29
ALINE CELESTINO BAPTISTÃO MULHERES DEPRIMIDAS: A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES Monografia apresentada à Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo como requisito parcial à conclusão do Curso de Especialização em Dependência Química. SÃO PAULO 2012

MULHERES DEPRIMIDAS: A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Monografia de Conclusão de Curso de Especialização em Dependência Química UNIAD/ UNIFESP da Psicóloga Aline Celestino Baptistão.

Citation preview

Page 1: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

ALINE CELESTINO BAPTISTÃO

MULHERES DEPRIMIDAS:

A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E

DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Monografia apresentada à Unidade de

Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) –

Departamento de Psiquiatria da Universidade

Federal de São Paulo como requisito parcial à

conclusão do Curso de Especialização em

Dependência Química.

SÃO PAULO

2012

Page 2: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

ALINE CELESTINO BAPTISTÃO

MULHERES DEPRIMIDAS:

A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E

DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Monografia apresentada à Unidade de

Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) –

Departamento de Psiquiatria da Universidade

Federal de São Paulo como requisito parcial à

conclusão do Curso de Especialização em

Dependência Química.

Orientador: Claudio Jerônimo da Silva

SÃO PAULO

2012

Page 3: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

SUMÁRIO

Lista de Tabelas..................................................................................................iii

Lista de Ilustrações.............................................................................................iv

Resumo................................................................................................................v

1 – INTRODUÇÃO...............................................................................................1

1.1 – Síndrome de dependência de álcool em mulheres.....................................2

1.2 – Depressão...................................................................................................4

1.2.1 – Aspectos Gerais.......................................................................................4

1.2.2 – Características Clínicas...........................................................................6

1.2.3 – Classificação Diagnóstica........................................................................6

2 – MÉTODO.......................................................................................................9

2.1 – Base de Dados...........................................................................................9

2.2 – Seleção de estudos....................................................................................9

2.2.1 – Elegibilidade.............................................................................................9

2.3 – Artigos selecionados...................................................................................9

3 – RESULTADOS.............................................................................................11

4 – DISCUSSÃO................................................................................................15

5 – CONCLUSÃO..............................................................................................19

6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................20

Page 4: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

LISTA DE TABELAS

TABELA1: Relação de beber pesado episódico vs padrão de consumo de bebidas no

ano anterior ao estudo comparado a gênero dos participantes.

TABELA 2: Relação de quantidade de doses, frequência e beber de risco comparado

ao gênero dos participantes.

Page 5: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 1: Associação entre beber pesado episódico e co-morbidades psiquiátricas

Page 6: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

RESUMO

Embora haja poucos estudos na área, constatou-se nos últimos anos o

constante e significativo aumento do abuso e dependência de substâncias

alcoólicas entre a população feminina. O problema se agrava quando além da

dependência a mulher passa a desenvolver outros problemas associados como

a presença de sintomas depressivos. Objetivos: Analisar a relação entre

depressão e abuso e ou dependência de álcool em mulheres e os fatores

associados. Método: Foi realizada uma revisão de literatura médica e

psicológica referente à relação entre depressão e dependência de álcool em

mulheres durante os meses de janeiro de 2009 a maio de 2012. Resultados: A

incidência de mulheres que fazem abuso ou dependência de álcool está

aumentando consideravelmente durante os últimos anos. Pesquisadores

apontam que esse aumento tende a se equiparar com o índice masculino em

poucos anos. Muitos fatores como idade, influência de familiares, condições

financeiras e presença de transtornos psiquiátricos contribuem para esse

aumento. Depressão é o quadro mais frequente nessas mulheres e está

associado a muitos fatores também como idade, condições financeiras,

violência doméstica entre outros. Alguns autores apontam também para a

importância do desempenho dos papéis sociais, os quais contribuem para a

condição de fragilização da mulher e, consequentemente, para o surgimento de

sintomas depressivos. Conclusão: Mesmo havendo poucos estudos, é

possível verificar a forte relação entre depressão e dependência de álcool em

mulheres. Fatores biológicos, psicológicos e sociais estão diretamente

relacionados a presença de sintomas depressivos e abuso de álcool. Mais

pesquisas sobre o assunto serão de fundamental importância para auxiliar

profissionais da saúde na identificação dos sintomas, construção de técnicas e

intervenções específicas e facilitação ao acesso à assistência a saúde.

Palavras-chaves: Dependência de Álcool; Abuso de Álcool; Mulher;

Depressão.

Page 7: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

1 – INTRODUÇÃO

O aumento do consumo de álcool entre mulheres é um importante

desafio aos profissionais da área da saúde. A falta de pesquisas direcionadas

ao abuso de álcool nessa população impede a construção de métodos e

intervenções específicas, além da implantação de serviços especializados.

A dificuldade de mapear os fatores associados ao beber excessivo se dá

não só pela falta de pesquisas na área, mas também pela inacessibilidade da

mulher ao tratamento, já que a maioria das mulheres tende a minimizar o

problema devido ao preconceito imposto pela sociedade e vergonha de se

admitir fragilizada.

Com o aumento do número de mulheres que abusam de álcool, nota-se

também o surgimento de sintomas depressivos relatados por essas. Desse

modo, além dos prejuízos clínicos causados pelo álcool, a mulher também está

mais suscetível a sofrer devido aos sintomas da depressão.

