Mudanças e Permanências na organização do trabalho docente: um estudo da legislação

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Mudanças e Permanências na organização do trabalho docente:um estudo da legislação

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  • Mudanas e Permanncias na organizao do trabalho docente:um estudo da legislao

    Marcela Pergolizzi Moraes de OliveiraUniversidade Estadual de Campinas

    [email protected]

    1. INTRODUO

    A educao brasileira, durante os ltimos quarenta anos, passou por mudanas

    significativas em sua organizao e formas de gerenciamento. Desde a dcada de 1970, o

    pas j enfrentou dez governos diferentes, em que partiu-se de um estado de ditadura

    militar para a redemocratizao. A passagem da ditadura para a democracia foi marcada

    pela reestruturao produtiva e pelo desenvolvimento dos iderios neoliberais.

    Esta investigao busca compreender como o trabalho docente condies de

    trabalho, salrio, carreira, formao inserido dentro deste contexto, encontra-se

    caracterizado na legislao nacional, desde 1971 at 2009.

    Os textos analisados foram: a Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1. e 2.

    Graus (Lei n 5.692, 11/08/1971); o captulo da Educao da Constituio Federal de

    1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9.394, dez/1996); Plano

    Nacional de Educao (PNE, Lei 10.172/2001); e o Plano de Desenvolvimento da

    Educao (PDE, 2007).

    Quais as mudanas produzidas pela legislao nas condies de trabalho dos

    professores? Como as propostas no campo da educao bsica, em especial as que se

    referem ao trabalho de professores, so compreendidas pela legislao? Quais os reflexos

    das aes, programas e polticas educacionais sobre o trabalho docente?

    A educao tem sido considerada e reconhecida como fundamental para o

    desenvolvimento social e econmico, para o fortalecimento de uma nao, nas anlises e

    demandas das mais variadas orientaes polticas (Segnini e Souza, 2007, p.9). Qual o

    sentido das polticas pblicas, no campo do ensino, de 1971 a 2009? Como se expressa esta

    valorizao nas formas de organizao e condies de trabalho de professores?

  • DIRETRIZES E BASES PARA O ENSINO DE 1 E 2 GRAUS A Lei 5.692, promulgada em 11 de agosto de 19711, fixou as diretrizes e bases

    para o ensino de 1. e 2. graus, a qual se destinou a ajustar a educao brasileira ruptura

    poltica praticada pelo golpe militar de 1964, que exigia a continuidade da ordem scio-

    econmica, atendendo aos interesses do capital. Sua principal caracterstica foi tornar a

    profissionalizao no segundo grau compulsria e universal.

    Nesta Lei, o professor um especialista em um campo disciplinar; formado em

    nvel superior em licenciaturas curta ou plena; ou um tcnico formado em habilitao

    especfica de segundo grau. A especializao em pedagogia para os que ocupam os

    postos de trabalho de Orientao Educacional2, Coordenao Pedaggica, Superviso,

    Administrao, denominados especialistas em educao.

    A formao continuada considerada um direito dos professores (artigo 11, 1. 3)

    e seria oferecida pela prpria escola os sistemas de ensino estimularo, mediante

    planejamento apropriado, o aperfeioamento e atualizao constantes dos seus

    professores e especialistas de Educao. A formao inicial para o ingresso na profisso

    descrito da seguinte forma, no corpo da lei:

    Art. 30. Exigir-se- como formao mnima para o exerccio do magistrio: a) no ensino de 1 grau, da 1 4 sries, habilitao especfica4 de 2 grau; b) no ensino de 1 grau, da 1 8 sries, habilitao especfica de grau superior, ao nvel de graduao, representada por licenciatura de 1o grau, obtida em curso de curta durao; c) em todo o ensino de 1 e 2 graus, habilitao especfica obtida em curso superior de graduao correspondente a licenciatura plena. 1 Os professores a que se refere a letra "a" podero lecionar na 5 e 6 sries do ensino de 1 grau se a sua habilitao houver sido obtida em quatro sries ou, quando em trs, mediante estudos adicionais correspondentes a um ano letivo que incluiro, quando for o caso, formao pedaggica. 2 Os professores a que se refere a letra "b" podero alcanar, no exerccio do magistrio, a 2 srie do ensino de 2 grau mediante estudos adicionais correspondentes no mnimo a um ano letivo.

    1 Revogada na promulgao da Lei n 9.394, em 20 de dezembro de 1996.2 Art. 5, 3: exposto na citao acima; Art. 10 Pargrafo nico: Ser instituda obrigatoriamente a Orientao Educacional, incluindo aconselhamento vocacional, em cooperao com os professores, a famlia e a comunidade.3 Art. 11, 1: Os estabelecimentos de ensino de 1 e 2 graus funcionaro entre os perodos letivos regulares para, alm de outras atividades, proporcionarem estudos de recuperao aos alunos de aproveitamento insuficiente e ministrar, em carter intensivo, disciplinas, reas de estudo e atividades planejadas com durao semestral, bem como desenvolver programas de aperfeioamento de professores e realizar cursos especiais de natureza supletiva. 4 As habilitaes especficas eram os requisitos ao exerccio da docncia nos respectivos nveis de ensino, neste caso a exigncia do magistrio do 2 grau.

  • 3 Os estudos adicionais referidos aos pargrafos anteriores podero ser objeto de aproveitamento em cursos ulteriores.

    Estas exigncias revelam o princpio de uma poltica de preocupao com a

    formao do corpo docente. visvel que quanto mais alto o nvel de ensino a ser

    ministrado, maior a exigncia de qualificao.

    Por outro lado, a legislao indica que a admisso de professores deve ser feita

    mediante concurso pblico (com provas e diplomas). Como explicar a persistncia de

    professores contratados temporariamente sem concurso pblico? Os dados do final dos

    anos 1970, em So Paulo, indicam que 2/3 dos professores eram contratados

    temporariamente (SOUZA, 1996). As disposies transitrias (artigo 77) possibilitam a

    contratao de professores em carter suplementar e precrio e estabelecem os critrios,

    assim, o legislador assume a noo de que trabalho temporrio suplementar e

    precarizado.

