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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE 2010

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ISBN:978-9966-7495-0-5

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Publicado em 2010 pelo Grupo Continental de Assessoria para Pesquisa, um consórcio entre o Institute for Democratic Governance, Southern Africa Trust, Fahamu, Citizen Participation on the African Union, AfriMAP (Africa Governance Monitoring and Advocacy Project), Open Society Initiative, Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), a Al-Ahram Center for Political and Strategic Studies, Information and Documentation Center for Woman and Child’s Rights, African Forum for Defence of Human Rights, Collective of Leagues and Associations for the Defence of Human Rights (CLADHO), Center for Advanced Social Science, a Citizens Governance Initiatives e a Oxfam International. Correio Electrónico do Grupo Continental de Assessoria para Pesquisa: [email protected] www.stateoftheunionafrica.net Todos Direitos Reservados. O material apresentado neste trabalho pode ser redistribuído, desde que o texto original não seja alterado, a fonte original de informação seja devidamente citada e o objectivo da redistribuição não seja comercial. Se pretende reproduzir, redistribuir ou transmitir de qualquer outra forma por favor contacte a editora. Desenho e Impressão: Nairobi, Kenya pela cGeorge Bensons Inc.

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ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS AGO Apoio Geral ao Orçamento ARA Administração Regional de Águas CIADAJ Comité Intersectorial de Apoio ao Desenvolvimento dos Adolescentes e Jovens CNJ Conselho Nacional da Juventude CRA Conselho Regulador de Águas CTA Confederação das Associações Comerciais EISA Instituto Eleitoral da África Austral FIPAG Fundo de Investimento e Património para o Abastecimento de Água Frelimo Partido no poder GRNBC Gestão de Recursos Naturais Baseada na Comunidade IDS Inquérito Demográfico e de Saúde IIM Inquérito do Indicador da Malária IPA Iniciativa de Pobreza e Ambiente IPAJ Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica LSDI Lubombo Spatial Development Initiative (Iniciativa do Desenvolvimento Espacial dos

Libombos) MARP Mecanismo Africano de Revisão de Pares MISAU Ministério da Saúde MTEF Quadro de Despesas Intermédias NEPAD Nova Parceria para o Desenvolvimento de África ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio OECD Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento OMS Organização Mundial da Saúde ONGs Organizações Não-Governamentais ONU Organização das Nações Unidas OSCs Organizações da Sociedade Civil PAF Quadro de Avaliação do Desempenho PAP Parceiros de Apoio Programático PARPA Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta PCA Presidente do Conselho de Administração PCDAA Plano Completo para o Desenvolvimento de Agricultura em África PES Plano Económico e Social PESS Plano Estratégico do Sector da Saúde PIB Produto Interno Bruto PNA Política Nacional de Água PNA Plano de Desenvolvimento da Adolescência e Juventude QDI Quadro da Despesa Intermédia RH Recursos Humanos RENAMO Resistência Nacional de Moçambique (Principal partido político na oposição) SADC Comunidade de Desenvolvimento da África Austral SC Sociedade Civil SISTAFE Sistema de Administração Financeira do Estado SWAP Abordagem Sectorial Ampla UA União Africana UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

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ÍNDICE

ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS..........................................................................................ii ÍNDICE ...............................................................................................................................iii AGRADECIMENTOS ...........................................................................................................iv PREFÁCIO.......................................................................................................................... v MOÇAMBIQUE: UMA BIOGRAFIA........................................................................................ 1 PRINCIPAIS RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 1

Principais Resultados.............................................................................................. 1 Principais Recomendações ...................................................................................... 2

CAPÍTULO 1: SITUAÇÃO ACTUAL DA RATIFICAÇÃO DOS PROTOCOLOS DA UNIÃO AFRICANA.......................................................................................................................... 4

Sumário do Sistema Legal e tratamento dos Instrumentos Internacionais em Moçambique .... 4 CAPÍTULO 2: DIREITOS HUMANOS E GOVERNAÇÃO DEMOCRÁTICA................................ 6

Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1981) .............................................. 6 Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governação (2007) .................................... 7 Convenção da União Africana sobre Prevenção e Combate à Corrupção (2003) ............... 14

CAPÍTULO 3: DIREITOS A SEGURANÇA ALIMENTAR E A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E RECURSOS MINERAIS ..................................................................................................... 16

Plano Completo de Desenvolvimento Agrícola em África (CAADP), NEPAD ..................... 16 Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (2003) .... 18

CAPÍTULO 4: DIREITO À SAÚDE....................................................................................... 22 Estratégia Africana de Saúde: 2007– 2015 ................................................................ 22 Exortação de Abuja para Acção Acelerada em Direcção ao Acesso Universal aos Serviços de HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas Relacionadas (2001) ......... 23 Plano de Acção de Maputo para Saúde Sexual e Reprodutiva e Direitos 2007-2010 (2006) . 27

CAPÍTULO 5: DIREITOS DA MULHER................................................................................ 29 Protocolo da UA à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos da Mulher em África (2003) ........................................................................................ 29

CAPÍTULO 6: DIREITOS DA CRIANÇA............................................................................... 33 Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança (1990)........................................... 33

CAPÍTULO 7: DIREITOS DOS JOVENS.............................................................................. 39 Carta Africana da Juventude (2006) ......................................................................... 39

CAPÍTULO 8: RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES........................................................... 41 Principais Resultados......................................................................................................... 41 Principais Recomendações................................................................................................. 42 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................. 43 APÊNDICES ..................................................................................................................... 44

Apêndice 1: Uma Nota sobre Metodologia ................................................................. 44 Apêndice 2: Estado da ratificação das cartas, tratados, protocolos e convenções da União Africana ............................................................................................................ 45 Apêndice 3: Conceitos Usados no Estudo ................................................................. 48

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AGRADECIMENTOS

Este relatório foi coordenado pelo Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), como parte de um projecto de pesquisa realizado em 10 países de África em parceria com o Institute for Democratic Governance, Southern Africa Trust, Fahamu, Citizen Participation on the African Union, AfriMAP (Africa Governance Monitoring and Advocacy Project), Open Society Initiative, Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil, a Al-Ahram Center for Political and Strategic Studies, Information and Documentation Center for Woman and Child’s Rights, African Forum for Defence of Human Rights, Center for Advanced Social Science, a Citizens Governance Initiatives e a Oxfam International. Os colaboradores que ajudaram a redigir, traduzir a editar o relatório incluem: Sérgio Muchanga, Januário Mucavele e Teresa Manjate. Agradecemos a todas pessoas e organizações que ajudaram a informar este relatório e que participaram nos encontros de discussão dos resultados e ou nas entrevistas individuais realizadas no âmbito da pesquisa. Gostaríamos de mencionar o apoio especial das seguintes pessoas e instituições: Teresinha da Silva, Marechal Nhavoto, Paulo Cuinica, Jonas Pohlmann, Amélia Fernanda, Mohamad Yassine, Camilo Nhancale, Hélder Machango, Simão Tila, Zacarias Couto, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, MARP, ORAM, CERPRE, WLSA Moçambique, Rede da Criança, Comissão Episcopal de Saúde, Cruzeiro do Sul, Kuwuka JDA, G20, JOINT e UNICEF.

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PREFÁCIO

Produzido pelo projecto ‘O Estado da União’, este relatório de 2010 é parte de um estudo realizado em 10 países de África, cujo objectivo é avaliar o desempenho dos Estados Membros em relação aos instrumentos e quadros de política principais de governação democrática, direitos económicos, sociais, civis e políticos. Embora tenha sido usada uma abordagem histórica, o período em revisão corresponde a 2007-2009. Mais pormenores sobre a metodologia usada podem ser consultados no apêndice 1. O projecto ‘Estado da União’ acompanha e contribui para o envolvimento dos Governos e da União Africana nos seus próprios compromissos através de gestão de pesquisa interna em cada país, auscultações comunitárias e consultas nacionais. As nossas actividades pretendem informar a implementação do Artigo 4.1(b) das Regras de Procedimentos da Assembleia dos Chefes de Estado. Ao abrigo deste Artigo, a Assembleia deve “monitorar a implementação das políticas e decisões da União assim como garantir a observância por todos os Estados Membros”. Este Artigo foi reafirmado pelos 53 Chefes de Estado Africanos na Cimeira da União Africana de Junho de 2009, em Sirte, Líbia. Nesta Cimeira, os líderes exortaram o Parlamento Pan-Africano dentre outros órgãos da UA a apoiarem a Assembleia a este respeito. Este projecto da sociedade civil iniciou três meses depois. Aos mentores de políticas dos Governos e titulares de cargos mencionados nas recomendações, exortamos no sentido de agirem em torno das recomendações propostas e saudamos um diálogo sobre as constatações e o caminho a seguir. Esperamos que possam analisar os relatórios dos outros países para aferirem melhores práticas e acções que possam ser replicadas no seu contexto nacional. Aos cidadãos, organizações da sociedade civil e outros titulares de direitos cujas vidas, segurança, dignidade e formas de vida são directamente afectadas pelas normas, instamos a monitorarem o progresso, a levarem o governo à prestação de contas e a apoiarem na realização da promessa das Normas e Quadros de Políticas da UA. Aos funcionários públicos de África que trabalham nos órgãos da União Africana, encorajamos a criarem urgentemente um mecanismo oficial de monitoria que possa fazer com que cada Estado Membro preste colectivamente contas em relação à realização dos quadros e instrumentos principais de política da UA. Em Junho de 2010, o fosso entre as decisões da UA e a prática da maior parte dos Estados Membros era visto como assustador e enorme por parte da maioria dos observadores. A menos que haja uma mudança no comportamento dos órgãos da União Africana e nos Estados Membros, as várias decisões importantes que são tomadas ao nível do continente arriscam-se a não serem implementadas a nível nacional. Isto poderá continuar a ter consequências devastadoras para milhões de cidadãos africanos que são negados uma boa governação, direitos fundamentais e direitos humanos básicos. Poderá também expor ainda mais as nossas instituições Pan-Africanas a um desafio óbvio de credibilidade. Para alguns de nós que trabalham nos órgãos da UA, nos Estados Membros e em organizações da sociedade civil, devemos aproveitar o momento para evitar que isto aconteça.

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MOÇAMBIQUE: UMA BIOGRAFIA

Superfície total: 784.090 km² População: 20.2 Milhões População por Sexo: Mulheres: 51.9%, Homens 48.1% População menor de 14 anos: 4 Língua Oficial: Portuguesa Crescimento Económico nos últimos 5 anos: 6-7 % PIB per capita: USD 900 em 2008 Incidência da Pobreza: 54% em 2003

PRINCIPAIS RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES

Principais Resultados De acordo com as constatações apresentadas ao longo deste estudo, Moçambique ratificou quase todos os instrumentos jurídicos da UA. Embora nalguns casos não houvesse evidência de ratificação directa dos instrumentos, existiu outra legislação complementar e interna em linha com o tratado, convenção ou plano da UA. Por outro lado, a domesticação de convenções internacionais, especialmente de direitos humanos, revelou ser facilmente absorvida na esfera jurídica legal pelo facto de os princípios democráticos serem absorvidos na Constituição. Foi observado um avanço nas seguintes convenções: Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1990), Protocolo da UA à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos da Mulher em África (2003), Carta Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança (1990); Exortação de Abuja para Acção Acelerada em Direcção ao Acesso Universal aos Serviços de HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas relacionadas (2001); Convenção da União Africana sobre a Prevenção e Combate contra Corrupção (2003); Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais; Carta Africana da Juventude; Estratégia Africana de Saúde: 2007– 2015. Apesar do ambiente favorável criado pelas leis nacionais e mecanismos institucionais, o impacto dos instrumentos internacionais poderia ser aumentado por uma ratificação clara e controlável, domesticação e processo de implementação. A pesquisa revelou igualmente uma evidente falta de critérios e mecanismos claros assim como de conhecimento por parte dos Parlamentares para iniciarem e legislarem sobre leis com base nos compromissos internacionais. Por outro lado, as responsabilidades para ratificar ou domesticar instrumentos internacionais são sectoriais e difusas. A abordagem sectorial com um sistema fraco de integração e monitoria, torna todo o processo de domesticação muito frágil. A falta de uma base de dados organizada de leis aprovadas no Parlamento traz constrangimentos difíceis na popularização e monitoria do processo de implementação. Para além disso, maior parte das resoluções ratificadas e leis complementares não estavam disponíveis nas instituições que são oficialmente responsáveis pela disseminação da legislação (Imprensa Nacional), monitoria e implementação (Ministério dos Negócios Estrangeiros e outras). A ausência de um conhecimento rigoroso dos compromissos assumidos pelo governo ao nível regional e internacional por parte da maioria dos funcionários governamentais que entrevistamos é por si só um obstáculo para a implementação destas mesmas convenções. A limitação no acesso à informação das instituições do governo é ainda outro obstáculo. É preciso passar por numerosos procedimentos burocráticos para obter informação das instituições do governo e mesmo do Parlamento. Na maior parte dos casos são necessárias cartas oficiais para pedir entrevistas com informantes chave do governo e os encontros frequentemente demoram semanas para serem aceites.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Em resumo o estudo identificou os seguintes constrangimentos que obstruem a integração efectiva das normas internacionais e a aplicação apropriada na jurisdição interna: 1. A domesticação não é sistemática. Não existe uma prática sistemática e consistente de

internalização de tratados internacionais para a jurisdição interna; 2. A domesticação não está claramente regulada. Não existem instrumentos claros e linhas de

orientação regulando a domesticação dos vários instrumentos regionais e internacionais pelos vários sectores governamentais particularmente os sectores chaves tais como o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Parlamento;

3. A domesticação não é devidamente popularizada. Enquanto alguns dos tratados são publicados

no Boletim da República, os mesmos não chegam aos vários actores com o mandato de acompanharem a implementação;

4. A domesticação não é acompanhada pelo correspondente ajuste de capacidades (pessoal e

outros recursos); Tratados especializados poderão requerer conhecimento especializado para melhor implementação;

5. Os Tratados não são claramente articulados na jurisdição interna. Não existe indicação clara ou

evidência da integração dos tratados internacionais na legislação nacional; Isto torna difícil o processo de monitoria e consequentemente a aplicação do tratado na total plenitude;

6. A monitoria da implementação/aplicação das normas internacionais é geralmente feita como

parte da preparação das delegações do governo que participam nos encontros regionais/internacionais.

7. Os tratados e documentos jurídicos não são preenchidos de forma adequada e

metodologicamente. Em todas as entidades chaves foi muito difícil para os funcionários localizarem qualquer documento específico de ratificação.

Principais Recomendações 1. O Governo e o Parlamento devem emitir directrizes claras tornando obrigatória e sistemática a

internalização dos tratados internacionais. O que fazer, como e em que circunstâncias fazer, deveriam ser elementos importantes deste processo. Os compromissos internacionais deviam ganhar maior visibilidade no ambiente jurídico e político interno. A integração dos ODMs no quadro da política interna é um bom exemplo desta possibilidade.

2. Deviam ser publicadas linhas de orientação detalhadas para apoiar o trabalho dos vários actores

e todas as outras entidades que enfrentam a tarefa de passarem pelo processo de internalização.

3. Os Governos e os Parlamentos deviam usar vários outros meios à sua disposição para

popularizar os instrumentos adoptados. Nesta fase, ferramentas como Boletins Informativos, portais, redes de endereços electrónicos, workshops, poderiam funcionar efectivamente.

4. Para assuntos de especialidade e complexos e legislação tais como os que lidam com meio

ambiente, mudanças climáticas, devia-se providenciar formação adequada às pessoas que vão lidar directamente com o processo de domesticação, em particular os Parlamentares e instituições relevantes do governo.

5. Devem ser tomadas decisões claras logo de início sobre as modalidades da domesticação

(monista, dualista) complementando o que os tratados já indicam. As perguntas a fazer seriam: estarão por aprovar novas leis; será que o tratado será adoptado na sua forma inteira (monista) ou por componentes (dualista); que reservas deverão ser observadas.

6. O governo deve estudar a possibilidade de fazer mais exercícios de monitoria e avaliação e não apenas ficar à espera de ocasiões em que é necessária uma actualização nos encontros internacionais.

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2010

7. Devem ser adoptados procedimentos de preenchimento apropriados para uma fácil localização e

acompanhamento de tratados. 8. Deve ser criado um quadro institucional efectivo para funcionar como um repositório de todos os

instrumentos internacionais. Tal entidade ou mecanismo poderia desenvolver um banco de dados para a gestão da informação disponível, relatório e cumprimento de monitoria e fazer coordenação com os secretariados. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ou da Justiça deveriam desempenhar um papel nisto.

9. A sociedade civil pode desempenhar uma função muito importante no impulsionamento da

agenda de eficiência no aparelho governamental. A SC pode igualmente preencher algumas das lacunas acima identificadas.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

SITUAÇÃO ACTUAL DA RATIFICAÇÃO DOS PROTOCOLOS DA UNIÃO AFRICANA

Instrumentos e Quadros de políticas da União Africana analisados

Data de decisão Situação

1. Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos

Agosto de 1988 Ratificada

2. Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governação

- Sem evidência

3. Tratado que Cria a Comunidade Económica Africana (Tratado de Abuja)

Maio 1992 Ratificado

4. Convenção da União Africana sobre Prevenção e Combate à Corrupção

Agosto 2006 Ratificada

5. Plano Completo do NEPAD para o Desenvolvimento de Agricultura em África (CAADP)

Não Assinou mas iniciou implementação

6. Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais

- Sem evidência

7. Estratégia Africana de Saúde: 2007 – 2015

- Sem evidência

8. Exortação de Abuja para Acção Acelerada Rumo ao Acesso Universal aos Serviços do HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas relacionadas

Sob implementação

9. Plano de Acção de Maputo sobre Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva 2007-2010

- Integrado no protocolo de Saúde da SADC

10. Protocolo da UA à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos da mulher em África

Dezembro 2005 Ratificado

11. Carta Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança

Julho 1998 Ratificada

12. Carta da Juventude Africana Maio 2008 Ratificada

Sumário do Sistema Legal e tratamento dos Instrumentos Internacionais em Moçambique Os Estados seguem três principais abordagens na domesticação dos instrumentos internacionais. Alguns Estados seguem a abordagem dualista, outros seguem a monolítica enquanto outros são regulados por uma abordagem mista. De acordo com a abordagem dualista, os tratados são parte de um sistema jurídico separado do sistema do direito interno: Eles não fazem parte directa da legislação interna. Assim, de acordo com esta abordagem, um tratado para o qual um Estado tenha expressado o seu consentimento de vinculação não se torna automaticamente aplicável dentro desse mesmo Estado até que seja aprovada uma legislação nacional apropriada que dê ao tratado, internamente, a força de lei. Trata-se do chamado “acto de transformação” ou “domesticação ”, que se concretiza de várias formas. Uma dessas formas é a incorporação directa das regulamentações do tratado através de técnicas de redacção que dão força de lei a provisões específicas do tratado ou mesmo de todo tratado. A ratificação, em muitos casos, ocorre ao nível do Parlamento, no entanto existem casos em que a responsabilidade e a autoridade residem no Governo. A domesticação inicia com a ratificação e estende-se à própria incorporação nos instrumentos jurídicos, programas ou políticas nacionais seguidos pela sua popularização. No âmbito da abordagem monolítica, tradicionalmente, considera-se que o sistema jurídico de um Estado tenha incluído tratados com o consentimento de vinculação desse mesmo Estado. Assim, certos tratados podem tornar-se directamente aplicáveis nesse Estado internamente (auto execução) e não dependendo de legislação nacional subsequente para lhes dar força de lei uma vez ratificados. "Onde um tratado é considerado desse modo, "directamente aplicável", ao abrigo desta abordagem, significa que os tribunais nacionais assim como outros órgãos governamentais poderão olhar para a própria linguagem do tratado como fonte de lei."

CAPÍTULO 1

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A abordagem mista é uma combinação dos dois sistemas anteriormente mencionados. Os estados que seguem este sistema não reconhecem a aplicabilidade automática da totalidade do direito internacional na sua ordem jurídica nacional, mas reconhecem instrumentos internacionais específicos para aplicação automática1. A supremacia das normas constitucionais prevalece sobre as normas ordinárias e internacionais. Moçambique segue este sistema. Em Moçambique, o sistema de domesticação é definido pela Constituição. Esta, porém, não dedica nenhum capítulo específico nem órgão ou instituição governamental específico para lidar com o processo de ratificação. O assunto é tratado em capítulos dispersos e a competência para lidar com assuntos do direito internacional é constitucionalmente atribuída, contextualmente, ao Presidente da República, à Assembleia da República e ao Conselho de Ministros. O Artigo 161 (b) da Constituição de Moçambique atribui ao presidente poderes para assinar tratados relacionados com assuntos de defesa nacional e ordem pública2. O Artigo 162 estabelece ainda que em matérias de relações internacionais, o Presidente da República deverá ter poder de assinar tratados internacionais3. O poder Presidencial de assumir compromissos para o país em tratados internacionais é uma prerrogativa pessoal, não obstante, o Presidente pode procurar o aconselhamento do Parlamento. A segunda instituição que lida com leis internacionais é o Conselho de Ministros; o Artigo 204 (1) (g) da Constituição, no âmbito das competências do Conselho de Ministros afirma que o Conselho de Ministros tem poderes para4:

• Preparar a celebração de tratados internacionais e celebrar, ratificar, aderir e denunciar acordos internacionais em matérias que cabem à sua jurisdição governamental.

