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Cad. 4 / Página 178 TJBA – DIÁRIO DA JUSTIÇA ELETRÔNICO – Nº 897 - Disponibilização: segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013 MONTE SANTO VARA CRIME, JÚRI, EXECUÇÕES PENAIS, INFÂNCIA E JUVENTUDE PODER JUDICIÁRIO VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE MONTE SANTO/BA Fórum Rogaciano Cordeiro de Andrade - Rua Manoel Novais, 400, Centro, CEP 48.800-000 "Os Estados-partes tomarão todas as medidas de caráter nacional, bilateral ou multilateral que sejam necessárias para impedir o sequestro, a venda ou o tráfico de crianças para qualquer fim ou sob qualquer forma (Artigo 35, da Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela ONU em 1989 e vigente desde 1990, "(..) destaca-se como o tratado internacional de proteção de direitos humanos com mais elevado número de ratificações. Em maio de 2011, contava com 193 Estados- partes (..)" (Flávia Piovesan, Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, Saraiva, 13ª edição, 2ª tiragem, 2.012, pp, 281 e 587) (grifei). - processos....: 272-77.2011; 288-31.2011; 286-61.2011; 304-82.2011 - autores.........: Letícia Cristina Fernandes Silva e outros - réus...............: Silvânia Maria da Mota Silva e outros Vistos em sentença, Os autos tratam de ações de adoção de cinco irmãos, CRI_1, nascido em XX.02.2005, então com 6 (seis) anos de idade, CRI_2, nascido em XX.10.2006, então com 4 (quatro) anos de idade, CRI_3, nascido em XX.10.2008, então com 2 (dois) anos de idade, CRI_4, nascido em XX.12.2009, então com pouco mais de 1 (um) ano de idade, e CRI_5, nascida em XX.02.2011, então com pouco mais de 2 (dois) meses de vida, promovidas por Anderson Richard Pondian, Alessandra Pereira de Souza Pondian, Flávia Regina Cury Carneiro, Nelson Luiz Melecardi, Débora Brabo Melecardi, Marcelo Lopes Chbane e Letícia Cristina Fernandes Silva, nas quais, após emendas determinadas das iniciais, cumularam-se ainda as demandas de destituição de poder familiar dos demandados genitores Silvânia Maria da Mota Silva, Gerôncio de Brito Souza e de José Mário de Jesus Silva. Em todos os processos, em pouco mais de 24 (vinte e quatro) horas das respectivas proposituras das demandas, foi ab initio concedida guarda provisória e divisão do grupo de irmãos em favor dos demandantes, domiciliados em diversos logradouros e Municípios do Estado de São Paulo. O mesmo modelo de pronunciamento judicial, repetido em três, dos quatro processos de adoção, proferido em uma única audiência, sem a presença do MP, um dia após a indicada propositura das demandas (30.05.2011), ancorou-se somente em vislumbrada situação de risco que moveu o MP (ECA, artigo 98), em diversa e anterior sede (nos autos apensados nº 0000270-10.2011.805.0168), a postular a "(..) aplicação da medida de proteção prevista no artigo 101, VII, do ECA em favor dos menores (..)", com o encaminhamento das crianças, litteris "(..) pelo Poder Público Municipal, a abrigo em entidade competente (..)" (fl.04):

MONTE SANTO VARA CRIME, JÚRI, EXECUÇÕES PENAIS, …...Em face desta decisão, foi impetrado mandado de segurança e interposto agravo de instrumento pelos demandantes, bem assim

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Cad. 4 / Página 178TJBA – DIÁRIO DA JUSTIÇA ELETRÔNICO – Nº 897 - Disponibilização: segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

MONTE SANTO VARA CRIME, JÚRI, EXECUÇÕES PENAIS, INFÂNCIA E JUVENTUDE

PODER JUDICIÁRIOVARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE MONTE SANTO/BAFórum Rogaciano Cordeiro de Andrade - Rua Manoel Novais, 400, Centro, CEP 48.800-000"Os Estados-partes tomarão todas as medidas de caráter nacional, bilateral ou multilateral que sejam necessárias paraimpedir o sequestro, a venda ou o tráfico de crianças para qualquer fim ou sob qualquer forma (Artigo 35, da Convençãosobre os Direitos da Criança, adotada pela ONU em 1989 e vigente desde 1990, "(..) destaca-se como o tratado internacionalde proteção de direitos humanos com mais elevado número de ratificações. Em maio de 2011, contava com 193 Estados-partes (..)" (Flávia Piovesan, Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, Saraiva, 13ª edição, 2ª tiragem, 2.012,pp, 281 e 587) (grifei).- processos....: 272-77.2011; 288-31.2011; 286-61.2011; 304-82.2011- autores.........: Letícia Cristina Fernandes Silva e outros- réus...............: Silvânia Maria da Mota Silva e outrosVistos em sentença,Os autos tratam de ações de adoção de cinco irmãos, CRI_1, nascido em XX.02.2005, então com 6 (seis) anos de idade,CRI_2, nascido em XX.10.2006, então com 4 (quatro) anos de idade, CRI_3, nascido em XX.10.2008, então com 2 (dois)anos de idade, CRI_4, nascido em XX.12.2009, então com pouco mais de 1 (um) ano de idade, e CRI_5, nascida emXX.02.2011, então com pouco mais de 2 (dois) meses de vida, promovidas por Anderson Richard Pondian, AlessandraPereira de Souza Pondian, Flávia Regina Cury Carneiro, Nelson Luiz Melecardi, Débora Brabo Melecardi, Marcelo LopesChbane e Letícia Cristina Fernandes Silva, nas quais, após emendas determinadas das iniciais, cumularam-se ainda asdemandas de destituição de poder familiar dos demandados genitores Silvânia Maria da Mota Silva, Gerôncio de Brito Souzae de José Mário de Jesus Silva.Em todos os processos, em pouco mais de 24 (vinte e quatro) horas das respectivas proposituras das demandas, foi abinitio concedida guarda provisória e divisão do grupo de irmãos em favor dos demandantes, domiciliados em diversoslogradouros e Municípios do Estado de São Paulo.O mesmo modelo de pronunciamento judicial, repetido em três, dos quatro processos de adoção, proferido em uma únicaaudiência, sem a presença do MP, um dia após a indicada propositura das demandas (30.05.2011), ancorou-se somenteem vislumbrada situação de risco que moveu o MP (ECA, artigo 98), em diversa e anterior sede (nos autos apensados nº0000270-10.2011.805.0168), a postular a "(..) aplicação da medida de proteção prevista no artigo 101, VII, do ECA em favordos menores (..)", com o encaminhamento das crianças, litteris "(..) pelo Poder Público Municipal, a abrigo em entidadecompetente (..)" (fl.04):

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"(...) pelo MM. Juiz foi dito que: Pela petição inicial constante [d]os autos se faz desnecessária a inquirição dos pretendentesacerca da adoção. Ficam desde já advertidos que segundo o estatuto da criança e do adolescente a Adoção uma vezrealizada é feita de forma irrevogável criando vínculos indissociáveis. (..) Compulsando os autos de nº 270-10-2011.805.0168,foi determinado por este Juízo a medida protetiva em favor [das crianças]; EM RAZÃO DE EXPOSIÇÃO DE SITUAÇÃO DERISCO. Ausente nesta região qualquer instituição adequada para colocação [das crianças] segundo as determinações doECA e observado o firme propósito da Adoção, salienta-se que em face do princípio da proteção integral a colocação dacriança em ambiente familiar seja de forma provisória ou definitiva atende aos melhores interesse[s] desta. Pugna[m] osrequerentes pelo julgamento antecipado do feito. [N]o presente caso não há como se proferir sentença nesta assentadahaja vista que [as crianças adotandas possuem] genitores conhecidos impondo-se a necessidade formal de sua oitiva sobpena de nulidade da eventual sentença em detrimento do interesse de todos. Com essas considerações DEFIRO MEDIDAPROVISÓRIA E ANTECIPADA DE GUARDA [das crianças] em favor [dos autores] que efetivarão todos os deveres inerentes [à]responsabilidade e ao poder familiar segundo código civil vigente até ulterior determinação deste Juízo. A [fim] de viabilizara realização do comando sentencial meritório e observada a justificada ausência do Ministério Público determino a aberturade vista ao PARQUET ao tempo em que determino audiência de oitiva dos genitores conhecidos [das crianças] para colheitado depoimento destes e que será realizada independentemente da presença dos adotantes e [adotandos]. Determino aoCartório que proceda a efetivação da documentação necessária e caracterização da guarda inclusive para fins de viagem,matrícula em escolas e ou creches e todos os [de]mais atos inerentes [à] vida civil [dos adotandos], por exemplo plano[s] desaúde públicos ou privados, ficando advertid[a]s todas as instituições públicas ou privadas em negativa [à] observância erespeito [às] determinações relativas [às] guardas ora advertidas que a eventual desobediência importará na responsabilizaçãocivil e criminal respectiva (..)" (conferir, e.g., autos nº 0000286-61.2011.805.0168, fls. 21/22; autos nº 0000288-31.2011.805.0168,fls. 35/36; autos nº 0000304-82.2011.805.0168, fls. 56/57).Após paralisação dos processos por mais de 1 (um) ano e denúncia de graves vícios praticados no conjunto dos autos,veiculada pela imprensa deste Estado, foram finalmente deprecados estudos sociais junto às residências dos menores noEstado de São Paulo e realizadas quatro audiências neste Juízo (20.08.2012, 03.09.2012, 17.09.2012 e 26.10.2012), nasquais foram colhidas as oitivas de membros da família bioafetiva natural e extensa, quando, em contexto com prova docu-mental já anexada no conjunto dos autos, o Juízo avaliou, detidamente, sobre: a) o alegado risco e sua gravidade, ao qual seafirmou que permaneceram expostas as crianças; b) o consentimento dos genitores, ainda que oral e informal, perante oJuízo, ou mesmo expresso em algum documento, público ou particular; c) a prévia destituição ou mesmo suspensão dopoder familiar dos pais biológicos por sentença e em sede e forma própria, assegurado o contraditório e ampla defesa; d)anterior assunção de guarda de fato de quaiquer das crianças, por quaisquer dos postulantes; e) qualquer tipo de estágiode convivência e produção de estudo técnico social; f) aplicação precedente de medidas protetivas dirigidas ao fortalecimen-to da família e à rede estatal de apoio; e ainda g) a "comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifiqueplenamente a excepcionalidade" de colocação de grupo de irmãos em famílias substitutas distintas (ECA, art. 28, § 4º), tantomais por serem domiciliadas em outro Estado da Federação (SP).Retomado o curso dos procedimentos, espontaneamente vieram aos autos documentos diversos - porém não novos (CPC,artigos 397 e 485, VII) - sobre os quais puderam manifestar-se as partes (ECA, art. 152 e CPC, 398).Foi admitida nos autos a intervenção da Ilustrada Defensoria Pública do Estado da Bahia, que passou a funcionar naCuradoria Especial das crianças.Foram encetados inúmeros requerimentos pelo MP, acerca dos quais, analogamente, disseram as partes e a DefensoriaPública, e que, na ótica do parquet, buscavam o saneamento completo dos processos.Foi ainda produzido, a cargo do MP, consistente trabalho que avaliou as condições psicossociais da família bioafetiva baiana(ECA, artigos 162, § 1º e 167, caput), com qualidade (realmente) técnica até então inexistente no conjunto dos autos, laudoigualmente de ciência das partes e da curadoria especial.Diversos estudos sociais deprecados vieram anexados no conjunto dos autos, todos, analogamente, do conhecimento daspartes e dos intervenientes.Contestações dos réus vieram desacompanhadas de preliminares ou objeções, bem como de documentos.Tendo em conta a verificação de diversas nulidades ocorridas anteriormente à tomada do curso regular dos processos (emagosto de 2012), a decisão de 25.11.2012 revogou as guardas provisórias concedidas e determinou o retorno planejado emetódico das crianças para este Estado, o que restou efetivado em 19.12.2012, após acolhimento transitório e bem suce-dido junto a ONG Aldeias Infantis SOS Brasil, com o acompanhamento e supervisão irreprochável do MM. Juízo da Vara daInfância e Juventude de Santo Amaro/SP.Em face desta decisão, foi impetrado mandado de segurança e interposto agravo de instrumento pelos demandantes, bemassim foram opostos embargos de declaração pelo MP.Pelos autores foi ainda oposta exceção de suspeição imputada ao Órgão do MPBA, atuante nos processos, tombada nosautos apensados nº 0000936-74.2012.805.0168.Por fim, do que se pode ainda colher do in folio, relevante ao julgamento das ações, registrem-se os pedidos do demandanteMarcelo Lopes Chbane, de desistência da ação, e dos réus, de julgamento antecipado da lide, com esteio no CPC, artigos125, inc. II e 330, inc. I.Relatados, DECIDO.Antes do desenvolvimento dos fundamentos propriamente ditos destas 5 (cinco) sentenças (quatro com resolução domérito e uma sem resolução do mérito) (CPC, art. 458, inc. II e art. 459, caput, in fine), cabe pequena digressão sobre osembargos opostos pelo parquet em face da decisão de 25.11.2012, assim como acerca da exceção ritual de suspeiçãooposta pelos demandantes.Em face da decisão que revogou as guardas provisórias foram opostos tempestivos embargos de declaração pelo MPBA, aoargumento de que verbis "obscuridades e contradições pontuais devem ser extirpadas (...)".

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Sustentou o parquet, v.g., que na decisão embargada, de um lado, houve contradição, ora afirmando a existência, ora ainexistência de exposição das crianças a risco e, de outro, houve omissão quanto a não distinção do mais elevado risco aoqual exposto a então recém-nascida CRI_5, comparativamente ao risco ao que se encontravam submetidos os seus irmãos.Malgrado os embargos igualmente tenham perdido objeto (interesse, necessidade, adequação), com a prolatação daspresentes sentenças, e a despeito do seu certo improvimento que viria publicado pelo Juízo - não fosse pelo julgamentodestas demandas, com fundamento no art. 269, inc. I, do CPC -, apenas para que não remanesça padecendo o MP de dúvidainvencível sobre a motivação da decisão embargada, anoto que este magistrado não se deparou, nem quando da decisãorecorrida, de 25.11.2012, nem agora, com a entrega destas sentenças definitivas, com ação ou omissão imputável aosgenitores, ainda que não descritas adequadamente nas petições iniciais destes processos, que, em detrimento do bem-estar das crianças, pudessem constitucional e legalmente justificar a colocação destas crianças em família substituta,especialmente na forma de guardas provisórias, tal como especificamente concedidas nestes autos.Em outro giro, embora a exceção de suspeição oposta pelos autores, em face do membro do MP, da mesma forma, tenhaperdido objeto, seja em razão do excepto não mais atuar perante este Juízo, seja em razão do julgamento com resolução domérito destas demandas, é de se ressaltar a completa inadmissibilidade da exceção que viria, tanto quanto, publicada peloJuízo, já que, além de intempestiva (CPC, art. 138, § 1º), os motivos ali expostos pelos excipientes, manifestamente não sesubsumem em quaisquer das hipóteses de suspeição do artigo 135, incisos I ao V, c/c art. 138, inc. I, do CPC (ECA, art. 152),pela singela circunstância da Excelentíssima Promotora de Justiça, esposa do excepto, jamais ter funcionado nestes açõesde adoção c/c postulação de destituição do poder familiar, seja como parte, seja como interveniente ou fiscal da lei (CPC, art.82, incisos I e II; e ECA, artigos 201, inciso III, 202 e 204).Veja-se, sobremais, que das petições iniciais, mesmo após as emendas determinadas, não constou sequer suficiente"exposição sumária do fato" imputável aos genitores, dentre os legalmente admitidos como causa de perda do poderfamiliar (ECA, art. 156, inc. III).Poder-se-ia argumentar que os fatos imputados aos réus foram ao menos indicados, não se exigindo in casu sua descriçãodetalhada.No entanto, a par de não ser este o entendimento deste Juízo - que exige a descrição, no mínimo compacta, mas completados fatos na inicial, de modo a ensejar realmente amplo e concreto exercício da defeda pelo demandado -, fato é que nasexordiais destas ações não se encontram expostos fatos constitutivos do direito afirmado pelos demandantes, nem deforma sumária, nem por mera indicação (ou citação), nem e muito menos de modo detalhado.A despeito da possibilidade de pronto indeferimento de todas as iniciais e subsequente extinção dos processos semresolução do mérito (CPC, artigos 267, inc. I, 282, inc. III, 284, e 295, inc. VI; ECA, artigos 152 e 156, inc. III) e da inexistênciade fatos controvertidos, tecnicamente falando, em homenagem justamente aos princípios da instrumentalidade das formase do melhor e superior interesse das crianças, este Juízo ainda buscou debruçar-se sobre todo o já extenso acervo deprovas disponíveis, a fim de assegurar-se da efetivação, sobretudo, do postulado da precaução e proteção integral dosmenores, quanto ao exercício responsável ou não do poder familiar pelos genitores demandados em sua plenitude (CF, art.227, caput).Posto isso, sigo para o julgamento (já tardio) destas demandas.Em petição de 04.02.2013, os demandados, acertadamente, postularam o imediato julgamento dos processos, quando, deforma lapidar, sustentaram verbis:"(...) numa detida análise dos citados autos, os Autores NÃO DEPOSITARAM O ROL DE TESTEMUNHAS quando do ofereci-mento das suas Iniciais, o que significa então que não podem mais fazê-lo dado que a oportunidade para tanto precluiu.(..) Os autores, ao não depositarem o rol de testemunhas na oportunidade legalmente definida, perderam o direito paratanto, não existindo mais necessidade de audiência para melhor instruir os citados processos, uma vez que a prova jácolacionada aos autos é suficiente o bastante para satisfazer uma intenção cognitiva deste Juízo.Nesta oportunidade dispensamos a oitiva dos Autores, mesmo porque, corrigida a absurda ilegalidade com o retorno dascrianças para a família bioafetiva, a qual possui condições de protegê-los, educá-los e criá-los segundo as disposiçõesconstitucionais e estatutárias, não há mais interesse nos seus depoimentos pessoais.(..) Os laudos iniciais - Conselho Tutelar e CREAS - sequer foram suficientes para sustentar a guarda provisória dos Autores,a fortiori não sustentarão a perda definitiva do poder familiar.De mais a mais, por nossa percepção, os estudos sociais realizados com as partes atestam, de um lado, as ilegalidadescometidas (vide a autora Flávia Regina in excerto destacado na decisão revogatória da guarda provisória) e, de outro, ascondições da família bioafetiva em receber as crianças.(..) Repise-se que não há mais necessidade de dilação probatória em função dos autos serem uma pletora de documentose depoimentos que nitidamente satisfarão o Julgador para uma sentença justa e imparcial; o contrário seria desafiar oprincípio da economia processual e levar estes processos adiante de forma inútil, contraproducente e despropositada,contrariando o disposto no art. 125, II do CPC, que determina ser dever do juiz velar pela rápida solução do litígio.Assim, os Demandados, ao dispensarem o depoimento pessoal, estando preclusa a produção de prova testemunhal erealizados os estudos sociais, requerem a V.Exa. O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE (...)" (negritei).De fato, estes feitos comportam julgamento antecipado, com fundamento no CPC, art. 330, inc. I, segunda parte (ECA, art.152), o fazendo agora o Juízo, pelos fundamentos seguintes, para julgar de imediato as ações de destituição de poderfamiliar e de adoção improcedentes.A destacada anormalidade das decisões iniciais, ulteriormente declaradas nulas, acabou por chamar a atenção, não semrazão, não só dos munícipes, mas também dos movimentos sociais, de órgãos de defesa dos direitos e interesses dacriança, Estaduais e Federais, da imprensa escrita de maior circulação e saída no Estado e passou a ter a alentadacobertura da maior emissora de televisão em operação no País, em diversos núcleos de jornalismo e de outros destacadosmeios de comunicação de massa por todo o Brasil.