    Quando a oferta de professores, legalmente habilitados, no bastar para atender s necessidades do ensino, permitir-se- que lecionem, em carter suplementar e a ttulo precrio: a) no ensino de 1 grau, at a 8 srie, os diplomados com habilitao

    para o magistrio ao nvel da 4 srie e 2 grau;b) no ensino de 1 grau, at a 6 srie, os diplomados com habilitao para o magistrio ao nvel da 3 srie de 2 grau; c) no ensino de 2 grau, at a srie final, os portadores de diploma relativo licenciatura de 1 grau. Pargrafo nico. Onde e quando persistir a falta real de professores, aps a aplicao dos critrios estabelecidos neste artigo, podero ainda lecionar: a) no ensino de 1 grau, at a 6 srie, candidatos que hajam concludo a 8 srie e venham a ser preparados em cursos intensivos;b) no ensino de 1 grau, at a 5 srie, candidatos habilitados em exames de capacitao regulados, nos vrios sistemas, pelos respectivos Conselhos de Educao; c) nas demais sries do ensino de 1 grau e no de 2 grau, candidatos habilitados em exames de suficincia regulados pelo Conselho Federal de Educao e realizados em instituies oficiais de ensino superior indicados pelo mesmo Conselho.

    Porm, pode-se constatar que a excepcionalidade se tornou regra, pois, tendo como

    exemplo o estado de So Paulo, quase 41%5 professores de sua rede pblica de ensino, em

    fevereiro de 2009, eram temporrios.

    Tambm permitido que no havendo oferta de docentes licenciados para suprir as

    necessidades do ensino os profissionais diplomados em outros cursos de nvel superior

    podero ser registrados no Ministrio da Educao e Cultura, mediante complementao

    de seus estudos, na mesma rea ou em reas afins.

    5 So cerca de 80 mil os temporrios, num total de 200 mil professores. Fonte: SEE-SP CIE Centro de Informaes Educacionais. Fevereiro 2009

  • O acesso a uma carreira um direito do professor, entretanto a legislao delega

    para as leis complementares a organizao de estatutos do magistrio, adiando o exerccio

    deste direito (artigo 36). (...) Cada sistema de ensino, haver um estatuto que estrutura a

    carreira de magistrio de 1 e 2 graus, com acessos graduais e sucessivos,

    regulamentando as disposies especficas da presente Lei e complementando-as no

    quadro da organizao prpria do sistema.

    Se a carreira um direito, os salrios esto vinculados qualificao profissional,

    aos diplomas, aos programas de aperfeioamento (artigo 38): os sistemas de ensino devem

    fixar a remunerao dos professores e especialistas de ensino de 1 e 2 graus, tendo em

    vista a maior qualificao em cursos e estgios de formao, aperfeioamento ou

    especializao, sem distino de graus escolares em que atuem. possvel que aqui

    esteja um princpio de piso salarial para a classe docente, afirmado na LDB de 1996.

    CONSTITUIO FEDERAL DE 1988

    A Constituio Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, estabeleceu um

    regime normativo e poltico, plural e descentralizado, no qual novos mecanismos de

    participao social se articularam com um modelo institucional que ampliou o nmero de

    sujeitos polticos capazes de tomar decises. Esta nova configurao exigiu uma

    compreenso mtua entre os entes federativos, e a participao sups a abertura de espaos

    pblicos de deciso.

    Em seu Ttulo VIII Da ordem social, Captulo III Da Educao, da Cultura e do

    Desporto, Seo I Da Educao, apresenta dez artigos que normatizam os princpios

    educacionais.

    A atuao do professor neste novo contexto tambm pressupunha uma maior

    participao em outros espaos alm da sala de aula.

    No texto desta Lei, o docente deve exercer seu trabalho dentro das seguintes bases

    do artigo 206.: II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a

    arte e o saber; III - pluralismo de idias e de concepes pedaggicas; V - valorizao

    dos profissionais da educao escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira,

    com ingresso exclusivamente por concurso pblico de provas e ttulos, aos das redes

    pblicas; VI - gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei; VII - garantia de

    padro de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da

    educao escolar pblica, nos termos de lei federal. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

  • Neste artigo tem-se expressa uma concepo de professor que possui autonomia

    quanto a sua metodologia de ensino e suas idias e concepes pedaggicas. Participa na

    elaborao do projeto pedaggico da escola, atravs da gesto democrtica. Deveriam ser

    garantidos planos de carreiras, um piso salarial nacional e ingresso atravs de concursos

    pblicos nas redes pblicas, como forma de valorizar estes profissionais. Os docentes, em

    contrapartida, deveriam garantir a qualidade da educao. Mas de que qualidade a Lei se

    refere? Segundo Enguita (1991), pode-se compreender diferentemente a noo de

    qualidade dependendo do ato de observao, para a famlia qualidade aprendizagem; para

    o governante qualidade relao custo/benefcio; para os professores autonomia no

    trabalho. A qualidade educacional, na perspectiva das polticas pblicas era condicionada

    pela proporo do produto interno bruto ou do gasto pblico dedicado educao, custo

    por aluno, nmero de alunos por professor, durao da formao ou nvel salarial dos

    professores, etc. Porm, a partir deste perodo, o que se observa so estes princpios

    substitudos pela eficcia do processo: conseguir o mximo de resultado com o mnimo de

    custo. Assim, a educao adquire a lgica de mercado e da produo como se fosse uma

    empresa privada, pois necessita mostrar resultados que sejam comparveis

    internacionalmente.

    Uma das formas para se estabelecer um padro de qualidade nacional a

    proposio da elaborao das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) e a publicao dos

    parmetros curriculares nacionais (PCNs), criando uma base curricular mnima em toda a

    federao. Os PCNs para o ensino fundamental foram aprovados em 19986, existindo um