A Assembleia da República é também dotada de poderes para lidar com assuntos relacionados com leis internacionais; o Artigo 179 (2) da Constituição da República declara que: Compete à Assembleia da República5:

• Aprovar e denunciar tratados que lidam com assuntos da sua competência. • Ratificar e denunciar tratados internacionais. • Ratificar tratados sobre a participação de Moçambique em organizações internacionais de

defesa. Pelo acima exposto, pode-se aferir que, ao abrigo da lei suprema de Moçambique, diferentes instrumentos internacionais podem ser ratificados por diferentes órgãos do estado dependendo dos assuntos neles tratados. A base jurídica para esta explicação é ainda esclarecida no Artigo 18 (1.2)6 da Constituição. • “Os tratados e acordos internacionais validamente aprovados e ratificados deverão ter força de

lei na ordem jurídica de Moçambique desde que tenham sido publicados no Boletim da República.

• “As normas do direito internacional terão a mesma força na ordem jurídica internacional de Moçambique como têm os actos legislativos infraconstitucionais da Assembleia da República e do Governo, de acordo com a respectiva forma como elas forem recebidas”.

O Tratado é definido como sendo um acordo vinculativo sob direito internacional concluído por sujeitos do direito internacional, nomeadamente estados e organizações internacionais. Os tratados são também chamados acordos, protocolos, convénios, convenções internacionais, trocas de cartas e trocas de notas.

1 J B Gouveia:Manual de Direito Internacional Público, 2004, p220. 2 Art 161 (b) da Constituição de Moçambique 3 Artigo 162 da Constituição de Moçambique, 2004 4 Artigo 201 (1) (g) da Constituição de Moçambique, 2004 5 Artigo 179 (2) da Constituição de Moçambique, 2004, alíneas e, t, u 6 Artigo 18 (1) da Constituição de Moçambique, 2004

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Existem casos em que os detidos permanecem encarcerados para além dos prazos permissíveis, devido especialmente ao abuso da polícia, fraca capacidade dos tribunais para lidar com certos casos e aplicação inadequada pelos titulares de cargos das facilidades oferecidas aos cidadãos em relação ao acesso à justiça (Relatório Anual dos Direitos Humanos em Moçambique, 2008, Pgs 25-30). A lei prevê 48 horas como tempo máximo em que alguém pode ficar detido para investigação.

DIREITOS HUMANOS E GOVERNAÇÃO DEMOCRÁTICA

Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1981) Principais artigos analisados e indicadores previstos

Artigos Indicadores Artigo 6: Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Nenhuma pessoa deve ser privada da sua liberdade excepto por motivos e condições previamente estabelecidos por lei. Em particular, nenhuma pessoa deve ser presa ou detida de forma arbitrária.

A existência e aplicação da legislação concernente à prisão e detenção arbitrárias sem julgamento

Artigo 12: Todo o indivíduo deverá ter direito à liberdade de movimento e residência dentro das fronteiras de um Estado desde que observe as respectivas leis.

A liberdade de movimento por parte das pessoas e suas famílias; Se existem impedimentos regulamentares ou outros à residência em qualquer parte dentro das fronteiras do estado

Ratificação Moçambique ratificou a Carta através da resolução nº 9/88 de Agosto de 1988. Alguns artigos da Carta da UA: Todas as pessoas são iguais perante a lei; têm direito a protecção igual da lei; têm direito ao usufruto dos direitos e liberdades reconhecidos e garantidos na presente Carta Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Internacionais A Constituição define no seu artigo 88 a educação como sendo um direito e dever do cidadão, com o estado a assumir a responsabilidade da criação de condições educacionais e garantia do usufruto deste direito pelos cidadãos. A Constituição garante também ao cidadão direito à saúde e à alimentação. Estes são abordados no âmbito de diferentes convenções neste relatório. Em relação ao sistema de justiça, a Constituição de Moçambique estabelece no seu artigo 62 que o Estado garante o acesso do cidadão à justiça, ao direito de autodefesa assim como à assistência jurídica. O Governo criou para este efeito o Instituto de Patrocínio e Apoio Jurídico (IPAJ) com enfoque no cidadão com fraca capacidade económica. Moçambique está ainda por concluir a criação da Comissão Nacional Dos Direitos Humanos. Isto segue à aprovação em Maio de 2009 pelo Parlamento moçambicano de uma proposta de lei que cria a comissão. A comissão prevista na proposta da lei é composta por 11 pessoas – quatro nomeados por Organizações da Sociedade Civil que trabalhem na área dos Direitos Humanos; três figuras que trabalham nas áreas de educação, justiça e saúde indicados pelo Primeiro-ministro, depois de consultas com os respectivos ministros; três figuras “de reconhecida aptidão e mérito, com conhecimento ou experiência na promoção e defesa dos Direitos Humanos” eleitos pela Assembleia da República, no princípio de “representação proporcional ” (o que significa que o partido Frelimo, no governo, indicará duas destas figuras e a RENAMO uma) e um representante da Ordem dos Advogados de Moçambique. A lei reconhece o direito de habeas corpus ou procedimento similar. O mesmo está, na prática, disponível às pessoas detidas. Há informações generalizadas de detenções arbitrárias; de igual modo, o número de vítimas de torturas e execuções sumárias feitas pela Polícia tem estado a crescer (Relatório anual dos Direitos Humanos em Moçambique, 2008, pgs. 33-43). A liberdade de circulação por parte das pessoas e famílias é um direito reconhecido pela Constituição de Moçambique. Todas as limitações e restrições existentes nos anos de 1980 foram

CAPÍTULO 2

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Embora não haja qualquer evidência de uma ratificação específica da Carta (no seu todo), os princípios centrais estão contemplados na Constituição e nas leis ordinárias. Alguns princípios da Carta: Respeito pelos direitos humanos e princípios democráticos; Acesso a e exercício do poder de estado em conformidade com a constituição do Partido Estado e o princípio do estado de direito; Promoção de um sistema de governo que seja representativo; Realização de eleições regulares, transparentes, livres e justas; (...) Algumas leis: Resolução 06/2008, de 30 de Maio, que ratificou o Protocolo Opcional à Convenção sobre a Eliminação de Todos Tipos de Discriminação contra a Mulher; Lei 03/2008, de 16 de Junho, sobre tráfico de seres humanos, em particular a mulher e criança.

eliminadas e as pessoas e famílias podem hoje fixar-se em qualquer lugar do país (Artigo 56 da Constituição). A Constituição estabelece no seu artigo (12) e (54) que Moçambique é um Estado Laico, deste modo, as pessoas são livres de praticar qualquer religião.

O estudo encontrou uma clara Indicação da ratificação da Carta; existiam outras leis internas e mecanismos internacionais que estavam em sintonia com a legislação; os mecanismos e práticas institucionais tinham nascido da adopção da Carta. O impacto, por conseguinte, não pode ser atribuído com confiança à adopção deste mesmo instrumento. Os objectivos e resultados previstos estipulados na Carta estão a ser abordados e realizados de uma ou de outra forma, mas apesar disto, os desafios continuam.

Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governação (2007) Principais artigos analisados e indicadores Previstos

ARTIGOS INDICADORES Democracia, estado de direito e direitos humanos

Existência de garantias de transferência constitucional do poder; Se o processo de emenda de revisão da Constituição repousa no consenso nacional, exemplo, através de um referendo; Direito à igualdade perante a lei, e se existem medidas para salvaguardar os direitos da mulher, minorias étnicas, emigrantes, pessoas portadoras de deficiências, e outros grupos sociais marginalizados e vulneráveis; Respeito pela diversidade étnica, cultural e religiosa.

Cultura de democracia e paz

As leis que regem o funcionamento das Organizações da Sociedade Civil (facilidade de entrada, regime de regulamentação, e liberdade de funcionamento).

Instituições democráticas

As estruturas formais de democracia representativa: sistemas presidencial ou parlamentar, estado federal ou unitário, principais escalões do governo (nacionais, provinciais, locais) e como é que elas estão estruturadas, a função dos tribunais e outras instituições independentes de supervisão na salvaguarda da democracia e do direito à participação, existência e desempenho de instituições independentes de supervisão criadas constitucionalmente (tais como as comissões nacionais dos direitos humanos)

Eleições democráticas

A existência de um órgão eleitoral nacional independente responsável pelas eleições; qualidade dos mecanismos para o registo de eleitores, organização de eleições, e gestão de conflitos eleitorais

Governação política, económica e social

O papel das mulheres no desenvolvimento e fortalecimento da democracia, como eleitoras e contendoras políticas; As condições para a participação das mulheres na política, com números sobre a relativa participação das mulheres no acesso a posições políticas, acompanhado de possíveis explicações dos resultados; Medidas tomadas para encorajar a participação completa e efectiva das mulheres nos processos eleitorais e para assegurar a paridade do género na representação em todos os níveis, incluindo nas legislaturas; Governação económica e empresarial, por exemplo, efectividade e eficiência da gestão do sector público, transparência na gestão da finança pública, tratamento de ofensas relacionadas com corrupção, prevenção e combate contra crime, e o sistema tributário.

Ratificação

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Existem, na verdade, certas regiões do país com desvantagens. Ao nível político e mesmo público tem havido muitas queixas de desenvolvimento desigual entre as diferentes regiões do país. Tem havido acusações de que o Sul, o bastião dos líderes da Frelimo, tem estado a receber maior atenção e investimento do Governo.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais com relação à Democracia, Estado de Direito e Direitos Humanos A Constituição de 1990 introduziu o Estado de Direito e democracia com base na separação de poderes e pluralismo. A Constituição foi revista para se adequar ao novo ambiente democrático que se instaurou com o fim da guerra civil. Outras emendas foram feitas de forma gradual pelo Parlamento com uma aprovação sem dificuldades por voto maioritário da Frelimo. A consulta popular, em todo o caso, muito estreita. A Constituição recebeu de todas as maneiras uma ampla aceitação por parte dos cidadãos e, de facto, ela contém cláusulas relacionadas com os direitos humanos e responsabilização democrática. Pondo de lado os interesses políticos, o país não conheceu até hoje amplas reclamações dos cidadãos para uma mudança constitucional – quer em forma de redacção de uma nova constituição ou em emendas a artigos específicos. Ao abrigo da Constituição, cada indivíduo é igual perante a lei e o governo tem estado a tomar várias medidas com vista a promover os direitos dos vários grupos. Em 2009, o Governo aprovou a Lei da Família, que dá destaque à protecção da mulher. O governo criou um Ministério da Mulher e Acção Social com um mandato claro de garantir os direitos e promover dos interesses da mulher. A lei sobre liberdade de associação 8/91, que está em fase de revisão pela sociedade civil, abriu espaço para que as Organizações da Sociedade Civil se organizassem e se engajassem nas abordagens estratégicas e programas, em defesa dos vários grupos de interesse, incluindo a promoção da mulher. A Constituição estipula que cada pessoa é igual perante a lei independentemente da sua raça, religião e grupo étnico. A Constituição não identifica nem reconhece as minorias étnicas. Isto é algo que o Governo pró-comunista de então eliminou durante a vigência do sistema de partido único, dando ênfase à unidade nacional. O Governo possui uma lei sobre deficiência e programas específicos que cobrem grupos sociais vulneráveis. Na realidade, a Constituição no seu Capítulo I, artigos 36 e 37 estabelece a protecção à mulher e pessoas com deficiência. Todavia, o Governo criou um Ministério para tratar de assuntos da mulher e acção social. Moçambique assinou a convenção sobre refugiados a 16 de Dezembro de 1983, tendo-a adoptado a 15 de Março de 1984. O Governo possui de igual modo outros mecanismos internos para lidar com imigrantes e refugiados. Na verdade, o maior campo de refugiados, “Centro Nacional de Maratane” foi aberto em Nampula, para acolher refugiados, a maior parte dos quais provenientes dos Grandes Lagos. Olhando para o assunto do poder, a Constituição estipula dois mandatos para o Presidente e nunca houve tentativas para alterar esta ordem constitucional. Os procedimentos para a transferência do poder tiveram oportunidade de se tornar claras nas recentes eleições gerais realizadas em Outubro de 2009. Enquanto certa oposição afirma que o governo é e sempre esteve dependente do apoio étnico principalmente da região sul de Moçambique, no País a equação da classificação étnica não tem significado. Aqui se pode testemunhar um claro respeito pela diversidade étnica, cultural e religiosa. Legislação, Mecanismos e Práticas Institucionais Existentes com relação à Cultura de Democracia e Paz Na prática, todos os diferentes grupos étnicos, religiosos, sociais ou outros, no país, têm garantido o direito de participar na política nacional. Moçambique não tem história de discriminação e exclusão de grupos étnicos, religiosos, sociais ou similares do poder. No que diz respeito à participação pública no processo político, a liberdade de associação política tem sido a garantia jurídica deste direito. A política e o processo de descentralização têm

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Enquanto todos estes instrumentos são abordados na constituição, na prática, eles não são necessariamente materializados e não ocorrem num ambiente livre e imparcial. Existem várias situações em que uma manifestação não foi autorizada ou em que a sua autorização não foi feita a tempo tornando todo o processo ilegal. Casos houve em que comícios dos partidos da oposição não tiveram a protecção desejada da parte da polícia. Não há provas claras de moléstia a jornalistas por parte do governo.

Existe contudo um certo nível de censura nos meios de comunicação social do sector público. Esta, conforme algumas pessoas têm observado, funciona como uma mão invisível do Partido (no governo), regulando o que sai e o que não sai e de que forma se apresenta para o público. Também através de cláusulas sobre difamação (Artigos 46, 47 da Lei de Imprensa) e de crimes contra a segurança do estado (lei 19/91) e esta mesma legislação limita a liberdade de imprensa que pretende promover.

estado também a dar enormes oportunidades para a participação às comunidades locais e à população mais vulnerável, no processo político e de desenvolvimento a nível local. Quanto à representação nacional na arena política, pode dizer-se, com alguma confiança, que a composição do governo nacional, legislatura e função pública representam um segmento transversal da nação. Tendo sido um problema crítico no passado, o governo actual tem estado a lidar com este assunto estrategicamente, fazendo nomeações abrangentes para várias posições de poder. Não existe, contudo, uma política deliberada do governo para garantir que grupos potencialmente marginalizados estejam representados no governo. Legislação Nacional, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação à Liberdade de expressão e de reunião, meios de comunicação Os direitos dos cidadãos à livre expressão e reunião e liberdade de imprensa estão protegidos em Moçambique. O Artigo 48 da Constituição de 2004, estabelece a liberdade de expressão e informação, enquanto o artigo 51 estabelece a liberdade de reunião e manifestação. A liberdade de filiação política está consagrada no artigo 53 (Constituição de 2004). Sobre os meios de comunicação social, a Constituição e demais leis protegem a liberdade dos mesmos (incluindo a radiodifusão, imprensa e “novos” media tais como serviços de notícias baseados na internet) (Artigo 48 da Constituição). Nos órgãos de comunicação social privados o debate sobre assuntos políticos não tem sido, até certo ponto, censurados e os mesmos têm operado com uma certa autonomia financeira e em segurança. A liberdade de expressão e dos meios de comunicação são ainda descritos de forma detalhada na Lei da Imprensa 18/91 de 10 de Agosto, cuja publicação fez surgir serviços privados de comunicação social no país. A lei da imprensa de 1991 criou igualmente o Conselho Superior de Comunicação Social, cujas responsabilidades foram elevadas ao abrigo da Constituição de 2004 com o mandato de garantir a independência dos meios de comunicação social e os direitos de igual acesso aos meios de comunicação social por parte dos partidos políticos. O quadro jurídico para os processos eleitorais em Moçambique tem duas fontes básicas: a Constituição de 1990 e o Acordo Geral de Paz assinado em 1992. A Constituição de 1990 estabeleceu as liberdades fundamentais e os pilares de um sistema multipartidário, tendo as cláusulas no âmbito do Acordo Geral de Paz garantido a representação proporcional da lei eleitoral. Tudo isto foi preservado na Constituição de 2004 (Artigo 135, 2). A lei eleitoral afirma que “Os candidatos, coligações de partidos políticos, assim como grupos de cidadãos proponentes eleitorais têm o direito a serem tratados de igual forma pelas entidades públicas e privadas de modo a poderem cumprir com a sua campanha eleitoral num ambiente livre e em óptimas condições” (Artigo 21 da Lei Eleitoral). A lei eleitoral também no seu artigo 22 indica que “durante a campanha eleitoral aos candidatos não devem ser impostas quaisquer limitações a expressões políticas, económicas, sociais e culturais” nem “...restrições nos média ou seus agentes...”

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Não existem, contudo, directrizes claras indicando os procedimentos em relação ao acesso à informação do governo. Na prática, não há acesso efectivo a tal informação e na sua maior parte ela é refém dos funcionários governamentais a quem cabe determinar se certo tipo de informação pode ser disponibilizado ou não. Normalmente é necessário ter uma autorização oficial de um alto funcionário para que certos documentos sejam disponibilizados.

Contrariamente aos grupos acima mencionados, cidadãos de uma forma individual e grupos da sociedade civil têm relatado más experiências na obtenção de informação de interesse público junto dos departamentos do governo. De facto, e tal como também acima indicado, não existem directrizes efectivas que determinam quando é que uma informação é pública e quando é que é confidencial. O portal oficial do governo, um dos veículos chaves de informação do Governo para o público, não tem sido um instrumento de partilha de informação muito interactivo.

A grande limitação que as OSCs enfrentam é o reconhecimento das suas contribuições no diálogo político com o Governo. De facto, a evidência mostra que, apesar da retórica do Governo e os mecanismos institucionais de participação, o Governo está longe de reconhecer as OSCs como parceiras relevantes no diálogo político.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao Acesso à Informação do Governo O direito à informação é um direito cívico consagrado na Constituição. Como uma boa prática, o porta-voz do Conselho de Ministros realiza conferências de imprensa todas as Terças-feiras depois da sessão regular daquele órgão. Durante esta ocasião os jornalistas estão livres de fazerem perguntas acerca de qualquer decisão tomada ou debate tido pelo Governo. A informação financeira e sobre orçamento está normalmente disponível para fóruns específicos ou grupos de interesse tais como os parceiros de desenvolvimento, jornalistas, universidades e outros.

Legislação, Mecanismos e Práticas Institucionais em Relação à Sociedade Civil A Constituição de 1990 e a aprovação da lei nº 8/91 trouxeram uma nova dinâmica ao movimento da Sociedade Civil. Na verdade, o ambiente trazido por esta lei permitiu o registo oficial de mais de cinco mil OSC operando em diferentes áreas de desenvolvimento em Moçambique (INE 2005). A maioria das OSC ainda não está registada. As Organizações da Sociedade Civil propõem que haja reforma à lei actual para responder aos crescentes desafios que enfrentam.

Existem, em Moçambique, vários mecanismos e formas que estabelecem uma interacção formal entre o Governo e a sociedade civil. Os principais, dentre estes, são os observatórios de desenvolvimento nacional e provinciais, mecanismos institucionais nos quais o Governo reúne com os doadores e sociedade civil para discutir e avaliar as políticas do Governo e os seus planos anuais de desenvolvimento. Existem mecanismos de participação no sector privado através da confederação das associações económicas (CTA), com a força de trabalho através do sindicato nacional dos trabalhadores, com os meios de comunicação social através do Sindicato Nacional dos Jornalistas, com a juventude através do Conselho Nacional da Juventude, para mencionar alguns. A sociedade civil em Moçambique tem demonstrado ao longo dos anos um maior cometimento para se engajar no diálogo político. As organizações têm demonstrado capacidade para produzir contribuições válidas para o processo de políticas e desenvolvimento, mas muito ainda ficou por se fazer para que a sua participação seja efectiva no processo de tomada de decisão. Um dos maiores desafios enfrentados pelas OSC, e por razões históricas, é o facto de as mesmas estarem viradas mais para a prestação de serviços e menos para a monitoria da governação.

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Apesar desta abertura, não é comum o governo publicar e distribuir certa documentação tal como projectos de documentos de políticas, de legislação ou do orçamento para comentários e auscultação públicos. Os espaços para o diálogo político são consultivos e não existem mecanismos que garantam que as recomendações feitas pelas OSC sejam incorporadas. De igual modo, a SC continua e encontrar grandes limitações na análise das políticas e orçamentos do governo.

