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MOVIMENTO DOS CORPOS-PENSAR SOB HEGEMONIA DOS SIGNOS E LINGUAGENS. Marcos Vinícius Leite Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil Julia Maria Ferreira Leite Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil “Somente quantidades de poder estão conferindo e retirando distinção: nada senão isso.” (NIETZSCHE, 1888/2008, p. 186) Pretende-se com esta escrita potencializar as discussões em torno da emergência do pensar e suas repercussões sobre a distinção clássica entre os conceitos de razão e corpo, pensar e sangue, bem como, provocar implicações sobre a noção de forma, formação, estilo e estilização da existência. No âmbito das investigações junto ao acontecimento do pensar apresentam-se repercussões para as práticas e ensino dos conteúdos de filosofia diante da sua recente reinserção no ensino médio brasileiro. As disputas em torno do acontecimento do pensar apresentam-se como um dos desafios centrais para a consolidação do espaço recém conquistado através da alcançada obrigatoriedade da disciplina filosofia. A inclusão da disciplina trouxe para os educadores da área indagações sobre a ação de ensinar o pensar e a transmissão da história da filosofia, além de colocar em evidência, questionamentos relativos à composição dos currículos, para os processos de disciplinamento dos conteúdos e à formação dos professores, para o exercício do seu ofício. A experimentação em questão foi proposta como com uma das ações do projeto de pesquisa financiado pela Fapemig que problematiza o conceito de formação de professores partindo da compreensão indicativa da inevitável relação de implicação existente entre as esferas de produção ético-estético-política presente aos inúmeros processos de formação dos sujeitos e das formulações do pensamento de Nietzsche que evidenciaram as relações entretecidas entre corpo e pensamento, sangue e razão, estilo e estilização da existência. Na experimentação, pretendeu-se favorecer acontecimentos que tornassem visíveis as relações estabelecidas entre a fatalidade da condição dos homens e suas reverberações sobre o corpo-pensar dos participantes. Acorrentados à condição de homens corpos foram convidados a experienciar os seus

MOVIMENTO DOS CORPOS-PENSAR SOB HEGEMONIA DOS … · Como linhas de raízes, como desvios de raízes, como caminhos de raízes e capilaridades das raízes? Como compor com as correntes?

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MOVIMENTO DOS CORPOS-PENSAR SOB HEGEMONIA DOS SIGNOS E LINGUAGENS.

Marcos Vinícius LeiteUniversidade Federal de Juiz de Fora, Brasil

Julia Maria Ferreira LeiteUniversidade Federal de Juiz de Fora, Brasil

“Somente quantidades de poder estão conferindoe retirando distinção: nada senão isso.”

(NIETZSCHE, 1888/2008, p. 186)

Pretende-se com esta escrita potencializar as discussões em torno da emergência do

pensar e suas repercussões sobre a distinção clássica entre os conceitos de razão e corpo,

pensar e sangue, bem como, provocar implicações sobre a noção de forma, formação, estilo e

estilização da existência. No âmbito das investigações junto ao acontecimento do pensar

apresentam-se repercussões para as práticas e ensino dos conteúdos de filosofia diante da sua

recente reinserção no ensino médio brasileiro. As disputas em torno do acontecimento do

pensar apresentam-se como um dos desafios centrais para a consolidação do espaço recém

conquistado através da alcançada obrigatoriedade da disciplina filosofia. A inclusão da

disciplina trouxe para os educadores da área indagações sobre a ação de ensinar o pensar e a

transmissão da história da filosofia, além de colocar em evidência, questionamentos relativos

à composição dos currículos, para os processos de disciplinamento dos conteúdos e à

formação dos professores, para o exercício do seu ofício. A experimentação em questão foi

proposta como com uma das ações do projeto de pesquisa financiado pela Fapemig que

problematiza o conceito de formação de professores partindo da compreensão indicativa da

inevitável relação de implicação existente entre as esferas de produção ético-estético-política

presente aos inúmeros processos de formação dos sujeitos e das formulações do pensamento

de Nietzsche que evidenciaram as relações entretecidas entre corpo e pensamento, sangue e

razão, estilo e estilização da existência. Na experimentação, pretendeu-se favorecer

acontecimentos que tornassem visíveis as relações estabelecidas entre a fatalidade da

condição dos homens e suas reverberações sobre o corpo-pensar dos participantes.

