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DOCUMENTO 1 Mudança climática e crise hídrica OS DESAFIOS DA GOVERNANÇA DAS ÁGUAS NAS BACIAS PCJ AÇÃO ECO CUENCAS Documento 1 do Projeto “Eco Cuencas: Bacias e Redistribuição Financeira em Ação” para a Agência das Bacias PCJ Julho 2016

Mudança climática e crise hídrica · Desde a promulgação da Lei Federal nº 9.433/1997 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, o Brasil tem avançado significativamente

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DOCUMENTO 1

Mudança climática e crise hídrica

OS DESAFIOS DA GOVERNANÇA DAS ÁGUAS NAS BACIAS PCJ

AÇÃO ECO CUENCAS

Documento 1 do Projeto “Eco Cuencas: Bacias e Redistribuição

Financeira em Ação” para a Agência das Bacias PCJ

Julho 2016

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Este documento foi realizado com apoio financeiro da União Europeia

O conteúdo deste documento é de responsabilidade da Agência de Bacias PCJ e FESPSP e não reflete necessariamente a posição da União Europeia.

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SUMARIO

FIGURAS .............................................................................................................................. 5

QUADROS ........................................................................................................................... 7

ABREVIAÇÕES ...................................................................................................................... 9

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 10

1. MARCO JURÍDICO E INSTITUCIONAL DA GESTÃO POR BACIAS HIDROGRÁFICAS ........... 13

1.1. DIPLOMA LEGAL FEDERAL: CÓDIGO DAS ÁGUAS E POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS

HÍDRICOS ................................................................................................................................. 13

1.2. DIPLOMA LEGAL DOS ESTADOS DE SÃO PAULO E MINAS GERAIS .............................. 26

2. BACIAS HIDROGRÁFICAS PIRACICABA - CAPIVARI - JUNDIAI (BACIAS PCJ) .................... 36

2.1. CARACTERIZAÇÃO DAS BACIAS PCJ ............................................................................... 36

2.2. ESTRUTURAÇÃO INSTITUCIONAL E GOVERNANÇA DAS BACIAS PCJ ......................................... 49

2.3. DISPONIBILIDADE HÍDRICA E ASPECTOS QUALITATIVOS .................................................. 59

2.4. EVOLUÇÃO DA DEMANDA POR USO .................................................................................... 68

2.5. BALANÇO HÍDRICO DAS BACIAS PCJ .................................................................................. 74

2.6. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS BACIAS PCJ .......................................................... 80

2.7. PROGRAMAS PRIORITÁRIOS APLICADOS PELA AGÊNCIA DE BACIAS PCJ .................................... 83

3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CRISE HÍDRICA E OS DESAFIOS DA GOVERNANÇA DAS ÁGUAS

99

3.1. DISPONIBILIDADE DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL ............................................................ 99

3.2. A CRISE HÍDRICA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS POR DIFERENTES VISÕES .............. 100

3.3. MUDANÇA CLIMÁTICA E A CRISE HÍDRICA: INCERTEZA SOBRE O REGIME DE CHUVAS

111

3.4. A CRISE HÍDRICA E A GOVERNANÇA DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS BACIAS PCJ ..... 116

3.5. IMPACTOS DA CRISE HÍDRICA NO SETOR DE SANEAMENTO .................................... 120

4. MECANISMOS FINANCEIROS .................................................................................... 122

4.1. O ESTABELECIMENTO DOS MECANISMOS DE COBRANÇA ....................................... 122

4.2. COBRANÇA ESTADUAL PELO USO DA ÁGUA (NO ESTADO DE SÃO PAULO) .............. 126

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4.3. A COBRANÇA NAS BACIAS PCJ .................................................................................. 126

SETOR DE SANEAMENTO ...................................................................................................... 132

4.4. ABORDAGEM SOBRE A APLICAÇÃO DOS RECURSOS ................................................ 135

4.5. APLICAÇÃO DOS RECURSOS FRENTE AOS DESAFIOS COLOCADOS PELO PLANO DE

BACIA ................................................................................................................................142

5. AVALIAÇÃO DA GOVERNANÇA E TÓPICOS PARA DISCUSSÃO .................................... 153

5.1. AVALIAÇÃO DA GOVERNANÇA MULTINÍVEL ............................................................ 153

5.2. TÓPICOS PARA DISCUSSÃO ...................................................................................... 172

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FIGURAS

Figura 1 Matriz institucional do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos .... 15

Figura 2 Composição atual do Conselho Nacional de Recursos Hídricos .................................... 19

Figura 3 Bacias hidrográficas com agências de bacia .................................................................. 25

Figura 4 Cronologia dos marcos legais no desenvolvimento da gestão de recursos hídricos no

Brasil, no Estado de São Paulo e nas Bacias PCJ ......................................................................... 34

Figura 5 A Bacia hidrográfica no Brasil e nos Estados de São Paulo e Minhas Gerais ................ 36

Figura 6. As Bacias PCJ ................................................................................................................. 38

Figura 7 Mapa da situação dos municípios das Bacias PCJ ......................................................... 41

Figura 8. Represa Paiva de Castro do Sistema Cantareira .......................................................... 44

Figura 9 O Sistema Cantareira ..................................................................................................... 45

Figura 10 Composição dos Comitês de Bacias PCJ ...................................................................... 53

Figura 11 Organograma das Câmaras Técnicas dos Comitês PCJ ............................................... 54

Figura 12 Sala de Situação das Bacias PCJ ................................................................................... 57

Figura 13 Carta de Isoietas das Bacias PCJ .................................................................................. 61

Figura 14.Classes de enquadramento e respectivos usos e qualidade da água ......................... 65

Figura 15 Classes de qualidade (OD e DBO) – Cenário Base 2008. ............................................. 66

Figura 16 Demanda de água - tipo e finalidade .......................................................................... 69

Figura 17 Captações de água nas Bacias PCJ ............................................................................... 70

Figura 18 Lançamentos de águas nas Bacias PCJ ........................................................................ 71

Figura 19 Demanda superficial em relação à vazão de referência Q7,10 – 2008 a 2013 .............. 76

Figura 20 Balanço entre disponibilidade e demanda .................................................................. 77

Figura 21 Projeções para o consumo de água (horizonte 2035)................................................. 80

Figura 22 Dominialidade dos recursos hídricos nas Bacias PCJ................................................... 82

Figura 23 Resultado do IQA para a porção das Bacias PCJ localizada no Estado de São Paulo. 92

Figura 24 Resultado do cálculo da qualidade média das águas nos períodos de 2001-2007 e

2008-2014. .................................................................................................................................. 93

Figura 25. Sistema Cantareira visto de Extrema em Minas Gerais, nascente do Rio Jaguari ..... 94

Figura 26. Rio Jaguari em Extrema .............................................................................................. 96

Figura 27. Rio Amazonas ............................................................................................................. 99

Figura 28 Estiagens excepcionais no Sudeste 1953/1954, 1962/1963 e 1970/1971 em 2014. 102

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Figura 29. Balanço entre vazões e recargas das bacias hidrográficas por região do país ......... 106

Figura 30 Mapas de quantis e tempos de retorno da precipitação do ano hidrológico de 2014

................................................................................................................................................... 112

Figura 31 Precipitações em alguns municípios das Bacias PCJ e médias históricas .................. 117

Figura 32 Início da cobrança pelo uso da água ......................................................................... 123

Figura 33 Histórico dos valores das cobranças Estadual e Federal em valores corrigidos ....... 129

Figura 34 Valores arrecadados pela cobrança nas Bacias PCJ: participação por setores de

atividades .................................................................................................................................. 132

Figura 35 Valor histórico arrecadado por 10 contribuintes do setor de saneamento de acordo

com sua participação ................................................................................................................ 134

Figura 36 Distribuição dos recursos da cobrança Federal, Estadual e compensação nas Bacias

PCJ (1995 a 2015) ...................................................................................................................... 137

Figura 37 Distribuição anual da aplicação dos recursos da cobrança pelo uso dos recursos

hídricos por setor (1995 a 2015) ............................................................................................... 138

Figura 38 Valor total aplicado de acordo com a origem do recurso (R$) ................................. 140

Figura 39 Composição por área de aplicação, de acordo com a origem dos recursos ............. 141

Figura 40 Composição por área de aplicação, de acordo com a origem dos recursos ............. 142

Figura 41 Recursos a obter para consecução das ações previstas no Plano de Bacias PCJ 2010 -

2020 ........................................................................................................................................... 144

Figura 42 Evolução das receitas pela cobrança pelo uso das águas por ano em reais ............. 148

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QUADROS

Quadro 1. Comitês de Bacias Hidrográficas de São Paulo - Datas de implantação .................... 32

Quadro 2. Área das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí ............................................. 37

Quadro 3. Áreas das Sub-bacias do rio Piracicaba (SP e MG) ..................................................... 39

Quadro 4. PIB das principais regiões constitutivas das Bacias PCJ (em bilhões de reais -2012) 40

Quadro 5. Demanda de água por setor em % do total ............................................................... 68

Quadro 6. Projeções da população para as Bacias PCJ ............................................................... 73

Quadro 7. População residente nas Bacias PCJ e taxa geométrica de crescimento anual (TGCA)

– 2010 a 2015 .............................................................................................................................. 73

Quadro 8. Demanda superficial – percentual em relação à Q95% e Q7, 10 .................................... 75

Quadro 9. Balanço Hídrico em 2014 e projeção para 2020. ....................................................... 78

Quadro 10. Programas prioritários nas Bacias PCJ ..................................................................... 83

Quadro 11. Índices de perdas na distribuição de águas ............................................................. 85

Quadro 12. Coleta e tratamento de esgotos nas Bacias PCJ ....................................................... 88

Quadro 13. Índices de coleta e tratamento nas Bacias PCJ ........................................................ 89

Quadro 14. População e disponibilidade hídrica por região do Brasil ...................................... 100

Quadro 15. Sistema Cantareira - Pluviometria 2014 ................................................................ 115

Quadro 16. Valores arrecadados em R$ da cobrança estadual e federal em 2015 .................. 124

Quadro 17. Valores totais arrecadados de cobrança federal e estadual nas Bacias PCJ de 2006 a

2015 ........................................................................................................................................... 128

Quadro 18. Valores arrecadados das cobranças Federal e Estadual por ano e origem ........... 128

Quadro 19. Valores arrecadados pela cobrança nas Bacias PCJ: participação por setores de

atividades .................................................................................................................................. 131

Quadro 20. Valores arrecadados por 10 contribuintes do setor de saneamento .................... 134

Quadro 21. Recursos aplicados oriundos da cobrança Federal, Estadual e compensação nas

Bacias PCJ (1995 – 2015), trazidos a valores presentes em Fevereiro/2016 ............................ 135

Quadro 22. Valor total aplicado de acordo com a origem dos recursos (R$) ........................... 139

Quadro 23. Composição por área de investimento, de acordo com a origem dos recursos.... 141

Quadro 24. Recursos estimados pelo Plano de Bacias PCJ para cenário desejável de coleta e

tratamento de esgotos em 2014 e 2020 ................................................................................... 143

Quadro 25. Valores da cobrança federal em 2006 - valores vigentes e valores corrigidos ...... 146

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Quadro 26. Valores vigentes em 2016 das cobranças federal e estadual por tipo de uso - 2016

................................................................................................................................................... 146

Quadro 27. Evolução dos valores de Cobrança de Uso de recursos hídricos no Período de 2006

a 2015 - trazidos a valores presentes em Fev/2016 ................................................................. 147

Quadro 28. Preços Unitários Básicos (PUBs) ............................................................................. 149

Quadro 29. Comparativo da tarifa de abastecimento por m³, preço de extração e a relação

entre ambos, na bacia do Tâmisa, estado alemão de Baden-Württemberg e os municípios de

Campinas e Itatiba ..................................................................................................................... 150

Quadro 30. Arranjo institucional de gestão dos recursos hídricos – Estado de São Paulo ....... 156

Quadro 31. Arranjo institucional de gestão dos recursos hídricos – Estado do Paraná ........... 158

Quadro 32. Instrumentos financeiros para gestão de recursos hídricos .................................. 165

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ABREVIAÇÕES

ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

ANA Agência Nacional de Águas

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ARES-PCJ Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos Rios

Piracicaba, Capivari e Jundiaí

BACIAS PCJ Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí

CBH - PCJ Comitês das Bacia Hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo

EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

AGÊNCIA PCJ Fundação Agência das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba,

Capivari e Jundiaí

CTH Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica

FEHIDRO Fundo Estadual de Recursos Hídricos

FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

REPLAN Refinaria de Paulínia

SABESP Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo

SANASA Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A - Campinas

SAISP Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo

SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

SNIRH Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos

TAR Tarifa Atualizada de Referência

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APRESENTAÇÃO

Este documento apresenta os estudos e pesquisas desenvolvidas no âmbito do projeto

“Eco Cuencas: Bacias e Redistribuição Financeira em Ação”, iniciativa liderada pelo

Office International de l'Eau (OIEau), juntamente à Fundação Agência das Bacias

Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Agência das Bacias PCJ) e Bacias

dos Rios Catamayo-Chiara do Peru-Equador e Bacia Grande da Colômbia.

O foco desse projeto é a discussão, o aprofundamento e o empoderamento das

questões relacionadas aos recursos hídricos e os efeitos das mudanças climáticas na

disponibilidade de água nessas Bacias Hidrográficas, dentre elas, as Bacias Piracicaba –

Capivari – Jundiaí, denominadas neste trabalho por Bacias PCJ.

Desde a promulgação da Lei Federal nº 9.433/1997 que instituiu a Política Nacional de

Recursos Hídricos, o Brasil tem avançado significativamente na gestão de recursos

hídricos. Neste contexto cabe destacar o pioneirismo dos Estados de São Paulo e

Minas Gerais que, anteriormente à Lei Federal, instituíram sua legislação específica,

reproduzida em âmbito nacional. No caso específico das Bacias PCJ as disputas

crescentes pelas suas águas e os problemas de qualidade levaram a um avanço

contínuo da gestão dos recursos hídricos. Além da outorga, as Bacias PCJ dispõem de

cobrança pelo uso da água, o que viabilizou não somente implantar as ações do

Comitê PCJ, mas a própria Agência de Bacia.

Embora com avanços notáveis, alterações no regime de chuvas e ocorrência cada vez

mais frequentes de eventos extremos tem influenciado a disponibilidade de água para

usos múltiplos, especialmente para abastecimento humano, considerado um dos mais

nobres. A discussão em torno das causas dessas alterações ainda é foco de intensos

debates entre especialistas de todo o mundo. Entretanto, ainda que não haja consenso

sobre essa questão, é cada vez mais premente que o planejamento dos sistemas

hídricos considere os efeitos e os impactos dessas alterações com medidas de

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emergências e contingências em situações de cheias e estiagem, como ocorridas nos

últimos anos.

Essa discussão, iniciada neste documento, está estruturada em 5 partes, a saber:

Parte 1: Marco Jurídico e Institucional da Gestão por Bacia Hidrográfica

Parte 2: Bacias Hidrográficas Piracicaba - Capivari - Jundiaí (Bacia PCJ)

Parte 3: Mudanças Climáticas e a Crise Hídrica

Parte 4: Instrumentos econômicos e aplicação dos recursos na gestão das águas

Parte 5: Avaliação da Governança e Tópicos para Discussão

O intuito deste documento não é esgotar as referências sobre essa temática, mas

servir de orientação para os debates, especialmente, em torno das lacunas,

possibilidades e potencialidades de enfrentamento a situações extremas relacionadas

às mudanças climáticas e seus efeitos sobre o sistema hídrico.

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Parte 1 Marco Jurídico e Institucional da Gestão por Bacias

Hidrográficas

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1. MARCO JURÍDICO E INSTITUCIONAL DA GESTÃO POR BACIAS

HIDROGRÁFICAS

A Lei das Águas, como ficou conhecida a Politica Nacional de Recursos Hídricos (Lei

Federal nº 9.433/1997), estabelece a água como um bem de domínio público e um

recurso natural limitado, dotado de valor econômico.

1.1. DIPLOMA LEGAL FEDERAL: CÓDIGO DAS ÁGUAS E POLÍTICA NACIONAL DE

RECURSOS HÍDRICOS

O primeiro diploma legal que procurou estabelecer normas gerais para o

aproveitamento das águas no país foi o Código das Águas de 1934. Essa Lei definiu

águas públicas e estabeleceu normas para sua utilização. Em seu artigo 43, por

exemplo, o Código determinou que as águas públicas não poderiam “ser derivadas

para as aplicações da agricultura, da indústria e da higiene, sem a existência de

concessão administrativa” e que o prazo da concessão não poderia ser superior a

trinta anos. Dessa forma, o Estado chamava a si a competência de conceder o direito

de uso.

O Código estabelecia ainda no Artigo 143 que todos os aproveitamentos de energia

hidráulica teriam de satisfazer “exigências acauteladoras dos interesses gerais”,

inclusive “da alimentação e das necessidades das populações ribeirinhas, da

salubridade pública, da navegação, da irrigação, da proteção contra as inundações, da

conservação e livre circulação do peixe e do escoamento e rejeição das águas”

(CÓDIGO DAS ÁGUAS, 1934). Dessa forma o diploma legal procurava assegurar o uso

múltiplo das águas.

O Código distinguiu ainda a propriedade do solo das quedas d’água e de outras fontes

de energia hidráulica conferindo à União o poder de autorizar ou conceder o

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aproveitamento dos cursos de água para fins de aproveitamento de energia elétrica.

No seu artigo 140, o Código estabeleceu que qualquer iniciativa de aproveitamento de

quedas d’água que gerasse mais de 150 kW estaria sujeita à concessão.

O advento da moderna legislação federal das águas teria de esperar sessenta e três

anos desde a aprovação do Código das Águas. Apenas em 1997, a Lei nº 9.433 instituiu

a Política Nacional de Recursos Hídricos estabelecendo um novo paradigma para a

gestão das águas no Brasil. Essa importante Lei, além de reforçar os fundamentos do

Código das Águas, apresenta aspectos de relevante interesse para este trabalho:

A água é um bem de domínio público;

É um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo

humano e a dessedentação de animais;

A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das

águas;

A bacia hidrográfica como a unidade territorial para implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos;

A gestão dos recursos hídricos será descentralizada e contará com a

participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Dentre os instrumentos, a Política Nacional de Recursos Hídricos apresenta:

a) O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os seus usos

preponderantes.

b) A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos.

c) A cobrança pelo uso de recursos hídricos.

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d) O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

e) Os Planos de Recursos Hídricos.

A Lei nº 9.433/1997 criou ainda o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (SINGREH). Integram esse sistema o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, a

Agência Nacional de Águas, os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do

Distrito Federal, os Comitês de Bacias Hidrográficas, os órgãos públicos federais,

estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a

gestão de recursos hídricos e as agências de água e de bacias hidrográficas (Figura 1).

Figura 1 Matriz institucional do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos

Fonte: ANA (2016)

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A matriz institucional do Sistema apresenta a distribuição dos órgãos nos âmbitos:

nacional com a ANA e o Conselho Nacional; estadual com os Conselhos Estaduais e

órgãos gestores; e o local/regional representado pelos Comitês de Bacias e Agências

de Águas. Além de definir a natureza dos órgãos, a lei apresentou também as suas

competências na gestão de recursos hídricos, conforme apresentado a seguir.

1.1.1. Competências dos órgãos no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos

Conforme apresentado na matriz institucional, o Sistema Nacional de Gerenciamento

de Recursos Hídricos é formado por diferentes órgãos que possuem competências

específicas na gestão de recursos hídricos:

Ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) compete formular a Política Nacional de

Recursos Hídricos e subsidiar a elaboração do Orçamento da União dedicado ao

setor. A Agência Nacional de Águas (ANA) está subordinada ao MMA e a ele está

vinculado o Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Quanto à ANA, dentre as principais atribuições estão:

a) A outorga de direitos de uso de recursos hídricos em corpos d’água de domínio

da União;

b) A fiscalização dos usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da

União;

c) A implementação, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, da

cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;

d) A arrecadação, distribuição e aplicação de receitas auferidas por intermédio da

cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;

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e) O planejamento e a realização de ações destinadas a prevenir ou minimizar os

efeitos de eventos extremos, secas e inundações;

f) A definição e fiscalização das condições de operação de reservatórios por

agentes públicos e privados;

Cabe ainda à ANA coordenar a rede hidrometeorológica nacional e gerir o Sistema

Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH).

A ANA pode delegar às agências de águas e de bacias hidrográficas a execução de

atividades de sua competência. No caso específico das Bacias PCJ, por delegação da

ANA, a Fundação Agência das Bacias PCJ administra os recursos originários da

cobrança dos rios de dominialidade federal que integram essas bacias.

A ANA possui atribuições normativas, mas também detém funções executivas,

realizando programas com o objetivo de prevenir e mitigar os efeitos de eventos

extremos, de preservar e recuperar mananciais, entre outros.

A Politica Nacional de Recursos Hídricos estabelece como obrigação da ANA elaborar

relatório anual de situação dos recursos hídricos.

Quanto à questão hidroelétrica, conforme apontado anteriormente, cabe a Agência

Nacional de Águas – ANA outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos

d’água de domínio da União. Dessa forma, para todos os processos de autorização

avaliados pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL sobre o uso do potencial

de energia hidráulica, há a necessidade de obtenção de declaração de reserva de

disponibilidade hídrica junto à ANA. Essa reserva, uma vez concedida, se torna

automaticamente outorga de direito de uso para a empresa ou instituição que obtiver

a concessão da ANEEL. Estudos complementares sobre a gestão das águas e

hidroeletricidade constam do Anexo I do presente documento.

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Ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos cabe, entre outras atribuições:

a) Arbitrar conflitos sobre recursos hídricos;

b) Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas

repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que serão implantados;

c) Aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica;

d) Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos

hídricos e para a cobrança por seu uso;

e) Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução.

O Conselho conta com representação de ministérios, conselhos estaduais de

recursos hídricos e outros órgãos estaduais relacionados, representantes de

usuários, de prestadores de serviços de saneamento, de concessionárias de geração

de hidroeletricidade, da agricultura e de outros setores da atividade econômica, de

comitês e consórcios de bacias hidrográficas, de organizações de ensino superior e

pesquisa e de organizações não governamentais (Figura 2). A composição reflete o

espírito participativo da legislação sobre os recursos hídricos, uma vez que não se

trata de um conselho meramente consultivo, mas sim de um colegiado que detém

poderes deliberativos sobre temas como critérios de outorga e de cobrança, entre

outros.

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Figura 2 Composição atual do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Fonte: OCDE (2015)

Contudo, o exame da atividade do Conselho Nacional de Recursos Hídricos em 2015

revela a limitação de suas deliberações. Em 2015 frente a enorme crise hídrica que o

país enfrentou o Conselho aprovou apenas onze resoluções, ligadas às temáticas de

organização e composição de câmaras técnicas, proposta orçamentária do próprio

Conselho e de sua secretaria executiva para o exercício de 2016, da renovação de

delegações de competências, entre outras, mas nenhuma que tratasse diretamente

sobre a crise hídrica de 2014 no Sudeste e no Nordeste.

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1.1.2. Instrumentos da Politica Nacional de Recursos Hídricos

OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS

A Outorga de direito de uso de recursos hídricos tem como objetivo assegurar o

controle quantitativo e qualitativo dos usos dos recursos hídricos e o efetivo exercício

dos direitos de acesso a água. Instituída como um dos instrumentos da Política

Nacional de Recursos Hídricos, cabe ao usuário obter a autorização pelo Poder Público,

sob condições preestabelecidas, garantindo o direito de acesso a esses recursos, dado

que a água é um bem de domínio público.

Nos corpos d’água de domínio da União, a competência para conferir a outorga é

prerrogativa da Agência Nacional de Águas - ANA. Também é competência da ANA a

emissão da reserva de disponibilidade hídrica para fins de aproveitamentos

hidrelétricos e sua consequente conversão em outorga de direito de uso de recursos

hídricos. Em corpos hídricos de domínio dos Estados e do Distrito Federal, a solicitação

de outorga deve ser feita ao órgão gestor estadual dos recursos hídricos.

Conforme disposto na Lei Federal nº 9.433/1997, dependem de outorga as seguintes

atividades:

o A derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d'água para

consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo

produtivo;

o A extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de

processo produtivo;

o Lançamento de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou

não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

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o Uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos potenciais

hidrelétricos;

o Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água

existente em um corpo de água.

COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

O mecanismo de cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos da Lei nº

9.433/1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Além de ser um

instrumento de gestão, esse mecanismo tem como objetivos:

a) Indicar à sociedade o real valor da água;

b) Incentivar o seu uso racional;

c) Obter recursos financeiros para a recuperação das Bacias Hidrográficas do Pais.

A implantação da cobrança pelo uso de recursos hídricos foi a grande modificação

introduzida no país a partir dos adventos da legislação paulista, mineira e,

posteriormente, da legislação federal. Graças à introdução da cobrança, foram

incrementadas obras e intervenções em diversas regiões do país com o objetivo de

preservar os mananciais e aumentar a disponibilidade hídrica. Os impactos desse

mecanismo de cobrança nas Bacias PCJ, foco deste estudo, estão apresentados no

Capítulo 4 deste documento.

SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS (SNIRH)

De todos os instrumentos de gestão previstos na Lei nº 9.433 de 1997, o Sistema

Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) está entre os que

alcançaram maior abrangência e efetividade.

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Coordenado pela ANA, o SNIRH é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento

e recuperação de dados e informações sobre recursos hídricos no Brasil. As

informações são geradas de forma descentralizada pelos órgãos gestores estaduais,

pelos comitês de bacia, pelas agências de bacia, por órgãos reguladores estaduais e

regionais, por usinas de hidroeletricidade, pela própria ANA e por outros órgãos.

O monitoramento dos recursos hídricos é realizado por uma rede de estações

pluviométricas, evaporimétricas, fluviométricas, sedimentométricas e de qualidade das

águas instalada em 2.176 rios brasileiros cadastrados no Sistema de Informações

Hidrológicas.

A ANA realiza o monitoramento hidrometeorológico no Brasil operando diretamente

4.543 estações de monitoramento das 14.822 existentes em todo o país. As estações

mensuram o volume de chuvas, o nível e a vazão dos rios, a evaporação da água, a

qualidade das águas e a quantidade de sedimentos.

Por meio dos dados coletados nas estações de monitoramento é possível determinar a

disponibilidade hídrica, as condições existentes para o abastecimento de águas,

monitorar a ocorrência de eventos extremos como cheias e estiagens, identificar locais

com potencial energético, condições de navegação, viabilidade de projetos de

irrigação, entre outros.

As informações hidrológicas provenientes da coleta de dados das estações de

monitoramento servem de base para a parametrização da outorga do uso de recursos

hídricos dos rios de dominialidade federal.

Através desse conjunto de estações, a Agência Nacional de Águas (ANA) realiza em

tempo real o monitoramento hidrometeorológico de 1.075 das estações fluviométricas

e de 981 das estações pluviométricas existentes, distribuídas pelas 12 Regiões

Hidrográficas Brasileiras.

A Rede Hidrometeorológica possui cerca de 283 estações telemétricas visando à

obtenção de dados hidrológicos em tempo real, a maioria delas situada em locais

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remotos. Os dados sobre chuvas, níveis e vazão em tempo real são coletados por

plataformas de coleta de dados automáticas, que transmitem para satélites de coleta

de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que processa as informações e

as disponibilizam para a ANA e para outros usuários do SNIRH e da Rede

Hidrometeorológica (ANA, 2016).

PROGRAMA NACIONAL DE QUALIDADE DAS ÁGUAS (PNQA)

A Agência Nacional de Águas ANA coordena o Programa Nacional de Avaliação da

Qualidade das Águas (PNQA). A ANA opera uma rede que conta com 1.340 pontos em

todo o país, onde são feitas análises de quatro parâmetros básicos das águas: pH,

oxigênio dissolvido, condutividade e temperatura. Esses indicadores são obtidos

automaticamente por meio de sondas multiparamétricas, não havendo necessidade de

coleta, transporte e análise de amostras em laboratórios.

Por sua vez, os estados operam uma rede de cerca de 2.400 pontos de monitoramento

de qualidade de água, o que representa uma densidade de 0,26 ponto/1.000 km² para

o país (ANA, 2016).

No entanto, as informações referentes a esses quatro parâmetros não são suficientes

para uma avaliação adequada da qualidade das águas, sendo necessária a obtenção de

outras informações que demandam a análise de amostras em laboratório.

Dessa forma, o PNQA tem como objetivo transferir recursos da União para a

implantação, ampliação, operação e manutenção das redes estaduais de

monitoramento da qualidade das águas com o objetivo de levantar informações sobre

a qualidade das águas em todo território nacional.

Dos 27 estados da Federação, apenas quatro dispõem de uma rede de monitoramento

de qualidade de água implantada e consolidada: São Paulo, Minas Gerais, Ceará e

Distrito Federal. Outros onze estados operam redes ainda não consolidadas que

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demandam maior capacidade de operação dos pontos de coleta, bem como a

qualificação dos seus técnicos e investimento em tecnologia para seus laboratórios.

Nos doze Estados restantes, o monitoramento é inexistente ou incipiente.

SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS (SINGREH) E AS

AGÊNCIAS DE BACIAS

O SINGREH teve início em 1997, com a aprovação da Lei nº 9.433, seguida pela criação

da ANA, em 2000, e de comitês de bacias hidrográficas e de agências de bacia. No

entanto, decorridas quase duas décadas, há em todo o país apenas cinco agências de

bacias hidrográficas instituídas em rios de dominialidade federal. Essas agências de

bacias hidrográficas foram constituídas e se dedicaram essencialmente aos recursos

hídricos de três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A Figura 3 mostra a concentração das agências de bacias hidrográficas na Região

Sudeste do país, em contraponto à ausência desse tipo de instituição nas regiões

Norte, Sul e grande parte da Região Centro Oeste. No Nordeste há apenas a agência

responsável pela gestão das Bacias Hidrográficas do Rio São Francisco, mas que, no

entanto, foi constituída e tem sede em Minas Gerais.

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Figura 3 Bacias hidrográficas com agências de bacia

Fonte: Agência Nacional de Águas - ANA

No Estado de Minas Gerais encontram-se instaladas as seguintes associações: a

Associação Multissetorial de Usuários de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do

Rio Araguari - ABHA, sediada em Araguari/MG; a Associação Executiva de Apoio a

Gestão de Bacias Hidrográficas Peixe Vivo - AGB Peixe Vivo, que exerce a função de

agência das Bacias Hidrográficas do São Francisco, com sede em Belo Horizonte/MG; e

o Instituto Bio-Atlântica (IBIO-AGB Doce), que exerce as funções de agência das Bacias

Hidrográficas do Rio Doce, com sede em Governador Valadares/MG.

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No Estado do Rio de Janeiro está a Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia

Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – AGEVAP, sediada no município de Resende/ RJ. No

Estado de São Paulo encontra-se a Agência das Bacias PCJ em Piracicaba/SP.

Dessa forma, verifica-se que a institucionalização da gestão dos recursos hídricos nos

termos definidos pela Lei 9.433 de 1997 está limitada as necessidades de poucas

bacias hidrográficas. Dessa forma, um balanço dos dezenove anos da legislação

federal e dos dezesseis anos de implantação do Sistema Nacional de Gerenciamento

de Recursos Hídricos (SINGREH) revela limitações no alcance dessa legislação e dos

desafios a serem ainda enfrentados para superar lacunas e sobreposições da

Governança Multinível e Multisetorial. Essas questões, no âmbito das Bacias PCJ, estão

tratadas mais profundamente no Capitulo 5 constante deste Documento

1.2. DIPLOMA LEGAL DOS ESTADOS DE SÃO PAULO E MINAS GERAIS

Anterior à Política Nacional de Recursos Hídricos, os Estados de São Paulo e de Minas

Gerais, foram pioneiros no estabelecimento de diplomas legais em relação aos

recursos hídricos. A Lei Estadual nº 7.663 de 1991 (São Paulo) e a Lei nº 11.504 de

1994 (Minas Gerais) anteciparam princípios fundamentais que, em 1997, vieram a ser

consagrados pela legislação federal.

1.2.1. Legislação e Gestão dos Recursos Hídricos em São Paulo

A moderna legislação brasileira sobre recursos hídricos teve como marco inicial a

promulgação da Lei Estadual nº 7.663, de 30 de dezembro de 1991, no Estado de São

Paulo, que estabeleceu a Política Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Integrado

de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH).

O gerenciamento descentralizado, participativo e integrado dos recursos hídricos, e a

adoção da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento e

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gerenciamento são questões de destaque na Lei de São Paulo, que determina ainda no

seu artigo 6º, que o Estado promova ações integradas nas bacias hidrográficas com o

objetivo de tratar os efluentes e esgotos urbanos, industriais e outros, antes do

lançamento nos corpos d’água, com os meios financeiros e institucionais previstos na

Lei.

Dessa forma, a Lei paulista foi a pioneira em estabelecer alguns princípios

fundamentais que foram consagrados pela legislação federal, entre eles destacam-se:

a) O gerenciamento descentralizado, participativo e integrado dos recursos

hídricos, sem dissociação dos aspectos quantitativos e qualitativos e das fases

meteórica, superficial e subterrânea do ciclo hidrológico;

b) A adoção da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento

e gerenciamento;

c) A definição dos recursos hídricos como bens públicos, de valor econômico, cuja

utilização deve ter uma contrapartida financeira a ser utilizada na preservação

dos mananciais;

d) O combate e prevenção das causas e dos efeitos adversos da poluição, das

inundações, das estiagens, da erosão do solo e do assoreamento dos corpos

d’água;

A Lei paulista ainda estabeleceu como principais diretrizes:

a) A utilização racional dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos,

assegurado o uso prioritário para o abastecimento das populações;

b) A proteção das águas contra ações que possam comprometer o uso atual e

futuro;

c) A defesa contra eventos hidrológicos críticos, que ofereçam riscos à saúde e à

segurança públicas, assim como prejuízos econômicos e sociais;

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d) A prevenção da erosão do solo nas áreas urbanas e rurais, com vistas à

proteção contra a poluição física e o assoreamento dos corpos d’água.

A Lei de São Paulo consagrou como seu principal instrumento econômico a cobrança

pela captação, derivação, diluição, transporte e assimilação de efluentes de sistemas

de esgotos e de outros líquidos, de qualquer natureza, estabelecendo também

critérios para sua aplicação.

Os principais instrumentos criados pela lei paulista são:

a) O enquadramento dos corpos d’água;

b) A cobrança pela captação de água;

c) A cobrança pelo lançamento de efluentes.

A lei estadual ainda criou o Sistema Integrado de Gerenciamento - SIRGH, e

estabeleceu como instrumentos de gestão:

a) O Plano Estadual de Recursos Hídricos, a ser aprovado por lei, cujo projeto deve

ser encaminhado à Assembleia Legislativa até o final do primeiro ano de

mandato do governador do Estado e que tem vigência de quatro anos;

b) Os planos de bacias hidrográficas contendo metas de curto, médio e longo

prazo para recuperação, proteção e conservação dos recursos hídricos.

c) O Relatório de situação dos recursos hídricos de São Paulo a ser elaborado a

partir dos relatórios de situação das bacias hidrográficas.

A Lei criou o Conselho Estadual de Recursos Hídricos e os Comitês de Bacias

Hidrográficas e previu a criação de agências de bacia como órgãos executivos dos

comitês de bacia. Por fim, a lei criou o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO),

com o objetivo de dar suporte financeiro à execução da Política Estadual de Recursos

Hídricos de São Paulo.

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Cabe destacar que no Brasil, a gestão das águas esteve associada à geração de

hidroeletricidade e, dessa forma, em 1951 foi criado o Departamento de Águas e

Energia Elétrica do Estado de São Paulo – DAEE, com a missão de estudar os cursos de

água para seu aproveitamento na produção de energia elétrica, bem como de elaborar

projetos e proceder à construção de usinas de hidroeletricidade, entre outras

atividades.

O DAEE construiu usinas de geração de hidroeletricidade no estado e antecedeu a

criação do Departamento de Águas e Energia Elétrica federal, que data de 1965.

Posteriormente, a Lei nº 7.663 transformou o DAEE no órgão gestor dos recursos

hídricos do Estado de São Paulo1.

