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Revista da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – Nº 2 – Março de 2013
Dia da MulherPor que comemorar o 8 de março?
SindicalismoUm debate sobre o empoderamento feminino
espaços de poder
ENTREVISTA:Rosane Simon, líder sindical, dirigente
da Fecosul e vereadora por Ijuí (RS)
Mulheres nos
| MULHER D’CLASSE
3
Prezada leitora, prezado leitor,
É com muita satisfação que disponibilizamos
a segunda edição da revista Mulher D’Classe.
Assim como a primeira, ela é fruto de um esforço
coletivo de colaboradores homens e mulheres
que se identificam com a luta pela emancipação
feminina, no entendimento de que as desigual-
dades entre homens e mulheres na sociedade
capitalista estão além da questão de gênero –
mas fundamentalmente de classe social – e que
superá-las não é uma tarefa apenas das mulhe-
res, mas de toda a sociedade.
Esta edição dialoga com a luta pelo empode-
ramento das mulheres, analisando os avanços e
recuos que o movimento feminista tem dado no
sentido de colocar as mulheres em espaços de
decisão, seja na política, no trabalho, no movi-
mento sindical e na vida social.
Assim sendo, o destaque dado ao processo
eleitoral é fundamental para pensarmos sobre
a participação política das mulheres, a partir de
uma radiografia da participação feminina nas
eleições de 2012, ressaltada pela entrevista com
a trabalhadora, sindicalista e vereadora gaúcha
Rosane Simon, que destaca a importância de
termos em cargos políticos mulheres comprome-
tidas com a luta emancipacionista.
Viajamos pela formação sindical com ênfase
na questão de gênero, abordamos a participação
das mulheres camponesas no sindicalismo rural,
assim como a luta pela aprovação de projetos de
lei que dizem respeito às mulheres e também as
comemorações do dia 8 de março.
No que tange ao mundo do trabalho, fizemos
uma incursão junto ao Dieese para situar de
maneira mais precisa as questões de gênero.
Também oferecemos uma reflexão acerca da vio-
lência doméstica, com base na CPMI da Lei Maria
da Penha. Outra reflexão importante é sobre a
década do afrodescendente analisada por Edson
França, presidente da Unegro, que nos abrilhanta
com informações indispensáveis ao conjunto do
movimento sindical, na perspectiva de comba-
termos a discriminação de classe, gênero e raça.
Portanto, desejamos a todos e todas uma
excelente leitura e que a revista Mulher D’Classe
seja mais um instrumento de mobilização, infor-
mação e conscientização da luta pela igualdade
de oportunidade entre homens e mulheres.
Boa leitura! é
As mulheres e os espaços de poder
APRESENTAÇÃO
Wagner Gomespresidente Nacional da CTB
A luta das mulherescontra a exploração capitalista
414
26
28
4 Dia Internacional da MulherPor que comemorar o 8 de março?
8 SindicalismoUm debate sobre o empoderamento feminino
10 Artigo: Lei Maria da PenhaJô Moraes
12 Artigo: Convenção 189 da OITMárcia Viotto e Berenice D arc
20 Tráfico de MulheresUm alerta a grupos vulneráveis
28 Artigo: Congresso da ContagSérgio de Miranda
14 Eleições 2012Um avanço tímidona participação feminina
24 Consciência negra A década dos povos afrodescendentes
23 Artigo: FormaçãoCelina Arêas
17 EntrevistaRosane Simon e a luta de gênero em cada espaço de poder
26 Artigo: Luta em Brasília Luiza Erundina
A milenar luta das mulheres pela emancipação
adquire sob o capitalismo um nítido caráter de
classe. O século 20 foi rico em conquistas na dire-
ção de mais igualdade e liberdade, mas há muito
por fazer. A incorporação da força de trabalho
feminina no processo produtivo contribui para a
emancipação, mas é notório que a burguesia usa a
discriminação para aumentar o grau de exploração
da classe trabalhadora e elevar as taxas de lucros.
A diferença salarial entre homens e mulheres é
uma realidade, maior ou menor de acordo com o
nível de conquistas sociais. Estudo de 2012 do BID,
em 32 países da América Latina e Caribe, revela
que trabalhadores da mesma idade e nível educa-
cional que as trabalhadoras ganham, em média,
17% a mais na região.
No Brasil, segundo dados do IBGE, a diferença é
maior. Em 2010 os homens recebiam em média 3,5
salários mínimos, 25% mais que as mulheres, com
2,8 salários mínimos. Naquele ano, as mulheres re-
presentavam 42,1% da força de trabalho brasileira.
É por si óbvio que quem lucra com a discrimina-
ção salarial, e quem efetivamente discrimina, é o
patronato, o dono do capital. A luta pela igualdade
salarial integra a velha e boa luta de classes entre
capital e trabalho e traduz o choque recorrente
entre salários e lucro. Por isto conta com amplo
respaldo e apoio da CTB e das centrais sindicais. A
batalha milenar pela emancipação das mulheres
não se completará sem o fim do
sistema fundado na exploração de
uma classe por outra e a construção
de uma nova sociedade, socialista.
Raimunda Gomes (Doquinha)Secretaria da Mulher Trabalhadora
30 CordelTião Simpatia
‘
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
54
DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES
Por que comemorar o 8 de março?Na atual conjuntura, o que leva a
classe trabalhadora a lutar por novos
avanços e combater a desigualdade
de gênero?
As perguntas acima exigem uma resposta
direta: para reafirmar a luta daquelas que há
mais de cem anos cunharam essa data, como um
dia de reflexões do que já foi conquistado e articu-
lações em torno do que almejam conquistar.
Ao longo do século, as mulheres travaram uma
verdadeira cruzada no combate à violência e às
desigualdades de gênero, assim como alargado as
fronteiras em busca de reconhecimento profissio-
nal, politico e social.
Nesse sentido, o Dia Internacional da Mulher
deve ser, para as trabalhadoras, motivo de muita
celebração e orgulho, não apenas pela data em si,
mas pelo simbolismo que ela traz consigo, dando
visibilidade ao invisível, como dizia militante
comunista Loreta Valadares. É um momento de
sair às ruas e gritar alto para que o mundo ouça
as necessidades e direitos das mulheres, assim
como promover debates, palestras e cursos com o
objetivo de aumentar o nível de conhecimento e
compreensão da sociedade acerca do feminismo.
“A luta pela emancipação da mulher deve ser um
compromisso de homens e mulheres”, defende
a secretária da Mulher Trabalhadora da CTB, Rai-
munda Gomes, a Doquinha.
Texto: Redação CTB
De modo que para a consagração dessa
data – a despeito das contradições e divergên-
cias no seio dos mais diferentes segmentos
do movimento feminista (anarquistas, socia-
listas ou burguesas) e nacionalidades (alemãs,
americanas, russas, francesas, brasileiras, dentre
outras) – faz-se necessário que todas se unam
na defesa de uma data que as identifique como
mulheres e valorizasse suas lutas por direitos.
Dia de luta
Foi nesse contexto que se deu, em 1910, a 2ª
Conferência Internacional de Mulheres Socialistas,
da qual participavam Alexandra Kollontai e Clara
Zetkin, dentre outras, que propuseram a fixação
de um dia de luta pela libertação das mulheres.
Como sugestão, a data se repetiria anualmente,
na última semana de fevereiro.
Posteriormente, no dia 23 de fevereiro de
1917 (que no calendário gregoriano equivale ao
nosso 8 de março) em Petrogrado, na Rússia, as
mulheres saíram às ruas para reivindicar pão e o
regresso de seus filhos e maridos da guerra. Em
consequência deste ato memorável das mulheres
russas, na ocasião da 3ª Conferência Internacional
definiu-se o 8 de março como o dia em que se
comemoraria a luta das mulheres.
Entretanto, esta não é a única versão para a
origem dessa importante data. Segundo estudio-
sos do tema (como Renê Conté e Isabel Gonzales,
dentre outras) se trata da mais provável. Entrecor-
tada por essa versão, existem outras, como a mais
popular e massificada pelos organismos inter-
nacionais, que diz respeito à luta das operárias
norte-americanas, com ênfase na greve das da fá-
brica da Cotton, em Nova York, em 1857, quando
seu local de trabalho foi incendiado pelos patrões,
ato que resultou na morte de 129 operárias.