De acordo com diversos estudos, as mulheres tendem a desenvolver

mais sintomas depressivos se comparadas aos homens. Para Edwards e

Marshall (2005), “a depressão é mais comum em mulheres que bebem e em

bebedores-problema com certos traços” como histórico familiar de abuso de

álcool, início precoce do beber pesado episódico, ou histórico de ansiedade,

uso de drogas, entre outros.

Sendo assim, o presente estudo tem por objetivo avaliar essa relação

entre álcool e depressão em mulheres, bem como analisar os possíveis fatores

desencadeantes. Em análise a pesquisas realizadas em janeiro de 2009 a maio

de 2012, identificou-se diversos fatores que podem estar diretamente ligados à

dependência e sintomas depressivos em mulheres.

Conhecer a dependência de álcool em mulheres e seus problemas

associados contribui para a elaboração de terapêuticas capazes de trabalhar

demandas especificas, assim como diminuir a incidência de abuso e facilitar o

acesso da mulher ao tratamento.

Page 8: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

1.1 – Síndrome de Dependência de álcool em mulheres

Sabe-se que o uso abusivo de álcool é e sempre foi mais frequente entre

os homens. Em diversas culturas as mulheres consomem a substância,

geralmente, em dose e frequência menores que os homens. (EDWARDS e

MARSHALL, 2005).

Muitos estudos se propuseram a comparar o consumo de álcool ao

gênero dos participantes e constataram uma significativa diferença de padrão

de uso e quantidade. Um importante levantamento sobre esse comparativo foi

demonstrado pelo I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas no Brasil realizado pelo CEBRID em 2001, o qual constatou

haver cerca de 5,7% de mulheres que possuem dependência de álcool se

comparados com 17,1% dos homens. Segundo a pesquisa, essa diferença

tende a se nivelar no futuro. (BORDIN, FIGLIE E LARANJEIRAS, 2004).

Edwards e Marshall (2005), pontuaram que os fatores sociais e culturais

ainda exercem grande influência quanto ao padrão do beber e a quantidade

ingerida. Em geral as mulheres consomem quantidades menores se

comparadas aos homens, entretanto, são mais expostas a julgamentos

preconceituosos, sendo questionadas de seus papéis de mãe, esposa, e sendo

dadas à promiscuidade sexual. (EDWARDS e MARSHALL, 2005). Tais

exposições tendem a dificultar a procura por tratamento:

as mulheres tendem a não ver a bebida como seu principal problema, apresentando-se nos serviços de saúde com queixas sobre problemas de saúde e psicossociais correlacionados, tais como depressão. (p. 158)

Outras questões que também interferem diretamente na procura pelo

tratamento podem estar relacionadas às necessidades básicas como moradia,

alimentação, creches para os filhos e até mesmo medo de perder a guarda dos

filhos devido aos problemas gerados pela dependência.

Essas questões também podem estar ligadas aos problemas do

consumo excessivo de álcool. Edwards e Marshall (2005), inferem que a

dependência ou abuso de álcool estão de alguma forma relacionados a fatores

Page 9: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

biológicos, psicológicos e sociais, sendo esses muito importantes na

construção do projeto terapêutico.

Questões como baixa autoestima, desemprego e problemas no

relacionamento são encontrados com frequência nos relatos de mulheres que

fazem abuso de bebidas. Outros importantes fatores como influência do beber

por parte do parceiro, situações como abuso sexual na infância e violência nos

relacionamentos também são de grande significância. O uso de outras

substâncias psicoativas também é relevante para a instalação do

comportamento de beber.

Fatores como idade e fases da vida também podem apresentar riscos

para o beber excessivo. Estudos recentes apontam que o índice de mulheres

consumidoras de álcool e a precocidade do consumo vêm aumentando

consideravelmente. O V Levantamento Sobre Drogas Psicotrópicas Entre

Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Publica de Ensino nas 27

Capitais Brasileiras (CARLINI, FONSECA, NOTO e GALDURÓZ, 2004),

constatou que a idade média do primeiro uso de álcool na vida é de 12,5 anos.

Conforme Edwards e Marshall (2005), o abuso de álcool entre mulheres

abaixo de 25 anos está associado à independência financeira, influência do

grupo, maior tolerância para com o beber e maiores oportunidades para o

beber. O comportamento de beber também pode ser alterado em mulheres

entre 20 e 40 anos, sendo a infertilidade, término do casamento e doenças

físicas possíveis fatores. Entre os 40 e 60 anos, os padrões do beber são

influenciados por desemprego, saída dos filhos de casa e privações. Já na

terceira idade, problemas como depressão, solidão e viuvez aumentam o risco

de desenvolver complicações relacionadas ao consumo abusivo de álcool.

Os autores também relacionam o processo de metabolização do

álcool aos prejuízos físicos associados ao consumo. Embora na maioria das

vezes o consumo tenha início tardio, as complicações físicas costumam surgir

precocemente: “doenças hepáticas, cardiomiopatia, miopatia e lesão cerebral”

(EDWARDS e MARSHALL, 2005). Câncer de mama, infertilidade, diminuição

da libido, menopausa precoce e problemas ginecológicos também são alguns

dos problemas relacionados ao consumo abusivo de álcool.

As co-morbidades psiquiátricas são apresentadas tanto em homens e

mulheres que fazem abuso de álcool, no entanto, segundo Wolle e Zilberman

Page 10: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

(2011, apud Diehl et al., 2011), as mulheres são as que mais desenvolvem

transtornos psiquiátricos se comparados aos homens. Segundo as mesmas,

“tanto meninas como mulheres são mais propensas a ter transtornos

psiquiátricos primários com dependência de substâncias secundárias” (p. 377).

