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1 MovimentAÇÃO Periódico do Movimento Champagnat da Família Marista Província Marista Brasil Centro-Norte Ano I – Nº 10 – Dezembro/2007 Movimento em Formação Mensagem de Natal Ir. Pau Fornells 1. O carisma de Marcelino se forja em uma família. Todos nós conhecemos a família de Marcelino. Seu pai, João Batista, era um homem honesto, empreendedor, cidadão exemplar e preocupado com as causas sociais, e sua mãe, Maria, era uma dona de casa muito religiosa, trabalhadora, tenaz em suas decisões. Sua tia Luísa era perseverante religiosa, plena de uma terna devoção pela Virgem Maria. Com seus dois irmãos e suas três irmãs manterá durante toda a sua vida uma relação de profunda proximidade, assim como com suas cunhadas, cunhados e sobrinhos, muitos dos quais se tornaram religiosos, religiosas e leigos empenhados. Era uma família onde se respirava a fé em Deus, o carinho e a confiança que tinham uns nos outros, o amor ao trabalho, a preocupação com os mais pobres, a colaboração social e o amor à Igreja. Marcelino teve desde criança uma experiência dolorosa, que contrastava totalmente com o que se vivia em seu lar, e que marcará toda a sua vida. Aquele professor impaciente e violento de Marlhes será a antítese daquilo que Marcelino, no futuro, vai querer para seus irmãos. Naquele momento ele decidiu que a família seria sua única escola. Mais tarde, ele mesmo se proporá de fazer de cada escola uma família. Durante sua juventude, como seminarista, Marcelino seguirá passo a passo as transformações de sua família. Nas férias, ele retorna a casa e ali trabalha, tornando-se o centro e a união de todos os seus irmãos e sobrinhos. Conservará fundamentalmente este papel até sua morte, em 1840. Podemos hoje afirmar que Deus se valeu daquela família Champagnat-Chirat para oferecer, em germe, a Marcelino o dom precioso do “espírito de família”, que será parte essencial do carisma fundamental dos Irmãozinhos de Maria e que chegou até nós através da fidelidade criativa das gerações de irmãos. 2. A espiritualidade mariana conduz a sermos e a construirmos uma família. É impossível separar em Marcelino o seu amor por Maria e sua inclinação a ser e a construir uma família. Desde pequeno ele descobre que Maria está sempre no coração de toda a família. É ela que une, que anima, que dirige, que dá confiança e alegria, aquela que mostra o único centro possível de toda família, que é Jesus. Maria é sinônimo de família. Ela o será para Jesus, no período de sua infância e juventude, durante os 30 anos de sua vida escondida, no cotidiano comum, mas muito marcante. Por isso, não se deve estranhar que a primeira coisa que Jesus faz ao iniciar a sua vida pública é constituir uma outra família, a comunidade apostólica. E Maria não tarda muito a se incorporar a esta nova família. Ela tem então que aprender a construir um outro tipo de família, de uma nova maneira, mais ampla, mais forte, mais inclusiva, ou seja, a família dos que crêem em Deus, manifestado em seu filho Jesus. Uma família sempre aberta, sem fronteiras de raça, de credo, de ideologias, onde todos encontram o seu lugar, porque são filhos e filhas de Deus. Por essa razão não devemos estranhar que, ao pé da cruz, Jesus entregou-a a nós como Mãe, dizendo-nos: “Ela ensinará a vocês como se constrói uma família. Façam como ela dirá”. Ser presença de Maria na Igreja e no mundo significa ajudar a construir um tecido de relações humano-divinas que permita formar uma única família: “Pai, que todos sejam um, como nós somos Um” (Jo 17,22). 3. Marcelino quer que nós maristas sejamos uma família.

