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MTFCMinistério da Transparência, Fiscalização e ControleOGU – Ouvidoria-Geral da UniãoCoordenação-Geral de Recursos de Acesso à Informação
PARECER
Referência: 25820.002668/2016-34, 25820.002669/2016-89, 25820.002670/2016-11,
25820.002671/2016-58, 25820.002672/2016-01, 25820.002673/2016-47,
25820.002674/2016-91, 25820.002675/2016-36, 25820.002676/2016-81,
25820.002677/2016-25, 25820.002678/2016-70, 25820.002679/2016-14 e
25820.002680/2016-49.
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição de
acesso:Há informação sujeita à restrição de acesso no recurso à CGU.
Resumo: Objeto do recurso: Cidadã requer cópia integral de 13 processos
administrativos, que tratam de pedido de registro de medicamento
genérico pela EMS perante à ANVISA.
Opinião técnica: Opina-se pelo desprovimento do recurso, uma vez
que a negativa de acesso está amparada no art. 5º, §2º do Decreto nº
7.724/2012, combinado ao fato do pedido enquadra-se no previsto nos
incisos II e III do art. 13 do Decreto nº 7.724/2012, por conter
características de desproporcionalidade e demandar trabalho adicional
à recorrida.
Órgão ou
entidade
recorrido (a):
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
Recorrente: J. B. N.
Palavras-chave Processo Administrativo. Negativa sem fundamentação legal.
Informação sigilosa. Desproporcional. Acata-se a argumentação do
recorrido. Recurso conhecido e desprovido. Recomendação.
Senhor Ouvidor-Geral da União,
1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação com base na Lei nº
12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:
RELATÓRIOATO DATA TEOR
Pedido 15/06/2016
A cidadã registrou 13 pedidos de acesso à informação, todos com o
mesmo conteúdo, no intuito de requerer:
(i) Cópia integral de processos administrativos (são
processos que tratam de pedido de registro de
medicamento genérico pela EMS perante à ANVISA);
(ii) Informações sobre o produto (princípio ativo, composição,
dosagem, forma farmacêutica, via de administração,
indicação terapêutica, testes realizados, resultados dos
testes, nome do medicamento referência, e que
laboratório possui seu registro)
(iii) Demais documentos e informações relevantes;
A requerente invoca como fundamentos jurídicos de seu pedido, os
seguintes argumentos:
que as informações solicitadas têm a publicidade como preceito geral
e o sigilo como exceção, conforme o art. 3º, inc. I da Lei nº
12.527/2011.
Caso confidenciais, direito de acesso ao conteúdo da parte não
sigilosa, conforme art. 7º, §2º da mesma lei.
Os processos solicitados foram:
Resposta
Inicial
20/06/2016
e
21/06/2016
Na resposta inicial a ANVISA nega acesso com base nas
seguintes alegações:
• não se tratar de interessada direta (legitimamente constituída) no
processo de registro , conforme estabelecido no art. 10 da
MTFC SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy RibeiroBrasília/DF - CEP 70070-905
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Portaria nº 963/Anvisa, de 4 de junho de 2013.
• Documento preparatório: os processos ainda aguardam avaliação
técnica, conforme estabelecido no art. 3º, XII, c/c o art. 20, do
decreto n. º 7.724/2012.
• Informações sigilosas: os processos de registro de medicamentos
contêm informações sigilosas relativas à atividade empresarial,
cuja divulgação pode representar vantagem competitiva a outros
agentes econômicos, de acordo com o disposto no art. 5º, § 2º, do
Decreto nº7.724/2012.
• Desproporcionalidade/trabalhos adicionais: devido ao tamanho dos
processos (que variam de 09 volumes a 31 volumes, sendo que
cada volume possui 200 folhas) o órgão alega que o fornecimento
das cópias dos processos demandaria o tarjamento das
informações abrangidas pela Lei de Propriedade Industrial,
página a página, de forma manual.
“Para que seja disponibilizada uma quantidade de cópias dessa
natureza, realizar-se-ia uma pesquisa e análise de dados sem
precedentes. Ou seja, estaríamos frente a um trabalho hercúleo,
desproporcional e desarrazoado, cujo não atendimento é
amparado pelo art. 13, incisos II e III do Decreto nº 7.724/2012”.