    conjunto de exemplares para 1 a 4 srie7, e outro para 5 a 8 srie8. Os parmetros

    6 Os PCN resultam de uma ao legtima, de competncia privativa do MEC e se constituem, em uma proposio pedaggica, sem carter obrigatrio, que visa melhoria da qualidade do ensino fundamental e o desenvolvimento profissional do professor. Contudo, a existncia de tal proposio no dispensa a necessidade de formulao de diretrizes curriculares nacionais, de acordo com a CF/88 e com a LDB Parecer CNE/CEB n 18/98, que institui os Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental; Parecer CNE/CEB n 04/98 e Resoluo CNE/CEB n 02/98 - Instituem as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.7 Volume 1 - Introduo aos Parmetros Curriculares Nacionais; Volume 2 - Lngua Portuguesa; Volume 3 Matemtica; Volume 4 - Cincias Naturais; Volume 5 - Histria e Geografia; Volume 6 Arte; Volume 7 - Educao Fsica; Volume 8 - Apresentao dos Temas Transversais e tica; Volume 9 - Meio Ambiente e Sade; Volume 10 - Pluralidade Cultural e Orientao Sexual.8 Volume 01 - Introduo aos PCNs; Volume 02 - Lngua Portuguesa ; Volume 03 - Matemtica ; Volume 04 - Cincias Naturais; Volume 05 - Geografia; Volume 06 - Histria; Volume 07 - Arte ; Volume 08 - Educao Fsica; Volume 09 - Lngua Estrangeira; Volume 10.1 - Temas Transversais - Apresentao; Volume 10.2 - Temas Transversais - Pluralidade Cultural; Volume 10.3 - Temas Transversais - Meio Ambiente; Volume 10.4 - Temas Transversais - Sade; Volume 10.5 - Temas Transversais - Orientao Sexual.

  • curriculares para o ensino mdio foram aprovados em 19989 e, em 1999, foram lanadas

    suas publicaes10.

    Outra maneira de se instituir a qualidade foi a articulao entre os entes federados

    proposta pela Constituio com os fins de organizar os sistemas de ensino federal,

    estaduais/Distrito Federal e municipais, e que estes sistemas seriam colaborativos entre si.

    Entretanto, como alerta Saviani (2008), no est claro no texto se a Constituio incumbiu

    exclusivamente Unio e aos estados elaborarem seus sistemas de ensino ou se os

    municpios tambm seriam responsveis por isso. E se seria um sistema nico nacional ou

    se seria cada ente federativo com seu respectivo sistema. No texto da LDB/96 este tema

    aparece de forma mais precisa ao definir que os municpios possuem autonomia para

    elaborar seus prprios sistemas de ensino, que ser aprofundado mais adiante neste texto.

    A Constituio props um conjunto de metas e aes em comum para todo o pas. E

    parti da elaborao de um plano nacional de educao plurianual que conduzisse a I -

    erradicao do analfabetismo; II - universalizao do atendimento escolar; III -

    melhoria da qualidade do ensino; IV - formao para o trabalho; V - promoo

    humanstica, cientfica e tecnolgica do Pas. Nesse sentido, que o Plano deveria

    estabelecer metas para a concretizao de uma poltica educacional com aes voltadas

    democratizao do ensino. O PNE foi promulgado em 2001, aps a elaborao da LDB/96.

    A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAO NACIONAL

    A Lei de Diretrizes e Bases da educao nacional, lei n 9.394, aps longa

    tramitao e disputa (1988 1996) entre a Cmara dos Deputados e o Senado, foi

    promulgada em 20 de dezembro de 1996. Apesar do texto aprovado no ter sido o

    elaborado em conjunto com a sociedade civil, expressa caractersticas do perodo da

    redemocratizao, com tentativas de abertura a uma maior participao da comunidade nas

    instncias educacionais. (SAVIANI, 2007; ARELARO, 2000)

    No incio do documento11 so explicitadas as bases nas quais o ensino dever ser

    ministrado, que se adquam ao artigo 206 da Constituio/88. So elas: I- igualdade de

    condies para o acesso e permanncia na escola; II- liberdade de aprender, ensinar,

    pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de idias e

    9 Resoluo CNE/CEB n 3, de 26 de junho de 1998, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais par o ensino mdio e os Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino mdio.10 Parte I - Bases Legais; Parte II - Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias; Parte III - Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias; Parte IV - Cincias Humanas e suas Tecnologias.11 Ttulo II Dos princpios e Fins da Educao Nacional, Art. 3.

  • de concepes pedaggicas; IV- respeito liberdade e apreo tolerncia; V-

    coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino; VI- gratuidade do ensino

    pblico em estabelecimentos oficiais; VII- valorizao do profissional da educao

    escolar; VIII- gesto democrtica do ensino pblico, na forma desta Lei e da legislao

    dos sistemas de ensino; IX- garantia de padro de qualidade; X- valorizao da

    experincia extra-escolar; XI- vinculao entre a educao escolar, o trabalho e as

    prticas sociais. (BRASIL, 1996, grifos nossos)

    Seguindo as orientaes da Constituio/88, nota-se o princpio da gesto

    democrtica, que exige a participao dos docentes na elaborao do projeto pedaggico

    da escola; a valorizao dos profissionais da educao, preocupando-se com a formao do

    quadro do magistrio; assim como, a garantia da qualidade, que se concretiza com a

    criao de um sistema nacional de avaliao. Neste artigo tem-se uma sntese dos pontos

    desenvolvidos no decorrer desta lei e, tambm, princpios que devero nortear as

    instituies de ensino.

    H nesta Lei a preocupao com a elaborao de um Plano Nacional de Educao12,

    em colaborao com os estados, Distrito Federal e municpios, que orientados pela

    presente Lei, dever estabelecer diretrizes e metas para a educao bsica. Porm, tal como

    a Constituio, no encaminha no sentido da criao de um sistema nacional de educao,

    e sim, na responsabilizao dos estados e municpios no provimento e gesto da educao.

    Este movimento inicia o processo de descentralizao, juntamente com o

    FUNDEF13, tornando responsabilidade dos estados a prioridade no oferecimento do ensino

    mdio14, e dos municpios no oferecimento do ensino fundamental.

    A descentralizao possibilitou certa autonomia aos estados e aos municpios,

    contudo, ao mesmo tempo ocorria o movimento de centralizao com a elaborao dos

    Parmetros Curriculares Nacionais e dos sistemas nacionais de avaliao (SAEB, ENEM,

    ENC)15. Ou seja, os estados e municpios poderiam organizar e gerir seus respectivos 12 Ttulo IV- Da organizao da Educao Nacional, Art. 9.13 Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio. Foi institudo pela Emenda Constitucional n 14, de 12 de setembro de 1996, e regulamentado pela Lei n 9.424 e pelo Decreto n 2.264, de 27 de junho de 1997, foi implantado em 1 de janeiro de 1998.14 Art. 10. Os Estados incumbir-se-o de: VI- assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino mdio.15 SAEB: Sistema de Avaliao da Educao Bsica, implantado em 1990, somente para a rede pblica do Ensino Fundamental, sendo avaliadas a 1, a 3, a 5 e a 7 sries e em trs reas: Portugus, Matemtica e Cincias, aplicado de dois em dois anos. A partir de 1995, as avaliaes passaram a se concentrar no final de cada ciclo de estudos, ou seja, na 4 e 8 sries do Ensino Fundamental e na 3 srie do Ensino Mdio. Em 2005 muda-se essa configurao, conforme estabelece a Portaria n. 931, de 21 de maro de 2005, o SAEB passa a ser composto por dois processos: a Avaliao Nacional da Educao Bsica (Aneb) e a Avaliao Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) (stio do INEP - www.inep.gov.br e www.pedagogiaemfoco.pro.br/esaeb.htm, visitados em 22 de janeiro de 2009 ).

