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Ciência da Computação História da Ciência Metodologia do Trabalho Acadêmico Exercícios de Reflexão (1) 1.Introdução Baseado nos materiais sobre a história da ciência e história das universidades é proposto um conjunto de exercícios sobre os quais refletiremos e discutiremos se o que foi feito na ciência até os dias de hoje foi um ato de criação ou de descoberta. Para isso, começamos com uma reflexão sobre criação ou descoberta com o texto do físico e escritor Marcelo Gleiser. Ao final exercitaremos o nosso entendimento com reproduções de pinturas, fotografias e ilustrações, e representações matemáticas de fenômenos da natureza. Também para auxiliar na discussão, são apresentados textos com explicações sobre as figuras e teorias. 2. Criação ou descoberta? Autor: MARCELO GLEISER 1 Publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 14/09/2003, Caderno Mais! Fala-se muito no grande abismo entre ciência e arte, a primeira lógica, objetiva, enquanto a segunda é intuitiva, subjetiva. O poeta inglês John Keats acusou seu conterrâneo Isaac Newton de ter "desfiado o arco-íris" com suas explicações físicas sobre a difração da luz. Ou seja, explicar racionalmente algo de belo que existe no mundo é insultar a sua existência, tirar a sua poesia. É o velho problema das "Duas Culturas", que o escritor e físico inglês C.P. Snow, em um pronunciamento de 1959, acusou de estar levando à desintegração sociocultural, à fossilização da criatividade moderna. Segundo ele, apenas a reintegração das duas culturas levará a humanidade a novas respostas para alguns de seus maiores desafios. 1 Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro “O Fim da Terra e do Céu”. JLCJ / MTA / CC 2º e 3º semestres, 2008. 1/7

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Ciência da Computação

História da Ciência

Metodologia do Trabalho Acadêmico

Exercícios de Reflexão (1)

1. Introdução

Baseado nos materiais sobre a história da ciência e história das universidades é proposto um conjunto de exercícios sobre os quais refletiremos e discutiremos se o que foi feito na ciência até os dias de hoje foi um ato de criação ou de descoberta.

Para isso, começamos com uma reflexão sobre criação ou descoberta com o texto do físico e escritor Marcelo Gleiser. Ao final exercitaremos o nosso entendimento com reproduções de pinturas, fotografias e ilustrações, e representações matemáticas de fenômenos da natureza.

Também para auxiliar na discussão, são apresentados textos com explicações sobre as figuras e teorias.

2. Criação ou descoberta?

Autor: MARCELO GLEISER1

Publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 14/09/2003, Caderno Mais!

Fala-se muito no grande abismo entre ciência e arte, a primeira lógica, objetiva, enquanto a segunda é intuitiva, subjetiva. O poeta inglês John Keats acusou seu conterrâneo Isaac Newton de ter "desfiado o arco-íris" com suas explicações físicas sobre a difração da luz. Ou seja, explicar racionalmente algo de belo que existe no mundo é insultar a sua existência, tirar a sua poesia.

É o velho problema das "Duas Culturas", que o escritor e físico inglês C.P. Snow, em um pronunciamento de 1959, acusou de estar levando à desintegração sociocultural, à fossilização da criatividade moderna. Segundo ele, apenas a reintegração das duas culturas levará a humanidade a novas respostas para alguns de seus maiores desafios.

Um leitor desta coluna me escreveu recentemente pedindo que eu esclarecesse a distinção entre descoberta e criação. Mais especificamente, a diferença entre as duas dentro da ciência.

Nós criamos ou descobrimos a ciência? Será que as nossas teorias e os nossos teoremas estão codificados de algum modo na natureza e tudo o que faz um cientista é "descobri-los", levantar a coberta que os esconde, revelando seu significado? Ou será que os criamos, usando nossa intuição, observação e lógica?

Complicada, essa pergunta. E profundamente ligada à questão das duas culturas. Se fosse prudente, parava por aqui, citando a minha sábia avó, que dizia que "criar é coisa de Deus, descobrir é coisa de gente". Mas por que não tentar inverter isso, fazer do

1  Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro “O Fim da Terra e do Céu”.

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homem criador e não só criatura? Afinal, descobrir é emocionante, mas bem mais passivo do que criar.

Comecemos pelo "Aurélio". "Criar" significa dar existência a; dar origem a; formar; imaginar. "Descobrir" significa tirar cobertura que ocultava, deixando à vista; encontrar pela primeira vez; revelar etc. À primeira vista, a distinção entre as duas culturas está nessas definições.

O artista é o criador, ele ou ela dá existência a algo que não existia, enquanto o cientista é o descobridor, aquele que revela o significado oculto das coisas, sem criá-las. Beethoven criou a sua Nona Sinfonia, certo? Ela não existia antes de ele existir. Já Newton descobriu as três leis do movimento - elas estavam lá, escondidas na natureza, esperando para serem reveladas pela mente certa.

Muita gente pode se contentar com essa explicação e dar o caso por encerrado. Mas eu não. Para mim, a ciência é uma criação, tão criação quanto uma obra de arte. O fato de arte e ciência obedecerem a critérios de validade diferentes, de a ciência ter uma aceitação baseada no método científico, que provê meios para que teorias sejam testadas frente a observações, não muda a minha opinião. Ciência é criação do homem, fruto de nossos cérebros e de nosso modo de ver o mundo. Para entender isso, basta examinarmos um exemplo de sua história.

Aristóteles dizia que a gravidade vinha da tendência dos corpos de voltarem ao seu lugar de origem: uma pedra caía no chão porque foi de lá que ela tinha vindo. Newton, no século 17, propôs que a gravidade era uma força entre quaisquer corpos materiais, com intensidade proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância. Einstein, em 1916, disse que a gravidade vem da curvatura do espaço em torno de um corpo maciço, reduzindo-a a um efeito geométrico.