Celebração em todo o planeta
Versões à parte, o fato é que, seja na Rússia,
Estados Unidos, França ou Brasil, a ideia de liberta-
ção das mulheres nasceu do movimento socialista
mundial que se iniciou no final do século 19 e se
espalhou pelo mundo, ganhando força no século
20 e chegando ao século 21 imbuído da certeza
de que a consolidação da democracia e a paz
mundial passam indubitavelmente pela garantia
Márcia Viotto
Mulheres da CTB
Doquinha Dalva
Elgiane Ailma Celina Hildinete
Abigail Fátima Gilda
Leni MargaridaAna Rita
Em todo o país, homens e mulheres levantam bandeiras contra a desigualdade de gênero
DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
76
DIA INTERNACIONAL DAS MULHERESENTREVISTA
das liberdades individuais e igualdade entre os
homens e as mulheres.
Passadas algumas décadas. a data se consoli-
dou em 1975, quando a Organização das Nações
Unidas (ONU) consagrou o 8 de março como o
“Dia Internacional da Mulher”, no sentido de
enaltecer a luta das mulheres pela igualdade de
direitos com os homens e contra todas as formas
de discriminação e violência.
No Brasil, tradicionalmente se comemora o 8
de março com manifestações públicas, nas quais
as mulheres de todos os matizes procuram, a
seu modo, expressar as ambiguidades e tensões
vivenciadas na sociedade capitalista que discrimi-
na e violenta a mulher – tanto as que vivem nos
centros urbanos como aquelas que habitam as
áreas rurais, nos mais diferentes espaços.
A pauta central dos últimos anos tem sido o
combate à violência doméstica, motivada pela
crescente onda de assassinatos, agressões e maus
tratos cometidos contra mulheres e as crianças,
tanto no campo quanto na cidade.
Porém, há também as manifestações promo-
vidas pelos segmentos de mulheres burguesas
ou espaços institucionais, que buscam exaltar
os exemplos positivos de empoderamento das
mulheres, sem mencionar a questão de classe e
raça, dando ênfase às políticas públicas em curso,
que têm relação direta com a garantia de direitos
à mulher, na maioria das vezes sem mencionar a
luta travada pelos movimentos sociais.
“Vê-se, portanto, que a celebração do Dia Inter-
nacional da Mulher possui diversos matizes, mas
o que as trabalhadoras precisam ter claro é qual o
projeto de sociedade que desejam construir, nem
como o seu papel na luta contra a discriminação
Marta MárciaMarilene Carolina
Sandra Nara
Mônica Maria Clotilde
Márcia Alencar
Valéria
Socorro Maria LúciaSueli
Mulheres da CTB
de classe social, gênero e raça”, destaca Doquinha.
CTB na linha de frente
Para o movimento sindical cetebista, o dia da
mulher é motivo de muita reflexão e debates no
sentido de promover e oportunizar espaços de
interação das trabalhadoras e trabalhadores no
ambiente de trabalho, apontado as contradições
existentes e a necessidade de todos os homens
e mulheres construírem juntos um mundo sem
exploração. “Nesse sentido, a preocupação da CTB
é formar pessoas emancipadas, que lutem pela
superação da condição de subalternas e que se
indignem com a exploração de um ser humano
por outro”, afirma o presidente Wagner Gomes.
Neste começo de século, as mulheres con-
quistaram os mais diferentes postos de trabalho.
Em que pese a discriminação salarial (em média
78% do salario pago a um homem pelo mesmo
trabalho), conseguiram se inserir na politica (ainda
que sub- representadas) e no movimento sindical
(apesar da cota de 30% ainda não ser totalmente
cumprida nos cargos de direção).
Olhando em perspectiva histórica, vê-se
que, da conquista do voto em 1932 à eleição da
primeira mulher a Presidência da República; da
inserção no mercado de trabalho à ocupação do
posto máximo da maior petrolífera do mundo, a
Petrobrás; do chão da fábrica ao comando dos
sindicatos de suas categorias profissionais; do
ingresso nas forças armadas ao posto de coman-
dante-chefe da marinha ou dos postos de delega-
das nas policias (civil, militar e federal), muito foi
conquistado.
Um século se passou e, com ele, muitos pre-
conceitos foram combatidos, houve uma quebra
de paradigmas, a ciência reafirmou que não
há diferenças neurológicas ou cognitivas entre
homens e mulheres, a disputa na divisão sexual e
social do trabalho impôs um padrão de exigência
maior à mulher, na acessão a postos de destaque
nas empresas, mas elas reagiram favoravelmente
se qualificando melhor, elevando o seu grau de
escolaridade. “A emancipação da mulher é uma
tarefa coletiva de homens e mulheres que se iden-
tificam com a necessidade de superar as desigual-
dades históricas e desnaturalizar o processo de
subordinação da mulher ao homem. É, portanto,
um imperativo do movimento sindical promover
a igualdade entre os sexos”, sublinha Doquinha. é
Luta das mulheres ganha cada vez mais o apoio masculino
Doquinha destaca a importância da unidade de ação das centrais
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
98
SINDICALISMO SINDICALISMO
Pensar em igualdade de gênero nos dias de
hoje passa pela ideia de empoderamento po-
lítico das mulheres, ou seja, colocar mulheres nos
espaços de decisão. Esse conceito traduz uma es-
tratégia de representação equitativa das mulhe-
res nas estruturas de mando, formal ou informal,
sejam elas dentro da empresa, na política ou no
movimento sindical, concedendo direito à voz
na formulação de políticas e ações que afetam
a sociedade na qual estão inseridas, passando a
ser condição fundamental para que haja igualda-
de entre homens e mulheres na sociedade.
No Brasil, as mulheres repre-
sentaram 51,1% da população
em 2011. Também cresceu a força
de trabalho feminina nas últimas
décadas, sendo que, em 2011,
50,1% das mulheres com dez anos
ou mais estavam no mercado de
trabalho como ocupadas ou de-
sempregadas, conforme os dados
da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios realizada pelo IBGE.
Apesar da maior presença
na população e no mercado de
trabalho, as mulheres transitam
por mais tempo no desemprego,
ocupam postos mais vulneráveis e
ganham menos. Quando conse-
guem crescer profissionalmente,
ocupam cargos de planejamento e organização,
mas dificilmente conseguem chegar a postos de
direção dentro da empresa, mesmo tendo maior
qualificação e anos de estudo do que os homens.
São, assim, sub-representadas nos espaços em-
presariais de poder. Dados da pesquisa Ethos das
500 maiores empresas indicaram que, em 2010,
cerca de 1300 homens e apenas 207 mulheres
ocupavam os postos de nível executivo.
Também nas direções sindicais, as mulheres
ainda estão distantes de sua real participação
no mercado de trabalho e na sua capacidade
no movimento sindicalApesar das cotas de gênero, entidades ainda têm pouca participação feminina
em cargos de comando
Texto: Lilian Arruda Marques e Patrícia Lino Costa*
O empoderamento das mulheres
enquanto liderança política. A partir da abertura
politica e das grandes mobilizações no final dé-
cada de 1980 e com a expansão dos movimentos
feministas no mundo e no Brasil, as mulheres
passaram a ter uma participação mais efetiva nos
sindicatos e em suas direções.
Em 2011, 16,4% das mulheres ocupadas eram
associadas ao sindicato, que correspondia a
cerca de 6,8 milhões de ocupadas. Este número
cresceu 35,6% em comparação a 2001, quan-
do cinco milhões de mulheres ocupadas eram
sindicalizadas. Dados de 2009 apontavam que
do total de filiados, as mulheres representavam
cerca de 40% e homens 60%. Porém, a ampliação
de mulheres nas direções sindicais vem aconte-
cendo de forma lenta e gradual e pode expressar,
em alguns momentos, discriminação nas esferas
sindicais de tomadas de decisão e mesmo nas
reivindicações por igualdade de gênero e poder.