MovimentAÇÃO #10

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MovimentAÇÃO - Ano I - Edição 10

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MovimentAÇÃO Periódico do Movimento Champagnat da Família Marista

Província Marista Brasil Centro-Norte Ano I – Nº 10 – Dezembro/2007

Movimento em Formação

Mensagem de Natal Ir. Pau Fornells

1. O carisma de Marcelino se forja em uma família.

Todos nós conhecemos a família de Marcelino. Seu pai, João Batista, era um homem honesto, empreendedor, cidadão exemplar e preocupado com as causas sociais, e sua mãe, Maria, era uma dona de casa muito religiosa, trabalhadora, tenaz em suas decisões. Sua tia Luísa era perseverante religiosa, plena de uma terna devoção pela Virgem Maria. Com seus dois irmãos e suas três irmãs manterá durante toda a sua vida uma relação de profunda proximidade, assim como com suas cunhadas, cunhados e sobrinhos, muitos dos quais se tornaram religiosos, religiosas e leigos empenhados.

Era uma família onde se respirava a fé em Deus, o carinho e a confiança que tinham uns nos outros, o amor ao trabalho, a preocupação com os mais pobres, a colaboração social e o amor à Igreja. Marcelino teve desde criança uma experiência dolorosa, que contrastava totalmente com o que se vivia em seu lar, e que marcará toda a sua vida. Aquele professor impaciente e violento de Marlhes será a antítese daquilo que Marcelino, no futuro, vai querer para seus irmãos. Naquele momento ele decidiu que a família seria sua única escola. Mais tarde, ele mesmo se proporá de fazer de cada escola uma família.

Durante sua juventude, como seminarista, Marcelino seguirá passo a passo as transformações de sua família. Nas férias, ele retorna a casa e ali trabalha, tornando-se o centro e a união de todos os seus irmãos e sobrinhos. Conservará fundamentalmente este papel até sua morte, em 1840. Podemos hoje afirmar que Deus se valeu daquela família

Champagnat-Chirat para oferecer, em germe, a Marcelino o dom precioso do “espírito de família”, que será parte essencial do carisma fundamental dos Irmãozinhos de Maria e que chegou até nós através da fidelidade criativa das gerações de irmãos.

2. A espiritualidade mariana conduz a sermos e a construirmos uma família.

É impossível separar em Marcelino o seu amor por Maria e sua inclinação a ser e a construir uma família. Desde pequeno ele descobre que Maria está sempre no coração de toda a família. É ela que une, que anima, que dirige, que dá confiança e alegria, aquela que mostra o único centro possível de toda família, que é Jesus.

Maria é sinônimo de família. Ela o será para Jesus, no período de sua infância e juventude, durante os 30 anos de sua vida escondida, no cotidiano comum, mas muito marcante. Por isso, não se deve estranhar que a primeira coisa que Jesus faz ao iniciar a sua vida pública é constituir uma outra família, a comunidade apostólica. E Maria não tarda muito a se incorporar a esta nova família. Ela tem então que aprender a construir um outro tipo de família, de uma nova maneira, mais ampla, mais forte, mais inclusiva, ou seja, a família dos que crêem em Deus, manifestado em seu filho Jesus. Uma família sempre aberta, sem fronteiras de raça, de credo, de ideologias, onde todos encontram o seu lugar, porque são filhos e filhas de Deus.

Por essa razão não devemos estranhar que, ao pé da cruz, Jesus entregou-a a nós como Mãe, dizendo-nos: “Ela ensinará a vocês como se constrói uma família. Façam como ela dirá”. Ser presença de Maria na Igreja e no mundo significa ajudar a construir um tecido de relações humano-divinas que permita formar uma única família: “Pai, que todos sejam um, como nós somos Um” (Jo 17,22).

3. Marcelino quer que nós maristas sejamos uma família.

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Esta é a grande inspiração que aquele grupo de seminaristas de Lyon recebeu e que prometeu realizar, estando aos pés da Virgem de Fourvière naquele dia 23 de julho de 1816. Marcelino não abandonará nunca essa promessa ao longo de toda a sua vida. Às portas da morte, quando escreve seu testamento espiritual aos Irmãozinhos de Maria, nos deixa escrito o ideal de toda a sua vida: “Amem-se uns aos outros, como Jesus Cristo os amou. Que haja entre vocês um só coração e um só espírito. Que se possa dizer dos Irmãozinhos de Maria como dos primeiros cristãos: ‘Vejam como eles se amam’! É o voto mais ardente do meu co-ração neste último instante de minha vida”.