Contudo, existe registo de incidentes de aplicação da lei que viola a Constituição. Por exemplo, o Conselho Constitucional declarou inconstitucional a decisão Presidencial da criação da Alta Autoridade da Função Pública. O Presidente reagiu abolindo esta entidade e criando no seu lugar o Ministério da Função Pública.

Legislação e Práticas com relação à participação popular nos processos de planificação e orçamento A Lei de Associação, 8/91 (de 18 de Julho) e a Lei dos Órgãos Locais do Estado 8/2003 (de 19 de Maio) abriram um longo caminho para a participação da sociedade civil no processo de planificação e orçamento. O Governo de Moçambique criou espaços para diálogo político a todos os níveis da administração, nomeadamente, através dos Observatórios de Desenvolvimento, aos níveis nacional e provincial, e Conselhos Comunitários a nível distrital. Através destes espaços, as organizações da sociedade civil participam no processo de formulação e de avaliação dos processos de planificação e orçamento. Por norma e na prática os departamentos do governo seguem um calendário de planificação anual. Enquanto estes não são postos à disposição do público em geral, os mesmos são distribuídos aos parceiros de desenvolvimento com convite claro de apresentação de propostas. Não existe caso de consulta pública quando o governo está a planificar grandes projectos de desenvolvimento com impacto para um grande número de pessoas (por exemplo, discussões públicas sobre o impacto ambiental e social de grandes estradas ou barragens). Instrumentos jurídicos Internos, Mecanismos e Práticas Institucionais em Relação às instituições Democráticas Em geral, as estruturas relevantes de democracia representativa em Moçambique incluem a constituição multi-partidária, a existência de um Parlamento funcional, o aparelho da justiça, eleições regulares, um conselho constitucional, existência de tribunais funcionais, o secretariado de administração eleitoral e a comissão eleitoral. Moçambique é um estado unitário e segue um sistema Presidencialista em que o Presidente é directamente eleito por voto popular.

Os principais escalões do governo são o nacional, provincial, municipal e distrital. A nível nacional temos o Parlamento Nacional e o Conselho de Ministros, este último coordenado pelo Primeiro-Ministro. O Presidente é o chefe do Governo. A nível provincial o estado está organizado através de assembleias provinciais com membros distritais e provinciais eleitos, sectores do governo provincial, liderado por um governador. A nível distrital existem conselhos consultivos compostos por representantes de OSCs, organizações de base comunitária, líderes locais, empresários locais e equipas técnicas do governo que têm a responsabilidade de desenvolver os planos de desenvolvimento distritais. Os conselhos consultivos distritais são chefiados pelo administrador distrital. Desempenho e independência do judiciário: A constituição estabelece independência judicial, incluindo uma separação formal dos poderes entre o judiciário e o executivo e não existe nenhuma indicação de existência de leis que não respeitem a Constituição. Existe um Conselho Superior da Magistratura Judicial em Moçambique. Os membros do Conselho Judicial são nomeados pelo Presidente. Na prática não há contribuição da sociedade nas nomeações para o conselho. Por outro lado, os juízes possuem segurança de posse de cargo de que somente podem ser afastados (ou despromovidos) por má conduta gravosa, incompatível com a função de juiz. Eles normalmente são nomeados para mandatos fixos.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Ambas as entidades são consideradas independentes, mas a oposição tem estado sempre a reclamar a influência do partido no poder nos seus assuntos internos.

Não existem regras constitucionais para promover representação igual da mulher na política. A Constituição assegura mas não promove activamente o acesso igual da mulher ao poder.

No geral, não existe muita transparência na gestão de finanças públicas. O tratamento da corrupção tem sido criticado por ser selectivo, dirigido aos mais vulneráveis e fracos na cadeia de gestão do poder. O novo governo, no poder desde 2004 e reeleito em 2009, posicionou-se, contudo, aberto contra a corrupção ao nível mais alto, tendo levado para o tribunal políticos de alto nível incluindo 2 ministros e 2 PCAs.

A Constituição prevê referendos mas, na prática, os mesmos nunca foram realizados no país devido à ausência de um quadro jurídico operacional. Contudo, em 2009, um projecto de lei sobre Referendos foi submetido ao parlamento para aprovação. Legislação Nacional, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação a eleições Democráticas As eleições em Moçambique são geridas por uma Comissão Eleitoral de composição mista. Ela conta com representantes da oposição, do partido no governo e da sociedade civil. Para além da Comissão Eleitoral existe o secretariado técnico de administração eleitoral responsável pela administração do processo eleitoral e das eleições. Ambas as entidades são devidamente financiadas através do Orçamento do Estado.

Recenseamento de eleitores: O recenseamento de eleitores e sua actualização normalmente ocorre nos períodos próximos das eleições. Moçambique introduziu nas últimas eleições de 2009 um recenseamento eleitoral digital. Informação disponível indica que um total de 40.8% dos 9.8 milhões de eleitores registados participou na votação de 2009, comparado a 36% em 2004. Sistema eleitoral: Em conformidade com a lei, o Presidente da República é eleito por sufrágio universal e directo. Os candidatos presidenciais podem ter uma filiação política ou ser independentes (lei 7/2007, Artigo 132). As eleições Parlamentares baseiam-se na representação proporcional dos candidatos de Partidos apresentados em listas fechadas, em relação ao número de eleitores dos seus círculos eleitorais. Normalmente os partidos estabelecem directrizes internas em relação ao género e o número de mulheres que entram para as listas. Não existe contudo qualquer mecanismo para garantir a representação de género, grupos étnicos ou sociais que têm sido tradicionalmente excluídos do poder. Validade dos resultados: Os resultados das eleições em Moçambique nunca foram aceites pela oposição. Nas últimas 3 eleições a oposição sempre ameaçou recorrer a guerra devido à falsificação dos resultados, na sua óptica. Contudo, em geral, os resultados têm sido aceites como uma reflexão genuína da vontade popular.

Democracia interna partidária e participação no desenvolvimento de políticas: Com relação à democracia interna partidária e participação no desenvolvimento de políticas, há dois comportamentos distintos em Moçambique. Por um lado a oposição, com um forte controlo interno, sem muito respeito de regras de democracia interna na selecção de candidatos e desenvolvimento de políticas. Por outro, o partido no governo com uma crescente maturidade demonstrada pela realização regular de eleições internas em todos os níveis. Tal como foi mencionado algures em cima, a constituição de Moçambique estabelece um sistema representativo, e por conseguinte os partidos não realizam eleições primárias para indicar candidatos. Leis Internas, Mecanismos e Práticas Institucionais com relação à Governação Política, Económica e Social Moçambique tem sido visto pela comunidade internacional como um caso de sucesso quanto à manutenção da paz, de estabilidade e de crescimento desde o fim da guerra devastadora, em 1992. Na verdade, o país tem estado a ser referência importante para a comunidade internacional, como um dos poucos casos de sucesso em África. Os doadores têm investido quantidades substanciais de recursos e esforço no apoio ao desempenho

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económico e político de Moçambique. Dada a sua condição privilegiada no seio dos doadores, Moçambique tornou-se num modelo e um terreno de experimentação das chamadas “novas modalidades de ajuda”, tal como o Apoio ao Orçamento Geral (AOG) e sectorial, no contexto dos debates internacionais em mudança sobre a eficácia da ajuda, contidos na Declaração de Paris de Março de 2005 (OECD 2005). Isto tem incluído um mecanismo inovador para a monitoria do desempenho do doador na harmonização e alinhamento do seu apoio ao país, chamado Quadro de Avaliação do Desempenho dos Parceiros de Ajuda do Programa (PAP’s PAF). No contexto africano, Moçambique está entre os países que decidiram submeter-se ao Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP). Moçambique já atingiu o momento de definição deste processo voluntário; a auto-avaliação dentro do país e a avaliação continental pelos líderes africanos estão a ser feitas com sucesso. De acordo com o Presidente (Boletim Informativo JUNTOS, da ONU, 24 de Março de 2010) é agora chegado o momento para concluir o plano nacional de acção do MARP que será integrado nos planos e políticas nacionais durante os próximos quatro anos. O Fórum Nacional do MARP convidou o Sector Público, o Sector Privado e a Sociedade Civil no sentido de desempenharem um papel mais activo na implementação do Plano de Acção. O sector privado organizou-se e criou o Instituto Nacional dos Directores como salvaguarda da governação empresarial no sector. No sector social (este é também abordado noutro capítulo), o crime continua a ser um grande problema em Moçambique. O governo tem estado envolvido de forma agressiva no combate ao crime. Agentes policiais armados patrulham as ruas 24 horas por dia; apesar da contínua falta de equipamento a polícia tem estado a fazer o seu melhor para manter as suas unidades móveis operacionais; a polícia foi também equipada com coletes prova de balas, um aparelho que veio levantar a moral dentro da força policial. A força policial, composta por cidadãos alistados, tem contudo se ressentido do cometimento pessoal muito baixo, nalguns círculos, evidenciado por membros que traem a corporação, colaborando com os bandidos. Alguns dão informações aos bandidos, outros disponibilizam as suas armas em troca de compensação financeira.

O estudo não encontrou indicações claras da ratificação da Carta; De igual modo, os mecanismos e práticas jurídicas e institucionais são fracos se comparados com o espírito da Carta; O estudo não pôde também encontrar ligações claras da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e a Carta; Não havia nenhuma ligação clara entre a implementação da Carta e o impacto no terreno. O estudo constatou que existe muito espaço para melhoria na realização dos objectivos e dos resultados previstos definidos na Carta.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Moçambique ratificou esta Convenção através da resolução nº 30/2006 de 2 de Agosto. Um dos princípios da Convenção é de Promover e fortalecer o desenvolvimento, por cada Estado membro, de mecanismos necessários para prevenir, detectar, punir e erradicar a corrupção e ofensas a si relacionada nos sectores público e privado, em África.

Para além da ratificação da convenção e do mecanismo institucional estabelecido, a corrupção continua a ser um grande problema em Moçambique e isto acontece em todos níveis do sistema político. O uso da influência do poder para benefícios pessoais ou em troca de compensações financeiras ou outras relacionadas continua a ser notório dentro da administração do Estado, empresas públicas e mesmo no sector privado. Este sistema é facilitado pela falta de supervisão independente da Assembleia Nacional, um sistema judicial que coloca a política acima da lei, e pela ausência de transparência. Enquanto algumas leis e regulamentos existem no papel, oferecendo um quadro para boa governação, na realidade poucos mecanismos estão criados ou estão em funcionamento para garantir que estes quadros funcionem de forma honesta, transparente e em conformidade com o bem público. Estas dinâmicas estão em funcionamento tanto ao nível da elite como a nível administrativo. Contudo, é a grande corrupção a nível da elite, que se destaca, limita a capacidade das pessoas com bravura que queiram fazer diferença.

Convenção da União Africana sobre Prevenção e Combate à Corrupção (2003) Principais artigos analisados e indicadores Previstos

ARTIGOS INDICADORES Medidas legislativas e outras Existência da lei de ética dos titulares de cargos públicos que incorpora o

“Âmbito de Aplicação” conforme definido na convenção da UA; Existência de uma legislação propícia o combate à corrupção e abuso de cargos, que os campeões de anti-corrupção ocupem cargos constitucionais; Existência e funcionamento da lei de protecção dos “sopradores” (denunciadores) e testemunhas com relação à corrupção e ofensas a si relacionadas; Existência e implementação da lei de concursos públicos para as aquisições e desembaraços de bens públicos.

Luta contra corrupção e ofensas a si relacionadas no sector público

Existência da lei de ética dos titulares de cargos públicos que requer declaração periódica de bens, seu modo de funcionamento e grau de aplicação e acompanhamento das constatações das declarações de bens

Acesso à informação Existência e aplicação da lei da liberdade de acesso à informação, incluindo a lei dos meios de comunicação social

Sociedade civil e meios de comunicação social

O nível de envolvimento da sociedade civil e dos meios de comunicação social na luta contra corrupção e ofensas a ela relacionadas; O nível até ao qual a sociedade civil e os meios de comunicação social são capazes de levar o governo a prestar contas na gestão de assuntos públicos; Participação da sociedade civil na divulgação e monitoria da implementação desta convenção; Nível até ao qual se dá acesso à informação aos meios de comunicação social informação em casos de corrupção e ofensas a ela relacionadas

Confiscação e apreensão dos resultados e instrumentos da corrupção

Experiências com a implementação da legislação, se houver, sobre confiscação e apreensão dos resultados e instrumentos da corrupção

Ratificação

Legislação Nacional, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao Combate Contra Corrupção e Ofensas Relacionadas na Função Pública Legislação facilitadora do combate à corrupção e abuso de cargos: Em 2004, o governo aprovou a Lei Anti-corrupção (6/2004, de 17 de Junho). Esta lei reforçou a legislação que já existia contra corrupção tal como o Código Penal. Para além da Convenção da União Africana sobre o Combate à Corrupção (2003), o país ratificou também a Convenção das Nações Unidas (2007), e o Protocolo Africano Contra Corrupção.

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Por outro lado, o governo criou ao nível nacional a Alta Autoridade Anti-corrupção (Gabinete Central Anti-Corrupção, sob alçada da Procuradoria Geral da República); foram criadas unidades e linhas verdes em todas as esquadras da polícia para receberem queixas de corrupção e há sempre um papel muito activo desempenhado pela sociedade civil na área da corrupção. Moçambique avançou também na reforma do seu sector público, tendo adoptado uma estratégia com 5 componentes principais; 1. Descentralização e reestruturação dos ministérios e outras instituições públicas, 2. Processo melhorado da formulação nos ministérios em cooperação com o parlamento, 3. Profissionalização do sector público (reforma da função pública) 4. Gestão melhorada das finanças públicas 5. Combate contra corrupção. Moçambique tem uma lei de aquisições públicas e desembaraço de bens públicos relativamente antiga. O governo tem feito grandes investimentos na disseminação desta, tendo criado um portal especificamente para este fim (www.concursopublico.org). Em acréscimo, o governo introduziu um sistema moderno para administração de fundos públicos designado SISTAFE. Leis Internas, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação à Sociedade Civil e Meios de Comunicação Social

A Sociedade civil está de uma forma ou de outra envolvida na luta contra corrupção. Algumas organizações, em número reduzido, operam abertamente nesta área. Uma contribuição indirecta tem estado a ser feita por um determinado número de OSCs na área de pesquisa e nos debates públicos, denunciando a má conduta pública. Enquanto os média privados têm estado a mostrar coragem positiva na cobertura de incidentes e de casos de corrupção, os média do sector público não tem sido muito activos. O enfoque de investigação dos média é ainda muito fraco. Ambos, a SC e os média, não têm demonstrado capacidade suficiente para levar o governo à prestação de contas na gestão de sobre as discussões e as decisões tomadas pelo Conselho de Ministros; algumas audições públicas são feitas em públicos na presença dos meios de comunicação social; alguns julgamentos são realizados com a cobertura dos média; Contudo, ainda por muito tempo se tem de passar por um processo muito burocrático para se obter autorização para se ter acesso à informação do governo e isto é em si um factor de limitação. Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação à Confiscação e apreensão dos rendimentos e instrumentos de corrupção

Há casos em Moçambique em que os dividendos ou objectos obtidos através de actos de corrupção são confiscados e apreendidos. No início do presente ano, o Ministro dos Transportes e vários funcionários superiores da empresa Aeroportos de Moçambique, incluindo o PCA, viram as suas propriedades confiscadas e foram forçados a devolverem os dinheiros obtidos ilegalmente do Estado. Tanto o Ministro como o PCA foram condenados a 22 anos por uso indevido de fundos públicos.

O estudo encontrou uma Indicação clara de ratificação da Convenção; Contudo, as ligações entre os mecanismos e práticas institucionais legais existentes são fracos em relação ao espírito da Carta; Não há nenhuma ligação clara da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e a Carta; O estudo não pôde verificar uma ligação clara entre a implementação da Convenção e o impacto no terreno; O estudo constatou que os objectivos e resultados previstos na Convenção estão a ser parcialmente atingidos.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Moçambique assinou o Plano de Desenvolvimento Integrado. O CAADP foi preparado para promover intervenções que melhor respondam à amplamente reconhecida situação de crise na agricultura africana.

DIREITOS A SEGURANÇA ALIMENTAR E A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E RECURSOS MINERAIS

Plano Completo de Desenvolvimento Agrícola em África (CAADP), NEPAD Principais artigos analisados e Indicadores Previstos

Artigos Indicadores Eliminação da fome e redução da pobreza através da agricultura:

• Pilar 1: Alargar a área sob gestão sustentável de terra e sistemas fiáveis de controlo de água;

• Pilar 2: Melhoria das infra-estruturas rurais e das capacidades relacionadas com o comércio para o acesso aos mercados;

• Pilar 3: Aumento do abastecimento em alimentos, reduzindo a fome, e melhoraria das respostas às crises de emergência alimentar; e

• Pilar 4: Melhoria da investigação agrária, disseminação e adaptação da tecnologia

Pilar 3: Aumentar a despesa pública na agricultura para 10% do orçamento nacional; Aumentar uma média de 6% do índice de crescimento anual do sector ao nível nacional

Ratificação

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais com relação à gestão sustentada da terra e de sistemas fiáveis de controlo de água; acesso ao Mercado e respostas às crises de emergência alimentar A porção do Orçamento Geral do Estado para Agricultura em Moçambique variou de 2005 a 2009 entre 3,1% e 3,9% . Em 2010 aumentou para 4,1% (4,7 biliões de Mt) do OGE, entretanto a meta de 10% da despesa pública na agricultura do orçamento nacional ainda não foi atingida (Seminário sobre o Orçamento, Junho 2010, Grupo dos Doadores de Análise do Orçamento). Entretanto, em Junho de 2008, o governo incrementou o orçamento do Ministério da Agricultura para aumentar a produção agrícola através de uma proposta “Revolução Verde”. O objectivo desta estratégia era de aumentar a produção alimentar para melhorar a situação da segurança alimentar no país. A estratégia estava centrada na produção do arroz, milho, trigo, mandioca e batata para garantir segurança alimentar. Também procurou reabilitar infra-estruturas como estradas e equipar os agricultores com maquinaria para aumentar a produção alimentar. A estratégia incluía planos para a importação de fertilizantes e sementes, assim como o desenvolvimento de sistemas de irrigação e serviços de extensão (a formação de novos oficiais). Em Junho de 2008, o governo aprovou igualmente o Plano de Acção para a Produção Alimentar 2006-11 (FPAP) para especificamente lidar com os crescentes preços mundiais de alimentos. O FPAP partilha muitos dos objectivos da estratégia da Revolução Verde, mas diferentemente da Revolução Verde, o FPAP é um plano de curto prazo que iniciou na época agrícola de 2008/09 e que visa reduzir o défice do país em cereais para mitigar os gravosos preços de alimentos a nível mundial. O plano trienal, que vai decorrer de 2009 a 2011, prevê-se que se reduza o actual défice do país em cereais de cerca de 580 milhões de toneladas. O acordo tem três pilares: acesso ao mercado, concorrência de exportações e apoio interno. Sob todos os três pilares, aos países menos desenvolvidos não se exige que assumam qualquer compromisso. O Acordo sobre o Comércio da Organização Mundial do Comércio dá um tratamento especial e diferente aos países menos desenvolvidos como Moçambique.

CAPÍTULO 3

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Moçambique continua a ser um país relativamente rural e uma larga maioria das populações pobres dependem da agricultura de pequena escala para sua sobrevivência. Assim, é muito importante que os mecanismos institucionais que afectam a posse de terra protejam ou fortaleçam os direitos existentes das famílias pobres que dependem do acesso à terra comunitária para fazer face às suas necessidades. Isto aplica-se igualmente em relação ao seu acesso ao crédito, usando a terra como garantia. Contudo, os sistemas tradicionais de gestão de terra em Moçambique estão muito aquém de serem igualitária. Membros das elites locais têm conseguido obter acesso a mais terras e de melhor qualidade do que os outros. Por outro lado, os direitos da mulher de possuir ou herdar os direitos do uso da terra são inseguros, dependendo das normas e práticas tradicionais tornando assim mais difícil para a mulher sustentar os seus meios de sobrevivência de forma independente.