  • sistemas, mas deveriam seguir os padres nacionais curriculares e passariam por avaliaes

    externas.

    Isto ocorre tambm se tratando do monitoramento do trabalho docente, no artigo

    12 da LDB, citando as incumbncias previstas para os estabelecimentos de ensino e,

    especificamente, no pargrafo IV, prev que estes devem velar pelo cumprimento do plano

    de trabalho de cada docente. Ou seja, devem fiscalizar a aplicao das normas nacionais.

    No artigo 13 so expostas as incumbncias docentes

    I- participar da elaborao da proposta pedaggica do estabelecimento de ensino; II- elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedaggica do estabelecimento de ensino;III- zelar pela aprendizagem dos alunos;IV- estabelecer estratgias de recuperao para os alunos de menor rendimento;V- ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, alm de participar integralmente dos perodos dedicados ao planejamento, avaliao e ao desenvolvimento profissional;VI- colaborar com as atividades de articulao da escola com as famlias e a comunidade. (BRASIL, 1996, grifos meus)

    O trabalho docente encontra-se caracterizado no apenas pelo ato de dar aulas, mas

    tambm pela participao na elaborao do projeto pedaggico das escolas; da vida da

    comunidade, instruindo-a e respondendo s suas demandas; e do acompanhamento dos

    estudos dos alunos, orientando-os e suprindo suas dificuldades especficas.

    Esta caracterizao do trabalho docente vincula-se s novas formas de organizao

    da gesto escolar da dcada de 1990. No intuito de promover a autonomia e democratizar

    os espaos escolares na tentativa de desvencilhar-se das administraes burocratizadas

    do perodo militar, o professor aparece como participante da elaborao da proposta de

    trabalho da escola e ponte entre a escola e a comunidade.

    A gesto escolar democrtica um dos princpios da LDB, e define-se pela

    participao dos profissionais da educao na elaborao do projeto pedaggico da

    escola e pela participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou

    equivalentes, previsto pelo artigo 14.

    A forma de organizao e trabalho dos docentes, assim como mencionado

    anteriormente, atingida diretamente pela formulao dos currculos.

    ENEM: Exame Nacional do Ensino Mdio. Iniciou-se em 1998, porm sua popularizao definitiva veio em 2004, quando o Ministrio da Educao instituiu o Programa Universidade para Todos (ProUni) e vinculou a concesso de bolsas em IES privadas nota obtida no Exame. (stio do INEP - http://www.inep.gov.br, visitado em 22 de janeiro de 2009)ENC: Exame Nacional de Cursos (ENC-Provo) foi um exame aplicado aos formandos, no perodo de 1996 a 2003, com o objetivo de avaliar os cursos de graduao da Educao Superior. (stio do INEP - http://www.inep.gov.br, visitado em 22 de janeiro de 2009)

  • Art. 26. Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996)

    Seus contedos seguiro as diretrizes expostas no artigo 27, sendo que o pargrafo

    III orienta que estes devem se voltar para o trabalho.

    O Ttulo VI desta legislao voltado exclusivamente para os profissionais da

    educao. Primeiramente, definiram-se os fundamentos e a formao mnima dos docentes

    para cada nvel de ensino. Em seguida, a necessidade do fornecimento de formao para os

    docentes em exerccio sem a formao mnima exigida, assim como a formao continuada

    para todos os professores.

    Para atuar na educao bsica os docentes devero ter formao em nvel superior,

    em curso de licenciatura, de graduao plena, em universidades e institutos superiores de

    educao, porm permitida a formao mnima oferecida em nvel mdio, na modalidade

    Normal, para o exerccio do magistrio na educao infantil e nas quatro primeiras sries

    do ensino fundamental16. Nestes cursos, ser exigido o mnimo de trezentas horas de

    estgio17.

    Os artigos 25 e 67 explicitam o que a Lei entende por condies de trabalho dos

    professores. Na LDB, o conceito utilizado como valorizao, que seria a garantia da

    relao adequada entre o nmero de alunos e o professor, a carga horria, as condies

    materiais do estabelecimento, a instaurao de um piso salarial profissional, o ingresso

    exclusivamente por concurso pblico de provas e ttulos, perodo reservado a estudos,

    planejamento e avaliao, includo na carga de trabalho. Vale-se ressaltar que ao abordar o

    plano de carreira, defende-se que a promoo pode ocorrer baseada na titulao e na

    avaliao do desempenho, ou seja, na meritocracia.

    O PLANO NACIONAL DE EDUCAO

    O Plano Nacional de Educao (PNE), lei n 10.172, de 09 de janeiro de 2001,

    assim como boa parte dos planos voltados educao, tem como principal foco a melhoria

    16 Est em tramitao um projeto de lei a ser apresentado ao Congresso Nacional pelo Ministrio da Educao que prev a obrigatoriedade da formao em nvel superior para todos os professores da educao bsica. (stio do MEC: www.portal.mec.gov.br, ltima visita em 11/11/2009)17 A carga horria mnima para realizao de estgio supervisionado para os cursos de licenciatura, graduao plena, subiu para quatrocentas horas, de acordo com a resoluo CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002.

  • da qualidade do ensino no pas. No decorrer de seu texto aborda alguns aspectos sobre os

    professores da educao bsica.

    Para assegurar que tal qualidade existisse, em seus diagnsticos, diretrizes e

    objetivos e metas, elaborou-se um panorama de como se encontrava cada nvel e

    modalidade de ensino e, em sequncia, critrios e aes a serem desenvolvidos. Dentro

    dessa perspectiva, existia uma preocupao com a formao dos professores e a

    valorizao do magistrio.