Igualdade e negociações
Em muitas entidades sindicais, os debates de
gênero ainda estão circunscritos às secretarias de
mulheres. Mesmo nas negociações coletivas, a
presença de mulheres dirigentes sindicais ainda
é pequena. Sabe-se que a negociação coletiva
é um excelente instrumento de mudança para
construção da igualdade. É importante que a
pauta de reivindicação venha carregada de itens
que melhorem as condições de trabalho de
homens e mulheres e que carreguem o tema da
igualdade de gênero e raça em todas as rein-
vindicações. As cláusulas relativas aos direitos
das mulheres trabalhadoras vêm aumentando
ao longo dos anos, e algumas regulamentações
legais foram fruto de conquistas em negociações
coletivas, como por exemplo, a licença a mãe
adotante. E isso é fruto da mobilização e presen-
ça das mulheres na direção dos sindicatos e na
elaboração das pautas.
A ampliação da presença das mulheres aca-
bou por ganhar corpo nos diferentes níveis da
estrutura sindical e uma das formas encontradas
para o aumento da participação feminina foi o
estabelecimento de cotas, que surgiu a partir da
base sindical e foi sendo adotada formalmente
pelas centrais sindicas e demais estruturas.
A maior parte das centrais sindicais estabelece
em seu estatuto a cota de 30% de mulheres em
sua diretoria. Estas resoluções foram aprovadas
em Congresso e constam do estatuto da CUT, da
UGT, da FS e da CTB. Apesar da indicação, nem
sempre é possível preencher as vagas. Muitas
vezes é preciso sensibilizar as mulheres trabalha-
doras para a questão do preconceito e desigual-
dade vivenciada por elas. Sobretudo, é preciso
capacitar as dirigentes sindicais na negociação
de temas além daqueles relacionados à questão
de gênero, de maneira que a pauta de negocia-
ção traga a questão da igualdade de gênero de
forma transversal a todas as reinvindicações.
A cota por si não resolve a questão da par-
ticipação feminina, mas possibilita a reflexão e
construção de uma nova cultura sindical, que
está alicerçada na divisão igualitária de poder e
no convívio solidário com as diferenças. é
* Assessoras do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
Capacidade de mobilização já é marca registrada das mulheres cetebistas
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
1110
Os sistemáticos assassinatos de mulheres
por maridos e companheiros, a reinci-
dência da violência e uma quase certeza da
impunidade de grande parte dos homicidas e
agressores, nos levaram à constituição da Co-
missão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).
Representantes das duas casas congressuais –
Câmara e Senado – se uniram com o propósito
de levantar o problema da forma mais fide-
digna e abrangente possível, propor alterna-
tivas e soluções. Embora o problema não seja
exclusivo do Brasil – já em 2004 a Organização
Mundial de Saúde apontava que cerca de 70%
das vítimas de homicídio do sexo feminino no
mundo tinham sido mortas por seus parceiros
– há peculiaridades bem distintas. A começar
pelo fato de estar vigendo em nosso país desde
2006 a Lei Maria da Penha (11340/06) para
coibir a violência doméstica e familiar contra as
mulheres.
Eleita presidente da CPMI, percorri, com as
Resultados da CMPI da Lei Maria da Penha
demais integrantes do colegiado, 18 estados
em diligências e audiências com gestores
públicos e representantes da sociedade civil
organizada. Também realizamos encontro com
dirigentes dos Poderes da República para uma
sintonia fina entre as esferas legal, judicial,
administrativa e uma avaliação das estruturas
física e de pessoal voltadas ao atendimento,
acolhimento, apoio e proteção das vítimas e
penalização dos agressores.
As precariedades estruturais se relevaram
chocantes. Não há sequer uma padronização
mínima local, regional ou nacional do registro
das ocorrências, os chamados BO’s. Em muitas
delegacias, quando elas existem, faltam funcio-
nários para atender ao telefone, fazer o enca-
minhamento da vítima. Na maioria das cidades
não existem unidades do Instituto Médico Legal
(IML), fundamental para exames de corpo de
delito. E como também não há veículos para
levar as vítimas para os exames, muitas sequer
procuram atendimento.
Também contabilizamos conquistas, como a
terceira Vara Especializada em Minas Gerais; o
mutirão para escoar processos; a mobilização
de representantes do Ministério Público; de
delegadas; de governadores; da nossa ministra
Eleonora Menicucci e da sociedade civil, espe-
cialmente de movimentos de mulheres. Gente
que se une em campanhas, que vai para as ruas
cobrar por mudanças contra uma violência que
não pode ficar restrita a quatro paredes, como
uma questão privada.
As vítimas da violência doméstica e familiar
não são apenas as mulheres, mas também seus
filhos, e todos nós, a sociedade. Buscar saídas,
contribuir para erradicar essa chaga é dever de
todos e obrigação individual. é
ARTIGO
Jô Moraes é deputada federal (PCdoB-MG) e presidenta da Comissão Parlamentar Mista da Violência contra a Mulher do Congresso Nacional
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
1312
ARTIGO
Estudo da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), a respeito do trabalho do-
méstico no mundo, mostra que 15,7 milhões
de pessoas – quase 30% dos 52,6 milhões de
domésticos – estão completamente excluídas
de qualquer tipo de cobertura por legislação
laboral. De acordo com o estudo, feito em 117
países, apenas 5,2 milhões (10%) dos empre-
gados domésticos têm acesso atualmente à
proteção jurídica igual à dos demais. O Brasil é
o país que mais emprega trabalhadores domés-
ticos. Em 2009, representava 7,2 milhões (7,8%)
do total de ocupados, função desempenhada
majoritariamente por mulheres e negras (93%).
O trabalho doméstico é considerado como
“não trabalho”, visto como natural da mulher e
sem a necessidade de uma capacitação específi-
ca. Sua prática está vinculada à história mundial
de escravidão, do colonialismo, de violação de
direitos humanos que perpetua as discrimina-
ções baseadas na raça, etnia e nacionalidade.
Dos 34 direitos garantidos aos trabalhadores
na Constituição de 1988, apenas nove foram
estendidos aos domésticos (salário mínimo,
irredutibilidade de salário, 13º salário, repouso
semanal remunerado, férias anuais remunera-
das com acréscimo de um terço do valor, licen-
ças maternidade e paternidade, aviso prévio e
aposentadoria). O FGTS ainda é opcional.
Na sequencia, entre 2001 e 2006, vieram ou-
tros direitos, como a garantia de 30 dias de fé-
rias, estabilidade à gestante, vedado o desconto
por fornecimento de alimentação, vestuário
e higiene ou moradia e, mais recentemente, a
lista das piores formas de trabalho infantil (con-
venção 182 da OIT) e a idade mínima de acesso
A regulamentação do trabalho doméstico e a Convenção 189 da OIT
ao trabalho de 18 anos. Na atual conjuntura,
torna-se necessário lutar para assegurar o FGTS
e o seguro-desemprego para todas, bem como
a fiscalização nos locais de trabalho.
Convenção 189
Desde o ano de 2009, a OIT iniciou um
processo de consulta aos 183 países membros
e, em 2010, por ocasião de sua 99ª Conferência
Geral, colocou em pauta o tema do trabalho
decente para trabalhadores/as domésticos/as.
Ao ratificar essa convenção/recomendação,
os estados-membros devem transformar em lei
a regulamentação da profissão de trabalhado-
res domésticos. Essa demanda tem aumentado
e isso se deve à incorporação das mulheres no
mercado de trabalho, ao envelhecimento da
população e à frequente ausência de políticas
publicas que facilitem a vida das famílias, como
lavanderias coletivas, restaurantes, creches, etc.
O trabalho doméstico não é regulado pela
CLT, o que não lhe assegura os mesmos direitos
dos demais trabalhadores. O assunto é bastante
polêmico, oferece muita resistência patronal
e expressa a opinião de classe dominante,
que pretende manter a sociedade nos moldes
atuais. Felizmente o cenário político e social no
Brasil de hoje apresenta progressos em termos
de superação de desigualdades, tornando pos-
sível a transformação dessa realidade. é
Márcia Viotto (socióloga, assessora da CTB) e Berenice D’arc (professora, dirigente do Sinpro-DF)
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
1514
ELEIÇÕES 2012ELEIÇÕES 2012
A luta das mulheres brasileiras pela participa-
ção política é bastante antiga. No início do
século 20 elas já participavam dos sindicatos, das
organizações de bairro, de associações acadêmi-
cas e do movimento sufragista.
