellen das suas crenças advindas da revelação; isto gerou naturalmente uma rota
que foi seguida por ele até o fim e que apesar de levá-lo aonde ele queria esta rota o fez
chegar exatamente a lugar nenhum.
Além desse aspecto, pudemos perceber o fato de que ele desconheceu ou ignorou o
sentido da expressão “porta fechada” para ela, desrespeitou o uso sincrônico dessas
palavras no contexto da existência de White, e devido a isto ele chegou a conclusões
bastante diversas das que teria chegado caso tivesse observado esses detalhes.
Além do mais, Anderson fez uso inadequado das fontes de primeira e segunda
modalidades, considerando as crenças daquelas pessoas como se elas fossem uma prova
de que Ellen G. White havia tido uma visão da porta fechada.
As declarações de Ellen G. White foram compreendidas num aspecto que parecia
descontextualizá-las e, finalmente, ele fez uso de fontes as quais chamamos de fontes de
terceira modalidade que por si só já deveriam ter sido rejeitadas, pois as mesmas já haviam
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sido declaradas como indignas de crédito pela própria Ellen G. White e por isso se
mostraram ineficazes para o fim que ele pretendia.
Assim, podemos afirmar que a análise de Anderson não prova que Ellen G. White
teria tido uma visão na qual Deus Lhe mostrara que a porta da graça se fechara para os
pecadores em 1844.
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