Com relação à terra, a Lei de Terras de 1997 seguida da aprovação de legislação secundária em 1998 estipula que: Toda a terra permanece propriedade do Estado, mas poderá ser concedido o direito de uso e aproveitamento da mesma por período até 50 anos. Este aluguer é renovável, podendo ser herdado e ser transferida (de forma diferente da herança) mediante uma permissão prévia – com efeito, tais transferências não são válidas até que tenham sido autorizadas. Uma condição para a atribuição de aluguer é a apresentação de um plano de uso e de aproveitamento da terra. O aluguer pode ser cancelado por acção administrativa se o arrendador não cumprir com o plano de uso da terra apresentado. Enquanto não há tecnicamente Mercado para a terra, os investimentos em infra-estruturas e benfeitorias na terra arrendada podem ser adquiridos e vendidos. Todavia, é ainda requerida autorização administrativa para a transferência do arrendamento associado à escala da infra-estrutura ou outros investimentos feitos na terra. Os direitos tradicionais de uso da terra são reconhecidos e formalizados através de um sistema de gestão da terra comunitária, implementado através da co-titularização das terras comunitárias. Os utilizadores existentes da terra são protegidos, desde que se prove que os mesmos podem demonstrar ocupação regular, de “boa-fé” e uso da terra. Isto não precisa de ficar a dever-se a evidência documental uma vez que a prova verbal por parte dos membros da comunidade é reconhecida como válida. O direito de participação e de consulta local na gestão dos recursos e nos procedimentos conducentes à atribuição do aluguer de terra são tanto para proteger os direitos tradicionais comunitários bem como para zelar pelas necessidades futuras das comunidades. Enquanto o sistema de controlo de água é discutido na secção a seguir, em relação à crise alimentar, o Governo de Moçambique criou em Abril de 2008 um comité interministerial, presidido pelo Ministério da Agricultura com vista a lidar com a crise alimentar internacional. O comité apresentou um Plano de Acção ambicioso de 3 anos para a Produção Alimentar que foi aprovada pelo Conselho de Ministros, em Junho. O plano possui dois objectivos principais: eliminar o défice de um grupo de grandes produtos alimentares em três anos e reduzir a dependência nacional das importações de comida.

O estudo encontrou Indicação clara da ratificação da Convenção. O estudo constatou igualmente que os mecanismos e práticas jurídicas institucionais existentes estão em linha com o espírito do Plano. O estudo também encontrou indicações da domesticação e popularização do Plano. E existem algumas ligações entre a implementação da Convenção e o impacto no terreno. O estudo concluiu que os objectivos e resultados previstos na Convenção estão a ser parcialmente atingidos.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Não existe indicação clara da ratificação, embora existam alguns instrumentos jurídicos que lidam com partes do Protocolo. Alguns princípios básicos desta convenção incluem: protecção ambiental; fomento da conservação e uso sustentável dos recursos naturais; e harmonização e coordenação de políticas nestas áreas com vista a alcançar políticas e programas de desenvolvimento ecologicamente racionais, economicamente saudáveis e socialmente aceites.

Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (2003) Principais artigos analisados e Indicadores previstos

Artigos Indicadores Terra e solo

Existência de planos recentes de uso da terra baseado em investigações científicas bem como do conhecimento e experiência local e, em particular, a classificação e capacidade de uso da terra; Medidas tomadas rumo à conservação e aproveitamento do solo para combater a erosão, o mau uso, assim como a deterioração das suas propriedades físicas, químicas e biológicas ou económicas, incluindo a conservação de solos e cultivo sustentável e práticas florestais, e medidas de mitigação e reabilitação para áreas afectadas pela degradação da terra

Água

Tendência na disponibilidade de água per capita para consumo humano; Conservação de áreas de florestas e outras captações e coordenação e planificação dos recursos hídricos; Existência e aplicação das normas dos afluentes e da qualidade de água para minimizar a poluição;

Cobertura de vegetação

Tendências na cobertura florestal em relação à percentagem da área total da terra; Existência de um plano director de florestas, plano director de terras húmidas, etc.; O problema de espécies invasoras e estranhas (ex: jacintos de água e prosopsis juriflora); Programas existentes para a protecção de ambientes aquáticos, que em água potável, salobra ou marítima, e prática de uso da terra que possa afectar adversamente as espécies aquáticas

Áreas de conservação

Área coberta por áreas de conservação, e a legislação e programas associados para garantir a conservação de longo prazo da diversidade biológica.

Desenvolvimento sustentável e recursos naturais

O grau de integração do meio ambiente e dos recursos naturais na planificação do desenvolvimento e quadros orçamentais de modo a promover desenvolvimento sustentável

Autoridades nacionais

Se existe uma lei-quadro para lidar com todas as matérias do sector do meio ambiente e recursos naturais, e a estrutura e desempenho das instituições criadas pela lei-quadro

Ratificação

Legislação Interna e Práticas em relação à Terra e Solo Moçambique adoptou em 2006 um Regulamento do Solo Urbano (Regulamento de Terra em Moçambique, 26 de Dezembro de 2006) (www.unhabitat.org/downloads). A lei cobre os Planos de Uso da Terra nas cidades, vilas e aldeias ou aglomerados populacionais, sendo esta uma condição importante para o uso apropriado da terra bem como da sua conservação. Todavia, nas zonas rurais, existem vários constrangimentos institucionais que limitam os esforços de conservação por parte das comunidades locais. A Lei da Terra em Moçambique não encoraja os pequenos agricultores a investirem na conservação dos recursos da terra quando a fertilidade do solo e os seus rendimentos diminuem e a infestação da erva daninha começa a manifestar-se. O reconhecimento das instituições costumeiras como autoridades legítimas na gestão da terra e dos recursos firmados na terra, e as leis de Florestas e Fauna Bravia dificultam a participação efectiva da mulher no uso sustentável. Ambas as leis exteriorizam os custos da degradação dos recursos naturais e possuem crenças inapropriadas na capacidade das instituições tradicionais para implementar efectivamente o uso e gestão sustentável dos recursos naturais. A falta de recursos humanos capacitados é também um factor de limitação da implementação efectiva das políticas de recursos humanos em Moçambique. A maioria das comunidades rurais que dependem dos recursos da terra, florestas e da fauna bravia não conhecem as condições relevantes que regem a posse e utilização dos recursos naturais. (Jornal de Floresta Sustentável)7.

7 Volume v26, Edição 4 de Junho de 2008, páginas 301-327) (www.informaworld.com/smpp) http://www.informaworld.com/smpp/title~db=all~content=t792306917~tab=issueslist~branches=26

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Uma das principais lacunas da Lei de Florestas é que a mesma não inclui os critérios de ocupação em relação às comunidades que reclamam direitos sobre os recursos. A lei apenas oferece alguma protecção em relação a actividades de subsistência. Assim, deverá ser concluído que as duas leis que governam a utilização da floresta contradizem-se uma à outra de forma substancial, uma vez que a Lei de Terra permite a transferência dos direitos reais sobre terra, enquanto a Lei de Florestas e Fauna Bravia restringe o uso dos recursos somente a níveis de subsistência não-comerciais, tornando obrigatório o requerimento de licença para uso comercial do recurso (Norfolk et al., 2004). Assim, a Lei de Florestas e Fauna Bravia coloca as comunidades locais no mesmo nível com o sector privado e companhias estrangeiras, o que significa que elas deverão requerer licenças e implementarem planos de gestão da mesma maneira como o faz o sector privado, apesar do facto de que elas carecem tanto de recursos financeiros como técnicos para o efeito.

Comparado com outras partes do mundo, Moçambique tem carência de água. Em Moçambique a disponibilidade da água per capita (excluindo os fluxos para o interior a partir dos países a montante) está abaixo da média africana. Esta situação é agravada pela distribuição geográfica e sazonal pluviométrica no país, que resulta periodicamente em severas secas nalgumas partes do país e muitas vezes cobrindo toda a região da África Austral.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em Relação a Água A Lei das Águas, aprovada em 1991, é o documento jurídico mais importante no que concerne à gestão dos recursos hídricos em Moçambique que é operacionalizado através da política nacional definida pelo governo em 2005. O Ministério das Obras Públicas e Habitação é o ministério responsável pela Gestão dos Recursos Hídricos, apoiado pelo Conselho Nacional de Águas. Em 1998, o governo emitiu três decretos, criando um quadro para a delegação da gestão dos sistemas de abastecimento de água e as instituições necessárias, o FIPAG e o CRA. O decreto quadro afirma que o funcionamento e gestão dos sistemas de abastecimento de água podem ser atribuídos a entidades privadas sob concessionamento, licença de operação ou contrato de gestão. Desta forma, a vontade de envolver o sector privado, conforme definido na PNA, é materializada. A experiência da delegação começou com as cidades de Maputo, Beira, Quelimane, Nampula e Pemba, onde dois contratos foram assinados entre o FIPAG e a operadora privada, Águas de Moçambique. O Governo através da Direcção Nacional de Águas desenvolveu acções com vista à reabilitação e construção de pequenas barragens e represas (pequenas infra-estruturas de gestão de água), que foram afectadas por severas inundações e/ou guerra civil. O objectivo geral é de garantir um abastecimento adequado de água para consumo humano, animais e irrigação de pequena escala. Existem também vários quadros legais e institucionais que apoiam o fornecimento adequado e gestão de água potável, à população e estes incluem as direcções nacional e provinciais de água, o conselho nacional de água, administrações regionais de água (ARA) e outros.

A disponibilidade per capita de recursos hídricos de superfície é actualmente de cerca de 5,556 m3/habitante/ano, tomando em conta somente a água gerada no país, ou 12,000 m3/habitante/ano, incluindo os fluxos provenientes dos países vizinhos. Estes números, contudo, estão em constante declínio, devido à redução nos fluxos dos países a montante. Caso venha a não haver mais declínio nos fluxos dos países a montante, e com o crescimento da população, estima-se que até ao ano 2017 estes números terão caído para apenas 3,227 e 6,970m3/habitantes/ano (Governo da República de Moçambique; Apoio à Implementação da Nepad –CAADP; Tcp/Moz/2905 (I); NEPAD Ref. 04/04 E; Volume III de IV) Legislação Interna e Prática em Relação a cobertura da Vegetação e Práticas Dois conjuntos de leis regem e protegem os intervenientes nos recursos florestais: A Lei de Terra de 1997 e a Lei de Florestas e Fauna Bravia de 1999, com regulamentos aprovados somente em 2002. A Lei da Terra (1997) reconhece e protege os direitos tradicionais em relação à terra, incluindo as florestas. A Lei de Florestas e Fauna Bravia (1999) delineia os direitos e benefícios das comunidades locais dependentes das florestas, tais como: uso do nível de subsistência dos recursos; participação na gestão dos recursos florestais; consulta comunitária e aprovação antes

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Informação mais precisa sobre as alterações da cobertura da terra não existem, uma vez que os mapas de uso da terra em vigor datam de 1985 (Sijnders, 1985), numa escala de 1:2M para todo país e escala de 1:500,000 para algumas partes do país. Mas estes dados poderão em breve estar disponíveis pois que mapas digitais de uso da terra, na escala de 1:250,000 estão a ser produzidos ao abrigo do Mapeamento da Cobertura de Terra.

Todavia, a aplicação da lei e protecção nas áreas de conservação em Moçambique é fraca, e o sistema de área protegida no próprio local não é representativa da biodiversidade da região. Isto particularmente verídico em Pondo, onde somente algumas pequenas áreas de conservação existem. As terras cobertas de erva, terras de madeiras e florestas costeiras e bosques cerrados estão sub-representados no sistema. Isto se deve em larga medida ao facto de que maior parte das áreas de conservação terem sido criadas com a protecção de grandes reservas de caça em mente, em vez da conservação de áreas florestais. Interessantes e únicas.

da atribuição dos direitos de exploração a terceiros; benefícios do desenvolvimento derivados da produção de madeira sob regime de concessão. A Lei da Terra de 1997 reconhece os direitos da comunidade à terra e torna obrigatória a realização de consultas comunitárias quando se atribui direitos de uso a um terceiro. Também possui um reconhecimento limitado dos direitos costumeiros como um meio para defender os direitos da mulher (Negrão, 1999). Embora as comunidades possam utilizar qualquer produto florestal para seu próprio consumo, as mesmas não é permitido comercializarem esses produtos sem licença (Norfolk et al., 2004). A Lei de Florestas e Fauna Bravia tem em vista a gestão sustentável dos recursos florestais e a criação de uma estrutura mais efectiva para a geração e distribuição da respectiva renda. O fundamental nesta lei é o conceito de Gestão de Recursos Naturais Baseada na Comunidade (GRNBC), que está a ser largamente abraçada na África Austral como um “processo de descentralização que visa dar às instituições de base o poder de decisão e direitos para controlarem os seus recursos” (Nhantumbo et all, 2003). De acordo com Saket (1994), as alterações na cobertura da vegetação, em geral, e na cobertura florestal, em particular, eram muito pequenas e foram causadas pelo desbravamento florestal para fins de cultivo, incêndios florestais não controlados, extracção de combustível lenhoso e material de construção, corte de madeira, e artesanato de madeira. A agricultura itinerante e o seu sistema de cultivo em mutação para a regeneração da produtividade do solo foram as principais causas da destruição de florestas, vegetação natural, e ecossistemas. Os índices de mudança na cobertura florestal foram calculados por província entre 1972 e 1990. O índice geral da desflorestação entre 1972 e 1990 eram de aproximadamente 4.27 %ou 0.24 %por ano. (www.aaas.org/international/africa/moz). Legislação Interna e práticas em relação a áreas de Conservação Moçambique possui uma legislação abrangente sobre conservação cobrindo diferentes áreas do país: A Lei de Florestas e Fauna Bravia 10/99; Regulamentos sobre a Lei de Florestas e Fauna Bravia; Decreto 12/2002; Lei do Turismo, 2002. Os líderes em Moçambique deram um grande passo em frente para a conservação protegendo importantes espécies marinhas, costeiras e terras arborizadas dentro das suas fronteiras, para mencionar alguns. As principais instituições do governo envolvidas na gestão das áreas de conservação em Moçambique incluem: Ministério para Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), por definição um ministério de

coordenação transversal, que possui as competências jurídicas no campo das áreas de conservação;

Ministério do Turismo (MITUR), que tem o mandato sobre as áreas de conservação, com a excepção das Reservas Florestais, que estão sob jurisdição do Ministério da Agricultura. A DNAC (direcção técnica) tem todas as prerrogativas necessárias para uma devida gestão das áreas de conservação. O MITUR está representado em todas as províncias. Contudo, as suas actividades estão viradas essencialmente para o turismo e a sua directiva lógica não é a conservação da biodiversidade. Os serviços dentro do MITUR, e não da DNAC, parecem ter um conhecimento limitado sobre conservação e sua importância. O circuito hierárquico é pesado,

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resultando numa enorme perda de eficácia e uma falta de capacidade de resposta para a tomada de decisão;

Ministério da Agricultura (MINAG), com uma boa capacidade técnica no campo da fauna bravia, adquirida através de extensa experiência na gestão das áreas de protecção, possui também boa capacidade técnica em assuntos florestais e, consequentemente, na gestão das espécies faunísticas, assim como o desenvolvimento rural, que é indivisível da gestão participativa dos recursos naturais. Este Ministério tem o mandato em relação à fauna bravia na maior parte do país.

Legislação Interna e práticas em relação ao Desenvolvimento Sustentável e Recursos Naturais Moçambique possui entre outros instrumentos um programa sobre Iniciativa de Pobreza e Meio Ambiente (IPMA). A IPMA-Moçambique visa edificar a capacidade do governo, nos níveis nacional, provincial e distrital, para integrar o meio ambiente na preparação dos Planos Económicos e Sociais. As principais actividades da IPMA incluem: Realizar estudos analíticos que se assentem na informação existente para melhorar o

conhecimento acerca das ligações pobreza-meio ambiente; Avaliar os quadros de política e de planificação dos sectores principais (incluindo o PARPA 2)

para identificar as ligações pobreza-meio ambiente, lacunas e capacidade institucional para a sua abordagem;

Realizar revisões formais para acompanhar o progresso com relação às metas dos ODM 1 e 7; Treinar o pessoal do governo central e local na importância das ligações pobreza e meio

ambiente para o desenvolvimento económico e redução da pobreza; Realizar a formação e desenvolver capacidade para sectores seleccionados e apoiar os sectores

na aplicação da Avaliação Ambiental Estratégica Simplificada e avaliações económico-ambientais integradas aos actuais processos de política e legislativo;

Apoiar a integração do meio ambiente nos planos estratégicos e operacionais provinciais e distritais;

Desenvolver uma estratégia de comunicação para criar consciência acerca das ligações entre pobreza e meio ambiente;

Desenvolver a capacidade do Ministério da Coordenação da Acção Ambiental e do Ministério da Planificação e Desenvolvimento, envolvidos na Revisão da Despesa Intermédia e Revisão da Despesa Pública em sectores chaves;

Desenvolver plano estratégico para financiamento melhorado para investimentos ambientais (exemplo, taxas de uso e impostos incluindo o apoio dos doadores);

Fortalecer os mecanismos institucionais para a sua inclusão. A pesquisa não encontrou nenhum instrumento jurídico ou administrativo que ligue a convenção a cada uma destas leis, políticas, regulamentos e mecanismos, contudo, maior parte dos instrumentos existentes, de facto, respondem às comunidades e aos conteúdos da convenção. Acreditamos que pesquisa aprofundada poderá ser capaz de identificar como é que a domesticação da convenção pode ser integrada nos instrumentos existentes.

O estudo encontrou indicação clara da ratificação da Convenção. O estudo também constatou que os mecanismos e práticas jurídicas institucionais existentes estão em linha com o espírito da Carta. Contudo, o estado não encontrou nenhuma ligação clara da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e a Carta, nem ligação clara entre a implementação da Convenção e impacto no terreno. O estudo constatou contudo que os objectivos e resultados previstos na Convenção estão a ser parcialmente alcançados.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

O Plano de Acção de Maputo para a Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos, Estratégia Africana de Saúde, Exortação de Abuja para Acção Acelerada em Direcção ao Acesso Universal aos Serviços do HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas são programas integrados no Protocolo da Saúde da Região da África Austral. Através deste protocolo, Moçambique está a implementar vários projectos em conjunto com outros países vizinhos.

Moçambique melhorou a sua capacidade de prestação de cuidados de saúde aos seus cidadãos, mas 40% da população não tem acesso a estes serviços. Em acréscimo, somente existem 3 médicos e 21 enfermeiros para cada 100,000 pessoas no país – o que significa que existem aproximadamente 600 médicos para todo país (USAID, 2009).

DIREITO À SAÚDE

Estratégia Africana de Saúde: 2007– 2015 Principais artigos analisados e indicadores Previstos ARTIGOS INDICADORES Recursos humanos Promover todos os aspectos dos recursos humanos para o desenvolvimento

da saúde e retenção, lidando com políticas, planos estratégicos, informação, formação, recrutamento, colocação e retenção, administração, condições de trabalho e de vida e saúde do pessoal.

Ratificação

Legislação Interna sobre Saúde O quadro de política da saúde para Moçambique é articulado em vários documentos, nomeadamente o Programa Quinquenal do Governo (2005 – 2009 e agora 2010 – 2014), o Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA II), Plano Económico e Social – PES, Plano Estratégico do Sector da Saúde - PESS, 2007-12 e o Quadro de Despesa Intermédia (QDI). Moçambique adoptou, em 2006, um plano para o desenvolvimento dos RH para o período de 2008-2015 que incluiu previsões de um aumento na força de trabalho devido às necessidades relacionadas com os ODM, assim como uma estimativa dos custos relacionados com a implementação dos objectivos a serem alcançados. Com esta informação o Governo de Moçambique pode, por um lado, avaliar o valor da despesa com os RH que possa cobrir e, por outro, o valor remanescente, que poderia representar a quota dos parceiros financeiros comprometidos com a assistência ao país, para fortalecer a capacidade sistema dos serviços de saúde. Para este efeito, em 2009 foi feita uma consultoria internacional concernente ao financiamento e previsão da despesa da qualificação, pagamento e incentivos dispensados aos trabalhadores da saúde (TYRREL et al., 2010).

Em termos de cobertura, o nível mais baixo de cuidados no país é apresentado pelos Postos de Saúde (total de 638, 27,674 pessoas por Posto de Saúde). Entre os Hospitais Centrais e os Postos de Saúde existem os seguintes tipos de unidades sanitárias: Centros de Saúde (516 centros de saúde e 34,217 pessoas por Centro de Saúde) Hospitais Rurais (total de 25 hospitais rurais e 706,240 pessoas por Hospital Rural) Hospitais Provinciais ou Geral (total de 12 hospitais e 1,471,333 de pessoas por Hospital) Estes diferentes centros oferecem diferentes serviços e possuem diferentes tipos de pessoal. Estes variam entre os centros e entre as cidades. Com relação à educação e formação no sector da saúde, até 2008 havia três institutos de Medicina nas províncias de Maputo, Sofala e Nampula.

CAPÍTULO 4

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2010

A Exortação de Abuja para Acção Acelerada em Direcção ao Acesso Universal aos Serviços de HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas Relacionadas é um programa integrado no Protocolo da Saúde da região da África Austral. Através deste Protocolo, Moçambique está a implementar vários projectos em conjunto com os países vizinhos.