1.2.2. Legislação e gestão dos recursos hídricos em Minas Gerais

Em 1994 o Estado de Minas Gerais, à exemplo de São Paulo, promulgou a Lei nº

11.504, de 20 de junho de 1994, dispondo sobre a Política Estadual de Recursos

Hídricos. A Lei apresenta fundamentos e diretrizes muito próximos e em consonância

com a Lei Paulista com destaque para:

a) A prioridade para o abastecimento público e a manutenção dos ecossistemas;

b) O gerenciamento integrado, com vistas ao uso múltiplo dos recursos hídricos;

c) O reconhecimento dos recursos hídricos como bem natural de valor ecológico,

social e econômico, cuja utilização deve ser orientada pelos princípios do

desenvolvimento sustentável;

1 A partir de 1957 o DAEE passou a contar com o apoio técnico da Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo. Em 1970 foi criado na USP o Centro de Tecnologia de Hidráulica, hoje, Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica. Tal fundação é responsável pelo gerenciamento do Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo (SAISP), operando um radar meteorológico do DAEE e emite boletins regulares sobre as formações meteorológicas que irão atravessar a capital paulista e mapas contendo informações sobre previsões de inundações.

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d) A adoção da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento

e gerenciamento;

e) A prevenção de efeitos adversos da poluição, das inundações e da erosão do

solo;

f) O reconhecimento da unidade do ciclo hidrológico em suas três fases:

superficial, subterrânea e meteórica.

As diretrizes estabelecidas pela lei mineira também guardam estreitas semelhanças

com relação aquelas definidas pela lei paulista, estando entre elas:

a) A realização de programas permanentes de proteção, melhoria e recuperação

das disponibilidades hídricas superficiais e subterrâneas;

b) A realização de programas permanentes de proteção das águas superficiais e

subterrâneas contra a poluição;

c) A prevenção da erosão do solo nas áreas urbanas e rurais, com vistas à

proteção contra a poluição e o assoreamento dos corpos de água;

d) A defesa contra eventos hidrológicos críticos, que ofereçam riscos à saúde e à

segurança pública ou provoquem prejuízos econômicos e sociais.

Na mesma linha, os instrumentos previstos por essa Lei se assemelham aos que foram

adotados no Estado de São Paulo em 1991, entre eles:

a) A outorga de direito de uso das águas;

b) A cobrança e a compensação financeira pela exploração e pelo uso dos

recursos hídricos.

c) A elaboração de um plano estadual de Recursos hídricos.

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A Lei mineira criou o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, definiu

as atribuições dos comitês de bacia hidrográfica e das agências de bacia e estabeleceu

que o Plano Estadual de Recursos Hídricos fosse encaminhado à Assembleia

Legislativa, na forma de projeto de lei, até o final do primeiro ano de mandato do

governador do estado, exatamente como dispõe a Lei do Estado de São Paulo.

A Lei nº 11.504 de 1994 foi substituída pela Lei nº 13.199 de janeiro de 1999 que

manteve a essência do diploma legal anterior, mas introduziu novos instrumentos da

política estadual de recursos hídricos, entre eles:

a) O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo seus usos

preponderantes;

b) O sistema de informações sobre recursos hídricos;

c) A elaboração de planos de bacias.

A nova lei definiu também diretrizes para a outorga, e para a cobrança, bem como as

competências dos diversos integrantes do Sistema Estadual de Gerenciamento de

Recursos Hídricos.

1.2.3. O Processo de Implantação do Sistema Integrado de Gerenciamento dos

Recursos Hídricos (SIGRH) no Estado de São Paulo e os Comitês de Bacias

A gestão das águas no Brasil envolve a União, Estados, Municípios, Comitês de

Bacias Hidrográficas, Agências de Bacias, Agências Reguladoras Estaduais, Agências

Reguladoras por bacia hidrográfica, entre outros entes.

Após a promulgação da Lei nº 7.663/1991 no Estado de São Paulo, no período entre

1993 e 1997 foram implantados 21 dos 22 comitês existentes (Quadro 1). O último

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deles, o Comitê da Bacia Hidrográfica da Serra da Mantiqueira foi implantado em 2001.

Dessa forma, a primeira fase do processo de institucionalização do Sistema Integrado

de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH), quanto à implantação dos comitês

de bacia, avançou logo após a aprovação da Lei paulista.

Quadro 1. Comitês de Bacias Hidrográficas de São Paulo - Datas de implantação

Comitê de Bacia Sigla Data de implantação

Piracicaba, Capivari e Jundiaí PCJ 18/11/1993

Baixo Tietê BT 26/08/1994

Alto Tietê AT 09/11/1994

Paraíba do Sul PSM 25/11/1994

Médio Paranapanema MP 02/12/1994

Sorocaba e Médio Tietê SMT 02/08/1995

Tietê e Jacaré TJ 10/11/1995

Baixada Santista BS 09/12/1995

Turvo/Grande TG 15/12/1995

Aguapeí e Peixe AP 19/12/1995

Ribeira de Iguape Litoral Sul RB 13/01/1996

Baixo Pardo/Grande BPG 23/03/1996

Sapucaí-Mirim/Grande SMG 29/03/1996

Alto Paranapanema ALPA 17/05/1996

Mogi Guaçu MOGI 04/06/1996

Pardo PARDO 12/06/1996

Pontal do Paranapanema PP 21/06/1996

Tietê e Batalha TB 13/09/1996

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Comitê de Bacia Sigla Data de implantação

Litoral Norte LN 02/08/1997

São José dos Dourados SJD 07/08/1997

Serra da Mantiqueira SM 01/09/2001

Fonte: DAEE

Cabe destacar que o Comitê de Bacias PCJ, foco deste estudo foi o primeiro a ser

constituído no Estado de São Paulo após a promulgação da Lei Estadual nº 7.663/1991.

A estrutura deste Comitê está apresentado no Capitulo 2.

Como forma de apresentar a cronologia dos marcos legais do desenvolvimento da

gestão de recursos hídricos no Brasil e no Estado de São Paulo, com destaque para as

Bacias PCJ, foi construído o infográfico na Figura 4.

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Figura 4 Cronologia dos marcos legais no desenvolvimento da gestão de recursos hídricos

no Brasil, no Estado de São Paulo e nas Bacias PCJ

Fonte: OCDE (2015)

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Parte 2 Bacias Hidrográficas Piracicaba - Capivari - Jundiaí

(BACIAS PCJ)

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2. BACIAS HIDROGRÁFICAS PIRACICABA - CAPIVARI - JUNDIAI (BACIAS

PCJ)

2.1. CARACTERIZAÇÃO DAS BACIAS PCJ

A área de abrangência das Bacias PCJ compreende um recorte hidrográfico na região

sudeste do Brasil com 15.303,67 km2, sendo 92,6% no Estado de São Paulo e 7,4% no

Estado de Minas Gerais, apresentando extensão aproximada de 300 km no sentido

Leste-Oeste e 100 km no sentido Norte-Sul (Figura 5 e Quadro 2).

Figura 5 A Bacia hidrográfica no Brasil e nos Estados de São Paulo e Minhas Gerais

Fonte: ANA (2016).

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Quadro 2. Área das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí

Bacias Área SP (km2) Área MG (km2) Área total (km2) Área total (%)

Piracicaba 11.402,84 1.165,88 12.568,72 82,1

Capivari 1.620,92 - 1.620,92 10,6

Jundiaí 1.114,03 - 1.114,03 7,3

Total PCJ 14.137,79 1.165,88 15.303,67 100,0

Fonte: IRRIGART (2007).

As Bacias PCJ são formadas por sete sub-bacias: Rio Piracicaba e seus afluentes e

formadores, Rios Jaguari, Atibaia, Corumbataí e Camanducaia e as bacias dos Rios

Capivari e Jundiaí (Figura 6 e Quadro 3).

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Figura 6. As Bacias PCJ

Fonte: Relatório de gestão das Bacias PCJ 2014.

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Quadro 3. Áreas das Sub-bacias do rio Piracicaba (SP e MG)

Sub-bacias Área SP (km2)

Área MG (km2)

Área total Área no Sistema

Cantareira

(km2) (%) (km2) (%)

Camanducaia 870,68 159,32 1.030,00 8,2 - -

Jaguari 2.323,42 966,58 3.290,00 26,2 1.252,00 9,9

Atibaia 2.828,76 39,98 2.868,74 22,8 715,00 5,7

Corumbataí 1.679,19 - 1.679,19 13,4 - -

Piracicaba 3.700,79 - 3.700,79 29,4 - -

Total Piracicaba 11.402,84 1.165,88 12.568,72 100,0 1.967,00 15,6

Fonte: IRRIGART (2007).

Essas bacias estão inseridas na Macrometrópole Paulista, uma região onde vivem cerca

de 32 milhões de habitantes, distribuídos por 173 municípios, em uma área de 49 mil

km quadrados. A Macrometrópole é composta por cinco regiões metropolitanas, São

Paulo, Campinas, Sorocaba, Vale do Paraíba, Baixada Santista e pelos aglomerados

urbanos de Jundiaí e Piracicaba e pela microrregião da Bragantina.

Nas Bacias PCJ estão inseridos 76 municípios, sendo 71 deles no Estado de São Paulo e

5 em Minas Gerais. Integram as Bacias PCJ os 19 municípios da Região Metropolitana

de Campinas, 20 municípios do Aglomerado Urbano de Piracicaba, os 7 municípios do

Aglomerado Urbano de Jundiaí e os 11 municípios da Unidade Regional da Bragantina.

Há ainda um município das Bacias PCJ que integra a Região Metropolitana de São

Paulo (Mairiporã), e um que integra a Região Metropolitana de Sorocaba (Salto).

Apenas cinco pequenos municípios da porção paulista das Bacias PCJ não fazem parte

da Macrometrópole Paulista e, além deles, os 5 municípios da porção mineira das

Bacias (Figura 9).

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A água é um recurso essencial para a pujança econômica de toda essa região,

demonstrado de forma sintetizada pelo PIB das Bacias PCJ, em torno de R$ 248 bilhões

em valores presentes (Quadro 4).

Quadro 4. PIB das principais regiões constitutivas das Bacias PCJ (em bilhões de reais -2012)

Região R$ Históricos R$ Presentes

Região Metropolitana de Campinas 110,23 136,54

Aglomerado Urbano de Jundiaí 43,91 54,39

Aglomerado Urbano de Piracicaba 38,26 47,39

Unidade Regional Da Bragantina 8,26 10,23

Total PIB 200,66 248,55

Nota: valores presentes corrigidos pela inflação (Fev/2016)

Fonte: EMPLASA (2015).

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Figura 7 Mapa da situação dos municípios das Bacias PCJ

Fonte: COBRAPE (2010).

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As Bacias PCJ começam na microrregião da Bragantina, a leste e por um pequeno

território do sul de Minas Gerais e atravessam a Macrometrópole Paulista até a região

do Aglomerado Urbano de Piracicaba, a oeste, passando pela Região Metropolitana de

Campinas e pelo Aglomerado Urbano de Jundiaí e terminando a oeste na margem

direita do Rio Tietê. A grande maioria dos municípios das Bacias PCJ faz parte da

Macrometrópole Paulista, tais como Campinas, Jundiaí, Piracicaba, Americana, Limeira,

Indaiatuba, entre outros.

No Estado de São Paulo, as Bacias PCJ estendem-se por 14.137,79 km2, sendo

11.402,84 km2 correspondentes à Bacia do Rio Piracicaba, 1.620,92 km2 à Bacia do Rio

Capivari e 1.114,03 km2 à Bacia do Rio Jundiaí (IRRIGART, 2007). Os três cursos d’água

desenvolvem-se em leitos ligeiramente paralelos no sentido nordeste-sudoeste, até

afluírem ao rio Tietê, sendo de montante para jusante primeiro o Rio Jundiaí, depois o

Rio Capivari e por último o próprio Rio Piracicaba. Assim, não se constituem em um

conjunto clássico de sub-bacias compondo uma única bacia, mas de bacias limítrofes,

embora todas afluam pela margem direita ao Rio Tietê. Na realidade, a bacia

unificadora é o próprio Rio Tietê que tem suas nascentes na Região Metropolitana de

São Paulo (RMSP) e , dentre todos os rios paulistas, é o de maior extensão.

A região das nascentes do rio Tietê recebe as águas derivadas pelo Sistema Cantareira

para abastecer em parte a população da RMSP com cerca de 21 milhões de habitantes.

Portanto, as águas das Bacias PCJ, além de atender as demandas crescentes da

população e suas atividades econômicas, também são indispensáveis para abastecer a

RMSP.

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O SISTEMA CANTAREIRA

O Sistema Cantareira exerce um papel determinante nas Bacias PCJ porque possibilita a regularização de vazões.

O Sistema Cantareira representa um conjunto de obras hidráulicas de destaque nas

Bacias PCJ sendo responsável pela reversão das suas águas para a RMSP. Trata-se de

um complexo sistema de reservatórios, túneis e canais que aduzem as águas derivadas

da região de nascentes do PCJ para a Bacia do Rio Juqueri, de onde, por recalque,

vencem a serra da Cantareira e abastecem a RMSP.

A área total do Sistema Cantareira tem aproximadamente 2.279,5 Km². O sistema é

considerado um dos maiores do mundo, abrangendo 12 municípios, quatro deles no

Estado de Minas Gerais (Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí-Mirim) e oito no

Estado de São Paulo (Bragança Paulista, Caieiras, Franco da Rocha, Joanópolis, Nazaré

Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem). O Cantareira está localizado muito próximo às

nascentes dos rios que são seus contribuintes, sendo considerado um sistema

produtor de água.

O Sistema Cantareira - que se constitui o maior produtor de água para abastecimento

da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) -, é responsável aproximadamente

entre 30 e 70% da produção total de água potável, variação decorrente da

disponibilidade hídrica e da necessidade de atender também as demandas da própria

Bacia PCJ.Esse sistema foi proposto tendo como objetivo a resolução de problemas

crônicos de abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo que já eram

presentes desde a década de 602.

2 O Sistema Cantareira começou a ser planejado em 1962 pela Comissão Especial para o Planejamento

das Obras de Abastecimento e Distribuição de Água da Capital – CEPA. Inicialmente foi denominado Sistema Juqueri, pela circunstância de que, no primeiro momento, as águas seriam originárias do rio

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Ao longo dos anos 70, as represas do sistema entraram em operação, primeiramente

com as represas Paiva Castro (Figura 8) e Águas Claras em 1973, as represas Cachoeira

e Atibainha em 1975 e, finalmente, as represas Jaguari e Jacareí em 1981. Em 05 de

agosto de 1974, o ministro de Minas e Energia assinava a portaria MME nº 750

autorizando a SABESP a derivar até 33 m³/s das águas provenientes dos rios Jaguari,

Cachoeira, Atibainha e Juqueri, estabelecendo um prazo de 30 anos de vigência para

essa autorização.

Figura 8. Represa Paiva de Castro do Sistema Cantareira

Juqueri e apenas posteriormente receberiam as contribuições dos rios Atibainha, Cachoeira e Jaguari, com uma adução de 17 m³/s. Em 1966 tinha início a construção do Reservatório Paiva Castro, no Rio Juqueri. Em 1967 verificou-se a possibilidade do aumento da capacidade de adução do sistema para 22 m³/s. Em 1968, foi criada a Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo, com a finalidade de captar, tratar e vender água potável para os 37 municípios da Grande São Paulo, inclusive para a Capital. Em 1968 foi publicado o documento “Desenvolvimento Global dos Recursos Hídricos das Bacias do Alto Tietê e Cubatão – Plano Diretor de obras”, elaborado pelo DAEE e por um consórcio de três empresas de engenharia. O estudo abordou a questão do abastecimento de água, coleta e tratamento dos esgotos e o controle de cheias nas bacias do Alto Tietê, do Rio Piracicaba e da Baixada Santista. O Relatório final propôs a construção do Sistema Cantareira para resolver os problemas crônicos de abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo. O Plano fixou a capacidade final do sistema em 33 metros cúbicos por segundo, ampliando a vazão revertida dos Rios Jaguari e Jacareí (Consórcio Intermunicipal das Bacias PCJ, 2013)

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As interligações entre os reservatórios que constituem o sistema são feitas por túneis e

canais. Os reservatórios criados pelas barragens dos Rios Jaguari e Jacareí unem-se por

um canal e formam um único reservatório chamado Jaguari - Jacareí. Por sua vez, o

reservatório Jaguari - Jacareí e o reservatório Cachoeira são ligados por um túnel de

5,6 quilômetros. Um segundo túnel de 5 quilômetros, faz a ligação entre os

reservatórios do Cachoeira e Atibainha. Outros dois túneis, de 10 e de 1 quilômetro

ligam, respectivamente, o Reservatório de Atibainha ao do Juqueri e este último à

Elevatória de Santa Inês.

Essa Estação Elevatória foi construída para que as águas pudessem atravessar a Serra

da Cantareira, por meio de bombeamento. Dotada de quatro grupos de recalque de

20.000 HP, a unidade utiliza três deles para bombear até 33 m³/s. O quarto grupo

representa uma unidade de reserva. Impulsionada pelas bombas, a água se eleva até o

alto da serra, a uma cota de 120 metros para, então, cair por gravidade. Através de um

canal de 950 metros e um túnel de 800 metros, as águas chegam finalmente ao

Reservatório de Águas Claras (PORTO et al, 2014) (Figura 9).

Figura 9 O Sistema Cantareira

Fonte: Adaptado de ANA (2016).

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O Sistema conta 6 reservatórios que se situam em diferentes níveis, estando

interligados por 48 km de túneis. Dos seis reservatórios do Sistema Cantareira, quatro

estão situados nas Bacias PCJ:

a) Reservatórios Jaguari e Jacareí: situados nos municípios de Bragança Paulista,

Joanópolis, Vargem e Piracaia e alimentados pelos Rios Jaguari e Jacareí, cujas

nascentes estão localizadas em Minas Gerais.

b) Reservatório Cachoeira: alimentado pelo Rio Cachoeira e localizado no

município de Piracaia.

c) Reservatório Atibainha: alimentado pelo Rio Atibaia e situado nos municípios

de Nazaré Paulista e Piracaia.

O quinto reservatório, Engenheiro Paulo de Paiva Castro, situa-se nos municípios de

Mairiporã, Caieiras e Paiva Castro, todos situados fora da área das Bacias PCJ. Através

de bombeamento, as águas chegam ao reservatório de Águas Claras.

Das vazões produzidas pelo Sistema Cantareira, até cerca de 31 m3/s são gerados na

Bacia do Rio Piracicaba, sendo que cerca de 22 m³/s vêm dos reservatórios Jaguari -

Jacareí, cujas bacias estão localizadas em Minas Gerais. Cerca de apenas 2 m³/s são

produzidos na Bacia do Alto Tietê, pelo rio Juqueri (AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ E

COMITÊS DAS BACIAS PCJ, 2015).

Além desses, estão no Estado de Minas Gerais as nascentes dos principais tributários

do rio Cachoeira, fazendo com que cerca de 45% da área produtora de água para o

Sistema Cantareira esteja em território mineiro.

A Portaria 1213/04, do DAEE, renovou a outorga do Sistema Cantareira para a SABESP

por dez anos, vencendo em 2014. No entanto, em razão da crise hídrica, a renovação

da outorga foi adiada para 2017. Isso mostra que num cenário de competição pelos

recursos hídricos nas Bacias PCJ, incluindo a demanda da própria Região

Metropolitana de São Paulo, devem ser pensados e planejados procedimentos

avançados de alocação da água.

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A operação do Sistema conta com o auxílio e acompanhamento da Câmara Técnica de

Monitoramento Hidrológico (CT-MH) através do Grupo Técnico – Cantareira (GT -

Cantareira), o qual analisa mensalmente, ou quando necessário, a situação do sistema

equivalente através de boletins emitidos pela ANA. Os boletins com informações

referentes aos valores das vazões revertidas, afluentes e descarregados, subsidiam o

GT Cantareira para proposição de vazões a adotar para o mês subsequente. Essa

integração, inédita no Brasil, faz com que o Sistema Cantareira possua um modelo de

gestão compartilhada dos recursos hídricos.

Os valores das vazões revertidas para a RMSP e vazões descarregadas para o PCJ são

estipulados em reunião da Câmara Técnica. A correspondente diferença entre esses

valores é a sobra que vai para o Banco de Águas, ou é retirado do banco. Dessa forma,

as vazões mínimas são sempre estipuladas pela ANA com base nos volumes

armazenados e nas curvas de aversão ao risco para cada mês.

Apesar de as regras estarem bem definidas, as partes podem requerer vazões menores

que as estabelecidas, reservando o restante ao Banco de Águas, constituindo uma

reserva adicional. A operação inversa também pode ser realizada, isto é, na existência

de saldo no Banco de Águas, ambas as partes podem solicitar vazões maiores que as

autorizadas e abater o excesso no Banco de Águas. Na ocorrência da forte estiagem

entre 2014 e 2015, esse modelo foi questionado, sendo considerado por atores das

Bacias PCJ como insuficiente para dar respostas, logo passível de alteração no futuro,

inclusive para atender não somente a eventos de estiagem, mas também às cheias,

situação que não se pode descartar. Em função das cheias de 2010 e 2011, em 2012

discutiu-se a diminuição do volume operacional do Sistema, aumentando o volume de

amortecimento de cheias; no entanto, o que ocorreu foi uma estiagem jamais

registrada, mostrando toda a variação do clima, com eventos extremos opostos em

sua natureza em períodos muito curtos de tempo.

Já no período da estiagem, houve forte atuação da ANA, quando foram divulgados

vários comunicados conjuntos com o DAEE/SP, bem como ofícios, notas técnicas e

resoluções conjuntas. Para a gestão do Sistema Cantareira foi criado, através da

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Resolução Conjunta ANA/DAEE nº 120 de 10 de fevereiro de 2014, o grupo técnico de

assessoramento para o período de crise de escassez de chuvas e afluências.

O exposto sobre o Sistema Cantareira e o respectivo regime de vazões estabelecido

pela outorga atual em vigor, prorrogada provisoriamente em plena estiagem,

mostram que as vazões que passam pelos rios à jusante das barragens são

influenciadas significativamente pelo sistema.

A Sabesp, como operadora de saneamento, embora seja a responsável pelas

barragens, reservatórios e canais que o compõem, as regras operacionais sobre as

vazões captadas e revertidas, bem como o que deve ser lançada para jusante

originam-se dos órgãos gestores dos recursos hídricos em nível nacional, a ANA, e o

DAEE/SP.

Em suma, a companhia é usuária dos recursos hídricos e, mesmo que tenha a

responsabilidade em abastecer a RMSP, está sujeita às disposições desses órgãos, os

quais atuam de forma também a atender as demandas das Bacias PCJ, expressas por

meio do seu Comitê, de instituições civis como o Consórcio de municípios PCJ e da sua

Agência.

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2.2. ESTRUTURAÇÃO INSTITUCIONAL E GOVERNANÇA DAS BACIAS PCJ

A longa história de disputa pelos recursos hídricos nas Bacias PCJ e a degradação de suas águas, notadamente a sua jusante, levaram a uma crescente organização

da sociedade civil, a qual se refletiu em várias entidades como o Consórcio de Municípios PCJ, com reconhecida ação e história pela recuperação e preservação

das águas da bacia.

CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DAS BACIAS PCJ

Em 1988, os prefeitos de Piracicaba e de Bragança Paulista propuseram a articulação

de municípios da bacia do Rio Piracicaba, com o objetivo de desenvolver programas de

despoluição e proteção dos mananciais. Dessa forma, em 1989 era criado o Consórcio

Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, com a participação

inicial de 12 municípios.

O Consórcio é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, composto

originalmente por municípios e atualmente por municípios e empresas públicas e

privadas que tem como objetivo a recuperação dos mananciais da região.

Nos primeiros anos, a atividade do Consórcio foi concentrada no debate da questão

hídrica na região, além do planejamento e fomento de ações em favor da recuperação

dos mananciais. O Consórcio PCJ defendeu o modelo descentralizado de gestão das

águas, tendo participado das discussões que levaram à aprovação da Lei paulista e,

posteriormente, da Lei federal. O Consórcio atuou para que a Lei federal instituísse a

agência de bacia como órgão executivo do sistema de gestão dos recursos hídricos. O

Consórcio considerava que a existência das agências de bacia seria essencial para o

sucesso do modelo descentralizado de gestão dos recursos hídricos.

O Consórcio antecedeu a criação dos Comitês das Bacias PCJ em 4 anos e em 21 anos a

Agência das Bacias PCJ, tendo desempenhado um importante papel na constituição

dessas instituições.

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O Consórcio criou o Programa de Investimento do Consórcio PCJ, com contribuição

voluntária por município de R$ 0,01 por metro cúbico de água faturada. Os recursos

arrecadados financiaram ações de reflorestamento e diversos estudos. O Programa se

constituiu em um precursor da cobrança pelo uso de recursos hídricos na região.

Em 2005, a deliberação conjunta dos Comitês PCJ n° 24 de 21 de outubro aprovou a

indicação do Consórcio PCJ para desempenhar transitoriamente as funções de agência

de água dos Comitês das Bacias Hidrográficas PCJ. Ainda em 2005, o Consórcio assinou

o Contrato de Gestão nº 030 com a Agência Nacional de Águas, pelo qual esta última

atribuiu ao Consórcio às funções de entidade delegatária. Em decorrência desse

acordo, em dezembro desse mesmo ano, tinham início as atividades da Agência de

Água PCJ, parte integrante do Consórcio.

O Consórcio PCJ desempenhou as funções de agência de bacia até a constituição da

Fundação Agência das Bacias PCJ no final de 2009 e o início de suas atividades em

janeiro de 2011. As despesas administrativas da Agência de Água foram suportadas

por 7,5% dos recursos da Cobrança federal.

Cabe ressaltar que, em 2006, teve início a cobrança nos rios de domínio federal das

Bacias PCJ e, a partir desse momento, projetos com o objetivo de tratamento de

esgotos, redução de perdas, reflorestamento, entre outros objetivos, começaram a ser

apoiados, pelos Comitês PCJ através da Agência de Água PCJ, criada no Consórcio.

Em 2007, foi iniciada a cobrança pelo uso de recursos hídricos em rios de domínio

estadual cabendo ao Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São

Paulo (DAEE) a gestão dos recursos arrecadados. Para facilitar a administração

conjunta dos recursos arrecadados pela cobrança federal e estadual, o Consórcio e o

DAEE firmaram um convênio.

Em janeiro de 2011, todas as funções de agência de bacia, inclusive as de

administração dos recursos de cobrança federal, foram transferidas para a Fundação

Agência das Bacias PCJ.

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Entre 2010 e 2011, o Consórcio PCJ também atuou como agência de bacias para o

Comitê Piracicaba e Jaguari de Minas Gerais, através de convênio com o Instituto

Mineiro de Gestão das Águas - IGAM.

O Consórcio criou ainda o Centro de Referência em Gestão e Proteção dos Recursos

Hídricos, para difusão das experiências e conhecimentos relacionados à educação

ambiental, reflorestamento ciliar, racionalização do uso da água e gestão dos recursos

hídricos. Em 2004 o Consórcio recebeu da Companhia Paulista de Força e Luz uma área

de cerca de dez mil metros quadrados em Americana para abrigar o centro. Esse

espaço serve como ambiente de treinamento e capacitação de recursos humanos em

recursos hídricos.

COMITÊS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS PCJ

As Bacias Hidrográficas PCJ, por abranger rios pertencentes aos estados de São Paulo e

Minas Gerais, assim como rios de domínio federal, apresentam uma organização

específica que inclui 2 Comitês Estaduais (CBH-PCJ e CBH-PJ) e 1 Comitê Federal (PCJ

Federal).

O Comitê Estadual de São Paulo (CBH-PCJ), criado em 1993, foi o primeiro dentre os

demais Comitês e representa também o primeiro comitê de bacia do Estado de São

Paulo. O Comitê das Bacias PCJ Federal foi criado em março de 2003 e, finalmente, o

Comitê Estadual da Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba e Jaguari (CBH-PJ) de Minas

Gerais em 2007.

O funcionamento dos Comitês das Bacias Hidrográficas Piracicaba – Capivari – Jundiaí é

integrado. O CBH PCJ (Comitê Estadual de São Paulo) tem 51 membros; o Comitê PCJ

Federal tem 50 membros e o Comitê PJ (Comitê Estadual de Minas Gerais) tem 12

membros. Dos 50 membros do Comitê Federal, 29 são membros do Comitê Estadual

de São Paulo e 9 membros do Comitê Estadual de Minas Gerais (Figura 4). Esse

complexo arranjo institucional possibilita uma grande coesão entre os Comitês que

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tem como objetivos comuns a garantia do abastecimento da Região, a recuperação

dos rios das bacias e aumento da disponibilidade hídrica.

Entre suas principais competências estão:

a) Promover o gerenciamento dos recursos hídricos em consonância com a gestão

ambiental, visando ao desenvolvimento sustentável das Bacias Hidrográficas

dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, mediante articulação permanente com o

Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí - CBH-

PCJ, instituído pela Lei estadual de São Paulo no 7.663, de 30 de dezembro de

1991, e com o Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba e Jaguari – CBH-

PJ, criado no âmbito da Lei estadual de Minas Gerais nº 13.199, de 29 de

janeiro 1999, buscando a convergência das decisões e ações decorrentes de

forma a garantir o desenvolvimento e continuidade da gestão dos recursos

hídricos na sua área de atuação;

b) Promover o reconhecimento dos recursos hídricos como um bem de domínio

público dotado de valor econômico, cuja utilização é passível de cobrança,

observando-se os aspectos de qualidade e quantidade;

c) Promover a utilização racional dos recursos hídricos superficiais e

subterrâneos, assim como o seu aproveitamento múltiplo;

d) Promover programas de investimentos relativos à proteção e melhoria da

qualidade e quantidade dos recursos hídricos;

e) Promover as ações e exercer as atribuições definidas na Política Nacional de

Recursos Hídricos, implementando e integrando o previsto na Lei nº 9.433/97 e

nas leis estaduais correspondentes, sobretudo a Lei nº 7.663, de 30 de janeiro

de 1991 do Estado de São Paulo e a Lei nº 13.199, de 29 de janeiro de 1999 do

Estado de Minas Gerais e seus regulamentos;

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Figura 10 Composição dos Comitês de Bacias PCJ

Fonte: Fundação Agência das Bacias PCJ (2014)

Cabe ressaltar que a estruturação do Comitê Federal das Bacias PCJ levou em conta

não somente a população e a área da porção mineira, mas também a importância,

para as bacias, dos rios que nascem em Minas Gerais. Apesar do Estado mineiro

representar apenas 1% da população e 7,4% da área das bacias, as nascentes de

diversos rios de grande importância nas Bacias PCJ estão em Minas Gerais, como é o

caso dos rios Jaguari, Cachoeira e Camanducaia.3

Os Comitês de Bacias Hidrográficas PCJ possuem 12 câmaras técnicas, a saber:

Planejamento (CT-PL), Águas subterrâneas (CT-AS), Integração e difusão de pesquisas e

tecnologias (CT-ID), Educação ambiental (CT-EA), Monitoramento hidrológico (CT-MH),

3 O rio Jaguari junta-se ao rio Atibaia formando o rio Piracicaba que é um dos cursos d’água que definem

as Bacias PCJ e que se constitui no maior afluente do rio Tietê em volume d’água. Por sua vez, o rio Cachoeira forma o reservatório que leva seu nome e é um dos seis que integram o Sistema Cantareira.

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Outorgas e licenças (CT-OL), Uso e conservação de águas na indústria (CT-Indústria),

Plano de bacias (CT-PB), Proteção e conservação dos recursos naturais (CT-RN),

Saneamento (CT-SA), Saúde ambiental (CT-SAM), Uso e conservação de água no meio

rural (CT-Rural) (Figura 11):

Figura 11 Organograma das Câmaras Técnicas dos Comitês PCJ

Fonte: Fundação Agência das Bacias PCJ (2014)

Em 2014 essas câmaras realizaram 88 reuniões envolvendo 163 entidades e 614

membros, em diversas cidades das Bacias PCJ.

FUNDAÇÃO AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ

A criação da Fundação Agência das Bacias PCJ foi resultado de um longo processo que

teve início em 1993 quando os Comitês PCJ aprovaram proposta de criação da Agência

para ser submetida ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos.

Em 1994, o Comitê aprovou uma minuta de anteprojeto de lei autorizando o executivo

a participar da criação da criação da Fundação Agência das Bacias PCJ.

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Em 1998, foi aprovada a Lei 10.020 autorizando o governo do Estado a participar da

constituição de fundações agências de bacias. Nas suas disposições transitórias, a lei

determinava que o governo do estado tomasse as medidas necessárias para instituir a

Fundação Agência das Bacias PCJ juntamente com municípios e entidades da

sociedade civil.

A criação da Fundação teve então de esperar o início da cobrança nas bacias, o que

ocorreu em 2006 com a Cobrança Federal e, em 2007, com a Cobrança Estadual.

Posteriormente, 48 municípios paulistas integrantes das Bacias PCJ aprovaram leis

autorizando seus executivos a participar da constituição da Fundação Agência das

Bacias PCJ (COMITÊS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E

JUNDIAÍ, 2009). Finalmente em novembro de 2009 foi constituída a Fundação Agência

das Bacias PCJ.

Em setembro de 2010, a Agência PCJ firmou um convênio com o DAEE para

administração conjunta dos recursos da cobrança estadual, tendo este último

transferido documentos e serviços. A partir desse momento, a Agência passou a

financiar projetos com recursos originários do FEHIDRO, que recolhe os valores da

cobrança estadual e os disponibiliza para aplicação pela Agência, além de recursos

originários da compensação pelo uso de água para geração de energia elétrica que são

destinados a projetos definidos pela Agência.

Em janeiro de 2011, a Fundação Agência das Bacias PCJ assinou contrato de gestão

com a ANA pelo qual passou a desempenhar as funções de agência de bacias na região

e a gerir os recursos da Cobrança federal.

Em setembro de 2012, o DAEE transferiu os recursos destinados às Bacias PCJ da

Cobrança e do FEHIDRO. A partir desse momento o processo de institucionalização da

gestão descentralizada e participativa estabelecida pela legislação estadual e pela

legislação federal estava completo.

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A Agência é uma das cinco que existem no país que administram recursos da cobrança

federal.

O SISTEMA DE INFORMAÇÕES DAS BACIAS PCJ

O Sistema de informações das Bacias PCJ integra o Sistema Nacional de Informações

sobre Recursos Hídricos. Ele utiliza informações que são geradas pelas estações e

sistemas controlados pela ANA, pelo DAEE e pela SABESP (Sistema Cantareira).

Em São Paulo o monitoramento hidrológico é realizado pelo DAEE desde 1951. Através

do site do DAEE, chega-se à página do Sistema Integrado de Bacias Hidrográficas –

Hidrologia onde é possível selecionar uma das estações de coleta de dados existentes

no Estado e acessar as informações. É possível acessar estações pluviométricas,

fluviométricas e piezométricas.

Parte dessas estações é operada por telemetria havendo, portanto, informações

atualizadas na rede. Em outras, as informações são coletadas fisicamente nas estações

e enviadas, posteriormente, ao DAEE, que as inclui no sistema.

As estações são de propriedade da ANA, do DAEE, de empresas de geração e

distribuição de eletricidade, de instituições de pesquisa agronômica como a EMBRAPA

e o Instituto Agronômico de Campinas, de empresas de saneamento como a SABESP e

outras.

Em 2010, foi montada uma sala de situação na sede do DAEE em Piracicaba para

monitorar os Rios das Bacias PCJ. Duas vezes por semana são emitidos boletins sobre o

estado das vazões que são publicados no site da sala de situação. Os usuários têm a

responsabilidade de acessar o site e verificar se há vazão de restrição, quando são

obrigados a reduzir a captação entre 20 e 30%, dependendo do uso. Caso não o façam

se sujeitam à imposição de multa.

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A sala de situação das Bacias PCJ (Figura 12) foi montada com recursos da cobrança

estadual. Outras salas de situação do DAEE existem em São Paulo, Registro e Taubaté.

Figura 12 Sala de Situação das Bacias PCJ

Por sua vez, o monitoramento do Sistema Cantareira é realizado pela SABESP que

publica diariamente em seu site os níveis das represas que constituem o Sistema, a

pluviometria acumulada do mês, a média histórica do mês e a pluviometria do dia.

Os Planos de Bacias

A elaboração de planos de bacias está prevista pelas legislações de São Paulo e Minas

Gerais e pela legislação federal como uma obrigação dos comitês e agências de bacia.

