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BONNEMAISON, J. Viagem em Torno do Território
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GARCIA, Antonia dos S. Mulher Negra e o direito à Cidade: relações raciais e de gênero / Las Mujeres Negras y el derecho a la ciudad: Las relaciones raciales y de género. In: SANTOS, R. E. Questões Urbanas e Racismo. Coleção negras e negros: pesquisas e debates. Rio de Janeiro / Brasília: ABPN, 2012.
O texto “Mulher Negra e o direito à Cidade: Relações raciais e de
gênero”, constitui-se de uma análise da realidade da mulher negra dentro das
cidades, considerando para efetivar esse debate, questões como, por exemplo,
históricas da construção da atual sociedade. A autora inicia o texto tomando
como premissas alguns fatores que tenham sido constituintes das realidades
sociais vigentes, como ideias eurocêntricas, etnocêntricas que fortaleceram o
pensamento hegemônico que durante a história colonialista se assimilaram a
outros contextos como o escravismo ou o neocolonialismo – imperialista,
vinculando ao negro, inclusive a mulher negra, uma subalternidade histórica,
espacial, cultural e social.
Outros fatores ainda compõem esse debate, por exemplo, o sexismo,
dominação de gênero e o racismo, que incutem mais subalternidade e exclusão
as mulheres negras, esse sistemas constituídos historicamente lançam outros
desafios, como a composição de uma sociedade patriarcal, sexista, masculina,
simbolicamente dividida, com papéis fixos entre homens e mulheres. Para
entender esses fenômenos e transformá-los, grupos de teóricos, feministas,
antirracistas, etc.. Tem surgido para debater e constituir novas formas de
pensamento, que possam ser capazes de compreender e aprimorar essas
realidades sociais.
O papel da autora do texto é tentar compreender esses processos de
dominação e exclusão da mulher negra dentro dos espaços urbanos, tomando
como exemplo Salvador, que é historicamente um dos maiores centros urbanos
no Brasil, composto majoritariamente de negros. Entretanto ser historicamente
composto em sua maioria de negros, não significa que o negro em Salvador
tenha se tornado um ser social, participativo e constitutivo da urbanidade
baiana.
No Brasil esse processo de exclusão e subalternidade tornou-se mais
concentrado dentro dos processos de branqueamento do final do século XIX e
inicio do Século XX e o processo imigratório, ao construir o ideal republicano, a
ideia de democracia racial da elite branca, proporcionou uma exclusão desses
grupos historicamente marginalizados, entre a construção de todo esse
processo histórico da sociedade brasileira, restou ao negro à exclusão e a
marginalização, mas essa marginalização do negro tornou-se física, social,
econômica, cultural e principalmente espacial, e durante todo nosso processo
de construção nacional foi reforçado pela dominação das elites brancas, que
continuaram deixando o negro à margem dos processos vigentes da nação.
Uma análise da atual sociedade nos permite dizer, segundo os dados
apresentados no texto, que a sociedade em sua totalidade presenciou uma
mudança, hoje na atualidade essa sociedade é composta em sua maioria de
negros e principalmente de mulheres, entretanto ainda que os negros sejam a
maioria, eles constituem o grupo étnico em maior desvantagem, os negros
ainda fazem parte da mais baixa escala social, mantidos ainda a margem dos
contextos urbanos, morando em favelas e outros conjuntos habitacionais de
péssima qualidade, comparados aos brancos.
Essa realidade dos brancos não se modificou ao longo do processo
histórico do Brasil, e isso se revela através dos dados, que nos permitem
analisar que o negro compõe ainda a “margem” habitacional, social e
econômica do Brasil contemporâneo.
Isso ficou claro principalmente ao lugar do negro nos espaços, sempre
lhe foi atribuído à margem, à senzala, às favelas, o que a autora chama de o
oposto dos lugares pertencentes aos brancos, que sempre fazem parte das
melhores composições Urbanas, ou tornam-se os donos reais das cidades.
Para exemplo dessas realidades toma-se novamente Salvador, cidade
negra, onde os negros em sua grande maioria foram colocados à margem do
contexto urbano, a isso podemos constituir um processo que a autora
denomina como desafricanização das cidades em favor de uma europeização
que acaba novamente instituindo uma segregação étnica- racial e sexista nas
cidades.
Nesse recorte territorial, a segregação serviu como uma negação da
presença dos negros, uma marginalização e invisibilidade desses grupos.
Construiu uma sociedade que nega a presença dos negros inclusive nas
composições urbanas, permitindo a esses grupos, inclusive as mulheres os
piores trabalhos, salários e locais de moradia.
É o que se pode observar no tópico – Salvador cidade das mulheres
negras: com subcidadania? - nessa parte do texto a autora revela uma
observação aprofundada das composições espaciais da cidade mais negra do
Brasil, onde demonstra que ainda que seja uma cidade constituída
basicamente de uma população predominantemente de negros, esses mesmos
estão excluídos, imbuídos apenas de atividades remuneradas precárias,
recebendo a pior remuneração possível em comparação aos brancos
minoritários da cidade e ocupando os espaços marginais do meio urbano,
entretanto essa característica de exclusão e subcidadania atribuída aos negros
não é especificidade única da cidade baiana, é uma realidade do processo
perverso e histórico que foi construído no Brasil, o qual reproduziu uma forma
desigual de distribuição e igualdade de renda.
Ao longo do texto, a narrativa se desdobra nas atividades exercidas
pelas negras, que em sua maioria ainda são de péssima qualidade, cargos de
subalternidade e exclusão social, relatando a gigantesca desigualdade
existente no Brasil, principalmente para a mulher negra em cidades
metropolitanas, demonstrando que essa realidade ainda é macro - regional.
O que se pode constatar é que a mulher negra sofre os piores casos de
descriminação, de desigualdades espaciais, de pobreza e sexismo, esses
fatores reafirmam processos constituídos no Brasil, que intensificam a
segregação urbana, atribuindo os piores locais da cidade para as mulheres
negras, como no caso especificado de Salvador.