Para Edwards e Marshall, (2005) transtornos de ansiedade, transtorno

alimentar e transtorno de personalidade borderline são observados em maiores

índices em mulheres. O risco de suicídio se comparado a mulheres sem

problemas com o álcool também é significativo nessa população. Tal incidência

pode ser relacionada aos comportamentos impulsivos, os quais por sua vez,

são muito comuns em pacientes com quadros de depressão.

O Transtorno Depressivo é a co-morbidade mais frequente em casos de

mulheres que desenvolvem a dependência ao álcool; muitas vezes o transtorno

é diagnosticado anteriormente a Síndrome de Dependência. Contudo, apontam

Cordeiro e Diehl (2011), para um diagnóstico preciso, o profissional deve estar

ciente de que o álcool produz sintomatologia semelhante à da depressão e,

desse modo, deve ser realizado após período mínimo de abstinência.

1.2-Depressão

1.2.1 – Aspectos Gerais

Atualmente, a Depressão é uma das doenças que mais cresce entre a

população geral. Estima-se que nas próximas décadas os índices de pessoas

portadoras de transtornos depressivos seja suficiente para alterar as condições

e necessidades da saúde pública mundial. (BAHLS, 2005)

O termo depressão, segundo Del Porto (1999), é comumente utilizado

para identificar um estado afetivo normal (tristeza) ou um sintoma, uma

síndrome ou uma doença. Os sentimentos de tristeza podem ser considerados

uma resposta a situações de perda, derrota, etc. Em casos de luto, é comum

observarmos sentimentos de profunda tristeza, angustia e muitas vezes culpa

focal. Em situações de luto normal, o indivíduo pode apresentar tais

Page 11: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

comportamentos até por um ou dois anos “devendo ser diferenciadas dos

quadros depressivos propriamente ditos.” (DEL PORTO, 1999).

Os sintomas depressivos podem aparecer em diferentes quadros

clínicos como transtorno de estresse pós-traumático, esquizofrenia, alcoolismo,

doenças clínicas, etc.; também podem surgir como respostas a eventos e

situações estressantes. Já nas síndromes, a depressão inclui não só alterações

do humor como tristeza e irritabilidade, por exemplo, mas como também

alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas. (DEL PORTO, 1999)

Com relação à idade média para o surgimento da depressão, considera-

se ser por volta dos 25 anos, mas já há estudos que apontam para a

precocidade do surgimento da depressão. De acordo com Bahls (2005),

inúmeras pesquisas demonstram que as mulheres apresentam mais episódios

depressivos se comparadas aos homens. Essa diferenciação no gênero pode

estar relacionada não só aos fatores socioculturais e psicológicos, mas também

genéticos: é possível haver “participação da etiologia da doença no

cromossomo X e dos hormônios gonadais” (Kaplan, Sadock & Grebb, 1994,

apud Bahls, 2005).

Estima-se que cerca de 50 a 60% dos casos de depressão não são

detectados pelo médico clinico, como consequência, esses pacientes recebem

o diagnóstico tardiamente, quando a doença já está em nível considerado de

evolução (FLECK, LAFER, et. al, 2009). Isso explica o alto índice de suicídio e

ideação suicida em pacientes com diagnóstico depressivo. Em situações de

risco elevado, sugere-se internação hospitalar para preservar a integridade

física e psicológica do paciente. Em casos de uso de substâncias psicoativas e

outras co-morbidades psiquiátricas associadas, o risco tende a elevar (FLECK,

LAFER, et. al, 2009).

O tratamento quando diagnosticado precocemente é considerado eficaz,

no entanto, não se pode inferir que não há tratamento adequado ou assertivo

quando na gravidade da doença. Atualmente há muitos instrumentos capazes

de atuar diretamente nos sintomas depressivos e minimizar o desconforto

causado pela doença: os antidepressivos, as técnicas como

eletroconvulsoterapia (ECT) e psicoterapias.

Page 12: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

1.2.2 – Características Clínicas:

A depressão enquanto doença é classificada de várias formas:

transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do

transtorno bipolar tipos I e II, ciclotimia, etc. (DEL PORTO, 1999).

As principais características clínicas a serem observadas nos estados

depressivos são, além de sentimento de tristeza e vazio, os sintomas

psíquicos, fisiológicos e comportamentais:

Sintomas Psíquicos: humor depressivo como sentimento de culpa e

autodesvalorização; redução da capacidade de experimentar prazer na maior

parte das atividades antes consideradas como agradáveis; fadiga ou sensação

de perda de energia; diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou

de tomar decisões;

Sintomas Fisiológicos: alterações do sono e do apetite; redução do

interesse sexual;

Sintomas Comportamentais: retraimento social; crises de choro;

comportamentos suicidas; retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou

agitação psicomotora.

1.2.3 – Classificação Diagnóstica

Segundo a DSM IV (Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos

Mentais - 4º edição), para a realização do diagnóstico clínico referente a

alterações do humor o indivíduo deve, dentre outras características, apresentar

sofrimento clinicamente significativo, limitações no funcionamento ocupacional

ou prejuízos em outras áreas importantes. (BAHLS, 2005)

Os Transtornos de Humor, conforme classificado pelo DSM IV (2002),

estão divididos em dois tipos de transtornos: Transtornos Depressivos e

Transtornos Bipolares.