A Lei Federal define os temas que os planos de bacias devem necessariamente

abordar, incluindo-se, entre outros:

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a) Um diagnóstico da situação dos recursos hídricos;

b) Uma análise do crescimento populacional da bacia, da evolução das principais

atividades econômicas e das tendências de ocupação do solo;

c) Um balanço entre disponibilidade hídrica e demandas futuras em quantidade e

qualidade e identificação de potenciais conflitos;

d) Metas de aumento da disponibilidade, melhoria da qualidade e de

racionalização do uso;

Conforme exige a legislação, o Plano de Bacias PCJ apresenta o perfil econômico e

social das Bacias, as projeções de crescimento populacional, as análises e projeções da

demanda por usos, bem como análises sobre a disponibilidade hídrica, qualidade dos

corpos d’água, além de questões relativas a outorga e ao enquadramento dos rios,

entre outros temas. Todas essas análises resultam em planos de investimentos no

sistema hídrico da região.

O Plano de Bacias em vigor estimou em R$ 2.013.339.303,88 em valores de 2010, o

total de investimentos necessários para que fosse atingido um cenário desejável no

que tange à coleta e tratamento de esgotos em 2020. Contudo, o Plano assinalou que

desse total haveria R$ 633.333.443,06 assegurados, havendo necessidade de se obter

R$ 1.380.005.860,82 adicionais, sem que fosse identificada a fonte desses recursos

(COBRAPE, 2010). Ao longo de vinte anos, todos os recursos aplicados pelos Comitês e

Agência de Bacias PCJ, originários da cobrança e compensação, em todas as áreas,

foram de cerca de 533 milhões de reais a preços de fevereiro de 2016. O Plano em

vigor, como seus antecessores, possibilita a realização de diagnósticos sobre a situação

dos recursos hídricos e aponta os investimentos que devem ser realizados para

superar os problemas identificados.

O próprio Plano reconhece que

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(...) Um Plano ambicioso torna-se mais uma manifestação de vontades, do que algo exequível. Comumente, maior abrangência significa menos

divergências, pois contempla a necessidade de todos.

E que

(...) Os custos de um Plano de abrangência ampla são enormes. O orçamento torna-se peça fictícia. Os recursos provenientes de fontes externas de financiamento, ou seja, diferentes daqueles sob tutela dos Comitês PCJ (FEHIDRO e Cobrança), como os da Sabesp, orçamentos públicos, tarifas e outros, não são acordados em documentos legais e arranjos institucionais suficientemente negociados, a serem cumpridos pelos signatários

(PLANO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS PIRACICABA, JUNDIAÍ E CAPIVARI 2010 – 2020).

Uma análise mais detalhada da diferença entre a disponibilidade de recursos e as

demandas para investimento em saneamento apontada pelo Plano de Bacias se

encontra adiante neste documento.

2.3. DISPONIBILIDADE HÍDRICA E ASPECTOS QUALITATIVOS

2.3.1. Disponibilidade Hídrica

A complexidade da gestão dos recursos hídricos acompanha as limitações ao acesso da

água e a seu uso. Quanto mais aumentam os usos e diminui a disponibilidade, mais

complexa se torna a gestão, desde a outorga até a cobrança pelos mais diversos usos.

A cobrança incentiva usos mais eficientes ao penalizar economicamente o desperdício

e a poluição. Neste item, são apresentadas as características gerais das Bacias PCJ

para, em seguida, abordar os atuais mecanismos de gestão. Os impactos da crise

hídrica serão explorados adiante.

Entre os aspectos que influenciam a disponibilidade hídrica de uma determinada

região estão os aportes atmosféricos e a constância, intensidade e periodicidade do

regime de chuvas.

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A carta de isoietas nas Bacias PCJ de longo termo evidencia que o aporte atmosférico é

significativo, embora alterações são possíveis em face de mudanças climáticas. A altura

pluviométrica varia de 1.400 a 1.800 mm/ano no sentido oeste – leste, sendo maior na

região de serra com cotas mais elevadas. Nesse mesmo sentido e a cerca de 80 km

está o oceano Atlântico.

As Bacias PCJ, que recebem esse aporte atmosférico de água, são formadas por duas

unidades de gestão hidrográficas distintas. Em Minas Gerais, há a Unidade de

Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos dos Rios Piracicaba e Jaguari – UPGRH PJ1

e, em São Paulo, a UGRHI 05 (Figura 13)

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Figura 13 Carta de Isoietas das Bacias PCJ

Fonte: CETEC (1999).

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No Estado de São Paulo, a Lei nº 9.034, de 1994, que instituiu a Política Estadual de

Recursos Hídricos, definiu em seu Artigo 13º que:

II – A vazão de referência para orientar a outorga de direitos de uso de recursos hídricos será calculada com base na média das mínimas de 7 (sete) dias consecutivos e 10 (dez) anos de período de retorno e nas vazões regularizadas por reservatórios, descontadas as perdas por infiltração, evaporação ou por outros processos físicos, decorrentes da utilização das águas e as reversões de bacias hidrográficas.

Trata-se da vazão de referência denominada Q7,10 que corresponde à média das vazões

mínimas superficiais registrada em 7 dias consecutivos, considerando 10 anos de

tempo de recorrência, utilizada para fins de outorga e para cálculo do balanço entre

oferta e demanda de água.

A Agência Nacional de Águas, e alguns outros estados, utilizam a vazão de referência

Q95%, menos restritiva que a Q7,10. A Q95% corresponde a uma vazão de referência cuja

curva de permanência indica que em 95% do tempo as vazões são iguais ou maiores.

Em geral essa vazão é um pouco maior que a Q7,10. Qualquer que seja, essa vazão

mínima ocorre na época de estiagem, logo não há contribuição pluvial e isso ocorre

somente da água armazenada do solo.

Em seu Artigo 14, a Lei Estadual nº 9.034 de 1994 define ainda que é considerada

crítica a situação de determinada bacia hidrográfica em que a soma das vazões

captadas supera os 50% da vazão de referência Q7,10 em qualquer trecho dos seus

cursos d’água. Assim, para a Bacia PCJ, a disponibilidade hídrica utilizada respeita esses

ditames legais.

Entretanto, a matriz porosa que compõe os solos das Bacias PCJ têm pouca capacidade

de armazenamento de água. A formação cristalina em grandes porções, o manto de

alteração e o próprio solo raso fazem com que haja uma baixa capacidade de

regularização e armazenamento de vazões nos aquíferos freáticos e profundos. Como

consequência, cresce a importância de reservatórios superficiais de regularizações de

vazões. Essas características tornam ainda mais importantes o aumento do volume de

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reservação para regularização das vazões do escoamento superficial na época das

chuvas.

Da oferta total de água nas Bacias PCJ, a participação das águas subterrâneas é de

apenas 7% do total, logo as águas superficiais respondem por 93%. A base geológica

das Bacias PCJ não favorece a existência de sistemas aquíferos, uma vez que na sua

porção de nascente encontra-se um aquífero cristalino, enquanto que à jusante

predominam outros como o aquífero Tubarão, todos com pouca disponibilidade

hídrica (cerca de apenas 0,30 m³/h/m em média). Somente na porção limítrofe com a

bacia do médio Tietê que há o aquífero Guarani, cuja produtividade é

significativamente maior, em torno de 10 vezes.

A disponibilidade hídrica nas Bacias PCJ é limitada quanto à origem subterrânea, seja a

mais profunda, dada a formação geológica, seja a subsuperficial, dada a pequena

capacidade de armazenamento do manto de alteração. Desse modo, a bacia necessita

contar com barragens de regularização da água superficial para atender suas

demandas hídricas cada vez maiores.

A disponibilidade superficial sofre efeito determinante provocado pelo Sistema

Cantareira existente na região de nascente dos rios que formam a Bacia do rio

Piracicaba. A presença do Sistema alterou totalmente o regime hidrológico dos rios a

jusante, seja pela reversão para abastecer a Região Metropolitana de São Paulo, seja

pela regularização de vazões.

Para jusante das barragens, a vazão mínima a ser considerada é a soma daquelas

impostas pelas regras operacionais somadas às provenientes da área remanescente

até qualquer seção de interesse. Conforme essas regras, dadas pela outorga em vigor,

foi estabelecido que seriam descarregadas vazões mínimas de 2 m3/s no reservatório

Jaguari-Jacareí, 1 m3/s no Cachoeira e 2 m3/s no Atibainha, às quais seriam somadas

vazões da área remanescente entre a seção de cada barragem e a de interesse.

Para dar uma ordem de grandeza dessa disponibilidade hídrica, GIANSANTE (2010)

calculou a vazão mínima específica (Q7,10), a partir da altura pluviométrica média anual,

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1.400 mm/ano, utilizando o método do DAEE, igual a 3,72 L/s.km2, ou seja, cerca de

400 L/s para cada 100 km2. Na região da Serra do Mar, esse valor é praticamente o

dobro, mas as bacias são pequenas, enquanto que no oeste paulista, a disponibilidade

é aproximadamente a metade, embora as bacias sejam da ordem de milhares de

quilômetros quadrados. Seguindo o mesmo método de cálculo (DAEE), nas Bacias PCJ a

vazão média específica é igual a 12,7 L/s.km2, ou seja, cerca de 1.300 m3 a cada 100

km2.

Se há razoável disponibilidade hídrica natural, é importante compará-la com as

demandas, considerando a situação atual e o provável crescimento populacional.

Deve-se também avaliar os aspectos qualitativos da água, pois a poluição inviabiliza o

seu uso se empregados tratamentos mais simples, havendo, portanto, a necessidade

de ponderar o emprego de sistemas mais avançados.

2.3.2. Aspectos qualitativos

A avaliação da qualidade da água é feita por meio de um conjunto de características

físicas, químicas e biológicas. São exemplos: turbidez, teores de substâncias, demanda

bioquímica de oxigênio - DBO, número mais provável de coliformes fecais – NMP/100

ml. As concentrações ou valores limites variam em função do uso pretendido do corpo

d’água superficial e foram estabelecidos em lei de enquadramento inicialmente

estadual e posteriormente federal.

O enquadramento dos corpos d’água em classes de uso é um dos instrumentos da

gestão dos recursos hídricos da Política Nacional de Recursos Hídricos. A Resolução

Conama nº 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre diretrizes ambientais para o

enquadramento dos corpos d’água, que tem seus procedimentos gerais dispostos pela

Resolução do CNRH nº 91, de 5 de novembro de 2008.

A partir do estabelecimento de parâmetros de qualidade a serem mantidos ou

alcançados nos corpos d’água, é possível estabelecer, de forma sustentável, os usos

múltiplos das águas na bacia hidrográfica.

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A legislação que especifica o enquadramento dos corpos d’água superficiais paulistas,

nas Bacias PCJ, é o Decreto Estadual nº 10.755, de 23 de novembro de 1977. As

principais premissas para balizar o enquadramento em uma bacia hidrográfica

consideram os usos dos recursos hídricos, as características de qualidade da água

priorizadas, a vazão de referência considerada e, por fim, as metas a atingir. A Figura

14 ilustra os critérios adotados, os quais, aplicados às Bacias PCJ, indicam se os cursos

d’água estão compatíveis com sua classificação legal (Figura 15).

Figura 14.Classes de enquadramento e respectivos usos e qualidade da água

Fonte: ANA (2016).

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Figura 15 Classes de qualidade (OD e DBO) – Cenário Base 2008.

Fonte: COBRAPE (2010).

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Como pode ser observado na Figura 15 há trechos variados de cursos d’água com o

teor de oxigênio dissolvido (OD) inferior a 2 mg/L, indicando forte poluição e

degradação. Mesmo os rios de Classe 3 exigem mais atenção para tornar a água bruta

em potável, logo a falta de qualidade é um complicador quanto ao possível

aproveitamento para abastecimento público.

Nos rios da Classe 4, legalmente não é permitida a captação para o abastecimento

público, embora atualmente tecnologias permitam produzir água potável dentro do

estabelecido pelo padrão de potabilidade brasileiro, dado pela Portaria do Ministério

da Saúde nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011.

Nos últimos anos, houve inúmeras discussões acerca da questão do enquadramento

dos corpos d’ água e rios nas Bacias PCJ. Em seu encaminhamento final, expresso

junto ao Plano das Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010), foi definida proposta de

atualização do enquadramento. Esse plano estabelece, ainda, diversos cenários para

as Bacias PCJ, sendo assumidas as seguintes premissas:

Adoção de vazão representativa do período de estiagem (Q7,10) como vazão de

referência.

Adoção dos parâmetros de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Oxigênio

Dissolvido (OD) como referência para simulação e definição de metas de

qualidade das águas.

Adoção dos anos de 2014 e 2020 como referência para as metas intermediárias

do plano.

Detalhamento do Programa para Efetivação do Enquadramento, visando

atender integralmente a meta final até 2035.

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De forma geral, na perspectiva do enquadramento, foram estabelecidos junto ao Plano

das Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010) critérios progressivos para alcance da meta

final, com cenários intermediários para os anos de 2014 e 2020. Essas perspectivas

estão diretamente ligadas às metas do Plano das Bacias PCJ, por meio de limitações

para a disposição de cargas orgânicas e do programa de ações e investimentos.

O reenquadramento, com a melhoria da qualidade da água, possibilita o seu

aproveitamento para abastecer populações, a exemplo do que ocorreu em trecho do

Rio Jundiaí, anteriormente enquadrado como Classe 4, atualmente Classe 3. Esta

análise permite concluir que é de grande importância na gestão das Bacias PCJ, o

debate sobre o reenquadramento no qual o Comitê de Bacia possui forte

protagonismo.

2.4. EVOLUÇÃO DA DEMANDA POR USO

A demanda nas Bacias PCJ está fortemente concentrada no abastecimento público

devido aos altos índices de urbanização e contingente populacional expressivo, em

torno de 5,6 milhões de habitantes. Portanto, os usos mais comuns da água nas Bacias

PCJ são consuntivos por meio de derivações para abastecer a população de diversos

municípios dispersos pela rede hídrica, além de uso agrícola e industrial. Não há

produção de energia por hidrelétricas, de forma que os usos concorrentes são para o

abastecimento público (PCJ e Alto Tietê), irrigação e industrial (Quadro 5).

Quadro 5. Demanda de água por setor em % do total

Setor 2010 (%) 2014 (%)

Abastecimento Público 52 54

Usos Industriais 26 25

Usos Rurais 19 19

Outros Usos 3 3

Fonte: Fundação Agência das Bacias PCJ (2015).

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A Figura 16 expressa a demanda da água para as Bacias PCJ e reflete sua característica

de alto grau de urbanização e PIB formado essencialmente pelo setor industrial e de

serviços.

Figura 16 Demanda de água - tipo e finalidade

Fontes: Comitês PCJ (2014).

Se há uso intenso da água, também há geração e lançamento de esgotos sanitários,

tratados ou não, nos corpos d’água. A pressão sobre os recursos hídricos nas Bacias

PCJ é ilustrada pelos diagramas que representam as captações de água e

lançamentos de despejos. A enorme quantidade e a proximidade entre esses pontos

evidenciam que há necessariamente o reuso da água nas Bacias PCJ, sendo os leitos

dos rios o meio para que isso ocorra (Figura 14 e 15):

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Figura 17 Captações de água nas Bacias PCJ

Fonte: COBRAPE (2010).

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Figura 18 Lançamentos de águas nas Bacias PCJ

Fonte: COBRAPE (2010).

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2.4.1. Crescimento da população nas Bacias PCJ

O crescimento populacional das Bacias PCJ supera as taxas geométricas de crescimento anual do Estado de São Paulo e de Minas Gerais. Tal tendência de crescimento favorece a pressão sobre os recursos hídricos, com a necessidade de aumentar as vazões captadas para o abastecimento público.

Diversos estudos populacionais já foram realizados para as Bacias, sendo o principal o

constante no Plano das Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010). Citam-se também o

Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole

Paulista (COBRAPE, 2013), o Relatório de Situação (Comitês PCJ, 2014) e o Relatório de

Gestão (FUNDAÇÃO AGÊNCIAS PCJ, 2015).

Os estudos utilizaram como base as populações dos censos, contagem e estimativas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além dos dados populacionais da

Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) do Estado de São Paulo.

O Plano das Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010) realizou projeções populacionais

para os anos de 2014 e 2020, sendo estimada uma população total de 5.525.529

habitantes e 5.898.808 habitantes, respectivamente.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos da Macrometrópole (COBRAPE, 2013), por sua

vez, traz uma projeção da população das Bacias PCJ para os anos 2018, 2025 e 2035. O

documento estima que, em 2018, a população da região seja de 5.673.617 habitantes

(Quadro 6).

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Quadro 6. Projeções da população para as Bacias PCJ

2018 2025 2035

5.673.617 5.984.388 6.217.851

Fonte: COBRAPE (2013).

Já o Relatório de Gestão das Bacias PCJ (FUNDAÇÃO AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ, 2015)

replicou os métodos do Plano de Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010), utilizando os

dados da estimativa da população total para o ano de 2014 publicados pelo IBGE. “Os

dados demonstraram que, em 2014, a população moradora nas Bacias PCJ atingiu um

total estimado de 5.600.228 habitantes” (FUNDAÇÃO AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ, 2015).

Tratam-se, portanto, de 74.699 habitantes a mais do que o projetado pelo Plano das

Bacias PCJ para o mesmo ano. Além disso, a estimativa para 2014 praticamente já

alcança a projeção efetuada para 2018 pelo Plano Diretor de Recursos Hídricos da

Macrometrópole. Observa-se, desta forma, que a região está superando as previsões

de crescimento dos estudos realizados anteriormente.

Esse crescimento pode ser constatado na Quadro 7, onde é apresentada a síntese da

população no grupo de municípios que compõem a Região das Bacias PCJ e a taxa

geométrica de crescimento anual (TGCA) ocorrida entre 2010 e 2015.

Quadro 7. População residente nas Bacias PCJ e taxa geométrica de crescimento anual

(TGCA) – 2010 a 2015

MUNICÍPIO POPULAÇÃO (2010) POPULAÇÃO (2015) TGCA (%)

MUNICÍPIOS DAS BACIAS PCJ 5.169.831 5.664.829 1,85

ESTADO DE SÃO PAULO 41.262.199 44.396.484 1,48

ESTADO DE MINAS GERAIS 19.597.330 20.869.101 1,27

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010; Estimativa 2015).

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Note-se que o crescimento populacional das Bacias PCJ supera inclusive as taxas

geométricas de crescimento anual do Estado de São Paulo e Minas Gerais. Tal

tendência de crescimento favorece a pressão sobre os recursos hídricos, com a

necessidade de aumentar as vazões captadas para o abastecimento público. No

Anexo II do presente documento apresenta-se dados detalhados acerca desses

estudos.

Por outro lado não houve aumento da disponibilidade hídrica nos últimos cinco anos,

causado por exemplo, pela construção de barragens de regularização. Portanto,

considerando as projeções futuras, o aumento da demanda não terá como ser

suportado com a oferta de água existente nos níveis atuais sem grandes avanços.

Neste contexto cabe verificar as diversas possibilidades, inclusive de reuso por meio

das atuais tecnologias. Em regiões semiáridas ou com recursos hídricos limitados, a

água reciclada é reconhecida como recurso hídrico passível de diversos usos, incluindo-

se o abastecimento público.

2.5. BALANÇO HÍDRICO DAS BACIAS PCJ

Entre 2010 e 2015, a demanda de águas superficiais nas Bacias PCJ foi superior ao

valor de referência, 50% de Q7,10, em todos os anos do período, configurando uma

situação crítica de oferta de água, nos termos da Lei Estadual nº 9.034/1994.

O aumento da demanda pode ser justificado pelo crescimento populacional e por

novos empreendimentos industriais que se instalaram na região. Mesmo considerando

a vazão de referência Q95%, menos restritiva, a demanda atingiu patamares

extremamente elevados em relação à disponibilidade, sendo a demanda de 2010, de

92,3% da vazão de referência Q95%, a mais elevada do período, conforme se verifica no

Quadro 8.

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Quadro 8. Demanda superficial – percentual em relação à Q95% e Q7, 10

ANO 2010 2011 2012 2013 2014

Demanda superficial em relação à Q 95% (%) 92,3 92,2 82,4 82,5 67,2

Demanda superficial em relação à Q 7,10 (%) 117,8 117,3 117,6 117,9 94,9

Fonte: Comitês PCJ (2014).

Portanto, considerando a vazão de referência Q7,10(%), observa-se que a

disponibilidade hídrica das Bacias PCJ é preocupante, uma vez que entre 2010 a 2013 a

demanda foi de cerca de 117% da vazão de referência Q7,10 e, em 2014, de 94,9% da

Q7,10. Dessa forma, a demanda superficial foi superior ao limite legal de 50% da vazão

de referência Q7,10 em todos os anos do período, configurando uma situação crítica,

independentemente da ocorrência da crise hídrica que foi acentuada no biênio

2014/2015.

Cabe destacar que a situação já era crítica em 2008. Considerando o período

compreendido entre 2008 e 2013, a demanda superficial oscilou entre 71,9% e 92,5%

da vazão de referência Q7,10. Em todos os anos, portanto, as vazões captadas estiveram

muito acima do estabelecido pela Lei Estadual nº 9.034 de 1994, como se mostra na

Figura 19.

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Figura 19 Demanda superficial em relação à vazão de referência Q7,10 – 2008 a 2013

O balanço entre disponibilidade e demanda do período compreendido entre 2010 e

2014 revela que a oferta permanece a mesma, enquanto a captação oscila entre 81 e

83% da disponibilidade em relação à vazão de referência Q7,10, conforme verificado

na Figura 20.

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Figura 20 Balanço entre disponibilidade e demanda

Fontes: AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ (2014); COBRAPE (2010); IRRIGART (2007).

Cabe ressaltar que as Bacias PCJ estão inseridas na Macrometrópole Paulista, que vem

a ser a região de maior dinamismo econômico do país e o centro da indústria e dos

serviços intensivos em conhecimento. Por essa razão, é provável que novas indústrias

se instalem na região, assim como novas empresas de serviços. Esses novos

empreendimentos aumentam a população urbana para além do crescimento

vegetativo da população atual e, portanto, também a demanda de água para o

abastecimento público e para o segmento industrial.

Considerando o exposto, depreende-se que entre os dirigentes empresariais

tomadores de decisão sobre novos empreendimentos, ainda não há a percepção de

que a região das Bacias PCJ encontra-se em situação crítica em termos de oferta de

água, com algumas exceções, como a do município de Itu, que viu cancelados ou

adiados empreendimentos industriais tendo em vista a crise extrema de

abastecimento de água que viveu em 2014.

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Isso pode significar que em poucos anos, o crescimento populacional e o

desenvolvimento econômico da região levarão a uma situação extrema de demanda

superior a oferta. Portanto, avanços na gestão dos recursos hídricos e emprego de

tecnologias mais avançadas de tratamento de água, produzindo água de reuso ou até

reciclada, constituem medidas que merecem consideração efetiva no planejamento

dos recursos hídricos.

O Quadro 9 mostra a projeção para 2020 do balanço hídrico em comparação a 2014,

indicando que a situação tende a se agravar ainda mais em todas as sub-bacias que

compõem a PCJ.

Quadro 9. Balanço Hídrico em 2014 e projeção para 2020.

Sub-bacia

Vazões (m³/s)

Q disponível 2014 2020

Captações ¹ Lançamentos Saldo Captações ¹ Lançamentos Saldo

Atibaia 8,54 10,78 6,41 4,16 11,21 7,02 4,35

Camanducaia 3,50 0,90 0,41 3,01 0,95 0,48 3,02

Corumbataí 4,70 3,01 1,25 2,93 3,20 1,27 2,77

Jaguari 7,20 6,72 1,72 2,19 6,87 1,81 2,14

Piracicaba 8,16 7,14 5,66 6,68 7,87 5,90 6,19

Total Piracicaba 32,10 28,55 15,45 18,97 30,10 16,48 18,47

Capivari 2,38 3,73 2,83 1,48 3,96 3,06 1,48

Jundiaí 3,50 4,63 2,34 1,21 5,45 2,55 0,59

Total PCJ 37,98 36,92 20,61 21,67 39,51 22,08 20,55

¹ Valores relativos à parcela das demandas atendidas por mananciais superficiais

Fonte: COBRAPE (2011).

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Com o mencionado crescimento populacional e econômico, a água tende a ser cada

vez mais um fator limitante. Para responder a esse desafio, são previstas obras e

outros empreendimentos que garantam a disponibilidade hídrica, como a construção

de barragens (Camanducaia e Jaguari), aproveitamentos de aquíferos próximos como o

Guarani, entre outros empreendimentos.

De qualquer forma será necessário avançar fortemente na gestão dos recursos hídricos

das Bacias PCJ para a consecução de soluções integradas e complexas. O

aprimoramento do mecanismo da cobrança pelos usos da água e do lançamento de

esgotos é imprescindível para avançar no tratamento das cargas difusas urbanas e

rurais, porque o aporte de nutrientes tem o potencial de comprometer a qualidade das

águas regularizadas nas barragens existentes e nas previstas futuramente. Assim, o

controle dos nutrientes, também por meio da cobrança pelos seus lançamentos, é uma

realidade que se impõe o quanto antes.

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Figura 21 Projeções para o consumo de água (horizonte 2035). Fonte: COBRAPE (2011).

2.6. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS BACIAS PCJ

A dominialidade dos recursos hídricos torna o cenário das Bacias PCJ ainda mais

complexo pois, dependendo da abrangência dos cursos d’água, o domínio é estadual

ou federal (competência da ANA). No caso das Bacias PCJ, parte das nascentes estão

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no Estado de Minas Gerais e, portanto, geridos por órgãos deste Estado, além do

Estado de São Paulo (Figura 22).

Os rios formadores do Piracicaba a jusante, Atibaia e Jaguari, incluindo seu

contribuinte pela margem direita, o Rio Camanducaia, são de domínio federal. Já seus

afluentes, se restritos em único estado, são de domínio estadual, como o Rio Jundiaí e

o Capivari que compõem a sigla PCJ.

Tanto os rios de domínio estadual quanto os de domínio federal possuem como

instrumentos de gestão a outorga pelos usos da água e também a cobrança. Os

procedimentos e os resultados dessa cobrança são tratados no Capítulo 4, mas a

cobrança indica ao menos que a gestão conta com meios avançados para aumentar a

eficiência dos usos da água.

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Figura 22 Dominialidade dos recursos hídricos nas Bacias PCJ

Fonte: ANA (2016).

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As diretrizes das bacias são definidas pelos comitês e, no caso específico do PCJ que

abrange dois Estados e ainda a União, a tendência seria ter várias instâncias. No

entanto, como resultado de entendimento entre os comitês, foi acordado um arranjo,

simplificando e compatibilizando sua ação. Da mesma forma, o “braço” executivo é

constituído por uma única agência de bacia, a AGBPCJ, conforme já apresentado.

2.7. PROGRAMAS PRIORITÁRIOS APLICADOS PELA AGÊNCIA DE BACIAS PCJ

O saneamento, incluindo os projetos de combate a perdas na distribuição de água, recebeu

mais da metade de todos os recursos não reembolsáveis da compensação e da cobrança

aplicados pelo FEHIDRO, pelos Comitês PCJ e pela Agência das Bacias PCJ, de 1995 a 2015.

Os principais programas administrados pela Agência das Bacias PCJ, são apresentados no

Quadro a seguir:

Quadro 10. Programas prioritários nas Bacias PCJ

Programas Aspectos de Destaque

Programas de combate as Perdas na distribuição de água potável

Os recursos destinados aos projetos para a redução de perdas são originários da compensação pela geração de energia elétrica e da cobrança estadual e cobrança federal. Cerca de 25 municípios das Bacias PCJ aprovaram projetos que visavam à redução de perdas. Os projetos tinham como objetivos a substituição de redes de ferro galvanizado e cimento amianto por tubulações de PVC, implantação de macromedidores e micromedidores com telemetria, setorização e controle automático de pressão, entre outros

Coleta e tratamento de esgotos nas Bacias PCJ

Nas Bacias PCJ, 29 municípios têm índices de tratamento inferiores a 65%. Os projetos voltados à coleta e tratamento de esgotos incluíram sistemas de transporte de esgotos e implantação de sistema de tratamento de esgoto e de lodos de tratamento

Serviços ambientais

O reflorestamento de nascentes de rios é estratégico para preservação da disponibilidade hídrica, e o pagamento por serviços ambientais, tem se mostrado um mecanismo efetivo para alcançar esse objetivo. Por esse instrumento, proprietários rurais são pagos para

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Programas Aspectos de Destaque

reflorestar as áreas de nascentes existentes em suas propriedades e criar áreas de proteção ambiental permanente. O Projeto no Município de Extrema é um exemplo de projeto bem sucedido de reflorestamento do Rio Jaguari que pelo seu caráter inovador atraiu diversos parceiros e novas iniciativas

Esses programas estão detalhados nos itens a seguir.

PROGRAMAS DE COMBATE ÀS PERDAS NA DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL

A redução das perdas na distribuição aumenta a resiliência das bacias em relação aos efeitos da mudança climática, uma vez que diminui o volume necessário de captação para o abastecimento público.

As perdas na distribuição de água são elevadas em todo o país inclusive nas Bacias PCJ.

Segundo o SNIS de 2013, o índice médio de perdas no Brasil girava em torno dos 37%.

Em outubro de 2014, a principal companhia de abastecimento de águas do Estado de

São Paulo (SABESP), reconheceu um índice de perdas na rede de distribuição de águas

da ordem de 30%, um número considerado elevado para padrões internacionais. Tais

perdas têm impacto direto nas Bacias PCJ uma vez que uma parcela da água para o

abastecimento da RMSP advém do Sistema Cantareira.

Em diversos municípios das Bacias PCJ, o índice de perdas na distribuição é ainda mais

elevado. Segundo dados do SNIS, em 2014 as perdas alcançaram índices da ordem de

63,50% em São Pedro, 60,14% em Sumaré, 54,33% em Atibaia, 51,81% em Piracicaba,

38,23% em Rio Claro, 35,76 % em Jundiaí, 34,74% em Valinhos, entre outras cidades

que estão inseridas dentro da região que compreende as Bacias do PCJ (Quadro 11).

Por outro lado, existem algumas experiências positivas, como é o caso da cidade de

Limeira, que conseguiu reduzir as perdas na distribuição de água para 14,08% em

2014, um índice considerado aceitável e equivalente à de alguns países com elevado

grau de desenvolvimento no gerenciamento de recursos hídricos. Mesmo assim, essas

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perdas implicaram em uma perda de receita por parte da concessionária da ordem de

7,62%.

Quadro 11. Índices de perdas na distribuição de águas

Município Índice de Perdas na Distribuição

% Índice de Perdas de Faturamento

%

São Pedro 63,50 52,67

Sumaré 60,14 59,95

Atibaia 54,33 40,55

Pedreira 54,18 35,01

Santa Bárbara do Oeste 53,35 53,35

Tuiuti 53,33 46,47

Piracicaba 51,81 46,91

Louveira 44,96 44,96

Rio das Pedras 44,21 39,24

Mairiporã 44,10 32,95

Artur Nogueira 42,25 27,51

Jarinú 41,61 28,35

Jaguariúna 39,96 37,18

Rio Claro 38,23 29,16

Charqueada 37,81 30,19

Salto 37,56 37,56

Campo Limpo Paulista 36,36 27,36

Itatiba 36,11 27,47

Jundiaí 35,76 28,67

Capivari 35,60 29,24

Amparo 35,19 14,90

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Município Índice de Perdas na Distribuição

% Índice de Perdas de Faturamento

%

Ipeúna 35,00 35,00

Rafard 35,00 35,00

Valinhos 34,74 29,15

Piracaia 34,16 21,31

Aguas de São Pedro 34,09 23,01

Vinhedo 33,58 27,65

Indaiatuba 32,97 24,38

Itirapina 32,84 32,84

Morungaba 32,61 20,20

Várzea Paulista 32,25 21,31

Bom Jesus dos Perdões 31,51 31,51

Paulínia 31,27 24,00

Itupeva 30,25 20,39

Holambra 30,00 30,00

Cabreúva 29,8 21,33

Nova Odessa 29,44 29,44

Santa Maria da Serra 28,60 19,84

Santa Gertrudes 27,84 11,86

Monte Mor 27,68 16,19

Hortolândia 26,71 19,47

Bragança Paulista 24,35 11,78

Pinhalzinho 23,80 4,94

Nazaré Paulista 23,68 6,22

Monte Alegre do Sul 23,00 23,00

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Município Índice de Perdas na Distribuição

% Índice de Perdas de Faturamento

%

Campinas 21,59 15,07

Elias Fausto 20,37 10,39

Mombuca 19,46 11,39

Americana 17,39 10,17

Corumbataí 16,67 10,26

Vargem 16,18 -0,64

Saltinho 14,92 100

Limeira 14,08 7,62

Cordeirópolis 13,96 -0,05

Joanópolis 12,01 -5,95

Santo Antônio de Posse 11,82 5,71

Pedra Bela 6,07 -16,97

Fonte: SNIS (2014)

Com recursos originários da compensação pela geração de energia elétrica e da

cobrança estadual e cobrança federal, os Comitês PCJ e a Agência das Bacias PCJ

investiram R$ 152.270.332,81, a preços de fevereiro de 2016, em projetos que tinham

como objetivo a redução de perdas, entre 1997 e 2015. O valor total dos projetos,

incluindo-se as contrapartidas dos tomadores dos recursos, foi de R$ 213.790.345,42,

a preços de fevereiro de 2016.

Apenas 25 municípios das Bacias PCJ apresentaram e tiveram aprovados projetos que

visavam a redução de perdas. Entretanto, apenas 7 deles receberam 76,48% dos

recursos: Campinas (SANASA), Rio Claro (DAE), Nova Odessa (CODEN), Piracicaba

(SEMAE), Indaiatuba (SAAE) e Salto (SAE). Os projetos tinham como objetivos a

substituição de redes de ferro galvanizado e cimento amianto por tubulações de PVC,

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implantação de macromedidores e micromedidores com telemetria, setorização e

controle automático de pressão, entre outros.

A SANASA, por exemplo, aprovou projetos de redução de perdas que totalizaram cerca

de 63,8 milhões de reais, sendo cerca de 38,4 milhões de recursos não reembolsáveis e

cerca de 25,4 milhões de reais de contrapartidas, sendo todos esses valores corrigidos

para fevereiro de 2016. Esses valores correspondem a 25,23% de tudo que foi

investido pelos Comitês PCJ e Agência das Bacias PCJ em redução de perdas desde

1997.

COLETA E TRATAMENTO DE ESGOTOS NAS BACIAS PCJ

Quanto à coleta e tratamento de esgotos nas Bacias PCJ são apresentados os seguintes

dados a seguir.

Dezenove municípios têm índices de 100% de tratamento dos esgotos coletados.

Contudo esse número tem de ser relativizado pela circunstância de diversos desses

municípios apresentarem baixos índices de coleta. Hortolândia, por exemplo, uma

cidade de cerca de 64 mil habitantes, trata 100% dos esgotos coletados, mas coleta

apenas 49,48% do total gerado.

Entre 2010 e 2014, os índices de coleta, tratamento e eficiência do sistema de

esgotamento melhoraram nas Bacias PCJ, contudo, a situação do tratamento ainda

permanece regular na região, conforme pode ser verificado no Quadro 12.

Quadro 12. Coleta e tratamento de esgotos nas Bacias PCJ

Ano 2010 2011 2012 2013 2014

Esgoto Coletado 86,7 88,3 88,5 91,0 92,3

Esgoto Tratado 48,8 52,9 59,8 65,1 72,7

Eficiência do Sistema de Esgotamento 39,1 44,1 51 55,3 62,7

Fonte: Relatório de situação dos recursos hídricos 2015 - UGRHI 05 Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.