Acorrentados à condição de homens corpos foram convidados a experienciar os seus

II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015

movimentos em meio à relação entretecida pelos campos de força acionados pelas imagens,

sons e texturas através do entrechoque dos signos apresentados. Como questão tensionou-se a

ação-reação dos corpos-pensar junto à densidade dos signos lançados e a emergência da

tristeza e repulsa como móveis do corpo presente às disputas pela conquista da hegemonia do

sentido e suas poéticas e linguagens. O acontecimento do pensar esboçou suas relações junto

ao corpo quando a dinâmica do movimento impôs suas necessidades e reações, instaurando a

formação dos espaços vitais na experiência de lançar-se junto à violência dos assombrosos e

inocentes acontecimentos no cotidiano.

Berçário entre correntes. Relato em experiência.

“É preciso ter ainda caos dentro de si para poderdar à luz uma estrela dançante”

(NIETZSCHE, 1885/2011, p. 18)

Nascido junto às colinas, nas fronteiras onde palavra falha e pensar tensiona. Onde

corpo se move no inusitado presente das corriqueiras e teimosas frequentações... Onde

necessita-se de palavras novas para acontecimentos inexplorados, inexatos... Nascido junto

aos movimentos de corpos acorrentados, de mãos presas na disposição coletiva de corpos

lançados aos desafios da forma-ação... Nascido junto a corpo-pensar(es)... Nas fronteiras da

educação de qualquer tornar-se... Nas brechas entre o riso, a compaixão e a gargalhada...

Movimento dos corpos-pensar sob hegemonia dos signos e linguagens

Nascido com uma das ações do projeto de Pesquisa proposto e em execução pelo

Grupo de Pesquisa Travessia com o apoio da Fapemig – A formação como processo ético-

estético-político. A compreensão da formação como acontecimento requisita a visibilidade

das múltiplas dimensões dos movimentos e atuações da forma nos seus deslocamentos através

das interpretações, interpelações e proposições de sentido afeitas ao campo ético, ao campo

estético e ao campo político na extensão das suas implicações. A plurivocidade de

significações de um acontecimento traduz-se no desafio de compor através de corpo-língua a

variação de graus, hierarquias e hegemonias nos encontros dados na pletora dos impulsos e

suas múltiplas direções... Quanto de corpo na produção de conceitos? Quanto de corpo na

produção de um estilo? Quanto de corpo na produção de determinado pensar e suas direções?

Quanto de corpo na composição de deslocamentos e movimentos na produção do espaço?

Quanto de corpo na composição do espaço e do pensar na exposição junto ao sabor dos

encontros? Quanto de corpo na produção de um pensar, na composição da racionalidade e

seus derivativos? Quanto de corpo na composição dos juízos, na apreciação das condições de

existência? Quanto de corpo no confronto com os conteúdos curriculares da disciplina

filosofia?

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II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015

Tratou-se da proposição para experiência. Tratou-se da composição de encontros.

Tratou-se de encontros em um grupo. Tratou-se da fragmentação das singularidades, da

fragmentação e multiplicação das perspectivas, na variação dos graus, no vigor das

hegemonias e das hierarquias. Tratou-se de permitir acorrentar-se. Tratou-se de lançar-se ao

corpo, aos jogos das ações e reações de um corpo em suas múltiplas relações de afetação.