Os principais Transtornos Depressivos (“depressão unipolar”) são a

Depressão Maior e a Distimia.

Transtorno Depressivo Maior: caracterizado por um ou mais episódios

depressivos maiores, o que pode significar duas semanas de humor deprimido

Page 13: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

ou perda de interesse; deve estar acompanhado de pelo menos quatro

sintomas adicionais:

Humor deprimido ou instável

Insônia ou hipersônia

Perda ou ganho acentuado de peso

Agitação ou retardo psicomotor e capacidade diminuída

Fadiga ou perda de energia

Prejuízo na capacidade de concentração e pensamento.

Sentimento acentuado de culpa ou inutilidade

Recorrentes pensamentos de morte, ideação ou tentativa suicida.

Transtorno Distímico: é caracterizado por pelo menos dois anos,

aproximadamente, de humor deprimido acompanhado de sintomas depressivos

que não satisfazem os critérios para um episódio depressivo maior.

Quanto aos Transtornos Bipolares estão divididos em: transtorno bipolar

I, transtorno bipolar II e ciclotimia.

Transtornos Bipolares I: o indivíduo apresenta um ou mais episódios

maníacos (humor anormal, irritável, expansivo ou elevado por pelo menos uma

semana acompanhado de no mínimo três sintomas adicionais: sensação

elevada de autoestima ou grandiosidade, fuga de ideias, insônia ou sono

reduzido, agitação psicomotora e envolvimento em atividades prazerosas com

alto potencial para consequências dolorosas) ou mistos (período de no mínimo

uma semana no qual será apresentado rápida alternância de humor

contemplando critérios tanto para episódios maníacos quanto depressivo

maior) acompanhados de sintomas depressivos maiores.

Transtornos Bipolares II: são caracterizados por um ou mais episódios

depressivos maiores acompanhados de pelo menos um episódio hipomaníaco

(período de, no mínimo, quatro dias de humor anormal e elevado, expansivo ou

irritável, acompanhados de três sintomas iguais ao do episódio maníaco).

Transtorno Ciclotímico: é caracterizado por pelo menos dois anos com

episódios maníacos e extenso período de sintoma depressivo que não satisfaz

critério para depressão maior. (BAHLS, 2005)

Page 14: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Para a CID-10 (2008), Classificação Internacional das Doenças, da

Organização Mundial da Saúde, décima revisão, os transtornos do humor são

classificados em:

F30 - Episódio maníaco (quando episódio único de mania).

F31 - Transtorno afetivo bipolar. (pode ser classificado de acordo

com o tipo do episódio atual - hipomaníaco, maníaco ou depressivo).

F31.6 - Episódios mistos

F32 - Episódio depressivo (quando episódio depressivo único)

F33 - Transtorno depressivo recorrente (com as mesmas subdivisões

descritas para o episódio depressivo).

F34 - Transtornos persistentes do humor:

F34.0 – Ciclotimia

F34.1 - Distimia

Page 15: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

2 – MÉTODO

2.1 - Base de dados

Trata-se de revisão da literatura médica e psicológica referente ao tema

depressão e dependência química em mulheres, contemplando o período de

janeiro de 2009 a março de 2012, incluindo artigos de língua portuguesa e

inglesa.

A busca de referências relevantes se fez através da exploração de

bancos de dados das seguintes bases – PUBMED, LILACS e SciELO.

Foram encontrados 474 artigos no Banco de dados PUBMED, sendo

utilizados os descritores: depression AND alcohol AND woman, nessas

combinações.

No banco de dados Bireme foram encontrados 23 artigos com os

descritores: depression AND alcohol AND woman.

Outras buscas também foram realizadas utilizando a Journal of Studies

on Alcohol and Drugs, sendo encontrados 135 artigos.

A seleção de artigos baseou-se na busca de pesquisas sobre

dependência de álcool em mulheres e/ou abuso de álcool em mulheres e

depressão em mulheres dependentes de álcool. Os idiomas foram limitados em

português e inglês.

2.2- Seleção dos estudos

2.2.1. Elegibilidade

Os critérios de inclusão foram:

(1) Estudos populacionais ou epidemiológicos de classificação descritiva e

analítica.

(2) Estudos de mulheres dependentes de álcool que apresentaram algum

sintoma depressivo durante a vida.

Page 16: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

(3) Estudos que continham comparação com grupos de homens ou com

população geral que também apresentou uso abusivo ou dependência

de álcool.

Os critérios de exclusão foram:

(1) Estudos que avaliam apenas os transtornos de humor ou sintomas

depressivos em mulheres, não avaliando a relação com dependência de

álcool.

(2) Estudos que avaliam dependência de álcool e relação com outras

doenças fisiológicas ou psiquiátricas que não depressão.

(3) Estudos com população adolescente ou de mulheres grávidas, pois

sabe-se que há muitos outros fatores que podem enviesar a análise dos

dados.

2.3 - Artigos selecionados

Dos 632 artigos encontrados durante esta pesquisa, foram selecionados

28 artigos que tiveram potencial de inclusão, no entanto, 08 foram incluídos

devido critérios de seleção conforme apontados anteriormente.

Page 17: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

3 - RESULTADOS

O padrão de consumo de álcool entre homens e mulheres se difere tanto

na quantidade como na frequência do beber. Em estudo para examinar os

padrões de consumo de álcool entre homens e mulheres com diagnósticos de

depressão, Satre, Chi e Eisendrath (2011) avaliaram a frequência do beber

pesado episódico recente aos fatores motivacionais para reduzir o consumo de

álcool.