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Atualmente, os índices de coleta e tratamento de esgoto de cada município

componente das Bacias PCJ são apresentadas no Quadro 13:

Quadro 13. Índices de coleta e tratamento nas Bacias PCJ

Município Índice de Coleta (%)

Índice de Tratamento (%)

Índice líquido de tratamento (%)

Limeira 100,00 100,00 100,00

Piracicaba 100,00 100,00 100,00

Saltinho 96,71 100,00 96,71

Jundiaí 96,35 95,42 91,94

Santo Antônio De Posse 90,49 100,00 90,49

Corumbataí 88,46 100,00 88,46

Várzea Paulista 83,17 100,00 83,17

Vinhedo 84,98 95,91 81,50

Morungaba 80,73 100,00 80,73

Elias Fausto 80,22 100,00 80,22

Santa Gertrudes 80,01 99,74 79,80

Pedreira 82,96 93,29 77,39

Salto 91,03 84,11 76,57

Itatiba 75,37 100,00 75,37

Valinhos 74,73 100,00 74,73

Mombuca 74,24 100,00 74,24

Nova Odessa 80,00 90,21 72,17

Ipeúna 69,51 100,00 69,51

Paulínia 70,26 96,80 68,01

Indaiatuba 96,15 70,38 67,67

Joanópolis 68,66 96,33 66,14

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Município Índice de Coleta (%)

Índice de Tratamento (%)

Índice líquido de tratamento (%)

Bragança Paulista 67,34 97,66 65,76

Cabreúva 65,42 100,00 65,42

Rio Claro 79,87 78,88 63,00

Itupeva 65,38 92,55 60,51

Charqueada 59,55 95,72 57,00

Jaguariúna 90,00 63,23 56,91

Santa Bárbara Do Oeste 100,00 54,00 54,00

Campo Limpo Paulista 56,76 94,93 53,88

Campinas 65,29 81,08 52,94

Pinhalzinho 60,47 86,27 52,17

Hortolândia 49,48 100,00 49,48

Atibaia 85,00 57,95 49,26

Santa Maria Da Serra 47,78 100,00 47,78

Monte Mor 47,67 99,42 47,39

Americana 45,23 94,68 42,82

Holambra 98,12 42,67 41,87

Amparo 100,00 27,75 27,75

Jarinú 27,61 100,00 27,61

Piracaia 55,17 34,86 19,23

Nazaré Paulista 26,12 63,21 16,51

Sumaré 91,68 14,18 13,00

Cordeirópolis 72,75 15,38 11,19

São Pedro 95,05 11,11 10,56

Louveira 80,00 7,75 6,20

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Município Índice de Coleta (%)

Índice de Tratamento (%)

Índice líquido de tratamento (%)

Aguas De São Pedro 79,25 - -

Artur Nogueira 100,00 - -

Bom Jesus Perdões 100,00 - -

Cosmópolis 90,60 - -

Monte Alegre Do Sul 59,88 - -

Pedra Bela 65,68 - -

Rafard 95,82 - -

Rio Das Pedras 100,00 - -

Tuiuti 28,99 - -

Camanducaia 55,47 - -

Extrema 63,30 - -

Itapeva 66,84 - -

Nota: a coluna ‘Índice de tratamento líquido’ é resultado da multiplicação dos índices das colunas anteriores para a obtenção do índice total líquido do esgoto gerado no município realmente é tratado.

Fonte: adaptado de SNIS (2014)

Cabe ressaltar que a questão do tratamento de esgotos sempre mereceu atenção

especial por parte do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba Capivari

e Jundiaí, ao tempo em que exerceu as funções de agência de bacia, bem como dos

Comitês das Bacias Hidrográficas PCJ e da Agência das Bacias PCJ.

Um movimento social específico que antecedeu o advento dos Comitês e da agência

de bacia, sempre teve como foco de atuação a despoluição do Rio Piracicaba e mais

tarde, de todos os cursos d’água das Bacias PCJ.

Tal preocupação é refletida na composição da aplicação dos recursos da compensação

e das cobranças nas Bacias, através da destinação de considerável parcela dos valores

angariados em programas de tratamento de esgoto. O saneamento, incluindo os

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projetos de combate a perdas na distribuição de água, recebeu mais da metade de

todos os recursos não reembolsáveis da compensação e da cobrança aplicados pelo

FEHIDRO, pelos Comitês PCJ e pela Agência das Bacias PCJ, de 1995 a 2015. Foram

56,83% do total de recursos, correspondentes a cerca de 303 milhões de reais a

preços de fevereiro de 2016.

Para efeito de análise foi elaborado o estudo apresentado a seguir, confeccionado

através dos dados do Relatório de Qualidade das Águas Superficiais no Estado de São

Paulo - 2000/2014 (CETESB, 2015) e Relatório de Gestão das Bacias PCJ (FUNDAÇÃO

AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ, 2014) para verificação da influência do tratamento dos

esgotos sobre a qualidade das águas nas Bacias PCJ.

A análise da variação anual apresentada no gráfico da Figura 23 aponta para um

crescimento consistente das águas enquadradas na Classe ‘Bom’ até o Ano de 2012. A

reversão nessa tendência ocorrida nos anos 2013 e 2014 pode ser justificada pelo

baixo índice pluviométrico registrado neste período, conforme análise do própria

Agência de Bacias PCJ que aponta a pluviometria como fator determinante para a

piora dos indicadores de qualidade da água.

Figura 23 Resultado do IQA para a porção das Bacias PCJ localizada no Estado de São Paulo.

Fonte: Relatórios de Qualidade das Águas Superficiais no Estado de São Paulo, CETESB, 2000/2014

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Com o intuito de verificar possíveis impactos do tratamento dos esgotos sobre a

qualidade das águas das Bacias PCJ estabeleceu-se um comparativo sobre o recorte

temporal dos períodos de 2001-2007 e 2008-2014, para calcular a evolução da

qualidade das águas. Por meio da aplicação das médias nesses períodos, comparou-se

a composição das classes de qualidade das águas, de tal forma a minorar os efeitos de

eventos não regulares e apresentar eventual tendência sobre a evolução da qualidade

das águas no decorrer do período estudado. Esse conjunto de informações sobre a

tendência da qualidade das águas no conjunto das Bacias é apresentada na Figura 24.

Figura 24 Resultado do cálculo da qualidade média das águas nos períodos de 2001-2007 e

2008-2014.

Fonte: FESPSP, 2016

A análise dos resultados permite inferir que os investimentos em tratamento de efluentes

refletiram de forma positiva na qualidade das águas das Bacias do PCJ no período estudado.

No entanto, cabe ressaltar que a análise dos dados é limitada para a porção paulista das

Bacias PCJ.

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SERVIÇOS AMBIENTAIS NAS BACIAS PCJ

O reflorestamento de nascentes de rios é estratégico para preservação da

disponibilidade hídrica, e o pagamento por serviços ambientais, tem se mostrado um

mecanismo efetivo para alcançar esse objetivo. Por esse instrumento, proprietários

rurais são pagos para reflorestar as áreas de nascentes existentes em suas

propriedades e criar áreas de proteção ambiental permanente.

Em Extrema, município mineiro integrante dos Comitês das Bacias PCJ, teve lugar o

primeiro projeto de reflorestamento de nascentes com pagamento por serviços

ambientais do país. O objetivo específico do programa é o reflorestamento das

nascentes do Rio Jaguari e de suas sub-bacias.

Figura 25. Sistema Cantareira visto de Extrema em Minas Gerais, nascente do Rio Jaguari

A partir de um diagnóstico ambiental das sete sub-bacias da Bacia Hidrográfica do Rio

Jaguari, foi possível constituir um cadastro identificando todas as unidades produtivas

rurais (CONSERVADOR DAS ÁGUAS, 2010), assim como as áreas sujeitas à erosão.

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O projeto teve início com a promulgação da Lei Municipal nº 2.100, de 21 de dezembro

de 2005, a primeira lei municipal no Brasil a regulamentar o Pagamento por Serviços

Ambientais relacionados com recursos hídricos. No seu artigo 2º, a lei autoriza o poder

executivo municipal a pagar proprietários rurais para a realização de determinadas

ações. O apoio financeiro é concedido a partir do início das ações em determinada

propriedade e se estende por um período mínimo de quatro anos.

O caráter inovador do projeto, baseado no Pagamento por Serviços Ambientais atraiu

diversos parceiros. A Agência Nacional de Águas, que já tinha seu Programa Produtor

de Água, assumiu a responsabilidade de fornecer apoio técnico para ações de

conservação do solo. O Instituto Estadual de Florestas assumiu a responsabilidade de

fornecer insumos (cercas, adubos, calcário, herbicidas, etc.) e de proceder à averbação

da reserva legal das propriedades. A ONG The Nature Conservancy – TNC coube

financiar algumas ações de plantio e cercamento de áreas, arcando com custos de mão

de obra e alguns insumos, além de ações de monitoramento da biodiversidade. A ONG

SOS – Mata Atlântica ficou responsável pelo fornecimento de mudas de espécies

nativas para reflorestamento.

As ações de reflorestamento tiveram início em 2007 nas sub-bacias do Ribeirão das

Posses e do Salto. Nos sete anos primeiros anos do programa foram plantadas 754.153

árvores. Cerca de 10 milhões de reais foram investidos em cerca de 180 contratos, com

pagamentos a proprietários rurais por serviços ambientais. Até o momento foram

protegidas cerca de 500 nascentes, córregos e riachos, totalizando uma área de cerca

de 7,3 mil hectares.

Segundo a Secretaria de Meio Ambiente de Extrema, os primeiros resultados já

puderam ser observados, pois durante a estiagem de 2014, nas áreas que ainda não

tinham sido reflorestadas grande número de córregos e riachos secaram

completamente. Já nas áreas onde houve plantio de árvores, a vazão caiu cerca de

40%, mas os cursos de água continuaram alimentando o Rio Jaguari e, através dele, o

Sistema Cantareira (Figura 26).

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Figura 26. Rio Jaguari em Extrema

Além do projeto Conservador de Águas de Extrema, foi realizado nas Bacias PCJ um

projeto piloto envolvendo Pagamento por Serviços Ambientais por ações de

recuperação florestal de Áreas de Proteção Permanente, de áreas com cobertura

vegetal e de preservação do solo nas microbacias do Ribeirão Cancan em Joanópolis e

do Ribeirão Moinho em Nazaré Paulista. A importância do Ribeirão do Cancan reside

no fato de ser um dos afluentes do Rio Cachoeira que alimenta a Represa Cachoeira.

Por sua vez, o Ribeirão do Moinho deságua diretamente na Represa do Rio Atibainha.

Ambas represas integram o Sistema Cantareira.

No plano nacional, a Agência Nacional das Águas criou o programa denominado

Produtor de Águas com o objetivo de apoiar iniciativas como a de Extrema. No

entanto, o alcance do programa federal é extremamente limitado. Além dos

programas que envolvem três municípios das Bacias PCJ, Extrema, Nazaré Paulista e

Joanópolis, existem no país apenas outros seis projetos e programas apoiados pela

ANA:

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a) Projeto Oásis no município de Apucarana no Paraná;

b) Projeto Guandu no Rio de Janeiro;

c) Projeto Camboriú em Santa Catarina;

d) Projeto Guariroba no Mato Grosso do Sul;

e) Projeto Piripau no Distrito Federal;

f) Programa Produtores de água no Espírito Santo.

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Parte 3 Mudanças Climáticas, Crise Hídrica e os desafios da

Governança das Águas

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3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CRISE HÍDRICA E OS DESAFIOS DA

GOVERNANÇA DAS ÁGUAS

3.1. DISPONIBILIDADE DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Um dos primeiros sinais de efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos

hídricos é o aumento da incerteza sobre o regime de chuvas.

O Brasil dispõe de 13% do total de água doce superficial do planeta, a maior parcela

entre todos os países do mundo. Entretanto, a maior parte dessas águas se encontra

em áreas de baixa densidade demográfica, como é o caso da Região Hidrográfica da

Amazônia, onde residem 8% da população brasileira e que detém 81% do total de

águas superficiais do país (Figura 27). Enquanto isso, na Região Hidrográfica do

Paraná, onde vivem cerca de 61,3 milhões de habitantes, correspondentes a 32% da

população brasileira (IBGE, 2010), a disponibilidade hídrica superficial é de apenas

6,5% do total do país (ANA, 2015) (Quadro 14).

Figura 27. Rio Amazonas

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Quadro 14. População e disponibilidade hídrica por região do Brasil

Região População % Águas %

Brasil 190.755.799 100,0 100

Norte 15.864.454 8,3 68

Nordeste 53.081.950 27,8 3

Centro Oeste 14.058.094 7,4 16

Sudeste 80.364.410 42,1 6

Sul 27.386.891 14,4 7

Fonte: IBGE (2010); ANA (2015).

A distribuição desigual e a forte urbanização em algumas regiões revela o grande

desafio para a governança dos recursos hídricos no Brasil: onde há abundância de

água, a demanda é pequena, e onde a população é numerosa e, consequentemente,

a demanda é elevada, a oferta de água é restrita.

A crise hídrica evidenciou essa característica da distribuição das águas superficiais no

país, pois seus efeitos se fizeram sentir intensamente justamente em regiões

altamente urbanizadas, de maior densidade demográfica.

3.2. A CRISE HÍDRICA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS POR DIFERENTES VISÕES

A literatura científica recente apresenta diferentes visões sobre as origens da crise

hídrica de 2014 no Sudeste brasileiro. Alguns autores sustentam não haver

evidências de que a severa estiagem que se abateu sobre a região se constitua num

evento extremo decorrente da mudança climática, enquanto outros sustentam uma

visão diferente. Por outro lado, praticamente não são encontradas referências

históricas comparáveis às fortes chuvas de 2010 e parte de 2011. Mesmo textos mais

atuais pouco associam a ocorrência de eventos extremos tão intensos em período

curto como de cinco anos. No Anexo III do presente documento apresenta-se um

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breve relato sobre eventos extremos com período de retorno estimado em mais de

cem anos que assolaram a região nordeste e sudeste do Brasil e que muitos

especialistas associaram a mudanças climáticas.

O termo evento extremo adotado dos relatórios do IPCC apresenta a seguinte

definição: é a ocorrência de um valor de uma variável de tempo ou clima que esteja

acima (ou abaixo) de um valor limite próximo das extremidades superiores (ou

inferiores) ("caudas") do intervalo de valores observados para a variável.

De acordo com Marengo (2009), eventos extremos são referidos como grandes desvios

de um estado climático moderado, como chuvas intensas, vendavais e furacões. Tais

eventos caracterizam-se por sua intensidade, baixa frequência e dificuldade de

gerenciamento para a adaptação e a redução de seus efeitos, relacionada à

impossibilidade de prevê-los com exatidão.

VISÕES SOBRE O TEMA

Para o planejamento e gestão dos recursos hídricos, é necessário compreender a lógica

e os novos parâmetros para o regime de chuvas estabelecido pelas mudanças

climáticas.

Utilizando como referência três importantes estudos com diferentes visões sobre a

relação entre as últimas crises hídricas no sudeste do país, a questão foi abordada com

o intuito de ampliar e possibilitar o debate de vital relevância neste momento.

A primeira referência trata-se de um estudo multicêntrico conduzido por

pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade de

Oxford do Reino Unido, da Universidade de Columbia e da NASA dos EUA, além de

outras instituições. A pesquisa utilizou três diferentes métodos. O primeiro analisou o

histórico de precipitações na região para identificar e avaliar eventos extremos desde

1941. Os resultados indicaram que o déficit de chuva de 2014 foi excepcional, mas que

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condições similares foram registradas nas primaveras de 1953, 1962 e 1970 e nos

verões de 1954, 1963 e 1971 (Figura 28).

Figura 28 Estiagens excepcionais no Sudeste 1953/1954, 1962/1963 e 1970/1971 em 2014

Fonte: Factors other than climate change, main drivers of 2014/2015 water shortage in Southeast of

Brazil.

O segundo método utilizado pelo estudo foi a realização de duas simulações

produzidas por um modelo climático atmosférico com dois cenários: o primeiro deles

com dados do clima tal como ele se apresentou durante a estiagem de 2014 e um

outro com uma atmosfera livre da emissão de gases causadores do efeito estufa

gerados pela atividade humana. O terceiro método utilizou modelos climáticos globais

acoplados oceano-atmosfera.

O estudo sustenta que a mudança nos padrões de evaporação em função da

elevação das temperaturas médias não teria sido o fator determinante da seca de

2014 no Sudeste brasileiro. Ressalta que a população da região quadriplicou desde

1960 e que o grande aumento da demanda de água decorrente do crescimento

populacional talvez tenha sido o principal responsável pelo aumento do risco hídrico.

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Portanto, esta pesquisa afirma não haver evidências de que a mudança climática seja a

causa da estiagem de 2014 no Sudeste (OTTO, 2014).

Um segundo trabalho visitado foi o estudo de Pereira Filho. O autor defende a tese de

que a crise hídrica de 2014 no Sudeste não foi uma consequência direta das

mudanças climáticas. Ele sustenta que em 2013 e 2014 houve uma movimentação de

massas de ar polar mais frio e seco da Antártica para a América do Sul, com recordes

de temperaturas mínimas. Estudos da NASA demostram que entre 2007 e 2015 a área

de cobertura de gelo da Antártica aumentou continuamente, sugerindo que esse

continente e a atmosfera a ele adjacente estejam mais frios. Dessa forma, as massas

polares que se deslocam para as regiões tropicais da América do Sul ficam mais frias e

mais intensas (PEREIRA FILHO, 2015).

Os três invernos que antecederam à seca no Sudeste teriam sido mais frios justamente

em razão das massas de ar frio e seco terem substituído o ar relativamente quente e

úmido de latitudes tropicais por um ar relativamente seco e frio de altas latitudes.

Logo, essa massa seca de alta pressão barrou a entrada de ar úmido e quente

proveniente, por exemplo, da região amazônica. Uma evidência seria a chuva

absolutamente excepcional que aconteceu no verão de 2014 em Rondônia, norte do

Brasil, porque essa umidade não conseguiu chegar ao sudeste como é usual, trazida

por linhas de instabilidade. Por outro lado, a conjugação dessa linha de instabilidade

com a chegada de uma frente fria do Sul é a causa mais provável da tragédia ocorrida

na serra fluminense.

Esse fenômeno de massa seca e fria estacionária estaria associado ao padrão de

aquecimento das águas do Pacífico equatorial que caracteriza o fenômeno do El Niño.

Os dois fenômenos se constituem em fatores de secagem da atmosfera e solos, por

meio da evaporação de água subsuperficial, de reservatórios de águas e rios e

evapotranspiração das áreas vegetadas.

Segundo o pesquisador, dados recentes sugerem que as causas fundamentais da

escassez de água que se abateu sobre o Sudeste desde o fim de 2013 foram

variabilidades climáticas, resultantes de interações e retroalimentações entre

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atmosfera, oceanos, criosfera e biosfera. Ainda segundo ele, há uma correlação

negativa entre a precipitação total anual e a pressão atmosférica da superfície.

Quando a pressão atmosférica aumenta tende a chover menos e vice-versa. Essa

relação é devida à célula permanente de alta pressão do Atlântico Sul - APAS, que faz

parte de um cinturão de altas e baixas pressões ao redor do globo associado à

circulação solenoide denominada Célula de Hadley, que gera movimentos

descendentes (de alta pressão) e ascendentes (de baixa pressão), nos quais o ar

ascende próximo do Equador é descende sobre latitudes tropicais.

Em 2014, a precipitação intensa normalmente registrada na Amazônia foi reduzida por

causa da diminuição do transporte de vapor de água oceânico, num quadro de

intensificação e ampliação da abrangência da APAS. Em janeiro de 2014, a área de

menor precipitação abrangeu desde o leste da Amazônia até a Argentina. As chuvas se

concentraram no oeste da Bacia Amazônica, com enchentes recordes no Acre e

Rondônia, mas intensa seca no Sudeste. Em contrapartida, ocorreram intensas chuvas

no Sul do Brasil já no outono de 2014, com vazões recordes em Foz de Iguaçu por

causa do aumento do transporte do vapor de água evapotranspirada do oeste da

Amazônia. A linha de instabilidade se deslocou para o Sul, não provocando chuvas no

sudeste brasileiro, provocando uma seca de intensidade jamais registrada

anteriormente.

Por essas razões, teria havido a redução da precipitação, o aumento da evaporação e

evapotranspiração e remoção da umidade dos solos e da vegetação no Sudeste em

2014. Como os mananciais da Cantareira fornecem água para o abastecimento urbano,

a menor precipitação, somada à maior evaporação, além do aumento do consumo

derivado do aumento da temperatura do ar, teriam levado a um rápido crescimento

do déficit hídrico e à crise de abastecimento de toda Macrometrópole Paulista e da

Região Metropolitana de São Paulo em particular. Na RMSP o impacto teria sido

ainda mais intenso dado o aumento do consumo per capita registrado na última

década.

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Embora a seca tenha sido atribuída por alguns ao aquecimento global, o aquecimento

da atmosfera teria induzido ao aumento de umidade e mais chuvas, o que não

ocorreu. As temperaturas bateram recordes em virtude do aumento da irradiância

solar na ausência de nuvens. Também se atribuiu a seca ao desmatamento da Floresta

Amazônica, mas em 2014 choveu muito menos em boa parte da Amazônia, mesmo nas

áreas onde a floresta está mais preservada. Segundo o pesquisador, não há dúvida de

que o desmatamento contribui para agravamento da seca, mas não teria sido a causa

fundamental da estiagem de 2014 no Sudeste.

A Floresta Amazônica recebe umidade do Oceano Atlântico e, quando há redução do

transporte de vapor d’água do Oceano para a Amazônia, esta mesma sofre seca

(como, por exemplo, ocorreu em 2005, em função da variação dos padrões da célula

de Hadley). Por todas essas razões, a crise hídrica no Sudeste teria sido causada por

variabilidade climática com tendência de resfriamento da Antártica e por fenômenos

de grande escala, como El Niño.

Uma terceira e importante corrente tem como um de seus expoentes o professor

Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que argumenta que

um dos fatores determinantes para a severa estiagem de 2014 no Sudeste teria sido

o aumento progressivo da temperatura em todas as regiões brasileiras.

Segundo Nobre (2015), à medida em que o ar está mais quente, há uma dissolução

mais rápida do vapor d’água capturado da superfície, o que gera nuvens maiores e

mais densas, causando chuvas mais intensas, porém localizadas. Para ele, essas chuvas

intensas afetam toda a circulação planetária pela circunstância de haver chuvas

intensas em um determinado local e seca em outros locais da mesma região. No

passado, as chuvas se distribuíam mais homogeneamente sobre o território de uma

determinada região.

Segundo o pesquisador do INPE, um estudo comparando os dados de registros de

chuva no país no período entre 1960 e 1990 e os de anos recentes, indica que a região

Norte possui um déficit hídrico da ordem de 6 m3 por metro quadrado (m2). Isso

significa que as vazões têm sido superiores à recarga das bacias pelas chuvas. A região

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Nordeste tem um déficit hídrico em torno de 4 m3 por m2 e a região Sudeste um saldo

negativo de 3,5 m3 por m2. A Região Sul está em situação de equilíbrio. Isso significa

que nas regiões onde há déficit a quantidade de água que entra nas bacias através das

chuvas no ano é menor que as vazões totais nesse mesmo ano (Figura xxx).

Figura 29. Balanço entre vazões e recargas das bacias hidrográficas por região do país

Fonte: O Diagnóstico da Crise Hídrica no Brasil – Dimensão Climática.

Por outro lado, o aumento da temperatura média da atmosfera induziria a

ocorrência de eventos extremos no ciclo hidrológico: secas e inundações. Segundo

Nobre, as projeções apontam que o clima do Brasil no futuro terá mais enchentes nos

vales dos rios Itajaí e Tubarão, em Santa Catarina, e no rio Madeira, na Amazônia, e, ao

mesmo tempo, secas mais frequentes no Nordeste e Sudeste.

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Pesquisadores do INPE realizaram uma simulação quadriplicando a quantidade atual

de CO2 encontrado na atmosfera no país – de 300 ppm para 1,2 mil ppm. Verificaram

que isso induziria a um aumento do número de dias consecutivamente secos no país.

Estiagens como a de 2014 no Sudeste, tornar-se-iam mais frequentes e também

haveria um aumento da ocorrência de períodos longos de estiagem no Nordeste e na

Amazônia (NOBRE, 2015).

Para Nobre, as florestas são essenciais para aumentar a resiliência do sistema hídrico

em face dos impactos do aquecimento global. As florestas contribuem não somente

para que haja chuva bem como para que as águas da chuva entrem no sistema de

recarga das bacias, pela razão de que o escoamento das águas da chuva sobre áreas

florestadas é mais lento e leve, fazendo com que haja tempo suficiente para a água

percolar e chegar às bacias.

Um estudo multicêntrico conduzido por pesquisadores do INPE e outras instituições

confirma a elevação das temperaturas médias no país, bem como o aumento da

ocorrência de chuvas intensas, mas localizadas (MARENGO et al, 2007). O estudo

revela que a temperatura média no Brasil aumentou aproximadamente 0,75° C até o

final do Século XX, considerando a média anual verificada entre 1961 e 1990 de 24,9°

C. O ano mais quente do Século XX foi 1998, quando a temperatura registrou um

aumento de até 0,95° C em relação à média de 24,9° C.

Os dados obtidos não apontam para uma tendência de redução de chuvas na

Amazônia decorrente do desmatamento, mas sim variações interdecadais de períodos

mais secos ou chuvosos. A pesquisa indica um aumento das chuvas no Sul. No Sudeste

o total anual de precipitação não teria sofrido modificação significativa nos últimos 50

anos. No Nordeste, as chuvas não apresentariam tendências significativas de aumento

ou redução. As quedas dos índices pluviométricos podem ser explicadas por variações

decadais no Oceano Pacífico e no Atlântico tropical. Entre 1961 e 2000, observou-se no

Sudeste da América do Sul, um aumento da frequência de dias com chuva intensa, ou

seja: apesar de o total anual precipitado não ter sofrido modificação perceptível, as

chuvas estão se tornando cada vez mais violentas, embora localizadas.

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Segundo a pesquisa, com o aquecimento global, algumas regiões do Brasil e a América

do Sul terão:

(...) seus índices de temperatura e chuva aumentados, e outras, diminuídos. Junto com a mudança ou não dos padrões anuais de chuva, mesmo onde não houver aumento ou diminuição do total anual de chuvas, as chuvas isoladas serão mais violentas e os temporais mais frequentes. O consenso é maior em relação a extremos de temperatura, onde a tendência de aumento nas temperaturas diurnas e noturnas, mais intensamente no inverno (MARENGO et al, 2007)

Em outro estudo, pesquisadores analisaram a quantidade de chuvas durante os verões

na região Sudeste a partir da década de 1960 até os últimos anos. Constatou-se que

entre 1960 e 1980, chegaram a ocorrer durante um mês ao menos duas chuvas da

ordem de mil milímetros. Entre 1980 e 2000 essas chuvas se tornaram bem menos

frequentes e raramente ultrapassaram 900 milímetros. Já ao longo da década de 2000

bem como nos últimos anos, as chuvas de verão no Sudeste mal ultrapassaram a faixa

dos 100 milímetros.

Ambos os estudos revelariam uma tendência de diminuição do volume total de chuvas.

Na Região Norte os efeitos desse déficit não são sentidos em função da baixa

densidade demográfica e, portanto, da baixa demanda, mas na Região Nordeste assim

como na Região Sudeste essa diminuição do volume total de chuvas agravou a crise

hídrica.

Complementando as projeções sobre os cenários futuros decorrentes das mudanças

climáticas, cabe apresentar a posição do professor Tércio Ambrizzi, do Instituto de

Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. Segundo

este pesquisador, as mudanças climáticas estão tendo impactos significativos no ciclo

hidrológico. As emissões de dióxido de carbono que eram da ordem de 330 ppm em

1975, elevaram-se para mais de 400 ppm em 2010. Em consequência a temperatura

média global do planeta se elevou. Ao longo do Século XX, a temperatura média subiu

0,6º C.

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Uma das consequências da elevação da temperatura média é o aumento do volume e

intensidade das precipitações. Comparando-se o período compreendido entre 1961 a

1990, e de 1991 a 2004, constatou-se que houve um aumento de cerca de 50 mm nas

precipitações nas regiões Sudeste e Norte do Brasil, e de mais de 250 mm na região Sul

e de 150 mm na região Nordeste. O aquecimento global provoca aumento do volume

de chuvas, de um lado, mas também o aumento de períodos de estiagem, em outro.

O aumento da temperatura média leva a uma maior ocorrência de eventos extremos

de inundações. Em 2002 houve uma enchente generalizada na Europa, com o

transbordamento dos rios Mueglitz em Dresden (Alemanha), Danúbio em Budapeste

(Hungria), Havel em Praga (República Tcheca), Kamp em Viena (Áustria), entre outros.

Ao mesmo tempo, houve uma estiagem severa que secou o Lago Dillon, no Colorado.

Assim, em uma mesma região, inundações e secas se alternam. Em 2010 e 2011 houve

severas inundações na cidade de São Paulo, seguidas pela severa estiagem de 2014.

No mundo há um aumento da frequência de eventos extremos de inundações. Em

1990 houve cerca de 500 eventos, enquanto em 2010 houve mais de 800.

Os relatórios de 2013 e 2014 do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças

Climáticas (IPCC) estimam que no Sudeste brasileiro haverá um aumento da frequência

de dias consecutivos sem chuva alternados com precipitações mais intensas.

Segundo Ambrizzi, embora não seja possível afirmar que as secas de 2014 e 2015 no

Sudeste sejam uma consequência direta do aumento das emissões dos gases do efeito

estufa, pode-se afirmar que os dois fenômenos estão relacionados. A temperatura

média global bateu recordes nos últimos dois anos e o sistema climático como um

todo absorveu este aumento de energia, reagindo de forma a manter o equilíbrio

global. O pesquisador acredita que existe uma grande probabilidade da região Sudeste

e a Região Metropolitana de São Paulo registrarem nos próximos anos oscilações de

extremos climáticos que causarão tanto inundações quanto secas.

O professor ressalta, ainda, que eventos extremos têm um custo econômico e social

muito significativo o que impõe o seu estudo e a adoção de estratégias para mitigar

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seus impactos. Dados do Centro Nacional de Dados Climáticos dos EUA mostram que

entre 1989 e 2011 houve 16 eventos extremos de seca e 14 de inundações naquele

país que custaram US$ 195 bilhões e US$ 74 bilhões, respectivamente.

No Brasil as secas e inundações recentes causaram, por exemplo, a quebra das safras

de diversas culturas, como café e laranja, a diminuição da produção de energia

elétrica, além da destruição da infraestrutura em eventos de cheias. Os problemas

sociais são igualmente relevantes. Eventos de cheia causam, entre outros danos, a

destruição de casas e a proliferação de doenças contagiosas enquanto em eventos de

seca, por exemplo, geram desemprego em decorrência do comprometimento da

atividade econômica.

Para aumentar o conhecimento sobre as mudanças climáticas e seus efeitos sobre a

sociedade, foi criada em 2007 a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças

Climáticas Globais – Rede CLIMA, envolvendo dezenas de universidades e institutos de

pesquisa em todo o país. O objetivo é gerar documentos que subsidiem a tomada de

decisões sobre os problemas trazidos pela mudança climática. Foi ainda criado em

2011 o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais - CEMADEN

com a missão de realizar o monitoramento de ameaças de desastres naturais para

obter um alerta antecipado desses eventos, com o objetivo de reduzir o número de

vítimas fatais bem como os prejuízos materiais decorrentes desses eventos.

Para o professor da USP, cabe aos tomadores de decisão observarem os sinais

climáticos recentemente documentados pela comunidade científica permitindo traçar

estratégias de prevenção visando diminuir vulnerabilidades sociais e econômicas pela

implementação de estratégias de adaptação às novas condições climáticas e a seus

impactos.

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3.3. MUDANÇA CLIMÁTICA E A CRISE HÍDRICA: INCERTEZA SOBRE O REGIME DE

CHUVAS

Uma das regiões mais afetadas pela estiagem de 2014 foi a Macrometrópole Paulista.

Nesse território vivem cerca de 32 milhões dos 61,3 milhões de habitantes da Região

Hidrográfica do Paraná. A taxa de urbanização é de 95% e o território responde por

27,7% do PIB brasileiro, mais de um trilhão de reais, sediando grande parte da

indústria e dos serviços intensivos em conhecimento do país (EMPLASA, 2015). A

Região Hidrográfica do Paraná abrange uma área que se inicia de Brasília no extremo

norte, Campo Grande ao oeste, e Curitiba, ao sul, incluindo o sul de Goiás, sul de Minas

e Estado de São Paulo, inclusive a Região Metropolitana de São Paulo e toda

Macrometrópole Paulista.

Em 2014, muitos municípios que integram essa região hidrográfica tiveram que adotar

medidas de contenção de consumo de água. Isso ocorreu na Região Metropolitana de

São Paulo e em outras unidades regionais da Macrometrópole Paulista. Em algumas

cidades de médio porte, a situação foi mais grave, com o colapso do sistema de

abastecimento de água, tendo levado ao fechamento de estabelecimentos comerciais

e ao adiamento da implantação de projetos industriais.

O Sudeste já enfrentava problemas de déficit de oferta de água quando a estiagem de

2014 se abateu sobre a região. Vale ressaltar que os rios localizados em regiões

metropolitanas das Bacias PCJ, Paraíba do Sul e Alto Tietê, já apresentavam uma

situação crítica tanto em relação aos aspectos quantitativos, em razão da alta

demanda para abastecimento público em função da alta densidade demográfica

dessas regiões, quanto aos aspectos qualitativos, face à grande quantidade de carga

orgânica lançada nesses rios, entre outros poluentes.

Em 2014, os índices pluviométricos do Sudeste se reduziram drasticamente levando a

uma diminuição significativa da oferta de água para abastecimento das regiões

metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro e para a geração de

hidroeletricidade. Estudos considerando o ano hidrológico com início em outubro e

término em setembro do ano seguinte, evidenciaram índices pluviométricos de seca

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severa no Sudeste, com tempo de retorno superior a cem anos (ANA, 2015). Essa

situação de seca extrema foi vivenciada por toda a Macrometrópole Paulista, como

pode ser observado na Figura 30.

Figura 30 Mapas de quantis e tempos de retorno da precipitação do ano hidrológico de

2014

Fonte: CONJUNTURA DOS RECURSOS HÍDRICOS – INFORME 2015 – ANA.

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Até a crise hídrica de 2014, a opinião pública brasileira não considerava a questão

hídrica como um problema de abrangência nacional. A visão geral era a de que em

todas as regiões do país haveria grandes e caudalosos rios e que, à exceção do

semiárido nordestino, sempre haveria disponibilidade de água para o

abastecimento.

A severa estiagem de 2014 derrubou essa premissa, mostrando a vulnerabilidade do

sistema. A crise hídrica trouxe o tema da gestão das águas para as primeiras páginas

dos jornais. Em 2014, por exemplo, os níveis do Sistema Cantareira eram informados

diariamente nos principais meios da imprensa. Devido à sua importância para o

abastecimento de água em toda a Região, os impactos desses eventos extremos no

Sistema Cantareira serão detalhados a seguir.

O SISTEMA CANTAREIRA E A CRISE HÍDRICA

No Sudeste, as chuvas se concentram na primavera e verão. É quando os níveis do

Sistema Cantareira se elevam garantindo disponibilidade de água para as Bacias PCJ

e para grande parte da Região Metropolitana de São Paulo durante o outono e o

inverno. No entanto, em 2013 e 2014, os índices pluviométricos na região do Sistema

Cantareira caíram em relação às médias históricas e, consequentemente, as vazões

médias mensais afluentes ao Sistema Cantareira também.

As alterações nos regimes de chuva nos últimos anos e as consequências para o

Sistema foram evidentes:

Em janeiro de 2010, os níveis do Sistema Cantareira chegaram a 99,6% devido as

chuvas acumuladas no mês terem se aproximado de 500 mm, índice muito acima da

média histórica de 259,9 mm. Duas represas do complexo alcançaram níveis críticos

e a água foi lançada pelos vertedouros causando inundações em diversos

municípios da região. Neste período, o conjunto de represas que constitui o Sistema

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Cantareira chegou a atender a cerca de 8,8 milhões de pessoas na Região

Metropolitana de São Paulo, além de cerca de 5,6 milhões de habitantes da região

das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, as Bacias PCJ.

Em janeiro de 2011, os níveis do Sistema Cantareira alcançavam 90,1% de sua

capacidade de reservação e a pluviometria acumulada no mês, próxima a 500 mm,

foi determinante para o lançamento das águas pelos vertedouros.

Contudo, apenas dois anos mais tarde, em janeiro de 2013, os níveis do Sistema

Cantareira tinham caído para 52,3% e as precipitações registradas no mês foram

menores que 146,7 mm, muito abaixo da média histórica (259,9 mm).

Em 2014, o Sistema Cantareira sofreu os efeitos de uma estiagem extrema, com

tempo de retorno de mais de cem anos. Em janeiro, os níveis do Sistema caíram

para 22,2% e a pluviometria acumulada foi de apenas 87,8 mm, representando 1/3

da média histórica do mês.

Em meados de 2014, os níveis caíram para índices abaixo do volume útil, aquele em

que as águas são lançadas por gravidade nas bacias à jusante dos reservatórios.