Marcelino nos deu o nome de “irmãos” (pequenos irmãos ou irmãozinhos). “Como irmãos e irmãs” é o título de um dos capítulos do recente documento de espiri-tualidade marista, Água da Rocha. Irmãos e irmãs em Deus Pai e em Maria, ele que nos oferece como presente o rosto materno de Deus, naquela que chamamos ternamente “Nossa Boa Mãe”. Marcelino nos imprimiu como um selo, como uma marca, como a “denominação de origem” dos bons vinhos, uma forma de ser família que deriva de sua própria experiência de família, de sua experiência materno-paterna de Deus, expressa nas figuras de Maria e de José, e da experiência de construir uma família com os primeiros irmãos.

Os irmãos aprenderam a amar-se uns aos outros ao verem como ele os amava. O Irmão Lourenço nos deixou uma pérola maravilhosa sobre este amor de família: “Nem uma mãe tem tanta ternura por seus filhos como o Padre Champagnat tinha por nós”. Ternura de mãe e firmeza de pai é o que caracterizava Champagnat, Maria, José, Jesus e tantos santos e santas, onde os elementos femininos e masculinos convergem para plasmar a perfeita imagem e semelhança de Deus, que é todo ser humano.

4. O que mais atrai da espiritualidade marista é o “ar de família”.

É do que mais se recordam os ex-alunos, o que mais apreciam as pessoas logo que entram em contato com os maristas, o que se repete sempre quando os maristas, irmãos e leigos, se encontram em qualquer lugar do

mundo, apesar da diversidade de línguas e culturas.

Existe “alguma coisa” que toca o coração das pessoas: a simplicidade, a ausência de complicação, a capacidade de acolhida e de escuta, aquilo que as faz sentir como se estivessem em casa, como alguém da família, a felicidade de se encontrar, de estar juntos e de fazer projetos juntos. Este “ar de família” nasce da presença misteriosa de Maria entre nós, uma presença calada, mas muito eficaz.

Não é que façamos esforço para transmiti-lo, mas ele flui de nós sem que pensemos nele, sem um aparente voluntarismo. É um dom, um presente, um carisma. Deus lhe dá a quem quer vivê-lo, como todos os dons de Deus. É curioso como diferentes congrega-ções religiosas que nos conhecem percebem imediatamente este “ar de família”. “Esta é a maneira e o carisma que vocês têm, isto é, ser uma família, fazer os outros se sentirem em família e incentivar para que construam a família”. Hoje, este carisma foi também presenteado aos leigos. Este dom se transmite uns aos outros na acolhida, como um apelo e uma resposta, uma vocação.

Na maioria das vezes é acolhido quase inconscientemente, porque nos sentimos bem, porque nos anima a prosseguir na caminhada, dando-nos força e apoio diante das dificuldades. Mas, a vocação tem mais eficácia evangélica quando é consciente, quando alguém experimenta este tipo de vida, a condição de “ser marista”, como um apelo pessoal de Deus para que viva de uma maneira concreta sua consagração batismal.

O documento Água da Rocha, em seu terceiro capítulo, “Como irmãos e irmãs”, exprime isso de maneira muito bonita:

97. A espiritualidade Marista celebra o mistério da Santíssima Trindade que habita em nós e no coração das outras pessoas. Ela permite-nos “sentir com” os nossos irmãos e as nossas irmãs, levando-nos a partilhar as suas vidas e criar vínculos de amizade. Esta espiritualidade ajuda-nos a reconhecer a beleza e a bondade nos outros e a abrir-lhes um espaço nas nossas vidas. Deste modo, um grupo de pessoas vai progressivamente crescendo em comunidade, com um só coração e um só espírito.

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101. Num mundo ávido de sentimentos de unidade e de pertença, o lar é um símbolo poderoso. Famílias e comunidades tornam-se lugares cruciais para as pessoas poderem crescer, apoiar-se, cuidar-se e renovar o seu ânimo.