    Ao tratar-se da verificao da qualidade, o PNE seguiu as orientaes de avaliao

    estabelecidas pela LDB. Atravs desta lei, vinculou-se no mbito da Unio a

    responsabilidade de se avaliar o ensino em todos os nveis, compondo um sistema nacional

    de avaliao.

    A qualidade educacional estava condicionada, tambm, aos resultados do trabalho

    docente. Portanto, para que os professores tivessem condies de trabalho, sugeria-se o

    estabelecimento de um piso salarial e a elaborao de planos de carreira e estatutos do

    magistrio. Estabeleceram-se critrios de infra-estrutura mnima para a realizao de seu

    trabalho. Foram criados Parmetros Curriculares Nacionais com objetivo de suposta

    orientao para os professores. Porm, o que mais apresentou destaque ao longo desta Lei

    foi a preocupao referente qualificao dos docentes. Em diversas partes do plano

    apareceu a necessidade de possurem formao inicial e que se garantisse a formao

    continuada.

    Particular ateno dever ser dada formao inicial e continuada, em especial dos professores. Faz parte dessa valorizao a garantia das condies adequadas de trabalho, entre elas o tempo para estudo e preparao das aulas, salrio digno, com piso salarial e carreira de magistrio. (BRASIL, 2001, grifos nossos)

    Na educao infantil, o professor bastante citado, pois considerou-se que a

    infncia o perodo em que o ser humano desenvolve suas capacidades cognitivas e de

    socializao, portanto, se faz necessria a presena de profissionais especializados.

    Nos primeiros anos de vida, dada a maleabilidade da criana s interferncias do meio social, especialmente da qualidade das experincias educativas, fundamental que os profissionais sejam altamente qualificados. Nvel de formao acadmica, no entanto, no significa necessariamente habilidade para educar crianas pequenas. Da porque os cursos de formao de magistrio para a educao infantil devem ter uma ateno especial formao humana, questo de valores e s habilidades especficas para tratar com seres to abertos ao mundo e to vidos de explorar e conhecer, como so as crianas (BRASIL, 2001).

  • Nota-se, neste trecho, uma crtica aos cursos de Pedagogia com habilitao em

    educao infantil, sugerindo-se uma alterao curricular nestes cursos de nvel superior.

    Neste sentido, nos objetivos e metas, visava-seestabelecer um Programa Nacional de Formao dos Profissionais de educao infantil, com a colaborao da Unio, Estados e Municpios, inclusive das universidades e institutos superiores de educao e organizaes no-governamentais, que realize as seguintes metas: a) que, em cinco anos, todos os dirigentes de instituies de educao infantil possuam formao apropriada em nvel mdio (modalidade Normal) e, em dez anos, formao de nvel superior; b) que, em cinco anos, todos os professores tenham habilitao especfica de nvel mdio e, em dez anos, 70% tenham formao especfica de nvel superior (BRASIL, 2001, grifos nossos).

    Apesar de a LDB permitir que se lecione sem possuir formao em nvel superior

    na educao infantil e nas sries iniciais do ensino fundamental, este Plano estabelece a

    meta de que em cinco anos, ao menos, 70% do professores tenham essa formao.

    No ensino fundamental, ressaltava-se, tambm, a importncia de docentes

    qualificados garantidos pelos sistemas de ensino e programas de formao continuada.

    O ensino mdio, dentre os diferentes nveis de ensino, foi o que enfrentou maior

    crise referente sua organizao e objetivos. O plano buscou assegurar a criao de um

    programa emergencial de formao de professores, sobretudo nas reas de Cincias e

    Matemtica, que sofriam um dficit de docentes. Em relatrio18 realizado pela CNE, em

    maio de 2007, atravs de levantamento de dados do INEP, constatou-se a necessidade da

    contratao de cerca de 235 mil professores. TABELA 1. Demanda hipottica de professores no Ensino Mdio, com e sem incluir o 2o ciclo do

    Ensino Fundamental, por disciplina, e nmero de licenciados entre 1990 e 2001.

    Disciplina Ensino Mdio Ensino Mdio + 2 Ciclo do EF

    N de Licenciados entre 1990 - 2001

    Lngua Portuguesa 47.027 142.179 52.829Matemtica 35.270 106.634 55.334Biologia 23.514 55.231 53.294Fsica 23.514 55.231 7.216Qumica 23.514 55.231 13.559Lngua Estrangeira 11.757 59.333 38.410Educao Fsica 11.757 59.333 76.666Educao Artstica 11.757 35.545 31.464Histria 23.514 71.089 74.666Geografia 23.514 71.089 53.509TOTAL 235.135 710.893 456.947Fonte: CNE/CBE, 2007

    18 Escassez de professores no Ensino Mdio: Propostas estruturais e emergenciais. CNE/CBE, 2007.

  • Conforme mostra a tabela, necessita-se de 55 mil professores de Fsica, porm entre

    1990 e 2001, apenas se graduaram 7.216 professores nas licenciaturas de Fsica, e dado

    semelhante ocorre com as disciplinas de Qumica, Matemtica e Biologia.

    No item Magistrio da Educao Bsica, seus objetivos e metas de 5 (cinco) a 28

    (vinte e oito) abordam unicamente a formao dos profissionais da educao. Dentre eles

    est previsto: o mapeamento dos professores do territrio nacional; estabelecimento de

    diretrizes e parmetros curriculares para as instituies de ensino superior; ampliao do

    oferecimento de cursos regulares noturnos nas instituies de ensino superior pblicas, e

    cursos modulares de licenciatura plena que facilitem o acesso dos docentes em exerccio

    formao nesse nvel de ensino; garantia que dentro de dez anos os professores da

    educao bsica possuam formao adequada; ampliao da oferta de mestrado e

    doutorado na rea educacional; garantia de programas de formao continuada; criao de

    cursos profissionalizantes de nvel mdio destinados formao de pessoal de apoio para

    as reas de administrao escolar, multimeios e manuteno de infra-estruturas escolares,

    inclusive para alimentao escolar; e, o item 27, promover, em ao conjunta da Unio,

    dos Estados e dos Municpios, a avaliao peridica da qualidade de atuao dos

    professores, com base nas diretrizes (...), como subsdio definio de necessidades e

    caractersticas dos cursos de formao continuada.