O ano de 1932 marcou a importante vitória
da conquista do direito de voto. Nos últimos
80 anos, o caminho foi difícil, mas as mulheres
chegaram à Presidência da República, feito ainda
não alcançado por outros países com longa
tradição democrática. No entanto, a
participação feminina no Senado, na
Câmara Federal e nas Assembleias
Legislativas está aquém do desejado.
Esse cenário se repete no nível
municipal. As eleições de 2012 pos-
sibilitaram um pequeno aumento do
número de mulheres eleitas para as
câmaras municipais e um aumento
um pouco maior para as prefeituras.
Mas, no geral, os avanços foram
pequenos e o Brasil ainda continua
muito longe da paridade política
entre homens e mulheres.
Em 1992, foram eleitas menos de
4 mil vereadoras nos municípios bra-
sileiros, representando apenas 7,4%
do total de vagas nas representações
municipais de todo o país. Com a po-
lítica de cotas, estabelecida pela Lei
9.100/95, os resultados apareceram.
Em 1996, o número de mulheres
eleitas subiu para 6,5 mil vereadoras,
representando 11,1%. Já nas elei-
ções de 2012 o número de mulheres
eleitas chegou a 7.648 vereadoras,
representando 13,3% do total de va-
gas. Esses números, embora baixos,
são recordes na história brasileira.
Um dos fatores que explicam o
aumento do número de vereadoras
Dilma é a prova incontestável do papel que a mulher pode exercer na política
Um avanço tímidona participação femininaNovas leis ampliam o número de mulheres vitoriosas no processo eleitoral de
2012, mas evolução ainda encontra barreiras dentro dos próprios partidos
eleitas foi a mudança da Lei 12.034, de 2009, que
substituiu a palavra “reservar” por “preencher”. A
alteração possibilitou o aumento do número de
candidaturas femininas em 2012, passando de
72,4 mil em 2008 (21,9%) para 133 mil em 2012
(31,5%).
O aumento do número de mulheres candi-
datas deveria ser fundamental para aumentar o
percentual de mulheres eleitas. Porém, a maioria
dos partidos lançou candidatas apenas para
compor a lista, sem condições efetivas de se
elegerem. Faltou apoio, investimento na forma-
ção política das mulheres e no financeiro para
sustentar as campanhas femininas.
Mesmo assim, além do aumento do número
de vereadoras, houve um aumento do número
de prefeitas eleitas que passou de 504 mulheres,
representando 9,1% do total em 2008, para 670
mulheres eleitas (no primeiro turno) em 2012,
representando 12,1 do total das prefeituras
brasileiras.
Avanço em números
Entre 2008 e 2012, as capitais que elegeram
mais vereadoras foram Rio de Janeiro, Maceió,
Manaus, Salvador, Curitiba, Recife, Teresina e São
Paulo. Florianópolis foi a única capital que não
conseguiu eleger nenhuma mulher para sua Câ-
mara Municipal nas duas eleições. Em 2012, teve
a companhia de Palmas, capital do Tocantins,
com resultado zero.
Dentre as capitais que apresentaram o maior
declínio absoluto nas duas eleições, destacam-
-se: Rio de Janeiro (de 13 para 8), Belo Horizonte
(de 5 para 1) e Aracaju (de 4 para 2). Ao contrário
do que era de se esperar, os dados mostram
que as capitais brasileiras não são os locais mais
propícios para o avanço da participação feminina
nas câmaras municipais e prefeituras. Somente
a capital de Roraima, Boa Vista, elegeu uma mu-
lher para o Executivo Municipal.
Texto: José Eustáquio Diniz Alves*
Agên
cia B
rasil
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
1716
Líder feminista, sindicalista e vereadora. No
mundo sindical, no meio político e na so-
ciedade em geral, a gaúcha Rosane Simon tem
contribuído de maneira firme para combater
as desigualdades de gênero. Na condição de
vereadora pelo PCdoB em Ijuí (RS) e presidenta
do Sindicato dos Empregados no Comércio na
mesma cidade, essa luta tem se tornado cada
vez mais abrangente, de modo a torná-la uma
referência para as mulheres de sua região.
Nesta entrevista, Rosane Simon, que também
ocupa a segunda vice-presidência da Federa-
ção dos Empregados no Comércio de Bens e de
A luta de gêneroem cada espaço de poderTexto: Redação CTB
Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Feco-
sul), analisa a evolução da mulher nas disputas
eleitorais, o papel dos partidos nesse processo,
as dificuldades encontradas para que as barreiras
da desigualdade de gênero sejam rompidas e
como essa luta também se dá no meio do movi-
mento sindical.
Confira abaixo a conversa:
Mulher D’ Classe – Em 2012 comemora-
mos 80 anos do voto feminino e houve eleição
municipal. Observando os dados estatísticos
do Superior Tribunal Eleitoral, percebe-se um
ENTREVISTAELEIÇÕES 2012
Embora a exclusão feminina na política seja
grande na maioria dos municípios brasileiros,
existem exceções, pois em um número pequeno
de cidades as mulheres são maioria dos vereado-
res. Em 2012, as mulheres conquistaram maioria
na Câmara de Vereadores em 23 municípios. Os
destaques foram para as cidades de Fronteiras e
Barras, ambas no Piauí, que elegeram mulheres
em um percentual de 66,7% e 61,5%, respectiva-
mente. Outras 17 cidades elegeram 5 mulheres
e 4 homens, perfazendo um total de 55,6% de
participação feminina, entre elas estão quatro
cidades de Minas: Cajuri, Ilicínea, São João do
Manhuaçu e Silvianópolis. Ainda outras 4 cidades
ficaram com maioria feminina variando de 53,8%
a 54,5%, em 2012. As cidades de Ipaumirim (CE),
Senador La Rocque (MA), Sítio Novo (RN) e São
João do Manhuaçu (MG) figuraram nas listas de
cidades com maioria feminina em 2008 e 2012.
Investimentos
Nas eleições de 2012, houve avanços na
representação política das mulheres brasileiras.
Mas, no geral, foram avanços pequenos. Existem
muitas mulheres participando dos sindicatos e
de inúmeras entidades da sociedade civil. Porém,
estas mulheres conscientes e batalhadoras não
encontram apoio dos partidos políticos para in-
corporarem na política parlamentar. O eleitorado
brasileiro já deu demonstração que não discri-
mina as mulheres. Faltam às direções partidárias
demonstrarem o mesmo.
Os diversos institutos de pesquisa do país já
mostraram que o eleitorado não só não discrimina
as mulheres, como tem uma visão positiva da par-
ticipação feminina na política. Mas a prova mais
evidente aconteceu nas eleições de 2010, quando
havia nove candidatos à Presidência (sete homens
e duas mulheres) e o resultado do primeiro turno
mostrou que dois terços (67%) dos votos foram
para as duas mulheres (Dilma Rousseff e Marina
Silva). Se a população está pronta para votar em
uma mulher para a Presidência da República, tam-
bém está pronta para votar em mulheres candida-
tas a vereadoras e prefeitas.
A baixa participação feminina na política não
corresponde ao papel que as mulheres desem-
penham em outros campos de atividade. Elas
são maioria da população, maioria do eleitorado,
já ultrapassaram os homens em todos os níveis
de educação e possuem uma esperança de vida
mais elevada. As mulheres compõem a maior
parte da População Economicamente Ativa (PEA)
com mais de 11 anos de estudo e são maioria
dos beneficiários da Previdência Social. A exclu-
são feminina da política é a última fronteira a ser
revertida, sendo que o déficit político de gênero
em nível municipal não faz justiça à contribuição
que as mulheres dão à sociedade brasileira. é
Luiza Erundina e Manuela D’Ávila: duas gerações lado a lado no Congresso
* Doutor em demografia, professor da Escola Nacional do IBGE.