TABELA1: Relação de beber pesado episódico vs padrão de consumo de

bebidas no ano anterior ao estudo comparado a gênero dos participantes.

Conforme demonstrado na Tabela 1: Relação de beber pesado

episódico vs padrão de consumo de bebida no ano anterior ao estudo

comparado ao gênero dos participantes, Satre, Chi e Eisendrath (2011),

verificaram que dos 1545 pacientes entrevistados, 47,5% dos participantes do

sexo masculino apresentaram prevalência de beber pesado episódico no ano

anterior vs 32,5% do sexo feminino e padrão de 2,5 bebidas para homens vs

1,9 bebidas para mulheres.

TABELA 2: Relação de quantidade de doses, frequência e beber de risco

comparado ao gênero dos participantes.

Gênero Doses por ocasião Pelo menos 1 vez

por semana Beber de risco

Homens 28,5% - mais de 8 doses 18% 25%

Mulheres 15% - mais de 6 doses 6,8% 12%

De acordo com a TABELA 2: Relação de quantidade de doses,

frequência e beber de risco comparados ao gênero dos participantes, Gilchrist,

et. al. (2010) verificaram que 15% das mulheres da amostra relataram beber

Gênero Beber pesado

episódico Padrão de consumo de

bebidas

Homens 47,5% 2,5

Mulheres 32,5% 1,9

Page 18: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

cerca de seis drinques em uma única ocasião (pelo menos mensalmente) vs

28,5% dos homens que bebem cerca de oito drinques. Destes, 6,8% do sexo

feminino relataram beber pelo menos uma vez por semana, sendo 18% do

sexo masculino. Como consumidores de risco, a amostra pontuou 25% do sexo

masculino e 12% do sexo feminino.

Boo-D (et. al, 2011), em amostra com 374 mulheres avaliou que a média

de idade das participantes ao desenvolver problemas relacionados ao consumo

de álcool é de 34 anos, diferentemente da média encontrada em pesquisa

realizada por Gjestad et al (2011), em amostra de 120 mulheres – 44 anos

aproximadamente.

Em outro estudo, Bobo e Greek (2011), constataram que mulheres

acima de 50 anos aumentaram de 0,9% para 9,2% o consumo excessivo de

álcool durante 10 anos.

A dependência de álcool também pode estar relacionada à influência de

parentes que também possuem a doença ou fazem abuso de álcool. Hill,

Tessner e McDermott (2011), constataram que em famílias que possuem

dependentes de álcool, a probabilidade de mulheres desenvolverem a doença

ou problemas relacionados ao abuso de álcool é significativa - [OR] = 3,6.

Destas, constatou-se risco aumentado para doenças como TDAH1, Depressão

Maior e Transtornos de Ansiedade.

Fatores como presença e níveis de depressão relacionados ao consumo

de álcool também são importantes avaliações nesses estudos. Satre, Chi e

Eisendrath (2011) relataram que em amostra de estudo com pacientes do sexo

masculino e feminino com idades entre 18 e 91 anos, 76,6% apresentaram

pontuação acima de 10 na BDI-II2, sugerindo possível diagnóstico depressivo.

GRAFICO 1: Associação entre beber pesado episódico e co-morbidades psiquiátricas

1 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

2 Escala de Beck Depression Inventory-II

Page 19: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Conforme o GRAFICO 1: Associação entre beber pesado episódico e

co-morbidades psiquiátricas, ao compararem os níveis de beber pesado

episódico no ano anterior e transtornos psiquiátricos, Satre, Chi e Eisendrath

(2011), constataram que 30,9% dos participantes apresentaram transtorno

depressivo maior, 30,3% transtorno bipolar, 39,1% transtorno de ansiedade,

33,7 transtorno depressivo sem outra especificação, 39,1%, transtorno de

humor não especificado de outra forma, 45,0% transtorno de ajustamento,

35,7% esquizofrenia e 32,4% outros diagnósticos.

Os pacientes diagnosticados com depressão grave (pontuação acima de

29 na BDI-II) tiveram índices menores de frequência do beber (4,5 dias por

mês) se comparados aos pacientes com depressão moderada (pontuação

menor que 29 na BDI-II) (6,7 dias por mês).

Bazargan-Hejazi, Ani, et al, (2010), em estudo comparativo entre

homens e mulheres, constataram que o estresse, o nível de escolaridade e os

problemas causados pelo abuso de álcool estão correlacionados com o

desenvolvimento de depressão maior em homens, já nas mulheres, a idade é

um importante fator desencadeador. Para os autores, a probabilidade das

mulheres dependentes de álcool ou bebedores de risco desenvolver quadro

depressivo é de 36% com o passar de 10 anos.

Em outro estudo referente à análise dos resultados de estudos com

mulheres em tratamento para dependência de álcool, constatou-se que o nível

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

Transtornosdepressivos

TranstornosBipolar

TranstornosAnsiedade

TranstornosDepressivossem outra

especificacao

TranstornosHumor não

especificadode outra

forma

TranstornosAjustamento

Esquizofrenia OutrosDiagnosticos

Série1 30,90 30,30 39,10 33,70 39,10 45,00 35,70 32,40

Page 20: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

de depressão prevê mudanças no consumo de álcool, ou melhor, o consumo

de álcool pode estar relacionado às alterações dos níveis de depressão.