    Parece, de fato, haver uma preocupao com a qualificao dos professores, desde a

    formao inicial at a continuada e qui mestrado e doutorado. Entretanto, aumentam-se

    os meios de fiscalizao sobre o trabalho docente atravs dos sistemas nacionais de

    avaliao. No plano, isto camufla-se sob forma de averiguar a melhoria do aproveitamento

    dos estudantes e quais cursos de formao continuada necessitam os professores. Neste

    sentido, em sua meta 26, estabelecia

    assegurar a elevao progressiva do nvel de desempenho dos alunos mediante a implantao, em todos os sistemas de ensino, de um programa de monitoramento que utilize os indicadores do Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica e dos sistemas de avaliao dos Estados e Municpios que venham a ser desenvolvidos (Brasil, 2001).

    Como j estabelecido pela Constituio e pela LDB, a democratizao da gesto

    compe o trabalho dos docentes. No item Objetivos e Prioridades deste plano, defendia-

    se a participao dos profissionais da educao na elaborao do projeto pedaggico da

    escola assim como a participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares

    ou equivalente.

  • O Plano tambm possui um item exclusivo voltado Gesto, no qual sugeriu que os

    sistemas de ensino adotassem normas e diretrizes desburocratizantes e flexveis, para que

    se estimulassem iniciativas e aes inovadoras das instituies escolares.

    A gesto da educao e a cobrana de resultados, tanto das metas como dos objetivos propostos neste plano, envolvero comunidade, alunos, pais, professores e demais trabalhadores da educao (BRASIL, 2001, grifos nossos).

    Ainda tratando-se de gesto, essa abertura, que proporcionar a participao da

    comunidade em conselhos escolares, tambm prope o envolvimento da comunidade no

    auxlio da cobrana de resultados. Esta nova participao familiar e da comunidade se

    aprofunda com o lanamento do PDE/2007 (Plano de Desenvolvimento da Educao), que

    ser abordado ainda neste texto.

    Quanto s relaes e condies de trabalho do professores, o item Magistrio da

    Educao Bsica expe alguns aspectos de como so entendidos por este Plano.

    Logo a primeira meta defende que a remunerao dos docentes, mesmo

    estabelecendo-se um piso salarial e um plano de carreira, deve vincular-se ao mrito de

    cada professor, porm no fica explcito se por titulao ou por desempenho.

    Garantir a implantao, j a partir do primeiro ano deste plano, dos planos de carreira para o magistrio, elaborados e aprovados de acordo com as determinaes da Lei n. 9.424/96 e a criao de novos planos, no caso de os antigos ainda no terem sido reformulados segundo aquela lei. Garantir, igualmente, os novos nveis de remunerao em todos os sistemas de ensino, com piso salarial prprio, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educao, assegurando a promoo por mrito (BRASIL, 2001, grifos nossos).

    As metas de 2 (dois) a 4 (quatro), tratam da jornada de trabalho defende-se

    jornada integral, preferencialmente num nico estabelecimento de ensino, com carga

    horria entre 20% e 25% para preparao de aulas avaliaes e reunies pedaggicas e,

    implementao de planos de carreira.

    Ainda ao tratar da concepo de condies de trabalho, nos objetivos e metas dos

    trs nveis da educao bsica cita-se a adequao de padres mnimos nacionais de infra-

    estrutura para as instituies de ensino, no prazo de um ano.

    Isto inclui: a) espao, iluminao, insolao, ventilao, gua potvel, rede eltrica,

    segurana e temperatura ambiente; b) instalaes sanitrias e para higiene; mobilirio,

    equipamentos e materiais pedaggicos; c) espaos para esporte, recreao, biblioteca e

    servio de merenda escolar; adaptao dos edifcios escolares para o atendimento dos

    alunos portadores de necessidades especiais; d) instalao de laboratrios; e) atualizao e

    ampliao do acervo das bibliotecas incluindo material bibliogrfico de apoio ao professor

  • e aos alunos; f) equipamento didtico-pedaggico de apoio ao trabalho em sala de aula; g)

    telefone e servio de reproduo de textos; informtica e equipamento multimdia para o

    ensino.

    Este conjunto de especificaes bem abrangente e inovador, pois at ento no se

    encontrava na legislao o estabelecimento destes padres. Se as instituies cumprirem

    com estas exigncias, os professores tero condies de exercerem o seu trabalho em um

    local propcio.

    Por fim, para que se definissem padres mnimos de qualidade da aprendizagem na

    Educao Bsica, foi proposta a realizao de uma Conferncia Nacional de Educao, que

    envolvesse a comunidade educacional. Esta Conferncia, proposta pelo governo FHC,

    aconteceu em 200819, na segunda gesto do governo Lula.

    O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO

    Publicado em 07 de outubro de 2007, seis meses aps o lanamento oficial do PDE,

    o livro Razes, Princpios e Programas busca expor os ensejos norteadores desse Plano.

    Esta analise utilizar esta publicao para apresentar suas consideraes.

    O PDE, diferentemente da legislao anterior defende a organizao da educao

    atravs de um sistema nacional de educao. Porm esta defesa resume-se a uma viso

    sistmica da educao atravs de um regime de colaborao em que os estados e

    municpios sejam autnomos, entretanto, integrem ao sistema nacional de avaliao e ao

    sistema nacional de formao de professores. Ou seja, apesar de levantar a bandeira por um

    sistema nacional, na realidade, apenas reafirma o que j existia.

    Quanto concepo de professor, existe neste Plano a preocupao com a formao

    inicial e continuada do docente, destacando a importncia de que as universidades se

    voltem para a educao bsica. Defende que a melhoria da qualidade da educao bsica

    depende da formao de seus professores, o que ocorre diretamente das oportunidades

    oferecidas aos docentes. (p.10)

    19 A 1 Conferncia Nacional da Educao Bsica ocorreu entre os dias 14 e 18 de abril. Participaram gestores estaduais e municipais, conselhos de educao, representantes das Assemblias Legislativas e do Ministrio Pblico, pais, alunos e diversos outros setores do governo e da sociedade civil. Foram discutidas propostas relativas a cinco eixos temticos: Os Desafios da Construo de um Sistema Nacional Articulado de Educao; Democratizao da Gesto e Qualidade Social da Educao; Construo do Regime de Colaborao entre os Sistemas de Ensino, tendo como um dos instrumentos o financiamento da educao; Incluso e Diversidade na Educao Bsica e a Formao e Valorizao Profissional.