Fotos: Márcia Carvalho
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
1918
acentuado crescimento da participação feminina
na disputa eleitoral: em 2008 foi de 21,9% e em
2012 chegou a 31,5% do total de candidaturas,
um aumento de 9,6%. Na eleição de 2012 foram
eleitas 7.648 mulheres para as câmaras munici-
pais, equivalente a 12,5% do total. A que fatores
você atribui tal crescimento?
Rosane Simon – Apesar da longa caminhada
de luta das mulheres, em relação à história da
humanidade esta luta é ainda muito recente. A
partir da conquista do voto, que foi um marco
na história da mulher como sujeito político, não
houve políticas públicas de inclusão da mulher e
de combate à discriminação e à violência, ques-
tões que ainda hoje permeiam o nosso debate.
Na última década, iniciamos a conquista de
Leis que avançam na questão da inclusão e que
ajudaram no crescimento tanto das candidatu-
ras como na eleição de mulheres. As políticas
sociais e de desenvolvimento implementadas
por Lula e Dilma melhoraram a condição de
vida de todos os trabalhadores, o que também
gerou efeitos positivos para a luta de gênero e
a participação das mulheres nesta luta. Com a
melhora da qualidade de vida do povo, há, cada
vez mais, a inserção no mercado de trabalho, no
acesso a melhores serviços públicos de edu-
cação, saúde, habitação e esporte e lazer. Se a
vida melhora, há mais tempo para debate das
questões coletivas, seja na escola, no sindicato,
em associações de bairro, etc.
Mulher D’ Classe – Qual sua opinião sobre a
lei 12.034/09, que substituiu o termo “reservar”
por “preencher” as listas de candidaturas dos par-
tidos políticos com 30% de mulheres e instituiu
a obrigatoriedade da utilização de 5% do fundo
partidário para formação política das mulheres?
Rosane Simon – Creio que essa substituição
foi fundamental, pois compromete os parti-
dos em ampliar os espaços de ação para as
trabalhadores, aposentados, para a juventude e
contra todo e qualquer tipo de discriminação.
Mulher D’ Classe – Como você descreve a
ligação de seu mandato com o movimento sindi-
cal e a luta das mulheres?
Rosane Simon – Me elegi vereadora em
2008 pela primeira vez e fui reeleita agora para
mais um mandato. Antes disso já atuava como
sindicalista e no movimento feminista. Pauto
meu trabalho aliando a experiência nessas duas
lutas e na relação delas com a sociedade, atuan-
do e participando, por exemplo, dos Conselhos
Municipais (saúde, habitação, desenvolvimento
e do conselho da mulher).
A minha militância como sindicalista e no
movimento de mulheres foi muito importante
para me mostrar onde pautar minhas ações
como vereadora do povo. Juntamente com nos-
sa Federação (Fecosul) e central sindical (CTB)
e junto com meu partido, o PCdoB, trilhamos
nosso cotidiano sempre em busca de melhores
dias para trabalhadores e trabalhadoras.
Mulher D’ Classe – No dia 8 de março de
2013, Dia Internacional da Mulher, o que as mu-
lheres têm para comemorar?
Rosane Simon – Temos para comemorar nes-
te dia 8 de março uma mulher na Presidência do
Brasil, temos para comemorar uma Lei Maria da
Penha que resgata a dignidade da mulher, o in-
gresso de mais mulheres nos espaços de poder,
mas ainda temos muito a debater, a exigir, pois
queremos um mundo de igualdade e sem opres-
são, onde todas as mulheres possam usufruir do
fruto do seu trabalho e serem muito felizes.
Por tudo isso, temos que comemorar prin-
cipalmente o fato da nossa luta estar de pé. O
fato de que a cada dia, mais e mais mulheres e
homens compartilham e tomam consciência da
necessidade de emancipação do ser humano
em nossa sociedade. é
mulheres, permitindo inclusive sua formação,
ajudando-as a conhecer sua realidade e como
enfrentá-la. Mas é necessário avançar ainda
mais, principalmente na luta político-institucio-
nal. A carta aprovada na 2ª Conferência Nacio-
nal do PCdoB Sobre a Emancipação da Mulher,
intitulada “O Brasil para as brasileiras”, deixa
claro que o sistema político brasileiro é limitado
e por isso agrava os obstáculos de inserção das
mulheres na política. Nesse sentido, o texto diz
que é “premente a necessidade da diminuição
da força do poder econômico com o estabeleci-
mento de financiamento público de campanha
e para a realização de uma Reforma Política
que garanta lista partidária pré-ordenada com
alternância de gênero”.
Mulher D’ Classe – No mundo do trabalho,
assim como na política e na sociedade em geral,
as mulheres vivenciam atos de discriminação
de gênero. Na atualidade, as mulheres são mais
de 40% da População Economicamente Ativa
(PEA) e têm maior grau de escolaridade que
os homens, mas recebem salários menores e
ocupam menos cargos de comando nos locais
de trabalho. Como isso se traduz na experiência
parlamentar?
Rosane Simon – O parlamento é um retrato
desta desigualdade, pois repete este padrão de
comportamento e carrega consigo essa herança
de preconceito e da discriminação às mulhe-
res. Assim, carrego para o parlamento e vivo
dentro dele todas as angústias e sofrimentos
que, como mulher, trabalhadora sindicalista,
enfrento em meu dia a dia. Ao mesmo tempo,
me sinto feliz e recompensada em ocupar este
espaço e nele reproduzir e ampliar a nossa luta,
demarcando as nossas demandas, conquistas
e direitos e trabalhando para que o parlamen-
to tenha um olhar mais amplo, não só sobre
a questão da mulher, mas também sobre os
ENTREVISTAENTREVISTA
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
2120
TRÁFICO HUMANO
A partir do lançamento da Década dos
Afrodescendentes instituída pela ONU, é
oportuno refletirmos a partir do contexto das
celebrações ao Dia Internacional da Mulher.
Dados recentes do Anuário das Mulheres Brasi-
leiras dão conta que no Brasil a pobreza tem cor
e sexo: é mulher e negra.
Ante o fenômeno da globalização, nos depa-
ramos hoje com a realidade da feminização da
pobreza. No entanto, a existência de mulheres
negras em situação de vulnerabilidade socio-
econômica e exclusão mostra a necessidade
de rever as políticas públicas de gênero sob as
perspectivas de etnia/raça.
A fim de compreender esse processo, impres-
cindível estender esse olhar a partir dessa dinâ-
mica, que a origem desse fenômeno, a femini-
zação da pobreza e o seu impacto nas mulheres
negras derivam de um contexto sócio-histórico-
-político: o processo de escravidão no Brasil,
que teve início em meados do século 16 (1533)
e perdurou até o fim do século 19 (1888).
Esse triste capítulo da história brasileira teve
reflexos que, até os dias de hoje, são traduzidos
por flagrantes desigualdades da população ne-
gra no acesso aos espaços decisórios de poder,
Centrais seguem atentas às diferentes violências sofridas pelas mulheres
a grupos vulneráveisPara especialista, negras e mulheres devem receber atenção especial
do poder público
Texto: Cláudia Patrícia de Luna
TRÁFICO DE MULHERES
bem como às garantias protetivas aos direitos
ditos humanos e fundamentais.
O referido processo histórico que por 350
anos reduziu a população negra à condição
de objeto de direito, alijou negros e negras, foi
legitimado por força de lei, qual seja, a Consti-
tuição Imperial de 1824, por força da Lei Com-
plementar nº 5, que impedia negros e leprosos
de serem destinatários da garantia de direitos
humanos fundamentais como acesso à educa-
ção, moradia, saúde, dentre outros.
Contextualizar a discriminação de gênero
agregada ao fator racial é realizar uma leitura
crítica da realidade, a partir dos dados estatísti-
cos produzidos por diversos institutos econômi-
cos. A análise dessa realidade sob a perspectiva
(sócio-histórica) nos permite vislumbrar o lugar,
até então destinado às mulheres negras na
sociedade, no âmbito das políticas públicas,
destituídas de todo e qualquer protagonismo.