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Sem embargo da preterição da ordem de inscritos em Cadastros Estadual e Nacional (ECA, 50, §§ 5º, 11º e 12º), da falta decompetente mandado que instrumentalizasse e legitimasse a busca e apreensão das crianças (ECA, art. 152 e CPC, artigos839, 842, 888, inc. V, e 889) - ao menos regularmente autuado em quaisquer dos autos físicos dos processos de adoção -em típica manifestação autoritária e apartada de aspirações (e inspirações) humanitárias e democráticas, como que infensasà uma improvável repreensão e ao controle social, aconradas apenas em força pública militar, tais manifestações judicantesinvestiram os postulantes no munus da guarda provisória "do dia para noite", porém sem lastro em quaisquer situaçõesgraves e extremas de risco de violação ou de lesão aos direitos fundamentais das crianças e, não bastasse isto, contra anotória e berrante vontade dos ora demandados, que, ressalte-se, encontravam-se em pleno exercício do poder familiar,óbices fáticojurídicos então intransponíveis à concessão das guardas, tal como deferidas aqui, tudo de plena ciência dosautores.Os pronunciamentos judiciais em tela foram ao final declarados absolutamente nulos, uma vez que ausentes in concreto,por meio e elemento de prova lícito, adequado e necessário, nada mais nada menos do que, cumulativamente, praticamentetodas as circunstâncias fáticojurídicas que os pudessem legitimar - em desacordo com praticamente todas as regrasnormativas legais e diretivas principiológicas, desde que tendo presente, obviamente, a necessária ideia hermenêutica desuperioridade e protagonismo axiológico da CF, e da unidade e constitucionalização do direito civil (v.g., CF, artigos 1º, inc. III,5º, cabeça e §§ 1º ao 3º, 226, caput, §§ 3º e 4º, 227, cabeça e §5º; ECA, 3º, 4º, caput, 5º, 6º, 15, 17, 18, 19, cabeça e § 3º, 23,parágrafo único, 24, 25, 28, §§ 3º ao 5º, 33, § 1º, 39, § 1º, 45, caput e §§ 1º, 2º e 4º, 70, 72, 100, incisos I, II, IV, V, VII, VIII, IX, X,101, incisos II, IV, V, VI, § 2º, 102, 148, parágrafo único, a e b, 153, parágrafo único, 155 e ss., 166, §§ 1º ao 6º e 169; CC/2002,artigos 1.637 e 1.638; e Lei nº 12.010/2009, art. 1º).Luciano Alves Rossato, Paulo Eduardo Lépore e Rogério Sanches Cunha, sobre a necessidade, por exemplo, de interpre-tação sistemática do novel art. 153, do ECA, já advertiram:"(...) em muitas vezes, é possível perceber a utilização desmedida da regra, valendo-se dela para sumária retirada dos filhosde seus pais, muitas vezes, simplesmente porque não têm condições materiais de criá-los, ou, em razão da soma dessemotivo a outro como a falta de amparo do Estado, de políticas públicas dos Municípios, dentre outros.Não sem razão, as defensorias mostram-se atentas a essa situação. A título de exemplo, a Defensoria Pública do Estado deSão Paulo recomenda aos seus defensores, a necessidade de fazer com que seja observado o contraditório e a ampladefesa nesses procedimentos (Tese 36 para o II Encontro Estadual).Como se percebe, o que o dispositivo autoriza é a flexibilização do procedimento, ou seja, que o juiz adeque o procedimentocaso não haja um específico, e não exclusão de um procedimento judicial formal, em que devem ser asseguradas asgarantias do contraditório e da ampla defesa. A retirada da criança e do adolescente de sua família natural é medidaexcepcional, a ser devidamente controlada por meio de um procedimento contencioso.Por esses motivos foi inserido o parágrafo único no art. 153 do Estatuto, segundo o qual o disposto no caput não se aplicapara o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de origem e em outros procedimentos necessaria-mente contenciosos.Mais uma vez, a fala do legislador tem sentido pedagógico.Com efeito, o que o disposto no art. 153 autoriza é a flexibilização do procedimento, ou seja, a sua readequação. Ocorre quetal readequação, por ser mal utilizada, implicava em injusto afastamento da criança e do adolescente de sua família natural,sem a existência prévia de um processo contencioso.Desse modo, o que se proíbe com a norma não é a flexibilização - essa um bem para as partes e para o processo -, mas sima utilização indevida dos procedimentos apuratórios que muitas vezes correm como meros expedientes administrativos,sem a observância do contraditório e da ampla defesa.Destarte, para a inclusão de uma criança, por exemplo, em programa de acolhimento familiar, implicando-se em retirada dafamília de origem, deve-se observar procedimento contraditório, com todas as garantias dele inerentes" (Estatuto da Crian-ça e do Adolescente Comentado, artigo por artigo, RT, 3ª edição, 2012, pp. 430/431) (negritei e sublinhei).Tendo em conta, inclusive, o quanto constou do prontuário de CRI_5, datado de 08.05.2011, arquivado junto ao HospitalMunicipal Monsenhor Berenguer - HMMB, disponível e acessível ao Juízo, como também às partes, aos seus advogados eao MPBA tanto quanto - que relata a chegada da menor no hospital nos braços da mãe, com aspecto geral limpo, comsintomas de diarréia e vômitos, devidamente tratados, seguida de evolução sem queixas (10.05.2011) e alta (11.05.2011) -, este magistrado, de fato, não se deparou, tampouco, com elementos probatórios no conjunto dos autos, respeitantes afatos jurídicos exigentes de uma excepcional, inadiável e proporcional tutela judicial que se revele, extreme de dúvidas,constituir-se em verossímel concreção direta dos princípios inferidos dos artigos 5º, inc. XXXV, e seus §§ 1º ao 3º, e 227,caput, da CF/88, em proeminente intervenção do Estado-Juiz destinada à válida e eficaz precaução e salvaguarda dosdireitos fundamentais de quaisquer dos menores.Muito ao contrário, o que se viu foi uma abrupta e drástica, no limite, colocação destas crianças em diversas famíliassubstitutas, domiciliadas em diversos logradouros e em outro Estado da Federação (SP), com separação do grupo indivisode irmãos, na forma de guarda provisória liminar, em detrimento do poder familiar e independentemente da inexistência doconsentimento dos seus genitores.Como desenvolvido e timbrado na decisão de 25.11.2012, que declarou a nulidade das decisões que concederam aspolêmicas guardas provisórias, em favor dos autores, e determinou o retorno planejado e metódico das crianças para afamília bioafetiva, neste Estado:"(...) se de um lado a detectada situação de risco, antevista pelo MPBA, pudesse justificar a adoção ou imposição de uma oude algumas das medidas protetivas legais endereçadas às crianças - como entendeu o parquet - e à família natural (cf., e.g.,ECA, artigos 101, incisos I, II, IV, VIII, e 129, incisos I, II, III, e IV), de outro não se apresentava com potência bastante queautorizasse a concessão, pelo Juízo, das guardas provisórias, especialmente tal como concedidas nestes autos.(…) além de não se terem verificado nos autos outros requisitos autorizadores da colocação liminar de grupo de crianças

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irmãs em famílias substitutas distintas, domiciliadas em outro Estado da Federação, em verdade, ao menos a embasarconstitucional e legalmente a concessão das guardas provisórias, para o fim, no tempo, lugar, e na forma como aquisucedido, nunca houve, ainda, a (i) propalada exposição das crianças à situação extrema e grave de risco, de que tratam, porexemplo, os artigos 19, § 3º, 23, parágrafo único, 28, § 4º, 39, § 1º, ou o art. 157, do ECA.A par da situação de risco inexistente, como dito outros pressupostos fáticos e jurídicos para a legal concessão liminar deguardas provisórias em processos de adoção como estes em tela não foram aqui detectados.As decisões desconsideraram, em todos os processos, a necessária e indispensável precedente (ii) oitiva dos ascenden-tes e o necessário e indispensável precedente (iii) consentimento dos pais biológicos tomados em assentada judicialespecífica para esses fins, bem como foram completamente indiferentes à situação e posição jurídica dos genitores,enquanto na plenitude do exercício do (iv) poder familiar, que, até então, restava-lhes intocável (ECA, 21, 22, 24, 45, cabeçae seu § 1º, 101, § 2º, 161, § 4º, 165, inc. III, in fine, e seu parágrafo único, 166, §§ 1º ao 7º, e art. 169; CC, artigos 1.635 e ss.),muito ao contrário do que falsamente foi alegado nas respectivas petições iniciais e, não bastasse, repetido no curso dosprocedimentos (conferir, v.g., fl. 65, dos autos nº 0000304-82.2011.805.0168) (CPC, artigos 14 e ss. [ECA, art. 141, § 2º]).Os mesmos pronunciamentos judiciais, em três dos quatro processos litispendentes, desconsideraram a obrigatória (v)intervenção do Ministério Público, que, na maioria dos autos, além de não ser chamado a intervir desde o início dosprocessos, apenas restou intimado das decisões que concederam as guardas mais de 12 (doze) meses depois e, aindaassim, apenas depois que tais decisões passaram a sofrer severas críticas veiculadas na imprensa escrita regional (ECA,artigos 152, 153, caput, in fine, 157, 161, caput, 162, caput e seu § 2º, 166, §§ 1º e 3º, 168, 169, 201, incisos III e VIII, 202, 203e artigo 204; CPC, artigos 82, inc. I, 84 e art. 246) (conferir, v.g., fl. 60, dos autos nº 0000286-61.2011.805.0168; fl. 75, dosautos nº 0000288-31.2011.805.0168; fls. 59, verso, e 67, dos autos nº 0000304-82.2011.805.0168).As decisões de guarda, outrossim, foram baixadas sem que dos autos constassem, previamente, os indispensáveis (vi)estudos sociais ou perícias elaboradas por equipes interprofissionais, em tudo e por tudo exigíveis in casu, uma vez que,repita-se, o Juízo tinha plena ciência de que as postulações liminares, prontamente acolhidas, pretenderam que crianças,as quais não se encontravam sob cuidado ou guarda de quaisquer dos postulantes, fossem levadas, não bastasse esobremais, para outro Estado da Federação, e em apenas 1 (um) dia após a propositura das ações de adoção (ECA, artigos28, § 5º, 46, caput e seus §§ 1º, 2º e 4º).Seguindo, as decisões que concederam as guardas a entidades familiares distintas, ainda que provisoriamente,desconsideraram a circunstância de que os adotandos formam (vii) grupo indiviso de irmãos, que não poderia ser separa-do, diante da completa inexistência nos autos da ressalva legal ("comprovada existência de risco de abuso ou outra situaçãoque justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa"), decorrendo daí violação direta ao prescrito no ECA,artigo 28, § 4º.Some-se que, no contexto processual específico em que se deram as guardas provisórias - desimportando totalmente paraa consideração sobre a ocorrência de nulidade absoluta nos procedimentos, sua natureza provisória ou revogável - fato éque se viu que às decisões multimencionadas não precedeu o exigível (viii) esgotamento de todos os esforços e tentativasde manutenção das crianças junto à sua família natural ou extensa, o que poderia ser alcançado não só com a indispensá-vel oitiva anterior dos genitores e dos avós dos menores, mas também com a ordem de inclusão dos envolvidos emprogramas de auxílio e políticas públicas, referidas, v.g., nos artigos 19, § 3º, 23, parágrafo único, 101, incisos II, IV, V e VI, e129, incisos I a IV, do ECA.A síntese do processado até o momento da concessão ilegal das guardas, assim como dos transtornos psicossociaispossível e previsivelmente impingidos às crianças (inclusive, como indica a experiência (presunção comum), aquelesproduzidos em ambiência enfrentada pela Lei nº 12.318/2010), decorrência da prematuridade e violência das medidasjudiciais determinadas, consta em linguagem bem simples e acessível, inclusive ao leigo, de fragmentos dos estudossociais deprecados às Comarcas no Estado de São Paulo, conforme se infere da transcrição seguinte:"(...) O casal relatou que através de uma amiga, moradora da cidade de Indaiatuba/SP, teve conhecimento a respeito decrianças da Bahia, que estariam sofrendo maus[-]tratos e que havia possibilidade deles adotarem (sic).Segundo Alessandra, soube que 'o pai das crianças era alcoólatra e a mãe, dependente químico e que as crianças passa-vam fome e apanhavam' (sic).Os requerentes afirmaram que fizeram contato telefônico com o Fórum de Monte Santo/BA, através do qual confirmaram asinformações a respeito da situação das crianças e foram orientados a formalizar o pedido de adoção.Após enviar os documentos solicitados, o casal requerente se dirigiu à cidade de Monte Santo para audiência no Fórum, em01 de junho de 2011. Nesta data, foi-lhes concedida a guarda provisória de Daniel e Ricardo e no mesmo dia, os conhece-ram e em seguida, viajaram com eles para Campinas/SP (fl. 61).(...) Em contato lúdico com os dois irmãos, na sala de brinquedos da Vara da Infância e sem a presença dos requerentes,Daniel e Ricardo brincaram e interagiram conosco. Questionados, disseram que moravam na Bahia com 'Gerôncio' e'Vaninha'; perguntei se tinham saudades de lá, responderam que sim, mas Daniel mudou de assunto afirmando: 'não querofalar sobre isso' (sic).Considerações finais:Pelo que nos foi possível avaliar, sob o ponte de vista social, Daniel e Ricardo encontram-se sob a guarda de Anderson eAlessandra há um ano e quatro meses. Através dos relatos apresentados, parece-nos que a mudança ocorreu de formarepentina, sem preparação prévia, e de início, as crianças enfrentaram dificuldades para se adaptar e absorver a novasituação que se configurava e o contexto de vida em que foram inseridos. No presente momento, após todo este tempo deconvivência, observa-se que os irmãos Daniel e Ricardo parecem adaptados à dinâmica familiar dos requerentes.As crianças, atualmente, demonstram vir recebendo os cuidados necessários por parte dos requerentes. Estes parecem virassumindo a função de 'pais', assistindo-as em todos os aspectos. Evidentemente, os requerentes vêm oferecendo aosmeninos condições de vida de acordo com o padrão de vida deles e suas condições sócioeconômicas" (conforme autos da

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deprecata registrada em São Paulo sob nº 114.01.2012.055139-0/000000-000, junto ao MM. Juízo da Vara da Infância e daJuventude da Comarca de Campinas/SP) (fls. 62/63) (destaquei e sublinhei)."(...) A requerente refere que teve interesse pela adoção de Danilo após saber notícias da possível adoção da referida criançaatravés de uma conhecida, Sra. Hérica Maziero e que no momento já emocionada com a possibilidade de adotar um filhoquis saber dados sobre a criança, estado de saúde, condições psicológicas e familiares e o fator mais importante emrelação à destituição do poder familiar em relação à família de origem. Soube que Danilo teria mais irmãos que tambémseriam adotados por famílias substitutas desta cidade de Indaiatuba e Campinas/SP.Através das informações obtidas efetuou contato com um profissional advogado para que ingressasse com o pedido deadoção referente a Danilo inclusive com a tentativa de obter informações com Assistente Social do Fórum local, porémefetuou contato com a cartorária Célia. Flávia na ocasião com a possibilidade de ter Danilo como filho de pronto teve ainiciativa de comunicar seus familiares sobre a criança em tela e já viabilizar informações quanto à inclusão do mesmo emseu convênio médico tão logo Danilo passasse a residir em sua companhia (sic). Flávia relata que 31.05.2011 com viagemprogramada para a cidade de Monte Santo compareceu no Aeroporto de Viracopos citando que lá estavam as demaisfamílias que foram convocados para adotarem os referidos irmãos. Após chegarem na cidade de Euclides da Cunha,hospedaram[-se] em uma pousada para aguardarem o dia seguinte quando encontraram no local Sra. Carmem acompa-nhada do esposo (..) A audiência no Fórum para entrega das crianças inclusive Danilo estava agendada para 01.06.2011.Dirigiram-se ao Fórum todos juntos e lá passaram o dia todo. Flávia solicitou os processos para ler na íntegra e foi então quedescobriu que o poder [familiar] não tinha sido [desconstituído] ainda, entretanto havia despacho da promotora requerendoo encaminhamento das crianças para um Abrigo como medida protetiva diante do abandono e maus[-]tratos que vinhamsofrendo, fato que gerou muita insegurança em todos os adotantes, sobre a concretização ou não da guarda provisóriaprevista. Conforme relato da requerente, Sra. Flávia por volta das 15Hs. o Juiz Vitor Bizerra deu início à audiência coletiva paraanalisar os documentos juntados, ouvir, instruir os adotantes e conceder o termo de guarda provisória a todos os interessa-dos referentes aos 4 irmãos (..)O Juiz determinou que os policiais locais e o conselho tutelar daquela cidade [se] dirigissem até o local de moradia dafamília das crianças em tela para [que] os trouxessem ao Fórum e posteriormente serem entregues às famílias que osassumiriam (sic).Enquanto os policiais saíram o Juiz conversou novamente com todos os presentes, conscientizando-os dos possíveistraumas das crianças (..)Por volta das 18:15 naquela data as crianças chegaram ao Fórum acompanhadas com os policiais e conselheiros tutelaressendo entregues às respectivas famílias que os aguardavam. Ricardo e Luan foram trazidos posteriormente. Flávia aoperceber a chegada das crianças perguntou quem era Danilo para que o recebesse no colo e assim o fez.Conforme relato da requerente as crianças chegaram assustadas com os olhos arregalados, não apresentavam choro(sic). As crianças foram recebidas e acolhidas pelas famílias nas dependências do Fórum, sentaram no chão e ali ficarampor uns 10 minutos sob os olhares atentos do Juiz e dos Conselheiros Tutelares.Encerrados os procedimentos das entregas formal a requerente [e] as demais famílias e Flávia se dirigiram à pousada coma programação de retornarem no dia seguinte às cidades de origem (..)" (conforme autos da deprecata registrada em SãoPaulo sob nº 1248.01.2012.012481-4/000000-000, junto ao MM. Juízo da Vara da Infância e da Juventude da Comarca deIndaiatuba/SP) (fls. 77/78) (destaquei e sublinhei).Os pronunciamentos judiciais em pauta, ao fim e ao cabo, acabaram por ferir de morte todo o arcabouço de direitos egarantias das crianças asseguradas na CF/88, no ECA, como, por exemplo, os que dizem com o seu direito de conviver entreos seus, junto à sua família natural ou extensa, de vivenciar, interagir e se desenvolver em meio a sua terra e cultura natal(e.g., conferir ECA, artigos 3º, 4º, 17, 19, caput, e seu § 3º, 23, 28, § 3º, 33, § 2º, 39, cabeça e seu § 1º, 50, § 13º, inc. III e § 14º,58, e 153, parágrafo único).Igualmente, a decisão liminar de guardas violou o quanto ratificado em extenso rol de instrumentos normativos internacio-nais (CF/1988, art. 5º, §§ 1º ao 3º; cf., e.g., Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela ONU em 1989 e vigentedesde 1990; Decretos 99.710/90, 5006 e 5007 de 2004; Convenção de Viena), como também o conteúdo axiológico eprogramático, declarado no recente Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentesà Convivência Familiar e Comunitária, adotado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.Nessa senda, relevante ressaltar que os vícios até aqui relacionados, per se, não só determinam a nulidade das decisõesde guarda, mas também ensejam com mais razão a operação de modulação dos efeitos da declaração de nulidade, nareavaliação das tutelas de urgência dispensadas (ECA, art. 35).No sentido exposto, veja-se que, em trabalho significativamente mais fundamentado e robusto, mais completo do ponto devista técnico, comparado com os demais estudos anexados nos autos, o qual foi desenvolvido pelo Centro de ApoioOperacional da Criança e do Adolescente - CAOCA/MP-BA, assinalou o Serviço de Apoio Psicossocial - SAPS, por suasexperts, sobre a capacidade da família de origem receber as crianças em processo de reintegração, de modo a podergarantir-lhes os direitos normatizados na Lei nº 8.069/1990 - ECA, in verbis:"(...) Diante do acima exposto e da análise dos autos - inclusive dos relatórios entregues ao Fórum e ao Ministério Público deMonte Santo pelo Conselho Tutelar e CREAS do mesmo município - esta equipe compreende que:Tanto a visita domiciliar, quanto a institucional são instrumentos que possuem por objetivo conhecer a realidade do sujeitono seu contexto psicossocial, cultural e de relações sociais (…)Desse modo, considera-se que os relatórios construídos pelos órgãos supracitados apresentaram tão somente umadescrição sucinta e superficial de elementos, sem que houvesse a necessária e primordial leitura do complexo da realidadee da cultura na qual os sujeitos sociais estavam inseridos. Ademais, a família (nuclear e extensa) não foi ouvida, sendodesconsiderada em tais relatórios, os quais subsidiaram a colocação das crianças em tela nas famílias substitutas. Talprocedimento vai de encontro ao que postulam a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA no que