102. Todas as nossas relações são enriquecidas quando Maria inspira o nosso modo de ser e de estar com os outros. Com Maria, aprendemos a expressar o amor de Deus em todas as relações da nossa vida pessoal e comunitária. Aprendemos, assim, a amar as pessoas, e a tornamo-nos sinais vivos da ternura do Pai.

114. Maria inspirou nos primeiros Irmãos uma nova visão de ser Igreja, segundo o modelo dos primeiros cristãos. Esta Igreja Mariana tem um coração materno: ninguém é abandonado.

119. As palavras irmão e irmã expressam de um modo muito rico o estilo Marista de viver as relações entre as pessoas. Um irmão ou uma irmã é uma pessoa disponível, despretensiosa, sincera, gentil e respeitosa. Ser irmão ou irmã é um modo de se relacionar que inspira confiança nas pessoas e lhes dá esperança.

5. Este dom deve ser frutificado na Igreja e no mundo.

Um dom, um carisma, como os talentos do Evangelho, não nos são dados para que o guardemos apenas para nós mesmos, para nossa pequena família ou para um círculo reduzido de amigos. Todo dom do Espírito é para a Igreja e para o mundo. Deus continua nos fazendo “co-criadores”. Nossa tarefa é cristianizar o universo, e isto não pode ocorrer sem uma Igreja e um mundo “marianos”. A encarnação de Cristo não acontece sem que “sejamos família”. Não é possível o Natal sem a família. Devemos levar este mundo até Belém, até Nazaré, até o Calvário, até o Cenáculo... até a Eucaristia. Maria continua sendo aquela que nos indica o caminho. Esta geração da família, a família dos filhos e filhas de Deus, se inicia na família concreta de “carne e sangue” , que se estende ao grupo mais amplo, onde compartilhamos a vida e a fé (fraternidade) e deve se prolongar como missão em todos os ambientes onde estivermos, seja no trabalho, em sociedade, nas obras educativas maristas ou não, na

solidariedade, na colaboração com a Igreja local, no empenho político, etc.

Cada um deve discernir, com a ajuda de outros, sobre a sua própria caminhada como cristão marista. Deve concretizar sua missão, adaptando-a às suas reais possibilidades nos diferentes momentos da vida e aos apelos que o Senhor continua nos fazendo através dos sinais dos tempos. Não podemos nem nos acomodar, pensando que a tarefa missionária marista é apenas para grupos de pessoas especiais, nem nos angustiarmos pensando que o Senhor nos pede além de nossas capacidades humanas. Deus sabe o que podemos e devemos fazer, e com grande doçura continua nos convidando a construir juntamente com ele o Reino de Deus, que não é outra coisa senão a grande família de seus filhos e filhas.

Estes dias aprendi um interessante provérbio mexicano que diz: “Candeeiro na rua, obscuridade da casa”. Nossa missão começa sempre no que existe de mais cotidiano. Não podemos falar em construir uma família em outros ambientes se não começamos fazendo em nossas próprias casas: família, fraternidade e comunidade.

Jesus, Maria e Marcelino estão conosco. Nossos irmãos e irmãs também nos ajudarão. Confiantes na força que vem de Deus e no apoio fraterno de todos nós que nos sentimos maristas, continuemos construindo uma família ali aonde a vida nos conduzir. Que as últimas palavras de Marcelino nos ajudem para que todos perseveremos nesta missão: “É o voto mais ardente do meu coração...”.

Feliz Natal em família!

Fonte: www.champagnat.org

Que a estrela que iluminou os magos até a manjedoura de Belém, ilumine também nossos caminhos em 2008. E que a Boa Mãe mantenha nossa Família sempre unida. Desejamos a todos os irmãos e irmãs um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de alegrias e realizações! São os votos da Equipe de Coordenação e

da Secretaria do MChFM

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Movimento em Ação

É tempo de Natal! Flamarion Lopes

Frat. N. Sra. da Assunção – Fortaleza/CE

A história não nos comprova, ao certo, a data do nascimento de Jesus Cristo, porém desde o século IV, no pontificado do Papa Júlio I, o Natal do Senhor vem sendo cele-brado no dia 25 de dezembro, substituindo a veneração ao deus Sol pela adoração ao Salvador Jesus Cristo. Desde então, as come-morações natalinas têm se manifestado das mais diferentes formas. Aqui no Brasil, por se tratar do maior país católico do mundo, esta é considerada a maior festa popular religiosa.