Até 2009 o número de habitantes por médico tinha caído para baixo de 30,000 e, em 2010 aproxima-se a 20,000 (allafrica.com, 20 de Abril de 2010). O Ministro da Saúde, Ivo Garrido, afirmou que avanços tinham sido registados na colocação de pessoal em todos os níveis do Sistema Nacional de Saúde e até finais de 2009 todos os 128 distritos moçambicanos tinham pelo menos um médico. (Ibid.). Apesar destes avanços, o sector da saúde continua a ressentir-se da falta de pessoal a todos os níveis, disse o Ministro, e continua a sofrer de uma gestão defeituosa e fraca distribuição dos seus recursos humanos. Garrido asseverou igualmente que os Serviços de Saúde se ressentem do impacto da fraca qualidade da educação providenciada nas instituições de formação sanitária no país. “Os avanços conseguidos não nos devem levar a ignorar as dificuldades e constrangimentos que o sector da saúde enfrenta”. (allafrica.com, 20 de Abril de 2010). “No nosso país, o peso das doenças infecciosas tais como o HIV/SIDA, malária, tuberculose e doenças diarreicas, todas agravadas pela malnutrição, é maior”. “Este facto é explicado, por um lado, pela limitada capacidade do sistema de saúde para dar resposta”. (Ibid.).

O estudo não encontrou indicação clara da ratificação da Convenção. Contudo, os mecanismos e práticas jurídicas institucionais existentes estão em linha com o espírito da Estratégia. Não há nenhuma ligação clara da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e a Estratégia. Nem ligação clara entre a implementação da Convenção e impacto no terreno. Contudo, os objectivos e resultados previstos na Convenção estão a ser parcialmente alcançados.

Exortação de Abuja para Acção Acelerada em Direcção ao Acesso Universal aos Serviços de HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas Relacionadas (2001) Principais artigos analisados e indicadores previstos

ARTIGOS INDICADORES Mobilização de recursos Proporção do orçamento nacional alocado à saúde em linha com a meta de

15% da Declaração de Abuja Fortalecimento dos sistemas de saúde

Grau de adequação e eficiência dos sistemas de saúde (infra-estruturas, recursos humanos, financiamentos, abastecimentos etc.), e nível de realização das normas da OMS para a prevenção, tratamento, cuidados e apoio pelos médicos e enfermeiros

Ratificação

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em Relação à mobilização dos Recursos Apesar dos impressionantes aumentos no orçamento nacional para a saúde, o governo moçambicano gasta abaixo da metade o valor por cada pessoa em relação ao que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Moçambique gasta anualmente 4.3% do seu PIB (Divisão de Estatística da ONU 2010c). Moçambique adoptou uma “Abordagem Ampla do Sector para a Saúde” (SWAP) em 2000. O SWAP para a saúde visa melhorar a coordenação da assistência externa para melhorar o desempenho do sector, fortalecer a liderança do governo, colocando maior ênfase no desenvolvimento de políticas e

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

A falta de mecanismos de regulamentação para complementar a aplicação efectiva da lei bem como a falta de conhecimento da existência dessas leis limita o usufruto efectivo dos mesmos pelos grupos alvos.

Apesar dos esforços, a resposta moçambicana ao SIDA é caracterizada por acesso desigual à prevenção, tratamento, cuidados e apoio; crescentes recursos externos, parceiros múltiplos, carências crónicas e fraca gestão dos recursos humanos, fraca capacidade institucional, sistemas de gestão financeira limitados e fragmentados conduzindo a uma fraca execução orçamental e sistema deficiente de monitoria e avaliação têm contribuído para o presente cenário.

Embora o Ministério da Saúde (MISAU) esteja comprometido a aumentar o acesso aos serviços de saúde e aumento da eficiência e qualidade desses mesmos serviços a nível nacional, a fraca rede de infra-estruturas e a falta de trabalhadores de saúde constituem grandes obstáculos.

estratégia e baixando os custos de transacção da assistência estrangeira. As dinâmicas do SWAP da Saúde estão a desenvolver-se e apresentam novos desafios, tais como a incorporação de iniciativas financeiras de saúde global e parcerias. A assinatura do Compacto Nacional ao abrigo da Parceria Internacional da Saúde foi um passo significativo em frente com vista a melhorar a eficiência e eficácia da ajuda para o desenvolvimento de acordo com a Declaração de Paris. Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Internacionais em relação ao acesso Universal à Prevenção, Tratamento, Cuidados e Apoio para o HIV e SIDA O Conselho Nacional do SIDA foi criado em 2000 por um Decreto Ministerial, com a responsabilidade de coordenar uma resposta nacional multi-sectorial ao HIV/SIDA. O mesmo é presidido pelo Primeiro-Ministro, tendo o Ministro da Saúde como vice-presidente. O Plano Nacional Estratégico (2005-2009) da segunda geração foi aprovado em Dezembro de 2004, e encontra-se em implementação. Para além do plano os Ministérios da Saúde, Educação, Mulher e Acção Social e outros possuem políticas sectoriais de acordo com o Plano Nacional Estratégico. Várias leis relacionadas com o HIV/SIDA foram adoptadas e estão a ser implementadas tais como a Lei 5/2002, de 5 de Fevereiro, que protege os trabalhadores e candidatos a emprego vivendo com HIV/SIDA; a lei 12/2009 de 12 de Março que protege as pessoas que vivem com HIV/SIDA. A prevalência do HIV entre os adultos (15-49 anos) tem crescido firmemente ao longo dos anos de 8.2% em 1998 para 16.2% em 2004. Havia aproximadamente 1.5 milhões de moçambicanos a viverem com o HIV, em 2003 (cerca de 8% do total da população), dos quais a maioria era mulheres (58%). A disparidade do género é mais visível no seio do grupo etário de 15-19 anos onde a prevalência no seio das mulheres é três vezes superior do que no dos homens. Todos os anos, cerca de 30,000 crianças nascem com HIV e mais de 50% morrem dentro do primeiro ano. O SIDA criou uma crise de órfãos e aumentou a vulnerabilidade. Até Dezembro de 2005, das 200 000 pessoas necessitadas, 19 000 estavam no tratamento anti-retroviral.

Domesticação, Legislação e Práticas Internas em relação ao acesso Universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio para malária e tuberculose (TB) O Governo da República de Moçambique considera a malária como prioridade para a redução da pobreza, segundo a sua agenda de desenvolvimento. Em 2007, Moçambique recebeu uma doação de $28 milhões da Ronda 2 do Fundo Global de Luta contra SIDA, Tuberculose, e Malária (Fundo Global). Esta doação foi a primeira doação do Fundo Global a ser mobilizado para o fundo central do Ministério da Saúde. Moçambique recebeu também uma doação de $36 milhões da Ronda 6 para dois anos, que começou a desembolsar em 2008. Em acréscimo, a Iniciativa de Desenvolvimento Espacial de Lubombo (IDEL), uma iniciativa de controlo de três países – envolvendo Moçambique, Suazilândia e África do Sul – recebeu duas doações de $21 milhões para dois anos do Fundo Global (Ronda 2 e Ronda 6).

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2010

Em 2009, um crédito para o sector da saúde para cinco anos, no valor de $35 milhões foi aprovado pelo Banco Mundial e que vai alocar aproximadamente $12 milhões para o controlo da malária. Este crédito irá incidir primariamente no fortalecimento do sistema aos níveis nacional e provincial, com ênfase particular nas três províncias do Norte. Com apoio adicional da Organização Mundial da Saúde, UNICEF, e outros parceiros nacionais e internacionais, está em curso o aumento das intervenções de prevenção e controlo da malária. Quadro 1. Disponibilidade de redes mosquiteiras tratadas com insecticida

MICS 2008

Uma pesquisa de linha de base do Indicador da Malária (MIS) apoiada pelo PMI, realizada durante Junho e Julho de 2007, demonstrou que a cobertura das principais intervenções era baixa. Somente 16% dos agregados familiares tinham pelo menos uma RMTI (rede mosquiteira tratada com insecticida), e 7% das mulheres grávidas e 7% das crianças com idade inferior a cinco anos tinham dormido debaixo de uma RMTI na noite anterior. Somente 4% das crianças com idade abaixo de cinco anos com febre tinham recebido ACT (terapia combinada baseada na Artemisina) dentro de 24 horas do início dos sintomas. A tuberculose, este é um desafio de saúde pública para Moçambique que ocupa o 19ºlugar dentre os 22 Países de Grande Peso no mundo, com uma taxa estimada de incidência de 431/100.000 da população, em 2007. O índice de detecção de casos de TB (49% em 2007), para novos casos registados como positivos, está abaixo da meta mundial. As co-infecções de TB-HIV estão a aumentar: em 2008, 60.1% dos doentes de TB testados em HIV eram Seropositivos. A recente

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Moçambique melhorou a sua capacidade de prestar cuidados sanitários aos seus cidadãos, mas 40% da população não tem acesso a estes serviços. Mais ainda, somente existem 3 médicos e 21 enfermeiros para cada 100,000 pessoa no país – o que significa que existem aproximadamente 600 médicos para o país inteiro. (USAID, Moz) Os desafios que Moçambique enfrenta com relação à saúde são:

• 30-50% da população é que tem acesso aos serviços básicos de prevenção e cura, o que significa que essas pessoas vivem dentro de um raio de 10kms de distância da unidade sanitária (discussões com os intervenientes principais)

• Elevado nível de Doenças Transmissíveis (13% dos adultos vivendo com HIV/SIDA, 18,108 casos de Malária por 100,000)

• Falta de pessoal (599 Funcionários de Saúde de nível superior em todo país, incluindo 400 médicos moçambicanos)

• Falta generalizada de recursos desde o “papel e mesas até equipamento médico e medicamentos”

pesquisa de DRS foi realizada em 2007/2009 e os resultados da mesma indicam que a prevalência da TB-RMD é de 3.4% dentre novos casos e 8.3% dentre casos de novo tratamento. (OMS, Moçambique, Tuberculose em Moçambique). A tuberculose é um dos programas prioritários do Ministério da Saúde e o Ministro da Saúde demonstrou um forte empenho com vista o controlo da TB. Em Março de 2006, a TB foi declarada como sendo uma emergência nacional e o plano de acção da tuberculose para 2007 incluíram acções prioritárias para lidar com esta emergência tais como: melhoria da qualidade de diagnóstico e tratamento, acesso alargado ao DOTS para pessoas que vivam em zonas pouco servidas, implementação de intervenção baseada na comunidade e intensificação das actividades de colaboração TB/HIV. Em 2008 foi adoptado pelo governo o novo Plano Nacional Estratégico de TB 2008-2012. O novo plano estratégico incide nas recomendações da Iniciativa “Stop TB”. Este Plano Nacional Estratégico visa reduzir o peso global da TB de acordo com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e com as metas da parceria do “Stop TB” (OMS, Moçambique, Tuberculose em Moçambique). Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao Fortalecimento dos Sistemas de Saúde

O sistema de saúde em Moçambique é coordenado pelo Ministério da Saúde (MISAU) através de hospitais, centros de saúde e postos médicos. A política financeira actual está assente no princípio de que todos os moçambicanos devem ter acesso a cuidados de saúde de qualidade a um preço justo. O sistema de saúde está organizado em 3 níveis, nacional, provincial e finalmente distrital. Moçambique possui 3 principais hospitais centrais localizados em cada região sendo em Maputo (que é também o hospital de referência máxima para todo país) para a região sul, Beira para a região centro e Nampula para a região norte.

O estudo não encontrou indicação clara da ratificação da Exortação; Contudo, os mecanismos e práticas jurídicas e institucionais existentes estão em linha com o espírito da Exortação. Não há ligações claras da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e a Exortação, nem ligação clara entre a implementação da Convenção e impacto no terreno; Observa-se que os objectivos e resultados previstos na Convenção estão a ser parcialmente atingidos.

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2010

Plano integrado no Protocolo de Saúde da SADC  

O conhecimento sobre o uso de contraceptivos é muito limitado e muitos adolescentes continuam a praticar sexo inseguro. A gravidez indesejada no seio dos adolescentes frequentemente conduz ao aborto inseguro. Em 2003, 1.1% das mulheres vivendo com parceiro referiram-se ao uso do preservativo. Entre jovens de 15 a 24 anos o uso do preservativo na sua última relação sexual foi de 29.1% nas mulheres e 33.3% nos homens.

Estudos realizados entre 1990-2000, revelam que 8 a 11% das mortes maternas que ocorreram no período se deveram a complicações do aborto inseguro. Este número, contudo, poderá representar apenas uma ponta do icebergue, uma vez que não inclui aquelas que não sofreram complicações imediatas e por vários motivos não procuraram assistência médica.

Plano de Acção de Maputo para Saúde Sexual e Reprodutiva e Direitos 2007-2010 (2006) Principais artigos analisados e indicadores previstos

ARTIGOS INDICADORES Serviços de HIV/ITS, malária e SRH integrados nos cuidados primários de saúde

Políticas e quadros legais para garantir acesso a opções completas cuidados e tratamento de HIV/SIDA/ITS para mulheres grávidas, mães, recém-nascidos, famílias e Seropositivos

Planeamento familiar reposto como estratégia chave para a realização dos ODMs

Cobertura dos serviços de Planeamento Familiar

Incidência de aborto inseguro reduzida

Políticas e quadros jurídicos para a redução da incidência de gravidezes indesejadas e abortos inseguros

Ratificação

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao planeamento Familiar Reposicionado como estratégia principal para a realização dos ODMs

Moçambique integrou o planeamento familiar no sistema de saúde materno-infantil. O Governo alargou igualmente o planeamento familiar de qualidade e serviços afins, integrando-os nos programas de alcance baseados na comunidade. O Índice de Prevalência do Contraceptivo no país (percentagem das mulheres) 2000-2006 é de 16.5% (www.kff.org). Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação à redução da Incidência do aborto inseguro Em 1981, o Ministério da Saúde emitiu um decreto permitindo que os abortos sejam feitos nos hospitais no caso de perigo à saúde e falha do contraceptivo. Desde então, o decreto tem sido interpretado muito liberalmente em alguns hospitais, e os abordos são praticados a mulheres que assinem uma declaração por escrito a pedir o abordo. As autoridades sanitárias de Moçambique defendem que legalizar o aborto vai diminuir o número das mulheres que morrem como consequência de abortos clandestinos. De acordo com o relatório da IRIN, os serviços de saúde em Moçambique estimam que nos anos de 1990, 11% das fatalidades maternas na capital Maputo eram consequência de abortos clandestinos. Também se estima que 40% de todas as complicações sérias de gravidez estão relacionadas com abortos ilegais (LifeSiteNews.com, 30 de Maio de 2007; IRIN, 8 de Junho de 2007).

As actuais leis de Moçambique criminalizam o aborto, excepto nalgumas circunstâncias, por exemplo, quando a vida da mãe estiver em perigo ou se ela não tiver capacidade física e mental para cuidar da criança. Alguns centros de saúde prestam serviços de interrupção de gravidez mediante pagamento. Mas os serviços cobrados prestados por estes centros estão longe do alcance de muitas

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

mulheres pobres que acabam recorrendo a “clínicas de quintal” onde abortam ilegalmente e em condições inseguras. O Conselho de Ministros aprovou uma Proposta de Lei do Aborto que nunca foi submetida ao Parlamento. Os proponentes de tal lei – principalmente organizações não-governamentais que trabalham no sector da saúde reprodutiva, organizações de mulheres e alguns parlamentares e funcionários do governo – defendem que a liberdade da escolha salvaguarda a saúde e o bem-estar da mulher. As “clínicas de quintal” a que as mulheres neste momento recorrem funcionam clandestinamente. Nestas condições, mesmo quando a mulher começa a sangrar, ela não pode procurar ajuda médica com receio de ser presa.

O estudo não encontrou indicação clara da ratificação da Convenção. Contudo, os mecanismos e práticas jurídicas e institucionais existentes estão em linha com o espírito do Plano; Não há nenhuma ligação clara da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e o Plano, nem ligação clara entre a implementação da Convenção e o impacto no terreno. Os objectivos e resultados previstos na Convenção estão a ser parcialmente atingidos.

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2010

Moçambique ratificou o Protocolo em Dezembro de 2005. A resolução no. 03/2008, de Maio ratificou o Protocolo Opcional à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Em acréscimo, o Parlamento aprovou em 2008 a lei 06/2008 de 16 de Junho sobre o Tráfico de Pessoas e em particular da Mulher e Criança.

DIREITOS DA MULHER

Protocolo da UA à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos da Mulher em África (2003) Principais artigos analisados e indicadores previstos

ARTIGOS INDICADORES Eliminação da discriminação contra a mulher

Medidas legislativas, institucionais e outras para combater todas as formas de discriminação contra a mulher; incluindo dispositivos constitucionais do princípio de igualdade entre mulheres e homens, expressa proibição de todas as práticas lesivas que põem em perigo a saúde e o bem-estar da mulher, grau até o qual a perspectiva do género é integrada na política e nos quadros orçamentais e campanhas contra funções estereotipados para mulheres e homens

Os direitos à vida, integridade e segurança da pessoa

Aprovação e aplicação de leis que proíbam todas as formas de violência contra a mulher

Eliminação de práticas lesivas

Estratégias para reduzir práticas tradicionais lesivas; Proibição, através de medidas legislativas apoiadas por sanções, de todas as formas de mutilação genital feminina, cicatrização, medicalização e para-medicalização da mutilação genital feminina

Casamento Aprovação de leis especificando que a idade mínima para casamento da mulher é 18 anos

Acesso à justiça e protecção igual perante a lei

Implementação de medidas para garantir que as mulheres estejam representadas de igual forma nos órgãos judiciais e de aplicação da lei Número de mulheres em relação ao número total na força policial e no serviço judicial

Direito de participação nos processos políticos e de tomada de decisão

Participação da mulher nos órgãos de gestão e de tomada de decisão, por exemplo, na legislatura, secretárias permanentes, judiciária, função pública, autoridades locais, e outros órgãos estatutários

Direito à educação e formação Alfabetização da mulher; Paridade do género no ingresso ao ensino primário e secundário

Direitos de saúde e reprodutivos

Garantia ao direito à saúde da mulher, incluindo a saúde sexual e reprodutiva é respeitado e promovido; Cobertura dos serviços de PF. Indicadores: Índice de prevalência do contraceptivo (mulheres com idade de 15-49 anos actualmente casadas ou em união e que usam, ou cujo parceiro usa, um método contraceptivo moderno ou tradicional); Necessidade não respondida da planificação familiar (mulheres actualmente casadas ou em união e fecundadas e que querem espaçar os nascimentos ou limitar o número de filhos que têm e que não estão neste momento a usar contracepção)

Direito ao desenvolvimento sustentável

Acesso da mulher aos e controlo dos recursos de produção tais como a terra e garantia do seu direito à propriedade; Acesso da mulher ao crédito, formação, desenvolvimento de aptidões e serviços de extensão aos níveis rural e urbano

Direito à herança Aprovar leis que dêem direito de herdar à mulher e ao homem , em formas iguais, a propriedade da família

Não discriminação Aprovar leis de não discriminação contra crianças nascidas fora do casamento, especialmente através da aprovação de uma lei adequada de filiação.

Ratificação

CAPÍTULO 5

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Na realidade, as mulheres raramente exercem este direito devido à grande falta de informação. As leis costumeiras (tradicionais) continuam discriminatórias, particularmente no que se refere às relações de família e herança que afectam de forma adversa às mulheres nos seus lares e no local de trabalho. O governo criou uma comissão de reforma legal para rever a legislação discriminatória.

A integridade física da mulher não está suficientemente protegida em Moçambique e a violência contra a mulher é um problema sério. As mulheres são frequentemente vítimas de abusos físicos, incluindo a violação. As pressões sociais exacerbam o problema tornando difícil para as mulheres moverem processos jurídicos. Na maior parte das comunidades, as mulheres consideram normal que os homens batam as suas esposas. As mulheres também passaram por considerável violência durante a Guerra Civil moçambicana, que durou até 1992.

A incidência de casamentos precoces é extremamente elevada em Moçambique: um relatório de 2004 das Nações Unidas estimava que 47 %das raparigas entre 15 e 19 anos de idade eram casadas, divorciadas ou viúvas.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação à Eliminação da discriminação contra a mulher A Constituição de Moçambique de 1990 salvaguarda o princípio da igualdade entre homens e mulheres em cada aspecto da vida económica, social, política e cultural do país. O estado procura promover a emancipação da mulher e melhorar a sua situação.

A Lei da Família foi adoptada em 2004, a qual estabelece a idade mínima legal para casamento de 18 anos tanto para homens como para as mulheres. Excepcionalmente, o casamento pode ser autorizado a partir da idade de 16 anos, com o consentimento dos progenitores ou representantes legais. A poligamia é proibida na lei moçambicana, mas a Lei da Família não contém medidas penais para preveni-la. As uniões poligâmicas são práticas costumeiras e são socialmente aceites nalgumas regiões de Moçambique. Pensa-se que quase um terço das mulheres casadas com idade entre 15 e 49 anos estão em casamentos polígamos. A legislação da família anterior reconhecia o marido como o único chefe do agregado familiar e relegava a esposa à responsabilidade por afazeres domésticos. A Lei da Família de 2004 autoriza as mulheres a representarem as suas famílias em assuntos jurídicos. Na prática, a autoridade parental em Moçambique é contingente à forma como a família identifica seus descendentes. De acordo com os costumes patrilineares, as crianças “pertencem” ao pai e à família deste; no sistema matrilinear, eles “pertencem” à mãe e à família desta.