Recurso
à
Autoridad
e
Superior
30/06/2016
Inconformada, a interessada apresentou recurso de primeira
instância, sustentando a aplicabilidade da LAI ao caso, com
base nos mesmos argumentos apresentados inicialmente:
• que questões relativas à saúde são, incontestavelmente,
de interesse público e a elas se aplicam a regra de
publicidade como preceito geral e sigilo como exceção,
conforme o art. 3º, inc. I da Lei nº 12.527/2011.
• ainda que fossem confidenciais, o direito de acesso ao
conteúdo da parte não sigilosa é resguardado pelo art. 7º,
§2º da mesma lei, o qual estabelece que as partes
confidenciais devem ser tarjadas no documento fornecido.
• a justificativa do órgão de que o cumprimento da solicitação
exigiria pesquisa e análise de dados sem precedentes,
trabalho hercúleo, desproporcional e desarrazoado não
pode ser alegada por uma entidade cujo dever é informarResposta 08/08/2016 A ANVISA mantém a negativa de acesso com base na
MTFC SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy RibeiroBrasília/DF - CEP 70070-905
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do
Recurso
à
Autoridad
e
Superior
alegação de documento preparatório à tomada de decisão
art. 20 do Decreto nº 7.724/2012, e esclarece que o acesso
ao seu conteúdo somente será assegurado a partir da edição
do ato ou decisão a que ele se refere, ressalvados os
documentos sobre os quais incidir sigilo, conforme termos da
Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
Recurso
à
Autoridad
e Máxima
16/08/2016
e
18/01/2016
A cidade interpõe recurso de segunda instância com os
mesmos argumentos apresentados anteriormente e
acrescenta:
• não ficou claro por quais motivos a informação é considerada
sigilosa. Tampouco explicou-se de que modo a disponibilização
poderia representar vantagem competitiva ou gerar prejuízos para
os demais agentes econômicos, em flagrante violação às
garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório.
• o genérico em questão é um medicamento-cópia e, na remota
hipótese de haver algum direito ao sigilo, este pertence tão
somente ao detentor do medicamento referência, tendo em vista
que somente este é um produto inovador.
• a classificação indistinta de sigilo para toda e qualquer informação
presente nas cópias do processo administrativo de aprovação do
registro sanitário e, até mesmo, para o simples nome e endereço
de um laboratório, não leva em consideração o interesse público
da informação e o critério menos restritivo possível exigido pelo
art. 24, §5º da Lei 12.527/2011.Resposta
do
Recurso
à
Autoridad
e Máxima
21/09/2016 A ANVISA mantém a negativa de acesso e apresenta as
seguintes justificativas:
• DOCUMENTO PREPARATÓRIO:
“o processo citado encontra-se em análise técnica, precisamente
em exigência, aguardando o protocolo de esclarecimentos
adicionais por parte da empresa. Assim, esclarece a GRMED que o
protocolo de um pedido de registro sanitário contém apenas
informações de ordem técnica, sendo a totalidade destas
informações utilizadas para a fundamentação do Parecer Técnico,
portanto, toda a documentação protocolada constitui documentação
preparatória para a tomada de decisão”
• INFORMAÇÕES SIGILOSAS:
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“Ademais, a antecipação de informações constantes em um
processo de registro de medicamento pode representar
vantagem competitiva a possíveis concorrentes, na medida
em que, por exemplo, a composição qualitativa, que é tida
como não sigilosa após a decisão final, por constar inclusive
na bula do medicamento com registro sanitário deferido, se
dada a conhecer a terceiros na fase preparatória, fará com
que estes tenham acesso à formulação qualitativa do produto
muito antes do que teriam por meio de acesso à bula. Esta
ação representaria uma vantagem competitiva, pois a
elucidação da formulação qualitativa é o primeiro passo
durante o desenvolvimento de medicamentos genéricos ou
similares”.
• DESPROPORCIONALIDADE/TRABALHOS ADICIONAIS:
O órgão informa a quantidade de volumes/folhas de cada
processo (que variam de 09 volumes a 31 volumes, sendo
que cada volume possui 200 folhas) e esclarece que com
exceção da bula, da rotulagem e da embalagem, informações
integrantes do processo que já são públicas por decisão final,
o restante do processo contém dados do processo
tecnológico inventado pela empresa e que por consequência
representa segredo industrial protegido pela Lei º 9.279/96
(Lei de Propriedade Industrial) e recepcionado pela Lei nº
12.527/11 e pelo Decreto nº 7.724/12.