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se refere ao contraditório e à ampla defesa.Tendo em vista o conteúdo do relatório do CREAS (..) bem como um dos relatórios do Conselho Tutelar (..) foram identificadassituações passíveis de intervenção psicológica, de assistência social e de saúde, cujos encaminhamentos às políticaspúblicas pertinentes possivelmente evitariam a necessidade da medida extrema e excepcional de colocação em famíliasubstituta. No caso específico da criança Estefane, que estava em situação de risco (saúde fragilizada), como não háunidade de acolhimento institucional em Monte Santo, era realmente necessária a tomada de outra medida de proteção deemergência, o que foi feito imediatamente pelo Ministério Público.No entanto, o CREAS não realizou nenhum encaminhamento da família em questão para qualquer órgão/serviço, e oConselho Tutelar o fez apenas para o CRAS, porém não acompanhou o seu andamento. (..)De acordo com o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à ConvivênciaFamiliar e Comunitária:'É essencial mostrar que a capacidade da família para desempenhar plenamente suas responsabilidades e funções éfortemente interligada ao seu acesso aos direitos universais de saúde, educação e demais direitos sociais. Assim, umafamília que conta com orientação e assistência para o acompanhamento do desenvolvimento de seus filhos, bem comoacesso a serviços de qualidade nas áreas de saúde, educação e da assistência social, também encontrará condiçõespropícias para bem desempenhar as suas funções afetivas e socializadoras, bem como para compreender e superar suaspossíveis vulnerabilidades'.Assim, corroborando com o relato das conselheiras tutelares de Monte Santo em entrevista à esta equipe, quando estascolocaram que as crianças em questão deveriam retornar imediatamente à sua família de origem, levando-se em conside-ração as entrevistas realizadas à família (nuclear e extensa) - a qual demonstrou estar bastante fragilizada com a ausênciadas crianças e construiu diversas possibilidades para recebê-las assegurando todos os seus direitos fundamentais - bemcomo observando o ECA em seu art. 19, § 1º e 2º, e no art. 28, § 3º e § 5º (…), sugere-se o retorno imediato dessas criançaspara a sua família biológica (...)" (itálico no original, negritei e sublinhei).Na mesma quadra, não se concebe menosprezar contra legem, para a correta solução das questões agora postas, arelevância das nulidades verificadas, consequência da inobservância dos procedimentos e dos atos que são enunciadospelo ECA, olvidados na íntegra pelo Juízo, que formam um conjunto normativo de técnica cogente e de ordem pública voltado,especialmente - mas não somente - a acautelar ou a minimizar o risco subjacente e implicado justamente na entrega decriança ou adolescente fora das hipóteses legais, ou mesmo na entrega prematura de criança ou adolescente a pessoasdesonestas ou despreparadas para dispensar afeto e o exercício dos deveres inerentes à guarda ou adoção (v., e.g., ECA,28, §§ 3º e 5º, 29, 33, 42, §2º, in fine, 43, 46, caput, §§ 2º e 4º, 50, §§ 2º, 3º, 4º, § 13º, III, §14º, 165, parágrafo único, 166, §§ 1ºao 4º, e §6º, e 167).Consoante constou de Nota Técnica da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, acessível no http://portal.sdh.gov.br, já em 18.10.2012, in verbis:"(...) Colocadas as normativas, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República percebe, no caso emanálise, a atuação dos agentes envolvidos como contrária aos direitos das crianças em diversos aspectos pontuados aseguir:1 Violação do direito de ser criado no seio de sua família, dada a retirada abrupta das crianças do seu lar;2 A retirada das crianças de seu domicílio não permitiu a manutenção em sua família natural;3 A ausência de recursos materiais não justifica a retirada do poder familiar, sendo ilegal a retirada por esse motivo;4 Os vínculos entre grupos de irmãos são protegidos legalmente, sendo sua separação ilegal, à luz do Estatuto da Criançae do Adolescente;5 Para que se dê a retirada do Poder Familiar, devem ser esgotados os recursos de manutenção na família natural ou nafamília extensa ou ampliada. Não houve audiência para a oitiva dos pais, dos avós ou das pessoas pertencentes a famíliaextensa ou ampliada, dando a possibilidade de reintegração familiar para os mesmos;6 Para que se dê um processo de adoção, é necessária a autorização dos pais, e, em casos de adolescentes, deve serconsultada sua vontade;7 Para que se dê o processo adotivo, a família adotante deve passar por um curso ministrado pela Vara da Infância e daJuventude, bem como por período de convivência com a criança/adolescente, o que não aconteceu (..);8 Não há indicativos que as crianças estavam inscritas no cadastro estadual ou nacional de adoção, prerrogativa para quepretendentes de outros municípios ou estados possam solicitar a adoção. Não há informações de que os adotantestambém estivessem [inscritos] no Cadastro Estadual ou Nacional de Adoção;9 Não houve a participação do Ministério Público e o Juiz baseou sua decisão em um parecer técnico de uma AssistenteSocial, que alegava que a família negligenciava não encaminhando as crianças para a escola. Vale ressaltar que o Conse-lho Tutelar do município não encontrou irregularidades quando da visita à família;10 A [decisão] judicial que retirou as cinco crianças desrespeitou as legislações vigentes e o Plano Nacional de Promoção,Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária;11 Faz-se necessário ressaltar que o município de Monte Santo, de acordo com a Nota Pública do Fórum DCA/BA, encontra-se identificado como rota de tráfico de pessoas;12 É importante averiguar a ação de Carmem Topschall, como intermediadora de adoções na região, bem como a situaçãoda adoção de três crianças que estão sob sua guarda."Tendo em vista particularmente a situação menor de risco (ECA, art. 98), id est, situação não extrema de exposição dosmenores, e a finalidade imediata da tutela de urgência pleiteada, de condução das crianças de um mesmo núcleo familiarpara outro Estado, e sua colocação em distintas famílias substitutas, não se pode deixar de reconhecer que as decisões deguarda provisória foram, destarte, proferidas em flagrante error in procedendo - e não só judicando.A despeito do desajuste verificável ictu oculi no conjunto dos autos, entre a estampa jurídica normativa e abstrata regente de

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todas as lides postas e a desastrosa sucessão dos atos ordenados pelo Juízo - quando da concessão das guardas,materializada com a retirada abrupta das crianças de sua família e seu encaminhamento imposto para outro Ente Federa-tivo, onde passaram a conviver, não menos de forma obrigatória, com pessoas e em ambiente completamente estranhos -exsurge evidente ainda o (quantitativamente) imensurável dano ou prejuízo de toda sorte infligido aos menores, aos seuspais e avós, tanto na ótica material, tanto na processual dos respectivos direitos e garantias constitucional e legalmenteassegurados.A própria "Lei da Adoção", que em 2009 alterou intensamente o ECA, no seu intróito, deixa bem subentendido os marcosformais processuais e referidos danos, de dificílima ou impossível reparação, diante de violações do jaez dessas reporta-das no conjunto destes autos, ao prescrever:"Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o aperfeiçoamento da sistemática prevista para garantia do direito à convivência familiar atodas as crianças e adolescentes, na forma prevista pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e doAdolescente.§ 1º A intervenção estatal, em observância ao disposto no caput do art. 226 da Constituição Federal, será prioritariamentevoltada à orientação, apoio e promoção social da família natural, junto à qual a criança e o adolescente devem permanecer,ressalvada absoluta impossibilidade, demonstrada por decisão judicial fundamentada.§ 2º Na impossibilidade de permanência na família natural, a criança e o adolescente serão colocados sob adoção, tutela ouguarda, observadas as regras e princípios contidos na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e na Constituição Federal".Destarte, inquestionáveis a) os gravíssimos defeitos que destrataram, até a mais não poder, a validade dos atos processu-ais e procedimentos referidos, bem assim b) a ausência de atingimento dos escopos para os quais ditos atos encontram-se regrados no ordenamento jurídico ordinário ou infraconstitucional.Todavia, in casu, especialmente em razão da particularidade dos interesses e direitos indisponíveis envolvidos, bem assimdo tempo em que estas crianças se encontram em São Paulo, urge que o postulado da instrumentalidade das formas, emseu carregamento e dimensão teórica e pragmática mais hodierna, mais refinada pela melhor doutrina de processo civil,seja então aqui cuidadosamente prestigiado.Isto deve importar na certa publicação das nulidades, porém seguida da reavaliação das guardas já concedidas e efetivadashá mais de 16 (dezesseis) meses, preservando-se os demais atos nos procedimentos não arrastados pela eiva, modulan-do-se, assim, em um só tempo, não só os efeitos da declaração do vício absoluto, mas também da novel decisão querestabeleça, paulatinamente, a higidez e fruição pelos genitores dos poderes e deveres inerentes ao poder familiar sobre ascrianças (CC, art. 1.634; CPC, artigos 154 e 243 e ss.; ECA, artigos 6º, 152, 153, 166, §§ 4º e 6º e art. 204).Como já cediço, no estudo das nulidades no processo tem-se destacado a necessidade de aproveitamento dos atosimperfeitos, ou dos seus efeitos já produzidos, ainda que absolutamente nulos por determinação expressa na lei, desdeque, ausente prejuízo às partes, possam ter atingido os fins ou escopos perseguidos pela forma legal em particular e peloprocesso.Conforme ensina o eminente e sempre vanguardista querido Professor Cândido Rangel Dinamarco:"A consciência de que as exigências formais do processo não passam de técnicas destinadas a impedir abusos e conferircerteza aos litigantes (due process of law), manda que elas não sejam tratadas como fins em si mesmas, senão comoinstrumentos a serviço de um fim. Cada ato processual tem um fim, ou escopo específico, e todos eles em conjunto têm oescopo de produzir uma tutela jurisdicional justa, mediante um processo seguro. Tal é a ideia da instrumentalidade dasformas processuais, que se associa à liberdade das formas e à não-taxatividade das nulidades, na composição de umsistema fundado na razão e na consciência dos escopos a realizar. (..)Diante dessa trama, o ato não será nulo só porque formalmente defeituoso. Nulo é o ato que, cumulativamente, se afaste domodelo formal indicado em lei, deixe de realizar o escopo ao qual se destina e, por esse motivo, cause prejuízo a uma daspartes. A invalidade do ato é indispensável para que ele seja nulo, mas não é suficiente nem se confunde com sua nulidade.Até se compreende que o processo penal do Estado liberal do século XIX exacerbasse a legalidade no trato das nulidades,dada sua legítima preocupação em face dos abusos praticados por juízes inquisidores e totalitários. Naquele contexto foisaudável impor ao juiz o inevitável reconhecimento da nulidade, sempre que se visse diante de um vício catalogado pela lei.Hoje, com tantas garantias prestadas ao processo pela Constituição e com o generalizado engajamento de todos osprincípios que o regem, o culto a resquícios desse sistema implicaria redução dos poderes do juiz e não passaria dearbitrário impedimento à sua participação inteligente.A instrumentalidade das formas é uma regra de grande amplitude e não se limita às nulidades relativas, como insinua o art.244 do Código de Processo Civil. (..) O grande mérito desse dispositivo é a fixação da finalidade, ou escopo, como parâmetroa partir do qual se devem aferir as nulidades. A doutrina e os tribunais, todavia, com todo acerto desconsideram a aparenteressalva contida nas palavras sem cominação de nulidade, entendendo que, mesmo quando absoluta a nulidade e aindaquando esteja cominada pela lei, a radicalização das exigências formais seria tão irracional e contraproducente quanto emcaso de nulidade relativa (..)Diferem as técnicas e os critérios pelos quais se avaliam os defeitos dos atos processuais e se determinam suasconsequências, mas todas partem da inidoneidade do ato e, de um modo ou de outro, convergem à ineficácia do atodefeituoso. A lei e o intérprete põem as vistas no escopo a que cada ato é preordenado e na razão de ser das exigênciasformais a que sua eficácia é subordinada, como ponto de partida para a avaliação a ser feita (...)" (in Instituições de DireitoProcessual Civil, II, Malheiros, 6ª adição, 2009, pp. 615/616 e 627) (itálico no original, grifei e sublinhei).Na mesma linha doutrinária, a lição do preclaro Prof. José Roberto dos Santos Bedaque:"(...) mesmo a não-observância daquelas exigências formais plenamente justificáveis pode tornar-se irrelevante se nãohouver prejuízo ao fim visado pelo legislador. Prejuízo está intimamente relacionado com interesse na realização do objetivoprocessual, seja ele imediato, do ato em si, seja do próprio processo (fls.427/428).(..) é fundamental que o próprio sistema preveja mecanismos de flexibilização, para não tornar o processo sinônimo de

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formalismo inócuo. É o que se denomina de 'temperamentos', representados pelos princípios da instrumentalidade, daausência de prejuízo e da economia.O que importa, pois, é o resultado do ato, sendo a forma instrumento destinado a alcançá-lo. Sua atipicidade - isto é, a não-correspondência entre o que ocorre concretamente e o modelo legal abstrato - passa a ser fenômeno irrelevante se, nãoobstante isso, o resultado se verificar. A instrumentalidade da forma é mero reflexo interno da visão instrumentalista dopróprio processo (fl. 431).Estas ideias devem nortear a compreensão dos arts. 154, 244, 249 e 250 do CPC (fl. 432).Por isso, no estudo das nulidades importa muito mais a preocupação com a possível eficácia de um ato viciado que a buscade critérios seguros para determinação do tipo de nulidade, se relativa ou absoluta.Se adotada essa perspectiva, e estabelecida a premissa de que é possível desconsiderar qualquer tipo de vício, indepen-dentemente de sua gravidade, desde que atingida a finalidade desejada com a forma, reduz-se substancialmente a impor-tância da distinção entre essas duas espécies de nulidade.Esta conclusão abrange também as hipóteses de inexistência física ou jurídica de determinado ato processual. Nenhumafalha relacionada ao método abstratamente previsto pelo legislador assume importância maior que os objetivos visadoscom a imposição de alguma forma ou técnica. As razões determinantes de qualquer exigência processual prevalecem sobreo aspecto puramente formal. Atipicidade sem consequência danosa é atipicidade irrelevante (fl. 433).(..) Dúvida não pode haver de que a forma exigida para determinados atos, visando a assegurar as garantias constitucionaisdo processo, tem por fundamento o interesse público (fl. 451).(..) Não basta a simples afirmação de que a ausência do Ministério Público gera nulidade absoluta, independentemente daexistência de prejuízo a ser concretamente demonstrado. Trata-se de visão formalista do processo, incompatível com suanatureza.Não se deve exigir prova cabal do dano causado pela falta de intervenção. Basta a demonstração de que o promotor poderiater postulado a adoção de determinadas medidas, passíveis de influir no julgamento. Em outras palavras, a presença delepoderia, em tese, contribuir para que a relação de direito material dotada de interesse público fosse submetida a outroregime jurídico (fl. 454).(..) Contraditório nada mais é que garantia da ampla defesa examinada pelo ângulo do procedimento. É princípio lógico-formal do processo e tem a função de assegurar às partes a necessária paridade de armas, mediante o mecanismo dacontraposição de teses. As partes devem ter efetiva oportunidade de participação e defesa, antes de ser pronunciadoqualquer julgamento. Para o juiz, é instrumento de busca da verdade provável. Ainda que houvesse a Constituição mencio-nado apenas 'ampla defesa', o contraditório estaria abrangido. Contraditório é pressuposto de inviolabilidade do direito dedefesa, cuja observância constitui condição essencial para sua efetivação. Representam as duas expressões - 'defesa' e'contraditório' - visões diversas da mesma realidade, consistente em garantir às partes a possibilidade de real participaçãono desenvolvimento do processo, objetivando a tutela de seus interesses (fls. 484/485).(..) Se, por algum motivo injustificado, qualquer das partes foi impedida de participar ativamente do processo e influir naconvicção do julgador, tudo o que se realizar após essa falha estará comprometido.(..) Verificados a violação ao contraditório e o cerceamento de defesa, os atos subsequentes serão nulos. Resta saber se anulidade é sanável ou não (fl. 486).(..) O contraditório, em si, não é, pois, fim. Está ligado à segurança do instrumento, garantindo sua adequação aos escopospretendidos. Daí por que a preocupação maior é com sua efetividade, não com os atos destinados a assegurá-lo. A formaaponta o momento estático do contraditório. Sua realização concreta, com produção dos resultados desejados, representao estado dinâmico. Sem dúvida, este é o que mais importa (fl. 487) (in Efetividade do Processo e Técnica Processual,Malheiros, 2ª edição, 2007) (itálico no original, negritei e sublinhei).A modulação dos efeitos das tutelas judiciais em apreço, de seu turno, depende do uso ainda do critério hermenêutico daproporcionalidade.Tudo desta forma bem posto, desde que sob o pálio e à luz da correta consideração e manuseio da constitucionalização doDireito Civil, em tempos alvissareiros de (neo)constitucionalismo integral, em que o Estado Constitucional e Democráticode Direito é reposicionado para o cumprimento imediato - pelo conteúdo normativo operacional dos comandos programáticos- dos objetivos e fundamentos inscritos e normatizados no Título I, da Carta de 1988 (v., por todos, Eduardo Ribeiro Moreira,in Neoconstitucionalismo: A invasão da Constituição, Método).Assim, uma vez que, malgrado as nulidades absolutas verificadas, os processos em pauta, enquanto instrumentos etécnicas legais de interesse público, teleologicamente destinados, com proeminência superlativa e prioritária (CF, art. 227,caput), à mais célere realização e eliminação de crises no âmbito do direito material, a mim me parecem positivamentetestados os subcritérios da necessidade e adequação a) na imediata revogação das guardas provisórias e b) na subsequenteefetivação de ordem judicial de retorno programado das crianças junto ao seio de sua família natural, atendidas as peculi-aridades tanto do processado, tanto da circunstância de que a tutela judicial de urgência que ora se vindica e se impõerefere-se à pessoa e personalidade altamente vulnerável e em desenvolvimento (ECA, arts. 1º, 2º e 6º).Assentadas essas premissas, em outro giro, sem que sobre olvidada a efetividade da tutela do núcleo duro dos direitosfundamentais pertencentes aos membros da família de origem, a calibração ou modulação dos efeitos da declaração denulidade das decisões de guarda provisória, deve ser orientada pela razoabilidade (Lei de Introdução às Normas do DireitoBrasileiro, art. 5º; ECA, art. 6º), correspondente, in casu, à expressão máxima de concreção do melhor ou superior interesseou direito das crianças (CF, art. 227, caput).Na espécie, para o deslinde da quaestio, este mandamento de bom senso, de razoabilidade, de equilíbrio, consubstancia-se em vetor operacional ao qual se pode chegar, com factível segurança, com o manuseio, sobremais, do subcritério daproporcionalidade em sentido estrito (CF, art. 5º, §§ 1º ao 3º).Nesta terceira etapa da aplicação do critério da proporcionalidade, o intérprete deve lidar e se ver remetido, especialmente,

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ao marco normativo constitucional de postulados e princípios fundamentais incidentes, quando os interesses e direitos, demesma natureza e corte essencial, contrapostos em jogo - inclusive, repita-se, aqueles integrados na posição ou esferajurídica da entidade familiar bioafetiva nuclear e extensa (CF/88, art. 226, §§ 3º e 4º; ECA, artigo 25) - são identificados,confrontados e metodicamente ponderados, a fim de que, no caso concreto, a preponderância ao final assinalada de unsnão importe em restrição excessiva (ou aniquilação) sobre (dos) outros direitos fundamentais subjulgados.Neste sentido, viu-se que, de um lado, os documentos, a prova oral já colhida, bem assim o estudo social produzido peloCentro de Apoio Operacional da Criança e do Adolescente - CAOCA/Serviço de Apoio Psicossocial - SAPS, dão conta, comprobabilidade suficiente, especialmente se assistidos pela Municipalidade, da aptidão não só dos pais biológicos, mastambém dos avós maternos e paternos, para assegurarem a efetividade dos valores e direitos normatizados no ECA (3º, 4º,5º, 7º, 15 ao 19), em favor das 5 (cinco) crianças, ressalvado(s) fato(s) novo(s) desconhecido(s) deste Juízo.Tal constatação, quando somada ao reconhecimento da nulidade absoluta das decisões de guarda provisória e, em decor-rência, da violação, para além de qualquer limite, dos direitos e garantias das crianças e daqueles inerentes ao poderfamiliar titularizados pelos genitores, sem dúvida inspira e propugna pelo retorno e pela reintegração dos menores nafamília de origem, desde que assinala reais vantagens não só às crianças e aos membros de sua família nuclear e extensaou ampliada, mas ainda quanto ao exigível restabelecimento e reforço da boa observância da vigência e eficácia da ordemjurídica de regência.De outro lado, sem descurar da posterior avaliação da boa ou má-fé dos autores, quando verteram fatos inverídicos naembocadura judicial das demandas de adoção (como é exemplo, a alegação falsa de precedente extinção do poder familiardos genitores dos menores), dentre os interesses por serem agora ponderados, no quadrante da aplicação do critério daproporcionalidade, há, sobretudo, aqueles respeitantes à continuidade da vivência e convivência das crianças (passados jámais de 16 (dezesseis) meses) entre membros das famílias dos postulantes às adoções, no Estado de São Paulo, portantoem contato com realidade sócio-econômica e cultural distinta da própria e da de sua família biológica.Como já era esperado, é certo que a situação das crianças em São Paulo vem retratada como economicamente boa oumuito boa, em diversos estudos sociais deprecados e trazidos aos autos.Entretanto, ainda que admitida pelo Juízo como consistente e inferida tão só dos ditos trabalhos técnicos, tal circunstância,tomada isoladamente, como já se exige intuir, não tem potência bastante e autônoma para determinar a mantença dasguardas deferidas - considerando todo o exposto acima.É que, sobremais, no que mais interessa, tanto a família natural como as famílias substitutas, aparentemente têm demons-trado construir capacidade de estabelecer vínculos afetivos com as crianças.À vista do rol de vulnerações ao arcabouço de direitos e garantias da família baiana e de suas crianças, à vista das sensíveisvantagens que o escopo do instituto jurídico da guarda provisória (e dos processos em tela), bem assim daquelas que aspróprias crianças deixariam de experimentar, caso não viesse permitida a elas a reintegração familiar, com o nivelamentopor baixo do comandado no art. 227, cabeça, da Constituição Federal de 1988, parece figurar decisivo, então, o descortino,com o auxílio uma vez mais de domínios de conhecimento extrajurídico, das possíveis e prováveis consequências positivasna realização prospectiva sustentável e fluente daqueles mesmos valores e direitos normatizados no ECA (3º, 4º, 5º, 7º, 15ao 19), decidindo o Juízo não só pela nulidade das guardas provisórias, mas, avançando agora, para determinar o retornodas crianças para Bahia, ainda que pelo modo gradativo e profissionalmente assistido e continuado proposto.Acresça-se, em abono e para a confirmação do acerto da decisão que segue, o quanto constou do trabalho técnico e dosdemais documentos e relatos que instruíram as cartas precatórias cumpridas até o momento no Estado de São Paulo,especialmente a deprecata registrada em São Paulo sob nº 114.01.2012.055139-0/000000-000, junto ao MM. Juízo da Varada Infância e da Juventude da Comarca de Campinas/SP.Nelas puderam ser captados, tal como sucede de modo muito recorrente em casos análogos, sinais de provável submis-são das crianças a um massacrante e intencional processo de deslegitimação dos vínculos afetivos e culturais anteriores,indícios de alienação parental, de dificuldade de adaptação, no tempo e no modo pressupostos na efetivação das ordensjudiciais sub censura, assim como sinais claros de carência associada ao corte repentino (e cruel, diga-se) nos vínculosfraternais e na convivência entre irmãos.Consoante escólio paramétrico do cultíssimo Professor André Ramos Tavares:"(...) Independentemente da controvertida posição da proporcionalidade no ordenamento jurídico, há um consenso nadoutrina acerca de sua conceituação e desenvolvimento original pela doutrina alemã.O critério da proporcionalidade, em sentido amplo, abarca três necessários elementos, quais sejam: 1) a conformidade ouadequação dos meios empregados; 2) a necessidade ou exigibilidade da medida adotada e 3) a proporcionalidade emsentido estrito. (..)Entende-se que os dois primeiros elementos citados correspondem aos pressupostos fáticos do princípio, enquanto aproporcionalidade em sentido estrito equivale à ponderação jurídica destes. Sua compreensão deve orientar-se de formaque não basta que os requisitos fáticos estejam atendidos, sendo também necessário que haja concordância entre eles eos valores encampados pelo ordenamento jurídico.(..).A proporcionalidade em sentido estrito, por sua vez, significa a relação entre meios e fins que seja, no dizer de Willis SantiagoGuerra Filho, 'juridicamente a melhor possível. Isso significa, acima de tudo, que não se fira o 'conteúdo essencial'(Wesensgehalt) de direito fundamental, com o desrespeito intolerável da dignidade humana, bem como que, mesmo emhavendo desvantagens para, digamos, o interesse de pessoas, individualmente ou coletivamente consideradas, acarreta-das pela disposição normativa em apreço, as vantagens que traz para interesses de outra ordem superam aquelas desvan-tagens' (..)Trata-se, pois, de um sopesamento (balanceamento) dos valores do ordenamento jurídico, em que se procura atingir a maisoportuna relação entre meios e fins para melhor garantir os direitos do cidadão em situações concretamente relacionadas.São 'pesadas' e comparadas, numa perspectiva jurídica, as desvantagens do meio em relação às vantagens do fim (...)" (in