(GJESTAD, et. al, 2011)

Esses estudos reforçam a hipótese dos índices de sintomas depressivos

diagnosticados em mulheres serem significativamente maiores do que em

homens. Segundo Gilchrist, et. al (2010), cerca de 25,1% das mulheres de uma

amostra de 7667 pacientes apresentam sintomas de depressão vs 21,5% dos

homens.

Em outro estudo referente às características diferencias de depressão

em mulheres, constatou-se que essas apresentaram mais tentativas de suicídio

que os homens, entretanto, tais tentativas são menos letais e com menos

intencionalidade. Arnau (2010), também verificou que as mulheres apresentam

melhor prognóstico mesmo apresentando transtornos psiquiátricos se

comparados aos homens. No entanto, quando portadoras de dependência

grave de álcool, o prognóstico é igualmente desfavorável.

Outros fatores de significativa importância também estão diretamente

ligados à presença de sintomas depressivos e abuso ou dependência de

álcool. Gilchrist, et. al (2010), em estudo com 789 pacientes do sexo feminino e

masculino, identificaram importante associação entre violência por parceiro

íntimo, beber perigoso e depressão. Constataram na amostra que dos 23% dos

pacientes que pontuaram alto nível na Escala CES-D (Epidemiological Studies

Depression), 21,5% eram do sexo masculino e 25,1% do sexo feminino.

Por fim, em análise ao medo do parceiro intimo 20,8% das mulheres

nunca tiveram medo do parceiro íntimo, em contraste com 7,6% dos homes.

Em contrapartida, tanto homens como mulheres que apresentaram beber

perigoso e medo de um parceiro tiveram alto escore em sintomas depressivos

se comparados com aos que nunca tiveram medo ou que não eram

consumidores de risco.

Page 21: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

4 - DISCUSSÃO

Após analise dos dados pôde-se constatar que, embora a seleção de

artigos teve abrangência de apenas 3 anos de pesquisa, é possível notar a

significativa carência de estudos relacionadas à dependência de álcool e

depressão na população feminina. A maioria das pesquisas analisam os

abusos e a dependência de álcool, assim como seus problemas associados,

em pacientes do sexo masculino. Elbreder, Laranjeiras, et. al (2008.),

confirmam que o índice de dependência de álcool em homens é

consideravelmente alto se comparado com mulheres, além dos serviços de

saúde pública serem voltados para essa específica população.

Outros autores também criticam os serviços especializados no

tratamento de mulheres dependentes apontando para a falta de especialização

dos profissionais da saúde e a escassez de técnicas e intervenções especificas

para o público feminino. Esses fatores tendem a adiar a procura da mulher pelo

serviço e, com essa demora, possivelmente seu quadro de saúde piore, como

consequência, suas relações e vida cotidiana podem ser gravemente afetadas.

(BORDIN, FIGLIE E LARANJEIRAS, 2004).

Na maioria dos estudos as mulheres que apresentam problemas

relacionados ao consumo de álcool possuem em média 34 e 44 anos. Bobo e

Greek (2011), constataram que quanto maior a idade maior o consumo de

álcool apresentado em longo período de tempo.

Tais constatações evidenciam que nessa faixa etária a mulher está

vivendo conflitos como término do casamento, desemprego, infertilidade e

doenças físicas, o que exercem forte influencia no beber. (EDWARDS e

MARSHALL, 2005). Outro fator também muito importante é que as mulheres

apresentam maior facilidade para se tornarem “bebedores problemas” se

comparadas aos homens, além de desenvolver mais rapidamente problemas

relacionados ao álcool. (BOBO e GREEK, 2011).

Em contrapartida, Satre, Chi e Eisendrath (2011), afirmaram que quanto

maior a idade do indivíduo maior a compreensão dos problemas causados pelo

consumo de álcool e maior a motivação para interrupção ou diminuição do uso.

Molander, Yonker e Krhn (2010), também afirmam que alguns fatores em

Page 22: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

indivíduos mais velhos possuem forte influência no padrão de beber, mas não

na quantidade de consumo. Isso indica que trabalhar questões como renda,

problemas relacionados ao álcool e história de vida, sintomas depressivos,

dívidas e emprego podem influenciar na compreensão de eventos e situações

desagradáveis provocados pela doença e, consequentemente, maior

conscientização do problema.

Nazareth, et. al (2011), entendem ser de fundamental importância que

profissionais da saúde estejam preparados para detectar precocemente o

comportamento de beber pesado episódico para impedir o desenvolvimento da

síndrome de dependência, pois num prazo de 6 meses as chances de

mulheres, assim como homens, evoluírem de beber pesado episódico para

consumidores de risco são significativas.

Ainda com relação ao beber pesado episódico ou binge3, Palijarvi et al,

(2009), afirmam haver forte associação à presença de sintomas depressivos. É

possível que em poucas ocasiões de binge o indivíduo possa desencadear um

quadro depressivo, independentemente da média de consumo. Tal constatação

se faz importante na divulgação entre adolescentes e jovens que possuem o

hábito de consumir muitas doses de álcool num único evento.