Com relação à herança, as viúvas cujo regime aplicável ao estado de casado era o de comunhão de bens, têm o direito de herdar metade da propriedade adquirida durante o casamento. No geral, a Lei da Família Moçambicana oferece pouca protecção à mulher. Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em Relação ao Direito à Vida, Integridade e Segurança da Pessoa O Parlamento em Moçambique aprovou uma lei contra a violência doméstica, particularmente contra a mulher em Julho de 2009. Ao abrigo desta lei o código penal a violação é legalmente punido em Moçambique: as sanções penais incluem penas de prisão de 2 a 8 anos para violação de uma pessoa com idade superior a 12 anos. Se a vítima for menor de 12 anos as penas são mais severas – tipicamente de 8 a 12 anos de prisão maior. A mutilação genital feminina não é uma prática comum em Moçambique, e não há mostras que possam sugerir que seja um país de preocupação em relação ao desaparecimento de mulheres.

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2010

Não existem provisões constitucionais ou jurídicas para quotas com vista a assegurar representação adequada da mulher em órgãos publicamente eleitos em Moçambique.

Os direitos de posse por parte da mulher moçambicana são restritos em vários níveis. As mulheres casadas particularmente nas zonas rurais enfrentam duas grandes formas de discriminação: elas não podem assinar contratos sem a permissão dos seus maridos e os maridos são considerados como sendo os únicos administradores de qualquer bem conjunto adquirido durante o casamento. De igual modo, a mulher moçambicana frequentemente encontra problemas para obter acesso a empréstimo bancário, em parte por falta de informação também porque ela não é capaz satisfazer as condições exigidas pelas instituições financeiras.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao Acesso da Mulher à Justiça e Protecção Igual Perante a Lei

O acesso da mulher à terra em Moçambique é regido por dois sistemas diferentes. O sistema tradicional compreende uma longa lista de normas costumeiras, que efectivamente limitam a mulher ao direito de “uso” da terra e especificam que este direito é adquirido somente através do casamento. O sistema do estado reflecte a Constituição de 1990 e a Lei da Terra de 1997, que estipula que a terra pertence ao Estado mas dá aos homens e mulheres direitos iguais do seu uso. Por lei, as mulheres solteiras, divorciadas e viúvas têm os mesmos direitos que os homens em relação ao acesso à propriedade diferente da terra. Se casada sob regime de comunhão de bens, a mulher deverá obter consentimento do seu marido para aquisição ou na gestão de tais bens – e, na teoria, os maridos deverão agir de forma recíproca. Na prática, este consentimento é solicitado somente quando a mulher procura adquirir propriedade; em muitos casos, o consentimento é solicitado mesmo para mulheres que não casaram sob regime de comunhão de bens. Leis Internas, Mecanismos e Práticas Institucionais com Relação ao Direito da Mulher de Participar no Processo Político e de tomada de decisão A Constituição (1990, nos seus Artigos 66, 67) reconhece igualdade formal entre homens e mulheres perante a lei em relação aos direitos e deveres e em todas as esferas da vida e ilegaliza e pune acções que geram privilégio ou discriminação na base de sexo (dentre outras coisas; Artigo 69). Mais ainda, a Constituição (1990, Artigo 57) avança mais e encarrega o estado a assegurar a igualdade substantiva da mulher: “O Estado deverá promover e apoiar a emancipação da mulher, e deverá providenciar incentivos para aumentar o papel da mulher na sociedade. O Estado reconhece o valor da, e deverá encorajar, a participação da mulher na defesa do país e em todas as esferas da actividade política, económica, social e cultural do país”. Apesar da ausência de quotas legais, Moçambique tem assumido a dianteira na África Austral, na promoção da representação da mulher. Em 1990-1994, com as primeiras eleições multi-partidárias, a representação feminina na Assembleia Nacional atingiu 16% e continuou a subir para 29% em 1994-1999 e 31% em 1999-2004, 38% em 2004-2009, na Assembleia da República (2009; 49), e na presente legislatura de 2009-2014 temos 39%. Todas as eleições foram realizadas, usando o sistema de representação proporcional. Quadro 2. Número e Percentagem de Assentos ocupados por mulheres no Parlamento por Ciclo Eleitoral

Parlamentares I legislatura II legislatura

III legislatura

IV legislatura

V legislatura

VI legislatura

VII Legislatura

1977-1986 1987-1990 1990-1994 1994-1999 1999-2004 2004-2009 2009-2014

Homens 98 199 210 181 173 154 152

Mulheres 13 24 40 69 77 96 98

Total 111 223 250 250 250 250 250

% Mulheres 12% 11% 16% 28% 31% 38% 39%

% Homens 88% 89% 84% 72% 69% 62% 61% Nota do Quadro: *adaptado da Assembleia da Republica (2009; 49)

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Embora a existência deste dispositivo legal é largamente desconhecida ao nível da comunidade, o princípio por detrás do mesmo é mais frequentemente reconhecido e tem sido usado até certo ponto para decidir sobre a alocação da propriedade depois da morte de alguém. Contudo, o argumento de que todos os bens da família pertencem ao homem porque foi ele que gerou a renda para a família continua comum.

O elevado nível de representação feminina é atribuído à combinação do sistema de representação proporcional e à adopção de uma elevada quota para a representação da mulher por parte do partido no poder, Frelimo. A representação feminina ao nível local tem sido baixa do que ao nível nacional. Em 1998, 29% dos assentos das Assembleias Municipais foram para as mulheres contra somente um dos 33 presidentes de município (Nuvunga 2005, 50). Nas eleições de governos locais de 2003, dos 33 presidentes de município somente uma mulher foi eleita para a posição, quando somente 21.95% dos vereadores eleitos são mulheres (Escritório de Campo da EISA Moçambique 2008). Leis Internas, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao Direito da Mulher à herança De acordo com o Código Civil de 1966 (Secção 2133), os descendentes são os primeiros a herdar e a propriedade é dividida em partes iguais entre os filhos do defunto, Se nenhum dos filhos aceitar, os netos são considerados. Na sua ausência ou se recusarem aceitar, os ascendentes são a classe subsequente de herdeiros. Se não houver ascendentes sobrevivos, a propriedade é dividida em partes iguais pelos familiares do defunto e todos descendentes de familiares do defunto têm o direito conjunto à sua quota. Somente se nenhuma das anteriores categorias existir, ou se todos recusarem aceitar a herança, é que é formalmente permitido a reclamar herança ao cônjuge do defunto. A posição jurídica dos cônjuges é, assim, igualmente desvantajosa ao abrigo da actual lei de sucessão. Contudo, na prática, as viúvas são muito mais vulneráveis do que os viúvos à expropriação de propriedade, pois que os últimos estão bem protegidos ao abrigo do direito costumeiro. Nas famílias matrilineares do norte de Moçambique, o controlo dos recursos está geralmente também nas mãos dos homens, embora a herança de propriedade ocorre da mãe para filha. Combinado com o padrão de residência na qual as mulheres predominantemente continuam a viver junto das suas famílias, dá à mulher maior influência sobre acesso à propriedade de linhagem e à terra. Contudo, nas últimas décadas as normas patrilineares começaram a substituir práticas costumeiras nas sociedades matrilineares numa maior escala e as mulheres perderam considerável poder a favor dos seus irmãos, filhos e tios, que são nos dias correntes comummente identificados como chefes de família e donos da terra. A Lei da Família de 2004 estabelece que onde os casais (bem como em casamentos religiosos, civis ou tradicionais) não definiram cláusula alguma em relação à divisão da sua propriedade, aplica-se o regime de comunhão de bens adquiridos. Isto significa que todos os bens adquiridos pelo casal ao longo da vigência da sua relação são propriedade conjunta e por isso na eventualidade de divórcio ou separação, cada cônjuge tem direito sobre a propriedade que trouxe individualmente para a relação, mais metade dos bens que o casal adquiriu ao longo da duração do relacionamento. Embora a Lei da Família não se refira especificamente à sucessão ou herança, a mesma estabeleceu um precedente que pode ser usado pelos advogados para defender o controlo legal pelas viúvas da propriedade na sequência da morte do marido. Assim, antes de os bens serem distribuídos entre os herdeiros de direito, a viúva deve receber a sua metade dos bens do casal ou deve ser compensada em conformidade.

Há uma Indicação clara da ratificação do Protocolo e os mecanismos e práticas jurídicas e institucionais existentes estão em linha com o espírito do Protocolo. Não há ligações claras da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e o Plano, nem ligação clara entre a implementação da Convenção e impacto no terreno. Apesar dos contínuos desafios os resultados previstos no Protocolo estão de algum modo a serem realizados.

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2010

Moçambique ratificou a Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança, em Julho de 1998

DIREITOS DA CRIANÇA

Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança (1990) Principais artigos analisados e indicadores previstos

ARTIGOS INDICADORES Não discriminação Aprovar lei de não discriminação a crianças nascidas fora do casamento,

especialmente através da aprovação de uma lei de filiação adequada Direito à educação

#de crianças que completam 8 anos de ensino primário obrigatório gratuita # de crianças que completam 4 anos de ensino secundário gratuito Relação professor/estudantes; Paridade do género aos níveis primário e secundário

Crianças deficientes

% de crianças com necessidades especiais integradas no sistema de ensino formal; # de instituições criadas para crianças com necessidades especiais; Existência de doações estatais a famílias com crianças com necessidades especiais

Saúde e serviços de saúde

Taxa de mortalidade infantil; Taxa de mortalidade abaixo de 5 anos; Taxa de mortalidade neonatal; Proporção de partos assistidos por parteiras com conhecimentos; Cobertura de cuidados pré-natais; Crianças de idade inferior a 1 ano totalmente imunizadas; Proporção de comunidades dentro de um raio de 5 km da unidade sanitária; % de <5 anos de idade em zonas propensas a malária que dormem debaixo de RTIs; % de mulheres grávidas que dormem debaixo de LL RTIs; Acesso a água potável segura; Acesso a serviços de saneamento

Trabalho infantil Aprovar leis para proteger a criança das piores formas de trabalho Protecção contra abuso e tortura de crianças

Aprovar leis e políticas que proíbem castigos corporais e abandonos em casa, nas comunidades e em todos os meios de cuidados alternativos públicos e privados; Aplicar leis que banem o abuso físico incluindo monitoria sistemática

Protecção contra práticas sociais e culturais lesivas

Aprovar e aplicar legislação sobre leis contra FGM e casamentos precoces; Fazer advocacia a favor da circuncisão masculina segura; Assegurar que os direitos de herança de propriedade por parte das crianças órfãs (mesmo no âmbito cultural) são salvaguardados e protegidos; Aprovar leis para elevar a idade mínima de casamento para 18 anos; Tornar obrigatório o registo de todos os casamentos numa conservatória

Ratificação

Legislação Nacional e Mecanismos Institucionais relativos ao direito da Criança

Moçambique ratificou a Declaração sobre Direitos da Criança a 21 de Dezembro de 2007; A Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança foi ratificada em Abril de 1994 e o primeiro relatório submetido ao Comité dos Direitos da Criança em Junho de 2000. O sistema judicial e administrativo de Moçambique para matérias que envolvem menores é incipiente e ainda em desenvolvimento. As crianças são representadas nos processos administrativos e judiciais pelos seus encarregados de educação ad litem, serviços de assistência social, serviços médico-psicológicos, pais, guardiões, ou seus representantes legais. Para além da Constituição, a representação das crianças é regida pelo Código Civil (Artigos 143-144), Lei da Família (Artigos 287, 296, 298-326, 337-406), e o Estatuto sobre Assistência Jurídica de Menores (Artigos 18, 19, 44, 63, 65, 66). O Estatuto sobre Assistência Jurídica de Menores, que aborda processos judiciais de menores (tribunais especiais para menores, serviços de assistência social, assistência médico-

CAPÍTULO 6

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Os participantes entrevistados para o estudo anotaram que, como resultado da falta de recursos financeiros e conhecimento acerca dos serviços jurídicos ao seu dispor, as crianças não tinham acesso adequado à representação legal e assistência em assuntos que lhes afectam.

psicológico etc.), medidas de protecção civil de menores, e procedimentos de tutoria, foi recentemente revisto. Em 2003, a unidade de reforma jurídica do governo (Unidade Técnica de Revisão Legal) realizou uma extensa revisão de toda legislação e política relacionada com a criança em Moçambique, organizando workshops regionais, entrevistas com funcionários do governo e advogados, e um estudo baseado nos pontos de vista das crianças. O relatório concluiu que havia uma forte necessidade para reformar a legislação relacionada com crianças uma vez que as leis existentes estavam ultrapassadas, fragmentadas, inacessíveis, fracas substancialmente, e às vezes vagas.

Neste momento, os Artigos 1 e 2 do Estatuto de Assistência Jurídica a Menores estabelecem que os tribunais regulares têm jurisdição sobre assuntos relacionados com a protecção da criança e que tribunais especializados para menores podem ser criados. Somente um tribunal especial de menores, em Maputo, foi até hoje criado. O estudo recomendou a expansão dos serviços prestados por este tribunal especializado, a instituição de procedimentos mais simples e mais acessíveis, e o estabelecimento de tribunais especializados para menores noutras partes do país. Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação ao Direito da Criança à Educação O Artigo 88 da Constituição de Moçambique estipula que “Na República de Moçambique, a educação será um direito e dever de todos os cidadãos e o Estado deverá promover a extensão da educação para a formação profissional e vocacional contínua, bem como acesso igual ao usufruto deste direito por todos os cidadãos.” Os dados do MICS mostram que 81 %das crianças em idade para frequentar o ensino primário (6-12 anos) frequentam o ensino (relação primária líquida de frequência). A diferença entre o género é de dois pontos percentuais, com 82 %para os rapazes e 80 %para as raparigas. As relações da frequência líquida são baixas nas zonas rurais (79 por cento) do que nas zonas urbanas (89 por cento). A diferença entre as zonas rurais (10 por cento) e zonas urbanas (38 por cento) na frequência do ensino secundário é maior do que no ensino primário. (MICS 2008). A relação de frequência é baixa dentre órfãos. A relação de frequência dentre crianças com idades entre 10 e 14 anos cujos pais morreram é de 77 por cento, mais baixa do que aquela de crianças (da mesma faixa etária) cujos progenitores vivem e as que vivem pelo menos com um dos progenitores (87 por cento). A diferença entre os órfãos e não órfãos é maior nas zonas urbanas (82 %contra 92 por cento, respectivamente) do que nas zonas rurais (77 %contra 84 por cento, respectivamente). (Ibid.). A Tabela abaixo mostra as estatísticas sobre o ingresso das crianças nos vários níveis de ensino, estratificadas por género.

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2010

Quadro 3.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação a Crianças Deficientes O Governo de Moçambique atribui grande importância ao alargamento das oportunidades educacionais para crianças com necessidades especiais. Em 2000, havia somente quarto escolas para crianças com necessidades especiais em Moçambique, que juntas serviam pouco menos de 300 alunos. Aspecto fulcral na estratégia do Governo para a melhoria dos serviços de educação oferecidos a crianças com necessidades especiais tem sido o princípio de inclusão. Na medida do possível, as crianças com necessidades especiais estão a ser integradas nas escolas e salas de aulas existentes, no lugar de mantê-las em escolas separadas ou mesmo excluídas da escola. A inclusão com sucesso normalmente exige formação de professores aspirantes e professores em exercício, para lhes preparar para as exigências de ter que ensinar um grupo ainda mais diversificado de estudantes. Têm também sido feitos esforços para preparar os pais e comunidades para as mudanças nas suas escolas que poderão acompanhar a inclusão, em paralelo com o desenvolvimento de estratégias de ensino e materiais apropriados para uso nas turmas inclusivas.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

Informação em relação aos Serviços da Criança e Saúde Quadro 4. Estatísticas sobre índices de mortalidade abaixo de 5 anos de idade

MICS 2008 O Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) mostram que entre 1997 e 2003, a cobertura da imunização de todas as grandes doenças que podem ser prevenidas por vacina, nomeadamente poliomielite, sarampo, tuberculose, difteria, pertussis e tétano, (imunização completa) cresceu de 47% para 63%. Apesar do progresso registado, a cobertura total de imunização em Moçambique continua baixa e não está distribuída de forma igual pelo país. Por exemplo, as crianças na província da Zambézia são as mais desfavorecidas, com um índice de cobertura de imunização de apenas 45%. Mais ainda, a cobertura da imunização completa das crianças é de 81% para a população urbana contra somente 56% para os aglomerados rurais (IDS, 2003). Enquanto a imunização completa da criança em geral continuou a crescer para 66.4% em 2005, de acordo com o inquérito comunitário de imunização de rotina realizada em Dezembro de 2005, a situação agravou-se entre 2003 e 2005 na maioria das províncias, incluindo as províncias da região sul que detinham altos índices de cobertura, que testemunharam um declínio na sua cobertura para todos os antígenos. Por exemplo, a cobertura de sarampo decresceu de níveis muito altos de mais de 90% em 2003 para perto de 80% em 2005 em todas as quatro províncias do sul. Enquanto isto, o DPT/Hep decresceu de mais de 90% para 83% e 75% em duas das províncias, nomeadamente Inhambane e Maputo Cidade, respectivamente, com preocupação particular para com a última que decresceu em cerca de 20% (OMS). Quadro 5. Casa de Mortalidade em Crianças abaixo dos 5 anos

Fonte: Dados Factuais Nacionais da OMS sobre Mortalidade: 2006

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2010

A aplicação do quadro jurídico contra mão-de-obra infantil e em Moçambique continua a ser um desafio e vai exigir uma extensa consciencialização e capacitação no seio de todos os níveis do governo e da sociedade, responsáveis pela sua implementação.

Com o apoio dos parceiros de desenvolvimento particularmente, o Ministério do Interior criou mais de 200 Centros especializados da polícia em todo país para lidar com crianças e mulheres vítimas de violência, de abuso e de exploração. Estes centros de apoio oferecem um espaço seguro para as vítimas comunicarem incidentes de violência à Polícia e para acesso aos serviços sociais. As Nações Unidas também trabalham com o Ministério da Justiça para melhorar a resposta do sistema de justiça juvenil para crianças em conflito com a lei, que levou à criação de seis secções de Tribunal de Menores desde 2007

Domesticação, Legislação Interna e Práticas em relação à Protecção Contra Práticas Sociais e Culturais Lesivas incluindo o Trabalho Infantil Moçambique deu passos significativos para melhorar o quadro jurídico para a protecção dos direitos da criança, no país. O Governo ratificou em 2003 a Convenção dos Direitos da Criança e as principais convenções da Organização Internacional do Trabalho relativas ao trabalho infantil. A nova Lei de protecção da Criança, em Moçambique, adoptada em 2008, contém cláusulas que reforçam a proibição de qualquer forma de trabalho para crianças com idade inferior a 15 anos e determina medidas punitivas a serem tomadas contra um empregador que use mão-de-obra infantil abaixo da restrição de idade.

Tráfico de crianças: O tráfico de crianças para sua exploração como trabalhadoras do sexo e empregadas domésticas na região continua a ser uma preocupação. Um relatório da Organização Internacional para Migrações estima que aproximadamente mil crianças e mulheres são traficadas de Moçambique para África do Sul em cada ano para fins de exploração da mão-de-obra e exploração sexual comercial. Violência, exploração e abuso. A exploração sexual e abuso contra crianças e mulheres também ocorrem em casa e no local de trabalho. Num estudo feito pelo Ministério da Mulher e Acção Social, cerca de 34% das mulheres inquiridas revelaram terem sido espancadas e 10% foram sujeitas a certas formas de abuso sexual. O abuso e assédio sexual são também um problema nas escolas. Estudos de caso sugerem que 8% das crianças do ensino primário foram sexualmente abusadas e outros 35 % passaram por assédio sexual.

Casamento Infantil: Moçambique possui uma das taxas mais elevadas do mundo de casamentos infantis. Práticas culturais específicas nas quais as crianças são consideradas como estando prontas para casar, como os ritos de iniciação, contribuem para um elevado índice de casamentos precoces. Dados do inquérito Demográfico e da Saúde de 2003 indicam que 18 % de mulheres jovens com idade de 20-24 anos contraíram casamento antes da idade de 15 anos, e 56% antes de 17 anos. O casamento infantil compromete o direito da rapariga à educação e à saúde. Em Moçambique, 36.9% das raparigas casadas com idade de 15 e 19 anos não foram à escola. A gravidez e parto na adolescência estão associados a fracos resultados sanitários tanto da mãe como do bebé.