Dessa forma, passou a ser utilizado o chamado volume morto, aquele em que as

águas necessitam de bombeamento para serem lançadas nas bacias (ANA, 2014). A

síntese dos dados pluviométricos do ano de 2014 em relação à média histórica para

os mesmos meses é apresenta no Quadro 15:

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Quadro 15. Sistema Cantareira - Pluviometria 2014

Mês Pluviometria

Acumulada (mm)

Pluviometria Acumulada média

histórica (mm)

Pluviometria do mês (% da média

histórica)

Volume Acumulado Total (hm³)

Janeiro 87,8 259,9 37,14 699,72

Fevereiro 73,0 202,6 31,59 641,26

Março 193,3 184,1 30,03 613,14

Abril 85,7 89,3 15,23 586,32

Maio 37,3 83,2 15,32 543,00

Junho 15,8 56,0 11,19 500,58

Julho 40,4 49,9 11,08 450,50

Agosto 22,6 36,9 9,06 407,14

Setembro 66,0 91,9 25,05 366,88

Outubro 42,5 130,8 41,31 316,64

Novembro 135,0 161,2 56,34 286,1

Dezembro 165,5 220,9 80,97 272,83

TOTAL 964,9 1.566,7

Fonte: Dados de pluviometria SABESP – SITUAÇÃO DOS MANANCIAIS. Disponível em http://www2.sabesp.com.br/mananciais/DivulgacaoSiteSabesp.aspx.

Entre 2011 e 2014 os níveis do Sistema Cantareira variaram de índices próximos a

100%, obrigando a abertura dos vertedouros, a índices negativos, que exigiram a

utilização dos chamados volumes mortos.

Em caso de eventos excepcionais de cheias, como os ocorridos no início de 2010 e

2011, combinam-se fatores como a contribuição da área remanescente e descargas do

Sistema Cantareira. Como qualquer barragem operada por critérios de engenharia, as

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que compõem o sistema possuem um volume de amortecimento de cheias, porém é

limitado. Assim, atingida determinada cota, é necessária a abertura de comportas sob

o risco de danos estruturais permanentes na barragem, o que causaria uma tragédia

maior a jusante. Mesmo sendo inevitável, é papel da operadora e dos responsáveis

pela gestão dos recursos hídricos lançarem um alerta para os municípios

potencialmente inundáveis a jusante, o que possibilita uma atuação preventiva da

Defesa Civil nessas áreas

Nos períodos de estiagem, o Sistema Cantareira, por outro lado, mostra uma

capacidade de regularização para garantir vazões mínimas a jusante dos eixos das

barragens. Foi o que ocorreu no período entre 2013 e 2015. Mesmo que tenha sido

utilizado o volume morto, essa reserva acabou sendo estratégica tanto para

abastecer a RMSP, quanto para atender as demandas das Bacias PCJ.

3.4. A CRISE HÍDRICA E A GOVERNANÇA DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS BACIAS PCJ

Desde o final de 2009 e o verão de 2010, as Bacias PCJ vem sofrendo os efeitos de eventos extremos com chuvas excepcionais pela duração e intensidade, causando

inundações em vastas áreas a jusante do Sistema Cantareira.

A crise hídrica, seja pelo excesso de chuvas como ocorrido em 2010 e 2011, bem como

pela escassez em 2014 e 2015, mostrou que a gestão nas bacias PCJ precisa avançar. O

Plano de Bacias existente pouco abordou a questão de eventos extremos, focando o

documento no planejamento em horizontes de 20 anos, considerando situações mais

usuais de disponibilidade hídrica.

Da mesma forma, não constam planos de emergência e contingência para a bacia

como um todo e para suas sub-bacias. Nesses planos caberiam abordagens tais como,

as ações a serem tomadas em situações excepcionais como as cheias e estiagem, além

de procedimentos para contingências como a troca de equipamentos em barragens ou

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outros motivos que afetassem passageiramente a oferta hídrica. Efetivamente, esses

planos não constam para as Bacias PCJ e para a grande maioria de bacias brasileiras.

EVENTOS EXTREMOS NAS BACIAS PCJ

Nas Bacias PCJ como um todo a pluviometria acumulada em 2014 acompanhou o que

sucedeu no Sistema Cantareira. Numa amostra de vinte e dois municípios da região,

verifica-se que em vinte deles as precipitações acumuladas no ano foram menores do

que 1.000 mm, grande parte delas em torno de 900 mm, contra médias históricas

entre 1.200 e 1.400 mm na maioria dos casos (Figura 31).

O aumento da incerteza sobre o comportamento do clima leva a ocorrência de eventos

extremos com um intervalo temporal muito pequeno. Em um intervalo de apenas

cinco anos, precipitações acima das médias históricas se alternaram com a maior

estiagem em setenta anos.

Figura 31 Precipitações em alguns municípios das Bacias PCJ e médias históricas

Fonte: RELATÓRIO DE GESTÃO E SITUAÇÃO DAS BACIAS PCJ – 2014

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Eventos de cheia

As causas mais prováveis das cheias foram:

1. Ocorrência de chuvas intensas sucessivas de longa duração em 2011 provocou uma

provável redução da capacidade de infiltração do solo na bacia do Rio Atibaia,

aumentando o volume do escoamento superficial direto, portanto mais água escoando

pelo leito do rio. A área remanescente entre as barragens do Sistema Cantareira e a

seção de interesse em Atibaia tem dimensões suficientes para sozinha provocar cheias

em condições específicas como as que ocorreram no início de 2011. Em 2010, houve a

soma das vazões da área remanescente das bacias dos contribuintes que formam o Rio

Atibaia, bem como a abertura das comportas das barragens Atibainha e Cachoeira.

2. O assoreamento na calha do Rio Atibaia provavelmente deve ter aumentado em

decorrência das chuvas e inundação de 2010. As cheias se caracterizam por maior

volume de água e maior velocidade de escoamento, transportando maior quantidade

de sólidos em suspensão como grãos de solo e outros materiais como pequenas

pedras e, até mesmo, lixo. Todos esses materiais tendem a sedimentar em áreas de

menor declividade, como no caso das várzeas do Rio Atibaia, junto à cidade de mesmo

nome.

O Sistema Cantareira teve em 2011 um papel positivo no amortecimento de cheia, pois

a inundação poderia ser maior caso não fossem retidos volumes significativos pelos

barramentos. Tendo em vista esses eventos de 2010 e 2011, a Agência Bacias PCJ,

chegou a estudar, em 2012, a possibilidade de redução do volume operacional (útil) do

Sistema Cantareira para aumentar o volume de amortecimento de cheias. Porém, a

partir de 2013, verificou-se uma sequência de anos com eventos extremos de seca,

fenômeno este jamais registrado anteriormente.

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Eventos de estiagem e os impactos na qualidade da água

Eventos extremos de estiagem podem causar sérios problemas envolvendo a

qualidade das águas. Havendo menos água, há menor diluição de poluentes e mesmo

de outros componentes. Em Atibaia, por exemplo, isso ocorreu durante a seca de

2014. O boletim de águas brutas para o Rio Atibainha - Sistema Cantareira (CETESB,

2014) mostrou em novembro de 2014 uma concentração de manganês igual a 0,6

mg/L e em dezembro, seis vezes acima do estabelecido pela resolução CONAMA

357/05 que estabelece o limite máximo de 0,1 mg/L.

Outro importante problema de qualidade de água que surge na ocorrência de

estiagens severas é a eutrofização em barragens. Assim, quando há uma estiagem

severa, há menos água no leito do rio para depurar os esgotos lançados.

NOVOS RESERVATÓRIOS E O AUMENTO DA RESILIÊNCIA À MUDANÇA CLIMÁTICA

Uma das medidas estratégicas para aumentar a resiliência das Bacias PCJ aos impactos

da mudança climática é a possibilidade de construção de novos reservatórios que

representariam maior segurança hídrica, contrapondo-se ao aumento da incerteza

sobre o regime de chuvas trazido pela mudança climática. Estudos apresentados em

2010 aos Comitês PCJ indicavam a construção das barragens de Pedreira e Duas Pontes

como sendo as melhores alternativas para aumento de reservação na região.

Aprovada a proposta pelos Comitês das Bacias PCJ, os projetos básicos e estudo de

viabilidade ambiental foram contratados pela Petrobras e entregues aos Comitês em

2013. A barragem de Pedreira, no Rio Jaguari, envolverá áreas dos municípios de

Pedreira e de Campinas. A barragem de Duas Pontes, no Rio Camanducaia, será

construída no município de Amparo.

Por outro lado, o Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a

Macrometrópole Paulista do DAEE, avaliará as demandas e disponibilidades hídricas

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até 2035, recomendando um conjunto de medidas para aumentar a segurança hídrica

da região. O Plano contempla ações a serem implementadas até 2018, 2025 e 2030.

3.5. IMPACTOS DA CRISE HÍDRICA NO SETOR DE SANEAMENTO

A crise hídrica afetou intensamente o setor de saneamento nas Bacias PCJ e conforme

a ARES, houve um aumento entre 50 e 60% nos gastos com energia elétrica no período

2014 e 2015, tendo em vista a política de “bandeiras” praticada pelo setor elétrico no

país. Além do mais, com a crise hídrica, ocorreram campanhas para redução de

consumo de água potável com impactos significativos no faturamento.

A cobrança pelos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário é feita

por faixa de consumo, sendo a primeira, até 10 m3/mês, a de menor valor, em torno

de R$ 2,00/m3. Com a crise hídrica e redução de consumo de água pela população,

vários usuários migraram da segunda faixa, para a primeira, reduzindo a receita dos

serviços de água e esgotos. Nos municípios regulados pela ARES-PCJ, observou-se uma

queda no faturamento de 25%, provocando a necessidade de reajuste tarifário

emergencial para cobrir o aumento de custos. Em alguns municípios também houve o

aumento de consumo de produtos químicos, também impactando os custos, mesmo

que num grau bem inferior aos de energia elétrica.

Em suma, ao mesmo tempo em que houve aumentos de gastos para manter os

serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, também ocorreu a

redução de receita, durante o período mais intenso de crise hídrica, entre janeiro de

2014 a setembro de 2015.

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Parte 4 Mecanismos Financeiros

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4. MECANISMOS FINANCEIROS

4.1. O ESTABELECIMENTO DOS MECANISMOS DE COBRANÇA

Conforme comentado anteriormente, a implantação da cobrança pelo uso de recursos

hídricos foi a grande modificação introduzida no país a partir dos adventos da

legislação paulista, mineira e, posteriormente, da legislação federal. Por meio da

cobrança, e do consequente repasse para as Bacias, foi possível realizar obras e

intervenções em diversas regiões do país no intuito de preservar os mananciais e

aumentar a disponibilidade hídrica.

Em rios de domínio da União, a cobrança está implantada em 4 Bacias, sendo elas, as

Bacias PCJ, a Bacia do Rio Paraíba do Sul, a Bacia do Rio São Francisco e a Bacia do

Rio Doce.

Em rios de domínio estadual do Rio de Janeiro, a cobrança foi implantada nas bacias

dos Rios Guandu, Macaé, Itabapoana e das Ostras, além das baías da Ilha Grande,

Guanabara e do Lago São João, abrangendo todo o Estado.

No Estado de São Paulo, em rios de domínio estadual, além das Bacias PCJ, a cobrança

foi implantada nas Bacias do Alto, Médio e Baixo Tietê e na Baixada Santista. No

Estado de Minas, além da porção mineira das Bacias PCJ, a cobrança foi implantada

nas Bacias dos Rios Araguari e Velhas, bem como nos afluentes do Rio Doce e Paraíba

do Sul.

Em rios de domínio do Estado do Paraná, a cobrança já foi iniciada nas bacias do Alto

Iguaçu e em afluentes do Alto Ribeira. No Estado da Paraíba, a cobrança foi iniciada em

todas as bacias.

No Estado do Ceará, está instituída desde 1996 uma tarifa de cobrança pelo uso de

recursos hídricos superficiais e subterrâneos cuja arrecadação é parcialmente

destinada ao custeio das atividades de gestão dos recursos hídricos. Na Bahia, há uma

tarifa pelo fornecimento de água bruta dos reservatórios. Há ainda uma taxa de

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fiscalização dos usos de recursos hídricos no Distrito Federal e uma taxa de fiscalização

das atividades de exploração e aproveitamento dos recursos hídricos no Pará.

Assim sendo, dos vinte e sete estados da Federação, a cobrança está plenamente

instituída em apenas dois deles: Rio de Janeiro e Paraíba. Em São Paulo e Minas

Gerais a cobrança está implantada nas principais bacias hidrográficas e, no Paraná,

de forma ainda muito limitada. No Ceará e na Bahia há uma tarifa pelo uso de água

bruta. No Pará e no Distrito Federal há apenas mecanismos financeiros para cobrir

algumas poucas atividades do sistema hídrico. Na Figura 32 é apresentada a

cronologia da implementação das cobranças pelo uso da água no Brasil.

Figura 32 Início da cobrança pelo uso da água

Esse resultado mostra-se modesto para a institucionalização do sistema hídrico tal

como foi concebido pela Politica Nacional de Recursos Hídricos, especialmente quando

se constata que o poder indutor da legislação e do sistema de gestão federal,

especialmente no que diz respeito ao mecanismo da cobrança, desenvolve-se de

forma relativamente lenta. O limitado alcance dos recursos arrecadados com a

cobrança pode ser verificado no Quadro a seguir, que apresenta os valores

arrecadados através das cobranças estadual e federal no ano de 2015.

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Quadro 16. Valores arrecadados em R$ da cobrança estadual e federal em 2015

BACIA HIDROGRÁFICA INÍCIO COBRADO ARRECADADO

INTERESTADUAL

Paraíba do Sul (CEIVAP) mar/03 10.748.778 10.665.785

Paraíba do Sul (TRANSPOSIÇÃO PBS/GUANDU)¹ jan/07 - 5.631.802

Piracicaba, Capivari, Jundiaí (COMITÊS PCJ) jan/06 18.412.699 17.085.087

São Francisco (CBHSF) jul/10 23.068.966 22.490.083

Doce (CBH-DOCE) nov/11 12.577.512 10.702.030

TOTAL INTERESTADUAL 64.807.955 66.574.786

CEARÁ

Em todas as Bacias Hidrográficas do Estado nov/96

Coreaú nov/96 164.990 163.976

Acaraú nov/96 2.007.861 1.897.371

Litoral nov/96 597.768 596.679

Curu nov/96 857.243 641.109

Metropolitana nov/96 76.425.924 76.117.345

Baixo Jaguaribe nov/96 430.440 347.682

Parnaíba (Sertão Crateus e Serra Ibiapaba) nov/96 702.430 687.352

Banabuiú nov/96 685.694 606.929

Médio Jaguaribe nov/96 2.413.021 2.295.548

Alto Jaguaribe nov/96 1.067.618 1.001.759

Salgado nov/96 2.503.177 2.031.915

TOTAL CE 87.856.165 86.387.665

RIO DE JANEIRO

Médio Paraíba do Sul jan/04 834.568 1.063.970

Piabanha jan/04 577.030 951.521

Dois Rios jan/04 396.748 547.777

Baixo Paraíba do Sul jan/04 334.622 423.301

Baia de Guanabara mar/04 3.572.116 6.270.545

Baía de Ilha Grande mar/04 286.187 440.519

Guandu mar/04 15.510.647 36.540.949

Itabapoana mar/04 52.912 139.473

Lagos São João mar/04 1.270.218 1.651.418

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BACIA HIDROGRÁFICA INÍCIO COBRADO ARRECADADO

Macaé e Rio das Ostras mar/04 1.187.446 1.832.788

TOTAL RJ 24.022.494 49.862.260

SÃO PAULO

Paraíba do Sul jan/07 3.009.235 2.737.085

PCJ (Paulista) jan/07 14.368.460 14.392.774

Sorocaba e Médio Tietê ago/10 7.656.889 7.706.675

Baixada Santista jan/12 11.154.009 11.118.176

Baixo Tietê jun/13 6.167.821 3.702.745

Alto Tietê jan/14 21.952.100 21.714.795

TOTAL SP 64.308.513 61.372.250

MINAS GERAIS

PJ mar/10 116.072 115.454

Das Avelhas mar/10 11.677.470 10.047.348

Araguari mar/10 4.971.176 4.805.346

Piranga jan/12 2.983.201 2.906.380

Piracicaba jan/12 7.707.608 7.781.221

Santo Antônio jan/12 2.671.844 2.642.314

Suaçuí jan/12 639.283 594.209

Caratinga jan/12 986.597 703.729

Manhuaçu jan/12 874.078 631.095

Preto/Paraibuna nov/14 1.388.520 1.074.854

Pomba/Muriaé nov/14 1.344.162 933.342

TOTAL MG 35.360.009 32.235.291

PARANÁ Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira set/13 3.364.596 2.840.004

TOTAL PR 3.364.596 2.840.004

PARAÍBA Todas as Bacias jan/15 4.124.056 408.644

TOTAL PB 4.124.056 408.644

TOTAL NO PAÍS (COBRANÇA EM BACIAS HIDROGRÁFICAS) 283.843.789 294.049.099

Fonte: ANA (2015).

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4.2. COBRANÇA ESTADUAL PELO USO DA ÁGUA (NO ESTADO DE SÃO PAULO)

Embora os comitês estaduais tenham sido implantados no decorrer da década de 90, a

cobrança pelo uso da água só ocorreu uma década mais tarde.

No caso do Comitê PCJ, a cobrança estadual teve inicio apenas quatorze anos depois

de sua criação, em 2007, assim como no Comitê da Bacia do Paraíba do Sul, que

embora implantado em 1994, iniciou a cobrança estadual na bacia somente treze anos

depois.

Podem ser citados exemplos de outros comitês que iniciaram a cobrança Estadual com

mais de uma década de defasagem em relação a sua implantação, são eles: Comitê de

Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê implantado em 1995 e iniciou a cobrança

estadual quinze anos mais tarde, em 2010; na Baixada Santista somente após

dezessete anos da implantação do comitê, a cobrança estadual teve início. No Baixo

Tietê dezenove anos se passaram entre a implantação do comitê de bacia e o início da

cobrança estadual. E no Alto Tietê, cujo comitê de bacia foi criado em 1994, apenas em

2014 teve início a cobrança estadual com um intervalo de vinte anos.

Isso evidencia que a institucionalização do SGIRH do Estado de São Paulo, no que diz

respeito a cobrança pelo uso da água, embora lenta, avança em diversas bacias. Em

2016, está previsto o inicio da cobrança estadual nas UGRHI do Tietê Batalha, Tietê

Jacaré, Ribeira de Iguape e Litoral Sul, Sapucaí/Grande, Baixo Pardo, Pardo e Mogi

Guaçu, o que fará com que a cobrança alcance 14 das 22 UGRHI do Estado de São

Paulo.

4.3. A COBRANÇA NAS BACIAS PCJ

Especificamente nas Bacias do PCJ, a cobrança foi iniciada no ano de 2006. Em 2008 foi

implantado o Comitê de Bacia da porção mineira das Bacias PCJ, denominado Comitê

PJ, de acordo com a Lei Estadual de MG nº 13.199/99. O Comitê do Estado de Minas

indicou, então, o Consórcio PCJ para exercer as funções de agência de bacias e

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gerenciar os recursos de cobrança pelo uso da água de rios de domínio estadual da

porção mineira das Bacias PCJ.

Os recursos destinados à Bacia PCJ são oriundos de três fontes: uma Federal e duas

Estaduais.

Os recursos federais são originários da arrecadação com a cobrança pelo uso dos

recursos hídricos em rios de domínio da União e repassados integralmente para a

Fundação Agência das Bacias PCJ, de acordo com o Contrato de Gestão firmado entre

esta e a Agência Nacional das Águas – ANA, na proporção de 7,5% para custeio e 92,5%

para investimentos.

Por sua vez, os Recursos Estaduais são correspondentes à cobrança pelo uso de

recursos hídricos em rios de domínio estadual e transferidos, de acordo com a Lei

Estadual nº 10.020/1998, para a Fundação Agência das Bacias PCJ e para a Secretaria

Executiva dos Comitês PCJ, pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FEHIDRO. Uma

outra fonte de recurso estadual é a compensação financeira pelo uso da água para

geração de hidroeletricidade no Estado e uma parcela oriunda da geração de energia

em Itaipu, que é repassada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) ao Fundo

Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO) e destinada ao custeio da Secretaria

Executiva dos Comitês PCJ.

4.3.1. Valores arrecadados das cobranças federal e estadual nas Bacias PCJ – 2006 a

2015

Entre 2006 e 2015 a cobrança federal arrecadou R$ 220.125.459,16 em valores

corrigidos de Fevereiro de 2016. Entre 2007 e 2015 a cobrança estadual arrecadou R$

177.176.784,29 em valores presentes. As duas cobranças arrecadaram R$

294.632.270,83 em valores históricos e R$ 397.302.243,45 em valores corrigidos,

conforme apresentado Quadro 17. Desse total, a cobrança federal respondeu por

55,41% do total arrecadado e a cobrança estadual a 44,59% total.

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Quadro 17. Valores totais arrecadados de cobrança federal e estadual nas Bacias PCJ de 2006 a 2015

Cobrança Valor corrigido

(em R$)

Valor histórico

(em R$) Percentual

Estadual 177.176.784,29 133.540.141,04 44,59%

Federal 220.125.459,16 161.387.484,94 54,78%

Total 397.302.243,45 294.927.625,98

Dados: Agência Nacional e Águas - ANA e Agência das Bacias PCJ. Planilha elaborada pela FESPSP

No Quadro 18 é possível visualizar esses valores arrecadados ano a ano considerando

os dois tipos de cobrança. Ressalta-se que a cobrança estadual só teve em inicio em

2007.

Quadro 18. Valores arrecadados das cobranças Federal e Estadual por ano e origem

ANO R$ Corrigidos R$ Históricos

Federal Estadual Federal Estadual

2006 18.197.223 - 10.016.779 -

2007 22.770.786 16.498.291 13.499.063 9.780.579

2008 26.089.113 18.501.117 16.993.054 12.050.639

2009 26.469.838 22.775.799 16.946.532 14.581.532

2010 24.641.490 24.605.971 17.556.783 17.531.476

2011 22.048.301 23.991.226 16.514.282 17.969.543

2012 22.440.093 21.092.766 18.116.075 17.028.367

2013 20.575.870 19.225.750 17.529.400 16.379.180

2014 19.394.952 16.614.322 17.130.429 14.674.461

2015 17.497.794 13.871.542 17.085.087 13.544.364

TOTAL 220.125.459 177.176.784 161.387.485 133.540.141

397.302.243 294.927.626

Dados: ANA e Agência PCJ – Planilha elaborada pela FESPSP

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Cabe destacar a redução dos valores da arrecadação das cobranças estadual e federal.

Em valores corrigidos, a cobrança federal atinge o valor máximo arrecadado em 2009,

correspondendo a R$ 26.469.838,36. Nos anos seguintes, há uma redução nesses

valores até atingir em 2015, a menor arrecadação, correspondendo a R$

17.497.794,13. Com a cobrança estadual ocorre a mesma situação, com o maior valor

de arrecadação em 2010, R$ 24.605.970,70, atingindo, em 2015, R$ 13.871.541,64.

Isso significa em termos percentuais, uma queda de 34% nos recursos federais e 44%

nos recursos estaduais.

O histórico de valores arrecadados por meio das cobranças estadual e federal também

pode ser visualizado na Figura 33.

Figura 33 Histórico dos valores das cobranças Estadual e Federal em valores corrigidos

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4.3.2. Valores arrecadados pela cobrança pelo uso da água nas Bacias PCJ:

participação por setores de atividades

Este item apresenta os valores arrecadados pela cobrança pelo uso da água nas Bacias

PCJ por setores de atividades.

A avaliação dos dados da cobrança no âmbito estadual considerou o período entre

2007 e 2015, enquanto no âmbito federal o período analisado foi entre 2008 a 2015.

Dentre os setores de atividades contribuintes do sistema de cobrança pelo uso da água

nas Bacias PCJ, o setor com maior contribuição é o de saneamento. De um total de R$

356.334.234,74 em valores corrigidos arrecadados pelas cobranças estadual e federal

nesse período, R$ 289.318.022,56 são provenientes do setor de saneamento e que

correspondem a 81,19% do total.

Os dados da cobrança das Bacias PCJ do período da cobrança estadual, apresenta a

indústria em segundo lugar, embora com valores bem inferiores comparados ao de

saneamento, tendo contribuído com R$ 54.207.065,65 em valores corrigidos no

período considerado, correspondentes a 15,21% do total dos valores arrecadados.

Comércio, serviços e usos residenciais como condomínios, estão em terceiro lugar com

R$ 7.374.445,54 em valores presentes arrecadados, correspondentes a apenas 2,07%

do total. Em seguida, está o setor de energia que contribuiu com R$ 4.540.950,06

milhões de reais em valores presentes, correspondentes a 1,27% do total. Nesse caso,

trata-se do consumo de água por plantas termelétricas da Companhia Paulista de

Força e Luz – CPFL.

A agropecuária contribuiu com R$ 153.858,98, em valores presentes, correspondentes

a 0,04% do total arrecadado em todo período considerado. Por fim, o setor de

mineração contribuiu com R$ 55.620,97 em valores presentes, correspondentes a

0,02% do total arrecadado.

Os usuários de recursos hídricos para fins de irrigação eram isentos de cobrança no

Estado de São Paulo até 2010. A partir de então deveriam ter sido cobrados pela

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captação e consumo de água para fins de irrigação, mas essa cobrança ainda não foi

instituída e essa classe de usuários continua isenta.

Os usuários de rios de domínio federal pagam um valor simbólico pelo uso de água

para irrigação e, além disso, são apenas 12 usuários nas Bacias PCJ. Em 2015, eles

captaram 1,9 milhão de metros cúbicos de água. No setor agropecuário há ainda um

único usuário de aquicultura que captou 4 mil metros cúbicos em 2015.

A contribuição da participação por atividades nas Bacias PCJ é demonstrada no Quadro

19 e Figura 34:

Quadro 19. Valores arrecadados pela cobrança nas Bacias PCJ: participação por setores de atividades

Setores contribuintes

Federal (Em R$)

Estadual (Em R$)

Total (Em R$)

Participação (%)

Saneamento 149.040.638,29 126.661.704,46 275.702.342,75 80,45%

Indústria 24.417.225,36 29.789.840,30 54.207.065,65 15,82%

Serviços 335.355,71 7.039.089,83 7.374.445,54 2,15%

Agropecuária 83.389,08 70.469,90 153.858,98 0,04%

Energia 4.540.950,06 - 4.540.950,06 1,32%

Mineração 55.620,97 - 55.620,97 0,02%

Outros 684.270,99 - 684.270,99 0,20%

Total 179.157.450,46 163.561.104,48 342.718.554,94 100,00%

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Figura 34 Valores arrecadados pela cobrança nas Bacias PCJ: participação por setores de

atividades

SETOR DE SANEAMENTO

Considerando a significante contribuição na captação e respetiva cobrança pelo uso da

água pelo setor de saneamento, é apresentado a seguir o detalhamento desses dados,

com destaque para os seguintes aspectos:

Em 2015, as empresas e órgãos públicos de saneamento - usuários de rios de

domínio federal das Bacias PCJ - captaram cerca de 1,5 bilhões de metros

cúbicos, enquanto os usuários industriais de rios de domínio federal captaram

cerca de 194 milhões de metros cúbicos, representando 7,7 vezes menos.

No mesmo ano, as empresas e órgãos públicos de saneamento captaram cerca

de 506 milhões de metros cúbicos nos rios de domínio estadual, enquanto os

usuários industriais captaram 119 milhões de metros cúbicos, 4,25 vezes

menos.

Em grandes números, somando captações de rios estaduais e federais, o

saneamento captou em 2015, 2,014 bilhões de metros cúbicos enquanto a

indústria captou 313 milhões de metros cúbicos, 6,43 vezes menos.

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A SABESP é a maior contribuinte das cobranças federal e estadual. A empresa pagou

R$ 124.876.659,18 em valores históricos, correspondentes a R$ 163.761.499,66 em

valores corrigidos, a título de cobrança estadual e federal no período compreendido

entre 2008 e 2015 da cobrança federal, e entre 2007 e 2015 da cobrança estadual.

Esse valor corresponde a 45,96% do total arrecado a título de cobrança no período

acima indicado.

Quanto à cobrança federal, a empresa pagou R$ 85.581.320,69 em valores históricos e

R$ 111.118.657,92 em valores corrigidos, correspondentes a 31,18% do total

arrecadado no período acima indicado. Por outro lado, pagou R$ 39.295.338,49 em

valores históricos e R$ 52.642.841,73 em valores corrigidos relativos à cobrança

estadual, correspondentes a 14,77% do total arrecadado no período acima indicado.4

A SANASA foi a segunda maior contribuinte das cobranças estadual e federal. Essa

empresa pagou R$ 24.037.613,19 em valores presentes a título de cobrança federal

entre 2008 e 2015 e de cobrança estadual entre 2007 e 2015, correspondentes a

6,75% do total arrecadado nesse período. Desse total, R$ 12.546.077,23 em valores

presentes foram relativos à cobrança federal e R$ 11.491.535,97 em valores presentes

à cobrança estadual.

O Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba foi outro grande contribuinte,

tendo pago R$ 14.359.373,56 em valores presentes, correspondentes a 4,03% do total

arrecadado nesse período, sendo R$ 4.146.016,10a título de cobrança federal entre

2008 e 2015, e R$ 10.213.357,46 de cobrança estadual entre 2007 e 2015.

Esses dados estão apresentados no Quadro 20 e Figura 35 a seguir:

4 Os dados estão na planilha Cobrança federal e estadual 2006 a 2015 elaborada pela FESPSP a partir

de dados da Agência Nacional de Águas - ANA e da Agência das Bacias PCJ.

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Quadro 20. Valores arrecadados por 10 contribuintes do setor de saneamento

Contribuinte Valor Corrigido (R$) Valor Histórico (R$) Participação

(%)

SABESP 163.761.499,66 124.876.659,18 46,01

SANASA 24.037.613,19 17.774.513,56 6,75

SEMAE PIRACICABA 14.359.373,56 10.965.219,72 4,04

DAE JUNDIAÍ 12.876.292,81 10.108.783,28 2,72

ODEBRECHT LIMEIRA 9.130.414,80 7.119.650,52 2,62

RIO CLARO (DAE E ODEB.) 8.024.564,81 5.880.013,44 2,17

DAE - SANTA BÁRBARA 7.449.996,68 5.787.906,75 2.13

DAE AMERICANA 7.367.140,81 5.467.446,89 2.01

SAAE INDAIATUBA 5.281.525,40 3.917.853,06 1.44

CODEN NOVA ODESSA 1.681.326,78 1.282.153,37 0.47

TOTAL 253.091.464,96 179.479.908,44 78.19

Dados: ANA e Agência PCJ – Planilha elaborada pela FESPSP

Figura 35 Valor histórico arrecadado por 10 contribuintes do setor de saneamento de acordo com sua participação

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4.4. ABORDAGEM SOBRE A APLICAÇÃO DOS RECURSOS

O destino do total obtido com a cobrança pelo uso de recursos hídricos é apresentado

nos itens a seguir.

4.4.1. Valores totais aplicados por setor (1995 – 2015)

A análise dos valores totais aplicados por setor confirma a grande concentração dos

recursos em saneamento, inclusive projetos de redução de perdas, que foi

contemplado com 85,36% dos recursos aplicados de 1995 a 2015 de todas as três

fontes: cobrança federal, cobrança paulista e compensação pelo uso de água para

geração de eletricidade. Esse índice corresponde a R$ 455.377.411,11 em valores

presentes (Quadro 21).

Quadro 21. Recursos aplicados oriundos da cobrança Federal, Estadual e compensação nas

Bacias PCJ (1995 – 2015), trazidos a valores presentes em Fevereiro/2016

Setor Valor (Em R$) Participação (%)

Saneamento 303.107.078,29 56,83%

Perdas 152.270.332,81 28,55%

Governança 64.386.377,94 12,07%

Preservação 6.772.952,80 1,27%

Educação ambiental 3.724.806,02 0,70%

Serviços ambientais 2.859.386,38 0,54%

Subtotal: Saneamento e perdas 455.377.411,11 85,36%

Total 533.327.323,97

Contrapartidas 318.802.461,96

Valor total com contrapartidas 852.129.785,94

Fonte: Agência Nacional de Águas e Fundação Agência das Bacias PCJ

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Os investimentos em governança receberam 12,07% do total, recursos estes que

financiaram, de um lado, estudos, projetos, planos e, de outro, a implantação de

monitoramento hidrológico e sistemas de informação abrangendo qualidade e

quantidade das águas nas Bacias PCJ, inclusive com aquisição de equipamentos e

softwares. A rubrica referente à “Preservação Ambiental” foi contemplada com apenas

1,27% do total. Serviços ambientais e educação ambiental tiveram participações

simbólicas, ambas menores do que um por cento do total.

A destinação de mais da metade dos recursos para tratamento de esgotos espelha a

motivação central dos movimentos sociais e ecológicos que deram origem ao

Consórcio Intermunicipal das Bacias PCJ, aos Comitês das Bacias PCJ e por último da

Agência das Bacias PCJ. Historicamente, esses movimentos tinham como objetivo

central a despoluição dos rios da região. Essa movimentação foi particularmente

intensa em Piracicaba. Na região das Bacias PCJ a estrutura participativa de gestão dos

recursos hídricos por bacia, nasceu da mobilização e participação de setores da

sociedade, sendo que esses movimentos sociais antecedem a criação do sistema

paulista de gestão dos recursos hídricos, bem como antecedem a criação da ANA e,

portanto, são anteriores ao advento da moderna legislação federal sobre os recursos

hídricos.

A agenda derivada da crise hídrica que pretende aumentar a resiliência das Bacias PCJ

aos efeitos da mudança climática é recente e não está espelhada no perfil dos

investimentos que foram realizados ao longo dos últimos vinte anos e que tinham

como meta central a recuperação dos mananciais. A distribuição anual da aplicação

dos recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, entre os anos de 1995 a

2015, por setor, conforme a figura a seguir.

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Figura 36 Distribuição dos recursos da cobrança Federal, Estadual e compensação nas Bacias PCJ (1995 a 2015)

A distribuição anual da aplicação dos recursos da cobrança pelo uso dos recursos

hídricos, entre os anos de 1995 a 2015, por setor, conforma a figura a seguir. O Anexo

IV do presente documento discorre sobre o detalhamento de tais alocações, tratando

pormenorizadamente o assunto, através de análise anualizada das aplicações.

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Figura 37 Distribuição anual da aplicação dos recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos por setor (1995 a 2015)

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4.4.2. Aplicação dos recursos por setor, de acordo com sua origem

Além da análise ponderada em função das estratégias de aplicação do total de

recursos arrecadados, em cada uma das áreas consideradas prioritárias pelo Plano de

Bacias PCJ 2010- 2020, para o atendimento de seus objetivos e metas, mostra-se

importante a compreensão em torno da origem e composição dos recursos aplicados

nestas áreas.

O Quadro 22 e a Figura 38 apresentam a participação de cada área no total aplicado,

bem como a composição do valor total aplicado, de acordo com a origem dos recursos,

se Compensação pelo uso para a geração de energia elétrica, Cobrança Federal ou

Estadual pelo uso de recursos hídricos.

Quadro 22. Valor total aplicado de acordo com a origem dos recursos (R$)

Setores Valor total

aplicado (R$)

Composição por setor

Compensação – Energia elétrica

Cobrança Federal

Cobrança Estadual

Educação ambiental 3.724.806,02 3.231.264,76 0,00 493.541,26

Governança 64.386.377,94 12.152.377,66 35.702.163,01 16.531.837,27

Perdas 152.270.332,81 36.085.106,19 83.134.040,19 33.051.186,44

Preservação 6.772.952,80 4.840.566,26 734.835,96 1.197.550,58

Saneamento 303.107.078,29 100.817.679,24 80.793.790,90 121.495.608,15

Serviços ambientais 2.859.386,38 - 2.859.386,38 -

Outros 206.389,73 206.389,73 0,00 0,00

Total 533.327.323,97 157.333.383,84 203.224.216,43 172.769.723,70

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Conforme apresentado, as áreas de Saneamento e Perdas concentram a aplicação de

recursos, respondendo por aproximadamente 85% do total arrecadado.

Figura 38 Valor total aplicado de acordo com a origem do recurso (R$)

Considerando a composição dos recursos investidos, o setor de saneamento

representa a área com maior parcela de recursos da cobrança estadual,

aproximadamente 40% dos recursos recebidos, somados a 33% da Compensação por

uso para a geração de energia elétrica e 27% oriundos da Cobrança federal (Quadro 23

e Figura 39).