A transformação dessa forma perversa de
contexto inicia-se de maneira lenta e gradual
a partir do protagonismo e participação do
Movimento Negro, que leva suas pautas reivin-
dicatórias de inclusão e igualdade a espaços
governamentais, exigindo a mudança no seu
status quo, de objeto de direitos a de sujeito
de direitos, protagonista e dotada de poder
decisão nesse processo.
Constata-se que, a despeito do cenário de
flagrantes desigualdades, questiona-se: quais
serão os desafios na construção de políticas
públicas para as mulheres negras no nosso
país? Como deverão ser ultrapassados, tendo
em vista o fato de se vislumbrar na sociedade
moderna a presença cada vez maior de mulhe-
Desafios, perspectivas e um alerta
res em postos de comando e em outros espaços
de poder outrora ocupados por exclusivamen-
te homens, se ainda são vítimas da violência
doméstica e familiar, do tráfico de pessoas e,
sobretudo, da violência que as atinge pelo fato
de serem mulheres e negras?
Violências
Nessa perspectiva, ao contextualizar a temá-
tica do tráfico de pessoas, torna-se imprescindí-
vel realizar uma análise das inúmeras violências
a que mulheres, negras e negros, enquanto gru-
pos mais vulneráveis acham-se mais expostos.
Num primeiro momento, observamos que
uma das formas de violência motivadoras do
tráfico de pessoas é aquela que se inicia no
micro espaço do lar: a denominada violência
doméstica ou intrafamiliar.
Indiscutível o fato de que as pessoas que
sofrem violência dentro de suas casas – notada-
mente em sua maioria crianças, jovens, mulhe-
res, travestis (negras) – para fugir desse ciclo de
violência, muitas vezes abandonam seus lares
ou buscam moradias precárias, encontrando-se,
por conseguinte, mais expostas à ação daqueles
que atuam nas redes de tráfico humano.
A esse círculo, além do tráfico humano, tais
pessoas estariam de igual modo vulneráveis ao
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
2322
TRÁFICO DE MULHERES
tráfico de drogas, armas e, como destino final,
fechando esses círculos concêntricos de violên-
cias, fadadas ao destino final: a prisão.
Agregados a esses fatores, fundamental con-
siderar uma leitura da temática da perspectiva
das migrações. Não muito diversa das reali-
dades e contextos das violências já relatadas
anteriormente, as populações migrantes estão
mais expostas a esses ciclos, dada a escassez,
ou mesmo ausência de políticas públicas que
deveriam lhes ser destinadas.
Perfil
Por óbvio, resta claro que de igual modo os
grupos mais expostos a essa prática criminosa
serão as mulheres, jovens e os grupos migrató-
rios de origem africana ou afro latino-americana.
Novamente, as variáveis de gênero/etnor-
raciais/geracional/sócio econômico indicam
e reforçam o perfil dessas vítimas do tráfico
de pessoas. A fim de corroborar tal assertiva,
primordial referenciar os dados do Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), na obra
“Retratos das Desigualdades”, do ano de 2009,
acerca dos indicadores de gênero raça, como
forma de exemplificar e justificar os elementos
em questão.
Nesse diapasão, fundamental que a Políti-
ca Nacional de Enfrentamento ao Tráfico, em
particular, o seu Plano Nacional, possa contem-
plar essas pessoas em situação de tráfico de
humano, enquanto verdadeiras destinatárias.
Partindo dessas realidades, o momento que ora
se apresenta é no mínimo estratégico: se hoje
a grande mídia aborda a temática do Tráfico de
Pessoas e a torna acessível à grande massa, do
outro, as políticas públicas e toda a construção
e discussão acerca do tema podem ser com-
paradas a cartas enviadas sem referência ao
endereço destinatário – jamais chegam a quem
realmente delas necessita.
A fim de suprir essas lacunas, a sociedade
como um todo continua no aguardo da imple-
mentação do 2º Plano Nacional de Enfrenta-
mento ao Tráfico de Pessoas (desde novembro
de 2011), construído coletivamente, com a par-
ticipação da sociedade civil organizada e que,
por certo, além de aspectos como a prevenção,
repressão e responsabilização daqueles que
traficam pessoas, deverá prever a capacitação
de toda a rede pública e parceiros da sociedade
civil, bem como o acolhimento e o atendimento
às vítimas.
Toda a sociedade brasileira agradece, em es-
pecial as vítimas do tráfico de pessoas – também
chamado de escravidão contemporânea. é
ARTIGO
Uma conjuntura complexa, com uma crise
do sistema capitalista quase generalizada,
torna imprescindível que a classe trabalhadora
analise profundamente essa realidade para que
tire dela a oportunidade de avanço para um
mundo melhor. E, para que isso seja possível,
devemos estudar, elaborar e apresentar pro-
postas para que a classe trabalhadora acredite
na perspectiva de ser protagonista da história
de transformação do sistema capitalista numa
sociedade socialista.
Entendemos que a luta de ideias assume um
lugar de destaque e, portanto, a formação clas-
sista é uma prioridade. O estudo, a elaboração e
a pesquisa são imprescindíveis para um conhe-
cimento melhor da realidade política, econômi-
ca, social e do mundo do trabalho.
A CTB pretende colocar na ordem do dia a
necessidade da inclusão da mulher em todas
as atividades e instâncias de poder da Central.
Com essa visão, como fazer uma formação
político-sindical com um corte feminista que te-
nha a preocupação da emancipação da mulher?
Como despertar nas mulheres a consciência de
seus direitos e a confiança nas suas potenciali-
dades? Como mostrar aos homens que mais da
metade da população e mais de 48% do merca-
do de trabalho têm direitos iguais?
Essas e muitas outras questões precisam
ser respondidas. Para que a CTB alcance seu
objetivo, é preciso que, na prática, promova a
formação de quadros femininos, a ampliação da
participação das mulheres nos diversos níveis
de direção da Central, incentivando as mulheres
trabalhadoras a participarem cada vez mais nos
Formar: uma questão d’classe
centros de decisão e do poder político, levan-
do em conta o crescimento da participação e
importância das mulheres na atividade econô-
mica, política, social e cultural.
Não é uma tarefa fácil, pois mesmo que a
base das relações de produção seja alterada,
a cultura, os costumes e formas de comporta-
mento em relação às mulheres permanecem
por período longo. O grau de emancipação da
mulher é o termômetro que mede o nível de
emancipação da sociedade.
Além de cursos específicos para capacitação
das mulheres, a questão da opressão de gênero
deve perpassar em todos os cursos da Central.
É preciso tornar visível a história de luta das
mulheres no movimento sindical.
As secretarias da Mulher, da Juventude, de
Comunicação e de Formação e Cultura devem
atuar conjuntamente com a finalidade de
aumentar a consciência classista das mulheres
trabalhadoras. A CTB precisa radicalizar na pró-
xima gestão para que as mulheres conquistem
o lugar que lhe pertence. Igualdade de Oportu-
nidade deverá ser o lema para inclusão real das
mulheres, não só no movimento sindical, mas
em todas as atividades da CTB. é
Celina Arêas é secretária de Formação e Cultura da CTB
* Advogada, presidenta da ONG Elas por Elas Vozes e Ações das Mulheres.
Em muitos casos, tráfico se inicia a partir da violência doméstica
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
2524
ARTIGO
O ano de 2013 marca o início da Década
Internacional dos Povos Afrodescendentes.
Trata-se de uma resolução da ONU, baseada na
convicção de que o racismo, o preconceito e
a discriminação racial estabelecem contextos
sociopolíticos e econômicos desfavoráveis aos
afrodescendentes. Assim, para além do simbolis-
mo positivo, a resolução instará reflexões sobre a
situação dos afrodescendentes em todo planeta,
além de estimular os Estados a buscarem formas
e meios para mitigar a condição de pobreza e
resgatar direitos historicamente negados ou deli-
beradamente sonegados.