Tratou-se de cultivar o tato, olfato, olhos, coração, pulmões e. Tratou-se de conjugar com os

signos enviados em blocos de sensações, ora corpo, ora corpo, somente corpo e suas

inevitáveis atuações. Tratou-se de em grupo movimentar-se; Tratou-se de sob a hegemonia

dos signos repercutir movimentos... Tratou-se de produzir tensões em um corpo junto aos

blocos de signos e na proposição de sentidos; Tratou-se de produzir sob efeito da ampliação

da tensão a emergência do pensar e do pensamento. Tratou-se de colocar em questão a

distinção entre corpo e pensamento – o propalado dualismo metafísico. Tratou-se de

inaugurar questão: o que dá a pensar quando tornam-se sensíveis os signos do pensamento...

Tratou-se de aprender a perspectivar as nuanças de corpos nas andanças dos signos sob os

corpos... Corpo sobre corpo! Tratou-se de tensionar a língua na produção de sua poética, no

alcance de um estilo!

Como relato, experiência. Como escrita, experiência. Como narrativa,

experiência... Para além da verdade, para aquém da representação.

O que dá a pensar.

Em tela verde, centralizada e iluminada constata-se o início: COMEÇOU. Olhares

voltam-se para algum lugar e indicam uma necessidade, exigem uma necessidade... Um passo

para além... Alguma dúvida? Em qual voz reside ordem, em qual olhar reside o para onde e o

para quê... Corpo responde rapidamente as intenções... E, jocoso estar lançado aí, junto às

correntes e às carteiras, configura-se. Modo de ser do espaço dá-se ao visível... A ociosidade

da situação interpõe à utilidade e à segurança os seus questionamentos... Na ausência de

ordem, há ordenação? As antecipações pedem passagem... Quanto de passado na expectação

do instante no presente? Acontecimento arromba na sua frugalidade! Apenas isso,

acorrentados sem direção, em certa disposição! Tela verde teima em sobrepor-se: começou!

Movimento dos corpos-pensar sob hegemonia dos signos e linguagens

1 – Correntes ou acorrentados? Imanentes à corrente da vida, às condições gerais da

vida, ou... Prisoneiros à espera da libertação? Acorrentados ou ligados indissoluvelmente?

Como linhas de raízes, como desvios de raízes, como caminhos de raízes e capilaridades das

raízes? Como compor com as correntes? Como encontrar desvios alternativos, mas imanentes

às correntes e às correntezas e aos turbilhões e às disputas infindáveis das submissões em

ultrapassagens? Como reconhecer as correntes como aliadas, como partes integrantes do

pertencimento à Terra e aos movimentos da Terra – solta no espaço convida ao desvario?

Ceder aos encantos das correntes ou dispor o mais rápido possível dos acorrentamentos, no

ímpeto de romper e lançar-se aquém de qualquer aprisionamento, ou...? Possível seria a vida

sem correntes? Seriam as correntes prisões? Desejável seria a vida sem correntes? Deveriam

correntes demandar solturas? Deveriam ser tomadas como prisões? Como transitar com as

correntes? Correntes, como extração de seiva, como líquido tonificante, como vida que

escorre ou...? Afetos de passagem, como graus e modos possíveis das atuações, como vozes

que nascem de corpos, como pensamentos que nascem em corpos... Agora, cai! Agora, ouve!

Agora, ri! Agora violenta! Agora, tortura! Agora, rompe, tormenta! Agora, goza! Agora,

sofre, bate, morre! Agora! Agora, lava! Música invade... Tenta escapar! Como escapar à

compaixão e ao ímpeto da pressa das conclusões ou por que escapar sob a hegemonia e

encantos da sonoridade da composição – Apenas, quatro estações... Como questão, as

sentenças de Pascal na definição de homem: “ponto intermediário entre tudo e nada, incapaz

de compreender os extremos de onde saiu”. (PASCAL, 1632/2008, P. 15)

4 – Materiais: vídeos-textos retirados da internet com narrativas de acontecimentos

corriqueiros e diversos; data show; composição em Power Point de tela verde, em vários tons

em degradê, alternado quadro vazios e a palavra COMEÇOU; execução da composição de

Vivaldi, As quatro estações... Pedaços de cordas de bacalhau amaradas nas carteiras da sala;

pequeninas bolas de isopor e palitos de dentes... Silêncio, movimento da luz do sol no

entardecer do inverno sob as frestas das janelas da sala de aula de número 11, variações de

luminosidade. Restos das decomposições: água, lama, destroços de isopor, cordas e palitos...