Além disso, informa que atualmente, a GRMED conta com apenas
27 especialistas para a análise da tecnologia farmacêutica das
solicitações de registro de medicamentos similares, genéricos,
novos e inovadores, e há 1144 petições aguardando análise na fila,
sendo: 1036 de registro de medicamentos genéricos e similares; 8
de registro de medicamentos novos; 78 de registro de inovadores e
22 petições de pós-registro (extensão de linha).
Adicionalmente, presta esclarecimentos sobre o tempo de análise
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dos processos: “Considerando os processos de registro de
medicamentos cuja publicação da análise ocorreu no ano de 2015,
os tempos médios entre o protocolo da petição e a publicação do
resultado foram:
a) petições de registro de medicamentos genéricos e similares (NÃO
PRIORIZADAS) = 1185 dias (976 dias na fila + 116 dias tempo de
análise ANVISA + 94 dias tempo de resposta da Empresa);
b) petições de registro de medicamentos genéricos e similares (PRI-
ORIZADAS) = 561 dias (338 dias na fila + 98 dias tempo de análi-
se ANVISA + 125 dias tempo de resposta da Empresa);
c) petições de registro de medicamentos novos = 454 dias (201 dias
na fila + 139 dias tempo de análise ANVISA + 115 dias tempo de
resposta da Empresa);
Um fator relevante para o tempo elevado para o início da
análise (tempo na fila) é o quadro insuficiente de servidores
da área de registro para redução efetiva da fila, conforme
números apresentados anteriormente.
Após o início da análise da petição leva-se, em média, 214
dias para publicar o resultado para um processo de
medicamento genérico/similar e 254 dias para um de
medicamento novo.
Considerando apenas o tempo de análise da ANVISA, leva-
se em média 100 a 140 dias. Ressalta-se que os prazos
atuais de análise são factíveis e compatíveis com os de
outras agências regulatórias.
Comparativamente, a estrutura referente a recursos
humanos de outras Agências, por outro lado, é muito
superior à da ANVISA. O Food and Drug Administration –
FDA (órgão equivalente à ANVISA nos Estados Unidos), por
exemplo, conta com mais de 300 técnicos que analisam
apenas petições de registro de medicamentos genéricos.
Desta forma, a análise de sigilo do processo em tela
demandaria um ônus excessivo em termos de gastos
públicos e a dispersão desproporcional de recursos
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humanos, comprometendo a capacidade responsiva do
órgão e inviabilizando o papel constitucional da agência
na sua função básica de prevenção de agravos à saúde
da população.
Diante de tal situação, o princípio da continuidade do
serviço público instrui a que se lance mão do disposto
no art. 13, II do Decreto 7.724/2012 em legítimo ato de
equilíbrio do interesse público envolvido. (grifo nosso)
Contudo, a GRMED coloca à disposição, após a publicação
da decisão final sobre o processo de registro em questão,
cópia do Parecer Técnico, documento que sumariza todo o
processo de registro, perpassando pela discussão de todos
os aspectos técnicos necessários à concessão do pleito, e é
capaz de atender às dúvidas que o interesse público possa
ter quanto à garantia de segurança e eficácia do
medicamento”Recurso
à CGU
03/10/2016 A Cidadã recorre à CGU, nos seguintes termos:
• o órgão apenas reiterou os termos do indeferimento
anterior, não se dando ao trabalho de refutar de forma
correta e direta os itens requisitados no presente pedido.
Além do mais, o órgão não expôs o motivo da informação
ser classificada como reservada.
• Primeiramente, a negativa em informar tão somente o
nome do novo medicamento é irrazoável, pois tal
informação é pública e consta de diversos outros
documentos que não têm caráter exclusivamente
preparatório
• Aliás, tampouco se vislumbra de que forma a indicação do
processo administrativo poderia gerar vantagem
competitiva a possíveis concorrentes pois no processo não
consta a forma de fabricação do medicamento em si.
• o fato de os documentos solicitados estarem “em fase de
avaliação” não tem o condão de obstaculizar a
disponibilização das informações solicitadas. Ainda que o
processo investigativo esteja sob análise, a
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disponibilização dos documentos requeridos em nada
prejudicaria a futura tomada de decisão. Outrossim, a
disponibilização de tais documentos nesse momento não
vincularia a Anvisa a decidir em determinado sentido.