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141

Quadro 23. Composição por área de investimento, de acordo com a origem dos recursos

Setores Participação

no Valor total aplicado (%)

Composição por setor

Compensação Energia Elétrica

Cobrança Federal

Cobrança Estadual

Total

Educação ambiental 0,70% 86,75% 0,00% 13,25% 100%

Governança 12,07% 18,87% 55,45% 25,68% 100%

Perdas 28,55% 23,70% 54,60% 21,71% 100%

Preservação 1,27% 71,47% 10,85% 17,68% 100%

Saneamento 56,83% 33,26% 26,66% 40,08% 100%

Serviços ambientais 0,54% 0,00% 100,00% 0,00% 100%

Outros 0,04% 100,00% 0,00% 0,00% 100%

Figura 39 Composição por área de aplicação, de acordo com a origem dos recursos

A análise dos dados permite observar também que as áreas de “Governança”,

“Perdas”, “Preservação” e “Saneamento” foram contempladas com investimentos de

recursos oriundos das três fontes apresentadas, enquanto que “Educação Ambiental”

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somente recebeu recursos da Compensação por uso para a geração de energia e da

Cobrança Estadual e a área de “Serviços Ambientais” recebeu apenas recursos

oriundos da Cobrança Federal. Por fim, a área “Outros” recebeu apenas recursos de

compensação pela geração de energia elétrica (Figura 40):

Figura 40 Composição por área de aplicação, de acordo com a origem dos recursos

4.5. APLICAÇÃO DOS RECURSOS FRENTE AOS DESAFIOS COLOCADOS PELO PLANO DE BACIA

O Plano de Bacia trabalhou com um cenário mais favorável que foi designado como

“desejável”, no qual a grande maioria dos municípios integrantes das Bacias PCJ

deveria atingir índices da ordem de 95% de tratamento de esgoto, patamar aceito

como indicador da universalização dos serviços.

Os recursos estimados pelo Plano de Bacias para que esse cenário se concretizasse

foram de R$ 2.013.339.303,88 (COBRAPE, 2010). Desse total, o Plano identificou a

necessidade de se buscar recursos da ordem de R$ 1.380.005.860,82, não assegurados

por fontes já existentes. No Quadro 24 e gráfico correspondente são apresentados os

Preservação 1,27%

Educação ambiental 0,70%

Serviços ambientais 0,54%

Outros 0,04%

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recursos estimados pelo Plano de Bacias PCJ para cenário desejável de coleta e

tratamento de esgotos entre o período de 2014 e 2020.

Quadro 24. Recursos estimados pelo Plano de Bacias PCJ para cenário desejável de coleta e

tratamento de esgotos em 2014 e 2020

SISTEMA RECURSO 2014 2020 TOTAL

Coleta

Assegurado 243.242.750,17

243.242.750,17

Adicional 314.323.574,89 432.411.257,28 746.734.832,17

Total 557.566.325.06 432.411.257,28 989.977.582,34

Tratamento

Assegurado 390.090.692,89

390.090.692,89

Adicional 341.767.207,21 291.503.821,44 633.271.028,65

Total 731.857.900,10 291.503.821,44 1.023.361.721,54

Total

Assegurado

633.333.443,06

Adicional a obter - - 1.380.005.860,82

Total geral 1.289.424.225,16 723.915.078,72 2.013.339.303,88

Fonte: Plano de Bacias PCJ 2010 – 2020

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Figura 41 Recursos a obter para consecução das ações previstas no Plano de Bacias PCJ

2010 - 2020

Corrigindo-se o montante de recursos necessários de R$ 1.380.005.860,82 para que o

cenário desejável fosse atingido em 2020, chega-se a R$ 1.936.881.005,84 a valores

presentes4.

Os projetos apoiados com recursos da compensação, cobrança investidos em

afastamento, transporte e tratamento de esgotos nas bacias foram contemplados com

56,83% do total, R$ 303.107.078,29 em valores presentes. Incluindo-se os projetos de

redução de perdas de água esse percentual se eleva para 85,38%, correspondendo a

R$ 455.377.411,11 em valores presentes, investidos ao longo de vinte anos de 1995 a

2015. Isso significa que a capacidade de intervenção dos Comitês das Bacias PCJ e da

Agência das Bacias PCJ para o enfrentamento da questão do tratamento de esgotos

ainda é limitada com relação ao montante total de recursos demandados.

Com base nessa avaliação, algumas questões se colocam para reflexão:

4 Valores corrigidos de 31 de dezembro de 2010 para fevereiro de 2016 pelo IGPM da Fundação Getúlio

Vargas.

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a) Deve-se rever a política de aplicação dos recursos não reembolsáveis?

b) Seria oportuno concentrar os recursos da cobrança e da compensação na

solução de problemas cuja solução não esteja financeiramente equacionada e

que não contem com o suporte de tarifas ou de outra fonte de recursos

adequada?

c) Da mesma forma, seria oportuno concentrar os recursos da cobrança e da

compensação em ações que tenham como objetivo aumentar a resiliência das

Bacias PCJ diante dos impactos da mudança climática?

4.5.1. Inflexão dos valores da cobrança

Os valores vigentes relativos à cobrança são relativamente baixos e sofreram forte

inflexão nos últimos anos.

Na realidade, os valores pela captação de água bruta, consumo e de lançamento de

carga orgânica são menores do que os vigentes no início da cobrança, como se pode

constatar no Quadro 25. O valor inicial da cobrança federal em 2006 pela captação era

de R$ 0,01 por metro cúbico. Em valores presentes, esse valor seria de R$ 0,0182 e o

valor vigente é de R$ 0,0127. Em valores constantes, o valor vigente é 30,22% menor

do que o valor inicial. Por outro lado, o valor pelo lançamento de carga orgânica era de

R$ 0,10 no início da cobrança federal em 2006, em valores presentes R$ 0,1817 e o

valor vigente é de R$ 0,1274, sendo o valor vigente 29,88% menor do que o valor

inicial.

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Quadro 25. Valores da cobrança federal em 2006 - valores vigentes e valores corrigidos

Tipos de uso Unidade Valor 2006

(Em R$) Valor Vigente

(Em R$) Valor 2006 Corrigido

Redução (%)

Captação, Extração e Derivação

R$/m3 0,01 0,0127 0,0182 30,22

Consumo de água bruta

R$/m3 0,02 0,0255 0,0363 29,75

Lançamento de carga orgânica (DBO5,20)

R$/Kg 0,1 0,1274 0,1817 29,88

Transposição R$/m3 0,015 0,0191 0,0273 30,04

Valores corrigidos pelo IGPM da Fundação Getúlio Vargas para Fevereiro de 2016

Quadro 26. Valores vigentes em 2016 das cobranças federal e estadual por tipo de uso - 2016

COBRANÇA - FEDERAL

Tipos de uso Unidade Valor (Em R$)

Captação, Extração e Derivação R$/m3 0,0127

Consumo de água bruta R$/m3 0,0255

Lançamento de carga orgânica (DBO5,20) R$/Kg 0,1274

Transposição de bacia R$/m3 0,0191

COBRANÇA - ESTADO DE SÃO PAULO

Captação, Extração e Derivação R$/m3 0,0127

Consumo de água bruta R$/m3 0,0255

Lançamento de carga orgânica (DBO5,20) R$/Kg 0,1274

COBRANÇA - ESTADO DE MINAS GERAIS

Captação de água bruta superficial R$/m3 0,01

Captação de água bruta subterrânea R$/m3 0,0115

Consumo de água bruta R$/m3 0,02

Fonte: Agência das Bacias PCJ

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No Quadro 27 pode ser observado que no decorrer do período de vigência das

cobranças federal e estadual, houve uma queda acentuada do montante anual

angariado a partir do ano de 2011, alcançando no ano de 2015, um valor

substancialmente inferior àquele recolhido cinco anos antes, com uma diminuição

próxima a 1/3 em valores corrigidos.

Quadro 27. Evolução dos valores de Cobrança de Uso de recursos hídricos no Período de

2006 a 2015 - trazidos a valores presentes em Fev/2016

Ano Cobrança estadual

Cobrança federal Somatórias -

cobranças federal e estadual

Variação ano a ano

2006 - 18.197.223 18.197.223 -

2007 16.498.291 22.770.786 39.269.077 116%

2008 18.501.117 26.089.113 44.590.230 14%

2009 22.775.799 26.469.838 49.245.638 10%

2010 24.605.971 24.641.490 49.247.460 0%

2011 23.991.226 22.048.301 46.039.527 -7%

2012 21.092.766 22.440.093 43.532.859 -5%

2013 19.225.750 20.575.870 39.801.620 -9%

2014 16.614.322 19.394.952 36.009.273 -10%

2015 13.871.542 17.497.794 31.369.336 -13%

A evolução das receitas também pode ser visualizada na Figura 42:

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Figura 42 Evolução das receitas pela cobrança pelo uso das águas por ano em reais

Essa situação pode ser justificada parcialmente pela deterioração dos Preços Unitários

Básicos (PUBs) no decorrer do tempo, não sendo corrigidos integralmente vis-à-vis a

inflação decorrida no período. No decorrer do recorte temporal compreendido entre

os anos de 2006 e 2016, os PUBs aplicados nos cálculos dos valores das cobranças

apresentam um descolamento considerável ao acumulado da inflação medido através

do índice de preços IGPM-FIPE no mesmo período. No Quadro 28, observa-se o valor

original dos PUBs em 2006, tais valores corrigidos pelo IGPM-FIPE acumulado no

período, os valores vigentes no ano de 2016 e a diferença percentual entre os dois

últimos:

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Quadro 28. Preços Unitários Básicos (PUBs)

Tipos de uso Unidade Valor em 2006 (R$)

Valor de 2006 (corrigido pelo

IGPM até 02/2016)

Valor em 2016 (R$)

Diferença (%)

Captação, Extração e Derivação

R$/m3 0,0100 0,0182 0,0127 43,31%

Consumo de água bruta

R$/m3 0,0200 0,0363 0,0255 42,35%

Lançamento de carga orgânica

(DBO5,20) R$/m3 0,1000 0,1817 0,1274 42,62%

Transposição R$/m3 0,0150 0,0273 0,0191 42,93%

A inflexão dos preços unitários básicos em relação à inflação no decorrer do tempo

implica na deterioração das receitas de cobrança, consequentemente na diminuição da

capacidade de investimento do Comitê PCJ, frente aos objetivos estabelecidos no

Plano de Bacias. Se, a priori, o quadro que se apresenta a seguir já contempla um

déficit de receitas com relação ao quadro ideal de investimento preconizado, a perda

de valor real das receitas auferidas devido ao não acompanhamento das tarifas em

relação à inflação é agravado, uma vez que o índice de inflação também é aplicável ao

montante “adicional a receber” necessário para o cumprimento das metas almejadas.

4.5.2. Participação da cobrança em relação à tarifa cobrada pelo serviços de Saneamento

Além de apontar para a tendência de diminuição dos valores recolhidos nos últimos 5

anos, levanta-se a questão para debate sobre a magnitude do valor da cobrança.

Como parâmetro para discutir se o valor por metro cúbico cobrado se encontra dentro

de parâmetros razoáveis, foram comparados os valores cobrados nas Bacias do PCJ a

dois países cuja gestão de recursos hídricos encontra-se em estado de

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desenvolvimento avançado: Bacia do Rio Tâmisa na Inglaterra e o estado de Baden-

Württemberg na República Federativa da Alemanha.

A título de comparação sobre a magnitude do valor cobrado pela extração de recursos

hídricos para o abastecimento público, foi identificado o valor de extração pago pela

empresa inglesa “Thames Water Utilities”, responsável pelo abastecimento da região

da Bacia do rio Tâmisa na Inglaterra, por meio das informações contidas no relatório

“Upstream services appendix to accounting separation tables in the regulatory

accounts For the year ended 31 March 2015” e, para o caso alemão, os dados da

cobrança de extração do Estado alemão de Baden-Württemberg, encontrados no

Versorgeportal Baden-Württemberg – Wasserpreise für Haushaltkunden.

Como parâmetro de referência, foi comparado o preço de tarifa pago pelos habitantes

residenciais para o abastecimento de 1 m³ de água frente ao preço pago pela

companhia de abastecimento pela extração de um metro cúbico. O Quadro 15 a seguir

demonstra o comparativo entre tais valores:

Quadro 29. Comparativo da tarifa de abastecimento por m³, preço de extração e a relação

entre ambos, na bacia do Tâmisa, estado alemão de Baden-Württemberg e os municípios

de Campinas e Itatiba

Local Preço do m³ de água fornecida

Preço de extração por m³

(%) Valor extração sobre valor da tarifa

fornecimento

Thames Water Utilities 1,26 £/m³ 0,0400 £/ m³ 3,17%

Baden-Württemberg 2,33 €/ m³ 0,0510 €/ m³ 2,19%

Campinas 2,59 R$/m³ 0,0108 R$/m³ 0,41%

Itatiba (operação Sabesp) 2,24 R$/m³ 0,0108 R$/m³ 0,48%

Fontes: Thames Water Utilities (2015); Thames Water Utilities (2015); Versorgeportal Baden-Württemberg – Wasserpreise für Haushaltkunden (2013); SABESP (2016); SANASA (2015); AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ (2016); DVGW (2015)

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Os dados do Quadro 29 permitem observar que, em termos de magnitude, os valores

cobrados nos países europeus são significantemente superiores àqueles cobrados pelo

PCJ. Outro ponto bastante significativo é a relação entre os valores de extração e o

preço de tarifa de fornecimento de 1 m³ de água. O peso do custo de extração de 1 m³

de água para abastecimento público nos casos europeus observados estão entre 4 e 6

vezes acima daquele observado nas Bacias do PCJ.

Ainda no Estado de Baden-Württemberg, outros mecanismos financeiros são utilizados

na gestão de recursos hídricos. Através de uma linha de financiamento da comunidade

europeia, um mecanismo financeiro de compensação proporciona incentivos a

agricultores, por meio de pagamentos, quando da adoção voluntária de práticas

ambientalmente sustentáveis.

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Parte 5 Avaliação da Governança e Tópicos para Discussão

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5. AVALIAÇÃO DA GOVERNANÇA E TÓPICOS PARA DISCUSSÃO

Este item sintetiza a avaliação da governança, incluindo as lacunas observadas e, a

partir dessas, são trazidos tópicos indicativos para posterior discussão e

aprofundamento. Os pontos aqui apresentados têm o propósito de dar diretrizes para

a análise e contribuição das demais entidades participantes.

5.1. AVALIAÇÃO DA GOVERNANÇA MULTINÍVEL

A dimensão, complexidade e modelo adotado no Brasil para a Gestão dos Recursos

Hídricos colocam como um dos maiores desafios o estabelecimento de uma

governança em variados níveis em uma estrutura social heterogênea, em um país de

grandeza continental. Com um estado estruturado em três entes federados, segundo a

constituição, autônomos entre si, e com bacias hidrográficas interestaduais

comportando centenas de municípios, impõe-se que a governança seja

necessariamente composta de estrutura multinível envolvendo um grande número de

atores diversificados, desde órgãos governamentais a organizações civis.

A avaliação desta estrutura, as suas lacunas e sobreposições serão sempre um grande

desafio para o aprimoramento e desenvolvimento da Governança. Nesse sentido, com

base nas avaliações feitas anteriormente neste documento, seguem alguns

apontamentos para debate e aprofundamento.

A OCDE (2015) define a governança multinível como

“o compartilhamento, explícito ou implícito, da responsabilidade pela atribuição de formular e implementar as políticas de recursos hídricos pelos diferentes níveis administrativos e territoriais, ou seja: 1) entre diferentes ministérios e/ou órgãos públicos em nível de governo central (superior, horizontalmente); 2) entre as diferentes camadas de governo nos níveis local, regional, provincial/estadual, nacional e supranacional (verticalmente); e 3) entre diferentes atores em nível subnacional (inferior horizontalmente)”.

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A gestão dos recursos hídricos descentralizada e implementada no país, além das

instituições nos níveis nacionais, estaduais e municipais, são articuladas com outras

políticas estruturadas setorialmente como a de saneamento e é uma estrutura

participativa que envolve a sociedade civil, empresas e associações tais como comitês

de bacia, conselhos, agências, empresas públicas e privadas entre outras.

Estes níveis se apresentam na configuração da gestão em quase todas as grandes

Bacias e nas Bacias como o PCJ.

Segundo o texto da OCDE (2015), “para avaliar as lacunas de governança multinível na

gestão dos recursos hídricos do Brasil é preciso fazer uma análise das conquistas e

desafios em termos de”:

• Lidar com a fragmentação institucional e territorial da política de recursos hídricos

entre múltiplos atores e identificar histórias de sucesso e incentivos para a efetiva

coerência das políticas entre os setores (lacuna de política).

• Conciliar os limites administrativos e hidrológicos, para gerenciar os recursos

hídricos e fornecer serviços de água na escala apropriada, tendo em conta os

benefícios e as armadilhas da integração em toda a cadeia hídrica (lacuna

administrativa).

• Verificar qualquer incompatibilidade entre as responsabilidades e os recursos

disponíveis para realizá-las, para avaliar se o atual quadro de financiamento se

encaixa para o futuro e apontar os ajustes necessários (lacuna de financiamento).

• Garantir a capacidade de infraestrutura e de especialização, nos níveis central e

subnacional. Isso implica a identificação e resolução de possíveis lacunas de

conhecimento, capital humano, tecnologia e outras capacidades para formular e

implementar políticas de recursos hídricos que sejam sustentáveis, eficientes e

efetivas (lacuna de capacidade).

• Fomentar mecanismos de responsabilização para envolver os atores interessados e

proteger os consumidores, por meio de tomada de decisão inclusiva e transparente.

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Isso implica analisar os mecanismos de cumprimento, monitoramento e avaliação

existentes no setor de recursos hídricos e a sua efetividade (lacuna de

responsabilização).

• Alinhar os objetivos, os interesses divergentes e as prioridades, para promover

sinergias e complementaridades na escala certa e superar a descontinuidade e os

interesses (lacuna de objetivo).

• Desenvolver sistemas de informações físicas, socioeconômicas, financeiras e

institucionais para os recursos hídricos, para apoiar os tomadores de decisão, com

atenção específica para a sua coerência, consistência, confiabilidade e divulgação

pública, bem como os seus custos e benefícios (lacuna de informações).

Considerando esta conceituação, são apresentados abaixo alguns dos aspectos

apontados neste documento para a avaliação na Gestão e Governança dos Recursos

Hídricos no Brasil.

QUANTO À LACUNA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA:

Essa lacuna no sistema brasileiro é responsável principalmente pelas sobreposições e

fragmentação de funções e tarefas relacionadas aos recursos hídricos entre as esferas

federal, estadual, municipal, entidades gestoras e demais atores nos diferentes níveis.

O envolvimento da União, Estados, Municípios, comitês de bacias hidrográficas,

agências de bacias, agências reguladoras estaduais, agências reguladoras por bacia

hidrográfica, além dos serviços de fornecimento de água à população e de coleta e

tratamento de esgoto que podem ser prestados por empresas municipais, estaduais,

de economia mista e privadas, autarquias e outras entidades, revela um sistema

complexo, cuja interação entre atores é complexa e desafiadora.

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De acordo com a análise do arranjo institucional de gestão dos recursos hídricos no

Estado de São Paulo, é possível verificar que sua estrutura envolve diversos órgãos,

cujos principais papeis são apresentados no Quadro a seguir:

Quadro 30. Arranjo institucional de gestão dos recursos hídricos – Estado de São Paulo

Nível Estadual

Secretaria Estadual

Planejamento e estratégia – Plano Estadual de Recursos Hídricos

Implementação da política

Entidade estadual de gestão Implementação da Política

Conselho Estadual de Recursos Hídricos- composto por 33

conselheiros, sendo 11 de cada segmento (Estado, município,

sociedade civil)

Planejamento e estratégia

Nível de Bacia

Comitês de Bacia composto por 51 membros, sendo 17 de cada segmento

(Estado, município, sociedade civil)

Informações - Base de dados

Planejamento e estratégia - Plano de Bacias

Engajamento dos atores

Agências de Água

Informações - Base de dados

Planejamento e estratégia - Plano de Bacias

Definição da Cobrança pelo uso da água

Nível Municipal Municípios Gestão operacional

Atores não governamentais

Sociedade civil e Associação de usuários de água

Participação nos Comitês e Conselhos e geração de informações para base de dados

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Conforme apresentado, as tarefas são distribuídas com relativa sobreposição no que

tange ao planejamento e à implementação das estratégias inscritas na Política

Estadual. Uma avaliação deste quadro pode ser feita considerando o diagrama

apresentado no estudo “Governança dos Recursos Hídricos no Brasil” (OCDE, 2015)

descrevendo como os diferentes níveis relacionam-se entre si e com os outros entes,

por meio das ações de consulta, compartilhamento de informações, subordinação e

representação, indicando uma estrutura mais centralizada no Estado e com a

representação dos usuários e da sociedade civil, restrita à participação nos conselhos e

comitês.

Uma referência importante desta questão pode ser encontrada no documento

“Governança dos Recursos Hídricos no Brasil”, representada pela iniciativa do Estado

do Paraná, datada de 1999. Este documento apresenta um modelo no qual buscou-se

reformar a estrutura, definindo claramente as responsabilidades e a divisão de tarefas,

nos três níveis do sistema estadual de gestão dos recursos hídricos daquele Estado. O

objetivo da reformulação proposta era conferir “papel de destaque aos usuários e

municípios, que solicitariam a criação dos comitês”, constituindo-se em parceiros na

busca no atendimento a metas estabelecidas e conferir “peso igual em todos os órgãos

de decisão (conselho, comitês e agências)” (OCDE, 2015) e na divisão de tarefas.

O arranjo institucional de gestão dos recursos hídricos no Estado do Paraná,

proporcionado pelas alterações propostas pela Lei Estadual de Recursos Hídricos de

1999, é apresentado no Quadro a seguir. Salienta-se que estas alterações não se

mantiveram, devido a alterações nas definições em nível Estadual, porém produziram

resultados significativos e promissores, de acordo com o documento em fulcro.

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Quadro 31. Arranjo institucional de gestão dos recursos hídricos – Estado do Paraná

Nível Composição Divisão de Tarefas

1º Nível

Unidades Executivas Descentralizadas - UEDs - Municípios, Associações de usuários da água e/ou aos consórcios intermunicipais de bacias hidrográficas. Usuários privados ou públicos, equivalem em poder executivo e competências às Agências de Bacias Hidrográficas

Proposição dos Planos de Bacias Hidrográficas e implementação das tarefas de natureza executiva, com financiamento parcial fornecido pela coleta de recursos oriundos das cobranças pelo uso da água

2º Nível

Comitês de Bacias Hidrográficas - órgão colegiado com identidade e abrangência regionais, no qual representantes dos usuários são minoria em comparação com a soma dos representantes da sociedade civil e dos órgãos gestores estaduais

Análise e aprovação dos planos de bacias, considerando os interesses compartilhados. Encarregado de solucionar os conflitos e harmonizar os interesses específicos dos usuários.

3º Nível Conselho Estadual de Recursos Hídricos - Estado regula o processo com base em sua posição no Conselho

Planejamento estratégico, a arbitragem de disputas e a liderança política do processo

Como pode ser verificado na estrutura proposta no Paraná, o papel e responsabilidade

de cada ator são definidos para cada um dos três níveis da estrutura estadual da

seguinte forma:

Primeiro nível, exercida pelos municípios e consórcios de intermunicipais, pelas

agências, com sociedade civil, empresas operadoras e representações da e dos

usuários, cabe a proposição dos Planos de Bacias Hidrográficas e

implementação das tarefas de natureza executiva, como a coleta da cobrança.

Estas pelo

Segundo nível, Comitês de Bacias Hidrográficas - órgão colegiado com

identidade e abrangência regionais, as proposições são avaliadas, aprovadas e

mediados os conflitos com maior controle social, uma vez que esta instância

que possui a preponderância da sociedade civil.

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Terceiro nível, os conflitos e discordâncias são solucionados por meio da

atuação do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, no qual o Estado conduz o

processo, garantindo resoluções alinhadas com o interesse público e

cumprindo a função de regulação.

O debate quanto aos arranjos institucionais e seu papel, na busca pela consecução dos

objetivos inscritos nos Planos de Bacias, serve ao objetivo de enfrentar o desafio de

suprir os vazios e sobreposições de tarefas nos desenhos atualmente em

funcionamento, considerando a necessidade de uma gestão mais participativa dos

recursos hídricos, nas definições de responsabilidades e competências.

A dissolução destas lacunas é de extrema importância e vital nas Bacias do PCJ,

especialmente pelo fato de ter confrontado com uma estrutura anterior ao novo

modelo, executado pelo DAEE, além da governança interestadual (São Paulo-Minas

Gerais)

Nas Bacias PCJ, os rios de domínio da União (rios Atibaia, Jaguari, Camanducaia e

Piracicaba) e rios de domínio estadual, seja em Minas Gerais ou São Paulo, dos quais

decorrem três comitês, que se reúnem conjuntamente em uma única agência, a

AGBPCJ, resultou em uma verdadeira ”engenharia política”, possibilitando uma ação

coordenada que se sobrepõe à divisão estadual e de domínios dos rios.

Trata-se de um ponto muito positivo, porque possibilita planejar e agir de forma

coerente em relação às necessidades da bacia, resultando em maior eficiência e

menores custos na gestão das águas. No entanto, há dificuldades ainda não

transpostas, como por exemplo, os processos de outorga que embora sejam

semelhantes, apresentam particularidades e diferenças, tornando mais complexa a

formação de banco de dados comum georreferenciado.

Os limites de bacia hidrográfica raramente coincidem na totalidade com os

administrativos que definem o território de um município. Em nível superior, também

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há problemas nas definições das regiões e mesmos de Estados, porque raramente seus

limites políticos correspondem às fronteiras hidrológicas.

Conforme o texto da OCDE (2015)

“Isso resulta em uma incompatibilidade no nível subnacional que frequentemente obstrui as políticas de água e complica as relações entre os representantes eleitos, autoridades locais, agências de água, gestores de recursos e usuários finais. As falhas de gestão, tais como a falta de cooperação, participação e transparência, estão muitas vezes enraizadas

nessa incompatibilidade.”

Embora o arranjo das Bacias PCJ tenha reduzido essas lacunas, o mesmo não se

afirmaria quanto aos órgãos governamentais estaduais e federais. Essa lacuna

territorial é percebida, por exemplo, quando se examina a gestão do saneamento e

suas relações com os recursos hídricos. Sucede que o principal fator de

comprometimento da disponibilidade hídrica é o uso dos rios para diluição de esgotos

urbanos.

Outro aspecto importante é a dicotomia entre a estrutura vertical superior ancorada

em dois ministérios. Não obstante, os recursos para investimentos em tratamento de

esgoto não se encontram nas mãos do Ministério do Meio Ambiente a quem cabe à

responsabilidade de implantar a Política Nacional de Recursos Hídricos, mas nas

definições e planejamento realizados pelo Ministério das Cidades.

Outra dicotomia decorre do fato de as empresas públicas e privadas, operadoras dos

serviços de abastecimento e saneamento, sejam elas concessionárias estaduais,

autarquias municipais ou empresas privadas, possuírem seus acordos de operação e

investimento determinados através de contratos realizados diretamente com

municípios, em muitos casos ainda desvinculados dos Planos de Saneamentos e dos

Planos de Bacia. Em suma, muitas vezes a prioridade da prestadora de serviço de

abastecimento e saneamento não é a mesma da gestora da bacia, expressa através do

Plano de Bacia. Independente da abrangência da operadora dos serviços ser municipal

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ou estadual, suas prioridades de investimento podem ser outras em relação àquelas da

gestora da Bacia.

Em relação aos municípios, existem nítidos conflitos entre uso e ocupação do solo,

com a municipalidade buscando na ocupação urbana, a arrecadação de mais Impostos

Prediais e Territorial Urbano (IPTU), inclusive por meio da ocupação de áreas de

mananciais, que prejudica diretamente a qualidade do abastecimento público urbano.

Podem ser citados também os procedimentos de licenciamento ambiental, que muitas

vezes são diferentes entre Estados, e que resultam em um complicador adicional.

A falta de continuidade e efetividade de políticas públicas ocorre especialmente

quando há mudanças em algum nível de governo, devido principalmente à carência de

planejamento das ações.

Por outro lado, quanto aos limites da bacia, a PCJ é formada por um conjunto de três

rios praticamente paralelos que afluem ao rio Tietê pela margem direita, além de fazer

limites com a bacia do Alto Tietê, para a qual reverte suas águas. Não há um comitê do

rio Tietê ou mesmo do rio Paraná. Caso essa situação se concretizasse, a atuação

conjunta de comitês e agência, possibilitaria uma melhor governança e enfrentamento

dos problemas comuns a essas regiões. Esta mesma lógica deve ser objeto de debate

com relação às demais bacias do Tietê.

QUANTO À LACUNA DE FINANCIAMENTO:

A lacuna ou vazio de financiamento aqui se refere, fundamentalmente, aos recursos

financeiros para se atender às demandas e metas estabelecidas nos diversos planos de

governança e da gestão de recursos hídricos, ou seja, pode ser representada pela

discrepância entre recursos necessários e receitas disponíveis. Envolve, além dos

mecanismos financeiros estabelecidos pelas tarifas pela prestação de serviços de

abastecimento e saneamento, também os recursos advindos da compensação pelos

usos da água pela geração de hidroeletricidade, os valores angariados pela cobrança

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pelo uso d’água pelas Bacias, e outros possíveis mecanismos econômicos capazes de

provir ou incentivar as estratégias propostas.

Portanto, as lacunas e vazios da política de financiamento estão diretamente

relacionados à implementação desses mecanismos e à articulação e viabilização de

suas alocações. Além das definições dos mecanismos, cabe destacar a importância das

articulações institucionais e políticas nos diversos níveis de governança para o

aprimoramento dos instrumentos e meios de viabilização dos investimentos.

Considerando a diversidade das fontes de recursos e mecanismos de repasses, torna-

se fundamental a interação e decorrente interdependência entre os diversos atores

para a melhor tomada de decisão e alocação dos recursos.

As autoridades subnacionais geralmente dependem de escalões mais elevados do

governo para o financiamento das políticas de recursos hídricos, enquanto que o

governo central depende das autoridades subnacionais para repassar as prioridades

para verificar suas adequações e atendê-las conforme estabelecem os programas. Essa

interdependência torna-se ainda mais crucial quando o financiamento do governo é

cortado em tempos de crise econômica e financeira.

Por outro lado, atualmente no Brasil, a atuação das Agências de Bacia no

financiamento das ações e programas vinculados aos recursos hídricos baseia-se quase

que exclusivamente nos mecanismos de cobrança pelo uso de água.

No entanto, os valores pagos pelo uso de água são baixos para suportar todas as ações

necessárias para assegurar a preservação e recuperação dos mananciais, a

manutenção da segurança hídrica e a mitigação dos efeitos dos eventos extremos. A

ação de agências da água na França, por exemplo, é muito pautada pelos valores

auferidos da cobrança pelo uso da água que lhes possibilita alocar recursos monetários

conforme as diretrizes estabelecidas no seu planejamento. A capacidade de inversão

das agências brasileiras ainda está muito longe das necessidades locais.

Para que se comprove esse fato, basta comparar os valores angariados através da

cobrança pelo uso da água nas Bacias PCJ entre 2006 e Julho de 2015 com relação à

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necessidade de investimento total. Nesse período, foram repassados pela ANA à

Agência PCJ, 151 milhões de reais, enquanto um estudo realizado pela Agência

indicava serem necessários investimentos de um montante superior a 1 bilhão de reais

apenas para alocação no tratamento de todos os esgotos lançados na rede de cursos

d’água da Bacia PCJ. Assim, a bacia, por meio do seu Plano de Recursos Hídricos,

estabelece prioridades de investimento, mas com pouca capacidade de viabilizá-las

diretamente.

As limitações de uma bacia como a PCJ, mesmo com todo avanço, são grandes frente

aos seus principais desafios. A defasagem no valor real da cobrança acumulada nos

últimos anos mostra leniência com relação ao principal recurso financeiro para

investimentos do PCJ. Cabe ressaltar que no momento de crise hídrica extrema no

Estado de São Paulo, mecanismos de incentivos ao uso parcimonioso e ao consumo

responsável e consciente foram utilizados alcançando bons resultados. Este fato

reforça a necessidade de aprofundar o debate para adoção de mecanismos de

incentivos aplicáveis em várias situações como complemento ao mecanismo da

cobrança.

No Plano Nacional cabe o desenvolvimento de novos instrumentos financeiros, já

utilizados em diversos outros países, que complementam a cobrança pelo uso da água,

tais como incentivos fiscais para atividades específicas, subsídios para

desenvolvimento de novas tecnologias e novas formas de reaproveitamentos e

economias em processos, entre outros.

Portanto, mesmo que o modelo seja amplo e multinível, ainda faltam meios para que a

agência possa cumprir efetivamente seu papel de “regente das águas”, elaborando

planos e os concretizando por meio de investimentos que se originem apenas pela

cobrança pelo uso da água.

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QUANTO À ADOÇÃO DE OUTROS INSTRUMENTOS FINANCEIROS PARA GESTÃO DE

RECURSOS HÍDRICOS

Considerando a limitação dos recursos disponíveis frente aos desafios e com o objetivo

de provocar a discussão sobre o desenvolvimento dos mecanismos financeiros para a

Gestão de Recursos Hídricos, cabe a discussão das diversas possibilidades de outros

mecanismos.

Nesse sentido, são apresentados alguns instrumentos e mecanismos financeiros para a

gestão de recursos hídricos, aplicados em outros países.

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Quadro 32. Instrumentos financeiros para gestão de recursos hídricos

Tipo de Instrumento Definição O que esse Instrumento pode gerar?

Precificação/ Pagamentos

Tarifas Mecanismos de cobrança pelos serviços de saneamento em relação aos quantitativos usados, seja por domicílios, irrigação, comércio, indústria ou outras atividades.

Sustentar os custos operacionais e de Investimentos dos serviços de saneamento prestados, encorajar o desenvolvimento tecnológico, ou mudanças comportamentais que levem a práticas de consumo mais conscientes, diminuindo o consumo ou poluentes.

Impostos Ambientais

Pagamentos Compulsórios por parte da autoridade fiscal em decorrência de atividades para a melhoria dos indicadores e cumprimento de metas.

Mecanismo utilizado também como incentivo para alocação de recursos, de promoção melhores práticas por parte da empresa operadoras.

Encargos (ou taxa)

Pagamento compulsório para o órgão competente (regulador das águas ou meio ambiente) por um serviço direta ou indiretamente associado com a degradação do meio ambiente e das águas.

Mecanismo utilizado também como incentivo para alocação de recursos, de promoção de melhores práticas por parte das empresas operadoras.

Subsídios a investimentos,

serviços ambientais e à

Produção

Renúncia na arrecadação de impostos, financiamento subsidiado, ou mesmo Pagamentos por parte de órgãos estatais ou agências oficiais para produtores com o objetivo de influenciar seus níveis de produção, preços e outros fatores.

Possibilita a redução do preço de produtos ambientalmente adequados, resultando em uma vantagem comparativa em relação a produtos correlatos.

Serviços ambientais e

Subsídios sobre práticas

Pagamentos ou financiamentos de agências oficiais para encorajar a adoção de determinadas práticas ou processos de produção específicos.

Leva a adoção de práticas de preservação, recuperação de mananciais ou mesmo de produção que limita impactos negativos, ou produz impactos positivos, no meio ambiente das águas.

Comercial Mercado de permissões para

A comercialização de direitos e obrigações para o consumo, extração e disposição de água.

Encoraja a adoção de tecnologias mais eficientes de utilização dos recursos hídricos.

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Tipo de Instrumento Definição O que esse Instrumento pode gerar?

utilização de águas

Pode otimizar a alocação dos recursos dentro do contexto dos consumidores.

Mercado de permissões para

poluição

A comercialização de direitos e obrigações para poluir as águas através da incorporação de poluentes aos efluentes ou esgotos.

Encoraja a adoção de práticas e tecnologias menos poluentes.

Otimiza a alocação de ‘custos de abatimento’ entre os usuários de recursos hídricos.

Esquemas de gerenciamento

de Risco

Seguros Pagamento de um prêmio com o intuito de se proteger em um evento de sinistro (perda).

A aversão a riscos dos usuários de recursos hídricos e a intenção de pagar por estabilização financeira. Quando devidamente projetados, os prêmios de risco apontam para atividades/práticas de risco e desencorajam suas práticas.

Responsabilidade Civil

Esquemas de compensação onde a responsabilidade civil por degradação ambiental induz a pagamentos por compensação por danos ambientais.

Responsabilidades como meios de incentivar investimentos de longo prazo em mecanismos eficientes.