Trabalho Infantil: a pesquisa de 2004-2005 realizada pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) mostra que em Moçambique 32% das crianças entre 7 e 17 anos de idade estão envolvidas em qualquer forma de actividade económica. Conforme revela a pesquisa, as zonas rurais contam com 40% do trabalho infantil, enquanto nas zonas urbanas somente 16% das crianças é que estão envolvidas em actividades económicas. O trabalho que as crianças executam na agricultura é muitas vezes invisível e não conhecido porque elas apoiam os seus progenitores ou familiares na machamba familiar. As crianças são frequentemente designadas ‘ajudantes’, pese embora o facto de executem trabalho igual e, às vezes, mais difícil que e dos adultos. No geral, os rapazes e as raparigas estão envolvidos de igual maneira, com a excepção do trabalho doméstico onde as raparigas assumem maior proporção das crianças afectadas.

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

O Ministério da Mulher e Acção Social com o apoio das Nações Unidas de vários parceiros, em geral, e da UNICEF, em particular, e guiado pelo seu Plano Nacional de Acção para Crianças Órfãs e Vulneráveis aumentou o apoio às crianças vulneráveis que não estão incluídas em nenhum sistema de cuidados. O plano estabelece um conjunto de seis serviços básicos para crianças órfãs e vulneráveis: educação, cuidados de saúde, apoio material/financeiro (incluindo acesso aos certificados de pobreza), apoio nutricional, apoio psico-social e apoio jurídico (incluindo acesso a certidões de nascimento).

Crianças sem identidades: Nos últimos anos, Moçambique registou grandes avanços no aumento do acesso aos serviços de registo de nascimento em todo país. Um Plano Nacional de Acção sobre Registo de Nascimentos foi elaborado em 2004 com vista a acelerar as actividades de registo de nascimento e fortalecer o sistema de rotina de registo de nascimentos a nível nacional. Antes de o plano ser posto em funcionamento, somente 6% de crianças abaixo de cinco anos de idade é que tinham certidão de nascimento. Desde então, foi feito um avanço significativo. A Pesquisa em Grupo do Indicador Múltiplo de 2008 mostra que 31% de crianças com idade inferior a cinco anos foram registadas, 39% nas zonas urbanas e 28% nas zonas rurais. Crianças em conflito com a lei: Um estudo realizado sobre crianças em conflito com a lei constatou que pelo menos 25% de todos os presidiários entrevistados eram de idade inferior a 18 anos, e 18% eram de idade inferior a 16. As crianças em conflito com a lei são geralmente rapazes, pobres, órfãs ou separadas das suas famílias e a viverem na rua. As condições de reclusão em que se encontram são uma violação directa aos seus direitos. Os presidiários menores muitas vezes partilham celas com adultos, expondo-se a abusos e violência. Crianças órfãs: Moçambique possui um número estimado de 1.2 milhões de crianças órfãs, das quais 350,000 perderam seus pais devido à SIDA. As crianças órfãs confrontam-se com numerosas vulnerabilidades e riscos, tais como exploração e abuso sexual, trabalho infantil perigoso, iniciação precoce na vida sexual e casamento, fraca frequência escolar e desempenho e fraca saúde física, emocional e mental. As crianças que vivem em lares chefiados por crianças encontram-se numa situação particularmente precária. Apesar destes dados preocupantes, importante avanço foi feito com vista à protecção dos direitos da criança e melhoria da situação da criança e da mulher vítimas de violência e exploração. Um grande ganho foi a aprovação da Lei da Criança em 2008. A nova legislação reflecte o compromisso do Governo de fornecer um quadro jurídico para a protecção da criança, em conformidade com os princípios estabelecidos na Convenção sobre Direitos da Criança.

O estudo encontrou uma indicação clara da ratificação da Carta. Também constatou que os mecanismos e práticas jurídicas e institucionais existentes estão em linha com o espírito da Carta. As ligações não são claras quanto à domesticação e popularização dos instrumentos existentes e a Carta; Não há ligações claras entre a implementação da Convenção e o impacto no terreno. Apesar dos contínuos desafios os resultados previstos no Protocolo estão a ser de algum modo realizados.

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2010

Moçambique ratificou a Carta através da Resolução nº2/ 2008 de 30 de Maio do Conselho de Ministros.

DIREITOS DOS JOVENS

Carta Africana da Juventude (2006) Principais artigos analisados e indicadores previstos

ARTIGOS INDICADORES Crianças na condição de refugiadas (as cláusulas deste Artigo aplicam-se mutatis mutandis à crianças deslocadas internamente quer devido a desastres naturais, conflitos armados internos, agitação civil, colapso da ordem económica e social ou outras causas

Harmonizar a lei nacional dos refugiados em linha com os direitos humanos internacionais e direito do refugiado

Participação da juventude

Tomar medidas para promover a participação da juventude nos aspectos políticos, económicos, sociais, tecnológicos e legais para o desenvolvimento, tanto ao nível da comunidade como nacional;

Política nacional da juventude

A existência de uma política nacional da juventude abrangente e coerente, e informada por uma ampla consulta com os jovens; Existência de programas nacionais da juventude com tempo definido e acompanhados de um orçamento adequado e sustentável.

Educação e desenvolvimento de conhecimentos

Se existe uma educação básica gratuita e obrigatória; Disparidades do género no acesso à educação básica e ensino superior; A existência e operação de programas de bolsas de estudos para encorajar ingresso no ensino pós-primário e no ensino superior por parte de destacados jovens provenientes de comunidades desfavorecidas, especialmente as raparigas.

Formas sustentáveis de vida e emprego para jovens

Disponibilidade de informação precisa sobre o emprego, desemprego e subemprego da juventude; Empreendedorismo juvenil; acesso ao crédito, formação em conhecimentos do desenvolvimento de negócios, oportunidades de acompanhamento e opções de estágio disponíveis para entrada no mercado do emprego

Saúde

Qualidade dos serviços reprodutivos da juventude, incluindo os serviços de contraceptivos, pré-natais e pró-natais; Existência e aceitação do aconselhamento voluntário e testagem voluntária do HIV/SIDA; Acesso ao tratamento para jovens infectados com HIV/SIDA incluindo a prevenção da transmissão de mãe para filho, profilaxia pós violação, e terapia anti-retroviral; Passos legislativos (tais como o banimento de anúncios publicitários e crescente taxa de imposto para controlar o consumo do tabaco, exposição ao ambiente do fumo do tabaco e abuso do álcool; Existência e aplicação da lei contra narcóticos para minimizar o fornecimento e tráfico de drogas.

Ratificação

CAPÍTULO 7

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

O nível de desemprego aumenta anualmente como resultado da saída da escola de cerca de 300.000 estudantes anualmente para colocação no mercado do emprego. Alguns dos obstáculos geralmente reportados pela juventude para conseguirem emprego ou fazerem negócios são: a exigência de experiência de trabalho, falta de disseminação de informação referente a oportunidades de emprego, acesso difícil a crédito bancário, tráfico de influência. De acordo com o INEFP (2009), os jovens absorvidos pelo mercado do emprego trabalham sob condições difíceis. A maior parte deles não possuem contratos formais de emprego e acabam por se fixarem no sector informal. Assim, eles ficam vulneráveis à violação dos seus direitos.

Legislação Interna, Mecanismos e Práticas Institucionais em relação à Participação da Juventude e Emprego O Comité Intersectorial para o Apoio à Adolescência e Desenvolvimento da Juventude (CIADAJ) foi criado em 1996, com sede na Direcção Nacional de Assuntos Juvenis do Ministério da Cultura, Juventude e Desportos e contou com o apoio, na fase inicial, do FNUAP. O Presidente e o Vice-Presidente são os Ministros da Cultura, Juventude e Desportos e da Saúde, respectivamente, e o Comité conta com representantes de todos os ministérios relevantes, ONGs nacionais e organizações religiosas associadas com o Desenvolvimento de Adolescência e Juventude. A função do comité é de agir como apoio técnico e grupo de pressão para actividades coordenadas de Adolescência e Juventude, recolhendo e analisando informação, identificando necessidades de investigação, sensibilizando o público e as autoridades apropriadas e advogando a defesa dos direitos dos jovens e definindo programas para responder às necessidades dos adolescentes e jovens. O objectivo da fase inicial do CIADAJ era de desenvolver o Plano Nacional de Acção (PNA) para o Desenvolvimento da Adolescência e Juventude, o qual é apresentado em resumo em baixo. As prioridades foram identificadas durante o período preparatório através do trabalho de organização dos membros do Comité, acrescido da contribuição de estudos realizados na Zambézia e um processo de consultas na Cidade e Província de Maputo, e estes todos estão reflectidos no PNA. O objectivo geral do Plano Nacional de Acção (PNA) para o Desenvolvimento da Adolescência e Juventude é de promover o desenvolvimento são, harmonioso e responsável dos adolescentes e jovens garantindo um melhor conhecimento e exercício dos seus direitos e contribuir para a igualdade do género. A popularização da Carta da Juventude no contexto moçambicano é feita pelo Ministério da Juventude e Desportos em parceria com organizações juvenis tais como o Conselho Nacional da Juventude e outras através de um plano anual de operações do Ministro. Para a implementação deste plano, o governo transfere 250 mil dólares para o Conselho Nacional da Juventude e 5 mil dólares para pequenas associações juvenis. O Conselho Nacional da Juventude (CNJ) foi criado pela Resolução 4/96 do Conselho de Ministros para servir como interlocutor entre as organizações juvenis e entidades públicas e privadas. Revelou-se ser difícil encontrar informação precisa sobre o emprego, desemprego e subemprego no seio da juventude em Moçambique. De modo a promover a formação e oportunidades de emprego, o Governo está a apoiar um programa da SC muito ambicioso e galvanizador designado “Férias Desenvolvendo o Distrito”. O programa, financiado por doadores, consiste na colocação de graduados em universidades em diferentes departamentos governamentais distritais com funções específicas nas suas áreas de formação. Para além de ganharem a primeira experiência no mercado de emprego os graduados ficam expostos perante melhores oportunidades para um emprego permanente.

O estudo encontrou uma indicação clara da ratificação da Carta. O estudo encontrou também ligações entre os mecanismos e práticas institucionais existentes e o espírito da Carta. Não encontrou nenhuma ligação clara da domesticação e popularização entre os instrumentos existentes e a Carta, nem ligação clara entre a implementação da Carta e o impacto no terreno; Os resultados previstos na Carta estão a ser alcançados parcialmente.

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2010

RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES

Principais Resultados

De acordo com as constatações apresentadas ao longo deste estudo, Moçambique ratificou quase todos os instrumentos jurídicos da UA. Embora nalguns casos não houvesse evidência de ratificação directa dos instrumentos, existiu outra legislação complementar e interna em linha com o tratado, convenção ou plano da UA. Por outro lado, a domesticação de convenções internacionais, especialmente de direitos humanos, revelou ser facilmente absorvida na esfera jurídica legal pelo facto de os princípios democráticos serem absorvidos na Constituição. Foi observado um avanço nas seguintes convenções: Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1990), Protocolo da UA à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos da Mulher em África (2003), Carta Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança (1990); Exortação de Abuja para Acção Acelerada em Direcção ao Acesso Universal aos Serviços de HIV/SIDA, Tuberculose, Malária e Outras Doenças Infecciosas relacionadas (2001); Convenção da União Africana sobre a Prevenção e Combate contra Corrupção (2003); Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais; Carta Africana da Juventude; Estratégia Africana de Saúde: 2007– 2015. Apesar do ambiente favorável criado pelas leis nacionais e mecanismos institucionais, o impacto dos instrumentos internacionais poderia ser aumentado por uma ratificação clara e controlável, domesticação e processo de implementação. A pesquisa revelou igualmente uma evidente falta de critérios e mecanismos claros assim como de conhecimento por parte dos Parlamentares para iniciarem e legislarem sobre leis com base nos compromissos internacionais. Por outro lado, as responsabilidades para ratificar ou domesticar instrumentos internacionais são sectoriais e difusas. A abordagem sectorial com um sistema fraco de integração e monitoria, torna todo o processo de domesticação muito frágil. A falta de uma base de dados organizada de leis aprovadas no Parlamento traz constrangimentos difíceis na popularização e monitoria do processo de implementação. Para além disso, maior parte das resoluções ratificadas e leis complementares não estavam disponíveis nas instituições que são oficialmente responsáveis pela disseminação da legislação (Imprensa Nacional), monitoria e implementação (Ministério dos Negócios Estrangeiros e outras). A ausência de um conhecimento rigoroso dos compromissos assumidos pelo governo ao nível regional e internacional por parte da maioria dos funcionários governamentais que entrevistamos é por si só um obstáculo para a implementação destas mesmas convenções. A limitação no acesso à informação das instituições do governo é ainda outro obstáculo. É preciso passar por numerosos procedimentos burocráticos para obter informação das instituições do governo e mesmo do Parlamento. Na maior parte dos casos são necessárias cartas oficiais para pedir entrevistas com informantes chave do governo e os encontros frequentemente demoram semanas para serem aceites. Em resumo o estudo identificou os seguintes constrangimentos que obstruem a integração efectiva das normas internacionais e a aplicação apropriada na jurisdição interna: 1. A domesticação não é sistemática. Não existe uma prática sistemática e consistente de

internalização de tratados internacionais para a jurisdição interna; 2. A domesticação não está claramente regulada. Não existem instrumentos claros e linhas de

orientação regulando a domesticação dos vários instrumentos regionais e internacionais pelos vários sectores governamentais particularmente os sectores chaves tais como o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Parlamento;

3. A domesticação não é devidamente popularizada. Enquanto alguns dos tratados são publicados

no Boletim da República, os mesmos não chegam aos vários actores com o mandato de acompanharem a implementação;

CAPÍTULO 8

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

4. A domesticação não é acompanhada pelo correspondente ajuste de capacidades (pessoal e outros recursos); Tratados especializados poderão requerer conhecimento especializado para melhor implementação;

5. Os Tratados não são claramente articulados na jurisdição interna. Não existe indicação clara ou

evidência da integração dos tratados internacionais na legislação nacional; Isto torna difícil o processo de monitoria e consequentemente a aplicação do tratado na total plenitude;

6. A monitoria da implementação/aplicação das normas internacionais é geralmente feita como

parte da preparação das delegações do governo que participam nos encontros regionais/internacionais.

7. Os tratados e documentos jurídicos não são preenchidos de forma adequada e

metodologicamente. Em todas as entidades chaves foi muito difícil para os funcionários localizarem qualquer documento específico de ratificação.

Principais Recomendações

1. O Governo e o Parlamento devem emitir directrizes claras tornando obrigatória e sistemática a internalização dos tratados internacionais. O que fazer, como e em que circunstâncias fazer, deveriam ser elementos importantes deste processo. Os compromissos internacionais deviam ganhar maior visibilidade no ambiente jurídico e político interno. A integração dos ODMs no quadro da política interna é um bom exemplo desta possibilidade.

2. Deviam ser publicadas linhas de orientação detalhadas para apoiar o trabalho dos vários actores

e todas as outras entidades que enfrentam a tarefa de passarem pelo processo de internalização.

3. 1

4. Os Governos e os Parlamentos deviam usar vários outros meios à sua disposição para popularizar os instrumentos adoptados. Nesta fase, ferramentas como Boletins Informativos, portais, redes de endereços electrónicos, workshops, poderiam funcionar efectivamente.

5. Para assuntos de especialidade e complexos e legislação tais como os que lidam com meio

ambiente, mudanças climáticas, devia-se providenciar formação adequada às pessoas que vão lidar directamente com o processo de domesticação, em particular os Parlamentares e instituições relevantes do governo.

6. Devem ser tomadas decisões claras logo de início sobre as modalidades da domesticação

(monista, dualista) complementando o que os tratados já indicam. As perguntas a fazer seriam: estarão por aprovar novas leis; será que o tratado será adoptado na sua forma inteira (monista) ou por componentes (dualista); que reservas deverão ser observadas.

7. O governo deve estudar a possibilidade de fazer mais exercícios de monitoria e avaliação e não

apenas ficar à espera de ocasiões em que é necessária uma actualização nos encontros internacionais.

8. Devem ser adoptados procedimentos de preenchimento apropriados para uma fácil localização e

acompanhamento de tratados. 9. Deve ser criado um quadro institucional efectivo para funcionar como um repositório de todos os

instrumentos internacionais. Tal entidade ou mecanismo poderia desenvolver um banco de dados para a gestão da informação disponível, relatório e cumprimento de monitoria e fazer coordenação com os secretariados. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ou da Justiça deveriam desempenhar um papel nisto.

10. A sociedade civil pode desempenhar uma função muito importante no impulsionamento da

agenda de eficiência no aparelho governamental. A SC pode igualmente preencher algumas das lacunas acima identificadas.

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2010

BIBLIOGRAFIA

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Política da Juventude; BR I seria número 12, 1996 Relatório Anual sobre Direitos Humanos em Moçambique (2008), LHD, Maputo, Moçambique Santos, Boaventura de Sousa; Trindade, João Carlos (2003) Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique, Edições Afrontamento, Maputo

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RELATÓRIO DO ESTADO DA UNIÃO AFRICANA MOÇAMBIQUE, RELATÓRIO

APÊNDICES

Apêndice 1: Uma Nota sobre a Metodologia Apêndice 2: Estado da ratificação das cartas, tratados, protocolos e convenções da União Africana Apêndice 3: Conceitos Usados no Estudo

Apêndice 1: Uma Nota sobre Metodologia Este relatório é o primeiro esforço nacional concertado rumo à revisão e monitoria do desempenho nacional em relação a 12 protocolos e cartas da UA cuidadosamente seleccionados. A análise sobre a qual este relatório assenta incide em 12 quadros de política seleccionados e instrumentos de direitos humanos da União Africana. Combinados, estes quadros e instrumentos oferecem uma enorme promessa para inverter décadas de injustiça, marginalização, exclusão e pobreza em África. Eles formam a base para uma carta de direitos continentais para todos os cidadãos e povos de África. Este desempenho está a ser monitorado em paralelo em nove Estados Membros nomeadamente: Camarões, Moçambique, África do Sul, Egipto, Algéria, Nigéria, Senegal, Gana e Ruanda. A selecção dos países para revisão em 2010 baseou-se em critérios que garantiram a diversidade geográfica, política, económica e linguística. Este estudo foi elaborado entre o período de Setembro de 2009 e Junho de 2010. Em Setembro, um consórcio Pan-Africano de treze organizações reuniu para acordar sobre o protocolo de pesquisa para o estudo, seleccionar os países a serem sujeitos a revisão e a gestão do projecto do Estado da União. Entre Março e Junho de 2010, em cada país, um investigador nacional fez revisão de documentos secundários oficiais e não oficiais e entrevistou intervenientes chave. Um projecto de relatório foi submetido a um workshop de validação e crítica por parte dos que participaram na pesquisa. Este relatório assenta nos comentários e sugestões correctivas feitas pelos colegas. A organização anfitriã providenciou orientação, supervisão da pesquisa e apoio institucional. Onde o relatório cita a não-ratificação, isto não implica que as leis, políticas e processos nacionais não estão em consonância com as Normas da UA em avaliação. Na verdade, em alguns casos, constatamos que as políticas e processos nacionais estavam em linha e em alguns casos antecediam as normas continentais. Em outros casos verificamos que apesar da ratificação, a prática continua abaixo das expectativas traçadas nos quadros e instrumentos. Enquanto foram feitos todos esforços para garantir a precisão das nossas constatações, um relatório desta natureza tem uma grande probabilidade de incluir omissões, erros ou diferenças nas percepções em relação àquelas dos intervenientes a quem se dirige. Se o relatório suscitar debate e partilha de nova informação, então o mesmo terá servido os seus propósitos. Para uma versão electrónica deste relatório e resumos traduzidos nas línguas oficiais da UA visite o nosso portal www.stateoftheunionafrica.net Prevê-se que o projecto do Estado da União possa anualmente captar o desempenho dos Estados Membros africanos para popularizar, implementar e garantir a realização destes compromissos nas vidas dos seus cidadãos. Uma actualização do progresso em relação às recomendações feitas no relatório será publicada ao nível nacional e continental antes da Cimeira da União Africana de Janeiro de 2011. A partir destas constatações, será possível fazer algumas generalizações amplas das constatações e recomendações para os órgãos da União Africana e Estados Membros durante as Cimeiras da UA. Espera-se que o exercício venha estimular o diálogo e discussão assim como esforços concertados e acelerados rumo à monitoria e elevação de consciência tanto no seio do Governo, da União Africana e do público em geral. Saudamos e acolhemos as vossas reflexões sobre este relatório e sobre o projecto no seu todo. Favor escreverem para to [email protected]

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Apêndice 2: Estado da ratificação das cartas, tratados, protocolos e convenções da União Africana 8