É o relatório.
Análise
2. No que tange aos requisitos de admissibilidade, registre-se que o recurso foi
apresentado à CGU de forma tempestiva e recebido na esteira do disposto no caput e §1º
do art. 16 da Lei nº 12.527/2011, bem como em respeito ao prazo de 10 (dez) dias previsto
no art. 23 do Decreto nº 7724/2012, nestes termos:
Lei nº 12.527/2011Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do PoderExecutivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União,que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
(...)
§ 1º O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à ControladoriaGeral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridadehierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberaráno prazo de 5 (cinco) dias.
Decreto nº 7724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutíferaa reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso noprazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União,que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento dorecurso.
3. Observa-se que apesar da cidadã ter sido informada a respeito da possibilidade de
recorrer das decisões que lhe foram desfavoráveis, não consta a identificação da
autoridade responsável pelas respostas dos recursos de primeira e segunda instância,
situação que prejudica a análise a respeito do cumprimento do art. 21, §1º, do Decreto nº
7.724/2012.
4. Considerando o princípio da eficiência previsto no caput do art. 37 da CF/88, optou-
se por analisar de maneira única neste parecer os 13 pedidos de acesso à informação
(NUPs: 25820.002668/2016-34, 25820.002669/2016-89, 25820.002670/2016-11,
25820.002671/2016-58, 25820.002672/2016-01, 25820.002673/2016-47,
25820.002674/2016-91, 25820.002675/2016-36, 25820.002676/2016-81,
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25820.002677/2016-25, 25820.002678/2016-70, 25820.002679/2016-14 e
25820.002680/2016-49), por se tratar do mesmo assunto e mesma interessada.
5. Inicialmente é importante esclarecer que os recursos sobre os quais a CGU tem
competência para se pronunciar devem guardar aderência com uma das hipóteses
descritas no art. 16 da LAI, que assim dispõe:
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do PoderExecutivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União,que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:I - o acesso à informação não classificada como sigilosa for negado;II - a decisão de negativa de acesso à informação total ou parcialmente classificadacomo sigilosa não indicar a autoridade classificadora ou a hierarquicamentesuperior a quem possa ser dirigido pedido de acesso ou desclassificação;III - os procedimentos de classificação de informação sigilosa estabelecidos nestaLei não tiverem sido observados; e IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros procedimentos previstos nestaLei.
(...)
6. Com efeito, sobre a negativa de acesso, a LAI e seu decreto regulamentador
asseguram que:
Decreto nº 7724/2012Art. 12. O pedido de acesso à informação deverá conter: (...)III - especificação, de forma clara e precisa, da informação requerida;
Art. 13. Não serão atendidos pedidos de acesso à informação:I - genéricos;II - desproporcionais ou desarrazoados; ouIII - que exijam trabalhos adicionais de análise, interpretação ou consolidação dedados e informações, ou serviço de produção ou tratamento de dados que não sejade competência do órgão ou entidade. (...)
7. Posto isto, a questão que se impõe, nesta análise, é verificar se a justificativa
apresentada para negativa de acesso à Informação apresentada pela recorrida encontra
amparo na Lei de Acesso à Informação. No caso, verifica-se que a cidadã almeja ter
acesso à:
(i) Cópia integral dos processos administrativos (são processos que tratam de pedido de
registro de medicamento genérico pela EMS perante à ANVISA);
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(ii) Informações sobre o produto (princípio ativo, composição, dosagem, forma
farmacêutica, via de administração, indicação terapêutica, testes realizados, resultados
dos testes, nome do medicamento referência, e que laboratório possui seu registro)
(iii) Demais documentos e informações relevantes
8. Conforme descrito no relatório, a ANVISA nega acesso à informação alegando que
os processos encontram-se em análise técnica, precisamente em exigência, aguardando o
protocolo de esclarecimentos adicionais por parte da empresa e que contêm informações
sigilosas relativas à atividade empresarial, cuja divulgação pode representar vantagem
competitiva a outros agentes econômicos. Ademais, alega desproporcionalidade/trabalhos
adicionais para tarjamento das informações abrangidas pela Lei de Propriedade Industrial,
devido ao tamanho dos processos, pois o tarjamento seria realizado de forma manual.