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APRIMORAMENTO E MELHORIA DO SISTEMA DE CADASTRO DE COBRANÇA

A cobrança estadual (SP e MG) e a federal têm como base comum os seguintes usos:

Captação, Extração e Derivação.

Consumo de água bruta.

Lançamento de carga orgânica (DBO5,20).

A cobrança pela transposição de bacia é feita no estado de Minas Gerais e nos rios de

domínio federal, não sendo cobrada na porção paulista da bacia PCJ. É nesta última

que se situa o Sistema Cantareira, logo o uso das suas águas é cobrado somente como

captação e não pela reversão para a bacia do Alto Tietê. A cobrança efetuada é

proporcional aos usos, sejam de captação ou de lançamento, medidos

respectivamente pela vazão derivada ou pela carga orgânica despejada. O valor

cobrado de cada usuário depende de cadastro além de medições dessas variáveis de

forma que deve ser sempre atualizado para que reflita as condições reais de

lançamento ou captação.

Em outros países onde a cobrança está implantada há mais tempo, a cobrança é feita a

partir de registros automáticos que medem em tempo real ao menos a vazão captada

por grandes usuários. Trata-se de um avanço de medição e de cadastro do banco de

usuários que levaria ao aumento do montante arrecadado. Ao mesmo tempo,

possibilitaria aos órgãos controladores e fiscalizadores ou à agência de bacia constituir

uma base de cobrança que estabelecesse com mais exatidão o uso da água por

finalidade. Assim, por exemplo, determinado uso industrial tem um uso da água

proporcional ao seu produto, o qual seria utilizado como parâmetro para verificar se

usos semelhantes são compatíveis ou ajustes seriam necessários.

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QUANTO À LACUNA DE CAPACIDADE TÉCNICA:

Considerando a definição conceitual da OCDE, esta dimensão está relacionada à

capacidade de infraestrutura e de especialização, na identificação de possíveis lacunas

de conhecimento, englobando a capacitação técnica e profissional além do

desenvolvimento das capacidades para formular e implementar políticas de recursos

hídricos que sejam sustentáveis, eficientes e efetivas.

No Brasil, constata-se um grande vazio neste quesito. Nos níveis de capacitação

técnica, verifica-se a inexistência de instituições que formem profissionais operacionais

para os serviços de saneamento, o grande destinatário/demandante/consumidor da

água nas bacias PCJ. Mão de obra mais treinada significa maior eficiência e menor

desperdício.

As bacias PCJ tem um histórico de apoio e promoção de capacitação de agentes e

gestores públicos em parcerias com universidades e outras instituições de ensino, bem

como associações de usuários e consórcios municipais capacitados. No entanto, a

formulação de programas estruturados de formação continuada ainda é um desafio.

Em outros níveis, instituições, além das universidades, e alguns cursos técnicos de

formação técnica como o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial,

instituições como a ANA, a ABES – Associação Brasileira de Engenharia, oferecem

capacitações, bem como organizam seminários onde temas afins aos recursos hídricos

são abordados.

É reconhecida a grande lacuna que o país tem em uma estrutura de formação

continuada nesse setor, tanto para a formação de novos profissionais como na

capacitação dos profissionais que já trabalham na área.

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QUANTO À LACUNA DE OBJETIVO:

Essa lacuna ocorre quando há objetivos divergentes e contraditórios entre os níveis de

governo intervenientes com relação à gestão dos recursos hídricos, sejam ministérios

ou outros órgãos públicos. A crise hídrica nas bacias PCJ e o uso das águas do Sistema

Cantareira por parte da Sabesp, Cia. Estadual paulista tornaram essas divergências

mais palpáveis.

As políticas públicas de recursos hídricos resultam de esforços e trabalhos de longo

prazo, dependentes de planejamento avaliado constantemente por meio de consultas.

Assim, as crises, se não suficientemente compreendidas e analisadas, poderiam ser

contraproducentes ao criar vieses desnecessários nas tomadas de decisão futuras.

O relatório de situação previsto na legislação paulista, serve de instrumento anual para

verificar o estado dos recursos hídricos da unidade de gestão de interesse. Avalia ainda

se o Plano de Bacias vem sendo seguido e implantado efetivamente.

Além do Plano de Bacia e do Relatório Anual de situação, que definem metas e

acompanham a situação das bacias do PCJ de forma abrangente, existem outros

planos, como o Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB, estabelecido pela Lei

Federal nº 11.445/2007, e obrigatório para todo o município definido como titular dos

serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo

de resíduos sólidos e drenagem urbana. A própria agência PCJ financiou a elaboração

de alguns dos planos dos municípios que se encontram dentro dos limites geográficos

da Bacia, algo que também ocorreu em outras bacias como as dos rios Paraíba do Sul e

São Francisco. Isso se mostrou uma necessidade, tendo em vista que o setor de

saneamento, cuja matriz de gestão muitas vezes se restringe a municipalidades, é o

setor com maior representatividade entre os usuários dos recursos hídricos, seja pelas

captações, seja pelos lançamentos. Na elaboração dos PMSB, o plano de bacia precisa

ser considerado de forma que suas proposições e seus objetivos se coadunem.

Enfim, o planejamento dos recursos hídricos deve considerar o momento em que está

sendo elaborado e a ocorrência de tendências pontuais e transitórias que, de alguma

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forma, influenciariam de forma negativa no processo de planejamento. A bacia PCJ

está em fase de contratação de seu novo plano à luz, por exemplo, do grave acidente

que ocorreu na bacia hidrográfica do Rio Doce. Devem ser consideradas todas as lições

daí decorrentes, não somente as negativas, como também as positivas e o que pode

ser aprendido através delas.

Outro ponto a considerar no próximo plano de bacia constitui a ocorrência de eventos

extremos opostos próximos: cheias no biênio 2010 e 2011 se contrapondo com uma

estiagem jamais registrada em 2014 e 2015. No escopo desse novo plano de bacia PCJ,

obrigatoriamente deveria ser elaborado o Plano de Emergência, contemplando cheias

e estiagens, bem como um Plano de Contingência, quando há alguma ocorrência

passível de programação e controle, e que teria uma consequência direta na

disponibilidade e oferta dos recursos hídricos.

QUANTO À LACUNA DE RESPONSABILIDADE:

Conforme o relatório OCDE (2015), a lacuna de responsabilidade refere-se:

“à falta de transparência e abrangência na elaboração das políticas de

recursos hídricos. Muitas vezes, o encurtamento do processo decisório

introduz riscos de captura e corrupção, em especial quando os governos

locais não tiverem a capacidade de monitorar os investimentos e a

sociedade civil não estiver plenamente engajada”.

A Constituição Brasileira de 1988 tem o controle social como um de seus princípios.

Isso se rebateu em vários outros diplomas, inclusive na Lei Federal nº 11.445/07,

considerado o novo marco regulatório do setor de saneamento no país. De maneira

semelhante, o plano de recursos hídricos da bacia PCJ em contratação necessita de

atividades de mobilização social durante sua elaboração.

As Bacias PCJ tem uma longa história de mobilização social que remonta aos anos 1980

do século passado. A sociedade civil sempre teve um papel essencial em todo o

processo de formulação das políticas públicas, de forma que entidades que

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representam os interesses dos usuários dos recursos hídricos da bacia são bem

constituídas e reconhecidas como, por exemplo, o consórcio dos municípios. Portanto,

mais uma vez a bacia PCJ teve um papel pioneiro na gestão dos recursos hídricos no

Brasil, incluindo a participação social estruturada.

QUANTO À LACUNA DE INFORMAÇÃO:

Esta lacuna evidencia-se através da falta de informação entre os níveis de governo e

entre atores locais envolvidos na política de recursos hídricos. Em muitos casos, as

melhorias nas políticas da área são difíceis de pôr em prática, conforme coloca o

relatório da OCDE:

“porque há poucos dados e informações disponíveis, particularmente sobre

as implicações econômicas, financeiras e institucionais. Isso é agravado pela falta de capacidade, recursos e experiência para coletar, analisar e interpretar os dados hidrológicos em muitos países. Mesmo quando a informação está disponível, ela deve ser compartilhada em todos os níveis de governo para capitalizar sobre os centros de conhecimento individuais,

criando assim um conjunto mais forte”.

No entanto, nas bacias PCJ, são várias as fontes de informação, como a sala de

situação (www.sspcj.org.br), o sistema estadual de informações de recursos hídricos

(www.sigrh.sp.gov.br) e, entre outras, da ANA (www.snirh.gov.br/hidroweb).

Além disso, estão disponibilizados muitos documentos e informações que permitem o

pleno conhecimento das atividades de gestão e sobre a própria bacia, como por

exemplo, o Plano de Bacias (2010/20), os Relatórios de Situação (série histórica até

2014) e o Relatório de Gestão (2014).

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5.2. TÓPICOS PARA DISCUSSÃO

Os temas propostos para discussão com o intuito de promover o avanço da gestão das

bacias PCJ, inclusive para que se tenha maior preparo quando da ocorrência de

eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas, são apresentados:

Elaboração de Plano de contingência e emergência compreendendo e definindo

as responsabilidades e ações dos entes federativos e organismos de bacia.

Elaboração de Plano de Adaptação à Mudança Climática considerando os eventos

extremos recentes e definindo ações e responsabilidades para os vários atores

intervenientes na bacia.

Aumento da base de cobrança e reajuste de valores: cobrança pelo lançamento

de nutrientes, porque o uso somente da carga orgânica é insuficiente quando há

lançamento em reservatórios ou à montante. Os riscos de eutrofização e

inviabilização do uso das águas regularizadas são reais, porque no auge da

estiagem o próprio Rio Piracicaba, de regime lótico, ficou coberto de vegetação

aquática.

Criação de novos mecanismos financeiros de incentivo ao uso adequado em

situações específicas e decisões de implementação com participação dos diversos

atores e órgãos envolvidos na Gestão, inclusive comitês de Bacias.

Desenvolvimento de novos mecanismos fiscais de incentivos ao financiamento

específico do atendimento das metas dos Planos de Bacia.

Avanço na gestão das informações provenientes do monitoramento em tempo

real e atualização do cadastro de usuários: compatibilizar e estabelecer banco de

dados únicos, com base de coordenadas comuns e com métodos semelhantes

para determinar valores de vazão e carga orgânica.

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Mobilização social, compreendendo a institucionalização e a responsabilização

de órgãos e atores para que os mesmos estejam preparados para os novos

desafios decorrentes de fenômenos extremos. Para que isso se concretize, ter na

bacia um centro de formação de profissionais para o setor da água é

fundamental, porque nos limites das Bacias PCJ já existem várias e importantes

instituições de ensino, mas com deficiências quanto à abordagem técnica

operacional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A longa história de disputa pelos recursos hídricos nas Bacias PCJ e a degradação de

suas águas, notadamente à jusante, levaram a uma crescente organização da

sociedade civil, a qual se refletiu em várias entidades como o Consórcio de Municípios

PCJ, com reconhecida ação e história pela recuperação e preservação das águas da

bacia.

As disputas crescentes pelas suas águas e os problemas de qualidade levaram a um

avanço contínuo da gestão dos recursos hídricos. Além da outorga, as Bacias PCJ

dispõem de cobrança pelos usos da água, o que viabilizou não somente implantar as

ações do comitê PCJ, mas a própria agência das bacias.

A crise hídrica e os efeitos das mudanças climáticas impõem uma reflexão sobre a

segurança hídrica. A oferta de água no Sudeste diminuiu ou se manteve estável, ao

mesmo tempo em que a demanda cresceu em função do grande aumento

populacional verificado nas últimas décadas.

É necessário refletir sobre as políticas adotadas até o momento para preservação dos

mananciais, assim como conjecturar sobre os instrumentos da gestão dos recursos

hídricos, bem como avaliar os mecanismos financeiros que suportam as ações em

favor da disponibilidade hídrica.

O objetivo central dessa reflexão é encontrar políticas que possam levar ao aumento

da resiliência do sistema hídrico em face dos impactos da mudança climática. O

presente documento pretende oferecer uma contribuição a essa reflexão.

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2010.

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177

IRRIGART - ENGENHARIA E CONSULTORIA EM RECURSOS HÍDRICOS. Bacias

Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí: situação dos recursos hídricos

2004/2006. Relatório Síntese. Piracicaba: FEHIDRO/PCJ/CBH-PCJ. 75p. 2007

LEI Nº 9.433 DE 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Disponivel em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm

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NOBRE, P. Diagnóstico da Crise Hídrica no Brasil – Dimensão Climática. Conferência

para a Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Senado Federal em 15 de abril de

2015. Paulo Nobre é doutor em Meteorologia pela University of Maryland e pós-

doutor pela Columbia University. Coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas em

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OCDE – ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.

Governança dos recursos hídricos no Brasil. 2015

OTTO, F. E. L. COELHO, C.A.S. KING, A. COUGHLAN, E. PEREZ. WADA, Y. VAN

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https://www.ametsoc.org/ams/index.cfm/publications/ bulletin-of-the-american-

meteorological-society-bams/explaining-extreme-events-from-a-climate-

perspective/toc/8-factors-other-than-climate-change-main-drivers-of-2014-/.

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PORTO, R.L. PORTO, M.F.A. PALERMO, M. A ressurreição do volume morto do Sistema

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PEREIRA FILHO, A.J. Análise da escassez hídrica brasileira em 2014. In Revista da USP

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http://site.sabesp.com.br/site/uploads/file/clientes_servicos/comunicado_03_2016.p

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SANASA. Resolução ARES-PCJ n° 93 (2015). Disponível em:

http://www.sanasa.com.br/document/noticias/2083.pdf

THAMES WATER UTILITIES. Methodology Statement 2015. Disponível em:

https://www.thameswater.co.uk/tw/common/downloads/aboutus-

financial/Methodology_Statement_2015_for_upstream_services.pdf.

THAMES WATER UTILITIES. Our Charges for household customers 2015/16. Disponível:

https://www.thameswater.co.uk/tw/common/downloads/literature-water-waste-

water-charges/Our_Charges_2015-16_(web).pdf

VERSORGEPORTAL BADEN-WÜRTTEMBERG. Wasserpreise für Haushaltkunden.

Überblick privatrechtlicher Wasserversorger in Baden-Württemberg (2015). Disponível

em: http://www.versorger-

bw.de/fileadmin/BENUTZERDATEN/Bildmaterial/Wasser/Schaubild_alphabetisch_201

5.pdf

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ANEXOS

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ANEXO I

GESTÃO DAS ÁGUAS E HIDROELETRICIDADE

Em 2014, o Brasil tinha capacidade instalada de geração de energia hidroelétrica da

ordem de 92.330 MW e contava com 1.154 unidades geracionais, sendo 484 centrais

de geração hidroelétrica, 470 pequenas centrais hidroelétricas e 200 usinas

hidroelétricas.

Os aproveitamentos hidrelétricos estão sujeitos a outorga de direito de uso dos

recursos hídricos. Os reservatórios das usinas de hidroeletricidade possuem uma dupla

função: dispor de água suficiente para a geração de energia elétrica e regularizar a

vazão dos corpos de água, garantindo o uso múltiplo e o abastecimento para consumo

humano.

A outorga é dada com diversas restrições, como por exemplo limitando a vazão, para

que sejam garantidos os múltiplos usos, conforme determina a Lei 9.433/1997, e

também para prevenir inundações à jusante de cada barragem. Contudo, quando há

estiagem surge a possibilidade de um conflito de usos, como por exemplo, entre os

setores de geração de energia versus abastecimento público, e este deve ser arbitrado

pela ANA.

A partir de 2012, os reservatórios das usinas de hidroeletricidade sofreram os efeitos

da longa estiagem. Em 2010 eles contavam, em média, com níveis de cerca de 82,2%

de suas capacidades. Em 2012 os níveis caíram para 67% , alcançando em 2014 os

menores níveis, na faixa de 48,5% de suas capacidades.

A queda da quantidade de água nos reservatórios das hidrelétricas está relacionada

aos baixos níveis de chuva na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste em 2014. Na Bacia

Hidrográfica do São Francisco os índices pluviométricos vêm caindo desde 2012.

Diante da importância da água para a matriz de geração de eletricidade brasileira,

verifica-se que, em situações de estiagem ou de cheias, a gestão das águas torna-se

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ainda mais complexa e os conflitos pelo seu uso emergem especialmente quando se

considera o abastecimento humano e a geração de energia.

A crise hídrica de 2014 e a geração de hidroeletricidade

A hidroeletricidade representa cerca de 67% da eletricidade gerada no país. Isso

significa que os impactos da crise hídrica repercutem negativamente na capacidade de

geração de eletricidade de fonte hidráulica, que por sua vez faz necessário o

acionamento das termelétricas cuja energia é significativamente mais cara, resultando

em aumento nos custos para o consumidor e para o setor produtivo.

Os reservatórios do Sistema Interligado possuem uma dupla função: gerar energia e

regularizar os corpos de água, garantindo o uso múltiplo e o abastecimento público. A

queda da quantidade de água nesses reservatórios está relacionada aos baixos

volumes de chuva na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste em 2014. Na Bacia

Hidrográfica do São Francisco os índices pluviométricos vinham caindo desde 2012,

tendo sido reduzidos para cerca de 43% em 20145. Na região das usinas de Sobradinho

e Paulo Afonso o tempo de retorno da seca foi maior do que cem anos, conforme se vê

na Figura 01 abaixo.

Nas Bacias PCJ, não há usinas hidrelétricas, logo a forte influência que o setor elétrico

tem sobre a gestão dos recursos hídricos não se verifica nessa região, diferente de

outras bacias hidrográficas, como a do rio São Francisco, onde as regras operacionais e

os níveis dos reservatórios seguem principalmente as diretrizes de geração de energia

elétrica. O Operador Nacional do Sistema – ONS é o grande responsável pelo

estabelecimento de regras.

5 Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil – Informe 2014. Encarte especial: A crise hídrica. Op.cit. p.

27.

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182

Figura 1. Tempos de retorno dos índices pluviométricos registrados em 2014 nas usinas de

hidroeletricidade

Fonte: CONJUNTURA DOS RECURSOS HÍDRICOS – INFORME 2015 – ANA.

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183

ANEXO II

ESTUDOS SOBRE O CRESCIMENTO POPULACIONAL NOS MUNICÍPIOS DAS

BACIAS DO PCJ

Diversos estudos populacionais já foram realizados para os municípios das Bacias PCJ,

sendo o principal deles aquele que compõem o Plano das Bacias PCJ 2010-2020

(COBRAPE, 2010). Existem também o Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos

Hídricos para a Macrometrópole Paulista (COBRAPE, 2013), o Relatório de Situação

(Comitês PCJ, 2014) e o Relatório de Gestão (Fundação Agências PCJ, 2015).

Todos esses estudos utilizaram como base as populações dos censos, contagem e

estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além dos dados

populacionais da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) do Estado

de São Paulo.

O Plano das Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010) realizou projeções populacionais

para os anos de 2014 e 2020, sendo estimada uma população total de 5.525.529

habitantes e 5.898.808 habitantes, respectivamente. Trata-se da população total dos

59 municípios do Estado de São Paulo e 4 municípios do Estado de Minas Gerais, sendo

que em 3 municípios, apenas uma parte da população vive no território das Bacias PCJ,

sendo consideradas no Plano:

Piracicaba/SP - 96% da população na Bacia do PCJ.

Cabreúva/SP - 75% da população na Bacia do PCJ.

Mairiporã/SP - 11% da população na Bacia do PCJ.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos da Macrometrópole (COBRAPE, 2013) traz uma

projeção da população das Bacias PCJ para os anos 2018, 2025 e 2035. O documento

estima que em 2018, a população da região seja de 5.673.617 habitantes (Tabela 1).

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Tabela 1. Projeções da população para as Bacias PCJ

2008 2018 2025 2035

5.022.874 5.673.617 5.984.388 6.217.851

Fonte: COBRAPE, 2013.

Já o Relatório de Gestão das Bacias PCJ (Fundação Agências PCJ, 2015) aplicou os

mesmos métodos utilizados no Plano de Bacias PCJ 2010-2020 (COBRAPE, 2010),

utilizando os dados da estimativa da população para o ano de 2014 publicados pelo

IBGE e concluiu que “... em 2014, a população moradora nas Bacias PCJ atingiu um

total estimado de 5.600.228 habitantes” (Fundação Agências PCJ, 2015).

Trata-se, portanto, de uma estimativa populacional com 74.699 habitantes a mais do

que o projetado para o Plano das Bacias PCJ para o ano de 2014. Além disso, a

estimativa para 2014 praticamente já alcança o número da projeção efetuada para

2018 pelo Plano Diretor de Recursos Hídricos da Macrometrópole. Observa-se, desta

forma, que a região está superando as previsões de crescimento populacional dos

estudos realizados.

O crescimento que vem ocorrendo nas Bacias PCJ pode ser verificado na Tabela 9,

onde é apresentada a população residente por município e a taxa geométrica de

crescimento anual (TGCA) ocorrida entre 2010 e 2015.

Tabela 2. População residente nas Bacias PCJ e taxa geométrica de crescimento anual

(TGCA) – 2010 a 2015

Município População (2010) População (2015) TGCA (%)

Aguas de São Pedro 2.707 3.139 3,01

Americana 210.638 229.322 1,71

Amparo 65.829 70.280 1,32

Analândia 4.293 4.731 1,96

Artur Nogueira 44.177 50.246 2,61

Atibaia 126.603 137.187 1,62

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Município População (2010) População (2015) TGCA (%)

Bom Jesus dos Perdões 19.708 23.025 3,16

Bragança Paulista 146.744 160.665 1,83

Cabreúva (75%) 31.203 34.896 2,26

Camanducaia (MG) 21.080 21.955 0,82

Campinas 1.080.113 1.164.098 1,51

Campo Limpo Paulista 74.074 80.847 1,77

Capivari 48.576 53.152 1,82

Charqueada 15.085 16.440 1,74

Cordeirópolis 21.080 23.234 1,96

Corumbataí 3.874 4.036 0,82

Cosmópolis 58.827 66.807 2,58

Elias Fausto 15.775 17.085 1,61

Extrema (MG) 28.599 33.082 2,96

Holambra 11.299 13.375 3,43

Hortolândia 192.692 215.819 2,29

Indaiatuba 201.619 231.033 2,76

Ipeúna 6.016 6.914 2,82

Iracemápolis 20.029 22.557 2,41

Itapeva (MG) 8.664 9.436 1,72

Itatiba 101.471 113.284 2,23

Itupeva 44.859 54.128 3,83

Jaguariúna 44.311 51.907 3,22

Jarinu 23.847 27.473 2,87

Joanópolis 11.768 12.725 1,58

Jundiaí 370.126 401.896 1,66

Limeira 276.022 296.440 1,44

Louveira 37.125 43.862 3,39

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Município População (2010) População (2015) TGCA (%)

Mairiporã (11%) 8.905 10.156 2,66

Mombuca 3.266 3.441 1,05

Monte Alegre Do Sul 7.152 7.736 1,58

Monte Mor 48.949 55.409 2,51

Morungaba 11.769 12.934 1,91

Nazaré Paulista 16.414 17.794 1,63

Nova Odessa 51.242 56.764 2,07

Paulínia 82.146 97.702 3,53

Pedra Bela 5.780 6.044 0,90

Pedreira 41.558 45.579 1,86

Pinhalzinho 13.105 14.423 1,94

Piracaia 25.116 26.688 1,22

Piracicaba (96%) 349.988 375.792 1,43

Rafard 8.612 9.004 0,89

Rio Claro 186.253 199.961 1,43

Rio Das Pedras 29.501 32.982 2,26

Saltinho 7.059 7.818 2,06

Salto 105.516 114.171 1,59

Santa Bárbara Do Oeste 180.009 190.139 1,10

Santa Gertrudes 21.634 24.737 2,72

Santa Maria Da Serra 5.413 5.902 1,74

Santo Antônio De Posse 20.650 22.389 1,63

São Pedro 31.662 34.284 1,60

Sumaré 241.311 265.955 1,96

Toledo (MG) 5.764 6.153 1,31

Tuiuti 5.930 6.533 1,96

Valinhos 106.793 120.258 2,40

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Município População (2010) População (2015) TGCA (%)

Vargem 8.801 9.854 2,29

Várzea Paulista 107.089 116.601 1,72

Vinhedo 63.611 72.550 2,66

TOTAL BACIAS PCJ 5.169.831 5.664.829 1,85

ESTADO DE SÃO PAULO 41.262.199 44.396.484 1,48

ESTADO DE MINAS GERAIS 19.597.330 20.869.101 1,27

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010; Estimativa 2015).

Note-se que o crescimento populacional das Bacias PCJ é superior as taxas geométricas

de crescimento anual do Estado de São Paulo e Minas Gerais. Tal tendência de

crescimento exerce pressão sobre a demanda de recursos hídricos, com a necessidade

de aumentar as vazões captadas para o abastecimento público.

Por outro lado não houve aumento da disponibilidade hídrica nos últimos cinco anos.

Portanto, considerando as projeções de crescimento populacional para o futuro, o

aumento da demanda não terá como ser suportado pela disponibilidade de água

existente sem que haja grandes avanços.

Neste contexto cabe verificar as diversas possibilidades, inclusive de reuso por meio da

aplicação de tecnologia. Em regiões semiáridas ou com recursos hídricos limitados, a

água reciclada é reconhecida como recurso hídrico passível de diversos usos,

incluindo-se o abastecimento público.

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ANEXO III

EVENTOS EXTREMOS E A CRISE HÍDRICA NO BRASIL

São de grande relevância os impactos das intercorrências climáticas, classificadas

como eventos extremos, que ocorreram recentemente em algumas das regiões do

país. Neste anexo, são descritos aspectos e impactos das ocorrências no semiárido

nordestino e no sudeste brasileiro.

A CRISE HÍDRICA E O SEMIÁRIDO NORDESTINO

A percepção sobre a escassez de água no semiárido nordestino é histórico e

acompanhou a ocupação do seu território. Nas diferentes regiões brasileiras, tal

percepção foi constituída ao longo de décadas devido a migração de grandes

contingentes populacionais do Nordeste para os Estados da região Sudeste e outras

regiões, inclusive a amazônica. A arte brasileira contribuiu também de forma decisiva

para a percepção do fenômeno da seca e de suas consequências sociais. Em 1928

inaugurava-se a literatura sobre a seca, com a publicação do romance de José Américo

de Almeida, “A Bagaceira”, cujos personagens migram do sertão durante a grande seca

de 1898. Dez anos mais tarde, em 1938, Graciliano Ramos publicou “Vidas Secas”, que

narra o êxodo de uma família do sertão nordestino. Dezenas de outras obras literárias

abordaram a seca e seus efeitos.

No semiárido nordestino há uma combinação de características naturais adversas para

o sistema hídrico: altas temperaturas, baixas amplitudes térmicas, forte insolação e

altas taxas de evapotranspiração, além de baixos índices pluviométricos (inferiores a

800 mm), o que resulta em rios com baixa disponibilidade hídrica ou até mesmo rios

intermitentes.

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A seca foi particularmente severa no semiárido nos anos de 2012 a 2014. Desde o

Sertão dos Inhamus, na área central do Ceará, no Rio Grande do Norte, em sua porção

oeste, em todo o alto sertão de Pernambuco, a porção baiana da margem esquerda do

Rio São Francisco, seguindo pela Paraíba, todas essas áreas viveram em 2012 uma seca

com período de retorno estimado em mais de 100 anos.

No Nordeste, a crise hídrica teve início e seu auge em 2012. Os dados pluviométricos

das centenas de estações existentes na região semiárida revelaram um quadro de seca

extrema.

Em 2013 registrou-se uma diminuição significativa da área atingida pela seca no

semiárido nordestino. Não obstante, ainda houve estiagem com tempo de retorno

superior a cem anos em áreas do norte da Bahia, sertão de Pernambuco e Sudeste do

Piauí. Em 2014 manteve-se essa tendência de redução da área atingida pela seca

extrema, mas ainda restaram áreas do sertão de Pernambuco com estiagem severa,

com tempo de retorno superior a cem anos.

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Figura 1. Mapas de quantis e tempos de retorno da precipitação do ano hidrológico de

2012

Fonte: CONJUNTURA DOS RECURSOS HÍDRICOS – INFORME 2015 – ANA.

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Figura 2. Mapas de quantis e tempos de retorno da precipitação do ano hidrológico de

2014

Fonte: CONJUNTURA DOS RECURSOS HÍDRICOS – INFORME 2015 – ANA.

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Essa situação de seca extrema afetou diretamente o volume de água armazenado nos

açudes utilizados para usos múltiplos, incluindo o abastecimento de água. Em 2012, os

açudes e reservatórios do Nordeste operavam com 65,1 % de sua capacidade. Em 2013

os níveis tinham caído para 41,5%. Em 2014 caíram ainda mais, chegando a 32,6% e

em 2015 atingiram um patamar crítico, de apenas 25,3% da capacidade total6.

Como em 2013 a seca extrema perdurou em grande parte do semiárido e em 2014

ainda permanecia no sertão de Pernambuco, não houve reposição dos estoques de

água nos açudes.

EVENTOS EXTREMOS E A CRISE HÍDRICA NO SUDESTE BRASILEIRO

Os eventos do verão de 2011 no Rio de Janeiro e em São Paulo parecem confirmar a

previsão sobre a ocorrência de eventos extremos com maior frequência e intensidade

na região sudeste do País.

Em janeiro de 2011, a região serrana do Rio de Janeiro foi atingida por chuvas intensas

ocasionadas pela chegada de um sistema frontal. O evento foi deflagrado por

condições climáticas extremas de precipitação acumulada em 24 horas de 241,8 mm,

com pico de 61,8 mm em uma hora. No ínterim de doze horas registrou-se uma

precipitação de 222 mm7.

As chuvas provocaram deslizamentos em encostas movimentando solos, rochas e

árvores, destruindo casas e edifícios, provocando enchentes e enxurradas, gerando um

cenário de devastação nos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis,

Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim. O evento extremo resultou na

morte de 947 pessoas. Mais de nove mil pessoas ficaram desabrigadas. Segundo o

6 Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil – Informe 2014. Encarte especial: A crise hídrica. Agência

Nacional de Águas, Brasília, 2015, p. 24.

7DOURADO, F. ARRAES, T.C. SILVA, M.F. O megadesastre da Região Serrana do Rio de Janeiro – as causas

do evento, os mecanismos dos movimentos de massa e a distribuição espacial dos investimentos de

reconstrução no pós-desastre. In Anuário do Instituto Geociências da UFRJ, Volume 35, nº 2, 2012.

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banco de dados internacional de desastres, com sede na Bélgica, foi o desastre natural

mais severo da história do país.

Figura 3. Destruição causada em Nova Friburgo, região serrana do Estado do Rio de

Janeiro

No último dia do ano de 2010, chuvas intensas provocaram inundações e

deslizamentos em Angra dos Reis que levaram à morte de 53 pessoas. Quatro meses

depois, em abril de 2011, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro foi atingida por

tempestades associadas ao deslocamento de uma frente fria. Em 24 horas as

precipitações atingiram a casa dos 323 mm, provocando deslizamentos que causaram

a morte de 167 pessoas em Niterói e 66 óbitos na cidade do Rio de Janeiro, ainda

deixando ainda mais de 3 mil pessoas desabrigadas.

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Figura 4. Deslizamentos de terra em Angra dos Reis

Segundo especialistas, os eventos de 2010 e 2011 no estado do Rio de Janeiro

explicitaram a vulnerabilidade das regiões urbanas diante dos eventos extremos

causados pelas mudanças climáticas.

Também no verão de 2010/11, mais de 140 pessoas perderam suas vidas no Estado de

São Paulo em consequência de chuvas intensas em áreas urbanas e rurais, inclusive na

Região Metropolitana de São Paulo. No mês de janeiro o volume de água que se

precipitou sobre São Paulo foi de 480,5 milímetros, o dobro da média histórica do mês

e o maior volume registrado até então desde 19478.

Nas regiões urbanas, os eventos extremos costumam resultar em tragédias de maior

dimensão e são as populações de menor renda dessas regiões as que mais sofrem

seus impactos, como destaca um estudo sobre a vulnerabilidade das megacidades

aos impactos das mudanças climáticas.

8NOBRE, C. A. Coordenador. Vulnerabilidades das megacidades brasileiras às mudanças climáticas:

região metropolitana de São Paulo: Relatório final. São José dos Campos, Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais - INPE, 2011.

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195

Até a crise hídrica de 2014, não havia por parte da opinião pública brasileira a

percepção de que na Região Sudeste há um déficit estrutural de oferta de água. Ao

contrário, o senso comum imaginava que, à exceção do semiárido nordestino, não

haveria um problema de oferta de água em todo restante do país, reflexo de uma

aparente abundância de recursos naturais, dentre estes, a água.

Essa percepção de abundância em São Paulo origina-se das constantes inundações que

assolam a RMSP, provocadas por eventos de chuva não necessariamente excepcionais

e também pela grande riqueza hídrica: há cerca de 2.500 km de cursos d’água somente

no município de São Paulo. As cheias são fenômenos naturais, mas as inundações de

áreas urbanas são causadas não somente por chuvas excepcionais, mas por falta de

gestão no território urbano, que permitiu a ocupação de várzeas e a

impermeabilização do solo, ambos fortes fatores de aumento da frequência de

inundação. Assim, a “impressão” de abundância de água é inevitável.

Em 2014, confrontada com a possibilidade de racionamento que os jornais

especulavam, que seria de três ou quatro dias sem fornecimento de água, a opinião

pública de São Paulo finalmente despertou para o problema. Diariamente os jornais

publicavam nas primeiras páginas os níveis do Sistema Cantareira. Ainda hoje, 2016,

mais de um ano após a crise, é comum a publicação de notícias sobre a situação do

complexo de reservatórios do Sistema Cantareira. Houve uma explosão de entrevistas

com especialistas em redes de TV, nas rádios e o governo estadual foi obrigado a expor

detalhadamente um plano de ação para enfrentar o problema.

A crise hídrica se tornou uma questão política e, ao longo de meses, a opinião pública

assistiu a um debate com pontos de vistas diferentes entre autoridades do governo

federal, de um lado, e do governo de São Paulo e dirigentes da SABESP de outro, sobre

as ações dos gestores para o enfrentamento da crise hídrica. Cabe destacar que em

2012 o cenário era outro: a discussão passava em reduzir o volume operacional do

Sistema Cantareira para receber cheias recorrentes (2010 e 2011), aumentando o

volume de amortecimento. No entanto, nos anos subsequentes, ocorreu o contrário:

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ao invés de índices pluviométricos superiores as médias históricas, ocorreu um período

de estiagem de intensidade jamais registrada.

Nesse cenário de excepcionalidade, adiou-se a renovação da outorga do Sistema

Cantareira, que ocorreria em 2014, estando prevista para ocorrer em 2017.

Figura 5. Totais pluviométricos de verão no Sistema Cantareira

Fonte: Seluchi e Nobre (2014): Relatório Técnico do MCTI para a SABESP.

No final de 2014 a sociedade civil, sob a ameaça de redução da oferta de água através

do sistema de abastecimento público, começou a se manifestar. Em dezembro, um

grupo importante de cientistas reunidos pela Academia Brasileira de Ciências divulgou

um documento sobre a crise hídrica no Sudeste e a mudança climática. O documento

afirmava que eram:

(...) fortíssimos os indícios de que há uma mudança climática em curso (...) com consequências na reservação de água e em todo o planejamento da gestão dos recursos hídricos. Estas mudanças climáticas não são apenas pontuais. Há indicações e fatos que apontam para sua possível continuidade, configurando uma ameaça à segurança hídrica da população da região Sudeste, especialmente da Região Metropolitana de São Paulo, do interior de Minas Gerais e do Estado do Rio de Janeiro (...). Os dados apresentados mostram que os sistemas produtores de água - principalmente na Região da Macrometrópole Paulista - não dispunham de resiliência adequada para garantir as vazões necessárias ao atendimento da

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demanda atual e projetada, em especial de abastecimento público, tendo em vista a excepcionalidade da seca com intensidade jamais registrada. Os sistemas de abastecimento foram projetados para dar garantia de 95% no suprimento de água. Esta garantia mostrou-se frágil face à severidade dos recentes eventos extremos de seca (...). Em médio e longo prazo esta situação se complica ainda mais, uma vez que as demandas tendem ainda a crescer. É evidente a necessidade de obras para aumentar a capacidade de reservação e distribuição dos sistemas, obras estas que levarão um tempo considerável para serem concluídas. (...) A perspectiva de recorrência de eventos extremos - como secas prolongadas alternadas com enchentes - e a insuficiência das estruturas hidráulicas existentes para atendimentos da crescente demanda por recursos hídricos na Região da Macrometrópole Paulista (tendência de mais 60 m

3/s até 2035), exigem visão de longo alcance, para reduzir o risco de

vulnerabilidade social, econômica e ambiental. Para enfrentar essas condições, faz-se urgente a implementação de novas fontes de suprimento hídrico e do aumento da capacidade de armazenamento de água bruta, em especial na RMSP e na Bacia do Piracicaba, sem prejuízo da adoção de outras importantes medidas, tais como o controle de perdas nos sistemas de abastecimento (...).