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Curso de Direito Constitucional, Saraiva, 10ª edição, 2012, pp. 780 e 782) (itálicos originais).Em outro lanço, ainda, embora não digam respeito precisamente à situação enfrentada aqui, associada à perspectiva dedesligamento gradual de crianças na primeira infância, colocadas sob guarda judicial, vejam-se, v.g., pequenos trechostranscritos a seguir das importantes contribuições empíricas e teóricas desenvolvidas em artigo especializado na matéria,de autoria coletiva de Aline Cardoso Siqueira (Centro Universitário Franciscano - PR e UFRS), Ana Paula Zoltowski, JaquelinePortella Giordani, Taíse Mallet Otero e Débora Dalbosco Dell'Aglio (UFRS), que, embora digam, precipuamente, com análisede casos de desligamento institucional de adolescentes, de todo modo, pontuam valores e referências pertinentes tambémà previdente e justa decisão a ser dada neste caso concreto sub judice, e que me serviram de relevantes parâmetros àformação da convicção sobre possibilidades e riscos implicados na decisão de reunificação familiar metódica e gradativadas crianças de Monte Santo/BA:"(...) Na realidade brasileira, o processo de reinserção familiar de crianças e adolescentes passou a ser foco de pesquisasrecentemente. Os estudos de Azor e Vectore (2008), Silva e Nunes (2004) e Siqueira e Dell'Aglio (2007) são exemplos depesquisas sobre este processo no Brasil. Segundo Azor e Vectore (2008), os fatores que contribuíram para o retorno aoconvívio familiar de jovens abrigados foram a insistência do Poder Judiciário; o acompanhamento familiar por profissionais;a adequação da moradia; e o desejo dos familiares (..)(..) dados sugerem que o desejo e a motivação conjunta da família são elementos essenciais para a promoção de umaefetiva reinserção familiar, corroborando estudos de Azor e Vectore (2008). Segundo as autoras, embora a reestruturaçãofinanceira seja um elemento importante, o desejo de ter os filhos na família parece ser a mola propulsora para a recupera-ção da guarda de crianças institucionalizadas (..)(..) As visitas preliminares ao desligamento têm sido consideradas o cerne de um plano de reinserção familiar, atuandocomo um 'laboratório' no qual os jovens e seus cuidadores aprendem a estar juntos novamente (Davis, Landsverk, Newton,& Ganger, 1996; Landy & Munro, 1998; Warsh & Pine, 2000). São visitas planejadas e que fazem parte de um plano depreservação familiar, possuindo objetivos, que são construídos em conjunto com as famílias. Pesquisas norte-americanastêm indicado os benefícios que um plano de visitação traz para as crianças e adolescentes em cuidados substitutos, taiscomo sentimento de que os pais/cuidadores os querem na família novamente; elaboração da experiência do afastamentoe dos sentimentos acarretados pela separação; e a manutenção dos laços familiares. Simultaneamente ao plano devisitação, oportunidades de aprender estilos de comunicação/parentalidade e de praticar uma interação familiar saudávelsão oferecidas para os membros das famílias (Hess & Proch, 1988) (..)(..) É tempo de considerar a questão da reinserção familiar com seriedade e maturidade sociais. É tempo de organizar umapolítica pública que focalize e privilegie esse processo, contando com profissionais capacitados e desenvolvendo progra-mas objetivos de reinserção familiar. (..)(..) Conjuntamente com essas políticas, torna-se importante a realização de pesquisas que avaliem a preparação e oandamento desses processos com vistas a compreendê-lo de forma mais integral, contando com outras amostras deoutros Estados do Brasil. É tempo de refletir sobre a prática desenvolvida e propor intervenções consistentes no complexocampo da reinserção familiar" (in Processo de Reinserção Familiar: estudo de casos de adolescentes que viveram eminstituição de abrigo, Estudos de Psicologia, 15(1), Janeiro-Abril/2010, 07-15) (negritei e sublinhei).Neste sentido, rememore-se e enfatize-se a conclusão do Estudo feito pelo Serviço de Apoio Psicossocial - SAPS-MPBA:"(...) Diante do acima exposto e da análise dos autos - inclusive dos relatórios entregues ao Fórum e ao Ministério Público deMonte Santo pelo Conselho Tutelar e CREAS do mesmo município - esta equipe compreende que:(..)Desse modo, considera-se que os relatórios construídos pelos órgãos supracitados apresentaram tão somente umadescrição sucinta e superficial de elementos, sem que houvesse a necessária e primordial leitura do complexo da realidadee da cultura na qual os sujeitos sociais estavam inseridos. Ademais, a família (nuclear e extensa) não foi ouvida, sendodesconsiderada em tais relatórios, os quais subsidiaram a colocação das crianças em tela nas famílias substitutas. Talprocedimento vai de encontro ao que postulam a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA no quese refere ao contraditório e à ampla defesa.Tendo em vista o conteúdo do relatório do CREAS (..) bem como um dos relatórios do Conselho Tutelar (..) foram identificadassituações passíveis de intervenção psicológica, de assistência social e de saúde, cujos encaminhamentos às políticaspúblicas pertinentes possivelmente evitariam a necessidade da medida extrema e excepcional de colocação em famíliasubstituta. (..)Assim, corroborando com o relato das conselheiras tutelares de Monte Santo em entrevista à esta equipe, quando estascolocaram que as crianças em questão deveriam retornar imediatamente à sua família de origem, levando-se em conside-ração as entrevistas realizadas à família (nuclear e extensa) - a qual demonstrou estar bastante fragilizada com a ausênciadas crianças e construiu diversas possibilidades para recebê-las assegurando todos os seus direitos fundamentais - bemcomo observando o ECA em seu art. 19, § 1º e 2º, e no art. 28, § 3º e § 5º (…), sugere-se o retorno imediato dessas criançaspara a sua família biológica (...)" (itálico no original, negritei e sublinhei).No mesmo diapasão, como já sintetizou com propriedade o insígne Sérgio Eduardo Marques da Rocha (SDH/PR):"A reintegração familiar é o processo de reconstrução de vínculos entre crianças/adolescentes e sua família, seja ela nuclearou extensa. Ocorre em função da necessidade de retorno ao convívio familiar de crianças/adolescentes afastados tempora-riamente de suas famílias. O afastamento pode ter sido determinado legalmente (medida protetiva do ECA constante no art.101, inciso VII), ou por vicissitudes da história de cada família. Em ambos os casos, a reintegração deve ser feita de formagradativa, fortalecendo as redes sociais de apoio à família, para que esta desenvolva seu papel de cuidadora (..)"Restaurado o exercício do poder familiar pelos genitores e cada vez mais consolidada a reintegração familiar determinadapela decisão acima transcrita, foi a seguir observado pelo Juízo que nem quando da propositura das ações, nem quando documprimento à ordem judicial de emenda das petições iniciais, os autores moveram-se para o depósito tempestivo do rol

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de testemunhas, na forma do art. 156, inc. IV, da Lei nº 8.069/90.Os demandados, de seu turno, apresentaram suas contestações, destituídas, igualmente, de rol de testemunhas (ECA, art.158, caput) e ainda apresentaram-na intempestivamente, por fac-símile em 25.09.2012, sem que tenham providenciado ajuntada das vias originais no prazo do art. 2º, caput, da Lei nº 9.800/99 - embora não se tenham projetado nos autos, comocediço, os efeitos materiais da revelia (CPC, artigos 319, 320 e 330, inc. II).Tanto o MPBA quanto a Defensoria Pública, de seu turno, nenhum requerimento fizeram quanto à admissibilidade e produ-ção de prova oral.Destarte, encontra-se acobertada pela preclusão a produção de prova testemunhal e documental pelas partes e intervenientes.Ao final, os réus, após serem exaustivamente ouvidos em Juízo, dispensaram ainda os depoimentos pessoais dos autores,por petição de 04.02.2013.Diante da dispensa pelos réus dos depoimentos pessoais dos autores, da preclusão quanto à produção de prova testemu-nhal e documental pelos demandantes, e diante, sobremais, da intempestividade das contestações dos demandados,inexistindo no conjunto dos autos fatos realmente controversos, não há razão lógica, nem processual para a distensão dosprocedimentos, com designação agora de mais uma audiência (a quinta), uma vez que, rigorosamente, nem há o que possaser objeto de prova oral em instrução, a qual, por isto igualmente, seria inútil aos fins mediatos e imediatos destes proces-sos.Tal postergaria a situação de crise e insegurança de direito material, na contramão inadmissível da celeridade e prioridadena proteção integral e do melhor interesse das crianças (best interest of childs) (CF, 227), que já sofreram, até a mais nãopoder, com idas e vindas impensáveis, construção e desconstrução de relações de afetividade, decorrência dos descalabrosjustamente de natureza processual já aqui perpetrados e que, assim, seriam colocadas uma vez mais em condição de maisrasa humanidade com a chancela do Estado.Com efeito, de modo inesperado, os réus não somente apresentaram intempestivamente suas contestações,desacompanhadas, sobremais, de rol de testemunhas (ECA, art. 158, caput, in fine), mas ainda agora pediram o julgamentoantecipado das lides, com a dispensa expressa de ouvida dos autores em depoimentos pessoais (em busca de suasconfissões), seja no Estado de São Paulo, seja neste Estado da Bahia.Resulta daí a superveniente inutilidade dos pronunciamento judiciais publicados na decisão de 25.11.2012, que revogou asguardas provisórias, consistentes em ordem de expedição de deprecatas para as Comarcas de Campinas e de Indaiatuba/SP, com o fim de colheita justamente dos depoimentos pessoais dos demandantes, bem como em designação de audiên-cia de instrução e julgamento para o próximo dia 11.02.2013 - embora já não se tenha apresentado mais possível, é bemverdade, a realização da mencionada assentada, a partir de quando o Juízo tomou conhecimento, ulteriormente à publicaçãodo decisum (27.11.2012), de que para este dia fora reservado o feriado em razão dos festejos de Carnaval/2013, inclusive -e especialmente - na Bahia.Veja-se o entendimento exposto pelo eminente professor José Miguel Garcia Medina, que bem se compatibiliza com osprincípios da brevidade, qualidade da intervenção estatal, celeridade e prioridade na tramitação dos procedimentos eprocessos afetos à infância e juventude, e com o melhor e superior interesse da criança e de sua proteção integral:"(...) Ausência de controvérsia sobre fatos e julgamento antecipado (ou imediato) da lide. Sendo desnecessária a produçãode provas em audiência, deverá o juiz julgar, desde logo, a lide. A rigor, o julgamento não é antecipado, pois 'antecipadas' jásão as hipóteses previstas nos arts. 285-A e 295, IV; o julgamento, no entanto, deve dar-se de modo imediato (é correta,portanto, a terminologia adotada no art. 341 do NCPC). É o que ocorre quando: (a) a questão a ser julgada for exclusivamentede direito (art. 330, I, 1ª parte). (..) (b) havendo questões [pontos, na verdade] de fato e de direito, não houver controvérsiasobre fatos (art. 330, I, 2ª parte, e II). Ao se designar, desnecessariamente, audiência para a produção de provas, adiando-se, indevidamente, a resolução da lide, acaba-se por violar o princípio da economia processual, bem como a disposiçãoconstitucional que assegura às partes a razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF). Não se trata de mera 'faculdade'do juiz: inexistindo razão para a produção de provas em audiência, impõe-se ao juiz proferir, de imediato, a sentença. Nessesentido: STJ, Resp 324098/RJ, 4ª T., rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira; STJ, Resp 337785/RJ, 3ª T., rel. Min. NancyAndrighi; STJ, Resp 797.184/DF, 1ª T., rel. Min. Luiz Fux" (Código de Processo Civil Comentado, RT, 2011, p. 322) (negritei esublinhei).O julgamento antecipado da lide, in casu, é relevantíssima e prioritária manifestação estatal (CF, art. 227, caput), pois, emfavor do melhor interesse das crianças, da proteção integral e da estabilidade das relações e posições jurídicas respeitantesaos menores e aos seus direitos e interesses (segurança jurídica), constitui-se em aplicação prática, outrossim, do novelprincípio da duração razoável do processo e do já consagrado princípio de acesso à justiça (CF, art. 5º, incisos XXXV eLXXVIII), ambos corolários do superprincípio do due process of law (CF, art. 5º, inc. LIV), como muito bem sistematiza MarcosDestefenni, verbis:"(...) No Brasil, o princípio foi positivado com a Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 5º, LIV, passou a garantir queninguém será privado de seus bens ou de sua liberdade sem o devido processo legal. Adotou-se, no Brasil, a fórmula da 5ªEmenda da Constituição dos Estados Unidos, suprimindo-se, por razões óbvias, a menção à vida.O princípio comporta dois sentidos: um material e outro processual. No sentido substancial se aproxima do princípio darazoabilidade, no propósito de que todas as normas devem ser aplicadas e todos os bens devem ser tutelados de formarazoável.Do ponto de vista processual, garante que o processo seja justo e adequado, de tal forma que o julgamento da lide, ou asolução do caso submetido à apreciação judicial, seja feito com a observância de um conjunto mínimo de regras e devalores.Pelo fato de representar uma limitação ao poder do Estado e por conter todos os demais princípios processuais, pode serconsiderado o mais importante princípio de direito processual.Alexandre Freitas Câmara, com razão, afirma que 'é causa de todos os demais (..)'

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Qualquer tentativa de enumeração dos direitos e das garantias que integram o devido processo legal é válida e importante.Porém, será sempre circunstancial, considerado o fato de que os direitos e as necessidades humanas surgem, isto é, sãorevelados, no decorrer da história.Podemos citar como exemplo a recente incorporação, ao art. 5º da CF, no inciso LXXVIII, da garantia à prestação jurisdicionalsem dilações indevidas, princípio já expresso em outras constituições. A garantia de uma tutela jurisdicional célere e efetiva,assim, passa a ser expressa. Em decorrência, não há mais que questionar sobre a possibilidade de responsabilização doEstado no caso de dilações indevidas do processo.(..) O princípio constitucional enunciado no inciso XXXV permite mais de uma interpretação. Uma delas vê na mencionadacláusula a garantia do monopólio do Judiciário quanto à prestação jurisdicional.Todavia, partindo da ideia de que o art. 5º da Constituição trata de direitos e garantias fundamentais do cidadão, é possívelextrair a conclusão de que o Estado tem o dever de prestar a tutela jurisdicional de forma efetiva, tempestiva e adequada.Recentemente a Emenda Constitucional n. 45 deixou consignado, expressamente, no art. 5º da Constituição Federal, coma inclusão do inciso LXXVIII, a garantia à prestação jurisdicional sem dilações indevidas: a todos, no âmbito judicial eadministrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.José Rogério Cruz e Tucci, há bastante tempo, já afirmou a existência da mencionada garantia constitucional" (Curso deProcesso Civil, Tomo I, Vol. 1, 2ª edição, Saraiva, 2009, pp. 12/13 e 37/38) (negritei e sublinhei).Pois bem, ainda que possam ser admitidas como exposições sumárias dos fatos (ECA, art. 156, inc. III) as referências ouremissões esquálidas encontradiças nas petições iniciais, mesmo depois de emendadas, e considerando a não ocorrên-cia dos efeitos materiais da revelia (ECA, arts. 152 e 158; CPC, artigos 319 e 320, inc. II), o Juízo, de todo modo, continuou nãovendo provada qualquer das causas de perda do poder familiar dos demandados, que pudesse determinar a procedência,igualmente, das ações da adoção. Nestes autos, não foi demonstrado de plano, tampouco após, até o desfecho da fasepostulatória, quer em sede de cognição sumária, quer em cognição suficientemente madura, por lícito, legítimo e consisten-te agrupamento probatório documental, oral ou pericial - que não ajunte, portanto, apenas rasa prova indiciária ou persua-siva -, qualquer dos fatos arguíveis constitutivos do direito afirmado pelos autores (CF/88, artigos 205, 208, § 1º, 227 e 229;ECA, artigos 19, § 3º, 22, 23, parágrafo único, 28, § 4º, 39, § 1º, 157 e 249; CC, artigos 1.634, 1.637 e 1.638; CP, artigos 244e 246).Sublinhe-se que para chegar a essa convicção - de ausência de prova sobre descumprimento de deveres da parte dosgenitores como causa para a perda do poder familiar de seus filhos - o Juízo não descuidou de perscrutar, no acervoprobatório disponível, sobre prova de violação de deveres integrantes de um rol mais abrangente, disperso no sistemajurídico, de responsabilidades dos pais em relação aos filhos menores, do que aquele explicitado, e.g., no Código Civil/2002, que relaciona, basicamente, dentre os passíveis de fundamentarem lides como estas: (I) dever de não violar,reiteradamente, os deveres, cujo descumprimento leva à suspensão do poder familiar, ou seja deveres de não abusar desua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes (CC, art. 1.634) ou arruinando os bens dos filhos, e de não sercondenado por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda dois anos de prisão (CC, artigos 1.637 e 1.638,inc. IV); (II) dever de não castigar imoderadamente os filhos (CC, art. 1.638, inc. I); (III) dever de não abandonar os filhos (CC,art. 1.638, inc. II); e (IV) dever de não praticar atos contrários à moral e aos bons costumes (CC, art. 1.638, inc. III).No item (I) acima elencado, o dever dos genitores de não faltar, reiteradamente, "aos deveres a eles inerentes" (CC, artigos1.637 c/c 1.638, inc. IV) encampa logicamente o (V) dever de não descumprir, reiteradamente, aqueles constantes dosincisos do art. 1.634, do CC/2002, dentre eles, v.g., o (VI) dever de dirigir a criação e a educação dos filhos menores, o (VII)o dever de reinvidicá-los de quem ilegalmente os detenha, e o (VIII) dever de exigir serviços próprios e compatíveis com suaidade e condição (CC, art. 1.634, incisos I, VI e VII, in fine).Paulo Luiz Netto Lôbo, citado por Renata Dantas Vilela em obra coletiva, oferece relação mais completa dos deveresinerentes ao poder familiar, enunciados dispersamente no sistema jurídico, cuja violação, ou violação reiterada de algunsdeles, enseja o acionamento do poder-dever estatal e a faculdade de terceiros que demonstrem legítimo interesse, emprovocar a sua perda, desde que em devido processo legal contencioso civil:"(...) Acrescenta PAULO LUIZ NETTO LÔBO que, embora os deveres inerentes aos pais não estejam explicitados, estãoprevistos na Constituição, no ECA e no próprio Código Civil, em artigos dispersos, sobretudo no que diz respeito ao sustento,guarda e educação dos filhos. De modo mais amplo, ressalta o autor que, 'além dos referidos, a Constituição impõe osdeveres de os pais assegurarem aos filhos (deveres positivos ou comissivos) a vida, a saúde, a alimentação, o lazer, aprofissionalização, a dignidade, o respeito, a liberdade, a convivência familiar e comunitária, e de não submetê-los (deveresnegativos ou de abstenção) a discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão" (Direito Civil, Coleção Tópicos deDireito, Lumen Juris Ed., Vol. 02, RJ, 2009, p. 565) (negritei).No mesmo sentido, a eminente e estimada jurista Maria Berenice Dias:"(...) Elenca o Código sete hipóteses de 'competência' dos genitores quanto à pessoa dos filhos menores (CC 1.634) (..)Nesse extenso rol não consta o que talvez seja o mais importante dever dos pais com relação aos filhos: o dever de lhes daramor, afeto e carinho. A missão constitucional dos pais, pautada nos deveres de assistir, criar e educar os filhos menores,não se limita a vertentes patrimoniais. A essência existencial do poder familiar é a mais importante, que coloca em relevo aafetividade responsável que liga pais e filhos, propiciada pelo encontro, pelo desvelo, enfim, pela convivência familiar (..)O elenco dos deveres inerentes ao poder familiar também não faz referência expressa aos deveres impostos aos pais pelaConstituição (CF 227 e 229) e pelo estatuto menorista (ECA 22). Assim, às obrigações e direitos previstos pela lei civilsomam-se todos os outros que também são derivados do poder familiar (...)" (Manual de Direito das Famílias, RT, 7ª edição,2010, p. 418) (negritei).O professor Flávio Tartuce esclarece, ademais, que a noção de abuso, inclusive aquele que seja resultado de reiteração defaltas da parte dos pais, referido nos dispositivos legais que regulamentam as hipóteses de restrição ou perda do poderfamiliar, deve ser orientada pelos parâmetros estabelecidos no artigo 187, do Código Civil, eis que a acepção do abuso em