9. Quanto à alegação de documento preparatório, considera-se que a ANVISA
demonstrou o prejuízo inerente à entrega da documentação ao afirmar que:
“o protocolo de um pedido de registro sanitário contém apenas informações deordem técnica, sendo a totalidade destas informações utilizadas para afundamentação do Parecer Técnico, portanto, toda a documentação protocoladaconstitui documentação preparatória para a tomada de decisão. Ademais, aantecipação de informações constantes em um processo de registro demedicamento pode representar vantagem competitiva a possíveis concorrentes(...)”
10. Cumpre registrar que em casos similares direcionados à ANVISA, como por
exemplo os Nups: 25820.003985/2015-97, 25820.001178/2012-97, 25820.002045/2015-
81, 25820.006230/2013-82 e Decisão CMRI 05/2013 o acesso à informação também foi
negado com base no artigo disposto no art. 5º, § 2º, do Decreto nº 7.724/2012. No entanto,
cabe lembrar que a CGU tem entendido que a mera menção ao já citado artigo não
constitui fundamentação suficiente para restringir a publicidade, assim resta analisar o
nexo entre a divulgação das informações e o risco à competitividade dos agentes
econômicos envolvidos, bem como a alegação de trabalhos adicionais para tarjamento
dessas informações.
11. O art. 5º do Dec. nº 7.724/2012 dispõe que:
§2º Não se sujeitam ao disposto neste Decreto as informações relativas à atividadeempresarial de pessoas físicas ou jurídicas de direito privado obtidas pelo Banco
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Central do Brasil, pelas agências reguladoras ou por outros órgãos ou entidades noexercício de atividade de controle, regulação e supervisão da atividade econômicacuja divulgação possa representar vantagem competitiva a outros agenteseconômicos.
12. No que se refere à propriedade industrial, sua proteção efetua-se, dentre outras
ações, mediante repressão à concorrência desleal, conforme previsto no inciso V, art. 2º da
Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/1996):
Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seuinteresse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-semediante:
(...)
V - repressão à concorrência desleal.
13 Além disso, a Lei 9.279/1996, em seu artigo 195, adverte que comete crime de
concorrência desleal quem:
XIV - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de resultados de testes ououtros dados não divulgados, cuja elaboração envolva esforço considerável e quetenham sido apresentados a entidades governamentais como condição paraaprovar a comercialização de produtos.
14. Nesse sentido, a Anvisa demonstra como a divulgação das informações dos
processos de registro de medicamentos poderiam representar risco à competitividade do
agente econômico envolvido ao afirmar que:
“(...)a antecipação de informações constantes em um processo de registro demedicamento pode representar vantagem competitiva a possíveis concorrentes, namedida em que, por exemplo, a composição qualitativa, que é tida como nãosigilosa após a decisão final, por constar inclusive na bula do medicamento comregistro sanitário deferido, se dada a conhecer a terceiros na fase preparatória, farácom que estes tenham acesso à formulação qualitativa do produto muito antes doque teriam por meio de acesso à bula. Esta ação representaria uma vantagemcompetitiva, pois a elucidação da formulação qualitativa é o primeiro passo duranteo desenvolvimento de medicamentos genéricos ou similares.
Desta feita, somente após a publicação final da decisão da Diretoria-Colegiada daAnvisa sobre o registro do medicamento é que as informações não sigilosas doprocesso poderão ser disponibilizadas.”
15. Por último, registra-se que o argumento pela desproporcionalidade tem sido utilizado
nos casos em que a busca da informação acarreta prejuízo substancial às regulares
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atividades desempenhadas pelo órgão. São casos em que a Administração Pública
encontra-se impossibilitada de atender à demanda em função do enorme volume de tempo
e recursos necessários à efetiva entrega da informação.