Todas essas teorias foram propostas para explicar os mesmos fenômenos. Imagino que Einstein não terá a última palavra: a gravidade será explicada de formas diferentes, na medida em que o conhecimento científico avançar. Junto com novas tecnologias e novos conceitos surgem novas representações do mundo natural. Pode-se descobrir um novo fenômeno, mas sua explicação é criada.

Pensemos agora em uma outra história, a da representação gráfica da crucificação de Cristo. No século 13 era uma coisa, na Renascença, outra, no século 18, ainda outra, e no 21, outra completamente diferente. O evento é o mesmo, mas a sua representação gráfica muda, porque muda a perspectiva artística. É perfeitamente razoável para um artista recriar a crucificação como um amálgama do seu subjetivismo e dos valores culturais da época em que vive. A visão artística está sempre em transformação.

A científica também está. Ciência é uma construção humana, criada para que possamos compreender o mundo em que vivemos. O que se descobre é novos modos de criar.

3. Exercício

Os seguintes exercícios os alunos, reunidos em grupos de até 4 participantes, deverão refletir sobre o que está sendo apresentado e explicar o entendimento sobre a obra: se é criação ou descoberta. Parte do material foi coletada em http://pt.wikipedia.org .

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3.1. Sobre o quadro de “Escola de Atenas” do pintor Raphael

Rafael, em italiano Raffaello(Urbino, 6 de abril de 1483 — Roma, 6 de abril de 1520) foi um mestre da pintura e da arquitetura da escola de Florença durante o Renascimento italiano, celebrado pela perfeição e suavidade de suas obras. Também é conhecido por Raffaello Sanzio, Raffaello Santi, Raffaello de Urbino ou Rafael Sanzio de Urbino. Veja na ilustração ao lado o auto-retrato do artisita.

Por sua biografia, Rafael foi notável. Ele era filho de um poeta (escreveu uma Crônica famosa em rima) e também um pintor para a corte de Mântua. Quando do nascimento de Rafael, ele dirigia um famoso estúdio em Urbino. Giovanni ensinou seu filho a pintar e o introduziu à corte humanista de Urbino, que, ao final do século XV, havia se tornado um dos mais ativos centros culturais da Itália, sob a regência de Federico de Montefeltro, falecido sete meses antes do nascimento de Rafael. Lá, Rafael pode conhecer os trabalhos de Paolo Uccello, Luca Signorelli, e Melozzo de Forlì. Precoce, aos dezessete anos (em 1500) Rafael já era considerado um mestre.

De acordo com Giorgio Vasari, Rafael foi levado pelo pai aos onze anos para ser aprendiz de Pietro Perugino, em Perúsia, mas esta informação é discutida por algumas autoridades no assunto. É de consenso geral que Rafael estava na Úmbria a partir de 1492, ano de falecimento de seu pai.

As figuras abaixo mostram duas reproduções de pinturas de Rafael.

As Três Graças Retrato de Maddalena Doni

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Para este exercício vamos analisar a pintura denominada “A Escola de Atenas”.

A Escola de Atenas é um afresco de Rafael Sanzio, com cerca de 7,7m na base, pintado entre 1509 e 1510 na Stanza della Segnatura sob encomenda do Vaticano. Na tela aparecem ao centro Platão e Aristóteles. Platão segura o Timeu e aponta para o alto, sendo assim identificado com o ideal, o mundo inteligível. Aristóteles segura a Ética e tem a mão na horizontal, representando o terreste, o mundo sensível. O próprio autor aparece no canto inferior direito, olhando diretamente para fora em direção a quem admira o quadro, como se estivesse observando sua reação. Também estão retratados vários filósofos e figuras expoentes da Grécia antiga. A figura na próxima página mostra o quadro “A Escola de Atenas”.

No fundo da pintura, estão desenhadas duas imponentes estátuas de Apolo e Atenas estão ladeando a pintura. São os deuses da mitologia grega patronos das artes. Observem a beleza do quadro e também a perspectiva do quadro, dando noção da grandiosidade do salão (e evidentemente da obra).

Pergunta: O quadro acima, “A Escola de Atenas”, pintado por Raphael, é uma criação ou uma descoberta? Justifique.

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Vários filósofos e figuras expoentes da Grécia antiga são identificados na Escola de Atenas. A figura abaixo mostra identifica os personagens retratados. São eles: (1) Zeno de Citium ou Zeno de Elea – (2) Epicurus – (3) Frederik II de Mantua – (4) Anicius Manlius Severinus Boethius ou Anaximander ou Empedocles – (5) Averroes – (6) Pythagoras – (7) Alcibiades ou Alexander, o Grande – (8) Antisthenes ou Xenophon – (9) Hypatia ou o jovem Francesco Maria della Rovere – (10) Aeschines ou Xenophon – (11) Parmenides – (12) Socrates – (13) Heraclitus (pintado como Michelangelo) – (14) Platão segurando Timaeus (pintado como Leonardo da Vinci) – (15) Aristoteles segurando a Ética – (16) Diogenes de Sinope – (17) Plotinus – (18) Euclides ou Archimedes com estudantes (pintado como Bramante) – (19) Strabo ou Zoroaster – (20) Ptolomeu – (R) Raphael como Apelles – (21) Il Sodoma como Protogenes.

4. Exercício Extra

É sugerido o seguinte exercício extra-classe. Tem a finalidade de complementar os estudos e contribuir para os alunos ganharem cultura. Vamos lá. Mas não precisa entregar.

Estude a biografia de cada filósofo ou personagem apresentado na figura e a contribuição deles para a humanidade. Estude a biografia do pintor Michelangelo, retratado no quadro, e qual a contribuição dele para a humanidade.

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