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tela deve ser identificada e tratada no caso concreto como subespécie do abuso de direito em geral:"(...) O exercício do poder familiar está tratado no art. 1.634 da codificação emergente, que traz as atribuições desse exercícioque compete aos pais, a saber:a) Dirigir a criação e a educação dos filhos.b) Ter os filhos em sua companhia e guarda.c) Conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;d) (..)e) (..)f) Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha.g) Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.Quanto a esta última atribuição, o preceito deve ser lido à luz da dignidade humana e da proteção integral da criança e doadolescente.Primeiro, porque a exigência de obediência não pode ser desmedida, sendo vedado maus-tratos e relação ditatorial.Havendo abusos nesse exercício, estará configurado o abuso de direito, o que pode repercurtir, em casos de danos, naesfera da responsabilidade civil (arts. 187 e 927 do CC). Como consequência, além da suspensão ou destituição do poderfamiliar, o pai ou a mãe poderá ser condenado a pagar indenização por danos morais aos filhos se os maus-tratosestiverem presentes. Vale lembrar que como parâmetros para o abuso de direito devem ser considerados os previstos noart. 187 do CC, que são verdadeiras cláusulas gerais: fim social, boa-fé objetiva e, principalmente, bons costumes; o quegera a responsabilidade objetiva do pai ou mãe abusador (Enunciado 37 do CJF/STJ).Também, os pais não podem explorar economicamente os filhos, exigindo-lhes trabalhos que não são próprios de suaidade ou formação. Como se sabe, a exploração do trabalho infantil é um mal que assola todo o País. Em casos de abuso,mais uma vez, o poder familiar pode ser suspenso ou extinto, cabendo também a aplicação das regras da responsabilidadecivil (art. 187 c/c art. 927 do CC)" (Direito Civil, Direito de Família, Vol. 5, Série Concursos Públicos, Vol. 5, Método, 2008, 3ªedição, pp. 368/369) (negritei e sublinhei).A correta acepção de abuso, nesse quadrante, vem construída em aresto compilado por Theotonio Negrão, José Roberto F.Gouvêa e Luis Guilherme Aidar Bondioli:"(...) O que efetivamente caracteriza o abuso do direito é o 'anormal exercício', assim entendido aquele que se afasta da ética,da boa-fé, da finalidade social ou econômica do direito, enfim, o que é exercido sem 'motivo legítimo'. Também não bastapara configurá-lo o fato de seu exercício causar dano a alguém, o que às vezes é inevitável' (RF 379/329)" (Código Civil elegislação civil em vigor, Saraiva, 28ª ed., 2009, p. 113, nota 4 ao artigo 187) (negritei e sublinhei).Nesta senda, bastou a releitura (atenta, claro) dos documentos, do trabalho técnico (CAOCA/SAPS/MPBA) e dos termos dasoitivas da família bioafetiva, natural e extensa, anexados nos autos, para a convicção, à margem de dúvida razoável, de que,realmente, em tal conjunto de folhas de prova, nem de longe, nem de perto, não se identifica indiciada, tampouco compro-vada sequer uma das causas de perda do poder familiar elencadas pelo sistema jurídico brasileiro, tanto na Constituição,como no ordenamento infraconstitucional de regência.Cabe então a pergunta: onde, então, poderia ser encontrada a prova sobre os seguintes fatos constitutivos do direitoafirmado pelos autores Anderson Richard e Alessandra Pereira de Souza Pondian, e Flávia Regina Cury Carneiro, respecti-vamente nos autos nº 0000286-61.2011.80.0168 e 0000288-31.2011.805.0168, cravados, inacreditavelmente, nos seguin-tes termos das petições iniciais:"(...) os requerentes tomaram conhecimento que na Cidade e Comarca de Monte Santo/BA, encontram-se os menores denomes 'DANIEL, RICARDO E DANILO', de aproximadamente 4, 6 e 2 anos, com os demais dados desconhecidos e queserão disponibilizados para a adoção, através do Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Vitor Manoel Sabino Xavier Bezerra.Assim, diante de todo o exposto (??!!) os requerentes vêm pela presente, REQUERER ADOÇÃO do(s) menor(es) (..), bemcomo do PEDIDO LIMINAR DE GUARDA PROVISÓRIA nos termos [ainda!] da legislação vigente (...)" (fl. 03, em exatos doisparágrafos, de um total de nove linhas ao todo, de ambos os autos) (negritei - me espantei - e sublinhei) ??Nestes dois genuínos ca(u)sos a idêntica causa de pedir das ações de adoção parece circunscrever-se tão somente àdisponibilização da criança para adoção pelo litteris "Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Vitor Manoel Sabino Bezerra",fundamento que, pelo que meu modesto conhecimento indica, esteve destinado ab initio a não encontrar, pelo menos emplagas brasileiras, seu par correspondente em qualquer moldura jurídico normativa típica, dentre as causas legais de perdado poder familiar (CC, artigos 1.634 e ss.), a ensejar um possível deferimento dos pleitos de adoção.Seguindo, onde o aporte ou suporte probatório lícito e legítimo, que possa sustentar a veracidade dos seguintes fatos ditosconstitutivos do direito afirmado pelos demandantes Nelson Luiz e Débora Brabo Melecardi, e Letícia Cristina FernandesSilva (autos nº 0000272-77.2011, fls. 69/70), economicamente alinhavados de modo semelhante nas exordiais das deman-das verbis:"(...) é sabido dos requerentes que o menor reside na Rua Laje do Bró, s/nº, nesta cidade de Monte Santo, Estado da Bahia,e que se encontra em situação de risco, já que os seus genitores não reúnem mínimas condições para a criação e educaçãodo mesmo, deixando-o, inclusive, passar por todo tipo de necessidades e privações. (..) Também é do conhecimento dosrequerentes que o Conselho Tutelar e o CRAS desta cidade já tomaram conhecimento da situação por [que] passa o infante,tendo inclusive comunicado o fato à representante do Ministério Público desta cidade, o que ensejou a adoção de medidajudicial que destituiu os genitores do pátrio poder (...)" (sublinhei, itálico e negrito meu) ???Após a singela colocação transcrita acima, na sequência se faz então referência ao art. 1.624, do CC - a confirmar que (nãomais que) duas, das quatro ações têm como causa de pedir comum a circunstância fáticojurídica síntese de se encontraremexpostas crianças, cujos pais biológicos, sobremais, já são destituídos do poder familiar (CC/2002, art. 1.624) (conferir, v.g.,fls. 02/03, dos autos nº 0000272-77.2011.805.168, e fls. 02/03, dos autos nº 0000304-82.2011.805.0168).Por acaso a prova de tais arremedos descritivos de alta carga de generalidade e abstração - alguns, inclusive, de uma

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excentricidade a toda prova - se faz presente no teor de documentos que, exatamente, não instruíram nenhuma das petiçõesiniciais destas ações de adoção (ECA, artigo 156, inc. IV) ?????Malgrado a preclusão para todos, quanto à produção de prova documental, parte dos autores nas exordiais fez referência, aomenos implícita - não aos documentos que os instruem - mas à existência dos autos nº 0000270-10.2011.805.0168, depedido de imposição de medida de proteção, constante do art. 101, inc. VII, da Lei nº 8.069/90, nos quais, segundo estesdemandantes, houve a "destituição dos genitores do pátrio poder".Nos referidos autos há documentos autuados anteriormente à propositura das demandas (em essência, relatórios devisitas domiciliares do Conselho Tutelar e do CREAS), que certificam que verbis:"(...) ao chegar à residência da mesma [da mãe, Silvânia] nos deparamos com a criança Luan da Silva Souza de 1 ano deidade dormindo no chão da sala, e a criança recém-nascida estava no braço da genitora e a criança que estava dormindo nochão acordou pedindo leite para a genitora, a mesma foi para a cozinha colocou o leite e entregou a mamadeira para acriança, os filhos maiores estavam na casa da avó paterna que fica próximo a saída de Cansanção, a Sra. Silvânia Mª da MotaSilva reside com a sua genitora a Sra. Perpetua Maria, onde se encontrava trabalhando (…)" (fl. 05); "(...) compareceu a sededo Conselho Tutelar de Monte Santo, Bahia, sediado na Rua Piquaçara, 162, Bairro Alto da Colina, nesta cidade a Sra.Perpetua Maria residente (..) relata que alugou uma casa para a Sra. Silvânia Mª da Mota Silva na saída para Cansanção queestá ajudando na compra do bujão para vaninha mudar com seus filhos, e que o genitor do recém-nascido não registrou acriança e que apareceu uma Sra. conhecida como Carmem indicada pela filha da Sra. Edite [Rita de Jesus Rocha] querendoa criança para mandar para São Paulo para uma médica (...)" (fl. 06); "(...) aos vinte e três dias do mês de março do ano dedois mil e onze, compareceu a sede do Conselho Tutelar de Monte Santo uma Sra. Conhecida como Carmem e seu esposoestrangeiro, a procura de criança para adotar, não era para os mesmos era para uma médica em São Paulo e não relatounome, e em seguida relatou a situção da Sra. Silvânia Mª da Mota Silva conhecida como Vaninha residente na Rua Lage doBró município de Monte Santo que as crianças estão sofrendo por negligência (...)" (fl. 08) (itálico meu, destaquei).Em razão, então, da constatação de todos esses terríveis fatos, verbis:"(...) aos quatorze dias do mês de Abril do ano de dois mil e onze o Conselho Tutelar de Monte Santo - Bahia (..) foi averiguara situação da família da Sra. Silvânia Mª da Mota Silva, residente domiciliada Lage do Bró, para ver a situação das criançasLuan da Silva Souza de 1 ano, Ricardo de 6 anos, Daniel de 4 anos e Danilo de 2 anos e também uma criança com um mêsde vida ainda não registrada, as três crianças mais velhas estão na Creche, a criança Luan da Silva Souza no momentoencontrava-se bem cuidado e a criança que ainda não [era] registrada se encontra com a Sra. Maria da Glória Ferreira,também domiciliada na Lage do Bró acompanhada por sua mãe e sua avó materna a Sra. Perpetua Mª da Mota. O Genitordas crianças registradas o Sr. Jerôncio de Brito Souza não está cumprindo com a responsabilidade (pensão) e a genitorarelata que o mesmo é alcoólatra e quando fica sem beber assume o seu compromisso (...)" (fl. 09); "(...) aos quatorze diasdo mês de Abril do ano de dois mil e onze a Sra. Maria da Glória de 59 anos de idade residente e domiciliada na Lage do Bróna cidade de Monte Santo - Bahia, que cuida da criança de 1 mês de idade que ainda não foi registrada, a Sra. Maria da Gloriase comprometeu de ficar cuidando da mesma durante três meses e se responsabiliza pela alimentação e os demaiscuidados, e comprova que a criança tomou as vacinas, e que a genitora não sabe cuidar e que sua avó materna a Sra.Perpetua Mª da Mota também acompanha a criança (...)" (fl. 10) (itálico meu, negritei).Em função do diagnóstico desses outros fatos ainda mais tenebrosos, moveu-se em seguida o CREAS, nesta Comarca, nadireção da família de Silvânia verbis:"(...) em 05 de Maio de 2011 foi realizada visita domiciliar na Rua Lage do Bró, na residência da Srª Silvânia Maria da MotaSilva, nascida no dia 28 de janeiro de 1.987 (..). Na residência encontrei o pai de Silvânia, o Sr. José Martin da Silva, conhecidocomo Cata Lata, 66 anos, aposentado, casado com a Srª Perpétua Maria da Mota, 50 anos, Gari, assalariada, no momentoela estava trabalhando. Na casa mora também (..) Luan Silva Santos, 1 ano e 3 meses (filho de Silvânia). Informou quealugou uma casa para Silvânia morar com os filhos (..) A casa fica na Praça João Durval, saída para Cansanção (..) o valor doaluguel é cinquenta reais. Relatou ainda que Silvânia pediu aos pais para criarem o pequeno Luan. Em seguida, às 09:30h visitei a residência da Srª Silvânia. Encontrei a Sra. Silvânia de camisola, pés no chão e seus filhos Ricardo Walisson SilvaSouza, 06 anos, matriculado na creche Maria do Perpétuo Socorro na 1ª série matutino; Daniel Silva Souza, 04 anos,matriculado na Creche Maria do Perpétuo Socorro, matutino; Danilo Silva Souza, 02 anos, matriculado na Creche Maria doPerpétuo Socorro, matutino (Danilo estava só de camiseta, sem sandália) brincando na rua em frente a casa (rua semcalçamento, com lama); e Estéfane de Jesus Silva, 2 meses (ainda não foi registrada). As crianças não foram para Crecheporque ela estava lavando roupa. A casa de cinco cômodos; sem banheiro; sem água encanada; sem móveis, apenas umfogão de duas bocas, algumas panelas, uma cama de casal para os filhos dormirem, um colchão de solteiro para ela dormire um guarda-roupa de duas portas. Informou que as refeições são feitas na casa dos pais. Relatou que Danilo, Luan sãofilho do sr. Jose Mario de Jesus Silva, mas quem registrou foi o Sr. Jerôncio de Brito Souza, com quem teve um relacionamen-to difícil, pois sofria agressões físicas, mas nunca prestou queixa na delegacia. Voltou a se relacionar com o Sr. José Mariode Jesus Silva, pai da pequena Estéfane. Este é casado e constitui família com outra mulher. Não está amamentando, dáleite de gado para Estéfane de apenas dois meses de vida. (...)" (itálico meu, negritei).E como esses outros fatos são mais que terríveis e tenebrosos, arrematou o CREAS com inegável lógica ilógica verbis:"(...) Nesse contexto, foi identificada uma precariedade nas condições de higiene, saúde das crianças Ricardo, Daniel,Danilo e Estéfane. Sendo os avós maternos os responsáveis pela alimentação das crianças. No que diz respeito as vacinasRicardo e Danilo faltam algumas, o cartão e registro civil de Luan não foram encontrados (…)" (fls. 12/13) (itálicos meus).Mas não só isso: na sequência ilogicamente determinou o Juízo, com espeque em todo esse universo de inomináveis fatos,a imediata concessão das guardas provisórias das crianças em favor dos autores.Até em função do teor destes documentos, anexados nos mencionados autos nº 0000270-10.2011, encontrar-se trasladadode modo fiel ou em semelhantes termos em documentos dispersos no conjunto dos autos destas ações de adoção, emrespeito ao poder-dever do magistrado de livre convencimento, porém sempre motivado (CF, art. 93, inc. IX), voltemos então

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à insistente pergunta, consistente na indagação sobre em que meio, aporte ou suporte de prova, dentre os documentosjuntados, seja nos autos nº 0000270-10.2011, seja nos das ações de adoção, de natureza e conteúdo idêntico ou semelhan-te, encontram-se comprovados os fatos alegados nas iniciais, e não só isto, encontram-se comprovados os fatos alegados(sugeridos ou imaginados) nas iniciais, e que sejam ainda os tipificados em norma jurídica (nacional!!), de tal modobastantes e exigentes da procedência integral das ações??No que deve seguir lógica e justa resposta: nem em nenhum deles, per se, nem em todos eles, no seu conjunto sistema-tizado ou tudo misturado.Com efeito, a par da atipicidade e da visível generalidade da maioria dos apontamentos negativos, sobre o trato dos filhospor Silvânia, esses relatos mostram-se demasiadamente superficiais, vez que estabelecem, quando muito, o retrato ape-nas de uma realidade incompleta, acidental e passageira da família bioafetiva, provavelmente influenciados por opinião deterceiros interessados na rápida retirada da prole da mãe, ou pela pressão do momento, advinda de requisições legais elegítimas de autoridades constituídas, como sucedeu no âmbito do MP na Comarca.De todo modo, em qualquer caso, tais relatórios de visitas domiciliares são destituídos do empirismo e do método dedomínio científico necessários à segurança da interpretação e à solidez da fundamentação na mostragem qualitativa equantitativamente suficientemente aceitável dos aspectos investigados, associados às condições psicossociais da entida-de familiar e aos importantíssimos fatores de interferência externos, como, por exemplo, à estrutura de apoio político-assistencial municipal, tendo em conta as consequências gravísssimas, de dificílima ou de impossível reparação ourestauração, que podem ser infligidas à família natural e extensa bioafetiva.Não obstante, nos mesmos autos, mais adiante, há documentos autuados apenas em 17.10.2012 (cópia simples do termode duas denúncias, datadas de 03.05.2010 e 21.05.2010 (nº 037 e 039/2010), e de um termo de advertência endereçado àSilvânia, datado de 02.12.2010, lavrados pelo Conselho Tutelar), que certificam verbis:"(...) presta queixa contra cunhada, a Srª Vaninha (..) maus-tratos e abandono de seus filhos onde a genitora está pondo emrisco o desenvolvimento físico e mental das crianças. A denunciante [Conceição de Brito Souza, irmã do genitor e demanda-do, Gerôncio de Brito Souza] relata que a Sra. Vaninha deixa seus filhos sujos sem alimentação, sem frequência à escola, ascrianças ficam perambulando na pista que dá acesso ao município de Cansanção na BR (..), onde em determinado momen-to os veículos que transitam na BR quase provocam um atropelamento em uma das crianças. Relata que a genitora faz usode bebida alcoólica e sai na rua pernoitando deixando seus filhos sem a supervisão de nenhum adulto (...)" (fl. 27); "(...)queixa contra sua ex-companheira a Sra. Silvânia Maria da Silva, com a mesma manteve um relacionamento que resultouem quatro filhos. O denunciante relata que a Genitora maltrata seus filhos mantendo as crianças abandonadas em casasem nenhum responsável, que não alimenta seus filhos, que não presta socorro quando os mesmos adoecem (..) que amesma faz uso de bebida alcoólica em excesso (..) deixando as crianças entregues a qualquer sorte (...)" (fl. 29) (itálicos enegritos meus).Estas denúncias, tal como sucede recorrentemente com oitivas que terminam isoladas do conjunto mais coeso e verossímelde provas, como é exemplo a oitiva extrajudicial anexada, v.g., nas fls. 214/215, dos autos nº 0000272-77.2011, não sesobrepõem a outros meios de prova, salvo quando, afastada qualquer dúvida, veicule excepcional revelação, que, clara eprontamente remeta a verdade, e com ela o intérprete, para um lado oposto daquele para onde aponta mesmo a maioria dosdemais elementos persuasivos ou indiciários de prova.In casu, tanto mais em razão de se mostrarem tendenciosos, tais depoimentos, assim como outros poucos informessemelhantes, dispersos no conjunto destes autos, pouco ou quase nada oferecem ao esclarecimento da verdade, frente amuitos outros elementos de prova anexados aqui, que os superam não só em quantidade, mas em coesão e verossimilhan-ça (em qualidade), como são exemplos os anexados nas fls. 123, 181 e 184, dos autos nº 0000304-82.2011, ou aquelesfincados nas fls. 37, 192, 194, 216/217, 218/219, 221/222, 223/224, 226/229, 248, e 251, dos autos nº 0000272-77.2011.805.0168.Neste sentido, veja-se que tais queixumes, enquanto itens de prova, de tão discrepantes do conjunto probatório maisharmonioso nestes autos, são caudatários até mesmo dos mencionados relatórios de visitas domiciliares, os quais, pelomenos, se se apresentam nestes autos com nítido deficit técnico, pelo menos mostram-se mais confiáveis, até em funçãoda simplicidade que marca os relatos que documentam.As denúncias citadas da "cunhada" e do ex-companheiro de Silvânia, codemandado neste conjunto de autos de adoção,apresentam-se, no entanto, com uma peculiaridade adicional, que tende a diminuir seu valor intrínsico probatório, enquantoelemento destinado a influir em solução de lides que versam direitos e interesses indisponíveis, como os presentes. Elasse mostram inspiradas por contendas familiares internas, na verdade entre uma mulher e mãe, que repelia reiterada efirmemente o amor exageradamente emocional do seu ex-par conjugal e pai de dois dos seus filhos, e sua cunhada,indisfarçavelmente atingida e inconformada com o sofrimento sem fim do irmão.Em tais situações, como dita a experiência (presunção comum), muita vez denúncias do tipo camuflam uma parcialidademuito além do aceitável e costumam representar quase que exclusivamente, a depender do estado emocional, uma visãodistorcida e descontextualizada da realidade, quando não o arquétipo subserviente à satisfação de alguma necessidade oudemanda egoística do denunciante ou delator (como, por ex., vindita, inveja, etc.).No caso destes autos não se deve ter passado muito diferentemente, uma vez que as acusações endereçadas à demanda-da, aparentemente decorreram do fato de que os irmãos denunciantes, respectivamente cunhada e ex-companheira, prova-velmente viam em Silvânia - ao menos na época (2010) - alguém que provocava imensa dor e desconforto em família e poristo merecia ser punida, com a perda dos seus filhos, não porém pelos formalmente reportados maus-tratos e abandono.Diversamente do que costuma suceder nas denúncias dirigidas a parentes e a pessoas com quem haja cambiagem e trocade relações de afetividade amorosa, oitivas tais como aquelas firmadas pelo ex-conselheiro tutelar neste Município, MichelsonSilva Caldas (autos nº 0000272-77.2011, fls. 214/215) costumam ser mais bem sucedidas nos quesitos racionalidade earticulação e, destarte, mais convincentes, embora, tanto quanto aquelas, percam tonus diante de um arranjo de provas