  • Neste sentido possui o item formao de professores e piso salarial nacional,

    dentro do ponto Educao Bsica, no qual afirma que um de seus principais pontos a

    formao de professores e a valorizao dos profissionais da educao. Lembra que esta

    a nica categoria profissional com o piso salarial nacional constitucionalmente assegurado.

    Portanto, defende a ampliao dos sistemas pblicos de formao de professores

    apoiando a Universidade Aberta do Brasil20 (UAB) e o Programa Institucional de Bolsas e

    Iniciao Docncia (PIBID).

    Explica que a UAB funciona atravs de acordos de cooperao estabelecidos entre

    estados e municpios e universidades pblicas.

    Ela dialoga com objetivos do PNE: Ampliar, a partir da colaborao da Unio, dos estados e dos municpios, os programas de formao em servio que assegurem a todos os professores a possibilidade de adquirir a qualificao mnima exigida pela LDB, observando as diretrizes e os parmetros curriculares e Desenvolver programas de educao a distncia que possam ser utilizados tambm em cursos semipresenciais modulares, de forma a tornar possvel o cumprimento da meta anterior. (p.17)

    J o PIBID oferece bolsas de iniciao docncia aos licenciados de cursos

    presenciais que se dediquem ao estgio nas escolas pblicas.

    A expectativa do Ministrio da Educao incentivar a carreira de magistrio nas reas com maior carncia de professores da educao bsica, como as de cincias e matemtica da quinta oitava sries do ensino fundamental e as de fsica, qumica, biologia e matemtica do ensino mdio. (stio do MEC21)

    Explica que a CAPES funcionar como agncia de fomento para a formao de

    professores de educao bsica, inclusive para dar escala a aes j em andamento.

    Em 28 de maio de 2009 foi lanado o Plano Nacional de Formao dos Professores

    da Educao Bsica22, com a inteno de formar, nos prximos cinco anos, 330 mil

    professores que atuam na educao bsica e ainda no so graduados. Fazem parte deste

    Plano noventa instituies de educao superior entre universidades federais,

    universidades estaduais e institutos federais envolvidas na oferta de cursos. Os cursos

    sero oferecidos tanto na modalidade presencial como a distncia, pela UAB.

    Haddad [atual ministro da educao] chama a ateno ao fato de que o plano nacional de formao de professores no tem a ver com as vagas ofertadas pelas universidades ou institutos federais em seu processo seletivo normal, nem com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (Reuni), j que

    20 Decreto n5.800, de 08 de junho de 2006.21 Stio do MEC: http://portal.mec.gov.br, ltimo acesso em 13/11/2009.22 Decreto 6755/2009, de 29/01/2009, que institui a Poltica Nacional de Formao de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica.

  • esses se referem formao de novos professores. S os 38 Institutos Federais tero que investir, para alm do plano nacional de formao, R$ 500 milhes por ano na formao de licenciados em fsica, qumica, biologia e matemtica. J o Reuni aumentou em 120% as licenciaturas nas federais, destaca. (Stio do MEC23)

    Esta mobilizao em torno da formao de professores para a educao bsica

    vincula-se a meta da melhoria da qualidade educacional brasileira. Para garantir essa

    qualidade, assim como no Plano anterior, utiliza-se do sistema nacional de avaliao.

    At 2005, o Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB) era um exame,

    aplicado a cada dois anos, a uma amostra de alunos de cada estado, acompanhado de um

    questionrio. Depois disso, foi reformulado a partir da primeira avaliao universal da

    educao bsica pblica. Os dados do SAEB (Prova Brasil), antes amostrais, passam a ser

    divulgados tambm por rede e por escola. (BRASIL, 2007, p.19-20)

    O PDE cria um novo indicador de qualidade: o IDEB, que visa combinar os

    resultados de desempenho escolar (Prova Brasil) e os resultados de rendimento escolar

    (fluxo apurado pelo senso escolar) num nico ndice.

    Atravs dele sero divulgados resultados do desempenho de cada aluno e escola,

    assim fazendo um chamado comunidade para checar e cobrar melhorias. O recebimento

    de recursos e a assistncia tcnica sero condicionados ao cumprimento de metas

    estabelecidas em planos de ao com vistas elevao de seu resultado. O ndice apresenta

    as seguintes mdias: para o ensino fundamental (quatro sries iniciais) nota 3,8 (a meta

    proposta para daqui a 15 anos 6); para o ensino fundamental (quatro sries finais) nota

    3,5 (meta 5,5); e, para o ensino mdio nota 3,4 (meta 5,2).

    Tabela 2. IDEB 2005, 2007 e Projees para o Brasil

    Anos Iniciais do Ensino Fundamental

    Anos Finais do Ensino Fundamental

    Ensino Mdio

    IDEB Observado

    Metas IDEB Observado

    Metas IDEB Observado

    Metas

    2005 2007 2007 2021 2005 2007 2007 2021 2005 2007 2007 2021TOTAL 3,8 4,2 3,9 6,0 3,5 3,8 3,5 5,5 3,4 3,5 3,4 5,2

    Dependncia Administrativa Pblica 3,6 4,0 3,6 5,8 3,2 3,5 3,3 5,2 3,1 3,2 3,1 4,9Federal 6,4 6,2 6,4 7,8 6,3 6,1 6,3 7,6 5,6 5,7 5,6 7,0

    Estadual 3,9 4,3 4,0 6,1 3,3 3,6 3,3 5,3 3,0 3,2 3,1 4,9Municipal 3,4 4,0 3,5 5,7 3,1 3,4 3,1 5,1 2,9 3,2 3,0 4,8Privada 5,9 6,0 6,0 7,5 5,8 5,8 5,8 7,3 5,6 5,6 5,6 7,0

    Fonte: MEC (Saeb e Censo Escolar).

    23 Stio do MEC: http://portal.mec.gov.br, ltimo acesso em 13/11/2009.

  • Como se observa na tabela 2, acima, tanto o ensino fundamental quanto o ensino

    mdio ultrapassaram a meta prevista, na mdia nacional, em 2007.

    Nota-se que os mecanismos de incentivo a participao dos pais e da comunidade

    fazem parte de um sistema de gesto baseado na cobrana de resultados, em medidas de

    prestao de contas ou responsabilizao (accountability).