Referente aos quadros depressivos, muitos autores constataram alta

incidência desses sintomas em mulheres do que em homens. Kaplan, Sadock

& Grebb4 (1994), acreditam que uma alteração no cromossomo X seja

responsável por esse resultado. Já Rabasquinho e Pereira, 2007, apontam

para influências sociais e psicológicas relacionadas ao gênero e levantam

hipóteses para a questão:

parece que a sociedade apresenta uma maior tolerância para mulheres depressivas e homens alcoólicos do que o inverso. A utilização de substâncias e os comportamentos antissociais são formas mais aceitáveis para os homens expressarem as suas dificuldades, evitando a expressão pela doença, pois que esta é interpretada por este género como um sinal de fraqueza. (p.439)

Os autores ainda discutem que questões como menores oportunidades

de trabalho, maiores responsabilidades sobre a educação dos filhos e menor

3 Binge: Traduzido como “bebedeira” ou “farra”, significa padrão de beber de 5 (para homens) a 4 (para

mulheres) doses por ocasião. (Diehl, Cordeiro e Laranjeira, 2011, apud, Diehl, 2011) 4 apud Bahls, 2005

Page 23: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

poder no casamento interferem no desempenho dos papéis sociais e reforçam

a fragilização da mulher, justificando a possibilidade para ela desencadear

sintomas de infelicidade e angústia. (RABASQUINHO E PEREIRA, 2007).

Bazargan-Hejazi, Ani, et. al, (2010), afirmam haver outros fatores

desencadeantes de sintomas depressivos entre mulheres dependentes de

álcool como, por exemplo, a importância atribuída ao passar dos anos. A

própria sociedade reforça tal importância além de desqualificar o

profissionalismo de mulheres mais velhas e atribuir forte relevância com

relação à estética feminina.

A baixa condição financeira é outro importante fator de risco para o

desenvolvimento de problemas de saúde mental, tais como depressão e

transtornos ansiosos, uma vez que estão mais propensos a situações de vida

estressantes e limitações de recursos sociais e econômicos. (ELBREDER,

LARANJEIRAS, et. al, 2008)

A relação entre níveis de gravidade de depressão e dependência foi

constatada por Satre, Chi e Eisendrath (2011), os quais indicaram que

pacientes com depressão grave fazem menor consumo de álcool se

comparados a pacientes com depressão moderada. Eu, Walker, et. al (2011)

ressaltaram que essa diferenciação pode estar relacionada ao impedimento

físico e psicológico desencadeado pela doença; quanto mais grave, menor são

os índices de resposta do individuo.

A importância de familiares dependentes de álcool também foi avaliada

por Hill, Tessner e McDermott (2011), os quais indicaram incidência de

mulheres consumidoras de álcool devido à influência de seus entes. “Multiplex

familial risk for alcohol dependence is a significant predictor of substance use

disorders by young adulthood”.

Violência doméstica está, para Gilchrist, et. al, (2010), associada ao

beber de risco e aparecimento de sintomas depressivos. Detectar esses fatores

pode ser uma importante ferramenta para o desenvolvimento de estratégias

terapêuticas. Conforme relatam os autores, “IPV (intimate partner violence) and

hazardous drinking are serious problems in themselves and are also known to

complicate the detection and management of depression in primary care.”

Fatores como vizinhança também exercem forte influência em questões

como dependência de álcool e depressão. Residir em vizinhança instável em

Page 24: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

que os moradores com frequência mudam de endereço contribui

significativamente para o desenvolvimento destas complicações mesmo o

individuo possuindo apoio social, índices de estresse familiar e psicopatologia

familiar controlados. Tais influências afetam não só as mulheres pesquisadas,

mas como também a população adolescente da região. (BUU, WANG et al,

2011)

Os autores apontam também que as mulheres são mais vulneráveis

frente a eventos estressantes: “Women are especially vulnerable to the effects

of family stressors or negative interpersonal life events because they have a

higher tendency to relate their happiness and self-worth to interpersonal

relationships.” (2011, apud Hammen, 2003)

Muitas mulheres referem fazer abuso de álcool em resposta as emoções

desagradáveis e eventos conflituosos, sendo essas associações mediadas

principalmente pelos sintomas da depressão. (LAU-BARRACO, et. al, 2009).

Outros autores como Pengpid, et. al (2011), constataram que a presença de

sintomas como angústia está diretamente associada ao aumento do risco para

o abuso de álcool. Intervenções voltadas para redução do sofrimento psíquico

e proporcionar melhores respostas para enfrentamento são de vital importância

para o tratamento de dependência química em mulheres.

Page 25: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

5 - CONCLUSÃO

A dificuldade em mapear a relação de dependência de álcool em

mulheres e depressão se dá devido à carência de pesquisas, já que o índice de

dependência de álcool em homens é consideravelmente alto se comparado

com mulheres. Essa carência influencia diretamente nos serviços

especializados os quais, em sua maioria, não estão devidamente preparados

para trabalhar a dependência feminina, além da falta de especialização de

profissionais da área da saúde.

Outra importante constatação é de que cada vez mais as mulheres estão

fazendo uso abusivo de álcool e apresentando sérios problemas relacionados

ao consumo. Além desse fato, observa-se que é alta a incidência de quadros

depressivos entre mulheres dependentes. Tais relações estão diretamente

ligadas a fatores psicológicos, sociais, ambientais e biológicos, no entanto,

ainda há muita necessidade de novas pesquisas na área correlacionando o

consumo de álcool e a presença de sintomas depressivos em mulheres, bem

como técnicas e intervenções especificas voltadas para essa população.