9

A DIMINUIÇÃO DAS VAZÕES NAS BACIAS PCJ EM 2014

A diminuição das vazões foi dramática e através delas pode-se perceber com clareza o grande

risco hídrico vivido pela região. O Rio Jaguaribe, por exemplo, apresenta na sua foz uma vazão

média de longo termo de 47,49 m³/s e em 2014 a vazão média nesse mesmo ponto do rio caiu

para 7,8 m³/s, correspondentes a apenas 16,42% da vazão média de longo termo. Já o Rio

Atibaia apresentou em 2014, em Desembargador Furtado, uma vazão média de 5,85

m³/s, correspondente a 20,38% da vazão média de longo termo desse mesmo ponto

de medição de 28,7 m³/s.

No ponto de captação de Valinhos, o Rio Atibaia apresentou uma vazão média de 7,7

m³/s correspondente a 34,25% da vazão média de longo termo de 22,48 m³/s. O Rio

9 Carta de São Paulo – recursos hídricos no Sudeste: segurança, soluções, impactos e riscos. Academia

Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro, dezembro de 2014. A elaboração do documento foi coordenada pelo professor José Galizia Tundisi da UFSCAR e contou com contribuições, entre outros, dos professores Carlos Nobre, José Marango, Jerson Kelman, professor da COPPE - UFRJ e ex-presidente da ANEEL e da ANA, Mônica Porto, da USP, além da promotora de justiça Alexandra Facciolli Martins, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente, do Ministério Público de São Paulo, do promotor de justiça Ivan Carneiro Castanheiro, também do Gaema, do Núcleo XII de Piracicaba.

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Piracicaba em seu ponto de maior vazão apresenta uma da vazão média de longo

termo de 134,86 m³/s, mas em 2014 a vazão média nesse mesmo ponto foi de 53,32

m³/s, correspondente a 39,54% da vazão média de longo termo10.

10

RELATÓRIO DE GESTÃO E SITUAÇÃO DAS BACIAS PCJ 2014 / Fundação Agência das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Valinhos, Gráfica e Editora Discopel, 2015, p. 127.

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199

ANEXO IV

APLICAÇÃO DOS RECURSOS DE COBRANÇA

1. APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA COBRANÇA FEDERAL ANO A ANO

ANO DE 2006

Em 2006, os recursos da cobrança federal foram investidos em dezenove projetos de

afastamento e tratamento de esgotos, redução de perdas na distribuição de água e

governança. Os projetos receberam R$ 19.596.842,58 em valores presentes da

cobrança federal5, e totalizaram R$ 34.802.612,24 em valores presentes,

considerando-se as contrapartidas de seus proponentes. É importante ressaltar que os

recursos da cobrança aplicados em todos os projetos tem a particularidade de não

serem reembolsáveis.

Cinco dos dezenove projetos consumiram R$ 13.513.246,62, correspondentes a

68,96% dos recursos da cobrança federal desse ano. Três deles tinham a Companhia

de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP como tomadora dos recursos:

a ampliação da ETE de Cabreúva, obras de adequação na ETE de Nazaré Paulista e a

instalação de macromedidores de vazão em diversos municípios. Os outros dois

projetos tinham como tomadora dos recursos a Sociedade de Abastecimento de Água

e Saneamento S/A – SANASA: a implantação de uma rede de coleta em um bairro da

cidade de Campinas e a substituição de tubulações de cimento amianto e de ferro da

rede de distribuição de água desse município. Os valores totais presentes desses

projetos incluindo-se as contrapartidas dos proponentes é de R$ 27.009.807,19.

Outros onze projetos envolviam implantação de sistema de esgotamento, de coletores

tronco e de tratamento de esgoto, além de redução de perdas na distribuição de água.

O setor de saneamento, inclusive o combate às perdas, recebeu 81,80% dos recursos

5

Aplicação dos recursos de cobrança e compensação nas Bacias PCJ - 2006 a 2015. Planilha elaborada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP a partir de dados da Agência Nacional de Águas - ANA e da Agência das Bacias PCJ.

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200

da cobrança federal em 2006. Por fim, três projetos eram dedicados a temas relativos

à governança das águas, sendo que o principal deles tinha como objetivo a contratação

de serviços para a elaboração do Plano de Bacias 2008 a 2020. Tratava-se de um

projeto da própria Agência de Bacias PCJ, contemplado com R$ 2.725.011,00 em

valores presentes.

ANO DE 2007

Em 2007 esse perfil de investimentos se manteve. De um total de R$ 12.836.016,25 a

valores presentes de recursos da cobrança federal aplicados, cinco projetos da SABESP

consumiram R$ 6.328.039,74, correspondentes a 49,30% dos recursos da cobrança

federal, sendo que um dos projetos recebeu R$ 5.060.526,00 para construção de uma

ETE em Itupeva. A SANASA, por sua vez, recebeu outros R$ 5.060.526,00 para a

construção da ETE San Martin em Campinas, correspondentes a 39,42% dos recursos

da cobrança federal em 2007. As duas empresas acima citadas ficaram com 88,72%

dos recursos da cobrança federal nesse ano.

Os valores totais dos projetos em 2007 foram de R$ 49.456.393,21, considerando-se as

contrapartidas de seus proponentes.

Em 2007 foi aprovado o primeiro projeto de pagamento por serviços ambientais nas

Bacias PCJ que consumiu R$ 927.763,10, correspondentes a 7,23% do total aplicado

com recursos da cobrança federal no ano.

ANO DE 2008

Em 2008 manteve-se inalterado o perfil dos investimentos com recursos da cobrança

federal. Apenas quatro projetos, sendo três da SABESP e um da SANASA consumiram

R$ 12.358.531,80 em valores presentes, correspondentes a 76,80% de um total de R$

16.091.149,89 em valores presentes aplicados em 14 projetos.

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201

Nesse ano foram aplicados 95,57% dos recursos da cobrança federal em 10 projetos

no setor de saneamento, sendo 8 deles relativos à afastamento, transporte e

tratamento de esgoto e a investimentos em estações de tratamento de água. Dois

projetos destinavam-se à redução de perdas na distribuição de água.

ANO DE 2009

Em 2009 o perfil de investimentos sofreu algumas alterações em relação aos três

primeiros anos da cobrança federal nas Bacias PCJ. O saneamento continuou

concentrando os recursos: 91,96% dos recursos da cobrança federal. No entanto

quinze municípios, além da SABESP e da SANASA aprovaram projetos em dezesseis

cidades integrantes das Bacias PCJ.

Quatro municípios, Santa Barbara do Oeste, Cosmópolis, Jundiaí e Americana

aprovaram projetos de coleta e tratamento de esgotos que receberam um total de R$

13.828.739,11 em valores presentes, correspondentes a 55,57% do total dos recursos

da cobrança federal aplicados nesse ano. A SABESP e a SANASA receberam menos do

que nos anos anteriores, contudo ainda ficaram com 18,45% dos recursos de 2009,

totalizando R$ 4.590.120,75 em valores presentes, sendo que desse total um projeto

da SABESP de construção de estações elevatórias de esgoto e coletores tronco no

município de Piracaia recebeu R$ 3.653.942,53 em valores presentes.

Apenas um projeto foi dedicado à governança, da própria Agência das Bacias PCJ foi

aprovado, recebendo R$ 1.265.517,23 em valores presentes, correspondentes a 5,09%

dos recursos do ano.

Dois outros projetos foram contemplados envolvendo preservação ambiental

envolvendo R$ 734.835,96 em valores presentes, apenas 2,95% do total dos recursos

aplicados da cobrança federal no ano.

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202

ANO DE 2010

Em 2010 o setor de saneamento continuou concentrando a aplicação dos recursos da

cobrança federal: 95,24%, um total de R$ 23.312.186,28 em valores presentes,

inclusive projetos de redução de perdas na distribuição de água. A exemplo de 2009,

quatro municípios, Santa Barbara do Oeste, Nova Odessa, Rio Claro e Indaiatuba

aprovaram cinco projetos na área de saneamento, inclusive controle de perdas,

totalizando R$ 14.754.288,24 em valores presentes, correspondentes a 60,28% do

total de recursos investidos em projetos no ano com recursos da cobrança federal. A

SABESP e a SANASA aprovaram três projetos totalizando R$ 6.158.072,88 em valores

presentes, correspondentes a 25,16% do total da cobrança federal do ano.

Por fim, seis pequenos projetos, todos da própria Agência das Bacias PCJ, receberam

R$ 1.164.930,73, correspondentes a 4,76% do total do ano.

Os valores totais dos projetos em 2010 foram de R$ 34.741.232,63 em valores

presentes, considerando-se as contrapartidas de seus proponentes.

ANO DE 2011

Em 2011 o saneamento concentrou mais uma vez os recursos investidos em projetos.

Foram R$ 17.311.909,13, correspondentes a 77,75 dos recursos da cobrança federal

do ano.

De forma muito próxima ao que ocorrera em 2010, três municípios, Piracicaba, Nova

Odessa e Vinhedo, foram contemplados com a aprovação de quatro projetos no valor

de R$ 10. 784.481,26 em valores presentes de recursos da cobrança federal,

correspondentes a 48,44% do total aplicado no ano. A SABESP e a SANASA ficaram

com 26,70% dos recursos em cinco projetos, totalizando R$ 5.945.873,28 em valores

presentes de recursos da cobrança federal.

Em 2011 os investimentos em projetos relativos à gestão dos recursos hídricos

ganharam uma dimensão um pouco maior do que ocorrera entre 2006 e 2010. Foram

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203

9 projetos da própria Agência das Bacias PCJ e dois projetos dedicados à elaboração de

planos municipais de saneamento nos municípios de Iracemápolis e Piracaia. Os

projetos contaram com R$ 3.358.257,10 em valores presentes, correspondentes a

15,08% dos recursos da cobrança federal do ano.

Por fim houve um projeto contemplado de pagamento por serviços ambientais.

Tratava-se da continuidade do projeto Conservador das águas em Extrema, Minas

Gerais que visa o reflorestamento das nascentes do rio Jaguari e que foi contemplado

com R$ 1.595.450,48 em valores presentes de recursos da cobrança federal do ano,

correspondentes a 7,17%.

ANO DE 2012

Em 2012 o setor de saneamento, inclusive ações para redução de perdas na

distribuição de água, continuou a concentrar os recursos: foram 71,59% da cobrança

federal, um total de R$ 13.550.904,19 em valores presentes. Dois projetos da CODEN,

de Nova Odessa foram contemplados com R$ 4.113.821,27, correspondentes a 21,73

do total do ano. Um projeto da SANASA de redução de perdas foi contemplado, de R$

3.169.988,89 representando 16,75% do total do ano.

Pela primeira vez houve investimentos em projetos de coleta e tratamento de esgotos

em três municípios mineiros: Camanducaia, Itapeva e Sapucaí Mirim. Todos os

projetos foram contratados pela própria Agência das Bacias PCJ.

Houve 7 projetos de governança, todos da Agência das Bacias PCJ que consumiram R$

5.378.344,93 dos recursos da cobrança federal do ano, correspondentes a 28,41%.

ANO DE 2013

Em 2013 houve uma concentração dos recursos em projetos de redução de perdas na

distribuição de água. Apenas cinco projetos consumiram 62,03% dos recursos da

cobrança federal no ano, R$ 9.317.906,50 de um total de R$ 15.020.619,58.

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A SANASA foi contemplada com dois projetos de substituição de redes de distribuição

de águas, totalizando R$ 3.043.115,06 em valores presentes, correspondentes a

20,26% do total de recursos da cobrança no ano. Outros três projetos dos municípios

de Rio Claro, Santa Barbara do Oeste foram contemplados, sendo que todos os

projetos envolviam substituição de redes de distribuição de água.

Em 2013 o item governança teve uma participação elevada na partilha dos recursos,

um total de R$ 5.702.713,08, correspondentes a 37,97% do total da cobrança federal

do ano, sendo que todos os projetos tiveram a Agência das Bacias PCJ como

proponente. Na verdade, R$ 2.419.392,10 foram utilizados para custear a elaboração

de 24 planos municipais de saneamento, em atendimento ao disposto pela Lei 11.445

de 2007, que instituiu a Política Nacional de Saneamento. Um outro projeto de R$

1.959.135,14 envolvia a contratação de serviços de acompanhamento técnico dos

projetos contratados com recursos não reembolsáveis. Houve ainda oito outros

projetos de menor valor e importância.

ANO DE 2014

Da mesma forma que em 2013, em 2014 houve uma concentração dos recursos da

cobrança federal em projetos de redução de perdas na distribuição de água e em

projetos de governança.

A redução de perdas foi contemplada com R$ 12.577.070,69 em valores presentes,

correspondentes a 51,39% do total da cobrança federal do ano.

A SANASA foi contemplada com dois projetos de substituição e reabilitação de redes

de água, que somaram R$ 4.396.617,73 de recursos da cobrança federal,

correspondentes a 17,96% do total. O valor total desses projetos incluindo-se as

contrapartidas do proponente foi de R$ 6.526.317,89.

A rubrica governança contou com R$ 11.898.740,36, correspondentes a 48,61% do

total da cobrança federal do ano, especialmente por conta da contratação de serviços

de monitoramento hidrológico nas Bacias PCJ, projeto relevante que recebeu R$

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8.158.170,80 em valores presentes, correspondentes a 33,33% dos recursos da

cobrança federal do ano. Dois outros projetos dedicados à elaboração do Plano Diretor

de Combate às Perdas foram contemplados com R$ 2.130.435,11. Todos os projetos

de governança tiveram a Agência das Bacias PCJ como proponente. Foram 21 projetos

aprovados na rubrica governança nesse ano, sendo que os 19 projetos restantes eram

de menor valor e importância.

ANO DE 2015

Em 2015 houve novamente uma concentração dos recursos da cobrança federal em

projetos de redução de perdas na distribuição de água. Foram R$ 22.088.300,96 em

valores presentes, correspondentes a 89,61% do total de recursos da cobrança federal

aplicados em projetos no ano.

Dois projetos da SEMAE de Piracicaba foram contemplados com R$ 7.418.871,09,

correspondentes a 30,10% do total da cobrança federal do ano. A SANASA foi

contemplada com dois projetos totalizando R$ 4.814.790,13 em valores presentes,

correspondentes a 19,53% dos recursos não reembolsáveis. A SANEBAVI de Vinhedo

foi contemplada com um projeto de substituição das adutoras da Estrada da Boiada no

valor de R$ 4.577.920,23, correspondentes a 18,57% do ano, constituindo-se no maior

projeto individual de 2015. Outros dois projetos de Nova Odessa e Rio Claro foram

contemplados. O valor total dos projetos de redução de perdas foi de R$

28.774.966,52 em valores presentes, incluindo-se as contrapartidas dos proponentes.

Dois projetos da Agência das Bacias PCJ na rubrica governança foram contemplados

com R$ 2.560.390,00, correspondentes a 10,39% dos recursos do ano. 7

7 Todos os dados referentes às aplicações de recursos da cobrança federal estão na planilha Aplicação

dos recursos de cobrança e compensação nas Bacias PCJ - 2006 a 2015, elaborada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP a partir de dados da Agência Nacional de Águas e da Agência das Bacias PCJ.

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Aplicação dos recursos da cobrança federal de 2006 a 2015 por setor

Entre 2008 e 2015, ao longo de oito anos de aplicação de recursos da cobrança federal,

houve uma forte concentração de recursos em saneamento, incluindo-se nele os

projetos com o objetivo de redução de perdas de distribuição de água. O saneamento

ficou com R$ 163.927.831,08 em valores presentes, correspondentes a 80,66% do

total de recursos da cobrança federal do período.

Tabela 1. Projetos contemplados com recursos da cobrança federal por setor - 2006 –

2015 (em R$)

PERDAS 83.134.040,19 40.91%

SANEAMENTO 80.793.790,90 39,76%

SANEAMENTO E PERDAS 169.927.831,08 80.66%

GOVERNANÇA 37.702.163,01 17.57%

SERVIÇOS AMBIENTAIS 2.859.386,38 1,41%

PRESERVAÇÃO 734.835,96 0,36%

TOTAL 203.224.216,43

Fonte: Fundação Agência das Bacias PCJ

Perdas na distribuição de água foi a rubrica que obteve a maior parte dos recursos,

especialmente em função da política de aplicação dos recursos adotada a partir de

2013 de concentrar todos os recursos nesse setor, não tendo havido nenhum

investimento com recursos da cobrança federal em tratamento de esgoto ou

tratamento de água nos últimos três anos do período considerado.

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Entre 2006 e 2015 as atividades de afastamento, transporte e tratamento de esgoto,

além de tratamento de água, designadas nas tabelas como saneamento, ficaram com

39,76% do total dos recursos da cobrança federal.

A rubrica Governança ficou com R$ 35.702.163,01 em valores presentes,

correspondentes a 17,57% do total de recursos, especialmente em função de alguns

grandes projetos, tais como a contratação de serviços de monitoramento hidrológico

nas Bacias PCJ, o Plano de Bacias 2010 -2020, o Plano Diretor de Combate às Perdas,

entre outros.

A rubrica Serviços Ambientais foi contemplada com simbólicos 1,41% do total de

recursos e preservação ambiental com ínfimos 0,36% do total do período.

APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA COBRANÇA ESTADUAL

ANO DE 2007

Em 2007, primeiro ano da arrecadação e da aplicação de recursos da cobrança

estadual, a coleta e tratamento de esgotos foi contemplada com 91,75% dos recursos,

um total de R$ 9.134.235,78. Dois projetos concentraram 60,66% dos recursos do ano:

um interceptor na margem esquerda do rio Piracicaba, do SEMAE e a implantação de

um sistema de afastamento e transporte de esgotos em Jaguariúna. Houve ainda um

projeto de redução de perdas, também da SEMAE que ficou com 5,37%. Ambas as

rubricas ficaram com 91,75%

A rubrica governança recebeu 8,25% dos recursos do ano, correspondentes a R$

486.792,37, distribuídos por quatro projetos, sendo três deles para elaboração de

planos diretores de redução de perdas na distribuição de água.

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ANO DE 2008

Em 2008, os recursos da cobrança estadual foram concentrados no setor de

saneamento que ficou com 66,84% dos recursos do ano, R$ 4.294.180,63 em valores

presentes. A SANASA foi contemplada com a aprovação de um projeto de

investimentos em uma estação de tratamento de esgotos que recebeu 28,24% do total

do ano, R$ 1.814.119,32 em valores presentes.

A rubrica governança recebeu 33,16% do total de recursos, correspondentes a R$

2.130.629,12, para financiar projetos de cinco municípios tais como a elaboração de

um plano municipal de recursos hídricos em Campo Limpo, um plano diretor de

macrodrenagem em Várzea Paulista, um plano diretor de combate às perdas em

Vinhedo, além de projetos de interesse de toda as Bacias PCJ, como um balanço de

sedimentos no Sistema Cantareira.

ANO DE 2009

Em 2009 cresceu o valor absoluto dos recursos da cobrança estadual para aplicação

em projetos. Eles saltaram de R$ 6.424.809,75 para R$ 17.231.656,30 em valores

presentes.

O setor de saneamento, inclusive projetos para redução de perdas na distribuição de

água concentraram 93,96% do total de recursos do ano, R$ 16.191.169,71 em valores

presentes. Dois projetos do Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Indaiatuba e um

projeto da SANASA ficaram com 70,61% dos recursos do ano. O projeto da SANASA,

investimentos no sistema de esgotamento sanitário Santa Bárbara foi contemplado

com R$ 3.667.193,52, correspondentes a 21,28 do total de recursos do ano e os

projetos de Indaiatuba, um coletor tronco na margem direita do Rio Jundiaí e ações

para redução de perdas foram contemplados com R$ 8.500.384,83 em valores

presentes.

Três projetos de menor dimensão foram aprovados na rubrica governança, ficando

com 6,04% dos recursos do ano.

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209

ANO DE 2010

Em 2010 o setor de saneamento ficou com 60% dos recursos da cobrança estadual,

sendo 2,77% em pequenos projetos de redução de perdas e o restante essencialmente

em um sistema coletor e uma estação elevatória em Piracicaba e investimentos em

uma ETA em Vinhedo, totalizando R$ 9.357.823,25 em valores presentes.

A rubrica governança ficou com 34,46% dos recursos do ano, essencialmente por conta

de dois projetos envolvendo monitoramento hidrológico com envio de informações

por telemetria e de monitoramento qualitativo e quantitativo, ambos da Bacia do Rio

Piracicaba. Esses dois projetos receberam 31,10% do ano, R$ 4.850.519,53 em valores

presentes.

Houve ainda um pequeno projeto de preservação ambiental que foi contemplado com

1,76% dos recursos do ano, R$ 274.302,76 em valores presentes e um projeto de

educação ambiental contemplado com 1,99% dos recursos da cobrança estadual do

ano, R$ 310.637,62 em valores presentes.

ANO DE 2011

Em 2011 novamente houve um crescimento expressivo dos recursos da cobrança

estadual para investimentos em projetos: de R$ 15.596.219,89 em valores presentes

em 2010 eles se elevaram para R$ 23.483.098,99 em valores presentes em 2011.

Novamente os recursos se concentraram em saneamento, R$ 19.352.281,11 em

valores presentes, correspondentes a 82,41% do total. Os projetos de redução de

perdas na distribuição de água cresceram sua participação representando 63,38% do

total de recursos da cobrança estadual do ano.

Governança ficou com 14,07% dos recursos, essencialmente por conta de um projeto

de R$ 2.077.490,14 em valores presentes de gestão hidrometeorológica, contratado

com a FUNDAG.

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210

Houve ainda um pequeno projeto de preservação ambiental que ficou com 3,52% dos

recursos do ano.

ANO DE 2012

Em 2012 o setor de saneamento ficou com 81,32% dos recursos, R$ 16.001.909,82 em

valores presentes, mas desta vez afastamento e tratamento de esgotos contaram com

60,18% dos recursos do ano e perdas na distribuição de água com 21,14%.

Neste ano a rubrica governança contou com 18,68% dos recursos, por conta

essencialmente de 12 planos municipais de saneamento que consumiram 11,90% dos

recursos da cobrança do ano.

ANO DE 2013

Em 2013 foram aplicados R$ 16.755.020,45 em valores presentes dos recursos da

cobrança estadual em projetos de saneamento, inclusive redução de perdas,

correspondentes a 98.91% do total do ano. Foram aplicados em saneamento 68,65%

em afastamento e tratamento de esgotos e 30,26% em projetos de redução de perdas.

Houve ainda dois pequenos projetos de governança envolvendo a elaboração de

planos municipais de saneamento que envolveram recursos de apenas 1,09% do total

dos recursos da cobrança estadual do ano.

ANO DE 2014

Em 2014 os recursos da cobrança estadual se elevaram para R$ 21.598.048,92 em

valores presentes. Nesse ano, 100% dos recursos foram dedicados à rubrica

saneamento, particularmente à ampliação de uma estação de tratamento de esgotos e

a coletores de esgotos, havendo ainda três projetos dedicados à melhorias em

sistemas de tratamento de água.

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211

ANO DE 2015

Em 2015 os recursos da cobrança paulista aplicados em projetos mais do que

dobraram em relação ao ano anterior: R$ 41.862.124,91 em valores presentes. 100%

desses recursos foram aplicados em dez projetos de saneamento, sendo dois projetos

de redução de perdas que consumiram 11,43% dos recursos, um pequeno projeto de

melhoria de um sistema de tratamento de água e sete grandes projetos de

implantação de estações de tratamento de esgoto, de um interceptor e coletor de

esgotos.

O maior projeto do ano foi contemplado com R$ 9.951.285,38 em valores presentes e

tinha como objetivo a implantação de duas estações de tratamento de esgotos em São

Pedro.

O valor total dos projetos foi de R$ 48.313.669,61, incluindo-se as contrapartidas dos

proponentes que foram de cerca de 12% do total.

As contrapartidas nesse ano representaram pouco mais de 13% do total, o que

significa que todos projetos de 2015 foram custeados essencialmente com recursos da

cobrança estadual.

VALORES TOTAIS APLICADOS COM RECURSOS DA COBRANÇA ESTADUAL POR SETOR

No período entre 2007 e 2015 considerado, 89,45% dos recursos da cobrança estadual

foram aplicados em saneamento, inclusive projetos de redução de perdas na

distribuição de água. Os projetos envolvendo a governança dos recursos hídricos

consumiram apenas 9,57% do total. Os recursos investidos em preservação ambiental

e em educação ambiental foram insignificantes: as duas rubricas receberam menos de

1% do total.

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Tabela 2. Projetos contemplados com recursos da cobrança estadual por setor - 2007 –

2015 (em R$)

SANEAMENTO 121.495.608,15 70,32%

PERDAS 33.051.186,44 19,13%

SANEAMENTO E PERDAS 154.546.794,59 89.45%

GOVERNANÇA 16.531.837,27 9.57%

PRESERVAÇÃO 1.197.550,58 0,69%

EDUCAÇÃO AMBIENTAL 493.541,26 0,29%

TOTAL 172.769.723,70

Fonte: Fundação Agência das Bacias PCJ

VALORES TOTAIS DOS RECURSOS APLICADOS POR SETOR 1995 – 2015

A análise dos valores totais aplicados por setor confirma a grande concentração dos

recursos em saneamento, inclusive projetos de redução de perdas, que foi

contemplado com 85,36% dos recursos aplicados de 1995 a 2015 de todas as três

fontes: cobrança federal, cobrança paulista e compensação pelo uso de água para

geração de eletricidade. Foram R$ 455.377.411,11 em valores presentes.

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Tabela 3. Recursos da cobrança federal, paulista e compensação nas Bacias PCJ 1995 –

2015 por setor Valores presentes - Fev. 2016 (em R$)

SANEAMENTO 303.107.078,29 56,83%

PERDAS 152.270.332,81 28,55%

SANEAMENTO E PERDAS 455.377.411,11 85,36%

GOVERNANÇA 64.386.377,94 12,07%

PRESERVAÇÃO 6.772.952,80 1,27%

EDUCAÇÃO AMBIENTAL 3.724.806,02 0,70%

SERVIÇOS AMBIENTAIS 2.859.386,38 0,54%

TOTAL 533.327.323,97

CONTRAPARTIDAS 318.802.461,96

VALOR TOTAL COM

CONTRAPARTIDAS 852.129.785,94

Fonte: Agência Nacional de Águas e Fundação Agência PCJ

Os investimentos em governança receberam 12,07% do total, recursos que

financiaram, de um lado, estudos, projetos, planos e, de outro, a implantação de

monitoramento hidrológico e outros sistemas de informação abrangendo qualidade e

quantidade das águas nas Bacias PCJ, inclusive com aquisição de equipamentos e

softwares.

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Preservação ambiental foi contemplada com apenas 1,27% do total. Serviços

ambientais e educação ambiental tiveram participações simbólicas, ambas menores do

que um por cento do total.

A destinação de mais da metade dos recursos para tratamento de esgotos espelha a

motivação central dos movimentos sociais e ecológicos que deram origem ao

Consórcio Intermunicipal das Bacias PCJ, aos Comitês das Bacias PCJ e por último da

Agência das Bacias PCJ. Historicamente, esses movimentos tinham como objetivo

central a despoluição dos rios da região. Essa movimentação foi particularmente

intensa em Piracicaba. Na região das Bacias PCJ a estrutura participativa de gestão dos

recursos hídricos por bacia, nasceu de baixo para cima. Os movimentos sociais

antecedem a criação do sistema paulista de gestão dos recursos hídricos, bem como

antecedem a criação da ANA bem como são anteriores ao advento da moderna

legislação federal sobre os recursos hídricos.

A agenda derivada da crise hídrica que pretende aumentar a resiliência das Bacias PCJ

aos efeitos da mudança climática é recente e não está espelhada no perfil dos

investimentos que foram realizados ao longo dos últimos vinte anos e que tinham

como meta central a recuperação dos mananciais.

PRINCIPAIS USUÁRIOS DOS RECURSOS NÃO REEMBOLSÁVEIS

SANASA

A SANASA foi o maior usuário do conjunto de recursos não reembolsáveis aplicados

nas Bacias PCJ, constituído pela compensação pelo uso de água para geração de

hidroeletricidade através do FEHIDRO e dos recursos das cobranças estadual e federal.

A SANASA recebeu um total de R$ 66.575.049,63 em valores presentes de recursos

não reembolsáveis, correspondentes a 12,48% do total aplicado nas Bacias PCJ com

recursos das três fontes acima citadas. A SANASA desembolsou contrapartidas de R$

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73.193.498,51 em valores presentes. O valor total dos projetos aprovados pela

SANASA foi de R$ 139.768.548,14 em valores presentes.

Entre 1997 e 2015, a SANASA recebeu em valores presentes um total de R$

15.402.667,43 originários da compensação, através do FEHIDRO, correspondentes a

9,79% do total aplicado entre 1995 e 2015 por esse fundo nas Bacias PCJ.

Entre 2006 e 2015, a SANASA recebeu, em valores presentes, R$ 39.546.031,47 da

cobrança federal, correspondentes a 19,46% do total aplicado desses recursos nas

Bacias PCJ.

Entre 2008 e 2012, essa empresa recebeu R$ 11.626.350,73 em valores presentes da

cobrança paulista, correspondentes a 6,73% do total aplicado da cobrança estadual de

2007 a 2015.

Como usuário dos recursos hídricos das Bacias PCJ, a SANASA recolheu um total de R$

24.037.613,19 em valores presentes, relativos às cobranças estadual entre 2007 e

2015 e federal, entre 2008 e 2015. Desse total, R$ 11.491.535,97 em valores presentes

foram pagos à título da cobrança estadual e R$ e 12.546.077,23 em valores presentes

foram pagos à título da cobrança federal.

Dessa forma, como tomador de recursos não reembolsáveis originários das cobranças

estadual e federal e da compensação, a SANASA recebeu 2,76 vezes mais do que

pagou pela captação de água e lançamento de efluentes.

Dos recursos recebidos pela SANASA das três fontes acima citadas, 67,50% foram

dedicados a projetos de redução das perdas na distribuição de água, especialmente à

substituição de tubulações de cimento amianto e ferro galvanizado, totalizando R$

29.470.780,25 aplicados a esse título. O valor total dos projetos da SANASA dedicados

à redução das perdas de água na distribuição, incluindo-se as contrapartidas da

proponente foi de R$ 48.580.327,68.

Os outros 32,5% foram aplicados em projetos de saneamento, particularmente

afastamento e tratamento de esgotos, um total de R$ 14.190.247,40. O valor total dos

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projetos em coleta e tratamento de esgotos, inclusive as contrapartidas da

proponente, foi de R$ 37.279.828,80.

SABESP

A Companhia de Saneamento Básico de São Paulo- SABESP, recolheu R$

163.761.499,66 em valores presentes entre 2007 e 2015 a título de cobrança estadual

e de 2008 a 2015, a título de cobrança federal.

Entre 1995 e 2015 a SABESP recebeu R$ 34.202.823,98 em valores presentes, de

recursos não reembolsáveis das cobranças federal e estadual e da compensação. Os

projetos contaram com contrapartidas de R$ 46.066.401,80. O valor total dos projetos

incluindo-se as contrapartidas do proponente foi de R$ 80.269.225,78 em valores

presentes.

A SABESP obteve R$ 22.450.249,11 de recursos não reembolsáveis da cobrança federal

e estadual, sendo que de 2006 a 2015 da cobrança federal e de 2007 a 2015 da

cobrança estadual.

Do total de recursos não reembolsáveis recebidos pela SABESP, R$ 27.824.680,83 a

valores presentes foram referentes a projetos de afastamento e tratamento de esgoto,

correspondentes a 81,35% do total recebido. Entre 1995 e 2015, a SABESP apresentou

e aprovou apenas dois projetos de redução de perdas na distribuição de água que

contaram com R$ 5.021.527,29 de recursos da cobrança federal, correspondentes a

14,68% dos recursos obtidos pela empresa.

87,22% dos recursos obtidos pela SABESP foram originários da cobrança federal, um

total de R$ 29.832.891,41 em valores presentes.

Os recursos originários da compensação através do FEHIDRO foram bem menores:

apenas R$ 4.369.932,58 em valores presentes, correspondentes a 12,78% do total

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recebido por essa empresa. Todos projetos contemplados com recursos da

compensação foram realizados entre 1998 e 2006.

OUTROS GRANDES USUÁRIOS

Alguns municípios foram contemplados com recursos em torno de 5% do total, como

Rio Claro e Indaiatuba, entre outros. No entanto, alguns municípios ou empresas de

saneamento foram mais ativos do que outros na apresentação de projetos de

financiamento com recursos não reembolsáveis da compensação e da cobrança e, por

essa razão, obtiveram mais recursos proporcionalmente à sua população.

Nova Odessa, por exemplo, um município cuja população em 2015 foi estimada pelo

IBGE em cerca de 56 mil habitantes obteve em valores presentes R$ 33.895.957,68 de

recursos não reembolsáveis, correspondentes a 6,36% do total. Comparativamente,

Rio Claro que teve sua população em 2015 estimada pelo IBGE em 199 mil habitantes,

quase quatro vezes mais do que Nova Odessa, obteve menos recursos da

compensação e cobrança, R$ 26.823.266,88, correspondentes a 5,03% do total. Da

mesma forma, Indaiatuba obteve R$ 26.655.554,13, correspondentes a 5,00% do total,

embora sua população em 2015 tenha sido estimada pelo IBGE em cerca de 231 mil

habitantes.

Essa também é a situação de Piracicaba que embora tenha sua população em 2015

estimada pelo IBGE em cerca de 391 mil habitantes, quase sete vezes mais do que

Nova Odessa, foi contemplada através do Serviço Municipal de Água e Esgoto– SEMAE

com recursos de R$ 36.412.981,24, em valores presentes, correspondentes a 6,83% do

total dos recursos da compensação e da cobrança. O valor recebido por Piracicaba é

muito próximo ao recebido por Nova Odessa, apesar da primeira contar com uma

população muito superior à segunda.

Situações como essa acontecem em função de a Agência das Bacias PCJ receber

projetos de iniciativa de empresas de saneamento, de municípios e de serviços

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municipais de água e esgoto. Assim sendo, o sistema premia quem tem a iniciativa de

apresentar projetos e de articular sua aprovação pelos Comitês.

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DOS RECURSOS NÃO REEMBOLSÁVEIS NAS BACIAS PCJ

Uma primeira observação sobre os projetos apoiados com recursos da compensação,

cobrança federal e cobrança estadual é que os investimentos realizados em

afastamento, transporte e tratamento de esgotos foram contemplados com 56,83% do

total, R$ 303.107.078,29 em valores presentes. Incluindo-se os projetos de redução de

perdas de água esse percentual se eleva para 85,38%. Foram R$ 455.377.411,11 em

valores presentes investidos ao longo de vinte anos.

Os projetos de tratamento de esgotos foram pontuais: não integravam um plano que

visasse a completa despoluição dos rios das Bacias PCJ mediante o tratamento dos

esgotos. Na verdade, não havia recursos para um plano mais abrangente. Os recursos

necessários para a coleta e o tratamento de todos os esgotos lançados sem

tratamento nos rios das Bacias PCJ se medem em bilhões de reais.

O Plano das Bacias PCJ 2010 – 2020 projetou cenários sobre a qualidade das águas

entre 2010 e 2020. O cenário mais favorável foi designado desejável. Nele, a grande

maioria dos municípios integrantes das Bacias PCJ teria atingido índices da ordem de

95% de tratamento de esgoto, patamar aceito como indicador da universalização dos

serviços.

Os recursos estimados pelo Plano de Bacias para que esse cenário se concretizasse

foram de R$ 2.013.339.303,888. Sucede que desse total, o Plano identificou a

necessidade de se buscar recursos da ordem de R$ 1.380.005.860,82, além daqueles

que o Plano considerava como estando assegurados por fontes já existentes.

8 Plano das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari 2010 – 2020, com propostas de atualização de enquadramento dos corpos d’água e de programa para efetivação do enquadramento dos corpos d’água até o ano de 2035. Relatório final. São Paulo, COBRAPE – Cia Brasileira de Projetos e Empreendimentos. 2010. 815 p. , p. 599.