Rapidez ao sair da sala... 18 participantes em oficinas de formação. Disposição do espaço das

cadeiras na sala de aula... Pano de chão, vassoura, baldes e trabalho de limpeza.

2 – À porta, pedia-se a gentileza de se permitir acorrentar... A mão mais hábil e forte!

À porta, perfilados, olhares esguios pleiteavam certezas, exigiam conforto... Zum zum zum

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II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015

percorreu os corpos e tentativas de antecipação... Olhos entreteciam com o entorno e seu

silêncio. Na composição do espaço, corpos-formas se encontravam na estática de um

movimento – no milagre da espera. Decorrência... O movimento dos corpos tendeu ao

afundamento junto à superfície das paredes, na conquista de distanciamento seguro do

dispositivo da emissão dos signos das imagens, dos sons. Sofisticada recusa? Contorção geral

se instala. Corpo esgueira-se na composição do sentido... Acossados nas paredes, tenta-se um

furo? Um modo suficiente de respiro e soltura... Corpos se ajuntaram à distância, como

índice de fuga no confronto com as imagens-pensamentos ou processos velozes de digestão –

o bailar da língua, junto aos dentes, à saliva nos processos de maceração? Gargalhadas

ecoavam nas distâncias entre as distâncias... Gargalhadas confortavam as indicações da

ausência de alternativas, ao fato bruto da simplicidade das atuações. Quão distante encontram-

se riso e gargalhada. Império de corpos ainda compassivos! De súbito, então era isso! Apenas

ser acorrentado, utilizar amarras que possam facilmente ser rompidas, bastava então ação para

romper... Entre outras vozes...

- Não ficarei amarrada! Eles não falam!

- Nunca ouve...

Estonteantemente: o que fazer quando não há nada a ser feito? PROFUNDA

SENSAÇÃO DE LIBERDADE – EM ALGUM PONTO – LIGAM-SE CELULARES – de

algum modo esgueiram-se corpos em rupturas. Alguém sai da sala.

3 – Pode a música ultrapassar a condição dos homens? Pode a música produzir um

lugar de escape, de porto seguro à fatalidade ou pode a música compor com a condição

humana como forma de tornar possível a experiência potente do visível? Pode a música

transvalorar a morte, a dor e a certeza da queda diante do nada ou a banalidade do cotidiano?

Pode a música enfrentar o pensamento? Pode a música abrigar com fins a proteger, a encerrar

em quarto claro, quente a distância do nada? O que pode o nada? O acorrentar-se ao nada?

Junto à música corpo despenca levemente no abismo... Correr rumo ao precipício... Corpo cai

levemente sobre a grama disposta no chão... Apenas, o baile da morte. Pode uma poética

afirmar e transcender a fatalidade da condição dos homens?

Movimento dos corpos-pensar sob hegemonia dos signos e linguagens

3 - Em meio à música corpos arrebentavam as correntes, impunham correntezas...

Alguns se libertavam das correntes na vã ilusão de escapar à condição e aos lamentos... A

fuga do texto-imagens atravessa, em gargalhadas, os momentos decisivos de lassidão... O

movimento dos corpos compunha os seus entrelaçamentos... As imagens pediam passagens

nos seus desvios, nos seus ruídos e deslocamentos no deserto do real... Ouve-se pelos olhos

som de pedra que rola! De súbito desliga-se a projeção na tela! Mesmo na ausência da

imagem, som de gozo invade a sala...

4 – Como passe de mágica inaugura-se mundo... Em meio aos corpos-forma projetam-

se acontecimentos... Pequenas pétalas do possível são projetadas sobre os corpos... O chão

recobre-se de objetos... Mãos acorrentadas, dispostas nas suas singularidades, produzem

formas... Cilíndricas, esféricas, ponte-agudas, inúmeras... Em meio ao lançamento, corpos

produzem formas... Alguns se ligam, tentam acordos, outros compõem com outros de si...