A festa do Natal traz todo um simbolismo próprio que nos ajuda a celebrar melhor esse grande acontecimento. O Presépio, que representa a doutrina de Jesus: pobreza, simplicidade, fé, humildade, docilidade, e a unidade da família, e a Árvore de Natal, símbolo da vida, originada, provavelmente, há cerca de 200 anos, são alguns símbolos natalinos que deixam as praças, avenidas e residências alegres, iluminadas e, conse-quentemente, as pessoas bem mais fraternas, sinalizando que estamos vivendo uma época diferente. Infelizmente, a figura estranha do Papai Noel, oriunda do consumismo americano, não tem nada a ver com a tradição de São Nicolau, nem com a tradição cristã. É um símbolo do Natal consumista que avassalou o Natal iludindo as crianças.

Este período, por outro lado, nos remete a uma grande reflexão de vida, quando avaliamos nossa postura enquanto cristãos. Sem dúvida alguma, tudo muda nesta época do ano, que é tão esperada por todos, pois mesmo antes da noite do dia 24 para o dia 25, as pessoas escolhem um dia para celebrar o nascimento de Jesus nas confraternizações, as quais acontecem num clima de amizade, carinho, paz e solidariedade, com mensagens belíssimas, deixando as pessoas mais próximas umas das outras.

Vivemos num mundo de muitos contrastes sociais. E, nesta realidade, transcorrem-se as comemorações de mais um Natal na história da humanidade. Enquanto milhões de pessoas

esbanjam mais riqueza, outras têm o mínimo ou nem isso para comer na noite do Natal. Diante deste quadro e na condição de missi-onários da solidariedade, devemos nos dar as mãos com o intuito de reivindicar ou ainda solicitar mais atenção por parte dos nossos governantes, a fim de que juntos possamos encontrar soluções para o problema dos que não têm uma condição favorável de vida.

Enquanto essas soluções não chegam, devemos fazer nossa parte: não esquecermos nossos gestos concretos de solidariedade, de paz e de amor. Por isso, procuremos incentivar todas as nossas comunidades para que o façam. Dessa maneira, pelo menos nessa época, oportunizamos a muitas pessoas viverem em plenitude, como é o desejo de Jesus. A todos que compõem as Fraternidades do Movimento Champagnat da Família Marista, nossos votos de um Santo Natal e um venturoso Ano Novo.

Movimento na Igreja

O menino que nasceu Dom Benedicto de Ulhoa Vieira,

Arcebispo Emérito de Uberaba/MG

Fomos felizes em nos encontrar com esta Criança, que veio para trazer à humanidade a certeza do amor de Deus. De fato, Deus amou tanto o mundo que enviou seu próprio Filho – eterno e onipotente – para nossa salvação. Prometido, tantos séculos antes, agora nós O encontramos, na graciosa figura de uma criança, na pobreza de Belém.

Os anjos, em revoada pelos céus, cantando as alegrias deste nascimento, levam aos humildes pastores a espantosa notícia de nos ter chegado o Salvador. Uma estrela se acendeu no extremo Oriente para homens sábios, que procuravam ler nos astros os recados do Alto. E vieram nos camelos e dromedários, com presentes ricos para o Menino pobre.

Natal! Todos o festejam, até os que não enxergam com os olhos da fé. Nós, porém, sabemos – que felicidade é saber e acreditar! – que este misterioso Menino, que nasceu, profetizado pelos Vates antigos, anunciado pelos anjos, esperado pelos séculos, é o Filho

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de Deus, vestido de nossa carne. Infelizmente, nos tempos atuais, sua presença humilde se vem ofuscando pelas ofertas ricas do Papai-Noel...