Saber avaliar os sintomas de abuso/ dependência de álcool e fatores

que desencadeiam quadros depressivos é de fundamental importância para

profissionais que trabalham na saúde. A facilitação do diagnóstico, o

encaminhamento para serviços especializados e o emprego de intervenções e

técnicas assertivas podem facilitar o acesso da mulher à assistência a saúde,

contribuir para o desenvolvimento de seus papéis sociais, bem como minimizar

o surgimento de novos casos.

Page 26: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Arnau MM. Differential features of female alcoholism. Adicciones. [periódico

online] 2010; 22(4): 339-52. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21152853

Bahls Saint-Clair. Uma visão geral sobre a doença depressiva. Interação em

Psicologia (Qualis/ CAPES: 2) vol 4 [periódico online] 2000. Disponível online

em: URL: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/3325/2669

Bazargan-Hejazi, Ani C. et al. Alcohol misuse and depression symptoms among

males and females. Arch Iran Med. [Periódico online] 2010; 13(4): 324-32.

Disponível em: URL: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=20597567

Bobo J.K., Greek A.A. Increasing and decreasing alcohol use trajectories

among older women in the U.S. across a 10-year interval. Int J Environ Res

Public Health. [Periódico online] 2011; 8(8): 3263-76. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=21909305

Boo-D. et. al. Alcohol consumption in women and its relation with the

psychopathology in primary health care. Ver Med Inst Mex Seguro Soc.

[periódico online] 2011 49(4): 413-8. Disponível em:

URLhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=21982192

Buu A., Wang W., et al. Changes in women's alcoholic, antisocial, and

depressive symptomatology over 12 years: a multilevel network of individual,

familial, and neighborhood influences. Dev Psychopathol. [periódico online]

2011; 23(1): 325-37. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=21262058

Page 27: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Carlini E., Fonseca A., Noto A., Galduróz J. V Levantamento Nacional sobre o

Consumo de Drogas Psicotrópicas Entre Estudantes do Ensino Médio da Rede

Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras, CEBRID, 2004.

Del Porto J.A. Conceito e diagnostico. Revista Brasileira de Psiquiatria vol 21

[periódico online] 1999. Disponível em: URL:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-

44461999000500003

Diehl A. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas.

Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 106-117; 375-381

DSM-IV - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4º e.d. rev. –

Porto Alegre: Artmed, 2002.

Edwards G. e Marshall J. O tratamento do alcoolismo: um guia para

profissionais da saúde. 4º ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 105-123; 153-161

Elbreder M, Laranjeira R. et al. Perfil de mulheres usuárias de álcool em

ambulatório especializado em dependência química. [periódico online] 2008;

57(1): 9-15. Disponível em: URL:

http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v57n1/v57n1a03.pdf

Figlie N., Bordin S e Laranjeira R. Aconselhamento em dependência química.

São Paulo: Roca, 2004. p. 315-337.

Fleck M. e Lafer B. Revisão de diretrizes da associação médica brasileira para

o tratamento da depressão. Versão integral. Revista Brasileira de Psiquiatria.

2009; 31 (supl I): S7-17.

Gilchrist G. et al. The association between intimate partner violence, alcohol

and depression in family practice. BMC Fam Pract. [periódico online] 2010 sep

27; 11-72. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=PMC2954955

Page 28: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Gjestad R. et al. Level and change in alcohol consumption, depression and

dysfunctional attitudes among females treated for alcohol addiction. Alcohol

Alcohol. [periódico online] 2011 46(3): 292-300. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=21414951

Hill SY, Tessner KD e McDermott MD. Psychopathology in offspring from

families of alcohol dependent female probands: a prospective study. J

Psychiatry Res. [periódico online] 2011; 45(3): 285-94. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=20801463

Lau-Barraco C. et al. Gender differences in high-risk situations for drinking: are

they mediated by depressive symptoms? Addict Behav [periódico online] 2009;

34(1): 68-74. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=18940274

Molander RC, Yonker JA and Krahn DD. Age-related changes in drinking

patterns from mid- to older age: results from the Wisconsin longitudinal study.

Alcohol Clin Exp Res. [periódico online] 2010; 34(7): 1182-92. Disponível em:

URL: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=20477774

Nazareth I, et al. Heavy episodic drinking in Europe: a cross section study in

primary care in six European countries. Alcohol Alcohol. [periódico online] 2011;

46(5): 600-6. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Walker%20C%2C%20Ridolfi%20A

Organização Mundial da Saúde. Classificação Estatística Internacional de

Doenças e Problemas Relacionados à Saúde: CID-10 – 10º revisão. São

Paulo: EDUSP, 2008.

Paljärvi T, et al. Binge drinking and depressive symptoms: a 5-year population-

based cohort study. Addiction. [periódico online] 2009; 104(7): 1168-78.

Disponível em: URL: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19438420

Page 29: MULHERES DEPRIMIDAS:  A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E  DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL EM MULHERES

Pengpid S, et al. Prevalence of alcohol use and associated factors in urban

hospital outpatients in South Africa. Int J Environ Res Public. Health [periódico

online] 2011; 8(7): 2629-39. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21845149

Rabasquinho C. e Pereira H. Gênero e saúde mental: uma abordagem

epidemiológica. Análise psicológica (2007), 3 (XXV) – 438-454

Satre D., Chi FW, Eisendrath S, Weisner C.Subdiagnostic alcohol use by

depressed men and women seeking outpatient psychiatric services:

consumption patterns and motivation to reduce drinking. Department of

Psychiatry. [periódico online] 2011 apr. 35(4) 695-702. Disponível em: URL:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3066306/?tool=pubmed