11 – Atuações reivindicam a todo instante espaço–tempo. Nada senão isso. Nada

senão a atuação incessante de estados que impõem passagem. Ausência de distinção entre a

passagem e a sua imposição. Arrombamentos e descargas violentas, sem destino, sem finais e

lançadas ao acaso dos seus encontros em relação. Como uma sala de aula... Os conteúdos

como proposição sobre os corpos, como valores em perspectivas... Ledo engano supor o

pensamento como ausência de corpo, como afeito apenas ao pensar e a linguagem em uma

gramática, como aspecto do cálculo e da fixação de identidades, fronteiras e delimitações

seguras... Como questão: o tornar-se qualquer nas aulas de filosofia! Como o corpo responde

a sensibilização do pensamento? Como o corpo lança-se no encontro com texto-pensamento-

imagens? Para além do dualismo, o confronto dos signos com corpos em perspectiva... Para

aquém da formalização dos conteúdos em grade curricular a constatação de currículo

acontecimento, das ilações entre pensar-corpo-acontecimento e formação acontecimental...

Os conteúdos apresentam-se como signos que exigem relações entre corpos, junto aos

corpos... Como expressão de vida, exige vidas em relação, em composição de línguas e

poéticas!

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II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015

301 – Como compor uma sala de aula como puro campo de afetações? Como instaurar

uma obrigatoriedade de estar lançado em meio ao campo de atuações? Como incisar o campo

de atuação nos corpos que emergem como rosto e voz e sempre à margem, na suposição das

distinções entre as atuações e aquilo que supostamente somos? Como traduzir o conjunto de

conteúdos como modos específicos de ser dos graus das atuações? Compor a partir de quais

critérios a seleção dos conteúdos da disciplina filosofia? Ou, variação incessante de

perspectivas? Resistir à linguagem, como linha de fuga, como formação acontecimental...

3 – O sentimento da tristeza e o pensamento da tristeza, corporificado se fez. Diante

das tensões inerentes à destruição, a emergência da fala da tristeza, do pensar da tristeza.

Entre o fato da tristeza, como primeira acepção valorativa, se impunha o dizer de um pensar.

Sob a égide daquele afeto, a mascarada razão... Afinal, nada faz sentido, a vida mesma e,

logo... Depreciações momentâneas assumem a fala na disposição dos sentidos de um pensar...

A distensão temporal instaura e coloca como questão a necessidade temporal lançada na

formação. Dilatação, como impressão que marca, fere e continua a emanar signos e demandar

sentidos... Corpo responde à distância as afetações inauguradas pelos signos... Habitar e

degustar as tonalidades da afetação... Instaura-se alguma aprendizagem.

Em momento posterior, a surpresa de um pensar sob hegemonia da tristeza... O sem

sentido da dor emerge como móvel de um pensar... Se assim o é, o que vale... “O silêncio

desses espaços me apavora” (PASCAL, 1632/2010, p. 25) Haveria corpo atestador que

propõe a falta como solução... Contudo, na aurora da falta, a disputa pela culpa... No corpo-

tristeza, pensar tristeza... Inferência regressiva: da obra, ao pensador. Do pensador aos afetos

do corpo: fraco e ressentido produz a sentença... Incapaz de mandar e incapaz de agir...

Reação pura e simples formulação de escape junto à aurora da violência da dor... Na ação do

corpo-voz-pensar a reincidência da necessidade da libertação, na composição de estilo...

Afinal, sobretudo, escapar para o lado de lá!

4 – Instante posterior. Compreensão da distinção entre o estado da tristeza e o

pensamento sob a égide da tristeza. Pode-se saltar... Pode-se ultrapassar as necessidades de

negação inerentes ao pathos da tristeza? Sem disfarces e subterfúgios... Como ultrapassar no

Movimento dos corpos-pensar sob hegemonia dos signos e linguagens

estado algumas indicações e saídas presentes à formulação das tensões daquele pensar...

Como distender afecções de um corpo nas exigências de um pensar?