Apesar de o imperialismo organizar boicotes
e muitas vezes governos e Estados conservado-
res atuarem para que as resoluções da ONU se
constituam em simples protocolos de intenções
– vide as resoluções sobre a Questão Palestina –,
as articulações políticas necessárias para construir
consensos que resultem em um documento tor-
nam as resoluções da ONU instrumentos políticos
de alto valor.
O Brasil tem legados notáveis da 3ª Conferência
Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial,
Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, organizada
pela ONU, em 2001, na África do Sul. Essa confe-
rência reconheceu que as populações afrodescen-
dentes são vítimas do racismo; decretou o tráfico
transatlântico, o apartheid e o colonialismo como
crimes contra a humanidade; reconheceu que o
racismo impacta de forma mais perversa sobre
as mulheres, por serem as maiores vítimas desse
Texto: Edson França*
ARTIGO
Década dos povos afrodescendentes: caminho para construção histórica coletiva
arbítrio. Atribuiu obrigatoriedade aos Estados Na-
cionais em promover ações com vista a superar o
racismo, deu legitimidade internacional às Ações
Afirmativas e ao conceito de Reparações.
As forças sociais e políticas que ascenderam ao
poder no Brasil a partir de 2003 têm efetivado um
virtuoso processo de igualdade racial e promoção
social da população negra inspirados nos pactos
firmados em Durban. Dia 21 de março de 2013
completam 10 (dez) anos que o governo Lula
instituiu a SEPPIR, organismo responsável pela
consecução das políticas de igualdade racial.
Nesses últimos dez anos, o Brasil:
• instituiu organismos de promoção da igual-
dade racial, atingindo uma rede de mais de 650
municípios, estados e distrito federal;
• aprovou o Decreto 4887/03, que estabelece
os mecanismos institucionais para regularização
das terras dos quilombolas, além de dispor polí-
ticas públicas para comunidades moradoras em
quilombos;
• sancionou o Estatuto da Igualdade Racial, en-
riquecendo o ordenamento jurídico de combate
ao racismo brasileiro;
• inseriu as políticas de igualdade racial na pre-
visão orçamentária no plano plurianual da união e
de vários estados e municípios;
• aperfeiçoou a Lei de Diretrizes e Base da
Educação através da Lei 10.639/03. Com essa lei
estabelecemos a base legal que desencadeará
uma silenciosa revolução na educação e, conse-
quentemente, no Brasil;
• ampliou os direitos trabalhistas das emprega-
das domésticas, fato que remove um dos restos
da relação casa grande e senzala, além de resgatar
milhões de mulheres da condição de subcidadãs;
• aprovou a inclusão de negros e pobres nas
universidades públicas federais, além de criar
mecanismos nas universidades privadas através
do ProUni.
Tais conquistas em dez anos foram possíveis
por diversos fatores que se complementaram,
dentre eles três se destacam: incansável luta do
movimento negro; ascensão ao poder de forças
democráticas, populares e comprometidas com
o povo; uso inteligente de acúmulos construído
na diversidade do movimento social brasileiro,
nos partidos políticos e em fóruns multilaterais de
direitos humanos como os organizados pela ONU.
No âmbito da luta pela igualdade racial, há si-
nergia entre as resoluções da ONU em matéria de
direitos humanos e as elaborações das propostas
para superação do racismo. Há expectativa de que
na Década Internacional dos Povos Afrodescen-
dentes o Brasil avançará significativamente em
matéria de promoção social, combate ao racismo,
ao machismo, à pobreza e a todas as violações aos
direitos humanos dos povos afrodescendentes.
Dez anos é um bom prazo para efetivar mudan-
ças. Iniciativas como essas são importantes para
a construção de um mundo próspero e justo para
mulheres e homens. é
* Edson França é presidente da Unegro (União de Negros pela Igualdade)
Agência Brasil
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
2726
O Congresso Nacional tem
sido negligente em termos
de discutir leis que poderiam
garantir maior igualdade entre
homens e mulheres no Brasil. Não
obstante as recentes conquistas
da bancada feminina da Câmara
dos Deputados, o Legislativo
ainda é resistente a votar propo-
sições de interesse das mulheres,
sobretudo quando se trata de conferir-lhes
algum poder.
Uma dificuldade é a nossa própria sub-repre-
sentação nos espaços de poder. Na Câmara dos
Deputados, somos apenas 8,7%, e menos de
10% no Senado Federal. Em mais de 180 anos
de existência do Poder Legislativo no Brasil,
apenas uma deputada, até agora, ocupou cargo
de titular na Mesa Diretora daquela Casa.
No sentido de corrigir essa distorção, apresen-
tei a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº
590/2006, que garante a presença de deputadas
na composição das Mesas Diretoras da Câmara
dos Deputados e do Senado e nas direções das
Comissões Permanentes da Câmara e do Senado.
A PEC está pronta para ser votada pelo plenário
da Câmara, mas depende da vontade das lide-
ranças para ser pautada.
Há ainda outras questões que requerem a
atenção do Congresso Nacional, como o en-
frentamento à violência doméstica e familiar,
os direitos reprodutivos e sexuais, trabalhistas,
previdenciários e muitos outros que continuam
nas gavetas, pelo descaso dos que têm o poder
de fazê-las tramitar e, quem sabe, aprovar. Mas
eles são insensíveis às questões de gênero.
A aprovação da Lei Maria da Penha em 2006
A dura batalha em Brasília
(lei 11.340 de 2006) foi exceção e um marco legal
para prevenir, coibir e punir a prática de violência
contra as mulheres. Outra importante conquista
foi a decisão do STF em 2012, que consolidou
o entendimento de que o Ministério Público
pode dar início a ação penal sem necessidade de
representação da vítima, possibilitando, assim, o
prosseguimento dos processos referentes a cri-
mes de lesão corporal leve e culposa cometidos
no ambiente doméstico e familiar.
Vale destacar ainda a PEC 66/2012, conheci-
da como a PEC das Domésticas, aprovada pela
Câmara dos Deputados em novembro do ano
passado, que assegura igualdade de direitos en-
tre as e os trabalhadores domésticos e os demais,
como, por exemplo, direito ao Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS) e ao pagamento de
hora extra a esses trabalhadores que são, aproxi-
madamente, 7 milhões; destes, 93% são mulhe-
res. A PEC está no Senado e aguarda designação
de relator na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ).
Essas importantes conquistas são fruto de
muita luta das parlamentares e, sobretudo, do
combativo movimento de mulheres, porém, há
muito ainda a se fazer para que, de fato, haja
igualdade de gênero no Brasil. é
ARTIGO
Luiza Erundina é deputada federal pelo PSB-SP
Agên
cia S
enad
o
| MULHER D’CLASSEMULHER D’CLASSE |
2928
A Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura (Contag), juntamente com
o conjunto do Movimento Sindical dos Traba-
lhadores e das Trabalhadoras Rurais (MSTTR),
realizou de 4 a 8 de março o 11° Congresso
Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras
Rurais, em Brasília. Inúmeros debates em todo o
país aconteceram para a elaboração e aprimora-
mento do documento-base, a fim de expressar
a realidade em que vive o movimento sindical
brasileiro.
Lado a lado construindo um Brasil melhor
próximos quatro anos.
A exemplo de edições anteriores, houve uma
participação grande de lideranças de homens
e de mulheres eleitos nas plenárias regionais
e estaduais realizadas em todos os estados.
Importante destacar que dos 2.401 delegados
inscritos, nada menos do que 1.056 são mulhe-
res, o que representa 44% de todos os congres-
sistas.
A paridade entre homens e mulheres é um
dos temas do 11° CNTTR. Se olharmos para
o número de inscrições é possível constatar
que na prática ela já acontece, pois falta muito
pouco para se atingir os 50%. Também é preciso
observar que a participação das mulheres vem
aumentando nos congressos. Hoje, a Contag,
bem como as suas 27 federações filiadas e a
maioria dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais
têm em seus estatutos a participação de no
mínimo 30% de mulheres nas diretorias.
Tal expansão ocorre no conjunto da socie-
dade, em que as trabalhadoras rurais atuam
nas direções do STR’s, das cooperativas, das
Câmaras de Vereadores, das prefeituras, enfim,
ocupando os mais diferentes espaços de delibe-
ração levando a proposta política dos trabalha-
dores e das trabalhadoras. O fato que comprova
tamanha participação das mulheres é que o
Brasil elegeu, pela primeira vez, uma mulher
para presidir o país: Dilma Rousseff.