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objetivamente mais coerente e persuasivo.A despeito do meu atrevimento em aventurar-me pelos caminhos tortuosos e logicamente insondáveis a um leigo do psiquepretensamente denotado nas oitivas e informes acima parametrizados - é certo, embora um tanto amenizado pelo uso dealguma regra de experiência -, no quadro da valoração (jurídica) da prova, no entanto, agora com o indispensável auxíliotécnico dos profissionais da área, cheguei, de todo modo, ao mesmo porto, ao mesmo resultado, à mesma solução econvicção, que demanda a necessidade do descarte de tais aportes de prova.Isto em razão dos inúmeros outros elementos de prova citados acima (como são exemplos os anexados nas fls. 123, 181e 184, dos autos nº 0000304-82.2011, ou aqueles anexados nas fls. 37, 192, 194, 216/217, 218/219, 221/222, 223/224, 226/229, 248, e 251, dos autos nº 0000272-77.2011.805.0168), ombreados às detalhadas e cuidadosas oitivas judiciais dosmembros da família bioafetiva, natural e extensa, colhidas ao longo das quatro e longas audiências ocorridas perante esteJuízo, formarem um conjunto mais harmonioso, coerente e convergente ao descortino de uma verdade mais coincidentecom a que revelada pelas fundamentadas e contundentes conclusões expostas em laudo técnico, produzido pelo Centro deApoio Operacional da Criança e do Adolescente - CAOCA/MP/BA, por meio das experts do Serviço de Apoio Psicossocial -SAPS, substancial trabalho pericial nos autos, único idoneo o bastante para relatar e documentar, com propriedade esegurança, os aspectos essenciais da família de Silvânia e sua capacidade de cuidar dos seus filhos, na companhia dohomem que desejar escolher, tal como já fartamente exposto por este Juízo, quando da decisão de ordem de retorno dascrianças para esta Comarca e Estado, em novembro de 2012, verbis:"(...) Nessa senda, relevante ressaltar que os vícios até aqui relacionados, per se, não só determinam a nulidade dasdecisões de guarda, mas também ensejam com mais razão a operação de modulação dos efeitos da declaração denulidade, na reavaliação das tutelas de urgência dispensadas (ECA, art. 35).No sentido exposto, veja-se que, em trabalho significativamente mais fundamentado e robusto, mais completo do ponto devista técnico, comparado com os demais estudos anexados nos autos, o qual foi desenvolvido pelo Centro de ApoioOperacional da Criança e do Adolescente - CAOCA/MP-BA, assinalou o Serviço de Apoio Psicossocial - SAPS, por suasexperts, sobre a capacidade da família de origem receber as crianças em processo de reintegração, de modo a podergarantir-lhes os direitos normatizados na Lei nº 8.069/1990 - ECA, in verbis:"(...) Diante do acima exposto e da análise dos autos - inclusive dos relatórios entregues ao Fórum e ao Ministério Público deMonte Santo pelo Conselho Tutelar e CREAS do mesmo município - esta equipe compreende que:Tanto a visita domiciliar, quanto a institucional são instrumentos que possuem por objetivo conhecer a realidade do sujeitono seu contexto psicossocial, cultural e de relações sociais (…)Desse modo, considera-se que os relatórios construídos pelos órgãos supracitados apresentaram tão somente umadescrição sucinta e superficial de elementos, sem que houvesse a necessária e primordial leitura do complexo da realidadee da cultura na qual os sujeitos sociais estavam inseridos. Ademais, a família (nuclear e extensa) não foi ouvida, sendodesconsiderada em tais relatórios, os quais subsidiaram a colocação das crianças em tela nas famílias substitutas. Talprocedimento vai de encontro ao que postulam a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA no quese refere ao contraditório e à ampla defesa.Tendo em vista o conteúdo do relatório do CREAS (..) bem como um dos relatórios do Conselho Tutelar (..) foram identificadassituações passíveis de intervenção psicológica, de assistência social e de saúde, cujos encaminhamentos às políticaspúblicas pertinentes possivelmente evitariam a necessidade da medida extrema e excepcional de colocação em famíliasubstituta. No caso específico da criança Estefane, que estava em situação de risco (saúde fragilizada), como não háunidade de acolhimento institucional em Monte Santo, era realmente necessária a tomada de outra medida de proteção deemergência, o que foi feito imediatamente pelo Ministério Público.No entanto, o CREAS não realizou nenhum encaminhamento da família em questão para qualquer órgão/serviço, e oConselho Tutelar o fez apenas para o CRAS, porém não acompanhou o seu andamento. (..)De acordo com o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à ConvivênciaFamiliar e Comunitária:'É essencial mostrar que a capacidade da família para desempenhar plenamente suas responsabilidades e funções éfortemente interligada ao seu acesso aos direitos universais de saúde, educação e demais direitos sociais. Assim, umafamília que conta com orientação e assistência para o acompanhamento do desenvolvimento de seus filhos, bem comoacesso a serviços de qualidade nas áreas de saúde, educação e da assistência social, também encontrará condiçõespropícias para bem desempenhar as suas funções afetivas e socializadoras, bem como para compreender e superar suaspossíveis vulnerabilidades'.Assim, corroborando com o relato das conselheiras tutelares de Monte Santo em entrevista à esta equipe, quando estascolocaram que as crianças em questão deveriam retornar imediatamente à sua família de origem, levando-se em conside-ração as entrevistas realizadas à família (nuclear e extensa) - a qual demonstrou estar bastante fragilizada com a ausênciadas crianças e construiu diversas possibilidades para recebê-las assegurando todos os seus direitos fundamentais - bemcomo observando o ECA em seu art. 19, § 1º e 2º, e no art. 28, § 3º e § 5º (…), sugere-se o retorno imediato dessas criançaspara a sua família biológica (...)".Já, em diverso prisma, as informações colhidas perante o MP, em 03.10.2012 (fls. 32/36, dos referidos autos nº 0000270-10.2011), de Rita de Jesus Rocha, ao menos na parte respeitante a um suposto comportamento negligente de Silvânia comseus filhos, não podem ser recebidas com credibilidade pelo Juízo, seja em razão desta pessoa indiciariamente ser muitopróxima do casal de estrangeiros e de ser "filha de criação" de Edite, todos investigados justamente por agenciamento decrianças pelo próprio parquet, seja em função de não se sustentarem diante da consistência técnico-científica e do teor domesmo trabalho citado, do Serviço de Apoio Psicossocial - SAPS/MP/BA.Afinal, na lição de Paulo Lobo e Kátia Regina Maciel, citados novamente em obra coletiva por Renata Dantas Vilela:"(...) PAULO LUIZ NETTO LOBO acrescenta 'que por sua gravidade, a perda do poder familiar somente deve ser decidida

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quando o fato que a ensejar for de tal magnitude que ponha em perigo permanente a segurança e a dignidade do filho (..)Kátia Regina acrescenta que 'esgotadas as tentativas de promoção da família, através de inclusão daquela em programasoficiais e comunitários e de auxílio e verificada a relutância e a negligência dos genitores em proporcionar aos filhos meiosde subsistência, saúde e instrução obrigatória, estará, então, tipificado o abandono" (Direito Civil, Coleção Tópicos deDireito, Lumen Juris Ed., Vol. 02, RJ, 2009, p. 564) (itálico meu, negritei e também sublinhei).Essencial, sobremais, em substancial reforço à convicção sobre o acerto da decisão interlocutória e da improcedência totaldas demandas em julgamento antecipado, foi o Juízo ter acompanhado de muito perto, tanto em São Paulo, junto à ONGAldeias Infantis SOS, quanto nesta Comarca de Monte Santo/BA, a evolução do processo de reintegração familiar - emboraos embaraços que sempre procuraram provocar os autores ao sucesso do programa em São Paulo e também em MonteSanto/BA -, quando foi observado, de um lado, o surpreendente rápido resgate e fortalecimento dos vínculos afetivos entre ascrianças e a genitora, com o empoderamento quase que imediato da mãe biológica e, de outro, a já esperada manifestaçãode alienação parental - especialmente pelos mais velhos, mais aptos a exteriorizarem sentimentos e comportamentoscompatíveis com esse contexto (Lei nº 12.318/2010) - de que provavelmente foram vítimas todos os irmãos, enquantoestiveram sob a guarda inconstitucional dos autores.A par desta investida alienante junto as crianças, da parte dos demandantes paulistas, provavelmente ter-se, inclusive,intensificado justamente na véspera da efetivação da ordem judicial de desligamento e retorno dos menores para esteEstado, deprecada às Comarcas de Campinas e Indaiatuba/SP, fato é que a contagiante imediata confraternização entre osmembros finalmente (re)unidos da família bioafetiva, a aparente boa expectativa de readaptação das crianças com o seumeio sócio-econômico-cultural de origem, a visível acomodação em "estado de conforto" (emocional) das crianças junto àmãe biológica (particularmente de CRI_5), bem como e especialmente a notória bem sucedida manifestação recíproca deafeto entre mãe e filhos, podem ser explicadas mais pelos domínios do conhecimento extrajurídicos, como, por exemplo,pela psicologia clínica, que aborda e descortina o desenvolvimento da relação entre mãe e filho, desde a fase intrauterina.Neste sentido, a Drª Ana Maria Morateli da Silva Rico aduz que:"A vida emocional do fetoAté bem pouco tempo, admitia-se que o psiquismo humano entrava em funcionamento no exato instante em que ocorria seunascimento quando, então, dava-se a cesura do cordão umbilical, ou seja, ao perder a segurança uterina e tendo queprocurar por si mesmo o oxigênio e o alimento para sua sobrevivência.(..) Com o advento da ultrassonografia e, mais tarde, da ecografia, pôde-se observar o universo fetal e a sua história dedesenvolvimento físico-emocional.Assim, constatou-se que não apenas o trauma do nascimento marca inconscientemente o indivíduo para sempre, comotambém o modo como o feto percebe suas experiências pré-natais, vão se constituir no modelo das vivências emocionaisno decorrer de sua vida aérea e, mais imediatamente, na primeira infância.Podemos então dizer que, certamente, a vida psíquica não se inicia com o nascimento, porém é uma continuidade da vidaintrauterina.Desta feita, a visão que se tinha de que o útero era um lugar silencioso, um verdadeiro paraíso, onde os ruídos externos nãochegavam até ele e que o feto era um ser passivo, completamente dependente, foi derrubada ante o desenvolvimentotecnológico e psicanalítico.(..) Sabe-se, inclusive, que as atividades executadas por ele não são sem sentido, cumprem objetivos: não só deglute olíquido amniótico para se alimentar como regula o volume de ingestão; os movimentos realizados desenvolvem as articula-ções e ossos e as experiências sensoriais são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro.Por sua vez, a visão de útero também se modificou, pois o feto escuta a voz materna e paterna, os sons internos e visceraisda mãe, como a digestão sendo realizada, os batimentos cardíacos, a circulação sanguínea, o ressoar do sono materno, asonoridade do mundo externo que lhe chega abafada, porém audível.Muito mais do que tudo isto, foi a compreensão adquirida que o feto sofre com a influência das emoções maternas (..)Apesar de não haver conexão direta entre o sistema nervoso materno e fetal, emoções como ira, medo e ansiedade fazemcom que o sistema nervoso autônomo da mãe libere certas substâncias químicas na corrente sanguínea, alterando acomposição do sangue materno e que, transpondo a barreira placentária modificarão a bioquímica do ambiente intrauterinoonde está se desenvolvendo o feto.(..) Sendo o feto e o bebê a mesma pessoa, as características de personalidade, de comportamento, de preferências erespostas do feto mantêm-se na vida pós-natal. Ao reviver situações estressantes semelhantes às da vida fetal, inconscien-temente buscará o mesmo padrão de comportamento que apresentava na vida intrauterina, para o alívio das tensões.Acredita-se, atualmente, que por meio de sinais materno-filiais, é firmado um compromisso entre a mãe e a criança e quedesencadeia o trabalho de parto.(..) a movimentação do feto é um fator importantíssimo que transmite como a gravidez está se processando e ofereceelementos valiosíssimos sobre seu estado emocional.Daí ressaltarmos a importância das emoções maternas no período da gestação e o quanto é primordial o ambienteimediato como rede de apoio, segurança e continente das angústias e ansiedades maternas.Desse modo, a qualidade do vínculo entre os parceiros, no momento da concepção e durante a gravidez, é fundamental parao equilíbrio da relação mãe-bebê, uma vez que o feto consegue captar os estados afetivos maternos tanto os de felicidade,tranquilidade e satisfação quanto os de choques emocionais, ansiedades, raiva, depressão e estresse (...)" (in http://guiadobebe.uol.com.br/a-vida-emocional-do-feto/ acesso em fevereiro de 2.013) (negritei e sublinhei).O comportamento afetivo das crianças menores, especialmente de CRI_5, para com a mãe biológica, e o dinamismo daverossímel bem sucedida reintegração familiar observados podem ser melhor aceitos e compreendidos, outrossim, seconsiderados como naturais manifestações do inconsciente na primeira infância.Tal pode ser explorado pelo chamado "método Abordagem Direta do Inconsciente por meio da Terapia de Integração

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Pessoal (ADI/TIP), utilizada nesse processo como recurso complementar à Psicoterapia Fenomenológico-Existencial",idealizado pela insígne Drª Renate Jost de Moraes, cuja aplicação, de interesse e reconhecimento cada vez maior pelacomunidade científica, revela que:"(...) pela técnica do 'questionamento' que busca informações em nível da intuição, consegue-se saber de realidades sobreo ser humano que não conseguem ser obtidos por outros recursos. Pela ADI investigou-se principalmente a fase dagestação de uma criança e verificou-se, entre muitos outros aspectos, que os registros iniciais de problemas de saúde,psicológicos, relacionais, existenciais e outros se localizam nesse período do existir humano. Esses dados obtidos sãoexatos e precisos até mesmo em termos de horário em que aconteceram e foram fornecidos por todos os 91 mil pacientestratados pelo processo ADI (2009). Revelam, esses pacientes, quando tratados em sua fase de gestação, que têm consci-ência de si, que tudo sabem em relação ao seu ser, ao viver, ao pensar e ao agir, desde o momento da concepção e que sãocapazes de agir sobre si. Sabe, a criança em gestação, comunicar-se com o mundo externo, principalmente com os pais.Está profundamente atenta ao relacionamento conjugal e ao amor e desamor entre os mesmos. Sabe dos pensamentos edas intenções dos pais e quer ser o elo de união entre eles.Sabe-se, pelo questionamento da ADI, que a criança em gestação expressa-se por meio de uma 'corporeidade' não físicaque é unificada à sua dimensão noológica e que representa o que nela é essencialmente humano. Não precisa a criançaem gestação dos neurônios desenvolvidos para perceber e registrar os fatos em seu inconsciente, nem necessita dosmembros do corpo já crescidos para abraçar seus pais ou para interferir no processo do desenvolvimento psicofísico doseu ser. O Eu-Pessoal, a corporeidade e a mente intuitiva se integram e unificam todo o seu pequenino ser para, a seguir,integrarem em si os gametas destinados a esse ser único" (acessível em http://www.tipclinica.com.br/) (negritei e sublinhei).Como dito, como sucedeu com Estéfane, todos os demais adotantes aparentaram lograr rápida readaptação com a mãe ecom a família bioafetiva, assim também com o meio sócio-econômico-cultural em que sempre viveram neste Estado.Os objetivos e metas estabelecidas de promoção de reintegração familiar das crianças, assim como de mobilização efortalecimento de políticas e rede social de apoio estão sendo trilhados e todos os esforços bem empreendidos.Destarte, à luz das oitivas, do trabalho técnico elaborado pelo MP, e dos documentos já considerados e valorados nodecisum acima transcrito, que revogou as guardas provisórias em 25.11.2012, e não havendo possibilidade, pela preclusãodas partes, nem havendo adequação e necessidade da produção de outras provas (CPC, artigos 130 e 131), tenho por nãodemonstrado(a)(s) nos autos, os seguintes pontos de fato e circunstâncias que possam constituir o direito afirmado pelosautores: 1) os livres assentimentos dos pais biológicos (declarados ou presumidos) à pretensão de guarda liminar eprovisória e, muito menos, de adoção dos seus filhos pelos autores (ECA, 21, 22, 24, 45, cabeça e seu § 1º, 101, § 2º, 161,§ 4º, 165, inc. III, in fine, e seu parágrafo único, 166, §§ 1º ao 7º, e art. 169; CC, artigos 1.621, § 1º, 1.623, 1.624, e 1.635 e ss.;110 CJF/STJ e 259 CJF/STJ); 2) quaisquer das causas de perda do poder familiar ou dos fatos respeitantes a uma gravíssimalesão ou gravíssima exposição a risco de lesão da dignidade das crianças (CC, artigos 1.635, inc. V e 1.638; ECA, artigos 21ao 24, 45, § 1º, in fine, 101, § 2º, parte final, 153, parágrafo único, 156, inc. III, 161, § 1º, 165, parágrafo único, 166, caput, e 169,caput); e 3) aplicações de quaisquer medidas de proteção favoráveis à família bioafetiva, que tenham buscado, primordial-mente - como mandam e fomentam políticas públicas, regras e princípios fundamentais -, assegurar o direito preponderan-te à manutenção das crianças junto à familia natural ou extensa e à sua convivência familiar bioafetiva e vivência comunitáriae cultural em sua terra natal, e que tenham sido, sobremais, frustradas por ação ou omissão insistente dos réus e/ou dosavós das crianças (ECA, artigos 4º, in fine, 5º, 6º, 19, caput e § 3º, 21, 22, 23, 24, 25, 28, §§ 3º ao 5º, 33, § 1º, 39, § 1º, art. 100,incisos I, II, IV, VII, VIII, IX e X, 101, incisos I, II, IV e §§ 1º e 2º, 153, parágrafo único, 165, parágrafo único, 166, §§ 3º ao 6º, e 169).Diante dos princípios vetores referidos acima, tanto a desnecessidade e a inadequação do Juízo em determinar nestemomento processual a produção de outras provas em audiência de instrução, quanto a urgência da antecipação do decretode improcedência de todas as ações restaram mais induvidosas, na medida em que, sobremais, pude observar (mais doque) evidenciado(a)(s): 4) os significativos vínculos afetivos totalmente preservados e ainda intensificados - em razão doafastamento repentino das crianças - entre ascendentes e descendentes bioafetivos; 5) o intenso desejo de permanente(re)união de todos os membros da família natural e extensa; 6) clara manifestação da ideia de incompletude da entidadefamiliar de origem e de sua desconstituição enquanto permaneceram afastadas as crianças; e 7) a capacidade e disposi-ção de aperfeiçoamento constante no desempenho dos deveres inerentes ao poder familiar.De conseguinte, à vista da ausência da comprovação cabal do consentimento válido à adoção dos demandados, ou dequaisquer das causas legais de destituição dos genitores do poder familiar junto aos seus filhos; tendo em conta a bemsucedida reintegração familiar das crianças, desde a efetivação da ordem de revogação das guardas provisórias, ao finaldeclaradas nulas - a despeito das desleais e insistentes interferências no programa da parte dos autores, como adianteexplicitado; como também tendo em vista o mandamento de precedência e prevalência da mantença dos filhos menoresjunto à familia natural e extensa, sobre a excepcionalidade de sua colocação em família substituta - em prol da convivênciafamiliar e vivência comunitária e cultural própria de sua terra natal -, atualmente expressamente normatizado em Instrumen-tos Internacionais de Promoção dos Direitos Humanos da Criança, na Constituição Fedral de 1.988, em programas epolíticas públicas governamentais, e no ordenamento infraconstitucional; considerando não interessar aos réus os depoi-mentos pessoais dos autores; e considerando, por fim, não haver mais possibilidade, por efeito da preclusão, tampouconecessidade e adequação de produção de prova outra, seja documental, seja pericial, seja ainda prova oral em audiênciade instrução, encontrando-se já consolidada tanto a prova produzida no conjunto dos autos, quanto a convicção deste Juízosobre a improcedência total das ações (CPC, artigos 130 e 131), tenho então como certo e mais do que imperioso o poder-dever do Juízo em fazê-la publicada - a improcedência das ações - antecipada e imediatamente (CPC, art. 330, inc. I).Decidir contrariamente e/ou em outro momento - depois de autorizada a extensão da produção da prova em audiência deinstrução ou fora dela -, como visto, atenta contra a carga axiológica normativa de uma miríade de princípios constitucionaisprocessuais, de regras e princípios específicos, do direito nacional e internacional, que informam todo o sistema político-jurídico-normativo interno de proteção prioritária e integral da criança, de princípios gerais do processo civil, de políticas e