16. Nesse sentido, concorda-se com a desproporcionalidade/trabalhos adicionais
alegada pela recorrida, uma vez que o fornecimento das cópias dos processos demandaria
o tarjamento das informações abrangidas pela Lei de Propriedade Industrial, página a
página, de forma manual. Observa-se que o atendimento a um único pedido de acesso já
demandaria grande quantidade de trabalho adicional de pesquisa e consolidação dos
dados devido à quantidade de folhas em cada processo. De fato, essa
desproporcionalidade fica ainda mais evidente ao considerar a quantidade total de pedidos
feitos pela requerente, conforme dados abaixo, consolidados com base nas respostas aos
recursos de segunda instância:
17. Nesse sentido, cita-se o seguinte precedente desta Controladoria:
“É importante esclarecer que a parte inicial do inciso II, ou seja, adesproporcionalidade de um pedido de acesso visa estabelecer um limite dentrodo escopo de um pedido. Seria, na verdade, uma proibição de excesso, com baseno princípio da proporcionalidade. Dessa forma, é desproporcional o pedido queimpacta de maneira desigual as rotinas de trabalho de um órgão ou entidadepública, embora a informação seja existente e não necessariamente sigilosa.Assim, para que as solicitações do demandante fossem atendidas, o órgãodemandado teria que utilizar recursos operacionais que impactariam as suasatividades rotineiras, prejudicando, por conseguinte, o restante de suas ações, o
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que seria indesejável do ponto de vista do interesse público.” (NUP:00077.000846/2014-60).
18. Diante dessas considerações, opina-se pelo desprovimento deste recurso uma vez
que a recorrida comprovou tratar-se de informações sigilosas relativas à atividade
empresarial, cuja divulgação pode representar vantagem competitiva a outros agentes
econômicos, conforme prevê o §2º, artigo 5º do Decreto 7.724/12, bem como a
desproporcionalidade/trabalhos adicionais para tarjamento dessas informações, nos
termos do art. 13, II , do Decreto 7.724/2012.
19. Cabe ressaltar que, apesar de não ser o pedido inicial da cidadã, a recorrida coloca
à disposição, após a publicação da decisão final, cópia do Parecer Técnico, documento
que sumariza todo o processo de registro, perpassando pela discussão de todos os
aspectos técnicos necessários à concessão do pleito, e é capaz de atender às dúvidas que
o interesse público possa ter quanto à garantia de segurança e eficácia do medicamento,
representando, assim, uma alternativa para garantir acesso às informações consideradas
públicas, conforme artigo 7º, §2º, da Lei 12.527/11.
Conclusão
20. De todo o exposto, opina-se pelo desprovimento do recurso, uma vez que a
negativa de acesso está amparada no art. 5º, §2º do Decreto nº 7.724/2012, combinado ao
fato do pedido enquadra-se no previsto nos incisos II e III do art. 13 do Decreto nº
7.724/2012, por conter características de desproporcionalidade e demandar trabalho
adicional à recorrida.
21. Por fim, destaca-se que a recorrida descumpriu procedimentos básicos da Lei de
Acesso à Informação. Dessa forma, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento
competente que reavalie os fluxos internos para assegurar a observância das normas
relativas ao acesso à informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos da Lei n.º
12.527/2011 e do Decreto n.º 7.724/2012, em especial indicar a autoridade que tomou a
decisão em instância recursal.
SIMONE FERREIRA MAGALHÃES
Analista Técnico Administrativo
MTFC SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy RibeiroBrasília/DF - CEP 70070-905
13
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. º 1.567, da Controladoria-
Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima,
para decidir pelo desprovimento do recurso interposto, nos termos do art. 23 do Decreto
7.724/2012, no âmbito dos pedidos de informação nº 25820.002668/2016-34, 25820.002669/2016-
89, 25820.002670/2016-11, 25820.002671/2016-58, 25820.002672/2016-01, 25820.002673/2016-
47, 25820.002674/2016-91, 25820.002675/2016-36, 25820.002676/2016-81, 25820.002677/2016-
25, 25820.002678/2016-70, 25820.002679/2016-14 e 25820.002680/2016-49, direcionados à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
MTFC SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy RibeiroBrasília/DF - CEP 70070-905
14
Gilberto Waller Júnior
Ouvidor-Geral da União
MTFC SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy RibeiroBrasília/DF - CEP 70070-905
15
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICAControladoria-Geral da União
Folha de Assinaturas
Referência: PROCESSO nº 25820.002677/2016-25
Documento: PARECER nº 3879 de 07/10/2016
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 07/10/2016
GILBERTO WALLER JUNIOR
Signatário(s):
aprovo.
Relação de Despachos:
Assinado Digitalmente em 07/10/2016
Ouvidor
GILBERTO WALLER JUNIOR
Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste
documento é: a7c64548_8d3eec953ad4f08