Natal não é uma data passageira do nosso calendário. É um encontro de fé no Menino-Deus, nascido na pobreza do presépio. Esta Criança é o Salvador, que nos veio ensinar que Deus é Pai e dar-nos a possibilidade de entrar para a família divina, pela riqueza da graça, que nos faz participantes da natureza e da vida de Deus.

Como todos sabem pelo Evangelho de Lucas, que Maria, ao ser abordada pelo Anjo para dar seu consentimento ao convite do céu para ser Mãe do Salvador, confessou sua condição virginal. E recebeu então o necessário esclarecimento de que a concepção do Verbo seria por ação divina, sem intervenção humana. Por isto, por não ter pai terreno, Jesus só podia ter parecença com Maria. Soube exprimi-lo o poeta, ao cantar a Nossa Senhora: “Teus olhos são manhãs, cheias de luz (...) os dois teares que bordaram os olhos de Jesus”.

É na beleza deste Menino, em quem transparecem os traços de sua Mãe, que adoramos o Deus-Salvador, o esperado Messias prometido, o Filho de Deus. Isto é Natal. Nos resplendores dos presépios bonitos ou na simplicidade de uma gruta pequenina, o Menino, que nasce, se nos apresenta de braços abertos para nos acolher e remir.

Natal é uma festa de amor que não termina, porque o amor do coração de Deus é eterno.

Fonte: www.cnbb.com.br

Recriar dezembro Dom Anuar Battisti,

Arcebispo de Maringá/PR

Com o olhar para o fim de mais um ano, em clima de festas natalinas, onde tudo parece luz, harmonia, paz, um mundo diferente se coloca diante de nossos olhos. Tudo isso é real? Porque esse tempo de natal é tão diferente? Parece que estamos em outro mundo! Onde eu como pessoa, me coloco neste cenário tão diferente e tão passageiro?

Não posso ser simplesmente um expectador ambulante a admirar e ver de longe sem me envolver em um processo que me faz ser gente, alguém importante, sujeito

desta história e deste tempo que caminha para um fim. Não posso ser apenas mais um consumidor a satisfazer os desejos e sentimentos nem sempre justos e oportunos. Não posso ser apenas um na multidão. Não posso ser um objeto apenas, utilizado para os fins de uma sociedade materialista cujo deus é o dinheiro e as mazelas por ele provocadas.

É tempo de recriar, no cotidiano do dia a dia, na rotina que levamos de nosso trabalho diário, na busca de melhores condições de vida, na certeza de que somos pessoas feitas por amor a para amar. Esse tempo que medimos em anos, meses, semanas dias e horas, passa como o vento. Tudo passa, só a capacidade de recriar no amor permanece para sempre. Deus é amor e só quem ama permanece Nele para sempre.

É dezembro e não tem outro mês, é o ultimo, o tempo está terminando, é a hora de recriar os relacionamentos feridos e machu-cados pela desculpa do não ter tempo; está na hora de recriar a capacidade de perdoar as mágoas e contratempos da convivência cotidiana; está na hora de recriar o tempo que não tive para dialogar com os filhos e com aqueles que mais amo; está na hora de recriar a amizade ferida e machucada pela petulância egoísta de nossa soberba; está na hora de recriar a confiança destruída pela mentira e falsidade de nossos interesses pessoais. Não dá para esperar, quem sabe seja tarde demais.

Essa é a hora e o tempo de iluminar o coração com o amor derramado em nós pelo menino da gruta de Belém; essa é a hora de criar a harmonia em nossos sentimentos, encontrada na simplicidade daquele estábulo frio, aquecidos pelo calor dos animais; essa é a hora de buscar a paz cantada pelos anjos, na noite santa que só os homens e mulheres de boa vontade são capazes de entoar. Essa é a hora de encontrar o Menino da luz, da harmonia e da paz, que busca um lugar não nos presépios, por mais originais que sejam, e sim no coração de cada homem e cada mulher para dizer “Eu sou o caminho a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo,14). É tempo de recriar. Recriar dezembro, agora, agradecendo o passado e olhar os grandes horizontes do futuro com a esperança de recomeçar sempre.