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programas governamentais setoriais estratégicos, como também viola frontalmente regras legais materiais e processuaisdiretamente incidentes, dispostas no ECA, CC e CPC (v.g., CF/88, artigos 1º, inc. III, 3º, incisos I e IV, 5º, caput, incisos X, XXXV,LV, e LXXVIII, §§ 1º ao 3º, 37, cabeça, 226, caput, § 7º, 227, caput, §§ 5º e 7º c/c art. 204, inc. II, in fine; ECA, artigos 1º, 3º, 4º, 5º,6º, 15, 16, incisos I, IV e V, 17, 18, 19, caput, 21, 22, 23, 24, 25, 28, §§ 3º ao 5º, 29, 33, cabeça, e § 1º, 39, § 1º, 43, 45, caput eseu § 1º, 50, §§ 13º e 14º, 70, 86, 87, inc. VI, 88, incisos I, VI e VII, 100, parte final, parágrafo único, incisos I, II, IV, V, VI, VII, VIII,IX, X, 101, §§ 1º, 2º, 152, 156, 157, 158, 161, § 4º, 165, parágrafo único, 166, §§ 3º ao 6º, 169; LINDB, art. 5º; CC/2002, artigos1.621, 1.623, 1.624, 1.625, 1.630, 1.631, caput, 1.632, 1.634, 1.635, incisos IV e V, 1.637 e 1.638; CPC, artigos 3º, 125, incisosII e III, 130, parte final, 131, 330, inc. I, 333, inc. I, 334, incisos III e IV, 335, 336, caput, 338, parágrafo único, 343, 351, 396, 397,400 cabeça e inc. I, 427, 437, e 473; Lei nº 12.010/2009, art. 1º (Lei da Adoção); Convenção sobre os Direitos da Criança,adotada pela ONU em 1.989 e vigente desde 1.990; Decretos 99.710/90, 5006 e 5007 de 2004; Convenção de Viena; PlanoNacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, daSDH/PR).Neste sentido:"(...) Falta de provas dos maus-tratos e desejo dos genitores biológicos retornar ao convívio do filhoLeva ao indeferimento do pedido de destituição e o restabelecimento do poder familiar: 'FAMÍLIA. DESTITUIÇÃO DO PODERFAMILIAR. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. DESNECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INEXISTÊNCIA DE CER-CEAMENTO DE DEFESA. ALEGAÇÕES DE MAUS-TRATOS. AUSÊNCIA DE PROVA ROBUSTA. PAIS JOVENS QUEREESTRUTURARAM A VIDA E DESEJAM CRIAR E EDUCAR OS FILHOS. RESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR MEDIANTEACOMPANHAMENTO RIGOROSO DO CONSELHO TUTELAR. SITUAÇÃO A SER REAVALIADA DENTRO DE UM ANO' (TJSC,AC 172.858 SC 2003.017285-8, Rel. Luiz Carlos Freyesleben, j. 8-9-2005)" (apud Válter Kenji Ishida, in Estatuto da Criançae do Adolescente, Atlas, 12ª edição, São Paulo, 2010, p. 341) (negritei).Na lição do professor doutor Marcelo Abelha Rodrigues:"(...) Superada a fase procedimental das providências preliminares, ou não tendo havido necessidade delas, o juiz deveproferir julgamento conforme o estado do processo. Assim, dentro do Capítulo V, que cuida do 'julgamento conforme oestado do processo', inevitavelmente posterior às providências preliminares, o Código elenca dois possíveis caminhos aserem adotados pelo juiz: extinguir o processo ou dar continuidade ao seu procedimento.Se o caminho a ser seguido for o da extinção, será com ou sem resolução do mérito, conforme a hipótese. Se, todavia, ocaminho for o de dar continuidade ao feito, deverá realizar o saneamento do processo.(..)Na fase postulatória é possível que, prematuramente, porque fora do momento normal, o juiz prolate sentença terminativa oudefinitiva, segundo as hipóteses dos arts. 329 e 330 do CPC.Assim, mesmo que não tenha havido instrução no processo, os arts. 329 e 330 admitem que o processo seja extinto nashipóteses que arrolam, justamente para maior celeridade e simplicidade do procedimento. Nesse ponto, vale a transcriçãodas palavras de Vicente Greco Filho: 'Sob este aspecto, o Código de 1973, posto que, como toda obra humana, sujeita areparos em alguns pontos, representou um grande avanço, especialmente no que se refere à preocupação de simplifica-ção, eliminação de atos, formas e termos inúteis. Sem sacrificar a defesa das partes ou os fins do processo, atribuiu-se,especialmente pelo instituto do julgamento conforme o estado do processo, o instrumental necessário para que se impe-disse o protraimento desnecessário de causas que, em virtude de vício formal ou por estarem totalmente instruídas, nãojustificam a realização da audiência, revelada, in casu, inútil'.A extinção do processo, nesse caso, prevista no art. 329, pode se dar com ou sem resolução do mérito. (..) a sentença serádefinitiva, com resolução do mérito, quando incidir qualquer das hipóteses do art. 269, II a V, do CPC, e, também, quandoacontecer o julgamento antecipado da lide.(..) O julgamento antecipado da lide recebe esse nome porque, primeiro, já há resolução de mérito, eis que o juiz aprecia alide e decide por sentença definitiva, possuindo todas as características normais de uma sentença desse tipo. O vocábuloantecipado vem apenas dizer que a sentença está sendo antecipada do seu momento normal, ou seja, antecipa-se a fasedecisória, justamente porque não há necessidade de realização da fase instrutória. (..) A antecipação só ocorre peladesnecessidade da fase instrutória.(..) duas situações, por razões lógicas, permitem que o juiz prescinda da fase instrutória, proferindo o julgamento antecipadoda lide, porque 'exauriu a sua cognição' em virtude de um convencimento anterior ao momento em que normalmente ocorre.A primeira hipótese de julgamento antecipado da lide ocorre 'quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou,sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência' (art. 330, I, do CPC). Nesse caso,ocorrerá o julgamento antecipado da lide porque os pontos controvertidos e duvidosos que envolvem a questão de méritonão dependem da comprovação dos fatos, seja porque são exclusivamente de direito, seja porque não necessitam serprovados em audiência (...)" (Manual de Direito Processual Civil, RT, 5ª edição, SP, 2010, pp. 461/462) (negritei e sublinhei).O professor doutor Marcos Destefenni, citando o grande J.J. Calmon de Passos, a respeito, pontua que:"(...) Com fulcro no princípio da economia processual, poderá o juiz julgar antecipadamente a lide, conhecendo e decidindodiretamente do pedido, desde que presentes as seguintes condições:- que o processo se tenha constituído e desenvolvido regularmente;- que as questões de fato não reclamem produção de mais provas.Para José Joaquim Calmon de Passos, 'o julgamento antecipado da lide não é mais do que o julgamento feito após a fasepostulatória, por motivo de se haver colhido, nesta fase, todo o material de prova necessário para formar a convicção domagistrado (art. 330, I), ou ocorrendo a revelia (art. 330, II)'.De conformidade com o disposto no art. 330, três são as hipóteses previstas em lei para que ocorra o julgamento antecipa-do da lide:(..)

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- quando, sendo a questão de direito e de fato, não houver necessidade de produção de prova em audiência, pois aqui, damesma forma, embora a questão de mérito envolva fatos, estes não dependem de provas que se produzem em audiência(...)" (Curso de Processo Civil, Vol. 1, Saraiva, 2ª edição, 2009, pp. 390/391) (negritei e sublinhei).Tendo em conta a não comprovação de quaisquer dos fatos subsumíveis às molduras normativas que tipificam as hipóte-ses de perda do poder familiar, somada à impossibilidade de produzir outra prova testemunhal ou documental em seu favor,em razão da preclusão, bem assim à vista da dispensa dos seus respectivos depoimentos pessoais, pelos demandados,e embora se trate, portanto, de circunstância completamente dispensável ao julgamento das demandas, impõe-se, ade-mais, ressaltar, para a devida anotação junto aos órgãos e autoridades competentes, a conduta incompatível com a probi-dade, lealdade e colaboração para com a Administração da Justiça e o perfil psicossocial dos autores altamente reprovável,para dizer o mínimo - nem um pouco adequado aos pleitos de guarda e adoções aqui encetados -, revelados no cursodestas demandas, e inferidos, principalmente, tanto (A) da afirmação, pelos autores, de fato inverídico, constitutivo do direitovindicado nas iniciais, sobre precedente destituição do poder familiar dos genitores (conferir, v.g., fl. 72, dos autos nº0000272-77.2011.805.0168; fl. 79, dos autos nº 0000286-61.2011.805.0168; fl. 90, dos autos nº 0000288-31.2011.805.0168;e fls. 02 e 65, dos autos nº 304-82.2011.805.0168), tanto (B) da subsequente livre e consciente decisão dos autores dereceberem, em guarda provisória, em pouco mais de 24 horas das respectivas proposituras das ações (CPC, art. 263,primeira parte), grupo indiviso de cinco irmãos, embora cientes do não consentimento e da não precedente e indispensável,in casu, destituição do poder familiar dos genitores; tanto ainda (C) da promoção orquestrada para a qual concorreram,utilizando-se, para tanto, de veículos de comunicação impressa da região dos seus domicílios em SP, e de veiculações demensagens postadas em redes sociais (como o facebook), sempre com enfoque distorcido ou totalmente inverídico darealidade, altamente negativo, pejorativo e ofensivo, sobre a rotina e fatos relacionados ao dia-a-dia da família bioafetiva,dolosa e concertadamente trabalhadas, inclusive a partir de informes encomendados de vizinhos e munícipes - cúmplicese coniventes, igualmente descompromissados com a ética e com a necessária e proba colaboração para com a Administra-ção da Justiça -, e na sequência difundidas por todos os meios nesta Comarca e em toda a Região, com o indiciadopropósito de promover tumulto, o embaraço da eficácia da decisão que revogou as guardas provisórias e do regularandamento destes processos, através, especialmente, repita-se, da campanha ininterrupta de desqualificação, sem funda-mento criterioso algum, da capacidade e aptidão da família natural e extensa na realização dos direitos fundamentais de quetratam os artigos 3º, 4º e 5º, da Lei nº 8.069/1990, gerando com isso, no mais, óbvio risco ao processo de reintegraçãofamiliar e de fortalecimento da rede de apoio à família no Município, declaradamente intensionados no decisum deste Juízo- que revogou as guardas provisórias -, quando assumiram ainda a causação de palpável e previsível prejuízo à imagem,privacidade, tranquilidade, saúde, bem-estar e ao desenvolvimento sociopsicológico das próprias crianças que osdemandantes afirmam amar (ECA, artigos 3º, 4º, 5º, 29, 43, a contrario sensu, e 208 e ss.; CC/2002, artigos 12, 17, 20, 21,186, 187, 927, 1.625, a contrario sensu).Em outro estádio, anote-se que, após a oitiva da família bioafetiva e juntada de estudos sociais deprecados ao Estado deSão Paulo, orientado pela imperiosa necessidade de saneamento dos processos, no confronto entre documentos e osinformes orais já produzidos, e considerado o contexto de (óbvia) nulidade das decisões de guarda, logrei já detectar que nogerminar destes conflitos, quando ainda nem litigiosos, pôde ter havido apenas o maldoso, útil e metódico processamentoe profusão de informações e fatos completa ou parcialmente falsos ou distorcidos sobre a vida e rotina da família biológica,e sempre (que foi possível) com destacado enfoque artificial e altamente negativo e depreciativo sobre aspectos ligados aodesempenho pelos genitores dos deveres de cuidado, guarda e vigilância dos filhos menores.Levada adiante possivelmente por agentes públicos no desempenho de função ou atividade pública estadual e municipal,inclusive por agentes dentre os integrantes da própria rede de atendimento e proteção dos menores no Município, emconcurso com terceiros particulares suspeitos de traficarem e agenciarem a compra e venda de crianças em pelo menosmais de um Estado Federado, na modalidade de adoção simulada, e possivelmente ainda em associação com advogadosinscritos em diversos Conselhos Seccionais da OAB - o que, portanto, exigiu mais atenção e dedicação do Juízo no estudoe na entrega das tutelas judiciais, bem assim, de um modo geral, na condução dos processos -, essa vislumbrada campa-nha concertada e sorrateira de progressiva desqualificação e desmoralização dos pais biológicos das crianças, ora levadaa efeito "de viva voz", ora documentada "por encomenda" em textos e relatórios rudimentares, de pouco ou nenhum funda-mento técnico, de remetentes e destinatários predefinidos, aparentou tratar-se mais de uma manifestação de um singularmodus operandi recorrente e comum a uma fase preparatória e/ou executória de diversos crimes perpetrados em suamaioria por associação estável (CP, artigos 29, 30, 138, 139, 140, 288, 299, 319, 327, 339, 340 e ECA, art. 238).De todo modo, por obra ou não de criminosos associados e coniventes, total ou parcialmente inverídicos ou não, tendenci-osos ou não, inclusive com o fim de induzir ou manter em erro o órgão local do parquet, fato foi que esses informes e fatosreportados acabaram por constituir aporte probatório de postulações de tutelas judiciais voltadas, exclusivamente, ao maisrápido possível afastamento das crianças de sua família biológica, quando, entretanto, tanto pelo modo como foi produzido,tanto pela inconsistência técnica do seu conteúdo, tendo em vista os fins para o qual se destinava, este conjunto documentalnão foi além de reportar situações menos graves de violação ou perigo de violação dos direitos fundamentais das crianças(ECA, art. 98) e, por isso, não pôde constituir, de modo algum, quer pelo que consta normatizado no ECA, quer na CF/88, emfundamento válido e legítimo para a retirada das crianças do seio da família natural e extensa, em pouco mais de 24 (vintee quatro) horas desde o aviamento das respectivas postulações em Juízo, com a divisão e separação do grupo de irmãos,confiados a diferentes famílias substitutas, estabelecidas ainda em outro Estado da Federação, sem precedente guarda defato, estudo social e sem, sobremais, o consentimento dos genitores, em pleno exercício do poder familiar (ECA, artigos 4º,in fine, 5º, 6º, 19, caput e § 3º, 21, 22, 23, 24, 25, 28, §§ 3º ao 5º, 33, § 1º, 39, § 1º, art. 100, incisos I, II, IV, VII, VIII, IX e X, 101,incisos I, II, IV e §§ 1º e 2º, 153, parágrafo único, 165, parágrafo único, 166, §§ 3º ao 6º, e 169).Tal conjunto de elementos de prova, ilícito ou não, pôde, quando muito, justificar o pleito de acolhimento institucionalformalizado pelo MP, de "(...) aplicação da medida de proteção prevista no artigo 101, VII, do ECA em favor dos menores (…)

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[para que os mesmos sejam encaminhados] pelo Poder Público Municipal, a abrigo em entidade competente (..)" (fl. 04, dosautos apensados nº 0000270-10.2011.805.0168).Entretanto, a perplexidade geral e comovente, decorrência da publicação e efetivação das decisões absolutamente nulas,que concederam as guardas aos autores, foi de tal ordem que os pontos de fato e de direito veiculados e os víciosdetectados no conjunto destes autos, de fenômenos endoprocessuais - malgrado gravíssimos - passaram a objeto deinvestigação criminal pelo MP, sobre indiciada violação, ao menos, ao art. 288, do CP, e ao artigo 238, do ECA, por associa-ção criminosa com atuação e influência deliquencial no mínimo regional, assim como a tópico de pauta dos trabalhos e deaudiências públicas no âmbito das CPIs de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas do Senado Federal e da Câmara dosDeputados, que, em função disso, tiveram seus Relatórios e Prazos inclusive prorrogados.Some-se a citação reiterada ao nome da Escrivã desta Vara Crime e da Infância e Juventude, Célia Maria de Oliveira Santos,não somente no conjunto destes autos, mas ainda em mídias veiculadas em redes sociais e na imprensa, como tendo sidopossivelmente a pessoa que manteve os autores cientes dos informes relatados em tais documentos sobre a dinâmicafamiliar e o estado jurídico das crianças (quanto à imposição de medida de proteção de institucionalização das crianças),como também provavelmente a pessoa que concorreu para a aproximação, junto ao Fórum, ao Conselho Tutelar e à Famíliade Silvânia, dos autores e do casal estrangeiro, suspeito de agenciar crianças entre Estados Federados, com indiciadaatuação criminosa intensa e há muitos anos justamente nesta Comarca.Na verdade, no caso destes autos, em que as iniciais instrumentalizam demandas voltadas à imposição da gravíssimasanção de destituição do poder familiar sobre cinco crianças (CC, artigos 1.635, incisos IV e V, e 1.638), manda a Constitui-ção Federal, com raro destaque, observando-se ainda a preferência política e legal pela manutenção das crianças junto àfamília de origem, que a intervenção estatal e a contribuição para com a Administração da Justiça pelas partes, pelosintervenientes, pelos auxiliares da justiça e por terceiros, sejam procedidas com especial desvelo, denodo, responsabilida-de e eticidade (CF, art. 227, caput, e CPC, arts. 14 e ss.), de modo a concorrerem, ineludivelmente, em todas as suasmanifestações, dentro e fora dos autos (quanto a atos praticados fora do processo, mas que, relacionados com ele,objetivamente - a despeito da intenção - exerçam (ou possam exercer) sobre ele algum tipo de influência ou consequência),por condutas comissivas ou omissivas (v.g., contribuindo para o efetivo contraditório e exercício amplo e concreto de defesapelos demandados pais bioafetivos, ou, e.g., não procedendo, senão pelas vias recursais adequadas e necessárias, deforma a procurar embaraçar ou atrapalhar a eficácia e os efeitos processuais e materiais de decisões interlocutórias oudefinitivas judiciais), não só para a garantia de um processo e julgamento racional e équo, e em favor do respeito, segurançae credibilidade de que deve gozar o Poder Judiciário e a Administração da Justiça junto aos jurisdicionados, mas também,e principalmente, em prol da realização com prioridade absoluta do melhor interesse da criança e de sua proteção integral(CF, artigos 5º, incisos LIV e LV, 226, 227 e 229; CPC, artigos 14, incisos I, II e V, 17, inciso I, II, III e VI, 18 e ss.; ECA, artigos155 e ss.), o que, a todas as luzes, não se viu observado e efetivado no curso destes processos pelos demandantes.Assim, em típica violação à cláusula de vedação ao exercício abusivo de direito (CC, art. 187), sem que tenham incorrido,portanto, em simples erro ou falta de técnica, figura incompatível com esses deveres processuais, tanto (A) a afirmação,pelos autores, de fato inverídico, constitutivo do direito vindicado nas iniciais, sobre precedente destituição do poder familiardos genitores (conferir, v.g., fl. 72, dos autos nº 0000272-77.2011.805.0168; fl. 79, dos autos nº 0000286-61.2011.805.0168;fl. 90, dos autos nº 0000288-31.2011.805.0168; e fls. 02 e 65, dos autos nº 304-82.2011.805.0168), tanto (B) a subsequentelivre e consciente decisão dos autores de receberem, em guarda provisória, em pouco mais de 24 horas das respectivasproposituras das ações (CPC, art. 263, primeira parte), grupo indiviso de cinco irmãos, embora cientes do não consentimen-to e da não precedente e indispensável, in casu, destituição do poder familiar dos genitores; tanto ainda (C) a promoçãoorquestrada para a qual concorreram, utilizando-se, para tanto, de veículos de comunicação impressa da região dos seusdomicílios em SP, e de veiculações de mensagens postadas em redes sociais (como o facebook), sempre com enfoquedistorcido ou totalmente inverídico da realidade, altamente negativo, pejorativo e ofensivo, sobre a rotina e fatos relacionadosao dia-a-dia da família bioafetiva, dolosa e concertadamente trabalhadas, inclusive a partir de informes encomendados devizinhos e munícipes - cúmplices e coniventes, igualmente descompromissados com a ética e com a necessária e probacolaboração para com a Administração da Justiça -, e na sequência difundidas por todos os meios nesta Comarca e em todaa Região, com o indiciado propósito de promover tumulto, o embaraço da eficácia da decisão que revogou as guardasprovisórias e do regular andamento destes processos, através, especialmente, de campanha ininterrupta de desqualificação,sem fundamento criterioso algum, da capacidade e aptidão da família natural e extensa na realização dos direitos funda-mentais de que tratam os artigos 3º, 4º e 5º, da Lei nº 8.069/1990, gerando com isso, no mais, óbvio risco ao processo dereintegração familiar e de fortalecimento da rede de apoio à família no Município, declaradamente intensionados no decisumdeste Juízo - que revogou as guardas provisórias -, quando assumiram ainda o risco de causação de palpável e previsívelprejuízo à imagem, privacidade, tranquilidade, saúde, bem-estar e ao desenvolvimento sociopsicológico das próprias crian-ças que os demandantes (desequilibradamente) afirmam amar (ECA, artigos 3º, 4º, 5º, 29, 43, a contrario sensu, e 208 e ss.;CC/2002, artigos 12, 17, 20, 21, 186, 187, 927, 1.625, a contrario sensu).Nesse sentido, conferir doutrina e jurisprudência comentada pelo professor doutor José Miguel Garcia Medina:"(...) Proteção à boa fé objetiva. Assim como a proteção à legítima confiança (cf. comentário ao art. 3º), o princípio da proteçãoà boa fé objetiva é postulado ético imposto pelo sistema normativo. Trata-se de uma 'norma de conduta', em razão da qualse impõe àqueles que participam de uma relação jurídica 'um agir pautado pela lealdade' (Judith Martins-Costa, Comentá-rios ao novo Código Civil, v. 5, t. II, p. 33). Decidiu-se que 'a boa fé objetiva se apresenta como uma exigência de lealdade,modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste a própria conduta aesse modelo, agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal' (STJ, Resp 803.481/GO, 3ª T., j. 28.06.2007, rel.Min. Nancy Andrighi).(..)Vedação ao exercício abusivo de direito. Como consequência da adoção, pelo sistema processual civil, do princípio da