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Algéria

Angola

Benim

B

otswana

Burkina Faso

Burundi

Cam

arões C

entral Africa

Cape Verde

Chade

Cote D

'Ivoire C

omoros

Congo

Djibuti

R. D

. Congo

Egipto G

uiné Equat. Eritreia Etiópia G

abão G

âmbia

Gana

Guiné B

issau G

uiné K

enya Líbia Lesoto Libéria M

adagáscar M

ali M

alawi

Moçam

bique M

auritânia M

aurícias N

amíbia

Nigéria

Níger

Ruanda

África do Sul

Sahrawi

Senegal Seychelles Serra Leoa Som

ália São Tom

é Sudão Suazilândia Tanzânia Togo Tunísia U

ganda Zâm

bia Zim

babue Total

Acto Constitutivo da União Africana

R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R 53

Privilégios e Imunidades 1965

R N R N R R R R N N R R R N R R R N R R R R N R R R N R R R R R R N N R R R N N R N R R N R R R N R R N N 36

Protocolo de privilégios Adicional 1980

N N N N N N R N N N N N N N N N N N N R N N N N N N N R N N N R N N N N N R N N N N N N N N N N N N N N N 5

Fitossanitário 1967 N N R N N R R R N N N N N N N R N N R N N N N N N N R N N N N N N N N N R R N N N N N N N N N N R N N N N 10

Recursos Naturais 1968 R N N N R N R R N N R R R R R R N N N R N R N N R N N R R R R R N N N R R R N N R R N N N R R R R R R R N 30

Aviação Civil 1969 R R R R R R R N N R R R R N R R N R R R R R N R R R R R R R R R R R R R R R R N R N R R N R R R R R R R N 44

Problemas dos refugiados 1969

R R R R R R R R R R R R R N R R R N R R R R R R R R R R N R R R R N N R R R R N R R R N N R R R R R R R R 45

Promoção do Comércio 1974 R N N N N N N N N N N N N N N R N N R N N R N R N N N R N N N N N N N R R N N N N N N N N R N N R R N R N 12

Cooperação Técnica 1975 N N N N N N N N N N N R N N N N N N R R R N N N N N N N N R N N N N N N R N N N N N N N N N N N N N N N N 6

Mercenarismo 1977 R N R N R N R N N N N R R N R R R N R R R R N R N R R R R R N N N N N R R R N N R R N N N R N R R R N R R 30

Carta Cultural 1976 R R R N R R R N N R N N R R N R N N R R N R R R R R N N R R R N N R N R R R N N R R N R N R N R R R R R R 34

Direitos Humanos 1981 R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R 53

Instituto de Reabilitação 1985

N R N R R N R N N R N N R N N N N N R N N N N R R R R N N R R R R N R R R N N N R N N N N N R N R N R R R 24

N N N N N N N N N N N R N N N N N N N N N N N N N R N N N R N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N 3

8 John Mukui and Faith Cheriuyot contribuíram para a compilação desta tabela.

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Algéria

Angola

Benim

B

otswana

Burkina Faso

Burundi

Cam

arões C

entral Africa

Cape Verde

Chade

Cote D

'Ivoire C

omoros

Congo

Djibuti

R. D

. Congo

Egipto G

uiné Equat. Eritreia Etiópia G

abão G

âmbia

Gana

Guiné B

issau G

uiné K

enya Líbia Lesoto Libéria M

adagáscar M

ali M

alawi

Moçam

bique M

auritânia M

aurícias N

amíbia

Nigéria

Níger

Ruanda

África do Sul

Sahrawi

Senegal Seychelles Serra Leoa Som

ália São Tom

é Sudão Suazilândia Tanzânia Togo Tunísia U

ganda Zâm

bia Zim

babue Total

Desenvolvimento de fertilizantes 1985 Criança 1990 R R R R R R R N R R R R R N N R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R N R R R N N R N R R N R R R 45 Lixos Tóxicos 1991 N N R N N R R N N N R R R N R R N N R R R N N N N R N N N R N R N R N N R N N N R N N N N R N R R R R N R 23

Comunidade Económica Africana 1991

R R R R R R R R R R R R R N R R R N R R R R R R R R R R N R R R R R R R R R R R R R R N R R R R R R R R R 49

Maritímo 1994 N N N N N N N N N N N R N N N R N N R N N N N N N N R N N R N N N R N R R N N N R N N N N N N R N R R N N 12 Livre de armas nucleares 1995 R N R R R R N N N N R N N N N N R N R R R N N R R R R N R R R R R R N R N R R N R N N N N N R R R N N N R 28

Direitos do tribunal Africano 1998

R N N N R R N N N N R R N N N N N N N R R R N N R R R N N R R R R R N R R R R N R N N N N N N R R R R N N 25

Terrorismo 1999 R R R N R R N N R R N R R R N R R R R R N R R R R R R N R R R R R R N R R R R R R R N N N R N R R R R N N 39

Parlamento Pan-Africano 2001

R R R R R R R R R R N R R R N R R N R R R R R N R R R R R R R R R R R R R R R R R R R N N R R R R R R R R 47

Comissão de energia 2001 R R N N R R R N N N N R N N N R N N R N R R N R R R N N N R N R N N R R R R N R R N N N N R N R R R N R R 27

Conselho da Paz e Segurança 2002

R R R R R R R N N R R R R R N R R N R R R R N N R R R N R R R R R R R R R R R R R N R N R R R R R R R R R 44

Recursos Naturais 2003 N N N N N R N N N N N R N N N N N N N N N R N N N R R N N R N N N N N N R R N N N N N N N N N N N N N N N 8

Direitos da Mulher 2003 N R R N R N N N R N N R N R R N N N N N R R R N N R R R N R R R R N R R N R R N R R N N N N N R R N N R R 27

Tribunal de Justiça 2003 R N N N N N N N N N N R N N N R N N N R R N N N N R R N N R N R N R N N R R R N N N N N N R N R N R N N N 16

Emendas à Acta Constitutiva 2003

N N R N R R N R N R N R N N N R R N N R R R N N R R R R N R N R R N N N R R R R R N N N N N N R R N N N N 25

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Algéria

Angola

Benim

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Burkina Faso

Burundi

Cam

arões C

entral Africa

Cape Verde

Chade

Cote D

'Ivoire C

omoros

Congo

Djibuti

R. D

. Congo

Egipto G

uiné Equat. Eritreia Etiópia G

abão G

âmbia

Gana

Guiné B

issau G

uiné K

enya Líbia Lesoto Libéria M

adagáscar M

ali M

alawi

Moçam

bique M

auritânia M

aurícias N

amíbia

Nigéria

Níger

Ruanda

África do Sul

Sahrawi

Senegal Seychelles Serra Leoa Som

ália São Tom

é Sudão Suazilândia Tanzânia Togo Tunísia U

ganda Zâm

bia Zim

babue Total

Combate à Corrupção 2003

R N R N R R N N N N N R R N N N N N R R R R N N R R R R R R R R N N R R R R R N R R R N N N N R N N R R R 30

Não agressão 2005 R N N N N N N N N R N N R N N N N N N R R R N N N R N N N R N R R N N N R N N R R N N N N N N N R N N N N 14

Carta sobre Juventude 2006

N N N N R N N N N N N N N R N N N N N R R N R N N R N N N R N R N R R R R R R N N N N N N N N N R N R N N 16

Carta sobre Democracia 2007

N N N N N N N N N N N N N N N N N N R N N N N N N N N N N N N N R N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N 2

Renascença Cultural 2006 N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N 0

Tribunal de Justiça Africano 2008

N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N R N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N 1

Estatísticas 2009 N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N 0

Total 20 13 18 10 21 19 17 9 8 13 12 23 17 9 10 20 12 5 22 23 21 21 10 14 18 26 20 15 13 28 17 23 17 15 12 22 27 24 16 9 23 12 10 5 4 17 11 22 23 18 18 16 15 Código: N = Não Ratificado Y = Ratificado Uma rápida análise da implementação das normas das políticas da União Africana não distingue esta situação do registo da ratificação dos tratados. Muitas destas normas estão contidas nas decisões e declarações do Conselho Executivo e da Assembleia. Em 2007, o Alto Painel para auditar a União Africana, calculou que o Conselho Executivo e a Assembleia haviam feito 393 e 172 decisões e 2 e 31 declarações respectivamente entre 2002 e 2007. Apesar das decisões tomadas pelo Conselho Executivo serem usualmente referidas a Assembleia, continua a ser um número muito grande de decisões tomadas em período curto de tempo. Em 2006, uma avaliação feita às decisões que requeriam acção por parte da Comissão, revelou que apenas metade haviam sido implementadas.

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Apêndice 3: Conceitos Usados no Estudo Tratados O termo “tratado” pode ser usado como termo genérico comum ou como um termo particular que indica um instrumento com certas características. Tratado como termo genérico: o termo “tratado” tem sido usado regularmente como um termo que engloba todos os instrumentos vinculados no direito internacional concluídos entre entidades internacionais, independentemente da sua designação formal. Tanto a Convenção de Viena de 1969 como a Convenção de Viena de 1989 confirmam este uso genérico do termo “tratado”. A Convenção de Viena de 1969 define um tratado como sendo “um acordo internacional assinado entre Estados em forma escrita e gerido pelo direito internacional, quer inserido num único instrumento ou em dois ou mais instrumentos relacionados e seja qual for sua particular designação”. A Convenção de Viena de 1986 alarga a definição dos tratados para incluir acordos internacionais envolvendo organizações internacionais como partes. De modo a falar do “tratado” no sentido genérico, um instrumento de responder a vários critérios. Em primeiro lugar, ele deve ser um instrumento vinculativo, o que significa que as partes contratantes pretendem criar direitos legais e deveres. Em segundo, o instrumento deve ser aderido por estados ou organizações internacionais com poder de concepção de tratados. Em terceiro lugar, ele deve ser regido pelo direito internacional. Finalmente, o envolvimento deve ser feito por escrito. Mesmo antes da Convenção de Viena de 1969 sobre o Direito dos Tratados, a palavra “tratado” no seu sentido genérico era geralmente reservado para envolvimentos concluídos de forma escrita. Tratado como termo específico: Não existem regras consistentes quando a prática do estado emprega o termo “tratado” como um título para um instrumento internacional. Normalmente, o termo “tratado é reservado a assuntos de alguma gravidade que exigem acordos mais solenes. A sua assinatura “e normalmente selada e requerem geralmente uma ratificação. Exemplos típicos de instrumentos internacionais designados como “tratados” são os Tratados de Paz, Tratados Fronteiriços, Tratados de Delimitação, Tratados de Extradição e Tratados de Amizade, Comércio e Cooperação. O uso do termo “tratado” para instrumentos internacionais reduziu consideravelmente nas últimas décadas a favor de uso de outros termos. Acordos O termo “acordo” pode ter um significado genérico e outro específico. Também adquiriu um significado especial na lei da integração económica regional. Acordo como termo genérico: a Convenção de Viena de 1969 sobre a Lei dos Tratados emprega o termo “acordos internacionais” com certas características. Por outro lado, ela emprega o termo “acordos internacionais” para instrumentos, que não correspondem à definição do “tratado”. O seu artigo 3 refere-se também aos “acordos internacionais não em forma escrita”. Embora tais acordos verbais possam ser raros, eles podem ter a mesma força de lei como os tratados, dependendo da intenção das partes. Um exemplo de um acordo verbal pode ser a promessa feita pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de um Estado a uma contraparte de um outro estado. O termo “acordo internacional” num sentido genérico engloba consequentemente o mais vasto conjunto de instrumentos internacionais. Acordo como um termo particular: Os “acordos” são normalmente menos formais e lidam com um conjunto estreito de assuntos do que os “tratados” . Existe uma tendência geral para aplicar o termo “acordo” em tratados bilaterais ou multilaterais restritos. È empregue especialmente para instrumentos de carácter técnico ou administrativo, assinados por representantes de departamentos governamentais, mas não são sujeitos a ratificação. Os acordos típicos lidam com assuntos de cooperação económica, cultural, científica e técnica. Os acordos também frequentemente tratam de assuntos financeiros, tais como evitar a dupla tributação, garantias do investimento ou assistência financeira. A ONU e outras organizações internacionais concluem regularmente com o país anfitrião para uma conferência internacional ou para uma sessão de um órgão representativo da organização. Especialmente no direito económico internacional, o termo “acordo” é também usado como um título para acordos multilaterais amplos (exemplo: os acordos de bens). O uso do termo “acordo”

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desenvolveu lentamente nas primeiras décadas deste século. Presentemente, de longe a maioria dos instrumentos internacionais são designados “acordos”. Acordos nos arranjos de integração regional: os arranjos de integração regional baseiam-se em quadros de tratados gerais com carácter constitucional. Os instrumentos internacionais que emendam este quadro numa fase posterior (exemplo: adesões, revisões) são também designados como “tratados”. Os instrumentos concluídos dentro do quadro do tratado constitucional ou por órgãos da organização regional são geralmente referidos como “tratados”. Os instrumentos que são concluídos dentro do quadro do tratado constitucional ou pelos órgãos da organização regional são normalmente chamados “acordos”. De igual modo, a Associação para a Integração da América Latina (AIAL) foi criada pelo Tratado de Montevideo de 1980, mas os instrumentos sub-regionais assinados sob seu quadro são chamados acordos. Convenções O termo “convenção” outra vez pode ter significado genérico e específico. Convenção como termo genérico: O Artigo 38 (1) (a) do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça refere-se a “convenções internacionais, quer genéricas como específicas” como fonte de lei, para além das normas costumeiras internacionais e princípios gerais do direito internacional e – como fonte secundária – decisões judiciais e os ensinamentos dos publicitários altamente qualificados. O uso genérico do termo “convenção” engloba todos os acordos internacionais, da mesma forma como faz o termo genérico “tratado”. A lei da carta negra é também referida como “lei convencional” , por forma a distingui-la de outras fontes do direito internacional, como o direito costumeiro ou os princípios gerais do direito internacional. O termo genérico “convenção” é, deste modo, sinónimo do termo genérico “tratado”. Convenção como termo específico: Enquanto no último século o termo “convenção” era empregue regularmente para acordos bilaterais, o mesmo é agora usado geralmente para tratados multilaterais formais com um amplo número de partes. As convenções são normalmente abertas para a participação da comunidade internacional no seu todo, ou de um maior número de estados. Normalmente os instrumentos negociados ao abrigo de uma organização internacional são designados de convenções (exemplo: Convenção sobre Diversidade Biológica de 1992, Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar de 1982, Convenção de Viena sobre a Lei dos Tratados fr 1969). O mesmo se aplica aos instrumentos adoptados por um órgão de uma organização internacional (exemplo: a Convenção da OIT de 1951 concernente a Igual Remuneração para Homens e Mulheres Trabalhadores por Trabalho de Igual Valor, adoptada pela Conferência Internacional do Trabalho ou a Convenção de 1989 sobre Direitos da Criança, adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas). Cartas O termo “carta” é usado para instrumentos particularmente formais e solenes, tais como o tratado constituinte de uma organização internacional. O termo em si insere um conteúdo emotivo que data da Magna Carta de 1215. Exemplos conhecidos recentes são a Carta das Nações Unidas de 1945 e a Carta da Organização dos Estados Americanos de 1952. Protocolos O Termo “protocolo” é usado para acordos menos formais do que aqueles designados de “tratado” ou “convenção”. O termo pode ser usado para cobrir os seguintes tipos de instrumentos: Um Protocolo de Assinatura é um instrumento subsidiário ao tratado, e elaborado pelas mesmas partes. Tal protocolo trata de assuntos auxiliares tais como a interpretação de determinadas cláusulas do tratado, aquelas cláusulas formais não inseridas no tratado, ou a regulação de assuntos técnicos. A ratificação do tratado vai normalmente ipso facto envolver a ratificação desse protocolo. Um Protocolo Opcional a um Tratado é um instrumento que estabelece direitos e obrigações adicionais a um tratado. É normalmente adoptado no mesmo dia, mas é de carácter independente e está sujeito a uma ratificação independente. Tais protocolos permitem que certas partes do tratado

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estabeleçam entre si um quadro de obrigações que alcançam muito mais do que o tratado geral e ao qual nem todas as partes do tratado geral consentem, criando um “sistema de dois níveis”. O Protocolo Opcional ao Convénio Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966 é um exemplo bem conhecido. Um protocolo baseado num Tratado Quadro é um instrumento com obrigações substanciais específicas que implementa os objectivos gerais de um quadro prévio ou de uma convenção umbrella. Tais protocolos garantem um processo mais simplificado e acelerado de elaboração de tratados e têm sido usados particularmente no campo do direito internacional ambiental. Um exemplo é o Protocolo de Montreal de 1987 sobre Substâncias que Esvaziam a Camada do Ozono adoptado na base dos Artigos 2 e 8 da Convenção de Viena de 1985 para a Protecção da Camada do Ozono. Um Protocolo para emenda é um instrumento que contém cláusulas que emendam um ou vários tratados anteriores, a exemplo do Protocolo de 1946 que emenda os Acordos, Convenções e Protocolos sobre Drogas Narcóticas. Um Protocolo como um tratado suplementar é um instrumento que contém cláusulas suplementares a um tratado anterior, por exemplo o Protocolo de 1967 relacionado com a Condição dos Refugiados à Convenção de 1951 relativa à Convenção dos Refugiados. Um Processo Verbal é um instrumento que contém um registo de certos entendimentos alcançados pelas partes contratantes. Declarações O termo “declaração” é usado para vários instrumentos internacionais. Contudo, as declarações não são sempre juridicamente vinculativas. O termo é frequente e deliberadamente escolhido para indicar que as partes não tencionam criar obrigações vinculativas mas simplesmente querem declarar certas aspirações. Um exemplo é a Declaração de Rio de 1992. As declarações podem contudo serem também tratados no sentido genérico com vista a serem vinculativos no direito internacional. É daí necessário estabelecer em cada caso individual se as partes tencionam criar obrigações vinculativas. Certificar-se das intenções das partes pode ser muitas vezes uma tarefa difícil. Alguns instrumentos designados ”declarações” não tinham originalmente a intenção de serem vinculativos, mas as suas cláusulas podem ter reflectido certo direito costumeiro internacional ou podem ter obtido um carácter vinculativo como direito costumeiro numa fase posterior. Tal foi o caso da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. As declarações que tem em vista serem vinculativos podem ser classificados como seguem: A declaração pode ser um tratado no sentido próprio. Um exemplo significativo é a Declaração de 1984 entre o Reino Unido e China sobre a Questão de Hong Kong. Uma declaração interpretativa é um instrumento que é anexado ao tratado com o objectivo de interpretar ou explicar as cláusulas deste último. Uma declaração pode também ser um acordo informal relativo a um assunto de menor importância. Um conjunto de declarações unilaterais pode constituir acordos vinculativos. Um exemplo típico são as declarações ao abrigo da Cláusula Opcional do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça que cria as ligações jurídicas entre os declarantes, embora não directamente direccionadas umas às outras. Um outro exemplo é a Declaração unilateral sobre o Canal de Suez e os mecanismos do seu funcionamento emitida por Egipto em 1957 que foi considerado como sendo um compromisso de natureza internacional. Memorando de entendimento Um memorando de entendimento é um instrumento internacional de natureza menos formal. Normalmente define mecanismos operacionais sob um acordo quadro internacional. É também usado para a regulação de assuntos técnicos ou detalhados. O mesmo aparece tipicamente na forma de um só instrumento e não exige ratificação. Os memorandos de entendimento são assentidos por Estados ou Organizações Internacionais. As Nações Unidas normalmente concluem memorandos de entendimento com Estados Membros para organizar as suas operações de manutenção de paz ou para organizar Conferências da ONU. As Nações Unidas também concluem memorandos de entendimento sobre cooperação com outras organizações internacionais.

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Modus Vivendi O modus vivendi é um instrumento que regula um acordo internacional de natureza provisória e que pretende ser substituído por um mecanismo de natureza mais permanente e detalhado. Ele é normalmente feito de uma forma informal, e nunca requer ratificação. Troca de Notas Uma “troca de nota” é um registo de um acordo de rotina, que possui similaridades com o contrato do direito privado. O acordo consiste de troca de dois documentos com cada uma das partes a reter uma cópia assinada pelo representante da outra parte. Ao abrigo do procedimento normal, o Estado aceitante repete o texto do Estado ofertante para registar a sua aceitação. Os signatários das cartas podem ser Ministros do governo, diplomatas ou chefes de departamentos. A técnica de troca de notas frequentemente recorre-se a ela ou devido ao seu procedimento acelerado, ou, às vezes, para evitar o processo de aprovação legislativa.

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Citação 1: “De forma complementar ao MARP, este exercício irá fornecer ao governo e ao cidadão, informação adicional em áreas específicas de governação que necessitam de melhorias, sendo uma delas a implementação dos cometimentos acordados” workshop de validação dos resultados Citação 2: “A maladia do continente e dos vários governos africanos não é a falta de leis e instrumentos reguladores claros, mas a fraca ou falta de implementação destas” Participante do workshop de validação dos resultados

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