Enfim, lado a lado, homens e mulheres, têm
como desafio continuar fortalecendo a orga-
nização, aumentando a consciência de classe
para avançar nas mudanças com valorização do
trabalho. Desta forma estaremos contribuindo
para construir uma sociedade melhor, mais
justa e igualitária. é
ARTIGO
Sérgio de Miranda é secretário de Política Agrícola e Agrária da CTB
O 11° CNTTR tem o importante papel de
debater e deliberar sobre os grandes temas que
desafiam o MSTTR, bem como definir os rumos
da ação político-sindical para os próximos anos.
É também um espaço para fortalecer e conso-
lidar o MSTTR como legítimo representante da
categoria. Além dos mais diversos assuntos,
que tratam da luta, da organização e da ação
sindical, ainda será um Congresso Eleitoral, com
a eleição da nova direção da Contag para os
INFORME PUBLICITÁRIO
| MULHER D’CLASSE
31
EXPEDIENTE
MULHER D´CLASSE é uma publicação da Secretaria da Mulher Trabalhadora da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.
DIREÇÃO EXECUTIVAPresidente: Wagner Gomes
DIRETORIANivaldo Santana, David Wilkerson de Souza, Vicente Selistre, Márcia Almeida Machado, Pascoal Carneiro, Salaciel Vilela, Vilson Luiz da Silva, Gilda Almeida, Celina Arêas, Joílson Cardoso, Carlos Rogério Nunes, Severino Almeida, João Batista Lemos, Eduardo Navarro, Raimunda Gomes (Doquinha), Paulo Vinicius Santos da Silva, Mônica Custódio, Maria do Socorro Nascimento Barbosa, Elias Bernardino, Sérgio de Miranda, Hildinete Pinheiro Rocha, Fátima dos Reis e João Paulo Ribeiro.
CONSELHO EDITORIALAlaíde Bagetto, Celina Arêas, Márcia Almeida Machado, Paulo Vinicius Santos da Silva e Raimunda Gomes (Doquinha).
Coordenação: Raimunda Gomes (Doquinha)Edição: Fernando Damasceno (MTB 45.547/SP)Equipe de Comunicação: Cinthia Ribas e Láldert Castello BrancoProjeto gráfico e diagramação: Luciana SutilFoto da Capa: Márcia CarvalhoGráfica: HR GráficaTiragem: 10 mil exemplares
IEstá em pleno vigorNão veio pra prender homemMas pra punir agressorPois em “mulher não se bateNem mesmo com uma flor”.
IIA Violência DomésticaTem sido uma grande vilãE por ser contra a violênciaDesta Lei me tornei fãPra que a mulher de hojeNão seja uma vítima amanhã.
IIIToda mulher tem direitoA viver sem violênciaÉ verdade, está na LeiQue tem muita eficiênciaPra punir o agressorE à vítima, dar assistência.
IVTá no artigo primeiroQue a Lei visa coibir;A Violência DomésticaComo também, prevenir;Com medidas protetivasE ao agressor, punir.
VJá o artigo segundoDesta Lei EspecialIndependente de classeNível educacionalDe raça, de etnia;E opção sexual...
VIDe cultura e de idadeDe renda e religiãoTodas gozam dos direitosSim, todas! Sem exceção.Que estão asseguradosPela Constituição.
VIIE que direitos são esses?Eis aqui a relação:À vida, à segurança.Também à alimentaçãoÀ cultura e à justiçaÀ saúde e à educação.
VIIIAlém da cidadaniaTambém à dignidadeAinda tem moradiaE o direito à liberdade.Só tem direitos nos “As”,E nos “Os”, não tem novidade?
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IXTem, direito ao esporteAo trabalho e ao lazerE o acesso à políticaPro Brasil desenvolverE tantos outros direitosQue não dá tempo dizer.
XA Lei Maria da PenhaCobre todos esses planos?Ah, já estão asseguradosPelos Direitos Humanos.A Lei é mais um recursoPra corrigir outros danos.
XIPor exemplo: a mulherAntes da Lei existir,Apanhava, e a justiça.Não tinha como punirEle voltava pra casaE tornava a agredir. (agredi-la).
XIICom a Lei é diferenteÉ crime inaceitávelSe bater, vai pra cadeiaAgressão é intolerávelO Estado protege a vítimaDepois pune o responsável.
XIIISegundo o artigo sétimoOs tipos de ViolênciaDoméstica e FamiliarTêm na sua abrangênciaAs cinco categoriasQue descrevo na sequência.
XIVA primeira é a FísicaEntendendo como tal:Qualquer conduta ofensivaDe modo irracionalQue fira a integridadeE a saúde corporal...
XVTapas, socos, empurrões;Beliscões e pontapésArranhões, puxões de orelha;Seja um, ou sejam dezTudo é Violência FísicaE causam dores cruéis.
XVIVamos ao segundo tipoQue é a PsicológicaEsta, merece atençãoMais didática e pedagógicaCom a auto estima baixaToda a vida perde a lógica...
LEI MARIA DA PENHA EM CORDELAutor: Tião Simpatia
XVIIChantagem, humilhação;Insultos; constrangimento;São danos que interferemNo seu desenvolvimentoBaixando a autoestimaAumentando o sofrimento.
XVIIIViolência Sexual:Dá-se pela coaçãoOu uso da Força FísicaCausando intimidaçãoE obrigando a mulherAo ato da relação...
XIXQualquer ação que impeçaEsta mulher de usarMétodo contraceptivoOu para engravidarSeu direito está na LeiBasta só reivindicar.
XXA quarta categoriaÉ a Patrimonial:Retenção, subtração,Destruição parcialOu total de seus pertencesCulmina em ação penal...
XXIInstrumentos de trabalhoDocumentos pessoaisOu recursos econômicosAlém de outras coisas maisTudo isso configuraEm danos materiais.
XXIIA quinta categoriaÉ Violência MoralSão os crimes contra a honraEstá no Código PenalInjúria, difamação;Calúnia, etc. e tal.
XXIIISegundo o artigo quintoEsses tipos de violênciaDão-se em diversos âmbitosPorém é na residênciaQue a Violência DomésticaTem sua maior incidência.
XXIVQuem pode ser enquadradoComo agente/agressor?Marido ou companheiroNamorado ou ex-amorNo caso de uma domésticaPode ser o empregador.
XXVSe por acaso o irmãoAgredir a sua irmãO filho, agredir a mãe;Seja nova ou anciãÉ Violência DomésticaSão membros do mesmo clã.
XXVIE se acaso for o homemQue da mulher apanhar?É Violência Doméstica?Você pode me explicar?Tudo pode acontecerNo âmbito familiar.
XXVIINesse caso é diferente;A lei é bastante clara!Por ser uma questão de gêneroSomente à mulher amparaSe a mulher for valenteO homem que livre a cara.
XXVIIIE procure seus direitosDa forma que lhe convenhaSe o sujeito aprontouE a mulher desceu-lhe a lenhaRecorra ao Código PenalNão à Lei Maria da Penha.
XXIXAgora, num caso lésbico;Se no qual a companheiraOferecer qualquer riscoÀ vida de sua parceiraA agressora é punida;Pois a Lei não dá bobeira.
XXXPara que os seus direitosEstejam asseguradosA Lei Maria da PenhaTambém cria os JuizadosDe Violência DomésticaPara todos os estados.
XXXIAí, cabe aos governantesDe cada federaçãoDestinarem os recursosPara implementaçãoDa Lei Maria da PenhaEm prol da população.
XXXIIEspero ter sido útilNeste cordel que crieiPara informar o povoSobre a importância da LeiPois quem agride uma RainhaNão merece ser um Rei.
XXXIIIDizia o velho ditadoQue “ninguém mete a colher”.Em briga de namoradoOu de “marido e mulher”Não metia... Agora, mete!Pois isso agora refleteNo mundo que a gente quer.