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proteção à boa fé objetiva, o exercício abusivo de uma posição jurídica deve ser reprimido. O exercício abusivo de direitoocorre quando se excederem manifestamente os limites próprios do exercício de um direito (cf. ANTÔNIO MANUEL DAROCHA e MENEZES CORDEIRO, Da boa fé no direito civil, p. 861 e ss.). No Código Civil, a matéria é referida no art. 187,segundo o qual 'comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos peloseu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes'. As bases estabelecidas pelo art. 187 do CC devem serobservadas também para a averiguação da ocorrência ou não de exercício abusivo do direito, no plano processual. Exem-plos de exercícios abusivos ou excessivos do direito são os referidos nos arts. 17, VI e VII, 31, 273, II, 538, parágrafo único,615-A, § 4º, 739, III, 740, parágrafo único, e 746, § 3º do CPC. A referência, em várias destas disposições, ao exercíciomanifestamente abusivo revela que se adotou, no direito brasileiro, o critério objetivo, segundo o qual mais importante quea intenção do sujeito é a constatação de que o direito foi exercido de modo contrário à sua finalidade econômica ou social.(..) A violação ao princípio da boa-fé objetiva não depende, necessariamente, da prova da má-fé subjetiva (...)" (Código deProcesso Civil.., op cit , pp. 53/54) (itálico no original, negritei e sublinhei).Por todo o exposto e pelo que mais consta do conjunto destes autos de ações de adoção e de destituição do poder familiar,homologo a desistência da ação formulada por Marcelo Lopes Chbane e com fundamento no artigo 267, inciso VIII, doCódigo de Processo Civil, em relação a este autor, julgo extinto o processo que correu nos autos nº 0000272-77.2011.805.0168,sem resolução do mérito. Tendo em vista a desistência precoce deste demandante, antes mesmo da ordem de citação paraapresentação das contestações pelos réus, lhe são indevidas despesas processuais (CPC, artigos 19 e ss. e 268, caput,segunda parte). Julgo totalmente improcedentes as ações de destituição de poder familiar e, de conseguinte, todas asações de adoção, que tramitaram nestes autos nº 0000272-77.2011, nº 0000286-61.2011, nº 0000288-31.2011, e nº 0000304-82.2011.805.0168 e extingo todos os processos com resolução do mérito (CPC, art. 269, inciso I). Custas e demais despe-sas pelos autores (CPC, art. 20, § 2º). Tendo em conta o altíssimo grau de zelo, o trabalho de alto nível e o tempo gasto paratanto, dispendidos pelos ilustres advogados que assumiram a defesa técnica dos réus - tanto mais quando se tem em mirao colossal desafio que lhes foi posto, dentro e fora dos processos, de reversão das guardas provisórias em vigor há mais de1 (um) ano, em outro Estado da Federação, e de trato com a mídia em geral, na busca de contínuo esclarecimento ao públicoe da efetivação do melhor interesse das crianças -; considerando ainda o domicílio profissional dos mesmos advogadosestabelecido em Salvador/BA, o que exigiu inúmeros deslocamentos a esta Comarca, não somente para a participação ativaem audiências, mas para a colheita de informações junto ao Fórum e ao Juízo, MP, Conselho Tutelar, Serviços Sociais, aosréus e junto a agentes públicos diversos (CP, art. 327), a fim de melhor desempenharem os poderes que lhes foramoutorgados pelos mandatos anexados nestes autos; considerando, por fim, a natureza e a imensurável relevância destasações, cujos desdobramentos mobilizaram a atenção e a discussão sobre os importantíssimos temas aqui versados pelaopinião pública em geral, e provocaram ainda atuações concretas de diversas autoridades, municipais, estaduais e fede-rais, de todos os Poderes da República (Legislativo, Executivo e Judiciário) - como foram exemplos a edição da Recomen-dação nº 08, de 07.11.2012, de Sua Excelência o Ministro Corregedor Nacional de Justiça, as diversas oitivas tomadas eminúmeras audiências públicas realizadas no âmbito das CPIs do Congresso Nacional, a atuação destacada da SDH/PR, naedição de Nota Técnica em 18.10.2012 (acessível em http://portal.sdh.gov.br) e para a inclusão da família bioafetiva emprogramas setoriais do Governo Federal e o fortalecimento, em cooperação, das redes estaduais e municipais de apoio àfamília e à convivência familiar e comunitária -, com fundamento no disposto no art. 20, §§ 3º e 4º, e art. 258, do Código deProcesso Civil, no art. 22, § 1º, da Lei nº 8.906/1994 c/c art. 658, do CC/2002, com equidade decido condenar os autores aopagamento de honorários de advogado no valor de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), devidos solidariamente pelosdemandantes, para cada um dos advogados dos réus. Por terem ainda procedido e litigado com má-fé, decido condenartodos os autores, solidariamente, ao pagamento de multa equivalente a 1% (um por cento) da grandeza numérica (R$360.000,00) que serviu, por equidade (CPC, art. 20, § 4º), de base para o cálculo do montante total dos honorários, aos quaiscondenados em sucumbência, ou seja, de sanção correspondente a R$ 3.600,00 (três mil e seiscentos reais), valor devidoa partir do trânsito em julgado destas sentenças, sob pena de inscrição em Dívida Ativa do Estado da Bahia (CPC, artigos 14e ss.; ECA, 141, § 2º). Por fim, condeno os demandantes ao pagamento, em solidariedade, de indenização aos réus e seusfilhos por danos morais, concretos e presumidos, que lhes foram causados pelas inúmeras condutas ímprobas, meramen-te indicadas nos itens (A) ao (C), supra, cujo montante deverá ser objeto de liquidação por arbitramento e/ou por artigos, noque cabível, e honrado em subsequente cumprimento destas sentenças (CC, artigos 186 e 187; CPC, artigos 18, caput, § 1º,segunda parte, e § 2º, in fine, 475-A, 475-C, 475-D, 475-E, 475-F, 475-G, 475-I, 475-N, inc. I, 475-P, inc. II, e seu parágrafoúnico, 475-Q, 475-R, e 600), sem prejuízo do disposto nos artigos 201 e ss., do ECA.Por cartas precatórias, observados os endereços e domicílios dos autores e demais requisitos legais (CPC, artigos 202 ess.), para serem cumpridas em até 45 (quarenta e cinco) dias, transmitidas via fac-símile (CPC, art. 205), sem prejuízo daremessa postal por SEDEX, juntando-se nos autos os respectivos comprovantes de transmissão eletrônica e recibo postal,solicite-se ao MM. Juízo da Infância e Juventude das Comarcas de Campinas e Indaiatuba/SP a notificação dos demandantes,com exceção de Flávia Regina Cury Carneiro, para remeterem a este Juízo, em até 10 (dez) dias, contados da notificaçãoválida, sob pena de responsabilidade criminal, sem prejuízo do disposto nos artigos 14 e ss., do CPC, os originais dosCalendários ou Cadernetas de Vacina, devidamente cumpridos, acompanhados das devidas anotações e registros poragente público ou médico competente, respectivamente de CRI_1 e CRI_2 (Campinas/SP), e de CRI_4 e CRI_5 (Indaiatuba/SP), com transcrição fiel do presente parágrafo, e com cópia do Calendário de Vacina de CRI_3, nascido em XX.10.2008,anexado nos autos nº 0000288-31.2011.805.0168, bem assim do modelo de Calendário de Vacinação do Ministério daSaúde do Brasil, disponível em http://guiadobebe.uol.com.br/calendario-de-vacinação-do-ministerio-da-saude-do-brasil, cujasvias, para tanto, encontram-se desde logo anexadas às presentes sentenças.Cabe ainda manifestação do Juízo sobre um único requerimento dentre os inúmeros feitos pelo MP, em sua maioriaapresentados para o saneamento dos processos, seja em razão do deferimento já ocorrido de diversos destes requerimen-tos e seu cumprimento no curso das demandas, seja em função da perda do respectivo objeto ou sentido de outros tantos,

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considerando a superveniência da decisão que revogou as guardas provisórias e, agora, tendo em conta o julgamentodestas demandas com resolução do mérito, após pedido de julgamento antecipado da lide formulado pelos demandadosem 04.02.2013.Nos autos nº 0000270-10.2011.805.0168, em que foi postulada a aplicação de medida protetiva em favor das crianças, comesteio no artigo 101, inc. VII, do ECA, requereu o MP que seja certificado o cumprimento do deferimento, pelo Juízo, damedida de institucionalização dos menores "(...) preferencialmente por meio de termo circunstanciado assinado pelo oficialde justiça incumbido da efetivação da ordem, bem como pela juntada das guias de acolhimento e dos planos individuais deatendimento (...)" (fl. 19), requerimento reiterado em 19.10.2012 (fls. 39/40).No ponto, o conjunto dos autos dos processos de adoção aponta para o absoluto descumprimento da decisão de fl. 16,verso, datada de 18.05.2011, dos mencionados autos nº 0000270-10.2011, que acolheu verbis "(...) como parte integrante dapresente decisão a manifestação do MP (...)" e que determinou a institucionalização das crianças, a despeito do Municípiode Monte Santo, notoriamente, não ter entidade para tal acolhimento institucional.Sem prejuízo disto, considerando que a Escrivã desta Vara certificou na fl. 20, verso, o integral cumprimento do decisum,determino que a mesma, Célia Maria de Oliveira Santos, Escrivã deste Juízo, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas dapublicação destas sentenças, no DJE do E. TJBA, sob pena de responsabilidade funcional e criminal, certifique: (a) qualdecisão nos referidos autos nº 0000270-10.2011 foi cumprida e em que circunstâncias, bem assim (b) à qual decisãoreferiu-se na certidão que lançou na fl. 20, verso, dos mesmos autos, na esteira do quanto dissertado (e indagado) na últimapetição do parquet, datada de 19.10.2012.Determino, ainda, à Escrivã deste Juízo que, em igual prazo derradeiro de 24 (vinte e quatro) horas, contadas da inserçãodestas sentenças no DJE do E. TJBA, sob pena de responsabilidade funcional e criminal, junto ao CRCPN (assento, termonº 70.005, fl. 050, livro A-51) (autos nº 0000272-77, fl. 31), cumpra rigorosamente na íntegra o pronunciamento judicial,datado de 26.10.2012, consistente em ordem imediata de averbação do Reconhecimento de Paternidade por Termo damenor CRI_5 e, à vista, ainda, da Declaração de Nascido Vivo - DNV, de 26.02.2011, anexada na fl. 54, dos autos nº 0000272-77.2011.805.0168, consistente em ordem imediata de subsequente regularização do registro do seu nascimento, ocorridoem 26.02.2011 - e não em 14.03.2011, como erroneamente constou da inicial, do termo de guarda e do mandado de registro(fls. 04, 26, 27 e 32) (Lei nº 6.015/73, art. 29, § 1º, alínea d; Lei nº 8.560/92, art. 1º, inc. II, CC/02, artigos 1.609, inc. IV e 1.610;e ECA, artigo 102, § 1º).Requisite-se do CRCPN desta Comarca, no mesmo prazo acima assinalado, sob as penas do mesmo conjunto de leis, aremessa, com juntada imediata nos autos nº 0000272-77.2011.805.0168 e 0000286-61.2011.805.0168, de 3 (três) vias dacompetente Certidão de Nascimento, respectivamente de CRI_5, nascida em XX.02.2011, de CRI_1, nascido em XX.02.2005e de CRI_2, nascido em XX.10.2006, extraídas dos respectivos assentos já totalmente regularizados, 2 (duas) vias das quaisdeverão ser entregues, em mãos, da mãe das crianças, Silvânia Maria da Mota Silva, cuja notificação, para tanto, fica desdelogo igualmente determinada, para ser cumprida e efetivada, de seu turno, em até 48 (quarenta e oito) horas, contadas dapublicação destas sentenças no DJE do E. TJBA, certificando-se imediatamente após, a Escrivã, nos 2 (dois) autos referi-dos, sob pena de responsabilidade funcional e criminal.Considerando, em outro lanço, que, de um lado, consta como genitor dos respectivos assentos de nascimento dos meno-res CRI_3, nascido em XX.10.2008 e CRI_4, nascido em XX.12.2009, Gerôncio de Brito Souza e, de outro, a declaração livree espontânea da mãe Silvânia Maria da Mota Silva e de José Mário de Jesus Silva, no sentido de que este último seja o paibiológico das 2 (duas) crianças mencionadas, determino seja dada vista do conjunto dos autos ao MP, com precedência àspartes e à Defensoria Pública, sob pena de responsabilidade funcional e criminal, imediatamente após transcorrido o prazorecursal, a fim de que, com fundamento na Lei nº 8.560/92 e no ECA, artigos 102, § 3º, 165, inc. IV e 201, inc. VIII, e seu § 2º,adote e promova o parquet as urgentes e competentes medidas à promoção da retificação ou ratificação dos registros denascimento de ambas as crianças.A par da adoção pelas autoridades competentes de outras medidas administrativas e demandas judiciais criminais e civisque entenderem também cabíveis (ECA, artigos 201, incisos V e VIII e seu § 2º, e artigos 208 e ss.), e para os fins e efeitosdo disposto no artigo 221 e nos artigos 29, 43, 50, caput, §§ 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 7º, 8º, segunda parte, 9º, 11º, 12º, 13º, e 14º, 197-A, 197-B, 197-C, 197-D e 197-E, da Lei nº 8.069/90, do disposto no art. 6º, da Lei nº 12.010/2009, bem assim na Recomen-dação nº 08/2012, da Corregedoria Nacional de Justiça, determino sejam notificado(a)s, para a anotação e adoção dasmedidas que entender(em) cabíveis, das circunstâncias sinteticamente descritas nos itens (A) ao (C), retro: (a) os Juízos daInfância e Juventude das Comarcas de São Paulo (MM. Juízo da Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro/SP), Campi-nas/SP, Indaiatuba/SP, Salvador/BA, Lauro de Freitas/BA, Camaçari/BA, Euclides da Cunha/BA, Porto Alegre/RS e Florianópolis/SC; (b) os Excelentíssimos Desembargadores e Magistrados Presidentes das Coordenadorias da Infância e Juventude nosEgrégios Tribunais de Justiça dos Estados de São Paulo, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (Resolução CNJ 94/2009);(c) os Excelentíssimos Promotores de Justiça em atuação nos Juízos referidos no item (a) anterior; (d) o(a) Excelentíssimo(a)Procurador(a)-Geral de Justiça dos Estados da Bahia, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; (e) as IlustríssimasAutoridades Centrais Estaduais na Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, e Santa Catarina, e Autoridade Central FederalBrasileira, de que tratam os §§ 5º, 7º, 9º, e 12º, do artigo 50, do ECA; (f) o Excelentíssimo Presidente do Conselho Nacionaldo Ministério Público; (g) o Excelentíssimo Senhor Ouvidor Geral da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência daRepública; e (h) o(a) Excelentíssimo(a) Promotor(a) de Justiça em atuação neste Juízo de Monte Santo/BA.No mesmo passo, ainda, com fundamento no ECA, artigos 226 e 227, no CPP, artigos 5º, inc. II e seu § 1º, e 40, e na Lei nº10.845/2007, a fim de que sejam instaurados os competentes procedimentos persecutórios e investigatórios criminais edisciplinares, sobre a indiciada violação aos artigos 138, 139, 140, 299, 304, 305, 319, 325, 337, 339, 340, do Código Penal,aos artigos 236 e 238, da Lei nº 8.069/90, ao artigo 65, do Decreto-Lei nº 3.688/1941, c/c artigos 29, 30 e 288, do CódigoPenal, bem como aos deveres funcionais normatizados no Estatuto do Servidor Público Estadual e na Lei nº 10.845/2007,determino remessa de cópia integral dos autos apensados nº 0000270-10.2011.805.0168, das petições iniciais destes

Page 25: MONTE SANTO VARA CRIME, JÚRI, EXECUÇÕES PENAIS, …...Em face desta decisão, foi impetrado mandado de segurança e interposto agravo de instrumento pelos demandantes, bem assim

Cad. 4 / Página 202TJBA – DIÁRIO DA JUSTIÇA ELETRÔNICO – Nº 897 - Disponibilização: segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

processos de adoção, dos estudos sociais deprecados ao Estado de São Paulo, das oitivas judiciais da família bioafetivanatural e extensa, da decisão que revogou as guardas provisórias e destas sentenças: (i) ao Excelentíssimo Delegado dePolícia Titular nas Comarcas de Indaiatuba/SP, Campinas/SP e de Monte Santo/BA; (j) ao(a) Excelentíssimo(a) Promotor(a)de Justiça em atuação junto a este Juízo e junto ao MM. Juízo competente da Vara da Infância e Juventude das Comarcas deIndaiatuba/SP e Campinas/SP; e (k) ao Excelentíssimo Desembargador Corregedor das Comarcas do Interior - CCI, do E.Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.Oficiem-se todas as autoridades destinatárias, identificadas nas alíneas (a) a (k), supra, via SEDEX, com transcrição dascircunstâncias supradescritas nos itens (A), (B) e (C), com a cópia dos prints das postagens web referidas acima, bemassim cópia integral dos autos apensados nº 0000270-10.2011.805.0168, das petições iniciais destes processos deadoção, dos estudos sociais deprecados ao Estado de São Paulo, das oitivas judiciais da família bioafetiva, natural eextensa, da decisão que revogou as guardas provisórias e destas sentenças.Torno sem efeito as ordens judiciais, publicadas juntamente com a decisão que revogou as guardas provisórias, em25.11.2012, de expedição de cartas precatórias destinadas à oitiva em depoimento pessoal dos autores no Estado de SãoPaulo, assim como, por óbvio, a que designou a realização neste Juízo de audiência de instrução, para ter lugar no próximodia 11 de fevereiro de 2013.Comuniquem-se, imediatamente, no E. TJBA, da prolatação destas sentenças, o(a)s Excelentíssimo(a)sDesembargadores(as) Relatores(as) nos autos da Correição Parcial nº 0001798-30.2013.8.05.0000, nos autos do Manda-do de Segurança nº 0319633-89.2012.8.05.0000 e nos autos dos Agravos de Instrumento interpostos pelos demandantes.Oficie-se, de imedito, via fac-símile, sem prejuízo da remessa postal por SEDEX, juntando-se os respectivos recibos detransmissão eletrônica e de despacho postal por SEDEX, sob pena de responsabilidade funcional e criminal.Tendo em vista o quanto reportado acima, quanto à atuação funcional da Escrivã da Vara Crime desta Comarca, Célia Mariade Oliveira Santos, assim como a urgência, urgentíssima na publicação e intimação destas sentenças, nomeio ad hoc asenhora Escrivã do MM. Juízo da Vara Crime e da Infância e Juventude da Comarca de Euclides da Cunha/BA, ou, na suafalta, sua Substituta Legal, para o integral e imediato cumprimento destas decisões, podendo, para tanto, manusear eautuar em todos os autos em tela, ainda que sob sigilo, expedir, assinar e remeter de ordem os exigíveis ofícios, missivas,cartas precatórias, documentos e demais expedientes forenses adequados e necessários ao mais célere, ético e fielcumprimento destas sentenças.Publiquem-se, registrem-se e intimem-se.Euclides da Cunha/Monte Santo, 04.02.2013.Luís Roberto Cappio Guedes PereiraJuiz de Direito Designado