5 – Amarrados, submetidos a condições fundantes... Acaso, morte, inocência, dor,

violência, ódio, ciúmes, raiva, amor, sexo... Exuberância das explosões solares; exuberância

do deslizar das pedras; exuberância da morte advinda do salto, no simples lavar de pratos...

Exuberância do prazer do sexo, do gozo do sexo; exuberância da disputa, na disputa e na

hegemonia... Apenas, sujar as mãos com o plantio de árvores! Exuberância na errância da

morte na sua presença inevitável, feito formação de tufão, feito passar de dia e noite...

Exuberâncias escandalosas: feito molho de cachorro quente... Ultrapassar a morte, a dor, a

violência, o estar na dor, na violência e na morte como lançado inelutavelmente nas cercanias

do pensar...

71 – Movimentos dos corpos sobre o império das atuações... Como questão a

falibilidade do dualismo... Como corpos produzem sentidos e como sentido produzem corpos

em formação... As afetações aferram nos corpos que dançam e compõem o espaço... Na

composição do currículo-acontecimento a imanência lança-se na corporificação do pensar,

na ausência das antigas distinções metafísicas. Imbricados vida em corpo dá-se a bailar na

proposição dos movimentos e línguas e poéticas... Espaço como campo das afetações em

relação de composição, como indicie das disputas corporificadas do sentido... Os conteúdos

curriculares como signos que induzem aos movimentos e deslocamentos e deslizes e fixações

do pensar e da língua dos corpos... Na ausência de distinção signos e corpos e movimentos e

pensar na experimentação de currículo-acontecimento1.

1 As imagens que se seguem demarcam o movimento dos corpos-pensar sob a emissão dos signos projetados natela na sala de aula. Respeitam o desenvolvimento temporal da experimentação. Os números indicam a posiçãodos participantes ao longo da atividade e as figuras apresentam a composição espacial do grupo na suasreverberações espaciais.

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II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015

7 – Corpo-forma amarrado, brutalmente arrastado é obrigado a se sentar... A tomar o

lugar de expectador... O limite: a extensão do espaço entre as paredes... Como produzir um

furo?

Movimento dos corpos-pensar sob hegemonia dos signos e linguagens

6 – Violentamente tenta-se retirar a tela, rasgar a tela, fazer de qualquer modo que a

exibição pare, que o signo deixe de emitir sua supremacia... De modo rápido e violento

desliga-se a transmissão... Corpos ofegantes silenciam-se... Disputa-se a hegemonia em torno

da decisão... Em alguns instantes a exibição retorna... Na tela, casal em momento de gozo

exibe a explosão do seu prazer...

Ao término... cortam-se as correntes, desliga-se o vídeo. Sala emporcalhada, olhos

assustados, rapidamente se esvazia... No canto da sala, e no quadro, os restos e as resistências

se celebram... Apagam-se as memórias do lugar na limpeza da sua sujeira...

- Tiveram que alterar a sala da próxima aula...

- Você estava lá: o que aconteceu ali?

- Uma oficina...

- Ah... Então, era isso!

Referências.

DELEUZE, G. e GUATTARI. F. O Anti-Édipo Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro:

Imago Editora Ltda, 1972/1976.

DELEUZE, G. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Edições Graal,1968/1988.

NIETZSCHE, F. Nietzsche contra Wagner. São Paulo: Cia. das Letras 1889/1999.

__________. Crepúsculo dos ídolos. São Paulo: Cia. das Letras, 1889/2006.

__________. Além do bem e do Mal. São Paulo: Cia das Letras, 1885/1992.

__________. A Gaia Ciência. São Paulo: Cia das Letras, 1881/2001.

__________. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Cia das Letras, 1885/2011.

__________. Also sprach Zarathustra. Germany: Atlas-Verlag köln. 1885/1963.

__________. A vontade de poder. Rio de Janeiro: Contraponto. 1888/2008.

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II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015

PASCAL, B. Pensamentos. São Paulo: Abril Cultural. 1632/2008.