Fonte: www.cnbb.com.br

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Movimento na Sociedade

Fissuras natalinas Frei Betto

A vida é breve, brevíssima. Eis que o Natal, de novo, aproxima-se. Se outrora a vida nos parecia mais longa, não se deve a que as pessoas morriam mais cheias de anos. Pelo contrário. Hoje, nossa idade média dilata-se graças aos avanços da medicina, do saneamento público, dos excessivos cuidados com o corpo, propalados e propagados. Tudo faz mal à saúde, do cigarro ao ar que se respira, do sedentarismo aos alimentos envenenados pelos pesticidas. Até que se descubra como viver sem comer e respirar, vamos sobrevivendo entre percalços e esperanças.

Antes os dias tinham ritmo cadenciado. Cada coisa no seu lugar: a casa, a cidade, o país, o mundo. E no seu tempo: infância, estudo, juventude, casamento, trabalho, aposentadoria. Hoje, tudo se embaralha. O mundo invade nosso lar pela tela da TV, as crianças presenciam atos sexuais antes de saberem o que é sexo, a publicidade exacerba o apetite insaciável do desejo. São tantos os apelos, as seduções e as preocupações que o tempo se nos faz breve. Outrora, se um parente adoecesse em outra região do país, a notícia chegava em doses homeopáticas, via correio. Agora o telefone nos alcança no banheiro e na rua, no bar e na Igreja. Não há tempo nem espaço. Estamos condenados à simultaneidade. Num único momento somos exortados ao prazer e à dor, à alegria e à tristeza, ao afeto e à indiferença.

Quando menos esperamos, as festas natalinas se acercam. O que suscita, no fundo da alma, um certo pânico. Não pelo significado do Natal, perdido nos porões da memória e escondido nos desvãos do sentimento religioso. Falo daquela sensação que o gado experimenta remetido ao matadouro. Rumam todos num empurra-empurra, como se disputassem o privilégio de morrer primeiro. Já não são bois e vacas, mas rebanho condenado ao atavismo de trilhar o caminho do próprio suplício. Assim vamos nós, manada humana, rumo ao consumo,

cientes de que nos arrancarão o dinheiro e a alma. Bombardeados pela publicidade, ornada com sinos, velas, neves de algodão e belas Mamães Noel, somos impelidos a comprar o que não necessitamos e a gastar o que não podemos. Como é tempo de férias, há que programar a viagem, a praia, o sítio; arrumar e desfazer malas, enfrentar a maratona dos supermercados (leve um livro para ler na fila do caixa) e suportar os engarrafamentos na cidade e na estrada. E os shoppings? Ah, os shoppings! São os templos da concupiscência – palavra grega que bem expressa esse sentimento ambíguo de atração e repulsão. Entra-se fissurado e sai-se aliviado. Por que o imperativo de dar presentes no Natal? A "Central Única dos Consumidores" deveria decretar uma greve geral ao consumo. Em plena época de Natal. Não se compraria mais do que em outros meses do ano. E, em vez de presentes, daríamos carinho, atenção, alegria, apoio, solidariedade. Os pais levariam os filhos aos hospitais para doarem, no valor dos presentes, algo indispensável aos doentes mais pobres. A família ofertaria uma cesta básica à outra, carente. Seriam presenteados os sofredores de rua, os presos, os loucos, os que se tratam de dependências químicas, os portadores do vírus da Aids e os que vivem sem terra, sem teto e sem pão. Trocar-se-ia Papai Noel pelo Menino Jesus, o shopping pela Igreja, a mercadoria pela compaixão.

Aquecidos pela fé, celebraríamos, assim, uma verdadeira festa, aquela que, no dia seguinte, não deixa ressacas de farturas, faturas e fissuras, mas enche o coração de júbilo.

Uma iniciativa da: Equipe de Coordenação

do Movimento Champagnat

Elaborado por: Renata Vieira Conde

Revisado por: Raphael Gobbo e Melo Ir. Salatiel F. do Amaral

Maridelma Lucena

Participe do MovimentAÇÃO! Escreva para [email protected]