    Como advertem Adrio e Garcia (2008), o que se pretende introduzir na gesto

    pblica mecanismos que permitam aos usurios e gestores responsabilizar os prestadores

    de determinado servio (no caso, os professores) por aquilo que oferecido sociedade.

    Os exemplos variam da criao de ouvidorias adoo de mecanismos de premiao ou

    punio s instituies-fim, gestores pblicos ou funcionrios que no tenham atingido o

    padro estabelecido neste caso, com o intuito de constituir um quase-mercado24.

    Como exposto no captulo anterior, o que gere as metas do PDE o Plano de Metas

    Compromisso Todos pela Educao, composto por 28 diretrizes que o orientam.

    As que merecem destaque esto presentes no segundo bloco de metas, que se refere

    ao trabalho docente. Meta XII- Programa prprio ou em colaborao para formao continuada e inicial de profissionais da educao; Meta XIII- Plano de carreira, cargos e salrios, privilegiando mrito, formao e avaliao do desempenho; Meta XIV- Valorizar o mrito do trabalhador em educao, representado pelo desempenho eficiente no trabalho, dedicao, assiduidade, pontualidade, responsabilidade, realizao de projetos e trabalhos especializados, cursos de atualizao e desenvolvimento profissional; Meta XV- Dar conseqncia ao perodo probatrio, tornando o professor efetivo aps avaliao, de preferncia externa ao sistema educacional local; Meta XVI- envolver todos os professores na discusso e elaborao do projeto poltico pedaggico, respeitadas as especificidades de cada escola; Meta XVII- incorporar ao ncleo gestor da escola coordenadores pedaggicos que acompanhem as dificuldades enfrentadas pelo professor.25

    Esta poltica de bonificao e premiao favorece a um isolamento e a

    individualizao do trabalho do professor, tornando enfraquecido esse coletivo de

    trabalhadores. Como afirma Souza (2008),

    as propostas fundadas na centralidade da competio apontam para a descentralizao, para a padronizao dos mtodos e contedos, para o novo gerenciamento da escola, para a profissionalizao dos professores. Este gerenciamento impe aos professores a obrigao de resultados e inovaes, acompanhados de vasto movimento de avaliao. A profissionalizao se constitui, sobretudo, nas prescries sobre mtodos e nos processos de controle de qualidade dos servios. O que est em

    24 O que permanece na propriedade estatal mas passa a ter a lgica do mercado, reorganizando os processos de gesto, com a suposio de induzir melhorias. 25 Decreto n 6.094, de 24 de abril de 2007. Consulte https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm

  • discusso a organizao gerencial da escola que deve penetrar nas relaes pedaggicas e de trabalho. O gerir, organizar e medir parece colocar em segundo plano aquilo que fazia sentido escola: os professores com seu ofcio.

    O que pode ser observado ao se analisar a Lei 5.692/71, a Constituio Federal de

    1988, a LDB - Lei 9.394/96, o PNE/2001 e o PDE/2007, foi como a forma organizativa e

    de gesto alteraram o trabalho dos professores.

    Ao entrar em vigncia a Constituio Federal de 1988 e em seguida a LDB/96, a

    concepo de gesto democrtica ampliou o leque do que deveria ser ofcio dos docentes.

    O professor deixou de se responsabilizar exclusivamente pela sala de aula, seguido por um

    planejamento rgido e pautado por objetivos predefinidos (Saviani, 2007) e passou a

    contribuir na elaborao dos projetos pedaggicos das escolas, assim como servir de

    interlocutor entre famlia e escola.

    Com o PNE, as normativas da CF/88 e da LDB/96 ganham corpo em forma de

    aes e diretrizes compondo os mesmos fundamentos. Ressalta-se uma grande

    preocupao com a formao inicial e continuada dos professores, alertando-se que o

    aumento da qualidade da educao est diretamente vinculado qualificao docente. J se

    observava neste Plano a sugesto do aumento salarial atravs da meritocracia.

    O PDE entra em campo com uma campanha massiva pela participao de toda a

    sociedade civil na cobrana de uma educao de qualidade, incentivando-se as famlias a

    checarem os resultados das avaliaes de suas escolas, assim como a avaliao de cada

    sala de aula, de cada professor.

    Com o passar dos anos ampliaram-se as funes dos professores, assim como os

    meios de avaliao externa, num grande sistema da busca pelos resultados.

    2. CONSIDERAES FINAIS

    Atravs das polticas pblicas implementadas na rea da educao, v-se que a cada

    estgio de desenvolvimento das foras produtivas so formulados projetos de ensino

    correspondentes s suas demandas.

    O que se observa no movimento de reforma educacional, a partir da dcada de

    1970, o aumento gradativo da submisso da escola pblica s regulaes do mercado,

    incentivando formas gerenciais, promovendo uma racionalizao organizacional. Esta

    racionalizao gerencial, contraditoriamente, acontece mediante duas lgicas: a

    descentralizao e a centralizao das funes e responsabilidades educacionais (SOUZA,

    2001).

  • A pesquisa aponta que o ofcio de professor encontra-se num movimento no s de

    mudanas significativas, mas tambm de algumas permanncias. Os professores, de um

    lado, trabalham, na sua grande maioria, em contextos sociais precarizados, com estudantes

    que vivenciam a violncia da misria e do desemprego, habitam em espaos urbanos

    degradados, buscam renda no trfico de drogas; e de outro lado, as polticas educacionais

    colocam para eles a responsabilidade sobre os resultados escolares dos alunos. Essas

    questes colocam novos dilemas para a profisso, como responder s polticas

    educacionais que reforam no somente a meritocracia (performance) nas relaes de

    trabalho docente; mas tambm exigem a padronizao de resultados, seja dos docentes seja

    dos estudantes. O trabalho docente parece manter a noo de trabalho taylorizado, na

    dimenso em que o sistema de remunerao associado produo.

    Taylorizado tambm na dimenso em que o trabalho docente visto de maneira

    objetivada e operacional, pois se entende que, ao partir da execuo dos prescritos

    curriculares, o resultado previsto deve ser atingido automaticamente. Com isso, desloca-se

    o professor do eixo do processo educativo para a organizao e gesto do trabalho, isto ,

    para a individualizao dos processos, que podem ser mensurados, medidos, etc. J no

    mais o processo do trabalho pedaggico que se ajusta a seu ritmo, mas ele que se deve

    ajustar ao ritmo do processo pedaggico (SAVIANI, 2007).

    3. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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